UNIJUI – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Departamento de Humanidades e Educação Curso de Geografia

Renato de Camargo

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MUNICÍPIO DE - RS

IJUÍ-RS 2013

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Renato de Camargo

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA - RS

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do Título de Licenciado em Geografia.

Orientador: Prof. Célia Clarice Atkinson

IJUÍ-RS 2013

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RESUMO

Este trabalho trata da elaboração de uma proposta de zoneamento ambiental do Município de Flores da Cunha – RS. A Resolução CONSEMA 167/2007 instrumentaliza o poder municipal para que este exerça de forma mais rápida os estudos e a avaliação de obras ou empreendimentos de impacto local. O zoneamento vem como uma importante ferramenta de gestão e auxílio à tomada de decisões e pode ser usado para definir quais critérios devem ser utilizados para diminuir os conflitos entre as relações estabelecidas entre a sociedade e o ambiente. Com base nos dados obtidos, chegou-se a uma divisão em cinco zonas: Zona de Preservação Ambiental, Zona de Conservação Ambiental, Zonas de Uso Especial, Zona de Uso Disciplinado, Zona de Recuperação Ambiental. Esta proposta em cinco zonas mostrou-se mais de acordo com realidade local, pois, parte de uma abordagem que reúne as idéias de vários segmentos da sociedade

Palavras- Chave : Zoneamento – Gestão Ambiental. .

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SUMÁRIO

Lista de Figuras Lista de Tabelas Lista de Siglas

INTRODUÇÃO

1.CARACTERIZAÇÃO GERAL DE FLORES DA CUNHA – RS......

1.1. LOCALIZAÇÃO E TERRITÓRIO DE FLORES DA CUNHA. 1.2. SITUAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

2. CARACTERISTICAS SOCIOAMBIENTAIS E ECONÔNICAS

2.1.ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS 2.2. ASPECTOS FÍSICO-NATURAIS 2.3. VEGETAÇÃO E USO DA TERRA

3.PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA/RS

3.1 .DIAGNÓSTICO NORMATIVO 3.2. VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR) 3.2. PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA. FIGURA 2- LINHA DO TEMPO DOS PRINCIPAIS EVENTOS FIGURA 3- MAPA DOS DISTRITOS DE FLORES DA CUNHA. FIGURA 4: MAPA DE POÇOS ARTESIANOS FIGURA 5 : MAPA DE RECURSOS HIDRÍCOS FIGURA 6: MAPA DE CLASSIFICAÇÃO DA VEGETAÇÃO E USO DAS TERRAS FIGURA 7 : MAPA DO MODELO DIGITAL DO TERRENO FIGURA 8: MAPA DE ÁREAS TOTAL COM RESTRIÇÃO LEGAL DE USO

FIGURA 9: MAPA DE ÁREAS COM RESTRIÇÃO LEGAL DE USO

(MARGENS DE RIOS).

FIGURA 10: MAPA DE ÁREAS COM RESTRIÇÃO LEGAL DE USO (ÁREAS DE DECLIVIDADES).

FIGURA 11: MAPA DE ÁREAS COM RESTRIÇÃO LEGAL DE USO ( MATA NATIVA).

FIGURA 12 : MAPA DE DECLIVIDADE PARA DELIMITAÇÃO DAS APPS.

FIGURA 13 : VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR)

FIGURA 14 : CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR)

FIGURA 15 : ZONEAMENTO AMBIENTAL (VAR)

FIGURA 16 : ZONEAMENTO AMBIENTAL

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1- DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA, POR SITUAÇÃO DE DOMICÍLIO, 2000/2010.

TABELA 2-IDESE DE FLORES DA CUNHA.

TABELA 3-ÍNDICE E SUB-ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO DO MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA.1991/2000.

TABELA 4- IDEBS OBSERVADOS EM 2005, 2010 PARA REDE MUNICIPAL – FLORES DA CUNHA E RIO GRANDE DO SUL.

TABELA 5-PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB).

TABELA 6-VALOR ADICIONADO BRUTO DO TOTAL POR SETOR, 2005 A 2009.

TABELA 7: CLASSES DE VULNERABILIDADE.

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LISTA DE SIGLAS CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente CORSAN – Companhia Riograndense de Saneamento CPRM – Companhia de Recursos Naturais DEFAP - Departamento de Florestas e Áreas Protegidas DEFAP - Departamento de Florestas e Áreas Protegidas EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEE – Fundação de Economia e Estatística FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental

FZB - Fundação Zoobotânica IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDESE - Índice de Desenvolvimento Socioeconômico IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais PD - Plano Diretor PIB - Produto Interno Bruto PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente SEMA - Secretaria Estadual do Meio Ambiente SIG - Sistema de Informações Geográficas SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS 6 LISTA DE TABELAS 7 LISTA DE SIGLAS 8

INTRODUÇÃO

1.CARACTERIZAÇÃO GERAL DE FLORES DA CUNHA – RS 10

1.1. Localização e Território de Flores da Cunha 11 1.2. Situação e Contextualização 14

2. CARACTERISTICAS SOCIOAMBIENTAIS E ECONÔNICAS 16

2.1.Aspectos socioeconômicos 16 2.2. Aspectos físico-naturais 24 2.3. Vegetação e Uso da Terra 26

3.PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA/RS 28

3.1 .Diagnóstico Normativo 30 3.2. Vulnerabilidade Ambiental Relativa (var) 38 3.2. Proposta de Zoneamento Ambiental 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS 49 REFERÊNCIAS 53

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INTRODUÇÃO

Na República Federativa do Brasil as esferas de poder, estão divididas e hierarquizadas entre a União, os estado e os municípios. Sendo assim, os municípios configuram como a menor escala dessa divisão, está escala é de relevante importância para conservação e prevenção de impactos ambientais, pois os fatos geradores desses eventos originam-se, sempre, no território de algum município. Ocorre que, para fins de conservação da biodiversidade é desejável que o município trabalhe com inteligência a gestão dos recursos disponíveis em seu território. Juntamente com a União e o Estado, o município deve exercer, pela ação legítima do Poder Público, competência administrativa suplementar e instituir o Sistema Municipal do Meio Ambiente. Este Sistema pode ser definido como um conjunto de diretrizes normativas e operacionais, estrutura organizacional, implementação de ações gerenciais, relações institucionais e interação com a comunidade local. Entre os principais instrumentos de gestão municipal estão o Plano Diretor, instituído pela Constituição Federal, como instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (artigo 182, parágrafo 1) e o Plano Ambiental Municipal, que fica à disposição do órgão público municipal e da população. No Rio Grande do Sul, segundo a FEPAM, 192 municípios já estão habilitados para o licenciamento de atividades de impacto local, ou seja, já possuem os seus planos ambientais e as respectivas exigências legais correlatas. O município de Flores da Cunha, objeto desse trabalho, para melhor gerir suas competências e se adequar as normas para poder licenciar atividades de impacto local, já instituiu o Plano Diretor Municipal (Lei Complementar N°29, de 16 de Novembro de 2006), bem como a Política do Meio Ambiente do município (Lei Complementar N°30, de 29 de Novembro de 2006). Desta maneira, o crescimento e desenvolvimento do município pode ser acompanhado e monitorado, contribuindo para o uso consciente dos recursos e para a preservação das belezas naturais.

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O Zoneamento Ambiental municipal é uma das mais importantes ferramentas de gestão e auxílio à tomada de decisão, estando previsto na legislação ambiental (Lei Federal 6.938.art 9 inciso II). O municipio de Flores da Cunha com o objetivo de garantir a exploração racional dos recursos naturais, com base no cumprimento das normas estabelecidas para um desenvolvimento voltado a sustentabilidade, visando diminuir a ação antrópica sobre o meio ambiente elaborou um Projeto de Monitoramento e Fiscalização Ambiental que tem entre seus intrumentos a instituição de um Zoneamento ambiental territorial, o qual é tema desse trabalho, cuja estrutura constitui-se de 3 capítulos. O primeiro refere-se a caracterização geral do Município de Flores da Cunha/RS. No segundo produzimos um diagnóstico territorial, considerando os diferentes usos no espaço urbano e rural. No ultimo capitulo apresentamos uma proposta de zoneamento ambiental para o Município de Flores da Cunha – RS. Com o intuito de prospectar possibilidades de maior alcance na preservação ambiental. Nas considerações finais, retomamos os usos e atividades.

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1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DE FLORES DA CUNHA – RS

1.1 LOCALIZAÇÃO E TERRITÓRIO DE FLORES DA CUNHA.

Flores da Cunha é um município brasileiro do Estado do Rio Grande do Sul localizado na Microrregião de e Mesorregião Nordeste Rio-grandense. Sua área municipal é de 253 km 2, estando a uma altitude de 710 metros a sede municipal ( fig 1). O município é dividido em três distritos: Otávio Rocha, Mato Perso e Flores da Cunha. Limita-se ao Norte e Oeste com os municípios de Antônio Prado, e Nova Pádua, à Nordeste com o município de São Marcos, à Sudeste e Sul com o município de Caxias do Sul, à Sul e Sudeste com o município de .

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Figura 1 : Localização do Município de Flores da Cunha.

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1.2 SITUAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

A referência histórica da chegada de famílias de imigrantes italianos, em busca de terras para a agricultura na região da encosta superior do nordeste do Rio Grande do Sul no ano de 1876, segundo dados e documentos expedidos na época. Os imigrantes italianos vinham de diversas regiões do norte da Itália. Seguiam para o Porto de Gênova e embarcavam em navios a vapor com destino ao Rio de Janeiro e depois para o Rio Grande do Sul. Os imigrantes eram encaminhados para o Colônia de Caxias, atual Caxias do Sul. Cada família foi encaminhada para os travessões e recebiam um lote rural, que possuía uma extensão, conforme a legislação, entre 22 e 25 hectares. Mesmo assim, os lotes eram pequenos se comparados àqueles destinados aos imigrantes alemães e as extensas sesmarias do período colonial brasileiro. Valorizava-se, desta forma, a formação da pequena propriedade rural cuja principal força de trabalho era a familiar, destinada à produção de bens para a subsistência e abastecimento do mercado interno. Os lotes urbanos, possuíam menor extensão do que os lotes rurais, e tinham seu tamanho determinado pela proximidade da sede ou do centro da colônia. A sede da colônia ou área determinada como urbana, previamente planejada, reservava locais para logradouros públicos, escolas, igrejas, administração e destinava áreas para o comércio e instalações de pequenas fábricas. Antes da chegada dos imigrantes, o perímetro urbano do município, já havia sido demarcado pelo engenheiro Diogo dos Santos, vindo do Rio de Janeiro, um dos melhores urbanistas da época. Nesta sede, fundaram-se dois pequenos povoados de cabanas rústicas cobertas com cascas de pinheiros, ambos com as respectivas capelas, também de construções rústicas. Um dos povoados denominou-se São Pedro, localizava-se onde hoje é o centro da sede municipal; o outro se chamava São José, nome do padroeiro daquela comunidade, e também estava situado no perímetro urbano, distando um quilômetro à leste do primeiro, nas imediações da caixa d’água da CORSAN. Alguns anos mais tarde, devido à escassez de água, todos os habitantes do povoado de São José mudaram-se, aos poucos, para o povoado de São Pedro,

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aumentando sua população, e motivando os moradores a dar ao local um nome vinculado à Pátria-mãe. Isto foi motivo de muita discórdia, mas prevaleceu a sugestão do Engenheiro Diogo dos Santos, que propôs o nome mediador de Nova , o qual foi aceito pela comunidade. A denominação de Nova Trento perdurou até meados de 1935, quando em plena ditadura, o então Prefeito nomeado promoveu a substituição do nome para Flores da Cunha. No ano de 1913, o ainda distrito contava com 4.502 habitantes, dos quais 3652 nascidos no Brasil, sendo 828 italianos, 1 alemão e 21 sem declaração de nacionalidade. O povoado já contava com igreja paroquial e centro telefônico. A agência de correio era ligada a Caxias do Sul e São Marcos, por excelente estrada de rodagem. Nessa época a agricultura se concentrava na videira e no milho, sendo que esse segundo produto permitia a criação de mais de 12000 cabeças de gado suíno. Além disso, havia a criação doméstica de galinhas e galos de raça. No ano de 1920, contava o povoado com 120 prédios de boa construção, casas comerciais e fábricas. No ano de 1931, já município, foi inaugurada uma usina termelétrica particular, que fornecia luz e força para a cidade e arredores. Além do 1º distrito da sede municipal, denominado Nova Trento, o Capitão intendente Joaquim Mascarello, por ato de 16 de junho de 1924, criou mais dois distritos, com as denominações de Nova Pádua – 2º distrito e Otávio Rocha – 3º distrito, o último com sede no antigo povoado denominado “Marcolina”. No dia 13 de Maio de 1990, a comunidade de Mato Perso, que pertencia ao 3º distrito de Otávio Rocha, passou a ser o 4º distrito de Flores da Cunha. Em 15 de novembro de 1991, o distrito de Nova Pádua promoveu um plebiscito emancipatório o qual obteve um resultado positivo para a emancipação, sendo instalado o município de Nova Pádua em 20 de março de 1992.

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Figura 2: Linha do tempo dos principais eventos.

2. CARACTERISTICAS SOCIOAMBIENTAIS E ECONÔMICAS

2.1.ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

O município de Flores da Cunha possui uma população total de 27.156 habitantes (IBGE, 2010) que representa 0,40% do total da população do Rio Grande do Sul. A densidade populacional ou densidade demográfica é uma medida expressa pela relação entre a população e a extensão do território, expressa em habitantes por quilômetro quadrado (hab/km 2). De acordo com dados do IBGE (2010) Flores da Cunha registra uma densidade populacional de 99,2 hab/km 2.Na Fig.3 podemos observar a malha urbana da sede municipal, os distrito do município.

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Figura 3: Localização do Município de Flores da Cunha.

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O município consta com uma população urbana de 20.855 hab (IBGE 2010) e uma população rural de 6.261 hab.(IBGE 2010). Entre os anos de 2000 e 2010, tivemos uma diminuição gradativa dos habitantes das área rurais e aumento na área urbana foi bastante visíveis. No município de Flores da Cunha a população rural apresentou um déficit de 3190 habitantes ao mesmo tempo em que na área urbana ocorreu um crescimento de 6628 habitantes. Quanto à taxa de urbanização, esta passou de 60,09% para 76,95% no período, fato este que decorre pois Flores da Cunha estar se tornando uma cidade dormitório. O grande crescimento da cidade vizinha, Caxias do Sul, fez com que muita pessoas transferissem suas residências para o município de Flores da Cunha, o que fez a malha urbana crescer. (tab. 1)

Tabela 1- Distribuição da população no município de Flores da Cunha, por situação de domicílio, 2000/2010.

Anos Total Rural % Urbano % 2000 23.678 9.451 39,91 14.227 60,09 2007 25.223 8.885 35,23 16.338 64,77 2010 27.156 6.261 23,05 20.855 76,95 Fonte: FEE, Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, em acesso em 09/11/2012.

O Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) é um índice sintético que tem por objetivo medir o grau de desenvolvimento dos municípios. Ele é o resultado da agregação de quatro blocos de indicadores: Domicílio e Saneamento, Educação, Saúde e Renda e considera um conjunto de doze indicadores. A sua qualificação vai de 0 (pior desempenho) até 1 (melhor desempenho).

No município, os blocos educação e renda apresentaram melhora no desempenho. No entanto, o bloco saneamento manteve a mesma taxa e saúde tive 18

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um decréscimo. O IDESE geral apresentou melhora em relação aos anos de amostragem (tab. 2).

Tabela 2-IDESE de Flores da Cunha.

Ano Educação Renda Saneamento Saúde IDESE Geral

2000 0.845 0.736 0.570 0.878 0.757 2005 0.864 0.729 0.575 0.874 0.761 2010 0,884 0,742 0,575 0,846 0,762 Fonte: FEE, Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, em acesso em 09/11/2010.

O abastecimento de água no município é feito através da Companhia Riograndense de Saneamento – CORSAN, a qual abastece a sede do município, os bairros e algumas comunidades. O tipo do tratamento é convencional, a captação é feita através de 26 poços artesianos e armazenada em 14 reservatórios como podemos observar Na fig.4

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade, entre outros fatores, utilizado para os diversos países do mundo. O cálculo do IDH Municipal contempla três dimensões que envolvem a longevidade, educação e renda, consideradas dimensões, visto que, têm ampla abrangência. Tanto o IDH como o IDHM medem os mesmo fenômenos, porém o IDHM revela as condições de desenvolvimento humano efetivos do município, atribuindo um valor: (1) para o máximo e (0) para o mínimo. Quanto mais próximo o índice estiver da variável (1) melhor estará seu desempenho, quanto mais se afastar, ou seja, aproximar-se da variável (0) pior se revelará seu desempenho. No município de Flores da Cunha o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM entre os anos de 1991 e 2000 apresentou um aumento de 0,073 no seu índice municipal. Mudança considerada suave, mas demonstra que o município continua melhorando (tab. 3).

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Figura 4: Mapa de Áreas com Restrição Legal de Uso.

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Tabela 3-Índice e Sub-índice de Desenvolvimento Humano do Município de Flores da Cunha.1991/2000.

IDHM, IDHM, Renda Renda Longevid Longevi Educaçã Educaç 1991 2000 , , ade, dade, o, ão, 1991 2000 1991 2000 1991 2000 0.766 0.839 0.715 0.8 0.761 0.818 0.823 0.899

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, WWW.pnud.org.br/idh/

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado pelo Inep em 2007 e representa a iniciativa de reunir num só indicador dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: o fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios.

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Tabela 4- IDEBs observados em 2005, 2010 para rede Municipal – Flores da Cunha e Rio grande do Sul. Anos Iniciais do Ensino Anos Finais do Ensino Fundamental Fundamental UF e Município IDEB Observado IDEB Observado 2005 2011 2005 2011 Rio Grande do Sul 4,3 5,1 3,5 4,1 Flores da Cunha 5,1 5,8 5,0 5,5

Fonte: Ministério da Educação - www.mec.gov.br/

Apesar do IDEB do Estado do Rio Grande do Sul ser inferior o de Flores da Cunha, ele obteve melhoras tanto nos Anos Iniciais quanto nos Finais do Ensino Fundamental. O IDEB observado no município de Flores da Cunha no período entre 2005 e 2011, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental mostrou um aumento de 0,7 pontos e nos Anos Finais do Ensino Fundamental também obteve um aumento na média final. O sistema educacional do município de Flores da Cunha atende às demandas para a educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação para jovens e adultos. O Produto Interno Bruto (PIB) a preços básicos totalizou nos anos de 2005 a 2009 o valor de R$ 421.786 e R$ 517.293 mil, respectivamente, distribuídos nos três setores de atividade econômica e na geração de impostos. O PIB per capita no período analisado sofreu uma melhora considerável de R$ 4.376 (tab. 5).

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Tabela 5-Produto Interno Bruto (PIB).

Anos PIB (R$ mil) PIB per capita (R$)

2005 413.198 15.002

2009 517.293 19.378

Fonte: FEE, Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, em acesso em 09/11/2012.

A tabela 6 mostra a participação dos setores produtivos do município de Flores da Cunha, na composição do PIB, referente os anos de 2005 e 2009. Nota-se que o setor de serviços no período analisado foi o setor com maior participação no PIB e o setor que com maior crescimento entre 2005 e 2009.

Tabela 6-Valor Adicionado Bruto do Total por Setor, 2005 a 2009.

Anos Agropecuária Indústria Serviços 2005 63.295 131.193 169.133 2009 46.111 176.955 225.743 Fonte: FEE, Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, em acesso em 09/11/2012.

O Setor da Agropecuária no município de Flores da Cunha está baseado em pequenas propriedades. As atividades rurais concentram-se na produção de uvas, maçãs e citricultura, Entretanto, a produção de hortigranjeiros (cebola, tomate, alho) tem se destacado nos últimos anos. O setor da Agropecuária é responsável por 9% do PIB municipal, e teve um decréscimo no período analisado de 6%. O setor da Indústria está baseado em dois setores prioritários: móveis e 23

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vinhos. A indústria de móveis no município tem grande destaque, pois, Flores da Cunha conta com mais de 100 empresas do ramo. A produção de vinhos e derivados da uva é um dos ramos industriais de destaque o município, conta com 172 vinicolas em funcionamento, fato que o torna Flores da Cunha um dos maiores produtores de vinhos do Brasil. O setor secundário é caracterizado ainda pelo setor de malhas, confecções, beneficiamento de peles, indústrias metalúrgicas e outros. O setor é responsável por 34% do PIB, o que se comparado com 2005 houve uma queda de 2,5% na participação. O Setor Terciário é responsável por 43,6% do PIB, e foi o setor que apresentou um crescimento de 33,4%.O comércio local tem função de abastecimento, e conta com oficinas prestadoras de serviços. Outra atividade importante para a economia Municipal é a dos profissionais liberais.

2.2. ASPECTOS FÍSICO-NATURAIS

O município de Flores da Cunha está inserido na área morfoclimática denominada Planalto Basáltico Superior (altitude acima de 710m). Em termos regionais o município de Flores da Cunha está localizado no domínio morfo- estrutural denominado de Unidade Geomorfológica Serra Geral, que é constituída fundamentalmente pelas escarpas abruptas da Unidade do Planalto dos Campos Gerais, estando ambas as unidades na região Geomorfológica Planalto das Araucárias. Os sistemas de drenagens, em quase toda a sua totalidade, convergem para a bacia hidrográfica do – Antas, como podemos analisar na fig.5. A área em estudo insere-se no contexto urbano e paisagístico regional da Encosta Superior da Serra, composta pelas regiões fitogeográficas da Floresta Ombrófila Mista ou Mata de Araucária e Floresta Estacional Decidual.

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Figura 4: Mapa de Áreas com Restrição Legal de Uso.

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2.3. VEGETAÇÃO E USO DA TERRA

A vegetação é um elemento do meio natural muito sensível às condições e tendências da paisagem, reagindo distinta e rapidamente às variações do meio. Pelo seu inerente potencial como indicador de qualidade ambiental, a vegetação é um tema muito valorizado em planejamento. Também o tema Uso e Ocupação das Terras é um tema básico para planejamento ambiental, porque retrata as atividades humanas que podem significar pressão e impacto sobre os elementos da natureza. (SANTOS, 2004)

O mapa da figura 6 foi elaborado com base numa imagem satélite Quickbird de 20 julho de 2007. A classificação das formas de ocupação, foram feitas de maneira visual a partir da tela do monitor de um computador. As diferentes formas de ocupação (áreas urbanizadas, mata nativa, campos, reflorestamento e áreas agrícolas), após identificadas eram digitalizadas na forma de polígonos, a cada um foi atribuído um identificador correspondente a o seu tipo de uso, esta etapa foi realizada no software Carta Linx. Após estes polígonos foram rasterizados com o auxílio do SIG e agrupadas para geração do mapa final. O mapa de classificação da Vegetação e Uso das Terras mostra que o município de Flores da Cunha tem a maior parte de suas terras coberta por vegetação nativa densa, um percentual de 48%, e a vegetação nativa esparsa conta com 3,1%, juntas somam mais de cinqüenta por cento do território de vegetação preservada. Esse fato está relacionado com o relevo regional que apresenta declividade muito acentuada e limita o avanço das áreas cultivadas. Flores da Cunha é um dos maiores produtores de uvas do Brasil. As áreas agrícolas ocupam 42,5% das terras do município, em sua maioria com cultivo de vinhas. As outras culturas agrícolas não chegam a ocupar 10% da área total e está dividida entre morango, alho, pêssego, ameixa e hortaliças. A área utilizada para cultivo de espécies exóticas, principalmente Pinus ( pinus elliottii ), Eucalipto, Acácia- negra ( Acácia mearnsii ) ocupa 2,8% do território municipal. As áreas de campo onde encontramos vegetação rasteira (gramíneas), em sua maior parte, são utilizadas para pastagem e ocupam 2,8 km 2 . As áreas urbanas do município ocupam uma área de 9,3 km 2 os quais estão previsto no plano diretor municipal. 26

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Figura 6: Mapa de classificação da Vegetação e Uso das Terras

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3. PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA O MUNICÍPIO DE FLORES DA CUNHA/RS.

A relação com o meio ambiente até meados do século XX, estava baseada na exploração e utilização desmedida dos recursos naturais.A humanidade encarava a natureza como um recurso inesgotável. Os crescentes impactos ambientais decorrentes do aumento da industrialização, apesar de serem muito graves, ainda eram localizados. No entanto, isso passou a ter consequências globais. Em 1968, foi criado o Clube de Roma, composto por cientistas, industriais e políticos, tinha como objetivo discutir e analisar os limites do crescimento econômico, levando em conta o uso crescente dos recursos naturais. Como resultado dessa iniciativa, surgiram os primeiros estudos de impacto ambiental. Esta entidade elaborou um dos documentos mais importantes da temática ambiental: o Relatório Meadows, que, entre suas ações propunha o crescimento econômico zero. Dois anos mais tarde, (1972), em Estocolmo, as questões ambientais são retomadas pela Conferência das Nações Unidas. Nesta reunião criou-se o PNUMA( Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), tendo como principal função gerenciar as atividades de proteção ambiental. Foi criado também o Fundo Voluntário para o Meio Ambiente com foco nos países em desenvolvimento. Em 1987, o Relatório Brundtland propôs atender as necessidades do momento vivido sem prejudicar o atendimento às próximas gerações. Neste relatório foram apontadas diversas crises globais. A Conferência do Rio em 1992 utilizou como base para os futuros planejamentos, os dados, os registros e os apontamentos já elaborados em 1987. “Não obstante a vastidão continental do território, potencializada significativamente pelas diferenças regionais (...) o Brasil alinha-se entre os primeiros países que elaboram e procuram implementar não um sistema único, porém múltiplos sistemas de gestão ambiental que envolvem todo o seu contexto federativo.” ( Philippi, Jr. Arlindo et al. 1999, pg 33)

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A Constituição Federal de 1988 definiu o regime de competências sobre a proteção ao meio ambiente dos três níveis de Governo: União, Estados e Municípios. Mesmo com tantas peculiaridades e espaços geográficos politicamente definidos, os três níveis de governo devem empenhar-se em construir um ambiente que seja equilibrado ecologicamente, devendo zelar pelos recursos naturais, evitando e controlando a poluição e exercendo políticas ambientais integradoras. A Lei Federal 6.938 (de 31 de agosto de 1981), instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente e, associado a ela, o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. O SISNAMA é integrado por órgãos federais, estaduais e municipais, que têm como órgão superior o CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, com funções normativas e cujas resoluções têm força legal. Ele é composto por representantes dos Ministérios (órgãos setoriais), dos Estados (órgãos setoriais), dos Estados (órgãos seccionais) e de entidades não-governamentais. A Medida Provisória (MP) 366/07, reestruturou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e passou para o Instituto Chico Mendes a responsabilidade pelas unidades de conservação e pelo desenvolvimento de pesquisas sobre a biodiversidade, cabendo ao IBAMA remanescente a responsabilidade pelo licenciamento ambiental. O IBAMA é o órgão federal executor e o Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal é o órgão central do SISNAMA, tendo funções de articulação política entre os órgãos federais, estaduais e municipais. As preocupações ambientais também ocorreram a nível estadual. Em 1974, o governo do Estado do Rio Grande do Sul, criou a Coordenadoria do Controle do Equilíbrio Ecológico. Na década de 70, tornou-se o primeiro município brasileiro a capacitar-se para a gestão do meio ambiente através da criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Vinculada à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, foi criada em 1990, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental – FEPAM – (Lei 9.077/1990) que é responsável pelo licenciamento ambiental.

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Já em 1999 foi criada a SEMA- Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Lei 11.362/1999) que administra a Fundação Zoobotânica, o Departamento de Recursos Naturais Renováveis e inclusive a própria FEPAM. Além da operação do licenciamento ambiental a das atividades de impacto supra-local, as principais atividades da FEPAM são:  Aplicação da legislação ambiental e fiscalização em conjunto com os demais órgãos da SEMA, Municípios e Batalhão Ambiental da Brigada Militar;  Avaliação, monitoramento e divulgação de informação sobre a qualidade ambiental. Este trabalho é a base para a priorização e avaliação da efetividade das ações desenvolvidas (como o próprio licenciamento ambiental);  Apoio, informação, orientação técnica e mobilização de outros atores importantes como os Municípios, os Comitês de Bacia e organizações da sociedade civil. No entanto, devido à grande demanda de pedidos de licenciamentos ambientais, houve a necessidade de descentralização desta atividade, cabendo às prefeituras a decisão e autonomia sobre licenciamentos de impacto local (Código Estadual de Meio Ambiente, Lei 11.520). A definição destas atividades e o regramento do processo de descentralização do licenciamento foi estabelecido pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA). A Resolução CONSEMA 167/2007 dispõe sobre a qualificação dos municípios, atualizando os critérios e as diretrizes para o exercício da competência do licenciamento ambiental das atividades de impacto local, bem como sobre a gestão ambiental compartilhada no Estado.

3.1 .DIAGNÓSTICO NORMATIVO

O levantamento das leis Municipais, Estaduais e Federais serviram como base para mapear as características das áreas de preservação permanente ou com algum tipo de restrição legal de uso no município de Flores da Cunha. Foram utilizadas para gerar este mapa, rotinas específicas do SIG descritas abaixo, e tendo como base os vários dispositivos legais nos âmbitos federal, estadual e municipal.

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Para a confecção do mapa foram utilizados os seguintes planos de informação: o mapa de mata nativa, obtido através de uma reclassificação do mapa de vegetação e usos atual das terras, o mapa de áreas de declividades superiores que 30% elaborado através de uma reclassificação (modulo reclass) do mapa Modelo de Digital do Terreno fig.7 e o mapa das áreas de proteção das margens dos recursos hídricos, elaborado a partir do mapa de recursos hídricos (fig. 5) utilizando- se o modulo distance. Após todos os planos de informação foram sobrepostos com o auxilio do modulo overlay, para a obtenção do mapa final. Através deste mapa foi possível conhecer as áreas no município de Flores da Cunha, que já são protegidas por lei.

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Figura 7: Modelo Digital do Terreno.

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Considerando as instancias de poder no Brasil, destacamos que a nível federal, legislam sobre o meio ambiente a A Lei Federal nº 9433/97, que estabelece a Política Nacional para os Recursos Hídricos, o CONAMA (suas resoluções) e o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 4771/65) considera, no seu Art. 1, que “as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”.

O Art. 2 declara as florestas e demais formas de vegetação natural como unidades de preservação permanente, estabelecendo as respectivas faixas de preservação; a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989) .

c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; (Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18.7.1989) .

e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive;

No âmbito estadual, destaca-se o Código Florestal Estadual (Lei 9519/92), que define os objetivos e instrumentos da política florestal no estado; o Código Estadual do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (Lei nº 11.520/2000), que define os objetivos e instrumentos da política ambiental estadual, estabelecendo as normas relativas à gestão dos recursos naturais e da qualidade ambiental.

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A nível de município temos o Plano Diretor (Lei 029/2006), que define os usos adequados do solo. No Art. 19 fica definido que deverão ser mantidas as Áreas de Proteção Permanentes (APP’s) de margens de rios e de declividade superior a 30 % (trinta por cento).

A análise dos vários dispositivos legais relacionados acima permitiu especializar todas as áreas de APPs ou com algum tipo de restrição de uso. Na figura 4 estão descritas os percentuais de cada classe de restrição. Como resultado da análise das áreas com proteção legal temos que 66% do território municipal esta em áreas protegidas, sendo esta uma área de 180,4 km 2. As áreas com restrição referente às margens dos rios representam 26 km 2; já as de Mata Nativa abrangem 154,4 km 2. As figuras 8,9,10 e11mostrão as áreas com restrição legal de uso. A forma especializada de cada uma das normas de restrição facilita a visualização do fenômeno para auxiliar na elaboração das políticas ambientais do município. A fig.10 mostra as áreas com declividade superior a 30 %, já a fig.11 as áreas de Mata Nativa e a fig.9 as áreas de Proteção Permanentes (APP’s) de margens de rios. A fig. 8 foi elaborado sobrepondo os três mapas de restrição, para melhor visualizar área total com algum tipo de restrição de uso.

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Figura 8: Mapa de Áreas Total com Restrição Legal de Uso.

Figura 9: Mapa de Áreas com Restrição Legal de Uso ( Margens de Rios). 35

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Figura 10: Mapa de Áreas com Restrição Legal de Uso (Áreas de Declividades)

Figura 11: Mapa de Áreas com Restrição Legal de Uso ( Mata Nativa). 36

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Considerando a restrição de 24,2º de declividade para delimitação das APPs, observa-se que 18% de seu território, que corresponde a 53 km 2. Se utilizarmos a legislação municipal que é mais restritiva, ou seja, as APPs devem ser delimitadas tendo com base áreas com declividade maior que 16,6º, os valores mudam para 32%, correspondendo a 94 km 2 da área total. Observou-se um aumento de 14% na área de APPs quando aplicada a legislação municipal. O conhecimento da abrangência das áreas de APPs é indispensável para gestão dos recursos ambientais do município de Flores da Cunha. A fig.12 mostra a disposição das áreas com restrição de uso quanto o grau de declividade das mesmas, o mapa em vermelho foi elaborado com base nos critérios da legislação federal e o segundo mapa com base nas normas do Plano Diretor Municipal o qual é mais restritivo como foi descrito anteriormente. O mapa de declividades é uma ferramenta de auxílio do gestor municipal para elaboração dos empreendimentos que serão instalados em Flores da Cunha.

Figura 12 : Mapa de declividade para delimitação das APPs.

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3.2. VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR)

Um ecossistema tem capacidade de suporte, adaptação e autodepuração às pressões externas a que está sujeito, de forma que estas pressões não necessariamente o desestabilizam em virtude de seus mecanismos internos homeostáticos de autoregulação (TAGLIANI,2002). Desta maneira, ainda segundo o autor, a vulnerabilidade ambiental de um ecossistema pode ser entendida como sua maior ou menor capacidade em desenvolver mecanismos compensatórios ás perturbações sem perder as funções ambientais que mantêm o sistema todo equilibrado. Estas perturbações podem ser entendidas como impactos ambientais.

Segundo definição expressa na Resolução CONAMA Nº 001 de 23.01.86), “Impacto Ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais” .

De acordo com o diagnóstico ambiental da região estudada, existem áreas com declividade elevada, grandes extensões de mata nativa e além de diferenças quanto ao potencial de uso do solo. Deste modo, estas diversidades apresentam vulnerabilidades ambientais distintas à mesma pressão antrópica. Devido a estas constatações, uma análise da Vulnerabilidade Ambiental Relativa (VAR) é importante para o planejamento territorial do município.

Nesse trabalho, o conceito de vulnerabilidade ambiental adotado é o de Tagliani (op cit), que define a vulnerabilidade ambiental como a maior ou menor suscetibilidade de um ambiente a um impacto potencial provocado por um uso antrópico qualquer, avaliando-a segundo critérios determinados por dois fatores principais: 1) fragilidade estrutural - declividades e solos; 2) sensibilidade - condicionada pela proximidade de ecossistemas sensíveis, socioambientalmente importantes, devido às suas funções ecológicas (proximidade de recursos hídricos e de vegetação protegidas por lei). O autor salienta que a concepção de risco para um determinado ambiente é dada em função de um uso potencial ou processos específicos, tais como erosão

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(vulnerabilidade específica), mas considera também a preservação da qualidade dos ativos ambientais existentes (vegetação e recursos hídricos – vulnerabilidade intrínseca). Para a confecção do mapa de vulnerabilidade ambiental da área de estudo foram aplicadas rotinas de apoio à decisão do SIG. O processo de tomada de decisão em geoprocessamento envolve vários conceitos (Hasenack et al., 1998): 1. uma decisão - escolha de alternativas baseada em algum critério; 2. um critério - alguma base mensurável e avaliável para uma decisão, podendo ser um fator ou uma restrição; 3. um fator – realça ou ameniza a aptidão de uma alternativa específica para um propósito em consideração; 4. uma restrição – limita as alternativas em consideração. Uma regra de decisão é um procedimento para combinar os critérios que serão utilizados para definir o grau de vulnerabilidade ambiental de cada pixel da área de estudo. Com o auxílio de métodos estatísticos é possível atribuir peso aos fatores envolvidos em uma análise ambiental de modo a ponderar a participação de cada variável na análise desejada, o que pode ser feito fácil e rapidamente com o auxílio do geoprocessamento, diminuindo assim a subjetividade no processo de decisão (Hasenack et al., 1998).

A rotina de confecção do mapa de VAR envolveu avaliação por critérios múltiplos, denominada combinação linear ponderada ( multicriteria evaluation – MCE), onde os fatores são agregados e padronizados para uma escala contínua de vulnerabilidade. Com essa técnica utilizou-se o conceito relativo, ou fuzzy, para definir a vulnerabilidade e o limite entre o mais vulnerável e o menos vulnerável para todos os fatores em consideração. Assim temos uma imagem (Fig 13) com os valores de VAR variando continuamente de menos vulneráveis (zero) a mais vulneráveis (255).

Para tornar esta superfície mais operacional para os tomadores de decisão, optou- se por reclassificá-la em 5 classes (fig 14):

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Tabela 1: Classes de Vulnerabilidade. VAR Intervalos Baixa 0 a 51 Média – Baixa 51 a 102 Média 102 a 153 Média- Alta 153 a 204 Alta 204 a 255

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Figura 13 : VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR)

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Figura 14 : CLASSES DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL RELATIVA (VAR)

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3.3. PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL

O Zoneamento Ambiental pode ser definido como a delimitação de setores ou zonas com o objetivo de estabelecer manejo adequado e normas específicas, com a intenção de proporcionar os meios e as condições para que todos os objetivos de conservação do meio ambiente possam desenvolver-se com sustentabilidade. O Zoneamento Ambiental é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n ◦ 6938 de 31/08/1981), que, entre outras funções, visa a preservação, a reabilitação e a recuperação da qualidade ambiental dos ecossistemas. Este instrumento tem a finalidade de auxiliar a formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento a serem implementadas em um determinado território. Tem, também, como meta, o desenvolvimento socioeconômico, condicionado à manutenção dos recursos naturais e melhoria das condições de vida do homem. O caráter preventivo do zoneamento ambiental, ou seja, a possibilidade de determinar limites de possíveis irreversibilidades tanto por conflitos ambientais e/ou locais de fragilidade biológica, é a grande vantagem deste instrumento. Outra característica positiva é a possível adaptação da definição e manejo de uma zona, inclusive com atividades antrópicas. O município tem demonstrado grande preocupação com o ordenamento territorial. Por este motivo já instituiu Plano Diretor (Lei N°39, 2006) e a Política do Meio Ambiente do município, no entanto, uma proposta de Zoneamento Ambiental ainda se faz necessária como ponto de partida para que os órgãos públicos e a sociedade civil tenham embasamento para uma discussão sobre as potencialidades e limites sustentáveis de desenvolvimento municipal. Para que uma proposta de zoneamento ambiental seja realmente efetivada, deve ter uma participação indispensável e equiparada de três fatores: da sociedade, das instituições e de Políticas Públicas. A falta de uma destas forças diminuirá a sustentabilidade do zoneamento como instrumentos de gestão. Para a elaboração da proposta, tomou-se como base três eixos: o primeiro é a consideração preliminar dos aspectos legais incidentes na área territorial; o segundo, os aspectos da vulnerabilidade ambiental dos ecossistemas presentes e como último aspecto, a análise sociohistorica, a ocupação e usos consolidados no município.

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Conforme citação anterior, o zoneamento é um processo que requer a participação dos órgãos da sociedade em geral. Por este motivo, foram elaboradas duas aproximações, uma tendo como base a análise da VAR da área e outra com o auxílio de alguns órgãos da sociedade civil.

Com base na VAR para o zoneamento, definiu-se três áreas: Zona de Preservação que abrange as áreas de VAR Alta, Zona de Conservação as de VAR Média - Alta e Média e Zonas de Uso Disciplinado as áreas de VAR Média Baixa e Baixa (Fig 15).

Utilizando estes resultados, foram analisados os usos atuais no município. Na possível implementação desta definição, ocorreriam vários conflitos de uso com possíveis retiradas destas áreas estes tipos de uso, pois a Zona de Preservação abrange uma área de 117.80 km 2, e atualmente 28% desta área estão destinados ao uso agrícola.

A Zona de conservação, que representa 60,9 Km 2 da área municipal, apresenta conflitos semelhantes. Do total desta área, 44% apresentam uso agrícola, grande parte sem um manejo adequado.

Com relação à Zona de Uso Disciplinado, que apresenta uma área de 114.36 km 2, mostra-se de modo oposto às demais. Apesar de possuir os menores grau de VAR é a zona que detém a maior área com Mata Nativa, 42% do total.

Segundo esta análise, se um zoneamento for elaborado apenas com um critério (VAR) este será de difícil implementação, pois, os usos históricos já estão consolidados no município. Entretanto, poderá ser utilizado como ponto de partida para a elaboração de um Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), já que cumpre uma de suas etapas, que é o levantamento dos dados do meio Físico-Natural, o qual deve reunir as informações sobre clima, geologia, geomorfologia, recursos hídricos, flora e fauna e outras variáveis, o que mostrara a situação atual do ambiente.

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Figura 14 : Zoneamento Ambiental (VAR)

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Embora se reconheça que a melhor forma de conservar o meio físico natural seja adotando o zoneamento com base na VAR, sua aplicabilidade e desenvolvimento estariam em grande parte expostos ao fracasso. Por este motivo, a necessidade de considerar e espacializar aspectos sociohistoricos e econômicos fica realmente evidente, sendo necessária para melhorar a proposta de Zoneamento.

Para elaborar um zoneamento que abrangesse de forma mais eficaz as especificidades locais, foi estabelecido diálogo com alguns membros da sociedade (ONGs, Departamento municipal do Meio Ambiente e membros da sociedade civil), tendo como pauta os resultados da VAR das áreas com restrição legal e o mapa de usos atuais, assim como o diagnóstico socioeconômico. Chegou-se, então, ao consenso de uma divisão em cinco zonas: Zona de Preservação Ambiental, Zona de Conservação Ambiental, Zonas de Uso Especial, Zona de Uso Disciplinado, Zona de Recuperação Ambiental (Fig16)

Zona de Preservação Ambiental (ZPA):

Essa zona inclui todas as áreas que, por sua importância ecológica, requerem medidas de preservação das condições naturais, não sendo permitidas qualquer tipo de interferência (a não ser aquelas previstas na legislação ambiental vigente). Nesta zona foram incluídas todas as APPs referentes às declividades superiores a 45% definidas nas legislação Federal. Também foram incluídas nesta zona as áreas de VAR alta. A ZPA representa 17,79% da área total do município.

Zona de Conservação Ambiental (ZCA):

Nesta zona encontram-se as áreas de VAR Média – Alta e Média, assim como toda a vegetação Nativa que não foi destinada à zona de preservação. Nestas áreas os usos não são proibidos, mas devem sujeitar-se a estudos de avaliação de impacto ambiental específicos para cada atividade. A ZCA abrange uma área de 40,21% da área total.

Zonas de Uso Especial (ZUE):

São áreas que compreendem as áreas urbanas da sede e dos distritos que já estão consolidadas. No caso da sede municipal esta área fica delimitada Plano Diretor Municipal. Estas zonas representam 7.7% da área total do município.

Zonas de Uso Disciplinado (ZUD): 46

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As áreas de maior resiliência ambiental, definidas preliminarmente pela vulnerabilidade ambiental relativa. Constituem áreas aptas para o desenvolvimento de atividades econômicas licenciadas, não apresentando grandes restrições de ordem ambiental. Nestas zonas estão as áreas com VAR Média - Baixa e Baixa, as quais, apesar de serem menos vulneráveis que as anteriores, necessitam de regras para seu uso devido à proximidade com as demais zonas. Também estão nestas zonas, as áreas de uso agrícolas já consolidadas no município. A ZUD abrange uma área de 29,8% do território municipal.

Zonas de Recuperação Ambiental (ZRA):

São áreas ambientalmente degradadas que demandam um esforço por parte do município para recuperação de sua qualidade ambiental. Neste caso, essas são zonas pontuais dos passivos ambientais, as quais devem ser identificadas e devidamente recuperadas.No mapa de Zoneamento gerado neste trabalho não constam as áreas de ZRA, que por não dispor de tempo hábil não foram demarcadas, ficando para uma etapa seguinte.

No Mapa de Zoneamento Ambiental, fig 16, podemos analisar a distribuição das quatro zonas ambientais. Tomando o mapa georreferenciado o gestor pode rapidamente obter informações sobre a área de um empreendimento que esteja em planejamento. As áreas em vermelho são as Zona de Preservação Ambiental (ZPA) áreas que já serão descartadas em uma tomada de decisão, pois não são permitidos quaisquer tipos de interferências. A zona em verde corresponde a Zona de Conservação Ambiental (ZCA)área que pode ser utilizada desde que se faça um estudo de avaliação de impacto ambiental específico para a atividade que se deseje. A zona em amarelo corresponde as áreas de uso Zonas de Uso Disciplinado (ZUD), constituem áreas aptas para o desenvolvimento de atividades econômicas licenciadas, não apresentando grandes restrições de ordem ambiental. Já as áreas em roxo são as Zonas de Uso Especial (ZUE) que compreendem as áreas urbanas que já estão consolidadas.

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Figura 16: Mapa de Zoneamento Ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática meio ambiente vem sendo discutida desde a década de 60 e chega aos dias atuais com bastante força e integrada aos discursos políticos da grande maioria dos países. Entretanto, muitas das questões relativas à problemática ambiental requerem mudanças de mentalidade. Assim sendo, o grande desafio é conciliar a construção socioespacial do território com suas diretrizes ambientais. No Brasil, essa preocupação tem ganhado destaque vem sendo incorporada a discursos e políticas nacionais. A Lei Federal 6.938 que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente surgiu como resultado desta luta pelos direitos ambientais. O desenvolvimento de políticas sobre a questão ambiental vem sendo estruturado nas três esferas do poder público. Destaca-se a preocupação com a gestão ambiental ao nível local, com maior especificidade. Por este motivo, a gestão ambiental municipal tem se tornado foco das políticas nacionais e de estudos acadêmicos, como este trabalho. A Resolução CONSEMA 167/2007 dispõe sobre a qualificação dos municípios, atualizando os critérios e as diretrizes para o exercício da competência do licenciamento ambiental das atividades de impacto local, bem como sobre a gestão ambiental compartilhada no Estado. Esta resolução vem instrumentalizar o poder municipal, para que este exerça de forma mais rápida os estudos e a avaliação de obras ou empreendimentos de impacto local. O município está autorizado a licenciar impactos locais segundo a resolução CONSEMA nº 134/2006, de 14 de dezembro de 2006. Apesar da importância dos municípios na gestão dos recursos naturais, grande parte deles, incluindo o município em questão, não possui corpo técnico para realizar levantamentos da situação dos recursos ambientais. Por este motivo, que o conhecimento do território municipal é umas das primeiras medidas a serem feitas para poder estruturar uma política ambiental efetiva a nível municipal. Assim, este trabalho apresenta subsídios para a realização da primeira etapa que seria o levantamento de dados técnicos para subsidiar o planejamento ambiental de Flores da Cunha.

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A análise da situação do meio físico natural mostrou que o município está em uma situação delicada, pois a gestão do seu território é extremamente complexa, uma vez que 66% do seu território se encontra em áreas de proteção legal. Devido à esta situação, temos muitas áreas com conflitos de uso, decorrente de uma ocupação desordenada, resultante de uma época em que a preocupação com o meio ambiente não era prioridade. A avaliação da VAR realizada nesse trabalho, através da rotina de avaliação multi-critério do SIG, é extremamente ágil e flexível, permitindo, inclusive, a consideração diferenciada da importância relativa dos fatores dependendo da análise a ser realizada. A VAR serviu como um parâmetro de grande relevância para o zoneamento ambiental.

A análise mostrou que as áreas com alto grau de vulnerabilidade apresentam- se em estado razoável de conservação. Tendo em vista que em 51% do território municipal é possível encontrar mata nativa.

Por ser, o zoneamento ambiental, uma importante ferramenta de gestão e auxílio à tomada de decisões, pode ser usado para definir quais critérios devem ser utilizados para diminuir os conflitos entre as relações estabelecidas entre a sociedade e o ambiente.

Assim, para o zoneamento ambiental , tomou-se como base três eixos: o primeiro, as considerações preliminares dos aspectos legais incidentes na área territorial, o segundo, os aspectos da vulnerabilidade ambiental dos ecossistemas presentes e por fim, a análise socioambiental a ocupação e usos consolidados no município. Neste trabalho foram demonstradas linhas para a elaboração de um zoneamento, uma só com base no meio físico natural (VAR) e outra levando em conta os dados obtidos com os vários agentes sociais.

A linha elaborada apenas com base no critério de VAR mostrou-se problemática em relação a sua prática, apresentando grandes conflitos de usos, pois, não atenta para os usos historicamente consolidados. Ela pode servir como ponto de partida, de modo a mostrar a situação atual do meio físico natural. As contradições, entretanto, ficaram evidentes nas áreas mais sensíveis ambientalmente (com maior VAR) locais onde constatamos os maiores percentuais

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de áreas utilizadas com usos antrópicos. De modo antagônico, as áreas com menor VAR são as que estão menos perturbadas ambientalmente.

Para definir uma metodologia para a elaboração de uma proposta de zoneamento é necessária a compreensão mais aprofundada dos processos socioculturais e econômicos tradicionais, os quais irão caracterizar a ocupação e uso de um determinado lugar. Por este motivo, para a elaboração da segunda linha de zoneamento acrescentou-se a análise do diagnóstico socioeconômico e a contribuição de alguns membros da sociedade. Com base nestes dados, chegou-se a uma divisão em cinco zonas: Zona de Preservação Ambiental, Zona de Conservação Ambiental, Zonas de Uso Especial, Zona de Uso Disciplinado, Zona de Recuperação Ambiental. Esta proposta em cinco zonas mostrou-se mais de acordo com realidade local, pois, parte de uma abordagem que reúne as idéias de vários segmentos da sociedade.

O diálogo com parte da sociedade proporcionou uma visão mais apurada da dinâmica da ocupação do território, o que facilitou a identificação das áreas de risco e as áreas a serem preservadas, sendo que as áreas com usos agrícolas consolidados e as áreas urbanas apresentam uma dinâmica de gestão ambiental interna diferenciada.

De maneira geral, a segunda proposta de zoneamento mostrou-se menos conflitante em relação a primeira, entretanto, isso não significa que seja menos restritiva. Tendo como base a construção e a dinâmica do território, pode-se direcionar os esforços em ações prioritárias como, por exemplo, preservar as regiões que estão menos alteradas. Assim como, localizar as áreas mais vulneráveis que, atualmente, encontram-se com algum tipo de uso inadequado e propor a sua recuperação. Outra ação possível, seria analisar as áreas de usos antrópicos já consolidadas as quais são necessárias para o desenvolvimento da população ali estabelecida. Estas ações tornam a proposta mais consistente.

O grande desafio do zoneamento ambiental é promover uma maior participação da sociedade na sua elaboração. Esta participação é de fundamental importância para compreensão da realidade local de forma ampla e conseqüentemente, dos conflitos socioambientais.

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Assim, durante todo o processo de planejamento ambiental e de forma contínua depois do mesmo, é necessário que haja um trabalho de Educação Ambiental com a comunidade, com os planejadores e com os gestores públicos, para que todos trabalhem juntos. Isto é essencial para que os atores sociais tenham consciência da importância desse processo e da realidade na qual estão inseridos.

Como sugestão para um trabalho futuro, proponho o aprofundamento da teoria sobre o uso das modelagens computacionais em SIG, pois, o desenvolvimento tecnológico dos últimos anos proporcionou que estes programas sejam utilizados em um computador de uso doméstico. Com este avanço, a temporalidade dos mapas interpretativos de tomada de decisão, que tinham um tempo limitado de uso, se tornaram interativos. Atualmente, um tomador de decisão, em poucos segundos, pode obter a melhor localização para determinado problema/investimento, diminuindo assim a subjetividade das suas decisões. No entanto, não dispomos de profissionais especializados na grande maioria das prefeituras para manipular esses dados. Outro problema seria de ordem institucional/prática, como a conciliação da espacialização das leis, as quais foram elaboradas sem levar em conta as especificidades locais. O planejamento ambiental, e a gestão municipal estão interligados, é necessário, portanto, estruturar uma base técnica dentro dos órgãos municipais e criar canais de comunicação com a sociedade civil. Desta maneira conseguiremos um planejamento ambiental com sustentabilidade. “No momento histórico que vivemos, onde os problemas do meio ambiente são cada vez mais exaltados, não podemos ignorar o papel da sociedade para a sua existência”. Neste processo o geógrafo tem um papel muito importante, “ pois o conhecimento torna-se sabedoria quando é capaz de imaginar o futuro, um novo espaço geográfico”. (LEMOS et al.,2008).

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