Nelson Freire

7 OUTUBRO 2018 nelson freire © eric dahan - decca mecenas mecenas mecenas mecenas mecenas mecenas principal música e natureza estágios gulbenkian para orquestra concertos de domingo ciclo piano coro gulbenkian gulbenkian música 7 OUTUBRO Grandes Intérpretes DOMINGO 18:00 — Grande Auditório

Nelson Freire Piano

Ludwig van Beethoven Sonata para Piano n.º 14, em Dó sustenido Reflets dans l’eau (Images I) menor, op. 27 n.º 2, “Ao luar” Poissons d’or (Images II)

Adagio sostenuto Ignacy Jan Paderewski Allegretto Noturno em Si bemol maior, op. 16 n.º 4 Presto agitato

Sonata para Piano n.º 31, em Lá bemol Fryderyk Chopin Impromptu maior, op. 110 n.º 2, em Fá sustenido maior, op. 36 Mazurka em Si menor, op. 33 n.º 4 Moderato cantabile molto espressivo Ballade n.º 3, em Lá bemol maior, op. 47 Scherzo: Allegro molto Adagio ma non troppo – Fuga: Allegro ma non troppo intervalo

Duração total prevista: c. 1h 40 min. Intervalo de 20 min.

03 Bona, 16 (ou 17) de dezembro de 1770 Viena, 26 de março de 1827

Sonata para Piano n.º 14, em Dó sustenido menor, op. 27 n.º 2, “Ao luar” composição: 1801 duração: c. 16 min.

Sonata para Piano n.º 31, em Lá bemol maior, © dr 1862 op. 110 composição: 1821 duração: c. 22 min. . leipzig, breitkopf und härtel, º 14 sonata n.

A Sonata ‘Ao luar’ data de 1801 e foi dedicada e recuperando a figura pontuada do primeiro a Giulietta Guicciardi, jovem condessa recém- andamento; o terceiro em baterias de acordes. chegada a Viena, então com 18 anos, que foi por O desenvolvimento é baseado sobre o segundo breve período de tempo aluna do compositor e tema e uma extensa ponte (quase uma cadenza) por quem este, tudo o indica, se apaixonou. A precede a coda final. obra depressa adquiriu enorme popularidade, mas o epíteto por que ficou ainda mais famosa é A Sonata n.º 31, op. 110, foi concebida em póstumo: provém ele de Ludwig Rellstab. conjunto com as vizinhas op. 109 e op. 111, Trecho memorável entre os mais memoráveis, formando o todo um tríptico que condensa o primeiro andamento é uma forma livre, a totalidade das preocupações do último espécie de “fantasia” que brota a partir do Beethoven no que concerne à escrita para piano célebre acompanhamento arpejado, que cria solo. As sonatas datam do período 1820-22, aquela atmosfera inesquecível. É marcado sendo que o autógrafo da op. 110 tem marcado por um motivo melódico de ritmo pontuado o dia de Natal de 1821 como data de conclusão. (de ressonâncias fúnebres) e, formalmente, Foi primeiramente editada em Paris, em 1822 e por grandes “zonas harmónicas”: tónica – não tem dedicatário. Com a op. 109 partilha a dominante (pedal) – tónica. O breve segundo organização em três andamentos e a colocação andamento (em Ré bemol maior), diurno e de um Scherzo como andamento central. Já com despreocupado, baseia-se sobre a anacruse a op. 111 o elemento comum é a exploração inicial do tema e o uso de ligaduras, criando da técnica da fuga, embora com pesos bem efeito de síncopas. O Trio reforça esse uso das diferenciados: se na op. 111 ela faz as vezes da ligaduras, sobre uma parte A mais delicada secção de desenvolvimento numa forma-sonata e uma B mais pesada (por via da articulação (o primeiro andamento), já na op. 110 a fuga é o empregue). O Presto agitato é uma espécie de elemento dominante do terceiro andamento – de “turbilhão em forma-sonata”, com três temas resto, o mais importante da obra. Outra marca principais: o primeiro em arpejos ascendentes; distintiva deste andamento é o facto de fazer uso o segundo, único verdadeiramente melódico da escrita de recitativo e arioso instrumental 04 © dr (1803-1866) aldeia à beira rio ao luar, por jacob abels

(como elemento balizador das duas fugas). típico de Beethoven, haja conexões/derivações Único mesmo, nesta obra, é o lirismo luminoso, motívicas e temáticas com o andamento inicial, franco e generoso do primeiro andamento, a começar pelo tema da 1.ª fuga – derivado assente sobre três temas principais: os dois que do tema que abre a sonata. A 2.ª fuga usa um se encadeiam logo de início (o 1.º irá dominar tema simétrico ao da Fuga 1, isto é, os mesmos a secção de desenvolvimento em sucessivas intervalos, só que na direção contrária. Ambas reiterações; e o 2.º tem uma bipartição segundo as fugas são precedidas por um Adagio (“arioso o princípio de pergunta/resposta) e o 3.º, que dolente”), apresentado primeiro em Mi bemol surge mais tarde (introduzido por um trilo na menor, e depois em Sol menor. A 2.ª fuga mão esquerda), sobre baterias de acordes, de (Sol maior) é a vitória definitiva do espírito, caráter hínico. Refira-se ainda, na reexposição, culminando no Lá bemol maior da irradiante a visita à tonalidade de Mi maior (em arpejos peroração final. quebrados) na ponte que liga o 2.º ao 3.º temas. O mundo que se nos desvela ao longo destes A mesma ponte introduz a coda, breve. intensos minutos de música é uma espécie de O Scherzo (forma ABA, na tónica) joga com credo pessoal de Beethoven, que poderá bem contrastes de registos, dinâmicas e ataques, ser resumido pelo aforismo latino per aspera numa escrita vertical/acórdica. Já a secção ad astra, isto é, a superação das contingências e intermédia (Ré bemol maior) tem um caráter contrariedades através da fortaleza espiritual, mais brincalhão, parecendo a mão direita alcançando-se no fim uma nova dimensão (arpejos quebrados em colcheias) jogar “à de luz, que paira já por sobre as limitações da apanhada” com a esquerda (que a “persegue” em matéria (a nossa própria) e do mundo físico contratempo). A coda faz ouvir acordes fortissimo (aquele que habitamos). Que tudo isto seja que depois evanescem, preparando a entrada do realizado através da forma-fuga é indicativo andamento final. da persistência, rigor e disciplina que, para O derradeiro andamento é um organismo Beethoven, tal caminho implicava. autossuficiente por si só, embora, tal como é

05 Claude Debussy Saint-Germain-en-Laye, 22 de agosto de 1862 Paris, 25 de março de 1918

Reflets dans l’eau (Images I) composição: 1904-1905 duração: c. 5 min.

Poissons d’or (Images II) composição: 1907 duração: c. 4 min. © dr 1900 claude debussy, c.

As duas séries de Images são, a par das Estampes e longo da peça. Elementos decorativos: arabescos, dos Préludes, as absolutas obras-primas do piano figurações de fusas e de semifusas em diversos “impressionista” em Claude Debussy. A primeira valores rítmicos, modulações “colorísticas” série (que Reflets dans l’eau abre) foi concluída em (de alturas ou de “tempo”). 1905 e estreada em fevereiro do ano seguinte por Ferramentas semelhantes, mas empregues Ricardo Viñes. Já a segunda série (que Poissons de forma mais despojada (ou evanescente) e d’or encerra) data de 1907 e estreou em fevereiro dentro de uma finura de escrita ainda mais de 1908, também por Viñes, aliás o dedicatário requintada (e virtuosa), distribuída por três de Poissons d’or. pautas (uma inovação da 2.ª série de Images) – Reflets dans l’eau é mais uma dessas peças de para melhor visualização/perceção da textura inspiração aquática, numa maneira inaugurada global pretendida – iremos encontrar em Poissons pelos Jeux d’eau à la Villa d’Este de Liszt e d’or (indicada Animé, em Fá Sustenido maior continuada pelos Jeux d’eau de Ravel (esta, indicativo). Aqui, o trabalho de articulação, de datada de 1901). Indicada Andantino molto (em compressão/distensão dos tempi e o emprego do Ré bemol maior), a peça evidencia aquela fusão, pedal são ainda mais essenciais para a definição característica do pianismo debussista, do de atmosferas (água/luz), para a representação de construtivo e do decorativo, revezando-se movimentos rápidos/repentinos, para a tradução elementos de um e de outro domínio na de brilhos e cintilações. Distinguem-se proeminência do discurso, ao serviço do intuito cinco secções principais, com um clímax a último de transmutar em som elementos acontecer na 4.ª e uma transição a conduzir à visuais/pictóricos, bem como a passagem da luz/ 5.ª, que não é senão uma ‘”memória viva” da do tempo sobre eles. Elementos construtivos secção inicial, mas transformada num modo que são: motivo descendente de três notas; acordes significa, agora, o esgotamento de energia (é a paralelos ou oitavados; tema em tons inteiros. “passagem do tempo” dada em música). A coda é Eles serão livremente associados/combinados ao pura textura (ou “tela”, ou “instantâneo”).

06 Ignacy Jan Paderewski Kuryłówka, 6 de novembro de 1860 Nova Iorque, 29 de junho de 1941

Noturno em Si bemol maior, op. 16 n.º 4 composição: c. 1890 duração: c. 5 min. ignacy jan paderewski © dr

O polaco Ignacy Jan Paderewski foi um dos Dela se enamorou o pianista, mas, à semelhança grandes pianistas-compositores dos períodos da condessa Guicciardi, a distância social da “Belle Époque” e de entre as guerras, tendo impossibilitava qualquer concretização. obtido nos Estados Unidos da América uma Peça despretensiosa, aparenta ser outro fama só comparável à de Rachmaninov. Acresce “devaneio” posto em pauta. Os acordes de a dimensão extramusical da sua biografia, acompanhamento iniciais, nessa guisa ou corporizada no seu envolvimento ativo pela ligeiramente modificados, permeiam-na quase restauração da independência da Polónia após por inteiro, servindo de substrato a uma secção a I Guerra Mundial, devendo-se-lhe a inclusão A com 2 elementos (o 1.º mais uma simples dessa cláusula nos famosos “14 Pontos” do “atmosfera” e o 2.º mais temático/expansivo) e Presidente Wilson. a uma secção B na qual sobressai uma melodia Apesar de pianista concertista de carreira na região do tenor (molto cantando) que depois se internacional, Paderewski sempre se considerou reparte para o contralto/soprano, com a textura primordialmente um compositor. Deixou um de acompanhamento na região mediana. Uma catálogo não muito extenso, aí se incluindo, ponte baseada em reiterações prepara o regresso claro, várias obras para piano. Este Noturno, de A, finalizando numa tranquila coda. em Si bemol maior, integra uma miscelânea Fechamos com esta curiosidade: aos 76 anos, de sete pequenas peças e deverá datar de Paderewski integrou o elenco (fazendo de cerca 1890-91, quando o compositor residia si próprio) do filme Sonata ao Luar. Aí, a sua em Paris. Foi dedicado à princesa Rachel de interpretação da dita Sonata, em dois momentos Brancovan, grega de Constantinopla, pianista bem distintos da narrativa, tem implicações de méritos, apaixonada por música e anfitriã (sobretudo) sobre a principal personagem de um dos mais conceituados salões de Paris, feminina desse drama romântico, contribuindo frequentado, por exemplo, por Marcel Proust. para o “happy end”!

07 Fryderyk Chopin Zelazowa-Wola, 1 de março de 1810 Paris, 17 de outubro de 1849

Impromptu n.º 2, op. 36 composição: 1839 duração: c. 6 min.

Mazurka op. 33 n.º 4 composição: 1838 duração: c. 5 min.

Ballade n.º 3, op. 47 composição: 1840-1841 duração: c. 7 min. © dr 1849 fryderyk chopin em

Se a Sonata “Ao luar” dá conta, nos 1.º e 3.º o coral ouvido anteriormente. A Ballade n.º 3 andamentos, de “devaneios” organizados em foi dedicada por Chopin à sua aluna Pauline de pauta, testemunhos do génio improvisador de Noailles. Apresenta dois elementos temáticos Beethoven, já na obra de Chopin quase todas as introdutórios (contrastantes) numa forma composições sugerem uma génese improvisada, tripartida. Entra então o elemento temático depois vertida e organizada/arrumada em pauta fulcral, preparado por intervalos de oitava e pelo autor. Um processo que lhe era custoso, mas apresentando uma melodia descendente. Estes que deixa perceber o quão importante era para elementos virão a ser tratados igualmente em ele a coesão formal das suas obras. forma tripartida, sendo que na reaparição O Impromptu n.º 2 data de 1839 e não tem do tema principal (clímax da obra) este irá dedicatário. Abre com um acompanhamento desembocar, por modulações, numa transformação e um contracanto, sobre os quais vão surgir do elemento temático que abriu a obra, agora três elementos formalmente definidores: com balanço valsante. Segue-se uma coda de (1) um tema simples com melodia em graus efeito, rematada por quatro acordes em fortissimo. conjuntos ou próximos; (2) uma figura rítmica As Mazurkas op. 33 datam de 1837-38 e foram pontuada; (3) figurações de notas ornamentais dedicadas à condessa Rosa Mostowska. A n.º 4, (não esqueçamos que estamos perante um em Si menor, traz a indicação Mesto, isto é, cheia “Improviso”). Atenção deverá ser feita ainda a de uma tristeza contida. Apresenta uma melodia uma melodia acórdica, género coral, que funde representando esse caráter, a que se segue outra, elementos de 1 e 2. A secção intermédia, em acórdica e imperiosa. O tema da secção central é Ré maior, é de caráter marcial, com recurso derivado do primeiro (Mesto), mas mais valsante. ao segundo elemento. Regressamos então à Um solo da mão esquerda faz a ponte para o primeira secção, com os três elementos, mas regresso da primeira parte, mas agora apenas a modificada. Segue-se um mini-desenvolvimento secção Mesto. Uma sugestão de sinos noturnos sobre o segundo elemento e uma extensa remata em seguida a breve coda. cadenza sobre o terceiro, isto é, arabescos e guirlandas de “petites notes”. A coda rememora notas de bernardo mariano 08 Nelson Freire Piano nelson freire © benjamin ealovega - decca

Nelson Freire nasceu em Boa Esperança, no com a Royal Philharmonic Orchestra), Rafael Estado de Minas Gerais, no Brasil. Estreou-se Kubelik, John Nelson, Vaclav Neumann ou em público aos cinco anos de idade, tendo então David Zinman. interpretado a Sonata K. 331 de Mozart. No Rio de Ao longo de cinco décadas, Nelson Freire Janeiro foi aluno de Nise Obino e Lúcia Branco e, apresentou-se em mais de setenta países, nas em 1957, após ter ganho o Concurso Internacional principais salas de concertos e em colaboração de Piano do Rio de Janeiro, com a interpretação com as mais importantes orquestras a nível do Concerto Imperador de Beethoven, o Presidente mundial. Apresentou-se também em vários do Brasil atribuiu-lhe uma bolsa que lhe permitiu concertos com a Orquestra Gulbenkian, a estudar em Viena com Bruno Seidlhofer, última vez em maio de 2014, sob a direção professor de Friedrich Gulda. Sete anos mais de Lionel Bringuier. É muito solicitada a sua tarde, recebeu a Medalha Dinu Lipatti, em presença em recital, tendo-se apresentado no Londres, assim como o 1.º Prémio no Concurso Grande Auditório Gulbenkian em março de Internacional Vianna da Motta, em Lisboa. 2016. Ao longo da sua brilhante carreira, recebeu A carreira internacional de Nelson Freire teve o os mais importantes prémios discográficos, seu início em 1959, multiplicando-se os recitais e incluindo um Grammy latino, bem como outras os concertos na Europa, nas Américas, no Japão importantes distinções: Cidadão do Rio de e em Israel. Colaborou com maestros notáveis Janeiro, Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, como Pierre Boulez, , Valery Chevalier de la Légion d’Honneur, Commandeur Gergiev, Seiji Ozawa, André Previn, , dans l’ordre des Arts et des Lettres, Medalha Pedro Yuri Termikanov, Eugene Ernesto, Medalha da Cidade de Paris, Medalha Jochum, Lorin Maazel, Kurt Masur, Rudolf da Cidade de Buenos Aires e doutor honoris causa Kempe (com quem realizou várias digressões pela Escola de Música da Universidade Federal nos Estados Unidos da América e na Alemanha, do Rio de Janeiro. O MELHOR BANCO EM PORTUGAL. O BPI foi eleito “O Melhor Banco em Portugal” pelo Euromoney Awards for Excellence Country 2018.

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Este prémio é da exclusiva responsabilidade da entidade que o atribuiu. Pedimos que desliguem os telemóveis durante o espetáculo. A iluminação dos ecrãs pode igualmente perturbar a concentração dos artistas e do público.

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