Redefinindo a Diplomacia num Mundo em Transformação: 5º Encontro Nacional da ABRI – Belo Horizonte, 28,29 e 30 de julho de 2015.

Área Temática: Workshop Doutoral Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa

PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS POLÍTICAS DE DEFESA E SEGURANÇA DA ÁFRICA DO SUL E DO BRASIL PARA O ATLÂNTICO SUL

Anselmo Otavio – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

Se buscássemos destacar um ponto que liga a história do Brasil com a da África do Sul, seria pouco provável não indicarmos a relação de ambas com o expansionismo português e, conseqüentemente, com o Atlântico Sul. De modo geral, a busca de Portugal por uma rota viável até a Índia levou a passagem de Bartolomeu Dias pelo então chamado “Cabo das Tormentas” em 1487, território que, posteriormente, se tornaria na África do Sul. Passado treze anos após esta descoberta, Pedro Álvares Cabral chegava ao litoral brasileiro. Embora havendo tal ligação inicial, é fato que ao longo da história de tais países foram às diferenças que reinaram, principalmente, no que tange à importância do Atlântico Sul. No caso brasileiro, desde a sua colonização o que se viu foi a intima ligação do Brasil com o Atlântico Sul. Reflexo disso pode ser encontrado entre os séculos XVI e XVIII, quando o comércio entre o Brasil, Portugal, e alguns territórios africanos, destacadamente aqueles pertencentes ao Golfo da Guiné, foi amplamente desenvolvido, tornando o Atlântico Sul na principal rota deste comercio. Já a África do Sul seguiu caminho diametralmente oposto ao brasileiro tanto no que se refere à colonização, uma vez que a região do Cabo foi inicialmente controlada pela Companhia Holandesa das Índias Orientais em 1652, e, posteriormente, pela Inglaterra em 1803; como também no que diz respeito à relevância do Atlântico Sul, visto que a rota do Cabo se transformou na principal linha marítima de comunicação entre o Ocidente e o Oriente, enquadrando a África do Sul em uma dinâmica de interação cada vez mais direcionada às colônias inglesas existentes no continente asiático. Embora a construção do Canal de Suez em 1869 tenha criado outra rota de ligação entre o Ocidente e o Oriente, tanto a rota do Cabo manteve sua importância estratégica, como também a África do Sul continuou a aprofundar sua interação com a Inglaterra. Reflexo disso pode ser encontrado no Simonstown Agreement, acordo firmado em 1955 que abria espaço para o fortalecimento da através da aquisição de seis fragatas e quatro barcos patrulha, e, em contrapartida, garantia aos ingleses e seus aliados o uso da base naval de Simon’s Town. De modo geral, a contínua relação entre a África do Sul e a Inglaterra representava duas das principais características de Pretória durante o período da Guerra Fria, no caso, o apoio incondicional as potências Ocidentais e o desejo em ser visto como um país Ocidental. Tais características entravam em consonância com o interesse sul-africano em proteger o regime do de quaisquer transtornos a sua existência, a criação de um programa voltado

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ao desenvolvimento da bomba nuclear, o repúdio ao socialismo e a desvalorização do continente africano. Diferentemente disso, o Brasil voltava-se à construção de uma política externa de cooperação com países africanos. Exemplo disso pode ser encontrado na política externa conhecida como Pragmatismo Responsável, esta adotada durante a administração Geisel (1974-1979), quando Brasília passou a fortalecer laços comerciais e políticos com diversos países africanos, reconhecendo a independência de Guiné-Bissau, e considerando o Movimento Popular de Libertação Nacional (MPLA) como o principal representante do povo de Angola. As diferenças existentes entre a África do Sul e o Brasil neste período impactaram em suas visões acerca do Atlântico Sul. No caso sul-africano, a luta contra o avanço do socialismo no sul da África, o apoio as potências Ocidentais, e a proteção do regime do apartheid de possíveis transtornos a sua continuidade, foram alguns dos motivos que levaram este país, juntamente com os Estados Unidos e, inicialmente, com a Argentina, a defenderem que o Atlântico Sul deveria ser militarizado via criação de um sistema de defesa integrado, este comumente conhecido como a Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS). No caso brasileiro, o que se via era a busca em manter o Atlântico Sul desmilitarizado, distante do confronto Leste-Oeste, de fortalecer os laços econômicos e políticos entre as margens sul-atlânticas, em isentá-lo da atuação de potências externas a região e, sobretudo, em afirmar uma possível identidade regional sul-atlântica. Neste embate, a visão brasileira se tornou preponderante, visto que em 1986 foi criada, junto a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, a chamada Zona de Paz e Cooperação no Atlântico Sul (ZOPACAS). No pós Guerra Fria e, principalmente, com a inauguração da primeira administração pós- apartheid, Mandela (1994-1999), as possibilidades de maior interação entre África do Sul e Brasil ocorriam uma vez que o país africano entrava em uma fase de grandes transformações em sua política externa, passando a valorizar, dentre outros pontos, o continente africano e a ampliação de suas parcerias no âmbito internacional. No que diz respeito ao Atlântico Sul, a expectativa girava em torno de sua entrada na ZOPACAS. Inclusive, vale ressaltar que após os encontros ocorridos no Rio de Janeiro (1988), em Abuja (1990), e em Brasília (1994), a quarta reunião deste fórum ocorreu na Cidade do Cabo (1996), cujo tema “Bridging the South Atlantic” indicava a necessidade em consolidar o Atlântico Sul como uma bacia econômica voltada ao desenvolvimento e a maior cooperação entre os países pertencentes às suas margens.

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Todavia, ao acompanharmos a década de 1990 é possível indicar a continuidade do Atlântico Sul como elemento de distanciamento e não de união entre Brasília e Pretória. Primeiro porque a política externa brasileira adotada durante esta década não priorizava as relações com países africanos. Segundo, porque a África do Sul não se interessou pelo Atlântico Sul, visto que buscou aprofundar seus laços com os países pertencentes à Commonwealth, tais como Índia e Austrália, bem como diminuiu os recursos voltados a Marinha sul-africana, fator que afetou na reposição de navios e submarinos, no número de contingente, este que passou de 6.500 para 4.500, e na possibilidade desta em criar novas parcerias com países pertencentes à bacia sul-atlântica. Diferentemente da década de 1990, os anos 2000 inauguraram um período de maior interação entre ambos os países. Reflexo disso pode ser encontrado no interesse de Brasília e Pretória em criar acordos bilaterais, em participarem de iniciativas como o IBAS (2003), o Grupo dos BRICS, e na aproximação da Marinha brasileira e da South African Navy via desenvolvimento de exercícios militares conjuntos como, por exemplo, o IBSAMAR, este que também conta com a participação da Índia. Em certa medida, a maior aproximação do Brasil e da África do Sul e, sobretudo, de suas respectivas Marinhas, se torna cada vez mais importante para o cenário que vem se constituindo no Atlântico Sul, este marcado, principalmente, pelos crescentes casos de pirataria no Golfo da Guiné e pelo interesse de potências externas em atuarem e buscarem recursos minerais e energéticos na bacia sul-atlântica. Entretanto, levando em consideração as divergências existentes ao longo da história destes países, qual seria o papel que o Atlântico Sul possui nas políticas de Defesa e Segurança brasileira e sul-africana a partir dos anos 2000? É baseado no questionamento anteriormente indicado, que o artigo proposto para o Workshop Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa objetiva analisar tais políticas. Juntamente com uma bibliografia ampla e voltada a tal análise, buscaremos expor os principais pontos de convergências e divergências entre Brasília e Pretória acerca do Atlântico Sul.

Palavras Chave: África do Sul. Atlântico Sul. Brasil.

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1. Introdução

Ao longo da primeira década do século XXI é possível encontrarmos o fortalecimento das interações entre Brasil e África do Sul. Em linhas gerais, seja no âmbito econômico, através de acordos econômicos, seja no âmbito político, por exemplo, via criação do Fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), é fato que as administrações que abrangem este período, no caso brasileiro, Lula da Silva (2002-2010) e Rousseff (2011-2014), e sul- africano, Mbeki (1999-2008) e Zuma (2009-2014), passaram a estreitar cada vez mais seus laços. No entanto, mesmo havendo tal proximidade, é perceptível que no âmbito securitário, mais especificamente, no que se refere à relevância estratégica do Atlântico Sul, tanto Brasília quanto Pretória se divergem.1 No caso brasileiro, o país possui no Atlântico Sul sua principal via de comunicação com o mundo – em torno de 95% das trocas comerciais do país passa por esta região -, bem como a bacia sul-atlântica é vital para o Brasil uma vez que mais de 90% do petróleo produzido e utilizado no país advêm de plataformas offshore (ABDENUR; MARCONDES NETO, 2014). Tal dependência fez o Atlântico Sul se tornar cada vez mais estratégico para Brasília. Reflexo disso pode ser encontrado em iniciativas como a Zona de Paz e Cooperação no Atlântico Sul (ZOPACAS) de 1986, cujos dois dos principais objetivos eram manter a região pacífica e isenta da atuação de atores externos; e, mas atualmente, no destaque dado ao Atlântico Sul em documentos oficiais como a Política de Defesa Nacional de 2005, a Estratégia Nacional de Defesa (END) de 2008 e, principalmente, no Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) de 2012. Diferentemente da importância encontrada no governo brasileiro, a África do Sul não destaca o Atlântico Sul com tanta relevância. Tal desinteresse pode estar relacionado à própria colonização sul-africana pelos ingleses, que, em certa medida, acabaram por enquadrar a África do Sul em uma dinâmica mais voltada para o continente asiático em detrimento dos países da América do Sul, visto que o país servia como ponto de ligação entre Inglaterra e suas colônias existentes na Ásia. Exemplo disso pode ser visto na administração Mandela (1994-1999), período em que mesmo fazendo parte da ZOPACAS e sediado a quarta reunião deste fórum (1996), Pretória voltou-se a iniciativas com os países pertencentes à Commonwealth, tais como a Índia e Paquistão (WESSELS, 2010).

1 Para esta pesquisa, entende-se que o ““Atlântico Sul”, como área geográfica marítima, está delimitado ao norte pela linha do equador, ligando as terras do Amapá, na América do Sul até a Mauritânia, na África, contornando o arquipélago de Cabo Verde, e ao sul, pela Antártica.” (AQUINO, 2008, p. 18) 5

Além disso, tal desvalorização pode ser encontrada na própria tentativa em criar a Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS), que para Pretória não simbolizava um interesse sul-africano pelo Atlântico Sul, mas sim, se enquadrava nos objetivos do regime vigente durante o período da Guerra Fria (apartheid), no caso, o alinhamento com as potências capitalistas, o combate ao avanço socialista na região sul do continente africano, e a própria manutenção do apartheid (BRANCO, 2003; PENHA, 2011; PEREIRA,2010).2 De modo geral, levando em consideração as divergências existentes ao longo da história sul-africana e brasileira, bem como o momento atual de maior aproximação entre estes países, este artigo objetiva compreender qual seria o papel que o Atlântico Sul possui nas políticas de Defesa e Segurança brasileira e sul-africana a partir dos anos 2000.3 Diante deste objetivo e juntamente com uma bibliografia ampla e voltada a tal análise, buscaremos expor os principais pontos de convergências e divergências entre Brasília e Pretória acerca do Atlântico Sul.

2. O Atlântico Sul no Pós-Guerra Fria

Ao longo da década de 2000 tornou-se claro que o Atlântico Sul não apenas passou a ser visto como uma rota comercial ou bacia econômica, características que, historicamente, remetem a expansão marítima realizada por Portugal a partir dos anos finais do século XV (PENHA, 2011), mas também por se tornar um palco marcado pelo retorno e/ou aumento da presença de atores extra-regionais (REIS; SANTOS, 2014; VISENTINI; PEREIRA, 2014). De fato, seja pela riqueza em recursos minerais e energéticos existentes na bacia sul- atlântica4, seja por questões securitárias (BARBOSA, 2015), tanto as potências tradicionais,

2 Em uma possível compreensão do apartheid, Bahia (2000, p. 114-115) expõe que “(...) o apartheid é um sistema social, econômico e político constitucional que se baseia em princípios teóricos e em uma legislação ad hoc. Neste sistema, a diferenciação corresponde à definição de grupos sociais diversos e ao seu desenvolvimento em separado. Significa a manutenção da supremacia de uma aristocracia branca, baseada numa rígida hierarquia de castas sociais, para as quais existe uma correlação entre a cor de pele e as possibilidades de acesso aos direitos e ao poder social e político (...)” 3 Em linhas gerais, “segurança é (...) um estado desejável, uma situação que permita aos cidadãos e às sociedades o estabelecimento de laços estáveis, quer do ponto de vista cultural em sentido lato, quer do ponto de vista comercial; ao passo que se dá o nome de defesa ao conjunto das ações militares visando garantir o estado de segurança” (PROENÇA JR.; DINIZ, 1998, p. 55). Logo, enquanto que uma Política de Defesa traz como principal objetivo discutir o papel das forças armadas; a política de Segurança possui “duas dimensões; uma externa, primariamente – não exclusivamente -voltada para assuntos de defesa; e uma interna, voltada primariamente – também não exclusivamente – para assegurar o monopólio do uso da força pelo Estado em seu território” (PROENÇA JR.; DINIZ, 1998, p. 55). 4 Discutindo acerca do petróleo no lado africano banhado pelo Atlântico Sul, Barbosa (2015, p. 50) indica que “[d]os atuais 55 Estados africanos, dezesseis são exportadores de petróleo; destes, oito, 6

destacadamente Inglaterra, França e Estados Unidos (EUA), bem como as emergentes - principalmente a China - estão buscando ampliar suas respectivas atuações nesta região. Referente aos interesses econômicos, França, Inglaterra, Estados Unidos e China possuem, em maior ou menor intensidade, estratégias diferentes para um mesmo fim, no caso, o acesso aos recursos naturais existentes principalmente na região do Golfo da Guiné.5 No que se refere às potências europeias, a França prima pela manutenção da chamada Françafrique - política que lhe garante a intensificação de suas relações com suas ex-colônias pertencentes ao continente africano, no geral, e, aqueles componentes do Golfo da Guiné, em específico. Exemplo disso pode ser encontrado no irrestrito acesso francês ao urânio existente no Níger (BARBOSA, 2015). Já Inglaterra usa do apoio indireto a suas indústrias petrolíferas como forma de garantir acesso ao petróleo produzido na região. Semelhantemente a Inglaterra, também é possível encontrar tanto nos EUA quanto na China, o interesse pelo petróleo existente no Golfo da Guiné. No caso norte-americano, a atuação de empresas como a Chevron-Texaco, a Exxon Mobile, a Marathon Oil e a Kosmos Energy em quase todos os países pertencentes ao Golfo da Guiné, são exemplos que demonstram o interesse dos Estados Unidos em considerar o Atlântico Sul como uma zona estratégica de fornecimento de petróleo e outros tipos de recursos aos EUA (VISENTINI, 2014; BARBOSA, 2015). Embora em menos intensidade que os três países anteriores, Pequim importa petróleo advindo do continente africano, inclusive, dentre os cinco maiores fornecedores, quatro são países pertencentes a margem sul-atlântica, a saber: Nigéria, Angola, República do Congo e Guiné Equatorial (BARBOSA, 2015). Paralelamente ao interesse na exploração de recursos naturais, torna-se claro a maior presença militar da França, Inglaterra, e, destacadamente, dos Estados Unidos no Atlântico Sul. Dentro do Françafrique, o governo francês mantém diversos acordos de cooperação militar com suas ex-colônias. 6 De acordo com Barbosa (2015), além do treinamento militar das forças armadas de suas ex-colônias, Paris mantêm bases militares no Gabão (Libreville) e Senegal (Dakar), tropas no Chade e Costa do Marfim e o desenvolvimento de uma patrulha naval no Golfo da Guiné voltada à segurança marítima. De modo geral, a influência da Inglaterra encontra-se atrelada a posse e a construção de bases navais em diversas ilhas existentes nesta região (REIS; SANTOS, 2014), tais como estão na costa atlântica do continente. A saber: Nigéria, Angola, Guiné Equatorial, Congo-Brazzaville, Gabão, Camarões, Costa do Marfim e República Democrática do Congo. 5 Região composta pelos seguintes países: Costa do Marfim, Gana, Togo, Benin, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe e Gabão. 6 No total são 23 países, a saber: Benin, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Centro- Africana, Chade, Comores, Congo, Djibuti, Costa do Marfim, Gabão, Guiné Equatorial, Guiné- Conakry, Madagascar, Mali, Mauricio, Mauritânia, Níger, Ruanda, Senegal, Seychelles, Togo e Congo-Zaire (GREGORY, 2000 apud BARBOSA, 2015, p.55). 7

Ascensão, Tristão de Cunha, Santa Helena, Shetlands, Geórgia, Gough e Sandwich, e as Ilhas Malvinas. Neste caso, o controle destes territórios garante a presença dos ingleses na bacia sul-atlântica, como também a possibilidade de Londres em atuar militarmente nesta região (REIS; SANTOS, 2014). Exemplos disso podem ser encontrados na Guerra das Malvinas (1982), quando o uso da ilha de Ascensão foi importante no âmbito logístico para a vitória da Inglaterra sobre a Argentina, como também na garantia de segurança de seus ativos nos países pertencentes a esta região (UKEJE; MVOLO ELA, 2013; BARBOSA, 2015). No que se refere aos Estados Unidos, à presença militar no Atlântico Sul foi reafirmada em 2008, quando houve a reativação da IV Frota, esta criada em 1943 e desativada em 1950, cujo principal objetivo é policiar as águas da América Central, Caribe e América do Sul. Referente ao continente africano é possível destacarmos duas iniciativas norte- americanas. A primeira diz respeito o retorno do programa de vigilância do Golfo da Guiné, este que havia sido utilizado entre 1985 e 1995, e a partir de 2009 passou a contar com diversos radares voltados a vigilância e a segurança da região (BARBOSA, 2015). A segunda iniciativa refere-se à criação da U.S African Comand (AFRICOM), divisão de defesa que articula a presença norte-americana em territórios da África Ocidental e Meridional (PEREIRA, 2013), que, inclusive, utiliza como base de apoio uma das ilhas pertencentes à Inglaterra, no caso, a Ilha de Ascensão (BARBOSA, 2015). A forte presença militar de tais países na região do Golfo da Guiné encontra-se atrelada em um dos principais desafios desta região, no caso, a pirataria. De fato, mesmo sendo um importante centro de exploração e de produção de petróleo, o Golfo da Guiné é caracterizado pela instabilidade fruto das tensões e guerras surgidas em alguns países que a compõem, fator que leva, por um lado, a Estados frágeis, e, em contrapartida, a tendência no aumento da atuação de potências externas a região.

3. O Atlântico Sul nas Políticas de Defesa e Segurança do Brasil

De modo geral, desde a colonização o Atlântico Sul se mantem como a principal rota de comunicação do Brasil com o mundo (ABDENUR; MARCONDES NETO, 2014; AQUINO, 2008, PENHA, 2011). No que diz respeito a sua importância nas políticas de Defesa e Segurança, dois momentos devem ser destacados. O primeiro refere-se ao período em que o regime militar esteve à frente da administração do país (1964-1985), fase em que tanto o direito em explorar os recursos naturais encontrados na região, bem como em combater possíveis ameaças a soberania nacional, tornaram o Atlântico Sul estratégico para o Brasil.

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Por um lado, Brasília considerava fundamental salvaguardar e explorar os recursos naturais encontrados em suas 200 milhas náuticas (AQUINO, 2008). Por outro, imbuído num cenário de Guerra Fria e voltado ao interesse em preservar o regime vigente, o governo brasileiro entendia a necessidade em manter o Atlântico Sul distante da presença de navios e submarinos que pudessem representar algum tipo de ameaça ao país, como, por exemplo, auxiliando grupos brasileiros em sua luta contra o regime militar (AQUINO, 2008). Além disso, a defesa da soberania do país atrelava-se ao desenvolvimento de armas nucleares por parte da África do Sul, fator que poderia gerar certo desequilíbrio de poder na região (AQUINO, 2008).7 Já o segundo momento, este mais relevante para o artigo, diz respeito ao período inaugurado com a administração Lula da Silva em 2003 que, de modo geral, se mantêm constante na administração atual, Rousseff (2010-). Diferentemente do período entre o fim do regime militar (1985) e os anos iniciais do século XXI, quando houve a diminuição do papel das Forças Armadas, bem como dos assuntos relacionados à defesa do país (CORRÊA, 2014; SILVA, 2012),8 ao longo destes últimos doze anos houve o retorno da importância do papel das Forças Armadas e do Atlântico Sul no pensamento estratégico brasileiro. Por um lado, tal retorno pode ser visto como a resposta brasileira ao cenário internacional surgido no Pós-Guerra Fria. De fato, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, o sistema internacional passou de um momento unipolar para uma tendência a multipolaridade (AMORIM, 2012), marcado pelo avanço da globalização, pelo surgimento de novos desafios a segurança de um país, tais como o narcotráfico, a pirataria marítima, o tráfico de armas, e pelo surgimento de zonas instáveis, tal como a África Ocidental, cujas tensões podem, direta ou indiretamente, representar desafios à segurança do Brasil (AMORIM, 2012; CORRÊA, 2014).

7Referente à África do Sul, Aquino (2008, p. 46) também destaque que “[a] posição estratégica da África do Sul, na tora entre o Atlântico e o Índico, por onde passava grande parte do comércio exterior brasileiro, incluindo aí o petróleo importado do Oriente-Médio, também era computada nas análises de Brasília.” 8Em Silva (2012, p. 63), é possível encontrarmos alguns dos motivos que levaram a tal cenário. Segundo o autor “De certa forma, esta exterioridade do país aos grandes conflitos mundiais acabou por gerar um complexo de ilha, segundo o qual estaríamos distantes das grandes crises e conflitos mundiais. Da mesma maneira, as pesadas tarefas nacionais de largo alcance social – como educação e saúde – imporiam um decidido limite aos gastos militares numa época de pretensa superação de conflitos. A este sentimento de “ilha”, ao lado de uma falsa garantia de segurança, por estar ao largo dos conflitos internacionais, somar-se-ia a memória do regime civil-militar dominante no país entre 1964 e 1984. (...) Neste contexto, falar em “rearmamento” – ou seu sinônimo mais aceitável, reequipamento das Forças Armadas no país – constitutia-se, por bom tempo, em uma fonte de polêmicas, principalmente na imprensa e em alguns segmentos da sociedade civil ainda traumatizados pelo experimento autoritário.” 9

Por outro lado, este retorno caminha lado a lado a importância que o Atlântico Sul passou a ganhar dentro das relações Sul-Sul. Segundo Visentini e Pereira (2014), a bacia sul-atlântica vem se tornando em um polo de desenvolvimento visto que tanto esta região se mantém como a rota comercial entre os países africanos e o Brasil, como também se tornou em uma plataforma de interação e formação de parcerias estratégicas entre os países de suas margens e aqueles pertencentes ao continente asiático, com destaque à China e à Índia. (VISENTINI; PEREIRA, 2014). Em certa medida, seja motivado pelas transformações no cenário internacional, seja relacionado à maior intensificação das relações Sul-Sul, em verdade é possível indicar que a importância do Atlântico Sul nas políticas de Segurança e Defesa do Brasil ocorreu de modo paulatino. Em um primeiro momento, pode ser indicada a criação da chamada “Amazônia Azul”, conceito desenvolvido pela Marinha brasileira em 2004 que buscava expor a riqueza em recursos naturais existentes no Atlântico Sul,9 bem como a necessidade em garantir sua defesa (WIESEBRON, 2013). Em números, a Amazônia Azul engloba 4.499,919 km² de área, esta que é a soma das 200 milhas náuticas da Zona Econômica Exclusiva [ZEE] e as 350 milhas náuticas da Plataforma Continental [PC] (BRASIL, 2004; WIESEBRON, 2013). Em outras palavras, em torno de 95% das relações comerciais desenvolvidas pelo Brasil com o mundo via marítima, ocorrem dentro da Amazônia Azul (BRASIL, 2004), além de ser desta área que quase a totalidade do petróleo brasileiro advém. Paralelamente a demonstração da riqueza em recursos naturais existentes na Amazônia Azul, a Marinha do Brasil buscou expor a importância do Atlântico Sul para a população em geral através da criação de dois livros didáticos, “O Mar no Espaço Geográfico Brasileiro” de 2005 e o décimo terceiro volume da coleção “Explorando o Ensino”, cujo título era “A Importância do Mar na História do Brasil” de 2006, iniciativas que se tornam relevantes na conscientização acerca da importância de uma política de Defesa. Além disso, também como forma de salvaguardar a Amazônia Azul, a Marinha brasileira destacou a importância da dissuasão, esta que nas palavras do ex-ministro da Defesa, Celso Amorim, “é a estratégia primária da política de defesa brasileira” (AMORIM, 2012, p. 342). A preocupação com o Atlântico Sul - bem como a estratégia utilizada para salvaguarda- lo - teve continuidade com a criação da Política de Defesa Nacional (PDN) em 2005. Neste segundo momento, destacam-se três pontos encontrados na PDN que direta ou indiretamente, se relacionam a bacia sul-atlântica, sua importância para o país, e a

9Segundo Barbosa (2015, p.48) “devido à vasta extensão litorânea da área do Atlântico Sul, a existência de recursos naturais importantes se torna um fator estratégico relevante. Alguns minérios, como: ferro, alumínio, titânio, níquel, manganês, cobre, areia monazítica (rica em urânio e tório, o que lhe garante certo grau de radioatividade) são encontrados em grande quantidade.” 10

necessidade em mantê-la segura. A primeira diz respeito ao destaque dado entre o cenário internacional e as características do Brasil. Neste caso, a PDN indica que mesmo o Brasil estando distante de conflitos, não necessariamente o país encontra-se isento de diversos transtornos surgidos no cenário mundial que podem ameaçar a soberania brasileira, tais como a disputa pelo domínio aeroespacial, por fontes de água doce, de alimentos e energia e a disputa por áreas marítimas (BRASIL, 2005).10 A preocupação com as áreas marítimas reflete uma segunda característica, no caso, a delimitação do entorno estratégico do país. Neste caso, a PDN indica que tal entorno engloba não apenas a América do Sul, mas também alguns países africanos, principalmente os da África Ocidental e os de língua portuguesa, a Antártica e o Atlântico Sul. Neste ponto, seja pela história do Brasil ter sido marcada pela importância do mar, seja, pela extensão do litoral brasileiro, o Atlântico Sul no geral, e a Amazônia Azul, em específico, são indicados. Logo, se no âmbito continental a redução de possíveis conflitos destacados pelo PDN encontra-se relacionado a iniciativas como o fortalecimento do MERCOSUL, bem como de intensificação na relação com países latino-americanos; no âmbito marítimo, tais instrumentos são maior valorização da cúpula América do Sul-África (ASA), e a consolidação da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS). Criada em 1986, e baseada inicialmente em objetivos como restringir a atuação de atores externos no Atlântico Sul, a não proliferação de armas nucleares, o respeito a soberania e a integridade territorial dos países sul-atlânticos, dentre outros (NAÇÕES UNIDAS, 1986), a ZOPACAS simbolizava na década de 1980 um contraponto à proposta de criação da Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS), organização voltada à criação de um sistema de defesa integrada liderada por Estados Unidos, pela África do Sul e, anteriormente a Guerra das Malvinas, desejada pela Argentina (PENHA, 2011).11 Já ao longo da primeira década do século XXI, tal iniciativa, juntamente com a dissuasão, se tornaram nas principais iniciativas brasileiras voltadas ao Atlântico Sul. Reflexo disso pode ser encontrado nos dois outros momentos em que é destacada a importância do Atlântico

10 Como indicado no PDN (2005, s/p) “Países detentores de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo podem tornar-se objeto de interesse internacional.” Nesse sentido, de acordo com Oliveira e Silva (2011, p.4) “A PDN adotou o conceito ampliado de segurança, segundo o qual a segurança internacional não deve ser entendida meramente pela esfera militar, mas deve incorporar, de acordo com os valores do Estado, questões ambientais, econômicas, societais e políticas. Especialmente ao justificar a escolha pelos conceitos de “segurança” e “defesa nacional” como uma condição do Estado hodierno na qual seja o Estado, ou sejam os indivíduos nele inseridos, não se sente ameaçado ou em risco (...)” 11Ao longo da existência da ZOPACAS, houve oito encontros, Rio de Janeiro (1988), Abuja (1990), em Brasília (1994), na Cidade do Cabo (1996) Buenos Aires (1998)Luanda (2007), e Montevidéu (2013). 11

Sul, no caso, na Estratégia Nacional de Defesa (END) de 2008 e no Livro Branco sobre Defesa Nacional (LBDN) de 2012. Estruturada em três eixos, a saber: a orientação e organização das Forças Armadas; na reorganização da indústria brasileira voltada à defesa; e, na obrigatoriedade do serviço militar (BRASIL, 2008); e mesmo destacando ações de médio e longo prazo direcionadas a defesa nacional (OLIVEIRA; SILVA, 2011), a END destaca que o país necessita possuir a capacidade de dissuasão como melhor estratégia de limitar a possibilidade de forças inimigas atuarem no território brasileiro, nas regiões litorâneas do país, bem como no espaço aéreo nacional (BRASIL, 2008). Referente ao Atlântico Sul, juntamente com a dissuasão, a negação do uso do mar a atores considerados inimigos, o controle de áreas marítimas e a projeção de poder também são considerados fundamentais pela END. Por um lado, a END indica que a negação do mar, o controle de áreas marítimas e a projeção de poder devem trazer como principais objetivos a defesa das plataformas petrolíferas, a defesa das instalações navais e portuárias, e a prontidão para responder a quaisquer tipos de ameaça as vias marítimas e de comércio. Por outro, o mesmo documento destaca que tanto a dissuasão quanto a negação do uso do mar a inimigos representam o objetivo prioritário da estratégia marítima brasileira. Para tanto, a END indica a necessidade do país em obter submarinos de propulsão convencional e nuclear, navios de grande e pequeno porte, dentre outras iniciativas voltadas à defesa do entorno sul-atlântico brasileiro. Em síntese, a END acaba por indicar a importância da Amazônia Azul para o país, inclusive, destacando a necessidade das forças armadas do país em salvaguardarem, principalmente, a área em torno da foz do rio Amazonas e a região entre Vitória e Santos - área em que quase a totalidade do petróleo offshore do país é explorada. Por fim, um quarto momento de destaque do Atlântico Sul dentro da política de Segurança e Defesa do Brasil pode ser encontrado em 2012, ano em que o LBDN foi criado. De modo geral, o LBDN englobou diversos pontos já encontrados ou na PDN, ou na END, ou em ambos os documentos, tais como o surgimento de uma ordem internacional multipolar; o destaque dado à ampliação do conceito de segurança, este caracterizado pela expansão de novas formas de ameaças, tais como a biopirataria, desastres naturais, atos terroristas, dentre outros;12 a necessidade do Brasil desenvolver sua capacidade militar como meio de o país se defender de ameaças externas; e a importância do país em voltar-

12 De acordo com o LBDN (2008, p. 28) “Novos temas — ou novas formas de abordar temas tradicionais — passaram a influir no ambiente internacional deste século. As implicações para a proteção da soberania, ligadas ao problema mundial das drogas e delitos conexos, a proteção da biodiversidade, a biopirataria, a defesa cibernética, as tensões decorrentes da crescente escassez de recursos, os desastres naturais, ilícitos transnacionais, atos terroristas e grupos armados à margem da lei explicitam a crescente transversalidade dos temas de segurança e de defesa.” 12

se a defesa de seu entorno, no caso, América do Sul, Atlântico Sul e África, neste caso, destacando a importância da dissuasão (BRASIL, 2012). Referente ao Atlântico Sul, a LBDN indica a relação de dependência entre o país e a bacia sul-atlântica. Primeiro, porque é na região litorânea brasileira que a maior parte da população brasileira habita. Segundo, porque é nesta mesma região onde os principais portos brasileiros, no caso, Santos, Rio de Janeiro, Paranaguá, Recife, Salvador e Vitória, se encontram, estes fundamentais para o comércio do país com diversos países do mundo. Terceiro, porque é nesta região que fica a Amazônia Azul, ou seja, onde se encontram as principais áreas de exploração de petróleo offshore, bem como é por onde entra o petróleo importado de outros países. Por fim, é pelo Atlântico Sul que o país busca se projetar para o continente africano (BRASIL, 2012).13 Por tais motivos, o LBDN destaca o interesse e a necessidade do Brasil em manter pacificado e seguro o Atlântico Sul. Nesse sentido, dentro dos meios voltados a manutenção da bacia sul-atlântica pacificada, é possível encontrarmos três iniciativas no LBDN que se voltam a este fim. O primeiro refere-se a ZOPACAS, cujo objetivo seria em criar um ambiente de cooperação entre os países banhados pelo Atlântico Sul. Já a segunda iniciativa diz respeito ao fortalecimento da Marinha Brasileira através de submarinos convencionais e de propulsão nuclear, estes que se voltariam a proteção de rotas comerciais, a manutenção da livre navegação, dentre outros. E, por fim, a criação do chamado Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), cujo objetivo é monitorar o litoral brasileiro (BRASIL, 2012).14 Em síntese, mesmo havendo diferenças entre a LBDN (2012), a END (2008) e a PND (2005),15 tornou-se claro que tais documentos demonstram não apenas a necessidade do

13 Embora não seja o intuito deste artigo, vale destacar importância dada pela LBDN acerca da América do Sul, neste caso, com destaque a UNASUL. De acordo com o documento, “[g]anha relevância [...] a consolidação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), que se tem revelado um instrumento para a solução pacífica de controvérsias regionais, para a proteção da democracia na América do Sul, para o fortalecimento do diálogo entre os Estados- membros e para a progressiva formação de uma base industrial de defesa sul-americana” (BRASIL, 2012, p. 34). 14 Em linhas gerais, o SisGAAz “[f]oi projetado para se tornar o principal sistema de comando e controle da Marinha e prevê a gestão das atividades ligadas ao mar que envolvam vigilância, monitoramento, prevenção da poluição, recursos naturais, entre outras. O Sistema visa ao incremento do conhecimento sobre o ambiente marítimo e o posicionamento, caso necessário, dos meios operativos disponíveis para responder prontamente às crises ou emergências que ocorram no litoral brasileiro” (BRASIL, 2012, p. 71-72). 15 Discutindo acerca disso, Corrêa (2014, p. 31) indica que “[a] PND é o principal documento do governo brasileiro para elaborar suas políticas de defesa do território e estabelece objetivos e diretrizes que devem ser seguidas para equipar e preparar as Forças Armadas. A END é o documento que define os meios para cumprir os alvos traçados na Política de Defesa. O LBDN analisa as perspectivas a médio e longo prazo do setor e busca aumentar a transparência ao publicar dados orçamentários e estratégicos das Forças Armadas”.

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país em modernizar as Forças Armadas (CORRÊA, 2014), mas também a necessidade do país voltar-se ao Atlântico Sul. No entanto, quando analisado um dos principais países africanos banhados pelo Atlântico Sul, no caso, a África do Sul, é perceptível o descompasso existente no que diz respeito à importância do Atlântico Sul.

4. O Atlântico Sul nas Políticas de Defesa e Segurança da África do Sul

Em linhas gerais, é possível encontrarmos três fases distintas no que se refere às políticas de Segurança e Defesa da África do Sul. A primeira refere-se ao período em que o país foi administrado pelo Partido Nacional (PN), mas especificamente durante as administrações Malan (1948-1954), Stridom (1954-1958), Verwoerd (1958-1966), Vorster (1966-1978), Botha (1978-1989) e De Klerk (1989-1993), quando a continuidade do regime do apartheid era visto como o principal objetivo do Estado sul-africano. Nesse sentido, para alcançar tal fim, as políticas de Segurança e Defesa voltaram-se a garantir um cenário, tanto interno quanto regional, favorável a continuidade do regime racista. No âmbito interno, salvaguardar o regime caminhou lado a lado a criação de leis discriminatórias, a utilização da coerção, como se viu durante o massacre em Sharpeville (1960) e as Revoltas em Soweto (1976), a discriminação de partidos, tais como o Pan- African Congress (PAC) e o ANC, ambos que se tornaram ilegais no início da década de 1960 (BRANCO, 2003, PEREIRA, 2012), dentre outras iniciativas. Já no âmbito regional, buscou-se adequar os países vizinhos aos interesses sul-africanos, via tentativa em incluir ao território sul-africano a Basutolândia (atual Lesoto), a Bechuanalândia (atual Botsuana) e a Suazilândia (administração Malan), via criação de aliança com países favoráveis ao regime racista (administração Verwoerd), por meio de sanções econômicas ou intervenções militares como meios de desestabilizar a região (administração Botha), dentre outras estratégias. Em certa medida, enquanto perdurou o desejo sul-africano em manter o regime racista distante de qualquer tipo de transtorno que poderia levar ao seu fim, o continente africano, principalmente os países da região sul, passaram a serem vistos como ameaças ao Estado sul-africano. Logo, duas características tornaram-se claras ao longo deste período. A primeira diz respeito ao predomínio da atuação da Defence Force (SADF) na região sul do continente. Reflexo disso pode ser encontrado na administração Botha quando se acreditou que o cenário regional se tornava cada vez mais nocivo aos interesses de Pretória e, portanto, adotou a “total national strategy”, estratégia em que a SADF voltou-se a intervir nos países vizinhos via sabotagem, através de ataques a alvos econômicos e

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militares, ao apoio de golpes militares, por meio de treinamento e de concessão de poder bélico, a grupos pró-África do Sul, dentre outras iniciativas. Já a segunda característica, e, para este artigo mais importante, foi à desvalorização do Atlântico Sul, este destacado somente em dois momentos durante o período em que o PN esteve à frente de Pretória. O primeiro refere-se ao acordo de Simonstown Agreement, este firmado entre o Reino Unido e a África do Sul em 1955 que garantia aos ingleses e a seus aliados o uso da base de Simon’s Town, tanto em tempos de paz, quanto em períodos de Guerra (DU TOIT, 2012), bem como criava o Comando do Atlântico Sul, cuja principal característica era a participação da e o fornecimento de equipamentos para Pretória (PENHA, 2011). Já o segundo momento refere-se à tentativa sul-africana, juntamente com os Estados Unidos, em construir a Organização do Tratado do Atlântico Sul (OTAS). Neste caso, o Atlântico Sul não necessariamente era visto como estratégico para Pretória, em verdade, buscava-se com a OTAS combater o avanço de regimes de cunho socialistas, estes simbolizados naquele período pelos governos angolano e moçambicano. Após o fim do regime racista, a África do Sul entrou em uma fase de grandes transformações, econômicas, políticas e militares. De fato, nesta segunda fase as políticas de Segurança e Defesa da África do Sul passaram por importantes transformações. Realizadas ao longo da administração Mandela (1994-1998), as três principais transformações, que, direta e indiretamente afetaram na visão sul-africana acerca do Atlântico Sul, foram à transição da SADF em South Africa National Defence Force (SANDF), a diminuição dos gastos voltados as Forças Armadas, e a priorização do continente africano. De modo geral, se por um lado a SADF era movida pelo o conceito de segurança tradicional, por outro, a SANDF passou a ver no conceito de segurança humana como aquele que melhor contemplava os anseios da África do Sul pós-apartheid, aceitando que pontos como surtos de doenças infectocontagiosas, refugiados, guerras civis, o subdesenvolvimento, o terrorismo, o crime organizado, a degradação ambiental, o tráfico de drogas, dentre outros (SANDF, 1996; 1998; KAGWANJA, 2006), representavam ameaças ao país. Além da mudança de paradigma do conceito de segurança, um segundo ponto a ser destacado nesta transformação diz respeito à inclusão nos quadros militares, dos ex- combatentes do regime do apartheid. Nesta situação, houve o aumento do número de contingentes que passaram a fazer parte das forças armadas sul-africanas, esta que já possuía em torno de 90.000 contingentes, e que passou a englobar 11.500 advindos dos grupos armados do Transkei, Boputhatswana, Venda e Ciskei, 28.000 do Umkhonto we

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Sizwe (MK) e 6.000 do Azanian People’s Liberation Army (APLA), este braço armado do PAC (STAPLETON, 2010). Paralelamente a este processo de inserção de grupos que até então haviam lutado contra o regime do apartheid, houve a redução dos gastos voltados as Forças Armadas, bem como a priorização de resolução de questões securitárias existentes no continente. Referente aos gastos, se em 1988 estes giravam em torno de 4,6% do PIB da África do Sul, ao longo da administração Mandela o que se viu foi o acentuado declínio (SIPRI, 2014). Tal diminuição impactou, por exemplo, na SAN, que teve seu número de contingente diminuído, passando de 6.500 para 4.500, como também na dificuldade em repor navios e submarinos - neste caso, o último classe Daphné foi colocado fora de serviço em 2003, deixando o país sem este tipo de equipamento (WESSELS, 2010). Já no que se refere ao continente africano, sua importância pode ser encontrado no “Defence in a Democracy White Paper on National Defence for the Republic of South Africa May 1996”, principal documento voltado a Defesa da África do Sul, no qual é indicado que Pretória deveria priorizar a estabilidade da região, visto que a “África do Sul possui um destino comum com os países da África Austral” (SANDF, 1996, p. 20, tradução própria). Por fim, um terceiro momento nas políticas de Defesa e Segurança teve inicio a partir da administração Mbeki (1999-2008) e se manteve durante o primeiro governo de Zuma, 2009-2014. Neste período, destaca-se a busca em fortalecer novamente a SAN, através do aumento do número de contingentes, e da compra de novos navios e submarinos para recomporem as demandas da SAN. Exemplo disso pode ser encontrado no ano de 2009, quando o número de contingente chegava a 6.000, e com três submarinos, quatro novas fragatas, dois gun-boats (ex-strike craft), três mine-hunters, um combat support ship e um hydrographic survey ship (WESSELS, 2010). Por um lado, tal incentivo foi corroborado em 2006, com o lançamento da “Maritime Doctrine for the SA Navy” (MDSAN), documento que, em linhas gerais, demonstra a importância da África do Sul ser um país bioceânico e, por tal condição, a necessidade em manter seu entorno marítimo seguro de possíveis ameaças. Semelhantemente ao Brasil, embora não especificando se tal preocupação refere-se ao Atlântico Sul ou ao Oceano Indico, é destacado a importância da África do Sul em atuar em prol da defesa dos recursos naturais existentes em seus limites marítimos (SAN, 2006). Além disso, é possível encontrarmos dois outros pontos relevantes na MDSAN. O primeiro caminha lado a lado a importância que a África do Sul possui para os países da região. De fato, embora sendo marcada pela relação, em diversos momentos, conturbada com os países pertencentes à região sul do continente africano, muitos destes

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usam os portos sul-africanos tanto para escoar suas importações, como também para receber produtos importados. Logo, um dos principais desafios a SAN é garantir a proteção de tais portos, visto que a existência de uma possível ameaça que leve a inutilização de algum dos portos sul-africanos, pode afetar não somente a África do Sul, mas os países da região.16Já o segundo diz respeito à estrutura criada pela SANDF voltada a defesa do entorno marítimo sul-africano. Neste caso destacam-se as diversas agências direcionadas a tal fim, como, por exemplo, o Department of Transport , este voltado a normas de segurança e combate a poluição; o South African Police Service, cujo principal objetivo é prevenir e investigar movimentos ilegais de pessoas e bens nos limites marítimos da África do Sul; dentre outros (SAN, 2006). Além do MDSAN de 2006, a SAN buscou realizar cada vez mais exercícios multilaterais não apenas com países pertencentes à Commomwealth, como vistos durante a administração Mandela, em que a SAN realizou exercícios junto as marinhas do Paquistão, da Índia e da Austrália, mas também com novos parceiros. Exemplos disso podem ser encontrados no chamado Exercise Good Hope IV, este ocorrido em 2010 e desenvolvido junto com a Alemanha, o ATLASUR, este desenvolvido com o Brasil e o Uruguai, e o IBSAMAR, em parceria com o Brasil e a Índia, (WESSELS, 2010), sendo estes dois últimos realizados na região sul-atlântica.

5. Considerações Finais

Ao longo deste artigo buscou expor o papel que o Atlântico Sul exerce nas políticas de Segurança e Defesa do Brasil e da África do Sul. De modo geral, tornou-se claro a existência do descompasso entre Brasília e Pretória no que se refere à importância estratégica do Atlântico Sul. De fato, para o Brasil, principalmente a partir dos anos 2000, o Atlântico Sul foi se tornando cada vez mais importante para o país, visto que é da bacia sul- atlântica que o país mantém contato com o mundo, que realiza trocas comerciais, de onde se retira grande parte do petróleo utilizado, enfim, dentre outras características que levaram o país a incluírem o Atlântico Sul na Política Nacional de Defesa de 2005 (PND), na Estratégia Nacional de Defesa de 2008 (END), e no Livro Branco sobre Defesa Nacional de 2012 (LBDN). Diferentemente do Brasil, a África do Sul não espelha em suas políticas de Segurança e Defesa grande importância para o Atlântico Sul. Tal constatação pode ser realizada a partir

16 Os principais portos sul-africanos são, Richard’s Bay, Durban, East London, Port Elizabeth, Cape Town and Saldanha Bay (SAN, 2006).

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da análise tanto do período em que o país foi administrado pelo PN, como também durante as administrações do Congresso Nacional Africano (CNA), no caso, Mandela (1994-1998), Mbeki (1999-2008) e Zuma (2009-). Neste caso, se durante a vigência do regime racista a preocupação com o Atlântico Sul esteve atrelada ou pela necessidade de Pretória fortalecer a SAN (acordo de Simon’s Town), ou pela busca em combater o avanço de governos de cunho socialista pela região (criação da OTAS), ao longo das últimas administrações a tendência foi priorizar as questões securitárias existentes no continente africano. Além disso, embora a SAN venha realizando exercícios militares em conjunto com outras marinhas, como o ATLASUR e o IBSAMAR, bem como a criação da Maritime Doctrine for the SA Navy em 2006, são iniciativas que demonstram o retorno da importância da Marinha Sul-Africana, visto que durante a administração Mandela e início da administração Mbeki houve a diminuição drástica de recursos para a SAN, em verdade não há a priorização do Atlântico Sul se comparado com o Oceano Indico, região por onde passa quase todo o petróleo utilizado pelo país, e por onde a SAN realiza o patrulhamento tanto da costa moçambicana quanto da Tanzânia no combate a pirataria (WESSELS, 2010). Em certa medida, a não existência, ao menos nas políticas de Segurança e Defesa do Brasil e da África do Sul, de visões semelhantes acerca da importância do Atlântico Sul se torna um desafio visto que a existência de recursos naturais tanto no lado brasileiro quanto no africano, bem como a atuação no âmbito militar, principalmente na região do Golfo da Guiné, são fatores que vem levando cada vez mais atores externos a atuarem na bacia sul- atlântica.

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