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O PERFIL DO PRODUTOR RURAL DA MICRORREGIÃO DE -SC EM RELAÇÃO AO REFLORESTAMENTO

José Sawinski Júnior UnC - Curso de Engenharia Florestal ([email protected]) Luciane Cristina Lazzarin UnC - Curso de Engenharia Florestal

Resumo

A inserção do produtor rural no cenário florestal é de extrema importância tanto do ponto de vista da sustentabilidade da propriedade, quanto do aumento na curva de oferta de madeira a níveis regionais. Poucas vezes porém, o produtor rural foi ouvido para dar sua opinião sobre o reflorestamento. Neste trabalho, foram entrevistados 146 produtores rurais nos municípios de Canoinhas, Porto União e Mafra, todos situados na microrregião de Canoinhas – Planalto . Os questionários tiveram por objetivo traçar um perfil do produtor rural em relação ao reflorestamento. Os resultados mostram que a maioria dos produtores entrevistados caracterizam-se como minifundiários, dedicam-se a agricultura e boa parte deles possui reflorestamento (Pinus e/ou Eucalipto). Acreditam que a floresta pode melhorar a renda futura. As principais dificuldades citadas foram a falta de terras, tempo disponível e custo de implantação. Os produtores afirmam também que além das empresas florestais, a maior responsabilidade em incentivar o reflorestamento é do Governo. Palavras-chave: perfil, produtor, reflorestamento

Abstract

The rural producer participation in the forest scenario is very important in nowadays, as the sustainability point of view as improvements in the regional wood supply curve. Despite of this, a few times the rural producer opinion about forest is questionable. In this paper, were interviewed 146 producers in the Canoinhas, Porto União and Mafra municipalities. The surveys were used to define a rural producer profile in relation to forest activities. The results show that the majority of interviewed are short landowners, the focus on small farm agriculture practices and most of them plant forest (Pinus and/or Eucalyptus). They believe that forest can improve the future returns. The main difficulties are lack of lands, available time and implantation costs. The producers claim that the Govern is the main responsible to develop and incentive forest activity. Key-words: profile, producer, reforestation

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1. Introdução

A microrregião de Canoinhas é considerada um dos maiores pólos madeireiros do estado de , graças a participação efetiva ao longo das últimas décadas das empresas do setor florestal com a questão do reflorestamento. Extensas áreas foram plantadas com os gêneros Pinus e Eucalyptus, que hoje abastecem estas empresas, não sendo mais necessária a exploração da mata nativa. Apresenta ainda, condições edafoclimáticas extremamamente favoráveis ao reflorestamento, contando além das empresas do setor florestal, com um grande número de pequenos e médios produtores rurais, com áreas potenciais para o reflorestamento.

Rodigueri (1997), comenta que a sociedade brasileira, cada vez mais, necessita de soluções que permitam a expansão da produção agrícola e de produtos florestais associados com a preservação ambiental, além de alternativas de emprego e renda, particularmente, para os pequenos e médios proprietários rurais, e que diante desse panorama, torna-se importante a adoção de medidas que assegurem o aumento da oferta de produtos agrícolas e florestais, acompanhados da conservação e recuperação dos solos, da despoluição da água, e da preservação da floresta nativa remanescente.

Através do presente estudo de campo, buscou-se estudar o perfil do produtor rural da microrregião de Canoinhas-SC, realizando entrevistas em cooperativas, sindicatos de trabalhadores rurais e secretarias de agricultura nos municípios de Canoinhas, Mafra e Porto União.

2. Material e métodos

2.1 Descrição da área de estudo

A microrregião de Canoinhas, compreende 9 municípios, totalizando 212.393 habitantes, numa área de 8.516 km2, segundo PRDR (Plano Regional de Desenvolvimento Rural), EPAGRI – 1996, com uma densidade demográfica de 24,94 habitantes/km2 .

Está localizada a 26o 05' (S) 50o 14' (O) com altitude média de 780m s.n.m. De acordo com os dados meteorológicos a região pertence, segundo a classificação de Köppen, ao tipo climático Cfb, subtropical úmido mesotérmico sem estação seca definida. A temperatura média anual é de 17,9º C, umidade relativa do ar média anual de 74,98% e precipitação média anual de 1.523,92 mm.

A população rural é representada por 40,01%, enquanto os 59,99% restantes referem-se à população urbana. Detalhes das informações básicas constam na Tabela 1, onde tem-se também os municípios da microrregião e a área em km2 de cada município.

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Tabela 1. Informações básicas dos municípios abrangidos pela região. MUNICÍPIOS POPULAÇÃO POPULAÇÃO POPULAÇÃO ÀREA URBANA RURAL TOTAL (HAB.) (km2) Canoinhas 36.832 18.544 55.376 1.647,1 Irineópolis 2.646 7.116 9.762 581,2 Itaiópolis 7.080 15.456 22.536 1.242,6 Mafra 32.952 14.090 50.042 1.788,1 1.825 5.501 7.326 568,8 Monte Castelo 4.127 4.473 8.600 566,2 6.817 9.415 16.232 777,3 Porto União 22.638 7.245 29.883 925,6 Três Barras 12.490 3.146 15.636 419,1 Total 127.407 84.986 215.393 8.516 Fonte: PRDR, EPAGRI, 1996.

O presente estudo foi realizado nos municípios de Mafra, Porto União e Canoinhas, localizados no Planalto Norte Catarinense.

Escolheu-se estes municípios por estarem distribuídos de maneira que abrangem a totalidade da microrregião de Canoinhas, e também por serem os municípios mais importantes em termos de arrecadação e população.

2.2 Métodos e técnicas utilizadas

Foram realizadas 60 entrevistas de campo no município de Mafra, 56 em Porto União e 30 no município de Canoinhas, totalizando 146 entrevistas.

3. Resultados e discussões

3.1 Faixa etária

A maioria dos entrevistados (52,7%) está na faixa etária dos 30 a 50 anos.

Tabela 2. Faixa etária IDADE Nº de pessoas Porcentagem (%) 18 a 30 anos 20 13,7 30 a 50 anos 77 52,7 Mais de 50 anos 49 33,6 Total 146 100 Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com a Tabela 3, os produtores rurais da microrregião de Canoinhas são na maioria proprietários de pequenas áreas de terras, cultivando diversas

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culturas agrícolas. A área da propriedade é pequena (em média 5 ha), sendo a maior parte dela ocupada pela agricultura. O reflorestamento é implantado somente em áreas não preenchidas pela agricultura.

Tabela 3. Área total Área Total (ha) Nº de pessoas Porcentagem (%) Até 20 76 52,0 De 20 a 100 66 45,2 Mais de 100 04 2,8 Total 146 100 Fonte: Dados da pesquisa

A Tabela 4 mostra as principais culturas cultivadas pelos produtores da microrregião de Canoinhas. A maioria dos produtores planta milho e feijão, além de outras culturas como soja, erva-mate e fumo.

Tabela 4. Principais culturas cultivadas pelos produtores rurais da microrregião de Canoinhas Cultura Nº de pessoas Plantam (%) Milho 139 95,2 Feijão 122 83,6 Erva-mate 98 67,1 Soja 67 45,9 Fumo 40 27,4 Fonte: Dados da pesquisa

A maioria dos produtores (64,3%) possui algum tipo de reflorestamento na propriedade, seja ele de pinus, eucalipto ou mesmo a erva-mate, que para o presente estudo convencionou-se chamar como atividade florestal. Muitos pensam em reflorestar mas não se decidiram, outros vão reflorestar em breve, e alguns nunca pensaram em reflorestar, conforme Tabela 5:

Tabela 5. Opinião dos agricultores em relação ao reflorestamento O Que Pensa Nº de Pessoas Porcentagem (%) Já refloresto 94 64,3 Penso em reflorestar, mas ainda não decidi 23 15,8 Vou reflorestar em breve 17 11,6 Nunca pensei em reflorestar 10 6,8 Já pensei, mas não quero 02 1,5 Total 146 100 Fonte: Dados da pesquisa

A Tabela 6 mostra que apesar de alguns produtores cultivarem a erva-mate e o eucalipto, o pinus predomina na maioria das propriedades (34,3%).

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Tabela 6. Tipo de floresta cultivada pelos produtores rurais da microrregião de Canoinhas Tipo de floresta Nº de pessoas Porcentagem (%) Pinus 44 34,3 Eucalipto 42 32,9 Pinus e eucalipto 26 20,3 Pinus e erva-mate 8 6,2 Eucalipto e erva-mate 5 4,0 Erva-mate 3 2,3 Total 128 100 Fonte: Dados da pesquisa

O motivo principal pelo qual os agricultores da microrregião de Canoinhas decidiram reflorestar ou reflorestarão em breve é a obtenção de uma melhor renda futura, além de outros como: aproveitamento de área não ocupada pela agricultura e o interesse em preservar o meio ambiente, conforme Tabela 7.

Tabela 7. Motivo que levou os agricultores a reflorestar

Motivo Nº de pessoas Porcentagem (%)

Melhorar a renda futura 44 33,1 Outros (cercar terreno, ornamentar, lenha, etc.) 29 21,6 Aproveitamento de área 17 12,8 Melhorar renda e aproveitar área 9 6,8 Melhorar renda e outro (cercar terreno, ornamentar, 8 6,1 Lenha, etc.) Melhorar a renda e preservar o meio ambiente 7 5,2 Aproveiatr a área e preservar o meio ambiente 7 5,2 Preservar o meio ambiente 5 3,9 Preservar o meio amb, aprov. Área e melh. renda 4 3,0 Preservar o meio ambiente e outros(cercar o terreno, 2 1,6 Ornamentar, lenha, etc.) Aproveitar a área e outros (cercar o terreno, 1 0,7 Ornamentar, lenha, etc.) Total 133 100 Fonte: Dados da pesquisa

Muitas dificuldades são encontradas quando se decide implantar um reflorestamento, de acordo com a opinião dos entrevistados, sendo a principal delas a falta de terra. Os agricultores da microrregião de Canoinhas dizem não poder reflorestar em terras ocupadas pela agricultura, porque o retorno financeiro não é imediato, e sendo assim, precisam ocupar praticamente todas suas terras na agricultura, onde o retorno econômico é obtido no curto prazo, quando comparado ao reflorestamento.

Outro motivo que leva os agricultores a não reflorestar é a falta de tempo, sendo que em muitas propriedades, só trabalham o proprietário e sua família, não restando portanto, tempo para preparar a terra, plantar, e depois oferecer todos os cuidados necessários, conforme Tabela 8:

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Tabela 8. Dificuldades Dificuldades Nº de pessoas Porcentagem (%) Falta de Terra 61 42,1 Custo alto p/ implantação 25 17,1 Falta de tempo 33 23,1 Demora muito 8 5,1 Demora muito e custo alto 5 3,1 Custo alto e falta de terra 4 3,1 Custo alto/outros 3 2,0 Demora muito e falta de terra 3 2,0 Rende pouco 2 1,0 Falta de Terra e outros 1 0,7 Rende pouco e Falta de terra 1 0,7 Total 146 100 Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 9 observa-se que na opinião de 59% dos entrevistados, governo deveria incentivar os agricultores a reflorestar, doando mudas ou oferecendo um financiamento com juros baixos para a compra de terras e implantação da floresta. As empresas também poderiam incentivar o reflorestamento, doando mudas e principalmente oferendo assistência técnica e informação aos agricultores.

Tabela 9. Responsabilidade de incentivar o reflorestamento Responsabilidade Nº de pessoas Porcentagem(%) Governo 85 59 Empresas 40 28 Governo e Empresas 20 13 Total 145 100 Fonte: Dados da Pesquisa

4. Conclusões

Novas medidas devem ser tomadas a fim de incentivar o reflorestamento nas pequenas propriedades rurais, visto que, os agricultores estão interessados em reflorestar, mas não reflorestam principalmente por falta de informação e incentivo.

Tanto empresas como órgãos governamentais deveriam oferecer algum tipo de ajuda aos agricultores, desde orientação até financiamentos a longo prazo para a compra de terras, sendo que as principais dificuldades são a falta de terra e de orientação.

O reflorestamento é sem dúvida um bom investimento, devido à falta de matéria prima que as empresas ligadas ao ramo madeireiro estão encontrando atualmente. Diversos estudos apontam para um aumento significativo na

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demanda por madeira, enquanto a oferta tende a se manter, elevando assim os preços da madeira.

Faz-se necessário também um estudo que a avalie o grau de risco da atividade florestal para o pequeno produtor, no que se refere a preços futuros da madeira.

5. Referências bibliográficas

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Bert, G. O programa fazendas florestais na CBCC. In: Seminário sobre aspectos econômicos, sociais e ambientais do fomento florestal. Belo Horizonte, SIF/UFV/DEF, 1991. P. 77-85

Costa. Vaz. Extensão Rural. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Faculdade de Agronomia. 118p.1982.

EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina. PRDR (Plano Regional de Desenvolvimento Rural). Administração Regional de Canoinhas/SC. 1996. Não publicado.

Rodigueri, Honorino. Rentabilidade Econômica Comparativa entre as Culturas do milho, feijão, soja e trigo e as culturas florestais pinus eucalipto e erva-mate. Circular técnica nº 41. EMBRAPA/CNPF. Colombo – Paraná. 32p. 1997

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