ESPECIAL

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ENGENHARIA finca sua bandeira no exterior Por Juan Garrido

Hoje já é consenso entre os especialistas que o conjunto das grandes construtoras nacionais – com Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão à frente – representa a melhor engenharia do mundo, habilitada para qualquer tipo de obra em qualquer país e para qualquer classe de cliente. Quem abriu o caminho Foto: Divulgação para a internacionalização das construtoras e demais empresas prestadoras de serviços de engenharia brasileiras foi a Construtora Norberto Odebrecht, nos anos 1970, ao embarcar para a terra estrangeira sob a batuta estratégica de permanecer nos diversos países “por no mínimo 50 anos”. Essa é uma divisa que parece ser seguida à risca por todos os empresários entrevistados, que têm como regra de ouro não abandonar mercados externos conquistados. Todos também foram unânimes em afirmar que pelo mundo inteiro – e não só nos grandes países emergentes – há uma grande demanda por obras de infra-estrutura. Isso favorece o incremento da exportação dos serviços de engenharia por parte dos brasileiros

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finca sua bandeira no exterior ENGENHARIA

Rodovia Tambo Quemado, Bolívia

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580 á um surto de obras de infra-es- A capacidade instalada da no nosso caso, já estamos nos acostumando a /2007 trutura pelos mais variados países, engenharia brasileira situações como a de empresas norte-america- em todos os continentes. Segundo nas querendo nos subcontratar para obras em Roberto Kochen, diretor técnico – engenheiros, empresas, Angola, porque falamos a língua local.”

ENGENHARIA da GeoCompany (que atua nas áreas de en- equipamentos e tecnologia Na visão de Kochen – que é também diretor genharia, tecnologia e meio ambiente) isso do departamento de engenharia civil do Insti- ocorre porque o mundo passa por uma fase – até a década de 1980 ficou tuto de Engenharia –, o processo de expansão de crescimento econômico, o que demanda muito grande para o tamanho das empresas brasileiras para o exterior é, de grandes volumes de empreendimentos para do mercado brasileiro em razão fato, irreversível. “Isto porque a capacidade suportar esse desenvolvimento todo. Não é instalada da engenharia brasileira – engenhei- à toa que as empreiteiras brasileiras e suas da estagnação do mesmo, a ros, empresas, equipamentos e tecnologia – até fornecedoras – também brasileiras – correm partir daquela época, e da a década de 1980 ficou muito grande para o mundo exportando serviços de engenharia. significativa redução de tamanho do mercado brasileiro, em razão da “Vamos para fora porque há mercado e não estagnação do mesmo a partir daquela época, pretendemos sair de lá mesmo que sobre- investimentos públicos, e e da significativa redução de investimentos venha um grande aquecimento doméstico”, também privados, em públicos, e mesmo privados, em infra-estrutura confirma Homero Valle de Menezes Côrtes, infra-estrutura no Brasil no Brasil”, lembra. Dessa forma, comenta ele, é vice-presidente da Sondotécnica Engenharia natural e necessário que toda essa capacidade de Solos. Hoje já existe um consenso entre nhia –, muitas outras empresas brasileiras instalada vá procurar sua plena utilização onde especialistas de que o conjunto de grandes de prestação de serviços de engenharia o mercado suportar, ou seja, além do Brasil construtoras nacionais – com Odebrecht, estão acelerando seus negócios em outros – nos países latinos, na África, na Europa e até Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Quei- países e continentes não com a intenção de mesmo nos Estados Unidos. “Apenas na Ásia roz Galvão à frente – representa o que há de dar uma “dentada” e voltar, mas com o fito as empresas brasileiras não têm atuado em melhor na engenharia mundial, habilitada para de aculturar-se e manter os pés fincados escala significativa, pela distância e barreiras qualquer tipo de obra em qualquer país e para lá fora se possível para sempre. “Os merca- culturais e de linguagem.” qualquer classe de cliente. dos externos conquistados não podem ser De fato, como informa Dante Venturini, su- Assim como a pioneira Construtora Nor- abandonados, essa é uma das divisas mais perintendente técnico operacional da Unidade berto Odebrecht, que iniciou sua internacio- importantes a serem seguidas por qualquer de Negócios de Construções e Comércio do Gru- nalização ainda nos anos 1970 sob a batuta empresa prestadora de serviços de engenha- po Camargo Corrêa, é crescente atualmente a estratégica de ir para a terra estrangeira ria”, afirma José Antunes Sobrinho, vice-pre- participação da construtora na América Latina “para por lá permanecer 50 anos no mínimo” sidente de energia da Engevix Engenharia. e na África portuguesa. “Nós estamos, numa – como recorda o economista Roberto Dias, “A gente observa realmente que o mundo segunda etapa, mirando Arábia Saudita, Índia e, diretor de relações institucionais da compa- inteiro demanda obras de infra-estrutura e, mais adiante, China. O mercado chinês merece um olhar mais cuidadoso, mas é uma perspec- tiva muito promissora, até porque os chineses constroem muito. Ainda não chegamos à Índia, mas não estamos muito longe de agir por lá. As Foto: Divulgação coisas são muito dinâmicas no mercado dos grandes países emergentes”, diz Venturini (Ler a reportagem “Camargo Corrêa acelerou sua estratégia de internacionalização”). Dinamismo esse que também está presen- te entre os países latino-americanos, onde as perspectivas são cada vez mais promissoras. Tanto que a Camargo Corrêa associou-se à An- drade Gutierrez e à Queiroz Galvão (Consórcio Interoceânico do Panamá), planejando abo- canhar pelo menos um dos lotes das obras de ampliação do Canal do Panamá, no país de mes- mo nome, na América Central, que permite o tráfego de navios entre o Atlântico e Pacífico. A obra, dividida em seis lotes e orçada em mais de 6 bilhões de dólares, é um dos maiores pa- cotes de construção em licitação no planeta. Fábrica da Voith Siemens Hydro Brasil, em São Paulo O processo de licitações e contratações deve

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ter início em meados deste ano de 2007. A s e x c e - lentes proba- Roberto Kochen, diretor técnico da GeoCompany bilidades de negócios na América do Sul e América Central foram decisivas para que a MWH Brasil passasse a comandar, a partir de 2004, todas as operações do grande grupo norte-americano na América Latina, notada- mente em áreas de atuação como saneamento básico e transporte. A MWH Brasil é parte da corporação internacional MWH que atua em todos os segmentos da engenharia consultiva nas áreas de saneamento básico, meio ambien- te, transporte, energia e mineração. Segundo Paulo Eduardo Souza, diretor técnico da MWH Brasil, a multinacional opera em 32 países e dispõe de mais de 130 escritórios. “A partir de 2004, as operações da MWH na América Latina foram unificadas, com objetivo de otimizar a utilização dos recursos humanos disponíveis na região e compartilhar as experiências con- solidadas entre os diversos escritórios da cor- poração na América Latina que se encontram localizados em Buenos Aires, Caracas, Cidade do Panamá, Lima, Santiago, Santo Domingo e São Paulo”, explica Souza, para quem essa filosofia operacional criou oportunidades de novos ne- gócios na região em setores que ainda não eram suficientemente explorados pelos escritórios regionais e que estavam preponderantemente focados em algumas áreas específicas da cor- poração. “No setor de energia, por exemplo, a experiência brasileira foi compartilhada com a do escritório da Argentina em trabalhos con- juntos na América Central.” Pelas informações do diretor da MWH Bra- sil, a receita da empresa com a exportação de serviços representou, em 2006, cerca de 48,9% do faturamento total obtido no ano. Se- gundo ele, os principais serviços exportados a partir de 2004, foram: elaboração de projetos, acompanhamento de obras, gerenciamento de compras e aquisições de materiais e equipa- mentos, supervisão de montagem e início de operação. A área de atuação mais importante foi a de estações de tratamento de águas residuárias industriais e domésticas. “Os prin- cipais contratos foram no México, Chile e Peru. Também atuamos numa central hidrelétrica na República Dominicana e, mais recentemen- te, a MWH Brasil foi contemplada com mais

ESPECIAL Foto: Leonardo Moreira

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580 um trabalho em parceria com o escritório de outros ma-

/2007 Segundo dados do Sindicato da MWH em Lima, relativo ao projeto da nova teriais que são estação de tratamento de água para a cidade Nacional das Empresas de enviados do de Arequipa, no sul do Peru. Novos negócios Arquitetura e Engenharia Brasil”, relacio-

ENGENHARIA também devem ocorrer na área de transporte.” na Castanheira Consultiva, Sinaenco, relativos a Paulo Eduardo Souza, diretor É sempre um exercício difícil fazer uma “con- (Ler a reporta- técnico da MWH Brasil tabilidade” sobre a exportação de serviços 2005, os serviços da construção gem “A decisão de engenharia, por ser essa, na verdade, uma civil movimentavam, no mundo, estratégica da exportação de inteligência – algo intangível –, 400 bilhões de dólares naquele Andrade Gutierrez despontou na Europa”). mas há como mostrar o que segue junto com o Se os números exatos sobre exportação de contrato principal de uma obra. Ou seja, se não ano, montante do qual o Brasil serviços de engenharia são difíceis de calcu- se pode encaixotar a elaboração dos estudos participava com quase 1,5%. lar, existem, no entanto, estimativas bastante e projetos – porque eles só servem para cons- Mas a previsão era de que essa confiáveis. É o caso dos levantamentos do Sin- truir aquele determinado empreendimento –, dicato Nacional das Empresas de Arquitetura é possível afirmar que é enorme o volume de relação de grandeza poderia e Engenharia Consultiva, Sinaenco, relativos a exportação de equipamentos, materiais (aço, dobrar em poucos anos 2005, pelos quais os serviços da construção cimento, fôrmas, aditivos etc.), serviços es- civil movimentavam, no mundo, 400 bilhões de pecializados (protensão, fundações, injeções), nacional da Construtora Queiroz Galvão: “Para dólares naquele ano, montante do qual o Brasil consultorias de engenharia, veículos e peças cada 100 milhões de dólares que a construtora participava com quase 1,5%. Mas a previsão necessários para o cumprimento dos contra- exporta, garantimos emprego para 16 000 era de que essa relação de grandeza poderia tos. Roberto Dias, da Odebrecht, lembra-se que pessoas no Brasil, levando em conta todas essas dobrar em poucos anos. Um dos motivos para por ocasião da construção da Hidrelétrica de outras empresas fornecedoras”, conta. Torres o otimismo é citado por Roberto Kochen, da Capanda, em Angola, no continente africano, é também responsável pelo desenvolvimento GeoCompany. “A engenharia brasileira sempre seguiam do Brasil praticamente 22 000 itens de novos negócios da Queiroz Galvão (Ler a re- se caracterizou pela sua criatividade, pela de supermercado – de alimentos e artigos de portagem “A investida internacional da Queiroz forma de enfrentar e superar desafios, e no higiene a palito de dentes e papel higiênico. Galvão começou em 1989”). Já o diretor da Amé- Brasil, com suas dimensões continentais, há “Esse material era unicamente destinado a rica Latina da Construtora Andrade Gutierrez, todo tipo de desafios”, atesta ele. nosso pessoal da Odebrecht, para não criar Ricardo Castanheira, por seu lado, dá exemplos Segundo relaciona Kochen, temos, por problemas no mercado nativo e acabar infla- do que a construtora leva lá para fora. “Levamos exemplo, rodovias e portos fluviais na Amazô- cionando os preços na região onde atuávamos”, para os países onde temos contratos os proje- nia, com logística e condições de implantação conta ele (Ler a reportagem “O pioneirismo e o tistas de arquitetura e engenharia consultiva dificílimas pela variação de clima e de nível poderio da Odebrecht”). – temos parcerias com várias empresas no dos rios; planícies como o Pantanal do Mato Outro dado interessante é fornecido por Brasil –, equipamentos eletromecânicos, aços e Grosso, onde as restrições ambientais impe- Berilo Torres, diretor comercial da área inter- outros insumos, além de uma variedade imensa ram; regiões onduladas e montanhosas no sul do país, onde a implantação de qualquer tipo de obra – sejam rodovias, hidrelétricas ou gasodutos – é dificultada pela topografia e geomorfologia local. “Assim, as capacitações Foto: Divulgação obtidas pelas empresas brasileiras de en- genharia, projeto, consultoria e construção permitem que elas desempenhem bem em qualquer lugar do mundo.” O diretor da GeoCompany cita os exemplos das rodovias interoceânicas no Peru, onde a transposição da Cordilheira dos se alterna com a Planície Amazônica, com platôs andinos e desertos da orla do Oceano Pacifico. “Não me surpreende que as empresas brasilei- ras operem em outros países, incorporando o que há de melhor nas suas culturas locais com os conhecimentos e capacitações da engenha- ria brasileira. Assim, as empresas brasileiras atuam em países que têm vulcões, terremotos e furacões com a mesma agilidade com que Sistema de tratamento das água residuárias domésticas e industriais Chimbarongo, Chile produzem trabalhos no mercado interno, onde

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Foto: Divulgação

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desenvolveram competências para atender às estudos de viabilidade, con- estamos acompanhando estas 580 mais variadas demandas e desafios.” sultoria, projetos básicos possibilidades de perto – no /2007 Kochen conta que desde que começou, em e executivos, sempre em Panamá, República Dominicana 1999, a GeoCompany mantém parcerias com colaboração com empresas e outros países da América La- Homero Valle de Menezes

empresas estrangeiras, como, por exemplo, brasileiras, na Rodovia In- tina”, antecipa. Em 2006, os pro- ENGENHARIA Côrtes, vice-presidente da o Itasca Consulting Group, de Minneapolis teroceânica Norte no Peru. Sondotécnica Engenharia jetos e atividades no exterior (Minnesota, Estados Unidos), que é uma em- Nesse caso, atuamos junto de Solos representaram cerca de 40% do presa líder mundial no desenvolvimento de à Engevix Peru, sucursal faturamento da GeoCompany. softwares de análise geomecânica para obras da Engevix Engenharia, e Sobre o mercado doméstico, em solo e rocha, como túneis, barragens e usi- CAB, sucursal da Copavel Engenharia”, diz. Kochen avalia que, embora o Brasil tenha se nas nucleares. “Os softwares da Itasca, que Na Hidrelétrica Mazar, atuou junto à Leme ressentido do baixo nível de investimento em representamos com exclusividade no Brasil, já Engenharia; no Metrô de Buenos Aires, junto obras de infra-estrutura no passado recente, foram licenciados para diversas empresas e à multinacional norte-americana MWH; no Me- o país precisa crescer e aumentar suas malhas instituições, como Petrobras, Companhia Vale trô de Londres, junto à Dr. Sauer Corporation, rodoviária e ferroviária, precisa incrementar do Rio Doce, Universidade de Brasília, PUC do entre outros projetos e obras. sua oferta de energia (sejam usinas hidre- Rio de Janeiro, e outras.” Atualmente a GeoCompany participa de létricas, térmicas ou nucleares), precisa de “Em 2003, iniciamos um trabalho de aná- licitações e concorrências no Chile (em parce- melhorias no sistema de saneamento, isto sem lise e consultoria da caverna subterrânea ria com empresas de engenharia e construção falar das obras no setor de óleo e gás – como da Hidrelétrica São Francisco, no Equador, chilenas) e no Peru (junto a concessionárias gasodutos e refinarias –, cujo investimento pro- em parceria com a PCE Engenharia do Rio de de rodovias com capital integralizado por fi- gramado para os próximos anos é superlativo. Janeiro, para a Odebrecht, líder do consórcio liais de empresas brasileiras de engenharia “Estamos moderadamente otimistas, e devemos construtor. A isto se seguiram trabalhos e e construção). “Há possibilidades também – e continuar a atuar em outros países, apesar das

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580 dificuldades de logística e câmbio, pela necessi- Como as empresas nacionais engenheiros. Segundo Côrtes, está entre as /2007 dade de ter uma base diversificada no mercado operam em outros países, quatro primeiras empresas de engenharia externo que nos permita atravessar períodos da área de consultoria em faturamento no de calmaria no mercado brasileiro.” ajuntando o que há de melhor Brasil. “O nosso pessoal brasileiro viaja cons-

ENGENHARIA nas culturas locais com os tantemente para o exterior – inclusive muitos A trajetória da Sondotécnica – Segundo Ho- conhecimentos e capacitações engenheiros. Além disso, mantemos, claro, mero Valle de Menezes Côrtes, vice-presiden- quadros locais nos diversos países onde atu- te da Sondotécnica Engenharia de Solos, a da nossa engenharia, elas amos. Temos até uma empresa de consultoria empresa atua no exterior desde a década de podem atuar em países que têm associada a nós em Angola.” 1970, foi expandindo sua participação lá fora Ele diz que mesmo sobrevindo um surto ao longo dos anos e hoje em dia o percentual de vulcões, terremotos e furacões de desenvolvimento no Brasil, possivelmente seu faturamento global que vem do exterior com a mesma agilidade com que alavancado pelo Programa de Aceleração do chega a 25%. “Nos anos 1970 já estávamos desenvolvem trabalhos no mercado Crescimento, PAC, a Sondotécnica continuará muito presentes na América Latina – Bolívia, mirando no exterior. “Primeiro, porque a segu- Peru, Colômbia, Paraguai e Uruguai – e já interno, atendendo às mais rança contratual de continuidade é excelente fazíamos incursões no Caribe. Na década de variadas demandas e desafios lá fora. Como só costumamos entrar em opor- 1980, além de acelerar na América Latina, tunidades selecionadas, a rentabilidade é boa chegamos a trabalhar no Iraque e ampliamos e Banco Africano de Desenvolvimento, BAD. – apesar da gente ter ficado prejudicado pelo trabalhos na África, onde estivemos na Nigéria “Nos últimos 15 anos já houve um mix e, além dólar nos últimos dois anos. Segundo, porque e Mauritânia. Na década de 1990 ampliamos de nosso perfil ficar associado a grandes em algumas áreas conquistamos nichos im- bastante a presença no exterior. Começamos construtoras brasileiras, atuamos em obras portantes no exterior. Na maioria dos países trabalhos em Angola em 1991 e nunca mais vinculadas a pacotes de financiamento do Ban- que temos atuado tem havido crescimento saímos de lá. Atualmente estamos realizando co Nacional de Desenvolvimento Econômico e econômico e o que temos notado é que existe trabalhos na República Dominicana, Panamá, Social, BNDES, e do Programa de Financiamen- uma carência imensa de profissionais qualifi- Peru, Angola e Paraguai. Na Bolívia e Argentina to às Exportações, Proex”, explica. Esta última cados em nível mundial, em todas as empresas. tivemos contratos até passado recente.” modalidade de financiamento ao exportador Nós temos parceiros pelo mundo afora que Pelas informações de Côrtes, até os anos de bens e serviços brasileiros, é realizado vira e mexe nos pedem para que arranjemos 1980 a Sondotécnica atuava em terra es- exclusivamente pelo Banco do Brasil, com engenheiros em certas especialidades que não trangeira segundo contratos exclusivamente recursos do Tesouro Nacional. existem por aí, como engenheiros ferroviários. atrelados a financiamentos de bancos mul- A Sondotécnica fatura hoje em torno de A demanda é tão intensa que muitas empresas tilaterais, como o Banco Interamericano de 90 milhões de reais ao ano, conta com quase têm se socorrido com profissionais indianos e Desenvolvimento, BID; Banco Mundial, Bird; 900 profissionais, dos quais uns 300 são da Europa Oriental. Nossa experiência inter- nacional nos ensinou muito e deu um padrão de qualidade diferenciado ao nosso trabalho. A gente lida com outras normas, outras culturas, outro grau de fiscalização, outras modalidades Foto: Divulgação de contratação, outras legislações.” Fundada há 52 anos com o objetivo de re- alizar estudos de solos, projeto e fiscalização, ao longo de sua existência a Sondotécnica diversificou a atuação e hoje realiza projetos especializados de engenharia, com foco nas áreas de transporte, saneamento, energia, irrigação e obras civis. Dentre os principais serviços executados destacam-se: estudos de viabilidade; elaboração e coordenação dos estudos ambientais e apoio técnico na obten- ção das licenças necessárias à implantação e operação de empreendimentos; planos direto- res; projetos básico e executivo; inspeção de fabricação, especificação técnica, montagem de equipamentos; testes pré-operacionais e comissionamento; assessoria técnica e su- pervisão de construção; gerenciamento de Projeto Hidrelétrico Pinalito, República Dominicana projetos e obras.

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Para dar suporte a essa diversifica- ção, a Sondotécnica possui uma Unidade de Serviço de Informação Tecnológi- ca para apoio às pesquisas, estudos e desenvolvimento de projetos, através de seus recursos documentais, cujas José Antunes Sobrinho, vice-presidente de energia informações podem ser recuperadas da Engevix Engenharia através das principais bases de da- dos disponíveis na rede da empresa e via internet. O objetivo desta unidade é estabelecer condições para disponibilizar o conhecimento no momento em que é necessário, com base na filo- sofia administrativa japonesa just in time, modelo que coordena a produção com a demanda específica, ou seja, produzir itens e quan- tidades necessárias no momento oportuno para atender a deman- da, trazendo vantagem competitiva para a empresa e os clientes. Côrtes diz que a Sondotécnica trabalha tanto com contratos diretos com o cliente principal como em subempreitada. Sua experiência global aponta para atuações passadas ou em curso nos quatro continentes. Na África, na Nigéria, Congo e Angola. Na Nigéria, com projetos de irrigação, como o Projeto de Desenvolvimento Agrícola de Bendel. No Congo, com estradas, como a Rodovia Epería-Ipfondo-Dongou. Em Angola, com obras de saneamento, energia, irrigação e civis. Saneamento: sistemas de abas- tecimento de água de Benguela, Lobito, Catumbela, Baía Farta, Luanda (quatro etapas) e Zango. Energia: AHE Capanda; bancos de capacitores de 15 kV em Luanda, LT Capanda-Malange; planejamento do setor elétrico de Angola; Ses Cacuso e Malange. Irrigação: projetos Gandjelas, Kikuxi e Matala. Obras civis: Kinanga – Centro Cultural Agostinho Neto. Na América do Sul, obras na Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina. Na Colômbia, com obras de saneamento: Estação de Tratamento de Água na Colômbia. No Equador, com obras de transporte: pontes da Perimetral de Guaiaquil. No Peru, com obras de transporte e saneamento. Transporte: supervisão de pontes. Saneamento: programas de saneamento básico por todo o Peru. Na Bolívia, obras de transporte, saneamento, energia e obras civis. Transporte: Ligação Ferroviária Ai- quile-Santa Cruz de la Sierra, Ferrovia Motacucito-Mutún-Puerto Busch, Rodovia Sucre-Padilla-Ipati. Saneamento: Sistema de Águas e Esgotos de Santa Cruz de la Sierra. Energia: Usina Hidrelétrica Santa Isabel. Obras civis: Parque Industrial de Santa Cruz de la Sierra. No Paraguai, obras de transporte, saneamento e energia. Transporte: Ferrovia Salto del Guaiará-Asunción e Plano de Gestão e Controle Ambiental no Paraguai. Saneamento: Rede de Distribuição de Luque, Sistema de Galerias de Águas Pluviais de Assunção, Estação de Tratamento de Água de Coronel Oviedo e Villarica. Energia: Usina Hidrelétrica do Rio Mondem e Usina Hidrelé- trica Acarai. No Uruguai, obras de saneamento e irrigação. Saneamento: Abastecimento de Água do Este do Uruguai. Irrigação: Rio Jaguarão. Na Argentina, obras de transporte (Puerto Madryn). Na América do Norte e Central, obras no México, Haiti, Guatemala e El Salvador. No México, obras civis da Embaixada do Brasil no México. No Haiti, Abastecimento de Água de Petionville e Puerto Príncipe. Na Guatemala, obras de saneamento. Em El Salvador, abastecimento de água da capital San Salvador.

A incursão da Engevix – Segundo o vice-presidente de energia, José Antunes Sobrinho, a Engevix Engenharia começou a dar os primeiros passos fora do Brasil “nos últimos sete ou oito anos”. Hoje a empresa ESPECIAL

Foto: Divulgação

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580 tem escritórios fixos na Cidade do México, na São Paulo, há 43

/2007 A Engevix Engenharia começou a capital peruana, Lima, e em Luanda, Angola. anos, a empresa “Mas há outros países onde temos contratos. dar os primeiros passos fora do já contava com Na América Latina, temos feito trabalhos no Brasil nos últimos oito anos mas já a experiência da

ENGENHARIA Chile, Equador, Venezuela e Bolívia. Na África, tem escritórios fixos na Cidade do matriz no desen- Werner Lacher, diretor temos atuado na Tanzânia e no Congo. Além volvimento dos técnico da Voith Siemens disso, temos um contrato no Nepal e outro na México, Lima, e em Luanda, Angola. principais pro- Hydro Brasil China. Mas nosso foco é América do Sul, Amé- Tem contratos também jetos hidrelé- rica Central e África Austral, principalmente em outros países da América Latina, tricos do mundo. os países lusófonos. Como estamos muito bem Segundo o diretor técnico Werner Lacher, estabelecidos no México, a partir dessa base como Chile, Equador, Venezuela e “com nossa competência internacional unida têm surgido propostas para países da América Bolívia. Na África, atua na à capacidade brasileira de projetar e produzir, Central e há possibilidades que algumas delas Tanzânia e no Congo; e na Ásia, a Voith Siemens passou a se destacar no de- caiam em nossas mãos em breve.” senvolvimento de novas tecnologias”. A Engevix Engenharia tem 40 anos de no Nepal e na China Empresa do Grupo Voith – do qual fazem experiência e é especializada na prestação a língua espanhola para o México e o que mais também parte a Voith Paper, a Voith Turbo e de serviços de engenharia consultiva em ouvimos tanto entre os latino-americanos Voith Industrial Services –, a Voith Siemens empreendimentos públicos e privados no como entre os africanos lusófonos é que Hydro destaca-se entre as mais inovadoras Brasil e exterior. No Brasil, tem escritórios ‘empresa como a Engevix é difícil de achar’. O da Europa, com cerca de 10 000 patentes permanentes em São Paulo, Rio de Janeiro, brasileiro tem suas facilidades, ele é trabalha- registradas e gerando em média 400 novas Brasília, Florianópolis e Curitiba. A empresa dor, comunicativo e dinâmico. Ele ingressa com patentes a cada ano. A atuação da Voith Sie- nasceu como departamento de projetos civis sucesso em novos mercados como esses.” mens Hydro Brasil no mercado internacional da Servix Engenharia. Na época, mudança na Perguntamos ao vice-presidente de ener- está dividida entre os projetos “intercom- legislação proibia que construtoras, caso da gia da Engevix, qual foi a estratégia que nor- pany”, em parceria com as filiais do grupo Servix, fossem também responsáveis pelos teou a empresa a lançar-se ao exterior. Ele na América do Norte, Europa e Ásia, e os projetos. Pela mesma razão foi criada, na contou que para a área de energia, especifica- negócios independentes voltados para os de- ocasião, a Natron, para elaborar projetos mente, foi criada a empresa Braspower, fruto mais países da América Latina. “Nos últimos para a área industrial. Nos anos 1970, a Servix da associação entre a Engevix (51%) e a Copel três anos, mesmo com a dificuldade gerada foi vendida para o Grupo Rossi, que passou a (49%). O foco da Braspower é o mercado inter- pela estagnação do mercado nacional, as administrar a Engevix (projetista) e a Engemix nacional, especialmente o Sudeste Asiático e a encomendas intercompany – subsidiárias (concreteira). Em 1997, três funcionários China, onde oferece as tecnologias desenvol- em outros países – contabilizaram recorde – Cristiano Kok, Gerson Mello Almada e José vidas no Brasil referentes a projetos associa- de fabricação”, diz Lacher. Antunes Sobrinho – adquiriram as ações da dos a energia e infra-estrutura. Encontra-se Lacher explica que a participação da Voith Rossi e passaram a controlar a Engevix. em execução o contrato de serviços para o Siemens Hydro Brasil no mercado internacio- Em 2006, a empresa faturou globalmente projeto da Barragem de Shuibuya, referente nal cresceu substancialmente nos últimos em torno de 280 milhões de dólares e o per- à consultoria durante as fases de construção. dois anos, com a inauguração de escritórios centual da exportação de serviços ainda é “Temos, inclusive a concessão da Hidrelétrica regionais no Chile, Colômbia, México e Costa pequeno. Segundo Antunes, não passou de 7 de Lower Arun – 330 MW –, no Nepal.” Rica – com o que a área de atuação da filial milhões de dólares. “É pouco, mas o importante Antunes comenta que no passado a maior brasileira na América Latina foi ampliada. “A é que nossa operação externa já foi estrutura- parte dos países da América Latina procu- participação do mercado latino-americano da e tornou-se rentável pelas próprias pernas, ravam as grandes empresas de engenharia já rendeu o desenvolvimento de importantes não dependendo mais de apoio de caixa. Para européias ou americanas para construir obras projetos hidrelétricos no Peru, como a moder- 2007, porém, nossa meta é bem diferente. Só de infra-estrutura em seus territórios. Mas nização das usinas Callahuanca, e a constru- para dar uma idéia, em Angola nós temos 15 a Odebrecht saiu na frente e foi muito bem ção de El Platanal e de Pinalito, na República milhões de dólares em novos contratos. Quer sucedida, sendo hoje uma grande companhia Dominicana”, conta. Ele afirma também que a dizer, muito provavelmente em 2007 vamos globalizada. “Nós também, com o processo de empresa sedimentou a sua presença no mer- fechar com uma parcela de pelo menos de 10% internacionalização, aspiramos a que daqui cado de pequenas centrais hidrelétricas, com do faturamento global da Engevix.” uns 10 anos possamos estar globalizados a construção das PCHs de Chilatán e El Gallo, Para Antunes, criar relações lá fora é um e contar com uma parcela grande de nosso no México, e Pocosol, na Costa Rica. “Com a trabalho árduo, mas depois vem a colheita “e faturamento fora do país.” expectativa de gerar 50 milhões de dólares em os resultados estão aparecendo”. Segundo in- novos negócios na região nos próximos anos, formou, a Engevix fez duas pequenas centrais A Voith Siemens exporta tecnologia – A Voith apostamos cada vez mais na hidrogeração hidrelétricas no México, e a empresa ficou Siemens Hydro Brasil continua investindo como sendo a principal alternativa à geração responsável por tudo, inclusive a execução constantemente na ampliação de suas expor- termelétrica.” da obra. Mandamos nosso pessoal que já fala tações. Desde o início de seus trabalhos em Segundo informa Lacher, a fábrica da

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Voith Siemens em São Paulo é hoje a maior e Hydro em São Paulo exportará para a usina Cao do mercado internacional, tanto em qualidade 580 a mais completa do grupo em todo o mundo, Joe, na China, algumas das maiores turbinas como pela redução dos prazos de fabrica- /2007 sendo a única a produzir além das turbinas, Kaplan já fabricadas no Brasil, com 9,5 metros ção e entrega. É fabricada tanto com discos todos os componentes de gerador, incluindo de diâmetro – modelo e dimensões similares às fundidos como forjados, e posteriormente

Werner Lacher, diretor partes elétricas e mecânicas. “Em 2006, a uni- peças que vão equipar a Hidrelétrica de Estrei- usinados, esculpindo-se o rotor Pelton na ENGENHARIA técnico da Voith Siemens dade quebrou todos os recordes de produção, to, no Maranhão, da qual é líder de consórcio sua forma até parte das conchas”, diz Lacher, Hydro Brasil superando a marca de 22 000 unidades”, diz. formado com a Alstom.” explicando que a outra parte dessas conchas A empresa mantém hoje aproximadamente O diretor técnico da Voith Siemens comen- são fundidas individualmente e soldadas. 40% de sua capacidade para a produção de ta que o Projeto Estreito já é considerado o “As hidrelétricas El Pantanal, Moyopampa e equipamentos para exportação. A sede pau- principal negócio brasileiro em hidrogeração Belviso&Ganda são as primeiras a receber listana recebe encomendas das outras 18 de 2007 e a empresa – enquanto espera am- rotores dentro desta concepção.” subsidiárias da Voith Siemens Hydro, forne- pliar seus projetos com o reaquecimento do Na visão de Lacher, a exportação de servi- cendo equipamentos para usinas em todos mercado doméstico brasileiro – irá reforçar ços de montagem, operação e manutenção de os continentes. sua atuação na América Latina com a moderni- usinas é outro mercado em ascensão dentro Atualmente, encontra-se em processo de zação da Hidrelétrica de Guri II, na Venezuela, do escopo de negócios da empresa. “Atualmen- fabricação mais de 20 encomendas, entre as com a construção da usina equatoriana de te, uma equipe de oito bobinadores da Voith quais os rotores de Gigel Gibe II, para Etiópia; Mazar, e com a construção da PCH Pocosol, Siemens Hydro Services brasileira trabalha na pás para rotores e palhetas, para a Romênia; na Costa Rica. modernização da Usina Hidrelétrica High Dam, enrolamentos estatóricos para a Suécia; A empresa acaba também de inovar na tec- no Egito. “O projeto hidrelétrico egípcio prevê e partes da turbina e gerador para a usina nologia de fabricação de rotores ao desenvol- uma primeira fase de trabalhos até abril de hidrelétrica de Mequinenza, na Espanha. ver a tecnologia mecano-soldado. “Esse tipo 2007, estendendo-se até 2010 com a reforma “Entre este ano e 2008, a Voith Siemens de tecnologia cumpre os principais requisitos de mais seis unidades geradoras.”

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580 êxito do processo de internacio- /2007 nalização da Construtora Norber- O pioneirismo e o to Odebrecht – que está presen- te hoje em dezenas de países de quatro continentes – pode ser traduzido em ENGENHARIA números. Segundo Roberto Dias, diretor de poderio da Odebrecht relações institucionais do Grupo Odebrecht, em 2006 a construtora deve ter faturado 3,5 bilhões de reais, 65% dos quais com expor- A primeira investida da Construtora Norberto Odebrecht tações de serviços de engenharia. “Os dados no exterior aconteceu há pouco menos de 28 anos, ainda não estão fechados, mas não poderão ficar muito longe disso”, adianta ele. “Do total em 1979, no Peru, país onde atualmente desenvolve de 31 000 pessoas que a Odebrecht emprega – dados de 2006 –, 16 000 delas trabalham algumas de suas obras mais importantes: a construção no Brasil e outras 15 000 em terra estran- das rodovias Interoceânica Norte e Interoceânica Sul, ou geira”, diz. Em 2005 a empresa havia fatura- do 2,7 bilhões de reais e 75% disso veio do seja as interconexões bioceânicas (Atlântico e Pacífico) exterior. O fato de em 2006 esse percentual ter caído reflete pura e simplesmente que da integração regional da América do Sul. Em 1993, a a participação do faturamento doméstico ação da Odebrecht já se estendia a 19 países. Em 1995, aumentou: de 25% em 2005, passou a 35% em 2006. E não que o nível de atividade no sua atuação seria ainda mais ampliada com o início de estrangeiro tenha diminuído. operações na Malásia e em outros países do Sudeste Aos 63 anos de existência, a Odebrecht é a maior empresa de engenharia e construção Asiático. Em 2003, quando seus negócios no exterior da América Latina. Presta serviços integra- dos de engenharia, suprimento, construção, chegaram a 81%, a empresa abriu uma representação montagem e gerenciamento de obras civis, nos Emirados Árabes, no Oriente Médio. Aos 63 anos de industriais e de tecnologia especial. Desde sua fundação, a empresa participa da cons- existência a Odebrecht é a maior empresa de engenharia trução de edificações, usinas hidrelétricas e termelétricas, centrais nucleares, usinas e construção da América Latina siderúrgicas, refinarias, centrais petroquí- micas, complexos turísticos e imobiliários, sistemas de transporte de massa urbanos, rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, Foto: Divulgação equipamentos para a indústria de petróleo e gás e de projetos de mineração, saneamento básico e irrigação. Segundo Dias, a internacionalização da construtora deu-se num contexto que pode- ria ser resumido em “ir para um país estran- geiro visando passar no mínimo 50 anos por lá”, e não segundo uma visão mais imediatis- ta de “ir, fazer uma obra, e voltar rapidinho”. Uma das razões do sucesso da Odebrecht em suas incursões internacionais é a decantada gestão descentralizada da empresa. “Ou seja, o profissional Odebrecht que vai tocar uma obra no exterior segue para lá com a ‘cabeça de empresário’ e não precisa ficar consultan- do a matriz a cada passo. Vai para fazer uma obra, garantir a sobrevivência da empresa no local, tentar licitar uma nova obra posterior, e Obras da Rodovia Interoceânica, Peru não apenas para dar uma ‘dentada’ e voltar.”

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Divulgação

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É o próprio profissional, ou melhor, “em- quem a Odebrecht conta com rios sinais de que a inte- 580 presário Odebrecht”, quem vai se ocupar com três ícones nos Estados Unidos. gração física da América /2007 o “destrinchamento” da cultura do novo país. Um é o Miami Arena, um está- do Sul avança, foi a inau- “Mas, por outro lado, esse profissional nosso dio construído para a principal guração, há pouco mais de tem também o mérito de levar a reboque, para equipe de basquete da Flórida, um ano, da primeira ponte ENGENHARIA o desenvolvimento de seu trabalho, várias em- o Miami Heat. Outra obra-pri- entre o Brasil e o Peru. “A presas brasileiras. Tanto empresas de proje- ma é o Performing Arts Center, ponte sobre o Rio Acre, com to, fornecedoras de material de construção, complexo de casas de espetá- 240 metros de extensão, de equipamentos, de veículos, como até for- culos de Miami, uma das mais fez mais do que permitir necedoras de artigos de supermercado. Com notáveis e sofisticadas obras a superação do obstáculo Roberto Dias, diretor de isso ele não só leva a bandeira brasileira para dos Estados Unidos. relações institucionais do natural que separava, num o exterior como leva também as coisas do in- O terceiro ícone, segundo Grupo Odebrecht país e no outro, as cidades teresse do próprio país e, como se vê, do pró- Dias, é uma obra feita para o de Assis Brasil e Iñapari. prio empresariado brasileiro.” exército norte-americano (o Ela desimpediu a passagem A investida vitoriosa da construtora bra- cliente foi o US Army Corps of Engineers). Tra- para a Rodovia Interoceânica Sul, que será, sileira no exterior começou há pouco menos ta-se da Barragem Seven Oaks, na Califórnia, daqui a quatro anos, a primeira ligação rodo- de 28 anos, em 1979, no Peru, na região de no valor de 300 milhões de dólares, iniciada viária do Brasil com o Oceano Pacífico. Arequipa. Em 1993, a ação da Odebrecht já em abril de 1994 e concluída em novembro de A ponte, segundo o ex-governador do se estendia a 19 países: Alemanha, Angola, 1999. A Seven Oaks faz parte de um comple- Acre, Jorge Viana, vai redesenhar a geografia Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cinga- xo de infra-estrutura para proteção contra econômica de uma vasta porção do territó- pura, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados cheias em três condados na Califórnia, San rio sul-americano. Pode-se antever o intenso Unidos, Inglaterra, México, Paraguai, Peru, Bernardino, Riverside e Orange County. Pela movimento de transporte de carga e passa- Portugal, Uruguai e Venezuela. Em 1995, sua qualidade e prazo de execução alcançados, geiros que em breve trará vida à fronteira e atuação seria ainda mais ampliada com o além do alto índice de segurança do traba- intensificará a atividade produtiva nas loca- início de operações na Malásia e em outros lho obtido, a Odebrecht foi escolhida pelo US lidades situadas ao longo da futura rodovia. países do Sudeste Asiático. Em 2003, quando Army Corps of Engineers como a melhor den- Os números são expressivos: dos 27 milhões seus negócios no exterior chegaram a 81%, tre as empresas de construção nos Estados de habitantes do Peru, cerca de 5,5 milhões a empresa abriu uma representação nos Emi- Unidos no ano de 1999. serão diretamente beneficiados pela Inte- rados Árabes, no Oriente Médio, por meio do roceânica Sul. Processo semelhante tende a qual passou a atuar no Chifre da África, em O Peru e a Interoceânica ser verificado nas transformações que ela irá Djibuti, na saída do Mar Vermelho. No caso específico do Peru, a Odebrecht operar também em território brasileiro. Antes disso, no ano 2000, a Odebrecht é a única empresa de construção de origem Na visão de Dias, a entrega da ponte so- já fora classificada pelo Global Construction estrangeira que atua durante tanto tempo bre o Rio Acre encerrou uma importante eta- Sourcebook, da revista norte-americana En- – e de forma contínua – naquele país andi- pa da participação do Brasil nessa obra, uma gineering News Record, como a maior empre- no. Atualmente a Odebrecht desenvolve lá a vez que, do nosso lado da fronteira, o asfalto sa de engenharia e construção da América construção das rodovias Interoceânica Nor- já chegou às margens daquele rio. “Ou, mais Latina e uma das 30 maiores exportadoras te (IIRSA Norte) e Interoceânica Sul (IIRSA precisamente: encerramos nossa participa- desses serviços em todo o mundo. De lá para Sul), ou seja as interconexões bioceânicas ção em nosso próprio território, pois muito cá esse guia vem ratificando o destaque e co- (Atlântico e Pacífico) da integração regional. do que ainda está por fazer foi confiado a locando a construtora como uma das maiores Um terceiro projeto – também com a partici- empreendedores brasileiros”, detalha. Dos na construção de barragens hidrelétricas no pação da Odebrecht –, que visa igualmente cinco trechos em que foram divididos a cons- mercado internacional. “Já chegamos a ter abrir caminho entre os dois oceanos, inclui trução da Interoceânica, dois estão sendo 12 ou 13 obras de hidrelétricas ao mesmo a abertura de uma estrada na vizinha Bolívia. desenvolvidos pelo Conirsa, consórcio lide- tempo em diferentes países do mundo”, lem- Trata-se da tão sonhada integração da Amé- rado pela Odebrecht Perú Ingeniería y Cons- bra Roberto Dias. rica do Sul tomando forma, concretamente, trucción S.A.C. (70%) e integrado também pe- Uma prova acabada do sucesso da em- no mapa do continente. A construtora se in- las empresas peruanas Graña y Montero S.A. preiteira no exterior, é sua participação no tegrou de tal forma no ambiente de negócios (18%), JJ Contratistas Generales S.A. (7%) e país mais poderoso do planeta, os Estados do Peru, que se transformou em promotora ICCSA, Ingenieros Civiles y Contratistas Ge- Unidos. Segundo Dias, a empresa está conso- do desenvolvimento e modernização que tem nerales S.A. (5%). lidada por lá. “Somos, por exemplo, os princi- ocorrido naquele país no último quarto de Dias explica que, pela primeira vez em sua pais construtores de aeroportos da Flórida, século. Sem contar as duas rodovias ora em história no Peru, a Odebrecht não será apenas onde temos mais de 1 bilhão de dólares em construção, a empresa executou até agora construtora. “Nesse contrato de concessão, no contratos; inclusive o terminal da American mais de 40 obras de infra-estrutura e mine- valor de 580 milhões de dólares, ela será tam- Airlines, ora em construção em Miami, está ração no país andino. bém investidora. E, ao contrário do que fez no sendo executado por nós”, conta ele, para Segundo Roberto Dias, um dos mais notó- passado, não precisará levar recursos do Bra-

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580 sil. A empresa se integrou ao regime de parce- Nova associação voltou a reunir agora velhos

/2007 Segundo o diretor Roberto ria público-privada que, no Peru, está sendo parceiros – a empresa brasileira e a - desenvolvido com sucesso. Com algo a mais: Dias, a internacionalização da na Ingenieros Asociados, Iasa. O contrato, também na engenharia financeira, a Odebrecht Odebrecht deu-se num contexto no valor de 75 milhões de dólares, com finan-

ENGENHARIA tem contribuições originais a oferecer.” que poderia ser resumido em ciamento da Corporação Andina de Fomento, Em território peruano, a Rodovia Inte- CAF, faz parte de um corredor viário que per- roceânica Sul terá uma de suas pontas em “ir para um país estrangeiro mitirá viajar por terra de portos brasileiros, Iñapari, junto à fronteira com o Brasil. A 403 visando passar no mínimo 50 como o de Santos, à costa do Peru e do Chile, quilômetros dali, na Ponte Inambari, ela vai anos por lá”, e não segundo o que irá facilitar e baratear o transporte e se abrir em duas vertentes (uma das quais, a prestação de serviços entre o Mercosul e a por sua vez, também se bifurcará, fazendo uma visão mais imediatista Comunidade Andina. com que a estrada tenha conexões com três de “ir, fazer uma obra, e voltar portos do Pacífico: San Juan de Marcona, Ma- rapidinho para o Brasil” Angola e Venezuela tarani e Ilo). Segundo Dias, uma dessas ver- Com o início das obras da Hidrelétrica tentes, ligando Iñapari e San Juan de Mar- É na construção, exploração e manu- de Capanda, para geração de 520 MW, a 300 cona, já tem uma parte pavimentada, que vai tenção dessa rodovia que a Odebrecht está quilômetros de Luanda, capital de Angola, a de Urcos até o Pacífico, passando por Cuzco. engajada, como sócia (49,8%) e líder da Con- Odebrecht iniciava o desbravamento do con- “Os 703 quilômetros a serem construídos cessionária IIRSA Norte, integrada também tinente africano. O ano era 1984 e o proje- entre Iñapari e Urcos é que estão entre- pelas construtoras Andrade Gutierrez (40%) to era fundamental para a recuperação da gues ao consórcio liderado pela Odebrecht. e Graña y Montero (10%). “O investimento to- economia daquele país. Foram quatro longos O que existe ali, hoje, é uma estrada estreita, tal da concessionária está calculado em 220 anos de negociações entre o governo brasi- precária, sem revestimento, pontilhada de milhões de dólares, dos quais 205 milhões se leiro, o angolano e o soviético. Capanda deu perigos, onde até recentemente poucos se destinam às obras de construção e reabili- trabalho a centenas de brasileiros e a mais aventuravam a trafegar.” tação da rodovia”, detalha Dias. Essas obras de 3 000 angolanos. Desde aquele ano, os O diretor de relações institucionais da estão a cargo de um consórcio construtor angolanos vêm recebendo treinamento em Odebrecht admite que transformá-la numa formado pelas mesmas empresas e com li- engenharia, construção civil, informática e moderna rodovia não está sendo tarefa derança da Odebrecht. Numa primeira etapa, saúde, entre outros. simples, pois há desafios de toda ordem no iniciada em janeiro de 2006, o consórcio está Roberto Dias participou ativamente do projeto – técnicos, logísticos, financeiros, cuidando da recuperação e melhoria de 115 projeto e confirma que foi uma experiência sociais e ambientais. “Eles incluem o traba- quilômetros entre Tarapoto e o porto fluvial conturbada com guerra civil e problemas in- lho sob temperaturas que variam de 10ºC de Yurimaguas, obra que deverá estar con- ternos. “Mas de qualquer forma nós estáva- negativos, na Cordilheira dos Andes, a 40ºC cluída em outubro deste ano. Em fevereiro do mos no rastro de um fato histórico. O Brasil foi positivos, na selva amazônica peruana, ou em ano passado, um aditivo ao contrato de con- o primeiro país a reconhecer a independência altitudes que vão de 270 metros acima do cessão veio permitir a antecipação do início de Angola, no final de 1975”, diz. Nessa época, nível médio do mar, junto à fronteira com o das obras da segunda etapa do projeto, para Dias ia praticamente todo mês a Angola. “Nós Brasil, a 4 700 metros, na localidade andina recuperação de mais dois trechos (Paita-Piu- já sabíamos dos riscos inerentes ao projeto, de Hualla-Hualla.” ra, com 47 quilômetros, e Piura-Olmos, com mas tínhamos consciência também que esse Segundo ele, hoje, para chegar a um 163 quilômetros), incluindo, neste último, risco se reduzia bastante porque a região porto do Pacífico, um contêiner de 20 pés o melhoramento de pontes. “Além de incluir das obras ficava próxima à capital Luanda, embarcado em Manaus tem que subir até o trechos de delicada execução técnica – aque- a uns 300 quilômetros no rumo noroeste. O Atlântico e atravessar o canal do Panamá, les, por exemplo, em que está sendo preciso risco era muito maior no interior de Angola, numa viagem que não dura menos de 42 dias alargar o leito, apertado entre taludes escar- no rumo sudoeste, na região da Jamba. Con- (incluídos dois, em média, de espera no canal) pados e despenhadeiros –, a estrada atraves- sumimos três anos – de 1981 a 1984 – para e custa, em média, 7 140 dólares. Quando o sará áreas de preservação ambiental onde é conhecer cultural e tecnicamente a região eixo multimodal estiver pronto, esse mesmo imensa a diversidade da fauna e da flora.” onde estávamos entrando.” contêiner poderá ir, por transporte fluvial, Sempre com vistas a ligar o Atlântico e A barragem da Hidrelétrica de Capanda de Manaus a Iquitos, no Peru, e de lá a Yu- o Pacífico, outra frente rodoviária em que tem 110 metros de altura. Na ocasião, foi rimaguas, de onde prosseguirá, por rodovia, a construtora brasileira está no momento aberto um aeroporto na região para receber até o porto de Paita – a um custo bem infe- empenhada na região andina, é a construção aviões de grande porte que traziam mate- rior ao da alternativa atual: 4 840 dólares. de 114 quilômetros de estrada entre El Car- riais para a obra. A usina já entrou em opera- “O tempo cairá pela metade: de Manaus a Yu- men e Arroyo Concepción, na região leste da ção há alguns anos. Além de constituir-se em rimaguas, serão apenas 20 dias de viagem, e Bolívia. A empreitada marca a retomada de infra-estrutura crucial para o soerguimento mais dois ou três, no máximo, para percorrer atividades no país, onde entre 1993 e 1995 econômico de Angola, a hidrelétrica foi uma 960 quilômetros de estrada, de Yurimaguas, a Odebrecht construiu 115 quilômetros da peça importante no processo de amadureci- na selva peruana, até Paita.” rodovia de Santa Cruz de la Sierra a Trinidad. mento da filosofia e das práticas da Cons-

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trutora Norberto Odebrecht e contribuiu de além de uma faixa central, destinada a pas- 580

Pela primeira vez em sua /2007 forma decisiva para impelir ainda mais a atu- sagem de trens de carga e passageiros. ação da empresa no terreno internacional. história no Peru, a Odebrecht Esse agigantamento teve como um dos não será apenas construtora, Portugal, porta da Europa

pilares o conceito de reinvestimento dos mas investidora, num contrato A Odebrecht estendeu sua atuação para ENGENHARIA resultados. Para se chegar a esse patamar, a Europa em 1988, usando Portugal – que houvera a necessidade – pouco antes – de se de concessão no valor de 580 havia entrado na Comunidade Econômica proceder a mudanças organizacionais. Des- milhões de dólares. E, ao con- Européia dois anos antes – como porta de sa forma, a empresa fechada controlada trário do que fez no passado, entrada. pela família Odebrecht, transformou-se, em A estratégia da construtora brasilei- 1981, numa companhia aberta. A Odebrecht não precisará levar recursos ra foi adquirir a empresa portuguesa José Participações e Investimentos S.A. passou a do Brasil, pois se integrou ao Bento Pedroso & Filhos. Incorporada pela denominar-se Odebrecht S.A., tornando-se a regime de parceria público- Odebrecht, a companhia passou a chamar- holding, abrindo seu capital e transformando se Bento Pedroso Construções S.A. (BPC). A integrantes em acionistas. privada que, no Peru, vem ob- construtora não se desviou do que já vinha Toda essa trajetória foi (mais que acom- tendo um grande sucesso fazendo e continuou ajudando na moderni- panhada) vivida, por Roberto Dias. “Estive zação da infra-estrutura portuguesa. Alguns participando da operação no Peru, logo que Venezuela – A atuação da empresa na Vene- dos empreendimentos de que participou fo- entrei na empresa, nos primórdios de sua zuela remonta a 1992. Dias conta que, além ram: a ampliação da auto-estrada Nacional internacionalização. A minha experiência de da conclusão de duas obras de metrô – li- 1 (que liga Lisboa ao Porto); a estrada Avei- área internacional fez com que, na metade nhas 3 e 4 do Metrô de Caracas e uma linha ro-Mamodeiro; a Via Infante Dom Henrique, dos anos 1990, quando a empresa já estava do Metrô Los Teques –, foi entregue também na região de Algarve; o acesso à cidade de bem consolidada lá fora, eu fosse chamado a ponte sobre o Rio Orinoco e o projeto de Coimbra, além do viaduto de acesso à ponte de volta para o Brasil e assumisse uma área irrigação El Diluvio-Palmar. Sem contar com Açude de Coimbra. institucional que dava apoio tanto para o esses, a Odebrecht já executou na Venezuela Em 1992, a BPC venceria a concorrência pessoal que estava no exterior como para os seguintes projetos: 1) Centro Lago Mall, para construir um trecho das novas linhas o nosso pessoal aqui do Brasil – mas apro- centro comercial com 388 lojas e 45 000 do metrô de Lisboa. E em meados da déca- veitando a visão da experiência que tive em metros quadrados de área construída, em da de 1990, partiria para um dos mais im- terra estrangeira. Morei fora três vezes: na Maracaibo, concluída em 1997; 2) Terminal pressionantes projetos europeus da época: Espanha, em Portugal e em Moscou. Nesta de Embarque de Crudos, em Puerto La Cruz, a construção da segunda ponte sobre o Rio última capital residi por seis meses – indo com a execução de quatro linhas de tubu- Tejo, em Lisboa, a agora famosa Ponte Vas- e vindo – por conta das incertezas trazida lação, sendo 6,5 quilômetros submarinas e co da Gama. O Rio Tejo ocupa um lugar de pelo processo da ‘perestroika’ para o nosso 1,5 quilômetro em terra firme, concluída em destaque no imaginário brasileiro, pois de contrato da Hidrelétrica de Capanda, em An- 1999; 3) Projeto de Reutilização de Águas lá partiram as caravelas rumo ao desconhe- gola, no qual os russos eram nossos sócios. Servidas (RAS), no Lago de Maracaibo, com cido e aos grandes descobrimentos no final As mudanças que ocorriam na ex-União Sovi- a execução de 8 quilômetros de tubulações do século 15 e início do século 16. Princi- ética no começo dos anos 1990 fez com que sublacustres, concluída em 2001. “Existem pal rio da Península Ibérica, o Tejo (com ficássemos muito preocupados com os seus perspectivas de novas obras na Venezuela, 1 100 quilômetros de extensão) é o maior a possíveis desdobramentos.” até porque todas as obras que fizemos por atravessar as terras portuguesas. Tem sua Ele conta que a operação em Angola lá foram entregues antes do prazo e nós aca- nascente na Espanha e a foz em um grande continua. “Estamos colocando atualmente bamos nos qualificando muito. É verdade que estuário em Lisboa, o famoso Mar de Palha. mais duas turbinas adicionais na Hidrelé- temos que disputar com outras empresas Com objetivo de reduzir os constantes con- trica de Capanda, que, por sinal, tem capa- parrudas – uma vez que a engenharia euro- gestionamentos na Ponte 25 de Abril, o cidade para outras duas turbinas mais. Lá péia, principalmente alemã e espanhola, está governo português decidiu construir uma em Capanda, por uma questão de economia, muito presente naquele país –, mas nós esta- segunda ponte e a BPC se mobilizou imedia- o projeto foi feito para começar a gerar mos na parada, inclusive porque já desenvol- tamente para um minucioso levantamento energia elétrica antes da conclusão da vemos uma ‘cultura venezuelana’. O mais im- sobre o projeto. Ato contínuo, associou-se a obra, até para que pudéssemos amortizar portante é que o atual governo da Venezuela outras empresas portuguesas e européias, o investimento mais cedo. Mas, além dessa tem uma noção muito clara da necessidade formando-se o consórcio Lusoponte, que ampliação, temos outras obras em territó- da integração sul-americana”, informa Dias. venceu uma concorrência internacional acir- rio angolano. Lá nos dedicamos também à A ponte sobre o Orinoco, de 24,70 me- rada e tornou-se o construtor, em troca da parte urbanística e habitação, até porque tros de largura, é de utilização mista, ou concessão de uso do equipamento viário por a carência local nesses quesitos é muito seja, rodoviária e ferroviária. Foi projetada 33 anos. A Ponte Vasco da Gama foi inaugu- grande e somos uma ‘ferramenta’ impor- para permitir a passagem de veículos em rada em 1998 e é até hoje um marco da atua- tante do nosso cliente angolano.” dois canais de 3,60 metros em cada sentido, ção da Odebrecht em território europeu.

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580 á muito tempo que a exportação de /2007 serviços de engenharia não é mais A decisão estratégica novidade para a Construtora Andra- de Gutierrez. Segundo Ricardo Cas-

ENGENHARIA tanheira, diretor de coordenação para a Améri- da Andrade Gutierrez ca Latina da construtora, os primeiros passos da empresa fora do Brasil foram dados em 1983, quando construiu uma estrada no Con- go, na África. “Mas aí, nessa primeira fase, ain- despontou na Europa da não se pensava estrategicamente, era mais o aproveitamento de oportunidades em países com ambientes propícios e a meta era pura e A primeira experiência internacional da construtora foi em simplesmente compensar o enfraquecimento 1983 no Congo, na África, mas a decisão estratégica de se do mercado brasileiro, que viu os investimentos em infra-estrutura minguarem”, diz ele. A partir lançar no mercado externo para valer aconteceu em 1988 dessa experiência, a empresa prospectou ser- viços em novos mercados, até que, em 1988, com a compra da construtora portuguesa Zagope, pela adquiriu a Zagope, construtora portuguesa qual as portas do mercado europeu – então florescente que abriu as portas do mercado europeu. “Aí o jogo mudou e o mercado externo passou a ser – se abriram. De 1983 para cá a Andrade Gutierrez já estratégico, deixando de ser apenas uma alter- nativa à demanda doméstica”, conta Castanhei- executou 261 projetos pelo mundo afora, 55 na América ra, para quem hoje buscar mercados no exte- Latina e 206 na Europa, Ásia e África. A meta é chegar a rior é questão de crescimento para qualquer empresa brasileira. Segundo ele, 40% da recei- 2011 com um faturamento anual com construções de 2 ta total de 1,3 bilhão de dólares com constru- bilhões de dólares, o que daria uns 60% de participação ções da companhia em 2006 vêm do exterior. Castanheira destaca que, na América Latina, a do exterior no faturamento total do grupo na parte de Andrade Gutierrez tem escritórios ou executa obras no México, Panamá, República Domini- projetos de engenharia – seriam 1 bilhão de dólares na cana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Ar- América Latina e mais 1 bilhão de dólares na Europa gentina. A empresa já atuou no Chile e Bolívia, mas atualmente não está nesses mercados. O leque de negócios da Andrade Gutierrez não está restrito às grandes obras de construção. Conforme Castanheira, a subsidiária AG Con-

Foto: Divulgação cessões detém o direito de operação do Aero- porto de Quito, na capital do Equador, e venceu a concorrência para construir o novo terminal aeroportuário da capital equatoriana, com di- reito de exploração do complexo por 30 anos. O diretor de coordenação para a América La- tina confirma que a Andrade Gutierrez planeja abocanhar pelo menos um dos lotes das obras de ampliação do Canal do Panamá, no país de mesmo nome, na América Central, que permite o tráfego de navios entre o Atlântico e Pacífico. De acordo com Castanheira, a construtora se associou à Camargo Corrêa e à Queiroz Galvão no Consórcio Interoceânico do Panamá. A obra, dividida em seis lotes e orçada em 6 bilhões de dólares, é um dos maiores pacotes de cons- trução em licitação no planeta e as licitações e contratações devem ter início em meados Aeroporto da Ilha da Madeira, Portugal deste ano.

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Ele explica naqueles quatro mais fracos. Isso era, na oca- que a Andrade Gutierrez está atualmente com 580 que nos últimos sião, o chamado quadro comunitário de apoio 25 obras em andamento no exterior. “De 1983 /2007 tempos o Grupo aos países menos aquinhoados.” para cá nós já executamos 261 projetos pelo Andrade Gutier- Foi com esse pano de fundo que surgiu a mundo afora, 55 projetos na América Latina e

rez mudou e oportunidade (até em função da língua) de com- 206 na Europa, Ásia e África. Fazemos pratica- ENGENHARIA agora tem nova prar a portuguesa Zagope para participarmos mente todos os tipos de obras – hidrelétricas, estratégia glo- dos investimentos nesses mercados emergen- túneis, estradas, qualquer coisa –, sendo ne- bal. “Fizemos tes europeus. Houve um período de aprendizado cessário apenas que o contrato tenha a atra- uma reestrutu- e a partir da Zagope fomos crescendo em Por- tividade adequada. Traduzindo: é preciso que ração, ao longo tugal. A empresa ficou bem consolidada, assim haja dinheiro para pagar a conta e que o projeto Ricardo Castanheira, diretor de coordenação para a da qual fomos como nossa presença em solo português. A par- represente uma prioridade para o cliente, pois América Latina da Construtora investindo em tir de Portugal, acabamos ganhando contratos só assim uma obra pode ser tocada num ritmo Andrade Gutierrez telecomunica- na Mauritânia, Argélia, Angola, Grécia, Espanha. adequado e com uma boa produtividade. Espe- ções, abrimos Aliás, atualmente, estamos fazendo uma barra- cificamente em Portugal, como fizemos muitas o mercado de concessões no Brasil, e hoje te- gem na Argélia. Enquanto isso, fomos desenvol- obras e crescemos muito nos anos anteriores, a mos duas empresas de construção, por assim vendo toda uma estratégia de atuação na Amé- situação atual é de um certo ‘freio de mão’, mas dizer: a Construtora Andrade Gutierrez – que rica Latina, que é um mercado mais ou menos ainda há muito boas perspectivas para o futuro. trabalha o mercado brasileiro e da América natural para nós e para as grandes empreiteiras Na Espanha, por sua vez, estamos trabalhando Latina – e a Zagope, que é responsável pela brasileiras. Até pelo fato das fronteiras serem em parceria com algumas empresas espanho- atuação do grupo em Portugal, o resto do con- mais próximas e a política dos vários países ser las, basicamente em projetos para rodovias.” tinente europeu, África e Ásia. Temos, portanto, muito parecida com a do Brasil no início dos Em relação ao Equador, Castanheira infor- uma empresa autônoma, ligada diretamente à anos 1990. Aliás, é uma coisa muito natural que ma que a Andrade Gutierrez está naquele país holding, e que responde pelos trabalhos de en- um país do tamanho e com a representatividade sul-americano há 20 anos. “Atualmente esta- genharia de construção naquelas partes mais do Brasil na América Latina se torne habilitado mos construindo um aeroporto novinho em fo- remotas do mundo.” a trabalhar nessas outras nações vizinhas. Isso lha nos arredores da capital Quito e que deverá Agora a meta do grupo é o crescimento, diz sem falar que a Andrade Gutierrez, assim como ser entregue em três anos. A obra é financiada Castanheira. “Estivemos durante um período as outras grandes empreiteiras brasileiras, re- por nós mesmos e está indo muito bem. Nós te- reorganizando nossos mercados, tanto o lati- presentam, sem dúvida, a melhor engenharia do mos lá a concessão do aeroporto por 30 anos, no-americano como o europeu e africano. Mas mundo. Nós estamos habilitados para qualquer em sociedade com a canadense Eicon, maior agora que já estamos preparados e estrutura- tipo de obra, em qualquer tipo de país, para construtora do Canadá. Além disso já estamos dos, pretendemos crescer no mínimo 15% ao qualquer tipo de cliente.” operando o aeroporto antigo de Quito. Quando ano nos dois mercados. A meta é alcançarmos “Hoje temos também escritório na Ásia, o novo terminal estiver pronto, vamos operá-lo 2 bilhões de dólares em faturamento por volta mas é apenas de prospecção de mercado”, diz também, ou seja, vamos nos transformar na ‘in- de 2011, o que daria uns 60% de participação Castanheira. “Essa prospecção não inclui a Chi- fraero’ equatoriana. Ao mesmo tempo, estamos do exterior no faturamento total do grupo na na. Na verdade estamos mais interessados em trabalhando também num projeto de irrigação parte de construção. Ou seja, 1 bilhão de dóla- conhecer os negócios de concessão chineses no norte do Equador, em Tabacondo, e estamos res na América Latina e mais 1 bilhão de dóla- e, no longo prazo estaremos atentos aos aero- construindo uma ponte na cidade de Guaya- res na Europa. portos, que deverão ser construídos em grande quil. Além de já permanecermos por 20 anos Pela época do primeiro contrato externo quantidade naquele país”, adianta. Ele informa no Equador, estamos há 15 anos no México, 14 que a empresa fez, em 1983 – a estrada no Congo –, Castanheira ainda não fazia parte dos seus quadros. “Eu entrei na Andrade em 1991 e fui direto para Portugal. Mas o que eu sei é que o grupo pegou gosto pelo exterior a partir da experiência no Congo e continuou a traba- lhar pontualmente na África e América Latina. Em 1988 começou a visão estratégica, em fun- ção também dos planos comunitários na Euro- pa, onde eram necessários investimentos em países que estavam ainda precisando crescer, casos de Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha. A comunidade européia foi formada com 12 países, mas quatro deles estavam em desequi- líbrio em relação aos outros oito. E sabíamos que esses oito fariam investimentos pesados A Andrade Gutierrez vai construir o novo terminal aeroportuário de Quito, Equador

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A Andrade Gutierrez planeja geometria que, depois, com o movimento das ondas, assentava e ficava estável.” abocanhar pelo menos um dos Castanheira prossegue, dizendo que a en- lotes das obras de ampliação seada foi fechada com as pedras oriundas da do Canal do Panamá. Para isso, própria escavação, e depois aterrada. “Ficou uma lagoa gigantesca que nós aterramos com a a construtora se associou à terra que íamos jogar no mar. Então resolvemos Camargo Corrêa e à Queiroz dois problemas. Primeiro o de meio ambiente, Galvão. Dividida em seis lotes a pois poderia ter havido um evento ambiental da maior gravidade. E depois, o problema técnico, obra está orçada em 6 bilhões uma vez que depois do aterramento nós pude- de dólares, é um dos maiores mos passar a trabalhar em terra e não mais em pacotes de construção em mar. Para se ter idéia, o aeroporto tinha 1 800 metros e passou a ter 2 800 metros depois da licitação no planeta ampliação. Ou seja, nós acrescentamos 1 quilô- metro de pista. Essa pista é uma ponte que fica anos no Peru, seis anos na República Domini- assentada sobre um conjunto de pilares. Cada cana – onde temos a Hidrelétrica Las Placetas pilar tem 50 metros de altura. Era um vão que já contratada –, e estamos retomando nossas nós tínhamos que cobrir, do terreno lá embaixo atividades na Argentina e Venezuela. Las Place- até o topo da pista. Cada pilar, com 3 metros de tas, a propósito, serão duas turbinas de 46 MW diâmetro, fica assentado sobre uma base com cada. Estamos realizando neste começo de ano 13 metros de diâmetro, com 5 metros de altu- o projeto de impacto ambiental e a construção ra e com um conjunto de estacas de 60 metros deve ter início nos primeiros meses de 2008.” de profundidade num terreno de rochas vulcâ- A Andrade Gutierrez recebeu, há alguns nicas. Foi uma tecnologia muito interessante. anos, o prêmio atribuído pela International Asso- Fizemos uma cuidadosa prospecção geológica, ciation for Bridge and Structural Engineering, IAB- com descrição clara do fundo do mar. Na parte SE, considerado o “Oscar” da engenharia mun- que nós aterramos, existiam patacões. Foi uma dial. A obra premiada foi a do aeroporto da Ilha obra limpa, sem desperdício e fizemos tudo da Madeira, em Portugal. “Foi uma obra que eu com o aeroporto funcionando, avião subindo e próprio tive o prazer de contratar, e cuja cons- descendo, mudando a pista de lugar.” trução foi iniciada em 1994 e desenvolvida em Sobre a perspectiva de crescimento da duas etapas. A obra foi concluída em 1998. É Andrade Gutierrez no mercado doméstico, em um projeto realmente fora de série. Era um vista do esperado Programa de Aceleração do consórcio, o Novapista, com a Opca, tradicional Crescimento, PAC, Castanheira diz que é muito construtora portuguesa, uma francesa – a Spie boa. “Nós crescemos, em 2006, algo como 30% Batignolles – e a Zagope, da Andrade Gutierrez. em relação a 2005 e nossa expectativa para Nós liderávamos o consórcio.” 2007 é de outros 30% de expansão. Há muito Castanheira detalha as características da investimento engatilhado na área privada e nas obra premiada. “Uma coisa importante a ser de petróleo e gás. Os fundamentos do PAC são destacada é que pela proposta original – a que bons e sentimos que há mais recursos agora foi colocada em licitação –, a ampliação do ae- para tocar projetos. Estamos interessados nas roporto seria uma ponte sobre o mar. Trata-se concessões rodoviárias e parcerias público-pri- de uma enseada e a metodologia então escolhi- vadas, PPPs. Eu próprio participei muito ativa- da previa pilares e fundações com plataforma mente na construção da lei da PPP. Acredita- marítima. A obra teria um movimento de terra mos nisso e estamos estruturados para poder importante: cerca de 1,5 milhão de metros cú- crescer. Todo plano sempre tem alguma coisa bicos de material ia sair das escavações do en- que pode ser melhorada. Mas é melhor come- torno do aeroporto e o bota-fora teria que ser çar a fazer as coisas e depois ajustar no meio no mar. Foi quando nós oferecemos uma pro- do caminho, se não acabaremos não fazendo posta alternativa pela qual fizemos um dique nada. Todas as dificuldades que poderão surgir muito inovador – chamado barm breakwater –, terão que ser sanadas durante a elaboração e pudemos fechar a baía. Na época só existiam dos projetos e desenvolvimento do plano. Não 20 diques desse tipo no mundo. Era um dique temos mais tempo para ficar discutindo qual é feito com descarga natural de rocha numa o melhor plano.” www.brasilengenharia.com.br ESPECIAL

82 580 /2007 Camargo Corrêa acelerou sua ENGENHARIA estratégia de internacionalização

A unidade internacional de negócios de engenharia e aumento das exportações de ser- viços de engenharia da Constru- construção do Grupo Camargo Corrêa tem planos para ções e Comércio Camargo Corrêa nos últimos três anos é reflexo crescer rápido no exterior. Para obter esse resultado, a das ações derivadas do planejamento estraté- empreiteira dá prioridade aos vizinhos da América Latina gico do grupo, que prevê a internacionalização de suas unidades de negócios como pilar de e países de língua portuguesa da África. A unidade iniciou crescimento. A afirmação é do eng.º Dante Ven- suas ações internacionais em 1978, com a gigantesca turini, superintendente técnico operacional da unidade de negócios de construções e comér- Hidrelétrica de Guri na Venezuela, que ficou pronta em cio do Grupo Camargo Corrêa. “A unidade de negócios de engenharia e construção iniciou meados dos anos 1980 gerando 10 300 MW. Em 1995 suas operações internacionais em 1978, com ampliou suas operações para Bolívia e Peru e atualmente a Hidrelétrica de Guri na Venezuela. Em 1995 ampliou suas operações para Bolívia e Peru tem contratos sendo executados em Angola, Colômbia, e atualmente opera na América Latina e Áfri- ca, com contratos em execução na Venezuela, Venezuela, Peru e Bolívia. Também no ano passado, a Colômbia, Peru, Bolívia e Angola”, conta ele. A empreiteira concluiu, no Suriname, as obras de acesso construção da Hidrelétrica de Guri foi inicia- da em 1978 e foi concluída em 1986, gerando para as minas de bauxita de Klaverblad e Kaaiman Grasi 10 300 MW. “A Camargo Corrêa integrou o Con- sórcio Brasven, com 30% de participação.” Segundo Venturini, as receitas da unidade internacional vêm crescendo significativamen- te e as perspectivas são bastante boas. “Em fun- ção da demanda crescente por obras de infra- estrutura nos mais variados países, prevê-se crescer significativamente nos próximos anos,

Foto: Divulgação ocupando lugar de destaque neste mercado de infra-estrutura como um todo, com destaque para as áreas de energia, transportes, sanea- mento, óleo e gás”, observa. Sobre o atual per- centual do faturamento da construtora que vem de obras em outros países atualmente, ele diz que “está na faixa de 10%”. Das grandes construtoras brasileiras, a Ca- margo Corrêa é a que tomou mais recentemente a decisão de aumentar sua presença no exterior. Outras empresas do grupo já haviam feito gran- des investimentos em outros países. Em 2005, o Grupo Camargo Corrêa comprou a maior em- presa de cimento da Argentina, a Loma Negra. Em 2006, a Santista Têxtil assumiu o controle da Tavex, da Espanha, e se tornou a maior produ- tora de jeans do mundo. Depois disso, a priorida- de agora passou a ser a internacionalização da Hidrelétrica de Guri, 10 300 MW, Venezuela construtora. Além de buscar obras na América

www.brasilengenharia.com.br EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA

Foto: Divulgação 83

Latina, a unidade internacional está disputando duas empresas colombia- Klaverblad e Kaaiman Grasi (per- 580 licitações em dois países africanos, Angola e nas: Coninsa e Conconcreto. tencentes à Alcoa e à BHP Billi- /2007 Moçambique, que enfrentaram longas guerras “O empreendimento está ton). “Estamos avaliando novas civis. Com a exploração de petróleo, consta que dentro do cronograma con- oportunidades na região.”

Angola tem 2 bilhões de dólares para gastar tratual, destacando-se a No México, o alvo é a Hidrelé- ENGENHARIA em infra-estrutura em cinco anos. No caso de antecipação de dois meses trica de La Parota, estimada em 1 Moçambique seriam 4 bilhões de dólares para e meio no desvio do rio, o Dante Venturini, bilhão de dólares. “Ainda estamos abrir caminho para a exploração mineral. que ocorreu recentemen- superintendente técnico avaliando a oportunidade”, diz Na visão de Venturini, o que o grupo vem te, em meados de fevereiro operacional da unidade de Venturini. Segundo já foi publica- fazendo nestes últimos três anos é uma estra- de 2007”, explica. A nova negócios de construções do por diários especializados em e comércio do Grupo tégia acelerada de internacionalização de todos obra só é menor do que a Camargo Corrêa economia, entre todos os proje- os negócios. “Inclusive engenharia e constru- expansão da Hidrelétrica tos, La Parota tem características ção, que foi o último braço desses todos que de Guri, na Venezuela, re- bem diferenciadas. O modelo de entrou para valer na internacionalização. Mar- alizada entre o final dos anos 1970 e meados licitação da hidrelétrica vai exigir, além da ci- car presença no mercado internacional é uma da década de 1980, uma das maiores do mundo, vil, uma engenharia financeira. A obra tem uma visão estratégica vigorosa do conselho diretor com os citados 10 300 MW. proposta de execução diferente e terá de ser do grupo, que não vê mais a terra estrangeira A presença na Colômbia está dentro da realizada com recursos das empresas vencedo- como simples ‘oportunidade’, como enxergava macroestratégia de internacionalização da Ca- ras da licitação. O governo mexicano se compro- no passado. Passamos a ter uma área própria, margo Corrêa, que já tem presença na Bolívia, mete a começar a saldar a dívida só depois de a uma diretoria própria, que até 31 de dezembro no Peru e no Suriname e está prospectando no- usina iniciar as operações. O valor de 1 bilhão passado era a diretoria internacional de proje- vos negócios no Equador, na Argentina, no Chile, de dólares é apenas o preço máximo de saída. tos, DIP, e que recentemente se tornou a unida- Panamá e México. Em 2005, foram abertos três Com a garantia do governo de que receberão de de negócios de construções e comércio Ca- escritórios na África – Angola, África do Sul e no futuro, as candidatas têm de recorrer ao margo Corrêa. Como superintendente técnico Moçambique. No total, a Camargo Corrêa tem mercado financeiro para obter financiamento. operacional da unidade, eu respiro engenharia e uma equipe de 50 pessoas desenvolvendo opor- Ganha quem apresentar o menor preço final. construção 24 horas por dia e estou subordina- tunidades de negócios no exterior. A construtora não tem sofrido percalços téc- do a um presidente, o Carlos Fernando Namour. Outra das obras em curso é a estrada Robo- nicos em suas investidas externas. Mas houve, Faço parte, portanto, de uma estrutura de apoio ré-El Carmen (contrato de 100 milhões de dó- segundo Venturini, uma exceção. “Construímos a ele, e meu trabalho está ligado a toda a parte lares), na Bolívia. “A estrada Roboré El Carmen uma rodovia na Cordilheira dos Andes peruanos técnica. Eu lido com todo o apoio técnico aos é uma rodovia em pavimento rígido que está e sofremos os efeitos do fenômeno do El Niño, o contratos, aos diretores que estão nos diversos sendo construída sobre vias de terra existen- que acarretou no atraso da conclusão da obra países, e faço a interface com a estrutura cen- tes. O trecho em execução tem uma extensão com relação ao prazo previsto.” tral da Camargo Corrêa.” de 140 quilômetros e a Camargo participa em Sobre o número de empregados envolvidos consórcio com 50% do contrato”, revela Ventu- Sebastião Camargo, a lenda nas diversas obras da Camargo Corrêa no exte- rini. Ainda na Bolívia, foi executada, no passado, A Camargo Corrêa foi fundada pelo mítico rior, Venturini informa: “são 3 800 profissionais, a rodovia Patacamaya-Tambo Quemado. “Trata- Sebastião Camargo, considerado um dos bra- sendo 170 expatriados e, destes, 90 expatria- se de uma rodovia em pavimento flexível que foi sileiros mais influentes do século 20 e que se dos de nível superior”. Ele confirma também que concluída em outubro de 1996), diz. Há também tornou célebre por sempre ter vivido umbilical- ao exportar serviços de engenharia, a Camargo o caso da barragem de El Guapo, na Venezuela mente ligado à terra, preservando os costumes Corrêa alavanca outras exportações de bens e (58 milhões de dólares). “A barragem da repre- sertanejos. Sempre com um cachimbo na boca, serviços brasileiros. “Ajudamos a exportar tan- sa de El Guapo se trata de uma recuperação em reservava os fins de semana para se atirar to equipamentos – como aço, cimento, fôrmas CCR de uma barragem em argila. Atualmente no mato. Nascido em Jaú (SP), a 25 de setem- e aditivos – quanto serviços especializados de estamos executando o bloco de CCR e iniciando bro de 1909 – e falecido em agosto de 1994 protensão, fundações e injeções, além de con- as obras do vertedouro”, informa. Também na –, Sebastião Camargo era filho de agricultores sultorias de engenharia”, diz. Venezuela há a Hidrelétrica de Tocoma, a 670 e estudou só até o terceiro ano primário. Aos 17 Um dos maiores contratos do processo re- quilômetros a sudeste de Caracas e próxima à anos, aprendeu a transportar terra retirada de cente de internacionalização da Camargo Cor- de Guri. Com uma potência instalada de 2 160 construções usando uma carroça puxada por rêa é a Hidrelétrica de Porce III, a 147 quilô- MW, Tocoma está estimada em 600 milhões de um burro. Tomou gosto pelo negócio e, em 1939, metros de Medellin, na Colômbia. “O Contrato de dólares. “O projeto de Tocoma ainda se encontra comprou duas carroças. Com a pá em punho e as Porce III refere-se a uma usina de 660 MW de em licitação”, explica. rédeas nas mãos, Camargo ajudou a construir as potência, com casa de força e condutos subter- No Peru, a Camargo Corrêa concluiu, em estradas que se multiplicavam pelo interior de râneos e barragem de enrocamento com face fevereiro de 2006, a ligação rodoviária entre São Paulo na época. Logo aprendeu a técnica da de concreto”, conta Venturini. Trata-se de um Chiclayo e Chongoyape. Enquanto isso, no Su- terraplenagem e se transformou num modesto contrato em que a Camargo Corrêa participa riname a construtora concluiu no ano passado empreiteiro. Quando conheceu o advogado Sylvio em consórcio (50% de participação), liderando as obras de acesso para as minas de bauxita de Corrêa, ainda em 1939, abriu com ele uma pe-

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580 quena construtora, a Camargo Corrêa & Cia Ltda. O caso de Porce III, na Colômbia

/2007 Em função da demanda Engenheiros e Construtores, com um capital de Para os colombianos, a importância da obra 200 contos de réis. Como eles nada entendiam crescente por obras de infra- da Hidrelétrica Porce III, ora em execução na de engenharia, a palavra “engenheiros” foi usada estrutura nos mais variados Colômbia pela Camargo Corrêa, é principalmente

ENGENHARIA para salientar que os empreendedores estavam países, o Grupo Camargo a de afastar risco de apagão para um país que dispostos a qualquer empreitada. E trabalho não investe na modernização visando dar dinamismo faltava. Em 1940, Camargo adquiriu um trator, o Corrêa pretende crescer à economia. Quem vai à Colômbia, aliás, volta com que significou grande vantagem tecnológica em significativamente nos a sensação de estar diante de um imenso can- relação à concorrência. Os contratos se avolu- próximos anos, ocupando lugar teiro de obras. Depois de décadas enfrentando maram. O astuto “Bastião”, como era chamado graves problemas, os colombianos vivem um in- pelos mais íntimos, ou “China”, para a maioria, de- de destaque principalmente tenso esforço de renovação para dar dinamismo vido aos traços orientais de seus olhos, chegou nos segmentos de energia, à economia e atrair turistas e investidores es- a fundar uma tecelagem em Jaú, a Companhia transportes, saneamento, trangeiros. O mais recente passo nessa retoma- Jauense Industrial, porque queria proporcionar da foi dado no final de 2005, justamente com o trabalho a seus conterrâneos. Conseguiu mais óleo e gás contrato para a construção da Hidrelétrica Por- do que isso: transformou a empresa numa gran- ce III, executada pela Camargo Corrêa, à frente de produtora de tecidos. de Moinho de Trigo Jauense. Em 1962, quando de um consórcio com a Conconcreto e a Coninsa, Nos anos 1950, a construção de Brasília era a empreiteira construiu a Hidrelétrica de Jupiá, da Colômbia. Porce III representa a realização o grande sonho que acalentava o empreende- no Rio Paraná, uma das maiores do Brasil, con- de um projeto, que teve início há 30 anos, para dor. Reza a lenda que, ao participar da licitação, cluída em 1968, a imponência da obra obrigou aproveitamento hidrelétrico do Rio Porce, afas- Sebastião ouviu de um assessor do presidente que uma cidade fosse construída ao seu redor tando de vez o risco de apagão provocado pela Juscelino Kubitschek que a Camargo Corrêa não para alojar os 12 000 funcionários. falta de investimentos durante décadas em que tinha máquinas em número suficiente para en- No setor das hidrelétricas, a Camargo a economia andou a passos lentos, e garantindo carar as obras da nova capital. “Pois então me Corrêa tornou-se líder mundial, tendo parti- energia para o ciclo de desenvolvimento que a dê três dias e eu provo que o senhor está en- cipado da construção de usinas que respon- Colômbia registra. Beneficiado por acordos bila- ganado”, respondeu, aborrecido. Quando o prazo dem por mais de 50% da potência hidrelétrica terais com os Estados Unidos, o país cresce com expirou, o empresário desfilou pelo cerrado com instalada no Brasil. As 27 hidrelétricas, cuja a entrada de recursos estrangeiros e com uma mais de 100 tratores vindos de seus canteiros construção civil traz a marca Camargo Cor- ampla reforma para estimular os negócios. de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Com isso rêa (inclusive Guri, na Venezuela), fornecem Na busca da Colômbia pela modernidade, foi reservada à Camargo Corrêa a primazia de energia suficiente para abastecer cerca de Porce III ganha uma grande importância. A usi- abrir várias estradas que possibilitaram o aces- 40 cidades com população de 1 milhão de na é uma obra estratégica para a implantação so à capital federal. Em 1960, Juscelino sugeriu habitantes cada uma. No total, elas geram o de novas indústrias, viabilizando investimentos que a Camargo construísse um moinho de trigo equivalente a 7% da capacidade hidrelétrica e consolidando futuras parcerias internacio- para abastecer Brasília. Preocupado com o ri- mundial. A partir dos anos 1990, Sebastião nais. A obra de Porce III também representa gor técnico que a tarefa exigia, o empreiteiro Camargo passou a fazer parte da lista de bi- importante passo na internacionalização do mandou buscar um expert em moinho da Suíça lionários da revista Forbes e sua fortuna pes- Grupo Camargo Corrêa. A licitação vencida pelo para garantir a qualidade do serviço. Batizou-o soal foi avaliada em 1,3 bilhão de dólares. consórcio liderado pela Camargo Corrêa foi disputada por grandes empresas da Espanha, Argentina e do Brasil. A elaboração da propos- ta consumiu mais de seis meses de trabalho e exigiu inúmeras visitas à Colômbia e grande co- Foto: Divulgação nhecimento técnico, devido às características do projeto, o qual inclui um conjunto de túneis entre a barragem e a casa de força. O valor do contrato é de 450 milhões de dó- lares e o custo total do projeto está estimado em 720 milhões de dólares, dos quais 200 milhões de dólares são financiados pelo Banco Intera- mericano de Desenvolvimento, BID, e o restante provém de recursos próprios das Empresas Pú- blicas de Medellín, EEPPM. Trata-se de um grande desafio, tanto pela dimensão e complexidade da obra quanto pelas exigências do atendimento ao cliente, conhecido por sua competência técnica, Rodovia entre ponte Matachico a Huancayo, Peru comentam técnicos da Camargo Corrêa.

www.brasilengenharia.com.br ESPECIAL O 86 580 /2007 A investida internacional da ENGENHARIA Queiroz Galvão começou em 1989

O primeiro contrato da construtora brasileira na América epois de se consolidar como re- ferência na engenharia civil bra- Latina foi a barragem de Paso Severino, obra hídrica que sileira, o Grupo Queiroz Galvão conquistou espaço em países da abastece a cidade de Montevidéu, capital do Uruguai. América do Sul e da África, que se beneficiaram O ano era 1989 e a iniciativa encabeçou uma série que das obras realizadas pela empresa, capazes de integrar regiões, melhorar a infra-estrutura e seria engrossada a partir de 2001 com os programas do qualidade de vida locais. Foi o próprio Antonio Queiroz Galvão, legendário fundador do grupo, governo brasileiro de crédito às exportações de serviços quem disse recentemente à REVISTA ENGE- de engenharia. Atualmente o percentual de participação NHARIA: “A expansão da Queiroz Galvão é uma marca registrada dentro do nosso ambiente da área de construção internacional no total do empresarial, onde acionistas e colaboradores interagem com o propósito de antever os cená- faturamento da empresa está entre 20% a 25%. Mas a rios propícios para o desenvolvimento e para a expectativa é de que nos próximos dois anos essa taxa ampliação dos vários ramos de atividades das empresas integrantes do grupo”. se eleve para 50%, no mínimo, porque considera-se Na América Latina, o primeiro desafio da que há um grande potencial à espera da Queiroz Galvão construtora brasileira foi a barragem de Paso Severino, obra hídrica que abastece a cidade lá fora, principalmente em países da América do Sul, de Montevidéu, capital do Uruguai. Sua cons- trução, que marca a entrada da construtora América Central e Caribe no mercado internacional, foi em 1989. Hoje, a Queiroz está presente, entre outros países, na Bolívia, onde executa o trecho Tarija - Potosi da Ruta F-1 Panamericana e o trecho Potosi - Co- tagaita da Ruta F-14, totalizando 440 quilôme-

Foto: Divulgação tros de rodovia em pavimento rígido. A empresa também foi responsável pela construção do trecho - Desaguadero, na fronteira com o Peru (95 quilômetros de extensão) e Padcaya - La Mamora – Emboruzú - Bermejo, fronteira com a Argentina (126 qui- lômetros de extensão). Ambos foram realiza- dos sobre a Ruta F-1 do Sistema Vial Boliviano. A construtora executou, além disso, o trecho Ascensión - San Pablo, com extensão de 114 quilômetros, na Rodovia Santa Cruz de la Sierra - Trinidad. Entre outros importantes projetos rodoviários executados no Peru, a construtora brasileira participa do trecho Puente Inan- bari - Azangaro do Corredor Bioceanico Sur (Corredor Bioceânico Brasil - Peru). No Chile, a empresa realiza as obras de construção da Hi- drelétrica La Higuera, na localidade de San Fer- nando, com capacidade instalada de 155 MW. Execução de pavimento rígido em obra rodoviária, Bolívia Esta obra destaca-se pela construção de um

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Divulgação 87 Foto: Foto:

túnel de 20 qui- ma um corredor lateral Tarija - Potosi, que 580

As obras da primeira fase /2007 lômetros escava- era a única parte daquele país andino ainda do em rocha, nos da internacionalização da sem estrada pavimentada. O trecho – que Andes chilenos. construtora eram geralmente estamos construindo em pavimento rígido

Em outros paí- financiadas por agentes de de concreto – integra os países do Cone Sul, ENGENHARIA ses, a Queiroz ou seja, Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai faz prospec- fomento externos, como e Chile. Vai de Tarija, capital do departamento ções, atenta a BID e Bird. Mas o processo boliviano de Tarija, no sul da Bolívia, até Po- novas oportuni- deslanchou a partir de 2001 tosi, a famosa cidade das minas de prata do dades de negó- passado histórico boliviano. Todo o forneci- com os programas de crédito Berilo Torres, diretor cios que forem mento de equipamentos e materiais é brasi- comercial da área surgindo. às exportações de serviços leiro, com uma única exceção: o cimento para internacional da S e g u n d o de engenharia do governo o pavimento de concreto, cujo fornecimento Construtora Queiroz Galvão Berilo Torres, é boliviano. Estamos na metade da obra, que diretor comer- brasileiro começou em 2004 e dever ser concluída em cial da área internacional da Construtora Quei- meados de 2008.” roz Galvão (responsável pelo desenvolvimento presas fornecedoras, além do que levamos Outro destaque que Torres cita é a refe- de novos negócios), atualmente o percentual empregados brasileiros para lá também. O rida Hidrelétrica La Higuera, obra que está do setor externo no total do faturamento da Proex não financia 100% de um projeto e sendo tocada pela Queiroz Galvão no Chile, na empresa está entre 20% a 25%. sim não mais de 85%. Os outros 15% é o país localidade de San Fernando, com capacidade “Estamos querendo nos próximos dois onde são feitas as obras que tem que colo- instalada de 155 MW – uma EPC (Engineering, anos subir isso para 50%, no mínimo, porque car. Esses 15% figuram como gasto local, ou Procurement and Construction Contracts). há um grande potencial à nossa espera lá seja, despesas para pagamento de salário, “Este é um contrato de 150 milhões de dó- fora”, prevê. Ele conta que as obras da pri- alimentação e outros. O resto do forneci- lares com a empresa privada australiana meira fase da internacionalização da cons- mento segue tudo do Brasil.” Pacific Hydro em conjunto com investidores trutora eram geralmente financiadas por E para a construtora brasileira receber noruegueses da SN Power. Nós não estamos agentes de fomento externos, como Banco as parcelas dos financiamentos do Proex, ela consorciados, entramos como Queiroz Galvão Interamericano de Desenvolvimento, BID, e tem que comprovar que exportou materiais em estado puro. As obras tiveram início há um Banco Mundial, Bird. “Mas foi muito interes- e equipamentos brasileiros, lembra Torres. ano e devem ser concluídas em dois anos. Em sante para a companhia a abertura de linhas “Só o BNDES pode até financiar 100% do pro- 2009 a usina já vai estar gerando energia.” de crédito por parte de agentes do governo jeto, mas desde que seja toda a exportação O diretor da área internacional confir- brasileiro”, diz. brasileira, inclusive gastos com alimentação ma que a construtora está acompanhando Ele está se referindo às linhas coloca- e salários. Eu poderia citar duas empresas com muito interesse os planos de ampliação das à disposição das empresas que expor- que exportam muito equipamento: a Volvo e a do Canal do Panamá, na América Central. “É tam serviços de engenharia pelo Banco do Caterpillar. A Volvo já embarcou mais de 100 a obra na área internacional que estamos Brasil – via Programa de Financiamento às caminhões para atender contratos nossos. visualizando com maior atenção. Não há Exportações, Proex – e pelo Banco Nacional Nós já exportamos mais de 60 milhões de dó- contrato ainda, mas as licitações e contra- de Desenvolvimento Econômico e Social, BN- lares em bens, ou seja, equipamentos, peças tações devem ter início em meados deste DES. “Em outubro de 2001 a Queiroz Galvão de reposição, aço, manta, tubo, até mesmo ano. Nós nos associamos à Andrade Gutier- aproveitou esses créditos à exportação e papelaria de escritório. E todo o material de rez e Camargo Corrêa, para desenvolver um assinou contrato de 58 milhões de dólares insumo para a obra, a gente também manda plano de negócios para esse megaprojeto, para a execução das obras de modernização do Brasil. Tem um valor que pode ser calcula- cujo montante global deve ultrapassar os 6 e reconfiguração da Rodovia Tarija - Berme- do: para cada 100 milhões de dólares que ex- bilhões de dólares. Estamos querendo pegar jo, na Região Sul da Bolívia, que faz fronteira portamos, garantimos emprego para 16 000 uma fatia do projeto, que será dividido em com a Argentina.” pessoas no Brasil, levando-se em conta todas várias etapas, ou lotes.” O diretor da área internacional conside- essas outras empresas fornecedoras.” Na visão de Torres, a construtora já che- ra os programas brasileiros de crédito às Torres dá especial destaque para uma gou à conclusão de que o alvo principal hoje é exportações de serviços muito interessan- das obras rodoviárias que a construtora a América Central e área do Caribe. “Estamos tes porque eles representam, na realidade, toca atualmente na Bolívia, dentro do pro- fazendo uma seleção bem criteriosa para empréstimos de governo a governo. “Todos grama de crédito às exportações de servi- apresentar propostas, porque tem muita coi- os produtos que vão ser usados nas obras ços. É um grande projeto de 220 milhões de sa acontecendo nessas regiões. Se a gente no exterior têm que ser comprados de em- dólares (sendo que 120 milhões de dólares for colocar em números o potencial na Amé- presas brasileiras. Se os projetos geram é financiamento do Proex). “Trata-se de uma rica do Sul, América Central e Caribe chega emprego nos países estrangeiros para onde estrada muito expressiva não apenas para a a ser de 6 bilhões de dólares nos próximos nos dirigimos, geram aqui também, nas em- Bolívia, mas para a América do Sul. Ela for- quatro anos. Isso sem considerar o Canal do

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580 Panamá cuja participação da Queiroz Galvão toda tem grande potencial hidrelétrico, tem

/2007 Se o potencial na América do poderia chegar a 500 milhões de dólares. muitos rios, e será um grande manancial de Nós vamos passo a passo, dentro de nossa fi- Sul, América Central e Caribe negócios”, aposta ele. losofia, sem muita agressividade, no sentido for colocado em números, Berilo Torres, engenheiro formado em

ENGENHARIA de só enfrentar as oportunidades com uma chega a ser de 6 bilhões de Minas Gerais, trabalha há 10 anos na Queiroz boa estrutura interna envolvida. Galvão. Mas atua na área internacional de en- dólares nos próximos quatro genharia há mais de 20. “Vivi fora do Brasil a À sombra do vulcão anos. Isso sem considerar as maior parte desse tempo, a serviço de outras “Estamos com contrato assinado para a futuras obras de ampliação do empresas de construção e engenharia”, expli- construção de uma usina geotérmica na Ni- ca. Dono de vasta experiência no setor, Torres carágua”, revela Torres. Segundo ele, o valor Canal da Panamá, cuja parte da já foi refém no Iraque, sob o regime de Sa- do contrato é de 50 milhões de dólares e o Queiroz Galvão poderia chegar ddam Hussein (na primeira Guerra do Golfo), e BNDES deve entrar com uma parte importan- a cerca de 500 milhões de também foi seqüestrado pelas Forças Armadas te do financiamento: em torno de 40 milhões Revolucionárias da Colômbia, FARC, naquele de dólares. “O projeto da geotérmica prevê dólares país vizinho do Brasil. “Eu vivi no Iraque oito geração de energia a partir do vapor de um anos, entre de 1982 a 1990. Eu fui refém da vulcão. É uma usina pequena, de 22 MW, mas da parte do governo brasileiro por causa da primeira Guerra do Golfo, que começou em muito interessante pela tecnologia envolvida. capacidade. Há um limite para a Republica 1989. Como se recorda, a invasão do Kuwait O vapor do vulcão é retirado, depois tem um Dominicana”, conta. Comenta, além disso, que foi em 2 de agosto de 1989. Na ocasião, eu separador que separa a água e o enxofre e aí a construtora está desenvolvendo negócios trabalhava para outra grande empreiteira bra- injeta o vapor quente da caldeira para gerar (prospecção e participação em licitações sileira de então, como superintendente de uma a energia. É a primeira vez que uma constru- públicas) na Guatemala. Em El Salvador, a em- grande obra rodoviária naquele país. Depois tora brasileira faz isso. A construção deve presa vai participar, neste mês de março, de que estourou a guerra, tive que receber em ter início nos próximos meses, dependendo uma licitação pública internacional para cons- meu acampamento todos os brasileiros que do fechamento do financiamento do BNDES trução de uma usina hidrelétrica. No Panamá viviam no Iraque e Kuwait. Para se ter idéia, juntamente com Banco Centro-Americano de está, igualmente, verificando alguns projetos eu estava com 126 funcionários na época e Integração Econômica, o BCIE.” de usinas hidrelétricas. “A América Central e passei a ter 450 pessoas no meu acampamen- Ele informa também que a Queiroz Galvão o Caribe estão muito dependentes atualmen- to. Nossas instalações situavam-se num local tem contrato assinado com um cliente cen- te de geração termelétrica. Com o petróleo próximo à fronteira com a Jordânia e o então tro-americano para construir uma hidrelé- tendo alcançado preços muito altos, eles não presidente Fernando Collor achou interessan- trica de 53 MW na Republica Dominicana, no estão agüentando o repuxo e buscam outras te, na ocasião, que todo mundo ficasse em lu- valor de 165 milhões de dólares. “Esse con- alternativas de geração de energia – inclusive gar seguro. Daí terem se refugiado no nosso trato está dependendo, no entanto, de linhas a geotérmica de vapor de vulcão, como já citei acampamento, para onde o Itamarati enviou de crédito. Não conseguimos financiamento –, principalmente de fontes hídricas. A região também uma equipe chefiada pelo embaixador Paulo de Tarso Flexa de Lima – que entabulou demoradas negociações com o governo ira- quiano para liberação dos brasileiros. Como

Foto: Divulgação todo estrangeiro no Iraque conflagrado, está- vamos impedidos de viajar. No curso dos enten- dimentos, ficou acertado que tinham que ficar seis brasileiros como “garantia de contrato”. Eu próprio fiquei quatro meses como ‘garantia de contrato’, num período total de seis meses como refém. O que mais nos atormentava era a incerteza. Depois disso, vivi oito anos na Bolí- via, quando então fui morar na Colômbia. Nesse país fui refém das FARC. São experiências úni- cas na vida. É impressionante como em experi- ências perigosas e dolorosas a gente aprende mais. Isso vai dando bagagem para a gente. Até para empreender novos negócios. Aí eu fico brincando, quando a gente vai fazer uma discussão comercial com países estrangeiros: quem já negociou com as FARC e Saddam Hus- As Máquinas utilizadas nas obras no exterior são adquiridas no Brasil sein, não vê dificuldade em nada.”

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