UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ASSOCIATIVISMO RURAL EM ORIZONA (GO): A

Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água

Grande e Coqueiros - APAMAC

LUIZA MARIA CAPANEMA BEZERRA

Uberlândia (MG) 2003

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LUIZA MARIA CAPANEMA BEZERRA

ASSOCIATIVISMO RURAL EM ORIZONA (GO): A

Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água

Grande e Coqueiros - APAMAC

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, nível de mestrado, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise e Planejamento Sócio-Ambiental

Orientador: Prof. Dr. João Cleps Jr.

Uberlândia (MG) 2003

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LUIZA MARIA CAPANEMA BEZERRA

ASSOCIATIVISMO RURAL EM ORIZONA (GO): A Associação dos Pequenos

Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros - APAMAC

Dissertação defendida e aprovada em 20 de junho de 2003, pela Banca Examinadora constituída pelos professores:

Prof. Dr. João Cleps Jr. Orientador

Prof Dr. Manoel Calaça Universidade Federal de Goiás

Prof. Dra. Vera Lúcia Salazar Pessôa Universidade Federal de Uberlândia

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DEDICATÓRIA

Ao Ferrucio, amigo e companheiro, pelo incessante estímulo, dedicação e compreensão, Aos meus pais Manoel e Tânia, Aos meus irmãos Rita e Enes. iv

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. João Cleps Júnior pela orientação e estímulo a pesquisa. À Profª Vera Lúcia Salazar Pessôa, que tão gentilmente fez a correções na bibliografia do trabalho e pelas inúmeras contribuições a pesquisa. Ao Prof. Antônio Giacomini, coordenador do curso de Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, pelo auxílio financeiro à pesquisa de campo. À Profª Alessandra Cardoso pela colaboração na elaboração do pré-projeto apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Geografia. À Wanderléia O. Gobbi, grande amiga, por ter feito várias vezes à intermediação entre mim e o Prof. João Cleps, quando já não estava morando em Uberlândia. Aos colegas e amigos do LAGEA, em especial Luiza D’Losto, Graciely e Renata, pela amizade e os ótimos momentos de descontração. À Francilane Eulália de Souza, por ter recolhido, junto ao IBGE (Goiânia), alguns dados de relevância à pesquisa. Aos moradores de Orizona (GO), por terem me recebido com tanto carinho, em especial ao Sr. João E. Pinheiro (Técnico da Agência Rural), Sr. Joaquim Nunes (Presidente do CMDR), Sr. José Gonzaga (Tesoureiro da APAMAC). À Jussana Tavares, por ter me acolhido em sua residência durante a pesquisa em Orizona (GO). A todos os associados à APAMAC, pela disposição em fornecer informações. Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. v

RESUMO

O presente trabalho apresenta uma análise sobre o associativismo rural em Orizona, no estado Goiás. Para proceder este estudo foi necessário analisar o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste e do estado de Goiás, com o objetivo de contextualizar a área estudada dentro da dinâmica regional. Isto possibilitou a compreensão de que Orizona é uma particularidade no estado, devido à sua estrutura fundiária menos concentrada, à presença marcante da agricultura familiar e a um histórico processo associativista. A partir dessa contextualização, foi feito o estudo do município sobre o desenvolvimento agrícola, traçando o seu perfil sócio-econômico e a análise do processo associativista.

Sendo o associativismo o pano de fundo da análise, tomou-se uma associação para um estudo de caso, mediante o qual foi levantado o seu processo de constituição e os aspectos sociais e econômicos dos produtores. Enfim, pôde-se perceber que o associativismo em Orizona foi, e ainda é, uma estratégia utilizada pelos agricultores familiares, que garante a sua reprodução social, mas está por via de ser sacrificada por falta de incentivos à sua continuidade.

Palavras-chave: Associativismo Rural, Agricultura Familiar, PRONAF vi

ABSTRACT

This research presents work offers an analysis of the activities of rural associations in Orizona in the State of Goias. To carry out this study it was necessary to analyze the agricultural development of the central-west region and that of the State of Goiás, in order to put in context the study area within its local dynamics. This led to the understanding that Orizona is unique in the state, due to its less concentrated agrarian structure, the notable presence of family farming and an historical process of agricultural association activity. From this point of view, the study of the municipal district was conducted describing its socio-economic profile and analyzing its rural association processes. To establish, as a theoretical base, a study of the organization of associations in the region, the study presents a discussion of this activity in . An association was chosen for a case study in which the process of its formation was examined as well as the social and economic characteristics of its members. Finally, it was noted that agricultural association activity in Orizona was and still is a strategy used by family farmers to guarantee their social reproduction, but it is on the verge of being sacrificed for lack of incentives to guarantee its continuity.

Key Words: Rural Associations, Family Farming, PRONAF vii

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA...... iii

AGRADECIMENTOS ...... iv

RESUMO ...... v

ABSTRACT ...... vi

LISTA DE TABELAS...... ix

LISTA DE FIGURAS ...... xi

LISTA DE QUADROS ...... xii

INTRODUÇÃO ...... 1

1 - O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA DA REGIÃO CENTRO-OESTE E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO AGRÁRIO DO ESTADO DE GOIÁS ...... 6

1.1 A abertura da fronteira agrícola na região Centro-Oeste ...... 6 1.1.1 Os obstáculos ao processo de integração regional do Centro-Oeste ...... 9 1.1.2 A conquista do Centro-Oeste: a dinâmica regional da fronteira agrícola...... 12 1.1.3 A estrutura fundiária e as relações sociais de produção ...... 16

1.2 A consolidação da fronteira agrícola e a industrialização da agricultura no Centro-Oeste ...... 18

1.3 A consolidação do capital agroindustrial no Centro-Oeste e no estado de Goiás ...... 24

2 – O DESENVOLVIEMNTO DO ESPAÇO AGRÁRIO E A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR EM ORIZONA (GO) ...... 29

2.1 Orizona (GO): Uma história de luta e resistência dos trabalhadores rurais .... 29

2.2 O desenvolvimento do espaço agrário em Orizona (GO) ...... 32

2.3 A importância da agricultura familiar em Orizona (GO) ...... 41

3 – A EXPERIÊNCIA ASSOCIATIVISTA EM ORIZONA (GO) ...... 49

3.1 A experiência associativista em Orizona (GO) ...... 50 viii

3.2 O papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na formação da Associação dos Pequenos Agricultores de Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC) ...... 55

3.3 A origem e a trajetória da Associação dos Pequenos Produtores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC) ...... 59

3.4 O estatuto da Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC) ...... 72

4 – A ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS AGRICULTORES DA MATA VELHA, ÁGUA GRANDE E COQUEIROS - APAMAC ...... 75

4.1 O perfil sócio-econômico dos produtores associados à APAMAC ...... 75

4.2 A organização social dos produtores associados à APAMAC ...... 85

4.3 A situação do produtor de leite associado à APAMAC ...... 90

4.4 Os impactos do PRONAF Infra-Estrutura sobre os produtores associados à APAMAC ...... 93

4.5 O associativismo rural e a geração de capital social ...... 106

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 114

ANEXOS ...... 123 ANEXO A - ROTEIRO DE ENTREVISTA - Associação ...... 124 ANEXO B - ROTEIRO DE ENTREVISTA - Produtor ...... 125 ix

LISTA DE TABELAS

Principais estados de origem dos migrantes para Goiás em 1940 e 1950 ...... 13 Crescimento da população brasileira e goiana (1872 a 2000) ...... 15 Orizona (GO) – Principais culturas temporárias 1970-1995/96 ...... 37 Orizona (GO) - Condição do produtor, número de estabelecimento e área 1970-1995/96 ...... 37 Produção de leite em Formosa, Goiás, , Orizona, e Rio Verde [199-?] ...... 39 Uso de crédito agrícola (%) em Formosa, Goiás, Itapuranga, Orizona, Porangatu e Rio Verde [199-?] ...... 40 Orizona (GO) - Número de Estabelecimentos e Área (valores e percentual) por categorias familiar e patronal em 1995/96 ...... 45 Orizona (GO)- Número de estabelecimentos e área de acordo com grupos de área por categorias familiar e patronal em 1995/96 ...... 45 Orizona (GO)- Estabelecimentos e área segundo a condição do produtor por categorias familiar e patronal em 1995/96...... 46 Orizona (GO)- Pessoal ocupado por categoria familiar e patronal em 1995/96 ...... 46 Orizona (GO)- Número de estabelecimentos e área ocupada segundo o tipo de mão-de- obra utilizada em 1995/96 ...... 47 Orizona (GO)– Acesso à tecnologia e a assistência técnica por categorias familiar e patronal em 1995/96 ...... 48 Região Centro-Oeste e Orizona (GO) – Estabelecimentos familiares com acesso à tecnologia e assistência técnica em 1995/96 ...... 48 APAMAC – Área média (ha), segundo os grupos de área total dos estabelecimentos .. 77 APAMAC - Atividades econômicas desenvolvidas nas propriedades ...... 79 APAMAC - Constituição da força de trabalho nos estabelecimentos rurais ...... 83 APAMAC – Outras formas de associação dos produtores da APAMAC ...... 86 Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1997 ...... 100 Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1998 ...... 102 x

Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1999 ...... 102 Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 2000 ...... 103

xi

LISTA DE FIGURAS

Localização da área de estudo ...... 33 Orizona (GO) – Estrutura Fundiária. Número de estabelecimentos 1970-1995/96...... 34 Orizona (GO) – Estrutura Fundiária: Área ocupada 1970-1995/96 (em hectares) ...... 34 Orizona (GO) – Utilização das terras: 1970-1995/96 (em hectares)...... 35 Orizona (GO) – Utilização das terras 1970-1995/96 (em percentuais) ...... 36 Orizona (GO)- Evolução do rebanho bovino 1990-2000 ...... 41 Agricultura familiar – Número de estabelecimento e área em 1995/96 (Brasil, Centro- Oeste e Orizona – GO) ...... 44 Sede da APAMAC em Orizona (GO) ...... 60 Residência de um agricultor da comunidade Água Grande em Orizona (GO) ...... 61 Residência de um agricultor associado à APAMAC – Orizona (GO) ...... 62 APAMAC – Local de residência dos produtores ...... 76 APAMAC - Forma de aquisição das terras pelos produtores ...... 77 Silo de milho na área rural de Orizona (GO) ...... 78 APAMAC - Utilização das terras nas propriedades rurais ...... 80 Local de criação e manejo do gado leiteiro ...... 81 Orizona (GO) –Descarregamento de leite em tanque de expansão comunitário ...... 84 Orizona (GO) – Instalações da COAPRO (Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Orizona) ...... 87 COAPRO – Plataforma de recebimento de leite ...... 88 COAPRO – “Hotel Bezerras” ...... 89 Orizona (GO)- Mata-burro construído com recursos do PRONAF Infra-Estrutura .... 101 Orizona (GO)- Poço artesiano situado na Escola Família Agrícola construído com recursos do PRONAF Infra-Estrutura ...... 104

xii

LISTA DE QUADROS

Relação das Associações Rurais do Município de Orizona (GO) ...... 53 Estrutura Básica - PRONAF Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e Serviços Municipais ...... 97

1

INTRODUÇÃO

A agricultura familiar vem sendo alvo de diversas discussões no âmbito acadêmico e governamental. A centralização do debate nessa categoria social ocorre em razão do reconhecimento da sua capacidade de geração de renda, emprego e, conseqüentemente, melhores condições de vida no campo.

Seria um equívoco ignorar o potencial da agricultura familiar diante do quadro existente no Brasil. É um segmento social que não teve prioridade nas metas de políticas públicas durante décadas, sendo vítima do processo de modernização da agricultura e, mesmo assim, utilizando várias estratégias, vem garantindo sua reprodução social.

No presente estudo, analisa-se uma das estratégias utilizadas pelos agricultores familiares na luta pela sobrevivência, o associativismo rural. Para realizar este trabalho, foi necessário promover uma análise concreta de uma realidade empírica, uma vez que se entende que experiências positivas podem contribuir para outras pesquisas posteriores.

O município escolhido para a pesquisa é Orizona, no estado de Goiás. A

área pesquisada possui uma rica experiência associativista e recebeu recursos do

PRONAF – Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e Serviços Municipais -, durante o período de 1997 a 2000.

A realidade do município colocou o problema para o qual se procura a resposta durante a realização do estudo: O associativismo rural seria uma estratégia de fortalecimento da agricultura familiar nesse município? 2

Com base nessas premissas, o trabalho buscou compreender as relações sócio-econômicas, políticas e culturais que contribuem para o fortalecimento do caráter associativista e familiar do município de Orizona.

Antes de visitar a área de pesquisa e colher as informações, buscou-se por meio do levantamento de dados secundários conhecer a realidade do município, utilizando para isso, basicamente, dados fornecidos pelo IBGE e informações disponíveis na Internet.

Outra etapa importante, que precedeu o levantamento de dados primários, foi o levantamento bibliográfico realizado com o objetivo de conhecer o discurso em torno da temática agricultura familiar, como também o que existe sobre o PRONAF -

Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e Serviços Municipais.

Além disso, foi de suma importância a leitura de textos que retratam o processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste, haja vista a necessidade de estabelecer uma articulação com o espaço de Orizona.

O município de Orizona possui 27 associações rurais, mas, na impossibilidade de estudar esse universo, optou-se por trabalhar, em princípio, com duas associações. A decisão de trabalhar com duas associações foi baseada em conversas com os técnicos da Agência Rural de Orizona, devido ao seu grande conhecimento da realidade do município, pois, segundo eles, as outras associações estão desarticuladas e não seguem mais os princípios do associativismo.

Para realização da pesquisa de campo, foram elaborados dois roteiros de entrevista diferentes, um destinado aos dirigentes ou responsável pela associação e outro destinado aos produtores (associados e não-associados). Não se pode deixar de salientar a importância das diversas conversas com pessoas específicas, que proporcionaram uma 3

visão ampla da situação do município. Dentre as pessoas entrevistadas, cabe destacar a contribuição do técnico da Agência Rural, por mostrar um quadro geral sobre a atual situação das associações e ainda por ter acompanhado visitas a diversos locais do município. Foi de importância fundamental, a entrevista com o presidente do CMDR –

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural –, por disponibilizar documentos referentes ao PRONAF, explicar detalhadamente o funcionamento do Conselho e promover visitas a locais onde foram aplicados os recursos do programa. Acrescem também as informações com os dois membros do CMDR, o representante do poder local e o diretor da Escola Família Agrícola de Orizona, por terem feito avaliações sobre as ações do programa e por contribuírem para a formação de um quadro geral do programa no município; e uma moradora da área rural, por contribuir com aspectos históricos da região e por indicar pessoas-chaves dentro da associação.

A pesquisa de campo foi realizada em quatro etapas. As duas primeiras com uma finalidade exploratória, com o estabelecimento de contatos e levantamento de dados gerais, realizadas em novembro de 2001 e março de 2002. Nas fases seguintes, realizaram-se os testes dos roteiros de entrevistas (maio de 2002) e as entrevistas definitivas (julho de 2002).

No mês de maio de 2002, foram visitadas as sedes das associações com objetivo exploratório. Porém, ao aplicar os roteiros de entrevistas com os responsáveis pelas associações, constatou-se que apenas uma delas atendia melhor o objetivo da pesquisa, por apresentar maior riqueza de informações. Optou-se, assim, pela associação que possuía uma atividade social forte, maior diversidade de associados e, em princípio, revelava uma atuação mais efetiva em termos de prática associativista. A associação 4

selecionada no município de Orizona foi a APAMAC – Associação dos Pequenos

Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros.

Com relação ao roteiro de entrevista destinado ao produtor, perceberam-se, no decorrer da pesquisa, problemas na coleta de dados referente à renda familiar, pois os agricultores não fazem o controle e a sistematização das receitas e despesas, impossibilitando, desse modo, a análise mais precisa desses dados e, por conseguinte, a sua mensuração.

Do total de 23 associados, foram entrevistados 17 produtores, sendo que os demais não se encontravam no município no período em que foi realizado o trabalho de campo. Foram entrevistados, também, três não associados e três antigos associados, totalizando 23 entrevistas.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos, além da introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo expõe uma revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste e do estado de Goiás, com a finalidade de resgatar a contribuição dessa região para a industrialização brasileira, destacando o papel do Estado, o processo de abertura da fronteira agrícola e o quadro pós-modernização da agricultura, enfatizando os aspectos sociais e econômicos desse processo.

No segundo capítulo, apresenta-se uma discussão sobre o desenvolvimento agrário em Orizona e o papel da agricultura familiar nesse município, ressaltando a caracterização do espaço agrário do município e o perfil da agricultura familiar.

O terceiro capítulo analisa o processo associativista em Orizona, destacando o seu histórico e os aspectos específicos referentes à constituição da APAMAC. 5

O quarto capítulo mostra os resultados das entrevistas com os produtores associados à APAMAC, destacando o seu perfil sócio-econômico, as formas de organização social, os aspectos ligados à produção e à comercialização leiteira, e a avaliação dos impactos do PRONAF - Assistência Financeira a Projetos de Infra- estrutura e Serviços Municipais.

Nas considerações finais, sistematizam-se as informações obtidas com o objetivo de responder ao problema inicial da pesquisa, e, também, são apresentadas algumas perspectivas para futuras pesquisas.

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1 - O DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA DA REGIÃO CENTRO-OESTE E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESPAÇO AGRÁRIO DO ESTADO DE GOIÁS

A fronteira só deixa de existir quando o conflito desaparece, quando os tempos se fundem, quando a alteridade original e mortal dá lugar à alteridade política, quando o outro se torna a parte antagônica de nós. Quando a História passa a ser a nossa História, a História da nossa diversidade e pluralidade, e nós já não somos nós mesmos porque somos antropofagicamente nós e o outro que devoramos e nos devorou (MARTINS, 1997, p. 151, grifo do autor).

Neste capítulo, será apresentado o processo de desenvolvimento agrícola da região

Centro-Oeste. A análise compreende período que abrange desde a década de 1930, momento em que o país inicia o processo de transição para o capital industrial, até meados da década de 1990, período caracterizado por grandes mudanças na política agrícola, que, por sua vez, se refletiram no desenvolvimento agrícola dessa região. No decorrer do texto, serão ressaltadas a participação de Goiás no processo de desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste e as implicações do papel do Estado, como grande indutor desse desenvolvimento.

1.1 A abertura da fronteira agrícola na região Centro-Oeste

Antes de iniciar a discussão sobre o tema da inserção do Centro-Oeste na

área de fronteira agrícola, procurar-se-á apresentar uma breve discussão sobre o 7

significado de fronteira com a finalidade de fundamentar teoricamente a exposição. Para isso, toma-se-ão por base as definições apresentadas por Martins (1975 e 1997).

O autor trabalha com as concepções de frente de expansão e frente pioneira, para designar os movimentos de ocupação das áreas de fronteira. Faz, também, uma distinção entre fronteira demográfica e econômica, sendo que a segunda está sempre aquém da primeira, isto é, o povoamento do território precede a efetiva ocupação econômica do mesmo. Na faixa entre a fronteira demográfica e a econômica que se desenvolve à frente de expansão, sendo ela caracterizada por “uma ocupação de agentes da ‘civilização’, que não são ainda os agentes característicos da produção capitalista, do moderno, da inovação, do racional, do urbano, das instituições políticas e jurídicas etc.”

(MARTINS, 1997, p. 157). Sua economia é regida por uma agricultura de excedentes, sendo que a sobrevivência vem em primeiro lugar, e o excedente é destinado a trocas mercantis. Uma outra característica da frente de expansão é que a terra não possui valor de mercadoria, sendo essa frente marcada pelo uso de terras devolutas do Estado mediante ocupação, tendo como figura central o ocupante e o posseiro.

A frente pioneira é marcada pela propriedade privada da terra e pelo empreendimento econômico. Traz consigo empresas imobiliárias, ferrovias, comércios, entre outros. Nessa frente, a terra não é ocupada, é comprada (MARTINS, 1975).

De uma forma geral, Martins (1997, p. 150) define fronteira como “um local de descoberta e desencontro dos diferentes entre si, como os índios e os civilizados, e os grandes proprietários de terras e os camponeses”, por isso é que o autor caracteriza a fronteira como um local de conflito, e que, a partir do momento em que esse conflito deixa de existir, a região já não pode ser mais considerada com uma fronteira. 8

O desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste é intensificado a partir da década de 1930, com o objetivo de atender ao mercado consumidor de produtos agrícolas da região Sudeste, assim, o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste esteve diretamente ligado ao desenvolvimento industrial do país, que se iniciou na região

Sudeste nesse período.

A necessidade de um custo de mão-obra mais barato levou a indústria a pressionar o setor agrícola, para que ele elevasse a oferta de bens primários, buscando, conseqüentemente, uma redução dos preços dos produtos agrícolas. Com uma maior oferta de produtos agrícolas, menor seria o custo da força de trabalho industrial, sendo que isso seria fundamental para o fortalecimento do setor industrial brasileiro. Dessa forma, o processo de industrialização da região Sudeste passou a demandar da agricultura uma evolução técnica e produtiva. Com isso, a região Sudeste promoveu uma reestruturação do espaço agrário nacional, reorganizando-o de acordo com os interesses do capitalismo industrial que começava desenvolver-se no país.

É nesse contexto que a região Centro-Oeste e,portanto, o estado de Goiás passam a integrar a nova dinâmica capitalista do país, como uma região capaz de contribuir, por meio do fornecimento de bens primários, para a consolidação do capital industrial.

A construção de Goiânia, na década de 1930, foi um marco na inserção do estado no processo de divisão inter-regional do trabalho e de interiorização do país, sendo considerada um símbolo governamental na inserção do Centro-Oeste na dinâmica capitalista nacional.

Apesar de no período em análise ter ocorrido uma reorientação do padrão de acumulação capitalista no país, passando de agropecuário para industrial, o estado de 9

Goiás não acompanha a tendência da região Sudeste, pois continuou alicerçado na agropecuária. Assim, a ocupação de novas áreas na fronteira e a redução dos custos de produção tornaram-se a base do crescimento da produção agropecuária goiana.

1.1.1 Os obstáculos ao processo de integração regional do Centro-Oeste

As dimensões continentais do Brasil redundavam sempre em impasses para a sua integração econômica e geográfica, visto que as grandes distâncias entre os centros regionais dificultavam a expansão do capital pelo país, e, como salienta Cunha

(2002), a incorporação do interior à economia nacional estava calcada num mercado interno inexpressivo e na precariedade das estruturas de transporte, de energia e de comunicações. Tendo em vista esses aspectos, é importante mostrar o papel que os meios de transportes e comunicações tiveram frente à integração nacional.

A ferrovia foi o meio de transporte que iniciou a integração nacional, pois ela contribuiu para estender a fronteira agrícola, criando e ligando os pontos de produção agropecuária.

A construção de ferrovias faz parte da própria gênese do processo de constituição do mercado nacional, permitindo a absorção das mercadorias mais elaboradas que vinham dos núcleos urbanos mais avançados e viabilizando o escoamento dos bens agropecuários as outras regiões. A melhoria das condições do translado das mercadorias induz à maior especialização produtiva de diversas áreas geográficas, possibilitando uma crescente complementaridade entre suas estruturas produtivas. Assim, o papel do aperfeiçoamento das comunicações entre diferentes áreas vai desenhando uma divisão inter-regional do trabalho (BRANDÃO, 1999, p. 51).

Dessa forma, como em diversas outras regiões do país, o estado de Goiás possuía as características necessárias para ser considerado uma nova fronteira agrícola, porém existiam algumas barreiras que inibiam a sua inserção no novo processo de 10

acumulação capitalista. Essas barreiras eram as péssimas condições de transportes e comunicação. Devido à localização do estado, o alto custo dos transportes elevava o valor final dos bens e, ao mesmo tempo, reduzia a competitividade do produto goiano na região Sudeste. Para a consolidação do estado como fornecedor de bens primários, seriam necessários meios de transportes mais rápidos e eficientes, a fim de obter custos mais baixos e maiores condições de comercialização na região Sudeste.

A Estrada de Ferro Goiás teve suas obras iniciadas na primeira metade do século XX, e, apesar de apresentar graves deficiências, como a grande lentidão de suas obras, problemas técnicos, entre outros, teve papel relevante. Foi o primeiro meio de transporte que propiciou ao estado de Goiás condições reais de escoamento da sua produção para a região Sudeste, embora ainda não atendesse todas as necessidades, pois os trilhos não percorriam todas as regiões do estado, servindo, inicialmente, às regiões mais ao sul do estado.

O trem-de-ferro – simbolizado na maria-fumaça – com seu silvo estridente e cauda em aço, emplumada em fumaça, serpenteando pelos sertões, despertava Goiás de séculos de isolamento e transformava a paisagem regional através de um processo dialético marcado pela destruição/reconstrução do espaço (BORGES, 2000, p. 41).

Além de fazer todo o transporte de produtos destinados à exportação, levava, também, os produtos manufaturados do Sudeste para Goiás. Assim, a estrada de ferro, mais especificamente, os terminais ferroviários desempenharam a função de transformar a vida econômica e social das populações que viviam naqueles locais, pois, aos redores dos terminais ferroviários, desenvolveram-se vilas, vilarejos, acompanhados de um dinâmico comércio.

A Estrada de Ferro de Goiás foi importante para a inserção de Goiás no processo de acumulação de capital industrial que estava ocorrendo no país. Porém os 11

problemas financeiros e técnicos, em conjunto com a chegada da rede rodoviária federal na região Centro-Oeste, levaram a Estrada de Ferro de Goiás a assumir um papel secundário como um meio de transporte. Em última análise, a ferrovia, além de ter constituído uma via de transporte estratégica na ocupação do Centro-Oeste, foi um elemento fundamental na reorganização do espaço agrário regional e na estruturação da economia goiana.

Nesse contexto, a malha rodoviária viria complementar a infra-estrutura de transportes, necessária à plena inserção do estado de Goiás ao mercado nacional. Até a década de 1950, o desenvolvimento das rodovias no estado ficava a cargo da iniciativa privada, dos governos estadual e municipal, não apresentando grande desenvolvimento, em razão da escassez de recursos para aplicar nessa área. A escolha pela expansão da rede rodoviária e não pela expansão e melhorias da rede ferroviária teve como pano de fundo o interesse político, pois os governos estaduais distribuíam subsídios ao capital privado.

Com a construção de Brasília, o contexto foi alterado, passando a ser de interesse federal o desenvolvimento da estrutura rodoviária do Centro-Oeste. Com esse objetivo, foram feitos grandes investimentos em melhorias e na construção de novas rodovias, visando atender às necessidades da nova capital do país e, com isto, consolidar a posição da região como fronteira agrícola e grande exportadora de bens primários para a região Sudeste do país.

A rodovia Belém-Brasília teve, também, papel relevante ao beneficiar as regiões localizadas mais ao norte do estado, proporcionando a essas áreas maior integração aos mercados das regiões Norte e Sul do país. Mais uma vez, o interesse político foi responsável pela maior vontade governamental em levar o projeto ao fim, 12

visto que a emergente indústria automobilística multinacional, que estava sendo implantada no país, necessitava de novos mercados consumidores, e a expansão da malha rodoviária era o caminho para esse mercado.

1.1.2 A conquista do Centro-Oeste: a dinâmica regional da fronteira agrícola

A expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste, que teve início na década de 1940, ficou mais conhecida como a “Marcha para o Oeste”, e seu principal objetivo foi atender à demanda de produtos primários, para a região que iniciava o seu processo de industrialização, a região Sudeste. Secundariamente, esteve assentada também, em questões mais gerais, como, por exemplo, às migrações.

Portanto, com a Marcha para o Oeste, Goiás foi incorporado ao processo produtivo nacional como fornecedor de gêneros alimentícios e matérias-primas e, principalmente, como absorvedor dos excedentes populacionais de outras regiões do país. [...] A expressão máxima e o coroamento da Marcha para o Oeste se deram com a construção de Brasília. Passar a abrigar a capital federal significou profundas alterações econômicas e políticas para o estado – aceleração do ritmo migratório; ocupação de novas terras; abertura de estradas; expansão do mercado; novos empregos (PESSOA, 1999. p. 47).

A “Marcha para o Oeste” foi considerada por Martins (1997) como uma frente pioneira, em que o Estado teve importante papel, ao acelerar o seu deslocamento sobre os territórios “novos”, já ocupados pela frente de expansão. É nesse sentido que o autor chama atenção para a dimensão conflitiva existente nas regiões de fronteiras, onde a (re) ocupação dos territórios era feita por meio do encontro entre as frentes, o que, na maioria das vezes, se culminava em conflitos violentos.

Cabe ressaltar que o Centro-Oeste, assim como outras regiões do país assumiram, nesse momento para Brandão (1999), a função de amortecedores do caos 13

social que foi gerado na região Sudeste. Para ele, as fronteiras agrícolas se constituíram em verdadeiras “válvulas de escape” para os problemas populacionais gerados pelo processo de urbanização nessa região.

Nesse sentido, o estado de foi o principal responsável pela migração para as áreas de fronteira em Goiás, seguido dos estados da região Nordeste, como Maranhão e Bahia, conforme os dados da tabela 1.

TABELA 01: Principais estados de origem dos migrantes para Goiás em 1940 e 1950 Estado de origem 1940 1950 Minas Gerais 44,77 53,32 Maranhão 21,30 16,72 Bahia 20,66 15,74 São Paulo 4,63 5,41 Piauí 4,66 4,31 Outros 3,98 4,50 Total 100,00 100,00 Fonte: Graham e Buarque Filho. In: Borges, 2000, p.83 Adaptações: Bezerra, L.M.C. 2002.

A nova fronteira agrícola esteve assentada, durante um período, em projetos de colonização privados e estatais, que entraram em crise, tanto por falta de interesse político como por falta de planejamento e investimentos. Os agricultores que viviam nos assentamentos foram gradativamente engolidos pelos latifundiários, expondo a ineficiência desses projetos.

a expansão da fronteira agrícola, na forma em que se processou no país, por um lado, favoreceu o aumento da produção de alimentos para atender a demanda da população urbana e, por outro, contribuiu para a reprodução do latifúndio e da agricultura tradicional no Centro-Oeste (BORGES, 2000, p. 72).

Nas décadas de 1950 e 1960, os pequenos produtores, que tomaram posse da terra no primeiro momento da abertura da fronteira agrícola, tiveram a função de 14

desmatar e preparar a terra a um baixo custo para posteriormente ela ser apropriada por grandes fazendeiros, que se dedicavam à pecuária extensiva. A expropriação do pequeno produtor significou o fechamento da fronteira nas regiões sul e central de

Goiás, e, ao mesmo tempo, a sua partida em busca de novas áreas de fronteira.

Para Martins (1997), a primeira forma de ocupação, marcada pela presença de pequenos agricultores, pode ser considerada como frente de expansão, já a segunda, que assume a forma de grandes fazendeiros, é chamada de frente pioneira. O fechamento da fronteira se deu no momento em que a frente pioneira chegou e promoveu a invasão das terras pelos grandes proprietários e empresários, causando, assim, não só a expropriação econômica do pequeno agricultor, mas também a cultural.

A perda de laços de amizade e vizinhança, que foram cultivados ao longo de muitos anos, e a busca por novas terras, significaram a inserção em um novo cotidiano, que, por vezes, pode ser diferente do anterior, impondo uma redefinição de costumes, tradições e, além disso, um novo relacionamento entre o homem e a natureza.

É nesse sentido, também, que Graziano da Silva (1982) define o fechamento da fronteira, no momento em que a terra deixa de ser livre e de ser apropriada por pequenos produtores, para se tornar uma mercadoria, uma reserva de valor, ou seja, a terra passou a ser apropriada de uma forma privada.

Ao mesmo tempo que a fronteira sul e central se fechavam no estado de

Goiás, a região norte do estado mostrava um processo de abertura de fronteira, que culminou com a consecução da rodovia Belém-Brasília. A partir de meados dos anos de

1960, o norte do estado passou a ser incorporado à fronteira agrícola, e grandes projetos agropecuários e madeireiros começaram a ser instalados nessa região. Cabe esclarecer que, conforme Graziano da Silva (1999), pode-se ter ainda duas fronteiras agrícolas. 15

Uma “interna”, constituída por terras não-exploradas, mas já apropriadas privadamente, que, neste caso, correspondeu às regiões sul e central de Goiás. A outra, a fronteira

“externa”, formada por terras que ainda não se transformaram em propriedade privada, como é o caso do norte do estado de Goiás1.

O período em análise teve crucial importância para o estado de Goiás, pois foi marcado pela inserção do estado no processo de modernização da agricultura, e também por um aumento populacional significativo. Como se pode observar na tabela 2,

é a partir da década de 1950 que o estado começa apresentar um crescimento populacional que supera os números nacionais, sendo que, em 1950, a população goiana representava 1,9% da população brasileira e em 1970 esse número chegava 3,2%.

TABELA 02: Crescimento da população brasileira e goiana (1872 a 2000) Censos Goiás Brasil Goiás/Brasil 1872 160.395 9.930.478 1,62% 1890 227.572 14.333.915 1,59% 1900 255.284 17.438.434 1,46% 1920 511.919 30.635.605 1,67% 1940 661.226 41.236.315 1,60% 1950 1.010.880 51.944.397 1,95% 1960 1.626.376 70.992.343 2,30% 1970 2.938.029 93.134.846 3,15% 1980 3.860.174 119.011.052 3,24% 1991 4.018.903 146.825.475 2,74% 1996 4.514.967 157.070.163 2,87% 2000 5.003.228 169.799.170 2,95% Fonte: IBGE - Censo Demográfico, 1872 a 1970. Disponível em:. Acesso em: 30 out. 2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

O aumento populacional se deu, em grande parte, devido ao início da construção de Brasília e à abertura da rodovia Belém-Brasília, que foi inaugurada em

1959. Um outro fator que provocou a expansão da população para a região foi o

1 Região onde atualmente localiza-se o estado do Tocantins. 16

surgimento de grandes programas de colonização, resultado de parcerias entre o governo e empresas privadas, que atraíram pequenos produtores de outras regiões, principalmente do sul do país. Além disso, segundo Cunha (2002), na década de 1970 a região contribuiu para amenizar tensões demográficas de outras regiões servindo de acomodação para seguidos fluxos migratórios e de via de penetração para a ocupação do

Norte do Brasil. Assim, a partir da década 1950, Goiás conheceu uma profunda aceleração produtiva e populacional, resultado do processo de ocupação das áreas de fronteiras.

1.1.3 A estrutura fundiária e as relações sociais de produção

O padrão da estrutura fundiária no Centro-Oeste teve origem no próprio processo de ocupação nacional, que passou historicamente pela questão das sesmarias e, posteriormente, pela Lei de Terras em 1850, consolidando a concentração de terras no país. Mesmo a partir da década de 1940, com o avanço da fronteira agrícola e o aumento do número de estabelecimentos, a região continuava com uma estrutura fundiária concentrada. Em Goiás, particularmente, o caráter da especialização desenvolvido pela agropecuária reforçou o latifúndio como forma de propriedade e “refuncionalizou” a tradicional estrutura de produção no campo a serviço do mercado (BORGES, 2000).

O tamanho da propriedade esteve diretamente relacionado com o tipo de atividade praticada, sendo que as grandes propriedades destinavam-se à pecuária de corte, as médias conciliavam pecuária com lavoura e as pequenas dedicavam-se à lavoura temporária, como milho, arroz e feijão. Esse tipo de uso da terra ocorreu no sul e no Mato Grosso Goiano. 17

A necessidade de grandes áreas para a atividade de pecuária extensiva confirmava a estrutura fundiária concentrada do estado de Goiás, e a presença de pequenas propriedades existia em áreas de fronteira, com o objetivo de desbravar o cerrado, ou em áreas de maior concentração de culturas temporárias, que exigiam propriedades menores.

Com a abertura da fronteira, houve uma substancial valorização fundiária no estado de Goiás, e a terra passou a ter significado de poder econômico, político e social.

As regiões mais ao sul de Goiás tiveram uma valorização mais significativa, devido a sua proximidade com o mercado do Sudeste do país, melhores condições de infra- estrutura, urbanização e, também, por ser a primeira região que promoveu o fechamento da fronteira. As áreas situadas mais ao norte tiveram suas terras menos valorizadas, condicionadas à abertura posterior da fronteira e, também, em razão da sua localização.

O preço da terra de cultura era muito variado no Estado. Nas zonas não servidas por rodovias ou ferrovias, girava em torno de cinqüenta cruzeiros por hectare. Nas proximidades de cidades ou vias de transportes, com a valorização atingia até mil cruzeiros por alqueire de 48.400 m2. Com o avanço da fronteira agrícola e a reestruturação do espaço agrário, houve uma valorização dos terrenos, sobretudo, em regiões como o sudoeste e o Mato Grosso Goiano, e nas proximidades de grandes cidades com Goiânia e Anápolis (BORGES, 2000, p. 134).

No tocante às relações sociais de produção, o estado de Goiás, apesar de passar a fazer parte do novo processo nacional de acumulação, que se desenvolveu no país a partir da década de 1930, conservou as relações tradicionais de produção, em que predominava a extrema exploração da mão-de-obra e uma estrutura fundiária concentrada (BORGES, 2000). De certa forma, esse quadro resultou da estrutura fundiária concentrada e excludente que impunha uma baixa remuneração da força de trabalho, que, por sua vez, se transformou na base para uma produção agrícola extensiva 18

e de baixa produtividade. O baixo custo de produção gerou, conseqüentemente, produtos com preços mais baratos e mais competitivos, para abastecer a região Sudeste.

As relações de trabalho assalariadas eram incipientes, o que, segundo

Borges (2000), caracterizava um sistema de exploração não-capitalista, assentado na agregação do trabalhador às grandes fazendas.

A configuração das relações de poder, no estado de Goiás, não fugia do que ocorria em nível nacional, como se pode observar na afirmação seguinte:

Os capitais mercantis hegemônicos na periferia não se dispuseram a empreender sua metamorfose em capital industrial. Ao contrário, criaram garantias e salvaguardas de alta lucratividade em órbitas não- industriais. Esta equação econômica será sustentada politicamente por poderosas forças de controle, cristalizando uma potente inércia política ultra-conservadora e de mandonismo local, que irá lotear seus espaços de valorização nos diversos recortes territoriais e de representação política nos três níveis de poder (BRANDÃO, 1999, p. 59).

Assim, ainda que de forma ampla, pode-se dizer que a concentração fundiária no estado de Goiás retratava o domínio político, social e econômico, ou seja, o monopólio da terra era sinônimo de poder e dominação.

1.2 A consolidação da fronteira agrícola e a industrialização da agricultura no Centro-Oeste

O período de 1950 a 1960 possui relevância para análise neste trabalho, pois foi quando se iniciou o processo de industrialização da agricultura brasileira. Os processos de modernização e industrialização da agricultura brasileira apresentaram resultados qualificados por Graziano da Silva (1999) de perversos, uma vez que provocaram a concentração fundiária e da renda, a elevação do êxodo rural e a 19

superexploração dos trabalhadores rurais. Além disso, contribuíram para aumentar as disparidades regionais, pois não atingiram de forma homogênea todas as regiões brasileiras.

[...] maiores níveis de modernização da agricultura tendem a se associar inequivocamente com maiores índices de concentração da renda. Embora possa ser levantada uma discussão acerca da casualidade do processo, acreditamos que as características da modernização da agricultura brasileira [...] e as políticas a ela associadas, como as de crédito rural e fundiário, são em grande parte responsáveis pelas desigualdades da distribuição da renda ao setor agropecuário (GRAZIANO da SILVA, 1999, p. 124).

Uma característica importante da modernização agrícola , e que justifica o adjetivo "conservadora", é que ela manteve a estrutura fundiária do país, caracterizando- se pela forte concentração de terras. A modernização da agricultura brasileira foi, portanto, concentradora e excludente, sendo essas características aprofundadas pela política agrícola executada pelo governo (GRAZIANO da SILVA, 1999).

A região Centro-Oeste e o estado de Goiás participaram do processo de desenvolvimento do capitalismo no campo, como uma nova região de fronteira agrícola e produtora de bens primários com um baixo custo.

O desenvolvimento da produção agropecuária do estado de Goiás, inicialmente, ocorreu de acordo com as necessidades do mercado consumidor existente na região Sudeste. A primeira atividade, que veio substituir o modelo de subsistência, foi a rizicultura. O arroz era plantado de forma tradicional e as condições naturais favoráveis, como o clima e o solo, facilitavam o cultivo. As culturas temporárias foram utilizadas basicamente para desbravar a terra e prepará-la para a atividade pastoril, aliado a isso, havia pouco crédito destinado ao pequeno produtor, promovendo, assim, a sua expulsão gradativa e um processo de concentração fundiária. 20

O processo de desenvolvimento agropecuário goiano acompanhou o estímulo trazido pelos meios de transporte. Dessa forma, na década de 1940, a primeira região a incorporar-se à zona de fronteira foi o sudeste goiano e, conseqüentemente, a primeira a estagnar-se e entrar em decadência.

Segundo Borges (2000), a partir da década de 1940, em algumas regiões do estado, começou ocorrer um processo de “pecuarização da lavoura”2, ou seja, a atividade pastoril passava a substituir a produção agrícola.

A região sudeste do estado, devido a sua proximidade com a estrada de ferro, e também por ser áreas que foram primeiramente exploradas, apresentou um processo mais intenso de substituição das culturas temporárias pela pecuária extensiva.

Por outro lado, a região sudoeste de Goiás não apresentou a mesma característica, pois a sua proximidade com mercado consumidor do Triângulo Mineiro e as melhores condições de transporte levaram a região a um aumento da área cultivada, a um uso mais intensivo do solo e à incorporação de um processo de mecanização de suas lavouras.

A expansão da atividade pastoril no estado de Goiás foi assentada no seu relacionamento comercial com a região Sudeste, pois as maiores facilidades de transporte que o gado propiciava e também as condições naturais, tais como clima e solo favoreceram a especialização do estado nessa atividade econômica. Enfim, na década de 1950, o estado de

Goiás já estava incorporado ao processo de desenvolvimento capitalista, que ocorria em quase todo país, atendendo à demanda da região Sudeste. Porém, possuía baixos níveis de produtividade, o que era justificado pelas práticas tradicionais utilizadas na agricultura, inclusive no tocante a relações de sociais de trabalho.

2 De acordo com Borges (2000), entende-se por pecuarização da lavoura a substituição da produção agrícola pela pecuária extensiva. Esse assunto foi tratado no capítulo anterior.

21

O processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste foi intensificado a partir da década de 1960. Até esse período, a falta de programas específicos e de incentivos governamentais bloqueava, de certa forma, o desenvolvimento agrícola da região. Até o fim dessa década, o envolvimento do Estado na evolução da fronteira agrícola manteve-se reduzido. A expansão das frentes de atividades produtiva foi basicamente espontânea, “a participação governamental, freqüentemente tardia, ocorria apenas quando deficiências de infra-estrutura ameaçavam a viabilidade das frentes de agricultura comercial” (MULLER, 1990, p. 50).

Além da falta de programas destinados à expansão da fronteira agrícola, os problemas criados pela falta de técnicas de cultivo apropriadas ao cerrado foram um fator limitante ao desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste.

No início da década de 1970, as políticas governamentais passaram a estimular a ocupação da Amazônia na esperança de que, em pouco tempo, pudesse se tornar importante região agrícola. Como isso não aconteceu, a princípio, o interesse governamental voltou-se novamente aos Cerrados, mais bem situados em relação aos crescentes mercados do Centro-Sul, marcando, assim, o início do desenvolvimento agrícola na região Centro-Oeste, apoiado por programas governamentais. Foram criados programas especiais de estímulo à agricultura nos Cerrados, de apreciável impacto na evolução das frentes comerciais. Além do mais, foram implantados, sob estímulo oficial, projetos privados de colonização, especialmente no Mato Grosso. Nesse processo, as frentes comerciais acabaram atingindo partes do norte da região

(MULLER, 1990).

Basicamente, o que impulsionou a inserção dos Cerrados nas áreas produtivas e, conseqüentemente, o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste, foram 22

alguns programas específicos implementados nessa região. Dentre os principais, podem- se destacar o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) e o

Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento dos Cerrados

(PRODECER).

O POLOCENTRO foi criado em 1975 e teve como objetivo o desenvolvimento e a modernização das atividades agropecuárias da região Centro-Oeste e do oeste do estado de Minas Gerais, mediante a ocupação racional de áreas com características dos cerrados e seu aproveitamento em escala empresarial. O programa selecionou áreas específicas para atuação e, posteriormente, forneceu crédito altamente subsidiado a todos os produtores que desejassem investir em exploração agropecuária empresarial.

Apesar do POLOCENTRO ter sido um programa voltado para abertura de fronteira agrícola, as políticas favoreceram os grandes e médios produtores em detrimento dos pequenos. Na realidade, foi um programa para o estímulo da média e da grande agricultura empresarial, mediante o fornecimento de crédito subsidiado, de assistência técnica e da remoção de obstáculo ao seu funcionamento. A pequena agricultura das áreas atingidas quase não foi beneficiada. Os objetivos do

POLOCENTRO, “enunciados nos seus documentos básicos, foram desvirtuados pela ação de setores influentes, que conseguiram voltar a administração do programa a seu favor” (MULLER, 1990, p. 55).

O maior impacto do Polocentro na região Centro-Oeste ocorreu no estado de

Goiás, onde, segundo Muller (1990), 42,3% da área dos cerrados foram incorporados ao processo produtivo e a cultura de maior destaque foi a soja. 23

Já o PRODECER surge a partir de 1980, por meio de um acordo de cooperação firmado entre o Brasil e o Japão, com o objetivo de promover a expansão da agricultura moderna em áreas de cerrado. Os agricultores favorecidos foram selecionados por cooperativas credenciadas, tendo por base sua aptidão para desenvolver agricultura em áreas de cerrado, exigindo deles dedicação integral ao empreendimento. Tratou-se de um programa voltado à constituição de fazendas de médio porte (entre 250 a 500 ha), destinadas principalmente à produção de grãos.

Muller (1990), ao fazer a análise do processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste, trabalhou com a concepção de frentes de expansão, sendo divididas em frentes de agricultura comercial, que já estavam integradas aos mercados; frentes de subsistência ou camponesas, que foram favorecidas basicamente pela grande extensão de terras e políticas de colonização; frentes especulativas, que foram beneficiadas pelos incentivos à ocupação; e frentes de pecuária extensiva e rudimentar.

O autor afirma que os programas de integração dos cerrados à fronteira agrícola foram fundamentais para o desenvolvimento das frentes comerciais. Os programas de colonização foram determinantes para a expansão das frentes de subsistência e os incentivos fiscais para a Amazônia foram importantes para o desenvolvimento das frentes especulativas.

24

1.3 A consolidação do capital agroindustrial no Centro-Oeste e no estado de Goiás

O processo de modernização agrícola no Centro-Oeste e no estado de Goiás trouxe conseqüências perversas, como impactos ambientais, êxodo rural, problemas populacionais nas grandes cidades, concentração de renda e, principalmente, a subordinação da agropecuária goiana aos setores antes da porteira, ou seja, enquanto o estado se especializava na cultura de commodities e na pecuária, aumentava, assim, a sua dependência aos setores a jusante da agricultura, que estavam instalados na região

Sudeste. Essa subordinação da agricultura, como salienta Estevam (2000), significa que, com o tempo, parte substancial dos lucros da produção goiana foi se canalizando para os setores a jusante da agricultura, ou seja, para a região Sudeste do país.

A consolidação desse processo ocorreu na década de 1980, e, ao mesmo tempo, o reconhecimento do potencial agroindustrial do Centro-Oeste, sendo que, a região passou a responder por 40% da produção nacional de grãos. Porém o aumento da produção não foi correspondido na mesma proporção pela implantação de unidades de armazenamento e esmagamento.

No final da década de 1980, o quadro começa a modificar-se, pois foram implantadas as primeiras agroindústrias na região, que tinham como principal objetivo o aumento da competitividade.

Esses investimentos em nova capacidade produtiva ocorreram basicamente na região de cerrado do Centro-Oeste [...] tiveram o objetivo de assegurar o seu acesso privilegiado às fontes de matérias- primas (soja) e a mercados regionais de crescente importância (carne de frango) (CASTRO e FONSECA, 1995, p. 5).

25

O grande potencial de produção da região, em razão das suas condições climáticas favoráveis, atraiu o capital agroindustrial, consolidando um processo de integração de cadeias produtivas, mais especificamente, as cadeias grãos-farelos-óleos e grãos-rações-carnes. Conforme Castro e Fonseca (1995), a presença de destaque da região Centro-Oeste na oferta nacional de grãos de soja, aliada às características favoráveis de produção na região, constituiu um fator de atração para os grupos que atuavam na área de commodities e no mercado de grãos e carnes.

Um dos principais componentes desse processo de consolidação do capital agroindustrial no Centro-Oeste foi à adequação da intra-estrutura de armazenamento às novas condições de produção, consideradas anteriormente como uma barreira ao desenvolvimento do capital.

Na década de 1980, ocorreu a maior concentração de investimentos na cadeia de soja, buscando um aumento na capacidade produtiva, principalmente no segmento carnes-óleos-rações. A região Centro-Oeste tornou-se, assim, nos anos 1980, num pólo de atração de capitais do Centro-Sul, especialmente das chamadas empresas líderes do complexo agroindustrial, que tenderam a ocupar posições estratégicas dentro da região.

O desenvolvimento da agroindústria na região Centro-Oeste foi estimulado por grandes investimentos e incentivos fiscais regionais, como recursos repassados pela

Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, também, os de origem nos fundos regionais, como Fundo de Desenvolvimento Industrial (FUNDEI), Fundo de

Investimento da Amazônia (FINAN) e o Fundo Constitucional do Centro - Oeste

(FCO). 26

A Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), executada no Brasil a partir da década de 1970, teve substanciais reflexos no processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste. Por um lado, fazia parte do projeto de integração do

Centro-Oeste na dinâmica produtiva nacional, mas, por outro, a grande participação do

Estado na formação dos preços dos produtos agrícolas provocou uma barreira ao desenvolvimento agrícola da região no longo prazo.

A PGPM não foi uma política regionalizada, os custos de transportes não eram levados em conta, beneficiando ou não determinadas regiões do país. No caso do

Centro-Oeste, essa não-regionalização da PGPM significou dificuldades a sua integração a mercados consumidores, devido ao alto custo de transportes. Tendo em vista estes problemas, o Estado foi forçado a assumir o monopólio da comercialização agrícola do Centro-Oeste. Para Rezende (2002), a PGPM

prejudicou o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste no longo prazo, já que não se propôs a solucionar deficiências de infra-estrutura e de caráter institucional, cujas soluções são [sic] tão importantes para o desenvolvimento agrícola de uma região de fronteira como o Centro-Oeste, e desestimulou o desenvolvimento das atividades (agrícolas, comerciais e industriais) consumidoras de grãos, cujos preços foram tornados artificialmente elevados pela ação da PGPM (REZENDE, 2002, p. 30).

Diante desse contexto, pode-se afirmar que a PGPM teve o objetivo de bancar os preços dos produtos agrícolas nas regiões mais ao sul do país, que já tinham toda uma infra-estrutura de armazenagem, comercialização e industrialização, pertencente ao capital privado e que não poderia ser prejudicado com o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste. Dessa forma, o Estado promoveu a retenção de estoques agrícolas durante boa parte do período de execução dessa política, procurando evitar o efeito depressivo que a liberação desses estoques poderia ter sobre a 27

comercialização do produto nas demais regiões, a qual continuava nas mãos do capital privado.

Na década de 1990, as mudanças ocorridas na política agrícola, resultaram num menor envolvimento do Estado com os estoques agrícolas da região Centro-Oeste e num maior estímulo à criação de infra-estrutura, por parte do capital privado, a fim de obter uma boa estrutura de armazenagem e comercialização, buscando a maior integração aos mercados.

Nesse período, a região Centro-Oeste assumiu importante papel no desenvolvimento agrícola do país, passando a contribuir de maneira substancial para a oferta de grãos no mercado nacional e internacional.

A menor participação do Estado na comercialização de produtos agrícolas redundou em uma reorganização espacial na agricultura, em que as regiões começaram a mostrar suas vantagens competitivas, atraindo mais o capital privado. Foi o que ocorreu com a região Centro-Oeste, devido às suas condições naturais, favoráveis ao plantio de grãos em grande escala.

O Centro-Oeste passou a cumprir um papel estratégico na expansão agrícola brasileira, pois combinou a expansão de área com aumento de produtividade, em muitos casos, superior ao de outras regiões.

O Centro-Oeste foi a região mais dinâmica do pais [sic]. Esta região aumentou sua área colhida de grãos em 10% e sua produção de grãos em 50% na década de 90 em comparação com a década de 80. Grande parte deste dinamismo se deve à soja. [...] A área colhida de soja no Centro-Oeste [...] aumentou de uma média de 36% nos anos 80 para 54% nos anos 90, substituindo em larga escala o arroz (HELFAND e REZENDE, 2000, p. 9).

Durante todo o período analisado, o que ocorreu em Goiás, assim como na região Centro-Oeste, em um primeiro momento (até início da década de 1960), foi que a 28

expansão da produção não se deu por meio da incorporação do progresso técnico na agricultura, e, sim, por intermédio da exploração da mão-de-obra e da incorporação de novas terras a área de fronteira. Já em um segundo momento, após a década de 1960, o desenvolvimento se deu mediante a participação do Estado, como um indutor desse processo, libertando a região somente na década de 1990, para desenvolver-se com os seus próprios meios.

Portanto, a região Centro-Oeste e o estado de Goiás foram palco de um processo intensivo de modernização da agricultura. A incorporação de suas terras as

áreas de fronteira agrícola e, depois, a sua consolidação como uma importante área produtora grãos para o mercado interno e externo, redundou, de um lado, uma grande propriedade competitiva em nível nacional, e, de outro, uma agricultura familiar sem competitividade em relação aos agricultores desse segmento no restante do país. Com base nessas considerações, procurar-se-á, nos próximos capítulos, contextualizar a área em estudo dentro do processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste e caracterizar um grupo de agricultores familiares, que tem o associativismo como uma estratégia de garantia da sua reprodução social.

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2 – O DESENVOLVIEMNTO DO ESPAÇO AGRÁRIO E A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR EM ORIZONA (GO)

Neste capítulo, será apresentada a caracterização do município de Orizona por meio de um breve histórico de sua fundação e dos principais aspectos da agricultura, salientado, durante o período de 1970 a 1995, a estrutura fundiária, a utilização das terras, as principais culturas, a estruturação e o desenvolvimento de mercado leiteiro, entre outros.

Finalmente, destacar-se-á o papel da agricultura familiar em Orizona.

2.1 Orizona (GO): Uma história de luta e resistência dos trabalhadores rurais

O processo de ocupação do atual município de Orizona inicia-se por volta de 1830, com os primeiros exploradores e posseiros vindos de Minas Gerais. Conta a história que o primeiro posseiro foi um mineiro de Patrocínio (Minas Gerais), que saiu de sua cidade em busca de terras férteis, de cuja existência mais ao interior do país ouvira falar. Esse mineiro, cujo nome era José Pereira Cardoso, foi o primeiro morador das terras, que atualmente recebem o nome de Orizona.

Em 1890, o povoado que havia recebido o nome de Capela dos Correias tornou-se distrito do município de Santa Cruz de Goiás. Em 1906, o povoado foi emancipado e passou a constituir o município de Campo , em homenagem a uma família de origem espanhola que habitava o povoado. Porém o município não 30

poderia ficar com a denominação de Campo Formoso, pois já havia outra cidade no país com o mesmo nome. Então, em 1943, Campo Formoso passou a chamar-se Orizona. O nome tem origem no vocábulo grego Oriza, que significa arroz, e no termo da língua portuguesa “zona” que designa, em termos amplos, “região”, assim, Orizona significa uma região produtora de arroz.

O sul do estado de Goiás, devido a sua proximidade com a região Sudeste e por ser uma área em que os trilhos da Estrada de Ferro de Goiás estavam assentados, como já foi ressaltado no capítulo anterior, tornou-se o primeiro local do estado de

Goiás a responder pelas demandas de produtos primários do Sudeste. Foi a partir desse processo que Orizona começou a articular-se com as demais regiões.

A região do sul de Goiás foi a primeira a ser incorporada à fronteira agrícola e, por conseqüência, uma das primeiras também a sofrer o fechamento interno da fronteira. A valorização das suas terras e a perda de fertilidade pelas culturas temporárias consubstanciaram em um movimento de expulsão dos pequenos agricultores, dando lugar à pecuária extensiva, fenômeno chamado de a pecuarização da lavoura (BORGES, 2000).

Em Orizona o processo de ocupação foi marcado por lutas e resistências, que envolveu trabalhadores rurais e grandes fazendeiros. O embate no campo orizonense recebeu o nome de “Luta do Arrendo”, que ocorreu entre os anos de 1950 e

1951, em uma área denominada Campo Limpo, caracterizada pela presença de grandes propriedades (LOUREIRO, 1988). A luta consistiu na reivindicação por parte dos camponeses pela redução da taxa de arrendamento de 50% para 20% da produção. Os trabalhadores rurais trabalhavam nessas terras em sistema de parceria, em que o fazendeiro, no final da colheita, recebia 50% da safra colhida em sua propriedade, 31

participando no processo produtivo com apenas a preparação do solo para o plantio, ficando o restante dos custos da plantação por conta do parceiro.

Ao saberem da existência de um artigo na Constituição estadual de Goiás, que fixava a taxa do arrendamento em no máximo 20% da produção, os camponeses começaram a organizar-se, reivindicando os seus direitos. O apoio do Partido

Comunista Brasileiro (PCB ) foi fundamental para a organização do movimento.

Os camponeses organizavam-se na época da colheita e pressionavam os fazendeiros, não permitindo que eles se apropriassem de parcela superior que 20% da produção. No primeiro ano, em 1950, o movimento conseguiu ser atendido em seus objetivos. Já no ano seguinte, os fazendeiros organizaram-se e, com o apoio do poder local, conseguiram reprimir o movimento com a ajuda de policiais vindo da capital. A partir do momento em que os camponeses começaram a perder força, o próprio PCB, também, retirou seu apoio ao movimento.

Os atingidos pela repressão foram os camponeses e alguns simpatizantes. Ninguém do Partido [PCB] foi preso ou espancado, camponeses, sim. Eram espancados o marido, a mulher e os filhos. Gente ficou aleijada, muita criança sem leite, sem comida, porque os pais estavam fugidos, presos ou doentes de pancada. Em Orizona, um dentista ficou aleijado. Ele só dava alguma ajuda aos camponeses. Era um simpatizante. Nessa época, o destacamento de polícia foi dobrado, tanto em Orizona como em . Muitos camponeses fugiram, mas houve prisões e espancamentos (LOUREIRO, 1988, p. 68).

A Luta do Arrendo retrata, como se deu, em grande parte, o fechamento da fronteira interna no estado de Goiás, pela da violência e pela expropriação do pequeno agricultor.

32

2.2 O desenvolvimento do espaço agrário em Orizona (GO)

O município de Orizona está localizado no Sudoeste do Estado de Goiás, fazendo parte da microrregião de Pires do Rio, que, por sua vez, se integra à mesorregião do Sul Goiano. Orizona fica a 130 km de Goiânia, 200 km de Brasília, 150 km de Catalão e 260 km de Uberlândia (MG) (Figura 03).

Orizona possui uma população total de 13.067 habitantes, dos quais 6.382 residem no meio urbano (48,8%) e 6.685 no meio rural (51,2%), de acordo com o Censo

Demográfico de 2000.

O desenvolvimento agrícola de Orizona é marcado pela forte presença da pecuária, constituindo a principal atividade econômica do município. O maior número de estabelecimentos fica no grupo de área que varia entre 10 a menos de 100 hectares, totalizando 932 unidades (41,6%) em 1995/96. Os dados da figura 02 mostram que, desde a década de 1970, o município possui uma estrutura fundiária menos concentrada, prevalecendo um número maior de estabelecimentos na faixa entre 10 e 200 hectares.

Esses dados mostram um padrão diferente da região Centro-Oeste e do estado de Goiás, onde a concentração de terras é superior à média nacional.

Outro dado importante com referência à estrutura fundiária do município de

Orizona é que, de 1970 a 1995/96, houve um aumento no número de estabelecimentos e da área utilizada pelos grupos de área entre 10 e 100 hectares, mostrando um processo de desconcentração da terra (Figura 03). Em 1970, havia 50 estabelecimentos entre 500 e 2000 hectares ocupando uma área total de 40.969 ha, e, em 1995/96, o número passou para 42 estabelecimentos, ocupando uma área de 34.658 ha; ocorrendo uma redução de

16% na quantidade de estabelecimentos. 33

Localização da área de estudo

FIGURA 01

34

Orizona (GO) – Estrutura Fundiária: Número de estabelecimentos 1970-1995/96.

1000 900 800 700 600 500 400 300 200 Número de estabelecimentos 100 0 1970 1975 1980 1985 1995/96

menos de 10 10 a menos de 100 100 a menos de 200

200 a menos de 500 500 a menos de 2000 2000 e mais

FIGURA 02 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) - 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

Orizona (GO) – Estrutura Fundiária: Área ocupada 1970-1995/96 (em hectares)

70.000

60.000

50.000

40.000

Hectares 30.000

20.000

10.000

0 1970 1975 1980 1985 1995/96

menos de 10 10 a menos de 100 100 a menos de 200 200 a menos de 500 500 a menos de 2000 2000 e mais

FIGURA 03 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) - 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

35

A figura 04 mostra a utilização das terras em Orizona, cuja maior parte da

área explorada do município concentra-se em pastagens naturais e plantadas.

Orizona (GO) – Utilização das terras: 1970-1995/96 (em hectares).

160.000

140.000

120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

0 1970 1975 1980 1985 1995/96

Lavouras permanentes e temporárias Pastagens naturais e plantadas Matas naturais e plantadas Temporárias em descanso e produtivas não utilizadas

FIGURA 04 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) - 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

Os dados da figura 05 mostram que, historicamente, a área destinada às pastagens plantadas e naturais ocupa a maior parte da área produtiva municipal, confirmando a pecuária como principal atividade econômica, em que se destaca a produção leiteira. Essa afirmação também é confirmada em um estudo realizado no estado de Goiás, no qual Orizona foi um dos municípios analisados, o trabalho chama a atenção para o fenômeno de pecuarização da produção familiar em Goiás (CAUME,

1997).

36

Orizona (GO) – Utilização das terras 1970-1995/96 (em percentuais)

1970 1975

1% 1% 2% 4% 3% 6%

93% 90%

1980 1985

2% 3% 3% 6% 4% 11%

89% 82%

1995/96 2% 13% 11%

74%

Lavouras permanentes e temporárias Pastagens naturais e plantadas Matas naturais e plantadas Temporárias em descanso e produtivas não utilizadas

FIGURA 05 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

O predomínio da pecuária no município mostra um quadro em que as culturas temporárias possuem pouco destaque, mesmo o arroz que foi cultivado no cerrado como uma cultura desbravadora, não possuiu relevância em Orizona. A soja, que, na região Centro-Oeste e no estado de Goiás, substituiu grande parte das áreas 37

destinada à pecuária a partir da década de 1980, começou a se expandir no município a partir de 1985, quando a área passou de 0,6% do total para 3,2% (Tabela 03).

TABELA 03: Orizona (GO) – Principais culturas temporárias 1970-1995/96 Arroz em casca Feijão em grão Milho em grão Soja em grão Área Total % s/a % s/a % s/a Ano Área % s/a (ha) Área (ha) área Área (ha) área Área (ha) área (ha) área total total total total 1970 170.553 2.298 1,3 2.340 1,4 3.121 1,8 0 0,0 1975 179.760 3.534 2,0 2.734 1,5 3.497 1,9 5 0,0 1980 170.001 3.323 2,0 2.836 1,7 4.153 2,4 0 0,0 1985 176.218 5.952 3,4 1.939 1,1 5.225 3,0 1.064 0,6 1995/96 170.765 1.085 0,6 95 0,1 5.919 3,5 5.432 3,2 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

A condição do produtor proprietário é a que mais concentra número de estabelecimentos e área em Orizona, como se pode observar na tabela 04.

TABELA 04: Orizona (GO) - Condição do produtor, número de estabelecimento e área 1970-1995/96 Proprietário Arrendatário Parceiro Ocupante Total Ano Estab. Área(ha) Estab. Área(há) Estab. Área(há) Estab. Área(ha) Estab. Área (ha) 1970 1.347 170.553 1.261 160.376 23 2.221 3 156 80 7.800 1975 1.267 179.760 1.146 172.517 9 1.065 1 19 111 6.158 1980 1.288 179.001 1.153 170.869 28 2.877 33 764 74 4.489 1985 1.518 176.218 1.462 173.444 17 1.443 4 93 35 1.237 1995/96 1.595 170.765 1.386 157 979 31 2 835 12 212 166 9 739 Fonte: IBGE - Censos Agropecuários (GO) 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

Em 1998, foi realizado um estudo na região Centro-Oeste3, que resultou na caracterização da agricultura familiar nos sistemas agrários dessa região. O estudo teve como área de pesquisa diversos municípios da região Centro-Oeste, dentre eles, o

3 FAO/INCRA – Agricultura familiar nos sistemas agrários da região Centro-Oeste. Relatório Síntese. Brasília: 1998. Projeto: UTF/BRA/036/BRA. 38

município de Orizona. O relatório mostra que em Orizona, de acordo com a tipologia estabelecida pelo estudo, existem dois tipos de produtores: “o produtor familiar em transição” (gado de cria/leite) e o “produtor familiar de gado misto e culturas de renda em capitalização”.

O “produtor familiar em transição” é caracterizado por estar em um processo de transição para a pecuária leiteira, pois as dificuldades de inserção no mercado competitivo das culturas mecanizadas (soja e milho) e as maiores facilidades de acesso a créditos destinados a atividade leiteira levam-nos a optar pelo leite. Outros fatores reforçam também essa tendência, como o desenvolvimento do mercado lácteo regional, em que a concorrência estimula os preços e atrai os produtores para esse mercado.

O “produtor familiar de gado misto e culturas de renda em capitalização” tem a sua acumulação baseada nos rendimentos de lavouras, mais especificamente, na cultura de mandioca. O rendimento da lavoura é utilizado pelo produtor para ampliar seu capital na forma de gado bovino e terra, mais precisamente, em gado leiteiro. Os motivos que levam esse tipo de produtor a optar pela pecuária leiteira são os mesmos do produtor familiar em transição.

Essa tendência à pecuária leiteira é visualizada, também, em Goiás, onde, segundo Caume (1997), a produção leiteira tende a tornar-se uma estratégia produtiva entre os agricultores familiares do estado. O autor chama, ainda, a atenção para o sistema de produção utilizado pelos agricultores familiares pesquisados em seu estudo.

O uso do sistema integrado – agricultura e pecuária- é característico entre esses agricultores, que tem a pecuária leiteira como principal atividade econômica, em que a 39

maior parte do milho produzido é destinada ao consumo produtivo, ou seja, é utilizada para suplementar a alimentação do gado.

A concentração das atividades produtivas na pecuária leiteira leva a uma outra constatação, que é a dependência da renda familiar em uma única atividade, o que significa que a garantia da reprodução social da agricultura familiar está diretamente dependente do sucesso da pecuária leiteira. Tal situação pode ser observada especificamente nos agricultores familiares associados à Associação dos Pequenos

Produtores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC) em Orizona.4

Com relação à produtividade, Orizona é o município que apresenta melhores

índices de produtividade, dentre os pesquisados por Caume (1997). A produtividade média de Orizona fica em 5,3 litros ao dia (Tabela 05). Isso se deve à utilização de um sistema de produção mais especializado, com uma alimentação adequada e animais de melhor padrão genético.

TABELA 05: Produção de leite em Formosa, Goiás, Itapuranga, Orizona, Porangatu e Rio Verde [199-?] Total de Vacas em Produção (l/dia) Produtividade Município Bovinos lactação "águas" "seca" Média (l/dia) Formosa 617 170 664 365 2,0 Goiás 1.705 406 1.967 988 2,8 Itapuranga 1.900 471 1.744 1.493 3,0 Orizona 1.298 413 2.468 2.375 5,3 Porangatu 1.640 356 1.225 412 1,9 Rio Verde 1.798 428 2.155 838 2,0 Fonte: Caume, 1997, p. 48. Obs.: O autor não define qual o período se refere os dados.

Outra constatação que pode ser feita, com base nos dados da tabela 5, é o constante índice de produtividade em Orizona nos períodos das águas e da seca, uma

4 Esse assunto será mais bem discutido no Capítulo IV. 40

situação diferente dos outros municípios, onde a baixa da produtividade chama atenção no período da seca.

TABELA 06: Uso de crédito agrícola (%) em Formosa, Goiás, Itapuranga, Orizona, Porangatu e Rio Verde [199-?]

Município Convencional FCO PROCERA Nenhum

Formosa 3,5 17,9 17,9 42,9 Goiás 6,1 32 32,7 53 Itapuranga 20,3 13,5 0 66,2 Orizona 18,2 54,5 0 27,3 Porangatu 17,9 25 0 57,1 Rio Verde 16,1 0 0 83,9 Fonte: Caume, 1997, p. 57 Obs.: O autor não define qual o período se refere os dados.

O padrão mais especializado da produção leiteira em Orizona deve-se ,em grande parte, ao acesso aos financiamentos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste

(FCO), que foram direcionados à compra de equipamentos e gado melhorado. Na tabela

6, verifica-se a importância dos recursos do FCO para os produtores de Orizona, perfazendo mais da metade dos créditos, quando comparados com os demais municípios.

A utilização dos recursos do FCO para o aumento do rebanho bovino pode ser percebida nos dados da figura 6, que mostram a evolução do rebanho bovino no município de Orizona durante a década de 1990. Observa-se que houve um aumento no rebanho, na passagem do ano de 1995 para 1996, de cerca de 19%, o mesmo não ocorre ao analisar os dados referentes ao estado de Goiás, pois, no mesmo período

(1995/1996), houve uma redução no rebanho na ordem de 9%.

41

Orizona (GO)- Evolução do rebanho bovino 1990-2000

120.000 20

16 100.000

12 80.000

8 60.000 4 Percentuais 40.000

Número de Cabeças 0

20.000 -4

0 -8 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Rebanho Variação percentual FIGURA 06 Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal. Disponível em : http://sidra.ibge.gov.br. Acesso em: 30 out.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.2002

O aumento do rebanho em Orizona ocorreu no período de maior utilização dos recursos do FCO pelas associações dos produtores do município. Assim, pode-se afirmar que os recursos do FCO foram fundamentais para a constituição e o fortalecimento da atividade leiteira em Orizona.

2.3 A importância da agricultura familiar em Orizona (GO)

A agricultura familiar é uma categoria social que possui uma característica histórica marcante, que é a sua marginalização ou exclusão de todo o processo de modernização da agricultura brasileira. Essa marginalização tem origem no processo de 42

reestruturação espacial e social que a modernização promoveu no Brasil. A marginalização espacial é no sentido geográfico de ter criado áreas específicas modernizadas e produtivamente competitivas, promovendo uma grande diversidade regional, considerada por Graziano da Silva (1999) como uma das principais características da modernização brasileira. Social, no sentido de ter possibilitado uma diferencial social entre os produtores, como os modernizados e não modernizados, excluindo do processo um grande número de agricultores, destacando entre eles o agricultor familiar.

Nesse processo, o Estado teve um papel fundamental, pois foi por meio da política agrícola que promoveu a modernização da grande propriedade e garantiu sua reprodução em detrimento da agricultura familiar, que sempre ocupou um lugar secundário e subalterno na sociedade brasileira (WANDERLEY, 1995). Nesse contexto, a agricultura familiar passou a sobreviver em um espaço social definido - pós- modernização -, por duas variáveis que condicionam a sua reprodução social, a primeira

é o acesso restrito à propriedade da terra, e a segunda é a sua capacidade limitada de investimentos.

Tendo em vista esses problemas, os agricultores familiares buscam diversas estratégias para garantir sua sobrevivência dentro desse espaço social limitado, e o associativismo é uma delas, em que o agricultor organizado possui uma maior representatividade frente às suas reivindicações. O caso de Orizona ilustra esta situação.

No município de Orizona, a predominância de unidades de produção familiar leva à necessidade de diferenciar as categorias familiar e patronal, visto que os dados que foram utilizados, para compor o perfil da agricultura familiar no município, estão tabulados de acordo com essas categorias. De acordo com o relatório elaborado 43

pelo estudo FAO/INCRA, pode-se distinguir como unidades de produção familiar os estabelecimentos que possuam as seguintes características: a direção dos trabalhos do estabelecimento é exercida pelo produtor; o trabalho familiar é superior ao trabalho contratado; e o tamanho da propriedade é determinado pelo que a família pode explorar com base em seu próprio trabalho, associado à tecnologia de que dispõe5. Já a categoria patronal, pode ser caracterizada pela utilização de mão-de-obra assalariada, incluindo trabalhadores permanentes e temporários, em que o trabalho familiar é marginal, limitando-se aos trabalhos de gestão e supervisão das atividades dentro da unidade de produção (FAO/INCRA, 2000).

Em Orizona, a agricultura familiar apresenta um quadro diferente em relação à região Centro-Oeste, onde o número de estabelecimentos e a área ocupada por este tipo de agricultores apresentam os menores valores comparados com os dados nacionais.

Enquanto os agricultores familiares ocupam, no Brasil, um percentual de

30,5% da área total, o que corresponde a 85,2% do número total de estabelecimentos, no

Centro-Oeste, os números são respectivamente 12,6% e 66,8%, e contraditoriamente a região, em Orizona, os agricultores familiares ocupam 58,8% da área do município e

84,3% do número total de estabelecimentos (Figura 07). Esses dados mostram o caráter marcante da estrutura fundiária da região Centro-Oeste, que é o alto grau de concentração da terra6.

5 Além desse critério, foi utilizada uma metodologia específica para estabelecer o tamanho médio das unidades familiares. Para mais detalhes, ver FAO/INCRA, 2000, p. 11 6 Veja capítulo I neste trabalho. 44

Agricultura familiar – Número de estabelecimento e área em 1995/96 (Brasil, Centro-Oeste e Orizona – GO)

100

85,2 84,3

75 66,8 58,8

50

Percentuais 30,5

25 12,6

0 Brasil Centro-Oeste Orizona (GO)

Estabelecimentos(%) Área Total(%) FIGURA 07 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1995/1996. Disponível em: http://www.pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

De acordo com os dados do Censo Agropecuário de 1995/1996, Orizona possui 1.345 estabelecimentos familiares, que correspondem a 58,8% da área total. A categoria patronal ocupa 41,2% da área total, com 249 estabelecimentos, o que equivale a 15,6% do número total. A área média das propriedades familiares no município é de aproximadamente 74 hectares, ficando abaixo da média para a região Centro-Oeste, que

é de 84 hectares, e muito acima da média nacional, que é de 26 ha. Com relação à categoria patronal a área média em Orizona é de 282 ha, no Centro-Oeste, esse número

é de 1.324 há e, no Brasil, de 433 ha.O que mostra mais uma vez a forte concentração fundiária na região Centro-Oeste (Tabela 07).

45

TABELA 07: Orizona (GO) - Número de Estabelecimentos e Área (valores e percentual) por categorias familiar e patronal em 1995/96

Número de Categorias Área Total (ha) Área Média (ha) Estabelecimentos

Familiar 1.345 100.460 74,7 Patronal 249 70.292 282,3 TOTAL 1.595 170.764 107,1 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em: http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.

O maior número de estabelecimentos familiares concentra-se no grupo de

área de 20 a 50 ha, totalizando 395 estabelecimentos (29,4 %), e, em seguida, vêm os estabelecimentos do grupo de área de 5 a 20 ha, com 299 unidades de produção representando 22,2% do total de estabelecimentos (Tabela 08). Esses dados mostram que mais de 50% dos estabelecimentos possui área menor que 50 hectares.

TABELA 08: Orizona (GO)- Número de estabelecimentos e área de acordo com grupos de área por categorias familiar e patronal em 1995/96 Menos de 5 Ha Entre 5 e 20 Ha Entre 20 e 50 Ha Entre 50 e 100 Ha Mais de 100 Ha Categorias Número Área Número Área Número Área Número Área Número Área Familiar 69 239 299 3.839 395 13.247 285 20.584 297 62.551 Patronal 3 11 5 50 17 708 49 3.817 175 65.706 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em: http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

A condição do produtor centraliza-se na de proprietário, tanto para a categoria familiar como para a patronal, correspondendo a 85,8% e 93,2%, respectivamente, dos estabelecimentos totais (Tabela 09). Nesse caso, Orizona acompanha a tendência da região Centro-Oeste, onde 93,6% dos estabelecimentos familiares correspondem à condição de proprietário.

46

TABELA 09: Orizona (GO)- Estabelecimentos e área segundo a condição do produtor por categorias familiar e patronal em 1995/96. Proprietario Arrendatario Parceiro Ocupante Categorias Número Hectares Número Hectares Número Hectares Número Hectares TOTAL 1.386 157.978 31 2.835 12 212 166 9.738

Familiar 1.154 90.604 24 1.259 12 212 155 8.384

Patronal 232 67.373 7 1.576 0 0 10 1.342 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em : http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

Do total do pessoal ocupado na agricultura em Orizona, a agricultura familiar é responsável pela absorção da maioria dos trabalhadores (79,7%), enquanto a categoria patronal emprega 20,2% do pessoal. A agricultura familiar ocupa 3.601 trabalhadores, dos quais 87,8% correspondem à mão-de-obra dos membros da família, sendo o restante divido entre parceiros (5,1%), empregados permanentes (5,3%) e outra condição (1,8%) (Tabela 10).

TABELA 10: Orizona (GO)- Pessoal ocupado por categoria familiar e patronal em 1995/96 Familiar Familiar Empregados Empregados Outra Categorias Total maior de 14 menor de 14 Parceiros Permanentes Temporários Condição anos anos Familiar 3.601 2.953 208 182 189 6 63 Patronal 916 308 7 443 80 75 3 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em : http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

A combinação de mão-de-obra familiar com empregados permanentes e temporários corresponde a uma parcela insignificante do total de estabelecimentos

(0,6%). O trabalho na agricultura é basicamente praticado pela mão-de-obra familiar 47

(26,8%) e pela conciliação da mão-de-obra familiar com a utilização de máquinas

(61,9%), indicação de capitalização do produtor (Tabela 11).

TABELA 11: Orizona (GO)- Número de estabelecimentos e área ocupada segundo o tipo de mão-de-obra utilizada em 1995/96 Estabelecimentos Área Total Mão-de-obra Número % Hectares %

Total familiar 1.345 100 100.460 100

Só mão-de-obra familiar 360 26,8 21.843 21,7

Mão-de-obr familiar e temporária 7 0,5 425 0,4

Mão-de-obra fam., temp. e permanente 1 0,1 152 0,2

Mão-de-obra fam. e emprego máquinas 832 61,9 57.529 57,3

Mão-de-obra fam. e demais combinações 145 10,8 20.509 20,4 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em : http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

Do total de estabelecimentos familiares, apenas 26,8% utilizam a força animal, e 76,3% combinam força animal com mecânica, enquanto os dados para a categoria patronal são 16,9% e 83,1%, respectivamente (Tabela 12).

Os estabelecimentos familiares que possuem energia elétrica correspondem a 59,4% do total, enquanto os patronais 87,6%. Com relação à utilização de adubos e corretivos, os estabelecimentos familiares e patronais que usam essa tecnologia correspondem, respectivamente, a 78,7% e 80,3% (Tabela 12).

48

TABELA 12: Orizona (GO)– Acesso à tecnologia e a assistência técnica por categorias familiar e patronal em 1995/96 Número de Estabelecimentos com: Uso de Força Categorias Só Força Energia Assistência Uso de Adubos e Animal ou Manual Elétrica Técnica Corretivos Mecânica Familiar 319 1.026 799 360 1.058 Patronal 42 207 218 128 200 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em : http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

É importante salientar que, ao comparar os dados do município de Orizona com os da região Centro-Oeste, pode-se notar que os agricultores familiares de Orizona possuem maior acesso à tecnologia e assistência técnica que a média geral da região

(Tabela 13).

TABELA 13: Região Centro-Oeste e Orizona (GO) – Estabelecimentos familiares com acesso à tecnologia e assistência técnica em 1995/96 Percentual de Estabelecimentos com:

Centro-Oeste Uso de Força Só Força Energia Assistência Uso de Adubos e e Orizona Animal ou Manual Elétrica Técnica Corretivos Mecânica

Centro-Oeste 47,3 39,8 45,3 24,9 34,2 Orizona 23,7 76,3 59,4 26,8 78,7 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (GO)1995/1996. Disponível em : http://pronaf.gov.br. Acesso em: 09 ago.2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 2002.

A caracterização do espaço agrário em Orizona é importante para visualizar o contexto em que nasce o associativismo nesse município. Dessa forma, é necessário salientar que a agricultura familiar teve fundamental importância no decorrer desse processo, como se poderá observar nos próximos capítulos.

49

3 – A EXPERIÊNCIA ASSOCIATIVISTA EM ORIZONA (GO)

Neste capítulo, será apresentado o processo de constituição das Associações

Rurais em Orizona. Buscando retratar essa experiência, será mostrado como se deu a iniciativa associativista no município e, de uma forma mais específica, toda a trajetória da Associação dos Pequenos Agricultores de Mata Velha, Água Grande e Coqueiros

(APAMAC), desde a sua constituição aos dias atuais.

Para o propósito deste trabalho, considerar-se-á que a confiança, a participação, a reciprocidade e a coesão do grupo são fatores primordiais para a formação de uma associação rural. Considerar-se-á, também, que o grupo deve ser de localidade, ou seja, os membros da associação devem ser, necessariamente, moradores de uma mesma localidade ou pelo menos que exista uma proximidade entre as comunidades. Além disso, o grupo deve possuir uma história que tenha precedido a constituição da associação. A reciprocidade entre os seus membros deve ser anterior à associação e a união da coletividade é pela busca de objetivos comuns, sejam eles econômicos ou sociais. Entende-se, então, que o associativismo rural não se resume apenas à busca de resultados econômicos, ou seja, “um esquema de organização e gestão da produção controlada pelos próprios trabalhadores” (MEDICI, 1991, p. 08), mas, também, procura envolver a coletividade em contextos mais amplos, ligados ao meio social e político.

50

3.1 A experiência associativista em Orizona (GO)

O termo associativismo define de uma forma ampla todos os tipos de organização social presentes no meio rural, considerando a existência de um grupo social, ou uma coletividade que se organize na busca de objetivos comuns (ALENCAR,

2001; GUERRA, 1991). Podem-se citar, como exemplos, os sindicatos e as cooperativas7.

A confiança e participação são os princípios básicos do associativismo rural.

A confiança é necessária para manter a coesão entre os membros do grupo, e a participação é a forma que os associados possuem para assegurar-se de que os resultados adquiridos pela associação, sejam eles positivos ou não, beneficiem todos os membros, ou, pelo menos, como chama atenção Alencar (2001), evitem que a organização seja dominada por uma minoria privilegiada de associados.

O grupo social que vai dar origem a uma associação pode ser formal ou informal (ALENCAR, 2001). O formal é constituído para desempenhar certas funções e opera de acordo com regras previamente estabelecidas, por meio de regimentos e estatutos. O informal não é regido por regras preestabelecidas e, sim, pela tradição e convívio entre os membros do grupo. O grupo pode ser, também, de localidade, ou seja, formado por uma comunidade ou um grupo de vizinhos, que, geralmente, são unidos por um objetivo comum. O trecho abaixo mostra a complexidade do campo de atuação de uma associação, seja ela formal ou informal.

1) Um crescente contingente de produtores, os quais são socialmente heterogêneos; 2) o processamento e comercialização dos seus

7 Essa forma ampla de definir o associativismo não cabe para este trabalho, pois necessitamos de uma definição mais precisa, que possa fundamentar as discussões e o estudo de caso. 51

produtos, a comercialização dos insumos que usam no processo produtivo, a prestação de serviços de assistência técnica, aluguel de máquinas, crédito; 3) o objetivo de representação dos interesses dos seus associados, tido como central pelo menos nos estatutos; 4) a operação em um mercado complexo, com elevada concentração de capital sob a influência de um processo de globalização econômica; e 5) a inserção em uma sociedade onde a dinâmica de sua economia deslocou-se do setor rural para o setor urbano-industrial, há mais de meio século (ALENCAR, 2001, p. 16).

O associativismo rural pode se entendido, segundo Alencar (2001), como um instrumento de luta dos pequenos produtores, proporcionando a permanência na terra, uma elevação do nível de renda e de participação como cidadãos. Porém o campo de atuação dessas organizações é bastante complexo, pois são envolvidas variáveis internas e externas ao grupo social.

O associativismo em Orizona começa a configurar-se no final da década de

1980. O principal problema dos produtores girava em torno da comercialização, seguido pela falta de condições para compra de equipamentos e insumos, e, por último, reivindicavam, anida, melhores condições de infra-estrutura no meio rural.

Os pequenos produtores, na falta de uma organização que os representasse, perceberam a necessidade de buscar algum tipo de representação que pudesse, de alguma forma, legitimar suas reivindicações. Dessa forma, surgiram em Orizona as primeiras associações, que buscavam atender s necessidades locais dos produtores, que não eram abarcadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

O surgimento das associações em Orizona teve alguns mediadores que acompanharam e ajudaram nas suas constituições, podendo citar a Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER/GO), as Comunidades Eclesiais de

Base (CEBs), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), o Centro de Apoio aos Mini e Pequenos Produtores Rurais (CAMPPO), a Federação dos Trabalhadores da 52

Agricultura do Estado de Goiás (FETAEG) e a EMBRAPA (Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária)`, cabendo destacar o trabalho da EMATER/GO como precursora da iniciativa. A consciência coletiva foi muito incentivada por esta instituição mediante a promoção de reuniões e trabalhos coletivos. “A EMATER/GO, há muito tempo, orientava mutirões de silagem em algumas comunidades do município”

(TAVARES, 1999, p. 75).

Historicamente, há que se considerar o papel das CEBs na organização dos produtores, sendo que parte das associações mantinha encontros religiosos, seguindo os ensinamentos eclesiais.

Dentre as instituições citadas, cabe destacar como uma instituição mediadora o CAMPPO, como uma instituição mediadora, que atuou na constituição de várias associações. O CAMPPO8, uma organização privada, trabalhou na fundação das associações com objetivo de, posteriormente, prestar assessoria técnica na elaboração de projetos para a obtenção créditos de investimento, especialmente, os destinados ao FCO.

A primeira associação foi criada em 1988, tendo, inicialmente, nove associados. Em seguida, foram criadas outras associações, totalizando, atualmente um número de 27 em todo o município de Orizona.

Em 1992, foi criada a Central das Associações de Pequenos Produtores

Rurais do Município de Orizona (CEAPRO), sendo os municípios de Orizona, Formosa,

Porangatu e Silvânia pioneiros na experiência de criação de centrais de associações no estado de Goiás (SPERRY, 1997).

8 O CAMPPO nasceu dentro da sede da Fetaeg, onde tinha uma sala própria, quando esta ainda era administrado pelo PCdoB. A iniciativa foi de três agrônomos, com experiência de trabalho no setor público agrícola do estado, no período [final da década de 1980] em que a criação dos Fundos Constitucionais passou a demandar assessoria técnica à pequena produção. Um dos agrônomos tinha ligação com o Partido e há anos atuava como assessor informal da Federação, o que facilitou a criação do Camppo (LUNARDI, 1999, p. 200). 53

QUADRO 01: Relação das Associações Rurais do Município de Orizona (GO) No de Sócios Nome da Associação Fundação Fundadores

APAC - Associação de Pequenos Agricultores da Cachoeira 020/8/1988 9

APAMAC - Associação dos Pequenos Agricultores de Mata Velha, Água Grande e Coqueiros 020/8/1989 22

ADCO - Associação do Desenvolvimento Comunitário de Orizona 31/10/1990 56

APAP - Associação dos Pequenos Agricultores da Região da Posse 17/04/1990 sem dados

APAF - Associação dos Pequenos Produtores da Região da Firmeza e Mata-Firmeza 29/06/1990 41

APAMORA - Associação dos Pequenos Agricultores da Região do Morro Alto 22/11/1990 14

APAMA - Associação dos Pequenos Agricultores da Mata 12/01/1991 36 APAT – Associação dos Pequenos Agricultores da Região de Taquaral Capela, parte de Taquaral 01/05/1991 31 do Meio e parte do Taquaral Formoso. APAS – Associação dos Pequenos Agricultores da Região da Sussuapara 07/05/1991 25

APATC - Associação dos Pequenos Agricultores da Região do Taquaral de Cima. 02/06/1991 37 APANAMB – Associação do Pequeno Agricultor de Noroeste, Areias, Muquém, Barreiros e 12/06/1991 17 Baú. APANB – Associação dos Pequenos Produtores da Regiões Nível, Borboleta, Areias, Areias de 17/06/1991 17 Baixo, Pedregulho e Noroeste APACOR – Associação dos Pequenos Agricultores Circunvizinhos de Orizona. 19/06/1991 12 APRUSB – Associação dos Pequenos Produtores da Região Santa Bárbara, nos Municípios de 06/09/1991 27 Orizona e Vianópolis. APRUPERC – Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Região do rio do Peixe Cuiabanos 06/03/1992 14 e Santa Rita APALG – Associação dos Pequenos Agricultores da Região da Firmosa e Santa Bárbara, 01/05/1992 16 denominada Lagoa APRUCAPI – Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais da Região de Campo e Pico 08/05/1993 13 APROASB – Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais da Região de Areias e Santa 15/05/1993 25 Bárbara ASBERB – Associação de Pequenos Produtores Rurais das Fazendas Boa Vista, Santa Bárbara e 18/01/1994 29 Barreiro ABC – Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais da Fazenda Barreiro de Cima 31/10/1994 20

APPP – Associação dos Pequenos Produtores da Ponte de Pedra. 23/07/1994 13

APRUSANB – Associação dos Pequenos Produtores Agropecuários da Região Santa Bárbara 24/09/1994 22

APRUMAR – Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Região do Marinheiro 20/08/1994 33

APROLIPE – Associação dos Pequenos Produtores da Região de Limeira e Rio do Peixe 11/01/1995 11 APROCAMPO – Associação dos Pequenos Produtores Rurais das Regiões da Cachoeira, 25/02/1995 20 Capoeirinha e Capão dos Porcos APAJE – Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais da Região do Japão 09/05/1995 26 APROCOR – Associação dos Mini e Pequenos Produtores Rurais da Fazenda Coqueiros e 26/05/1995 12 Região Fonte: TAVARES, 1999. Org.: BEZERRA, L.M.C, 2002.

54

No ano de 2002, a CEAPRO estava trabalhando com cerca de 300 famílias, atendendo às demandas dos pequenos produtores associados, referentes à compra de sementes, mudas, calcário, adubo, serviços técnicos, telefone, correspondência, transporte, e promovem, também, encontros e palestras sobre temas relevantes aos produtores. Trabalha em parceria como o Sindicato Rural de Orizona (SRO), Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Orizona (STRO), Agência Rural, Prefeitura, Conselho

Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR), Centro Social Rural de Orizona

(CMDR), Câmara Municipal e Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de

Orizona (COAPRO), “essa ligação entre várias organizações representativas ocorre pelo fato de haver em todas essas entidades e órgãos um número expressivo de associados que participam de várias organizações concomitantemente” (TAVARES, 1999, p. 77).

Dentre todas as associações de Orizona, escolheu-se para a pesquisa a

Associação dos Pequenos Agricultores de Mata Velha, Água Grande e Coqueiros

(APAMAC), que, de acordo com os estudos de campo, era a associação mais atuante.

Apesar de todo o discurso sobre a constituição de associações para a obtenção de crédito, a associação escolhida permanece na atividade mesmo em um contexto de escassez de recursos, o que, provavelmente, redunda em momentos de diminuição do número de associados e outros problemas no interior da associação9.

9 Assunto que será discutido mais detalhadamente no capítulo seguinte. 55

3.2 O papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) na formação da Associação dos Pequenos Agricultores de Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC)

O povo não conhece a história da opressão pelo estudo dos modos de produção; ele a conhece por sua própria vivência, sua própria história, seu passado indígena ou escravo, pela tradição familiar oral, pelo seu êxodo permanente em busca de melhores condições de vida (BETTO, 1986, p. 48).

As Comunidades Eclesiais de Base -CEBs- constituem grupos que se organizam em torno de uma paróquia ou de uma capela, em que, por meio de reuniões, conciliam fé com a discussão de problemas ligados diretamente à comunidade urbana ou rural. Recebem o nome de Comunidades Eclesiais de Base porque elas trabalham com pessoas de uma mesma comunidade ou região; geralmente, localizadas nas periferias urbanas ou na zona rural, estão ligadas diretamente à Igreja e atuam com pessoas da base, ou seja, da classe operária, trabalhadores urbanos e rurais. Oliveira

(2001) caracteriza os membros das CEBS como um povo oprimido, que comunga dos mesmos sofrimentos em comunidade.

As CEBs procuram sempre incentivar o desenvolvimento de uma consciência mais crítica, mostrando as diferenças de classes e a distinção entre exploradores e explorados. Ao mesmo tempo em que passam os ensinamentos do

Envagelho, procuram criar uma consciência política nas comunidades em que atuam.

Dois fatores correlatos marcam os membros das comunidades rurais e urbanas: a expropriação da terra e a exploração do trabalho. Migrantes e oprimidos, os membros das comunidades, se outrora buscavam na religião um sedativo para os sofrimentos, encontram agora um espaço de discernimento crítico frente à ideologia dominante e de organização popular capaz de resistir à opressão (BETTO, 1986, p. 20).

56

O trabalho das CEBs tornou-se mais visível no período do regime militar, quando houve muita repressão aos movimentos sociais e de seus mediadores, representados em grande parte pelos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais. As CEBs, por estarem ligadas à Igreja naquele período, ficaram fora da repressão e continuaram atuando junto às classes trabalhadoras. Enquanto as organizações dos trabalhadores eram repreendidas e, de certa forma, forçadas a atuar no campo mais assistencialista, as

CEBs articularam os movimentos sociais, que culminaram na formação da Oposição

Sindical.

As CEBs baseiam-se na contradição entre capital e trabalho, opressores e oprimidos, exploradores e explorados, para mostrar a necessidade da organização popular na busca da libertação das classes operárias.

A palavra libertação sobressai no vocabulário das CEBs. [...] Ela [CEB] ajuda a comunidade a passar de uma consciência social reformista para a consciência da transformação social, da modificação do modo de produção capitalista. [...] Sob um regime ditatorial, fundado na exclusão política e econômica do povo, não é difícil chegar à raiz dos males sociais – a contradição entre o capital e o trabalho (BETTO, 1986, p. 25).

Martins (1985) chama atenção para o fato de as CEBs estarem na raiz de muitas lutas sociais pelos direitos do homem e de a religião assumir um papel libertador dentro desses grupos, mostrando que o trabalhador não é uma vítima isolada dos problemas sociais, mas que existe toda uma coletividade envolvida nos processos de exclusão social. Essa consciência coletiva, desenvolvida dentro das CEBs pelos seus membros, possibilita uma organização de forças que buscam soluções para suas reivindicações. Oliveira (2001) chama a atenção para o papel das CEBs no tocante à consciência coletiva, pois ela é capaz de promover transformações na realidade social do grupo. 57

Ainda, segundo Martins (1985), as CEBs significam, dentro da Igreja

Católica, uma face nova e distinta. A Igreja e o Poder assumem novas características, mediante as quais a prática sacerdotal e o trabalho pastoral deixaram de legitimar a dominação do fazendeiro e do grande proprietário, dando lugar a uma legitimidade nova

- a dos grupos populares e de base.

A partir do regime militar, as CEBs encontraram maior reconhecimento na zona rural, por um lado, devido à maior proximidade do povo do meio rural com a religião, e por outro, porque foi nesse período que os trabalhadores rurais ficaram mais carentes de representatividade.

As comunidades de base tornaram-se importantes mediadoras na formação de organizações no meio rural, visto que suas discussões tratavam da conscientização sobre a necessidade da união para realizar tarefas em prol da coletividade e da organização do grupo na busca pela reivindicação de seus direitos.

Muitas associações de pequenos produtores que surgiram no final da década de 1980 tiveram as CEBs como mediadoras do processo de sua constituição. A união do grupo que precede o processo de constituição da organização a torna mais forte e configura um processo mais duradouro. Já as organizações criadas por outras mediações não têm na essência os problemas do grupo, e isso dificulta o seu poder de representatividade.

O que diferencia uma e outra concepção de Associação são só objetivos da iniciativa [Estado ou CEBs]. Os órgãos públicos (ou as organizações de caridade, que atuam de forma parecida) têm intenções assistencialistas e procuram atingir os “agricultores de baixa renda” com ações limitadas a alguns aspectos das atividades econômicas. As Associações de CEBs, ou inspiradas por elas, trabalham com objetivos de longo prazo, procurando transformações profundas na organização da produção e da sociedade. Têm, necessariamente, um compromisso de luta contra a exploração, e seu trabalho cotidiano de cooperação está relacionado também a uma luta por terra, por influência na política, por saúde, educação, enfim, por cidadania. As 58

Associações que funcionam dentro destes objetivos ligam sua atividade a uma política que se pretende transformadora (RIBEIRO, 1994, p, 20).

Essa constatação, feita por Ribeiro (1994), também pode ser observada em

Orizona:

A relação CEBs e associativismo no município de Orizona, [...] é essencial para a continuidade do movimento. [...] as associações que nasceram, sobretudo em função de financiamentos, são diferentes das que surgiram em regiões onde as CEBs são mais organizadas (TAVARES, 1999, p. 88).

Conforme se verá mais à frente, as CEBs fizeram parte do processo de constituição da APAMAC e ainda participam do cotidiano das três comunidades que deram origem à associação como pode-se observar no depoimento de um associado à

APAMAC.

Tem a reunião da comunidade [CEB], todo domingo tem ela. Discuti muita coisa, as coisa assim, vamo dizê, os pobrema que tem na comunidade. No causo de uma família tá precisano de uma coisa, meio de ajuda, religião.

A comunidade reúne todo final de semana. Discuti religião, e o hoje tamém, na Igreja moderna de hoje, discuti política, discuti muita coisa.

As reuniões das comunidades são realizadas aos domingos. Nas comunidades Água Grande e Coqueiros, acontecem em residências de moradores, já a reunião da comunidade Mata Velha é realizada na sede da APAMAC. Os moradores das comunidades reconhecem a importância das reuniões no seu dia a dia.

59

3.3 A origem e a trajetória da Associação dos Pequenos Produtores da

Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC)

Três córregos que deram nomes a três comunidades. Difícil mesmo é saber onde começa uma e termina a outra. As divisas são as mais variadas: uma estrada, a “linha”, um mato, a casa de fulano, sicrano ou beltrano. Se alguém muda para mais longe um pouquinho [sic] a comunidade chega até lá. Qualquer visitante mal informado pode perder-se facilmente entre tantas viradas (TAVARES, 1999, p. 83).

Associação dos Pequenos Produtores da Mata Velha, Água Grande e

Coqueiros – APAMAC –, é o nome da associação de pequenos produtores que reúne as três comunidades do município de Orizona. A APAMAC foi a segunda associação constituída em Orizona, sendo a data da sua fundação 02/08/1989, possuindo, inicialmente, 22 sócios.

É possível classificar, especificamente, os associados à Associação dos

Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC), conforme tipologia apresentada por Wanderley (2000), como aquele em que a agricultura familiar está no centro de uma vida social intensa, propiciada por fatores que estimulam a permanência no campo, destacando as condições favoráveis à produção agrícola, como a comercialização, e também a garantia de um nível de renda socialmente adequado à sobrevivência da família. A autora chama a atenção no sentido de que esse tipo de espaço rural ocorre em áreas onde a agricultura familiar é predominante. 60

FIGURA 08 Sede da APAMAC em Orizona (GO) Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C. 2002

Segundo Tavares (1999), os laços de amizade são muito fortes, característica particular dessas comunidades. São práticas comuns nesse local, segundo a autora, plantar a roça a meia, arrendar um pedaço de terra, trocar dia de trabalho, engordar porcos a meia, mutirão, criar bezerras em troca da primeira cria, criar vacas em troca do leite e metade das crias, tirar o leite para o vizinho, ou olhar as criações e o quintal.

61

FIGURA 09 Residência de um agricultor da comunidade Água Grande em Orizona (GO) Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C. 2002

A relação entre os membros da comunidade precede a fundação da associação, pois grande parte das pessoas que moram naquele local é descendente de produtores. A propriedade é a herança, e cada propriedade é um pedaço da história da comunidade. Todos se conhecem, moram ali desde criança, alguns foram para a cidade e depois retornaram, muitos são parentes e grandes amigos. Cada família faz parte da história da outra família. As figuras 9 e 10 retratam a realidade dessas comunidades, sendo a primeira uma construção antiga preservada pela família e a segunda uma casa de arquitetura mais recente, construída em uma propriedade herdada.

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FIGURA 10 Residência de um agricultor associado à APAMAC – Orizona (GO) Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Autor: BEZERRA, L.M.C.

A relação entre os membros da comunidade – a amizade, a vizinhança e o parentesco – mostra um espaço rural socialmente construído pelos seus habitantes, espaço considerado por Wanderley (2000) como o “lugar da família”. Não podendo deixar de salientar que essa construção de um espaço específico não isola essas comunidades do mundo externo, pelo contrário, elas estão integradas a espaços mais amplos me As figuras 9 e 10 retratam a realidade dessas comunidades, sendo a primeira uma construção antiga preservada pela família e a segunda uma casa de arquitetura mais recente, construída em uma propriedade herdada.diante relações sociais mais complexas, como os mercados e a vida urbana. Esses produtores possuem relações dinâmicas no setor urbano, alguns participam de outras organizações sociais, outros têm 63

membros da família trabalhando na cidade e, além disso, a necessidade de comercializar os seus produtos os integra a dinâmicos mercados.

A APAMAC surgiu de um grupo que já tinha o costume de promover trabalho coletivo, como já foi citada, anteriormente, a iniciativa da EMATER/GO.

Nasceu, também, de comunidades que promoviam encontros religiosos. Isso mostra que o registro jurídico de uma associação não significa o exato momento em que a comunidade começa a articular-se como uma organização. Assim, conforme Ribeiro

(1994, p.45):

A constituição de uma Associação numa comunidade rural não significa o nascimento da organização naquela comunidade, ao contrário do que muitos pensam. Na verdade, a Associação é produto de organizações já existentes e funciona como canal de expressão de relações azeitadas e regulares que já existem firmadas dentro daquele grupo de lavradores.

Assim, a APAMAC não surgiu no momento do seu registro jurídico, conforme o relato de um associado10 da APAMAC:

Assim, primeiramente quando nois fundô a associação, até nu foi associação, que nois iníciamo foi só com reunião de comunidade. A primeira coisa, com a assistência da Emater, na época, e uns colega da gente lá, o Zé Geraldo, que era chefe do escritório,.nois reunimo e começamo a fazê em conjunto sal mineral, foi o primeiro passo. Como já era de tradição a comunidade organizada pra rezá, né. Aí, nois ficamo sabeno de associações em outros lugar. E,aí, nessa época tava fundano uma noutra região, e nois começamo também a reuni, discuti e fundamo a nossa associação.

Após a fundação da associação, a trajetória de lutas tomou corpo. Já constituída em uma organização, a busca pela legitimação da associação, como tal, frente aos associados, tomou forma por meio de reivindicações e conquistas. A primeira reivindicação seguida de conquista significou a legitimação da associação perante seus associados. O próprio associado relata a conquista:

10 Sócio-fundador. 64

Na época quando, a gente fundô a associação, [...] a gente pensô assim, vamo chamá a Prefeitura aqui, vamo chamá o prefeito. Aí chamamo [...]. Ai es ofereceu um trator, [...] seis pega esse trator, com operador, seis organiza, faz um certo roteiro, fica com ele aí e faz a roça de vocês tudo. E, aí, com aquela experiência nois pagamo a despesa do trotor [combustível e manutenção], só. E foi bom demais, a gente nunca tinha visto aquilo aqui, só preço de mercado, e fico bem mais em conta, aí nois já animamo.

Com a associação legitimada na comunidade, na condição de uma organização, os membros partiram para um objetivo maior, a busca por recursos financeiros. A notícia da existência dos Fundos Constitucionais de Desenvolvimento

Regional, cujos recursos eram repassados para os produtores que estivessem organizados, levou os membros da associação a uma luta, a reivindicação pelos recursos do FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste). Os recursos do FCO foram responsáveis pela criação da grande parte de associações no estado de Goiás, como em

Orizona e também em Silvânia. De acordo com Sperry (1997), o crédito do FCO funcionou como desencadeador da dinâmica de organização das associações e, ao mesmo tempo, uniu o grupo e estimulou seu processo de organização pela necessidade de obtenção do financiamento.

A conquista do financiamento do FCO para a APAMAC foi, e continua sendo, motivo de orgulho para os sócios fundadores, além de representar uma certa melhora no patrimônio dos associados. Como pode-se observar no depoimento abaixo.

[...]. E aí, descobrimo esse FCO e brigô lá e conseguiu que saísse pra nossas associações [associações do município]. E aí, saiu, [...], e a gente compro dois trator e com implementos, sabe, e o FCO foi muito bom nessa época[..], há vei vaca tamém, duas vaca, pra cada sócio, através da associação, [...]. E nas úrtimas prestação o leite da vaca num dia dava pra pagá a prestação dum ano, sabe. Foi ótimo negócio. Depois disso, a gente fez outro, e logo, tamém a gente quitou as máquina.

65

A conquista de equipamentos é muito importante no processo de legitimação da associação, pois, conforme Ribeiro (1994), para o pequeno produtor, significa maior proximidade ao grande produtor. O equipamento é entendido como uma arma, na luta do pequeno produtor pela sua sobrevivência.

quando o grupo associado se apropria de equipamentos, para ele é como se estivesse se assenhorando de uma arma para lutar contra os exploradores. A entrada da máquina (seja o trator, a descascadeira, etc,) na comunidade não é apenas um benefício para o associado, mas é interpretada também como instrumento de uma luta que a Associação trava contra a exploração (RIBEIRO, 1994, p.37).

O contexto nacional propiciava, de certa forma, maiores facilidades para a obtenção de recursos. Porém o início da década de 1990 foi marcado por uma mudança na política agrícola praticada pelo governo, o que significou uma redução nos recursos destinados à agricultura. A menor participação do Estado, no decorrer da década de

1990, na forma de subsídios e controle de taxa de juros, resultou em barreiras à obtenção de recursos. À medida que os novos planos econômicos foram surgindo, novas regras forma incorporadas aos financiamentos, tornando-se obstáculos à obtenção dos recursos e, também, problemas para a quitação de financiamentos anteriores.

Nesse contexto, a associação assumiu um novo financiamento, com recursos do FCO, e a partir desse momento começaram a surgir alguns problemas dentro da associação.

Nois fizemo outro FCO, acho que em 1993, pra comprá uma caminhonete pra carregá o nosso leite, que a gente pagava um leiteiro, e, calcário que na época a gente tocava uma roça, de milho. Aí a gente fez esse financiamento da caminhonete, e muita gente, [...] que tinha capacidade de pagamento e de implantá o financiamento, teve gente que ficou com dez matrizes, dessas meio-sangue. E o negócio nu foi muito bom, não, sabe. A coisa pendeu pro otro lado.

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Os associados da APAMAC são exclusivamente produtores de leite, com poucos casos de pecuária mista. Isso ocorre devido a problemas que aconteceram durante os 13 anos da existência da associação. Segundo um sócio-fundador, a associação teve prejuízos com lavouras, e isso levou à especialização na pecuária leiteira. Mais na época nois tentamo tocá lavoura, tocamo oito alqueiro de arroz, nossa, mais foi um prejuízo dum tamanho, na época do primeiro financiamento11.

A abundância de recursos propiciou a associação a manter em caixa um certo capital, que servia para pagar as parcelas do financiamento e fazer aplicações financeiras em bancos. Mas, a cada diretoria que passava pela associação, novas idéias surgiam. Ao assumir uma nova diretoria, os produtores resolveram utilizar o capital para investir em uma lavoura de arroz e, apesar da experiência negativa anterior, arriscaram novamente.

Aí entrô um novo presidente [..]. e falô nois vamo pegá esse dinheiro e vamo toca lavoura, vamo pagá os financiamento nosso com a lavoura. Aí teve uma votação, uma pressão, a turma contra de mais da conta , e passô . [...] pegamo o dinheiro que tinha em caixa tocamo tudo na lavoura. Mais um ano de arroz, mais um ano perdido.

Os prejuízos com as plantações de arroz levaram os associados a confiar mais na atividade leiteira, isso se reflete em um quadro em que os associados, na grande maioria, se dedicam à pecuária leiteira. O medo pela diversificação tem origem, também, nos problemas sofridos pelos produtores, com a opção pelas lavouras de arroz.

Esse quadro tornou-se uma barreira à diversificação, e também é motivo de desencontros de opiniões dentro da própria associação.

Então, hoje, o pessoal pegô um pouco de trauma do negócio [lavoura]. Então, hoje, quando cê fala “vamo plantá lavoura” aí ele [associado] tá lá na assembléia e fala “não esquece do ano tal [anos

11 Depoimento de um sócio-fundador da APAMAC.

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de prejuízo com lavouras] fulano”. Então isso aí deixô nossa associação muito parada.

Segundo os produtores, o associativismo em Orizona está desacreditado, e a falta de recursos é a causa desse problema. Ao mesmo tempo em que as conquistas legitimaram a associação como uma organização, as derrotas afugentaram os associados, tornando-os desacreditados quanto ao associativismo.

Hoje, o associativismo tá bem, vamô dizê assim, desacreditado. Eu não sei porque. As pessoa parace que canso, que já tem um certo tempo de trabalho, sabe, vai ficano cansado. Então, hoje, a gente nu vende o nosso leite [em conjunto], nu é todo mundo que vendi nu lugá só, nem compra quase nada em conjunto, diminuiu muito.

Associação passa hoje por um período muito crítico. Ela, a nossa associação, nu deve um centavo, tudo que temo hoje foi batalhado, foi suado, mais hoje, o povo anda com muito medo.

A APAMAC, atualmente, passa por um período de crise e a origem do problema é a falta de recursos, redundando em uma falta de atratividade de novos associados e expulsão de outros. Em entrevista com um antigo associado, ele declarou que a associação era só esporte e como eu já tô mais velho, não tava adiantano nada.

Um morador da comunidade que não faz parte da associação justifica, assim, a sua não filiação a APAMAC:

Antes não deu para entrá, agora não é bom mais, porque não sai financiamento e utilizo as máquina como se fosse um associado e participo das recreações da associação.

Os moradores das comunidades que não são associados participam dos eventos que associação oferece, como se pode observar no depoimento acima. Porém não mostram interesse em se tornarem associados, e um associado reconhece o fato.

O interessante que eu acho aqui é o pessoal da comunidade aqui que não são associados da APAMAC, eles participam lá da prática de esporte com a gente, normalmente, como se fossem associados ali, 68

eles gostam daqui, mais não sei explicá porque que não são associados dessa associação, pessoal daqui, da comunidade, de pertinho aqui, ó. [...]. O que a gente fala aqui é o individualismo da pessoas que não aceitam vivê em comunidade, né.

Na verdade, não é que os produtores não aceitem viver em comunidade, como disse o associado da APAMAC, pois a maioria participa das reuniões religiosas que acontecem nas comunidades, e valorizam o relacionamento com os vizinhos e a amizade que cultivam. O que realmente pesa é a questão financeira, a falta de recursos para financiamentos por intermédio da associação, e as eventualidades, com as quais os associados têm que contribuir, para sanear algumas dívidas da associação. Um não- associado residente na comunidade Água Grande, para justificar a sua condição, declarou que não gosta de sociedade, mas falou que sua esposa preside as reuniões da comunidade, que acontecem aos domingos. Então, o problema não é viver em comunidade, mas, principalmente, a questão financeira.

Nos dois últimos anos, a associação perdeu cerca de nove membros, e não houve mais nenhuma filiação. Segundo um associado, um dos tratores da organização teve problemas técnicos, e como a APAMAC está descapitalizada, parte do recurso para a manutenção do trator teve que sair dos bolsos dos associados e isso causou, ainda mais a insatisfação no grupo.

[...] até o ano passado[2001], nois éramos 32 associados, hoje nois somos 23. Eles [antigos associados] acusam problema financeiro, que no ano passado a associação teve um problema financeiro grande, porque a gente nu ganhava dinheiro, [...] e o nosso trator quebrou, quebrou uma coisa, arrumô aquela, quebrou otra coisa e gastamos uns R$ 8.000,00 com esse trator [...]. E isso, nego teve que botá a mão no bolso. Aí começo a pô a mão no bolso “ai eu tô ino embora, to ino embora, tô ino embora”.

A perda de associados significa para os fundadores muita decepção, pois, para eles, a APAMAC é sinônimo de muita luta, de muitas conquistas e não poderia ter 69

chegado ao ponto que chegou, de perda de credibilidade perante a maioria dos associados.

Nois temo que chamá junto a turma, pegá e sacudi a turma de novo. Porque nois nu pudemo deixá acabá o que nois construímo, a tanto tempo, desde 89, que nois cumeçamo. Então, tanto que nois lutamo pra adquiri isso aí e deixá agora que tá tudo arrumadim.

Os aspectos sociais desenvolvidos pela associação são muito importantes para o grupo e significam, para alguns, um dos motivos para continuarem organizados, mas não é motivo para a entrada de novos associados, pois as atividades são abertas para todos os moradores das comunidades. O depoimento de um associado demonstra como é importante o papel assumido pela associação como um local de lazer e de encontro de amigos.

Vai chegano na véspera da quinta feira pra gente vim pra prática de esporte, meus filhos já tão lá aceso. “Pai nois vamo pra APAMAC hoje?”. Às vezes coincide de assim o final de semana, de quinta-feira, a gente vem na quinta, sexta, sábado e domingo. Até minha esposa sempre faz uma graça lá “podemo levá a mudança para lá, porque tá todo dia lá”. É uma coisa que eu acho interessante aqui também, é que sempre, a gente nesses almoço e outros dias da semana que resolve faze alguma coisa pra cumê aí, um almoço é, a gente, às vezes reúne, ai uns dois, três, quatro [famílias] e faz o almoço aqui. [...] A nossa associação ela tem uma diferença, esse lado social aí, é bem diferente das outras [associações do município]. Eu não sei porque disso, mais a nossa tem esse campo [campo de futebol] aí, que chama atenção demais, o pessoal gosta muito da bola, de tá aí reunido.

A associação sobrevive da anuidade que é paga pelos associados, que equivale a cinco sacas de arroz, e da renda dos tratores que prestam serviços para associados e não-associados, nois tamo viveno de hora de trator que sócio paga, temo uma anuidade que é pago todo ano, tamo viveno disso aí12. Mas a grande fonte de recursos tem origem na prestação de serviços, por meio dos tratores, que, atualmente,

12Depoimento de um sócio-fundador da APAMAC.

70

segundo um associado, está sendo prejudicada pela prefeitura, que está oferecendo serviços de tratores a um custo inferior ao cobrado pelas associações, e isto está afastando os produtores dos serviços prestados pelas associações, tanto associados como não-associados. Segundo o associado, “a prefeitura está na contra-mão das associações”, pois, por meio desta ação, o governo municipal está tirando a principal fonte de renda das associações. Ainda, segundo esse associado, a prefeitura deveria oferecer alguma ajuda às associações para que elas reduzissem os seus custos e passassem a cobrar mais barato pelos seus serviços, ou então passar a atender produtores que não são associados e que não possuem condições de arcar com os custos para contratar os serviços de um trator. E comenta:

E vô te fala uma coisa, o que mais espanto o associado de todas associações, a prefeitura comprô uns tratô e trabalha hoje, pelo óleo. Então, ele [tratores da prefeitura] vei competi com o trator da associação. Mais, [...] nois já sentamo, já falamo, gente se nois usá o trator da prefeitura, nois tamo simplesmente cabano com a nossa associação. Aí o cara levanta lá e fala assim “mais ele tá a metade do preço do daqui” quê que nois vamo fazê? [...] Uma coisa [os tratores oferecidos pela prefeitura] que vei pra ajudá , se soubesse direcioná certim. Então, nas associação tem os trator, então, vamo atendê lá o pequenim que nu tem né, mas é política.[...] e aí ditamo uma norma, todo mundo da associação nu vai podê trabalha com o trator da prefeitura “então, vou saí da associação”. E uma coisa taí hoje, ocê não tem como argumentá com o sócio, “fica na associação, se ocê pagá essa hora a mais ocê ta ajudano a mantê a associação”, eles nu pensam nisso. Es qué é sabê do dele e do hoje, nu qué sabê do manhã, não.

Apesar da crise da APAMAC, os associados que ainda acreditam no associativismo e que lutam pela permanência da prática associativista dentro da associação procuram saídas para os problemas existentes. Uma delas é a busca pela capitalização da associação e, conseqüentemente, maiores benefícios para os associados.

Dessa forma, a associação está diante de mais uma luta que se configura, por um lado, 71

em manter a associação comoto uma organização e, por outro, buscar formas para chegar a esse fim.

Uma das formas propostas pelo grupo é a procura por recursos, por meio de financiamentos em bancos e também pela plantação de uma lavoura de arroz.

Agora esse ano [2002] a gente tá com plano, já decidido em assembléia, já té arranjô uma [área para fazer a lavoura]. [...] como o chão lá que a gente conseguiu é uma área bem bonita, assim, plana, mais de cerrado, no primeiro ano a gente vai plantá arroz, porque o calcário nu vai chegá a tempo dele reagi, então o primeiro ano vai sê arroz, depois, a gente vai, no próximo ano, a gente discuti o quê que vai plantá

Conforme Ribeiro (1994), a associação não possui objetivos ligados somente a questões econômicas, e a APAMAC possui um outro objetivo, que tem a mesma urgência de ser atingido, criar condições para que a associação não desapareça.

a Associação é vista como o meio para atingir vários objetivos. Desde aqueles bem definidos (como reduzir a intermediação comercial, usar um equipamento coletivo, por exemplo) até outros imprecisos ou de definição muito difícil (tipo “aumentar a consciência” do camponês, politizar o produtor, etc.) (RIBEIRO, 1994, p.16).

Apesar dos problemas da APAMAC, a associação está tentando sobreviver, buscando sempre formas para não se dissolver, como uma organização representativa de pequenos agricultores, e como um próprio associado relata, a luta da associação agora é sobreviver. E agora resta a luta aí, nois ficamo com associação, pra vê novas idéias13.

13 Depoimento de um sócio-fundador da APAMAC. 72

3.4 O estatuto da Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC)

A APAMAC é uma entidade civil, sem fins lucrativos e que considera como possíveis associados os pequenos produtores que se dedicam às atividades agrícolas e que estejam na área de ação da associação, ou seja, que seja membro de uma das três comunidades (Mata Velha, Água Grande e Coqueiros).

De acordo com o estatuto a APAMAC, a associação possui os seguintes objetivos:

I - Promover o desenvolvimento comunitário através da realização de obras e melhoramentos, com recursos próprios ou obtidos por doação ou empréstimos e, proporcionar aos associados e seus dependentes, atividades econômicas, culturais e assistenciais. II - Dar condições aos pequenos agricultores produtores de alimentos, organizados em grupos, na busca de soluções comuns. III - Racionalizar as atividades de coleta, transporte, beneficiamento, armazenagem, classificação, embalagem e outros necessários a produção de seus associados. IV - Prestar assistência técnica e informação de mercado ao quadro social. V - Manter serviço de cadastro dos produtos e principais mercados. VI - Garantir o acesso dos pequenos agricultores, de maneira racional, aos mecanismos de Política Agrícola: preços mínimos, crédito rural, assistência técnica e pesquisa. VII - Utilizar as instalações da Unidade armazenadora para atividades de apoio à ação comunitária. VIII - Assegurar a colocação dos produtos no mercado, através de instituições de comercialização facilitando o acesso mais direto dos produtores organizados com o mercado e o consumidor de baixa renda. IX - Representar os interesses dos seus associados (Estatuto da Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros (APAMAC)).

A associação é dirigida por uma diretoria executiva e um conselho fiscal. O exercício em qualquer dos órgãos não é remunerado e não será permitido cargo cumulativo. 73

É na Assembléia Geral que se decide pela admissão ou demissão de associados. Para se tornar um associado da APAMAC, o pequeno agricultor deve ocupar a condição de proprietário, parceiro, meeiro ou arrendatário, que utilize uma

área, de no máximo, 200 hectares, desde que esse pequeno agricultor esteja na área de ação da associação, ou seja, que seja membro de uma das três comunidades (Mata

Velha, Água Grande e Coqueiros). Além disso, o produtor deve preencher uma proposta que será encaminhada a diretoria. Aprovada a proposta, o associado deverá pagar a “jóia de admissão”, que corresponde a um terço do salário mínimo vigente, e a anuidade, que equivale ao valor de cinco sacas de arroz de 60 quilos.14

Os associados possuem direitos e deveres. É direito do associado, segundo o estatuto, votar e ser votado, participar das assembléias e dos assuntos ali discutidos, apresentar propostas por escrito a diretoria, quando considerar necessário, pedir demissão, sugerir novos associados, consultar na sede os documentos da associação quando achar necessário. É dever do associado realizar com a associação todas as operações que constituam seus objetivos econômicos e sociais, cumprir com suas obrigações financeiras com a associação, desempenhar com dedicação os cargos para os quais for eleito ou nomeado, entre outros.

A demissão do associado só pode ser requerida por ele mesmo e não pode ser negada pela Assembléia Geral. Porém a associação pode demitir um associado, desde que ele pratique algum ato que conduza a Assembléia Geral a eliminá-lo. O associado pode ser retirado da associação se praticar alguma atividade considerada prejudicial à organização ou que não esteja dentro dos objetivos sociais da associação.

14 Artigo 31 do Estatuto da Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha , Água Grande e Coqueiros (APAMAC).

74

Por exemplo, se o associado levar a associação à pratica de atos judiciais para obter o cumprimento de obrigações por ele contraídas, como deixar de pagar suas anuidades, contribuições e prestar a associação informações inverídicas.

A diretoria é composta por quatro membros, que são eleitos, em assembléia, para mandato de um ano, os cargos são diretor presidente, diretor vice-presidente, diretor secretário e diretor tesoureiro. De uma forma geral, a função da diretoria é a elaboração de normas para as operações e serviços praticados pela associação e, além disso, controlar os seus resultados financeiros.

O conselho fiscal compõe-se de três membros, que fiscalizam todo o movimento financeiro da associação, emitindo pareceres assinados por eles, que ficam acessíveis a todos os sócios da associação. Em linhas gerais, esses são os principais aspectos que regem estatutariamente a APAMAC.

Mostrar o processo de constituição das associações em Orizona, e mais especificamente da APAMAC, teve como objetivo fundamentar a análise do atual contexto em que essas associações estão inseridas e que será apresentado no próximo capítulo com a sistematização dos dados coletados na pesquisa de campo.

75

4 – A ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS AGRICULTORES

DA MATA VELHA, ÁGUA GRANDE E COQUEIROS -

APAMAC

Com base nas informações obtidas na pesquisa de campo, que teve como principal instrumento um roteiro de entrevista, procurar-se-á, neste capítulo, mostrar de forma sistematizada os dados sobre os produtores associados à APAMAC. Para isso, procurou-se traçar o perfil sócio-econômico dos produtores, mostrar as suas formas de organização social, sua avaliação sobre o mercado leiteiro e, finalmente, sua avaliação dos reflexos do PRONAF Infra-Estrutura na unidade produtiva, na associação e no município como um todo.

4.1 O perfil sócio-econômico dos produtores associados à APAMAC

A vida social local construída pelos produtores associados à APAMAC, as relações de convivência interna – laços de amizade, vizinhança, o parentesco - são fatores preponderantes na opção pela moradia no meio rural. Mas as relações externas

(educação, saúde), que são supridas, por exemplo, por localidades urbanas, podem significar a saída definitiva de habitantes do campo para outros locais (Wanderley.

2000). 76

A idade média dos responsáveis pelas famílias é de 38 anos, sendo que o mais jovem tem 23 anos e o mais velho 65. Declararam serem casados 99% deles e apenas 1% solteiro, o que corresponde a somente um associado. Com relação à escolaridade, 47% possuem o ensino fundamental incompleto, 41% completaram o ensino fundamental e 12% cursaram o ensino médio completo. Apenas dois associados do grupo entrevistado não nasceram em Orizona, mas em municípios vizinhos. Somente três associados não residem na propriedade, correspondendo a 18% do total (Figura 11).

APAMAC – Local de residência dos produtores

18%

82%

Propriedade Cidade

FIGURA 11 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.

Os produtores residentes na cidade de Orizona, ao serem indagados sobre a razão da opção por moradia na zona urbana, sempre declararam que não era por vontade própria, mas, sim, por necessidade, pois o lugar adequado para moradia seria a propriedade rural.

Por mim era o rural, mas optei pelo urbano pelo estudo da minha esposa.

77

As propriedades dos associados da APAMAC são pequenas, sendo que a

área média das propriedades é de 44 ha. A maior parte das propriedades rurais concentra-se no grupo de área de 20 a 50 ha, existindo apenas dois estabelecimentos com área superior a 100 ha (Tabela 14).

TABELA 14: APAMAC – Área média (ha), segundo os grupos de área total dos estabelecimentos Menos de 5 a 20 ha Entre 20 e 50 ha Entre 50 e 100 ha Mais de 100 há Total de entrevistados Num. Área Num. Área Num. Área Num. Área Estab. média Estab. média Estab. média Estab. média 17 3 11,0 10 27,4 2 57 2 164,6 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.

Com referência à forma de aquisição da terra, a maior parte dos associados adquiriu suas propriedades mediante herança, correspondendo a 59% do grupo, 29% pro meio de compra e 12% conciliaram a herança com a compra (Figura 12).

APAMAC - Forma de aquisição das terras pelos produtores

12% 29%

59%

Compra Herança Compra e Herança

FIGURA 12 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. 78

Com relação à utilização das terras, os associados dedicam-se basicamente

às pastagens plantadas, correspondendo a 52% da área total. Em segundo lugar, vem a

área destinada à pastagem natural (18%), seguida pela área de reserva legal (17%) e, por

último, a área destinada à lavoura temporária (7%). A concentração da utilização das terras em pastagens plantadas e naturais pode ser observada, também, para o município de Orizona (Figura 05). No tocante à lavoura temporária, o milho é cultivado pela totalidade dos associados, sendo destinado exclusivamente ao consumo (Figura 14).

Devido à predominância da pecuária leiteira como principal atividade econômica entre os associados, o cultivo do milho é utilizado para a silagem, como suplementação alimentar do gado no período da seca (Figura 13).

FIGURA 13 Silo de milho na área rural de Orizona (GO) Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Autor: BEZERRA, L.M.C.

79

Do total dos entrevistados, a maioria (88%) declara ser a pecuária leiteira a principal atividade econômica exercida na propriedade. Apenas três dos produtores declararam possuir uma segunda atividade econômica, que contribui na renda familiar.

Um dos produtores concilia a pecuária de leite com a pecuária de corte, um possui uma pequena criação de porcos e o outro uma granja de aves (Tabela 15). Essa situação difere dos dados apresentados para o município de Orizona, que mostram que cerca de

61% dos produtores combinam mão-de-obra familiar e emprego de máquinas (Tabela

11)

TABELA 15: APAMAC - Atividades econômicas desenvolvidas nas propriedades Total de Pecuária de leite Pec. de leite e outra* Outra** entrevistados Número % Número % Número % 17 12 70 3 18 2 12 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. *Combinação da pecuária leiteira com suinocultura ou avicultura ou pecuária de corte. **Pecuária de corte e fabricação de pinga

Uma das características principais dos associados é a especialização na pecuária leiteira, o que justifica a concentração da utilização das terras em pastagens plantadas e naturais (Figura 14).

80

APAMAC - Utilização das terras nas propriedades rurais

5% 1% 7% 17%

18% 52%

Lav. Temp. Past.plant. Past. nat. Reserva legal Mata natural Área Const.

FIGURA 14 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.

A produção leiteira é comercializada na COAPRO (Cooperativa

Agropecuária dos Produtores de Orizona) e no Laticínio JL Ltda, sendo que 73% dos associados comercializam sua produção na COAPRO e 27% no laticínio. A média de produção diária, entre os quinze associados que se dedicam à pecuária leiteira, é de 115 litros, variando de 50 a 250 litros entre o menor e o maior produtor.

81

FIGURA 15 Local de criação e manejo do gado leiteiro Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Autor: BEZERRA, L.M.C.

A existência de uma divisão no grupo, entre os que entregam na cooperativa e os que entregam no laticínio, é um traço marcante entre os associados. Os produtores cooperados a COAPRO questionam sempre os motivos dos outros associados não se tornarem cooperados.

Se o pessoal fosse mais conscientizado um pouco, eu digo assim, se tivesse ido mais gente pra cooperativa, quanto mais gente, ela fica mais forte né. Ao invés de 40 mil litros de leite, se ela fosse 50, 60 ela seria mais forte, eu acho que ela teria mais força e poderia pagar melhor o leite.

Segundo um associado, a cooperativa vem garantindo um preço melhor para o produtor, mas, mesmo assim, existem muitos que preferem entregar o leite no laticínio. 82

O J.L [laticínio] tá forte, continua forte. Ele hoje é mais forte que a cooperativa, em número de produtores e quantidade de leite. Sempre na média pagou menos.

Na realidade, o que se pode perceber é que existe receio com relação à mudança.

Eu ainda nu tive vontade [se tornar cooperado na COAPRO], sabe. Nossa turma da associação dividimo na metade, né, [metade] foi pra cooperativa e a outra metade fico no J.L. Então, sem motivo [grifo nosso]. Eu acho também, nois precisa tê o laticínio pra tê concorrência de preço

Um outro associado demonstrou uma tendência de passar a entregar sua produção à cooperativa, mas o tanque de expansão onde armazena o leite é comunitário, e todos os outros produtores entregam o leite no laticínio e isso o deixa impossibilitado de se tornar cooperado à COAPRO.

A utilização de mão-de-obra contratada temporária e permanente não é comum entre os associados. Apenas dois declararam a utilização de mão-de-obra permanente, sendo que não é freqüente a contratação de mais de um empregado. Quatro produtores utilizam mão-de-obra temporária, o que, geralmente, é feito por meio de empreitada do serviço, que está sempre relacionada com as atividades da pecuária leiteira.

A força de trabalho utilizada pelos associados é o trabalho familiar, porém existem alguns casos em que é feita a conciliação do trabalho familiar com a mão-de- obra temporária, correspondendo a 24% do total. A utilização de força de trabalho permanente e familiar equivale a 12%. Mais da metade (65%) dos entrevistados utilizam somente a mão-de-obra familiar nas atividades produtivas dos estabelecimentos

(Tabela 16).

83

TABELA 16: APAMAC - Constituição da força de trabalho nos estabelecimentos rurais Número de Familiar Familiar e permanente Familiar e temporária entrevistados Número % Número % Número % 17 11 65 2 12 4 23 Fonte: Pesquisa de campo Jul./2002. Org.: BEZERRA, L.M.C.

Existem, na associação, membros das famílias que exercem atividades fora da propriedade rural, com o objetivo de complementar a renda familiar. Um deles é funcionário na COAPRO, cuja esposa trabalha no sindicato rural; o outro é motorista, e a esposa é funcionária pública, ambos são residentes na cidade. Nos outros três casos, todos residem na propriedade rural, em um deles, a esposa é professora e contribui com seu salário na renda familiar; e o outro, além de dedicar-se à atividade agropecuária, é, também, carpinteiro e presta serviços nas propriedades vizinhas. Na outra família, o associado, além de trabalhar na propriedade, presta serviços como tratorista.

O sistema de ordenha utilizado na maior parte do grupo é manual, sendo que quatro possuem o sistema de ordenha mecânica. O leite produzido pelos produtores é totalmente armazenado em tanques de expansão. Entre os associados, apenas quatro possuem tanque de expansão próprio, os demais armazenam o leite em tanques de expansão comunitários. Os que são cooperados na COAPRO não têm custo com frete, ou seja, a cooperativa faz o transporte do leite, do tanque de expansão até a sua sede na cidade, sem custo para o produtor.

Já o laticínio cobra o frete dos produtores. Nesse caso, o transporte do leite da propriedade até os tanques de expansão comunitários é responsabilidade do produtor.

A maior parte do transporte é feita por carroças, e, nas propriedades que ficam mais 84

distante dos tanques, é necessário um veículo para levar o produto até o tanque (Figura

16).

FIGURA 16 Orizona (GO) –Descarregamento de leite em tanque de expansão comunitário Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C. 2002

No grupo pesquisado, 65% declaram não utilizar nenhuma técnica de manejo de pasto, no restante predomina a utilização de piquetes e rotação de pastos. O tipo de pastagem que prevalece é o brachiarão, e o gado mais utilizado é o girolando e o holandês. Todos suplementam a alimentação do gado, na época da seca, com silagem.

O uso de suplementação alimentar garante uma produção contínua de leite, não apresentando queda durante o período seco.

A assistência técnica é oferecida pela Agência Rural, pela COAPRO e pelo

Laticínio J.L. Ltda. De uma forma geral, existe uma relativa insatisfação com relação à 85

assistência, pois grande parte dos entrevistados mencionaram a necessidade de mais visitas dos técnicos agrícolas e veterinários.

Com referência ao financiamento da produção, 71% dos associados utilizam financiamento do PRONAF – Crédito, sendo que os demais declararam não estar precisando de recursos no momento e que não recorrem aos financiamentos devido às dificuldades impostas pelos agentes financeiros, que são os responsáveis pela intermediação entre a verba liberada pelo Estado e o produtor. Esta situação não é comum na maioria dos municípios que utilizam recursos do PRONAF Infra-Estrutura, pois, segundo Ortega e Cardoso (2002), existe uma contradição entre a concessão dos créditos de custeio e investimento e a seleção dos agricultores que vêm sendo beneficiados pelo PRONAF Infra-Estrutura, ou seja, nos municípios em que existe o

PRONAF Infra-Estrutura, os seus agricultores enfrentam grandes dificuldades para conseguir os recursos do programa destinados de forma individual para o produtor.

4.2 A organização social dos produtores associados à APAMAC

Considerando-se que todos os entrevistados participam de uma forma de organização social, que é a associação pesquisada (APAMAC), este trabalho buscou, também, avaliar a participação dos agricultores em outras instituições de representação da classe.

Constatou-se que 76% dos entrevistados são associados à cooperativa existente no município, 24% são filiados ao Sindicato Rural (patronal) e 47% são filiados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, sendo que dois declararam a filiação nos dois sindicatos (Tabela 17). 86

TABELA 17: APAMAC – Outras formas de associação dos produtores da APAMAC Sind. dos Cooperativa Sindicato Rural Total de Trabalhadores Rurais entrevistados Número % Número % Número % 17 13 76 4 24 8 47 Fonte: Pesquisa de campo Jul. /2002. Org.: BEZERRA, L.M.C. *Os dados apresentados indicam a participação dos produtores em mais de um tipo de organização social.

As vantagens apontadas pelos produtores que são filiados aos sindicatos são, basicamente, relacionadas às prestações de serviços médicos e odontológicos, oferecidos por essas instituições.

Eu acho que as vantagem, que eu vejo, tem dois convênio médico e odontológico. Então es mantém esse convênio, pra mim ta seno bão.

No caso seria os serviços que eles prestam pra gente, que lá tem médico, tem dentista.

Os que são cooperados à COAPRO citam como vantagens, entre outras, a facilitação na comercialização, maior inserção no mercado e melhores preços.

Alguns dos associados que participaram do processo de fundação da

COAPRO demonstram orgulho da organização, como se pode observar no seguinte depoimento:

Eu tenho orgulho disso aí [COAPRO] que não é brinquedo não, dô muito valor nisso aí [COAPRO]. Eu participei, a gente participa de tudo, desde o início do processo, a agente discutia, como transformá a Central [CEAPRO – Central das Associações de Pequenos Produtores Rurais do Município de Orizona] em uma cooperativa, tinha que vendê o leite, nois não podiamo entrega o leite pro J.L., pra Itambé e chegá no final do mês, “nos vamo te pagá tanto pelo leite”, [...]. E aí a gente nunca sabia qual era essa margem de lucro deles. Agora, hoje, nois sabemo o que é o mercado de leite.[...] Há dois anos atrás nosso leite foi o mais bem pago do estado, da nossa cooperativa [grifo nosso] porque a gente, nosso negócio é resfriá, juntá o leite e vendê.

87

Um outro associado mostra outras vantagens oferecidas pela cooperativa,tais como segurança, reconhecimento e representatividade.

[...] desde que eu me entendo por gente nu teve aqui um laticínio que faz o que a cooperativa faz. Sempre só explorando o produtor. E a cooperativa não, a cooperativa vei simplismente, tá aí pra ajudá, pra repassá o que ela ganha pros sócio. Mais com todo os aspecto, você é muito bem visto seno um sócio da cooperativa, ela transpira muita confiança pro cê.

A COAPRO foi fundada em 1995 por132 produtores rurais. A cooperativa conta, atualmente, com 353 sócios, uma fábrica de rações e sal mineral, infra-estrutura para recepção, secagem e armazenagem para 30 mil sacas de milho (Figura 17).

FIGURA 17 Orizona (GO) – Instalações da COAPRO (Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Orizona) Fonte: COAPRO – S/D

88

O posto de resfriamento de leite tem capacidade para 65 mil litros, sendo que, do total do leite recebido pelo posto, 85% são granelizados. Três caminhões fazem o transporte do leite a granel dos tanques de expansão das propriedades para a cooperativa, e, além disso, a cooperativa possui 16 tanques comunitários que atendem cerca de 100 produtores (Figura 18).

FIGURA 18 COAPRO – Plataforma de recebimento de leite Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C.

A cooperativa possui, também, o “Hotel Bezerras”, local onde as bezerras são recebidas com até uma semana de vida e retornam ao produtor por volta dos 14 meses, com prenhez positiva (Figura 19). 89

FIGURA 19 COAPRO – “Hotel Bezerras” Fonte: COAPRO – S/D

A cooperativa encarrega-se de recriar as bezerras até ao ponto em que elas estiveram aptas para a cobertura ou inseminação artificial, quando retornariam para a propriedade do produtor. As bezerras são mantidas em confinamento, tratando-se de um

"sistema terceirizado de recria em confinamento". O criador (dono das bezerras) paga um valor mensal à cooperativa a fim de cobrir os custos de alimentação, manejo, gastos com medicamentos e vacinas, depreciação de instalações, assistência veterinária e zootécnica (PELLEGRINI, 2003).

90

4.3 A situação do produtor de leite associado à APAMAC

No que se refere à avaliação do produtor sobre o mercado leiteiro, não houve muitas divergências nas respostas. Basicamente, destacam-se o baixo preço do leite, o alto custo de produção, a falta de recursos, de apoio do Estado, pouca infra- estrutura, como se pode observar nos depoimentos seguintes:

Tudo quanto é dificuldade. O banco exige muito aval, o pequeno produtor nu tem, é uma dificuldade grande pro pequeno produtor, né. O pequeno sempre ta pro baixo, se ocê fô comerciliazar é totalmente diferente do grande.

Ruim [mercado de leite].Devido ao preço do leite, preço da ração, dos custos. O custo do leite, hoje, é 70%, mais o custo manual da fazenda, ah!, leite é brabo, tira porque tem que tirá.

O preço do leite relata quais todo a decadência do mini-produtor, né. 98% de quem mora na roça, hoje, é tirado de leite. Então, se o preço do leite tá baixo, pro produtor tá tudo ruim, né.

O mau preço, o preço que a gente consegue produzi o leite nu dá lucro, né. Nu consegue produzi um leite barato, co se vendi, né.

Apesar de todos os problemas apontados, um produtor chama a atenção para o alto custo de produção, pois, para ele, a raiz do problema não é o preço pelo qual o produto é comercializado, mas sim, o custo de produção.

O grande custo de produção, produto veterinário muito caro, ração muito cara, então é isso aí. Insumos muito caro, também pra fazê silagem, essas coisa. Então, eu acho que o problema nem tanto é o preço do leite, é o custo que é alto demais.

Ao ser questionado sobre os problemas enfrentados pelo produtor de leite, um associado respondeu que a oscilação do preço do leite não possibilita planos futuros, pois a falta de previsibilidade dos rendimentos não deixa margens para planejamentos. 91

O preço tá lá e cá, uma hora tá alto, cê pensa numa coisa, e otra tá em baixa, cê pensa notra coisa. Nu momento agora, nu tá ruim não, vem a crise e ninguém tá esperando.

Segundo Alentejano (1997), os produtores familiares, durante o processo de modernização da agricultura, sofreram um forte processo de diferenciação social, dividindo-se em dois grandes grupos. Uma parte dos agricultores familiares foi totalmente expropriada dos seus meios de produção, tornando-se assalariados urbanos e rurais. A outra parte continuou sendo proprietários, mas com uma total subordinação ao capital. Alguns produtores transformaram-se em integrados às agroindústrias, outros necessitam complementar sua renda com atividades não-agrícolas e outros se tornaram especializados, ficando totalmente à mercê de mercados monopolizados.

Os associados da APAMAC fazem parte do segundo grupo citado por

Alentejano (1997), pois a especialização na pecuária leiteira é característica marcante entre eles, conforme foi demonstrado na tabela 15.

A especialização dos produtores na pecuária leiteira subordina-os a um mercado monopolizado, que dita preços e exige qualidade do produto. Alguns associados reconhecem o problema da especialização em um único ramo, e chamam a atenção para o fato de que uma das saídas para o produtor seria a diversificação de atividades.

Um dos grandes problema que o produtor tem aqui é, ele tá muito, e só, só, exclusivamente leite, certo. E a cabeça de todo mundo, é só tirá leite. Ele num para pra criá um frango, pra nada, é leite, leite, leite. Então, todo mundo parace que viciou no leite, certo.[...] Eu acho que o grande problema do produtor de leite é a cabeça, só qué aquilo e parô naquilo, eu acho que o povo fala muito “Há o preço do leite, é isso, é aquilo”, mais ele nu diversifica de jeito nenhum. E, talvez falta até um incentivo pra esse tipo de coisa.

Eu acho que o problema maior que nos temos hoje é a falta de diversificação de atividades, falta de dinheiro, basicamente é isso. Se a gente tivesse uma maneira além do leite pra ganhá dinheiro, eu acho que a história nossa seria bem diferente. 92

Eu sô pessimista pro pequeno produtor. Se não diversificá, ele nu vai pra frente não. É acabá, passá até falta das coisa.

No tocante à diversificação, um dos problemas salientados pelos associados

é a falta de recursos, pois existe uma grande dificuldade para obtenção de crédito nas instituições financeiras.

Ele [produtor] é um pouco olhado de lado. Se eu chego num banco e quero tirá um financiamento pra comprá cinco vaca aí, eu gasto um ano pra mim fazê. Quando chega um, aí, um agricultor aí, que planta aí, ele nu precisa nem fazê a proposta, o dinheiro tá lá na conta dele. E isso, é todo os dois banco daqui.

Ao serem indagados sobre a existência de algum projeto futuro individual e sobre o futuro do produtor de leite, de acordo com alguns depoimentos, houve falta de coerência nas respostas, pois a grande maioria possui projetos para aumentar a produção, implantar o uso de tecnologias, melhorar o rebanho, usar técnicas de manejo de pasto, mas, ao mesmo tempo, não vêem perspectivas para o produtor de leite.

Tal fato vem ao encontro com o problema da especialização, pois a maioria visualiza um quadro de problemas, em que alguns citam até a extinção do pequeno produtor de leite, mas não vislubram a possibilidade de diversificação.

Os depoimentos seguintes apresentam uma seqüência de respostas às perguntas que dizem respeito, em primeiro lugar, à existência de algum projeto futuro para a atividade, e, em segundo, sobre o futuro do pequeno produtor de leite.

Aumentá e melhorá, a gente tenta, né. Agora mudá, largá, não [grifo nosso]. Ele vai acabá [pequeno produtor].

O projeto é o mesmo, até hoje vivi disso, melhorar o rebanho. Vai acabá.

Construí um galpão pra tirá leite. Vai acabá.

93

Outros associados destacam que o caminho para melhorar a situação do pequeno produtor é investir em diversificação e tecnologia, e chamam a atenção para a questão da importância da união da classe, como uma das saídas para a atual situação.

A gente tenta diversificá, [...]. Tem a intenção de fazê piquete irrigado e miorá cada vez mais o rebanho, né. Se ele uni [pequeno produtor], é de cada vez mais crescê, se não vai acontece o que muita gente fala, ele vai desaparece, porque o pequeno produtor que fica sozim, ele nu vai além.

Eu pretendo é vê se aumenta a produção, usa tecnologia pra aumentá a produção, dentro dessa área, né. Comprá nu da conta, fazê otra coisa, nu dá conta. Se o pequeno produtor não uni ele vai sê extinto, ele não dá conta de mantê, [...] se nu tivé unido num tanque comunitário, numa associação, num trem assim, vai se mei difícil.

4.4 Os impactos do PRONAF Infra-Estrutura15 sobre os produtores associados à APAMAC

O PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar) foi criado em 1996, respondendo a reivindicações de trabalhadores rurais organizados, representados pela CONTAG e CUT. Segundo Silva (1999), o PRONAF representa a culminância de um processo liderado pelas organizações sociais dos trabalhadores rurais, que encontrou ressonância nas instâncias internas do governo federal. Por outro lado, Vilela (1997) aponta que o surgimento do PRONAF é fruto de recomendações do Banco Mundial, elaboradas com base nos resultados apresentados pelo relatório feito pela FAO e pelo INCRA no ano de 1994, e, como destaca Silva

(1999), esse documento serviu de base para a elaboração do PRONAF, em 1995. Assim, o reconhecimento da importância da agricultura familiar e da necessidade de uma

15 No decorrer do texto, será usado PRONAF Infra-Estrutura, que possui oficialmente o nome de PRONAF – Assistência Financeira a Projetos de Infra-Estrutura e Serviços Municipais. 94

política que atendesse a esse segmento social surge, “coincidentemente”, pela culminância das pressões feitas pelos representantes dos agricultores familiares e pela recomendação do Banco Mundial. Recomendação que, segundo Vilela (1997), passa mais por uma política de desenvolvimento rural, que se propõe a reduzir os drásticos níveis de pobreza, do que por uma política na qual a agricultura familiar seja protagonista do desenvolvimento econômico.

O relatório elaborado pela FAO e pelo INCRA, em 1994, recomendado pelo

Banco Mundial e que serviu de base para a elaboração do PRONAF, “tinha como principal objetivo contribuir na elaboração de uma nova estratégia de desenvolvimento rural para o Brasil” (FAO/INCRA, 1994, p. 1). Segundo esse relatório, o modelo da agricultura familiar seria caracterizado em três modalidades:

(a) agricultura familiar consolidada, constituída por aproximadamente 1,1 milhão de estabelecimentos familiares integrados ao mercado e com acesso a inovações tecnológicas e a políticas públicas; a maioria funciona em padrões empresariais, e alguns até integram o agribusiness;

(b) agricultura familiar de transição, constituída por cerca de 1,0 milhão de estabelecimentos familiares, com acesso apenas parcial aos circuitos da inovação tecnológica e do mercado, sem acesso à maioria das políticas e programas governamentais e que não estão consolidados como empresas, apesar de apresentarem grande potencial de viabilização econômica; e

(c) agricultura familiar periférica, constituída por aproximadamente 2,2 milhões de estabelecimentos rurais, geralmente, inadequados em termos de infra- estrutura, e cuja integração produtiva à economia nacional depende de programas de 95

reforma agrária, de créditos, de pesquisa, de assistência técnica e extensão rural, de agroindustrialização e comercialização, entre outros16.

Conforme Cardoso e Ortega (2000), este programa tem sido assumido como a proposta do Governo para o desenvolvimento rural, com um reconhecimento explícito da capacidade da agricultura familiar de absorver mão-de-obra e sustentar o homem no campo. O programa tem ainda a finalidade de “promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural, constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda”17.

Rosa (1995) chama a atenção para a intenção inovadora do programa, uma vez que inclui conceitos ausentes em programas anteriores, como o de sustentabilidade e parceria, com o objetivo de envolver as questões de segurança alimentar, democracia e cidadania. Altafin e Duarte (2000) salientam que o programa não apresenta avanços em termos de mudança ao modelo agrícola vigente, mas, sim, uma complementação do modelo com algumas dimensões de sustentabilidade, principalmente no tocante aos aspectos sociais e econômicos.

Por outro lado, Carneiro (1997), numa visão mais crítica, aponta que a noção de sustentabilidade contida no programa, que é centrada na associação do aumento da capacidade produtiva à melhoria da qualidade de vida e à ampliação da cidadania no meio rural, não se baseia em tecnologias alternativas ao padrão utilizado até o momento, ou seja, não se pauta um modelo alternativo ao utilizado pela modernização da agricultura brasileira. Nesse sentido, a autora afirma que o PRONAF

16 FAO/INCRA, 1994. 17 Decreto Presidencial nº 1946, de 28 de junho de 1996.

96

não consegue promover uma ruptura com lógica produtivista contida nas políticas anteriores.

Ainda que se chame a atenção para a diferença desta nova política em relação às anteriores, criticadas como produtivistas, ou seja, com ênfase na dimensão quantitativa do crescimento econômico em detrimento da dimensão qualitativa do bem-estar social, as metas anunciadas nos remetem à velha fórmula desenvolvimentista: aumento da produção = diminuição do preço no mercado = competitividade. (CARNEIRO, 1997, p. 74)

O PRONAF - Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e Serviços

Municipais - 18 é uma linha de ação por meio da qual o governo federal libera recursos não-reembolsáveis, para os municípios realizarem as ações contidas no Plano Municipal de Desenvolvimento Rural (PMDR), aprovadas pelo Conselho Municipal de

Desenvolvimento Rural (CMDR), nas áreas de infra-estrutura e serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar.

O objetivo dessa linha é financiar a implementação, ampliação e modernização da infra-estrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar.

Além disso, visa à participação intensa dos agricultores familiares em todas as etapas, como no planejamento, implantação e avaliação dos projetos. Tendo como ponto relevante a contribuição da sociedade civil para melhorar os resultados do processo, por meio da ligação contínua com os agentes, que são os agricultores familiares, será possível eliminar os pontos que estão impedindo o desenvolvimento rural no decorrer do processo. Ortega e Cardoso (2002) fazem a mesma constatação que Carneiro (1997) quanto ao caráter produtivista do programa, mas, com relação especificamente ao

PRONAF Infra-Estrutura, assim parafraseando os autores, fica evidente um forte viés

18 O texto se limitará a discutir a linha de ação do PRONAF voltada para Financiamento de Infra-Estrutura e Serviços nos municípios, visto que, o município estudado recebeu recursos desse programa.

97

agrícola no PRONAF Infra-Estrutura e Serviço, expresso em uma concepção de que a produção agrícola é o caminho por excelência que poderá garantir uma melhoria das condições de vida.

Os recursos oferecidos pelo PRONAF Infra-Estrutura têm sido distribuídos para obras de infra-estrutura e serviços de apoio que seguirem os seguintes requisitos:

(i) atuar de acordo com as demandas formuladas pelos agricultores familiares diretamente e/ou por suas organizações; (ii) descentralizar pessoal e processos de trabalho, aproximando-os o mais possível das realidades locais e (iii) concentrar esforços na busca de respostas integrais para os sistemas de produção, típicos da agricultura familiar (ABRAMOVAY e VEIGA,1999, p. 8).

Existem várias instituições que participam do processo de organização do

PRONAF Infra-Estrutura, conforme se pode observar no quadro 2.

QUADRO 02: Estrutura Básica do PRONAF Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e Serviços Municipais Níveis Órgãos participantes

Prefeitura e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, do qual participam os Municipal agricultores familiares e as organizações de agricultura familiar que, direta e indiretamente, realizam ações relacionadas com desenvolvimento rural e proteção ambiental.

Governo estadual, Conselho Estadual do PRONAF, com a participação das representações Estadual estaduais dos agricultores familiares; e a Secretaria Executiva Estadual do PRONAF.

Ministério da Agricultura e do Abastecimento; Conselho Nacional do PRONAF (composto por representantes do Ministério do Planejamento e Orçamento, Ministério da Fazenda, Ministério do Trabalho, Secretaria Especial de Políticas Regionais, Secretaria Executiva do Programa Comunidade Solidária, Fórum dos Secretários de Agricultura, Confederação Federal Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Organização das Cooperativas Brasileiras, e Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural); Secretaria Nacional Executiva do PRONAF; e Caixa Econômica Federal (responsável pelos repasses dos recursos orçamentários aos municípios).

Fonte: Decreto Presidencial Nº 1.946, de 28 de junho de 1996. Org.: BEZERRA, L.M.C.

98

Com referência à estrutura do programa (Quadro 02), Rosa (1995) ressalta a contradição existente entre as intenções descentralizadoras e participativas do programa com a sua estrutura hierarquizada, na qual se destaca a concentração da coordenação do programa no Ministério da Agricultura e do Abastecimento e no Conselho Nacional do

PRONAF.

O CMDR tem como objetivos analisar e referendar o Plano Municipal de

Desenvolvimento Rural (PMDR)19, fazer sugestões sobre políticas públicas, ajudar na fiscalização da eficiência na aplicação dos recursos. Sua composição deve ser de, no mínimo, 50% de agricultores familiares, podendo os restantes 50% serem instituições que os representem.

O CMDR deverá analisar e aprovar os projetos contidos no PMDR, que deverão pleitear os recursos liberados pelo PRONAF. Sendo feita esta aprovação, serão passados para a Secretaria Estadual, que os analisa e os passa para o Conselho Estadual, que os analisa e repassa-os para a Secretaria Executiva Nacional. Finalmente, os PMDR serão repassados para o Conselho Nacional, que concede a liberação dos recursos para a

Caixa Econômica Federal, responsável pela distribuição dos financiamentos aos municípios. Além de ser umas das instituições que faz parte da organização do

PRONAF Infra – Estrutura, o CMDR representa um elemento concreto de mudança,

“através de processos didáticos, nos quais a sociedade civil começa a aprender e a construir o embrião de um poder popular ao nível dos municípios”, afirmando o processo de descentralização (municipalização) de poder no país (DESER, 1997, p. 4).

É nesse sentido, também, que Ortega e Cardoso (2002), expõem que o conselho deveria ter condições de construir os chamados laços de solidariedade, facilitando e

19 Sendo PMDR um documento que tem como objetivo orientar as ações para um desenvolvimento rural sustentável, elaborado e atualizado de acordo com as necessidades específicas de cada município. 99

fortalecendo ações coordenadas, sendo que tais ações deveriam ir além do âmbito do

PRONAF, criando as bases para um desenvolvimento sustentável nessas localidades.

Os financiamentos são liberados diretamente para os municípios, selecionados anualmente pelo Conselho Nacional do PRONAF, que possuírem um

PMDR aprovado pelo seu CMDR.

Para autores como Abramovay e Veiga (1999), o PRONAF Infra-Estrutura

é o indicativo do início de um processo de desenvolvimento rural que visa ao fortalecimento das estruturas locais e, conseqüentemente, da agricultura familiar.

Não resta dúvida de que o PRONAF é o único programa, desde a década de

1970, que busca atender às necessidades dos agricultores familiares. Apesar de seus resultados ainda não serem suficientes para cobrir as deficiências em termos de política agrícola, ele tem apresentado resultados positivos.

Um aspecto que não pode ser ignorado é o papel do Estado na consolidação de um espaço capaz de garantir a reprodução social da agricultura familiar, utilizando, para isso, os instrumentos de políticas públicas, como é caso do PRONAF. Mas é importante ressaltar que a agricultura familiar não está completamente subordinada às ações do Estado, apesar do peso que o Estado possui perante o fortalecimento dessa categoria social, existem outros fatores complementares às ações das políticas públicas que garantem a reprodução social da agricultura familiar (JEAN, 1998). O caso de

Orizona ilustra esta situação, em que o PRONAF fortaleceu as unidades de produção familiar, assumindo a forma de uma política pública, mas o associativismo rural presente na história das comunidades do município é um fator preponderante na unificação dos agricultores e no fortalecimento dessa forma social. Assim, o associativismo precede as ações de políticas públicas, que assumem um caráter de 100

complementaridade, garantindo, em conjunto, a reprodução social das unidades de produção familiar.

A linha do PRONAF Assistência Financeira a Projetos de Infra-estrutura e

Serviços Municipais beneficiou o município de Orizona em 1996, dando início à execução do cronograma proposto no PMDR no ano de 1997. O município recebeu recursos durante o período de 1997 a 2000, sofrendo uma prorrogação do prazo do programa por mais um ano, o que beneficiou o município até o ano de 2001.

O Plano de Trabalho apresenta, de forma resumida, as metas propostas no

PMDR, sendo que, em todos os anos, os valores dos investimentos e serviços propostos ultrapassam R$ 150.000,00, que é o valor liberado anualmente pelo programa, sendo o restante de responsabilidade e contrapartida da prefeitura de Orizona.

Conforme se observa na tabela 18, no ano de 1997, os recursos foram destinados à construção do Mercado do Agricultor Familiar, local onde é realizado no domingo a feira do produtor e que funciona a sede da CEAPRO. Além disso, a aquisição de um caminhão caçamba, para auxiliar na manutenção das estradas e transporte de calcário. Por último, a implantação de um viveiro de mudas para atender

às demandas por espécies destinadas ao reflorestamento e à formação de pomares.

TABELA 18: Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1997 Tipo de Investimento Valor (R$)

Construção do Mercado do Agricultor Familiar 92.051,00

Aquisição de Caminhão caçamba 15.500 kg 90.880.00

Implantação de viveiro de mudas 13.879,00

Total 196.810,00 Fonte: Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de Orizona, 1996. 101

No ano de 1998, os investimentos seguiram os itens do plano de trabalho

(Tabela 19), apresentando alteração somente no que se referiu à implantação de telefones públicos nas comunidades rurais, pois motivos técnicos inviabilizaram o projeto. Dessa forma, o recurso que seria destinado a esse investimento foi transferido para as instalações de mata-burros, sendo que todas as decisões foram aprovadas e registradas em reuniões do CMDR (Figura 20).

FIGURA 20 Orizona (GO)- Mata-burro construído com recursos do PRONAF Infra-Estrutura Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C. 2002.

102

TABELA 19: Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1998 Tipo de Investimento Valor (R$)

Aquisição de um trator de pneus e implementos 43.105,00

Aquisição de ferragens para mata-burros 50.850,00

Instalação de mata-burros 16.950,00

Aquisição e instalação de telefones comunitários 33.000,00

Tanques de expansão para leite 26.856,00

Total 170.761,00 Fonte: Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de Orizona, 1996.

Em 1999, como pode-se observar na tabela 20, foram comprados tanques de expansão comunitários, instalados em comunidades, e um caminhão caçamba. Foram construídos, ainda, poços semi-artesianos e foi feito o melhoramento das estradas vicinais por meio de encascalhamento (Figura 21).

TABELA 20: Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 1999 Tipo de Investimento Valor (R$)

Aquisição de caminhão com caçamba (capacidade para 7.850 kg) 61.700,00 Construção de poços semi-artesianos 8.400,00 Aquisição de tanques de resfriamento de leite (capacidade 2.500 61.705,00 litros) Recuperação e manutenção de estradas com encascalhamento de 23.400,00 estradas vicinais (espessura de 5 cm e largura de 6 m) Total 155.205,00 Fonte: Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de Orizona, 1996.

No ano 2000, os investimentos seguiram a seqüência demonstrada na tabela

21, ocorrendo uma mudança no tocante à compra do equipamento para processamento de frutas e vegetais. A compra desse equipamento gerou um momento de discussão 103

dentro do CMDR, pois havia incerteza quanto à viabilidade da instalação desse equipamento no município de Orizona. Assim, o CMDR viu-se em um impasse diante da questão da compra do equipamento para processamento de frutas e vegetais. Os beneficiários das ações contidas no PMDR são diretamente os produtores de Orizona, que têm a especialização na pecuária leiteira sua principal característica. Então, a compra do equipamento seria um risco, pois poderia ocorrer falta de oferta de produtos para a utilização desse equipamento. Um membro do CMDR relata como se desenvolveram as discussões sobre esse assunto dentro do conselho.

Nois fizemo um pedido do PRONAF [para comprar a despolpadora de frutas], nois saimo uma turma daqui pra vê uma despolpadora de fruta, e o pessoal do Conselho [CMDR] foi, nois fomo lá pra Pompéia, ficamo lá uma semana oiano isso. É um trem de doido, mais custo o oiô da cara, mais de R$ 50.000,00. Fizemo a reunião aqui com o pessoal, e falamo, “gente isso aqui não é brincadeira não, nois tamo pelejano pra comprá , o dinheiro vai saí, e aí? O produtor vai plantá? O que nois vamo fazê? Ocê qué uma opinião, não compra. Pro cê levantá um elefante branco aí, sem funcioná, depois o Conselho é que vai vê isso aí. Porque ocê monta e nu tem o produto, a matéria-prima, cê vai fazê o que?

Este fato levou o CMDR a não fazer o investimento na despolpadora de frutas, redirecionando o recurso para a aquisição de mais um caminhão caçamba.

TABELA 21: Finalidade dos investimentos do PRONAF Infra-Estrutura no município de Orizona - 2000 Tipo de Investimento Valor (R$) Aquisição de equipamento para processamento de frutas e vegetais, 50.000,00 com instalação Aquisição de um caminhão com caçamba 60.000,00

Aquisição de tanque de expansão comunitário 18.000,00

Perfuração de Poço Artesiano 10.000,00

Instalação de Poço Artesiano 4.096,31

Recuperação de estradas 15.403,31

Total 157.499,62 Fonte: Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de Orizona, 1996. 104

FIGURA 21 Orizona (GO)- Poço artesiano situado na Escola Família Agrícola construído com recursos do PRONAF Infra-Estrutura Fonte: Pesquisa de campo, Maio/2002. Autor: BEZERRA, L.M.C. 2002.

Um outro aspecto a considerar são as respostas do roteiro de entrevista aplicado junto aos associados, no tocante à avaliação do PRONAF Infra-Estrutura, pelo qual apenas um dos entrevistados afirmou desconhecer o que era o programa. A maioria possui informações sobre o que é o programa e que o município recebeu seus recursos.

Questionados sobre os benefícios que PRONAF Infra-Estrutura proporcionou às suas propriedades, seis dos entrevistados (35%) responderam não terem obtido nenhum benefício diretamente, mas, sim, indiretamente, como melhoria nas estradas, instalação de mata-burros, tanques de expansão comunitários, entre outros. A localização de algumas propriedades pode ter impossibilitado a utilização de recursos 105

do PRONAF Infra-Estrutura, visto que os investimentos só podem ser efetuados em locais que atendam a mais de uma propriedade.

O restante do grupo, cerca de 75%, mencionou que suas propriedades foram beneficiadas de forma direta, seja pela implantação de um mata-burro, ou pelo encascalhamento da estrada, ou ainda pela instalação de um tanque comunitário, entre outros. Um dos entrevistados expôs a importância dos investimentos do PRONAF Infra-

Estrutura para sua atividade, como se pode observar no depoimento seguinte:

Esse tanque [tanque de expansão comunitário] aqui é financiado pelo PRONAF, o mata-burro também. Ajudo melhorá a qualidade do leite, porque [o leite] chegá mais rápido na cidade, né, fez mata-burro, nu precisa abri porteira mais, né.

Ao serem indagados sobre a existência de um CMDR no município, nove dos entrevistados afirmaram ter conhecimento do conselho, mas a grande maioria revelou não saber dos assuntos tratados nas reuniões do conselho. Porém, alguns entrevistados declararam saber os assuntos discutidos nas reuniões do CMDR.

Com relação aos benefícios do PRONAF Infra-Estrutura para a APAMAC, as opiniões são divergentes, pois, por um lado, existe o reconhecimento da importância dos recursos que foram destinados às propriedades dos associados e também à instalação de um poço semi-artesiano na sede da associação.

[...] nois temo aqui [na sede da associação] o mini poço artesiano, nossa água aqui é essa água do PRONAF. E vei um mata-burro, pra nois aqui, só um, mais veio. O mais de benefício aqui, tem os caminhões aí que é pra patrulha rural, pra trabalha nas estradas, tá sempre trazeno algum serviço aí. Tem os tanques comunitários, que tem dois na nossa região, tem um localizado na na parte de baixo e outro localizado na parte de cima, então o leite é coletado nesses tanques. Eu acho que o maior benefício que nois temo aqui é esses dois tanques, hoje.

106

Mas, por outro lado, existe a questão do trator que foi comprado com os recursos do PRONAF Infra-Estrutura, e que está oferecendo os seus serviços a um preço menor que o praticado pela associação pelo mesmo serviço, prejudicando a entrada de recursos na associação.

4.5 O associativismo rural e a geração de capital social

A constituição das associações, os enfrentamentos dentro do grupo e os consensos podem ser considerados um capital social acumulado durante todo o processo. Entendendo esse processo como uma fase de enriquecimento, que só é possível devido ao fenômeno da proximidade social, que permite uma forma de coordenação entre os atores, capaz de valorizar o conjunto do ambiente em que atuam.

Valorizando nesse ambiente as estruturas sociais como recursos, ativos de um capital próprio dos atores sociais (ABRAMOVAY, 2000).

Assim, pode-se conceituar capital social como um processo de enriquecimento, baseado nas experiências dos atores sociais de forma coletiva, em que os laços de confiança, de compromisso e os vínculos de reciprocidade entre os atores sociais são os fatores preeminentes na geração desse tipo de capital. Além disso, como chama atenção Kliksberg (1999), é a única forma de capital que não diminui ou que não se esgota e cujo uso contínuo, ao contrário, promove o seu aumento. Abramovay (2000) concorda com essa característica do capital social e acrescenta, ainda, que ele é um bem público cuja apropriação é feita pela coletividade e não de forma privada como acontece, por exemplo, com o capital financeiro. 107

O conceito de capital social é muito amplo e dinâmico, e as concepções de estudiosos dessa temática são muito variadas, dificultando a formulação de um conceito

“pronto e acabado”. Dessa forma, cabe concordar com que “capital social es una noción polisémica, que encierra múltiples dimensiones de la vida social, dimensiones que, en la práctica, se presentam combinadas de diferente forma según los distintos contextos situacionales” (ESTRADA, 1999, p. 13).

Seria um lapso da parte deste trabalho tratar do tema capital social sem abordar a questão do desenvolvimento territorial, pois o capital social é peça principal dentro deste processo. Esta temática será vista de uma forma sucinta. Assim,

A idéia central é que o território, mais que uma simples base física para as relações ente indivíduos e empresas, possui um tecido social, uma organização complexa feita por laços que vão muito além de seus atributos naturais e dos custos de transportes e comunicações. Um território representa uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico (ABRAMOVAY, 2000, p. 03).

Entende-se o território como um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais, sendo estas projetadas em um espaço concreto (um substrato material).

“O território não é o substrato, o espaço social em si, mas sim um campo de forças, as relações de poder espacialmente delimitadas e operando, destarte, sobre um substrato referencial” (SOUZA, 1995, p. 97).

Veiga (1998 e 1999) salienta a importância dos atores locais em um processo de desenvolvimento territorial, pois as iniciativas locais são cruciais nesse processo, sendo consideradas como fator de competitividade ao fazerem dos territórios ambientes inovadores. É nesse sentido que o autor chama a atenção para um projeto de desenvolvimento rural de investimento em capital social, ou seja, os arranjos 108

institucionais devem incentivar a organização, a absorção de tecnologias e a inovação, baseadas em um grau de confiança existente entre indivíduos, grupos e governos.

A organização social, no seu sentido mais amplo, é um local de geração e acumulação de capital, em que a congruência de idéias, opiniões e ações, pode ser entendida como um processo de enriquecimento, que, ao longo do tempo, redundará em acumulação de capital social.

A experiência associativista de Orizona pode ser considerada como um processo de geração e acumulação de capital social, em que prevalecem as relações de confiança, normas e sistemas, que contribuem para uma melhor utilização dos ativos econômicos (ABRAMOVAY, 2000). Esse capital social pode ser expresso, dentre outros aspectos, na capacidade organizativa dos atores sociais, nas relações de confiança dos agricultores familiares de Orizona, e isso apresenta somente resultados positivos, como, por exemplo, a constituição do CMDR (Conselho Municipal de

Desenvolvimento Rural) e a experiência do PRONAF (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar) no município. O problema é que os atores sociais desse processo não sabem a importância e o “valor” do capital social para a sociedade, que podem ser, como salienta Veiga (1997), a base para uma virada, capaz de garantir o desenvolvimento sustentável do meio rural.

Segundo Kliksberg (1999), já foram feitos estudos que comprovam os reflexos positivos de iniciativas associativistas com relação à melhoria da qualidade de vida do grupo, tanto no sentido social como no econômico.

en esos contextos de gran pobreza las familias con mayores niveles de ingresos eran las que tenían un más alto grado de participación en organizaciones colectivas, y el capital social que acumulaban a través de esa participación las beneficiaba individualmente y creaba beneficios colectivos por diversas vías (KLIKSBERG, 1999, p. 88).

109

Assim, concordando com Veiga (1997), esse capital social, gerado e acumulado no interior do movimento associativista em Orizona, pode ser sacrificado se não for reconhecido perante a sociedade. Dessa forma, cabe destacar a importância do poder local frente a esta situação, pois ele é capaz de mostrar para a sociedade os benefícios que o capital social produz na promoção do desenvolvimento. Mas não podemos deixar de alertar, também, que o papel do poder local pode ser utilizado de forma negativa, por meio de práticas clientelistas, autoritárias e burocráticas, transformando-se, dessa forma, em barreiras a geração de capital social.

O não reconhecimento do capital social acumulado na experiência associativista em Orizona pode ser o eixo da crise do associativismo no município. O fortalecimento desse capital e o seu (re) aproveitamento em uma forma produtiva em prol da coletividade poderiam se tornar uma saída ao problema, não deixando perder-se no tempo a riqueza de todas as conquistas e experiências acumuladas pela sociedade.

110

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No processo de desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste e do estado de Goiás até a década de 1960, a expansão da produção não se deu, inicialmente, mediante a incorporação do progresso técnico na agricultura e, sim, por intermédio da exploração da mão-de-obra e da inclusão de novas terras a área de fronteira agrícola. Já a partir da década de 1960, o desenvolvimento ocorreu por meio da participação do

Estado como um forte indutor desse processo. Essa dinâmica modificou-se na década de

1990, quando o Estado, devido às alterações na política agrícola, deixou de participar diretamente do desenvolvimento agrícola da região, abrindo maiores oportunidades para o capital privado.

A análise do processo de desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste e do estado de Goiás permite compreender que Orizona é um município que se distingue das características gerais do estado, no tocante a sua estrutura fundiária, pois apresenta grande presença de pequenas unidades de produção familiares ao lado da incipiente existência de culturas mecanizadas no município, como a soja e o milho.

O trabalho buscou dar maior ênfase a uma característica importante do município, que é a sua experiência associativista. O processo de constituição das associações em Orizona iniciou-se no final da década de 1980 acompanhando a tendência nacional.

O estudo desse processo permitiu visualizar que o crescimento de associações no município de Orizona ocorreu em razão da abundância de recursos governamentais liberados aos produtores organizados. Nesse caso, os recursos tinham origem no FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste). Basicamente, todas as associações foram constituídas com o objetivo de obter os financiamentos do FCO. 111

O associativismo em Orizona teve seu auge, quando a credibilidade das organizações estava garantida pelos resultados positivos obtidos com a utilização dos recursos do FCO. Os agricultores tiveram condições de melhorar o seu rebanho, aumentar sua produtividade e, conseqüentemente, elevar o seu nível de renda, permitindo uma estruturação e o desenvolvimento do mercado leiteiro no município.

Passado o período de abundância de crédito, as associações entraram em crise, em que a escassez de recursos se tornou motivo maior para a falta de credibilidade das organizações perante seus associados. Isso ainda pode ser observado junto aos produtores de Orizona.

Visando maior compreensão da experiência associativista em Orizona, selecionou-se para estudo a Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha,

Água Grande e Coqueiros (APAMAC), organizada no final da década de 1980. A

APAMAC constitui um caso particular dentre as demais associações existentes em

Orizona, pois não possui nenhum financiamento em aberto de recursos do FCO. Pode-se dizer, então, que a constituição da associação, atualmente, não gira em torno exclusivamente da busca por recursos financeiros via organização. Apesar de grande parte dos associados mencionarem como problema a falta de recursos, a confiança, a participação, a reciprocidade e a coesão dão unidade ao grupo e permitem a continuidade do processo. Mesmo que esse movimento tenha como pano de fundo a obtenção de recursos financeiros, a interação do grupo por essa busca gera benefícios que talvez não sejam mensuráveis monetariamente, como, por exemplo, o espaço rural socialmente construído pelos atores da comunidade.

É importante afirmar que a associação não existe “pura e simplesmente” pela busca de recursos financeiros, pois as comunidades que deram origem à APAMAC 112

promoviam reuniões anteriores a constituição da associação, ora com o objetivo da promoção de mutirões, ora com intenções religiosas, então, a construção desse espaço social precede a formação da associação denominada APAMAC. Sendo os pilares desse espaço rural construído as relações sociais entre os membros do grupo.

Considerando a hipótese desse trabalho, pode-se afirmar que o associativismo em Orizona foi uma estratégia adotada pelos agricultores familiares que garantiu o seu fortalecimento e a sua reprodução social, mas que tende a ser interrompida caso não haja o reconhecimento da importância dessa experiência para o conjunto dos agricultores familiares do município e da sociedade como um todo.

Nos dias atuais, a APAMAC passa por uma crise, em que a escassez de recursos e a falta de credibilidade da organização perante os associados levam a perda de membros. Apesar disso, alguns associados, mais precisamente aqueles que participaram do processo de fundação e acompanharam toda a trajetória de lutas e conquistas da associação, mostram a importância da organização e lutam pela sua continuidade.

Entende-se essa trajetória de lutas e conquistas da associação como um processo de geração e acumulação de capital social, observando que esse capital social assume a forma de fortes laços de amizade, companheirismo, reciprocidade e coesão, que são também os princípios básicos do associativismo.

Enfim, cabe aqui destacar que a maior articulação entre os atores sociais que fazem parte do processo associativista em Orizona, como o poder local, o Conselho

Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDR), a Central das Associações, as associações e o agricultor familiar, poderia ser o caminho para uma (re) valorização do capital social acumulado na experiência associativista. Assim, cabe ao poder local e ao 113

CMDR, em primeira instância, reconhecer a necessidade dessa ação em prol da revitalização do associativismo, pois o agricultor familiar já possui subjetivamente a percepção do valor do capital social acumulado para o seu grupo, como se pode observar nas suas próprias palavras: nois nu pudemo deixá acabá o que nois construímo, a tanto tempo, desde 89, que nois cumeçamo. Então, tanto que nois lutamo pra adquiri isso aí e deixá agora que tá tudo arrumadim.

É possível, então, com base no conhecimento empírico da área estudada, sugerir algumas perspectivas para trabalhos futuros, entre as quais, por exemplo, a análise da atuação do CMDR após a utilização dos recursos financeiros advindos do

PRONAF Infra-Estrutura. Cabe, também, uma pesquisa mais pormenorizada das outras associações não estudadas, o que poderia completar o estudo do associativismo rural em

Orizona, no estado de Goiás.

114

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ANEXOS

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ANEXO A - ROTEIRO DE ENTREVISTA - Associação

1 ROTEIRO DE ENTREVISTA - Associação PESQUISA: AGRICULTURA FAMILIAR EM ORIZONA: A Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros - APAMAC

Data da entrevista: ...... /...... /...... I.IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO 1. Nome: ...... 2. Relação do entrevistado com a associação: ...... 3. Atividade exercida na associação: ......

II.INFORMAÇÕES SOBRE A ASSOCIAÇÃO 1. Nome daAssociação:...... 2. Ano de fundação: ...... 3. Nome do presidente: ...... 4. O presidente é agricultor familiar? Se não, qual sua atividade? ...... 5. Nome do presidente anterior: ...... 6. Há um estatuto, regulamento ou regimento disciplinando as atividades da associação? ...... 7. Existe uma diretoria na Associação? Se sim, qual a sua composição? ...... 8. Localização: ...... 9. Área de abrangência: ...... 10. A associação possui local específico para as reuniões? Se sim, onde? ...... 11. Freqüência das reuniões: ...... 12. Qual o objetivo principal da associação? ...... 13. Número de produtores associados:...... 14. Área média cultivada pelos produtores associados? ...... 15. Quais os principais produtos cultivados pelos associados? ...... 16. Qual a condição dos produtores associados: ( ) proprietários. Quantos? ...... ( ) arrendatários. Quantos? ...... ( ) parceiros. Quantos? ...... ( ) proprietários e arrendatários. Quantos? ...... ( ) Outra. Qual? ...... Quantos? ...... 17. Qual (is) a(s) exigência(s) da associação para os produtores se associarem? 18. Qual(is) o(s) fator(es) responsável(is) pela criação da Associação? ...... 2 19. Com quantos produtores a associação começou suas atividades? ...... 20. Além dos produtores, algum órgão ou instituição colaborou na organização desta Associação? Se sim, qual e de que forma? ...... 21. Qual(is) a(s) dificuldade(s) encontrada(s) inicialmente para a organização dos produtores? ...... 22. Atualmente, qual(is) o(s) principal(is) problema(s) enfrentado(s) pelos produtores associados para o pleno desenvolvimento de suas atividades? ...... 23. Qual(is) a(s) atividade(s) desenvolvida(s) pela associação em prol dos seus associados? ...... 24. Existe alguma(s) atividade(s) desenvolvida(s) para as famílias e filhos dos associados? Qual(is)? ...... 25. Como é a participação dos agricultores e famílias nessas atividades? ...... 26. Qual(is) o(s) benefício(s) concedido(s) pela associação aos produtores associados? ( ) adquire insumos em conjunto ( ) comercialização em conjunto ( ) assistência técnica em conjunto ( ) toma financiamento em conjunto ( ) dispõe de patrulha agrícola ( ) outros. Quais? 27. A associação recebe algum tipo de crédito de alguma instituição governamental? Qual instituição? ...... 28. Como é utilizado esse crédito? Que critério é obedecido para decidir a aplicação do recurso? ...... 29. Os recursos recebidos pelo município do PRONAF Infra-estrutura trouxeram algum benefício para associação? Se sim, quais? Se não, porque? ...... 30. Há alguma contribuição econômica por parte dos produtores da associação? Qual o valor? Com qual periodicidade é realizado o pagamento da contribuição? ...... 31. A associação tem conhecimento das reuniões realizadas no CMDR? E dos assuntos discutidos nessas reuniões? ...... 32. A associação tem algum representante no CMDR? ...... 33. Qual a sua opinião sobre as atividades desenvolvidas pelo CMDR neste município? ...... 3 34. Existe alguma vinculação desta associação com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município? Se sim, de que forma? ...... 35. E com outra(s) associação (ões) de produtores? Se sim, qual(is)? ......

OBSERVAÇÕES: ......

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ANEXO B - ROTEIRO DE ENTREVISTA - Produtor

1 ROTEIRO DE ENTREVISTA - Produtor PESQUISA: AGRICULTURA FAMILIAR EM ORIZONA: A Associação dos Pequenos Agricultores da Mata Velha, Água Grande e Coqueiros - APAMAC

DATA DA ENTREVISTA: ____/____/2002 Local de realização da entrevista: ( ) Cidade ( ) Propriedade Rural

I.IDENTIFICAÇÃO

1. Nome produtor: ...... 2. Telefone de contato: ...... 3. Denominação da Propriedade ...... 4. Localidade ou comunidade: ...... 5. Endereço (caso não resida na propriedade): ...... 6. Categoria do Entrevistado (Proprietário, Administrador / Gerente, Parente, outro) : ...... II.PROPRIEDADE

1. Ano da aquisição da propriedade: ...... 2. Como foi adquirida a propriedade (compra, herança, posse, usucapião, outros): ...... 3. .Área da propriedade: Área total (ha) Área explorada pelo proprietário Área arrendada (ha) (ha)

25 - Possui outra(s) propriedade(s): ( ) Sim ( ) Não Se SIM: Localização (município) Área total (há) Atividade principal

2 III.CARACTERIZAÇÃO DOS RESIDENTES E COMPOSIÇÃO DA RENDA (preencher somente com membros da família e agregados) Local de Grau residência(na Atividade exercida na propriedade Atividade exercida fora propriedade Estado escolarid Grau de propriedade Descrição da Descrição da Nome Sexo Idade Civil20 ade21 parentesco22 Naturalidade ou cidade) atividade Valor (R$)23 atividade Valor (R$)24

20 Solteiro, casado, divorciado, viúvo 21 Analfabeto, analfabeto funcional, fundamental completo, fundamental incompleto, médio completo, médio incompleto, superior completo, superior incompleto 22 Chefe de família, esposa, filho, sogro, sogra 23 Valor médio mensal 24 Valor médio mensal

3 IV.USO DA TERRA

ESPECIFICAÇÃO ÁREA EM HECTARES Lavoura permanente Lavoura temporária Pastagem natural Pastagem plantada Reflorestamento Silvicultura Áreas produtivas não utilizadas Áreas improdutivas Área de reserva legal Área de preservação permanente Mata natural Área construída e estradas Área arrendada Outras: Especificar ______

Área total

V.ORDEM DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS MAIS IMPORTANTES NA(S) PROPRIEDADE (S)

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª

1 - Bovinocultura de corte 9 - Cultura permanente (café, fruticultura, etc.) 2 - Bovinocultura de leite 10 - Comércio 3 - Bovinocultura mista 11 - Extração de areia 4 - Extração vegetal (carvão, lenha, etc.) 12 - Extração de argila 5 - Silvicultura 13 - Piscicultura 6 - Lazer 14 - Indústria caseira/ doméstica 7 - Hortaliças 15 - Outra atividade 8 - Cultura anual (feijão, milho, etc.) Especificar: ______

4 VI.PRODUÇÃO ANIMAL/VEGERAL/OUTRAS PERÍODO: ______PRODUÇÃO VEGETAL Consumo Comercialização Área/Nú Qtde Atividade(s) Valor Valor mero produzida Qtde Qtde Comprador Município (R$)* (R$)* 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. PRODUÇÃO ANIMAL Consumo Comercialização Área/Nú Qtde Atividade(s) Valor Valor mero produzida Qtde Qtde Comprador Município (R$)* (R$)* 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. OUTRAS PRODUÇÕES Consumo Comercialização Área/Nú Qtde Atividade(s) Valor Valor mero produzida Qtde Qtde Comprador Município (R$)* (R$)* 1. 2. 3. 4. 5. * Valor médio mensal VII.INFORMAÇÕES SOBRE A FORÇA DE TRABALHO (PERMANENTE E TEMPORÁRIA)

1. ASSALARIADO PERMANENTE N.º de pessoas: ...... Forma de contratação: ...... Forma de pagamento: ...... Período do ano em que trabalham: ...... Tipo de serviço que realizam: ...... 2. ASSALARIADO TEMPORÁRIO

5 N.º de pessoas: ...... Forma de contratação: ...... Forma de pagamento: ...... Período do ano em que trabalham: ...... Tipo de serviço que realizam: ......

3. OUTRAS RELAÇÕES DE TRABALHO N.º de pessoas: ...... Forma de contratação: ...... Forma de pagamento: ...... Período do ano em que trabalham: ...... Tipo de serviço que realizam: ...... VIII.ASSISTÊNCIA TÉCNICA

1. O Sr. recebe assistência técnica? De quais instituições? ...... 2. Qual a finalidade da assistência técnica? ...... 3. A assistência técnica recebida pelo Sr. atende as suas necessidades? ...... IX.MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIA

1. Meio Ambiente 1.1 O Sr. (a) utiliza práticas conservacionistas? ( ) Terraceamento ( ) Rotação de cultura ( ) Plantio em nível ( ) Adubação Verde ( ) Faixas de retenção ( ) Estradas ( ) Cordão de contorno ( ) Outras: ( ) Queimada Especificar______

1.2 Existe(m) voçorocas no estabelecimento? Sim ( ) Não ( ) 1.3 O Sr. utiliza produtos químicos? Sim ( ) Não ( ) 1.4 Ao usar produtos agroquímicos, o Sr.? ( ) Recebe orientação técnica ( ) Segue as recomendações especificadas na embalagem do produto ( ) Utiliza de acordo com o que acha necessário

6 1.5 Quais os cuidados que o Sr. Utiliza na aplicação de produtos químicos? ...... 1.6 Destino das embalagens tóxicas ( ) Enterra ( ) Reaproveita ( ) Queima ( ) Joga junto com lixo doméstico ( ) Outro______1.7 Fonte de abastecimento de água: ...... 1.7.1 - Para a produção agrícola (Descrever): ...... 1.7.2 - Para o gado (Descrever): ...... 2. Tecnologia

2.1 - Tecnologia utilizada na pecuária: ( ) Vacinações ( ) Combate a parasitas ( ) Divisões de pastagens ( ) Separação por sexo ( ) Programação de cruzamento (estação de monta) ( ) Inseminação artificial ( ) Silagem ( ) Fenação ( ) Capineira ( ) Ração (Concentrados) ( ) Outras: Especificar ______

2.1.1 Como funciona o sistema de ordenha? ...... 2.1.2 Como funciona o sistema armazenagem? ...... 2.1.3 Como é feito o transporte do produto (LEITE)? ...... 2.1.4 Como é feito o manejo do gado? (Descreva as técnicas utilizadas) ...... 2.1.5 Qual o tipo de pastagem utilizada pelo Sr.? ...... 2.1.6 Qual a raça do seu gado? ...... 2.2 - Tecnologia utilizada na produção agrícola: ( ) Sementes selecionadas ( ) Mudas selecionadas (de viveiro) ( ) Plantio direto ( ) Rotação de culturas ( ) Adubação Verde ( ) Irrigação ( ) Outras: Especificar ______

7 X.FINANCIAMENTO DA PRODUÇÃO

1. O Sr. costuma solicitar financiamento bancário para realizar suas atividades agrícolas? ( )Sim. Qual tipo? ( )investimento ( )custeio ( )comercialização ( )PRONAF ( )Não, por que? ...... 2. Em qual instituição bancária? ...... 3. Qual a garantia dada para obtenção do crédito? ...... 4. O Sr. possui algum financiamento em aberto? ...... XI.ORGANIZAÇÃO DOS PRODUTORES

1. É associado à cooperativa? ( )Sim ( )Não Qual(is)?...... Desde de quando? ...... Por que se filiou? Quais as vantagens? ...... 2. É membro de alguma associação de agricultores? ( )Sim ( )Não Qual(is)?...... Desde de quando? ...... Por que se filiou? Quais as vantagens? ...... 3. É filiado a algum sindicato rural? ( )Sim ( )Não Qual(is)?...... Desde de quando? ...... Por que se filiou? Quais as vantagens? ...... XII.AVALIAÇÃO DO PRODUTOR SOBRE O PRONAF INFRA-ESTRUTURA 1. O Sr. sabe o que é o PRONAF Infra-Estrutura? E que Orizona está recebendo recursos do PRONAF Infra-Estrutura? ......

8 2. Os recursos recebidos pelo município do PRONAF Infra-estrutura trouxeram algum benefício para o Sr.? Se sim, quais? Se não, porque? ...... 3. O Sr. tem conhecimento das reuniões realizadas no CMDR? E dos assuntos discutidos nessas reuniões? ...... 4. Qual a sua opinião sobre as atividades desenvolvidas pelo CMDR neste município? ...... XIII.AVALIAÇÃO DO PRODUTOR SOBRE O MERCADO LEITEIRO 1.Quais os problemas enfrentados pelo produtor de leite em Orizona? (produção, comercialização, crédito, etc.) ...... 2.Como está o mercado leiteiro para o produtor de Orizona? ...... 3. Sr. possui algum projeto futuro para melhorar a atividade? ...... 4. Na opinião do Sr. qual será o futuro do pequeno produtor de leite? ...... XIV.INFORMAÇÕES DIVERSAS 1.Como o Sr. e sua família se relacionam com a comunidade? ...... 2. A associação favorece algum tipo de relação social com a comunidade? Explique...... 3. Qual a avaliação do Sr. do meio rural enquanto um local de residência? ...... OBSERVAÇÕES: ......