01

Construindo possibilidades de inclusão social: uma proposta de ensino remoto de história sobre os(as) afro- brasileiros(as) e sua cultura a partir de pesquisas no museu virtual Afro Brasil

Elivaldo Conceição Pereira UFMA

10.37885/210303655 RESUMO

O presente trabalho apresenta uma proposta de ensino sobre a cultura afro-brasileira a partir de pesquisas bibliográfica sobre personalidades afro-brasileiras disponíveis em exposição no museu virtual AfroBrasil. Esta proposta foi desenvolvida na escola munici- pal UEB Saraiva Filho, vinculada à rede de ensino da Secretária Municipal de Educação de São Luís – MA. Os(as) alunos(as) envolvidos(as) são integrantes da turma do nono (9º) ano do ensino fundamental – anos finais. Vale esclarecer que todas as atividades aconteceram de forma remota, por meio das plataformas eletrônicas, debatendo a pro- blematização sobre a falta de amparo do estado brasileiro após 1888 aos recém libertos e seus descendentes. Assim, objetivando identificar suas estratégias de sobrevivência e valorização de sua cultura propomos aos alunos e alunas a realização desta pesquisa sobre as personalidades afro- brasileiras, ao mesmo tempo em que refletíamos sobre os museus como um importante lugar de memória. Os(as) alunos(as) usaram como metodo- logia uma pesquisa virtual no museu AfroBrasil sobre personalidades negras que nasce- ram entre 1889 a 1945. Reflete sobre os museus como um importante lugar de memória.

Palavras-chave: Ensino de História, Afro-Brasileiro(a), Museu.

17

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces INTRODUÇÃO

A população afro-brasileira sempre enfrentou dificuldade quando se trata de inclusão social, principalmente no que se refere aos aspectos relacionados ao trabalho e à educação. Sabemos que o Estado brasileiro, após a Abolição em 1888, não levou em consideração tais aspectos quando se tratou dos recém libertos e seus familiares. Somando-se a isso, devemos lembrar que os aspectos relacionados à cultura afro-brasileira sempre tiveram dificuldades para ganhar visibilidades e aceitação na sociedade brasileira, sempre sofren- do discriminações, preconceitos e outros negativismos. Nesse sentido, esses fatores têm marcado historicamente os (as) negros (as) e sua cultura, porém medidas no sentido de descontruir esses negativismos ainda são muito tímidas. Em contrapartida, os grupos os envolvidos com o Movimento Negro têm buscado formas de enfrentar as construções negativas sobre os afro-brasileiros e sua cultura. Esse enfrenta- mento não pode ser uma luta somente desses grupos, mas de toda a sociedade brasileira. Assim, a escola, devido à importância social que desempenha como uma instituição formadora dos cidadãos, tem por obrigação abraçar essa causa. Além disso, uma das rei- vindicações do Movimento Negro era que fosse incluído nos currículos escolares o ensino da cultura afro-brasileira e dos africanos. Essa reivindicação se tornou exigência legal a partir da Lei nº. 10.639/03, alterada em 2008 pela Lei nº 11.645 que tornou obrigatórios o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todas as escolas públicas e privadas da educação básica no Brasil. Nessa perspectiva, o presente trabalho apresenta uma proposta de ensino sobre a cultura afro-bra- sileira a partir de pesquisa documental-bibliográfica sobre personalidades afro-brasileiras, disponíveis na exposição História e Memória, no museu Afro Brasil, em sua versão virtual. A partir das reflexões sobre a falta de amparo aos recém libertos e seus descenden- tes, por parte do estado republicano brasileiro, problematizamos sobre que alternativas eles e seus familiares teriam encontrados para sobreviver. Assim, objetivando identificar suas estratégias de sobrevivência e valorização de sua cultura, propomos aos alunos e alunas a realização desta pesquisa sobre as personalidades afro-brasileiras, ao mesmo tempo em que refletíamos sobre os museus como um importante lugar de memória. O recorte temporal da pesquisa correspondeu ao início da Primeira República (1889) ao final da Era Vargas, 1945.

18

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces AFRO BRASILEIROS(AS), CULTURA AFRO BRASILEIRA E O ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DOS LUGARES DE MEMÓRIAS: O MUSEU VIRTUAL

Quando se pensa em um estudo que envolva as questões sobre os(as) afro brasi- leiros(as) e a sua cultura, é necessária uma abordagem que considere as formas de pre- conceitos construídas historicamente que os(as) negativaram, ao longo do tempo. Nessa perspectiva, devemos considerar que as formas de representações dos negros e negras em pinturas, filmes, exposições, textos, entre outros, foram construídas cheias de este- reótipos. Dessa forma, Chartier, (2002, p. 17), observa que “As representações do mundo social assim construída [...] são sempre determinadas por grupos sociais que as forjam”. Nessa mesma linha, essas construções negativas sobre os(as) negros(as) também estão presentes na escola. A escola, contudo, como um espaço de ensino e aprendizagem, deve ser um local de formação de consciência crítica e de desconstrução de preconceitos e estereótipos há muito arraigados na mentalidade da sociedade brasileira. Por meio de diferentes estraté- gias, a escola deve combater os negativos com relação aos afro-brasileiros e sua cultura. (MUNANGA, 2005). É nesse sentido que lei 10.639/2003 foi pioneira em criar a obrigatorie- dade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, nas escolas. Conforme Gomes (2012, p. 105), essa legislação “[...] abre caminhos para a construção de uma educação anti-racista que acarreta uma ruptura epistemológica e curricular, na medida em que torna público e legítimo o ‘falar’ sobre a questão afro-brasileira e africana”. Assim, professores (as) devem pensar estratégias de ensino no sentido de trazer para sala de aula temas relacionados aos afro-brasileiros e sua cultura. Essas estratégias devem considerar, portanto, os lugares de memória onde se preserva a história dos(as) negros(as), como importantes espaços de aprendizagens. Compreendemos como lugares de memória variados espaços como arquivos, museus, monumentos, asso- ciações, entre outros, e “os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea”, (NORA, 1993, p.13). Logo, esses lugares devem ser compreendidos como espaços cheios de intencionalidades, pois “[...] naturalizam formas de ver o mundo, que legitimam, hierarquizam e ordenam culturas e identidades [...]”, segundo as autoras Machado e Zubaran, (2013 p. 94), ao analisarem os museus. Essas instituições têm se destacado como um importante espaço educativo em função dos objetos preservados em seu interior e dos projetos pedagógicos que nelas são desen- volvidos. Cada vez mais professores (as) têm dialogado com os museus no sentido de ino- var suas metodologias de ensino aprendizagens e, ao mesmo tempo, procuram despertar

18 19

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces nos alunos, o senso de preservação e respeito pelo patrimônio cultural material e imaterial preservados nessas instituições, (BITTENCOURT, 2008). Do ponto de vista de uma educação que considere os afro brasileiros e sua cultura a partir das memórias preservadas nos museus, algumas autoras têm apontado para uma nova concepção de museu que reescreve a memória dos (as) afro-brasileiros (as) a ser preservada nesses espaços. Nessas abordagens, tal perspectiva vem desconstruindo as tradicionais formas de exposição que priorizavam aspectos relacionados à escravidão e que criavam estereótipos sobre a capacidade intelectual dos negros, (SANTOS, 2004), (MACHADO; ZUBARAN 2013). O museu como uma instituição histórica também se refaz ao longo do tempo, tanto nas suas formas de expor o passado como nas suas estruturas. É nesse sentido, portanto, que o ambiente dessas instituições tem passado por diferen- tes configurações ao longo do tempo e atualmente a criação de interface museológica é uma inovação recente por qual ele vem passando, ganhando características de museus virtuais (OLIVEIRA, 2007). O museu virtual é aquele que apresenta “[...] ausência de materialidade, não tem público, mas visitantes que o acessam individualmente, de qualquer lugar do plane- ta, desde que diante de um dispositivo conectado à internet”, segundo Janh, (2016, p. 34). Nesse novo cenário museológico, o ensino de história deve inserir nas suas propos- tas metodológicas as possibilidades oferecidas pelas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), inclusive as exposições virtuais apresentadas pelos museus.

é que este campo de estudo é um dos mais adequados para a incorporação destes recursos no processo pedagógico, uma vez que o mesmo dá conta do acervo das civilizações fundadoras, das manifestações artísticas e literárias, da evolução do pensamento, da construção social da realidade com seu vasto legado de mistérios, símbolos, imagens e sons a ser explorado e que está crescentemente sendo digitalizado. (SILVA, 2012, p. 08).

Assim, o professor de história deve compreender a crescente digitalização desses obje- tos e o potencial de seus alunos em lidar com ferramentas tecnológicas, como uma excelente oportunidade para inovar seus procedimentos de ensino aprendizagem. Além disso, essa inovação metodológica possibilita aos estudantes uma maior autonomia enquanto constru- tores de suas aprendizagens, sem deixar de levar em consideração uma problematização sobre essas formas midiáticas de aprendizagens, no sentido de desenvolver um senso crítico nos alunos e alunas.

20

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces APONTAMENTOS METODOLÓGICOS: AULAS REMOTAS E PESQUISA VIRTUAL

Esta proposta de ensino foi desenvolvida com os alunos do nono (9º) ano dos anos finais do ensino fundamental da UEB Saraiva Filho, vinculada a Secretária Municipal de Educação de São Luís – Maranhão. O lugar de memória escolhido para a realização da pesquisa foi o Museu Afro Brasil (MAB), inaugurado em 20 de junho de 2003, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, (SANTOS, 2004). A pesquisa foi realizada na versão virtual desse museu. Os alunos realizaram as atividades por meio de pesquisa documental-biblio- gráfica sobre diferentes personalidades afro-brasileiras na exposição chamada de História e Memória do referido museu. Iniciamos as ações desta proposta a partir do estudo do tema Movimentos sociais: negros, indígenas e mulheres, capítulo quarto do livro de História, (BOULOS JÚNIOR, 2018). O referido capítulo faz uma abordagem inicial sobre a exclusão social dos(as) ne- gros(as) destacando as dificuldades que eles(ela) encontraram para sobreviver após a aboli- ção em 1888 até o final da Era Vargas (1945). Todos os procedimentos foram realizados de forma remota por meio do whatssapp, das plataformas Google Meet e Google Classroom e pelo site do Museu Afro Brasil. Usamos ainda o Youtube, onde encontra-se publicado o vídeo intitulado Museu Afro Brasil, que remonta a história do negro no País, (SÃO PAULO, 2015). Em seguida, por meio de aula expositiva-dialogada pelo Google meet e com apoio de slides do power point, apresentamos a proposta aos alunos e problematizamos o tema. Objetivando mobilizar e sensibilizar os(as) alunos(as) em torno do assunto, analisamos um fragmento do texto Trabalhadores livres e escravos, (CORD; SOUZA, 2018). No sentido de mostrar aos(às) alunos(as) a importância do museu como um lugar de memória e de conhe- cimento e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão crítica sobre a política de preservação de objetos adotadas pelos museus, apresentamos a eles(elas) fragmentos do texto das autoras Machado e Zubaran (2013). Após isso, exibimos o vídeo intitulado Museu Afro Brasil remonta a história do negro no País, (SÃO PAULO, 2015). Nesse vídeo, por meio da explicação do Diretor e curador desse museu, Emanoel Araújo, eles(elas) puderam perceber qual era o objetivo e como estava organizado o MAB. Apresentamos ainda aos alunos o site do Museu, onde fizemos uma exploração pre- liminar pelas exposições virtuais ali presentes. A partir dessas ações, os alunos e alunas, divididos em duplas, começaram as pesquisas. As atividades das duplas foram divididas em quatro etapas: a pesquisa, a realização do trabalho escrito, postagem no mural da sala do Google Classroom e apresentação pelo Google meet. Na apresentação, algumas duplas foram além das informações expostas nas atividades, inclusive utilizaram-se de outras fontes, como músicas e textos sobre algumas personalidades apresentadas. 20 21

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces IDENTIFICANDO ESTRATÉGIAS DE INCLUSÃO SOCIAL A PARTIR DE PESQUISAS SOBRE PERSONALIDADES AFRO-BRASILEIRAS

A turma do nono ano é constituída por 32 alunos (as), mas somente dezoito têm par- ticipado das aulas remotas. A partir de um roteiro que elaboramos, eles coletaram informa- ções e o preencheram. O roteiro foi dividido em duas partes, sendo a primeira destinada ao preenchimento sobre as duas personalidades negras escolhidas pela dupla, na segunda parte deveria ser preenchido informações sobre o museu, inclusive como eles(as) viam esse lugar de memória. A exposição História e Memória apresenta vinte e sete personalidades afro-brasileiras. Indicamos para a pesquisa apenas vinte, em função de estarem mais diretamente relacio- nadas ao período entre 1889 a 1945, por terem nascidas um pouco antes da Abolição ou a partir de 1888. Assim, apresentamos aos alunos as seguintes personalidades: Abigail Moura, Benjamim de Oliveira, Camafeu de Oxóssi, , , Dona Zica, , , , Jamelão, João Cândido, Lima Barreto, Mãe Menininha, Mercedes Baptista, Milton Almeida dos Santos, Nilo Peçanha, Otávio Araújo, , e . Dos (as) dezoitos alunos(as) que participam das aulas pelo google meet, dezesseis formaram duplas, aqui identificados pelos números que atribuímos às duplas. A tabela abaixo apresenta a escolha das respectivas duplas:

Tabela 1. Personalidades afro-brasileiras escolhidas pelas duplas.

Duplas Personalidades escolhidas

01 Ruth Pinto de Souza, Agenor de Oliveira (Cartola)

02 Agenor de Oliveira (Cartola), Euzélia Silva (Dona Zica)

03 Sebastião Bernardes (Grande Otelo), Ápio Patrocínio da Conceição (Camafeu Oxóssi)

04 Clementina de Jesus, Solano Trindade

05 Clementina de Jesus, Nilo Peçanha

06 João Cândido (Almirante Negro), Alfredo Rocha Viana Filho (Pixinguinha)

07 Mercedes Ignácia da Silva Krieger; Maria Escolástica da Conceição (Mãe Menininha)

08 Ruth Pinto de Souza, Clementina de Jesus Fonte: Autoria própria

Na exposição História e Memória, existe uma foto da maioria das personalidades e um texto bibliográfico sobre todas elas. Os (as) alunos (as) fizeram suas escolhas a partir da história daquelas que eles (elas) acharam mais relevantes. Em alguns casos, as escolhas coincidiram como foi o caso de Clementina de Jesus, escolhida três vezes, Ruth Pinto de Souza e Agenor de Oliveira, o Cartola, que foram escolhidos duas vezes. 22

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces As questões elaboradas além de perguntar sobre o nome de registro da personalidade, alcunha, local e data de nascimento, investigava ainda sobre as atividades desenvolvidas por elas desde a infância até a vida profissional. Assim, a Tabela 2 apresenta as atividades desenvolvidas por essas personalidades que foram identificadas pelos(as) alunos(as).

Tabela 2. Atividades desempenhadas pelas personalidades afro-brasileiras.

Personalidades Atividades exercidas Profissão

Clementina de Jesus Lavadora e empregada doméstica cantora Cantor e compo- Agenor de Oliveira (Cartola) Tipógrafo, construção civil sitor Desde criança estimulada a ser Ruth Pinto de Souza Atriz atriz Exerceu várias atividades ligadas Ator, cantor, com- Sebastião Bernardes (Grande Otelo) a arte positor Comerciante, músi- Ápio Patrocínio da Conceição (Camafeu Oxóssi) Engraxate, vendedor de jornal, fundição co e cantor Cozinheira, vendedora de Sambista e Euzélia Silva (Dona Zica) marmitas atriz Sempre exerceu atividades Solano Trindade Poeta, pintor ligadas a poesia Estudante, jornalista, advocacia, Nilo Peçanha advogado político João Cândido (Almirante Negro), Marinheiro, estivador marinheiro Desde cedo exerceu atividades ligado à música: Compositor e Alfredo Rocha Viana Filho (Pixinguinha) flautista, músico saxofonista Trabalhou como bilheteira de Bailarina e coreó- Mercedes Ignácia da Silva Krieger; cinema grafa Maria Escolástica da Conceição Costureira, bordadeira, quituteira Mãe de santo (Mãe Menininha) Fonte: Autoria própria

A coluna “Atividades exercidas” se refere às atividades que as personalidades exerciam desde a infância até serem consagradas em uma profissão. Muitas delas, mesmo depois de se definirem por uma profissão, ainda continuavam exercendo atividades que aprenderam quando adolescentes, principalmente. É possível percebermos uma variedade de atividades, como trabalhos domésticos, construção civil, serviços gráficos, vendas, artesanais, entre outras. Na definição de sua profissão, muitas delas foram influenciadas pelo convívio familiar, principalmente as que desenvolveram habilidades musicais, onde muitas produções estavam relacionadas com a cultura afro-brasileira, como o , a dança do jongo e as congadas. Algumas personalidades ainda quebraram barreiras preconceituosas e enveredaram pela arte cênica (atrizes e atores), pela dança e pintura. Outras personalidades exerceram atividades no campo da poesia, religião, marinha, comércio, política, advocacia e jornalismo. Raríssimos casos conseguiam trabalhar em atividades que necessitavam de um conhecimen- to intelectual a partir da educação escolar. Percebemos, todavia, nas respostas das duplas que apenas três componentes já tinham ouvido falar de algumas dessas personalidades: 22 23

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces Cartola, João Cândido e a bailarina Mercedez Ignácia. Isso evidencia a limitação de conteú- dos relacionados aos(às) afro brasileiros(as) e sua cultura na escola. Quando buscamos compreender sobre como os(as) alunos(as) viam o museu como espaço de conhecimento e lugar de memória eles apresentaram a seguintes respostas:

Tabela 3. Olhares dos(as) alunos(as) sobre a importância dos museus

Duplas Importância do museu como lugar de memória e conhecimento

02 O museu é como espaço de conhecimento, que podemos aprender as coisas antepassados

O museu é importantíssimo para a nossa história, saber quais foram os grandes feitos dos nossos antepassados, 03 além do museu servir como uma forma de mostrar a perspectiva africana na formação do patrimônio e de pres- tigiar a nossa história afro-brasileira. A importância do museu como espaço de conhecimento é que podemos descobrir e ver coisas sobre o nosso 04 passado, coisas históricas que até mesmo não sabíamos além da preservação de várias culturas e instrumentos importantes para o nosso patrimônio cultural e material. É importante para não esquecer da nossa história e as pessoas que foram fundamentais para nossa história. Por 05 isso que os museus guardam esses fatos para lembrar o povo brasileiro do nosso passado. é inegável e de fundamental importância que promove o conhecimento, valorização e apresentação da arte, 06 história e da memória cultural brasileira e a presença dos indígenas afro-brasileiros. O Museu é importante pois nos proporciona a oportunidade de conhecer a História. Possibilitando aos interessados a partir de pesquisas e visitas, observar objetos e documentos, o que se torna mais interessante e de certa forma 07 mais emocionante pois desperta a curiosidade do estudante ou pesquisador. Por isso é importante ter o Museu, não só como fonte de pesquisa, mas também como um lugar onde está guardando objetos e História do passado.

08 E importante para as pessoas não se esquecerem do passado do povo brasileiro.

Fonte: Autoria própria

A dupla 01 ficou sem responder essa questão. Embora algumas respostas sejam bem simples, a maior parte das duplas reconhecem a importância do museu como lugar de me- mória por preservar a história do “povo brasileiro” e para “aprender coisas sobre o passado”. Algumas foram mais além, apontaram outros aspectos, como foi o caso da dupla 03 quando justifica a importância do museu, “como uma forma de mostrar a perspectiva africana na formação do patrimônio e de prestigiar a nossa história afro-brasileira.” A dupla 06 afirma que “é inegável” a “importância que promove o conhecimento, valorização e apresentação da arte, história e da memória cultural brasileira” numa perspectiva onde é valorizada a cultura afro-brasileira e indígenas. A dupla 07 destaca que os museus “nos proporcionam a oportunidade de conhecer a História’ e é um lugar de pesquisa e visita, mas que nos possibilita “observar objetos e documentos”. Na visão da dupla, esses objetos em exposição nos despertam emoções e isso nos provoca um interesse pelo conhecimento e pela pesquisa. E assim a dupla conclui destacando o museu com espaço “de pesquisa mas também como um lugar onde está guardando objetos e História do passado.” Neste caso, a dupla consegue relacionar vários aspectos sobre aos museus dialogando com o texto e o vídeo sobre museu que foi apresentado na aula. 24

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos considerar que os resultados objetivados por nós nesta proposta foram al- cançados, pois as duplas conseguiram identificar as estratégias de sobrevivência que os negros encontraram para sobreviver após a Abolição. Essas alternativas sempre estavam relacionadas ao desenvolvimento e preservação da cultura afro-brasileira. Além disso, em- bora de forma diferenciada, os alunos e alunas desenvolveram uma compreensão sobre o papel do museu como importante lugar de memória e de conhecimento. Devemos considerar, contudo, que olhares diferentes sobre o significado dos museus como lugar de memória e espaço de conhecimento devem ser valorizados por representar a subjetividade dos alunos e alunas e uma reflexão, para nós, sobre a forma como eles (elas) aprendem. Quando comparamos, nessa via, os resultados das pesquisas das duplas com o Capítulo Quatro do livro de História trabalhado, percebemos que as informações se assemelham, em muitos casos. Ambos apontam a exclusão social dos ex-escravos e seus descendentes, onde a maior parte dos seus trabalhos eram os “bicos”, muitos relacionados com a cultura afro brasileira. Porém, as pesquisas dos alunos e alunas ampliam o nosso olhar sobre a relação trabalho e cultura afro-brasileira entre 1889 a 1945. Dessa forma, as possibilidades de trabalho dos afro-brasileiros contribuíam para a sobrevivência dessas pessoas, ao mesmo tempo em que elas desenvolviam um novo refe- rencial cultural brasileiro por meio das heranças dos (as) africanos(as) escravizados(as) no Brasil. Consideramos essa proposta uma metodologia muito boa, que como toda inovação, precisa de alguns ajustes, mas, por outro lado, uma excelente experiência para nós, enquanto docente e para eles e elas, enquanto discentes.

FINANCIAMENTO

Este artigo faz parte de pesquisas financiadas pela CAPES, para a dissertação em programa de mestrado ProfHistória – UFMA.

REFERÊNCIAS

1. BOULOS JÚNIOR. Alfredo. História sociedade e cidadania. 9º ano: ensino fundamental: anos finais. - 4ª ed. – São Paulo: 2018.

2. BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. – 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.

3. CHARTIER, Roger. A História Cultural entre prática e representações. 2ed.Algés- Portugal: Difel, 2002. 24 25

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces 4. CORD, Marcelo M.; SOUZA, Robério S. Trabalhadores livres e escravos. In: SCWACZ, Lilia Moritz; GOMES, Flávio (Org.) Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

5. GOMES, Nilma Lino. Relações étnico-raciais, educação e descolonização dos currículos. In Currículo sem Fronteiras, v.12, n.1, pp. 98-109, Jan/Abr 2012, Disponível em: Acesso em 08, set. 2020.

6. JAHN, Alena Rizi Marmo. O museu que nunca fecha: a exposição virtual digital como um programa de ação educativa. (Tese. 314 páginas). São Paulo: USP, 2016. Disponível em: Acesso, 10, out., 2020.

7. MACHADO, Lisandra Maria Rodrigues; ZUBARAN, Maria Angélica. O que se expõe e o que se ensina: representações do negro nos museus do rio grande do sul. Momento, ISSN 0102- 2717, v. 22, n. 1, p. 91-122, jan./jun. 2013. Disponível em Acesso em 06, set. 2020.

8. MUNANGA, Kabengele. (org.) Superando o Racismo na Escola. 2ª edição revisada – [Brasí- lia]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

9. NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Revista Projeto História. São Paulo: Departamento de História de Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC-SP, no.10, 1993, pp. 07-28. Disponível em Acesso em 06, set, 2020.

10. OLIVEIRA, José Cláudio. O museu digital: uma metáfora do concreto ao digital. Comunica- ção e Sociedade, vol. 12, 2007, pp. 147-161. Disponível em: Acesso em 15, out., 2020.

11. SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Entre o tronco e os Atabaques: a representação do negro nos Museus Brasileiros. Colóquio Internacional: Projeto UNESCO: 50 anos depois. Janeiro de 2004.

12. SÃO PAULO. Governo do Estado de. Museu Afro Brasil, (MAB). Disponível em: Acesso em 09, set, 2020.

13. ______. Museu Afro Brasil remonta a história do negro no país. 2015. Disponível em: Acesso em 09, set, 2020.

14. SILVA, Marco. Ensino de história e novas tecnologias. Universidade Federal de Sergipe, 2012. Disponível em: . Acesso em 15, out., 2020.

26

Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces