MASSACRES em

15 a 17 de Março de 1961 – Norte de Angola

No dia 15 de Março de 1961, Holden Roberto estava na ONU, em Nova Iorque, onde se discutia o fim do colonialismo português. Ao mesmo tempo, a raiva dos revoltosos, embriagados no fanatismo dos feiticeiros e acirrados por alguns missionários oriundos de países mais colonizadores e usurpadores dos bens do território angolano, espalhou-se pelas fazendas e administrações do norte de Angola como uma onda devastadora e mortífera para muitos brancos e milhares de pretos que trabalhavam nas fazendas e roças do café, aliados no desenvolvimento de Angola.

Foram três dias de atrocidades e de barbaridades terroristas. Surpreendidos pela bestialidade dos ataques, os brancos serviram-se das suas armas caçadeiras para fazerem frente aos terroristas.

Em todas as povoações e sanzalas do Bengo, Uíge, Inga-Caipenda e Ambuila, os indícios de que algo estava para acontecer eram evidentes. O centro operacional da UPA estava em Nova Caipenda-Ambuila.

O dia da matança foi designado “o casamento da filha do Nogueira”.

A destruição das pontes tinha o código de: “pintar bem todas as pontes”.

O principal responsável por esta matança é o dirigente da UPA (União das Populações de Angola) HOLDEN ROBERTO, que estudou com os missionários protestantes ingleses. Nasceu em S. Salvador do Congo, em 1924. Apoiado por diversas organizações congolesas e americanas, fomentou e colaborou na organização da mais selvática acção violenta contra os portugueses e pretos bailundos do norte de Angola, especialmente devastadora nos dias 15 a 17 de Março de 1961. Para desenvolver a guerrilha recebeu muitas ajudas das igrejas e dos serviços de apoio americanos. A principal etnia a que pertencem os terroristas da UPA são Bacongos (norte).

Os colonos eram tão bacocos que nem se aperceberam que o inimigo se preparava nas suas barbas, fazia propaganda e o recrutamento em todas as sanzalas. A ideia de que eram donos de tudo quanto a vista cobria foi o desígnio da sua tragédia. Embora alguns putos bailundos brincassem com os filhos dos fazendeiros e colonos, a propaganda do inimigo era bem visível, para quem estivesse mais atento... e alguns tomaram precauções! Tal como os brancos, os bailundos também foram atingidos, sendo cortados nas serras das serrações de madeira onde trabalhavam. Nunca se soube ao certo o número de mortos, mas calcula-se que foram mais de mil brancos e cerca de seis mil negros bailundos.

Os canhangulos e catanas nas mãos dos enraivecidos, que se julgavam invencíveis, aniquilaram vidas, decapitando, esventrando e desmembrando os corpos. Acreditaram na mágica palavra “maza” (água) que os tornavam imunes às balas dos sitiados brancos, espalhando o terror durante três dias, com mais incidência na região dos , de até e até às povoações fronteiriças do norte com o ex-Congo Belga.

Nas semanas seguintes, à medida que a tropa e a polícia tomavam posições estratégicas, os civis formaram Corpos de Voluntários e, em conjugação com as forças militares, avançaram para o contra-ataque e a cólera levou à chacina de parte das populações que ficaram nas aldeias, muitas delas inocentes, tendo morrido mais de dois mil pretos do norte - Bacongos.

Entretanto, os refugiados afluíam a Luanda, aproveitando todos os meios de transporte para o fazerem. Ainda em Luanda havia lutas encarniçadas de retaliação, sendo visível a brutalidade da matança; para quem passasse pela baixa logo de manhã, o espectáculo era desolador: vários camiões civis e militares a recolher os cadáveres de centenas de mortos resultantes das refregas traiçoeiras da noite anterior. Isto aconteceu durante várias semanas até que o perigo do terrorismo foi afastado para longe de Luanda.

Como se veio a confirmar meses mais tarde, os rios Úcua, Dange, Lifunde, Onzo, Loge e Bridge acolheram nos seus vales muitos refugiados e terroristas, nas matas e nas florestas até , Dange, , Nambuangongo, Songo, Quitexe e Lucunga-Quibocolo.

FACTOS e DATAS DO INICIO DA GUERRA EM ANGOLA

- 4 de Fevereiro 1961, assalto à esquadra da PSP de Luanda, com a morte de alguns polícias e linchamento de alguns assaltantes.

- 15 de Março de 1961, massacre organizado pela União das Populações de Angola (de Holden Roberto), onde foram mortos e mutilados alguns milhares de colonos brancos e empregados negros, nas fazendas do café, zonas dos Dembos, Negage, Úcua, Nambuangongo.

As autoridades perderam o controlo das vias de comunicação para toda a zona norte, onde foram destruídas pontes, obstruídas as estradas com derrube de árvores e abertura de valas.

Quando em Abril e meses seguintes de 1961, as tropas especiais começaram a reconquistar povoações e fazendas, como Bembe, Maria Teresa, Quicabo, Canda, Quipedro, Nambuangongo, Sacandica, Madimba, Maquela do Zombo, 31 de Janeiro, Songo, Toto, constatou-se que o empenhamento das missões religiosas protestantes teve um grande peso na orgânica e no engajamento de indígenas para a rebelião, já que os diversos documentos encontrados nos locais das missões demonstravam a conivência entre os missionários oriundos de países como os Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra e Países nórdicos, bastante próximos dos dirigentes da UPA, cuja sede é no Congo Belga. Firam encontradas fotografias em Madimba e Buela, onde estavam alguns dirigentes da UPA em festas religiosas e na sede de Leopoldeville.

- Em 13 de Abril de 1961, embarque do 1º contingente de tropas para Angola no navio NIASSA.

- A 19 de Abril de 1961, embarcaram no avião da TAP os primeiros pelotões de pára-queditas para Angola. Outros que estavam em Lourenço Marques deslocam-se para Angola.

- Em 18 de Junho de 1961, o Ten-Coronel Armando Maçanita, comandante do Batalhão 96, dá início à “operação Viriato”, destinada a abrir caminho até Nambuangongo e lá instalar um Batalhão do Exército, com máquinas de engenharia, artilharia, atiradores, telegrafistas e enfermeiros.

TOMADA DE NAMBUANGONGO

- Desde 10 de Julho que saíram de Luanda, percorrendo um longo caminho e em 9 de Agosto, o Batalhão de caçadores nº. 96, comandado pelo tenente-coronel Armando Maçanita fazendo parte da “operação Viriato” chega a Nambuangongo, onde se instala. É hasteada a bandeira portuguesa na igreja da povoação, cuja torre está bastante danificada e apenas o alpendre que cobre a entrada está mais direito. A povoação, situada num planalto, estava deserta. Nos últimos 100 quilómetros, este batalhão teve vários reveses, desde Quitexe, passando pela ponte, que teve de ser reconstruída sobre o rio Danje, no profundo vale do rio Luica, cuja pequena ponte foi reparada, enfrentou as árvores tombadas da basta vegetação que marginava a picada, sofrendo ataques às portas de Mucando e em Quincuzo; após Muxaluando sofre novos ataques nas proximidades do rio Onzo mas entra em Nambuangongo, a meio da tarde, e toma conta da povoação. A 16 de Setembro de 1961, depois de várias tentativas do Exército e vários mortos e feridos, é tomada a “Pedra Verde”, zona de íngremes subidas, morros escarpados e esconderijos nas grutas perigosas.

Dezembro de 1961

ABRIR CAMINHO - Os bravos condutores

Depois das máquinas derrubarem árvores e endireitar picadas, os homens do exército passavam dias e semanas a limpar as margens dos caminhos que permitiam passar com maior segurança para reabastecimento das localidades e tropas aí estacionadas. É um trabalho medonho, daqueles abnegados operadores de máquinas.

Em todos os reabastecimentos sobressaem os tenazes condutores das viaturas que, à mercê das balas inimigas e emoldurados com as poeiras das secas picadas, lá seguem com os volantes na mão e as vidas dos combatentes que transportam confiantes. Com a sua valentia e coragem ajudam a minorar as tremendas carências de bens essenciais que afecta todos aqueles que vivem à míngua dos reabastecimentos. Muitos deles passam por vários perigos, mas nunca vi nenhum voltar a cara às estradas enlameadas ou poeirentas que lhes causam grandes dificuldades na progressão.