UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO INSTITUTO DE SAÚDE E SOCIEDADE

IVANA SILVA DIAS

X-9 PAULISTANA NÃO É SÓ SAMBA! O SAMBA E SUAS FERRAMENTAS DE ENFRENTAMENTO AS DESIGUALDADES SOCIAIS

SANTOS 2019

IVANA SILVA DIAS

X-9 PAULISTANA NÃO É SÓ SAMBA! O SAMBA E SUAS FERRAMENTAS DE ENFRENTAMENTO AS DESIGUALDADES SOCIAIS

Trabalho apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Professora Drª. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini.

SANTOS 2019

IVANA SILVA DIAS

X-9 PAULISTANA NÃO É SÓ SAMBA! O SAMBA E SUAS FERRAMENTAS DE ENFRENTAMENTO AS DESIGUALDADES SOCIAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social Universidade Federal de São Paulo. Orientadora: Profª.Drª. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini.

Aprovação: ____/____/_____

Orientadora: Profª. Drª. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini. Universidade Federal de São Paulo

Leitora: Ms. Marcia Barros Assistente Social – Mestra e Doutoranda pela PUC/SP

AGRADECIMENTOS

Dedico a minha linda e baiana família, oriunda da roça da pequena cidade de Mairi- BA, que sofreu com o racismo enraizado que até hoje leva famílias de trabalhadores rurais a serem escravizados por várias gerações durante a vida. Casais como meus avos maternos, eram contratados como caseiros de grandes fazendas e eram escravizados obtendo dívidas absurdas que pagavam trabalhando de sol a sol, colocando todos os filhos à disposição da família dos fazendeiros, que exploravam as meninas nos afazeres domésticos de suas casas, fazendas e roçados, e os meninos eram forçados a realizar trabalhos braçais na agricultura e pecuária das propriedades, pagando apenas salários de miséria, o mínimo para a sobrevivência da minha família.

Assim agradeço aqui parte dos antecedentes, os meus queridos avós Dona Matilde Maria da Silva e o Senhor Saturnino Ferreira da Silva, pais de 11 filhos que vingaram, entre eles, Isabel Ferreira da Silva, minha mãe.

Dona Bezinha como é chamada pelos íntimos, mulher negra, mãe, avó, guerreira, que até poucos anos atrás havia cursado até a 4ª série do primário, que abandonou ainda durante a sua infância para trabalhar com os seus irmão e irmãs, como relatei no capítulo anterior, e somente em 2015 aos 56 anos formou-se no Ensino Médio por meio do EJA (Educação para Jovens e Adultos). Por isso quando digo guerreira, falo muito sério, pois relato aqui uma fala conclusiva dela de poucos dias atrás, quando o jornal, falava do alto índice de feminicídios em nosso país, e ela falou: “ - Se eu não tivesse fugido para cá com vocês era isso que aconteceria comigo”.

Pois é, meus pais sempre brigaram, meu pai nordestino humilde e xucro, filho dos meus avós paternos Dona Judite e do Senhor José, que não conheci pois já haviam falecido quando eu nasci, mas assim como relatei vivenciaram a mesma realidade dos meus avos maternos, pois eram os caseiros da fazenda vizinha, e tiveram 3 filhos homens que vingaram, entre eles o filho do meio meu pai, o senhor Jair Sena Dias, excelente pai para mim, mas um tormento para meu irmão, e claro, um péssimo marido para minha mãe. Ciumento, xucro, machista e violento, que depois de anos de casamento levou a minha mãe a sair praticamente fugida, enquanto ele estava preso passando mais uma noite na cadeia para esfriar a cabeça, como dizia os policiais que vinha para mais uma ocorrência em minha casa, e falavam com ele em nossa frente enquanto eu chorava desesperada aos 12 anos, ao presenciar mais uma vez aquela cena.

E foi assim, para não se tornar parte das estatísticas, partimos nós três (Minha mãe, meu irmão Leandro Silva Dias e eu), com passagens compradas pela sua amiga e irmã de consideração, minha madrinha Dona Ana Maria dos Santos, e viemos para Santos-SP, com 3 malas de roupas e a coragem da minha mãe. Registro esse pequeno trecho da história da minha família para dizer como eu, baiana da cidade de Feira de Santana-BA, a princesinha do nordeste, vim parar aqui na melhor cidade para se viver no Brasil.

Aproveito para agradecer neste momento a pessoa que me apresentou essa incrível profissão a assistente social Maria Cristina Silva Marinho, profissional integra e extremamente comprometida, que conheci logo que cheguei da Bahia quando tive o acesso a uma das políticas públicas para juventude, o Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, onde iniciei minha vida profissional e mais tarde, minha militância e ideologia de vida.

Não posso esquecer de toda a vivência e aprendizado que adquirir morando na maior favela de palafitas da América latina (Favela do Mangue seco), que mesmo presenciando e estando perto diariamente das tentações ofertadas pelo crime organizado, me mantive ilesa e sobrevivi. Agradeço também a vitória povo brasileiro, ao eleger um governo progressista que efetivou a Lei nº 12.711/2012, ou Lei de Cotas, praticando a acertada politica das ações afirmativas, onde por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU), que sem a menor dúvida proporcionou o meu acesso e permanência na Universidade Pública, possibilitando a realização deste sonho em me tornar uma Assistente Social, e abriu o caminho para as novas gerações da minha família, pois eu sou a primeira pessoa com ensino superior.

E como não agradecer os/as docentes que me apresentaram um mundo novo, aprendi muito com vocês, alguns docentes foram mais presentes, mas cada um deixa um rastro da luz do conhecimento em minha vida e a certeza de que não quero parar por aqui. Obrigada professora Andréa Torres (in memoriam) que me incentivou e cuidou até o fim dos seus dias nesta terra, e que, com certeza, está muito contente com o trajeto que terminei de trilhar junto com a professora Francisca, professora obrigada pelos seus ensinamentos e puxões de orelha, pois sem eles não teria encarado este momento de finalização de ciclo, com certeza tê-la como professora foi um privilégio desta minha graduação.

Agradeço meu recomeço de composição familiar, este que estou construindo junto com o meu companheiro Anderson Faustino e minhas amadas enteadas Olívia e Alice e o “filho da mãe” Flávio Júnior, meu filho, eu te amo muito e dedico especialmente a você, pois só cheguei até aqui por e para você. Que no futuro você entenda todos os sacrifícios e distanciamentos que sofremos durante o longo percurso desta minha graduação, que tudo isso foi necessário para a ampliação do meu ser, interiorizando a importância do enfrentamento e resistência na luta por mais “Ivanas” em espaços de empoderamento da mulher negra.

“Quero ouvir você gritar bem alto Cantando e sambando no asfalto Oi, dá licença, deixa a X-9 passar” (Trecho do Hino Oficial do G.R.C.E.S. X-9 Paulistana)

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo traçar uma análise que delineie a influência para a comunidade do entorno e adjacências do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana, localizada na Zona Norte da cidade de São Paulo, nosso propósito é abalizar a metodologia da análise de pesquisa qualitativa com relatos através de entrevistas com componentes e participantes das atividades sociais da X-9 Paulistana, alinhada à revisão bibliográfica ligada ao tema, que indica como se constituíram no Brasil as primeiras escolas de sambas, a origem do ritmo tão característico e reconhecido mundialmente que é o samba, como surgiram as primeiras comunidades e favelas no Brasil, e concluir este trabalho estabelecendo uma correlação entre os relatos advindos das entrevistas com componentes e participantes das atividades sociais da X-9 Paulistana. Com este estudo pretendemos entender a importância da agremiação para a comunidade e consequentemente para território onde se localiza, abranger a responsabilidade social e apropriação territorial e cultural, e como são realizadas essas ações, podendo assim, apontar como se estabelece e desenvolve a aplicação de recursos em prol das atividades sociais nos espaços da comunidade da X-9 Paulistana.

Palavras chaves: Comunidade; Responsabilidade Social; Território; Cultural.

ABSTRACT

This course conclusion paper aims to draw an analysis that outlines the influence for the surrounding community and surroundings of the Grêmio Recreativo Cultural Samba School X-9 Paulistana, located in the North Zone of the city of São Paulo, our purpose is to support the methodology of the qualitative research analysis with reports through interviews with components and participants of the social activities of the X-9 Paulistana, in line with the bibliographic review related to the theme, which indicates how the first sambas schools were constituted in Brazil, the origin of the rhythm so characteristic and recognized worldwide that it is samba, as the first communities and favelas in Brazil emerged, and to conclude this work establishing a correlation between the reports coming from interviews with components and participants of social activities of X-9 Paulistana. With this study we intend to understand the importance of the association for the community and consequently for the territory where it is located, to cover social responsibility and territorial and cultural appropriation, and how these actions are performed, thus, pointing out how the application of resources is established and developed. In favor of social activities in the community spaces of X-9 Paulistana.

Keywords: Community; Social responsability; Territory; Cultural.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...... 09

CAPÍTULO I - ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSTITUIÇÃO DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES E FAVELAS, HISTÓRIA DO SAMBA E SURGIMENTO PRIMEI- RAS ESCOLAS DE SAMBA...... 12

1.1. Contexto Histórico Das Primeiras Comunidades E Favelas...... 12 1.2. História do Samba: o início do século XX...... 21 1.3. Agremiações de Samba Paulistanas - contexto histórico...... 34

CAPÍTULO II - GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL ESCOLA DE SAMBA X-9 DE SÃO PAULO – REDUTO DO SAMBA E DE ENVOLVIMENTO SOCIAL..... 37 2.1. X-9 Paulistana das origens na Baixada Santista – História do Carnaval deSantos...... 37 2.2. O Samba Santista subiu a Serra - X-9 Paulistana as primeiras influências da descendente da X-9 Santista “a Pioneira" de Santos ...... 43

CAPÍTULO III - CONHECENDO OS INTEGRANTES DA GR.E.S.C. X-9 PAULISTANA ...... 45

CONCLUSÃO ...... 50

CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 53

REFERÊNCIAS...... 55

ANEXOS...... 59

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INTRODUÇÃO

A experiência da prática como integrante da X-9 Paulistana, o conhecimento adquirido nos fundamentos do aprendizado profissional como graduanda de Serviço Social, que possui como característica de análise, pesquisa e intervenção na realidade, possibilitaram a realização dessa pesquisa, que teve por objetivo geral compreender como o acesso à tradição do Samba, como expressão cultural e de lazer, das mais diversas formas, pelos territórios onde as crianças e adolescentes estão inseridos, possibilita a garantia do direito a socialização, ampliação da convivência social e educativa e as mobiliza para a construção de projeto de vida.

Especificamente delinear os possíveis impactos absorvidos pelos realizadores (Diretores, Educadores, Profissionais Voluntários) e receptores (integrantes e moradores no território da X-9 Paulistana), das ações sociais que a agremiação realiza com a comunidade da Zona Norte da cidade de São Paulo

Como problema de pesquisa elaboramos a seguinte questão. Como o desenvolvimento das ações artístico culturais realizadas pela Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana, impacta a vida da Comunidade da “xisnoveana”?

Em nossa hipótese, o acesso à escola de Samba, como expressão cultural e de lazer, das mais diversas formas, pelos territórios onde as crianças e adolescentes estão inseridos, possibilita a garantia do direito a socialização, ampliação da convivência social e educativa e as mobiliza para a construção de projeto de vida.

A metodologia é o caminho do pensamento, em que expressamos de forma detalhada como a pesquisa será desenvolvida, assim de forma abrangente e concomitante, com isso, utilizei a abordagem qualitativa da pesquisa participante, por compreender que minha atuação nesta comunidade, me torna sujeito participante. Para Brandão (1984), a pesquisa participante exige que o pesquisador tenha clareza do seu papel. “Não é, porém, necessário que o pesquisador se coloque na mesma profissão do outro, mas que participe com o seu trabalho para “empreender para servir”. E, quando a lógica da cultura investigada passa a ser mais importante que o do próprio pesquisador, diz trata-se de “observação participante”. (BRANDÃO, 1984 p. 252).

Entendendo que os resultados desta pesquisa social, nos levará a conhecer as ações desenvolvidas na escola de samba e identificar o significado social da comunidade envolvida

10 para a população em geral. Brandão afirma, ainda, que a pesquisa participante não é o método fora reinventado, mas a “atitude” frente ao trabalho científico é inovadora. Em relação aos procedimentos de pesquisa social, articularei a pesquisa participante e entrevistas com os seguintes sujeitos: 1 pessoa da direção, 2 educadores/as e 3 crianças/adolescentes.

A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância desta técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações e fenômenos, uma vez que observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (MINAYO, 2002, p.59-60)

Levando em consideração o campo de estudo, a parte pela qual é de primordial relevância deste trabalho de conclusão de curso, apresentaremos o objeto deste estudo, dar luz a responsabilidade social que o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana, a qual a partir deste momento trataremos de citá-la como “X-9 Paulistana”, situada no município de São Paulo à Avenida Paulo Silva Araújo, nº 25 – Jardim São Paulo, Zona Norte da cidade na região do bairro Santana. Entrevistaremos componentes da X-9 Paulistana.

Esta pesquisa está estruturada em três capítulos de forma específica ligada ao tema “X-9 Paulistana não é só samba! O samba e suas ferramentas de enfrentamento as desigualdades sociais”, onde iremos traçar uma linha temporal sobre a temática.

No Capítulo I, traçaremos uma exposição por meio de estudos bibliográficos com autores que pesquisam sobre os temas ligados aos: “Aspectos históricos das primeiras comunidades e favelas, o surgimento do samba e das primeiras agremiações do samba na cidade de São Paulo”, conhecer o contexto histórico de quando e como surgiram as primeiras comunidades (favelas, cortiços, etc.) com o processo da abolição do trabalho escravo no Brasil, ligando as expressões culturais que foram introduzidas a realidade brasileira, focando principalmente a cidade de São Paulo.

No Capítulo II, focalizaremos a história do “Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 De São Paulo – Reduto do Samba e de Envolvimento Social”, buscaremos as origens da X-9 Paulistanas, delimitando o período histórico desde a sua origem da X-9

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Santista “a Pioneira”, até a formação da afilhada na capital paulista onde era conhecida como “filhote” pela história da origem.

No Capítulo III percorreremos por meio dos relatos de integrantes de ações sociais realizadas pela X-9 Paulistana, através da atuação e do envolvimento com a comunidade da X-9 Paulistana, também utilizaremos da metodologia de “Observação Participante”, tendo em vista que a elaboradora deste trabalho de conclusão de curso é integrante da Escola de Samba X-9 Paulistana e contribuirá com suas percepções de integrante da agremiação “xisnoveana”, aliando aos conhecimentos obtidos como graduanda do curso de Serviço Social, e assim podendo contribuir como pesquisadora.

Concluímos este trabalho traçando uma análise embasada com os relatos dos entrevistados e integrantes da Escola de Samba X-9 Paulistana, participantes de alguma forma dos projetos sociais realizados pela agremiação da Zona Norte da capital paulista, aliando com a percepção de “observadora participante” da graduanda de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo.

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CAPÍTULO I - ASPECTOS HISTÓRICOS DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES E FAVELAS, SURGIMENTO DO SAMBA E DAS PRIMEIRAS AGREMIAÇÕES DO SAMBA NA CIDADE DE SÃO PAULO

1.1. Contexto Histórico das Primeiras Comunidades e Favelas

Para entendermos todo o contexto social que se instalava nas comunidades periféricas das grandes cidades do Brasil, como e São Paulo, distinguiremos como nasceram as primeiras comunidades e favelas e os cortiços no Brasil, e quem eram os moradores e as estruturas sociais daqueles ocupantes dos espaços nas favelas e comunidades, e por consequências, abrangeremos a conjuntura histórica das periferias no fim do século XIX e nos primórdios do século XX.

A despeito do nosso trabalho tratar-se de um tema com forte representação popular e cultural, não podemos abordá-lo sem que tratemos em conjunto as realidades econômicas e sociais do Brasil e dos costumes trazidos pelos imigrantes, tanto aqueles “ditos colonizados”, como aqueles que foram trazidos sem sua vontade como os africanos escravizados, em suas pesquisas Moura expõe: como eram “distribuídos” o “contingente” de africanos escravizados, conforme as necessidades econômicas regionais:

Segundo fontes que se aproximam da verdade (o contrabando de negros realizados em grande escala, torna todas as estimativas falhas), foram trazidos para o Brasil cerca de 8 a 9 milhões de africanos até ser extinto o tráfico em 1850. Esse enorme contingente africano foi distribuído de acordo com os interesses da nossa economia de exportação colonial. Em 1817- 18 o número total de habitantes do Brasil era de 3.817.000 com 585 mil pardos e pretos livres e 1.728.000 negros escravos. Por outro lado, a sua distribuição espacial era a seguinte: 66,6% no Maranhão, nas fazendas algodoeiras; 42,5% em Goiás, na mineração aurífera; 38% em Mato Grosso; 38% em Alagoas. As médias nas demais regiões oscilavam entre 20,3% no Piauí e 32,6% em São Paulo. As percentagens mínimas achavam-se no Rio Grande do Norte, com 12,8%, no Paraná, com 17,2% e na Paraíba, com 17,4%. (MOURA,1988, p.4)

Após as extinções do tráfico em 1850, como aponta Moura, e o Brasil já sentia reflexos da pressão estrangeira para abolir o trabalho escravo, e desta forma, os senhores de escravos sentiam-se ameaçados e restringiam que estes frequentassem qualquer ambiente social, pois tinham receio que pudessem haver algum movimento de fortalecimento dos escravizados, como aponta Moura:

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Levando-se em consideração que o número de escravos negros durante muito tempo era superior ao dos brancos, podemos avaliar o estado de pânico permanente dos senhores de escravos. Daí não ser permitido ao escravo nenhum privilégio, pois os espaços sociais rigidamente delimitados dentro da hierarquia escravista somente possibilitavam a sua ruptura e mudança estrutural através da negação radical do sistema: a insurgência social e racial do escravo. (MOURA, 1988, p.6)

O cenário sócio racial que estava desenhado no final do século XIX não foi nada instigante, pois, com o final da escravização da mão de obra no Brasil, a questão social já apontava na direção de uma grande crise, e sem perspectivas, Moura destaca que:

O final da escravidão no Brasil dá-se em 1888. No entanto, ela já se decompunha. Em 1882 havia no Brasil 1.433.170 trabalhadores livres, 656.540 escravos e 2.822.583 desocupados nas seis principais províncias do Império: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro. Essa massa desocupada, concentrada no campo, até hoje não foi integrada à sociedade civil como produtora dinâmica, em face da continuidade das relações latifundiárias no campo. Com a Abolição, criam-se mecanismos estimuladores para a migração europeia que entra no lugar dessa grande massa de trabalho nacional, marginalizando-a irremediavelmente. A situação dos descendentes de escravos, nesse processo de marginalizar o trabalhador não branco em face da filosofia do branqueamento (o Brasil seria tanto mais civilizado quanto mais se branqueasse) se reflete, atualmente, na situação em que se encontra a população negra e mestiça de um modo geral no Brasil. (MOURA, 1988, p.6-7).

De fato, que a substituição da mão de obra escrava por trabalhadores migrantes europeus e asiáticos, causaram mudanças nas relações com o trabalho e também social, pois, os imigrantes que vieram em busca de oportunidades de trabalho, trouxeram com eles na bagagem além da vontade de trabalhar e criar condições de sobrevivência, formas de organização sindical e também o histórico-cultural, que Coutinho aponta em suas análises, de como o Brasil se contorna e acresce as influências imigratórias, o autor faz uma indagação, que:

Um dos primeiros tópicos para uma justa conceituação da “questão cultural” no Brasil é a análise da relação entre cultura brasileira e cultura universal. Em sua dimensão ontológica social, é este um problema que não se pode ser resolvido no plano de uma análise imanente das “fontes” e “influências”. Há uma prévia questão histórico genérico a exigir resposta: de que modo se articulou a evolução das formações econômico-sociais brasileira, cuja reprodução e transformação a nossa cultura é momento determinado e determinante, como o desenvolvimento do capitalismo em nível mundial? (COUTINHO,2013, p.32)

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Ao apontar como se dá o interesse econômico no período colonial do Brasil, Coutinho relata que os interesses eram a principalmente a mercantilização dos produtos que eram retirados do território brasileiro e comercializado internacionalmente, o autor articula que:

O objetivo central do colonialismo, na época do predomínio do capital mercantil, consistia em extorquir valores de uso produzido pelas economias não capitalistas dos povos colonizados com a finalidade de transformá-los em valores de troca no mercado internacional. A subordinação dessas economias agora “periféricas” ao capital mercantil metropolitano se dava no terreno da circulação: era, para usarmos com certa liberdade um célebre conceito de Marx, uma subordinação formal que mantinha essencialmente intocado o modo de produção do povo colonizado. (COUTINHO, 2013, p.33)

Desse modo, Coutinho destaca as formulações econômicas no período colonial, enfatizando as formas de produção naquele período apontando a apropriação da mão de obra de pessoas escravizadas. Outro destaque do modelo econômico é a produção, e a dependência do capital internacional que já apontava sinais de desaprovação ao modelo escravagista. O autor aponta que:

Sem entrar aqui nos detalhes da ampla polêmica acerca na natureza desse modo de produção pré-capitalista da era colonial, assumo como hipótese a de que se tratava de um modo de produção escravista (de resto, o adjetivo colonial não me parece caracterizar o modo de produção no sentido de atribuir-lhe nova leis, mas indica precisamente o seu vínculo de subordinação formal ao capital internacional: uma subordinação que certamente sobre determina essas leis, que são porém as leis gerais de todo modo de produção escravista com dominância mercantil). É o elemento escravista que fornece a marca determinante da formação econômico-social. (COUTINHO, 2013, p.34)

O modo de produção escravocrata no período colonial e pós independência da coroa portuguesa, aponta o Brasil no final do século XIX como o último país a abolir o trabalho escravo, através do forte apelo mundial, principalmente da Inglaterra e EUA, para abolição da escravidão, que ocorreu em 1888, e quando finalmente se concretiza o processo da dita “libertação” dos escravos, Moura realiza uma análise crítica sobre como a promulgação da Lei Áurea de que como não havia naquela lei nada especificada sobre garantias de direitos para os então ex escravos, para o autor:

A abolição, apesar de ter sido uma medida revolucionária, de vez que atingiu em cheio o direito de propriedade, negando indenização aos desapropriados, não tendo sido complementada por medidas que democratizassem o acesso à propriedade da terra, não provocou modificações substanciais nas estruturas existentes. As mesmas famílias, os mesmos grupos dominantes continuaram a dirigir a economia e a

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sociedade da área açucareira, apenas substituindo o que em parte já haviam feito o uso da mão de obra escrava pelo uso da mão de obra assalariada” (ANDRADE apud MOURA, 1987, p.58)

Moura conclui que:

Como vemos, a rebeldia negra na fase conclusiva da Abolição, ficou subordinada aquelas forças abolicionistas moderadas que procuraram subalternizar o negro livre de acordo com padrões de obediência próximos aos dos escravos. Era o início da marginalização do negro ap6s a Abolição que persiste até hoje. Os próprios abolicionistas se encarregaram de colocá-lo “no seu devido lugar”. (MOURA, 1987, p.59)

Podemos traçar uma análise, de que a abolição ocorre de certa maneira para atender mais a uma pressão das sanções econômicas internacionais do que por um pensamento crítico social, portanto, alguns proprietários de escravos simplesmente “descartaram” seus escravizados, colocando-os para fora de suas propriedades sem nenhum respaldo, desta forma, muitos ex-escravizados ficaram sem nenhum respaldo, e assim, buscavam maneiras de sobrevivência nos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, como a autora Andrade expõe:

Com a Lei Áurea sancionada o destino dos ex-escravos foi diverso e variou em cada região do país. Se no Nordeste estes homens e mulheres viraram dependentes de grandes proprietários de terras, no Vale do Paraíba a situação foi diferente. Alguns viraram peões de gado, outros parceiros nas fazendas de café. Um dos principais destinos foram as cidades, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Com a fuga em massa buscaram colocação no mercado de trabalho nos centros urbanos, então mais atrativos. Os serviços eram irregulares e com baixa remuneração. Em cidades como São Paulo os imigrantes ocupavam os empregos fixos, enquanto os ex- escravos atuavam como engraxates, barbeiros, quitandeiras. Quanto menor era a intensidade da imigração europeia, maiores oportunidades os libertos tiveram. (ANDRADE, 2018, on-line).

Reflexos deste momento foram tão negativamente marcantes, que seus reflexos ecoaram através do tempo até os dias atuais, Andrade aponta esse fardo excludente da nossa história dizendo que:

A abolição não resolveu o problema da desigualdade social e racial no país. A preferência pelo imigrante europeu, as poucas oportunidades aos ex-escravos ocasionaram em uma desigualdade social que reforçou o racismo e está presente até os dias atuais. (ANDRADE, 2018, on-line)

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Após a abolição dos escravos foi um completo desastraste social, pois fim do século XIX e início do século XX aqueles que eram escravizados se encontravam sem nenhuma retaguarda, completamente expostos pela própria sorte, “pobres”, ocupavam as ruas sem terem onde morar, sem trabalho e sem nenhum olhar do Estado, Lavinas expõe esse quadro desolador desta parcela desamparada:

A primeira fase remonta à virada do século XIX – XX, quando o pobre, morador dos cortiços ou vivendo na rua, era associado ao vadio, àquele que se recusava a trabalhar, que permanecia ‘fora do universo fabril’, pobreza sendo, portanto, sinônimo de “resistência ao assalariado”. Embora fortemente ideologizada, essa concepção do pobre é reveladora do seu não-lugar no mundo do trabalho, pois toda inserção produtiva fora dos marcos da relação predominante do novo mundo de produção capitalista implica exclusão. Ser pobre é, assim, praticamente autoexcluir- se do padrão dominante de inclusão, como se fosse dado a todos tais escolha. Identificamos aqui uma das dimensões inerentes à noção de exclusão, qual seja, o não-pertencimento. (LAVINAS, 2003, p.41)

As ocupações dos espaços nas grandes cidades se deram a princípio de uma maneira que ajustavam as necessidades da população, eram próximas das fábricas e do comércio, como Sales (2017) assinala, modelos que foram se movimentando conforme a urbanização e estrutura social, o autor relata:

Com a chegada das indústrias nas áreas centrais a população operária buscando morar próximo ao local de trabalho desenvolveram moradias conhecidas como cortiços e estalagens, que são um tipo de moradia coletiva para operários das fábricas localizadas na área central da cidade, esse tipo de moradia é conhecido pela precariedade pois, estas instalações não ofereciam estrutura para comportar esses operários, então eram muitos para poucos quartos. (SALES, 2017, p.3)

Sales conclui que os modos das ocupações dos espaços de maneira desordenada e “precárias”, foram surgindo principalmente no final do século XIX e início do século XX, porém no decorrer do século XX o aumento das moradias nos morros, subúrbios e periferias, e com a problemática das questões sociais e sanitárias.

A origem da favela e o seu rápido crescimento, no Brasil, está inteiramente conexo ao processo de crescimento e urbanização das cidades, está diretamente ligada principalmente as décadas de 50 a 70, período em que a industrialização se dava de forma bastante intensa. Porém, o surgimento do que se entende por favela é muito anterior a concentração e urbanização do país. Apesar que é possível considerar que o aparecimento das primeiras habitações precárias no país esteja relacionada ao início da colonização portuguesa. Porem as referências constam que a formação das primeiras aglomerações precárias denominadas como favela surgiram no Rio de Janeiro, que na época era capital brasileira, datando do final do século XIX e início do século XX. (SALES, 2017, p.3)

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A autora finaliza que:

Outro fator que resultou em um aumento significativo no número de pessoas habitando os morros foi o fim da escravidão em 1888 este fato contribuiu relevantemente tanto para o adensamento populacional quanto para o crescimento destas áreas precárias, pois quando os escravos foram libertos das fazendas uma parcela destes foram para o Rio de Janeiro em busca de trabalho e melhores condições de vida, como estes não tinham dinheiro foram obrigados a construir suas habitações nas favelas junto aos operários das fábricas expulsos dos cortiços. (SALES, 2017, p.5)

Situação essas de moradia, que os autores dos sambas usavam como uma “metáfora”, como apontada por Braz:

O morro, espaço geográfico típico da topografia montanhosa do Rio de Janeiro, foi e é reiteradamente ocupado pela classe trabalhadora expulsa dos lugares cobiçados e apropriados pelo mercado imobiliário. A metáfora sugere uma “descida de morro” nada carnavalesca, para um “desfile final” que obedecerá a uma evolução que “já vai ser de guerrilha” e cujo “tema do enredo será a cidade partida”. Na verdade, aqueles que nele vivem descem suas mal traçadas ladeiras todos os dias do ano, ordeira e reiteradamente, reproduzindo um cotidiano que, a despeito de tantas adversidades, perpetua-se. (2013, p.75)

E foi nas favelas e nas periferias que o samba se “fortificou”, e onde a ocupação espacial e a consciência da força daqueles que ali vivem possuem, o só quem vive nesses espaços conhecem os caminhos e becos daqueles espaços, como Napolitano e Wasserman expõem:

É nas favelas que o samba tem oportunidade de evoluir, de se fortificar, em razão das características geográficas das favelas e suas formas peculiares de edificações, dificultando, automaticamente, a chegada de estranhos (2000, p.181)

A temática social no Brasil e na América Latina no final do século XIX com relação a expressão da “questão social” era um reflexo que já se firmava nos países europeus e norte- americanos, como está abarcada, segundo Netto (2013), “tem uma história recente – seu emprego não data mais de 180 anos”, o autor pontua que, essa expressão surgiu a partir da “terceira década do século XIX e foi divulgada até a metade daquela centúria por críticos da sociedade e filantropos situados nos mais variados espaços do espectro político”, Netto faz o apontamento de que, os primeiros a usar a expressão “questão social” foram os países da Europa Ocidental, onde a expressão indicava “os impactos da primeira onda industrializante,

18 iniciada na Inglaterra”. A exploração da força de trabalho durante o período escravista relaciona diretamente com a conjuntura sociopolítico traz um rastro de ambiguidade ideológica de como Netto expõe:

A partir da segunda metade do século XIX, a expressão “questão social” deixa de ser usada indistintamente por críticos sociais de diferenciados lugares do espectro ideopolítico – ela desliza, lenta, mas nitidamente, para o léxico próprio do pensamento conservador. O divisor de águas, também aqui, é a Revolução de 19841, encerrando o ciclo progressista da ação de classe da burguesia, impedem, a partir de então, aos intelectuais a ela vinculados (enquanto seus representantes ideológicos) a compreensão dos nexos entre economia e sociedade – donde a interdição da compreensão da relação entre desenvolvimento capitalista e pauperização. Posta em primeiro lugar, com caráter de urgência, a manutenção e a defesa da ordem burguesa, a consideração da “questão social” perde paulatinamente sua estrutura histórica determinada e é crescentemente naturalizada, tanto no âmbito do pensamento conservador laico quanto do confessional (que aliás, tardou até mesmo a reconhecê-la como pertinente). (2013, p.22)

A realidade brasileira em relação a questão social no período pós abolição para a maioria dos negros que foram escravizados, era de alienação e de afastamento das relações sociais com uma parcela sem poder de reação no início do século XX, para Netto este processo de estranhamento das relações sociais tem analogia direta como característica da formação do capitalismo, Netto aponta que:

A escravidão dos indivíduos resulta tanto do fenômeno objetivo da exploração econômica (de que a propriedade privada é o índice mais evidente) quanto da internalização psicossocial dos efeitos dela decorrentes, cujo resultado é a sua desvinculação do todo da sociedade, do todo da existência social enquanto são agentes sociais particulares. Através do conceito de alienação, o que Marx aponta é a cisão operada entre o indivíduo, que se toma a si mesmo como unidade autonomizada e atomizada, e a coletividade, que é percepcionada como uma natureza estranha – a alienação conota exatamente esta fratura, este estranhamento, esta despossessão individual das forças sociais que são atribuídas a objetos exteriores nos quais o sujeito não se reconhece. (1981, p. 69).

A realidade brasileira em relação a questão social para a maioria dos negros, pós abolição dos escravos no Brasil, no início do século XX, correlação a ocupação do espaço como moradia, em sua maioria se localizavam em espaços periféricos, como os morros,

1 - O ano de 1848 marcou o continente europeu com movimentos revolucionários que, a partir de Paris, tiveram rápida propagação nos grandes centros urbanos. A consolidação do poder político da burguesia e o surgimento do proletariado industrial enquanto força política foram os reflexos mais importantes daquele ano, que também foi marcado pela publicação do "Manifesto Comunista" de Marx e Engels. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/revolucao-de-1848-movimentos- revolucionarios-populares-no-mundo.htm Acesso em: 18 out.2019.

19 favelas e cortiços no Rio de Janeiro e São Paulo, com pouca ou nenhuma infraestrutura originária do Estado. Situação essas de moradia, que os autores dos sambas usavam como uma “metáfora”, como apontada por Braz:

O morro, espaço geográfico típico da topografia montanhosa do Rio de Janeiro, foi e é reiteradamente ocupado pela classe trabalhadora expulsa dos lugares cobiçados e apropriados pelo mercado imobiliário. A metáfora sugere uma “descida de morro” nada carnavalesca, para um “desfile final” que obedecerá a uma evolução que “já vai ser de guerrilha” e cujo “tema do enredo será a cidade partida”. Na verdade, aqueles que nele vivem descem suas mal traçadas ladeiras todos os dias do ano, ordeira e reiteradamente, reproduzindo um cotidiano que, a despeito de tantas adversidades, perpetua-se. (2013, p.75)

E foram nas favelas e nas periferias que o samba se “fortificou”, e onde a ocupação especial e a consciência da força daqueles que ali vivem possuem, só quem vive nesses espaços conhecem os caminhos e becos daqueles espaços, como expõem Napolitano e Wasserman:

É nas favelas que o samba tem oportunidade de evoluir, de se fortificar, em razão das características geográficas das favelas e suas formas peculiares e edificações, dificultando automaticamente a chegada de estranhos. (2000, p.181)

A questão social fruto da contradição capital e trabalho, no Brasil perpassam pelos diversos períodos da sua história, ligadas diretamente ao contexto histórico-social as questões raciais, culturais, econômicas e das políticas, a sociedade e o poder do Estado acabam sendo influenciados consequentemente, a resistência dos grupos sociais em relação com poder estatal são, como aponta Ianni:

A história da sociedade brasileira está permeada de situações nas quais um ou mais aspectos importantes da questão social estão presentes. Durante um século de república, compreendendo a oligárquica populista, militar e nova, essa questão se apresenta como um elo básico de problemática nacional, dos impasses dos regimes políticos ou dilemas dos governantes. Reflete disparidades econômicas, políticas e culturais, envolvendo classes sociais, grupos raciais e formações regionais. Sempre põe em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal. (1989, p.145)

Ianni destaca que, a partir da periodicidade do final do trabalho escravo as “lutas sociais” tornaram-se mais habituais, e nas diversas causas a partir das questões envolvidas, o autor relata que:

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Desde o declínio do regime do trabalho escravo, ela passou a ser um ingrediente cotidiano em diferentes lugares da sociedade nacional. A despeito das lutas sociais que envolve, e das medidas que se adotam em diversas ocasiões, para fazer face a ela, continua a desafiar os distintos setores da sociedade. Ao longo das várias repúblicas formadas desde a Abolição da escravatura e o fim da Monarquia, a questão social passou a ser um elemento essencial das formas e movimentos da sociedade nacional. As várias modalidades do poder estatal, compreendendo autoritarismo e democracia, defrontam-se com ela. Está presente nas rupturas políticas ocorridas em 1922, 1930, 1937, 1945 e 1964, para mencionar algumas. Dentre os impasses com os quais se defronta a Nova República iniciada em 1985 destaca-se também a relevância da questão social. As controvérsias sobre o pacto social, a toma de terras, a reforma agrária, as migrações internas, o problema indígena, o movimento negro, a liberdade sindical, o protesto popular, o saque ou a expropriação, a ocupação de habitações, a legalidade ou ilegalidade dos movimentos sociais, as revoltas populares e outros temas da realidade nacional, essas controvérsias sempre suscitam aspectos mais ou menos urgentes da questão. (1989, p.145-146)

Porém, com a ocorrência da Abolição do trabalho escravo os conflitos sociais neste período foram acirrados e emergentes surgem entre as relações conflituosas de controle e repressão da máquina repressora do Estado e também dos que eram contratados pelos proprietários de propriedades, Ianni destaque que também surgem as negociações que nem sempre eram tranquilas, o autor diz que:

Com a Abolição, a emergência do regime de trabalho livre e toda a sequência de lutas por condições melhores de vida e trabalho, nessa altura da história coloca-se a questão social. As diversidades e os antagonismos sociais começam a ser enfrentados como situações suscetíveis de debate, controle, mudança, solução ou negociação. Ainda que na prática predominem as técnicas repressivas, a violência do poder estatal e a privada, ainda assim o direito liberal adotado nas constituições e nos códigos supõe a possibilidade da negociação. E o protesto social, sob diversas formas, no campo e na cidade, sugere tanto a necessidade da reforma com a possibilidade da revolução. (IANNI, 1989, p.146)

Todas as questões que envolvem o histórico étnico-racial no Brasil, trouxeram muitos pontos controversos das relações sociais, porém, é incontestável o enriquecimento do quesito humano cultural, e um desses quesitos foi a expressão através dos ritmos musicais, na qual este nosso trabalho será focado na expressão no ritmo do Samba, principalmente o papel social advindo das agremiações carnavalescas focalizando o envolvimento da comunidade principalmente da Escola de Samba X-9 Paulistana.

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1.2. História do Samba: o início do século XX

Ao analisarmos o tema da origem do Samba, buscamos no contexto da cultura nacional no Brasil, como aponta Gomes, uma “cultura popular”, e outra “cultura da elite”, e o entendimento das classes sociais que delas se apropriem, o autor coloca que:

Para Hermano Vianna, o samba teria sido elevado ao status de símbolo nacional favorecido por um contexto cultural (não situado temporalmente de forma clara, mas aparentemente delimitado entre as décadas de 1910 e 1930) em que ganhava força o interesse por “coisas nacionais”. Beneficiando-se deste interesse, o samba teria chegado à sua condição atual, o que teria sido possibilitado na prática pela ação de “mediadores culturais”, que levariam fragmentos da “cultura popular” a uma “cultura de elite” que desconheceria em boa parte os elementos desta “cultura popular”. (GOMES, 2001, p. 525-526)

Gomes aponta que, as décadas entre “1910 e 1930”, como um período marcante para a história cultural brasileira, principalmente a década de 20 para a cidade de São Paulo, o autor relata o fervor do “modernismo paulistano”, trazendo ao foco variações culturais de diversas esferas:

Como a bibliografia sobre o contexto cultural carioca dos anos 20 não é das mais extensas, o autor acaba sendo obrigado a ir buscar no modernismo paulistano muitos exemplos de um “interesse por coisas nacionais” que não necessariamente seria igual nas duas cidades. Flagrante neste sentido é o caso, destacado pelo autor, da encenação em São Paulo, no ano de 1919, de uma peça de conteúdo nativista em que os membros das mais tradicionais famílias paulistanas se vestem de sertanejos. Este evento, estudado por Nicolau Sevcenko, é bastante ilustrativo de um processo da construção de uma identidade paulista, mas pouco ou nada diz a respeito da elevação do samba ao status de símbolo nacional. Porém, na falta de exemplos do mesmo porte disponíveis na bibliografia sobre o Rio de Janeiro no mesmo período, o autor foi levado a buscar, em função de sua opção de não realizar sua própria pesquisa, exemplos que dizem respeito a um outro contexto, ainda que no mesmo período (GOMES, 2001, p.527)

Nas primeiras décadas do século XX, aqueles que participavam dos ambientes ligados ao mundo do samba não eram “bem-vistos” socialmente, pois eram criticados e tidos como “malandros”, pois quem não possuía trabalho regular não tinha boa conduta, portanto, aqueles que participavam das comunidades do samba eram marginalizados, porém muitas das letras dos sambas traziam essa questão da falta de trabalho, nem sempre era realmente de fato, o que mais imperava na associação de malandro versus samba era mais um estigma do que um fato em si, como destaca a autora Pereira:

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a figura masculina é ao mesmo tempo associada ao mundo do trabalho físico mecanizado (operário) e ao mundo da arte (samba). Essa duplicidade da personagem nem sempre é vista no samba, já que o sambista é quase sempre associado ao malandro, sobretudo a partir das criações do grupo do Estácio. Wilson Batista, malandro de primeira, constrói uma personagem operária que atende, diariamente (“de segunda a sábado”), à ordem do sistema “sem reclamar”, padronizado e sem identidade pelo uso do uniforme (“macacão”). Mas esse mesmo operário tem uma válvula de escape: o samba, que não só expõe sua outra faceta (“põe a família para sambar”) como o individualiza a partir de uma comunhão coletiva. (2018, p.110)

A importância e relevância do samba, que juntamente a outros ritmos musicais como: o Choro”. “Maxixe”, “Modinha”, “Marchinhas”, vão se delineando como expressão popular e do “folclore”, a cultura vai tomando vieses entre seus elementos e as expressões vão se configurando com a adesão de grupos mais elitizados que chancelam essas expressões culturais e dão luz possibilitando a ascensão de patamares sociais de aceitação, como os modernistas da semana de 1922, os autores Napolitano e Wasserman (2000) destacam que:

Finalmente, em relação às primeiras décadas do século XX, Mário de Andrade afirmava que “a música popular brasileira é a mais completa, mais totalmente nacional, mais forte criação de nossa raça até agora”. Nessa altura, segundo Mário de Andrade, a modinha já se transformara em música popular, o maxixe e o samba haviam surgido, formaram-se conjuntos seresteiros, conjuntos de “chorões” e haviam se desenvolvido inúmeras danças rurais. A arte nacional estava então feita na “inconsciência do povo”, sendo a arte popular a alma desta nacionalidade. Daí a necessidade das pesquisas folclóricas propostas, como um meio para entrar em contato com as bases da cultura popular. Esse procedimento indicava a necessidade de partir do primitivo (folclore), seguir uma linha evolutiva, acompanhando as vicissitudes do elemento “civilizado” (as técnicas adquiridas), mantendo porém, um núcleo central que demarcava uma “alma nacional”. (pp.168-169)

As variações das expressões culturais se dão por vários contextos, e formam a analogia das características representativas das classes: populares e elitizadas, expressões que antes eram marginalizadas como o samba, a capoeira, o futebol, por serem ligadas a origem africana, vão obtendo aceitação e começam a adentrar nos espaços e ter reconhecimento do seu valor como patrimônio cultural, como delineiam Oliveira e Leal (2009)

A capoeira, assim como o carnaval, o samba e o futebol, faz parte do conjunto dos grandes ícones contemporâneos representativos da identidade cultural brasileira. Cada um deles possui uma história própria de ascensão, inclusão e/ou tensão em seu processo formativo como símbolo nacional. A capoeira é oriunda da experiência sociocultural de africanos e seus descendentes no Brasil. Conta em sua trajetória histórica a força da resistência contra a escravidão e a síntese da expressão de diversas identidades étnicas de origem africana. Se o carnaval, o futebol e o samba,

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este último, inclusive, já tombado como patrimônio cultural, alcançaram um alto nível de representação da identidade nacional ao longo do século XX, qual lugar teria a capoeira junto a essa mesma perspectiva? Afinal, tal como o futebol, a capoeira está presente em praticamente todos os lugares do mundo, do Japão ao Canadá. Ao mesmo tempo, como acontece com o carnaval e o samba, ela é uma rica expressão da cultura afro-brasileira, tanto no Brasil como no exterior. A maior prova disso foi o registro da capoeira, em 2008, como bem da cultura imaterial do Brasil, por indicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Ministério da Cultura. (2009, p. 43)

As emissoras de rádios no período do governo Vargas trouxeram um grande valor e luz ao samba, o papel importante na divulgação e popularização desta cultura, além do que, as emissoras de rádio organizavam bailes, concursos de blocos e compositores, Silva descreve esta relevância dizendo que:

A cobertura dos festejos era partilhada igualmente, na década de 1940 e nas subsequentes, pelas rádios, que assumiam papel estratégico na divulgação e em sua organização, considerando a projeção crescente da radiofonia no país. Informa Othon Jambeiro que, após 1930, o crescimento do número de emissoras foi significativo. Nesse ano, “o país tinha 19 delas funcionando regularmente. Oito anos mais tarde somam 41, a maioria como empresas comerciais, isto é, vendendo anúncios”. (2015, p.26-27)

Eram tão importantes a participação das rádios nos acontecimentos culturais, pois estas organizavam e informavam onde seriam os eventos como: blocos, cordões e as escolas de samba, como esta consideração da autora Silva:

Verifica-se, assim, que durante o governo Vargas a importância da radiofonia foi crescente, em que pese o controle exercido sobre os meios de comunicação. Em São Paulo, algumas emissoras já existentes e outras que apareceram no cenário da cidade ao longo das décadas – mas não foram citadas por Moraes –, como a Alvorada e a Bandeirantes, passaram a ter papel atuante na cidade e em suas manifestações festivas, incluindo o Carnaval. Envolveram-se nesses festejos as rádios: PRA 5 – Rádio São Paulo; PRB 9 – Record; Alvorada; Cosmos; Bandeirantes. Sua participação se dava ora organizando bailes, ora promovendo batalhas de confete, ora organizando concursos dos quais fizeram parte as agremiações carnavalescas que agregavam os segmentos populares da cidade, como os cordões, blocos, ranchos e escolas de samba. (2015, p.27)

A autora Silva, analisa que esse acréscimo das emissoras de rádio em São Paulo além de divulgar os eventos culturais tinham o valor comercial, onde anunciantes patrocinava a programação da rádio, porém, quando eram eventos ligados a comunidade onde havia a participação de negros, esses patrocínios eram negados, como aponta Silva:

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Essas informações sobre o “patrocínio” dos cordões e escolas da comunidade negra devem ser relativizadas, pois o comum era a recusa do apoio financeiro às atividades provenientes desse grupo, notadamente aquelas relativas aos programas das rádios. José Geraldo Vinci de Moraes (2000) afirma categoricamente que, em decorrência do preconceito, as manifestações culturais dos negros eram alijadas da mídia radiofônica paulistana, atitude que se estendia aos patrocinadores, que se recusavam a investir em programas que estivessem ligados aos negros. (2015, p.48)

Porém algumas exceções de músicos negros em participarem de programas de rádio, como Silva destaca, aconteciam de maneira moderada, mas havia condicionalidades para que este fato ocorresse, a autora destaque que:

Era incomum encontrar um músico profissional negro no ambiente radiofônico paulistano na década de 30. Uma das raras exceções foi Zezinho da Casa Verde, que conseguiu ocupar espaço no rádio individualmente e por seu conjunto, Águias da Meia-Noite; em todo caso sempre como acompanhante de cantores e cantoras, tocando vários estilos e gêneros, menos suas próprias produções ou de outros sambistas paulistanos [...]. Tinham um repertório amplo. Porém, o retorno artístico e, sobretudo, financeiro era mínimo; eles continuavam sendo discriminados, e o dinheiro era insuficiente até para manter o conjunto. (MORAES apud SILVA, 2015, p.48)

A afirmação que generaliza que os compositores negros serem automaticamente ligados ao ritmo do samba, reduzindo ou simplesmente igualando as nomenclaturas dos ritmos brasileiros produzidos por compositores negros, fazendo assim o surgimento de um ritmo genuíno brasileiro, como assinala Gomes:

Talvez isto possa ser considerado secundário, mas não é difícil identificar que o autor em diversas passagens torna-se presa de seu diminuto conhecimento dos matizes do universo musical da capital federal, ao diluir toda a música feita por negros na categoria “samba”. É muito fácil notar que este termo estava longe de ter um sentido claro nos anos 20, e ainda era aplicado a ritmos rurais ou utilizado no sentido mais amplo de festa ou dança. Uma consequência disto é o grande destaque dado a Pixinguinha, e os Oito Batutas, compositores e executores de uma infinidade de ritmos rurais, urbanos e estrangeiros, que nunca tiveram ênfase no samba em suas carreiras. Porém, sendo negros e cariocas, o autor apressadamente os enquadrou como “sambistas”, apontando Pixinguinha, Donga e Patrício Teixeira como definidores da música que seria considerada “a partir dos anos 30, como o que o Brasil tinha de mais brasileiro”. (2001, p.529)

O samba desde o início da sua história vem sendo um instrumento cultural de resistência e representatividade de uma parcela da sociedade, de uma classe social e da relação da classe trabalhadora com o estigma da “vadiagem”, as letras dos sambas possui em sua gênese demonstrar fatos do cotidiano das comunidades com suas peculiaridades, Braz aponta essa característica das composições do samba, apontando que:

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As citações anteriores são bem ilustrativas da relação do samba com a “questão social”, ou de como essa relação se expressa no imaginário dos sambistas que as exprimem em suas composições. Estas transparecem contradições que movem os interesses sociais dos sujeitos, individuais e coletivos, que as vivenciam, e não se limitam ou não se resumem a letras de conteúdos mais explicitamente políticos. Ao contrário, podem até mesmo apresentar formas de consciência que pouco transcendem o nível mais imediato da cotidianidade, traduzindo-se, muitas vezes em conformismo e em resignação, de que é exemplo a contemporânea “Deixa a vida me levar”, que traz representações imediatamente identificadas com o universo social da vida do trabalhador, o que, em parte, explica seu estrondoso sucesso. (BRAZ, 2013, p.76)

Os sambistas possuíam o estigma de serem “malandros” e não serem ligados ao mundo do trabalho, pois quem fazia samba recebia todo os preconceitos sociais e culturais, mas esse fato era inverídico, pois as próprias letras de sambas contavam como eram vivenciadas as relações sociais, trabalhistas, culturais, e focando no convívio com as comunidade, o samba de resistência que desde sempre cumpre o papel de expor da realidade da classe trabalhadora, como Braz discorre:

Se, por um lado, o modus operandi burguês no Brasil – geneticamente inclinado às alianças com os segmentos mais retrógrados da sociedade como forma de afastar qualquer possibilidade de participação política “de baixo” nos rumos do país – foi responsável por introduzir entre nós uma tendência à cooptação dos elementos populares presentes na vida cultural (e com o samba não foi diferente, operando-se nele verdadeiros transformismos, tornando-o símbolo da “identidade nacional”), por outro não foi capaz de impedir que o samba se tornasse, através de um processo dialético rico em contradições, uma das formas de resistência encontradas pelos segmentos de classe afastados do poder político, um verdadeiro canal de explicitação de suas demandas, que, de modo muito diverso, aparecem nas composições do gênero sob a forma de denúncia, lamentação, sátira ou anedota. (2013, p.91-92)

Assinalaremos alguns sambas compostos em diferentes momentos, sambas e suas ramificações como marchinhas e chorinhos, composições que fazem parte da história do samba e da história do Brasil embalavam os festejos carnavalescos e foram construídos ao longo do século XX até o atual momento.

(Samba) Pelo Telefone – ano 1916 (considerado primeiro samba gravado na história) Existem duas versões essa é a original

Pelo Telefone - Donga Ah! ah! ah! Aí está o canto ideal, triunfal O chefe da folia Ai, ai, ai Pelo telefone manda me avisar Viva o nosso carnaval sem rival Que com alegria Não se questione para se brincar Se quem tira o amor dos outros

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Por deus fosse castigado Ai, ai, ai O mundo estava vazio É deixar mágoas pra trás, ó rapaz E o inferno habitado Ai, ai, ai Fica triste se és capaz e verás Queres ou não, sinhô, sinhô Vir pro cordão, sinhô, sinhô Tomara que tu apanhe É ser folião, sinhô, sinhô Pra não tornar fazer isso De coração, sinhô, sinhô Tirar amores dos outros Porque este samba, sinhô, sinhô Depois fazer teu feitiço De arrepiar, sinhô, sinhô Põe perna bamba, sinhô, sinhô Ai, se a rolinha, sinhô, sinhô Mas faz gozar, sinhô, sinhô Se embaraçou, sinhô, sinhô É que a avezinha, sinhô, sinhô Quem for bom de gosto Nunca sambou, sinhô, sinhô Mostre-se disposto Porque este samba, sinhô, sinhô Não procure encosto De arrepiar, sinhô, sinhô Tenha o riso posto Põe perna bamba, sinhô, sinhô Faça alegre o rosto Mas faz gozar, sinhô, sinhô Nada de desgosto

O peru me disse Ai, ai, ai Se o morcego visse Dança o samba Não fazer tolice Com calor, meu amor Que eu então saísse Ai, ai, ai Dessa esquisitice Pois quem dança De disse-não-disse Não tem dor nem calor

(Samba) – ano 1930 - Com Que Roupa?

Agora vou mudar minha conduta Eu hoje estou pulando como sapo Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar Pra ver se escapo desta praga de urubu Vou tratar você com a força bruta Já estou coberto de farrapo Pra poder me reabilitar Eu vou acabar ficando nu

Pois esta vida não está sopa Meu terno já virou estopa E eu pergunto: com que roupa? E eu nem sei mais com que roupa Com que roupa que eu vou Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Pro samba que você me convidou?

Agora eu não ando mais fagueiro Seu português agora deu o fora Pois o dinheiro não é fácil de ganhar Já foi-se embora e levou seu capital Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro Esqueceu quem tanto amou outrora Não consigo ter nem pra gastar Foi no Adamastor pra Portugal

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Eu já corri de vento em popa Pra se casar com uma cachopa Mas agora com que roupa? Mas agora com que roupa? Com que roupa que eu vou Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Pro samba que você me convidou?

(Choro) – ano 1946 Vou vivendo – Pixinguinha

Meu coração foi de bar em bar, Mais feito um bar o amor Se perdeu nunca mais se achou É fiel ao amor Foi vivendo assim Ao seu mode ele quer procurar Sem ter ninguém para dizer um boa noite Outros braços pra neles dormir

E sa penúltima nem tomou Sabe que a vida tapete de estrelas já vai Nem deu conta quando um garçom Estendendo pelo ar esse novo endereço Ò cobriu com uma noite de estrela para ele É ali por ai. dormir. Em cada bar fez um novo amor E os larguei quando Deus mandou E... pelos bares por onde andei Vou vivendo assim Quantos copos eu já quebrei Porque o destino me fez um vadio. Ao brindar muita paz e a Deus rogar aos Novo endereço ele vai traçar amigos saúde. E virei para te avisar Quando se foram sem um adeus Quando à noite uma toalha de estrela Se grudando nos versos meus Me ter para cobrir. Como cacos de vidros espalhados No meu coração. Velhos amigos quero rever Vendo à noite se transformar Sonhou que era um chorinho Numa rede que vai entre nuvens me Tocado carinhoso adormecer Pediu então um chopinho Bem caprichado na pressão Em cada bar E veio geladinho Que eu passei Espuma no colarinho Eu lavrei a escrição Ah seu garçom vai com jeitinho Trouxe aqui Pede outro chorinho sem sair do tom. Este meu coração Para nele sua mágoa afogar Meu coração vai vivendo assim Mendigando de bar em bar Bar dece lar Uma esmola qualquer Que aos boêmios a vida abrigou De uma palavra de um jeito carinhoso. Lua cheia ou minguante ou num quarto de lua Há um lugar para essa dor.

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Marchinhas de carnaval Ô abre alas, Que eu quero passar Abre Alas – Chiquinha Gonzaga Ô abre alas, Primeira marchinha carnavalesca Que eu quero passar registrada na história do carnaval brasileiro, em 1899. Chiquinha Eu sou da lira, Gonzaga, autora da obra, fez a canção Não posso negar para a escola Rosas de Ouro do Rio de Janeiro, o que impulsionou o Eu sou da lira, sucesso da escola e se tornou a Não posso negar canção mais famosa da compositora.

Ô abre alas, Que eu quero passar

Ô abre alas, Que eu quero passar

Rosas de ouro é que vai ganhar Rosas de ouro é que vai ganhar

Na década de 1930, período em o Brasil era governado por Getúlio Vargas, muitas ações eram voltadas para reprimir a classe artística e cultural brasileira, algumas “regras” foram impostas, como menciona Araujo:

Com o Golpe de Estado de Getúlio Vargas e início de seu governo, o Carnaval do Brasil começa a ganhar nova configuração. Seguindo a proposta fascista que Mussolini empregava na Itália, o então presidente decidiu criar algumas “regras carnavalescas”. Instituiu-se que todos os sambas-enredos teriam letras em homenagem à história do Brasil. Além disso, os instrumentos de sopro foram proibidos por terem origem européia. Lamartine Babo, compositor carioca de marchinhas irreverentes e satíricas, foi censurado pelo Estado Novo juntamente com outros compositores. É possível perceber o tom de deboche de Lamartine na letra da marchinha “Parei Contigo”, onde ele dizia: “Tu és o tipo do sujeito indefinido, carcomido que só quer tirar partido Meu Deus, mas é isto que se chama ser amigo? Parei contigo! Parei contigo! Nas eleições foi o diabo pois tu eras o meu cabo e votaste no inimigo (...) Já vou-me embora, cruz! Vou disparando Se não tu furtas a canção que eu estou cantando”. (ARAÚJO, Carnaval na Era Vargas. On-line Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/carnaval-na- era-vargas/ Acesso em: 28 nov.2019)

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O samba foi resistência inclusive durante o período da “Ditadura Militar” onde a censura nas expressões artísticas foram constantes, as escolas de samba e sambistas dentro das possibilidades conseguiam expressar suas inconformidades contrariando as “ameaças” dos censores do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)2, como a autora Serafini demonstra:

O Carnaval, enquanto expressão popular, canta todos os anos – em maior ou menor escala – a realidade do povo brasileiro. Durante a ditadura militar não foi diferente, apesar da censura constantes do Dops, alguns sambistas corajosos fizeram de seus sambas enredo verdadeiros gritos de resistência. Com samba no pé, as escolas de samba Acadêmicos do Salgueiro, Império Serrano e Vila Isabel não dançaram a música que a ditadura tocou. Cantaram contra o regime, mesmo com censura e ameaças. A Salgueiro desfilou em 1967 com o enredo A história da liberdade no Brasil, onde exaltou lutas populares. Todos os ensaios foram monitorados pelo Dops, que liberou a escola para o desfile na Sapucaí. Já a Império Serrano se arriscou logo no primeiro carnaval depois do AI-5, o ano era 1969 e os compositores Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira foram obrigados a mudar a palavra “revolução” por “evolução” no samba- enredo Heróis da Liberdade. (2019, on-line)

A década de 1970 no auge do processo da Ditadura Militar alguns sambas tinham cunho político que iam de encontro com o processo, artistas usavam palavras com duplo sentido para despistar a censura, muitos artistas e políticos foram exilados e retornaram no fim desta mesma década quando receberam anistia, caso do irmão do Henfil citado no samba “O Bêbado e a Equilibrista”, dos compositores João Bosco e Aldir Blanc, ambos compuseram sambas que demonstramos o enfrentamentos ao regime militar, citamos estes dois sambas abaixo como exemplo:

Plataforma (ano: 1977) O Bêbado e a Equilibrista (ano: 1979) João Bosco / Aldir Blanc João Bosco / Aldir Blanc

Não põe corda no meu bloco Caía a tarde feito um viaduto Nem vem com teu carro-chefe E um bêbado trajando luto

2 O Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) foi criado em 1924 com o objetivo de prevenir e combater crimes de ordem política e social que colocassem em risco a segurança do Estado. Instituído pela lei nº 2304, de 30 de dezembro de 1924, o DOPS foi um órgão fundamental a duas ditaduras que vigoraram no Brasil: o Estado Novo e o Regime Militar.Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/dops/ Acesso em: 29 nov.2019

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Não dá ordem ao pessoal Me lembrou Carlitos Não traz lema nem divisa A lua tal qual a dona do bordel Que a gente não precisa Pedia a cada estrela fria Que organizem nosso carnaval Um brilho de aluguel Não sou candidato a nada Meu negócio é madrugada E nuvens lá no mata-borrão do céu Chupavam manchas torturadas Mas meu coração não se conforma Que sufoco! O meu peito é do contra Louco, o bêbado com chapéu coco E por isso mete bronca Fazia irreverências mil Neste samba plataforma Pra noite do Brasil, meu Brasil

Por um bloco Que sonha com a volta do irmão do Henfil Que derrube esse coreto Com tanta gente que partiu Por passistas à vontade Num rabo de foguete Que não dancem o minueto Chora a nossa pátria, mãe gentil Por um bloco Choram Marias e Clarisses Sem bandeira ou fingimento No solo do Brasil Que balance e bagunce O desfile e o julgamento Mas sei que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente Por um bloco que aumente A esperança dança O movimento Na corda bamba de sombrinha Que sacuda e arrebente E em cada passo dessa linha O cordão de isolamento Pode se machucar Azar, a esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista Tem que continuar Na década de 1980, conhecida no Brasil como a “década perdida”, pela grande crise econômica que se agravara nessa década, porém a década de 1980 foi marcada por muitos acontecimentos e de grande relevância,

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Os anos 1980 foram marcados por uma profunda crise econômica e pelo fim da ditadura (1964-1985). A volta da democracia possibilitou uma reorganização do movimento social, num patamar inédito até então. Mas uma questão subsiste: aquela foi uma “década perdida” ou não? Longe de ser uma discussão acadêmica, ela é vital para que se examinem os projetos de país em disputa na atualidade. Os anos 1980, na América Latina, ficaram conhecidos como “a década perdida”, no âmbito da economia. Das taxas de crescimento do PIB à aceleração da inflação, passando pela produção industrial, poder de compra dos salários, nível de emprego, balanço de pagamentos e inúmeros outros indicadores, o resultado do período é medíocre. No Brasil, a desaceleração representou uma queda vertiginosa nas médias históricas de crescimento dos cinquenta anos anteriores. Mas, sob o ponto de vista político, aquela foi literalmente uma década ganha. Não apenas se formaram e se firmaram inúmeras entidades e partidos populares – fruto das maiores mobilizações sociais de toda a história brasileira -, como se abriu uma nova fase histórica para o país, através do fim da ditadura e da promulgação da Constituição de 1988. (MARANGONI, 2012, on-line)

Podemos citar muitos sambas que representariam a década de 1980, tão peculiares e descritivos e porque não dizer políticos, anos de hiperinflação e de remarcação de preços nos supermercados muitas vezes ao dia, década de vários planos econômicos, além de outras questões sociais, iremos citar “Saco de Feijão” interpretada pela sambista :

Saco de feijão (Composição: Francisco Santana) Intérprete: Beth Carvalho

Meu Deus mas para que tanto dinheiro Dinheiro só pra gastar Que saudade tenho do tempo de outrora Que vida que eu levo agora Já me sinto esgotado E cansado de penar, meu Deus Sem haver solução De que me serve um saco cheio de dinheiro Pra comprar um quilo de feijão Me diga gente De que me serve um saco cheio de dinheiro Pra comprar um quilo de feijão No tempo dos “derréis” e do vintém Se vivia muito bem, sem haver reclamação Eu ia no armazém do seu Manoel com um tostão Trazia um quilo de feijão Depois que inventaram o tal cruzeiro Eu trago um embrulhinho na mão E deixo um saco de dinheiro.

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E as composições dos sambas enredo da X-9 Paulistana também representam muitos temas de relevância abaixo relacionamos alguns os temas que a escola de samba levou para a avenida, conforme pesquisamos no site do “Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 De São Paulo”, como no Carnaval de 1981: “Herança de uma raça” – Compositores: Rifai, Criole e Serginho, ou temas ligados a comunidade da escola no Carnaval de 2005: “Nascidos para Cantar e Também, Sambar” - Compositores: Armênio Poesia, Diego Poesia, Chocolate, Eric Lisboa e Márcio André. A X-9 Paulistana apresentará no carnaval de 2020 o Samba-Enredo que irá cantar o samba e sua origem, com o enredo “Batuques Para Um Rei Coroado” dos compositores: André Diniz, Cláudio Russo, Marcio André Filho, Arlindinho, Marcelo Valência, Pê Santana:

G.R.C.E.S. X-9 PAULISTANA – CARNAVAL 2020 ENREDO: BATUQUES PARA UM REI COROADO

COMPOSITORES: ANDRÉ DINIZ, CLÁUDIO RUSSO, MARCIO ANDRÉ FILHO, ARLINDINHO, MARCELO VALÊNCIA, PÊ SANTANA PRESIDENTE: BRANCO | VICE-PRESIDENTE: PAULINHO | CARNAVALESCO: PEDRO ALEXANDRE (MAGOO)

QUANDO UM TOQUE RITMADO TOCA O DESTINO, CADA PASSO MOSTRA O QUE PASSOU. SOU UM CONTADOR E CONTO A DOR DE UM PEREGRINO... UM SOM DIVINO ME ENFEITIÇOU. VI OS IBEJIS BEIJAREM A SORTE, A MORTE SINGRAR O OCEANO. MUDARAM OS ARES, OS MESMOS OLHARES, FERIDA NO CORPO, A ALMA ESPELHA. RUFAM TAMBORES QUE MARCAM A PELE VERMELHA...

O SOM DA MARUJADA, NA TRIBO QUE FESTEJA, ENCANTA A BATUCADA, COMEÇA A PELEJA.

RITO DA MOÇA NA ALDEIA, TOM QUE PASSEIA NO AR… É VALOR DE MINA LONGE A ECOAR. ARRASTA-PÉ NO CHÃO RACHADO, POEIRA VAGUEIA AO LUAR DO SERTÃO. BRILHAM FORRÓ E XAXADO, FESTA DO DIVINO E SÃO JOÃO. GIRA A SAIA E ABRE A RODA, ALEGRIA TRANSBORDA TAMBÉM NA BAHIA... MARACATUS, CABOCLINHOS, SEGUINDO O CAMINHO QUE A FÉ IRRADIA.

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NO TICUMBÍ, NO CATOPÊS, PANDEIROS, GANZÁS, XEQUERÊS. DOS ATABAQUES DO JONGO À FOLIA DE REIS... A ZONA NORTE DESFILA E EMOCIONA OUTRA VEZ.

EU SOU O SAMBA, REI DO POVO BRASILEIRO, SOU O BATUQUE DA X-9 NOS TERREIROS DE OGUM, MEU PADROEIRO, E DE TODOS OS ORIXÁS, NA PULSAÇÃO QUE VEM DOS ANCESTRAIS.

Disponível em: http://www.x9paulistana.com.br/ Acesso em: 29 nov.2019

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1.3. Agremiações de Samba Paulistanas - Contexto histórico

Para que possamos traçar o contexto das primeiras escolas de samba paulistanas necessitamos citar que o modelo é similar às agremiações do Rio de Janeiro, e com a influência europeia trazida pelos imigrantes, e cada estados foram aplicando suas peculiaridades regionais. Apesar da origem do carnaval ser trazida pelos imigrantes europeus, principalmente os colonizadores portugueses, foi na cidade do Rio de Janeiro que se fundou os primeiros modelos da formação das escolas de samba no Brasil, na década de 1920, destacamos que esse modelo que influenciou o carnaval de São Paulo, porém que as características regionais dos “costumes e as lendas” e também o “contexto histórico” envolvem nos enredos, como aponta a autora Belo (2009)

O carnaval das escolas de samba na cidade de São Paulo tem forte influência do carnaval do Rio de Janeiro, onde surgiu, em 1928, aquela que ficou conhecida como a primeira escola de samba do Brasil, a Deixa Falar. O modelo carioca de festejar o carnaval se difundiu no território nacional devido à maior organização e estruturação do samba e do carnaval daquela cidade que, desde a década de 1930, chegava aos diferentes rincões do Brasil através das transmissões da Rádio Nacional. Mas vale lembrar que há diversas formas de festejar o carnaval no Brasil e no mundo. Trata-se de uma festa de origem europeia trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses, no século XVII, onde adquiriu características particulares devido à influência de elementos das diferentes culturas dos povos que habitavam ou viriam a habitar esse território. Como consequência, em cada lugar a festa apresenta especificidades que condizem com os costumes e as lendas locais que se desenvolveram de forma singular num contexto histórico específico. (p.2)

A autora Belo (2009) descreve que as manifestações carnavalescas tinham o contexto da cidade conforme a região da cidade, assim foram formandas as primeiras escolas de samba que começaram a partir dos blocos e cordões já existentes na capital paulistana no início do século XX, segundo Belo:

O carnaval das escolas de samba paulistanas é uma manifestação cultural que apresenta importante conteúdo social, político e econômico, contribuindo para o dinamismo da cidade uma vez que, ao se realizar, gera uma série de ações e relações entre diversos agentes e objetos. Ao longo de seu desenvolvimento, o carnaval paulistano passou por diversas transformações, acompanhando o crescimento da cidade, adaptando-se aos novos conteúdos urbanos e a imposições políticas e técnicas. As escolas de samba são uma adaptação dos cordões carnavalescos criados no início do século XX. (idem, p.1)

A formação de agremiações que eram compostas por grupos de moradores ou frequentadores de alguns bairros paulistanos, e tinham suas peculiaridades, Silva (2015)

35 destaca a criação do “Centro Paulista dos Cronistas Carnavalescos (C.P.C.C.), composto por profissionais encarregados de cobrir os eventos para os seus jornais”, estes profissionais reconheciam apesar de suas ressalvas, a autora Silva expõe que:

Algumas dessas agremiações eram antigas nos carnavais da cidade e desenvolviam suas performances seguindo os parâmetros do Carnaval oficial, embora sob a coordenação do C.P.C.C., que tinha destacada atuação nas manifestações dos agrupamentos carnavalescos da cidade. Essas agremiações organizavam as classes populares da comunidade negra, tais como: Campos Elíseos (criado em 1919 por negros da Barra Funda); Vai Vai (fundado em 1930 por rapazes negros do Bexiga); Som de Cristal (presente no carnaval da cidade desde 1930); Moderados (fundado em 1927 por trabalhadores brancos da comunidade italiana da Água Branca),21 que concorreu nessa disputa como rancho, por trazer para a avenida o tema “Arraiá. Outras, de origens mais recentes, estavam sintonizadas às questões da conjuntura, como o Bloco da Lei Seca, que satirizava no próprio nome as autoridades e as proibições etílicas durante esses dias festivos. (2015, p.44)

Porém a formação propriamente dita das escolas de samba foram a partir dos meados do século XX, como a autora Belo destaca:

Carnaval dos Cordões – do surgimento dos cordões carnavalescos em 1914 à oficialização do carnaval em 1967 – que abrange o surgimento, o desenvolvimento e a multiplicação dessa manifestação em São Paulo, a qual se adaptou ao crescimento da cidade numa constante busca pelo reconhecimento por parte da sociedade e do poder público. Nesse processo, os agentes privados, baseados em interesses econômicos, atuaram no sentido de impulsionar esse desenvolvimento; Carnaval das Escolas de Samba – Oficialização e Consolidação – do carnaval oficializado em 1968 à inauguração do sambódromo em 1991 – que abrange as transformações decorrentes da oficialização do carnaval das escolas de samba, em 1967, a qual, por um lado, descaracterizou a manifestação popular através da imposição de normas geradas fora de seu contexto original e, por outro, levou à sua consolidação na cidade que, ao crescer e se desenvolver, impôs novos conteúdos e direcionamentos, levando à construção do Sambódromo paulistano. (2009, p.2)

São Paulo a partir dos investimentos nas escolas de samba, e a inauguração do Sambódromo no ano de 1991, começa também receber o retorno com a procura de turistas e aquecimento em vários setores, fortalecendo assim a economia da cidade em diversos setores como: na rede hoteleira, restaurante, bares, e também das comunidades, surgindo assim um grupo de cinco escolas de samba paulistanas conhecidas com G5, como relata Belo:

Os objetivos do poder público para o carnaval paulistano desde sua oficialização, em 1967, é transformá-lo em forte atrativo turístico da cidade. Na atualidade, essa proposta ganha força e as próprias escolas de samba passaram a ser vistas como organizações de grande potencial econômico e não apenas nos dias de carnaval. Diante disso, em 2004 foi criado o G5, um grupo formado por cinco escolas da Zona

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Norte – Unidos de Vila Maria, Unidos do Peruche, Mocidade Alegre, Rosas de Ouro e X-9 Paulistana – que, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), regional norte e a SPTuris, desenvolvem ações com a finalidade de fomentar o turismo receptivo em suas quadras ao longo do ano. De acordo com Camila Patrício (entrevistada em maio de 2006), coordenadora do projeto SP Samba no SEBRAE, do qual o G5 faz parte, o objetivo do grupo é transformar o atrativo, no caso as escolas de samba, em um produto turístico e incluir suas quadras nos roteiros da cidade através de parcerias com hotéis e agências de turismo. As agremiações participantes desse grupo oferecem serviços como apresentações Carnaval das Escolas de Samba: profissionalização e ação social em suas quadras ou em locais definidos pelo comprador e recepção de turistas nos ensaios ou outros eventos típicos de uma escola de samba, tal como a escolha do samba-enredo. (2009, p. 8-9)

Para maior organização das escolas de samba de São Paulo, desde 1973 foi criada a União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), que é uma “associação sem fins lucrativos”, com objetivo de “unir as Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos e representá-los junto ao poder público”, segundo o site oficial da UESP:

Atualmente, A UESP congrega 64 agremiações e é presidida por Alexandre Magno (Nenê). A “Matriz do Samba” integra o Conselho Municipal de Cultura e é filiada à Confederação Brasileira de Escolas de Samba e à Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba). O Carnaval Oficial de Bairros da cidade de São Paulo pela UESP mobiliza milhares de pessoas, gera empregos e beneficia o comércio local durante o evento, que cresce a cada ano atraindo milhares de pessoas. A infraestrutura para a realização dos eventos envolve diversos serviços como segurança, logística, equipe médica, produção artística, entre outros. Além de organizar os desfiles, a “Matriz do Samba” desenvolve projetos em conjunto com suas filiadas visando a construção e o fortalecimento das comunidades e a valorização da cultura popular brasileira, por meio da realização de diversos eventos como o “Dia Nacional do Samba”, escolha do Cidadão e Cidadã do Samba Paulistano, concurso “Miss Uesp”. Criou e mantém a Escola de Formação de Avaliadores de Carnaval (EFA), a Embaixada do Samba e o Centro de Documentação e Memória do Samba. (Disponível em: https://uesp.com.br/institucional/sobre-a-uesp/ Acesso em 27 out.2019)

Além da UESP o carnaval de São Paulo conta também com a “Liga das Escolas de Samba” que segundo o site a liga tem a missão de:

• Administrar com neutralidade a regulamentação e promoção de seu estatuto; • Incentivar e desenvolver oportunidades de criação de projetos sociais e culturais abertos às comunidades; • Estimular parcerias com instituições públicas e privadas, atraindo investimentos para a produção de um evento rico em visibilidade e retorno sociocultural.

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CAPÍTULO II - GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL ESCOLA DE SAMBA X-9 DE SÃO PAULO – REDUTO DO SAMBA E DE ENVOLVIMENTO SOCIAL.

2.1. X-9 Paulistana das origens na Baixada Santista – História do Carnaval de Santos

O carnaval da cidade de São Paulo vem em uma crescente ascensão ano a ano, trazendo luz para as comunidades envolvidas durante o ano inteiro no processo de criação dos enredos carnavalescos, porém, o papel das escolas de samba vão muito além dos quatro dias de carnaval, inúmeras ações sociais e de engajamento fazem com que as agremiações do samba passem a exercer um papel importante para as comunidades. Nosso foco principal será mostrar como exemplo deste trabalho de conclusão de curso, a contextualização histórica do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana, para isso buscaremos as origens desta agremiação na cidade de Santos/SP, faremos uma breve análise do contexto histórico destas origens.

A importância do contexto histórico da cidade de Santos nas relações das diversas esferas da construção do Brasil, no que diz respeito a economia, comércio, trabalho, cultura, entre outros aspectos que tiveram relevantes influências diante da proeminência das instalações do Porto em Santos, que, além de trazer para ao município de Santos status social, sobrepondo a cidade perante outros municípios. Gitahy destaca que:

Santos nasceu em 1532 entre o Ribeiro dos Jerônimos, o Monte Serrate e o outeiro de Santa Catarina Era um pequeno porto utilizado pelos que se dirigiam a São Vicente. Desde logo foi o preferido por suas águas tranquilas e profundas e local apropriado para o sítio da cidade, dotado de mananciais de água potável e maior facilidade de comunicação com o planalto e com a ilha. (1992, p.23)

A produção do plantio do café no século XIX, áureo período brasileiro, a cidade de Santos obtinha “benfeitorias”, e a utilização da mão de obra especializada, onde a necessidade de trabalhadores com conhecimento técnico, fato este, constrangeu a utilização a mão de obra de trabalho escravo, como Gonçalves e Nunes apontam:

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Essa importância cada vez maior da ligação do Porto de Santos com o planalto e o crescimento do fluxo de mercadorias e cargas determinou que os próprios comerciantes financiassem as melhorias de alguns trechos da serra, além de benfeitorias no sistema fluvial e no porto. Até 1850 o Vale do Paraíba concentrava a produção de café no Brasil, sendo o produto exportado pelo Porto do Rio de Janeiro. Mas São Paulo absorvia os avanços tecnológicos na produção, como a introdução do arado e do despolpador. Esse fato, associado a certa acumulação de capitais, permitiu a introdução da mão de obra assalariada, formada principalmente por imigrantes, que substituíram os escravos, típico da produção no Vale do Paraíba. (2008, p.30-31)

Os conflitos no final do século XIX, que afligiam a classe política e social do Estado brasileiro, acabaram por envolver assuntos de relevância, e a cidade de Santos exerceu papel importante e destaque histórico no final do século em questão, a autora Gitahy expõe que:

Na conjuntura conturbada dos últimos anos de Império, a cidade foi tomada pelas campanhas republicanas e abolicionistas, especialmente por esta última. A partir de 1870, após o término da Guerra do Paraguai, o movimento iniciou-se em Santos, acompanhando o conjunto do Estado, mas só durante os anos 1880 é que sem ampliou atingindo toda a população. De fato, os primeiros escravos a serem libertados foram os próprios trabalhadores do Porto. (1992, p.33)

A importância e o grande valor que o Porto tem para a cidade de Santos, é motivo para que este seja cantado em verso e prosa, e muitos foram os versos, uma maneira de exaltação a visualização que o Porto tem para com a sociedade santista, em homenagem ao Porto a escola de samba santista X-9 no ano de 2007 trouxe como tema, “Porto, Boemia e Nostalgia”:

X-9 – A pioneira, homenageia o porto de Santos e canta o “Porto, Boemia e Nostalgia”. A escola do Macuco vai desenvolver o enredo de maneira cronológica desde a criação do porto pela assinatura da Princesa Isabel passando pela chegada de Brás Cubas a Em guaguaçu até a fundação da Casa de Deus, atual Santa Casa. De acordo com Ditinho, integrante da comissão de carnaval, o tema foi desenvolvido após muita discussão dentro da escola. “A diretoria que foi afastada alegou que a X- 9 não teria condições de fazer carnaval esse ano. Praticamente tivemos que desenvolver todo o enredo a partir de dezembro”. A escola vai sair com 17 alas com 1.200 componentes e seis carros alegóricos. Um deles vem com uma imensa caravela e outro representando a boemia, traz mulheres fazendo strip-tease. (MARTINS, 2007, on-line)

Santos por ser uma cidade praiana e veraneio, traz em sua história uma certa alegria no contexto, e características de diversas influências culturais, sendo pelos escravos e também pela massa de diversos imigrantes que chegavam através do Porto e radicavam-se na Baixada Santista, esse movimento trouxe uma integração das culturas, como descreve Vaio:

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Santos é uma cidade batuqueira e carnavalesca por excelência, isso desde o tempo dos escravos que havia o batuque. Depois, no século 18, tinha a festa de São Gonçalo, realizada em fevereiro, misturava escravo com branco, iam para a rua para festejar. Depois, no século 19, começaram a surgir os primeiros movimentos carnavalescos, com os bailes de máscaras no Largo da Coroação(Rua Dom Pedro II com Praça Mauá). Sempre teve um Carnaval forte e, no fim do século, vieram as sociedades carnavalescas. O Clube XV foi fundado como sociedade carnavalesca. Elas desfilavam com carruagens majestosas, com moças da sociedade. Isso por volta de 1880. (2007, on-line).

A partir da formação de grupos diversos para os festejos carnavalesco, começaram também diversas modalidades como: cordões, blocos, ranchos carnavalescos, até a criação da formação da primeira escola de samba santista, e por consequências disputas entre esses grupos para saber quais eram mais organizados, pontua Vaio:

No início do século 20, começaram a surgir os cordões. Já por volta de 1914 e 1915, começou a surgir o corso automobilístico, que teve força na Rua XV (de Novembro) e depois foi para o Boqueirão, no Recreio Miramar. Até a década de 20, figuravam cordões, blocos e choros. A partir de 30, começou a disputa das entidades carnavalescas. Em 34, surgiu um rancho carnavalesco diferente dos outros, não tocava marcha-rancho, tocava batucada, samba. Era chefiado pelas tias Euclídia e Lidioneta, duas irmãs negras. Isso predominou até o fim da década de 30. Em 39, surgiu a primeira escola de samba, a Não é o Que Dizem, que desfilou no centenário de elevação da Cidade. Depois veio, em 44, a X-9 do Macuco, originária do (grupo) Mensageiros do Samba, de 42. (2007, on-line)

O site “Novo Milênio” assinala em suas pesquisas sobre como configuraram as disputas das primeiras escolas de samba na cidade de Santos, com a oficialização pelo poder público municipal, através da criação de uma lei que viabilizou a ocorrência da premiação para a melhor escola a desfilar, como aponta esta pesquisa as primeiras campeãs foram a X-9 Santista que dividiu a premiação com a escola de samba Brasil:

No início da década de 1940, a marca do Carnaval santista eram as batalhas de confetes, disputas de blocos, choros, entre outros, em diversos bairros, que valiam prêmios em dinheiro. Somente em 1947 ocorreu a primeira disputa envolvendo escolas de samba, na Rua General Câmara, por iniciativa de jornais, emissoras de rádios e cronistas carnavalescos, com o apoio dos comerciantes do centro da cidade. Na ocasião foi campeã a X-9 e vice, a extinta Vitória. Em 1954 aconteceu o primeiro concurso extraoficial, organizado e com subvenção da prefeitura, na praia do Gonzaga, vencido pela Brasil. Dois anos depois, em 1956, foi realizado o primeiro desfile oficial, cumprindo a lei municipal n° 1761 do prefeito Antônio Feliciano, resultado do projeto de lei n° 64, apresentado um ano antes pelo vereador Walter Roux Paulino. Na ocasião, o primeiro lugar foi dividido entre a X-9 e a Brasil. A partir daí o evento foi evoluindo ano a ano até chegar a ser reconhecido entre os melhores do país.(HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL – Tempo de Carnaval Memórias da festa santista, on-line, site Novo Milênio) Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0207y5.htm Acesso em: 01 nov.2019

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A organização do carnaval de rua na cidade de Santos nos meados do século XX propiciou visibilidade, e por outro lado os integrantes conhecidos como “foliões” por consequência podiam participar, o Carnaval de Santos chegou a ser considerado o segundo melhor carnaval de rua do Brasil, como Ribeiro retrata:

Santos tem tradição em carnaval e já teve época, na década de 50, de ser considerado o segundo melhor carnaval do país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Tempos mais vibrantes e bem mais inocentes nas ruas e salões. Não faltava diversão para o folião, participando ou assistindo aos desfiles de blocos, ranchos, cordões, corsos, escolas de samba, concursos de fantasias luxuosas, bailes… Imaginem que até o final da década de 50 os foliões presos por desordem só eram soltos ao meio-dia da quarta-feira de Cinzas, quando uma pequena multidão formava-se em frente a Cadeia Velha, na Praça dos Andradas, para zombar dos arruaceiros que saíam da prisão ainda fantasiados, em grupos. (2008, on-line)

Na década de 1930, o pesquisador e sambista José Muniz Junior foi levado pelo seu pai para conhecer a escola de Samba X9, no bairro do Macuco. Desde esta época o Muniz se tornou uma referência na escola recebendo o título de Marechal do Samba, que devido a violência dos seus era considerada o “Império do Crime”.

Muniz afirma qual é a verdadeira origem do nome X-9:

A verdade é que na década de 1940 do século passado, existia uma revista do gênero policial denominada X-9, que devido a violência dos seus episódios era considerada o “Império do Crime”. Seu principal personagem era o AGENTE SECRETO X-9 (Secret Agent X-9), um defensor da lei, ao lado de outros famosos detetives das histórias em quadrinhos da época: Dick Tracy e Nick Holmes. A primeira publicação das “Aventuras do Agente Secreto X-9” ocorreu em 1934, nos Estados Unidos, onde o “temerário defensor da lei, caçava os mais agressivos gangsters. Phil Corrigan, como era chamado, gozou de grande popularidade no Brasil nas décadas de 1940 e 1950. (on-line site X-9 Paulistana) Disponível em: http://www.x9paulistana.com.br/significado-do-x-9/ Acesso em: 05 nov.2019

Durante o período da formação da agremiação santista, seus primeiros organizadores e componentes eram da comunidade da “Bacia do Macuco”, Bairro de Santos, composta majoritariamente de “trabalhadores do porto”, e também por moradores de áreas como favelas, o que rendeu a escola de samba a princípio tenha sofrido preconceito por parte da sociedade e também e alguns casos perseguição da força policial da época, como Muniz relata:

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Recordemos que tudo começou na decantada Bacia do Macuco, que na década de 1940 do século passado era um bairro de trabalhadores portuários. No entanto, não gozava de boa fama devido aos malandros e desordeiros que frequentavam aquele reduto à beira-mar, principalmente, no Capinzal e na favela do Pereira, onde imperava uma jogatina desenfreada (carteado e bozó), além das batucadas brabas (jogo de pernada), que resultava em conflitos. Por isso, a malandragem era perseguida pela cavalaria da antiga Força Pública, pela Rádio Patrulha e pelos brutamontes da extinta Polícia Marítima, empunhando seus longos cassetetes de madeira. Naquele reduto existiam várias rotas de fuga que favoreciam uma ausência breve. (2013, p.1)

Como já apontamos neste trabalho a grande influência racial dos negros na história do samba, e outro aspecto da característica da formação da X-9 Santista (a Pioneira), os moradores e membros da agremiação também sofriam do preconceito racial o que acarretou muitas ocorrências racistas contra este coletivo:

Naquele tempo, as escolas de samba eram de maioria negra (negros e mestiços), oriundos das camadas menos favorecidas da população, motivo pelo qual, sofriam o repudio da sociedade, através de um preconceito racial e social, além da perseguição policial. Eram chamadas maldosamente de “Escola de Malandragem”, ou de “reduto de negros desordeiros”. Decorria então a chamada época de resistência, quando as escolas Número Um do Canal 3 (da Ilha Maldita), a Aí Vem a Favela (do Campo Grande) e a X-9, da Bacia do Macuco, resistiram de forma heroica. (MUNIZ JR, 2013, p.2-3 grifo do autor)

Como protesto e reação as ofensas que a comunidade pertencente a escola de samba recebia, um dos pioneiros da formação da X-9 Santista, “Mestre Manezinho”, como ato de resistência, o carnavalesco criou a letra de um samba, que Muniz em seu livro colocou uma estrofe:

“X-9, dia que é o Império do Crime, Nós não somos bandidos não! X-9 é uma escola de valor Não tem malandro não senhor...” (2013, p.2-3)

Abaixo prestamos uma singela homenagem a alguns componentes da criação da “X-9 Santista”, a pioneira:

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Desfile da X-9, no Gonzaga, em 1955 Neth de Lima- puxadora de samba, cantava sem microfone, espalhando a voz pela avenida. Era do grupo cantores de rua, que contavam só com a garganta para levar o samba, caso de Georgina, da Novo Horizonte, e Olívio Pereira Fotos: Arquivo pessoal de J. Muniz Jr., publicada com a matéria Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0207y3.htm Acesso em: 01 nov. 2019

A Agremiação X-9 Santista possui em seu nome “a Pioneira” por ser a influenciadora e apontada como “Madrinha” da formação da X-9 Paulistana que a princípio recebera a nomenclatura de “Filhotes da X-9”, como veremos a seguir.

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2.2. O SAMBA SANTISTA SUBIU A SERRA – X-9 Paulistana as primeiras influências da descendência da X-9 Santista (a Pioneira)

A origem do Grêmio Recreativo Escola de Samba X-9 Paulistana tem seu início no carnaval de rua na cidade de São Paulo no ano de 1975, para começarmos a traçar esta linha do tempo iremos buscar suas origens, a qual faremos um resumo histórico neste trabalho, delinear uma trajetória e representatividade da importância da Escola de Samba X-9 para a comunidade, a princípio a X-9 Santista que é conhecida como “a Pioneira” no processo de expansão da sua “filial” a X-9 Paulistana, que a princípio recebeu o nome de “Filhotes da X- 9” apelido que a agremiação sustentou até o ano de 1986, no ano seguinte assumiu o nome de “X-9 Paulistana”.

A influência da X-9 Santista na capital paulista teve início segundo o site Brasil Carnaval:

Já vitoriosa em Santos, foi disputar concursos em São Paulo, a partir de 1948, tornando-se a primeira escola de samba do interior a triunfar na capital bandeirante. Prosseguiu com toda mística nos anos 1950, destacando-se, inclusive, na capital paulista, iniciando ainda, em meados daquele decênio, um intercâmbio com o mundo do samba do Rio de Janeiro. Pela sua constante atividade, a casa da legendária Tia Inês ganhou pomposa denominação de “Quartel General do Samba Praiana Bandeirante”, onde, no despontar dos anos 1960, deu início ao movimento de se fazer samba o ano inteiro, inclusive comemorar o “I Dia Nacional do Samba” (2 de Dezembro de 1963). (acesso on-line Disponível em: http://www.brasilcarnaval.com.br/escolas/santos- ok/x9.htm Acesso em: 30 nov.2019)

Alguns integrantes da escola de samba santista eram frequentadores assíduos dos sambas na cidade de São Paulo, como o caso de José Muniz Junior, que era integrante da X-9 Santista no ano de 1949, e seu amor pelo samba foi responsável pelo “intercambio” das folias carnavalescas em outras localidades, destacamos esse fato citando que Muniz:

Também frequentava as rodas de samba-pesado (pernada) no “terreiro grande” no alto do Monte Serrat e dançava por S.M. o Rei Momo Waldemar com o título nobiliárquico Lorde da Corte, ano em que foi diplomado sambista da X-9. Foi introdutor do Dia do Samba em Santos, em 2 de dezembro de 1963, no “terreiro” da legendária Tia Inês, na Bacia do Macuco. Em 1970, recebeu a patente Cabo do Samba que lhe foi outorgado pelo Reio Momo e pelos cronistas carnavalescos da Cidade e, em 1985, foi consagrado Marechal do Samba, título concedido pela Escola Império do Samba e que foi oficializado pelo prefeito Oswaldo Justo, com a entrega da respectiva faixa e do bastão de comando. Também militou nas Escolas de Samba Brasil (1975 e 1977) e na União Imperial (1987). No ano de 2000, foi aclamado Cidadão do Samba Oficial de Santos por

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antiguidade e merecimento. Desde 1954 já andava por São Paulo, participando da Antiga União das Escolas de Samba e da Coligação das Escolas de Samba, Unidos do Peruche, Império do Cambuci, Filhotes da X-9 e Mocidade Alegre, onde foi campeão em 1972 3 1980. (2013, on-line)

Fato corriqueiro até os dias atuas que integrantes da X-9 Santista participem do carnaval da afiliada X-9 Paulistana e vice-versa, formando assim um grande “intercambio” do samba entre as agremiações, acontecimento esse que só faz enaltecer o samba em suas origens de agregar as comunidades coirmãs.

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CAPÍTULO III - CONHECENDO OS INTEGRANTES DA GR.E.S.C..X-9 PAULISTANA

As agremiações, comunidades, blocos e bandas tem extrema influência nos territórios onde estão inseridas, com o intuito de manter essa cultura sempre acesa e de propagar essa expressão que tanto alegra o povo. Com o intuito de garantir essa permanência nos territórios, muitos acordos e combinados são realizados entre os moradores e esses espaços culturais, isso para garantir uma convivência saudável e harmoniosa. Muitas vezes a própria comunidade disponibiliza espaços para serem utilizados, ou aceitam que espaços públicos como: Escolas e praças, sejam utilizados pelas agremiações para ensaios, aulas e produção artística. Assim também como a garantia do espaço físico para os desfiles pelo Executivo Municipal.

As relações acima descritas, trazem as esses segmentos culturais a compreensão da sua grande importância no enfrentamento as expressões advindas das desigualdades resultantes da questão social, onde a maioria dos territórios onde elas estão inseridas, sofrem com o desemprego, as moradias precárias, a falta de saneamento básico, entre outros direitos que são constitucionalmente garantidos, mas a realidade mostra o contrário.

Entendendo essa realidade, as diretorias destes segmentos, expressas por uma diversidade significativa, seja de gênero, classe social e religiosa.

As escolas realizam programas e diversas ações, que vão desde contratações temporárias de mão de obra para a produção artísticas nos barracões, quadras e sedes; aulas públicas diversas como: mestre-sala e porta-bandeira, bateria, samba no pé, produção artística etc.; Eventos filantrópicos como: feijoadas para arrecadação de fundos, agasalhos, mantimentos etc.

Tais agremiações oferecem um universo de interações sociais à comunidade que vivem próximas às sedes, em sua maioria pessoas de baixo poder aquisitivo, com atividades que propagam os conceitos de respeito ao próximo, cidadania e ecologia; oferecem apoio pedagógico e psicológico; capacitam para o mercado de trabalho; oferecem lazer a uma população, que muitas vezes não possui outra forma de recreação. Promovem uma ampla política de assistência social emancipadora, que permite ao beneficiário após o projeto buscar transformar sua realidade de vida utilizando o aprendizado técnico-profissional e os valores de cidadania e respeito ao semelhante e ao meio ambiente transmitido em tais ações, ultrapassando muito o mero assistencialismo, muito comum no Brasil e usado inclusive para

46 compra de votos. Estimula a autoestima e considera o ser humano como um todo, com suas necessidades fisiológicas, sociais, psicológicas e de recreação.

Nessa perspectiva, a pesquisa realizou entrevistas com dois diretores, dois educadores, que são fixos nas ações realizadas semanalmente pela X-9 Paulistana, que a partir de agora serão identificados como: “Ed.1” e “Ed.2”, três educadoras voluntárias que participam somente em ações sociais em datas especificas e esporádicas, que a partir de agora serão identificadas como: “Vol.1”, “Vol.2” e “Vol.3” e um integrante da X-9 Paulistana, que a partir de agora será identificada como: “Int.1”., para compreender como eles percebem a relevância das ações para as pessoas da comunidade.

Como garantia referente ao sigilo que reconheça a identidade dos entrevistados, os nomes por extenso foram trocados por siglas quando citados neste trabalho. Eles serão identificados apenas pelas junções das letras iniciais dos vínculos que cada entrevistado obtém com a X-9 Paulistana.

A escolha dos/as sujeitos/as para participação desta pesquisa foi de forma aleatória, sendo considerados apenas, aqueles que estavam constantemente envolvidos/as e participativos/as da escola de samba X-9 Paulistana, posteriormente a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos, quando que houve o convite oficial para a participação desta pesquisa.

A elaboração dos questionamentos foram ao encontro dos objetivos deste trabalho de conclusão de curso, que propõe obter questionamentos de formas não invasivas, perguntas claras e concisa ao entendimento dos sujeitos sobre a percepção do trabalho realizado pela X- 9 Paulistana com a comunidade do entorno e adjacência de onde está localizada, visando conhecer suas principais demandas e exceptivas com as ações.

A realização das entrevistas, se deram no ambiente da X-9 Paulistana, todas foram gravadas para garantir que as informações mais importantes não fossem perdidas, a partir das gravações foram realizadas as transcrições de maneira textual, respeitando literalmente as respostas realizadas pelos/as integrantes da X-9 Paulistana. Com as respostas transcritas, as variáveis de cada grupo específico de participantes e seus conceitos, foram analisados os conteúdos coletados e buscaremos traçar as informações mais relevantes para apoiar alguns conceitos e conclusões encontrados tanto na literatura revisada, bem como na utilização das observações pessoais desta graduanda como participante da X-9 Paulistana.

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Ao serem questionados como conheceram o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana, o Dir.1 disse: Conheço a X-9 desde moleque. Eu moro há 15 anos na Zona Norte, mas desde a minha adolescência eu trabalhava aqui perto, então eu passava em frente a quadra quando ainda era na Av. Ataliba Leonel, ouvia o samba e sempre tive um carinho muito grande pela X-9.

Para Dir.2, Através de um amigo que tocava na bateria que me convidou para curtir um ensaio em 2004. Desde a primeira vez que fui, não larguei mais.

Ao analisar os dados coletados não iremos realiza-las com intuito de crítica e nem tão pouco reprovadora, mas com a intenção de entender qual é o papel social das ações X-9 Paulistana.

Como foram realizadas entrevistas com diferentes participantes da X-9 Paulistana, analisaremos primeiramente por grupos de atuações especificas, sendo assim, analisaremos respeitando a sequência das entrevistas, porém, preservaremos as identidades dos entrevistados, portanto, os identificaremos por siglas como apresentaremos a seguir:

Em relação ao conhecimento e a afetividade dos diretores, educadores e, voluntários ao realizarem suas contribuições com a comunidade e com os integrantes do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana, demonstram a capacidade que os moradores das comunidades têm na realização das ações sociais que tragam benefícios, como formadores sociais e agentes políticos através das ações, fato que segundo Vargues (2013), “buscar por respeito e legitimidade em muitos tem ligação com a posição de grandes lideranças comunitárias, bastante articuladas com políticos, funcionários públicos e gente da imprensa”, o que quer dizer que os agentes produtores de atividades sociais em prol da comunidade como entrevistados nesta pesquisa, integrantes da X-9 Paulistana, a potência de grande influência, seja através da cultura popular com a expressão do carnaval e do samba, ou nas outras ações distribuídas durante o ano como o caso dos entrevistados Ed.1 e Ed.2 que dão aulas semanalmente de “Jiu-jitsu” (Ed.1) e “muay tay” (Ed.2), de forma voluntária, desta maneira como destaca Vargues, “as comunidades construíram seus intelectuais e lideranças, gente que unificava e articulava sob um formato de liderança e representação coletiva daquele lugar”.

O fato de os entrevistados serem moradores ou ter convívio social com a comunidade X-9 Paulistana, tem o fator da familiaridade com as questões e necessidades sociais do território, como apontam os entrevistados: Dir.1 que “Conheço a X-9 desde moleque. Eu

48 moro há 15 anos na Zona Norte, mas desde a minha adolescência eu trabalhava aqui perto, então eu passava em frente a quadra quando ainda era na Ataliba, ouvia o samba e sempre tive um carinho muito grande pela X-9, então eu conheço de moleque, de criança a X-9 paulistana”; Dir.2 “Através de um amigo que tocava na bateria que me convidou para curtir um ensaio em 2004. Desde a primeira vez que fui, não larguei mais”; as entrevistadas Vol.1 e Vol.2 que citam serem apenas “frequentadoras da quadra de samba” e participam também voluntariamente nas atividades da “X-9 em Ação”, um projeto que possuem varias atividades de profissionais de diversas áreas, como a Vol.3 que é dentista e realiza “Orientação de higiene bucal para a comunidade”.

O trabalho voluntário empregado nas ações desta comunidade reflete a tendência e generalização da sociedade como um todo, e como tendência nas estruturas das diversas áreas que aplicam ações junto a comunidade, fato tão comum como apontam Rezende e Brusadin:

Entre as ações sócio-pedagógicas das escolas de samba voltadas para a comunidade há também os projetos sociais. Este tópico procura apresentar de modo geral um cenário da realidade destes projetos. No entanto de acordo com a agremiação este cenário muda, devido às condições financeiras, número e formação dos profissionais envolvidos, infra-estrutura, localização de suas sedes e tempo de execução destes projetos em cada instituição. Aulas e oficinas ligadas à dança, arte, educação, ecologia, esportes, noções de cidadania, música, teatro, qualificação e aperfeiçoamento profissional são as atividades mais frequentes nestes projetos sociais. Alguns destes temas estão associados às habilidades desenvolvidas pelos profissionais (ainda que sejam voluntários e/ou sem formação específica) das escolas de samba para colocá-la na avenida. Para estes projetos, de um modo geral, os próprios colaboradores da escola são os responsáveis pelas oficinas e aulas. As demais oficinas são realizadas em parceria com empresas e Organizações Não Governamentais - ONGs - ou com o poder público. Neste caso há contratação de professores, que pode ser voluntário, das áreas do curso a ser oferecido. A sede da agremiação é o lugar mais comum de execução das aulas, mas eventualmente, ocorrerem em escolas, centros comunitários, centros culturais, entre outros. (2015, on-line)

A proximidade e familiaridade dos entrevistados com a comunidade tem como benefício de reconhecimento ao meio de convívio social, que atrelados a serem agentes realizadores ao mesmo tempo são agentes beneficiários, como continuam Rezende e Brusadin:

Esta ação social torna a ligação dos integrantes das comunidades com a escola de samba intensa, ultrapassando a relação de torcedor, pois quem acompanha a escola de maneira mais “íntima”, convive mais nos barracões arredores e/ou são beneficiados pelas suas práticas sociais assimila toda a proposta social que possuem atualmente as escolas de samba. Cria-se então uma relação recíproca de

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pertencimento: o cidadão passa a ser integrante da agremiação, passa a fazer parte dela, assim como a escola passa a ser parte de sua vida. (2015, on-line)

Ao analisar sobre a ótica descrita pelos autores Rezende e Brusadin, percebemos que o fato da integração intima dos entrevistados com a comunidade onde se localiza as atividades da X-9 Paulistana é imprescindível e determinante para que de certa maneira contribuam de alguma forma para o bem-estar da comunidade, como demonstram em suas respostas, como na resposta do Dir.1: “Todas as atividades eu acompanho de perto, estou presente em todas as atividades e todas as aulas, algumas eu faço junto com os alunos e professores, outras que eu não faço, eu sempre estou presente. Nenhuma aula eu deixo de estar presente, assim eu acompanho a evolução e a presença de todos os alunos”, o “participar das aulas” demonstra a dupla ação de agente e atuante nas atividades.

Percebemos também essa perspectiva de interseção quando analisamos as falas dos educadores quando perguntamos: “O que motivou a desenvolver este trabalho?”, e os entrevistados responderam: Ed.1 - “O amor pela arte marcial e a troca de experiências”; Ed.2 - “Eu sempre quis ter um trabalho social e nada melhor que com uma coisa que eu amo fazer, por meio do pedido feito pelo meu irmão (Diretor da X9) que estou sempre com ele”, nessas duas falas a importância na troca dos saberes e experiências aliado ao fato da convivência com a comunidade de origem, se reconhecer como agente atuante e transformador ao mesmo tempo, características do trabalho voluntário, como apontam Souza & Lautert:

Convém destacar que o trabalho voluntário pode compreender uma faixa estreita ou ampla de ações, podendo incluir desde tarefas efetuadas para/com organizações - trabalho voluntário formal - como também ajuda a um vizinho ou familiar - trabalho voluntário informal. O voluntário é aquele indivíduo que se oferece para prestar um serviço, por vontade própria, a partir de suas inquietações pelos problemas sociais, sem receber remuneração econômica para isso. (2007, p.372)

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CONCLUSÃO

Ao delinear a grandeza das experiências próprias que vivencio como participante da X-9 Paulistana durante o ano inteiro, portanto, minha participação deste trabalho como já foi pontuado vai além identificar e abalizar este trabalho de conclusão de curso, analisando não só minhas vivências como “observadora participante”, mas aliar aos relatos dos que de alguma forma participam também das estruturas da X-9 Paulistana, coligando mutuamente as contribuições teóricas, que irá dar luz aos possíveis resultados das análises dos questionamentos sobre o papel que a agremiação X-9 Paulistana imprime na comunidade do entorno da sua localização.

Durante o processo que corresponde a elaboração do projeto da pesquisa, até a coleta dos dados, foram deveras enriquecedores para a produção deste trabalho e nortear análise e resultados.

O fato que mais chamou a atenção nos levantamentos de dados, foi o de que todos os entrevistados ressaltaram em algum momento das entrevistas a importância que a X-9 Paulistana possui para a comunidade do entorno da agremiação, com relação a responsabilidade social ou mesmo com o cultural da identidade do bairro. “Jardim São Paulo, Zona Norte” da cidade de São Paulo, como podemos citar pelas respostas dos diretores: Dir.1 – É muito gratificante um projeto que começou a três meses aqui na escola, a gente ter essa quantidade de mais de 50 alunos. Alunos que vieram de fora, que não são necessariamente da comunidade “xisnoveana”, então é realizador isso. Fico muito feliz que o projeto tá dando certo, super dando certo, temos apoiadores que nos ajudam com material e a gente tá bem estruturado graças a Deus (sic); Dir.2 – Acho ótimo, pensar no futuro da nossa escola e cuidar do presente, faz com o que fizeram no passado para estarmos aqui se torne como uma retribuição, dando sempre continuidade na história de nossa escola.

Porém, o fato de ser uma participação de voluntários dos entrevistados na realização das atividades efetivadas com a comunidade da X-9 Paulistana, faz com que possamos fazer uma ligação com as estruturas da sociedade como um todo, pela forma da política neoliberais que é fortemente exposta no modelo de Estado contemporâneo, como aponta Fagundes:

O atual domínio neoliberal tem aumentado a escalada de pobreza em consequência desse modelo de ajuste estrutural, ao mesmo tempo em que procura mobilizar a “sociedade civil” através do chamado “terceiro setor”, incentivando o trabalho

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voluntário na perspectiva da solidariedade. Percebe-se que a intenção apregoada pelo neoliberalismo, de tornar as oportunidades iguais, por serem livres e trazerem melhores condições de vida para todos, foi transferida para iniciativas particularizadas. (FAGUNDES, 2006, p.4)

Ocorre que, a participação nas ações sociais da X-9 Paulistana realizadas por profissionais de maneira voluntária, objetivando a lógica social, mas, originando benefícios para a realidade da comunidade, sendo assim, as responsabilidades sociais executadas por voluntários demonstrando que as ações que deveriam ser efetivadas pelo Estado são transferidas para a sociedade civil, Fagundes expõe que:

A questão da articulação entre o Estado e a sociedade civil é um processo constitutivo da discussão sobre o voluntariado e a solidariedade, porque existe uma relação entre a ação voluntária e a solidariedade e a sociedade civil, representada nesta discussão pelas entidades identificadas como filantrópicas, pelo “terceiro setor”, por diversas organizações da sociedade civil. (FAGUNDES, 2006, p.4)

Observando e participando do cotidiano da X-9 Paulistana, mesmo não sendo moradora da comunidade, abranjo minhas percepções pessoais, relacionando com os dados coletados nas entrevistas realizadas para este trabalho de conclusão de curso, que mesmo os que moram no entorno da comunidade “xisnoveana”, mas não são participantes ativos das atividades carnavalescas da relacionada agremiação, dando suporte e criando contornos que atendem a demandas muitas vezes objetivas e subjetivas que característica benefícios nas ações exercidas.

Sobre a questão da importância das ações realizadas pela X-9 Paulistana, observo ser de muito válida efetivamente e necessária nas diversas questões sociais, como engajamento da comunidade nas ações realizadas e na manutenção cultural do samba, analisamos assim aos questionamentos concretizados pelos entrevistados.

Observamos também a importância das ações sociais da X-9 Paulistana quando indagamos ao integrante da escola sobre como ele “avalia as ações dos projetos sociais que são desenvolvidos na X-9 Paulistana?”, ele é enfático em sua resposta: Int.1 - “Como bem valido para a comunidade, para o pessoal mais carente, que não podem ter isso né, não podem, não tem acesso a esporte, a dança, ou até mesmo dependendo do projeto que tenha no dia se for projeto de médico essas coisas, dentista e tudo mais, então dependendo do projeto da escola, é bem valido para essas pessoas mais carentes, então eu avalio como ótimo, e

52 sempre tem que ter, acho que qualquer quadra de escola de samba deveria ter isso esse tipo de ação social” (sic).

Portanto, essa pesquisa conclui a importância das ações socias realizadas pela X-9 Paulistana, mesmo sendo ações de forma voluntária, e a percepção como observadora participante por uma perspectiva crítica, as ações são um reflexo dos projetos políticos neoliberais, onde a sociedade civil tem que se organizar para atender demandas das comunidades onde são participantes como autores e entendedores das realidades sociais, longe de ser o ideal, porém importantes para absorver as carências dos desgovernos e ausência de políticas públicas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a elaboração do Projeto de Pesquisa para realização deste Trabalho de Conclusão de Curso, fui incursionada a fazer uma difícil tarefa de ir além de participante do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 Paulistana, ao adentra neste tema: “X-9 Paulistana não é só samba! O samba e suas ferramentas de enfrentamento as desigualdades sociais”, realizei uma submersão na temática, busque as origens do samba em suas manifestações.

Entender que o passado refletido no presente nos dá a oportunidade de parar, pensar e refletir como a prática dos encontros com a comunidade em prol da realização dos festejos carnavalescos, podem gerar transformações para um território e todo seu entorno que vão além dos quatros dias do Carnaval.

A partir da pesquisa de como surgiram as primeiras comunidades, favelas, cortiços e quem eram os ocupantes desses espaços, fazendo um contraponto com os dias atuais, são oriundos da classe trabalhadora que vivenciam todos os dias os dilemas sociais, como a escassez de trabalho formal, desemprego estrutural, vulnerabilidade sociais, ausências de políticas públicas, entre outros fatores que não são distantes das origens das comunidades, como apresentamos nesse trabalho, com a abolição da mão de obra escrava, muitos ex- escravizados foram deixados a margem social, ocorrência que gerando o surgimento de estigmas que são vivenciados ainda na atualidade.

Ao adentrar na comunidade como realizadora da pesquisa e abstrair-me do fato de ser integrante, e ao mesmo tempo apropriei-me das minhas percepções pessoais para entender como alguns outros atores da X-9 Paulistana tem a percepção das responsabilidades em suas participações nas ações sociais, sejam qual for a função exercida na X-9 Paulistana, senti a necessidade como corresponsável em analisar essas ações como “observadora participante” de expor minhas análises pessoais.

O pré-entendimento da não existência na relação financeira no envolvimento da escola de samba X-9 Paulistana no que diz respeito aos projetos sociais, pois em nenhum momento foi mencionado a utilização de recursos financeiros destinados para a realização das ações sociais, e realização dos eventos de cunho social tem a exclusiva utilização de voluntários, sendo expressivo e de uma certa forma inferior as necessidades reais da comunidade carece, perante esses fatos que os recursos financeiros obtidos são absorvidos em outras atividades

54 para a agremiação em si, e criticamente falando deveria uma percentagem dos recursos financeiros que a X-9 Paulistana recebem poderiam ser voltadas em ações para a comunidade e geração de emprego.

Porém, afirmo que essas ações mesmo que realizadas de maneira “filantrópica” ainda assim são de grande valor e muito importantes para os que realizam e para os que são beneficiados pelas ações sociais desenvolvidas pelos integrantes da X-9 Paulistana.

Sinto a necessidade da continuação dos estudos relacionados ao tema, por ter a consciência que é nas comunidades onde participamos que podemos realizar ações e quem sabe assim o poder transformador seja enfim imputado como uma realidade da comunidade como um todo.

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ANEXOS

Universidade Federal de São Paulo Campus Baixada Santista

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esse trabalho de conclusão de curso, com o título “Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana não é só Samba! O Samba e suas ferramentas de enfrentamento as desigualdades sociais. Desafios e Expectativas”, cujos objetivos são compreender como o acesso à cultura do Samba, como expressão cultural e de lazer, das mais diversas formas, pelos territórios onde as crianças e adolescentes estão inseridos, possibilita a garantia do direito a socialização, ampliação da convivência social e educativa e as mobiliza para a construção de projeto de vida.

Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa (processo de exposição de acontecimentos vivenciados). A pesquisa será gravada, com duração de aproximadamente uma hora, com garantias de seu anonimato, para conhecer suas vivências no Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana.

Os profissionais responsáveis pela pesquisa comprometem-se a utilizar as informações obtidas apenas para essa pesquisa, preservando a identidade do(a) participante. Informamos que é garantida a liberdade na retirada de seu consentimento a qualquer momento, bem como a recusa em responder qualquer pergunta ou compartilhar qualquer situação que não se sinta à vontade. Não há despesas pessoais para a(o) participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação.

Ressaltamos que em qualquer etapa este estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para o esclarecimento de eventuais dúvidas. A principal responsável, a Profª Dra. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini, docente do Departamento Saúde, Educação e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Campus Baixada Santista pelo contato da Secretaria Geral TEL:(13) 3229-0131, ou em seu endereço profissional da responsável na Sala 207, Unidade Central da UNIFESP - BS, Rua Silva Jardim, 136. Caso tenha alguma consideração ou

60 dúvida sobre a ética na pesquisa, pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo – Rua Botucatu, 572 - 1º andar – cj 14, telefones: (011) 5571-1062, FAX: (11) 5539-7162. E-mail: [email protected].

DECLARAÇÃO DO(A) PARTICIPANTE

Por meio deste termo, declaro ter sido suficientemente informado(a) a respeito do que li descrevendo a pesquisa e, portanto, concordo voluntariamente em participar deste estudo respondendo às questões por meio de uma entrevista (cujas questões estão em anexo), com duração de cerca de 60 minutos a ser realizada em dia e local previamente agendados, que será realizada pela estudante Ivana Silva Dias, devendo uma via permanecer comigo e outra com o pesquisador. Ambas as vias serão assinadas pelo pesquisador e por mim.

Nome do(a) participante:______

______

Assinatura do(a) participante

São Paulo, ___/___/_____

Nome da pesquisadora: Ivana Silva Dias

______

Assinatura da pesquisadora

São Paulo, ___/___/_____

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A proposta inicial da pesquisa é partir de um roteiro semiestruturado, onde você terá liberdade de contar as vivências que desejar compartilhar, da forma que se sentir à vontade. Serão feitas as seguintes perguntas:

Educador(a)

1-Que trabalho você desenvolve no Grêmio Recreativo Cultura Escola de Samba X-9 Paulistana?

2-O que te motivou a desenvolver esse trabalho?

3- Como ocorre o planejamento das atividades com as crianças e adolescentes?

4- No desenvolvimento desse trabalho, teve alguma situação de alguma criança/adolescente que te marcou?

5-Você tem alguma dificuldade para a realização das atividades que são desenvolvidas com as crianças e adolescentes? Se sim, quais?

6-Quais as suas expectativas para futuro dessa ação?

7- Existe algo a ser aprimorado em relação às ações? Se sim, por favor, citar e justifique.

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Universidade Federal de São Paulo Campus Baixada Santista

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esse trabalho de conclusão de curso, com o título “Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana não é só Samba! O Samba e suas ferramentas de enfrentamento as desigualdades sociais. Desafios e Expectativas”, cujos objetivos são compreender como o acesso à cultura do Samba, como expressão cultural e de lazer, das mais diversas formas, pelos territórios onde as crianças e adolescentes estão inseridos, possibilita a garantia do direito a socialização, ampliação da convivência social e educativa e as mobiliza para a construção de projeto de vida.

Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa (processo de exposição de acontecimentos vivenciados). A pesquisa será gravada, com duração de aproximadamente uma hora, com garantias de seu anonimato, para conhecer suas vivências no Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana.

Os profissionais responsáveis pela pesquisa comprometem-se a utilizar as informações obtidas apenas para essa pesquisa, preservando a identidade do(a) participante. Informamos que é garantida a liberdade na retirada de seu consentimento a qualquer momento, bem como a recusa em responder qualquer pergunta ou compartilhar qualquer situação que não se sinta à vontade. Não há despesas pessoais para a(o) participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação.

Ressaltamos que em qualquer etapa este estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para o esclarecimento de eventuais dúvidas. A principal responsável, a Profª Dra. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini, docente do Departamento Saúde, Educação e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Campus Baixada Santista pelo contato da Secretaria Geral TEL:(13) 3229-0131, ou em seu endereço profissional da responsável na Sala 207, Unidade Central da UNIFESP - BS, Rua Silva Jardim, 136. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética na pesquisa, pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo – Rua Botucatu, 572 - 1º andar

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– cj 14, telefones: (011) 5571-1062, FAX: (11) 5539-7162. E-mail: [email protected].

DECLARAÇÃO DO(A) PARTICIPANTE

Por meio deste termo, declaro ter sido suficientemente informado(a) a respeito do que li descrevendo a pesquisa e, portanto, concordo voluntariamente em participar deste estudo respondendo às questões por meio de uma entrevista (cujas questões estão em anexo), com duração de cerca de 60 minutos a ser realizada em dia e local previamente agendados, que será realizada pela estudante Ivana Silva Dias, devendo uma via permanecer comigo e outra com o pesquisador. Ambas as vias serão assinadas pelo pesquisador e por mim.

Nome do(a) participante:______

______

Assinatura do(a) participante

São Paulo, ___/___/_____

Nome da pesquisadora: Ivana Silva Dias

______

Assinatura da pesquisadora

São Paulo, ___/___/_____

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(Anexo)

A proposta inicial da pesquisa é partir de um roteiro semiestruturado, onde você terá liberdade de contar as vivências que desejar compartilhar, da forma que se sentir à vontade. Serão feitas as seguintes perguntas:

Diretor (a)

1-Como você conheceu o Grêmio Recreativo Cultura Escola de Samba X9 Paulistana?

2-Que função você desenvolve no Grêmio Recreativo Cultura Escola de Samba X9 Paulistana?

3-Quais são as suas atribuições?

4-Quais as suas expectativas para futuro das ações que você desenvolve na X9 Paulistana?

5-Como você acompanha a realização das atividades que são desenvolvidas com as crianças e adolescentes?

6-Qual sua avaliação sobre as ações realizadas com as crianças e adolescentes?

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esse trabalho de conclusão de curso, com o título “Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana não é só Samba! O Samba e suas ferramentas de enfrentamento as desigualdades sociais. Desafios e Expectativas”, cujos objetivos são compreender como o acesso à cultura do Samba, como expressão cultural e de lazer, das mais diversas formas, pelos territórios onde as crianças e adolescentes estão inseridos, possibilita a garantia do direito a socialização, ampliação da convivência social e educativa e as mobiliza para a construção de projeto de vida.

Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa (processo de exposição de acontecimentos vivenciados). A pesquisa será gravada, com duração de aproximadamente uma hora, com garantias de seu anonimato, para conhecer suas vivências no Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X9 Paulistana.

Os profissionais responsáveis pela pesquisa comprometem-se a utilizar as informações obtidas apenas para essa pesquisa, preservando a identidade do(a) participante. Informamos que é garantida a liberdade na retirada de seu consentimento a qualquer momento, bem como a recusa em responder qualquer pergunta ou compartilhar qualquer situação que não se sinta à vontade. Não há despesas pessoais para a(o) participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação.

Ressaltamos que em qualquer etapa este estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para o esclarecimento de eventuais dúvidas. A principal responsável, a Profª Dra. Francisca Rodrigues de Oliveira Pini, docente do Departamento Saúde, Educação e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – Campus Baixada Santista pelo contato da Secretaria Geral TEL:(13) 3229-0131, ou em seu endereço profissional da responsável na Sala 207, Unidade Central da UNIFESP - BS, Rua Silva Jardim, 136. Caso tenha alguma consideração ou dúvida sobre a ética na pesquisa, pode entrar em contato com o Comitê de Ética em

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Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo – Rua Botucatu, 572 - 1º andar – cj 14, telefones: (011) 5571-1062, FAX: (11) 5539-7162. E-mail: [email protected].

DECLARAÇÃO DO(A) PARTICIPANTE

Por meio deste termo, declaro ter sido suficientemente informado(a) a respeito do que li descrevendo a pesquisa e, portanto, concordo voluntariamente em participar deste estudo respondendo às questões por meio de uma entrevista (cujas questões estão em anexo), com duração de cerca de 60 minutos a ser realizada em dia e local previamente agendados, que será realizada pela estudante Ivana Silva Dias, devendo uma via permanecer comigo e outra com o pesquisador. Ambas as vias serão assinadas pelo pesquisador e por mim.

Nome do(a) participante:______

______

Assinatura do(a) participante

São Paulo, ___/___/_____

Nome da pesquisadora: Ivana Silva Dias

______

Assinatura da pesquisadora

São Paulo, ___/___/_____

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(Anexo)

A proposta inicial da pesquisa é partir de um roteiro semiestruturado, onde você terá liberdade de contar as vivências que desejar compartilhar, da forma que se sentir à vontade. Serão feitas as seguintes perguntas:

Educador(a)

1-Que trabalho você desenvolve no Grêmio Recreativo Cultura Escola de Samba X-9 Paulistana?

2-O que te motivou a desenvolver esse trabalho? 3- Como ocorre o planejamento das atividades com as crianças e adolescentes? 4- No desenvolvimento desse trabalho, teve alguma situação de alguma criança/adolescente que te marcou? 5-Você tem alguma dificuldade para a realização das atividades que são desenvolvidas com as crianças e adolescentes? Se sim, quais? 6-Quais as suas expectativas para futuro dessa ação? 7- Existe algo a ser aprimorado em relação às ações? Se sim, por favor, citar e justifique.