CĔēČėĊĘĘĔ IēęĊėēĆĈĎĔēĆđ JĔĘĴ SĆėĆĒĆČĔ: ͲͰ ĆēĔĘ ĈĔĒ Ĕ PėĴĒĎĔ NĔćĊđ Coimbra, Convento São Francisco , e ͱͰ de outubro de ͲͰͱ
Resumos de Comunicações Ana Isabel Correia Martins Pós-doutoranda da Fundação para a Ciência e Tecnologia Investigadora Integrada no Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Nosce te ipsum: a dimensão délfi ca da Ilha Desconhecida
Resumo: Dá-me um barco: é sob este primeiro imperativo de viagem que embarca- mos com o homem que foi bater à porta do rei para empreender a sua odisseia. Na remi- niscência das fi guras dos contos tradicionais, em que narrativas míticas apresentam personagens simbolicamente funcionais, neste conto saramaguiano encontramos um número reduzido de fi guras, planas e desprovidas de densidade interior, revestidas por uma onomástica falaciosamente anónima mas defi nida para a representação colectiva da sociedade – o rei, o homem, os tripulantes, o capitão do porto e a mulher da limpeza. O narrador omnisciente descreve a arquitectura doméstica, política digo, do rei: portas das petições, porta dos obséquios, porta das decisões – cada uma com a sua utilidade e utilização. Uma vez familiarizados com a simplicidade e sincretismo da escrita lapidar e aforística, apanágios do escritor, não deixamos de reconhecer a tensão e complementaridade entre o real e o abstracto, o consciente e o inconsciente, o espaço geográfi co e o espaço psicológico, catalisadores de uma dinâmica de autognose, pela alegorização de ide(i)a(i)s e afectos. O tema da viagem é uma modalidade genológica que desde Quinhentos confi - gura um paradigma cultural e identitário de um perfi l lusitano. No seu jogo hiponí- mico, temos elementos estruturantes e seminais como o mar, enquanto metáfora de um estado transitório, de um intermezzo, quando se perde de vista o ponto de partida e enquanto ainda não se avista o ponto de chegada. A dinâmica da narrativa estrutura- -se em três momentos: a prova qualifi cadora, a prova decisiva e a prova glorifi cadora, em crescendo de intensidade. Nesse itinerário demiúrgico cabe a (im)probabilidade, o acaso, o (im)previsto, e o amor (em que ter e gostar são conceitos assimétricos), sinais e revelações de um último imperativo: nosce te ipsum.
Palavras chave: viagem, autognose, alegoria(s), imperativo(s), conto.