UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

MARIA CRISTINA GONZAGA

PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES

DURANTE O CULTIVO DE ABACAXI

CONTRA ATAQUES DE SERPENTES PEÇONHENTAS

CAMPINAS

2017

MARIA CRISTINA GONZAGA

PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES

DURANTE O CULTIVO DE ABACAXI

CONTRA ATAQUES DE SERPENTES PEÇONHENTAS

Tese apresentada à Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutora em Engenharia Agrícola na área de concentração em Gestão de Sistemas na Agricultura e Desenvolvimento Rural.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Funes Abrahão

Coorientador: Prof. Dr. Mauro José Andrade Tereso

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA

MARIA CRISTINA GONZAGA E ORIENTADA

PELO PROF. DR. ROBERTO FUNES ABRAHÃO

E MAURO JOSÉ ANDRADE TERESO

CAMPINAS

2017

Este exemplar corresponde à redação final da Tese de Doutorado defendida por Maria Cristina Gonzaga, aprovada pela Comissão Julgadora em 31 de outubro de 2017, na Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP.

______Dr. Roberto Funes Abrahão – Presidente e Orientador UNICAMP/Faculdade de Engenharia Agrícola

______Dra. Flora Maria Gomide Vezzá – Membro Titular SESI/Diretoria de Esporte e Qualidade de Vida

______Dra. Sandra Francisca Bezerra Gemma – Membro Titular UNICAMP/Faculdade de Ciências Aplicadas

______Dr. Paulo José Adissi – Membro Titular Colaborador do Programa de Pós Graduação da UFPB ______Dr. José Marçal Jackson Filho – Membro Titular FUNDACENTRO/ Centro Regional do Paraná

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica da discente.

Segundo os provérbios populares: ―o que os olhos não veem o coração não sente‖. ―dar visibilidade ao invisível no cultivo de abacaxi é nossa meta.‖

Agradecimentos

É difícil elencar os agradecimentos a tantas pessoas e entidades que colaboraram para a concretização desta pesquisa, por isso peço desculpas por possíveis omissões.

Ao poder divino por ter me dado coragem para enfrentar as serpentes.

Aos meus orientadores, os professores doutores Roberto Funes Abrahão e Mauro José Andrade Tereso, pela paciência e disponibilidade durante todo o período de trabalho conjunto.

À dra. Leda Leal Ferreira por ter me guiado no caminho rumo ao doutorado, sempre orientando e estimulando a ouvir e respeitar o saber advindo dos trabalhadores. Ao dr. Paulo José Adissi pelo apoio e incentivo aos estudos vinculados aos trabalhadores rurais.

À minha mãe, Tereza de Jesus Serralheiro Gonzaga, ao meu irmão, Michael Detro Cavalcante, e ao meu marido, Antonio Ferreira dos Santos, por todo o carinho, apoio e paciência nesse período em que me dediquei às atividades inerentes a este trabalho.

À Fundacentro por ter financiado toda a parte de campo da presente pesquisa.

Ao Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais de Guaraçaí, especialmente a seu presidente, José Mendes de Oliveira, por dar acesso aos trabalhos executados no cultivo de abacaxi e aos problemas ocupacionais resultantes, assim viabilizando parte deste estudo.

Ao Sindicato dos Produtores Rurais de Frutal, especialmente a seu presidente, Janes Cesar Mateus, por permitir nossa entrada nas propriedades rurais de Frutal e o acesso aos trabalhadores no cultivo de abacaxi, o que viabilizou o término desta pesquisa.

A todos os trabalhadores rurais de Guaraçaí, que pacientemente me apresentaram seu trabalho.

A todos os trabalhadores rurais de Frutal, que testaram calmamente os equipamentos de proteção individual e me apresentaram suas avaliações.

Ao procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes pelo incentivo e apoio jurídico durante todo o estudo feito em Guaraçaí.

À equipe da Fundação Ezequiel Dias, especialmente a Rômulo Antonio Righi de Toledo, Leonardo Rocha de Oliveira Noronha, Tâmara Táscama Oliveira Rodrigues e Paulo Nunes de Oliveira, pela viabilização do cumprimento legal dos trâmites dessa fundação e da realização dos ensaios com serpentes.

À Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg), pela doação dos equipamentos de proteção individual.

A Luis Carlos Faleiros Freitas e Michelle de Aguiar Pimenta do Instituto de Pesquisa Tecnológica de Franca pelas orientações e sugestões sobre o sistema de certificação dos equipamentos de proteção individual no Brasil.

À dra. Kathleen Fernandes Grego e ao dr. Sávio Stefanini Sant’Anna pelo apoio técnico para a realização dos experimentos com serpentes no Instituto Butantan.

A Marcos Antonio Bussacos, chefe da Divisão de Epidemiologia e Estatística da Fundacentro, pela colaboração no levantamento de dados e em sua análise estatística.

A Sandra Donatelli por ter apoiado a realização das pesquisas vinculadas ao Doutorado.

À dra. Sophia Piacenza pelo apoio carinhoso durante todo o processo do doutorado, especialmente no trabalho feito junto à Fundação Ezequiel Dias.

Ao dr. Eduardo Garcia Garcia pelas sugestões brilhantes ao longo deste estudo.

A Bianca Alcântara, Delma Francisco Batista e a Karine Aleixo Dias pelo auxílio nas questões administrativas que viabilizaram minhas ações em campo e as burocráticas junto à Fundacentro.

A pelo apoio na finalização desta tese,

A Rita de Cassia Cuesta Ferreira pelo apoio administrativo junto a Feagri.

A André da Silva Souza, Gabriela Karam e Alex de Oliveira Pires por me ajudarem pacientemente na finalização desta tese.

A Thaïs Costa por pacientemente colaborar com a organização das minhas ideias através da escrita, nos desabafos frente às dificuldades e na finalização desta tese, sempre ouvindo e estimulando.

Ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest/Renast) de Ilha Solteira e ao Departamento de Saúde da Prefeitura Municipal de Ilha Solteira (SP) pelo apoio logístico e orçamentário para a execução deste estudo.

A Aguinailda Rosa e Paulo Sérgio de Oliveira pela paciência para ouvir meus desabafos e por seu apoio constante.

À Emater de Frutal, especialmente a Luis Guilherme Brunhara Postali, pelo inestimável apoio na execução dos trabalhos de campo naquele município.

A Celso Baitello por ter me acompanhado em todas as pesquisas de campo.

RESUMO

A agricultura é um dos setores produtivos mais perigosos sob o ponto de vista do trabalho humano, e o cultivo do abacaxi, em particular, apresenta grandes desafios no tocante à proteção dos trabalhadores rurais.

Estudos anteriores revelam a ineficácia dos equipamentos de proteção individual (EPIs) mais utilizados pelos trabalhadores na proteção contra acidentes com perfurações por folhas pontiagudas de abacaxi e contra ataques de serpentes peçonhentas, notadamente durante a colheita de mudas e frutos. Este trabalho buscou inicialmente avaliar a eficácia de um conjunto de EPIs usualmente utilizado pelos trabalhadores rurais na proteção contra ataques de serpentes. Para tanto, quatro modelos de calçados, três modelos de luvas de proteção, três tipos de perneiras e um modelo de mangote foram testados em laboratório sofrendo ataques reais de duas espécies de serpentes. Os equipamentos de proteção aprovados nos ensaios de ataque real foram posteriormente avaliados por um grupo de trabalhadores em condições concretas de uso no cultivo do abacaxi segundo critérios qualitativos de conforto e usabilidade.

A avaliação experimental da resistência dos EPIs contra o ataque das serpentes revelou que apenas cinco modelos resistiram a todos os ataques: um modelo de calçado, dois modelos de perneiras e dois modelos de luvas de proteção. Quanto à análise qualitativa dos EPIs aprovados em condições reais de trabalho, parte deles foi considerada desconfortável, ineficaz e obstrutiva na realização das tarefas.

Os resultados permitem concluir que os trabalhadores do processo produtivo do abacaxi não contam com proteção efetiva contra os principais fatores de risco do seu trabalho. Fica patente a necessidade de projetar EPIs segundo as especificidades do trabalho agrícola e com a participação ativa dos trabalhadores no desenvolvimento de tais projetos.

Palavras-chave: trabalho, abacaxi, serpentes, proteção

ABSTRACT

Agriculture is one of the most dangerous productive sectors regarding human work, and pineapple cultivation, in particular, presents major challenges in the protection of rural workers.

Previous studies reveal the ineffectiveness of personal protective equipment (PPE) used more often by workers to protect themselves against accidents with punctures by sharp- pointed leaves of pineapple and against attacks of venomous , particularly during the seedling and fruit harvest. At first, this study aimed at evaluating the effectiveness of a set of PPE commonly used by rural workers to protect themselves against attacks. So four models of protective footwear, three models of protective gloves, three models of leggings, and one model of oversleeve were tested in a laboratory where they were subjected to real attacks of two species of snakes. The PPE approved in the real attack experiments were then evaluated by a group of workers in real work conditions during pineapple cultivation, according to qualitative criteria related to comfort and usability. The experimental evaluation of the PPE resistance against snake attacks showed that only five models resisted all attacks: one model of protective footwear, two leggings, and two models of protective gloves. As for the qualitative analysis of the PPE approved in real work conditions, some of them were considered uncomfortable, ineffective, and obstructive during the usual tasks.

The results allow to conclude that workers involved in the production process of pineapple don’t have effective protection against the main hazard factors in their work. There is a clear need for PPE designed according to the particularities of agricultural work and with workers’ active participation in the development of such projects.

Keywords: work, pineapple, snakes, protection

Lista de figuras

Figura 1 - Morfologia externa do abacaxi ...... 21 Figura 2 - Subgrupos de abacaxi ...... 25 Figura 3- Classificação com base no peso das infrutescências ...... 26 Figura 4 - Defeitos graves no abacaxi ...... 27 Figura 5 - Trabalhador colhendo abacaxi ...... 33 Figura 6 - Esquema do plantio de mudas (visto de cima) ...... 34 Figura 7 - Processos distintos de adubação química ...... 35 Figura 8- Colheita de abacaxi na Paraíba ...... 40 Figura 9- Colheita de abacaxi nas Filipinas...... 45 Figura 10 - Folhas pontiaguadas de abacaxi ...... 49 Figura 11 - Colheita de mudas em ambiente repleto de mato ...... 51 Figura 12 - Mão lesionada pela luva de proteção na atividade do corte manual da cana...... 52 Figura 13 - Cortadora de cana com luva de tamanho adequado ...... 53 Figura 14 - Acidentes de trabalho em Frutal de 2002 a 2012...... 63 Figura 15 - Material com uma presa de serpente peçonhenta ...... 68 Figura 16 - Adaptações morfológicas na especialização peçonha: áglifa, opistóglifa, proteróglifa e solenóglifa ...... 69 Figura 17 – Jararaca ...... 72 Figura 18 – Cascavel ...... 72 Figura 19- Surucucu-pico-de-jaca ...... 73 Figura 20 - Coral-verdadeira ...... 73 Figura 21 - Acidentes de trabalho registrados pelo CID X20 ...... 78 Figura 22 - Casos registrados no Brasil de picadas de serpentes (2001-2015) ...... 79 Figura 23 - Torniquete nos braços ...... 95 Figura 24 - Cronograma de execução das pesquisas envolvendo o cultivo de abacaxi ...... 101 Figura 25 - Arranjos experimentais utilizados nos testes com as serpentes ...... 103 Figura 26 - Delineamento experimental ...... 104 Figura 27 - Equipamentos de proteção codificados ...... 105 Figura 28 - Roupa fabricada e perneira com material resistente ao ataque de serpentes ...... 108 Figura 29 - - Carreta de metal para transporte de mudas de abacaxi...... 112 Figura 30 - Máquina para aplicar agentes químicos e podar folhas de abacaxi ...... 113 Figura 31 - Trabalhadores descalços ou de meias plantando abacaxis...... 114 Figura 32- Abacaxi coberto por saco de papel ...... 115 Figura 33 - Carregamento de carga em Frutal ...... 116 Figura 34 - Dados biométricos das serpentes ...... 118 Figura 35 - Ataque em luva de proteção...... 119 Figura 36 - Equipamentos aprovados durantes os ensaios ...... 120 Figura 37- Resultados dos ensaios...... 121 Figura 38 - Bota perfurada pela presa da jararacuçu quando o zíper estava aberto ...... 122 Figura 39- Equipamentos reprovados nos testes com as serpentes ...... 124 Figura 40 – Médias de espessura dos materiais testados ...... 126 Figura 41 - Dados sobre os trabalhadores entrevistados ...... 129 Figura 42 - Luva de pano com tamanho inadequado ...... 130 Figura 43 - Botina em couro ...... 132 Figura 44 - Perfil dos trabalhadores participantes ...... 134 Figura 45 - A luva L2 sem dedos ...... 135

Figura 46 - A luva L3 ...... 136 Figura 47 - Análise qualitativa da luva L3 referente a prejudicar os movimentos, machucar, endurecer e provocar coceira ...... 137 Figura 48 - Análise qualitativa da luva L3 referente à resistência a perfuração, proteção na manipulação dos frutos, esquentar e adequação do tamanho ...... 138 Figura 49- Análise qualitativa da luva L3 referente a peso, se atrapalha a execução das atividades e avaliação final ...... 139 Figura 50 - Perneira P3 ...... 140 Figura 51 - Perneira P2 preta/velcro ...... 141 Figura 52 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a prejudicar os movimentos das pernas e machucar os pés e as pernas ...... 142 Figura 53 - Análise qualitativa da perneira P2 referente à sensação de maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico ...... 143 Figura 54 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a tamanho, peso, se ela deixa a perna transpirar, se permite a execução das tarefas e avaliação final ...... 144 Figura 55 - Local do fechamento da perneira em velcro e elástico ...... 144 Figura 56 - Perneira marrom (CA 11.410) ...... 145 Figura 57 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a prejudicar os movimentos das pernas e dos pés, e a provocar ferimentos nessas partes do corpo ...... 146 Figura 58 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico ...... 146 Figura 59- Análise qualitativa da perneira CA 11.410 relacionada a tamanho, peso, transpiração da perna, execução das tarefas e avaliação final dos trabalhadores ...... 147 Figura 60 - Trabalhador descalço durante plantio de abacaxi ...... 148 Figura 61 - Bota em couro ...... 149 Figura 62 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a movimentação dos pés, a machucar os pés, à sensação de maciez e a provocar coceiras ...... 150 Figura 63 - Análise qualitativa da bota em couro quanto à resistência a perfurações, peso, tamanho adequado e transpiração dos pés ...... 151 Figura 64 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a conforto térmico, a atrapalhar o trabalho e avaliação final ...... 152 Figura 65 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a tamanho, proteção, dificuldade de movimentação e peso ...... 153 Figura 66 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a conforto térmico e avaliação final ...... 154 Figura 67- Trabalhador com roupa protetora de nylon limpa ...... 155

Lista de tabelas

Tabela 1 - Estabelecimentos com empregados temporários contratados no ano, distribuídos por tarefa - Brasil – 2006 ...... 19 Tabela 2 - Produção mundial de abacaxi em 2012, segundo a FAO ...... 22 Tabela 3 - Produção brasileira de abacaxi (2013) ...... 23 Tabela 4 - Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, para o Brasil e os Estados com maior produção de abacaxi ...... 62 Tabela 5 - Casos de intoxicação por serpentes por Unidade Federada, segundo ...... 84 Tabela 6- Notificações em 2015 por tipo de serpente segundo região/unidade da Federação . 87

Lista de Siglas

Apamg - Associação de Produtores de Abacaxi do Munícipio de Guaraçaí

Animaseg - Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho

AET - Análise Ergonômica do Trabalho

BM - Banco Mundial

CNAE - Classificação Nacional das Atividades Econômicas

Ceagesp - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo

Ceatox - Centro de Assistência e Informação Toxicológica

Cerest - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

Ceua - Comissão de Ética no Uso de Animais

CID - Classificação Internacional de Doenças

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho

Concea - Conselho Nacional de Controle de Experimentação

Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EN - European Standard (padrão europeu)

FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

Fiocruz - Fundação Osvaldo Cruz

Fundacentro - Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho

Funasa - Fundação Nacional de Saúde

Funed - Fundação Ezequiel Dias

HRUECG - Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina Grande

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH - índice de desenvolvimento humano

IEA - International Ergonomics Association

ILO - International Labour Organization ou International Labour Office

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

ILRF - International Labor Rights Forum

ISO - International Organization for Standardization

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MS - Ministério da Saúde

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico

PIB - produto interno bruto

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

Renast - Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

SAT - Seguro de Acidente do Trabalho

SELF - Société d´ergonomie de langue française

SIH - Sistema de Informações Hospitalares

SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade

Sinan - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

Sinitox - Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

SUS - Sistema Único de Saúde

SVS - Secretaria de Vigilância Sanitária

UEPB - Universidade Estadual da Paraíba

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...... 14 2. OBJETIVO GERAL ...... 17 2.1 Objetivos específicos 17 3. CONTINGENTE DE TRABALHADORES E DIMENSÃO DO SETOR QUE PRODUZ ABACAXI ...... 18 5.1 O trabalho agrícola e o cultivo de abacaxi em Guaraçaí (SP) 31 5.2 O trabalho na colheita de abacaxi no município de Santa Rita (PB) 38 5.3 O trabalho no cultivo de abacaxi nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica 42 6. ERGONOMIA E O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL47 7. ACIDENTES DE TRABALHO ...... 60 8. AS SERPENTES E O MUNDO DO TRABALHO ...... 65 8.1 Serpentes peçonhentas 68 8.2 Acidente ofídico 71 8.2.1 Acidentes botróficos ...... 74 8.2.2 Acidentes crotálicos ...... 76 8.2.3 Os acidentes de trabalho com serpentes peçonhentas...... 77 8.3 Tratamentos de acidentes ofídicos 91 9.1 Referencial legal para trabalhar com animais 97 9.2.1 Análise ergonômica do trabalho como referencial ...... 98 9.2.2 Análise qualitativa ...... 99 10. MATERIAL E MÉTODOS ...... 101 10.1 Estudo comparativo entre os processos produtivos no cultivo de abacaxi 101 10.2 Método para testes de perfuração de EPI por serpentes peçonhentas 101 10.3 Método para analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com ataques reais de serpentes em Frutal ...... 105 11. RESULTADOS ...... 110 11.1 Análise do processo produtivo em Frutal 110 11.2 Resultados dos ensaios com as serpentes peçonhentas 117 11.3 Resultados da análise qualitativa dos EPIs 127 11.3.1 Análise qualitativa dos EPIs de uso cotidiano ...... 128 11.3.2 Análise qualitativa dos EPIs submetidos aos ensaios com serpentes ...... 133 11.3.3 Análise qualitativa das luvas de proteção ...... 135 11.3.4 Análise das perneiras de segurança ...... 140 12. CONCLUSÕES ...... 157 12.1 Sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi 157 12.2 Sobre a resistência dos EPIS a ataques de serpentes peçonhentas 158 12.3 Sobre aspectos de conforto e usabilidade dos EPIs 158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 160 APÊNDICE 2. ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO DA DEMANDA ...... 181 APÊNDICE 3. ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ...... 186

ANEXOS ...... 194 ANEXO 1. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DA FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS ...... 194 ANEXO 2. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DO INSTITUTO BUTANTAN .. 195 ANEXO 3. MATERIAL (TECIDO SINTÉTICO) TESTADO PELA FUNED ...... 196 ANEXO 4. MATERIAL (PERNEIRA DE PROTEÇÃO CA 11.410) TESTADO PELA FUNED ...... 197

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1. INTRODUÇÃO

Conforme o International Labour Office - ILO (2004), a agricultura é um dos setores produtivos mais perigosos sob o ponto de vista do trabalho humano. Devido às características inerentes ao trabalho agrícola, sobretudo a sinergia entre os fatores de risco presentes nas atividades exercidas nos diversos processos produtivos no meio rural, acidentes danosos à saúde dos trabalhadores ocorrem com grande frequência. Essas constatações justificam o estudo dos fatores de riscos e da seleção ou projeto de equipamentos de proteção individual (EPIs) eficazes e minimamente confortáveis. No ano de 2009, atendendo à solicitação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guaraçaí, o Serviço de Ergonomia da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho (Fundacentro), organização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sediada na cidade de São Paulo, iniciou estudos sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi, em parceria com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Ilha Solteira e com a Universidade Federal da Paraíba. Durante o ano de 2010 foram feitas as tratativas com o sindicato rural envolvido, para que o início das pesquisas de campo ocorresse em 2011. Nessa primeira fase da pesquisa utilizou-se a Análise Coletiva do Trabalho (ACT), método também escolhido por Adissi e Almeida (2002) para a identificação dos riscos associados ao processo produtivo da cultura de abacaxi, quando foram apontados fatores de risco em todas as fases desse processo. Segundo Ferreira (1993), a Análise Coletiva do Trabalho consiste na análise do trabalho feita pelos próprios trabalhadores que, baseados na memória da labuta, devem descrever um dia de sua jornada laboral. Vale salientar que tal atividade precede qualquer ida dos pesquisadores ao campo. Portanto, a descrição do trabalho precisa ser detalhada e minuciosa.

Para a situação que se apresentava, observaram-se as recomendações de Ferreira (2011), incluindo participação voluntária, garantia de anonimato, trabalhar com demanda real formulada pelo sindicato dos trabalhadores, trabalhar em grupo e organizar reuniões fora do horário e do ambiente de trabalho.

Assim, houve três reuniões na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guaraçaí, com duração de 2,5 horas cada, com a participação de 8 homens e 3 mulheres.

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Ao término, ficou evidente a fragilidade nas relações trabalhistas que se refletia nas condições precárias de trabalho, o que está em conformidade com Ferreira (2015a) nas reuniões de ACT, nas quais se fala tanto da atividade como do emprego ou da relação entre ambos. E mostra-se que são sempre estes dois lados do trabalho, o da atividade e o do emprego, que afetam os trabalhadores para o bem e para o mal, para a saúde ou para a doença. Não é só a atividade. Não é só o emprego. São os dois conjuntamente.

Durante o ano de 2013 as pesquisas em campo continuaram, contando com a participação dos empregadores, representados pelo Sindicato Rural de Guaraçaí e da Associação de Produtores de Abacaxi do Munícipio de Guaraçaí (Apamg), juntamente com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Ilha Solteira.

Desta vez, o método da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foi utilizado parcialmente, em especial com observação sistemática do trabalho real e das estratégias ocupacionais desenvolvidas pelos trabalhadores para se protegerem, sempre com a premissa de que os riscos ocupacionais se fazem presentes em todas as tarefas exercidas durante o processo produtivo: manuseio da muda/do fruto na carreta e no solo (cortar, virar, arremessar e descarregar no caminhão); plantar; cobertura dos frutos com papel; capina; colheita; controle da qualidade; e organização dos frutos no eito e no caminhão.

As observações do trabalho por tarefa seguiram o seguinte cronograma de execução:

1. Em abril de 2013 foram observadas as seguintes tarefas: colheita de abacaxi, colheita de mudas de abacaxi e aplicação de adubo químico com carriola;

2. Em setembro de 2013 observou-se em campo a aplicação de adubo químico com sacolas e baldes;

3. Em novembro de 2013 foram observadas as tarefas de plantio e colheita de frutos; a única tarefa não observada foi a colocação de saquinhos nos abacaxis visando sua proteção contra os raios solares.

Durante o trabalho de campo confirmou-se a precariedade das relações de trabalho, notando-se ainda que muitos atuavam sem vínculo formalizado, ou seja, sem registro na carteira de trabalho.

Tal quadro é preocupante visto que os trabalhadores informais não têm sequer um direito garantido, incluindo o fornecimento dos EPIs. Esses, quando disponibilizados, eram

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inadequados. Por exemplo: para todas as atividades a luva para aplicação de adubo químico era confeccionada com fios de algodão e poliéster, o que permitia que o adubo penetrasse nas mãos, como mostra o relato abaixo:

Usar essa luva é trabalhar com a mão impregnada de adubo químico granulado, além de dificultar a colocação do adubo no local correto; gosto de jogar o adubo com a mão limpa, pois facilita a colocação do adubo no local certo; com a luva ele espalha; trabalhar sem a luva é melhor, pois atinge melhor o alvo. (GONZAGA et al., 2014, p. 26).

Os trabalhadores salientaram a falta de proteção contra acidentes com serpentes peçonhentas. É importante ressaltar que não há ensaios no Brasil que garantam a eficácia dos EPIs contra ataques desses animais. A Portaria n.º 452, que estabelece as normas técnicas de ensaios e os requisitos obrigatórios aplicáveis aos Equipamentos de Proteção Individual - EPIs, de 20 de novembro de 2014, não prevê ensaio para esse tipo de risco, já que a força de ataque imprevisível desses seres vivos dificulta alcançar o nível de controle exigido em laboratórios para tal finalidade.

Face ao exposto, este estudo se propôs a analisar a eficácia de um conjunto de EPIs na proteção dos trabalhadores contra ataques de serpentes peçonhentas durante o cultivo de abacaxi, e avaliar até que ponto tais EPIs interferiam na execução das operações, assim como seu uso e conforto.

Vale salientar que esse experimento científico não tinha precedentes no Brasil.

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2. OBJETIVO GERAL

Avaliar a efetividade do uso de um conjunto de EPIs nas atividades laborais durante o processo produtivo do abacaxi.

2.1 Objetivos específicos

1. Avaliar experimentalmente a proteção oferecida por luvas, botas, mangotes e perneiras contra perfurações causadas pelo ataque de serpentes peçonhentas;

2. Analisar o processo produtivo do abacaxi no município de Frutal (MG) sob uma visão ergonômica, salientando as diferenças observadas a partir de estudos anteriores realizados nos municípios de Guaraçaí (SP) e Santa Rita (PB), e de referências bibliográficas sobre o tema nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica.

3. Analisar qualitativamente o uso dos EPIs considerados efetivos contra ataques de serpentes peçonhentas segundo critérios subjetivos de conforto e facilitação do trabalho.

4. Propor um conjunto de EPIs adequados segundo os fatores de riscos identificados e critérios de usabilidade.

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3. CONTINGENTE DE TRABALHADORES E DIMENSÃO DO SETOR QUE PRODUZ ABACAXI

A agricultura é a segunda fonte de emprego no mundo, sendo que na África e Ásia é uma ocupação importante para mulheres. Em 2013, a agricultura representava 31% do emprego global, segundo informações da International Labour Organization – ILO (2014).

Entre 1999 e 2008 a taxa de emprego nesse setor na África Subsaariana diminuiu de 62,4% para 59%, no Sudeste da Ásia e do Pacífico teve queda de 49,3% para 44,3%, enquanto na América Latina caiu de 21,5% para 16,3% (OIT, 2009).

O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (BRASIL, 2010) calculou que em 2010 a população urbana representava 84,36% e a rural 15,64% do total de habitantes no país.

O Anuário Estatístico do Brasil desenvolvido pelo IBGE (BRASIL, 2011) apresenta informações por grupamento de atividades de trabalho. Em 2008, 92.395.000 pessoas trabalhavam no país, sendo 16.100.000 no setor agrícola. Na região Norte eram 6.863.000 pessoas, das quais 1.296.000 trabalhavam no setor agrícola. Na região Nordeste havia 24.549.000 pessoas, sendo que 7.567.000 atuavam no setor agrícola. Na região Sudeste havia 39.397.000, das quais 3.500.000 trabalhavam no setor agrícola, e na região Sul havia 14.675.000, das quais 2.700.000 atuavam no setor agrícola.

As informações do Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006) permitem quantificar os trabalhadores temporários por tarefa. Na tabela 1 são apresentados dados nacionais, assim como os referentes a São Paulo e Minas Gerais, já que as atividades deste estudo se concentram nesses Estados.

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Tabela 1 - Estabelecimentos com empregados temporários contratados no ano, distribuídos por tarefa - Brasil – 2006

Brasil/ Total Preparo do Plantio ou Colheita Outras tarefas solo, capina, semeadura Unidades trato cultural, Federativas limpeza de pasto

Brasil 841.520 577.578 312.049 405.229 241.382

Minas Gerais 105.125 69.159 31.483 52.612 29.783

Pará 25.078 18.634 5.277 8.028 7.549

Paraíba 34.065 27.517 17.308 15.621 11.126

Rio de Janeiro 9.249 6.955 3.151 3.625 2.459

Rio Grande do 14.933 10.676 7.116 8.254 5.391 Norte

São Paulo 32.455 16.205 8.644 16.111 9.737

Fonte: Censo 2006 do IBGE

Os dados da tabela 1 demonstram que para todas as tarefas observadas no Estado de Minas Gerais o número de trabalhadores rurais temporários é bem maior do que nos outros Estados apresentados. Os Estados citados na tabela 1 são os maiores produtores de abacaxi no Brasil (BRASIL, 2013).

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese (2014), entre os 4 milhões de empregados rurais ocupados (ou assalariados), a maioria (59,4% ou 2,4 milhões) estava empregada sem carteira de trabalho assinada. Em suma, a maior parte dos trabalhadores assalariados rurais no Brasil está em situação de trabalho ilegal (ou informal), ou seja, sem quaisquer das proteções garantidas pelo vínculo formal, a exemplo do registro dos acidentes de trabalho pela CAT.

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Segundo informações da OIT (2013, p. 275), no período de 2004 a 2009 a taxa de formalidade das relações de trabalho no Brasil para a população de 16 a 64 anos cresceu de 46,7% para 52,6%. A taxa na área urbana em 2004 era de 53,1% e em 2009 passou a ser de 58,1%; e na área rural, subiu de 17,9% em 2004 para 23,8% em 2009. O Estado do Piauí tinha a menor taxa de formalidade do Brasil em 2009 -- 23,7% --, e o Estado de São Paulo, a maior -- 67,8%.

Os dados acima indicam que a informalidade predomina no trabalho rural, o que significa que os trabalhadores têm apenas obrigações, porém não têm garantidos os direitos prescritos na Norma Regulamentadora nº 31 (NR31) do MTE (2005), dentre eles o fornecimento gratuito dos EPIs adequados.

Este trabalho teve por base estudos prévios feitos no município de Guaraçaí (SP), onde ficou demonstrado que no cultivo de abacaxi os trabalhadores não tinham vínculo formal de trabalho, conforme o seguinte relato: “... é muito difícil ter registro aqui, eles dizem que dá muito trabalho, que tem que pagar isto, pagar aquilo, por isso eles preferem manter a gente sem registro…” (GONZAGA et al., 2014, p. 22).

O trabalho no cultivo de abacaxi é árduo devido à morfologia extremamente agressiva desse fruto (figura 1) que, conforme o Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006), é sempre colhido manualmente no país. Tal fato é agravado pela condição de informalidade vivida pelos trabalhadores.

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Figura 1 - Morfologia externa do abacaxi

Fonte: Portal São Francisco

O abacaxi (Ananas comosus) é uma planta de clima tropical, monocotiledônea, herbácea e perene da família Bromeliácea e seus frutos podem ser consumidos frescos ou processados. Seu crescimento requer temperaturas entre 22 e 26º C, o melhor pH para essa cultura é de 4,5 a 6,5. O período do plantio à colheita da planta é de 1 a 2 anos. Cada planta tem caule (talo) curto e grosso, ao redor do qual crescem folhas estreitas, compridas e resistentes, quase sempre margeadas por espinhos e dispostas em rosetas. Nas variedades comerciais, a planta adulta tem de 1 a 1,20 m de altura e 1 a 1,5 m de diâmetro. No caule insere-se o pedúnculo que sustenta a inflorescência e depois o fruto, sendo que cada planta produz um único fruto. A topografia é outro fator importante na escolha da área. Terrenos planos ou de pouca declividade (até 5% de declive) são mais favoráveis porque, além de facilitar a mecanização e os tratos culturais, têm menos suscetibilidade a erosão. A maior parte da produção brasileira de abacaxi é destinada ao mercado interno de frutas frescas; menos de 1% do total produzido é exportado (BRASIL, 2000).

Dentre as diferentes variedades de abacaxi, as mais cultivadas comercialmente e consumidas no mundo são as espécies Ananas comosus (Pérola) e Smooth Cayenne (Caiena lisa), mais conhecida como Havaí e perfazendo cerca de 70% da produção mundial.

No Brasil, o abacaxi do tipo Havaí é mais cultivado nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, e seu fruto chega a pesar entre 1,5 e 2,5 kg. Há, porém, predominância do abacaxi Pérola originário do Brasil, cujo fruto pode pesar de 1,0 a 1,5 kg (CUNHA, 2003).

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Segundo informações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO (2012), a produção mundial de abacaxi em 2012 foi de 23.333.886 toneladas distribuindo-se por países da seguinte forma:

Tabela 2 - Produção mundial de abacaxi em 2012, segundo a FAO

País Produção em tonelada

Tailândia 2.650.000

Costa Rica 2.484.729

Brasil 2.478.178

Filipinas 2.397.628

Indonésia 1.780.889

Fonte: FAO (2013)

Conforme informações da FAO (2012), o Brasil foi o terceiro produtor mundial de abacaxi em 2012, com um total de 2.478.178 toneladas.

Por sua vez, o IBGE (BRASIL, 2013), que adota a medida ―mil frutos‖, informou que a produção de abacaxi no Brasil em 2013 se distribuiu pelos Estados conforme mostrado na tabela 3. Os maiores produtores foram Pará, Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.

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Tabela 3 - Produção brasileira de abacaxi (2013)

Estados Área Colhida (ha) Produção (mil frutos) Rendimento (frutos/ha) Pará 10.777 320.478 29.737 Paraíba 9.564 285.715 29.874 Minas Gerais 7.896 239.565 30.340 Rio de Janeiro 4.121 120.682 29.285 Rio Grande do Norte 2.986 112.896 37.808 Bahia 5.280 104.741 19.837 Amazonas 3.842 78.447 20.418 São Paulo 2.807 76.277 27.174 Goiás 2.623 56.177 21.417 Espírito Santo 2.287 50.431 22.051 Tocantins 2.080 41.503 21.147 Mato Grosso 1.830 41.175 22.500 Maranhão 1.381 26.638 19.289 Sergipe 772 19.890 24.716 Pernambuco 708 13.067 18.456 Paraná 446 11.371 25.496 Ceará 330 11.247 34.082 Alagoas 471 9.716 20.628 Rondônia 452 8.730 19.314 Amapá 1.280 7.250 5.734 Acre 519 7.050 13.584 Mato Grosso do Sul 249 5.240 21.044 Roraima 231 4.367 18.909 Rio Grande do Sul 303 3.823 12.617 Santa Catarina 6 162 27.000 Distrito Federal 3 58 19.333 Piauí - - - Brasil 63.204 1.655.887 26.199 Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal 2013. Consultado em 18/12/2014

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O Censo Agropecuário do IBGE (BRASIL, 2006) contabilizou 40.663 estabelecimentos no país que produzem abacaxi, com uma produção de 574.658 frutos em uma área de 51.242 ha. Esses produtores estavam distribuídos por região da seguinte forma: Norte, 11.636; Nordeste, 9.310; Sudeste, 9.075; Sul, 5.599; e Centro-Oeste, 5.043. A relação deles com as terras era a seguinte: 30.571 eram proprietários; 3.548, assentados sem titulação definitiva; 1.147, arrendatários; 757, parceiros; e 1.389, produtores sem-terra.

Segundo o IBGE (BRASIL, 2013), Monte Alegre é o município de Minas Gerais que mais produz abacaxi (60.000 frutos), seguido de Canápolis (51.000 frutos) e Frutal (48.000 frutos).

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (2016) informa que atualmente o município de Frutal é responsável por 80% da produção da fruta, com 300 produtores. Salienta ainda que Frutal tornou-se o maior produtor de abacaxi de Minas Gerais. Na safra de 2015, a produção no município chegou a 82,8 mil toneladas.

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4. NORMATIZAÇÃO PARA A COMERCIALIZAÇÃO DE ABACAXI NO BRASIL

O Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MAPA) é o órgão responsável pela classificação do abacaxi estando a cargo da organização normativa, da supervisão técnica e da fiscalização.

Entende-se por classificação o ato de determinar as qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto vegetal, com base em padrões oficiais, físicos ou descritos. Com base nos padrões oficiais estipulados em sua Instrução Normativa/SARC nº 001 de 01 de fevereiro de 2002 (Brasil, 2002), o MAPA estabelece o Regulamento Técnico de Identidade e de Qualidade para a Classificação do Abacaxi, que visa definir as características de identidade e qualidade para fins de classificação do abacaxi "in natura". Essa instrução também estabelece os requisitos para a classificação por peso, para a embalagem, rotulagem, os parâmetros de amostragem e os defeitos graves e leves.

A cor da polpa divide os abacaxis em dois grupos: polpa amarela (Smooth Cayenne, ou Havaí) e polpa branca (Pérola e Jupi).

A coloração externa da infrutescência os divide em quatro subgrupos mostrados na figura 2: verde ou verdoso (casca completamente verde), pintado (centro dos frutilhos amarelos), colorido (até 50% dos frutilhos amarelos) e amarelo (mais de 50% dos frutilhos amarelos).

Figura 2 - Subgrupos de abacaxi

Fonte: Centro de Qualidade em Horticultura - CEAGESP

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Em função do peso do fruto, o abacaxi é classificado em seis classes, conforme a figura 3 abaixo. Admite-se uma mistura de até 10% (dez por cento) das classes inferiores ou superiores.

Figura 3- Classificação com base no peso das infrutescências

Classe Peso (kg)

1 Maior ou igual a 0,900 até 1,200

2 Maior que 1,200 até 1,500

3 Maior que 1,500 até 1,800

4 Maior que 1,800 até 2,100

5 Maior que 2,100 até 2,400

6 Maior que 2,400

Fonte: Instrução Normativa/SARC nº 001 de 1º de fevereiro de 2002 (Brasil, 2002)

Todas as alterações causadas por fatores de natureza fisiológica, mecânica ou por agentes diversos, que venham a comprometer a qualidade e a apresentação do abacaxi, são consideradas defeitos.

Os defeitos graves são aqueles cuja incidência sobre a infrutescência compromete sua aparência, conservação e qualidade, restringindo ou inviabilizando o uso do abacaxi, conforme mostra a figura 4.

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Figura 4 - Defeitos graves no abacaxi

Fonte: Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp

Os seguintes defeitos são considerados graves:

 Lesão: qualquer dano de origem mecânica, patológica ou entomológica que exponha a polpa;

 Podridão: dano patológico ou fisiológico que implique qualquer grau de decomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos;

 Sem coroa: infrutescência que se apresenta sem a coroa;

 Fasciação: deformação resultante do achatamento do ápice da infrutescência pela emissão de rebentos em forma de leque;

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 Queimado de sol: infrutescência que apresenta área descolorida ou necrosada, provocada pela ação do sol;

 Imaturo: infrutescência colhida antes de atingir o teor mínimo de sólidos solúveis, de 12º Brix;

 Passado: infrutescência que apresenta estágio avançado de maturação caracterizado pela perda de firmeza;

 Amassado: deformação ou amolecimento da infrutescência devido a ação mecânica;

 Exsudado: deformação ou amolecimento da infrutescência causado por ação mecânica;

 Mole: infrutescência sem firmeza da casca causada por fatores diversos;

 Chocolate: polpa escurecida caracterizada pela cor marrom, de origem fisiológica;

 Injúria por frio: polpa escurecida causada por geada ou armazenagem a baixa temperatura.

Os defeitos considerados leves são: coroa múltipla (a infrutescência apresenta mais de uma coroa, sem que isso a deforme); coroa danificada: dano parcial da coroa da infrutescência; coroa torta: coroa com desvio acentuado em relação à infrutescência; deformado: qualquer desvio da forma da infrutescência, que não seja característico da cultivar.

O lote de abacaxi que apresentar uma ou mais das características indicadas a seguir será desclassificado, sendo proibida sua comercialização para a alimentação humana: mau estado de conservação; aspecto generalizado de mofo ou fermentação; resíduos de agrotóxicos, outros contaminantes e substâncias nocivas à saúde acima do limite estabelecido por legislação específica vigente; e odor estranho de qualquer natureza, impróprio ao produto.

Alguns estudos feitos pelo Centro de Qualidade em Horticultura da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo – Ceagesp (2006) mostram bem a importância do sabor. O abacaxi Havaí, por exemplo, vem perdendo espaço para o abacaxi Pérola, pois este tem menos acidez e menor teor de sólidos solúveis.

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A colheita do abacaxi Havaí verde ou seu plantio fora da melhor época de produção lhe trouxe a fama de ácido, o que leva à sua rejeição mesmo no auge da temporada de produção.

O sabor final do fruto está vinculado a vários fatores, desde a região de plantio à variedade, à época de produção, à adubação, ao sistema de poda, ao vigor da planta-mãe e a outras técnicas de produção determinantes para tal. Segundo o Centro de Qualidade em Horticultura do Ceagesp (2006), esse conjunto irá interferir na presença de substâncias, como açúcares, ácidos e substâncias voláteis, cuja combinação influenciará o sabor.

As transformações pós-colheita tornam esses frutos mais coloridos e mais macios, mas não aumentam sua doçura, já que é frequente a utilização do regulador de crescimento Ethrel para acelerar o amadurecimento. No entanto, como esse dado não é de amplo conhecimento público, a coloração da casca da fruta continua sendo uma das características mais observadas pelo consumidor na hora de escolher o produto.

Já que os requisitos do MAPA estabelecem regras para o cultivo de abacaxi, a fim de manter a qualidade dos frutos, há prioridades em todas as etapas de produção, como irá se observar nos resultados.

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5. O TRABALHO AGRÍCOLA E O CULTIVO DE ABACAXI

Esse capítulo apresenta detalhes do sistema produtivo de abacaxi observado a partir do trabalho real no município brasileiro de Guaraçaí (SP) e de referências bibliográficas sobre o tema em Santa Rita (PB) e nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica.

As variedades Smooth Cayenne (Havaí) e Ananas Comosus (Pérola) eram as mais cultivadas nos locais estudados, assim como nas Filipinas e na Tailândia.

A cultura do abacaxi no Brasil tem características no manejo que se mantêm independentemente da região, embora existam alterações em termos de espaçamento, nomenclatura (trilhinha, ruinha etc.) e técnicas que serão discutidas a seguir.

O cultivo de abacaxi nas diversas regiões pesquisadas envolve o trabalho manual em todas as tarefas, desde o plantio das mudas até a colheita dos frutos, passando pela organização dos frutos em caminhões para comercialização, além do controle de sua qualidade. Segundo Miguel et al. (2007), os compradores de abacaxi são muito exigentes com relação a aparência, cor, defeitos, firmeza e tamanho.

Todos os estudos realizados por ora demonstraram que as relações de trabalho nesta cultura são permeadas por irregularidades, as quais se refletem na precariedade das condições de trabalho, já que raramente há proteção social advinda de relação formal de trabalho e proteção física advinda de equipamentos de proteção apropriados. Esse quadro resulta em permissão ou não para os trabalhadores se organizarem em sindicatos; diferentes formas de pagamento e salário; diferentes jornadas de trabalho; diferentes formas de controle de qualidade; diferentes formas de fornecimento de água potável e abrigo para descanso; diferentes formas de tratar doenças e acidentes de trabalho; e fornecimento ou não de equipamentos de proteção.

O saldo final são trabalhadores sofridos, com corpos expostos a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, sem nenhum tipo de tratamento adequado.

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5.1 O trabalho agrícola e o cultivo de abacaxi em Guaraçaí (SP)

O município de Guaraçaí se localiza na microrregião de Andradina e mesorregião de Araçatuba, no Estado de São Paulo. Em 2010 tinha população de 8.435, sendo 6.654 pessoas na área urbana (78,89%) e 1.781 na área rural (21,11%), de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2010).

Na época da realização da pesquisa (2012 a 2014), pequenas empresas familiares de Guaraçaí eram responsáveis por 38% da produção de abacaxi do Estado de São Paulo, o que equivaleu a 25.500 frutos em 2011, conforme levantamento da produção agrícola municipal feito pelo IBGE (2012).

Em Guaraçaí observamos as seguintes características nas plantações de abacaxi:

A plantação de abacaxi é dividida em linhas duplas plantadas paralelas entre si a uma distância de 80 cm. Os espaçamentos entre as linhas formam as ruas, cujas dimensões dependem da declividade da área, do tipo de solo e da variedade de abacaxi; a plantação é rodeada por ruas mais largas por onde circulam os tratores que transportam o abacaxi colhido; estas ruas têm aproximadamente 2 metros de largura e são chamadas de carreadores. Os carreadores separam os talhões. (GONZAGA et al., 2014, p. 20).

Havia relações de trabalho diversificadas para o grupo de trabalhadores que participou das pesquisas: alguns trabalhadores tinham vínculos formais, com carteira de trabalho assinada. Sua remuneração é com salário fixo de R$ 630, garantido pela Convenção Coletiva; para as atividades de colher, tirar muda e plantar verificamos duas formas de pagamento: recebem o salário e R$ 15 a mais por hora trabalhada ou recebem por diárias fixadas no dia, as quais variam entre R$ 30, R$ 35 e R$ 40.

Já os informais recebem por produção na colheita e no plantio. Quando o pagamento é feito mediante diária, esta é maior para os informais, conforme esse relato de um trabalhador registrado: se for trabalhador fixo, ganha quarenta reais por dia... se o camarada trabalhar de empreita, ele ganha cem reais por dia durante o plantio; o patrão prefere não registrar para gastar menos (GONZAGA, 2012, p. 25). Neste caso, fica evidente o quanto as obrigações sociais são desrespeitadas.

Durante o plantio, os trabalhadores com registro são transportados na caminhonete do patrão, ao passo que aqueles sem registro são levados em cima das mudas na caçamba do caminhão.

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A jornada dos trabalhadores nesse município depende da atividade a ser exercida: Durante a colheita de mudas, o descarregamento e o carregamento das mudas no local do plantio, a jornada se inicia às seis horas e não tem hora para terminar, o mesmo acontece durante a colheita de frutos. O horário da saída vai depender da lonjura da roça, pois às vezes a gente tem que estar no ponto entre cinco horas e cinco e meia quando a roça é longe. Quando a roça é perto, a gente tem que estar no ponto às seis e meia. (GONZAGA et al., 2014, p. 37)

Em Guaraçaí ocorre o seguinte em relação à proteção física representada pelos equipamentos de proteção individual (EPIs): alguns empregadores que registram os trabalhadores fornecem calça de lona, bota de borracha, luva de algodão e mangote. Os trabalhadores sem registro têm de comprar os EPIs: eu compro sapatão, calça de lona, luvas e óculos.

Segundo Santos (1985), no município de Sapé, Paraíba, no período de 1980-83 os trabalhadores que cultivavam abacaxi compraram botas, luvas e perneiras para se proteger.

O cultivo de abacaxi envolve as seguintes tarefas manuais: colher as mudas do fruto, tratá-las com inseticidas, transportá-las para o local do plantio, plantá-las e cobri-las com saquinhos de papel; capinar ervas daninhas que competem com o cultivo principal; preparar caldas com agentes químicos, abastecer os tanques e adubar ou aplicar herbicidas e fungicidas; colher os frutos (vide figura 5), organizá-los e carregá-los na carreta do trator e depois no caminhão, onde a carga colhida deve ser organizada em montes. As posturas adotadas nessas tarefas são: em pé, inclinada e agachada.

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Figura 5 - Trabalhador colhendo abacaxi

A colheita de mudas implica outras tarefas: controlar a qualidade das mudas a serem colhidas; separar as que estão com manchas e buracos advindos de pragas para descartá-las ou tratá-las com agentes químicos e, em seguida, bater as mãos nelas para que se soltem e virar a base para secar ao sol.

O transporte das mudas para o local do plantio é feito em um caminhão, o que requer a tarefa de arremessar as mudas para a carroceria e, posteriormente, descarregar o caminhão arremessando as mudas para o chão.

O plantio de mudas deve ser feito na linha aberta pelo trator. Elas devem ser plantadas com 30 cm de espaçamento entre si e com cerca de 8 cm de profundidade, o que provoca um grande adensamento de frutos.

O plantio se dá da seguinte forma: dois trabalhadores que estão no interior da carreta atrelada ao trator jogam as mudas de abacaxi ao chão. O trabalhador que está atrás joga as mudas nas três primeiras ruas, e o que está na frente joga as mudas nas duas últimas ruas. Dois trabalhadores vão executando o plantio no solo.

As mudas são plantadas no solo em uma profundidade de 10 cm, a uma distância aproximada de 30 cm em linha reta ou intercaladas em zigue-zague (figura 6), podendo ser feito o plantio de 1 muda por vez ou 2 simultâneas. (Gonzaga et al ., 2014, p 21).

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Figura 6 - Esquema do plantio de mudas (visto de cima)

Muda de abacaxi

Solo Mudas Mudas na mesma intercaladas (em direção (em linha zigue-zague) reta)

diredireção

Durante a fase de amadurecimento, os frutos plantados são cobertos com saquinhos de jornal feitos por mulheres residentes em Guaraçaí, a fim de evitar que sejam queimados pelos raios solares.

Conforme Gonzaga et al. (2012), no plantio o pagamento é feito por milheiro de muda plantada, cabendo R$ 17,50 a cada trabalhador por essa medida. Os trabalhadores comentaram que chegam a plantar entre 7.000 e 9.000 mudas por dia.

O adubo pode ser acondicionado em carriola, baldes ou sacolas (figura 7) e depois é aplicado manualmente. A adubação é de sulfato de amônia e nitrogênio, fósforo e potássio, com a formulação NPK–20–0–20. Geralmente, na safra de 12 a 15 meses, são feitas de 4 a 5 adubações, dependendo da incidência de chuva e do desenvolvimento da planta.

A figura 7 ilustra diferentes processos de adubação química.

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Figura 7 - Processos distintos de adubação química

O plantio do abacaxi em leira não permite o uso de carriola, pois isso aumenta o esforço físico. A carriola, porém, é apropriada para o plantio fora da leira.

A descrição da tarefa é a seguinte:

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O adubo é colocado na sacola pelo responsável por essa tarefa, o trabalhador é que define o quanto será colocado, depois o trabalhador vai adubar o fruto com a sacola pendurada no pescoço: com a mão direita segura o cano e direciona ao local da aplicação e com a mão esquerda apoia e segura a sacola junto ao corpo. (GONZAGA et al., 2014, p. 15).

A eliminação das plantas invasoras pode ser feita com enxada ou herbicidas. Quando é feita com herbicida, requer o preparo da calda e o enchimento dos tanques de aplicação. Na aplicação do herbicida, é necessário direcionar manualmente as mangueiras que saem do trator até as ervas daninhas.

Durante a etapa de colocação de saquinhos para proteger o fruto contra o sol, é comum os trabalhadores terem contato com indutores florais de crescimento, conforme essas declarações (GONZAGA et al., 2014, p. 30):

A aplicação do Ethrel é feita um ou dois dias antes das flores caírem. Em seguida, a gente põe o saquinho, pois o frutinho tem que estar bem pequenininho e nesse caso o Ethrel é usado para acelerar a maturação do fruto. Quando a gente está colocando saquinhos, os aplicadores de inseticida ficam trabalhando ao lado e a gente tem que ficar sentindo aquele cheiro forte o tempo todo, o que incomoda muito.

Os trabalhadores transportam em média 500 saquinhos em uma sacola pendurada no pescoço; na empreita eles levam cerca de 1.000 saquinhos para ganhar mais. A colocação dos saquinhos no abacaxi é feita em um lado da rua do eito.

Os frutos são colhidos segundo um controle de qualidade, que implica uma seleção conforme o tamanho, o grau de maturidade e a presença de manchas e furos. A seguir, o fruto é segurado manualmente, torcido para se soltar e organizado na segunda rua do eito e, por fim, em montes no carreador.

O abacaxi não pode ser jogado da quarta rua para a primeira rua do eito para não estragar, já que essa distância é de aproximadamente 2 metros. Os montes devem ficar organizados na primeira rua, onde passa o trator com a carreta que transportará os frutos colhidos para o caminhão.

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Após a colheita, os frutos são arremessados para um trabalhador em cima do caminhão, que organiza a carga a ser enviada à Associação dos Produtores de Abacaxi do Município de Guaraçaí (Apamg). Parte dos frutos é transferida para outro caminhão, onde será embalada em caixas para comercialização.

Os caminhões transportam cargas de 15 mil a 23 mil quilos: tem dia que nós colhemos frutos para encher dois caminhões. Quando feito em caixas, o transporte varia de 12 mil a 13 mil quilos de abacaxi, sendo a carga em caixas menor do que a granel, pois elas ocupam mais espaço nos caminhões.

Fica evidente, portanto, que as tarefas do cultivo de abacaxi são diversificadas e envolvem uma série de riscos para os trabalhadores:

Riscos químicos (inseticidas, herbicidas, maturadores, fungicidas e adubos químicos e poeira), físicos (calor, frio, umidade, radiação solar), mecânicos (folhas e espinhos de abacaxi, equipamentos de proteção individual inadequados), biológicos (bactérias, fungos, vírus), organizacionais (turno, jornada, pausa, normas de produção, falta de vínculo empregatício, pagamento por produção), operacionais (postura, força, movimento repetitivo e carregamento de pesos) e acidentários (quedas de caminhão, carretas e trator, queda no abacaxizal e animais peçonhentos). (GONZAGA et al., 2012, p. 49).

Ribeiro (2005) salienta que o cultivo de abacaxi implica riscos biológicos geradores de doenças ocupacionais, tais como vírus, bactérias, fungos e parasitas. Além disso, os trabalhadores ficam expostos a animais peçonhentos e a higienização corporal precária, o que também acarreta riscos biológicos.

A Portaria nº 25 (Brasil, 1994) do MTE, que aprova a Norma Regulamentadora nº 9, classifica os riscos ocupacionais conforme sua natureza:

 Grupo 1 (riscos físicos): ruídos, vibrações, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, frio, calor, pressões anormais e umidade;  Grupo 2 (riscos químicos): poeiras, fumos, névoas, gases, vapores e substâncias compostas ou produtos químicos em geral;  Grupo 3 (riscos biológicos): vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas e bacilos;

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 Grupo 4 (riscos ergonômicos): esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornada de trabalho prolongada, monotonia, repetitividade e outras situações causadoras de estresse físico e ou psíquico;  Grupo 5 (riscos de acidentes): arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas inadequadas ou defeituosas, iluminação inadequada, armazenamento inadequado, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes.

Os sofrimentos causados por acidentes durante a execução das tarefas levam os trabalhadores a comprarem os EPIs (GONZAGA et al., 2012, 2014), fato que contraria a Consolidação das Leis do Trabalho (1977) e a Norma Regulamentadora nº 31 do MTE que dita a obrigatoriedade do fornecimento gratuito de EPIs que devem ser adequados ao trabalho.

5.2 O trabalho na colheita de abacaxi no município de Santa Rita (PB)

Como a Paraíba é um dos maiores produtores de abacaxi do Brasil e, por conseguinte, tem importância econômica no cenário nacional e mundial, há uma clara necessidade de aprofundar estudos nessa área de pesquisa.

A maioria da cultura de abacaxi na região do Baixo Paraíba, em especial no município de Santa Rita, está a cargo de pequenos produtores.

Cada turma de 14 pessoas é subdivida conforme a função que desempenha na colheita, havendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2 arrumadores e 2 contadores. Para a observação do processo produtivo da colheita, a amostra foi composta por quatro turmas que trabalhavam no município de Santa Rita (PB).

As atividades desenvolvidas na fase da colheita, como retirada, carregamento e arrumação dos produtos colhidos, envolvem essencialmente trabalho manual que exige árduos esforços físicos e posturas inadequadas às condições humanas.

Diante desse quadro, o estudo conduzido em Santa Rita buscou responder ao seguinte questionamento: a que riscos ergonômicos estão expostos os trabalhadores rurais que

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colhem abacaxi? Portanto, foi feita análise qualitativa e quantitativa do trabalho nesse cultivo visando descrever o processo laboral.

Segundo Ribeiro (2005), a jornada de trabalho se distribui da seguinte forma: os trabalhadores costumam despertar às 4h para chegar ao campo entre 6h e 7h, e são transportados em caminhões até as propriedades. O trabalho propriamente dito começa aproximadamente às 8h, sendo finalizado ao término do carregamento do caminhão, conforme o pedido do cliente. Geralmente tudo é concluído por volta das 16h.

Além disso, o término da jornada depende do próprio ritmo de trabalho imposto pela turma. Em geral, o ritmo é intenso, uma vez que a maioria dos trabalhadores prefere que não haja pausa, exceto aquela para almoço, para que a jornada seja concluída o mais rapidamente possível.

Quanto à reposição hídrica durante a jornada de trabalho, eles relatam que ingerem aproximadamente até 5 litros de água em dias quentes.

Na época de safra os trabalhadores chegam a realizar até quatro carregamentos por semana, sendo remunerados por cada caminhão carregado. Vale dizer que um carregamento geralmente equivale a um dia de trabalho

O arrumador e o contador são os trabalhadores mais bem remunerados recebendo R$ 40 por caminhão, ao passo que o balaieiro e o catador recebem R$ 25 por dia de trabalho.

O trabalho do balaieiro (vide figura 8) durante a colheita se dá da seguinte forma:

O trabalho entre os catadores e balaieiros é realizado de forma conjunta e essa relação balaieiro-catador no município de Santa Rita acontece em 1:2 trabalhadores respectivamente, sendo que em alguns momentos essa relação pode aumentar para 1:3 ou diminuir para 1:1, a depender da geometria do terreno e da concentração dos frutos requerida pela colheita no interior da lavoura. (RIBEIRO, 2005, p. 107).

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Figura 8- Colheita de abacaxi na Paraíba

Fonte: Sânzia Bezerra Ribeiro (2005)

Com ajuda de instrumento cortante, os catadores primeiramente retiram o fruto das plantas, segundo a especificação desejada para a qualidade dos frutos que são classificados em cinco faixas de peso. O catador também deve dispensar os frutos que apresentem defeitos causados por doenças ou malformação. A catação pode ser realizada com a quebra manual dos frutos ou cortando-os com facão juntamente com as filiações, a fim de protegê-los na arrumação das cargas.

Em seguida, os catadores colocam os frutos selecionados no balaio sobre a cabeça do balaieiro, o qual acompanha o catador por toda a área plantada.

A atividade do balaieiro abrange quatro fases: o deslocamento com o balaio vazio do caminhão ao talhão; o enchimento do balaio; o deslocamento com o balaio cheio; e o descarregamento do balaio.

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Ribeiro (2005) cita os seguintes cálculos: um balaio vazio pesa em média 6 kg; cada abacaxi do tipo A colhido pelos catadores pesa entre 1,5 kg e 1,8 kg; e 49,55 é a média de frutos recebidos. A partir da multiplicação do peso do fruto pelo número de frutos no balaio somado ao peso do balaio vazio, na colheita do tipo A o peso médio do balaio cheio foi de 80,3 kg. Após o deslocamento dos frutos pelo balaieiro, os contadores descarregam o balaio e os arrumadores ajeitam os frutos no caminhão.

Ao retirar os frutos do balaio, os contadores fazem uma segunda seleção eliminando frutos incompatíveis com as especificações e, em seguida, repassam os frutos saudáveis aos arrumadores da carga sobre o caminhão.

As condições de trabalho são precárias desde o transporte até o final da jornada. Além da extensa jornada de trabalho, salientamos a exposição desses trabalhadores a diferentes condições climáticas, contatos com animais peçonhentos, grandes distâncias percorridas em transportes irregulares e inadequados, bem como o grande esforço físico demandado por essa atividade. Todos os trabalhadores entrevistados relataram que consideram as atividades da colheita repetitivas e que sentem grande cansaço físico ao final de cada jornada.

A carroceria do caminhão eventualmente serve como ponto de apoio para as refeições e reposição hídrica dos trabalhadores, pois geralmente não há edificações para esses fins perto das áreas de plantio.

Com relação aos equipamentos de proteção individual, a falta de fornecimento e a improvisação são constantes:

Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), os trabalhadores utilizam-se da improvisação, pois não recebem nenhum incentivo financeiro para aquisição dos mesmos. Camisas de mangas compridas gastas, calças jeans rasgadas, aventais feitos de resto de tecido grosso, botas furadas e luvas rasgadas, espumas que protegem a cabeça do balaieiro do contato direto com o balaio; esses são os EPIs utilizados por esses trabalhadores para sua proteção contra os agentes físicos, biológicos, químicos e mecânicos existentes nesse processo produtivo. (RIBEIRO, 2005, p. 112).

Podemos citar ainda como agentes de risco mecânico ou de acidente as folhas serrilhadas das plantas, que podem atingir partes descobertas do corpo do trabalhador. Mesmo com a utilização das roupas de proteção, persiste a possibilidade de haver cortes na pele devido ao contato com as folhas do abacaxizeiro. Esse é o risco mais percebido e evitado

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pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por ser imperceptíveis, dificilmente são evitados.

Quanto aos riscos químicos, o tratamento com o maturador químico Ethrel e o fungicida Benlate é uma prática nociva à saúde dos trabalhadores e dos consumidores. A pulverização pode ser feita quando os frutos ainda estão no balaio sobre a cabeça do balaieiro, atingindo além dele os demais que estão no caminhão ou estão em suas imediações.

Os trabalhadores da colheita de abacaxi estão constantemente expostos à radiação solar. Fazendo uso de vestimentas que visam principalmente a proteção contra espinhos, mas que acumulam sujeira e não facilitam a transpiração, eles sofrem um desconforto térmico notório.

Na fase da colheita de abacaxi, podemos citar também a exposição dos trabalhadores a animais peçonhentos e sua precária higienização corporal como situações que induzem a riscos biológicos.

Ribeiro (2005) destaca que tais trabalhadores ficam expostos a muitos riscos ergonômicos, como posturas inadequadas por longos períodos, manuseio e transporte das cargas em balaios, um ritmo intenso, repetitividade dos movimentos de corte e de contagem dos frutos pelos catadores.

O problema de saúde mais citado durante este estudo foi dor nas costas, principalmente por parte dos balaieiros.

Os efeitos dos riscos biomecânicos devidos à manutenção de posturas inadequadas e ao transporte de cargas elevadas são sentidos ao final da jornada diária, quando todos os trabalhadores relataram sentir profundo cansaço físico.

5.3 O trabalho no cultivo de abacaxi nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica

O International Labor Rights Forum (ILRF), ou Fórum Internacional de Direitos do Trabalho, é uma organização mundial que atua pelos direitos humanos e fez um relatório intitulado ―The Sour Taste of Pineapple: How an Expanding Export Industry Undermines Workers and Their Communities‖. Divulgado em outubro de 2008, esse relatório aponta a precariedade das relações e das condições de trabalho no cultivo de abacaxi em países da Ásia e da América Central.

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Segundo o ILRF (2008), as Filipinas e a Tailândia são os maiores exportadores mundiais de ananás processado. Entre os doze países que respondem por 80% da produção mundial, há seis na Ásia (Tailândia, Filipinas, China, Índia, Indonésia e Vietnã), quatro nas Américas (Brasil, Costa Rica, México e Colômbia), e dois na África (Nigéria e Quênia).

A maior parte da demanda mundial de abacaxi provém dos EUA, França, Japão, Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos e Reino Unido, seguidos pela Coreia do Sul e Cingapura. Os EUA dominam a maior parte do mercado de abacaxi fresco e cerca da mesma fatia do mercado de abacaxi enlatado e de suco de abacaxi, juntamente com a União Europeia. Em 2007, a Costa Rica forneceu cerca de 90% do abacaxi fresco vendido nos Estados Unidos, produto que também tem alta demanda em países da União Europeia.

As Filipinas, a Indonésia e a Tailândia são responsáveis por cerca de 80% do abacaxi enlatado comercializado no mundo. As Filipinas e a Tailândia também estão presentes em 65% da oferta mundial de abacaxi em suco.

O cultivo de abacaxi nas Filipinas e Costa Rica é controlado por três grandes empresas: a Dole no primeiro caso, e a Fresh Del Monte e a Pindeco no outro país.

Para diminuir os custos trabalhistas nesses países, fornecedores de abacaxi começaram a substituir seus trabalhadores regulares com contrato de trabalho por meio de um processo conhecido como flexibilização das relações de trabalho, dando origem às cooperativas de trabalho.

Os empreiteiros, muitas vezes antigos trabalhadores do campo e da indústria, são contratados por empresas para recrutar, contratar, transportar, gerenciar e distribuir os salários.

A empresa Dole tem uma força de trabalho de cerca de 20.000 indivíduos, das quais cerca de 5.000 são empregados regulares e 15.000 são contratados por empreiteiras, com regimes de trabalho flexíveis. Isso representa uma mudança dramática a partir da década de 1990, quando os funcionários regulares eram 8.000 e não havia empregados temporários.

As cooperativas de mão de obra criadas absorvem grande parte dos trabalhadores migrantes e desempregados. Nesse caso, os trabalhadores temporários não têm direito aos benefícios sociais, e os salários e as jornadas são diferenciados. Um trabalhador contratado regularmente nas Filipinas, por exemplo, ganha US$ 4,79 por dia, ao passo que os informais ganham US$ 3,90 por dia (ILRF, 2008, p. 7). Ou seja, esse tipo de mão de obra não tem

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estabilidade alguma no trabalho, já que permanece no emprego por dois meses e meio a três meses durante a colheita de abacaxi.

A jornada trabalhada chega a ser de 10 a 12 horas por dia, 6 dias por semana. Devido aos baixos salários -- US$ 6,32 por semana --, os trabalhadores encaram uma jornada extensa para conseguir sobreviver.

Os relatos apresentados ao ILRF (2008, p. 20) sobre as jornadas de trabalho no cultivo de abacaxi foram os seguintes: o trabalho tem início às 5h30 e o final da jornada é às 15h. Outros relatam que o início é às 7h00 e o término, às 20h, enquanto há quem trabalhe das 4h30 às 21h. Durante a alta temporada de colheita, é preciso trabalhar durante três semanas seguidas sem um único dia de folga.

Os trabalhadores informais também têm problemas para se alimentar. Como não há local apropriado para isso, eles comem junto às carroças carregadas de abacaxi, em situação totalmente desconfortável.

Segundo evidências, em apenas cerca de 2-3 anos após trabalhar em plantações de abacaxi, essas pessoas passam a desenvolver problemas de saúde, conforme abordado a seguir:

Devido à exposição "sistemática e prolongada" a produtos químicos (inseticidas, maturadores, fungicidas e fertilizantes) utilizados para acelerar as colheitas e melhorar a qualidade do fruto, esses trabalhadores, segundo o ILRF (2008, p. 22) apresentam aumento de alergias, enxaquecas, náuseas, fraqueza geral, gastrite crônica, erupções cutâneas e doenças respiratórias.

O contato constante com produtos químicos tóxicos presentes em pesticidas e fertilizantes, tais como Endosulfan nas Filipinas e Diuron na Costa Rica, mina gradualmente a saúde dos trabalhadores. A figura 9 exemplifica bem essa situação: trabalhador (a) colhendo ao lado do aplicador de agente químico.

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Figura 9- Colheita de abacaxi nas Filipinas

Fonte: International Labor Rights Forum (2008)

Como as empresas não fornecem proteção adequada, os trabalhadores e também seus familiares são expostos, já que a lavagem das roupas contaminadas é feita na residência.

A pressão constante para intensificar o ritmo no trabalho e aumentar a produção facilita a ocorrência de acidentes de trabalho, como entorses e contusões, sobretudo no transporte dos frutos colhidos em carrinhos.

O desgaste físico também se reflete em dores constantes nas costas, braços e mãos, e queda de unhas.

A exposição prolongada ao sol provoca tonturas, vômitos, desmaios e manchas brancas na pele devido a alergias ou à incidência solar.

O ILRF (2008, p. 23) destaca que o mais perturbador acerca de todos os problemas de saúde relatados pelos trabalhadores é a falta de responsabilidade das empresas em relação a isso. Essa fala abaixo de um trabalhador acidentado ilustra bem a situação:

Eu cortei-me lá e estava sangrando muito, eles me deram alguns pontos uma vez que o ferimento era bastante profundo, pois eu escorreguei em um monte de lama e me cortei quando afiava a faca para cortar abacaxi. Esperei duas

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horas, então peguei um ônibus e fui para uma clínica para me tratar dos ferimentos.

Em muitos casos, a empresa não reconhece quaisquer lesões ou doenças relacionadas ao trabalho e, consequentemente, não oferece qualquer tratamento adequado, sobretudo para a mão de obra sem relação formal de trabalho.

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6. ERGONOMIA E O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Estudos preliminares de Gonzaga et al. (2012, 2014) identificaram que um dos riscos organizacionais que incidem sobre os trabalhadores que cultivam abacaxi é a ausência de vínculo empregatício formal (registro em carteira de trabalho), o que condicionava ao não fornecimento de EPIs e, consequentemente, à compra pelos trabalhadores, já que os acidentes atingindo várias partes do corpo são frequentes.

Diante disso, a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) utilizada neste estudo permitiu, após a análise da tarefa e da atividade, formular hipóteses de trabalho que delineiem os rumos a serem seguidos. O diagnóstico resultante serviu de base para a elaboração de recomendações ergonômicas quanto ao uso de um conjunto de EPIs. Falzon (2007) destaca que o diagnóstico é uma etapa essencial de toda intervenção ergonômica.

Wisner (1987, p. 92) comenta que, quando se estuda a recomendação do uso de EPI, é conveniente examinar o equipamento sob quatro pontos de vista: ele protege eficazmente? Ele cria um novo perigo? Ele é compatível com a tarefa prescrita? Ele é confortável? Afinal, a eficácia da proteção oferecida pelos EPIs está longe de ser sempre evidente e muitos deles dão uma falsa sensação de segurança.

A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (1977) e a Norma Regulamentadora nº 31 (2005) determinam a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos EPIs pelo empregador, assim como seu uso obrigatório por parte do trabalhador rural.

De acordo com a Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, na CLT, art. 166, a empresa é obrigada a fornecer gratuitamente aos empregados EPI adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

A Norma Regulamentadora n° 17 do MTE (BRASIL, 1990) é a norma de segurança e saúde do trabalho referente à temática de ergonomia. Em função disso, foi publicado o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17 (BRASIL, 2002), que aponta o seguinte:

A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e participativo para a resolução de um problema complexo que exige o conhecimento das tarefas, das atividades desenvolvidas para realizá-las e das dificuldades enfrentadas para atingir o desempenho exigido. A análise começa por uma demanda que pode ter diversas origens. Pode ser a constatação de que em determinado setor há um número elevado de doenças ou acidentes (demanda

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de saúde) ou reclamações de sindicato de trabalhadores (demanda social) ou a partir de uma notificação de auditores-fiscais do trabalho ou de ações civis públicas (demandas legais) que, por sua vez, também se originaram de alguma queixa ou reclamação. (BRASIL, 2002, p.16)

A Norma Regulamentadora nº 31 do MTE (BRASIL 2005), que rege o trabalho rural no Brasil, aborda no item 31.10 o assunto ergonomia, para colaborar com a melhoria das condições de trabalho no meio rural, prescrevendo o seguinte:

... as condições de trabalho devem ser adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar melhorias nas condições de conforto e segurança no trabalho; contempla também que quando as tarefas forem executadas em pé, pausas devem ser garantidas.

As questões de segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura no Brasil são regidas pela norma regulamentadora acima citada. Tal norma estabelece os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatíveis o planejamento e o desenvolvimento das atividades. O item 31.8.9 estabelece o seguinte: o empregador rural ou equiparado deve adotar, no mínimo, as seguintes medidas: fornecer equipamentos de proteção individual e vestimentas adequadas aos riscos, que não propiciem desconforto térmico prejudicial ao trabalhador. No item 31.20.1.1 consta que os equipamentos de proteção individual devem ser adequados aos riscos e mantidos em perfeito estado de conservação e funcionamento. No item 31.20.1.2 determina que o empregador exija que os trabalhadores utilizem os EPIs, ou seja, a obrigatoriedade do uso dos EPIs é uma exigência legal para a manutenção do emprego.

Várias pesquisas relataram que os EPIs geram problemas na execução do trabalho, seja por desconsiderar aspectos da atividade ou as características antropométricas dos trabalhadores.

Gonzaga et al. (2012, 2014) demonstram como o vínculo empregatício interfere no fornecimento dos EPIs, assim como a inadequação dos mesmos quando fornecidos pelo patrão:

É muito difícil ter registro aqui, eles dizem que dá muito trabalho, que tem que pagar isto, pagar aquilo, por isso eles preferem manter a gente sem registro. Eu acho isso muito ruim, pois quando chove a gente fica sem receber, tem que comprar EPIs, quando a gente fica doente tem que resolver sozinha. (GONZAGA et al., 2012, p. 17).

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Os EPIs, quando fornecidos para os trabalhadores, são inadequados e não protegem os membros inferiores (pés e pernas) nem os superiores (mãos e antebraço) dos riscos mecânicos, ataques por animais peçonhentos (serpentes, aranhas e escorpião), perfuração por folhas pontiagudas (vide figura 10) e espinhos do abacaxi... (GONZAGA et al., 2014, p. 32). O salário recebido por esse grupo era de R$ 1.060, 00. Com esse salário eles compram os equipamentos de proteção e a garrafa térmica de água. (GONZAGA et al., 2014, p. 7). Na adubação com balde ou sacola, o patrão fornece calça de lona, luvas, bota sete léguas e o balde, os trabalhadores compram boné, chapéu e improvisam o mangote ou usam camisa de manga comprida para proteger os braços da folha do abacaxi. (GONZAGA et al., 2014, p. 27). Na colheita dos frutos, os EPIs fornecidos pelo patrão eram calça de lona, luva, bota de borracha e sapatão, já o chapéu, a roupa e o mangote são os trabalhadores que compram; a mulher usava calça, saia e calça de lona. Na cabeça as proteções eram diferenciadas: chapéu de palha e boné associado à camiseta na cabeça. (GONZAGA, et al., 2014, p. 30)

Figura 10 - Folhas pontiaguadas de abacaxi

As informações fornecidas pelos trabalhadores demonstram que os EPIs, quando fornecidos, não protegem e geram desconforto térmico, pois são desconsideradas as condições ambientais (figura 10) nas quais os mesmos serão utilizados.

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Durante observação do trabalho real, relatamos os riscos ocupacionais presentes nas seguintes atividades do cultivo de abacaxi e que os EPIs, quando fornecidos, não protegem contra tais riscos:

Colocação de saquinhos para proteção contra o sol, colheita de mudas, plantio de mudas, colheita de frutos, carregamento e descarregamento dos frutos do caminhão; os riscos mecânicos de ataques de serpentes peçonhentas e perfurações pelas folhas pontiagudas e espinhos do abacaxi se destacaram como aqueles que geram mais sofrimento aos trabalhadores, conforme esse depoimento feito durante a colheita de mudas de abacaxi. (GONZAGA et al., 2014, p. 7). Além das perfurações nas mãos provocadas pelas folhas pontiagudas do abacaxi, os animais peçonhentos se fazem presentes. Os depoimentos a seguir comprovam esse fato: fui picada por jararaca; quando tem serpente a gente mata, mas fui picado duas vezes por escorpião e uma vez por serpente cascavel. Quando tem maribondo, continuamos trabalhando. (GONZAGA et al., 2014, p. 18). A luva não protege das folhas, a mão é perfurada o tempo todo; eu estava usando calça jeans e de lona e fui picado durante a colheita de mudas por uma cascavel, as duas calças foram perfuradas. (GONZAGA et al., 2014, p. 31).

Ribeiro (2005, p. 115) destaca o seguinte quanto aos equipamentos de proteção individual (EPIs) usados no cultivo de abacaxi na Paraíba:

Os trabalhadores utilizam-se da improvisação, pois não recebem nenhum incentivo financeiro para a aquisição dos mesmos. Camisas de mangas compridas gastas, calças jeans rasgadas, aventais feitos de resto de tecido grosso, botas furadas e luvas rasgadas, espumas que protegem a cabeça do balaieiro do contato direto com o balaio; esses são os EPIs utilizados por esses trabalhadores para sua proteção contra os agentes físicos, biológicos, químicos e mecânicos existentes nesse processo produtivo.

A figura 11 mostra o ambiente de trabalho repleto de mato, propício para a infestação de serpentes durante a colheita de mudas.

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Figura 11 - Colheita de mudas em ambiente repleto de mato

Em plantações onde há gado pastando, as serpentes praticamente somem, já que o ambiente de trabalho fica sem mato e as patas do gado trepidando no solo também afastam esses ofídios. Ou seja, esse procedimento funciona como uma proteção coletiva contra o ataque das serpentes.

Os ensaios praticados1 em laboratório prescritos na Portaria n.º 452 de 20 de novembro de 2014 não garantem a eficácia da proteção contra ataques de serpentes peçonhentas. A única forma de garantir a eficiência dos equipamentos de proteção seria submetê-los a ataques de serpentes.

Em outras culturas também foram observados problemas ocupacionais oriundos do uso de EPIs, os quais acarretam desconforto e insegurança para os trabalhadores.

1 Ensaios exigidos para bota (norma NBR ISO 20347): resistência ao rasgamento, ao escorregamento, ao vazamento, à flexão, à abrasão, da união cabedal/sola. Ensaios exigidos para perneiras (norma ISO 11611): resistência à tensão, ao rasgamento, ao rompimento das costuras e à propagação de chamas. Ensaios exigidos para luvas e mangotes (norma EN 388): resistência à abrasão, ao corte por lâmina, ao rasgo e à perfuração por punção.

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Em estudo junto a cortadores de cana-de-açúcar, Gonzaga et al. (2002) identificaram numerosos problemas relacionados ao uso de EPIs. Com relação aos óculos de proteção, o uso era inviável, pois eles embaçam com o calor e o suor e tiram a visão dos usuários. Por sua vez, as luvas de proteção em raspa de couro não aderem ao cabo do facão gerando insegurança e dores nos braços, além de ferir a mão e as unhas (figura 12) pelo atrito provocado devido à força a ser exercida para segurar o cabo do fação com segurança. A perneira esquenta, escorrega e machuca as pernas durante a execução da atividade. O uso de meias sob as perneiras é uma estratégia dos trabalhadores para protegerem as pernas. No corte da cana-de-açúcar em curva de nível, a perneira dificulta a curvatura dos pés, movimento necessário para executar essa tarefa, pois é confeccionada com material muito duro e machuca os pés. O problema comum a todos os EPIs era o tamanho, algumas vezes demasiado grande, outras vezes muito pequeno, comprovando que a variabilidade antropométrica dos potenciais usuários é desconsiderada no momento da aquisição.

Figura 12 - Mão lesionada pela luva de proteção na atividade do corte manual da cana

Katayama et al. (1986) avaliaram a incidência de dermatoses em cortadores de cana de uma indústria sucroalcooleira do Estado de São Paulo, a qual tinha aproximadamente 3.500 trabalhadores. O estudo envolveu cerca de 375 trabalhadores de ambos os sexos. Os dados coletados mostraram que elementos nas luvas de proteção em raspa de couro,

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aumentavam a incidência de dermatites do tipo irritativo nas mãos: dermatite de contato em trabalhadores de ambos os sexos.

Em exame dermatológico de 35 cortadores de cana-de-açúcar em 2001, Ali (2009, p. 266) observou que 14,86% tinham dermatite irritativa nas mãos e 25,71% apresentavam distrofias ungueais, lesões provocadas pelo uso das luvas de proteção em raspa de couro.

Gonzaga (2004) discute essa questão na atividade do corte manual de cana, na qual os equipamentos de proteção fornecidos aos trabalhadores eram de tamanho único (figura 13).

Figura 13 - Cortadora de cana com luva de tamanho adequado

A trabalhadora na figura 13 fez o seguinte relato: quando faço força para conseguir segurar o facão, essa luva pressiona as unhas que ficam roxas, podendo chegar a cair. A OIT (2001) corrobora a situação exposta por essa mulher, ao afirmar que não é fácil usar as luvas, principalmente no caso das mulheres cujas mãos são menores que as dos homens.

Segundo a FAO (1992, p. 37),

no que concerne a antropometria e projetos de ferramentas, máquinas e locais de trabalho que se adaptarão ao trabalhador, é importante considerar as grandes variações de tamanho do corpo entre as raças, entre os sexos e até mesmo entre indivíduos do mesmo sexo e raça.

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Para Zago e Silva (1998), os problemas estão relacionados à padronização dos EPIs, pois muitos deles desconsideram as características antropométricas dos usuários, as especificidades de onde serão utilizados e as condições ambientais presentes na execução da atividade.

Barroso Neto, E. et al. (1989) e Muralidhar et al. (1999) salientaram que problemas podem se originar da não especificação para os modelos de EPIs e para materiais com os quais as luvas podem ser confeccionadas, e da padronização desvinculada das medidas antropométricas.

Mayer e Korhonen (1999) destacam que é difícil avaliar as reais qualidades dos EPIs apenas em laboratório, visto que elas estão estreitamente ligadas às características morfológicas e psicofisiológicas dos futuros usuários e à natureza das tarefas a serem executadas.

Ao avaliar o uso de EPIs na aplicação de agrotóxicos na cultura de tomate, Veiga et al. (2007) constataram desconforto térmico, sobretudo em dias quentes, e embaçamento das máscaras faciais devido à respiração. Eles discutem a possibilidade de os EPIs apresentarem lacunas funcionais no projeto, na concepção, no uso, na manutenção, no armazenamento e no descarte. Destacam a falta de análises antropométricas dos usuários na fase de concepção e a inevitável inadequação dos equipamentos -- luvas de proteção com folgas excessivas e mangas de camisas que deixavam o punho descoberto.

Garrigou et al. (2008) e Desriaux (2009) discutiram a norma que avalia a permeabilidade de vestuários de proteção contra agentes químicos líquidos, com base na norma europeia EN 14605, e concluíram que o problema com essas roupas é que são projetadas para proteger contra substâncias específicas, mas em situações de trabalho real, os produtos fitossanitários utilizados frequentemente são misturados, ou seja, as preparações contêm várias substâncias. Todavia, os ensaios de permeabilidade propostos pela norma são realizados com produtos puros.

Garrigou et al. (2012) apresentaram pesquisa na qual abordam a questão da transferência de tecnologia da indústria para o campo, considerando também as questões da concepção de EPIs projetados para situações de trabalho em indústrias com fatores ambientais previsíveis e controláveis, sendo que na agricultura o controle de tais fatores é menos previsível e praticamente impossível. O processo de autorização de pesticidas na França é feito pelo Departamento de Agricultura, que se baseia em uma análise de risco realizada pela

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Agência Nacional Francesa de Saúde e Segurança Alimentar, Meio Ambiente e Trabalho (Anses). Esses modelos utilizam o nível de exposição aceitável para o trabalhador, o qual é medido com e sem uso dos EPIs. É aqui que surge uma lacuna, pois as condições ambientais e o trabalho em que eles serão utilizados são desconsiderados, com o agravante de que os ensaios são feitos com substância pura sendo que no trabalho real os agricultores misturam produtos no momento da aplicação. Os autores também destacam as diferenças entre as grandes propriedades agrícolas, onde os recursos técnicos disponíveis para segurança são acessíveis, ao contrário do que ocorre nas pequenas propriedades rurais, onde foi constatado que as roupas de proteção reutilizadas sem higienização adequada acumulam substâncias ativas e acabam contaminando os trabalhadores. Com relação ao uso de trator para aplicação dos pesticidas, esse trabalho destaca que as juntas das janelas ressecam e encolhem, o que permite que o pesticida penetre na cabine do operador. A fala de um trabalhador do vinhedo ilustra bem o problema: você não sente nada na pele, mas pode sentir em suas vias aéreas. As janelas do trator também embaçam com o veneno comprometendo a visão do condutor, cujo suor em contato com a máscara leva à contaminação do indivíduo.

Gonzaga e Lima (2011) analisaram o processo de certificação de aprovação da luva de proteção, discutindo a problemática do distanciamento entre normas de ensaios para fabricação de equipamentos de proteção dos usuários e a atividade a ser exercida, com destaque para o tamanho variável das mãos dos usuários. Essa pesquisa envolveu 165 trabalhadores em 5 usinas de álcool e açúcar. No Brasil o EPI só pode ser vendido legalmente após a obtenção do Certificado de Aprovação (CA), expedido pelo Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho – DSST/MTE. A Portaria nº 121 (Brasil, 2009) prescreve a norma EN 388 do European Committee for Standardization (2003) para avaliar riscos mecânicos: resistência à abrasão, ao corte por lâmina, ao rasgo e à perfuração por punção. A proteção é classificada em níveis de desempenho que variam de 0 a 5. Quanto maior a classificação, maiores são o nível de desempenho e a proteção.

Ressalta-se que não existe ensaio para corte por impacto. A EN 420 do European Committee for Standardization (2003) estabelece requisitos gerais para luvas de proteção, incluindo a especificação de tamanhos. Essa pesquisa demonstrou que os cortadores de cana apresentam muitos cortes nas mãos, já que os ensaios não preveem o corte por impacto, risco presente nessa atividade. Outro problema observado é a falta de aderência da luva ao cabo do facão, o que acarreta muito esforço físico do trabalhador para segurar o cabo com firmeza. Um dos modelos de luvas tinha fios de aço para proteger contra golpes de facão, mas tais fios

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se soltavam e feriam as mãos. O tamanho das luvas, as quais eram largas e saíam das mãos, foi outra dificuldade laboral citada pelos trabalhadores.

Gonzaga e Lima (2016, p. 84) apresentam algumas falas de cortadores de cana-de- açúcar que representam bem os problemas das luvas de proteção durante essa atividade manual:

Com a mão lisa, a luva escorrega no cabo do podão e isso exige muito mais força para segurá-lo, o que provoca muita dor nos braços e bolhas no local de apoio para o facão; a mão molhada incomoda muito, pois o facão desliza pela mão lisa. Cortei o dedo indicador porque essa luva não protege do golpe do facão; os fios internos de aço enroscam e ferem os dedos, por isso eu retiro esses fios.

Em pesquisa junto a trabalhadores da produção de uva na França, Marcilla e Garrigou (2016) observaram que durante a aplicação de pesticidas para proteger os vinhedos de pragas, os trajes de segurança impermeáveis – par de botas, luvas de nitrílico, máscara com filtro para proteção contra gás e partículas, e óculos de proteção -- limitam parcialmente a proteção no decorrer das etapas de preparo de caldas, aplicação de calda na plantação e limpeza dos materiais. Em resultado, as pessoas que os utilizam ficam mais contaminadas do que aquelas que trabalham sem os trajes. Os autores salientaram que os EPIs atrapalham a execução do trabalho, já que foram projetados para o setor industrial, não para aplicação de pesticidas.

Goutille et al. (2016) apontam problemas no uso de luvas de segurança em uma empresa de produção de painéis destinados à indústria moveleira. Tais painéis são compostos por folhas de papel kraft impregnadas de resinas à base de fenol ou formol. No trabalho executado, que expõe os trabalhadores a esses agentes químicos com propriedades cancerígenas, mutagênicas e reprotóxicas (CMR), ocorreram acidentes devido ao contato desses produtos com a pele. Nesse trabalho, as luvas de borracha butilo, borracha nitrilo, em viton ou em lâminas de polietileno apresentaram falhas para a proteção cutânea, pois, como o suor penetra nas luvas, pode haver transferência com o fenol. Alguns trabalhadores inclusive cortam as pontas das luvas para evitar o suor. Os depoimentos dos trabalhadores a esse respeito foram os seguintes: “alguma coisa se mistura ao suor e cola; as mãos contaminadas e as luvas impregnadas tocam e expõem involuntariamente outras partes do corpo: o rosto,

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se penteando, se coçando, na verdade as luvas estão embebidas desse produto; a boca, a narina, os antebraços, isso entra pelos poros. Quando faz calor é pior. Eu, por exemplo, tiro a jaqueta e fico de camiseta, aí os produtos entram pelos poros, enfim passam por todos os lugares‖. Quanto ao tamanho das luvas também foram relatados problemas: ―com as luvas eu não consigo…, no entanto, experimentei vários tamanhos porque no início, pensei comigo, talvez elas sejam muito grandes‖.

A OIT (2001, p. 272) recomenda a importância de o EPI ser apropriado ao tamanho do trabalhador, pois quando é muito apertado ou muito frouxo, por exemplo, causa desconforto e desencoraja o uso contínuo durante toda a jornada de trabalho.

Segundo Sznelwar (2015), a necessidade de programar medidas de proteção para os trabalhadores frente a algum risco leva à adoção de EPIs nem sempre pertinentes. As empresas desconsideram todo o restante em relação à atividade dos trabalhadores, inclusive o conforto para trabalhar. Ou seja, sem o entendimento do que se passa na realidade, qualquer solução pode estar fadada ao insucesso ou criar um novo problema, como incômodos, uma falsa proteção ou ainda uma dificuldade para trabalhar.

Os estudos citados acima demonstram que em várias culturas agrícolas há comprovadamente EPIs gerando situações de desconforto e insegurança, o que pode desencorajar seu uso. Provavelmente, tais problemas têm origem no distanciamento entre as normas de fabricação e o trabalho real.

As normas prescritas para a fabricação de EPIs desconsideram as tarefas às quais eles se destinam, assim como a sinergia dos fatores intrínsecos à execução de uma tarefa. Isso é agravado pelo fato de que, na seleção para aquisição de EPIs, são negligenciados os riscos ocupacionais e as variações antropométricas dos usuários. Por isso, este estudo se propôs a selecionar um conjunto de equipamentos de proteção individual (EPIs) que não interfira na execução do trabalho e de fato proteja os trabalhadores contra perfurações por folhas pontiagudas e espinhos de abacaxi, e contra ataques de serpentes peçonhentas.

Béguin (2008) destaca que os trabalhadores modificam os artefatos para transformá-los em instrumentos aptos ao uso porque, em geral, quem os projeta desconsidera a atividade a ser exercida com eles. Assim, trabalhadores transformam ou adaptam temporariamente ou permanentemente os dispositivos para ajustá-los às suas próprias maneiras de agir através de improvisações criativas, que facilitam a forma de trabalhar e a execução das tarefas. Nesse caso, é fundamental o diálogo entre quem projeta e quem irá

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utilizar o que foi projetado, já que uma concepção adequada envolve a inventividade dos usuários, movida pela singularidade das situações de trabalho e dos contextos das ações.

Ferrés (2007) salienta que, como a usabilidade é intrinsecamente ligada à atividade humana e relacionada às capacidades sensoriais, cognitivas e motoras dos usuários, a identificação, qualificação e quantificação da usabilidade são de subjetividade relativa. Em termos motores, por exemplo, relaciona-se às posições desconfortáveis e desagradáveis, às forças excessivas e à dificuldade para mobilidade e destreza. A interação com os usuários é de extrema importância para identificar sua interface com o produto que apresenta problemas.

Haapala et al. (2006) evidenciam que a usabilidade é uma parte importante da aceitação de um produto. Para ser útil, o produto deve ser funcionalmente adequado para que o usuário execute suas tarefas de forma confiável. Ou seja, a usabilidade é um conceito-chave para decidir se o produto terá ampla utilização ou não. Na engenharia agrícola, essa é uma questão complexa, já que o âmbito de utilização é variável devido às diversas condições de trabalho móvel em céu aberto.

O item 6.2 da Norma Regulamentadora nº 6 do MTE (BRASIL, 2001) define que o equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importada, só poderá ser posto à venda ou utilizado se possuir o Certificado de Aprovação (CA), expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do MTE. Entretanto, na emissão do CA é considerado apenas o risco contra o qual o EPI deve proteger, não se levando em conta o conforto, a qualidade, a adequação à atividade e as medidas corporais dos trabalhadores.

As normas e os ensaios para avaliação da eficiência de um EPI contra riscos específicos são definidos pela Portaria nº 452 de 20 de novembro de 2014. ***Essa norma prevê a proteção contra perfurações provocadas por agentes mecânicos e estipula que os EPIs com esse fim possam ser avaliados mediante ensaios laboratoriais, nos quais é possível ter controle sobre o comportamento do material. A norma de fabricação de luvas de proteção EN 388, por exemplo, prevê níveis de desempenho para perfuração de 1 a 4. É preciso frisar que não há norma específica para testes envolvendo o risco de ataques de serpentes.

As normas para fabricação dos EPIs prescrevem aspectos relacionados ao material, formato, tamanho, localização e tamanho de costuras, que terão repercussão sobre os usuários.

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Este trabalho se propôs a testar EPIs, como botas de couro, luvas, perneiras e mangotes, em ataques reais de serpentes. Tais equipamentos haviam sido recomendados anteriormente por esta autora após a observação dos riscos ocupacionais presentes no cultivo de abacaxi, para proteger os pés, as pernas, as mãos e os braços – as partes do corpo mais sujeitas a acidentes de trabalho ligados a riscos mecânicos como ataque de animais peçonhentos (serpentes, aranhas e escorpiões) e perfuração por folhas e espinhos de abacaxi. Tais riscos estão presentes praticamente em todas as tarefas do cultivo de abacaxi: colheita de mudas, plantio, colocação de saquinhos e colheita de frutos.

Além da proteção, todos os EPIs devem permitir a execução fluida do trabalho e ser adequados às características antropométricas dos trabalhadores.

A seguir, apresentamos os EPIs recomendados:

A botina de couro tem como objetivo proteger os pés dos trabalhadores de ataques de serpentes e perfurações. A botina de proteção deve atingir a altura do tornozelo e ser confeccionada em couro em toda sua parte superior ou cabedal. Se existirem partes com tecido, elástico, estas devem ser revestidas em couro. Não é necessário que as mesmas tenham biqueira de aço, mas é importante que tenham solado antiderrapante. As costuras podem ser simples ou duplas, porém resistentes. A palmilha deve ser segura, de forma a não se soltar e atrapalhar a atividade. É importante que a botina seja anatômica, de forma a não prejudicar os movimentos dos pés, sem pontos de tensão ou compressão. (GONZAGA et al., 2014, p. 39). As perneiras de segurança devem ser resistentes à perfuração por folhas e ao ataque de animais peçonhentos, especificamente serpentes. Porém, devem ser fabricadas com material flexível e leve, para permitir a movimentação das pernas, pés e joelhos. Devem ter regulagem para ajuste nas pernas dos usuários e, se forem fabricadas em polipropileno, é bom que sejam flexíveis na região do metatarso e do joelho. (GONZAGA et al., 2014, p. 41). As luvas de segurança e os mangotes, além da proteção contra perfurações, devem permitir a movimentação do corpo dos trabalhadores e ser adequados ao tamanho das mãos e dos braços dos trabalhadores. (GONZAGA et al., 2014, p. 41).

As recomendações foram seguidas na seleção dos equipamentos de proteção adquiridos para os testes com as serpentes, sendo que tais EPIs foram testados posteriormente em campo por trabalhadores que cultivam abacaxi.

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7. ACIDENTES DE TRABALHO

A lei brasileira nº 8.213, de 24 de julho de 1991, acerca dos Planos de Benefícios da Previdência Social e de outras providências, em seu artigo 19 define o acidente de trabalho como aquele decorrente do exercício do trabalho a serviço da empresa ou do exercício do trabalho dos segurados provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade laborativa.

Nos termos dessa regulamentação são também considerados acidentes de trabalho:

I - doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social;

II - doença do trabalho adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação elaborada pelo Ministério da Previdência Social.

A OIT (2004) considera a agricultura como um dos três setores mais perigosos do mundo -- os outros são mineração e construção. Em vários países, a taxa de acidentes fatais na agricultura é o dobro da média em todos os demais ramos industriais. Em cerca de 335 mil acidentes de trabalho fatais em todo o mundo, aproximadamente 170 mil ocorrem entre os trabalhadores agrícolas.

Além disso, as atividades perigosas são uma das piores formas de trabalho infantil, com mais de metade (53%) dos 215 milhões de crianças trabalhadoras no mundo inteiro fortemente envolvida, conforme dados do ILO (2004).

De acordo com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE), as atividades que mais registraram acidentes graves no Brasil em ordem de frequência foram:

Fabricação de calçados de qualquer espécie, cantinas (serviços de alimentação privativos), comércio varejista, comércio atacadista de hortifrutigranjeiros, lanchonetes e similares, comércio a varejo e por atacado de peças e acessórios de veículos, comércio varejista e atacadista em geral, com predominância de produtos alimentícios, comércio de balas, bombons e similares, comércio atacadista de tecidos, fios e armarinhos, comércio de bebidas, fabricação de vidro, fabricação de filmes cinematográficos, usinas de açúcar, atividades de organizações sindicais, comércio atacadista de produtos químicos, obras viárias, trabalho doméstico, transporte aquaviário, transporte rodoviário e agricultura, entre outros. (CNAE, 2012, p. 180).

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O problema da subnotificação de acidentes de trabalho no Brasil é destacado pelo Serviço de Estatística da Fundacentro (BRASIL, 2013), como se vê abaixo:

O sistema de informação da Previdência Social abrange os trabalhadores com vínculo sob a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), segurados do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). Neste sistema, há a premissa de que a empresa de vínculo deve fazer a notificação, mesmo que esta seja facultada a outros atores. Com efeito, a legislação permite que a comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja feita pelo médico que atendeu o trabalhador ou pelo sindicato, mas o procedimento costumeiro observado no INSS é que a CAT deve ser emitida em primeiro lugar pela empresa. Somando-se a um sistema pericial falho, com baixa sensibilidade para captar as centenas de tipos de adoecimentos ocupacionais previstos em legislação, há uma enorme e persistente subnotificação de acidentes de trabalho.

Em estudo realizado em 1997 no município de Botucatu (SP), Cordeiro e Binder (2003) abordaram a questão da subnotificação ou da falta de registro de acidentes. Revelou-se que, no período estudado, 80% dos acidentes de trabalho ocorridos em Botucatu não foram registrados, pois pertenciam a categorias nas quais não é obrigatória a emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT): funcionários públicos estatutários, autônomos, assalariados sem registro em carteira, proprietários e outros. Isso se deve ao sistema previdenciário brasileiro, que exclui cerca de 50% da força de trabalho, associado à vulnerabilidade do próprio sistema de informação, fortemente dependente do ato voluntário do empregador.

A problemática da subnotificação do registro de acidentes de trabalho por falta da carteira de trabalho assinada foi minimizada pela metodologia de concessão de benefícios previdenciários, implementada por meio do Decreto nº 6.957 de 9 de setembro de 2009, que estabeleceu no artigo 337, § 3º o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP). O NTEP é reconhecido quando se verifica um vínculo entre a atividade da empresa e o acidente ou doença ocupacional que motivou a incapacidade catalogada na Classificação Internacional de Doenças (CID). Essa nova metodologia propiciou o registro de doenças e acidentes relacionados ao trabalho, sem a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).

Os dados do Anuário Estatístico da Previdência Social (BRASIL, 2014) apresentados na tabela 4 abaixo demonstram o efeito do novo método de concessão de benefícios previdenciários considerando o NTEP.

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Tabela 4 - Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, para o Brasil e os Estados com maior produção de abacaxi

Grandes regiões Anos Quantidade de acidentes de trabalho e Unidades da Federação Total Com CAT registrada Sem CAT registrada Total Motivo

Típico Trajeto Doença do trabalho

2012 713.984 546.222 426.284 103.040 16.898 167.762

Brasil 2013 725.664 563.704 434.339 112.183 17.182 161.960

2014 704.136 559.061 427.939 115.551 15.571 145.075

2012 77.714 57.217 46.748 9.008 1.461 20.497

Minas Gerais 2013 77.743 58.007 46.933 9.821 1.253 19.736

2014 73.649 55.973 44.687 10.166 1.120 17.676

2012 12.530 9.544 7.828 1.575 141 2.986

Pará 2013 12.337 9.445 7.654 1.640 151 2.892

2014 12.797 9.998 8.139 1.729 130 2.799

2012 5.079 2.801 1.961 679 161 2.278

Paraíba 2013 5.105 3.099 2.085 780 234 2.008

2014 5.347 3.318 2.091 842 385 2.029

2012 52.192 43.478 32.887 8.569 2.022 8.714

Rio de Janeiro 2013 51.471 44.232 33.068 9.352 1.812 7.239

2014 51.778 45.183 34.163 9.351 1.669 6.595

2012 7.042 4.402 3.163 1.073 166 2.640 Rio Grande do 2013 6.889 4.614 3.240 1.145 229 2.275 Norte 2014 7.074 4.849 3.194 1.331 324 2.225 Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social (BRASIL, 2014) O campo sem CAT registrada representa os benefícios concedidos através do NTEP cujo total em 2014 representou 24% para Minas Gerais, 21,87% para o Pará, 37,94% para a Paraíba, 12,74% para o Rio de Janeiro e 31,45% para o Rio Grande do Norte. Essas

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informações nos levam a concluir que o Nexo Técnico Epidemiológico ajuda a diminuir a subnotificação de registros dos acidentes de trabalho.

No período entre 2002 e 2012 (figura 14) o município de Frutal (MG) teve 2.391 acidentes de trabalho registrados, sendo 1.817 acidentes típicos, 319 de trajeto e 26 doenças ocupacionais. O interessante é que houve um aumento nos acidentes registrados através de CATs para as duas categorias de registro: típico e de trajeto, conforme mostra a figura 14.

Figura 14 - Acidentes de trabalho em Frutal de 2002 a 2012

Fonte: Ministério da Previdência Social (2012)

O Anuário Estatístico da Previdência Social (BRASIL, 2014) apresenta as informações de acidentes pela CNAE 0119, que engloba o cultivo de lavouras temporárias (abacaxi, amendoim, batata inglesa, mandioca, feijão, juta, mamona, melão, melancia e girassol). Segundo essa CNAE, em 2014 houve 365 registros de acidentes de trabalho no Brasil; com a CAT registrada houve em 2014 um total de 300 registros, sendo 245 de acidentes típicos, 54 de acidentes de trajeto e um de doença ocupacional. Pelo NTEP, foram 65 registros.

Embora o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP) tenha vinculado o trabalho e as atividades exercidas ao acidente de trabalho, a subnotificação ainda persiste, pois podem

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ocorrer problemas na comprovação do nexo, já que o decreto nº 6.042 de 12 de fevereiro de 2007, prevê o seguinte no art. 337 (BRASIL, 2007):

O acidente de trabalho será caracterizado tecnicamente pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo. § 7o A empresa poderá requerer ao INSS a não aplicação do nexo técnico epidemiológico ao caso concreto mediante a demonstração de inexistência de correspondente nexo causal entre o trabalho e o agravo.

A comprovação do Nexo Causal entre o acidente ou a doença com a atividade exercida pode ser um problema, já que a empresa tem o instrumento legal acima citado para contrapor à perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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8. AS SERPENTES E O MUNDO DO TRABALHO

Este capítulo enfoca as serpentes sob os seguintes aspectos: história natural, biologia, hábitos, alimentação, evolução da função venosa, glândulas venenosas e transmissão de veneno, as serpentes peçonhentas brasileiras, acidentes com serpentes peçonhentas e ações a serem tomadas após a ocorrência dos mesmos.

Quanto ao aspecto biológico, Melgarejo (2009) destaca que as serpentes, ou ofídios, têm forma alongada, corpo coberto por escamas epidérmicas e crânio formado por ossos móveis quadrados e supratemporais. Apresentam grande elasticidade nos movimentos cranianos, em especial nas articulações das mandíbulas que se unem por um ligamento elástico e têm ampla mobilidade. Esses répteis se distinguem pela ausência de membros locomotores, de pálpebras, e ouvidos externos. São ainda ectodérmicos, ou seja, dependem do calor externo para efetuar sua termorregulação.

Conforme Franco (2009), há no mundo cerca de 2.900 espécies de serpentes, distribuídas em 465 gêneros e 20 famílias.

Elas podem ser classificadas, segundo Sazima e Marques (2009), das seguintes formas em relação ao habitat:

 Terrícolas: caçam e se abrigam na vegetação ou no chão, e apresentam morfologia e coloração variadas;

 Arborícolas: caçam e se abrigam predominantemente na vegetação, tendo geralmente corpo delgado, cauda longa e olhos grandes. A maior parte tem coloração esverdeada;

 Aquáticas: caçam na água ou em suas proximidades, abrigando-se nesse ambiente ou no chão. As narinas e os olhos ficam próximos à extremidade dorsal da cabeça, e têm uma válvula nasal que impede a entrada de água pelas narinas quando estão submersas;

 Criptozoicas: caçam e se abrigam sob o folhedo da mata, têm olhos pequenos, corpo delgado e cauda longa;

 Subterrâneas: caçam e se abrigam sob a superfície do chão, dentro da terra ou sob folhedos, troncos e pedras. Apresentam olhos pequenos e cauda curta.

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Melgarejo (2009) destaca ainda os seguintes aspectos:

 Quanto à alimentação: todas as serpentes são carnívoras e ingerem suas presas inteiras. Seus dentes servem para agarrar e/ou envenenar suas presas. Ossos articulados no crânio permitem grande abertura bucal. Alimentam-se de vertebrados (peixes, anfíbios, lagartos, serpentes e aves) e invertebrados (moluscos e minhocas).

 Quanto à audição: inexistente. O ouvido interno conectado à columela (osso quadrado articulado à mandíbula) lhes confere muita sensibilidade às vibrações do subsolo.

 Quanto à termorregulação: essa característica lhes permite localizar alimentos durante o dia, à noite e no crepúsculo;

 Quanto à reprodução: espécies ovíparas põem ovos, ao passo que espécies vivíparas expelem filhotes prontos. Os gêneros Bothrops e Crotalus são vivíparos, e o tempo de gestação é de 4 a 5 meses.

 Quanto ao olfato: é agudo, mas esse fato não está relacionado à presença de epitélio nas fossas nasais, mas sim pelo fato de que através dos movimentos vibratórios da língua fina e comprida ela faz uma varredura e conduz para um órgão de Jacobson (estrutura quimiorreceptora especializada revestida por um epitélio sensorial, situado no céu da boca). As fossas nasais das serpentes servem apenas para a condução de ar para a respiração.

Belluomini (1984) enfatiza que embora os hábitos alimentares das serpentes sejam mais conhecidos no que diz respeito à caça a roedores, há onze grupos no quesito alimentação:

―1. Espécies rodentívoras - ratos, preás e outros roedores; 2. Espécies avívoras - aves e passarinhos; 3. Espécies sauriófagas - lagartos e amphisbaenas (lagartos ápodos de vida subterrânea); 4. Espécies batraquiófagas - batráquios; 5. Espécies ofiófagas - outras cobras; 6. Espécies piscívoras - peixes; 7. Espécies malacófagas - lesmas e pequenos moluscos; 8. Espécies vermívoras - minhocas e pequenos vermes; 9. Espécies insetívoras - insetos adultos ou suas larvas; 10. Espécies omnicarnívoras - várias espécies de animais;

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11. Espécies canibais - serpentes da mesma espécie.‖ Geralmente, a caça ocorre durante a noite, quando ingerem seres vivos. Atuando por constrição, a serpente enrola seu corpo com força ao redor da presa, o que dificulta os movimentos cardiorrespiratórios e causa a morte por colapso cardíaco. As presas perigosas são envenenadas e largadas, e a serpente só se aproxima quando estas estão mortas.

Com relação à troca de pele, o desprendimento é periódico e se dá em uma só peça, começando pela borda dos lábios.

As escamas são córneas e têm diferentes formas, texturas e tamanhos, muitas vezes para se adaptar a condições específicas. O chocalho da cascavel, por exemplo, é formado por modificação de escamas.

As atividades podem ser diurnas ou noturnas: procura de alimento, de parceiro para acasalar, de locais para desovar (ou parir); a única atividade exclusivamente diurna é o controle da temperatura corporal (termorregulação). Em períodos secos e frios elas ficam inativas.

Os locais para termorregular geralmente são mosaicos ensolarados e sombreados, e locais abertos perto de cupinzeiros, onde elas também se camuflam para escapar da voracidade de predadores, incluindo garças, gambás, gatos e cachorros-do-mato.

As serpentes corais-verdadeiras afastam os predadores por sua cor forte e sua imobilidade dificulta que sejam localizadas. Podem também mudar a forma do corpo: triangulando a cabeça, achatando o corpo etc. A imobilidade e a camuflagem dificultam a visualização e facilitam acidentes.

Elas se valem da mordida e do bote quando o confronto com o predador se torna inevitável. A idade, a prenhez e a temperatura corporal favorecem o bote defensivo.

Quanto à reprodução, Sazima e Marques (2009) comentam que as fêmeas geralmente são maiores do que os machos, e liberam feromônio para atraí-los. Antes da cópula, o macho fricciona a parte inferior da cabeça no dorso da fêmea e ambos entrelaçam a parte inferior de seus corpos. Na cópula, o hemipênis se infla com sangue, é introduzido na cloaca da fêmea e então injeta o esperma e os espermatozoides. As espécies partenogenéticas não dependem da fecundação pelo macho para ter filhotes. A maioria das espécies no Brasil põe ovos e, geralmente, os filhotes já nascem formados. Os filhotes costumam medir 20 cm

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de comprimento. Certas espécies nascem em épocas específicas, ao passo que outras, o ano inteiro. Nos trópicos, o nascimento dos filhotes ocorre nas estações chuvosas.

8.1 Serpentes peçonhentas

De acordo com Melgarejo (2009), há espécies de serpentes inofensivas, constritoras e envenenadoras. As espécies inofensivas não têm glândulas de veneno ou presas inoculadoras; já as espécies peçonhentas possuem aparelho para produção e rápida injeção de peçonha, pois têm glândulas venenosas com músculos compressores e presas (figura 15) contendo um canal interno fechado, que conduz as secreções tóxicas até o interior dos tecidos das vítimas, causando sua morte rapidamente.

Figura 15 - Material com uma presa de serpente peçonhenta

Calcula-se que há 265 espécies peçonhentas na fauna brasileira, classificadas em 73 gêneros e reunidas em 9 famílias. As peçonhentas (aquelas que produzem toxinas em glândulas especializadas e têm aparelhos apropriados para inoculá-las) se enquadram nas famílias Elapidae e .

Segundo Melgarejo (2009, p. 48), são tradicionalmente caracterizados 4 estágios evolutivos nas serpentes, marcados por adaptações morfológicas na especialização peçonha, considerando principalmente a dentição (figura 16):

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 Áglifa: é a dentição na qual não existem presas, ou seja, dentes especializados na inoculação da saliva tóxica ou veneno. A glândula supralabial presente produz uma secreção destinada a lubrificar o alimento. Dentro desta categoria se distinguem variadas condições: como homodonte (com todos os dentes iguais) e heterodonte (com alguns dentes alongados);  Opistóglifa: caracteriza-se pela presença de um ou mais dentes modificados na parte posterior da maxila. Estas presas possuem sulcos longitudinais dos quais, por capilaridade, escorre o produto de uma glândula especializada na secreção de substâncias ativas, a glândula de Duvernoy;  Proteróglifa: neste tipo de dentição as presas anteriores localizadas no maxilar, geralmente com canal de veneno semiaberto, estão conectadas com a glândula venosa;  Solenóglifa: neste caso existe um único dente funcional em cada maxila (a presa), o qual é extremamente grande, agudo e oco, e permanece paralelo ao crânio quando em repouso, mas gira 90° no momento do ataque para injetar veneno.

Figura 16 - Adaptações morfológicas na especialização peçonha: áglifa, opistóglifa, proteróglifa e solenóglifa

Fonte: Melgarejo (2009)

Melgarejo (2009) salienta que as glândulas venenosas se localizam em ambos os lados da cabeça, logo atrás dos olhos, na região temporal, diretamente sob a pele. Geralmente, o crânio tem forma triangular, com a base voltada para a região supralabial. Ligamentos e músculos fixam a glândula ao crânio, com destaque para o músculo compressor glandular, cuja função principal é inocular o veneno durante o ataque. Existem regiões definidas na morfologia dessa glândula: o ducto primário que se abre na glândula acessória, a qual produz

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secreção durante a passagem do veneno, e a glândula principal, com ramificações e que compõe o epitélio que produz o veneno durante o ataque.

O sistema de ataque das serpentes permite atacar e injetar o veneno em apenas 1/50 de segundo, informa Melgarejo (2009, p. 53).

Essas adaptações morfológicas indicam que qualquer simulação de ataques de serpentes deve necessariamente respeitar essas alterações, já que elas interferem no momento de inoculação do veneno.

Os botes secos (mordida sem veneno) ocorrem quando a serpente se alimentou antes do ataque. Os ataques variam conforme as circunstâncias, como por exemplo, passar por ela ou pisar nela.

Importante para a saúde pública, a família Viperidae possui 250 espécies. Elas têm aparelho inoculador solenóglifo e cabeça triangular recoberta por escamas de aspecto semelhante às do corpo. Além desses atributos, a subfamília Crotalinae tem fosseta loreal entre o olho e a narina.

A fauna dos viperídeos no Brasil inclui 5 gêneros que somam 30 espécies, segundo Melgarejo (2009, p. 55):

Gênero Bothriopsis: Bothriopsis bilineata bilineata e Bothriopsis bilineata smararagdina; Gênero Bothrocophias: Bothrocophias hyoprora e Bothrocophias microphthalmus; Gênero Bothrops: Bothrops alcatraz, Bothrops alternatus, Bothrops atrox, Bothrops brazili, Bothrops cotiara, Bothrops diporus, Bothrops erythromelas, Bothrops fonsecai, Bothrops insularis, Bothrops itapetiningae, Bothrops jararaca, Bothrops jararacuçu, Bothrops leucurus, Bothrops lutzi, Bothrops marajoensis, Bothrops mattogrossensis, Bothrops moojeni, Bothrops muriciensis, Bothrops neuwied, Bothrops pauloensis, Bothrops pirajai, Bothrops pradoi, Bothrops pubescens e Bothrops sp; Gênero Crotalus: Crotalus durissus cascavella, Crotalus durissus collilineatus, Crotalus durissus marajoensis, Crotalus durissus ruruima e Crotalus durissus terrificus; Gênero Lachesis: muta e Lachesis muta rhombeata.

Melgarejo (2009) salienta que a espécie Bothrops jararacuçu, uma das mais importantes do gênero, está presente desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, chega a medir 1,8 m de comprimento, e as presas inoculadoras de veneno chegam a ter 2,5 cm de comprimento. Essa espécie produz uma grande quantidade de veneno e certamente provoca

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acidentes graves, conforme demonstrado por Belluomini (1984), que obteve 830 mg de veneno por extração. Tal tipo de serpente se reproduz muito: no Instituto Vital Brazil são registrados partos de ninhadas com até 59 filhotes.

Melgarejo (2009, p. 57) destaca que a espécie Crotalus durissus terrificus (cascavel) está presente nos cerrados do Brasil central, nas regiões áridas e semiáridas do Nordeste, nos campos e áreas abertas do Sul, Sudeste, Norte e Oeste. Com chocalho ou guizo no extremo da cauda, essa espécie tem um ciclo de reprodução bienal, com ninhadas de 22 filhotes.

A família Elapidae é composta por serpentes dotadas de aparelho inoculador tipo proteróglifo e presentes mundo afora, sobretudo na Ásia, África e Austrália. Essa família inclui espécies famosas: najas asiáticas e africanas, e mambas do continente africano. Nas Américas, a família contempla as cobras-corais, sendo reconhecidas 22 espécies, a maioria pertencente ao gênero Micrurus. Melgarejo (2009, p. 63) salienta que essa espécie não apresenta fosseta loreal nem é considerada agressiva. Ovíparas, suas fêmeas põem geralmente de 2 a 10 ovos. As presas inoculadoras de veneno chegam a ter 2,5 mm de comprimento em uma cobra-coral de 90 cm. A injeção de veneno superficial é compensada pelo fato de ela morder sem soltar, o que resulta em um período de inoculação prolongado. Há, porém, baixa incidência de acidentes humanos.

8.2 Acidente ofídico

O acidente ofídico, ao provocar ferimento perfurante na superfície cutânea, rompe a barreira de defesa mecânica, favorecendo a ocorrência de infecção por micro-organismos da flora oral do ofídio (FRANÇA e MÁLAQUE, 2009).

Segundo Bernarde (2009), os acidentes com serpentes são classificados de acordo com o gênero da serpente que os causou: botrópicos são provocados pelo gênero Bothops (jararaca, vide figura 17); crotálicos, pelo gênero Crotálico (cascavel, vide figura 18); laquéticos, pelo gênero Lachesis (surucucu-pico-de-jaca, vide figura 19); e elapíticos, pelos gêneros Micrurus e Leptomicrurus (coral ou coral-verdadeira, vide figura 20).

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Figura 17 – Jararaca

Fonte: Bernarde (2009)

Figura 18 – Cascavel

Fonte: Bernarde (2009)

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Figura 19- Surucucu-pico-de-jaca

Fonte: Bernarde (2009)

Figura 20 - Coral-verdadeira

Fonte: Bernarde (2009)

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O trabalho ―Prevenção de Acidentes com Animais Peçonhentos‖, realizado em conjunto pela Fundacentro e o Instituto Butantan em 2001, destaca que os registros de acidentes ofídicos são distribuídos no Brasil da seguinte forma:

 Jararaca (gênero Bothrops): responsável por 90% dos registros;  Cascavel (gênero Crotalus): responsável por 8% dos registros;  Surucucu (gênero Lachesis): responsável por 1,5% dos registros;  Coral (gênero Micrurus): responsável por 0,5% dos registros.

8.2.1 Acidentes botróficos

Melgarejo (2009, p. 55) e a Fundação Ezequiel Dias - Funed (Minas Gerais, 2009) informam que os acidentes botróficos provocados pelo gênero Bothrops perfazem 90% dos 20.000 acidentes que o Brasil registra. Esse gênero tem ampla distribuição geográfica no território brasileiro; a Bothrops jararaca é uma das espécies mais presentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Os venenos das serpentes deste gênero contêm 20 ou mais componentes, sendo que 90% do peso seco são formados por proteínas, abrangendo grande quantidade de enzimas, toxinas não enzimáticas e proteínas não tóxicas. As frações não proteicas são carboidratos, lipídeos e metais.

As atividades fisiopatológicas do veneno botrópico são: inflamação aguda, coagulante e hemorrágica, o que provoca o agravamento do edema e a necrose tecidual. A atividade hemorrágica agrava o quadro inflamatório.

Segundo França e Málaque (2009, p. 82), a variabilidade da composição dos venenos para esse gênero depende de:

Idade do animal: os venenos de Bothrops jararaca possuem maior atividade pró-coagulante e menor atividade inflamatória aguda local em relação às serpentes adultas; Distribuição geográfica: serpentes da mesma espécie, coletadas em regiões diferentes, podem apresentar variações nas atividades dos venenos; Caráter individual: serpentes da mesma idade e procedência podem apresentar diferentes intensidades de veneno em função da dieta adotada.

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Na maioria dos casos, a picada consiste em inoculação subcutânea ou intramuscular de veneno na vítima. No acidente botrópico, o edema, cuja tonalidade violácea se deve ao sangramento subcutâneo, pode em 24 horas se estender a todos os membros causando o surgimento de uma quantidade variável de bolhas com conteúdo seroso, hemorrágico ou necrótico.

As principais complicações locais são abcesso, necrose e síndrome compartimental.

A infecção local (celulite e erisipela) é visível na região da picada e arma condições propícias ao crescimento de micro-organismos, provocando ação inflamatória geralmente causada pelos micro-organismos (bactérias anaeróbicas e gram-negativas) presentes na boca da serpente.

Pode ocorrer necrose caso haja um grande intervalo de tempo entre o ataque e o tratamento. Em geral, ela se limita ao tecido cutâneo, mas pode atingir tendões, músculos e ossos.

A síndrome compartimental é o aumento da pressão em um local fechado, pelo qual transcorrem músculos, nervos e tendões, comprometendo a circulação sanguínea regional.

As lesões de nervos, tendões, músculos e ossos podem advir da necrose tecidual e acarretar alterações na sensibilidade do membro atingido.

Quanto à gravidade, França e Málaque (2009) fazem as seguintes distinções:

 Quadro leve: quadro clínico local ausente, podendo ocorrer hemorragia no local da picada;

 Quadro moderado: o edema não se limita ao local, estendendo-se ao membro atingido sem comprometê-lo;

 Quadro grave: complicações que podem levar à morte: distúrbios cardiovasculares, alteração da função renal, sangramentos e edema de glote.

Alguns fatores devem ser considerados na avaliação da gravidade do acidente ofídico botrópico:

 Comprimento da serpente: as mais longas provocam acidentes de maior gravidade em comparação com as serpentes menores;

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 Idade da serpente: as mais jovens provocam alterações na coagulação, mas geralmente lesões com menor gravidade, quando comparadas com as serpentes adultas;

 Espécie da serpente: acidentes provocados por Bothrops jararacuçu e Bothrops moojeni causam complicações locais, insuficiência renal aguda e maior letalidade em relação às outras espécies;

A quantidade de veneno fornecida por uma cobra é variável e depende das seguintes circunstâncias: tamanho do animal, estado fisiológico e período de repouso do aparelho do veneno. Quanto maior for a cobra, mais desenvolvido será seu aparelho especial de inoculação e, consequentemente, maior será a quantidade de veneno secretado. Em geral, as cobras brasileiras produzem veneno em intervalos de tempo de 10 a 15 dias.

8.2.2 Acidentes crotálicos

Os acidentes crotálicos provocados pelo gênero Crotalus (cascavel) perfazem 8% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, conforme dados de 2001.

A peçonha crotálica é uma mistura de proteínas e polipeptídeos, que interferem em vários processos fisiológicos. As principais ações desse veneno são miotóxicas, neurotóxicas e coagulantes (MARQUES et al., 2009, p. 109).

Os sintomas podem aparecer entre 3 e 6 horas após a picada.

A ação neurotóxica inibe a liberação de acetilcolina, assim bloqueando o sistema neuromuscular. É, portanto, responsável pelas paralisias motoras e respiratórias observadas nos pacientes; a ação miotóxica provoca lesões no sistema musculoesquelético e a ação coagulante interfere no tempo de coagulação sanguínea.

As marcas das presas são visíveis através de edema e eritema discretos. Há eventualmente pouca dor e queixas de formigamento na região afetada.

Podem surgir sintomas como mal-estar, náuseas, cefaleia, prostração, sonolência e vômitos.

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O termo ―cara de bêbado‖ é atribuído aos pacientes que sofrem acidente crotálico e se deve aos efeitos neurotóxicos como fácies miastênicas2, que causam flacidez na musculatura da face e boca entreaberta; esse quadro regride em 3 ou 4 dias após o tratamento.

A atividade miotóxica provoca dores musculares generalizadas e, com o escurecimento da urina, evidencia-se a gravidade do envenenamento.

A atividade coagulante pode interferir no aumento do tempo da coagulação, o que provoca sangramentos em pontos de injeções ou em lesões na boca.

Conforme a gravidade, Marques (2009, p. 110) salienta as seguintes distinções:

 Quadros leves: surgem sinais e sintomas neurotóxicos discretos;

 Quadros moderados: fácies miastênica, mialgia espontânea, urina com coloração alterada;

 Quadros graves: fácies miastênica sempre presente, mialgia intensa e urina escura.

Brasil (2001) confirma que a sintomatologia apresentada após a picada é a seguinte: visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver dor muscular e a urina tornar-se escura. O risco de afetar os rins é maior do que os acidentes com jararaca.

A complicação mais usual do acidente crotálico é insuficiência renal aguda, raramente ocorrendo insuficiência respiratória e paralisia muscular.

8.2.3 Os acidentes de trabalho com serpentes peçonhentas

As informações obtidas mediante levantamento bibliográfico e apresentadas a seguir demonstram que os acidentes com serpentes peçonhentas são subnotificados praticamente no mundo inteiro, que a população mais atingida por ataques de serpentes é composta por jovens trabalhadores rurais, e que o período chuvoso e quente tem maior

2 Modificação de aspecto imprimida à face por certos estados mórbidos.

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ocorrência de ataques, fatos corroborados por França e Málaque (2009, p. 81); Lima et al. (2009); Brito e Barbosa (2012); e Chippaux (2015).

A Organização Mundial de Saúde – OMS (2008) considera o envenenamento resultante de ataques de serpentes peçonhentas um problema de saúde pública em áreas rurais de países tropicais e subtropicais situados na África, Ásia, Oceania e América Latina.

O maior número de ataques ocorre no Sul da Ásia, Sudente Asiático e África Subsaariana. Isso é agravado pela falta de serviços médicos e de soro apropriado contra a picada da serpente que fez o ataque, o que muitas vezes provoca óbito.

Os dados sobre acidentes e doenças ocupacionais registrados pela OIT (2012) quanto à causa de acidentes em 2011 no Maláui, no Sudeste da África, exemplificam a subnotificação mundial, pois dos 2.034 acidentes registrados, apenas 34 se referem a ataques de serpentes.

A figura 21 evidencia a subnotificação nacional que pode ser verificada mediante um histórico de acidentes de trabalho registrados no Brasil pelo Ministério da Previdência Social no período de 1999 a 2012 para o CID (X20), que se refere a contato com serpentes e lagartos venenosos. Embora os números de acidentes sejam baixos -- 2005 (38 registros), 2006 (37), 2007 (44), 2008 (47), 2009 (49), 2010 (51), 2011 (103) e 2012 (129) --, observa-se um aumento de registros no período observado de 2000 até 2012.

Figura 21 - Acidentes de trabalho registrados pelo CID X20

Fonte: Ministério da Previdência Social (2012)

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Com relação às partes do corpo mais atingidas pelos ataques, verificamos a prevalência dos membros superiores (mãos, dedos das mãos e braços) e inferiores (pés e pernas).

Conforme mostra a figura 22, o Sinan (Brasil, 2015) reportou que no país há em média 21.838,53 registros de acidentes com serpentes por ano.

Figura 22 - Casos registrados no Brasil de picadas de serpentes (2001-2015)

Fonte: Ministério da Saúde/SVS/Sinan

No Brasil houve 14.674 registros em 2001, 18.578 em 2002, 20.930 em 2003, 21.459 em 2004, 22.184 em 2005, 22.427 em 2006, 22.051 em 2007, 23.475 em 2008, em 25.117 em 2009, 25.203 em 2010, 25.507 em 2011, 24.497 em 2012, 23.655 em 2013, 22.363 em 2014; e 2015 foram 15.458.

Cabe destacar que o alvo do Sinan é a população em geral, incluindo crianças e idosos, ao passo que o público-alvo da Previdência Social são os trabalhadores. Os dados das figuras 22 e 23 demonstram esse fato.

Vale ainda salientar que a Portaria nº 104 de 25 de janeiro de 2011 do Ministério da Saúde (Brasil, 2011) define a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional, e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Os acidentes com animais peçonhentos integram a lista de notificação compulsória.

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Numerosos autores se dedicam a estudos sobre acidentes de trabalho no Brasil e mundo afora. Iniciaremos a apresentação pelas pesquisas internacionais.

As estimativas apresentadas por Kasturiratne et al. (2008) confirmam a hipótese apresentada pela OMS. Esses autores se basearam em dados coletados em 2007 em 227 países de 21 regiões geográficas, e estimaram dados sobre ataques de serpentes e mortes por meio de informações da OMS, ONU, FAO e Banco Mundial (BM), que demonstram o seguinte: em todo o mundo ocorrem anualmente no mínimo 421 mil envenenamentos e 20.000 mortes por picada de serpente. Como há muita subnotificação, os números reais podem chegar a 1,8 milhão de envenenamentos e 94.000 mortes. O maior número de envenenamentos ocorre no Sul e no Sudeste da Ásia e na África Subsaariana. A Índia é o país com o maior número anual de envenenamentos (81.000) e mortes (cerca de 11.000). Tais dados podem estar relacionados à carência no fornecimento de soro antiofídico nesses locais. Os autores ainda estimam que ocorram 33.000 casos/ano no Sri Lanka, 30.000/ano no Vietnã, 30.000/ano no Brasil e 20.000/ano no Nepal. A maioria das vítimas ofídicas é jovem.

Arroyo et al. (1999) analisaram expedientes clínicos registrados na Sessão Estatística Médica na Caixa Costa-Riquenha de Seguridad Social, relativos a pacientes que entraram no hospital com diagnóstico de mordida de serpentes na Costa Rica em 1996. Foi feita a revisão de 446 registros, entre os quais ocorreu apenas uma morte. A principal atividade exercida pelo grupo no momento do acidente era agrícola, já que 47% dos afetados eram agricultores, 27%, menores de idade, 78%, homens, e 22%, mulheres. A maioria dos ataques atingiu os pés (50%) e as mãos (29%), e a maior incidência foi na estação chuvosa. Metade dos casos foi provocada por Bothrops asper, com envenenamentos pouco severos. As principais complicações são necroses (9%) e infecções (15%). O fato de haver apenas uma morte registrada se deve ao fato de o soro antiofídico apropriado ter sido administrado rapidamente, com uma terapia complementar de vacina antitetânica, antibióticos e analgésicos. Os abcessos foram drenados e apenas 12% dos pacientes tiveram reação adversa ao soro.

Fayomi et al. (2002) estudaram acidentes provocados por serpentes no Benin, país de clima subtropical e úmido no Sudoeste da África Ocidental, onde camponeses perfazem 80% da força de trabalho. A base econômica desse país é a cultura de algodão. Os dados foram coletados no Ministério da Saúde, através do Sistema Nacional de Informação Gestão Sanitária do Benin, e contemplaram o período de 1994 a 2000. Nesse período foram

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registrados 30.313 acidentes fatais com serpentes peçonhentas, a faixa etária em 20.182 registros era de maiores de 15 anos, e em 8.173 registros a faixa etária era de 5 a 14 anos. Embora a prevalência fosse baixa, a letalidade foi muito elevada (15%).

Chippaux e Diallo (2002) pesquisaram a ocorrência de acidentes com serpentes na produção de amendoim no Senegal, na África Ocidental. Ambos realizaram um levantamento epidemiológico de pacientes envenenados atendidos em centros de saúde da região no período de 1995 a 2000. A área de estudo incluiu 30 aldeias que agrupavam 30.000 habitantes. A incidência real de picadas de serpentes é baixa (23 picadas por 100.000 pessoas), mas a letalidade é relativamente alta (7%) e o índice de mortalidade é em torno de 1,5 morte por 100.000 pessoas por ano. Os homens que trabalham na agricultura e na pecuária representaram 50% do total. Foram registrados 245 acidentes ofídicos e houve 15 mortes registradas e documentadas. O risco específico, com base na idade, indica que a faixa etária mais atingida é de 10 a 19. O período de ocorrência para 60% dos casos foi na estação chuvosa. As partes do corpo atingidas em 65% dos casos foram pés e pernas, ao passo que em 34% foram os dedos das mãos. Cabeça, pescoço e tronco representaram 1% dos casos.

A Organização Pan-Americana de Saúde (2009) apresentou informações levantadas no primeiro trimestre de 2009 em relação aos 289 acidentes registrados em 2008 no Instituto Guatemalteco de Seguridad Social, Guatemala. A maior incidência está relacionada à atividade agrícola, especialmente ao preparo do solo, às colheitas de café, cana- de-açúcar, palma de azeite, assim como à estação chuvosa. Fevereiro, março e outubro são os meses com maior incidência. O sexo masculino, com faixa etária entre 10 e 19, é o mais atingido. Na atividade agrícola foram registrados 35 casos, em atividades domésticas 13 casos, em recreação 5 casos, em outros locais 5 casos e para 33 casos não houve definição do local. Com relação à parte do corpo atingida, os registros apontaram a seguinte distribuição: pés – 36%, mãos – 23%, pernas – 15% e tornozelos -- 6%.

Conforme informações do International Labour Office – ILO (2001), no continente africano as crianças trabalham ao ar livre ficando expostas ao sol, a parasitas e a ataques de serpentes e outros animais silvestres. Entre as práticas mais perigosas nas quais elas se envolvem está a pescaria, onde geralmente trabalham de 10 a 12 horas. Em geral, na recolocação de redes no mar são atacadas por peixes e serpentes venenosas.

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Outro registro do ILO (2009) destaca a presença de crianças cortando cana-de- açúcar em regiões tropicais e subtropicais, o que as expõem a problemas ocupacionais: corte por facão, problemas osteomusculares e ataques de serpentes peçonhentas.

A partir de 1997, as informações sobre acidentes ofídicos no Brasil passaram a ser informatizadas por meio do Sinan do Ministério da Saúde, visando a vigilância epidemiológica de determinados agravos. Junto a esse sistema, foi criada a lei que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, assim como a obrigatoriedade da notificação compulsória de algumas doenças e dos acidentes ofídicos (OLIVEIRA et al., 2009).

Em 2001, a Fundação Nacional de Saúde – Funasa relatou que a maioria das notificações de acidentes ofídicos procedeu das regiões Sudeste e Sul, as mais populosas do país e que contam com melhor organização de serviços de saúde e sistema de informação.

Bochner (2003) salienta que, embora haja quatro sistemas nacionais contemplando o registro de acidentes por animais peçonhentos (Sinan - Sistema de Informações de Agravos de Notificação; Sinitox - Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas; SIH-SUS - Sistema de Informações Hospitalares – Sistema Único de Saúde; e SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade), o que temos de fato são informações dissociadas umas das outras, o que nos impede de captar a dimensão real desse problema.

Entretanto, antes dos registros via Sinan, pesquisadores já se dedicavam a registrar os acidentes ofídicos.

Belluomini (1987) avaliou 2.557 prontuários do Hospital Vital Brazil, de São Paulo, relativos a atendimentos realizados em 1983. Foram encontrados 561 casos de ofidismo (20,3%), 1.136 casos de areneísmo (41,2%) e 390 casos de escorpionismo (14,1%), sendo os 24,4% atendimentos restantes de casos ligados a abelhas e outros insetos. Entre os casos de ofidismo, 247 foram provocados por Bothrops (44%), 19 por Crotalus (3,4%) e um por Micrurus (0,2%). Houve 135 (24%) casos de acidentes de trabalho, todos com lavradores. Em relação às partes do corpo mais atingidas por ofidismo, havia 178 casos afetando membros superiores (31,8%) e 368 casos envolvendo membros inferiores (65,6%).

Feitosa et al. (1997) analisaram 668 casos de acidentes por serpentes peçonhentas notificados pelo Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará no período de janeiro de 1992 a dezembro de 1995. Os meses de maior incidência foram maio, junho e julho. O sexo masculino representou 75,6% (520 casos), e o sexo feminino, 24,4% (168 casos). Os casos ocorridos com agricultores representaram (48,8%). A faixa etária

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mais atingida foi de 10 a 19 (25%), e os membros inferiores foram os mais atingidos (67,1%). O gênero de serpente que mais atacou foi o Bothrops (60,2%). Com relação à zona de ocorrência, 98,6% dos casos se deram no local de trabalho no meio rural.

Moreno (2003) pesquisou registros de 144 pacientes tratados no Hospital das Clínicas de Rio Branco, Acre, no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2002. Entre os registros avaliados, 113 foram classificados como acidentes provocados por Bothrops, Lachesis e Micrurus, que foram respectivamente responsáveis por 96,5%, 2,6% e 0,9% dos casos. Os acidentes predominaram no sexo masculino (78,5%), em trabalhadores rurais (51,4%) e na faixa etária entre 10 e 29 (43,8%). Os pés (46,5%) foram a região anatômica mais acometida.

A epidemiologia dos acidentes ofídicos, baseada em 22 artigos, quatro livros, três relatórios e um manual publicado no período de 1901 a 2000, aponta um perfil que se mantém inalterado ao longo dos últimos cem anos no Brasil. Isso significa que os acidentes ocorrem com maior frequência no início e no final do ano atingindo pessoas do sexo masculino, que são trabalhadores rurais na faixa etária produtiva de 15 a 49. Os membros inferiores são os mais atacados, e a maioria desses acidentes é atribuída ao gênero Bothrops. (BOCHNER e STRUCHINER, 2003).

Pires (2004) investigou 271 registros de acidentes com animais peçonhentos disponíveis no Centro de Controle de Zoonoses do Hospital de São José dos Campos no período de 1999 a 2003, dos quais 59% foram provocados por serpentes do gênero Bothrops, seguido pelos gêneros Crotalus (17%) e Micrurus (3%). Em 21% dos registros a serpente não foi identificada ou não era peçonhenta. O sexo masculino representou 78% dos acidentados e 76% dos casos ocorreram na zona rural. As partes do corpo mais atingidas foram pés (29,2%), pernas (23,2%), mãos e dedos dos pés (12,5%).

Conforme Fiszon e Bochner (2008), os problemas enfrentados na implantação do Sinan quanto aos acidentes com animais peçonhentos estão atrelados à distribuição de soro. Tal fator dificultou a manutenção de sistemas de informação atualizados acerca desses acidentes, não estimulando as unidades de saúde a alimentarem tais sistemas.

Os dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) do Ministério da Saúde (MS) na tabela 5 evidenciam a subnotificação de acidentes registrados com serpentes no Brasil em 2009, quando citam, por exemplo, apenas 89 casos na Região Norte onde se encontra a Floresta Amazônica. Entretanto, esse banco de dados faz uma

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distribuição interessante das informações ao identificar os acidentes ocupacionais e o local em que ocorreram - meio rural ou urbano.

Tabela 5 - Casos de intoxicação por serpentes por Unidade Federada, segundo circunstância registrada em 2009

Região Total Individual Ocupacional Ignorado Rural Urbano Ignorado

Norte 89 75 10 4 48 33 8

Nordeste 880 530 22 328 630 248 8

Sudeste 1.324 1.243 57 1 925 337 62

Sul 1.383 863 518 2 1.006 311 66

Centro- 1.229 439 788 2 918 238 73 Oeste

Total 4.095 3.150 1.395 337 3.527 1.167 217

Fonte: MS/Fiocruz (2009)

Lemos et al. (2009) pesquisaram casos notificados em 2005 no Centro de Assistência e Informação Toxicológica (Ceatox), serviço oferecido pelo Departamento de Farmácia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em parceria com o Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina Grande (HRUECG). Dos 1.443 casos, 737 foram causados por animais peçonhentos, dos quais 277 foram causados por serpentes; 71,8% desses casos incidiram no sexo masculino na faixa etária entre 10 e 19. Com base no diagnóstico e/ou identificação das serpentes, os gêneros responsáveis pelos acidentes foram Bothrops (198 casos - 71,3%), serpentes não peçonhentas (69 casos - 24,9%), Crotalus (7 casos - 2,5%) e Micrurus (3 casos - 1,1%). No tocante à ocupação, constatou-se que a maioria dos acidentes incidiu em agricultores, representando 127 casos (45,8%), e na zona rural, contabilizando 205 casos (74%). As partes do corpo mais atingidas foram mão (10,11%), dedos da mão (13,36%), pé (48,38%) e dedos dos pés (10,83%).

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No período de 2002 a 2006, Lima et al. (2009) analisaram 10.553 casos com acidentes ofídicos registrados pelo Sinan nas Gerências Regionais de Saúde (GRS) nos municípios de Montes Claros, Januária e Pirapora, destacando que os dados epidemiológicos relacionados a esse tema são escassos e subnotificados. Dos casos analisados, 958 ocorreram junto a trabalhadores do meio rural, com a seguinte distribuição para os registros das partes do corpo atingidas: ignorado (959 casos), dedos das mãos (2.663), pé (1.663), mão (1.544), dedos dos pés (1.098), perna (642), tronco (509), braço (431), coxa (391), antebraço (368) e cabeça (285). A faixa etária mais acometida era entre 20 e 34.

Martins (2010) avaliou 1.500 envenenamentos em Juiz de Fora (MG) no período de 2002 a 2007, mediante as informações do Sinan. Desse total, 297 (19,8%) foram provocados por serpentes, sendo que 197 (63%) ocorreram no meio rural. O gênero Bothrops foi responsável por 199 (67%) registros. Os membros inferiores foram os mais acometidos totalizando 192 casos (64,6%). As vítimas tinham em média 34 anos.

Brito e Barbosa (2012) constataram que durante o período de estudo (2007 a 2011) foram registrados 15.642 acidentes por animais peçonhentos pelo Sinan no Rio Grande do Norte. Desse total, 2.106 foram causados por serpentes (13%), dos quais 1.141 (54,18%) foram provocados pelo gênero Bothrops; 115 (5,46%), por Crotalus; e 3 (0,14%) por Lachesis. Em 363 casos (20,94%) não havia identificação de gênero da serpente. As serpentes não peçonhentas causaram 20,94% dos acidentes (n=441). Observa-se que o período após a maior precipitação pluviométrica no Estado do RN corresponde ao de maior ocorrência de acidentes (junho, julho e agosto). No Sul/Sudeste os acidentes predominam nos meses de outubro a abril, caracterizados como períodos chuvosos e quentes. O sexo masculino foi o mais acometido, com um percentual de 76,64% dos acidentes (n=1.614). As faixas etárias mais acometidas foram de 20 a 34, com um total de 547 casos, e de 35 a 49, com 509 casos. As regiões anatômicas mais frequentemente atingidas foram os membros inferiores, seguidos pelos superiores, cabeça e tronco. Em relação aos inferiores, a região dos pés (45,87%) e a dos dedos dos pés (13,53%) foram as mais atacadas. Quanto aos membros superiores, as mãos (12,06%) e os dedos das mãos (9,45%) foram os mais acometidos. As circunstâncias dos acidentes mostraram que 25% deles ocorreram durante atividade relacionada ao trabalho. Foram registrados 11 óbitos. Na maior parte dos casos descritos na literatura, essa vinculação estreita entre sazonalidade dos acidentes ofídicos e atividades laborais agropastoris reforça a classificação do acidente ofídico como acidente de trabalho.

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Conforme Bernarde e Gomes (2012), no período de agosto de 2007 a julho de 2009 foram registrados 195 casos de acidentes ofídicos atendidos no Hospital Regional do Juruá em Cruzeiro do Sul/Acre, todos com o devido diagnóstico do tipo de acidente (botrópico, laquético, crotálico ou elapídico). Quanto à sazonalidade, foi verificado que nos meses de maior pluviosidade (novembro a abril) houve maior quantidade de acidentes ofídicos, sendo o referido período de cheia dos rios e de atividades econômicas como extrativismo e agricultura. Além disso, nesse período de cheias as serpentes procuram áreas de terra firme, o que aumenta a possibilidade de encontros entre humanos e esses animais.

Segundo Pessoa (2012), no período de 2007 a 2010 ocorreram 96.349 acidentes com serpentes peçonhentas no Brasil. Sempre que o gênero da serpente foi informado, Bothrops foi responsável por 86% dos casos, Crotalus por 9%, Lachesis por 4% e Micrurus por 1%. De acordo com as informações disponibilizadas pelo Sinan, foram notificados 787 casos para Micrurus. As regiões Nordeste e Sudeste tiveram o maior número de acidentes, destacando-se os Estados da Bahia (n=87), Minas Gerais (n=74), Pernambuco (n=74) e São Paulo (n= 87), com um total de 578 registros. Nessas regiões, foram relatados 504 pacientes curados e dois óbitos (um na Bahia e outro no Maranhão). Não há informações sobre os outros 72 pacientes, o que representa uma abstenção de 12,4%.

Na tabela 6 apresentamos os Estados brasileiros com maior número de registros de acidentes, o que não significa que tenham maior ocorrência de acidentes ofídicos. Os Estados com mais notificações contam com serviços de saúde organizados, o que tem reflexos nos registros oficiais e na diminuição de subnotificação. Podemos observar que Minas Gerais foi o que apresentou o maior número de registros (17.766), seguido por São Paulo (13.541), Paraná (9.430), Bahia (8.099) e Santa Catarina (5.594). O gênero Bothrops se destacou como o que mais provocou acidentes (4.054).

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Tabela 6- Notificações em 2015 por tipo de serpente segundo região/unidade da Federação

Não Não Estados identifica- Bothrops Crotalus Micrurus Lachesis peço- Total da nhenta

Minas 17.766 1.277 328 9 2 92 19.474 Gerais

São 13.541 778 152 7 2 94 14.574

Paulo

Paraná 9.430 335 53 3 1 71 9.863

Bahia 8.099 1.279 109 26 11 58 9.582

Santa 5.594 387 8 7 1 41 6.038 Catari- na

Fonte: Sinan (2015)

Nesse período, em relação ao total de acidentes com a população em geral nos demais Estados brasileiros, houve 106.983 registros, dos quais em 90.479 o gênero da serpente era ignorado; 13.490 dos registros foram provocados pelo gênero Bothrops, 1.438 pelo Crotalus, 139 pelo Micrurus, 529 pelo Lachesis e 908 por serpentes não peçonhentas.

Observa-se que a identificação das serpentes não é feita com frequência, o que dificulta a administração do tratamento correto com o soro específico.

O objetivo do estudo de Chippaux (2015) foi descrever a epidemiologia do envenenamento no Brasil a partir dos dados obtidos mediante a notificação obrigatória dos casos, a fim de caracterizar os indicadores através da identificação de pessoas e circunstâncias de risco, de acordo com as regiões geográficas e grandes grupos zoológicos.

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O autor trabalhou com a base de dados do IBGE, com o intuito de apresentar informações demográficas básicas (distribuições de população, densidade, idade e sexo) e socioeconômicas produto interno bruto [PIB] e índice de desenvolvimento humano [IDH]. Os dados epidemiológicos sobre envenenamento vêm dos Agravos de Notificação do Sinan.

Outras variáveis pesquisadas foram o ano e a estação do ano em que o acidente ocorreu, tempo de chegada ao hospital, gravidade e mortalidade dos acidentes por animais peçonhentos. Elas foram analisadas e comparadas primeiramente entre os diferentes Estados de cada região, e depois de agregação nas esferas regional e nacional, para cada grupo zoológico de animais peçonhentos, especialmente cobra e escorpião.

Em todas as regiões brasileiras, a incidência sazonal dos acidentes ofídicos foi maior de novembro a maio, porém na região Sul houve diferenças mais acentuadas conforme as estações.

O sexo masculino representou 70% das vítimas dos acidentes ofídicos, independentemente da região. Somente no Amapá 84% das pessoas picadas eram do sexo masculino.

Em geral, a incidência específica aumenta até 65 anos de idade e, em seguida, diminui, exceto no Norte, onde pessoas de 10 a 60 anos foram a maioria, e no Centro-Oeste, onde houve um aumento significativo entre 20 e 40 anos.

Os resultados de Chippaux (2015) demonstraram que entre 2001 a 2012 ocorreram 1.192,667 ataques por animais peçonhentos terrestres, que resultaram em 2.664 mortes e em uma taxa de letalidade global de 0,22%. As espécies de animais envolvidos não foram identificadas em 63.123 casos (5,29%) e em 111 mortes (4,17%). As maiores taxas de letalidade foram observadas após picada de cobra (0,43%) e picadas de abelha (0,33%), enquanto as picadas de aranha representaram apenas 0,06%

Em um referencial de 100 mil pessoas, a incidência de envenenamento por serpente no período avaliado no Brasil foi de 15 pessoas, e por escorpião, 22 pessoas. Na região Norte, Roraima teve a maior incidência (69 pessoas), seguido pelo Pará (68 pessoas); na região Nordeste, o estado do Maranhão teve 25 pessoas e a Bahia, 20 pessoas; na região Sudeste, o Espírito Santo teve 24 pessoas e Minas Gerais, 16 pessoas; na região Sul, Santa Catarina teve a maior incidência (13 pessoas); na região Centro-Oeste, Mato Grosso teve 42 pessoas, e Mato Grosso do Sul, 21 pessoas. Isso mostra que as regiões Norte e Centro- Oeste têm a maior incidência de envenenamentos por serpentes.

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Não houve variação regional na distribuição dos gêneros de serpentes envolvidos nos acidentes, porém houve mais casos com Lachesis na região Norte (9% versus menos de 1% em outras regiões). O gênero Bothrops foi responsável por mais de 70% dos acidentes por animais peçonhentos; o gênero Crotalus por 7-11% dos casos de acordo com a região; e Micrurus em menos de 1% dos acidentes por animais peçonhentos, seja qual for a região. A serpente não foi identificada em 15% dos casos.

O grau de envenenamento foi semelhante em todas as regiões: 50-60% dos casos eram assintomáticos ou leves, 35-40% consistiam em envenenamento moderado, 6-9% eram envenenamentos graves, e 0,2 a 1% dos casos evoluíram para óbito, especialmente no Norte do país.

Na maioria dos casos de envenenamento, o tempo entre o acidente e a assistência médica é breve - menos de três horas -, o que explica a evolução clínica favorável em numerosos deles.

O Informativo da Saúde do Trabalhador do Cerest Regional de Campo Grande (2016) destaca que, segundo informações do Sinan, de 162.234 acidentes notificados em 2013 no Brasil, 79.481 eram por escorpiões, seguidos de 29.816 acidentes por aranhas e 28.247 por serpentes. Embora o número de acidentes notificados por escorpiões seja maior, as serpentes estão entre os animais peçonhentos mais perigosos, sendo responsáveis por 132 óbitos em média por ano, para o período de 1990 a 1995, segundo o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).

O boletim epidemiológico da Universidade Federal da Bahia (2016) apresentou dados sobre acidentes de trabalho com serpentes no Brasil em 2007-2015, com base nos dados do Sinan, por meio da ficha de Acidentes com Animais Peçonhentos.

O envenenamento por picada de serpente frequentemente ocorre durante o trabalho, sendo caracterizado como acidente ocupacional muito comum entre trabalhadores da agropecuária e podendo ser fatal ou resultar em incapacidade permanente ou temporária. A maioria dos 27.000 casos registrados em média por ano no Brasil ocorre na zona rural.

Empregando dados da ficha de Acidentes com Animais Peçonhentos do Sinan, entre 2007 e 2015 foram notificados no Brasil 87.389 casos de ofidismo ocupacional, com 347 óbitos por essa causa.

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A maioria dos casos de ofidismo ocupacional (86,5%) incidiu sobre o sexo masculino, e a maioria das lesões (73,7%) foi em membros inferiores.

Conforme o esperado, há grandes diferenças regionais no acesso das vítimas de ofidismo ocupacional a serviços de saúde. Nas regiões Sul e Sudeste, o atendimento tardio foi raro (respectivamente 5,9% e 6,0%), enquanto no Norte chegou a 27,8%.

No período 2007-2015, a proporção de casos de ofidismo ocupacional na agropecuária se distribuiu da seguinte forma pelas regiões do Brasil: no Norte houve 14.060 registros; no Nordeste, 10.585; no Centro-Oeste, 3.361; no Sudeste, 10.872; e no Sul, 5.463, totalizando 44.341 registros.

Mesmo com a evidente subnotificação, os dados da Unidade Técnica de Vigilância de Zoonoses do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012) indicam um crescimento de 157% no número de notificações de acidentes com animais peçonhentos nos últimos dez anos. Somente em 2011 houve mais de 139 mil acidentes, com 293 óbitos.

Entre as notificações registradas em 2013 pelo Sinan no município de Frutal (MG) houve 374 sem identificação da serpente, 12 casos de Bothrops e 6 casos de Crotalus. Não foi registrado caso algum envolvendo Micrurus, Lachesis e serpentes não peçonhentas. O total de registros foi de 392 casos.

As vítimas mais comuns das serpentes são trabalhadores rurais e 80% dos acidentes ocorrem abaixo do joelho, sendo esse um dado importantíssimo para medidas de prevenção contra ataques das serpentes.

Presentes em todo o Brasil, as jararacas são responsáveis por 90% dos acidentes com serpentes.

Após a picada da jararaca, surgem manchas arroxeadas, dor e inchaço no local. Pode haver sangramento no local e em outras partes do corpo, como nas gengivas, em ferimentos recentes e até na urina. As potenciais complicações incluem infecção e morte do tecido (necrose) no local picado. Nos casos mais graves, os rins param de funcionar levando à morte.

As cascavéis também ocorrem em todo o Brasil, sobretudo em áreas abertas, secas, arenosas e com pedras. Elas, porém, são responsáveis por cerca de somente 8% dos acidentes ofídicos, pois o ruído de seu guizo, quando se sentem ameaçadas, alerta as pessoas ao redor.

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Após a picada, quase não há alterações no local. A vítima pode apresentar visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver dor muscular e escurecimento da urina horas depois do acidente. Os rins podem ser afetados e haver diminuição da urina, o que pode levar à morte.

A surucucu, responsável por apenas 1,5% dos acidentes, pode ter até 3,5 m de comprimento e é encontrada na Amazônia e nas florestas da Mata Atlântica, do Estado do Rio de Janeiro ao Nordeste. Muito semelhante ao acidente com a jararaca, o quadro após sua picada inclui vômitos, diarreia e queda da pressão arterial, podendo levar à morte.

Encontrada em todo o Brasil, a coral vive no solo sob folhagens, em buracos, entre raízes de árvores, ambientes florestais e perto de água. Não se observa alteração importante no local de sua picada, porém a vítima apresenta visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver aumento na salivação, insuficiência respiratória e, consequentemente, morte.

Decorrente da influência do homem no habitat natural dos animais, o aumento no número de acidentes é preocupante, pois estes podem matar ou produzir sequelas que incapacitam temporariamente ou definitivamente para o trabalho.

Os dados apresentados comprovam que jovens trabalhadores rurais são as maiores vítimas dos acidentes com serpentes peçonhentas, sobretudo na estação chuvosa e quente, e que as partes do corpo mais atingidas são os pés e as pernas. Ficou também evidente que esses acidentes são subnotificados.

Mediante revisão bibliográfica sobre acidentes com serpentes peçonhentas, verificamos que estes ocorrem em todo o território brasileiro, especificamente nas tarefas exercidas no meio rural. Tal fato é extremamente preocupante, pois as normas de fabricação para EPIs no Brasil não preveem esse tipo de acidente.

8.3 Tratamentos de acidentes ofídicos

Os acidentes ofídicos podem apresentar complicações relacionadas ao peso e idade da vítima, sendo que crianças e idosos são mais vulneráveis a ter problemas (AMARAL, 2009).

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A região anatômica atingida pela picada também pode interferir na gravidade: as picadas nos dedos têm mais probabilidade de evoluir para necrose do que outras regiões do corpo.

A profundidade na qual o veneno foi injetado, como a região intradérmica, subcutânea e intramuscular, influencia a velocidade de absorção e, portanto, a gravidade do acidente.

Após o acidente, é importante manter o paciente em repouso e tranquilo. Pode ser aconselhável ministrar algum analgésico, porém é preciso evitar drogas de ação depressora sobre o sistema nervoso central, informam França e Málaque (2009, p. 91).

O local deve ser mantido limpo apenas com água e sabão. Não se deve colocar substância alguma, como fumo, café, esterco, ervas etc., sobre o ferimento nem fazer curativos oclusivos.

O monitoramento dos sinais vitais e do volume urinário é de suma importância.

A pessoa atingida por acidente com serpente deve permanecer hidratada e o segmento do corpo picado deve ser mantido elevado.

A utilização da soroterapia para o tratamento de acidentes com animais peçonhentos remonta às últimas décadas do século XIX, e a produção de soros antitoxinas animais ainda se baseia nos métodos originalmente descritos por Vital Brazil. Brazil (1903, p. 268) constatou que:

As experiências que fizemos demonstram que existe a ação antitóxica específica de cada serum para cada typo de veneno, este fato na prática tem uma grande dificuldade, pois na maioria dos acidentes a espécie mordedora fica desconhecida ou indeterminada. Neste caso deve ser administrado o serum polyvalente ou serum anti-ophidico que contém a mistura do serum anti-crotalico e anti-bothropico. Vital Brazil testou a eficiência deste soro com resultados positivos para as seguintes espécies: crotalus horridus, lachesis jararaca, lachesis alternatus, lachesis jararacuçú e lachesisi neurviedii. Conforme o Instituto Butantan (São Paulo, s.d.), os soros hiperimunes heterólogos, medicamentos que contêm anticorpos produzidos por animais imunizados, são utilizados para o tratamento de intoxicações causadas por venenos de animais, toxinas ou infecções por vírus. O processo de produção de soros hiperimunes se inicia com a imunização de cavalos com antígenos específicos preparados com os venenos de serpentes, aranhas,

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escorpiões e lagartas. O plasma obtido pelas sangrias de cavalos é submetido a uma sequência de processos físicos e químicos para a purificação das imunoglobulinas3.

A qualidade do tratamento -- ministrar a dose e o soro antiofídico específico -- é de suma importância.

Cardoso et al. (2009) salientam que, para ser eficiente na neutralização dos efeitos de um veneno animal, um soro deve conter anticorpos dirigidos contra as principais toxinas responsáveis por sua ação sistêmica e local. Esses autores destacam ainda que a mistura de imunização deve incluir venenos de indivíduos de diferentes idades, coletados em diferentes épocas do ano nas regiões onde o soro será utilizado.

A rede pública do Brasil possui quatro laboratórios -- o Instituto Butantan (SP), a Fundação Ezequiel Dias (MG), o Instituto Vital Brazil (RJ) e o Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (PR) -- que produzem os seguintes tipos de soros:

• Antibotrópico: usado em casos de envenenamento por jararacas (gênero Bothrops);

• Anticrotálico: usado em casos de envenenamento por cascavel (gênero Crotalus);

• Antibotrópico/crotálico: para os casos de picadas por jararacas ou cascavéis;

• Antibotrópico/laquético: usado em casos de envenenamento por surucucu (gênero Lachesis) e jararacas (gênero Bothrops);

• Antielapídico: usado em casos de envenenamento por corais-verdadeiras (gênero Micrurus);

• Antiescorpiônico: usado nos casos de envenenamento por qualquer espécie de escorpião (gênero Tityus);

• Antitetânico: eficaz para a neutralização das toxinas secretadas pelo bacilo tetânico (Clostridium tetani).

• Antirrábico: indicado em casos de ferimentos graves provocados pela mordedura de animal suspeito.

3 São moléculas de glicoproteínas produzidas por plasmócitos (linfócitos B ativados) em reação a um patógeno na qual funcionam como anticorpos. O nome imunoglobulina surgiu do achado de que quando o soro contendo anticorpos é colocado num campo elétrico, os anticorpos, que são agentes da imunidade humoral, migram com as proteínas globulares.

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A soroterapia é indicada para neutralizar venenos inoculados após acidente por animal peçonhento. Como o objetivo é neutralizar a maior quantidade possível do veneno circulante, independentemente do peso do paciente, o soro deve ser administrado o mais precocemente possível após o acidente, e adultos e crianças devem receber igual dosagem.

Quanto ao tempo entre a picada e o início da soroterapia, pacientes atendidos muitas horas após a picada têm maior probabilidade de complicações locais ou sistêmicas. Os dados do Ministério da Saúde/Funasa (BRASIL, 2011, p. 12) confirmam a importância do atendimento rápido em caso de acidentes com serpentes: em 314 dos 359 óbitos notificados foi informado o tempo decorrido entre a picada e o atendimento. Em 124 (39,49%) destes o atendimento foi realizado nas primeiras seis horas após a picada, ao passo que em 190 (60,51%), depois de seis horas da ocorrência do acidente. Tais dados comprovam a importância da precocidade do atendimento.

Como certas medidas tomadas em acidentes provocados por viperídeos têm provocado controvérsias, não são recomendadas (AMARAL, 2009, p. 446). São elas:

1. Incisão com sucção: leigos ou profissionais, muitas vezes com estresse após o acidente, não conseguem programar a técnica de forma segura, o que pode provocar a interrupção da circulação e levar à mutilação da parte afetada; 2. Incisões múltiplas com sucção e torniquete: o kit suíço Venom EX tem um dispositivo cortante composto por seis lâminas paralelas ajustáveis a uma profundidade de 5 mm. Quando liberadas, elas perfuram a pele fazendo incisões. O kit inclui ainda um torniquete tipo cinta com fivela e uma seringa de 20 ml com um dispositivo de sucção acionado por mola. Aplicando esse kit ao redor dos orifícios da picada, a sucção é feita sobre as incisões. Em alguns pacientes esse tratamento associado a anti-histamínicos teve bons resultados, mas como esse dispositivo mutila, podem ocorrer infeções ou sangramento excessivo na presença de distúrbios de coagulação comuns após acidente com serpente; 3. Torniquetes (vide figura 23) e faixas de contrição: são tolerados no máximo por 20 minutos. Uma vez liberados, pode ocorrer uma rápida absorção do veneno. Na maioria dos casos, a absorção do veneno não é impedida pelo torniquete. Não há ensaios clínicos no Brasil que comprovem a eficácia de torniquete em acidentes provocados por serpentes peçonhentas;

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Figura 23 - Torniquete nos braços

Fonte: Situações de Emergência e Primeiros Socorros – Bombeiros (São Paulo, s.d.)

4. Aplicação de gelo ou bolsas de gelo: o resfriamento dos tecidos não gera redução dos efeitos destrutivos dos venenos. O frio provoca vasoconstrição, o que pode manter o veneno localizado e dessa forma aumentar a destruição tecidual; 5. Pressão/imobilização: enfaixar o local atacado com atadura elástica, imobilizar com tala e liberar após ter acesso ao soro podem facilitar o aumento da lesão tecidual local e provocar necrose ali; 6. Terapia do calor: o aquecimento local não diminui o efeito local observado após a inoculação do veneno.

A melhor maneira de prevenir esse tipo de acidente é ter sempre um plano eficiente para evitar a aproximação de serpentes. Algumas sugestões nesse sentido são fornecidas em BRASIL (2001, p. 14):

 Manter a região próxima da casa ou do local de trabalho limpa de lixo, folhagens, alimentos, pois essas medidas evitam a aproximação de ratos, o principal alimento de serpentes;  Ao remexer buracos, folhas secas, vãos de pedras, oco de troncos, utilize um pedaço de pau ou graveto;  Tampar vãos de portas e janelas; nas janelas instalar telas;  Nunca segurar uma serpente com as mãos, pois mesmo mortas, suas presas continuam sendo risco de envenenamento.

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Durante o trabalho em ambiente com presença de serpentes peçonhentas, é fundamental utilizar equipamento de proteção individual, que proteja de fato e resista às perfurações provocadas pelas presas de serpentes.

Todavia, como a distribuição e emprego do soro permanecem restritos às regiões de maior desenvolvimento socioeconômico, onde há sistema de atenção médica estruturado, nas regiões com carência de serviços à população comumente utiliza a fitoterapia antivenenosa, na qual espécies vegetais neutralizam os efeitos do veneno ofídico (CARDOSO, 2009, p. 481):

 Aristolochia sp mostrou poder neutralizante contra venenos de crotalídeos, sendo inativa ante venenos elapídicos;  Cúrcuma longa, ou açafrão, tem ação neutralizante contra a atividade hemorrágica do veneno de Bothrops jararaca e a ação letal do veneno Crotalus durissus terrificus;  Peldoton radicans (paracari) tem ação neutralizante contra o veneno da Bothrops atrox;  Peschiera fuchsiaefolia (peschiera) neutraliza os efeitos do veneno da Crotalus durissus terrificus (cascavel).

A OMS (1981) tece o seguinte comentário sobre o tratamento de acidentes ofídicos por meio de ervas:

Na maioria das comunidades tropicais as vítimas de acidentes com serpentes procuram curandeiros para se tratar através de ervas que neutralizam os efeitos dos venenos ofidicos, o que tem gerado confusão e problemas para as vítimas, pois atrasa os tratamentos com soros, já que as vítimas se deslocam para os hospitais após perceber que as ervas não surtiram efeitos.

Nas regiões mais carentes são utilizadas outras técnicas populares até a vítima ter acesso ao soro específico.

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9. REFERENCIAL LEGAL E METODOLÓGICO PARA OS ENSAIOS COM SERPENTES E PARA A PESQUISA QUALITATIVA DE CAMPO

9.1 Referencial legal para trabalhar com animais

As pesquisas com animais vivos são regulamentadas pela Lei nº 11.794 de 8 de outubro de 2008 que estabelece procedimentos para o uso científico de animais.

O § 2o define que são consideradas atividades de pesquisa científica todas aquelas relacionadas com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle de qualidade de drogas, medicamentos, alimentos, imunobiológicos, instrumentos ou quaisquer outros testados em animais, conforme definido em regulamento próprio.

O artigo 2o aplica-se a animais das espécies classificadas como filo Chordata, subfilo Vertebrata, observada a legislação ambiental.

Entende-se por filo Chordata animais que tem, como características exclusivas, ao menos na fase embrionária, a presença de notocorda (estrutura celular em forma de bastão, que dá origem ao eixo primitivo do embrião), fendas branquiais na faringe e tubo nervoso dorsal único.

Pertencem ao subfilo Vertebrata animais cordados que têm, como características exclusivas, encéfalo grande encerrado numa caixa craniana e coluna vertebral.

Essa lei aborda questões sobre experimentos com procedimentos efetuados em animais vivos, visando a elucidação de fenômenos fisiológicos ou patológicos, mediante técnicas específicas e preestabelecidas.

O artigo 4º da referida lei cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), cujas finalidades são monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam a utilização de animais em ensino e pesquisa.

Qualquer instituição legalmente estabelecida em território nacional que crie ou utilize animais para ensino e pesquisa deverá requerer credenciamento no Concea para uso de animais, desde que crie previamente uma Comissão de Ética no Uso de Animais (Ceua).

Como as serpentes pertencem ao filo Chordata, qualquer ação vinculada a elas tem que ser aprovada por uma Ceua.

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9.2 Referencial teórico para o trabalho em campo

Apresentaremos abaixo detalhes do método de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e sua interação com a análise qualitativa dos EPIs feita em campo.

9.2.1 Análise ergonômica do trabalho como referencial

A ergonomia, através do método de pesquisa Análise Ergonômica do Trabalho (AET), busca compreender o trabalho para transformá-lo, sendo esse também o objetivo deste trabalho, principalmente nos quesitos de proteção ao trabalhador.

A Société d´ergonomie de langue française (SELF) e a International Ergonomics Association (IEA) organizam reuniões, eventos e ações vinculados à área de ergonomia, de forma a facilitar a troca de conhecimentos entre os diversos países e seus respectivos profissionais, representações sindicais etc. Por isso, utilizaremos as definições de ergonomia apresentadas por essas duas entidades.

Segundo a SELF, a ergonomia pode ser definida como a adaptação do trabalho ao homem ou, mais precisamente, a aplicação de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para conceber ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser usados com o máximo conforto, segurança e eficácia, informa Falzon (2007).

Conforme atualização em 2016, a IEA define ergonomia como a disciplina científica relacionada à compreensão das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema, que busca a aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a fim de otimizar o bem-estar humano no sistema de trabalho.

A ergonomia aplica-se a projetos de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, as condições de saúde, o conforto e a eficiência no trabalho, segundo Dul e Weerdmeester (1993).

Segundo Abrahão (1993), Guérin et al. (1991), e Wisner (1994), a intervenção ergonômica busca dar segurança e conforto aos trabalhadores em situações de trabalho, evitando a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

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É fundamental identificar as questões organizacionais vinculadas ao trabalho a ser executado, pois é a organização do trabalho que define, segundo (1977), quem faz o quê, como e em quanto tempo.

A principal finalidade da ação ergonômica, segundo Guérin et al. (1991), é transformar o trabalho, contribuindo para a concepção de situações que não afetem a saúde dos trabalhadores.

Dias et al. (2000) enfatizaram que os seguintes aspectos ergonômicos devem ser considerados: posturas favoráveis, dimensões adequadas, dimensionamento e acessibilidade, comandos, controles, fatores ambientais, movimentos e questões de segurança. No desenvolvimento de um produto, o sucesso da atividade e o conforto dos usuários são os principais objetivos almejados.

Wisner (2004) salienta que a ergonomia reconhece que, em situações onde haja dificuldades operacionais, os trabalhadores adotam estratégias operacionais que resultam em soluções felizes para dificuldades desconhecidas por parte dos organizadores do trabalho. Assim, a ação ergonômica consiste em reconhecer tais invenções e facilitá-las tecnicamente.

Conforme Sznelwar (2015), a Análise Ergonômica do Trabalho busca o entendimento mais geral de como se organiza uma empresa ou instituição e de que forma isso se traduz no desenho das tarefas. Além de permitir compreender o que se passa naquela situação de trabalho, isso possibilita trilhar caminhos de solução que procurem correlacionar os diferentes pontos de vista que a compõem, em uma tentativa de ampliar o espectro de soluções possíveis.

9.2.2 Análise qualitativa

A análise qualitativa é um método que integra as ações relacionadas ao método Análise Ergonômica do Trabalho, já que colabora para a compreensão de hábitos, óticas, sentimentos e comportamentos adotados frente às condições de trabalho.

No enfoque da compreensão, Minayo (2012) observa que o verbo principal da análise qualitativa é compreender. Compreender é exercer a capacidade humana de colocar-se no lugar do outro, exercer a empatia.

A FAO (1990) e Costa (1995) indicam a análise qualitativa quando não há muita informação sobre o fenômeno estudado, pois ela possibilita analisar de forma mais profunda a

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motivação, hábitos, atitudes e tendências de comportamento -- informações imprescindíveis quando se busca modificar produtos e situações.

A entrevista, uma ferramenta de pesquisa utilizada na AET e na análise qualitativa, também foi utilizada na presente pesquisa.

Gray (2012, p. 151) observa que:

As entrevistas qualitativas podem ser usadas como o principal instrumento de coleta de dados ou em conjunto com observação, análise documental ou algum outro tipo de técnica de coleta. As entrevistas qualitativas usam perguntas abertas, seja em entrevistas informais, de conversação, entrevistas semiestruturadas (onde se pode fazer outras perguntas de aprofundamento). O uso de entrevistas semiestruturadas permite ao pesquisador se aprofundar em questões em busca de respostas mais detalhadas.

Sampieri et al. (2013) e Duarte (2002) destacam que as entrevistas semiestruturadas se baseiam em um roteiro de assuntos ou perguntas e o entrevistador tem liberdade de fazer outras perguntas para obter mais informações sobre o tema desejado, e que essa técnica de coleta de dados pressupõe uma conversação continuada entre informante e pesquisador devendo ser dirigida por este conforme seus objetivos almejados.

Sampieri et al. (2013, p. 239) comentam que: As perguntas abertas não delimitam de antemão as alternativas de respostas e são úteis quando não há informação suficiente sobre as possíveis respostas das pessoas. São boas em situações nas quais se deseja saber mais a respeito de uma opinião ou os motivos de um comportamento, diferente de perguntas fechadas, onde as respostas são previamente delimitadas pelo pesquisador.

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10. MATERIAL E MÉTODOS

Iniciaremos esse capítulo apresentando o cronograma de execução (figura 24) que norteou o surgimento do tema deste doutorado e todas as etapas vinculadas ao seu desenvolvimento.

Figura 24 - Cronograma de execução das pesquisas envolvendo o cultivo de abacaxi

Período Ações desenvolvidas

2009 Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guaraçaí solicita pesquisa sobre os trabalhadores no cultivo de abacaxi 2010/2011 Análise Coletiva do Trabalho em Guaraçaí

2013 Análise Ergonômica do Trabalho em Guaraçaí

2014 Início do doutorado

2015 Testes com ataques reais de serpentes/seleção de EPIs resistentes – Fundação Ezequiel Dias (FUNED) Belo Horizonte

2016 Observações do trabalho real em Frutal para avaliar o conforto de EPIs

10.1 Estudo comparativo entre os processos produtivos no cultivo de abacaxi

Aplicamos a Análise Ergonômica do Trabalho in loco às atividades envolvidas no cultivo de abacaxi nos municípios de Guaraçaí (SP) e Frutal (MG). As demais descrições dos processos produtivos se basearam em pesquisas bibliográficas abrangendo o trabalho feito em Santa Rita (PB) por Ribeiro (2005) e pesquisas realizadas nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica pelo ILRF (2008).

10.2 Método para testes de perfuração de EPI por serpentes peçonhentas

O método para os ensaios com as serpentes, com o intuito de testar os EPIs quanto ao quesito perfuração, foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Fundação

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Ezequiel Dias MG (FUNED) (anexo 1). Esse estudo passou também por análise da Comissão de Ética no Uso de Animais do Instituto Butantan.

Na seleção dos gêneros de serpentes que participaram dos ensaios, para avaliar a resistência dos equipamentos de proteção individual (EPIs) aos ataques de ofídios, foram consideradas as seguintes características:

1. Sexo: fêmeas

2. Estado de saúde: saudáveis

3. Fase de vida: adultas

Foram então selecionados os seguintes gêneros de serpentes: Bothrops jararacussu (nome popular – jararacuçu) e Crotalus durissus terrificus (nome popular – cascavel). Vale salientar que em ambas as espécies, as fêmeas são maiores do que os machos. Tanto machos quanto fêmeas atacam para se defender ou acasalar em qualquer lugar, seja no chão, na árvore, dentro d'água, em toca ou arbustos.

Como tais serpentes são de clima úmido e seco, essa característica é respeitada no cativeiro. A cascavel vive em campos abertos e regiões secas e pedregosas, e a jararacuçu vive na beira de matas, rios e córregos. Como o ambiente do cativeiro onde elas são mantidas leva isso em conta, a umidade do ar varia de acordo com a serpente.

As quatro serpentes que participaram dos experimentos executando os ataques tinham os seguintes números de chips: 900164000725985 – jararacuçu, 900164000325987 – jararacuçu, 900164000726123 – cascavel e 900164000726007 – cascavel.

Os experimentos foram feitos em sala úmida, sob grama sintética à temperatura de 25° C e umidade do ar igual a 60%.

Durante os ensaios de ataque real das serpentes foram utilizados dois arranjos experimentais, conforme mostra a figura 25:

 Os EPIs eram colocados em partes de manequim;  Os EPIs eram preenchidos com bexigas cheias de ar.

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Figura 25 - Arranjos experimentais utilizados nos testes com as serpentes

Com o auxílio de um gancho, o EPI era colocado a 30 cm das serpentes. Esse procedimento visava estimular o bote das serpentes através da aproximação do manequim com o EPI ou do EPI com as bexigas, ou seja, os testes foram feitos em duas situações específicas.

Foram realizadas três repetições por tipo de EPI em dois arranjos experimentais, com duas espécies de serpente cada. Os EPIs passaram por 12 repetições. Assim que era perfurado, o EPI era descartado (figura 39).

Os ensaios foram realizados em setembro de 2015 por técnicos da Funed, extremamente experientes no trabalho com serpentes, com os seguintes equipamentos de proteção individual (figura 26) doados pela Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg): 4 modelos de calçados (C1, C2, C3 e C4), 3 modelos de perneiras (P1, P2 e P3), 1 modelo de mangote (M) e 3 modelos de luvas(L1, L2 e L3), totalizando 11 modelos. Os EPIs foram identificados por códigos (figura 27) para preservar a identidade de seus fabricantes.

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Figura 26 - Delineamento experimental

EPI Serpentes Arranjo Repetição 1 Repetição 2 Repetição 3 experimental

Manequim C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4

Calçados Cascavel Bexiga C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 de Manequim C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 segurança Jaracuçu Bexiga C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4

Manequim L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3

Luvas Cascavel Bexiga L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3 de Manequim L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3 segurança Jaracuçu Bexiga L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3

Manequim M M M

Mangote Cascavel Bexiga M M M de Manequim M M M segurança Jaracuçu Bexiga M M M

Manequim P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3

Perneiras Cascavel Bexiga P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3 de Manequim P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3 segurança Jaracuçu Bexiga P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3

Os modelos doados foram definidos pela equipe das três entidades (Funed, Fundacentro e Animaseg), com o intuito de avaliar a proteção efetiva contra perfurações provocadas por ataques de serpentes nas mãos, nos pés, nas pernas e nos braços dos trabalhadores (as).

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Figura 27 - Equipamentos de proteção codificados

10.3 Método para analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com ataques reais de serpentes em Frutal

Antes da análise dos EPIs testados mediante ensaios com as serpentes, fizemos um estudo piloto junto a trabalhadores para verificar se os EPI usuais geravam problemas na execução do trabalho e validar a demanda oriunda da pesquisa feita em Guaraçaí por Gonzaga em 2012. Esse estudo incluiu uma entrevista semiestruturada e observações em campo (vide apêndice 2) junto a 9 trabalhadores no cultivo de abacaxi no município de Frutal.

Guérin et al. (1991) destacaram que a demanda a ser trabalhada deve ser validada junto aos trabalhadores, para permitir que eles a acatem ou reformulem a proposta da pesquisa a ser realizada. Ou seja, a análise da demanda é a definição do problema a ser analisado, a partir da negociação com diversos atores sociais.

Na análise qualitativa dos artefatos de proteção aprovados (luvas, perneiras, botas, calça e blusão) através dos ensaios com as serpentes peçonhentas, foi investigada a percepção

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de trabalhadores relacionada a conforto e eficácia do uso dos equipamentos durante a execução do trabalho real no cultivo de abacaxi. Para isso, a estruturação da intervenção em campo utilizou as seguintes ferramentas de pesquisa: entrevistas semiestruturadas seguindo um roteiro (vide apêndice 3), observações abertas e imagens das atividades exercidas, além de conversas com os trabalhadores. Com base nisso, foi gerada a argumentação necessária para analisar a qualidade do material a ser testado.

A entrevista semiestruturada (vide Apêndice 3) foi preparada a partir de elementos obtidos através da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) (GONZAGA et al. 2014) e da Análise Coletiva do Trabalho (ACT) (GONZAGA, 2012), nos quais percebemos os pontos que deveríamos avaliar nos EPIs: se o tamanho é adequado às dimensões antropométricas dos trabalhadores, se resistem à perfuração por folhas de abacaxi, se permitem que os movimentos corporais na execução das tarefas sejam feitos com segurança e conforto ou se provocam desconforto (coceira e/ou calor). Destacamos que para cada EPI alguns atributos avaliados foram distintos em função da parte do corpo a ser protegida e da tarefa a ser executada.

As informações foram originárias de perguntas fechadas, para as quais só se podia dar uma resposta: por exemplo, sim/não ou errado/certo. Entretanto, quando se objetiva obter informações qualitativas, é importante entender por que a resposta foi sim ou não, por meio de perguntas abertas, como por exemplo, ―por que‖ ou ―explique‖.

Em pesquisa no município de Sapé, Paraíba, junto a trabalhadores que cultivam abacaxi, Santos (1985) fez entrevistas com roteiro aberto para permitir que os trabalhadores dessem depoimentos e apresentassem seus problemas.

Essa etapa foi desenvolvida junto a 6 homens que executam as tarefas no cultivo de abacaxi. Tal amostra foi definida em função do número de trabalhadores que se apresentaram voluntariamente para participar da pesquisa e, consequentemente, utilizar os EPIs fornecidos para teste. Esses indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice 1), previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

O anonimato foi mantido em todas as fases da pesquisa, assim preservando os trabalhadores participantes, já que na análise qualitativa o caráter das informações fornecidas é estritamente confidencial. Gray (2012, p. 62) faz a seguinte observação sobre o aspecto ético:

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O sujeito deve ter liberdade de interromper a participação de testes em pesquisas se tiver chegado a um estado mental e físico no qual a continuação lhe parecer impossível; o pesquisador no decorrer do experimento deve estar preparado para encerrá-lo a qualquer momento.

Esse aspecto foi previsto no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (vide apêndice 1). Os equipamentos avaliados nessa etapa do trabalho passaram pelos testes com ataques reais de serpentes, tendo sido aprovados 2 modelos de luvas de proteção, 3 modelos de perneiras de segurança e 1 modelo de bota.

Destacamos que a roupa protetora de nylon, que passou previamente pelos testes com serpentes na Funed, e um modelo de perneira de segurança também foram testados em campo (figura 28).

Os discursos dos trabalhadores direcionaram as ações buscando analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com as serpentes.

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Figura 28 - Roupa fabricada e perneira com material resistente ao ataque de serpentes

Tentamos obter os equipamentos em diversos tamanhos visto que as dimensões humanas ou medidas antropométricas variam, o que pode tornar os equipamentos desconfortáveis e dificultar seu uso. As luvas de proteção, as perneiras de segurança e a roupa

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protetora de nylon fornecidas para os testes em campo tinham tamanhos pequeno, médio e grande. Por sua vez, as botas em couro eram nos tamanhos 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43 e 45.

Nessa fase de análise qualitativa dos EPIs foi utilizado o conceito da usabilidade proposto por Ferrés (2007) e Haapala, H. et al. (2006), através de questionamentos sobre conforto, facilidade para exercer a tarefa e outras informações que os usuários considerarem importantes.

O conceito da usabilidade se aplica perfeitamente quando se observa o uso de um produto durante a execução da atividade, visto que garantir a execução do trabalho e preservar o conforto e a segurança do usuário são aspectos fundamentais.

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11. RESULTADOS

Este estudo procurou selecionar um conjunto de equipamentos de proteção que de fato preserve os trabalhadores expostos a ataque de serpentes peçonhentas durante as atividades ligadas ao cultivo de abacaxi e a outras culturas, de forma que eles executem seu trabalho com segurança e conforto.

Idealmente, os EPIs devem assegurar os seguintes quesitos:

 Proteção efetiva contra ataques de serpentes peçonhentas e perfurações por folhas de abacaxi e pelo manuseio dos frutos;

 Conforto térmico, antropométrico e térmico;

 Interferência mínima na atividade: facilitar a execução da tarefa e permitir o manuseio seguro de tudo o que estiver presente no trabalho.

Movidos por esses objetivos, fizemos uma análise do processo produtivo em Frutal, a fim de identificar o trabalho real e confirmar a demanda quanto ao ataque de serpentes peçonhentas.

11.1 Análise do processo produtivo em Frutal

Em 2014 o município de Frutal foi responsável por 28% da produção de abacaxi em Minas Gerais, o que equivaleu a 69.000 frutos dos 245.977 frutos produzidos nesse Estado, segundo levantamento da produção agrícola municipal feito pelo IBGE (2014). Frutal tem 2.300 ha de área plantada com abacaxi.

Conforme o Atlas do Desenvolvimento Humano (2010), o município de Frutal se localiza na microrregião de Frutal e na mesorregião do Triângulo Mineiro. A população total desse município em 2010 era de 53.468, havendo 46.089 pessoas na área urbana (86,20%) e 7.379 na área rural (13,80%).

No município de Frutal a plantação de abacaxi é dividida em linha duplas plantadas em paralelas entre si, a uma distância de 1 metro entre ruas e de 50 cm entre ruinhas. A plantação é rodeada por ruas mais largas, ou carreadores, por onde circulam os

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tratores que transportam os frutos colhidos. A largura do carreador depende do tipo de transporte da carga: quando são usadas carretas, a largura é de 3,5 m, e no caso de caminhões a largura chega a 6 metros. O carreador tem no máximo 150 metros de extensão.

As variedades de abacaxi plantadas em Frutal são Ananas Comosus (Pérola) e Smooth Cayenne (Havaí).

Os trabalhadores no cultivo de abacaxi nas propriedades visitadas em Frutal tinham vínculo empregatício formal, ou seja, carteira de trabalho assinada, exceto aqueles informais envolvidos na atividade de plantio.

O transporte para o local de trabalho é feito em caminhonete ou outro carro do patrão.

A jornada de trabalho é a seguinte: eles chegam ao local às 6h30 e trabalham até 13h30, recebendo lanche no período matinal e almoçando entre 11h e 12h. Eles recebem horas extras e, se trabalharem no domingo, a diária é de R$ 70.

O montante de pagamento tem implicação relacionada aos EPIs, conforme descrito abaixo:

 Quando recebem R$ 70, eles têm a responsabilidade pela compra dos equipamentos de proteção individual,  Quando recebem R$ 50, é o empregador quem fornece luvas de proteção e perneiras de segurança. As fases produtivas se distribuem da seguinte forma ao longo do ano: nos meses de janeiro, fevereiro e março são executadas as tarefas de colheita de mudas, plantio e adubação; nos meses de abril, maio e junho é feita a manutenção do roçado; e de julho a dezembro é feita a colheita dos frutos.

O transporte da carga (mudas e frutos colhidos) em Frutal é em carreta de metal, conforme mostra a figura 29. A carriola e a grade pesam conjuntamente 30 kg. Dependendo do tamanho dos frutos, a carriola carregada pode chegar a pesar 200 kg. Quando carregada de mudas, chega a pesar 130 kg.

Segundo os trabalhadores, essa especificidade (carriola com cabo em metal) no processo de trabalho em Frutal exige que a luva de proteção seja emborrachada na palma da mão, para ter garra no cabo do carrinho que é de metal.

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Figura 29 - - Carreta de metal para transporte de mudas de abacaxi

A maioria das tarefas no cultivo de abacaxi é manual, mas a abertura de sulcos e a preparação do terreno são semi-mecanizadas, ao passo que a adubação e aplicações de veneno são mecanizadas.

As posturas se alternam entre agachada e em pé durante as tarefas manuais: colher as mudas, transportá-las para o local do plantio, plantá-las e cobri-las com saquinho de papel; capinar ervas daninhas; preparar caldas com agentes químicos; abastecer os tanques; colher os frutos e carregá-los na carroceria do trator e depois no caminhão, onde a carga colhida deve ser organizada.

As operações de aplicação de adubo químico são mecanizadas (figura 30). O adubo utilizado é nitrogênio, fósforo e potássio com a formulação NPK–4–14–8. O número de adubações depende do tipo de solo, mas, em geral, o adubo é aplicado 4 vezes por safra.

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Figura 30 - Máquina para aplicar agentes químicos e podar folhas de abacaxi

Essa máquina também faz o desponte das folhas de abacaxi para facilitar o trabalho durante a colheita. Essa estratégia no sistema produtivo é muito boa, pois protege os trabalhadores das perfurações provocadas por essas folhas. A poda das folhas também pode ser feita com facão.

O desponte das folhas do abacaxi está de acordo com o item 9.4 das normas técnicas específicas para a produção integrada de abacaxi, que são regulamentadas pela Instrução Normativa nº 43, de 23 de julho de 2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2008). Esta preconiza que se realize o desbaste parcial das mudas alguns dias antes da colheita, assim como o corte da parte superior das folhas na região mediana, a fim de facilitar a colheita do fruto.

Ribeiro (2005, p. 115) tece o seguinte comentário sobre o risco mecânico das folhas serrilhadas de abacaxi:

Podemos citar ainda como agente de risco mecânico ou de acidente as folhas das plantas (devido à sua forma serrilhada), que podem atingir partes descobertas do corpo do trabalhador. A possibilidade de ocorrer cortes na pele pelo contato com as folhas do abacaxizeiro está presente mesmo utilizando as roupas de proteção. Esse é o risco mais percebido e evitado

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pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por não serem percebidos, dificilmente são evitados. Durante o plantio de abacaxi os trabalhadores ficam descalços ou de meia (figura 31) e com luvas de proteção. Eles destacam que preferem trabalhar assim, pois com a bota gruda muito barro e pesa muito; descalço é melhor porque a bota pesa muito, principalmente quando o solo está molhado.

Figura 31 - Trabalhadores descalços ou de meias plantando abacaxis

As mudas ficam organizadas em carretinhas para ser distribuídas de forma alinhada nas ruas pré-marcadas por trator. As covas para mudas têm espaçamento de 35 cm entre si e o plantio deve ser feito com 10 cm de profundidade. É plantada apenas 1 muda por cova, de forma intercalada em zigue-zague (vide figura 29), a fim de auxiliar o bom desenvolvimento da planta e consequentemente dos frutos.

No plantio de mudas nas covas a postura é em pé. Na sequência, o trabalhador curva a coluna para finalizar a tarefa e cobrir a muda de terra, às vezes com o próprio pé.

Este relato descreve exatamente como é o plantio: eu seguro a muda com as mãos, coloco na cova e aperto a terra com os pés.

A diária paga pela execução dessa tarefa varia entre R$ 23 e R$ 25 por milheiro plantado. Os trabalhadores chegam a plantar 8 milheiros por dia.

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Em Frutal os frutos são cobertos com saquinhos de papel (vide figura 32) para evitar sua queimadura pelo sol. Os trabalhadores salientaram que os saquinhos são melhores por ser mais largos e, quando o fruto é coberto por jornal, esse rasga e queima o fruto.

Figura 32- Abacaxi coberto por saco de papel

Na fase da colheita de abacaxi, os trabalhadores fazem o controle de qualidade dos frutos antes de colhê-los, avaliando a presença de furos, podridão, tamanho e grau de maturidade. Posteriormente, seguram cada fruto pela coroa e o torcem para se soltar, e organizam a carga colhida em carriolas (vide figura 29), as quais são levadas até o local onde a carga será transferida para o caminhão.

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Figura 33 - Carregamento de carga em Frutal

O carregamento da carga (figura 33) é feito pelos cargueiros, que também controlam a qualidade dos frutos (por exemplo, abacaxi furado brocado). Como o arremesso dos frutos é feito dos dois lados da carreta, é necessário haver dois homens em cima da carreta fazendo a contagem dos frutos que comporão a carga a ser transportada. Os cargueiros salientaram que na contagem são necessárias duas pessoas, para que possam intercalar a numeração (1, 2, por exemplo) e não perder o controle dos frutos contados. Segundo os trabalhadores, cada carreta em Frutal geralmente transporta 8.000 frutos.

Os trabalhadores relataram que empurrar a carriola o dia inteiro cansa muito, principalmente quando o solo está úmido, que é muito difícil manuseá-la em local com

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declive acentuado permeado de curvas de nível para conter a erosão, pois a carga não pode cair, e que manter o equilíbrio da carriola exige muito esforço e atenção.

Os trabalhadores também destacaram que as cobras aparecem no segundo ano no abacaxizal, pois surgem as moitas.

A grande diferença positiva nesse munícipio é que os trabalhadores são registrados, o que lhes garante usufruir os direitos trabalhistas advindos do vínculo com a CLT, a exemplo de férias, 13º salário, FGTS, multa por rescisão de contrato e PIS/Pasep. Além disso, um trabalhador com carteira assinada tem assegurado todos os direitos conquistados por convenção coletiva ou pelo sindicato de sua categoria.

Uma das desvantagens de trabalhar sem carteira assinada é que o afastamento por motivos de saúde ou acidentes de trabalho não tem cobertura relativa ao auxílio-doença do INSS.

Por outro lado, quando firma um vínculo empregatício com uma empresa, o trabalhador tem segurança e aporte do governo por qualquer acidente ou infortúnio que venha a ocorrer. Entre os possíveis imprevistos estão acidentes de trabalho, lesão por esforço repetitivo (LER) e abusos dos empregadores.

Ter um bom tempo trabalhado no regime CLT também é uma grande garantia de conseguir se aposentar no futuro. A carteira de trabalho é indiscutivelmente um dos documentos mais importantes para requisitar qualquer benefício, principalmente a aposentadoria por tempo de contribuição e por idade. Ter a carteira assinada vale como comprovante de filiação à Previdência Social, vínculo empregatício, tempo trabalhado e salário de contribuição -- os requisitos principais para requerer uma aposentadoria.

Nas zonas rurais há graves déficits de trabalho decente, cobertura limitada da seguridade social, alta informalidade e, com frequência, até trabalho forçado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (2015), no meio rural predominam o trabalho por conta própria e o trabalho familiar, que muitas vezes impulsionam o trabalho informal.

11.2 Resultados dos ensaios com as serpentes peçonhentas Os resultados apresentados a seguir se referem à determinação de resistência às perfurações causadas por picadas de serpentes peçonhentas. Os resultados dos ensaios executados na Funed se restringem às amostras dos EPIs ensaiados.

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Houve tentativa de aprovar esses ensaios no Instituto Butantan (SP), mas sua Comissão de Ética no Uso de Animais indeferiu a proposta alegando que as serpentes ficariam estressadas (vide anexo 2).

O método utilizado foi o de ―ataque real de serpentes aos EPIs‖ (figura 36), pois os ensaios em laboratório prescritos na Portaria nº 209 do MTE não preveem ensaios para perfuração provocada por ataque de serpentes. Além disso, o laboratório Satra (2011), certificado no Reino Unido e China para executar ensaios com pontas afiadas quanto à resistência a penetração com agulhas hipodérmicas, destaca que há problemas óbvios em qualquer regime de testes que tente usar presas de cobras, já que estas são seres vivos.

O teste citado no parágrafo anterior realmente tem aplicação complexa quando envolve ataques por serpentes, visto que elas também têm dentes inoculadores de venenos, que variam de número, formato, tamanho e até localização (MELGAREJO, 2009).

As serpentes que participaram dos ensaios com os EPIs tinham as seguintes características físicas e biológicas (figura 34):

Figura 34 - Dados biométricos das serpentes

Número do chip Comprimento Peso Tamanho Abertura Altura da presa da boca do bote

900164000725985 148 cm 1,900 2 cm 7 cm Entre kg Jaracuçu 20 e 900164000325987 138 cm 1,025 2 cm 9 cm kg 25 cm Jaracuçu

900164000726123 86 cm 0,550 1 cm 4,5 cm Entre kg Cascavel 10 e 900164000726007 110 cm 1,025 1,5 cm 5 cm kg 14 cm Cascavel

O tamanho das serpentes tinha variação de até 84,52 cm, sendo a maior uma jararacuçu de 1,48 cm, e a menor, uma cascavel de 86 cm.

A variação do peso foi de 1,350 kg, sendo que a serpente mais pesada tinha 1,9 kg, e a mais leve, 550 g.

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Quanto ao tamanho das presas, as das jararacuçus (chips 900164000725985 e 900164000325987) tinham 2 cm e as das cascavéis (chips 900164000726123 e 900164000726007) tinham 1,5 cm.

A maior abertura bucal, 9 cm, ocorreu com a jararacuçu (chip 900164000325987) e a menor, 4,5 cm, com a cascavel (chip 900164000726123).

Com relação à altura do bote, para a jararacuçu houve variação entre 25 e 20 cm, enquanto para a cascavel, foi entre 10 e 14 cm.

Para a proteção efetiva dos trabalhadores, consideramos que o EPI deve ser 20 cm mais longo do que as alturas dos botes obtidas nesses testes com as espécies jararacuçu e cascavel. Esses dados não se aplicam a outras espécies de serpentes, pois na fauna brasileira há serpentes maiores, a exemplo da Lachesis muta (surucucu-bico-de-jaca) que vive na região Norte e região litorânea e, quando adulta, pode chegar a 3,5 m de comprimento.

Figura 35 - Ataque em luva de proteção

Fonte: Leonardo Noronha

Do conjunto de 11 EPIs avaliados (4 modelos de calçados, 3 modelos de perneiras, 1 modelo de mangote e 3 modelos de luvas de proteção), apenas 5 resistiram aos

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ataques das serpentes: o calçado B3, as perneiras P2 e P3, e as luvas L2 e L3 (vide figuras 45 e 46 nas pp. 135 e 136).

Figura 36 - Equipamentos aprovados durantes os ensaios

Salientamos que, segundo o diretor da Funed, as serpentes que participaram dos experimentos não tiveram nenhum sintoma de estresse, apresentando comportamento normal posteriormente.

A figura 37 apresenta um resumo dos resultados dos ensaios em função do arranjo experimental e da espécie de serpente:

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Figura 37- Resultados dos ensaios

Jaracuçu/ Jaracuçu/ Cascavel/ Cascavel/ manequim bexiga manequim bexiga EPI HOUVE PERFURAÇÃO?

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

B1 X X X X

B2 X X X X

B3 X X X X

B4 X X X X

P1 X X X X

P2 X X X X

P3 X X X X

M X X X X

L1 X X X X

L2 X X X X

L3 X X X X

A seguir, mencionamos as principais características dos EPIs que resistiram aos ataques, a partir das descrições dos certificados de aprovação do EPI emitidos pela Secretaria de Inspeção do Trabalho do MTE.

O calçado ocupacional B3, tipo bota, é fabricado no Brasil, segundo a NBR ISO 20347:2008 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Confeccionada em microfibra (microfilamentos de poliamida, poliéster e viscose, com fios termoligados e acabamento em poliuretano) na cor preta, a bota tem forro da gáspea em não tecido na cor cinza, palmilha de montagem em material sintético na cor branca, solado preto de poliuretano bidensidade injetado diretamente no cabedal, sem biqueira de aço e resistente ao óleo combustível, para uso em locais com presença de eletricidade. O fechamento da bota é com zíper na lateral. Disponível nos tamanhos de 35 a 45, esse modelo de calçado ocupacional foi aprovado para proteger os pés dos usuários contra riscos de natureza leve, contra agentes

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abrasivos e escoriantes, e contra choques elétricos. Destacamos que essa bota foi perfurada quando o zíper estava aberto (vide figura 38).

Figura 38 - Bota perfurada pela presa da jararacuçu quando o zíper estava aberto

Fonte: Leonardo Noronha

A perneira P2 é confeccionada em vaqueta hidrofugada, com acabamento em graxo, fechamento frontal em elástico e velcro, colar em nylon, forração interna do cano transpirável com filamentos de poliéster com tratamento hidrofílico de rápida dispersão de umidade, e revestimento interno em malha de trama de fibras em longas cadeias moleculares produzidas a partir de poli-tereftalamida paraphenlene, altamente resistente a corte. Tais informações são do fabricante, e o EPI não tem certificado de aprovação.

A perneira P3 é confeccionada em duas camadas de material sintético, com três talas em PVC frontais fixadas por solda eletrônica e fechamento nas bordas através de viés com solda eletrônica. Foi aprovada para proteção das pernas dos usuários contra agentes abrasivos, escoriantes e térmicos provenientes de soldagem e processos similares.

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A luva L2 em raspa, fabricada conforme as normas EN 388 (2003) e EN 420 (2003), tem reforço interno em raspa na face palmar e dorsal, tira de reforço externo no polegar, tira de raspa e velcro no punho para ajustes, punho de 15 cm e modelo mitene de dois dedos. Foi aprovada para proteger as mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes e perfurantes.

A luva L3, em conformidade com as normas EN 388 (2003) e EN 420 (2003), é confeccionada em couro tratado no dorso, palma e punho, e tem tira de reforço na palma da mão, forro térmico na palma e dorso, punho forrado e costurado com fios de aramida, 41 cm de comprimento no braço e forro de tecido.

A espécie jararacuçu foi a mais eficiente nos ataques, conseguindo perfurar os EPIs em 55,9% dos assaltos, contra 17,6% da espécie cascavel. Os botes foram notavelmente consistentes entre os diferentes arranjos experimentais e as repetições, sempre perfurando ou não perfurando o mesmo modelo de EPI.

O material testado e aprovado pela Funed (vide anexo 3), através de testes com cascavel, jararacuçu e caiçaca, tinha as seguintes características informadas pelo fabricante:

- Camisa com tronco em tecido tipo sarja com acabamento hidrorrepelente, mangas em material em três camadas (camadas externas em tecido tipo tela 55% algodão/45% poliéster, com resinagem em PVC nas duas faces e camada interna em couro sintético), e punhos com ajuste em velcro.

- Calça tipo cowboy, com ajuste na cintura em velcro, perneiras em material em três camadas (camadas externas em tecido tipo tela 55% algodão/45% poliéster, com resinagem em PVC nas duas faces e camada interna em couro sintético).

A perneira de segurança testada e aprovada pela Funed (vide anexo 4) é confeccionada em duas camadas de laminado de PVC, três talas de polipropileno ou três talas de aço ou uma chapa de aço na parte frontal, com ou sem proteção em polipropileno no joelho presa através de solda eletrônica e fecho plástico para ajustes, com ou sem metatarso, fechamento nas bordas por meio de viés em material sintético e fechamento total em solda eletrônica.

Os materiais reprovados (figura 39) tinham as seguintes propriedades:

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Figura 39- Equipamentos reprovados nos testes com as serpentes

A bota B1, fabricada em conformidade com as normas ABNT NBR ISO 20344:2008 e ABNT NBR ISO 20347:2008, possui cano longo impermeável inteiro polimérico com 38 cm e largura da perna de 41 cm. Ele é confeccionado em poliuretano injetado com propriedades antiestáticas, com biqueira de poliuretano e sistema de absorção de energia na área do salto, com propriedades antiderrapantes e resistência a óleo combustível. O solado é em borracha e os tamanhos disponíveis variam de 37 a 44. Com propriedades antiestáticas, esse calçado foi aprovado para proteção dos pés do usuário contra riscos de natureza leve e agentes abrasivos e escoriantes.

A bota B2, fabricada no Brasil segundo a norma ABNT NBR ISO 20347:2008, é confeccionada em couro curtido ao cromo e tem fechamento em elástico, palmilha de montagem em material não tecido fixada pelo sistema strobel, biqueira de polipropileno e solado de poliuretano bidensidade injetado direto no cabedal. Os tamanhos disponíveis são de 22 a 46. Foi aprovada para proteger os pés contra riscos leves e choque elétrico.

A bota B4, fabricada no Brasil segundo a norma ABNT NBR ISO 20347:2008, é confeccionada em couro hidrofugado curtido em cromo e tem palmilha de montagem em

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material não tecido, montado em sistema strobel, sem biqueira de proteção e solado em poliuretano bidensidade injetado direto no cabedal. Os tamanhos disponíveis são de 33 a 46. Essa bota foi aprovada contra riscos de natureza leve e agentes abrasivos e escoriantes.

A luva 1 importada, foi fabricada conforme as normas 388 (2003) e EN 420 (2003). É confeccionada em fibras de algodão, poliéster e plástico, e tem revestimento de plástico, poliéster, nylon, silicone e poliuretano. Foi aprovada para proteger as mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes e perfurantes. Obteve resultados de níveis de desempenho 4522: 4 - resistência à abrasão; 5 - resistência ao corte por lâmina; 2 - resistência ao rasgamento; e 2 - resistência à perfuração por punção. Os tamanhos disponíveis são 8, 9 e 10.

O mangote M 1, importado dos EUA e fabricado conforme as normas EN 388 (2003) e EN 420 (2003), é confeccionado em tecido sintético (material super Fabric), recoberto com hexágonos de carbono, e tem punho com encaixe no polegar e fechamento em velcro. Foi aprovado para proteger do braço e antebraço do usuário contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes e perfurantes. É disponível nos tamanhos 7, 8, 9, 10 e 11. Obteve resultados de níveis de desempenho 4533: 4 - resistência à abrasão; 5 - resistência ao corte por lâmina; 3- resistência ao rasgamento; 3 - resistência à perfuração por punção. Não desliza pelo braço, apoio em neoprene no polegar.

A perneira P1, fabricada no Brasil segundo a norma ISO 11611:2007, é confeccionada em material sintético (bidim) de 4 cm de espessura e tem fechamento por costura de solda eletrônica e três talas de polipropileno frontais de proteção. O tamanho disponível é único. O fabricante forneceu a seguinte descrição: Essa perneira é em tamanho único e tem as seguintes medidas: 40 cm de comprimento na frente, 20 cm de comprimento atrás, 09 cm de comprimento sobre o metatarso, 0,8 cm de espessura, 40 cm de circunferência (diâmetro), 0,650 kg o par. Serve para proteção dos membros inferiores do usuário contra agentes abrasivos, escoriantes e térmicos.

O fato é que a maioria das normas nacionais e internacionais para a fabricação de EPIs não leva em conta as condições reais de trabalho e as características antropométricas dos potenciais usuários, o que acarreta dificuldades para a execução do trabalho.

Concluímos também que a espessura do material com que são fabricados os equipamentos utilizados nos testes não foi decisiva na resistência a perfuração no momento dos ataques.

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As espessuras, medidas três vezes por EPI com paquímetro Mitutoyo, estão apresentadas na figura 40 a seguir.

Figura 40 – Médias de espessura dos materiais testados

TIPO DE EPI ESPESSURA (MM)

B1 4,42

B2 3,56

B3 4,93

P1 4,61

P2 3,0

P3 5,73

M1 2,51

L1 4,93

L2 1,71

L3 2,56

Blusão (manga*) 3,05

Calça (perna*) 3,0

*Local onde foi feita a medição

A figura acima demonstra que foram testados equipamentos com diversas espessuras: para as botas as médias ficaram entre 4,42 mm e 4,93 mm; para as perneiras, entre 3,0 e 5,73 mm; e para as luvas, entre 1,71 e 4,93 mm.

Os dados do quadro 40 permitem discutir a relação entre a espessura do material e a resistência ao ataque das serpentes, ou seja, a espessura não garante a resistência à perfuração pelo ataque da serpente. A L1, por exemplo, foi perfurada mesmo tendo a maior espessura, assim como a P1, perfurada apesar de sua espessura ser alta.

Com relação às botas, a B3, com maior espessura, foi a que resistiu ao ataque da jararacuçu. Com relação às perneiras, a reprovada foi a P1 cuja espessura é maior do que a da P2 e menor do que a da P3, sendo que estas duas últimas foram aprovadas. Quanto às luvas, a

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L1, que era a mais espessa, foi reprovada, ao passo que a L2 e a L3, com espessuras menores, foram aprovadas.

Já para a espécie cascavel, todas as botas resistiram ao ataque independentemente da espessura. Porém, a perneira P1 foi perfurada, mesmo tendo espessura maior do que a P2. Nenhuma luva foi perfurada pela cascavel, sendo que essas peças tinham espessuras bem diversas.

11.3 Resultados da análise qualitativa dos EPIs

A necessidade de EPI que proteja os trabalhadores no cultivo de abacaxi, notadamente contra riscos ocupacionais de perfuração em várias partes do corpo causada por folhas de abacaxi e proteção contra ataques de serpentes peçonhentas, foi evidenciada por GONZAGA et al. (2014) em pesquisa executada em Guaraçaí. No estudo preliminar feito em agosto de 2016 sobre os EPIs usados diariamente entrevistamos 9 trabalhadores, ao passo que no estudo sobre os EPIs que passaram por testes com serpentes feitos em setembro de 2016 entrevistamos outros 6 trabalhadores, já que houve rotatividade de mão de obra no intervalo de um mês entre as visitas de campo. Aliás, a rotatividade no meio rural no Brasil é destacada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese, 2014, p. 25):

Apesar de alguns indicadores apresentarem, nos últimos anos, melhora na qualidade do emprego rural (aumento da proporção de empregados com carteira de trabalho assinada, aumento da taxa de sindicalização, diminuição da proporção de trabalhadores rurais com jornada acima de 44 horas e diminuição do trabalho infantil), ainda persistem condições bastante precárias em relação aos ocupados rurais em geral. A elevada informalidade, a inserção intermitente em diferentes etapas do processo produtivo, a segmentação dos trabalhadores segundo diversas formas de contratação, a dificuldade de organização nos locais de trabalho, a rotatividade, por diferentes culturas, entre outros, acabam por contribuir muito para acentuar a precarização do trabalho.

Segundo o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17 (BRASIL, 2002), a alta rotatividade é um indicador indireto de sobrecarga de trabalho e de que as exigências das tarefas executadas são difíceis de serem cumpridas. COSTA (2007) comenta que, em pesquisas qualitativas, o emprego de amostra pequena é admissível. As entrevistas realizadas são suficientes para a investigação de um

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determinado assunto. A repetição pode levar à saturação das informações, fenômeno que ocorre quando, após certo número de entrevistas, o entrevistador começa a ouvir de novos entrevistados relatos muito semelhantes àqueles já ouvidos anteriormente. GOLDENBERG (2004, p. 53) salienta que:

Os dados de pesquisas qualitativas consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Esses dados não são padronizáveis como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade e criatividade no momento de coletá-los e analisá-los. Não existindo regras precisas e passos a serem seguidos, o bom resultado da pesquisa depende da sensibilidade, da intuição e da experiência do pesquisador.

Iniciamos a análise dos equipamentos através de um estudo sobre os EPIs de uso diário em agosto de 2016, para obter a opinião dos trabalhadores em relação aos seguintes atributos: prejudicar movimento, machucar as partes do corpo protegidas, endurecer durante o trabalho, provocar coceira, resistir às perfurações de folhas de abacaxi, transpirar bem proporcionando conforto térmico, esquentar e provocar desconforto térmico, e adequação do tamanho.

11.3.1 Análise qualitativa dos EPIs de uso cotidiano

Em estudo preliminar feito em agosto de 2016, avaliamos os EPIs usados pelos trabalhadores na rotina diária no cultivo de abacaxi. O grupo de trabalhadores que se dispôs a conversar sobre os EPIs tinha ampla experiência no cultivo de abacaxi, conforme demonstra a figura 41. Vale frisar que todos os entrevistados tinham registro em carteira de trabalho.

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Figura 41 - Dados sobre os trabalhadores entrevistados

Identificação Idade Sexo Escolaridade Tempo de trabalho no cultivo de abacaxi (anos)

1 50 Masculino Ensino fundamental 27 incompleto 2 33 Masculino Ensino fundamental 17 completo 3 53 Masculino Ensino fundamental 8 incompleto 4 40 Masculino Ensino fundamental 1 completo 5 49 Masculino Ensino fundamental 3 incompleto 6 62 Masculino Ensino fundamental 40 incompleto 7 39 Masculino Ensino fundamental 27 incompleto 8 50 Masculino Ensino fundamental 10 incompleto 9 22 Masculino Ensino fundamental 5 completo

Eles estavam exercendo diversas atividades: colher, podar, adubar e transportar (no linguajar dos trabalhadores, puxar) mudas de abacaxi. Durante o estudo preliminar confirmamos a demanda de proteção fornecida pelos EPIs contra ataques de serpentes peçonhentas. Os trabalhadores afirmaram que apenas a perneira protege desses ataques, a exemplo deste depoimento: apenas as perneiras resistem aos ataques se a cobra não for grande, pois a perneira protege até o joelho.

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Os atributos foram analisados nesta fase com respostas diretas ―sim ou não‖ conforme o Apêndice 2 - Entrevista para validação da demanda. As luvas de proteção tinham o seguinte certificado de aprovação: CA 12407 - luva de segurança confeccionada em fios de algodão/poliéster, punho com elastano, acabamento final em overloque, sem costuras (tecida de forma integral). A maioria dos trabalhadores concordou nos seguintes aspectos relativos a essa luva: não provocar coceira nas mãos, não prejudicar os movimentos manuais, não machucar as mãos e não endurecer. No entanto, o grupo apresentou discordância quanto à resistência a perfurações por folhas de abacaxi, ao conforto térmico e ao tamanho. Os trabalhadores chamavam essa peça de luva de pano: essa luva de pano é boa pra trabalhar; essa luva de pano é razoável. Oito trabalhadores afirmaram que os aspectos de prejudicar movimentos, machucar as mãos e endurecer não ocorrem, e todos avaliaram que essas luvas não provocam coceira nas mãos. Já quanto à resistência a perfurações de folhas de abacaxi, as opiniões variaram: 4 afirmaram que sim e 5 que não. As opiniões também diferiram quanto ao conforto térmico e ao fato de as mãos transpirarem com as luvas (figura 42): 5 afirmaram que sim e 4 que não. O tamanho foi considerado bom por 6 trabalhadores, porém um deles afirmou que a luva aperta as mãos, e outro, que é larga: essa luva fica grande na minha mão, pois é muito larga e atrapalha o trabalho. Figura 42 - Luva de pano com tamanho inadequado

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A luva em pano (figura 42) foi considerada boa por 7 trabalhadores, porém outros teceram os seguintes comentários negativos: essas luvas não são boas para trabalhar na adubação; elas rasgam fácil quando o abacaxi está muito grande; elas são ruins para pegar as mudas. As seguintes propriedades foram analisadas para as perneiras de proteção: prejudicar o movimento das pernas, machucar as pernas, endurecer durante o trabalho, provocar coceira, resistir à perfuração de folhas de abacaxi, esquentar a perna, transpiração adequada das pernas e tamanho adequado. As perneiras de proteção usadas nesta fase da pesquisa tinham os seguintes Certificados de Aprovação: CA 28433, CA 25535 e CA 16742. Três trabalhadores usavam calça em lona. Os trabalhadores 5 e 6 utilizaram a perneira com CA 28433: perneira de segurança confeccionado em tecido sintético (bidim), três talas de polipropileno e fechamento por soldagem eletrônica, modelo longo, metatarso reforçado. Esses dois indivíduos afirmaram que a perneira em questão não prejudica o movimento das pernas, não endurece durante o trabalho, não provoca coceira nas pernas, embora as esquente, e resiste à perfuração provocada por folhas de abacaxi. Com relação ao tamanho, houve discordância de opiniões. O trabalhador 6 afirmou que ela aperta as pernas. O trabalhador 5 a considerou boa, e o 6, razoável, sendo que ambos afirmaram que ela permite fazer todas as tarefas. Os trabalhadores 4 e 2 utilizavam a perneira com CA 25535: perneira de segurança confeccionada em material sintético, costurada eletronicamente nas extremidades por meio de material sintético, constituída de três talas de proteção frontal e lateral costuradas eletronicamente. Ambos deram os seguintes retornos sobre essa perneira: o tamanho é bom, ela não prejudica o movimento das pernas, não endurece durante o trabalho, não provoca coceira nas pernas, resiste à perfuração provocada pelas folhas do abacaxi, mas esquenta as pernas. Para eles, outro ponto positivo da perneira é que permite executar todas as tarefas. Os trabalhadores 1 e 9 utilizaram a perneira com CA 16742: perneira de segurança confeccionada em material sintético (bidim), cinco talas interligadas em polipropileno na parte frontal, costura eletrônica, dez fios de aço no metatarso, com dois que sobem na tala central recobrindo o joelho.

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Ambos tiveram as seguintes opiniões sobre essa perneira: não prejudica o movimento das pernas, não endurece durante o trabalho, não provoca coceira nas pernas, resiste à perfuração provocada por folhas de abacaxi, esquenta as pernas, mas as pernas transpiram bem. Com relação ao tamanho, eles discordaram. O trabalhador 1 afirmou que não é bom, pois ela fica larga nas pernas, ao passo que o trabalhador 9 considerou o tamanho satisfatório. O trabalhador 1, porém, considerou essa perneira boa, e o trabalhador 9, apenas razoável. Os trabalhadores 8, 7 e 3 utilizaram calça de lona e a analisaram da seguinte forma: o 3 e o 8 afirmaram que ela não prejudica movimento das pernas nem causa coceira; o 3 afirmou que ela não machuca as pernas; o 3 e o 7 afirmaram que a calça não esquenta as pernas, mas endurece, e destacaram que não pode lavar que ela endurece. Todos, porém, asseguraram que a peça resiste às perfurações provocadas por folhas de abacaxi e é boa para trabalhar, pois permite fazer todas as tarefas. Os trabalhadores 7 e 8 consideraram o tamanho bom, enquanto o 3 afirmou que a calça aperta. A proteção dos pés era feita por botina em couro (vide figura 43), exceto na atividade de adubação, quando os trabalhadores recebem botas de borracha. Figura 43 - Botina em couro

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Oito dos 9 trabalhadores entrevistados afirmaram que a botina não prejudica os movimentos dos pés, e todos eles asseguraram que ela não machuca os pés nem causa coceira nos pés. O endurecimento da botina foi confirmado apenas por 1 trabalhador que comentou o seguinte: quando molha, ela endurece. Os trabalhadores 1 e 2 avaliaram que essa botina não resiste às perfurações provocadas pelas folhas do abacaxi, algo que vai contra as opiniões positivas dos demais trabalhadores. O tamanho foi considerado bom por todos os trabalhadores. Com relação a conforto térmico, 8 dos trabalhadores avaliaram que ela não esquenta os pés e que estes transpiram bem durante seu uso. Apenas o trabalhador 2 avaliou que esquenta um pouco e o pé fica suado com essa bota. Na avaliação final dessa botina, apenas o trabalhador 6 a considerou razoável, mas os demais trabalhadores a consideraram boa, pois permite executar todas as tarefas.

11.3.2 Análise qualitativa dos EPIs submetidos aos ensaios com serpentes

A previsão era aplicar as entrevistas semiestruturadas (vide apêndice 2) a 10 trabalhadores, mas não conseguimos contatar novamente 4 dos trabalhadores que ficaram com as peças dos equipamentos a serem testadas em campo. Por essa razão, as entrevistas se limitaram a 6 trabalhadores. Além disso, não foi possível obter amostras das botas em couro e a perneira P2 preta/velcro. Por sua vez, as luvas e a perneira com CA 11.410 já estavam disponíveis para a pesquisa. Entretanto, como estávamos avaliando o conjunto dos EPIs, optamos por trabalhar com um grupo menor de trabalhadores. Aliás, FERREIRA (2015b) também comenta ter encontrado dificuldades quanto à participação de trabalhadores voluntários para participar das reuniões para discutir o trabalho. Os EPIs avaliados nesta etapa foram testados em ensaios com as serpentes e não foram perfurados. Nesta fase, fizemos a análise qualitativa do calçado B3, das perneiras P2 e P3 e das luvas L2 e L3, a fim de examinar aspectos como conforto e proteção efetiva. Todos os indivíduos que testaram os EPIs eram homens, com registro em carteira de trabalho e ampla experiência no trabalho do cultivo de abacaxi. Salientamos que apenas 1 trabalhador não tinha registro por ser produtor, não empregado.

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O perfil desses trabalhadores será apresentado na tabela a seguir.

Figura 44 - Perfil dos trabalhadores participantes

Identificação Idade Sexo Escolaridade Tempo de trabalho no cultivo de abacaxi (anos)

1 53 Masculino Ensino fundamental 37 incompleto 2 50 Masculino Ensino fundamental 26 incompleto 3 30 Masculino Superior 15 4 39 Masculino Ensino fundamental 15 completo 5 36 Masculino Ensino fundamental 10 incompleto 6 61 Masculino Ensino fundamental 30 incompleto

Eles exerciam diversas tarefas por ocasião das entrevistas, em setembro de 2016. O trabalhador 1 era cargueiro (incumbido de carregar o caminhão com os frutos colhidos) à tarde e pela manhã dirigia a moto durante a colheita semi-mecanizada de abacaxi (figura 30); o trabalhador 2 estava tirando mudas de abacaxi; o trabalhador 3 estava colhendo e podando os pés de abacaxi; o trabalhador 4, que se diferencia por ser produtor, estava colhendo frutos; e os trabalhadores 5 e 6 faziam serviços gerais, a exemplo de capina. Os atributos selecionados para análise dos EPIs foram gerados após pesquisas em campo junto aos trabalhadores no cultivo de abacaxi (GONZAGA et al., 2012, 2014) e também com base em ampla pesquisa bibliográfica sobre os problemas derivados do uso de equipamentos de proteção individual.

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Iniciaremos a análise qualitativa dos EPIs pelas luvas de proteção.

11.3.3 Análise qualitativa das luvas de proteção

Somente a luva L3 (fabricada em couro) foi testada em campo. A luva L2 (figura 45) foi considerada horrível por todos os trabalhadores. Com modelo mitene de dois dedos, essa luva confeccionada em raspa tem reforço interno em raspa na face palmar e dorsal, tira de reforço externo no polegar e punho de 15 cm. As informações sobre a análise qualitativa desta luva não foram coletadas mediante entrevista semiestruturada, visto que os trabalhadores se negaram a usá-la apresentando as seguintes justificativas: essa luva é muito ruim, ela não permite movimentar os dedos das mãos e atrapalha todo o trabalho; as luvas sem dedos tiram o tato da mão e dificultam o manuseio dos frutos e das mudas; joguei fora a luva sem dedos, pois ela estoura o fundo do abacaxi que apodrece.

Figura 45 - A luva L2 sem dedos

A análise qualitativa dos EPIs apresentada a seguir teve como base o Apêndice 3 - Roteiro para entrevista semiestruturada.

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A seguir será apresentada a avaliação dos trabalhadores quanto à luva L3 (figura 46), que é confeccionada em couro, com tira de reforço na palma da mão e forro térmico na palma e no punho.

Figura 46 - A luva L3

Com relação aos atributos avaliados na luva de proteção L3, os dados da figura 47 demonstram que 4 trabalhadores alegaram que essa luva não atrapalhou os movimentos das mãos, enquanto 2 asseguraram que ela prejudicou um pouco os movimentos devido ao endurecimento que impede mexer os dedos.

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Figura 47 - Análise qualitativa da luva L3 referente a prejudicar os movimentos, machucar, endurecer e provocar coceira

Vários trabalhadores alegaram o seguinte: essa luva não prejudica os movimentos das mãos e permite trabalhar com segurança. Com relação a machucar algum ponto nas mãos, 5 dos trabalhadores entrevistados garantiram que isso não ocorreu, mas um deles afirmou que machuca: tem que virar as luvas para não machucar, pois as costuras machucam. Corroborando a fala desse trabalhador, Gonzaga (2004) salienta que a localização das costuras internas da luva coincidindo com a pega do cabo do facão machuca as mãos dos trabalhadores no corte da cana-de-açúcar. Outro depoimento contrapôs a afirmação citada: essa luva permite trabalhar com segurança, as costuras não machucam, as outras luvas devem ser viradas ao avesso para não machucar. Acerca de endurecimento da luva durante o trabalho, 4 trabalhadores afirmaram que ela endurece um pouco, e 2, que endurece muito. Dois depoimentos ilustram tal quesito: quando essa luva (L3) fica molhada, ela endurece; as costuras internas machucam as mãos quando a luva endurece. Todos os trabalhadores afirmaram que essa luva não provoca coceira nas mãos.

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A figura 48 apresenta a avaliação relacionada a resistência da luva quanto à perfuração pelas folhas, se protege durante a manipulação dos frutos, se esquenta e se o tamanho é adequado.

Figura 48 - Análise qualitativa da luva L3 referente à resistência a perfuração, proteção na manipulação dos frutos, esquentar e adequação do tamanho

Com relação a resistência à perfuração por folhas de abacaxi, 5 trabalhadores afirmaram que ela resiste a perfurações e deram as seguintes justificativas: resiste às perfurações pelas folhas, protege as mãos da manipulação dos frutos, e assim a mão não fica machucada. Todos os trabalhadores asseguraram que ela protege as mãos durante a manipulação dos frutos. Com relação ao desconforto térmico, 4 dos trabalhadores entrevistados disseram que a luva não esquenta. Um trabalhador afirmou que a mão transpira dentro da luva e não fica suada. Outro alegou que ela esquenta um pouco e um terceiro afirmou que esquenta muito dando a seguinte explicação: as minhas mãos ficaram todas molhadas de suor quando utilizei essa luva e isso atrapalha para eu trabalhar; essa luva não permite trabalhar, pois a minha mão fica encharcada de suor. O tamanho das luvas foi considerado bom por todos os trabalhadores, provavelmente porque as luvas foram fornecidas em diversos tamanhos. Esse fato remete a uma questão importante salientada por Zago e Silva (1998), Barroso Neto et al. (1989) e

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Muralidhar et al. (1999): muitos problemas com os EPIs estão ligados à padronização, que desconsidera as características antropométricas dos usuários. Gonzaga (2004) discutiu essa questão na atividade do corte manual da cana, na qual os equipamentos de proteção fornecidos aos trabalhadores eram em tamanho único. A figura 49 apresenta a avaliação relacionada a peso da luva, se ela atrapalha a execução das atividades e finalmente a avaliação geral dos trabalhadores sobre essa luva de proteção.

Figura 49- Análise qualitativa da luva L3 referente a peso, se atrapalha a execução das atividades e avaliação final

Com relação ao peso, todos afirmaram que as luvas não são pesadas, mas um dos trabalhadores teceu o seguinte comentário: ela não pesa, mas é desconfortável. Acerca da transpiração das mãos dentro das luvas, 4 trabalhadores consideraram que as mãos transpiram bem com as luvas. O comentário oposto foi o seguinte: essa luva não permite que a mão transpire bem, a minha mão fica encharcada de suor. Sobre a execução das tarefas, 5 dos trabalhadores consideraram que a luva atrapalha pouco e teceram os seguintes comentários: ela não atrapalha a execução das tarefas e é boa para colher o abacaxi, pois tamanho é bom, não pesa, a mão transpira bem com ela. Somente um trabalhador alegou que ela atrapalha muito, ao passo que os outros fizeram os comentários a seguir: ela é boa só para apanhar; pra conseguir usar ela a gente emborracha o cabo do carrinho para dar mais aderência e não escorregar; embora o

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tamanho seja bom, ela atrapalha a execução das tarefas, principalmente o plantio; para tirar as mudas ela não presta, mesmo molhada. Segundo outro trabalhador, a luva L3 não é boa para colocar e tirar saquinho do balde: aí eu uso a luva de borracha verde. GONZAGA (2004) observou a mesma estratégia durante o corte manual da cana- de-açúcar, para compensar a falta de aderência ao cabo do facão: emborrachar o cabo. Ainda em relação a essa luva, houve um comentário interessante por parte de dois trabalhadores: essa luva é boa, pois protege até o cotovelo.

11.3.4 Análise das perneiras de segurança

Foram testados em campo dois modelos de perneiras de segurança: perneira P2 preta/velcro e perneira marrom – CA 11.410. Confeccionada com duas camadas de material sintético e três talas em PVC frontais fixadas por solda eletrônica, a perneira P3 (figura 50) testada e aprovada nos ensaios com serpentes não foi testada em campo. Como já haviam trabalhado com ela anteriormente, os trabalhadores alegaram o seguinte para não fazer o teste: ela é muito dura e prejudica o movimento das pernas; ela machuca os joelhos quando temos que abaixar nas moitas de abacaxi; ela atrapalha a execução de todas as tarefas.

Figura 50 - Perneira P3

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Outro estudo feito por Gonzaga (2002) junto a cortadores de cana-de-açúcar demonstra problemas para utilizar perneiras no campo. Os cortadores relataram que a perneira esquenta, escorrega e machuca as pernas durante a execução da atividade. Por isso, é comum eles usarem meias sob as perneiras para proteger as pernas. Em função do exposto, acatamos a posição dos trabalhadores e eliminamos os testes em campo com essa perneira. A seguir será apresentada a avaliação dos trabalhadores quanto à perneira P2. A peça é fabricada em vaqueta, forrada internamente com filamentos de poliéster e tem fechamento frontal em elástico e velcro (vide figura 51).

Figura 51 - Perneira P2 preta/velcro

A figura 52 a seguir mostra a avaliação dos trabalhadores referente aos seguintes atributos: se a perneira prejudica os movimentos das pernas e se machuca os pés ou as pernas.

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Figura 52 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a prejudicar os movimentos das pernas e machucar os pés e as pernas

Todos os trabalhadores afirmaram que essa perneira não prejudicou os movimentos das pernas nem machucou os pés. Enquanto 5 trabalhadores alegaram que ela não machuca as pernas, outro relatou que o elástico na parte inferior da perneira aperta o calcanhar e tem que forçar esse local que fica esfolado. A figura 53 a seguir apresenta os resultados da avaliação dos trabalhadores quanto à sensação de maciez nas pernas, se a perneira provoca coceira, se resiste às perfurações das folhas do abacaxi e quanto ao conforto térmico.

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Figura 53 - Análise qualitativa da perneira P2 referente à sensação de maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico

Com relação à sensação de maciez nas pernas, todos afirmaram que ela é macia. Já ao fato de provocar coceira, um dos trabalhadores concordou: ela provoca coceira nas pernas, principalmente quando está muito quente. No entanto, 5 trabalhadores avaliaram que ela não provoca coceira. Quanto à resistência a perfurações por folhas de abacaxi, apenas um dos trabalhadores afirmou que ela não resiste. Com relação ao conforto térmico, 4 dos trabalhadores alegaram que essa perneira não esquenta as pernas durante a execução do trabalho. Outros 2 afirmaram que ela esquenta um pouco as pernas e fizeram o seguinte comentário: ela esquenta, mas não prejudica o trabalho. A figura a seguir apresenta os resultados da avaliação da perneira pelos trabalhadores quanto a tamanho, peso, se ela deixa a perna transpirar bem, se permite executar as tarefas e a avaliação final.

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Figura 54 - Análise qualitativa da perneira P2 referente a tamanho, peso, se ela deixa a perna transpirar, se permite a execução das tarefas e avaliação final

Com relação a tamanho, ela não era adequada às pernas de 1 trabalhador, o qual afirmou: a perneira preta é pequena demais, podia ser um pouco maior. Para os outros 5 trabalhadores, o tamanho era adequado, principalmente por ela ter ajuste nas pernas em elástico por dentro, quando a gente fecha (vide figura 55).

Figura 55 - Local do fechamento da perneira em velcro e elástico

Nenhum trabalhador considerou essa perneira pesada, havendo inclusive o seguinte relato: mesmo molhada, ela não pesa.

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Quatro dos trabalhadores afirmaram que a perna transpira bem com a perneira. Dois, porém, alegaram que não, conforme essa descrição: a perna fica suada quando uso essa perneira. Sobre a execução das tarefas com essa perneira, 4 dos trabalhadores declararam que ela não atrapalha, ao passo que 2 disseram que ela atrapalha um pouco: quando ela esquenta, escorrega nas pernas e tem que ficar pondo ela no lugar. Embora algumas opiniões tenham apontado problemas na utilização desta perneira de proteção, os 6 trabalhadores a consideraram boa. A seguir será apresentada a avaliação dos trabalhadores relativa à perneira marrom – CA 11.410 (vide figura 56 abaixo), que é confeccionada em material sintético com duas camadas de laminado em PVC e tem fechamento total com solda eletrônica.

Figura 56 - Perneira marrom (CA 11.410)

A figura abaixo apresenta a análise dos trabalhadores com relação a prejudicar o movimento das pernas, machucar as pernas e os pés.

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Figura 57 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a prejudicar os movimentos das pernas e dos pés, e a provocar ferimentos nessas partes do corpo

Cinco dos trabalhadores alegaram que essa perneira não prejudica o movimento das pernas, porém um afirmou que ela atrapalha um pouco. Já o movimento dos pés não é prejudicado por ela, segundo todos os trabalhadores entrevistados. As pernas e os pés não são lesionados por ela, segundo todos os trabalhadores que a testaram. A figura abaixo apresenta o parecer deles quanto a maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico.

Figura 58 - Análise qualitativa da perneira CA 11.410 quanto a maciez, a provocar coceira, à resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico

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Todos os trabalhadores consideraram essa perneira macia. Com relação a provocar coceira nas pernas, apenas 1 trabalhador afirmou que sim, mas os demais componentes do grupo alegaram que não. Cinco trabalhadores constataram que ela resiste às perfurações por folhas de abacaxi. O conforto térmico foi considerado bom por 4 dos trabalhadores, que afirmaram: essa perneira não esquenta as pernas durante o trabalho. A figura 59 abaixo apresenta a análise da perneira CA 11.410 referente a tamanho, peso, transpiração das pernas, execução das tarefas e avaliação final.

Figura 59- Análise qualitativa da perneira CA 11.410 relacionada a tamanho, peso, transpiração da perna, execução das tarefas e avaliação final dos trabalhadores

Todos os trabalhadores entrevistados consideraram o tamanho deste equipamento de proteção bom, e também com peso adequado: essa perneira não é pesada. Com relação à perna transpirar bem, obtivemos opiniões diferentes. Quatro trabalhadores consideraram que sim: a perna transpira bem com essa perneira. Entretanto, outros 2 consideraram que não e destacaram o seguinte: a perna fica muito quente e suada, principalmente nos períodos mais quentes do dia. Quanto à execução das tarefas, todos consideraram que ela não atrapalha e, por isso, trata-se de uma boa perneira de proteção. Uma observação feita sobre as duas perneiras distintas é que ambas são boas, porém houve depoimentos sobre seu uso durante o plantio do abacaxi: são ruins para plantar

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abacaxi, pois no plantio a gente usa calça comprida e fica descalço ou de meia (figura 60), e trabalha apenas com mudas que têm folhas pequenas e não machucam as pernas.

Figura 60 - Trabalhador descalço durante plantio de abacaxi

Veremos a seguir como foi avaliada a bota de proteção em couro (figura 61), confeccionada em microfibra, com forro da gáspea em não tecido, palmilha em material sintético, solado em poliuretano, sem biqueira de aço e com zíper lateral.

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Figura 61 - Bota em couro

A figura 62 abaixo apresenta a análise dos trabalhadores quanto à bota prejudicar os movimentos dos pés, machucar os pés, à sensação de maciez e a provocar coceira.

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Figura 62 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a movimentação dos pés, a machucar os pés, à sensação de maciez e a provocar coceiras

Com relação à movimentação dos pés, 4 trabalhadores alegaram que a bota não prejudica, enquanto outros 2 disseram que ela prejudica um pouco. No que concerne a machucar os pés, 5 dos trabalhadores asseguraram que não. Quanto à sensação de maciez, todos os trabalhadores garantiram que a bota é macia, além de não provocar coceira. A figura 63 apresenta a análise dos trabalhadores quanto à resistência a perfurações, a tamanho adequado e peso.

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Figura 63 - Análise qualitativa da bota em couro quanto à resistência a perfurações, peso, tamanho adequado e transpiração dos pés

A resistência às perfurações por folhas de abacaxi foi confirmada por 4 trabalhadores, mas outros 2 afirmaram que essa bota não resiste. A afirmação de que a bota não resiste às perfurações foi baseada no seguinte comentário: as costuras começam a se soltar nos primeiros dias de uso e, quando isso acontece, ela não resiste às perfurações. Com relação ao peso, nenhum trabalhador considerou a bota pesada. A bota é adequada ao tamanho dos pés (o tamanho é bom) para 4 trabalhadores, mas um avaliou que essa bota é grande demais (larga). Para outro, a bota é pequena demais (aperta os pés), mas se for do tamanho certo ela fica boa nos pés. Com relação à transpiração dos pés, 4 trabalhadores avaliaram que os pés transpiram bem com a bota. A figura abaixo apresenta a análise dos trabalhadores quanto a conforto térmico, execução das tarefas e avaliação final.

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Figura 64 - Análise qualitativa da bota em couro quanto a conforto térmico, a atrapalhar o trabalho e avaliação final

Quanto ao conforto térmico percebido ao utilizar essa bota, 2 trabalhadores afirmaram que a bota não esquenta e 4 consideraram que esquenta. Um deles afirmou que ela esquenta um pouco, mas dá para resistir ao calor. Outro fez o seguinte comentário: os meus pés ficam suados quando uso essa bota, o que atrapalha um pouco para trabalhar. Quanto ao quesito de a bota atrapalhar a execução das tarefas, 5 dos trabalhadores afirmaram que não. Um deles fez a seguinte observação: essa foi a melhor bota que já usei para trabalhar porque, além de proteger, ela é muito confortável. A avaliação final deste equipamento de proteção foi majoritariamente positiva: 5 trabalhadores a consideraram boa e apenas um a considerou ruim. O condutor da moto fez a seguinte observação sobre a bota: como eu trabalho na moto, o couro do lado contrário do zíper ralou e rasgou no quarto ou quinto dia, daí não dá mais para usar a bota. Abordaremos a seguir a roupa protetora de nylon, composta por camisa e calça. A figura 65 apresenta a avaliação dos trabalhadores relativa a tamanho, proteção, dificuldade para se movimentar e peso.

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Figura 65 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a tamanho, proteção, dificuldade de movimentação e peso

Com relação a tamanho, as opiniões foram bem diversificadas: 2 avaliaram que o tamanho é bom, 2, que é inadequado e 2 não responderam a essa questão. Os depoimentos apontando o tamanho inadequado foram os seguintes: a calça é muito comprida; para mim essa roupa é muito larga. Os pareceres sobre a roupa proteger durante a execução do trabalho variaram: 4 afirmaram que ela protege e 2 se abstiveram de opinar. O fato de a calça ser aberta no meio das pernas (figura 67) provocou o seguinte comentário: como essa calça é aberta, no momento de pular a moita de abacaxi a região com a abertura é perfurada pelas folhas. A questão de dificultar o movimento do corpo foi confirmada por 5 dos trabalhadores. Com relação à agilidade corporal, obtivemos o seguinte comentário: a calça dificulta a movimentação das pernas, e a blusa, além de esquentar, dificulta os movimentos dos braços. Três trabalhadores afirmaram que essa roupa é difícil de vestir, a calça escorrega no corpo o tempo todo, o que dificulta trabalhar, pois você tem que ficar sempre puxando a calça.

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Sobre os questionamentos se a roupa é pesada, afirmaram que de fato ela é muito pesada para trabalhar. O condutor da moto afirmou o seguinte: não consegui usar em cima da moto, pois atrapalha por ser muito pesada. A figura abaixo apresenta a análise dos trabalhadores quanto a conforto térmico e a avaliação final da roupa.

Figura 66 - Análise qualitativa da roupa protetora de nylon quanto a conforto térmico e avaliação final

como você avalia essa roupa?

Os trabalhadores foram unânimes na avaliação negativa sobre conforto térmico: essa roupa esquenta muito. Um deles, porém, comentou: essa roupa deve ser boa para usar durante o inverno. As opiniões sobre essa roupa de nylon divergiram muito. Quatro trabalhadores afirmaram que ela é ruim e horrível para trabalhar; o uso é totalmente inviável, por isso ela é muito ruim. Outro trabalhador afirmou que, embora esquente e seja pesada, ela protege, ao passo que um dos entrevistados preferiu não emitir opinião. O grupo de trabalhadores comentou o seguinte: essa roupa perturba o trabalho na colheita e no transporte dos frutos e mudas, pois atrapalha para abaixar e andar.

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Figura 67- Trabalhador com roupa protetora de nylon limpa

O trabalhador na imagem 67 inclusive comentou: essa roupa só tá limpa porque não é possível trabalhar com ela.

11.3.5 Particularidades observadas entre os EPIs testados em campo

Os testes em campo dos EPIs contemplaram as diferentes tarefas envolvidas no cultivo de abacaxi: colher, podar, adubar, tirar e plantar muda, fazer a carga do caminhão. Isso permitiu que os trabalhadores opinassem sobre os EPIs executando tarefas em todo o processo produtivo de abacaxi, o que é extremamente importante, visto que cada tarefa tem suas especificidades e exige certas posturas corporais. Como os equipamentos de proteção ficam diretamente em contato com o corpo do trabalhador, a análise dessa relação é enriquecida quando se tem situações laborais diferenciadas, pois cada situação tem exigências ocupacionais próprias.

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Considerando que avaliamos EPIs que não passaram por ensaios com serpentes e EPIs que passaram por ensaios e foram aprovados, houve diferenças observadas nos dois casos, as quais serão apresentadas a seguir. Com relação às luvas de proteção, a principal diferença entre ambas é que a luva que passou pelos ensaios (L3) resistiu à perfuração por folhas de abacaxi, enquanto a luva em pano não resistiu. Salientamos que a L3 atendeu à demanda dos trabalhadores quanto à proteção do risco mecânico de perfuração das mãos por folhas pontiagudas de abacaxi. Com relação a atrapalhar a execução das tarefas, as luvas também apresentaram diferenças. A luva em pano rasga rapidamente quando o abacaxi é grande e dificulta a realização da tarefa de colher as mudas. Já a luva L3 exigiu dos trabalhadores o emborrachamento dos cabos do carrinho em metal que faz o transporte de frutos e mudas, uma vez que ela atrapalha a execução das tarefas de plantar, colher as mudas e colocar os saquinhos de papel. Para as perneiras de proteção analisadas (CA 28433, CA 25535, CA 16.742) e a calça em lona, foram observadas as seguintes diferenças: as perneiras esquentam as pernas, ao contrário da calça em lona. Com relação ao endurecimento, também houve diferenças entre as avaliações das proteções das pernas. As perneiras não endurecem, mas a calça em lona endurece após a lavagem. Já para as botas avaliadas, a principal diferença foi que a bota em couro não esquenta os pés dos trabalhadores, enquanto a bota P2 esquenta. Finalizamos destacando que conseguimos atingir o objetivo de selecionar um conjunto de EPIs para proteger os membros inferiores (pés e pernas) contra os riscos mecânicos de perfuração por folhas pontiagudas e espinhos de abacaxi. No entanto, para os membros superiores (mãos e antebraços) só conseguimos obter a proteção para as mãos, já que o mangote testado foi perfurado pelos ataques de serpentes e, consequentemente, não foi testado em campo. Portanto, os braços e antebraços não foram contemplados com proteção efetiva contra as perfurações.

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12. CONCLUSÕES

12.1 Sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi

Apresentaremos inicialmente as diferenças observadas in loco em Frutal (MG) e Guaraçaí (SP), assim como nos outros lugares – Sapé (PB), Filipinas, Tailândia e Costa Rica – sobre os quais fizemos pesquisas bibliográficas. Em todos os locais estudados as variedades de abacaxi cultivadas eram Smooth Cayenne (Havaí) e Ananas comosus (Pérola). As tarefas exercidas no cultivo de abacaxi também foram as mesmas tanto nos municípios onde houve observações in loco quanto nos demais lugares estudados mediante referências bibliográficas. Como todas as fases de produção são executadas basicamente sem proteção física e social, os trabalhadores estão expostos de forma sinérgica a riscos físicos, químicos, ergonômicos e de acidentes no trabalho durante o cultivo de abacaxi. Houve diferenças quanto ao vínculo empregatício: somente em Frutal havia vínculo formal através do registro em carteira de trabalho, ao passo que os trabalhadores em Guaraçaí, Santa Rita, Filipinas, Tailândia e Costa Rica atuavam na informalidade. Enquanto nesses três países a contratação de trabalhadores se dava por meio de cooperativas de mão de obra, nos municípios brasileiros de Guaraçaí e Sapé o contrato se estabelecia diretamente com os produtores de abacaxi. No Brasil, a jornada de trabalho no cultivo de abacaxi é de 8 horas diárias, porém na época da colheita se estende por até 12 horas. Já nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica totaliza 12 horas diárias. As práticas de compra de EPIs pelos trabalhadores e de vincular o valor da diária ao fornecimento desses equipamentos, consideradas ilegais pela legislação brasileira, foram observadas nos locais onde as pesquisas foram feitas in loco, assim como em Santa Rita (PB). Todavia, há diferenças em várias fases do processo produtivo, incluindo a adubação química, a colheita de mudas, o plantio, a proteção dos frutos contra raios solares e a colheita final. Vale destacar que em Frutal processos semi-mecanizados facilitam a execução das tarefas e há condições de trabalho mais amenas e dignas.

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12.2 Sobre a resistência dos EPIS a ataques de serpentes peçonhentas

Na maioria dos países, o EPI – equipamento de proteção individual – é um produto atrelado à certificação compulsória por um órgão governamental. No entanto, as normas de fabricação EN 388 e EN 420, ABNT NBR ISO 11611 e a ABNT NBR ISO 20347 não contemplam aspectos que garantam a proteção efetiva contra ataques de serpentes peçonhentas.

Com relação aos equipamentos de proteção e sua resistência a ataques de serpentes, concluímos que 46% dos modelos resistiram aos ataques de jararacuçu, enquanto 82% dos modelos resistiram aos ataques de cascavel.

Destacamos que os resultados dos ensaios foram similares nas 12 repetições executadas, independentemente dos componentes (bexiga ou manequim) do arranjo experimental e da espécie de serpente (Bothrops jararacussu e Crotalus durissus terrificus). As características dos materiais utilizados na confecção dos equipamentos de proteção individual são importantes na resistência ao ataque das serpentes. Ademais, costuras e elásticos, conforme o tipo e a localização, não resistiram aos ataques. Por fim, concluímos que os resultados obtidos se aplicam apenas às espécies de serpentes jararacuçu e cascavel.

12.3 Sobre aspectos de conforto e usabilidade dos EPIs

Complementando o conteúdo em capítulos anteriores, apresentaremos aspectos relevantes quanto a conforto e usabilidade dos EPIs. Com relação à luva L3, houve concordância nas seguintes questões: não provocar coceira, proteger as mãos na manipulação dos frutos, tamanho adequado, não ser pesada. Algumas discordâncias se deram quanto à intensidade do fator. Por exemplo, em relação a prejudicar ou não os movimentos das mãos, endurecer ou não, se a luva esquenta ou não a mão, se machuca as mãos, se resiste à perfuração das folhas e se as mãos transpiram. Com relação à perneira P2, houve concordância que ela não prejudica os movimentos das pernas, não machuca os pés, não é pesada e é macia. A avaliação final foi de que ela é boa. Houve, porém, divergências nos seguintes aspectos: se a perneira machuca ou não, se provoca coceira, se resiste a perfurações causadas pelas folhas de abacaxi e se o

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tamanho é adequado. Por sua vez, foram confirmados os quesitos de as pernas não respirarem bem, a perneira esquentar e atrapalhar a execução das tarefas. Com relação à perneira CA 11410, houve consenso nos seguintes aspectos: não machucar os pés nem as pernas, ser macia, ter tamanho adequado, não ser pesada, não atrapalhar a execução das tarefas e a avaliação de que a perneira é boa. Ocorreram, porém, algumas opiniões divergentes nos seguintes quesitos: prejudicar os movimentos das pernas, provocar coceira, resistir às perfurações das folhas, esquentar e deixar as pernas transpirarem. Com relação à bota de proteção, houve concordância nos seguintes quesitos: ser macia, não provocar coceira e não ser pesada. As divergências ocorreram nos seguintes aspectos: prejudicar os movimentos dos pés, resistir à perfuração das folhas, esquentar os pés, machucar os pés e o tamanho adequado. Com relação à roupa protetora de nylon (figura 60), houve concordância nos seguintes aspectos: pesar e esquentar. Certos quesitos geraram discordância: o tamanho, o grau de proteção e dificultar os movimentos corporais. Destacamos que os EPIs fabricados com materiais sintéticos e rígidos se mostraram desconfortáveis, pois lesionam o corpo dos trabalhadores, prejudicam os movimentos corporais e causam desconforto térmico. Salientamos que para haver uma proteção física efetiva e confortável para os trabalhadores é de suma importância conhecer as particularidades do processo produtivo no qual tais equipamentos serão utilizados, assim como as características antropométricas dos usuários, de forma que a proteção não atrapalhe seu trabalho nem venha a gerar problemas adicionais à sua saúde.

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179

APÊNDICES

APÊNDICE 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

180

181

APÊNDICE 2. ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO DA DEMANDA

Perfil do trabalhador: ____Idade: ______Sexo:______

Peso ______Altura______

Diâmetro na altura da panturrilha______

Escolaridade ______

Tempo de trabalho no cultivo de abacaxi______

Registro em carteira Sim (_____) Não (_____)

Tarefa exercida ______Data______

Vocês recebem os EPI Sim (_____) Não (_____) ______

Proteção das mãos

Tipo de luva______

1. Prejudica o movimento da mão? Sim (_____) Não (_____)

Explique ______

2. Machuca a mão em algum lugar? Sim (_____) Não (_____) Onde?______3. Endurece durante o essa tarefa? Sim (_____) Não (_____) 4. Causa coceira? Sim (_____) Não (_____)

______

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_____) Não (_____) 6. Esquenta a mão? Sim (_____) Não (_____)

Com relação ao tamanho

7. Boa Sim (_____) Não (_____)

182

8. Aperta Sim (_____) Não (_____) Onde ______9. É larga? Sim (_____) Não (_____) Onde______

10. A mão transpira? Sim (_____) Não (_____)

Como você avalia essa proteção

Boa (____) Ruim (___) Razoável (______)

Permite fazer todas as tarefas ou atrapalha

______

Proteção das pernas

Tipo de perneira ______

1. Prejudica o movimento das pernas ou dos pés? Sim (_____) Não (_____)

Explique ______

2. Machuca em algum lugar? Sim (_____) Não (_____). Onde?

______

3. Endurece durante o essa tarefa? Sim (_____) Não (_____)

4. Causa coceira? Sim (_____) Não (_____)

______

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_____) Não (_____)

183

6. Esquenta as pernas Sim (_____) Não (_____)

Com relação ao tamanho

7. Boa Sim (_____) Não (_____) 8. Aperta Sim (_____) Não (_____) Onde ______9. Larga Sim (_____) Não (_____) Onde______

10. A perna transpira com perneira? Sim (_____) Não (_____)

Como você avalia a perneira?

Boa (____) Ruim (___) Razoável (______)

______

Essa perneira permite fazer todas as tarefas ou atrapalha

Proteção dos pés

Tipo de bota ou calçado______

1. Prejudica o movimento dos pés? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

2. Machuca em algum lugar? Sim (_____) Não (_____).

Onde:______

3. Endurece durante o essa tarefa? Sim (_____) Não (_____)

4. Provoca coceira? Sim (_____) Não (_____)

______

184

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_) Não (___)

Com relação ao tamanho

6. Bom Sim (_____) Não (_____) 7. Aperta Sim (_____) Não (_____) Onde______8. Largo Sim (_____) Não (_____) Onde______9. Esquenta Sim (_____) Não (_____) 10. Os pés transpiram? Sim (_____) Não (_____)

Como você avalia essa proteção?

Bom (____) Ruim (___) Razoável (______)

______

Essa bota permite fazer todas as tarefas ou atrapalha?

______

Proteção dos braços

Tipo de mangote

______

1. Prejudica o movimento dos braços? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

2. Machuca em algum lugar? Sim (_____) Não (_____).

Onde:______

185

3. Endurece durante o essa tarefa? Sim (_____) Não (_____)

4. Provoca coceira? Sim (_____) Não (_____)

______

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_) Não (___)

Com relação ao tamanho

6. Bom Sim (_____) Não (_____) 7. Aperta Sim (_____) Não (_____) Onde______8. Largo Sim (_____) Não (_____) Onde______9. Esquenta Sim (_____) Não (_____) 10. Os braços transpiram? Sim (_____) Não (_____)

Como você avalia essa proteção?

Bom (____) Ruim (___) Razoável (______)

______

Permite fazer todas as tarefas ou atrapalha?

______

186

APÊNDICE 3. ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Data: ______

Perfil do trabalhador: ____Idade: ______Sexo:______

Peso: ______Altura:______

Escolaridade: ______

Tempo de trabalho no cultivo de abacaxi: ______

Registro em carteira Sim (_____) Não (_____)

Tarefa exercida ______Data______

Proteção das mãos

Tipo de luva______

1. Movimento das mãos: A luva prejudica muito o movimento das mãos ( ) A luva prejudica um pouco o movimento das mãos ( ) A luva não prejudica o movimento das mãos ( )

Explique: ______

2. Machuca a mão em algum lugar? Sim (_____) Não (_____)

Onde?______

3. Execução das tarefas: A luva endurece muito durante a execução das tarefas ( ) A luva endurece um pouco durante a execução das tarefas ( ) A luva não endurece durante a execução das tarefas ( ) Explique: ______

187

4. Causa coceira na mão? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

6. Protege as mãos durante a manipulação dos frutos? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

7. Conforto térmico A luva esquenta muito as mãos durante a execução das tarefas ( ) A luva esquenta um pouco as mãos durante a execução das tarefas ( ) A luva não esquenta as mãos durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

8. Em relação ao tamanho A luva é grande demais (larga) ( ) A luva é adequada (tem bom tamanho) ( ) A luva é pequena demais (aperta) ( ) Explique: ______

9. Em relação ao peso, a luva é pesada demais? Sim (_____) Não (_____) Explique: ______

10. A mão transpira dentro da luva? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

188

11. Sobre a execução das tarefas A luva atrapalha muito durante a execução das tarefas ( ) A luva atrapalha um pouco durante a execução das tarefas ( ) A luva quase não atrapalha durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

12. Como você avalia essa proteção? Boa (___) Razoável (_____) Ruim (___)

Explique: ______

Proteção das pernas

Tipo de perneira______

1. Movimento das pernas: A perneira prejudica muito o movimento das pernas ( ) A perneira prejudica um pouco o movimento das pernas ( ) A perneira não prejudica o movimento das pernas ( )

Explique: ______

2. Movimento dos pés: A perneira prejudica muito o movimento dos pés ( ) A perneira prejudica um pouco o movimento dos pés ( ) A perneira não prejudica o movimento dos pés ( ) Explique: ______

3. Machuca as pernas em algum lugar? Sim (_____) Não (_____)

189

Onde?______

4. Machuca os pés em algum lugar? Sim (_____) Não (_____)

Onde?______

5. Quanto à sensação: A perneira é muito dura ( ) A perneira é um pouco dura ( ) A perneira é macia ( ) Explique: ______

6. O uso da perneira causa coceira? Sim (_____) Não (_____)

Onde? ______

7. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

8. Conforto térmico A perneira esquenta muito as pernas durante a execução das tarefas ( ) A perneira esquenta um pouco as pernas durante a execução das tarefas ( ) A perneira não esquenta as pernas durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

9. Em relação ao tamanho A perneira é grande demais ( ) A perneira é adequada (tem bom tamanho) ( ) A perneira é pequena demais ( ) Explique: ______

190

10. Em relação ao peso, a perneira é pesada demais? Sim (_____) Não (_____) Explique: ______

11. A perna transpira dentro da perneira? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

12. Sobre a execução das tarefas A perneira atrapalha muito durante a execução das tarefas ( ) A perneira atrapalha um pouco durante a execução das tarefas ( ) A perneira quase não atrapalha durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

13. Como você avalia essa proteção? Boa (___) Razoável (_____) Ruim (___)

Explique: ______

Proteção dos pés

Tipo de bota ______

1. Movimento dos pés: A bota prejudica muito o movimento dos pés ( ) A bota prejudica um pouco o movimento dos pés ( ) A bota não prejudica o movimento dos pés ( )

Explique: ______

191

2. Machuca os pés em algum lugar? Sim (_____) Não (_____)

Onde?______

3. Quanto à sensação: A bota é muito dura ( ) A bota é um pouco dura ( ) A bota é macia ( ) Explique: ______

4. O uso da bota causa coceira? Sim (_____) Não (_____)

Onde? ______

5. Resiste às perfurações provocadas pelas folhas? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

6. Conforto térmico A bota esquenta muito os pés durante a execução das tarefas ( ) A bota esquenta um pouco os pés durante a execução das tarefas ( ) A bota não esquenta os pés durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

7. Em relação ao tamanho A bota é grande demais (larga) ( ) A bota é adequada (tem bom tamanho) ( ) A bota é pequena demais (aperta) ( )

192

Explique: ______

8. Em relação ao peso, a bota é pesada demais? Sim (_____) Não (_____) Explique: ______

9. Os pés transpiram dentro da bota? Sim (_____) Não (_____)

Explique: ______

10. Sobre a execução das tarefas A bota atrapalha muito durante a execução das tarefas ( ) A bota atrapalha um pouco durante a execução das tarefas ( ) A bota quase não atrapalha durante a execução das tarefas ( )

Explique: ______

11. Como você avalia essa proteção?

Boa (____) Razoável (______) Ruim (___)

Avaliação do conjunto de calça e blusão

1. O tamanho é bom ( )

2. Ele protege ( )

3. Esquenta ( )

Dificulta o movimento do corpo ( )

193

É pesado ( )

______

O que você acha deste conjunto?

______

Esse conjunto permite fazer todas as tarefas ou atrapalha?

O que você acha desta calça?

Ela permite fazer as tarefas ou atrapalha?

O que você acha deste blusão?

Ele permite fazer as tarefas ou atrapalha?

Como você avalia essa calça?

Boa (____) Ruim (___) Razoável (___)

Como você avalia esse blusão?

Bom (____) Ruim (___) Razoável (___)

194

ANEXOS

ANEXO 1. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DA FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS

195

ANEXO 2. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DO INSTITUTO BUTANTAN

196

ANEXO 3. MATERIAL (TECIDO SINTÉTICO) TESTADO PELA FUNED

197

ANEXO 4. MATERIAL (PERNEIRA DE PROTEÇÃO CA 11.410) TESTADO PELA FUNED