UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO - FACOM

ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA : Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

SALVADOR – BA 2016

ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL : Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia como exigência para a obtenção do título de bacharel em Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura, sob a orientação da Profa. Carla Risso.

SALVADOR – BA 2016

ÁUREA CRISTINA RODRIGUES DE SOUZA

FESTIVAL RATHA YATRA: Um estudo de caso da produção da ISKCON Bahia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal da Bahia como exigência para a obtenção do título de bacharel em Comunicação – Produção em Comunicação e Cultura sob a orientação da Profa. Carla Risso.

Aprovada em: 20 / 05 / 2016

BANCA EXAMINADORA

______Profa. Carla de Araújo Risso

Professor Doutor Fábio Sadao Nakagawa

Professor Doutor Lúcio Valera

A todos os “amadores profissionais”, que se desdobram por uma demanda do coração, tendo em suas mãos valiosos trabalhadores voluntários, escassos recursos, e muita boa vontade.

AGRADECIMENTOS

AO MEU PAI ANTONIO CARLOS DE SOUZA E A MEU SWAMI (IVAN

AUGUSTO LISBOA RIBEIRO), QUE NUNCA ME PERMITIRAM ABANDONAR A FACULDADE.

A JAGAD VICHITRA PRABHU (SÉRGIO LISBOA RIBEIRO), QUE ME FEZ REFLETIR SOBRE A

VERDADEIRA REALIZAÇÃO DE RENÚNCIA E SERVIÇO DEVOCIONAL.

À MINHA MÃE AURENI RODRIGUES DE SOUZA, COM QUEM APRENDI MUITAS LIÇÕES DE VIDA.

AO MEU MARIDO DAS (SAMUEL LOURENÇO THÉ), POR FLORESCER NA

MINHA VIDA.

A ANO, DEU, RÔ, SOFI E AYLA. POR SEREM.

A TODOS MEUS AMIGOS, QUE ACHAM QUE EU SOU (QUE SOO E SOUL). E ME OBRIGAM A

ACREDITAR NISSO.

ÀS MINHAS VÁRIAS MÃES E IRMÃS: KUNTI, KADAMBA, MADALENA, KRSNA, HITA

KARINI, GOPESVARI LEUNY E GAURA PRIYA.

A GOVINDAJI DASI (GOVINDA VENTURA), CAITANYA DOIDO DAYA DAS (CLEITON

VENTURA), E RAVI (ÊÊÊÊ!!!) PELO COMBUSTÍVEL DA RETA FINAL.

A VERINHA E SUELI POR TANTO TEMPO, E A TODOS COLEGAS, PROFESSORES E

FUNCIONÁRIOS QUE TORCERAM A FAVOR POR MIM.

AO SENHOR JAGANNATHA, QUE, ESTANDO SEMPRE EM MEU CAMINHO, OU MEU CAMINHO A

ELE SE DIRIGINDO, É O OBJETO DE MINHA VISÃO. (JAGANNATHA SWAMI NAYANA PATAGAMI

BHAVA TU ME)

AO PODEROSO SENHOR , QUE ME DÁ FORÇAS DE TRANSPORTAR MONTANHAS E

SEMPRE ME ACOMPANHA. (BOLO HANUMAN BAJRANGBALI)

A SRILA PRABHUPADA, EM HOMENAGEM AOS 50 ANOS DE FUNDAÇÃO DA ISKCON.

E AO MEU ANJO-EX-ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOSÉ ROBERTO SERAFIM

SEVERINO, QUE ME GUIOU ATÉ A BORDA, E À DOCE PROFESSORA DOUTORA CARLA DE

ARAÚJO RISSO, QUE DEU O EMPURRÃO FINAL.

MEUS AGRADECIMENTOS E REVERÊNCIAS AOS GRANDES MESTRES E PREDECESSORES.

A ELES OS CRÉDITOS DE MEUS TRABALHOS.

OBRIGADA.

“Abhay encantou-se também com o festival de Ratha-yatra do Senhor Jagannatha, comemorado anualmente em Calcutá. O maior Ratha-yatra de Calcutá era conduzido no Radha-Govinda Mandir, com três carruagens individuais, carregando as Deidades de Jagannatha (Krsna), e . Saindo do templo de Radha-Govinda Mandir, as carruagens seguiam a Rua Harrison por uma curta distância, após o que voltavam. Nesse dia, os dirigentes do Templo distribuíam ao público grandes quantidades de prasada do Senhor Jagannatha.

Promovia-se Ratha-yatra pelas cidades de toda a Índia, mas o Ratha-yatra original, do qual participavam a cada ano milhões de peregrinos, ocorria a 500 quilômetros ao sul de Calcutá, em Jagannatha . Por séculos em Puri, multidões têm rebocado no percurso de três quilômetros da procissão as três carruagens de madeira de cerca de 14 metros de altura, em comemoração a um dos passatempos eternos do Senhor Krsna. Abhay ficou sabendo como o próprio Senhor Caitanya, há 400 anos, dançara e liderara o extático canto de Hare Krsna no Festival de Ratha-yatra de Puri. Abhay às vezes olhava para o roteiro de horários de trens ou perguntava sobre o preço da passagem até Puri, pensando sobre como conseguir dinheiro para ir até lá.

Abhay [aos cinco anos de idade] queria ter sua própria carruagem e realizar seu próprio Ratha-

yatra e, naturalmente, recorreu ao auxílio de seu pai. Gour Mohan lhe trouxe uma réplica usada de um ratha (carruagem) de um metro de altura, e, junto, o pai e o filho construíram as colunas de sustento e colocaram um dossel no topo, para dar a maior semelhança possível com aqueles nas grandes carruagens de Puri. Abhay ocupou seus companheiros em ajuda-lo, especialmente sua irmã Bhavatarini, e tornou- se seu líder natural.

Respondendo a seus pedidos, as mães que viviam na vizinhança se divertiam e concordaram em cozinhar preparações especiais para que ele pudesse distribuir prasada neste festival de Ratha-yatra.

Como o festival de Puri, o Ratha-yatra de Abhay durou oito dias consecutivos. Os membros de sua família se reuniram, e as crianças da vizinhança puxavam o carro da procissão, cantando e tocando tambores e karatalas. (...) Quando, no final da década de 1960, Srila Prabhupada começou a introduzir grandes festivais de Ratha-yatra nas cidades dos Estados Unidos e quando começou a instalar Deidades de Radha-Krsna em seus templos da ISKCON, ele disse que aprendera todas essas coisas com seu pai.” Satsvarupa Dasa Gosvami (2014)

RESUMO

Este documento registra um estudo das produções do evento “Festival de Verão Ratha Yatra” realizadas pela ISKCON Bahia, Brasil, com foco no período de 2003 a 2013. Seu objetivo é apontar caminhos para o aprofundamento do Produtor Cultural interessado no campo do evento Ratha Yatra, e de outros similares. Este Trabalho apresenta um histórico do Movimento , ISKCON (mundial, no Brasil e na Bahia), e do Ratha Yatra (na Índia, no Ocidente, no Brasil e por fim em Salvador); destrincha experiências de produção deste evento em Salvador (BA), e revela considerações do produtor sobre o trabalho na prática realizando este evento por mais de 10 anos. Vagueia sobre a participação de voluntários, a escassez de recursos, as limitações do produtor, concluindo com a importância da simbiose entre o Produtor Cultural e seu produto.

Palavras-chave: Ratha Yatra; ISKCON; Movimento Hare Krishna; Jagannatha; Voluntário; Festival

ABSTRACT

This document contains a study about the productions of the event "Festival de Verão Ratha Yatra" [Ratha Yatra Summer Festival] organized by ISKCON Bahia, Brazil, focused on the period 2003 to 2013. Its objective is to point ways to deepening for any Cultural Producer interested on the field of the Ratha Yatra event or similar ones. This paper presents a history of the Hare Krishna Movement, ISKCON (world, Brasil and Bahia), and a history of Ratha Yatra (in India, in the Occident, in Brazil, and at last in Salvador); it details production experiences of the event in Salvador (BA) and it reveals the producer's considerations about the job in practice by organizing the event for over 10 years. It wanders by the volunteers's participation, the shortage of resources, the producer's limitations, and it concludes with the importance of the symbioses between the Cultural Producer and his product.

Keywords: Ratha Yatra; ISKCON; Hare Krishna Movement; Jagannatha; Volunteer; Festival

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AP Acervo Pessoal APV Alimentos Para a Vida (FFL) BBT Bhaktivedanta Book Trust CGB Conselho Governamental Brasileiro FFL Food for Life GBC Governiment Body Comission ISKCON International Society for Krishna Conciousness (Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna) RY Ratha Yatra

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13 1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO 15 2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL 16 2.1 ISKCON 17 2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos 18 2.2.1 Deidades do Ratha Yatra 24 2.2.2 Pujari 25 2.3 Ratha Yatra no Ocidente 26 2.3.1 Ratha Yatra no Brasil 30 3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA 35 3.1 Deidades da ISKCON Bahia 39 3.2 43 3.3 Carro do Ratha Yatra 44 3.3.1 Cúpulas 50 3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida 54 3.5 Música 54 4 BOTANDO A MÃO NA CORDA 57 4.1 A “Religião” como um rótulo 58 4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário 58 4.3 Snana Yatra 60 4.4 Acompanhamento Percussivo 60 4.5 Sonorização 60 4.6 Apresentações Artísticas 61 4.7 Cerimônia dos Cocos 61 4.8 Chhera Pahanra (varredura) 61 4.9 Banquinhas 62 4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro 62 4.10.1 Pós-evento 63 4.11 Decoração 65 4.12 Alimentos Para a Vida 66

4.12.1 Madalena Koppe (Mada) 67 5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR 69 5.1 Planejamento e Execução 70 5.1.1 Projeto 70 5.1.2 Plano de Comunicação 71 5.1.3 Autorizações 72 5.2 Gerenciando Recursos 74 5.2.1 Voluntários, Tempo e Outros Recursos: o Panorama da Mudança 74 5.2.2 Recurso Humano 75 5.2.3 Recursos Financeiros 76 5.2.4 Apoios Públicos 77 5.2.5 Distribuição de Prasada - Alimentos Para a Vida 77 5.3 Produção como 78 5.3.1 Um Espaço para o Místico 79 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 84

REFERÊNCIAS 86 APÊNDICE A 88 ANEXOS 93 ANEXO A 94 ANEXO B 110 ANEXO C 125 1/5 Por que Krishna Aparece como Jagannatha? 126 2/5 Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar 134 3/5 Jagannatha: O Êxtase do Reencontro 138 4/5 Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha 151 5/5 Archana: Adoração à Deidade 160 ANEXO D 166 ANEXO E 184 ANEXO F 202 RELAÇÃO DE ANEXOS ÁUDIO VISUAIS (F a N) 204 GLOSSÁRIO 206

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1 INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é ampliar o campo de visão do produtor cultural enquanto um ser, se não já inserido, a se inserir no mundo de sua produção, através do estudo de caso de Produção do “Festival Ratha Yatra”, realizado pela Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna (ISKCON) na cidade de Salvador, Bahia, no período compreendido entre, e incluso, os anos de 2003 a 2013. Serão levantadas observações sobre uma produção sem fins lucrativos, que tem sua base no trabalho voluntário, realizada por devotos, por, e para, uma instituição de poucos recursos financeiros, com apenas 40 anos de história no Brasil. Devido às particularidades desse específico serviço de produção, este trabalho de conclusão de curso versa sobre o indispensável vínculo entre o(s) produtor(es) e seu produto ao trabalhar em um cenário peculiar, que imporá sua dinâmica, do início ao fim. Inevitável tratar das dificuldades enfrentadas e como minimizá-las, bem como do caráter salutar de tal tipo de evento e suas benesses para o profissional da Produção. Os significados das palavras estranhas à Língua Portuguesa, mais especificamente em Sânscrito, que serão constantemente usadas, podem ser encontrados ao final do Trabalho, na seção Glossário. Uma linguagem única é utilizada, e termos são condensados, visto tratar-se de um cenário próprio e específico. Para situar inicialmente o leitor desde trabalho, os mais relevantes desses termos são apresentados nesta Introdução, como um GLOSSÁRIO PRÉVIO. Necessária, também, é a contextualização sobre a SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRSNA (ISKCON), e sobre as tradições e elementos do Ratha Yatra, ao que o Capítulo 2 se propõe. O Anexo A contém informações institucionais sobre a ISKCON, seu fundador e suas bases; e o Anexo B, o histórico da ISKCON na Bahia, e as concepções de divindade desta instituição. O Anexo C enriquece o leitor com as origens e passatempos do personagem principal do Ratha Yatra, o Senhor Jagannatha, em 5 artigos da revista “Volta ao Supremo”. Maiores dúvidas quanto à tradição vaishnava podem ser sanadas através da leitura do Anexo D. No Capítulo 3, observamos o cenário da produção do RATHA YATRA NA BAHIA, mas especificamente em Salvador, e sua movimentação estrutural, quando a organização do evento passa das mãos da administração oficial da 14

Instituição para os seus membros voluntários autônomos (produtores- profissionais-amadores). Essa movimentação da estrutura social da ISKCON é apresentada por Dhanvantari Swami, pioneiro da ISKCON no Brasil, no Anexo E. O Capítulo 4, “BOTANDO A MÃO NA CORDA”, dá sequência ao desenvolvimento da ideia de se produzir um Ratha Yatra ou eventos similares. Trata das bases das escolhas a serem feitas na organização desses eventos. O Capítulo 5 continua apresentando os elementos que se destacaram na produção do Ratha Yatra em Salvador de 2003 a 2013, e as experiências e considerações sobre cada um. “DE PRODUTOR PARA PRODUTOR” é emitido finalmente como a voz latente do produtor do Ratha Yatra, direcionada a outro produtor, esmiuçando o “andar da carruagem” de seu trabalho: seu modo de agir frente a todo o contexto apresentado, inserido em um cenário mais amplo da produção. Para complementar este trabalho, uma vez que sua conclusão se deu após a realização do Ratha Yatra 2016 de Salvador, o Apêndice A traz um relato sobre o processo atual de licenciamento de eventos do município. Muitos detalhes da execução de um Festival de Ratha Yatra não foram ampliados, dado o objetivo deste trabalho, sendo passíveis de se tornarem matérias- primas para um futuro trabalho mais extensivo. O foco aqui são as experiências e impressões mais marcantes de um produtor, profissional por sua formação acadêmica e/ou experiência, mas amador por escolha, em mais de 11 de edições de um mesmo evento. Ainda que limitado, espera-se que este trabalho sirva de auxílio para interessados na produção do evento em questão, ou outros de natureza similar.

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1.1 GLOSSÁRIO PRÉVIO a) Gaudya-Vaishnavismo - tradição monoteísta e personalista, ensinada através da corrente de sucessão discipular que advém da Encarnação de Deus Caitanya Mahaprabhu (Gauranga). Sua prática essencial é a -. b) Vaishnava - seguidor do gaudya-vaishnavismo. c) - pratica espiritualista que compreende o serviço devocional espontâneo, imotivado e amoroso à Suprema Personalidade de Deus, como forma religiosa, religare, de conexão com o Divino. d) Bhakta - praticante da Bhakti-Yoga. e) Devoto - será utilizado como variação para “Bhakta”. Compreende o membro da ISKCON, residente ou não do Templo. f) Devocional - próprio do devoto, feito por amor e espontaneamente. g) Seva - serviço devocional. Todo trabalho feito por, ou destinado a, o devoto. h) Voluntário ou colaborador - apoiador da produção do Ratha Yatra, sendo devoto ou não, e não remunerado por isso, a menos que seja ressalvado. i) Simpatizante - aquele que não pratica a religião vaishnava, mas apoia e simpatiza com a instituição e seus objetivos, sendo ou não um voluntário ou colaborador. j) Carro, carruagem ou Carro do RY - veículo no desfile RY para levar as Deidades, sendo puxado por cordas pelos participantes. k) - Conjunto de sons, que por suas propriedades e vibrações intrínsecas possui o poder de realizar transformações, sutis ou grosseiras na matéria orgânica. l) Maha Mantra ou Maha Mantra Hare Krishna: hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare hare rama rama rama hare hare. É uma oração de aclamação e louvor à Suprema Personalidade de Deus. Considerada a mais poderosa oração pela tradição Gaudya-Vaishnava.

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2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL 17

2 A ISKCON E O RATHA YATRA, NA ÍNDIA, NO OCIDENTE E NO BRASIL

2.1 ISKCON

Figura 1: Srila Prabhupada (Acervo Pessoal)

A Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna, ISKCON (do inglês International Society for Krishna Consciousness) foi fundada em 1966, nos Estados Unidos, por seu acarya (aquele que ensina pelo exemplo) Abhay Caranaaravinda Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Srila Prabhupada, que aos 69 anos de idade saiu pela primeira vez da sua terra natal, Índia, visando satisfazer o desejo e sugestão de seu mestre espiritual de levar aos países de língua inglesa os conhecimentos da tradição monoteísta e personalista Gaudya Vaishnava. Durante a viagem de três dias em um barco cargueiro chamado Jaladutta, Srila Prabhupada completou 70 anos e sofreu dois ataques cardíacos. (SATSVARUPA, 2002) A ISKCON é uma instituição sem fins lucrativos, de carácter religioso (monoteísta e personalista), filosófico, social, cultural e beneficente, que, por ter como fundamento em suas práticas religiosas diárias o cantar de (cânticos ou recitações) na língua sânscrita, sendo desses o principal o Maha Mantra “Hare Krishna” (hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare), se tornou popularmente conhecida como “Movimento Hare Krsna”. 18

Em sua missão, Srila Prabhupada não se limitou aos países de língua inglesa, e surpreendeu seus compatriotas não só por obter sucesso na consolidação da ISKCON nos Estados Unidos da América, - o que seus contemporâneos indianos já consideravam impossível antes de sua partida da Índia, - mas efetivamente expandiu esta Sociedade para todos os continentes e principais países do mundo, incluindo Estados da própria Índia, onde os Templos e discípulos da ISKCON se tornaram referências no Gaudya Vaishnavismo. (SATSVARUPA, 2002) Maiores informações sobre a ISKCON e Srila Prabhupada se encontram nos Anexos A, B e D.

2.2 Ratha Yatra: sua origem e elementos

Figura 2: Ratha Yatra em Jagannatha Puri (AP)

“Ratha” significa carruagem, e “Yatra”, viagem, passeio. O Ratha Yatra é um festival religioso que originalmente acontece na cidade de Puri (ou Jagannatha Puri), Orissa, Índia, quando três grandes carruagens de madeira, são puxadas por cordas por um percurso de 3 quilômetros, do Templo de Jagannatha Puri ao Templo de Gundica (pronuncia-se “Gunditcha”), sempre com o acompanhamento de música devocional e distribuição de alimentos consagrados (prasada) (KHUNTIA, PARIJA, 19

BIBUDHARAÑJAN, 2002). A primeira procissão data de 1150 dC, e anualmente 1 milhão de participantes são aguardados, sendo este um dos mais antigos e maiores eventos religiosos do mundo.

Dois elementos principais caracterizam a base de um evento Ratha Yatra: a) Carros de passeio (carruagens) puxados por cordas (ou outro artifício) pelas pessoas presentes; e b) As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra como passageiros dessas carruagens (vide item 3.2.1).

Carruagens - com 16 metros de comprimento e pesando cerca de 5 toneladas cada, os Carros de RY de Puri são considerados como a própria Deidade. Sua confecção ocorre como um ritual, e todas as medidas, pinturas, cores, tanto do Carro como de Suas cúpulas, são religiosamente pré-determinados.

Passageiros - No Ratha Yatra de Puri, as três Deidades: Jagannatha, Seu irmão Baladeva, e Sua irmã Subhadra, assumem Seus tronos em cada uma das três carruagens, e saem para passear, na única oportunidade por ano em que podem ser vistas por aqueles que não têm permissão de entrar em Seu Templo - estrangeiros e indianos de determinadas castas, classes sociais, não têm esse privilégio e só podem ver as Deidades durante seu passeio Ratha Yatra. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 3: Baladeva, Subhadra e Jagannatha de Puri em Seus Carros de RY (AP)

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Figura 4 – cordão de segurança para puxar as cordas do RY em Puri (AP)

Cordas - O significado místico das cordas puxadas pelos presentes no RY é “o esforço necessário para se alcançar Deus.” Os participantes estão puxando Deus para dentro de Seus corações. Segundo a tradição, quem puxa a corda do carro do Senhor Jagannatha no dia de Seu Ratha Yatra obtém a liberação deste mundo material. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 5 – Deidades de Puri prontas para o banho (AP)

Snana Yatra - Aproximadamente quinze dias antes do desfile principal, as Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra passam pela cerimônia de Snana Yatra, que consiste em serem banhadas pelos pujaris (Seus cuidadores pessoais - 21

vide 3.2.2) com diversos líquidos, como sucos de frutas, mel, água de coco, leite, essências, ghee (manteiga sem impurezas), iogurte e água. Como esse banho é realizado na parte externa do Templo, considera-se que as Deidades ficam doentes devido ao frio, após o que ficam reclusas no altar da sala do Templo de Puri, de portas fechadas, até a data do Ratha Yatra, sendo cuidadas de Sua doença, e vistas, neste período apenas por seus servos íntimos (pujaris). (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Figura 6 – Jagannatha sendo levado para o Carro no movimento de Pahanti (AP)

Pahanti - No dia do Ratha Yatra, após Sua recuperação, as Deidades são levadas, uma a uma, pelos pujaris e pessoas autorizadas, para Suas carruagens fora do Templo, onde são recebidas com grande festa pelos fiéis, e colocadas nos assentos de Seus respectivos carros de Ratha Yatra. Como as Deidades em Puri são grandes e pesadas, este movimento de saída do Templo se torna um evento à parte, chamado Pahanti. Grandes toras de madeiras e/ou almofadas são colocadas à frente das Deidades, que são levantadas e empurradas para frente, dando a impressão das Deidades estarem dançando, embriagadas, em meio à multidão. Seus servos entendem que é devido a estarem intoxicadas de amor puro. (Vide Anexos áudio visuais I e J)

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Figura 7 – Deidades de Puri sendo levadas do Templo para os Carros (AP)

Chhera Panhara (pronuncia- se ‘pan-RRa-ra’) - É uma tradição na qual o maharaja, ou rei, de Puri varre o chão na frente dos Carros antes da procissão. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002) Com este gesto ele demonstra que apesar dele ser a maior autoridade do templo de Puri, Deus, Jagannatha, é a autoridade Suprema, acima dele mesmo.

Figura 8: Governante de Puri realiza o Chhera Panhara (AP)

Maha Prasada - Durante o Ratha Yatra, muitos alimentos lacto-vegetarianos são consagrados durante o percurso, através do seu oferecimento pelos pujaris a estas Deidades. A partir dessa consagração, os alimentos passam a ser chamados de “prasada”, misericórdia de Deus, ou “mahaprasada” (maha = grande). Figura 9: Prasada (AP) 23

Figura 10: Templo de Gundica (AP)

Retiro - As Deidades saem do Seu Templo em Puri percorrendo os três quilômetros que O separa do Templo de Gundica, onde passam 7 dias repousando, e retornam ao Templo de Puri no 9º dia. Apesar de o Festival abranger esses 9 dias, o evento principal do Ratha Yatra compreende o primeiro dia da procissão.

Figura 11: Carros de RY estacionados às portas do Templo de Gundica (AP) 24

2.2.1 Deidades do Ratha Yatra

Nos Templos Gaudya-vaishnavas, os altares são ocupados por formas que são manifestações diversas de Deus. São as Deidades. Elas podem ser de madeira, mármore, metal, pedra, ou qualquer outra composição, desde que autorizada na linha de sucessão discipular da tradição. São três as Deidades predominantes no Templo de Puri, esculpidas em enormes toras de madeira, que passeiam cada qual em Sua carruagem. A principal, que tem a cor negra e representa o próprio Deus (ou Krishna) chama-se Jagannatha, o “Senhor do Universo” (jagat = “universo”, = “senhor”, “amo”). As outras duas são Baladeva (ou Balarama, ou Balabhadra), de compleição branca, que é o irmão mais velho de Deus (Jagannatha); e terceira é Subhadra, a irmã mais nova dos outros dois, de cor amarela. No Ratha Yatra em Puri, cada uma dessas Deidades assume uma das três carruagens do desfile.

Figura 12: Deidades de SSA: Baladeva (branco) Subhadra (amarela) e Jagannatha (AP)

As cores das Deidades possuem significados místicos: o negro se refere à inescrutabilidade da plenitude de Deus; o branco, à pureza e força espiritual; e o amarelo ao conhecimento e divindade. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002) O Ratha Yatra é um evento próprio dessas Deidades: Jagannatha, Baladeva e Subhadra. Caso haja outras Deidades no altar, Elas podem ir junto com as três Deidades principais nos rathas (carruagens). O Anexo C traz diversos artigos retirados da revista do Movimento Hare Krsna “Volta ao Supremo” onde a relação de Jagannatha e Seus devotos é bem exemplificada.

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Figura 13: Deidades de Sudarshana (AP) Fig. 14: topo Templo Puri (AP)

Sudarshana - Jagannatha possui uma Deidade adjacente que representa a Sua principal arma, chamada Sudarshana (chakra = disco, círculo), que é um disco incandescente cortante que se manifesta apenas quando invocado. Enquanto não manifesta, no altar é representada repousando em uma coluna de madeira, seja esculpida ou pintada, e é esta coluna que segue no Ratha Yatra no carro de Subhadra.

2.2.2 Pujari

São pessoas credenciadas para cuidar das Deidades no altar. Consideradas manifestações na Terra do divino, as Deidades são tratadas como o próprio Deus vivo no altar: Lhes são oferecidos alimentos, sempre lacto-vegetarianos, que após oferecidos são chamados de prasada, ou mahaprasada; Elas são colocadas para dormir à noite e acordadas pela manhã; banhadas (geralmente por processo indireto); vestidas; decoradas; e adoradas ritualisticamente ( = “reverência”, “adoração”) com diversos elementos, como flores, incenso, fogo, água, música etc. (PAÑCARATRA-PRADIPA).

Figura 15: Prato de elementos oferecidos no Puja (AP)

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No Templo de Jagannatha Puri, existem mais de cinco mil pujaris. Mas, devido à história da origem da adoração à Jagannatha, os principais pujaris, servos mais íntimos das Deidades, não são pujaris clássicos, e sim descendentes de um criador de porcos chamado Vishuavasu, de uma classe específica de “intocáveis”, chamados Dayitapatis. (KHUNTIA, PARIJA, BIBUDHARAÑJAN, 2002)

Quarto de Pujari (Pujari room) - O local onde todo o material necessário à adoração e ao cuidado as Deidades fica guardado, e onde também o alimento que Lhe será oferecido é preparado, é chamado de pujari room, ou no Brasil simplesmente de Pujari.

2.3 Ratha Yatra no Ocidente

Anexos à tradição filosófica religiosa, aspectos culturais, como indumentária, culinária, instrumentos e ritmos musicais, festividades e outros, foram introduzidos no Ocidente por Srila Prabhupada, e apropriados pelos membros da ISKCON e simpatizantes. O Ratha Yatra foi um desses Festivais introduzidos pela ISKCON.

Figura 16 Jayananda Prabhu construindo o 1º Carro de RY de São Francisco (AP)

O primeiro Festival Ratha Yatra fora da Índia feito com carruagem, arquitetada e construída pelo discípulo de Srila Prabhupada Jayananda Prabhu, ocorreu em Junho de 1968, em São Francisco, Estados Unidos. (SATSVARUPA, 2002) (Vide vídeo Anexo L). 27

Fig. 17: 1º RY de São Francisco 1967 (AP) Fig. 18: RY de São Francisco – 1968 (AP)

Em 1967, essas Deidades já haviam sido levadas para passear fora do Templo, sendo este considerado o 1º Ratha Yatra de São Francisco, mas por ter sido em cima da carroceria de um caminhão com tração mecânica, descaracterizou- se um dos pilares do RY: o carro ser puxado por cordas pelos presentes. Sendo assim, temos o 1º Ratha Yatra no Ocidente em 1967, mas com carruagem apenas em 1968. (Vide vídeo Anexo K, L e M).

Adaptações - Em suas edições fora da Índia, devido a não haver tradição, nem as facilidades e know-how dela advindas, muitos desfiles não possuem todas as características originais. Os carros do desfile podem ser menores, ou possuir apenas um carro para as três Deidades, variar de modelos, entre outras adaptações necessárias para a realização do passeio. Também há adaptações no Snana Yatra, tanto nos elementos usados, como a data do banho, não sendo necessariamente 15 dias antes do Ratha Yatra, sendo até mesmo prescindível. No entanto, os dois elementos devem permanecer: as Deidades Jagannatha, Baladeva e Subhadra; e o carro do desfile ser tracionado pelos participantes.

Figura 19: Participante puxa a corda do Carro de RY em Salvador (AP) 28

Hoje, o Ratha Yatra é uma tradição da ISKCON em todo o mundo, acontecendo em todos os Continentes.

Todas as figuras a partir desta página são Figuras do Acervo Pessoal, com exceto quanto explicitado o Autor entre parênteses, ou impresso na foto.

Figura 20: Austrália Figura 21: Estados Unidos da América

Figura 22: África do Sul Figura 23: Londres

Figuras 24 e 25: Rússia

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Figura 26: Kenya Figura 27: Taiwan

Figura 28: Indonésia Figura 29: Canadá

Figura 30: Argentina Figura 31: México

30

Figura 32: Holanda Figura 33: Índia

2.3.1 Ratha Yatra no Brasil

Segundo o devoto Paravioma Das (Pedro Paulo Gomes Marim), discípulo de Srila Prabhupada e pioneiro do Movimento Hare Krishna no Brasil (1973), contatado via Skype, o primeiro Ratha Yatra no Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1991.

Figura 34: RY no Rio de Janeiro

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As principais edições anuais são em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba. Mas há Ratha esporádicos feitos em muitas outras cidades.

Figura 35: Salvador

Figura 36: Curitiba Figura 37: Belo Horizonte

Figura 38: Porto Alegre Figura 39: Recife

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Todos acontecem com as Deidades sendo levadas em apenas um Carro, e o acompanhamento musical é feito com mantras e instrumentos tradicionais, como o tambor chamado mrdanga, e címbalos de mão chamados karatalas (ou kartalas).

Figura 40: Mrdanga Figura 41: Karatalas

Além do Maha Mantra, outros mantras são entoados espaçadamente durante o RY, em glorificação a Deus, Seus associados, e a Seus santos nomes. Os principais são:

 “jaya jagannatha, jaya baladeva, jaya subhadra” – Glórias a Jagannatha, Baladeva e Subhadra

 “jagannatha swami nayana pata gami bhavatu me” – Que o adorável Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão.

 “jaya gaura ” – Glórias aos Senhores Gauranga e Nityananda.

 “nitai gaura haribol” – Cantemos os nomes de Deus.

Figura 42: 33

Ratha Yatra 2007

Figura 44: Banda É ao Quadrado Figura 43: Vaiasaki Prabhu e Vrndavana Das lideram o kirtan

Interação Cultural - Em algumas edições do RY no Rio de Janeiro, a abertura do evento foi feito juntamente com uma bateria de escola de samba, ou acompanhado por uma banda marcial. Em Salvador, a interação com a Cultura local é marcante, pois durante todo o percurso os mantras são cantados ao ritmo dos tambores baianos – inicialmente o RY foi acompanhado pelo grupo Olodum, e, em anos seguintes, por outros grupos de percussão locais, como “‘É’ ao Quadrado”, “Orquestra de Pandeiros de Itapuã”, e “Meninos da Rocinha do Pelô.”

Figura 45: RY 2013 Orq. Pandeiros de Itapuã Figura 46: RY 2014 em Villas 34

O RY é essencialmente é um evento religioso. Para os devotos, é uma procissão onde fiéis e simpatizantes puxam o Carro onde Deus (Deidade), em Sua manifestação de Jagannatha, sai para passear com Seus Irmãos Baladeva e Subhadra, apreciando Seus domínios e dando alegria a Seus súditos. Espetáculo Cultural - Para além do caráter religioso, o cortejo e suas cores, música, dança, às vezes encenações, instrumentos e vestes incomuns, alegria, Carro alegórico, alimentos lacto-vegetarianos gratuitos, acessibilidade, conferem sua ímpar riqueza sociocultural. Todos os que se aproximam da manifestação são acolhidos, e chamados à participação no canto e na dança. A maioria caminha à frente e ao lado do Carro, alguns se dispondo a puxar as cordas. Diversos músicos se juntam no cantar e tocar de instrumentos. Eventualmente, e principalmente em seus primórdios, rodas de capoeira também se formam no final do desfile por grupos de capoeiristas e crianças que acompanham o desfile.

Figura 47: Ratha Yatra 2011

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3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA 36

3 A ISKCON BAHIA E O RATHA YATRA

O primeiro RY em Salvador foi em 1995, organizado pela ISKCON Bahia, pela orla do Bairro Barra, terminando no Porto da Barra, onde houve show de estreia da banda de reggae Vishnudutas, liderada por Vrndavana Das, apresentações teatrais, de dança, palestra e distribuição de alimentos lacto-vegetarianos (prasada) - tudo completamente gratuito.

Figuras 48 e 49: II Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de Ondina ao Farol da Barra) com as presenças de Iswara Maharaj e Krishna Kishora Prabhu

A orla da Barra acabou se tornando o percurso para mais 16 edições anuais do RY, de Ondina ao Farol da Barra, tendo sido alterado apenas nos anos de 1998, quando foi realizado na orla de Piatã, em 2014, feito pela primeira vez fora de Salvador, em Lauro de Freitas, no loteamento Villas do Atlântico, e em 2016, quando o percurso foi pela orla do Largo de Amaralina ao final da Pituba; totalizando 20 edições realizadas até o ano de 2016. (Obs.: a ISKCON Bahia se encontra sediada na capital, Salvador, e não possui ações significativas em outras cidades do Estado)

Figura 50: Devotas apresentam coreografias no II Ratha Yatra de Salvador – 1996 (de Ondina ao Farol da Barra).

No canto esquerdo superior da foto, as Deidades de Gaura Nitai são levadas em um palanquim.

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Edições do Ratha Yatra realizados pela ISKCON Bahia:

Ano / Edição / Snana Yatra / Local Ano/Edição/S.Yatra / Local 1995 I não Barra 2006 XI sim Barra 1996 II não Barra 2007 XII sim Barra 1997 III não Barra 2008 XIII sim Barra 1998 IV não Piatã 2009 XIV sim Barra 1999 V não Barra 2010 XV sim Barra 2000 Não houve 2011 XVI sim Barra 2001 VI não Barra 2012 XVII sim Barra 2002 VII não Barra 2013 XVIII não Barra 2003 VIII não Barra 2014 XIX sim V. Atlântico 2004 IX não Barra 2015 Não houve 2005 X não Barra 2016 XX sim Pituba

De 1996 a 2000, quando havia muitos residentes no Templo de Salvador (ISKCON Bahia), à Rua Álvaro Adorno, nº 17, Brotas, os RY eram organizados pelos administradores do Templo, que ocupavam os monges residentes, com a cooperação dos “devotos externos” (membros que não residem nos Templos), em diversas tarefas para o Ratha Yatra, como captar recursos financeiros, doações, flores, serviços artesanais e culinários; providenciar as autorizações do evento; motivar a participação dos membros “não-residentes” e simpatizantes; montagem, pintura e decoração do carro; divulgação do evento nas ruas e na mídia; preparação das grandes quantidades de prasada a serem distribuídas; confecção de guirlandas para as autoridades e demais participantes; apresentações artísticas de teatro, dança e música etc.

Figura 51: Saída na UFBA Ondina Ratha Yatra 2013 - Salvador / Bahia

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Movimentação social da ISKCON Brasil - Com a redução de residentes dos Templos da ISKCON, fenômeno que ocorreu naturalmente em todo o Brasil e muitos lugares do mundo, com a maturidade da Instituição, (vide Anexo E) devido a que os antigos monges estabeleceram famílias e residências fora do ambiente templário, e com os novos membros aderindo à religião sem necessariamente passarem pela fase de residir nos Templos, os serviços internos (do Templo) em Salvador se resumiram ao do Pujari com as Deidades, e à organização da recepção semanal de visitantes, o Festival de Domingo. Essa redução chegou ao número de haver apenas um residente: o pujari, devido à natureza de seu serviço (cuidar das Deidades, iniciando ao acordá-lAs às 3h45min da manhã).

Figura 52 (E): Alannatha Prabhu e sua filha Ananda Govinda, ex-residentes de Templo. (Carlos Jorge)

XX RY SSA 2016

Figura 53 (D): Três gerações de devotos. (CJ)

Com essa mudança, o RY sofreu um impacto em sua concepção, e a edição de 2001, que correu o grande risco de não acontecer, foi idealizada e organizada precariamente, em apenas uma semana, graças à determinação do presidente da ISKCON Bahia na época, Gopa Kumara Das (Grenffel Bomfim da Silva) - que residia com apenas mais 3 devotos no Templo - e do devoto “não-residente” Jaya Das (Ricardo Campos), para que não se passasse mais um ano sem a realização do evento. A partir daí, ficou clara a necessidade de reestruturação do processo de produção do Ratha Yatra da ISKCON Bahia. Membros da congregação com maiores aptidões na área começaram a se responsabilizar pelo evento de forma autônoma à administração interna do Templo, com a autorização da mesma, que funcionava através de Equipe Administrativa na época. E dessa movimentação de jurisdição, surge a experiência de que trata este trabalho, quando “membros externos” da ISKCON Bahia, passam a estar à frente da produção deste evento em Salvador, do ano 2003 ao 2013. 39

3.1 Deidades da ISKCON Bahia

As Deidades são formas aparentemente materiais nas quais a Divindade aceita se manifestar para permitir uma experiência mais pessoal com o devoto. Os devotos, então, têm uma ligação íntima muito particular com as Deidades, e se relacionam com as mesmas como se na presença pessoal de Deus. (PAÑCARATRA-PRADIPA)

A ISKCON Bahia possui instaladas no altar em seu Templo as Deidades:

Figura 54: Jagannatha (E), Baladeva (C) e Subhadra (D) (madeira)

Jagannatha - Manifestação de Deus em uma forma negra, de madeira, com olhos que nunca se fecham, braços sempre estendidos receptivamente, e um sorriso eterno. Significa “Senhor do Universo”.

Baladeva - Manifestação Divina como o Irmão de Deus, diferenciando-Se de Jagannatha apenas pela cor branca e diferenças sutis em Suas feições (pintura), mas também em madeira e possuindo olhos, sorriso e braços sempre abertos.

Subhadra - Manifestação Divina da Irmã de Deus, de cor amarela, também em madeira, com olhos sem pálpebras que nunca se fecham e largo sorriso, mas sem braços estendidos.

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Observação: As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra não possuem mãos nem pés, com um significado místico de mesmo não tendo pés, podem ir a diversos locais do mundo, e sem mãos receber tudo que Lhes é oferecido. (Sobre isso, pode-se ler o Anexo C)

Figura 55: Nityananda (E) e Caitanya (D) (metal)

Caitanya Mahaprabhu (Gauranga ou Gaura) - Segundo a tradição Gaudya- vaishnava, foi a última manifestação pessoal de Deus na Terra. Tinha a compleição dourada (“gaura” significa dourado) e veio como um devoto fiel ao Senhor, ensinando como a devoção deveria ser exercitada nesta era, e revelando e propagando o cantar do Maha Mantra, antes um privilégio de uma seleta classe intelectual indiana.

Nityananda Prabhu (Nitai) - Assim como Deus vem como o Senhor Caitanya, Seu irmão Balarama advém como o Senhor Nityananda, auxiliando em Seu propósito de difusão de bhakti a todo o mundo (não limitado à Índia).

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Figura 56: Deidade de Prabhupada (metal)

Prabhupada - Uma deidade em metal do acarya-fundador da ISKCON.

Sudarshana ou - Manifestação da arma de Deus (Krishna), esculpida/desenhada em madeira. Foi a última Deidade a ser instalada, no ano de 1998, durante um Maha Festival de três dias que incluía o desfile do RY.

Fig. 57, 58: Deidade de Sudarshana (madeira) Fig. 59: (Kadamba 2016)

Todas essas Deidades são levadas no carro durante o desfile de RY.

Consideradas os convidados principais do RY, é fundamental a articulação de Seu transporte apropriado até o local do desfile e o Seu retorno ao Templo. 42

Os devotos de Jagannatha possuem um humor devocional característico, considerando o Senhor do Universo como um ente de sua família. Então, realizar o passeio de Ratha Yatra para o prazer das Deidades é um serviço (seva) muito amado e ansiado. As Deidades possuem ritos específicos, tanto diários como para sair ao Ratha Yatra. Apenas os pujaris com segunda iniciação, brahmínica, (vide Anexo D e E) podem tocá-lAs, com a devida purificação, através de banho, jejum, vestimenta específica e limpa, mudras (gestos com as mãos) e mantras. Há uma cerimônia para a saída das Deidades do Templo, bem como uma recepção especial em Sua chegada ao local do desfile, quando são acomodadas no Carro. São os momentos mais solenes do evento. Tudo deve estar pronto para Sua chegada, para que Elas subam imediatamente ao Carro, e ao final do desfile para Sua volta ao Templo. Após estarem assentadas no Carro, arrumadas e decoradas, é realizado um puja (adoração cerimonial) providenciado pelos pujaris. Espera-se no desfile que as Deidades possuam roupas novas, confeccionadas e bordadas por devotos locais, (como já foram por Kadamba Devi Dasi (Naíra Gomes Silva), Mãe Ananda Devi Dasi (Fernanda Rodrigues), Lalita Devi Dasi (Tatiany Oliveira), Bhakti Devi Dasi (Janice Chiarioni), Radha Madana Gopala Devi Dasi (Thiana Costa), entre outros), ou trazidas da Índia, para serem inauguradas neste dia. Aprazíveis guirlandas de flores também são providenciadas para que as Deidades usem durante o desfile, e, se possível, para outros participantes do RY. Chhera Pahanra (varredura) – No início do desfile, vários devotos e outros participantes se revessam varrendo a rua em frente ao Carro, em sinal de humildade e reconhecimento à supremacia Divina.

Figura 60: RY de Londres 43

3.2 Snana-Yatra

É realizado uma semana antes do Ratha Yatra. Foi iniciado pela produção de 2006, com o trabalho fundamental de Vamshivata Das na confecção da “mesa de banho”. A equipe de pujari do Templo se encarrega dos materiais e rituais necessários para o banho. Apesar de aberta ao público, é uma cerimônia íntima, quando as Deidades ficam fisicamente mais próximas de seus devotos, que, após o banho com diversos sucos e elementos feito pelos pujaris, podem banhar as Deidades diretamente, com água comportada em conchas do mar. A bem- aventurança prevalece entre os participantes.

Figura 61, 62 (Kadamba 2016) e 63: Snana Yatra no Templo de Salvador

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3.3 Carro do Ratha Yatra

O Carro de RY tem um papel fundamental, sendo considerado uma expansão de Jagannatha, do Divino. Todo serviço feito, desde a sua construção até os serviços de retoques, conservação e decoração, são realizados como se estivessem sendo realizados na própria Deidade.

Figura 64 (D): Carro construído por Jagannatha Dhama em 1998 - Salvador

Figura 65 (Abaixo): XVIII RY SSA 2013

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Cerimônia dos Cocos - Antes do Carro ser movido pelos presentes, iniciando o cortejo, é realizada a “cerimônia dos cocos”: um ou três cocos secos servem de base para um punhado de cânfora, onde é ateado fogo, e cada coco é girado com os braços estendidos, em sentido horário, por um devoto, direcionado ao conjunto Carro e Deidades. Depois os cocos são arremessados ao chão para que se quebrem. Objetiva-se a retirar qualquer influência inauspiciosa que possa haver para o desfile.

Figura 66: Mandaracala Dasi (E), Aniruddha Das (C) e Dhanvantari Swami (D). Cerimônia de cocos - XX RY SSA 2016 (Kadamba 2016)

O Carro de Ratha Yatra da ISKCON Bahia utilizado até 2013 foi construído para o Ratha Yatra de 1998 pelo devoto Jagannatha Dhama Das, sob a supervisão do então presidente Aniruddha Das (José Alberto Guanaes). Ele segue a estrutura, cores e desenhos definidos para os Carros de Ratha Yatra da ISKCON, com grandes rodas de madeira circundadas por aros de ferro, o que, juntamente com sua alta cúpula, confere um ar majestoso ao cortejo. Figura 67: Carro construído por Jagannatha Dhama em 1998 - Salvador (No entanto, entre os anos de 1998 e 2003, sua cúpula sofreu uma drástica alteração, como veremos no próximo tópico) 46

Figura 68: Jagannatha Dhama conduzindo o Carro – IV RY SSA 1998

Este Carro possui uma estrutura de madeira montada sobre um eixo de caminhão, sendo preservados apenas os eixos dianteiro e traseiro, sistema de freio e direção. Algumas partes são removíveis para facilitar seu transporte da garagem ao local do desfile, e sua volta. Figura 69: Deidades no Morro do Cristo. XI RY 2006 Figura 70: foto mais ampla do Carro

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Nos desfiles de 2014 e 2016, os dois Carros utilizados foram idealizados e construídos pelo devoto Yamunacarya Goswami, residente em Campina Grande (PB). Estes Carros são itinerantes, montados sobre um reboque, que também comporta toda a sua estrutura quando desmontada, tanto para transporte como para guarda, e foram trazidos de Campina Grande especialmente para o RY de Salvador, com o apoio do Instituto Jaladuta, seus estudantes e seu coordenador, Dhanvantari Swami. É um modelo mais prático e rápido de montar e transportar, e é a tendência para os futuros RY.

Figura 71: Maharaj Yamunacarya Goswami

Figura 72: Carro de 2016 terminando de ser montado 48

Figuras 73 e 74: RY 2014. Abaixo à direita, em primeiro plano, Dhanvantari Swami.

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Figuras 75 e 76: Ratha Yatra 2016 50

3.3.1 Cúpulas

Figura 77: Ratha Yatra 1998

A cúpula do Carro projetada e confeccionada em 1998 possuía uma estrutura metálica retrátil, com aproximadamente 6 metros de altura a partir de sua base, e seu tecido seguia todos os padrões tradicionais de confecção e aparência (cores, símbolos, formato, adereços) definidos pela ISKCON. A cúpula do Carro de Ratha Yatra deve se sobressair, a uma grande altura, com seu tecido em cores pré- determinadas e com símbolos específicos (bordados ou desenhados), e, no topo, uma “chalisa” (recipiente feito ritualisticamente para evocar auspiciosidade), e a representação da Sudarshana Chakra.

O tecido dessa cúpula, no entanto, foi emprestada para outro Ratha Yatra no Brasil, com estrutura igual ao Carro de Salvador, também construído por Jagannatha Dhama. Na época, não havia pessoas responsáveis pelo acompanhamento pós- evento, e essa tecido não mais retornou a ISKCON Bahia. O Ratha Yatra de 1999 ocorreu então com o mesmo Carro construído em 98, mas sem sua cúpula.

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Figura 78: Ratha Yatra 2001

Nos anos de 2001 e 2002, as Deidades desfilaram, improvisadamente, com grandes e coloridos sombreiros de praia sobre Suas cabeças. Sombreiros estes cedidos pela senhora Aureni Rodrigues, mãe de uma das produtoras, em seu seva particular: ela já vinha emprestando em edições anteriores e posteriores um pequeno sombreiro japonês de madeira e tecido para as deidades de Gaura e Nitai em Seu palanquim.

Figura 79: Ratha Yatra 2001 52

Figuras 80 e 81: Gaura Nitai em Seu palanquim no XII RY 2007 – Ondina (detalhe do sombreiro de D. Aureni)

Em 2003, verificando-se a inviabilidade de fazer uma réplica da cúpula original (por falta de mão-de-obra especializada, e recursos financeiros e de tempo), foi então providenciada a produção de uma estrutura simples, piramidal, com a chalisa (objeto de proteção) em seu topo, e o tecido da cúpula sem os detalhes originais. Esta foi uma cúpula improvisada, aquém da original, mas que se adequava à estrutura do Carro. Esse trabalho foi realizado especialmente por Vamshivata Das e Kadamba Devi Dasi.

Figura 82: XIV RY 2009 53

Aproveitou-se a oportunidade em 2003 para acrescentar ao Carro a bandeira do Senhor Hanuman (o semideus macaco, que possui enorme força e poder de proteção).

Figura 83: XVIII RY 2013

Esta é a estrutura que foi usada desde então até o ano de 2013.

Figura 84: XII RY 2007

Estando sem utilização, a estrutura metálica original ficou esquecida sobre a laje do Templo de Salvador, sujeito às intempéries, e subsequentemente sucateando e sendo descartada. 54

3.4 Prasada – Alimentos Para a Vida

Ao final do evento, uma grande quantidade de alimentos lacto-vegetarianos é distribuída gratuitamente. Inicialmente eram distribuídos PF (Pratos Feitos) com suco e doce, mas nos últimos anos houve a alteração para kits de lanches, sempre que possível em embalagens biodegradáveis, contendo samosa (pasteis fritos ou assados), salgado (bolo salgado, alupatra ou outra preparação tipicamente indiana), doce (bolo ou também uma preparação tipicamente indiana, como “língua de Jagannatha”), e bolinha doce, feita à base de leite em pó, açúcar e uma fruta. Esta distribuição integra o programa Mundial Food for Life (FFL) ou Alimentos Para a Vida (APV) do Movimento Hare Krishna (Vide Anexo A). Eventualmente, durante a procissão também são distribuídas bolinhas doces, ou outros doce/petiscos, anexados a informações de contato (site, email e telefone da ISKCON); e água para as crianças e cantores. Todos os alimentos são consagrados antes de serem distribuídos durante o evento, concedendo o caráter espiritual de prasada.

3.5 Música

O som instrumental é produzido por um grupo percussivo local, e a voz do cantor amplificada com microfone através de caixas de som. O sistema de canto consiste em uma voz principal, que “puxa” o ritmo e a melodia, e em seguida a estrofe cantada é repetida pelo coro dos presentes. A música, ou mantra, entoada é o Maha-mantra Hare Krishna, com poucas variações para outros mantras direcionados às Deidades (Vide 3.3.1). A sonoridade fica marcada pela interação das culturas da Índia e da Bahia. (RY 2008: Anexo G em vídeo)

Figura 85: o devoto Brahmarsi Das lidera o kirtan no XX RY – 2016

(Romildo de Jesus 2016)

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Carros de som pequenos eram utilizados inicialmente, com o apoio do Vereador Cristovinho, que nos cedia gratuitamente seu equipamento para uso no evento, passando a fornecer um carro de som maior (para o qual as Deidades foram transferidas em 1999 devido ao problema com as rodas – vide 5.10.1).

Figura 86: carro de som que levou as Deidades em 1999

O RY chegou a utilizar um trio elétrico na edição de 2009. (Anexo H em vídeo)

Figura 87: XIV RY SSA 2009 Apresentações 56

Artísticas - sempre que possível, um palco e som são montado, ou um espaço é reservado, ao final do desfile para apresentações de bandas, danças (indianas clássicas ou contemporâneas) e encenações teatrais. Antes das atrações, é proferida uma breve palestra sobre o que é o evento RY, sobre o Movimento Hare Krishna, e feitos os devidos agradecimentos.

Figura 88: show de Vayasaki Prabhu (discípulo de Srila Prabhupada) no RY 2007, com participação de Júlio Caldas, Calazans Cominato, Gilmário Celso e Radha Vitória

Figura 89 e 90: participantes do XII RY SSA - 2007

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4 BOTANDO A MÃO NA CORDA 58

4 BOTANDO A MÃO NA CORDA

Após tantos aspectos constitutivos do evento Ratha Yatra, que foram apresentados nos capítulos anteriores, - na tentativa de inserir o leitor nesse mundo peculiar, - passamos a uma análise mais direcionada ao trabalho de produção e as escolhas dos rumos a serem tomados. Por estarem inter-relacionados, os tópicos podem reincidir em diferentes partes do trabalho, ou fazerem referências a outros complementares.

4.1 A Religião como um rótulo

Devido a um histórico sociocultural de algumas linhas religiosas, ao se estar à frente de um evento que possui um caráter religioso o produtor se depara com uma dificuldade que é o preconceito religioso. Há uma concepção por parte de possíveis patrocinadores e apoiadores de que o carácter do evento é sempre proselitista e explorador, ignorando completamente seu valor cultural e inclusivo. Há quem opte por realizar o evento apenas como uma atração cultural, ou musical, em projetos de captação e apresentações, mas é impossível isolar a dinâmica religiosa existente, causando uma tensão constante em não parecer “religioso demais”. A produção do RY em Salvador preferiu não optar por esse caminho, deixando o evento e seus participantes livres para suas manifestações culturais ou religiosas. No entanto, ao produtor cabe ter bom-senso, com os pés na realidade da sociedade secular. Por mais amador que se seja do evento, o produtor deve ter o profissional à frente de suas ações, principalmente quando tratar com o público externo, incluso governo, mídia, outras religiões.

4.2 Escolha do Percurso, Dia e Horário

Percurso - O trajeto prevalecente do RY de Salvador tem sido de Ondina, nos arredores da Avenida Ademar de Barros, pela orla, ao Farol da Barra pela Avenida Oceânica. É um percurso que agrega muito valor ao evento, não só pelo público que naturalmente já estará pelo percurso, mas também levando em consideração o prazer das Deidades por passear pela orla (a cidade original de 59

Jagannatha, Puri, também é uma cidade litorânea). Respeitando-se a tradição do RY e a relação com as Deidades, quando possível, o percurso litorâneo é o preferido. Data - O Domingo é escolhido devido à possibilidade de maior tempo disponível dos colaboradores, além de ser um dia mais receptível pela Transalvador, por razões óbvias de mobilidade urbana. O dia prevalecente de realização é o Domingo duas semanas antes do Carnaval de Salvador. Esta é uma data conveniente, pois a cidade esta em natural movimento, estrutural e pessoal, para seu maior evento (o Carnaval), num período de férias, com muitos turistas e pessoas propensas à diversão, aumentando a probabilidade de um maior público. Assim criou-se a chamada publicitária “Festival de Verão” Ratha Yatra. Tendo em vista também o trajeto, inverso ao Circuito de Carnaval Barra- Ondina, e não negligenciando sua natureza espiritualista, o RY evoca os participantes a clamarem pela predominância de Paz quando outros estiverem no mesmo percurso para a “festa carnal” que virá em seguida. Horário - O período da tarde, iniciando após às 16h, quando o sol está baixando, tem sido o escolhido para as edições do RY. Esta estratégia permite mais tempo para os preparativos do Carro (montagem e decoração), e outras demandas do dia do evento, bem como é um horário mais aprazível, quando o Sol está baixando, evitando que os participantes do cortejo fiquem expostos a sol forte, o que é desagradável e pode causar mal-estar. Por fim, na chegada entre o Morro do Cristo e o Farol da Barra, o pôr-do-sol na Baía de Todos os Santos confere uma cena espetacular ao evento. Há devotos que questionem, por ser o horário da manhã considerado mais auspicioso e quando se está mais inclinado para atividades religiosas, que o Ratha Yatra seja efetuado pelo período matutino. Quando há mão-de-obra outros recursos suficientes para que isso ocorra sem prejudicar a produção do evento, essa proposta deve ser levada em consideração.

Público Alvo - Apesar de possuir um público específico, o objetivo é que o evento alcance o maior público possível. Por isso, a preferência por épocas do ano em que a cidade está com mais turistas e soteropolitanos, geralmente em períodos de férias ou grandes festividades da cidade, como o Carnaval. Por isso, seu público alvo é não só os devotos e seus familiares, atendendo uma demanda particular, mas também residentes e turistas de Salvador, bem como pesquisadores culturais. 60

4.3 Snana Yatra

O Snana Yatra acaba por se configurar um evento à parte, e o entusiasmo dos devotos devido a proximidade do RY faz com que este evento flua de forma completamente participativa e surpreendente. Geralmente o produtor seleciona a data e horário, cuida da comunicação, e fornece recursos, inclusive financeiro, quando já não foram doados pelos devotos (o que acontece quase que invariavelmente). A organização do Snana-Yatra e sua realização são assumidas alegremente pelos pujaris e ajudantes de pujaris, e demais devotos, cabendo ao produtor à periódica supervisão visando facilitar o serviço dos devotos, e sanar qualquer demanda necessária.

4.4 Acompanhamento Percussivo

O acompanhamento tradicional indiano é também sugerido por alguns de forma exclusiva. No entanto, há uma dificuldade de se estabelecer um grupo de acompanhamento apenas com instrumentos indianos compatível com o tamanho e características do evento. As principais dificuldades são escassez de instrumentos e instrumentistas disponíveis no Brasil, necessidade de equipamentos de sonorização específicos, e mais caros, para mrdangas e karatalas, necessidade da participação do coro, acompanhando os músicos principais. O que percebe-se em outros RY pelo Brasil é a perda muito rápida de coalizão do público com o grupo musical à medida que se distanciam. Com a potência do grupo de percussão baiano, aliado à utilização de amplificação para voz, é possível manter essa sincronia por um espaço de abrangência maior. A Figura do evento também é altamente valorizada quando da junção de grupo de percussão local para acompanhar o entoar de mantras. Além de ser um dos carros-chefes do turismo na Bahia.

4.5 Sonorização

Devido ao formato e execução das canções durante a procissão em espaço aberto, é indispensável a amplificação da voz que lidera o coro no cantar. Com a entrada de Madalena Koppe na equipe de produção, o evento chegou a contar com 61

trios elétricos pagos com recursos coletados por ela especificamente para este fim. Essa opção, apesar do receio inicial da produção de que o trio elétrico fosse ofuscar o Carro do desfile, deu muito certo, e em uma das edições chegamos a contar com 2.000 pessoas ao final do desfile no Farol da Barra. Com a assinatura do TAC (Termo de Ajuste de Conduta) entre a Sucom e associações de moradores da Barra em 2011, se tornou praticamente impossível contarmos com a autorização para o uso de um trio para o som do RY.

4.6 Apresentações Artísticas

Quando há a utilização de carro de som, trio ou mini-trio elétrico, este é o som utilizado para as apresentações artísticas ao final do evento. A maior dificuldade é conseguir estrutura de palco e iluminação. A realização do evento pela parte da manhã, bem como em um local que já possua uma estrutura (palco e som) adequada sanariam essas demandas.

4.7 Cerimônia dos Cocos

A cerimônia rápida e simples consiste em girar um coco seco com cânfora incandescente em sua superfície superior. Três devotos sêniors, ou representativos, devem ser chamados a realizar o ato, que representa a invocação de toda a auspiciosidade para o desfile. Por ser utilizada rotineiramente no serviço de pujari, a cânfora é fornecida pelos pujaris, e os cocos secos devem ser providenciados pela produção. A comunicação da produção com a equipe de pujari deve ser constante e clara, principalmente nos dias que antecedem o passeio. Tudo deve ser checado.

4.8 Chhera Pahanra (varredura)

A produção de Salvador nunca teve que se preocupar muito com isso: uma vassoura sempre é providenciada, ou pela produção ou por devotos. Simplesmente levar uma vassoura para a saída do cortejo já é suficiente. O público se encarrega de dar prosseguimento à cerimônia de varredura após ser iniciada por qualquer dos devotos presentes.

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4.9 Banquinhas

Também quando possível, e permissão para tal, bancas e/ou tendas de livros, comidas e artigos indianos são montadas para venda aos participantes, com recurso destinado a cobrir os custos do evento, visto que a realizadora é uma Instituição sem fins lucrativos. Está opção deve se gerir de forma autônoma, visando não sobrecarregar os produtores do evento.

4.10 Manutenção, Transporte e Montagem do Carro

O Carro de 98, por ter mantido a parte mecânica, necessita de manutenção regular. A troca das madeiras do assoalho (folhas de madeirite) geralmente é inevitável, caso não haja a guarda adequada em local coberto. Para evitar gastos e maiores preocupações, a correta preservação e conservação do Carro é um trabalho ao qual o produtor deve investir esforços. Com dimensões fora do padrão de veículos ordinários, para além das permitidas nas Leis de trânsito quando completamente montado, e ficando guardado a uma distância de 30 km do local do Desfile, uma das maiores preocupações do produtor é o transporte do Carro ao local do desfile, e sua volta. Como - Para o seu transporte por vias públicas (com exceção durante o cortejo), se faz necessário transportar desmontadas as varandas laterais superiores, a cúpula e as rodas. Ao final todas as peças desmontadas devem ser guardadas com muito cuidado, a fim de que estejam facilmente disponibilizadas e utilizáveis para uma nova montagem. Para comportar adequadamente a estrutura principal sem danos, deve-se usar um guincho de caminhões com rampa, de forma que o Carro fique completamente suspenso. Guinchos que elevam apenas um dos eixos também podem ser utilizados, a depender de sua capacidade, desde que observado durante todo o reboque o cuidado com elevações/depressões da pista o que pode danificar seriamente a estruturas de madeira do Carro. No lugar das rodas, são utilizados pneus para a movimentação do Carro e colocação e retirada sobre o caminhão guincho. As rodas do desfile são transportadas juntamente no guincho. Ao ser descarregar o Carro no local de início do desfile, o próprio caminhão guincho serve de macaco mecânico para a troca dos pneus pelas rodas do desfile. Esta é uma 63

operação um pouco demorada, devido à grandeza das rodas, e a que tem de se contar com a boa vontade dos operadores do guincho, visto que este serviço não está incluso no valor do transporte. É necessária pesada mão de obra, portanto colaboradores devem estar a postos para esse serviço (4 homens com razoável força), sem esperar por ajuda do operador do Guincho no trabalho braçal. Equipe do Carro - Com o passar do tempo alguns devotos desenvolveram afinidade com o serviço de montagem e desmontagem do Carro, e uma equipe, sempre sob a supervisão de Vamshivata Das (Armênio Luiz Bordim), se formou apenas para este serviço. Quando - Devido a suas dimensões, o Carro só pode ser transportado à noite/madrugada, quando a equipe do Carro é acionada. Uma das preocupações é a guarda do Carro no local do desfile, o que também força a ter que fazer o reboque na noite anterior ao evento. Regularmente, considerando o risco de vandalismo ou de que qualquer peça fosse levada, o devoto Ângelo se predispunha a passar a noite vigiando o carro. Quando esta ajuda não era possível, procurava-se contratar um vigia para tal. Em 2013, foi pleiteado junto à Universidade Federal da Bahia - UFBA - a utilização de um espaço interno próximo à Portaria principal da Av. Ademar de Barros do Campus de Ondina, local onde havíamos iniciado o desfile no ano anterior, o que foi atendido. Com isso, foi possível contratar o guincho para três dias antes do evento, possibilitando uma janela de tempo maior para a montagem final do Carro. Para a montagem final do Carro, uma vez já no local do desfile, é necessária uma manhã de trabalho pesado para 4 homens (sem contar o tempo para a decoração). Esse é um dos motivos do horário escolhido para o desfile ser pela tarde, conforme já mencionado. Fica a cargo da produção providenciar o fornecimento de água e alimentação para a Equipe do Carro. Esta preocupação é essencial para a satisfação dos voluntários desta equipe, novamente lembrando, levando em consideração o humor dos devotos que se encarregam deste serviço.

4.10.1 Pós-evento

Com a indesejável experiência de perder um recurso valioso já conquistado que era a cúpula de 1998, a produção do Ratha Yatra 2003 passa a se 64

responsabilizar particularmente pela guarda e manutenção da cúpula e de sua estrutura metálica entre as edições do RY. Assim que o tecido é desmontado de sua estrutura, ao final do evento, é limpo e hermeticamente embalado, de forma a preservá-lo por um ano até o próximo RY. Este cuidado estende-se também a conservação dos itens possíveis de reutilização nos anos subsequentes, como as cordas de tecido que atam as Deidades de Jagannatha, Baladeva, Subhadra e Sudarshana ao Carro, peças de decoração não perecíveis, ferramentas, tecido usado para forrar os assentos do veículo usado para levar e trazer as Deidades ao desfile. Esse serviço, apesar de ser feito em um momento de estresse e sobrecarga do produtor (culminação do evento) indubitavelmente reduz a quantidade de serviço e recursos necessários para a próxima edição. Tornou-se, então, invariavelmente parte da rotina da produção do RY. Em 1999 houve também outro episódio, inesperado, mas inevitável para o garantido sucesso das futuras edições: devido a não receber manutenção entre as edições de 98 e 99, após 200 metros do início do desfile, a circunferência metálica de duas das rodas começou a se desprender da madeira ficando desalinhada com o eixo e tornando impossível a continuação do desfile com o Carro do RY. Como solução, as Deidades foram passadas para o carro de som que acompanhava o evento, que possuía a estrutura de um pequeno trio elétrico e a mesma altura do Carro do RY, facilitando a transferência das Deidades, que foram alocadas sobre uma superfície elevada do novo veículo, e assim continuando o desfile. Foi um momento muito marcante: de ansiedade para os presentes, e frustração para os realizadores do evento ao terem que abandonar o Carro recém-restaurado (referente à limpeza e pintura) para trás... A partir daí a manutenção das rodas passou a ser revisada com cuidado nas edições subsequentes. Também o Carro era deixado ao relento. Com a nova organização, foi providenciada a guarda em local coberto e manutenção do Carro e rodas (estrutura de madeira, mecânica, metálica e pintura), sob a responsabilidade do devoto Vamshivata Das. O que reduziu praticamente a zero a necessidade de trocas de madeiras e pintura (eram feitos apenas retoques e manutenção mecânica).

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4.11 Decoração

O Carro deve ser decorado preferencialmente com flores e plantas naturais. Também são usadas guirlandas coloridas de tecido ou papel. Deve-se evitar o uso de materiais plásticos, ou derivados do petróleo. Decoração é um serviço que poucas pessoas se propõem a fazer, ou, quando se propõem, dificilmente conseguem realizar o serviço completamente - ou por não terminarem a tempo da chegada das Deidades, ou mesmo por não conseguirem chegar a tempo de fazer a decoração. É um serviço a ser feito poucas horas antes do desfile, após a montagem do Carro estar concluída. Mesmo que o Carro seja montado no dia anterior, as plantas naturais não podem ser colocadas muito cedo, pois o calor do meio-dia as faria murchar. Daí que um devoto precisa se sacrificar para fazê-lo, pois precisa chegar mais cedo, decorar e ficar direto para o evento, ou decorar rapidamente para dar tempo de ainda ir para casa se arrumar e voltar para o local do RY. Quando o devoto possui família, filhos, é mais complicado, e quase sempre inviável devido ao cuidado que a ela se dispensa neste dia de grande festa (como se arrumar para um casamento ou um outro evento importante da família). É pouca a mão-de-obra disponível entre os devotos nessa área de decoração com flores e folhas naturais, que geralmente está ocupada no serviço direto às Deidades (pujaris e ajudantes). Mesmo havendo pessoas chegando cedo ao local de concentração para a saída do cortejo, pouquíssimos se arriscam a serem os responsáveis pela decoração, ainda que todo o material esteja disponível. Por muita das vezes, percebendo que o responsável pelo serviço não chegará a tempo, o produtor teve de formar rapidamente uma força tarefa com quem estivesse presente e designar um líder (quase sempre ele próprio). As ajudas mais marcantes nas últimas edições foram de Purushottama Das (Josemar Salles) e sua esposa Krsna Yoga Devi Dasi (Cristiane Vitória), Ricardo “Bigode”, Sueli Lago, Palmiro Jorge, Mitzna Olegário, Presthali Devi Dasi (Alessandra Santos), Ângelo, e simpatizantes que estavam no local. Quase sempre é feito por pessoas que não estavam designadas para este serviço; sendo que sempre alguém estava designado para tal. Na edição de 2013, Ângelo se destacou ao providenciar de última hora uma cobertura de folhas de coqueiro para a armação piramidal da Cúpula, que não havia sido achada até a manhã do evento por Vamshivata Das. Teria sido uma cúpula memorável, não fosse a cúpula de tecido ter sido llocalizada e, sem consulta prévia 66

da equipe de produção, a equipe do Carro ter desfeito o trabalho artesanal de Ângelo para realizar a substituição.

4.12 Alimentos Para a Vida

Apesar de não obrigatório, essa parte se tornou um compromisso social após o desfile. O Movimento Hare Krishna possui por todo o mundo a tradição de distribuição gratuita de alimentos lacto vegetarianos (Vide Anexo A), e qualquer evento realizado pela Instituição se torna completo com essa atividade - aliada à distribuição de livros (gratuita ou com o recebimento de retribuições financeiras), e o cantar do Maha Mantra: hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare. No Festival Ratha Yatra de Salvador, dado o seu porte, os devotos sentem-se na obrigação de oferecer prasada, sempre atribuída ao movimento “Alimentos Para a Vida - APV” (Food For Life - FFL). Para além do Ratha Yatra, grandes distribuições de prasada sempre foram realizadas em Salvador, ao estilo “indiano”: em grandes recipientes, panelões ou toneis, contendo arroz, preparações vegetarianas temperadas, sopas, samosas de diferentes recheios, suco, e outras atrativas preparações, incluindo doces, (e principalmente a “Bolinha Doce”), servidas às pessoas, dispostas em fila, em pratos e copos descartáveis. O RY iniciou-se com essa forma de distribuição. Mas, com o passar das edições, observando-se que ao final do evento esse processo era demorado para atender a totalidade do público, e com a integração de fundamental importância da devota Sra. Madalena Koppe, este serviço foi sendo especializado progressivamente. Mesmo ainda quando do sistema de distribuição de alimentos em pratos e copos, Sra. Madalena elaborou e aperfeiçoou esquemas com mais “servidores”, amigos seus próximos, ou colaboradores não-devotos, de seu conhecimento pessoal, que recebiam ajuda de custo, pago particularmente por ela. Conseguir devotos que realizassem o seva de servir os alimentos após o desfile é uma tarefa árdua, pois para esse serviço é necessário que o devoto se ausente da procissão antes de seu término (40 min a 1h antes), não participando do êxtase que envolve a todos na chegada ao Farol, pois nesse momento ele já deve estar a posto para servir a fila que se forma imediatamente (ou mesmo antes, com pessoas que não participaram da procissão). É um sacrifício que poucos estão 67

dispostos a fazer. Ainda que se comprometam com antecedência, em meio aos apoteóticos canto e dança finais, se esquecem de seu serviço, ou mesmo não são capazes de realizar este sacrifício.

4.12.1 Madalena Koppe (Mada)

Mada, ou Mandaracaala Devi Dasi (DVS), se empenhou arduamente em envolver devotos e simpatizantes comprometidos com o APV, dispostos a se aterem especificamente à prasada - confecção dos kits para distribuição e seu conteúdo, o serviço de montagem da estrutura de distribuição no Farol da Barra na manhã do RY, supervisionando o local durante o desfile, organização das filas, manutenção do espaço público limpo antes e a após a distribuição, e a própria distribuição -, satisfazendo-se mais com a distribuição de prasada do que com a participação na procissão. Figura 91: Madalena Koppe

Figura 92: Kits prontos Figura 93: Equipe coordenada por Madalena “Mada” também aperfeiçoou o sistema de serviço de prasada em recipientes fechados, e do suco em garrafinhas lacradas, agilizando completamente o processo de distribuição. Ela assume a responsabilidade por todo o material para a preparação dos lanches (chamado bhoga antes de ser alimento sacralizado), bem como para a distribuição (vasilhas, garrafinhas, caixas de isopor, gelo, guardanapos) e recolhimento dos resíduos (baldes de lixos e sacos plásticos). Através de 68

empresários e pessoas abastadas de sua rede de contato, ela consegue gratuitamente, mas não sem muito sacrifício pessoal, a maior parte do que é necessário, sendo o que falta suprido pela doação e serviço dos devotos. A confecção das massas também passa a exigir menos mão de obra e tempo, quando ela consegue, de cortesia, a utilização dos fornos de uma padaria próxima ao Templo. Contando com seu caráter profundamente empreendedor, a participação de Madalena Koppe foi trazendo novas dimensões, não só no serviço de distribuição de prasada, como também em diversas áreas da produção, chegando à edição de 2013 sendo ela a principal produtora do Ratha Yatra, possuindo os coprodutores papéis mínimos na totalidade do serviço. Sua capacidade nata de captação de recursos e de facilitação de empreendimentos em diversas áreas gradualmente a colocou no topo da equipe executiva, contando sempre com o suporte e planejamento dos produtores líderes anteriores.

Figura 94: Mandaracala Devi Dasi (DVS)

Foi através dela que carros de som de pequeno porte se transformaram em trios elétricos (2007) e mini trios elétricos, aumentando a atratividade do Ratha Yatra para todos os participantes e transeuntes. Também a facilidade de carros de apoio com água para os participantes e possibilidade de descanso durante a procissão para os mais debilitados; captação de recursos para o aumento da quantidade de kits de prasada distribuídos; estruturas fixas no Farol da Barra para a distribuição de prasada; guincho para o Carro com preços reduzidos e serviço apropriado; dentre muitos outros avanços.

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5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR 70

5 DE PRODUTOR PARA PRODUTOR

Neste último capítulo, alguns elementos das produções de 2003 a 2013 serão avaliados por uma visão direcionada ao produtor e eventos semelhantes ao RY; em tópicos que serão trabalhados separadamente, embutidos de considerações.

5.1 Planejamento e Execução

Um produtor com um mínimo de conhecimento na área reconhece a importância da utilização de ferramentas como projeto do evento, orçamento detalhado, plano de mídia, de capacitação de recurso, envolvimento de uma equipe de produção sólida, etc. No entanto, no cenário que montamos até aqui, isto é raramente viável.

5.1.1 Projeto

Um projeto formal pode nos trazer dois benefícios básicos: 1 – facilitar o acesso à informação, de conhecimento, e linguagem única para todos os membros da equipe de produção; e 2 - documento imprescindível para captação de recursos junto a entidades públicas e privadas, como Leis de Incentivo à Cultura. E neste segundo ponto há uma escolha a se fazer considerando que: A - com poucos recursos disponíveis, onde os mais preciosos são o tempo e mão-de-obra, e frequentemente a núcleo de produção se limitando a uma ou duas pessoas (não por falta de convite e desejo que outros se juntem ao grupo), a utilização de um projeto simplificado, e uma integrada comunicação entre os produtores torna-se mais eficaz do que a confecção de um projeto sofisticado. Esse projeto básico contém as linhas de ações e componentes do RY, mas não detalhes minuciosos sob a forma de fazê-los: geralmente as mesmas pessoas desempenham o mesmo papel com know-how, e os que se juntam são acompanhados pessoalmente; e B - a ISKCON BA está há anos com seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, CNPJ, irregular (devido apenas a falta de entrega à Receita Federal da Declaração Anual de Inativos), e com isso não é possível recorrer a nenhuma facilidade financeira do Governo. Madalena Koppe, nos últimos anos, esta 71

empenhada em realizar sua regularização e várias medidas necessárias já foram tomadas, Daí que a elaboração a cada ano de um novo projeto para este evento se torna secundário às demais providência a serem tomadas. A atual produção do Ratha Yatra deu entrada na regularização Fiscal e Legal da ISKCON Bahia em 2015.

5.1.2 Plano de Comunicação

Peça chave para o sucesso de público, e reforço de lembrança para as próximas edições, nem sempre a comunicação com a mídia conseguiu ser realizada a contento, devido em muito por falta de colaboradores que se responsabilizassem por isso. Assessoria de Imprensa - Release, pautas, peças publicitárias e outros suportes para a imprensa eram confeccionados e disponibilizados, bem como mailing dos Cadernos e Programas de Cultura e outros meios midiáticos, mas a falta de pessoas que realizassem a atualização deste mailing, mantivessem contato periódico com a mídia, com conhecimento de seus prazos e dinâmica de funcionamento, boicotou o sucesso da comunicação midiática por muitas edições do evento. As melhores assessorias de imprensa realizadas foram graças a Sra. Edinete Melo, devota profissional da área que fazia o serviço como seva. Com ela e outras contribuições (Gandharvika Devi Dasi (Angelina Celeste), Krishna Maiy Devi Dasi (Kátia Quadros), Krishna Yoga Devi Dasi (Cristiane Salles) e Purushottama Das (Josemar Salles) Citralekha Devi Dasi (Carla Fontoura)) conseguimos espaço nos jornais impressos, chamadas na Rádio, matérias na Televisão, e inclusão na programação da Fundação Cultural do Estado. No entanto, como apresentado anteriormente, o tempo necessário a dispensar para suas atividades profissionais remuneradas, a impediu de dedicar-se, apesar do desejo, em todas as edições a esta contribuição ao Ratha Yatra. Ainda que sem uma efetiva assessoria de imprensa, a divulgação através de cartazes e panfletos sempre foi o carro chefe da divulgação. E novamente: prejudicada devido a falta de colaboradores que distribuíssem tais peças publicitárias por locais afins da cidade (casas de yoga, restaurante vegetarianos, 72

naturalistas etc, outras entidades religiosas/espiritualistas, espaços culturais, teatros e casas de shows. Também podem ser utilizados com sucesso bus-mídia, outdoor, banners e faixas, como já foram. Quanto à elaboração gráfica, convém contar com colaboradores voluntários, acessíveis e amadores da causa. Desde 2003 a equipe do RY conta com o serviço de devotos que são profissionais no ramo (Sérgio Lemos (Sri Dwarakadshi Das), Marília Palmeira (Lila), Vraja Vadhu Devi Dasi). Muitas alterações podem surgir, e o produtor precisa ter um canal de comunicação desempedida com o designer para qualquer imprevisto, ou ajuda necessária.

5.1.3 Autorizações

Como utilizamos espaço e vias públicas para o cortejo, autorizações da Prefeitura e órgãos de transito são necessárias. Para as autorizações, ofícios e procedimentos padrões são utilizados. De 2013 a 2016, com a mudança de Governo Municipal, houve alteração no procedimento para liberação de eventos em local público, o que ocasionou perda para o RY pois é organizado em período de transição (Dezembro, Janeiro, Fevereiro), e nem mesmo os funcionários públicos sabiam exatamente como deveriam proceder. A assinatura em 20/01/2011 do Termo de Ajustamento de Conduta - TAC pelo Ministério Público Estadual, Superintendência de Controle e Ordenamento do Solo do Município de Salvador (Sucom), Empresa Salvador de Turismo (Saltur) e representantes dos movimentos Vozes de Salvador, SOS Barra e Amabarra, quanto à redução de liberação de eventos com impacto sonoro no Bairro da Barra, dificultou ainda mais a obtenção de autorização para o evento no percurso tradicional. Essa dificuldade na obtenção de autorização, bem como a mudança da sede da ISKCON Bahia do Bairro de Brotas para o Bairro de São Cristóvão (periferia da cidade) descentralizando o local de encontro dos membros, e uma visível desmotivação dos colaboradores, foram os principais motivos para que o RY de 2014 ocorresse em Lauro de Freitas, onde uma colaboradora Anônima proporcionou facilidades locais para a realização do evento. Por esses mesmos motivos, somados à recursos financeiros e humanos rarefeitos, o Ratha Yatra de 2015 não foi realizado. 73

É necessário muito tato com o setor público. No Brasil, é fato notório que a qualidade do serviço público, e em boa parte por depender da “boa-vontade” e humor dos servidores, é precária. Um simples ofício pode ficar esquecido em uma mesa de gabinete, esperando uma assinatura, apenas porque outros processos chegam depois e vão se acumulando sobre ele, ou, ser deixado para depois por ser considerado como um “serviço sem urgência”. É preciso um acompanhamento constante (às vezes repetitivamente num mesmo dia) dos documentos entregues, que necessitam percorrer caminhos burocráticos, para que eles não sejam extraviados, nem prazos sejam perdidos. Solicitações de autorizações de órgãos como a Superintendência de Transito de Salvador (Transalvador), ou Sucom, dependem antes da liberação da Prefeitura, liberação essa cujo procedimento pode durar apenas uma semana, mas já chegou à marca de dois meses, e a explicação: apesar de já estar pronto para liberação, o documento necessitava da assinatura de um funcionário que julgou que, por não estar na véspera do evento, poderia ser deixado para ser assinado depois (sic). Anotar nomes, telefones, setores, criar vínculo com funcionários diretamente ligados a este procedimento, inclusive em outros órgãos que serão consultados pela Prefeitura, comparecer pessoalmente e aguardar pacientemente, entre outras virtudes do produtor, são indispensáveis. Ilustração verídica: para a Prefeitura conceder uma autorização, são consultados pareceres de outros órgãos e setores, como Transalvador, Superintendência de Parques e Jardins/Secretaria do Meio Ambiente (SPJ/SMA), Sucom (e que fique claro, não são autorizações destes para o evento: após a liberação da Prefeitura, de posse do ofício municipal, o produtor deve recorrer novamente aos mesmos órgãos para solicitar suas autorizações específicas, e Ordens de Serviço conforme o caso, quando necessário). Após duas semanas verificando que o processo encontrava-se estacionado em um mesmo estágio, através de contatos telefônicos (e muitas transferências de ramais) permeados cuidadosamente de muita diplomacia e cordialidades, foi descoberto que um determinado órgão não havia dado seu parecer ainda e está era a única pendência para o processo seguir a diante. Em meia hora o produtor conseguiu o contato da secretária do responsável pelo parecer, ressuscitou o processo, sanou as pendências de esclarecimentos sobre o evento, e o parecer foi envido por fax para Prefeitura, onde a comunicação foi retomada, e a funcionária de contato 74

imediatamente procedeu à continuidade do processo. No fim do dia, o documento de Autorização do Ratha Yatra estava pronto para ser retirado. É importante tomar conhecimento dos procedimentos para cada local, bem como manter-se atualizado de alterações ocorridas. O Apêndice A apresenta as mudanças de procedimentos encontradas pela produção do RY 2016 na cidade de Salvador. As autorizações anteriores ao período estudado aqui eram facilitados principalmente pela devota Gandharvika Devi Dasi (Angelina Celeste). A preocupação e acompanhamento devem ser constantes, prevenindo contratempos com a documentação no momento do evento. Com outros órgãos de autorização e apoios há dificuldades semelhantes.

5.2 Gerenciando Recursos

5.2.1 Voluntários, Tempo e Outros Recursos: o Panorama da Mudança

Todos os serviços de produção para o Ratha Yatra em Salvador pela ISKCON Bahia, tanto realizados pelos membros residentes como pelos “membros externos”, sempre foram feitos de forma voluntária, ou seja, sem nenhuma remuneração, ou qualquer característica de vínculo empregatício. A base filosófica e prática religiosa da ISKCON são a “Bhakti-yoga”, ou serviço devocional espontâneo e amoroso à Suprema Personalidade de Deus. E esta é a característica predominante do trabalho voluntário dos membros da Sociedade, a menos que haja contrato específico de remuneração, como para alguns serviços de tempo integral para o qual os membros da Instituição são formalmente contratados, ou serviço terceirizado a “não-devotos”, como serviços de contabilidade. Este serviço devocional espontâneo e amoroso é chamado de “seva”. O financiamento da produção do Ratha Yatra acontece através de doações dos membros da Instituição, simpatizantes, e com recursos coletados pelo trabalho missionário dos monges residentes (principalmente a distribuição de livros nas ruas - sankirtana). Não há grandes patrocinadores ou patronos, políticos ou particulares, ou verbas públicas. Então essa movimentação social do Templo interferiu na entrada dos recursos coletados pelos monges residentes, que era majoritariamente destinada à manutenção do Templo e suas atividades missionárias (incluindo o RY). 75

A partir do momento em que houve a redução do número de residentes do Templo de Salvador, marcantemente no ano de 2003, a organização do RY passa então a contar apenas com os voluntários “externos”, que possuíam empregos fixos, o que não possibilitava uma mobilidade de horários para adequação à produção do RY, como o trabalho autônomo antes exercido pelos membros residentes. Devido à dispersão, a produção do RY passou a ser, quase que invariavelmente, centralizada em uma única pessoa, o organizador, ou produtor. A separação física, devido à maioria dos voluntários não mais residir no mesmo endereço – o Templo – demandou mais tempo, energia e recursos para manter uma boa comunicação com os colaboradores, e para captação financeira e demandas de serviços. Captação de recursos sempre é um trabalho exaustivo, mas os muitos residentes facilitavam ao possuírem tempo e local disponível para solicitar e receber doações dos membros da congregação. Como um emprego paralelo, o trabalho voluntário de organização do RY concorre em tempo, disponibilidade, disposição e outros recursos com os trabalhos pessoais e profissionais do produtor-voluntário, visto que a sua atividade principal, fonte de seu sustento, não é passível de ser negligenciada. Os serviços que devem ser realizados em horário de seu trabalho, como solicitações públicas, entrega e recebimento de documentos, vistoria de equipamentos, ficam comumente à mercê de colaboradores esporádicos dispostos a isso, que também são membros externos com tempo corrido. Com outros eventos que não possuem grande visibilidade social, nem retorno expressivo retorno financeiro ocorre o mesmo: sua base é construída através de trabalho voluntário, ou com o suporte de ajuda de custo.

5.2.2 Recurso Humano

O Recurso Humano, e consequentemente de Tempo, (principalmente o recurso humano qualificado), pode ser considerado o recurso mais importante do RY e eventos semelhantes. Por ser de carácter religioso e beneficente, sem fins lucrativos, aberto a todos, a mão-de-obra que é oferecida quase nunca é especialista na área. Então os voluntários se dispõem aos serviços que desejam, mas, em seu tempo limitado. O que pode ser oferecido é aceito. 76

O humor particular dos colaboradores deve ser considerado a cada passo de ação no que se refere Às Deidades e cada seva relacionado ao RY. É de suma importância para o produtor respeitar a relação das Deidades com Seus servos, bem como o tempo necessário para isso. Há uma apropriação do RY por todos os devotos, e qualquer deslize nessa relação pode ter consequências perturbadoras, como na solicitude dos colaboradores e consequentemente na execução do evento (para nem recorrer aos méritos místicos associados). Exemplo disso é a cúpula produzida por Ângelo, que, se fosse pela decisão da equipe de produção, seria a cúpula utilizada em 2013. Mesmo com os colaboradores “não-devotos”: com o passar do tempo, a produção criou relacionamentos com os prestadores do serviço de guincho, e eles passaram a considerar a troca de rodas gentilmente como parte do serviço. É essencial para o produtor construir bons relacionamentos. Com empatia e profissionalismo é possível conseguir muitos recursos antes não disponíveis em relação de ganha-ganha com todos os envolvidos.

5.2.3 Recursos Financeiros

Os recursos financeiros para o evento RY são oriundos de doações pessoais, dos devotos ou simpatizantes, ou através de confecção de material temático e sua troca por contribuições. Visto que a maioria dos devotos não é de uma classe econômica elevada, não é possível obter muito lucro com esses produtos, pois seus preços têm de ser populares. Inclusive, muitos desses produtos acabaram sendo feitos apenas para satisfação dos devotos, por vezes sobrando material (devido a quantidade mínima de produção), e/ou tendo prejuízo: além do risco inerente desta forma de coleta, é sempre uma escolha do produtor em realizar este investimento financeiro, para obter um retorno na realização pessoal dos participantes e devotos. Dentre as produções temáticas, já foram confeccionadas: camisas, bonés, chaveiros, bottons, imãs, fitas de pulso (semelhantes às tradicionais do “Senhor do Bonfim da Bahia”, mas com a inscrição “Lembrança do Senhor Jagannatha da Bahia”), cartões com o maha mantra, sacolas. Seguindo o padrão de blocos de Carnaval, também foi idealizado e confeccionado um carnê com o qual o colaborador contribuía mensalmente, com 77

diferentes valores que davam direitos a diferentes kits: camisa, camisa+boné, etc. Uma ideia lucrativa, mas que exige um periódico acompanhamento. A coleta de todos recursos financeiros sempre foram registrados, mas poucas vezes organizados para serem apresentados à congregação da ISKCON (Prestação de Contas). Antes da participação de Madalena, 70% dos recursos financeiros eram oriundos de recurso particular dos produtores. A busca por recursos públicos, de incentivo à Cultura, por exemplo, só não foi realizada até 2016 por falta de recursos: humanos e de tempo.

5.2.4 Apoios Públicos

Os apoios públicos são recebidos através das permissões para uso do solo, Largo do Farol, vias de trânsito, às vezes banheiros químicos, escolta da Polícia Militar, e Engenharia de Trânsito. Por ser um evento sem consumo de drogas (nem de bebidas alcoólicas pelos devotos), e pacífico, onde nunca houve ocorrência de distúrbios, os servidores da PM e da Transalvador sempre se mostraram favoráveis à sua realização. Os órgãos autorizadores, também reconhecendo o carácter sociocultural benéfico do RY, nunca se opuseram, com restrições apenas ao uso do som. Por possuir Títulos de Utilidade Pública Estadual e Municipal, bem como por ser uma instituição sem fins lucrativos ou promoção particular, a ISKCON Bahia obtém facilidades, como isenções do pagamento de taxas públicas, para o evento.

5.2.5 Distribuição de Prasada - Alimentos Para a Vida

Como responsável pelo programa Alimentos Para a Vida, a produtora Madalena Koppe (Mandaracala Dasi) cuidou pessoalmente de todas as partes deste seva. Desde a coleta da matéria prima (bhoga), e recipientes de distribuição, passando pela preparação da prasada, transporte e guarda no local da distribuição, recursos humanos, com ou sem ajuda de custo, tudo é arrecadado ou doado por ela, graças a sua rede de contatos e com muito esforço e dedicação. Quanto mais coesa for a equipe de produção, ainda que pequena, e com habilidades específicas, mais fluente será a produção de um evento.

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5.3 Produção como Seva

Por mais que o produtor tente ter uma visão profissional do evento, este é um evento altamente participativo e apropriado pelos devotos, que se sentem coprodutores de sua realização - são intensos Amadores. Isto deve ser observado quando se produz um evento similar. Os produtores devem se manter maleáveis, com respeito aos limites e às aptidões de cada colaborador. Torna-se então inapropriado, assim como inviável, a restrição invariável de serviços durante o Ratha Yatra, pois todos se sentem no direito de tomar parte em um serviço tão especial a alguém que é considerado como um familiar. Sugerir alguma espécie de autoridade sobre os serviços causa desconforto em alguns devotos. Por vezes, “estar à frente” do Ratha Yatra pode ser visto como “merecimento” de uma “superioridade espiritual”, gerando uma sutil “guerra de egos”, de “orgulho”, onde o produtor se torna o objeto de julgamentos e embates. Como é uma produção para uma Instituição religiosa, e seus membros, sempre iram aflorar críticas baseadas no “nível espiritual” do produtor, e não sua capacidade de realizar o evento a contento. É necessário que o produtor contorne os atritos antes que eles surjam, ou estar bem preparado para estas situações (psicológica, didática e emocionalmente). Não é viável usar soluções estritamente profissionais, já que todos são voluntários, de diferentes níveis culturais e intelectuais - a recompensa financeira é mais objetiva para determinadas perfil de colaboradores -, e no trabalho voluntário a subjetividade humana aliada ao compromisso apenas por uma ordem sutil (moral, religiosa, filosófica, emocional etc) é um risco constante à estabilidade do evento. Felizmente, a gama de serviços disponíveis para se organizar um Ratha Yatra é infinita, desde os serviços essenciais, até qualquer oferenda pessoal que o devoto deseje fazer, como parar em frente ao Carro e fazer orações: qualquer nuance é indissociável do RY. E por serem poucos os voluntários comprometidos, o sucesso do evento depende do que cada um pode dar espontaneamente. A maioria deles já tem em mente qual será sua oferenda para o Ratha Yatra seguinte. É preciso valorizar isso, assim como incentivar e capacitar a participação em serviços que estão constantemente deficientes, ainda que esta não seja o desejo original do colaborador. Empatia, tolerância, mudanças de paradigma, de linguagem e 79

estratégias, resiliência, acessibilidade, comunicação ininterrupta, são chaves preciosas do produtor. Quando problemas ocorrem, por algo que não foi realizado, a solução recebida de terceiros é sempre a mesma: “delegue tarefas”. Com a experiência de anos no mesmo seva, tentando delegar ao máximo as tarefas, o que se verifica é que no trabalho voluntário o produtor sempre lançará sementes sem a completa garantia de que germinarão. Pode preparar o terreno, adubar, proteger das intempéries, mas sempre dependerá da vontade da semente de germinar. Pode-se preparar o terreno observando a constância de compromisso com as responsabilidades antes assumidas pelo colaborador, sua tendência natural a algum serviço (decoração, culinária, serviço braçal, serviço ideológico), pode-se adubar fornecendo todas as ferramentas necessárias (orientações, multiplicação de técnicas e experiências, recursos financeiros, modelos de ofício, rede de contatos, inter- relacionando com outros colaboradores), mas nada disso é garantia da realização das tarefas demandadas. Pela mesma lógica, o produtor poderá se deparar com uma roseira brotando de uma rachadura no asfalto, e se surpreender com colaborações inesperadas. Com o tempo, aprende-se a identificar quais as sementes são mais seguras de dar uma boa safra, e a plantação e a colheita ficam sujeitas a um risco mínimo. Mas sempre há algo de muito místico...

5.3.1 Um Espaço Para o Místico

Com a licença dos mais céticos, abre-se aqui um parêntese para algo impossível de ser ignorado pelo produtor do Ratha Yatra, por mais objetivo que este deseje ser. Uma “energia cósmica” rege o Festival de Ratha Yatra, e o produtor há de se render a ela, senão é clara a sensação de se nadar contra a corrente. Como se o próprio Senhor Jagannatha fosse o cliente (exigente) que assinou contrato com o produtor. Planejamentos, organização, horários determinados, tudo pode ser minado sem qualquer razão palpável. Difícil por em palavras esta experiência, que todo produtor obviamente tem ao trabalhar associado a outras pessoas e não estando sobre o controle de todas as situações. Mas no Ratha Yatra, é como se essas experiências se amplificasse, e uma pequena forma de compartilhar é ilustrando-as. 80

Começando na Índia, em Jagannatha Puri, na cerimônia de Chhera Panhara, segundo o “Jóia do Universo”:

O maharaja de Puri é conhecido como Gajapati, uma designação que caracteriza sua posição extraordinária entre os reis. Ele também foi o imperador natural de Kalinga (Orissa), quando a Índia era governada pelos reis, devido ao seu relacionamento especial com o Senhor Jagannatha. (...) Esta história narra um incidente com o Gajapati Maharaj, Dibya Singha , ocorrido durante o Ratha Yatra em 12 de Julho de 1972. O Senhor Jagannatha Se recusou a mover o Seu Carro, que ficou parado por muitas horas na avenida. Por fim, o Gajapati Maharaja foi solicitado a intervir e suas orações, com lágrimas nos olhos, concluíram a situação. (...) A procissão cerimonial seguia passo-a-passo, descendo os vinte e dois degraus até a porta dos leões e a entrada nos carros. Esta procissão é conhecida como “Pahanti”. Os três carros voltados para o Norte ficam lado a lado, prontos para o embarque. Quando as Deidades sobem nos carros, o maharaja é informado. E então, quando o maharaj chega, ocorre outra procissão. Com a vassoura de cabo de ouro em suas mãos, o rei vai varrendo à frente dos carros. Este evento é conhecido como “Chhera Panhara”. Então, as três “charas”, um tipo de elevador feito de palhas de coqueiro com a finalidade de subir a Deidade até o carro, são desatadas. Quando tudo está pronto, umas cordas bem fortes são atadas aos carros para serem puxadas pela multidão. (...) Agora, lá estavam os três carros, rodeados por uma multidão enorme. Logo que o Senhor apareceu majestosamente em cena, os devotos fervorosos começaram a cantar hinos e orações. As pessoas ficavam nas pontas dos pés, ávidas em ver o Senhor. A polícia militar de Orissa coordenava o espaço necessário para os três carros defronte à porta dos leões e fazia esforços para conter a multidão. Havia um cordão de isolamento e só era permitida a entrada de pessoas credenciadas. Isso é feito todos os anos para manter a disciplina. As pessoas se aglomeravam em volta do cordão. Todo mundo estava olhando o “pahandi”. (...) Por fim, o Senhor chegou para embarcar no carro. Foi a primeira vez que as Deidades subiram nos carros tão depressa. Em muitas outras ocasiões, a procissão com as Deidades continuava até o final da tarde e os carros só eram puxados no dia seguinte. Mas, por exceção, as Deidades vieram embarcar muito cedo. O céu estava nublado. Havia garoado um pouco, o chão ainda estava meio molhado. Logo nuvens mais pesadas, trovejando, fizeram cair um aguaceiro. Os devotos estavam em êxtase, pensando que as Deidades haviam Se antecipado por causa da chuva. A chuva caia e a multidão exclamava: “ bol!”. A chuva durou pouco, foi só para refrescar os devotos. Era uma hora da tarde quando a rádio Cuttack, que transmitia o evento, anunciou: - As Deidades vieram adornar os carro. O recém-coroado Gajapati Maharaja Sri Dibya Singha Deva deverá chegar em seguida para a cerimônia da varredura. Às duas da tarde a rádio anunciou: Agora o Gajapati está vindo com sua comitiva para a: “Chhera Panhara”. Ele vem vestido com um trave de seda vermelha e um manto 81

sobre os ombros. Ele vem a pé. O elefante vem atrás dele. Agora ele está oferecendo as suas orações aos Senhor Balarama com suas mãos postas. Mais tarde a rádio anunciou: - Agora o Gajapati está se aproximando de Subhdadra Devi e prestando-lhe reverência. Agora ele se aproxima do carro do Senhor Jagannatha. A cerimônia da varredura é sagrada para o Gajapati. Para este propósito ele é trazido do palácio por um palanquim. Ao se aproximar dos carros ele desce do palanquim e vai cumprir o seu dever. O maharaja vindo a pé era uma quebra da tradição. Os devotos estavam curiosos em saber o motivo daquilo. (...) O Primeiro ministro e outros ministros estavam ali, bem próximos da Deidade, esperando que o Senhor subisse no carro, ansiosos. Todos tentavam mover a Deidade com muito esforço. Ele Se movia um pouco e voltava para sua posição inicial. Os esforços dos daitapatis e dos seus auxiliares era inúteis. O administrador do templo empenhado em por as Deidades em seus tronos nos carros agora estava confuso. Ele verificava que todos os esforços eram inúteis. Mahaprabhu Jagannatha não tinha vontade de subir no carro. Os que tentavam erguê-lo à força eram derrotados, incapazes de suportar o peso. Parecia que o Senhor era impossível de ser movido. Alguns daitapatis musculosos estavam ocupados em fazer subir a Deidade, colocando os ombros nas costas do Senhor. Passaram-se horas, e quando todos realizaram que os seus esforços eram inúteis, fadigados, esgotados, eles perderam a esperança. Aquilo fazia lembrar outros passatempos do Senhor. Na época em que Krishna veio para o planeta Ele vivia pregando peças nas gopis. Agora Ele não queria subir do carro. Os daitapatis são as suas pessoas mais íntimas. Se Ele não desejava ser bondoso e desejava lhes pregar uma peça, quem mais seria capaz de erguer o Senhor do Universo? (...) O espetáculo gerava comentários os mais diversos na multidão: - A falha é do administrador do templo. A procissão de Pahandi com as Deidades começou muito cedo, antes da hora auspiciosa. O administrador marcou que as Deidades deveriam estar sobre os carros às dez horas! E lá pelo meio dia os carros já deveriam estar sendo puxados. Mas até agora o Senhor Jagannatha nem subiu no carro. Por mais que eles tentem, nada! Gajapati Maharaja prostrou-se diante das duas Deidades que estavam sobre os Seus carros e aproximou-se da Deidade de olhos redondos com as mãos postas. (...) A cena de duelo entre o criado e o criador comovia muito o rei. Lágrimas rolavam por suas faces quando ele se aproximou da Deidade. Os esforços não haviam cessado. A todo instante a Deidade se movia um centímetro e escorregava para trás. Gajapati observava atentamente. Seu coração estava agonizando. Nisso, uma surpresa mística tomou conta dele. Não havia muitos anos que os ganapatis maharajas eram as autoridades absolutas no que dizia respeito a administração do templo. Segundo a tradição, o rei era a corporificação do Senhor Jagannatha. Aconteceu que aqueles santos reis caíram de sua glória e deixaram a administração desleixar. Fora quebrada a disciplina dos vários rituais e cerimônias das Deidades. O governo de Orissa foi obrigado a assumir o encargo da administração e a colocou nas mãos de um magistrado distrital. Mas como ser fixado um tempo para o infinito? Como apreciá-lO com a 82

mente racional se para Ele o racional e o irracional são apenas as duas vias do infinito? O administrador havia marcado um tempo para o Senhor chegar ao carro. Se os funcionários da governo sevem chegar ao serviço na hora certa, por que não o Senhor Jagannatha? São os homens que fazem tudo pelo Senhor. Se eles desejavam, por que o Senhor não deveria embarcar no carro na hora certa? O administrador era muito racional. O Gajapati estava banhado de lágrimas. O seu olhar estava fixo na Deidade. Todos deram passagem para o rei. Ele subiu lentamente o charmal (chara) e ficou às costas da Deidade. Os musculosos daitapatis amarraram uma corda de seda em volta dEle, mas o Senhor não fazia progressos. Ele se recusava a embarcar por algum motivo desconhecido. O jovem Gajapati não pôde conter a emoção. Ele chorava como uma criança. Colocando as mãos nas costas do Senhor Jagannatha, ele disse: - Ande, meu Senhor! A resposta foi imediata. O Senhor subiu rapidamente para o Seu posto. As pessoas o erguiam pareciam apenas enfeites. Ele havia esperado pelo Seu querido lugar-tenente, o representante que Ele havia escolhido. Cabia a ele dar o sinal verde, conforme o Senhor Jagannatha desejava. Há instantes atrás Ele pesava como uma montanha, e agora estava leve como uma pluma. Ele logo assumiu seu trono, antes que a multidão pudesse notar alguma coisa. Foi um evento, uma mensagem e um alerta contra as atitudes do ego humano, que vive atolado na poça do pensamento racional. Quem pode avaliar o quanto o Gajapati é uma alma íntima do Senhor Jagannatha!

( PRASAD PARIJA, 2002, pg 145)

Algo semelhante aconteceu no Ratha Yatra de Salvador. Todo o ano, a parafernália das Deidades, específica do RY, é recolhida após o festival e cuidadosamente guardada pela equipe de Pujari, em especial pelas pujaris Madhurya Lila Devi Dasi (Priscila de Oliveira) e Karuna Mayi Radhika Devi Dasi (Karuma Obi). As cordas de tecido que servem para manter as Deidades fixas em Suas bases sobre o Carro também são sempre cuidadosamente guardadas. No entanto, em determinado ano, as cordas simplesmente desapareceram, e só se deu por sua falta quando as Deidades já estavam sobre o Carro. Tudo estava adiantado, e o Ratha Yatra iria sair no horário previsto, sem atrasos, como poucas vezes acontecia. Mas o detalhe dessas pequenas cordas de 3 metros cada estava atrasando toda a programação! A produção estava incrédula, pois após pesquisar com quem poderiam estar essas cordas, sem sucesso, pensava em como conseguir, em uma tarde de Domingo, material que o substituísse sem prejuízo para as 83

Deidades (com a grande quantidade de movimento do Carro durante o percurso, qualquer material mais grosseiro poderia danificar Sua pintura e Sua madeira). Havia sido notado pela produção, também, que alguns devotos muito ligados às Deidades, como o presidente do Templo, Aniruddha Das, e um ônibus de um grupo de capoeira infantil vindo de Camaçari, além de outros, não haviam chegado, e, que, se não considerasse uma grande irresponsabilidade com o horário e falta de respeito com os presentes pontuais e entidades públicas e privadas envolvidas (concessores das licenças, fiscais de trânsito, polícia militar mídia), decidiria por postergar o início do evento e aguardar a presença destes participantes fiéis. Mas não foi necessário: a falta das cordas realizou o justo atraso para estas chegadas. MISTICAMENTE, Aniruddha Das e as cordas se manifestaram simultaneamente, e, quando o Carro estava pronto para sair, de um ônibus saiam crianças sorridentes, vestidas de camisas, calças e cordões de capoeira brancos. Saímos novamente atrasados. Mas a produção não lamentou.

Pode parecer uma pequena estrela em um céu nebuloso, mas com eventos como o Ratha Yatra, onde o produtor é mais do que um profissional, instituindo-se um amador de seu produto, situações assim são como um firmamento repleto de pequenas e grandes estrelas, que por si só iluminam o planeta sem a necessidade do auxílio de nenhuma outra fonte de luz. Para não falar das vezes em que aparece uma grandiosa Lua no céu do Ratha Yatra.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 85

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Festival de Verão Ratha Yatra, como muitas outras manifestações culturais aguardando para serem promovidas, revela o que há de mais encantador na vocação do produtor. Por mais “profissional” que seja o produtor, há de manter-se sempre “amador”, pois que, senão, não produz, apenas reproduz - fórmulas prontas e desgastadas e eventos de estagnação cultural. A beleza do trabalho do produtor está em garimpar as manifestações socioculturais, estranhas ou comuns, mas verdadeiras, para que não prevaleçam moldes sociais comodistas da atualidade. O amador é o único capaz de fazer brilhar as essências das manifestações culturais, porque as explorou e sabe exatamente onde estão. Utilizar-se de “receitas prontas” e “certeiras”, pode ter o seu valor social ou econômico, mas, para não se deixar atrofiar, há de arriscar-se, mudar cursos, mergulhar de cabeça. A experiência de trabalhar em um evento focado, sem fins lucrativos e movido por fiéis como o Ratha Yatra, tendo de contornar tantas dificuldades, como as de recursos limitados, poucos voluntários, mão de obra não qualificada, com um público e contexto (sem fins lucrativos) que não atiça o investimento capitalista, amadurece o produtor para a sua atividade, e aumenta o seu valor social. É a benesse de fazer parte da realização de algo único, uma propagação cultural sem igual, onde há o choque e a interação do diferente próximo, algo desconhecido à massa que vem à tona e se associa ao ordinário. Atendendo à demanda de suma importância de um público minoritário, e criando para ele parcerias e profundas raízes com a sociedade secular. Para ter sucesso nesse desafio, o produtor deve estar completamente conectado, embrenhado, ainda que temporariamente, em todas as nuances de seu produto. Se esta simbiose não ocorrer, ele será apenas um corpo estranho, que será expelido espontaneamente do organismo cultural detentor desse saber.

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REFERÊNCIAS

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SOBRE A ISKCON. Disponível em . Acesso em 01 JUN 2015.

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Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia) 89

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

Entre as edições de 2013 e 2014 do Ratha Yatra soteropolitano houve mudança de governo municipal, e foi dado início às obras de reformas da orla da Barra, compreendendo o Farol da Barra. Com isso, não apenas a realização do evento no Farol se tornou inviável, como as consequentes e morosas alterações nos órgãos e processos de solicitação de licença para eventos em locais públicos desestimularam a produtora na época, Mandaracala Dasi, para que realizasse a edição de 2014 em Salvador.

Obtendo maiores facilidades no município de Lauro de Freitas, mais especificamente no loteamento Villas do Atlântico, através de uma colaboradora anônima, aí foi realizada a edição de 2014: o XIX Festival de Verão Ratha Yatra da ISKCON Bahia.

Em 2015, por ainda estar sozinha na produção do Ratha Yatra, e encontrando as mesmas dificuldades no processo de licenciamento, não houve a realização do evento.

Em 2016, contando com o apoio da coprodutora Áurea Cristina, que ficou responsável pelas autorizações, o evento pode retornar à capital baiana, não no percurso costumaz da orla da Barra, mas sim na orla da Pituba, tendo em vista o pouco tempo em batalhar pela autorização na orla recém-reformada do Farol da Barra. O trajeto do XX Ratha Yatra da ISKCON Bahia foi do Largo de Amaralina (antigo Largo das Baianas) até a praça Wilson Lins (antigo Clube Português) na orla da Pituba, pela avenida Octávio Mangabeira.

Funcionando nas instalações da SUCOM (Secretaria Municipal de Urbanismo) no 18º andar do prédio Empresarial Thomé de Souza (Av. Antônio Carlo Magalhães), uma Central de Licenciamento foi criada pela Prefeitura Municipal de Salvador, composta por representantes de todos os órgãos envolvidos no licenciamento, com o objetivo de facilitar o processo de autorizações de eventos. Na Central Integrada de 90

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

Licenciamento de Eventos (CLE), “os produtores podem retirar a licença em um único local, acabando com a burocracia e a necessidade de comparecer a diversas secretarias”, segundo a Prefeitura de Salvador (http://cle.salvador.ba.gov.br/).

A Central é composta pelos seguintes orgãos: Secretaria Municipal de Urbanismo (Sucom), Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador), Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Vigilância Sanitária (Visa), Secretaria da Fazenda Municipal (Sefaz), Secretaria Cidade Sustentável (Secis), Salvador Turismo (Saltur), Fundação Gregório de Matos (FGM).

No entanto, para a realização do Ratha Yatra, que é promovido por uma Instituição sem fins lucrativos, com Títulos de Utilidade Públicas Municipal e Estadual, e que, por isso, recebia isenções das taxas de serviços por ventura existentes junto a esses órgãos, a produção teve pouco tempo – a co-produtora reside e trabalha desde 2013 em outro Estado, tendo pouca disponibilidade de estar em Salvador - para se adequar ao novo processo.

Antes familiar aos órgãos de licenciamento envolvidos na liberação do evento, o Ratha Yatra tem agora que reconquistar seu espaço junto aos representantes do CLE, cujo funcionamento distanciou a comunicação que antes era feita diretamente com os funcionários dos órgãos responsáveis pelas autorizações e apoios.

Dando entrada no CLE, a documentação segue na mesma sala pelo representante de cada órgão, e DAMs (Documento de Arrecadação Municipal) são emitidos e devem ser pagos, e comprovantes apresentados lá mesmo, para que o pedido de licenciamento siga para os órgãos competentes física e digitalmente. Para que seja concedida 91

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

isenção do pagamento de taxas, é necessário que a produção dê entrada independentemente em cada órgão, com ofícios específicos, e esperar que os processos sejam concluídos em cada um deles, para então o licenciamento ter continuidade pelo CLE. Por ser muito moroso, a produção optou por dar entrada através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (SECULT): a informação obtida foi que, sendo uma solicitação de evento apoiado por este órgão, o pagamento das taxas seria dispensado.

Ratha Yatra marcado para 24 de Abril, um Domingo, foi dado entrada a solicitação de apoio na SECULT no dia 23 de Março, após tentativas anteriores junto à Sucom e CLE. Um ofício foi encaminhado à SECULT, endereçada ao Secretário Érico Pina Mendonça Júnior, na esperança de ter dispensada ao menos a taxa da Transalvador, que era a mais cara no processo de licenciamento (para o apoio de trânsito para evento até 1.000 pessoas foi cobrado o valor de R$ 1.285,47). Por estar em meio à organização da semana de comemoração do aniversário da Cidade (29 de março), o Secretário só deu prosseguimento ao processo duas semanas depois, sendo solicitado o parecer da Secretaria de Turismo, a qual, após insistentes contatos telefônicos da produção, retornou com resposta favorável à SECULT, e então o processo foi encaminhado em 05/04 à CLE, que providenciou encaminhamento aos demais órgãos, sendo indispensável o pagamento da taxa da Sucom de R$ 39,26, pago com recursos de uma das produtoras. Apenas no dia 12/04 fomos informados da necessidade de solicitar dispensa de pagamento de taxa diretamente à Transalvador, mesmo sendo uma solicitação de evento da SECULT. Referida dispensa foi solicitada através de formulário específico na CLE ao responsável pela Transalvador. No dia 14/04 recebemos por email da Transalvador o boleto para pagamento da taxa, e, após ser questionado tal cobrança tendo em vista a solicitação de dispensa, outro email foi enviado pedindo 92

Apêndice A – Licenciamento para o Ratha Yatra 2016 (Salvador/Bahia)

que se desconsiderasse a cobrança até julgamento da dispensa. Uma vez que a ISKCON Bahia atende a todos os requisitos conforme a Lei para a solicitação de dispensa (sem fins lucrativos, com Títulos de Utilidade Pública, sem a promoção de políticos ou outras pessoas etc), a produção optou por dar continuidade ao evento mesmo não tendo, a menos de duas semanas, resposta de seu licenciamento. No dia 19/04 tivemos acesso à decisão da Transalvador de não dispensar a taxa.

Estando na semana do evento, a duas produtoras, Madalena Koppe e Áurea Cristina, considerando que dia 21 de Abril seria feriado, e dia 22 não haveria expediente para o Público, tendo apenas um dia e meio para recorrer a esta decisão, com o grande risco de não haver tempo hábil para receber a autorização da Transalvador, a produção decidiu arcar provisoriamente com a taxa para que o evento ocorresse em segurança. Com este gasto, contando apenas com doações espontâneas de membros da Instituição, não havendo provisão de recursos próprios, o Ratha Yatra 2016 foi realizado como previsto, mas com o déficit de R$ 1.492,99.

Com essa primeira experiência com a CLE, a produção do Ratha Yatra almeja conseguir autorização e dispensa das taxas de licenciamento e apoio dos órgãos públicos para a edição de 2017, a ser pleiteada no trajeto tradicional: orla de Ondina ao Farol da Barra.

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ANEXOS

IMPRESSOS

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Anexo A – Sociedade Internacional Para a Consciência de Krishna ISKCON

Arquivo em PDF.

Autor: Secretaria de Comunicação da ISKCON

Disponível em: http://communications.iskcon.org

Acessado em: 02/06/2015

SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador : Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

ORGANIZAÇÃO: OS SETE PROPÓSITOS DA ISKCON Popularmente conhecida como Movimento Hare Krishna, a Quando a ISKCON foi fundada em Nova York em Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna 1966, Srila Prabhupada determinou os sete pontos (ISKCON) é uma confederação mundial com mais de 400 seguintes como propósitos da Sociedade: 1. Propagar sistematicamente o conhecimento templos, 100 restaurantes vegetarianos e uma grande espiritual na sociedade em geral e educar as variedade de projetos comunitários. pessoas nas técnicas da vida espiritual a fim de fazer frente ao desequilíbrio de valores na vida e obter verdadeira unidade e paz no mundo. HISTÓRIA: 2. Propagar a Consciência de Krishna, tal como se A ISKCON pertence à Gaudiya-Vaisnava , revela no Bhagavad-Gita e no Srimad- uma tradição monoteísta dentro da ampla cultura hindu. É Bhagavatam. 3. Fomentar a aproximação entre os membros da baseada, de maneira escritural, no Bhagavad-gita, ou ISKCON e entre estes e Krishna, o Ser Originário, Canção de Deus, texto em Sânscrito de 5 mil anos de para assim desenvolver a ideia, entre os membros e na humanidade em geral, de que cada alma é idade. A ISKCON segue sua linhagem diretamente do qualitativamente parte integrante de Deus Senhor Krishna, o orador do livro sagrado, reverenciado (Krishna). como a Suprema Personalidade de Deus; e do Senhor 4. Ensinar e promover o movimento de sankirtana, o canto congregacional do santo nome de Deus, tal Caitanya Mahaprabhu, a encarnação de Deus no Séc. XVI, como se revela nos ensinamentos do Senhor Sri na Índia, que enfatizou o entoar do mantra Hare Krishna Caitanya Mahaprabhu. como o meio mais eficaz de alcançar auto realização e 5. Erigir, para os membros e para a sociedade em geral, um lugar sagrado de passatempos amor por Deus nesta era. transcendentais, dedicado à Personalidade de Krishna. 6. Promover a união entre os membros para FUNDADOR: ensinar um modo de vida mais simples e natural. Em 1965, aos 69 anos, Sua Divina Graça A. C. 7. Com o objetivo de obter os mencionados Bhaktivedanata Swami Prabhupada viajou sozinho da Índia objetivos, publicar e distribuir periódicos, revistas, para a América, para trazer os ensinamentos de Krishna livros e outros escritos. para o Ocidente. Em 11 de julho de 1966, Srila Prabhupada registrou oficialmente a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON), em Nova York, e assim começou o Movimento Hare Krishna na América. Srila Prabhupada faleceu em 1977.

MISSÃO: A missão não-sectária deste movimento monoteísta é desenvolver o bem-estar da sociedade, promovendo a ciência da Consciência de Krishna. Para isso, Srila Prabhupada estabeleceu a declaração de missão da ISKCON em sete propósitos.

TEXTOS SAGRADOS: A filosofia da ISKCON baseia-se em antigos textos védicos. Estes incluem o Bhagavad-gita, o Srimad-Bhagavatam e o Caitanya-Charitamrita. O estudo dessas escrituras ocorre em templos da ISKCON diariamente, e narrações especiais, ou palestras, muitas vezes fazem parte de encontros comunitários semanais e festivais.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Bhagavad-gita O Bhagavad-gita explica lucidamente a natureza da consciência, o ego, e o Universo. É a essência da sabedoria espiritual da Índia, as respostas para perguntas posadas por filósofos durante séculos

FILOSOFIA: Devotos de Krishna ensinam que as pessoas não são seus corpos materiais, mas são almas espirituais eternas, e que todos os seres são interligados por meio de Deus, o Pai comum. Na tradição Vaishnava Deus é conhecido por muitos nomes, sendo o principal nome Krishna, que significa “a Toda-Atrativa Pessoa Suprema”. Os membros da ISKCON acreditam que o mesmo se fala de Deus em todas as grandes escrituras do mundo.

A ISKCON ensina que o objetivo da vida é desenvolver o amor por Deus. O amor por Deus realiza-se por meio da prática de bhakti-yoga, ou serviço devocional. Este sistema antigo de Yoga ensina a arte de se espiritualizar todas as atividades humanas. Para alcançar efetivamente a consciência de Krishna, os membros cantam e meditam sobre os santos nomes do Senhor Krishna: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare; Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

PRÁTICAS E PRINCÍPIOS: Além de cantar e meditar diariamente, os membros da ISKCON praticam sua fé participando de cultos regulares, estudando as escrituras, compartilhando refeições vegetarianas santificadas e promovendo o companheirismo entre outros devotos de Krishna.

Os membros também praticam quatro “princípios” religiosos: compaixão, honestidade, limpeza e austeridade. Para defender esses princípios e concentrar a mente e os sentidos em suas buscas espirituais, seguem regras básicas de conduta. Eles são lacto-vegetarianos, não comem nenhum tipo de carne, peixe ou ovos. Também se abstêm de jogos de azar e sexo ilícito. Não fumam, não bebem, nem usam drogas.

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

SOCIEDADE: A ISKCON tem mais de um milhão de membros em todo o mundo. Enquanto alguns membros vivem em templos e ashrams (monastérios), como monges e monjas, a maioria dos devotos Hare Krishna vive, trabalha e vai à escola na sociedade secular. Praticam Consciência de Krishna em suas casas e frequentam os templos regularmente. A participação é aberta a qualquer pessoa, independente de raça, religião, gênero, etnia ou qualquer outro fator.

Números relevantes:

 4 princípios religiosos: compaixão, veracidade, limpeza e austeridade;  4 princípios reguladores: nada de comer carne ou ovos, jogar, sexo ilícito e intoxicação;  mais de 40 comunidades rurais;  mais de 100 restaurantes vegetarianos;  mais de 400 templos;  mais de um milhão de seguidores no mundo inteiro;  mais de 10 mil seguidores no Brasil

LIDERANÇA: Antes de seu falecimento, em 1977, Srila Prabhupada estabeleceu uma Comissão de Administração (GBC) para supervisionar as atividades da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Esse conselho eclesiástico consiste em devotos de Krishna sêniores na ISKCON, que trabalham juntos, como um corpo, para guiar a organização. Cada templo da ISKCON está incorporado e gere individualmente os seus assuntos por meio de uma liderança local.

Este material está disponível originalmente em língua inglesa em http://communications.iskcon.org

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

O MOVIMENTO HARE KRISHNA NA AMÉRICA “A Sociedade Internacional para Consciência de Krishna está fazendo um excelente trabalho em permitir que as DO NORTE TEM RAIZES NA TRADIÇÃO pessoas saibam que a comida vegetariana é saudável, ANTIGA VAISHNAVA DA ÍNDIA deliciosa e agradável aos olhos... Não há elogios que bastem pelo seu sucesso na promoção da causa do vegetarianismo no mundo todo.” Scott Smith, Associate Editor, Vegetarian Times

Popularmente conhecida como Movimento Hare Krishna, a Sociedadecott Smith, Internacional Associate para Editor, a Consciência de Krishna (ISKCON) pertence à Gaudiya-Vaisnava Sampradaya,Vegetarian tradição Times monoteísta dentro da cultura védica, ou Hindu. Baseia-se no Bhagavad-gita, ensinamentos espirituais proferidos pelo Senhor Krishna. Segundo a tradição, esse texto sagrado tem mais de 5 mil anos e documenta a conversa entre o Senhor Krishna e seu primo, amigo e discípulo .

A ISKCON traça a sua linhagem espiritual diretamente do interlocutor do livro sagrado, o Senhor Krishna, que é reverenciado como a Suprema Personalidade de Deus. O texto ensina que o objetivo da vida é desenvolver amor por Deus, ou Krishna. O amor por Deus é realizado por meio da prática de Bhakti-Yoga, a ciência do serviço devocional.

Na última parte do Séc. XV, um santo chamado Caitanya Mahaprabhu revitalizou a tradição de Bhakti-Yoga por meio da introdução de um movimento espiritual expansivo, que varreu a Índia. O ponto central desse renascimento foi a ênfase de Caitanya no canto do nome de Krishna. Subjacente a essa prática simples está uma teologia profunda, racional e intelectualmente abrangente. Devotos Hare Krishna adoram o Senhor Caitanya como uma encarnação de Krishna para esta era, e a ISKCON é uma continuação vibrante do movimento que Sri Caitanya começou.

O Movimento Hare Krishna diminuiu um pouco nos anos que se seguiram. Então, no final do Séc. XIX, Bhaktivinoda Thakura, um estudioso, magistrado e líder religioso na tradição de Caitanya, conduziu um segundo renascimento da devoção a Krishna. Seu filho, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, continuou o seu trabalho e estabeleceu templos proeminentes e instituições na Índia. Bhaktisiddhanta Sarasvati foi o mentor espiritual de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, e foi ele que pediu a Srila Prabhupada que levasse os ensinamentos de Krishna para fora da Índia.

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Srila Prabhupada chegou a Nova York em 1965, com

69 anos. Nos 11 anos seguintes estabeleceu uma instituição internacional, guiou milhares de homens e mulheres, de diversas origens e nacionalidades, em Chaitanya exibiu sintomas do amor por Deus no grau mais elevado e enfatizou o cantar suas vidas espirituais e ajudou a fazer de "Hare dos santos nomes de Krishna como o melhor Krishna" uma frase familiar em todo o mundo. A meio para se alcançar o amor por Deus. ISKCON, desde então, tem crescido em uma confederação mundial de mais de um milhão de membros, a partir de uma variedade de origens. Hoje existem mais de 400 templos Hare Krishna em seis continentes.

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Ele era uma pessoa santa genuína com integridade e compaixão enorme e teve impacto poderoso sobre os que o conheceram. Ele nunca reivindicou autoridade e respeita para ele; o que ele disse e fez sempre foi em nome de Krishna...

- Dr. Thomas J. o Hopkins

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SUA DIVINA GRAÇA A.C. BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPADA

Quando Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada entrou no porto de Boston, em 17 de setembro de 1965, poucos americanos tomaram conhecimento – mas ele não era apenas outro imigrante. Ele estava em missão, para introduzir uma antiga religião originada na Índia na América. Antes de Srila Prabhupada falecer em 14 de novembro de 1977, aos 81 anos, sua missão foi bem-sucedida. Ele fundou a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON) e a viu crescer em uma confederação mundial de mais de 100 templos, ashrams e centros culturais.

Srila Prabhupada nasceu Abhay Charan De, em 1 de setembro de 1896, em Calcutá, numa família hindu piedosa. Quando jovem, enquanto crescia na Índia sob controle dos britânicos, Abhay se envolveu com o movimento de Mahatma Gandhi de desobediência civil para garantir a independência de sua nação. No entanto, em 1922, um encontro com um proeminente estudioso e líder religioso, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati, mostrou-se influente no futuro de Abhay. Srila Bhaktisiddhanta foi um líder na Gaudiya-Vaishnava sampradaya, uma tradição monoteísta dentro da ampla cultura hindu, e pediu a Abhay para levar os ensinamentos do Senhor Krishna para os países de língua inglesa. Abhay tornou-se discípulo de Srila Bhaktisiddhanta em 1933, e decidiu executar o pedido de seu mentor. Abhay, mais tarde conhecido pelo título honorífico Bhaktivedanta Swami Prabhupada, passou os 32 anos seguintes se preparando para sua jornada rumo ao Ocidente.

“Ele era uma pessoa santa genuína com Em 1965, aos 69 anos, Srila Prabhupada viajou enorme integridade e compaixão, e ele teve um forte para os Estados Unidos a bordo de um navio de impacto sobre aqueles que o conheceram. Ele carga. A viagem foi traiçoeira, e o idoso mestre nunca reivindicou autoridade e respeito para sii; o que ele disse e fez sempre foi em nome de espiritual sofreu dois ataques cardíacos a bordo do Krishna...” navio. Chegando aos Estados Unidos com apenas - Dr. Thomas J. Hopkins sete dólares em rúpias indianas e suas traduções de textos sagrados em Sânscrito, Srila Prabhupada Secretaria de Comunicação - ISKCON Brasil - [email protected] 1

SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada começou a compartilhar a sabedoria atemporal da Consciência de Krishna. Sua mensagem de paz e boa-vontade ressoou entre jovens, alguns dos quais se destacaram como estudantes sérios da tradição de Krishna. Com a ajuda desses alunos, Srila Prabhupada alugou uma pequena loja no Lower East Side, em Nova York, para usar como um templo. Em 11 de julho de 1966, ele registrou oficialmente sua organização no estado de Nova York, fundando formalmente a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna.

Nos 11 anos que se sucederam, Srila Prabhupada deu a volta ao mundo 14 vezes em ciclos de palestras, trazendo os ensinamentos do Senhor Krishna para milhares de pessoas em seis continentes. Homens e mulheres de todas as origens e classes sociais aceitaram sua mensagem, e, com a ajuda deles, Srila Prabhupada estabeleceu centros da ISKCON e projetos em todo o mundo. Sob sua inspiração, os devotos de Krishna estabeleceram templos, comunidades rurais, instituições de ensino, e começaram o que se tornaria o maior programa de ajuda alimentar vegetariano do mundo. Com o desejo de cultivar as raízes da Consciência de Krishna em seu país de origem, Srila Prabhupada voltou à Índia várias vezes, onde provocou um renascimento da tradição Vaishnava. Na Índia ele abriu dezenas de templos, incluindo grandes centros nas cidades sagradas de Vrindavana e Mayapur.

As contribuições mais significativas de Srila Prabhupada talvez sejam seus livros. Ele escreveu mais de 70 volumes sobre a tradição de Krishna, altamente respeitados por estudiosos graças à autoridade, profundidade, clareza e fidelidade à tradição. Várias de suas obras são usadas como livros didáticos em inúmeros cursos universitários. Seus escritos foram traduzidos para 76 idiomas. Suas obras mais importantes são: Bhagavad-gita como ele é; Srimad-Bhagavatam e Sri Caitanya-Charitamrita.

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ISKCON – EXPRESSÃO DA DEVOÇÃO POR MEIO DAS ARTES

Com raízes nas tradições da Índia antiga, o movimento Hare Krishna se manifesta em cores vibrantes, melodias marcantes, preparações culinárias de dar água na boca e em festivais alegres, com glorificação a Krishna, ou Deus, no centro. Aqui estão algumas das maneiras pelas quais os membros da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON) transmitem sua devoção por meio das artes.

MÚSICA E DANÇA A tradição diz que, na morada do Senhor Krishna, "cada palavra é uma canção e cada passo é uma dança”. A música desempenha um papel fundamental na vida dos devotos de Krishna. Quando Srila Prabhupada trouxe pela primeira vez a tradição de Krishna para o Ocidente, em 1965, ele introduziu a arte de cantar kirtan devocional, acompanhado por instrumentos tradicionais indianos. Devotos da ISKCON têm partilhado esta expressão musical dinâmica com o mundo, e muitos se tornaram cantores e músicos talentosos. Templos Hare Krishna também abrigam regularmente espetáculos de palco e oferecem aulas de dança indiana clássica, como Natyam, e . Essas performances complexas e graciosas fazem parte de uma rica tradição de representar as atividades divinas de Deus ou de Seus devotos por meio da dança.

BELAS ARTES Artistas dentro do Movimento Hare Krishna criaram centenas de pinturas originais retratando o Senhor Krishna e Sua morada espiritual. Misturando características de estilos orientais e ocidentais, essas obras de arte ilustram vários volumes de livros, decoram templos da ISKCON e ajudam a apresentar visualmente a tradição de Krishna.

ARQUITETURA Muitos templos da ISKCON em todo o mundo são exemplos magníficos de arquitetura tradicional e neovédica. Em Spanish Fork, Utah, o templo da ISKCON segue o molde de um palácio do Séc. XV do norte da Índia. Ostenta elaborados designs em arcos, colunas, varandas e cascatas. Em West Virginia, os devotos de Krishna construíram um templo com cúpula de ouro, chamado de “Taj Mahal da América”, pelo New York Times. A ISKCON também erigiu na Índia dezenas de templos que empregam estilos arquitetônicos clássicos, em grandes cidades como Nova Délhi e e em cidades sagradas de peregrinação como Vrndavana e Mayapur. Secretaria de Comunicação - ISKCON Brasil - [email protected] 1

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CULTOS Os membros e convidados são atraídos pela autenticidade e vibração dos cultos de adoração na ISKCON. A teologia Hare Krishna ensina que todos os sentidos devem ser envolvidos na glorificação a Deus. Assim, ao entrar em um culto de adoração na ISKCON, os olhos do visitante se regalam com um altar decorado de maneira elaborada; seus ouvidos são invadidos pelo canto melodioso; seu nariz alcança flores perfumadas e incenso; e sua boca saboreia deliciosa comida vegetariana santificada.

FERIADOS E FESTAS Na comemoração de dias sagrados do Calendário Vaishnava, o SERVIÇOS DE ADORAÇÃO Movimento Hare Krishna promove festivais coloridos e emocionantes que atraem milhares de visitantes e seguidores. Um pujari (sacerdote) faz soar Feriados como Janmastami (aniversário do nascimento de Krishna) uma concha, significando o e (Ano Novo) são observados com grande festejo e alegria. começo de um serviço de Talvez o mais famoso festival público, chamado Ratha Yatra, ou adoração tradicional (arati). “Festival das Carruagens”, é comemorado anualmente em grandes cidades do mundo, incluindo marchas pela 5ª Avenida de Nova York, o calçadão de Venice Beach, em , e a Independence Avenue, em Washington, DC, nos padrões do festival milenar realizado na cidade indiana de Puri. A festa inclui puxar carros decorados de 40 metros de altura.

ALIMENTOS Às vezes chamado de "religião da cozinha", o Movimento Hare Krishna oferece aos visitantes dos templos da ISKCON deliciosa comida vegetariana santificada. O menu, de inspiração internacional, pode variar de legumes ao curry a berinjela à parmegiana. Para que se conheçam melhor os benefícios de uma dieta vegetariana, o Movimento Hare Krishna também estabeleceu mais de 100 restaurantes vegetarianos em todo o mundo.

LITERATURA Com o objetivo de lançar luz sobre a profunda filosofia subjacente a essas expressões culturais, a Bhaktivedanta Book Trust (BBT), editora associada da ISKCON, tem imprimido e distribuído mais de 400 milhões de livros e revistas. Estas publicações contêm frequentemente traduções do Sânscrito ou Bengali, reproduções de comentários raros, ilustrações originais atraentes e fotografias. Diz-se que a maior editora do mundo de textos clássicos Vaishnavas, a BBT, é conhecida como um excelente recurso para o estudo da cultura e da filosofia da Índia.

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MOVIMENTO HARE KRISHNA PROMOVE “A Sociedade Internacional para Consciência VEGETARIANISMO E CONSCIÊNCIA de Krishna está fazendo um excelente trabalho AMBIENTAL em permitir que as pessoas saibam que a comida vegetariana é saudável, deliciosa e Os membros da Sociedade Internacional para a agradável aos olhos... Não há elogios que bastem pelo seu sucesso na promoção da Consciência de Krishna (ISKCON) acreditam que os causa do vegetarianismo no mundo todo”. recursos da Terra, a natureza e nossos corpos são Scott Smith, todos dons sagrados de Deus e que devem ser Editor Associado, Vegetarian Times tratados de forma responsável. A Filosofia Vaishnava, na qual o Movimento Hare Krishna está enraizado, nos ensina que todos os seres vivos estão interligados por Krishna, o Pai comum. Devotos de Krishna respeitam o direito dos animais de viver e praticam dieta que visa minimizar a violência e a exploração. Assim, eles veem o vegetarianismo como mais propício para uma forma compassiva, ambientalmente amigável e saudável de vida – com seus inúmeros benefícios de saúde, ecológicos e sociais documentados.

Às vezes citado como "a religião da cozinha," o Movimento Hare Krishna promove ativamente os benefícios do vegetarianismo. Aos visitantes, os templos da ISKCON oferecem comida vegetariana santificada deliciosa e costumam oferecer aos domingos programas open house semanais, que culminam em uma festa. O Movimento Hare Krishna estabeleceu mais de 100 restaurantes vegetarianos em todo o mundo e já distribuiu mais de 300 milhões de refeições vegetarianas nutritivas para os menos favorecidos, por meio da instituição afiliada Food for Life. Devotos de Krishna promovem regularmente aulas de culinária vegetariana em seus templos e universidades locais, e vários membros da ISKCON são autores de livros de receitas aclamados. A popular série Cozinhar com , do chef australiano Kurma Dasa, foi ao ar em emissoras públicas de televisão em todo o mundo, e Yamuna Devi foi premiada com o James Beard Award de 1992 de melhor livro de receitas internacional, pelo seu livro Yamuna’s table.

O fundador da ISKCON Srila A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada incluiu na declaração do movimento missionário o objetivo de "trazer os membros unidos com o propósito de ensinar uma forma mais simples, mais natural da vida". Para este fim, alguns membros da ISKCON têm desenvolvido comunidades agrícolas em nível internacional. Essas comunidades visam autossuficiência, explorando técnicas de controle natural, tanto de pragas como de ervas daninhas, produção de combustíveis alternativos, gestão de resíduos e rotação de cultura. Em consonância com o ideal da Consciência de Krishna de "vida simples e pensamento elevado", membros da ISKCON tornaram seu objetivo produzir apenas o que precisam e evitar excessos

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SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA DE KRISHNA Fundador Acharya: Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada egoístas, proporcionando, assim, modelo para uma sociedade espiritualmente consciente e centrada.

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PROGRAMA ALIMENTOS PARA VIDA . Tufão Haiyan – Filipinas ( 2013): A situação humanitária nas áreas devastadas pelo tufão COMPROMETIDO COM O COMBATE Hiya (Yolanda) foi catastrófica. Quase 13 À FOME NO MUNDO milhões de pessoas nas Filipinas foram afetadas, incluindo cerca de cinco milhões de crianças. Quase dois milhões de homens, A Sociedade Internacional para a Consciência de mulheres e crianças foram deslocados, muitos Krishna (ISKCON) está fazendo sua parte para desesperados por comida, água potável, combater a fome no mundo. Nas últimas três abrigo e saneamento básico. Ao longo dos cinco meses seguintes, voluntários do décadas, o programa Alimentos para Vida, da programa Alimentos para Vida de Manila ISKCON, já distribuiu mais de 300 milhões de distribuíram dezenas de milhares de refeições refeições vegetarianas quentes e nutritivas para os vegetarianas preparadas na hora. mais desfavorecidos, em toda a América, Ásia, . Tsunami no Japão (2011): O programa África, Oceania e Europa. Alimentos para Vida forneceu milhares de quilos de frutas e vegetais frescos, bem como Em 1974, ao ver crianças de rua revirando o lixo jantares vegetarianos prontos, aos sobreviventes, em abrigos de Wataricho para comer, o fundador da ISKCON, A. C. Shiyakysho, no distrito de Miyagi-ken, por Bhaktivedanta Swami Prabhupada foi às lágrimas muitos meses após o tsunami devastador. e instruiu seus seguidores para que ninguém . Terremoto no Paquistão (2006): Voluntários dentro de um raio de dez quilômetros de qualquer do programa Alimentos para Vida de várias templo de Krishna passe fome. Hoje o programa cidades da Índia se uniram para prestar inclui restaurantes de alimentos gratuitos, socorro. Trabalhando em estreita colaboração cozinhas móveis e serviços de socorro de com as forcas e a polícia local, os voluntários montaram base em um templo da ISKCON em emergência, e distribui mais de 400 mil refeições Udhampur, na região afetada pelo terremoto, vegetarianas gratuitas por dia para pessoas com caminhões carregados de água potável, carentes, em mais de 60 países. arroz, pão e cobertores. Esses itens eram para as vítimas do terremoto, incluindo sobreviventes em cidades com danos mais "Muita tristeza e desespero no mundo são graves. causados pela fome", diz o australiano nascido . Furacão Katrina, Costa do Golfo, EUA Paul Turner, coordenador internacional do (2005): Membros do programa Alimentos para programa Food for Life (Alimentos para a Vida). a Vida local se aventuraram nas áreas mais "Devotos de Krishna são dedicados a trazer atingidas da Costa do Golfo para distribuir refeições vegetarianas quentes e frescas para esperança às pessoas por meio da distribuição de os moradores afetados. As equipes de alimentos saudáveis e santificados." voluntários do programa no Texas continuaram a oferecer ajuda aos desabrigados e Recentemente as filiais do programa Food for Life refugiados, servindo até 800 refeições por dia durante vários meses após o desastre. em Nova Délhi e Mumbai inauguraram um

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. Tsunami no Sudeste a Ásia (2004): programa bem-sucedido para combater a fome – o Programa Alimentos para Vida respondeu "Mid-Day Meal". Este programa destina-se a rápido, quando proveu apoio de conforto e refeições vegetarianas quentes às pessoas, no libertar as crianças carentes do círculo vicioso da mesmo dia do desastre. Só no Sri Lanka, pobreza; busca encorajar a frequência escolar, foram distribuídas mais de 10 mil refeições proporcionando aos alunos almoços nutritivos diárias, junto com cuidados médico, roupas, e abrigo para crianças órfãs. frescos, livre de custos. Em Mumbai o programa, com parceria do governo estadual e do grupo de . Ciclone em Orissa, Índia (1999): Programa mídia Times of India, alimenta diariamente mais de Alimentos para Vida foi capaz de distribuir mais de um milhão de refeições vegetarianas, junto 30 mil estudantes em mais de 100 escolas. com garrafas de água, mantas, roupas e tratamentos de primeiro socorro aos sobreviventes devastados. Este material está disponível online em . Guerra em Grozny, Chechnya (1995): Com http://communications.iskcon.org o começo da campanha russa contra # # # insurgência no dia 11/12, 1994, voluntários do programa Alimentos para Vida arriscaram suas vidas para servir 850 mil tigelas de mingau de aveia quente, pão fresco assado e chá aos residentes locais. Um artigo do New York Times artigo declarou que em Grozny, os devotos de Krishna do programa Alimentos para Vida "têm uma reputação igual à que irmã Teresa tem em Calcutta: não é difícil encontrar alguém que jure que eles são santos. Em uma cidade cheia de mentiras, ganância e corrupção, os Krishna distribuem o bem”.

. Campina Grande (PB), Brasil (há mais de 10 anos): Com a colaboração de voluntários do programa Alimentos para Vida, a ISKCON de Campina Grande distribui diariamente mais de 200 pratos de sopa fresca e quente para moradores de rua.

. Chapada dos Veadeiros (GO), Brasil (desde 2004): A ONG Paraíso dos Pândavas, em nome do programa Alimentos para Vida, introduziu a merenda escolar vegetariana nas escolas públicas municipais em Alto Paraíso e em outras cidades da região, por meio de acordo com prefeituras para capacitação das merendeiras, realizada por chefs da culinária vegetariana. Hoje o programa é mantido pela comunidade, independente da ONG Paraíso dos Pândavas.

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PRINCIPAIS CELEBRAÇÕES

A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna segue um calendário anual cheio de dias santos e festas. As observâncias podem incluir adoração ou meditação, jejum voluntário e festividades. Os festivais muitas vezes incluem palestras especiais, performances dramáticas e grandes banquetes vegetarianos, para membros e convidados. Templos de Krishna, seguindo a tradição, determinam as datas de suas celebrações segundo um calendário lunar. As datas, portanto variam de ano para ano, quando se compara com o calendário ocidental. Todos os eventos são abertos ao público.

KRISHNA JANMASTAMI (celebrado no final de agosto ou início de setembro), aniversário do Senhor Krishna, é o dia mais sagrado para os devotos da ISKCON. Na Índia, Janmastami é um feriado importante, comemorado pelos de todas as crenças. Templos da ISKCON comemoram este dia com culto e programas especiais, incluindo danças tradicionais, canto congregacional, teatro e banquetes. Devotos jejuam até meia-noite e, em seguida, banqueteiam-se com várias iguarias para comemorar o aparecimento do Senhor na Terra.

ANIVERSÁRIO DE NASCIMENTO DE SRILA PRABHUPADA (um dia após o Janmastami), o aniversário de A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada é um dia no qual os membros da ISKCON observam serviços que expressam gratidão e apreço por Srila Prabhupada, que cruzou o oceano com 69 anos para difundir o conhecimento da Consciência de Krishna em todo o mundo. Depois de jejuarem pela manhã, os devotos da ISKCON se reúnem para lembrar Srila Prabhupada e servir e compartilhar um elaborado banquete, ao meio-dia, em sua homenagem.

RADHASTAMI (observado em setembro), dia do aparecimento de Radha, o aspecto feminino da Divindade e consorte do amor eterno de Krishna, também comemorado com canções especiais, adoração e banquete.

RATHAYATRA (comemorado em meados do Verão), evento alegre moldado segundo o antigo Festival dos Carros celebrado anualmente em Jagannath Puri, na Índia. Esta comemoração é realizada há milhares de anos e é o maior festival religioso anual do mundo, atraindo milhões de peregrinos. Desde 1967, filiais da ISKCON têm realizado anualmente este evento em dezenas de cidades em todo o mundo, incluindo Nova York, Londres, Moscou, Calcutá e . Em Los Angeles mais de 50 mil pessoas participam da caminhada colorida, puxando três carros gigantes. Frequentemente exposições e performances de palco acontecem de modo concomitante ao desfile. Secretaria de Comunicação - ISKCON Brasil - [email protected] 1

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GAURA PURNIMA (observado em março), dia do aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu, o santo do Séc. XVI que foi pioneiro na propagação do maha mantra Hare Krishna como o principal método para se alcançar amor por Deus. É uma data importante para a ISKCON, pois Sri Caitanya é tido como a encarnação de Krishna para esta era. Esta celebração também coincide com o , o Festival das Cores, que é uma celebração hindu da primavera e do triunfo da nova vida sobre a morte. Cultos especiais e cânticos continuam durante todo o dia, culminando com um banquete suntuoso à noite.

DIWALI (observado no início de novembro), também conhecido como Dipavali, é a dupla celebração do Ano Novo e do triunfo do Senhor Rama, uma encarnação de Krishna, sobre o rei demônio . Também conhecido como o Festival das Luzes, é uma celebração do bem sobre o mal, e é sagrado para os hindus de todas as denominações e tradições. Templos da ISKCON recebem multidões de fiéis, que vêm para celebrar este dia auspicioso com cânticos cerimoniais, comunhão e banquete à luz de velas e lamparinas.

GOVARDHANA PUJA (observado no início de novembro), celebração que comemora o ato lendário do Senhor Krishna de levantar uma montanha sagrada, chamada Govardhana, para abrigar seus devotos da ira de uma tempestade celestial. Devotos de Krishna contam o passatempo milagroso, que se acredita ter ocorrido há mais de 5 mil anos, na Índia, e representam-no por meio de música, dança clássica e performance dramática. Em muitos templos da ISKCON, devotos de Krishna também costumam representar a colina de Govardhana com uma grande montanha de Halava (doce de semolina de trigo, manteiga e frutas), como um símbolo da proteção de Krishna. Alguns templos da ISKCON celebram Govardhana Puja juntamente com o Diwali.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Disponível em: http://www.iskconbahia.com.br/

Acessado em: 02/06/2015

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Sobre a ISKCON

A ISKCON (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna), popularmente conhecida como Movimento Hare Krishna, é uma organização mundial não sectária dedicada à propagação do amor a Deus, em particular mediante a prática milenar de cantar o maha-mantra Hare Krishna (esse mantra é conhecido como o maha-mantra, o grande mantra, pois todos os benefícios contidos em todos os mantras, estão presentes nesse maha-mantra):

Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

Fundada por Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada em 1966, a ISKCON tem crescido em popularidade e influência e hoje em dia é conhecida e respeitada no mundo inteiro. Com sólidos fundamentos baseados na literatura védica, incluindo o célebre Bhagavad-gita, e nos ensinamentos do Senhor Caitanya Mahaprabhu, a mais recente encarnação do Senhor Krishna, a filosofia da ISKCON elucida detalhes sobre a natureza de Deus, da alma, da criação e de suas inter- relações, bem como fornece orientações práticas de como levar uma vida feliz, pura e espiritualmente progressiva.

A ISKCON é uma instituição espiritual e educacional com templos, centros culturais, comunidades rurais e escolas em todo o mundo. Nesses centros os membros se congregam, e visitantes interessados aprendem a filosofia védica e práticas espirituais. Os integrantes da ISKCON seguem um voto de cantar diariamente o mantra Hare Krishna e também de abster-se do consumo de carne, peixe e ovos, intoxicação, sexo ilícito e jogos de azar. Qualquer pessoa pode participar nas atividades da ISKCON segundo seu próprio interesse e dedicação.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Os Sete Propósitos da ISKCON

1. Propagar sistematicamente o conhecimento espiritual entre a sociedade em geral e educar todas as pessoas nas técnicas da vida espiritual a fim de restabelecer o equilíbrio dos valores na vida e alcançar assim a verdadeira união e paz mundiais.

2. Propagar a consciência de Krishna (Deus), como é revelada nas grandes escrituras da Índia, o Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam.

3. Unir os membros da sociedade uns dos outros e torná-los mais próximos de

Krishna, a entidade primordial, desta forma desenvolvendo a idéia, entre os membros e a humanidade em geral, que cada alma é parte integrante da qualidade do Supremo (Krishna).

4. Ensinar e encorajar o movimento de sankirtana, o canto congregacional do santo nome de Deus, como revelado nos ensinamentos do Senhor Sri Caitanya

Mahaprabhu.

5. Erigir, para os membros e para a sociedade em geral, um local sagrado de passatempos transcendentais dedicado à personalidade de Krishna.

6. Manter os membros unidos com o propósito de ensinar um modo de vida mais simples e natural.

7. Tendo em vista o cumprimento dos propósitos acima mencionados, publicar e distribuir periódicos, revistas, livros e outros escritos.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

História da ISKCON-BAHIA

A ISKCON (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna) foi fundada em 1966, em Nova Iorque, EUA. Mas só veio para a Bahia em 1974 através de Dhruvananda dasa, um discípulo de Srila Prabhupada que morava no Havaí, EUA. Ele procurava uma pessoa que falasse inglês para ajudá-lo a pregar a consciência de Krishna. Através de uma escola de inglês chegou à casa de um jovem estudante de odontologia chamado Ivan Ribeiro, que já praticava iôga e estava se preparando para fazer uma viagem à Índia, que concordou em ajudá-lo. Pouco tempo depois Dhruvananda precisou voltar aos EUA e Ivan Ribeiro com mais algumas pessoas que se interessaram pela consciência de Krishna continuaram a realizar encontros aos domingos num pequeno espaço no bairro de Paripe.

Então a esposa de Ivan Ribeiro sugeriu que ele escrevesse para Srila Prabhupada pedindo que mandasse algum representante para impulsionar a pregação aqui no Brasil. A carta enviada por Ivan Ribeiro foi entregue por Srila Prabhupada para Hridayananda dasa Goswami, um dos discípulos mais importantes de Srila Prabhupada. Hridayananda dasa Goswami veio ao Brasil e simultaneamente abriu templos em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

Mais tarde Ivan Ribeiro e seu irmão Sérgio Ribeiro foram iniciados e hoje são conhecidos por Dhanvantari Swami e Jagad Vicitra Prabhu, respectivamente.

Mas, foi somente em 1991 que a ISKCON-BAHIA foi oficialmente registrada, na época o presidente da ISKCON-BAHIA era Gaura Krishna dasa, que permaneceu na administração até 1993. O sucessor dele foi Vrindavana dasa que permaneceu até 1996. Então o cargo foi ocupado por Aniruddha dasa que administrou até 2000. Sendo substituído por Devananda dasa que ocupou o cargo por um ano. Em seguida, assumiu o atual presidente da ISKCON-BAHIA Gopa Kumara dasa.

A ISKCON-BAHIA recebeu o título de Utilidade Pública Municipal, durante a gestão de Vrindavana dasa. E recebeu o título de Utilidade Pública Estadual, durante a

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

gestão de Aniruddha dasa. A conquista de ambos os títulos foi totalmente articulada por Angelina Celeste, relações públicas da ISKCON-BAHIA.

Além de Paripe o templo já foi em Itapuã e no Rio Vermelho, depois se mudou para Brotas, e hoje está construindo sua primeira sede própria, em São Cristóvão, um lugar adequado para congregar os membros e receber os visitantes interessados em conhecer a filosofia, religião e cultura védicas.

A 1ª fase da construção (altar, pujari e cozinha das Deidades) já está pronta, e as Deidades já estão devidamente instaladas no seu altar próprio.

O Fundador-Acarya da ISKCON

Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada ficou conhecido no mundo todo como o fundador-acarya da ISKCON-Sociedade Internacional para Consciência de Krishna (Acarya significa "aquele que ensina através de seu próprio exemplo pessoal"), como mestre espiritual que sozinho fez de "Hare Krishna" uma expressão familiar e como o mais destacado autor e erudito no campo da milenar filosofia, religião e cultura védicas.

Srila Prabhupada aceitou nascimento neste mundo em 1896, em Calcutá, Índia. Em 1922, ele encontrou-se com Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Gosvami, que mais tarde tornou-se seu mestre espiritual. Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Gosvami pediu a Srila Prabhupada que ensinasse a ciência da consciência de Krishna no mundo ocidental. Com esse intento, em 1944, Srila Prabhupada deu início à publicação da revista "Volta ao Supremo", e no princípio dos anos sessenta ele escreveu e publicou três volumes, de tradução e comentário ao Srimad-Bhagavatam, literatura considerada "o summum bonum da literatura védica".

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

A pedido de seu mestre espiritual, em 1965, Srila Prabhupada viajou para os Estados Unidos no navio a vapor "Jaladuta", com apenas sete dólares no bolso (em moeda indiana), um par de címbalos de mão (karatalas), e algumas cópias de seus escritos. Após sua chegada, ele escreveu mais trinta volumes do Srimad- Bhagavatam. Ele também é o autor do Bhagavad-gita Como Ele é e mais outras quarenta grandes obras. A comunidade acadêmica considera essas publicações definitivas e as tem usado como livros didáticos e de referência.

Viajando quase que constantemente, Srila Prabhupada orientou sua sociedade internacional desde os humildes primórdios na Segunda Avenida, 26, em Nova Iorque, EUA, até seu desenvolvimento numa confederação mundial com mais de duzentos ashramas, escolas, templos, institutos e comunidades rurais. Ele deixou este mundo mortal no dia 14 de novembro de 1977, em Vrindavana, Índia (local mais sagrado para os devotos de Krishna). Agora que Srila Prabhupada partiu, seus discípulos estão levando avante o movimento por ele criado.

Senhor Jagannatha

A muitos milhares de anos um rei chamado reinava uma província chamada de Malava. O rei era muito piedoso e buscava pela linda forma azulada do Senhor que através dos sábios tanto tinha ouvido falar. Certa noite o Senhor Krishna se aproximou dele num sonho e lhe informou que logo estaria chegando na forma de um tronco. O Senhor Krishna lhe disse que achando esse tronco transcendental Sua forma deveria ser esculpida e adorada de acordo com as escrituras reveladas, como era o costume.

No dia seguinte, Indradyumna de fato achou o tronco boiando num rio sagrado. Mas apesar de todo o esforço ninguém era capaz de esculpir o tronco, pois todas ferramentas simplesmente quebravam, sem fazer qualquer marca no tronco.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Finalmente, Indradyumna teve que chamar , o grande arquiteto dos semideuses.

Porém, Vishvakarma impôs uma condição ao aceitar o serviço. Disse que sua meditação não poderia ser interrompida, não importasse quanto tempo levaria. E que se alguém entrasse no quarto onde estava esculpindo as Deidades imediatamente ele iria desaparecer sem completar o serviço. Sem alternativa, Indradyumna aceitou.

Mas com o passar do tempo, a sua impaciência ficou intolerável e, encorajado por sua esposa, ele entrou para ver como andava o trabalho. Imediatamente o escultor sumiu, conforme tinha falado. Mas ele deixou para trás três imagens meio acabadas: Jagannatha, Subhadra e Baladeva. Devido ao grande amor e devoção de Indradyumna, o Senhor Krishna voltou a se aproximar dele num sonho e disse que Seu desejo era ser adorado daquela forma, e que ele deveria mandar pintar a forma de Krishna de preto, de Subhadra de Amarelo e de Baladeva de Branco.

O rei Indradyumna apreciou imensamente o resultado, proclamando quede fato o escultor tinha captado a essência do Senhor. Portanto, mesmo aparecendo inacabado, sem pés, mãos, etc., Ele estava espiritualmente completo. Todos os santos e escrituras Vaishnavas atestam esse fato. E assim a forma do Senhor Jagannatha, Subhadra e Baladeva têm sido adorada a muitos milhares de anos. Dizem também que Krishna assumiu essa forma para poder melhor apreciar e captar a linda forma de Srimati Radharani, por isso tem olhos tão grandes.

Todos os anos o Senhor Jagannatha, Subhadra e Baladeva desfilam pelas ruas das principais cidades do mundo, durante o Festival Ratha-yatra, dando Suas bênçãos a todos. Procure os devotos e mantenha-se informado sobre a realização do Ratha- yatra aqui em Salvador.

Sri Sri Jagannatha, Baladeva e Subhadra ki jaya!!!

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Sobre Deus

Que vem em nossa mente ao pensarmos em Deus? Algumas pessoas pensam em Deus como uma presença espiritual onipenetrante. Outras acreditam que Deus está situado nos corações de todos os seres vivos. Há ainda quem imagine que Deus é uma pessoa transcendental, o criador e pai de todos. Quem está certo? Segundo as escrituras sagradas da Índia, todos eles, em parte estão certos.

De acordo com Bhagavad-gita, a principal escritura da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (ISKCON), a compreensão de Deus inclui três importantes níveis de conhecimento. Pode-se compreender Deus como , uma energia espiritual amorfa e onipenetrante; como Paramatma, a Superalma situada nos corações de todos seres vivos; e, enfim, como , a pessoa Suprema. No Gita, Bhagavan é definido como aquele que possui em plenitude as seguintes seis opulências: beleza, força, conhecimento, fama, riqueza e renúncia...

Esse três níveis de percepção de Deus podem ser compreendidos em termos de como percebemos um trem se aproximando da estação ferroviária depois do anoitecer. O primeiro sinal do trem seria sua luz, que nos daria muita pouca informação sobre a forma do trem. Esta luz pode ser comparada ao Brahman, isto é, o aspecto impessoal de Deus. Em seguida ao entrar na estação podemos compreender melhor a forma do trem, e também ter um vislumbre do maquinista dentro da cabine. Esta compreensão mais detalhada do trem pode ser comparada à compreensão sobre Paramatma. Ao embarcamos no trem encontramo-nos com o maquinista, poderemos falar com ele e aprenderemos qualquer coisa que desejarmos conhecer sobre o trem e suas várias funções. Este conhecimento pode ser comparado à compreensão sobre Bhagavan, a fase última de compreensão sobre Deus, na qual se tem um relacionamento direto e pessoal com Deus em sua forma pessoal e original, conhecida como Krishna, o "todo-atrativo".

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

O conhecimento a cerca de Brahman, sendo impessoal, é o conceito de que Deus é uma luz branca, ou uma energia, ou uma força e consciência penetrantes que predominam o Universo. A compreensão impessoal a respeito de Deus é análoga ao nirvana budista e às filosofias mayavada da Índia. Muitas tradições religiosas do Ocidente também aceitam esta maneira de ver Deus como a forma última do absoluto.

Na Índia, os ainda meditam na forma de Deus como Paramatma. Este é um método para se perceber, através de disciplina ióguica , a forma do ser Supremo localizada dentro do coração da pessoa. Porque nesta fase de compreensão sobre Deus pode-se ver pelo menos um aspecto da forma do Senhor, os classificam-na como superior à compreensão impersonalista sobre Brahman.

A compreensão sobre Bhagavan refere-se a comunhão íntima com Deus em sua forma mais pessoal. Na etapa última desta compreensão, a pessoa de fato conversa com Deus e desfruta com ele muitas variedades de trocas amorosas íntimas. De acordo com os Vedas, Krishna é a forma original de Deus, de onde ilimitadas encarnações (incluindo Rama, Buda e Jesus) emanaram e da qual outras irão aparecer diversas vezes no curso do tempo universal.

Embora Deus tenha inumeráveis nomes em diferentes línguas, o nome Krishna refere-se ao nível máximo de percepção de Deus. Krishna, no idioma sânscrito, designa a entidade que "atrai a todos e a tudo". "Krishna" refere-se sempre a Deus em sua forma original mais íntima e completa.

A maioria das escrituras não apresenta uma imagem muito clara do Ser Supremo.

Na ausência de tal informação, muitas pessoas imaginam Deus como um velho, tal como foi retratado nas famosas pinturas de Miguelângelo na Capela Sistina do Vaticano.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

O conhecimento detalhado dos aspectos pessoais de Deus, entretanto, encontra-se nos Vedas, que fornecem milhares de descrições de Krishna. Uma escritura Védica diz: "eu adoro Govinda (Krishna), o Senhor primordial, que é o perito em tocar sua flauta, com os olhos que desabrocham como pétalas de lótus, com Sua cabeça adornada com uma pena de pavão, Sua bela forma brilhando com o matiz de nuvens azuladas e Sua beleza única que encanta milhões de Cupidos".

Em sua forma original, Krishna reside eternamente em seu próprio universo espiritual, conhecido como . Ali Krishna manifesta-Se perpetuamente como um belíssimo jovem rodeado de Suas mais queridas associadas. Nesse lugar enquanto brinca e desfruta de atividades de amor puro com Seus devotos mais avançados, a Suprema Personalidade de Deus permite que Sua beleza sobrepuje Sua majestade. Em Sua morada espiritual, Ele exibe Suas infinitas opulências, talento, beleza e amor. É lá que Krishna está sempre concedendo a Seus amigos mais confidenciais uma completa dinâmica felicidade transcendental que vai bem além da nossa experiência e imaginação materiais.

Os Vedas nos ensinam que, na presente era, o meio mais acessível e efetivo de nos aproximarmos do nível máximo de conhecimento sobre Deus é cantar de Seus santos nomes na forma do seguinte mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Esse mantra é conhecido como o maha-mantra, o grande mantra, pois todos os benefícios contidos em todos os mantras, estão presentes nesse maha-mantra.

Krishna, a Suprema Personalidade de Deus

KRISHNA é a Suprema Personalidade de Deus, a Verdade Absoluta, a fonte de tudo e a causa de todas as causas. Krishna é a forma mais elevada e original de Deus. Deus assume muitas formas, mas a forma original é de Krishna. Krishna se expande em ilimitadas formas, porém Ele mantém sempre Sua forma original como Krishna, no mundo espiritual. Todas Suas expansões são "sac-cid-ananda", ou seja, são formas de eterna bem aventurança e conhecimento, 100% espiritual. Nas escrituras,

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

especialmente o Srimad Bhagavatam, existem explicações detalhadas de Sua morada, Sua aparência, Seus passatempos, Suas expansões, Suas energias, etc. Ele é dotado de seis opulências, todas ao grau infinito: beleza, força, sabedoria, riqueza, fama e renúncia. Ele sabe tudo que aconteceu, tudo que está acontecendo e tudo que vai acontecer. Ele é infinitamente misericordioso. Ele é o beneficiário de todos os sacrifícios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses e o benfeitor e bem-querente de todas as entidades vivas. As escrituras explicam que uma das expansões de Krishna (o Senhor Sesa) tem um sem número de bocas e está descrevendo as glórias de Krishna desde tempos imemoriais, e mesmo assim não consegue nunca chegar ao final. Outra passagem do Srimad Bhagavatam explica que mesmo se pudéssemos contar todos átomos no universo, mesmo assim não poderíamos enumerar todas as qualidades transcendentais do Senhor Krishna. Krishna é um dos principais nomes de Deus, que significa o todo- atrativo.

Senhor Caitanya Mahaprabhu

Nos fins do século quinze, o mais extraordinário reformador religioso, cultural e político apareceu na Bengala Ocidental. Seu nome é Sri Caitanya Mahaprabhu, o fundador do atual movimento Hare Krishna. Ele também é conhecido como Sri Gauranga, devido à sua compleição dourada. Aceito por muitos eruditos e teólogos como encarnação de Krishna, ou Deus, Sri Caitanya Mahaprabhu estabeleceu um revolucionário movimento espiritual baseado na antiga literatura védica.

Colocando de lado as sufocantes restrições do sistema de castas da Índia, Ele permitiu que as pessoas de todas as partes transcendessem as barreiras sociais e alcançassem, através do cantar do maha-mantra: "Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare" a máxima plataforma de iluminação espiritual.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Seu nascimento, no ano de 1486, em Mayapur, Índia, já fora predito há muito tempo pelas escrituras milenares da Índia. Ao atingir o vigor juvenil, o Senhor Caitanya começou a executar Sua missão divina de permitir que as pessoas de qualquer classe social tivessem acesso ao amor a Deus. Sri Caitanya ensinou que este despertar poderia ser obtido através do cantar dos santos nomes de Deus, o mantra Hare Krishna: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

Enquanto viajava por toda a Índia, multidões compostas de centenas de milhares de pessoas juntavam-se a Ele em maciços grupos de canto congregacional. Sri Caitanya receitava-lhes com freqüência um verso sânscrito, descrevendo a essência de Seus sentimento: "Nesta era de (era das desavenças e hipocrisia) não há outra maneira para o progresso espiritual, não há outra maneira, não há outra maneira. Senão cantar os santos nomes de Deus, cantar os santos nomes de Deus, cantar os santos nomes de Deus".

Depois que o movimento de sankirtana (canto congregacional) ganhou popularidade, um pequeno grupo de hindus invejosos, provenientes da terra natal do Senhor Caitanya, decidiu hostilizar o Senhor e Seus devotos. Então decidiram mentir para o magistrado muçulmano (Kazi), dizendo que o Senhor estava violando a doutrina hindu. Em seguida, o Kazi, chamado Nababo Hussain, enviou policiais, que pararam o canto congregacional dos devotos. Em resposta, Caitanya Mahaprabhu organizou um grupo de desobediência civil, composto de cem mil homens, o qual cantou e dançou pelas ruas de Navadvipa em violação à ordem do magistrado.

Chegando à casa do Nababo Hussain, o senhor explicou que o cantar do mantra Hare Krishna era o autêntico método hindu para se adorar a Deus, sobretudo nesta era. O Kazi, comovido pela pureza do Senhor, declarou que daquele dia em diante seria uma ofensa alguém inferir no movimento de sankirtana. Hoje em dia, em Navadvipa, os peregrinos hindus ainda visitam o túmulo do Kazi para oferecer-lhe seus respeitos.

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

Os ensinamentos do Senhor Caitanya formam a base filosófica da Sociedade Internacional para Consciência de Krishna (ISKCON). Em 1986, os membros da ISKCON e milhões de pessoas em toda a Índia, e também no mundo inteiro, celebraram o 500º aniversário do advento de Sri Caitanya.

Através de um processo científico de despertar espiritual, Caitanya Mahaprabhu advogou uma religião universal para toda a humanidade, a qual agora está se espalhando com rapidez por todo o mundo.

Palavras de George Harisson extraídas do livro "Krishna, A Suprema Personalidade de Deus"

“Todo mundo está buscando Krishna.

Algumas pessoas não percebem que estão, mas estão. KRISHNA é DEUS, a fonte de tudo que existe, a Causa de tudo que é, foi e sempre será.

Como DEUS é ilimitado, ELE tem muitos nomes. Alá- Buddha-Jeová-Rama: Todos são KRISHNA, todos são UM. Deus não é abstrato; em Sua personalidade - que é SUPREMA, ETERNA, BEM-AVENTURADA e plena de CONHECIMENTO - Ele tem tanto o aspecto impessoal quanto o aspecto pessoal. Assim como uma simples gota d'água tem as mesmas qualidades que um oceano d'água, da mesma forma nossa consciência tem as qualidades da consciência de Deus... mas através de nossa identificação com e nosso apego à energia material (corpo físico, prazeres dos sentidos, posses materiais, ego, etc.), nossa verdadeira CONSCIÊNCIA TRANSCENDENTAL tem estado poluída, e, da mesma maneira que um espelho empoeirado, é incapaz de refletir uma imagem pura.

Há muita vidas que nossa associação com o TEMPORÁRIO vem crescendo. Interpretamos erradamente que este corpo impermanenete, um saco de ossos e

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

carne, é o nosso eu verdadeiro, e aceitamos que esta condição temporária é a definitiva.

Através de todas as eras, os grandes SANTOS têm permanecido como provas vivas de que este estado não temporário e permanente da Consciência de Deus pode ser revivido em todas as Almas vivas. Cada alma é potencialmente divina.

Krishna diz no Bhagavad-gita (6.28): "Fixo no eu, livre de toda a contaminação material, o yôgi alcança o mais elevado estágio perfeccional de felicidade em contato com a Consciência Suprema."

YÔGA (um método científico para realização 'do EU' de DEUS) é o processo pelo qual purificamos nossa consciência, impedimos futuras poluições e chegamos ao estado da Perfeição, do CONHECIMENTO pleno e da BEM-AVENTURANÇA plena.

Se existe um Deus, quero vê-Lo. Não tem sentido acreditar em algo sem prova, e a cosnciência de Krishna e a meditação são métodos por meio dos quais você pode realmente obter a percepção de DEUS. Você pode relamente ver Deus, ouvi-lo e brincar com Ele. Pode parecer loucura, mas Ele existe de verdade, e está realmente com você.

Existem muitos Caminhos ióguicos - , Jñana, Hatha, Kriya, Karma, Bhakti - e cada MESTRE louva o seu método.

SWAMI BHAKTIVEDANTA é, como seu título diz, um BHAKTI Yôgi que segue o caminho da DEVOÇÃO. Servindo a DEUS por meio de cada pensamento, palavra e AÇÃO, e cantando SEUS Santos Nomes, o devoto desenvolve rapidamente a consciência de Deus, cantando:

Hare Krishna, Hare Krishna Krishna Krishna, Hare Hare Hare Rama, Hare Rama Rama Rama, Hare Hare

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Anexo B – Sobre a ISKCON Bahia, o Senhor Jagannatha, Krishna e Caitanya

A pessoa chega inevitavelmente à Consciência de KRISHNA. (O sabor do pudim está em comê-lo!).

Peço-lhe que tire proveito deste livro KRISHNA e o compreenda. Peço-lhe também que marque um encontro com seu Deus agora, através deste processo de liberação do eu, a YÔGA (UNIÃO) e DÊ UMA CHANCE À PAZ.

ALL YOU NEED IS LOVE (KRISHNA). HARI BOL!!!”

George Harisson - 31/03/1970

Disponível em: http://www.iskconbahia.com.br/

Acessado em: 02/06/2015

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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Fonte: Revista “Volta ao Supremo” on line

Disponível em: http://voltaaosupremo.com

Acessado em: 02/06/2015

1/5 - “Por que Krishna Aparece como Jagannatha?”

2/5 - “Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar”

3/5 - “Jagannatha: O Êxtase do Reencontro”

4/5 - “Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha”

5/5 - “Archana: Adoração à Deidade”

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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 1/5: Por que Krishna Aparece como Jagannatha?

Por Rishi Dasa

Nasci em uma conservadora família vaishnava em Puri, na costa leste da Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva (Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro de como minha mãe me dava enormes pratos de jagannatha-prasada e dizia para eu sempre me lembrar do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha- yatra, o festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krishna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra, Sua irmã.

Embora Krishna seja absoluto e transcendental à natureza material, Ele, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, aparece perante nós como a Deidade no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krishna manifestada em madeira. 127

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krishna, as pessoas talvez especulem: “Como Ele pode ser Krishna?”. As escrituras contam a história por trás da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma Deidade de Krishna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krishna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos (savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente Nila Madhava. Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu Vishvavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou: “Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da colina Nila. Lá, você me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim”.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é chamado de daru-(“madeira-espírito”). Indradyumna esperava à beira mar, quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor. 128

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

O rei Indradyumna vê as formas esculpidas.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranquilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei: “Certamente Minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas, para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de

O Utkala-khanda do Skanda Purana traz outro relato em relação ao aparecimento de Krishna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para Orissa.) Certa vez, durante um eclipse solar, Krishna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. 129

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Sabendo que Krishna estaria presente no local de peregrinação, Srimati Radharani, os pais de Krishna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrindavana, que estavam queimando no fogo da saudade do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos haviam levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrava os passatempos de Krishna em Vrindavana para as rainhas de Dwaraka e outros.

É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram Krishna como o Senhor Supremo. Os residentes de Vrindavana, em contraste, estão no humor de doçura (madhurya) e têm uma relação confidencial com Krishna que transpassa a ideia de contemplação e reverência por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidencias, então ela pediu que Subhadra ficasse à porta para que ninguém ouvisse por acaso.

Krishna e Balarama foram também até a porta e cada um ficou de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini acerca dos passatempos íntimos de Krishna em Vrindavana, Krishna e Balarama Se tornaram extáticos, e Seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos dilataram, Suas cabeças se comprimiram junto ao corpo e Seus membros se recolheram. Vendo essas transformações em Krishna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krishna em Vrindavana, Krishna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de Lua cheia do mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krishna, mas o aniversário de Krishna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro). Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é o momento quando Krishna aparece na forma do Senhor Jagannatha, com grandes olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida comomahabhava- 130

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

prakasha, a forma extática de Krishna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, eprakasha significa “manifestação”, logo o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta de Orissa chamado Kanai Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades que Krishna sente em relação aos residentes de Vrindavana, especialmente de Radha e das gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krishna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Balarama e Subhadra boiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krishna transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse naquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. Na Garga-samhita (1.27.4), Krishna afirma: “Eu sou plenamente completo – todas as epopeias estão em Mim. E, mesmo assim, Eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krishna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da Deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krishna também é conhecida como Patita Pavana, “o salvador dos caídos”, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a libertação espiritual.

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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krishna de Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o Krishna de Vrindavana, o amante de Radharani. O Jagannatha-chaitanyam afirma: “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krishna no coração de Radha”.

Krishna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrindavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que Se associa com Krishna unicamente em Seu humor de Vrindavana. O êxtase resultante do amor de Krishna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta de Orissa, Banamali, canta: “Ó Jagannatha, amado filho de criação de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka, que bebe apenas as puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrindavana, Krishna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta.

O Jagannathashtaka (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em Sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça, Ele usa uma pena de pavão e, em Seus quadris, Ele usa um fino tecido de seda amarelo. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre Se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrindavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Raya, escreve em uma de suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas[peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites], que o Senhor Jagannatha mantém bem próximo de Seus membros”. 132

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

O Chaitanya-charitamrita explica que Krishna vem como Chaitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Ratha-yatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha (Krishna) para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimati Radhika. Como poderia Eu esquecê-lA?”.

O Senhor Chaitanya dança em êxtase diante do carro de Jagannatha durante o festival de Ratha- yatra.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212- 214): “Eternamente querida a Sri Krishnadeva, tanto quanto Sua bela Mathura- 133

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krishna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vrajabhumi do Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna- prema, amor por Krishna, que é nossa meta última. Krishna Se tornou acessível a todos em Sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krishna, Sua morada é idêntica a Vrindavana, onde Krishna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilachala [o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krishna em Vrindavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais. O Vaishnava- afirma: “Qualquer lila de Krishna que é manifesta em Gokula, Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilachala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krishna ali presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krishna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso, Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas do feitiço de (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de benefício de tal evento.

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Artigo 2/5: Ratha-yatra: Quando o Senhor Sair, Convide-O a Entrar

Por Chaitanya-charana Dasa

O Senhor do universo passear com Sua carruagem pelas ruas da cidade em todo o mundo, sob um colorido dossel, é um evento de verdades profundas. Está ali nossa oportunidade de elevar o nosso amor devocional da separação para a união com o Senhor.

Este ano, alguns de nós veremos em uma rua de nossa cidade uma grande procissão conhecida como Ratha-yatra, o festival anual das carruagens do Senhor Jagannatha (Krishna), que acontece há séculos, até mesmo milênios. Em seus primeiros dias, o Ratha-yatra, que se originou em Jagannatha Puri, Orissa, foi principalmente para os moradores de Orissa, Bengala, e alguns estados próximos. Hoje, porém, é muito mais: é um fenômeno cultural global celebrado em dezenas de países, centenas de cidades, de Boston a a Brisbane, de a Dubai a Dnepropetrovsk. A cidade de Nova Iorque sedia um Ratha-yatra anual pela Quinta Avenida desde 1976. O primeiro teve a participação de sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, em um retorno triunfal para a cidade onde ele havia incorporado sua Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna dez anos antes.

Rompendo as fronteiras geográficas e culturais, o Ratha-yatra demonstra a universalidade do amor espiritual. Vamos explorar o que este antigo festival oferece às pessoas modernas de todo o mundo que buscam evoluir como seres melhores.

A Face Misteriosa da Espiritualidade Indiana

O Ratha-yatra expande o amor divino em círculos de uma graça crescente.

Primeiro, ele expande a graça divina do espaço sagrado do templo para o resto da cidade. O Senhor que anda sobre a carruagem oferece a bênção de Seu darshana (audiência) para absolutamente todos – mesmo àqueles que não vão ao templo. O balanço das magníficas carruagens, os enfeites com muitos motivos 135

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significativos, a beleza das três divindades (Jagannatha com Seu irmão Baladeva e Sua irmã Subhadra), e a sinfonia de elogios musicais de cantores especializados, e gritos sinceros, dos adoradores, de “Jaya Jagannatha!” – todos esses ímpetos devocionais poderosos fazem com que um Ratha-yatra nos acenda experiências espirituais de transformação da vida.

Em segundo lugar, a globalização do Ratha-yatra expande a graça além de Jagannatha Puri, e além até mesmo da Índia. Em 1967, Srila Prabhupada inspirou o primeiro Ratha-yatra fora da Índia, em São Francisco, que também sediou o primeiro templo ocidental de Jagannatha (Nova Jagannatha Puri). Desde então, o festival tem assumido proporções internacionais. Com efeito, Jagannatha tornou-se o rosto encantador da beleza e do mistério da espiritualidade da Índia.

A Agonia Extática

Muito do mistério de Jagannatha centra-se em Seu rosto. Ele é Krishna, mas Ele não Se parece com o vaqueirinho flautista. A diferença em Sua aparência é um testemunho do poder transformador do amor.

A tradição de bhakti, a ciência da devoção ao Senhor, declara que as emoções são eternas – e são portas de entrada para o eterno. Aproximar-se da Verdade Absoluta não exige a erradicação das emoções, mas a sua elevação. De fato, a emoção mais elevada da vida, amor, está no centro da vida eterna, onde as relações entre o Senhor e o devoto prevalecem. Jagannatha é Krishna extasiado com a mágica do amor – o amor dos Seus devotos mais elevados, as gopis de Vrindavana, que foram afligidas pela agonia extática da saudade dEle. Agonia extática? O mistério se aprofunda e adoça.

O amor é como o fogo. Se o fogo for pequeno, uma rajada de vento o apagará. Se o fogo da devoção for grande, em contraste, o mesmo vento o faz expandir. Da mesma forma, quando a devoção é fraca, tal como uma fogueira mirrada, o vento da separação do Senhor o apaga. No entanto, se a chama da devoção é forte, o vento da separação o intensifica, evocando um desejo 136

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arrebatador de ter novamente com o Senhor, com todas as batidas do coração. Tal era a agonia extática das gopisde Vraja quando Krishna partiu de Vrindavan.

Em Dvaraka, Krishna ouviu sobre a situação dolorosa de amor delas. Com espanto, Sua boca se abriu, Seus olhos se arregalaram, e Seus membros tornaram- se imóveis e se recolheram para dentro do corpo. Sua consciência, assim como Seus membros, retirou-se de todo o resto para se concentrar em Seus devotos. E Krishna Se tornou Jagannatha.

O sábio celestial Narada viu essa forma extraordinária e implorou ao Senhor que abençoasse a todos com seu darshana divino. O seu desejo foi concretizado através de um rei posterior chamado Indradyumna, cujo erro induzido pela pressa acabou por ser parte de um plano divino, como narrado no Skanda Purana e no Bhahma Purana. O rei conferiu a tarefa de esculpir a forma do Senhor a um escultor especialista, que era, na verdade, Visvakarma, o arquiteto dos semideuses, disfarçado. O escultor pediu isolamento total de vinte e um dias ao aceitar a tarefa, avisando que, se fosse interrompido, deixaria a tarefa. O rei manteve distância por quatorze dias, com sua paciência alimentada pelos sons do artesão no trabalho. Todavia, quando os sons pararam sem nenhum sinal de retomada, o ansioso rei entrou na oficina. Fiel à sua palavra, o escultor tinha partido, deixando o trabalho pela metade. O rei ficou consternado, até que ele percebeu que as formas aparentemente incompletas eram devocionalmente completas – elas revelavam perfeitamente o sentimento extático de incompletude do Senhor quando separado de Seus devotos.

Um Convite Imortalizado

A forma de Jagannatha tem essa história especial por trás dela, e o mesmo se dá com Sua carruagem festiva. Muitas deidades (esculturas divinas) saem em procissões para derramar graça sobre os espectadores, mas Jagannatha sai em outra missão especial. Após Krishna ter deixado Vrindavana, as gopis de Vraja se encontraram com Ele muitas décadas mais tarde, em Kurukshetra, onde devotos de muito longe tinham se congregado para realizar cerimônias religiosas durante um 137

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eclipse solar. A breve união das gopis com Krishna inflamou em seu interior um desejo ardente para uma reunião duradoura no paraíso pastoril de Vrindavana – o lugar original e inimitável de seus passatempos com Krishna. Eles se imaginaram levando Krishna de volta para Vrindavana em uma carruagem – não dirigida por cavalos, mas pelo amor de seus corações e o trabalho de suas mãos. Seu desejo sagrado é imortalizado no Ratha-yatra, em que o ponto de partida representa Kurukshetra, e o ponto final representa Vrindavana. Quando puxamos a carruagem do Senhor, nós ajudamos as gopis em seu empenho de amor. Ao ajudar assim aqueles enriquecidos com bhakti, sentimos nossos corações se enriquecerem com bhakti. Pela nossa força amorosa, não somente levamos Jagannatha de volta para Vrindavana, mas também o convidamos de volta para o nosso coração.

Tradução de Maria do Carmo.

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Artigo 3/5: Jagannatha: O Êxtase do Reencontro

Por Gour Govinda Maharaja

Para ver se Ela ainda está respirando, as amigas de Radharani seguram um pouco de algodão diante de Suas narinas. Restam esperanças? Krishna virá salvá-lA da saudade, ou ali é Seu leito de morte?

Os Gosvamis compartilham conosco uma história que é praticamente desconhecida. É muito confidencial. Krishna está sempre pensando em Srimati Radharani e sentindo forte aflição devido a estar com saudades dEla. Quer dormindo, quer desperto, Ele chama por Ela: “Radhe! Radhe! Radhe! Radhe!”. Assim como as gopis desmaiam, Krishna também desmaia algumas vezes; especialmente quando Ele pensa em Radharani.

Certa vez, Krishna estava pensando profundamente em Radharani. Sentindo as dores severas da saudade, Ele desmaiou. Krishna está completamente 139

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inconsciente agora. Transcorrido algum tempo, como se por arranjo providencial, Narada Rishi e Uddhava apareceram ali e viram Krishna deitado sem consciência. Narada e Uddhava são muito queridos a Krishna. Eles sabem tudo, em virtude do que compreenderam o porquê daquela situação. Aqueles que são premi- bhaktas podem compreender o que Krishna está fazendo. “Ele revelará alguma lila muito misteriosa, daí Ele estar em semelhante situação. Isso se deve à intensa e dolorosa saudade de Radha, radha-viraha-vidhura”.

Agora, Narada e Uddhava estão ansiosos. Como podem trazer Krishna de volta à consciência? Nesse instante, Balarama chegou ali, e os três pensaram no que fazer. Concluíram que, se Narada Muni cantasse as glórias de Vrajabhumi com seu vina-yantra – narada muni bhajaya vina radhika-ramana name – Krishna recobraria Sua consciência e Se colocaria de pé.

Narada disse: “Tudo bem. Concordo. Porém, tenho uma apreensão. Assim que Krishna acorde, o que acontecerá? Não sabeis? Ele imediatamente correrá para Vrajabhumi. Ele está louco agora. Ele não esperará por ninguém. Uma quadriga, então, deve estar preparada”. Eles, então, chamaram por Daruka, o quadrigário de Krishna, e solicitaram-lhe que preparasse a quadriga de Krishna.

Nesse momento, Uddhava revelou-se muito grave. Depois de deliberar cuidadosamente, disse: “Tens razão. Contudo, até onde vai meu entendimento, a condição de Vrajabhumi é tão calamitosa que, se Krishna for lá agora e ouvir o choro comovente dos vrajavasis, não será capaz de tolerar tal coisa. As consequências, então, serão ainda mais incertas. Não conseguiremos trazer Krishna de volta. Não haverá esperança alguma”.

Então, Narada disse a Uddhava: “Ó Uddhava, és o excelente mensageiro de Krishna. És queridíssimo a Ele. Julgo, então, que deves ir a Vrajabhumi primeiro e simplesmente informar a todos osvrajavasis que Krishna está voltando de Dvaraka. Eles, destarte, preparar-se-ão para dar-Lhe as boas-vindas”.

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Missão Fracassada

Ouvindo isso, Uddhava ficou melancólico. Ele disse: “Eu aceito plenamente tudo o que me disseste; não tenho quaisquer objeções. Quando devotos vaishnavas elevados me solicitam algo, não sou capaz de recusar. Todavia, tenho algo a dizer. Isso talvez já seja do vosso conhecimento. Meu amigo, o Senhor Krishna, quando estávamos em Mathura, enviou-me certa vez a Vrajabhumi. Fui até lá como mensageiro e permaneci por três meses. Eu fora de modo a consolar Nanda Maharaja, Yashoda-mata, as gopis e Radharani. Estão sentindo as dores intensas da saudade de Krishna. Todavia, que consolo eu poderia oferecer-lhes? Minhas palavras falharam, minha missão falhou”.

Uddhava continuou: “Estão chorando por Krishna dia e noite, vinte e quatro horas por dia. Se alguém aqui no mundo material perde aqueles que são próximos e queridos, ou seu dinheiro duramente conquistado, ele chora dia e noite. Ninguém chora por Krishna. Nesse caso, alguém talvez diga: ‘Por que estás chorando? No mundo material, tudo é temporário, anityam. Jatasya hi dhruvo mrtyuh: quem nasce tem um dia de morrer. Assim, a morte é certa; ninguém a pode deter’. Todas essas palavras são palavras de consolação. No entanto, que palavras de consolo eu poderia dar aosvrajavasis? Estão chorando por Krishna. E se alguém quer chorar por Krishna, que é o objeto do amor, como podes dizer ‘não chores’? Isso seria uma ofensa. Meu coração, ao contrário disso, dizia: ‘Dize-lhes que chorem mais, chorem mais, chorem mais!’. Assim, minha missão fracassou. Eu não pude lhes consolar de modo algum”.

Uddhava disse ainda: “Por fim, falei-lhes: ‘Voltarei para Mathura e farei tudo dentro de meus poderes para enviar Krishna de volta a Vrajabhumi imediatamente’. Dei-lhes a minha palavra, mas, até o momento presente, isso não aconteceu. Agora, após tantos meses e tantos anos, se eu for a Vrajabhumi e falar assim, jamais depositarão fé em minhas palavras. ‘Não, és um mentiroso, Uddhava. Tu nos prometeras isso anteriormente, mas Krisha não voltou’. Jamais terão fé em minhas palavras, senão que me repreenderão como um enganador. Como, então, posso ir?”. 141

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Considerando todas essas questões de diferentes pontos de vista, Narada e Uddhava solicitaram a Bararama: “É melhor Tu ires”.

Procrastinação

Então, Balarama, sentindo uma dor penetrante em Seu coração, falou em uma voz cheia de indizível tristeza: “Narada, Eu poderia ir a Vrajabhumi. Eu o faria sem aguardar por ninguém. Não obstante, por favor, considera este ponto. Teu Senhor, Krishna, sempre diz: ‘Irei, irei, irei’. Porém, Ele não vai de fato. Ele está sempre procrastinando. Eu estive em Vrajabhumi e vi a condição lastimável dosvrajavasis. Permaneci lá por dois meses e também não consegui consolá-los. Tentei falar com eles nestas palavras: ‘Por favor, tende paciência. Não vos aflijais excessivamente. Krishna virá em breve’. Malgrado isso, a situação deles é como a de um peixe fora d’água. Entendi claramente que, sem a presença de Krishna, nada os consolaria. Eles não conseguem nem mesmo sobreviver. É como se estivessem morrendo, sentindo as dores da saudade de Krishna. Apesar disso, Krishna não foi lá”.

“A presença de Krishna atuaria sobre eles como um bálsamo suavizante, trazendo-lhes de volta à vida”, Balarama prosseguiu. “Yashoda-mata está em uma condição especialmente terrível. Ela está sempre chorando. Eu toquei os pés de lótus dela e disse: ‘Mãe, tão logo eu chegue a Dvaraka, farei tudo o que Me seja possível para enviar Krishna para cá. Por favor, aguarda alguns dias, mãe’. Dei minha palavra a mãe Yashoda. Todavia, o que aconteceu? Solicitei: ‘Meu querido irmão, Krishna, por favor, vai a Vrajabhumi de imediato. Se não o fizeres, todos morrerão. Abandona todos os Teus afazeres aqui. Suspende tudo e vai para Vrajabhumi’. Pedi a Krishna muitas vezes. ‘Por favor, ajuda-os a viver. Tua presença será como um bálsamo calmante; o remédio para salvar-lhes a vida. De outro modo, a vida deles partirá’. Insisti muitas e muitas vezes”.

Balarama continuou: “Anteriormente, todo pedido que Eu fazia, Krishna atendia de pronto. No entanto, não atende essa solicitação Minha. Ele apenas diz: ‘Sim, irei. Irei’. Até agora, entretanto, não o fez. Ó Narada, tudo sabes. Portanto, por 142

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favor, dize-me: se Eu fosse a Vrajabhumi, o que Eu poderia dizer a mãe Yashoda? Eu já prometi a mãe Yashoda que Krishna iria para Vrajabhumi. O que direi? Mãe Yashoda confiará em Meu verbo? Jamais. Ao contrário, ela dirá: ‘Balarama, és desleal’”.

Pensando na condição dos vrajavasis, Balarama sentiu grande pesar em Seu coração. Ele disse: “Ai! Ai! Meus amados vrajavasis, ainda estais vivos?”. Disse também: “Ó Meu querido Krishna, Meu irmão, Teu coração é tão macio quanto manteiga, navanita-hridaya. Como é estranho que esse coração tão macio tenha se tornado tão duro quanto rocha”.

Boas Novas

Tendo dito isso, Baladeva não Se viu mais capaz de suprimir Seus sentimentos e começou a chorar. Nesse momento, Subhadra chegou ali. Ela é muito inteligente. “Tudo bem, irei a Vrajabhumi. Irei primeiro”, ela disse. “Todos vós, por favor, sede pacientes e abandonai vossa ansiedade. Irei a Vrajabhumi e me sentarei no colo de mãe Yashoda. Enxugarei as lágrimas em seus olhos e direi: ‘Ó minha mãe, Krishna já está vindo. Meus dois irmãos e eu partimos de Dvaraka juntos, mas, no meio da estrada, muitas pessoas se ajuntaram para saudar Krishna. Eles construíram grandes portões. Muitíssimos reis, maharajas, estão às margens das estradas. Inumeráveis pessoas estão carregando pratos de arati simplesmente para oferecer puja a Krishna. Em razão de tudo isso, Ele vai chegar um pouco mais tarde. Vim na frente apenas para te dar essa boa notícia: Ele está vindo! Krishna está vindo!”.

Subhadra continuou: “Similarmente, irei a cada uma das gopis, enxugarei as lágrimas em seus olhos e as consolarei. Dir-lhes-ei: ‘Homens são um pouco desonestos. Nós mulheres, por outro lado, somos muito simples’. Eu sou mulher. Então, quando ouçam de mim que Krishna está vindo, depositarão sua fé em minhas palavras. Nesse momento, todos os vrajavasis ficarão deveras jubilosos e farão arranjos para o acontecimento de um grande festival de boas-vindas para Krishna”. 143

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Uddhava, Narada e Balarama concordaram unanimemente. “Sim, essa é uma proposta estupenda!”. Subhadra disse: “Por favor, preparai minha quadriga”.

Uma quadriga já fora preparada para Krishna, e, agora, outra quadriga foi preparada para Subhadra. Baladeva tem grande afeição por Vrajabhumi, motivo pelo qual, quando viu que Subhadra estava pronta para subir em sua quadriga, Ele disse: “Como posso deixar que meu irmão, Krishna, vá sozinho? Não. Terei de ir também. Como Subhadra está indo, acompanhá-la-ei”.

Uddhava concordou: “Tudo bem. Vós dois ireis. Quando comeceis vossa jornada, não faremos nenhuma parada. Tão logo partais, Narada Muni cantará vraja- lila kahani com seu vina-yantra. Krishna, então, recobrará Sua consciência, e nós O enviaremos junto imediatamente”.

Balarama e Subhadra subiram em suas quadrigas e partiram para Vrajabhumi. Primeiramente, Balarama; em seguida, Subhadra. Na ocasião do Ratha- yatra, o ratha de Baladeva vai primeiro, seguido pelo ratha de Subhadra. Esse é o procedimento. Três rathas são decorados, e Krishna vai por último.

Alcoolizado

Tão logo os dois rathas partiram, Narada começou a tocar seu vina-yantra e a cantar preme-lila kahani. Quando essa vibração sonora transcendental alcançou os ouvidos de Krishna, Ele ficou consciente mais uma vez e de pronto Se levantou em uma postura curvada em três pontos,tribhangima thani. Essa forma não aparece em Dvaraka, mas só em Vrajabhumi. Em Dvaraka, Krishna é um rei, e traja vestes reais. Ele não assume a postura curvada em três pontos, nem toca flauta ou usa pena de pavão. Isso acontece apenas em Vrajabhumi. Porque agora tudo em que Ele está pensando é Vrajabhumi, Ele imediatamente assumiu a postura tribhanga. Isso é tudo com o que Ele sonha e tudo no que Ele pensa; não há pensamentos em Dvaraka.

Então, Krishna imediatamente disse: “Onde está a Minha flauta? Onde está a Minha flauta?”. Não há flauta em Dvaraka. “Onde está Minha flauta? Quem roubou 144

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Minha flauta? Ah! Isso só pode ser coisa daquelas gopis! Elas roubaram Minha flauta!”.

Depois de ter dito isso, começou a correr para encontrar Sua flauta. Nesse momento, viu Uddhava e disse: “Ei, Uddhava! Por que estás em Vrajabhumi?”. No instante seguinte, viu Narada: “Ó Narada! Estás aqui em Vraja?”. Nesse momento, caiu em si: “Aqui não é Vrajabhumi?”.

Tanto Uddhava quanto Narada disseram: “Ó meu Senhor, sabíamos que correrias para Vrajabhumi, em razão do que já Te prepararmos uma quadriga. Por favor, sobe na mesma”. Então, Krishna, Ele que está sempre pensando em Radharani, tornou-Se como um louco. Krishna estava intoxicado como um bêbado. Ele está pensando somente em Radha, radha- madira. A doçura de Radharani é como uma bebida alcoólica, madira. Ele está balançando como um louco intoxicado. Com muita dificuldade, Narada e Uddhava seguravam-no dentro da quadriga.

Assim, quando Jagannatha chega à quadriga durante o festival de Ratha- yatra, Ele está em uma condição intoxicada, balançando. Em Jagannatha Puri, é possível ver como Ele é levado para a quadriga nessa condição.

Então, Narada ordernou a Daruka que conduzisse a quadriga até Vraja, e Daruka o fez tão velozmente quanto o vento. Nesse meio tempo, a quadriga de Baladeva e a quadriga de Subhadra haviam chegado a Vrajabhumi. Ao chegar a Vraja, Baladeva viu que todos os habitantes de Vrajabhumi estavam como se estivessem mortos, sentindo as dores intensas da saudade de Krishna. Baladeva pensou muito profundamente: “Ó vrajavasis, estais sobrevivendo?”.

Um humor extático avassalador manifestou-se no corpo de Baladeva, asta- sattvika-bhava; pulaka-asru, kampa, sveda, vaivarnya, isto é, lágrimas, transpiração, arrepio dos pelos corpóreos. Porque não há diferença entre deha e dehi – o corpo de Balarama e aquele que reside no corpo –, a disposição dentro do coração dEle manifestou fora. Essa é a forma de Baladeva em mahabhava- prakasha. Essa forma vocês verão em Nilachala Dhama. Então, a mesma transformação se deu em Subhadra tão logo ela viu a condição dos residentes de Vrajabhumi. Em 145

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consequência de estar em completo êxtase, mahabhava-prakasha, Subhadra não pôde ir ter com Yashoda-mata. Agora, ela está completamente esquecida. É como se essas duas formas estivessem se afogando no oceano devraja-rasa madhurima. A doçura dos relacionamentos em Vraja é como um oceano, e essas duas formas estão se afogando nesse oceano.

Enquanto tudo isso acontece, a condição de Radharani está piorando cada vez mais. O que aconteceu com Radharani? Ela está completamente sob a vertigem incontrolável conhecida comoudghurna. Esse adhirudha mahabhava, esse estado altamente avançado de amor extático, é como uma condição de morte. Todas as Suas sakhis estão em dúvida se há vida ou não no corpo de Radharani. Toda a Vrajabhumi está em completa ansiedade: “Radharani está abandonando Seu corpo. Ela não conseguirá sobreviver”.

O kunja de Radharani fica em Nidhuvana. Ela está deitada lá com Sua cabeça repousada sobre as palmas das mãos de Lalita. Suas asta-sakhis estão todas sentadas em torno dEla. Elas não sabem o que fazer. Lalita e Vishakha estão muito inquietas. Algumas vezes, cantam o nome de Krishna nos ouvidos de Radha; outras vezes, pegam um pouco de algodão e colocam na frente de Suas narinas para verem se Ela ainda está respirando.

Ayana Gosh

Nesse ínterim, toda a Vrajabhumi chegara ali, pois a notícia de que Radharani estava prestes a morrer havia se espalhado. Primeiro, chegou Ayana Gosh, , que é conhecido como “o esposo de Radha”. Isso é apenas externo; não é verdade. O verdadeiro esposo de Radharani é Krishna. Chorando copiosamente, com lágrimas nos olhos, Abhimanyu chegou correndo. Colocando sua cabeça nos pés de lótus de Radharani, banhou os pés de lótus dEla com suas lágrimas e disse: “Ó Sarvaradhya Radhe, todo-adorável Radha. Jamais toquei Teu corpo”. Como ele poderia tocar o corpo de Radha? Apenas Krishna pode tocar o corpo dEla. 146

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Ele, então disse: “Jamais toquei o Teu corpo, mas hoje experimento grande fortuna. Estou pegando um pouco da poeira de Teus pés de lótus e colocando-a sobre minha cabeça. Minha vida tornou-se bem-sucedida neste dia. De qualquer forma, é de Teu conhecimento que sou pujari de Devi e que minha deusa adorável também é Paurnamasi Devi. Ó Radhe, o desejo de Krishna é desfrutar de parakiya-rasa, o amor de amante. Por conseguinte, para realizar o desejo dEle, Paurnamasi Devi manifestou esta lila. Teu verdadeiro esposo é Krishna, e Tu és esposa dEle. Sois eternamente marido e mulher. Entretanto, para realizar o desejo de Krishna de desfrutar deparakiya-rasa, Paurnamasi ordenou a Vrindadevi que realizasse a nossa cerimônia de casamento. Isso é apenas externo; não real. Krishna é Teu verdadeiro esposo, e Tu és Sua esposa. E és a deusa de meu coração. Casei-me com a chaya, a sombra, de Radharani, e não com a Radharani real. Agora que estás em uma condição moribunda, o que acontecerá conosco?”. Depois de falar dessa maneira, exclamou: “Que todos saibam hoje que me casei com a chaya-radha!”.

Esse é o siddhanta do vaishnavismo gaudiya. Quem é capaz de compreender isto? Por exemplo, Ravana raptou . Todavia, raptou a Sita real? Não. Levou a sombra de Sita, chaya-sita, maya-sita. Como Ravana, um demônio, poderia tocar Sita? Isso não é possível, pois Ela é a energia interna do Senhor. Então, quem ele raptou? Raptou chaya-sita. Similarmente, esse Ayana Ghosh casou-se com a sombra de Radha, para que Krishna possa desfrutar de parakiya-rasa. Assim é a Vraja-lila.

Febre de

Então, veio Kutila, a irmã de Ayana Ghosh. Ela é a cunhada de Radharani. Gritando e derramando lágrimas, Kutila colocou sua cabeça sob os pés de lótus de Radharani. Ela pegou um pouco da poeira dos pés de lótus de Radha e colocou em sua testa. Mulheres casadas, que não são viúvas, colocam cinabre na parte em que o cabelo é partido, sinthi. Nesse dia, então, Kutila colocou um pouco da poeira dos pés de lótus de Radha como o cinabre em seu sinthi. 147

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Com uma voz embargada, ela disse: “Ó Radha, minha fortuna hoje é imensa. Obtive a oportunidade de colocar um pouco da poeira de Teus pés de lótus em meu sinthi. Hoje, de fato tornei-me , uma mulher casta. Eu tinha um grande orgulho. Sim, um orgulho grande como um arranha-céu,akasa-chumbi. Eu estava sempre proclamando: ‘Eu sou a única mulher casta! Não existe outra mulher casta em Vrajabhumi! Todas são prostitutas!’. Eu costumava dizer isso, e tentei no melhor de minha capacidade provar que és uma grande prostituta e que não tens absolutamente nenhuma castidade. Embora tenhas Te casado com meu irmão, estás sempre atrás de Krishna. Perante isso, tentei ao máximo provar que és a mais incasta e que eu sou a mais casta. Uma vez, contudo, algo muito misterioso aconteceu. Um dia, Krishna manifestou uma lila, jvara-lila, como se Ele estivesse sofrendo de uma febre alta.

Krishna fora tomado por uma doença, sannyasa-roga. Ele disse: “Abandonarei tudo e aceitarei sannyasa”. Essa febre veio. Todos ficaram ansiosos. Perguntaram-lhe: “Como se cura essa doença? Qual é o remédio que devemos trazer a ti?”. Krishna disse: “Se houver uma sati-sadhvi, uma moça que seja muito casta e pura, ela – e somente ela – poderá fornecer o medicamento. Ela deve ir até o Yamuna levando consigo um cântaro com centenas de furos. Se ela puder trazer água do Yamuna nesse cântaro, sem que nem mesmo uma só gota de água vaze, esse será o remédio. Se passardes isso em Meu corpo, serei curado desta febre”.

Discutindo, todos concordaram que Kutila é a dama mais casta. Ela está sempre tocando tambores e proclamando: “Eu sou a mulher mais casta! Todas as outras são incastas!”. Então, disseram: “Tudo bem. Chamai-a e dai-lhe esse cântaro com centenas de furos. Que ela traga a água do Yamuna sem derramar uma só gota”. No entanto, quando Kutila tentou fazê-lo, toda a água foi derramada. Isso provou que ela não era em nada casta. Kutila admitiu: “Provou-se isso, e meu orgulho foi completamente destruído. Eis o porquê de Krishna ter manifestado essa jvara-lila: esmagar meu orgulho”.

No momento seguinte, Radharani foi chamada: “Demos esse cântaro a Radharani. Que Ela traga a água”. Quando Radharani foi para o Yamuna buscar 148

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água, ela voltou com ele cheio, apesar de o mesmo ter centenas de furos, sem derramar uma só gota.

Kutila continuou: “Nesse momento, então, provou-se ao mundo inteiro que és a verdadeira mulher casta, e não eu. Yogamaya criou essa lila simplesmente para arruinar o meu orgulho. Ó Radha, meu orgulho foi arrasado, mas hoje tenho muito orgulho de ter oportunidade de pegar um pouco da poeira de Teus pés de lótus. Minha vida, neste dia de hoje, tornou-se exitosa”.

Acusações

Então, de outra direção, Chandravali chegou correndo. Ela estava acompanhada de suas sakhis, encabeçadas por Saibya. Chandravali chegou e se estirou no chão, colocando sua cabeça sob os pés de lótus de Radharani. Lavando os pés de lótus de Radharani com as lágrimas de seus olhos, ela disse: “Radhe, kalankini. Eu sou a mais condenável de Vrajabhumi. Não és tu quem é a mais condenável, mas, sim, a minha pessoa”. Em Vraja, todos estão condenando Radharani.

Radharani diz, ko va na yati yamuna pulina bane radha name kalankapavada: “Quem não está indo ao Yamuna para buscar água? Contudo, se Eu vou, torno-Me uma prostituta”.

Todos dizem: “Ah! Ela é uma prostituta! Sob o pretexto de ir buscar água, foi ao Yamuna simplesmente para Se misturar com Krishna”. Todos estão indo. Porém, quando Radha vai, Ela subitamente Se torna uma prostituta.

Estão acusando Radharani dessa maneira, mas Chandravali disse: “Não! Eu sou condenável! Tu não és! Ó Radharani, Sri Krishna é Teu verdadeiro esposo. Tu és esquerdista, em razão do que Krishna vai ao meu kunja algumas vezes simplesmente para intensificar Tua disposição de esquerda. Essa é minha grande fortuna. Deste modo, tenho alguma ligação conTigo”.

Chandravali continuou: “Hoje, experiencio a imensa fortuna de ter colocado minha cabeça a Teus pés de lótus, ó Radharani. Embora eu esteja sempre muito 149

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

ávida por realizar os desejos de Krishna, sou a mulher mais aflita e condenável. Tornei-me uma das causas de afastar Krishna de Ti. Krishna é Teu esposo. Certas vezes, Krishna vai a meu kunja, mas Ele não fica feliz comigo. Ele fica feliz apenas com Tua pessoa. Mesmo em sonhos, Ele pensa unicamente em Ti. Ele jamais pensa em mim”. É dito que, enquanto Krishna está com Chandravali, Ele pensa em Se associar com Radha. Ele jamais pensa em Chandravali. Ele jamais sente grande prazer ou grande felicidade quando está com ela.

Chandravali disse: “Tudo isso é a lila criada por Yogamaya. Yogamaya faz todos aqui em Vrajabhumi dançarem. E, para o prazer de Krishna, de toda maneira que Yogamaya nos faça dançar, nós todos dançaremos. Sei disso muito bem. Todos aqui estão dedicados a fomentar a lila de Krishna; nada mais. Hoje, no entanto, chegou ao meu conhecimento de que estás em uma condição moribunda. Se deixares Teu corpo, ninguém em Vrajabhumi sobreviverá. Ó Radhe! Nem mesmo um só animal haverá de sobreviver. Todos morrerão. Krishna, então, jamais virá a Vrajabhumi. Jamais veremos Krishna novamente. Por favor, não morras”.

Uma Tora de Madeira

Nesse momento, a quadriga de Krishna chegou a Vrajabhumi. Tão logo Krishna chegou a Vraja, Ele saltou de Sua quadriga. Agora, Yogamaya está manifestando outra lila. Como se por arranjo providencial, Krishna apareceu ali em Nidhuvana, onde Radharani está deitada como se morta. Krishna correu até lá, e, de Sua boca, estão saindo as palavras radhe radhe dehi pada pallava mudaram: “Ó Radhe! Ó Radhe! Por favor, dá-Me Teus pés de lótus! Desejo colocá-los sobre a Minha cabeça!”. Krishna está gritando dessa maneira. Essa lila maravilhosa manifestou-se.

Krishna, sentindo as dores intensas da separação de Radha, ficou completamente extático. Suas mãos e suas pernas entraram em Seu corpo. Ele ficou como uma tartaruga. Essa é a forma de Jagannatha. E com grandes olhos dilatados, está simplesmente olhando para Radharani, que está deitada ali no kunja como se estivesse morta. Vendo a condição dEla, Ele perdeu Sua 150

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

consciência e caiu ao chão. Nessa forma, está sentindo a aflição descomunal da saudade de Radha. Eis a forma de Jagannatha, radha-bhava sindhure bhasamana: é como se Ele fosse uma tora de madeira flutuando no oceano de radha-bhava.

Nesse momento, o vento soprou contra o corpo transcendental de Krishna. Quando esse vento foi, então, até o corpo de Radharani, que estava prestes a morrer, atuou como um bálsamo aliviador. A vida de Radharani retornou de imediato. Então, com uma voz muito doce, Srimati Lalita sussurrou no ouvido de Radharani: “Krishna chegou”. Quando ouviu isso, Radharani abriu gradualmente Seus olhos para ver Krishna, Seu Pranavallabha, o amor de Sua vida. Esse foi o medicamento através do qual Ela recobrou Sua vida e colocou-Se de pé. Agora, Ela Se esqueceu de tudo. Todas as dores da separação se foram por completo.

Krishna, no entanto, ainda está inconsciente nessa forma similar a uma tartaruga. Vendo Krishna nessa condição, Srimati Radhika orientou Sua priya-sakhi, Vishakha: “Por favor, ajuda Krishna”, e Vishakha sabe qual remédio ofertar-Lhe. Em uma voz muito doce, começou a cantar o nome “Radhe! Radhe! Radhe!” nos ouvidos de Krishna. Ouvindo isso, Krishna recobrou Sua consciência e abriu Seus olhos.

Agora, Krishna está olhando para Radharani, e Radharani está olhando para Shyamasundara, Krishna. Um encontro olhos nos olhos.

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Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Artigo 4/5: Gundicha Marjana, A Limpeza do Templo de Gundicha

A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada

Em junho de 1970, em San Francisco, Srila Prabhupada palestra sobre a profundidade do festival Ratha-yatra e também sobre o festival que o antecede, o Gundicha Marjana.

Apenas um dia antes do Ratha-yatra, há um festival em Jagannatha Puri que se chama Gundicha Marjana. Do templo de Jagannatha, a cerca de duas milhas, há outra casa/templo, para onde a Deidade de Jagannatha e de Seus irmãos vão durante o festival de Ratha-yatra e lá permanecem por uma semana antes de voltarem. Durante essa semana, há muitos festivais. Jagannatha está procedendo em direção a Vrindavana pelo convite de Radharani. Krishna, após Sua infância, 152

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

chamada de pauganda-lila, foi chamado por Seu pai verdadeiro. Na prática, Ele foi chamado para matar Kamsa, Seu tio materno que estava transtornando toda a dinastia Yadu, e todos estavam aguardando por Krishna. Assim, Krishna apareceu e imediatamente foi transferido por Seu pai para a casa de um amigo.

Vasudeva é kshatriya, e Nanda Maharaja é . A ocupação do kshatriya é a família real, ao passo que o meio de vida dos são os três seguintes fazeres: agricultura, comércio e proteção às vacas, krishi-go-rakshya- vanijyam (Bhagavad-gita 18.44). Krishi significa agricultura, e go-rakshya, proteção às vacas.

Então, Krishna nasceu de um pai kshatriya. Ele não nasce, mas Ele apareceu como o filho. Deus jamais nasce, daí O chamarmos de “não-nascido”. Os filósofos mayavadis entendem Krishna erroneamente, pensando que Krishna nasce. Se Ele nasce, como pode ser Deus? Na verdade, Krishna não nasceu do ventre de Sua mãe; em vez disso, apareceu com quatro braços diante de Sua mãe, momento no qual Sua mãe temeu: “Meu irmão Kamsa estava aguardando para matar Deus, e agora Deus está aqui, com quatro braços. Kamsa imediatamente O matará”. A mãe se esqueceu de que, se seu filho é Deus, Ele não pode ser morto, mas a afeição materna é sempre dessa natureza. Quando o garotinho Krishna, por exemplo, estava para atacar um demônio, Yashoda-ma pedia ao seu esposo, Nanda Maharaja: “Por que permites que esse menino saia? Por que não O trancas?”. Assim é a afeição materna. Mãe Yashoda não sabe que Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, pois, se o soubesse, sua afeição maternal seria obstruída. Ela, portanto, estava sempre encoberta por yoga-maya. Embora Krishna estivesse brincando infantilmente, tal qual uma criança comum; Ele, ao mesmo tempo, estava mostrando que Ele é a Suprema Personalidade de Deus.

Certa feita, Krishna estava comendo barro, e alguns amigos se queixaram com mãe Yashoda: “Deste-Lhe bom alimento e Ele está comendo barro”. Sua mãe, então, chamou por Ele: “Krishna, estás comendo barro?”, e Krishna disse: “Não, mãe. Eles são todos mentirosos”. “Teu irmão mais velho, Balarama, também está dizendo que estavas comendo barro”. “Ele está com raiva de Mim, por isso Ele 153

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

também está falando mentiras”. Os garotos, então, enfatizaram: “Não, mãe. Nós vimos que Ele comeu barro sim”, momento no qual a mãe disse a Krishna: “Tudo bem. Abre Tua boca e verei”. Quando Krishna abriu Sua boca, Yashoda viu toda a manifestação cósmica material. Ela viu na boca não apenas uma Yashoda, mas sim milhares de Yashodas e milhares de planetas, sóis, luas e assim por diante. Mãe Yashoda, então, pensou: “Isso deve ser algum ilusionismo. Tudo bem. Esquece. Não faças isso novamente”.

Krishna está fazendo o papel de um filho perfeito. Mãe Yashoda ordena: “Abre a Tua boca, pois quero ver”. “Sim, mãe”. E, quando ela viu a boca dEle, ela não pôde compreender aquilo. Isto é Deus: Ele, compelido pelo devoto, está fazendo o papel de uma criança e, ao mesmo tempo, está mantendo Sua supremacia como a Suprema Personalidade de Deus. Assim é Krishna, e ninguém pode se tornar Deus por poder místico. Deus é Deus sempre. Quando no colo de Sua mãe, Ele é Deus. Quando, no colo de Sua mãe, Putana foi matá-lO, Krishna sugou-lhe o seio e também a vida, mas deu a ela a posição de mãe, porque Krishna é tão bom que não considerou questões ruins. Como Krishna pode ser invejoso, sendo Ele a Suprema Personalidade de Deus? Uma vez que todos são partes integrantes de Krishna, Ele não é capaz de invejar alguém, senão que é sempre gentil para com todos. Então, nesse incidente, Putana passou veneno em seu seio e foi matá-lO: “A criança sugará meu seio e morrerá prontamente”. A criança Krishna sugou o seio bem como a vida dela, mas julgou: “Embora essa demônia tenha vindo a Mim com o propósito de matar-Me, fui tratado como filho dela, e ela se tornou Minha mãe, em consequência do que ela tem de obter a posição de Minha mãe”. Assim é a amabilidade de Krishna.

Então, tentem compreender a filosofia de Krishna muito bem. Tentem compreender o que é Deus. Há muitíssimos farsantes e sujeitos infames que estão se apresentando como Deus, em razão do que tentem entender o que é Deus para não serem desencaminhados. Krishnas tu bhagavan svayam (Srimad- Bhagavatam 1.3.28): “O Senhor Sri Krishna é a original Personalidade de Deus”. Porque inexiste outro Deus tirante Krishna, Ele diz no Bhagavad-gita (18.66), mam 154

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

ekam: “Rende-te apenas a Mim”. E Krishna provou pessoalmente que é Deus. Conquanto existam muitos assim chamados Deuses, eles não provaram ser Deus. Deus é único, e o mesmo é Krishna.

As pessoas geralmente não sabem que Krishna é o filho de Vasudeva, mas, posteriormente, isso foi revelado por conversas entre um e outro. Então, quando o fato foi revelado, Kamsa providenciou uma competição de luta livre, e Krishna foi chamado para lutar, o que pode ser lido em nosso livro Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Similarmente, Krishna foi à casa de Seu pai, e Ele foi a Kurukshetra em uma quadriga, o que retrata o Ratha-yatra. O único afazer de Radharani e dos demais habitantes de Vrindavana depois que Krishna partiu de Vrindavana para Mathura era prantearem. Krishna partiu e nunca mais retornou, salvo uma única vez. Em Sua ausência, mãe Yashoda, os vaqueirinhos e as gopis perderam sua vida e força vital, e tudo o que faziam era chorar continuamente. Krishna algumas vezes enviou Uddhava para apaziguá-los com a mensagem: “Hei de voltar muito em breve, após terminar Meus afazeres aqui”.

O Ratha-yatra, enfim, retrata a oportunidade que os habitantes de Vrindavana aproveitaram: “Krishna veio a Kurukshetra com Seu irmão, Sua irmã e Seu pai. Aproveitemos para ir vê-lO”. Quando quer que obtivessem alguma oportunidade, eles queriam ver Krishna, motivo pelo qual foram a Kurukshetra. Esses vaqueirinhos, da mesma maneira, foram ver Krishna na veste de quadrigário combatente quando houve a Batalha de Kurukshetra, próximo a Delhi, que não é mais distante de Vrindavana do que cerca de 140 quilômetros. Os vaqueirinhos, vendo Krishna como quadrigário combatente, ficaram embasbacados pensando: “Krishna é o nosso amigo vaqueirinho. Como se explica Ele estar batalhando em uma quadriga?”. Assim, eles ficaram embasbacados. Esses são os passatempos de Vrindavana.

Similarmente, os habitantes de Vrindavana foram ver o Senhor Krishna, conhecido também como Jagannatha. Jagat significa este mundo, e natha significa mestre, ou proprietário. Krishna diz no Bhagavad-gita (5.29), sarva-loka- mahesvaram: “Sou o proprietário de todos os planetas”, logo Ele é Jagannatha, que significa “o proprietário de tudo, de todos os planetas”. Então, os habitantes de 155

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Vrindavana foram ver Krishna porque a vida deles era Krishna – eles não conheciam nada exceto Krishna. Então, aquela era a oportunidade, e, ali em Kurukshetra, Radharani solicitou a Krishna: “Meu querido Krishna”, Ela disse, “Você é o mesmo Krishna, e Eu sou a mesma Radharani, mas, embora estejamos juntos, não estamos juntos no mesmo lugar. Aqui, Você é tal qual um rei majestoso – com quadrigas, soldados, ministros e secretários –, e, lá em Vrindavana, Você era um vaqueirinho, e Nós costumávamos nos encontrar nas florestas, entre os arbustos. Eu quero levá-lO para Vrindavana, com o que ficarei feliz”.

Então, esse sentimento foi expresso pelo Senhor Chaitanya, porque a adoração do Senhor Chaitanya era na disposição de Radharani. Radha krishna- pranaya-vikritir hladini shaktir asmad ekatmanav api bhuvi pura deha-bhedam gatau tau (Chaitanya-charitamrita, Adi 1.5). Tentem compreender a sublime filosofia e a sublime cultura de Krishna. Aqueles que são afortunados vieram para este movimento da consciência de Krishna. Não há nenhuma dúvida de que a vida deles é exitosa. Então, o que são os casos amorosos de Radha e Krishna? Trata-se de uma atividade como da mocinha comum e do rapaz comum? É claro que é tal qual isso – parece esse relacionamento entre mocinha e rapaz e de fato é, mas não é a atividade de um rapaz e de uma mocinha deste mundo material. Trata-se, por outro lado, do passatempo do Senhor Supremo com Sua potência hladini. Assim como, neste mundo material, existem três qualidades, a saber, -guna, rajo-guna e tamo-guna; no mundo espiritual, há três potências, a saber, samvit, sandini e hladini. Assim, a potência hladini é Krishna, o que foi discutido com muita erudição por Srila Jiva Gosvami.

Jiva Gosvami apresenta esses casos amorosos de Krishna e Radha muito filosoficamente. Seu primeiro ponto é que Krishna é o Param Brahman, a Suprema Verdade Absoluta, o que é aceito por Arjuna no Bhagavad-gita (10.12), quando ele diz param brahma param dhama pavitram paramam bhavan. Neste mundo material, há diferentes características de gratificação sensorial, em sattva-guna, rajo- guna e tamo-guna. A pergunta de Jiva Gosvami é se o relacionamento das gopis e Krishna são casos amorosos ou passatempos deste mundo. Assim como, aqui, 156

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

rapazes jovens e moças jovens se encontram e tentam desfrutar a vida, a lila ou os passatempos de Krishna com as gopis é a mesma coisa? Não. Em sua apresentação filosófica, Ele discorre o raciocínio de que Krishna é o Param Brahman, e que, neste mundo material, vemos que, para alguém se apegar ao Param Brahman ou para conhecer verdadeiramente o Param Brahman, o indivíduo inteligente abandona tudo dentro deste mundo. Essa é a filosofia de Shankaracharya, que diz que este mundo é falso, ao contrário do Param Brahman, que é real, brahma satyam jagan mithya. Então, busque a autorrealização para conhecer o Param Brahman. E o processo dele é sannyasa, isto é, renunciar este mundo.

Então, Jiva Gosvami apresenta esta filosofia: Se, para conhecer o Param Brahman, o indivíduo tem que abandonar tudo o que é material, como o Param Brahman poderia desfrutar de algo material? Essa é a questão. Vemos na prática que o indivíduo tem que abandonar tudo o que é material, como acontece com os seguidores de Shankaracharya, cuja renúncia é muitíssimo severa. Shankaracharya não aceitará alguém como apto a avançar na cultura espiritual sem ter aceitado a ordem renunciada de vida, sannyasa, senão que exige que primeiramente o sujeito aceite sannyasa, após o que se permite falar da Verdade Absoluta. Assim é o sampradaya de Shankara.

Nós do sampradaya vaishnava, do sampradaya de Chaitanya Mahaprabhu, temos um processo um pouco diferente. Embora nada tenhamos a ver com este mundo material, o sampradaya de Chaitanya Mahaprabhu fornece a facilidade de que podemos fazer o melhor uso deste mundo material, e essa é a diferença entre a filosofia de Shankara e a filosofia vaishnava. A filosofia de Shankara diz que este mundo é falso, ao passo que nós filósofos vaishnavas dizemos que este mundo não é falso, pois é uma emanação do real absoluto. Como ele pode ser falso? Ele tem seu uso apropriado. Para aqueles que não conhecem seu uso apropriado, ele é falso, pois eles estão buscando algo falso, mas ele é real para aqueles que sabem o seu valor. 157

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Hari-sambandhi-vastunah (Bhakti-rasamrita-sindhu 1.2.256): Tudo tem alguma conexão com o Senhor Supremo. Ishavasyam sarvam (Ishopanishad 1): A nossa filosofia é que tudo está em conexão ou tem conexão com o Senhor Supremo. Nós não dizemos que este alto-falante e este microfone são falsos. Por que o microfone seria falso se é produzido a partir da energia de Krishna? Esta matéria – quer o ferro, quer a madeira – é uma produção da energia de Krishna. Se Krishna é a Verdade Absoluta, Sua energia também é verdade, e qualquer coisa produzida a partir de Sua energia também é verdade. Contudo, assim como a energia é utilizada para o energético, a nossa filosofia é que qualquer coisa produzida pela energia de Krishna deve ser utilizada para Krishna.

Assim, não dizemos que algo é falso, senão que tudo é real, em virtude do que, no movimento da consciência de Krishna, aceitamos tudo, mas aceitamos tudo para o serviço a Krishna – nada para a minha gratificação sensorial. Isso é consciência de Krishna. Não dizemos: “Este mundo é falso. Abandonem-no”. Por que não o dizemos? Os nossos , como Rupa Gosvami, afirmam:

anasaktasya vishayan yatharham upayunjatah nirbandhah krishna-sambandhe yuktam vairagyam uchyate (Bhakti-rasamrita-sindhu 1.2.255)

Vocês não devem se apegar à propriedade de Krishna. Os karmis estão apegados à propriedade de Krishna – estão tentando roubar, desfrutar ilegalmente, a propriedade de Krishna. E os jnanis, ou assim chamados jnanis, tentam, por ignorância, renunciar a propriedade de Krishna. Os jnanis têm muitíssimo orgulho de serem avançados em conhecimento e renúncia, mas, se alguém pergunta: “Prezado cavalheiro, o que o senhor está renunciando?”. “Este mundo”. “Tudo bem, mas quando este mundo tornou-se sua propriedade para você o renunciar?”. Você renuncia algo que você possui, mas, se você não possui algo, qual é o significado de sua renúncia? Você veio aqui de mãos vazias, você vive aqui por algum tempo e vai embora. Se, no começo, você não é proprietário e, quando você vai embora, você 158

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não é proprietário, qual é o significado de sua renúncia? Esse é o defeito. Então, nós não renunciamos, pois vemos que tudo é dado por Krishna a nós. Tena tyaktena bhunjitha (Ishopanishad 1): Nada pertence a mim, senão que tudo é de Krishna. Mesmo o meu corpo e minha mente também são de Krishna. Com efeito, meus pensamentos, minha fala e o que quer que eu crie pertence a Krishna – eis a filosofia de Krishna, e, na verdade, é a realidade.

Assim, este Ratha-yatra de Jagannatha é parte deste movimento da consciência de Krishna porque o Senhor Chaitanya pregou este movimento da consciência de Krishna há quinhentos anos. É claro que este movimento da consciência de Krishna não é algo novo, haja vista que, pela existência do Bhagavad-gita, compreendemos que possui cinco mil anos e, a partir do texto do Bhagavad-gita(4.1), também compreendemos que ele possui cinco milhões de anos. Na era moderna, contudo, este movimento da consciência de Krishna, o movimento Hare Krishna, foi iniciado pelo Senhor Chaitanya, e este Ratha-yatra é parte desse movimento. Portanto, introduzimos o festival de Ratha-yatra em nossa sociedade, e os rapazes e as moças o estão levando muito a sério, e ele irá em frente.

Então, o Senhor Chaitanya estava fazendo o papel de Radharani quando Radharani solicitou Krishna a ir a Vrindavana. Então, quando o Senhor Chaitanya esteve diante do Ratha-yatra, Ele estava pensando: “Estou levando Krishna para Vrindavana”. Este é o Seu êxtase: “Estou levando Krishna para Vrindavana”.

Este evento é observado anualmente, e Krishna, Jagannatha, vai para Gundicha. Como eu disse, hoje estamos comemorando o dia de Gundicha-marjana. O Senhor Chaitanya costumava pessoalmente lavar todo o templo juntamente com Seus assistentes nessa ocasião. Naquele tempo, não existia mangueira, senão que as pessoas costumavam pegar água em imensos cântaros. Quando o Senhor Chaitanya desejou lavar o Gundicha Mandir, o rei de Jagannatha Puri, chamado Maharaja Prataparudra, o qual era um grande devoto do Senhor Chaitanya, fez uma declaração aberta a seus oficiais de que tudo o que Chaitanya Mahaprabhu pedisse deveria ser imediatamente fornecido. 159

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Quinhentos anos atrás, não havia a facilidade das estradas de ferro, de modo que as pessoas costumavam ir para Gundicha a pé, especialmente da Bengala. E, porque Chaitanya Mahaprabhu ficava na Orissa, há muitos gaudiyas oriás. Os seguidores do Senhor Chaitanya são praticamente os bengalis e os oriás – eles são gaudiyas, em geral.

Maharaja Prataparudra era um rei muito poderoso, e não permitiu que os maometanos entrassem na Orissa. Naquela época, toda a Índia estava ocupada pelos pathans, mas eles não puderam invadir a Orissa e o sul da Índia. Assim, Maharaja Prataparudra era um rei muito poderoso e, ao mesmo tempo, era devoto do Senhor Chaitanya, devido ao que sua ordem aberta era de que sempre que Chaitanya Mahaprabhu pedisse algo, Ele tinha de ser atendido.

No dia de Gundicha-marjana, Chaitanya Mahaprabhu costumava lavar o Gundicha Mandir com centenas de Seus seguidores, e eles foram ordenados a trazer água do reservatório mais próximo. Se vocês forem a Jagannatha Puri, vocês poderão ver esse reservatório no qual centenas de potes de água foram cheios. Antes de lavarem com água, o espaço foi varrido, e Chaitanya Mahaprabhu gostava de ir pessoalmente até cada devoto e perguntar: “Quanta poeira você reuniu? Deixe- Me ver quanta poeira você reuniu varrendo. Eu, então, entenderei que você trabalhou muito duro”. Então, a ordem dEle era que, depois que tudo havia sido muito bem varrido por duas vezes – sem restar sequer uma pequena partícula – fazia-se a limpeza com água.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/gundicha- marjana-a-limpeza-do-templo-de-gundicha/

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Artigo 5/5: Archana: Adoração à Deidade

Por Dvarakadisha Devi Dasi

Deus é uma pessoa e, devido à Sua infinita bondade, Ele nos permite até mesmo em nossa condição presente prestar-Lhe serviço pessoal.

No Srimad-Bhagavatam (7.5.23-24), o devoto Maharaja, uma grande autoridade espiritual, diz: “Ouvir e cantar sobre os transcendentais santos nomes, forma, qualidades, parafernália e passatempos do Senhor , lembrarmo-nos deles, prestar serviço aos pés de lótus do Senhor, oferecer ao Senhor respeitosa adoração, oferecer-Lhe orações, tornar-se Seu servo, considerar o Senhor como o melhor amigo e render-se totalmente a Ele (em outras palavras, servi-lO com o corpo, a mente e as palavras) – estes nove processos são considerados o serviço devocional puro. Quem quer que dedique sua vida a servir Krishna através destes nove métodos deve ser visto como a pessoa mais culta, pois obteve conhecimento completo”. Aqui, continuamos nossa série sobre os nove processos de bhakti-yoga, ou serviço devocional ao Senhor. 161

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Poucas experiências são mais bonitas e sagradas do que a cerimônia mangala-arati, que acontece de manhã cedo. Os adoradores se reúnem na tranquilidade que precede o amanhecer para cantar canções devocionais e louvar o Senhor Supremo. O foco da cerimônia é forma de Deidade do Senhor, uma manifestação física do próprio Deus. Durante o mangala-arati, o brilho suave das Deidades dissipa a escuridão da noite, enquanto o pujari (sacerdote) oferece-Lhes uma sucessão de objetos auspiciosos, tais como incenso e flores. Vozes entoam melodias ancestrais, acompanhadas por pequenos címbalos e pela batida do tambor.

Archana, a adoração ao Senhor em Sua forma de Deidade, pode ser um conceito estranho para pessoas que cresceram no Ocidente. Embora algumas correntes de adoração a Deidades possam ser encontradas no catolicismo e nas igrejas ortodoxas, a maioria dos ocidentais desconfia quando um tratamento reverencial é oferecido a “objetos”, porque Deus é espírito e não pode estar contido dentro de mármore ou metal. Frequentemente, quando visitantes vêm ao templo ver as Deidades, buscam palavras, chamando-as de “bonecos” ou “estátuas”, relutando em reconhecer qualquer divindade em forma física. A prática de adoração à Deidade, bastante conhecida até mesmo pelo mais simples chefe de família indiano, contribui para que o ocidental tenha a percepção da consciência de Krishna como um culto.

Então, por que adoramos Deus desse modo? As escrituras védicas prescrevem a adoração à Deidade como um meio de desenvolvermos um relacionamento com Deus como uma pessoa. Embora seja verdade que Deus é espírito, também é verdade que, como espírito, Deus permeia toda a matéria, incluindo mármore e metal. Deus não pode ser separado de Sua criação, em virtude do que adorar Sua forma, mesmo que constituída de materiais físicos, é, certamente, adorá-lO. As escrituras mencionam uma variedade de matérias que podem ser usados para criar a Deidade, incluindo barro, areia e a mente.

O observador ocidental pode também ficar confuso com a variedade de Deidades no templo. Geralmente, um altar tem muitas Deidades, todas lindamente 162

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vestidas e ornadas com guirlandas de flores. Qual delas é Deus? Para muitas pessoas, a pluralidade de Deidades implica numa religião primitiva, sem nenhum Ser Supremo. Como diferenciar a adoração à Deidade da obediência aos deuses e deusas da mitologia grega? Dentro da própria Índia, diferentes personalidades, tais como o Vishnu e , são adorados elaboradamente em forma de Deidade. Alguns hindus até mesmo dizem: “Todas elas são Deus”. Contudo, a consciência de Krishna é a adoração a um Deus único, o Senhor Krishna. Por que, então, há tantas Deidades mesmo nos templos Hare Krishna?

Há apenas um Deus; Ele, porém, manifesta-Se em muitas formas. Como o Senhor Supremo, Ele gosta de relacionar-Se com todos os seres vivos – cada relacionamento é íntimo e único. Em Sua forma como o Senhor Ramachandra, o Senhor gosta do papel de rei e marido fiel. Em Sua forma de Senhor Nrisimha, Ele é o protetor feroz. Em Sua forma de Krishna criança, Ele é brincalhão e arteiro. Todos esses papéis são manifestações de Sua suprema personalidade, e, portanto, todas essas Pessoas Divinas podem ser adoradas em forma de Deidade.

Embora todas essas formas sejam realmente Deus, os devotos podem sentir uma forte atração por uma determinada Deidade. No movimento para a consciência de Krishna, nossa Deidade mais amada é o Senhor Krishna. Nosso acharya- fundador, Srila Prabhupada, explicou com inúmeras referências às escrituras védicas que a forma de Krishna é a forma original de Deus, com pleno poder. Assim como muitas velas podem ser acesas a partir de uma lamparina e todas as velas podem queimar com igual luminosidade, há apenas uma chama original – essa chama é Sri Krishna.

A Deidade do Senhor Krishna nunca é vista sozinha. E uma das perguntas que os visitantes em um templo Hare Krishna mais fazem é: “Quem é a mocinha com Krishna?”. A resposta rápida é que Ela é Srimati Radharani, a queridíssima namorada de Krishna. Tal resposta, obviamente, apenas dá margem a mais perguntas: “Como pode Deus ter uma namorada? O que A torna tão especial?”. 163

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Assim como o próprio Krishna é tanto o charmoso vaqueirinho quanto o incompreensível Senhor do universo, Radharani é tanto a jovem garota tímida quanto a personificação de bhakti, ou amor pelo Senhor Supremo. Ninguém pode aproximar-se de Deus sem a misericórdia de Radharani, porque Seu amor envolve Krishna protegendo-O dos insinceros. Não podemos ver Krishna sem a ajuda de Radharani, assim como não podemos experimentar a presença de Deus se o coração não estiver cheio de devoção.

Dentre todas as Deidades comumente encontradas nos templos Hare Krishna, as mais frequentes são o Senhor Chaitanya e o Senhor Nityananda. Srila Prabhupada iniciou a adoração a Eles porque foi o Senhor Chaitanya quem divulgou amplamente os processos de serviço devocional tão preciosos para nós atualmente, a saber: e kirtana, o ouvir e o cantar dos nomes de Deus. O Senhor Chaitanya é particularmente compassivo para com os que se aproximam de Krishna na era turbulenta na qual vivemos, quando as aspirações religiosas puras são impiedosamente afogadas na cacofonia do materialismo. Shravana e kirtana são os componentes principais da adoração à Deidade.

Nos templos da ISKCON, podem-se ver também as formas sorridentes do Senhor Jagannatha, Senhor Balarama e Subhadradevi. Essas Deidades são talvez as mais compassivas de todas as formas do Senhor, já que se permitem serem removidas do confinamento do templo uma vez por ano para o Ratha-yatra, ou o festival do carro alegórico, uma alegre procissão pelas ruas. Na Índia, milhares de pessoas enchem as ruas numa multidão para ver o Senhor elegantemente colocado sobre um grande e colorido carro alegórico puxado por longas cordas. Sob a inspiração de Srila Prabhupada, o Ratha-yatra agora é celebrado no mundo todo, desde cidades grandes como Nova Iorque e Londres, até pequenas comunidades. Embora a adoração à Deidade seja geralmente restrita aos templos, na ocasião especial de Ratha-yatra, qualquer um pode ver a face reluzente do Senhor Supremo. Seja ou não um crente, o coração da pessoa é purificado pela visão do Senhor, assim como o efeito de um medicamento no corpo de alguém que creia nele ou não. 164

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

Como todos os processos de serviço devocional, a adoração à Deidade combina um ritual externo com meditação interna. A adoração à Deidade no templo é altamente ritualizada. O Senhor tem que ser despertado, banhado, vestido e alimentado exatamente à mesma hora todos os dias. Orações específicas são usadas para cada aspecto da adoração. Os adoradores têm que estar limpos e serem pontuais. Toda essa atenção aos detalhes ajuda a treinar a mente para que entenda que Deus é uma pessoa. Se você souber que está desapontando alguém com seu atraso ou descuido, então desenvolverá um aumento de atenção plena quanto às necessidades daquela pessoa. Da mesma forma, quando você agrada alguém com sua atenção ardente, acalenta o prazer de seu deleite. Os detalhes da adoração à Deidade tornam-se parte de um doce intercâmbio com o Senhor.

Alguém pode, no entanto, enamorar-se dos rituais e perder a devoção interna. Em toda igreja, mesquita e templo, a piedade é facilmente parodiada. Contudo, a adoração vazia é uma ofensa ao Senhor. Todos nós temos impurezas, dúvidas e medos, e a adoração à Deidade pode certamente aliviar-nos desses fardos se a mesma for a nossa oração. Porém, estar diante do Senhor pedindo Sua cumplicidade em nossos planos materiais dificilmente pode ser adoração real. Similarmente, mesmo uma bela cerimônia como o mangala-arati não pode ser realmente apreciada caso se torne um encontro rotineiro ou uma oportunidade de contatos para negócios, encontros sociais ou euforia. O coração tem que acompanhar as ações, porque Deus nunca está interessado em obrigações fúteis. O mais profundo elemento da adoração é a rendição amorosa, fazendo-nos abandonar a postura de que somos a Deidade. Há apenas um Deus, e archana ajuda-nos a perceber o quanto isso é verdade.

Talvez o aspecto mais maravilhoso de archana seja que emprega os quatro processos de serviço devocional discutidos até agora: ouvir sobre Krishna, cantar Seus nomes, lembrar-se dEle e servir aos Seus pés de lótus. A adoração à Deidade sempre inclui cantar, seja exuberante ou subjugado, e o cantar permite a audição. Quando estamos de pé na presença do Senhor, naturalmente lembramo-nos dEle. E 165

Anexo C – Artigos sobre o Senhor Jagannatha, Templo de Gundica e Adoração

servir ao Seus pés de lótus realmente assume seu significado quando os vemos decorados com polpa de sândalo e flores.

Tradução de Adi Purusha Prema.

Disponível em: https://voltaaosupremo.com/artigos/artigos/archana- adoracao-a-deidade/. 166

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Autor: Purushatraya Swami

Disponível em: http://www.pswami.com.br/vaishnava/raizes.html

Acessado em: 02/06/2015

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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Movimento Hare Krishna - Histórico, Filosofia e informações.

(Escrito por Purushatraya Swami. Baseado numa enquete feita pelo órgão ASSINTEC - Associação Interconfessional de Educação de Curitiba (PR) - que assessora a Secretaria de Educação de Curitiba nos assuntos referentes à Educação Religiosa e Diálogo Inter- Religiosos.

1. Tradição religiosa

O popularmente conhecido “movimento Hare Krishna” tem suas origens na índia e é parte de um contexto muito amplo e diversificado chamado “Hinduísmo”. O Hinduísmo, por sua vez é constituído de múltiplas tradições religiosas. No caso particular, o “movimento Hare Krishna” está inserido na Tradição Vaishnava (Vaishnavismo). O termo “Vaishnava” deriva-se de “Vishnu”, que é o aspecto imanente de Deus, presente na criação material.

O Vaishnavismo é a linha estritamente monoteísta do Hinduísmo. Embora lide com múltiplos aspectos de Deus e hierarquias subordinadas a Ele, que atuam nos diferentes aspectos de Sua criação, a idéia central da religião é estabelecer a relação com o Deus Uno. Dessa forma, a consciência do devoto transmuta-se de ‘consciência de ego’ para ‘consciência de Deus’, e ele torna-se um recipiente da graça divina. Só pela graça do Senhor que a pessoa pode obter a salvação. Salvação significa liberação da existência condicionada nesse mundo material e ingresso definitivo no reino de Deus.

Opostamente à esse mundo relativo e sujeito às dualidades— bom/mal, prazer/dor, luz/escuridão, frio/calor, etc.— o reino de Deus é um estado de existência absoluta, perfeita, pura, eterna e plena de bem aventurança. Enquanto persiste a consciência material condicionada, centrada no ego, a pessoa fica presa ao contínuo ciclo de nascimentos e mortes neste mundo, e aqui experimenta as suas delícias e inconvenientes de acordo com seus méritos e culpa. Cada vida lhe dá uma nova oportunidade para purificar-se e desenvolver a consciência de Deus. A mudança de 168

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

paradigma, do ego para Deus, se dá quando, pelo contato com o conhecimento revelado, pela misericórdia divina que chega ao indivíduo por diversos meios, é acendida no coração a chama da fé.

2. Origem histórica

O sub-continente indiano é o cenário para um leque de tradições religiosas, a maioria tendo suas origens em épocas muito remotas. O Vaishnavismo, em particular, não tem um registro de início. Os textos sagrados, muitos deles compilados em datas que remontam à era védica de cinco mil anos atrás, já oferecem o delineamento da doutrina, que antes era praticada e transmitida em via oral. Já na era cristã, o Vaishnavismo institucionalizou-se e associou-se ao sistema Vedanta de filosofia. Surgiram grandes filósofos teístas, como , Madhva, Nimbarka e Vishnuswami e foi, assim, formatado em quatro linhas principais, chamadas . O sistema de filosofia Vedanta tem duas linhas: uma estritamente filosófica e outra teísta. O Vaishanavismo, obviamente, é a linha teísta. O “movimento Hare Krishna” é filiado à linha Vaishnava chamada Brahma-Madhva- sampradaya.

O “movimento Hare Krishna” teve seu início há quinhentos anos, exatamente na virada do século, na época dos descobrimentos. O responsável por sua difusão foi o santo Sri Caitanya (lê-se Cheitânya) Mahaprabhu. Sua vida foi amplamente registrada em biografias, algumas delas contemporâneas a ele. Caitanya, que foi um acadêmico e intelectual sem rival em sua juventude, teve uma reviravolta radical em sua vida, passando a manifestar uma natureza mística sem precedentes, certamente, na história da humanidade. Mais da metade dos quarenta e oito anos de sua existência foram passados, na maior parte do tempo, num êxtase místico de amor a Deus. A mensagem de Caitanya resume-se basicamente na realização de que o método mais eficaz para restabelecermos nossa conexão com Deus é através do canto e meditação de Seus santos nomes. Os santos nomes do Senhor, diz Caitanya, possuem energias espirituais que vão atuar na consciência, tornando-a cada vez mais espiritualizada. Com a prática, obtém-se purificação, auto- conhecimento, desapego, renúncia, santidade, paz interior e amor puro por Deus. 169

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Embora todos os nomes referentes a Deus têm esse poder, Caitanya recomendava o canto e a meditação no maha-mantra Hare Krishna (explicaremos mais a frente). Seu movimento teve um grande impacto social pois desestruturava um rígido sistema de castas que prevalecia no país naquela época. Ele atingiu tanto as camadas populares quanto a classe intelectual, e até, membros da realeza. Começou na região da Bengala (leste da índia, cuja capital é Calcutá) e, a seguir, espalhou-se pelo estado vizinho, Orissa. Na seqüência, permeou o país. Caitanya, inclusive, profetizou que esse canto espalhar-se-ia pelo planeta, o que , mais ou menos, podemos, hoje em dia, presenciar.

Em 1965, um sannyasi (renunciado) da linha de Caitanya, A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, trouxe esse conhecimento para o Ocidente. Aos setenta anos de idade, sem recursos e qualquer apoio institucional, Swami Prabhupada desembarcou em Boston, nos Estados Unidos. Logo a seguir, radicou-se em Nova York e, por arranjo do destino, seu público foi, quase que exclusivamente, o mundo hippie, que naquela época, estava em seu auge. Sua mensagem era estritamente ortodoxa e apresentava valores praticamente diametrais aos cultivados pelos hippies. Mas, mesmo assim, surpreendentemente, sua mensagem teve um tremendo eco, certamente devido à genuína postura espiritual de Prabhupada. Em 1966, ele fundou a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna (ISKCON). De Nova York estabeleceu-se uma ramificação no oeste, em São Francisco; depois e Londres. De lá, à medida em que seus discípulos espalhavam centros nos diversos continentes, Prabhupada voltou à sua terra natal e estabeleceu alguns importantes centros de adoração a Deus.

3. Ideia e representação do Transcendente (Deus)

Como já afirmamos, a Tradição Vaishnava é monoteísta por excelência. Outra característica marcante do Vaishnavismo é que, baseado na revelação, nos é dada a noção de Deus como Pessoa, a Suprema Personalidade de Deus. Logicamente, não uma pessoa como nós— corporificada, condicionada, falível, efêmera, limitada, ignorante e sofrida—, mas uma Personalidade infinitamente superior a qualquer 170

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

referencial humano— possuidor de qualidades ilimitadas e perfeitas, e destituído de qualquer indício de imperfeição ou limitação.

A conhecimento Vaishnava aceita que “ tudo provém de Deus.” Não existe uma dicotomia original de Bem e Mal, ou Deus e Satanás. Essas dualidade estão presentes no estado de existência em que ora vivemos. Em geral, o aspecto negativo da realidade é a ausência da contraparte positiva, assim como por exemplo, o fenômeno “escuridão” se dá quando a luz é bloqueada ou está inativa. O sofrimento, tido muitas vezes como uma imperfeição na criação de Deus, tem, com certeza, seu papel no teatro da vida e, muitas vezes, é aquilo que purifica, que nos faz ver a realidade e nos traz conhecimento e realizações mais profundas.

A morada do Senhor é o reino absoluto. O termo sânscrito que traduz isso é sat cit ananda, que significa, existência plena e eternidade (sat), consciência infinita (cit) e bem aventurança plena (ananda). A forma do Senhor é igualmente sat cit ananda.

Assim como na revelação cristã, a Tradição Vaishnava aceita que “Deus tem muitas moradas.” Além de muitas moradas, Ele possui muitas formas. Apesar de possuir inúmeras manifestações, Ele não perde Seu caráter de Ser único e Uno.

De acordo com a revelação Vaishnava, Deus tem, basicamente, três aspectos: a) Seu aspecto impessoal (Brahman)— a energia cósmica, o somatório de todas energias, a Consciência Suprema, o Espírito Supremo; b) o aspecto imanente (Paramatma), que participa intimamente na manifestação cósmica material; e c) o Deus Transcendente (Bhagavan), a Suprema Personalidade de Deus, que atua num meio ambiente puramente espiritual.

Brahman é o suporte de tudo. Muitas religiões dão primazia a este aspecto impessoal de Deus. A doutrina Vaishnava, apesar de considerar esse aspecto do Divino, enfatiza o aspecto pessoal de Deus, pois só assim pode-se desenvolver um relação estritamente pessoal com Deus. Paramatma ou Superalma é o Deus Todo- Penetrante ou Onipresente, ciente, se isso for Seu desejo, da caída de uma mera folha seca ao chão em qualquer parte de Sua criação. Ele está presente no coração de todos. Ele é o Testemunha e o Sancionador. Para aqueles que são indiferentes à 171

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Sua presença, fazendo mal uso de seu livre-arbítrio, Ele simplesmente garante que haja justiça na hora da colheita daquilo que foi semeado. Mas àqueles que refugiam- se nEle, o Senhor no coração conduz a pessoa com segurança através do oceano da existência.

O Deus Trancendente, conforme se descreve nas Escrituras, manifesta-se, por sua vez, em diferentes formas— Rama, Krishna, , etc. Algumas dessas manifestações de Deus vêm a este mundo e aqui exibem certas atividades (lilas) cuja única finalidade é atrair as almas condicionadas para a realidade transcendental eterna. Esses são chamados de avataras. Embora convivendo por um período de tempo no seio da sociedade humana, esses avataras, como Rama e Krishna, não estão sujeitos às leis da natureza material e suas formas são imateriais e divinas.

Embora possuindo múltiplas formas, todas são manifestações do Deus Uno, como já dissemos. O devoto Vaishnava escolhe a forma de Deus que mais lhe inspire e, então, desenvolve sua devoção baseado nos preceitos das Escrituras. Cada manifestação de Deus tem características e humores diferentes e, conseqüentemente, a forma de devoção também varia em termos de sentimento e em seu aspecto formal e ritualístico.

Podemos classificar a devoção a Deus de duas formas: asvarya e madhurya. O Deus no aspecto asvarya é o Deus Todo-Poderoso, o Criador, o Senhor com opulências inconcebíveis. Ele é o Senhor Supremo Absoluto e diante dele o devoto é uma ser insignificante. Essa magnitude de Deus inspira respeito profundo e até temor. A devoção é solene, formal e ritualística. Já o aspecto madhurya permite intimidade entre o devoto e Deus. No caso da devoção a Krishna, o devoto pode desenvolver ambos os tipos de devoção. Caitanya Mahaprabhu foi um dos seres iluminados desse mundo que revelaram a devoção em intimidade, e esse tipo de devoção é dirigida a específicos aspectos de Krishna.

Dentre diferentes tipos de relações, essas três são as mais íntimas: amizade, amor da mãe para o bebê e amor conjugal. O Senhor Krishna aceita esses três tipos de relacionamentos amorosos, que devem ser, definitivamente, destituídos de qualquer 172

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

conotação material e só é atingido num estado de consciência pura. O relacionamento amoroso conjugal é o mais rico e íntimo. Com base no princípio de que “tudo vem de Deus,” isso também deve estar necessariamente em Deus.

Essas manifestações de Deus na categoria de Deus Transcendente Pessoal possuem a contraparte feminina. A consorte de Krishna chama-se Radha, que é a personificação de Sua energia interna de prazer. Conhecer e apreciar os intercâmbios amorosos do Casal Supremo e desenvolver um sentimento e atitude devocional puramente espiritual, constitui um dos aspectos mais confidenciais da devoção religiosa chamada “Consciência de Krishna,” que nos foi revelada por Sri Caitanya Mahaprabhu.

4. Textos sagrados

A cultura religiosa indiana é, sem dúvida, a mais fecunda em textos sagrados, e é composta de centenas de textos. é dito que há cinco mil anos o conhecimento que era transmitido por via oral começou a tomar forma escrita. Os textos são escritos em sânscrito, considerada a língua original da humanidade. A escritura original chama-se Veda, que significa “conhecimento.” Ao ser posto em linguagem escrita, o Veda foi desmembrado em quatro: Rig, Yajur, Sama e Atharva. São escrituras ritualísticas por excelência.

Outra classe de escrituras são os , de número impreciso , mas considera-se que existem 108 principais. São escrituras essencialmente filosóficas.

Existem, também, os , que são as referências dos principais sistemas filosóficos. Entre eles, está o Vedanta-sutras, composto pelo sábio Vyasadeva, que é o compilador da maioria desses textos sagrados.

Os livros de lei, como Manu-Samhita, formam outra categoria especial.

Há os épicos, , cujos exemplos mais significativos são o famoso , que descreve a história do avatara Rama, e o não menos famoso , que descreve a história da dinastia a qual pertencia o Senhor Krishna. Um dos capítulos 173

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

do Mahabharata é os ensinamentos de Krishna conhecido como Bhagavad-gita. O famoso Bhagavad-gita é considerado como o mais conciso e sistemático livro de religião, ética, filosofia e metafísica jamais escrito.

Outra importante classe literária são os , contando dezoito ao todo. Os Puranas narram histórias dos avataras e de grandes santos aliadas a ensinamentos filosóficos profundos. O mais famoso e importante Purana chama-se Srimad- Bhagavatam, escrito pelo compilador dos Vedas, Vyasadeva. A maior parte das histórias sobre a passagem do Senhor Krishna por esse mundo estão descritas nesse livro. Essa obra está publicada em português em dezoito volumes.

Além dessas categorias de literatura sagrada existem algumas outras que não cabe aqui serem descritas por questão de concisão.

No caso da Consciência de Krishna, apesar de todas serem fontes de referência, as escrituras básicas que definem a doutrina são as seguintes: Bhagavad-gita, Srimad- Bhagavatam, Sri , a biografia de Caitanya Mahaprabhu chamada Sri Caitanya-charitamrta,” e outras obras de autores da linha.

5. Ritos

A Tradição Vaishnava é caracterizada pelo uso de imagens, também chamadas ou deidades, para a adoração, seja no templo ou privadamente. Essas formas de diferentes aspectos da Divindade, como Krishna, Rama, Vishnu, Nrsimha, etc., são detalhadamente descritos nas Escrituras. Adorar a Deus através de imagens é, muitas vezes tido como idolatria. Contudo a diferença entre a idolatria e a adoração das deidades é que, no primeiro caso, concebe-se uma forma e ritual para se adorar a um Deus imaginário, enquanto que no segundo caso, segue-se estritamente o procedimento estabelecido nas Escrituras para esse fim, procedimentos esses incrivelmente elaborados, exigindo muitos cuidados e um especial estado de consciência para lidar com os objetos de adoração. A idéia subjacente dessa forma de adoração é que Deus está presente naquela forma particular. Ele é Onipresente. Estando presente em todo lugar, Ele, certamente, está presente na deidade, principalmente, sendo considerado o fato de que essa imagem está sendo cuidada e 174

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

venerada com consciência espiritual. Deus é invisível a nossos olhos, mas, por Sua misericórdia, torna-se accessível para aceitar nossa adoração dentro deste mundo. Devido ao ritual regulado e constante e a atitude devocional, tanto dos sacerdotes quanto dos devotos em geral, a deidade torna-se um foco de energia espiritual poderosíssima, bálsamo capaz de aliviar nossos sofrimentos.

Num templo Hare Krishna, a primeira cerimônia começa bem cedo, às quatro e trinta da madrugada. A idéia é que, ao acordar, toma-se logo um banho e, imediatamente, como sendo a primeira coisa de cada dia do devoto, ele recepciona o Senhor no templo. Essa cerimônia, que irá também acontecer em certas horas ao longo do dia, chama-se arati. Oferece-se, no altar, preparações comestíveis especificamente elaboradas para as diferentes horas do dia, e, também, outros artigos como incenso, flores com perfume, lamparina e outros. Cada arati tem seu canto específico e devem acontecer em horários estritamente estabelecidos.

O ritual é uma maneira formal e externa de oferecer nossa devoção a Deus. Ele não é um fim em si, mas um instrumento a nosso dispor para elevarmos nossa consciência material, normalmente aferrada nas atividades mundanas do dia-a-dia, à consciência de Deus. A idéia da oferenda é que o devoto aproxima-se de Deus não somente para pedir e pedir, mas para oferecer nosso amor. Deus não precisa de nada, mas temos que demonstrar nosso amor a Ele, aproximando-se dEle com uma atitude adequada. Quando o amor a Deus já é parte da natureza do devoto, o ritual é, inclusive, dispensável. Sua vida, na totalidade, já é um oferecimento de amor a Deus.

Existe, também, o ritual de iniciação que é a formalização da conexão do devoto com a linha de conhecimento, que descende de mestre em mestre até tempos imemoriais. O devoto faz votos (explicaremos adiante) e torna-se um representante da Tradição. Nessa ocasião é feita uma cerimônia chamada -hotra, sacrifício de fogo, que visa a purificação e espiritualização.

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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

6. Principais celebrações a) Sri Krishna Janmastami— aparecimento do Senhor Krishna nesse mundo. (Astami significa oitavo, isso quer dizer o oitavo dia da lua do mês de Hrsikesha, Agosto-Setembro. O calendário védico é lunar e não solar como o do Ocidente. Devido a isso as datas mudam de ano para ano, mas são sempre comemoradas na exata fase da lua do dia original.) b) — aparecimento da consorte do Senhor Krishna, Sri Radha. (Quinze dias depois do Janmastami). c) Goura-Purnima— Aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu. (Purnima significa Lua cheia; em Fevereiro-Março) d) Aparecimento e desaparecimento do fundador da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna, Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

Essas são as celebrações mais importantes. Além dessas, existem várias outras celebrações referentes a diferentes aspectos das divindades e dos mestres espirituais da linha. Nessas comemorações são, em diversos casos, prescritos jejum numa determinada parte do dia— às vezes até ao meio-dia, e outras vezes até o por do sol ou nascer da lua.

Os devotos, observam, duas vezes ao mês, no ekadasi, décimo-primeiro dia da lua, jejum de grãos e cereais. Alguns fazem, inclusive, jejum completo. é dito que esse específico dia é especialmente auspicioso para o cultivo de vida espiritual.

7. Organização hierárquica ou estrutura da instituição

Como já foi dito, a Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (ISKCON) foi fundada em 1966 por Srila Prabhupada. Ele é o acharya fundador. Acharya significa “aquele que ensina pelo próprio exemplo.” Prabhupada faleceu em 1977. Ele não instituiu um sucessor. Para dirigir a Sociedade, Prabhupada formou um Corpo Governamental (GBC). Como a Sociedade está presente em muitos países, cada 176

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

área geográfica tem um, ou em certos casos, mais de um, representante do GBC. Os membros do GBC certificam se as coisas seguem na linha, sem desvios, e, por serem devotos experientes, dão assessoria e aconselhamento.

A administração em si é descentralizada. Não existe uma sede administrativa nacional nem mundial. Cada projeto desenvolve-se com o potencial local. Aparentemente isso pode dar a noção de uma certa fragilidade institucional, mas é a forma de cada projeto adquirir sua própria identidade e crescer em proporção a sua maturidade.

Os projetos da ISKCON são, basicamente, de dois tipos: a) os templos e centros culturais urbanos, e b) as comunidades rurais. Existem dois tipos de devotos: os monges dedicados exclusivamente à instituição, vivendo em comunidades, e a congregação, que freqüenta o templo e oferece algum serviço voluntário.

Os devotos recebem uma primeira iniciação quando, já familiarizado com a doutrina, estão aptos a seguir os votos sob a guia de um mestre espiritual. A segunda iniciação se dá quando existe mais amadurecimento e o devoto está qualificado para funções sacerdotais. Tanto internos quanto externos, homem ou mulher, casado ou solteiro, qualquer um pode receber a iniciação.

Uma terceira iniciação, de grau mais elevado, é uma prerrogativa para aqueles que estão livres do envolvimento familiar, seja por opção pessoal ou por idade. A qualificação é ter atingido a maestria no processo e total absorção na causa. Esta é a ordem renunciada ou sannyasi.

Um outro tipo de liderança é a liderança espiritual. Um devoto maduro e comprovadamente experiente em conhecimento das escrituras e no processo devocional é indicado para servir a sociedade como guru ou mestre espiritual. Sua função é liderar espiritualmente a congregação dos devotos e dar abrigo espiritual, orientação e iniciação aos mais neófitos. O mestre espiritual pode ser da ordem de vida renunciada ou, mesmo, chefe de família.

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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

8. Espiritualidades: Métodos e técnicas utilizados

Existem certos aspectos da Consciência de Krishna que fogem às características normalmente vistas em certas religiões. Isto porque a Consciência de Krishna, além do aspecto religioso, propõe-se em oferecer um processo de auto-aperfeiçoamento ou, como é dito também, auto-realização. A palavra em sânscrito que denota isso é yoga. Existem na tradição filosófica-religiosa da índia diferentes processos de yoga. O yoga da Consciência de Krishna chama-se bhakti-yoga, o yoga da devoção, que consiste no processo de tirar o foco de consciência do envolvimento material e mundano e transferi-lo a uma dimensão espiritual.. Em outras palavras, consiste em trabalhar a energia de amor, que todos possuem no coração mas, normalmente, está enfocada nas coisas e relações materiais, e canaliza-la e enfoca-la em Deus.

Como já citamos, Caitanya Mahaprabhu sugere o método da meditação e canto do maha-mantra Hare Krishna, que nas palavras dos textos sagrados, é a panacéia para a situação espiritual doentia do homem de nossa época. O maha-mantra— Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare— é composto de três palavras que estão no caso vocativo: Hare refere-se à energia divina, Krishna à Personalidade Suprema mais atrativa e Rama à fonte original do prazer, Deus. Este mantra é encontrado num escritura chamada Kalisantarana Upanishad.

Os devotos estão sempre sintonizados com o mantra, que é um som espiritual puro destituído de qualquer conotação secular. Sua, vibração sonora ou mental, carrega em si uma série de potências espirituais que agem a nível interno: purifica e acalma a mente, abre os canais da consciência para a espiritualidade e conecta o ser mortal com a Divindade. O maha-mantra Hare Krishna, especificamente, faz manifestar no coração a energia espiritual bhakti, cuja essência é a devoção e o puro amor a Deus. As duas formas de se praticar o mantra são: meditação individual () e/ou canto congregacional (kirtana).

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Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

9. Espaços sagrados: Templos, lugares de peregrinação

O território indiano é repleto de templos antigos e lugares sagrados de peregrinação. Todos possuem uma tradição milenar. Por séculos e séculos milhões de pessoas visitam esses lugares e procuram sintonizar-se com a energia espiritual que deles emana. Aliás, pode-se afirmar que os mais secretos mistérios do planeta estão encerrados nas quatro paredes de muitos templos da índia. Lá aconteceram um sem número de milagres e manifestações supra-naturais. Consideremos, por exemplo, um templo existente há milhares de anos, e ao longo de todo esse tempo, um minucioso ritual vem acontecendo sistematicamente dia após dia. Qualquer pessoa pode sentir a sacralização do local. A energia espiritual fica presente de forma tangível.

Com respeito ao “movimento Hare Krishna”, são os seguintes os locais mais sagrados na índia: a) Vrindávana— Local onde Krishna viveu Sua infância e adolescência. Situa-se a cento e cinqüenta quilômetros ao sul da capital Nova Delhi. b) Mayapur— Local de aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu. Situa-se a mais ou menos duzentos quilômetros ao norte de Calcutá, Bengala Ocidental.

No Brasil, o templo mais importante situa-se na Comunidade Nova Gokula, no município de Pindamonhangaba, São Paulo.

10. Limites éticos: Principais mandamentos, regras de conduta e valores humanos que apregoa.

Na iniciação, o devoto faz votos de seguir certos princípios que irão nortear sua vida espiritual daí para frente. Uma observação quanto a isso é que esses princípios não devem ser considerados como meras “proibições.” Esses princípios estão diretamente relacionados com a prática da bhakti-yoga, e visam possibilitar a elevação da consciência individual até ao estado de “consciência de Krishna” ou consciência de Deus. é, portanto, uma prática de auto-realização e o devoto que 179

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

aspira auto-aperfeiçoar-se assume esses votos consciente e voluntariamente. Os quatros princípios regulativos básicos são: a) Não comer carne, peixe e ovos— quer dizer, estrito vegetarianismo. Este princípio baseia-se na misericórdia para com os demais seres vivos e no conceito de ahimsa, não violência. Não devemos cometer violência desnecessária. Uma grande carga de violência deste mundo pode ser evitada ao adotarmos uma dieta vegetariana, que, além do mais é muito mais saudável e natural. b) Não intoxicar-se— princípio de austeridade. A pessoa que busca a auto- realização não deve usar substancias que provocam alteração no estado de consciência. Não deve fugir à realidade e deve, com paciência e determinação, trabalhar sua consciência no sentido de purificação e expansão. c) Não praticar jogos de azar— princípio da veracidade. A expectativa de ganho fácil nos jogos provocam agitação na mente e abre espaço para o caráter dúbio. d) Sexo destinado à procriação— princípio de limpeza. A função natural do sexo é a procriação. O fato do sexo produzir prazer sensual não deve ser o sinal verde para explora-lo irrestritamente.

Um outro voto que o devoto faz na iniciação é determinar-se em praticar o processo de meditação, japa, diariamente. Essa meditação prescreve a repetição em voz baixa do maha-mantra Hare Krishna. Durante essa meditação, manuseia-se um rosário de 108 contas, conta por conta, pelo menos 16 vezes, o que representa 1728 repetições do mantra. Essa prática deve ser feita bem cedo, antes do sol nascer, e dura aproximadamente hora e meia.

11. Vida além da morte: Que resposta norteadora do sentido da vida além morte representa?

Um dos conceitos fundamentais do conhecimento védico é que, primeiro, a vida é eterna e, segundo, tudo nesse mundo é cíclico. O princípio da vida eterna está relacionado com a alma, enquanto que o princípio cíclico refere-se ao corpo. Para a 180

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

alma não faz sentido as designações do corpo: masculino/feminino, preto/branco, brasileiro ou chinês, etc. Essas são designações circunstanciais. Enquanto a alma não atingir seu estado natural de pureza e consciência plena e, assim estabelecer- se definitivamente no reino absoluto de Deus, onde a existência é eterna, a consciência é total e é plena em bem aventurança, ela, a alma, tem que estar associada a um corpo material para, gradualmente, evoluir e encontrar sua verdadeira natureza. Isso requer muitas vidas. Os grandes obstáculos para o aperfeiçoamento da alma neste mundo são: apegos materiais, a exploração do prazer sensual e ignorância. Aceitamos, portanto, o conceito de “transmigração da alma”. Evitamos o termo “reencarnação” para não incorrer nas muitas confusões e mal entendidos que este termo geralmente tem acarretado.

Outro princípio que está diretamente relacionado a esse tema é o de “causa e efeito” ou “ação e reação.” Consideramos que “colhemos o que semeamos.” é o que o conhecimento védico chama de “lei do karma.” Essa vida atual já é, efetivamente, uma colheita; e agora temos a oportunidade para semear para colher na próxima safra. A morte marca o fim do ciclo em um corpo específico. As impressões e as tendências de toda a vida ficam registradas na consciência. Essas impressões na consciência irão determinar a próxima situação de vida, afim de que a alma tenha oportunidade de retificar-se dos erros do passado e continuar sua trajetória rumo à perfeição. Atingindo o estado de “consciência de Deus”, a alma livra-se do enredamento material e passa a existir em seu habitat natural, face a face com Deus.

Na doutrina Vaishnava, céu e inferno são situações temporárias. Boas ações e vida piedosa (mas, em consciência material,) produzem, como reação, a transferência da pessoa, após a morte, para regiões celestiais, onde irá desfrutar de seus méritos. Quando tais méritos esgotam-se, ela volta, outra vez, a esse plano de existência terrena, que é a região onde o karma é produzido.

Da mesma forma, atividades pecaminosas, contrárias às leis de Deus, geram conseqüente punição. Uma vez expiada, chances para retificação são oferecidas repetidamente. é uma fato que livrar-se da condição de pecado é realmente muito 181

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

difícil, pois a tendência é, normalmente, degradar-se cada vez mais. Somente personalidades santas e divinas, por onde flui a misericórdia de Deus, tem o poder de livrar a alma condicionada dessa condição.

A liberação permanente e o ingresso definitivo no reino de Deus se dá quando a pessoa atinge a consciência de Deus e encerra-se o ciclo de ações e reações. Rendição a Deus é condição sine qua non.

12. Cosmogênese: Como sua Tradição explica a origem da vida e do Universo.

Aqui, também, está presente o caráter cíclico da natureza material. Esse mundo é criado, permanece por certo tempo e é aniquilado; depois de um certo período, é criado novamente, e assim por diante, em ciclos cósmicos que se repetem indefinidamente.

Tudo referente a Deus é eterno, conseqüentemente, Suas energias são, igualmente, eternas. Não existe, portanto, a idéia de criação ex nihilo, isto é, “do nada”, pois a natureza material, sendo eterna, não tem princípio nem fim. Ela é, não obstante, temporária— aparece e desaparece, alternadamente. Isto significa que a criação material tem dois estados: manifestado e não manifestado (imaterial). No estado não manifestado, toda essa vasta criação material perde sua característica de “massa” e reduz-se ao estado energético ou irradiação. Em suma, a matéria vem de Deus e, a seguir, volta para Deus, para, novamente, manifestar-se, manter-se por algum tempo, para, a seguir, ser aniquilada, num ciclo sem fim. Em linguagem dos textos sagrados, esta é a eterna “respiração de Deus.” Ao “exalar”, os universos materiais manifestam-se, e ao “inspirar”, a matéria volta ao estado imaterial não manifesto, e até o próximo ciclo de manifestação, permanece “em Deus.”

Outra informação obtida nos textos sagrados é que existem dois estágios na criação: criação primária e secundária. Na criação primária são produzidos os elementos materiais e na criação secundária as formas são produzidas. Por exemplo, para a criação de uma casa, precisamos de materiais— tijolo, cimento, areia, etc. Esta seria a criação primária. A partir daí, o engenheiro usa esse material para criar a forma da casa (criação secundária). 182

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

Na manifestação do mundo, a criação primária acontece a partir da substância material total, que encontra-se no estado energético ou não manifesto. Essa substância vai se desdobrando, no sentido do mais sutil para o físico, sendo, assim, gradualmente manifestados a multiplicidade dos elementos e fenômenos materiais. Nesse desdobramento, o fator tempo manifesta-se, a seguir, os gunas (qualidades da matéria, a saber, impulso criativo, destrutivo e equilíbrio), as energias sutis da matéria (mente, intelecto, etc.), a capacidade da alma interagir no meio ambiente material (sentidos) e os cinco elementos físicos: éter, ar, fogo, água e terra (elementos sólidos), tudo o mais. Essa é, então, a criação primária, que ocorre sistemática e automaticamente pela vontade divina.

O seguinte passo, é a criação secundária das formas deste mundo— desde os seres vivos unicelulares, reino vegetal, reino animal, seres humanos e culminando nas hierarquias celestiais. Essas são as entidades com vida. Paralelamente, existem as formas insensíveis, desde o grão de areia às galáxias. O responsável por essa fase da criação é a entidade semi-divina Brahma, que junto com Vishnu e Shiva, formam a trindade responsável pela criação, manutenção e aniquilação da manifestação cósmica.

13. Que ações de solidariedade e de construção da paz sua Tradição Religiosa tem promovido em nossa comunidade e no mundo?

O “movimento Hare Krishna” está sempre presente, tanto aqui no Brasil quanto em qualquer parte do mundo, em qualquer iniciativa para promover a paz nesse mundo. Não existe nenhum fator que faça restringir o diálogo inter-religioso e a participação lado a lado com outros grupos que comungam os mesmos ideais.

Um programa, no entanto, vem sendo desenvolvido pelo movimento com incrível sucesso. Trata-se do “Food for Life” (Alimentos para vida). Este programa mundial está provendo alimentação para milhões de pessoas. Tem estado presente nas grande catástrofes, como as enchentes da Bengala e , terremoto no Gujarat, e outros acontecimentos sinistros pelo mundo. Outra grande atuação do “Food for Life” tem sido em diversos conflitos ocorridos recentemente. Durante a 183

Anexo D – Tradição Vaishnava: As raízes do Movimento Hare Krishna

guerra na Iugoslávia, em Sarajevo, Kosovo, etc., assim como em várias repúblicas que antes eram partes da União Soviética, como Chechenia, Geórgia, etc., os devotos locais arriscaram suas vidas, em plena área dos bombardeios, para levar alimentos para uma população totalmente desamparada e dependente, exclusivamente, desse alimento. Foi registrado que as milícias de ambos os lados respeitavam sobremaneira esse serviço humanitário e poupavam as instalações dos devotos de bombardeios ocasionais.

Srila Prabhupada, o querido fundador do movimento, expressou um desejo que, hoje em dia, os devotos tentam por em prática. Ele disse que num diâmetro de pelo menos dez milhas em volta de um templo de Krishna não deveria ter a possibilidade de fome. Srila Prabhupada também escreveu um livro que vem sendo amplamente distribuído, intitulado “A Fórmula da Paz.”

Disponível em: http://www.pswami.com.br/vaishnava/raizes.html

Acessado em: 02/06/2015

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Transcrição de Palestra de Dhanvantari Swami

Proferida em: 18/12/2015, Campina Grande/PB

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por Dhanvantari Swami Maharaj Palestra proferida em 18/12/2015 no Templo da ISKCON Paraíba, situado em Campina Grande, na ocasião de iniciações espirituais. Transcrição por Gadadhara Pandita Das

Hare Krishna!

Então, nós vamos fazer hoje uma cerimônia de iniciação múltipla: primeira iniciação e também segunda iniciação. Além disso, nós vamos fazer uma pré- iniciação. É que o nosso Movimento tem crescido e se expandido de uma forma congregacional. Há alguns anos atrás, a forma mais comum do nosso Movimento era comunitária, então nós tínhamos muitas comunidades urbanas, que eram representadas por um templo ou algum conjunto de residências em torno do templo, ou comunidades Rurais, que eram, e ainda são, comunidades onde cuidamos da terra protegemos as vacas e reunimos as famílias para viver nessa comunidade.

Hoje o Movimento tem uma característica mais expansiva, mais congregacional, e interage com a sociedade de uma maneira mais profunda, inserindo-se mesmo dentro do contexto da sociedade. Hoje nós podemos encontrar devotos e devotas, e famílias, crianças, jovens, estudantes, adultos já, jovens adultos, estudando, trabalhando e vivendo, inseridos perfeitamente no ambiente social comum, usando roupas comuns e se comportando externamente como qualquer outra pessoa. Não dá para se distinguir, assim, por aspectos externos, hoje em dia, quem é um devoto Hare Krishna e quem não é um devoto Hare Krishna. Então por causa disso o Movimento tem essa característica mais congregacional.

Este templo, por exemplo, é chamado de templo congregacional, o que indica que é um templo que atende a uma congregação, que é organizado para uma congregação. Não tem ashramas. Se vocês procurarem ver, o templo não tem nem paredes nem portas, muito menos ashramas, que são aposentos residenciais. O

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templo tem os aposentos das Deidades, tem a -asana de Prabhupada, a sala do templo, onde se lê o Bhagavatam e onde se faz kirtan, e só. E este templo é então mantido, sustentado e ativado pelos membros da congregação.

Então por isso o Movimento teve que desenvolver uma habilidade nova, que não era tão comum na atividade anterior comunitária, que é olhar para o outro. Interessante, né? Porque quando trabalhávamos, vivíamos juntos em comunidade, todos éramos um só, praticamente, e todos pensávamos e agíamos como numa estrutura muito simples. Tínhamos um único objetivo, que era a distribuição dos livros de Prabhupada e cuidar da vida espiritual pessoal e pronto, não tínhamos outras responsabilidades ou obrigações perante a sociedade. Apenas íamos até a sociedade, dávamos a nossa mensagem e retornávamos para a nossa comunidade. Inclusive, esse programa era chamado de sanduíche: de manhã todo mundo acordava, ia para os programas espirituais, depois, durante o dia, saía às ruas para distribuir os livros, e à noite retornava para onde? Para os programas espirituais. Então os devotos vinham para o Sundara-Arati, eles liam o Bhagavad-gita, e depois iam dormir. E no dia seguinte, de novo o sanduíche.

Então, com o crescimento do Movimento, que começou, a primeira iniciativa de expansão foi, com as comunidades rurais, onde as famílias se estabeleceram, onde tivemos escolas, e temos a atenção mais voltada para a nossa organização social mais original, o sistema Varnashram. E das comunidades rurais fizemos o retorno à vida urbana, e então nos inserimos na sociedade, que é o estágio no qual nos encontramos hoje. No estágio em que nos encontramos hoje, ainda encontramos, digamos assim, muitas falhas organizacionais sob um ponto de vista social, e temos a esperança de que, com o passar do tempo, a gente se reorganize e se acomode, principalmente fazendo valer o sistema Varnashram como ele é.

O sistema Varnashram é o sistema de organização recomendado pela literatura védica, que diz que a sociedade deve ser organizada de acordo com dois grupos de quatro divisões: quatro divisões são para o trabalho, ou seja, vocacionais, e quatro divisões são para a vida espiritual. Também se analisa isso como uma organização psicofísica. A física seria a organização vocacional, e a psíquica, a

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organização para o desenvolvimento espiritual. Nós não temos esse sistema completamente instalado no nosso Movimento; temos rudimentos desse sistema organizacional, mas não temos o sistema instalado completamente. Então a nossa meta, ou o que imaginamos, é que, com o decorrer das próximas décadas, das próximas gerações, nós possamos nos organizar assim. Claro que nós temos brahmacaris, nós temos grhastas, temos vanaprasthas - no Brasil, temos apenas um formalmente iniciado -, e temos sannyasis, que aqui no Brasil temos quatro iniciados. Então somos uma sociedade que está tentando se organizar de acordo com os ashrams.

E com os varnas, da mesma forma. Os varnas são: brahmanas, ksatryias, vaisyas e sudras. Brahmanas são os sacerdotes, os intelectuais, os professores. Ksatryias são os administradores, que cuidam dos diferentes níveis de organização. Vaisyas são os mantenedores da sociedade, que produzem na agricultura, que cuidam das vacas e que cuidam do comércio também, que mexem com o eixo da economia social. Esses são os vaisyas. E os sudras, que são a classe que coopera, a classe de operários, que trabalham com as diferentes outras classes. Não há uma superioridade como no capitalismo, uma superioridade em termos de capacidade de consumo, entre os brahmanas, ksatriyas, vaisyas e sudras. Nós vemos que os sudras, as pessoas que cooperam com o sistema social, podem ser muito ricas, até muito mais do que os brahmanas. Na verdade, os brahmanas são considerados mais elevados porque são a classe sacerdotal, a classe religiosa e tal, mas em geral eles são os menos abastados economicamente. Mas eles são considerados superiores por causa do conhecimento e da renúncia, do conhecimento que têm e da capacidade de renunciar aos privilégios do gozo dos sentidos. Os ksatrias, como organizadores, estão em segundo lugar, os administradores. Os vaisyas estariam um terceiro lugar e os sudras, em quarto lugar.

Naturalmente que esse sistema original foi deturpado na Índia, se tornou o sistema de castas, muito massacrado pelos britânicos quando dominaram a Índia, e realmente, com várias razões, porque, com o desvio do conceito original de organização social, os britânicos acusavam o sistema de ser opressor para as classes inferiores, de ser discriminativo, dentre muitas outras coisas. Abusador, até.

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Mas o sistema original, que não tem essas características deturpadas, é um sistema natural. Imaginem que as quatro divisões, ou as quatro propostas vocacionais, se referem: aos intelectuais, aqueles que têm as habilidades intelectuais, como professores, sacerdotes, etc.; a outra seria de administradores, organizadores, líderes de um modo geral, os líderes da sociedade; a outra seria de vaisyas, produtores ou comerciantes; e a outra seria de operários colaboradores. Então observem que essas quatro divisões são encontradas praticamente em todos os grupos sociais, em todas as sociedades, ainda hoje em dia. Então não é um sistema artificial de ser implantado, é, de certa forma, natural.

Porque o nosso Movimento está tendendo para a congregação, precisa desenvolver certas habilidades. A principal habilidade que precisamos desenvolver, que não está plenamente desenvolvido ainda, e que nós estamos muito atenciosos para com isso, é o cuidado às pessoas. O cuidado às pessoas em geral, que nós chamávamos, ou ainda chamamos, de pregação - que é identificar as almas espirituais que estão corporificadas, condicionadas ao mundo material e que não têm o conhecimento espiritual, e precisam ser cuidadas, precisam receber o devido cuidado, - então nós procuramos essas pessoas, nós apresentamos o nosso Movimento através dos livros de Prabhupada, através dos programas que fazemos no templo, ou através de festivais, de nossa música, nossa arte, nossa comida, nós fazemos a apresentação do Movimento para essas pessoas com o objetivo de atrair essas pessoas, atrair a atenção dessas pessoas para algo superior, que tem a ver com sua própria identidade, com sua própria natureza interna. Então essa, o que a gente chamou de, pregação seria cuidado às pessoas em geral. E a outra linha de cuidado é cuidado aos próprios devotos, a essas pessoas que se atraem, nos visitam, aceitam compromissos, e então se tornam devotos, e agora precisam ser cuidadas, também. Então é a outra linha de cuidado, que é diretamente cuidado aos devotos. E aí, através de cuidar das pessoas, o Movimento apresenta a sua mensagem, e as pessoas se identificam, e então participam de acordo com a sua capacidade.

Olhando para a congregação, e contemplando a congregação, nós vemos características muito interessantes. Ao deixar o sistema comunitário como o sistema

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predominante, e passar para o sistema congregacional como o mais praticado, o Movimento se deparou com uma situação bem interessante, que é a falta de dedicação exclusiva. Porque aqueles que vivem nas comunidades, eles dão dedicação exclusiva, não fazem absolutamente mais nada, a não ser se dedicar ao Movimento. Agora, aqueles que são membros da congregação, que estão inseridos na sociedade, ah!, esses têm uma agenda completamente lotada, uma lista de atividades pra fazer, compromissos, responsabilidades, têm que bater ponto, têm que pagar um monte de impostos, têm que fazer um monte de coisas dentro da sociedade, não é? Então eles não dão dedicação exclusiva, ou seja, o tempo que eles dispõem para viver a vida tem que ser dividido com as suas necessidades particulares, como um cidadão inserido no contexto da sociedade, e as atividades missionárias, que são a inclinação vocacional espiritual de cada um deles. Então, de repente o Movimento abriu para a congregação e se deparou com essa realidade: os nossos devotos não têm tempo. Não têm tempo. Então eles não têm tempo pra muitas coisas; por isso, nessa cerimônia, nós temos quatro devotos que já encontraram tempo, e temos duas devotas, que ainda não encontraram o devido tempo (risos), por isso nós vamos fazer a cerimônia em duas partes: a parte já formal, que é chamada de iniciação espiritual, e a parte de pré-iniciação.

Na iniciação nós recebemos o nome; recebemos a mala, japa-mala [i.e. contas de oração], para cantar os mantras; fazemos votos, dizemos os votos aos quais nós prometemos; aí recebemos o nome espiritual...; fazemos a cerimônia de Fogo, oferecemos no fogo os grãos e cereais em sacrifício, e... estamos prontos na primeira iniciação para seguir o nosso caminho, agora com compromisso; responsabilidade e compromisso.

Na pré-iniciação, as candidatas aqui, muito conhecidas porque têm anos e anos e anos servindo ao Movimento, vão receber o nome espiritual, mas elas não vão fazer ainda os votos, não vão oferecer os grãos, não vão também participar da cerimônia, naturalmente, como normalmente participariam; isso elas vão fazer em outra etapa, mais adiante. No projeto de desenvolvimento congregacional Bhakti- vriksha há várias etapas em que uma pessoa pode abordar o Movimento, em diferentes fases. Uma delas é Sradhavan, ou seja, quando a pessoa começa a

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cantar um número reduzido de voltas. Elas já passaram por todas essas fases. Só para falar destas duas devotas, elas são de Salvador, e a comunidade de Salvador está bem representada aqui hoje, porque o Munisvara está aqui com a família, mãe Ananta-virya e Harini, e a sobrinha também, Mariana, e o Sri Vaishnava, que vai ser iniciado. Então a comunidade de Salvador tem anos e anos e anos dependendo de uma maneira muito direta do serviço dessas duas devotas. Áurea, que entrou muito novinha ainda, adolescente ainda, fazendo vestibular, e desde então se dedicou com muita entrega a tudo dentro do Movimento, e começou a ajudar no Ratha-yatra, e Madalena também, com o Ratha-yatra, fazendo e realizando o Ratha-yatra anualmente, construindo o carro do Ratha-yatra, organizando toda a festa, decidindo que tipo de prasada seria distribuída, como acondicionar a prasada - me lembro da primeira vez em que Madalena inventou de colocar a prasada dentro de umas caixinhas, para distribuir no ponto mais importante da cidade de Salvador, onde o Ratha-yatra acontecia - com toda a inteligência, e fazendo contatos com grupos de músicas populares da Bahia, para poder tornar o festival interessante. Áurea, do mesmo jeito, organizando tudo, recebendo todos os convidados ilustres, que vinham de todas as partes, encontrando hospedagem para eles, alimentação, e tudo o mais. Então estas duas devotas têm uma participação extremamente importante na comunidade de Salvador.

Além disso, Áurea ‘tomou’ várias responsabilidades nacionais, foi secretária do Colegiado Governamental da ISKCON, nossa Sociedade, no Brasil todo, e várias incumbências, assim. Agora mora em Recife, de novo está ajudando, na legalização da Sociedade, que ‘tava com algumas pendências, lutando pra isso, fazendo parte dos conselhos de lá, da ISKCON de Recife, agora...

Então, são devotas muito ativas, elas só não são iniciadas. A gente nem lembra que elas não são iniciadas. Madalena, em particular, desenvolveu um projeto de conquistar um terreno e então construir um templo; levar a Deidade para esse templo, a Deidade de Salvador; sair de uma casa alugada há mais de 30 anos, com um aluguel complexo; e ela conseguiu conquistar o terreno, conseguiu convencer vários devotos a comprar terrenos vizinhos, fez um condomínio - na verdade, uma vila, porque não tem uma organização de condomínio -, fez uma vila com o templo

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centralizado, construiu o templo. As Deidades ficaram um ano fora de Salvador. Um ano depois ela lutou arduamente para trazer as Deidades de volta, conseguiu trazer as Deidades de volta para Salvador, lutou para conseguir pujari, para poder dar alguma ajuda de custo pros pujaris. Foi uma luta, e ainda está sendo. Na semana passada ela estava colocando o forro no templo, na parte de baixo, que é a parte mais social do templo. É um trabalho de sannyasi. [i.e. ordem renunciada]

Na verdade, o que Madalena, e mesmo Áurea, o que elas duas têm feito para o Movimento é trabalho de pessoas que fazem dedicação exclusiva, como os sannyasis, que estão sempre dispostos a renunciar aos seus interesses pessoais em benefício da missão de Prabhupada. O que elas fazem é nesse nível. Eu posso dizer porque estou na ordem de sannyasi há mais de 30 anos, e sei como funcionam os sannyasis, e sei como elas funcionaram até agora. Então posso dizer que elas têm o mesmo espírito. E o que Prabhupada dizia? Prabhupada chamava de “grhasta- sannyasi”, ele usava essa expressão; usava a expressão também “brahmacari- sannyasi”, e “grhasta-sannyasi”... e também usava grhasta-brahmacari. Prabhupada reconhecia a virtude humana acima das denominações sociais. Ele via o indivíduo, e esse é o exercício que nós estamos tentando fazer hoje.

Nessa tentativa de ver o indivíduo, de compreender as limitações do indivíduo, eu convidei as duas para virem receber essa pré-iniciação, com o nome espiritual, e depois fazerem as outras etapas da iniciação, como um reconhecimento. É muito emocionante ver devotas tão estáveis, devotas tão dedicadas, capazes de renunciar a seus interesses pessoais e encontrar tempo na agenda para poder servir. É muito difícil, e elas conseguem encontrar tempo na agenda para servir e ser úteis no desenvolvimento da missão de Prabhupada. Isso seria a pré-iniciação – eu tenho que explicar isso muito rápido, pois temos devotos muito experientes aqui, e talvez nem todos tenham visto ainda uma pré-iniciação. Essa é uma pré-iniciação, já há muito tempo feita por Jayapataka Maharaj, e outros devotos trabalhando no sistema Bhakti-Vrikshna, e tem sido muito recomendado voltar os olhos para os devotos. Então eu quis fazer isso como uma homenagem minha, de ordem pessoal, e também o reconhecimento da nossa ISKCON para o trabalho que vocês fazem,

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vêm fazendo, e que certamente continuarão a fazer, porque dá pra ver que já faz parte da vida de vocês viverem essa experiência missionária.

A parte formal, tradicional, mais conhecida, nós temos também primeiras iniciações e segundas iniciações. Também há uma situação especial: por exemplo, o Gokula-rañjana, o Bhakta Paulo de Fortaleza, tão querido, ele já recebeu o mantra Gayatri e já recebeu o cordão de “segundo nascimento”, e já foi treinado até para o serviço de pujari, já começou a fazer o serviço de pujari. Mas agora ele está na cerimônia para formalizar, completar também a etapa, como se tivesse sido pré- iniciado e agora vem completar a iniciação; a segunda iniciação do Gokula-rañjana se completa agora. Já o Sañjaya vai receber a segunda iniciação, e também vai vir passar uma temporada aqui. Ele é professor em Natal, um devoto muito querido, respeitado, fez o curso Bhakti Shastri com a gente, e ele vai vir passar uma temporada aqui, também ajudando no serviço de pujari.

Rômulo, que é de Juiz de Fora, Minas Gerais, está aqui também, e ele está bem dentro do padrão comum de uma iniciação; ele vai receber a primeira iniciação, onde vai receber o nome espiritual, vai receber a japa, vai fazer os votos, e também vai participar da cerimônia; então sai completo daqui hoje, ele recebe o pacote completo.

O Sri Vaishnava, que é o filho de Munisvara e da Mãe Ananta Virya, é um devoto de terceira geração. Terceira geração significa que ele é neto de devotos. A avó dele, a Mãe Nathaji, é uma das primeiras devotas da segunda etapa do Movimento no Brasil. O Movimento tem duas etapas, a primeira com Prabhupada e a segunda imediatamente após Prabhupada. A avó dele é uma das primeiras discípulas de Acaryadeva, Hridayananda Maharaj, e o pai dele, Munisvara, entrou com cinco, seis anos de idade, eu me lembro muito bem dele entrando no Movimento, eu já fazia parte então eu me lembro muito bem. Então, o Sri Vaishnava é um devoto de terceira geração.

Para mim é uma experiência nova iniciar alguém de terceira geração. Nunca iniciei. O primeiro devoto de terceira geração que eu inicio... é o Sri Vaishnava. Eu

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tenho um prazer muito grande; eu vi a avó dele entrar, depois vi o pai crescer, foi aluno do nosso Gurukula... Aproveito este momento tão formal que estamos aqui: o Munisvara foi uma das primeiras crianças do Movimento Hare Krishna no Brasil, então um movimento muito inexperiente naquela época, e o Movimento, como eu falei, muito comunitário, não tinha experiência nem conhecimento a respeito de educação de crianças. Ele foi um dos primeiros alunos da escola Gurukula, e em diferentes etapas da escola, chegando até a minha época como diretor, e como ele foi dos primeiros, acho que nós do Movimento, autoridades, líderes do Movimento, devemos algumas desculpas: pelas improvisações, erros cometidos no trato, na educação dele, e dos irmãos também. O irmão mais velho... Gopesvara, - tinha outro nome, antes, mudou: era Gopal, e agora ele é Gopesvari, foi iniciado, também tinha uma pré-iniciação, - e o Mukunda, que é o mais novo, inclusive Sathyabhama, a irmã, também. Todos eles estudaram no Gurukula, e acho que nós devemos desculpas formais a todos eles. Eu aproveito este momento, vendo que ele, apesar de todas as dificuldades que enfrentou, sendo dos primeiros filhos de devotos no Movimento, primeiro aluno de Gurukula, ainda assim conduz a vida familiar, a educação dos filhos, ao ponto de ter um filho aqui, com 19 anos, sendo iniciado – e mais, porque ele é assim com tantas virtudes, um queridão – não posso dizer que uma pessoa de 2 metros seja o queridinho, então ele é o queridão do Instituto Jaladuta – ele vai receber as duas iniciações hoje.

Podem ver que essa cerimônia aqui é bem interessante. Tem um padrão, que é o Rômulo, tem o Sañjaya também recebendo a segunda iniciação. Depois tem o Gokula-rañjana recebendo a segunda parte da segunda iniciação. Tem o Sri Vaishnava recebendo as duas iniciações. E tem Madalena e Áurea recebendo uma pré-iniciação. Então é uma cerimônia bem interessante, ótima para final de ano, quando estamos encerrando nossas atividades; refletindo sobre nossa vida neste ano, o que fizemos; e fazendo planos para o futuro que começa já... o ano seguinte, que começa agora em janeiro de 2016, então é um momento muito adequado para a gente concluir uma etapa, entrar em outra etapa, sem pular etapas, e fazer a coisa de uma maneira muito natural, e rendida, obediente, a Prabhupada.

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Eu me sinto muito entusiasmado de ver o entusiasmo de todas essas pessoas. Madalena é fonte de inspiração, mesmo. Ela tem encontrado, como todos nós encontramos, grandes dificuldades no Movimento pra poder fazer o serviço que ela faz. Não é que é fácil, e não é que porque ela tem toda essa energia, e é tão forte, e ela tem conseguido unicamente por sua própria força, e que tudo mais é maravilhoso, não é assim. Lutar contra a energia ilusória, a energia material, é muito difícil, e nenhum de nós consegue sozinho. Precisa da graça divina. Então, elas duas, abrigadas em Jagannatha, - que Áurea sempre quis tanto ‘tomar’ intimidade, criar uma devoção tão bacana... Ainda assim, sem a misericórdia das Deidades, sem a misericórdia de Krishna, nada seria possível.

Eu queria também ressaltar algo interessante. As Deidades de Salvador, as Deidades de Gaura Nitai, foram instaladas no ano de 1981 - por mim, eu era presidente –, como aqui é Maha Gaura Nitai, lá é Shota Gaura Nitai: é o Gaura Nitai menor que tem. Então, instalamos o menor Gaura Nitai, que Munisvara e Mãe Ananta Virya cuidam, e aqui nós estamos fazendo a iniciação no templo congregacional de Maha Gaura Nitai, e o Sri Vaishnava vai poder adorar Maha Gaura Nitai. Os pais adoram Shota Gaura Nitai, e ele adora Maha Gaura Nitai.

Vou tomar ele emprestado por alguns dias porque, embora nosso templo seja congregacional, o atendimento às Deidades é um atendimento padrão. Bastante reduzido, mas é um atendimento padrão. E, por que é um templo congregacional, temos um número de devotos muito reduzido em relação aos serviços que precisamos realizar. Quando chega esta época do ano, muitos devotos, porque são membros congregacionais, inseridos na sociedade, vão cumprir com suas obrigações e responsabilidades de vários níveis, responsabilidades profissionais, responsabilidades familiares, responsabilidades de lazer, tudo o que está previsto para uma sociedade complexa, que não é mais uma sociedade comunitária, mas uma sociedade complexa como é hoje em dia. Então ficamos numa situação sempre de preocupação. Como vamos poder atender às Deidades? A gente precisa desenvolver essa sensibilidade para com o atendimento às Deidades. Todos nós, devotos bhaktas, devotos iniciados, devotos brahmanas, sannyasis, devotos de todo o tipo, precisamos desenvolver essa sensibilidade especial, e fazer um olhar para as

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Deidades, que são Deidades de Prabhupada. Maha Gaura Nitai são Deidades instaladas na ISKCON de Prabhupada, portanto são Deidades de Prabhupada. Shota Gaura Nitai também são Deidades de Prabhupada; como Jagannatha, Baladeva e Subhadra também são Deidades de Prabhupada.

As Deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra... eu fiz a instalação, embora eu já não morasse mais em Salvador, - eu já estava morando em São Paulo, Nova Gokula, - mas eu fiz a instalação das Deidades, junto com Isvara e outros devotos mais antigos. Fizemos a instalação das Deidades, então eu tenho uma relação, de qualquer forma, com aquelas Deidades, com o templo... Conheço bem. E por isso posso me sentir na autoridade de tomar uma iniciativa como esta; por conhecer a origem... das pessoas que se aproximaram, familiares, e a vida pessoal, até, delas duas e de todos os outros, como eu estou falando aqui. Então eu me sinto muito entusiasmado de ver que os anos vão passando e novas pessoas vão assumindo responsabilidades. Eu oro a Krishna para que nós, líderes, sejamos sensíveis o suficiente para poder cuidar e proteger vocês todos como vocês merecem, e que vocês também sejam sensíveis o suficiente para receberem a proteção que precisam. Vocês devem identificar o que vocês realmente precisam, e buscar por proteção; porque ninguém pode ser protegido se não quiser ser protegido. É uma questão realmente voluntária, depende do desejo pessoal de cada um, de ser devidamente protegido em sua identidade original espiritual.

Nós não podemos jamais intervir na liberdade particular e individual de vocês, porque o nosso processo é para a vida, com o objetivo de desenvolver Krishna Prema Bhakti, amor puro por Krishna. E como alguém poderia amar se não for livre para amar? Se uma pessoa não é livre, ela não pode amar com plenitude. Prema Bhakti pressupõe liberdade do indivíduo, para que ele se entregue, se renda, completamente, e possa amar livremente Deus, a Pessoa Suprema. O processo de orientação que o mestre espiritual dá é o processo de que você deve conhecer-se a si mesmo; você deve superar suas limitações; nunca deve estar satisfeito com os seus condicionamentos materiais; deve aspirar desenredar-se da ilusão material; deve conquistar, dia após dia, o caminho de auto-realização espiritual; e deve ter a meta suprema de desenvolver amor pleno por Krishna. Aqui é apenas o início, é

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uma iniciação, é o início de um trabalho que deve se desenvolver gradualmente, para sempre! Mesmo aqueles que já estão maduros em Consciência de Krishna, que já alcançaram todos os níveis formais de iniciação, ainda assim devem se preocupar com a sua própria superação, com seu próprio aperfeiçoamento.

Vocês devem agora ser estimulados a pensar no próprio aperfeiçoamento, a livrarem-se dos apegos ao fruto da ação, ao fruto do trabalho de vocês. Vocês devem desenvolver, trabalhar, mas com devoção a Krishna, sabendo o que Krishna sugeriu no Bhagavad-gita, que tudo que fizermos devemos fazer para Ele, para a satisfação d’Ele. Vocês devem ter isso em mente e trabalhar desta maneira para satisfazer Krishna. Esta é a base filosófica de Karma, que é a base da ação na qual todos nós devemos agir, que é oferecer tudo para Krishna e não estar apegado ao fruto de seu trabalho, fazer tudo para o prazer de Krishna; ainda assim seremos muito felizes, não precisamos lutar separadamente pela felicidade. Este é o trabalho do Movimento, para que nós possamos aprender a lidar com essa realidade, que é a vida espiritual.

Eu estou feliz por estar aqui, estamos com a comunidade presente; é muito bom ver tudo isso. Esta cerimônia de iniciação assim complexa abrange as duas iniciações, a primeira e a segunda. Na primeira iniciação os devotos devem estar conscientes dos princípios éticos que regem a vida de um cidadão vaishnava. Os princípios éticos são: não-violência, ahimsa mesmo, misericórdia, (é) o primeiro princípio; o segundo princípio é o princípio de austeridade, a pessoa deve ter controle sobre suas próprias atividades e deve aceitar a realidade como ela é, não buscar subterfúgios – deve, pelo contrário, estar sempre rendido –, então austeridade é o segundo princípio ético; o terceiro princípio ético é honestidade, veracidade, a pessoa deve ser veraz, honesta, genuína, não deve usar de recursos da desonestidade, da falta de verdade; e o quarto princípio é de pureza, a pessoa deve cultivar a pureza. Esses são os quatro princípios éticos que regem a vida de todos os vaishnavas, em todos os ashramas e em todos os varnas, e em todas as circunstâncias: eles devem usar de misericórdia, austeridade, honestidade e também de pureza.

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Esses princípios éticos se transformam em princípios comportamentais, princípios reguladores da vida da gente, e aí, para satisfazer o princípio ético de não- violência, nós evitamos comer carne, peixe e ovos. Para adotar e praticar o princípio de austeridade nós evitamos o consumo de drogas; drogas legítimas, não-legítimas, legais, não-legais, qualquer tipo de droga, qualquer substância que modifique o nosso estado normal de consciência. Para desenvolver o princípio de honestidade a pessoa é recomendada a evitar jogos de azar, não se deter em jogos de azar, mesmo a Mega Sena – mesmo quando ‘tá acumulada (risos). E para desenvolver o princípio de pureza a pessoa deve evitar a vida sexual ilícita, ou seja, fora do casamento e sem responsabilidades. Esses são os princípios éticos de um vaishnava, que norteiam a vida de um vaishnava, e que fazem o vaishnava enriquecer a sua experiência humana. ‘Tá bom? Essa é a explicação mínima a respeito do tema...

O mantra Gayatri, que os brahmanas recebem, é um mantra composto por sete linhas. Ele é considerado confidencial, porque é dado do mestre espiritual para o discípulo. Então o discípulo recebe este mantra Gayatri, que é disposto em sete linhas. Essas sete linhas nos conduzem a uma meditação em nível cada vez mais profundo, que vai da concepção impessoal de Deus à concepção de Deus presente em tudo, e à sua forma pessoal além da sua forma impessoal como a origem de tudo, até o contato com o mestre espiritual, a qualificação do mestre espiritual, o reconhecimento do patrono do Movimento, que é Caitanya Mahaprabhu, a qualidade específica de Caitanya como Visvambhara, como o patrono do Movimento que é também o controlador do mundo inteiro, é muito importante reconhecer que o mesmo controlador do mundo é o controlador do Movimento, então isso para o devoto é um alívio muito grande, porque é o mesmo administrador, o mesmo que administra o Movimento administra o mundo todo, por isso é chamado de Visvambhara. E evolui em pensamento... o mantra Gayatri evolui até o reconhecimento de Krishna como Govinda, Aquele que traz paz interior, que apascenta os nossos sentidos, que diminui as nossas ansiedades, as nossas angústias, os nossos desejos, - este é Govinda, o significado é esse, - então chegamos a esse ponto na meditação, e por fim chegamos ao ponto de meditar na

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

posição de Krishna como Aquele que pode atingir o âmago do nosso coração, e derreter a dureza do nosso coração... coração de ferro que temos. Mas Krishna tem uma flecha, - Ele é conhecido como , - ele tem um arco e uma flecha de flores. E ele simplesmente solta sua flecha, e ela atinge o nosso coração. E esta flecha é capaz de atingir a parte mais dura, de ferro mesmo, de nosso coração e derreter. O mantra Gayatri faz essa meditação, que vai da primeira até a sétima linha, essa é a meditação da sétima linha, de ver o nosso coração derretido. Vocês vão receber o mantra Gayatri e vão poder meditar assim, e também localizar quais as fontes de entusiasmo neste mundo para vocês nunca serem dependentes de estruturas materiais para ter entusiasmo espiritual.

Um brahmana vaishnava sabe que o entusiasmo vem de reconhecer Krishna como o Senhor de tudo, reconhecer a qualidade da Consciência de Krishna no seu mestre espiritual, reconhecer Caitanya Mahaprabhu como controlador do mundo, e reconhecer Krishna como Aquele que pode nos ajudar a despertar amor por Ele. Por isso nós nos enchemos de entusiasmo. Essa é a parte mais yóguica do mantra Gayatri, que nos dá o direito de exercer a posição de brahmana, ou seja, livre, independente, não depende de coisas materiais, para ser feliz; ele é feliz internamente, e mesmo que ele se compadeça da infelicidade em torno dele próprio, internamente ele é completamente feliz e auto-satisfeito. Então ele não se lamenta, ele não deseja, ele é bondoso, ele não tem inveja, ele não cultiva a inveja dos outros, ele não quer o mal para os outros – mesmo quando uma pessoa merece o mal ele tem a habilidade de dar o bem para esta pessoa, pelo menos em orações, pelo menos em vibrações espirituais, mentais –, um brahmana é essa pessoa bondosa, e isso é o que se espera daqueles que estão recebendo iniciação de brahmana.

(Final da palestra e início das iniciações)

Pronto? Então eu vou dar início a iniciação propriamente dita. Vou pedir aos devotos que vão ser iniciados que venham aqui. Primeiro em respeito à senioridade, pelo tempo de serviço, nós temos Áurea e Madalena, claro. Elas são mais velhas do que quase todos que estão aqui, juntos (risos). ... No movimento, né? Elas têm uma

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

carga de serviço, também, muito grande, por isso eu vou primeiro dar os nomes... Mas eu quero completar a instalação da cerimônia, não cantamos ainda o mantra de abordagem a Krishna. Eu vou fazer isso agora, antes de dar os nomes e continuar, ‘tá bom?

Por favor, vamos... (para os candidatos à iniciação) vocês já fizeram a purificação, então agora vamos cantar, (para a audiência) vocês todos podem repetir, por favor.

Om apavitrah pavitro vaa, sarvaavasthaam gato api vaa, yah smaret pundariikaaksham, sa bahya abhyantaram shucih, shri vishnu shri vishnu shri vishnu

(Segue o processo de purificação, enquanto o público canta o maha mantra Hare Krishna, e recitação do mantra de invocação, por mais duas vezes.)

Então... Quem chegou primeiro: Áurea ou Madalena? Quem chegou primeiro no Movimento? ... Áurea. Então, vou falar com a Áurea antes, ‘tá bem? Eu lembro que ela (Áurea) implicou muito com você (Madalena), não foi? Quando você começou a cuidar do Ratha Yatra... (risos)

(Madalena: “Não. A gente é assim até hoje!” Áurea: “Eu ficava pegando no pé dela... ‘pra ela se ‘endireitar’”. (risos) Madalena: “Na verdade eu entrei para ajudar ela porque eu ‘achava ela’ tão novinha, e tão esforçada, e sozinha... que eu: “não, eu quero ajudar essa menina!”, como é que pode?..” )

Dhanvantari: Ela chorava, também, não é? (risos)

(Áurea: “Ainda choro!”)

Dhanvantari: Pois bem. Então, eu acho que, Áurea, você pode receber um nome muito bonito, que identifica Srimati Radharani... e que é muito bonito. Fazendo já a propaganda do nome dela. (risos) Então você pode receber o nome de “Adisvari Dasi” (palmas)

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

“Adi” é original, e “isvari”, controladora. (risos) Adisvari é a controladora original. Imaginem: se antes já era, imaginem agora que ‘tá autorizada. (risos)

Então, Madalena, você... é forte, né? Madalena agora tem a ajuda de uma filha. A filha dela morava em Portugal, e veio morar nessa vila que eles criaram – chama “Floresta”, né? (Madalena: “’Floresta Encantada’. Em homenagem a sua irmã, Tatiana.”) – “Floresta Encantada”, é o nome de onde tem o templo de Jagannatha. Madalena é misteriosa, ela tem um poder tão grande que ela consegue doações, com a responsabilidade das pessoas menos esperadas: a gente ficou 40 anos tentando e nunca conseguimos nada! Ela foi lá e rapidinho conseguiu. Madalena é assim, essa pessoa... Então, Madalena, tem um nome muito bonito, também, e que mostra essa força toda, e também mostra flexibilidade. Apesar de ser super poderosa, (é) muito flexível; sensível, também, como você. E que não tem ninguém no Brasil com esse nome – como Adisvari também não tem ninguém que eu conheça, – Seu nome pode ser: “Mandaracala”. (palmas)

“Achala” é uma montanha, e “mandara” é montanha de mandara que foi usada sobre a encarnação de Krishna como tartaruga para bater o oceano de leite e produzir o néctar da imortalidade. É do Bhagavatam, um tema muito importante – você vai poder pesquisar na hora certa. Mandaracala Dasi. (palmas)

(É dado prosseguimento às iniciações)

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Anexo E – Movimentação Social da ISKCON Brasil

Dhanvantari Swami (Ivan Augusto Ribeiro Lisboa) é um discípulo de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada e um guru iniciador da ISKCON. Possui o título de Bhakti Sastri pelo ISKCON Board of Examinations (Índia) . Fundou o Seminário Hare Krishna de Filosofia e Teologia (www.seminario.iskcon.com.br) em 2.000, em Campina Grande (Paraíba, Brasil), o qual em 2013 passou a fazer parte do Instituto Jaladuta. Maharaj Dhanvantari atualmente é Coordenador e Professor do Instituto, onde fez sua residência. Foi professor de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Federal da Paraíba (UFPB ) e um dos pioneiros em educação na ISKCON Brasil. Ele é formado em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia e pós-graduado em Cirurgia Maxilo Facial pela Fundação Hospitalar do Distrito Federal. Dhanvantari Swami correspondia-se constantemente com Srila Prabhupada através de cartas, e foi por um pedido dele que os primeiros devotos vieram ao Brasil para abrirem templos. Sua primeira iniciação ocorreu no dia da aparecimento do Senhor Balarama, em 28 de agosto de 1977, dois meses antes de Srila Prabhupada deixar o planeta. Sua segunda iniciação ocorreu no dia do aparecimento do Senhor Nityananda, em 20 de fevereiro de 1978, no Templo de Salvador-BA, dada por Hridayananda Goswami, e foi iniciado na ordem de vida renunciada (sannyasa), em 1985.

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Anexo F – Reportagem sobre o XX Ratha Yatra – Edição 2016 em Salvador

Cidade Movimento Hare Krishna volta à capital baiana O evento acontece na capital baiana desde 1995 Por Raylanna Publicada em 25/04/2016 09:31:55 Foto: Romildo de Jesus

O desfile cultural e religioso realizado pelo movimento popularmente conhecido como Hare Krishna (Sociedade Internacional para Consciência de Krishna – Iskcon) voltou à Salvador.

Na tarde de ontem (24), o Ratha Yatra reuniu adeptos da linha monoteísta do hinduísmo – e simpatizantes da cultura – em um cortejo que foi do Largo das Baianas, em Amaralina, à Praça Wilson Lins, na Pituba.

O evento acontece na capital baiana desde 1995, e costuma acontecer 15 dias antes do Carnaval. “Inclusive no sentido de levar a

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Anexo F – Reportagem sobre o XX Ratha Yatra – Edição 2016 em Salvador

questão de paz, tranquilidade e harmonia para as pessoas que iriam desfilar. Não conseguimos realizar no Carnaval, mas este ano finalmente conseguimos”, informou uma das organizadoras do Ratha Yatra, Áurea Mandarachala.

Para o desfile deste ano, o carro que levou as deidades pelo cortejo foi produzido por Goswami e trazido de Campinas, São Paulo. Um grupo de estudantes também veio à capital apenas para participar do evento. “Elas [as deidades] representam o desejo de ter Deus em nossos corações. As pessoas puxam as cordas do carro simbolizando o querer trazer Deus. Isso que simboliza o desfile Ratha Yatra”, esclareceu Áurea.

Este ano o desfile foi em homenagem a Rogério Duarte, que faleceu recentemente após lutar contra um câncer ósseo e no fígado. O Ratha Yatra, em edições anteriores, chegou a reunir cerca de duas mil pessoas no Farol da Barra. Devido à mudança de espaço e o tempo sem realizar o evento na cidade, a organização estimou cerca de 300 pessoas. Devido a uma série de mudanças no movimento e das obras que acontecem na Barra – onde o evento costuma acontecer –, não foi possível realizar o desfile em 2015.

Disponível em: http://www.tribunadabahia.com.br/2016/04/25/movimento-hare-krishna-volta- capital-baiana

Acessado em: 25/04/2016

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ANEXOS

ÁUDIO VISUAIS 205

Anexo G – XIII Festival de Verão Ratha Yatra de Salvador, 2008 (24’42”)

Vídeo. Edição: Amilton Cameron.

Anexo H – XIV Festival de Verão Ratha Yatra de Salvador, 2009 (23’53”)

Vídeo. Edição: Prabhu Daigo Lisboa.

Anexo I – Ratha Yatra de Jagannatha Puri, Índia, 1928 (1’46”)

Imagens em P&B do RY em Puri no ano de 1928 (Inglês).

Anexo J – Ratha Yatra de Jagannatha Puri, Índia, DOC (9’49”)

Reportagem sobre o RY em Puri. (Inglês).

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vutEn_ym7Jc

Anexo K – I Ratha Yatra de São Francisco, 1967 (6’26”)

Vídeo do 1º RY no Ocidente, sobre a carroceria de um caminhão.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tRV6lOie5Nk

Anexo L – II Ratha Yatra de São Francisco, 1968 (14’38”)

Vídeo do 1º RY no Ocidente utilizando um Carro de RY.

Anexo M – DOC: construção do primeiro Carro de RY do Ocidente (10’08”)

Documentário sobre a construção do primeiro Carro de RY do Ocidente por Jayananda Prabhu (discípulo de Srila Prabhupada) para o II Ratha Yatra da ISKCON de São Francisco, em 1968.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-QzGFzcPtZk

Anexo N – Prévia do XVIII Ratha Yatra do Rio de Janeiro, 2008 (3’19”)

Narração: Ivan Salles (Produção)

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cNnvRSD3WZI

Anexo O – XVIII Ratha Yatra do Rio de Janeiro, 2008

Parte 1 (9’26”): https://www.youtube.com/watch?v=CH_snW3fqFo

Parte 2 (9’59”): https://www.youtube.com/watch?v=JvTmHdRqe_M

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GLOSSÁRIO

A Acarya - Aquele que ensina pelo exemplo.

Alupatra - Rocambole salgado de batata.

B Baladeva (Balabhadra ou Balarama)- Irmão de Krishna (Jagannatha) e Sua primeira expansão. Significa aquele que detém força espiritual.

Bhakta / Bhaktin - Praticante do sistema de Bhakti Yoga.

Bhakti - Devoção religiosa e prática de devoção com serviço

Bhakti Yoga - Sistema religioso devocional, onde todas as ações e pensamentos realizados são consagrados à Suprema Personalidade de Deus. Seus pilares são: 1 - Seguir os quatro princípios de misericórdia, limpeza, austeridade e veracidade, respectivamente não se alimentando de animais, sem práticas sexuais fora do casamento, abstendo-se de qualquer forma de intoxicação ou outros subterfúgios para a consciência, e sem praticar jogos de azar; e 2 - Utilizar a técnica de recitação do Maha Mantra Hare Krishna (ou Krsna) para higiene mental e espiritual.

Bhoga - Alimento não consagrado a Deus. Literalmente, significa “desfrute”. É usado pelo bhakta para designar tudo que seja feito para o desfrute em que não há avanço espiritual.

Bolinha Doce - Doce feito de leite em pó, açúcar (pode ser adicionado alguma fruta machucada ou seu sumo).

Brahmana - Que possui duas iniciações espirituais na Bhakti-yoga; homem inteligente que compreende o propósito espiritual da vida e pode instruir os outros; a primeira ordem social, ou , védica.

C Chhera Panhara - Cerimônia em que o rei varre com uma vassoura de cabo de ouro o local por onde irá passar o Carro do Ratha Yatra.

D Daitapati - Sacerdote (pujari) das deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

G Gaura (Gauranga) – Manifestação Dourada de Deus. (Caitanya Mahaprabhu)

Gopis - Filhas dos pastores de vacas da vila onde vive o Senhor Krishna, e Suas associadas íntimas.

Grhastha - aquele que está praticando vida espiritual enquanto vive com esposa e filhos; o segundo asrama, ou ordem espiritual.

H Hari Bol - "Cantem os nomes do Senhor Hari, Deus!" 207

J Jagannatha - Manifestação de Deus em uma forma negra, de madeira, com olhos que nunca se fecham, braços sempre estendidos receptivamente, e um sorriso eterno. Significa literalmente "Senhor do Universo"; uma Deidade especial do Senhor Krsna, originária de Orissa na costa leste da Índia, em Puri.

Jaya (ou jay) - Literalmente glória, vitória. Expressão de saudação ou exaltação.

K Kali-yuga - a era atual de confusão e desavenças, que começou há cinco mil anos.

Karatalas - címbalos de mão.

Karma - ação fruitiva, para a qual sempre há uma reação, boa ou má.

Kirtana - glorificação a Deus, especialmente pelo cantar de Seus santos nomes.

Krsna (ou Krishna) - Literalmente significa o todo atrativo, entre outros significados. Um dos muitos nomes atribuídos à Suprema Personalidade de Deus.

Krsna-bhakti - devoção à Suprema Personalidade de Deus.

Ksatriya - a ocupação administrativa e protetora de acordo com o sistema de ordens sociais e espirituais.

L “Língua de Jagannatha” - doce feito com farinha de trigo e calda doce.

M Maha Mantra “Hare Krsna” - O grande mantra: Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare.

Mahaprabhu - Grande Senhor.

Maharaj - Grande rei.

Mantra - Vibração sonora que liberta a mente.

Mrdanga - Tambor sagrado, feito de barro, usado em kirtana.

Mudra - Posição e gestos feitos com as mãos de conotação espiritual.

N Nitai (Nityananda) – Manifestação de Balarama como companheiro de Gauranga em Seus passatempos.

P Pahandi (ou Pahanti) - Cerimônia do caminhar da Deidade de Jagannatha do Templo para o Seu Carro de Ratha Yatra.

Prasada (ou Prasada) - O alimento espiritualizado após ser oferecido primeiramente ao Senhor Supremo, Deus.

Pujari - Sacerdote responsável em cuidar das Deidades no altar. No Brasil, também se usa para designar o quarto, local, onde são guardadas as parafernálias das Deidades. 208

Puri - A morada do Senhor Jagannatha, em Orissa (na costa leste da Índia); também, um pão de trigo, inflado e frito no ghi.

R Radha(rani) - A eterna consorte do Senhor Krsna e a manifestação de Sua potência interna de prazer. É a principal das Gopis.

S Samossa - Pastel tradicional indiano, frito ou assado, recheado com preparação de legumes condimentados.

Sankirtana - Canto congregacional dos santos nomes do Senhor, o processo recomendado de yoga para esta era. Também usado para se referir à distribuição de livros e conhecimento espiritual em Sociedade.

Sannyasi - Aquele que está na ordem de sannyasa (renúncia).

Sari - A indumentária padronizada das mulheres na sociedade indiana, uma peça única de roupa que é usado como saia e cobertura para o torso e cabeça.

Seva – Serviço.

Sikha - Tufo de cabelo que fica atrás, em cima, da cabeça raspada de um Vaisnava.

Sri - Pronome respeitoso, honorífico, de tratamento.

Srila Prabhupada - Fundador da ISKCON (Movimento Hare Krishna).

Srimate - Forma de tratamento: belo.

Srimati - Forma de tratamento: bela.

Subhadra - Manifestação Divina da Irmã mais nova de Deus, e a personificação de Sua potência espiritual, de cor amarela, também em madeira, com olhos sem pálpebras que nunca se fecham e largo sorriso, mas sem braços estendidos.

Sudarshana (ou Sudarshana Cakra) - Personificação da arma de Deus, ou Krishna, esculpida/desenhada em madeira.

Svami (ou Swami) - Monge que assumiu a forma renunciada de vida, sannyasa, que está sobre o controle dos sentidos, e desapegou internamente de posses e laços familiares.

T - barro sagrado que marca o corpo de um devoto como templo de Deus.

Y Yatra - local, viagem, passeio.

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