UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

VALQUÍRIA PEREIRA TENÓRIO

BAILE DO CARMO: FESTA, MOVIMENTO NEGRO E POLÍTICA DAS IDENTIDADES NEGRAS EM ARARAQUARA-SP

SÃO CARLOS - 2010 -

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

VALQUÍRIA PEREIRA TENÓRIO

BAILE DO CARMO: FESTA, MOVIMENTO NEGRO E POLÍTICA DAS IDENTIDADES NEGRAS EM ARARAQUARA-SP

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos para a obtenção do título de Doutora em Sociologia, com área de concentração em Culturas, Diferenças e Desigualdades.

Orientador: Prof. Dr. Karl Martin Monsma

SÃO CARLOS - 2010 -

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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária/UFSCar

Tenório, Valquíria Pereira. T312bc Baile do Carmo : festa, movimento negro e política das identidades negras em Araraquara-SP / Valquíria Pereira Tenório. -- São Carlos : UFSCar, 2012. 236 f.

Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2010.

1. Sociologia. 2. Sociabilidade. 3. Memória. 4. História oral. 5. Discriminação racial. 6. Relações raciais. I. Título.

CDD: 301 (20a)

Dedico este trabalho a todos aqueles que participaram desta pesquisa, desde aqueles que repartiram comigo suas vivências e me ensinaram a compreender o Baile do Carmo àqueles que me motivaram nos momentos de incerteza e fragilidade.

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O Baile do Carmo é um baile bastante tradicional aqui na cidade, né? Eu cresci ouvindo falar do Baile do Carmo. Eu não via a hora assim na minha mentalidade de crescer para ir no Baile (Pamela, 25 anos, negra). Porque é isso aí, começou com aquela tradição afro-brasileira. Então, pegou mais, Baile do Carmo é... o baile da raça negra. Ficou isso daí, né? O branco vai, mas a tradição é da raça negra (Geraldo, 79 anos, negro). Ai, eu, já ouvi falar que ele surgiu com... foram os ferroviários. Tinham os ferroviários aqui em Araraquara, eles eram negros, mas não podiam participar dos bailes dos brancos.[...] Também dizem que não foram os ferroviários, foram os negros dessa cidade, os escravos que faziam festa e os seus batuques lá e foi aumentando, aumentando. Têm várias histórias, uma hora falam que foram os escravos, sei lá foi aumentando para a cidade, depois falam que foram os ferroviários, depois falam que foi a própria população branca que excluindo os negros dos bailes... Eu não sei, até hoje não tem uma história certa que eu saiba, né? (Lorhaine, 20 anos, negra). Todos os negros iam e outra, sabe o que era importante esse... essa fluência de negros que vinham de fora, porque quem morava na capital tinha outro tipo de vida, tinha outra visão das coisas. Então o que faziam, traziam para os negros daqui várias informações (Estela, 62 anos, negra). Porque eu virei uma marca do Baile do Carmo e eles acham, os brancos, que eu sou líder da comunidade por eu ter inovado a festa e ela ter começado com 600 pessoas quando eu peguei e hoje tem 06 dias de festa. Hoje tem a criança, o jovem, o adulto, tem o neto, a mãe e a avó (Daniel Amadeu, 54 anos, negro). Cultura! Cultura, porque eu fui educado a ir ao Baile do Carmo, eu fui educado por quê? Porque a cultura da família já estava arraigada nele, isso fez com que a minha participação fosse assídua, desde eu ir pequeno para comer pipoca. A gente até brincou esse ano, eu e as minhas primas, a gente falava assim: o Baile do Carmo teve três fases na nossa vida e tem mais uma que vai acontecer que a gente não sabe como vai ser. Cinco, se formos levar ao pé da letra. Tinha a fase que nós não íamos, mas imaginávamos, tinha a fase que nós só íamos para poder correr e brincar tem essa fase agora da nossa adolescência que a gente vai já para paquerar, para dançar para fazer uma média, tem a fase de quando a gente assumir a postura dos nossos pais, e tem o anteceder, antes da gente ir sem saber ou da gente não ir, então essas 5 fases são primordiais na minha participação no Baile (João, 19 anos, negro).

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AGRADECIMENTOS

Foram muitas as experiências vividas nesses anos de pesquisa e muitos são os agradecimentos que gostaria de fazer àqueles que direta ou indiretamente iluminaram minha vida e são parte de minha trajetória acadêmica e pessoal. Agradeço a todos aqueles que se dispuseram a me dar entrevistas e a compartilhar um pouco de suas experiências comigo. Agradeço à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo financiamento destinado a este trabalho. Agradeço ao parecerista ad hoc desconhecido que desde o início apostou no potencial deste estudo e desta pesquisadora. Ao meu orientador, Professor Doutor Karl Martin Monsma. Nossa história iniciou-se ainda no processo de seleção para o doutorado, quando lhe encaminhei meu projeto de pesquisa. Desde então, tive seu apoio, incentivo e orientação. Foi por seu intermédio que me interessei em realizar o doutorado sanduíche, o que ele me apresentou como uma oportunidade de crescimento tanto para minha vida acadêmica quanto pessoal. O professor Karl me passou segurança e confiança ao exercer seu papel de excelente orientador. Agradeço à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo financiamento para participar do Programa de Doutorado com Estágio no Exterior (PDEE), mais conhecido como doutorado sanduíche. Agradeço ao Professor Doutor George Reid Andrews, meu orientador nos Estados Unidos. O professor Reid acompanhou todo o meu processo de adaptação nos Estados Unidos e propôs-me que eu realizasse disciplinas para que vivenciasse a pós-graduação naquele país. Com ele tive a oportunidade de discutir sobre diversos livros e temas. Fazíamos sempre um encontro em inglês e um em português para que ambos pudéssemos treinar nossas habilidades em outra língua. Agradeço demais sua generosidade e sua atenção. Foi por seu intermédio que participei do seminário África na história Atlântica, oferecido pelos professores Marcus Rediker, que me presenteou com seu livro bastante premiado The Slave Ship: a Human History, e Patrick Manning, que também me ofereceu diversos livros para que eu pudesse acompanhar as aulas. Lembro-me das horas de conversa com o professor Manning em sua sala no Posvar, enquanto a neve caia do lado de fora. Agradeço ao professor Alejandro de La Fuente, outro brilhante professor que tive o prazer e a honra de conhecer. Encontramo-nos diversas vezes para discutir o projeto de pesquisa. Pude contar com sua leitura afinada de meu projeto, suas críticas e sugestões.

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Agradeço ainda ao professor Joe Trotter da Universidade Carnegie Mellon pelos encontros e discussões, ao professor John Markoff, que me indicou bibliografia e por sua leitura atenta de meu projeto, e à professora Kathleen Blee, ambos do Departamento de Sociologia da Universidade de Pittsburgh. Tive a oportunidade de acompanhar a disciplina Microdinâmicas do Movimento Social oferecida pela professora Blee, o que me fez pensar no Baile do Carmo também como um tipo de movimento social. Agradeço ao professor Ben Houston, da Universidade Carnegie Mellon, pela oportunidade de participar de sua disciplina Teoria e Metodologia da História Oral. Tive a oportunidade de conviver com os pesquisadores Kavin Paulraj, Oscar de la Torre, Katie Phelps, Charles Alessi e Chris, que me ajudaram na tão difícil adaptação a um novo e estranho ambiente. Agradeço ainda a Gracy, Molly e Patty do Departamento de História. Agradeço a Luis Bravo do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Pittsburgh que me ajudou com a parte burocrática de minha vida na universidade. Agradeço a Arif Jamal, por nossas discussões sobre a questão racial brasileira, pelo carinho e acolhimento proporcionado por ele, sua esposa Asma e seu filho Ibrahim. Agradeç