Universidade Federal do Pará Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Amazônia Oriental

Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas

José Olenilson Costa Pinheiro

Desenvolvimento Local em Comunidades Tradicionais situadas em Áreas Costeiras: o estudo de caso da Vila Mota, Maracanã (PA)

Belém 2008

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José Olenilson Costa Pinheiro

Desenvolvimento Local em Comunidades Tradicionais situadas em Áreas Costeiras: o estudo de caso da Vila Mota, Maracanã (PA)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Pará e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -Amazônia Oriental , como parte de requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Orientadora Profª. Dra. Laura Angélica Ferreira

Belém 2008

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) –

Biblioteca Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural / UFPA, Belém-PA

Pinheiro, José Olenilson Costa.

Desenvolvimento local em comunidades tradicionais situadas em áreas costeiras: o estudo de caso da Vila Mota, Maracanã (PA). / José Olenilson Costa Pinheiro; orientadora, Laura Angélica Ferreira.- 2008.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural, Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, Belém, 2008.

1. Comunidade – Desenvolvimento – Maracanã (PA). 2. Pescadores - Maracanã (PA). 3. Pesca artesanal Maracanã (PA). 4. Desenvolvimento rural - Maracanã (PA) I. Título.

CDD – 22.ed. 307.1412

José Olenilson Costa Pinheiro

Desenvolvimento Local em Comunidades Tradicionais situadas em Áreas Costeiras: o estudo de caso da Vila Mota, Maracanã (PA)

Data da defesa: Belém – PA: 29/08/2008

Banca Examinadora:

Profª. Drª. Laura Angélica Ferreira Universidade Federal do Pará

Prof. Dr. Paulo Fernando da Silva Martins Universidade Federal do Pará

Profª. Drª. Maria Cristina Alves Maneschy

Aos meus pais, Sotero e Joana, orientadores incansáveis de meus passos. A minha esposa, Ana Maria, sempre companheira e solidária aos meus projetos de vida. As meus sogros, João e Nazaré, que se fazem fortemente presentes em minha caminhada.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela bênção da vida e pela sua infinita misericórdia.

Aos meus pais, Sotero e Joana, por todo amor, carinho e dedicação sempre dispensados à minha evolução.

A minha esposa, Ana Maria, pelo seu carinho, paciência, confiança, estímulo e apoio, em todos os momentos dessa minha caminhada.

Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, pelo grande incentivo e apoio.

A Dr(a). Olga e Bulcão, pelo incentivo e pela compreensão de minha ausência em diversas datas tão especiais e por todo o apoio.

A minha orientadora, Profª. Laura Angélica Ferreira, por acreditar em mim, por me mostrar novos horizontes e me fazer crer que poderei ir mais longe.

Aos professores do NEAF, pela transmissão de seus valiosos conhecimentos.

A todos os moradores da Vila Mota, pela forma paciente e carinhosa pela qual me receberam.

Agradeço pelo carinho, amizade e incentivo dos amigos Nazaré e Roldão Macedo.

Ao meu grande amigo Joaquim da Paz, que, com sua simplicidade e humildade, sempre me fez buscar a força interior para vencer todas as dificuldades.

À nossa “grande” e estimada Socorrinho, por toda a sua atenção e suporte.

Ao pesquisador Luiz Guilherme Teixeira e ao sociólogo Grimoaldo Bandeira da EMBRAPA Amazônia Oriental pelas sugestões apresentadas.

Aos alunos do curso de Técnico Florestal, da Escola Agroindustrial Juscelino Kubitschek de Oliveira, Sandro e Lorena, verdadeiros companheiros, pelo grande suporte na coleta de dados.

Ao grande apoio do Professor José Luiz Teixeira pela pelas informações sobre a Vila Mota.

Aos meus amigos da turma de Mestrado pelo, incentivo, companheirismo, solidariedade, enfim, nunca esquecerei vocês. Muito obrigado!

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o término deste Mestrado, meus sinceros agradecimentos.

"O importante não é estar aqui ou ali, mas ser. E ser é uma ciência delicada feita de pequenas-grandes observações do cotidiano dentro e fora da gente. Se não executamos essas observações, não chegamos a ser; apenas existimos e desaparecemos."

(autor desconhecido) RESUMO

Este trabalho analisa a dinâmica socioeconômica da Vila Mota, uma comunidade tradicional pesqueira, situada na costa atlântica paraense, pertencente ao município de Maracanã, e que, a partir do ano de 2002, passou a fazer parte da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã – RESEX/Maracanã. Alguns aspectos sobre as condições de vida naquela comunidade foram observados, bem como identificados fatores limitantes e potencializadores para o desenvolvimento local. Para tal análise, foram realizadas estimativas para alguns indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e suas variantes, estabelecidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1998). Na identificação e análise dos fatores que interferem no desenvolvimento local, foram adotados, considerando-se as especificidades da Vila Mota, os critérios adotados em Bittencourt et al. (1998), para o estudo de desenvolvimento local em projetos de assentamento de reforma agrária no Brasil. Os pressupostos assumidos neste estudo foram: a predominância da prática de monoatividade, no caso a pesca artesanal, compromete a economia doméstica, cujos rendimentos monetários costumam ser baixos; e a baixa mobilização sócio-política interfere no processo de desenvolvimento local, dificultando ações reivindicatórias de políticas públicas que beneficiem a população local. Foram pesquisadas 72 famílias, que correspondem a uma amostra de 48% do total de famílias residentes na Vila Mota. Os resultados obtidos indicaram que os rendimentos monetários são inferior a um salário mínimo para 62,5% das famílias que desenvolvem a pesca artesanal, como atividade principal. A ausência de cooperativas ou associações, a falta de uma estrutura de produção e comercialização, e a deficiência dos serviços de saúde e transporte, são indicativos de uma baixa capacidade de organização sócio-política, considerando-se que a maioria da população já está estabelecida há mais de 25 anos na Vila Mota. No entanto, essa Vila apresentou um nível médio de desenvolvimento humano, apontando condições favoráveis de vida, especialmente, em relação à educação e habitação.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local, Comunidades Pesqueiras, Pescadores Artesanais.

ABSTRACT

This study examines the dynamics of socioeconomic Vila Mota, a traditional fishing community, located on the Atlantic Coast of Pará, belonging to the municipality of Maracanã, and that, from the year 2002, is now part of the Extractive Reserve of Maracanã - RESEX / Marcanã. Some aspects of the conditions of life in that community were found and identified limiting factors and potencializadores for local development. For this analysis, estimates were made for some indicators that make up the Human Development Index (HDI) and its variants, established by the United Nations Development Programme (1998). In the identification and analysis of the factors that interfere in local development, were adopted, considering the uniqueness of Vila Mota, the criteria adopted in Bittencourt et al. (1998), for the study of local development projects in the settlement of land reform in . The assumptions made in that study were: the prevalence of the practice of monoatividade, where small-scale fishing, undermines the domestic economy, whose monetary incomes tend to be low, and low socio- political mobilization interfere in the process of local development, thwarting actions to request policies public that benefiting the local population. 72 families were surveyed, which correspond to a sample of 48% of all families living in Vila Mota. The results indicated that the monetary incomes are below a minimum wage for 62.5% of households that develop small-scale fishing, as core business. The absence of cooperatives or associations, the lack of a structure of production and marketing, and disability of health services and transport, are indicative of a low capacity for socio-political organization, considering that the majority of the population is already established there more than 25 years in Vila Mota. However, the Community filed an average level of human development, indicating favourable conditions of life, especially in relation to education and housing.

Palavras-chave: Local Development, Fishing Communities, Fisherman Craft.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Localização da Vila Mota, Município de Maracanã(PA) ...... 34 FIGURA 2 – Localização detalhada da Vila Mota, Município de Maracanã(PA) ...... 35 FOTO 1 – Placa sinalizando o acesso à RESEX Marinha de Maracanã ...... 37 FIGURA 3 – Reserva Extrativista Marinha de Maracanã (PA) ...... 38 FIGURA 4 – Origem dos chefes de família na Vila Mota ...... 50 FIGURA 5 – Percentual dos chefes de família na Vila Mota, por local de origem ...... 50 FIGURA 6 – Percentual de imigrantes, por período de imigração, na Vila Mota ...... 51 FIGURA 7 – Faixa etária da amostra populacional ...... 52 FIGURA 8 – Faixa etária, distribuída por sexo, na Vila Mota ...... 52 FIGURA 9 – Principais atividades realizadas na Vila Mota, Maracanã(PA) ...... 53 FIGURA 10 – Participação das famílias em algum tipo de associação e/ou sindicato .. 54 FIGURA 11 – Participação das famílias da Vila Mota em organizações sociais ...... 55 FOTO 2 – Igreja católica Nossa Senhora da Conceição ...... 57 FOTO 3 – Templo evangélico da Assembléia de Deus ...... 57 FOTO 4 – Templo evangélico Adventista da Promessa ...... 57 FOTO 5 – Principais formas de lazer na Vila Mota: banhos e jogo de futebol ...... 57 FOTO 6 – Posto de Saúde da Vila Mota ...... 58 FOTO 7 – Escola de Ensino Fundamental e Médio José de Paiva Osório – Vila Mota. 59 FIGURA 12 – Nível de Escolaridade na Vila Mota ...... 60 FOTO 8 – Caixa d’água na Vila Mota ...... 62 FIGURA 13 – Percentuais do tipo de moradia na Vila Mota...... 63 FOTO 9 – Residência de miriti ...... 64 FOTO 10 – Residência de taipa com cobertura de palha ...... 64 FOTO 11 – Residência de madeira ...... 64 FOTO 12 – Residência de taipa com cobertura de telha cerâmica ...... 64 FOTO 13 – Residência de alvenaria ...... 64 FOTO 14 – Modelo de residência do INCRA - Alvenaria ...... 64 FIGURA 14 – Distribuição percentual das famílias da Vila Mota por tipo de veículo .. 66 FOTO 15 – Embarcações que realizam viagens não regulamentadas entre a Vila Mota e Salinópolis ...... 67 FOTO 16 – Área de embarque e desembarque na Vila Mota, denominada pelos moradores de “porto grande” ...... 67 FOTO 17 – Aspectos da infra-estrutura de transporte na Vila Mota: acessos terrestres 67 FOTO 18 – Antena parabólica da TELEMAR para futuras instalações residenciais ..... 68 FOTO 19 – Postes e rede elétrica na via principal ...... 68 FOTO 20 – Caixa medidora de energia ...... 68 FIGURA 15 – Consumo médio semanal de peixe, por família, na Vila Mota ...... 70 FIGURA 16 – Percentual da população amostral por tipo de renda ...... 70 FIGURA 17 – Distribuição da população amostral por tipo de atividade geradora de renda ...... 71 FIGURA 18 – Área de pesca da Vila Mota (Baía de Urindeua) ...... 74 FOTO 21 – Currais na Vila Mota ...... 75 FOTO 22 – Pesca de rede na Baía do Urindeua, por pescadores da Vila Mota ...... 75 FOTO 23 – Embarcações do tipo canoa, não motorizadas ...... 76 FOTO 24 – Embarcações motorizadas do tipo lancha ...... 76 FOTO 25 – Coleta de cernambi, na Vila Mota, Baía do Urindeua ...... 77 FOTO 26 – Crianças e mulheres, coletando cernambi ...... 78 FOTO 27 – Transporte de estacas de madeira para os currais ...... 78 FOTO 28 – Fabricação artesanal de farinha de mandioca, na Vila Mota...... 79 FIGURA 19 – Tamanho das áreas de plantio, na Vila Mota ...... 80 FIGURA 20 – Distribuição percentual das famílias da Vila Mota, em relação ao tipo de criação ...... 80 FIGURA 21 – Quantidade de peixe vendida na safra, por família, na Vila Mota ...... 82 FIGURA 22 – Origem do tipo pescador ...... 86 FIGURA 23 – Tipo de habitação das famílias que compõem o tipo pescador...... 86 FIGURA 24 – Tipo de veículo ...... 87

LISTA DE TABELAS

QUADRO 1 - RESEX Extrativistas Marinhas no Estado do Pará ...... 10 TABELA 1 - Número de membros por família na Vila Mota ...... 49 TABELA 2 - Distribuição da população amostral, em relação à faixa etária e à atividade desenvolvida ...... 53 TABELA 3 - Distribuição do nível de escolaridade, por faixa etária, na Vila Mota ...... 61 TABELA 4 - Distribuição das famílias da Vila Mota, em relação ao número de pessoas na família, e número de cômodos na residência ...... 65 TABELA 5 - Custo mensal de energia elétrica, por família, na Vila Mota ...... 69 TABELA 6 - Atividades realizadas, de maneira informal, pelos moradores da Vila Mota ...... 72 TABELA 7 - Distribuição da renda média mensal, por família ...... 72 QUADRO 2 - Espécies de peixe mais produzidos e comercializados na Vila Mota ...... 81 TABELA 8 - Tipologia do sistema de produção na Vila Mota ...... 83 TABELA 9 - Composição familiar do tipo ...... 84 TABELA 10 - Faixa etária dos chefes de família do tipo pescador ...... 85 TABELA 11 - Nível de escolaridade dos chefes de família do tipo pescador ...... 85 TABELA 12 - Renda média mensal, por família: tipo pescador ...... 87 TABELA 13 - Renda média mensal, por família: tipo pescador e agricultor ...... 89 TABELA 14 - Características socioeconômicas, por tipos de atividade do sistema produtivo da Vila Mota ...... 93 QUADRO 3 - Dificuldades e Expectativas, registradas pelos moradores, em relação à qualidade de vida na Vila Mota ...... 95 TABELA 15 - Índice de Educação estimado para Vila Mota, conforme tipologia do sistema produtivo ...... 98 TABELA 16 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal–Educação (IDHM-E) em alguns municípios do Estado do Pará ...... 98 TABELA 17 - IDHM-E de municípios paraenses situados na Costa Atlântica...... 99 TABELA 18 - Percentual de pessoas analfabetas, acima de 15 anos de idade, referente ao município de Maracanã e a Vila Mota, para os anos de 1991, 2000 e 2007 ...... 100 TABELA 19 - Renda familiar per capita média da Vila Mota ...... 102 TABELA 20 - Renda domiciliar per capita no Brasil - PNAD,2004 ...... 102 TABELA 21 - ICV-Habitação na Vila Mota, conforme tipologia do sistema produtivo ...... 105 QUADRO 4 - Fatores limitantes e potencializadores do desenvolvimento local na Vila Mota ..... 108

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 1

2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL ...... 2 2.1 Políticas públicas e desenvolvimento local de populações tradicionais ...... 2 2.2 A diversidade no universo da pesca ...... 4 2.3 RESEX Marinha: um modelo de desenvolvimento para populações tradicionais ...... 9 2.4 Sustentabilidade em áreas de reservas extrativistas marinhas ...... 11 2.5 Objetivos ...... 13 2.5.1 Geral ...... 13 2.5.2 Específicos ...... 13 2.6 Hipóteses ...... 13

3 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS PÚBLICAS .. 14 3.1 Desenvolvimento local ...... 14 3.2 Qualidade de vida: um fator condicionante para o desenvolvimento local ...... 17 3.3 Desenvolvimento local em áreas rurais: inadequação de políticas públicas ...... 20 3.4 Políticas públicas de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar...... 27

4 METODOLOGIA ADOTADA ...... 32 4.1 Escolha da área de estudo ...... 32 4.2 Aspectos geográficos da Vila Mota ...... 32 4.2.1 Localização ...... 32 4.2.2 Hidrografia ...... 36 4.2.3 Clima ...... 36 4.2.4 Solos ...... 36 4.2.5 Vegetação ...... 36 4.3 Reserva Extrativista Marinha de Maracanã ...... 37 4.4 Coleta de dados ...... 39 4.5 Amostragem ...... 40 4.6 Tabulação e tratamento dos dados ...... 40 4.7 Análise dos dados ...... 40 4.7.1 Condições de vida local ...... 41 4.7.1.1 Longevidade ...... 42 4.7.1.2 Educação ...... 43 4.7.1.3 Renda ...... 44 4.7.1.4 Habitação ...... 45 4.7.2 Análise de fatores que interferem no desenvolvimento local ...... 46

5 RESULTADOS ...... 49 5.1 Aspectos Humanos ...... 49 5.2 Participação em associações e sindicatos ...... 54 5.3 Aspectos Culturais ...... 55 5.3.1 Expressões religiosas ...... 56 5.3.2 Lazer ...... 57 5.4 Serviços e infra-estrutura ...... 58 5.4.1 Saúde ...... 58 5.4.2 Educação ...... 59 5.4.3 Abastecimento de água e saneamento ...... 61 5.4.4 Moradia ...... 62 5.4.5 Transporte e comunicações ...... 65 5.4.6 Energia ...... 68 5.5 Alimentação ...... 69 5.6 Aspectos Econômicos ...... 70 5.6.1 Atividades agroextrativistas ...... 73 5.6.1.1 Extrativismo ...... 73 5.6.1.1.1 Pesca artesanal ...... 73 5.6.1.1.2 Coleta de Cernambi ...... 77 5.6.1.1.3 Extrativismo Vegetal ...... 78 5.6.1.2 Agricultura ...... 79 5.6.1.3 Produção animal ...... 80 5.6.2 Comercialização da produção ...... 81 5.6.3 Tipologia do sistema de produção da Vila Mota ...... 83 5.7 Dificuldades e Expectativas...... 94

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS ...... 96 6.1 Aspectos político-institucionais ...... 96 6.2 Indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano na Vila Mota ...... 97 6.2.1 Educação ...... 97 6.2.2 Renda ...... 102 6.2.3 Condições de saúde e salubridade local ...... 103 6.2.4 Habitação ...... 105 6.3 Criação da RESEX Marinha de Maracanã ...... 106 6.4 Limitações e potencialidades para o desenvolvimento local da Vila Mota ...... 107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 109

REFERÊNCIAS ...... 113

ANEXOS ...... 119

1 INTRODUÇÃO

O Brasil vive um momento onde as políticas públicas apresentam-se mais direcionadas e dinâmicas. Esse dinamismo deve-se, em parte, a uma maior participação de atores locais em processos de elaboração diagnóstico e de tomadas de decisão relacionados às suas realidades, em seus aspectos sociais, culturais, históricos, econômicos e ambientais. Tal envolvimento dos atores na formulação de políticas públicas possibilita a criação de mecanismos que viabilizam a implementação, com maiores chances de êxito, de ações voltadas para o desenvolvimento local. Esse modelo de participação social vem revertendo o antigo modelo, que apresentava estrutura com características excludentes, no qual se adotavam medidas de cima para baixo, não levando em consideração as especificidades locais, modelo este que afetou de forma significativa e negativa, os pequenos produtores rurais. Neste contexto de mudanças nos processos e modelos de desenvolvimento em curso, e com a intenção de contribuir para o debate sobre desenvolvimento local em comunidades tradicionais, o presente trabalho analisa a dinâmica socioeconômica da Vila Mota, uma comunidade com predominância da pesca artesanal, situada na costa atlântica paraense, pertencente ao município de Maracanã, e que, a partir do ano de 2002, passou a fazer parte da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã – RESEX/Maracanã. Através deste estudo, busca-se em um primeiro momento caracterizar a vida e o sistema produtivo desenvolvido pelos habitantes da Vila Mota, assim como avaliar as condições de vida estabelecida na comunidade, baseando-nos nos índices de desenvolvimento humano. Em um segundo momento, o trabalho busca identificar de que forma a população local da Vila Mota se apropria das políticas públicas lançadas pelo Governo, nas suas diversas esferas (federal, estadual e municipal), e como desenvolve suas ações em relação a tais políticas. A identificação de fatores limitantes e potencializadores para o desenvolvimento local naquela comunidade é de suma importância para embasar o planejamento e formulação de políticas direcionadas a populações tradicionais que se encontram em áreas litorâneas de preservação ambiental.

2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL

2.1 Políticas públicas e desenvolvimento local de populações tradicionais

As desigualdades regionais no Brasil ainda constituem um dos grandes problemas para os estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento, especialmente os da área social, que buscam alternativas visando minimizar a pobreza, a fome e a exclusão social, oriundos de diversos fatores, dentre os quais: a má distribuição de renda; a concentração de terra; e a falta de políticas públicas integradas que contemplem as regiões menos favorecidas. O espaço rural brasileiro é um exemplo desse descompasso no planejamento, pois ainda apresenta disparidades que precisam ser atenuadas. O problema dos desequilíbrios regionais, oriundos de falhas nas políticas públicas de desenvolvimento adotadas no Brasil, tem como uma de suas causas a falta de informações consistentes sobre o referido espaço. A elaboração de programas, quando realizada com base em dados inadequados, pode causar um efeito negativo no ambiente em que é executado, gerando o aumento dessas disparidades. Para minimizar tal problema, é necessário um esforço conjunto dos atores envolvidos, para uma melhor compreensão desse espaço e das comunidades que nele habitam, visando soluções consistentes que respeitem os saberes e fazeres locais. Embora muitos estudos já tenham sido realizados sobre a caracterização de sistemas agrários e sobre sistemas de produção na Amazônia, especialmente em áreas de fronteira agrícola e áreas tradicionais, muito ainda precisa ser avançado para melhor compreender a diversidade amazônica, como por exemplo, a necessidade de um conhecimento maior sobre as comunidades tradicionais pesqueiras no litoral do nordeste paraense. Compreender tal situação se faz importante para o planejamento e elaboração de políticas públicas que contribuam para o desenvolvimento local. Segundo Diegues (2004), as comunidades tradicionais podem ser caracterizadas, pelos seguintes aspectos: a) dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a partir dos quais se constrói um modo de vida; b) conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral; c) noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente; d) moradia e ocupação desse território por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; e) importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação com o mercado; f) reduzida acumulação de capital; g) importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais; h) importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca e às atividades extrativistas; i) a tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre o meio ambiente. Há reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família) domina o processo de trabalho até o produto final; j) fraco poder político, que, em geral, pertence aos grupos de poder dos centros urbanos; l) auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras (DIEGUES, 2004, p.87). Baseando-se na caracterização acima, o desafio desta pesquisa consiste em investigar uma comunidade tradicional pesqueira no litoral paraense, buscando compreender de que forma sua dinâmica sócio-econômica-ambiental está contribuindo para um processo de desenvolvimento local. A escolha por uma comunidade pesqueira, neste caso, a Vila Mota 1, no município de Maracanã (PA), é justificada aqui, em função do resultado de vários estudos realizados em algumas comunidades pesqueiras paraenses, em que todos apontam para os baixos rendimentos das famílias que vivem dessa atividade, e abordam sobre a exclusão social dos pescadores artesanais (FURTADO, 1987; MOTTA-MAUÉS, 1993; MANESCHY, 1993; LEITÃO; MANESCHY, 1996; MANESCHY; ALMEIDA, 2002; OLIVEIRA, 2002; FIGUEIREDO et. al ., 2003; QUARESMA, 2003; e MENEZES, 2004). Uma das dificuldades observadas em estudos envolvendo pescadores é quanto à definição da categoria na qual estão inseridos. Segundo Maldonado (1986, p.12), a questão de identificação e classificação teórica sobre pescadores, enquanto categoria, tem resultado na freqüente comparação dos povos marítimos com os povos agrários, ora enquadrando os pescadores como camponeses com características de base marítimas, ora identificando-os como produtores que se diferenciam dos agricultores, porque pescam. Tal fato dificulta a implantação de programas de desenvolvimento que tratem os problemas e prioridades deste tipo de comunidade.

1 A Vila Mota encontra-se no Setor da Costa Atlântica (MMA, 1996), também conhecido como região do Salgado Paraense, caracterizada pela grande quantidade de reentrâncias que se estendem até o Estado do Maranhão, onde são observadas extensas áreas de praias e manguezais. Para evitar tais distorções, é necessário conhecer a dinâmica das atividades desenvolvidas pelas comunidades pesqueiras situadas no litoral, identificando suas formas de organização social e de produção, bem como seus traços históricos e culturais. Maldonado (1993) ressalta que os pescadores têm um modo diferenciado de vida, com sua forma de organização de trabalho, a maneira de marcar seus espaços, seus segredos, seus medos e fracassos, enfim, especificidades que devem ser consideradas nos estudos que envolvam comunidades pesqueiras.

2.2. A diversidade no universo da pesca

Para Maldonado (1986, p.13), os pescadores de mar podem ser classificados quanto ao tipo de produção em pescadores-agricultores, pescadores artesanais e pescadores industriais. No primeiro caso, são os que pescam e plantam para seu próprio consumo e também para comercialização. São grupos que se formam dentro da unidade familiar, não havendo assalariamento. Praticam uma pesca simples, não se distanciando da costa litorânea. Também usam a terra, para algum tipo de cultura; por isso, são também considerados camponeses. Maldonado(1986, p.13) destaca que esse tipo de atividade que explora mar e terra é considerado pluralismo econômico, e tal fenômeno não ocorre somente no Brasil, porém, em nível mundial. No México, por exemplo, na penísula de Yucatán, é observada a articulação de três atividades: pesca, agricultura e artesanato. No caso da Escandinávia, a economia doméstica é balanceada entre agricultura, pecuária e pesca. Nas comunidades pesqueiras no Brasil, geralmente as atividades relacionadas à agricultura tendem a ser atribuídas às mulheres, elementos não-pescadores dessas comunidades. Essa forte relação das mulheres com a atividade agrícola e dos homens com a pesca é retratada por Motta-Maués (1993) que mostra a divisão do trabalho por gênero, distinguindo responsabilidades e apontando a importante complementaridade entre essas atividades na manutenção da família. O segundo tipo, pecadores artesanais, é caracterizado pela simplicidade de tecnologia adotada na pesca e pelo baixo custo de produção. Neste caso, a mão-de-obra é também familiar e não ocorre o assalariamento. Os pescadores detêm o poder decisório sobre aquilo que produzem. A pesca é sua fonte de renda principal, cuja produção volta-se para o mercado. Porém, pode destinar-se tanto ao consumo doméstico como à comercialização. Esse tipo de pescadores geralmente depende de intermediários para comercializar seus produtos, por não disporem de infra-estrutura adequada para conservação, nem de transporte para atingir os mercados mais distantes. Esta situação é retratada no trabalho elaborado por Isaac et al. (2006), onde os autores ressaltam que: [...] Nas pescarias de caráter artesanal, atuam produtores autônomos ou com relações de trabalho de parcerias e divisão de lucro. Utilizam pequenas embarcações de madeira, com ou sem motor, e realizam viagens curtas, geralmente em águas costeiras, com tecnologia e metodologia de captura não mecanizada. Os produtos são direcionados para o consumo local ou regional. As artes de pesca utilizadas são geralmente pouco seletivas quanto a espécies e tamanhos. As redes são as artes de pesca mais utilizadas, destacando-se ainda as armadilhas fixas, como currais e fuzarcas, a as linhas. No âmbito sócio-econômico, os pescadores possuem organização social incipiente e um baixo poder aquisitivo. De um modo geral, a mão-de-obra é pouco qualificada [...] (ISAAC et.al., 2006, p.11)

No último tipo relatado na classificação de Maldonado (1986), o dos pescadores industriais, a condição sócio-econômica do grupo é bem diferente, sendo caracterizada pelo assalariamento, em que pescadores participam somente da captura do pescado, sem tomarem qualquer decisão quanto à constituição das equipes de trabalho, nem quanto à escolha das rotas de pesca e a duração da jornada de trabalho. Eles estão sujeitos a um sistema empresarial-capitalista, cujas relações de trabalho são patronais. Existe uma dissociação entre o pescador e o pescado, sendo vista somente a produção de mercadorias. A presença deste tipo pescadores – industriais corrobora a descrição feita por Mello (1985), sobre a proletarização do pescador artesanal, especialmente no litoral do Estado do Pará, a partir do avanço do capitalismo no setor pesqueiro, que introduziu novas tecnologias, tais como o motor nas embarcações e a rede de nylon, aumentando consideravelmente a produtividade do referido setor. Esse processo de característica capitalista gerou uma dependência do pescador artesanal, em função do controle da comercialização de seus produtos, por agentes de maior poder aquisitivo, dentre os quais: empresários da pesca, donos de embarcações de maior porte e marreteiros. Este fator de dependência contribui para os baixos rendimentos financeiros dos pescadores artesanais. Em parte, tal fato reflete negativamente nas atuais condições de vida de diversas comunidades pesqueiras, interferindo também no desenvolvimento local dessas comunidades. Mello (1985) ainda ressalta que: [...]A busca desenfreada para obter-se um aumento na produção, conjuntamente com a ampliação do número de embarcações a trabalhar numa mesma área, concorreu para que ocorresse um fenômeno hoje característico de muitos centros pesqueiros importantes: o escasseamento do peixe em águas próximas ao litoral. A conseqüência deste fato foi o aniquilamento dos pequenos produtores, quase sempre donos de pequenas embarcações como o “casco” ou a “montaria”, que se viram impedidos de obterem seu sustento tendo em vista que a frágil estrutura de seus barcos não permitia que fossem pescar mar afora. Sem peixe na beira e sem recursos para a aquisição de maiores e melhores embarcações, tiveram de vender sua força-de-trabalho para outrem, tornando-se assim proletários do mar (FIUZA DE MELLO, 1985, p.62).

Nesse contexto, trabalhos como os de Furtado (1987), Motta-Maués (1993), Maneschy (1993), Leitão e Maneschy (1996), Maneschy e Almeida (2002), Oliveira (2002), Figueiredo et. al. (2003), Menezes (2004), entre outros estudos voltados para comunidades pesqueiras no Estado do Pará, observaram que a atividade desenvolvida pelos pescadores artesanais de fato produz baixos rendimentos, o que compromete a economia doméstica e a qualidade de vida das famílias, especialmente no que se refere à educação e saúde. Isso gera questionamentos quanto: i) à viabilidade e à sustentabilidade dessa estratégia produtiva; ii) as possibilidades de evolução desse sistema de produção em cenários de forte concorrência e de industrialização da pesca; iii) à condição de vida nessas comunidades; iv) à necessidade ou não de buscar alternativas para a diversificação da produção familiar. Furtado (2004, p.32) destaca, ainda, outros problemas enfrentados pelas comunidades pesqueiras no Estado do Pará, e que, de uma certa maneira, colocam em risco a continuidade da atividade, ao apontar fatores como o enfraquecimento da economia familiar e a perda dos saberes e habilidades da profissão de pescador: [...]a fragilidade das organizações políticas dos pescadores; a invisibilidade que vive o pescador no cenário sócio-político da região e do Brasil; a falta de assistência básica em saúde pública, educação e saneamento; a deteriorização da qualidade de vida nas vilas e povoados; a pauperização, o abandono da atividade por outras estratégias de subsistência, nem sempre compensadoras; o enfraquecimento da economia familiar; e a perda do saber e da habilidade, tão importante no manejo da pesca [...] (FURTADO, 2004, p.32) .

Leitão e Maneschy (1996, p.85), em estudo realizado em comunidades pesqueiras paraenses, fazem uma reflexão sobre o porquê de a pesca ser tratada de forma tão marginal, sem merecimento de políticas voltadas para o apoio da produção pesqueira, ressaltando dois aspectos importantes relacionados à exclusão destas comunidades do alcance das políticas públicas: i) a pequena produção pesqueira destina-se basicamente ao mercado consumidor de baixa renda; ii) os pescadores, além de produzirem para pobres, eles mesmos estão entre os mais pobres dos produtores, sem muita tradição organizativa. Em função disso, e relativamente a outros produtores rurais e operários, quase nunca são citados como participantes no processo de desenvolvimento do país. Atualmente, essa forma de produção familiar encontra-se em desvantagem, principalmente devido às políticas inadequadas adotadas no passado, que eram direcionadas à pesca industrial, onde o desenvolvimento a qualquer custo beneficiou os empresários da pesca, contribuindo para a expulsão desses pequenos produtores de suas áreas de trabalho, obrigando o pescador artesanal a ir cada vez mais longe, utilizando-se de embarcações inadequadas para grandes distâncias, resultando no crescente empobrecimento dessas populações tradicionais. Segundo Leitão e Maneschy (1996, p.83), os pescadores apresentam alguns pontos semelhantes aos pequenos produtores rurais, sendo considerados “pequenos produtores mercantis, cuja problemática de sobrevivência esbarra em inúmeras dificuldades, enquanto classes produtoras de “baixa classicidade”, excluídos dos benefícios advindos de seu trabalho, e no tocante às condições de produção, não tipicamente capitalistas, onde o parentesco e relações sociais são elementos importantes no processo produtivo”. Além disso, a autora ressalta que para grande parte da população ribeirinha na Amazônia, “agricultura e pesca são atividades complementares constituindo a base de sua economia”. Nesse sentido, Leitão e Maneschy (1996, p.81) entende que a discussão sobre desenvolvimento local sustentável deve ir além da preocupação com a conservação biológica dos recursos naturais, “mas agir como instrumento de apoio às populações tradicionais para que estas permaneçam buscando sua economia na exploração desses recursos”. Entretanto, a exploração desordenada dos recursos naturais, que leva à degradação do meio ambiente, é outro fator que pode influenciar negativamente no processo de desenvolvimento local, e, dessa forma, contribuir para a exclusão social dos pescadores artesanais. Isso deve ser considerado, haja vista que a pesca faz parte de um sistema de produção extrativo que é caracterizado, principalmente, pelo uso dos recursos naturais existentes no estabelecimento agrícola ou fora dele, cujos principais produtos são oriundos de ambientes como, por exemplo, igarapés, rios, lagos e mares. Em relação ao Brasil, Diegues (1995) expõe sobre a degradação dos ecossistemas litorâneos, e como essa ação influencia negativamente nas condições de vida das comunidades pesqueiras no litoral. O autor ressalta que: “O empobrecimento rápido e crescente dos ecossistemas litorâneos e costeiros, e a conseqüente diminuição dos recursos pesqueiros disponíveis, causado pela poluição e degradação ambiental e a expulsão crescente dos pequenos pescadores de suas praias são tão graves em muitas regiões que se pode falar de uma verdadeira destruição das comunidades e culturas litorâneas” (DIEGUES, 1995, p.64).

No caso da Amazônia, por exemplo, Menezes (2004) faz uma reflexão sobre a necessidade de estudos que contemplem as atividades do sistema extrativo, como estratégia para a sobrevivência de agricultores familiares, incluindo, nesta categoria, o pescador artesanal. Entretanto, esse autor observa que deve ser dado um melhor tratamento à questão da realização de atividades extrativistas nos ecossistemas amazônicos, de forma a garantir a sobrevivência das populações locais em harmonia com o meio ambiente. Afirma que:: “Embora se saiba da importância na estratégia para sobrevivência dos agricultores familiares, com relação aos estoques de recursos naturais e o risco destes em diminuírem e/ou desaparecerem na propriedade ou fora dela, esta alternativa não tem sido apropriadamente analisada, requerendo uma maior atenção haja vista que a proteção dos recursos naturais da Amazônia é imprescindível” (MENEZES, 2004, p.356).

Isaac et al.(2006, p.32) comentam sobre o vazio institucional que ocorreu no passado, referindo-se à “ação deficiente e desarticulada do poder público” no tratamento dos recursos pesqueiros, resultando em políticas públicas contraditórias para o setor da pesca. Para Isaac (2006, p. 340), “o sistema de desenvolvimento econômico promovido para a Região Amazônica e, em particular, para a atividade pesqueira, não deu certo” porque “os incentivos fiscais e as facilidades de crédito” contribuíram para o fortalecimento de grupos econômicos já poderosos em outras regiões do Brasil ou exterior, causando conflitos sociais entre categorias de pescadores e o esgotamento dos estoques pesqueiros mais demandados. Ressalta que, para estruturar soluções alternativas visando corrigir as falhas do modelo desenvolvimentista do passado, é necessário, dentre outros fatores: O fortalecimento da organização, da capacidade de articulação e gestão dos diferentes grupos de usuários e interessados no processo de gestão (comunitários, pescadores, empresários, comerciantes, etc.); A necessidade de conhecimento científico-tecnológico e de obtenção de informações que subsidiem uma política adequada, assim como permitam acompanhar os impactos de sua implementação prática; A necessidade de estudar soluções criativas para a questão da atividade pesqueira e sua interação com as outras atividades econômicas da região. Isto supõe os conhecimentos dos verdadeiros impactos que essas outras atividades possam causar nos estoques pesqueiros, assim como na formulação de políticas de manejo integradas dos recursos naturais (ISAAC, 2006, p.340).

2.3. RESEX Marinha: um modelo de desenvolvimento para populações tradicionais

É dentro deste contexto de necessidade de proteger e auxiliar populações extrativistas tradicionais, no sentido de terem vida digna, de manterem suas tradições e de alcançarem uma situação sócio-econômica estável e aceitável, além de um melhor gerenciamento e aproveitamento dos recursos naturais existentes em áreas costeiras no Brasil, que o Governo Federal tem adotado como mecanismos para essa ação a criação de reservas extrativistas (RESEX) marinhas. Em 2006, por exemplo, o Estado do Pará já possuía seis RESEX marinhas, localizadas nos municípios de Soure, Maracanã, Curuçá, São João da Ponta, Bragança e Santarém Novo. Além destas, mais duas RESEX encontram-se com processos em tramitação (ISAAC et al ., 2006). A Vila Mota, foco do presente estudo, encontra-se na RESEX marinha de Maracanã. A concepção de Reserva Extrativista (RESEX) surgiu no final da década de 1980, em decorrência de violentos conflitos sobre legitimidade e regularização fundiária na Amazônia, em relação às terras historicamente habitadas por populações tradicionais. O movimento social dos seringueiros, cuja trajetória histórica de ocupação é distinta das populações tradicionais, denunciou muitas práticas predadoras do ambiente natural (como o desmatamento e a especulação fundiária) e de injustiças sociais, como assassinatos e expulsão de pessoas das suas terras (CUNHA, 2001). Assim, destinadas a serem áreas de exploração sustentável e da conservação dos recursos naturais por população extrativista, as reservas extrativistas receberam atenção por se tratar de uma categoria que une preocupações ambientalistas com as prerrogativas das populações locais. As RESEX são espaços territoriais destinados à exploração auto-sustentável e à conservação dos recursos naturais renováveis, por populações tradicionais. Em tais áreas é possível materializar o desenvolvimento sustentável, equilibrando interesses ecológicos de conservação ambiental com interesses sociais de melhoria de vida das populações que ali habitam. As Reservas Extrativistas Marinhas são abrangidas pela definição do Artigo 18, do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei nº. 9985, de 18/06/2000) 2, que as define como: Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como

2 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9985.htm . Acesso: 10/08/2007. objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais das unidades (Lei nº 9985, de 18/06/2000).

Todas as RESEX possuem um plano de utilização, que visa ao uso auto-sustentável das RESEX, orientando os extrativistas na realização de atividades, dentro de critérios de sustentabilidade econômica, ecológica e social. Os extrativistas devem respeitar as condições técnicas e legais para a exploração racional da fauna marinha (IBAMA, 2005). No Estado do Pará, a iniciativa de criação de reservas extrativistas marinhas é recente, sendo a criação da primeira RESEX marinha, no município de Soure, em 2001, através do Decreto S/Nº, de 22/11/2001. O Quadro 1 apresenta as RESEX Marinhas existentes no Pará.

Decreto de Nome Município Principais recursos criação RESEX Marinha de Soure Soure S/Nº 22/11/01 Pescado e crustáceos RESEX Marinha Mãe Grande de Manguezais e pesca Curuçá S/Nº 13/12/02 Curuçá artesanal Manguezais e pesca RESEX Marinha de Maracanã Maracanã S/Nº 13/12/02 artesanal RESEX Marinha Chocoaré-Mato Santarém Manguezais e pesca S/Nº 13/12/02 Grosso Novo artesanal RESEX Marinha de São João da São João da Manguezais e pesca S/Nº 13/12/02 Ponta Ponta artesanal RESEX Marinha de Augusto Augusto Manguezais e pesca S/Nº 20/05/05 Correia Correia artesanal Manguezais e pesca RESEX Marinha de Bragança Bragança S/Nº 20/05/05 artesanal Manguezais e pesca RESEX Marinha de Tracuateua S/Nº 20/05/05 artesanal Manguezais e pesca RESEX Marinha de Viseu Viseu S/Nº 20/05/05 artesanal Fonte: IBAMA, 2007. Quadro 1 – RESEX Extrativistas Marinhas no Estado do Pará

Apesar de esta iniciativa de criação de RESEX constituir um grande passo em prol das comunidades tradicionais e na proteção dos recursos naturais por elas explorados, é preciso avançar no apoio, para que as famílias possam se adequar ao plano de uso e, mais que isso, que as normas estabelecidas sejam adequadas para que as famílias possam tirar seu sustento de suas atividades. Da mesma forma, é necessário que toda a comunidade envolvida na área que abrange uma RESEX esteja informada e participando das decisões. No caso das RESEX’s Marinhas no Estado do Pará, para que elas tenham sucesso e alcancem o almejado desenvolvimento local, é necessário um processo de planejamento adequado, fundamentado em parâmetros compatíveis com a realidade a ser analisada, a qual difere de uma RESEX a outra. Portanto, há necessidade de desenvolver mais estudos em comunidades tradicionais no litoral do Pará, com o envolvimento dos atores locais, a fim de que os resultados obtidos possam contribuir para a formulação de políticas públicas que atendam às suas necessidades e revelar as próprias contradições internas à RESEX/comunidades, as quais podem, por outro lado, freiar as inciativas desencadeadas para o desenvolvimento da RESEX.

2.4. Sustentabilidade em áreas de reservas extrativistas marinhas

Outra questão que deve ser considerada, quando se aborda desenvolvimento local sustentável em áreas rurais, é o caso da sobrevivência de comunidades tradicionais pesqueiras em áreas de reservas extrativistas (RESEX) marinhas. Essas reservas fazem parte de políticas públicas implantadas pelo Governo Federal, com o intuito de melhor gerenciar o uso dos recursos naturais existentes no litoral, evitando a pesca predatória, a destruição dos manguezais, enfim, o desequilíbrio dos ecossistemas costeiros, através de um plano de uso, no qual são estabelecidas regras, limites, controle, entre outros fatores, para o monitoramento de espaços tradicionais de uso comum. Embora a concepção de reserva extrativista tenha surgido no final da década de 1980, em função de violentos conflitos sobre legitimidade e regularização fundiária na Amazônia em relação às terras historicamente habitadas por populações tradicionais, e, no início da década de 1990, tenha surgido a primeira reserva extrativista marinha do Brasil, a Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé, no Estado de Santa Catarina, alguns questionamentos persistem, na atualidade, a respeito da sustentabilidade das comunidades extrativistas inseridas nessas reservas. Cavalcante (1993, p.6) apresenta uma ampla discussão em torno do conceito de reserva extrativista enquanto atividade econômica sustentável, abordando diversos posicionamentos, tanto favoráveis quanto contrários, de pesquisadores e acadêmicos, sindicalistas rurais, ecologistas e seringueiros, a respeito da sustentabilidade desse tipo de reserva. O autor pretendia responder à pergunta: a criação de reservas extrativistas pode ser considerada um modelo viável para a região Amazônica e para a população que nela habita? A intenção do autor é gerar uma polêmica em torno do assunto e, dessa forma, “contribuir com a busca de alternativas econômicas que permitam ao homem e à floresta amazônica reproduzirem-se de forma sustentável”. Uma das principais críticas apontadas por Cavalcante (1993, p.40) é quanto ao fraco papel do Governo, considerando as esferas municipal, estadual e federal, frente às enormes dificuldades encontradas pelos extrativistas. De certa forma, a criação das reservas gerou alívio em relação aos embates contra os desmatamentos e pela posse de terra. Porém, não existe uma política de crédito ao pequeno produtor, nem políticas de investimento gradual nos sistemas de educação, saúde e habitação. É necessário criar políticas públicas que possam proporcionar às comunidades extrativistas o bem-estar, não somente ambiental, mas econômico, social, político e cultural. No caso de reservas extrativistas marinhas, Chamy (2002, p.8), ao estudar a Reserva Extrativista Marinha de Corumbau (BA), onde se encontram algumas comunidades de pescadores artesanais, aponta diversos problemas enfrentados por essas comunidades, tais como a dependência dos atravessadores e o isolamento da comunidade, em virtude das condições precárias de acesso. Esses fatores levam ao “impedimento de agregação de valores ao pescado produzido, o que prejudica a melhoria da qualidade de vida dessa população”. Chamy (2002) ressalta que é imprescindível a inclusão das comunidades de pescadores na gestão da reserva, pois “garante o respeito dos domínios tradicionais evitando a perda dos saberes locais ameaçados pela reorganização dos espaços ditada pelos avanços da economia urbano/industrial e pasteurização cultural global”. Para a autora, reservas extrativistas marinhas não significam apenas delimitação de espaços, e o desafio a ser enfrentado é: Procurar uma maior compatibilidade entre desenvolvimento econômico, democratização de oportunidades e proteção ambiental, recusando-se soluções uniformizantes, centralizadas e inapropriadas para a multiplicidade de situações existentes [...] (CHAMY, 2002, p.10).

Para tanto, é preciso repensar as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento local em comunidades tradicionais que habitam áreas litorâneas, de forma a proporcionar a sustentabilidade, considerando aqui, os cinco aspectos indicados por Ignacy Sachs (1986) para o ecodesenvolvimento, que são: econômico, ecológico, social, espacial e cultural. Diegues (1993) ressalta a importância do envolvimento das comunidades tradicionais no sucesso da conservação do meio ambiente natural, em composição com os diferentes atores sociais, para a definição das políticas públicas de conservação do meio natural. Dentro desse contexto, o presente trabalho apresenta um estudo de caso sobre as limitações e potencialidades para o desenvolvimento local, em uma comunidade tradicional pesqueira, situada em área de reserva extrativista marinha, no litoral paraense, cujos resultados são apresentados no capítulo seguinte.

2.5 Objetivos

2.5.1 Geral

O objetivo geral desta pesquisa é investigar a dinâmica socioeconômica na Vila Mota, e seus reflexos no processo de desenvolvimento local.

2.5.2 Específicos

• Identificar e caracterizar os sistemas de produção da Vila Mota; • Analisar as condições de vida na Vila Mota, considerando-se diversos aspectos, tais como: infra-estrutura básica e social, renda e organização social; • Identificar fatores limitantes e potencializadores ao desenvolvimento local; • Identificar as mudanças ocorridas com a criação da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã.

2.6 Hipótese

Este trabalho parte do pressuposto de que a predominância da prática de monoatividade na Vila Mota, no caso a pesca artesanal, compromete a economia doméstica, cujos rendimentos costumam ser baixos e obtidos, principalmente, nos períodos de safra. Aliadas a isto, a baixa mobilização sócio-política da comunidade da Vila Mota e a pouca integração com outras comunidades, não permitem uma troca maior de informações sobre o melhor aproveitamento dos recursos naturais, impedindo que outras atividades geradoras de renda possam ser desenvolvidas, interferindo também no processo de desenvolvimento local, e dificultando ações reivindicatórias de políticas públicas, especialmente as relacionadas à saúde e ao transporte. 3 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS PÚBLICAS

3.1 Desenvolvimento local

Ainda não se tem ao certo um conceito definitivo sobre desenvolvimento, sendo este assunto alvo de debates e controvérsias. Por muito tempo, foi aceito, de forma errônea, desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico. As conseqüências desse erro logo surgiram em muitos países do mundo, pois se observou que mesmo com elevadas taxas de crescimento econômico, as condições de vida de muitas populações pioraram (VEIGA, 1998). Esse fato gerou inquietação na classe intelectual, especificamente, nas ciências sociais, induzindo a novas formas de pensar o desenvolvimento. Em função disso, o conceito de desenvolvimento passou a incorporar outros aspectos sociais, tais como emprego, necessidades básicas, saúde, educação, eqüidade, dentre outros, sendo mais recentemente incorporado os aspectos ambientais, haja vista que o crescimento econômico é predatório de recursos naturais, além de altamente poluidor. Segundo Fischer (2002, p.17), o desenvolvimento é uma rede de conceitos que podem estar diretamente associados aos adjetivos local, integrado e sustentável , e comenta que é impossível falar em desenvolvimento local sem fazer referência a conceitos como pobreza e exclusão, participação e solidariedade, produção e competitividade, entre outros que se articulam e reforçam mutuamente ou que se opõem frontalmente. A noção de local refere-se a um âmbito espacial delimitado e pode ser identificado como base, território, microrregião, mas também esse local pode adquirir um sentido abstrato, quando se refere às relações sociais nele existentes, indicando movimento e interação de grupos sociais que podem se articular ou se opor em torno de interesses comuns. O termo desenvolvimento é oriundo da biologia, quando, em 1759, Frederic Wolf o empregou, fazendo referência ao conjunto de transformações observadas em embriões, “expressando câmbios orientados para alcançar o estado natural ou forma apropriada de ser de um organismo”, ou seja, o estado de desenvolvido (Esteva, 1997, apud Borba, 2000, p.1). Posteriormente, este termo sofreu influências da teoria darwiniana, incorporando o “sentido de transformações rumo a um estado cada vez mais evoluído, perfeito (sobrevivência do mais forte)”. Segundo Bermejo e Nebreda (1999, apud BORBA, 2000, p.1), esta influência associou o desenvolvimento à idéia de progresso ilimitado, atrelado à tecnologia, onde os recursos necessários poderiam ser tirados da natureza, considerada, até então, como fonte inesgotável. Esta forma de pensar tornou-se forte a partir dos anos 70 do século XIX, com a revolução neoclássica da economia. Esta noção de desenvolvimento permanece até os dias de hoje, e está ligada ao crescimento econômico, à industrialização e ao avanço tecnológico. A transformação de sociedades tradicionais em industriais significa passar de uma condição atrasada para uma condição moderna, superior. Segundo Furtado (1998), o desenvolvimento econômico praticado pelos países que lideraram a revolução industrial acabou sendo universalizado, sendo adotado por diversos países, sem a devida noção de seus limites. Estabeleceu-se, então, uma corrida para a tecnologização e uma intensa busca da prosperidade material (supremacia do ter sobre o ser ). Entretanto, nos meados do século XX, começam a surgir questionamentos quanto ao modelo de desenvolvimento fundado na industrialização intensa e seus efeitos nefastos sobre os ecossistemas terrestres. Estudos quantitativos foram realizados sobre a destruição ambiental, e ficou clara a necessidade de repensar um modelo de desenvolvimento, especialmente para os países periféricos. Surgem, então, em 1987, após o informe publicado sob a coordenação de Gro Harlem Brundtland, Primeira Ministra da Noruega, sob o título de Nosso Futuro Comum, os conceitos de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. Nesse informe, a senhora Brundtland ressaltava os impactos dos sistemas agrícolas intensivos sobre os recursos naturais e sobre o ser humano. Então, a partir desse Informe, desenvolvimento sustentável foi considerado como o “desenvolvimento que satisfaz às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras, para satisfazer suas próprias necessidades”. Esse conceito foi popularizado após a ECO-92, Conferência do Rio de Janeiro, realizada em 1992, com o intuito de discutir os riscos ambientais e a crise ecológica no mundo. Diegues (1992) faz algumas críticas em relação ao conceito de desenvolvimento sustentável e sua aplicação, principalmente quando se trata de regiões mais pobres. Ressalta que o alto nível de consumo dos países industrializados não deve ser copiado fielmente por países do Terceiro Mundo, como um modelo de progresso. A exportação maciça de recursos naturais locais gera a degradação ambiental, o que reflete negativamente na qualidade de vida das populações. O autor afirma que a qualidade de vida é imprescindível para o desenvolvimento. Para Diegues (1992), devido às diversas diferenças existentes entre os países industrializados e os do Terceiro Mundo, o desenvolvimento sustentável deve ser pensado, em nível global, sob a perspectiva de sociedade ou sociedades sustentáveis, ressaltando que “é imperioso que cada sociedade se estruture em termos de sustentabilidades próprias, segundo suas tradições culturais, seus parâmetros próprios e sua composição étnica específica”. Para Ignacy Sachs, a sustentabilidade pode ser compreendida em cinco aspectos, embasando o que este autor considera ecodesenvolvimento . Tais aspectos são: a) sustentabilidade social – visando à distribuição de renda e de bens (oportunidades), com propósitos de reduzir o abismo entre ricos e pobres; b) sustentabilidade econômica – a eficiência econômica avaliada em termos macrossociais, não em termos microeconômicos ou empresariais; c) sustentabilidade ecológica – chamada por Vieira (1995 e 1998) e outros autores de prudência ecológica , pressupõe novas e criativas formas de intervenção do indivíduo humano na natureza, com níveis mínimos de abuso ou parasitismo. Há de se lembrar de que não se trata da não utilização ou apropriação dos recursos naturais, mas de formas menos abusivas, tanto em termos econômicos quanto socioambientais; d) sustentabilidade espacial – equilíbrio rural-urbano. Evitar os impactos negativos da hiperurbanização (BERGAMASCO; SALLES; NORDER, 1995), priorizando novas formas de civilização, baseadas no uso sustentável de recursos renováveis não apenas possíveis, mas essenciais; e) sustentabilidade cultural – que é a dimensão capaz de respeitar e estimular as diferenças, os valores e saberes locais de cada população. Por meio desta dimensão estratégica é possível intensificar o diálogo franco entre as partes para, a partir deste, elaborar e operacionalizar as possíveis políticas de desenvolvimento (SACHS, 1986, apud OLIVEIRA; LIMA, 2003, p.32). As concepções de Sachs fundamentam o desenvolvimento centrado no paradigma desde baixo, cuja ênfase é a valorização dos fatores internos locais. Para Barquero (2001, p.57), quando a comunidade local é capaz de utilizar o potencial de desenvolvimento e liderar o processo de mudança estrutural, pode-se falar de desenvolvimento de baixo para cima ou desenvolvimento local endógeno. Este conceito baseia-se na idéia de que localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais, bem como de economias de escalas não aproveitadas que formam seu potencial de desenvolvimento. Comenta, ainda, que a “forma de organização da produção, a estrutura familiar, a estrutura social e cultural e os códigos de conduta da população condicionam os processos de desenvolvimento, facilitando e limitando a dinâmica econômica, sendo estes os fatores que determinam, em última análise, a evolução específica de cidades e regiões”. Barquero complementa que esse modelo de desenvolvimento: [...] propõe-se a atender às necessidades e demandas da população local através da participação ativa da comunidade envolvida. Mais do que obter ganho em termos da posição ocupada pelo sistema produtivo local na divisão internacional ou nacional do trabalho, o objetivo é buscar o bem- estar econômico, social e cultural da comunidade local em seu conjunto (Barquero, 2001, p.39).

O referido autor ressalta, ainda, que o desenvolvimento local endógeno: “obedece a uma visão territorial (e não funcional) dos processos de crescimento e mudança estrutural, a qual parte da hipótese de que o território não é um mero suporte físico para os objetos, atividades e processos econômicos, sendo, isso sim, um agente de transformação social (Barquero, 2001, p.58).

Portanto, percebe-se que a sustentabilidade pode ser vista ainda como uma “característica multidimensional de um sistema sócio-ambiental, transformando-se num conceito que deve ser analisado de acordo com o contexto social em que se leva a cabo a análise e a implementação de alternativas” (MASSERA et al., 1999, apud BORBA, 2000, p.15). Desta forma, é necessário ter em mente três questionamentos: o que se vai sustentar? Em quanto tempo? E em que escala espacial?

3.2 Qualidade de vida: um fator condicionante para o desenvolvimento local

Kisil (2000, p.149) considera que “os projetos de desenvolvimento local representam uma oportunidade de se criar cidadãos competentes, com poder e mobilizados para o bem- estar comum da coletividade. É evidente que, quanto mais excluída, mais marginal, mais pobre for uma comunidade, mais difícil se torna o exercício da cidadania”. Portanto, fica clara, aqui, a necessidade de estudar e compreender a situação das comunidades rurais mais desassistidas, na tentativa de criar mecanismos para fomentar um processo de desenvolvimento local que possa diminuir as distâncias sociais existentes, gerando nessas comunidades uma melhor qualidade de vida. Infelizmente, no Brasil, ainda são muitas as comunidades que apresentam condições de vida precárias, o que as exclui de um processo de decisão quanto ao seu próprio destino. Segundo Silva (2001): [...] os dados da PNAD 3, referentes ao ano de 1999, fornecem uma estimativa do contingente de pobres rurais sendo quase 3 milhões de

3 A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD é uma pesquisa feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em uma amostra de domicílios brasileiros que, por ter propósitos múltiplos, investiga diversas características socioeconômicas da sociedade, como população, educação, trabalho, rendimento, habitação, previdência famílias (ou 15 milhões de pessoas) sobrevivendo com uma renda disponível per capita de um dólar ou menos por dia (R$ 34,60 mensais ao câmbio de setembro/99).[...] Um terço dessas famílias de pobres rurais mora em domicílios sem luz elétrica, quase 90% não têm água canalizada, nem esgoto ou fossa séptica. E em quase metade dessas famílias mais pobres, o chefe ou pessoa de referência nunca freqüentou a escola ou não completou a primeira série do Primeiro Grau, podendo ser considerados como analfabetos (SILVA, 2001, p.1).

Diante desse panorama, fica difícil o engajamento dessas comunidades, num processo de planejamento de políticas públicas que buscam o desenvolvimento local. Portanto, é imprescindível investigar quais os fatores que levam essas comunidades à condição de pobreza, e adotar medidas compatíveis com as realidades locais, na tentativa de reverter tal situação. De acordo com Borba (2000), é necessário envolver para desenvolver. Para Myrdal (1994, p.407), nenhuma investigação sobre a pobreza nas nações poderá ser completa se não houver uma investigação da qualidade de vida dos seres humanos. Ele afirma que para um indivíduo melhorar sua vida econômica e social é preciso dispor de condições sanitárias adequadas e de educação. No entanto, reforça que é uma tarefa difícil medir com precisão estas qualidades. A Qualidade de vida pode ser analisada, segundo Amathya Sen, a partir de dois conceitos: [...] capacitação , que representa as possíveis combinações de coisas que uma pessoa está apta a fazer ou ser, e funcionalidades , que representa partes do estado de uma pessoa - as várias coisas que ela faz ou é. Assim, a capacitação reflete, em cada pessoa, as combinações alternativas de funcionalidades que esta pessoa pode conseguir. Desta forma, a qualidade de vida pode ser avaliada em termos da capacitação para alcançar funcionalidades, tais como as funcionalidades elementares (nutrir-se adequadamente, ter saúde, abrigo etc.) e as que envolvem auto-respeito e integração social (tomar parte da vida da comunidade). [...] a capacitação não se mede pelas realizações efetivas de uma pessoa, mas pelo conjunto de oportunidades reais que ela tem em seu favor . A qualidade de vida não deve, portanto, ser entendida como um mero conjunto de bens, confortos e serviços, mas, através destes, das oportunidades efetivas das quais as pessoas dispõem para ser . Oportunidades dadas pelas realizações coletivas, passadas e presentes (SEN apud Nussbaum & Sen, 1995, p.30).

Vale citar aqui a opinião de Sen (2000, p.17), em seu livro sobre desenvolvimento como liberdade, onde o mesmo considera que é importante criar um espaço aberto aos indivíduos, para escolher entre seres e fazeres alternativos, isto é, em termos dos funcionamentos e capacidades dos indivíduos para levarem adiante seus planos de vida. Sen social, migração, fecundidade, nupcialidade, saúde, nutrição etc., entre outros temas que são incluídos na pesquisa de acordo com as necessidades de informação para o Brasil. Disponível em: http://www.ibge.gov.br . Acesso em: agosto/2007. ressalta que a dimensão de avaliação dos estados sociais, em termos de saberes e fazeres, representaria o grau de liberdade efetivamente gozado pelos indivíduos em uma sociedade, segundo seu pensamento sobre a ética do desenvolvimento. Essa consciência e vontade própria, oriunda de um grupo social, de tomarem decisões conforme suas necessidades, constitui-se num mecanismo endógeno, que pode ser benéfico para um processo de desenvolvimento local. Segundo Herculano (1998), a qualidade de vida pode ser definida como: [...] a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de ecossistemas naturais (HERCULANO, 1998, p.85).

Denardi et al. (2000), em estudo elaborado sobre o desenvolvimento local de pequenos municípios no interior do Estado do Paraná, apontam três premissas básicas para o que se costuma chamar de qualidade de vida: uma vida longa e saudável; ser instruído; e gozar de um nível de vida adequado. Comenta que essa qualidade de vida pode ser avaliada através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), lançado pelo PNUD 4 em 1990, que é composto de três variáveis relativamente simples: esperança de vida, nível educacional e PIB real per capita. Bittencourt et al. (1998) buscaram também compreender, em seu trabalho que trata sobre o desenvolvimento de áreas de assentamentos de reforma agrária no Brasil, como se encontravam as famílias em relação aos fatores centrais que afetavam o seu desenvolvimento, considerando vários aspectos, dentre os quais: o quadro natural; a infra-estrutura produtiva; o sistema de produção adotado; o crédito; a assistência técnica; o acesso em relação aos serviços básicos, como educação, saúde e moradia. No caso do Brasil, com níveis elevados de desigualdades regionais, o cálculo de indicadores de sustentabilidade é importante para identificar os fatores que interferem na

4 O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ou PNUD ) é o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que tem por mandato promover o desenvolvimento e eliminar a pobreza no mundo. Entre outras atividades, o PNUD produz relatórios e estudos sobre o desenvolvimento humano sustentável e as condições de vida das populações, bem como executa projetos que contribuam para melhorar essas condições de vida, nos países onde possui representação. Disponível em: http://www.pnud.org.br/idh/ . Acesso em: março/2008. qualidade de vida das populações, seja urbana ou rural, bem como para subsidiar políticas públicas de desenvolvimento local sustentável.

3.3 Desenvolvimento local em áreas rurais: inadequação de políticas públicas

Muitos esforços vêm sendo feitos na tentativa de alcançar o desenvolvimento local sustentável, como forma de vencer as desigualdades regionais encontradas no Brasil. Porém, o que se observa no atual cenário brasileiro, é um número significativo de áreas que se encontram desassistidas pelo Governo, desamparadas e excluídas de um processo social justo e equânime. No âmbito rural, por exemplo, o número de áreas desassitidas por programas públicos voltados para o desenvolvimento tende a ser maior. Muitas das vezes, essas áreas são prejudicadas pelo acesso precário, proveniente da falta de uma infra-estrutura física adequada, o que dificulta o acesso de técnicos para fazerem levantamentos mais condizentes com a realidade local. A falta de informações sobre as comunidades rurais brasileiras ainda é um dos fatores limitantes para um bom planejamento e uma implementação eficaz de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural. Talvez, tal situação possa ser explicada, pelo fato de que as políticas públicas implementadas para a área rural ainda precisam sofrer alguns ajustes, especialmente quanto às metodologias adotadas para o planejamento, execução e avaliação das mesmas. Percebe-se, por exemplo, que, no Brasil, alguns programas voltados para o campo acabaram por beneficiar apenas os grandes empresários de agroindústrias, deixando à margem dos benefícios os pequenos produtores. Diante disso, questiona-se: as políticas públicas foram planejadas para promover o desenvolvimento de comunidades que vivem nas áreas rurais, ou destinadas para as agroindústrias que estão em áreas rurais? Veiga (2003, p.4) comenta que não somente no Brasil, mas em quase todos os países desenvolvidos, as políticas públicas de desenvolvimento rural, desde os anos 30, são destinadas principalmente para o segmento agroalimentar, e não para fomentar a economia rural como um todo. Ele ressalta que não se pode fazer confusão entre desenvolvimento agrícola e desenvolvimento rural. Para Brose (1999, p.48), o conceito de desenvolvimento agrícola pode ser entendido como o enfoque tradicional, ou produtivista, tendo seu “foco no aumento da produção e da produtividade agrícola”. Enquanto o conceito de desenvolvimento rural é bem mais abrangente, e engloba além de fatores econômicos, “fatores sociais, políticos, e ainda elementos não-agrícolas, como, por exemplo, o turismo rural” . Denardi et al. (2000) citam o conceito de desenvolvimento rural, estabelecido pela CONTAG (1997):

[...] envolve o crescimento da produção, da renda e dos vetores de sua distribuição, via ocupações produtivas, impostos e investimentos produtivos, que realimentam o processo. Implica em uma melhoria generalizada das condições de vida e trabalho da população que habita o meio rural, com acesso aos bens e serviços sociais que devem ser garantidos aos cidadãos. Abrange ainda a formação e desenvolvimento da infra-estrutura econômica e social, pública e privada, de tal forma que os indicadores sociais de qualidade de vida sofrem contínuas elevações. (CONTAG,1997, apud DENARDI et al., 2000, p.5)

Esta confusão estabelecida entre agrícola e rural resultou num processo nocivo para o desenvolvimento rural, pois privilegiou os grandes produtores, deixando à margem muitas famílias camponesas. De acordo com Goodman et al. (1989, p.135), “ o êxodo rural contínuo, o desaparecimento de fazendas, a ubiqüidade da agricultura de tempo parcial e a marcante concentração da produção agrícola, as diferenças de renda e a proletarização, são conseqüências sociais frente ao desenvolvimento capitalista da agricultura”. A modernização agrícola gerada por esse modelo de desenvolvimento embutiu uma imagem distorcida de progresso. A noção de que a modernidade oriunda do modelo tradicional de desenvolvimento não tem surtido o efeito esperado tem sido amplamente discutida, a partir das últimas décadas do século XX, por intelectuais do mundo todo, reforçando a idéia de que um outro desenvolvimento, desta vez sustentável, precisa ser pensado. As diferenças entre países ricos e pobres aumentaram, e a pobreza e a fome permanecem, apesar do grande avanço da tecnologia no setor agroindustrial. Segundo Borba (2000, p.6), o modelo de desenvolvimento que promoveu a urbanização e a industrialização como símbolos da modernidade revelava-se em crise. Estabeleceu-se, então, “uma crise multidimensional conhecida como crise da modernidade , com marcados reflexos sobre o mundo rural”. Para Borba (2000), o modelo de desenvolvimento até então adotado: [...] revela sua insustentabilidade ao promover a exclusão social, a extinção de culturas, a contaminação ambiental, a erosão da biodiversidade, incrementando a subordinação da produção primária à indústria com elevada taxa de transferência de recursos do meio rural ao urbano (crescente custo de produção e apropriação do trabalho do agricultor familiar), promovendo a acumulação de riqueza (concentração de terra e capital), produzindo alimentos com altos níveis de contaminação química, envenenando ou tornando inválido agricultores e agricultoras, operários e operárias rurais, fomentando a entropia [...] (BORBA, 2000, p.7).

Boisier (1989, p.593), baseando-se em estudos realizados na América Latina, afirma que as políticas de desenvolvimento regional não alcançaram êxito devido a alguns fatores, como: (a) teorias, modelos, metodologias e políticas pautados em contextos diferentes da realidade observada; (b) políticas regionais completamente divorciadas de políticas econômicas, sendo estas sempre com respaldo maior; (c) uma prática tradicional monodisciplinar; (d) propostas elitistas centralizadas, sem a participação das próprias comunidades regionais envolvidas. O que se tem observado no Brasil é que, embora alguns programas já tenham sido implementados com intuito de promover o desenvolvimento do campo, o êxodo rural ainda é notável. As áreas periféricas das grandes cidades continuam a crescer desordenadamente, aumentando a parcela de favelados, oriundos, na sua grande maioria, do interior. Desta forma, registram-se dois desafios: criar mecanismos para fixar o homem rural no seu habitat de origem, com condições de qualidade de vida, e resolver os problemas de urbanização, nas grandes cidades. Veiga (1998, p.165) acredita que “um projeto de desenvolvimento rural possa ser um instrumento crucial da luta contra o viés urbano das políticas públicas. Pode ser tomado como um instrumento que impulsione a sociedade a revalorizar a vida rural e mostrar o quanto as oportunidades de cidadania rural podem reduzir a degradação das cidades” . Nesse contexto, surgem duas importantes correntes contemporâneas intelectuais que colaboram no planejamento do desenvolvimento rural. Uma diz respeito à dimensão territorial do desenvolvimento, e a outra enfatiza a noção de capital social. A junção de idéias pertencentes à essas correntes permite que sejam ampliados os horizontes de reflexão sobre o meio rural, “que não deve ser confundido com a base geográfica de um certo setor econômico, nem considerado como resíduo daquilo que não pertence às cidades” (ABRAMOVAY, 2000, p.1). Na dimensão territorial do desenvolvimento são enfatizadas as vantagens competitivas dadas por atributos naturais, de localização ou setoriais. O foco aqui é o território, não simplesmente como um espaço delimitado fisicamente, mas visto como um tecido social, de organização complexa, com ligações que vão além de seus atributos naturais. Para von Meyer (1998), um território é considerado como “uma trama de relações com raízes históricas, configurações políticas e identidades que desempenham um papel ainda pouco conhecido no próprio desenvolvimento econômico”. Comenta, ainda, que a economia tem valorizado bastante os aspectos temporais e setoriais do desenvolvimento, porém relega a segundo plano o aspecto espacial. A outra dimensão do desenvolvimento, que é complementar à primeira, refere-se ao capital social e trata de estudar, segundo Abramovay (2000): [...] a montagem das redes, das convenções, em suma, das instituições que permitem ações coorporativas – que incluem, evidentemente, a conquista de bens públicos como educação, saúde, informação – capazes de enriquecer o tecido social de uma certa localidade (Abramovay, 2000, p.2)”.

Para Abramovay (2000, p.17), construir novas instituições propícias ao desenvolvimento rural consiste, antes de tudo em fortalecer o capital social dos territórios, muito mais do que em promover o crescimento desta ou daquela atividade econômica. Segundo Putnam (1996), o capital social pode ser definido como: [...] o conjunto das características da organização social, que englobam as redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação [...] (Putnam, 1996, p.231).

Quando esse tipo de capital existe em uma determinada região, torna possível a tomada de ações colaborativas que resultam em benefício para toda a comunidade. Portanto, é imprescindível considerar nas políticas públicas de combate à pobreza e de desigualdades regionais o incentivo à formação de redes sociais visando ao fortalecimento do capital social. Seguindo essa linha de pensamento, Fischer (2002, p.26) afirma que o desenvolvimento local implica necessariamente em desenvolvimento social, e enfatiza a necessidade de um bom processo de gestão do desenvolvimento social, a fim de atender a sociedade como um todo, em seus diversos anseios. Reforça o conceito de governança para o que chama de uma boa gestão , considerando governança como sendo o poder compartilhado ou a ação coletiva gerenciada (HATCHUEL,1999). Compartilha com Follet (apud FISCHER, 2002, p.26) a idéia de que a liderança democrática só poderia ser exercida na ação conjunta, em organizações cujas estruturas facilitassem a análise de problemas, a produção de soluções e o desenvolvimento cooperativo de estratégias de ação. Destaca o compromisso do gestor e também a necessidade de uma mentalidade cooperativa na elaboração de programas que visem à superação da pobreza e da exclusão social, bem como o caráter multidisciplinar da área de gestão social. O baixo capital social observado no espaço rural pode estar associado, também, ao baixo nível de escolaridade observado nas comunidades rurais, criando obstáculos para que essas comunidades possam tomar ciência dos programas de desenvolvimento e possam participar na construção de políticas públicas para torná-las compatíveis com suas realidades. Neste aspecto, Souza (2005, p.8) faz uma reflexão sobre a educação no campo, mostrando que, embora já sejam observadas iniciativas entre prefeituras, instituições governamentais e não-governamentais, entidades públicas e da sociedade civil, com vistas à realização de atividades educativas formais e não-formais, e com propostas mais condizentes com as realidades locais, ainda são muitos os desafios a vencer, principalmente devido a raízes históricas do autoritarismo, na formação do Brasil. Abramovay (2000, p.13) ressalta que é preciso haver uma mudança no ambiente educacional existente no meio rural brasileiro. Não basta somente melhorar a escola rural ou ampliar a realização de cursos profissionais. É preciso modificar o conjunto do ambiente que se refere à aquisição e ao uso do conhecimento no meio rural. Embora o Brasil já possua uma instância de reflexão, elaboração e orientação quanto ao que deve ser a educação voltada para o meio rural, muito precisa ser feito para reverter as desigualdades regionais nesse setor. Uma outra abordagem que deve ser considerada na elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento rural é a enfatizada por Silva (2001, p.5), sobre o novo rural brasileiro, onde é dada importância à pluriatividade nas áreas rurais, ou seja, a realização de atividades rurais não agrícolas. Para Silva (2001, p.7) essa nova abordagem pode ser o motor para o desenvolvimento nas regiões menos assistidas. Ele cita como exemplo atividades de turismo rural, de artesanato, cultivo de plantas ornamentais, de preservação ambiental, que podem ser desenvolvidas para atender às demandas urbanas e, ao mesmo tempo, contribuir para complementar a economia doméstica oriunda das atividades agrícolas. O meio rural brasileiro já apresenta uma nova dinâmica populacional 5. Segundo Campanhola e Silva (2000): [...] Pode-se pensar, por exemplo, que o tão sonhado desenvolvimento rural que viria finalmente estancar o êxodo em direção às cidades possa ser alcançado pelo estímulo de um conjunto relativamente amplo dessas pequenas atividades não agrícolas no meio rural que venham a gerar ocupação e renda para um subconjunto significativo de pessoas. Até mesmo, a tão sonhada reforma agrária poderia ser implementada a partir de atividades que não precisariam ser mais essencialmente agrícolas, pelo menos no eixo centro-sul do país”. (CAMPANHOLA; SILVA, 2000, p.2).

Há necessidade, então, de intensificar pesquisas com base nessas novas abordagens, bem como estimular práticas organizativas e participativas da sociedade rural, a fim de diminuir a exclusão social. Essas ações são importantes alternativas para dar condições às

5 Nessa mesma linha de pensamento pode ser consultado o artigo de Sergio Schneider “A dinâmica das atividades agrícolas e não-agrícolas no novo rural brasileiro: elementos teóricos para análise da pluriatividade em situações de agricultura familiar”. IE, Unicamp, 2001. Ver Referência Bibliográfica no final deste projeto. comunidades rurais de participarem das tomadas de decisão e das políticas públicas elaboradas pelo poder público. Então qual realmente, o modelo de desenvolvimento local que se pretende adotar, para vencer as desigualdades brasileiras, principalmente o descaso com as áreas rurais? A qual é, realmente, resposta para esta questão deve levar em conta a complexidade que envolve o conceito de desenvolvimento, além do que, deve-se considerar que as áreas rurais do Brasil, por si só, já carecem de estudo aprofundado, pelas suas características diversas, que variam de região para região, bem como dentro de uma mesma região. Na Amazônia, por exemplo, podem ser encontradas as áreas agrícolas de fronteira e as áreas tradicionais. Nas áreas tradicionais por sua vez, ainda para ilustrar a situação, podem ser encontradas comunidades pesqueiras de várzea, como também comunidades pesqueiras em áreas litorâneas. Este é o caso de comunidades do médio Amazonas e de comunidades no nordeste paraense, respectivamente. Observa-se, portanto, a urgência em direcionar esforços para se conhecer as realidades brasileiras, identificando-se as especificidades locais, para então realizar um planejamento tendo como respaldo variáveis significativas para cada caso estudado, a fim de que as propostas lançadas venham ao encontro dos anseios das comunidades envolvidas, bem como os resultados a serem alcançados possam ser positivos e usufruídos por esses atores sociais. O desenvolvimento local acaba por ser uma conseqüência do bem-estar alcançado nessas comunidades, impulsionando-as para frente, num contexto de inclusão social. Neste sentido, ao se pensar em formular e implementar políticas públicas voltadas para o meio rural, é importante ter em mente a definição de sistema agrário, bem como compreender a sua dinâmica, considerando uma abordagem mais ampla, haja vista que esse sistema é uma conseqüência da relação do homem com o meio humano, meio natural e meio técnico. Segundo Mazoyer e Roudart (2001), sistema agrário: É um modo de exploração do meio historicamente constituído e durável, um conjunto de forças de produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço definido e respondendo às condições e necessidades de um certo momento. Pode-se definir um sistema agrário como sendo a combinação do meio cultivado; dos instrumentos de produção (materiais e força de trabalho); do modo de artificialização do meio; da divisão social do trabalho entre as diferentes esferas; dos excedentes agrícolas e as relações de troca com outros atores sociais; das relações de força e de propriedade que regem a repartição do produto do trabalho, dos fatores de produção e dos bens de consumo; do conjunto de idéias e instituições que permitem de assegurar a reprodução social (MAZOYER; ROUDART, 2001, apud MIGUEL, Lovois de Andrade, 1999, p.9)

Angelo-Menezes (2000) ressalta que, para qualquer intervenção no meio rural, o estudo das formações agrárias deve considerar um contexto histórico. A autora observa que: A análise histórica é indispensável para visualizar-se a extrema diversidade dos sistemas agrícolas e do estágio da organização do meio representado por sistemas técnicos, especialização produtiva, estruturas de exploração, enfim, relações técnicas e sociais de produção e nível de acumulação (Angelo-Menezes, 2000, p.97).

Para Mazoyer e Roudart (2001):

[...] analisar e conceber em termos de sistema agrário a agricultura praticada num momento e espaço determinados consiste em decompô-la em dois subsistemas principais, o ecossistema cultivado e o ecossistema social produtivo , em estudar a organização e o funcionamento de cada um desses subsistemas, em estudar as suas inter-relações. (MAZOYER; ROUDART, 2001, p.40).

Outra definição importante é a citada pelo MDA/SDT (2005, p.4), formulada pelo Departamento de Sistemas Agrários e Desenvolvimento do Institut Nacional de la Recherche Agronomique (INRA), que define o sistema agrário como um “território rural restrito, onde uma população exerce a maior parte de sua atividade e as relações que esta população estabelece ao explorar o meio em um determinado contexto socioeconômico”.

Quando se trata da atividade pesca artesanal , de forma semelhante à agricultura, deve- se pensar na complexidade das dinâmicas ambientais, socioeconômicas, culturais e técnico- produtivas, que, combinadas às variáveis tempo e espaço, “produzem, para cada localidade, uma diversidade de formas através das quais os pescadores artesanais buscam interagir com a natureza e extrair dela seu sustento” (PASQUOTTO; MIGUEL, 2005, p.2).

Esses autores, para melhor compreender as comunidades tradicionais pesqueiras, têm buscado aplicar o referencial teórico de análise dos sistemas agrários ao universo da pesca. Porém, essa tarefa não é simples, haja vista que, ao se considerar as especificidades da pesca artesanal, é necessária uma adequação de conceitos e métodos. Um exemplo disto está na delimitação do espaço físico, sendo mais complexo que no caso da agricultura. Nas sociedades tradicionais de pescadores artesanais, o território é considerado algo muito “mais vasto que para os terrestres e sua posse é mais fluída”, dificultando a definição de dimensões. Para os pescadores, a terra é um objeto passível de apropriação e divisão, ao passo que, quanto ao mar, isso objetivamente não acontece (DIEGUES, 1998, p.83).

Outro exemplo a ser considerado é que, na maioria dos casos, no processo produtivo da pesca artesanal, ao contrário do que ocorre na agricultura, não há o envolvimento pleno da unidade familiar, sendo estabelecidas diferentes formas ou arranjos organizativos para a captura. Entretanto, Pasquotto e Miguel (2005, p. 5) ressaltam que a estrutura familiar é “o elemento central unificador dos processos de reprodução social, similarmente ao que ocorre na agricultura” Para Pasquotto e Miguel (2004, p.3), mesmo enfrentando situações desfavoráveis, como a especulação imobiliária, a poluição e a degradação dos recursos naturais, a competição por espaço com atividades industriais, entre outros, os pescadores artesanais da zona costeira brasileira “persistem como um grupo social que busca assegurar sua reprodução através do trabalho direto sobre um espaço que poderia ser definido como interface entre a sociedade e a natureza”. No entanto, para esses autores a pesca artesanal não tem sido objeto de estudos capazes de situá-la nessa interface, e, muitas das vezes, a categoria pesca artesanal tem sido considerada de forma homogênea na formulação de políticas públicas.

3.4 Políticas públicas de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar

No processo de elaboração de políticas públicas para o setor rural, o fomento à agricultura familiar vem sendo adotado como instrumento para a consolidação do homem no campo, na tentativa de gerar uma maior economia doméstica e criar melhores condições de vida, evitando, assim, o êxodo rural. Entretanto, é de fundamental importância que os planejadores entendam o papel social que a agricultura familiar representa no processo de desenvolvimento local, sobrepondo-se ao papel meramente econômico, como se tem tratado essa categoria nos modelos tradicionais de combate às desigualdades regionais. É imprescindível compreender as peculiaridades pertinentes às unidades de produção familiares rurais, para a elaboração de políticas públicas consistentes voltadas para o meio rural. Segundo Abramovay (1992, p.101), para que as políticas de desenvolvimento rural sejam elaboradas adequadamente é necessário que os economistas entendam os limites da racionalidade econômica do campesinato. É isso somente é possível se for analisado de forma minuciosa o ambiente social onde a vida camponesa transcorre e onde suas leis operam ”. Comenta que a racionalidade econômica do campesinato é necessariamente incompleta porque seu ambiente social permite que outros critérios de relações humanas (que não os econômicos) sejam organizadores da vida. Percebe-se, então, que o camponês tem um modo de vida próprio e seu modo de produção apresenta algumas especificidades. Portanto, na elaboração de políticas públicas com vistas a minimizar os desequilíbrios regionais é fundamental o reconhecimento da cultura e o respeito dos saberes locais das comunidades envolvidas. Nesse contexto, vale ressaltar os princípios do modelo camponês, estabelecidos por Chayanov, apud Lamarche (1993), no qual a agricultura camponesa tradicional é fundamentada em três princípios básicos: (a) a inter-relação entre a organização da produção e as necessidades de consumo; (b) o trabalho familiar não pode ser avaliado em termos de lucro, pois o custo objetivo do trabalho familiar não é quantificável; (c) os objetivos da produção são os de produzir valores de uso e não de troca. A agricultura familiar é caracterizada pelo não-assalariamento de sua força-de- trabalho, e a unidade produtiva é constituída pela família. Nessa forma de organização, o trabalho é distribuído entre os membros da família, com homens, mulheres e crianças participando ativamente de todo o processo produtivo. O nível de exploração da unidade familiar depende do tamanho da família, determinando assim a super ou sub-utilização da força-de-trabalho. O objetivo do trabalho nas unidades de produção familiar (UPF) é atender às necessidades de subsistência da família, sendo o excedente comercializado no mercado. Para Mota et al. (1998), a agricultura familiar constitui-se tema de alta relevância, por se tratar de “um grupo social que ocupa lugar de destaque na produção agropecuária brasileira, pela capacidade de produzir, movimentar a economia nos âmbitos local e nacional, utilizar de forma sustentada os recursos naturais e gerar postos de trabalho em ocupações social e economicamente produtivas” . No entanto, é de suma importância que os estudiosos envolvidos nesta questão ressaltem alguns conceitos relacionados à produção camponesa, reforçando, porém, sua dimensão sócio-cultural e ambiental, e não somente os benefícios econômicos resultantes dessa produção. Segundo Wanderley (1996, p.3), a agricultura familiar “é entendida como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo”. Comenta, ainda, que é importante insistir “que este caráter familiar não é um mero detalhe superficial e descritivo: o fato de uma estrutura produtiva associar família-produção-trabalho tem conseqüências fundamentais para a forma como ela age econômica e socialmente” . Neste sentido, para D’Incao (2002, p.14) é importante que, nos estudos voltados para a agricultura familiar, estabeleçam-se as diferenças existentes entre a racionalidade econômica dos pequenos agricultores e a racionalidade econômica dos agricultores empresarias, modernos e capitalistas. A autora defende estudos interdisciplinares para tratar o problema de desenvolvimento rural, nos quais haja uma complementaridade entre as análises sociais e econômicas. Neves (1998, p.18) ressalta que determinadas decisões políticas tomadas no passado, referindo-se à implantação da agroindústria de transformação da madeira ou do setor de reflorestamento, acabaram por marginalizar o pequeno agricultor, onde os mesmos “tornaram- se herdeiros da melancolia, de um empobrecimento irreversível, da desclassificação social e da desautorização do cumprimento de papéis que lhes conferiam a honra e a dignidade do pai provedor e acolhedor de novas gerações” . Esses pequenos agricultores acabaram “engolidos” pelas agroindústrias, vítimas de um processo de desenvolvimento imposto. No Brasil, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –PRONAF (Decreto nº 1946, de 28 de junho de 1996; Resolução 2310, de 29 de agosto de 1996) 6 representa o primeiro programa de políticas públicas diferenciadas para agricultores familiares, oriundo do antigo Programa de Valorização da Pequena Produção (PROVAP), resultante das lutas dos trabalhadores rurais. O PRONAF atua em quatro linhas de apoio: financiamento da produção; capacitação e profissionalização de agricultores familiares; negociação e políticas públicas com órgão setoriais infra-estrutura e serviços aos municípios; destinadas a beneficiar os agricultores familiares e suas organizações, visando a melhoria da sua qualidade de vida (MAIA & NEVES, 2002, p.337-338). O PRONAF procura atender a diversas categorias socioeconômicas de produtores rurais sob o uso do trabalho familiar e correspondentes a modos diferenciados de existência social, como os extrativistas, pescadores, silvicultores , aqüicultores definidos pela atividade produtiva mais valorizada nos termos do programa; os ribeirinhos , definidos pela adequação de práticas sociais aos ciclos de imersão ou emersão de várzeas; os remanescentes de quilombos , definidos pelo modo específico de apropriação e legitimação de posse e uso da terra. De acordo com Neves (2006, p.19): [...] a categoria socioeconômica de agricultor familiar, que engloba essa diversidade de produtores, apresenta-se como uma categoria de mobilização política, fundamental na construção da identidade de atores aglutinados em torno da luta pelo reconhecimento da cidadania econômica e política Neves (2006, p.19) .

Entretanto, embora este programa apresente um avanço no sentido de reconhecer as diversas atividades que podem ser realizadas nas unidades familiares rurais, ainda é alvo de críticas no que diz respeito à verdadeira participação dos agricultores familiares nas ações

6 BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Brasília, 1996. tomadas. Maia & Neves (2002, p.345) fazem uma reflexão sobre a gestão pública participativa em nível municipal, questionando até que ponto, realmente, as necessidades dos agricultores familiares são atendidas pelo PRONAF, haja vista que, na aprovação do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, que constitui a condição básica para a obtenção dos recursos destinados à infra-estrutura rural dos municípios, muitas das vezes, estão em jogo relações de interesses político-econômicas, interferindo dessa forma nas tomadas de decisão, que acabam por beneficiar determinados grupos políticos tradicionais, excluindo desse processo os pequenos agricultores, categoria mais interessada. Fica, então, comprometida a participação democrática desses agricultores. Além disso, as autoras fazem uma reflexão também sobre o preparo e qualificação dos representantes indicados para o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, chamando atenção para a “falta de informações técnicas específicas e de uma aculturação ao ambiente do serviço público” . Neste sentido, cabe também a análise crítica feita por Neves (2006) à atuação e à qualificação de pessoas ligadas às instituições que desempenham atividades para o PRONAF, de forma a assegurar, de fato, as condições de integração do agricultor ao referido programa: [...] As instituições convidadas à parceria devem estar, mesmo que provisoriamente, dotadas de recursos para formação de seus quadros e de seus beneficiários.[...] Para tanto, às instituições de representação política devem ser transferidas as condições necessárias para desempenho de um papel que lhes é eminentemente atribuído. A formação do agricultor familiar não é tarefa exclusiva da assistência técnica e de circulação de informações. Os funcionários da transmissão de saber e da difusão de tecnologia não podem ser concebidos como onipotentes, a quem são atribuídos exercícios de tarefas para os quais não foram preparados por sua formação disciplinar.[...]os quadros de composição de pessoal das instituições de assistência técnica devem incorporar formações disciplinares que assegurem a constituição técnica, social, econômica e política do agricultor familiar [...] (NEVES, 2006, p.43)

A referida autora defende a valorização do investimento na capacitação ou na profissionalização de agricultores e na formação de agentes de desenvolvimento social, ambos por comunhão de interesses políticos básicos. Acredita no apoio sistemático da assistência técnica como fator para o desenvolvimento econômico e social na área rural. No entanto, faz críticas aos modelos unidirecionais, e luta pela “construção coletiva de uma reflexão em torno de novas alternativas de constituição da assistência técnica rural”, considerando o produtor familiar como ator básico para esse desenvolvimento (NEVES, 2004, p.4). De acordo com Moreno e Flores (1992), para que seja reorganizado o modelo de desenvolvimento rural no Brasil, tomando por base a agricultura familiar, é necessário um amplo processo de intercâmbio institucional destinado a proporcionar um suporte eficiente e eficaz aos produtores envolvidos. Nesse processo de transformação, a construção de uma nova assistência técnica e extensão rural é considerada uma importante estratégia para assegurar aos produtores rurais familiares um apoio técnico adequado. Sendo aqui considerados os novos desafios impostos pelo processo de globalização da economia e os efeitos decorrentes do mesmo. No entanto, para Schmitz (2001, p.55), nesse processo de transformação, há que se considerar que a implantação de novas formas de produção rural requer, por exemplo, mudanças de comportamento da comunidade envolvida; então, faz-se necessário estudar os diferentes métodos utilizados em função dos objetivos e das mudanças ou inovações pretendidas. De acordo com Jesus (2003), a introdução de novas tecnologias gera grandes mudanças complexas para o estabelecimento agrícola, pois mexem com toda a vida do homem e podem apresentar conseqüências de várias dimensões: econômica, social, cultural, agroecológica, cognitiva, na organização, duração e ritmo do trabalho. Entende-se, então, a necessidade de avançar nas pesquisas multidisciplinares, com o intuito de obter um desenvolvimento rural brasileiro de forma sustentada, considerando aspectos sócio-econômico-ambientais, que possam atender às expectativas dos produtores familiares, possibilitando a transferência de tecnologias dentro de um contexto participativo, respeitando os conhecimentos tácitos, assegurando-lhes melhores condições de vida e permitindo sua inserção na sociedade moderna.

4 METODOLOGIA ADOTADA

4.1 Escolha da área de estudo

Um dos motivos que levou à escolha da comunidade pesqueira da Vila Mota, localizada no Município de Maracanã (PA), para o desenvolvimento desta pesquisa, foi a necessidade de um maior número de estudos técnico-científicos relativos às comunidades tradicionais no litoral paraense. Tais estudos são importantes para o fornecimento de dados consistentes para subsidiar os programas de políticas públicas, em prol de melhores condições de vida dessas comunidades. Outro fator relevante para essa escolha diz respeito ao fato de a Vila Mota, a partir do ano de 2002, fazer parte da RESEX Marinha Maracanã. Portanto, com planos de uso de recursos naturais definidos. Neste caso, é importante analisar como os moradores da Vila Mota desenvolvem suas atividades dentro da referida reserva, de forma a garantir sua sobrevivência, e quais as mudanças no comportamento desses moradores, diante da implementação de tal mecanismo.

4.2 Aspectos geográficos da Vila Mota

4.2.1 Localização

A Vila Mota, pertencendo ao Município de Maracanã, está localizada na região da costa-mar ou zona fisiográfica do Estado do Pará, às margens da baía de Urindeua, mesorregião do nordeste paraense e na microrregião do salgado. Limita-se ao Norte, pelo oceano Atlântico, a leste pelo Município de Salinópolis, e está distante da capital paraense (Belém) aproximadamente 240 Km 7. Embora pertencente a Maracanã, a população residente na Vila Mota tem forte ligação com o Município de Salinópolis. Isso se dá devido à própria posição geográfica daquela vila, que possibilita uma travessia hidroviária mais rápida (30-40 minutos) para o porto principal de Salinópolis. Ressalta-se que há um acesso terrestre para o município sede

7 Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas - GEDAE (1999). Disponível em: < http://www.ufpa.br/gedae/projetos.htm >. Acesso em: 13/09/2006. de Maracanã; entretanto, a ligação é lenta e desconfortável, em virtude da falta de infra- estrutura viária (Figuras 1 e 2). Figura 1 – Localização da Vila Mota, Município de Maracanã(PA)

Oceano Atlântico

Praia da Marieta

Ilha do Marco Baía de Urindeua Salinópolis Vila Mota

Maracanã

Figura 2 – Localização detalhada da Vila Mota, Município de Maracanã(PA) 50

4.2.2 Hidrografia

A Vila Mota é banhada pela baía do Urindeua, cujos rios deságuam no Oceano Atlântico. Seu principal rio é o São Paulo, situado na divisa entre os municípios de Salinópolis e Maracanã. Nessa baía está concentrada, em sua totalidade, a pesca de curral, sendo que a pesca de rede e de linha também são observadas, porém um pouco mais afastadas da margem. Não foi observada a pesca em alto mar.

4.2.3 Clima

A Vila Mota apresenta um clima de temperaturas elevadas, típicas de clima equatorial amazônico, com média de 27º C, porém com pequena amplitude térmica devido à localização da referida Vila na região do Salgado, beneficiada pelos ventos do mar. As precipitações estão em torno de 2000 mm/ano, com aumento de chuva nos primeiros meses do ano (MMA/IBAMA/CNPT, 2000).

4.2.4 Solos

Segundo dados divulgados em MMA/IBAMA/CNPT (2000), os solos existentes na Vila Mota são classificados em: Latossolos Amarelo de textura média e concrecionários laterístico, localizados nas áreas de terra firme; solos hidromórficos indiscriminados e aluviais, nas margens dos rios; solos indiscriminados de manguezais, nas áreas semi- litorâneas e litorâneas.

4.2.5 Vegetação

Constatou-se a predominância de matas secundárias (Capoeira), em vários estágios de regeneração. As vegetações de várzeas se distribuem nas margens da baia do Urindeua e igarapés. Nas porções semi-litorânea e litorânea, há o domínio de manguezais.

51

4.3 Reserva Extrativista Marinha de Maracanã

A Vila Mota está inserida na Reserva Extrativista Marinha Maracanã – RESEX/Maracanã, portanto, neste item são apresentados aspectos gerais sobre essa reserva extrativista, sua delimitação geográfica e os motivos que levaram à sua criação. Em 13 de dezembro de 2002, o Governo Federal, através do Decreto S/N, criou a Reserva Extrativista Marinha Maracanã – RESEX/Maracanã (Foto 1), situada no Estado do Pará, assim chamada por situar-se no município do próprio nome e estar localizada em uma área de marinha, sendo de responsabilidade da União a administração da mesma. Sua área é de 30.018,88 ha, tendo como principais recursos os manguezais e a pesca artesanal. Como toda reserva extrativista, a RESEX/Maracanã tem seu próprio plano de uso, estabelecido em 08 de dezembro de 2005, e o seu objetivo maior é assegurar o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis, protegendo os meios de vida e a cultura da população extrativista local (MMA/IBAMA 2002). A Figura 3 apresenta a delimitação geográfica dessa reserva.

Foto 1 – Placa sinalizando o acesso à RESEX Marinha de Maracanã. 52

M

Figura 3 – Reserva Extrativista Marinha de Maracanã (PA)

53

O plano de uso da RESEX/Maracanã estabelece: as finalidades do plano; a responsabilidade pela sua execução; as intervenções nos ambientes que compõem a RESEX; as intervenções nos recursos naturais; as atividades de pesca permitidas; o licenciamento para o extrativismo; a fiscalização da reserva; as penalidades; a melhoria da qualidade de vida; disposições gerais sobre a RESEX. O conteúdo deste plano é apresentado no Anexo III, deste trabalho. Segundo informação fornecida pelo Sr. Flavio Cerezo (agosto/2007), funcionário do Centro Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável – CNPT/PA, a reserva foi criada porque havia indícios de degradação ambiental, principalmente nas áreas de mangues, e uma possível ocupação desordenada da praia da Marieta, na Ilha do Marco, por famílias vindas de outras regiões, em virtude das lindas praias existentes. Neste estudo, buscar-se-á enfatizar as relações específicas entre os moradores da Vila Mota, especialmente os que realizam as atividades de pesca e agricultura, com os ecossistemas, suas formas de produção, uso dos recursos naturais, o plano de uso da RESEX, assim como os impactos positivos e negativos no modo de vida da população local, em função da criação dessa RESEX.

4.4 Coleta de dados

O levantamento de dados foi realizado através de documentação direta e documentação indireta (MARCONI e LAKATOS, 1990). A documentação indireta consistiu de pesquisa documental e pesquisa bibliográfica (fontes secundárias), que compuseram o referencial teórico, bem como respaldaram os dados socioeconômicos utilizados nas análises propostas. A documentação direta refere-se ao levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorreram, neste caso, a Vila Mota. Foram feitas observações diretas no ambiente real, utilizando-se como principais instrumentos de coleta de dado, dois tipos de questionário, ambos semi-estruturados, contendo perguntas abertas e fechadas, aplicados um para os moradores da Vila Mota e o outro, para um informante-chave (ver anexos I e II). Para a aplicação desses questionários, foram necessários deslocamentos para o Município de 54

Maracanã, de uma equipe devidamente treinada, composta por dois alunos bolsistas do programa PIBIC JR8, sob a coordenação do autor do presente trabalho. A elaboração desse instrumento de coleta teve base nas hipóteses e objetivos propostos, considerando os seguintes aspectos: humanos (população, número de membros por família, faixa etária, atividades realizadas, organização social, etc.); culturais (expressões religiosas, lazer, festividades, etc.); de serviços (saúde e educação); infra-estruturais (transporte e comunicação, moradia, energia e abastecimento de água e saneamento); econômicos (atividades agroextrativistas e produtivas e comercialização da produção). Em relação aos aspectos geográficos (localização, clima, vegetação, solos, hidrografia, etc.), a base foi o Sócio-Econômico e Laudo Biológico das Áreas de Manguezal do Município de Maracanã (PA) (MMA/IBAMA/CNPT, 2000).

4.5 Amostragem

Os questionários elaborados foram aplicados em 72 famílias, correspondendo a uma amostra de 48% do total de famílias residentes na Vila Mota, estimado em 150 famílias. Procurou-se contemplar o maior número possível de unidades familiares, e cobrir a diversidade de sistemas de produção praticados na Vila Mota.

4.6 Tabulação e tratamento dos dados

Após a coleta de dados, estes foram categorizados e classificados, para um processo de tabulação, em planilhas eletrônicas, geradas através do programa EXCEL. Para auxiliar a análise dos dados e realização das devidas interpretações, foram empregadas técnicas de estatística descritiva (distribuição de freqüências e elaboração de gráficos).

4.7 Análise dos dados

Para a identificação dos elementos necessários à verificação das hipóteses formuladas, foi adotado o método de estudo de caso, tratando-se de uma pesquisa de campo com natureza fundamentalmente quantitativa-descritiva. A discussão dos dados foi realizada a partir de um

8 Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, viabilizado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia – SEDECT do Estado do Pará. 55

diagnóstico socioeconômico da Vila Mota, através do qual foi possível identificar fatores limitantes e potencializadores para o desenvolvimento da referida Vila, bem como inferir sobre as condições de vida locais.

4.7.1 Condições de vida local

Para embasar a discussão sobre desenvolvimento local e condições de vida da população investigada, foi feita uma análise preliminar de alguns aspectos que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e suas variantes, no caso, o Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M) e o Índice de Condições de Vida (ICV), sendo este uma extensão do IDH-M. No presente estudo, com algumas limitações, buscou-se aplicar a metodologia do IDH-M para as condições da Vila Mota. O cálculo do IDH envolve a estimativa da expectativa de vida ao nascer, nível de instrução e nível de renda, a partir de índices de longevidade, educação e renda, que podem variar entre 0 (pior) e 1 (melhor). A combinação destes índices, ponderados igualmente, gera um indicador síntese, e, quanto mais próximo de 1, maior será o nível de desenvolvimento humano do país ou região (BNDES, 2000). No caso de análise comparada entre indicadores, pode-se considerar as categorias estabelecidas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/IPEA/FJP (1998): 0 ≤ IDH < 0,5  Baixo desenvolvimento humano 0,5 ≤ IDH < 0,8  Médio desenvolvimento humano 0,8 ≤ IDH < 1  Alto desenvolvimento humano Para melhor expressar a desagregação dos dados, no nível local (estados, municípios e microrregiões), foram estabelecidas 9, em 1996, as variantes do IDH, que são o Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M) e o Índice de Condições de Vida (ICV). O ICV é uma extensão do IDH-M, que incorpora, além das dimensões longevidade, educação e renda, as dimensões infância e habitação, todas com a mesma ponderação. Os valores-limites para a classificação desses índices são equivalentes aos parâmetros utilizados para o IDH. Para Herculano (1998): [...] essa ênfase no micro é muito importante, pois possibilita tomar medidas contra a estratificação espacial, o que repercutirá na luta contra a desigualdade sócio-econômica, bem como para salientar a necessidade de

9 Em 1996, a Fundação João Pinheiro, associada ao IPEA, adaptaram a metodologia do PNUD para os municípios. 56

políticas preservacionistas. Até aqui, a noção equivocada do que é qualidade de vida tem sido eminentemente metropolitana e, neste sentido, as políticas de desenvolvimento local entre nós têm provocado uma razzia nas amenidades locais e a expulsão de sua população, caracterizando verdadeiras guerras de ocupação. Um IQV local contribuirá para nortear políticas locais, em um esquema comparativo da alocação de recursos (HERCULANO, 1998, p.82). Nesta pesquisa, não será calculado o IDH-M para Vila Mota. Porém, para o cálculo de alguns indicadores e índices que compõem o IDH, será adotada a metodologia utilizada pelo PNUD/IPEA/FJP (1998), apresentada a seguir, com algumas adaptações, em função da disponibilidade de dados sobre a população da referida Vila.

4.7.1.1 Longevidade

De acordo com o PNUD (1990), a dimensão longevidade busca sintetizar “as condições de saúde e salubridade local, uma vez que quanto mais mortes houver nas faixas etárias mais precoces, menor será a expectativa de vida observada no local”. Para a dimensão Longevidade , dois indicadores podem ser utilizados como proxy para a avaliação das condições de saúde: a taxa de mortalidade infantil – TMI e a esperança de vida ao nascer – eo” (PNUD/IPEA/FJP, 1998). A TMI (probabilidade de uma criança morrer antes de completar o primeiro ano de vida, expresso por mil crianças nascidas vivas) é considerada o mais significativo desses indicadores, pois reproduz, de certa forma, as condições socioeconômicas da área geográfica de referência do recém-nascido. De acordo com PNUD/IPEA/FJP (1998): [...] Quanto mais desenvolvida uma região, mais a mortalidade infantil se relaciona a causas endógenas, determinadas pelos riscos de mortalidade neo-natal (primeiros 28 dias de vida). Nas regiões menos desenvolvidas, além das causas endógenas, acrescentam-se, de forma determinante e inversamente proporcional, as causas exógenas, cujos principais exemplos são a desnutrição e as doenças infecciosas e respiratórias (PNUD/IPEA/FJP,1998, p.15).

Já a esperança de vida (número médio de anos que as pessoas viveriam, a partir do nascimento) tem a característica de ser uma medida resumo e pode ser considerada indicador de Longevidade , pois sintetiza, em uma única medida, o nível e a estrutura de mortalidade de uma população. Neste estudo, não foi possível estimar tais indicadores, devido à dificuldade na obtenção de dados mais consistentes que pudessem refletir a longevidade na Vila Mota, 57

conforme a metodologia acima referida. Entretanto, através de uma análise qualitativa, pode- se inferir sobre fatores que interferem nas condições de saúde e salubridade local, sendo estes: assistência médica, programas de prevenção de doenças, alimentação saudável e saneamento básico.

4.7.1.2 Educação

Para a dimensão Educação , no estudo do PNUD/IPEA/FJP (1998), são sugeridos vários indicadores, dentre os quais se destacam: a taxa de alfabetização (A) de pessoas acima de 15 anos de idade, com peso 2, e a taxa bruta de freqüência à escola (F), com peso 1. A taxa de alfabetização resulta da divisão entre o número de pessoas do município com mais de 15 anos de idade capazes de ler e escrever um bilhete simples (ou seja, adultos alfabetizados) e o número total de pessoas com mais de 15 anos de idade residentes no município.

A = (Nº de pessoas alfabetizadas > 15 anos) ÷ (Total de pessoas > 15 anos) (1)

Algumas análises são realizadas considerando-se a taxa de analfabetismo que é calculada diminuindo-se a taxa de alfabetização da unidade. O segundo indicador (taxa bruta de freqüência à escola) resulta do somatório do número de indivíduos residentes no município que estão freqüentando a escola, independentemente da idade, dividido pela população residente no município, na faixa etária de 7 a 22 anos de idade.

F = (Nº de pessoas que freqüentam a escola) ÷ (População na faixa etária de 7 a 22 anos) (2)

A expressão abaixo fornece a estimativa do índice de desenvolvimento humano, em relação à dimensão educação.

IDHM- E10 = [(A x 2) + (F x 1)] / 3 (3)

10 Disponível em: . Acesso em: 16/02/2008. 58

O resultado obtido a partir da expressão (3) é comparado aos valores estabelecidos pelo PNUD (1990), para as categorias de baixo, médio e alto desenvolvimento humano, mostrados anteriormente.

4.7.1.3 Renda

Para o cálculo do IDHM-Renda, o Produto Interno Bruto per capita é sugerido pelo PNUD (1990). Porém, com o objetivo de melhor caracterizar as reais possibilidades de consumo da população local, optou-se por substituir este indicador pela renda familiar per capita do município. Neste caso, são pesquisados os rendimentos de cada pessoa de uma mesma família. Esses rendimentos são somados (obtendo-se a renda familiar ) e o montante é dividido pelo número total de pessoas que compõem a família (obtendo-se a renda familiar per capita ). Desta forma, todas as pessoas de uma mesma família entram na distribuição de renda com o mesmo valor de rendimento. No estudo do PNUD/IPEA/FJP (1998, p.25), recomenda-se que, “se o objetivo é retratar as condições de vida da população de um município ou região, em termos de nível de renda, desigualdade e pobreza”, pode-se adotar a renda familiar per capita média como conceito de renda, membros de famílias em domicílios particulares como universo de análise, e pessoas como unidade de análise. De acordo com o PNUD/IPEA/FJP (1998): “No conceito de renda familiar per capita , a família é vista, portanto, como uma unidade solidária de consumo e rendimento, pressuposto bastante justificável se consideramos que ocorrem de fato redistribuições de renda dentro da mesma família que tendem a igualar o consumo ou as condições de vida de seus membros. Neste sentido, o conceito adotado parece ser mais adequado que o de renda pessoal, segundo o qual tais transferências intrafamiliares não ocorrem e cada pessoa entra na distribuição com seu rendimento declarado. O conceito de renda familiar per capita é também mais adequado que o conceito de renda domiciliar per capita [...], uma vez que é menos plausível que ocorram transferências entre pessoas de famílias diferentes morando no mesmo domicílio” PNUD/IPEA/FJP (1998, p.27).

A análise da evolução do nível de renda per capita e de pobreza de uma determinada região é mais complexo e requer uma metodologia específica para a transformação de valores correntes em valores constantes em relação à uma data de referência PNUD/IPEA/FJP (1998). Diante disso e, considerando-se o nível de informações obtidas sobre os rendimentos

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monetários das famílias entrevistadas na Vila Mota, optou-se por uma análise comparativa da renda familiar per capita média versus os valores apresentados através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD (2004).

4.7.1.4 Habitação

A análise das condições de vida na Vila Mota, em relação à dimensão Habitação , segue, com algumas adaptações, os indicadores do ICV-Habitação do PNUD/IPEA/FJP (1998), transcritos a seguir.

Porcentagem da população que vive em domicílios com densidade acima de duas pessoas por dormitório

No cálculo da densidade do domicílio, considera-se o número de dormitórios potenciais como sendo igual ao número total de cômodos, menos dois (destinados, presumivelmente, à cozinha e banheiro). Portanto, a densidade do domicílio, D, será dada pela expressão D = N / (C-2) , quando o número de cômodos for maior do que 2, onde N é o número de pessoas do domicílio e C, o número de cômodos do domicílio.

Porcentagem da população que vive em domicílios duráveis

Neste caso, são considerados duráveis os domicílios em que pelo menos dois de três componentes da habitação (cobertura, paredes e piso), são constituídos de materiais duráveis.

Porcentagem da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água

Para o cálculo deste indicador, considera-se adequado o abastecimento através de rede geral com canalização interna ou através de poço ou nascente, com canalização interna.

Porcentagem da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto

Este indicador diz respeito aos domicílios com instalações sanitárias não compartilhadas com outro domicílio e com escoamento através de fossa séptica ou rede geral de esgoto. 60

4.7.2 Análise de fatores que interferem no desenvolvimento local

Para efeito de análise de fatores que interferem no desenvolvimento local na Vila Mota, foram adotados, com as devidas adaptações, os critérios estabelecidos por Bittencourt et. al. (1998), em estudo comparativo sobre o desenvolvimento de projeto de assentamentos de reforma agrária, em diversos municípios do Brasil. Nesse estudo, o autor baseia-se nos objetivos e princípios da Reforma Agrária, que, além de viabilizar a distribuição da terra, através dos projetos de assentamentos, busca disponibilizar o acesso a políticas de infra-estrutura básica e agrícolas que permitam a implantação de um sistema produtivo viável, e o acesso a benefícios sociais, que promovam a justiça social e a cidadania. Isto significa dizer que as famílias precisam dispor dos meios de produção e de transformação que lhes proporcionem o autoconsumo e renda monetária (BITTENCOURT et al., 1998, p.8). Uma forma de verificar se esses objetivos e princípios são observados é analisar as condições de vida nas quais os assentados efetivamente se encontram, em relação a fatores que podem afetar o seu desenvolvimento. Bittencourt et al. (1998, p.61) apontam um conjunto de fatores centrais que interferem diretamente no desenvolvimento dos projetos de assentamentos, e que podem agir em graus diferenciados de acordo com as diferentes realidades apresentadas. Ressalta que “o nível de interação entre estes é que determina o desenvolvimento sócio- econômico dos assentamentos de reforma agrária”. Bittencourt et al. (1998), no estudo acima referido, dentre uma amostra de 20 projetos de assentamentos, relacionaram, com base na situação socioeconômica, os mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos. A partir disso, analisaram as características dos fatores centrais que poderiam afetar o desenvolvimento desses PA’s, classificando-os como restritivos ou potencializadores para tal desenvolvimento. Os fatores analisados são transcritos a seguir.

O quadro natural Englobando a qualidade físico-química dos solos, a disponibilidade de água, a freqüência das chuvas e o relevo, tem sido um fator relevante para determinar o nível de desenvolvimento dos assentamentos. Além de ser considerado como pré-condicionante para um maior êxito dos projetos de assentamentos (PA’s), o quadro natural também interfere significativamente no nível de renda dos assentados no interior de um mesmo PA.

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Origens e formas de ocupação A origem está relacionada às condições de vida anteriores ao assentamento – local de moradia (rural ou urbana) e ao tipo de atividade econômica ou trabalho desenvolvido (agrícola ou não). A forma de ocupação é o modo como ocorreu o processo de acesso à terra: houve ou não um processo de mobilização social, e como se deu a ação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.

O Contexto sócio econômico do entorno do assentamento É considerada entorno sócio-econômico do assentamento a região ou microrregião onde o PA está localizado. Em relação à presença de agroindústria, o raio de ação considerado como pertencente ao entorno está diretamente relacionado ao tipo de atividade desenvolvida e ao seu alcance.

A infra-estrutura básica e os serviços sociais A infra-estrutura básica engloba as estradas para escoamento da produção, a disponibilidade de água, o acesso à energia elétrica e a habitação. Como serviços sociais, são considerados o acesso e a qualidade na área da saúde e da educação.

Os sistemas de produção agropecuária e a infra-estrutura produtiva Considera-se sistema de produção o conjunto das atividades desenvolvidas por um agricultor e as suas inter-relações produtivas, e estas com as tecnologias e a mão-de-obra utilizada. Como infra-estrutura produtiva entendem-se as máquinas, equipamentos e instalações utilizadas diretamente na produção.

A Organização e as estruturas produtivas A organização e as estruturas produtivas são entendidas como as diversas formas organizativas e estruturas que os agricultores assentados criaram, para estruturar a produção, beneficiamento, industrialização e comercialização dos seus produtos.

O crédito rural Foram considerados neste item, além dos créditos específicos para a Reforma Agrária, como o Procera custeio e investimento, crédito fomento e alimentação, os demais créditos produtivos a que os assentados tiveram acesso, tais como o Pronaf, créditos normais regulados 62

pelo MCR (Manual de crédito rural), PAPP (Programa de Apoio ao Pequeno Produtor), Fundos Constitucionais e outros programas estaduais de crédito e/ou desenvolvimento rural.

A assistência técnica Consideram-se neste item as relações existentes entre técnicos e assentados, independente das instituições envolvidas. Além disso, as tecnologias tratadas, a prestação de serviços e as relações com os assentados e suas organizações. A organização política e as relações institucionais A organização política engloba desde a participação em organizações associativas de representação interna ao assentamento, até o vínculo com outros movimentos sociais mais amplos, como CPT, STR e MST. As relações institucionais são aquelas mantidas entre os PA’s com os três níveis de governo, através dos poderes executivos e legislativos.

A renda agrícola e monetária A renda familiar dos agricultores engloba a renda monetária obtida com a produção agropecuária, o valor da produção destinada ao autoconsumo e a oriunda de fontes externas à unidade de produção, como aposentadoria, venda de serviços, agrícolas ou não, etc.. A renda agrícola é a soma da produção consumida pela família com a renda monetária da produção.

A diferenciação interna entre os assentados Este item refere-se à diferenciação sócio-econômica observada entre as famílias no interior de um assentamento. Apesar de todos os assentados de um mesmo PA receberem os mesmos recursos produtivos (terra, crédito, assistência técnica) e estarem situados na mesma microrregião, o que significa estarem normalmente sujeitos às mesmas condições climáticas, a diferenciação está presente e amplia-se ao longo do tempo.

No caso da Vila Mota, que é uma comunidade tradicional pesqueira, localizada na costa atlântica paraense, os fatores acima foram analisados, considerando-se as especificidades locais, bem como a limitação em termos de levantamento de dados.

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5 RESULTADOS

5.1 Aspectos Humanos

A estrutura familiar em Vila Mota tende a ser constituída por famílias com mais de 4 pessoas. Na Tabela 1, verifica-se que 49,9% das famílias são compostas por mais de quatro pessoas; 43,1% têm entre 3 e 4 membros por família, e apenas 7%, têm o núcleo familiar composto por uma única pessoa. Portanto, 49,9% das famílias extrapolam a média adotada pelo PNAD (2006), que aponta para a Região Norte, uma média de 4 pessoas por família.

Tabela 1 – Número de membros, por família na Vila Mota Nº de membros/ Número de % em relação ao família famílias total 1 5 7,0 2 4 5,5 3 11 15,4 4 16 22,2 5 10 13,9 6 9 12,5 7 7 9,7 8 3 4,2 9 6 8,4 11 1 1,2 Total 72 100,0

No que diz respeito à origem das famílias, Vila Mota é uma comunidade de filhos da terra . De fato, apenas 2,78% das famílias vieram de outros Estados, sendo que Vila Mota contribui com 48,61% do total de chefes de família computados. O município de Salinópolis é responsável por 22,22% dessa migração, e 13,89% dos chefes de família, migraram de outras localidades do próprio município de Maracanã (figuras 4 e 5). Esta situação demonstra que, embora localizada na região amazônica, considerada uma ampla região de colonização, Vila Mota já se encontra em situação de estabilidade em termos de migração e, mais que isso, podemos pensar em uma população com conhecimento, domínio e relações próprias do meio em que vive e explora.

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Figura 4 – Origem dos chefes de família na Vila Mota

Munic ípios de origem

Figura 5 – Percentual dos chefes de família na Vila Mota, por local de origem.

Em relação ao período de chegada na Vila Mota, verifica-se que, embora as primeiras famílias tenham se instalado a partir da década de 1920, o maior fluxo migratório ocorreu na primeira metade da década de 1980 (figura 6). Os motivos que levaram essas pessoas a migrarem para a Vila Mota não foram esclarecidos. Porém, na opinião do Sr. José Luiz (informante chave), uma das possíveis causas pode ter sido a implantação do ensino fundamental de 5ª a 8ª séries, na escola municipal José de Paiva Osório, que não havia na maioria das localidades vizinhas. Outro aspecto abordado por esse informante é o fato de que alguns agricultores que produziam mandioca em localidades próximas tiveram problemas na 65

produção agrícola (pragas) e, tendo parentes na Vila Mota, resolveram se transferir para essa vila.

Período de imigração

Figura 6 – Percentual de imigrantes, por período de imigração, na Vila Mota

A distribuição da população da Vila Mota, segundo a faixa etária, pode ser observada na figura 7, demonstrando se tratar de uma população jovem, onde 81,9% dos moradores têm idade inferior a 45 anos. Considerando ainda que o potencial de trabalho estaria a partir dos 15 anos, indo até 60 anos, podemos dizer que Vila Mota está no auge de sua vida ativa, com 65,18% de sua população apta a desenvolver, com satisfação, suas atividades produtivas. Ou seja, teoricamente, mão-de-obra não deveria ser um fator limitante para que as famílias desenvolvam suas atividades e consigam se manter e reproduzir socialmente. Por outro lado, estes dados nos indicam duas situações: a primeira é a de que as políticas públicas para Vila Mota deveriam levar em conta os anseios dos jovens; a segunda, de que o conhecimento da principal atividade desenvolvida está concentrada nas mãos de poucos, ao considerarmos que o saber-fazer se desenvolve e se acumula com a experiência e com avançar da idade.

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Faixa etária

Figura 7 – Faixa etária da amostra populacional

Em termos de gênero, a amostra populacional da Vila Mota apresenta equilíbrio. As análises apontam um percentual de 52% de homens e 48% de mulheres, sendo que ambos os sexos estão concentrados na faixa etária compreendida entre 15 a 30 anos. Observando-se a figura 8, na faixa etária mais jovem, de 0 a 15 anos, os homens são em quantidade maior e, na faixa etária composta por pessoas com idade entre 45 e 60 anos, as mulheres predominam. Mas no geral, em todas as faixas etárias há equilíbrio entre os sexos.

Faixa etária

Figura 8 – Faixa etária, distribuída por sexo, na Vila Mota 67

Ao analisarmos as principais atividades realizadas na Vila Mota, e a distribuição dessas atividades por faixa etária (figura 9 e tabela 2), observamos que 30,92% da população amostral se dedica somente ao estudo, sendo a concentração dessa atividade na faixa etária de 10 a 15 anos. A segunda maior parcela é referente à atividade da pesca, realizada por 22,01% do total analisado, concentrando-se entre 35 a 40 anos. A terceira atividade que apresentou maior freqüência observada refere-se aos serviços domésticos, cabendo um percentual de 16,71%, cuja faixa etária de concentração é de 30 a 35 anos.

Figura 9 – Principais atividades realizadas na Vila Mota, Maracanã(PA).

Tabela 2 – Distribuição da população amostral, em relação à faixa etária e à atividade desenvolvida

Pes ca / Func. Serv . Ativ. Nã o nº Faixa Etária Pesca Pes/Est Agricult Aposent Estuda agric Púb Dom Infor realiza pessoas 0 a 5 anos 9 14 23 5 a 10 anos 1 1 16 3 21 10 a 15 anos 2 2 43 2 49 15 a 20 anos 5 1 1 8 30 8 53 20 a 25 anos 10 1 3 1 9 7 6 2 39 25 a 30 anos 12 4 2 2 6 2 28 30 a 35 anos 12 1 2 10 2 3 30 35 a 40 anos 14 7 7 1 2 1 32 40 a 45 anos 9 2 1 2 4 3 21 45 a 50 anos 3 1 5 1 10 50 a 55 anos 2 1 9 0 12 55 a 60 anos 6 1 1 1 9 60 a 65 anos 3 2 5 10 > 65 anos 1 1 1 18 1 22 79 6 4 6 16 60 23 111 22 32 359

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5.2 Participação em associações e sindicatos

O percentual de famílias que participam de algum tipo de associação ou sindicato é de aproximadamente 42%, conforme ilustrado na figura 10. A participação ocorre através do chefe de família, em reuniões que, segundo os próprios moradores, não são freqüentes e não são realizadas na comunidade, e sim, nos municípios de Salinópolis e/ou Maracanã. O principal motivo que leva as famílias a participarem dessas organizações é o apoio à aposentadoria. Os assuntos mais discutidos em reuniões, registrados pelas famílias entrevistadas, são: orientação à pesca e à agricultura, empréstimo bancário e aposentadoria. Apesar de a maior parte das famílias não participar diretamente em associações e/ou sindicatos, podemos considerar que Vila Mota é uma comunidade organizativa, pois mesmo as reuniões não sendo realizadas na comunidade, o que poderia ser considerado um obstáculo a uma maior participação, 42% das famílias participam. Além disso, deve-se levar em conta o fato de se tratar de um população jovem, o que pode também influenciar nas decisões de participar ou não de associações, quando o maior interesse é o da aposentadoria.

Figura 10 – Participação das famílias em algum tipo de associação e/ou sindicato

Das famílias que declararam fazer parte de uma organização, 83% são associadas à Colônia de Pescadores Z-29, que pertence ao município de Salinópolis, 10% participam do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Maracanã, 3% fazem parte do Sindicato dos Trabalhadores do Estado do Pará e 3% participam da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã – AUREMAR (figura 11). Salienta-se o fato da baixa participação na Associação AUREMAR, pois sendo uma RESEX, seria importante que as famílias acompanhassem as principais decisões tomadas, e se apropriassem das discussões que envolvem diretamente seus direitos de ususfruir dos recursos 69

naturais que as sustentam. Igualmente seria o espaço onde as informações sobre apoios (créditos e outros) que podem ser acessados pelos moradores da RESEX.

Nº famílias

Figura 11 – Participação das famílias da Vila Mota em organizações sociais

Na Vila Mota, não há cooperativas, sindicatos ou associações, criadas pelos próprios moradores, nem mesmo para garantir apoio à principal atividade produtiva dessa Vila, que é a pesca artesanal.

5.3 Aspectos Culturais

As festas de cunho religioso são tradicionalmente organizadas pela população, como as festividades de Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 de dezembro, considerada pelos moradores como a padroeira da Vila, e a de São Pedro, 29 de junho, que é uma homenagem dos pescadores a esse santo. São realizadas procissões, arraial e novenas. Nessas festividades, são realizados desfiles de miss, regatas de canoa à vela e outras competições, com prêmios. As quadrilhas juninas e o boi-bumbá são outras manifestações culturais na Vila Mota, que ocorrem no mês de junho. Nestas manifestações, normalmente as crianças e os jovens se reúnem para ensaiarem danças folclóricas do Estado do Pará, e apresentam para a comunidade. 70

No artesanato, destacam-se a construção de instrumentos para a captura do pescado, como tarrafas e currais, normalmente realizados pelo homens, e o aproveitamento da casca do cernambi para a fabricação de pequenos adornos e objetos decorativos. A Secretaria Municipal de Cultura do Município de Maracanã – SEMEC, segundo o informante chave, está fomentando feiras e exposições de produtos artesanais fabricados pelas diversas comunidades do município, e a Vila Mota tem participado desses eventos com a apresentação de artesanato desenvolvido por jovens e mulheres.

5.3.1 Expressões religiosas

Como resultado da pesquisa de campo realizada na Vila Mota, foram identificadas três religiões: Católica, Assembléia de Deus e Adventista da Promessa. Destas, a religião mais praticada na Vila é o Catolicismo, com 60% dos entrevistados, seguida da Assembléia de Deus, com 19%, e Adventista da Promessa, com 13%. 8% declarou não professar nenhuma religião. Segundo o informante-chave, professor José Luis Gomes, cada religião tem seu próprio templo (fotos 2 a 4), e a relação entre membros das diferentes religiões é harmoniosa. Todavia, há uma interação maior entre os membros da religião Católica e da Assembléia de Deus, principalmente, no que diz respeito às atividades em prol da Vila, como, por exemplo, os mutirões de limpeza e outros. Outro fator importante na relação das religiões, é que mesmo os que não são adeptos do catolicismo freqüentam a igreja, nos períodos de festividades. Os representantes da Igreja Católica têm promovido eventos que conseguem mobilizar um grande número de habitantes da Vila Mota e localidades vizinhas, o que indica um bom potencial organizativo da comunidade, em se tratando de assuntos de seu interesse. Os principais eventos são as festividades de São Pedro, no mês de junho, e de Nossa Senhora da Conceição, no mês de dezembro . Tal fato contribui para o fortalecimento de redes sociais, o que favorece a troca de informações referentes às questões gerais da comunidade, incluindo diversos assuntos, como comercialização do pescado, organização da produção, educação, lazer e outros.

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Foto 2 – Igreja Católica Nossa Foto 3 – Templo Evangélico da Foto 4 – Templo Evangélico Senhora da Conceição Assembléia de Deus Adventista da Promessa

Percebe-se, pela infra-estrutura da igreja e dos templos, a importância dada para os aspectos religiosos, assim como a capacidade de mobilização da comunidade para obter este tipo de estrutura.

5.3.2 Lazer

De acordo com as entrevistas realizadas, verificou-se que as principais formas de diversão da população da Vila Mota são o futebol e os banhos de praias e igarapés, praticados, principalmente, aos finais de semana (foto 5). A população se queixa da falta de espaços adequados para o lazer, como, por exemplo, quadra de esporte polivalente, praças e uma sede social para eventos.

Foto 5 – Principais formas de lazer na Vila Mota: banhos e jogo de futebol.

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5.4. Serviços e infra-estrutura

5.4.1 Saúde

A Vila Mota tem um posto de saúde, com boa estrutura física, e o serviço é realizado por uma enfermeira, que é deslocada do Município sede (Maracanã). Ela mora no próprio posto, e atende à população, de segunda à sexta-feira. Esse serviço é auxiliado por uma Agente Comunitária de Saúde – ACS, residente na Vila Mota, que visita as residências, fazendo prevenção de doenças (epidemias). No posto de saúde (foto 6), o atendimento é precário, pois, segundo os moradores, além de não funcionar nos finais de semana, a escassez de remédios é uma constante e não há equipamentos para urgência e emergência. Os casos mais freqüentes atendidos no posto de saúde são gripe, febre, diarréia e pequenos curativos. As crianças são quem mais adoece. Algumas crianças são levadas ao posto, e quando há distribuição gratuita de remédio, o tratamento é realizado com estes, se não, as pessoas cuidam em casa, utilizando chás de ervas e soro caseiro. Nos tratamentos mais sérios, a população desloca-se para os municípios de Salinópolis, Capanema e Belém. Os partos são, em sua maioria, realizados no hospital de Salinópolis. Entretanto, por não existirem ambulâncias ou ambulancha, esses deslocamentos se tornam difíceis, devido às condições das estradas e, no caso do transporte hidroviário, depende dos horários da maré e das condições climáticas. Quando não é possível esse deslocamento, as mulheres recorrem aos serviços de parteiras. Outro problema sério destacado pelo informante-chave foi a falta de um cemitério na Vila, sendo que a maioria dos mortos é enterrada em Salinópolis.

Foto 6 – Posto de Saúde da Vila Mota. 73

5.4.2 Educação

Segundo o informante chave, Sr. José Luiz, a única escola da Vila Mota foi fundada em 08 de abril de 1946, sendo, atualmente, denominada Escola de Ensino Fundamental e Médio José de Paiva Osório. Sua primeira professora foi a Sra. Ana Ferreira Monteiro. Hoje essa escola funciona em uma construção de alvenaria, construída pela Prefeitura de Maracanã, e que atende alunos do Pré-Escolar ao Ensino Médio, bem como uma turma de Educação de Jovens e Adultos – EJA (foto 7). O ensino Pré-Escolar é realizado somente pela manhã, com uma única turma; o Ensino Fundamental se dá pela manhã e à tarde, nas séries de 4ª a 8ª, com uma turma de cada; o Ensino Médio é oferecido para duas turmas à tarde e uma pela parte da noite. A turma do EJA tem seu curso no período noturno.

Foto 7 – Escola de Ensino Fundamental e Médio José de Paiva Osório – Vila M

Existem aproximadamente 200 alunos matriculados, dentre eles alunos de outras comunidades vizinhas. Há um ônibus, pago pela Prefeitura de Maracanã, para transportar os alunos de outras localidades até à escola da Vila Mota. Segundo o Sr. José Luiz (informante chave), que já exerceu, no passado, a direção da escola, a evasão escolar é muito baixa, e quando ocorre, em sua maioria, é devido à transferência da família, para outras localidades. Segundo esse informante, o programa Bolsa-Escola, do Governo Federal, tem contribuído para a permanência dos alunos na escola. Na Vila Mota, não há falta de vagas. Ainda não houve registro de alunos que ficaram sem estudar por limitação de vagas. Quanto à merenda escolar, não é suficiente, e, em alguns meses do ano, inexiste. Para o Sr. José Luiz, o que a escola da Vila Mota precisa, entre outros aspectos, é de equipamentos (computadores, TV’s, vídeos), para melhorar o nível das aulas, bem como de uma atualização para a biblioteca. 74

A figura 12, a seguir, mostra o percentual da população de Vila Mota, por nível de escolaridade, que engloba os alfabetizados e não alfabetizados, bem como os ensinos Pré- Escolar, Fundamental, Médio e Superior.

Figura 12 – Nível de Escolaridade na Vila Mota

Observa-se que, no geral, o nível de escolaridade de Vila Mota é bom, com mais de 50% da população com situação de ter alcançado pelo menos a 5ª série, até pessoas que concluíram curso superior. Justamente, a faixa que concentra o maior número de pessoas é o do ensino de 5ª a 8ª séries incompleto, correspondendo a um percentual de 23,96%. Porém, quando se considera a faixa etária, verifica-se que, desse total, 48% das pessoas têm mais de 20 anos, e já não estão mais na escola, significando que dificilmente irão prosseguir nos estudos. O segundo nível de escolaridade que concentra o maior percentual é o do ensino de 1ª a 4ª séries, incompleto. Neste caso, considerando-se também a faixa etária da população analisada, o percentual de pessoas que está acima dos 20 anos é de 56%. Estas situações demonstram que, apesar de haver na Vila Mota oferta de Ensino Médio e apresentar um bom índice de escolaridade com 50% da população tendo da 5ª série até curso superior, ainda há uma boa parcela das pessoas que seguem nos estudos somente até o Ensino Fundamental. Da mesma forma, o índice de não alfabetizados, de 13% é alto para a situação de oferta de educação na Vila, a qual compreende Ensino Fudamental, Médio e programas vinculados ao PRONERA, como o EJA. Ressalta-se, porém, que 38% destes, na verdade, 75

ainda não atingiram a idade escolar, encontrando-se na faixa etária abaixo de 5 anos, não podendo desta forma, ser considerados realmente analfabetos. Atenção especial deve ser dada a 8,5% dos considerados analfabetos, que se encontram em idade escolar (entre 5 e 15 anos) e, no entanto, não estão estudando. Também poderíamos nos interrogar sobre o motivo de os 53% que se encontram na faixa etária, que vai de 15 a 65 anos, não estarem participando de nenhum programa de alfabetização. Ou seja, as possibilidades para erradicar o analfabetismo na Vila existem, mas, se a situação permanece, as razões estão fora das questões comumente levantadas, como a falta de infra-estrutura e profissionais da área.

Tabela 3 – Distribuição do nível de escolaridade, por faixa etária, na Vila Mota

Faixa Não 1 a 4 1 a 4 5 a 8 5 a 8 Med. Med. Sup. Sup. Pré - Nº Alfa etária Alfa inc comp inc comp Inc Comp Inc Comp esc. pessoas 0 a 5 1 18 5 24 5 a 10 2 12 6 20 10 a 15 2 12 4 26 2 2 48 15 a 20 1 1 2 19 5 21 4 53 20 a 25 2 2 13 2 11 8 2 40 25 a 30 2 2 3 5 3 3 10 28 30 a 35 1 4 3 7 8 3 3 1 30 35 a 40 3 10 3 9 4 1 3 33 40 a 45 1 1 5 2 3 1 19

45 a 50 2 3 3 1 1 12 50 a 55 4 2 5 1 12 55 a 60 2 4 2 1 9 60 a 65 1 7 1 1 10 > 65 1 8 8 2 1 1 21 2 47 72 36 86 26 42 30 4 3 11 359

5.4.3 Abastecimento de água e saneamento

A Vila Mota é dotada de duas caixas d’água para o abastecimento de água potável (Foto 8). A maioria das residências (91%) tem água encanada, sendo que 9% ainda não possui o sistema de encanamento. Neste caso, as famílias utilizam poços artesianos instalados nos quintais das residências vizinhas. Das 72 famílias entrevistadas, 48% (35 famílias) declararam que não costumam filtrar a água para consumo.

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Foto 8 – Caixas d’água na Vila Mota

A Vila Mota não tem sistema de tratamento de esgoto nem coleta de lixo. Este costuma ser queimado, ou enterrado nos quintais das próprias residências. Fez-se o registro de duas famílias que têm a fossa construída próxima ao poço artesiano. Tal fato é preocupante, porque essa proximidade pode ser uma fonte de contaminação da água utilizada para consumo.

5.4.4 Moradia Os tipos de residências existentes na Vila Mota, conforme as pesquisa realizadas, são: 62% de alvenaria, 19% de madeira, 13% de taipa, 3% de miriti e 3% do tipo mista, composta de madeira e alvenaria (figura 13). Estes índices demonstram que, no aspecto condições da moradia e durabilidade delas, Vila Mota apresenta um bom índice. Apenas 16% das casas são compostas por materiais de menor durabilidade (taipa e miriti). Entretanto, apesar de exigir maior cuidado e reformas ao longo do tempo, as casas de taipa e de miriti seriam mais adequadas ao clima, pois são mais frescas, colaborando com uma melhor qualidade de conforto de temperatura ambiente, para os moradores. A maioria das casas foi construída por pessoas que moram na própria comunidade, sendo que grande parte do material utilizado na construção vem de fora da Vila. Alguns exemplos são mostrados nas fotos de 7 a 12, onde percebemos que, no geral, o estado das casas é bom, não apresentando avarias nem sinais de deterioração.

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Figura 13 – Percentuais do tipo de moradia na Vila Mota

Após a criação da RESEX Marinha de Maracanã, à qual Vila Mota pertence, o Governo Federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, iniciou, no ano de 2005, um cadastro de moradores na Vila Mota, para a construção de casas de alvenaria, composta por 2 quartos, 1 banheiro e 1 sala/cozinha, como mostra a foto 12. Para fazer parte desse cadastro, os moradores devem ter pelo menos 5 anos de residência, não ser funcionário público, e deve desempenhar alguma atividade produtiva (pesca e/ou agricultura) na comunidade. Até 2007, 14 famílias haviam sido beneficiadas com este crédito e há uma previsão de atender 33 famílias, conforme o segundo cadastro realizado. Observa-se que a arquitetura das casas oferecidas pelo INCRA, possui um único padrão, mais simples que as casas de alvenaria existentes na Vila Mota. Aspectos como concepção de telhado, dimensão dos quartos e posicionamento de portas e janelas, formam um modelo antigo de construção de casas. Durante o período desta pesquisa, foram registradas 14 famílias beneficiadas com esse tipo de moradia e com um crédito apoio não reembolsável, no valor de R$2.400,00, em forma de bens (geladeira, fogão, freezer, entre outros), retirados em lojas credenciadas pelo INCRA.

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Foto 9 – Residência de miriti Foto 10 – Residência de taipa com cobertura de palha

Foto 12 – Residência de taipa com cobertura Foto 11 – Residência de madeira de telhas cerâmicas.

Foto 13 – Residência de alvenaria Foto 14 – Modelo de residência do INCRA - Alvenaria

Na tabela 4, pode ser observada a distribuição das famílias residentes na Vila Mota, em relação ao número de membros, por família, e o número de cômodos disponíveis, por 79

residência. Verifica-se que 53% das famílias entrevistadas residem em casas compostas de 3 a 5 cômodos.

Tabela 4 – Distribuição das famílias da Vila Mota, em relação ao número de pessoas na família, e número de cômodos na residência

NÚMERO DE NÚMERO PESSOAS NA FAMÍLIA Total CÔMODOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 1 1 2 2 1 2 2 1 2 8 3 2 2 4 5 1 1 1 1 3 0 0 20 4 1 1 2 5 4 3 1 2 1 20 5 1 1 3 3 1 3 1 13 6 1 1 1 2 5 7 1 1 1 3 8 0 9 0 10 0 11 1 1 Total 4 4 11 16 10 10 6 3 7 0 1 72

Quanto à posse dos terrenos, verificou-se que das 72 famílias pesquisadas, somente 17% possuem documentação, e 83% não têm tal documentação. Entretanto, com a criação da Resex, esta situação deve mudar, uma vez que ninguém é mais dono dos terrenos, mas habilitados a viverem e a explorarem a área da reserva, de acordo com o plano de uso.

5.4.5 Transporte e comunicação

Os dois tipos de transporte mais utilizados na Vila Mota são o barco e a bicicleta. O primeiro, no deslocamento para Salinópolis, e o segundo, no deslocamento dentro da Vila e para as localidades vizinhas, como Penha, São Raimundo, Tatuteua e outras. A figura 14 apresenta a distribuição percentual, por tipo de veículo, relativa às 72 famílias entrevistadas. Verifica-se que 46% das famílias possuem algum tipo de embarcação, seja barco ou canoa. A diferença entre esses veículos é que o barco é uma embarcação motorizada, e a canoa não, o que tem impacto direto não só nas áreas onde podem realizar a pesca, mas sobretudo, na comercialização do pescado. Os que têm barco não dependem dos atravessadores/intermediários e nem precisam pagar frete para o deslocamento da mercadoria até Salinópolis, pelo contrário, têm possibilidade de uma renda extra, realizando transporte de pessoas entre Salinas e Vila Mota, como também o transporte do pescado para comercializar. 80

Tipo de veículo

Figura 14 – Distribuição percentual das famílias da Vila Mota por tipo de veículo

Embora exista um acesso terrestre para a Vila Mota, a partir da comunidade de Nazaré, que fica às margens da PA-124 (Salinópolis), as condições das estradas são precárias, especialmente nos períodos chuvosos (janeiro/abril), que impossibilita o tráfego de veículos, dificultando o transporte de pessoas e cargas. Um aspecto crítico é o transporte de doentes, que na maioria das vezes, tem que ser realizado através de barcos, e estes dependem de fenômenos naturais (chuva, marés). Além disso, não há infra-estrutura portuária na Vila, e a existente em Salinópolis é precária. As fotos 16 e 17 ilustram tal situação. Não existe uma linha regular de transporte hidroviário entre a Vila Mota e o município de Salinópolis. Dois moradores da Vila Mota, o Sr. Jorge Vieira e Seu Manuelzinho, por possuirem embarcações maiores que as demais existentes, com capacidade aproximada para 30 pessoas, realizam diariamente viagens, de ida e volta, para Salinópolis, e cobram R$ 5,00 por pessoa, pela viagem redonda (foto 15). Porém, não há nada regulamentado. E, caso haja algum imprevisto por parte dos proprietários, impedindo-os de realizar tal operação, a população fica sem essa opção de transporte, restando embarcações menores, a preços maiores, ou ficam dependendo de favores de amigos que tenham embarcação.

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Foto 15 – Embarcações que realizam viagens não regulamentadas, entre a Vila Mota e Salinópolis.

Foto 16 – Área de embarque e desembarque na Vila Mota, denominada pelos moradores de “porto grande”.

Foto 17 – Aspectos da infra-estrutura de transporte na Vila Mota: acessos terrestres.

Quanto à telefonia, existem quatro orelhões na Vila Mota, distribuídos em diversos pontos (escola, posto de saúde e outros). Dos 72 chefes de família entrevistados, 39% possuem telefone celular. O sistema de telefonia fixa ainda não foi instalado. Entretanto, a Telemar instalou uma antena parabólica, objetivando a ligação de telefones residenciais (foto 18).

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Foto 18 – Antena parabólica da Telemar para futuras instalações de telefones residenciais.

5.4.6 Energia

Na Vila Mota, 100% das residências já recebem energia elétrica. Essa energia foi viabilizada através do Programa Luz para Todos, do Governo Federal, com o apoio do Governo Estadual. As vias principais receberam o sistema de posteamento, e, nas residências, foram instaladas as caixas medidoras de energia. As foto 19 e 20 ilustram essas situações.

Foto 19 - Postes e rede elétrica na via principal Foto 20 - caixa medidora de energia

Após a instalação das caixas medidoras de energia elétrica, a população da Vila Mota passou a ter uma despesa a mais em seu orçamento: a conta mensal de energia emitida pela 83

REDE CELPA, empresa responsável pelo abastecimento desse sistema. Os custos dessa energia, para a população analisada, variam conforme a tabela 5, a seguir.

Tabela 5 – Custo mensal de energia elétrica, por família, na Vila Mota Custo de energia Freq. Freq. elétrica Abs. Rel. 0 - R$10,00 31 49,21 R$10,00 - R$20,00 20 31,75 R$20,00 - R$30,00 5 7,94 R$30,00 - R$40,00 4 6,35 R$50,00 - R$60,00 3 4,76 63 100,00

Das 72 famílias entrevistadas, 8 fazem uso clandestino de energia elétrica, e uma família tem sua conta paga pela igreja da qual faz parte. Portanto, os percentuais na Tabela 5, estão relacionados a 63 famílias. Verifica-se, na tabela, que 49% das famílias desembolsam até R$10,00 por mês, para o consumo de energia elétrica. O valor máximo registrado para o custo mensal foi de R$60,00. O consumo varia em função dos tipos de eletrodomésticos existentes nas residências. A televisão é o aparelho eletrônico disponível em 87,5% das residências. Porém, aparelhos como geladeira, rádio, DVD, dentre outros, também foram observados.

5.5 Alimentação

Os alimentos mais consumidos na Vila Mota são: peixe, carne bovina e frango, acompanhados, principalmente, pela farinha de mandioca, arroz e feijão. Entretanto, o pescado é predominante, sendo os mais consumidos as pescadas do tipo gó ( Macrodon ancilodon ) e corvina ( Cynoscion virescns ), que possuem menor valor comercial. Verificou-se que os tipos de peixe de maior valor de mercado, como, por exemplo, a pescada amarela, na maioria das vezes, não são consumidos pelas famílias, que preferem destiná-los para comercialização. Nas entrevistas realizadas, verificou-se que não há o hábito de consumo de verduras e legumes. A figura 15 ilustra o consumo semanal médio de peixe, pela população local.

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Figura 15 – Consumo médio semanal de peixe, por família, na Vila Mota

5.6 Aspectos Econômicos

O padrão de vida de uma comunidade rural depende de um conjunto de fatores, dentre os quais a renda familiar adquirida, muitas das vezes, pelas atividades produtivas, ou por outras atividades fora do sistema produtivo. No caso da Vila Mota, a economia doméstica está baseada em duas fontes de renda, sendo uma fixa, na qual estão inseridos os servidores públicos, aposentados e famílias beneficiadas pelos programas assistenciais do Governo, e outra, de cunho variável, gerada, em sua maioria, pela pesca/agricultura e por outras atividades informais, como, por exemplo, comerciante, pedreiro, costureira, etc. (tabela 7). As figuras 16 e 17 apresentam os percentuais de famílias que possuem renda fixa e variável, bem como as atividades geradoras de renda e suas respectivas participações percentuais na economia das famílias da Vila Mota.

Figura 16 – Percentual da população amostral, por tipo de renda 85

Em termos de viabilidade econômica, pela figura 17, podemos afirmar que Vila Mota tem uma situação favorável, pois 61% das famílias têm uma renda fixa, não dependendo única e exclusivamente da possibilidade de pescar e vender o pescado. Ou seja, caso haja um contratempo de ordem social, ecológica, climática, econômica, ou outra que afete diretamente a disponibilidade e o acesso ao pescado, assim como a sua comercialização, essas famílias têm como se manter.

Atividades

Figura 17 – Distribuição da população amostral, por tipo de atividade geradora de renda

Constatou-se, a partir das entrevistas realizadas, que 43,45% dos indivíduos residentes na Vila Mota exercem atividades que geram renda, sendo que deste total, 60,91% da renda registrada, provém de atividades agroextrativistas, fica a pesca artesanal é a mais representativa. As atividades não relacionadas à produção agroextrativista representam 39,1% de geração de renda na Vila Mota, estando inclusos os aposentados, servidores públicos e atividades informais. Os aposentados têm uma maior representatividade. As atividades realizadas na informalidade, pela população amostral da Vila Mota, que representam 14,10%, são mostradas na tabela 6, a seguir. A maioria dessas atividades é realizada no município de Salinópolis.

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Tabela 6 – Atividades realizadas, de maneira informal, pelos moradores da Vila Mota

Outras atividades Nº Pessoas Costureira 1 Feirante 1 Garçonete 2 serviços gerais 6 Mecânico 1 Motorista 1 Técnico Eletrônica (rádio) 1 Gerente doceria 1 Vigia 2 Pedreiro 3 Comerciante 2 Atendente de supermercado 1 Total 22

A tabela 7 apresenta um resumo da renda média mensal familiar na Vila Mota, distribuída por tipo de renda e por faixa salarial. Considerou-se, neste estudo, a renda variável, referente ao período de safra (maio, junho e julho), distribuída ao longo dos doze meses do ano. Essa renda refere-se ao total dos rendimentos monetários registrados por família. Tabela 7 – Distribuição da renda média mensal, por família Total Fixa + % de Renda Fixa Variável de Variável famílias famílias Menos que 01 3 10 23 36 50,00 salário mínimo De 01 até 02 9 1 18 28 38,89 salários mínimos Mais que 02 até 03 salários 3 --- 3 6 8,33 mínimos Mais que 03 2 ------2 2,78 salários mínimos Total 17 11 44 72 100

Observa-se que, do total de 72 famílias entrevistadas, 50% apresentam renda média mensal abaixo de um salário mínimo; 38,89% têm uma renda média mensal entre um e dois salários mínimos; 8,33% estão na faixa de dois a três salários mínimos e somente duas famílias, o que corresponde a 2,78% do total pesquisado, apresentam uma renda média mensal de mais de três salários mínimos, isso devido, exclusivamente, à renda fixa, relativa a serviços públicos, observados nessas famílias. 87

Estes resultados corroboram os estudos que apontam como um dos problemas dos sistemas de produção de famílias de pescadores, o baixo rendimento monetário alcançado pelas famílias. Demonstram também, que, mesmo para atingir um salário mínimo por família, a renda fixa, ou seja, extra pesca/agricultura, é muito importante.

5.6.1 Atividades agroextrativistas

5.6.1.1 Extrativismo

O extrativismo praticado na Vila Mota caracteriza-se pela pesca artesanal, coleta de cernambi ( Anomalocardia brasiliana ), extração de madeiras para produção de carvão, moirões para confecções de currais e lenha, e coleta de frutas, com predominância do bacuri (Platonia isignis Mart ). Dentre as atividades extrativistas identificadas, a pesca artesanal é a mais praticada pela comunidade local.

5.6.1.1.1 Pesca artesanal

A pesca artesanal realizada é a pesca de curral, que se caracteriza pela apreensão do pescado em um curral construído em áreas susceptíveis das marés. Na maré alta, o peixe entra nas instalações e, quando a maré baixa não consegue sair, sendo esse o momento de realização da despesca. Esta atividade usa predominantemente, mão-de-obra familiar. A produção destina-se tanto ao consumo doméstico quanto à comercialização, sendo esta geralmente realizada por marreteiros (intermediários), haja vista que os pescadores não possuem uma infra-estrutura adequada para a conservação do pescado, nem transporte que os possibilitem alcançar mercados mais distantes.

A partir da pesquisa de campo, verificou-se que 100% dos pescadores da Vila Mota desenvolvem suas atividades pesqueiras nas margens que situam-se na Baía do Urindeua ou no litoral da Ilha do Marco (Praia da Marieta). Essa área, que compõe a Reserva Extrativista Marinha de Maracanã, é formada por vários bancos de areia onde são construídos os currais (figura 18), e é também explorada por pescadores do município de Salinópolis. 88

Oceano Atlântico

Ilha do Marco

Baía do Urindeua Vila Mota

Figura 18 – Área de pesca da Vila Mota (Baía de Urindeua)

Os pescadores da Vila Mota costumam utilizar currais, redes, tarrafas, espinhel (tiradeira), linha de mão (caniço) e muzuá. As redes de pesca são compradas, na maioria das vezes, em lojas do município de Salinópolis ou na capital do Estado. Os currais são construídos pelos próprios pescadores, sob a forma de mutirão, em que geralmente, a mão-de- obra adotada é a familiar. Esses pescadores consideram suas atividades na construção dos currais, de grande importância, pois a arte inerente à construção dos mesmos é que determina a eficiência na captura do pescado. Tal arte se deve aos conhecimentos tácitos, passados de pai para filho.

Esses currais são temporários, com duração média, de um ano. Na Vila Mota, constatou-se que, do total de famílias que pescam, 24% compartilham seus currais com outros pescadores. Para a construção desses currais, são usados os moirões, espécie de estaca, que são fincados lado a lado, nos bancos de areia, e as redes (telas) de nylon, que são amarradas a essas estacas. Freqüentemente, os pescadores fazem a manutenção, para evitar o desalinho das estacas e furos nas telas (foto 21).

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Foto 21 – Currais na Vila Mota

A madeira empregada na confecções desses moirões é extraída das matas nos arredores da comunidade. Entretanto, cabe observar aqui que a extração predatória que vem ocorrendo na Vila Mota tem contribuído para a escassez de madeira para a construção dos currais. Tal fato tem levado alguns pescadores a adquirirem estacas de madeira nas lojas de materiais de construção, no município de Salinópolis, o que vem onerando o custo da atividade pesqueira.

A pesca de rede (foto 22), também chamada pelos moradores de malhadeira, é praticada por um número reduzido de pescadores. É também realizada na baía de Urindeua, próximo às margens da Vila Mota. Os pescadores, no mínimo em número de dois, levam suas redes na canoa, fixam uma das pontas da rede próximo à margem e distribuem a rede no rio.

Foto 22 – Pesca de rede, na baía do Urindeua, por pescadores da Vila Mota

As embarcações utilizadas pelos pescadores são, na maioria, de dimensões pequenas, não motorizadas, do tipo canoa, movidas a remo ou à vela (foto 23). Em alguns casos, são observados barcos motorizados que os pescadores chamam de lancha (foto 24). Entretanto, 90

quando se trata da comercialização do pescado para Salinópolis, as embarcações são motorizadas, e pertencem a moradores da Vila Mota, que são marreteiros (atravessadores). Alguns desses marreteiros também são pescadores.

A manutenção das embarcações (calafetagem, pintura e outros) é feita pelos proprietários. Porém, quando se trata da parte mecânica, como problemas no motor, buscam- se profissionais de fora da Vila Mota. O combustível usado é adquirido em Salinópolis, e armazenado em galões de plástico.

Foto 23 – Embarcações do tipo canoa, não motorizadas.

Foto 24 – Embarcações motorizadas do tipo lancha.

Uma das dificuldades para a realização da pesca, verificadas na Vila Mota, é a falta de embarcações. Das vista que das 50 famílias que desenvolvem a atividade pesqueira, 40% (20 famílias) não possuem nenhum tipo de embarcação, sendo obrigadas a emprestar ou pagar aluguel. Outro fator que dificulta essa atividade são os fenômenos naturais, como chuvas, ventos fortes e marés, principalmente na despesca dos currais no período noturno, pois a 91

despesca depende do horário da maré, independe da vontade dos pescadores. “ A pesca é a principal atividade geradora de renda. (processo que vem de pai para filho). Quem determina o horário da pesca é a maré. Às vezes fica complicado despescar o curral ” (Professor José Luís, em julho/2007).

5.6.1.1.2 Coleta de Cernambi

A atividade de extração de cernambi ( Anomalocardia brasiliana ) é praticada em sua maioria, por mulheres e crianças, nas margens dos rios, durante a maré baixa (fotos 25 e 26). A coleta é realizada, principalmente, na entressafra do pescado, para ajudar na alimentação das famílias, em conseqüência da escassez de peixes. Todavia, observa-se que alguns moradores da comunidade comercializam esse produto, em restaurantes de Salinópolis, porém, com pouca representatividade na renda das famílias.

Embora essa prática não seja significativa em termos econômicos, percebe-se que, em termos sociais, traz algumas vantagens, pois é uma atividade realizada em grupos, o que favorece a convivência entre os moradores da Vila Mota. Observa-se que, para as crianças, acaba tornando-se uma atividade de lazer.

Foto 25 – Coleta de Cernambi, na Vila Mota - Baía do Urindeua

92

Foto 26 – Crianças e mulheres, coletando cernambi

5.6.1.1.3 Extrativismo Vegetal

O extrativismo vegetal na Vila Mota é praticado através da extração de madeira para a confecção de moirão para os currais de pesca e produção de lenha e de carvão. Entretanto, tal atividade vem sendo realizada de forma desorganizada, sem critérios de manejo das espécies florestais. Um exemplo dessa prática inadequada foi registrado nessa comunidade, onde constatou-se a derrubada de árvores ainda jovens, como, por exemplo, bacurizeiros (foto 27).

Foto 27 – Transporte de estacas de madeiras para os currais

93

Outra prática realizada na Vila Mota é a coleta de frutos, principalmente de coqueiros e bacurizeiros, sendo que os frutos coletados, em sua maioria, são para o consumo doméstico das famílias. Entretanto, na época da safra do bacuri, que ocorre nos meses de janeiro e fevereiro, alguns moradores da comunidade costumam coletar esse fruto e comercializar na própria vila ou em Salinópolis.

5.6.1.2 Agricultura

A atividade agrícola desenvolvida na Vila Mota está voltada basicamente para o cultivo da mandioca ( Manihot esculenta Crantz) , destinada à fabricação artesanal de farinha, que serve de alimento para as famílias produtoras. Quando há excedente, é comercializada na própria vila (foto 28). Das 7 famílias que trabalham com a agricultura, somente uma cultiva, além da mandioca, arroz e milho.

Foto 28 – Fabricação artesanal de farinha de mandioca, na Vila Mota

As áreas de plantio cultivadas na Vila Mota variam entre 0,1 e 2 hectares, conforme pode ser observado na figura 19. A maioria das famílias (74%) são donos de menos de um hectare cultivado. Um dos principais problemas registrados pelos agricultores são as saúvas, porém é, sanado pelos próprios produtores, com o uso de fertilizantes, chamado pelos mesmos de “veneno”.

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Tamanho das áreas de plantio (ha)

Figura 19 – Tamanho das áreas de plantio, na Vila Mota

5.6.1.3 Produção animal

Na Vila Mota, o subsistema de criação está representado pela criação de pequenos animais, sendo aves (galinha caipira, pato e peru) e porcos. A criação desses animais, que se dá nos quintais das residências, é basicamente utilizada para o auto-consumo familiar (carne e ovos). A distribuição percentual das famílias, em relação ao tipo de criação, é ilustrada na figura 20.

Figura 20 – Distribuição percentual das famílias da Vila Mota, em relação ao tipo de criação

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Verifica-se que 68% das famílias que praticam a criação de animais criam aves nos próprios quintais, com predominância de galinhas. Somente 1% cria aves e porcos. 31% das famílias pesquisadas não criam animais.

5.6.2 Comercialização da produção

A pesca artesanal é responsável por uma parcela significativa do pescado consumido e comercializado na Vila Mota, sendo a base da economia local. Parte desse pescado é comercializada in natura, sendo que o maior volume de comercialização ocorre no período de safra, compreendido entre os meses de maio a julho. Os tipos de peixe mais comercializados estão especificados na tabela abaixo.

Produto Categoria Taxinômica Gó Macrodon ancilodon Corvina Cynoscion virescns Pescada Amarela Cynoscion acoupa Bagre, Sajuba* e Arius couma e Mugiu Pratiqueira curema Mugil sp e Centropomus Tainha e Camorim spp Uritinga e Banderado Arius proops e Bagre bagre

*Não foi possível identificar essa espécie. Quadro 2 – Espécies de peixe mais produzidos e comercializados na Vila Mota

A quantidade de peixe produzida pode ser influenciada, segundo os próprios pescadores, pelo posicionamento dos currais nos bancos de areia, uma vez que deve ser considerada a direção da corrente e dos ventos, bem como a distância em relação às margens. Além disso, ressaltam que pode ocorrer oscilação de safra para safra, ou seja, um curral que produziu uma determinada quantidade em um ano pode ter baixa produção no ano seguinte. A quantidade de peixe comercializado por família de pescadores, na safra de 2007, pode ser observada na figura 21, na qual verifica-se que 50% das famílias comercializam até 2,5 toneladas de pescado, no período da safra.

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Tonelada de peixe vendida

%

Figura 21 – Quantidade de peixe vendida na safra, por família, na Vila Mota

Na Vila Mota, a maior parte do pescado comercializado é in natura , pois embora já exista energia elétrica há aproximadamente três anos, ainda não há um sistema estruturado para armazenagem frigorificada do pescado, que garanta o abastecimento do produto no período de entressafra. A salga é uma alternativa praticada pelos pescadores, para a conservação do pescado e, dessa forma, para não perderem sua produção. Essa prática confirma as observações feitas por Mota-Maués (1993): “O pescador normalmente vende o seu peixe a um único marreteiro, que é considerado “freguês”. Quando isso não é possível, o peixe é vendido a qualquer marreteiro que esteja interessado na compra. Se ele não consegue vender o peixe fresco no mar, restam –lhe duas opções: salgar o peixe ou seguir o mais rápido que possa até à cidade, a fim de vendê-lo diretamente. Pode acontecer que não consiga seguir nenhum destes dois caminhos, por falta de sal ou de vento e, neste caso, todo seu trabalho fica perdido, pois, o peixe se estraga e tem que ser lançado ao mar” (Mota-Maués 1993, p.35).

Segundo relato dos pescadores, durante a safra, existe um excesso de oferta, principalmente da pescada gó ( Macrodon ancilodon ), peixe mais vendido nessa época. Consequentemente, o valor de venda se torna baixo, com o preço por quilo variando entre R$0,20 a R$1,00. Isso obriga os pescadores a abrirem seus currais durante a maré alta, para a liberação dos peixes capturados, por não terem condições de armazená-los ou salgá-los. Tais fatores contribuem para um ganho econômico abaixo de suas expectativas. O pescado é vendido na Vila Mota, diretamente para os atravessadores, conhecidos também como marreteiros. Esses marreteiros transportam o pescado, em barcos, para a comercialização no mercado de Salinópolis. A partir das entrevistas, verificou-se que três 97

pescadores, por terem barcos motorizados e de maiores dimensões, também desempenham a função de marreteiros.

5.6.3 Tipologia do sistema de produção, em Vila Mota

Em Vila Mota, encontramos 6 tipos de sistemas de produção desenvolvidos, conforme apresentados na tabela 8.

Tabela 8 - Tipologia do sistema de produção, em Vila Mota Nº de Porcentagem Nº Tipo Características das atividades Famílias (%) Atividades centradas na pesca artesanal, que, na sua maioria, é realizada nas margens dos 1 Pescador 48 67 rios, sendo a pescada gó (Macrodon ancylodon ) o peixe mais pescado. É realizada a pesca artesanal em conjunto Pescador/ 2 com a agricultura itinerante de derruba e 5 7 Agricultor queima, em pequenas propriedades. Atividades centradas na agricultura itinerante de derruba e queima em pequenas 3 Agricultor propriedades. Roça (mandioca) / Criação de 2 3 pequenos animais (galinhas e patos) / Extrativismo (extração de bacuri)

Atividades realizadas por funcionários Servidor 4 públicos estaduais e municipais, com 3 4 Público predominância na área de educação

Aposentadoria proveniente, em sua maioria, 5 Aposentado 10 14 do INSS Outras 6 Atividades Informais 4 5 atividades Total 72 100

Como seria de se esperar, o sistema de produção onde a pesca artesanal é a principal atividade, quando não a única atividade do sistema de produção, é o mais presente. Observamos, igualmente, que rendas advindas da aposentadoria e de atividades formais e informais fora do sistema de produção, são responsáveis pela renda de 23% das famílias, sendo considerada uma parcela importante da comunidade, logo, um tipo de renda importante para a estabilidade dos sistemas de produção em Vila Mota.

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Tipo 1 – Pescador

O tipo pescador é caracterizado pelas famílias que praticam a pesca artesanal, e corresponde a 67% das famílias entrevistadas. Esta é a principal categoria representada na Vila Mota, e se caracteriza, com predominância, pela pesca de curral nas margens dos rios, cujos currais podem ser compartilhados ou não. Usa predominantemente a mão-de-obra familiar; entretanto, em algumas atividades, como o muruamento dos currais, observa-se o regime de troca de dias de trabalho ou contrato temporário de trabalho, sob a forma de diária. Para esse tipo, predomina a pesca de peixe pescada gó (Macrodon ancylodon ), corvina (Cynoscion virescns ), bagre ( arius sp .), pescada amarela ( cynoscion acoupa ), pratiqueira (mugil sp ) e outros de menor expressão. A comercialização do pescado representa a principal fonte de renda para as famílias desse tipo, sendo muita das vezes a única fonte de obtenção dos recursos financeiros. A maioria das famílias do tipo pescador (53,7%), forma um núcleo familiar composto entre 3 a 5 membros (tabela 9). São famílias jovens, onde 60,6% encontram-se na faixa etária abaixo de 40 anos (tabela 10), com maior concentração (46%) entre 30 e 40 anos.

Tabela 9 – Composição familiar do tipo pescador Nº de Número % em membros/ de relação ao família famílias total 1 2 4,2 2 3 6,3 3 7 14,6 4 11 22,9 5 8 16,2 6 6 12,5 7 4 8,3 8 3 6,2 9 3 6,2 11 1 2,6 Total 48 100,0

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Tabela 10 – Faixa etária dos chefes de família do tipo pescador % em Faixa etária Chefe de família relação ao total 10 a 20 1 2,1 20 a 30 6 12,5 30 a 40 22 46,0 40 a 50 9 18,8 50 a 60 5 10,3 acima de 60 5 10,3 Total 48 100

O nível de escolaridade desses chefes de família é baixo (tabela 11). Observa-se que a maioria dos pescadores (27,1%) não concluiu o ensino básico (1ª a 4ª série) e 14,6% não são alfabetizados.

Tabela 11 – Nível de escolaridade dos chefes de família do tipo pescador % em relação Nível de Escolaridade Pescadores ao total Não alfabetizado 7 14,6 1ª a 4ª incompleto 13 27,1 1ª a 4ª completo 8 16,7 5ª a 8ª incompleto 7 14,6 5ª a 8ª completo 8 16,7 Médio incompleto 1 2,1 Médio completo 4 8,2 Total 48 100

A maioria das famílias, neste tipo , é oriunda da própria Vila Mota, correspondendo a um percentual de 60% do total de famílias de pescadores (figura 22). Com relação às famílias que migraram para Vila Mota, 15% vêm de vilas pertencentes ao município de Salinópolis e 13% de vilas pertencentes ao município de Maracanã. Essas famílias já residem há mais de 20 anos na Vila Mota. Segundo dados registrados na pesquisa de campo, 16,7% das famílias que desenvolvem somente a pesca artesanal já desenvolveram, no passado, a atividade de agricultor.

100

Figura 22 – Origem do tipo pescador

As condições de moradia deste tipo são boas. 65% das famílias residem em casa de alvenaria (figura 23), e 100% são abastecidas com energia elétrica.

Figura 23 – Tipo de habitação das famílias que compõem o tipo pescador

No que diz respeito ao transporte, 56% das famílias de pescadores artesanais são donos de algum tipo de embarcação (canoa e/ou barco motorizado), que usam para a realização de suas atividades; 25% têm somente bicicleta, para os deslocamentos na própria vila; 19% não têm nenhum tipo de veículo (figura 24). 101

Figura 24 – Tipo de veículo

Em relação ao sistema de comunicação, 64,58% das famílias que realizam a pesca artesanal possuem telefone celular, sendo que 35,42% não possuem. Quanto aos eletrodomésticos, observa-se que, do total de 48 famílias, 100% têm rádio e fogão, 87,5% possuem televisão e 62,5% possuem geladeira. Outros eletrodomésticos são também observados, como: ferro elétrico, liquidificador, DVD, etc. As famílias enquadradas no tipo pescador apresentam renda média mensal conforme mostrada na tabela abaixo. Observa-se que 62,5% das famílias apresentam uma renda média mensal abaixo de um salário mínimo, sendo que a renda média mensal máxima familiar não ultrapassa três salários mínimos.

Tabela 12 – Renda média mensal por família: tipo pescador RENDA FIXA VARIÁVEL FIX+VAR Total % < 1 Sal Min 0 10 20 30 62,5 1 - 2 Sal Min 0 1 14 15 31,25 2 - 3 Sal Min 0 0 3 3 6,25 > 3 Sal Min 0 0 0 0 0,00 Total 0 11 37 48 100,00

Do total de famílias do tipo pescador, 23% apresentam exclusivamente rendimentos monetários oriundos da safra (renda variável), enquanto 77% conseguem, além dessa renda 102

variável, uma renda fixa referente, na maioria dos casos, a membros da família que estão no serviço público ou que recebem aposentadoria, ou, ainda, que recebem incentivos de programas sociais. Neste caso, a renda variável obtida na safra, e distribuída ao longo dos doze meses do ano corresponde, em média, aproximadamente, a 20% da renda fixa registrada.

Tipo 2 – Pescador e Agricultor

Este tipo representa 7% das famílias entrevistadas. Caracterizam-se por possuírem áreas de cultivo, em média de 0,80 ha. Praticam uma agricultura de subsistência, na qual se adota, predominantemente, a mão-de-obra familiar. É uma atividade complementar à pesca de curral; entretanto, quando há excedente, ocorre a comercialização dos produtos, na própria comunidade. O sistema de produção desta categoria é composto por roça de mandioca para a produção de farinha, pequenas criações domésticas, destinadas à produção de aves e ovos para o consumo próprio, o extrativismo vegetal para a produção de carvão e o curral de pesca. São famílias numerosas, com composição acima da média geral das famílias residentes na Vila Mota, variando de 4 a 9 membros, em média, 6 pessoas por família. Isto implica diretamente numa maior disponibilidade de mão-de-obra familiar, em relação ao tipo anterior. A idade dos chefes de família que compõem este tipo varia entre 46 e 87 anos. Quanto ao nível de escolaridade dos mesmos, apresenta-se baixo, sendo dois pescadores-agricultores não alfabetizados, 02 com ensino básico incompleto e 01 com ensino básico completo. Das famílias que realizam a pesca e a agricultura, três são oriundas da própria Vila Mota e duas do município de Salinópolis. As famílias que migraram já residem há mais de 20 anos na referida Vila. As residências das famílias que compõem essa tipologia são: 01 de madeira (20%), 01 de taipa (20%) e 03 de alvenaria (60%). Em relação à posse de veículos, 02 famílias possuem canoa e bicicleta, 01 possui canoa e 02 não possuem nenhum tipo de veículo. Quanto ao sistema de telefonia móvel, somente 01 família possui telefone celular. No que se refere à posse de eletrodomésticos, observa-se que, do total de 5 famílias, 100% possuem rádio e televisão, 60% possuem geladeira e 40% possuem outros aparelhos, como liquidificador e ferro elétrico. 103

Quanto à renda média mensal das famílias que se enquadram no tipo pescador e agricultor , observa-se que 60% apresentam rendimentos monetários, somando-se renda fixa e renda variável, abaixo de um salário mínimo. O valor máximo registrado neste tipo, para a renda média mensal familiar, não ultrapassa dois salários mínimos. A Tabela 13 resume essas informações.

Tabela 13 – Renda média mensal, por família: tipo pescador e agricultor RENDA FIXA VARIÁVEL FIX+VAR Total % < 1 Sal Min 0 0 3 3 60,00 1 - 2 Sal Min 0 0 2 2 40,00 2 - 3 Sal Min 0 0 0 0 0,00 > 3 Sal Min 0 0 0 0 0,00 Total 0 0 5 5 100,00

Em relação ao tipo anterior, as famílias aqui classificadas em pescador e agricultor , apresentam condições de vida similares, se considerarmos tipo de transporte, posse de eletrodomésticos e nível de escolaridade. A diferença maior encontra-se na disponibilidade de mão-de-obra familiar, que teoricamente, é maior neste tipo (pescador-agricultor) do que no anterior. Salienta-se também o fato de que aqui todas as famílias dependem de renda fixa, embora o sistema de produção seja mais diversificado em termos de possibilidades de obtenção de renda (pesca e agricultura), o que, teoricamente, teria mais chances de poder manter a família sem uma renda fixa. Quanto aos valores das rendas, as situações entre os tipos também são próximas, sendo que, no tipo anterior, algumas famílias alcançam patamares superiores aos alcançados no tipo pescador – agricultor.

Tipo 3 - Agricultor

Esta categoria é constituída por 2 famílias, do total de 72 famílias registradas neste estudo, que se dedicam somente à agricultura. As áreas de cultivo desses agricultores compreendem entre 1 a 2 ha. Caracteriza-se por uma agricultura de subsistência, na qual é usada, predominantemente, a mão-de-obra familiar. O excedente é comercializado na própria comunidade. Dentre as atividades agrícolas desenvolvidas por esses agricultores(as), em áreas de roça, destaca-se, o cultivo da mandioca, do arroz, do feijão e do milho, sendo a farinha de mandioca a principal atividade econômica desses trabalhadores. A criação de pequenos animais, em seus quintais (produção de aves e ovos), é destinada ao consumo da família, 104

sendo também comercializados, quando há alguma necessidade. Realizam, ainda, o extrativismo (lenha, carvão, madeira, bacuri), praticando quase sempre para o uso da família. Este tipo de sistema de produção representa 3% das unidades de produção familiares, no universo de 72 famílias entrevistadas. As famílias que compõem este tipo apresentam a seguinte característica: 75% possuem 6 membros, por família; 25% possuem 3 membros, por família. Quanto à origem, todas as famílias já residem há mais de 30 anos na Vila Mota. A idade dos chefes de família que compõem o tipo agricultor varia entre 61 a 66 anos. Têm ao nível de escolaridade dos mesmos, apresenta-se baixo, sendo 01 com ensino básico incompleto e 01 com ensino básico completo. As residências das famílias que compõem este tipo são 100% construídas em alvenaria. Em relação à posse de veículos, 01 família possui canoa e bicicleta e 01 possui barco motorizado e bicicleta. Quanto ao sistema de telefonia móvel, todas as famílias possuem telefone celular. No que se refere à posse de eletrodomésticos, observa-se que, do total de 2 famílias de agricultores, todas possuem rádio, somente uma tem televisão e nenhuma é dona de geladeira e fogão. Neste caso, não foram registrados outros tipos de eletrodomésticos. Em relação aos tipos anteriores, observa-se, aqui, que as condições de vida (moradia, transporte, escolaridade, eletrodoméstico) são mais diversas, com situação boa, como, por exemplo, o tipo de habitação em alvenaria, mas com outras desfavoráveis, como a ausência de geladeira e outros eletrodomésticos. Quanto à renda média mensal familiar, verificou-se que as duas famílias se enquadram na faixa de renda de um a dois salários mínimos, e que ambas possuem, além da renda variável, uma renda fixa oriunda de aposentadoria do chefe de família.

Tipo 4 – Servidor Público

As famílias que pertencem ao tipo servidor público exercem atividades em órgãos públicos estaduais e municipais, e atuam na própria Vila Mota, em sua maioria, na área de educação. Este tipo corresponde a 4% do total de famílias entrevistadas. 105

As famílias do tipo servidor público , formam um núcleo familiar de entre 2 a 9 membros. São famílias jovens, onde 67% encontram-se na faixa etária abaixo de 40 anos. O nível de escolaridade dos chefes de família é alto, sendo que, de duas famílias, os chefes tem Terceiro Grau completo, e apenas um o ensino básico completo (1ª a 4ª série). Das três famílias que compõem este tipo, duas são oriundas da própria Vila Mota, e apenas uma migrou do município de . Quanto ao tipo de habitação, uma família reside em casa de madeira, uma em casa de madeira e miriti, e apenas uma em casa de alvenaria. Todas são beneficiadas com energia elétrica e poço artesiano. No que diz respeito a transporte, uma família possui barco e bicicleta, uma possui somente bicicleta e uma não possui nenhum tipo de veículo. Em relação ao sistema de comunicação, somente uma família tem telefone celular. Quanto aos eletrodomésticos, observa-se que todas as famílias têm televisão e rádio. Apenas uma tem geladeira, liquidificador, batedeira e ferro. Das três famílias que se enquadram neste tipo, uma apresenta renda média mensal entre dois a três salários mínimos e duas apresentam renda mensal de mais de três salários mínimos. Dos tipos apresentados, é o que tem melhor condição de renda.

Tipo 5 – Aposentado

O tipo aposentado é caracterizado pelas famílias cujo único rendimento monetário provém de aposentadoria recebida pelos chefes de família, oriunda de benefício do Instituto Nacional de Serviço Social (INSS). Este tipo corresponde a 14% do total de 72 famílias que compõem a população amostral desta pesquisa. A maioria das famílias do tipo aposentado (53,7%), tem um núcleo familiar composto, em média, de 4 membros, e seus chefes de têm em média, 70 anos. O nível de escolaridade desses chefes de família é baixo. Observa-se que 60% não concluíram o ensino básico e 30% são analfabetos. Apenas 10% cursaram o ensino médio incompleto. 106

A maioria das famílias, neste tipo , é oriunda do município de Salinopólis (40%), 30% da própria Vila Mota, 20% migraram de outros Estados do Brasil (Maranhão e Ceará), e 10% migraram do município de Igarapé-Açu. Quanto ao tipo de habitação das famílias deste tipo, 60% residem em casa de alvenaria e 40% em casa de madeira. Todas têm energia elétrica e poço artesiano. Em relação ao transporte, somente três famílias têm bicicleta; as demais não possuem nenhum tipo de veículo. Quanto ao sistema de comunicação, 40% das famílias dispõem de telefone celular. Quanto a eletrodomésticos, do total de 10 famílias, somente uma família não tem geladeira nem televisão. Outros eletrodomésticos são também observados, como o ferro elétrico, o liquidificador, o DVD, a máquina de lavar etc. Neste tipo, 80% das famílias apresentam uma renda média mensal na faixa de um a dois salários mínimos, e 20% na faixa de dois a três salários mínimos.

Tipo 6 – Outras Atividades

No tipo outras atividades , os chefes de família desenvolvem atividades informais em diversos setores, geralmente, são pedreiros, serviços gerais, garçons, feirante etc. (tabela 06). Essas atividades são desenvolvidas, em sua maioria, no município de Salinópolis. As famílias deste tipo vivem num núcleo familiar composto, em média, de cinco membros, e seus chefes têm em torno de 38 anos. O nível de escolaridade desses chefes de família é baixo. Observa-se que 100% não concluíram o ensino básico. Do total de quatro famílias que se enquadram neste tipo , três são oriundas de outras vilas pertencentes ao município de Maracanã, e apenas uma família migrou de outro município, no caso, Salinópolis. Quanto ao tipo de habitação das famílias deste tipo, 50% residem em casa de alvenaria e 50% em casa de madeira. Todas têm energia elétrica e poço artesiano. Em relação ao transporte, três famílias possuem bicicleta, e uma possui motocicleta. Quanto ao sistema de comunicação, 50% das famílias possuem telefone celular. Em relação à posse de eletrodomésticos, observa-se que do total de famílias entrevistadas, 100% possuem geladeira e televisão. Outros eletrodomésticos também observados são: ventilador, ferro elétrico, liquidificador, DVD, etc. 107

Neste tipo, 75% das famílias possuem uma renda média mensal de menos de um salário mínimo, e 25% na faixa de um a dois salários mínimos. Na tabela 14, é apresentada uma síntese das principais características socioeconômicas das famílias enquadradas na tipologia apresentada anteriormente. Os dados apresentados nessa tabela referem-se ao número de pessoas, por família; nível de escolaridade dos chefes de família; origem dos chefes de família; idade média dos chefes de família; tipo de habitação; posse de veículos e de telefone celular; abastecimento de energia elétrica e água; renda média mensal familiar.

Tabela 14 – Características socioeconômicas, por tipos de atividade do sistema produtivo da Vila Mota

OUTRAS PESCADOR PESC/AGRIC AGRICULTOR SERV.PÚBLICO APOSENTADO

(48 famílias) (5 famílias) (2 famílias) (3 famílias) (10 famílias) ATIVIDADES (4 famílias) 6 (e m média) 5 (em PESSOAS/FAMÍLIA 3 a 5 4 a 9 2 a 9 4 (em média) média) Não alfabetizado Ensino Ensino Ensino Ensino (40%)/ Ensino básico ESCOLARIDADE básico básico Superior básico (CHEFE DE Ensino incompleto incompleto incompleto completo incompleto FAMÍLIA) básico (100%) (100%) (100%) (67%) (100%) incompleto (40%) Vila Mota Vila Mota Vila Mota Vila Mota Salinópolis Vila Mota ORIGEM (60%) (60%) (100%) (67%) (40%) (60%) IDADE MÉDIA 30 a 40 46 a 87 67% abaixo de 70 anos (em 38 anos (CHEFE DE 61 a 66 anos FAMÍLIA) anos (46%) anos 40 anos média) (Em média) TIPO DE Alvenaria Alvenaria Alvenaria Alvenaria Alvenaria Alvenaria HABITAÇÃO (65%) (60%) (100%) (33%) (60%) (50%) Canoa Bicicleta e POSSUI e/ou barco Bicicleta e Bicicleta e Bicicleta Bicicleta canoa VEÍCULO motorizado barco (50%) barco (33%) (30%) (75%) (40%) (56%) POSSUI TELEFONE 65% 20% 100% 33% 40% 50% CELULAR POSSUI ENERGIA 100% 100% 100% 100% 100% 100% ELÉTRICA / ÁGUA RENDA MÉDIA < de 1 SM < de 1 SM 1 a 2 SM Mais de 3 SM 1 a 2 SM < de 1 SM FAMILIAR (MENSAL) (62,5%) (60%) (100%) (67%) (80%) (75%) *SM (Salário mínimo)

Observa-se na tabela acima que o nível de escolaridade dos chefes de família, em todos os tipos identificados, apresenta-se baixo, com exceção do tipo servidor público . Por outro lado, este tipo, embora com um nível mais elevado de educação e uma melhor condição de renda familiar, apresenta os mais baixos percentuais em relação à posse de veículo, de 108

telefone celular e casas de alvenaria. Todos os tipos têm residências beneficiadas com energia elétrica e água encanada. Em relação à origem, percebe-se que há uma forte identidade com o território. O percentual de chefes de família que nasceram na Vila Mota, para todos os tipos, exceto o tipo aposentado, é de 60% ou mais. Isso é um fator que fortalece o desenvolvimento local. A renda familiar para os tipos identificados é baixa. Mais de 60% das famílias dos tipos pescador , pescador e agricultor e outras atividades , é inferior a um salário mínimo.

5.7 Dificuldades e Expectativas

As dificuldades relatadas pelas famílias são similares, mas as expectativas diferem em termos de soluções apontadas para melhorar as condições de vida em Vila Mota. Transporte e saúde são apontados como as maiores deficiências da Vila, enquanto alternativas de emprego e maior presença do governo, em termos de assistência social prestada à população, são apontados por uma minoria. A maior dificuldade encontrada/afirmada pelos moradores de Vila Mota é a deficiência no sistema de transporte entre Vila Mota e outras localidades. As condições precárias das estradas, aliados ao fato da dependência das marés para o deslocamento fluvial/marinho, seriam os principais fatores desta dificuldade. Ressalta-se, também que, além desses fatores, existe a ausência de transporte regular na Vila, ou seja, não existem linhas estabelecidas, com que a população possa contar. O que existe são particulares que realizam este serviço, na comunidade. A segunda maior queixa das famílias é referente ao sistema de saúde. Na verdade, está intimamente ligada à falta de transporte, pois uma das principais carências reside no fato de não terem uma ambulância e/ou ambulancha para levarem um paciente em situação grave, para atendimento especializado em um dos municípios vizinhos, ou no hospital mais próximo. Casos, por exemplo, de acidentes, e/ou mesmo para a realização dos partos. Outra queixa é em relação à falta de uma assistência médica permanente em Vila Mota. As soluções apresentadas diferem na ordem de prioridade, de acordo com o tipo de sistema de produção praticado pela família, assim como a forma. Mas podemos observar que, apesar das pequenas diferenças, é de preocupação geral melhorar a infra-estrutura dentro da localidade, dotando-a de condições de armazenamento do pescado, assim como criando e instalando uma cooperativa, além de melhorar o sistema de abastecimento de água. É de se 109

estranhar a indicação de mais escolas, tendo em vista o sistema presente na Vila, onde não há falta de vagas e onde o nível de ensino ofertado é alto, se comparado a outras localidades no próprio município e no Estado do Pará. No quadro 3, observa-se que o tipo Pescador foi o que mais enumerou dificuldades e apresentou alternativas.

TIPO DIFICULDADES EXPECTATIVAS Melhorias no sistema de saúde e Transporte, saúde, dependência da transporte, ambulância/ambulancha, atividade de pesca, baixa renda na frigorífico para o armazenamento do entressafra, falta de cooperativa / pescado, segurança pública, criação associação para melhoria do pescado, de cooperativa, mais opções de PESCADOR abastecimento de água, estrutura lazer, biblioteca, melhor sistema de interna das vias, comercialização do abastecimento de água, geração de pescado na safra, segurança pública, emprego (inclusive para mulheres), falta de melhor abastecimento nas cursos técnicos, alternativa de mercearias da Vila renda na entressafra, ação voltada para o turismo, Melhor condição de transporte (estradas), melhorias no posto de saúde e assistência médica, Saneamento básico e melhores PESCADOR E AGRICULTOR Transporte condições de abastecimento de água, educação, oportunidades de emprego, melhoria das mercearias da Vila Mota Melhor condição de transporte, assistência médica 24 horas e AGRICULTOR Transporte e falta de emprego melhoria das mercearias da Vila Mota Melhor condição de transporte, Transporte, saúde e pouca assistência criação de cooperativas de SERVIDOR PÚBLICO dos governantes para com à pescadores, assistência médica, comunidade saneamento básico e melhor sistema de abastecimento de água Melhorias no sistema de transporte, mais uma escola, assistência APOSENTADO Transporte e saúde médica e melhorias no posto de saúde, ambulância ou ambulancha e criação de associação/cooperativa Melhorias para o arm azenamento do pescado, criação de cooperativas de agricultores e OUTRAS ATIVIDADES Transporte, saúde e falta de emprego pescadores, assistência médica 24 horas, melhores condições de transpote, geração de empregos e maior atenção dos governantes Quadro 3 – Dificuldades e Expectativas registradas pelos moradores, em relação à qualidade de vida na Vila Mota

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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 Aspectos político-institucionais

A proximidade geográfica com o município de Salinópolis exercem influência direta nos aspectos sociais, econômicos e políticos da Vila Mota. O tempo de travessia dessa Vila para aquele município é menor que o tempo de deslocamento para o município sede, no caso, o município de Maracanã. A busca por assistência médica, por empregos, melhores condições de estudos, a dependência da comercialização, tanto em relação à compra de produtos como à venda do pescado, por exemplo, faz com que os moradores da Vila Mota guardem uma identidade maior com o município de Salinópolis. Tal interação é favorável à Vila Mota pois, dentre outros fatores, possibilita a formação de redes sociais, sendo um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento local. Por outro lado, não acompanham as principais decisões e direcionamentos que são tomados no município sede, como foi o caso da criação da RESEX. E isto pode prejudicar a situação da Vila. Face a relação estreita com Salinópolis, existe uma parcela de moradores da Vila Mota que votam em Salinópolis. Este fato, segundo relato de moradores mais antigos, gera conflitos entre políticos dos municípios de Salinópolis e Maracanã, durante as campanhas eleitorais. Porém, a Prefeitura Municipal de Salinópolis não é obrigada a investir nessa vila, mas percebe-se que a Prefeitura Municipal de Maracanã não tem dado a assistência devida. Ainda considerando depoimentos de alguns moradores, a limpeza das vias internas, a melhoria dos acessos terrestres para outras localidades e a assistência médica são promessas freqüentes somente quando se aproximam as eleições, seja para a prefeitura ou para o governo do Estado. Verifica-se, por outro lado, que a Vila Mota conquista maior atenção por parte do poder público na área de educação e em relação às manifestações culturais. Quanto à educação, as melhorias obtidas são justificadas, principalmente, pelo empenho dos professores da escola local, que, em sua maioria, são da própria comunidade. No que diz respeito aos grupos religiosos existentes na referida Vila, sejam católicos ou evangélicos, costumam obter, mesmo que de forma esporádica, alguma ajuda do poder público, para suas manifestações culturais. Esses fatos evidenciam que há necessidade de fortalecer o capital social na Vila Mota, pois ainda são detectadas algumas fragilidades com relação à capacidade de mobilização, que resulte em reivindicações de políticas públicas voltadas, principalmente, para o setor de saúde, 111

infra-estrutura básica (transporte e saneamento) e geração de emprego e renda, que foram os principais aspectos expressos pelos moradores dessa Vila, ao serem questionados sobre as dificuldades existentes no local. Outro aspecto relevante é a inexistência de cooperativas ou associações locais que possam contribuir para conquistas, principalmente melhorias no setor produtivo. Percebe-se, também, que não há uma participação ativa de membros da comunidade junto aos diversos conselhos municipais (saúde, educação, agricultura e outros). Isto demonstra um nível insatisfatório de organização e relacionamento político institucional. A falta de envolvimento da comunidade nas tomadas de decisão que afetam o seu próprio território reflete, muitas das vezes, negativamente no processo de desenvolvimento local. O pouco conhecimento que os moradores da Vila Mota têm sobre a criação da RESEX/Maracanã retrata a exclusão, por parte do poder público, dessa população tradicional, de um processo de formulação e implementação da política ambiental, traçada para o seu próprio espaço. Cabe, aqui, ressaltar a opinião de Veiga (2001) sobre a necessidade de um empurrão inicial , por parte do poder público, para promover um arranjo institucional que possa encorajar as comunidades rurais a se associarem, com o objetivo de valorizar o território que compartilham. Embora se observe a ausência do poder público em alguns setores, verifica-se que em outros este se fez presente, como, por exemplo, educação, energia elétrica, comunicação e meio ambiente, com a criação da RESEX Marinha de Maracanã. No entanto, é notório que essas políticas chegam à Vila Mota de forma desarticulada.

6.2 Indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano na Vila Mota

6.2.1 Educação

Os valores estimados para os indicadores taxa de alfabetização de pessoas acima de 15 anos de idade (A) e taxa bruta de freqüência à escola (F) são mostrados na tabela 16, a seguir.

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Tabela 15 – Índice de Educação estimado para Vila Mota, conforme tipologia do sistema produtivo

Taxa de Taxa Bruta de Tipologia do IDH- Alfabetização Freqüência à sistema produtivo Educação (A) Escola (F) Pescador 0,940 0,780 0,887 Pescador e 0,920 0,250 0,697 Agricultor Agricultor 0,890 0,800 0,860 Servidor Público 0,930 0,750 0,870 Aposentado 0,840 0,560 0,747 Outras Atividades 0,640 0,770 0,683 Média 0,860 0,652 0,791

O IDHM-E calculado para os tipos pescador, agricultor e servidor público encontra-se entre os valores de 0,80 e 1, logo, considerado em uma categoria de alto desenvolvimento humano, conforme os requisitos do PNUD (1990). Os demais tipos apresentaram IDHM- Educação entre 0,5 e 0,8 , enquadrando-se na categoria de médio desenvolvimento humano. Entretanto, ao analisar o valor médio de 0,791, considerando-se todos os tipos especificados, a Vila Mota apresenta um nível médio de desenvolvimento humano. Embora os últimos registros do IDHM-E, realizados pelo PNDU, sejam referentes ao ano de 2000, o valor médio estimado para a Vila Mota pode ser considerado favorável, quando comparado com o IDHM-Educação de outros municípios paraenses, como, por exemplo: Bragança (0,774); (0,766); Tomé-Açu (0,743); São Domingos do Capim (0,684) e Capitão Poço (0,662). Na Tabela 16, são mostrados o maior e o menor valores para o IDHM-E, no Estado do Pará, bem como o IDHM-E referente aos municípios de Maracanã e Salinópolis, tendo como referência os últimos registros do PNUD (2000).

Tabela 16 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal–Educação (IDHM-E) em alguns municípios do Estado do Pará Município IDHM-E (*) Belém 0,928 Salinópolis 0,826 Maracanã 0,799 Vila Mota 0,791 (* *) Melgaço 0,546 (*) PNUD, 2000. (**) Referente a agosto/2007.

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Observa-se que o valor médio do IDHM-E, estimado para a Vila Mota, aproxima-se fortemente do valor apresentado pela sede municipal, à qual está vinculado, no caso, o município de Maracanã. Em relação ao município de Salinópolis, esse valor médio está defasado em aproximadamente, 5%, enquanto em relação a Belém a defasagem é de 16,5%. Quanto ao município de Melgaço, situado no arquipélago do Marajó, o IDHM-E da Vila Mota apresenta-se superior, cerca de 31%. Outra análise comparativa considerando o IDHM-E da Vila Mota, pode ser realizada em relação a municípios da região costeira, que apresentam comunidades pesqueiras, inclusive, algumas inseridas em áreas de reservas extrativistas marinhas, como, por exemplo, Soure, São Caetano de Odivelas e Curuçá. Na tabela 17, podem ser observados os IDHM-E para diversos municípios litorâneos.

Tabela 17 – IDHM-E de municípios paraenses situados na Costa Atlântica. Município IDHM-E Soure 0,858 Salvaterra 0,856 Colares 0,845 Vigia 0,847 São Caetano de Odivelas 0,826 São João da Ponta 0,800 Curuçá 0,868 0,855 Maracanã 0,799 Salinópolis 0,826 São João de Pirabas 0,739 Bragança 0,774 Augusto Correa 0,670 Viseu 0,683 Fonte: PNUD, 2000.

Verifica-se que a Vila Mota, que apresenta um IDHM-E equivalente ao município sede (Maracanã), está próximo à média dos municípios citados na tabela acima. Analisando-se, de forma isolada, a taxa de analfabetismo calculada para a Vila Mota, e, observando-se os registros dessa taxa para os municípios de Maracanã e Salinópolis, na tabela 18, referentes aos anos de 1991 e 2000, pode-se estimar a variação anual da taxa de analfabetismo, e, a partir disso, tecer alguns comentários a respeito da educação na Vila Mota.

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Tabela 18 – Percentual de pessoas analfabetas, acima de 15 anos de idade, referente ao município de Maracanã e a Vila Mota, para os anos de 1991, 2000 e 2007.

% de Pessoas analfabetas acima de 15 anos de idade Variação Local anual (**) 1991 2000 2007 (%) Maracanã 23,95 18,02 14,55 (*) -2,75 Salinópolis 21,08 14,47 10,95 (*) -3,48 Belém 7,33 5,04 3,82 -3,47 Vila Mota ------14,00 --- (*) Valores calculados com base em estimativas da variação anual da taxa de analfabetismo. (**) Valores médios estimados para a variação anual da taxa de analfabetismo. Fonte: PNUD,2000.

A taxa de analfabetismo na Vila Mota é relativamente baixa, quando comparada aos valores estimados para os municípios de Maracanã e Salinópolis, referentes ao ano de 2007. Em relação ao município sede (Maracanã), a taxa de analfabetismo da Vila Mota é cerca de 3,78% menor, e, em ralação ao município de Salinópolis, esta diferença entre taxas é de 21,78%. Considerando-se um ranking do IDH-M para o ano de 2000, para os 143 municípios do Estado do Pará, a capital, Belém, apresentou a menor taxa de analfabetização (5,04%); o município de Salinópolis ficou em 12º lugar (14,47%); ficando o município de Maracanã na 91º posição, com 18,02%. Embora esta estimativa de taxas tenha possibilidades de erros, alguns fatores levam a aceitar um IDHM-Educação satisfatório para a Vila Mota, aproximando este índice aos índices de municípios paraenses com melhores IDHM-Educação, o que pode favorecer um processo de desenvolvimento local sustentável. Tais fatores são: • a escola da Vila Mota foi fundada há 61 anos (1946), com o apoio, na época, da prefeitura do município Salinópolis. Devido à proximidade entre essas localidades, foi possível manter uma regularidade das turmas, em função da presença constante de professores, sendo a maioria oriunda daquele município. Essa escola, atualmente, serve a outras localidades vizinhas; • sempre foram ofertadas turmas para o ensino Pré-Escolar e Fundamental, sendo que o Ensino Médio teve suas primeiras turmas, somente a partir do ano de 2005. Além disso, juntamente com o Ensino Médio, foi criada uma turma para o programa Educação para Jovens e Adultos (EJA). Não há registro de falta de vagas, permitindo a todos o acesso à educação; • com o passar do tempo, alguns moradores da Vila Mota tornaram-se professores da escola. Este fato criou uma identidade maior dessas pessoas e de 115

seus familiares com o local, ajudando a preservar as instalações, e a conquistar, junto ao município sede, Maracanã, melhor atenção para a educação naquela Vila. Todos os professores do Pré-Escolar e do Ensino Fundamental são da própria comunidade. No caso do Ensino Médio, que é em regime modular, os professores são de outras localidades, incluindo Belém, e são indicados pela Secretaria de Educação do Estado do Pará – SEDUC; • atualmente, 50% dos professores da escola cursaram nível superior, devido ao convênio que a Prefeitura Municipal de Maracanã estabeleceu com a Secretaria de Educação do Estado e a Universidade Vale do Acaraú, para a capacitação de professores leigos; • a escola tem uma boa infra-estrutura, se comparada às escolas de outras localidades no interior do Estado do Pará. Amplas salas, com cadeiras e quadros para escrever. Oferece, embora com falhas em determinados períodos, merenda escolar aos alunos. Não há registro de vandalismo na escola; • A direção da escola procura manter a tradição das datas comemorativas (Páscoa, Dia do Índio, Dia da Árvore, Semana da Pátria, entre outras), através da realização de festas e encenações, estimulando a participação de alunos e seus familiares. A partir dos fatores relatados acima, pode-se perceber que os programas de ensino Pré- Escolar e Fundamental na Vila Mota são programas regulares e realizados, há algum tempo, permitindo um processo contínuo de instrução à população daquela vila. Considerando-se as entrevistas realizadas com as 72 famílias, pode-se deduzir certa satisfação, por parte dos moradores, em relação ao aspecto educação. Isto fica evidente quando avaliada a questão sobre as dificuldades apresentadas pela Vila Mota. Somente uma família expressou a necessidade de cursos de capacitação para os moradores. Entretanto, essa capacitação está relacionada a jovens e adultos, como complementação dos estudos básicos. Embora a educação na, Vila Mota, relativo Pré-Escolar, Fundamental e Médio, contribua positivamente no cálculo do IDH-M, a qualidade de ensino deixa a desejar, pois este índice considera os parâmetros quantitativos, não avaliando a qualidade do ensino. Um indicativo de que essa qualidade precisa ser melhorada é a dificuldade que os jovens enfrentam, após o Ensino Médio, para ingressarem em instituições de ensino superior. Isto demonstra de certa forma, uma fragilidade do ensino na Vila Mota.

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6.2.2 Renda

Neste item, não é calculado o IDHM-Renda para a Vila Mota, devido à falta de dados mais precisos sobre a renda familiar. Porém, é feita uma análise simplificada da renda, tendo como estimativa, a renda familiar per capita média , que é considerada como “(...) razão entre o somatório da renda per capita de todos os indivíduos e o número total desses indivíduos (PNUD, 1990). As estimativas das rendas adotadas nessa análise foram baseadas nos dados registrados na pesquisa de campo. Neste caso, considerou-se a renda das 72 famílias da população amostral, distribuídas conforme a tipologia do sistema produtivo, adotada nesta pesquisa. Na tabela 19, são mostrados os valores estimados para a renda familiar per capita média, para o caso da Vila Mota.

Tabela 19 – Renda familiar per capita média da Vila Mota

Total de ∑ Renda Renda per Tipo Nº Famílias Pessoas (R$) capita (R$) Pescador 48 241 18473,29 76,65 Pescador e Agricultor 5 31 1606,00 51,81 Agricultor 2 9 785,00 87,22 Servidor Público 3 15 3741,00 249,40 Aposentado 10 45 6190,00 137,56 Outras Atividades 4 18 620,00 34,44 Total 72 359 ......

Utilizando-se os parâmetros indicados pelo PNAD (2004) 11 , apresentados na tabela 20, pode-se fazer uma análise comparativa da renda familiar média da população da Vila Mota.

Tabela 20 – Renda domiciliar per capita no Brasil - PNAD,2004. Camada social Intervalo de renda Indigentes abaixo de R$ 77 Pobres de R$ 77 a R$ 154 Camada média baixa de R$ 154 a R$ 248 Camada média média de R$ 248 a R$ 489 Camada média alta de R$ 489 a R$ 980 Ricos de R$ 980 a R$ 3,6 mil Riquíssimos acima de R$ 3,6 mil Fonte: PNAD, 2004.

11 Disponível em: htpp//:www.ibge.gov.br. Acesso em: dezembro/2007. 117

Através das tabelas 19 e 20, verifica-se que a população da Vila Mota está classifica entre as camadas média média (servidor público), pobres (agricultor e aposentado) e indigentes (pescador, pescador e agricultor, e outras atividades). Do total de 72 famílias, 79% apresentam renda média per capita abaixo de R$ 77,00, o que as classifica como indigentes. A análise acima ratifica os baixos rendimentos financeiros já mencionados por diversos autores citados no presente trabalho. Mas, apesar da renda per capita baixa para os tipos pescador e pescador-agricultor, percebeu-se que quanto às condições de moradia (casa, energia e eletrodomésticos), assim como de transporte (tipo de veículo da família), a situação não é muito diferente dos outros tipos e é uma situação de razoável a boa. Ou seja, todos têm uma boa casa, com energia e algum tipo de eletrodoméstico que julga necessário. A renda então oferece possibilidades de aquisição de gêneros alimentícios e de primeira necessidade das famílias. A pesquisa não avaliou se a diferença de nível de renda realmente propicia outro padrão de vida para as famílias e/ou onde o recurso é preferencialmente investido.

6.2.3 Condições de saúde e salubridade local

A análise realizada para a Vila Mota, referente à longevidade, não foi baseada na taxa de mortalidade infantil nem esperança de vida ao nascer, como indica o PNUD(1990) 12 . Neste caso, não foi estimado o IDHM-Longevidade para a Vila Mota. Entretanto, foram constatados, ao longo das pesquisas, alguns fatores que podem interferir nas condições de saúde e de salubridade local, e, sendo assim, podem influenciar na qualidade de vida da referida população. Tais fatores são: • a falta de assistência médica permanente na Vila Mota, o que obriga a população a se deslocar constantemente, para o município de Salinópolis, buscando tratamento de saúde; • a existência de uma enfermeira que presta assistência aos moradores. Ela não reside na vila, por isso, nos fins de semana, retorna à localidade de origem. O fato causa descontentamento e inseguranças aos moradores da Vila;

12 Disponível em: . Acesso em: Dez/2007.

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• o posto de saúde existente não funciona nos fins de semana, apresenta escassez de remédios, e não possui equipamentos adequados para casos de urgência e emergência; • existe somente uma pessoa, que realiza, através de visitas às famílias, o serviço de prevenção de doenças. Porém, o nível de informação repassado é superficial. Muitos assuntos não são abordados, dentre os quais são citados: alimentação saudável, planejamento familiar, gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis; • não há ambulância, nem ambulancha, para o atendimento de doentes. O deslocamento para outras localidades, com melhores condições de atendimento médico, é a maior preocupação dos moradores da Vila Mota.

Os fatores expostos acima são indicadores de um atendimento deficiente quanto à saúde, na Vila Mota, o que gera certa insatisfação por parte dos moradores. Essa insatisfação pode ser observada nos dos questionários, onde 54,17% das famílias entrevistadas expressaram que as maiores dificuldades estão diretamente relacionadas à saúde. Outro aspecto que pode interferir nas condições de saúde da Vila Mota diz respeito à alimentação. O peixe é o alimento mais consumido pela população, seguido da carne de frango, e, como acompanhamento, farinha, arroz, feijão, e, em alguns casos, macarrão. Somente uma família, do total de famílias entrevistadas, mencionou o consumo de legumes e verduras. Nessa Vila, não há registros de desnutrição; entretanto, sabe-se da importância dos nutrientes existentes nos legumes e verduras, para uma base alimentar mais saudável. No que tange à salubridade local, o aspecto ambiental deve ser considerado. Na Vila Mota, não há coleta de lixo. O lixo é, na maioria das vezes, enterrado ou queimado. O cuidado com a poluição do lençol freático não é observada, e, como é comum a utilização de poços artesianos, a qualidade da água consumida pode estar comprometida. Além disso, algumas casas ainda têm a fossa séptica localizada próximo de poços artesianos. Essas condições podem gerar doenças à população. Falta um programa de conscientização ambiental. Face ao exposto, verifica-se que ainda existem vários problemas que precisam ser solucionados, de forma a garantir uma condição de vida mais saudável à população da Vila Mota e, dessa forma, contribuir para melhores índices de longevidade e níveis de condições de vida satisfatórios.

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6.2.4 Habitação

A análise simplificada das condições de vida na Vila Mota, em relação à habitação, segue alguns indicadores do ICV-Habitação do PNUD/IPEA/FJP (1998), e estão dispostos na tabela 21, a seguir.

Tabela 21 – ICV-Habitação na Vila Mota, conforme tipologia do sistema produtivo ICV- Tipologia (A) (B) (C) (D) Habitação Pescador 0,45 0,65 0,92 0,94 0,74 Pescador e agricultor 0,87 0,60 1,00 1,00 0,87 Agricultor 0,33 1,00 1,00 1,00 0,83 Servidor Público 0,00 0,33 0,67 1,00 0,50 Aposentado 0,51 0,60 0,90 1,00 0,75 Outras atividades 0,33 0,50 1,00 0,75 0,65 Valor médio 0,42 0,61 0,92 0,95 0,72 (A)Porcentagem da população que vive em domicílios com densidade acima de duas pessoas por dormitório; (B)Porcentagem da população que vive em domicílios duráveis; (C)Porcentagem da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água; (D)Porcentagem da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto.

São considerados duráveis os domicílios em que, pelo menos, dois de três componentes da habitação - cobertura, paredes e piso - são constituídos de materiais duráveis. Consideraram-se, no caso da Vila Mota, as residências construídas em alvenaria. O abastecimento é realizado através de poço artesiano com canalização interna. A Vila Mota não dispõe de redes de coleta pública de esgoto, nem sistema de tratamento de resíduos. É comum a construção de fossa séptica, considerada essencial para a melhoria das condições de higiene das populações, principalmente as populações rurais. O ICV-Habitação, estimado para a Vila Mota, é considerado de nível médio, sendo a densidade do domicílio e os domicílios duráveis os aspectos que influenciam negativamente no valor desse indicador. No entanto, sabe-se que o sistema de abastecimento de água e de tratamento de esgoto na Vila Mota ainda precisa ser melhorado. Observa-se que o tipo pescador e agricultor apresenta um ICV-Habitação melhor que os demais tipos, sendo o menor valor atribuído ao tipo servidor público . Neste caso, apenas 33% das famílias moram em residências de alvenaria, enquanto o valor médio é de 61%, quando considerados todos os tipos.

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6.3 Criação da RESEX Marinha de Maracanã

Observou-se que a grande maioria das famílias de Vila Mota desconhece o que é uma RESEX e qual a sua finalidade. Quanto à RESEX Marinha de Maracanã (RESEX/Maracanã), embora essas famílias residam dentro de sua área, a maioria não sabe de sua existência, nem conhece seus limites geográficos e o seu plano de uso. Um dos moradores, quando entrevistado, não soube explicar o que é a RESEX/Marinha, tendo feito o seguinte comentário: “O pessoal do IBAMA às vezes vem aqui, faz uma visita, pede pra nós ter cuidado para não cortar árvore pequena pra amuruá o curral, mas não diz da onde a gente tem que tirar pau, como eles não ficam vendo, a gente vai lá e tira uma varinha, mas a vinda deles acho que é boa [...]” (Sr. João Batista, agosto/2007).

A Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã – AUREMAR, criada para discutir assuntos relacionados ao plano de uso da RESEX/Maracanã, foi citada por apenas um morador da Vila Mota, que é o representante da referida vila nessa Associação. Embora haja pouco conhecimento da RESEX/Maracanã, por parte dos moradores da Vila Mota, essa RESEX é de extrema necessidade para a conservação do ecossistema costeiro, haja vista que já restringiu a ocupação da praia da Marieta, localizada na Ilha do Marco, que é um dos locais onde se realiza a pesca artesanal. Essa praia já apontava indícios de ocupação desordenada, por moradores de outros municípios do Estado do Pará, por ser um local com forte apelo turístico. Quanto ao comportamento dos moradores da Vila Mota, percebe-se que não houve alterações em relação ao sistema de produção agroextrativista. As mudanças observadas referem-se à construção de casas de alvenaria, que o INCRA vem realizando, junto com a liberação de um crédito não reembolsável, para aquisição de bens (fogão, geladeira, bicicleta etc.). Em relação a um programa de conscientização ambiental, não houve registro na Vila Mota. Percebe-se que há necessidade de ação do IBAMA/CNPT, no sentido de envolver a comunidade e estimular sua participação num processo de extração dos recursos naturais, com técnicas de manejo adequado, buscando a preservação do meio ambiente.

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6.4 Limitações e potencialidades para o desenvolvimento local da Vila Mota

Foi possível identificar alguns fatores limitantes e potencializadores para o desenvolvimento local da Vila Mota, levando em conta suas especificidades (quadro 4). Ressalta-se que o nível de interação desses fatores é determinante para um processo de desenvolvimento local, portanto, uma análise de forma isolada não é representativa. Um aspecto que deve ser observado é a qualidade com a qual esses fatores se apresentam. Neste caso, não interessa somente a intensidade, mas a eficácia dos mesmos, além do período em que ocorrem. Em Vila Mota, por exemplo, a simples existência de um posto médico não caracteriza qualidade dos serviços de saúde. Os fatores sistemas de produção, organização produtiva, assistência técnica e organização política se apresentam, em parte, limitantes. Se tais limitações fossem minimizadas, e esses fatores fossem agregados ao fator potencializador quadro natural , por exemplo, poderia contribuir de forma positiva para a dinamização sócio-econômica-ambiental da Vila Mota. Um fator limitante é a infra-estrutura básica do sistema de transporte, tanto em relação às condições internas quanto ao acesso para outras localidades. No caso da Vila Mota, embora a proximidade do mercado consumidor de pescado, o município de Salinópolis, seja considerado de certa forma potencializador, ainda se encontram dificuldades em termos de transporte.

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Fatores Limitantes Potencializadores - Disponibilidade de recursos hídricos para - Pouco conhecimento sobre a RESEX pesca e outras atividades produtivas Quadro Natural Marinha de Maracanã, sua importância e (camarão, ostras etc.); seu plano de uso - Preservação do ecossistema (RESEX Marinha de Maracanã) - A maioria não possui documentação de Origem e Forma - Forte identidade local, que possibilita a posse dos terrenos de Ocupação valorização dos costumes e saberes locais

- Difícil acesso ao município sede - Dificuldade de comercialização do - Proximidade do município de Salinópolis, Contexto pescado no período de safra; considerado um dos principais pólos socioeconômico - Dependência do atravessador; turísticos do Estado do Pará, sendo o do entorno - Ausência de indústrias de principal mercado consumidor do pescado beneficiamento do pescado - Más condições das vias de acesso terrestre; - Condições inadequadas das vias internas; - Implantação de energia elétrica, que - Falta de saneamento básico; Infra-estrutura possibilitará melhorias diversas; - Deficiência do sistema de abastecimento básica e os - Sistema de comunicação; de água; serviços sociais - Educação; - Infra-estrutura para atracação das - Condições de moradia; embarcações; - Assistência médica precária; - Infra-estrutura do posto de saúde e falta de medicamentos - Utilização de mão -de -obra familiar; - Diversificação da produção; - Compartilhamento de curral; - Aquisição de material de pesca; Sistemas de - Manejo sustentável (RESEX Marinha de - Ausência de tecnologias inovadoras na Produção Maracanã) agricultura;

- A comercialização (pesca e agricultura) é - Na atividade pesqueira observa-se, em Organização feita, em sua maioria, de forma individual; alguns casos, o compartilhamento de currais Produtiva - Inexiste cooperativas e associações para

produção e comercialização dos produtos. Assistência - Não há registro de solicitação de

Técnica assistência técnica pelos produtores - Baixo capacidade de organização - Reuniões e festividades das igrejas; Organização política; - Lazer (Futebol, regatas de canoas etc.); Política - Dificuldades de acesso a políticas - Participação da Colônia de Pescadores Z- públicas (Ex.PRONAF) 29 (Salinópolis) Renda - 79% das famílias apresentam renda per - A maioria obtém renda monetária Monetária capita abaixo de R$77,00

Quadro 4 – Fatores limitantes e potencializadores do desenvolvimento local, na Vila Mota

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstrou que em Vila Mota não há miséria nem situações críticas de abandono. As estimativas dos indicadores que compõem o IDH-M, após considerações das especificidades locais, colocam Vila Mota em posição de médio desenvolvimento humano, o que para as características da região e pela baixa inserção da comunidade nas discussões que envolvem a RESEX, pode-se considerar um ótimo resultado. Embora esta classificação geral, levando em conta vários aspectos, aponte uma situação mais para favorável que para ruim, existem pontos de fragilidades que precisam ser tratados antes de se pensar em elevar o índice geral de desenvolvimento da Vila. Por exemplo, ressalta-se que a estimativa do indicador do IDHM-Renda, calculado com base na renda familiar per capita média, apontou valores que classificam as famílias da Vila Mota em camadas que variam de indigentes a média média , segundo os critérios do PNAD (2004). Conforme tais critérios verificou-se que todas as famílias que realizam atividades de pesca e de pesca e agricultura , que correspondem, aproximadamente, a 74% do total de famílias, enquadram-se na camada indigente . Essa condição da Vila Mota evidencia os baixos rendimentos oriundos da atividade de pesca artesanal nas comunidades do litoral paraense, já publicados em outros estudos sobre o assunto. No entanto, na prática não se observa uma condição de indigência naquela Vila. Ou seja, os baixos rendimentos financeiros não determinam que as famílias estejam em situações de indigência, indicando que elas têm outras estratégias, que não a financeira, para estabelecerem o padrão de vida de que desfrutam. Por outro lado, este resultado nos diz também que um índice numérico isolado, como é o caso do IDHM-Renda utilizado, não pode ser o único parâmetro de análise para se compreender as dinâmicas locais de sociedades tradicionais. Eles constituem uma referência, para um padrão estabelecido, mas não explica os processos sociais que estão em vigor. Os baixos rendimentos, lá observados, são insuficientes para explicar o porque as famílias nesta faixa de renda não estão associados a uma condição de miséria. Quanto ao IDHM-Educação, embora sua estimativa tenha resultado em um nível médio (0,791), colocando a Vila Mota acima de outros municípios paraenses, como, por exemplo, Bragança (0,774), Paragominas (0,766) e Tomé-Açu (0,743), deve-se considerar que esse índice não retrata, de certa forma, a qualidade de ensino na referida vila. Esse parâmetro utiliza somente elementos quantitativos para o seu cálculo. Tal fato deixa dúvidas 124

quanto a essa qualidade, haja vista que uma parcela dos moradores, que já concluiu o ensino médio, sente dificuldades de avançar em estudos superior, quando submetida às avaliações de ensino, em outras localidades, como por exemplo, na capital do estado. No que se refere ao IDHM-Habitação, o valor estimado também indicou um nível médio, o que pode ser justificado pelo fato de que 61% das famílias residem em casa de alvenaria e 100% possuem energia elétrica e abastecimento de água. Entretanto, na Vila Mota não há um sistema de tratamento adequado para água e esgoto, comprometendo as condições de salubridade local. O estudo realizado comprova que há necessidade de fortalecimento do capital social na Vila Mota, pois embora haja certo nível de mobilização social, através da qual algumas melhorias já foram alcançadas, especialmente na área de educação, ainda se faz necessário aumentar a capacidade de organização sócio-política, a fim de ter acesso a outras políticas públicas, como, por exemplo, transporte, saúde e linhas de crédito. Um reflexo disso é a ausência de cooperativas/associações locais que possam contribuir para o processo de melhor comercialização e armazenamento do pescado, o que poderia gerar um melhor rendimento monetário para os pescadores. Entretanto, cabe aqui ressaltar a opinião de Diegues (1995, p.117), no tocante à capacidade de administração desses pescadores. Esse autor ressalta que o baixíssimo nível de organização dos pescadores artesanais compromete o processo de gestão frente a essas cooperativas, que os leva a serem manipulados pelos atravessadores e comerciantes. A monoatividade produtiva na Vila Mota, concentrada na pesca artesanal, não pode ser vista como a única causa dos baixos rendimentos financeiros, porém, a baixa capacidade de organização produtiva impede que os pescadores agreguem valor aos seus produtos, bem como possam ser mais independentes nas suas transações comerciais. Ou seja, livre dos atravessadores. Por outro lado, na Vila Mota, por apresentar um ecossistema costeiro favorável ao desenvolvimento de outras atividades produtivas, poderiam ser praticados o cultivo de ostras e camarões, o de peixes em cativeiros, ou a captura de caranguejo, como alternativas de renda que pudessem compensar esses baixos rendimentos, especialmente, nos períodos de entressafra do pescado. Atividades turísticas e recreativas, como, por exemplo, a pesca esportiva e passeios de barco, também são opções que podem contribuir para a diversificação do sistema produtivo, gerando novas fontes de renda e, principalmente, novas atividades, nas quais poderiam ser inseridos os jovens, inclusive, mulheres. A produção de pequenas hortas, 125

confecção de artesanatos também é uma proposta a ser analisada em consonância com a população local. Entretanto, não se observa nenhum tipo de assistência técnica, que possa auxiliar os pequenos produtores da Vila Mota, nas atuais atividades, respeitando os conhecimentos tácitos desses produtores, ou, na transferência de conhecimentos sobre novas atividades produtivas viáveis, considerando o quadro natural disponível. Nesse caso, observa-se que as ações do poder público, relacionadas à formulação de políticas de assistência técnica e rural, poderiam ser fortalecidas, se houvesse uma participação efetiva dos atores locais. Para tanto, é necessário que se conheça a realidade local. Isso pode ser realizado através dos órgãos competentes municipais, que por meio de diagnósticos, possam identificar demandas e elencar prioridades. No caso de Vila Mota, as políticas públicas que são implementadas ocorrem de forma desarticuladas. Existe um nível satisfatório de educação e energia elétrica, porém, não há políticas públicas que integrem esses dois aspectos, favorecendo melhorias para a população local. Não há, por exemplo, programas de geração de emprego e renda, aproveitando a energia elétrica disponível, principalmente, para a armazenagem e beneficiamento de pescados e frutas. Cabe ainda ressaltar, que estudos mais aprofundados sobre a Vila Mota devem ser desenvolvidos a fim de gerar um banco de dados consistente, que possa subsidiar o poder público, não somente na formulação e implementação de políticas públicas, mas também no gerenciamento dessas políticas. A Vila Mota, que reúne características de comunidade pesqueira tradicional, segundo os critérios estabelecidos por Diegues (2004, p.88), apresenta situações semelhantes a outras comunidades pesqueiras do litoral paraense, pois os seus pescadores artesanais também são excluídos do processo de desenvolvimento local, devido, em parte, à fragilidade de suas organizações produtivas, políticas e institucionais. Embora não se tenha identificado indícios de degradação ambiental no ecossitema da Vila Mota, o que favorece a sobrevivência da população local, um aspecto positivo para o processo de desenvolvimento local foi a criação da RESEX/Marinha de Maracanã. A aplicação adequada do seu plano de uso, e uma efetiva participação dos moradores, considerados usuários tradicionais do ecossistema em questão, é fundamental para construção de uma relação harmoniosa entre sociedade e natureza. O que se faz necessário no caso da Vila Mota é um envolvimento maior da população, para que a mesma tome conhecimento do que vem a ser esse mecanismo de controle de 126

recursos naturais, e assim, possa desenvolver atividades econômicas diversas, de forma planejada, preservando seus costumes e garantindo a permanência em seu território. Os órgãos competentes devem desenvolver ações que possam divulgar amplamente os princípios de uma RESEX/Marinha, buscando multiplicadores para o gerenciamento dos seus próprios recursos.

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133

ANEXOS

ANEXO I - Questionário aplicado aos moradores da Vila Mota

ANEXO II - Questionário aplicado ao informante-chave da Vila Mota

134

ANEXO I

Questionário aplicado aos moradores da Vila Mota 135

ANEXO I - Questionário aplicado aos moradores da Vila Mota

Vila Mota Município: Maracanã Estado: Pará Localização da propriedade (Coordenadas geográficas/UTM):...... ______1. IDENTIFICAÇÃO:

Data:...... /...... /...... Entrevistadores:...... Nome do Entrevistado: ...... Apelido: ...... Idade:...... Sexo: ( M ) ( F ) Onde nasceu?:...... Qual o ano de chegada na Vila Mota?...... Onde residiu anteriormente?...... Que atividades desenvolve atualmente?...... Que atividades já desenvolveu ao longo de sua vida?...... ______2.- COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA

Sexo Idade Nível de Grau de Atividades na Atividades fora Nome (M/F) (anos) Escolaridade Parentesco propriedade da propriedade

136

______3. EDUCAÇÃO Quantas pessoas da família estão estudando? ...... Local?...... Qual o período do dia que freqüenta a escola?...... Há alguém da família que estuda fora da Vila Mota? ...... Qual o local?...... Faz uso do transporte escolar?...... O que acha do transporte escolar?...... Há alguém na família que não está estudando?...... Qual o motivo? ...... A sua família participa de algum programa do governo relacionado à educação? ...... Qual?...... Existe alguma programação extra-classe oferecida pela escola para a comunidade?...... Você acha importante que sua família estude? ...... Por que?...... Você estuda?...... O que você acha da escola da Vila Mota?...... Qual sua opinião sobre a merenda escolar? ...... Observação:...... ______

4. SAÚDE Quais as doenças que já ocorreram na sua família? ...... Qual o tipo de atendimento sua família recebeu nesses casos? ...... A Vila Mota possui posto de saúde?...... Como é o atendimento no posto de saúde?...... Como são adquiridos os medicamentos?...... Você costuma usar medicamentos naturais?...... Quais?...... Você precisa se deslocar da Vila Mota para fazer tratamento de saúde?......

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Qual o local?...... Em caso de gravidez: faz pré-natal? Sim ( ) Não ( ) Onde? ...... E o parto, onde é feito? ...... É realizado algum tipo de campanha para prevenção da saúde?...... Existe algum programa de saúde do Governo (municipal, estadual ou federal), na Vila Mota?...... Observação...... ______

5. ALIMENTAÇÃO Quantas refeições são realizadas por dia?...... Quais os alimentos mais consumidos na primeira refeição (café da manhã)?...... Quais os alimentos mais consumidos no almoço?...... Quais os alimentos mais consumidos entre refeições (lanches)?...... Quais os alimentos mais consumidos no jantar?...... Onde são adquiridos os alimentos consumidos?...... Observação:...... ______

6. RELIGIÃO É praticante de alguma religião? ( ) não ( ) sim. Qual? ...... Participa de grupos ligados à religião? ...... Qual a freqüência das reuniões em grupos ligados à sua igreja?...... Quais os assuntos que são discutidos?...... Quantas festividades a sua igreja promove, durante o ano?...... Quais?...... Acha que a religião é importante para a família? não ( ) sim ( ) Por quê? ......

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Acha que a religião é importante para a Vila Mota? não ( ) sim ( ) Por quê? ...... Observação:...... ______

7. LAZER Quais as formas de lazer na localidade? ...... A família participa de que atividades de lazer? ...... Com que freqüência você e sua família participam de atividades de lazer?...... Existem espaços (praças, quadras de esporte, campo de futebol, salas de recreação) designados para o lazer?...... Há campeonato de futebol ? Existe algum time formado?...... Você tem alguma sugestão para melhoria do lazer na Vila Mota?...... Observação:...... ______

8. SEGURANÇA Você acha a Vila Mota segura?...... Já ocorreu algum tipo de roubo ou furto, em sua propriedade?...... Em que período ocorreu?...... Quais os principais tipos de violência que ocorrem na Vila Mota?...... Existe algum tipo de policiamento na Vila Mota?...... Observação:...... ______

9. INFRA-ESTRUTURA FÍSICA

9.1. HABITAÇÃO Como adquiriu o terreno? ( ) Compra ( ) Herança de família ( ) Ocupação (Em que condições?...... )

139

Possui documentação:...... Tipo de construção:...... Número de cômodos:...... Qual o tamanho do terreno?...... Já fez alguma reforma/ampliação?...... Por que?...... Tem vontade de fazer alguma reforma/ampliação?...... Qual?...... Por que ainda não fez a reforma desejada?...... Você gosta do local onde mora ou mudaria para outro local (na própria Vila Mota ou fora dela)?...... Observação:......

9.2. ENERGIA Quais os tipos de energia utilizada?...... Qual o custo mensal gasto com energia?...... Tem eletrodomésticos? ( )Sim ( )Não Quais?...... Você conhece algum tipo de energia alternativa?...... Observação:......

9.3. ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SANEAMENTO BÁSICO Possui água encanada?...... Qual a origem da água utilizada (poço artesiano, cisterna etc.)?...... A água usada é filtrada?...... Como é feito o tratamento de resíduos sólidos?...... Existe fossa?...... Observação:......

9.4. TRANSPORTE / COMUNICAÇÃO Qual o tipo de transporte que a família usa para se deslocar da Vila Mota?...... Esse transporte é pago?...... Quanto você paga para o deslocamento?...... Tem algum tipo de veículo? ( )Automóvel ( ) Barco ( ) Bicicleta ( ) outros...... Quantas viagens você costuma realizar por semana?...... Atende às necessidades de locomoção da família? ...... Os veículos são seguros?...... O que você acha das vias de acesso?......

140

Possui telefone? ...... ( ) Convencional ( )Celular Tem facilidade para fazer ligações dos orelhões da Vila Mota?...... Observação:...... ______

10. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL Alguém da família participa de alguma Associação, Colônia de pescadores, Cooperativas ou Sindicato? ( ) sim ( ) não Qual(is)?...... Há quanto tempo?...... Função...... O que o(s) motivou a participar? ...... Qual a freqüência das reuniões?...... Quais os assuntos tratados?...... Qual a importância dessa organização para a família? ...... Observação:...... ______

11. SISTEMAS DE PRODUÇÃO

11.1. EXTRATIVISMO

11.1.1. PESCA Tipo de pesca: ( ) Alto mar ( ) Margem Equipamentos: ( ) Curral ( ) Rede ( )Linha/anzol ( )Muzuá ( ) Outros O curral é compartilhado? ( ) Sim ( ) Não De que forma o curral é compartilhado?...... Tem embarcação própria?...... Quanto tempo passa pescando por semana ?...... Quem são os responsáveis pela pesca?...... Quantas pessoas da família participam da pesca?...... Qual o período de safra?...... Quais os tipos de peixe mais pescados?...... Quais os tipos de peixe mais vendidos?...... Quais os tipos de peixe mais consumidos pela família?...... Qual a quantidade consumida de peixe por semana?......

141

Quais os tipos de peixe de que a família mais gosta?...... Qual o tipo de peixe de maior valor comercial?...... Qual o tipo de peixe de menor valor comercial?...... Como armazena o pescado?...... Costuma salgar o peixe?...... Quais as principais dificuldades para pescar?...... Existe algum problema/fenômeno ao longo do ano que dificulta a pesca?...... COMERCIALIZAÇÃO DO PESCADO FORA DA VILA QUESTÕES NA VILA MOTA MOTA

Quantidade vendida?

Qual o período de maior venda?

Para onde vende o pescado?

Para quem vende o pescado?

Período de maior venda?

Preço de venda por tipo de peixe ?

Como transporta o pescado?

Qual(is) o(s) custo(s) desse transporte?

Quais as dificuldades que observa na comercialização? ...... O que você acha que poderia ser feito para melhorar a comercialização?...... Observação:......

142

11.1.2. EXTRAÇÃO VEGETAL

Quais os tipos de produtos?...... Qual a área utilizada?...... Qual a mão-de-obra utilizada?...... Qual a quantidade consumida pela família?...... Costuma comercializar? ( ) Sim ( ) Não Qual a quantidade?...... Para onde vende os produtos?...... Para quem vende os produtos?...... Qual o preço por produto?...... Qual o período que mais vende?...... Usa Máquinas /Equipamentos? Quais? ...... Quais as dificuldades que observa na comercialização? ...... O que você acha que poderia ser feito para melhorar a comercialização? ...... Observação:......

11.2. TIPO DE CULTURA E COMO SE FAZ Característica Perspectiva de Formas de uso Atualmente anterior uso futuro Mata Capoeira Juquira Roça (anuais) Culturas perenes Pasto

Qual o tipo de cultura?...... Qual a safra, por produto?...... Qual a área plantada?......

143

Usa algum tipo de adubo? Qual?...... Há algum tipo de praga? Qual?...... Quais os tipos de doenças observados?...... Usa algum tipo de agrotóxico?...... Na família, quem costuma trabalhar na agricultura?...... Quantos dias, por semana, costuma trabalhar na agricultura?...... Qual a quantidade produzida na propriedade que é consumida pela família?...... Tem máquinas/equipamentos? Quais?...... Quais os principais problemas enfrentados com as culturas? ...... Quais os produtos mais vendidos?...... Qual a quantidade vendida?...... Para onde vende os produtos?...... Para quem vende os produtos?...... Qual o preço de venda por produto?...... Como transporta os produtos?...... Quanto gasta para transportar o produto?...... Quais as dificuldades que observa na comercialização? ...... O que você acha que poderia ser feito para melhorar a comercialização?...... Observação:......

11.3. CRIAÇÃO Quais os tipos de animais criados?...... Qual a quantidade, por tipo de animais?...... Comercializa a produção? ( ) Sim ( ) Não Quais os produtos vendidos?...... Qual o período de maior venda?...... Qual a quantidade vendida, por produto?...... Qual o preço de venda, por produto?......

144

Para onde vende os produtos?...... Para quem vende os produtos?...... Como transporta os produtos?...... Quanto gasta para transportar os produtos?...... Quais os principais problemas com as criações? ...... Quais as dificuldades que observa na comercialização? ...... O que você acha que poderia ser feito para melhorar a comercialização?...... Observação:......

______

12. RENDAS a) Qual a sua principal fonte de renda no lote?...... b) Qual o período de maior renda no lote? ...... c) Qual o período de menor renda no lote? ......

12.1. OUTRAS RENDAS OUTRAS VALORES QUEM PERÍODO Salário Aposentadoria Venda de Mão-de-obra Ajuda de filhos ou parente Programas sociais Outros

Observação:......

145

______

13. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E CRÉDITO

Você já recebeu assistência técnica? ...... Quem realiza (ou)? ...... Com que freqüência? ...... Para que tipo de atividade?...... Já participou de algum curso(s) de capacitação? ...... Qual(is)? ...... Quando? ...... Quem realizou? ...... Você está satisfeito com a assistência técnica? ...... Se não, por quê?...... Você já acessou algum programa de crédito? ...... Qual(is)?...... Quando? ...... Quem elaborou o projeto?...... Achou adequado ao que você queria? ...... Se não, qual a maior dificuldade? ...... Conseguiu pagar o crédito? ...... Como se dá a relação com o agente financeiro? ...... Observação:......

......

______

14. DIFICULDADES:

Quais as principais dificuldades consideradas por você, para quem mora na Vila Mota?

......

......

......

......

......

146

______

15. EXPECTATIVAS:

O que você acha importante ter na Vila Mota, para melhorar as condições de vida da população?......

Se você tivesse um recurso financeiro, o que você faria para melhorar suas atividades e o bem-estar da sua família?......

......

......

147

ANEXO II

Questionário aplicado ao informante-chave

148

Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável Questionário: Diagnóstico Vila Mota

Vila Mota Município: Maracanã Estado: Pará

1.IDENTIFICAÇÃO: Data:...... /...... /...... Entrevistador:...... Nome do Entrevistado: ...... Apelido: ...... Idade:...... Sexo: ( M ) ( F ) Onde nasceu?:...... Por onde passou até chegar a Vila Mota? ...... Qual o ano de chegada a Vila?...... Que atividades desenvolve hoje? ...... Que atividades já desenvolveu?...... Qual a sua função na Vila? ...... Nível de escolaridade......

2. ESTRUTURA LOCAL 2.1. RELIGIÃO: Quais as religiões existentes na Vila Mota? ...... Quais são as lideranças religiosas da Vila Mota? ...... Como se dá as relações entre os adeptos das diferentes religiões? ...... Onde são realizadas as práticas religiosas? ...... Quantos espaços são destinados para esse fim? ......

2.2. LAZER: Quais as formas de lazer na Vila Mota? ......

2.3. SAÚDE Qual o tipo de atendimento disponível na Vila? ( ) Posto de saúde ( ) ACS ( ) ______Quais as doenças que mais ocorrem na Vila? ...... Como essas doenças são tratadas? ...... Como são realizados os partos na Vila? ...... Há a presença de benzedeiras na Vila? ...... Há o uso de plantas medicinais na Vila?...... Quais? ......

149

2.4. EDUCAÇÃO Tem escola na Vila Mota? Sim ( ) Não ( ) Quantas? ...... Quais são as séries que existem na escola da Vila? ...... Em que ano surgiu a primeira escola na Vila? ...... Como se deu esse processo?...... Como funciona cada turma? ...... Quantidade de alunos? ...... Há evasão de alunos na escola?...... Principais motivos da evasão escolar? ...... As famílias participam de algum programa do governo relacionado à educação? ...... Horário de funcionamento? ...... Quantidade de Professores? ...... Nível de escolaridade dos professores? ...... Onde os professores foram formados? ...... Há merenda escolar?...... Quantidade, qualidade, outros?...... Transporte escolar? ...... Você acha suficiente o ensino na Vila Mota? ...... O que precisaria?......

2.5. SEGURANÇA Como é feita a segurança da Vila Mota? ...... Há violência no local? ( ) Drogas ( ) Violência infantil ( ) Violência contra a mulher ( ) Roubos ( ) Assassinatos ( ) Outros ......

2.6. TRANSPORTE / ACESSO Quais as vias de acesso para chegar a Vila Mota? ...... Qual o tipo de transporte de acesso a Vila Mota? ...... Freqüência desse transporte? ...... Condições de acesso: No período chuvoso? ...... No período menos chuvoso? ...... Como as pessoas se deslocam dentro da Vila? ......

150

2.7. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO Qual(is) forma(as) de organização(ões) (Associação, Sindicato, Cooperativa, Colônia de Pescadores) há na Vila Mota? ...... Existe participação das pessoas da Vila? ...... Como se dá essa participação? ...... Qual a importância dessa(as) organização(ões) para a localidade? ...... Quais as relações existentes nessas organizações? ......

2.8. REDES LOCAIS Como se estabelecem as relações com outras localidades? ...... Quais as formas de comunicação existentes na Vila ? ......

2.9. ASPECTOS HISTÓRICOS DA VILA MOTA Qual a origem da Vila? ...... • Ano de criação / Pioneiros; • Processo de ocupação / conflitos / litígio; • N° de famílias / Início / Atualmente;

3. ESTRUTURA DA VILA MOTA: Quais os tipos de produção presentes na Vila Mota? Inicialmente: ...... Atualmente:...... Qual a produção de maior destaque na Vila Mota? ...... Por quê?...... Como é feita a comercialização dos produtos da Vila Mota? ...... • Destino / Local de venda; • Intermediário; • Transporte; • Principais dificuldades;

151

• Procurar saber todos os caminhos do produto ao consumidor final. Quais as fontes de água na Vila Mota? ...... Estabelecimentos comerciais na Vila Mota? ......

4. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E CRÉDITO Qual o tipo de assistência técnica existente na Vila Mota? ...... Quem realiza? ...... Freqüência? ...... Para que tipo de cultura e ou criação? ...... Houve cursos de capacitação na Vila? ...... Qual(is)? ...... Quando? ...... Quem realizou? ...... Qual a sua visão sobre a assistência técnica Vila Mota? ...... Quais os programas de crédito acessados na Vila Mota? ...... São adequados as necessidades da Vila Mota? ...... Julga satisfatória a utilização do crédito na Vila Mota? ...... • Inadimplência; • Aplicação do crédito; • Relação com agente financeiro; • Assistência técnica (elaboração dos projetos).

5. DIFICULDADES:

Quais as dificuldades encontradas na Vila Mota? ...... 6. EXPECTATIVAS: O que você acha importante para melhorar as condições dos moradores da Vila Mota? ......

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