UniversidadedeBrasília ProgramadePósgraduaçãoemBiologia

Policromatismo e stabilimentum em Gasteracantha cancriformis (Araneae, Araneidae): caracterização e as hipóteses da atração de presas e da proteção da teia

FelipeMalheirosGawryszewski

OrientadorPauloCésarMotta Dissertação de Mestrado apresentada no Programa de Pósgraduação em Biologia Animal da Universidade de Brasília para a obtenção do grau de Mestre em Biologia Animal. BrasíliaDF,2007

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DOSPONTOSDEVISTA Amosca,adebaterse:“Não!Deusnãoexiste! SomenteoAcasoregeaterrenaexistência!” AAranha:“Glóriaati,DivinaProvidência, Queàminhahumildeteiaessamoscaatraíste!” MárioQuintana

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SUMÁRIO

Índice de Figuras ...... 6 Índice de Tabelas ...... 8 Agradecimentos ...... 9 Apresentação ...... 13 Capítulo 1 Coloraçãoe stabilimentum de Gasteracantha cancriformis :descrição, espectrofotometriaeatraçãodepresas ...... 15 1.Introdução...... 15 2.Metodologia...... 19 2.1. Áreadeestudoeanimaldeestudo ...... 19 2.2. Padrãodecoresde Gasteracantha cancriformis ...... 19 2.3. Comparaçãoentreascolorações...... 20 2.4. Espectrofotometria...... 21 2.5. Análisesestatísticas...... 22 3.Resultados...... 23 3.1. Padrãodecoresde Gasteracantha cancriformis ...... 23 3.2. Comparaçãoentreascolorações...... 24 3.3. Espectrofotometria...... 26 4.Discussão...... 37 4.1. Padrãodecoresde Gasteracantha cancriformis ...... 37 4.2. Comparaçãoentreascolorações...... 38 4.3. Espectrofotometria...... 41 4.4. Conclusões...... 42 Capítulo 2 Ascoresde Gasteracantha cancriformis :testandoahipótesedaatraçãode presas...... 44 1.Introdução...... 44 2.Metodologia...... 45 2.1. Animaldeestudoeáreadeestudo ...... 45 2.2. Efeitodacoloraçãonacapturadepresas...... 46 2.3. Efeitodacoloraçãonaatraçãodepresas...... 49 3.Resultados...... 51 3.1. Efeitodacoloraçãonacapturadepresas...... 51 3.2. Efeitodacoloraçãonaatraçãodepresas...... 52 4.Discussão...... 56

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Capítulo 3 Stabilimentum em Gasteracantha cancriformis :testandoahipótesedaatração depresasedaproteçãodateia...... 60 1.Introdução...... 60 2.Metodologia...... 62 2.1. Animaldeestudoeáreadeestudo ...... 62 2.2. Efeitosdamanipulaçãodavisibilidadedostufos...... 63 2.3. EfeitodostufosnaatraçãodepresasemumlabirintoemT...... 67 2.4. Softwares estatísticoseníveldesignificância...... 69 3.Resultados...... 70 3.1. Parâmetrosdasteias...... 70 3.2. Efeitodostufosnonúmerodepresascapturadasenúmerodeburacosnateia.70 3.3. Efeitodostufosnotipodepresascapturadas...... 70 3.4. Efeitodostufosnaproteçãodateia...... 71 3.5. EfeitodostufosnaatraçãodepresasemumlabirintoemT...... 71 4.Discussão...... 75 Considerações finais ...... 79 Bibliografia ...... 82

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1. Ilustraçãodateiade Gasteracantha cancriformis mostrandoo stabilimentum na formadetufosdesedacaracterísticosdesuasteias...... 18 Figura 1.2. Pontosdoopistossomade Gasteracantha cancriformis ondeforamrealizadasas medidas de espectrofotometria. (a) dorso; (b) ventre; (c) espinho lateral anterior; (d) espinholateralposterior;(e)espinhocaudal...... 22 Figura 1.3. Padrõesdecoloraçãododorsoedoventredosoitofenótiposde Gasteracantha cancriformis encontradosnocerradodaFazendaÁguaLimpa(Brasília–DF)...... 27 Figura 1.4. Proporçãodosdiferentesfenótiposde Gasteracantha cancriformis na área de estudo,aolongodosanosde2005e2006.Osnúmerosacimadasbarrasrepresentamo N de cada coloração. Amarelo com espinhos pretos (Am.p), branco com espinhos pretos (Br.p), preto e branco com espinhos pretos (PB.p), laranja/vermelho com espinhos pretos (LV.p), amarelo com espinhos avermelhados (Am.v), branco com espinhos avermelhados (Br.v), preto e branco com espinhos avermelhados (PB.v) e laranja com espinhos avermelhados (Lr.v). Foram incluídos apenas indivíduos com larguradoopistossomamaiorque0,300cm...... 28 Figura 1.5. Médiadaáreadecapturadasteias dosdiferentesfenótiposde Gasteracantha cancriformis . As barras de erro representam o desvio padrão das médias. Foram incluídosapenasindivíduoscomlarguradoopistossomamaiorque0,700cm.Amarelo comespinhospretos(Am.p);brancocomespinhospretos(Br.p);preto ebrancocom espinhospretos(PB.p);laranja/vermelhocomespinhospretos(LV.p);eoutrosmorfos (Outros)...... 30 Figura 1.6. (a)Médiadonúmerodepresaspresentesnateia,(b)médiadonúmeroderaios com buracos e (c) média do número de restos de presas nas teias dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis .Asbarrasdeerrorepresentamodesviopadrãodasmédias. Foramincluídosapenas indivíduoscomlargura doopistossoma maior que 0,700 cm Amarelo com espinhos pretos (Am.p); branco com espinhos pretos (Br.p); preto e branco com espinhos pretos (PB.p); laranja/vermelho com espinhos pretos (LV.p); e outrosmorfos(Outros)...... 31 Figura 1.7. Médiadonúmeroderestosdepresaencontradosnateiaemrelaçãoaonúmero de tufos nas teias de Gasteracantha cancriformis . As barras de erro representam o desviopadrãodasmédias...... 32 Figura 1.8. Espectro de reflectância do dorso do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis . *Espectro da área branca do dorso. **Um indivíduo apresentouespectrodestoantedosdemaisesuacurvafoidestacada...... 33 Figura 1.9. Espectro de reflectância do ventre do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis ...... 34 Figura 1.10. Espectro de reflectância dos espinhos do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis .AsletrassereferemaosespinhosnaFigura1.2...... 35 Figura 1.11. Espectrodereflectânciados(1)tufosexternos(n=5)e(2)tufosinternos(n= 4)dasteiasde Gasteracantha cancriformis ...... 36 Figura 2.1. Espectro de reflectância da tinta (a) amarela e (b) preta, utilizadas para manipularodorsode Gasteracantha cancriformis ...... 47 Figura 2.2. DesenhoesquemáticodolabirintoemTutilizadoparaoexperimentodeatração depresas...... 49

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Figura 2.3. (a)Médiadonúmerodepresasmenoresque2mmcapturadase(b)médiado númerodeburacosnateia,dosdiferentesmorfosde Gasteracantha cancriformis no experimentodoefeitodacoloraçãonacapturadepresas.Asbarrasdeerrorepresentam odesviopadrãodasmédias...... 54 Figura 3.1. Esquemamostrandoasdimensõesda(a)estruturademadeiraconstruídapara sustentaros(b)fiosdesedacoletadosnocamponoexperimentodeatraçãodepresas.68 Figura 3.2. (a)Médiadoln(x+1)donúmerodepresasmenoresque2mme(b)médiada raizquadradadonúmerodeburacosnateiaparaogrupocomostufospintadoseo grupo controle no experimento do efeito dos tufos na captura de presas em Gasteracantha cancriformis .Avisitanúmero1correspondeaoestadodasteiasantesda manipulaçãoexperimental.Asbarrasdeerrorepresentamodesviopadrãodasmédias...... 73 Figura 3.3. Médiadonúmerodepresas,separadasporordens, capturadas pelas teias do grupo experimental com os tufos pintados e o grupo controle de Gasteracantha cancriformis .Asbarrasdeerrorepresentamodesviopadrãodasmédias.NS:diferença nãosignificativaentreosgrupos...... 74 Figura 3.4. Proporção de teias intactas (0% de dano) durante 4 dias consecutivos para o grupocomostufospintadoseogrupocontrole,noexperimentodoefeitodostufosna proteçãodateiaem Gasteracantha cancriformis ...... 74

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1. Númerodaamostra,média±desviopadrão,mínimoemáximoparaonúmero detufosexternos,númerodetufosinternos,largura do opistossoma, altura da teia e área de captura da teia dos diferentes fenótipos de Gasteracantha cancriformis , incluindotodososindivíduosamostradosnoanode2006...... 29 Tabela 1.2. General linear model para número de presas presentes nas teias de Gasteracantha cancriformis, apóstransformaçãoporLn(x+1)...... 32 Tabela 2.1 . Média ± desvio padrão dos parâmetros avaliados em Gasteracantha cancriformis paratodososgruposdoexperimentodoefeitodacoloraçãonacapturade presas...... 52 Tabela 2.2. General Linear Model da média do número de presas capturadas, após transformação por x + 2 , entre as visitas às aranhas, no experimento do efeito da coloraçãonacapturadepresas...... 53 Tabela 2.3. General Linear Model da média do número de buracos na teia, após transformaçãoporLn(x+2),entreasvisitasàsaranhas,noexperimentodoefeitoda coloraçãonacapturadepresas...... 53 Tabela 2.4. Testebinomialparatodososcruzamentosentreascoloraçõesde Gasteracantha cancriformis noexperimentodeatraçãode Drosophila melanogaster nolabirintoemT...... 53 Tabela 3.1. Média±desviopadrãodosparâmetrosavaliadosnasteiasparaosexperimentos decampocomostufosdasteiasde Gasteracantha cancriformis...... 72 Tabela 3.2. Repeaed measures general linear model paraonúmerodepresaspresentena teia,apóstranformaçãoporln(x+1),noexperimentodoefeitodostufosnacapturade presas em Gasteracantha cancriformis. Os graus de liberdades foram multiplicados pelofatordecorreção Greenhouse-Geisser ,novalorde0,441...... 72 Tabela 3.3. Repeaed measures general linear model paraonúmerodeburacosnateia,após transformação por x ,noexperimentodoefeitodostufosnacapturade presas em Gasteracantha cancriformis. Osgrausdeliberdadesforammultiplicadospelofatorde correção Greenhouse-Geisser ,novalorde0,439...... 72

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Agradecimentos ÀSônia(mãe)eàThais(irmã),peloamorecarinho,eporteremsuportadomoscase aranhas na sala de casa. Ao Zeca (pai) e à Te (madrasta), pelo amor e carinho e pelo acolhimentoduranteosmomentosdefolgaemFlorianópolis.ÀEglêeaoSalimporserem avós tão carinhosos e inspiradores. Ao gato Kato, que além de todo seu charme ainda contribuiudecisivamentecomadissertação:hhhhhhhhhjllllll(Kato,2007).

AgradeçoespecialmenteàMayrapeloamor,carinho,oscafésebrowniesnaesquina, eaajudanosexperimentos,mesmoquandochegavacansadadeseuprópriomestradoem

MinasGerais.

AoTri,ouPauloCésarMotta(orientador),quemeapoiounesseprojetoesempre esteve disponível quando precisei. A todo pessoal do Laboratório de Aracnídeos, especialmenteaoÂngelo,aoHélio,aoRafael,aoRommeleaoWellington.

À professora Regina Macedo, do Laboratório de Comportamento Animal, pelo grandeincentivoeporcederoespectrofotômetroparaasanálises.AoRafaelMaia,quealém daamizade,aindameajudoucomasmedidasdereflectânciadasaranhas.AoEduardoPerini eaoValdirPessoa,porteremsidoosprimeirosameapresentaremoespectrofotômetro.

Ao Manuel Pereira de Oliveira Júnior, em nome da Estação Meteorológica da

FazendaÁguaLimpa,pelosdadosclimatológicos.AoAntônioeaProfessoraNildaDiniz, do Laboratório de Evolução, por fornecerem e ajudarem a cuidar de Drosophila melanogaster .

Ao Alexandre, Carol, Daniel, Flávio, Matheus, Patrícia, Perini, Roca e Sérgio, e atravésdeles,atodososmeusamigosque,assimcomoeu,gostamdeirsempreaosmesmos lugares,fazerasmesmascoisaseencontrarasmesmaspessoas.

AtodosqueajudaramaprocuraraaranhamaissimpáticadoCerrado:Ângelo,Carol,

Daniel,Diana,Douglas,Flávio,Ingrid,Joana,Karen,Luciane,Ludmila,Marcelo,Matheus,

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Pedro, Rafael, Roca, Rommel, Thaíssa, Tonhão, Tri e Yonara, meus agradecimentos, e minhassincerasdesculpasseesquecidealgumnome.

Umsinceroagradecimentoàsaranhas,eumpesarporterdesacrificaralgumasdelas.

ÀUniversidadedeBrasíliapeloapoiologístico.

ÀCAPESpelofinanciamentoduranteomestrado.

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Resumo

Entre as hipóteses mais discutidas para explicar padrões conspícuos no corpo das aranhas ou decorações em suas teias estão a atração de presas e a proteção da teia.

Gasteracantha cancriformis éumaespéciedearanhadeteiaorbicular,comumnocerrado, que apresenta polimorfismo de cor. Suas cores, bem como o stabilimentum em forma de tufosdesedaquesãoaderidosasuateia,astornam aparente na vegetação para os seres humanos.Dessaforma,osobjetivosdestadissertaçãoforam:(1)identificaredescreveros morfosde G. cancriformis ;(2)analisaroespectrodereflectânciadessesmorfosedostufos das teias; (3) testar a hipótese da atração de presas para as cores de G. cancriformis ; (4) testar a hipótese da atração de presas para os tufos das teias e (5) testar a hipótese da proteçãodateiaparaostufosdasteias.Foramidentificadospelomenosoitofenótipos.Os mais comuns foram o amarelo com espinhos pretos, seguido pelo branco com espinhos pretos e o preto e branco com espinhos pretos. Contrariamente à hipótese da atração de presas,onúmerodepresaspresentesnateia,onúmerodeburacosnateiacausadoporpresas eosrestosdepresaspresentesnateianãoforamdiferentesentreosmorfos,nemdiferentes em indivíduos que tiveram a coloração manipulada com tinta preta ou amarela. Em laboratório, Drosophila melanogaster nãomostrounenhumapreferênciapelosmorfosoupor indivíduospintados.Ahipótesedaatraçãodepresas também não foi corroboradapara os tufosnasteias,poisonúmerodepresascapturadaspelasteias,onúmerodeburacosnateiae otipodepresascapturadasnãodiferiramentreteiascomtufospintadosdepretoeteiascom o intervalo entre os tufos pintado de preto, muito embora tenha sido encontrada uma correlação positiva entre número de tufos e número de restos de presa na teia. Em laboratório, D. melanogaster nãomostrounenhumapreferênciaporfiosdesedacomousem tufos.Ahipótesedaproteçãodateiatambémnãofoicorroborada,poisataxadedestruição dasteiasfoiamesmaindependentementedamanipulaçãoexperimental.Outrashipótesessão propostasparaexplicarospadrõesdecoresetufosem G. cancriformis .

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Abstract

Prey attraction and web protection are among the most discussed hypotheses to explainconspicuouspatternsin’bodyandtheirwebs. Gasteracantha cancriformis is an orb weaver , common in cerrado, which body shows colour . Its colours, together with its silk tufts ( stabilimentum ) added in webs, make this conspicuoustohumaneyes.Hence,thepurposesofthisdissertationwere:(1)identifyand describe G. cancriformis colour morphs; (2) analyze the reflectance spectrum of colour morphsandtufts;(3)testthepreyattractionhypothesisforthecolourmorphs;(4)testthe preyattractionhypothesisforwebtufts;and(5)testthewebprotectionhypothesisforweb tufts.Atleasteightdifferentcolourmorphswereidentified.Themostcommonwere:yellow withblackspines,whitewithblackspines,andblackandwhitewithblackspines.Contrary tothepreyattractionhypothesis,thenumberofpreycapturedby webs,numberofholes caused by preys and number of remains of captured preys did not differ between colour morphs and individuals that had been painted black or yellow. In laboratory, Drosophila melanogaster didnotshowanypreferenceforcolourmorphsorpainted individuals. The prey attraction hypothesis was not confirmed for web tufts. Number of prey captured by webs,numberof webholesandofprey captured did not differ between webs with painted tufts and shammanipulated webs, Nonetheless it had been found a positive correlationbetweennumberoftuftsandnumberofremainsofcapturedprey.Inlaboratory,

D. melanogaster didnotshowanypreferencefortuftedsilklinesornontuftedsilklines.

Thewebprotectionhypothesiswasnotcorroboratedaswell.Rateofwebdestructionwas thesameregardlessexperimentalmanipulation.Otherhypothesestoexplaincolourpattern andtuftsinG. cancriformis areproposed.

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Apresentação

É contraintuitivo encontrar padrões conspícuos em predadores sentaespera. Em aranhas de teia orbicular, diversas hipóteses foram formuladas para explicar padrões chamativosnasteiasounocorpodasaranhas,entreelasatraçãodepresaseproteçãodateia contra a destruição por pássaros (Herberstein et al ., 2000). Gasteracantha cancriformis

(Linnaeus,1758)éumaespéciedearanhadeteiaorbicularqueapresentavariaçãonopadrão de cores, desde morfos mais chamativos, até outros mais crípticos, e sua teia apresenta característicos tufos de seda ( stabilimentum ). Dessa forma, os objetivos da dissertação foram:(1)identificaredescreverosmorfosde Gasteracantha cancriformis;(2)analisaro espectrodereflectânciadessesmorfosedostufosdasteias;(3)testarahipótesedaatração depresasparaascoresde G. cancriformis ;(4)testarahipótesedaatraçãodepresasparaos tufosdasteias;e(5)testarahipótesedaproteçãodateiaparaostufosdasteias.Osestudos decampoforamconduzidosnobiomaCerradoemáreasdecerrado sensu stricto .

Adissertaçãoestádivididaemtrêscapítulos.Emalgunscasoshásobreposiçãode temasentreoscapítulos,noentantofoievitadaarepetiçãodediscussões,emboraemalguns momentostenhasidoinevitávelrelembraralgunsargumentos.

OCapítulo1descreveeanalisa,atravésdeespectrofotometria,osmorfosdaespécie eostufosdasteias,eparâmetrosdasteiasedasaranhassãocomparadosentreosmorfos.

Nesse capítulo a hipótese da atração depresaparaos tufos epara as cores das aranhas é testadaatravésdeumaabordagemnãomanipulativa,ondesãocomparados,entreosmorfos edeacordocomonúmerodetufos,onúmerodeinsetospresentesnateia,onúmerode danosnateiacausadosporinsetoseonúmeroderestosdepresasnateia.

NoCapítulo2étestadanovamenteahipótesedaatraçãodepresasparaosdiferentes morfos de G. cancriformis , mas dessa vez emuma abordagem manipulativa de campo e laboratório. Indivíduos tiveram a coloração do dorso coberta com tinta e seu sucesso de

13 forrageamento comparado com aranhas não pintadas. Em laboratório a atratividade dos diferentes morfos de G. cancriformis , bem como de indivíduos pintados, foi testada utilizandoumlabirintoemTonde Drosophila melanogaster deveriaescolherentreascores.

NoCapítulo3ahipótesedaproteçãodateiaeahipótesedaatraçãodepresassão testadasparaostufosdasteiasde Gasteracantha cancriformis .Nocampo,teiascomostufos pintadosdepretoforamcomparadascomteiascomostufosnãopintadosquantoaosucesso decapturadepresaseataxadedestruiçãodasteias.Emlaboratórioaatratividadedostufos foitestadanolabirintoemT,utilizandocomopresa D. melanogaster .

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Capítulo 1

Coloração e stabilimentum de Gasteracantha cancriformis : descrição, espectrofotometria e atração de presas

1. INTRODUÇÃO

Os seres humanos são animais muito dependentes da visão. Talvez por isso a coloraçãodosseresvivosnoschametantoaatenção,causandoatéreaçõesinesperadasem naturalistas:

“IfoundittobeasIhadexpected,aperfectlynewandmostmagnificentspecies, andoneofthemostgorgeouslycolouredbutterfliesintheworld.Finespecimens ofthemalearemorethanseveninchesacrossthewings,whicharevelvetyblack andfieryorange,thelattercolourreplacingthegreenofthealliedspecies.The beautyandbrilliancyofthisareindescribable,andnonebutanaturalist canunderstandtheintenseexcitementIexperiencedwhenIatlengthcapturedit. Ontakingitoutofmynetandopeningthegloriouswings,myheartbeganto beatviolently,thebloodrushedtomyhead,andIfeltmuchmorelikefainting thanIhavedonewheninapprehensionofimmediatedeath.Ihadaheadachethe restoftheday,sogreatwastheexcitementproduced by what will appear to mostpeopleaveryinadequatecause.”(Wallace,1869)

Diversasfunçõesforamatribuídasàscoreseseuspadrões,poiséesperadoque,além deinteressantesaosolhoshumanos,elassejamobjetodaseleçãonatural.Corespodem,por exemplo,ajudarnatermoregulação(BurttJr,1981),atrairpolinizadores(RodriguezGirones

& Santamaria, 2004), fornecer uma informação fidedigna da qualidade de um indivíduo

(Blountet al .,2003),diminuiraprobabilidadededetecçãoporpartedepresasoupredadores

(padrões crípticos) (Merilaita, 2003), ou aumentar a taxa de aprendizado dos predadores

(padrõesaposemáticos)(Gittleman&Harvey,1980).

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Em aranhas não é diferente, a coloração é uma importante característica ecológica paraessegrupo(Oxford&Gillespie,1998).Diversasespéciesapresentampadrõescrípticos, confundindose com o substrato. Em aranhas Thomisidae, por exemplo, que esperam por suaspresasemflores,osseuspadrõesdecoresastornamcrípticasparainsetoseaves(Théry et al.,2004,masvejaHeiling et al.,2003).Padrõesdecorespodemtambémcontribuircom a termoregulação, como os tons prateados no corpo de Argiope e Nephila (Robinson &

Robinson,1978).Outrasaranhasapresentampolimorfismodecor,quepoderiasermantido porseleçãoapostática(Oxford&Gillespie,2001),ouaindaumefeitodorelaxamentodas forças seletivas (Oxford, 1999). Em Salticidae, padrões muito coloridos encontrados nos machospodemserresultadosdeseleçãosexual(Lim&Li,2006).

Em aranhas de teia orbicular são encontrados padrões que, pelo menos aos olhos humanos, são bastante conspícuos. A princípio é contraintuitiva a existência de padrões chamativosnasteias( stabilimentum )enocorpodepredadoressentaespera.Seriaesperado que forças seletivas atuassem no sentido de tornar os indivíduos o menos detectáveis possívelporpartedesuaspresas.Surpreendentemente,váriostrabalhostêmmostradoque, aocontrário,essespadrõesaumentamosucessodeforrageamentodasaranhasaoatraírem presas(Herberstein et al .,2000).

Naespéciepolimórfica Nephila pilipes, porexemplo,omorfomaiscoloridocaptura maispresasdoqueomorfomelânico(Tso et al .,2002).Comisso,osautorespropõemque o polimorfismo na espécie pode ser mantido por forças seletivas antagônicas. Uma favorecendoomorfocolorido,pelomaiorsucessodecaptura,eoutrafavorecendoomorfo melânico,porumateóricadiminuiçãonamortalidadeporpredação.

Ahipótesedaatraçãodepresas,tantonocasodo stabilimentum comonocasodas coloraçõesnaprópriaaranha,propõemqueessasestruturastêmpropriedadesreflectivasque ludibriamosistemacognitivodosinsetos,aomimetizaremcoloraçõesdeflores,nocasode insetospolinizadores,ouespaçosnavegetação.Defato,váriostrabalhostêmmostradoqueo

16 stabilimentum e também algumas regiões no corpo da própria aranha refletem luz ultra violeta(Craig&Bernard,1990;Watanabe,1998;Tso et al.,2002;Zschokke,2002;Tso et al., 2004) e que essa reflectância influencia no sucesso de captura das teias das aranhas

(Craig & Bernard, 1990; Craig & Ebert, 1994; Tso, 1996; Tso, 1998a; Watanabe, 1998;

Watanabe, 1999b; Bruce et al., 2001; Tso et al., 2002; Li et al., 2004; Tso et al., 2004).

Contudo,osanimaisusamtodososcomprimentosdeonda refletidos por um objeto para processarainformaçãodecor,emuitasvezesaimportânciadareflectânciadeUVésuper valorizada(Kevan et al .,2001).Alémdisso,outrashipótesestambémpoderiamexplicaro surgimentoemanutençãodessespadrões(Herberstein et al.,2000;verCapítulo3)

Gasteracantha cancriformis (Linnaeus,1758)éumaaranhadeteiaorbicular,única representante de seu gênero no novo mundo, distribuída desde a Argentina até a Flórida

(EUA).Asfêmeasadultaspossuemde5a7mmdecomprimento e de 10 a 13 mm de largura. O opistossoma é rígido e a região dorsal apresenta seis projeções em forma de espinhos.Aspernaseoprossomasãopretosearegiãoventraldoabdômenépretacom algumas listras ou pequenos pontos claros. O dorso do opistossoma apresenta colorações variadas,desdeformasaparentementemaiscrípticasatépadrõesmuitocoloridos.Osmachos possuemde2a3mm,abdômenacinzentadoeapresentamquatrooucincoprotuberânciasno lugardeespinhos.(Muma,1971;Levi,1978).

Asteiasdasfêmeasadultassãoencontradasemlocaisabertos,emalturasquepodem variardemenosde1amaisde6m(Muma,1971),sendoconstruídastodasasmanhãse removidasnofinaldatarde.Osfiosdesustentaçãoeraiosdateiaapresentam stabilimentum naformadetufosdeseda,quetornamateiadessaespécie aparentena vegetação(Figura

1.1).

As presas da espécie incluem cigarrinhas, diversas famílias de moscas, mariposas, besouros e abelhas (Muma, 1971; Gregory, 1989). As presas capturadas pelas teias são

17 consumidasimediatamente,consumidasparcialmenteeempacotasparaconsumoposterior, ouaindasãodeixadasnateiaeconsumidasjuntocomaremoçãodateianofinaldodia.

tufodeseda

Figura 1.1. Ilustraçãodateiade Gasteracantha cancriformis mostrandoo stabilimentum na formadetufosdesedacaracterísticosdesuasteias.

Nocerradoelaéumaespéciebastantecomumnosmesesdemarçoaagosto,epouco sesabesobreseuspadrõesdecoresecomoelessedistribuemnapopulação.Épossívelque, comonocasode Nephila pilipes (Tso et al.,2002;Tso et al.,2004),ascoreschamativas atraiampresas,aumentandoosucessodeforrageamentodasaranhas,enquantoospadrões maiscrípticosnãotenhamesseefeito.Essahipóteseéreforçadapelofatodequeemuma espéciedogêneroGasteracantha foiencontradaevidênciadequeacoloraçãoaumentavao sucesso de captura das teias (Hauber, 2002). Da mesma forma, como no caso do stabilimentum deoutrasespécies(Herberstein et al .,2000),ostufospoderiamtambématrair presasparaasteiasde G. cancriformis .

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Sendoassim,osobjetivosdestecapítuloforam:(1) caracterizar e quantificar os padrõesdecoresde Gasteracantha cancriformis ;(2)analisarareflectânciadosmorfos,bem comodostufosencontradosemsuasteias,tendoem vistaquesistemas visuaisdeoutros animais podem perceber as cores diferentemente dos seres humanos; (3) comparar característicasdasteiasedasaranhasentreosmorfos;e(4)testarahipótesedaatraçãode presasparaacoloraçãoeostufosapartirdeumaabordagemnãomanipulativa.

2. METODOLOGIA

2.1. Área de estudo e animal de estudo

Para este estudo foram utilizadas apenas fêmeas da aranha de teia orbicular

Gasteracantha cancriformis (Araneidae).

Osestudosdecampoforamrealizadosemumavegetaçãodecerrado sensu stricto da

Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília (S 15º57'13'' W 47º55'13''; 1130 m de altitude), Brasília, DF, Brasil. O cerrado sensu stricto éafitofisionomiapredominantedo bioma Cerrado. É uma formação savânica dominada por árvores de 3 a 8 m, com uma coberturavegetaldemaisde30%,eumadensacamadaherbácea(OliveiraFilho&Ratter,

2002).Oclimana regiãoécaracterizadoporumaépocaseca,deabrilasetembro,euma

época chuvosa, de outubro a março. No período de 1961 a 1990 a média anual de temperaturaemBrasília–DFfoide22°Ceaprecipitaçãode1540mm 1.

2.2. Padrão de cores de Gasteracantha cancriformis

Durantenovediasdosmesesdeabrilemaiode2005e14diasdosmesesdeabrile maio de 2006, foi realizada uma extensiva procura por indivíduos de Gasteracantha cancriformis .Olocaldeamostragemdiferiuemcercade900mentreosanos.Todosos indivíduosencontradosforamgeoreferenciadoseumaárvorepróximafoimarcadacomfita 1www.inmet.gov.br

19 plástica.Opadrãodacoloraçãodaaranha,bemcomoumaestimativavisualdocomprimento doopistossomaforamregistrados.Foramincluídasnasanálisesapenasaranhascomlargura do opistossoma maior do que 0,300 mm, pois em indivíduos muito pequenos é difícil diferenciar o padrão de coloração. A freqüência de cada morfo foi comparada entre as coletascomotestechiquadrado.Osmorfoscomespinhosavermelhadosforamagrupados devidoaobaixonúmeroamostral.

Posteriormente, diversos indivíduos foram trazidos ao laboratório e sua coloração registradacomfotografiadigital(PowerShotG2,CANON,Inc.,Japão)

2.3. Comparação entre as colorações

NosmesesdeAbrileMaiode2006osindivíduosencontradosnaprocuradescritano tópicoacima,bemcomooutrosindivíduosqueforamencontradosduranteodecorrerdessa amostragem,tiveramosseguintesparâmetrosavaliadosecomparadosentreosfenótiposde

G. cancriformis : largura do opistossoma, altura da teia (do centro da teia até o chão), inclinaçãodateiaemrelaçãoaosolo(visualmentecategorizadacomo‘emdireçãoaosolo’,

‘perpendicular’ ou em ‘direção ao céu’), inclinação da aranha em relação ao solo

(visualmentecategorizadacomode‘90°a45°’ede‘45°a0°’),númerodetufosexternos

(foradaáreadecaptura),númerodetufosinternos(dentrodaáreadecaptura)eaáreade capturadateia,estimadautilizandoafórmulaapresentadaporHerberstein&Tso(2000).

Para testar a hipótese da coloração e dos tufos como atração de presas foram contadosonúmerodepresaspresentesnateia, apresença de restos de presa na área de captura da teia e o número de raios na teia que apresentavam buracos, como avaliação indiretadosucessodecapturadepresas(Craig,1988;Craig,1989;Hauber,1998;Hauber,

2002).Operíodododia(manhãoutarde)eodiadasmediçõesforamregistradoseutilizados nasanálisessemprequepossível.

20

Ascoloraçõesqueapresentavamespinhosavermelhadosforamagrupadasdevidoao baixo número amostral. Foram incluídos nas análises apenas indivíduos com largura do opistossoma maior que 0,700 cm, o que geralmente caracteriza indivíduos adultos e sub adultos.

2.4. Espectrofotometria

A reflectância da coloração do corpo das aranhas e dos tufos de suas teias foi registrada com o auxílio de um espectrofotômetro (USB4000, Ocean Optics Inc.), no intervalode300nma700nm,utilizandoumasondaespecíficaparamedidasdereflectância compostadeseisfibrasóticasemissorasposicionadas ao redor de uma fibra ótica leitora, ligada ao espectrfotômetro (R4007, Ocean Optics Inc.). As fibras emissoras foram conectadasaumafonteluminosa(PX2,OceanOpticsInc.)eposicionadasa3mmdolocal da leitura a um ângulo de 90º. As medidas eram tomadas pela sonda em intervalos de aproximadamente0,23nm,apartirdamédiade10medidasconsecutivas.

A taxa de reflectância (%R λ) é calculada pelo software que acompanha o espectrômetro(SpectraSuiteSpectroscopyPlatformSoftware,OceanOpticsInc.),apartirda seguintefórmula:

Sλ − Dλ %Rλ = ×100% Rλ − Dλ

onde R λ é o espectro de referência, D λ é o espectro de reflexão escuro e S λ é o espectrodereflexão.

ComoespectrodereferênciafoiutilizadopadrãodereflectânciadifusaWS1PTFE

(OceanOpticsInc.)(>98%dereflectânciade300a700nm).Oespectrodereflexãoescuro foitomadoimpedindoquequalquerfontedeluzchegasseatéasonda.

Ofundoondeasmedidasforamrealizadasfoicobertocompapelcamurçapretopara evitarqueareflectânciadeoutrosobjetosnasproximidadesinfluenciassenosresultados.

21

Antes das medições as aranhas foram mortas a frio. Foram medidos cinco pontos diferentesdaregiãoventraledorsaldoopistossomade G. cancriformis (Figura1.2).Foram utilizadosde1a8indivíduosdecadafenótipo.Amédiadecadapontodecadacoloraçãofoi calculada,eassim,obtidaataxadereflexãodoespectroUVVisíveldecadaumdospontos das diferentes formas de G. cancriformis. Apesar do grande esforço amostral o fenótipo laranjacomespinhosavermelhadosnãofoiencontradoparaasmedições.

e posterior b d

c

a anterior

Figura 1.2. Pontosdoopistossomade Gasteracantha cancriformis ondeforamrealizadasas medidasdeespectrofotometria.(a)dorso;(b)ventre;(c)espinholateralanterior;(d)espinho lateralposterior;(e)espinhocaudal.

Os tufos foram coletados de teias no campo, trazidos para o laboratório e, com o auxílio de uma pinça, agrupados para facilitar as medições. Foram agrupados tufos provenientes apenas de uma mesma teia. Os tufos internos e externos foram analisados separadamente.

2.5. Análises estatísticas

Osparâmetrosavaliadosnosdiferentesmorfosde G. cancriformis foramcomparados entre os morfos utilizando Análise de Variância, KruskalWallis ou MannWhitney.

Proporções foram comparadas utilizandose o teste chiquadrado. Correlações foram analisadasutilizandootesteSperman,nãoparamétrico.

Onúmerodepresaspresentesnateiafoianalisado,apóstransformaçãoporLn(x+

1), utilizando um General Linear Model , sendo as variáveis explicativas a coloração da

22 aranha,onúmerodetufosexternos,onúmerodetufosinternos,aáreadecapturadateia,a alturadateia,ocomprimentodoopistossoma,operíodododia(manhãoutarde)eodiada amostragem.

Onúmerodeburacosnateiaeonúmeroderestosdepresanateiaforamcomparados entreosmorfosde G. cancriformis utilizandootesteKruskalWallis,ecorralacionadocomo númerodetufosinternoseexternosutilizandootestedeSpearman.

Todas as análises foram feitas utilizando o pacote estatístico SPSS v.13.0 para

Windows(SPSSInc.,2004),comníveldesignificânciadeP≤0,050ebicaudais.Asfiguras foramconstruídascomauxíliodo software SigmaPlotv.9.0(SystatSoftwareInc,2004).

3. RESULTADOS

3.1. Padrão de cores de Gasteracantha cancriformis

De um total de 381 aranhas amostradas (67 em 2005 e 314 em 2006) foram identificados8diferentefenótiposde G. cancriformis ,separadossegundoacoloraçãodos espinhosedodorsodo opistossoma:amarelocomespinhos pretos; branco com espinhos pretos;pretoebrancocomespinhospretos;vermelho/laranjacomespinhospretos;amarelo com espinhos avermelhados; branco com espinhos avermelhados; preto e branco com espinhos avermelhados; e laranja com espinhos avermelhados (Figura 1.3). O padrão de coreséencontradomesmoemaranhasmuitopequenas(larguradoopistossoma=0,165cm), noentanto,osmorfospodemserfacilmentedistinguidosapartirdeaproximadamente0,300 cmdelarguradoopistossoma.

Foram encontrados alguns indivíduos com uma tonalidade de amarelo um pouco maisforte,seaproximandodelaranja,bemcomoindivíduoscomumamarelomaisclaro,se aproximandodobranco.Noentanto,agrandemaioriadosindivíduosencontradospuderam serfacilmenteclassificadosemumdospadrõesdecores. O fenótipo preto e branco com

23 espinhospretosapresentouvariabilidadenaquantidadedecoloraçãopretanodorso,desde padrõesquasetotalmentemelânicosatépadrõescommaiorproporçãodebranco.

Oventredetodasasaranhassemostrouescurocompequenaslistrasoupontos,com umatonalidadesemelhanteadodorso(Figura1.3).Osespinhosavermelhadosapresentaram certavariabilidade.Emalgunsindivíduosoespinhoeramaisescuroe,emoutros,vermelho maisclaro(Figura1.3).

Ofenótipomaisfreqüentefoio‘amarelocomespinhospretos’,representando43% em2005e51%em2006,seguidopelobrancocomespinhospretos,28%e25%,epelopreto ebrancocomespinhospretos,7%e10%(

Figura1.4).Nãohouvediferençasignificativanasfreqüênciasdosmorfosaolongo dosdoisanosdeestudo( χ 2 = 3,467;gl=4;P=0,483).

3.2. Comparação entre as colorações

A Tabela 1.1 resume os dados gerais para os parâmetros avaliados nos diferentes morfosde Gasteracantha cancriformis ,incluindotodasasaranhasmedidas.

Nas análises estatísticas, onde foram incluídos apenas indivíduos com largura do opistossoma maior do que 0,700 cm, o número de tufos externos (KruskalWallis: H =

5,391;gl=4;P=0,249),onúmerodetufosinternos(KruskalWallis:H=3,693;gl=4;P=

0,449),alarguradoopistossoma(KruskalWallis:H=4,986;gl=4;P=0,289)eaalturada teia(ANOVA:F=1,879;gl=4;P=0,115)nãodiferiramentreosfenótipos.Apenasaárea decapturadiferiuentreosgrupos(ANOVA:F=2,550;gl=4;P=0,040)(Figura1.5).O teste post hoc mostrouqueaáreadecapturadateiadofenótipopretoebrancocomespinhos pretosfoimaiordoqueadofenótipovermelho/laranja com espinhos pretos (Figura 1.5)

(Bonferroni:P=0,035)

Todasasteiasestavaminclinadasemumânguloentre90ºe45º.Odorsodasaranhas estavainclinadoemdireçãoaosoloem98%doscasoseem2%doscasosodorsoestava

24 perpendicularaosolo.Nãohouvediferençanaposiçãododorsoentreascolorações( χ 2 =

2,932;gl=4;P=0,571).

Onúmerodepresaspresentesnateiafoiinfluenciadopelodiadaamostragem,pelo períodododia(manhãoutarde),pelaáreadecapturadateiaepelalarguradoopistossoma

(Tabela 1.2), sendo que com o aumento opistossoma houve um aumento do número de presas. No entanto, a coloração da aranha (Figura 1.6a),onúmerodetufosinternoseo númerodetufosexternosnãoinfluenciounonúmerodepresasnateia(Tabela1.2).

Onúmeroderaiosdateiacomburacosfoimaiorno período da tarde do que no períododamanhã(MannWhitney:U=1952,5;N 1=118;N 2=112;P<0,001).Nãohouve diferença no número de raios da teia com buraco entre as colorações de G. cancriformis

(Figura1.6b)(KruskalWallis:H=4,201;gl=4;P=0,380).Tambémnãohouvecorrelação entreonúmeroderaiosdateiacomburacoseaáreadecapturadateia(Sperman:r s=0,049;

N=219;P=0,471),otamanhodaaranha(Sperman:r s=0,072;N=230;P=0,278),a altura da teia (Sperman: r s = 0,080; N = 227; P = 0,231), o número de tufos internos

(Sperman:r s=0,097;N=226;P=0,145)eonúmerodetufosexternos(Sperman: r s=

0,125;N=229;P=0,059).

Aproporçãodeteiasqueapresentavamrestosdepresasnateianãovarioucomo período do dia (manhã ou tarde) (χ2 = 0,141; gl = 1; P = 0,708). Não houve também correlaçãoentreonúmeroderestosdepresapresentesnateiacomaáreadecapturadateia

(Sperman:r s=0,035;N=223;P=0,601),comotamanhodaaranha(Sperman:r s=0,062;

N=236;P=0,344),comaalturadateia(Sperman:r s=0,124;N=234;P=0,059)ecomo númerodetufosinternos(Sperman:r s=0,064;N=232;P=0,335).Onúmeroderestosde presanãofoidiferentequandoseparadosporcoloraçãodaaranha(Figura1.6c)(Kruskal

Wallis:H=2,239;gl=4;P=0,692).Noentanto,houveumacorrelaçãopositivaentreo número de tufos externos e o número de restos de presas presentes na teia (Figura 1.7)

(Sperman:r s=0,206;N=236;P=0,001).

25

3.3. Espectrofotometria

Aespectrofotometriamostraqueaáreabrancadodorsodosmorfos‘pretoebranco comespinhospretos’e‘pretoebrancocomespinhosavermelhados’apresentamreflectância nafaixadoultravioleta(Figura1.8).Umindivíduodofenótipobrancocomespinhospretos apresentou também apresentou reflectância no ultravioleta, diferentemente dos outros 6 indivíduos amostrados (Figura 1.8). A curva de reflectância do dorso do opistossoma foi semelhanteindependentementedacoloraçãodosespinhos.Ouseja,oamarelodofenótipo

‘amarelo com espinhos pretos’ foi semelhante ao amarelo do fenótipo ‘amarelo com espinhosavermelhados’,eassimpordiante(Figura1.8).

O ventre de todos os morfos apresentou reflectânciasemelhante,comumpequeno aumentonaporcentagemdereflectâncianoscomprimentosdeondamaislongos(>500nm)

(Figura1.9).

Osespinhospretostiveramumacurvadereflectânciasemelhanteindependentemente dacoloraçãododorso,noentantohouveumavariabilidadenaporcentagemdereflectância dosespinhosavermelhadosdeacordocomoespinhoamostradoecomacoloraçãododorso

(Figura1.10).

Os tufos apresentaram um espectro de reflectância semelhante entre si, com uma porcentagem de reflectância de aproximadamente 15% emtodaafaixade300a700nm

(Figura1.11).

26

Preto e branco Laranja/Vermelho Branco com Amarelo com com espinhos com espinhos espinhos pretos espinhos pretos pretos pretos

Preto e branco Branco com Amarelo com Laranja com com espinhos espinhos espinhos espinhos avermelhados avermelhados avermelhados avermelhados

1cm

Figura 1.3. Padrõesdecoloraçãododorsoedoventredosoitofenótiposde Gasteracantha cancriformis encontradosnocerradodaFazendaÁguaLimpa(Brasília–DF).

27

0,6 2005 155 2006 0,5

29 0,4

0,3 19 76 proporção

0,2

31 0,1 5 5 4 3 14 13 12 2 5 0 0,0 0 Am.p Br.p PB.p LV.p Am.v Br.v PB.v Lr.v Fenótipo

Figura 1.4. Proporçãodosdiferentesfenótiposde Gasteracantha cancriformis na área de estudo,aolongodosanosde2005e2006.OsnúmerosacimadasbarrasrepresentamoNde cadacoloração.Amarelocomespinhospretos(Am.p),brancocomespinhospretos(Br.p), pretoebrancocomespinhospretos(PB.p),laranja/vermelhocomespinhospretos(LV.p), amarelo com espinhos avermelhados (Am.v), branco com espinhos avermelhados (Br.v), preto e branco com espinhos avermelhados (PB.v) e laranja com espinhos avermelhados (Lr.v).Foramincluídosapenasindivíduoscomlarguradoopistossomamaiorque0,300cm.

28

Tabela 1.1. Número da amostra, média ± desvio padrão, mínimo e máximo para o número de tufos externos, número de tufos internos, largura do opistossoma, altura da teia e área de captura da teia dos diferentes fenótipos de Gasteracantha cancriformis , incluindo todos os indivíduos amostrados no ano de 2006. Area de Coloração Tuf Ext Tuf Int Largura (cm) Altura (m) Captura (cm 2) Amarelo com N 127 125 126 127 118 espinhos pretos x ± DP 60,7 ± 25,9 4,1 ± 1,7 0,947 ± 0,143 138 ± 36 644,8 ± 225,5 Mín-Máx 4 - 146 0 - 9 0,285 - 1,235 75 - 253 62,3 - 1378,2

Branco com N 64 63 58 63 56 espinhos pretos x ± DP 65,0 ± 31,8 4,4 ± 1,9 0,953 ± 0,119 148 ± 45 617,1 ± 247,5 Mín-Máx 14 - 156 0 - 7 0,690 - 1,215 92 - 273 98,1 - 1423,2 Preto e branco com N 35 35 34 35 31 espinhos pretos x ± DP 66,1 ± 29,0 4,3 ± 1,8 0,897 ± 0,202 146 ± 41 659,9 ± 253,1 Mín-Máx 6 - 129 0 - 9 0,165 - 1,180 84 - 239 49,2 - 1205,4 Laranja/vermelho N 18 18 15 18 13 com espinhos x ± DP 73,0 ± 36,2 4,4 ± 1,8 0,927 ± 0,104 165 ± 57 497,2 ± 160,7 pretos Mín-Máx 3 - 159 1 - 8 0,775 - 1,120 98 - 300 278,4 - 739,9

Amarelo com N 12 11 11 12 11 espinhos x ± DP 50,0 ± 18,9 3,6 ± 1,6 0,808 ± 0,147 131 ± 30 518,6 ± 197,6 avermelhados Mín-Máx 15 - 78 0 - 5 0,535 - 0,955 92 - 195 190,0 - 803,3 Branco com N 8 6 8 8 7 espinhos x ± DP 67,0 ± 25,3 5,2 ± 0,8 0,954 ± 0,103 117 ± 28 801,9 ± 181,6 avermelhados Mín-Máx 22 - 97 4 - 6 0,780 - 1,095 88 - 158 611,8 - 1050,6 Preto e branco com N 3 3 3 2 3 espinhos x ± DP 64,0 ± 8,5 4,0 ± 1,0 0,805 ± 0,277 112 ±2 561,3 ± 252,7 avermelhados Mín-Máx 56 - 73 3 - 5 0,495 - 1,030 110 - 113 273,7 - 747,5 Laranja com N 2 2 1 2 1 espinhos x ± DP 41,5 ± 7,8 4,5 ± 0,7 0,500 168 ± 109 228,0 avermelhados Mín-Máx 36 - 47 4 - 5 - 91 - 245 - Indefinida N 3 3 2 3 2 x ± DP 6,3 ± 9,3 0,0 ± 0,0 0,188 ± 0,025 182 ± 81 42,4 ± 19,8 Mín-Máx 0 - 17 0 - 0 0,170 - 0,205 98 - 260 28,4 - 56,4

29

1200

1000 ) 2 800

600

400 Área de captura (cm Área de captura

200

0 Am.p Br.p PB.p LV.p Outros

Fenótipo Figura 1.5. Médiadaáreadecapturadasteias dosdiferentesfenótiposdeGasteracantha cancriformis .Asbarras deerrorepresentamodesviopadrãodasmédias.Foramincluídos apenasindivíduoscomlarguradoopistossomamaiorque0,700cm.Amarelocomespinhos pretos (Am.p); branco com espinhos pretos (Br.p); preto e branco com espinhos pretos (PB.p);laranja/vermelhocomespinhospretos(LV.p);eoutrosmorfos(Outros).

30

20 (a)

16

12

8 Número presas na teia na presas Número 4

0

16 (b)

12

8

4 Número de raios buracos de com Número

0

1,2 (c)

0,9

0,6

0,3 Número de restos de presas na teia na presas de restos de Número

0,0 Am.p Br.p PB.p LV.p Outros Fenótipo Figura 1.6. (a)Médiadonúmerodepresaspresentesnateia,(b)médiadonúmeroderaios com buracos e (c) média do número de restos de presas nas teias dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis . As barras de erro representam o desvio padrão das médias. Foram incluídos apenas indivíduos com largura do opistossoma maior que 0,700 cm Amarelocomespinhospretos(Am.p);brancocomespinhos pretos (Br.p); preto e branco comespinhospretos(PB.p);laranja/vermelhocomespinhospretos(LV.p);eoutrosmorfos (Outros).

31

Tabela 1.2. General linear model para número de presas presentes nas teias de Gasteracantha cancriformis, após transformação por Ln (x + 1).

Parâmetro SS tipo III gl F P Corrected Model 70,011 25 8,351 <0,001 Intercept 0,084 1 0,250 0,617 Dia 13,349 15 2,654 0,001 Período 21,431 1 63,909 <0,001 Área de Captura 6,200 1 18,489 <0,001 Largura 1,761 1 5,252 0,023 Altura 0,068 1 0,203 0,653 Tufos Externos 0,064 1 0,192 0,662 Tufos Internos 0,041 1 0,122 0,728 Coloração 0,419 4 0,313 0,869 Error 64,049 191 Total 960,357 217 Corrected Total 134,060 216 R2 = 0,522 (R 2 ajustado = 0,460)

1,5

1,0

0,5 Número de restos teia de presa Número na

0,0 0-55 56-110 111-165

Número de tufos externos Figura 1.7. Médiadonúmeroderestosdepresaencontradosnateiaemrelaçãoaonúmero detufosnasteiasde Gasteracantha cancriformis .Asbarrasdeerrorepresentamodesvio padrãodasmédias.

32

50 Preto e branco esp. pretos* (n = 7) Preto e branco esp. avermelhados* 40 (n = 1)

30

20

10

0

50 Branco esp. pretos** Branco esp. avermelhados (n = 2) 40

30 n = 1 n = 6

20

10

0

50 Amarelo esp. pretos (n = 8) Amarelo esp. avermelhados (n = 4)

Reflectância(%) 40

30

20

10

0 300 400 500 600 700 50 comprimento de onda (nm) Laranja/Vermelho esp. pretos (n = 3) 40

30

20

10

0 300 400 500 600 700 comprimento de onda (nm) Figura 1.8. Espectro de reflectância do dorso do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis .*Espectrodaáreabrancadodorso.**Umindivíduoapresentou espectrodestoantedosdemaisesuacurvafoidestacada

33

50 Preto e branco esp. pretos (n = 7) Preto e branco esp. avermelhados (n = 1) 40

30

20

10

0

50 Branco esp. pretos (n = 7) Branco esp. avermelhados (n = 2) 40

30

20

10

0

50 Amarelo esp. pretos (n = 7) Amarelo esp. avermelhados (n = 4)

Reflectância(%) 40

30

20

10

0 0 300 400 500 600 700 50 Comprimento de onda (nm) Laranja/Vermelho esp. pretos (n = 2) 40

30

20

10

0 300 400 500 600 700 Comprimento de onda (nm) Figura 1.9. Espectro de reflectância do ventre do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis .

34

50 Preto e branco esp. pretos (n = 7) Preto e branco esp. avermelhados (n = 1) 40

30

20

10

0

50 Branco esp. pretos (n = 7) Branco esp. avermelhados (n = 2) 40

30

20 c d 10 ec

0

50

Amarelo esp. pretos (n = 7) Amarelo esp. avermelhados (n = 4)

Reflectância(%) 40

30

20 c d

10 e

0 300 400 500 600 700 50 Comprimento de onda (nm) Laranja/Vermelho esp. pretos (n = 3) 40

30

20

10

0 300 400 500 600 700 Comprimento de onda (nm) Figura 1.10. Espectro de reflectância dos espinhos do opistossoma dos fenótipos de Gasteracantha cancriformis . AsletrassereferemaosespinhosnaFigura1.2.

35

50

40

30

20 1 Reflectância (%) Reflectância Refletância (%) Refletância

2 10

0 300 400 500 600 700

Comprimento de onda (nm) Figura 1.11. Espectrodereflectânciados(1)tufosexternos(n=5)e(2)tufosinternos(n= 4)dasteiasde Gasteracantha cancriformis .

36

4. DISCUSSÃO

4.1. Padrão de cores de Gasteracantha cancriformis

Muito embora Gasteracantha cancriformis seja uma espécie comum, amplamente distribuídaediurna,hápoucosregistrosnaliteraturadesuavariaçãodecores(Levi,1978;

Levi,1996).Estefoioprimeirotrabalhoasistematizarequantificarseuspadrõesdecores.

Foramencontradosmorfosaindadesconhecidoseraros.

Nãoháinformaçõessobreagenéticadopolimorfismode G. cancriformis oucomoo ambiente poderia influenciar na coloração. Algumas espécies animais, incluindo aranhas, apresentam uma mudança de coloração ao longo da ontogenia (Graf & Nentwing, 2001;

Dias, 2004). Em Gasteracantha cancriformis , aranhas muito pequenas (largura do opistossoma ≥ 0,165 cm) já possuem os padrões de cores mais comuns encontrados nas adultas. Porém, o primeiro instar, logo após a eclosão, apresenta uma coloração branca, indiferenciada. Apenas um estudo que acompanhasse o desenvolvimento de indivíduos desde a eclosão até a idade adulta poderia verificar como a coloração de G. cancriformis mudacomaontogenia.

O polimorfismo de cor é conhecido em outras aranhas. Em Theridion grallator

(Theridiidae), aranha endêmica do Havaí que também apresenta polimorfismo de cor, a explicação mais recorrente para a manutenção do polimorfismo se refere a uma seleção apostática,ondeosmorfosmaisrarossebeneficiamporseremmenospredados(Moment,

1962;Clark,1969;Oxford,1999;Oxford&Gillespie, 2001). Austracantha minax é uma espéciefilogeneticamentepróximaa Gasteracantha encontradaemquatropadrõesdecores, que variam no grau de melanismo e da coloração do opistossoma (Waldock, 1991). Em

Gasteracantha curvispina osmorfos(quevariamquantoacor)sedistribuememproporções diferentes em ambientes com maior ou menor cobertura vegetal, e a sobrevivência deles

37 nessesambientesvariadeacordocomosseuspadrõesdecores(Edmunds&Edmunds,1986 apud Hauber,2002).

No entanto, até o momento não há informações sobre a proporção dos diferentes morfosde G. cancriformis emoutraslocalidades,sehádiferença emáreas commaiorou menor cobertura vegetal, ou se há sobrevivência diferencial dos morfos. Portanto são necessários um maior número de amostragens e estudos genéticos moleculares ou com cruzamentosparaesclareceraorigememanutençãodopolimorfismonaespécie.

4.2. Comparação entre as colorações

Aalturadateia,onúmerodetufos,alarguradoopistossoma,ainclinaçãodateiaea posiçãododorsodaaranhanãodiferiramentreascoloraçõesde G. cancriformis .Alémdo padrãodecoloração,aúnicadiferençaencontradaentreasaranhasfoiaáreadecapturada teia.Asaranhasvermelhas/laranjascomespinhospretospossuíamáreadecapturamenordo queadasaranhaspretoebrancocomespinhospretos.

Contrariandoahipótesedacoloraçãocomoatraçãodepresas,onúmerodepresasna teia, o número de raios da teia com buracos e o número de restos de presa na teia não diferiramentreosmorfosde G. cancriformis .Parahipótesedostufoscomoatraçãodepresas háresultadosquesecontradizem.Onúmerodetufosinternoseexternosnãofoirelacionado comonúmerodepresasnateiaecomonúmeroderaiosdateiacomburacos.Jáonúmero derestosdepresadateiafoicorrelacionadocomonúmerodetufosexternos,masnãocomo númerodetufosinternos.

Diferenças na estrutura das teias podem ser resultado da seletividade por tipos específicosdepresas(Eberhard,1990;Sandoval,1994).Teiascomumagrandedensidadede raios,porexemplo,podemseradaptaçõesparacapturarpresasmaioresecomgrandeenergia cinética(Eberhard,1990).Nessesentido,adiferençanaáreadecapturadateiapodeindicar quediferentesmorfoscapturempreferencialmentepresasdiferentes.

38

No entanto, outros fatores também influenciam a estrutura da teia de aranhas. O estado nutricional (Sherman, 1994), o sucesso de captura prévio (Sherman, 1994), ou a estrutura do microhabitat onde a teia é construída podem afetar seu tamanho e forma

(Eberhard,1990).

Onúmerodepresaspresentesnateiafoiinfluenciadopelodiadaamostragemepelo períodododia.Tendoemvistaqueaspresaspresentesnasteiassãoaspresasquenãosão consumidaspelasaranhasatéelasdesfazeremateia,énaturalquecomopassardodiao número de presas acumulado nas teias aumente. Além disso, é esperado que haja uma diferençanadisponibilidadedepresasaolongoeentreosdias,poisfatoresambientaisque variamjuntocomessesparâmetros,comotemperatura,influenciamnaatividadedosinsetos

(Taylor,1963).

Ahipótesedequeacoloraçãodosmorfosinfluencia na captura de presas não foi corroboradapelosresultadosdesteestudo,oquecontradizdiversostrabalhoscomaranhas

(Craig&Ebert,1994;Hauber,2002;Tso et al.,2002;Tso et al.,2004;Hoese et al.,2006).

Noentanto,éinteressantenotarqueotamanhodaaranhainfluenciouonúmerode presaspresentesnateia.Quantomaioraaranhamaioronúmerodepresas,comotamanho da aranha sendo controlado por todas as outras variáveis do modelo. Em Gasteracantha fornicata ,ondefoiencontradaumainfluênciadacoloraçãodaaranhanacapturadepresasda teia,otamanhodaaranhatambémcontribuíaparaosucessodecaptura(Hauber,2002).

Emboranãotenhasidoencontradadiferençanacapturadepresasentreascolorações, não se pode descartar totalmente a hipótese da atração de presas. É possível que as coloraçõesde G. cancriformis influenciemigualmentenosucessodecapturadasteias,ou aindaquecadacoloraçãoatraiatiposespecíficosdepresas,eporissonãohouvediferença entre os morfos. O capítulo seguinte tentará responder algumas dessas questões em experimentosdecampoelaboratório.

39

Para a hipótese dos tufos como atração de presas há resultados contraditórios. O número de presas e o número de raios com buracos não variou com o número de tufos, porémhouveumacorrelaçãoentreonúmeroderestosdepresanateiaeonúmerodetufos externos.

Onúmeroderestosdepresaéumamedidamaisconfiáveldosucessoforrageamento das aranhas, pois estas apresentam seletividade para os insetos capturados pelas teias.

Normalmenteinsetosmuitopequenossãoignorados(Olive,1980;Uetz&Hartsock,1986)e deixadosnateia.Contudo,éimportanteressaltarque G. cancriformis desfazasteiastodo finaldetarde,consumindoateiaeconseqüentementeosinsetospresentesnela.

Dessa forma, assim como diversos outros trabalhos com stabilimentum (Craig &

Bernard, 1990; Tso, 1996; Hauber, 1998; Tso, 1998a; Tso, 1998b; Watanabe, 1999a;

Watanabe,1999b;Herberstein,2000;Watanabe,2000;Bruce et al.,2001;Craig et al.,2001;

Bruce et al., 2004; Li et al., 2004; Li, 2005), há a possibilidade de que os tufos de

Gasteracantha cancriformis atraiam presas para as teias, aumentando o sucesso de forrageamentodasaranhas.Contudo,resultadosdessetrabalhopodemserumafalsarelação causalseonúmerodetufosvariejuntamentecomadisponibilidadedepresasnaambiente.

Por exemplo, se teias em espaços mais abertos possuem mais tufos e ao mesmo tempo espaçosmaisabertospossuíremmaispresas,haveráumacorrelaçãoentreonúmerodetufos enúmerodepresascapturadas,masonúmerodetufosnão‘causa’umaumentonosucesso decaptura.Em Argiope, Blackledge(1998b)argumentaquetrabalhosqueencontramrelação entre presença do stabilimentum e captura de presas podem não ser corretos pois a freqüênciadeconstruçãode stabilimentum aumentacomamelhoriadoestadonutricionalda aranha.NoCapítulo3umexperimentomanipulandoostufosde Gasteracantha cancriformis testaránovamenteahipótesedaatraçãodepresaseaindaahipótesedaproteçãodateia.

40

4.3. Espectrofotometria

Acoloraçãododorsonãopareceinfluenciaracoloraçãodosespinhoseviceversa, pois as curvas de reflectância dos morfos com a mesma coloração de dorso foram semelhantesadespeitodacoloraçãodosespinhos.Alémdisso,observandoapartirdomorfo preto e branco, notase que a inflexão da curva de reflexão do dorso se desloca paulatinamentemaisparaaesquerda.Épossívelqueadiferençana coloraçãodosmorfos sejadevidoaumaúnicasubstânciadepositadaemconcentraçõesdiferentes.

Um indivíduo branco com espinhos pretos apresentou uma curva de reflectância destoantedorestante,comreflexãonafaixaUV.Dessaforma,asaranhasagrupadascomo brancas com espinhos pretos pela visão humana na verdade podem ser dois fenótipos distintosquandoobservadosporsistemasvisuaiscomfotorreceptoresparaafaixaUV(e.g. pássaroseinsetos)(Peitsch et al.,1992;Hart et al.,2000;Briscoe&Chittka,2001;Odeen&

Hastad,2003;Chittka&Wells,2004).Aparentementeafreqüênciadessesmorfosbrancos comocomponenteUVébaixanapopulação,jáqueapenas1de7indivíduosamostrados apresentouessareflexão.

Ostufosinternoseexternosapresentaramcurvasdereflectânciasemelhantes,ambos refletem praticamente a mesma quantidade de luz em todos os comprimentos de onda na faixade300a700nm,eporissoprovavelmentesãoproduzidoscomomesmotipodeseda.

Seacoloraçãodasaranhasedostufoséobjetodeseleçãonatural,éesperadoque esse padrão de cores maximize a eficiência desse sinal para o receptor (Endler, 1992).

SegundoFoelix(1996),asaranhasdeteiademodogeralnãopossuemvisãoaguçada,por issoémaisprovávelqueascoreseostufosde Gasteracantha cancriformis sejamumsinal interespecífico.

Em aranhas de teia, os fios de seda geralmente não apresentam reflectância significativa na faixa ultravioleta (Craig & Bernard, 1990; Craig et al ., 1994).

Diferentemente, os stabilimenta refletem UV, e segundo Craig & Bernard (1990) essa

41 reflectância os tornariam atrativos para insetos. Porém Zschokke (2002) não encontrou diferença na reflectância na faixa do UV entre o stabilimenta e os fios de captura. Além disso,essetipodereflectância,planade300a700nm,éamenosatrativaparaHymenoptera eDiptera(referênciasemBlackledge,1998a).

Éinteressantequeomorfomaiscomumnaáreadeestudotenhasidooamarelocom espinhospretos,umavezquealgunsinsetosmostramumapreferênciainatapelacoramarela

(Kelber,2001).Alémdisso, Nephila clavipes produzfiosdesedamaisamareladosquandose encontra em ambientes mais claros e fios maisbrancosquandoseencontraemambientes maisescuros,eabelhastêmmaiordificuldadedeassociarumestímulonegativo(teia)coma cor amarela em ambientes mais iluminados (Craig, 1994; Craig et al ., 1996). Assim, é possívelqueasdiferentescoloraçõesde G. cancriformis sejammaiseficientesnoforrageio emdiferentesluminosidades.

4.4. Conclusões

Asfêmeasde Gasteracantha cancriformis exibemumgrandepolimorfismodecore maisestudossãonecessáriosparaentenderaorigememanutençãodessefenômeno.Embora aos olhos humanos existam 8 fenótipos na espécie, aos olhos de insetos e pássaros provavelmenteexistampelomenos9,jáqueumdosindivíduos do fenótipo considerado brancocomespinhospretosapresentouumacurvadereflectâncianafaixaUV.

Nãofoiencontradosuporteparaahipótesedascoloraçõesmaischamativasatraírem presas para as teias da espécie. Para a hipótese dos tufos atraírem presas há resultados conflitantes.Emboraonúmerodepresaspresentesnateiaeonúmeroderaioscomburacos nãosejamcorrelacionadoscomonúmerodetufos,o número de restos da presa aumenta juntamentecomonúmerodetufosexternos.Aúnicadiferençaencontradaentreosmorfos foiaáreadecapturadepresas.Assim,épossívelquediferentescoloraçõescapturemtipos

42 específicosdepresasouquehabitemmicroambientesdistintosondeseuspadrõesdecores sãomaiseficientes.

43

Capítulo 2

As cores de Gasteracantha cancriformis : testando a hipótese da atração de presas

1. INTRODUÇÃO

Eminteraçõesevolutivasentrepredadoresepresaséesperadoquehajaumapressão seletivaporpadrões,coloraçõesecomportamentosquediminuamapercepçãodopredador pela presa. Características que fujam desse modelo, de forma geral, estão relacionadas a algumtipodevantagemqueoindivíduoadquireporpossuirumpadrãooucomportamento maisconspícuo.

Para a maioria das aranhas a coloração e seu padrão parecem ser uma importante característica ecológica. Aranhas noturnas geralmente apresentam colorações crípticas, escuras e pouco chamativas, no entanto diversas aranhas de hábitos diurnos apresentam coresoupadrõesvistososque,pelomenosaosolhos humanos, se destacam na vegetação

(Oxford&Gillespie,1998).Aranhasdeteiaorbicular,porexemplo,exibemdiferentestipos deornamentosdesedaemsuasteias,usualmentechamadosde stabilimenta.Asprincipais explicações para a função dessas estruturas incluem: defesa contra predadores, aviso a grandesanimaisquepoderiamdestruirateiaeaumentonosucessodeforrageamentopela atraçãodepresas(Herberstein et al .,2000).

Maisrecentemente,coloraçõesconspícuasnasprópriasaranhasdeteiatambémtêm sidoexplicadasporaumentaremosucessodeforrageamento ao atraírem presas (Craig &

Ebert,1994;Hauber,2002;Tso et al.,2002;Tso et al.,2004).Ahipótesedacoloraçãocomo atração de presas propõe que o corpo das aranhas possuem propriedades reflectivas que enganariam o sistema visual de insetos. Esses animais seriam atraídos, por exemplo, por

44 colorações que mimetizariam colorações de flores, no caso de insetos polinizadores, ou espaçosnavegetação(Craig&Ebert,1994;Hauber,2002;Tso et al .,2004).

Gasteracantha cancriformis é uma aranha de teia orbicular exclusiva do novo mundo, encontrada em abundância no Cerrado. Nas fêmeas o opistossoma é rígido, apresentandoseisprojeçõesemformadeespinhos,earegiãodorsalapresentapolimorfismo de cor, sendo encontrada em pelo menos oito diferentes padrões, desde formas aparentementemaiscrípticasatécoloraçõesconspícuascomoamareloelaranja.Aspataseo prossomasãopretosearegiãoventraldoabdomeépretacomalgumaslistrasoupequenos pontosclaros(Levi,1978;Levi,1996;Capítulo1).

Tendo em vista os trabalhos que mostram a relação entre coloração e atração de presasemaranhas,épossívelqueospadrõesmaisconspícuosnaespécietenhamamesma função,mimetizandocoloraçõesdefloresououtrosobjetos,enganandoosistemavisualde insetosecomissoaumentandoosucessodeforrageamentodasaranhas.

Dessaforma,oobjetivodopresentetrabalhofoianalisaropapeldacoloraçãoem G. cancriformis , testando a hipótese de que as colorações conspícuas atraem insetos para as teiasde G. cancriformis ,aumentandoacapturadepresasdosindivíduos.Foramcomparados osucessodecapturaeaatraçãodepresasdostrêsmorfosmaiscomumenteencontradosna

áreadeestudo,bemcomodeindivíduoscujacoloraçãofoimanipuladaexperimentalmente.

2. METODOLOGIA

2.1. Animal de estudo e área de estudo

Neste experimento foram utilizadas fêmeas adultas esubadultasdaaranhadeteia orbicular Gasteracantha cancriformis (Araneidae).Oestudodecampofoirealizadonomês demaiode2006,emumavegetaçãodecerrado sensu stricto daFazendaÁgua Limpada

UniversidadedeBrasília(S15º57'13''W47º55'13'';1130mdealtitude),Brasília,DF,Brasil,

45 em uma área de aproximadamente 550 m x 400 m (ver detalhes no Capítulo 1). O experimentoemlaboratóriofoirealizadonomêsdejulhode2006.

2.2. Efeito da coloração na captura de presas

O efeito da coloração de Gasteracantha cancriformis na captura de presas foi analisadoemumexperimentoemcampoqueconsistiaemcompararosucessodecapturade diferentesmorfosdaespécie,bemcomodemorfoscomodorsopintadodepretoouamarelo, aolongodeduashorasemummesmodia.

Paraesseexperimentoforamutilizadososmorfosmais comuns na área de estudo:

‘amarelocomespinhospretos’,‘brancocomespinhospretos’e‘pretoebrancocomespinhos pretos’.Alocalizaçãodetodasasaranhasfoimarcadacomumafitaplástica,amarradaem umaárvorepróximaateia.

Primeiramenteosseguintesparâmetroseramavaliados:alturadateia(dochãoatéo centrodateia),larguradoopistossoma,númerodetufosexternos,númerodetufosinternose

áreadecapturadepresas,estimadautilizandoametodologiaapresentadaporHerberstein&

Tso(2000).

Naseqüência,sorteavaseemqualmanipulaçãoexperimentalaaranhaseriaincluída:

(1) dorso pintado de preto ,ondetodoodorsodaaranhaerapintadodepreto; (2) dorso pintado de amarelo, comocontroledatinta,ondeaáreacoloridadodorsoerapintadade amarelo,deixandoosespinhoslimpos;ou(3) dorso pincelado com água, comocontroleda manipulação da aranha, onde um pincel com água era passado no dorso das aranhas da mesmaformaquenasaranhaspintadas.Assim,foramformados5gruposexperimentais:(a) aranhaspintadasdepreto(N=31),(b)aranhaspintadas de amarelo (N = 30), (c) morfo amarelocomespinhospretos(N=28),(d)morfobrancocomespinhospretos(N=29)e(e) morfopretoebrancocomespinhospretos(N=27).

46

Todasasaranhaspintadasdeamareloforamdomorfoamarelocomespinhospretos.

Das31aranhaspintadasdepreto,22foramdomorfoamarelocomespinhospretos,4do morfobrancocomespinhospretose5domorfopretoebrancocomespinhospretos.

Paraserempintadas,asaranhasnãoeramremovidasdesuasteiasdeformaareduzir oestressedemanipulaçãoeevitaradestruiçãodasteias.Paraapinturafoiutilizadopincele tintaguachedacorpretaouamarela,abaseáguaenãotóxica(têmperaguache,frasco15ml, cores preto e amarelo, Acrilex). As propriedades reflectivas das tintas utilizadas estão mostradasnaFigura2.1,obtidaapartirdamédiadetrêsamostrasdetintapintadasempapel, utilizandoametodologiaapresentadanoCapítulo1.

100

80 (a) 60

40 reflectância

20 (b) 0 300 400 500 600 700 comprimento de onda (nm)

Figura 2.1. Espectro de reflectância da tinta (a) amarela e (b) preta, utilizadas para manipularodorsode Gasteracantha cancriformis .

Apósamanipulaçãoasaranhaseramdeixadasdescansarporpelomenos1hora,para que voltassem ao centro da teia e a tinta secasse. A partir das 11h00 o experimento começava, terminando aproximadamente às 14h00. Cada aranha era monitorada em três visitas,emintervalosde1h.Emcadavisitaeramcontados(1)todososinsetospresentesna teia, separados visualmente como maiores ou menores do que 2 mm, (2) o número de buracos na teia, (3) a presença de restos de presas na teia e (4) se a aranha estava consumindoalgumapresa.Osburacosnateiafuncionamcomoumaindicaçãoindiretade

47 queumapresainterceptouateiaefoiconsumidapelasaranhas,ouconseguiusesoltarantes daaranhacapturála(Craig,1988;Hauber,1998;Hauber,2002).

Tendoemvistaqueatemperaturainfluencianaatividadedosinsetos(Taylor,1963), a temperatura média durante as 2h de experimento foi obtida através da Estação

Meteorológica da Fazenda Água Limpa, distante aproximadamente 2 km do local do experimento,eutilizadanasanálisessemprequepossível.

Paraasanálisesdonúmerodepresasmenoresdoque2mmedonúmerodeburacos nateia,foifeitaamédiadonúmerodepresas/buracosentresegunda( V2)eaprimeiravisita

(V1)eonúmerodepresas/buracosentreaterceira( V3)esegundavisita( V2):

(V −V )+ (V −V ) 2 1 3 2 2

Esses valores se enquadraram nos pressupostos para análise paramétrica, após transformação ( x + 2 para as presas e Ln(x + 2) para os buracos na teia), e foram analisadosutilizandoum General Linear Model .Entraramcomo‘covariates’nomodeloa temperaturamédia,áreadecapturadateiaeocomprimentodoopistossomadaaranha.

O número de presas maiores que 2 mm não se enquadrou nos pressupostos das análisesparamétricaseporissofoiutilizadootestenãoparamétricoKruskalWallis.Foram contabilizadasapenaspresascapturadasnateiaapósasegundavisitadoexperimento.

Onúmeroderestosdepresafoisomadoaonúmerodeeventosemqueaaranhafoi vistaconsumindoalgumapresaecompuseramumanovavariávelchamadade‘consumode presas’.Foramcontabilizadososrestosdepresasdeixadosnateiaapenasapósasegunda visitaàsteias.Oconsumodepresastambémnãose enquadrou nos pressupostos para as análisesparamétricas eporissofoianalisadoutilizandootestenãoparamétricoKruskal

Wallis.

48

2.3. Efeito da coloração na atração de presas

Oefeitodasdiferentescoloraçõesnaatraçãodepresasfoianalisadoadaptandosea metodologia encontrada na literatura (Craig & Bernard,1990;Watanabe,1999a; Bruce et al.,2001;Li et al.,2004;Gonzaga&VasconcellosNeto,2005),ondeemumlabirintoemT, uma presa em potencial de G. cancriformis deveria escolher uma dentre as duas saídas possíveis.

OlabirintofoiconstruídocomtubosdePVCeumregistroderótula,nospadrões descritosnaFigura2.2.Comopresasforamutilizadasculturasde Drosophila melanogaster.

Embora D. melanogaster não seja simpátrica a G. cancriformis , ela foi escolhida pela facilidadedeobtenção,porDipteraserumapresafreqüentedaespécie(verCapítulo3)epor seraespéciemaiscomumenteutilizadaemexperimentosdessetipo(Craig&Bernard,1990;

Watanabe,1999a;Bruce et al.,2001;Li et al.,2004;Gonzaga&VasconcellosNeto,2005).

6 cm

2 cm

2 cm saída 1 saída 2

90°

5 cm

válvula de abertura

compartimento 5 cm de aclimatação

Figura 2.2. DesenhoesquemáticodolabirintoemTutilizadoparaoexperimentodeatração depresas.

49

Aumadistânciade5cmdecadasaídadolabirintoeraposicionadoumindivíduode

G. cancriformis comapartedorsaldoopistossomanadireçãodocentro da saída. Foram utilizadososmorfos‘amarelocomespinhospretos’,‘brancocomespinhospretos’e‘pretoe brancocomespinhospretos’,emaisindivíduoscomodorsopintadodepreto,comamesma tintautilizadanoexperimentodescritoanteriormente.

Todas as aranhas utilizadas no experimento estavam vivas. Para que não se movessem durante o experimento as aranhas eram colocadas em um pequeno suporte de isoporpintadodepretoeenvoltascomfilmeplásticotransparente.Tomavaseocuidadode nãodanificaraaranha.

Todas as combinações possíveis foram testadas (ex. amarelo x branco; amarelo x pintada;brancoxpretoebranco),com20repetiçõescadauma.Emumaprimeirarodadaas aranhas eram posicionadas aleatoriamente na saída daesquerdaoudadireitadolabirinto.

Emumasegundarodadaasmesmasaranhaseramtrocadasdeladoparaqueaposiçãonão influenciassenaescolhadapresa.Umamesmaaranhanuncafoireutilizadaemumamesma combinaçãodecoloração(ex.amareloxpintada),comexceçãodarodadaparacontrolaro efeitodaposição.Noentanto,asaranhaseramreutilizadasparaoutrospareamentos.

Otrabalhofoirealizadodas09h00minàs17h00mindurante11diasdomêsdejulho de2006.Ailuminaçãodolabirintofoifeitacomluznatural,vindadeumaamplajanela localizadaaproximadamente2màfrente.Contudo,aluznuncaatingiadiretamenteolocal dolabirinto.Àfrenteeaosladosdolabirintoforamfixadasfolhasdepapelpardo,auma distância de aproximadamente 50 cm. As saídas do labirinto foram cobertas com filme plásticoparaevitarqueodorespudesseminfluenciarnoexperimento.

Os indivíduos de Drosophila melanogaster foram anestesiados a frio

(aproximadamente14ºC)por4ou5mineentãoindividualizadosempequenosrecipientes ondeeramdeixadosparaserecuperarpornomínimo 5min.Emseguida,umapresaera posicionadanocompartimentoinicialdolabirinto.Apóspelomenos1minuto,períodode

50 aclimatização,ocompartimentoeraabertoe,apartirdeumaposiçãodiscreta,eraobservada qualdasduassaídasdolabirintoapresaescolhia.Otempoatéamoscafazerumaescolha eracronometrado.Seapós6minapresanãochegasseemnenhumdoscompartimentoso experimento era repetido, com outra mosca. Nunca era utilizada a mesma mosca entre as rodadas.

Sempreentreumatentativaeoutraolabirintoeralavadocomálcool40%edeixado secar para evitar que odores deixados pela presa afetassem as rodadas subseqüentes. Os filmesplásticostambémeramsempresubstituídosentreasrodadasdoexperimento.

UtilizandoseumTesteBinomial(proporçãode0,500)foramcomparadastodasas combinaçõesfeitasnoexperimento.

3. RESULTADOS

Não houve nenhuma diferença estatisticamente significativa nos parâmetros avaliadosnasaranhasentreosgruposexperimentais(Tabela2.1)

3.1. Efeito da coloração na captura de presas

Acoloraçãonãoinfluenciounonúmerodepresasmenores que 2 mm capturadas pelas teias (Tabela 2.2; Figura 2.3). A única variável significativa no modelo foi a temperatura(Tabela2.2).

Damesmaforma,aanálisedonúmerodeburacosnateianãodiferiuentreosgrupos experimentais (Tabela 2.3; Figura 2.3). Nesse caso nenhuma variável do modelo foi significativa(Tabela2.3).

Onúmerodepresasmaioresdoque2mmcapturadaspelasteiastambémnãodiferiu entreosgruposexperimentais(KruskalWallis:H=0,353;gl=4;P=0,986)(Figura2.4).

51

Amedianadoconsumodepresasfoi0,00paratodososgruposexperimentaisea distribuição não diferiu entre os grupos (KruskalWallis:H=7,057;gl=4;P=0,133)

(Figura2.4).

3.2. Efeito da coloração na atração de presas

Drosophila melanogaster nãomostrounenhumapreferênciapelascoloraçõesde G. cancriformis notestedaatraçãodepresasnolabirintoemT(Tabela2.4).

D. melanogaster nãomostroutambémnenhumapreferênciapelasaídadaesquerda oudadireitadolabirinto(Binomial:N 1=50;N 2=70;P=0,082),levando71±78s(média

±DP)parafazeraescolha.

Tabela 2.1. Média ± desvio padrão dos parâmetros avaliados em Gasteracantha cancriformis para todos os grupos do experimento do efeito da coloração na captura de presas. Largura do Área de Altura da Tufos Tufos Coloração Temperatura opistossoma captura teia externos internos

Amarelo 1,043 ± 0,053 670,3 ± 208,1 124 ± 26 69,8 ± 33,7 4,7 ± 2,4 24,7 ± 1,4

Branco 1,025 ± 0,063 605,2 ± 213,4 130 ± 28 58,3 ± 23,4 5,3 ± 1,7 24,6 ± 1,6

Preto e 1,015 ± 0,106 641,9 ± 174,8 134 ± 35 62,1 ± 27,2 4,1 ± 1,3 24,9 ± 1,0 Branco Pintado de 1,056 ± 0,062 618,2 ± 163,7 126 ± 30 67,8 ± 29,9 5,0 ± 1,9 25,1 ± 0,9 Amarelo Pintado de 0,999 ± 0,091 709,4 ± 187,5 129 ± 24 76,5 ± 32,1 4,8 ± 1,5 25,3 ± 1,0 Preto H = 8,675 F = 1,460 F = 0,513 F = 1,685 F = 1,652 H = 4,328 Estatística gl = 4 gl = 4 gl = 4 gl = 4 gl = 4 gl = 4 P= 0,070 a P = 0,218 b P = 0,726 b P = 0,157 b P = 0,165 b P = 0,363 a aTeste Kruskal-Wallis bTeste ANOVA

52

Tabela 2.2. General Linear Model da média do número de presas capturadas, após transformação por x + 2 , entre as visitas às aranhas, no experimento do efeito da coloração na captura de presas.

SS Parâmetro Tipo III gl F P Corrected Model 4,581 11 2,665 0,004 Intercept 0,369 1 2,362 0,127 Área de captura 0,515 1 3,297 0,072 Largura do opistossoma 0,437 1 2,795 0,097 Temperatura 1,490 1 9,532 0,002 Coloração 0,362 4 0,580 0,678 Coloração * Temperatura 0,347 4 0,556 0,695 Error 20,784 133 Total 614,000 145 Corrected Total 25,365 144

Tabela 2.3. General Linear Model da média do número de buracos na teia, após transformação por Ln (x + 2), entre as visitas às aranhas, no experimento do efeito da coloração na captura de presas.

SS Parâmetro Tipo III gl F P Corrected Model 3,041 11 2,070 0,027 Intercept 0,167 1 1,250 0,266 Área de captura 0,178 1 1,332 0,251 Largura do opistossoma 0,114 1 0,852 0,358 Temperatura 0,091 1 0,682 0,410 Coloração 0,344 4 0,644 0,632 Coloração * Temperatura 0,333 4 0,624 0,646 Error 17,757 133 Total 271,568 145 Corrected Total 20,797 144

Tabela 2.4. Teste binomial para todos os cruzamentos entre as colorações de Gasteracantha cancriformis no experimento de atração de Drosophila melanogaster no labirinto em T.

Cruzamento (N1 x N2) N1 N2 P Amarelo x Branco 11 9 0,824 Amarelo x Preto e Branco 12 8 0,503 Amarelo x Pintada de preto 8 12 0,503 Branco x Preto e Branco 8 12 0,503 Branco x Pintada de preto 12 8 0,503 Preto e Branco x Pintada de preto 11 9 0,824

53

5 (a)

4

3

2 Número de presas < 2 mm Número 1

0 5 (b)

4

3

2 Número de buracos na teia na de buracos Número 1

0 elo co co elo to ar an an ar re m Br Br m o P A e A ad to do int re nta P P Pi

Morfo Figura 2.3. (a) Médiadonúmerodepresasmenoresque2mmcapturadase(b)médiado número de buracos na teia, dos diferentes morfos de Gasteracantha cancriformis no experimentodoefeitodacoloraçãonacapturadepresas. Asbarrasde errorepresentamo desviopadrãodasmédias.

54

1,0 (a)

0,8

0,6

0,4 Número de presas > 2mm Número 0,2

0,0

1,5 (b)

1,0

0,5 Consumo de presas Consumo

0,00 elo co co elo to ar an an ar re m Br Br m o P A e A ad to do int re nta P P Pi Morfo

Figura 2.4. (a) Média do número de presas maiores que 2 mm e (b) média do consumo de presas, dos diferentes morfos de Gasteracantha cancriformis no experimento do efeito da coloração na captura de presas. As barras de erro representamodesviopadrãodasmédias.

55

4. DISCUSSÃO

Contrariamenteàhipótesedaatraçãodepresas,osresultadosdessetrabalhomostram queosucessodeforrageamentodasaranhasnãovariadeacordocomopadrãodecoloração dodorso.Onúmerodepresas,menoresemaioresdoque2mm,eonúmerodeburacosna teiafoiomesmoindependentementedomorfooudamanipulaçãodacoloração.Oconsumo depresas(númeroderestosdapresaedeeventosondeaaranhafoivistaconsumindouma presa)foiigualparatodososgruposexperimentais.Alémdisso, Drosophila melanogaster nãomostrounenhumapreferênciapelasdiferentescoloraçõesde G. cancriformis nolabirinto emT.

Estesresultadoscontrastamcomestudosanterioresondeacoloraçãodearanhasde teiainfluencioupositivamentenacapturadepresas.Indivíduosde Leucauge magnifica cujas faixasdecormetálicaeamarelaforamcobertascomtintadecorverdecapturarammenos presasdoqueindivíduosqueapenassuaslistrasverdesforampintadas(Tso et al .,2006).

Em Nephila pilipes ,omorfomelânicocapturamenospresasdoqueomorfonormal, maiscolorido(Tso et al.,2002;Tso et al.,2004).Assim,opolimorfismodecornaespécie poderiasermantidoporumbalançoentreocustoparaomorfomelânico,porcapturarmenos presas,eumpossívelbenefício,porumareduçãonapredação.Estenãopareceserocasode

G. cancriformis ,poistodososmorfosmostraramomesmosucessodecaptura.

Mesmonogênero Gasteracantha existemevidênciasdequeacoloraçãoatraipresas.

Em um experimento semelhante, indivíduos de Gasteracantha fornicata que tiveram sua faixaamarelanodorsocobertaporumacamadadetintapreta,capturarammenospresasdo queindivíduosdogrupocontrole,dandosuporteahipótesedacoloraçãocomoatraçãode presas(Hauber,2002).

56

No entanto, há também evidências contra a hipótese da atração de presas na literatura.Notrabalhocom G. fornicata onúmerodeburacosnateianãodiferiuentreos gruposexperimentais(Hauber,2002).Em Argiope argentata ,aranhasquetiveramumdos lados do corpo encoberto capturaram mais presas do que indivíduos não encobertos.

Segundoosautoresestaseriaumaevidênciadequeacoloraçãodasaranhasatrairiapresas, pois ao encobrirem um dos lados da aranha, se estaria ao mesmo tempo aumentando o contrastedacoloraçãodooutroladocomofundo(Craig &Ebert,1994).Contudo,seas aranhascomumdosladosencobertoscapturammaispresas,podesetambémconcluirquea coloraçãodaaranhainfluencianegativamentenosucessodecapturadasteias.

Alémdeaumentarosucessodecapturadasaranhas,acoloraçãopoderiaatrairtipos específicosdepresas.Aproporçãodeinsetospolinizadorescapturadospor A. argentata com oventreencobertofoimenordoqueemindivíduoscomodorsoencoberto,muitoembora essadiferençanãosejaestatisticamentesignificativa(Craig&Ebert,1994).

Deformasemelhante,épossívelqueemboranãohajadiferençanonúmerodepresas capturadaspor G. cancriformis ,osmorfosatraiampreferencialmentealgumaspresas.Porém,

Diptera foi a principal presa capturada pelas teias de G. cancriformis (Capítulo 3) e indivíduos de Drosophila melanogaster não mostraram nenhuma preferência pelas coloraçõesdaespécienolabirintoemT.Sóumaanálise detalhada das presas capturadas pelosdiferentesmorfospoderiatestaressahipóteseadequadamente.

Nephila clavipes produz teias com reflectâncias diferentes dependendo da luminosidade do ambiente, e a taxa de associação de abelhas com um estímulo negativo

(teia)dependedeumainteraçãodacoloraçãodateiaealuminosidadedoambiente(Craig,

1994; Craig et al ., 1996). Da mesma forma, podese imaginar que os morfos de G. cancriformis habitemambientescomluminosidadesdiferentesesuaeficiênciadecapturade presas dependa da luminosidade e da coloração do dorso. No entanto, neste caso seria

57 esperadoqueasaranhaspintadasdepreto,quenasuamaioriaeramdomorfoamarelocom espinhospretos,tivessemumsucessodecapturamenordoqueosdemais.

Alguns padrões de cores, principalmente os metálicos, podem contribuir com a termoregulaçãoemaranhas(Robinson&Robinson,1978).Noentanto, G. cancriformis não possuicoresmetálicasesuasposturastermoregulatóriasnãodirecionamodorsoparaosol

(Robinson&Robinson,1978).

Alternativamente, os padrões mais conspícuos de G. cancriformis poderiam funcionar como colorações aposemáticas (Robinson & Robinson, 1970; Robinson &

Robinson, 1978). As fêmeas possuem o abdômen rígido e com espinhos, e os principais predadoresdearanhasseriamvespas(Rehnberg,1987;Wise,1993;Foelix,1996;Camillo&

Brescovit,2000;Camillo,2002)epássarosinsetívoros(Rypstra,1984;Wise,1993;Foelix,

1996),ambosorientadospelavisão.Diversosmorfosde G. cancriformis apresentamfaixas quefluorescemsobluzUV,circundandoosespinhos(Ramirez&VasconcellosNeto,dados não publicados; Gawryszewski & Motta, dados não publicados) e, em alguns pássaros, a fluorescência de penas, em conjunto com a reflectância na faixa do UV, é importante na seleção sexual (Pearn et al ., 2001). Contudo, vários indivíduos de G. cancriformis foram encontrados em ninhos de Trypoxylon rogenhoferi (Hymenoptera: Sphecidae) (Camillo &

Brescovit,2000).

Sedefatoascoloraçõesforemaposemáticas,comoexplicaropolimorfismo,tendo em vista que seria mais vantajoso um monomorfismo para reforçar o aprendizado do predador? Polimorfismo em espécies aposemáticas pode ser mantido se o grau de impalatabilidadeforvariável,nãomuitoalto,ousediferentespredadoresvariamnograude aceitaçãodapresa(Greenwood et al .,1981;Thompson,1984).Dessaforma, G. cancriformis poderianãoserpalatávelapenasemalgumassituações,ouaindaserimpalatávelapenaspara algunsdeseuspredadores.Avespa caçadoradearanhas Sculiphron laetum ,porexemplo, evita alimentar os primeiros instares de sua prole com Gasteracantha brevispina ,

58 possivelmentepeladificuldadequeaslarvasteriamemromperoabdômenrígidodaespécie

(Elgar&Jebb,1999).

Concluindo,osresultadosdestetrabalhonãodãosuporte a hipótese da atração de presas para a coloração em Gasteracantha cancriformis , nem em campo, nem em laboratório. Embora existam evidências da coloração como atração de presas em outras espécies de aranhas, muitos resultados são contraditórios. Outras hipóteses, como aposematismo,precisamsertestadasparatentarexplicaracoloraçãoem G. cancriformis e emoutrasespécies.

59

Capítulo 3

Stabilimentum em Gasteracantha cancriformis : testando a hipótese da atração de presas e da proteção da teia

1. INTRODUÇÃO

Diversas aranhas de teia orbicular exibem decorações em suas teias, usualmente chamadasde stabilimenta .Estetermoéutilizadoparaumaamplavariedadedeornamentos, incluindo os zigzags de seda na forma de cruz ou disco no centro da teia de Argiope

(Araneidae) e espécies da família Uloboridae, restos de presa nas teias de Nephila ,

Nephylengys (Nephilidae)eCyrtophora(Araneidae),materialorgânicoedetritosnocentro dateiaem Cyclosa (Araneidae)etufosdesedaaderidosnocentroeperiferiadasteiasde

Witica, Micrathena e Gasteracantha (Araneidae)(Herberstein et al .,2000).

Inúmeras hipóteses foram elaboradas para explicar a função dessas estruturas: suporte estrutural da teia (Robinson & Robinson, 1970; Robinson & Robinson, 1973), termoregulação por sombreamento (Humphreys, 1992 apud Herberstein et al., 2000), resposta a situações de estresse (Nentwing & Rogg, 1988), aumento no sucesso de forrageamento pela atração de presas (Craig & Bernard, 1990; Tso, 1996; Hauber, 1998;

Tso,1998a;Tso,1998b;Watanabe,1999a;Herberstein,2000;Bruce et al.,2001;Craig et al.,2001;Bruce et al.,2004;Li et al.,2004;Li,2005),proteçãocontraapredaçãoatravésde camuflagem, confusão visual do predador, aposematismo ou barreira física (Ewer, 1972;

Eberhard, 1973; Lubin, 1975; Tolbert, 1975; Eberhard, 1990; Schoener & Spiller, 1992;

Blackledge & Wenzel, 2001; Eberhard, 2003; Gonzaga & VasconcellosNeto, 2005) e proteçãodateiacontraadestruiçãoporgrandesanimais(Horton,1980;Eisner&Nowicki,

1983;Edmunds,1986;Blackledge&Wenzel,1999).

60

Gasteracantha cancriformis também exibe stabilimentum em suas teias. Ele é caracterizadoportufosdesedaaderidosnosfiosdesustentaçãoecentrodateia.Cadatufo medeaproximadamente1cmesãocolocadosespaçadamentenosfios.Dashipótesesparaa funçãodo stabilimentum ,duasparecemmelhorseaplicara Gasteracantha cancriformis :a hipótesedaatraçãodepresaseahipótesedaproteçãodateia.

A hipótese da atração de presas propõequeo stabilimentum aumentaosucessode forragemento das aranhas por ludibriar o sistema visual de insetos. As decorações possuiriampropriedadesreflectivas(i.e.reflectâncianafaixadoultravioleta)queatrairiam presas(Herberstein et al .,2000).

De fato, experimentos em campo manipulando a presença de stabilimentum ou correlacionandopresençade stabilimentum enúmerodepresascapturadas,mostraramquea presençadoornamentoaumentavaataxadecapturadasteias(Craig&Bernard,1990;Tso,

1996;Hauber,1998;Tso,1998a;Tso,1998b;Watanabe,1999a;Herberstein,2000;Bruce et al.,2001;Craig et al.,2001;Bruce et al.,2004;Li et al.,2004;Li,2005).Emlaboratório, quando colocadas em um labirinto onde tinham que escolher a saída com ou sem stabilimentum ,presassistematicamenteescolhiamasaídaondeseencontravamasteiascom stabilimentum ,eessaescolhaerainfluenciadapelareflectânciadeluzultravioleta(Craig&

Bernard,1990;Watanabe,1999a;Bruce et al.,2001;Li et al.,2004).

Contraditoriamente, outro trabalho com Argiope aurantia mostrou que o stabilimentum diminuía o sucesso de forrageamento das aranhas (Blackledge & Wenzel,

1999). Além disso, quando teias com e sem stabilimentum foram pareadas em locais de alimentação de pássaros, a taxa de destruição foi menor nas teias que possuíam os ornamentos(Blackledge&Wenzel,1999)dandosuporteà hipótese da proteção da teia .

Segundoestahipóteseo stabilimentum seriaumsinaldeavisoaanimaisdemaior porte(principalmentepássaros)dapresençadeumateiacolanteeresistente.Aoassociarem o stabilimentum comumestimulonegativo,ataxadedestruiçãode teiascomornamento

61 seria reduzida (Horton, 1980; Eisner & Nowicki, 1983; Edmunds, 1986; Blackledge &

Wenzel,1999).

Portanto, a função dessas estruturas ainda não está bem explicada, mesmo em

Argiope ,ogêneromaisestudado.Muitasdessashipótesesnãosãomutuamenteexclusivase diferentesforçasseletivaspodemterlevadoaoaparecimentodedecoraçõesnasteias,pois análisesfilogenéticasindicamqueessasestruturassurgirammaisdeumavez(Herberstein et al.,2000).

Sendo assim, analogamente aos ornamentos em zigzag de Argiope , os tufos poderiam atrair presas para as teias de Gasteracantha cancriformis . Alternativamente, os tufostambémpoderiamprotegerateiaaoavisarpássarosdesuapresença,poisasteiasdessa espécieseencontramemlocaisabertoseacimadoestratoherbáceo,oquepossivelmenteas tornamsuscetíveisadestruiçãoporpássaros.

Portanto,estetrabalhotestouahipótesedaatraçãodepresaseahipótesedaproteção dateianaespécie Gasteracantha cancriformis .Emumexperimentoemcampofoiavaliadaa influênciadostufosnonúmerodepresascapturadas,nonúmerodeburacosnateia,notipo depresascapturadasenadestruiçãodasteias.Adicionalmentefoianalisada,emlaboratório, aatratividadedostufosparaumapresaempotencialde G. cancriformis .

2. METODOLOGIA

2.1. Animal de estudo e área de estudo

Neste trabalho foram utilizadas teias de fêmeas adultas e subadultas da aranha de teiaorbicular Gasteracantha cancriformis (Araneidae).Oestudodecampofoirealizadono mêsdejunhode2006,emumavegetaçãodecerrado sensu stricto daFazendaÁguaLimpa daUniversidadedeBrasília(S15º57'13''W47º55'13'';1130mdealtitude),Brasília,DF,

Brasil,emumaáreadeaproximadamente550mx400 m (mais detalhes sobre a área de

62 estudonoCapítulo1).Oexperimentoemlaboratóriofoirealizadonosmesesdeagostoe semembrode2006.

2.2. Efeitos da manipulação da visibilidade dos tufos

Neste experimento os tufos de teias de G. cancriformis foram pintados com tinta preta,comoobjetivodeavaliaroefeitodostufosnacapturadepresas,notipodepresas capturadasenataxadedestruiçãodasteias.

Osquatroprimeirostópicosdescritosabaixofazempartedessamesmamanipulação experimental, mas para facilitar o entendimento foram separados em itens distintos. O primeirotópicodescreveametodologiaqueécomumatodos.

2.2.1 Geral

Foramincluídasnessamanipulaçãoexperimentalapenasteiasqueseencaixavamem requisitosdefinidos a priori ,sendoeles:alturamínimade100cmdosoloatéocentrodateia emáximaatéondefossepossívelmanipularasteiassemdificuldade(aproximadamente2,50 m);mínimode50tufosexternose3tufosinternos;larguratotaldateiamaiorque1m;raio inferior da teia maior que 10 cm (como parâmetro para reduzir a variação na área de captura); e teias sem nenhuma barreira física a menos de aproximadamente 3 m (e.g.

árvores)afrenteeatrás,quepudesseimpedirovôodeumpássaro.

Estes experimentos levaram em conta apenas o efeito dos tufos, sem considerar a coloraçãodaaranhaouumainteraçãoentreacoloraçãoeostufos,poistodasaranhasforam removidasdasteias,tomandosesempreocuidadodenãodanificálas.

Presasempacotadasnocentroouperiferiadasteias,assimcomoexúviasdeixadasem fios de suporte, também foram cuidadosamente removidas da teia para que não influenciassemnosexperimentos.

Primeiramenteerammedidososseguintesparâmetrosdateia:alturadateia(dosolo atéocentrodateia),larguratotaldateia,áreadecapturadateia,estimadautilizandosea

63 fórmulaapresentadaporHerberstein&Tso(2000),eonúmerodetufosexternoseonúmero detufosinternos.

Na seqüência, sorteavase em qual grupo experimental a teia seria incluída: (1)

‘tufos’ pintados de preto ou (2) ‘ intervalos entre os tufos ’ pintados de preto , como controle da tinta. No grupo (1) todos os tufos da teia eram pintados, inclusive os tufos internos.Nocontrole(2),todososintervalosentreostufosexternoserampintados.Ostufos internosmuitasvezespossuemintervalosmuitopequenosentreeles,eporissoerapintado umraiodeteiaadjacenteaostufos,detamanhoequivalente.

Foram utilizados pincel e tinta guache da cor preta, a base de água e não tóxica

(têmpera guache cor preta, frasco 15 ml, Acrilex). Essa tinta não possui propriedades reflectivassignificativasnafaixade300a700nm,comopodeserverificadopelaFigura2.1

(Capítulo2),obtidaapartirdamédiadetrêsamostrasdetintapintadasempapel,utilizando ametodologiaapresentadanoCapítulo1.Apóspintarostufos,avisibilidadedasteiasera marcantementereduzida,pelomenosaosolhoshumanos.

Foramutilizadas26teiasemcadagrupoexperimental,emumtotalde4a5teiaspor dia.Comoobjetivodeminimizarainfluênciadavariaçãononúmerodepresascapturadas aolongoeentreosdias,osorteiofoidirigido,deformaquenãoerapermitidomaisdoque2 teiasmanipuladasdamesmaforma,emseqüência,duranteummesmodia.

2.2.2 Efeito dos tufos no número de presas capturadas e número de buracos na teia

Ainfluênciado stabilimentum nacapturadepresasfoi avaliadacomparandoseo númerodepresasenúmerodeburacosnasteias,aolongodeumdia,entreasteiasdosdois gruposexperimentais(tufos pintados de preto e controle) .

Cadateiafoimonitoradaduranteumdiainteiro,das09has18h,emintervalosde aproximadamente1h45min,oquesignificouumtotalde6visitasparacadateia.Aprimeira

64 visita representa o estado da teia antes da manipulação, pois é o momento onde foram pintadas.

Emcadavisitaeramcontados(1)todososinsetospresentesnateiae(2)onúmerode buracosnateia.Osinsetoseramvisualmenteseparadoscomomaioresoumenoresdoque2 mm. Durante o intervalo entre as visitas alguns insetos podem ter sido capturados e conseguidosesoltar,assim,osburacosnateiafuncionamcomoumaindicaçãoindiretade queumapresainterceptouateia(Craig,1988;Craig,1989;Hauber,1998;Hauber,2002).

Paraevitararecontagem,alocalizaçãodosburacoseraanotada.

Ogrupocontroleficoucomumtotalde23teiaseogrupocomostufospintadosde pretoficoucomumtotalde24teias,pois5teias foram total ou parcialmente destruídas duranteesteexperimento.

Onúmerodepresasmenoresdoque2mmeonúmero de buracos na teia foram analisados separadamente, utilizando um Repeated Measures General Linear Model . As medidasrepetidasincluemnomodelotodasasvisitasàsteiassemromperoprincípioda independênciadasvariáveis.

Antes das análises, o número de presas e o número de buracos na teia foram transformadascomln(x + )1 e x ,respectivamente,paraseencaixaremnosprérequisitos domodelo.

Asvisitasàsteiasentraramnomodelocomo‘withinsubjectsfactor’,amanipulação entroucomo‘betweensubjectsfactor’eaáreadecapturadateiaentroucomo‘covariates’.

Oprérequisitodaconstânciadacovariânciadamatrizdevariáveisdependentesnão foirompidoparanenhumdosdoismodelos(paraonúmerodepresas:Box’sM=22,524;F

=0,918;gl1=21;gl2=7417,327;P=0,567;paraonúmerodeburacos:Box’sM=31,978;

F=1,303;gl1=21;gl2=7417,327;P=0,160)

Nenhuma das análises passou no teste de esfericidade (para o número de presas:

Mauchly'sW=0,27;aprox.χ 2=151,415;gl=14;P<0,001;paraonúmerodeburacos:

65

Mauchly'sW=0,27;aprox.χ 2=152,393;gl=14;P<0,001)eportantofoiutilizado o ajuste Greenhouse-Geisser .

Onúmerodepresasmaioresque2mmrompeudiversosprérequisitosparaaanálise paramétricaeporissofoianalisadoutilizandootestenãoparamétricoMannWhitney.Paraa análisefoisomadoonúmerototaldepresasmaioresque2mmaolongododia(excluindoas presasdaprimeiravisitaateia)edivididopelaáreadecapturadateia.

2.2.3 Efeito dos tufos no tipo de presas capturadas

Com ointuito de avaliar os tipos de presas capturadas e se os tufos atraem tipos específicos de presas para as teias de Gasteracantha cancriformis , na última visita do experimentodescritoacima,todasaspresaspresentesnateiaforamcoletadaseconservadas emálcool80%.Tomouseocuidadodenãodanificarateiacomaremoçãodaspresas.Em laboratórioaspresasforamidentificadasaoníveldeordem,comoauxíliodelupasechaves deidentificação.

O número de presas de cada ordem foi analisado separadamente. Diptera e

Hymenopterapreencheramosprérequisidosdehomogeneidadedavariânciaenormalidade dos resíduos, após transformação por ln(x + 1), e por isso foram analisados utilizando

Univariate General Linear Model ,ondeaáreadecapturadateiaentroucomo covariate .As demaisordensforamanalisadasutilizandootestenãoparamétricoMannWhitney.Antesdas análisesonúmerodepresasdessasordensfoidividopelaáreadecapturadasteias.

2.2.4 Efeito dos tufos na proteção da teia

Ahipótesedaproteçãodateiafoitestadamonitorandoograudedestruiçãodasteias deambososgruposexperimentais,(1) teias com tufos pintados de preto e(2) controle, durante todo o experimento do efeito dos tufos na captura de presas e por mais 3 dias consecutivos,comvisitasàsteiassempreentre15he17h.

66

Nasvisitaseramobservadosdanosquerompiamáreasinteirasdaáreadecapturadas teias.Opercentualdedestruiçãoeraestimadopelonúmeroderaiosdateiaatingidos,com

0% significando uma teia intacta e 100% uma teia totalmente destruída. As teias foram agrupadasemdanosde0%,150%e51100%.Onúmerodeteiasnastrêscategoriasfoi comparadoentreosgruposutilizandotestechiquadradoparaoúltimodiadevisitaàsteias.

2.3. Efeito dos tufos na atração de presas em um labirinto em T

Aatratividadedostufosde G. cancriformis paraumpresaempotencialfoianalisada utilizandose um labirinto em forma de T, seguindo metodologia adaptada da literatura

(Craig&Bernard,1990;Watanabe,1999a;Bruce et al.,2001;Li et al.,2004;Gonzaga&

VasconcellosNeto,2005).OlabirintofoiconstruídocomtubosdePVCeumregistrode rótula, nos padrões descritos na Figura 2.2 (Capítulo 2). Como presas foram utilizadas culturasde Drosophila melanogaster .

Fiosdesedacomtufosesemtufosforamcoletadosde10teiasnocampo,trazidos paraolaboratórioearmadosemumaestruturafeitadepalitosdemadeirapintadosdepreto, nasdimensõesmostradasnaFigura3.1.Osfiosdesedaforamenroladosnasextremidades dessasestruturas,emumtotalde2a4voltas.

67

25 cm

a

b 6 cm

25 cm

Figura 3.1 Esquemamostrandoasdimensõesda(a)estruturademadeiraconstruídapara sustentaros(b)fiosdesedacoletadosnocamponoexperimentodeatraçãodepresas.

Essasestruturaseramposicionadasdeformaqueos fios de seda ficassem a uma distânciade2a3cmdassaídasdolabirinto.Aestruturaerafixaaochãoeposicionadaem umânguloquedificultassesuavisibilidadepelapresa.

Àfrenteeaosladosdolabirintoforamfixadasfolhasdepapelcamurçapreto,auma distância de aproximadamente 50 cm. As folhas de papel camurça propiciam um grande contrastedecorcomostufosdesedaeaomesmotempogarantemumahomogeneidadeda iluminaçãodofundoambiente.Assaídasdolabirintoforamcobertascomfilmeplásticopara evitarqueodorespudesseminfluenciarnoexperimento.Ailuminaçãodolabirintofoifeita comluznatural,vindadeumaamplajanelalocalizadaaproximadamente2mafrente,mas sematingirdiretamenteolocaldolabirinto.Otrabalhofoirealizadosempreentre09h00e

12h30.

Oexperimentoconsistiaemposicionarumfiodesedacomtufoeoutrosemtufoem cada saída do labirinto e observar que saída um indivíduo de Drosophila melanogaster escolhia. Em uma primeira rodada a posição inicial do fio com tufo era estabelecida

68 aleatoriamente.Emumasegundarodadaosmesmosfioseramtrocadosdeladoparaquea posiçãonãoinfluenciassenaescolhadapresa.Foramrealizadasumtotalde20rodadas,sem nuncarepetirumfiocomtufoouumfiosemtufode uma mesma teia, com exceção da rodadaparacontrolaroefeitodaposição.Tambémnuncaforampareadosfioscomtufose fiossemtufosdeumamesmateia.

Primeiramente,indivíduosde Drosophila melanogaster eram anestesiados a frio (

14ºC)por4ou5mineentãoindividualizadosempequenosrecipientesondeeramdeixados paraserecuperarpornomínimo5min.Emseguida,apenasumapresaeratransferidaparao compartimentoinicialdolabirintoedeixadaseaclimatizarporpelomenos1min.

Oexperimentocomeçavaquandoocompartimentoinicialeraaberto,permitindoque apresaescolhesseumadasduassaídas.Foidefinidocomoumaescolhaquandoamosca encostava em um dos filmes plásticos que revestiam as saídas do labirinto. O tempo decorridodaaberturadolabirintoeracronometrado.Seapós6minapresanãoescolhesse nenhumadassaídas,oexperimentoeracanceladoereiniciadocomoutroindivíduo.Uma mesmamoscanuncaerautilizadamaisdeumavez.

Para evitar que odores deixados pela presas afetassem as rodadas subseqüentes, sempreentreumatentativaeoutraolabirintoeralavadocomálcool40%,emseguidacom

água corrente e seco com papel higiênico. Os filmes plásticos também eram sempre substituídosentreasrodadasdoexperimento.

Osdadosforamanalisadosutilizandoseumtestebinomial(proporçãode0,500).

2.4. Softwares estatísticos e nível de significância

Todas as análises foram feitas utilizando o pacote estatístico SPSS v. 13.0 para

Windows (SPSS Inc., 2004), com nível de significância de P ≤ 0,050 e bicaudais. Os gráficosforamconstruídoscomauxíliodo software SigmaPlotv.9.0(SystatSoftwareInc,

2004).

69

3. RESULTADOS

3.1. Parâmetros das teias

Os parâmetros avaliados nas teias com os tufos pintados e controle foram semelhantesentresi(Tabela3.1).

3.2. Efeito dos tufos no número de presas capturadas e número de buracos na

teia

Onúmerodepresasmenoresdoque2mm(Tabela3.2;Figura3.2a)eonúmerode buracosnateia(Tabela3.3;Figura3.2 b)nãodiferiram entreos gruposexperimentaisao longo das visitas. Apenas a variação ao longo das visitas foi significativa na análise do númerodepresasmenoresdoque2mm(Tabela3.2)edonúmerodeburacosnateia(Tabela

3.3).

Damesmaforma,onúmerodepresasmaioresdoque2mmnãofoidiferenteentreas teiascomostufospintados(mediana±75%quartil=0,00±1,8310 3presas/cm 2)easteias dogrupocontrole(mediana±75%quartil=0,00±1,7410 3presas/cm 2)(MannWhitneyU=

266,0;N 1=23;N 2=24;P=0,817).

3.3. Efeito dos tufos no tipo de presas capturadas

Ostufostambémnãoinfluenciaramnaquantidadedepresascapturadasquandoessas foramseparadasporordens(Figura3.3).ParaDipteraaáreadecapturafoisignificativa(F=

4,120;gl=1;P=0,048),masnãoamanipulaçãoexperimental(F=1,527;gl=1;P=0,222).

ParaHymenoptera,nemaáreadecaptura(F=0,170;gl=1;P=0,832),nemamanipulação experimental (F = 0,723; gl =1; P = 0,168) foram significativas. Da mesma forma, a manipulação experimental também não influenciou no número de Thysanoptera (Mann

Whytney:U=239,5;N 1=23;N 2=24;P=0,436),Homoptera(MannWhytney:U=218,0;

70

N1=23;N 2=24;P=0,144),outrasordens(MannWhytney:U=247,5;N 1=23;N 2=24;P

=0,495) einsetosnãoidentificados(MannWhytney: U = 260,5; N 1 = 23; N 2=24;P=

0,717)capturadospelasteias.

Aproporçãodepresascapturadasfoisemelhanteemambososgruposexperimentais.

Dipterafoiaordemdeinsetosmaiscapturadapelasteias,68,6%nogrupodostufospintados e59,2%nogrupocontrole,seguidodeHymenoptera,18,5%e26,9%,Thysanoptera,6,1%e

7,8%,Homoptera,2,2%e1,5%,outras,2,3%e1,8%,enãoidentificados,2,3%e2,8%.

3.4. Efeito dos tufos na proteção da teia

Aproporçãodeteiasdestruídasnãofoidiferenteentreosgruposexperimentais( χ 2 =

0,796;gl=2;P=0,672).Nofinaldoprimeirodia90%dasteiasaindaestavamintactas(0% dedano)(Figura3.4).Noquartodiaaindaaproximadamente33%dasteiasaindaestavam intactas (Figura 3.4), 28% estavam entre 150% destruídas e 39% entre 51100%, independentementedamanipulaçãoexperimental.

3.5. Efeito dos tufos na atração de presas em um labirinto em T

OtestedaatratividadedostufosnolabirintoemTnãomostrounenhumadiferença significativaentreosgrupos.Oitode20indivíduosde D. melanogaster escolheramolado dolabirintocomofiodesedacomtufos(Binomial;N 1=8;N 2=12;P=0,503). Drosophila melanogaster levou122±115s(média±DP)parafazerumaescolha e não apresentou nenhumapreferênciapelasaídaesquerdaoudireitadolabirinto(Binomial:N 1=6;N 2=14;

P=0,115).

71

Tabela 3.1. Média ± desvio padrão dos parâmetros avaliados nas teias para os experimentos de campo com os tufos das teias de Gasteracantha cancriformis.

Parâmetro Controle Tufos pintados

Altura da teia (cm) 148 ± 29 148 ± 30

Área de captura (cm 2) 673,8 ± 171,4 622,6 ± 143,0

Largura da teia (cm) 161 ± 51 159 ± 49

N tufos externos 88,0 ± 28,4 91,8 ± 27,0

N tufos internos 5,1 ± 1,4 5,4 ± 1,6

Tabela 3.2. Repeaed measures general linear model para o número de presas presente na teia, após tranformação por ln (x + 1), no experimento do efeito dos tufos na captura de presas em Gasteracantha cancriformis. Os graus de liberdades foram multiplicados pelo fator de correção Greenhouse-Geisser , no valor de 0,441. SS Variável Tipo III gl F P visita 5,322 2,205 10,904 <0,001 visita * área de captura 1,110 2,205 2,274 0,103 visita * manipulação 0,318 2,205 0,652 0,538 Error (visita) 21,475 97,004

Tabela 3.3. Repeaed measures general linear model para o número de buracos na teia, após transformação por x , no experimento do efeito dos tufos na captura de presas em Gasteracantha cancriformis. Os graus de liberdades foram multiplicados pelo fator de correção Greenhouse-Geisser , no valor de 0,439. SS Variável Tipo III gl F P visita 4,416 2,196 6,007 0,003 visita * área de captura 0,164 2,196 0,224 0,820 visita * manipulação 1,134 2,196 1,542 0,218 Error (visita) 32,349 96,608

72

4 (a) Pré-manipulação Controle Tufos pintados 3

2 Ln (N de presas +(N 1) Ln 1

0

4 (b) Pré-manipulação Controle

0,5 Tufos pintados 3

2

1 (Número de buracos na teia) na de buracos (Número

0 1 2 3 4 5 6

Visita a teia

Figura 3.2. (a) Médiadoln(x+1)donúmerodepresasmenoresque2mme(b)médiada raizquadradadonúmerodeburacosnateiaparaogrupocomostufospintadoseogrupo controle no experimento do efeito dos tufos na captura de presas em Gasteracantha cancriformis . A visita número 1 corresponde ao estado das teias antes da manipulação experimental.Asbarrasdeerrorepresentamodesviopadrãodasmédias.

73

40 NS Controle Tufos pintados

30

20

NS Número de presas Número

10

NS NS NS NS

0 a a a a s I ter ter ter ter tra N ip op op op Ou D en an m m ys Ho Hy Th

Ordem Figura 3.3. Média do número depresas, separadaspor ordens, capturadas pelas teias do grupo experimental com os tufos pintados e o grupo controle de Gasteracantha cancriformis .Asbarrasdeerrorepresentamodesviopadrãodasmédias.NS:diferençanão significativaentreosgrupos.

1,0 Controle Tufos Pintados 0,8

0,6

0,4

Proporção de Proporção teias intactas 0,2

0,0 1 2 3 4

Dia Figura 3.4. Proporçãodeteiasintactas (0%de dano)durante4 dias consecutivos para o grupo com os tufos pintados e o grupo controle, no experimento do efeito dos tufos na proteçãodateiaem Gasteracantha cancriformis .

74

4. DISCUSSÃO

Contrariamenteàhipótesedaatraçãodepresaseàhipótesedaproteçãodateia,os dadosdestetrabalhomostramqueostufossãoneutrostantoparaacapturadepresasquanto paraaproteçãodateia.Osresultadosnãocorroboramahipótesedaatraçãodepresas,poiso númerodepresascapturadas,menoresemaioresdoque2mm,eonúmerodeburacosna teiafoiomesmoparaambasasmanipulações.Quandoseparadasporordens,onúmerode presascapturadastambémnãodiferiuentreosgrupos.Alémdisso, Drosophila melanogaster não mostrou nenhuma preferência por fios com ou sem tufos no labirinto em T. Os resultadostambémnãocorroboramahipótesedaproteçãodateia,poisataxadedestruição dasteiasfoiamesmaindependentementedamanipulaçãoexperimental.

Diferentemente dos resultados deste estudo, a hipótese do stabilimentum como atração de presas foi corroborada por um grande número de trabalhos (Craig & Bernard,

1990; Tso, 1996; Hauber, 1998; Tso, 1998a; Tso, 1998b; Watanabe, 1999a; Herberstein,

2000;Bruce et al. ,2001;Craig et al. ,2001;Bruce et al. ,2004;Li et al. ,2004;Li,2005).

Segundoessahipóteseosinsetossãoatraídosparaasteiasporqueo stabilimentum possuium espectro de reflectância que ludibria o sistema visual desses animais (Herberstein et al.,

2000).Nocasode G. cancriformis ,ostufosparecemserimperceptíveisparaaspresas,já quenãohouvenemreduçãonemaumentononúmeroenotipodepresascapturadas,ou preferênciadestasporfioscomousemtufosemlaboratório.

Além dos resultados deste trabalho duas outras evidências comportamentais contradizemahipótesedaatraçãodepresas.Amaioriadostufosseencontramforadaárea decaptura,noentantoseostufosatraíssempresasseriaesperadoqueelesseconcentrassem naáreadecapturadepresas.Eduranteoperíododamuda G. cancriformis nãoproduzteia paraacapturadepresas,noentantoumasériedetufossãoaderidospróximoaolocalondea aranhapermanece.

75

Aparentemente os dados deste Capítulo contrastam com um dos resultados do

Capítulo1,ondefoiencontradaumarelaçãopositivaentreonúmerodetufoseonúmerode restos de presa na teia. No entanto, é possível que ao invés de atraírem presas, os tufos camuflemateiaparaosinsetos.Assim,ummaiornúmerodetufosnateiasignificariauma teiamenosperceptível.Atintapretapoderiateromesmoefeitoqueostufoseporissonão foi encontrada diferença entre os grupos experimentais. O fato dos tufos serem aderidos principalmentenosfiosquesustentamateiaéumaevidênciaafavordessahipótese,tendo em vista que esses são os fios de maior calibre, e por isso, possivelmente os mais perceptíveis por parte dos insetos. Porém, se os tufos tornassem os fios de seda menos perceptíveis,seriaesperadoquenolabirintoemTosinsetosescolhessempreferencialmente osfiosdesedacomtufos,oquenãoaconteceu.

Emboraasteiasde G. cancriformis sejamlargas,construídasemlocaisabertoseos tufos as deixem bastante visíveis, pelo menos aos olhos humanos, a presença do stabilimentum nãoinfluenciounataxadedestruiçãodasteias.

Nesteestudo,33%dasteiasmanipuladasecontroleaindaestavamintactasapós4 diasdeexperimento,oquecontrastacomoutrostrabalhosondeapós12h,apenas10%das teiassem stabilimentum estavamintactasenquanto60%asteiascomumfalso stabilimentum permaneciaminteiras(Eisner&Nowicki,1983).Ouainda,oefeitonareduçãodafreqüência de dano em 45% em teias com stabilimentum quando comparadas com teias sem o ornamento(Blackledge&Wenzel,1999).Alémdisso,durantetodaaexperiênciadecampo destetrabalho,nuncanenhumpássarofoivistodestruindooudesviandodeteiasdaespécie.

Talvezasteiasde G. cancriformis ,mesmosemostufos,sejampercebidasporpássaros.

Como a aranha foi removida da teia, é possível que o efeito dos tufos só seja perceptívelquandointeragindocomopadrãodecoloraçãodasaranhas.Noentanto,mesmo queainteraçãodostufoscomasaranhasproduzissemumresultadomaismarcante,parece

76 improvável que os tufos sozinhos não tivessem algum efeito na captura de presas ou proteçãodateia.

Emambosos gruposexperimentaisatintaestavapresente. Épossívelqueatinta tenhaumefeitomuitomarcante,positivoounegativo,naatraçãodepresasounaproteçãoda teia,deformaamascararoefeitodostufos.Porexemplo,atintapoderiadeixarateiamais aparentequandovistaporoutrossistemasvisuais.Noentanto,oespectrodereflectânciada tintanãocorroboraessaidéiae,ainda,estamesmatintanãoinfluenciounaatraçãodepresas no Capítulo 2. Um outro estudo que utilize teias não manipuladas poderia analisar esta questão.

Amaioriadasoutrashipótesesparaafunçãodo stabilimentum nãoparecemexplicar a presença dos tufos de G. cancriformis . Os tufos são frouxamente presos aos fios, se desfazem com certa facilidade e não são elásticos, e por isso é improvável que o stabilimentum nestaespéciefuncionecomoreforçoestruturaldateia.Ostufostambémnão parecemfuncionarcomobarreirafísicacontrapredadores,camuflarousombrearaaranha,já queelessãoaderidosemlocaisquenãoencobremoudisfarçamaformadaaranha.

Em diversos animais, cores e padrões conspícuos funcionam como sinais aposemáticosdaeventualimpalatabilidadedapresa.Damesmaforma,ostufospoderiam avisar a potenciais predadores da presença de uma espécie pouco palatável. As teias da espécie são normalmente construídas em locais visíveis e a aranha possui um abdômen rígidocomespinhos,alémdaprópriateiaserpegajosa.Essahipóteseéreforçadapelofato, descritoacima,dequeduranteumadasfasesmaisvulneráveis da vida de uma aranha, a muda,essaespéciepermaneceemlocaisabertoseadereumasériedetufosemfiospróximos aela.

Duranteessetrabalhoumindivíduode G. cancriformis foiobservadosendoatacado, semsucesso,porumavespapredadoradafamíliaSphecidae.Noentanto, G. cancriformis, e

77 outras espécies do mesmo gênero, são encontradas em ninhos de vespas caçadoras de aranhas(Camilo2002;Elgar&Jebb,1999).

Em muitos grupos animais as cores também têm um importante papel na relação intraespecífica,funcionando,porexemplo,comosinaldavitalidadeedasaúdeimunológica demachosdealgumasespéciesdepássaros(Blount et al .,2003).Aprincípioestenãoéo casoemAraneoidea,que,segundoFoelix(1996),possuemumavisãomuitodeficiente.No entanto são escassos os estudos de visão em Araneidae (Tiedemann et al ., 1986) e aparentemente nenhum estudo testou a acuidade visual e percepção de cores em machos dessafamília.

Porfim,háapossibilidadedequeo stabilimentum em G. cancriformis tenha tido alguma função no passado evolutivo da espécie, mas atualmente essas forças seletivas desapareceram.Em Argiope ,entretanto,o stabilimentum representacercade10%dopeso secodasteias(Blackledge,1998b).Assim,háumcustoenergéticoassociadoàconstruçãodo stabilimentum edessaformaseriaesperadoque,senãohouvesse nenhuma força seletiva atuando sobre sua manutenção, houvesse, ao contrário, uma força seletiva para que ele desaparecesse.

Portanto,assimcomoemdiversosestudossobre stabilimentum ,afunçãodostufos nasteiasde Gasteracantha cancriformis permanececontroversa.Éinteressantequeduasdas principaishipótesesparaexplicaro stabilimentum ,atraçãodepresaseproteçãodateia,não se apliquem à espécie, bem como a maioria das outras hipóteses sobre a função destas estruturas.Assim,estetrabalhoabreapossibilidadedesetestareelaboraroutrashipóteses, como aposematismo e camuflagem da teia, sobre a função dos ornamentos nas teias das aranhas.

78

Considerações finais

Neste trabalho foram encontrados pelo menos oito fenótipos de Gasteracantha cancriformis :amarelocomespinhospretos;brancocomespinhospretos;pretoebrancocom espinhos pretos; laranja/vermelho com espinhos pretos; amarelo com espinhos avermelhados; branco com espinhos avermelhados; preto e branco com espinhos avermelhados;elaranjacomespinhosavermelhados.

Ahipótesedaatraçãodepresas,amaisestudadapara explicarpadrões conspícuos emteiasenocorpodearanhasdeteiaorbicular,nãopareceseaplicarparaascoloraçõese tufosde G. cancriformis .Osseguintesresultadosindicamessaconclusão:

(1) Embora no Capítulo 1 tenha sido encontrada uma relação positiva entre o tamanhodaaranhaeonúmerodepresaspresentesnateia,acoloraçãodaaranha,quando comparada entre os morfos, ou com indivíduos pintados de preto ou amarelo, não influenciounonúmerodepresascapturadas,nonúmerodeburacosnateia,ounorestode presaspresentesnateia.

(2)Damesmaforma,emboratenhasidoencontradaumacorrelaçãopositivaentreo númerodetufosexternoseonúmeroderestosdepresanateia,nãofoiencontradarelação entreonúmerodetufosinternosouexternoseonúmerodeinsetosnateiaouonúmerode buracosnateia.Ainda,quandomanipuladosexperimentalmente(Capítulo2),ostufosnão tiveraminfluêncianonúmerodeburacosnateia,nonúmerodeinsetosnateiaounotipode presascapturadas.

(3) Drosophila melanogaster nãomostrounenhumapreferênciapelascoloraçõesde

G. cancriformis ,ouporaranhaspintadasdepreto;etambémnãomostroupreferênciapor fiosdesedacomousemtufos.

79

Ahipótesedaproteçãodateia,ondeostufosseriamumavisoagrandesanimaisque poderiam destruir a teia, também não parece se aplicar, pois independentemente da manipulaçãoexperimental,asteiasforamdestruídasnamesmaproporção.

Sendo assim, este estudo abre a possibilidade de se pesquisar diversas outras hipóteses para explicar o polimorfismo, o padrão de cores e os tufos em Gasteracantha cancriformis .

Oacompanhamentododesenvolvimentodaespécienocampoeemlaboratório,bem como estudos com cruzamentos, poderiam elucidar a genética do polimorfismo e se há algumefeitodoambientenopadrãodecores.

O estudo do microambiente que cada morfo ocupa, a análise das proporções dos morfos em ambientes com diferentes coberturas vegetais, assim como uma análise da sobrevivênciadestesmorfos,poderiamostrarsecadaumdosmorfosestámaisadaptadoa microambientescomluminosidadesvariadas.

A análise do tipo de presas capturadas por cada morfo, comparandose com a disponibilidadedepresas,poderiamostrarseosdiferentesmorfoscapturamtiposespecíficos depresas.

A análise da biomassa das presas capturadas poderia indicar se diferentes morfos capturam,empesototal,umaquantidadediferentedepresas.

Oestudoemcampoqueremovesseostufosdasteiasecomparassecomteiascom tufosnãoremovidos,bemcomoumaanálisedacapacidadedeinsetosdediscriminarteias comesemtufospoderiatestarahipótesedequeostufostornamateiacríptica.

O estudo mais aprofundado da acuidade visual de machos e fêmeas de G. cancriformis poderiaindicarseascoreseostufosdaespécietêmalgumpapelnarelação intraespecífica.

A hipótese de que as colorações e os tufos são aposemáticos poderia ser testada analisandoseaaceitaçãode G. cancriformis porpartedosseuspredadores,juntamentecom

80 umaanálisedasobrevivênciadosmorfosnocampo.Poderiaseaindacompararaproporção de morfos capturados por vespas caçadoras de aranha com a proporção de morfos na população.

Estudosadicionaisquetestassemahipótesedacapturadepresasedaproteçãodateia em outras localidades, em outros ambientes, ou com metodologias diferentes poderiam confirmaroucontrariarosresultadosdestetrabalho.

Concluindo, Gasteracantha cancriformis é uma espécie diurna, facilmente encontrada em campo, o que a torna um bom modelo para se estudar diversas questões ecológicas e evolutivas. Muitas perguntas interessantes surgiram a partir desse estudo e, assim, espero que os resultados dessa dissertação sirvam de estímulo para que outros pesquisadorestambémelaboremetestemhipótesessobreopolimorfismo,acoloraçãoeo stabilimentum de G. cancriformis ,edeoutrasaranhas.

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