Revista de Cultura da Imprensa Oficial do Estado do

Outubro 2012 - ANO IX nº 31 – o Prelo

Estado do Rio de Janeiro

INEXPUGNÁVEIS: De defensoras da Guanabara a atrações turísticas, as fortalezas que dominam a baía

A poética Friburgo Natureza e romantismo se encontram no alto da Serra dos Órgãos

UPP Social Projetos sociais levam mais cidadania às comunidades p a c i fi c a d a s

Casa da Flor A arquitetura exótica de uma vida inteira em São Pedro da Aldeia O Projeto Mais Leitura, criado para democratizar o acesso à cultura, disponibiliza grandes obras literárias a preços populares. Para adquirir a sua, vá às unidades do Rio Poupa Tempo e procure a Agência da Imprensa Oficial.

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LITERATURA 04 Lima Barreto: o intelectual libertário e combatente

Sérgio Cabral GOVERNADOR ARTESANATO Regis Velasco Fichtner Pereira 08 A arte de pintar SECRETÁRIO DE ESTADO CHEFE DA CASA CIVIL uma tela diferente

SOCIEDADE Haroldo Zager Faria tinoco 10 UPP Social amplia a Diretor-Presidente cidadania nas comunidades Valéria Maria Souto Meira Salgado Diretora Administrativo-Financeira Jorge Narciso Peres BIBLIOTECA Diretor-Industrial 13 Um novo jeito de contar a história do Brasil Rua Prof. Heitor Carrilho, 81 Centro - Niterói - RJ - CEP 24030-230 CULTURA Telefone: 2717-4141 PABX 14 Lonas que vão aonde o povo está www.imprensaofi cial.rj.gov.br HISTÓRIA 15 os inexpugnáveis: ANO IX nº 31 Conheça os fortes que guardaram por quatro séculos a Baía de Guanabara

Rua Prof. Heitor Carrilho, 81 ARQUITETURA POPULAR Centro - Niterói - RJ - CEP 24030-230 Uma casa feita de Assessoria de Comunicação Social - ASCOP 20 Tels: (21) 2717-4682 sonho e pensamento Endereço eletrônico: MEMÓRIA oprelo@imprensaofi cial.rj.gov.br Editado pela Assessoria de 23 Museu Histórico Nacional celebra Comunicação Social da Imprensa Ofi cial 90 anos de existência

Assessora de Comunicação: Débora Ghivelder Redator: MÚSICA Luiz Augusto Erthal 24 Para lembrar Herivelto Martins Estagiários: Bárbara Reis Isabel Muniz CINEMA Lucas Dumphreys Natan Pereira 26 A técnica da guerrilha cinematográfica thaís Brito na Baixada Fluminense Programação Visual: EDUCAÇÃO Angela Duque Luis Fernando da Silva Reis 27 Sempre é tempo para aprender

Revisão: Assessoria de Comunicação Social MUNICÍPIOS da Imprensa Oficial 28 A poética Friburgo Capa: Foto de Renata Mello/tyba

imPreSSa No ParQUe GrÁFiCo Da AS OPINIÕES EMITIDAS NAS MATÉRIAS SÃO DE RESPONSABILIDADE imPreNSa oFiCiaL Do eStaDo Do rio De JaNeiro EXCLUSIVA DOS AUTORES o Prelo 3 Lima Barreto: o intelectual libertário e combatente

Há 90 anos, no dia 1º de novembro de 1922, morreu o autor do clássico triste fim de Policarpo Quaresma, severo crítico das incoerências da sociedade brasileira em seu tempo

Thaís BriTo*

este ano de 2012, come- entre o internato e o asilo onde seu dos colegas que pertenciam à elite N mora-se o nonagésimo pai trabalhava. por sua origem humilde e por ser aniversário de morte de Lima Bar- Aluno esforçado, passou no mestiço. Na Politécnica, dedicava- reto, expressivo nome da literatura vestibular da Escola Politécnica in- -se mais à leitura do que ao estudo brasileira, dono de vida breve e gressando no curso de Engenharia. das matérias específicas, preferindo conturbada. Romancista, contista, No entanto, o tempo de estudos lá passar as tardes na Biblioteca Na- cronista e jornalista, ele inovou ao foi marcado por dificuldades. cional, atitude que mostrava a sua trazer para a literatura as camadas Mesmo tendo amigos entre inclinação para a literatura e para o mais pobres da população em textos os alunos, o estudante sempre se jornalismo. marcados pela clareza, transparên- sentiu discriminado pela maioria Dupla jornaDa: cia e simplicidade. serviço público e jornalismo Afonso Henriques de Lima Bar- Reprodução reto nasceu em 13 de maio de 1881 Novamente um acontecimento no bairro de Laranjeiras, no Rio de na família mudou a vida de Lima Janeiro. A infância do filho do tipó- Barreto. Desta vez, por conta do grafo da Imprensa Nacional, João agravamento do estado de saúde Henriques de Lima Barreto, e da de seu pai, que sofria de pro- professora primária, Amália blemas mentais, viu-se obri- Augusta, foi marcada pela gado a largar os estudos e morte precoce da mãe, que ingressar no serviço público falecera quando ele tinha para assegurar o sustento apenas sete anos. da família. Empregou-se Graças à ajuda de seu como amanuense (cargo protetor Afonso Celso, o burocrático sem equiva- Visconde de Ouro Preto, lente exato atualmente) ilustre figura na época, no Ministério da Guerra. ele desfrutou de uma boa Porém, apesar de ga- instrução escolar. Estu- rantir a sobrevivência dou no Liceu Popular financeira, a vida de Niteroiense num período funcionário público o particularmente delicado deixava frustrado pela para a sua família, já que debilidade das institui- o pai havia sido demitido ções republicanas. da Imprensa Nacional com Paralelamente ao a proclamação da república trabalho, passou a escre- por causa da proximidade ver em diversos jornais e com os políticos do Império. revistas. As colaborações na Pouco depois, João Henriques foi imprensa tiveram início em nomeado escriturário das Colônias 1902, quando ainda era estu- de Alienados da Ilha do Governa- dante nas publicações A Quinzena dor, fazendo com que o jovem Lima Alegre, tagarela, O Diabo e Revista Barreto passasse a dividir seu tempo da Época. Em 1905, começou a 4 o Prelo escrever no Correio da Manhã, O alcoolismo levou o escritor a ser internado duas vezes, como jornal de grande prestígio, uma mostram os prontuários série de reportagens sobre a demolição do Morro do Castelo. Trabalhou tam- bém em diversos veículos como Fon-Fon, Gazeta da tarde, Jornal do Com- mercio, Correio da Noite, entre outros. Lima Bar- reto chegou, inclusive, a fundar uma revista literária, a Floral, em 1907, mas que teve uma curta duração. A nova vida o obrigou a se mudar com o pai doente e os irmãos para o subúrbio de Todos os Santos, na Zona Norte do Rio, pas- sando a se deslocar diariamente para o Centro do Rio de Imagens de acervo da Biblioteca Prof. João Ferreira da Silva Filho, Janeiro de trem até a Central do Instituto de Psiquiatria da UFRJ do Brasil. De lá, seguia a pé até a Na primeira, Policarpo se dedica estudos de tupi e folclore nacional, sua repartição. E no final do dia, ao projeto cultural, fazendo um o que faz com que se revolte contra depois de passar pela redação do requerimento à Câmara propondo a política agrícola nacional. jornal ou por um dos cafés do Cen- a adoção da língua tupi-guarani E na última, abre-se espaço para tro da cidade, pontos de encontro como idioma oficial do Brasil. Ridi- a política. Acreditando na necessida- da intelectualidade carioca, fazia cularizado pelo fato e submetido à de de reformas no governo, Policar- o caminho inverso. enorme pressão, redige por engano po vê estourar a Revolta da Armada, triste fim De policarpo Quaresma um ofício ao seu superior, o que re- no Rio de Janeiro, e resolve seguir sulta no desligamento do trabalho. para a capital depois de oferecer seu O caminho para a ficção come- Decepcionado, sozinho, sofre um apoio ao presidente Floriano Peixoto. çou em 1909 com o romance Recor- colapso mental. Após lutar no conflito, ser ferido e se dações do Escrivão Isaías Caminha, Na segunda, o foco é no projeto decepcionar com a guerra, Policarpo cuja narrativa é marcada por traços agrícola. Ele se muda para o fictício fica indignado com o envio dos ini- autobiográficos e conta a história de município de Curuzu, onde adquiriu migos à prisão da Ilha das Cabras e um jovem mestiço que sofre com o sítio Sossego. O protagonista acre- resolve escrever uma carta a Peixoto o preconceito racial numa contun- dita que a agricultura é um ponto para mostrar seu inconformismo. dente crítica à sociedade brasileira da fundamental para o crescimento do Logo, o personagem é preso e passa época. Mas foi em 1911 que come- país e por isso inicia uma pesquisa a refletir sobre o país num final en- çou a publicação, em formato de fo- sobre as espécies da região. Derro- quanto aguarda a morte. lhetins no Jornal do Commercio do Rio tado pelas formigas, ele se dá conta Lima Barreto empregou bas- de Janeiro, de sua mais importante que o solo do local não é apropriado tante energia para ver suas obras obra, o livro triste Fim de Policarpo e assolado por diversas pragas, além publicadas. Tanto que abriu mão Quaresma, considerado como um dos do negócio não ser economicamente dos direitos autorais e financiou a pilares do pré-Modernismo. Quatro viável devido aos baixos preços pa- impressão de alguns títulos, decisões anos depois, a história virou livro e gos pelos intermediários aos produ- que fizeram com que contraísse em- ganhou uma edição em brochura. tores. O convívio social de Policarpo préstimos para custear tais emprei- O romance conta a trajetória do também muda com o tempo: no tadas. Foi Monteiro Lobato, como Major Policarpo Quaresma, um ide- início é bom, mas, com o tempo, editor, que deu a ele a legitimidade alista apaixonado pelo Brasil que se se transforma pela sua recusa em maior como romancista, publican- vê isolado por conta do seu patrio- participar das negociatas propostas do parte de sua obra que antes era tismo exagerado. Dividida em três pelos líderes políticos locais. Por bancada pelo escritor. Só no final da partes, a obra aborda, em cada uma, conta disso, é acusado de ser boêmio vida, ele conseguiu ter uma edição um dos projetos do protagonista. e o obrigam a pagar multas por seus mais acurada de seus livros. o Prelo 5 literatura militante e o estilo barretiano “O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS” Lima Barreto foi um forte crítico da República Velha do Brasil, das suas Lima Barreto instituições, dos seus preconceitos, de suas práticas sociais, do nacionalis- (...) quarto a engolir o meu “a-b-c” ma- — Eu tinha chegado havia pou- laio, e, com tanto afinco levei o pro- mo ufanista, dos seus privilégios às co ao Rio e estava literalmente pósito que, de manhã, o sabia per- famílias aristocráticas e aos militares, na miséria. Vivia fugido de casa feitamente. dos seus excluídos. No entanto, o seu de pensão em casa de pensão, Convenci-me de que aquela era trabalho permaneceu incompreendido sem saber onde e como ganhar a língua mais fácil do mundo e saí; pela crítica durante um longo período. dinheiro, quando li no Jornal do mas não tão cedo que não me en- O escritor foi severamente questiona- Commercio o anúncio seguinte: contrasse com o encarregado dos do pelos seus contemporâneos não “Precisa-se de um professor de aluguéis dos cômodos: somente pelo seu estilo despojado, língua javanesa. Cartas etc». — Senhor Castelo, quando sal- fluente e coloquial como também pelo Ora, disse cá comigo, está ali da a sua conta? fato de contestar estruturas sociais uma colocação que não terá mui- Respondi-lhe então eu, com a vigentes. Neste ponto, destaca-se a tos concorrentes; se eu capiscasse mais encantadora esperança: questão da literatura militante atrelada quatro palavras, ia apresentar- — Breve... Espere um pouco... a ele. Isto porque, para ele, o escritor -me. Saí do café e andei pelas Tenha paciência... Vou ser nomea- tinha a função social de revelar as in- ruas, sempre imaginar-me pro- do professor de javanês, e... Por aí coerências sociais e propor alternativas fessor de javanês, ganhando di- o homem interrompeu-me: renovadoras para a sociedade no qual nheiro, andando de bonde e sem — Que diabo vem a ser isso, está inserido. encontros desagradáveis com os Senhor Castelo? Autora dos livros Lima Barreto e «cadáveres». Gostei da diversão e ataquei o o sonho republicano (1995) e trinchei- Insensivelmente dirigi-me à Bi- patriotismo do homem. ras de um sonho: ficção e cultura em blioteca Nacional. Não sabia bem — É uma língua que se fala lá pe- Lima Barreto (1998), ambos publica- que livro iria pedir, mas entrei, en- las bandas do Timor. Sabe onde é? dos pela editora Tempo Brasileiro, a treguei o chapéu ao porteiro, rece- Oh! alma ingênua! O homem professora da Universidade Estadual bi a senha e subi. esqueceu-se da minha dívida e do Rio de Janeiro, UERJ, Carmem Na escada, acudiu-me pedir disse-me com aquele falar forte Lúcia Negreiros de Figueiredo, fala a Grande Encyclopédie, letra J, a dos portugueses: fim de consultar o artigo relativo — Eu cá por mim, não sei bem; sobre o rompimento do escritor com a Java e à língua javanesa. Dito e mas ouvi dizer que são umas ter- o estilo da produção intelectual que feito.Fiquei sabendo, ao fim de al- ras que temos lá para os lados de dominava a época: guns minutos, que Java era uma Macau. E o senhor sabe disso, Se- “A obra de Lima Barreto con- grande ilha do arquipélago de nhor Castelo? tribui com um questionamento Sonda, colônia holandesa, e o ja- Animado com esta saída feliz acerca do papel da própria litera- vanês, língua aglutinante do gru- que me deu o javanês, voltei a tura e do intelectual, na formação po malaio-polinésio, possuía uma procurar o anúncio. Lá estava ele. do País e dos indivíduos. Para isso, literatura digna de nota e escrita Resolvi animosamente propor-me retira personagens de extração so- em caracteres derivados do velho ao professorado do idioma oceâ- cial mais baixa, tornando-os prota- alfabeto hindu. nico. gonistas; aproveita os recursos de A Enciclopédia dava-me in- Redigi a resposta, passei pelo inovação na linguagem, presente dicação de trabalhos sobre a tal Jornal e lá deixei a carta. nos jornais e nas ruas, para obter língua malaia e não tive dúvidas Em seguida, voltei à biblioteca uma comunicação mais eficiente. em consultar um deles. Copiei o e continuei os meus estudos de ja- Com isso, contribui também com alfabeto, a sua pronunciação figu- vanês. a inovação estética na linguagem rada e saí. Andei pelas ruas, pe- Não fiz grandes progressos que busca acompanhar as mudan- rambulando e mastigando letras. nesse dia, não sei se por julgar o ças no modo de percepção, devido Na minha cabeça dançavam hie- alfabeto javanês o único saber ne- à modernidade, tornando-se mais róglifos; de quando em quando cessário a um professor de língua visual, comunicativa e ágil. Agora, consultava as minhas notas; en- malaia ou se por ter me empenha- é preciso observar: a comunicação trava nos jardins e escrevia estes do mais na bibliografia e história mais eficiente não sacrifica a forma, calungas na areia para guardá-los literária do idioma que ia ensinar. a qualidade estética. Ao contrário, bem na memória e habituar a mão Ao cabo de dois dias, recebia leitor do filósofo alemão Friedrich a escrevê-los. eu uma carta para ir falar ao Dou- Nietzsche, Lima Barreto sabe da À noite, quando pude entrar tor Manuel Feliciano Soares Alber- em casa sem ser visto, para naz, Barão de Jacuecanga, à rua importância de se questionar os evitar indiscretas perguntas do Conde de Bonfim, não me recordo limites da linguagem, da narrativa encarregado, ainda continuei no bem que número. (...) e da subjetividade.” 6 o Prelo Divulgação Editora 34 partir do momento em que A pesquisadora - que também comecei a perceber, por parte organizou , ao lado do filólogo, de alguns críticos, uma certa escritor e membro da Academia glamurização de sua obra, Brasileira de Letras Antonio Hou- cada vez mais tomada por um aiss, o volume Lima Barreto, da suposto enlace modernoso, Coleção Archives/UNESCO (1997) distanciado demais da sua cons- - conta que o interesse em estudar ciência autoral de militância e a obra do escritor surgiu do ques- resistência aos piores preconcei- tionamento sobre a recepção de tos que regem a nossa sociedade seus trabalhos. ainda nos tempos de hoje. Quis, “Lima Barreto é um escritor então, retomar o intelectual em cujas obras contêm várias camadas seu projeto de origem, e ver de e, logo à superfície, seus leitores que modo ele se transformou num identificam as críticas a aspectos escritor”, explica. sociais e culturais. Mas, as demais Para Prado, as contribuições camadas exigem maior repertório deixadas por Lima Barreto foram e interesse, para reconhecer a ino- diversas: vação da linguagem, a crítica ao “Como homem de letras, cindiu gênero literário em que se expressa, a tradição escrita ao conceber-se a si questões filosóficas e reflexões mesmo como um ‘escritor’ homem acerca do papel do intelectual e da da rua e das coletividades, e não mais literatura”, assinala. Livro destaca a transformação de Lima Barreto em escritor como um ‘literato’, homem de sala e A professora da Universidade de gabinete oficial, pomposo e retórico Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Isa- como costumava ser em seu tempo, bel Siqueira Travancas, também tem com as conhecidas e poucas exceções. uma obra dedicada ao escritor cujo OBRAS DE LIMA BARRETO Como intelectual, rompeu com os título é Novas Seletas - Lima Barreto hábitos comedidos do comentário (Nova Fronteira, 2004). “Descobri • 1905 – O Subterrâneo do Morro do Castelo cultural ameno para botar a boca um personagem fascinante e muito no mundo do nosso faz de conta, sofrido. E sua literatura assim como • 1909 – Recordações do Escrivão chamando os ladrões pelo nome, os seus textos jornalísticos expressam Isaías Caminha pedantes por sua farsa, as autoridades isso”, afirma. Sobre o legado deixa- • 1912 – As Aventuras do Doutor pelos desmandos que cometiam, sem do pelo autor, Travancas destaca: Bogóloff falar nos gravames com que marcou “Lima Barreto tem um papel im- sem medo os exploradores do povo. portante na literatura brasileira por • 1915 – Triste Fim de Policarpo Como homem, foi sobretudo autên- ter produzido uma obra bastante Quaresma tico e leal, sem nunca deixar de ser fiel conectada com seu tempo, por ter • 1915 – Numa e a ninfa aos de sua classe, que incorporou ao trazido para a literatura algumas cenário da literatura brasileira con- características do texto jornalístico • 1919 – Vida e morte de M. J. Gon- zaga de Sá temporânea. Tudo isso com extrema como a coloquialidade.” coragem, sem medo de ser posto fora, Um dos livros mais recentes • 1920 – Histórias e Sonhos sem medo de dizer bem alto tudo o dedicados à vida e obra do autor • 1922 – Os Bruzundangas que tinha para dizer, doesse a quem é Lima Barreto: uma autobiografia doesse”, enumera. literária (editora 34), lançado em • 1923 – Bagatelas 2012. Organizado pelo professor da morte • 1948 – Clara dos Anjos (póstumo) Universidade Estadual de Campinas, O escritor candidatou-se três Unicamp, Antonio Arnoni Prado, o • 1953 – Diário Íntimo vezes à Academia Brasileira de Le- título conta - usando as palavras do • 1953 – Feiras e Mafuás tras, mas não obteve a vaga embora próprio Lima Barreto por meio de tenha recebido uma menção hon- procedimentos de corte e montagem • 1953 – Marginália rosa. Faleceu em 1º de dezembro de fragmentos de contos, cartas, • 1956 – Cemitério dos Vivos (pós- de 1922, aos 41 anos, após ter sido diários, romances, artigos, crônicas tumo e inacabado) internado duas vezes como louco, de jornais, entre outros - o processo por conta do alcoolismo que o • 1956 – Coisas do Reino de Jambom de sua formação enquanto homem abateu, deixando uma obra vasta de ideias. • 1956 – Impressões de Leitura formada por contos, crônicas, e “Há muito tempo que eu vinha • 1956 – Vida Urbana ensaios, crítica literária, memórias, pensando em organizar uma auto- entre outros.q biografia literária dele. Esse desejo, • 1956 – Correspondência, Ativa e Passiva (2 tomos) no entanto, ficou mais intenso a *Colaborou osVaLDo MaNEsChY o Prelo 7 Foto: Arquivo/Ag. O Globo

A arte de pintar uma tela diferente Artesãs produzem tapeçarias que realçam a natureza exuberante de Maricá

BárBara reis

ascida no Marrocos, filha de pais franco- Fotos: Lucas Dumphreys N -americanos e posteriormente casada com um jornalista português, Madeleine Colaço poderia ter escolhido qualquer lugar do mundo para viver. Mas foi Espraiado, em Maricá, que decidiu chamar de casa. Em 1940, fugindo com o marido da ditadu- ra de Salazar, em Portugal, Madeleine, depois de se aventurar em outras cidades brasileiras, instalou-se com a família na bucólica região de mata e flora abundantes. A tapeçaria, aprendida em países como o Marrocos, Portugal e Inglaterra, foi ensinada ao longo de quase três décadas, pela artista aos mora- dores locais e tornou-se parte da cultura da cidade. O legado artístico de Madeleine Colaço é enorme. Os bordados, carinhosamente apelidados por ela de ‘’, mostram uma artesã visionária. O ‘ponto brasileiro’, sua criação mais famosa, é irregular e trabalha com a justaposição de tons e texturas. Bolsa de pano confeccionada pelas artesãs 8 o Prelo Fotos: Lucas Dumphreys Fotos:

- Quando a Madeleine começou Dona Ilma, coordenadora do grupo isso foi uma febre. Eu mesma apren- de tapeçeiras, entre di a fazer tapeçaria com ela, aos 10 algumas das obras anos de idade. Aliás, foi assim com confeccionadas. Ao lado, uma das carteiras toda a geração passada. Por isso, eu produzidas pelas artesãs não quero deixar essa arte morrer - conta Ilma Macedo da Costa, hoje coordenadora do grupo de tapeceiras não são muradas, o do Espraiado. sistema elétrico revela Dois anos após a morte de Ma- precariedade e o tempo deleine, em 2003, nasceu o grupo parece passar mais Tapeceiras do Espraiado, que vê na vagarosamente. É neste lugar, que Uma peça de um metro quadrado, tapeçaria mais que uma fonte extra combina melhor com um romance se trabalhada por uma única pes- de renda, um minucioso trabalho de Marcel Proust do que com os soa, pode levar até três meses para artístico que deve ser preservado. megabites da Internet, que as artesãs ficar pronta. As maiores podem Referência na região, o grupo de seis criam verdadeiras obras de arte. Para levar mais de um ano. Essa arte tão pessoas produz, além das tapeçarias, tanto, utilizam telas, lãs e os dese- cuidadosa aos poucos sai de Maricá bolsas, capas de almofada entre ou- nhos do estilista José Pereira Lima para ganhar o mundo. O grupo das tros tipos de objetos bordados, que Neto - filho de uma das tapeceiras. Tapeceiras do Espraiado já teve suas podem ser adquiridos ali mesmo. Os O método de trabalho é cuidadoso, obras apresentadas em duas edições preços variam entre R$ 400,00 e R$ lento e detalhista. A partir de uma do Rio Prêt-a-Porter. q 4.000,00, de acordo com o tamanho ideia, cria-se o desenho em papel SERVIÇO da peça. que depois será reproduzido na tela A inspiração para as peças vem da tapeçaria. Hoje, nas peças produ- Tapeceiras do Espraiado principalmente da exuberância da zidas pelas tapeceiras do Espraiado, Contato: Ilma Macedo da Costa Telefone: (21)2648-6578 flora e fauna nativas da região. Um aplicam-se principalmente dois Estrada Duas Águas, número 25 vale cercado por mata atlântica pontos: o ponto brasileiro, presente Espraiado, Maricá. CEP: 24980-150 e cheio de cachoeiras e riachos, o sempre no fundo da obra, e o ‘rabo Espraiado de Portas Abertas Espraiado é uma ilha de anacronis- de rato’, que dá vida aos desenhos, Evento trimestral Informações: 3731-5094 mo em pleno século XXI. As casas cuidando do contorno das imagens. o Prelo 9 UPP Social Polícia Pacificadora apóia projetos sociais nas comunidades

NaTaN Pereira

tráfico. O preconceito que existia que o professor voluntário Marcos antes, agora não existe mais. “No Lelelo ensina futebol. Com aulas três passado, as pessoas acreditavam que vezes por semana, o projeto é apoiado nas comunidades só existia violência. pelos policiais da UPP. Aqui existe uma cultura escondida Pacificado em 2010, o morro que começa a aparecer para o mun- do Salgueiro conta com 138 poli- do. Grandes celebridades querem ciais. Eles encontraram no futebol conhecer as comunidades. Novelas o caminho ideal para se integrarem são filmadas aqui dentro”, conta a com a comunidade. “O esporte teve Mariana de soldado Cristiane Gomes. uma adesão muito grande na comu- Souza ensaia seus primeiros A expectativa do Governo do nidade. Os moradores abraçaram os passos de balé Estado é de investir R$ 15 milhões na projetos e o futebol em particular. na Cidade qualificação dos militares e formar, Essa integração através do esporte é de Deus até 2016, cerca de 60 mil policiais. importante peça do sucesso da UPP nde havia medo e insegu- Atualmente, as 28 Unidades de Po- no Salgueiro”, conta o soldado Julian. O rança, agora existe tran- lícia Pacificadora beneficiam mais de Mas nem sempre foi assim. No quilidade, confiança e novos hori- 500 mil pessoas em 175 localidades. início do projeto, há dois anos, muitos zontes para as comunidades cariocas Até janeiro de 2013, mais duas alunos viam as aulas com desconfian- já contempladas com as Unidades de unidades serão inauguradas. Entre ça. Porém, com o tempo, a confiança Polícia Pacificadora (UPPs), a propos- os novos projetos sociais introduzi- na UPP foi aumentando e atualmente ta implantada pela Secretaria de Se- dos nas comunidades existem muitos há uma grande procura pelos proje- gurança do Governo do Estado do Rio de esportes e cursos de capacitação tos. Apenas no futebol existem 80 para retomar os territórios da cidade profissional. Partes dessas iniciativas alunos matriculados. Os jovens das que haviam caído no poder do crime são coordenadas pelos próprios poli- comunidades também estão parti- organizado. Além de terem recupera- ciais das UPPs. cipando de torneios e conhecendo do a segurança e o direito de ir e vir, novos lugares, como conta Josiane futebol no salGueiro essas comunidades estão recebendo Moraes, de 13 anos, campeã da Copa investimentos e projetos sociais que Quem sobe o morro do Salguei- Zico de futebol feminino em 2012: antes seriam impraticáveis. ro, na Tijuca, Zona Norte da cidade, “Nunca falto aos os treinos. Com isso, a sociedade começa a encontra um campo de grama sinté- Como treinamos juntos com os me- conhecer uma parcela da população tica reformado depois da pacificação, ninos, acredito que foi mais fácil a que até então vivia oprimida pelo bem no coração da comunidade. É lá conquista do título. Por causa do pro- Fotos: Lucas Dumphreys

Adolescentes treinam no campo reformado após a instalação da UPP no Salgueiro 10 o Prelo Fotos: Lucas Dumphreys Fotos:

Para participar do projeto, que é gratuito, o único pré-requisito é estar na escola jeto conheci o centro de treinamento elas contam que o balé é a do Zico e achei incrível a estrutura realização de um sonho de que existe lá”. muitas meninas que não Apontado como o grande res- têm dinheiro para pagar um ponsável pela aceitação dos projetos curso de dança. sociais, Marcos Lelelo, líder comuni- “O projeto é interes- tário, resume a finalidade do projeto: sante. A comunidade estava “As aulas têm o objetivo de inte- precisando de um balé gra- grar e temos obtido sucesso. Acredi- tuito, coisa que não existia tamos também que a educação pode aqui dentro. A procura é ser conseguida através do esporte e impressionante. O esforço por isso, para ser aluno de qualquer da professora é grande e por projeto, o interessado deve estar na isso ajudamos. Como o pré- escola e ter boas notas”. -requisito é estar na escola, Mais do que a prática esportiva, acredito que isso é mais um os projetos sociais dão oportunidade incentivo para que as crian- aos moradores de conhecer uma ças estudem”, conta Adriane. cultura diferente daquela a que eles Rafaela Malta, que tam- estavam acostumados. Os militares bém é professora de edu- responsáveis pelas atividades mos- cação física, conta porque tram que é possível ter uma vida dife- escolheu o balé para ensinar rente e se animam com os resultados. aos moradores da comuni- “Agora não há mais pessoas ar- dade: madas circulando por aqui. A visão As aulas de futebol na comunidade do Salgueiro acontecem três vezes por semana “Sou formada em edu- de que é possível ganhar dinheiro de cação física e poderia dar aula uma forma fácil, não existe mais. Os de qualquer esporte. Optei pelo balé balé na ciDaDe De Deus policiais, que eram vistos como pesso- porque quem trabalha em comuni- as más, agora são exemplos. Muitos dades carentes tem a oportunidade alunos querem ser militares e isso é É no colégio Luiz Carlos Prestes, de observar que as meninas têm uma um orgulho para nós. Queremos que na Cidade de Deus (CDD), que a maturação sensual precoce. O balé eles estudem e conquistem espaço na soldado Rafaela Malta ensina suas traz uma plasticidade e uma beleza sociedade, que mudem a própria vida alunas os passos tradicionais do balé, desligada dessa parte sensual, mais e a de sua família também”, comemo- como piruetas e demi-plié em uma angelical, e acredito que acertei na ra o soldado Julian. sala cedida nos fundos da escola. escolha. Elas frequentam as aulas, Com a pacificação, os moradores Com 78 alunas e uma extensa fila as ausências são mínimas. Através estão se especializando cada vez mais de espera, as aulas acontecem duas da dança, as meninas puderam ir ao através de cursos oferecidos gratuita- vezes por semana. Theatro Municipal assistir ao espetá- mente dentro da comunidade, como A professora conta com o apoio culo Quebra Nozes”. inglês e informática. Além do futebol, das voluntárias Adriane dos Santos As aulas dos projetos sociais no Salgueiro há aulas de karatê e gi- e Juliana Alves. Mães das alunas na Cidade de Deus acontecem fora nástica para a terceira idade. Todas as Victória Letícia, 7 anos, e Mariana do horário escolar. A ideia é ocu- atividades têm o apoio dos militares. de Souza, 4 anos, respectivamente, par o tempo livre dos moradores e o Prelo 11 tranquilizar os pais que precisam trabalhar fora de casa. Como muitos não têm dinheiro para pagar cursos para os seus filhos, os projetos su- prem essa necessidade. Assim como no Salgueiro, os projetos sociais foram bem aceitos pelos moradores na CDD. Pacificada há dois anos, a Cidade de Deus começa a receber atividades culturais que não eram muito comuns. Karatê, projetos de reciclagem, cursos de capacitação profissional são atividades oferecidas em parceria com empresas privadas. objetivo não é formar atletas Através do balé, as meninas conheceram pessoas que até então, eram impensáveis para elas, como As bailarinas da Cidade de Deus se inspiram em Ana Botafogo conta a soldado Cristiane Gomes: “Já tivemos a visita da bailarina melHoranDo a imaGem A soldado Cristiane Brasil Ana Botafogo. As crianças me con- corrobora a opinião da professora taram que era um sonho conhecê-la, Para incentivar a pratica dos e acrescenta: pois ela é um ícone, uma estrela para esportes, a Coordenadoria de Polícia “A imagem da PM era nega- elas. Nunca passou pela cabeça deles Pacificadora organiza diversos even- tiva. Com os projetos sociais, essa que isso aconteceria aqui. Essas visi- tos entre as UPPs para que morado- visão está mudando. A aproxima- tas fazem com que as meninas acre- res de várias comunidades possam ção foi difícil no inicio, mas com ditem mais nelas, criam o sentimento trocar experiências. A professora de o tempo começaram a nos ver de de que é possível mudar de vida”. criminologia da Unirio e da Puc-Rio, outra forma. Os pais deixam seus Aluna do projeto, Kayany dos Elisabeth Sussekind, explica os objeti- filhos nos nossos projetos e essa Santos, 10 anos, conta que o balé é vos dos projetos sociais comandados é a maior prova de confiança que a realização de um sonho e que sua por policiais. podemos receber“. mãe aprova a ideia e a incentiva. “Os projetos sociais são uma A soldado Roberta Malta define Assim como a sua amiga, Samara ferramenta necessária para a aproxi- qual é o principal objetivo de suas Ferreira, também de 10 anos, que mação dos policiais com a população. aulas: adora a professora e sonha em ser A imagem que a comunidade tem do “Acho que o balé é um meio bailarina. “Gosto de todos os passos policial está mudando. Antes a popu- de formar pessoas melhores. Não que aprendo na aula. A professora é lação via o policial como repressor, achava que teria grandes bailarinas, exigente, mas é muito legal. Quero agora o vê como alguém que cuida do mas meninas mais disciplinadas, ser bailarina profissional e a soldado direito de ir e vir. Eles estão ganhando determinadas porque na dança é Malta é um exemplo”, disse Samara. a confiança dos moradores”. preciso perseverança, pois o cami- nho é árduo. Essas lições levamos para a vida toda. Outro objetivo As unidades de Polícia Pacificadora do balé é dar acesso à cultura eru- dita. As crianças daqui não são rojeto criado em 2008, as e Chapéu-Mangueira (Leme), Pavão e aculturadas. A riqueza cultural é P Unidades de Polícia Pacifica- Pavãozinho (Ipanema e Copacabana), grande, mas é de uma cultura à dora já chegaram em 28 comunidades. Tabajaras e Cabritos (Copacabana margem dos padrões da cultura Com o objetivo de retomar o território e Botafogo), Providência (Gamboa, erudita social”. que era dominado por traficantes, as Santo Cristo e Saúde), Borel (Tijuca), Todas as atividades esportivas UPPs conquistaram a confiança da Formiga (Tijuca), Andaraí (Grajaú e servem como pano de fundo para sociedade. A primeira comunidade a Andaraí), Salgueiro (Tijuca), Turano o principal objetivo, que é formar receber uma unidade foi o morro Santa (Tijuca e Rio Comprido), Macacos pessoas melhores. Aliando uma Marta, em Botafogo. A mais recente (Vila Isabel), São João/Matriz/Quieto atividade prazerosa aos estudos, foi a Rocinha, instalada em setembro. (Engenho Novo), Coroa/Fallet/Fogue- os responsáveis pelos projetos acre- As duas próximas unidades de polícia teiro (Rio Comprido), Escondidinho e pacificadora serão instaladas em de- Prazeres (Santa Teresa), São Carlos ditam que conseguem incentivar zembro e janeiro, respectivamente (Estácio e Rio Comprido), Mangueira/ a crianças a frequentar as salas em Manguinhos e no Jacarezinho, Tuiuti (Maracanã), Vidigal (Leblon), de aula. Alem disso a filosofia do comunidades já ocupadas pela polícia Adeus/Baiana (Complexo do Alemão), esporte ajuda a formar pessoas fluminense desde outubro. Sereno/Fé (Penha), Chatuba (Penha), melhores, produzindo hábitos sau- As comunidades pacificadas Nova Brasília (Complexo do Alemão), dáveis para corpo e mente. hoje existentes são: Santa Marta Fazendinha (Complexo do Alemão), “O esporte introduz nas crianças (Botafogo), Cidade de Deus (Jacare- Parque Proletário (Penha), Vila Cruzeiro valores morais, éticos que eles levam paguá), Batam (Realengo), Babilônia (Penha) e Rocinha (São Conrado). para a vida”, diz Rafaela Malta q. 12 o Prelo Um novo jeito de contar a história do Brasil

Pioneira na América Latina, a Hemeroteca Digital Brasileira traz registros importantes do passado do país

BárBara reis quisa e permitir a busca simultânea em mais de a tradução literal do gre- um periódico. N go, a palavra biblioteca É possível encontrar quer dizer simplesmente ‘espaço publicações raras do sé- físico onde se guardam os livros’. culo XIX, como O Espelho, A função desse espaço, no entanto, Marmota Fluminense, O extrapola as barreiras não só da Jornal das Senhoras, Re- tradução, mas do mundo físico. vista Ilustrada e O Aboli- A missão de guardar a história da cionista. Além disso, há ascensão e ruína de civilizações um segmento que reúne é a verdadeira razão por trás das periódicos de instituições bibliotecas espalhadas por todo o científicas. Recentemente, mundo. As ferramentas tecnológicas o Jornal do Brasil autori- permitem que o conteúdo dessas zou a Fundação Biblioteca obras entre para a eternidade, e é Nacional a digitalizar e dis- nesse contexto, de bibliotecas que ponibilizar toda a coleção unem o seu acervo físico ao mundo do jornal: a primeira parte virtual, que se encaixa a hemeroteca do acervo a ser publicada da Biblioteca Nacional. online vai ser do período de Na Hemeroteca Digital Brasilei- 1950 aos anos 2000. ra, o público tem a oportunidade de Criada após a vinda consultar mais de cinco milhões de da família real portugue- páginas digitalizadas de periódicos sa, a Biblioteca Nacional é Imagem da primeira edição de ‘A Marmota’, um dos periódicos mais antigos disponíveis raros ou antigos. Até o fim do ano, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas na- 10 milhões de páginas estarão dispo- SERVIÇO cionais do mundo, sendo a maior da níveis online. A consulta ao acervo Biblioteca Nacional é simples: basta ter um computador América Latina. A Hemeroteca Digital Hemeroteca Digital Brasileira conectado à internet e escolher a op- Brasileira é pioneira não apenas pela http://hemerotecadigital.bn.br/ ção de busca. O sistema é refinado, quantidade de material envolvido no VISITAS GUIADAS dando opções como título, período, projeto, mas pela tecnologia empre- Dias úteis - segunda a sexta-feira - 10h edição, local de publicação e palavras- gada. Segundo a coordenadora da às 17h -chave. De acordo com Ângela Bet- Biblioteca Nacional Digital, o retorno Sábados, domingos e feriados - 12h30 por parte dos pesquisadores tem sido às 16h30 tencourt, coordenadora da Biblioteca (21) 2220-9484 e (21) 3095-3881 Nacional Digital, a opção de busca muito caloroso. - Recebemos diariamente e-mails Preço do ingresso: 2,00(Reais), com meia por palavras-chave é essencial para entrada para estudantes e gratuidade para os pesquisadores por agilizar a pes- de pesquisadores elogiando a ini- pessoas com mais de 60 anos ciativa, agradecendo pela PESQUISA AO ACERVO ajuda que a BN tem dado Acervo Geral e Periódicos: as suas pesquisas e à pre- Segunda a sexta - 9h às 20h - sábados: 9h servação dessa importante às 15h (apenas periódicos microfi lmados) parte da Memória Nacio- Acervo Especial (Manuscritos, Obras Raras, Cartografi a, Iconografi a) nal. Desde o lançamento Segunda a sexta: 10h às 18h oficial do portal, em julho EXPOSIÇÕES de 2012, já tivemos mais de 3 milhões de pesquisas 3ª a 6ª feira - 10h às 17h sábado, domingo e feriado - 12h às 17h em nossas coleções digi- Espaço Cultural Eliseu Visconti talizadas, contou Ângela Rua México, sem número (fundos da Bi- As diversas opções de busca agilizam o trabalho dos pesquisadores Bettencourt. q blioteca Nacional, entrada pelo jardim) o Prelo 13 Lonas que vão aonde o povo está Parceria com ONGs democratiza acesso à cultura em bairros populares Fotos: Lucas Dumphreys NaTaN Pereira

ara muitos ambientalis- P tas, as duas conferências mundiais sobre o meio-ambiente realizadas no Rio em 1992 e este ano deixaram a desejar em termos de posições mais efetivas dos governos para enfrentar os desafios ecológicos globais. Mas para os moradores de alguns bairros cariocas, a Rio 92 deixou um legado cultural que ao longo de quase 20 anos tem levado entretenimento a áreas carentes de atividades artísticas: as Lonas Culturais. O projeto coordenado pela prefeitura do Rio em parceria com ONGs escolhidas por licitações pú- A Lona Cultural Elza Osborne, em Campo Grande, recebe artistas consagrados como blicas para realizar shows, cursos, Leoni e Jorge Aragão. Ao lado, o idealizador peças teatrais e várias outras ativi- do projeto, Ives Macena dades culturais a preços populares recebeu a chancela da Unesco e apresentações de chinelo e bermuda recebeu prêmios da União Européia se quiserem”, diz Ives. e o MercoCidades, do Mercosul. Moradora de Campo Grande, E tudo começou com uma ideia a estudante Natalia Pereira, explica de Ives Macena, que administra a que a lona é o principal espaço para Lona Cultural pioneira, em Campo eventos culturais do bairro. “Aqui Grande. tem atrações legais. O espaço dá a “Já tinha visto projetos se- oportunidade para os artistas desco- melhantes que levavam atividades nhecidos da região e para atividades culturais a pessoas que não mora- culturais diferentes no bairro”. A vam nos grandes centros, em Minas “As administrações têm autono- Lona Cultural Elza Osborne emprega Gerais. Resolvi fazer o mesmo. Com mia, mas são supervisionados pela 18 pessoas e são realizados, apro- a Rio 92, vi que vários eventos foram prefeitura. Somos parceiros. Eles se- ximadamente, seis eventos por se- realizados em grandes lonas. Após o guem uma pauta e montamos a pro- mana. Todos com preços populares. fim da conferência, a prefeitura nos gramação dos locais”, explica Malta. Além dos shows e apresenta- doou uma delas. Como já tinha o Com capacidade para 600 pes- ções, a lona oferece diversas oficinas, espaço, trouxe para Campo Grande soas, a Lona Cultural Elza Osborne, como as de teatro, artes visuais e e aqui estamos há 19 anos aqui”, de Campo Grande, já recebeu gran- fotografia. Ao todo, são 278 alu- conta Ives. des atrações, como Ed Motta, Bia nos divididos em turmas por idade. O sucesso da iniciativa levou a Bedran e a atriz Ana Rosa, do elenco Todos os cursos são gratuitos para prefeitura a reproduzir o projeto- da peça Violetas na Janela. Além das alunos de escolas públicas e ser -piloto em mais nove pontos da grandes atrações, o espaço sempre alfabetizado é pré-requisito para cidade, repetindo a doação das lonas está aberto para artistas locais. As poder participar. A estudante Rebeca para potenciais agentes culturais, peças de teatro se destacam, uma vez Ramos, de 21 anos, também de para que administram suas atividades que não há locais que oferecem esse Campo Grande, afirma que, “se não de forma autônoma. O objetivo do tipo de espetáculo na região. fosse a lona, teríamos que nos des- projeto, segundo o gestor das Lonas “Boa parte dos moradores da locar para outros bairros em busca Culturais junto à prefeitura, Rodrigo região nunca assistiu a uma peça de diversão”. Com uma média de Malta, é descentralizar a cultura e de teatro. Eles chegam aqui extre- público anual de oito mil pessoas, formar novas platéias. As dez lonas mamente arrumadas. Sempre aviso a lona nunca registrou uma confu- da cidade realizam uma média de que devem se sentir à vontade. Di- são sequer, segundo a direção e os 250 atividades mensais, com público ferente das grandes casas de espetá- frequentadores. Para eles, o espaço total em torno de 30 mil pessoas. culo, aqui as pessoas podem vir nas é pura diversão. q 14 o Prelo os inexpugnáveis: Conheça a história dos fortes que guardaram por quatro séculos a Baía de Guanabara

Vista da retaguarda da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, a partir do ponto de observação do Forte de São Luiz

Complexo de fortalezas de Niterói ajudou o Rio de Janeiro a ser escolhido como Patrimônio Mundial da Humanidade Fotos: Lucas Dumphreys BárBara reis

orsários, donzelas com o C coração partido, rotas de fuga, tiros de canhão e interesses políticos. Esses são os elementos de qualquer romance épico, mas também fazem parte da história fascinante por trás do imponente sistema de fortificação da Baía de Guanabara. Crucial para que o Rio de Janeiro conquistasse o título de Patrimônio Mundial, concedido pela UNESCO, o complexo é formado pela Fortaleza de Santa Cruz da Barra e os fortes de São Luiz, Pico, Barão do Rio Branco, Gragoatá, Boa Viagem e Imbuí. Erguidas na cidade de Niterói, essas fortificações foram responsáveis pela defesa e guarda da entrada da Baía de Guanabara durante séculos. No documento das Entrada da Fortaleza de Santa Cruz da Barra Nações Unidas que declara o Rio de o Prelo 15 Interior da Fortaleza de Santa Cruz da Barra. À esquerda, os dois andares da bateria Pedro II. Na parte superior da imagem, parte da Bateria Santa Tereza

Janeiro como patrimônio cultural, lução da sociedade sob a influência do Santa Cruz da Barra teve sua origem também são citados os fortes do ambiente natural e das forças sociais, em 1555, a partir da instalação de Leme, São João e Copacabana, todos econômicas e culturais. dois canhões em uma fortificação na zona sul da cidade. No sentido de proteger esse rudimentar por Nicolau Durand de Para ser candidato ao título de patrimônio, surgiu o Plano de Revi- Villegagnon. Para os franceses que Patrimônio Mundial, um sítio (termo talização e uso Turístico – Cultural sonhavam com a possibilidade de ins- técnico que designa as localidades) dos Fortes Históricos da Baía de Gua- talarem no Rio de Janeiro a chamada precisa provar seu valor universal nabara, cujo objetivo é manter uma França Antártica, o ponto era estra- excepcional e possuir um sistema de atuação multifacetada que abranja tégico. Do promontório rochoso era proteção e gerenciamento. De acordo história, cultura, meio ambiente e o possível dominar a Baía de Guanabara, com o Tenente-Coronel José Cláudio uso turístico de todas as fortificações o que possibilitaria maior segurança dos Santos Júnior, da Diretoria do do Rio de Janeiro. O programa prevê contra invasores e tornaria mais sólida Patrimônio Histórico e Cultural do ações que envolvam desde os elemen- a vantagem no território. Em 1567, Exército, para justificar seu valor, tos que compõem o acervo histórico porém, com a definitiva expulsão dos é preciso que o sítio conjugue um a pesquisas arqueológicas sobre as franceses, os portugueses retomaram o conjunto de conceitos voltados para origens de cada edificação. promontório e adicionaram mais peças bens culturais que representem ma- Mais antiga das construções e de artilharia às já existentes. nifestações como a combinação entre detentora da maior coleção de canhões O batismo de fogo da fortificação a ação humana e a natureza, a evo- Whitworth do mundo, a Fortaleza de aconteceu em 1599, quando o almi-

As prisões do passado, construídas no século XVII, funcionavam como solitárias Um dos canhões Whitworth da Bateria de Santa Tereza 16 o Prelo Fachada do Forte Barão do Rio Branco. Nas laterais é possível ver as seteiras, onde poderiam ser posicionados canhões de pequeno porte em caso de combate rante neerlandês Olivier van Noort combatido. Um ano depois, Duguay uma série de pequenos incidentes tentou aportar na cidade e foi repelido Troin teve mais sorte. Comandando entre marinheiros britânicos e bra- pela então Bateria de Nossa Senhora uma esquadra com o objetivo de sileiros, o embaixador da Inglaterra da Guia. Em 1612, a fortificação passa invadir a cidade, os franceses foram no Rio de Janeiro, William Christie, a se chamar Fortaleza de Santa Cruz encobertos pela neblina e consegui- determinou que o comandante da da Barra. O ‘da Barra’ é acrescentado ram ocupar o território brasileiro força naval inglesa capturasse cinco para diferenciá-la da Fortaleza de San- pelo mar, obtendo uma das maiores navios no porto do Rio de Janeiro. ta Cruz, no centro do Rio de Janeiro, vitórias francesas e um volumoso Estava colocada a Questão Christie, onde hoje está localizada a Igreja de resgate pago pela coroa portuguesa. que desencadeou a preocupação em Santa Cruz dos Militares. É nesse ano reforçar as guarnições do exército. também que é construída, dentro dos o efeito Dominó A construção do Forte do Im- Da Questão cHristie limites da fortaleza, a segunda capela buí, atual Centro de Instrução de mais antiga do Brasil e a mais velha Depois do decreto Bill Aberdeen Operações Especiais do Exército, e de Niterói, a Capela de Santa Bárbara. (1845), lei inglesa que proibia o trá- do Paiol da Tabaíba fizeram parte do Em 1710, o corsário francês fico ultramarino de escravos e dava à chamado Plano Pratti de Aguiar. A Jean-François Duclerc tentou uma Inglaterra o direito de afundar qual- Comissão de Melhoramentos do Ma- nova estratégia de invasão: Ao invés quer navio que os transportasse, as terial do Exército projetou uma for- de se aventurar por mar, arriscou relações entre Brasil e Reino Unido fi- tificação de casamatas na ponta do invadir o território por terra, sendo caram estremecidas. Em 1863, após Imbuí. No entanto, essa construção nunca foi terminada e, apesar de em 1868 as obras estarem avançadas, foi ordenado que o trabalho fosse interrompido. Um pequeno destaca- mento foi responsável pela guarda do local até a Revolta da Armada, em 1893, quando foi equipado com canhões de campanha. A partir de 1896 o Forte do Imbuí passou por obras de modernização, incluindo a construção de uma cúpula encou- raçada para canhões Krupp de 280 mm, e duas torres em elipse para canhões de tiro rápido. Já o Paiol da Tabaíba, construído no morro de mesmo nome, entre os fortes Barão do Rio Branco e do Im-

Fachada de um dos alojamentos do Forte de São Luiz buí, tinha como função operacional a o Prelo 17 SERVIÇO Visitações às fortificações no Rio e em Niterói: RIO DE JANEIRO: FORTALEZA DA CONCEIÇÃO – Com visitação Endereço: Rua Major Daemon, 81 – Centro. Visitação: terça a quinta das 8h às 16h e sexta de 8h às 12h. Agendamento de visitas: pelo telefone (21) 2263-9035 ou pelo e-mail: 5dl@5dl. eb.mil.br FORTE DE COPACABANA - Com visitação Exposições: terça a domingo e aos feriados das 10h às 18h Área externa: terça a domingo e aos feriados das 10h às 20h Agenda- Farol da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em funcionamento até hoje mento de grupos: Pelo site www.for- tedecopacabana.com (mínimo de 15 e observação deste último. Atualmen- atuação na revolta Da armaDa máximo de 50 pessoas). Endereço: Pra- te, o Paiol guarda o material adminis- e no movimento tenentista ça Coronel Eugênio Franco nº 1 - Posto trativo do 21º Grupo de Artilharia de 6, Copacabana, Rio de Janeiro .Tel: (21) Definida como um movimento 2287-3781 Valor do ingresso: R$ 6,00 Campanha, Grupo Monte Bastione. contra o governo de Floriano Peixo- para maiores de 12 anos. Maiores de 60 Importante para o acesso aos to, a Revolta da Armada foi a mais anos, estudantes e crianças de 06 a 12 anos pagam meia-entrada. Crianças até perigosa rebelião de marinheiros. Em fortes São Luiz, Pico e Imbuí, o forte 5 anos são isentas. Militares das Forças Barão do Rio Branco localiza-se na março de 1892, uma carta mani- Armadas, maiores de 80 anos, grupos base dos três. Com uma história que festo assinada por treze generais foi escolares agendados e menores de 10 anos são isentos. começa com a Bateria de Santo Antô- enviada ao então presidente Floriano nio da Praia de Fora, foi erguido com Peixoto, exigindo a convocação de FORTE DUQUE DE CAXIAS novas eleições. Entre os revoltosos, - Com visitação a finalidade de proteger a retaguarda Visitação: terça a domingo, das da Fortaleza de Santa Cruz da Barra. encontravam-se os almirantes Sal- 09:30 às 16:30h, com guia. Agen- Construído na diagonal para di- danha da Gama e Custódio de Melo, damento de visitas: telefone (21) ex-ministro da Marinha e candidato 3223-5076, ou através do e-mail: ficultar a entrada dos inimigos, com [email protected] à sucessão presidencial. o objetivo de proteger a retaguarda do ingresso: Preço Normal: R$ 4,00 A revolta teve pouco apoio po- / Meia-Entrada (estudantes): R$ 2,00 dos fortes do interior da Baía de Gua- lítico e popular. Diversas unidades nabara, o Forte de São Luiz data do FORTALEZA DE SÃO JOÃO de revoltosos trocaram tiros com os - Com visitação século XVIII. Sua função estratégica fortes do exército. Foi em Niterói, na Endereço: Av. João Luiz Alves, S/ era tanta que há uma trilha que o Ponta da Armação, onde aconteceram Nr – Urca liga à Fortaleza de Santa Cruz. A Visitação: com agendamento às as batalhas mais sangrentas. A loca- terças, domingos e feriados das 10h função dessa rota de fuga era facilitar lização estratégica era perfeita para às 1200h e 13h30 às 16h, com guia. a comunicação e evacuação entre as que os insurgentes criassem uma base Agendamento de visitas: pelo te- unidades em caso de invasão. O ca- lefone (21) 2586-2291 ou pelo e-mail: onde pudessem esperar não apenas por [email protected] minho é aberto à visitação uma vez reforços, mas por uma adesão popular. NITERÓI: por ano, no domingo mais próximo A atuação dos fortes foi essencial ao Dia do Soldado, comemorado em para que Niterói, então capital do esta- FORTE BARÃO DO RIO BRANCO: FORTE DE SÃO LUIZ e PICO 25 de agosto. do, permanecesse invicta. A Fortaleza – Com visitação Dono de um dos trinta melho- de Santa Cruz da Barra trocou tiros de Visitação: sábados, domingos e res pontos de observação em 360º canhão com o Encouraçado Aquidabã feriados das 10h às 17h. Agendamento e com os cruzadores Javani e Trajano. de visitas: Colégios e Instituições de do mundo, o Forte do Pico já era Ensino pelo telefone (21) 3611-1207 utilizado como local de vigilância O movimento tenentista de 1922 teve ou pelo e-mail: [email protected] como objetivo confrontar a chamada Contato: Major Vasconcelos da Baía de Guanabara antes de sua República do Café com Leite, em que construção. Esculpido em pedra, FORTALEZA DE SANTA CRUZ oligarquias associadas a grandes lati- - Com Visitação suas instalações são fiéis ao que fundiários definiam o destino político Endereço: Rua General Eurico Gas- par Dutra, s/n° - Jurujuba - Niterói - RJ. eram à época de sua desativação. do país. O primeiro levante conhecido Em termos de armamento, o mais Visitação: todos os dias das 10h como Revolta dos 18 do Forte, acon- às 17h, com guia. Agendamento de relevante do Forte do Pico eram os teceu em 5 de julho de 1922, no Forte visitas: pelo telefone (21) 2710-2354 quatro obuseiros Krupp. Projetados de Copacabana. É durante essa revolta ramal: 2025 ou e-mail: e5_ad1@ para atirar em parábola, estes arte- yahoo.com.br Valor do ingresso: R$ que a Fortaleza de Santa Cruz da Barra 6,00 para maiores de 12 anos. Maiores fatos bélicos eram capazes de atingir disparou seu último tiro, tendo como de 60 anos, estudantes e crianças de uma embarcação que se escondesse alvo o Forte de Copacabana, onde es- 06 a 12 anos pagam meia-entrada. Crianças até 5 anos são isentas. atrás de uma das ilhas. tavam os revoltosos. q 18 o Prelo A Capela de Santa Bárbara

Fachada da capela

Capela de Santa Bárbara, na realidade, foi cons- em pedras semipreciosas. Desproporcional para a capela, as A truída para ser um oratório de Nossa Senhora da diversas tentativas de retorná-la ao seu destino de origem Guia. Acredita-se que por causa de uma confusão provocada foram marcadas, dizem, por tempestades que tornariam a pela semelhança com a Fortaleza de Santa Cruz a imagem navegação perigosa. de Santa Bárbara foi entregue na fortaleza errada. Em ta- O inusitado não termina aí: há relatos de corpos em- manho natural, a figura é esculpida em madeira e cravejada paredados na capela. Um deles seria o de Laís, filha de um militar que, proibida de casar-se com um soldado, em de- sespero, atirou-se ao mar. Outra curiosidade é a origem da expressão ‘um olho no padre e o outro na missa’, que teria surgido a partir da obrigatoriedade de todo o regimento assistir ao ato religioso. De uma pequena janela ao lado do altar, o padre poderia observar a entrada da Baía de Guana- bara e sinalizar para a guarnição caso se aproximasse uma embarcação inimiga.

Vista da janela pela qual o padre vigiava a Baía de Guanabara enquanto Imagem de Santa Bárbara em tamanho natural (1,70m) prestava o serviço religioso

o PreloPrelo 19 Fotos: Lucas Dumphreys

Casa da Flor em São Pedro da Aldeia completou 100 anos em 2012. O criador da obra utilizou materiais do lixo para enfeitar sua moradia Uma casa feita de sonho e pensamento Há cem anos um trabalhador de São Pedro da Aldeia construiu, sem pretensões, uma obra de arte para morar. Elaborada com materiais recolhidos do lixo, a Casa da Flor é um dos maiores exemplos de arquitetura espontânea do País.

isaBel MuNiz tempo. Mas as pessoas ao redor não mais de dez anos para realizar seu pensavam desta maneira. desejo, devido à falta de recursos âmpadas queimadas, ossos Humilde trabalhador da roça e para adquirir o necessário para a L de animais, conchas, cacos das salinas de São Pedro da Aldeia, obra do que viria a se tornar um de louça e azulejos, pedaços de ce- Seu Gabriel começou a erguer, em dos exemplos de arquitetura espon- râmica, itens que se encontravam 1912, uma casa para morar e se tânea do País (edificações que são jogados no lixo viravam arte nas isolar da família que somava pais construídas a partir de materiais não mãos de Seu Gabriel, há 100 anos. e onze irmãos. Foram necessários convencionais). Em 2012 a Casa da Flor, em São Nascido em 1892, Seu Gabriel Pedro da Aldeia, completa cem anos gostava de desenhar, fazer flores em de existência e acaba de ser tombada papel crepom e modelar no barro os pelo Iphan (Instituto do Patrimônio santos de sua devoção. Autodidata, Histórico e Artístico Nacional). Com ele tocava violão e harmônica, já mos- o material recolhido pelas ruas, trando sua verve artística. Mas foi a Gabriel Joaquim dos Santos fazia partir de um sonho, em 1923, que enfeites para embelezar sua mora- Seu Gabriel começou a transformar o dia. A maioria dos ornamentos era lar em obra de arte. Enquanto dormia, em formato de flor. A construção foi imaginou um enfeite na parede de seu erguida por este homem que nunca quarto. Quando acordou, não conse- foi à escola, sem qualquer conhe- guia tirar a imagem da cabeça. Então, cimento em artes ou arquitetura. resolveu concretizar a visão. Para a Filho de uma época em que ainda escassez de recursos, encontrou uma não se cogitavam conceitos de desen- solução: catar no lixo pedaços de obje- volvimento sustentável e reciclagem, O vaso de flores improvisado de Seu Gabriel. No lugar de folhas de verdade, cacos de louça tos tidos como sem serventia. E assim Seu Gabriel esteve à frente do seu minuciosamente dispostos fez por 63 anos, até o fim de sua vida. 20 o Prelo Religioso, Seu Gabriel fez uma espécie de Na entrada da Casa da Flor, logo se vê a riqueza de detalhes também nas estruturas externas da obra altar na Casa

Na época, o que Seu Gabriel chegam até 180 pessoas. Grupos de Só em 1985 quando faleceu, fazia não era reconhecido como São Paulo, Minas Gerais, estudantes aos 93 anos, Seu Gabriel parou de arte. A população local, inclusive de arquitetura, professores de mosai- fazer intervenções na Casa. Em 1986, sua família, o tinham como louco. co, engenheiros. Isso aqui já recebeu Amélia Zaluar, junto com outros ad- A pesquisadora, professora e fun- cônsul, príncipe, e miradores da Casa da Flor, começou a dadora do Instituto Cultural Casa Paulo Coelho”, enumera. promover exposições pelo Brasil. Ao da Flor, Amélia Zaluar, conviveu Hoje, Valdevir entende que o tio todo, a mostra passou por 52 luga- com o artista por oito anos e conta Bé (como carinhosamente chamava res. Naquele mesmo ano, a Casa da como ele sofria por conta de sua Seu Gabriel) “viajava num mundo Flor foi tombada pelo Inepac (Institu- atividade. “Seu Gabriel tinha uma à frente do nosso”, e o admira pela to Estadual do Patrimônio Cultural). grande força interior. Conseguiu obra que deixou. O atual zelador da Em 2001, a Casa passou por sobreviver e criar o que queria: um Casa se surpreende com as ferra- sua primeira restauração, em que lar, e embelezar este lugar. Pairavam mentas usadas pelo tio-avô e como foram privilegiados os enfeites, te- sobre ele seis preconceitos: era negro, ele era feliz com o pouco que tinha. lhado e muro. Porém, com o tempo pobre, analfabeto, filho de escravo, “Ele usava apenas um caquinho de surgiram outras demandas de repa- de uma índia e trabalhava com lixo. uma colher velha de pedreiro, uma ro na estrutura. Valdevir arrecada Em 1923, ninguém entendia. Até o de cortar os pedaços de louça e a a quantia de R$ 2,00 por visitante fim da vida, ele foi taxado de maluco, mais importante, sua cabeça. E a para a manutenção, mas não é o fraco das ideias”, recorda Amélia. gente pensa que precisa de muito suficiente. Em setembro, a Casa da Sobrinho-neto de Seu Ga- para viver. Ele achava que esta Casa Flor foi tombada pelo Iphan, e com briel, Valdevir dos Santos, também era um palácio.” isso a esperança de uma nova res- não dava valor à tauração aumenta. Casa. Só quando A Casa da Flor começou a tomar já ganhou os prê- conta da construção mios Estácio de e receber os visitan- Sá, concedido pelo tes é que mudou sua Conselho Estadu- concepção. “Depois al de Cultura, em que eu entrei aqui 2000 e o Culturas (em 2001), comecei Populares, dado pelo a receber as pessoas Ministério da Cul- e ver a reação delas. tura, em 2007, o Muitas choravam que corrobora com ao ver a Casa e seu a previsão de Seu interior. Aí eu perce- Gabriel, feita anos bi que não era o caco atrás. Segundo de casa que eu pen- Valdevir, o tio-avô sei que fosse”, rela- dizia: “Essa Casa ta Valdevir. “Geral- ainda vai ficar para mente nos feriados, Valdevir dos Santos sentado onde Seu Gabriel costumava se acomodar para conversar com as visitas a história”.q o Prelo 21 O artista costumava deitar, antes do horário de dormir, só para admirar o teto Em 1923, Seu Gabriel começou a encher sua casa de flores de sua Casa. Ele acendia uma lamparina e observava o brilho dos seus enfeites O trabalho do Instituto Cultural Casa da Flor

m setembro de 2012, o EInstituto Cultural Casa da Flor completou 25 anos e a fun- dadora e divulgadora da arte de Seu Gabriel conta como conheceu o artista e teve a ideia de criar a instituição: “Eu estava em Arraial do Cabo quando li um jornal alter- nativo falando sobre a Casa da Flor. Curiosa, fui no mesmo dia até lá. O impacto da Casa da Flor e a figura inteligente e sensível dele me dei- xaram fascinada. Comecei a visitá- -lo sempre. Com a morte de Seu Suporte confeccionado com louça quebrada Gabriel, eu pensei que não podia para acomodar retrato do criador da Casa. ficar com todo aquele material na Mas Amélia e o Instituto ainda gaveta, eu tinha que mostrar para querem fazer muito, e quem sabe o mundo”, conta Amélia Zaluar. até encontrar alguém que continue A pesquisadora possui um acervo o trabalho de Seu Gabriel na cidade. com oito horas de entrevista, cerca “Um sonho meu é fazer uma oficina de 500 fotos e o caderno de anota- de mosaico na região, para que as ções de Seu Gabriel, que aprendeu pessoas possam elaborar este tipo a ler com um menino que morava de trabalho nas fachadas das suas perto dele. casas”, revela a pesquisadora. O Instituto Cultural Casa da Flor é uma entidade civil sem fins SERVIÇO lucrativos e possui atualmente 17 Instituto Cultural Casa da Flor sócios. Os membros pagam R$ 50,00 por trimestre para custear Endereço: Rua Cesário Alvim, 55/308, despesas básicas. Como a organi- Bloco A, Humaitá – Rio de Janeiro. CEP: 22261-030 zação não possui recursos suficien- Tel: (21) 2266-0804 tes, quem quiser ajudar pode fazer E-mail: [email protected] doações ou comprar no site cartões postais, pôsters e um documentá- Casa da Flor rio. Há ainda um livro pronto sobre Amélia Zaluar, fundadora do Instituto Cultural Endereço: Estrada dos Passageiros, nº o tema, à espera de patrocínio para Casa da Flor, organiza exposições e participa 232. Bairro: Parque do Estoril (antigo a publicação. de palestras sobre a obra Vinhateiro) São Pedro da Aldeia - RJ 22 o o Prelo Prelo Museu Fotos: Lucas Dumphreys Histórico Nacional celebra 90 anos de existência Fundado por Epitácio Pessoa, a instituição tem a maior coleção numismática da América Latina

aTaN ereira N P Restaurado, o Museu Histórico Nacional recebe, aproximadamente, 100 mil pessoas por ano onsiderado o mais impor- exposição de acervo, produção e difu- C tante museu de sua área, o são de conhecimento. Museu Histórico Nacional completa Quem for ao local vai encontrar 90 anos em 2012. Criado após o 55.600 documentos iconográficos e decreto do então presidente Epitácio manuscritos sobre a história do Brasil, Pessoa no dia 2 de agosto de 1922, a que estão disponíveis para o público instituição conta, atualmente, com mediante agendamento prévio. Na um acervo de aproximadamente biblioteca da instituição é possível en- 350 mil ítens, entre eles, a maior contrar artigos jornalísticos especiais, coleção numismática (moedas, va- livros sobre a arte e história do Brasil Exposição numismática do MHN lores impressos, medalhas, ordens - como a primeira edição do Livro de que pertenceram à Casa Real Portu- honoríficas, filatelia e sigilografia) da Ouro do Museu Nacional, lançado na guesa e à Família Imperial Brasileira. América Latina. Para comemorar as Semana de Indústria e Comércio de Para comemorar o aniversário, nove décadas de existência, foi lança- 1922 -, história de Portugal, indumen- foram confeccionados doze mil selos do um aplicativo para celular e selos tária, numismática e gastronomia. comemorativos que são acompanhados comemorativos. Entre os itens mais procurados, estão pela réplica do primeiro porte(envelope) Formado pelas construções his- as coleções de fotografias do Rio de de carta comercial para circulação em tóricas Forte de Santiago, Casa do Janeiro do fotógrafo Juan Gutierrez território brasileiro. Os exemplares es- Trem e Arsenal de Guerra, a institui- (1859/1897) e os 216 documentos tão à venda na loja do museu. ção está localizada na Praça Marechal do compositor Carlos Gomes entre Para as pessoas que não podem Âncora, s/nº, Praça XV, Centro do cartas, fotografias, partituras originais visitar o local, o celular e a internet Rio, e detém 67% de todo o patrimônio de algumas de suas óperas, como, por se tornam aliados. A direção lançou museológico do Instituto Brasileiro de exemplo, O Guarani. um aplicativo, desenvolvido pela Neo Museus do Ministério da Cultura, de O circuito de exposições começa Cultura, que permite ao usuário uma acordo com a diretora do MHN, Vera com a escultura equestre de D. Pedro visita online. É possível navegar em Lucia Bottel. Tornou-se pioneiro em II, assinada pelo escultor Francisco Ma- mapas, conhecer o acervo, tudo na tela ações no campo da museologia, da noel Chaves (1822/1884). No térreo, do aparelho. O aplicativo está disponí- preservação do patrimônio nacional é possível encontrar uma exposição vel em três idiomas (inglês, espanhol e e referência nas áreas de conservação, referente aos meios de transportes. português) e possui também vídeos em Do móvel ao auto- libras, para garantir acesso a pessoas móvel – transitando portadoras de deficiência auditiva. q pela história exibe 27 peças, entre ca- SERVIÇO deirinhas de arruar Endereço: Praça Marechal Âncora – Pró- (aquelas que eram ximo à Praça XV, Centro, Rio de Janeiro. carregadas por qua- Telefone: 2550-9220/2550-9224. tro escravos), ber- Horários: terça a sexta, das 10h às lindas (carruagens 17h30, aos sábados, domingos e feria- com quatro rodas) dos, das 14h às 18h. Ingressos: de terça-feira a sábado, R$ e um carro do início 8,00. Crianças até cinco anos, alunos e do século XX, que professores de escolas públicas federais, foi de propriedade do estaduais e municipais não pagam. Barão do Rio Branco. Aos domingos, a entrada é franca. Acima, as luxuosas berlindas, carruagens com quatro rodas Há também veículos www.museuhistoriconacional.com.br o Prelo 23 Para lembrar Herivelto Martins O ano de 2012 marca o centenário de nascimento do artista, as duas décadas de sua morte e os 70 anos da composição dos sucessos Praça Onze e Ave Maria no Morro, canções que o imortalizaram

Thaís BriTo Fotos: ArquivoPessoal á exatos cem anos, no dia 30 H de janeiro de 1912, nascia no distrito de Rodeio (atualmente Engenheiro Paulo de Frontin), no Rio de Janeiro, Herivelto de Oliveira Martins, um dos maiores composi- tores da música popular brasileira. Com uma biografia marcada pela combinação de predestinação e ad- versidade, o artista ganhou noto- riedade ao protagonizar, junto com a cantora Dalva de Oliveira, uma disputa musical que marcou uma época. Mas sua história vai muito além deste episódio. Precoce, aos três anos, Herivelto já estava envolvido com as artes por intermédio do pai, o agente ferroviá- rio Félix Bueno Martins, que fundara um teatro amador, com a ajuda de toda a família. Junto com os irmãos, o menino costumava se apresentar União entre a dupla Preto e Branco e Dalva de Oliveira deu origem ao Trio de Ouro nos espetáculos trajando uma casaca e recitando versos escritos pelo pai. Dentre eles, o “carro-chefe”: “tenho Adolescente, o pai lhe arranjou filhos: Hélcio e Hélio. A separação do três anos de idade/ Nasci para namorar/ um emprego numa loja de móveis, casal aconteceu depois de cinco anos toda menina bonita que vejo/ Me dá onde passou a desempenhar ativi- de relacionamento. vontade de casar”. dades burocráticas. Nesta época, Na então capital federal, o jovem Em 1917, por conta de uma conheceu os artistas circenses Zeca Herivelto se encontrou na música. transferência de emprego de Félix, a Lima e Colosso. Atraído pelo circo, Rapidamente, enturmou-se com os família mudou-se para Barra do Pi- entrou para a trupe, formando um compositores do Estácio, dentre eles raí, onde Herivelto viveu, em circuns- trio que excursionou pelo interior José Luís da Costa, o Príncipe Preti- tâncias bastante modestas, a maior do estado do Rio de Janeiro até a nho, que o apresentou ao compositor parte de sua infância e adolescência. prisão dos dois artistas, que eram e cantor J.B de Carvalho. Este, então, Ele e os irmãos tiveram que ajudar no procurados pela polícia. convidou-o para integrar o Conjunto sustento da casa vendendo os doces Mas foi na década de 30 que a Tupi como corista. feitos pela mãe, Carlota de Oliveira. vida de Herivelto ganhou um novo Em 1934, conheceu Francisco Como o pai dizia: “Na casa de bom rumo quando, aos 18 anos, após um Sena, que passou a ser seu parcei- homem, quem não trabalha não come”. desentendimento com o pai e após ro na dupla Preto e Branco, criada O gosto pela música surgiu aos a família ter se mudado para São depois que os dois passaram a se 10 anos quando Herivelto passou a Paulo, decidiu ir para a casa de seu apresentar no Teatro Odeon. O nome frequentar a Sociedade Musical União irmão Hedelacy, no Rio de Janeiro. da dupla, dado pelo empresário Vi- dos Artistas de Barra do Piraí, onde to- Foi tentar a sorte levando apenas cente Marzulo, inspirou Herivelto cava bombardino, pistom e caixa, mas um cordão, uma medalhinha de a compor a música Preto e Branco. mostrava maior talento com o violão ouro e platina e um relógio Roskoff Nesse mesmo ano, o cantor Carlos e o cavaquinho, que já “arranhava”. “Estrada de Ferro”, presente da mãe. Galhardo gravou A Vida é Boa e Com apenas nove anos, compôs seu Conheceu sua primeira mulher, Mário Reis, Mais uma Estrela. Mas primeiro , chamado Nunca Maria Aparecida Pereira de Mello, foi com canções como Pedindo a São mais, que não chegou a ser gravado. a Mariazinha, com quem teve dois João, na voz de Aracy de Almeida, e 24 o Prelo a marcha Samaritana, interpretada na década de 1960. “Ele foi muito por Sílvio Caldas, que alcançou o atuante, não tinha medo de briga. sucesso, em 1935. Lutou e conseguiu o reconhecimento o caminHo para a Glória: a da profissão de compositor”, lem- formação Do trio De ouro bra Yaçanã. Também foi um dos Com a morte de Sena, Herivelto responsáveis, ao lado de , passou a trabalhar sozinho, fazendo e Lamartine Babo, apresentações no Cine Pátria como o pela consolidação do gênero como palhaço Zé Catinga. Lá conheceu, em arte genuinamente brasileira num 1936, uma cantora de uma voz mui- período em que o samba de morro to aguda que viria a se transformar começava a descer para o asfalto. em uma das principais intérpretes do Outra paixão que tinha era a Estação Brasil, Dalva de Oliveira, com quem Primeira de Mangueira, sua escola se casou anos depois e teve dois filhos: de coração, para a qual dedicou di- Pery e Ubiratan. versas canções. Na mesma época, refez a dupla Mas o lado compositor sempre Preto e Branco com Nilo Chagas, se sobressaiu. Suas canções foram mas Herivelto não estava contente. gravadas pelos mais renomados Sentindo que faltava algo, iniciou A face mais conhecida de Herivelto artistas da música popular bra- uma série de testes com a voz de sileira. Entre eles Francisco Alves, do casal: “Para o público ficou a Dalva. As experiências musicais de- Aracy de Almeida, Silvio Caldas, briga, mas por trás dela existiram ram resultado e os três passaram a se Aurora Miranda, duas pessoas que se machucaram apresentar juntos. Como Dupla Preto e Nelson Gonçalves. Avaliando a muito”, acredita. Na sua opinião, e Branco e Dalva de Oliveira, entra- importância do trabalho de Heri- Dalva rompeu com os padrões. “Isso ram para o cast da Rádio Nacional. velto, o musicólogo Ricardo Cravo atingiu muito o papai, que era um Mas um dia, o apresentador César Albin destaca a grandiosidade do homem da época. Autores corriam Ladeira, animado com a música deles, artista: “A importância de Heri- atrás dela, que estava no auge do os anunciou: “Vamos ouvir agora velto deveu-se a dois motivos: pri- sucesso, para gravar suas canções esse conjunto vocal, Dalva de Oliveira meiro, por ter sido um músico que e ele começou a dar a resposta. Isso e a Dupla Preto e Branco. Um Trio de experimentou sucesso permanente gerou o duelo musical que foi um Ouro!”. Surgia, ali, o Trio de Ouro. ao longo da carreira. Segundo, ganho para a música brasileira”, O grupo iniciou sua trajetória como intérprete, criando um dos conta. A primeira formação do Trio no Cassino da Urca, em 1939, e no maiores trios vocais da música de Ouro atuou até 1949, ano do ano seguinte gravou o sucesso Ave brasileira, além de ter lançado a fim do casamento de Herivelto com Maria no Morro, considerada por cantora, e sua esposa na época, Dalva. Mas o grupo ainda teve três muitos a mais importante canção Dalva de Oliveira. Por conta disso, formações, sendo que nenhuma al- composta por Herivelto. o diferencial dele reside nesta face cançou a mesma notoriedade. No fim da década de 40, no radiosa de duplicidade”. auge da carreira, o Trio de Ouro outras facetas De Herivelto Para o radialista e professor da foi desfeito com a separação de He- A defesa dos direitos autorais Escola de Comunicação da Univer- rivelto e Dalva. O fim tumultuado também foi uma luta de Herivelto sidade Federal do Rio de Janeiro, a do casamento se transformou num durante a vida. Em 1963, foi eleito ECO/UFRJ, Fernando Mansur, o grande duelo musical entre com- presidente do Sindicato dos Compo- legado deixado por Herivelto está positores e intérpretes e foi alvo de sitores, cargo que voltou a ocupar relacionado à coerência de sua obra, ampla cobertura de jornais e revis- em 1971. Também foi membro à sua brasilidade, ao amor pelo Car- tas. A briga conjugal, que se tornou da Sociedade Brasileira de Autores, naval, pela Mangueira e pela Praça pública, deu origem a clássicos do Compositores e Escritores de Música, Onze. “A lembrança que permanece samba-canção. Herivelto compôs: SBACEM , tendo exercido o cargo de é a do ser humano, do compositor, Caminho Certo, teu Exemplo, Cabelos presidente do Conselho Deliberativo do poeta, do músico e do artista Brancos, Não tem Mais Jeito, completo. Ele tem uma presença teu travesseiro e Perdoar. forte até hoje, influenciando artistas Do lado de Dalva surgiram que gravam novamente suas músi- Errei Sim, de Ataulfo Alves, cas”, aponta Mansur. Abajur Lilás, composta por Herivelto faleceu em 17 de Marino Pinto e Mário Rossi, setembro de 1992, aos 80 anos. e tudo Acabado, escrita por Para sua única filha, ele morreu Heitor dos Prazeres. de amor. “Meus pais eram muito A atriz Yaçanã Mar- parceiros. Após a morte de mamãe, tins, filha do relacionamen- papai começou a ficar muito fragi- to de Herivelto com a co- lizado. Suspeitava-se de aneurisma missária Lurdes Torelly (os de aorta ascendente, mas os exames outros dois foram Fernan- não acusavam nada. Ele morreu de do José e Herivelto Filho), amor, não aguentou viver sem ela”, relembra a lendária disputa Primeira formação da dupla Preto e Branco, com Francisco Sena explica, emocionada. q o Prelo 25 Cinema de guerrilha na Baixada: transpondo fronteiras e barreiras econômicas Fotos:Arquivo Pessoal Grupo de amigos e loucos por cinema de São João de Meriti conseguiu emplacar curta em Festival de Cinema de Bogotá no mês de outubro

isaBel MuNiz om “uma câmera na mão C e uma ideia na cabeça” nasceu o Cinema de Guerrilha na Baixada (CGB), um movimento de cineastas de São João de Meriti que utiliza os recursos que têm ao al- Ricardo Rodrigues em ação como diretor nas ruas de São João de Meriti cance para fazer curtas-metragens e documentários de temática ma- de ver sua história nas telas, Ricardo lema do CGB é desbravar fronteiras, joritariamente de teor crítico social. e o futuro guerrilheiro Kaado Pinheiro derrubando barreiras através do Em 2012 o movimento completou conseguiram fazer o curta. Ricardo se cinema, e a gente está conseguindo somente um ano, mas já acumula vestiu de mendigo, “foi para o outro isso”, acrescenta Ricardo Rodrigues prêmios e menções honrosas por lado” e sentiu na pele como é o coti- ao falar da passagem dos filmes que festivais de todo Brasil, e até do diano de um morador de rua. Não estão saindo do país e chegaram a Los exterior. Em outubro, os auto- só em “O Mendigo”, como em todos Angeles, Argentina e Colômbia. -intitulados guerrilheiros da arte os filmes do CGB, o grupo faz tudo: O Cinema de Guerrilha na representam o país no 29º Festival edição, roteiro, direção, interpretação, Baixada só nasce como movimento de Cinema de Bogotá, com o filme trilha sonora, texto. organizado em 2011, quando inte- carro-chefe do CGB “O Mendigo”. grantes do grupo, durante um dia de Os guerrilheiros de São João de domingo no bar, gravando a luta de Meriti ganharam notoriedade quando uma abelha para sobreviver dentro participaram em julho de uma mostra de um copo de cerveja, tiveram a com debate no Ponto Cine (em Gua- ideia de fazer uma espécie de esque- dalupe), onde, no mês anterior, par- te, transformada em curta (“Dona ticipou o cineasta Cacá Diegues, que Irosnilde”) logo em seguida. hoje troca e-mails com os integrantes Os cineastas de São João de Meriti do CGB. Mas o que deu mais visibili- não possuem patrocínio, seus recur- dade mesmo ao grupo foi a coluna do sos são provenientes de rifas de kits Artur Xexéo, em setembro, no jornal churrasco e apoio de alguns estabe- O Globo, sobre o movimento e um lecimentos comerciais. Hoje o CGB de seus mentores, Ricardo Rodrigues. é formado por Ricardo Rodrigues, O curta de mais sucesso do CGB, Kaado Pinheiro, Vitor Gracciano, J. “O Mendigo”, já participou de 46 fes- Ulivan, Fernando Silva e Thuainy tivais e mostras de cinema e aborda o Campos. preconceito sofrido pelas pessoas que Cartaz de treinamento De novos moram nas ruas. No filme, um psi- divulgação do curta O Mendigo GuerrilHeiros quiatra caracterizado como morador de rua vai a um açougue, tem dinheiro “O Mendigo” saiu dos limites do Desde agosto, CGB oferece uma para comprar os bifes, mas pela sua município e ficou em segundo lugar Oficina de Cinema de Guerrilha com aparência desperta receio nas outras no IguaCine (Festival de Cinema da foco nas pessoas que não têm condi- pessoas que estão no estabelecimen- Cidade de Nova Iguaçu) e quarta po- ções de pagar por um grande curso to, que pedem sua retirada do local. sição no Cine Cufa, onde ganhou uma de cinema. Com preço popular (R$ A situação é verídica e aconteceu em câmera. Uma curiosidade sobre esta 20 ao mês), os alunos aprendem in- 2000 com Ricardo Rodrigues, gerente câmera é que ela possui o apelido de terpretação, roteiro, câmera e edição, de dois açougues em São João de Me- Olga (nome da primeira esposa de Luís tudo de guerrilha. q riti. Na época, o açougueiro-cineasta Carlos Prestes), segundo Kaado Pinhei- Para saber mais sobre o CGB e a escreveu o roteiro e a história ficou ro, “ambas são guerrilheiras”. A partir Oficina de Cinema de Guerrilha: guardada. Só em 2010, sem preten- daí, o curta foi para vários cantos do Site: www.cinemadeguerrilha.com.br sões, somente para realizar o sonho país, como Bahia, Paraná, Ceará. “O Telefone: 7847-3242 26 o Prelo Sempre é tempo para aprender Com mais de 100 cursos livres, programa gratuito voltado aos idosos, na UERJ, tem como missão promover a qualidade de vida na terceira idade Fotos: Lucas Dumphreys Thaís BriTo

ngana-se quem pensa que na E Universidade Estadual do Rio de Janeiro só há espaço para os jovens. Prova disso é a Universidade Aberta da Terceira Idade, a UnATI/UERJ, um projeto que tem como meta a melhoria da saúde física, mental e social da po- pulação acima de 60 anos. Idealizada pelo professor da UERJ Américo Piquet Carneiro no final da década de 80, a instituição desenvolve atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão. Além de atividades socioculturais, educativas, Salas da aula cheias e alunos participativos: oferece também atendimentos jurídi- um cenário típico do dia a dia na UnATI co, social, psicológico, nutricional, de saúde e ações de cidadania orientadas para os mais velhos. Universidades da terceira Referência no atendimento ao idoso, a instituição disponibiliza cer- idade no mundo e no Brasil ca de 100 cursos e oficinas gratuitas, tais como informática, línguas es- primeira universidade des- trangeiras, dança de salão, ginástica, Atinada ao público idoso pilates e conhecimentos específicos surgiu no final da década de 60 na para a terceira idade. Para participar, França. O objetivo era servir de é preciso ter no mínimo 60 anos. A espaço para atividades culturais, inscrição é feita por ordem de chega- Exemplo de dedicação, o químico Carlindo tendo como meta preencher o tempo da e sorteio, no caso dos cursos com Alfinito Filho, 79 anos, participa do projeto há mais de uma década livre e promover as relações sociais maior demanda, e cada um pode se entre os alunos. Com o surgimento matricular em até três disciplinas, de turma me convidou para vir para da segunda geração em 1973, em como explica a coordenadora peda- cá. Eu vim e não saí mais”, conta, Toulouse, na França, a questão do gógica do projeto, Célia Sanches. “O sorridente, a aplicada aluna dos cur- ensino e da pesquisa ganhou desta- limite é por conta da impossibilidade sos de jornalismo, de gerontologia e que. Na década seguinte, a elabo- do idoso conciliar mais cursos, já que UnATI no Futura, que conta com o ração de um programa educacional as aulas acontecem duas vezes na apoio do canal de televisão. mais amplo para atender a uma semana. Além disso, é uma forma de A saudade de aprender também população de aposentados cada vez dar oportunidade para mais alunos foi o motivo que levou o químico Car- mais nova e escolarizada marcou a participarem também”, conta. lindo Alfinito Filho, 79 anos, a procu- terceira geração. Na UnATI, as aulas são marca- rar o projeto há 14 anos. “Quando me No Brasil, a pioneira foi a UnATI das pela alegria e pela participação aposentei, meu cérebro pedia para ser da Universidade Federal de Santa dos estudantes. Nestes quesitos, a exercitado. Mas lia um livro e acha- Catarina, criada em 1983. Com professora universitária aposentada va chato, o mesmo acontecia com o base nas experiências francesas e Maria Martha Barbosa, 81 anos, se jornal até que um dia vi o anúncio da destaca. Há cinco anos frequentando UnATI. Resolvi conhecer o projeto e nas diretrizes previstas no Plano o local, ela lembra que foi a falta desde então estou aqui”, resume. Internacional de Ação sobre o En- que sentia do ambiente escolar que Por conta do grande número de velhecimento das Nações Unidas, a a motivou a voltar a estudar. interessados em participar dos cursos multiplicação de programas volta- “Eu passei a minha vida inteira livres, a UnATI promove também dos para idosos nas universidades dentro da escola. Mas depois que atividades para integrar aqueles que brasileiras ganhou força na década me aposentei fiquei sem fazer nada não puderam, por falta de vagas, de 1990. porque tinha neto pequeno e ajudava participar das atividades regulares. SERVIÇO na criação dele, já que minha filha São workshops, oficinas, palestras, trabalhava fora. Só voltei a estudar apresentações de canto e dança, expo- Para mais informações sobre a de novo quando descobri um curso sições de artes plásticas, festas, bailes, programação da UnATI, acesse o site perto da minha casa exclusivo para entre outras. Tudo para garantir uma da instituição (www.unati.uerj.br) mulheres, mas no quinto ano eu vida com qualidade para a turma da ou entre em contato pelo telefone (21) 2334-0168. fiquei entediada. Então, uma colega melhor idade. q o Prelo 27 A poética Friburgo Fotos:Divulgação

Montanhas e bucolismo estão presentes em todas as paisagens de Nova Friburgo, como nesta imagem do Country Club

“Um dia – além dos Órgãos, na poética Friburgo – isolado dos meus companheiros de estudo, tive saudades da casa paterna e chorei. Era de tarde; o crepúsculo descia sobre a crista das montanhas e a natureza como que se recolhia para entoar o cântico da noite; as sombras estendiam-se pelo leito dos vales e o silêncio tornava mais solene a voz melancólica do cair das cachoeiras. Era a hora da merenda em nossa casa e pareceu-me ouvir o eco das risadas infantis de minha mana pequena! As lágrimas correram e fiz os primeiros versos da minha vida, que intitulei – Às Ave-Marias: – a saudade havia sido a minha primeira musa.” Casimiro de Abreu

luiz augusTo erThal mente com Petrópolis e Teresópolis, forma o mais importante circuito ova Friburgo não tinha turístico da serra fluminense. A “Su- N mais do que três déca- íça Brasileira”, como é conhecida até das de existência e já era, no di- hoje pela marcante influência da co- zer de Casimiro de Abreu (1839- lonização européia, cativou muitos 1860), a “poética Friburgo”. Na outros poetas além de Casimiro, cuja introdução de sua obra-prima, relação com a cidade ultrapassou a Primaveras, o jovem poeta – cer- fase de estudante. Foi em Friburgo tamente o mais popular de todos que ele buscou alento quando sentiu os românticos até hoje – expres- os sintomas da doença que o levaria sa o encantamento despertado à morte com apenas 21 anos. Num pela cidade serrana, para onde rompante temeroso, Casimiro, se- fora mandado na adolescência gundo o pesquisador Mário Alves de pelo pai para estudar no inter- Oliveira – autor das Obras completas nato Freese. No livro, Friburgo de Casimiro de Abreu, publicadas em precede até mesmo a sua amada 2010, no sesquicentenário de morte Indaiaçu – atual município de do poeta –, decidiu descer a serra na Casimiro de Abreu –, cantada em companhia de um amigo em uma muitos de seus versos, como no noite muito fria rumo a Indaiaçu, o célebre poema “Meus oito anos”. que teria contribuído para o agrava- A poesia parece ter entrado de Moças da sociedade friburguense posam para mento de seu estado de saúde e para fato na gênese da cidade, que, junta- foto na Fonte do Suspiro em 1886 a morte que viria dias depois, na casa 28 o Prelo Reprodução paterna, provavelmente vitimado por uma pneumonia. A tragédia de Casimiro, própria da retórica do Romantismo, serviria para realçar o caráter poético de Fri- burgo. Outra tragédia, esta limitada ao campo lírico, narraria, anos mais tarde, a solidão de um cisne após a morte do companheiro na poesia “Os Cisnes”, do friburguense Júlio Salusse (1872-1948), apontada por alguns críticos como o mais perfeito soneto da poesia brasileira. Não por acaso a principal atração turística da cidade no século XIX era a Fonte do Suspiro, de onde jorravam três vertedouros de água denominados “amor”, “saudade” e “ciúme”, e cujos A vila de Nova Friburgo na década de 1830, em óleo de Johann Strinmann nomes foram incrustados na pedra Foto:LuizAugusto Erthal que sustentava as bicas. O local iria se tornar o ponto de encontro de namorados e poetas e também inspiraria a letra do hino oficial da cidade: “(...)do suspiro na fonte saudosa/ há três almas que gemem de dor/repetindo esta prece maviosa/da saudade, do ciúme e do amor(...)”. Ali também iriam se reunir os trovadores para os Jogos Florais, que fariam de Friburgo nacionalmente conhecida como “A cidade da trova”. Os eventos se po- pularizaram no século XX e eram prestigiados por poetas famosos, como J. G. de Araújo Jorge. Localizada na Praça do Suspiro, entre a Igreja de Santo Antônio e o Tiro de Guerra, a fonte bucólica seria des- truída em janeiro de 2011 por outra tragédia nada romântica – na verdade, Friburguenses voltaram a comemorar o Dia da Suíça esta ano o maior desastre ambiental do país, que causou a morte de centenas de nias instaladas na Praça do Suspiro e na indústria que caracterizam a pessoas e devastou grandes áreas de retomavam suas atividades para economia da moderna Friburgo. várias cidades da serra fluminense. preservação da memória e da cultura Além de uma ampla infraes- Friburgo foi a mais castigada pelas dos colonizadores. Pequenas lanter- trutura turística, localizada tanto enchentes e desabamentos, entre os nas com a cruz vermelha símbolo na cidade como em distritos como quais o do Morro da Cruz, onde ficava da Suíça cintilavam diante de um Mury, Lumiar e São Pedro da Ser- a base do teleférico que partia da Praça grupo reduzido, mas comovido de ra, composta por muitos hotéis, do Suspiro. A fonte ficou totalmente assistentes. pousadas e restaurantes, Friburgo soterrada, assim como parte da igreja A fé no futuro e o espírito de su- construiu ao longo dos anos um im- de Santo Antônio e da Praça da Co- peração foram herdados pelos atuais portante parque industrial, voltado lônias – o conjunto memorialístico friburguenses de seus patriarcas principalmente para as indústrias criado para representar as etnias que europeus, que precisaram superar têxteis e metalúrgicas. É o principal ajudaram a colonizar a cidade. enormes dificuldades para estabe- polo de moda íntima do país, com Mas o lirismo não acabou. lecer o primeiro núcleo colonizador centenas de confecções. E a agricul- No último 1º de agosto, dia em suíço-alemão do Brasil. Depois de tura, que se mostrara desanimadora que se comemora a data nacional dominada e vencida a densa floresta para os primeiros colonizadores, da Suíça, um grupo de friburguen- tropical, eles se depararam com a acabou ganhando mais recentemen- ses vestidos em trajes típicos fez o inadequação do solo para a agricul- te um lugar de destaque na atividade “cortejo de lanternas e fogueira” e tura e tiveram que buscar outras econômica do município através dançou ao som de músicas folclóri- atividades diferentes de seu propó- da exploração de sua vertente mais cas suíças. Era a primeira vez, desde sito inicial, lançando os pilares para poética: a floricultura. Friburgo a tragédia ocorrida há um ano e o desenvolvimento sócio-econômico também é hoje o segundo maior meio, que participantes das colô- baseado na educação, no turismo produtor de flores do Brasil. o Prelo 29 A COLONIZAÇÃO fertilidade, tudo pega de estaca; qualquer ramo de árvore corta- A Friburgo que Casimiro do e fincado na terra espontane- conheceu contava com poucos amente pega, podendo-se semear anos de existência desde a che- a horta quase todos os meses e gada dos primeiros imigrantes se podem ter duas colheitas de alemães e suíços ao Brasil, em batatas; o milho dá duzentos e 1819, levados para a locali- trezentos por cem; toda a casta dade de Morro Queimado – a de criação se multiplica à pro- região central da atual cidade porção da fertilidade do solo e – dentro de um projeto de da benignidade do clima.” colonização iniciado por D. Mas a aventura já apre- João VI. Devastados pelas sentaria os seus prenúncios guerras napoleônicas, países trágicos ainda na viagem. europeus, como Alemanha Morreram na travessia do e Suíça, formavam àquela Atlântico 311 pessoas e mais época verdadeiros celeiros de 35, vítimas de impaludismo mão-de-obra barata e de ex- contraído na Baixada Flumi- celente qualidade; pessoas de- nense, no trajeto entre o Rio sejosas por iniciar uma nova de Janeiro e Morro Queimado. vida longe dos rigores de uma Ao chegarem a seu destino, os Europa convulsionada por colonos foram distribuídos em revoluções e conflitos bélicos grupos de 17 ou 18 pessoas, de escala continental. formando as “famílias artifi- A vastidão do território ciais” que ocuparam as 100 A bacia do rio Macacu, com a demarcação dos 120 lotes brasileiro ainda inabitado no distribuídos aos suíços casas geminadas construídas início do século XIX exigia pelo Reino para abrigar não contingentes de trabalhadores fortes Quando deixaram os portos mais do que uma centena de famílias. e bem preparados para ocupá-lo. E de Rotterdam e Amsterdam, após O excesso de imigrantes trazidos da o ponto escolhido para ser o marco percorrerem o primeiro trecho da Suíça, porém, tornou insuficiente a desse projeto foi uma região que viagem, entre a Suíça e a Holanda, infraestrutura montada no núcleo ficava a apenas 21 léguas da Corte, pelo curso do rio Reno, os 2013 colonizador. conhecida como Sertões de Macacu. passageiros dos navios Urânia, Da- Ao contrário da propaganda Em seu livro Cantagalo – Da miragem phné, Debby-Elisa, Elisabeth-Marie, feita na Europa, os imigrantes, do ouro ao esplendor do café, o histo- Heureux Voyage, Deux Catherine e distribuídos depois em lotes de 300 riador Clélio Erthal conta como uma Camillus embarcaram em um sonho braças de frente por 750 de fundos, vasta região do território fluminense encantado de um novo mundo – descobririam rapidamente que a re- permaneceu intocada por quase três sem guerras, sem fome e repleto de alidade era bem mais pedregosa. Boa séculos, considerada pela Coroa Por- oportunidades. Incumbido por D. parte das terras estava em regiões tuguesa como uma área de exclusão, João VI de arregimentar os colonos, improdutivas, cobertas de pedras. cuja ocupação havia sido proibida Sebastien-Nicolas Gachet, enviado A agricultura de sobrevivência foi para evitar o surgimento de novas pelo monarca à Europa, atraiu-os praticada por grande parte dos rotas de contrabando do ouro. com a seguinte nota publicada na colonos durante os primeiros anos A região da atual cidade de Gazette de Lausanne: da empreitada, que, ainda assim, Cantagalo, acima de Nova Friburgo, “O clima convém perfeitamente continuou recebendo novas levas começou a ser desbravada no final aos europeus. A terra é de pasmosa de imigrantes, trazendo agora os do século XVIII, a partir primeiros alemães para se da invasão do território estabelecerem no Brasil. na divisa com Minas Ge- Cinco anos após a rais por um garimpeiro chegada dos suíços, sendo fora-da-lei, conhecido o Brasil já um país inde- como Mão de Luva. Mor- pendente, Friburgo iria se ro Queimado, destino dos transformar por acaso no primeiros colonos suíços, berço da imigração alemã ficava pouco depois de também. Por determinação virada a última cadeia de de D. Pedro I, 400 imigrantes montanhas na vertente alemães que aguardavam em esquerda da Serra dos 1824, na Ponta da Armação, Órgãos. Era um ponto es- em Niterói, a decisão do go- tratégico para a ocupação verno brasileiro sobre o local dos Sertões de Macacu. Os em que seriam assentados, europeus, contudo, não são enviados para a Vila de imaginavam o preço a ser Nova Friburgo. Esse grupo pago nesta empreitada. O Colégio Anchieta preserva hoje a tradição do bom ensino havia sido arregimentado 30 o Prelo em 1823 na Alemanha pelo major algumas das vocações do atual muni- e os contatos dos imigrantes com seus George Antônio Scheffer, que fora cípio. Preocupado com as dificuldades amigos e parentes na Europa, dando encarregado pelo Império do Brasil a linguísticas e culturais, o governo notícias dos progressos do núcleo criar dois núcleos de colonização nas brasileiro dedicou especial atenção estabelecido no Brasil, ensejaram a cidades de Leopoldina e Frankenthal, à educação em Nova Friburgo, que vinda de novos europeus. No início na Bahia. No entanto, por razões des- chegou a possuir, ainda na primeira do século XX, muitos imigrantes che- conhecidas ainda hoje, os imigrantes metade do século XIX, dois estabe- garam, principalmente da Alemanha, foram trazidos para o Rio de Janeiro. lecimentos de ensino de reputação agora não mais em busca de meios de Ao contrário dos suíços, os ale- nacional: o Instituto Freese, fundado sobrevivência no Novo Mundo, mas mães pagaram suas passagens para pelo irlandês John Henry Freese no com uma visão empreendedora. o Brasil, não receberam qualquer local onde mais tarde seria instalado o O processo de industrialização subvenção do governo brasileiro e Colégio das Dorotéias, e o São Vicente de Nova Friburgo, sobretudo nos tiveram que esperar 16 meses até de Paula, fundado no antigo Château setores têxtil e metalúrgico, foi um receberem as terras prometidas em pelo Barão de Tauphoeus, da Baviera. dos mais expressivos do Estado do contrato na Alemanha. Muitos deles O desenvolvimento da educação Rio. Várias fábricas foram estabele- também não suportaram as privações e a busca crescente por boas escolas e cidas na cidade, muitas delas paten- dessa longa espera e morreram antes clima ameno levaram para Friburgo teando nos nomes a origem alemã de terem a oportunidade de se esforçar a atividade turística e hoteleira, até de seus criadores: Fábrica de Rendas no trabalho por uma vida melhor. hoje uma das principais da cidade, Arp, Ferragens Haga, Fábrica Ypu Mas o que parecia uma das que passou a ser procurada por es- (Maximilianus Falck), Fábrica Filó principais barreiras para o sucesso do tudantes, veranistas e pacientes em (Otto Siems), entre outras pioneiras projeto colonizador acabou se trans- busca de tratamento de doenças como da era industrial que mudou o perfil formando em solução e inspirando a tuberculose. O crescimento urbano do antigo núcleo colonial agrícola. q Flores e lingeries: economia com toque feminino ois dos elementos mais emblemáticos do universo D feminino, fl ores e lingeries formam atualmente dois dos principais pilares da economia friburguense. O município é hoje o mais importante polo de moda íntima e o segundo maior

Foto:Divulgação produtor de fl ores de corte do país. Não é por acaso que a beleza e a poesia estão associadas à cidade. O setor de moda íntima reúne cerca de 900 empresas sedia- das em sua maioria em Nova Friburgo, mas também em cidades vizinhas, como Bom Jardim, Cordeiro, Duas Barras Cantagalo e Macuco, gerando mais de 20 mil empregos diretos. Apenas Friburgo congrega 30% das confecções fl uminenses e responde por 18% do Produto Interno Bruto estadual do vestuário. Isso representa um faturamento em torno de R$ 600 milhões por ano. A cidade também realiza anualmente a Fevest, a mais im- portante feira de moda praia, lingerie, fi tness e matéria-prima da América Latina, reunindo perto de 200 expositores. A principal Desfi le de moda íntima durante a Fevest fi nalidade do Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região, que completou 15 anos de existência, é capacitar os confeccionistas para ganharem competividade nacional e internacional. No fi m dos anos 60, uma tradicional indústria de tecelagem da cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, foi comprada por uma multinacional, que começou a produzir lingerie. Já no fi nal da década de 70, com a crise econômica, houve a diminuição drástica dos postos de trabalho, levando as costureiras desem-

Foto:Luiz Augusto Erthal Augusto Foto:Luiz pregadas a trabalharem em suas próprias casas, produzindo lingerie. Começaram, assim, novos empreendimentos da moda íntima, responsáveis pelo dinamismo do crescimento da indústria do segmento na região. Foi no ano de 1997 que começou a ser criado o Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região. A FIRJAN e o SEBRAE patroci- naram os estudos realizados pela FGV sobre os APLs das cidades do Rio de Janeiro, para alavancar seu desenvolvimento.Devido ao grande potencial percebido na cidade serrana na produção de moda íntima, a FIRJAN decidiu dedicar-se com mais empenho à Nova Friburgo. Surgiu, então, o Distrito Industrial do Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo e Região, baseado nos métodos dos distritos industriais italianos. Esse projeto envolveu as em- presas de confecção direcionadas ao mercado de moda íntima, com a parceria de entidades que deram um importante auxílio no Friburgo é o segundo maior produtor de fl ores de corte do país processo, como SEBRAE, FIRJAN, SindVest, IPRJ/UERJ e SENAI. o Prelo 31 Fotos:Divulgação

Queijos são fabricados com padrão suíço na Frialp A Praça Getúlio Vargas, com seus majestosos eucaliptos, no Centro Mata Atlântica e atrações a mais de 2 mil metros de altitude

om uma das maiores co- paz das montanhas. Veja algumas C berturas de Mata Atlântica das atrações turísticas do município: do Brasil, Nova Friburgo oferece • Queijaria Escola FRIALP, situada uma grande diversidade de atrativos na RJ-130 (Teresópolis-Friburgo); turísticos, tanto para os admirado- • Polos gastronômicos de Mury res da cultura alemã, que encontram e do Cônego, com uma dezena de na gastronomia e em diversas ma- restaurantes nas mais diversas nifestações culturais as marcas da especialidades,inclusive com Biergar- colonização, quanto para amantes ten para degustação de cervejas no da natureza em busca de paraísos melhor estilo alemão; ecológicos. Mais de 60 por cento • Parque Furnas do Catete, na RJ- das montanhas da região ficam a 116 (Friburgo-Bom Jardim), onde se mais de 1000 metros de altitude, localiza a Pedra do Cão Sentado; chegando algumas a 2300 metros. • A Praça Getúlio Vargas, no Centro. Nelas se encontram cachoeiras, rios, • Nova Friburgo Country Clube, lagos, mirantes, criações de trutas, onde se localiza o Chalé do Barão de de cabras, de cavalos, plantações de Nova Friburgo (1860); flores, legumes e verduras. • Distritos de Lumiar e São Pedro Os apreciadores de esportes radi- da Serra (turismo ecológico); cais desfrutam de inúmeras opções, • A Pedra Riscada (alpinismo); como canoagem, rafting, voo livre, • Pavilhão das Artes, no bairro do enduro, MotoCross, mountain bike e Cônego; trilhas. Mas é no sossego das pou- • Praça do Suspiro, onde se encon- sadas, nas caminhadas, nos passeios tram a Praça das Colônias e o teleférico a cavalo que a maioria dos turistas (desativado após os desabamentos do Pedra do Cão Sentado, um dos cartões postais da cidade de todas as idades se encontra com a ano passado).

Rio encachoeirado no distrito de São Pedro da Serra A estrada Teresópolis - Friburgo corta incontáveis plantações de hortaliças 32 o Prelo FRIBURGO arredores CANTAGALO & De Mão de Luva a Euclydes da Cunha

cidade de Cantagalo pode ser A Fazenda da Saudade, onde nasceu Euclydes da Cunha (detalhe), atualmente é considerada o núcleo de uma A ocupada por uma fábrica de cimento vasta região do território fluminense, cujos limites originais, quando de sua constituição político-administrativa, confrontavam com Resende, ao sul, e com Campos, ao norte. Ou seja, preenchia o lado superior do Estado do Rio, fronteiriço com Minas Ge- rais, quase de uma ponta a outra. Nada menos do que 14 dos atuais municípios fluminenses – entre eles, Friburgo e Teresópolis – nasceram à sua sombra, a partir do retalhamento de seu território original. O nome do município está direta- mente ligado ao episódio que originou a ocupação dessa região, considerada pela metrópole portuguesa como uma área de exclusão no tempo do Brasil colônia, a fim de dificultar o contraban- do do ouro extraído em Minas Gerais. Conta a lenda que o canto de um galo O Palacete do teria denunciado aos guardas coloniais Gavião, do Barão a localização do acampamento de um de Nova Friburgo, garimpeiro fora-da-lei, conhecido como foi projetado pelo Mão de Luva, que invadiu em 1780 mesmo arquiteto que aquele território proibido em busca de construiu o Palácio novos garimpos de ouro. do Catete, no Rio, A lenda de Mão de Luva, re- sede do governo produzida em livros e nos ditos po- brasileiro até a pulares, dominou o imaginário do transferência da povo cantagalense por muitos anos. capital para Brasília Acreditava-se que esse personagem misterioso teria sido um nobre por- doras e os jatos de desenvolvimento Após o ciclo do café, o município tuguês – o Duque de Santo Tirso econômico e civilizatório que fizeram se voltou para a pecuária até que, – namorado da princesa de Portugal de Cantagalo uma das mais prósperas na segunda metade do século XX, a – posteriormente a Rainha Maria I – e cultas células da Velha Província”, atividade mineradora voltou a ser o e que teria fugido para o Brasil após segundo Clélio Erthal. principal fator de seu desenvolvimen- cair em desgraça em seu país. Antes A prosperidade veio com o ciclo to econômico. Não mais, agora, para da partida, a amada teria lhe dado um do café, logo após uma curta fase de exploração de ouro, mas para extra- beijo na mão, a qual ele jurara que atividade mineradora que revelou a ção das grandes jazidas de calcário ninguém mais a tocaria, daí a razão escassez de ouro da região, desenco- presentes em seu subsolo. A fazenda de estar sempre calçando uma luva. rajando os garimpos. Marcas dessa em que se localiza atualmente uma A veracidade do conto romântico, fase esplendorosa, quando a cidade das três grandes fábricas de cimento porém, foi derrubada pelas pesquisas tornou-se conhecida até internacio- do município – Fazenda da Saudade – do historiador Clélio Erthal em seu nalmente como um dos principais foi onde nasceu o escritor Euclydes da livro Cantagalo – da miragem do ouro ao polos produtores de café no Brasil, Cunha, mais famoso filho da terra. esplendor do café. Manuel Henriques, o podem ser vistas até hoje em opulen- Ali, o autor de Os sertões, considerada Mão de Luva, de fato existiu, mas não tas fazendas, como a do Gavião, que a mais importante obra da literatura tinha nada de nobre, não passando de pertenceu ao Barão de Nova Friburgo brasileira, passou os seus três pri- um aventureiro fora-da-lei, cuja con- e foi projetada pelo arquiteto alemão meiros anos de vida, sendo por isso tribuição histórica foi penetrar naque- Carl Friedch Gustavo Wehmelt, que cultuado até hoje pelos habitantes la zona de exclusão, dando início ao também construiu o Palácio do Catete, da cidade que abriga o museu Casa processo de conquista e ocupação da no Rio de Janeiro, sede do governo de Euclydes da Cunha, onde, entre área. “Dali é que partiram, pelas linhas brasileiro durante a República até a outros pertences do escritor, está de penetração, as correntes coloniza- construção de Brasília. preservado em formol o seu cérebro. o Prelo 33 FRIBURGO arredores &

A Praça Nilo Peçanha, em Trajano de Moraes A Sede da Prefeitura de Duas Barras Vista da cidade de Macuco Cidades fundadas na paz das montanhas

ova Friburgo é o centro de Descendo ainda mais pela RJ- estado. Apesar da forte vocação N influência de uma parte 116 chega-se ao município de agrária, o nome da cidade não está da região serrana que engloba pelo Cordeiro (485m), conhecido por ligado aos ovinos, mas sim ao ban- menos mais sete municípios. Além realizar anualmente a mais tradi- deirante Manoel Rosendo Cordeiro, de Cantagalo, que foi, na verdade, o cional exposição agropecuária do que cedeu parte de suas terras para núcleo original de ocupação de toda a abertura da trilha de ferro Canta- essa área, também gravitam na ór- galo. De Cordeiro foi desmembrado bita friburguense as cidades de Bom o território que formou nas últimas Jardim, Cordeiro, Macuco, Santa décadas do século passado o muni- Maria Madalena, Trajano de Moraes cípio de Macuco (276m), famoso e São Sebastião do Alto. pela cooperativa de mesmo nome, Bom Jardim, assim como os responsável atualmente pela maior demais municípios, teve seu terri- produção leiteira do estado. tório desmembrado originalmente A partir de Macuco se pode es- de Cantagalo. Está a apenas 20 calar alguns contrafortes da Serra quilômetros de Friburgo e é a pri- dos Órgãos e alcançar os outros meira cidade alcançada por quem três municípios, localizados em desce a serra em direção ao Norte altitudes mais próximas à de Fri- e Noroeste do estado. Com 574 burgo (846m): Santa Maria Mada- metros de altitude, também teve lena (632m), Trajano de Moraes uma colonização fortemente in- (655m) e São Sebastião do Alto fluenciada pelos suíços e alemães (575m). São todas cidades funda- que se instalaram inicialmente das na paz das montanhas, que em Friburgo e depois desceram oferecem aos visitantes excelentes pelas franjas da serra em busca climas e ótimas opções de lazer, de melhores terras para a agri- como trilhas, cachoeiras e turis- cultura. A igreja matriz de Bom Jardim em estilo gótico moderno mo rural. q

Cavalgada pelas ruas de Cordeiro A imponente igreja matriz de Santa Maria Madalena 34 o Prelo

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