UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PRIVATIZAÇÕES DAS ESTATAIS PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO PAÍS

Por: Gelson Castro Araujo

ORIENTADOR:

Prof. Mario Luiz

Rio de Janeiro 2017 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PRIVATIZAÇÕES DAS ESTATAIS PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO PAÍS

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em MBA em Gestão Empresarial.

Por: Gelson Castro Araujo

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

Aos colegas do Banco do Brasil que me incentivaram a fazer esta Pós-graduação Lato Sensu.

Ao professor Mario Luiz pela orientação ao longo da execução deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus familiares, aos meus colegas de trabalho e especialmente a minha companheira por me apoiar em toda a minha trajetória. 5

RESUMO

As privatizações no Brasil aconteceram em um período histórico onde, aparentemente, seria necessário que houvesse uma intervenção governamental. A tendência de deixar sob o controle do Estado uma grande e importante parte da atividade econômica do país passou a ser invertida a partir dos anos 1990, quando o liberalismo econômico ganhou uma nova roupagem, batizada de neoliberalismo. Essa doutrina econômica prega, mormente, a não intervenção do Estado na economia, exceto em setores absolutamente essenciais para o bem público.

Iremos mostrar que as intervenções das últimas décadas não deveriam ser mantidas, pois a intervenção estatal não conseguiu satisfazer as necessidades da sociedade com um mínimo de eficiência, levando a concretização da urgente redefinição do papel do Estado na economia; e com isso, a discussão é revivida: privatizar realmente rende bons resultados para o país?

Abordaremos como é vista com maus olhos as privatizações porque estas seriam impostas pelos Estados Unidos e instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial, todos orientados ideologicamente a favor do neoliberalismo e da economia de mercado. O pressuposto fundamental que sustenta a ideia de privatizações é que o mercado é mais eficiente do que o Estado na gestão de seus recursos. Isso é negado por grupos contrários às privatizações, como os desenvolvimentistas.

A defesa feita contra as privatizações é que o Estado não pode abdicar da participação em setores da economia que são de interesse público fundamental, sob o risco de privar a população carente de receber recursos básicos, como água, energia elétrica, entre outros. O objetivo geral desse trabalho é subsidiar o debate a cerca da questão Estatização/privatização mediante a análise de um conjunto de informações que costumam não ser devidamente difundidas.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada constitui-se, prioritariamente, em artigos publicados na internet, obras bibliográficas, consulta à legislação vigente, teses de diversas instituições de ensino e pesquisas a sites relacionados ao assunto.

Buscou-se revisar artigos e documentos atuais que oferecem, ao lado de dados “empíricos”, interpretações e avaliações dos fenômenos em curso. Uma bibliografia de apoio, no texto, serviu de base a uma compreensão mais ampla dos problemas abordados. Elementos históricos de uma certa dimensão comparativa se fizeram necessários ao longo da investigação e embora não tenham sido colocados com maior ênfase na exposição, estiveram presentes na condução da mesma e ajudaram a compor a estrutura do trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 09

CONCEITO DE PRIVATIZAÇÃO

CAPÍTULO II 16

ESTATAIS BRASILEIRAS – PRECEDENTES HISTÓRICOS

CAPÍTULO III 26

O PROCESSO DAS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL

CAPÍTULO IV 34

ESTÁGIO ATUAL DAS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 54

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INTRODUÇÃO

O tema deste estudo é a política de privatizações das Estatais no Brasil. A escolha do tema desta monografia tem a finalidade de levantar algumas questões centrais, tais como: as privatizações das Estatais brasileiras surtiram efeitos positivos para o crescimento econômico do país? a população brasileira foi devidamente informada sobre as privatizações das Estatais?

De maneira geral, o trabalho busca fazer um estudo sobre as privatizações brasileiras buscando entender melhor o real motivo da venda das Estatais à iniciativa privada.

Expomos neste trabalho como as empresas Estatais altamente eficientes, que obtinham grandes lucros e operavam no desenvolvimento social do país foram privatizadas mesmo assim e ainda; como algumas delas, nestas mesmas situações de eficiência e de bons lucros, continuam na mira das privatizações.

No primeiro Capítulo, iniciamos o estudo das privatizações destacando o conceito de privatização; observando que não é fácil defini-la.

No segundo Capítulo, descrevemos os precedentes históricos das Estatais brasileiras. Falamos também sobre o histórico das privatizações pelo mundo e com o histórico das privatizações no Brasil.

O terceiro Capítulo, é dedicado à análise dos processos nas privatizações no Brasil e ainda conheceremos o que significa o termo Neoliberalismo. Falaremos sobre o que foi o Consenso de Washington e abordaremos as privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso.

E no quarto e último capítulo, trataremos sobre o estágio atual das privatizações no Brasil. Falaremos sobre um reformado pacote, que nada mais é do que um projeto do Presidente batizado de “Crescer”. Citaremos também as investidas do governo Temer para privatização da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e das empresas de saneamento básico. 9

CAPÍTULO I CONCEITO DE PRIVATIZAÇÃO

1. 1 Privatizar vem do latim “privus” (particular).

Não é fácil definir "privatização". MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (2003) afirma que o conceito é mais conexo à Ciência da Administração, à Ciência Política e às Ciências Econômicas que ao Direito.

No prólogo da obra de Juan Carlos Cassagne, observa ESPIL (1992, p.14), "a chamada privatização era, até pouco tempo, uma daquelas palavras exóticas que os dicionários omitiam de incluir. Apenas recentemente, em começos da década de 80, as novas edições dos léxicos norte-americanos começaram a dar conta de sua definição: ‘popular e embaraçoso jargão destinado a desembaraçar o Estado de funções próprias do setor privado’ (...)". (ZANELLA DI PIETRO, 1997, p. 93).

AMARAL FILHO (1996, P.41), por seu turno, esclarece que o uso mais antigo do termo "parece ter sido em Peter F. Drucker; ele o usou em Reason Foundation Newsletters (Santa Mônica, Califórnia), no início de 1976", sendo mais tarde utilizada, em 1983, nos Estados Unidos, em um dicionário que assim conceituava o termo: "tornar privado, especialmente (como um negócio ou indústria) mudar do controle, ou propriedade, público para o privado".

No Brasil, o dicionário AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA (1985), "definiu privatizar como ‘tornar privado ou particular’. A edição de 1986 apresentou um sentido mais atual: “Trazer para o setor privado ou particular. Privatizar uma empresa".

1.2. Privatização em sentido amplo:

ROJAS (1993, P.100 -101), define privatização como: "a redução da atividade pública na produção e distribuição de bens e serviços, mediante a 10 passagem (por vezes, a devolução) dessa função para a iniciativa privada". (ZANELLA DI PIETRO, 1997, p. 93).

OTERO (2001, P.31), diz que: "numa acepção genérica, poderá dizer-se que o termo ‘privatizar’ tem sempre o significado de tornar privado algo que antes o não era: privatizar envolve, por conseguinte, remeter para o Direito Privado, transferir para entidades privadas ou confiar ao setor privado zonas de matérias ou de bens até então excluídos ou mais limitadamente sujeitos a uma influência dominante privada. Ainda em sentido muito amplo, a privatização da Administração Pública traduz o conteúdo de uma política ou orientação decisória que, visando reduzir a organização e a atuação do poder administrativo ou a esfera de influência direta do Direito Administrativo, reforça o papel das entidades integrantes do setor privado ou do seu direito na respectiva atuação sobre certas áreas, matérias ou bens até então objeto de intervenção pública direta ou imediata".

Segundo DERANI (2002, P.110): "dá-se o nome de privatização à transferência de um serviço realizado pelo poder público para o poder privado e também à transferência de propriedade de bens de produção públicos para o agente econômico privado. Pela primeira modalidade, a titularidade do serviço continua sendo do poder público, mas seu exercício é transferido para o agente privado” (...). Outro modo de transferência de poder público ao poder privado, além do poder de exercer determinada atividade, é a transferência da propriedade pública de bens de produção para o setor privado. O Estado vende seus ativos, retirando-se da atividade produtiva que desempenhava – atividade que poderia ser de mercado ou fora de mercado. Na venda de seus bens de produção, o Estado poderá vender empresas que realizam atividade de interesse coletivo, e que agem diretamente no mercado, como também poderá alienar bens de produção daqueles serviços que são sua atribuição normativa e se desenvolvem fora das relações de mercado (neste caso específico, a venda do bem será vinculada à obediência das condições para a concessão do serviço). A propriedade é alienada ao concessionário: o patrimônio segue aquele que é considerado no processo licitatório apto a exercer o serviço público.

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1.3. Privatização em sentido estrito:

Ao lado do conceito amplo de privatização, temos o conceito restrito, que, segundo MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, é o adotado pela Lei 9.491 de 9-9-97 e: "abrange apenas a transferência de ativos ou de ações de empresas estatais para o setor privado".

1.4. Conceito propriamente dito:

O conceito de privatização diz respeito à alteração do capital por meio da transferência total ou parcial de ativos estatais para o setor privado, e da outorga da concessão à iniciativa privada para a prestação de serviços públicos.

Entretanto, é possível ampliar o próprio conceito de privatização, que pode englobar outras facetas que foram colocadas em práticas em vários países. De acordo com Delion (1988, p.67-78 - Public enterprises: privatization or reform?), o termo privatização pode abranger quatro modalidades:

A) Transferência da propriedade de empresas públicas para o setor privado ou “privatização strictu sensu”;

B) O relaxamento de regras públicas nas condições determinadas pelo governo para o exercício de certas atividades pelo setor privado, ao que se denomina “desregulamentação”;

C) A permissão para operação pelo setor privado de atividades previamente reservadas ao setor público e

D) A aplicação de métodos ou critérios de gerenciamento do setor privado nas empresas do setor público relacionados à eficiência, relação custo- benefício e desburocratização dos serviços públicos.

Enquanto que para os economistas ortodoxos a privatização representa um conceito hegemônico, outras disciplinas veem esse fenômeno sobre diversos ângulos. Assim, Feigenbaum e Henig (1994) encaram a 12 privatização como um fenômeno fundamentalmente político – e não econômico, administrativo ou fiscal.

Na opinião de economistas liberais, como o Prêmio de Ciências Econômicas – Milton Friedman (1973), seus objetivos principais são obter maior eficiência, reduzir despesas e gerar recursos. Para Friedman, os governos deveriam vender suas empresas estatais. A ideia, lançada no livro The Machinery of Freedom: A Guide to Radical Capitalism, de 1973, baseia a doutrina do anarcocapitalismo, no qual não haveria políticos e até a polícia e os tribunais seriam privatizados.

Os que se opõem às privatizações indiscriminadas de serviços públicos essenciais como o de fornecimento de água e coleta de esgotos e de geração, transmissão e de distribuição de energia elétrica, telefonia fixa e gás canalizado e outros, argumentam que todas as empresas privadas têm como principal foco o lucro, e estas, muitas vezes, vão de encontro à necessidade de prover às pessoas de baixo poder aquisitivo estes mesmos serviços fundamentais.

O Banco Mundial, no capítulo 6 de seu relatório “Economic Growth in the 1990: Learning from a Decade of Reform” de 2005, declara que muitos observadores questionam agora se a privatização e a desregulamentação não teriam ido longe demais. A insatisfação atual não está limitada a países como a Confederação Russa, onde uns poucos indivíduos privilegiados e bem relacionados politicamente, assenhoraram-se do controle de várias empresas a preços vis. Segundo o Banco Mundial, numa pesquisa conduzida em 2002 em 17 países da América Latina, dois terços dos entrevistados consideraram que “a privatização de empresas públicas não foi benéfica”; isso representou 43% a mais do que na mesma pesquisa em 1998.

1.5. Privatização e dívida pública:

A ideia de que se poderia abater a dívida pública com a venda de propriedade estatal já era apontada por Smith (apud Nunes e Nunes, 1988, p.172): “Em todas as monarquias da Europa, a venda das terras do rei 13 produziria uma grande soma de dinheiro, a qual, se aplicada ao pagamento da dívida pública (...)” (tradução livre dos autores).

No Brasil, essa posição foi corroborada por Campos (1995), cujo raciocínio pode ser assim resumido: “Como o capital da União investido nas empresas estatais rende 1,08% a.a., a privatização pode ter um significativo impacto fiscal se esse patrimônio for vendido e usado para abater a dívida pública, sobre a qual o governo paga juros anuais na faixa de 20% a 25%. A cada R$ 10 bilhões de patrimônio alienado seria possível obter uma economia líquida de R$ 1,9 bilhão a R$ 2,4 bilhões por ano”.

Assim, a ideia de que a privatização poderia ajudar no processo de saneamento financeiro do setor público da economia brasileira foi vinculada à proposta de utilização das receitas oriundas da venda de ativos estatais para abatimento da dívida pública.

A posição de que a privatização poderia contribuir efetivamente para o ajuste fiscal foi encampada por diversos autores. Giambiagi e Pinheiro (apud Nunes e Nunes, 1998, p.176), afirmam que a privatização pode contribuir eficazmente para o ajuste fiscal devido a características peculiares da nossa economia, em que o pagamento de juros é elevado e baixo o retorno de dividendos oriundos das participações acionárias em empresas públicas.

Para os autores, entre os benefícios da privatização em termos de ajuste fiscal pode-se citar a utilização da receita de privatização para abater dívida. Esse benefício seria obtido com a redução do pagamento de juros em decorrência da redução do estoque de dívida e da queda dos juros em razão do aumento da credibilidade do governo e da menor necessidade de captação de recursos no mercado. Uma vez que o custo de rolagem da dívida pública é maior que a receita de dividendos, o ganho com o abate de dívida possibilitaria reduzir o déficit futuro do setor público e age positivamente sobre as expectativas inflacionárias. Além disso, também poderiam proporcionar ganho fiscal à transferência de dívidas do setor público para o setor privado, o fim dos aportes de capital para as empresas e o aumento da rentabilidade das empresas que continuam sendo estatais em decorrência da possibilidade de aumentarem os investimentos. 14

Para Carvalho (2001, p.8) as privatizações têm efeito sobre as taxas de juros, via expectativas: “As privatizações tendem a aumentar o grau de confiança e a credibilidade dos agentes privados em relação ao governo. Consequentemente, são exigidos menores prêmios sobre os títulos públicos competitivos internos. Dependendo da escala e do montante de recursos utilizados para abater dívida pública, as privatizações podem possibilitar uma redução das taxas de juros da economia, já no curto prazo”.

Outro ponto defendido é que com o aumento de sua rentabilidade, a empresa privatizada também proporciona aumento de receita ao governo, oriundo do pagamento de mais impostos. “Comparativamente à atual receita de dividendos, o pagamento de impostos tenderia a ser maior, contribuindo para melhorar a situação fiscal” (Nunes e Nunes, 1998, p.176).

A posição de que a privatização deve ser usada para abater a dívida pública foi motivo de diversos questionamentos. A esse respeito, Werneck (1989, p.24) alerta que: “Tal como tem ocorrido em outros países, a privatização tem sido erroneamente vista no Brasil como uma maneira de reduzir o déficit do governo — e, consequentemente, de alterar sua postura fiscal —, no montante equivalente ao resultado da venda de ativos. Já que a venda de ativos não acarreta mudanças no patrimônio líquido do governo, não há qualquer impacto fiscal, ainda que, certamente, o governo se veja com maior liquidez.”

Outro ponto diz respeito aos problemas decorrentes da renúncia ao fluxo de renda futura que as privatizações gerariam. Uma operação de privatização não tem efeitos apenas no presente, quando reduz as necessidades de financiamento do setor público, mas também no futuro, quando o Estado não poderá mais contar com o fluxo de dividendos que costumava receber da empresa quando foi privatizada. Neste caso, a redução do déficit no ano da privatização seria feita à custa de déficits maiores no futuro. Mello (1994, p.7) afirma que “se o setor público vender seus ativos pelo valor econômico, isto é, pelo valor presente do fluxo de rendas futuras que o ativo seria capaz de gerar caso permanecesse nas mãos do Estado (...), essa venda só resultaria em impactos fiscais positivos se a venda se fizesse por um 15 valor superior ao valor econômico”. Caso contrário, o Estado incorreria em perda patrimonial com reflexos negativos no ajuste.

Assim a contribuição da privatização para o ajuste fiscal da economia brasileira, tenderia ser mais eficaz se, ao invés de financiar o consumo do governo, fosse utilizada para o abatimento da dívida pública, com reflexos indiretos na NFSP (Necessidade de Financiamento do Setor Público), via redução dos juros incidentes sobre a dívida abatida. Com base na observação estrutural societária das estatais brasileiras, baseada numa rede complexa de controladoras e subsidiárias e na posição dos acionistas privados nessas empresas, Werneck (1989, p.37) fez a seguinte avaliação: “Conseguir- se um resgate líquido da dívida pública através de recursos obtidos pela privatização provavelmente seria muito difícil num futuro próximo. Mais realisticamente, a venda de empresas estatais poderia amenizar o agravamento do endividamento do setor público, mas sem permitir um resgate líquido da dívida.”.

Um último aspecto considerado é o fato de que mesmo depois que as empresas estatais forem vendidas para abater a dívida pública, novos déficits continuarão sendo gerados. Para que os ganhos fiscais da privatização não sejam neutralizados pelos déficits de outros setores seria importante que outras medidas fossem tomadas visando à redução global do déficit.

Registre-se a advertência efetuada por Mello (apud Nunes e Nunes, 1998, p.175) de que a privatização não contribuiria para o ajuste fiscal, requerendo um conjunto de medidas paralelas: “Torna-se cada vez mais claro que o ajuste do desequilíbrio fiscal brasileiro só poderá ser enfrentado com sucesso se forem abertas muitas frentes de combate”.

Há que existir um permanente esforço do governo no sentido da implementação de medidas como: renegociação e alongamento do perfil das dívidas interna e externa; transferência para os governos subnacionais de alguns dos atuais encargos do governo federal; renegociação das dívidas dos estados e municípios para com o governo federal; controle coordenado das empresas estatais; (...) reforma da previdência social; aumento de impostos; redução de gastos; privatização; e assim por diante. 16

CAPÍTULO II ESTATAIS BRASILEIRAS – PRECEDENTES HISTÓRICOS

2.1. Histórico das privatizações pelo mundo

A história da privatização, provavelmente, teve início na Grécia Antiga, quando o governo contratava quase tudo do setor privado. Na República Romana indivíduos e empresas privadas realizavam a maioria dos serviços, incluindo a cobrança de impostos sobre a agricultura, fornecimentos ao exército e construção de vias públicas. No entanto, o Império Romano também criou empresas estatais. Alguns estudiosos sugerem que o custo da burocracia foi uma das razões para a queda do Império Romano. Fonte – Site wikipedia “http://pt.wikipedia.org/wiki/Tao%C3%ADsmo" \o "Taoísmo (acesso em 23-11-2016).

Talvez um dos primeiros movimentos ideológicos para a privatização veio durante a dinastia Han na China na idade de ouro ( 206 a.C – 220 d.C ). O Taoísmo entrou em destaque pela primeira vez em nível estadual, e defendeu o princípio do Wu wei (无为), que literalmente significa "não fazer nada". Os governantes foram aconselhados pelo clero taoísta, que um estadista forte deveria ser praticamente invisível. Fonte – Site wikipedia “http://pt.wikipedia.org/wiki/Tao%C3%ADsmo ” \o "Taoísmo" (acesso em 23-11-2016).

Durante o Renascimento, a maior parte da Europa estava ainda em grande parte seguindo o modelo econômico feudal. Por outro lado, a dinastia Ming na China começou mais uma vez a prática de privatização, especialmente no que diz respeito às suas indústrias. Esta foi uma inversão das políticas anteriores da Dinastia Song, que preferiu um controle estatal mais rigoroso. Fonte - Site wikipedia " http://pt.wikipedia.org/wiki/Tao%C3%ADsmo " \o "Taoísmo" (acesso em 23-11-2016).

Uma das primeiras privatizações do século XX na Europa aconteceu sob o governo bolchevique na Rússia, quando em dezembro de 1922 durante a 17 abertura do 10º Pan-Russian Congress of Soviets em Moscou foi lido o relatório preparado por Lênin citando que um novo programa econômico seria implantado (NEP), no qual seriam privatizados o comércio interno, as pequenas indústrias e o setor agrícola, permanecendo sob o controle estatal o comércio com o exterior, a indústria pesada e os bancos. No congresso foi anunciado que 25 concessões tinham sido aprovadas, incluindo concessões para exploração de petróleo e que outras 250 estavam em fase de estudo. Fonte - Site wikipedia “ https://pt.wikipedia.org/wiki/Privatização ” (acesso em 25-11-2016).

Lênin citou que: É de vital importância concluir estes acordos porque a nossa crise econômica é tão grande que sozinhos não conseguiremos reabilitar a nossa economia. O 10º Congresso foi acompanhado por liberações econômicas e a introdução de uma economia mista no qual foi privatizado o comércio interno, as pequenas indústrias e parte do setor agrícola. Fonte site – “ https://www.marxists.org/portugues/stalin/1922/12/26.htm “(acesso em 25-11-2016).

Posteriormente a doutrina da privatização foi praticada e promovida pelas administrações Ford, Carter e Reagan nos Estados Unidos, pela administração Thatcher no Reino Unido, pela administração de Benito Mussolini na Itália para balancear o orçamento público e pela administração Adolf Hitler na Alemanha, ao ser implementada dentro de um aumento do controle do Estado através de regularizações e influência política.

Um dado interessante é sobre a doutrina do choque aplicada no Chile: que é um documentário baseado no livro homônimo da autora e ativista canadense Naomi Klein, publicado em 2007. A tese principal da autora é que a imposição de regimes econômicos neoliberais é precedida de um estado de choque coletivo. A obra começa por explicar o que é “estado de choque” e ilustra seus ideais com situações socioeconômicas de diversos países, como Argentina, Chile e Inglaterra.

São apresentadas as ideias de Milton Friedman (1976), economista estadunidense que pregava o neoliberalismo, ou seja, a não intervenção do governo na economia, o que sucumbia em privatizações em todos os setores de empresas e de serviços. Friedman (1976) pregava que a economia seria 18

“independente e autossuficiente”, não precisava da intervenção do estado em suas atividades. Seus ideais de liberdade também seriam aplicados no setor político, que teoricamente resultariam em uma democracia contra tiranos, mas o que é apresentado por Klein, é que não foi exatamente isso que aconteceu.

A política de Friedman apesar de “democrática”, findou no favorecimento de classes mais altas da sociedade, e acentuando cada vez mais a existência de uma minoria poderosa, formando um cenário onde um governo democrático não poderia existir, mesmo com a economia e o estado independentes. Suas ideias não caíram no gosto do povo e para que fossem aplicadas, precisou-se de um governo autoritário, contrariando o imaginado. Daí surgiu a ideia do tratamento de choque: precisou-se ter um governo que pusesse medo na população, tirasse a mesma de seu conceito histórico e descaracterizasse sua formação econômica e estatal para que as medidas fossem aplicadas.

No cenário econômico, especulava-se que a lei do livre comércio seria aplicada e favoreceria a todos com suas previsões de liberdade. O que não passava de teoria: empresas maiores deslancharam e se sobressaíram às outras de menor porte, comprando-as ou levando-as à falência, gerando assim oligopólios. Em 1970, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile, graças a uma união esquerdista chamada “Unidade Popular”.

Após sua eleição, Allende utilizou-se de medidas nacionalistas de esquerda, nacionalizando empresas estrangeiras e contrariando os ideais de Friedman. Foi então em setembro de 1973, Allende foi assassinado e seu governo deposto, dando lugar ao general Augusto Pinochet que instituiu uma ditadura militar com ideais neoliberais.

Pinochet, com o apoio dos Chicago Boys, um grupo de chilenos que havia estudado na universidade de Chicago, seguiu o conselho de Friedman e iniciou a terapia de choque, instaurando o “Fantasma do Marxismo”, prendendo e torturando a oposição a seu governo. Após essas medidas, o desemprego aumentou, gerando aumento da pobreza: com aproximadamente 74% dos salários sendo gasto apenas na compra do pão. 19

A economia despencou, mas Friedman afirmava que isso era necessário para que ela pudesse ser reconstruída. Fato este que em 1977 surtiram efeito e levaram o Chile a ser a economia mais próspera da América latina. A ditadura chilena foi uma das mais violentas da América Latina, tendo assustadores números de mais de 60 mil pessoas desaparecidas ou mortas, além dos mais de 200 mil chilenos que deixaram o país durante o governo de Pinochet.

Na Argentina, o processo de privatizações foi uma das medidas sugeridas pelos neoliberais para a abertura comercial das economias durante a década de 1990. Tanto o Brasil como a Argentina privatizaram várias de suas empresas estatais, influenciados tanto pela ideologia neoliberal como pelos interesses das grandes empresas estrangeiras em investir em setores vitais da economia em países em desenvolvimento. Como recomendado pelo chamado Consenso de Washington, os principais objetivos da privatização de estatais era diminuir as funções de um Estado em crise profunda, reequilibrar as finanças públicas e melhorar uma série de serviços incapazes de atender a população.

Na Argentina, Carlos Menem, que foi eleito com apoio dos peronistas, logo quando assumiu o governo rompeu com os dogmas peronistas e iniciou rapidamente o processo de privatizações. Assim, Menem conquistou rapidamente o respeito da comunidade internacional, tornando-se por bastante tempo exemplo de país em processo de liberalização.

Vale a pena salientar a notável diferença entre o Brasil e a Argentina no processo de aprovação das privatizações pelo Congresso. Enquanto que no Brasil o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentou grande resistência para aprovar uma alteração na Constituição Federal de 1988, que previa “o monopólio da União para a exploração e refino de petróleo e a exploração de gás natural; assim como (...) serviços telefônicos, de telecomunicações, portos e serviços de transportes”, e foi ganhando apoio muito aos poucos com o sucesso de algumas primeiras privatizações, o ex- presidente Carlos Menem atuou com muito menos contestações por parte do legislativo, aprovando as chamadas “Lei de Reforma de Estado”, que regulamentou as privatizações, inclusive de bancos nacionais e provinciais, 20 envolvendo incentivos de participação de investidores estrangeiros neste processo, e a “Lei de emergência econômica e administrativa” que suspendeu as políticas de promoção à industrial e às exportações, com base em subsídios, e concedeu ao capital externo as mesmas condições de tratamento regulatório, creditício e tributário vigentes para o capital nacional, ambas sancionadas e promulgadas em 1989.

Na Argentina houve venda de praticamente todas as empresas que o governo tinha participação, sendo que os setores mais privatizados foram os de petróleo, energia elétrica, comunicações e gás. Em 2000, o governo ainda colocou à venda as ações que possuía dessas empresas.

Um exemplo que ilustra bem como o processo foi muito mais forte na Argentina é o caso da privatização de sua empresa petrolífera, a YPF, que foi 100% privatizada, enquanto a Petrobrás brasileira nunca chegou a ser vendida, e a única abertura nesse mercado foi a da permissão para concorrentes no setor.

As privatizações na Argentina foram certamente um fracasso, com a falência de várias antigas estatais e nenhum legado deixado para as próximas gerações, já que o dinheiro foi totalmente utilizado ainda durante o governo para pagamento de gastos de custeio.

2.2. Histórico das privatizações no Brasil

Para a melhor compreensão do assunto abordado, faz-se necessário conhecermos o ponto de partida das privatizações. Quando, como e por que se iniciou o processo de venda das empresas públicas, isto é, é necessário entendermos todo o seu contexto histórico e político. Para tanto, é preciso uma análise que vai desde a estatização da economia brasileira, com as inúmeras criações de empresas públicas, até às privatizações, finalmente. Desde o governo de Getúlio Vargas, a partir da década de 1930, que se passou a atribuir ao Estado, mais radicalmente, a tutela do exercício da atividade econômica, principalmente as de interesse de desenvolvimento estratégico do país, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale do rio Doce (1942), a Companhia Hidro Elétrica de São 21

Francisco – Chesf (1945) e, posteriormente, em seu segundo governo, a criação da Petrobrás – Petróleo Brasileiro S/A (1953) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (1952), tendo sido este último responsável pelo avanço da industrialização, especialmente do setor automobilístico. A partir de então, houve uma crescente participação governamental na industrialização do país.

O desenvolvimento industrial brasileiro esteve intimamente relacionado à política intervencionista iniciada no governo Vargas e continuada até o final dos anos 70, tendo como principais medidas a construção de um parque industrial assentado em indústrias de base estatais e uma política de substituição de importações que tarifava produtos estrangeiros e garantia mercado consumidor para produtos nacionais, estimulando a atividade industrial brasileira. Segundo SCHAPIRO, (1990, pg.128) de 1950 a 1980 o modelo industrial do país se assentou em uma aliança de cooperação entre Estado, capital multinacional e capital nacional. Ao primeiro cabia o serviço de infraestrutura e as atividades intensas em escala ou em capital, tais como energia, petróleo, siderurgia e mineração; ao segundo destinaram-se os setores dinâmicos, como o setor automotivo; enquanto o último figurava como fonte industrial de suprimento de acessórios e insumos, estruturando-se em torno da produção dinâmica.

Foi no regime militar que o setor produtivo estatal alavancou o crescimento econômico, em contrapartida, como o número de empresas estatais só crescia, chegando a quase 500, isso gerou um verdadeiro descontrole. Tais entes estatais ficavam sob a supervisão de diversos ministérios, os quais possuíam sua própria administração. Entre 1967 e 1968, foi criada uma lei que ensejou o escapamento das empresas estatais da fiscalização do Tribunal de Contas sobre seus gastos, ou seja, ganharam tanta força que passaram a ser quase que mais poderosas que suas reguladoras. Era muito comum que o aumento de capital fosse decidido sem prévia definição orçamentária.

No final da década de 1970, o Estado perdeu o controle sobre as dívidas e os ativos de suas empresas. Segundo Maria Hermínia Tavares de 22

Almeida (1999), cientista política e socióloga, o controle com as empresas estatais passou a ser uma preocupação das políticas macroeconômicas, ou seja, passou a influenciar no comportamento da economia como um todo, afetando no pleno emprego, estabilidade de preços e controle inflacionário.

A fim de se estabelecer algum controle e visando uma gestão eficiente, em 1979 foi criada a Secretaria de Controle de Empresas Estatais – SEST, tal instituição representou “o primeiro passo rumo à reversão desse estilo de relacionamento”, nas palavras de Maria Hermínia Tavares de Almeida (1999). Seu primeiro diretor proferiu o seguinte a respeito dessa mudança: "As despesas globais previstas das empresas estatais para 1980 eram duas vezes o orçamento do governo federal [...]. O conhecimento dos valores consolidados era crucial para que o governo entendesse que o controle do gasto das estatais constitui parte essencial de uma política bem-sucedida de combate à inflação e de controle da balança de pagamentos." (Kliass, 1994:185 apud Almeida).

A sequência de reforma econômica seguida pelo Brasil foi um tanto ilógica. John Waterbury realizou estudos comparados em privatizações de quatro países de desenvolvimento médio, quais sejam: Egito, Índia, México e Turquia. Neles, houve primeiramente as privatizações rumo à autonomia, ao contrário do Brasil, onde a sequência foi autonomia, controle e privatizações.

Entre os governos de João Figueiredo e José Sarney, na década de 1980, a economia brasileira passou por um verdadeiro 'ensaio' para as privatizações, através da criação da Comissão Especial de Desestatização, em 1981. Sua finalidade era "limitar a criação de novas empresas públicas, cessando as atividades ou transferindo ao setor privado aquelas empresas cujo controle público não se faz mais necessário ou se justifica" (Decreto nº 86.215, de 15 de julho de 1981 apud Almeida). Posteriormente foi substituída pelo Conselho Interministerial de Privatização, em 1985, no então governo Sarney.

Segundo PINHEIRO e GIAMBIAGI (1999, pg.21) “Nesse período [final dos anos 80], a opinião generalizada sobre o papel do Estado no desenvolvimento econômico estava sofrendo uma mudança radical em termos de seu papel na política pública. A estratégia da substituição de importações estava sendo suplantada por um modelo econômico mais aberto e desregulamentado. A privatização passou a ser uma das principais prioridades 23 da nova administração. Logo depois de tomar posse, o novo governo enviou ao Congresso (...) a Medida Provisória 115, que se tornou a Lei 8.031/90, instituindo o Programa Nacional de Desestatização (...)”.

Houve as privatizações de empresas de pequeno porte, as quais já tinham sido privadas, foram estatizadas, e agora estavam sendo “reprivatizadas”, num total de 38 empresas. Essas privatizações não foram amplamente divulgadas nem são profundamente estudadas devido aos seus resultados economicamente modestos, US$ 780 milhões, assim estima o BNDES. Importante salientar que ainda não se falava em privatização, até então era apenas um indicativo de que as autoridades brasileiras estavam preocupadas com a presente recessão econômica.

A Constituição de 1988 estabelece um rol de monopólios públicos, no entanto muitos foram os planos, decretos, medidas provisórias, conselhos e afins que driblaram a Carta Magna, encontrando empresas desprotegidas e atingindo-as com a privatização.

Foi no governo Collor onde se iniciou verdadeiramente e escancaradamente o programa de vendas das estatais, logo na primeira semana de seu governo extinguiu 11 empresas. Houve a criação do Programa Nacional de Desestatização – PND através da lei n° 8. 031/90, produto do conjunto de medidas provisórias aprovadas pelo Congresso que formavam o Plano Brasil, também conhecido como Plano Collor.

Tal postura dramática do então presidente, causou grande surpresa, visto que houve grande incompatibilidade entre seu mandato eleitoral. Ben Ross Schneider, professor de ciência política do Instituto de Tecnologia de Massachussets – MIT, afirma que: “A privatização é uma política normalmente associada e preconizada por movimentos conservadores e principalmente neoliberais”.

No Brasil, o que causa perplexidade é que o governo Collor adotou uma política de privatização sem um mandato eleitoral neoliberal [...], sem a pressão de partidos políticos de direita […] e sem que uma tecnocracia neoliberal tivesse se apoderado do Estado (como no México e no Chile e Argentina nos anos 70)” 24

O PND incluiu 68 empresas, das quais 18 eram do setor de siderurgia, fertilizantes e petroquímicos. A que efetivamente ocorreu foi a Usiminas que, só com ela, foi arrecadado mais que o dobro na década de 80. Outras privatizações relevantes deixadas como herança do governo Collor foram as das empresas Celma, Mafersa, Cosinor, SNBP, Petroflex, AFP, Copesul, CNA, Fosfértil, Alcanorte e CST, trazendo a arrecadação de US$ 4 bilhões .

Neste mesmo período também houve o ajuste fiscal que criava “moedas de privatização, permitindo a utilização de títulos públicos para seus leilões”. Apesar do impeachment de Collor, o programa deu continuidade com Itamar Franco, que terminou o seu governo com 9 empresas vendidas e uma concessão de rodovias.

Muito foi exposto sobre as privatizações no governo Collor, mas foi no governo de Fernando Henrique Cardoso onde as privatizações deu sua maior alavancada, a começar pelas emendas sofridas pela Constituição. As emendas possibilitaram que setores, antes monopólios dos Estados, fossem incluídos na lista do PND.

A criação do Conselho Nacional de Desestatização por meio da Lei n° 9.491/97 evidenciou a intenção de ampliar ainda mais o programa de privatização, adotando as regras do Consenso de Washington, do FMI, e do Banco Mundial.

Fernando Henrique Cardoso foi responsável pela privatização das principais empresas estatais, dentre elas, a Companhia Vale do Rio Doce, o Sistema Telebrás, o Banco Meridional, além de cinco concessões de rodovias e sete de ferrovias, totalizando 19 desestatizações com US$ 5,1 bilhões.

Quanto ao governo Lula, o mesmo desacelerou o processo de privatização, mas não a extirpou, havendo ainda a venda de duas empresas e a concessão de oito rodovias.

As ideias de estatização e privatização como forma de crescimento econômico de um país estão sempre polarizando as relações político- econômicas do Brasil. As privatizações têm se tornado cada vez mais frequente não só no Brasil, mas em todo o mundo, fruto do processo de 25 globalização, mas também como escape para os países em desenvolvimento, em especial.

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CAPÍTULO III O PROCESSO DAS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL

3.1. O que preconiza o Neoliberalismo?

O Neoliberalismo é o ressurgimento de ideias associadas ao liberalismo econômico “laissez-faire” que teve início nas décadas de 1970 e 1980. Os seus apoiantes defendem uma extensa liberalização econômica, livre comércio e a redução da despesa pública como forma de reforçar o papel do setor privado na economia.

O uso e definição do termo têm-se alterado ao longo do tempo. Originalmente, o neoliberalismo foi uma ideologia econômica que emergiu entre acadêmicos liberais europeus na década de 1930 e que tentava definir uma denominada "terceira via" entre as filosofias em conflito do liberalismo clássico e da economia planificada coletivista.

Este desenvolvimento deveu-se ao desejo em evitar a repetição dos fracassos econômicos do início da década de 1930, cuja causa era atribuída principalmente à política econômica do liberalismo clássico. Nas décadas posteriores, a teoria neoliberal tendeu a divergir da doutrina mais “laissez- faire” do liberalismo clássico, promovendo em vez disso uma economia de mercado sob a orientação e regras de um estado forte, um modelo que viria a ser denominado de: economia social de mercado.

Na década de 1960, o uso do termo "neoliberal" entrou em acentuado declínio. O termo foi novamente reintroduzido na década de 1980, associado às "reformas econômicas neoliberais" de Augusto Pinochet no Chile, o seu significado tinha-se alterado. Não só se tinha tornado num termo com conotações negativas e usado principalmente pelos críticos da reforma dos mercados, mas tinha também mudado de significado, de uma forma moderada de liberalismo para um conjunto de ideias de capitalismo mais radical “laissez- faire”.

Os acadêmicos contemporâneos tendem agora a associar o termo às teorias dos economistas Friedrich Hayek e Milton Friedman (1944). Uma 27 vez estabelecido o uso do novo significado entre acadêmicos de língua espanhola, o termo difundiu-se entre os estudos de política econômica em língua inglesa, descrevendo o conjunto de ideias associadas com as políticas econômicas introduzidas por Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos Estados Unidos.

Hoje em dia o termo "neoliberalismo" é usado principalmente de forma pejorativa enquanto críticas às políticas de liberalização econômica, como as privatizações, mercado aberto e desregulamentação. A transição de um modelo de consenso social para as políticas neoliberais, e a aceitação das teorias neoliberais na década de 1970, é vista por alguns acadêmicos como a origem da financeirização que levou à crise financeira de 2008.

Conforme Nunes (2007, p.64) “na concepção liberal, a economia funciona apartada do Estado, conforme as suas próprias leis, leis naturais, leis de validade absoluta e universal: a ordem natural harmoniza todos os interesses a partir da natural atuação de cada um no sentido de obter o máximo de satisfação com o mínimo de esforço‟.

Rosanvallon (2002, p.85) diz que mais até do que o vínculo político, o elo econômico vincula os cidadãos como “produtores de mercadorias para o mercado, considerados como verdadeiros cimentos da sociedade”. A sociedade existe porque cada um diz: “dai-me o que necessito e terás o que necessitas”‟.

3.2. O que foi o Consenso de Washington?

No final da década de 80, o economista norte-americano John Williamson apresentou, num congresso realizado na cidade de Washington, 10 (dez) receitas bem sucedidas de ajuste monetário e fiscal para os países periféricos, (especialmente) América Latina, já seguida por mais de 60 países em todo o mundo.

Os 10 (dez) pontos de ajustes apresentados nesta reunião ficaram conhecidos como “Consenso de Washington‟, a saber: 1) Disciplina Fiscal; 2) Redução dos gastos públicos; 3) Reforma Tributária; 4) Liberalização 28 financeira; 5) Regime Cambial; 6) Liberalização Comercial; 7) Abertura ao Investimento Externo; 8) Privatização; 9) Desregulamentação da economia e flexibilização das relações trabalhistas; 10) Proteção à propriedade intelectual.

Segundo Fiori (2001, p.84) “de modo geral, o Consenso de Washington, sugere 03 (três pilares): (a) políticas macroeconômicas; (b) políticas microeconômicas; (c) reformas estruturais. A política macroeconômica implica na assunção do compromisso de manter a austeridade fiscal, disciplina monetária, corte de gastos, especialmente no tocante a reformas administrativa, previdenciária, fiscal. Já, as medidas microeconômicas, concernem à diminuição dos encargos sociais e desoneração do capital, ou seja, ausência de incentivos e subsídios para produtos. As reformas estruturais, por sua vez, giravam em torno da desregulação do mercado financeiro, desregulamentação do trabalho, privatização de empresas e serviços públicos, abertura comercial, garantia do direito de propriedade”.

Aliás, segundo anotou Nunes (2007, p.591) o avanço neoliberal colocou a inflação: “como o inimigo público número um, inimigo perante o qual se deveria atuar perante o terrorismo: não ceder nem um milímetro‟ e, por outro lado: “o desemprego deixou de constar das preocupações dos responsáveis, até porque, segundo a nova/velha teoria, as economias se encaminhariam espontaneamente para a situação do pleno emprego‟.

Na explicação didática de Fiori (2001, p.88), trata-se de um consenso: “que condensava e traduzia as ideias neoliberais, já hegemônicas nos países centrais, na forma de um “pacote terapêutico‟ para a crise econômica da periferia capitalista‟”, tendo constituído um marco importante para expansão da doutrina neoliberal no mundo, principalmente, nos países periféricos.

Este “consenso‟, funcionou como agenda dos países periféricos. Isso porque os países que não se enquadrassem nestas condições não receberiam financiamentos internacionais nem renegociariam a sua dívida externa. Ou seja, tratou-se de um apelo quase irresistível que gerou a incorporação deste ideário pelos países da América Latina. 29

O receituário do consenso era condicionante para a negociação da dívida externa e apresentado como a única solução para o desenvolvimento dos países atrasados. Além disso, propalava-se que, após a implementação das reformas, naturalmente, haveria a retomada do crescimento econômico. Entretanto, não ocorreu o crescimento esperado, conforme escreveu José Luís Fiori (2001, p.88) “Os países submetidos ao Consenso (...) entraram numa rota de baixo crescimento, entrecortado por crises, recessões e ajustes fiscais cada vez mais draconianos”.

Ainda segundo Fiori (2001, p.86) “a crise argentina de 1990 foi o primeiro anúncio da fragilidade do modelo. Logo depois vieram a crise mexicana de 1994 e a crise brasileira de 1999‟, fatos que levaram a grande potência hegemônica a formular o “Pós-Consenso de Washington”, na segunda metade da década de 90.

3.3. Privatizações no Brasil

Conforme Giambiagi e Além (2001, p.392) A partir da década de 90, num contexto de abundância externa de capitais, a privatização funcionou como: “um sinalizador de um comprometimento do Estado com as chamadas “reformas de mercado” e o que isso representava”, procurando uma posição favorável na concorrência pela captação de recursos internacionais entre os países emergentes.

Ao final dos anos 80, o agravamento da crise econômica e a elevação dos índices inflacionários e a crescente deterioração das finanças públicas, levaram a uma mudança rápida do processo de privatização. Paralelamente, o fracasso da Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais no controle das Empresas Estatais também ficou evidente. Conforme demonstram Pinheiro e Giambiagi (1997, p.93) - “houve um substancial aumento de suas despesas, particularmente em 1989”.

Nesse contexto ganha corpo a visão de que o papel do Estado na economia deveria ter uma perspectiva de abertura e desregulamentação e a privatização passou a ser uma das prioridades da nova administração. Em 15 de março de 1990, o governo Collor lançou o Plano de Estabilização 30

Econômica visando tornar a economia brasileira mais estável. Na avaliação da equipe que assumiu o poder a instabilidade devia-se a fatores localizados, basicamente nos desequilíbrios monetário e fiscal.

O plano de Collor, ambicioso, foi limitado de início, uma vez que das 68 estatais incluídas apenas 18 foram realmente privatizadas. A criação do Plano Collor, idealizado pela ministra Zélia Cardoso de Mello, adotou o modelo mais liberal de ampla abertura às importações, modernização industrial e tecnológica e preparou o país para a série de desestatizações que viriam nos governos seguintes.

3.3.1 Privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso

Alguns negócios de Fernando Henrique Cardoso: a) – Empresas Telefônicas: O governo investiu 21 bilhões, em 2 anos e meio e após os investimentos vendeu por apenas 8,8 bilhões de reais; b) - Banerj: O comprador pagou 330 milhões e o governo do Rio tomou antes um empréstimo de 3,3 bilhões, para pagar os direitos trabalhistas; c) - Rodovia Bandeirantes de São Paulo: A empreiteira que ganhou o leilão está faturando 220 milhões de reais por ano no pedágio; d) Companhia Siderúrgica Nacional: Comprada por 1,05 bilhões de reais, sendo que 1,01 bilhão em “moedas podres”, oriundas do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Social, com o financiamento de 12 anos.

Biondi (1999, p.17) diz que: “são títulos antigos emitidos pelo governo e que podiam ser comprados por até 50% do seu valor”. Estes títulos são negociados no mercado com grande desconto (deságio) em relação ao seu valor nominal (face). Estas “moedas podres” tornaram-se populares ao longo do processo de privatização ao serem aceitos como forma de pagamento pelo seu valor de face.

Segundo Biondi (1999), as promessas do governo eram de que a venda das estatais atrairia dólares, reduzira a dívida externa e interna do Brasil e, principalmente, salvaria o real. A população ganharia na eficiência, rapidez e qualidade dos serviços prestados pelas empresas privatizadas, pois os compradores teriam capacidade financeira para qualificá-las e competir com o 31 mercado. Com as privatizações estariam garantidos preços mais baixos nos serviços telefônicos, energia elétrica, mais empregos, aquecimento da economia, etc. E o governo puniria exemplarmente os compradores das estatais que não cumprissem as cláusulas contratuais.

Na verdade, a propaganda que os Meios de Comunicações veicularam em apoio à política de privatizações do FHC e seus aliados foram enganosas. Nós assistimos, pelos próprios meios de comunicação, uma insatisfação geral da população brasileira. As empresas telefônicas estavam com ligações incompletas ou interrompidas.

Seguiram-se os “apagões” da Light, da Eletrosul, do raio de “Bauru” e os pedágios que começaram a ser cobrados antes mesmo de terem iniciado um centímetro de pista nova. Os bancos que fecharam agências em pequenas cidades e que eram os únicos a atender a população de baixa renda. Nas ferrovias, os compradores não cumpriram as metas anunciadas e aumentaram os fretes.

Diante dos fatos, percebemos que não houve seriedade nas privatizações das estatais. A falta de ética, de senso de justiça e de capacidade coletiva do poder público, levou os governantes a entregar o patrimônio público nas mãos da elite internacional e nacional. Somente um presidente sociólogo encontraria o jeito certo para enganar uma nação com tamanha eficiência. A voz da denúncia foi abafada, os movimentos sociais apontavam a existência de corrupções. O governo, ao negociar o patrimônio público, não deu chances para o cidadão brasileiro participar da compra das empresas estatais, o contrário do que fizeram em outros países.

Na França, por exemplo, em 1998, 4 milhões de franceses compraram ações das empresas de comunicações; o governo Inglês buscou a “pulverização” das ações, transformou o maior número possível de ingleses em acionistas das empresas privadas, dando “prêmios” para quem comprasse ações.

A lógica no Brasil não deu outra. Os amigos do presidente foram todos beneficiados, tanto os nacionais, quanto os internacionais. Mas o governo foi ainda mais generoso: emprestou dinheiro aos seus amigos com 32 juros inferiores ao do mercado e por longos prazos. A promessa de punir os compradores das estatais, se não cumprissem os contratos, foi esquecida, exceto a multa aplicada à Anatel de São Paulo, quando a população exigiu do governo uma atitude.

Segundo Biondi (1999, p.10), antes das privatizações, “Na surdina, o governo garantiu tarifas altas”. Como assim? “conseguiu para as telefônicas, reajustes de até 500% a partir de novembro de 1995 e, para os fornecedores de energia elétrica, aumento de 150%” antes das privatizações, garantiram aos novos compradores excelentes lucros. E o governo, para garantir negócios, reajusta preços até na última hora do leilão. Veja-se o caso da Light, que teve um reajuste de 58% alguns dias antes da privatização.

Biondi (1999, p.13) continua dizendo que: antes de realizar a privatização de uma estatal, o governo praticou demissões maciças de trabalhadores. Vejamos: “O governo de São Paulo demitiu dez mil funcionários de sua empresa ferroviária, a Fespasa, de 1995 a 1998. E ficou ainda responsável pelo pagamento a 50 mil aposentados da ferrovia. No Rio, o Governo do Estado, antes da privatização, incumbiu-se de demitir nada menos que a metade – mais exatamente 6.200 - dos 12 mil funcionários do seu banco Banerj”. Desta forma, os compradores se livraram do pagamento de indenizações e aposentadorias e ainda receberam folhas de pagamento mais baixa, mês a mês.

O governo gastou bilhões com indenizações e direitos trabalhistas. A bondade do governo para com os novos proprietários foi tamanha, que “engoliu” esta dívida e todas as demais antes de privatizar qualquer estatal. Estas dívidas deveriam ser um compromisso dos novos proprietários, mas o governo as assumiu e as passou para o tesouro.

Vejamos alguns exemplos de estatais vendidas com “dinheiro em caixa”, conforme Biondi (1999, p.16): “O governo e sua equipe tiveram a ousadia de vender a estatal - Vale do Rio Doce - que foi entregue a Benjamin Steinbruch com 700 milhões de reais em caixa; a Telesp foi vendida por 1 bilhão de reais à telefônica espanhola. Portanto, a telefônica fechou negócio, comprando a Telesp por 2,2 bilhões de reais, descontando o caixa de 1 bilhão. O comprador pagou apenas 1,2 bilhões de reais”. 33

Diante do exposto podemos acreditar que: o FHC e sua equipe implantaram o programa de privatizações às avessas. Não houve uma consciência coletiva e sim a manipulação de informações e retaliações aos movimentos contrários a esta política excludente adotada por parte do FHC e seus amigos. Os sindicatos reagiram, mas não foi suficiente.

Prevaleceu a lei do mais forte. Com a venda das estatais, o governo ficou “sem” as “fontes de renda” e será forçado a cumprir seus compromissos com “Tesouro Nacional”, isto é, o dinheiro do contribuinte. Os técnicos do governo foram ineficientes ao calcular os juros “economizados”. Eles esqueceram de incluir os lucros que as principais estatais sempre apresentaram, os dividendos que eram distribuídos ao Tesouro pelas estatais e a valorização futura das estatais nas bolsas.

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CAPÍTULO IV ESTÁGIO ATUAL DAS PRIVATIZAÇÕES NO BRASIL

4.1. Privatizações no governo

Depois de anos de oposição ferrenha ao processo de desestatização nos governo Collor e Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores cedeu e iniciou uma nova era das privatizações, depois dos leilões que concederam três dos maiores aeroportos brasileiros à iniciativa privada. Desta forma, Elena Landau, presidente do BNDES no governo FHC comemorou a "vitória": “Hoje é um dia muito importante: o debate sobre privatizações se encerrou... e nós ganhamos”. Pouco depois, satirizou a presidenta: “Hoje me aposento e passo o bastão: Dilma é a nova musa das privatizações”, comenta Clara Roman (http://cartacapital.com.br– acessado dia 09-12-2016).

O leilão aconteceu na bolsa de valores de São Paulo: o aeroporto de Guarulhos foi adquirido pelo consórcio da Invepar (formada pelas empresas de fundo de pensão: Previ, Funcef e Petros), a construtora OAS e a operadora estatal sul-africana ACSA, com lance de 16,21 bilhões e ágio de 373,5%. O aeroporto Juscelino Kubitschek em Brasília, principal centro de distribuição de voos no Brasil, foi concedido ao consórcio Inframerica, das empresas Infravix e a argentina Corporación America, com lance de 4,5 bilhões e ágio surpreendente de 673%. E finalmente Viracopos, de Campinas, que ficou com a Triunfo e a francesa Égis, que administra 11 aeroportos em países africanos.

Valter Ventura da Rocha Pomar é um historiador brasileiro e diz o seguinte em relação às privatizações dos aeroportos: “Minha opinião é que a concessão é e era economicamente desnecessária e politicamente incorreta. Economicamente desnecessária porque o estado dispõe de meios gerenciais e financeiros para realizar a modernização, a ampliação e a administração dos aeroportos. Politicamente incorreta porque a concessão é utilizada pela mídia e pela oposição para nos acusar (ao PT e ao governo Dilma) de favoráveis à privatização. Havia, e seguem existindo alternativas muito melhores, 35 econômica e politicamente, do que a concessão”, de acordo com Clara Roman, (http://cartacapital.com.br– acessado dia 09-12-2016).

Fazendo uma comparação com as privatizações da década de 1990, do Plano Nacional de Desestatização, empresas como Usiminas, Vale do Rio Doce, Eletropaulo, Banespa, Embratel e Telebras que foram vendidas ao capital privado, com as privatizações dos aeroportos, estas transferências foram feitas por meio de concessões – a empresa não é vendida, mas “emprestada” por um período de tempo.

Os dois processos são muito diferentes: no caso das concessões, o governo repassa aos compradores a administração dos aeroportos para esses consórcios, mas continua “dono” do negócio e, portanto, com maior possibilidade de fiscalização. O mesmo foi feito com rodovias, como a Fernão Dias, e rodoviárias, como Tietê e Jabaquara em São Paulo. Além de reaver a empresa depois de um período, o modelo de Dilma Rousseff blindou possíveis demissões em massa ao manter a Infraero com 49% desses aeroportos e estipular investimentos obrigatórios, conforme explica Gilson de Lima Garafalo, professor dos cursos de economia da Universidade de São Paulo (USP) e da PUC-SP, conforme Clara Roman, (http://cartacapital.com.br – acessado dia 09- 12-2016).

Uma pesquisa de satisfação realizada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) em 2014 que avaliou a qualidade dos serviços nos 14 principais aeroportos brasileiros, entrevistando 15 mil pessoas, comprovou que os aeroportos privatizados pelo governo Dilma tiveram pior desempenho após a privatização, através de concessão, do que quando eram administrados pela estatal Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária). O Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, privatizado em 2012, foi o último colocado da lista, conforme Ernesto Andrade (http://horadopovo.com.br – acessado dia 14-12-2016).

Segundo o Relatório de Desempenho Operacional dos Aeroportos, os cinco melhores aeroportos brasileiros apontados pelos usuários são administrados pela Infraero, desses, o 1º e 2º lugar (Aeroporto Internacional de Curitiba - Afonso Pena e Aeroporto do Rio de Janeiro – Santos Dumont) 36 mantiveram a posição de 2013 para 2014. Além disso, seis dos nove campos de aviação com administração pública subiram no ranking.

Já dos cinco aeroportos privatizados pelo governo Dilma, 60% pioraram seu desempenho, o que desmente o discurso apresentado pelo governo ao defender as privatizações, de que com a concessão à iniciativa privada, os serviços melhorariam.

O Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, principal aeroporto do país, também conhecido como Cumbica – entregue para o capital internacional em 2012, ficou em último lugar na pesquisa. Em uma escala que vai de um a cinco, Cumbica obteve 3,09 pontos. Pela regra do contrato de concessão, a estatal Infraero, participa do consórcio do aeroporto com 49%, enquanto a iniciativa privada fica com os outros 51%.

Desde que a “eficiente gestão privada” assumiu os aeroportos, começaram a aparecer os resultados. Em 2013, uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 111 operários nas obras de ampliação do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), que estavam submetidos a situações análogas a escravidão. Conforme Ernesto Andrade (http:/horadopovo.com.br – acessado dia 14-12- 2016).

A estatal Infraero é uma das maiores administradoras de aeroportos de todo o mundo. Os aeroportos já privatizados e os colocados à disposição dos leilões são os mais lucrativos do Brasil. A privatização da época dos tucanos se mostrou um verdadeiro desastre em todos os sentidos. A começar porque foram parar em mãos estrangeiras, os financiamentos sendo feitos pelo Estado brasileiro e os lucros sendo remetidos para o exterior, já que a imensa maioria das empresas foi açambarcada por multinacionais.

É o que está acontecendo com os aeroportos. Por exemplo: o próprio Aeroporto de Guarulhos pela sul-africana ACSA, o aeroporto de Brasília pela Corporación América, da Argentina e o aeroporto de Campinas – Viracopos pela francesa Egis Airport Operation. Nenhuma delas é melhor e mais bem conceituada no mundo do que a Infraero.

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4.2. Privatizações no governo Michel Temer

O Governo Michel Temer lançou em 14 de setembro de 2016 um reformado pacote que pretende realizar 34 concessões e privatizações de empresas públicas. Parte dessa proposta, batizada de “Crescer”, é uma remodelagem do que fora previsto no ano passado por sua antecessora, Dilma Rousseff, mas que não progrediu. Os efeitos do projeto são de médio e longo prazo, já que os primeiros leilões só deverão ocorrer em meados de 2017, de acordo com Afonso Benites (http://brasil.elpais.com – acessado dia 09-12- 2016).

Conforme Eduardo Maretti, (http://redebrasilatual.com.br - acessado em 12-12-2016) – A proposta Batizada de "Crescer", é um programa visto por analistas como uma "abertura de portas" ao capital internacional e, para isso, a lei (conversão da medida provisória 727/2016) retira do caminho todos os "empecilhos" sociais, ambientais e culturais que posam atrasar os trâmites e viabilização das concessões.

A medida provisória 727/2016 cria o "Programa de Parcerias de Investimentos" - (PPI) e cria estruturas governamentais para gerenciá-lo. O PPI é composto por todos os empreendimentos públicos de infraestrutura a serem executados pelo setor privado. O programa busca garantir segurança jurídica aos investidores privados, estabelecer regras estáveis, fortalecer o papel regulamentador do Estado e a autonomia das agências reguladoras, com o fim de expandir a oferta de infraestrutura ao País.

Esta medida cria também o "Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República", instância de assessoramento imediato do Presidente da República no que concerne ao PPI. Autoriza o BNDES a constituir e participar do fundo de apoio à estruturação de projetos. Estabelece como dever dos órgãos governamentais a atuação de forma coordenada para que a “viabilização” dos empreendimentos do PPI possa ocorrer “de forma uniforme, econômica e em prazo compatível com o caráter prioritário nacional do empreendimento”, segundo o site (https://www25.senado.leg.br/web/materia/125734 - acessado em 12-12-2016). 38

O secretário-executivo do PPI (entidade subordinada diretamente à presidência da República) é Wellington Moreira Franco, ex-ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil de Dilma Rousseff.

De acordo com Fábio Amato (http://g1.globo.com - acessado em 13- 12-2016), segundo Wellington Moreira Franco, o governo quer elevar a competição pelos ativos que serão colocados à venda ou para concessão. Essa medida é importante porque as grandes empreiteiras nacionais, empresas que tradicionalmente investem em infraestrutura no Brasil, enfrentam dificuldades devido às denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção na Petrobras, descobertos pela Operação Lava Jato.

Wellington Moreira Franco também confirmou que os três bancos controlados pelo governo federal, tais como: Caixa, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - terão assento no PPI. Isso significa que os três devem ter participação no financiamento dos projetos de infraestrutura, continua Fábio Amato (http://g1.globo.com - acessado em 13-12-2016).

Nos últimos anos, essa tarefa foi exclusiva do BNDES, mas com a crise econômica e a queda na arrecadação de impostos, o governo dispõe de menos recursos para investimentos. Com a entrada da Caixa, por exemplo, os financiamentos podem ser feitos com uso de dinheiro do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS).

A nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, evidenciou o maior protagonismo que o banco terá na agenda de privatizações e concessões, que deverá ganhar corpo neste governo de Michel Temer como instrumento de ajuste das contas públicas. A intenção foi confirmada logo em seguida pelo discurso do ministro da Fazenda, .

Além de referendar os planos, por parte do governo, de acelerar a venda de ativos e as concessões de projetos de infraestrutura, na tentativa de resolver a grave crise fiscal do país, Meirelles e Maria Silvia deixaram claro o esforço que farão para mudar significativamente o papel do banco na indução do desenvolvimento. 39

Com essa nova orientação, o BNDES caminha para um modelo de atuação que ganhou relevância nos governos de Fernando Collor, Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso, quando, além de conceder financiamento às empresas, dedicava-se a identificar ativos estatais para venda e concessão e a planejar tais processos.

A presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, disse que os projetos objeto de concessões terão 20% de participação do investidor privado e financiamento público de até 80%. A sistemática prevê a emissão de debêntures, que são títulos de crédito, para alavancar os investimentos privados, conforme Samantha Lima (http://epoca.globo.com - acessado em 13-12-2016).

O professor Giorgio Romano Schutte, da Universidade Federal do ABC (http://redebrasilatual.com.br- acessado em 12-12-2016), explica que os 20% mencionados pela presidente do BNDES representam o capital próprio dos investidores. "A ideia é de que o BNDES financie menos do que com Dilma, mas dê garantias e entre como organizador", diz. Por isso Maria Silvia Bastos afirmou: "reduzimos a alavancagem do BNDES e trabalhamos junto com os outros bancos públicos e os bancos privados".

Coordenado pelo secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos, Wellington Moreira Franco, a proposta prevê a privatização de quatro aeroportos, sete empresas de energia, três empresas de saneamento ambiental, além da concessão de três ferrovias, três rodovias e dois portos. Há ainda a previsão de vender parte das loterias da Caixa, de leiloar três campos de exploração de petróleo e de quatro áreas de mineração.

A privatização dos aeroportos de Salvador, Porto Alegre, Fortaleza e Florianópolis já havia sido noticiada pelo Governo Rousseff. Porém, os editais não foram lançados ou não apareceram interessados. Uma das razões, segundo técnicos da atual gestão, foi a forma proposta para a concessão. Naquela época, a Infraero (a estatal que administra os aeroportos) seria a responsável por ficar com um percentual que variava entre 15% e 49% das ações do aeroporto privatizado. Agora, não há obrigatoriedade de que ela participe do consórcio que administrará o aeroporto. 40

Segundo o deputado federal Enio Verri (brasil.elpais.com - acessado em 12-12-2016) a lei que cria as PPIs "é muito mais" do que uma lei para acelerar as concessões. O parlamentar destaca três características que marcam a nova realidade de investimentos em infraestrutura do país: em primeiro lugar - acelera o processo de privatização de qualquer órgão ou instituição do governo; em segundo lugar - coloca o BNDES como principal "assessor" na construção de projetos para auxiliar o processo de privatização ou concessão e, em terceiro lugar - desrespeita o federalismo no qual se baseia a República.

Continua o deputado federal Enio Verri (http://brasil.elpais.com - acessado em 12-12-2016), a nova legislação prevê a celeridade dos projetos envolvendo privatizações e concessões, mesmo aqueles que exigem licenciamento ambiental, de municípios, estados ou União. "Quando se vai fazer um grande empreendimento, há todo um procedimento ambiental que nem sempre é rápido como a iniciativa privada quer. Tem de haver respeito, por exemplo: com as áreas quilombolas, indígenas ou a questões ambientais. Mas a nova lei não respeita os processos ou cada área, simplesmente manda- se fazer e o município ou estado tem que se virar". "E, o que é mais importante, não existe nenhuma preocupação em priorizar o capital nacional".

Considerado com viés mais pró-mercado do que o Governo anterior, - quando Dilma Rousseff foi acusada de interferir demais para determinar os modelos de privatização e concessão -, o Planalto aposta no poder de atração do pacote para ajudar a retirar a economia da recessão. Instado a comparar os programas da petista e do peemedebista, Moreira Franco disse que há uma mudança de filosofia entre os dois pacotes e alfinetou: “Definimos uma nova postura do Governo sobre esse processo. Não haverá a substituição da aritmética, com as quatro operações fundamentais, pela ideologia”. Ele não quis, todavia, citar uma meta de arrecadação com essas iniciativas. “Não estamos fazendo uma jogada de marketing. Queremos ser transparentes com o mercado e quanto mais recebermos, melhor”, disse Moreira Franco (http://brasil.elpais.com - acessado em 12-12-2016).

Os planos anteriores de Rousseff, lançados em 2012 e 2015, esperavam receber 120 bilhões e 198 bilhões de reais em investimentos de 41 empresas privadas, respectivamente. A meta foi frustrada. Na área de ferrovias, por exemplo, nenhuma das seis linhas planejadas foram leiloadas. Em rodovias, um terço deixou de receber capital privado. Na avaliação da gestão Temer, com algumas das estradas deixaram de ser privatizadas porque o Governo petista exigia que as rodovias fossem duplicadas em um período máximo de cinco anos após a assinatura da concessão. Agora, só serão ampliadas as vias em que o tráfego de veículos demande esse aumento de pistas.

Algumas das inovações propostas pela gestão Temer serão a de licitar apenas obras que já tenham viabilidade ambiental comprovada e de só lançar editais após conseguir um aval prévio do Tribunal de Contas da União. Parte das 5.000 obras públicas federais que estão paralisadas pelo país deixaram de ser executadas em decorrência da falta de autorização ambiental ou por problemas encontrados pela área técnica do TCU. Com o objetivo de atrair investidores estrangeiros, todos os editais serão publicados em português e inglês.

Os financiamentos ocorrerão principalmente por meio de debêntures via dois bancos públicos, a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Juntos eles destinaram cerca de 30 bilhões de reais para esses empréstimos. Parte desses recursos será proveniente do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI- FGTS). Em um primeiro momento, a prioridade do BNDES será financiar as obras de saneamento. Um levantamento feito pelo órgão mostra que 30% da população brasileira ainda não tem acesso à água tratada e quase 100 milhões de pessoas não têm suas residências ligadas à rede de tratamento de esgoto.

A divulgação foi recebida de forma positiva por um dos especialistas que acompanha o setor no Brasil, o economista Claudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B. Conforme Frischtak, diferentemente do Governo Rousseff, a atual gestão é mais aberta ao capital privado e não enxerga esse setor como um “mal necessário”.

Além disso, para Frischtak, a concentração das ações em uma única secretaria ajuda o Governo a organizar os projetos. “Sob Dilma, havia uma cacofonia enorme. O Tesouro falava sobre novos investimentos, o 42

Planejamento, a Casa Civil e os ministérios setoriais. Com isso surgiam vários vetos recíprocos. Com interlocutor só, esse problema desaparece”, afirma.

Na opinião do economista, a proposta atual ainda deverá passar por uma série de alterações até ser colocada em prática. “Este é um Governo permeável às críticas. Lançou um programa em setembro deste ano que só começará a ser executado em junho de 2017. Ou seja, está pronto para receber um feedback dos agentes econômicos e, se necessário, alterar esse programa.” (http://brasil.elpais.com/brasil – acessado em 15-12-2016).

Guardadas as proporções e diferenças, o Governo Temer tem como espelho e sinal de alerta o que acontece na vizinha argentina, onde a guinada ortodoxa de Mauricio Macri atrai elogios do mercado e de multinacionais, mas não ainda os investimentos prometidos. "Os mercados, seja lá o que for isso, exigem medidas, comemoram-nas, mas aí os investimentos não necessariamente chegam, ou não chegam tão rápido, e as coisas começam a engrossar", escreveu o analista argentino Ernesto Tenembau para descrever o que acontece em seu país. (http://brasil.elpais.com/brasil-acessado em 15-12- 2016).

No balcão de negócios da nova política econômica do presidente Michel Temer, a Petrobras, presidida por Pedro Parente, anunciou no final do mês julho de 2016 a primeira venda de um campo do pré-sal. A estatal se desfez de sua participação de 66% no Campo de Carcará, considerado uma das “joias da coroa”, na Bacia de Santos, por US$ 2,5 bilhões à petroleira estatal norueguesa Statoil. Carcará fazia parte da lista de ativos que a estatal brasileira colocou à venda desde o ano passado para reduzir seu endividamento e cumprir a meta de levantar US$ 15,1 bilhões no biênio 2015- 2016 com a venda de bens.

De acordo com o diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, a venda do campo é a maior operação já realizada no segmento de petróleo no país e o segundo maior negócio anunciado este ano, atrás apenas da compra da operação brasileira do HSBC pelo Bradesco, por US$ 5,2 bilhões.

Em entrevista dada à imprensa, para explicar a operação da venda do Campo de Carcará, a diretora de exploração e produção da Petrobras, 43

Solange Guedes, informou que a produção do Campo, só iniciaria entre 2020 e 2023, e que desta forma, começaria a pressionar o caixa da Petrobras em 2018, quando este fosse declarado comercialmente viável. Ela informou que os investimentos na área seriam elevados, mas não citou valores.

Solange observou, entretanto, que os equipamentos de exploração a serem usados em Carcará, pelas próprias características do campo, estão fora do padrão adotado pela companhia, o que aumentaria os custos entre 25% e 30%. A diretora continua dizendo que: a estratégia da Petrobras é priorizar os ativos que terão geração de caixa a curto prazo e que não pressionem a alavancagem da companhia. O objetivo é alocar os recursos em ativos que já estão produzindo ou devem iniciar a produção a curto prazo.

O geólogo Pedro Zalán, da Zag Consultoria, explicou que Carcará é uma das maiores descobertas do pré-sal já feitas pela Petrobras. Ele avalia que as reservas podem ser muito maiores do que o estimado até agora porque os reservatórios se encontram acima de um vulcão antigo, cujas rochas fraturadas poderiam ter ainda mais óleo. O geólogo destaca que o petróleo é de excelente qualidade, e que, ao contrário de outras acumulações do pré-sal, as condições facilitam muito a extração de óleo, de acordo com Ramona Ordoñez / João Sorima Neto (http://oglobo.globo.com.br – acessado em 15-12- 2016).

Em contra partida, a Febrageo (Federação Brasileira dos Geólogos) promete ir à Justiça para tentar reverter a venda da área de Carcará, no pré- sal, à norueguesa Statoil. A entidade questiona o valor da transação, de US$ 2,5 bilhões.

"Pela experiência de geólogos e especialistas que já trabalharam com o pré-sal, a área de Carcará pode ter mais petróleo do que o anunciado", disse o presidente da Febrageo, João César de Freitas.

Segundo ele, a entidade estuda estratégia para tentar reverter na Justiça a operação, que chama de "depredação do patrimônio dos brasileiros", conforme Nicola Pamplona (http://Folha.uol.com.br – acessado em 15-12- 2016). 44

Ainda sobre a venda do reservatório de Carcará à empresa pública Statoil, espécie de Petrobras da Noruega, por 2,5 bilhões de dólares, Ildo Sauer diz que é um escândalo. Ao contrário do alegado pela administração de Pedro Parente, não há urgência na venda. “Vergonhosa e criminosamente, estão vendendo 1 bilhão de barris por um preço de dois dólares o barril. Isto precisa ser contestado na Justiça”, clamou Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras e professor da USP, em depoimento na Comissão de Energia da Câmara, convocada pelo deputado Carlos Zarattini para discutir o projeto de Serra.

Continua Ildo Sauer: “O que se quer fazer agora é abrir a porta de entrada para a entrega total. Aparentemente, não há uma compreensão da dimensão do problema a que está se submetendo o povo brasileiro, titular dos recursos do petróleo. Este projeto que aí está ignora isso completamente e envergonha a nação”, conforme Carlos Drummond – revista Carta Capital de agosto de 2016.

A venda do reservatório de Carcará, só foi possível, porque o Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, o Projeto de Lei 4567/16, do Senador José Serra, que desobriga a Petrobras de ser a operadora de todos os blocos de exploração do pré-sal no regime de partilha de produção. Os deputados precisam votar ainda os destaques apresentados ao texto, que podem, se aprovados, manter a atual obrigação. Na última votação, foram 292 votos a favor do projeto e 101 contra.

Os argumentos favoráveis ao Projeto de Lei 4567/16, O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), relator da proposta, sustentou a tese de que a Petrobras não tem capacidade financeira para ser operadora única do pré-sal por conta do atual endividamento, que somaria cerca de 90 bilhões de dólares. Segundo ele, a relação entre lucro e dívida fez com que a estatal passasse a ser considerada pelo mercado como investimento especulativo. “E isso a tornou uma empresa inviável”, avaliou.

Por sua vez, o deputado José Guimarães (PT-CE) acusou os defensores do projeto de estarem entregando as riquezas do petróleo brasileiro a multinacionais. “Eles precisam ter coragem para dizer: ‘nós estamos entregando o pré-sal para as grandes petrolíferas do mundo'”, apontou 45

Guimarães, acrescentando que a mudança no regime de partilha faria o País perder cerca de R$ 50 bilhões só no campo de Libra.

A ideia da proposta, de autoria do atual ministro de Relações Exteriores e senador licenciado do PSDB paulista, José Serra, é facultar à Petrobras a decisão de querer ou não participar do consórcio como operadora após consulta do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

4.2.1 Privatização da Caixa Econômica Federal

A tentativa de privatização da Caixa Econômica perdeu força na Câmara dos Deputados por conta da luta da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa) e das demais entidades que defendem a Caixa 100% pública ganhou mais uma quebra de braço no sentido de resguardar a Caixa enquanto banco público. As mobilizações de entidades e participações em audiências públicas na Câmara dos Deputados deram bons resultados. No mês de junho de 2016, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços aprovou proposta que proíbe a privatização ou venda de direitos de empresa pública que explore com exclusividade os serviços de loteria e penhora de bens privados, atualmente explorados pela Caixa Econômica Federal, (http://Fenae.org.br – acessado em 16-12-2016).

O argumento do autor do Projeto de Lei 551/15, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), é de que a Caixa Econômica tem objetivos sociais, alguns inclusive sob a forma de monopólio, para atender à população. Dessa mesma maneira, o relator da proposta, deputado Augusto Coutinho (SD-PE), concordou que a Caixa Econômica precisa ser resguardada de qualquer tentativa de privatização.

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou no início da madrugada do dia 15-06 o PL 4918, chamado de Estatuto das Estatais ou Lei de Responsabilidade das Estatais. O projeto é oriundo do PL 555/15, e como teve seu texto modificado, o projeto vai voltar para nova análise do Senado. E um dos avanços conseguidos na Câmara com relação a esta PL 4918 foi o de: 46

Retirada da obrigatoriedade de as empresas se tornarem sociedades anônimas ( retirada do caráter privatista ).

Conforme disse Maria Rita Serrano - Coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas – (Jornal o Bancário de 20-06- 2016): “Mais uma vez tiramos leite de pedra. Assim como ocorreu na votação do Senado, procuramos o apoio dos parlamentares e construímos emendas para tornar o projeto menos nocivo aos trabalhadores e à sociedade brasileira. Não houve retrocessos no que já havia sido obtido e avançamos mais, excluindo do projeto o caráter privatista, o que é uma grande conquista”.

E finalizando, o Sr. , logo assim que assumiu a presidência da Caixa disse ao (site: economia.estadão.com.br - acessado em 22-12-2016) que: “Privatização da Caixa está fora das discussões”. E continua disposto a botar pingos nos “is” em relação ao futuro da instituição: – “Muito se fala que se vai privatizar a Caixa. Está fora de qualquer escopo. Não tem esse trabalho, esse discurso, essa diretriz”, frisa. Nem mesmo uma abertura de capital à participação privada – o que daria à Caixa estrutura societária semelhante à do Banco do Brasil e da Petrobrás – está em discussão, apesar dos projetos de parceria privada em três segmentos: loterias, seguridade e cartões.

4.2.2 Privatização do Banco do Brasil

Com a declaração de Michel Temer de que há funcionários "desnecessários" no BB e o anúncio de corte de 18 mil funcionários ressuscitam fantasma da privatização.

Wellington Moreira Franco negou que haja planos para privatização do Banco do Brasil, apesar de assumir que alguns serviços financeiros poderiam ser entregues à iniciativa privada. “Não há intenção de privatização nem da Caixa Econômica nem do Banco do Brasil. Mas evidentemente existem serviços nesses bancos com a possibilidade de associação, concessão, como, por exemplo, no caso da Caixa Econômica, das loterias”, de acordo com Amanda Damasceno ( jornalopcao.com.br – acessado em 23-12-2016 ). 47

Apesar da declaração do Sr. Wellington Moreira Franco negando os planos para a privatização do Banco do Brasil, os funcionários do Banco foram surpreendidos no dia 20 de novembro, com o anúncio de uma nova reestruturação que pode ter muitos desdobramentos, inclusive como preparação para uma futura privatização, por causa das declarações sobre o Banco do Brasil feitas pelo presidente Michel Temer considerando os funcionários do Banco do Brasil - "desnecessários".

Em comunicado à imprensa e ao mercado, o Banco anunciou uma grande reestruturação envolvendo corte de agências e redução do quadro de funcionários. O BB reduzirá sua estrutura em todas as áreas, principalmente na rede de agências, onde 379 serão transformadas em postos de atendimento e 402 serão fechadas. Somente no município do Rio de Janeiro 29 agências serão fechadas e 17 unidades transformadas em Postos de Atendimento Bancário (PABs).

O objetivo do governo com esta reestruturação é cortar R$ 750 milhões de gastos do banco, sendo R$ 450 milhões com a nova estrutura organizacional, que inclui redução de despesas com folha de pagamento e corte de postos de trabalho, além de R$ 300 milhões com redução de despesas com transporte de valores, segurança e imóveis. A medida está na contramão do papel desempenhado pela instituição nos últimos anos, que é de fomento ao desenvolvimento social e econômico do País.

As medidas, além do evidente prejuízo para o funcionalismo, resultarão em grandes transtornos para a população já que a previsão é de enxugamento de postos de atendimento: "A situação de muitas agências no Rio já é caótica. Com a redução no número de agências e funcionários a empresa inviabiliza o atendimento à população, que já é precário, e sobrecarrega ainda mais os funcionários que vão continuar na ativa", critica a diretora do Sindicato do Rio e membro da COE/BB Rita Mota.

A presidenta do Sindicato do Rio, Adriana Nalesso, também criticou a reestruturação: "O Banco do Brasil é uma empresa sólida graças ao empenho de seus funcionários. Prova disto é que lucrou mais de R$ 7 bilhões nos últimos nove meses. O banco fala em redução de custos, mas a remuneração paga a acionistas chegou à cifra de R$ 2,1 bilhões e aprovou a 48 distribuição de mais R$ 305 milhões a título de remuneração aos acionistas. Parte destes recursos vão inclusive para o governo, acionista majoritário do banco". (http://bancariosrio.org.br – acessado em 23-12-2016).

O banco comunicou ainda um Plano Extraordinário de Aposentadoria Incentivada (PEAI), com incentivo aos funcionários que reúnam condições para se aposentar. O público alvo é de 18.000 funcionários. Além dos cortes de dotação de pessoas e plano de aposentadoria, o BB também anunciou a ampliação do público alvo da jornada de 6 horas, estendendo a opção aos assessores de todas as unidades.

Com a possibilidade da privatização do Banco do Brasil, o sindicato dos bancários, promoveu no dia 20 de dezembro de 2016, no auditório da entidade no Centro do Rio de janeiro, uma plenária com os funcionários do Banco. O objetivo do encontro foi debater as formas de organização da luta contra o desmonte imposto pelo governo Michel temer que parece estar preparando o Banco para uma privatização.

Durante audiência de mediação no Ministério Público do Trabalho, em Brasília, dia 19 de novembro, o Banco do Brasil prestou esclarecimentos sobre descomissionamentos e fechamento de agências. A Contraf-CUT participou da audiência em defesa do Banco do Brasil, com a presença dos seguintes procuradores: Dra. Ana Cristina D. B. F. Tostes Ribeiro, Dra. Sandra Lia Simón (Coordenadora Nacional do CONAFRET) e Dr. Cláudio Cordeiro Queiroga Gadelha.

Estiveram presentes representantes do Banco do Brasil, o secretário-geral da Contraf-CUT, Carlos de Souza, acompanhado da assessora jurídica da Confederação, Dra. Renata Cabral, e representantes da Fetrafi/MG, Fetraf RJ/ES, Sindicatos dos Bancários de São Paulo, Brasília e Florianópolis.

Segundo Carlos de Souza, a audiência do dia 19 de novembro, foi um episódio de extrema importância na luta em defesa do Banco do Brasil. “Tivemos a oportunidade de dividir com o Ministério Público do Trabalho as preocupações com o conjunto do funcionalismo do banco, dos ataques que estão sendo recebidos, além da preocupação quanto à própria defesa do banco enquanto empresa pública. Do seu importante papel de desenvolvimento 49 e de fomento, da sua importância na agricultura nacional, nos programas sociais, e da sua inserção nas comunidades e municípios pequenos”.

O dirigente fez duras críticas ao projeto de desmonte do banco público. Alertou que a desestatização é um modelo planejado pelo governo de Michel Temer, ao mencionar, também, a tentativa de privatização de empresas públicas, como a Petrobras e a Caixa. (http://contrafcut.org.br – acessado em 23-12-2016).

4.2.3 Privatização de saneamento básico

A ganância do governo é tanta que ele ousa colocar entre o que vai ser privatizado até mesmo as áreas sensíveis à população, como a água. Um item essencial à vida como a água não pode virar objeto de lucro das empresas. É evidente que a privatização do saneamento básico virá junto com o aumento de tarifas sem qualquer contrapartida de qualidade de serviços.

Em São Paulo, temos um exemplo de como o lucro pode prejudicar o abastecimento à população. Por ter capital aberto e, portanto, privilegiar o lucro, a Sabesp de Alckmin não investiu em manutenção e nem em ampliação da rede e o resultado todos conhecem, a cidade de São Paulo viveu uma das mais graves crises de abastecimento de água da história, ela ficou meses sem água nas torneiras.

A população de três estados do Brasil – Rondônia, Pará e Rio de Janeiro – começarão a experimentar um novo jeito para distribuição de água e tratamento de esgoto a partir de 2017. O governo de Michel Temer anunciou dia 13 de setembro de 2016, o objetivo de vender estatais desses estados, deixando o saneamento básico nas mãos de empresas privadas. Essa medida deve encarecer o serviço em locais que mais precisam.

Segundo o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto de 2014, feito pelo Ministério das Cidades, 57,6% da população brasileira não é atendida por coleta de esgoto. O estudo também revelou o aumento do investimento do governo federal no saneamento. De 2003 a 2006 a média de desembolso foi de 50

R$ 1,5 bilhão. Entre 2007 e 2015 o valor subiu para R$ 7 bilhões, chegando ao pico de R$ 12 bilhões em 2014.

Com o investimento, 53 milhões de pessoas passaram a ter acesso a saneamento, segundo a pesquisa. Porém, a lógica do governo Temer é inversa, explica José Maria dos Santos, da Frente Nacional de Saneamento Básico. O governo de Temer pretende deixar que os assuntos “água e esgoto” sejam resolvidos entre os cidadãos de forma isolada e empresas privadas. Para 2017 o saneamento divide a verba de R$ 2 bilhões com a mobilidade urbana.

Explica José Maria dos Santos que: “As empresas estatais atendem diversas cidades e fazem uma média de preço, para que um lugar mais necessitado não pague abusivamente”. Com as empresas privadas o preço deve variar de acordo com as condições do município, conforme a dificuldade de captação de água e o poder aquisitivo da população. Então, desta forma, as tarifas de água e esgoto podem aumentar com certeza em todos os Estados com o saneamento básico privatizado.

No Rio de Janeiro, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) deve ser fatiada em cinco empreendimentos, denuncia o sindicato dos trabalhadores da empresa (Sintsama). O setor de distribuição de água seria dividido em quatro empresas, sendo uma o “filet mignon” dos bairros nobres e três “ossos”, de locais que precisam de investimento. A produção (captação e tratamento de água) continuaria estatal.

Humberto Lemos, presidente do Sintsama, explica que a produção é a parte menos lucrativa de toda a empresa. Com a privatização das áreas que dão lucro, a empresa não deve conseguir se sustentar e deve dar prejuízos ao governo, ao contrário do que acontece hoje. “A CEDAE é uma empresa de saldo positivo. Estamos enviando R$ 167 milhões ao estado neste ano”, conforme escreveu Rafaella Dotta (http://brasildefato.com.br – acessado em 26/12/2016).

Já o Presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos ressalta que os avanços nos serviços de saneamento básico nos últimos anos se concentraram no fornecimento de água, enquanto a coleta e o tratamento de 51

água não foram tão beneficiados. — As empresas não acompanharam os investimentos feitos no fornecimento de água na coleta e tratamento de esgoto. Menos da metade da população tem acesso à coleta de esgoto. E, do esgoto geral do país, só 40% são tratados. Muitas cidades ampliaram a coleta do esgoto, mas só afastam das casas e colocam no rio ou no mar — afirmou Carlos.

Diante desse cenário, Édison Carlos diz ver “com bons olhos” a intenção do governo em avançar no debate sobre a privatização dos serviços de saneamento básico. Na sua avaliação, o melhor caminho é o das parcerias entre as empresas públicas e privadas, unindo conhecimento do sistema de saneamento do setor público e tecnologia e boas práticas de gestão do setor privado. — A questão não é se o serviço é público ou privado. Mas, em geral, o setor privado cumpre as metas mais rapidamente. Quando uma empresa privada assume, por exemplo, rapidamente ataca as perdas de água. No Brasil, há uma perda de 36,7% da água potável dos sistemas de distribuição — explicou o presidente executivo do Trata Brasil, destacando a importância da fiscalização das empresas, conforme Lucianne Carneiro (http://oglobo.globo.com – acessado em 23-12-2016).

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CONCLUSÃO

As privatizações foram feitas, na sua maioria, de uma forma incrível de se acreditar, que podemos exemplificar da seguinte maneira: imagine que você trabalhou toda uma vida para adquirir um patrimônio desejado; e que, em meio a dívidas contraídas, você tenha decidido vender um ou outro bem do seu patrimônio para colocar as suas contas em dia.

Agora imagine também que o comprador interessado no seu bem, durante a negociação, tenha confidenciado a você que ele anda sem dinheiro para efetuar a compra. Então você, ansioso para poder realizar a venda do seu bem, resolva emprestar para o interessado o dinheiro com o qual seu patrimônio será comprado.

O mecanismo seria este: o comprador pagaria a você de volta a perder de vista, assim que ele começasse a lucrar com o que acabara de adquirir. É importante salientar que: você teria vendido justamente os bens com os quais gerava parte de sua renda; e por um preço bastante abaixo do valor de mercado.

Pois foi justamente assim que se deu com boa parte das privatizações realizadas no Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso, de meados da década de 1990 até 2002. Empresas públicas produtivas, como a Vale do Rio Doce e a Light, vendidas a preços muito abaixo do que realmente valiam, com financiamento público a perder de vista.

Tendo como argumentos o abatimento da dívida, a atração de capital estrangeiro, o aumento da produtividade e a melhoria dos serviços aos cidadãos e cidadãs, o patrimônio brasileiro foi colocado à venda e oferecido a alguns poucos grupos econômicos internacionais, financiados por bancos estrangeiros e com ajuda do próprio governo brasileiro. O que se escondia, porém, é que na antessala da privatização a infraestrutura das empresas era sucateada, numa política de depreciação do patrimônio nacional, jogando no desemprego dezenas de milhares de profissionais qualificados.

E como se não bastasse, para tornar o negócio mais atraente, o governo abateu as dívidas das empresas com a União e realizou ajustes de tarifas, puxando para cima os preços dos serviços e garantindo enorme lucro 53 futuro aos investidores. Para se ter uma ideia, o reajuste nas tarifas telefônicas chegou a 500%; no caso da energia elétrica, a coisa ficou na faixa de 150%. E ao contrário de outros países, nos quais os processos de privatização exigiam que as companhias baixassem gradualmente as taxas cobradas pelos seus serviços, o combinado pelo governo FHC com os novos donos foi que as empresas compradas poderiam seguir ajustando os preços anualmente, segundo a taxa de inflação.

Com o objetivo de convencer a opinião pública, o governo e meios de comunicação defendiam que a venda das estatais atrairia dinheiro do exterior, reduzindo as dívidas externa e interna do Brasil. E, na verdade, ocorreu o contrário: o governo, além de “engolir” as dívidas de todas as estatais vendidas (o que aumentou a dívida interna), parte razoável do dinheiro levantado pelos investidores vinha de bancos estrangeiros. O que significou que, no fim das contas, as companhias recém privatizadas, já comprometidas com dívidas junto a grupos financeiros internacionais, seriam obrigadas a enviar grande parte do dinheiro que fizessem para o exterior. Algo que não aliviou – na verdade, piorou – a dívida externa nacional.

Para piorar ainda mais a situação, o próprio governo financiou parte da compra, oferecendo empréstimos do BNDES e trocando crédito pela aquisição de títulos da dívida pública. Medidas que acabaram se tornando um contrassenso, já que, ao oferecer no Brasil parte do dinheiro a ser investido nos leilões, os potenciais compradores acabaram sem grande estímulo para trazer dólares de fora para o país. Dólares que, justamente, eram alardeados desde o início como um dos motivos para a privatização.

As privatizações das estatais para o crescimento econômico do país, no final das contas, foi o seguinte: o Brasil entregou boa parte de seu patrimônio a preço de banana para uns poucos grupos econômicos; a dívida pública aumentou assustadoramente (de cerca de 30% do PIB, em 1995, para quase 60% do PIB em 2002); e a política de investimentos do BNDES, que estimulava a remessa de dólares para o exterior, acabou provocando uma recessão que atingiu as famílias do país, numa quebradeira generalizada que levou a enormes índices de desemprego. 54

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

1.1. Privatizar vem do latim “privus” (particular) 09

1.2. Privatização em sentido amplo 09

1.3. Privatização em sentido estrito 11

1.4. Conceito propriamente dito 11

1.5. Privatização e dívida pública 12

CAPÍTULO II

2.1. Histórico das privatizações pelo mundo 16

2.2. Histórico das privatizações no Brasil 20

CAPÍTULO III

3.1. O que preconiza o Neoliberalismo? 26

3.2. O que foi o Consenso de Washington? 27

3.3. Privatizações no Brasil 29

3.3.1. Privatizações governo Fernando Henrique Cardoso 30 58

CAPÍTULO IV

4.1. Privatizações no governo Dilma Rousseff 34

4.2. Privatizações no governo Michel Temer 37

4.2.1. Privatização da Caixa Econômica Federal 45

4.2.2 Privatização do Banco do Brasil 46

4.2.3 Privatização de saneamento básico 49

CONCLUSÃO 52

BIBLIOGRAFIA 54