Sistemática Molecular de Metastelmatinae () com Ênfase em espécies Endêmicas da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil

Uiara Catharina Soares e Silva; Alessandro Rapini; Maria José Gomes de Andrade & Cássio van den Berg

Palavras-chave: Apocynaceae, , campos rupestres, endemismos, marcadores plastidias.

INTRODUÇÃO utilizados três marcadores plastidiais (trnT-F, Estudos filogenéticos com dados trnS-G e rps16). moleculares em Asclepiadoideae Neotropicais (Rapini et al. 2003, 2006; Liede-Schumann et MATERIAL E MÉTODOS al. 2005) contribuíram de forma significativa para o entendimento das relações O DNA foi extraído de amostras de filogenéticas de alguns grupos, aprimorando a tecido vegetal (folhas e/ou botões) classificação da subfamília através da criação desidratados em sílica-gel. A amplificação de subtribos (Liede-Schumann et al. 2005) e das regiões selecionadas foi otimizada para gêneros (Konno et al. 2006). Entretanto, as cada primer, os produtos da PCR foram relações filogenéticas entre alguns táxons purificados e posteriormente seqüenciados. ainda são incertas. Nesse sentido, destaca-se a Análises de Máxima Parcimônia (MP) subtribo Metastelmatinae, uma das mais foram realizadas para as três regiões diversas no Brasil. individualmente e combinadas, utilizando o A delimitação interna em PAUP (Swofford 2002). Uma análise Metastelmatinae tem se mostrado combinada das três regiões também foi extremamente complexa. Essa dificuldade é realizada através de Inferência Bayesiana marcante no nível de gênero, sobretudo pela (IB), utilizando o programa MrBayes 3.1 grande diversidade e parco conhecimento das (Ronquist & Huesenbeck 2003). Para tanto, as espécies sul-americanas. Soma-se a isso uma regiões foram particionadas e analisadas em diversificação relativamente rápida e recente, conjunto, mas desligadas entre si, de modo que parece ser responsável por um que os parâmetros foram estabelecidos descompasso entre a grande variabilidade individualmente para cada uma delas. A morfológica observada e a baixa variabilidade sustentação dos clados foi avaliada através de detectada nos diversos marcadores plastidiais bootstrap (BT) na MP e probabilidade utilizados até aqui. Há, também, uma grande posterior (PP) na IB. dificuldade de se trabalhar com seqüências nucleares de ITS devido à presença de RESULTADOS E DISCUSSÃO parálogos divergentes, exigindo clonagem dos Esse é o primeiro estudo em produtos de PCR (Liede et al. 2004; Rapini et Asclepiadoideae a analisar trnT-L, rps16 e al. 2006) e um grande número de homoplasias trnS-G utilizando inferência bayesiana, morfológicas característico de destacando-se também por incluir sete Asclepiadoideae. espécies de Metastelmatinae ainda não Buscando entender as relações em investigadas em estudos filogenéticos. Ele é Metastelmatinae, avaliando a posição congruente com os estudos prévios (Fig. 1), taxonômica de espécies endêmicas da apresentando alto suporte para as subtribos Chapada Diamantina, Bahia, Brasil (Barjonia Metastelmatinae, Oxypetalinae e harleyi Fontella, Metastelma giuliettianum Gonolobinae, incluindo a posição de Fontella, M. harleyi Fontella, M. myrtifolium Blepharodon lineare (Decne.) Decne. como Decne. e harleyi Fontella) foram grupo irmão do restante de Metastelmatinae e

Departamento de Ciências Biológicas, Programa de Pós-graduação em Botânica, Universidade Estadual de Feira de Santana. Avenida Transnordestina s/n, bairro Novo Horizonte, Feira de Santana – BA, CEP 44.036-900. Financiamento: CAPES CNPq,, FAPESB. de Funastrum clausum (Jacq.) Schltr. como resolvido. Essa tricotomia abre perspectivas grupo irmão das demais Oxypetalinae. interessantes para o entendimento da evolução O polifiletismo de Ditassa sugerido em das espécies nos campos rupestres da Cadeia estudos morfológicos e moleculares é aqui do Espinhaço. Sua resolução poderá levar à hipótese de dispersão dessa linhagem a partir confirmado. Metastelma giuliettianum, M. da Bahia, se diversificando em Minas Gerais, harleyi e M. myrtifolium agruparam-se com Ditassa burchellii Hook & Arn., D. hispida no caso das espécies baianas formarem um grado basal, ou à hipótese de uma dicotomia (Vell.) Fontella e D. retusa Mart. em todas as relativamente antiga entre as linhagens da análises, formando, na análise combinada, um clado altamente sustentado na IB (PP=100%), porção mineira e da porção baiana da Cadeia do Espinhaço, com a primeira apresentando mas não na MP. As espécies de Metastelma uma taxa de diversificação bem mais da América Central, incluindo a espécie-tipo do gênero, M. parviflorum (Swartz) R. Br., acentuada que a última. aparecem em um clado à parte (BT=65% e PP=100%), não recuperado no consenso AGRADECIMENTOS estrito da MP. A espécie-tipo de Ditassa, D. Agradecemos à Sigrid por sua banksii Schult., no entanto, não tem uma colaboração, especialmente com seqüências posição definida no núcleo de de Metastelma da América Central. Metastelmatinae, impedindo uma decisão taxonômica segura com base apenas nestes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS resultados. KONNO, T.U.P.; RAPINI, A.; GOYDER, Com exceção de Hemipogon harleyi, D.J. & CHASE, M.W. 2006. The New que se agrupou com as espécies de , genus Minaria. Taxon, 55: 421-430. as demais espécies do gênero, H. carassensis LIEDE-SCHUMANN, S; RAPINI, A.; (Malme) Rapini, H. hemipogonoides (Malme) GOYDER, D.J. & CHASE, M.W. 2005. Rapini e H. luteus E. Fourn., apesar da baixa Phylogenetics of the New World sustentação (BT=54% e PP=95%), formaram subtribes of Asclepiadeae (Apocynaceae um clado. Pela ausência de corona nas flores, - Asclepiadoideae): Metastelmatinae, as espécies volúveis de Hemipogon eram Oxypetalinae, and Gonolobinae. incluídas em Astephanus, um gênero restrito à Systematic Botany, 30: 184-195. África. O conceito de Hemipogon, no entanto, RAPINI, A.; CHASE, M.W.; GOYDER, D.J. foi recentemente ampliado de modo a & GRIFFITHS, J. 2003. Aclepiadeae acomodar espécies que, independentemente classification: evaluating the do hábito, apresentavam folhas estreitas. Esse phylogenetic relationships of New é o primeiro estudo com dados moleculares World Asclepiadoideae (Apocynaceae). sinalizando a proximidade filogenética de Taxon, 52: 33-50. espécies eretas e de flores com corona (H. RAPINI, A.; CHASE, M. W. & KONNO, hemipogonoides) com espécies volúveis e de T.U.P. 2006. Phylogenetics of South flores sem corona (H. carassensis e H. luteus) American Asclepiadeae (Apocynaceae). nesse gênero. Taxon, 55: 119-124. A proximidade de Barjonia harleyi e RONQUIST, F. & HUESENBECK, J. P. Minaria, inicialmente sugerida com base em 2003. MrBayes 3. Bayesian phylogenetic morfologia (Konno et al. 2006), é altamente inference under mixed models. sustentada com dados moleculares. Bioinformatics, 19: 1572-1574. Surpreendente, no entanto, é a posição de Hemipogon harleyi (Fontella) Goyder, uma SWOFFORD, D. L. 2002. PAUP*: trepadeira, que juntamente com B. harleyi e Phylogenetic Analysis using Parsimony Minaria, grupos essencialmente (and other methods), version. 4 beta 10. subarbustivos, forma um clado altamente Sundeland: Sinauer Associates. sustentado (BS=97% e PP=100), mas não Figura 1. Consenso de maioria obtido a partir das 8.173 árvores geradas na inferência bayesiana (excluído burn-in) dos dados combinados de trnT-L, rps16 e trnS-G. As setas indicam os clados que não aparecem no consenso estrito das 9.645 árvores mais parcimoniosas da análise combinada das três regiões. Os valores acima dos ramos indicam as probabilidades posteriores dos clados e os valores abaixo, o bootstrap obtido com parcimônia. Os táxons em negrito foram analisados filogeneticamente pela primeira vez neste estudo (exceto Metastelma myrtifolium); * indica as espécies endêmicas da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil.