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POLÍTICAS PÚBLICAS DE INVESTIMENTO E CRÉDITO RURAL: MUNICÍPIOS DO ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA-SP FAGUNDES, Francielly Naves 1 BORGES, Ana Claudia Giannini2

Eixo Temático: Grupo de Trabalho: 13 - Desenvolvimento e Políticas Públicas

O EDR de São João da Boa Vista tem tradição na produção leiteira e cafeeira, entretanto, atualmente a cana-de-açúcar é a principal atividade agropecuária. Essas atividades demandam recursos que podem ser captados, dentre outros, via financiamentos em Bancos Públicos e programas de Políticas Públicas. Assim, objetiva-se identificar e analisar o crédito do BNDES (setor sucroalcooleiro) e o crédito rural para Produtores/Cooperativas e agricultura familiar (PRONAF), no EDR, de 2004 a 2012. Fez-se coleta de dados no Banco Central e BNDES. Como resultado, identifica-se que: o volume de recursos concedidos pelo crédito rural é superior ao do BNDES (setor sucroalcooleiro); há a predominância de destinação de recurso para a agricultura, possivelmente para a cana-de-açúcar e café, visto o histórico do EDR; e a maior concessão de crédito rural é para Produtores/Cooperativas do que à agricultura familiar.

Palavras-Chave: Políticas públicas, investimentos setor sucroalcooleiro, crédito rural.

1. INTRODUÇÃO 1.1. Escritório de Desenvolvimento Rural de São João da Boa Vista-SP A área em análise compreende o Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de São João da Boa Vista, um dos 40 EDRs existentes no estado de . A regionalização por EDRs, existente no estado de São Paulo, foi criada pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão este, que faz parte da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAASP). (IEA, 2016). Os municípios que compõe esse EDR são: Aguaí, Águas da Prata, , Casa Branca, Divinolândia, Espírito Santo do Pinhal, , , , Santo Antônio do Jardim, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo, São Sebastião da Grama, Tambaú, e . Este EDR tem como tradição a produção leiteira e cafeeira, sendo enquadrada como região do Circuito Paulista do Café com Leite (RODRIGUES, 2006). E, por isso, possuem estabelecidos, em seus municípios, indústrias, comércios e cooperativas ligadas a essas produções. (FAGUNDES; BORGES, 2015) O EDR de São João da Boa Vista, de acordo com as autoras, tem atualmente a cana-de-açúcar como principal cultura agrícola (setor sucroalcooleiro), e três agroindústrias sucroalcooleiras, nos municípios de São João da Boa

1 Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (Univ. Estadual Paulista - UNESP) – Campus de Rio Claro. Mestranda. E-mail: [email protected]. 2 Departamento de Economia, Administração e Educação da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Campus de e Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas – Campus de Rio Claro (Univ. Estadual Paulista - UNESP). Docente de Graduação e Pós-Graduação. E- mail: [email protected] 2

Vista, Mococa e Tapiratiba. Vale ressaltar que essas atividades agropecuárias, para se desenvolverem, demandam recursos monetários que podem ser captadas no sistema financeiro (financiamento). Para isto, tem-se, dentre outros, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o programa do crédito rural, ambos vinculados ao Estado. A partir desse cenário, o objetivo do artigo é identificar e analisar, a evolução das linhas do crédito do BNDES (setor sucroalcooleiro) e do crédito rural para Produtores/Cooperativas e agricultura familiar (Programa Nacional da Agricultura Familiar - PRONAF), no EDR de São João da Boa Vista, de 2004 a 2012. Para a consecução do artigo, efetuou-se revisão bibliográfica sobre políticas públicas de investimento para o setor sucroalcooleiro e de crédito rural. Fez-se, também, coleta de dados no BNDES para o período de 2004 a 2012, mediante solicitação (BNDES, 2010 e 2013). Os dados do crédito rural foram coletados no Anuário Estatístico do Crédito Rural, no site do Banco Central, especificamente: por município, para Produtores/Cooperativas (por atividade - agricultura e pecuária) de 2004 a 2012, e para PRONAF (ano 2012); e por produto (estado de São Paulo) de 2004 a 2012. Os dados monetários estão expressos em Real (R$) constante de 2015, segundo o Índice Geral de Preço – Disponibilidade Interna (IGP-DI), do Instituto Brasileiro de Economia/Fundação Getúlio Vargas (BACEN, 2016). 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Políticas Públicas de investimento para o setor sucroalcooleiro A atuação do BNDES inicia-se, na primeira metade da década de 1950 (SÃO PAULO, 2002), objetivando o reaparelhamento de portos e ferrovias, o aumento da capacidade de geração de energia elétrica e o desenvolvimento das indústrias, de base e agrícola, inclusive com o aumento da capacidade de armazenamento e a criação de frigoríficos e matadouros. Já a atuação do BNDES, priorizando o setor sucroalcooleiro, se dá primeiramente na época do Proálcool, em meados da década de 1970 (BERNARDINO, 2006). Mesmo, após a década de 1990, quando há a doção do ideário Neoliberal e, com isso, a alteração e diminuição da atuação do Estado na economia, observa-se que este, por meio do BNDES, é fundamental como concessor de créditos de longo prazo (BORGES; COSTA, 2011). Nesta mesma época, as autoras Borges e Costa (2011) destacam que há a desregulamentação do setor sucroalcooleiro e, desta forma, a intensificação da concorrência entre as agroindústrias sucroalcooleiras. Além disso, observa-se, como condicionantes para a expansão do setor, a busca por energia limpa e a adoção da tecnologia flex fuel. Nesse sentido, a expansão do setor sucroalcooleiro, bem como do número de agroindústrias no país e do aumento da produção de álcool e açúcar (principais produtos do 3

setor) se dá, em muito, devido à atuação do Estado, sobretudo através dos desembolsos e linhas de financiamento do banco público, BNDES. Sobre esse cenário, Borges e Costa (2011, p. 74), afirmam que; Após a desregulamentação, na década de 1990, as agroindústrias, objetivando crescimento e competitividade, realizam ações direcionadas à produção, comercialização e gestão, dentre outras, o que demanda inversões por parte delas. Um viabilizador, para a efetivação dessas ações, é encontrado nas linhas de financiamento disponibilizadas pelo BNDES […].

As autoras também trazem contribuições sobre o volume de investimentos concedidos pelo BNDES para o setor sucroalcooleiro, no período de 2001 a 2008, a partir das variáveis “região” e “finalidade”. Conforme apontam Borges e Costa (2011, p. 87), por “região”, o maior volume de investimento é captado pela região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo, e por “finalidades” destacam-se as de “implantação, expansão e financiamento para compra de máquinas e serviços”. O BNDES tem programas gerais que atendem vários setores, bem como aqueles direcionados especificamente a um setor. Os programas para o setor sucroalcooleiro, em vigência, são: o Programa de Apoio à Renovação e Implantação de Novos Canaviais - BNDES Prorenova visa aumentar a produção de cana-de-açúcar no país; e o Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor Sucroenergético - PAISS Agrícola objetiva fomentar o desenvolvimento e a produção pioneira de tecnologias agrícolas. (BNDES 2016). Vale destacar outros programas setoriais importantes, mas que não se encontram em vigência: o Programa de apoio ao setor sucroalcooleiro (BNDES PASS) objetivava financiar a estocagem de etanol combustível; e o Programa de Sustentação do Investimento (BNDES PSI) estimulava a produção, aquisição e exportação de bens de capital e a inovação. (BNDES 2016). Os programas oferecem linhas de financiamento a produtores rurais de cana-de-açúcar, mas, especialmente (maiores volumes), às empresas do setor (agroindústrias sucroalcooleiras). Dos recursos concedidos pelo BNDES, no período de 2004 a 2012, vale destacar as finalidades de destino. Para o período de 2004 a 2008, o BNDES tinha 19 diferentes formas de destino do recurso para o setor sucroalcooleiro. São elas: aquisição e recuperação de máquinas agrícolas; capital de giro; capitalização institucional financeira; cartão BNDES; desenvolvimento de mercado de capitais; desenvolvimento social; desenvolvimento tecnológico; expansão produtiva; financiamento de compra de máquinas/serviços; implantação de unidades produtoras; meio ambiente; modernização; pós-embarque suppliers; pré-embarque; racionalização; reestruturação social; refinanciamento; re-localização; social corporativo. (BORGES; COSTA, 2011, p. 75) 4

É importante ressaltar que estes incluíam inclusive programas que atendem vários setores, como o Cartão BNDES. No período de 2009 a 2012, o BNDES (2013) disponibiliza os dados de outra forma e para este período o valor apresentado se dá por seis destinos de recursos: comércio atacadista de açúcar; cultivo de cana-de-açúcar; fabricação de açúcar refinado; fabricação de açúcar bruto; fabricação de etanol; geração de energia elétrica cogeração cana-de-açúcar. Os dados para os dois períodos (2004 a 2008 e 2009 a 2012), quando disponibilizados por município, não discriminam o destino, o que inviabiliza identificar o uso e a origem (programa). Todavia, independentemente desta falta, é admissível aferir o montante de recurso destinado para o setor sucroalcooleiro, por município no EDR de São João da Boa Vista, para o período de 2004 a 2012, conforme indicado na Tabela 1. Tabela 1- Volume de investimentos concedidos pelo BNDES para o setor sucroalcooleiro, de 2004 a 2012, por município* do EDR de São João da Boa Vista (SJBV), em Reais (R$)**. MUNICÍPIOS/EDR 2004 2005 2006 2007 2008 Mococa 14.526.017 9.924.226 21.317.457 7.997.945 6.743.149 São J. B. Vista 2.119.759 12.072.008 14.850.613 2.820.517 1.407.622 Santa C. Palmeiras 981.248 0 0 75.894 17.416.693 Vargem G. Sul 206.915 0 17.791 0 215.105 Tapiratiba 0 985.339 37.948 795.989 0 Aguaí 0 733.049 569.305 50.062 7.503 Tambaú 0 397.730 0 226.949 97.543 Casa Branca 0 0 0 66.750 123.054 Itobi 0 0 0 0 0 São J. R. Pardo 0 0 0 0 0 Caconde 0 0 0 0 0 Total do EDR de SJBV 17.833.939 24.112.352 36.793.113 12.034.107 26.010.669 MUNICÍPIOS/EDR 2009 2010 2011 2012 TOTAL*** Mococa 1.917.736 13.316.220 9.597.994 9.037.876 94.378.620 São J. B. Vista 219.068 8.615.610 12.949.195 176.917 55.231.309 Santa C. Palmeiras 7.217.215 3.309.317 13.836.549 219.314 43.056.230 Vargem G. Sul 0 0 136.068 45.242 621.121 Tapiratiba 0 108.160 0 0 1.927.436 Aguaí 1.068.571 106.917 102.444 0 2.637.851 Tambaú 295.907 6.669.522 3.323.684 324.063 11.335.398 Casa Branca 213.974 348.102 119.706 102.490 974.076 Itobi 53.551 0 211.952 0 265.503 São J. R. Pardo 0 208.931 203.710 0 412.641 Caconde 0 0 0 128.966 128.966 Total do EDR de SJBV 10.986.022 32.682.778 40.481.302 10.034.867 210.969.151 *Estão descritos apenas os municípios do EDR em estudo, que foram contemplados com recursos do BNDES. ** Real constante de 2015 IGP-DI (BACEN, 2016). *** Soma de anos para cada município. Fonte: Organizado a partir de BNDES (2010 e 2013).

Dos dezesseis municípios que compõe o EDR em estudo, onze recebem investimentos do BNDES (Mococa, São João da Boa Vista, Santa Cruz das Palmeiras, Vargem Grande do Sul, Tapiratiba, Aguaí, Tambaú, Casa Branca, Itobi, São José do Rio Pardo e Caconde). Os 5

municípios, que não recebem recursos, são: Águas da Prata, Divinolândia, Espírito Santo do Pinhal, Santo Antônio do Jardim e Sebastião da Grama (TABELA 1). Juntos os municípios do EDR, no período selecionado, recebem cerca de R$ 210 milhões em recursos, sendo, 2011, o ano com maior volume de recursos captados (R$ 40,48 milhões) (TABELA 1). Dos municípios analisados, os dois de maior captação, Mococa (44,7%) e São João da Boa Vista (26,2%), são sede de agroindústrias sucroalcooleiras. Destaca-se que o município de Tapiratiba, apesar de ser sede de uma agroindústria sucroalcooleira, recebe volume menor de recursos R$ 1,93 milhão, o que representa apenas a 0,91% do total dos recursos recebidos pelo EDR, nos anos selecionados (TABELA 1). 2.2. Crédito Rural Na atividade agropecuária há especificidades que podem comprometer o desempenho econômico, assim como riscos em decorrência da volatilidade de preços dos produtos, características estas, que afetam a rentabilidade dos produtores rurais. Por isso, é necessária e se justifica a ação do Estado, através de políticas públicas, para promover a atividade agropecuária. Dentre as políticas públicas à agropecuária, destacam-se as de: pesquisa, preços mínimos, seguro rural, extensão rural e crédito rural. (RAMOS; MARTHA JR., 2010). Sobre a política pública de Crédito Rural, Ramos e Martha Jr (2010, p.10) a definem como “[...] um mecanismo de concessão de crédito à agropecuária a taxas de juros e condições de pagamento diferenciadas, é um dos alicerces da política agrícola brasileira e constitui um dos principais instrumentos de apoio ao setor”. O Crédito Rural foi criado pelo Governo Federal, no ano de 1965, a partir do Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR. Esta política impulsionou a modernização e a expansão da fronteira agrícola nacional, entretanto, a partir da década de 1980 (década de inflações e crises fiscais no Estado) e década de 1990, com a reestruturação da economia e desregulamentação de setores agrícolas, observa-se a redução das concessões de crédito feitas pelo Estado. (RAMOS; MARTHA JR, 2010). O Crédito Rural instituído pela lei 4.829, de 5 de novembro de 1965, tem, em seu artigo 3°, as seguintes regulamentações e objetivos: [...] I estimular o incremento ordenado dos investimentos rurais, inclusive para armazenamento beneficiamento e industrialização dos produtos agropecuários, quando efetuado por cooperativas ou pelo produtor na sua propriedade rural; II favorecer o custeio oportuno e adequado da produção e a comercialização de produtos agropecuários; III possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais, notadamente pequenos e médios; IV incentivar a introdução de métodos racionais de produção, visando ao aumento da produtividade e à melhoria do padrão de vida das populações rurais, e à adequada defesa do solo. (BRASIL, 1965). 6

Das finalidades do Crédito Rural, têm-se as seguintes: a) crédito de custeio (de despesas de ciclos produtivos); b) crédito de investimento (de bens ou serviços para os períodos de produção); c) crédito de comercialização (para despesas de etapas após a coleta da produção ou para conversão em dinheiro, dos títulos oriundos de venda). (BACEN, 2015). A concessão do Crédito Rural é para produtores rurais, cooperativas de produtores rurais ou empresas que atuem nos segmentos: de pesquisa ou produção de mudas e sementes; de serviços mecanizados e inseminação artificial para agropecuária; de medição de lavouras das propriedades rurais; e que atuam em atividades florestais. (BACEN, 2015) A concessão do crédito rural aos produtores pode ocorrer, ainda, via cooperativas ou através de programas do Estado, como o Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF). Segundo Grisa e Schneider (2015), o PRONAF surge em 1995, como o primeiro passo do reconhecimento político e institucional do Estado brasileiro à categoria social dos produtores rurais. Os autores destacam que é uma linha política de crédito rural, com o intuito de contribuir para a capitalização dos pequenos produtores rurais, considerados “agricultores familiares”. Ademais, objetiva propiciar inserção e acesso deles aos mercados consolidados. Nesse sentido, o PRONAF pode ser considerado um programa de: garantia da produção agropecuária; fortalecimento dos sujeitos sociais; e resistência destes a permanecer no campo. O volume monetário de Crédito Rural (custeio, investimento e comércio) por atividade agrícola e pecuária, destinado aos Produtores/Cooperativas, no período de 2004 a 2012, nos municípios objetos, está apresentado na Tabela 2. Nesta Tabela, observa-se que o volume de recurso destinado à agricultura para todos os municípios é superior ao destinado para a atividade de pecuária, dos quais 12 municípios apresentam volume de recurso para a agricultura superior a 80% para todos os anos de análise. Por outro lado, Águas da Prata, Mococa, São José do Rio Pardo e São Sebastião da Grama apresentam valores menores a 80%, atingindo a participação mínima de 50% em alguns anos. Ao se analisar a participação da atividade de agricultura nos recursos do Crédito Rural, para o EDR, tem-se para todos os anos valores superiores a 80% (TABELA 2). É importante considerar que este EDR se apresenta, tradicionalmente, como importante produtor de leite (RODRIGUES, 2006) e a demanda de recursos para a pecuária, que inclui o leite, é inferior a 20% do total dos recursos recebidos pelo EDR (TABELA 2).

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Tabela 2: Volume de crédito rural, em valores, concedidos aos produtores e cooperativas, no período de 2004 a 2012, por município* do EDR de São João da Boa Vista, em mil reais constantes de 2015. MUNICÍPIOS/EDR Atividade 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Agricultura 23.224,00 108.857,16 58.069,69 62.403,90 36.406,96 30.962,87 31.067,53 28.192,06 34.859,73 Mococa Pecuária 7.664,58 8.502,92 6.044,54 6.935,42 8.250,84 9.992,71 17.426,50 27.684,44 34.538,40 Agricultura 13.697,23 28.071,33 43.049,95 26.508,97 64.642,12 57.897,60 38.849,87 43.528,34 29.646,01 São J. B. Vista Pecuária 1.658,29 1.486,31 1.335,15 1.895,95 2.021,63 3.083,37 2.229,47 3.090,74 6.290,60 Agricultura 3.228,19 8.944,08 21.596,06 19.794,75 8.348,38 11.339,92 16.412,27 12.281,23 14.056,11 Santa C. Palmeiras Pecuária 136,10 260,30 117,61 135,50 162,17 423,27 227,86 449,50 345,86 Agricultura 25.831,79 21.354,54 20.945,15 28.922,10 37.398,98 34.915,67 41.403,28 43.976,93 51.973,65 Vargem G. Sul Pecuária 1.138,61 684,94 1.659,55 922,44 1.399,28 2.521,06 3.851,84 8.380,38 7.917,13 Agricultura 5.632,27 5.958,11 5.125,15 14.706,62 6.073,13 11.833,00 8.844,64 7.481,85 6.220,79 Tapiratiba Pecuária 841,36 1.325,56 410,74 212,34 107,82 237,56 552,28 231,98 565,36 Agricultura 25.915,84 28.450,51 25.895,72 26.058,65 23.883,25 32.406,69 27.392,06 28.691,61 33.071,21 Aguaí Pecuária 1.062,61 1.204,10 1.004,02 1.240,47 1.398,89 2.432,57 3.453,70 2.968,74 4.883,83 Agricultura 15.827,54 16.697,39 22.206,43 26.259,17 22.153,13 29.045,98 32.421,25 30.918,80 28.404,20 Tambaú Pecuária 2.035,76 1.596,35 985,01 1.395,54 2.348,37 2.943,36 1.672,16 1.581,59 2.288,80 Agricultura 68.560,96 63.001,31 73.514,22 76.546,11 75.227,94 89.024,53 83.742,57 99.944,86 140.999,01 Casa Branca Pecuária 4.635,73 7.997,40 4.738,10 9.944,07 14.805,29 14.610,78 12.391,50 19.297,85 8.986,20 Agricultura 7.586,54 8.096,95 10.176,06 7.520,79 7.776,99 8.690,22 8.651,05 13.037,84 10.193,76 Itobi Pecuária 769,54 543,39 857,76 720,95 1.698,23 1.898,09 1.882,32 2.149,40 2.588,97 Agricultura 19.119,36 27.303,22 24.218,79 21.888,75 18.522,82 47.807,63 22.189,23 30.135,81 20.656,46 São J. R. Pardo Pecuária 3.603,57 27.303,22 3.432,14 4.381,67 7.979,12 5.431,92 5.575,21 6.661,94 9.256,90 Agricultura 11.545,99 17.534,78 20.690,26 24.146,05 22.399,23 35.402,56 37.626,83 38.926,81 40.049,44 Caconde Pecuária 2.410,98 1.507,32 935,94 1.524,11 1.285,74 1.397,31 1.794,62 2.620,94 4.635,93 Agricultura 1.504,99 1.850,50 2.552,00 2.590,41 2.938,10 3.988,97 2.387,66 4.029,14 4.702,28 Águas da Prata Pecuária 211,16 43,90 702,08 60,17 5,19 151,40 828,80 3.330,88 1.975,02 Agricultura 19.022,58 21.334,77 22.788,55 17.795,06 17.417,21 17.180,12 12.678,04 13.116,83 15.449,01 Divinolândia Pecuária 712,60 968,71 872,20 1.087,76 1.362,53 931,87 959,90 1.482,00 3.140,89 Agricultura 7.953,65 15.809,94 18.980,45 20.374,84 8.807,18 13.351,25 15.546,62 20.836,29 15.871,88 São Sebastião da Grama Pecuária 1.630,94 1.398,16 3.783,25 7.874,92 5.983,84 3.724,69 2.797,47 2.668,03 3.366,66 Agricultura 15.364,34 20.013,63 34.122,85 79.554,93 113.986,90 76.380,97 45.817,04 36.171,81 41.456,43 Espírito S. do Pinhal Pecuária 1.373,63 2.482,93 1.572,42 758,52 913,35 603,68 1.753,90 1.215,01 2.233,04 Agricultura 2.037,01 4.012,71 4.620,66 8.404,39 6.927,37 12.259,15 8.566,37 11.422,52 10.379,05 Santo Antônio do Jardim Pecuária 160,57 291,00 22,22 40,90 146,01 134,06 7,83 392,50 744,27 Agricultura 266.052,26 397.290,93 408.551,99 463.475,51 472.909,69 512.487,13 433.596,30 462.692,73 497.989,02 EDR de SJBV Pecuária 30.046,03 57.596,52 28.472,72 39.130,73 49.868,32 50.517,70 57.405,36 84.205,93 93.757,87 Total 296.098,29 454.887,45 437.024,71 502.606,24 522.778,01 563.004,83 491.001,66 546.898,66 591.746,89 Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural, Bacen (2004 a 2012).

O recurso do Crédito Rural destinado para custeio da agricultura se dá para diferentes produtos (218 divisões de lavouras), no estado de São Paulo, segundo dados dos Anuários Estatísticos do Crédito Rural (BACEN, 2004 a 2012). Merece mencionar que uma limitação deste artigo é a não obtenção de dados do Crédito Rural por produto e município, mas apenas por produto e estado. Então, ao se analisar, no estado de São Paulo, o recurso do Crédito Rural destinado ao custeio (2004 a 2012), tem-se a cana-de-açúcar e laranja sempre em primeiro e segundo lugar dos produtos de lavoura. Outra constatação, a partir dos Anuários Estatísticos do Crédito Rural, é que este dois produtos são responsáveis por mais de 50% dos recursos liberados para a lavoura, exceto para o ano de 2004 (39%) e 2005 (43%). Isto demonstra a importância do setor sucroalcooleiro e citrícola, no estado. Outro produto agrícola que ganha importância, a partir de 2006, na captação de recursos do Crédito Rural é o café arábica, que mantém a terceira posição até 8

2012. Assim, esses três produtos, participam com mais de 50% do total destinado à lavoura, para todos os anos (TABELA 3). Tabela 3: Principais produtos (agrícola e pecuária) na participação do volume de crédito rural para custeio de 2004 a 2012, no estado de São Paulo, em porcentagem (%). 2004 % 2005 % 2006 % 2007 % 2008 % 2009 % 2010 % 2011 % 2012 % Custeio Laranja 20 Cana 26 Cana 36 Cana 46 Cana 44 Cana 41 Cana 46 Cana 41 Cana 43 Produto Cana 19 Laranja 17 Laranja 17 Laranja 14 Laranja 15 Laranja 18 Laranja 14 Laranja 18 Laranja 14 Agrícola Soja 14 Milho 11 Café 8 Café 8 Café 8 Café 8 Café 8 Café 9 Café 9 TOTAL 53 TOTAL 54 TOTAL 62 TOTAL 68 TOTAL 67 TOTAL 67 TOTAL 68 TOTAL 68 TOTAL 66 Invest. Cana (F) 44 Cana (F) 37 Cana (F) 33 Cana (F) 63 Cana (F) 41 Cana (R) 51 Cana (F) 42 Cana (F) 38 Cana (F) 38 Produto Laranja 33 Laranja 36 Cana (R) 31 Laranja 19 Cana (R) 33 Cana (F) 17 Cana (R) 31 Cana (R) 38 Cana (R) 31 Agrícola Cana (R) 9 Cana (R) 11 Laranja 21 Cana (R) 6 Laranja 15 Laranja 17 Laranja 10 Laranja 12 Reflorest.14 TOTAL 86 TOTAL 84 TOTAL 85 TOTAL 87 TOTAL 88 TOTAL 86 TOTAL 82 TOTAL 87 TOTAL 83 Custeio *1 57 *1 61 *1 57 *1 49 *1 42 *1 35 *1 31 *1 44 *1 47 Produto *2 23 *2 14 *2 17 *2 25 *2 27 *2 28 *2 25 *2 26 *2 21 Pecuária *3 8 *3 10 *3 9 *3 9 *3 9 *8 14 *9 16 *3 12 *3 12 TOTAL 88 TOTAL 85 TOTAL 84 TOTAL 84 TOTAL 79 TOTAL 77 TOTAL 72 TOTAL 81 TOTAL 80 Invest. *4 32 *1 38 *4 35 *5 29 *5 31 *5 36 *5 32 *5 30 *4 30 Produto *5 22 *2 23 *5 30 *6 18 *4 30 *4 28 *7 23 *4 24 *5 27 Pecuária *6 16 *3 10 *6 7 *7 7 *6 16 *4 13 *4 22 *6 20 *6 23 TOTAL 69 TOTAL 72 TOTAL 72 TOTAL 55 TOTAL 76 TOTAL 77 TOTAL 77 TOTAL 74 TOTAL 80 Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural, Bacen (2004 a 2012). Observação: Cana (F)- Cana-de-Açúcar Fundação e Cana (R)- Cana-de-Açúcar Renovação. *1 Bovino- Criação e Produção Carne; 2* Avicultura -Engorda para Abate; 3* Bovino- Criação e Produção Leite; 4* Bovino- Produção Leite e Matrizes vacas; 5* Bovino- Produção Carne e Aquisição; 6* Bovino- Produção Carne e Matrizes vacas; 7* Bovino- Produção Leite e Aquisição; 8*Outro animais; 9* Suínos-Criação.

Ao se analisar os recursos para custeio à atividade de pecuária, no estado de São Paulo, têm-se os seguintes produtos contemplados: Bovinos para produção de carne (criação) e Avicultura (engorda para abate), para todos os anos, em primeiro e segundo lugar, respectivamente; e Bovinos para produção de leite (criação), para todos os anos, exceto 2009 e 2010. Estes três produtos somam mais de 75% do recurso destinado ao custeio da pecuária. Extrapolando esta constatação e sabendo que a região tem tradição na produção de café, leite e, recentemente, há o crescimento da produção da cana-de-açúcar, pode-se considerar que parte relevante dos recursos recebidos, no EDR objeto, deve ser destinada a estas culturas e ao gado leiteiro, como observado no estado de São Paulo. Outra limitação deste artigo é a não obtenção de dados do Crédito Rural, para PRONAF discriminado por município, para o período de 2004 a 2011, mas apenas para o ano de 2012. Então, estabelece-se comparação, para o ano de 2012, do volume total de crédito rural (finalidades de custeio, investimento e comercialização), em valores e contratos, destinado aos Produtores/Cooperativas e à agricultura familiar (PRONAF) (TABELA 4). De acordo com a Tabela 4, os três municípios que recebem os maiores valores de Crédito Rural em 2012, para Produtores/Cooperativas, são: Casa Branca, Mococa e Vargem Grande do Sul; para PRONAF, Caconde, Divinolândia e Mococa. Já, os três municípios com o maior número de contratos de Crédito Rural, são: Caconde, Casa Branca e Mococa, para Produtores/ Cooperativas; e Caconde, Divinolândia e Mococa, para PRONAF. 9

Tabela 4- Volume de recursos e quantidade de contratos de crédito rural concedidos aos produtores/cooperativas e ao PRONAF, no ano de 2012, por município* do EDR de São João da Boa Vista, em mil Reais e porcentagem. Produt./ Total de Produt./ Particip. PRONAF Particip. Particip. PRONAF Particip. Total de Municípios Cooperat. Recursos Cooperat. (%) (R$) (%) (%) (contrato) (%) contratos (R$) (R$) (contrato) Aguaí 37.955,04 94 2.585,88 6 40.540,92 306 78 85 22 391 Aguas da Prata 6.677,30 87 980,44 13 7.657,73 67 66 34 34 101 Caconde 44.685,37 72 17.389,00 28 62.074,38 1.017 61 663 39 1.680 Casa Branca 149.985,21 97 5.049,96 3 155.035,17 548 76 171 24 719 Divinolândia 18.589,90 64 10.681,32 36 29.271,22 443 59 309 41 752 Espirito S. Pinhal 43.689,47 92 3.848,55 8 47.538,02 295 72 114 28 409 Itobi 12.782,73 88 1.703,28 12 14.486,02 138 73 51 27 189 Mococa 69.398,14 91 7.228,51 9 76.626,65 548 74 189 26 737 Santa C. Palmeiras 14.401,97 94 971,72 6 15.373,68 80 77 24 23 104 Santo A. Jardim 11.123,32 88 1.523,28 12 12.646,61 151 72 58 28 209 Sao J. B. Vista 35.936,61 93 2.612,93 7 38.549,54 307 76 95 24 402 Sao J. R. Pardo 29.913,36 89 3.635,73 11 33.549,09 351 72 138 28 489 Sao S. Grama 19.238,55 82 4.210,23 18 23.448,78 233 62 141 38 374 Tambaú 30.693,00 92 2.735,64 8 33.428,63 258 72 100 28 358 Tapiratiba 6.786,14 95 353,22 5 7.139,36 38 78 11 22 49 Vargem G. Sul 59.890,78 93 4.218,15 7 64.108,93 275 78 76 22 351 Fonte: Anuário Estatístico do Crédito Rural, Bacen (2012).

Na Tabela 4, em todos os municípios é observado que o volume de recursos destinado, principalmente, para Produtores/ Cooperativas representa mais de 80%, exceto para Caconde (72%) e Divinolândia (64%). Além disso, estes dois municípios recebem o maior volume de recurso de crédito rural e possuem o maior número de contratos, na linha do PRONAF. É importante ressaltar que o crédito rural para PRONAF é mais representativo em número de contratos, do que em volume de recurso monetário. Apesar disso, os recursos do crédito rural à Produtores/Cooperativas são maiores do que os disponibilizados ao PRONAF (TABELA 4), em número de contratos (5.055 e 2.259 respectivamente) e em volume de recursos monetários (R$ 591.746,89 e R$ 69.727,82 respectivamente).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se, para o desenvolvimento das atividades agropecuárias, a importância de recursos monetários. Estes podem ser captados via financiamento em Bancos públicos (BNDES) ou através de programas de Política Pública (crédito rural). Identifica-se no EDR objeto que a concessão de recurso monetário via crédito rural (R$ 4,4 bilhões para produtores/cooperativas), no período analisado, é superior ao observado via BNDES (R$210 milhões). Em parte, isto se deve ao fato deste último ser exclusivo ao setor sucroalcooleiro. Das linhas de crédito do BNDES, tem-se que 11 municípios recebem recursos, sendo que os dois com maior captação são sede de agroindústrias sucroalcooleiras. Por outro lado, para o crédito rural, todos os municípios são contemplados. 10

Depreende-se, que o crédito rural é destinado a um conjunto de ‘produtos’ da lavoura e pecuária, e que, no estado de São Paulo, há predominância de recursos aos seguintes produtos: cana-de-açúcar, laranja, café (tipo arábica), pecuária bovina (produção de carne e de leite) e avicultura. E que, portanto, no EDR objeto, visto o seu histórico, é possível a predominância do crédito rural para destinação a cana-de-açúcar, café e pecuária de leite. Além disso, observa-se que o maior volume de recursos é destinado à agricultura, sendo mais do que 80% do total no período de análise. Por fim, outra constatação é que a destinação do crédito rural faz-se maior em volume e contratos aos Produtores/Cooperativas, o que denota a baixa participação da agricultura familiar (PRONAF) e, com isto, a relevância de um segmento, frente ao outro. 4. REFERÊNCIAS BACEN. Banco Central do Brasil. Calculadora do Cidadão. Disponível em: . Acesso em: abr. 2016. BACEN. Banco Central do Brasil. Anuário Estatístico do Crédito Rural. Vários anos (2004 a 2012). Disponível em: . Acesso em: abr. 2016. BNDES. Desembolso do sistema BNDES para o setor sucroalcooleiro segundo o objetivo (2001-2008 e 2009-2012). Informações recebidas mediante solicitação, 2010 e 2013. BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Programas e Fundos. Disponível em: Acesso em: Jul. 2016. BACEN. Banco Central do Brasil FAQ. Crédito Rural. Disponível em: Acesso em: Jul. 2016. Brasil (1965) BRASIL. LEI n° 4.829, de 5 de novembro de 1965. Institucionaliza o crédito rural. Diário Oficial da União, Brasília, DF. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4829.htm> Acesso em: Acesso em: Jun. 2016 BERNARDINO, A. P. S. Fontes de Recursos e atuação do BNDES sob uma perspectiva histórica. In: Revista do BNDES. : BNDES, v. 2, n. 23, p. 53-72, jun. 2006. Disponível em: . Acesso em: Acesso em: abr. 2016. BORGES, A. C. G. COSTA,V. M. H. M. Distribuição dos desembolsos do BNDES no setor sucroenergético no Brasil Estudos Geográficos, Rio Claro, 9(2): 73-88, jul./dez. 2011 (ISSN 1678— 698X) http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/estgeo. Disponível em: FAGUNDES, F, N. BORGES, A. C. G. Dinâmica territorial agropecuária e utilização das terras atuais no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de São João da Boa Vista. Geosaberes, Fortaleza, v. 6, número especial (2), p. 178 – 192, Novembro. 2015. 2015, Universidade Federal do Ceará. IEA. Instituto de Economia Agrícola. Banco de dados. Disponível em: . MILANEZ, A. Y. NYKO. D. O apoio do BNDES ao setor sucroenergético em 2014: a vez da inovação agrícola. BNDES- Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. INFORME SETORIAL. Área Industrial. N° 32. Junho. 2015. /2 RAMOS, S. Y.; MARTHA JR., G. B. Evolução da política de crédito rural brasileira. Planautina, DF: Embrapa, 2010. RODRIGUES, J. A. Mococa: Patrimônio vivo do circuito paulista café com leite. 2006. 190 p. Dissertação de Mestrado. SÃO PAULO, E. (org.) Anos 50. In: ______. BNDES 50 anos de desenvolvimento. Rio de Janeiro: BNDES, setembro, 2002. Disponível em: .