“Inimigos do mundo” e “'amigos' da humanidade”: reconciliação, inimizade e amizade na teologia wesleyana como elementos para uma teologia pública “Enemies to the World” and “´friends´ of mankind”: reconciliation, friendship and enmity in as elements for a public theology "Los enemigos del mundo" y "`amigos´ de la humanidad": reconciliación, amistad y enemistad en la teología Wesleyana como elementos para una teología pública

Helmut Renders

Resumo Este artigo dialoga com a alegação de que as relações da vida pública deveriam ser construídas a partir do conceito da amizade, em vez do conceito do amor ou da cordialidade. Para isso explora-se a compreensão da reconciliação e do conceito da “amizade” na teologia wesleyana em textos chaves ingleses, estadu- nidenses e brasileiros. Mostra-se como eles foram e são usados para descrever a relação entre igreja e sociedade de uma forma criteriosa, mas construtiva como apelo para levar esta tradição adiante. Palavras-chave: Reconciliação; amizade; inimizade; 2º Artigo de Religião; cris- tologia; teologia pública.

Abstract This article deals with the claim that relations of public life should be built from the concept of friendship, rather than the concepts of love or cordiality. To this end it explores the theological understanding of reconciliation and friendship in Wesleyan theology in English, American and Brazilian key texts. Finally, is inves- tigated its application for the description of the relationship between church and society to inspire a more distinguished Wesleyan public theology. Keywords: Reconciliation; friendship; enmity; Article 2 of Religion; christology; public theology.

Resumen Este artículo dialoga con la afirmación de que las relaciones de la vida pública deberían ser construidas a partir del concepto de amistad, en lugar que desde el concepto de amor o de cordialidad. Para ello, se examina la comprensión teológica de la reconciliación y del concepto de amistad en la teología wesleyana, en textos claves ingleses, estadounidenses y brasileños. Se muestra como dichos textos se han usado y se usan para describir la relación entre iglesia y sociedad de una forma críticamente constructiva en busca de que esta tradición siga adelante. Palabras clave: Reconciliación; amistad; enemistad; 2ª artículo de Religión; cristología; teología pública.

Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” Introdução

Um tempo atrás a jurista Eliane Maria Salgado Assumpção defendeu no artigo A amizade e a ética: um contraponto à cordialidade, a tese que a amizade, como comportamento político, em vez do que o amor ao pró- ximo, conceito preso nas ideias românticas do amor do século 19 ou a cordialidade brasileira – segundo a sua descrição de Sérgio Buarque de Holanda – fosse a base de relacionamentos humanos capaz de construir a esfera pública. Da mesma forma argumenta Francisco Ortega ([2005?], p. 1; cf. também 2000) em Por uma ética e uma política de amizade e alega em conversa com Hannah Arendt:

A ideologia da intimidade transforma todas as categorias políticas em psi- cológicas e mede a autenticidade de uma relação social em virtude de sua capacidade de reproduzir as necessidades íntimas e psicológicas dos indi- víduos envolvidos. Com isso, esquecemos que a procura de autenticidade individual e a tirania política são com freqüência dois lados da mesma moe- da. É necessária uma distância entre os indivíduos para poder ser sociável. O contato íntimo e a sociabilidade são inversamente proporcionais. Quando aumenta um, o outro diminui; quanto mais se aproximam os indivíduos, me- nos sociáveis, mais dolorosas e fratricidas são suas relações.

Neste sentido descreve a supremacia da interioridade como antago- nista de uma atuação política:

Arendt critica o eu da interioridade, do amor romântico, a idéia de procurar a verdade sobre si no profundo de si mesmo, nas emoções, na sexualidade, no amor. Se na atualidade o amor romântico se apresenta como o ideal sentimental hegemônico, isso acontece porque encarna o ideal que corres- ponde a nossa realidade antipolítica, isto é, a de uma sociedade voltada para a interioridade na procura da verdade, do sentido, da autenticidade, da satisfação, e que contempla o mundo como sendo hostil a essa busca. A preocupação com o mundo, ponto central da política desde a Antigüidade foi substituída na modernidade pela preocupação com o homem, a descoberta de si mesmo (ORTEGA ([2005?]).

Com muitas afirmações concordamos, especialmente, quanto ao conceito romântico do amor e a configuração da cordialidade brasileira1 e

1 Quanto ao aspecto religioso, entretanto, seria incorreto reduzir a religião do coração do- minante no Brasil – e correspondente à “cordialidade” brasileira – à religião do coração em geral (cf. RENDERS, 2009, p. 373-413).

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 95 do problema de estabelecer relações políticas na base do amor romântico. E mesmo que “a procura de autenticidade individual” não leva automati- camente à “tirania política”, ela leva, frequentemente, ao clientelismo e outras formas de relacionamentos que não promovem a emancipação ou a liberdade e assim a base de responsabilidade de pessoas, mas cimentam dependências e a irresponsabilidade por falta de liberdade. O mundo cristão precisa dialogar com as preocupações aqui apre- sentadas em relação à construção da esfera pública. Não é ela que no mínimo também favorece na conceituação da sua essência palavras como amor e a interioridade como o palco de verdadeiras transformações do ser humano? Não é ela que descreve suas relações principais tanto com Deus como na Igreja por categorias familiares? Concordamos que há vertentes na Igreja que seguem o quadro preocupante aqui apresen- tado pelo autor e pela autora. Entretanto, deduzir da preferência para o conceito do amor a promoção de uma vida cristã intimista, etc., parece- nos um exagero. Há vertentes da fé cristã que não desvinculam o amor ao próximo da promoção da justiça e até uma relação construtiva para com seu adversário, senão, inimigo. Elas incluem no seu conceito do relacionamento em amor uma compreensão próxima à compreensão da amizade apresentada pelos autores citados anteriormente. Ainda mais: a descrição de relações restauradas e madura spelo termo da amizade está no centro do discurso cristão, entretanto, somente visível para aqueles que interpretam as Escrituras a partir das línguas originais e com isso, com consideração do imaginário greco-romano. Analisamos, então, em específico o uso ou a integração do conceito da amizade, e com ele, o da reconciliação, primeiro, pelo próprio cristia- nismo primitivo e depois pelo movimento wesleyano na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil.

1. Reconciliação, inimizade e amizade como tema da teologia bíblica

Enquanto a presença da metáfora do “amor” nos textos bíblicos é de amplo conhecimento, a importância do conceito da amizade chama menos a atenção. Entretanto, ele aparece na tradição cristã num ponto central, na sua soteriologia, ou seja, sua doutrina da salvação. As fontes, em seguida apresentadas em sequência cronológica, são duas cartas da tradição paulina, duas epístolas deuteropaulinas, ou seja, provavelmente, pós-paulinas, duas citações da tradição do círculo de João e mais duas citações em Mateus e Atos. Entretanto, com exceção da tradição joanina, o uso do conceito não se evidencia no texto português, mas, somente no texto grego original.

96 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” Tabela 1: reconciliação como superação da inimizade humana pela amizade divina no NT:

Katallassw Apokatal Sunallas- Filia Ano Diallas Katallagh lassw sw Filoj e [d.C.] somai e ecqroj e ecqroj ecqroj

55 1Co 7.11; Cartas 55/56 2Co 5.18-20; paulinas Rm 5.10-11; 56 11.15 60 Cl 1.20, 22

60 Deutero [80- Ef 2.16 -paulinas 100?]I

Atos 65-71 At 7.26

Mateus 71 Mt 5.24 Jo João 69 13.14- 15; 90-110 3Jo 3 João [50?] 1.15 95-110 Tiago Tg 4.4 [55?]

Em Romanos 5.10 transparece o significado literal original de katallas- só, um processo de substituição que no seu último nível de abstração significava a transformação de uma relação de inimizade pela amizade: “... sendo inimigos, fomos reconciliados – ou seja, ganhamos o status de amigos – com Deus pela morte de seu Filho”. Trata-se, tanto de um conceito soteriológico como cristológico, da obra salvífica realizada em Cristo. Além da reconciliação da humanidade para com Deus, há também uma dimensão eclesiástica (Coríntios = conflito entre entusiastas e Paulo; Romanos = tensões entre o cristianismo helenista e judaico). Importante é a questão do sujeito: não uma hostilidade divina precisa ser superada, mas a hostilidade humana diante de Deus. Com isso, a soteriologia da reconciliação vai na contramão da doutrina da satisfação de Anselmo de Cantuária. De fato, o tema da ira de Deus existe nas car- tas de Paulo (ira de Deus: Rm 1.18; 2.5,8; 4.15; 5.9; 9.22; 12.19). Mas, segundo Romanos 1.18, a ira de Deus seria uma reação à atitude hostil do ser humano – “que detêm a verdade em injustiça” que em relação a Deus e descrita como “impiedade” (àsébeia).

I na questão da data entram diversas perguntas.

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 97 Olhado por perto, òrgé pode ser traduzida por ira, irritação, vingança, mas também por retribuição. Esta última tradução dá origem ao conceito da justiça retributiva em vez de distributiva. Em relação ao ser humano òrgé no sentido de ira ou vingança é estritamente rejeitado por representar a vida sem Deus (Ef 4.31; Cl 3.8). O conceito da katallagé, da reconcilia- ção, descreve esta relação a partir do ser humano. A inimizade é do ser humano, mas ela é desconstruída puramente por Deus em Cristo. Deus se revela como amigo da humanidade para que a humanidade supere a sua hostilidade para com Deus. Em Atos, Lucas descreve três vezes a experiência paulina fundante de Damasco como questionamento da hostilidade, no caso, da perseguição: “Saulo, por que me persegues?” (At 9.4-5 e 22.6-7 e 26.14-15). Entretanto, na soteriologia manteve-se mais a interpretação cris- tológica de katallagé como expressão da solidariedade do Cristo, sem consideração do conteúdo ou das atitudes trocadas. Nesta perspectiva, não é Deus que muda a atitude – ele continua amar o mundo –, mas o ser humano que em resposta acaba amando tanto o mundo quanto Deus. Em João aparece a metáfora absolutamente autônoma. Os discípu- los são chamados por Jesus seus filos, seus amigos (Jo 15. 13-15), uma amizade que se expressa pela sintonia com o projeto de Jesus, na base de conhecimento recebido pelo Pai. Isso leva na terceira epístola de João à designação dos membros da comunidade da fé como amigos (3Jo 1.15). Isso é interessante, porque João conhece e usa muito o termo amor para descrever a relação predominante de Deus para com o cosmo (Jo 3. 14) e que leva ao amor para com Deus (Jo 21.15ss). Na epístola de Tiago o conceito da filia, da amizade, é explorado de forma diferente do que na tradição paulina. O acento não focaliza di- retamente na inimizade com Deus, mas, na amizade para com o mundo que por sua vez, de fato, é interpretada como relação que expressa a inimizade do ser humano para com Deus. Mais uma vez, não é Deus o inimigo de alguém, mas, a hostilidade é relacionada com o ser humano. No horizonte, então, é agora a relação indivíduo – mundo como algo que requer respostas. Repare que temos também uma dupla e oposta signifi- cação de kosmos: como alvo do trabalho soteriológico de Deus o kosmos é amado incondicionalmente, como estruturação humana do mundo sem Deus o kosmos não pode ser afirmado, mas as suas próprias regras da opressão precisam ser superadas e ele mesmo precisa ser transformado. Visto dessa forma – e somente dessa forma –, “um amigo do cosmo é um inimigo de Deus”. Em Efésios e Colossenses aparece a palavra “reconciliação” de novo no sentido da superação de inimizade – simbolizada na epístola aos Efésios pela desnecessidade e subsequente derrubada de paredes que protegem um do outro (Ef 3.14). Nos dois casos, pronuncia-se agora

98 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” à renovação das relações intra-humanas a partir de Cristo: “Na sua car- ne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades (Ef 2.15-16).” Reconciliação é a construção de relações de amizade. Próximo ao conceito da Igreja como corpo de Cristo fala-se em Efésios de uma nova articulação cuja cabeça é Cristo e cujo sinal é amor em verdade (Ef 4.15- 16). Esta dupla descrição dos relacionamentos protege o amor de um sen- timentalismo sem compromisso ou de um legalismo sem misericórdia.

2. Reconciliação, inimizade e amizade como tema da teologia siste- mática na época medieval até a reforma

Anselmo e Abelardo Com Anselmo da Cantuária (1033-1109) a soteriologia oficial consa- grou uma inversão radical. A linha paulina da reconciliação do ser humano com Deus foi substituída pela ênfase na prioridade da reconciliação de Deus com a humanidade pelo sacrifício. A cruz não era mais sinal do amor e da solidariedade radical de Deus, mas o lugar da satisfação da ira de Deus. Quando Pedro Abelardo (1079-1142) se opôs contra esta leitura como hermenêutica dominante, Claraval (1090-1153) segue Anselmo e contribui no Concílio de Sens em 1140 para a condenação da teologia de Abelardo. Com Claraval, a interpretação de Anselmo saiu do ambiente acadêmico para os monastérios, lugares de renovação, propagação do Evangelho e militância eclesiástica.

Confissão de Augsburgo, Confissões Helvéticos e 39 Artigos de Religião Relevante para a predominância da ênfase de Anselmo no protes- tantismo, inclusive o brasileiro, era a dependência direta de Lutero da soteriologia de Anselmo e sua influência nos 39 Artigos de Religião da Igreja Anglicana. Já a tradição reformada não seguia este caminho.

A humanidade Deus é reconciliado é reconciliada

“para aplacar a ira Confissão de de Deus” [texto da Luterano Augsburgo versão alemã] 1530 – não – (Confessio “para reconciliar o Augustana) art. 3 [3]II seu Pai conosco” [texto da versão em latim]

II In Pelikan e Hotchkiss (2003 [vol. 2], p. 60).

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 99 “Cristo é o único Redentor e Salvador Confessio Helvetica 1533 Reformado do mundo, o Rei […] […] somente ele é Prior, art. 11III a nossa reconciliação” “nosso Senhor reconciliou art. 11 1566 Reformado – não – todos os fiéis [15] para o Pai celestial” Confessio Helvetica “Deus através IV Posterior de ministros art. 14 exortou a – não – [8] população a ser reconciliado com Deus” 39 Artigos de Religião, “para reconciliar seu 1571 Anglicano – não – art. 2 Pai conosco”

E como responde a teologia wesleyana? Encontramos uma situação ambígua, entretanto com uma tendência de desenvolvimento que será plenamente desdobrado somente no fim do século 19 para o século 20.

3. Reconciliação, inimizade e amizade nas obras de

Vocês são um novo fenômeno nessa terra – um corpo de pessoas que, não sendo de nenhum partido, são amigas de todos os grupos e tentam ajudar todos a avançar na religião do coração, no conhecimento do amor para com Deus e para com a humanidade. John Wesley (1789, p. 82 [sermão 121, §18], grifo nosso).

Quanto a Wesley temos como fontes as suas obras compostas por tratados teológicos, sermões, cartas pastorais, diários e comentários bíbli- cos e a sua adaptação dos 39 Artigos de Religião anglicanos, chamados por ele os 25 Artigos de Religião metodistas. Entre estes textos, As notas sobre o Novo Testamento (1756), Os sermões (1747) e os 25 Artigos de Religião (1784) até hoje têm estado constitutivo.

1739: Caráter de um Metodista: “'Faz o bem a todos os homens`”; seu próximo, e estranhos; amigos e inimigos” Iniciamos com o tratado programático de 1739, o Caráter de um metodista. O tema da amizade/inimizade está ainda em fase de formação

III In Pelikan e Hotchkiss (2003 [vol. 2], p. 285). IV In Pelikan e Hotchkiss (2003 [vol. 2], p. 478 e 484).

100 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” conceitual no tratado “Caráter de um metodista”. Wesley parte ainda do profético “fazer o bem”.

Por último. Sempre que pode, ele “faz o bem a todos os homens”; seu próximo, e estranhos; amigos e inimigos: e de toda a forma possível; não apenas aos seus corpos, “alimentando o faminto, vestindo o nu, visitando aqueles que estão doentes ou na prisão”; mas, muito mais, ele trabalha para o bem da alma deles, com a capacitação que Deus lhe deu, para acordar aqueles que dormem na morte; trazer os que estão acordados para o sangue reparador, que, “sendo justificado pela fé, eles podem ter paz com Deus”; e provocar aqueles que têm paz com Deus, para abundar ainda mais em amor e boas obras. E ele, de boa-vontade, “passa e vai passar nisto”, mesmo “para ser oferecido no sacrifício e serviço da fé deles”, de maneira que eles possam “todos chegar na medida e na estatura da plenitude de Cristo” (WESLEY, 1739, § 16; grifo nosso).

Em termos bíblicos, encontramos a combinação de Mateus 25 e Éfésios 2.16. Wesley vai além da intenção do texto e transforma-o numa projeção da missão metodista ao “mundo-paróquia”. O mundo não é refe- rência periférica. “Não apenas ao seu corpo [...] ele trabalha para o bem da alma deles” é uma interessante junção. Ela não desqualifica o aspecto corporal nem coloca a mesma num segundo plano. A sua valorização do “interior” não é sobre o “exterior”, mas, lado a lado com ele. O ductus é não esquecer a decodificação das ações. De fato, trata-se das virtudes físicas com as pastorais (RENDERS, 2010, p. 277-282).

1756: Notas sobre o Novo Testamento As Notas sobre o Novo Testamento (1756) são interessantes por mais uma razão. Wesley baseou-as numa obra do pietismo luterano, o Gnomon de Albrecht Bengel ([1747]; 1830). Isso nos proporciona a oportunidade de explorar continuidade e diferença entre as duas obras. Em Romanos 5.11 (1873, p. 66) Bengel refere-se à reconciliação como “libertação da ira”. Wesley mesmo omite a expressão “ira” e focali- za na obra salvífica de Jesus Cristo: “Cristo por meio dele recebemos a reconciliação”2. Sendo neste comentário do objeto da reconcilição ainda aberta – trata-se de “nossa reconciliação” ou da “reconciliação de Deus conosco” – não resta dúvida no comentário de 2 Coríntios 5.18: “É o mundo que esteve em inimizade para com Deus”. Bengel (1873, p. 384) refere-se também ao mundo “que esteve hostil”. Wesley então acresce e destaca “em inimizade com Deus”. Da mesma forma Wesley prosse- gue em Efésios 2.16: a inimizade – que tinha sido entre os pecadores e

2 “Christ, by whom we have now received the reconciliation”.

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 101 Deus”3. Enquanto Bengel tendencialmente preserva e prescreve Anselmo, Wesley volta para Paulo. Nas suas Notas sobre o Novo Testamento, Wesley vai então além de Bengel e volta para a teologia paulina. Quanto a amizade para com o mun- do, Wesley a identifica com “temperamentos sem amor”, em oposição ao “espírito do amor”.4 Wesley não interpreta Tiago 4.4 como texto chave mais o integra na sua compreensão da sua missão no mundo-paróquia. O uso da palavra amigo, ele comenta a respeito de 3 João 1.14, que “… a palavra não se encontra muitas vezes no Novo Testamento” e que ela foi “integrada no mais carinhoso irmão”.5 Ou seja, para ele um “irmão” é no mínimo na altura de um “amigo”, e jamais símbolo de uma religião intimista.

Sermões Nos sermões, os temas da reconciliação e da amizade aparecem em diversos momentos. Mas, quanto aos textos chaves mencionados anteriormente, somente Tiago 4.4 se tornou tema de uma pregação: So- bre amizade com o mundo (sermão 80). Chama a atenção que Wesley, como em muitas outras ocasiões, assume uma discussão com diversas frentes. Inicialmente define o “mundo” pela atitude do ódio para com a comunidade. Não há uma identificação de toda humanidade não-cristã com aquilo que ele designa o “mundo”. Nos parágrafos 8 e 9 Wesley desenvolve o tema: “Que tipo de amizade com o mundo podemos ter?” Basicamente, ele defende que o cristão e a cristã têm o dever de amar o/a outro/a como seu/sua próximo/a e procurar seu bem comum inde- pendentemente da sua crença. No parágrafo seguinte – “Que tipo de amizade com o mundo não podemos ter?” – ele se preocupa com o poder do mundo de perseguir e ferir ou de atrair e comprar. Já encontramos nas Notas sobre o Novo Testamento uma interpretação do “princípio” mundo como a atitude de odiar, de ser autossuficiente e egocêntrico, ou seja, de não amar.

Ira de Deus versus amor de Deus Mencionamos a relação entre o discurso da “ira de Deus” e a sote- riologia de Anselmo com a sua ênfase na satisfação da ira divina. Este discurso não é ausente em Wesley, mas ele não é dominante, como um rápido levantamento comparativo nos sermões indica:

3 “The enmity – which has been between sinners and God”. 4 “The spirit of love that dwells in all believers is directly opposite to all unloving tempers which necessarily flow from friendship to the word.”; 5 “… the word friend does not occurred very often in the New Testament being swallowed up in the more endearing one of brother.”

102 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” “Ira de Deus” “Amor de Deus” Sermões [de um total de 149 vezes] [de um total de 1204 vezes] 1-33 33 vezes 89 vezes 34-70 5 vezes 59 vezes

71-114 2 vezes 73 vezes 115-151 5 vezes 54 vezes

“Amor de Deus” ganha contra “ira de Deus” quase na relação nove a um, ou seja, a fala da ira não chega em 12% das referências que destacam o amor divino. Também se percebe que a relativa ênfase na ira Deus diminui a partir do sermão 34. Para simplificar: depois de 1746, data da edição dos primeiros 53 sermões, o tema da ira de Deus quase desaparece, enquanto o tema do amor de Deus se mantém. Mesmo que seja esta aproximação meramente quantitativa o resultado sustenta as afirmações qualitativas e pontuais em seguida introduzidas.

“Amigo do senso comum” e “amante da humanidade” A tudo que foi até agora exposto corresponde uma poesia publicada por Wesley num livro de “boas” poesias inglesas. Ela foi escrita em 1728 por seu pai, Samuel Wesley, que tinha experiência própria com o sistema carcerário inglês como prisioneiro. Interessa-nos especialmente a apresen- tação dessa poesia no livro. Ele representa uma atuação não somente no espaço público, mas uma interação com ele, uma práxis herdada do pai ao filho. Aqui um inimigo do mundo e amigo de Deus mostra-se “amigo” da humanidade em duas dimensões:

• Ele age em defesa do ser humano em apuros ou injustiçado, independentemente da sua etnia, religião ou do seu gênero. Atrás dessa atitude está a luta pela justiça distribuidora e não reparadora que transborda na busca do bem comum de todos/as. Transcrevendo as Regras Gerais do metodismo, “Fazer o bem [comum], deixar [fazer que causa] o mal [comum]” é do berço da ética wesleyana.

• Um amigo da humanidade sabe se relacionar com os/as defen- sores/as públicos/as da justiça e os/as construtores/as públicos/ as de mais justiça. É isso que Wesley faz quando ele publica a poesia junto com uma dedicatória para todos os membros de uma comissão parlamentar, mencionados, um por um, no- minalmente.

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 103 Segundo John Wesley, um “inimigo do mundo e amigo de Deus” é, necessaria- mente, um “`amigo´ da humanidade” (WESLEY, 1756 [vol. 4], p. 100 e 101)

A diferença entre bem e mal não é marcada pela oposição Igreja- sociedade. No “mundo” há pessoas que promovem a justiça e com estas pessoas precisa-se e pode-se colaborar pela promoção do bem comum. De fato Wesley não usava a expressão “amigo da humanidade”. Em vez disso, fala frequentemente, como já vimos, que um verdadeiro cristão e uma verdadeira cristã devem amar a humanidade, inclusive, os seus inimigos. Wesley pode mesmo apresentar como “Amante da humanidade” [Lover of mankind]. Obviamente, significa “amar” em Wesley não um sen- timento romântico e também não uma ambígua “cordialidade”. Inclusive, o nosso religioso inglês detestava relações dominadas por um sentimen- talismo, tanto em relação a Deus como entre os seres humanos. Mas, mesmo que nós não encontremos a expressão “amigos da humanidade”, deparamo-nos da expressão “amigos de todos”, no sermão 82 de 1789, dois anos antes da sua morte. Esta expressão propositalmente irônica representa o posicionamento latitudinarista6, uma vertente do anglicanismo

6 Anota-se que Tilly (1898, p. 82 e 83) interpreta o latitudinarismo como “Cristianismo mundano”. “Os homens que tem abandonado altas pretensões ao sacrifício firmam covardemente um armistício com o mundo inimigo”. Em comparação com Wesley, Tilly reproduz o discurso puritano e não encontra mais nada bom entre não-cristão.

104 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” e mostra que a nossa criação “`amigos´ da humanidade” no título tem sua base no pensamento do próprio Wesley. Finalmente encontramos a expressão “santos do mundo” desde 1744 até 1783. Trata-se de uma inte- ressante valorização de pessoas não-cristãs que agem como santas, sem confessar ou assumir a fé cristã como a sua base de vida. Esta expressão reconhece capacidades extraordinárias exercidas por pessoas no ambiente público. Basta resumir que a capacidade de poder ver pessoas ateístas ou até de outras crenças dessa forma representa uma base sólida para uma convivência e interação pública. Assim, e somente assim, pode se descrever o projeto metodista como “reformar a nação, particularmente, a igreja” e pode se exercitar um “sentido público”.

Relação com o “mundo” ou a Documento “humanidade”: Crítica Construtiva “o mundo é minha 1742 paróquia” WJW [vol. 1], 24 ago. 1744, p. 1744 “santos do mundo” 167 – sermão 4, §II.5; “Um amante da 1760 The desideratum, [capa] humanidade e do senso comum” “reformar a nação, [particularmente, a igreja]” “amizade com o mundo é Sermão inimizade com Deus” Cf. WJW [vol. 2], maio- jun.1783, p. 464 – sermão 61, 1783 “santos do mundo” §28 e WJW [vol. 3], 1783, p. 345 – sermão 94, §III.18

WJW [vol. 3], 8 abr. 1788, p. 1788 “sentido público” 483-484 – sermão 105, §I.8.9.

Não se trata, então, de um discurso unânime. Quanto à teologia bí- blica, Wesley é mais paulino; quanto a doutrina da Igreja, Wesley é mais tradicional no sentido da prescrição da herança herdada, em especial da tendência medieval dos Artigos de Religião anglicanos. No mundo dos slogans ou lemas evangélicos, especialmente, puritanos, como a ênfase em Tiago 4.4 está presente, entretanto, não domina o imaginário. O dis- curso de Wesley é muito mais aberto, abrangente e inclusive do que o de Tilly7, até de Joiner. A arte de Wesley era combinar o olhar crítico dessa

7 “O mundo consiste nos que ainda não são regenerados, e nós não devemos ter os seus alvos, nem adoptar seus princípios, nem seguir os seus caminhos, nem imitar seus gostos nem apreciar os seus gostos, nem tomar parte em seus divertimentos. [...] Se algum ama o mundo não há n´elle o amor do Pae ” (TILLY, 1898, p. 124-125).

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 105 afirmação puritana com uma atitude construtiva e não generalizante da posição anglicana, mesmo que o olhar crítico não prevalecesse nos 25 Artigos de Religião metodistas.

25 Artigos de Religião Quanto aos 25 Artigos de Religião metodista, Wesley manteve a tradição da reforma e se referia à reconciliação de Deus com o ser hu- mano. Neste texto constitutivo de 1784 não transparece mais o avanço alcançado por meio dos seus estudos bíblicos.

Deus é reconciliado O ser humano é reconciliado

“recebemos a reconciliação” “... a libertação da ira” Rm 5.11 (Rm 5.11) (BENGEL, Gnomon, 1742) WESLEY, Notas sobre o NT “O mundo – que tinha sido hostil” (Ef 2.16). (BENGEL, Gnomon, 1742) Ef 2.16 “A inimizade – que tinha sido entre pecadores e Deus” (Ef 2.16). WESLEY, Notas sobre o NT 25 Art. “... para reconciliar seu Pai Da conosco” (art. 2) – não – Religião WESLEY, 25 Artigos de Religião

4. Reconciliação, inimizade e amizade como tema da teologia siste- mática a partir dos meados do século 19

Vimos que Wesley manteve ainda as duas linhas conflitantes dentro do seu discurso teológico, apesar de uma tendência de dar mais destaque para Abelardo do que para Anselmo, cujo último prevalece no seu uso da expressão “ira de Deus” e na sua apreciação dos 39 Artigos de Religião anglicanos. Isso era a situação geral da teologia protestante inclusive metodista até os meados do século 19. Albrecht Ritschl No último terço do século 19, entretanto, muda novamente a situ- ação. Teólogos como Albrecht Ritschl (1822-1889) voltam para o centro da mensagem paulina, apesar da sua abordagem nova8. Já em Origem da Igreja Vétero Católica, Ritschl (1850, p. 83) relaciona a amizade com a justiça divina: “A dikaiosis realizada por Cristo é […] entendida como transformação de inimizade em amizade [katallage, Rm 5.10; 2Co

8 O limite da teologia de Albrecht Ritschl está na sua redução historicista, não no seu favorecimento de Abelardo.

106 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” 5.20]”. Consequentemente, na sua obra prima plenamente dedicada às doutrinas da justificação e da reconciliação, Ritschl favoreceu Abelard em vez de Aquino:

A justiça da retribuição inexorável, que seria expressa na frase Fiat justitia, pereat mundus9, não é em si uma concepção religiosa, nem é o sentido da justiça que é atribuída a Deus nas fontes do Antigo e do Novo Testamento. A justiça de Deus é a Sua autoconsistente e inevitável ação a respeito da salvação dos membros de sua comunidade; na sua essência é idêntica à sua graça [...]. Entre os dois, portanto, não há contradição que precisa ser resolvida. Não é bíblico supor que qualquer um dos sacrifícios do Antigo Testamento, fundamento da analogia segundo a morte de Cristo deveria ser julgado, teria tido o significado de mover Deus da ira para a graça [...]. Pelo contrário, esses sacrifícios baseiam-se implicitamente na realidade de graça de Deus em relação ao povo da aliança, e apenas define certas condições positivas que os membros do povo da aliança devem cumprir, a fim de desfrutar da proximidade com o Deus da graça. Não é bíblico supor que a oferta de sacrifício em si inclui um ato penal, executado não sobre o culpado, mas em cima da vítima, que toma seu lugar. A representação por sacerdote e sacramento não tem como objetivo qualquer sentido exclusivo, mas inclusivo (RITSCHL, 1900, p. 473-475). Ritschl rejeita uma compreensão retributiva da justiça e volta com isso para a teologia paulina. Mas é nas suas aulas da ética onde ele explora ainda mais o conceito da amizade para descrever as relações entre a Igreja e seu contexto: “O dever da hospitalidade10 (1Pe 4.12; Hb 13.12) fundamenta [...] a comunhão que leva ao amor fraternal para com todos [...] [A] “amizade [...] carrega [...] em si o elemento do reino de Deus, mesmo que isso não seja reconhecido explicitamente por uma reflexão religiosa” (RITSCHL, 2007, p. 102).11 O tema seria utilizado por muitos teólogos representantes do Evangelho social.

A releitura do 2º dos 25 Artigos de Religião do metodismo em solo brasileiro Com esta parte introduzimos uma decisão teológica que, segundo o nosso conhecimento, no mínimo recentemente não foi assunto de uma con- sideração dogmática. Trata-se de uma variante latino-americana, atualmente,

9 “Faça-se justiça, ainda que o mundo pereça”. Lema do imperador católico Ferdinando I (1503-1564), talvez de origem de Philip Melanchton (1497-1560). Uma origem romana não foi comprovada, apesar de representar bem a compreensão da lei romana. 10 em alemão, “Gastfreundschaft”. A palavra significa, literalmente, “amizade para com o visitante ou o hóspede”. 11 Mencionamos aqui que Ritschl não estende isso a relação entre homens e mulheres. Entre eles, ele entende amizade algo impossível (RITSCHL, 2007, p. 102).

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 107 entretanto somente preservada em documentos oficiais na língua portuguesa. Falamos da tradução do segundo artigo dos 25 Artigos de Religião da tradi- ção metodista na sua versão portuguesa. Nos anos 1886 e 1887 a tradução mantém a versão original, mas, em 1888 muda para a lógica de Abelardo, e depois de um breve desaparecimento a partir de 1898 até, no máximo12, 1910, a versão de 1888 é mantida até hoje. Veja a diferença:

1898, no ano que a tradução de 1886 e 1887 voltou, foram publica- dos duas dogmáticas de Tilly (1898) – também editor responsável dos Cânones de 1898 – e Joiner (1898). Este segundo é considerado o mais importante (JOSGRILBERG, 2006, p. xiv). Enquanto Tilly é considerado o teólogo mais conservador, os dois não falam da ira, mas, do amor de Deus. Porém, Anselmo ainda está presente. Na cruz precisa-se “satisfazer todos os requisitos d`uma lei ultrajada ou de uma justiça quebrada”. Já as próximas duas afirmações representam mais Abelardo: “Deus [...] deve também possuir o meio de conquistar o coração revoltoso do homem e de transformar seu ódio em amor” (1898, p. 67) e “O Evangelho originou-se em amor infinito. […] Este amor que Deus manifestou para comnosco na cruz vem sobre nós com um impulso irrestisível13 (1898, p. 86). Joiner avence até um pouco mais. Por um lado, entende a obra de Jesus como “... expiação ou satisfação para aplacar uma injúria ou offensa” (1898, p. 270), ou seja, no sentido de Anselmo. Ele confirma esta interpretação com Thomas Osmond Summers (1812-1882)14 e John Dick (1764-1833). 12 não sabemos a data exata. Entre 1898 e 1910 houve ainda Concílios em 1902 e 1906, cujos Cânones não estão acessíveis. 13 Wesley preferiu “preveniente”. 14 Provavelmente Thomas Osmond Summers (1812-1882). Neste caso trata-se da sua teologia de 1888.

108 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” Dr. Summers diz: “Reconciliação indica existência previa de hostilidade. O anta- gonismo entre Deus e o homem, originou-se nos peccados deste último, sendo estes offensivos a todos os attributos de Deus obrigaram a Deus a retirar da raça peccaminosa os Seus preciosos favores”. / [...] diz o Dr. Dick: [...] A Divindade exige que haja o sofrimento e a morte (grifo nosso). Por outro lado cita também William Burt Pope (1822-1903), que pa- rece mais15 representar a linha de Albrecht Ritschl: “Segundo o Dr. Pope: “[...] no mysterio da Reconciliação, as provisões da misericórdia eterna antecipam na transgressão, e em todas as manifestações da Redempção, o primeiro logar é ocupado pelo amor. A paixão é a manifestação e não a causa do amor Divino ao homem” (grifo nosso). Assim não surpreen- de plenamente que Joiner lê no segundo artigo: “Christo effectivamente soffreu, foi crucificado, morto e sepultado para reconciliar-nos com o Pae” (1898, p. 270), como era o caso de geração depois de Ransom. Talvez devemos a Joiner e o uso intenso da sua dogmática que a mu- dança do objeto da reconciliação em comparação com o texto inglês se consolidou e consagrou. Baseamos esta afirmação nos Cânones metodistas e alguns textos que apresentam e explicam os 25 Artigos de Religião. Em seguida com- paramos as traduções da respectiva passagem no segundo Artigo da Religião das seguintes Igrejas Metodistas (onde não mencionado trata-se dos Cânones das respectivas Igrejas):

O ser humano é Igreja Deus é reconciliado reconciliado “to reconcile his Father to us” 1783 MECV [Trad.: “para reconciliar seu Pai conosco” ] “to reconcile his Father to us” 2010 UMC [Trad.: “para reconciliar seu Pai conosco”]

IM-MexVI [Trad.: “para reconciliar seu Pai conosco”] Ransom (1878, p. 1878 “para reconciliar conosco seu Pai” 104) Methodista 1886 Catholico, vol. 1, n. “para reconciliar comnosco seu pai”” 3, p. 4VII

15 na sua teologia ele não supera Anselmo em tudo. Cf. Pope (1881, vol. 1, p. 321, 348, 353). Também na página 348, Pope fala de “... uma reconciliação ou harmonização de ira e misericórdia na cruz...”. Assim também no seu volume 2, p. 282: “primeiro o juiz supremo é reconciliado plenamente com a raça humana, segundo, se faz a provisão pela reconciliação de cada ser humano com ele.” Já na sua ética, em vol. 3, p. 223 aparece “amizade como terminus tecnicus: O “seu serviço é o ministério da amizade e sua amizade é a amizade de servos”. V Methodist Episcopal Church [1784-1930; Igreja Metodista Episcopal] VI Iglesia Metodista de México [1930-]. Assim também o metodismo argentino. VII Journal Mensal da Igreja Metodista. Nome da revista antes do Expositor Cristão.

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 109 “para reconciliar- IME, SVIII (1888, 1888 nos com seu p. 2) Pae” Para reconciliar- 1898 IME, S (1900, p. 2) “para reconciliar seu Pae comosco”IX nos com o Pae” JOINER (1898, p. 1898 270) 1902 Documentos não acessíveis 1906 “to reconcile his Father to us” 1910 MEC, SX [Trad.: “para reconciliar seu Pai conosco”] “para nos 1910 IME, S (1913, p. 2) reconciliar com seu Pae” “para MEC, S [ed. esp.] reconciliarnos 1926 XI(1927, p. 16) com su Padre”

“para nos 1934 IM[dB]XII reconciliar com seu Pai”. “para nos 1974 IMVIII reconciliar com seu Pai” Klaiber e Mar- “um seinen Vater mit uns zu versöhnen” 1983 quardt (1993, p. [Trad.: “para reconciliar seu Pai conosco”] 412) 1999 Klaiber e Mar- “para nos quardt (1999 e reconciliar com 2006 2006, p. 462 ) seu Pai”XIII “para nos 2006 IM (2007, p. ) reconciliar com seu Pai”

O texto inglês nunca mudou e representa até hoje a justiça retributiva de Anselmo. Os textos atuais em espanhol e alemão seguem o original inglês. Num certo momento, a versão espanhola mudou para uma ênfase de uma justiça distributiva e da amizade em vez da inimizade de Deus para com o mundo ou a humanidade. A tradução para o português, apesar da

VIII Igreja Metodista Episcopal, Sul no Brasil [1888-1930] IX Coincidência ou não, esta edição contém ainda um “Certidão quanto aos Artigos de Re- ligião” (1910, 2ª pági-na): “Certifico que o texto dos Artigos de Religião contidos nesta edição foram comparados por mim com o texto official e acho que concordam com elle. Jno. J. Tiggert”. Isso se refere a edição inglesa. Depois segue um “Cértidão quanto a edição portugueza da disciplina” onde lemos: “Certifico que [...] a tradução [...] está confor-me ao seu original. Edmund Tilly”. X Methodist Episcopal Church, South [1848-1930; Igreja Metodista Episcopal, Sul]. XI Iglesia Metodista Episcopal, Sur [na América espanhola]. XII Igreja Metodista do Brasil; depois de 1974 Igreja Metodista [1930-]. XIII Não houve, então, uma tradução, mas uma substituição dos 25 Artigos em alemão pela edição brasileira. Assim, a diferença ficou despercebida.

110 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” forma tradicional no início16 e com um pequeno intervalo na virada do século 19 para o século 20, traçou um caminho próprio e corrigiu o texto de tal modo que a teologia de Anselmo é substituída pela teologia de Abelardo.

5. Reconciliação e amizade à humanidade no Evangelho Social e no Credo Social

Ó Pai, faça nós, rogo-Te, amigos de todo o mundo” Rauschenbusch (1909, p. 28, grifo nosso).

“Amigo de todos, inimigo de nin- guém” tornou-se um lema com des- taque na década de 30 do século 20 como subtítulo da revista Voz Mis- sionária. O tema já era explorado 20 anos antes. No trecho ao lado apare- ce esta frase em parte:

Ser amigo de todos, permear todas as rela- ções humanas com este espírito de amizade – haverá qualquer coisa mais, que os melhores e mais sábios possam esperar alcançar? / Si a egreja acceitasse esta verdade – religião é amizade – erguer sua vida sobre ella e fazel-a central e organica em seu ensinamento, então veriamos uma grande revificação17 de religião (GLADDEN, 1910, p. 2, grifo nosso).

Trata-se de uma citação do livro Lembranças de Washington Gladden

16 O texto mais antigo encontrado era do Compêndio de Igreja Metodista Episcopal de Ransom (1878, p. 104). Chama a nossa atenção, entretanto, que o autor no seu prefácio destaca, primeiro, o amor de Deus e não a necessidade da superação da sua ira: “Os pontos cardeaes do credo methodista são: o Propósito de Amor da parte de Deus (grifo nosso), de salvar a todos os que crêem em Jesus; a necessidade, e sufficiencia e resistibilidade da graça que Deus concede para salvação de cada homem; a pos- sibilidade da apostazia final de um homem regenerado; e quanto ao mais cremos no testemunho do Espírito Santo pelo Deus nos revela nossa adopção, cremos no Amor Perfeito attingivel n´esta vida, e convidamos a todos busquemos esta perfeição ou santidade” (RANSOM, 1878, p. 4). 17 Em vez de falar da “revivificação da religião” Rauschenbusch (1908) se refere ao “aviva- mento social”. Ambos autores desenvolvem os seus discursos em busca do envolvimento das Igrejas numa presença pública mais engajada.

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 111 (1836-1918), pastor congregacional estadunidense e voz pioneira do Evan- gelho Social (cf. GLADDEN, 1909, p. 429). Numa frase anterior à parte citada no Expositor Cristão Gladden afirma: “Estou disposto a acreditar que o tempo está se aproximando quando a Igreja cristã terá a habilida- de a discernir e declarar a simples verdade que a religião é amizade, amizade para com Deus e amizade para com a humanidade” (grifo nosso). “... amizade para com Deus e amizade para com a humanidade” lembra pela estrutura do duplo (ou triplo) mandamento do amor, ou seja, podemos constar que o autor no mínimo coloca o conceito da amizade na altura do amor ou seja, num lugar privilegiado da ética cristã.18 Walter Rauschenbusch, eminente representante batista do evangelho social e parceiro de Washington Gladden, também foi lido entre os me- todistas brasileiros do início do século 20 (Cf. RENDERS, 1998, p. 12). Ele tinha estudado com Ritschl e explorou de forma próxima, entretanto, mesmo assim, independente, o conceito da amizade. No seu último livro ele resume: “Qualquer pessoa treinada pelo evangelho social na mente de Cristo escolha uma relação orgânica entre dever e a amizade” (RAU­ SCHENBUSCH, 1917, p. 235, grifo nosso). Nas suas Orações para um avivamento social (1909, p. 28) encontramos uma fática releitura de Tiago 4 combinada com a frase “amigos de todos”: “Ó Pai nosso, mais uma vez está um novo dia diante de nós. [...] faça nós, rogo-Te, amigos de todo o mundo” (grifo nosso). Nos dias atuais da ética da sustentabilidade chama a atenção a sua busca da “amizade para com as gerações ainda por vir” (p. 88, grifo nosso, uma ideia ainda mais aprofundada na oração “Para que vem depois de nós” (p. 109-110). Para Rauschenbusch (1917, p. 162) isso parte de Jesus Cristo: Jesus “... tinha uma sede de amizade (grifo nos- so) e [...] um incomparável sentido da sacralidade de cada pessoa”. Esta ideia ele explorou também no seu livro “Os princípios sociais de Jesus: “Jesus cravando amizade [...] Pessoalmente, Jesus era muito sociável. Evidentemente ele gostava de se misturar com o povo. Ele gostava do dar-e-tomar da vida. Ele tinha amizades. [...] Em Getsemane ele cravou amizades” (1916, p. 18 e 19). “Uma religião socialmente eficiente deve guiar os bons sujeitos a estabelecerem relacionamentos amigáveis [...] [também] com [...] pessoas” (1916, p. 137) consideradas pecadoras.

“Amizade” e “reconciliação” nos Credos Sociais e declarações conciliares

A expressão eclesiástica chave do Evangelho Social na Igreja Me- todista são os Credos Sociais. No Brasil, o primeiro apareceu em 1918 (EGREJA METODISTA EPISCOPAL, SUL, 1919, p. 404- 405 [§808]) como

18 O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) comentou que “amigo de todo mun- do é amigo de ninguém”. Entendemos que esta crítica vale somente quando se usa “amizade” de forma esvaziada e sem critério.

112 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” tradução do texto inglês da Igreja Metodista Episcopal, Sul. Em 1934 nasce o primeiro Credo Social brasileiro e junto a ele uma declaração do Concílio Geral: “A atitude da Igreja Metodista do Brasil diante o mundo e a nação” (IGREJA METHODISTA DO BRASIL, 1934, p. 96-97). Nesta aparece o conceito da amizade para descrever as relações internacionais em busca de “... esforços construtivos em prol da amizade e da paz”. No Credo Social de 1960 descreve-se ainda a relação entre igrejas “Estreitamento dos laços de amizade com as denominações irmãs”. Depois desaparece o conceito em textos oficiais. Entretanto, retorna no Credo Social de 1970 a ênfase na reconciliação, agora como elemento estruturante e organizador do mundo por representar uma nova forma de relacionamento, e que como nova forma, acaba sendo também uma forma denunciadora:

[II-4] Cremos que o Deus único estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, criando uma nova ordem de relações na História [...] [III-5b] A reconciliação do mundo em Jesus Cristo é a fonte da justiça, da paz e da liberdade entre as nações; todas as estruturas e poderes da sociedade são chamados a participar dessa nova ordem. A Igreja é a comunidade que exemplifica essas relações novas do perdão, da justiça, e da liberdade, recomendando-as aos governos e nações como caminho para uma política responsável de cooperação e paz [...] [III-5d] A reconciliação do homem em Jesus Cristo torna claro que a pobreza escravizadora em um mundo de abundância é uma grave violação da ordem de Deus.(IGREJA METODISTA, 2007, p 50, 51, 53).

Enquanto “amizade” descreve uma forma de se relacionar entre pessoas, “justiça, paz e liberdade” descrevem o conteúdo da organização do espaço no qual estes indivíduos atuam. Por outro lado afirma o uso do conceito da reconciliação a ideia que a “nova ordem” não se esgota em princípios, declarados, mas, em “relações novas”. Nessas “relações novas” ainda cabe a amizade.

Considerações em relação a uma teologia pública wesleyana

Observamos um desenvolvimento tanto pela sedimentação das linhas paulinas do conceito da reconciliação como por meio da consciente e cres- cente releitura do conceito da amizade. Em cada etapa, desde a Inglaterra, via os Estados Unidos e até Brasil, cada povo em cada época acresceu algo que pode servir como legado para uma teologia pública wesleyana. O que mais nos surpreendeu foi a reformulação do segundo artigo dos 25 Artigos de Religião na tradução para a língua portuguesa. A con- tribuição de Ritschl parece funcionar razoavelmente bem como terminus post quem, talvez no sentido de um catalisador que ajudou os/as

Revista Caminhando v. 15, n. 2, p. 94-117, jul./dez. 2010 113 metodistas retomar uma direção que John Wesley já tinha traçado parcialmente. Em meio de uma disputa entre a teologia espiritual sulista estadunidense e o surgimento do evangelho social, pre- valeceu – no segundo artigo – o projeto mais amplo, o projeto da salvação como superação da inimizade humana pela amizade divina que entendeu a religião como “... amizade, amizade para com Deus e amizade para com a humanidade” até que no Credo Social de 1970 o tema da reconciliação é a base de uma nova ordem do mundo e de novas relações no mundo. Este retorno para uma teologia em maior sintonia com as suas bases bíblicas, no caso, a teologia paulina, em superação de uma vertente da teologia medieval, abre o caminho ao consciente uso do conceito da ami- zade pelas teologias desenvolvidas para sustentar uma teologia pública da Igreja. Os documentos mais citados recentemente são das primeiras duas décadas do século 20, ou seja, do início da construção de relacio- namento igreja – estado laico.19 Parece-nos que a tese que a amizade representasse uma forma importante para descrever e articular relações públicas converge com os autores aqui citados. No Credo Social de 1970 desdobra-se diretamente, por uma nova ênfase no discurso bíblico, a relação entre soteriologia e teologia pública. Para futuras pesquisas há, além disso, ainda algo mais a cogitar em relação do suposto caráter mais objetivo do conceito da “amizade” em comparação às metáforas do amor – não da cordialidade. Precisamos levantar a pergunta se a execução anônima, tecnocrata e burocrata do estado que se julga desemocionalizada e mais objetiva, lógica e legal, não em alguns casos resultasse num fático e incontestável desrespeito para com o indivíduo ou grupos sociais inteiros. O seja, não somente o conceito do amor – enquanto a sua compreensão como romântico ou sentimental – tem seus limites, mas também o próprio conceito da amizade – na configuração aristotélica – sirva somente em parte como inspiração para a democracia. Primeiro, por ser uma forma de relacio- namento público reservado aos homens e não exatamente um conceito que promovia relacionamentos – na devida distinção entre o público e privado – igualitários para todos os grupos da sociedade, tampouco, aliás, como a própria ideia originária da democracia. Por outro lado, o conceito do amor – inclusive na sua vertente romântica se opõe, por natureza, às barreiras étnicas, de gênero, de classe social ou de idade, como peças de teatro como Romeu e Julieta com toda razão indicam. Ou seja, o amor fraternal no sentido inclusivo, tem um potencial revolucionário. Talvez haja um caminho ainda mais promissor a discutir as dinâmicas relacionais na

19 Confira também o título de Sherwin, John Wesley amigo do povo (grifo nosso). O título é de 1961, ou seja, de uma fase da teologia wesleyana americana em qual o aspecto público da religião esteve em alta.

114 Helmut Renders: “Inimigos do mundo” e “`amigos´ da humanidade” esfera pública conjugando formas maduras tanto do amor como da ami- zade em conjunto pelo bem da existência cidadã tanto de membros das igrejas cristãs como de outros/as cidadãos e cidadãs. Terminamos com a citação de uma estrofe de um hinário metodista com canções natalinas de 1745. Segundo o poeta Charles Wesley (1745, p. 46) irmão de John Wesley, a união perfeita até dentro da Igreja é descrita não pelo amor simbiótico, mas por uma relação caracterizada como amizade. Mais impor- tante é este tipo de relacionamento que é entendido como uma represen- tação de relacionamento na altura do próprio Jesus Cristo (grifo nosso):

Nenhum alerta horrível de guerra Interromperá o nosso repouso eterno Não haverá nenhum som de trombeta Onde o Espírito de JESUS paire: Pacificados pelo charme da Tua graça Unimo-nos em amizade E com gentileza abraçamos uns aos outros E amamos com uma paixão parecida com a Tua.

Onde o Espírito de Jesus paire, tanto o amor simbiótico como forma infantil de tentativa de superar diferenças quanto o conflito bélico como tentativa de garantir ou implantar a supremacia de um ou outro discurso por violência representam caminhos inúteis. Sobra para a amizade descre- ver a relação perfeita, uma união como relacionalidade em diferença...

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