UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO NORDESTE – TROPEN PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – MDMA

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL EM / PIAUÍ

TERESINA 2010

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Orientador: Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo Co-orientadora: Profª. Dra. Roseli Farias Melo de Barros

TERESINA 2010

FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico

S237a Santos, Maria do Socorro Barbosa Almeida dos Agricultura familiar e produção de vassouras da palha de carnaúba na perspectiva do desenvolvimento local em Coivaras- Piauí / Maria do Socorro Barbosa Almeida dos Santos.--2010. 105f.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Piauí, 2010. Orientação: Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo.

1. Sustentabilidade Ambiental. 2. Extrativismo Vegetal – Piauí. 3. Agricultura Familiar – Coivaras (PI). I. Título.

CDD: 577

MARIA DO SOCORRO BARBOSA ALMEIDA DOS SANTOS

AGRICULTURA FAMILIAR E PRODUÇÃO DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL EM COIVARAS / PIAUÍ

Dissertação aprovada pelo Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de Concentração: Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Dissertação aprovada em _____/______/______

BANCA EXAMINADORA

______Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo - Orientador Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

______Prof. Dr. José Levi Furtado Sampaio Universidade Federal do Ceará (PRODEMA/UFC)

______Prof. Dr. Antonio Alberto Jorge Farias Castro Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

OFEREÇO

Ao amigo e professor, mestre José Ferreira Mota Júnior.

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Piauí – UFPI; Ao Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste – TROPEN; Ao professor Dr. José Luis Lopes Araújo (UFPI), pela paciência, apoio e disposição em todos os momentos desta caminhada, ... Muito obrigada! À professora Drª. Roseli Barros (UFPI), pelo incentivo e orações, que me fortaleceram; Ao Professor Dr. Antonio Alberto Gorge Farias Castro, pelas contribuições durante a elaboração do trabalho; À querida amiga Lúcia Helena Bezerra Ferreira e família pelo apoio e incentivo; Aos professores do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (TROPEN); Aos funcionários João Batista de Sousa Araújo e Maridete de Alcobaça Brito, pela força e companheirismo incondicional; Ao funcionário Raimundo Lemos de Oliveira; Aos produtores de vassouras de Coivaras – PI, pela confiança e colaboração em cada etapa da pesquisa; À minha querida mãe, Rosa Maria Barbosa Lima Almeida, amante da educação; Ao meu amado pai, Ananias Ribeiro de Almeida; À minha querida amiga, companheira de geografia, Teresa Cristina Ferreira da Silva; À Charlene de Sousa e Silva, pelo estímulo a mim dispensado; Ao casal amigo, João Correia da Silva e Maria do Livramento Silva; Às amigas de mestrado Sônia Maria Ribeiro e Mariane Goretti de Sá Bezerra Leal; Ao mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e grande amigo, Paulo César Lima, companheiro e grande ser humano que em todas as dificuldades na caminhada do mestrado sempre me ajudou... À companheira de mestrado Eliciana Selvina Ferreira Mendes Vieira; À bibliotecária Ana Cristina Carvalho; À toda equipe do Programa Saúde da Família (PSF) de Coivaras; Ao meu primo-irmão, Claudio Luis Lima, amigo de todas as horas; Ao meu amado irmão, Carlos Alberto Barbosa de Almeida, e sua esposa, Maria Ester Machado, pela força incondicional;

Às minhas sobrinhas, que muito amo, Denise Evelyng, Andréia Fernanda, Carla Stefane e Juliana Almeida grandes amigas; À amiga Maria do Amparo Meireles, pelo apoio e carinho; À querida amiga e companheira de mestrado, Francinalda Lima Rocha; Especialmente, ao querido amigo Ígor Monteiro, pelo afeto e disposição para comigo em todo o período de execução do trabalho; Ao meu esposo Raimundo Wilson Pereira dos Santos e aos meus filhos, João Paulo Neto e Wilson Júnior, grandes amigos que o Criador me concedeu; À minha prima querida Francisca Mendes Ribeiro, amiga- irmã com quem, em todos os momentos de minha vida, pude contar; Especialmente, ao amigo Daniel César Meneses de Carvalho, companheiro de mestrado; Agradeço à amiga Tatiana Nordeste Machado; Ao meu filho, afilhado e amigo, Cristiano Gleison Almeida Marques – professor Cristiano; Aos funcionários do Centro de Saúde do Poti Velho; Ao médico e grande ser humano, Amando José Alves de Moura Filho, pelo apoio nesta jornada; À enfermeira Nancy Nay L. A. Loiola, pelo apoio em todas as etapas de minha caminhada; A toda equipe do PSF do Município de Coivaras pela contribuição na realização desta pesquisa; E, finalmente, à minha companheira de trabalho, Ediane Patrícia Ferreira Lima, pelo companheirismo e colaboração.

RESUMO

A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H. E. Moore) é uma palmeira nativa do Nordeste do Brasil que ocorre apenas na área em que compreende porções do leste do Maranhão, territórios dos estados do Piauí e do Ceará e oeste do Rio Grande do Norte, sendo a extração de sua palha de grande relevância econômica. Este estudo trata da atividade extrativista de carnaúba para confecção de vassouras e suas relações com a agricultura familiar, no município de Coivaras - Piauí. Objetivou-se analisar se a estrutura da produção artesanal de vassouras de carnaúba e suas relações com a agricultura familiar contribuem para a sustentabilidade econômica, social e ambiental da população do município de Coivaras. Para tanto, buscou-se caracterizar os aspectos socioeconômicos do município; descrever as etapas da confecção artesanal de vassouras da palha de carnaúba na área em estudo; identificar as formas de relações entre a produção de vassouras e as práticas da produção da agricultura familiar, e caracterizar os impactos ambientais da produção de vassouras em Coivaras. Utilizou-se, como metodologia, pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo. Foram pesquisados 48 produtores de vassoura, sendo dois na zona urbana e 46 na zona rural. Estes são encontrados em doze localidades de Coivaras. Pode-se destacar que no município há predominância de pequenas propriedades, com práticas produtivas agropecuárias tradicionais; há atividade de produção de vassouras da palha de carnaúba consorciada à produção agropecuária familiar; formas distintas de acesso à matéria-prima; mão-de-obra basicamente familiar, com renda, na produção de vassouras, de até quatro salários mínimos mensais; 81,25% dos entrevistados têm como ocupação principal a produção de vassouras e a atividade agropecuária; a confecção de vassouras não traz impactos negativos ao meio ambiente, tendo em vista que, para obtenção da palha de carnaúba, principal matéria- prima, não é necessário derrubar a palmeira e os resíduos são aproveitados como adubo orgânico, configurando-se, assim, como atividade sustentável, que impacta positivamente o meio ambiente.

Palavras-chave: Extrativismo vegetal. Pequena produção. Artesanato. Sustentabilidade.

ABSTRACT

The carnauba (Copernicia prunifera (Mill.) HE Moore) is a palm native of Brazilian Northeastern. However, it‟s found only in the area that includes portions of eastern of Maranhão, territories of the states of Piauí and Ceará and west of Rio Grande do Norte. The extraction of its straw is of great economic relevance. This study deals of the extraction activities of carnauba for making brooms and their relationships with familiar farming in the municipal district of Coivaras - Piauí. The principal aim was to analyze if the structure of production of handmade carnauba brooms and their relationships with familiar farming contribute for economic sustainable, social and environmental impacts of the population of the municipal district of Coivaras. To this end, sought to characterize the socioeconomic aspects of the city; describe the steps of making handmade brooms carnauba straw in the study area; identify the relationships among the production of brooms and practices of familiar farming production, and characterize the environmental impacts of brooms production in Coivaras. It was used as methodology, bibliographical research, documentary research and fieldwork. It was surveyed 48 producers broom, two in urban areas and 46 in rural areas. These are found in twelve localities Coivaras. There is a predominance of small farms with traditional agricultural production practices, there is activity of production of carnauba straw brooms intercropped agricultural production family; different forms of access to raw materials, manpower basically family-income, production brooms, up to four minimum wages; 81.25% of brooms producers surveyed have as the primary occupation and the agricultural activity, the activity making brooms doesn‟t bring negative impacts on the environment, considering that, to explore of carnauba straw, the main raw material, isn‟t necessary to cut the down the palm and the residues are recovered as organic fertilizer, becoming, then, as sustainable activity, resulting in a positive impact on the environment.

Keywords: Extraction plant. Small production. Handmade. Sustainability.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Apresentação do projeto de pesquisa aos agentes de saúde do PSF de Coivaras- PI ...... 20

Fotografia 2 - Casa coberta com palha de carnaúba – Coivaras – PI...... 40

Fotografia 3- Templo evangélico em Coivaras – PI...... 49

Fotografia 4 - Detalhe do interior da igreja de Santa Luzia em Coivaras – PI...... 49

Fotografia 5 - Procissão do vaqueiro no município de Coivaras – PI...... 50

Fotografia 6 - Almoço em homenagem aos vaqueiros- Coivaras – PI...... 50

Fotografia 7 – Pequenos animais na feira de Altos – PI (em destaque suíno) ...... 56

Fotografia 8 – Pequenos animais na feira de Altos – PI (em destaque caprinos)...... 56

Fotografia 9 – Feira de pequenos animais em feira de Altos - PI (em destaque aves) ...... 56

Fotografia 10 - Produção de arroz em área de carnaubal em Coivaras – PI...... 58

Fotografia 11 – Criação de animais em área de carnaubal em Coivaras – PI...... 58

Fotografia 12 - Foice: ferramenta encaixada à vara de bambu para o corte das palhas da carnaúba- Coivaras-PI ...... 59

Fotografia 13 - Retirada da palha de carnaúba -Coivaras-PI...... 59

Fotografia 14 - "Apara", recolhimento e corte dos talos das palhas, Coivaras-PI...... 59

Fotografia 15 - Transporte da palha para o lastro, Coivaras-PI...... 59

Fotografia 16 - Material utilizado para riscar a palha de carnaúba(faca e tamborete), Coivaras- PI ...... 60

Fotografia 17 - "Risca" da palha da carnaúba, Coivaras-PI ...... 60

Fotografia 18 - Palhas expostas ao sol, no lastro, Coivaras-PI...... 60

Fotografia 19 - Palhas secas ao sol, recolhidas do lastro após secagem Coivaras-PI...... 60

Fotografia 20 - Fase em que se dá a batida da palha de carnaúba para a retirada do pó, Coivaras-PI...... 61

Fotografia 21 - "Cupinhamento" das palhas batidas,Coivaras-PI...... 62

Fotografia 22 - Cupim: forma de armazenamento da palha de carnaúba para produção de vassouras, Coivaras-PI...... 62

Fotografia 23 - Embira de buriti, Coivaras-PI...... 62

Fotografia 24 – Fitilho, Coivaras-PI...... 62

Fotografia 25 - Junção das palhas para montagem da vassoura, Coivaras-PI...... 63

Fotografia 26 - Anelamento da vassoura - Coivaras – PI...... 63

Fotografia 27 - Ajuste da vassoura – Coivaras – PI...... 63

Fotografia 28 – Bagana - descarte das palhas da produção das vassouras – Coivaras – PI. .... 63

Fotografia 29 – Preparação do "mói" de vassouras, Coivaras – PI...... 65

Fotografia 30 - "Mói" de vassouras – Coivaras – PI...... 65

Fotografia 31 - Olho da carnaúba, Coivaras-PI...... 65

Fotografia 32- Palha da carnaúba, Coivaras-PI...... 65

Fotografia 33 - Vassoura de palha amarrada com embira de buriti, Coivaras-PI ...... 66

Fotografia 34 - Vassoura do olho amarrada com fitilho,Coivaras-PI...... 66

Fotografia 35 - Vassoura da palha amarrada com fitilho,Coivaras-PI...... 66

Fotografia 36 - Feira de Altos - Piauí ...... 68

Fotografia 37 - Caminhão carregado de vassouras – Feira de Altos - Piauí ...... 68

Fotografia 38 – Queimada: fase de preparação da roça – Coivaras - PI ...... 79

Fotografia 39 - Galpão (ao fundo) onde são confeccionadas as vassouras – Coivaras - PI ..... 83

Fotografia 40 – Estrutura interna de um galpão – Coivaras - PI ...... 83

GRÁFICOS

Gráfico 1 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras - PI, segundo o gênero...... 69

Gráfico 2 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação com outras atividades no município de Coivaras - PI...... 70

Gráfico 3 - Distribuição dos tipos de tratamento da água consumida nas residências dos produtores de vassoura – Coivaras – PI...... 72

Gráfico 4 - Distribuição dos destinos dados aos dejetos humanos nas residências dos produtores de vassouras no município de Coivaras –PI...... 72

Gráfico 5 - Distribuição dos destinos dados ao lixo domiciliar dos produtores de vassouras – Coivaras - PI ...... 73

Gráfico 6 - Distribuição dos produtores, segundo produtividade e formas de aquisição da palha de carnaúba em Coivaras – PI...... 76

Gráfico 7 - Distribuição segundo renda mensal com produção de vassouras no município de Coivaras-PI...... 84

Gráfico 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação entre condições de acesso a terra e renda - Coivaras –PI...... 85

Gráfico 9 - Distribuição da média de produção de vassouras da palha de carnaúba . por tempo dedicado à atividade em Coivaras – PI...... 86

Gráfico 10 - Distribuição dos produtores de vassoura da palha de carnaúba, segundo a relação entre renda mensal e tempo de atividade no município de Coivaras – PI...... 87

Gráfico 11 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba, segundo média semanal e relação com local de produção – Coivaras – PI...... 87

MAPAS

Mapa 1 – Microrregiões do estado do Piauí: em destaque o município de Coivaras – PI ...... 18

Mapa 2 - Localidades produtoras de vassouras em Coivaras - PI, selecionados para a pesquisa ...... 21

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População de Coivaras e do Piauí por situação de domicílio e gênero (2007) ...... 52

Tabela 2 - Distribuição do número e área dos estabelecimentos agropecuários no município de Coivaras – PI (2006) ...... 53

Tabela 3 – Distribuição de imóveis rurais, seguindo categorias de propriedades – Coivaras (2010) ...... 53

Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores em estabelecimentos familiares a partir do grau de parentesco no município de Coivaras - PI (2006) ...... 54

Tabela 5 - Distribuição dos principais produtos cultivados em lavouras permanentes do município de Coivaras (2008) ...... 54

Tabela 6 - Distribuição dos principais produtos cultivados nas lavouras temporárias do município de Coivaras - PI ...... 55

Tabela 7 - Distribuição do número de estabelecimentos e de cabeças, por tipo de criação no município de Coivaras - PI (2006) ...... 56

Tabela 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo condição de acesso a terra no município de Coivaras (2008) ...... 70

Tabela 9 - Características físicas das residências dos produtores de vassouras no município de Coivaras - PI (2008) ...... 71

Tabela 10 - Distribuição das residências dos produtores de vassouras, segundo o tipo de combustível utilizado para o cozimento de alimento – Coivaras - PI ...... 74

Tabela 11 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba no município de Coivaras (2008), segundo localidade e volume de produção semanal ...... 74

Tabela 12 - Distribuição dos produtores de vassouras por tempo de dedicação à atividade Coivaras - PI ...... 77

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 14

2 METODOLOGIA ...... 16

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...... 22

2.1.1 ASPECTOS FÍSICOS...... 22

3 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL E A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ ...... 25

3.1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL ...... 25

3.2 A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ E O EXTRATIVISMO ...... 29

4 O EXTRATIVISMO: UM CONTEXTO HISTÓRICO ...... 34

4.1 O EXTRATIVISMO ...... 34

4.2 A CARNAÚBA: SUAS APLICAÇÕES E IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE EXTRATIVISTA ...... 36

4.3 AGRICULTURA FAMILIAR ...... 41

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL ...... 41

4.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL ...... 45

5 PRODUÇÃO ARTESANAL DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA EM COIVARAS-PI ...... 49

5.1 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DE COIVARAS – PIAUÍ ...... 49

5.2 EXTRATIVISMO DA CARNAÚBA E CONFECÇÃO DE VASSOURAS ...... 57

5.3 CONTEXTO DA COMERCIALIZAÇÃO DAS VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA ...... 64

5.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO PRODUTOR DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA – COIVARAS/PI ...... 68

5.4 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO DE VASSOURAS EM COIVARAS-PI ...... 73

6 CONCLUSÃO ...... 89

REFERÊNCIAS ...... 91

APÊNDICE A – Ficha de caracterização dos produtores de vassouras: localização, produção, semanal, local de vendas acesso à matéria-prima e divisão do trabalho, aplicado pelos agentes de saúde ...... 98

APÊNDICE B - Formulário de pesquisa das condições socioeconômicas dos produtores de vassouras em Coivaras - PI ...... 99

APÊNDICE C - Calendário de atividade mensal na produção agropecuária e de vassouras em Coivaras - PI ...... 105 14

1 INTRODUÇÃO

A Carnaúba (Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore) foi considerada, no século XVIII, pelo naturalista Humboldt, como “árvore da vida”, ao registrar ele sua admiração pelas finalidades da planta. A economia dessa palmeira decorre do seu aproveitamento integral, que gera inúmeras formas de uso, satisfazendo necessidades diversas da população, principalmente do meio rural. Os seus frutos servem de alimentação animal, e as folhas, além de fornecerem o pó, que tem sua principal matéria-prima - a cera utilizada em vários ramos industriais, também é empregada na cobertura de casas e na confecção de peças de artesanato, sem mencionar que as raízes possuem qualidades medicinais e o caule tem largo emprego na construção civil, usado como caibros, mourões, lenha, e decoração de ambientes. Essa palmeira instala-se, sobretudo, nos aluviões dos vales dos rios, e em baixões arenosos. Nessas áreas, o lençol freático encontra-se em pouca profundidade e sujeito a inundações, que ocorrem praticamente em todos os anos, no período chuvoso. Trata-se de uma planta resistente tanto à estiagem, quanto às inundações (LIMA; ARAÚJO, 2006). No Nordeste brasileiro, o extrativismo vegetal ainda apresenta relativa importância para a economia, sendo fonte de renda e absorção de mão de obra no campo e, ao longo da História, tem-se tornado grande contribuinte para a geração de riquezas, ora complementar, ora principal, proporcionando alternativa de renda para parcela da população rural. Neste contexto, o estudo fundamenta-se na tentativa de compreender como a produção artesanal de vassouras da palha de carnaúba e a atividade agrícola propiciam a sustentabilidade econômica, social e ambiental no município de Coivaras – PI. Assim, o presente trabalho desenvolveu-se a partir do seguinte questionamento: a produção artesanal de vassouras de carnaúba e suas relações com a agricultura familiar contribuem para a sustentabilidade econômica, social e ambiental do município de Coivaras, no estado do Piauí? Norteado pelo questionamento acima e, levando-se em conta a importância do extrativismo da carnaúba em termos econômicos e sociais, propôs-se, como objetivo geral, analisar se a estrutura da produção artesanal de vassouras de carnaúba e suas relações com agricultura familiar contribuem para a sustentabilidade econômica, social e ambiental da população do município de Coivaras – PI. Já como objetivos específicos estabeleceram-se caracterizar os aspectos socioeconômicos do município, descrever as etapas da confecção artesanal de vassouras da palha de carnaúba na área em estudo, identificar as formas de

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relações entre a produção de vassouras e as práticas da produção da agricultura familiar, e caracterizar os impactos ambientais da produção de vassouras em Coivaras. Utilizou-se, como metodologia, pesquisa bibliografia, pesquisa documental e pesquisa de campo, com técnicas de observação e aplicação de 48 formulários em 13 localidades do município. Ao investigar como se dá a atividade extrativista para a confecção de vassouras da palha de carnaúba foi possível distinguir categorias de análise, selecionando-se extrativismo vegetal, agricultura familiar e artesanato. O presente trabalho foi estruturado em seis partes. A primeira constitui-se de uma introdução, na qual são abordados aspectos gerais relacionados à pesquisa, a segunda trata da metodologia, fazendo-se uma caracterização da área de estudo e a descrição das etapas da pesquisa. Na terceira parte, procede-se a um resgate da questão agrária no Brasil e no Piauí. Na quarta, aborda-se o extrativismo, com ênfase na carnaúba e sua relação com a agricultura familiar. A quinta parte consiste na apresentação e discussão dos resultados alcançados na pesquisa, e a sexta e última reserva-se à conclusão do trabalho. Espera-se que este estudo contribua para suscitar novas pesquisas no município, nos diferentes ramos da ciência, para que, com mais conhecimento da realidade, opere-se no sentido de melhorá-lo.

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2 METODOLOGIA

A escolha de um caminho metodológico é de fundamental importância para a realização de pesquisas, pois permite a construção da fundamentação teórica e da coleta de dados. Segundo Viertler (2006, p. 214),

a teia de dificuldades é densa, e as armadilhas que interceptam a comunicação pesquisador-pesquisado são inúmeras. “Temas tais como „manejos‟, ou, „práticas sociais‟ não podem prescindir do emprego de técnicas quantitativas, enquanto outros dependem mais de uma combinação peculiar de várias técnicas de natureza qualitativa”. Esta só pode ser desenvolvida por meio de uma aproximação social maior entre pesquisador e pesquisados, de modo que torna imprescindível o conhecimento de certos padrões de etiqueta vigentes na comunidade, indispensáveis ao cientista que deseja desenvolver a contento o seu projeto de pesquisa. A postura do corpo, a mímica, os gestos e a direção do olhar revelam padrões culturais não manifestos, latentes que caracterizam posturas e movimentos corporais das pessoas que, em relações cotidianas face a face, acabam tendo grande importância.

Este estudo foi realizado utilizando o modelo de observação que, segundo Coutinho e Cunha (2004), desenvolve num conjunto de estratégias de observação, que vão desde a simples observação de um objeto, de um evento ou de um fenômeno, até o planejamento altamente sistematizado. Esta pesquisa classifica-se dentro das características quantitativas descritivas, lançando-se mão de entrevistas, com aplicação de formulários padronizados com questões abertas e fechadas (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2008) e utilização de fichas de identificação para produtores de vassouras. Sobre a entrevista, Coutinho e Cunha (2004) descrevem-na como um processo social, uma interação ou um empreendimento cooperativo em que as palavras são o meio principal de troca. Não se trata apenas de um processo de informação de mão única, que passa de um, entrevistador, para o outro, entrevistado, mais de uma interação, uma permuta de idéias e significados em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas. Com respeito a isso, tanto o(s) entrevistado(s) como o entrevistador estão, de maneiras diferentes, envolvidos na produção do conhecimento. Utilizou-se, também, um diário de campo, que é mais do que um simples registro de fatos ocorridos no tempo. Seu aproveitamento metodológico depende do olhar atento do pesquisador para captar detalhes do trabalho de campo, auxiliando, sobretudo, a memória do pesquisador, para que as informações sejam analisadas em profundidade (WHITAKER, 2008).

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As principais categorias utilizadas neste estudo foram: a) extrativismo vegetal, que se designa, conforme Clement (2006), como a atividade produtiva baseada na extração de produtos naturais não cultivados; b) agricultura familiar, que segundo Carmo (1998) é a modalidade que tem como características centrais a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados, feitos por indivíduos que mantêm entre si laços consanguíneos ou de casamento; c) artesanato, que consoante Araújo (1996) é a atividade exercida com instrumentos e técnicas rudimentares, a fim de elaborar total ou parcialmente um bem, podendo também contar com o uso de ferramentas consideradas modernas. Como suporte a temática ambiental, trabalhou-se com a categoria sustentabilidade, que significa para Cavalcante (2003), a possibilidade de obterem-se condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em um dado ecossistema. A fundamentação teórica foi obtida a partir da bibliografia das disciplinas do curso de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente e leituras complementares, que serviram de alicerce para melhor conhecimento do tema trabalhado, envolvendo conceitos básicos, como os de: extrativismo, agricultura familiar, desenvolvimento sustentável e artesanato. A escolha de Coivaras como área de pesquisa foi determinada a partir de visitas de campo a municípios produtores de vassouras da Microrregião Teresina e Microrregião Campo Maior. O município de Coivaras, localizado na Microrregião Teresina, como ilustrado no (mapa 1), foi selecionado como área de pesquisa devido à realidade observada no campo e informações colhidas com produtores de vassouras na feira semanal de Altos – PI, além das visitas a diversos municípios, incluindo suas áreas urbana e rural. Também consideraram- se dados revelados em Araújo e Santos (2007) sobre a feira semanal de Altos, onde foi observado que os municípios de origem dos produtores de vassouras comercializadas na referida feira estavam assim distribuídos: Coivaras 50,0%; Altos 30,8%; Campo Maior 11,6%; Alto Longá e José de Freitas 3,8%. Esses números reforçam a relevância do estudo da produção de vassouras em Coivaras. Posteriormente à escolha do município, selecionaram-se, no próprio município de Coivaras, localidades para o acompanhamento das atividades predominantes: agricultura e confecção de vassouras. A principal fonte de dados proveio de pesquisa direta: aplicação de formulários, entrevistas, acompanhamento das etapas da confecção de vassouras e visitas in locus. A partir de então, prosseguiu-se com análise dos impactos sociais, econômicos e ambientais da atividade extrativista para a confecção de vassouras no município.

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Mapa 1 – Microrregiões do estado do Piauí: em destaque o município de Coivaras – PI Fonte: Adaptado do IBGE (2007). Elaboração: Igor Monteiro

A coleta de dados secundários ocorreu junto a diversos órgãos, como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – CEPRO, bibliotecas públicas, Sindicato dos Produtores Rurais de Coivaras, Prefeitura de Coivaras e Prefeitura de Altos. Esse município é ponto de convergência de comercialização de vassouras da palha de carnaúba produzida em diversos outros, inclusive Coivaras. Na análise da área, utilizou-se de mapas e cartas do Diretório de Serviço Geográfico – DSG, na qual se observaram as variáveis da divisão do município de Coivaras em localidades, por meio de dados geofísicos, como vegetação, solos, hidrografia e clima, consultados em Rivas (1996).

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No período de abril a maio de 2008, foram realizadas visita a municípios da Microrregião Teresina e Campo Maior, objetivando conhecer as características da produção de vassouras e selecionar o município a ser pesquisado. Os municípios visitados foram:  (11, 12 e 13 de abril);  Pau D‟Arco (18, 19 e 20 de abril);  Coivaras (2 e 3 de maio);  Altos (4, 5 e 6 de maio);  Alto Longá1 (25, 26 e 27 de abril). O estado do Piauí e o município de Coivaras foram caracterizados, separadamente, nos seus aspectos físicos, ambientais e socioeconômicos, através de bibliografia pertinente e de dados adquiridos em órgãos e instituições já mencionadas. Os mapas da pesquisa foram confeccionados a partir da base de mapas do IBGE, gerados de forma semiautomatizada pelo do mapeamento sistemático brasileiro do DSG, em formato de RASTER/Vetorial, com atualização proveniente de diversas fontes, dentre elas o Anuário Estatístico do IBGE (2007). O levantamento de corpus compreendeu 13 viagens ao município de Coivaras, onde se realizaram reconhecimento da área a ser pesquisada e visitas aos produtores de vassouras dos povoados São Félix, Boi Manso, Canto Alegre, Benjamim e Sambaíba. O reconhecimento da área de pesquisa, com visitas aos produtores de vassouras do município, feito em junho de 2008, objetivou estreitar relações com produtores de vassouras. Houve também, visita à sede do município de Coivaras, em julho de 2008 para reunião com os agentes do Programa Saúde da Família – PSF, na qual se apresentou o projeto de pesquisa, conforme fotografia 1, sendo solicitado o preenchimento de ficha de identificação e localização, como pode ser visto no Apêndice A, dos produtores de vassouras. O formulário-teste da pesquisa de campo foi aplicado em 22 de setembro de 2008, subdividido em dois formulários para cada uma das localidades: Canto Alegre, Caninana, Belo Horizonte e Boi Manso. Em outubro de 2008, fez-se acompanhamento de um dia de trabalho na confecção de vassouras, onde se realizaram observações, desde o deslocamento ao carnaubal até o ponto em que a vassoura foi comercializada. Nos dias 25 e 26, ocorreram entrevistas com produtores de vassouras.

1 Único município, dentre os citados, pertencente à Microrregião Campo Maior.

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Fotografia 1 - Apresentação do projeto de pesquisa aos agentes de saúde do PSF de Coivaras-PI Fonte: Santos (2008)

A visita ao município de Coivaras para recebimento das fichas de identificação de produtores de vassouras junto à equipe do PSF se deu em 20 de novembro de 2008. Foram utilizados, como critérios para a escolha das localidades, a expressiva quantidade de vassouras produzidas e a participação familiar na atividade de confecção de vassouras da palha de carnaúba. Nas localidades selecionadas para a pesquisa, foram selecionados 48 produtores, segundo como critério a Amostra Intencional, que consta de um grupo de elementos escolhidos intencionalmente e dos quais se deseja saber a opinião sobre o que será estudado (FONSECA; MARTINS, 2006). Com as informações contidas nas fichas obtidas pelos agentes de saúde, os quais identificaram 120 (cento e vinte) famílias produtoras de vassouras, elegeram-se as localidades Sambaiba, Buritizinho, Belo Horizonte, Boi Manso, Coivara de Baixo, Buriti do Padre, Canto Alegre, Buriti Grande, Morro Redondo, São Felix, Beijamim, Belém e Caninana, conforme ilustrado no mapa 2. No dia 30 de novembro de 2008, foram aplicados 48 formulários, por uma equipe de 13 pessoas, um economista, dois pedagogos e dez geógrafos, treinados para a correta aplicação e preenchimento. No dia 20 de dezembro de 2008, procedeu-se visita à feira semanal de Altos – Piauí, com o objetivo de observar a atuação dos atravessadores na dinâmica da atividade. No dia 9 de março de 2009, realizou-se visita à sede do município, para reunião com a equipe do PSF, objetivando conferir a distribuição espacial das localidades do município em mapa.

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Mapa 2 - Localidades produtoras de vassouras em Coivaras - PI, selecionados para a pesquisa Fonte: adaptado do IBGE (2007) Elaboração: Igor Monteiro

No período de 7 a 11 de dezembro de 2009, fizeram-se visitas de campo, com a finalidade de preencher o formulário de atividades anuais junto aos produtores de vassouras. Os dados secundários foram obtidos em órgãos públicos e multimídias, e os coletados na pesquisa de campo foram tabulados utilizando-se o programa Pacote Estatístico para Ciências Sociais (Statistic Package for Social Sciences) – SPSS. Cabe ressaltar que foram realizados registros fotográficos em todas as etapas da pesquisa a fim de ilustrar a realidade pesquisada.

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2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1.1 ASPECTOS FÍSICOS

O Piauí se formou territorialmente a partir de atividades primárias, destacando-se a pecuária e a agricultura de subsistência, que deram forma à configuração atual do território piauiense. O Estado tem como : ao norte, o oceano Atlântico; ao sul, o estado da Bahia; a leste, os estados do Ceará e Pernambuco e a oeste, Maranhão e Tocantins. A conformação dos aspectos naturais do Piauí tem relação direta com a formação da bacia hidrográfica do Parnaíba. Segundo Rivas (1996), essa bacia hidrográfica foi compartimentada, de acordo com a diversidade de seu quadro natural em unidades geoambientais, denominadas geossistemas, sendo divididas em geofáceis, unidades de maior ocorrência. Ainda segundo Rivas (1996), a região da savana-cerrado ocupa a área sudoeste da bacia hidrográfica, compreendendo o alto curso do rio Parnaíba e seus afluentes. O domínio da flora da savana, com variações traduzidas por fisionomias arbóreas, aberta e densa, apresenta pequenas diferenças entre si, refletindo mudanças locais de solo, altitude e distribuição de umidade, enquanto o geossistema da região da estepe (caatinga) engloba as áreas sudeste e leste da bacia hidrográfica do rio Parnaíba. O geossistema da região da floresta ombrófila aberta ocupa a Serra da Ibiapaba, na porção nordeste da bacia hidrográfica do rio Parnaíba, com clima úmido, provocado por efeito orográfico, cujas precipitações chegam a 1.500 mm/ano nos meses de janeiro a maio, com temperaturas médias anuais de 26 a 29º C (RIVAS, 1996). A região da floresta estacional decidual ocupa a porção sul da bacia do rio Parnaíba, englobando as unidades geoambientais Cuesta Bom Jesus do Gurguéia, Cabeceiras do Gurgueia e Chapada da Tabatinga. A área de formações pioneiras recobre toda a extensão do Delta do Parnaíba e penetra para o interior, ocupando os campos de dunas, as planícies fluviais e as depressões inundáveis, envolvendo os geossistemas superfície litorânea e Delta do Parnaíba (RIVAS, 1996). O maior domínio fitoecológico da bacia hidrográfica do rio Parnaíba é a área de tensão ecológica que se apresenta desde as proximidades das cidades de Luís Correia e estende-se para o Sul, até as nascentes do rio Gurgueia, distribuindo-se desde os contrafortes da Cuesta

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da Ibiapaba até o interior do estado do Maranhão. Nesse domínio, há formações vegetais com características de flora indiferenciadas, que se interpenetram sob forma de enclave e ecótono, com clima variando de semiárido a úmido, com isoietas anuais que oscilam de 700 a 1.500 mm e deficiência hídrica de seis a nove meses. As áreas de tensão ecológica são representadas por contatos entre savana/estepe e savana/floresta estacional e dividem-se em três unidades geoambientais: Vale do Gurgueia, Baixada de Campo Maior e Tabuleiros do Parnaíba RIVAS (1996). A unidade geoambiental Tabuleiros do Parnaíba engloba parte do médio e baixo curso do Parnaíba, dispondo-se da barragem de Boa Esperança até próximo do litoral e contendo os principais centros urbanos do Piauí, incluindo a capital, Teresina, e ainda o Parque Nacional de Sete Cidades (RIVAS, 1996). Segundo Rivas (1996), a área onde se situa o município de Coivaras tem vulnerabilidade natural de muito fraca a moderada, e o uso da terra dá-se a partir da pecuária extensiva de bovinos, caprinos e ovinos. Apresenta alterações significativas de potencial vegetal e pouco significativa do potencial erosivo em longo prazo, com raleamento da cobertura vegetal, fraca erosão laminar e sulcos ocasionais e superficiais. Os solos têm pouca compactação significativa. A área possui interferência na densidade e diversidade vegetal, com algumas modificações na superfície do solo, acelerando os processos erosivos, produzidos por exploração vegetal e por sistemas de exploração animal extensiva. No tocante ao seu potencial geoambiental, o município apresenta depressão, com lagoas com áreas predominantemente inundáveis, nível altimétrico de 100 metros, modeladas em rochas pelíticas e arenitos, contendo pelitossolos colonizados por vegetação de contato savana/estepe e contato savana/estepe/savana, estepe/floresta estacional (RIVAS,1996). O clima é úmido a subúmido, com pluviosidade de 1.300 a 1.500mm/ano, concentrada de dezembro a maio, e deficiência hídrica de quatro a seis meses. O potencial hídrico subterrâneo é caracterizado como de fraco a médio e o potencial hídrico superficial de médio a alto. A área deprimida é localmente inundável, com lagoas e declives de até 2ª moldada em rochas pelíticas, com pilitossolos álicos e concrecionários, apresentando textura média/argilosa, associadas a podizólicos vermelhos-amarelos plintitos e concrecionários. Atuam no processo de acumulação e erosão por escoamento concentrado, com dinâmica fraca, apresentando vales de fundo plano com fraca incisão/declive de zero a segunda e ocorrências de printossolossálicos concrecionários de textura média e média/argilosa, associados a podizólicos vermelhos-amarelos álicos, plinticos e concrecionários, ambos com restrições importantes de drenagem e localmente pedregosos, sujeitos a escoamento

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concentrado, evidenciados pela ocorrência de sulcos, com dinâmica moderada (RIVAS, 1996). Aguiar e Gomes (2004, p. 22) descrevem as principais formas de relevo no município de Coivaras, como sendo de

[...] superfícies tabulares reelaboradas (chapadas baixas), relevo plano com partes suavemente onduladas e altitudes variando de 150 a 300 metros; superfícies tabulares cimeiras (chapadas altas), com relevo plano, altitudes entre 400 (sic.) a 500 (sic.) metros, com grandes mesas recortadas e superfícies onduladas com relevo movimentado, encostas e prolongamentos residuais de chapadas, desníveis e encostas mais acentuadas de vales, elevações (serras, morros e colinas).

Segundo PLANAP (2006), o clima do Piauí, conforme a classificação climática de Köppen, recebe a denominação de Aw‟, ou seja, apresenta-se como tropical chuvoso, com precipitações anuais, variando de 1.200 a 1.400 mm. A média anual da temperatura do ar é de 26,7 ºC, com temperatura mínima de 21,6°C e máxima de 32,9°C. Coivaras apresenta temperatura mínima de 25º C e máxima de 35° C, com clima predominantemente quente tropical. A precipitação média anual varia entre 400 a 800 mm, com dois regimes marcados por cinco a seis meses chuvosos, sendo os demais considerados meses secos (AGUIAR; GOMES, 2004).

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3 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL E A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ

3.1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL

De acordo com Guimarães (1977, p. 5), antes da chegada dos portugueses no Brasil, “a terra era um bem comum, pertencente a todos e muito longe se achavam os seus donos de suspeitar que pudesse alguém pretender transformá-la em propriedade privada”. Não sabiam eles que antes do descobrimento do Brasil, diversos tratados já disciplinavam a partilha do território americano entre Portugal e Espanha, dentre eles o Tratado de Tordesilhas2. Após a chegada dos portugueses no Brasil, toda a terra que antes era ocupada pelos índios passou a pertencer à Coroa Portuguesa pelo direito de ocupação. A partir de 1530, Portugal decide ocupar a nova terra e explorá-la, devido ao mal sucedido comércio das especiarias indianas (ALMEIDA, 2003). A primeira divisão do território brasileiro ocorreu com a criação das capitanias hereditárias, um total de 15 lotes inicialmente distribuídos aos donatários e aos seus descendentes, cujos direitos e deveres constavam na Carta de Doação. Cabendo aos seus proprietários a administração das capitanias, bem como a distribuição das cartas de sesmaria3 aos colonos. As cartas de sesmaria foi o primeiro instrumento de divisão e legitimação da ocupação da propriedade territorial no Brasil, sendo sua aquisição uma das formas de apropriação do solo (BITTAR FILHO, 2000). No que se refere ao ciclo econômico brasileiro, a cana-de-açúcar foi o primeiro produto cultivado no Brasil, principalmente nas capitanias de São Vicente e Pernambuco. Em Pernambuco, a cana-de-açúcar adaptou-se bem ao seu tipo de solo e contou com a maior proximidade em relação à metrópole, bem como todo o Nordeste, ao contrário de São Vicente que, devido à distância da metrópole, tornou-se uma região pobre da Colônia (BITTAR FILHO, 2000). Costa (2008) pontua que a produção açucareira se caracterizava por uma estrutura escravista, com produtividade afetada e condicionada por três elementos: o fato de a terra

2 O Tratado de Tordesilhas foi um acordo assinado entre Portugal e Espanha, em 1494, para definir os territórios descobertos e a descobrir, dividindo o mundo em duas partes, a partir de um meridiano a 370 léguas a Oeste de Cabo Verde. 3 Sesmarias, sinteticamente, consistem nos lotes de terras abandonadas ou incultas cedidos pelos reis lusitanos a determinadas pessoas que resolvessem cultivá-las. Esses cultivadores passaram a ser conhecidos e tratados por sesmeiros, ou seja, os beneficiários das sesmarias (FERREIRA, 1994, p. 107 apud ALMEIDA, 2003, p. 34).

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nada valer inicialmente; o regime monopolista comercial e a situação de colônia, de área complementar de produção em que foi transformada pela divisão mundial dos mercados. Para Bittar Filho (2000), os principais fatores que proporcionaram o sucesso da atividade açucareira no Brasil Colônia foram a substituição do mel como adoçante pelo açúcar da cana nas mesas europeias, o domínio de seu cultivo e tecnologia pelos portugueses (que já o faziam na Ilha Madeira), o solo e o clima favoráveis ao seu cultivo no Nordeste do Brasil, a quase extinção do pau-brasil no território e sua desvalorização, a progressiva decadência do comércio com as Índias e a ameaça estrangeira sobre a colônia (que exigiam da metrópole medidas mais efetivas de povoamento e colonização). A escravização do indígena permitiu o primeiro avanço da produção colonial, depois de trocada pelo escravo africano, após o firme estabelecimento dessa produção (GERMAUD; SAES; TONETO JÚNIOR, 1997). A monocultura da cana-de-açúcar era sustentada pelo latifúndio escravista dentro, ainda, de uma mentalidade feudal, tornando-se, a terra alvo de todas as atenções, sendo concedidos direitos políticos aos latifundiários (BITTAR FILHO, 2000). Segundo Costa (2008) como no Brasil Colonial não existia mercado interno para a produção, a metrópole controlava a circulação da mercadoria produzida através do monopólio comercial. Guimarães (1977) afirma que, após o estabelecimento da produção , a pecuária iniciou-se com um novo tipo de domínio territorial, gerado pela sesmaria: a fazenda. Esta surgiu como um domínio latifundiário, ligado, a priori, unicamente à pecuária, servindo logo em seguida para designar quaisquer outras grandes atividades destinadas à agricultura. A intenção da metrópole era ampliar seus objetivos colonizadores. A faixa litorânea, que dispunha das melhores terras, era destinada à cultura canavieira, estando a pecuária como um segundo instrumento de ocupação, principalmente para o interior. Ao contrário da produção canavieira, que melhor se estabeleceu no litoral, a atividade pecuarista ocorreu principalmente no interior. Essa interiorização da pecuária ocorreu pela necessidade de proteção dos canaviais, devido à sua danificação pelo gado. A interiorização da pecuária visava, também, a proteção dos engenhos contra os ataques indígenas vindos do interior para o litoral (FURTADO, 2000). Infere-se assim que, a questão agrária no Brasil não é recente, mas remonta ao período em que os portugueses iniciaram a ocupação das terras brasileiras e implementaram o processo de colonização que se desenvolveu no século XVI.

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Segundo Lima (19--?, apud GUIMARÃES, 1977), a apoderação de terras devolutas e cultivadas tornou-se comum entre os colonizadores, sendo considerada como um modo legítimo de aquisição do domínio no decorrer dos anos, paralelamente a princípio e em substituição ao regime das sesmarias. Após a extinção das sesmarias, a posse passou a campear livremente, ampliando-se de zona a zona à proporção que a civilização expandia-se geograficamente. Assim, a ocupação tomava o lugar das concessões do poder público, caracterizando a Sesmaria como um latifúndio, inacessível ao lavrador sem recursos, e que a posse é, pelo contrário, a pequena propriedade agrícola, criada pela necessidade, na ausência de providências administrativas sobre a sorte do colono livre, e vitoriosamente firmada pela ocupação. Para Santos (2007), até a primeira metade do século XIX não existia uma legislação que ordenasse uso e posse de terra no Brasil, pois vigorava o sistema de sesmarias que, nesse período, apresentava dificuldades no que se refere ao processo de produção, baseado no regime escravocrata. Essas unidades produtivas, em meados desse século, foram extintas, por conta das dificuldades da aquisição de mão de obra escrava. O que levou o governo a buscar uma legislação que viesse regular a questão da terra no Brasil. Medeiros (2003, apud SANTOS, 2007) diz que o primeiro passo para a regulamentação da situação de posse e propriedade fundiária no Brasil ocorreu somente em 1850, com a Lei de Terras. Consagra-se o direito absoluto da propriedade, que vigorava na prática desde o início do processo de colonização, com o advento das capitanias hereditárias e das sesmarias, e legitimava as terras que estavam efetivamente produzindo, de acordo com as necessidades definidas pelo governo e pelo mercado europeu. Por outro lado, a lei dificultava o acesso a terra às famílias que trabalhavam nas fazendas, pois proibia a aquisição de terras devolutas que não fosse por meio da compra. A posse da terra passou a ser regulamentada ao longo da história do Brasil e a ser compreendida a partir das atividades econômicas implantadas. Com a Proclamação da República, ocorrida em 1889, as terras devolutas e as questões agrárias ficaram sob a responsabilidade dos poderes estaduais, medida que premiava oligarquias regionais e servia para a sustentação do regime republicano. Com essa política, as classes dominantes estaduais podiam distribuir as terras públicas de acordo com seus interesses econômicos e políticos para seus cabos eleitorais, clientes e protegidos. Tomar a terra dos coronéis seria tirar-lhes o poder de dominação que tinham (MARTINS, 1984). Sobre o contexto de opressão pelo domínio da posse de terras Martins (1984, p, 20) afirma que:

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a quebra do poder dos coronéis, do poder dos grandes proprietários de terra, se por um lado fortalecia os setores políticos e militares interessados na centralização do poder, por outro lado, enfraquecendo os fazendeiros, fortalecia os trabalhadores rurais, libertava-os também progressivamente do poder pessoal dos latifundiários. Essa mudança alterou radicalmente as formas de luta dos trabalhadores rurais: antes, o único recurso para enfrentar a prepotência e a violência dos fazendeiros era o messianismo, a luta religiosa, ou então o cangaço - forma não política de libertação, que não podia modificar a sociedade inteira. A mudança abriu caminho para as lutas políticas dos trabalhadores rurais já nos anos cinquenta: a formação das ligas camponesas.

A posse da terra traduzir-se-ia em forma de esperança de dias melhores, pois o maior bem que o camponês vislumbrava era terra para plantar e dela tirar seu sustento e o da família. Foi, no entanto, nos séculos XIX e XX que se processaram os maiores conflitos pela posse de terras no Brasil. sendo, aliás, a periodização da questão agrária marcada por três momentos cruciais, citados por Linhares e Silva (1999, p. 126):

a) De 1930 a 1945, a busca sob o impacto das transformações internacionais do capitalismo administrado (imposição do modelo fordista-keynesiano ou do chamado), da autarquia por grandes potenciais e dos efeitos imediatos da II Guerra Mundial geraram e impuseram ao Brasil a alteração dos automatismos vigentes na economia desde o império. No período Campos Sales/Joaquim Martinho, já sob a república, rompeu-se com a dependência em relação aos produtos primários e a pauta única de exportação (café). Os projetos implementados, principalmente a colonização interna, visavam à autossuficiência, em especial no plano do abastecimento alimentício, como suporte indispensável para o funcionamento de uma nova regulação econômica, agora de caráter urbano industrial; b) A questão agrária como óbice ao desenvolvimento, 1945-1964/66: aceleração de um modelo fordista-keynesiano periférico, a chamada substituição de importações, criando-se ilhas de desenvolvimento (em especial no eixo Rio/São Paulo) de relativo bem-estar social, com a concessão de benefícios sociais para grupos inicialmente restritos, como os trabalhadores industriais urbanos, a manutenção dos baixos índices de produtividade agrícola, a recorrência das crises de abastecimento e a estreiteza do mercado de insumos – fatos recorrentes nas décadas de 1950 e 1960. A questão agrária é identificada como a questão nacional, com a luta contra o atraso e pela soberania. c) A modernização autoritária, desde 1966: após o período de 1964/1966, de reorganização liberal da economia, optou-se por um amplo processo de modernização técnica do campo, com a extensão do modelo fordista- keynesiano periférico ao meio rural (inclusive com vários mecanismos de bem estar social para os trabalhadores rurais como o FUNRURAL etc), e incentivou-se a completa industrialização do campo, com o surgimento dos CAIs, os complexos agroindustriais. O espaço de reprodução da pequena produção é restrito ao máximo, lançando as massas camponesas para a fronteira agrícola, particularmente com a expansão da pecuária, dos grandes projetos agroexportadores, como soja e laranja, ao mesmo tempo em que a intensificação da mecanização atinge, também, os trabalhadores assalariados no interior das empresas agrícolas. A questão agrária surge, agora, como item fundamental do desemprego no campo.

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Dessa maneira, processaram-se mudanças no campo agrário brasileiro sem que tenham sinalizado melhorias no acesso à propriedade da terra e na qualidade de vida do pequeno agricultor. Para Santos (2007), o desenvolvimento da atividade pecuária no Piauí necessitou do apresamento de índios, que passaram a serem utilizados como mão de obra, proteção das fazendas de gado dos constantes ataques indígenas, além do principal objetivo, que era dominar as terras indígenas para expansão das fazendas de gado bovino. Ainda segundo Santos (2007), os conflitos no Piauí pela posse da terra passaram a intensificar-se entre as comunidades indígenas, os colonos, os posseiros e os sesmeiros no período entre o século XVI e XVII. Somente no século XVIII foi que o governo português determinou a demarcação das terras por meio da elaboração de regras para o aforamento e arrendamento, o que permitiu a fixação de um maior número de fazendas no Estado e provocou conflitos entre as autoridades e missões jesuíticas na região. Apenas no século XX, foi implantada a legislação que tratava da distribuição de terras no Estado, com a Lei Estadual nº 3.271/73, que incorpora as terras devolutas ao patrimônio da Companhia de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI). A legislação também autoriza esta empresa a alienar terras públicas a empresários para investir no Piauí (BRASIL, 2005). O fato justifica a concentração de terras rurais em poder de empresas privadas, servindo de obstáculo ao trabalho do pequeno produtor.

3.2 A OCUPAÇÃO NO PIAUÍ E O EXTRATIVISMO

O processo de ocupação, formação e colonização do território piauiense está associado ao objetivo de Portugal de explorar o domínio das terras, dividindo o Brasil em capitanias hereditárias que originaram os latifúndios. Esses latifúndios correspondiam a parte do litoral nordestino chegando até as terras dos atuais estados do Piauí e Maranhão. Dessa forma, o estado teve sua origem a partir da produção ligada a atividades primárias, decorrentes do processo de ocupação do espaço nordestino nos três primeiros séculos de colonização (SANTANA, 2001). Segundo Santos (2007), nas terras piauienses proliferaram-se latifúndios ligados à atividade pecuária, devido a suas terras se localizarem numa área de transição entre o sertão

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semiárido e a Amazônia Equatorial, que possuía características fundamentais para a criação de gado, além de extensos pastos que permitiam a fixação das fazendas de gado. Sobre a espacialização da pecuária, Andrade (2005, p.186) relata que,

no início do século XVIII, os baianos estendiam-se pela margem direita do São Francisco e pelas ribeiras do rio das Velhas (hoje território mineiro), das Rãs, Verde, Paramirim, Jacuípe, Itapicuru, Real, Vasa Barris, e Sergipe, possuindo perto de 500 cabeças de gado. Os currais pernambucanos, que deviam abrigar perto de 800 mil reses, ocupavam a margem esquerda do rio São Francisco e os vales dos rios Preto, Guaraíra, Corrente, Pajeú, Moxotó, além de São Miguel em Alagoas, do Paraíba do Norte, do Piranhas-Açu, do Apodi, do Jaguaribe, do Acaraú, do Piauí e até do Parnaíba. Era um mundo que se estendia desde Olinda, a leste, até á fronteira do Maranhão.

Desse modo, a configuração do território piauiense, até o final do século XVII, começou a delinear-se pela espacialização das fazendas de gado e instalação da freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que se tornou a primeira capital do Piauí (ARAÚJO, 2006, p. 19). Para se ter uma ideia da relevância da pecuária na ocupação do território piauiense, Araújo (2006, p.56) destaca que

as fazendas de gado foram a primeira forma de ocupação deste espaço pelos colonizadores portugueses. Essas fazendas se instalaram em grandes propriedades, chamadas sesmarias, doadas aos fazendeiros pelo governo português. As sedes das fazendas, onde ficavam a casa grande e os currais, localizavam-se, quase sempre, às margens de rios ou lagoas.

Por todo o período colonial, até meados do século XIX, a história do Piauí não apresentou outra atividade de relevância econômica que não a pecuária extensiva, a principal fonte geradora da riqueza de fazendeiros e comerciantes, bem como dos recursos necessários à sustentação e funcionamento da máquina pública, na forma como se evoluiu nesse período (ROCHA, 1983). Segundo Queiroz (2006), da criação de gado derivaram os principais produtos alimentares do comércio interprovincial, colocando-a na posição de maior responsável pela geração de renda para particulares – o interesse dos produtores concentrava-se nessa atividade, e isso resultava na pequena diversidade no âmbito da economia. Vale ressaltar que, além da função econômica, a social também é assumida pela pecuária ao longo da história do Piauí. O declínio na pecuária, no século XIX, contribuiu para uma crise econômica no Piauí, que se deu devido ao baixo poder de compra da população, às grandes distâncias a vencer, aos

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núcleos populacionais muito expressivos e à distribuição desigual da renda, concentrada nas mãos dos coronéis (SANTANA, 2001). Assim, as atividades extrativistas da maniçoba e da carnaúba ganharam destaque no cenário econômico, começando seus produtos, a borracha da maniçoba e a cera da carnaúba, a serem exportados pelo Nordeste ainda no século XIX (QUEIROZ, 2006). A maniçoba teve papel de relevo na história econômica do Piauí, como citado por Santana (2001, p. 90):

A primeira notícia que se tem sobre a produção de borracha no Piauí, encontra-se na mensagem encaminhada pelo governador do Estado à Câmara Legislativa, em 2 de julho de 1898. Informa que, em alguns municípios, estavam sendo exploradas, embora por processos demorados e imperfeitos, mas com profícuos resultados e sob os melhores auspícios, duas ricas variedades de borracha, estabelecendo-se, desde logo, por altos preços, considerável comércio desse produto.

Sobre a produção da maniçoba no Estado e sua espacialização, Queiroz (2006, p. 33) destaca que,

no Piauí, a produção da borracha concentrou-se principalmente em suas regiões semiáridas e, em menor escala, em faixas definidas como de transição semiárida, que constituíam as principais áreas de ocorrência nativa das plantas e também sediavam o maior número de culturas. As maniçobas, entretanto, ocorriam em todo o Estado.

O caráter predatório da atividade extrativa nos maniçobais era acentuado. Sua exploração foi caracterizada pelo nomadismo, sendo incompatível com a realização de investimento de qualquer vulto, inclusive com a conservação das árvores exploradas (QUEIROZ, 2006). No ano de 1902, a intensa extração de borracha desencadeou vasta devastação das matas pelos que praticavam a atividade, matando, até milhares delas, de modo a esgotá-las. Mais, mesmo com esse manejo inadequado, foi uma das principais fontes de receita no período (SANTANA, 2001). A queda dos preços da maniçoba resultou da inserção dos produtores asiáticos no mercado a partir da primeira década do século XX,o que alterou a situação do monopólio da borracha brasileira. No Piauí, em 1913, a queda do preço da maniçoba já era acentuada e já se observava a perda de receita por parte do Estado, tornando a atividade economicamente pouco significativa (QUEIROZ, 2006).

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Sobre a importância que assumirá a exploração da carnaúba, Andrade (2005, p. 196) discorre que,

a carnaubeira, palmeira que recobre grandes áreas dos vales secos do Açu do Apodi- Mossoró, do Jaguaribe e do Acaraú e é abundante no médio São Francisco, tinha grande importância devido à multiplicidade de atividades que apresentava. Vários foram os visitantes a quem ela impressionou a ponto de o famoso Sábio Agassiz afirmar que ela “fornece uma madeira muito linda, forte e durável, com que aqui se fazem as armações dos telhados, dá também uma cera que, mais bem purificada e clareada, daria velas excelentes; assim mesmo como é, constitui a única espécie de iluminação usada; com suas fibras sedosas, fabricam-se cordas e um fio muito resistente; o miolo das folhas, depois de cozido, dá um verdadeiro legume, mais delicado que a couve, e as folhas inteiras servem de forragem muito nutritiva para o gado. Na província do Ceará passa como um provérbio que: „onde a carnaúba não falta, um homem possui tudo de que necessita para si e para o seu cavalo‟.

O principal produto de exportação advindo da carnaúba é a cera, obtida pela extração do pó dos carnaubais. Em relação à cera, Santana (2001, p. 97) descreve que,

em 1860, a cera era imperfeitamente aproveitada pelos habitantes do lugar. Anteriormente, a árvore era empregada na construção de currais, de casas, ou na fabricação de utensílios, a exemplo de esteiras, chapéus, cofo, peneira, corda, e o pó, em vela, etc.

Quanto ao extrativismo da carnaúba4, Andrade (2005, p. 197) chama a atenção para a importância dos carnaubais, afirmando que,

pela extensão ocupada pelos carnaubais e pela multiplicidade de aplicações dos produtos da carnaubeira, podemos afirmar que há um complexo cultural na região, onde uma civilização da carnaúba está a exigir minucioso levantamento, inventário que a encare do ponto de vista econômico, das influências culturais, antropológicas e sociológicas, sem esquecer-se dos aspectos históricos.

Em 1907, a cera da carnaúba ganha importância e passa a ser mais valorizada como produto para exportação, ocupando, em 1910, o terceiro lugar na pauta de exportações (SANTANA, 2001). O primeiro pico de exportação da cera deu-se com a Primeira Guerra Mundial. Após a guerra, o mercado volta a normalizar-se e há retração de preço, influenciando o setor exportador e as áreas produtoras (QUEIROZ, 2006). É curioso destacar que os ensaios da economia piauiense no mercado internacional só dariam resultados durante a primeira metade do século XX. Ao longo de cinco décadas, a dinâmica econômica foi dada pelas exportações de produtos extrativistas – borracha de

4 A questão do extrativismo da carnaúba será tratada no próximo item.

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maniçoba, cera de carnaúba e coco-babaçu – que sobrepujaram a função até então exercida pela pecuária (QUEIROZ, 2006). Para Rocha (1983), na primeira metade do século XX, as exportações de produtos extrativistas tiveram importância econômica fundamental para o Estado, proporcionando, inclusive, um fluxo de divisas em magnitudes relativas para o país. Os impactos mais interessantes, em nível de Estado, ocasionados pelo extrativismo foram o surgimento de algumas indústrias beneficiadoras, a expansão comercial, o aumento das receitas e das finanças estaduais e, por conta disso, o empreendimento de uma série de melhoramentos urbanos, como a implantação da rede de abastecimento de água na capital, a construção de prédios públicos e a abertura de ruas e praças na capital e nas cidades interioranas. De acordo com Araújo (2008), as exportações que se apresentavam como sendo dos estados do Maranhão e Ceará eram, em grande número, do Piauí, que tinha parte de seus produtos desviados pelos municípios que fazem limite com outros Estados. O autor ainda relata que o estado do Piauí teve lugar de destaque nas exportações nacionais, atingindo, a sétima colocação em valor nos anos de 1941 e 1942, superando os estados do Pará, Rio de Janeiro e Pernambuco. Conforme Araújo (2008), a falta de um porto com capacidade para receber embarcações de grande calado foi o entrave para que o Piauí não alcançasse melhores posições por mais tempo. Nessa fase da economia estadual, a atividade extrativista da carnaúba atraía para si as forças produtivas e os investimentos, tanto que, na composição da receita estadual de 1939 a 1949, 70% provinha de impactos gerados pela cera.

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4 O EXTRATIVISMO: UM CONTEXTO HISTÓRICO

4.1 O EXTRATIVISMO

Desde os primórdios da humanidade, o homem faz uso dos recursos naturais para sua sobrevivência, tendo sempre retirado da natureza o necessário, através de uma ação extrativista. No entanto, a partir do período em que deixa de ser nômade para se tornar sedentário, esse uso torna-se mais intenso. O extrativismo tem sido comumente descrito como uma atividade dos povos primitivos. Mas, é uma atividade econômica de grupos sociais que não exclui a incorporação de técnicas, nem a transformação e agregação de valor aos produtos, abrangendo inclusive agropastoris. No Brasil, o extrativismo e o processo de ocupação ocorreram a partir da colonização européia, no século XVI. Carvalho e Gomes (2007, p. 3) relatam que “no período da colonização, destacou-se a coleta das chamadas „Drogas do Sertão‟, que eram especiarias (plantas medicinais, cacau, canela, baunilha, castanha e guaraná), extraídas da Amazônia, com elevado valor comercial”. Já Clement (2006) afirma que, nesse período, o extrativismo foi o alicerce econômico da Amazônia e do Brasil, tendo sua importância gradativamente diminuída pela atividade agropecuária, mineração e, posteriormente, da indústria. Sobre a economia extrativista, Homma (1993 apud RÊGO, 1999, p. 2) diz que a sua decadência,

[...] começa pela descoberta do recurso natural que apresenta possibilidade econômica ou útil [...] A sequencia natural é o início do extrativismo como atividade econômica. Em geral, o crescimento do mercado e o processo tecnológico fazem com que seja iniciada a domesticação desses recursos extrativos [...] e com que sejam descobertos substitutos sintéticos.

Homma (1993, apud RÊGO, 1999) ressalta que poderá haver uma superação das condições de atraso da atividade extrativa por meio de um salto de qualidade das forças produtivas. Rêgo (1999) acrescenta que a visão de que a atividade se extinguirá advém da referência a um extrativismo puro que pode sofrer domesticação. Rêgo (1999, p. 58) apresenta um novo tipo de extrativismo que seria o neoextrativismo, o qual está:

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[....] ligado à totalidade social, em todas as instâncias da vida social: a econômica, a política e a cultural. Na dimensão econômica, é um novo tipo de extrativismo que promove um salto de qualidade pela incorporação de progresso técnico e envolve novas alternativas de extração de recursos associados com cultivo, criação e beneficiamento da produção.

A caracterização de neoextrativismo deve advir de uma conceituação precisa de extrativismo, ainda visto, como a atividade de coleta de produtos naturais como os vegetais, minerais e animais. Essa modalidade de extrativismo pode ser considerada como sustentável. O neoextrativismo, segundo Rêgo (1999), abrange o “agro” e o “florestal”, além do extrativismo puro. Contudo, não contém a agropecuária e a silvicultura moderna, baseadas na Revolução Verde que acelerou a modernização agrícola, também não faz uso de fertilizantes e biocidas. Utiliza, assim, a diversificação e o consórcio de espécies. Outra alternativa sustentável para a atividade extrativista são as Unidades de Conservação – UC, definida pela lei nº 9.985/00 do Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, em seu capítulo I, artigo 2º, como um:

[..] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

As UC‟s dividem-se em duas categorias: de proteção integral e a de uso sustentável, podendo o extrativismo ser nesta praticado nesta última, denominando-se, assim, de Reserva Extrativista. A Reserva Extrativista – RESEX:

[...] é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade (BRASIL, 2000).

Quanto aos aspectos social e econômico da atividade, Figueiredo, Schmidt e Sampaio (2006) afirmam que nas últimas décadas o comércio de produtos do extrativismo vegetal tem sido apontado como forma de conciliar conservação e geração de renda para comunidades

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locais, sendo mesmo um desafio garantir a efetiva conciliação entre a utilização sustentável de recursos naturais e a qualidade de vida dos extrativistas. Homma (1993, apud CLEMENT, 2006) destaca a importância da atividade extrativista na complementação da renda, mas reforça que a maioria das famílias pratica agricultura familiar como atividade principal. Para Carvalho e Gomes (2007) o Nordeste brasileiro que concentra, historicamente, os maiores focos de pobreza do país. Em sua área meio norte, que agrupa parte dos estados do Piauí e Maranhão, uma atividade bastante característica, desenvolvida geralmente por grupos de baixa renda, é o extrativismo vegetal, com aproveitamento do babaçu (Orbignia phalerata Mart.) e da carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore). Segundo os autores, o extrativismo, em especial o vegetal, reveste-se de fundamental importância para a economia do Nordeste brasileiro, representando fonte de renda e absorção de mão-de-obra no campo. No Brasil, o extrativismo apresenta-se em diversas regiões, com destaque para a região Norte, que tem este como fator de ocupação de mão de obra. Clement (2006) ressalta que o extrativismo contribui em todo o país para a subsistência de considerável grupo de agricultores familiares em todo o país, com grande importância na região amazônica, e maior ainda no Nordeste, que o tem como fator de ocupação de mão de obra.

4.2 A CARNAÚBA: SUAS APLICAÇÕES E IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE EXTRATIVISTA

A carnaúba é uma Liliopsida da família Arecaceae Bercht & J. Presl, sendo explorada em maior escala nas grandes propriedades, mas por ser planta nativa pode sê-lo também nas pequenas. A denominação carnaúba derivou-se da palavra carnaíba, derivada da língua Tupi (Caraná = cheia de escamas, áspero, arranhamento; iba = madeira), tendo sido introduzida por George Marcgrav, donde veio carnaúba. No Ceará, chama-se carnaubeira a árvore e carnaúba o seu fruto, enquanto no Piauí e no Rio Grande do Norte empregam-se ambos os nomes, sem distinção (SANTOS, 1979). Coube a Arruda Câmara classificá-la como Corypha cerifera, como passou a ser chamada por pouco tempo, sendo depois classificada como Arrudaria cerifera, em

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homenagem ao seu classificador. Ainda conforme Santos (1979), Martius rebatizou-a de Copernicia cerifera, numa alusão a Copernius, famoso astrônomo do século XVI. Segundo Alves e Coêlho (2008), a carnaubeira é uma planta que, em condições normais, cresce, em média, cerca de 30 cm ao ano, atingindo a maturidade botânica (primeira floração) entre 12 e 15 anos de idade e podendo produzir entre 45 e 60 folhas anuais. O carnaubal instala-se nos vales dos rios e em baixões, preferindo solos argilosos (pesados), aluviais (de margens dos rios) e com capacidade de suportar alagamentos prolongados na época de chuvas, além de ser bastante resistente a elevados teores de salinidade e apresentar elevada adaptabilidade ao calor ( suporta 3.000 horas de insolação por ano). Nativa do Nordeste do Brasil, somente na área que compreende porções do leste do Maranhão, os territórios dos estados do Piauí e Ceará e o oeste do Rio Grande do Norte a extração da palha de carnaúba é de grande relevância econômica. A carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore) fornece matérias-primas para diversos produtos. Dela aproveita-se o pó cerífero, a partir do qual se extrai a cera de carnaúba. Essa cera tem grande aplicação industrial, uma vez que entra na composição de uma elevada gama de produtos na indústria cosmética, farmacêutica, de tintas automotivas, informática, filmes plásticos e fotográficos, revestimentos, impermeabilizantes, lubrificantes, vernizes, confecção de chips, tonners e códigos de barras, sem dizer da indústria alimentícia. Os principais produtos advindos da carnaúba são os não madeireiros. A Portaria nº 432/2008 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2008) define produtos não madeireiros todos os materiais de origem vegetal e fúngica oriundos dos ecossistemas nativos ou agroecossistemas, produtos brutos e seus subprodutos, como raízes, cogumelos, cascas, cipós, folhas, flores, frutos, sementes, exsudatos e fibras, destinados aos usos medicinal, ornamental, aromático, alimentar, industrial, religioso e artesanal. Tudo é aproveitado da carnaubeira. Na medicina caseira, as raízes se utilizam na preparação de depurativos e diuréticos para o tratamento de várias doenças entre as quais se destacam: úlceras, manifestações secundárias da sífilis, reumatismo e artrite. O caule se usa como madeira para construção civil e marcenaria (caibro ou inteiro, ripas, calhas e mourões). Os frutos alimentam animais de pequeno porte, da polpa produz-se uma espécie de farinha e um leite semelhante ao extraído do babaçu. A folha é a parte da palmeira de maior aproveitamento econômico. É dela que se extrai o pó, de onde se faz a cera, com grande demanda no mercado internacional, tendo também aplicação na produção de bens utilitários ou ornamentais (GOMES; NASCIMENTO, 2006).

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No Piauí, o município de Campo Maior destaca-se no extrativismo da carnaúba, tanto que, em estudo sobre os elementos indicadores de ecoeficiência5 na produção de pó e cera de carnaúba nesse município, Carvalho (2005, p.84) enfatiza que,

a) O processo produtivo de pó não teve grandes mudanças no padrão tecnológico ao longo da história, do corte à secagem mantém-se, ainda, a mesma estrutura do início da atividade. [...]. Os equipamentos e/ou instrumentos de trabalho são de baixo custo, foice com uma vara de bambu, facão e faca. Utilizam-se, para o transporte, animais como mulas e jumentos, também de baixo custo que, em muitas vezes, são animais de uso doméstico do responsável pela produção. b) Já existiram tentativas de mudanças na forma de secagem das folhas, com incremento de estruturas de estufas, mas não houve, ainda, disseminação dessa técnica e a secagem permanece na forma tradicional de exposição ao sol sobre o chão. As mudanças mais importantes, no processo de produção de pó, ocorreram com a inserção da máquina de bater palha, que agilizou o processo de batição e elevou, amplamente, a produtividade, reduzindo o esforço humano e o contato com o pó em suspensão, no momento da batição, este com possibilidades de provocar problemas respiratórios. c) A produção de pó tem um mercado com importantes entraves no padrão tecnológico, caracterizando um baixo nível de dinamismo econômico. Não há uma estrutura produtiva formalizada; o negócio é montado apenas no período da safra com uso de mão de obra informal. d) É uma atividade extrativa que depende de melhorias no processo produtivo para ampliar o nível de produtividade; essencialmente, melhorias na organização do trabalho, incorporação de máquinas e equipamentos e nas condições genéticas de cultivo das plantas para aumentar a capacidade produtiva.

O autor conclui que as empresas estão incorporando as premissas do desenvolvimento sustentável e que a eco-eficiência, como traz esse propósito, procura conciliar desenvolvimento econômico com redução de impactos. A palha é depois da cera, o produto da carnaúba que tem mais importância econômica no Nordeste, principalmente na produção artesanal. Utiliza-se essa matéria prima para a confecção de inúmeros objetos, como tarrafas, escovas, cordas, chapéus, bolsas, vassouras, cestas, acento de cadeiras, sofás, colchões, redes, esteiras, dentre outras. Segundo Araújo (1996, p. 38), artesanato vem a ser,

atividade exercida com instrumentos e técnicas rudimentares, a fim de elaborar total ou parcialmente um bem, podendo também contar com o uso de ferramentas consideradas modernas – como, por exemplo, uma máquina de costurar que utiliza até motor elétrico – desde que haja uma participação direta das pessoas que a manejam na determinação das formas do produto, ou parte deste, em elaboração.

5 A ecoeficiência permite averiguar o desempenho econômico associado à redução de impacto sobre a natureza (Carvalho, 2005).

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Araújo (1996) considera, ainda, que o artesanato propicia oportunidade de trabalho e ocupação para um grande contingente populacional que se inseriu no mercado informal de trabalho. Para o Centro de Apoio Tecnológico (2007), artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar na qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalha com a família na própria casa, realizando todas as etapas, desde o preparo da matéria-prima até o acabamento, não havendo, assim, divisão de trabalho ou especialização para a confecção de algum produto. Nesse contexto, destaca-se a contribuição do extrativismo vegetal, especificadamente o da carnaúba para o cenário econômico e social onde se insere, afirmando Alves e Coêlho (2008), acerca do uso da palha da carnaúba no estado do Rio Grande do Norte, que lá,

o artesanato de palha de carnaúba predomina nas regiões de Trairi e no Vale do rio Assu, com trabalhos de destaque nas cidades de Assu, Ipanguaçu, Upanema, São Rafael, Pedro Avelino, São José de Campestre, e zona metropolitana de Natal. A carnaúba é uma das maiores fontes de matéria prima para o artesanato do Estado (ALVES; COÊLHO, 2008, p. 49).

Para Alves e Coêlho (2008), a carnaúba é utilizada comumente no paisagismo. Em cidades do Piauí, e do Ceará várias avenidas, espaços de passeio, estacionamentos, lojas e condomínios estão ornamentados com carnaúba, o que supõe, pelo seu lento crescimento, que tenham sido transplantadas dos locais de origem. Além do artesanato, as palhas também são utilizadas na cobertura de casas, conforme ilustrado na Fotografia 2, e na confecção de vassouras, produto que, no município de Coivaras, se destaca como importante atividade econômica. No Piauí, a carnaúba é protegida por um marco legal, num intuito de evitar sua extinção por desmatamento e uso indiscriminado. Trata-se da Lei estadual nº 3.888, de 26 de setembro de 1983 que, no artigo primeiro determina que,

è proibida a derrubada em áreas rurais de todo território estadual, de palmeiras de babaçu [...], de carnaúba [...], de buriti [...], de arvores de pequizeiros [...], do bacurizeiro [...], e da faveira [...] para qualquer fim, ressalvadas as exceções previstas nesta Lei.

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Fotografia 2 - Casa coberta com palha de carnaúba – Coivaras – PI. Fonte: Santos (2008)

A atividade extrativista, realizada respeitando as normas da sustentabilidade, não degrada o meio ambiente, deixando os recursos naturais para as gerações futuras. Para Crespo (2007), o extrativismo é tido como atividade de menor pressão ao meio, o que lhe confere apenas alterações de pouca significação ao potencial do vegetal. Uma carnaúba pode conter até oito folhas fechadas (olho de carnaúba ou mangará6) de uma vez e, após o corte, a sua reposição ocorre em um período de até 15 dias, podendo assim, repetir-se o corte. Mas Silva e Gomes (2006, p.57) destacam práticas que podem ser pontos de impacto ambiental, o que de maneira mais ou menos agressivas, afetam a carnaúba e o solo, com efeitos sobre diversos componentes do ambiente, o que coloca em risco a sustentabilidade da atividade extrativista,

ausência de um corte apurado e seletivo, realizado de forma drástica, provoca uma diminuição sensível da área foliar da planta, ocasionado mudanças no seu ritmo natural de crescimento; Agressão à renovação dos carnaubais devido à presença de animais domésticos criados extensivamente como bovino, suíno, caprino que comem os frutos em germinação da carnaubeira, principalmente os suínos; à queimadas que eliminam as plantas, em destaque as mais jovens.

A atividade produtiva do artesanato da palha da carnaúba na extração da folha pode apresentar um risco à sustentabilidade da atividade, embora os artesãos, ao não cortarem o mangará, que provoca a morte da planta, demonstrem a consciência da necessidade de conservação da planta

6 O mangará consiste na ponta terminal da inflorescência da carnaúba, conhecida em Coivaras como “olho da carnaúba”.

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4.3 AGRICULTURA FAMILIAR

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL

No Brasil, a terminologia agricultura familiar é relativamente nova, sendo o termo utilizado a partir da última década do século XX. Anteriormente, eram frequentes denominações como pequeno agricultor, pequena produção e, especialmente, camponês (DENARDI, 2001). Lamarche (1993) considera que a agricultura familiar esteve sempre erroneamente associada à pobreza no meio rural e à ineficiência no uso dos fatores produtivos. Para o autor, isso não corresponde à verdade, pois essa modalidade de produção agrícola, na maioria das vezes, é extremamente eficiente na combinação de seus fatores produtivos, apesar de não possuir renda elevada, em razão dos limites físicos (em geral pequenas propriedades), da baixa escolaridade e da ausência de poupança mínima. Quanto à diversidade conceitual da agricultura familiar, o Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais – DESER (1997, p. 13) acrescenta que:

A expressão agricultura familiar trata das realidades econômicas e sociais muito diversas conforme a história e as características do meio. Ela abrange a grande propriedade de uma centena de hectares nos países ocidentais até a pequena agricultura de subsistência asiática ou africana com menos de dois hectares, e mesmo os agricultores sem terra. O tamanho da propriedade pode, então, ser muito variável. Os sistemas produtivos também podem ser muito diferentes, entre proprietários familiares que praticam uma agricultura manual extensiva, utiliza cultura atrelada, a motomecanização está em sistemas intensivos, etc.

De acordo com a Portaria nº 432/2008 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2008), o agricultor familiar compreende: o assentado de reforma agrária, o extrativista, o pescador artesanal ou o silvicultor, que promova o manejo sustentável do ambiente, desde que, predominantemente, utilize mão de obra familiar, obtenha renda familiar, seja do próprio estabelecimento ou empreendimento ou unidade de produção e dirija, com a família o seu estabelecimento ou empreendimento. Para Souza e Caume (2008), a agricultura familiar apresenta-se com três características centrais:

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a) A gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por indivíduos que mantêm entre si laços consanguíneos ou de casamento; b) A maior parte do trabalho é fornecida pelos membros da família; c) A propriedade dos meios de produção, embora nem sempre da terra, pertence à família e é em seu interior que se realiza a transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva.

Carmo (1998) destaca as três principais funções apostas à exploração familiar: produção, consumo e acumulação de patrimônio, e atribui-lhes uma lógica de produção/reprodução em que cada geração procura assegurar um nível de vida estável para o conjunto da família e a reprodução dos meios de produção. Enfatiza, ainda, que o funcionamento de uma exploração familiar passa necessariamente pela família, enquanto elemento básico da gestão financeira, destinação dos recursos monetários auferidos e do trabalho total disponível internamente na unidade do conjunto familiar. É válido sublinhar que o Brasil rural é formado por uma heterogeneidade de contextos geográficos, socioambientais, econômicos e culturais, cada qual com possibilidades e limites específicos para a realização de atividades agrícolas, pecuárias e extrativas. É preciso reconhecer que o Brasil rural também é o da agricultura familiar, dos assentados da reforma agrária, dos reassentados por obras públicas de infraestrutura, dos artesãos, das populações tradicionais, enfim de uma infinidade de identidades coletivas que se (re)criam e buscam afirmar sua especificidade cultural e histórica (DESER, 2007). Carmo (1998) explicita que, dessa maneira, o conceito de agricultura familiar – que objetiva apreender a importância da pequena produção, não tendo como elemento central categorias estritamente econômicas – contrapõe-se à noção de empresa agrícola. Acrescenta, ainda, que a agricultura familiar, pelas suas características de diversificação de produção e por produzir em menor escala, pode apresentar-se como o espaço ideal para uma agricultura sustentável. Esta fundamenta-se em princípios que englobam o social, o econômico, o ambiental,o político e o cultural, . a agricultura sustentável, banalizada no contexto atual, é vista como um conjunto de técnicas que podem minimizar alguns impactos ambientais. No entanto, ela só faz sentido em um contexto diferente, onde a diversidade seja privilegiada nas relações fisicas e sociais de produção, conferindo novo carater ás politicas públicas enquanto um conjunto de instrumentos para se atingir determinadas metas, determinado desenvolvimento. (CARMO,1998, p.236).

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Nesse sentido, a forma de trabalho do agricultor familiar se aproxima da agricultura sustentável, pela variedade da produção e pelo não uso de máquinas pesadas e agrotóxicos. Carmo (1998, p. 226) diz que essa agricultura,

adapta-se a diferentes condiçoes regionais, aproveitando ao máximo os recursos locais; Atua considearando o agrossistema como um todo, procurando inverter as principais consequências da adoção das técnicas. O manejo do solo visa, sua manuntenção minima, conservando a fauna e a flora; Retorno econômico a longo e médio prazo, com elevado objetivo social; Relação capitalista baixa; Grande diversificação: policultura ou cultura de rotação; Associação de produto animal e vegetal.

A agricultura familiar responde por mais de 70% da produção de alimentos do país, constituindo a base econômica de cerca de 90% dos municípios, o que corresponde a 35% do PIB nacional e à ocupação de 40% da população economicamente ativa, mantendo empregados milhões de brasileiros e conservando a paisagem rural ocupada e produtiva, mesmo em menor grau. Contudo, depara-se com dificuldades de responder aos desafios de maior competitividade da agricultura em geral. Esta, e a familiar sofreram os efeitos do modelo de exportação de produtos primários, da importação substitutiva de produtos nacionais e da assimetria das regras internacionais. Na transição da década de 80 para a de 90 do século XX, a agricultura brasileira, anteriormente protegida, foi exposta à concorrência internacional, enquanto, o conjunto dos produtores rurais familiares não acompanhou essa evolução e, como resultado, perdeu competitividade para seus concorrentes (ROSA,1999). Quanto aos desafios estratégicos da agricultura familiar, DESER (1997) descreve que deve ser levada em conta a multidimensionalidade dos papéis por ela desempenhados na sociedade, considerando-lhe a dimensão política, econômica, tecnológica, social, territorial, ambiental e cultural. DESER (1997, p. 8) expõe que dentre os desafios, destacam-se

a) O de se afirmar socialmente como um sujeito político capaz de se fazer representar e de defender seus interesses coletivos no cenário das forças sociais que disputam os rumos do projeto de desenvolvimento e de sociedade para o País. b) A constituição de arranjos produtivos que articulem de forma integrada os processos de produção, beneficiamento, agroindustrialização, armazenagem e comercialização de produtos, permitindo-lhes condições mais favoráveis de resistência e de luta contra o processo de globalização atualmente em curso nas áreas rurais. c) O desafio fundamental que condensa as ações na área social deve estar focado na eliminação das desigualdades sociais, buscando-se estimular processos de inclusão social, e promover constituição de novas relações sociais que eliminem as diversas concepções e práticas coletivas reprodutora das desigualdades, da discriminação e do preconceito rural.

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No que tange aos entraves, Rosa (1999) os identifica nos menores índices de escolaridade, na dificuldade de acesso à energia elétrica e nos meios de comunicação, na descompensada forma de acesso a terra e na falta de investimentos em infraestrutura no meio rural. Sobre a temática, Carvalho (s/d) descreve que

A forma de pensar dominante normalmente caracterizou o agricultor familiar como atrasado, resistente à modernização, que necessitava de ser convencida da adoção de modernas técnicas agronômicas de produção. Tal modo de pensar resultou na maior concentração da renda e da riqueza, este processo no âmbito da agricultura foi denominado Revolução Verde, que estava amparado no produtivismo, na produção em escala, em uma cultura alvo (monocultivo), na adubação química, no uso dos agrotóxicos e tratores com crédito vinculado, ou seja, em torno de 20% do crédito era para aquisição de insumos modernos.

Essa concepção da agricultura familiar como um setor arcaico está ainda enraizada, em grande parte, na sociedade brasileira, bem como na elite agrária dominante. Segundo o DESER (2007, p. 12), os agricultores familiares possuem capacidades de levantar o desafio de um desenvolvimento sustentável, entre as quais se destacam,

a capacidade de criar ou manter empregos e manter jovens em seu território, e até mesmo de absorver jovens que chegam ao mercado de trabalho; capacidade de administrar o risco e de se adaptar; capacidade de lutar contra a pobreza e as desigualdades; capacidade de produzir suficientemente para garantir a soberania local e abastecer os mercados locais; capacidade de contribuir no crescimento econômico, nas exportações e entrada de divisas; capacidade de preservar os recursos naturais e a biodiversidade, de preservar o meio ambiente; capacidade de manter especificidades culturais nos territórios rurais, considerados hoje como territórios; capacidade de contribuir em processo de desenvolvimento local, e na manutenção de territórios.

Corroborando este pensamento, Carneiro (1997) ressalta que o apoio à agricultura familiar tem que ser pensado no âmbito do desenvolvimento local, no qual os aspectos econômicos, ecológicos, sociais e culturais devem ser igualmente levados em conta na busca de soluções não excludentes. Em 2006, a legislação federal estabeleceu as diretrizes das políticas públicas do setor familiar, definindo como agricultor familiar toda pessoa que exerce suas atividades no meio rural, em uma superfície que não ultrapasse quatro módulos fiscais, predominantemente com mão de obra familiar (DESER, 2007). Como política pública de apoio e desenvolvimento da agricultura familiar, o governo brasileiro apresenta o Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar – PRONAF, que tem como objetivo geral propiciar condições para o aumento da capacidade produtiva,

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geração de emprego e renda e melhoria da qualidade de vida dos agricultores. Esse programa tem como objetivos específicos:  Ajustar as políticas públicas de acordo com a realidade dos agricultores familiares;  Viabilizar a infraestrutura necessária à melhoria do desempenho produtivo dos agricultores familiares;  Elevar o nível de profissionalização dos agricultores familiares, através do acesso aos novos padrões de tecnologia e de gestão social;  Estimular o acesso desses agricultores ao mercado de insumos e produtos.

O público alvo do programa atende, necessariamente, os que se enquadram como agricultores familiares.

4.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL

A mudança para um novo paradigma de desenvolvimento mundial está ligada diretamente ao processo de globalização com integração econômica, a formação de blocos regionais e a emergência de grandes redes empresariais com estratégias e atuação mundial. Essa globalização da economia não conseguiu sucumbir a relevância que tem o local, nunca foi tão forte o desenvolvimento que dele advém e a descentralização econômica, social e política, provocando movimentos localizados e endógenos de mudança e desenvolvimento (BUARQUE, 2002). Segundo Martinelli e Joyal (2004), a palavra local refere-se a uma conotação sócio- territorial para o processo de desenvolvimento, não estando associada à ideia de diminuição ou redução. Para Buarque (2002, p. 244),

sob um olhar estático, “o local” é percebido como espaço territorial definido e identificado como a comunidade rural, o bairro, a microbacia, o município ou a microrregião. No plano dinâmico visualizam-se relacionamentos de poder e o tecido social em rede de comunidades, relativamente homogêneas e desarticuladas. Nesta perspectiva, “o local” aparece como uma figura geográfica inserida dentro de outro maior, de características globais.

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Para Jara (2001), a abordagem local refere-se às relações políticas, sociais, econômicas e ambientais que vinculam ou separam os atores e os agentes sociais de determinado território. De acordo com Buarque (2002), o processo endógeno de mudanças, que proporciona o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população, apresenta aspectos de sustentabilidade quando promove a ruptura da dependência, da inércia do subdesenvolvimento e do atraso em localidades periféricas, desencadeando uma alteração social no território. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento local deve assegurar a conservação dos recursos naturais, que representam a base das potencialidades e condição para a qualidade de vida da população local. Conforme Buarque (2002), Qualquer estratégia para a promoção do desenvolvimento local deve-se estruturar em, pelo menos, três pilares:

Organização da sociedade, contribuindo para a formação de capital social local (entendido como capacidade de organização e cooperação da sociedade local), combinada com a formação de espaços institucionais de negociação e gestão; Agregação de valor na cadeia produtiva, com articulação e aumento da competitividade das atividades econômicas com vantagens locais; Reestruturação e modernização do setor público local, como forma de descentralização das decisões e elevação da eficiência e eficácia da gestão pública local. Estes três pilares devem estar associados de forma concreta a ativos sociais, tais como: educação e capacitação tecnológica.

Segundo Castells e Borja (1996, apud BUARQUE, 2002), as experiências bem sucedidas de desenvolvimento local decorrem, quase sempre, de um ambiente político e social favorável, expresso por uma mobilização e, sobretudo, por uma convergência importante dos atores sociais do município ou comunidade em torno de determinadas prioridades e orientações básicas. Representa, assim, o resultado de uma vontade conjunta e dominante da sociedade que dá sustentação e viabilidade política a iniciativas e ações capazes de organizar as energias e promover a dinamização e a transformação da realidade. Assim, o objetivo do desenvolvimento local no processo de planejamento participativo e gestão social compartilhada é unir na construção de vínculos e parcerias, as dimensões econômica, social, cultural, política e ambiental. Contudo, o desenvolvimento local demanda mudanças institucionais que aumentam a governabilidade e a governança das instituições públicas locais, construindo uma autonomia relativa das finanças públicas e acumulação de excedentes para investimentos sociais e estratégicos para a localidade (BUARQUE, 2002).

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Jara (2001) afirma que a construção de uma sociedade sustentável depende de decisão política para ações que visam ao bem-estar comum. Essas ações caracterizam-se:  Na política de diálogo e na troca de percepções e comunicação flexível, para permitir processar os conflitos entre atores sociais;  Na governança com justiça, equidade e eficiência;  Nas articulações do público com o privado;  No cuidar da natureza. Essas mudanças iniciam pela internalização de novos valores e pela mobilização social com vista ao futuro sustentável, com o compromisso de se trabalhar o social e o ambiental para alcançar a diminuição das desigualdades sociais. Segundo Santos (2005 p, 30),

o desenvolvimento local é um processo interno que acontece em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capazes de promover dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Representa uma enorme transformação nas bases econômicas e na organização social em nível local, resultante da mobilização integrada das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e as potencialidades específicas.

O desenvolvimento local está inserido em uma realidade complexa e ampla com a qual interatua e da qual recebe influência e pressões, tanto positivas quanto negativas, sendo um movimento que se constitui de forte conteúdo interno. Dentro das atuais condições de mundialização da economia, o desenvolvimento local compreende algum tipo de integração econômica mundial, nacional e regional que cria e redefine oportunidades e ameaças, demandando competitividade e especialização (SANTOS, 2005). Nesse sentido, uma abordagem sobre a questão ambiental passa pelo viés da sustentabilidade que, conforme Severo, Ribas e Miguel (2008, p. 122),

refere-se ao uso dos recursos biofísicos, econômicos e sociais, segundo sua capacidade em um espaço geográfico, mediante tecnologias biofísicas, econômicas, sócias e institucionais para obter bens e serviços diretos e indiretos da agricultura e dos recursos naturais para satisfazer as necessidades das gerações futuras, e presentes. O valor presente dos bens e serviços deve representar mais que o valor das externalidades e dos insumos incorporados, melhorando, ou pelo menos mantendo, de forma indefinida, a produtividade do ambiente biofísico e social.

Cavalcante (2003) destaca que a política de desenvolvimento na montagem de uma sociedade sustentável não pode desprezar as relações entre o homem e a natureza, que ditam o

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que é possível em face do que é desejável. Optar pela sustentabilidade quer dizer adotar uma reorientação de se conservar mais capital natural para as futuras gerações. No tocante à sustentabilidade, Calvacante (2003) argumenta que, numa sociedade sustentável, o progresso deve ser apreendido pela qualidade de vida, de saúde, de longevidade, de maturidade psicológica, de educação, por um meio ambiente limpo e pelo espírito de comunidade,

Sustentabilidade significa a possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema [...] O conceito de sustentabilidade equivale à idéia de manutenção de nosso ecossistema de suporte de vida. Ele significa comportamento que procura obedecer às leis da natureza. Basicamente, trata-se do reconhecimento do que é biofisicamente possível em uma perspectiva de longo prazo. (CAVALCANTE, 2003, p. 165).

A sustentabilidade deve estar presente no extrativismo, bem como na agricultura, surgindo como base para a elaboração de políticas públicas de apoio a ações ligadas a essas atividades, tendo em vista que, no Brasil, a prática extrativista envolve considerável gama de cidadãos. A produção artesanal de vassouras de palha de carnaúba apresenta-se, na verdade, com características de sustentabilidade, haja visto não haver necessidade da derrubada das palmeiras para extração das folhas, sendo os resíduos empregados na agricultura.

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5 PRODUÇÃO ARTESANAL DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA EM COIVARAS-PI

5.1 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DE COIVARAS – PIAUÍ

Mendras (1997) afirma que as sociedades rurais se autodefinem por proporcionarem a seus membros uma visão de mundo, um sistema de valores, um código de comportamento e competências técnicas comuns a todos. Segundo o autor, o conjunto de crenças e de cultos locais pode constituir uma religião particular da sociedade camponesa, variando de coletividade para coletividade. O importante, para essa categoria é conservar seus deuses e sua autonomia e preservar sua identidade. Os aspectos culturais, caracterizados por Mendras (1997), são observados em Coivaras, já que, a população detém sua religiosidade e mantém suas atividades culturais dentro do espaço local. Na sede do município, há quatro templos, três evangélicos e um católico, como ilustram as Fotografia 3e Fotografia 4.

Fotografia 3- Templo evangélico em Coivaras – PI. Fotografia 4 - Detalhe do interior da igreja de Santa Fonte: Santos (2009) Luzia em Coivaras – PI. Fonte: Santos (2009)

No mês de dezembro de cada ano, realiza-se o festejo de Santa Luzia, atraindo devotos do próprio município e turistas da capital do Estado. Essa festa cultural tem início no dia 29 de novembro e estende-se até dia 13 de dezembro, traduzindo-se em atividade de maior destaque econômico-social e cultural para o município de Coivaras.

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Anualmente, no dia 12 de dezembro, consagrado ao vaqueiro, acontece, pela manhã, uma cavalgada, quando os vaqueiros da região saem em cortejo pelas ruas da cidade, como mostrado na Fotografia 5, a qual se encerra com “a missa do vaqueiro”. Após a missa, celebrada na igreja de Santa Luzia, deslocam-se para almoço, como ilustrado na Fotografia 6. Às 17 horas, a população acompanha a procissão de Santa Luzia, juntamente com os visitantes, tendo os vaqueiros à frente. Segundo relato de produtores de vassouras, no período que antecede os festejos, há uma intensificação na sua confecção, e, na última semana, não ocorre produção, isso indica a importância do evento para a sociedade coivarense.

Fotografia 5 - Procissão do vaqueiro no município Fotografia 6 - Almoço em homenagem aos de Coivaras – PI. vaqueiros- Coivaras – PI. Fonte: Santos (2009) Fonte: Santos (2009)

Quanto à escolha do nome Coivaras7 para o município, a senhora Dos Anjos8 informa que,

o nome Coivaras se originou quando pessoas que vinham da Caatinga do Mimoso, um povoado que existia, e essas pessoas passavam por aqui, chegavam à noite e se arranchavam na ingazeira, lá tinha muitas lenhas e faziam grandes fogueiras, só que eles não chamavam fogueiras, e sim coivaras, daí a origem do nome dado ao município.

Sobre a origem do nome Coivaras, o primeiro, prefeito Benerval Freire Araújo, relata9 que,

7 Coivara: montículo de galhos ou gravetos mal queimados na roça a que se lançou fogo e que se juntam para serem incinerados; fogueira (FERNANDES; LUFT; GUIMARÃES, 2000). 8 Entrevista de Dos Anjos, moradora de Coivaras, a Maria do Socorro B. A. dos Santos, concedida em 24 de outubro 2008. 9 Entrevista de Benerval Freire Araújo a Maria do S. B. A. dos Santos, concedida em 26/11/2008.

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o nome Coivaras é porque teve aqui uma seca, um inverno fraco e tinha um olho d‟água, chamado olho d‟água da ingazeira, muito forte e, na época, não era habitado aqui, era pessoa pouquinha, um aqui; outra acolá. Aí o povo de uma região que é mais pra cima, e é muito seca, vinha para cá fazer fogueira para adquirir uma cinza para fazer sabão, porque a madeira eles queimavam, faziam coivaras e tiravam a cinza. Aqui ainda não era Coivaras. Eles se juntavam lá no olho d‟água, aí que veio o nome Coivaras. Foram mesmo os vaqueiros que botaram o nome de Coivaras, quando vinham para campinhar junto ao olho d‟água.

Na organização social local, destaca-se o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, fundado em 2 de julho de 1992, contando, em 2009, com 1.700 filiados. O município possui um Centro de Saúde e equipe do PSF, composta por um médico, uma enfermeira, oito agentes de saúde e um dentista. O município conta com os níveis do Ensino Infantil ao Médio, distribuídos em 15 escolas, que atendem às modalidades de ensino presencial e Educação de Jovens e Adultos – EJA. De acordo com dados fornecidos pela prefeitura de Coivaras, no ano de 2009 foram matriculados 1.241 alunos nas escolas municipais, dos quais 640 nas escolas da zona urbana e 601 nas da zona rural, com assistência nos turnos da manhã, tarde e noite. Segundo a Secretaria de Planejamento do Estado do Piauí – SEPLAN - PI, o município está inserido no “Território de Desenvolvimento Entre Rios”, que é um dos territórios da divisão do Estado, para fins de planejamento. Esta divisão visa transformar as regiões do estado piauiense em territórios de desenvolvimento sustentável. Com este objetivo, o Piauí foi dividido em 4 macrorregiões, 11 territórios e 28 aglomerados, tendo assim, o território como célula básica de planejamento. Os territórios constituem, assim, unidades de planejamento e têm, como meta, a diminuição das desigualdades e a melhoria da qualidade de vida da população. A efetivação das ações governamentais concretizar-se-á a partir da formulação do Plano Plurianual do Governo, das Diretrizes Orçamentárias, do Orçamento Anual, dos Planos de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios e do Plano de Desenvolvimento do Estado do Piauí. O “Território de Desenvolvimento entre Rios” apresenta características, como:  Conter, em seu projeto, a capital do estado, Teresina, onde predomina os setores de comércio e serviços, principalmente relacionados à saúde e à educação;  Apresentar a agropecuária com a agricultura familiar, a partir de cultivos tradicionais de arroz, milho, feijão e mandioca, do extrativismo do coco babaçu e da carnaúba, da exploração da castanha do caju e demais atividades, como a horticultura, a fruticultura, a ovinocaprinocultura, a apicultura, a bovinocultura, a avicultura, a agroindústria da mandioca, a polpa de frutas, o artesanato, a piscicultura e o turismo de negócios;

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 Apresentar-se como melhor estruturado dentre os 11 territórios, por estar inserido na capital do estado,mas só em relação a serviços de infraestrutura e comunicação, mas também nas condições de acesso a toda a rede pública, englobando serviços de saúde de alta e média complexidade, ensino e pesquisa. Tomando como parâmetro a contagem populacional de 2007 do IBGE, a distribuição da população do Piauí apresenta-se em sua maioria, localizada no espaço urbano, evidenciado na tabela 1. Esses números indicam uma tendência do tipo de sociedade que hoje se encontra vivendo nos centros urbanos. No entanto, Coivaras possui sua população rural superior a urbana. Supõe-se que isso se deve ao pouco tempo de emancipação do município, pois seu desmembramento de Altos ocorreu somente em 1992.

Tabela 1 - População de Coivaras e do Piauí por situação de domicílio e gênero (2007)

Coivaras Piauí Discriminação Urbana Rural Total¹ Urbana Rural Total¹

Total 1.089 2.708 3.797 1.944.840 1.087.581 3.032.421

Homens 540 1.447 1.987 918.250 563.326 1.481.576

Mulheres 549 1.258 1.807 1.014.033 515.020 1.529.053

Fonte: IBGE, Contagem da População, 2007 ¹ Inclusive a população estimada nos domicílios fechados

Em relação ao aspecto econômico de Coivaras, a base principal da economia é observada em duas modalidades produtivas: a agricultura familiar, com lavouras e criação de animais, e o extrativismo. Os dados relativos ao número e à área dos estabelecimentos com atividade agropecuária, em 2006, revelam que havia 519 estabelecimentos no município de Coivaras, ocupando uma área de 33.748 ha, o que corresponde a uma área média de 65,2 ha, como é apresentado na tabela 2. Essa média da área de estabelecimentos indica a presença de pequenas propriedades, caracterizando, assim, a prática da agricultura familiar. A classificação das propriedades foi orientada pela Lei n 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – (INCRA / SNCR- Manual de Cadastro Rural), que classifica os imóveis rurais, quanto à sua dimensão, em:

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Tabela 2 - Distribuição do número e área dos estabelecimentos agropecuários no município de Coivaras – PI (2006) Discriminação Total

Número de estabelecimentos 519

Área (ha) dos estabelecimentos 33.748

Área (ha) média 65,2 Fonte: IBGE ( 2006)

I - minifúndio - dimensão menor que um módulo fiscal fixado para o município; II - pequena propriedade - imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) a 4 (quatro) módulos fiscais; III - média propriedade - imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais; IV- grande propriedade - imóvel rural de área superior a 15 (quinze) módulos fiscais. Segundo dados dos imóveis cadastrados junto ao INCRA até 14 de abril de 2010 (INCRA, 2010), em Coivaras10 a estrutura fundiária apresenta-se de acordo com as categorias listadas na tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição de imóveis rurais, seguindo categorias de propriedades – Coivaras (2010) Imóveis Classes Quantidade % Minifúndios 115 47,52 Pequena propriedade 86 35,54 Média propriedade 31 12,81 Grande propriedade 10 4,13 Total 242 100,00 Fonte: INCRA( 2010).

Outro indicador de que há efetivamente uma agricultura familiar no município de Coivaras é a ocorrência de atividades produtivas envolvendo indivíduos com o mesmo grau de parentesco, observando-se que 89,7% dos trabalhadores economicamente ativos pertencem a estabelecimentos familiares, conforme indicado na tabela 4.

10 O módulo fiscal de Coivaras é de 30 ha.

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Tabela 4 - Distribuição dos trabalhadores em estabelecimentos familiares a partir do grau de parentesco no município de Coivaras - PI (2006) Tipo Quantidade %

Sem grau de parentesco 151 10,3

Com grau de parentesco 1.327 89,7

Total 1.478 100,0 Fonte: IBGE( 2006).

A respeito da agricultura familiar, Carmo (1998, p. 228) afirma que “o funcionamento de uma exploração familiar passa necessariamente pela família, enquanto elemento básico de gestão financeira, destinação de recursos monetários auferidos e do trabalho total disponível internamente na unidade do conjunto familiar”. A autora acrescenta que a produção familiar, devido às suas características de diversificação/integração de atividades vegetais e animais e, por trabalhar em menores escalas, pode representar o locus ideal ao desenvolvimento de agricultura ambientalmente sustentável. Quanto aos produtos de lavouras permanentes de Coivaras, em 2008 destacaram-se a cultura de caju (Anacardium occidentale L), com 277 toneladas de castanhas colhidas em 910 hectares, alcançando uma receita de R$ 148.000,00; seguida da manga (Mangifera indica L.), com 96 toneladas, em uma área plantada de 20 hectares e receita de R$ 24.000,00, conforme se visualiza na Tabela 5.

Tabela 5 - Distribuição dos principais produtos cultivados em lavouras permanentes do município de Coivaras (2008) Discriminação Castanha de Caju Manga

Quantidade produzida (ton.) 277 96

Valor da produção (mil reais) 148 24

Área Plantada (ha) 910 20

Área Colhida (ha) 910 20 Fonte: IBGE (2008)

Pelos dados, deduz-se que o município ainda tem uma produção de lavouras permanentes incipiente e a população não despertou para a importância da diversificação.

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Assim, esse cultivo poderia ser uma alternativa para a melhoria da renda familiar, tendo em vista que a produção pode ser comercializada na feira de Altos ou em supermercados e comércios de municípios vizinhos. Ressalta-se, ainda, que Coivaras encontra-se a 70 km de Teresina, o maior mercado consumidor do Estado. Nas lavouras temporárias, o município de Coivaras, em 2008, teve como produtos principais, em volume de produção, a mandioca (Manihot sp.), a cana-de-açúcar(Saccarum officinarum) e o arroz (Aryra sariva), indicados na tabela 6. É válido destacar que a produção de arroz alcançou, com 125 toneladas, uma receita de R$ 75.000.00; e a mandioca, com 496 toneladas, auferiu R$ 74.000,00. Apesar de o feijão não apresentar uma produção expressiva em relação ao arroz e à mandioca, conforme indicado na tabela 6, o grão constitui um dos principais itens da cesta básica e da dieta alimentar dos coivarenses.

Tabela 6 - Distribuição dos principais produtos cultivados nas lavouras temporárias do município de Coivaras - PI Arroz Cana-de- Discriminação Feijão Mandioca Milho (em casca) açúcar Quantidade produzida 125 420 16 496 64 (ton.) Valor da produção (mil 75 17 30 74 33 reais) Área Plantada (ha) 178 15 60 62 135

Área Colhida (ha) 125 15 42 62 81 Fonte: IBGE( 2008).

Em Coivaras, o sistema de criação animal é extensivo, e os efetivos de maior destaque, excetuando-se as aves, são os de caprinos e ovinos, com média de animais por estabelecimento de 42,97 e 36,02, respectivamente, conforme apresentam na tabela 7. Isso se deve ao seu fácil manejo, pois são criados soltos e não necessitando de investimentos de grande porte. A média de cabeças dos demais rebanhos por estabelecimento confirma que a atividade pecuária no município integra uma estrutura de produção familiar, parte da qual é escoada na feira semanal de Altos, como ilustrado na Fotografia 7, Fotografia 8 e Fotografia 9.

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Tabela 7 - Distribuição do número de estabelecimentos e de cabeças, por tipo de criação no município de Coivaras - PI (2006) Tipo de Quantidade Média de animais por rebanho Estabelecimentos Cabeças (un.) estabelecimento Bovino 113 4.045 35,79 Caprino 184 7.908 42,97 Ovino 164 5.908 36,02 Suíno 229 3.425 14,95 Aves 394 10.661 27,05 Fonte: IBGE, Censo Agropecuário (2006)

Fotografia 7 – Pequenos animais na feira de Altos – PI Fotografia 8 – Pequenos animais na feira de Altos – PI (em destaque suíno) (em destaque caprinos) Fonte: Araújo, (2009) Fonte: Araújo (2009)

Fotografia 9 – Feira de pequenos animais em feira de Altos - PI (em destaque aves) Fonte: Santos (2009)

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O sistema de criação animal funciona como uma reserva de renda para a maioria dos pequenos criadores no município, tendo em vista que sua comercialização ocorre, principalmente, quando há necessidade do complemento de recursos para suprir eventualidades financeiras. O extrativismo vegetal, com destaque para a palha da carnaúba, é uma atividade que assegura complementação de renda para um grande contingente de agricultores familiares de Coivaras, na medida em que fornece a matéria prima para a produção de vassouras. Ressalta- se que da palha de carnaúba também é extraído o pó, utilizado na produção de cera, com largo emprego na indústria. Segundo o IBGE (2008), o município de Coivaras produziu 111 toneladas de pó de carnaúba, o que gerou uma receita de R$ 333.000.00. Sobre esse aspecto, Silva e Gomes (2006, p. 49) considera que, no Piauí,

a exploração da carnaúba para a produção do pó, de onde se extrai a cera, garante o sustento de um contingente significativo de trabalhadores, em um período no qual o cultivo de subsistência, em virtude da estação seca, característica da região, fica impossibilitado.

Segundo Carvalho (2005), desde o início do século XX a extração do pó para a produção da cera de carnaúba constituía-se numa atividade que respondia por boa parcela da economia do Estado, configurando-se como produto regular de exportação, entre 1939 a 1946, o auge da ascensão dos preços. Nesse período, assim como hoje, a atividade não requeria maiores preparos de mão de obra, e embora a cera se tenha sobressaído como o mais dinâmico produto derivado da carnaúba, os demais produtos promovem a melhoria da qualidade de vida das pessoas, seja de forma direta, pelo consumo de bens artesanais, remédios, alimentos e outros, seja indireta, pela geração de emprego e renda.

5.2 EXTRATIVISMO DA CARNAÚBA E CONFECÇÃO DE VASSOURAS

O extrativismo da carnaúba destaca-se em diversos municípios piauienses e objetiva a extração do pó, utilizado na produção de cera. Porém em Coivaras, a produção extrativista da carnaúba ganha destaque na confecção artesanal de vassouras. Desenvolvida em diversas localidades, tanto no perímetro urbano, quanto nos povoados, é executada por produtores que

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se dedicam, além disso, à agricultura familiar, aliada à produção vegetal e animal, conforme ilustrado nas Fotografias 10 e 11.

Fotografia 10 - Produção de arroz em área de Fotografia 11 – Criação de animais em área de carnaubal em Coivaras – PI. carnaubal em Coivaras – PI. Fonte: Santos (2008) Fonte: Santos (2008)

Identificaram-se 120 unidades de produção, sendo 21 na zona urbana e 99 na zona rural, todas produzindo em moldes artesanais, das quais 48 foram selecionadas para esta pesquisa. Em todas as 48 unidades produtoras selecionadas, se realizaram observações do processo produtivo. Após essa verificação, pode-se ordenar a sequência para a confecção de vassouras, que se estabelecem conforme descritas a seguir: A primeira etapa consiste na retirada das palhas da carnaubeira, utilizando-se, como ferramenta, uma foice encaixada a uma vara de bambu (Bambusa sp.), como mostrado nas Fotografias 12 e 13. Esta etapa requer bastante habilidade, pois há risco de a palha atingir quem a está derrubando. Carvalho (2005), estudando a ecoeficiência na produção com carnaúba no município de Campo Maior, afirma que o processo de extração da folha não degrada o carnaubal, visto que pouco se conhece sobre os danos do corte das folhas ao desenvolvimento do ciclo de vida da planta, além do que as cortadas são repostas, naturalmente, e podem ser extraídas, outra vez, na safra seguinte, constituindo, assim, recursos renováveis.

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Fotografia 12 - Foice: ferramenta encaixada à vara de Fotografia 13 - Retirada da palha de carnaúba - bambu para o corte das palhas da carnaúba- Coivaras- Coivaras-PI PI Fonte: Santos (2009) Fonte: Santos (2009)

Sobre a retirada de palhas, Alves e Coêlho (2008) salientam que a precariedade das condições físicas de trabalho em campo são precárias, pois o processo extrativo é rudimentar, insalubre, inseguro, além de árduo. As hastes pontiagudas das folhas podem cair sobre o vareiro podendo causar machucados e até cegueira. A segunda etapa consiste em aparar a palha, quando o trabalhador, denominado “aparador”, recolhe as palhas e retira o pecíolo, como pode ser visto na Fotografia 14. O trabalhador utiliza uma proteção no braço em que acumula as palhas colhidas, geralmente uma peça de tecido grosso (jeans ou brim) que evita que ele seja atingido com pontas das palhas e espinhos. Forma-se, a cada cinqüenta palhas colhidas, um feixe, que é depositado em local apropriado para, posteriormente, ser transportado, por animal de carga, carroça, moto, bicicleta, ou camioneta até o ponto de secagem (Fotografia 15).

Fotografia 14 - "Apara", recolhimento e corte dos Fotografia 15 - Transporte da palha para o lastro, talos das palhas, Coivaras-PI. Coivaras-PI. Fonte: Santos (2009) Fonte: Santos (2009)

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A terceira etapa, denominada “riscagem”, consiste em desfiar com faca as palhas, ainda verdes, quando já se delineiam os fios da vassoura (Fotografias 16 e 17). Observou-se, em campo, que esta etapa é realizada por membros da família. A quarta consiste em colocar ao sol a palha já riscada, a fim de que, mesmo ao secar, esteja pronta para a próxima a fase. O local onde a palha é exposta ao sol se denomina lastro, como representado na Fotografia 18. A palha fica exposta ao sol no lastro em média por três dias, sendo recolhida em feixes (como se pode ver na Fotografia 19) para ser conduzida até o ponto da etapa seguinte: a batição.

Fotografia 16 - Material utilizado para riscar a palha de Fotografia 17 - "Risca" da palha da carnaúba, Coivaras- carnaúba(faca e tamborete), Coivaras-PI . PI . Fonte: Santos (2008) Fonte: Santos (2008)

Fotografia 18 - Palhas expostas ao sol, no lastro, Fotografia 19 - Palhas secas ao sol, recolhidas do lastro Coivaras-PI. após secagem Coivaras-PI. Fonte: Santos (2008) Fonte: Santos (2008)

A quinta etapa da confecção de vassouras consiste na batição, ou seja, em “bater a palha”, como se observa na Fotografia 20. Realiza-se em um quarto fechado, onde o “batedor” com uma espécie de cassetete bate as palhas secas que estão postas em um gancho,

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com o objetivo de retirar o pó cerífero. Como medida de segurança, o batedor utiliza um pano sobre o rosto para que este não inale poeira e o pó propriamente dito. Observou-se em campo que, mesmo com esta proteção, o batedor ainda está exposto a risco de doenças no decorrer desta etapa.

Fotografia 20 - Fase em que se dá a batida da palha de carnaúba para a retirada do pó, Coivaras-PI. Fonte: Santos (2008)

Vale ressaltar que, para a atividade em estudo, o produto principal é a palha, a ser utilizada na confecção de vassouras, e não o pó cerífero. No período chuvoso, não há retirada de palhas e as vassouras confeccionadas de janeiro a junho são feitas de palhas armazenadas em forma de cupim. O período da retirada da palha se dá entre julho a dezembro, podendo variar conforme a duração do período chuvoso. No período sem extração da palha, de janeiro a junho, os produtores de vassouras que não armazenaram palhas em cupim dedicam-se, principalmente, ao cultivo de roça. Como exposto no depoimento Abaixo:

Eu trato da roça em janeiro faço só queimar no verão, deixo lá e agora só em janeiro, quando termina a palha. E aí passo para a roça, pois a roça só chovendo, e a palha chovendo não serve, não seca (NASCIMENTO, 2008)11.

A sexta etapa da produção, denominada “cupinhar”, consiste em colocar as palhas, após secagem ao sol, em forma circular, formando o “cupim”, como demonstrado nas Fotografias 21 e 22. Esse cupim é utilizado como forma de armazenamento de palhas para serem usadas durante o ano inteiro, inclusive no período chuvoso.

11 Entrevista de Antonio Nascimento à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos concedida em 25 de outubro de 2008.

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Fotografia 21 - "Cupinhamento" das palhas Fotografia 22 - Cupim: forma de armazenamento da batidas,Coivaras-PI. palha de carnaúba para produção de vassouras, Fonte: Santos (2008) Coivaras-PI. Fonte: Santos (2009)

A sétima etapa consiste em juntar uma quantidade de palhas, amarrando-as com embira de buriti (mauritia Spiciosa), ilustrada na Fotografia 23, ou fitilho, na Fotografia 24. Após a junção das palhas para formar a vassoura, observada na Fotografia 25, demarca-se, amarrando com fitilho ou embira de buriti, o local de corte (anelamento) do excesso de palha, como se pode observar na Fotografia 26. Em média, para a formação da vassoura, utiliza-se entre quatro a cinco palhas.

Fotografia 23 - Embira de buriti, Coivaras-PI. Fotografia 24 – Fitilho, Coivaras-PI. Fonte: Santos (2009) Fonte: Santos (2009)

A oitava e última etapa, denominada ajuste, ilustrada na Fotografia 27, consiste em cortar a parte desprezível da palha para a formação da vassoura. É justamente nesta etapa que se obtém a bagana (ilustrada na Fotografia 28) parte da palha descartada e utilizada como

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adubo em lavouras e quintais. Alguns produtores de vassouras vendem a bagana para agricultores familiares da região.

Fotografia 25 - Junção das palhas para montagem da Fotografia 26 - Anelamento da vassoura - Coivaras – vassoura, Coivaras-PI. PI. Fonte: Santos (2009) Fonte: Santos (2009)

Fotografia 27 - Ajuste da vassoura – Coivaras – PI. Fotografia 28 – Bagana - descarte das palhas da Fonte: Santos (2008) produção das vassouras – Coivaras – PI. Fonte: Santos (2009)

Sobre a bagana o senhor Antônio Nascimento descreve:

“Essa bagana é o maior adubo que tem para o legume. Eles compram na carrada para botar em plantios, e aquilo, quando tem um pé de árvore que tá dando um

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problema nele, eles levam e pode botar um pouco no pé, e ela acaba todo o problema que tem no pé da fruta que tá pelejando pra botar. Pode botar que ele apuluma 12.”

Nesse depoimento, observa-se que há o reaproveitamento pelo produtor de vassouras do subproduto advindo de sua produção. Carmo (1998, p. 75) explicita que: “a vida do solo, o equilíbrio dos ecossistemas, a diversificação e o uso da matéria orgânica são alguns dos elementos que devem ser repensados em uma nova agricultura”. Ainda de acordo com Carmo (1998), a sustentabilidade envolve o enfoque técnico- produtivo, assim como o econômico, e não pode prescindir do enfoque ambiental, associado à exploração dos recursos naturais e sociais ligados à concentração dos meios de produção. Como na área da pesquisa a produção de vassouras está intrinsecamente ligada à agricultura familiar; a bagana, pelas suas qualidades de retentora de umidade no solo e de adubo, constitui-se num importante recurso, utilizado por produtores de vassouras nas próprias áreas de plantio ou vendido para outros. No período da pesquisa, uma carrada (caminhão) de bagana foi vendida a R$ 30,00. Essa utilização pelos produtores do subproduto da palha de carnaúba para adubação de roças e quintais indica que há uma prática com indícios de sustentabilidade na medida em que pode contribuir para a diminuição do ritmo de desmatamento de novas áreas para cultivo, com ganho de produtividade. Na preparação para comercialização, as vassouras são unidas em grupos de 50 unidades, conforme mostra a Fotografia 29, utilizando-se embira de buriti ou fitilho. Cada conjunto de cinquenta vassouras unidas é denominado “mói”, conforme ilustrado na Fotografia 30. A quantidade de vassouras por “mói” em número de cinquenta é tradicionalmente acertada pelos produtores de vassouras e comerciantes.

5.3 CONTEXTO DA COMERCIALIZAÇÃO DAS VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA

A atividade extrativista, notadamente para a confecção de vassouras, é de expressiva importância social e econômica para Coivaras, sendo a variedade das matérias-primas

12 Entrevista de Antonio Nascimento à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 25 de outubro de 2008.

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utilizadas para confecção fator determinante na sua comercialização. Cabe salientar que da carnaubeira extraem-se dois tipos de palha: a palha do olho - mais nova e mais fechada, mostrada na Fotografia 31, e a palha mais velha e completamente aberta, vista na Fotografia 32. Assim, têm-se vassouras classificadas conforme o tipo de palha utilizado: vassoura de olho (mais valorizada) e vassoura de palha.

Fotografia 29 – Preparação do "mói" de vassouras, Fotografia 30 - "Mói" de vassouras – Coivaras – PI. Coivaras – PI. Fonte: Araújo (2008) Fonte: Santos (2008)

Fotografia 31 - Olho da carnaúba, Coivaras-PI. Fotografia 32- Palha da carnaúba, Coivaras-PI. Fonte: Araújo (2009) Fonte: Araújo (2009)

Outro ponto fundamental é a variação de preços das vassouras em função das matérias- primas utilizadas e do acabamento relacionado com o tipo de palha, o tipo de fibra empregada na junção das palhas ou o fitilho e a forma de traçado do amarradio da junção das palhas, conforme mostrado nas Fotografias 33, 34 e 35.

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Fotografia 33 - Vassoura de palha amarrada com Fotografia 34 - Vassoura do olho amarrada com embira de buriti, Coivaras-PI fitilho,Coivaras-PI.. Fonte: Santos (2009) Fonte: Araújo (2009)

Fotografia 35 - Vassoura da palha amarrada com fitilho,Coivaras-PI. Fonte: Araújo (2009)

Quanto ao preço do material para amarrar e laçar as vassouras, no período da pesquisa detectou-se que a unidade da embira do olho de buriti custava R$ 3,00 (três reais) e o tubo de fitilho, R$ 1,90 (um real e noventa centavos). No entanto, com um tubo de fitilho de plástico se faz duzentas vassouras, e com um olho de buriti se confeccionam somente setenta vassouras. A vassoura amarrada com embira de buriti é mais vendável, no entanto tem sua confecção mais lenta, devido à necessidade de umedecê-la constantemente com água para evitar ressecamento e, consequentemente, a sua quebra. Daí ser essa forma de confecção menos utilizada. No processo de confecção das vassouras, o uso de fitilho não necessita de nenhum tratamento, o que proporciona maior produtividade, enquanto que a produção com embira de buriti é menos utilizada. Conforme depoimento a seguir:

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“A vassoura pode ser tecida na embira de buriti, mais eu não uso porque nesse tempo é preciso tá molhando todo tempo, e é mais dispendiosa, ela é mais rentável. Mais resulta mais trabalho para se lutar com ela. É três real só um olho, e para trabalhar só com olhos de bom tamanho13.”

Quanto à diferença de preço entre estas, constatou-se que o mói de vassouras amarrado com embira de buriti era vendido, no período da pesquisa por R$ 30,00 (trinta reais), e a vassoura amarrada com fitilho por R$ 28,00 (vinte e oito reais). Outro dado que merece destaque no tocante ao preço de comercialização das vassouras é que estes variam de acordo com o período do ano. No período chuvoso, de janeiro a abril, dependendo da instabilidade pluviométrica, a vassoura pode ter seu preço elevado, devido à diminuição da produção. Também o local onde são comercializadas pode influenciar no preço, o que pode ocorrer na feira semanal do município de Altos, ou no próprio local, vide Fotografias 36 e 37. No município, há a presença de atravessadores, pessoas que compram vassouras para venderem para outros compradores, com preço ainda maior. Observou-se em campo que os atravessadores têm poder de barganha com os produtores, principalmente quando há uma grande oferta de vassouras. Os atravessadores compram a vassoura no local de confecção ou na feira de Altos, e as levam para revenda em outros municípios do próprio Estado e/ou para os estados do Maranhão e Pará. Os donos de carnaubal, os arrendatários, os produtores e os aparadores, vareiros e atravessadores são elementos participativos das etapas da confecção de vassouras ou de sua comercialização. Em Teresina, há uma larga utilização dessas vassouras pela população, sendo este produto encontrado em estabelecimentos comerciais, tanto de pequeno como de grande porte, e por ser um produto de baixo preço é acessível a todas as classes sociais.

13 Entrevista de Antônio Neto, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 20 out. 2008.

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Fotografia 36 - Feira de Altos - Piauí Fotografia 37 - Caminhão carregado de vassouras – Fonte: Santos (2008) Feira de Altos - Piauí Fonte: Santos (2008)

5.4 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO PRODUTOR DE VASSOURAS DA PALHA DE CARNAÚBA – COIVARAS/PI

No século XX, segundo Rocha (1998), a economia agrária do Piauí definiu-se em função de três atividades, a pecuária extensiva, a lavoura de algodão e o extrativismo vegetal, complementando-se com a incorporação de outra atividade essencial, a agricultura de subsistência”. O autor reforça que essa atividade se combinará e acompanhará no tempo e no espaço as demais que se desenvolvem no campo piauiense. Esse contexto ainda se apresenta em municípios do estado do Piauí, bem como na área da pesquisa. Em Coivaras, a pesquisa de campo mostrou que dos 48 produtores entrevistados, 33 são do gênero masculino ( 68,75%) e 15 feminino ( 31,25% ), conforme disposto no Gráfico 1. Ressalta-se, porém, a dupla jornada de trabalho das mulheres, relativa aos afazeres domésticos, como relata Luzineide Carvalho14 :

“Eu começo o dia cuidando das coisas de casa, aí, depois vou para a vassoura. Eu faço 100 vassouras de manhã e 100 vassouras a tarde e também faço os “mói” de vassouras e risco 50 feixes de palhas todo dia. Faço vassoura de manhã, depois que boto as panelas no fogo, faço comida e faço vassoura. Depois do almoço eu passo até quatro horas fazendo vassouras.”

14 Entrevista de Luzineide Carvalho à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 26 de outubro de 2008.

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Gráfico 1 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras - PI, segundo o gênero. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

A grande participação de homens como produtores indica que a atividade exige maior esforço físico em diversas etapas de produção, como a derrubada da palha, que requer força física. Ressalta-se ainda, que não foram identificados indivíduos com vínculo empregatício, reforçando, assim, elementos típicos de uma agricultura familiar. Com relação à categoria profissional citada pelos produtores de vassouras, a pesquisa detectou que 81,25% dos entrevistados disseram ter como ocupação principal as atividades de agricultor e produtor de vassouras, enquanto 16,67% relataram serem exclusivamente produtores de vassouras da palha de carnaúba. Esses dados já implicam que a produção de vassouras é fonte de ocupação/trabalho predominante na área estudada (ver Gráfico 2), estando fortemente associada às atividades agrícolas, já que 4/5 dos produtores também são agricultores. Em Coivaras, a pesquisa revelou um certo equilíbrio entre os produtores, no que diz respeito à propriedade da terra, como mostrado na tabela 08. Dos 48 entrevistados, 52,08% são moradores agregados e 47,92% proprietários de terras. Esses indicadores, embora muito próximos confirmam, o grande índice de trabalhadores sem acesso à moradia própria. Ressalte- se que, dos 25 proprietários, apenas dois estão na zona urbana, sendo que na zona rural o

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número de proprietários e de agregados é igual. Que explicaria, então, o elevado número de proprietários como produtores de vassouras?

Gráfico 2 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação com outras atividades no município de Coivaras - PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Tabela 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo condição de acesso a terra no município de Coivaras (2008) Discriminação Quantidade de produtores %

Proprietário 25 52,08

Morador Agregado 23 47,92

Total 48 100,00 Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Ao argumentar sobre a posse da terra no Piauí, Rocha (1998) afirma que o que caracterizou e ainda caracteriza, em certa medida, a pecuária e o extrativismo foi a grande propriedade e não a grande exploração. O autor destaca que o sistema de propriedade da terra definiu-se, basicamente, em função dessas atividades, com ênfase para a pecuária extensiva, gerando, assim, uma estrutura de distribuição fundiária altamente desigual. Nem as crises que assolaram esses sistemas produtivos modificaram o sistema de concentração de terra. A área média dos estabelecimentos é de 65,2 ha, como explicitado na tabela 2, sendo que dos imóveis rurais no município 47,52% minifúndios e 35,54 % pequenas propriedades,

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conforme indicado na tabela 3. Há ainda uma baixa média de animais – gado (bovino, caprino, suíno) e aves – por estabelecimento (Tabela 7), e um elevado percentual (89,79%) de trabalhadores com grau de parentesco em estabelecimentos familiares, como apresentado na Tabela 4. Considerando-se que as atividades agropecuárias no município se realizam com práticas rudimentares que levam à baixa produtividade, mesmo os proprietários de terras se vêem impelidos de procurar outras fontes de renda. Quanto às condições físicas das residências dos produtores de vassouras em Coivaras, destaca-se que em 37,5% delas o piso é de chão batido, embora a cobertura seja de telha em 91,67%( ver Tabela 9).

Tabela 9 - Características físicas das residências dos produtores de vassouras no município de Coivaras - PI (2008) Número de Discriminação % produtores Telha 44 91,67 Cobertura Palha 4 8,33

Tijolo/Alvenaria 23 47,92 Taipa 20 41,67 Parede Adobe 4 8,33 Palha 1 2,08

Cerâmica 1 2,08 Cimento 26 54,17 Piso Ladrilho 3 6,25 Chão Batido 18 37,5 Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Com relação à fonte de água utilizada para consumo das famílias dos produtores de vassouras na área pesquisa, verificou-se a seguinte distribuição: 58,35% usavam poço cacimbão, 29,17% poço tubular, 10,42% cacimba e 2,08% chafariz. Essa situação indica a falta de infraestrutura no abastecimento de água potável, item fundamental para a saúde humana. Outra informação relevante são as formas de tratamento da água para consumo humano no âmbito das residências dos produtores pesquisados. Os resultados obtidos (gráfico 3) revelam que cerca de 1/3 dos produtores fazem uso de água coada e sem nenhum tipo de tratamento, enquanto que 43,75% filtram a que consomem. Os dados sinalizam para uma

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realidade na qual a água consumida não é tratada adequadamente, podendo contribuir para o aparecimento de doenças causadas por consumo de água contaminada.

Gráfico 3 - Distribuição dos tipos de tratamento da água consumida nas residências dos produtores de vassoura – Coivaras – PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Ainda relacionando os aspectos do saneamento básico, com relação ao destino dos dejetos humanos, a pesquisa detectou que nas residências dos 48 entrevistados, 22 não possuem fossa séptica, utilizando o “mato” como local de depósito de dejetos; 20 utilizam banheiro com fossa séptica, cinco depositam em terreno baldio e um enterra, conforme é mostrado no Gráfico 4:

Destino dos dejetos

Gráfico 4 - Distribuição dos destinos dados aos dejetos humanos nas residências dos produtores de vassouras no município de Coivaras –PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

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Com relação ao destino do lixo doméstico, dos 48 consultados na pesquisa, 75% declararam queimarem-no, 22,92% depositam-no em terreno baldio e 2,08% fazem outro procedimento, deixando-o a céu aberto. Ressalte-se que, dos domicílios pesquisados, 46 ou 95,83 % esta na zona rural. Os dados refletem a carência de política de saneamento na área em estudo, mas servem como parâmetro para análise das condições sanitárias e ambientais, demonstradas no Gráfico 5.

Destino do lixo

Gráfico 5 - Distribuição dos destinos dados ao lixo domiciliar dos produtores de vassouras – Coivaras - PI Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Quanto ao tipo de combustível utilizado para cozimento dos alimentos, a pesquisa detectou que em 56,25% das residências dos entrevistados utilizam carvão, 8,33% utilizam a lenha, 6,25% e 29,17 % gás e o carvão conforme (tabela 10). O uso de lenha como combustível para cozimento de alimentos justifica-se por fazer parte da cultura das comunidades rurais e pelo fácil acesso a ela, bem como pelo baixo poder aquisitivo da população.

5.4 ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO DE VASSOURAS EM COIVARAS-PI

O município de Coivaras possui características dinâmicas específicas que permitem a análise do espaço a partir de seus elementos sociais e econômicos numa perspectiva de

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sustentabilidade socioambiental. Nesse sentido, quanto à espacialização da produção pesquisada, obtiveram-se os dados constantes na Tabela 11.

Tabela 10 - Distribuição das residências dos produtores de vassouras, segundo o tipo de combustível utilizado para o cozimento de alimento – Coivaras - PI Tipo de combustível Quantidade de pessoas % Gás 3 6,25 Carvão 27 56,25 Lenha 4 8,33 Gás e Carvão 14 29,17 TOTAL 48 100,00 Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Tabela 11 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba no município de Coivaras (2008), segundo localidade e volume de produção semanal Nº de Produção semanal Média semanal Quant. de pessoas Localidade por unidade produtores na Número % produtiva produção absoluto Zona urbana 2 8 13.000 10 6.500 Sambaíba 2 7 10.000 7,69 5.000 Boi Manso 6 12 21.000 16,15 3.500 Coivara de Baixo 2 6 7.000 5,38 3.500 Belo Horizonte 2 4 6.000 4,62 3.000 Buriti do Padre 1 3 3.000 2,31 3.000 Canto Alegre 14 36 37.500 28,85 2.679 Buriti Grande 2 10 4.000 3,08 2.000 Morro Redondo 1 2 2.000 1,54 2.000 São Félix 1 2 2.000 1,54 2.000 Benjamim 10 14 17.000 13,08 1.700 Belém 3 6 4.500 3,46 1.500 Caninana 2 3 3.000 2,31 1.500 TOTAL 48 113 130.000 100,00 37.879 Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

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Santos (2008) destaca que, o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável do qual participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais e, de outro, a vida que os anima ou aquilo que lhes dá vida, isto é a sociedade em movimento. Nas 13 localidades pesquisadas, observou-se que o maior percentual de produção semanal, 28,85%, está na localidade Canto Alegre, seguida de Boi Manso, que detém 16,15%, enquanto o menor concentra-se nas localidades Morro Redondo e São Félix, ambas com 1,54% da produção de vassouras. Tanto na zona urbana quanto na localidade Sambaíba, ocorre a contratação de trabalhadores pagos por diária, no valor de R$ 15,00. O que explica o fato de essas localidades destacarem-se com maior média semanal em produção. Ressalte-se que os produtores dessas áreas possuem carnaubal próprio. As menores médias foram encontradas nas localidades de Belém e Caninana com 1.500 unid./semanal, sendo que ambas não contratavam trabalhadores rurais. A localidade Canto alegre é a que apresenta a maior concentração de produtores de vassouras, entretanto nenhum possui carnaubal. É importante destacar que, na localidade Canto Alegre, mesmo as famílias de maior poder aquisitivo também confeccionam vassouras. Na atividade de produção de vassouras existem diversas formas de aquisição das palhas de carnaúba, dentre as quais se destacam: a) De carnaubal próprio, quando o vassoureiro é proprietário do carnaubal ; b) Arrendamento, quando a palha é adquirida pela compra desta do dono do carnaubal ou encarregado; c) Compra palha já tirada, quando o dono do carnaubal ou encarregado vende a palha já derrubada da carnaúba; d) Outras formas, entre os vassoureiros há comercialização de palhas. O proprietário do carnaubal ou seu representante tem um contrato informal, ou seja, um acordo com os produtores, que se traduz em compromisso mútuo. Todos os anos, no período de retirada da palha, o vassoureiro paga R$ 5 (cinco reais ), valor em 2008, pelo milheiro de palha, ficando acertado que não podem derrubar a carnaúba, nem lhe tirar totalmente as palhas, conforme depoimento seguinte:

“O dono do carnaubal ou rendeiro só não arrenda todos os anos pelo menos se você arrenda a palha, tira e não paga a renda . No outro ano ele não arrenda mais, e se você

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paga tudo certinho você está na frente, só se você despacha de não querer mais o carnaubal dizendo não quero mais e você pode caçar outro, ele pode caçar outro15.”

O arrendamento de carnaubais é uma forma significante de relação entre produtor de vassouras e dono da terra e/ou arrendatário. Os dados indicam o arrendamento como a forma predominante de acesso à matéria-prima, representada por 36 produtores, o que significa 75% do total. Pode-se ainda destacar que, por meio do arrendamento, os produtores tem acesso às palhas de carnaúba, os produtores com maior faixa de produção semanal, como apresentado no Gráfico 6.

Gráfico 6 - Distribuição dos produtores, segundo produtividade e formas de aquisição da palha de carnaúba em Coivaras – PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

O arrendamento de carnaubais também tem participação marcante na atividade extrativista para a produção do pó de carnaúba no Nordeste do Brasil, conforme acrescentam Alves e Coêlho (2006). A categoria arrendamento deve-se ao fato de os proprietários das terras não terem como prioridade a atividade extrativista, almejando dos carnaubais apenas a renda gerada com as palhas.

15 Entrevista de Antônio Nascimento, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 26 de outubro de 2008.

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Com relação ao tempo na atividade da confecção de vassouras, os dados da Tabela 12 revelam que 70,83% dos pesquisados as produzem há dez ou mais anos, Em segundo lugar, apareceu o tempo de seis a menos de dez anos, totalizando cerca de 16,67%, sendo possível ser justificado pela relativa facilidade de acesso à matéria-prima, à falta de exigência de qualificação formal para o desempenho desse ofício e à escassez de oportunidades de inserção no mercado de trabalho formal. E, também, pelo fato da renda advinda da produção de vassouras ter retorno imediato, pois o que é produzido de segunda a quinta-feira, no final de semana é escoado para a feira de Altos, ou vendido no próprio município.

Tabela 12 - Distribuição dos produtores de vassouras por tempo de dedicação à atividade Coivaras - PI Quantidade de anos Número de produtores %

De um a menos de três anos 2 4,17

De três a menos de seis anos 4 8,33 De seis a menos de dez anos 8 16,67 De dez a mais 34 70,83 TOTAL 48 100,00 Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Em Coivaras, o setor é desenvolvido individualmente, è que, como verificado em campo, inexiste prática cooperativa entre os produtores de vassouras, o que difere da situação da Ilha Grande de Santa Isabel, onde, segundo Crespo (2007), o artesanato da carnaúba é uma atividade com elevados níveis de cooperação entre os agentes produtivos, havendo quatro organizações de artesãos. Ainda segundo Crespo (2007), o arranjo produtivo da carnaúba no território de Ilha Grande de Santa Isabel, no delta do Parnaiba, é constituído por pequenos negócios na extração do pó de carnaúba, na atividade artesanal e na construção civil, as atividades complementares, como no caso dos especializados no fornecimento de matérias primas (talo, palha, linho, produtos alimentícios), apresentam sinais coletivos da presença de identidade social, cultural, econômica, política, histórica e ambiental, devido a tradição técnica produtiva artesanal, com grau de especificidade e originalidade suficientes para garantir a subsistência. Sobre a atividade de produção de vassouras da palha de carnaúba em Coivaras:

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“Quem não tem o estudo, o emprego e o serviço é esse a palha e a roça. Aí então é nós mesmo aqui na palha, aqui ganha salário dobrado, porque não é no pó, porque o pó é pouco e a vassoura que você faz quatro milheiro... você faz mil reais quatro milheiro no preço que ela tá se ela não caí mais. Aí o pó você bate dez milheiro não dá quarenta quilos de pó e não dá para apurar quarenta real. Não dá para se apurar trezentos reais de pó no preço que tá. E quatro milheiro de vassouras você faz na semana com a palha lá sequinha batida você faz mil reais. Então, nosso progresso aqui é esse... de quem não tem estudo16.”

Confirmando a importânciada da produção de vassouras para Coivaras, o funcionário da Secretaria de Agricultura Raimundo Martins Barbosa, relata17que:

A vassoura aqui em Coivaras é um trabalho muito avançado, se você andar em 100 casas você encontra 80 casas de vassoureiros, quando o cabra não tá fazendo vassoura ele tá comprando palha. Nós temos aqui uma grande produção de vassouras, quase todo mundo é produtor de vassouras.Também na cidade é grande o número de pessoas que trabalham na vassoura e na roça, mais o forte é produção de vassoura, aqui se faz produção o ano todo. O significado daqui é vassoura.

Assim, as duas atividades, agricultura familiar e extrativismo vegetal da carnaúba para confecção de vassouras estão presentes na economia local. A renda gerada por ambas a partir de um recurso/produto do extrativismo tem um grande significado para as famílias, e portanto, na possibilidade de sua reprodução social/cultural das localidades na qual estão inseridos. Nesse sentido, Crespo (2007), em estudos sobre o arranjo produtivo da carnaúba em Ilha Grande de Santa Isabel, concluiu que ele apresenta sinais coletivos de identidade social, cultural, econômico, político, histórico e ambiental, devido à tradição técnica artesanal, com grau de especialidade e originalidade suficientes para garantir sua subsistência. Com base em critérios de identificação do arranjo produtivo local da carnaúba no território de Ilha Grande de Santa Isabel, Crespo (2007 p. 63) apresenta que:

a) “Grande número de negócios informais são realizados com carnaúba no território, envolvendo atividades que geram ocupação e renda para parte significativa da população local; b) O arranjo é baseado em três atividades especializadas na exploração da carnaúba , são elas, produção do pó cerífero, produção de artesanato da palha, e do talo da carnaúba e a atividade de construção civíl; c) A mão de obra existente é abundante, porém não qualificada (nível escolar), entretanto é rica em conhecimento ímplicito, adquirindo com a experiência passada entre gerações e aperfeiçoada pelos cursos de capacitação; d) A existência de atividades correlacionadas (montante e jusante da cadeia). O arranjo possui no local os fornecedores de matérias primas e de insumos (montante), que são: os fornecedores de alimentos e equipamentos para produção do pó, fornecedores de palha, linho e talo da carnaúba para a confecção do artesanato, os

16 Entrevista de Antonio Neto à Maria do Socorro Barbosa Almeida dos Santos, concedida em 24/10/2008. 17 Entrevista de Raimundo Martins Barbosa concedida a José Luis L. Araújo em 02/06/2010.

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proprietários de carnaubal que vendem os caules para construção civil e arrendam os carnaubais permitindo a exploração para a extração do pó; e) Há significativo número de instituicões atuando no arranjo, principalmente na atividade do artesanato, em consequência do associativismo da maioria dos produtores, f) Existência de forte comunidade local, grande número de produtores tem origem no território,portanto possui fortes vínculos entre si e com a atividade de exploração da carnaúba.”

A realidade encontrada em Coivaras, onde agricultores familiares praticam o extrativismo como forma de obtenção de renda, se faz presente não só na região Nordeste. Reis (2008) relata que, no Sudeste e Sul do país, no âmbito da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados, apesar do alto grau de degradação dos ambientes de vegetação natural, a atividade extrativista possui grande importância social e cultural. O autor acrescenta, que essa situação é especialmente relevante para agricultores familiares que, além de estarem envolvidos na agricultura em suas propriedaes, praticam o extrativismo para complementação de renda. Nas localidades pesquisadas em Coivaras, detectou-se que o tipo de agricultura praticada é a tradicional, conforme exposto no Quadro 1, utilizando-se de rotatividade da terra nas áreas de plantio, primeiramente, fazendo-se a broca; depois, a derrubada da vegetação e, logo após, toca-se fogo, (Fotografia 38), prosseguindo-se com a pinica, logo após faz-se a cerca do terreno, encoivara-se (fogueira localizada) e, por último, plantio e colheita. Segundo depoimento de agricultores locais, está cada vez mais difícil encontrar terra para plantio em Coivaras, restando como alternativa mais viável a confecção de vassouras.

Fotografia 38 – Queimada: fase de preparação da roça – Coivaras - PI Fonte: Santos (2008)

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Continua

Meses Atividades Agropecuária Produção de vassouras Localidades Preparação da matéria- Cultivo/Criação Confecção prima 1. Bejamim Planta e capina -18 Faz vassoura 2. Belo Horizonte Capina e planta - Faz vassoura 3. São Félix Planta Tira palha até 30 de janeiro Faz vassoura 4. Boi Manso coivara e Planta - Faz vassoura 5. Buriti do Padre Planta - Faz vassoura

Janeiro 6. Buriti Grande Planta - Faz vassoura 7. Sambaíba Criação de porco, galinha, roça e capina - Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Criação de Porco, galinha, roça, cercar - faz vassoura

9. Canto Alegre Planta - Faz vassoura 10. Morro Redondo -* - Faz vassoura 11. Zona urbana planta Faz vassouras com palha de cupim 12. Belém capina - Faz vassoura 13. Caninana Planta - Faz vassoura 1. Bejamim Capina - Faz vassoura 2. Belo Horizonte Capina e planta - Faz vassoura 3. São Félix Limpa - Faz vassoura com palha de cupim 4. Boi Manso Capina e limpa - Faz vassoura Planta Fevereiro 5. Buriti do Padre - Faz vassoura 6. Buriti Grande Limpa - Faz vassoura 7. Sambaíba - Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Roça e planta - Faz vassoura

9. Canto Alegre Planta - Faz vassoura 10. Morro Redondo - - Faz vassoura renda 11. Zona urbana Limpa e Roça - Faz vassoura com palha de cupim 12. Belém Capina - Faz vassoura 13. Caninana Limpa - Faz vassoura 1. Bejamim Limpa - Faz vassoura 2. Belo Horizonte Limpa - Faz vassoura 3. São Félix Esperar chuva - Faz vassoura 4. Boi Manso Limpa - Faz vassoura 5. Buriti do Padre Limpa - Faz vassoura

Março 6. Buriti Grande Esperar a chuva - Faz vassoura 7. Sambaíba limpa Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Limpa o arroz - Faz vassoura

9. Canto Alegre Limpa do arroz - -faz vassoura 10. Morro Redondo - - Faz vassoura 11. Zona urbana Limpa Faz vassoura com palha de cupim 12. Belém Limpa - Faz vassoura 13. Caninana Esperar a chuva - Faz vassoura 1. Bejamim Limpa - Faz vassoura 2. Belo Horizonte Apanha - Faz vassoura 3. São Félix Apanha Faz vassoura

Abril 4. Boi Manso Apanha - Faz vassoura Apanha 5. Buriti do Padre - Faz vassoura 6. Buriti Grande Apanha - Faz vassoura 7. Sambaíba Apanha legume - Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Espera a colheita - Faz vassoura

18 *Sem informação em todos os casos assinados com hífen (-)

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Continuação 9. Canto Alegre Limpa - Faz vassoura 10. Morro Redondo - - Faz vassoura 11. Zona urbana Roça já plantada, só esperar Faz vassoura 12. Belém Limpa - Faz vassoura 13. Caninana Apanha - Faz vassoura 1. Bejamim Apanha - Faz vassoura 2. Belo Horizonte Apanha - Faz vassoura 3. São Félix Apanha Faz vassoura 4. Boi Manso Apanha Faz vassoura 5. Buriti do Padre Apanha arroz e feijão - Faz vassoura 6. Buriti Grande Apanha Tira palha Faz vassoura

Maio 7. Sambaíba Apanha Faz vassoura

8. Coivara de Baixo Apanha da roça - Faz vassoura 9. Canto Alegre Apanha do arroz - Faz vassoura 10. Morro Redondo - - Faz vassoura 11. Zona urbana Apanha de arroz - Faz vassoura Apanha 12. Belém - Faz vassoura Arroz 13. Caninana Apanha Tira palha Faz vassoura 1. Bejamim Apanha - Faz vassoura 2. Belo Horizonte - - Faz vassoura 3. São Félix - - Faz vassoura 4. Boi Manso - Faz vassoura 5. Buriti do Padre Terminando a apanha - Faz vassoura

Junho 6. Buriti Grande Limpa da mandioca Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba Apanha Faz vassoura-

8. Coivara de Baixo Apanha - Faz vassoura 9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - - Faz vassoura- 11. Zona urbana Apanha de arroz - Faz vassoura- 12. Belém Apanha Tira a palha Faz vassoura- 13. Caninana Limpa da mandioca Tira a palha Faz vassoura 1. Benjamim - Tira a palha -faz vassoura 2. Belo Horizonte Broca - Faz vassoura- 3. São Félix - Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso - Tira a palha Faz vassoura- 5. Buriti do Padre Farinhada - Faz vassoura-

Julho 6. Buriti Grande Arranca mandioca Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba Broca Tira a Palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Broca Tira a palha Faz vassoura- 9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura 11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura- 12. Belém Apanha - Faz vassoura- 13. Caninana Arranca mandioca Tira a palha Faz vassoura 1. Benjamim - Tira a palha Faz vassoura 2. Belo Horizonte Broca - -faz vassoura 3. São Félix Broca Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso - Tira a palha Faz vassoura- Agosto 5. Buriti do Padre Broca - Faz vassoura- 6. Buriti Grande - Tira a palha Faz vassoura

7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Termina a broca - Faz vassoura- 9. Canto Alegre - Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura 11. Zona urbana - - Faz vassoura-

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Conclusão 12. Belém - Tira a palha Faz vassoura 13. Caninana - Tira a palha Faz vassoura 1. Benjamim - Tira a palha Faz vassoura 2. Belo Horizonte Broca Tira a palha Faz vassoura 3. São Félix Derruba Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso Broca Tira a palha Faz vassoura Broca Tira a palha Faz vassoura Setembro 5. Buriti do Padre 6. Buriti Grande Broca Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Queima Tira a palha Faz vassoura

9. Canto Alegre Broca Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura 11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura 12. Belém - Tira a palha Faz vassoura 13. Caninana Broca Tira a palha Faz vassoura 1. Bejamim Broca Tira a palha Faz vassoura 2. Belo Horizonte - Tira a palha Faz vassoura 3. São Félix Queima Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso Broca Tira a palha Faz vassoura 5. Buriti do Padre Broca Tira a palha Faz vassoura

Outubro 6. Buriti Grande Queima, Pinica Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba - Tira a palha Faz vassoura Derruba Tira a palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo 9. Canto Alegre Derruba, Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura 11. Zona urbana Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura 12. Belém Broca Tira a palha Faz vassoura 13. Caninana Queima, Pinica Tira a palha Faz vassoura 1. Benjamim Derruba Tira a palha Faz vassoura 2. Belo Horizonte Derruba e Queima Tira a palha Faz vassoura 3. São Félix Pinica e Cerca Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso Queima e Pinica Tira a palha Faz vassoura

Novembro 5. Buriti do Padre Derruba Tira a palha Faz vassoura 6. Buriti Grande Cerca Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba Queima Tira a palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Pinica Tira a palha Faz vassoura 9. Canto Alegre Cerca Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura 11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura 12. Belém Derruba Tira a palha Faz vassoura 13. Caninana Cerca Tira a palha Faz vassoura 1. Benjamim Queima Tira a palha Faz vassoura 2. Belo Horizonte Pinica Tira a palha Faz vassoura 3. São Félix Espera a chuva Tira a palha Faz vassoura 4. Boi Manso Queima e cerca Tira a palha Faz vassoura-

Dezembro 5. Buriti do Padre Pinica Tira a palha Faz vassoura 6. Buriti Grande - Tira a palha Faz vassoura 7. Sambaíba Cerca Tira a palha Faz vassoura 8. Coivara de Baixo Pinica Tira a palha Faz vassoura 9. Canto Alegre Esperando chuva Tira a palha Faz vassoura 10. Morro Redondo - Tira a palha Faz vassoura- 11. Zona urbana - Tira a palha Faz vassoura 12. Belém Queima Tira a palha Faz vassoura 13. Caninana - Tira a palha Faz vassoura Quadro 1 - Calendário anual de atividades na agricultura e confecção de vassouras nas unidades de produção de vassouras pesquisadas no município de Coivaras – PI Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

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De acordo com o Quadro 1, no município de Coivaras prevalece a atividade agrícola no primeiro semestre, com diminuição da produção de vassouras, fato justificado pela época de chuva na região, que impossibilita a retirada de palha. Os produtores que confeccionam vassouras nesse período armazenaram palha em forma de cupim, enquanto, no segundo semestre, há uma intensificação da produção de vassouras, sem alteração na atividade agropecuária. Verifica-se, assim, uma ligação entre a atividade agropecuária e o extrativismo, que serve de suporte para a economia local. No tocante ao local de confecção de vassouras, detectou-se que 77,08% dos entrevistados possuem ambiente específico para desenvolver a atividade, ou seja, um galpão (sempre próximos às residências), como ilustrado pelas Fotografias 39 e 40. Já 16,67% disseram que confeccionam vassouras dentro de sua própria residência; enquanto 6,25% relataram que as produzem em outro local (debaixo de árvores, em seus quintais).

Fotografia 39 - Galpão (ao fundo) onde são Fotografia 40 – Estrutura interna de um galpão – confeccionadas as vassouras – Coivaras - PI Coivaras - PI Fonte: Santos (2008) Fonte: Santos (2008)

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A pesquisa revelou que, dos 48 produtores, 50,00 % declararam obter de um a menos de dois salários mínimos mensais com a venda de vassouras, 33,33% apresentaram-se com renda de menos de um salário mínimo mensal; 14,58% ganham de dois a menos de três salários mínimos mensais e 2,08% declararam obter de três a menos de quatro salários mínimos mensais com esta atividade. Considerando-se o valor médio das classes de renda mensal, expressas no Gráfico 7, a pesquisa junto aos vassoureiros demonstrou que, dos 48 entrevistados, representando 40,00 % dos produtores de Coivaras, obtiveram juntos uma receita anual de cerca de R$ 269.750,00 (duzentos e sessenta e nove mil e setecentos e cinquenta reais) no ano de 2008. Vale ressaltar que o valor da produção vassoureira descrito representa apenas a produção de cerca de um terço dos produtores de vassouras em Coivaras, o que permite estimular uma renda anual para todos os produtores no valor de R$ 674.375,00 (seiscentos e setenta e quatro mil e trezentos e setenta e cinco reais).

Gráfico 7 - Distribuição segundo renda mensal com produção de vassouras no município de Coivaras-PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Comparando a produção vassoureira com dados do Censo Agropecuário de 2008, Coivaras produziu 111 toneladas de pó da carnaúba, com uma receita de R$ 333.000,00 (trezentos e trinta e três mil reais), enquanto o cultivo de lavouras temporárias e permanentes juntas auferiram R$ 401.000,00 (quatrocentos e um mil reais), conforme tabelas 5 e 6. Verifica-se que a atividade vassoureira no município tem um faturamento aproximado ao obtido com a extração do pó da carnaúba e o cultivo de lavouras permanentes e temporárias. Essas famílias também cultivam roça, cuja renda não necessariamente se reverte em dinheiro, pois sua principal finalidade é o autosustento.

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Em depoimento, Luzineide Carvalho19, produtora de vassouras, diz que “o dinheiro mesmo é da vassoura, porque a roça a gente planta para tirar as coisas para dentro de casa. O arroz, o feijão, e o grosso mesmo, é a vassoura”. Com relação ao exposto pela senhora Luzineide Carvalho, seu esposo, o produtor de vassouras Antônio Nascimento20, em entrevista relatou que:

“O lucro da vassoura dá justamente com alguma coisa que você faz para casa na alimentação, nos remédios, no transporte, e vai indo. A gente pega o dinheiro, mas quando termina de resolver, tá acabando. Ainda bem que tá dando para manter a vida.”

Esses depoimentos demonstram a importância econômica da produção de vassouras como fonte de renda das famílias que as confeccionam e que esses valores em salários mínimos, para os parâmetros locais, são bem significativos. O Gráfico 8 indica que, dentre os produtores de vassouras, 25 (52,08%) têm a propriedade da terra onde residem e apenas 6 (24,00%), dentre os proprietários, ganham menos de um salário mínimo mensal com vassouras, faixa de renda encontrada em 10 (43,47%) dos moradores agregados. A renda advinda da produção de vassouras torna-se ainda mais relevante quando consorciada à agricultura familiar.

Gráfico 8 - Distribuição dos produtores de vassouras de palha de carnaúba, segundo relação entre condições de acesso a terra e renda - Coivaras –PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

19 Entrevista de Maria Luzineide Rodrigues Carvalho, produtora de vassouras à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos, concedida em 24 de outubro de 2008. 20 Entrevista de Antônio Nascimento, produtor de vassouras, à Maria do Socorro Barbosa Almeida do Santos concedida em 25 out. 2008.

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Dos entrevistados, detectou-se que, de acordo com a média de produção semanal de vassouras, 29 (60,42 %) produziram até 2.000 unidades, dos quais 20 (68,96%) trabalham na atividade há mais de 10 anos(Gráfico 9).

Gráfico 9 - Distribuição da média de produção de vassouras da palha de carnaúba . por tempo dedicado à atividade em Coivaras – PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Cabe ressaltar que os produtores que apresentaram maior volume de produção se inserem entre os que confeccionam vassouras há mais tempo. Analisando-se a relação entre o tempo na atividade e a renda mensal, exposta no Gráfico 10, observa-se que as maiores faixas de renda estão entre aqueles com mais de seis anos na atividade. Contudo, cerca de um terço dos que já tem dez anos ou mais tem renda inferior ao salário mínimo. Aliás, entre os fatores que podem limitar a produção de vassouras em Coivaras destacam-se os poucos recursos financeiros para comprar palhas e a mão-de-obra familiar reduzida, pois em algumas famílias somente os adultos exercem a atividade. A relação entre volume de produção e local de comercialização, exposta no Gráfico 11 indica a grande relevância da feira semanal de Altos, que ocorre aos sábados. Essa feira traduz-se em ponto quase exclusivo de convergência de toda a produção de vassouras de Coivaras e de outros municípios circunvizinhos.

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Gráfico 10 - Distribuição dos produtores de vassoura da palha de carnaúba, segundo a relação entre renda mensal e tempo de atividade no município de Coivaras – PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

Gráfico 11 - Distribuição dos produtores de vassouras da palha de carnaúba, segundo média semanal e relação com local de produção – Coivaras – PI. Fonte: Pesquisa Direta, novembro/2008.

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Observa-se assim que quanto menor o volume de produção, mais os produtores de Coivaras comercializam na feira semanal de Altos, inferindo-se que se o município de Coivaras possuísse sua própria feira semanal poderia haver uma diminuição das pressões dos atravessadores sobre os produtores e, certamente, dar-se-ia maior valorização nos preços das vassouras com maior lucro e maior incremento da economia local. Supõe-se que a inexistência de uma feira semanal em Coivaras deva-se ao fato de o município ter sido desmembrado há pouco tempo de Altos e ainda não despertou para a importância econômica e social da produção de vassouras. Ademais, o asfaltamento da estrada que liga Coivaras a Altos, concluída no início de 2010, poderá repercutir na melhoria do ganho da atividade.

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6 CONCLUSÃO

A carnaúba é uma árvore nativa do Nordeste que representou importante papel no processo de ocupação do espaço e no desdobramento da economia piauiense até os dias atuais. Coivaras apresenta potencial econômico no que se refere a atividades extrativas aliadas à agricultura familiar, representadas principalmente pela extração da carnaúba, de cuja palha se extrai o pó – matéria-prima para a produção de cera – se confeccionam vassouras. Um número considerável de famílias desse município tem como principal fonte de sustentação o consórcio agropecuário e a produção de vassouras. Destaca-se no município a predominância de pequenos proprietários, o que se reflete na produção agropecuária, exercida em moldes tradicionais, com baixo índice de produtividade. No rebanho, predominam pequenos animais (caprino, ovino e suíno), cuja produção é escoada para a feira semanal de Altos - PI. O arrendamento é a forma predominante de aquisição de matéria-prima para a confecção de vassouras, o que denota uma atividade de pequenos produtores rurais, ainda que proprietários de terra. A mão de obra familiar e o conhecimento é tácito, passando de geração a geração, não se constatando, durante a pesquisa, qualquer tipo de cooperação entre produtores, nem a participação em cursos de capacitação para aprimoramento técnico ou organização da categoria. A atividade de confecção de vassouras não traz impacto negativo ao meio ambiente é que, para a obtenção da palha, principal matéria-prima, não é necessária a derrubada da carnaúba, Além do que a bagana (excesso de palha da vassoura) é utilizada como adubo em quintais e lavouras, configurando-se como atividade sustentável. As relações da produção de vassouras com a agropecuária dão-se nos âmbitos da conjugação de atividades e de práticas socioculturais, pois se trata de uma atividade artesanal que absorve mão de obra familiar, reforça laços de reprodução cultural local e, contribui para a fixação do homem a terra. Configura-se, assim, como atividade fomentadora de processos que induzem ao desenvolvimento local, com sustentabilidade.

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Sublinhe-se que pensar em sustentabilidade e viabilidade da atividade de produção de vassouras no município de Coivaras não passa apenas pela adoção de infraestrutura ( estradas, eletrificação, escolas, postos de saúde, qualidade na moradia, etc). Mas também implica o implemento de políticas públicas direcionadas ao pequeno produtor, no que tange o acesso a crédito e a capacitação a partir das potencialidades locais, respeitando-se os saberes e a cultura.

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APÊNDICE A – Ficha de caracterização dos produtores de vassouras: localização, produção, semanal, local de vendas acesso à matéria-prima e divisão do trabalho, aplicado pelos agentes de saúde

Produtor de Data Localidade/ Produção Local de Como Divisão do vassouras povoado do semanal venda das adquire trabalho na produtor vassouras a palha elaboração (carnaubal das próprio, vassouras arrendado ou compra (quem faz a palha?) cada etapa)

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APÊNDICE B - Formulário de pesquisa das condições socioeconômicas dos produtores de vassouras em Coivaras - PI

Pesquisador:______Município de Coivaras - Piauí / Localidade: ______Público Alvo: Produtor de Vassouras

I - IDENTIFICAÇÃO DO PRODUTOR

01- Nome: ______02 - Sexo: ( ) masculino ( ) feminino 03 - Idade: ______04 - Estado Civil: ______05 - Profissão (ativ. principal): ______06- Condições em relação à propriedade em que habita: ( ) proprietário ( ) morador agregado 07 - Condições de moradia (morador na zona urbana): ( ) casa própria ( ) casa alugada ( ) casa cedida 08 - Tipo de construção: Cobertura: ( ) telha ( ) palha Parede: ( )tijolo/alvenaria ( ) taipa ( ) adobe ( ) palha Piso: ( ) cerâmica ( ) chão batido ( ) ladrilho ( ) cimento

II – SANEAMENTO

01 - Possui água encanada? ( ) sim ( ) não 02 - Qual a fonte de água utilizada (caso não seja encanada)? ( ) poço cacimbão ( ) lagoa ( ) cacimba ( ) chafariz ( ) outros:______03 - Que tipo de tratamento é dado à água utilizada para consumo humano? ( ) fervida ( ) filtrada ( ) coada ( ) nenhum ( ) outros: ______04 - Destino dado aos dejetos humanos: ( ) banheiro com fossa ( ) buraco/privada ( ) terreno baldio ( ) mato ( ) enterrado ( ) outros:______

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05 - Destino dado ao lixo domiciliar: ( ) queimado ( ) terreno baldio/céu aberto ( ) enterrado ( ) outros:______

III – INFRAESTRUTURA

01 - Utiliza energia elétrica: ( ) sim ( ) não 02 - Utiliza telefonia: ( ) sim [residencial ___; público ___] ( ) não

IV - INFORMAÇÕES DO GRUPO FAMILIAR

01 - Escolaridade dos membros da família Ensino

Nome do Membro Idade Sexo Estuda Analfabeto Fundamental Médio Superior

I C I C I C

02 - Número de familiares não-residentes no domicílio: ( ) estudar ( ) trabalhar 03 - Existe escola na comunidade? ( ) sim ( ) não 04 - Alguém da família desloca-se diariamente para frequentar escola em outra comunidade? ( ) sim ( ) não 05 - Faz uso de transporte escolar? ( ) sim ( ) não 06 - Qual é o tipo de transporte escolar? ( ) ônibus ( ) caminhão (pau-de-arara) ( ) pick-up ( ) outros: ______

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07 - Onde fica a escola mais próxima (distância em km)? ______08 - Renda mensal familiar, em salários mínimos: ( ) menos de 1 ( ) de 1 a menos de 2 ( ) de 2 a menos de 3 ( ) de 3 a menos de 4 ( ) de 4 a mais

V - SITUAÇÃO ECONÔMICA DO GRUPO FAMILIAR

01 - Tem alguém aposentado na residência? ( ) sim (quantos? ___ ) ( ) não 02 - A família recebe alguma bolsa social? ( ) sim (qual? ______) ( ) não 03 - Existe, na família, alguém que trabalha em regime celetista ou estatutário? ( ) sim (quantos? ___ ) ( ) não

VI - ORGANIZAÇÃO SOCIAL E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

01 - Quais as principais formas de organização social da comunidade a qual participa? ( ) cooperativa de trabalhadores ( ) associação de moradores ( ) Sindicato dos Trabalhadores Rurais ( ) associação de produtores de vassouras

02 - Quais as manifestações culturais? ( ) cultos religiosos ( ) festejos ( ) outras :______03 - Qual sua religião? ( ) católico ( ) evangélico ( ) outros: ______

VII - DADOS RELACIONADOS À SAÚDE

01 - Recebe visita do agente de saúde? ( ) sim ( ) não 02 - Onde procura assistência médica? ( ) na sede do município ( ) em outro município ( ) na capital do estado ( ) em outra capital (Citar: ______) 03 - Como é feito o cozimento dos alimentos? ( ) utilizando gás ( ) carvão ( ) lenha ( ) outros: ______

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VIII - DADOS RELACIONADOS À PRODUÇÃO DE VASSOURAS 01 - Há quanto tempo produz vassouras de palha de carnaúba (em anos)? ( ) menos de um ano ( ) de 1 a menos de 3 ( ) de 3 a menos de 6 ( ) de 6 a menos de 10 ( ) de 10 a mais (citar: ______) 02 - Como tem acesso à matéria-prima (palha)? ( ) carnaubal próprio ( ) arrenda carnaubal ( ) compra palha já tirada (terceiros) ( ) outros (citar: ______) 03 - Qual o meio de transporte para deslocamento da palha até o ponto de produção? ( ) carro próprio ( ) carro alugado ( ) carroça própria ( ) carroça alugada ( ) outros (citar: ______) 04 - Há algum período do ano em que não se produzam vassouras? ( ) não ( ) sim (especificar motivo: ______) 05 - Caracterização do operador produção vassouras CARACTERIZAÇÃO DO OPERADOR NA PRODUÇÃO VASSOURAS Operador / Tipo de Horas Outra Valor Valor fabricação de tarefa na trabalhadas atividade remuneração remuneração vassoura: produção por dia exercida operador de operador de (1) de casa de (estudo; fora casa vassouras func. público (diária ou (diária ou (2) de fora da etc.) casa por peça) por peça)

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06 - Além da palha de carnaúba, quais outras matérias-primas são utilizadas para produção de vassouras? ______07 - Como é realizada a comercialização das vassouras? ( ) na feira de Altos - PI ( ) no próprio local de produção ( ) outros (especificar: ______) 08 - Produção semanal de vassouras: ______09 - Faz estoque de vassouras para aguardar melhores preços? ( ) sim ( ) não 10 - Faz estoque de palhas (cupim)? ( ) não ( ) sim (especificar quantidade e período do estoque:______) 11 - Os subprodutos da palha são utilizados? ( ) não ( ) sim (especificar: ______) 12 - Em sua opinião, a produção de vassouras traz algum impacto negativo ao meio ambiente? ( ) não ( ) sim (especificar: ______) 13 - O preço da palha tem variações? ( ) não ( ) sim (especificar: ______) 14 - Qual a área onde se produz a vassouras? ______15 - Custo do frete do local de produção das vassouras ao ponto de comercialização: R$ ______16 - Proporção do tipo de vassoura, conforme a palha utilizada, no volume de vassouras produzidas na unidade de produção: a) ( ) Vassouras do olho:______% b) ( ) Vassouras da palha:______%

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IX - RELAÇÕES ENTRE A AGRICULTURA FAMILIAR E A PRODUÇÃO DE VASSOURAS PARA PRODUTORES QUE FAZEM ROÇA E CRIAM ANIMAIS

DEMONSTRATIVO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DOS PRODUTORES DE VASSOURA EM COIVARAS/PI

Data do Unidades estoque Destino da Local de venda Tipos atual (Saco de produção % dos produtos produtos/animais 60 kg; comercializados __/__/__ cabeça) Consumo Venda Arroz Saco de 60 kg Feijão Saco de 60 kg Mandioca  Farinha Saco de 60 kg  Goma Saco de 60 kg Milho Saco de 60 kg Melancia Kg Abóbora Kg Galinhas Cabeças Capotes Cabeças Perus Cabeças Bode Cabeças Carneiro Cabeças Porcos Cabeças Bovinos Cabeças

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APÊNDICE C - Calendário de atividade mensal na produção agropecuária e de vassouras em Coivaras - PI

Atividades

Vassouras Meses Outros Agropecuária Cultivo / Criação Preparação Confecção matéria-prima

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro