IBP 2354 08 Os desafios de se trabalhar os valores de SMS na obra de construção

do Gasoduto Urucu/, na Floresta Amazônica. 1 2 Jeane Ramos Mendes , Kátia Rosilene Soares da Rocha , Madson Weider Elgaly Pellin3 , Lindoneide Lima Parédio4 e Jean Luis Campos Barreto5.

Copyright 2008, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008, realizada no período de 15 a 18 de setembro de 2008, no Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008.

Resumo

Este trabalho, objetiva apontar as principais dificuldades de atuação em SMS e as medidas corretivas e preventivas na obra do Gasoduto Urucu/Manaus, localizado na influência do rio Solimões, abrangendo vários municípios do Estado do Amazonas (, Codajás, Caapiranga, Anamã, , , Manaus) que se constitui de três frentes de serviços (trecho A – Ucuru/Coari, trecho B1 – Coari/Anamã e trecho B2 – Anamã/Manaus). Para efeito de recorte deste trabalho tomamos o trecho B2 que começa no município de Anamã até Manaus, do Km 475 até 662, finalizando nas dependências da Refinaria Isaac Sabbá, localizada na Rua Rio Quixito – Distrito Industrial (por onde passa a Linha Tronco, com uma extensão de, aproximadamente, 174.400m de dutos, construídos para escoar o gás natural até a Estação de Regulagem de Pressão (ERP), e que destinará a térmica de Mauá, onde irá gerar energia para uma parte da capital amazonense). As informações foram obtidas através das observações sobre as dificuldades de atuação na segurança dos trabalhadores, assim como através da aplicação de diversos instrumentos (Auditoria Comportamental – Audicomp, Aplicação de Listas de Verificação – LV’s e Índice de Práticas Seguras – IPS). Os dados serão analisados, tabulados em gráficos, tabelas e cadastrados nos sistemas internos da Petrobras (Audicomp, SALV, Auditoria de IPS). As principais dificuldades para atuar em SMS em uma obra de duto na Amazônia, vão desde a Logística de Transporte, problemas de comunicação, carência de Mão de obra qualificada e período sazonal da região (enchente e seca), assim como a inserção de valores de SMS para a população local, em virtude de não ser um hábito comum dessa população que mora na região.

Abstract

This work, aims to sharpen the main difficulties of acting in SMS and the corrective and preventive measures in the work of the pipeline Urucu / Manaus, located in the influence of the Solimoes River, covering several municipalities in the state of Amazonas (Coari, Codajás, Caapiranga, Anamã,, Iranduba, Manaus) Such pipeline hás three spread, namely Spread A , from Urucu to Coari, Spread B1, from Coari to Anamã, and Spread B2, from Anamã to Manaus). For the purpose of the present case, we have focused on the Spread B2, from the city of Anamã to Manaus, from km 475 thru Km 662, being 174,400 m long. Its main line ends right within the premises of the Refinaria Isaac Sabbá (a local refinery), which is located at Rua Rio Quixito – Distrito Industrial The purpose of the pipeline is to convey natural gas to the Pressure Regulating Station, which is located close by the aforementioned refinery. The gas is transported to Maua Thermaelectrical, to generate energy for certain areas of the Amazon capital city. The information has been obtained through observations made on the difficulties faced by the workers to comply with safety behaviour while carrying out their activities. Also, by using several tools, such us Auditoria Comportamental (Behaviour Auditing) – Audicomp, Aplicação de Listas de Verificação – LV´s (Verification Lists), as well as Indice de Praticas Seguras – IPS (Safety Practices Index). The collected data is analysed, and displayed in graphics, tables and processed in Petrobras internal systems, such Audicomp (Behaviour Auditing), SALV (Verification Lists Application System), and Auditoria

1 Técnica de Segurança do Trabalho – Concremat Engenharia 2 Técnica de Segurança do Trabalho – Concremat Engenharia 3 Técnico de Segurança do Trabalho – JPTE Engenharia 4 Assistente Social – Concremat Engenharia 5 Técnico de Segurança do Trabalho – Petrobras Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008 de IPS (Safety Practices Index Auditing). The main diffculties to implement SMS (Safety, Environment and Health) in a pipeline works in the Amazon require from the transportation logistics, communication problems, lack of enough local skilled labor, the adverse region´s season conditions, both flood and dry seasons, as well as to commit the local population with Safety, Environment and Health principles, since they are not used to deal with such subject.

1. Introdução

A região amazônica possui características inigualáveis de ambientes e paisagens que refletem na sua grande maioria as diversidades sociais e culturais de um povo, adquiridas ao longo do tempo e resultantes da herança dos índios, europeus e negros. Portanto, explorar óleo e gás no maior santuário ecológico do planeta; mais do que isso, ter o privilegio de conhecer a exuberante fauna e flora e ter a oportunidade de transportar os produtos pelo Rio Solimões até a Refinaria de Manaus, às margens do Rio Negro, e distribuir combustíveis pelos quatro cantos da Região, são desafios representativos, até pelas características geográficas. A maioria da população de grande parte da Amazônia, que não vive em cidades, é conhecida como ribeirinha, população que vive as margens dos rios. Essa população vive na sua grande maioria da agricultura familiar sustentável, onde o cultivo em terras firmes ou várzeas e a pesca é utilizado para sua própria alimentação, porém executa suas atividades diárias com ferramentas improvisadas, sem equipamentos adequados, com os pés descalços, e quando sofrem qualquer acidente relacionado a essas atividades, parece ser comum, e importante destacar também que em virtude da baixa escolaridade e da falta de hábito da população sobre o uso de EPIs, em suas atividades se configura como uma problemática para atuação da equipe de segurança na região. Para a construção de uma obra de dutos na região Amazônica com baixo índice de Acidentes, Incidentes e Desvios é um grande desafio, pois se trata de uma área cobiçada até internacionalmente, para que a construção acontecesse sem agredir ao meio ambiente e atingir a segurança e saúde da força de trabalho, a segurança merece uma atenção especial, principalmente porque têm o papel de reduzir prejuízos para as empresas, trabalhadores e os moradores locais. Para organização deste trabalho é realizado inicialmente um histórico da obra do Gasoduto Urucu/Manaus, seguido da descrição das fases da obras, os desafios e dificuldades de cada uma. Apresenta-se também a chegada da obra na capital do Estado do Amazonas e os desafios para atuação em SMS.

2. Histórico do Gasoduto Urucu/Manaus Em 1986, foi anunciada a descoberta das jazidas de gás na BOGPM, em Urucu, município de Coari. Identificada à existência do gás, um outro desafio que mereceu atenção por parte da Petrobras foi à investigação acerca da melhor opção de transportar o gás para usufruto da população do Estado do Amazonas, tendo em vista principalmente as particularidades geográficas e ambientais da região. A partir das investigações e estudos realizados foi identificado que a opção mais segura para a realização da obra e o escoamento do gás seria o trajeto de Urucu até Manaus. A partir das definições de traçado da obra foram realizados os trâmites burocráticos para a construção e montagem de dutos, cuja base foi à realização do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (RIMA), realizado pelo Centro de Ciências do Ambiente da Universidade Federal do Amazonas. Os estudos serviram para indicar o perfil sócio- econômico dos moradores das comunidades, localizadas nas mediações do traçado, as características da flora, fauna, solos e demais condições ambientais pertinentes para a construção da obra. Atendendo as exigências da Legislação Ambiental para liberação da Licença de Instalação, a Petrobras e órgão ambiental estiveram nas sedes municipais de Coari, Codajás, Anamã, , Caapiranga, Manacapuru e Manaus para prover as Audiências Públicas, cujos objetivos visaram apresentar, esclarecer e responder aos questionamentos oriundos das populações dos municípios sobre o empreendimento gasoduto. É importante destacar que durante todas as audiências realizadas houve vários questionamentos sobre os benefícios e os prejuízos que poderiam ficar na região com a construção do gasoduto. Foi um momento também para apresentação dos Estudos realizados pela Universidade Federal do Amazonas, que também sofreu vários questionamentos. Foi definida a partir da Licença de Instalação a extensão da obra que corresponde a 382,8 quilômetros de tubos de 20 polegadas de diâmetro, percorrendo os respectivos municípios em questão, por onde também haveria ramais de distribuição de gás com instalações de fibra ótica. Assim como a mobilização das equipes de trabalho para a realização da supervisão e controle dos dutos.

3. A construção da obra do Gasoduto Urucu/Manaus Em dezembro de 2004, foi o marco técnico da obra, quando a Petrobras assinou convênio com o exército,

2 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008 envolvendo cerca de 190 soldados militares para a execução da primeira fase da obra que foi a abertura de 28 a 29 clareiras, áreas destinadas ao armazenamento dos tubos, que seriam utilizados na obra. Para a abertura das clareiras, as equipes do exército foram divididas em duas frentes de serviços, em virtude das condições de infra-estrutura e logísticas locais. É importante destacar que antes da partida dos soldados militares para a realização dessa fase da obra, todos receberam informações e orientações sobre aspectos de segurança, meio ambiente, saúde, comunicação, além de outras informações de cunho mais técnico da obra. Foi o momento também para que todos recebessem orientações do Código de Ética da Petrobras e o Código de Conduta da Implementação de Empreendimentos para o Norte – IENOR. Tais documentos orientam os valores, atitudes e comportamentos dos trabalhadores da obra de dutos. A pré-comunicação, atividade de comunicação social, realizada em todas as comunidades, de influência direta da obra do gasoduto Urucu/Manaus, com recursos teatrais, foi um passo fundamental para que os moradores das comunidades ribeirinhas entendessem mais facilmente o que viria ser uma obra de dutos, os benefícios da obra, os impactos e principalmente quais seriam os cuidados necessários em relação à segurança, saúde e meio ambiente de todos envolvidos (trabalhadores e moradores das comunidades). A segunda fase da obra descarregamento de tubos nas clareiras, foi uma das fases de maior desafio da obra, tendo em vista que tubos, equipamentos, máquinas chegavam às clareiras via fluvial, com percurso de vários dias ao longo dos rios, a começar em Belém até Manaus. Ao mesmo tempo em que chegavam os tubos nas clareiras também acompanhados tinha as atividades maciças sobre segurança, saúde e meio ambientes. Pois, a grande quantidade de tubos que chegavam às clareiras, era principalmente, aquelas que ficavam próximas às comunidades. Na fase de Planialtimetrico é onde é feito as primeiras demarcações para abertura da faixa, e as dificuldades encontradas foi a falta de conhecimento dos profissionais especializados e que tenha conhecimento na região, foi onde buscamos ajuda da população local para indicar o caminho do traçado dentro da mata nativa. Na fase de realização da topografia, após as demarcações já realizadas, tivemos outra dificuldade em demarca as estacas, para a realização da atividade de supressão, pois com as diversas curvas sinuosas do rio, tivemos muitas vezes que desviar o traçado, para facilitar as atividades que viriam posteriormente, sempre preocupados em atender as questões de segurança e meio ambiente para não causar nenhum impacto à população. Para a realização da Supressão vegetal foi necessário solicitar uma Licença Municipal, pois a área por onde iríamos passar fazia parte de um estudo da Universidade do Amazonas, e para verificar se havia espécies nativas da região e que pudessem ser afetadas com a construção do Gasoduto, após essa avaliação foi concedida a licença, e com está demos andamento as atividades de supressão da área. Embora a abertura de pista pareça uma atividade que não apresenta dificuldades, na região tivemos muitas dificuldades devido ao solo, que parecia ser terra firme e terminava atolando as máquinas. O desfile de tubos é uma atividade que oferece muito risco, pois o trabalhador fico muito exposto guiando um tubo através de cabos, para que estes não venham a girar e atingir a máquina que os transportam, e vindo assim a causar acidentes. A primeira solda do Gasoduto Urucu/Manaus foi realizada com a visita do Presidente Inácio Lula da Silva, no dia 01 de junho de 2006. Durante a solenidade o presidente ressaltou a importância do gasoduto para o desenvolvimento da Matriz Energética do Amazonas, principalmente pela expansão das atividades econômicas e a conseqüência da geração de emprego e renda para o povo amazonense. Nesta atividade de End’s que são ensaios não destrutivos, serve para identificar falhas na soldagem, caso seja verificado alguma anormalidade a solda é reprovada e refeita. Para a atividade de revestimento de juntas o risco apresentado são de queimaduras, pois a manta a ser colocada precisa de uma alta temperatura para a fixação da manta. Na abertura de vala observamos que o principal risco, foi dentro da refinaria, pois havia tubos desativados enterrados e que não havia sido informada, após a utilização do aparelho destinado a detecção de gás a tubulação foi liberada para a retirada. No abaixamento e cobertura da vala, a nossa grande preocupação era que a força de trabalho não ficasse transpassando os dutos para evitar que estes pudessem sofrer acidentes ou caíssem dentro das valas, para isso a sensibilização nos itens de segurança era muito importante. Na recomposição de pista, todo o solo era preparado para receber sementes e mudas da plantas nativas da região, para que a área utilizada para o traçado fosse recomposta e assim não trazer modificações ambientais para as espécies encontradas na região. Para que o duto fosse monitorado e não apresentasse problemas futuros para os habitantes da região foi montado um sistema supervisório com fibra óptica.

4. A chegada da construção e montagem de dutos na capital do Estado do Amazonas e os principais desafios e dificuldades É importante destacar que antes da construção física da obra na capital do Estado do Amazonas foram realizadas palestras sobre a obra do gasoduto com os moradores do bairro de Mauazinho e áreas vizinhas, com objetivo de esclarecer dúvidas e /ou questionamentos, que surgiram acerca de possíveis explosões, que poderiam ocorrer com a construção do gasoduto.

3 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

O marco das atividades técnicas da obra na zona urbana da cidade de Manaus foi o dia 12 de julho de 2007, quando o consórcio CGA começou o processo de mobilização dos trabalhadores que atuavam em Manacapuru para o desenvolvimento da obra em Manaus. As atividades de construção e montagem de dutos na zona urbana da cidade de Manaus, Estado do Amazonas faz parte do trecho denominado B2, que começa no município de Anamã e prossegue até Manaus, conforme ilustra a Fig. 1 e 2.

Figura 1: Áreas de influência do Gasoduto Urucu/Manaus

Figura 2: Traçado do Trecho B2 (Anamã até Manaus). 4 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

O diferencial de construção de dutos neste trecho é que parte das fases da obra foi realizada no âmbito da Refinaria Isaac Benayon Sabbá, onde tem uma infra-estrutura física de maior risco que merece atenção e cuidados em dobro. É importante destacar aqui que o atendimento das diretrizes de segurança, saúde e meio ambiente e dos aspectos da legislação ambiental também são duplicadas, haja vista que são dois tipos de empreendimentos diferenciados: um que atua com construção de obras de dutos e outro que refinam o Petróleo, transformando em diversos derivados para distribuição ao consumidor. O processo teve como inicio a montagem de uma área de vivência nas extremidades do estacionamento da Vila das Empreiteiras, para dar suporte a construção do traçado do Gasoduto Anamã – Manaus e de uma ERP (Estação de Regulagem de Pressão) e que destinará a térmica de Mauá, onde irá gerar energia para uma parte da capital amazonense. A mão-de-obra especializada em obras de dutos veio de outros estados do Brasil e parte foi aproveitada do município de Manacapuru. A necessidade de mão-de-obra qualificada deve-se principalmente as condições de risco e perigos apresentadas. Para fiscalizar a obra em Manaus foi designado, profissionais de Construção e Montagem de Dutos (CMD) e Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SMS) dedicados exclusivamente para este fim, estes estudaram todas as atividades e as possíveis dificuldades que seriam encontradas para a execução das tarefas. Inicialmente, foram elaborados procedimentos que atendessem a todas as situações emergenciais a fim de se evitar maiores ocorrências de acidentes. Entre os documentos elaborados destaca-se a Análise Preliminar de Risco (APR), que exigiu a participação dos profissionais da Refinaria Isaac Benayon Sabbá, e do Consórcio Gasoduto Amazônia (CGA) responsável pelo trecho B2. Na fase ainda de planejamento as principais dificuldades e desafios foram detectar linhas existentes e desativadas, pois estas armazenam gases que podem trazer riscos de acidentes, o transporte de máquinas e equipamentos, bem como o próprio transporte de tubos até a Refinaria, visto que com a baixa das águas os tubos não poderiam mais ser transportados por balsa, através do rio. Foi necessário buscar alternativas para a realização do transporte dos tubos, que seria via transporte rodoviário, destaca-se aqui que os riscos de segurança passaram a ser maior, em virtude da passagem dos tubos próxima as comunidade. A chegada dos materiais de suprimento da obra no âmbito da Refinaria também exigiu cuidados especiais em segurança e meio ambiente, tendo em vista a presença de um pequeno braço do rio que adentra suas dependências. A medida preventiva foi não interferir no seu fluxo e nem assorear, para que as espécies ali existentes não tivessem o seu meio alterado.

5. Os desafios da atuação de SMS no traçado do Gasoduto

Para o enfrentamento dos desafios de SMS na obra do Gasoduto Urucu/Manaus foi necessário além da equipe de segurança contar com o apoio de várias equipes, principalmente, relacionados a realização de sensibilização e treinamentos no tocante as questões de segurança, inclusive estipulando metas, montando programas para incentivar a força de trabalho a executar suas atividades sem acidentes.

5.1 Logística de transporte Em virtude da região não possuir estradas, o principal meio de transporte ocorreu via fluvial e aérea. Trata-se um típico sistema de grandes rios com amplas planícies adjacentes, submetidas a um ciclo hidrológico previsível, com inundações anuais decorrentes do transbordamento lateral da água do canal principal do rio, em direção à planície inundável, remansos, canais, diques e ilhas (IRION et al. 1997). Pois, no período das cheias podem gerar grandes riscos de acidentes, devido o deslocamento de tronco de árvores, correnteza dos rios e alta velocidade das embarcações, além das condições de riscos que as famílias que moram nestas áreas enfrentam em virtude das condições sociais e econômicas, uma vez que navegam em pequenas embarcações e com um número de pessoas elevadas, em relação à capacidade permitida. Com o intuito de minimizar os acidentes fluviais foram adotados procedimentos que visassem à redução da velocidade das embarcações e a sensibilização e capacitações dos trabalhadores, especialmente dos que dirigem as embarcações, visando à prevenção dos possíveis acidentes que pudessem ocorrer na obra. Mesmo com a realização das atividades sócio-educativas (campanhas de SMS, palestras e treinamentos) junto aos trabalhadores e condutores das embarcações, ainda assim foi necessária uma atenção especial sobre este tema, junto às comunidades, como exemplo, a utilização de veículos equipados com rádios e giroflex que serviram de batedores, no transporte dos materiais e equipamentos do porto até a refinaria, para evitar que outros veículos corressem riscos de acidentes.

5 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

5.2 Comunicação O processo de comunicação na obra do gasoduto ainda é um grande desafio na região, tendo em vista que a presença de uma vasta floresta primária, com árvores de grande porte, que cobre uma área correspondente a 48,8% da superfície total do Brasil, conforme descrito em Deus (2003). Torna-se assim muito difícil o estabelecimento da comunicação, seja via telefone, internet e outros. A única forma de comunicação é com o auxilio de um telefone via satélite denominado de Global Star, que funciona de forma muito precária, pois o clima também influência diretamente neste tipo de comunicação. Hoje o nosso sistema de comunicação nas bases é através de ramal interligado com a sede de apoio localizado na cidade de Manaus.

5.3 Carência de mão de obra qualificada na região A realização da obra do Gasoduto Urucu/Manaus deve empregar cerca de 60% da mão-de-obra local, de acordo com as condicionantes ambientais estabelecidas pelo órgão ambiental do Estado do Amazonas – IPAAM (Instituto de Proteção da Amazônia). Porém, é importante destacar que a geração de trabalho para a população local é caracterizada para serviços de baixa qualificação, em virtude da falta de oportunidade de qualificação e capacitação local. Sendo assim, 40 % da mão-de-obra de alta qualificação são oriundas de outras regiões do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia entre outros). Significa dizer que é necessário investimento na área social das sedes municipais por onde passa a obra, pois IDH (Indicie de Desenvolvimento Humano) e Renda per capita são muito baixas. É importante ressaltar que é preciso pensar em um programa de qualificação da população antes de implantar qualquer projeto de desenvolvimento na região. No entanto, os trabalhadores locais que deveriam estar empregados neste empreendimento de gasoduto foram sub-utilizados em atividade de menor exigência especializada, por conta principalmente do tardio inicio do programa e pelas exigências de adesão ao programa (ter experiência em obras de dutos). Sendo assim, os consórcios responsáveis pela execução da obra tiveram que buscar profissionais de outros estados para iniciar a construção e montagem de dutos. Após um ano de execução do gasoduto foram realizados ajustes nos critérios do programa, que talvez quem conseguir concluir tais cursos podem ser convocados a trabalhar em outras obras de dutos previstas na região. É importante destacar que embora a população local tenha deficiência em relação à qualificação técnica, assim mesmo, tem seus conhecimentos populares que são importantes para o andamento da obra, principalmente, no que diz respeito ao conhecimento da mata, pois levam a força de trabalho da obra nos lugares mais difíceis, em virtude do conhecimento que adquiram ao longo de suas experiência e realidade de vida. A esse respeito, nos remetemos a Elisabetsky (2002), que nos seus estudos ressalta que a ausência de instrução formal não é sinônima de ausência de conhecimento.

5.4 Condições climáticas A região amazônica possui um clima do tipo equatorial, quente e úmido, o que possui características distintas com períodos de seca e chuvas. É um dos locais mais chuvosos do planeta, com índices pluviométricos anuais de mais de 2.000 mm por ano, podendo atingir 10.000 mm em algumas regiões. Durante os meses de chuva, a partir de dezembro, as águas sobem em média 10 metros, podendo atingir 18 metros em algumas áreas. Isso significa que durante metade do tempo, grande parte da planície amazônica fica submersa, caracterizando a maior área de floresta inundada do planeta, cobrindo uma área de 700.000 Km2. Com esses dados foi possível planejar, para que neste período da obra fossem transportando materiais e no período da seca a execução das atividades de construção e montagem. Todas as informações levantadas sobre a região teve um papel muito importante para a execuação de atividades preventivas em relação aos possíveis acidentes que pudessem ocorrem na obra.

6. Indicadores de SMS no trecho B2 do Gasoduto Urucu/ Manaus.

Para atuar corretivamente e preventivamente na segurança do trabalhador da obra do Gasoduto Urucu/Manaus foram utilizadas várias ferramentas para detectar, analisar, documentar e comunicar a existência de riscos nas atividades de construção do gasoduto. Os dados adquiridos com a aplicação das ferramentas de Auditoria Comportamental e Índice de Práticas Seguras foram e continuam sendo consolidados em uma planilha que serve de análise da epidemiologia dos desvios, visando indicar os principais problemas em SMS.

6.1 Auditoria Comportamental A auditoria comportamental é uma ferramenta que indica as CAUSAS FUNDAMENTAIS passíveis de desencadear um acidente. Serve para indicar, registrar e quantificar o número de desvios diretamente ligados ao comportamento, como: reação das pessoas, organização no ambiente de trabalho, uso de ferramentas e equipamentos, procedimentos, entre outros. É uma atividade de rotina da equipe da fiscalização que atua diretamente na obra com o 6 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

objetivo de identificar e atuar proativamente nas situações de insegurança, visando acidente zero, meta principal em SMS. A prática de auditorias comportamentais tem levado essa equipe a um contato direto, e sem precedentes, com a força de trabalho.

6.2 Lista de Verificação/ Salv web A Lista de Verificação é uma ferramenta, que através da composição de perguntas objetivas, possibilita a identificação de não-conformidades. É aplicada nas frentes de serviço pelo corpo técnico da fiscalização da obra, visando também corrigir os desvios encontrados. Após a aplicação da LV os dados são lançados no Sistema SALV Web que serve para registrar, documentar e monitorar o cumprimento ou não da correção dos itens identificados. Itens legais que precisam ser atendidos pelas empresas contratadas do Sistema Petrobras.

6.3 Índice de Práticas Seguras Índice de Práticas Seguras é uma ferramenta de identificação de desvios na execução de tarefas, que permite relacionar a quantidade de desvios observados, com a probabilidade desses desvios levarem a acidentes. Medir, através de um indicador percentual, a tendência de uso de práticas seguras na execução de tarefas. O IPS é realizado pelos profissionais de SMS da fiscalização, onde as áreas devem ser divididas para fins dessa auditoria, em rotas de observação ou percursos que possam ser percorridas em aproximadamente 1 hora. Esta divisão deverá cobrir todas as áreas do empreendimento da unidade. Tão logo o auditor de IPS tenha consolidado os dados e gerado o Índice de Práticas Seguras – IPS, recomenda-se disponibilizar a planilha com a descrição dos desvios (em geral um arquivo Excel) para consulta de todos, principalmente das gerências aditadas. Desta forma, pode-se avaliar quais os tipos de desvios estão contribuindo para um eventual IPS baixo, as reincidências, em que circunstâncias ocorrem, etc. É importante destacar que além das ferramentas utilizadas foi necessário adequar os procedimentos para cada atividade de risco detectada, nos Dialogo Diário Segurança (DDS), realizado diariamente nas frentes de serviços da obra. A cada identificação de possíveis problemas entrava em ação a realização da Análise Preliminar de Riscos (APR). Aqui a fiscalização Petrobras juntamente com a equipe de SMS da contratada e o executante da tarefa, fazia a Análise de Segurança da Tarefa (AST) com o intuito de detectar possíveis situações de risco que colocasse o trabalhador em situação de risco, até que a operação estivesse completa. Nas situações de dúvidas a equipe de SMS dos consórcios solicitada à presença da Fiscalização para que está também pudesse avaliar o risco a assim trabalhar em parceria, com vista a evitar que acidentes acontecessem na construção deste traçado do Gasoduto. É importante destacar aqui que tais momentos serviam como espaço de compartilhar os problemas, buscar e executar previamente ações de corretivas e principalmente preventivas. Conforme demonstra a figura 03 as rotas de IPS e na figura 04 os AUDICOMP que são dados analisados e em seguida trabalhamos para solucionar as situações de riscos e desvios.

CMD ANMA MÊS CONTRATADA ROTA N.º P.O N.º D PESO S (QxP) H. IPS CAT. SUBCAT. DATA AUDITORES Janeiro CGA 5 72 7 0,3 2,1 01:00 E E3 11/1/2208 Alberto/Annie/M Fevereiro CGA 6 30 4 0,3 1,2 01:00 E E3 28/2/2008 Aberto/Xaud Março CGA Porto Frazã 17 2 0,3 01:10 C C5 11/3/2008 Silvana/Walter Abril CGA Canteiro Ca 30 2 0,3 0,6 01:30 c c1 28/4/2008 Ismael/Kurt Maio CGA CL 29 e Po 6021201:00bb111/5/2008Annie e Walter 10,30,3 cc4 2 0,3 0,6 b b3 111 bb3 20,30,6 cc5 1 0,3 0,3 a a3 2 0,3 0,6 b b1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Total 0 60 11 3,5 5,4 1:00 IPS 91,00 0

Figura 3: Indicadores de SMS rotas de IPS de Janeiro a Maio 2008 7 Rio Oil & Gas Expo and Conference 2008

Figura 4: Indicadores de SMS Auditoria Comportamental de Janeiro a Maio 2008

7. Considerações Finais Para a realização da obra do Gasoduto Urucu/Manaus foram realizados vários estudos e levantamentos técnicos que serviram para identificar as condições sociais, ambientais, culturais e econômicas. No entanto, o saber da população que mora na área de influência dessa obra foi de fundamental importância para o acompanhamento técnico da equipe especializada que durante os estudos teve informações significativas, principalmente do ponto de vista da segurança. Apesar de todos os problemas e dificuldades contidas neste trabalho o maior desafio da equipe de segurança da obra é sensibilizar a força de trabalho da região, no intuito de evitar acidentes na obra, pois requer atuar rotineiramente na mudança de comportamento e atitudes. Pois, os desvios identificados estão relacionados principalmente a falta de uso de equipamentos de segurança, atendimento aos procedimentos, entre outros itens que devem ser atendidos.

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PETROBRAS , Cadernos Petrobras – Histórico da Construção do Gasoduto Urucu/ Manaus – Amazônia a Caminho da Energia no Coração da Floresta. 02-65 p.

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