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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE Programa de Pós-Graduação em Geografia Tratamento da Informação Espacial

Priscila Garcia Marques

NANUQUE/MG: SEU PAPEL E POSIÇÃO HIERÁRQUICA NA REGIÃO DE TRÍPLICE FRONTEIRA (MG, BA, ES) NO ANO DE 2010

Belo Horizonte 2018 1

Priscila Garcia Marques

NANUQUE/MG: SEU PAPEL E POSIÇÃO HIERÁRQUICA NA REGIÃO DE TRÍPLICE FRONTEIRA (MG, BA, ES) NO ANO DE 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Márcia Moreira Alvim.

Co-Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernando Braga Carvalho.

Área de Concentração: Análise Espacial

Linha de Pesquisa: Estudos Urbanos e Regionais

Belo Horizonte 2018

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Marques, Priscila Garcia M357n Nanuque/MG: seu papel e posição hierárquica na região de tríplice fronteira (MG, BA, ES) no ano de 2010 / Priscila Garcia Marques. Belo Horizonte, 2018. 118 f. : il.

Orientadora: Ana Márcia Moreira Alvim Coorientador: Paulo Fernando Braga Carvalho Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial

1. Minas Gerais – - Espírito Santo (Estado) - Fronteiras. 2. Hierarquias - Nanuque (MG). 3. Urbanização - Aspectos econômicos. 4. Demografia. I. Alvim, Ana Márcia Moreira. II. Carvalho, Paulo Fernando Braga. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial. IV. Título.

CDU: 911.3 Ficha catalográfica elaborada por Rosane Alves Martins da Silva – CRB 6/2971 3

Priscila Garcia Marques

NANUQUE/MG: SEU PAPEL E POSIÇÃO HIERÁRQUICA NA REGIÃO DE TRÍPLICE FRONTEIRA (MG, BA, ES) NO ANO DE 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise Espacial

Profa. Dra. Ana Márcia Moreira Alvim – PUC Minas (Orientadora)

______Prof. Dr. Paulo Fernando Braga Carvalho – PUC Minas (Co-Orientador)

______Prof. Dr. Alexandre Magno Alves Diniz – PUC Minas (Banca Examinadora)

______Prof. Dr. Carlos Fernando Ferreira Lobo - UFMG (Banca Examinadora)

Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2018 4

Dedico este trabalho aos meus pais, por serem meu alicerce de vida e fonte de incentivo. 5

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por ter me permitido a realização deste projeto de vida, que mesmo diante de todo sacrifício e dificuldade, me amparou e sustentou até aqui. A Ti Senhor, minha gratidão! A minha família pelo apoio incondicional, em especial aos meus pais por sempre acreditarem em meus estudos, e meu tio Sérgio pelo incentivo e aconchego de seu lar nas tantas viagens a Belo Horizonte. A minha orientadora, Profa. Dra. Ana Márcia Moreira Alvim, também Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas, de forma especial, pela atenção, competência, confiança, intervenções e incentivo em todos os momentos, assim como pela oportunidade que me deu de adentrar pelo universo da geografia de forma única, tornando possível a realização deste trabalho. Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Paulo Fernando Braga Carvalho, pela paciência, competência e disponibilidade em me ajudar no tocante à aplicação da metodologia deste trabalho. Aos queridos professores, Prof. Dr. Oswaldo Bueno Amorim Filho e Prof. Dr. José Flávio Moraes Castro, por serem minhas referências profissionais no âmbito da geografia e inspiradores para meus estudos na área. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Ministério da Educação (CAPES - MEC) agradeço pela bolsa de estudos (Taxa CAPES) durante todo o curso, me permitindo o acesso a este nível de conhecimento. Aos secretários do Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas, Tatiane e Délio pelo carinho e atendimento irretocável dado a todos os estudantes vinculados ao Programa. Ao Centro Universitário de – UNEC pelo apoio nesta fase de estudos, pela confiança, suporte nesta fase de ausências semanais e pela credibilidade em meu trabalho. De forma carinhosa, deixo meu agradecimento a todos os colegas de trabalho da equipe UNEC, pelo cuidado e apoio em todos os sentidos, quando mais precisei, e aos meus alunos do curso de Administração, pela compreensão e confiança. Aos meus amigos e funcionários do Mr. English Idiomas pela compreensão de minha ausência, me apoiando em palavras e orações. 6

RESUMO

No Brasil, os processos de urbanização e industrialização aconteceram de forma rápida, ocorrendo assim, mudanças nas funções, nas formas e nas estruturas na cidade, visíveis nos papéis de algumas delas, em suas respectivas regiões, ou seja, em suas funções urbanas e logo em suas centralidades. Diante disso, optou-se por escolher o tema de rede urbana e uma região onde o desenvolvimento econômico tem menor expressão e os estudos sobre rede urbana ainda são escassos. Este estudo justifica-se, além da relevância do tema rede urbana e ausência de estudos sobre esse tema, pela peculiaridade da região escolhida e pela posição geográfica estratégica da cidade de Nanuque/MG, foco deste trabalho. Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o papel exercido pela cidade de Nanuque/MG na região de tríplice fronteira, considerando a hierarquia urbana das cidades da região, em 2010. Como objetivos específicos têm-se: associar os conceitos, teoria e reflexões relacionadas à região e a cidade na região; caracterizar a região de tríplice Fronteira, em seus aspectos históricos, geográficos, demográficos e socioeconômicos, nos anos de 2000 e 2010; identificar a hierarquia das cidades da região de estudo, no ano de 2010 e verificar o papel exercido pela cidade de Nanuque/MG na região no ano de 2010. A hipótese da pesquisa é que Nanuque/MG cumpre uma função importante na intercessão das hinterlândias das cidades médias regionais. O método utilizado na pesquisa apresenta-se numa perspectiva hipotético-dedutiva, desenvolvendo-se também uma parte empírica, no sentido de demonstrar qual é o papel da cidade de Nanuque na região, e para esta análise foi essencial considerar alguns conceitos, discussões e Teorias. Foram coletados dados de diversas fontes, com o objetivo de caracterizar a região e analisar a hierarquia urbana e centralidade de Nanuque/MG na região de tríplice fronteira. Para a proposição da hierarquia recorreu-se à estatística multivariada - análise de componentes principais (ACP). Os resultados obtidos demonstram que Nanuque/MG desempenha função importante estando entre os lugares centrais de alta ordem na região. Por dispor de centralidade, sua região complementar extrapola sua microrregião e mesmo os limites estaduais.

Palavras Chave: Nanuque/MG, região, rede urbana, hierarquia, centralidade. 7

ABSTRACT

In , the processes of urbanization and industrialization took place rapidly, thus changing the functions, forms and structures in the city, visible in the roles of some of them, in their respective regions, that is, in their urban functions and soon in their centralities. Given this, we chose to choose the urban network theme and a region where economic development has less expression and studies on urban network are still scarce. This study is justified, in addition to the relevance of the theme urban network and absence of studies on this theme, due to the peculiarity of the chosen region and the strategic geographic position of the city of Nanuque / MG, focus of this work. This research has as main objective to analyze the role played by the city of Nanuque / MG in the region of triple border, considering the urban hierarchy of the cities of the region in 2010. As a specific objectives are to associate the concepts, theory and reflections related to the region and the city in the region; characterize the region of triple border, in its historical, geographical, demographic and socioeconomic aspects, in the years of 2000 and 2010; to identify the hierarchy of the cities of the study region in the year 2010 and to verify the role played by the city of Nanuque / MG in the region in the year of 2010. The hypothesis of the research is that Nanuque / MG fulfills an important function in the intercession of the hinterlândias of the regional medium cities. The method used in the research is presented in a hypothetical-deductive perspective, and an empirical part is also developed in order to demonstrate the role of the city of Nanuque in the region, and for this analysis it was essential to consider some concepts, discussions and theories. Data were collected from several sources, aiming to characterize the region and to analyze the urban hierarchy and centrality of Nanuque / MG in the triple border region. For the proposition of the hierarchy we used the multivariate statistics - principal component analysis (PCA). The results show that Nanuque / MG plays an important role among the high order central places in the region. Because it has centrality, its complementary region goes beyond its microregion and even the state boundaries.

Keywords: Nanuque / MG, region, urban network, hierarchy, centrality. 8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Representação esquemática de um sistema, assinalando os elementos (A,B,C e D) e suas relações, assim como o evento entrada e o produto final...... 27 FIGURA 2 – Etapas da Análise de Componentes Principais (Técnica ACP)...... 57 FIGURA 3 – Companhia Madeireira Vindilino Lima, localizada na margem do Rio ...... 92 FIGURA 4 – Antigo Parque Industrial da Bralanda – Brasil -Holanda S.A. em Nanuque ...... 93 FIGURA 5 – Estrutura da População de Nanuque segundo sexo e idade – 2010 ...... 98 FIGURA 6 – Indicadores Demográficos | 1991 – 2010: Envelhecimento e Mortalidade Infantil do Município de Nanuque/MG ...... 99

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Relação dos Municípios de estudo, organizados por Estado...... 51 TABELA 2 – Descrição das variáveis utilizadas na pesquisa ...... 52 TABELA 3 – População dos Municípios da Região de Estudo nos anos de 2000 e 2010 ...... 76 TABELA 4 – Municípios com percentual de crescimento demográfico negativo ...... 78 TABELA 5 – Relação dos municípios com maiores PIB na região de estudo em 2010 ...... 85 TABELA 6 – Resultado da ACP – Escores padronizados – 2010 (primeiras posições hierárquicas)...... 87 TABELA 7 – Resultado da ACP – Escores padronizados – 2010 (última posições hierárquicas) ...... 89 TABELA 8 – Hierarquia da rede urbana conforme REGIC (IBGE 2007) ...... 90 TABELA 9 – Matriz de Distâncias (por rodovias): Nanuque/MG x Região de Estudo ...... 91 TABELA 10 – Fluxo rodoviário diário tendo Nanuque/MG como destino, a partir das cidades da região de estudo...... 96

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais – 1982 ...... 40 QUADRO 2 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais – 1999 ...... 41 QUADRO 3 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais – 2006 ...... 42 QUADRO 4 – Proposta de fluxograma metodológico da dissertação ...... 47 QUADRO 5 – Principais teóricos que contribuíram para o estudo ...... 48 QUADRO 6 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – Nanuque/MG | ano 2010 ...... 99 QUADRO 7 - Evolução do IDH – Município de Nanuque/MG | 1991 – 2010...... 100 QUADRO 8 – Estudos precedentes de hierarquia urbana – Nanuque/MG...... 104

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1 – Localização do Município de Nanuque/MG na Região de Tríplice Fronteira (Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo) ...... 59 MAPA 2 – Localização da Área de Estudo: Microrregiões e Municípios ...... 60 MAPA 3 – Relevo: Unidades Geomorfológicas da região de estudo ...... 63 MAPA 4 – Relevo: Hipsometria da região de estudo ...... 64 MAPA 5 – População total da região de estudo – 2010 ...... 75 MAPA 6 – População Urbana e Rural da região de estudo – 2010 ...... 80 MAPA 7 – IDHM da região de estudo – ano 2000 ...... 83 MAPA 8 – IDHM da região de estudo – ano 2010 ...... 84 MAPA 9 – Hierarquia urbana da região de estudo em 2010 ...... 88

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Emancipação dos Municípios pertencentes à região de estudo ...... 74

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACP – Análise por Componentes Principais ANAC – Agência Nacional de Aviação ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres BCB – Banco Central do Brasil CNES – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IGAM – Instituto Mineiro de Gestão das Águas INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MTE – Ministério do Trabalho e Emprego PIB – Produto Interno Bruto PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RAIS - Relação Anual de Informações Sociais RISSM – Regulamento do Imposto Sobre Serviços Municipal SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA TLC – Teoria do Lugar Central 14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 16

2 CONCEITOS, TEORIA E REFLEXÕES RELACIONADAS À REGIÃO E À CIDADE NA REGIÃO...... 19

2.1 Região, Cidade e Situação ...... 19 2.2 Sistemas, Redes e Funções Urbanas...... 26 2.3 Teoria dos Lugares Centrais (TLC) de Christaller e Hierarquia Urbana ..... 34 2.4 Revisão dos Estudos Precedentes referente à hierarquia urbana na região ...... 39

3 METODOLOGIA DA PESQUISA...... 46

3.1 Aspectos Teóricos abordados na Pesquisa ...... 47 3.2 Coleta e Fontes de dados ...... 49 3.3 Tratamento dos Dados ...... 55

4 CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA, DEMOGRÁFICA E SÓCIOECONÔMICA DA REGIÃO DE TRÍPLICE FRONTEIRA E HIERARQUIA URBANA ...... 58 4.1 Situação Geográfica da Região de Estudo ...... 59 4.1.1 Localização ...... 59 4.1.2 Caracterização Física da região de estudo ...... 61 4.2 Breve contexto histórico da região de estudo Situação Geográfica da Região de Estudo ...... 66 4.3 Aspectos Demográficos e Socioeconômicos da Região de Estudo ...... 75 4.3.1 Demografia ...... 75 4.3.2 Aspectos Socioeconômicos ...... 81 4.4 Hierarquia urbana na região: proposta da pesquisa...... 85

5 O PAPEL DA CIDADE DE NANUQUE/MG NO CONTEXTO REGIONAL ...... 91 5.1 Características evidenciadas da cidade de Nanuque/MG no âmbito regional ...... 91 5.1.1 Aspectos históricos e geográficos ...... 91 5.1.2 Aspectos demográficos, sociais e econômicos ...... 97 5.2 Análise da posição de Nanuque/MG na hierarquia urbana da região, no ano de 2010 ...... 102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 105

REFERÊNCIAS ...... 107

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APÊNDICE A – Classificação hierárquica da região de estudo em 2010 ...... 114

APÊNDICE B – Planilha de dados das variáveis – região de estudo no ano de 2010 ...... 116 16

1 INTRODUÇÃO

O processo de urbanização no Brasil ocorreu de forma rápida, em poucas décadas e em meados do século XX, diferentemente do ocorrido nos países desenvolvidos, onde este acompanhado da industrialização ocorreram de forma gradual, tornando-se mais viável a melhor organização do território. Frente a isso, mudanças nas funções, nas formas e nas estruturas têm ocorrido no campo e na cidade. Mudanças estas, visíveis, especialmente nos papéis de algumas cidades, em suas respectivas regiões, ou seja, em suas funções urbanas e logo em suas centralidades. Com isso, as regiões passam a vivenciar alterações no que se refere a seu sistema urbano e rede urbana. Atualmente, o estudo das redes urbanas, redes constituídas por cidades de diferentes níveis hierárquicos, torna-se cada vez mais importante para o desenvolvimento local, regional e nacional. No entanto, os estudos de rede urbana e hierarquia não são tão recentes, eles ganharam força a partir de 1933 após a elaboração da Teoria dos Lugares Centrais de Christaller, uma teoria urbana e regional, que consentiu a identificação de níveis distintos de lugares centrais pautados na importância relativa dos lugares em sua região, ou seja, no que o estudioso denominou centralidade. Portanto, pode-se afirmar que o nível de centralidade que uma cidade apresenta na rede urbana demonstra sua importância decorrente das interações espaciais que estabelece com outros centros urbanos. No tema central deste trabalho, optou-se por fazer um recorte espacial de uma região onde o desenvolvimento econômico e social ainda tem menor expressão e os estudos sobre rede urbana ainda são escassos, mesmo que este tema seja extremamente relevante na atualidade. Trata-se da região de tríplice fronteira1 de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo (Mapa 1), na qual está inserida a cidade de Nanuque/MG, foco especial de estudo. Considera-se a região de estudo muito interessante, por ser uma região altamente capilarizada pelas redes de transportes e por estar na sombra de três grandes regiões metropolitanas (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador), existindo assim, grandes fluxos de trocas transfronteiriças, que ultrapassam os

1 A região de Tríplice Fronteira é constituída, neste estudo, por sete microrregiões: Nanuque/MG, Teófilo Otoni/MG, Montanha/ES, Nova Venécia/ES, São Mateus/ES, Barra de São Francisco/ES e Porto Seguro/BA. 17

limites de um único estado. Por sua vez, os limites estaduais dizem muito pouco a respeito destas trocas, independente destas fronteiras, e sobre a periferia destas três regiões metropolitanas. Tem-se, portanto, algumas justificativas já pontuadas para o presente estudo, como a relevância do tema redes urbanas e a peculiaridade da região de estudo escolhida no recorte espacial. Além destes, acrescentam-se duas situações que merecem destaque: a posição geográfica da cidade de Nanuque/MG e a existência de pesquisas similares, considerando-se apenas a hierarquia das cidades mineiras da região de Nanuque e não sendo considerada a região mais abrangente, afinal, suas relações extrapolam os limites de Minas Gerais. Nanuque está na porção central desta região de tríplice fronteira e ao mesmo tempo, ela estaria em uma área de junção das cidades médias da região, sendo rota para o litoral sul do estado da Bahia pela rodovia federal BR-418 e para o litoral norte do estado do Espírito Santo pela rodovia estadual LMG-719, além de ser considerada pela ANTT (2007) a 9ª do Estado de Minas Gerais com o maior fluxo rodoviário e a 47ª em relação ao país. O município tem forte vocação agropecuária, mas os setores industrial, de comércio e serviços têm apresentado taxas de crescimento superiores à média da maioria dos municípios da região. No entanto, recebe influências, por exemplo, da cidade de Teófilo Otoni/MG, mas exerce influências sobre outras cidades, sejam elas mineiras ou dos estados vizinhos. Nesse contexto, a sede do município de Nanuque/MG é vista como um possível lugar central nesta região. O problema de estudo fica evidenciado quando as interações entre estas cidades da região e a própria articulação desta rede são questionadas. Portanto, chega-se ao elemento principal da problematização deste estudo: Qual o papel que a cidade de Nanuque/MG cumpre, aqui neste contexto, numa região de tríplice fronteira? Assim, a hipótese deste estudo estaria pautada na afirmativa de que a cidade de Nanuque/MG estaria cumprindo uma função importante na intercessão das hinterlândias das cidades médias regionais. Esta pesquisa tem como objetivo geral, analisar o papel exercido pela cidade de Nanuque/MG na região de tríplice fronteira, considerando a hierarquia urbana das cidades da região selecionada neste estudo, no ano de 2010. São objetivos específicos: 18

. Associar os conceitos, teoria e reflexões relacionadas à região e a cidade na região; . Caracterizar a região de tríplice Fronteira (Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo), em seus aspectos históricos, geográficos, demográficos e socioeconômicos, nos anos de 2000 e 2010; . Identificar a hierarquia das cidades da região de estudo, no ano de 2010. . Verificar o papel exercido pela cidade de Nanuque/MG na região de tríplice fronteira no ano de 2010. Com vistas a atingir o objetivo geral, propõe-se para a estrutura da dissertação, além da introdução, quatro capítulos e as considerações finais. O primeiro capítulo faz referência à Teoria dos Lugares Centrais, de Christaller, principal teoria acerca da centralidade, bem como alguns conceitos e reflexões relacionados à região e à cidade na região. O segundo capítulo trata dos métodos e técnicas utilizadas na pesquisa, apresentando os aspectos teóricos, coleta e fontes dos dados, o tratamento e a análise dos resultados. O capítulo três apresenta uma caracterização da região de tríplice Fronteira (Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo), em seus aspectos históricos, geográficos, demográficos e socioeconômicos, bem como a análise da hierarquia urbana da região de estudo, no ano de 2010. E no último capítulo, o estudo contempla Nanuque/MG como enfoque na região, verificando seu papel regional. Quanto às considerações finais, serão registradas as características principais, similaridades, diferenças e potencialidades, além de algumas sugestões para estudos futuros. Todas as obras utilizadas durante a pesquisa encontram-se no final do trabalho, nas referências. O método utilizado na pesquisa foi o hipotético-dedutivo por ser o mais apropriado à análise espacial proposta, análise para a qual, foi essencial considerar alguns conceitos, discussões e teoria, quais sejam: região, cidade e situação; sistemas, redes e funções urbanas; Teoria dos Lugares Centrais e hierarquia urbana; Análise de Componentes Principais estudos precedentes acerca do tema hierarquia urbana. Os autores que inspiraram este estudo foram: Christaller (1966), Dolfuss (1971, 1973), Kayser (1980), Bertalanffy (1973), Amorim Filho (1982), Karl Pearson (1901), Ratzel (1882), Rochefort (1961) e Christofoletti (1979).

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2 CONCEITOS, TEORIA E REFLEXÕES RELACIONADOS À REGIÃO E À CIDADE NA REGIÃO

Numa região algumas cidades se despontam e por suas funções levam à constituição de hierarquias e/ou redes urbanas. Existem aglomerações urbanas de distintos tamanhos, dotadas de funções diferenciadas, pautadas na produção e na oferta de bens e serviços. Nesta perspectiva, faz-se necessário recorrer à Teoria dos Lugares Centrais que alicerça este trabalho, afinal, com ela, Christaller define a centralidade, importância relativa da cidade na região e a importância que leva à constituição de hierarquias de cidades e rede urbana nas regiões.

2.1 Região, Cidade e Situação

Apesar da região se tratar de um conceito complexo, essa se constitui em uma importante categoria de análise da Geografia, por isso a mesma não deve ser descuidada, nem simplificada. Para facilitar a melhor compreensão desse conceito, é necessário fazer um breve resgate histórico dos estudos relacionados à região. Região é uma categoria de análise geográfica que constitui uma unidade geográfica organizada, em conseqüência da disposição natural, da história, da paisagem ou de uma rede urbana cuja superfície pode ser de 5000 até 50000 km². (DOLFUSS, 1973, p. 42). O conceito de região foi demasiadamente desenvolvido e trabalhado pela escola francesa e está associado à noção de diferenciação de áreas. Segundo Corrêa (2003, apud Costa e Rocha, 2010), a aceitação do conceito está na idéia de que a ―superfície da Terra é constituída por áreas diferentes entre si‖. O conceito vai assumindo características distintas conforme os paradigmas da geografia. De acordo com Apolinário (2010),

[...] definir um conceito de região pura e simplesmente, é uma tarefa sem sentido, fazendo-se necessário um estudo através da evolução do pensamento geográfico, mostrando que ora o tema emerge como fator preponderante para os geógrafos e ora se mostra menos importante. No entanto, em nenhum momento da evolução do pensamento geográfico essa temática deixa de ser tratada. (Apolinário, 2010, pág. 34)

Em função de suas contribuições para a sistematização dos estudos que se 20

propunham analisar um espaço geográfico com caráter zonal, destacam-se os estudiosos sobre região: La Blache e Hartshorne. Suas contribuições, entretanto, foram dadas em contextos específicos (regional e temporal). Paul Vidal de La Blache (1921, apud Gomes, 2000, p.57) pensava a região enquanto um ―corpo vivo‖, único. Gomes (2000) destaca que, para La Blache, ―[...] a região é uma realidade concreta, física, ela existe como um quadro de referências para a população que aí vive‖. La Blache, em seus estudos, inicialmente entende a região natural como o recorte de análise básico para a Geografia desenvolver seu campo de estudo. Com o passar do tempo, em seus estudos para o entendimento dos recortes regionais na França, La Blache passa das regiões naturais ao estudo das regiões econômicas, chegando a fazer análises de geopolítica quando escreve sobre a região da Alsácia-Lorena. Segundo Lencioni (2007), na visão de La Blache, a região tinha capacidade de ser objetivamente distinguida na paisagem e, para o autor, os homens possuíam consciência da existência das regiões na proporção em que iam construindo identidades regionais. Hartshorne também contribuiu para os estudos regionais, após os estudos de La Blache. Para ele, a região constituiria ―[...] um constructo intelectual e que, como tal, poderia variar em sua delimitação de acordo com os objetivos do pesquisador‖. (HAESBAERT, 1999, p. 18)

[...] considera a região a partir de propósitos específicos, não tendo a priori, como no caso da região natural e da região-paisagem, uma única base empírica. É possível identificar regiões climáticas, regiões industriais, regiões nodais, ou seja, tantos tipos de regiões quantos forem os propósitos do pesquisador. A região natural e a região paisagem passam a ser apenas uma das múltiplas possibilidades de ser e cortar o espaço terrestre. A região constitui-se para os geógrafos lógico-positivistas em uma criação intelectual, criada a partir de seus propósitos específicos (CORRÊA, 1986, p. 186).

Após esse breve retrospecto sobre os conceitos de região nas correntes geográficas abordadas anteriormente, é interessante fazer uma breve reflexão. A região natural, oriunda da corrente determinista, desconsidera a sociedade em suas análises. De uma outra forma, a região geográfica, baseada em La Blach, considerou a ação do homem na delimitação de uma região. Contudo, a relação homem-meio, que faz parte da construção dessa região, é harmoniosa. 21

Outra perspectiva que promove os estudos regionais é a linha que tem no materialismo histórico e dialético seu principal referencial. A Geografia crítica, a partir dos anos 70 usa o conceito de região para entender o desenvolvimento desigual de porções do território. Neste contexto, Corrêa (2001) assinala que ―[...] o conceito de região desperta o interesse de não-geógrafos, daqueles que, de alguma forma, se interessam pela dimensão espacial da sociedade. Novos conceitos de região foram produzidos por geógrafos e não geógrafos, ampliando ainda mais o pluralismo conceitual‖.

Uma nova abordagem regional é traçada e caracteriza-se por destacar que a partir da década de 1970, no âmbito da incorporação de novos paradigmas à Geografia, o conceito de região reaparece no interior de uma Geografia crítica fundamentada no materialismo histórico e dialético, como também nas geografias humanista e cultural (CORRÊA, 2001, p. 187).

Percebe-se, a partir de alguns estudos, que a análise de região se apresenta em diferentes vertentes metodológicas, mas muitas vezes, nota-se que ela é quase sempre estudada á luz dos métodos positivista e neopositivista. Quanto aos critérios de delimitação do espaço regional na pesquisa histórica Silva (1990) entende que a região só pode ser vista no âmbito do enfoque sistêmico. Desta forma, a região se constitui em um subsistema de um todo com o qual mantêm inter-relações. Assim, entende-e que as fronteiras regionais podem ou não coincidir com as divisões juridicamente instituídas, pois se ampliam ou diminuem, no decorrer do tempo, em função de ajustes de natureza política. Partindo do pressuposto que, para Silva (1992), a região é como um universo de práticas vivenciadas pelos diversos grupos humanos que nela se inserem, englobando relevo, relações pessoais, memória familiar, condições de trabalho, sexualidade, etc., pode-se pensar em exceder limites e fronteiras de ordem administrativa que, em geral, delimitam uma região. Assim, o regional torna-se, um conjunto de identidades não vinculado necessariamente aos limites formais estabelecidos. Atualmente, existe uma tendência à homogeneização do espaço, fazendo com que se tenha uma idéia de novo significado, ou falência do termo região na geografia. Embora a globalização, através dos fluxos de informação, mercadorias, capitais e pessoas, permita que os recortes regionais na superfície terrestre sejam feitos de diversas maneiras, não seria prudente aceitá-los como regiões, pois 22

estariam sendo, muitas vezes, pelo senso comum. Ainda assim, com o decreto de ―fim‖ da região por parte de alguns teóricos recentes, ela é, na verdade, o resultado do próprio avanço da globalização, já que a cada progresso da difusão dos vetores da modernidade global cria-se uma correspondente diferenciação dos espaços da superfície terrestre. Como afirma Santos (1996): por mais que a globalização tente homogeneizar o espaço, ela acaba por fragmentá-lo e regionalizá-lo ainda mais. Neste contexto, é importante ressaltar que a Divisão do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões foi elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia). Nesse período, o intuito do Instituto, conforme IBGE (1990), era redefinir a antiga Divisão Regional do Brasil, antes elaborada em 1940; e esses estudos levaram os pesquisadores a um esboço preliminar da Divisão do Brasil em Regiões Homogêneas. Dividir o Brasil em regiões, facilitaria o ensino, a pesquisa, coleta e organização de dados sobre o país, o seu número de habitantes e a idade média da população. A temática da região emerge como instância particular de analise, situando-se entre o local e o global (LENCIONI, 2001). Tanto a região, quando a cidade, exprimem dimensões de análises geográficas que são foco de estudos que procuram avaliar suas relações e aprofundar o debate no que se refere à organização da sociedade contemporânea. Em um texto clássico da geografia regional, Kayser (1980) escreveu o seguinte: ―O espaço polarizado que se organiza em torno de uma cidade é uma região‖. Essa definição evidencia o processo de polarização exercida pela cidade, por meio da relação e integração entre cidade e região. Isso se dá em função da progressiva concentração espacial de bens e serviços e dos meios de produção que interferem na dinâmica econômica regional.

[...] a cidade em si pode ser considerada um sistema que integra outro sistema ou uma rede de cidades, cujo papel é essencial na estruturação e organização do espaço geográfico. As aglomerações urbanas mantêm e reforçam laços de interdependências entre si e entre elas e as regiões que elas polarizam dentro de um dado território. A expressão de rede urbana é mais usada para evocar os fluxos que existem entre os pontos desse território (IPEA, 2002, p. 337).

Cidade e região podem ser consideradas uma dupla dialética e, no estudo de suas inter-relações, julga-se conveniente fazer uso da análise da rede urbana, na medida em que a rede urbana tem um papel fundamental na organização do 23

espaço, pois promove a integração entre fixos e fluxos, entre a configuração territorial e as relações sociais, ―seu estudo é fundamental para a compreensão das articulações entre as diversas frações do espaço‖ (SANTOS, 1996, p. 112). Os fluxos que conectam lugares e pessoas são viabilizados pela rede urbana.

De acordo com Oliveira Júnior (2008), a cidade consolida-se como centro de comando para a economia capitalista. Nela, o capital concentra os seus meios de produção, circulação e realização, subjugando o trabalho do homem e, por conseguinte, as relações sociais às suas necessidades de reprodução. Assim, a cidade se produz pautada em espaços hierarquizados, segmentados, fragmentados e fraturados; o capital limita e diferencia a apropriação e uso do solo urbano, segrega classes e camadas sociais. Fato é que, as cidades podem ser identificadas como nós de redes, principalmente as cidades médias e grandes, lugares de conexão entre as diferentes escalas através das quais os fluxos de toda natureza circulam. Para Santos e Silveira (2001, p. 280),

As cidades são os pontos de interseção e superposição entre as horizontalidades e as verticalidades. Elas oferecem os meios para o consumo final das famílias e administrações e o consumo intermediário das empresas. Assim, elas funcionam como entrepostos e fábricas, isto é, como depositárias e como produtoras de bens e de serviços exigidos por elas próprias e por seu entorno.

Do ponto de vista regional, Ratzel afirmou que a cidade é ―uma aglomeração densa de homens e casas, cobrindo um espaço de notável extensão, situada nos nós de estradas importantes‖ (Ratzel, em sua obra Antropogeographie, de 1882 aput Vasconcelos, 1999 p.124). Vinculado a esta ideia, desenvolveu os conceitos de situação e sítio, que serão incorporados à grande parte das análises geográficas, procurando demonstrar a sua influência na evolução das cidades e o seu caráter nodal, de encruzilhada. Ainda segundo Vasconcelos (1999), autores como Pierre George (1969) e Raoul Blanchard (1911) são referências para o estudo sobre sítio e situação. As relações geográficas entre a cidade e seu meio natural são definidas em duas escalas diferentes: a regional (posição ou situação da cidade frente a outros conjuntos espaciais) e a local (sítio). Ao entender a cidade como tal, faz-se importante retomar o termo situação mencionado e explicado anteriormente. 24

Segundo George (1969), a situação tem um valor relativo, pois se refere à ―[...] localização da cidade em relação aos fatos naturais suscetíveis, no passado e no presente, de exercer influência em seu desenvolvimento, o que por sua vez está ligado à facilidade de polarização‖. Trata-se então da posição, que pode contribuir em grande parte para a dinamização da cidade, ou mesmo pode emperrá-la, ou seja, pode ser favorável ou desfavorável ao seu desenvolvimento. Algumas cidades têm situação de encruzilhada, o que lhes é favorável, uma vez que lhes garante maior facilidade de circulação. Segundo Alvim (2009),

A situação refere-se, portanto, às condições gerais do meio em que a cidade se insere, condições físicas e humanas da região da qual faz parte a cidade. Estas podem. facilitar os fluxos, dado que estão diretamente ligadas à acessibilidade, que por sua vez depende dos meios de transporte e de comunicação, e as atividades ligadas a esses meios foram, por Beaujeu- Garnier (1997), classificadas e admitidas como um dos grupos de funções urbanas, chamado de transmissão ou difusão. (Alvim, 2009, pag. 36)

A posição (ou situação) geográfica é um dos conceitos mais importantes da geografia, em geral, e da geografia urbana, em especial. A caracterização da posição geográfica de uma cidade, de um município ou de uma região deve, em primeiro lugar, considerar os aspectos ou fatores que explicam a organização e a estrutura atual da unidade de estudo. Segundo Dollfus (1971), a posição geográfica depende do sistema de relações que o elemento mantém com outros elementos próximos ou distantes, ou seja, a posição de uma unidade geográfica resulta da conjunção de um ou mais sistemas em relação às atividades e funções da referida unidade. Identificar o espaço de relações externas de uma cidade significa, entre outras coisas identificar as direções de seus principais fluxos econômicos, culturais, migratórios, etc. Quanto maior o espaço alcançado e mais intensas forem essas relações, mais importante será o papel exercido pela cidade no conjunto de sua rede urbana. Conforme Amorim Filho e Cortezzi (2012), as relações externas podem ser identificadas a partir de certas variáveis (como fluxos de ônibus, origem dos pacientes atendidos pelo hospital local, intensidades dos fluxos migratórios pendulares, etc.), e/ou a partir do conjunto dessas variáveis (matriz de relações externas). 25

No que diz respeito à evolução do conceito de região, como mostra Michel Rochefort (1961, apud Contel, 2015, p.452) em seus estudos pioneiros, as cidades são pilares da vida de relações que animam as redes urbanas, e o conjunto coeso do funcionamento desta vida de relações entre as cidades é que configura uma ―armadura regional‖ (grifo da autora), ou simplesmente é o que forma as redes urbanas regionais. Para Kayser (1980), ―[...] o conhecimento da rede urbana leva diretamente à compreensão geográfica da situação regional.‖ Cada parcela do espaço geográfico tem um conjunto de cidades funcionando em coesão, e aquelas que possuem uma maior complexidade de oferta de serviços conseqüentemente terá uma zona de influência mais estendida, e constituirá com o centro de comando da região em questão; isto é, seria uma metrópole regional. É importante notar, portanto, que há uma hierarquia entre os centros urbanos, de acordo com o tipo de atividade central que exercem, e que ―[...] daí não se poder estudar uma cidade isoladamente, como forma de atividade: a unidade deverá ser a ‗rede urbana‘‖ (Rochefort, 1961, p. 3). E ao entender a cidade como tal, faz-se importante retomar o termo situação mencionado e explicado anteriormente. A situação tem um valor relativo, pois se refere à ―[...] localização da cidade em relação aos fatos naturais suscetíveis, no passado e no presente, de exercer influência em seu desenvolvimento, o que por sua vez está ligado à facilidade de polarização‖ (Alvim, 2009, p. 38). Algumas cidades têm situação de encruzilhada, o que lhes é favorável, uma vez que lhes garante maior facilidade de circulação. A situação refere-se, portanto, segundo Alvim (2009), às condições gerais do meio em que a cidade se insere, condições físicas e humanas da região da qual faz parte a cidade. Em suma, numa região há cidades e essas funcionam como verdadeiros nós, permitindo a ocorrência de fluxos, que por vezes, podem ser facilitados por sua posição geográfica. Estes fluxos, por sua vez, contribuem para que as atividades urbanas tenham fundamental papel no arranjo destas relações de troca no espaço e, portanto, sobre o desenvolvimento econômico local, regional e nacional.

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2.2 Sistemas, Redes e Funções Urbanas

A rede urbana é formada pelo sistema de cidades, ou seja, refere-se à interligação entre as cidades que se estabelece a partir dos fluxos de pessoas, mercadorias, capitais e informações. Assim, todas as cidades da rede urbana de um país ou do mundo, estabelecem entre si algum tipo de relação, que depende da função que cada cidade possui. Discutir um referencial sobre estes temas, é de fundamental importância para o presente estudo, visto que, é justamente pela variação da oferta de serviços, infraestrutura, potencial econômico, industrialização e demais negócios (funções urbanas), que as cidades de uma rede urbana constituem-se em uma hierarquia, na qual a cidade é mais ou menos atrativa, ou tem mais influência sobre outras, dependendo do papel que ela exerce. Maturana (1972, apud MORIN, 1997) admite sistema como ―todo conjunto definível de componentes‖; Ackoff (1960) como ―a unidade resultando das partes em interação mútua‖. Bertalanffy (1973) define os sistemas como ―um conjunto de elementos em interação‖. Outros autores definiram o que seja sistema, conforme estes citados por Limberger (2006). Saussure (1931) citado por Morin (1997, p. 99), em afirmava um ―sistema como uma totalidade organizada, feita de elementos solidários só podendo ser definidos uns em relação aos outros em função de seu lugar nesta totalidade‖. Sendo assim, o sistema remete à idéia de organização, cujos elementos se articulam dando sua totalidade, e demonstrando ao mesmo tempo uma hierarquia. Considerando que os sistemas funcionam executando processos, visando obter determinadas respostas, Christofoletti (1979, p.10) define o sistema como:

[...] um conjunto de objetos ou atributos de suas relações, que se encontram organizados para executar uma função particular. Dessa forma, dentro desse conceito, o sistema é um operador que em um determinado lapso de tempo recebe a entrada (input) e o transforma em saída (output).

Baseando-se em algumas definições e de acordo com Vale (2012) pode-se pressupor, inicialmente, que os sistemas devem ter suas partes denominadas unidades, elementos ou componentes, as quais devem encontrar-se inter- relacionadas, dependentes umas das outras, através de ligações que permitem os fluxos (figura 1).

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Figura 1 - Representação esquemática de um sistema, assinalando os elementos (A, B, C e D) e suas relações, assim como o evento entrada e o produto final.

Fonte: Christofoletti (1979)

Em outras palavras, os sistemas constituem-se como conjuntos de elementos que se relacionam entre si, com um grau de organização, procurando atingir um objetivo ou uma finalidade. Os sistemas apresentam entrada (input) e saída (output), respectivamente. A entrada é constituída por aquilo que o sistema recebe, ou seja, é o que o sistema importa do meio ambiente para ser processado e cada sistema é alimentado por determinados tipos de entradas. As entradas recebidas pelo sistema sofrem transformações em seu interior, e depois são encaminhadas para fora, e a saída (output) é o resultado final do processamento de um sistema.

[...] as unidades ou elementos que são as partes componentes do sistema possuem atributos ou qualidades que imprimem características a elas e ao sistema. Sendo assim, dependendo do tipo de sistema, podem-se eleger propriedades para melhor descrever as suas partes. A retroalimentação do sistema ou feedback pode ser considerado como a reintrodução de uma saída sob a forma de informação. (LOPES, et al, 2015, p.2)

Segundo Christofoletti (1979), dependendo do sistema, podem ser selecionadas algumas qualidades para melhor descrever suas partes. Os atributos ou qualidades podem referir-se ao comprimento, área, volume, características da composição, densidade dos fenômenos observados, dentre outras.

Praticamente, a totalidade dos sistemas que interessam ao geógrafo não atua de modo isolado, mas funciona dentro de um ambiente e faz parte de um universo maior. Esse conjunto maior, no qual se encontra inserido o sistema particular que se está estudando, pode ser denominado de universo, o qual compreende o conjunto de todos os fenômenos e eventos que, através de suas mudanças e dinamismo, apresentam repercussões no sistema focalizado,e também de todos os fenômenos e eventos que sofrem alterações e mudanças por causa do comportamento do referido sistema particular. (CHRISTOFOLETTI, 1979, p. 3). 28

Dolfuss (1973) ressalta a importância dos sistemas, nas relações entre estruturas de idêntica natureza e classificadas no mesmo nível, ou entre estruturas cuja natureza é diferente, mas que se encontram ligadas por inter-relações, porque é por intermédio dos sistemas, que são permitidas as trocas, transformações e transferências de energias e materiais Segundo Dolfuss (1973, p. 58),

Todo sistema funciona graças à ação de agentes que são os elementos que produzem e provocam os processos. Um processo é uma série de fatos e de operações que apresentam uma certa unidade ou que se reproduzem com uma certa regularidade. Um sistema pode se apresentar sob e aspecto de uma rede percorrida por fluxos. Um sistema exerce uma função, determinada como sendo "a capacidade de acarretar um efeito convencionalmente definido". As funções podem ser contingentes ou então livremente assumidas pelo exercício de uma vontade individual ou coletiva.

A cidade, por exemplo, faz parte de um sistema que integra outro sistema, ou uma rede de cidades, em que sua função é essencial na estruturação e organização da região. As aglomerações urbanas mantêm e reforçam laços de interdependências tanto entre elas, quanto entre elas e as regiões que polarizam dentro de determinado território (IPEA, 2001). Conforme Souza (2003), seja no interior de um país ou em outro continente, nenhuma cidade existe isoladamente, sem trocar informações e bens com outras cidades. Na realidade, todas as cidades de um país se acham de uma forma ou de outra, ligadas no interior de uma rede urbana e interagindo entre si. Segundo Corrêa (1989) mencionado por Ipea (2001), uma característica acentuada da estrutura dos sistemas de cidades é a organização hierarquizada dos centros urbanos, que modifica,principalmente, em razão do tamanho, da qualidade funcional e da extensão da zona de influência espacial dessas aglomerações. Assim, os estudos sobre essa forma de organização territorial tornaram-se importantes no âmbito da geografia, suscitando um desenvolvimento teórico que foi realmente impulsionado pela formalização, nos anos 30, da Teoria dos Lugares Centrais. Atualmente, o conceito de sistema de cidades é também muito usado, por dar um sentido dinâmico às redes urbanas, que se transformam devido às intensas mudanças do sistema produtivo em todas as escalas geográficas. 29

Uma rede urbana compreende, pois, a organização do conjunto das cidades e suas zonas de influência, a partir dos fluxos de bens, pessoas e serviços estabelecidos entre si e com as respectivas áreas rurais, constituindo-se ―em um reflexo social, resultado de complexos e mutáveis processos engendrados por diversos agentes sociais‖ (CORRÊA, 2001, p.424). Conforme o IPEA (1999, p.52), a rede urbana é formada por centros urbanos de dimensões variadas e suas relações dinâmicas, como campos de forças de diferentes magnitudes, que interagem no decorrer do tempo e no espaço. Sua configuração ―é [...] conseqüência de um dado processo de acumulação, mas passa a ser igualmente determinante ao estabelecer requisitos a esse processo‖.

Tais redes não devem ser vistas de forma estanque, separadas dos modos de produção, que lhes garantem a mobilidade dos fluxos. Como aqueles modos de produção contam com agentes geradores e controladores de fluxos, pode-se afirmar que tais agentes acabam por controlar alguns ―locais-nós‖, privilegiados no território, sendo responsáveis pelo desenho e traçado de diversas redes. (IBGE, 2000, p.14)

Carlos (1992) admite que a rede urbana pode ser considerada como forma sócio-espacial de realização do ciclo de exploração da grande cidade sobre o campo e centros menores, onde há relação de inter-relação entre a grande cidade, os pequenos centros e o campo.

A dinâmica dos fenômenos exerce-se no espaço graças as trocas, transformações e transferências, expressas sob forma de fluxos de matérias, de energia, de populações e de bens. As mais das vezes, esses fluxos são ordenados, rituados e canalizados. Sem trocas, sem transformações de energia e de matéria, a Terra seria um planeta morto. (DOLFUSS, 1973, p. 62),

Produzindo o espaço com seus fluxos, as redes abrigam um conjunto de elementos fixos (objetos móveis e imóveis, cada vez mais artificiais, que constituem sua base técnica). Para Santos (1999), os fluxos são sistemas de ações, imbuídos também de artificialidade, numa dialética na qual os ―elementos fixos permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e sociais redefinindo cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo que também se modificam‖. (SANTOS, 1999, p.50). Neste contexto socioespacial do início do século XXI vê-se que ―a sociedade 30

está sendo construída em torno de fluxos: fluxos de capital, de informação, de tecnologia, de interação organizacional, de imagens, sons e símbolos‖ (CASTELLS, 2001, p. 436), que transformam radicalmente os lugares impondo novos conteúdos nas suas articulações com o mundo. Na avaliação de Castells (2001), a rede seria um conjunto de nós interconectados, onde o nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta; o que um nó é depende do tipo de rede que esteja sendo tratada. Para este autor, redes são estruturas abertas capazes de se expandir de forma ilimitada, articulando novos nós, desde que consigam comunicar-se dentro da rede, quer dizer, desde que os mesmos códigos de comunicação sejam compartilhados. Qualquer tipo de fluxo – das mercadorias às informações – pressupõe a existência de redes, cuja primeira propriedade é a capacidade de conexão, de ligação. Assim, o conceito de rede, consagrado e antigo, é recorrentemente acionado, como concorda Moura e Werneck (2001, p.26), dado em que a multiplicação das redes passa a caracterizar as relações de uma sociedade que se organiza sob estratégias de circulação e comunicação, pautadas, cada vez mais, na instantaneidade e simultaneidade.

Fazendo referência aos diversos fluxos que circulam no interior de uma rede, conectando nós e redimensionando a existência da própria rede, Souza considera que: Na rede, o que há é, em termos abstratos e para efeito de representação gráfica, um conjunto de pontos — os nós — conectados entre si por segmentos — arcos — que correspondem aos fluxos que interligam os nós — fluxos de bens, pessoas ou informações — sendo que os arcos podem ainda indicar elementos infra-estruturais presentes no substrato espacial — p. ex., estradas — que viabilizam fisicamente os deslocamentos dos fluxos (SOUZA, 1995, p. 93).

Ainda que a mundialização das redes aparente enfraquecer as fronteiras territoriais, é no lugar que os fragmentos da rede ganham sua dimensão social concreta, evidenciando que a realidade é, ao mesmo tempo, global e local nas redes. ―Seriam incompreensíveis se apenas as enxergássemos a partir de suas manifestações locais ou regionais‖, embora essas dimensões sejam indispensáveis à sua compreensão (SANTOS, 1999, p.214). A rede urbana reflete e reforça as características sociais e econômicas da região e não é algo que surge aleatoriamente, no sentido se ser um conjunto pouco complexo de cidades ligadas entre si por fluxos de pessoas, bens e informações. 31

Na realidade, a rede urbana é resultado da própria história do desenvolvimento econômico do país, pois é por intermédio da rede urbana, tendo-a como base material, que as elites econômicas e políticas fazem a gestão do território (SOUZA, 2003), citada por Silva e Macedo (2009). Ainda segundo Silva e Macedo (2009), na rede urbana brasileira pode-se encontrar centros quase sem centralidade, que influenciam apenas o território do município, até grandes metrópoles regionais e nacionais, que influenciam núcleos urbanos com tamanhos e centralidades variadas. É certo, que, por ser o Brasil um país de dimensões continentais, sua rede urbana guarda uma singular complexidade. Por isso a importância e necessidade de se conhecer e estudar as redes urbanas. Outro autor que contribuiu para o estudo, foi Rocheford (1998), que desenvolveu sua tese com base no setor terciário da economia dos países desenvolvidos, mas que também muito enriquece a discussão. Segundo esse autor, as redes urbanas configuraram-se a partir do momento em que os transportes modernos facilitaram os deslocamentos de relações, elaborados no século XIX, e para caracterizar uma rede, duas categorias devem, de fato, ser colocadas em evidência: determinar os tipos de cidades que a região encerra e discriminar as zonas de influência das cidades grandes e médias, que se constituem como os dois primeiros escalões dessa hierarquia. Numa rede urbana as relações entre cidades podem resultar em vantagens (externalidades) a seus habitantes. As comunicações e a mobilidade laboral podem por sua vez fazer com que as relações sejam mais intensas. As relações entre as cidades se dão de diferentes formas e os fluxos de conhecimento, informação, inversões, turistas e imigrantes se intensificam. (ALVIM, 2009, p. 42) Segundo Boix (2002), tais relações podem ser de dois tipos: de árvore e de rede. No primeiro caso as relações são verticais como propôs Christaller; enquanto no segundo podem ser tanto verticais quanto horizontais. Esse, portanto condiz mais com a realidade, mesmo porque os fluxos são assimétricos e ocorrem não somente entre cidades de diferentes níveis hierárquicos, mas também entre cidades similares. (apud ALVIM, 2009, p.42). Importante ressaltar, em relação à tipologia das redes, estudos pré-existentes, como os de Dematteis (1990) e o de Camagni e Salone (1993), citados por Alvim (2009). 32

O primeiro identifica três tipos de redes: verticais ou de hierarquia determinada, em que as relações são assimétricas e o sistema areal; as multipolares (policêntricas) ou de especialização local estável, em que pode haver ou não a relação de dominação - dependência; e as equipotenciais ou de indiferença localizada, em que as funções se distribuem casualmente. A rede vertical condiz com a proposta por Christaller que identificou a hierarquia de cidades da região sul da Alemanha tomando como variável o número de chamadas telefônicas de uma cidade às demais. (ALVIM, 2009, p. 43)

Corrêa (1968) ao distinguir os tipos de redes o faz reconhecendo que há diferentes estágios de redes urbanas; nos países subdesenvolvidos especialmente, algumas são embrionárias, outras mais complexas como nos países desenvolvidos. De acordo com Alvim (2009), ainda em 1968, porém ao escrever uma das séries da obra ―Subsídios à regionalização‖ do IBGE Corrêa sugere dois tipos de redes: organizadas e desorganizadas. Como organizada o autor considera a região metropolitana em que além da metrópole há alguns centros de segunda ordem (equipados ou super-equipados) e alguns centros de terceira ordem em que o consumo de bens e serviços é elevado e equilibrado espacialmente. Existem também centros de outros níveis hierárquicos, sendo assim, a rede é organizada hierarquicamente. Já as desorganizadas, constituídas por uma metrópole regional sub-equipada e por centros de segunda ordem super-equipados e subequilibrados não contam com a presença de centros de terceira ordem. Já para Santos (1981, 140 -141, apud AMARAL, 2016, p. 42-43), existem três tipos de redes: as Redes Pouco Desenvolvidas, as Redes Heterogêneas e as Redes Vulneráveis. As Redes Pouco Desenvolvidas têm ligações precárias, devido, singularmente as ligações rodoviárias entre as cidades, que afeta o fluxo entre elas. As Heterogêneas não têm ligações com outras redes. Por último, as Redes Vulneráveis, que surgem devido às mutações que elas são submetidas, e tendem a ser vulneráveis, por exemplo, com ―o aparecimento de uma nova rodovia, que desarranja completamente a organização do comércio, por causa da grande debilidade do equipamento‖. (SANTOS, 1981, p. 142 apud AMARAL, 2016, p. 43). A partir do século XIX, observa-se um fenômeno duplo, complementar e concomitante, de diversificação e de intensificação das redes. Conforme Dolfuss (1973, p. 68),

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Surgem novas redes, ao passo que no decorrer dos trinta séculos anteriores a natureza das redes terrestres não tinha sofrido alteração nenhuma. Permitem algumas um transporte mais rápido e maciço de mercadorias e de pessoas (vias férreas, estradas de rodagem, linhas aéreas), enquanto outras veiculam a energia ou as matérias energéticas (linhas elétricas, oleodutos, gasodutos), ou as informações (falada: o telefone; codificada: o telégrafo; pela imagem e pelo som: a televisão). A densidade e a diversidade das redes revelam a organização espacial de uma sociedade.

Ao estudar uma rede, será apropriado avaliaras suas condições de acessibilidade e suas ramificações. Uma rede é considerada acessível quando pode ser utilizada diretamente e é suscetível de receber fluxos; existem ramificações quando existem instalações fixas cuja vazão é lançada na rede. Segundo CORRÊA (1989), a rede pode ser considerada como uma forma espacial através da qual suas funções urbanas se realizam. Trata-se das funções de comercialização de produtos rurais, produção industrial, vendas varejistas, prestação de serviços diretos, entre outras, as quais se reportam aos processos sociais dos quais ―a criação, apropriação e circulação do valor excedente constitui-se no mais importante, ganhando características na estrutura capitalista‖. (apud Oliveira 2005, p. 10911). No tocante às funções urbanas (grifo nosso), é importante ressaltar que trata-se de um conjunto de atividades desempenhadas por uma cidade em sua respectiva rede urbana, que significa sua integração com outras cidades. Quanto mais importante for a função dessa cidade, maior e melhor será a posição dela na hierarquia urbana. As funções urbanas são, então, fundamentais para se hierarquizar os centros urbanos. Dolfuss (1973), sinaliza que as funções se manifestam na maioria das vezes por intermédio dos circuitos e das redes. Seu estudo torna-se então um complemento do estudo do sistema, permitindo avaliar a eficácia e a produtividade. desse sistema, isto é, a relação existente entre a energia e a matéria dispendidas e o efeito obtido num intervalo de tempo determinado. Segundo Beaujeu-Garnier (1997) ―[...] a cidade transforma o espaço onde está implantada, quer diretamente, quer pela influência periférica, positiva ou negativa, que exerce [...]‖. Essa afirmativa condiz com as colocações de Christaller, que chama a atenção para a importância das cidades para seu entorno regional e/ou nacional. A autora fez ainda uma sugestão de classificação das funções urbanas em três grandes grupos: de enriquecimento, de responsabilidade e transmissão. 34

Destaca-se que, dentre as funções de enriquecimento estão aquelas que geram fluxo monetário e têm um caráter cumulativo (ex.: a indústria, o comércio, o turismo e os serviços financeiros). Tais funções, além de serem indissociáveis, dado que mantêm relações diretas também induzem a função residencial. Quanto ao grupo de responsabilidade, Amorim e outros. (2006), ressalta que esse grupo diz respeito àquelas funções que devem ser desempenhadas em todas as cidades, mas que acontece de forma bastante diferente, como: administração, saúde e educação. No terceiro grupo, de transmissão ou difusão, estão todas as atividades relacionadas aos meios de comunicação e transporte. Uma cidade ou um sistema de cidades que compõe uma rede urbana (ou seja, um conjunto de cidades interligadas por relações funcionais, sejam elas ou não hierarquizadas) exercem diversas funções. Dolfuss (1973) traz a contribuição de que essas funções podem ser internas: a residência e o conjunto de serviços postos à disposição dos habitantes ou funções externas: a irradiação comercial bancária cultural industrial, sendo que, no interior da rede, algumas cidades se definem por funções específicas.

O estudo das redes urbanas (aí incluídas as noções de hierarquia, tipologia, posição geográfica e relacionamento das cidades) torna-se cada vez mais necessário nos dias de hoje, sobretudo para conhecimento regional, nacional e mundial, e para qualquer tipo de ação que se queira desenvolver sobe as cidades e as regiões. (AMORIM FILHO, 1990, p. 26).

Logo, é necessário e fundamental, para os estudos urbanos e regionais, que se verifique, além da estrutura da rede urbana e das funções urbanas, a hierarquia de cidades existente na região bem como as áreas de influência destas. Por isso, segue agora a análise de outro tema relevante da Geografia Urbana e Regional, a Hierarquia Urbana, juntamente com a Teoria dos Lugares Centrais.

2.3 Teoria dos Lugares Centrais (TLC) de Christaller e Hierarquia Urbana

Como referenciado anteriormente, as funções urbanas têm papel fundamental no arranjo das relações de troca no espaço e a Teoria dos Lugares Centrais é a principal teoria preocupada com a importância funcional dos lugares (espaços), desenvolvendo um conceito de ―lugar central‖, que conforme Silva (2012), são os pontos do espaço nos quais os agentes econômicos se dirigem para efetivar suas 35

demandas específicas. Estes lugares centrais seriam aqueles mais elevados hierarquicamente, justamente por disporem de maior quantidade de bens e serviços de mais alta especificidade. O estudo sobre estes temas arremata o embasamento teórico proposto pela pesquisa, já que o tema do trabalho está voltado para a centralidade, no sentido da importância de uma cidade em sua região de influência ou região complementar, através da hierarquia das cidades. A teoria das localidades centrais, elaborada pelo alemão Walter Christaller, em 1933, talvez seja a mais famosa e difundida a respeito da hierarquia urbana. Segundo sua proposição, existiriam elementos reguladores sobre número, tamanho e distribuição das cidades. Independente de seus respectivos tamanhos, todo núcleo de povoamento é considerado uma localidade central, equipado de funções centrais. Essas funções seriam as de distribuição de bens e serviços para a população externa à localidade, residente em sua área de mercado ou região de influência. A centralidade de uma localidade seria dada pela importância dos bens e serviços - funções centrais - oferecidos. Quanto maior fosse o número de suas funções, maior seria a centralidade, sua área de influência e o número de pessoas por ela atendido (CHRISTALLER, 1966). Para que exista um lugar central é necessário que esse oferte bens centrais, em conformidade com Alvim (2009, p. 25) ―os lugares centrais de primeira ordem desempenhariam funções centrais atendendo a uma ampla região‖. É a demanda de bens e serviços por parte da população que, conforme a freqüência com que se realiza, torna os lugares distintos entre si. Bens e serviços comprados ou utilizados freqüentemente, presumidamente devem ser oferecidos por centros que apresentem um alcance espacial a partir de uma curta distância, com acessibilidade para um volume reduzido de população, que se localiza em área próxima e que tende a procurar centros alternativos. Ou seja ―um bem comprado freqüentemente implica em sua oferta por numerosos centros localizados a uma distância próxima entre si‖ (IBGE, 1987, p.11); já, bens e serviços de uso menos freqüente caracterizam-se por apresentar alcance espacial maior, resultando em localizações mais distanciadas; e os de uso esporádico e/ou ocasional tendem a uma oferta concentrada em poucos centros, se não em um único centro compondo o papel hierárquico máximo de um sistema urbano. (Moura e Werneck, 2001). Em outras palavras, 36

no que tange às necessidades de bens e serviços, a rede de lugares centrais preconiza que quanto mais elementares e freqüentes forem aqueles, menores são as distâncias percorridas na sua busca. Contudo, quando assumem características de sofisticação e raridade ou escassez, podem ser responsáveis por deslocamentos de vários milhões de indivíduos, cobrindo um raio de milhares de quilômetros quadrados (SIGNOLES, 1973, apud MOURA & WERNECK, 2001).

Segundo Silva e Macedo (2009), o que Christaller buscou compreender foi a dinâmica das cidades, sobretudo as cidades no Sul da Alemanha, país onde ele vivia. Buscou compreender essa dinâmica a partir de conceitos como centralidade, localidade central, região de influência das cidades e polarização. Fundamentou a sua teoria numa relação hierárquica entre os centros urbanos do Sul da Alemanha, quanto ao fluxo de distribuição de bens e serviços das localidades centrais para suas hinterlândias, envolvendo o tamanho, o número e a distancia entre as localidades. Christaller defende que existem princípios gerais que regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: grandes, médias e pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semi-rurais. Christaller considera todas essas localidades, como localidades centrais. Para ele todas as cidades são dotadas de funções centrais, ou seja, atividades econômicas de distribuição de bens e serviços para uma população que reside nos núcleos em que ficam no raio de influência da cidade, ou seja, a centralidade de uma cidade refere-se ao grau de importância de funções centrais em relação à área que ela (cidade) atende. Quanto maior as atividades econômicas oferecidas pela cidade, maior a sua região de influência (CORRÊA, 1989). De acordo com AMARAL (2016), Christaller evidenciou uma série de termos para caracterizar sua teoria, sendo os principais: a região complementar, a centralidade, o alcance de um bem, os princípios de mercado, tráfego e administrativo e os níveis hierárquicos das cidades. A região complementar é onde o lugar central é o centro e ainda, se a região complementar pertence a um lugar central de alta ordem, essa região também será uma região de Alta Ordem (CHRISTALLER, 1966). Essa região influencia diretamente na demanda e no consumo de diferentes tipos de bens centrais, pois dependerá de seu tamanho e de sua formação geográfica (CHRISTALLER, 1966). Nesse sentido, a centralidade de uma cidade é a sua capacidade de ofertar 37

bens e serviços para outros centros urbanos, estabelecendo, assim, uma área de influência. Essa centralidade é de natureza, acima de tudo, econômica. A conexão dos lugares com a localização da atividade econômica mostra a existência de uma região complementar e outra central. É importante ressaltar que os diferentes lugares centrais formam um sistema e uma rede urbana que não são estáticos, nem homogêneos. Dentre os estudos sobre redes urbanas, a maioria refere-se à hierarquia existente entre as cidades. Tais estudos enfocam o número de cidades, suas dimensões, sua distribuição espacial e, principalmente, a natureza das diferenças entre as mesmas. IPEA (2001) A hierarquia urbana refere-se à estrutura de subordinação e organização econômica das cidades e suas redes. Como a própria idéia de hierarquia sugere, trata-se das relações de dependência econômica exercidas por algumas cidades sobre outras, formando uma cadeia mais ou menos definida de cidades dependentes e economicamente interligadas entre si. No pensamento de NUNES (2010), os estudos sobre a hierarquia urbana, tiveram origem nas teorias clássicas dos alemães Christaller e Losch, acerca das conceções de ―lugar central‖ e ―área de mercado‖, em que a cidade central exerce a função de providenciar bens e serviços especializados a centros de menor dimensão, formando um rede urbana hierarquizada, onde ocorre complementaridade entre as cidades (apud SILVA, 2015, p. 53). De acordo com o IPEA (2001), a teoria dos lugares centrais busca explicar a hierarquia da rede urbana, questionando o tamanho, as funções econômicas e a localização das cidades num espaço dado. Esse problema foi abordado por vários pensadores do século XIX (Reynaud, Kohl, Reclus e outros), mas só foi formalizado mais recentemente por Christaller (1966) e Lõsch (1954). Esses estudiosos notaram que existem aglomerações urbanas de todos os tamanhos, dotadas de funções centrais que consistem na produção e na distribuição de bens e serviços. Segundo essa teoria, a localização das atividades básicas induz à organização de um sistema hierarquizado de cidades. Os estudos de hierarquização da rede urbana iniciaram no IBGE em 1966, com vistas à elaboração da nova divisão regional do Brasil (IBGE, 1972). Segundo o IBGE, tiveram como base metodológica as propostas de Rochefort (1961, 1965) e Rochefort e Hautreux (1963) usadas para análises da rede urbana francesa, 38

buscando identificar os centros polarizadores, dimensionar as áreas de influência desses centros e os fluxos realizados nessas áreas. Valiam-se da análise da distribuição de bens (produtos industriais) e serviços (ligados ao capital, administração e direção, educação e saúde, e divulgação). (apud IPARDES, 2009) A existência de uma hierarquia urbana pressupõe a existência de vários tipos de cidades, pois, tanto as redes, como as hierarquias urbanas nascem, de acordo com ROCHEFORT (1998, p.23), quase sempre a partir de um conjunto de cidades antigas, anteriores à Revolução Industrial, que com maior ou menor facilidade adquiriram os serviços e equipamentos e se multiplicaram desde aquela época‖ (apud AMARAL, 2016 p.49) Defontaines (1938) citado por Amaral (2016), no seu estudo sobre o crescimento da rede de cidades brasileiras, pontuou sete tipos de cidades: Cidades Mineradoras, que são criadas pela descoberta de metais, preciosos ou não; Cidades Estradas, pois, os tropeiros necessitam de um local para pouso e conseqüentemente nasceram centros de população; Cidades Águas, desenvolvida são longo de grandes rios, como o Amazonas, São Francisco e Araguaia; Cidades de Estrada de Ferro, no Brasil as primeiras cidades desse tipo nasceram no estado de São Paulo, por exemplo, Marília; Cidades de Trilhos ou Boca do Sertão, é o ponto de entrada para ―locais desabitados do país‖; Cidades de Domingo, que durante a semana seus habitantes estão trabalhando, já no domingo essa cidade é tomada por fiéis para irem à igreja ou fazer comprar nos mercados de domingo; e por último têm-se as cidades de origem Religiosa ou Patrimônio. De acordo com Silva e Macedo (2009, p. 9), os estudos acerca de hierarquia urbana são abundantes no campo da geografia urbana. Essa abordagem visa compreender a natureza da rede urbana segundo a hierarquia dos seus centros. Quase sempre esses estudos derivam de questionamentos acerca do número, tamanho e distribuição das cidades na rede urbana do país. A teoria dos lugares centrais, formulada por Walter Christaller, em 1933, representa a mais importante base teórica sobre a questão da hierarquia urbana. Segundo Ferreira (2008), o contexto histórico e geográfico em que Christaller elaborou sua teoria, deve ser levado em consideração, assim como as possibilidades interpretativas.

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A incorporação do modelo teórico e conceitual para análise atual da rede urbana, exige uma releitura, a consideração da realidade estudada e a apreensão de outros elementos econômicos, políticos e sociais inerentes à cada cidade mesmo pertencendo a um nível hierárquico. Apesar das críticas, a teoria mencionada tem sido tomada como referência para estudos sobretudo de hierarquia urbana, que segundo Correa (2006) são os mais numerosos e tradicionais entre aqueles sobre rede. Atentando para as relevâncias necessárias, como as questões de ordem histórico-social, os aspectos culturais e não menos importante, os físicos, além da não homogeneidade, os estudos de hierarquia urbana contribuem para a caracterização e compreensão dos papéis das cidades na rede (FERREIRA, 2008, p.545).

Em uma hierarquia urbana, há forças de interação entre os centros, que são fomentadas pelas estratégias de desenvolvimento econômico e social adotadas. Esta interação permite pensarmos em redes de cidades, e não apenas em centros isolados. (ALVIM Et al, 2012). Porém, o que pode fazer com que a cidade de Nanuque/MG se destaque em relação a região de Tríplice Fronteira (demais cidades ao seu entorno), na concepção de Christaller, é um conjunto de fatores, tais como: os bens e serviços disponíveis, o grau de aglomeração (tamanho) da população, e a demanda destes pelos habitantes.

2.4 Revisão dos Estudos Precedentes referente à hierarquia urbana na região

Em relação a estudos precedentes referente à hierarquia urbana na região, desde o final dos anos 1970, três classificações das cidades médias de Minas Gerais foram realizadas por Amorim Filho e parceiros, que englobam cidades pertencentes à região de estudo. A primeira dessas classificações resultou de pesquisas e do tratamento de informações geográficas realizados principalmente no Instituto de Geociências da UFMG entre 1974 e 1981, e publicada em 1982. Desta pesquisa pioneira, participaram também João Francisco de Abreu e Maria Elizabeth Taitson Bueno. Entre 1997 e 1999, já na PUC Minas, Amorim Filho e Abreu voltaram a colaborar e foi realizada a segunda classificação das cidades médias de Minas Gerais, desta vez em conexão com o potencial tecnopolitano desse grupo de cidades. Finalmente, em meados de 2006, Amorim Filho, Rigotti e Campos elaboraram a última dessas classificações: Segundo Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007, p.8), estes três estudos são enumerados da seguinte forma: - A classificação pioneira de 1982: com esse estudo foi possível chegar à 40

identificação de pelo menos quatro níveis hierárquicos no interior do grupo das cidades médias: Grandes Centros Regionais; Cidades médias de nível superior; Cidades Médias Propriamente Ditas e Centros Urbanos Emergentes. Quanto ao tratamento computacional dos dados, foi utilizada neste estudo a técnica da Análise de Componentes Principais – ACP. Para essa classificação estatística das 102 cidades, 25 variáveis foram selecionadas, referindo-se aos seguintes parâmetros, conforme Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007, p.8): • crescimento da população urbana; • migrações; • distribuição setorial da população ativa; • arrecadação municipal; • equipamentos e relações dos setores comercial e de serviços; • equipamentos e relações do setor industrial; • infra-estrutura de comunicação em geral; • posição da cidade considerada na rede urbana regional. Essa classificação trouxe uma contribuição fundamental. Tendo por base esses quatro níveis hierárquicos das cidades médias, excluída as cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o trabalho de 1982 chegou aos resultados apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais - 1982

Fonte: Amorim Filho, Taitson Bueno e Abreu (1982)

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Nesta classificação, e dentre as cidades da região de estudo, observa-se destaque para as cidades de Teófilo Otoni/MG e Nanuque/MG, consideradas como Cidades Médias Propriamente Ditas. - A classificação de 1999: A elaboração dessa classificação é significativa, pois, mesmo levando-se em conta que tenha havido alterações em algumas das variáveis utilizadas, ela permite a comparação com o quadro hierárquico produzido em estudo semelhante, dos mesmos autores, publicado em 1982. O quadro 2 retrata os resultados alcançados por esta pesquisa, e nota-se nos níveis 3 e 4, enquanto várias cidades conseguiram manter suas posições hierárquicas nos últimos 20 anos, muitas outras tiveram as respectivas posições alteradas.

Quadro 2 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais - 1999

Um aspecto interessante é que, entre os dois estudos, houve um aumento geral no número de cidades do nível 4 (centros urbanos emergentes), enquanto diminuíram as cidades classificadas no nível 3 (cidades médias propriamente ditas). Para este estudo, foram escolhidas e agrupadas as variáveis em oito indicadores principais, dotados, do ponto de vista teórico, de capacidade de identificar não somente uma hierarquia das cidades médias mineiras, como também de selecionar, entre elas, as que mais condições apresentavam de criar e desenvolver um parque tecnológico. De acordo com Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007, p.14), esses indicadores foram os seguintes: 42

1) população urbana; 2) índice de desenvolvimento humano (IDH); 3) renda familiar per capita média; 4) número de indústrias de ponta; 5) total de eixos rodoviários que convergem para cada cidade; 6) presença de aeroportos; 7) presença e número de cursos superiores. - A classificação de 2006: Os resultados obtidos foram testados, mapeados, colocados em um quadro, como apresentados no quadro 3:

Quadro 3 – Hierarquia das cidades médias de Minas Gerais - 2006

Nota-se que o número de cidades no nível 3, aquele em que se classificam as cidades médias propriamente ditas, permaneceu quase inalterado entre as classificações de 1999 e 2006: diminuiu de 26 para 25. Porém, uma nota importante é feita por Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007):

[...] embora a distribuição geográfica dos centros emergentes venha se mantendo sem grandes alterações geográficas, uma mudança, porém, pode trazer esperança para aqueles que buscam um maior equilíbrio regional no estado: é que na metade norte de Minas Gerais, que dispõe de tão poucas e mal distribuídas cidades médias (, Teófilo Otoni, Paracatu e Unaí), observa-se um aumento importante de centros urbanos emergentes, e isso é um indício de que, talvez, mas próximas hierarquizações das cidades mineiras, o norte de Minas e os vales do e do Mucuri 43

já passem a ter uma rede urbana mais equilibrada do que a da atualidade. Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007, p.17):

Em 1990, Amorim Filho realizou um estudo sobre a rede urbana dos municípios que compõem a bacia do Rio Mucuri. Amorim contemplou em sua pesquisa 15 municípios que se localizam inteiramente na bacia do Rio Mucuri ou que possuem parte de seus territórios municipais inseridos nela. Para melhor compreender a rede urbana da Bacia do Mucuri, Amorim Filho considerou variáveis sócio-econômicas e demográficas distintas, além de correlacionar algumas delas. percebe-se que a hierarquia existente na região não mostrava grandes divergências. O autor concluiu que não havia de fato uma rede urbana na Bacia do Mucuri, e que as relações entre as cidades eram incipientes, relações que se desenvolvessem poderiam gerar uma rede urbana no sentido literal da expressão. Sendo assim, o que a pesquisa permitiu foi diferenciar as cidades conforme seus equipamentos mostrando que algumas delas são sub-equipadas, tendo Teófilo Otoni caracterizada como cidade Primaz, devido à sua superioridade em polarizar funções comerciais e de serviços e destacada pelo autor, Nanuque é caracterizado como centro polarizador no contexto microrregional e Carlos Chagas, como ―Centro Emergente‖. Os primeiros estudos de centralidade e hierarquia da rede urbana brasileira realizados pelo IBGE, integraram a elaboração da nova Divisão Regional do Brasil e tiveram início em 1966. Este projeto resultou, além da Divisão do Brasil em microrregiões homogêneas 1968, publicado em 1970, na Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas, publicado em 1972. O REGIC (Regiões de Influência das Cidades) é uma publicação do IBGE (Instituto Nacional de Geografia Estatística) que tem como objetivo estudar a hierarquia da rede urbana brasileira, com base no fluxo de informações, bens e serviços. De acordo com esta publicação do IBGE (2007), a rede urbana brasileira estava constituída por quatro tipos de centros (e outros tantos subcentros), conforme a sua abrangência na rede urbana, seu porte demográfico e seus relacionamentos (que é o número de vezes que, no questionário da pesquisa, a cidade foi citada como sendo destino dos deslocamentos interurbanos): 1. Metrópoles: composto pelos 12 principais centros urbanos. A principal característica é a extensão territorial e de sua influência direta. É subdividida em 3 níveis: 44

 Grande Metrópole Nacional: Composta apenas por São Paulo, como principal centro urbano no país;

 Metrópole Nacional: Composta por Rio de Janeiro e Brasília que, juntamente com São Paulo, constituem o foco para os centros urbanos do país;  Metrópole: Composta por 10 centros urbanos (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre), com porte e projeção nacional. 2. Capitais Regionais: Composto por 70 centros urbanos, cuja área de influência é no âmbito regional. Estão divididos em três grupos:

 Capital Regional A: Composta por 11 cidades, caracterizadas por serem capitais estaduais (exceto Campinas). A população média destas cidades é de 955 mil habitantes e 487 relacionamentos;  Capital Regional B: Composta por 20 cidades, com população média de 435 mil habitantes e 406 relacionamentos;  Capital Regional C: Composta por 39 cidades, com população média de 250 mil habitantes e 162 relacionamentos. 3. Centros Sub-Regionais: Composto por 139 centros urbanos, caracterizada pela presença de atividades de gestão de baixa complexidade, e cuja relacionamentos com cidades externas à sua rede urbana se resumem às 3 principais metrópoles. A maior parte dos centros urbanos se localizam nas áreas de maior ocupação nas regiões Nordeste e Centro-Sul e nas áreas de menor ocupação nas regiões Norte e Centro-Oeste. Estão divididos em 2 grupos:

 Centro Sub-Regional A: composto por 85 cidades, com população média de 95 mil habitantes e 112 relacionamentos;

 Centro Sub-Regional B: composto por 79 cidades, com população média de 71 mil habitantes e 71 relacionamentos. 4. Centros de Zona: constituído por 556 cidades de pequeno porte, cuja rede urbana é delimitada pelas cidades limítrofes, com atividades de gestão elementares. São divididos em 2 grupos:  Centro de Zona A: composto por 192 cidades, com população média de 45 mil habitantes e 49 relacionamentos;  Centro de Zona B: composto por 364 cidades, com população média de 23 mil habitantes e 16 relacionamentos. 45

Além destes, há ainda os Centros Locais, que são as demais 4.473 cidades brasileiras, com população média inferior a 10 mil habitantes, cuja importância das atividades intraurbanas são limitadas ao próprio município, ou seja, são cidades que não possuem influência em outras. Com a utilização de informações secundárias e registros administrativos, tanto de órgãos estatais quanto de empresas privadas, é possível avaliar níveis de centralidade administrativa, jurídica e econômica. Além disso, tanto para qualificar melhor a centralidade dos núcleos identificados, quanto para garantir a inclusão de centros especializados possivelmente não selecionados por aquele critério, foram realizados estudos complementares (também com base em dados secundários), enfocando diferentes equipamentos e serviços – atividades de comércio e serviços, atividade financeira, ensino superior, serviços de saúde, Internet, redes de televisão aberta, e transporte aéreo. Ao final, foram identificados, e hierarquizados, os núcleos de gestão do território. Na etapa seguinte, foram investigadas ligações entre cidades, de modo a delinear as áreas de influências dos centros, e a esclarecer a articulação das redes no território. Para os centros de gestão do território, estas ligações foram estudadas com base em dados secundários; para as demais cidades, foi realizada pesquisa direta, levantando informações sobre uma ampla gama de relacionamentos. (BRASIL, 2007, p. 129) Outro estudo da mesorregião do Vale do Mucuri, englobando as cidades das microrregiões de Teófilo Otoni e Nanuque, foi realizado por Apolinário (2010), e a hierarquização foi elaborada através do uso da estatística multivariada, mais precisamente do uso da Análise de Componentes Principais, gerando um índice chamado de Índice de Acessibilidade Urbana, o qual assim como no trabalho de Amorim Filho, agrupou as cidades em cinco níveis hierárquicos. Nesta pesquisa, a cidade de Nanuque ocupa, de forma isolada, o segundo nível da hierarquia, estando em um nível abaixo de Teófilo Otoni, mas não podendo ser comparada às cidades do nível hierárquico imediatamente inferior. Teófilo Otoni, por sua vez, encontra-se isolada no topo da hierarquia da mesorregião do Vale do Mucuri, se diferenciando das demais cidades do Vale do Mucuri tanto no aspecto quantitativo, quanto qualitativo de seus serviços. No 3º nível da hierarquia, encontram-se as cidades de Águas Formosas, Carlos Chagas e Malacacheta, e já na base da hierarquia (nível 5), apresentando infra-estrutura de serviços mais elementares da região, aparecem as cidades de Bertópolis, Catuji, Crisólita, Franciscópolis, Frei Gaspar, Fronteira dos 46

Vales, Ouro Verde de Minas, , e . O estudo destes conceitos da geografia neste capítulo e a reflexão sobre eles, principalmente no tocante à centralidade, relacionadas a região e a cidade na região, destacados nesse capítulo, vem de encontro com a proposta deste trabalho, cujo objetivo principal é entender o papel de uma determinada cidade na região a partir da caracterização desta região em questão. Daí vem a necessidade de aplicar todo o arsenal teórico conceitual e técnico para analisar o problema desta pesquisa.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Este capítulo apresenta os métodos e técnicas utilizados para a realização da pesquisa. Para a compreensão do caminho percorrido para sua realização, os aspectos metodológicos foram organizados em três partes. A primeira teórica, em que se abordam as temáticas: região, cidade e situação; sistemas, redes e funções urbanas; Teoria dos Lugares Centrais e hierarquia urbana; e estudos preliminares sobre hierarquia urbana. A segunda em que se explica como foi realizada a coleta de dados e quais foram as fontes consultadas. A terceira, por sua vez, esclarece as técnicas empregadas no tratamento dos dados, bem como a análise estatística e espacial dos mesmos (Quadro 4).

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Quadro 4: Proposta de Fluxograma Metodológico da Dissertação

Fonte: Elaborada pela autora.

3.1 Aspectos teóricos abordados na Pesquisa

A revisão bibliográfica deste estudo possui como temas centrais: região, cidade e situação; sistemas, redes e funções urbanas; Teoria dos Lugares Centrais e hierarquia urbana; bem como estudos anteriores sobre hierarquia urbana. Posteriormente essas temáticas foram analisadas em conjunto, uma vez que, estão diretamente relacionadas. Observa-se, conforme o quadro 5, as principais contribuições teóricas para esta pesquisa, com destaque para os autores que inspiraram este estudo, como Christaller (1966), Dolfuss (1971, 1973), Kayser (1980), Bertalanffy (1973), Amorim Filho (1982), Karl Pearson (1901), Ratzel (1882), Rochefort (1961) e Christofoletti (1979).

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Quadro 5: Principais teóricos que contribuíram para o estudo

TEMAS PRINCIPAIS TEÓRICOS

Dolfuss (1971, 1973), Silva (1972), Correa (1986, 2001), IBGE (1990), Haesbaert (1999), Gomes (2000), Lencioni (2007), IPEA (2002), Alvim (2009), Amorim Filho e Cortezzi (2012), Apolinário (2010), Kayser Região, Cidade e Situação (1980), Vasconcelos (1999), George (1969), Costa e Rocha (2010), Lencioni (2001, 2007), Santos (1996), IPEA (2002), Santos e Silveira (2001) e Rochefort (1961)

Bertalanffy (1973), Dolfuss (1973), Morin (1979), Christofoletti (1979), Amorim Filho (1990) Beaujeu- Garnier (1997), Santos (1999), Moura e Werneck (2001), IPEA (2001), Boix (2002), Limberger (2006), Sistemas, Redes e Funções Urbanas Alvim (2006, 2009), Do Vale (2012), Lopes (2015), Souza (2003), IBGE (2000), Silva e Macedo (2009), Rocheford (1998), Amaral (2016), Correa (1989), Oliveira (2005), Alvim (2006), Correa (2001), IBGE (2000), Castells (2001), Souza (1995)

Christaller (1966), IBGE (1987, 1972), Correa (1989),Moura e Werneck (2001), Silva e Macedo Teoria do Lugar Central (TLC) e a (2009), Alvim (2009), Silva (2012), Rochefort (1998), Hierarquia Urbana Silva (2015), Amaral (2016), IPEA (2001), Nunes (2010), Ipardes (2009), Ferreira (2008), Alvim et al (2012)

Análise de Componentes Principais Karl Pearson (1901), Carvalho (2009), Alencar (2009), (ACP) Alvim et al (2007), Ribeiro et al (2013), Andrade (1989)

Revisão dos Estudos Precedentes Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007), Amorim Filho, referente à hierarquia urbana na Taitson Bueno e Abreu (1982) IBGE (2007), BRASIL região (2007), Apolinário (2010)

Fonte: Elaboração da autora (2018)

É importante ressaltar que o marco teórico da pesquisa transcorre pelo viés da geografia urbana e regional, tendo ainda um aporte geohistórico. Da urbana, pois a pesquisa está pautada nas concepções de: situação; centralidade; hierarquia de cidades; sistema, redes e funções urbanos. Regional por estar vinculada à caracterização da região de estudo, desde sua formação e transformação ao longo dos anos. O aporte geohistórico fica por conta do próprio desenvolvimento da região de estudo, sua exploração econômica de recursos naturais e o perfil socioeconômico que os municípios possuem de acordo com o cenário regional. 49

3.2 Coleta e Fontes de dados

Foram coletados dados de diversas fontes, além da percepção empírica e trabalho de campo realizado na maioria das cidades da região de estudo2, com o objetivo de caracterizar a região e analisar a hierarquia urbana e a centralidade de Nanuque/MG na região de tríplice fronteira. Para a caracterização de Nanuque e região, foram considerados: a) o breve histórico: referencial teórico, cujas referências principais foram Fonseca (1986), Cerqueira Neto e Silva (2001) e Neves (2011), tendo sido ainda consultado o acervo da Prefeitura Municipal de Nanuque, site oficial dos governos estaduais e dados de emancipação dos municípios extraídos do IBGE (1992); ` b) situação geográfica (localização, geomorfologia, região de influência): os dados para essa caracterização foram obtidos em sítios de alguns órgãos governamentais, como o Serviço Geológico do Brasil – CPRM, além de artigos científicos sobre os aspectos enumerados acima. Quanto a descrição do quadro natural de Nanuque/MG e região, os aspectos analisados foram: geológicos, geomorfológicos, climatológicos, entre outros. Quanto a localização, a descrição foi feita com dados coletados em formato SHP (shape), para estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, constituídos dos devidos limites estaduais, microrregionais, municipais, e sedes de município. Essas bases foram obtidas no sítio do IBGE (2010). Outras bases foram buscadas para as representações cartográficas, como com rodovias federais e estaduais, através do site do DNIT (2015), e as bacias hidrográficas da região. c) aspectos demográficos: Para atingir o objetivo de caracterizar e entender a região de estudo quanto à sua dimensão, foram coletados os dados de população total, população por idade e sexo, taxa de urbanização, taxa de envelhecimento, mortalidade infantil, razão de dependência e fecundidade, nos anos de 2000 e 2010, disponibilizados no sítio do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA).

2 A autora reside na cidade de Nanuque desde 1983 e realizou trabalho de campo nas seguintes cidades: (MG) Águas Formosas, Carlos Chagas, Crisólita, , Malacacheta, Nanuque, Novo Oriente de Minas, Pavão, Serra dos Aimorés, Teófilo Otoni; (ES) Barra de São Francisco, Boa Esperança, Conceição da Barra, Ecoporanga, Montanha, , Nova Venécia, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, São Gabriel da Palha; (BA) Alcobaça, Caravelas, Ibirapuã, Itamaraju, Itanhém, Lajedão, , Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro, Prado e Teixeira de Freitas. 50

d) aspectos socioeconômicos: Também com o objetivo de caracterizar e entender a região de estudo, quanto ao potencial econômico, foram coletados os dados, base 2000 e 2010: o Produto Interno Bruto – PIB municipal e suas dimensões: agropecuário, comércio e serviços e industrial; o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM e a sua dimensão: educação, a Renda per capita. O PIB está disponível no sítio do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), o IDHM e a Renda per capita no sítio do Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. e) dados para a Análise Multivariada (ACP3): Para atingir os objetivos do estudo, foi necessária a constituição de um banco de dados dos municípios estudados (tabela 1), e outro contendo dados referentes a 18 (dezoito) variáveis, de maneira que, abranjam as dimensões populacionais, econômicas e principalmente de centralidade, do ano de 2010 (tabela 2). Os dados referentes aos indicadores populacionais e econômicos foram coletados de órgãos de produção estatística, tais como: o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE, a base de dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA DATA, a base de dados da Previdência Social, -o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, o Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA. Quanto aos indicadores de centralidade, os dados foram extraídos da Agência Nacional de Aviação – ANAC, do Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde do Brasil – CNES/DATASUS, do acerto do Banco Central do Brasil, do Ministério da Fazenda, do Ministério do Trabalho e Emprego, e do INEPData/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. O trabalho é sobre a rede urbana desta região, ou seja, as cidades (sedes municipais) são os elementos de estudo. Sendo assim, foram considerados seus equipamentos urbanos, mas alguns dados são disponibilizados apenas para os municípios, tendo sido por isso utilizados.

3 Análises por Componentes Principais – ACP é uma técnica de análise multivariada que pode ser usada para analisar inter-relações entre um grande número de variáveis e explicar essas variáveis em termos de suas dimensões inerentes (Componentes). Neste estudo tem a função de gerar a hierarquia das cidades da região de estudo. 51

Tabela 1 – Relação dos Municípios de Estudo organizados por Estado

N. CÓDIGO ESTADO MUNICÍPIO MICRORREGIÃO

1 2900801 BA Alcobaça Porto Seguro/ BA 2 2906907 BA Caravelas Porto Seguro/ BA 3 2910727 BA Eunápolis Porto Seguro/ BA 4 2911808 BA Guaratinga Porto Seguro/ BA 5 2912806 BA Ibirapuã Porto Seguro/ BA 6 2914653 BA Itabela Porto Seguro/ BA 7 2915304 BA Itagimirim Porto Seguro/ BA 8 2915601 BA Itamarajú Porto Seguro/ BA 9 2916005 BA Itanhém Porto Seguro/ BA 10 2918456 BA Jucuruçu Porto Seguro/ BA 11 2918902 BA Lajedão Porto Seguro/ BA 12 2921104 BA Medeiros Neto Porto Seguro/ BA 13 2922003 BA Mucuri Porto Seguro/ BA 14 2923001 BA Nova Viçosa Porto Seguro/ BA 15 2925303 BA Porto Seguro Porto Seguro/ BA 16 2925501 BA Prado Porto Seguro/ BA 17 2927705 BA Santa Cruz Cabrália Porto Seguro/ BA 18 2931350 BA Teixeira de Freitas Porto Seguro/ BA 19 2933257 BA Vereda Porto Seguro/ BA 20 3200169 ES Água Doce do Norte Barra de São Francisco /ES 21 3200136 ES Águia Branca Nova Venécia /ES 22 3200904 ES Barra de São Francisco Barra de São Francisco /ES 23 3201001 ES Boa Esperança Nova Venécia /ES 24 3115201 ES Conceição da Barra São Mateus /ES 25 3202108 ES Ecoporanga Barra de São Francisco /ES 26 3203056 ES Jaguaré São Mateus /ES 27 3203304 ES Mantenópolis Barra de São Francisco /ES 28 3203502 ES Montanha Montanha /ES 29 3203601 ES Mucurici Montanha /ES 30 3203908 ES Nova Venécia Nova Venécia /ES 31 3204054 ES Pedro Canário São Mateus /ES 32 3204104 ES Pinheiros Montanha /ES 33 3204252 ES Ponto Belo Montanha /ES 34 3204708 ES São Gabriel da Palha Nova Venécia /ES 35 3204906 ES São Mateus São Mateus /ES 36 3205150 ES Vila Pavão Nova Venécia /ES

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N. CÓDIGO ESTADO MUNICÍPIO MICRORREGIÃO

37 3205176 ES Vila Valério Nova Venécia /ES 38 3100906 MG Águas Formosas Nanuque /MG 39 3104700 MG Ataleia Teófilo Otoni /MG 40 3106606 MG Bertópolis Nanuque /MG 41 3113701 MG Carlos Chagas Nanuque /MG 42 3115458 MG Catuji Teófilo Otoni /MG 43 3120151 MG Crisólita Nanuque /MG 44 3126752 MG Franciscópolis Teófilo Otoni /MG 45 3126802 MG Frei Gaspar Teófilo Otoni /MG 46 3127008 MG Nanuque /MG 47 3132305 MG Itaipé Teófilo Otoni /MG 48 3137007 MG Ladainha Teófilo Otoni /MG 49 3138906 MG Machacalis Nanuque /MG 50 3139201 MG Malacacheta Teófilo Otoni /MG 51 3144300 MG Nanuque Nanuque /MG 52 3145356 MG Novo Oriente de Minas Teófilo Otoni /MG 53 3146206 MG Ouro Verde de Minas Teófilo Otoni /MG 54 3148509 MG Pavão Teófilo Otoni /MG 55 3152402 MG Poté Teófilo Otoni /MG 56 3157658 MG Santa Helena de Minas Nanuque /MG 57 3166709 MG Serra dos Aimorés Nanuque /MG 58 3165552 MG Setubinha Teófilo Otoni /MG 59 3168606 MG Teófilo Otoni Teófilo Otoni /MG 60 3170305 MG Umburatiba Nanuque /MG Fonte: Tabulação da autora.

Tabela 2 – Descrição das Variáveis utilizadas na pesquisa ANO- CÓDIGO VARIÁVEIS/INDICADORES DESCRIÇÃO / OBJETIVO FONTE BASE Número de Aeródromos Públicos e Privados autorizados pela ANAC até o ano de 2010 por cidade. / Indicador de 2010 ANAC V1 Número de Aeródromos centralidade que objetiva sinalizar a demanda de trocas financeiras e econômicas através deste tipo de acessibilidade na região. Número de Agências Bancárias em funcionamento em cada Número de Agências cidade da região de estudo./ V2 2010 Indicador de centralidade que BCB Bancárias objetiva sinalizar o potencial financeiro e econômico da cidade. 53

ANO- CÓDIGO VARIÁVEIS/INDICADORES DESCRIÇÃO / OBJETIVO FONTE BASE Quantidade de Instituições de Ensino Superior autorizadas pelo MEC e em funcionamento em Número de cada cidade da região de estudo. / Indicador de centralidade que 2010 INEP/MEC V3 Estabelecimentos de objetiva sinalizar onde existe a Ensino Superior oferta de Ensino Superior e a contribuição para o desenvolvimento educacional na região. Quantidade de alunos matriculados no Ensino Superior, na modalidade Presencial, em Número de Matrículas na cada cidade da região de estudo. V4 Educação Superior 2010 / Indicador de centralidade que INEP/MEC (Ensino Presencial) objetiva medir o tamanho da contribuição educacional das cidades em que existem a oferta do ensino superior. Quantidade de estabelecimentos de Saúde públicos e privados por No. de Estabelecimentos cidade da região, que atendem à V5 2010 comunidade. / Indicador de DATASUS de Saúde centralidade que objetiva sinalizar o potencial de suporte dado à saúde por cada cidade. Número de leitos de internação em Hospitais Públicos e Privados, em diversas especialidades, que atendem cada cidade da região. / 2010 DATASUS V6 Leitos de Internação Indicador de centralidade que objetiva sinalizar o potencial de suporte dado à saúde regional, por cada cidade. Número de empresas atuantes, que geram empregos, em cada Número de Empresas cidade da região de estudo. / V7 2010 Indicador de economia municipal M.T.E Atuantes no Munícipio que objetiva sinalizar o potencial econômico de cada município, pelo comércio local. Percentual de pessoas ocupadas Percentual de População em à população total do V8 2010 Município. / Indicador que M.T.E ocupada objetiva sinalizar o nível de empregabilidade municipal: Quantidade de Benefícios de INSS emitidos pela Previdência RISSM/ Quantidade de Benefícios por cada município da região. / MINISTÉRIO 2010 Indicador que objetiva sinalizar o V9 Emitidos pela Previdência DA potencial econômico da cidade Social. FAZENDA através dos benefícios emitidos de aposentadoria. Produto Interno Bruto a preços correntes (*mil). / Indicador que 2010 IBGE/SIDRA V10 PIB objetiva sinalizar o potencial econômico do município.

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ANO- CÓDIGO VARIÁVEIS/INDICADORES DESCRIÇÃO / OBJETIVO FONTE BASE Impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos a preços Impostos, líquidos de correntes (*mil) por Município da V11 subsídios, sobre produtos 2010 região de estudo. Indicador que IBGE/SIDRA a preços correntes objetiva sinalizar o potencial econômico e o nível de riqueza da região. Valor adicionado bruto a preços correntes total (*mil) por Valor adicionado bruto a Município da região de estudo. V12 2010 IBGE/SIDRA preços correntes total Indicador que objetiva sinalizar o potencial econômico do município. Valor adicionado bruto a preços correntes da agropecuária (*mil) por Município da região de 2010 IBGE/SIDRA V13 PIB - Setor agropecuária estudo. / Indicador que objetiva sinalizar o potencial econômico do município neste setor. Valor adicionado bruto a preços correntes da indústria (*mil) por Município da região de estudo. / 2010 IBGE/SIDRA V14 PIB - Setor Indústria Indicador que objetiva sinalizar o potencial econômico do município neste setor. . Valor adicionado bruto a preços PIB - Setor Serviços, correntes dos serviços, inclusive inclusive administração, administração, saúde e educação públicas e seguridade social 2010 IBGE/SIDRA V15 saúde e educação (*mil) por Município da região de públicas e seguridade estudo. / Indicador que objetiva social sinalizar o potencial econômico do município neste setor. Valor adicionado bruto a preços correntes da administração, PIB - Setor da saúde e educação públicas e administração, saúde e seguridade social (*mil) por V16 2010 IBGE/SIDRA educação públicas e Município da região de estudo. / seguridade social Indicador que objetiva sinalizar o potencial econômico do município neste setor. Demografia de cada município da região. / Indicador populacional V17 População total 2010 que objetiva sinalizar o porte de IBGE cada município em seu aspecto demográfico. Estrutura Municipal: % da população de cada município que possui, em seus domicílios, que % da população em é atendido pelo serviço de energia elétrica. / Indicador que 2010 IPEA V18 domicílios com energia objetiva mostrar a estrutura do elétrica 2010 município, to tocante ao serviço de energia elétrica que é condição para sobrevivência da população. Fonte: Elaboração da autora.

Importante ressaltar que a escolha das variáveis utilizadas foi feita baseando- se na literatura, e também, na disponibilidade de dados. 55

3.3 Tratamento dos Dados

Durante o estudo, realizou-se análise estatística descritiva e análise multivariada dos dados espaciais. Para a proposição da hierarquia urbana recorreu- se à estatística multivariada, mais precisamente a Análise de Componentes Principais (ACP). Nos estudos de hierarquia urbana alguns estudiosos recorrem à esta técnica, e desde 1901 é discutida pelo matemático britânico Karl Pearson4 (1857-1936). De acordo com Hair (2005, apud Carvalho, 2009), a Estatística Multivariada pode ser vista como um conjunto de métodos estatísticos aplicáveis em situações cuja análise envolve um grande número de variáveis aleatórias e inter-relacionadas. Em uma consulta às fontes bibliográficas, pode-se observar que as mais diversas áreas do conhecimento humano têm pedido suporte de técnicas que consigam lidar com esse tipo de situações. De acordo com Carvalho (2009), a necessidade de trabalho com dados psicológicos e do comportamento, provavelmente, foi o que provocou o desenvolvimento e/ou surgimento das técnicas estatísticas para análise de conjuntos de dados mais complexos e amplos.

Os métodos de análise multivariada predominarão no futuro e resultarão em drásticas mudanças na maneira como profissionais de pesquisa pensam em problemas e planejam sua pesquisa. Esses métodos tornam possível levantar questões específicas e precisas de considerável complexidade em cenários naturais. Isso viabiliza a condução de pesquisas teoricamente importantes e a avaliação dos efeitos de variações paramétricas que naturalmente ocorrem no contexto em que elas normalmente aparecem. Dessa maneira, as correlações naturais entre as múltiplas influências de comportamento podem ser preservadas e os efeitos separados dessas influências, estudados estatisticamente sem causar um isolamento comum de qualquer indivíduo ou variável. (Hardyck e Petrinovich apud Hair et al.,2005ª, aput Carvalho, 2009, p. 63)

A análise de componentes principais é uma técnica estatística multivariada que visa transformar um grupo de variáveis correlacionadas em variáveis independentes, denominadas componentes principais. O objetivo da ACP é facilitar a interpretação dos dados. A técnica vem sendo utilizada para inúmeras finalidades

4 Karl Pearson (Londres, 27 de março de 1857 — 27 de abril de 1936) foi um grande contribuidor para o desenvolvimento da estatística. Fundador do Departamento de Estatística Aplicada na University College London em 1911. Foi quem inventou a Análise de Componentes Principais (ACP) ou Principal Component Analysis (PCA), como também é chamada a técnica. 56

na Geografia e em outras disciplinas, geralmente quando existe a necessidade de se agrupar um grande número de variáveis relacionadas a um conjunto de observações simplifica a análise do que se pretende estudar. De acordo com Alencar (2009, p. 31), uma ampla revisão bibliográfica pode ser encontrada em Abreu e Barroso (1980), Marques e Najar (1998), Najar et al. (2002), entre outros, e ressalta que,

É uma técnica que deve ser utilizada para a criação de novas variáveis que sintetizam, agrupam informações de outras. Sua aplicação permite análises mais ricas porque agregam uma maior quantidade de informação. Particularmente na Geografia, quando existe a necessidade de alguma representação por meio de mapas, estes se revelam muito mais representativos. (ALENCAR, 2009, p. 36)

Como citado anteriormente, a ACP sintetiza as informações de um grande número de variáveis em um número reduzido de novas variáveis, denominadas fatores ou componentes. Esses fatores são ortogonais, o que implica na independência linear entre eles e são obtidos via transformações lineares (ALVIM, CARVALHO; OLIVEIRA, 2007). Assim, cada fator (ou componente) será formado pela combinação linear das variáveis originais. Conforme Ribeiro et al (2013), esta técnica (ACP) explora a variância total existente no conjunto de variáveis em estudo, buscando explicar o máximo possível da variância encontrada nos dados originais com utilização de um número reduzido de componentes Andrade (1989) nos sinaliza que esse método tem sido empregado em estudos de análise urbana e regional, com finalidade classificatória de cidades e de regiões, por meio da criação de um índice que permita a hierarquização delas. Além disso, ao se usar a ACP, algumas variáveis originais que contribuírem com pouca informação poderão ser eliminadas reduzindo o conjunto de dados. Os Componentes Principais, que são as novas variáveis geradas, possuem algumas características desejáveis, tais como independência linear entre elas. Devem-se ressaltar também as vantagens de se utilizar a ACP, dentre elas destaca- se o fato de poder fazer uma redução substancial no volume de dados, facilitando a interpretação e análise do problema em estudo. (Ribeiro et al, 2013, P. 87). Permitindo a redução das dimensões, a ACP aparece como ferramenta alternativa para o melhor aproveitamento da informação disponível. A ACP foi útil para construção de índices e realização da classificação das cidades da região em estudo. Essa técnica permitiu reunir 18 variáveis em um 57

conjunto mais sintético, sem perdas significativas para as análises, e podendo, assim, analisar melhor o fato geográfico. Essa técnica permitiu a construção de um índice que será chamado de ―Índice de Centralidade Urbana‖, identificando aquelas cidades que possuem maiores níveis de centralidade e hierarquia, sendo assim, as mais importantes no cenário regional. Em relação à sistematização da técnica ACP, o processo inicia-se com a elaboração de uma matriz de dados brutos, neste caso com 18 colunas (variáveis/atributos) e 60 linhas (municípios). De acordo com Alencar (2009), e adaptado conforme representado na figura 2, na Análise de Componentes Principais, várias etapas são envolvidas.

Figura 2 - Etapas da Análise de Componentes Principais – ACP

Fonte: Barroso, 2003, apud Alencar, 2009, p. 130 (adaptado pelo autor)

Todas as etapas foram seguidas até obter-se o resultado final. Inicialmente, calculou-se a matriz de Correlação, e verificou-se se as variáveis estão correlacionadas. Foi verificado, também, se as variáveis foram medidas em escalas 58

diferentes. Na etapa seguinte, foi decidido pelo número total de componentes que melhor explica o conjunto de variáveis originais. As componentes foram selecionados mediante os autovalores, pelo critério sugerido por KAISER (1960) apud VICINI (2005), que consiste em incluir somente aquelas componentes cujos autovalores sejam superiores a 1. Este critério tende a incluir poucas componentes quando o número de variáveis originais é inferior a vinte e, em geral, utiliza-se aquelas componentes que conseguem sintetizar uma variância acumulada em torno de 70%. Decidido o número de componentes, encontrou-se as cargas fatoriais que compõem as combinações lineares, formando assim novas variáveis. Foram calculados os escores, que foram utilizados para o agrupamento e classificação das observações no âmbito de cada componente principal para a finalidade de hierarquia. Assim, fez-se a hierarquização dos municípios, colocando aquele com maior escore na primeira posição, sugerindo que este apresenta melhor estágio de desenvolvimento, ou seja, promove-se a hierarquização em ordem decrescente dos indicadores. Para a realização de toda essa tarefa, foi utilizado o software R-Studio, e fez- se a opção pelo uso complementar do Excel – versão 2010 como software matemático ou estatístico, para os cálculos, ordenação dos dados e a construção de tabelas, quadros e gráficos. Utilizou-se também, ao longo do estudo, de SIG específicos (ArcGis e QGis), para a confecção de mapas coropléticos e isopléticos, permitindo melhor visualização dos resultados e facilitando as análises a serem feitas.

4. CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA, DEMOGRÁFICA E SÓCIOECONÔMICA DA REGIÃO DE TRÍPLICE FRONTEIRA E HIERARQUIA URBANA

Neste capítulo, como optou-se por uma análise regional, procurou-se analisar de forma geral, vários aspectos da região de estudo, destacando as principais características regionais: geográficas, históricas, demográficas e socioeconômicas.

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4.1 Situação Geográfica da região de estudo

4.1.1 Localização

O recorte espacial deste estudo se refere a uma região de Tríplice Fronteira entre três estados do Brasil, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Esta região de estudo é interessante, por ser uma região altamente capilarizada pelas redes de transportes e por estar na sombra de três grandes regiões metropolitanas (Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador), conforme se pode observar no Mapa 1.

Mapa 1: Localização do Município de Nanuque/MG na Tríplice Fronteira (Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo)

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Sua posição geográfica abrange o Norte do Espírito Santo, Sul da Bahia e Nordeste de Minas Gerais. A região é formada por sete microrregiões, a saber: Barra de São Francisco/ES, Montanha/ES, Nova Venécia/ES, São Mateus/ES, Nanuque/MG, Teófilo Otoni/MG, Porto Seguro/BA, sendo composta por 60 municípios. Importantes rodovias que atravessam seu território a ligando, por exemplo, as grandes metrópoles nacionais (mapa 2).

Mapa 2 – Localização da Área de Estudo (Microrregiões e Municípios)

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Nota-se também no mapa 2, em relação às rodovias, que alguns municípios possuem várias vias de acesso rodoviário, fato esse que pode ser analisado, para diagnosticar se tem a ver com a questão da centralidade que estes exercem na região. É o caso dos Municípios de Nanuque/MG, Teófilo Otoni/MG, Teixeira de Freitas/MG, São Mateus/ES, Barra de São Francisco/ES, Nova Venécia/ES, Ecoporanga/ES e Pinheiros/ES. Em relação às rodovias federais, pode-se destacar na região de estudo, a BR- 418, que é a principal ligação entre o nordeste de Minas Gerais e o litoral sul da Bahia, conhecida como a "Estrada do Boi" ou Rodovia Minas-Bahia. A estrada tem início em Teófilo Otoni, passa por Nanuque em Minas Gerais, encontra-se com a BR-101 (que segue no sentido norte-sul por praticamente todo o litoral leste brasileiro), já no território baiano e termina em Caravelas. É uma rodovia bem movimentada, pois muitos turistas, vindos das regiões Sudeste e Centro-Oeste do país, utilizam a rodovia para ir a Porto Seguro, que é uma das cidades turísticas mais visitadas do Brasil, além de ligar a região sudeste do país, como o estado de Minas Gerais, ao Arquipélago de Abrolhos. Tem-se também a BR 116 Rio-Bahia, que forma um corredor viário que corta o leste e o noroeste de Minas Gerais, permitindo acesso ao Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. Relevante para a economia brasileira, esta estrada serve também de elo entre as regiões Sul e Sudeste do Brasil com o Nordeste.

4.1.2 Caracterização física da região de estudo

Serão consideradas neste tópico, algumas características físicas da região de estudo, são elas: o clima, relevo e hidrografia. Em relação ao clima, o predominante no nordeste de Minas Gerais é o Tropical, onde estão as microrregiões de Nanuque e Teófilo Otoni, apresentando chuvas escassas e as altas temperaturas tornam essas regiões muito suscetíveis à seca (EMBRAPA, 2017). O Norte do Espírito Santo também se enquadra neste tipo de clima. Esta área do nordeste de Minas incluindo também, o sul da Bahia, localiza-se na zona intertropical, e de uma maneira em geral, as regiões tropicais caracterizam- se pela ausência de um inverno rigoroso e pela presença de chuvas concentradas em determinadas épocas do ano. Face à sua situação geográfica, o litoral sul da 62

Bahia e nordeste de Minas Gerais encontram-se sob o regime de chuvas de verão e de seca de inverno. Entretanto, a estação seca de outono-inverno é amenizada pelas precipitações frontais ligadas às advecções de ar polar que, nesta época do ano, atingem freqüentemente a região. O total das precipitações varia entre 2.000 e 1.600 mm/ano. (MARTIN, 2015). Em relação ao relevo, às unidades geomorfológicas (mapa 3), na região de tríplice fronteira, predominam-se as Unidades Patamares dos Rios Jequitinhonha/Mucuri, Planalto dos Rios Jequitinhonha/Mucuri e Tabuleiros Costeiros, e em alguns pontos da região representando porções menores do território, aparecem Planícies Marinhas e Massa Dágua Costeira (leste da região), Planaldo dos Campos das Vertentes (extremo oeste da região). O município de Nanuque está localizado na Unidade Geomorfológica Patamares dos Rios Jequitinhonha e Mucuri (mapa 3). Para Azevedo (1968, p.200 apud Cerqueira Neto e Silva, 2007), a região de Nanuque faz parte do ―Planalto Atlântico do Brasil Sudeste‖, o mais complexo e acidentado dos cinco setores do relevo do Planalto Brasileiro, onde se desdobram as serras e planaltos do Brasil Leste e as grandes escarpas, depressões tectônicas, planaltos em blocos e ―mares de morros‖ do Brasil Sudeste. 63

Mapa 3 – Relevo: Unidades Geomorfológicas da Região de Estudo

Conforme o mapa hipsométrico (mapa 4), nota-se que o relevo da região de estudo apresenta altitudes variando de 0 m (nível do mar) à 1.238 m (mapa 4). No caso de Nanuque, há uma variação de 113 a 348 m, sendo a calha do Rio Mucuri a menor altitude.

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Mapa 4 – Relevo: Hipsometria da Região de Estudo

Em relação à hidrografia da região, a Bacia Hidrográfica do Rio Mucuri encontra-se no Nordeste de Minas Gerais, nas microrregiões de Teófilo Otoni e Nanuque (Vale do Mucuri). Conforme Gomes e Colares (2015, p. 1), esta bacia compreende 13 sedes municipais e apresenta uma área de drenagem de 14.640 km², sendo que mais de 90% desta situa-se em Minas Gerais, segundo informações do IGAM (Instituto Mineiro de Gestão das Águas). Observando ainda o mapa 4, o Rio Mucuri é formado pela junção dos rios Mucuri do Norte e Mucuri do Sul. O primeiro nasce no município de Malacacheta na altitude de 720 m; o segundo nasce no município de Ladainha com altitude de 750 m. 65

Apolinário (2010) pontua que o Rio Mucuri percorre 242 km desde a nascente até Nanuque, onde deixa o Estado de Minas Gerais na cota altimétrica em torno de 90 m. De acordo Fagundes et al (2012), a nascente do Rio Mucuri do Sul está situada na Formação Serra Negra, com paragnaisse rico em intercalações de anfibólio bandado, quartzito e ; é dominantemente constituída por gnaisses; o conjunto é de idade Arqueana. A partir da junção, o rio Mucuri corre até um ponto a jusante de seu cruzamento com a BR-116, de onde passa a correr até sua foz no oceano Atlântico. É importante ressaltar que ele é um dos elementos mais significativos da paisagem da cidade de Nanuque, dentro de uma hidrografia marcada pela itermitência dos seus canais e grande número de cursos d‘água, seja em todo o município ou apenas nos trechos urbanos. (CERQUEIRA NETO, 2007, p. 966) Outros rios são presentes nas cidades do Espírito Santo e Bahia, como o Rio Cricaré (bacia do rio São Mateus), Rio Itaúnas na Bacia do Rio Doce, Rio Itanhem, na Bacia do Rio Itanhem – Bahia, entre outros. Sobre a formação geológica, conforme, Almeida e Hassui (1984), Nanuque faz parte da denominada ―Província da Mantiqueira, cuja característica principal é a predominância de rochas pré-crambrianas (marcada por paisagem de intenso processo de erosão, com exposição de grandes blocos de granito). O município apresenta, ainda, a unidade formação barreira (identificada em áreas limítrofes com os litorais sul e norte, respectivamente, da Bahia e do Espírito Santo). Das rochas de origem Pré-Cambriana, os granitos constituem-se como o mais predominante, aparecendo por toda a paisagem do município de Nanuque e cidades próximas e, de acordo com Cerqueira Neto e Silva (2007),

Num primeiro momento, há o surgimento de grandes blocos de granitos, antes cobertos por camadas de solo e vegetação, e que, no decorrer do tempo, sofrem os processos de desnudação e intemperismo, atenuado principalmente pela ação da água, que carreia o solo superficial e demais variáveis e por fim, aparecem na superfície com grande destaque o que caracteriza a forma sequencial que está sob a regência dos processos intempericos na forma do relevo. (CERQUEIRA NETO E SILVA, 2007, p. 967 E 968).

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4.2 Breve contexto histórico da região de estudo

A região de estudo, conforme citado anteriormente, abrange sete microrregiões entre a tríplice fronteira (Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo). Optou- se, portanto, em retratar um pouco da história, de uma forma mais ampla, das microrregiões, e não especificamente de cada município componente da mesma, com exceção de Nanuque/MG que, por ser foco deste trabalho, posteriormente em outro capítulo, terá sua história detalhada. A microrregião de Porto Seguro é a única microrregião da Bahia, neste estudo, pertencente à mesorregião Sul Baiano e é uma região ―especial‖ no que se refere ao contexto histórico nacional e mundial. É composta pelos municípios: Alcobaça, Caravelas, Eunápolis, Guaratinga, Ibirapuã, Itabela, Itagimirim, Itamaraju, Itanhém, Jucuruçu, Lajedão, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro, Prado, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas e Vereda. Foi a primeira região, que, oficialmente, os navegadores portugueses chegaram ao atual território brasileiro (na cidade de Porto Seguro/BA), remontando, em sua história, o tempo das grandes navegações, quando Portugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras. Como cita Navarro (2005, p. 26), em 22 de abril de 1500, o navegador Pedro Álvares Cabral avistou terra firme, após ter deixado a costa africana um mês antes. O lugar avistado foi o Monte Pascoal, 62 quilômetros ao sul de Porto Seguro. No dia seguinte, os portugueses desembarcaram em terra firme pela primeira vez no atual território brasileiro, num local cujo ponto exato ainda é debatido pelos historiadores. De acordo com Brasil (2008), Pedro Álvares Cabral mandou erguer a Cruz com as armas e divisas reais de Portugal em 1° de maio de1500, iniciando a história de Santa Cruz Cabrália. Registros da época permitem concluir ter havido mais de uma povoação em Santa Cruz. Duas primeiras se sucederam em ambas margens do Mutarí e na parte final do curso. Mas, devido a brevidade desse trecho do rio e a distância de poucos metros de um lado a outro, as duas povoações estariam tão próximas, que se pode admitir com fases no desenvolvimento do mesmo povoado. O território de Santa Cruz Cabrália fazia parte da capitania de Porto Seguro doada a Pero de Campos Tourinho por carta régia de 27 de maio de 1534 e foral de 23 de setembro do mesmo mês e ano. Em 1536 Pero de Campos Tourinho fundou na enseada da baía uma povoação, denominada Vera Cruz, que foi arrasada pelos 67

Aimorés em 1564. Por esse motivo, os habitantes mudaram-se para as margens do Rio Sernampetiba ou Rio João de Tiba, surgindo nova povoação conhecida por Santa Cruz. Logo que foi o país, Bahia começou a ser colonizada, povoada e conquistada principalmente depois da descoberta do pau-brasil no século XVI. Após o pau-brasil, teve início o ciclo da cana-de-açúcar seguida pelo do ouro e diamante. Portugal enviou expedições exploradoras. Conforme fontes do IBGE, a segunda dessas expedições saída do Tejo em 1503, descobriu o arquipélago de Fernando de Noronha, naufragou o navio capitânea da esquadra comandada por Gonçalo Coelho da qual também fazia parte o célebere Américo Vespucci, o ―piloto e marinheiro mais instruído do seu tempo‖. Dali a frota de explorações, como Américo Vespucci e gonçalo Coelho, rumou para o sul, costeou a terra até a latitude de 18 graus, e entrou justamente, no pôrto de Caravelas, onde fundou uma feitoria, que deixou fortificada com 12 peças de artilharia e 24 homens, retornou em seguida para Lisboa. Caravelas foi, assim, descoberta em 1503 por Américo Vespucci ou Gonçalo Coelho. Durante o tempo em que o Brasil esteve dividido em capitanias hereditárias, o atual município de Caravelas pertence ao Porto Seguro, doado a Pero de Campos Tourinho, por Carta régia de 27 de maio de 1534. Sob o Governo-Geral do Brasil nova fase de colonização se inicia no Litoral, importantes penetrações são promovidas em busca de metais e pedras preciosas. A primeira expedição que se embrenha pelo sertão, parte do Pôrto Seguro, em 1553. Compõem-na portuguêses, mamelucos, 'mazambos' e índios tupiniquins, sob a chefia do espanhol Francisco Bruzza Espinoza. A bandeira Espinoza percorreu o Litoral, desde o Jequitinhonha até São Mateus, no Espírito Santo. Foi este o primeiro bandeirante que chegou a Caravelas. Depois dêle, em 1572, Sebastião subiu o rio Doce e retrocedeu ao Litoral pelo vale das Caravelas. Todavia, coube a Antõnio Dias Adôrno, em 1574, - chefe de uma expedição de 150 portugueses e 400 índios que se internou pelo sertão à procura de ouro e da já famosa serra das Esmeraldas - , a primazia de reencontrar Caravelas, embora não se negue a Espinoza contacto anterior, quando iniciou sua entrada aos sertões brasileiros, pelo rio das Caravelas, secundado por Sebastião Fernandes Tourinho. A aldeia foi depois abandonada; mas seus habitantes, por ordem de D. Diogo de Menezes, 9.º Governador-Geral do Brasil, tiveram que regressar às suas residências em 1610, e, assim, Caravelas foi 68

novamente povoada, e definitivamente. (IBGE, 2017) A partir de 1973, com a conclusão da BR-101 e a construção da estrada ligando Porto Seguro a Santa Cruz Cabrália, o cenário do descobrimento, começam a atrair turistas. Destes dois municípios, nasce o município de Eunápolis/BA, que merece destaque também. Conforme dados em site oficial da Prefeitura de Eunápolis (2014), o início de sua povoação se deu nos anos da década de 1950, por ocasião da chegada dos primeiros trabalhadores que chegaram à região para a construção de estradas. O nome do município, situado na confluências das BR‘s 101 e 367, na região Extremo Sul do estado, é uma homenagem ao engenheiro Eunápio Peltier de Queiróz, responsável pela desapropriação de terras ao redor do núcleo de residências que se formava durante a abertura de estradas e que hoje formam parte do centro urbano do município. A partir de uma série de transformações na política do estado, do país e das rotas de comerciantes que tanto favoreceram a posição central da cidade, nasceu a cidade de Teixeira de Freitas/BA. Segundo Rocha (2015), esse local onde se localiza a área urbana da cidade hoje, não passava de uma área coberta pela floresta atlântica, matas e brejos, só possível de alcançar através de trilhas por dentre as matas ou pelos trechos navegáveis do rio Itanhém, também conhecido pela alcunha Alcobaça. Bom, outros municípios foram sendo povoados a partir desta expansão das estradas e em geral, pode-se afirmar que, comumente, as histórias das cidades desta região baiana são constituídas a partir de um processo de disputa de memória (BRESCIANI, 1993). Quanto ao estado do Espírito Santo, a região de estudo engloba quatro microrregiões, situadas na região Noroeste, Litoral e Extremo Norte do Estado, conforme divisão regional administrativa do Espírito Santo (NEVES, 2011 p. 7). Os municípios que compõe esta região são: Água Doce do Norte, Águia Branca, Barra de São Francisco, Boa Esperança, Conceição da Barra, Ecoporanga, Jaguaré, Mantenópolis, Montanha, Mucurici, Nova Venécia, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, São Gabriel da Palha, São Mateus, Vila Pavão e Vila Valério. O Estado do Espírito Santo originou-se da criação de uma capitania doada a Vasco Fernandes Coutinho, fidalgo português que aportou na região em 23 de maio de 1535. Tratava-se de um domingo do Espírito Santo, razão pela qual a capitania recebeu esse nome. 69

Os indígenas que habitavam a região apresentaram muita resistência ao processo colonizatório, recuando para a floresta e iniciando, a partir de então, uma luta de guerrilhas contra os portugueses, que se prolongaria até meados do século seguinte. Além dos índios, os colonizadores tiveram ainda que enfrentar constantes incursões de piratas franceses, holandeses e ingleses na região. A partir do século XVII, com a criação dos primeiros engenhos de açúcar, o interior do Estado começou a ser povoado, desenvolvendo-se a atividade agrícola e o comércio. No início do século XVIII, porém, a economia local entrou em processo de estagnação e a capitania, até então subordinada à Bahia, foi reintegrada à Coroa. Em 1810 adquiriu plena autonomia, passando a ser administrada por um Governador. A economia da região voltou a crescer com a chegada de imigrantes suíços, alemães, holandeses e açorianos, a partir de 1823. (GOVERNO ES, 2017)

Depois de Vasco Fernandes Coutinho, o povoamento do Espírito Santo foi sendo feito aos poucos e pelo litoral, durante aproximadamente 300 anos. A ocupação do interior aconteceu do Sul para o Norte, com mineiros e fluminenses que vinham atraídos pelo café, que começou a ser cultivado depois de 1840. No interior norte, o povoamento começou por Colatina e daí para os outros municípios.

[...] graças aos colonos europeus e aos seus descendentes, numerosas povoações e cidades surgiram no interior do Espírito Santo. Muitas regiões, onde eles se localizam, acabaram se tornando municípios do nosso Estado. Além disso, os europeus, sobretudo os italianos que vieram em grande número, tiveram notável influência com suas famílias numerosas na formação do povo capixaba. (GOVERNO ES, 2017)

No norte do Espírito Santo destaca-se a cidade São Mateus, descoberta e fundada por colonizadores portugueses é o segundo município mais antigo do estado, originalmente, chamava-se Povoado do Cricaré, sendo rebatizado no ano de 1566 pelo padre José de Anchieta, para o nome de São Mateus. Ao pesquisar as origens do povoado de São Mateus nos tempos iniciais da capitania, constatamos que não há informações precisas sobre este assunto, havendo apenas certas hipóteses aventadas por estudiosos da história regional, dentre as quais consideramos como mais provável a que sustenta serem os primeiros povoadores daquela região os colonos portugueses trazidos inicialmente por Vasco Coutinho, donatário da Capitania. Estes, estabelecidos na parte central do território (sede da capitania), após sofrerem diversos ataques dos índios, resolveram se dispersar para outros locais, sendo que uma parcela destes se dirigiu para o extremo norte do estado, dando origem ao núcleo populacional de São Mateus (BITTENCOURT, 1989, p. 27). 70

De acordo com dados de site oficial da Prefeitura de São Mateus (2015), até o final da década de 1930, os meios de transporte de passageiros e mercadorias para toda a região norte do Espírito Santo eram os animais (cavalos e tropas de muares), os pequenos navios que aportavam em São Mateus e o trem de ferro. O movimento no porto de São Mateus era intenso, com os trapiches cheios de mercadorias para exportação. Os armazéns vendiam mercadorias aos moradores locais e aos da vila do interior, como Barra de São Francisco, Nova Venécia, Boa Esperança, Jaguaré, etc, todas ainda pertencentes ao território de São Mateus. Por causa da pouca profundidade e largura do rio, em alguns lugares os navios só podiam entrar ou sair de 15 em 15 dias, nas luas cheias e novas, quando as marés são mais altas. Outro município que merece atenção é o de Nova Venécia. Seu território foi habitado pelos índios aimorés, que, fugindo dos combates com as forças portuguesas, nas proximidades da foz do rio Cricaré, procuraram refúgio nas serras situadas nas cabeceiras daquele rio. A primeira penetração no território efetuou-se em 1870, pelo Major Antônio Rodrigues da Cunha, Barão de Aimorés, quando, em Cachoeira do Cravo. Conforme IBGE (2017), no rio Cricaré, foi tentado a explorar uma serra que dali se avistava. Tangidos pela seca de 1880, vários grupos cearenses reuniram-se aos primeiros colonizadores e, em 1890, chegaram os imigrantes italianos para o vale do rio São Mateus. Em 1893, serra dos Aimorés foi elevada à sede de distrito do município de São Mateus. No ano seguinte, a sede do distrito foi transferida para a Vila Aimoreslândia, que, mais tarde, passou a ser conhecida por Nova Venécia, em razão do número de italianos residentes, vindo de Veneza. A colonização de outros municípios do norte do Espírito Santo, como Montanha, por exemplo, foi dada a partir da vinda de madeireiros da Bahia, internando-se nas matas virgens da região, à procura de madeiras para o comércio, acamparam as margens do córrego Montanha. Por último, tem-se os municípios da tríplice fronteira – Minas Gerais, que pode ser chamada também de mesorregião do Vale do Mucuri5, composta pelas duas microrregiões Teófilo Otoni e Nanuque, município cuja sede de mesmo nome é o foco deste trabalho. A ocupação desta região não é recente, muito pelo contrário, ela

5 O Vale do Mucuri é a denominação de uma das doze mesorregiões do estado brasileiro de Minas Gerais, composta pelas duas microrregiões (Nanuque e Teófilo Otoni). Seu nome é dado ao fato de o vale ser percorrido pelo Rio Mucuri. (IBGE, 2017). 71

se deu por volta do ano de 1554, cinquenta e quatro anos após a chegada oficial dos portugueses ao Brasil. As primeiras incursões eram de caráter basicamente, minerador ou garimpagem e de reconhecimento da região. Vários bandeirantes estiveram na região seguindo o leito do rio em busca de pedras preciosas e ouro, entretanto, a paisagem natural dessa época, como matas densas, e as ações dos nativos selvagens representavam grande obstáculo na fixação dos primeiros colonizadores, preservando assim, ou retardando a modificação do quadro natural desta região do Vale do Mucuri. O processo de povoamento da área iniciou-se com o antigo povoamento de Santa Clara e representou o ponto de partida das expedições que abriram o caminho para a colonização de todo o vale do Mucuri. (FONSECA, 1986, p. 29). Sobre o antigo povoamento de Santa Clara resta apenas, como testemunho desta época, um museu, e onde era o vilarejo, e onde atualmente foi instalada uma hidrelétrica, a UHE Santa Clara, iniciada em 1998. O atual Vale do Mucuri possui pouca história escrita, apesar da sua descoberta ser datada do centenário do ano de 1500, a sua ocupação se dará de maneira por meados do século XIX, o marco desta localidade se destaca pela completa cobertura de grandes árvores da Mata Atlântica e habitadas por nações indígenas violentas, tais como os índios botocudos, que eram canibais, e por isso, era uma região extremamente hostil à colonização branca. De acordo com Carvalho (2006), até o ano de 1889, a Província de Minas Gerais estava dividida em cinco comarcas: Rio das Mortes, Vila Rica, Sabará, Paracatu e Frio. O Vale do Mucuri faz parte desta última comarca, Serro Frio. Segundo Ehrenreich (2014), nas primeiras décadas da ocupação do território pelos brancos, a convivência chegou a ser quase pacífica, dando origem ao assentamento de várias tribos nas regiões do Rio Doce e do Mucuri. Porém, os confrontos nunca cessaram inteiramente. De tempos em tempos, explodiam revoltas e conflitos, quase sempre nascidos de incompreensões recíprocas ou da violência deflagrada, tanto pelos brancos quanto pelos indígenas, os quais os europeus chamavam de ―bárbaros‖. É certo que o francês Marlière e o mineiro Teófilo Benedito Ottoni estiveram empenhados em manter relações pacíficas e mais estáveis com as tribos do médio Rio Doce e do alto Mucuri, mas essas iniciativas não foram capazes de eliminar os desentendimentos e a ameaça da guerra aberta. 72

Os europeus jamais entenderam que eram eles os invasores, enquanto os botocudos sempre se viram como os verdadeiros donos do território. É impossível falar da historia do Vale do Mucuri sem citar uma figura simbólica, o Sr. Teófilo Benedito Ottoni, conhecido simplesmente por Teófilo Ottoni, nome pelo qual se tornou o da cidade mais desenvolvida desta messorregião do Vale do Mucuri. Teófilo Ottoni chegou à foz do rio Mucuri em 1847, à bordo do vapor ―Princesa Imperial‖, na localidade denominada São José do Porto Alegre, que hoje é o município de Mucuri, no estado da Bahia. Após sua chegada, seguiu para a localidade de ―Coroa dos Muris‖ à 90 km de Cachoeira de Santa Clara (atualmente a cidade de Nanuque/MG), para se encontrar com um grupo que vinha de , chefiado por parentes e amigos próximos que se depuseram a ajudá-lo na excursão. Conforme Carvalho (2006), diversas foram as tentativas frustradas, inclusive a morte do irmão e sócio Honório Ottoni, em 1849. Apesar dos problemas, o Sr. Teófilo Ottoni, tinha uma bom trânsito com as autoridades do país e gozava de uma sólida condição financeira, decidindo então, fundar a Companhia de Navegação do Vale do Rio Mucuri, que basicamente apresentava dois objetivos, a saber: · Alargamento da área agrícola do Mucuri · Buscar de uma saída de Minas para o litoral Ainda segundo Carvalho (2006), no ano de 1853, foi fundado um povoado batizado de ―Nova Filadélfia‖, em homenagem ao centro do pensamento liberal Norte Americano. Este povoado estava localizado na confluência do rio ―Todos os Santos‖ com o rio ―Ribeirão Santo Antônio‖. Já em 1857, o centro urbano de Filadélfia já contava com 5.000 pessoas e com uma excelente estrada de ferro para escoar a produção de pedras preciosas e o minério de Minas, bem como os produtos das atividades agropecuárias do sul da Bahia, do Mucuri e do Norte Mineiro, através do porto em Ponta da Baleia (Caravelas) no estado da Bahia. Foi devido à estrada de ferro que ligava 30 léguas entre Cachoeira de Santa Clara (atual município de Nanuque/MG) à Filadélfia (atual município de Teófilo Otoni/MG). De acordo com Amorim Filho (1990), certamente, após a implantação da Estrada de Ferro Bahia - Minas em 1898, que ligava Teófilo Otoni/MG à Caravelas/BA, e de lá, de navio, até o Rio, era consideravelmente mais fácil se alcançar este grande centro nacional e muitos outros centros urbanos de Minas Gerais. 73

No final da década de 40, o que se observou na região é que a rodovia, geralmente tomada como sinônimo de progresso e desenvolvimento, na verdade representou um elemento que expôs a região ao mundo, modificando seu perfil de maneira decisiva. O gráfico 1 traz a relação de todos os municípios da região de tríplice fronteira e seus respectivos anos de emancipação. Com ele, pode-se notar que a maioria dos municípios da região, foi emancipada depois da década de 1940 e antes de 1995, o que gera reflexões acerca do desenvolvimento econômico da região, não sinalizando dinamismo econômico nas últimas duas décadas, para haver desmembramentos. Até o ano de 1900, apenas sete municípios haviam tido sua emancipação, sendo a maioria deles do estado da Bahia (Prado, Porto Seguro, Alcobaça e Caravelas. Teófilo Otoni é o Município mais antigo dentre os da região de estudo pertencente a Minas Gerais, e os demais (Conceição da Barra e São Mateus) do Espírito Santo. Ao fazer a análise temporal dos seus dados socioeconômicos e hierárquicos, comparando com municípios mais antigos, por exemplo, também pode-se levar em consideração esse fator da emancipação, comparando esse histórico com os demais municípios com potencial econômico maior.

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Gráfico 1 – Emancipação dos Municípios da Região de Estudo por ano

Fonte: Elaboração da Autora com dados extraídos do IBGE 75

4.3 Aspectos Demográficos e Socioeconômicos da região de estudo

4.3.1 Demografia

Utilizando-se dados dos censos demográficos dos anos 2000 e 2010 procurou-se fazer uma caracterização demográfica da região, especialmente identificando o tamanho (porte demográfico) dos municípios e o ritmo de crescimento destes no período 2000-2010, bem como a composição da população segundo idade e sexo. Também foram consideradas as taxas de envelhecimento e a mortalidade infantil para a compreensão da região.

Mapa 5 – População dos Municípios da Região de Estudo no ano de 2010 76

Na região de estudo, conforme o mapa 5, observa-se que a população se concentra mais na microrregião de Porto Seguro – Bahia. Quando ao porte demográfico destacam-se, nesta ordem, os municípios de Teixeira de Freitas/BA, Teófilo Otoni/MG, Porto Seguro/BA, São Mateus/ES, Eunápolis/BA e Itamaraju/BA, todos com mais de 63.000 habitantes, no ano de 2010. A população total dos municípios da região de estudo também está representada em formato de tabela. Conforme a tabela 3, além do quantitativo no ano de 2010, pode-se observar o quantitativo populacional no ano de 2000, e assim analisar a evolução em dois momentos temporais.

Tabela 3 – População dos Municípios da Região de Estudo nos anos de 2000 e 2010. População Total Código Municípios Ano 2000 Ano 2010 3200169 Água Doce do Norte (ES) 12751 11771 3100906 Águas Formosas (MG) 17845 18479 3200136 Águia Branca (ES) 9599 9519 2900801 Alcobaça (BA) 20966 21271 3104700 Ataléia (MG) 16747 14455 3200904 Barra de São Francisco (ES) 37597 40649 3106606 Bertópolis (MG) 4436 4498 3201001 Boa Esperança (ES) 13679 14199 2906907 Caravelas (BA) 20103 21414 3113701 Carlos Chagas (MG) 21994 20069 3115458 Catuji (MG) 7332 6708 3115201 Conceição da Barra (ES) 26494 28449 3120151 Crisólita (MG) 5298 6047 3202108 Ecoporanga (ES) 23979 23212 2910727 Eunápolis (BA) 83706 100196 3126752 Franciscópolis (MG) 6426 5800 3126802 Frei Gaspar (MG) 5975 5879 3127008 Fronteira dos Vales (MG) 4902 4687 2911808 Guaratinga (BA) 24319 22165 2912806 Ibirapuã (BA) 7096 7956

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População Total Código Municípios Ano 2000 Ano 2010 2914653 Itabela (BA) 25746 28390 2915304 Itagimirim (BA) 8142 7110 3132305 Itaipé (MG) 10751 11798 2915601 Itamaraju (BA) 63141 63069 2916005 Itanhém (BA) 21735 20216 3203056 Jaguaré (ES) 19539 24678 2918456 Jucuruçu (BA) 12496 10290 3137007 Ladainha (MG) 15832 16994 2918902 Lajedão (BA) 3409 3733 3138906 Machacalis (MG) 6917 6976 3139201 Malacacheta (MG) 19250 18776 3203304 Mantenópolis (ES) 12201 13612 2921104 Medeiros Neto (BA) 20835 21560 3203502 Montanha (ES) 17263 17849 2922003 Mucuri (BA) 28062 36026 3203601 Mucurici (ES) 5900 5655 3144300 Nanuque (MG) 41619 40834 3203908 Nova Venécia (ES) 43015 46031 2923001 Nova Viçosa (BA) 32076 38556 3145356 Novo Oriente de Minas (MG) 9974 10339 3146206 Ouro Verde de Minas (MG) 6223 6016 3148509 Pavão (MG) 8912 8589 3204054 Pedro Canário (ES) 21961 23794 3204104 Pinheiros (ES) 21320 23895 3204252 Ponto Belo (ES) 6263 6979 2925303 Porto Seguro (BA) 95530 126929 3152402 Poté (MG) 14780 15667 2925501 Prado (BA) 27114 27627 2927705 Santa Cruz Cabrália (BA) 23888 26264 3157658 Santa Helena de Minas (MG) 5753 6055 3204708 São Gabriel da Palha (ES) 26588 31859 3204906 São Mateus (ES) 90460 109028

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População Total Código Municípios Ano 2000 Ano 2010 3166709 Serra dos Aimorés (MG) 8182 8412 3165552 Setubinha (MG) 9291 10885 2931350 Teixeira de Freitas (BA) 107486 138341 3168606 Teófilo Otoni (MG) 129424 134745 3170305 Umburatiba (MG) 2872 2705 2933257 Vereda (BA) 7844 6800 3205150 Vila Pavão (ES) 8330 8672 3205176 Vila Valério (ES) 13875 13830 Fonte: Elaboração Própria, com dados extraídos do IBGE

Dentre os sessenta municípios da região de estudo, dezessete tiveram um percentual de crescimento populacional negativo acima de 3% entre os anos de 2000 e 2010 (tabela 4), com destaque para o município de Jucuruçu/BA, com o índice mais alto dentre os demais (17,65%), Ataléia/MG (13,69%), Vereda/BA (13,31%) e Itagimirim/BA (12,68%).

Tabela 4 – Municípios com percentual de crescimento populacional Negativo entre os anos de 2000 e 2010. Percentual de População População crescimento Município total 2000 total 2010 populacional (%) Jucuruçu (BA) 12.496 10.290 -17,65 Ataléia (MG) 16.747 14.455 -13,69 Vereda (BA) 7.844 6.800 -13,31 Itagimirim (BA) 8.142 7.110 -12,68 Franciscópolis (MG) 6.426 5.800 -9,74 Guaratinga (BA) 24.319 22.165 -8,86 Carlos Chagas (MG) 21.994 20.069 -8,75 Catuji (MG) 7.332 6.708 -8,51 Água Doce do Norte (ES) 12.751 11.771 -7,69 Itanhém (BA) 21.735 20.216 -6,99 Umburatiba (MG) 2.872 2.705 -5,81 Fronteira dos Vales (MG) 4.902 4.687 -4,39 Mucurici (ES) 5.900 5.655 -4,15 Pavão (MG) 8.912 8.589 -3,62 Ouro Verde de Minas (MG) 6.223 6.016 -3,33 Ecoporanga (ES) 23.979 23.212 -3,20 Malacacheta (MG) 19.250 18.776 -2,46 Fonte: Elaboração Própria, com dados extraídos do IBGE

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Já os municípios de Nova Viçosa/BA, São Mateus/ES, Jaguaré/ES, Mucuri/BA, Teixeira de Freitas/BA e Porto Seguro/BA apresentaram um percentual de crescimento populacional entre 2000 e 2010 acima de 20%. A melhor taxa de crescimento ficou com a cidade de Porto Seguro/BA, aumentando sua população em 32,87% com relação ao que tinha no ano de 2000. Em relação à taxa de urbanização da região de estudo, a taxa média no ano de 2000 foi de 56,64%, enquanto que no ano de 2010 essa taxa média subiu para 62,24%. Em 2010, essa taxa varia entre 20,28% a 93,44% entre os municípios, mostrando uma diferença significativa entre alguns. De um total de 60 Municípios, 33 estão acima da média e 27 abaixo. Comparando à média da região, alguns municípios possuem taxa de urbanização bem inferior à média regional, apresentando uma população rural ainda bem significativa (mapa 6), abaixo de 30% de taxa de urbanização, como é o caso dos municípios de Vereda/BA (22,27%), Jucuruçu/BA (22,27%), Catuji/MG (25,22%), Ladainha/MG (25,36%) e Setubinha/MG (25,74%). Já os municípios de Teixeira de Freitas/BA, Eunápolis/BA, Pedro Canário/ES e Nanuque/MG, destacam-se por terem taxa de urbanização acima de 90%, bem superior a média da região. Essa taxa de urbanização simboliza um desenvolvimento do comércio e setor de serviços nas cidades, o que está relacionado com a questão da centralidade. Conforme o Censo 2010, realizado pelo IBGE, 84,36% da população brasileira reside no meio urbano. Em relação ao ano de 2000, houve um aumento de 3,2% nessa taxa. A região Sudeste é a mais urbanizada do Brasil, com um grau de urbanização de 92,9%. Depois, têm-se as regiões Centro-Oeste (88,8%), Sul (84,9%), Norte (73,5%) e Nordeste (73,1%). A partir destas informações, conclui-se que apenas cinco municípios da região de estudo estão com taxas de urbanização maiores que a taxa do Brasil (Teixeira de Freitas/BA, Eunápolis/BA, Pedro Canário/ES, Nanuque/MG e Nova Viçosa/BA). Observa-se, conforme mapa 6, que os municípios de Teixeira de Freitas/BA, Teófilo Otoni/MG, Porto Seguro/BA, Eunápolis/ BA, São Mateus/ES, Itamaraju/BA e Nanuque/MG possuem população urbana maior que os demais da região de estudo. Geograficamente pode se afirmar, portanto, a posição estratégica que Nanuque exerce, estando situada no centro de cidades médias da região. 80

Mapa 6 – População Urbana e Rural de 2010 dos municípios da Região de Estudo

Em relação a alguns outros indicadores demográficos, como taxa de envelhecimento e mortalidade infantil, ao analisar os dados do censo 2000 e 2010 da região de estudo, nota-se que a taxa de envelhecimento aumentou em todas os municípios. Alguns municípios possuem uma taxa de envelhecimento acima de 10%, como é o caso de Serra dos Aimorés/MG, Medeiros Neto/BA, Frei Gaspar/MG, Lajedão/BA, Novo Oriente de Minas/MG, Carlos Chagas/MG, Ouro Verde de Minas/MG, Poté/MG, Ataléia/MG, Itanhém/BA, Machacalis/MG, Fronteira dos 81

Vales/MG, e Pavão/MG com o maior índice (11,62%). Em contra partida, os municípios de Porto Seguro/BA e Santa Cruz de Cabrália/BA, possuem menos de 5% a taxa de envelhecimento, no ano de 2010. Outro indicador demográfico importante é a taxa de mortalidade infantil, que sinaliza o número de óbitos de crianças até 1 ano de idade, por 1000 crianças nascidas. Em relação a região de estudo, a mortalidade infantil diminuiu em média 17,02 óbitos a cada 1000 nascidos vivos, do ano de 2000 a 2010, o que é um sinal positivo, visto que melhores condições de saúde refletem neste índice. Em nível de Brasil, a taxa de mortalidade infantil declinou em 47,6% durante a década de 2000, chegando a 2010 com taxa de 15,6/por mil nascidos vivos, o que ainda deixa o país longe dos países desenvolvidos como os da Europa e Japão, onde o índice é de apenas 5/por mil nascidos vivos. O Município de Frei Gaspar/MG foi o que apresentou melhor evolução até 2010, na melhora da mortalidade infantil, diminuindo o seu quantitativo em 28 óbitos/mil nascimentos, mas interessante que este município continua no ano de 2010 com o maior número de óbitos infantis da região, com 27,8/mil nascidos vivos, maior que a taxa estipulada para o país. Os menores indicadores da mortalidade infantil no ano de 2010, ficaram entre os municípios de Novo Oriente de Minas/MG, Crisólita/MG e Água Doce do Norte/ES com números na cada de 13 óbitos/1000 nascidos vivos.

4.3.2 Aspectos Socioeconômicos

Por tratar-se de três estados geograficamente distintos, Nanuque está inserida em uma região em que é possível assegurar que estes possuem também uma realidade territorial, geoeconômica, geopolítica, educacional e social igualmente diferenciada. No tocante aos indicadores socioeconômicos, o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é um relevante indicador para se comparar regiões, visto que é uma medida composta de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O IDH, criado no início da década de 1990 para o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) é:

é uma contribuição para essa busca, e combina três componentes básicos do desenvolvimento humano: a longevidade, que reflete, entre outras coisas, as condições de saúde da população, medida pela 82

esperança de vida ao nascer; a educação, medida por uma combinação da taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos níveis de ensino fundamental, médio e superior; e a renda, medida pelo poder de compra da população, baseado no PIB per capita ajustado ao custo de vida local para torná-lo comparável entre países e regiões, por meio da metodologia conhecida como paridade do poder de compra (SCARPIN, 2007).

O nordeste de Minas Gerais é composto pelo Baixo Jequitinhonha e Baixo Mucuri (microrregiões de Teófilo Otoni/MG e Nanuque/MG) e é considerada uma das regiões mais carentes do Brasil e com baixíssimos IDH (Índices de Desenvolvimento Humano). Já o Índice de Desenvolvimento Humano do estado do Espírito Santo foi 0,740, em 2010, o que situa essa Unidade Federativa (UF) na faixa de Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,700 e 0,799), tendo a longevidade como dimensão que mais contribui para esse IDH alto, e a posição do estado diante do Brasil, ocupando a 7ª posição no ranking das 27 unidades federativas brasileiras segundo o IDHM. Nesse ranking, ressalta-se que o maior IDHM é 0,824 (Distrito Federal) e o menor é 0,631 (Alagoas). Em nível de comparação entre os estados, em relação à Bahia, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) do estado da Bahia é 0,660, em 2010, o que situa essa Unidade Federativa (UF) na faixa de Desenvolvimento Humano Médio (IDHM entre 0,600 e 0,699). No tocante a região de estudo, nas últimas duas décadas, nota-se uma melhora significativa em relação do IDH, conforme mapas 7 e 8 (série de mapas do IDH – 2000 e 2010). Analisando a evolução do IDH, é possível certificar uma evolução em todos os municípios, chegando em 2010 com a região vivendo um quadro totalmente diferente, todos estando acima de 0,500. De acordo com a Organização das Nações Unidas (2003), as faixas de desenvolvimento humano são fixas, sendo: Muito Baixo Desenvolvimento Humano menor que 0,500; Baixo Desenvolvimento Humano entre 0,500 e 0,599; Médio Desenvolvimento Humano entre 0,600 e 0,699; Alto Desenvolvimento Humano entre 0,700 e 0,799; e Muito Alto Desenvolvimento Humano acima de 0,800. 83

Mapa 7 – IDHM da região de estudo – ano 2000

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Mapa 8 – IDHM da região de estudo – ano 2010

Alguns Municípios se destacam na região de estudo, tendo índices considerados altos de IDH (acima de 0,700), como Nanuque/MG, São Mateus/ES, Nova Venécia/ES, São Gabriel da Palha/ES e Teófilo Otoni/MG. Dos 60 Municípios da região, a maioria (39 municípios) estão na zona de IDH médio (entre 0,600 a 0,699), mas ainda sim, tem-se na região 16 municípios com IDH considerado baixo (entre 0,500 a 0,599), mesmo tendo uma mudança de quadro significativa de 2000 para 2010, ainda é preciso avançar mais. A cidade de Catuji/MG ficou com o menor índice de IDH da região de estudo, seguido de Ladainha/MG e Jucuruçu/BA com 85

índice 0,541. Conforme tabela 5, onde estão relacionados os 15 municípios com maiores PIB na região de estudo, observa-se o potencial econômico dos Municípios Eunápolis/BA, Teófilo Otoni/MG, Teixeira de Freitas/BA, São Mateus/ES e Mucuri/BA

Tabela 5 – Relação dos Municípios com maiores PIB na região de estudo - 2010

PIB – 2010 ORDEM MUNICIPIO *mil 1 Eunápolis (BA) 1.285.733 2 Teófilo Otoni (MG) 1.279.773 3 Teixeira de Freitas (BA) 1.268.944 4 São Mateus (ES) 1.188.176 5 Mucuri (BA) 999.139 6 Porto Seguro (BA) 966.600 7 Fronteira dos Vales (MG) 788.127 8 Nova Venécia (ES) 550.086 9 Itamaraju (BA) 507.505 10 Pinheiros (ES) 456.500 11 Barra de São Francisco (ES) 432.800 12 Nanuque (MG) 432.497 13 Jaguaré (ES) 395.934 14 Nova Viçosa (BA) 350.928 15 Prado (BA) 320.782

Fonte: Tabulação da autora. (dados IBGE)

O Município de Eunápolis/BA apresenta o maior PIB da região, situado na microrregião de Porto Seguro/BA, seguido de Teófilo Otoni/MG, Teixeira de Freitas/BA e São Mateus/ES. Ao avaliar os municípios com menores PIB – 2010 nota-se que os três últimos municípios na classificação pelo PIB, são da Microrregião de Nanuque: Bertópolis/MG (R$ 29.027,00*mil); Santa Helena de Minas/MG (R$ 27.575,00*mil) e Umburatiba/MG (R$ 20.365,00*mil). Quanto maior a produção, mais fácil de distribuir essa riqueza. Pensando nisso, quanto maior o PIB, maior será a quantidade de empregos e maior o potencial econômico dos municípios.

4.4. Hierarquia urbana na região: Proposta da pesquisa

Na região de estudo, região de Tríplice Fronteira, há cidades de diferentes níveis hierárquicos, cidades cujas centralidades e funções urbanas as distinguem. 86

Entretanto, o nível hierárquico ocupado pelas cidades pode ser mantido ou alterado ao longo do tempo. Como afirmou Christaller, ao propor a Teoria dos Lugares Centrais, além de analisar a posição hierárquica de uma cidade na região, é necessário verificar igualmente sua região complementar, para assim compreender sua centralidade. Neste trabalho, a hierarquia foi feita a partir da técnica sinalizada na metodologia, a fim de analisar de forma visível a hierarquia urbana da região de estudo, no ano de 2010. A técnica utilizada (ACP) permitiu a construção de um índice que foi chamado de ―Índice de Hierarquia Urbana‖. A partir da seleção das cargas fatoriais mais relevantes e fortes da matriz geral, iniciou-se o processo de hierarquização das cidades (municípios) da região de estudo. Para que não fossem utilizados nessa representação valores negativos, foi realizada uma padronização dos dados fazendo com que todos tivessem valores que variassem de 0,5 a 1. Para essa operação foi utilizada a seguinte formula:

Observa-se na tabela de resultados da ACP (tabela 6), as cidades que ocuparam as quinze primeiras posições hierárquicas em 2010 na região de estudo. Cidades estas que dispõem de centralidade, sendo portanto, lugares centrais na região6. A cidade de Teófilo Otoni/MG destaca-se por ser o lugar central de mais alta ordem hierárquica, que além de ser forte em sua mesorregião, ultrapassa as fronteiras assumindo a alta centralidade em toda a região de estudo. Sua centralidade se deve aos equipamentos urbanos de que dispõe, equipamentos das áreas de educação e saúde por exemplo. Teófilo Otoni dispõe do maior número de estabelecimentos de saúde, do total disponível nesta região de Tríplice Fronteira, e maior número de alunos matriculados em ensino superior presencial. Além disso, a cidade (município) possui o segundo maior PIB da região e o maior PIB no setor de

6 A tabela com a classificação completa da Hierarquia da região de estudo - ano 2010, está disponível neste estudo na seção Apêndice A – Classificação hierárquica da região de estudo em 2010.

87

serviços, sendo apontado como um dos municípios mais populosos.

TABELA 6 – Resultado da ACP – Escores padronizados (2010) Resultado ACP – Município Posição Hierárquica 2010 2010 (dados padronizados) Teófilo Otoni (MG) 1 1,000 Teixeira de Freitas (BA) 2 0,835 Porto Seguro (BA) 3 0,780 São Mateus (ES) 4 0,732 Nanuque (MG) 5 0,723 Eunápolis (BA) 6 0,708 Itamaraju (BA) 7 0,669 Nova Venécia (ES) 8 0,650 Barra de São Francisco (ES) 9 0,645 Prado (BA) 10 0,642 Santa Cruz Cabrália (BA) 11 0,623 Guaratinga (BA) 12 0,615 Novo Oriente de Minas (MG) 13 0,614 Águas Formosas (MG) 14 0,605 Malacacheta (MG) 15 0,604 Fonte: Elaboração da autora.

Interessante que, dentre as cinco cidades que aparecem nos primeiros lugares da hierarquia em 2010, nota-se a presença de cidades dos três estados fronteiriços, como Teixeira de Freitas/BA, Porto Seguro/BA, São Mateus/ES, Nanuque/MG, sendo estas três últimas cidades pólos de suas respectivas microrregiões. Ou seja, além de terem posição relevante na hierarquia urbana, estas cidades comandam suas respectivas microrregiões, sendo também consideradas centrais. Isso quer dizer que as demandas imediatas de diferentes tipos de bens e serviços centrais são supridas, na microrregião ou região complementar, por essas cidades, mas se o bem ou serviço central for de uma alta complexidade, as demandas poderão ser atendidas pela cidade de Teófilo Otoni, que ocupa a posição hierárquica superior aos demais garantindo-lhe uma região complementar mais extensa. Como a centralidade é a importância relativa de um lugar (entende-se cidade) sobre sua região complementar, isto é, tendo a centralidade dada pela oferta de bens e serviços centrais nas cidades na região, observa-se que as cidades que 88

estão em melhores posições hierárquicas, como as citadas, detém grande parte de agências bancárias, aeródromos, estabelecimentos de saúde e de ensino superior, o que contribui para a elevada arrecadação municipal. Nota-se também que as oito cidades que aparecem no topo da classificação hierárquica da região, são consideradas pólos educacionais de ensino superior na região, exercendo grande influência regional no tocante ao desenvolvimento educacional da população local e vizinha. Os municípios cujas sedes são lugares centrais de mais alta ordem, podem ser vistos no Mapa 9.

Mapa 9 – Hierarquia Urbana da região de estudo - 2010

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Ao observar ainda a classificação hierárquica na rede urbana da região de estudo, percebe-se que entre as cidades da Bahia (Mucuri/BA, Lajedão/BA, Ibirapuã/BA, Caravelas/BA) e Minas Gerais (Serra dos Aimorés/MG) com menor índice hierárquico (tabela 7), são sedes municipais de municípios pertencentes à Microrregião de Nanuque ou são vizinhos dele, estando também nas proximidades de Teixeira de Freitas, o que mais uma vez, demonstra estas cidades como pólos para estas outras cidades próximas. As cidades do Espírito Santo que ocupam posição inferior na hierarquia estão situadas ao Sul do estado, e próximas ao centro maior, as cidades de São Mateus/ES e Nova Venécia/ES, ou seja, mais distantes.

TABELA 7 – Resultado da ACP – Escores padronizados (2010)

Resultado ACP - 2010 Município Posição Hierárquica 2010 (Dado Padronizado)

Umburatiba (MG) 49 0,568 Caravelas (BA) 50 0,568 Águia Branca (ES) 51 0,566 Serra dos Aimorés (MG) 52 0,566 Vila Valério (ES) 53 0,565 Vila Pavão (ES) 54 0,564 Ibirapuã (BA) 55 0,560 Jaguaré (ES) 56 0,558 Lajedão (BA) 57 0,553 Pinheiros (ES) 58 0,547 Mucuri (BA) 59 0,531 Fronteira dos Vales (MG) 60 0,500 Fonte: Elaboração da autora.

Por fim, vale fazer menção a outros estudos feitos anteriormente, como é o caso do estudo feito em 2007 pelo IBGE – REGIC (Regiões de Influências das cidades), que conforme tabela 8, observa-se a classificação das cidades da região de estudo.

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Tabela 8 - Hierarquia da rede urbana conforme REGIC (IBGE-2007) TIPOS DE CENTROS CIDADE

Capital Regional C Teófilo Otoni (MG)

Centro Subregional A Teixeira de Freitas (BA), São Mateus (ES)

Centro Subregional B Eunápolis (BA)

Centro de Zona A Nova Venécia (ES), Porto Seguro (BA), Itamaraju (BA)

Águas Formosas (MG), Barra de São Francisco (ES), Centro de Zona B Malacacheta (MG), Nanuque (MG), São Gabriel da Palha (ES)

Água Doce do Norte (ES), Águia Branca (ES), Alcobaça (BA), Ataléia (MG), Bertópolis (MG), Boa Esperança (ES), Caravelas (BA), Carlos Chagas (MG), Catuji (MG), Conceição da Barra (ES), Crisólita (MG), Ecoporanga (ES), Franciscópolis (MG), Frei Gaspar (MG), Fronteira dos Vales (MG), Guaratinga (BA), Ibirapuã (BA), Itabela (BA), Itagimirim (BA), Itaipé (MG), Itanhém (BA), Jaguaré (ES), Jucuruçu (BA), Ladainha (MG), Lajedão Centro Local (BA), Machacalis (MG), Mantenópolis (ES), Medeiros Neto (BA), Montanha (ES), Mucuri (BA), Mucurici (ES), Nova Viçosa (BA), Novo Oriente de Minas (MG), Ouro Verde de Minas (MG), Pavão (MG), Pedro Canário (ES), Pinheiros (ES), Ponto Belo (ES), Poté (MG), Prado (BA), Santa Cruz Cabrália (BA), Santa Helena de Minas (MG), Serra dos Aimorés (MG), Setubinha (MG), Umburatiba (MG), Vereda (BA), Vila Pavão (ES), Vila Valério (ES)

Fonte: Tabulação da autora

Ao analisar a hierarquia do REGIC, observa-se que a cidade deTeófilo Otoni/MG aparece no topo da hierarquia como capital regional, ou seja, tendo maior centralidade no âmbito regional. O mesmo pode-se notar no tocante as cidades que no REGIC aparecem como centro subregionais, como as cidades de Teixeira de Freitas/BA, São Mateus/ES e Eunápolis/BA, mantendo-se na nova hierarquia feita neste estudo, como cidades centrais de alta ordem (2ª, 4ª e 6ª posição hierárquica, respectivamente). Em um terceiro nível pelo REGIC com base nesta região de estudo, se mantém também as classificações dos centros de zona, onde todas as cidades hierarquizadas pelo REGIC em 2007 como tal, aparecem na nova hierarquia, dentro das 15 primeiras posições, exceto São Gabriel da Palha/ES, que aparece em 22ª posição hierárquica, sem grandes alterações, embora, de alguma forma, exerçam certo grau de centralidade. As demais cidades estão classificadas 91

como centros locais, cuja importância das atividades intraurbanas são limitadas ao próprio município, ou seja, são cidades que não possuem influência em outras.

5. O PAPEL DA CIDADE DE NANUQUE/MG NO CONTEXTO REGIONAL

Nanuque/MG é uma cidade em que, ao longo dos anos, observa-se uma alteração no tocante aos equipamentos urbanos disponíveis para atender a região. Sua centralidade não foi estudada por outrem como se procurou fazer neste estudo, numa região de tríplice fronteira, englobando mais dois estados além do que pertence. Neste capítulo, se responderá a pergunta problema desta pesquisa, no tocante ao papel que Nanuque exerce nesta região de tríplice fronteira. Além de enumerar suas características históricas, demográficas, socioeconômicas e físicas, faz-se necessário e fundamental analisar a sua importância na região a partir da hierarquia feita na rede urbana a qual compete.

5.1 Características evidenciadas da cidade de Nanuque/MG no âmbito regional

5.1.1 Aspectos históricos e geográficos

Quanto aos aspectos históricos, segundo os estudos de Cerqueira Neto (2001), no decorrer da pesquisa bibliográfica sobre a história de Nanuque, notou-se há necessidade de uma maior investigação que faça uma ligação entre a colonização do território brasileiro desta região de minas gerais, haja visto, a proximidade entre as da chegada dos portugueses (1500) e a entrada dos primeiros navegantes na foz do rio Mucuri (1554) por onde alcançariam a área onde se localiza a cidade de Nanuque (criado através da lei estadual 336 de 27 de dezembro de 148, tendo a sua homologação em 1° de janeiro de 1949). Nanuque, nome do município de estudo, segundo Cerqueira Neto e Silva (2001), é uma simplificação da designação da tribo indígena Nacknenuck (bugres dos cabelos negros) que habitava a região, mais precisamente, nas nascentes do córrego jacupemba. No decorrer da sua história o povoamento que deu origem a Nanuque recebeu várias denominações: Sete de setembro, uma referência ao córrego de Setembro, que é um afluente do rio mucuri, e que passa na parte urbana 92

da cidade; Caixa D‘água para fornecer água para as locomotivas da Estrada de Forro Bahia-Minas; Presidente Bueno, uma homenagem ao ex-governador do estado de Minas Gerais; Indiana, uma referência aos primeiros moradores, habitantes do local, e Nanuque, nome desde 1948. A área onde hoje é o Município de Nanuque durante muito tempo se caracterizou de zona rica em recursos naturais, isso propiciou aos aventureiros a busca de pedras preciosas, e aos madeireiros, a obtenção de grandes lucros. Os empresários da madeira vieram atraídos pelo valor comercial de alguns exemplares de árvores que o Município possuía em grande quantidade. Aliás, a exploração da vegetação nativa pode ser vista com duas visões diferentes, de um lado a degradação do ambiente , e do outro, a formação e implantação de uma nova comunidade. A grande área de mata atraiu várias serrarias que absorviam grande mão-de-obra local e aqueciam a econômica da região, como visto na figura 3.

Figura 3 – Companhia Madeireira Vindilino Lima, localizada na Margem do Rio Mucuri em Nanuque/MG

Caminhões já carregados em frente a garagem situada à margem direita do Rio Mucuri.

Essas serrarias funcionavam por vapor ou da força braçal. Para se ter uma noção do poderio econômico que a madeira representava para o Município, basta observar os seguintes números:

―em 1960, a madeira gerava cerca de 60% da renda do Município e os alimentos, 12%. A mão-de-obra em quase sua totalidade era voltada para a madeira. Enquanto o Estado de Minas Gerais cresceu 13%¨no ano de 1950, Nanuque cresceu quase 400% neste mesmo ano. Enquanto houve mata, houve riqueza. A madeira deu emprego a muitos operários, em muitas 93

serrarias‖. (Dados contidos no livro ―Nanuque – Nossa Terra, Nossa Gente‖ de Ivan Claret Marques da Fonseca, médico e ambientalista, 1986).

A figura 3 retrata a Garagem da companhia madeireira Vindilino Lima, localizada na margem direita do Rio Mucuri. Posteriormente, se tornou a Avenida Mucuri, onde se encontra o edifício Irmãos Salgado em Nanuque/MG A BRALANDA era a maior fábrica de compensados da América Latina, e tinha seu parque industrial localizado na cidade de Nanuque, como ilustrado na figura 4, e utilizava de suas atividades de extração madeireira no Sul da Bahia e nordeste de Minas Gerais, como uma alternativa para obtenção de matéria prima.

Ela possuía uma enorme estrutura de produção que formava uma rede que começava no arrancar das árvores em mata fechada até os portos onde seguiam tacos, lâminas de compensado para móveis e outros, além de madeira bruta para abastecer principalmente o mercado europeu‖. (CERQUEIRA NETO E SILVA, 2001, p 87).

Figura 4 - Antigo Parque Industrial da Brasil-Holanda S.A. Nanuque

Fonte: Cerqueira Neto, 2001

A empresa também tinha empreendimentos industriais no estado do Espírito Santo, e toda a rede era controlada em um escritório central localizado no Rio de Janeiro, de onde fazia transações comerciais internacionais. Nesta análise sobre o povoamento e suas relações com a natureza, constata- se que o Rio Mucuri, num primeiro momento da história, foi preponderante para o povoamento da área, e a exploração vegetal significou aumento populacional dessa 94

região. Portanto, temos a aí dois agentes da natureza, a água e a vegetação, responsáveis pela ocupação do Município de Nanuque. Conforme citado por Fonseca (1986), em 27/12/1948, pelo artigo 3° da Lei n° 336, o distrito de Nanuque é elevado à categoria de município, que foi instalado no dia 1° de Janeiro de 1949 pelo Sr. Arlindo de Almeida Castro, juiz de paz, no exercício do cargo de Juiz de Direito da Comarca de Carlos Chagas. O primeiro prefeito foi empossado a 2 de Abril de 1949, o Sr. Franz Schapper. Em relação aos distritos, o município de Nanuque possuía dois: o sede e o de Serra dos Aimorés, que em 30/12/1962 alcançou autonomia municipal, oficializada em 1° de maio de 1963. Houve retificação de Divisas do Município de Nanuque, comprovando-se que o Distrito de Vila Pereira, pela Lei n° 663, de 25 de Novembro de 1953, pertencia ao município de Nanuque e não ao município de Carlos Chagas. Atualmente, Nanuque dispõe de uma área de 1.542,97 Km2 e conta com o Distrito- sede, o de Vila Pereira e com o povoado de Gabriel Rezende Passos criado pela Lei Municipal n° 273, de 18/12/1963, e assim denominado pela Lei Municipal n° 315 de 2 de Julho de 1965. (As Denominações, 1993). Em relação ao seu aspecto geográfico, o Município de Nanuque possui uma área de 1.542,97 Km2 e está localizado na mesorregião mineira do Vale do Mucuri, pertencente a microrregião de Nanuque, que é sede. Tem sua posição geográfica determinada pelo paralelo 17o e 49‘12‖ de latitude sul e pelo meridiano 40o e 20‘30‖ e a altitude varia entre 120m a 320m, entretanto, sendo o ponto mais alto do município na Pedra do Fritz. (Nanuque/MG - Site oficial, 2017). Em relação às suas características físicas, em Nanuque/MG, é predominante o clima tropical úmido, que é fortemente influenciado pelos ventos oceânicos, tornando assim o clima úmido durante todo o ano. O Município de Nanuque/MG está situado ao nordeste do Estado e tem, dentro do território mineiro, uma posição geográfica de caráter estratégico, pois, possui fronteiras com os Estados da Bahia e do Espírito Santo, estando na porção central desta região de tríplice fronteira e ao mesmo tempo, ela estaria em uma área de junção das cidades médias da região, sendo rota para o litoral sul do estado da Bahia pela rodovia federal BR-418 e para o litoral norte do estado do Espírito Santo pela rodovia estadual LMG-719, conforme sinalizado anteriormente, como item importante de justificativa deste trabalho. É considerada pela ANTT (2007) o 9ª do Estado de Minas Gerais com o maior fluxo rodoviário e o 47ª em relação ao país. 95

Possui portanto, importante entroncamento rodoviário. A situação de Nanuque, em termos humanos e físicos, correlacionando com a tabela 9 (matriz de distâncias das cidades da região com relação à Nanuque) e a tabela 4 (fluxo diário de transportes rodoviários da região com destino à Nanuque/MG), geram outras reflexões importantes sobre estas relações intermunicipais e podem ajudar na interpretação dos resultados neste trabalho. Observa-se que Nanuque/MG está em média, cerca de 150 km de distância, por rodovias, das cidades polos das microrregiões vizinhas, exceto Porto Seguro/BA, que está a 327 km, o que contribui para as cidades não terem um fluxo diário de transporte. Por ser litoral, Porto Seguro/BA possui funções urbanas bem atrativas para todos da região, como por exemplo, relacionadas ao lazer. Na Bahia, pode-se citar a cidade de Teixeira de Freitas, como uma referência microrregional, inclusive, recebendo diariamente, alunos para acesso ao ensino superior e internações em leitos particulares para tratamento de saúde, devido à proximidade de 108 km.

Tabela 9 – Matriz de Distâncias (por rodovias) – Nanuque/MG x Região de Estudo

*Cidade Pólo de sua microrregião.

Fonte: Elaboração da autora.

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Em uma pesquisa7 feita junto às empresas de transporte na rodoviária de Nanuque/MG, detectou-se que algumas rotas foram designadas para outras cidades devido ao pouco fluxo de passageiros, como, por exemplo, a linha Nanuque/MG x Ponto Belo/ES, não existindo mais acesso direto. O passageiro, neste caso, deve se deslocar até a cidade de Montanha/MG, e de lá pegar um ônibus para Nanuque. O mesmo aconteceu com destinos como Machacalis/MG, Águas Formosas/MG e Crisólita/MG, onde os passageiros precisam se deslocar para Carlos Chagas/MG ou Teófilo Otoni/MG e seguir o trajeto até Nanuque. Observa-se que existem diariamente, mais de dez linhas entre Nanuque e as cidades de Carlos Chagas, Serra dos Aimorés, Teófilo Otoni, em Minas Gerais, e Nova Viçosa (BR Posto da Mata) e Teixeira de Freitas na Bahia (tabela 10). Para as cidades do Espírito Santo, a que possui mais fluxo diário é a cidade de Pedro Canário. Como Carlos Chagas, fica entre Nanuque e Teófilo Otoni, cidade pólo da mesorregião do Vale do Mucuri, justifica bem esse número de linhas diárias. Na Bahia, Teixeira de Freitas marca um elo nos eixos rodoviários, conforme é observado no mapa 2, e a BR 101 marca esse acesso à cidade de Nova Viçosa, dando acesso às demais cidades do estado, e servindo como ponte para a chegada em Nanuque e proximidades. Poucos são os transportes diários para as cidades do Espírito Santo, o que pode ser decorrente de relações fracas entre os municípios e não dependerem de Nanuque diretamente, fato esse que pode ser discutido melhor a partir da hierarquia das cidades.

Tabela 10 – Fluxo Rodoviário tendo Nanuque/MG como destino (a partir das cidades da região de estudo)

QUAN CIDADE ORIGEM VIAÇÃO OBSERVAÇÕES T. / DIA

Boa Esperança (ES) ÁGUIA BRANCA 2 Origem: Nova Venécia Montanha (ES) ÁGUIA BRANCA 2 Origem: Nova Venécia Nova Venécia (ES) ÁGUIA BRANCA 2 Pedro Canário (ES) ÁGUIA BRANCA 6 Origem: São Mateus, Vitoria Pinheiros (ES) ÁGUIA BRANCA 2 Origem: Nova Venécia São Mateus (ES) ÁGUIA BRANCA 3

7 Pesquisa feita pela autora em novembro de 2017, onde foi feito um questionário e através de entrevista aos atendentes dos guichês das companhias de transporte rodoviário, obtiveram-se os dados. 97

QUAN CIDADE ORIGEM VIAÇÃO OBSERVAÇÕES T. / DIA

Origem: Belo Horizonte, Juiz de For a, Carlos Chagas (MG) GONTIJO / RIO DOCE 16 Governador Valadares e Teofilo Otoni, Carlos Chagas ÁGUIA BRANCA / Serra dos Aimorés SANTA CLARA / Origem: São Mateus, Ibirapua, 14 (MG) EXPRESSO Teixeira de Freitas, Nova Viçosa BRASILEIRO GONTIJO / RIO DOCE / Origem: Belo Horizonte, Juiz de For a, Teófilo Otoni (MG) SÃO GERALDO / 16 Governador Valadares e Teofilo Otoni KAISSARA Alcobaça (BA) SÃO GERALDO 1 EXPRESSO Eunápolis (BA) 1 Origem: Ilheús BRASILEIRO Eunápolis (BA) SÃO GERALDO 1 Origem: Belo Horizonte. Ibirapuã (BA) SANTA CLARA 1 EXPRESSO Itabela (BA) BRASILEIRO / SÃO 2 Origem: Ilheús e Belo Horizonte GERALDO EXPRESSO Itamaraju (BA) BRASILEIRO / SAO 2 Origem: Ilheús E Belo Horizonte GERALDO Lajedão (BA) SANTA CLARA 3 Origem: itupeva e Teixeira de Freitas Medeiros Neto (BA) SANTA CLARA 2 Origem:Teixeira de Freitas Mucuri (BA) SANTA CLARA 4 Origem:Nova Viçosa Nova Viçosa (BA) SANTA CLARA 4 Posto da Mata (BA) Origem: Vitória, Teixeira de Freitas, BR – Distrito de Nova ÁGUIA BRANCA 16 Nova Viçosa, Ihéus, Alcobaça, Belo Viçosa/BA Horizonte Porto Seguro (BA) SÃO GERALDO 1 Origem: Belo Horizonte. SANTA CLARA / Teixeira de Freitas EXPRESSO Origem: Teixeira de Freitas, Ihéus, 11 (BA) BRASILEIRO / SAO Alcobaça e Belo Horizonte GERALDO Fonte: Elaboração da autora.

5.1.2 Aspectos demográficos, sociais e econômicos

O Município de Nanuque possui uma população de 40.834 pessoas, conforme dados do IBGE em 2010, estando em 1º lugar em sua microrregião. Comparado ao ano de 2000, houve um percentual de crescimento populacional negativo, ou seja, sua população diminuiu em 1,89%, ficando na posição de 43º quando compara com os demais municípios da região de estudo. 98

Em relação a distribuição da população por sexo, observa-se que a diferença entre os sexos feminino e masculino do Município de Nanuque pode ser vista em quase todas as faixas etárias, com maior concentração do sexo feminino, mais acentuada na faixa de 80 ou mais de idade. Em relação a taxa de envelhecimento, a taxa da região é 8,44%, ficando o Município de Nanuque acima da média regional. Observa-se através da figura 6, que ao longo dos anos, o Município de Nanuque aumentou a taxa de envelhecimento, e com isso, diminuiu a taxa de razão de dependência, que é a participação da população dependente em relação à população potencialmente ativa, com 14 anos ou menos, e de 65 anos ou mais de idade.

Figura 5 – Estrutura da População de Nanuque segundo sexo e idade - 2010

Fonte: Elaboração da autora. IBGE

Fonte: Tabulação da autora. (IBGE)

Observa-se também, na figura 6, que Nanuque/MG melhorou sua taxa de mortalidade infantil, passando de 44,4 em 1991 para 16,1 em 2010 (por mil nascidos vivos).

99

Figura 6 – Indicadores Demográficos 1991-2010: Taxas de Envelhecimento e Mortalidade Infantil

No tocante ao IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, pode- se notar que, conforme quadro 6, Nanuque/MG chegou no ano de 2010, com um IDH considerado alto, ficando na posição 220 do estado de Minas Gerais.

Quadro 6 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) – 2010 Município de Nanuque/MG

Fonte: IBGE

Para melhor visualização da evolução do IDH do Município de Nanuque, observa-se o quadro 7. Entre os anos de 1991 e 2000, houve uma taxa de crescimento de 32,2%, já entre os anos de 2000 a 2010, esse crescimento foi de 100

17,6%, tendo assim uma taxa de crescimento total ao longo destas três décadas, de 55, 4% no IDH Municipal. O mais importante é que o Município de Nanuque mudou de nível, saindo de um nível muito baixo em 1991, para um nível baixo em 2000 e saltando para o nível alto em 2010.

Quadro 7 – Evolução do IDH – Município de Nanuque/MG | 1991 - 2010

Fonte: PNUD, IBGE

Nesse período, a dimensão cujo índice mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,178), seguida por Longevidade e por Renda. Ao verificar os dados do IBGE no tocante ao PIB e conforme sinalizado anteriormente na tabela 6, onde estão relacionados os 15 (quinze) municípios com maiores PIB na região de estudo, dos 60 municípios pertencentes a região de estudo, Nanuque aparece na classificação, em 12º. lugar. Em um raio de 90 Km, Nanuque é a cidade que tem o melhor PIB no ano de 2000, em torno de R$ 133.541,00 (*mil). Segundo o relatório do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) é preciso que este crescimento seja transformado em conquistas concretas para as pessoas: crianças mais saudáveis, educação universal e de qualidade, ampliação da participação política dos cidadãos, preservação ambiental, equilíbrio da renda e das oportunidades entre todas as pessoas, maior liberdade de expressão, entre outras. Em 2010, o PIB bruto a preços correntes chegou ao valor de R$ 432.497,00 (*mil).

101

De acordo com o Censo do IBGE (2010), quanto a renda per capita, Nanuque e região tiveram uma melhoria significante, tendo sua renda (Nanuque/MG) em 2000 o equivalente a R$ 451,81 e em 2010 ficando em aproximadamente R$ 505,55 reais. Nota-se que a renda per capita crescente é um importante item para mensuração do crescimento regional. Atualmente, Nanuque possui três atividades econômicas principais, pecuária, produção de madeira e atividade sucroalcoleira. A atividade agropastoril tem sido a principal fonte de renda a décadas, calcula-se que o rebanho bovino do município de Nanuque ultrapassa as 150.000 cabeças e na microrregião, as estimativas ultrapassam as 800 mil unidades, face a aptidão para pecuária ostensiva. Localiza- se na cidade, um frigorífico que abate em torno de 700 animais/dia e exporta carne inatura para países da União Européia, Ásia, Oriente Médio, America do Norte e America do Sul. Este frigorífico, com receita líquida em 2015 de aproximadamente R$ 942 milhões, e suas exportações representando 33% das vendas totais, emprega mais de 1.000 funcionários diretos, desde sua implantação, e por isso tem contribuído com o desenvolvimento socioeconômico da cidade de Nanuque e Região, visto que possui outras duas filiais ainda na região de estudo: Colatina/ES e Teixeira de Freitas/BA. A partir da década de 80, foram instaladas na região, diversas empresas com aptidão a produção sucroalcooleira. No torno de Nanuque, por exemplo, existem as seguintes empresas no setor: DASA, distante cerca de 15 Km, no vizinho município de Serra dos Aimorés; ALCON a 40Km (mun. de Pedro Canário); IBIRÁLCOOL (BA), a 40Km de Nanuque, que juntas são mais de 2000 funcionários diretos. O plantio do eucalipto, destinado às indústrias de celulose e papel que cultivam florestas em grandes extensões de terra na região, e a cultura do mamão, fruto cada vez mais apreciado no Brasil e no exterior. As terras pertencentes ao Município de Nanuque integram a área de atuação de empresas produtoras de celulose e papel, como a Aracruz (ES) e a Suzano Bahia Sul (BA), esta última no vizinho município de Mucuri, que juntas, ultrapassam os 6000 empregos diretos. Fato este que contribui para o PIB do município de Mucuri ficar entre os cinco melhores da região de estudo.

102

5.2 Análise da posição de Nanuque/MG na hierarquia urbana da região, no ano de 2010

Após analisar a classificação hierárquica das cidades que compõem a rede urbana da região de estudo, fica mais evidente a centralidade de Nanuque/MG devido a suas funções urbanas. Na região de estudo, constituída por 60 cidades, Nanuque ocupou em 2010 a 5ª posição na hierarquia urbana da região de tríplice fronteira. A posição de Nanuque deve-se em grande parte ao serviço central – Ensino Superior – que lhe garante área complementar que extrapola as fronteiras estaduais, estando em 3º lugar no tocante a oferta de equipamentos de ensino superior na região, mas, mais relevante que isso, é que na cidade, as Instituições de Ensino Superior atuantes no ano de 2010, recebiam e, ainda recebem, diariamente metade de seus alunos vindos de outras cidades, que por informação do acervo das Instituições UNEC (Centro Universitário de Caratinga – Campus Nanuque/MG) e FANAN (Faculdade de Nanuque), são pessoas que buscam diariamente esse serviço central, que dependendo do curso oferecido, saem de cidades distantes para se qualificarem. Das cidades que mantem essa relação com a cidade de Nanuque quanto ao Ensino Superior (2017), destacam-se as cidades: Boa Esperança/ES, Pinheiros/ES, Montanha/ES, Ponto Belo/ES, Mucurici/ES, Ecoporanga/ES, Ibirapuã/BA, Lajedão/BA, Nova Viçosa/BA, Mucuri/BA, Medeiros Neto/BA, Umburatiba/MG, Serra dos Aimorés/MG e Carlos Chagas/MG, todas cidades caracterizadas pelo IBGE como centros locais, ou seja, cidades que não possuem influência em outras, mas que buscam na cidade de Nanuque/MG esse serviço. Das onze Instituições de Ensino presenciais que estão estabelecidas na região de estudo, duas estão na cidade de Nanuque/MG. Outro serviço central oferecido na cidade de Nanuque está relacionado à área da saúde, mesmo que esteja em uma região em que o número de leitos é aquém ao que é o ideal, Nanuque está entre os dez municípios que mais possuem equipamentos da área de saúde, seja particular ou público, sendo assim, suporte primordial para a população que não tem recurso adequado e que, recorre a ela, quando necessita de atendimento emergencial, dada a sua posição geográfica central. 103

Em 2010 já havia em Nanuque um aeródromo autorizado pela ANAC para funcionamento, que é utilizado de forma particular, pelos empresários das cidades da região, sendo um equipamento de acessibilidade dos empresários que possuem aviões particulares e que são, em sua maioria, investidores na região e movimentam grandes economias. Por sinal, Nanuque/MG está entre as cidades com maiores indicadores de potencial econômico da região, como é o caso do PIB. Esta cidade não possui uma gama de serviços tão completa quanto a de Teófilo Otoni/MG, mas também não pode ser agrupada com as cidades que estão em um nível hierárquico inferior a ela, deixando-a em um nível ainda alto de hierarquia, sendo pólo microrregional e de outras cidades vizinhas de outros estados, principalmente por conta de sua posição geográfica estratégica. Em relação aos serviços oferecidos pela cidade, destaca-se a presença de Delegacia Regional, do Batalhão da Polícia Militar, Fórum da Justiça do Trabalho, Tribunal de Justiça, Agência da Previdência Social, além de estar também entre as cidades em que mais possuem agências bancárias na região de estudo, sinal de grande movimentação financeira. A cidade de Nanuque realiza uma função importante junto às demais cidades centrais da região. Além de exercer sua centralidade, ela auxilia muito nas demandas da região complementar dos outros lugares centrais. De forma evidente, e ao analisar o mapa de localização da região de estudo, pode-se observar que no tocante a mobilidade geográfica, alguns destinos, passam, obrigatoriamente, por Nanuque para se chegar à outros locais. Ressalta-se aqui a sua posição geográfica, onde está na junção de cidades médias regionais e à sombra de três grandes regiões metropolitanas. Conforme ressaltado anteriormente, entre as cinco primeiras posições hierárquicas desta rede urbana, nota-se que Nanuque/MG é a cidade pelo qual vem sendo o suporte e elo para o centro de alto nível, Teófilo Otoni, e fica exatamente, entre as demais cidades centrais da região. Existe uma interação entre as cidades desta região e Nanuque/MG, dentro de uma rede urbana hierarquizada verticalmente, possui atividades em que as outras cidades dependem e as utilizam no dia a dia, como exemplos citados anteriormente. Ao observar o quadro 8, no tocante a outros estudos em que Nanuque foi alvo de estudo, percebe-se que ao longo dos anos, a cidade vem reforçando a ter posição de evidência na hierarquia urbana. No tocante a acessibilidade urbana, por 104

exemplo, mesmo sendo considerado apenas o estado de Minas Gerais, Nanuque já aparece em nível isolado, abaixo apenas da cidade de Teófilo Otoni/MG. Outro estudo relevante para servir de comparação e validação, é o feito pelo IBGE (2007), pelo REGIC, onde Nanuque aparece como Centro de Zona, cuja rede urbana é delimitada pelas cidades limítrofes, com atividades de gestão elementares, mas que possuem relacionamentos com outras cidades próximas. Essa classificação foi a nível nacional, e levando em consideração a região de estudo, Nanuque/MG aparece de forma compatível nesta nova hierarquia realizada neste trabalho, ficando entre as cidades centrais da região com maior influência com as cidades selecionadas para estudo.

Quadro 8 – Estudos Precedentes de Hierarquia Urbana – Nanuque/MG

Fonte: Elaboração da autora.

Além destes aspectos, Nanuque/MG possui um relevo em que propiciou a construção de rodovias federais e estaduais. A questão da acessibilidade e da quantidade de rodovias que cruzam a sede do Município fazem de Nanuque uma cidade ainda mais central. 105

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na hierarquia urbana da região de tríplice fronteira, em 2010 Nanuque ocupou a 5a posição. Conforme essência deste estudo, sabe-se que em uma região, as cidades são verdadeiros nós, e são nestes nós, que a sociedade se interage e compõe a rede urbana. As pessoas se deslocam para a melhoria de vida e atender duas necessidades por serviços e bens, os quais são oferecidos nos centros urbanos. Essa realidade quanto às funções urbanas tornam-se bem claras quando analisamos a região deste estudo. Este recorte espacial dispõe de uma localização geográfica favorável para as articulações entre as cidades. Ao mesmo tempo é uma região que é altamente capilarizada pelas redes de transportes e está entre três regiões metropolitanas, existindo assim, grandes fluxos de trocas transfronteiriças. A pesquisa em questão fez uma análise de como se encontra estruturada a rede de cidades da região de tríplice fronteira, a qual a cidade de Nanuque pertence, propondo assim, uma hierarquização das cidades da região de tríplice fronteira. A proposta metodológica para este estudo de caso da hierarquia demonstrou-se pertinente, pois permitiu identificar as cidades de maior centralidade e alcance no âmbito regional. Importante que, neste trabalho, interessou-se na condição da cidade de Nanuque na região, com base no ano de 2010, o seu papel regional no que diz respeito à centralidade. Verificou-se com esse estudo que a cidade de Nanuque cumpre uma função importante na intercessão das hinterlândias das cidades médias regionais. Analisando o papel exercido pela cidade na região de tríplice fronteira, no ano de 2010, se posicionando em 5º lugar na hierarquia urbana da rede que pertence, e ao presenciar um desenvolvimento ainda maior da cidade após 2010, como por exemplo, a expansão da oferta de serviços educacionais para a região, se enquadrando como pólo educacional, finaliza-se esta pesquisa deixando algumas sugestões de novos estudos neste âmbito. Como trata-se de um estudo de hierarquia, tão logo se tenha os dados de 2020, merece ser refeito novo estudo para fins de comparação e assim, verificar a evolução e as alterações na rede urbana regional. E refletindo sobre os equipamentos de ensino superior que contribuem de fato para a centralidade de Nanuque na região, sugere-se também novo estudo de maneira que possa medir a contribuição, destas Instituições de ensino superior para o desenvolvimento da região Tríplice Fronteira (MG, BA, ES), por meio da inserção 106

de seus egressos no mercado de trabalho, visto que em 2017, o número de egressos em Instituições de Ensino em Nanuque ultrapassam 1700 profissionais das diversas áreas. Outro fator interessante sobre esta questão é verificar se estes equipamentos de ensino têm contribuído para a migração de pessoas da cidade de Nanuque/MG e região.

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APÊNDICE A – Classificação hierárquica da região de estudo em 2010.

Resultado ACP - Município Posição Hierárquica 2010 (Escore) 2010 (Dado Padronizado) Teófilo Otoni (MG) 1 5,159 1,000 Teixeira de Freitas (BA) 2 2,992 0,835 Porto Seguro (BA) 3 2,265 0,780 São Mateus (ES) 4 1,634 0,732 Nanuque (MG) 5 1,505 0,723 Eunápolis (BA) 6 1,312 0,708 Itamaraju (BA) 7 0,797 0,669 Nova Venécia (ES) 8 0,547 0,650 Barra de São Francisco (ES) 9 0,477 0,645 Prado (BA) 10 0,441 0,642 Santa Cruz Cabrália (BA) 11 0,198 0,623 Guaratinga (BA) 12 0,093 0,615 Novo Oriente de Minas (MG) 13 0,076 0,614 Águas Formosas (MG) 14 -0,044 0,605 Malacacheta (MG) 15 -0,054 0,604 Itanhém (BA) 16 -0,074 0,603 Ladainha (MG) 17 -0,079 0,602 Medeiros Neto (BA) 18 -0,113 0,600 Conceição da Barra (ES) 19 -0,144 0,597 Catuji (MG) 20 -0,151 0,597 Ataléia (MG) 21 -0,164 0,596 São Gabriel da Palha (ES) 22 -0,168 0,596 Poté (MG) 23 -0,197 0,593 Pavão (MG) 24 -0,216 0,592 Crisólita (MG) 25 -0,220 0,592 Itaipé (MG) 26 -0,225 0,591 Pedro Canário (ES) 27 -0,243 0,590 Machacalis (MG) 28 -0,248 0,590 Setubinha (MG) 29 -0,274 0,588 Itabela (BA) 30 -0,282 0,587 Bertópolis (MG) 31 -0,301 0,585 Itagimirim (BA) 32 -0,302 0,585 Alcobaça (BA) 33 -0,315 0,584 Ecoporanga (ES) 34 -0,319 0,584 Santa Helena de Minas (MG) 35 -0,326 0,584 Mantenópolis (ES) 36 -0,336 0,583 Água Doce do Norte (ES) 37 -0,344 0,582 Franciscópolis (MG) 38 -0,345 0,582 Vereda (BA) 39 -0,363 0,581 Nova Viçosa (BA) 40 -0,391 0,579 Boa Esperança (ES) 41 -0,398 0,578 Frei Gaspar (MG) 42 -0,403 0,578

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Resultado ACP - Município Posição Hierárquica 2010 (Escore) 2010 (Dado Padronizado) Montanha (ES) 43 -0,414 0,577 Carlos Chagas (MG) 44 -0,433 0,576 Ouro Verde de Minas (MG) 45 -0,438 0,575 Jucuruçu (BA) 46 -0,449 0,574 Ponto Belo (ES) 47 -0,509 0,570 Mucurici (ES) 48 -0,521 0,569 Umburatiba (MG) 49 -0,528 0,568 Caravelas (BA) 50 -0,537 0,568 Águia Branca (ES) 51 -0,552 0,566 Serra dos Aimorés (MG) 52 -0,560 0,566 Vila Valério (ES) 53 -0,565 0,565 Vila Pavão (ES) 54 -0,582 0,564 Ibirapuã (BA) 55 -0,639 0,560 Jaguaré (ES) 56 -0,658 0,558 Lajedão (BA) 57 -0,723 0,553 Pinheiros (ES) 58 -0,808 0,547 Mucuri (BA) 59 -1,014 0,531 Fronteira dos Vales (MG) 60 -1,427 0,500 Fonte: Elaboração da autora.

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APÊNDICE B – Planilha de dados das variáveis - Região de estudo - 2010 CODIGO MUNICIPIO V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 3200169 Água Doce do Norte (ES) 0 1 0 0 10 66 308 11.25 1852 81445 3100906 Águas Formosas (MG) 0 2 0 0 21 75 466 8.39 3845 108997 3200136 Águia Branca (ES) 0 1 0 0 4 0 248 10.2 1612 111381 2900801 Alcobaça (BA) 0 2 0 76 22 59 221 6.46 2056 218129 3104700 Ataléia (MG) 0 1 0 0 8 50 248 5.58 3743 90831 3200904 Barra de São Francisco (ES) 0 4 1 43 79 103 1183 16.48 9003 432800 3106606 Bertópolis (MG) 0 0 0 0 5 0 63 4.74 791 29027 3201001 Boa Esperança (ES) 0 2 0 0 19 30 368 11.42 2376 151920 2906907 Caravelas (BA) 0 1 0 0 21 75 192 14.05 2620 294944 3113701 Carlos Chagas (MG) 0 3 0 0 27 45 375 16.9 3786 242389 3115458 Catuji (MG) 0 0 0 0 6 0 67 5.9 197 33701 3115201 Conceição da Barra (ES) 0 4 0 0 17 73 503 14.2 2847 29881 3120151 Crisólita (MG) 0 0 0 0 3 0 63 5.69 112 38587 3202108 Ecoporanga (ES) 0 2 0 0 24 78 505 13.94 3930 261145 2910727 Eunápolis (BA) 0 7 1 1830 148 277 2456 20.65 10603 1285733 3126752 Franciscópolis (MG) 0 0 0 0 3 0 54 5.78 353 32972 3126802 Frei Gaspar (MG) 0 0 0 0 4 0 78 5.39 335 36645 3127008 Fronteira dos Vales (MG) 0 0 0 0 3 0 51 6.02 125 788127 2911808 Guaratinga (BA) 0 1 0 0 14 32 128 5.68 2926 114142 2912806 Ibirapuã (BA) 0 1 0 0 11 8 66 18.29 1443 113972 2914653 Itabela (BA) 0 2 0 0 25 39 305 9.45 2878 250539 2915304 Itagimirim (BA) 0 1 0 0 7 21 79 8.27 1925 60227 3132305 Itaipé (MG) 0 1 0 0 6 28 105 5.53 1947 59493 2915601 Itamaraju (BA) 0 4 1 588 62 101 1368 12.28 12911 507505 2916005 Itanhém (BA) 0 1 0 0 27 54 230 8.03 4298 128169 3203056 Jaguaré (ES) 0 2 0 0 19 22 395 11.16 2681 395934 2918456 Jucuruçu (BA) 0 0 0 0 9 23 43 6.41 749 73879 3137007 Ladainha (MG) 0 1 0 0 6 18 143 4.12 2766 66731 2918902 Lajedão (BA) 0 0 0 0 8 0 38 21.32 515 34533 3138906 Machacalis (MG) 0 1 0 0 10 49 140 7.31 1709 41154 3139201 Malacacheta (MG) 0 1 0 0 17 58 261 6.38 4311 102977 3203304 Mantenópolis (ES) 0 1 0 0 11 29 451 10.97 2490 87352 2921104 Medeiros Neto (BA) 0 3 0 0 37 29 302 10.97 4677 162272 3203502 Montanha (ES) 0 4 0 0 28 81 371 12.47 3347 267631 2922003 Mucuri (BA) 0 3 0 0 47 90 641 22.01 2755 999139 3203601 Mucurici (ES) 0 1 0 0 7 19 87 10.59 984 70648 3144300 Nanuque (MG) 1 6 2 677 62 73 1054 15.66 7881 432497 3203908 Nova Venécia (ES) 0 4 1 2080 71 81 1131 17.46 8005 550086 2923001 Nova Viçosa (BA) 0 3 0 0 37 42 693 19.28 3285 350928 Novo Oriente de Minas 3145356 (MG) 0 0 0 0 6 0 101 5.18 550 46999 3146206 Ouro Verde de Minas (MG) 0 0 0 0 6 0 86 5.62 458 31363

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CODIGO MUNICIPIO V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 3148509 Pavão (MG) 0 1 0 0 6 41 126 5.61 4040 49438 3204054 Pedro Canário (ES) 0 3 0 0 26 40 440 11.17 2603 212101 3204104 Pinheiros (ES) 0 2 0 0 30 34 520 12.99 3457 456500 3204252 Ponto Belo (ES) 0 1 0 0 6 0 108 11.23 1014 64463 2925303 Porto Seguro (BA) 1 6 1 232 162 138 4068 19.93 6836 966600 3152402 Poté (MG) 0 1 0 0 8 27 174 5.8 3131 82764 2925501 Prado (BA) 1 1 0 0 33 42 611 10.25 2009 320782 2927705 Santa Cruz Cabrália (BA) 0 1 2 253 23 22 304 10.64 1453 227948 Santa Helena de Minas 3157658 (MG) 0 0 0 0 4 0 70 3.93 653 27575 3204708 São Gabriel da Palha (ES) 0 4 0 0 49 128 1041 28.54 5322 300932 3204906 São Mateus (ES) 0 7 2 3653 159 156 2252 19.31 12118 1188176 3166709 Serra dos Aimorés (MG) 0 0 0 0 9 0 102 12.24 1081 88018 3165552 Setubinha (MG) 0 0 0 0 3 0 46 3.17 393 41973 2931350 Teixeira de Freitas (BA) 0 8 3 4701 134 318 2968 18.36 16362 1268944 3168606 Teófilo Otoni (MG) 1 9 4 6040 319 305 3274 19.38 25287 1279773 3170305 Umburatiba (MG) 0 0 0 0 4 0 53 10.06 225 20365 2933257 Vereda (BA) 0 0 0 0 7 11 42 6.18 149 75424 3205150 Vila Pavão (ES) 0 1 0 0 6 0 154 10.03 1140 111065 3205176 Vila Valério (ES) 0 2 0 0 10 0 355 9.13 2035 194436 Fonte: Elaboração da autora.

CODIGO MUNICIPIO V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 3200169 Água Doce do Norte (ES) 2791 78654 15467 8831 54357 35632 11771 99.76 3100906 Águas Formosas (MG) 4799 104198 14254 16332 73613 35978 18479 97.39 3200136 Águia Branca (ES) 3480 107901 43436 18367 46098 28487 9519 100 2900801 Alcobaça (BA) 10883 207246 109845 12212 85189 36681 21271 96.67 3104700 Ataléia (MG) 1656 89174 31998 7882 49295 26849 14455 96.93 Barra de São Francisco 3200904 (ES) 39461 393339 43334 103031 246973 111208 40649 99.92 3106606 Bertópolis (MG) 738 28289 7742 3055 17492 10893 4498 94.93 3201001 Boa Esperança (ES) 4292 147628 60891 12927 73810 40309 14199 98.84 2906907 Caravelas (BA) 12547 282397 157140 13023 112234 42297 21414 95.14 3113701 Carlos Chagas (MG) 14085 228304 64155 59631 104518 40511 20069 98.61 3115458 Catuji (MG) 2118 31583 4229 3526 23829 13256 6708 88.91 3115201 Conceição da Barra (ES) 633 29248 10242 2456 16550 9228 28449 98.47 3120151 Crisólita (MG) 700 37887 14483 2675 20730 12946 6047 90.05 3202108 Ecoporanga (ES) 8546 252599 63511 65849 123239 69507 23212 98.67 2910727 Eunápolis (BA) 138663 1147071 48555 400852 697664 177520 100196 98.48 3126752 Franciscópolis (MG) 560 32412 10586 3218 18607 11987 5800 94.91 3126802 Frei Gaspar (MG) 856 35789 10493 4019 21277 13208 5879 97.43 3127008 Fronteira dos Vales (MG) 7349 780779 28905 661562 90311 34568 4687 95.25 2911808 Guaratinga (BA) 3458 110685 35055 9909 65721 38492 22165 87.05 2912806 Ibirapuã (BA) 5872 108100 49265 19441 39394 15766 7956 96.32

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CODIGO MUNICIPIO V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 2914653 Itabela (BA) 13664 236875 85585 25913 125377 52791 28390 96.94 2915304 Itagimirim (BA) 2528 57699 25871 3551 28278 14658 7110 94.98 3132305 Itaipé (MG) 980 58512 14416 5804 38292 23528 11798 96.29 2915601 Itamaraju (BA) 31482 476023 140198 45309 290517 110506 63069 95.43 2916005 Itanhém (BA) 5477 122693 35778 12408 74506 34102 20216 95.24 3203056 Jaguaré (ES) 13196 382738 127772 107358 147607 78972 24678 99.9 2918456 Jucuruçu (BA) 1617 72262 32877 9246 30140 18457 10290 67.02 3137007 Ladainha (MG) 1339 65392 8448 7129 49816 32472 16994 94.27 2918902 Lajedão (BA) 1088 33445 14730 2355 16360 8652 3733 97.5 3138906 Machacalis (MG) 1302 39852 8359 4653 26839 13675 6976 96.79 3139201 Malacacheta (MG) 3613 99364 17367 13336 68661 36259 18776 96.51 3203304 Mantenópolis (ES) 2739 84613 15373 10796 58444 37582 13612 99.69 2921104 Medeiros Neto (BA) 9090 153182 30045 33963 89174 35673 21560 96.83 3203502 Montanha (ES) 9681 257950 121785 27647 108517 50867 17849 99.69 2922003 Mucuri (BA) 99305 899835 119918 484226 295691 84875 36026 96.3 3203601 Mucurici (ES) 1211 69437 34341 4695 30401 18678 5655 98.97 3144300 Nanuque (MG) 32855 399641 60998 96960 241683 75569 40834 99.5 3203908 Nova Venécia (ES) 36559 513527 116063 88429 309035 131508 46031 99.86 2923001 Nova Viçosa (BA) 25111 325817 119627 38799 167391 68341 38556 96.86 Novo Oriente de Minas 3145356 (MG) 1543 45455 5339 8045 32071 19945 10339 82.34 Ouro Verde de Minas 3146206 (MG) 675 30688 5931 3427 21330 12899 6016 99.36 3148509 Pavão (MG) 1419 48019 12681 4694 30644 16365 8589 98.75 3204054 Pedro Canário (ES) 12833 199267 47529 30762 120976 62387 23794 98.73 3204104 Pinheiros (ES) 15594 440906 261119 19484 160303 71541 23895 99.55 3204252 Ponto Belo (ES) 1377 63086 17536 10827 34723 21879 6979 98.77 2925303 Porto Seguro (BA) 77951 888649 94030 115885 678734 229984 126929 98.21 3152402 Poté (MG) 3083 79680 10635 10113 58932 31161 15667 97.99 2925501 Prado (BA) 9850 310931 170988 19325 120618 52899 27627 92.25 2927705 Santa Cruz Cabrália (BA) 9098 218851 92029 21487 105335 46869 26264 93.36 Santa Helena de Minas 3157658 (MG) 709 26865 4901 2668 19296 12135 6055 96.65 3204708 São Gabriel da Palha (ES) 23400 277533 40282 38152 199099 81319 31859 99.93 3204906 São Mateus (ES) 74419 1113757 270997 164386 678374 314192 109028 99.74 3166709 Serra dos Aimorés (MG) 7722 80297 15124 27427 37745 17717 8412 98.7 3165552 Setubinha (MG) 742 41231 7708 4376 29147 19377 10885 95.3 2931350 Teixeira de Freitas (BA) 128246 1140698 74066 215572 851060 228918 138341 99.1 3168606 Teófilo Otoni (MG) 113002 1166771 56033 221595 889144 256569 134745 98.78 3170305 Umburatiba (MG) 446 19919 6017 1511 12392 7650 2705 98.33 2933257 Vereda (BA) 1869 73556 37779 9691 26086 14122 6800 93.24 3205150 Vila Pavão (ES) 2335 108730 41973 22860 43898 25430 8672 100 3205176 Vila Valério (ES) 5606 188830 104545 9435 74849 38122 13830 99.66 Fonte: Elaboração da autora.