Ilha do Desterro: A Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies E-ISSN: 2175-8026 [email protected] Universidade Federal de Santa Catarina Brasil

Baptista Sandanello, Franco; de Oliveira Temporal, Vanessa A AUTORREPRESSÃO DO DESEJO EM MARTA, DE MEDEIROS E ALBUQUERQUE: UMA ANÁLISE DELEUZIANA-GUATTARIANA DO INCESTO Ilha do Desterro: A Journal of English Language, Literatures in English and Cultural Studies, vol. 68, núm. 3, septiembre-diciembre, 2015, pp. 61-73 Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, Brasil

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A AUTORREPRESSÃO DO DESEJO EM MARTA, DE MEDEIROS E ALBUQUERQUE: UMA ANÁLISE DELEUZIANA-GUATTARIANA DO INCESTO

Franco Baptista Sandanello* Université Sorbonne Nouvelle - Paris III Paris, FR.

Vanessa de Oliveira Temporal** Universidade Federal de São Carlos São Carlos, SP, BR.

Resumo A partir de rel exões presentes na obra O Anti-Édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari (2011), referentes à pere- nidade do complexo de Édipo na sociedade capitalista contemporânea e, especialmente, na literatura, enquanto signo da falta e da pulsão incestuosa, discute-se no presente artigo a autorrepressão do desejo no romance Marta (2013), de Medeiros e Albuquerque, exemplo privilegiado e único de um romance brasileiro inteiramente cons- truído acerca da questão do incesto. Neste sentido, aponta-se para a íntima conexão existente entre a literatura e o pensamento deleuziano-guattariano, e para a rel exão simultânea que pode haver entre ambos. Palavras-chave: Incesto; Deleuze e Guattari; literatura brasileira; Medeiros e Albuquerque.

THE SELF-REPRESSION OF DESIRE IN MARTA, BY MEDEIROS E ALBUQUERQUE: A DELEUZIAN-GUATTARIAN ANALYSIS OF INCEST Abstract From a number of rel ections present in O Anti-Édipo, by Gilles Deleuze and Félix Guattari (2011), regarding the perpetuity of the Oedipus complex in capitalist contemporary society, and, specially, in literature, as the sign of absence and incestuous drive, the present article discusses the self-repression of desire in the novel Marta (2013), by Medeiros e Albuquerque, a unique and privileged example of a Brazilian novel entirely crat ed around the theme of incest. In this regard, this article points out the intimate connection between literature and deleuzian- guattarian thought, and the simultaneous rel ection that can exist between them. Keywords: Incest; Deleuze and Guattari; Brazilian literature; Medeiros e Albuquerque.

* Franco Baptista Sandanello está atualmente pesquisando a obra de Domício da Gama em um estágio pós-doutoral na Université Sorbonne Nouvelle - Paris III, enquanto requisito parcial para suas pesquisas na Universidade Estadual Paulista. Os tópicos com que trabalha versam sobre o oitocentismo brasileiro e as primeiras décadas do século XX. E-mail: b [email protected].

**Vanessa de Oliveira Temporal realiza atualmente seu doutorado em Filosoi a na Universidade Federal de São Carlos em regime de cotutela com a Université Jean Moulin - Lyon III, com ênfase na História da Filosoi a Contemporânea. Seus interesses concentram-se na origem da Fenomenologia, sobretudo em torno do conceito de intencionalidade e sua articulação com a linguagem. E-mail: [email protected].

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Introdução estando longe de ser uma simples análise de um caso excêntrico em meio à belle époque carioca. Há um momento na História em que a forma do desejo aparece necessariamente sob a forma de Édipo. 1. A edipianização da subjetividade e o incesto A psicanálise tem nele sua metafísica inconfessa: a re- em O Anti-Édipo pressão desigura o “verdadeiro” desejo, concebe-o em termos de falta e resume-se à pulsão incestuosa; todas Em O Anti-Édipo, referindo-se particularmente à as esferas sociais, mesmo a narração literária, estão em literatura angloamericana ao inal do segundo capítulo, termos de Édipo. Mais do que compreender os meca- Deleuze e Guattari (2011, p. 179) dizem que apesar de nismos de dominação política, é necessária uma expli- nela haver uma forte resistência ao capitalismo, ela vol- cação para a autorrepressão do desejo; é preciso denun- ta a fechar-se em um impasse neurótico em que persiste ciar os usos ilegítimos da síntese do inconsciente, que o registro da edipianização. Isto leva a inferir que nes- parte de um diagnóstico das formas de repressão na ta literatura há uma oscilação entre a transposição de relação entre capitalismo e familismo. um limite atual e da reincorporação, sobretudo incons- Estes são alguns dos dizeres de Gilles Deleuze e Fé- ciente, nos padrões do consumo e espetacularização da lix Guattari em O Anti-Édipo, obra que coaduna com vida, através da perversão, da droga, do álcool etc. A seu tempo, 1972 (ou, antes, com o fracasso de maio ênfase está na falha desta literatura angloamericana em de 68). A leitura desta obra traz uma pergunta laten- romper com a ideologia dominante. Porém, nota-se a te: como dar corpo a forças revolucionárias capazes de especiicidade da proposta de Deleuze e Guattari (2011, fazer a produção social passar ao serviço da produção p. 179-180) à análise literária: desejante? A resposta dos autores vem três anos de- pois, em 1975, com Kaka: por uma literatura menor. Mas através dos impasses e triângulos [da lite- Enquanto “máquina de guerra”, a literatura menor deve ratura angloamericana] corre um luxo esqui- zofrênico, irresistível, esperma, rio, esgoto, ble- promover uma verdadeira experimentação política e norragia ou vaga de palavras que não se deixam está em oposição à literatura de forma edipiana, que se codiicar, libido demasiado luida e demasiado iguala a um objeto de consumo em conformidade com viscosa: uma violência à sintaxe, uma destrui- a ordem estabelecida. “Édipo é literário antes de ser psi- ção concertada do signiicante, o não senso eri- gido em luxo, plurivocidade que volta a aden- canalítico” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 181). trar todas as relações. Este artigo parte do caráter ambíguo da literatura presente em O Anti-Édipo, ora mercadoria, ora máqui- na política, e identiica uma polarização entre os con- A “falha” da literatura angloamericana dá-se a par- ceitos de signiicante e expressão (domínio da metáfora: tir do estabelecimento de uma correlação apressada de passagem do sentido próprio ao igurado) com os de elementos sociais da obra literária à realidade social. signo e produção (domínio da metamorfose: produção Esta correlação baseia-se em uma incompreensão do de sentido por meio da destruição do signiicante), a funcionamento do desejo, que faz observar na literatura im de, nesta mesma via, analisar a polarização do in- “uma violência à sintaxe, uma destruição concertada do cesto no romance Marta, de Medeiros e Albuquerque signiicante”, uma coerência interna do aparente “não (2013), ora como forma pura de amor, ora como imo- senso”. Tudo isto leva à observação de outro registro da ral. Através de uma análise das considerações sobre a análise literária angloamericana: a destruição/supera- literatura e o incesto em O Anti-Édipo, sustenta-se que, ção do signiicante do consumo e do espetáculo. assim como a literatura angloamericana e sua aparente Logo em seguida à citação acima, há uma transição alienação pequeno-burguesa, supostamente ausente de do âmbito particular para o universal quando os autores crítica social, a obra de Medeiros e Albuquerque tam- passam a considerar a literatura em geral. A relação que bém traz uma representação social eicaz do mundo, a literatura mantém com o social não se dá de maneira Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 63

literatura é exatamente como a esquizofrenia: direta. É apenas a obra, enquanto campo de produção, um processo e não uma meta, uma produção e que tem a potência de “sempre despertar um jovem não uma expressão. (idem, p. 180, grifo nosso). adormecido” (idem, p.180). Esta potência está ligada, sobretudo, àquele “momento em que o signo emitido Se anteriormente foram apresentados os termos sig- atravessa esta ‘forma de conteúdo’ que tentava mantê-la no/signiicante como aspectos formais da análise de De- na ordem do signiicante” (idem, p.180, grifo nosso). A leuze e Guattari (2011), expressão/produção assumem polarização signo/signiicante traduz em âmbito formal agora o papel de correlatos dos primeiros, marcando a especiicidade da análise social de Deleuze e Guatta- duas formas distintas de registro para a signiicação. A ri e signiica um transbordamento do signo, enquanto expressão implica que o sentido tem sua origem fora do produtor de desejo, em relação ao signiicante, que se sujeito. A base deste tipo de signiicação é social, porém limita a uma escrita discursiva, linearizada, estabeleci- em sentido negativo; fora do sujeito signiica uma anu- damente entrelaçada ao poder dominante e reproduto- lação deste e é sinônimo de despotismo. Já a produção ra de seus mecanismos de dominação. É o que defende implica que o sentido é criado diretamente pelo sujeito, Engels ao discorrer sobre Balzac (idem, 2011, p. 180), inclusive nos termos em que é colocado. Vale conferir que para ele seria um grande escritor na medida em que destaque ao fato desta segunda acepção de sentido não sua narrativa não pode “deixar de traçar e fazer correr deixar de ser também social: luxos que arrombam o signiicante católico e despóti- co de sua obra, e que alimentam necessariamente uma Desde o começo deste estudo, sustentamos, máquina revolucionária no horizonte”. Neste sentido, ao mesmo tempo, que a produção social e a produção desejante são uma só coisa, mas que mesmo que sua obra incorpore iguras e elementos do diferem em regime, de modo que uma forma clero e da realeza sem endereçar diretamente a eles uma social de produção exerce uma repressão essen- crítica, a narrativa de Balzac, sob a igura de um luxo, cial sobre a produção desejante, e também que comporta um processo de quebra de signiicante. Em li- a produção desejante (um “verdadeiro” desejo) pode potencialmente explodir a forma social. teratura, não é preciso dizer, pois, que um rei é corrup- (idem, p. 159, grifo nosso) to, bastando mencionar que seus olhos se desviam de alguém desafortunado e sua cabeça se volta unicamente para outro, mais abastado. Os termos “olhos” e “cabeça” O desejo tem, na sua essência, uma relação com o adquirem, assim, um caráter de signo, que de maneira social, de modo a inluenciar na produção social, as- transcursiva (i.e., em oposição à discursiva) rompem sim como esta última também produz o desejo. Vale com o ideal de uma natureza superior da nobreza, des- notar, a partir da citação acima, que o enfoque dado viando-se da lógica própria ao signiicante despótico. pelos autores em O Anti-Édipo volta-se para o aspec- Em Deleuze e Guattari (2011), a potência revo- to da repressão que a forma social de produção exerce lucionária latente na literatura recebe diferentes de- sobre a produção desejante e para o poder revolucio- nominações: “estilo”, “ausência de estilo”, “assintaxia”, nário do desejo. Este último é apresentado, devido à “agramaticalidade”, todas elas buscando ressaltar uma sua natureza, como sempre fazendo frente às estruturas profundidade dentro da linguagem que não obedeça ao de exploração, de sujeição e de hierarquia. Enquanto a discurso em sua linearidade narrativa, mas que traga sociedade comportar algum destes elementos, o dese- uma verticalidade própria ao desejo. Nas palavras dos jo será revolucionário. Vale notar que a libertação do autores, esta potência é o desejo de uma forma pré-determinada é também de- nominada “corpo sem órgãos” (CsO), conceito inspi- momento em que a linguagem já não mais se rado em Antonin Artaud, e que representa um repúdio deine pelo que ela diz, e ainda menos pelo que a toda forma de organismo ou organização, sendo “o a torna signiicante, mas por aquilo que a faz socius desterritorializado, deserto onde escorrem os lu- correr, luir, romper-se – o desejo. Porque a xos descodiicados do desejo, do im do mundo, apoca- 64 Franco Baptista Sandanello and Vanessa de Oliveira Temporal, A autorrepressão do desejo em Marta, ...

lipse.” (idem, p. 233) Este tom crítico, sobretudo com de conciliar a coerência unitária da luta revolucionária e relação à psiquiatria de iliação freudiana, é testemunho a máxima diversiicação das experimentações políticas, do pertencimento d’O Anti-Édipo à conjuntura teórica teóricas e práticas, de maneira a evitar tanto a hierar- de seu tempo, sobre a qual os autores procuravam pro- quização burocrática dos aparelhos de partidos quanto duzir efeitos diretos.1 o sectarismo dos grupos de ultraesquerda (SIBERTIN Sob o fracasso dos acontecimentos de maio de 68 -BLANC, 2010, p. 147)); e, por im, ao discurso de arti- em trazer mudanças concretas, os autores procuram os culação destas duas tendências analíticas, o freudomar- motivos que fariam o indivíduo abrir mão de sua liber- xismo (através da criação de uma nova teoria do desejo, dade em favor da dominação política. Portanto, Deleu- de modo a fazer da intervenção política no campo social ze e Guattari (2011, p. 158) escrevem para uma socieda- o vetor de experimentações e de transformações de si, e, de que reprime o desejo, e mais que isto, que funciona destas experimentações, o meio de renovar os modos de de tal forma que encontra algo melhor do que a repres- percepção, de inteligibilidade e de intervenção material são, para que até a repressão, a hierarquia, a exploração no campo social (idem, p. 149-150).2 e a sujeição sejam desejadas pelos indivíduos. Este algo Esta articulação entre “campo social” e “trans- é identiicado com a teoria do inconsciente represen- formações de si” é de fundamental importância para tacional que se subordina ao signiicante de Édipo. A compreender-se o registro de signiicação da produção, polêmica com a psicanálise presente neste livro dá-se apresentada acima em oposição ao de expressão. Cabe no sentido de uma denúncia à repressão ilegítima do notar que até mesmo o ato da leitura se transforma em inconsciente, que, posteriormente, é abandonada em terreno para experimentação no campo político: função de um projeto maior, “Capitalismo e esquizo- frenia”. Cabe notar que a conjunção entre um estudo ler um texto nunca é um exercício erudito à econômico – capitalismo – e um estudo psicanalítico – procura dos signiicados,3 e ainda menos um exercício altamente textual em busca de um esquizofrenia – não constitui, por si, uma novidade no signiicante, mas é um uso produtivo da má- momento de lançamento da obra. quina literária, uma montagem de máquinas A relação entre formações sociais e psíquicas (freu- desejantes, um exercício esquizóide que extrai dismo e marxismo) foram também estudadas por Wi- do texto sua potência revolucionária. (DELEU- ZE; GUATTARI, 2011, p. 144-145) lhelm Reich em A Revolução Sexual (1936), Herbert Marcuse em Eros e a Civilização (1955), ou até mesmo, Michel Foucault em História da Loucura na Idade Clás- A partir desta citação pode-se apreender a ambi- sica (1961). A especiicidade da obra está no tratamento guidade própria ao texto literário. De certa forma, todo indireto com que os autores abordam o freudomarxis- texto possui uma potência revolucionária ao estar no mo. A proposta é seguir outra via que não simplesmen- domínio da criação, do livre curso produtivo do dese- te uma psicanálise da economia política ou uma crítica jo; no entanto, possui também um caráter reacionário marxista da psicanálise, que partem de uma oposição de ao orbitar em volta de um signiicante já constituído natureza entre estrutura econômica e psíquica. A dife- (despótico). O mero fato de incluir em seus enunciados rença existe, porém, com a condição de que seja fruto da o pronome “eu” insere o texto sob o signiicante de Édi- repressão social do desejo, sendo um resultado da con- po, que pressupõe a síntese subjetiva como naturalmen- juntura política da sociedade capitalista. Trata-se de uma te dada, não construída historicamente. É por isto que “a tripla crítica: ao discurso psicanalista (inspirada nos es- única literatura é aquela que faz do seu embrulho uma tudos de Nietzsche (1999) sobre o surgimento da igura armadilha, fabricando uma falsa moeda, explodindo o do padre nas culturas judaicas e cristãs em A Genealogia superego de sua forma de expressão e o valor mercantil da Moral); ao discurso marxista (encarregando-se de de sua forma de conteúdo” (idem, p. 181). Todo texto é um problema sem solução viável legado pelo marxismo, necessariamente ambíguo; entretanto, somente aquele a saber, a invenção de uma forma de centralismo capaz que consegue, apesar de jogar com o signiicante, supe- Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 65

rá-lo e revelá-lo, está propriamente no domínio da lite- forma social à reprodução econômica, e torna-se forma ratura. É desta forma que Balzac consegue representar a socializada de reprodução de um material humano in- centralidade do dinheiro na sociedade burguesa do sé- diferenciado. A reprodução social passa cada vez mais culo XIX apenas descrevendo a mudança de tratamento para o processo do capital como forma social de re- que o Sr. Grandet recebe após enriquecer: produção autônoma em relação aos antigos códigos de aliança e de iliação. A família não determina mais por Se, no início, algumas particularidades de sua ela mesma a posição social dos homens, que será deter- vida deram lugar ao ridículo e à zombaria, a minada pelas exigências internas de acumulação e de zombaria e o ridículo já se haviam dissipado valoração do capital. Cada indivíduo deve ocupar um (...). Suas palavras, seu vestuário, seus gestos, seu modo de piscar constituíam lei na região, lugar na produção social, e é apenas por vias subjetivas onde qualquer um, após havê-lo estudado que se dá a retransmissão dos códigos de socialização como um naturalista estuda os efeitos do ins- do desejo. Assim, tem-se que: tinto entre os animais, teria reconhecido a pro- funda e silenciosa sabedoria de seus menores movimentos. (BALZAC, 1950, p. 219) A família devém o subconjunto ao qual se apli- ca o conjunto do campo social. Como cada um tem um pai e uma mãe a título privado, é um Fala-se aqui em signiicante de Édipo, pois esta é subconjunto distributivo que simula para cada a forma sob a qual o desejo se apresenta empiricamen- um o conjunto coletivo das pessoas sociais, que te. Dois aspectos da instituição familiar garantem que o fecha o domínio e emaranha suas imagens. complexo de Édipo se torne efetivamente estruturante Tudo se assenta sobre o triângulo pai-mãe-i- lho, que ressoa respondendo “papai-mamãe” a para a vida subjetiva: a família funciona simultanea- cada vez que as imagens do capital o estimulam. mente como sistema de reprodução dos produtores (di- (...) No conjunto de partida há o patrão, o che- visão social e técnica do trabalho) e como código desta fe, o padre, o tira, o iscal da receita, o soldado, produção e de seus produtores (a entrada na produção o trabalhador, todas as máquinas e territoriali- dades, todas as imagens sociais da nossa socie- social se dá a partir do ponto de vista da iliação e da pa- dade; mas, no conjunto de chegada, só há, no ternidade). Isto pode ser observado mais claramente ao limite, papai, mamãe e eu... (idem, p. 351-352) comparar-se a família civilizada com a família selvagem: Desta forma, tudo o que se passa na esfera do dese- As famílias selvagens formam uma práxis, uma jo, com seu caráter essencialmente social, toma a forma política, uma estratégia de alianças e de ilia- de uma das iguras familiais. No entanto, se Édipo ex- ções; formalmente, elas são os elementos mo- prime efetivamente o desejo, cabe perguntar pela inci- tores da reprodução social; elas nada têm a ver com um microcosmo expressivo; o pai, a mãe, a dência do recalcamento sobre ele. O argumento utiliza- irmã sempre funcionam aí como outra coisa do por Freud retoma uma observação de James George além de pai, mãe e irmã. (DELEUZE; GUAT- Frazer, segundo o qual “a lei só proíbe o que os homens TARI, 2011, p. 221, grifo nosso) seriam capazes de fazer sob a pressão de alguns dos seus instintos; assim, da proibição legal do incesto, devemos No modo de produção capitalista, onde a produ- concluir que existe um instinto natural que nos impe- ção social passa para a dominação do capital, o fami- le ao incesto” (idem, p. 155). Esta inferência – “algo é lismo, como forma de subjetivação do desejo e de sua proibido, logo, é desejado” – é fortemente criticada por enunciação, encontra a possibilidade de estabelecer-se Deleuze e Guattari (2011), pois demonstra uma con- na medida em que a instituição familiar não tem mais iança extrema na lei. Este culto à lei na sociedade capi- nenhuma importância do ponto de vista da reprodução talista leva a uma inversão: se ela diz que os indivíduos social, uma vez que ela perde toda incidência estraté- não devem matar seu pai e casar-se com sua mãe, será gica e se encontra “fora” do campo social que a deter- justamente isto que o sujeito desejará fazer. De fato, foi mina. Isto signiica que a família cessa de conferir sua visto que o desejo tende a explodir as instituições, mas 66 Franco Baptista Sandanello and Vanessa de Oliveira Temporal, A autorrepressão do desejo em Marta, ...

como parceiros; ou então os nomes subsistem, é completamente falso inferir de uma proibição a natu- mas designam tão somente estados intensivos reza do que é desejado: pré-pessoais, que bem poderiam “estender-se” a outras pessoas, como quando se chama ma- mãe à mulher legítima, ou irmã à esposa. (...) Pode acontecer que a lei proíba algo de per- É que nunca podemos fruir simultaneamente feitamente ictício na ordem do desejo ou dos da pessoa e do nome – o que seria, porém, a “instintos”, para persuadir seus sujeitos de que condição do incesto. (idem, p. 215) eles tinham a intenção correspondente a essa icção. É justamente esta a única maneira que a lei tem de pegar fundo a intenção e de culpabi- A força do signiicante, que passa sempre pelo va- lizar o inconsciente. (idem, p. 156) lor social das pessoas, institui um não lugar para a si- tuação de incesto. Por isto, ele é eleito como o objeto Assim, a psicanálise é caracterizada como obra de máximo da autorrepressão do desejo. repressão burguesa mantendo a sociedade sob o jugo do incesto, e não dando nenhuma alternativa que dê 2. O incesto na literatura brasileira: o lugar im a esse “problema”. Ao invés de abrir-se para cone- privilegiado de Marta xões plurívocas, ela se fecha num impasse de univo- cidade. Todas as cadeias do inconsciente são ligadas a No caso da literatura brasileira, o incesto, en- Édipo, enquanto signiicante despótico. Toda produção quanto assunto motivador da obra literária, é algo qua- desejante é esmagada, substituída por uma simples re- se inédito. Há casos mais recentes em que serve de mo- presentação. “Édipo é a reviravolta idealista” (idem, p. tor casual do enredo, atuando como acessório de uma 78). Ele abstrai todo o conteúdo político, social, históri- questão superior, como nos exemplos maiores da Crô- co que o delírio tem, caracterizando a libido como não nica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso (1979), e de tendo nenhuma relação com estas coisas. Lavoura arcaica, de Raduan Nassar (2009).4 Há, ainda, Disto decorre a denúncia dos autores de ser o in- casos em que o incesto desempenha um papel ainda cesto uma dedução lógica da razão, uma ideia consti- menos signiicativo, evocado apenas como empecilho tuída a partir da concepção de recalcamento e sua re- ao enlace amoroso entre protagonistas, sob o signo do lação com o desejo. Ele tem natureza conceitual. Sendo Romantismo de Helena, de (1959); uma ideia introduzida na esfera passional, ele é tomado ou como fator de desequilíbrio biológico e motivo para por princípio de ação. No entanto, ao provar-se que sua o estudo do temperamento da personagem, sob o sig- origem se dá no âmbito do conceito, já se prova seu não no do Naturalismo de O homem, de Aluísio Azevedo pertencimento ao inconsciente, que não tem nenhuma (2005), e de Inverno em lor, de (1958). relação com o ideal, sendo pura ação e não estando sob No entanto, uma obra nacional pode ser vista, no o domínio de nenhum signiicante. “O inconsciente tocante ao elemento central do incesto, como construí- nada diz, ele maquina. Não é expressivo ou representa- da e inteiramente motivada por ele: trata-se do roman- tivo, mas produtivo” (idem, p. 239). ce Marta, de Medeiros e Albuquerque, publicado em O incesto é impossível, não no sentido em que o 1920, e hoje quase desconhecido.5 Seu autor, lembra- real o seria (é isicamente possível ter relações sexuais do negativa e rapidamente em compêndios de litera- com a ilha, a impossibilidade aqui é no sentido em que tura por “mostras assíduas de imaginação vasqueira e o simbólico o é): o nome “ilha” enquanto instituição sensualona” (BOSI, 2008, p. 270), ou ainda, como in- social exclui completamente o nome “amante”, também trodutor hesitante do Simbolismo no Brasil na década enquanto instituição social. Sendo que de 1880, com Canções da Decadência e Pecados, “entre vários focos de estímulo, numa hesitação sintomática: no ato do incesto, podemos dispor de pessoas, sentimentalidade romântica, erotismo, poesia social, mas elas perdem seu nome, já que esses nomes materialismo, nevrose...” (MOISÉS, 1969, p. 52), pare- são inseparáveis da proibição que os interdita ce ter sofrido o esquecimento programático de muitos Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 67

outros escritores da virada do século, destronados pelos (...). Havia alguma coisa de conjugal na conversa dos modernistas nas décadas de 1920 e 1930. Como obser- dois” (ALBUQUERQUE, 2013, p. 52). Imediatamente, va Wilson Martins (1999, p. 615), “a leitura de sua obra surge o espectro de um segundo enlace amoroso em crítica [revela], em todas as páginas, a incompreensão, sua vida, já distante de sua esposa e atento unicamente a ironia, o antagonismo essencial que o separavam do à formação física e moral da ilha. Está claro, pois, que Modernismo”, e que foram os grandes responsáveis o sentimento de idelidade ao matrimônio coloca-se em pelo esquecimento dos bons momentos de sua obra. É um patamar inferior à responsabilidade para com a i- o que ocorre, ainda uma vez, com o romance Marta, lha, o que, por sua vez, legitima o adultério, com base que, para além de uma obra “vasqueira e sensualona”, em uma transferência de carinho materno. mergulha nas nevroses de nossa belle époque e observa, No entanto, se, por um lado, Margarida pode cui- no tedioso cotidiano de uma burguesia passadista, os dar da sensibilidade da menina e recomendar-lhe uma frágeis limites existentes entre as aparências e o desejo.6 dieta e um cotidiano saudáveis, não pode igualmente, O primeiro capítulo é, neste sentido, sintomático, do ponto de vista ético, acrescentar-se à sua vida sem descrevendo panoramicamente o ocioso cotidiano do prejuízo do recato familiar de Leopoldo. Novamente, é Hotel White, na Tijuca. Menciona o pisco João Caldas, de Margarida – e não de Leopoldo, espectador da vida que “estava bastante rico e parecia feliz”, e viera ali “sa- em todas as suas minúcias, como bom advogado “teó- ber a vida de uns e outros” em meio a leituras de Paul rico” – a decisão pelo rompimento, com base nos efei- Bourget, Marcel Prévost etc. (ALBUQUERQUE, 2013, tos negativos que a relação traria para Marta: “-Tu tens p. 27). Seu interlocutor, Leopoldo Braga, “ainda ‘mais uma esposa que te ama, uma ilha a quem adoras. Com urso’ que o amigo”, em viagem por motivos de saúde, que direito eu te roubaria a elas? (...) Se partisse contigo, “era – pode-se dizer, teoricamente – advogado; mas ad- não perderia coisa alguma; lucraria tudo. E tu? Pensa vogado de escassa clientela. Morreu-lhe o pai, que ti- em Marta!” (ALBUQUERQUE, 2013, p. 61). nha uma pequena fortuna, e ele casou-se com uma bela Após o rompimento entre os amantes, Leopoldo moça nas mesmas condições e passou a viver uma vida recebe uma proposta de emprego e instala-se em Pa- quase inteiramente ociosa” (idem, p. 28), coroada pela ris com a mulher e a ilha. A estadia do advogado na existência da ilhinha, Marta, então com dois anos de metrópole prolonga-se por 20 anos, durante os quais se idade e sua companheira de viagem. Outros hóspedes torna viúvo e começa a viver um cotidiano dissipado, do hotel são ainda enumerados – diplomatas do Chile e dividido entre os cuidados com Marta e os pequenos da Itália, grupos de moças e senhoras – restando a des- amores (não mais adúlteros) passados em uma gar- crição pormenorizada do zelo de Leopoldo para com a çonnière. Dispondo de tempo livre e de uma ocupação criança, e seu cuidado por conhecer “miudamente as quase inteiramente “teórica” – a de correspondente de datas exatas em que ela tivera o seu primeiro sorriso, uma irma jurídica –, Leopoldo preenche seus dias com em que lhe nascera o primeiro dente, em que dera o as minúcias de seus encontros amorosos, registrando primeiro passo” (idem, p. 29). Logo percebe o leitor ser em diário as intimidades das jovens parisienses e fa- este advogado o protagonista da obra, bem como sua zendo-se passar por verdadeiro prestidigitador da alma relação com a ilha o assunto do livro. feminina. Na verdade, dispõe de seus contatos jurídicos Apresentado pelo Caldas, conhece Leopoldo D. para colher informações nas delegacias sobre o passado Margarida Seixas Gomes, esposa de um bruto comer- de cada mulher, gozando antes o controle integral sobre ciante.7 A atenção maternal da senhora Seixas Gomes o passado e o presente das parceiras que a consequente para com sua ilha desperta o interesse do advogado, relação material do sexo. Desta forma, que logo se apaixona pela amiga: “Essas palavras mater- nais, disse-as com uma voz grave e carinhosa – gravida- Leopoldo não era (...) um grande sensual. Não de e carinho que se insinuaram tanto mais no espírito de passava, mesmo na sensualidade, de um inte- lectual. Tinha, lidando com tantos cérebros e Leopoldo, quanto ele próprio achava a observação justa 68 Franco Baptista Sandanello and Vanessa de Oliveira Temporal, A autorrepressão do desejo em Marta, ...

corações de mulheres, o prazer de um hábil mecânico que gosta de ver funcionar máqui- A equiparação dos trechos é valiosa, uma vez que nas delicadas, de que aprecia o movimento e detecta com alguma precisão o procedimento incestuo- a entrosagem das peças. Um dos seus deleites so de Leopoldo. O prazer de registrar as minúcias do era a sua grande correspondência. Se aquelas a comportamento da ilha, capaz de antegozar a imagem quem ele se dirigia pudessem um dia remexer à vontade no armário em que o Leopoldo guar- dócil e obediente aos menores caprichos do pai, é trans- dava, classiicadas, todas as cartas que recebia ferido para as amantes parisienses. Estas, por sua vez, e muitas vezes as minutas das que expedia, i- “iam verdadeiramente atordoadas, sem saber explicar cariam espantadas. Alguns desses dossiês guar- aquele homem estranho, doce, meigo, capaz de pers- davam peças interessantes: notas de agência de polícia particular, contendo, mais ou menos, a crutar tão singularmente coisas que elas não podiam biograia da pessoa; análises grafológicas... E na crer que ele normalmente conhecesse” (idem, p. 79). “icha” de todas, porque todas tinham as suas De fato, “normalmente”, seria difícil que despertassem ichas, lia-se, diante da data de cada visita, o em poucos dias o interesse perscrutador do velho advo- que ela havia feito, a descrição sumária do ves- tido e do chapéu com que estava, e, às vezes, gado com tamanha ênfase – explicável apenas por sua a menção de qualquer incidente curioso. (AL- conexão com o amor à ilha, reproduzida, em segundo 8 BUQUERQUE, 2013, p. 77-78) grau, na feição estarrecida e submissa de cada uma de suas amantes. Não há, portanto, limites entre o público e o pri- Leopoldo, todavia, é inconsciente da origem inces- vado para as pulsões de Leopoldo – que se serve de tuosa de seu “diabólico laboratório de seduções” (idem, sua posição “legal” na irma para satisfazer um apetite p. 78), e somente percebe a importância material da fetichista, capaz de fragmentar o contato interpessoal imagem da ilha quando Marta vem a falecer, acometi- em ichas e minutas, e, neste plano, sequestrar e mo- da de uma meningite. A tragédia maior para o advoga- nopolizar a esfera do gozo sexual. Se observado o com- do, maior que sua morte, era o fato de haverem cortado portamento de Leopoldo para com Marta e o cuidado seus cabelos, “os longos e sedosos cabelos”, acrescido da excessivo empenhado na educação da ilha, desponta ausência de um retrato da falecida, que a avivasse na com precisão a origem deste empenho minucioso pelo memória: “Minha ilha, que era tão bonita! tão boni- controle da mulher. Compare-se, pois, o trecho acima, ta!” (idem, p. 82). A ixação de Leopoldo pela beleza de com o abaixo, referente aos planos iniciais delineados Marta é tamanha que Ivan Teixeira (2013, p. 11) chega para a formação da ilha: a sugerir um intertexto entre o romance e o conto “O retrato oval”, de Edgar Allan Poe.9 De fato, o amor alu- Acumulava notas: “se ela manifestar tal ten- cinado de Leopoldo pela ilha é agravado pela ausência dência, cumpre corrigi-la deste ou daquele de um retrato da moça: modo.” E como se a tendência a corrigir fosse um caso concreto, uma moléstia declarada que ali estivesse na sua presença, ele punha em or- Queria reconstituir na imaginação a igura da dem os meios de combatê-la, expondo suces- moça, quando ela ostentava a maravilha dessa sivamente: “meios físicos, meios intelectuais, cabeleira castanho-escura, naturalmente ondu- meios emocionais”. Sob cada rubrica havia um lada; mas não podia. Uma aberração cruel do certo número de exercícios indicados: “obrigá- seu espírito só lhe permitia ver bem a cabeça la a isto ou àquilo”, “fazê-la estudar determi- da ilha lisa e lustrosa, como a calva de um ve- nada disciplina”, “apreciar tal ou qual obra de lho! (...) E, no meio do desespero imenso em arte”. Para outro, aquela ocupação seria pueril. que jazia, a falta do retrato de Marta foi mais Para ele, era um encanto: fazia-o pensar na sua uma ponta, mais um acúleo acerado que o fe- Marta. A cada conselho que escrevia, evoca- ria. (...) Sem o auxílio material de um retrato, va-a diante dos seus olhos: via-a executando, tinha medo de perder a noção dos traços da graciosa, o exercício, estudando gravemente a ilha e seria então como se, por sua vez, ele a disciplina, palpitando à emoção artística cuida- matasse... Era uma tortura sem nome! (ALBU- dosamente notada. (idem, p. 49) QUERQUE, 2013, p. 83-84) Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 69

em que Marta igurava. (...) Tinha assim vários Muito embora a ausência do retrato de Marta su- retratos dela. Tomando um deles, um dos mais gira a Teixeira (2013) uma comparação remota com O recentes, em que ela assistia a uma corrida de retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde,10 Leopoldo cavalos, Leopoldo contemplou-a devagar. Já sente-se horrorizado, e não embevecido, ao encontrar então, quando ele queria evocar a primeira Marta para poder comparar as duas, essa ope- o retrato perfeito da ilha, sob o modelo de “uma can- ração mental se lhe tornava impossível. Con- çonetista depravada”, que em nada reproduz a aura de fundia-as. A de agora era, portanto, para ele pureza tão apreciada em Marta, e “parecia-lhe poluir duplamente ilha: tinha absorvido a imagem da outra. (idem, p. 123) a memória da ilha evocando-a através da igura des- sa cançonetista de baixo estofo, para quem o palco era apenas o anúncio de que se alugava a quantos a que- O procedimento é cômodo, e permite o moralis- riam...” (idem, p. 84). Ainda uma vez, Leopoldo de- mo estreito de Medeiros e Albuquerque – que admite a monstra ignorar a razão sexual de sua ixação pela ilha, construção do enredo em torno de um pai incestuoso, e abomina uma comparação entre ela e a famigerada com base em sua completa inconsciência (entendida cantora. Percebe-se, pois, a dissociação entre o signii- em termos de inocência) perante seu crime. A críti- cante da beleza de Marta, reproduzida no retrato “iel- ca central da obra à mesquinhez do meio carioca das mente” pela cantora, e o signiicado profundo de Marta primeiras décadas do século XX é, pois, dirigida não para Leopoldo – ambivalente, alçando-se à pureza ina- a este pai que luta consigo próprio, iel cumpridor de tingível e descaindo no mais baixo e carnal dos praze- uma promessa a uma morta, além de pai zeloso de duas res, indiretamente, pelos diários e ichas da garçonnière. ilhas, mas sim à prática do casamento arranjado, que Morta Marta (a impossibilidade do desejo pare- acelera romanticamente a trama e apressa a morte de ce ressigniicar o nome próprio), Leopoldo retorna ao Leopoldo, já de meia idade. Isto tudo porque Seixas Go- Brasil e depara-se, ao chegar, com uma moça igual a mes, pai “verdadeiro” de Marta, exige que ela se case Marta, e que logo vem a saber, por intermédio da ex com um de seus companheiros de noitadas, jovem es- amante, ser o produto do antigo romance no Hotel troina e imoral, chamado Andrade. Ergo, o dilema fal- White. Margarida, em seu leito de morte, faz Leopoldo samente central do livro: o que é mais imoral – casar-se jurar cuidar de Marta (é este o nome da segunda ilha, um bom pai com sua ilha, para livrá-la das garras de como espectro a persegui-lo além do túmulo), porém um padrasto interesseiro e de um noivo medíocre,11 sem jamais revelar-lhe a paternidade, a im de preser- cometendo incesto; ou deixá-la à própria sorte, saben- var a santidade de sua memória. Obviamente, as visitas do-a desgraçada de antemão? constantes de Leopoldo à ilha, bem como sua alegria A pergunta está claramente mal colocada, uma vez em sua presença, são mal interpretadas pela sociedade, que Leopoldo não é inocente, mas apenas inconsciente que ignora o verdadeiro elo entre ambos: “E, como se do desejo que (o) possui. De qualquer forma, a ilha, uma venda lhe houvesse caído dos olhos, Leopoldo co- ignorando a razão do silêncio do velho e bom amigo, meçou então a recordar fatos, alusões, atitudes de várias foge para sua fazenda pouco antes do casamento com pessoas... – Que horror! – E pensar que ele estava com Andrade, sendo logo estampada nos jornais como rap- os lábios trancados por dois soleníssimos juramentos a tada por Leopoldo: uma moribunda!” (idem, p. 141). Gradualmente, Leopoldo passa a entender a encru- O que se passava dentro de Leopoldo era uma zilhada moral de sua vida, muito obstante tenha em seu luta trágica. Casar ou não casar? Casar – era o horror dos horrores, era a monstruosidade do espírito, ainda, a primeira Marta, morta em Paris, mes- mais monstruoso dos incestos. Mas não casar... clada à segunda, ilha de Margarida: Para uso da sociedade, Marta estava deson- rada. Fossem lá convencer a maledicência do Várias vezes em festas diversas, fotógrafos de mundo que a moça, quando chegara à fazen- revistas ilustradas haviam tirado instantâneos da, não o encontrara nela. Só havia um meio 70 Franco Baptista Sandanello and Vanessa de Oliveira Temporal, A autorrepressão do desejo em Marta, ...

de lavar essa mancha. (...) Demais, se ele não se casasse e não dissesse porque o não fazia, Mar- língua até o divã, envolvendo ambos em uma libertação ta icaria com uma mancha indelével. Pior, po- pela morte. Seu rosto imaculado, “absolutamente cal- rém, seria se ele dissesse: não só violaria o ju- mo”, descai no movimento sutil de suas expressões, não ramento sagrado que izera a uma moribunda, mais obedecendo a instinto algum. O luxo de sangue como desonraria a sua memória, maculando também o nome da ilha. (ALBUQUERQUE, mancha tão somente o colarinho branco, símbolo do 2013, p. 165) asseio social, e evoca o atentado que Leopoldo comete à solidez da instituição familiar na simbologia da mancha Neste sentido, ao suicidar-se após o casamento in- de sangue. A mão que toca o chão sela o pertencimen- cestuoso com Marta – jamais consumado, à imagem to de Leopoldo à surda contraposição dos instintos em e semelhança de boa parte de seus afaires em Paris –, relação à pureza de seus ideais em vida (“Puríssima te o protagonista não deixa de consumar, à segunda po- achei, puríssima te deixo” são as primeiras palavras da tência e dentro dos limites autorizados pela sociedade, carta que deixa para Marta). Através desta simbologia, aquilo mesmo que não podia fazer por conta própria. pode-se visualizar o pertencimento do personagem Ou seja: casa-se com aquela que mais amou em vida, Leopoldo à forma edipiana e o quanto estava ele sujeito concretizando, ao menos no papel (papel da certidão, aos códigos sociais dominantes, tendo interiorizado a papel das fotograias, papel das ichas e dos estudos gra- repressão do desejo pela ilha. Desejo, por sua vez, que fológicos), o que jamais poderia concretizar sem come- nunca fora sexual, mas desejo pelo nome, pela própria ter o “horror” que traz consigo. impossibilidade da existência do desejo (ichas, retratos, Ainal, morre Leopoldo, despertando obviamente cabelos etc.). Medeiros e Albuquerque, através de uma grande tristeza em Marta – o que não importa tanto, trama um tanto quanto rocambolesca, apresenta uma diga-se de passagem, quanto o respeito e afeto da opi- situação em que o incesto torna-se socialmente possí- nião pública, representada por uma velha empregada vel, havendo consentimento da sociedade por meio da da casa, “siá Mariana”, cujo lamento encerra o romance: ignorância da paternidade. E é justamente esta situação “E o que mais se ouvia era a queixa boa e doce da velhi- excepcional em que há possibilidade de concretização nha: – Ele era tão bom! Tão bom!”. do incesto enquanto ato físico que revela a verdadeira Ademais, a descrição da morte de Leopoldo apre- natureza do incesto: o controle sobre o desejo através senta um caráter simbólico, diretamente ligado à prá- da soberania da lei. tica psicanalítica, e que lança nova luz à sua memória A proibição procede induzindo uma imagem des- – de bom pai e de mau amante: igurada e deslocada do que é realmente proibido ou desejado. Sua função é culpabilizar o inconsciente. A Leopoldo estava deitado num largo e fofo divã relação de Leopoldo com a ilha faz com que ela sirva inglês. Era um divã forrado de couro verde, de móvel para o desejo, e a proibição da sexualidade en- muito baixo. A mão, em que havia um revól- quanto ato de fala desperta-lhe a sexualidade concreta, ver, tocava o chão. Leopoldo tinha encostado a boca da arma por baixo do queixo e dispara- a qual lhe passa sempre pela via do controle, da sobera- do. A bala varou a língua, varou o céu da boca, nia da lei. É a lei que o faz gozar. Marta ensina uma das entrou no cérebro, varou o crânio e, saindo, principais lições de O Anti-Édipo: a autorrepressão do entrou no encosto do divã. O rosto estava abso- lutamente calmo. O sangue que saía – saía pela desejo não inibe a sexualidade, apenas a desnaturaliza, ferida que icava perto do colarinho e mancha- coloca-a em termos de família, em função de um con- va-o. (ALBUQUERQUE, 2013, p. 168, grifos trole dos indivíduos, de um apagamento da potência nossos) produtiva do inconsciente que naturalmente se insu- bordina às forças dominantes. O divã é o instrumento da psicanálise por excelên- Assim, no romance, salvam-se as aparências; sal- cia e está ligado a uma promessa de libertação pela lín- va-se também a honra de Marta. Perde-se, todavia, o gua / fala. O trajeto do tiro que mata Leopoldo vai de sua “bom” Leopoldo, para benefício de todos, e manuten- Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 71

Notas ção do status quo da pacata família burguesa. Aqui está o cerne da crítica do romance, escrito no tom do toma 1. Para um estudo mais aprofundado da recepção da obra, ver Sibertin-Blanc (2010). lá dá cá do Realismo oitocentista: confrontado com 2. Sobre esta questão da especiicidade da abordagem uma sociedade hipócrita, Leopoldo deve encarnar até o freudo-marxista, ver Deleuze (2002, p. 384-385). im um ideal hipócrita de família, entremeado de rela- 3. Esta relexão sobre o caráter político da leitura será ções extraconjugais, de casamentos arranjados, de gar- desenvolvida em Mille plateaux (1980), no capítulo/ çonnières e de muitos outros expedientes “permitidos” platô 4, “Postulats de la linguistique”, em que os autores pela opinião. apresentam o conceito “mot d’ordre”. Certamente, Leopoldo não se preocuparia com 4. No primeiro, enquanto prova da decadência de uma nada disto: Marta sobrevive (ao menos, uma delas), e é família conservadora do interior de Minas Gerais, marcada pela relação falsamente incestuosa entre Nina ela, não ele, ainal, quem serve de título à obra. e seu “ilho” André (na verdade, ilho de um amor secreto entre a cunhada de Nina e o jardineiro da Conclusão chácara); no segundo, enquanto válvula de escape ao moralismo estreito de um patriarca rural, que morre de tristeza ao saber do incesto cometido por dois de Pelo que se passou em revista de um ponto de vis- seus ilhos, André e Ana, quando do retorno de André ta conceitual (via Deleuze e Guattari) e de um ponto à fazenda, numa clara revisão da parábola bíblica do de vista analítico (via discussão de trechos pontuais de ilho pródigo. Marta), conclui-se o viés crítico de Medeiros e Albu- 5. À edição de 1920 da Livraria Francisco Alves, seguiu- querque em assinalar algumas das hipocrisias da bel- se a segunda edição, de 1922, pela mesma casa, e a terceira, em 1932, editada pela Renascença. O le époque brasileira. Neste sentido, “denuncia-se uma romance foi recuperado apenas recentemente (2013) sociedade moralista” (SALVADOR, 2012, p. 389) que pela coleção Reserva Literária da EDUSP, utilizada interpreta o desejo como bem lhe apraz. neste trabalho como texto-base das citações. Trata-se De certa forma, é estranho que tal crítica tenha do primeiro romance do escritor, que ainda publicaria em 1921 Mistério (em parceria com , partido de um escritor como Medeiros e Albuquerque, Afrânio Peixoto e Coelho Neto) e em 1933 Laura. ele próprio uma instituição nas duas primeiras décadas 6. Segundo Vitor Celso Salvador (2012, p. 388), autor do século XX, colaborador ativo nos primeiros anos do da única dissertação disponível no Banco de Teses governo republicano (as letras do Hino são, inclusive, da CAPES sobre Medeiros e Albuquerque, “Marta de sua autoria) e fundador da Academia Brasileira de possui visíveis evidências da psicanálise de Freud, pela Letras (é o primeiro ocupante da cadeira n. 22).12 manifestação do desejo inconsciente de Marta pelo pai Leopoldo, revelando o Complexo de Electra (quando Por outro lado, é mais que compreensível que Marta a ilha se interessa pelo pai).” É evidente que, como seja mesmo de sua autoria: ainal, trata-se de uma ques- se verá a seguir, a presença do pensamento freudiano tão de posse da ilha pelo nome, i.e., simbolicamente; e é uma constante, muito embora não se possa falar em um Complexo de Electra tanto quanto do desejo foi Medeiros um de nossos maiores cultores da língua, incestuoso de Leopoldo pela ilha. De toda forma, além do autor da primeira proposta entre nós de uma é importante ressaltar que Medeiros e Albuquerque reforma ortográica. Entender o quanto se imbricam a tenha enfocado “o tema da atração erótica entre pai posse incestuosa e o culto fetichizado do cânone pós e ilha [...] no momento mesmo em que o Dr. Franco da Rocha publicou em São Paulo O pan-sexualismo, -parnasiano como um grande círculo lentamente auto- nome depreciativo com que se costumava designar, devorador dos anos anteriores ao Modernismo, é, talvez, àquela altura e muito depois, a doutrina de Freud” a melhor forma de captar, na íntegra, o valor de sua obra. (MARTINS, 1978, p. 181). 7. A cena das bodas entre Margarida e Seixas Gomes é talvez antológica pelo mau gosto com que apresenta a animalidade do marido – bêbado, bruto, a violentar a esposa como um animal, rolando pelo chão. O ápice da cena, em que Seixas vomita sobre a mulher uma golfada de vinho e desmaia sobre seu corpo é um 72 Franco Baptista Sandanello and Vanessa de Oliveira Temporal, A autorrepressão do desejo em Marta, ...

claro intertexto com a cena animalizada de sexo entre para com Leopoldo, bem como certa hereditariedade, Gervaise e Lantier sob o vômito simbólico de Coupeau de tom naturalista, do comportamento. em L’assommoir, de Émile Zola, tão bem apontada por 12. Medeiros chegou mesmo a impedir o discurso Antonio Candido (1991, p. 126) a propósito de uma de posse de Emílio de Menezes, famoso por sua cena semelhante presente também n’O Cortiço. boemia, corrigindo a fala do colega tantas vezes que 8. É curioso observar o fato de que, inteiramente Emílio jamais chegou a ocupar a vaga de Salvador de oposto a Leopoldo, Medeiros e Albuquerque relate Mendonça, para a qual fora eleito. Plínio Doyle (1999, uma de suas conquistas amorosas em Quando eu p. 91-94) discute o caso com vagar em Uma vida, onde era vivo..., pautada inteiramente no anonimato aponta a oposição truculenta de Machado de Assis e estabelecido entre si e uma francesa, encontrada três de Medeiros e Albuquerque à candidatura de Emílio. vezes por acaso. O caso é precedido pelo seguinte Sobre Medeiros, diz ainda: “Medeiros e Albuquerque, esclarecimento: “(Este caso eu o referi resumidamente que era o presidente, mandou, ele mesmo conta em no meu romance Marta)” (ALBUQUERQUE, 1945, p. Quando eu era vivo (1942), que fossem cortadas as 285). No romance, o encontro “real” é reproduzido na alusões a Afrânio Peixoto e a Oliveira Lima, além de primeira relação sexual entre Leopoldo e Margarida, outras alterações. Emílio cortou apenas uma. Medeiros ainda que “resumidamente”. Desta forma, percebe- insistiu, e Emílio mandou dizer que cortaria tudo que se o quão tênue pode ser a barreira que separa a fosse ordenado, mas que, na hora de proferir o discurso, literatura da vida, e o quanto persiste o autor no leria o que havia inicialmente escrito; e Medeiros limite entre ambas. replicou que não tentasse essa experiência” (DOYLE, 1999, p. 93). O relato de outras farpas do escritor está 9. Como se sabe, o conto desenvolve a ixação de um presente no artigo de Salvador (s/d), dirigidas a Gomes pintor pela beleza de sua amada, que, ao tentar Bastos, a D. Pedro II e ao mesmo Emílio de Menezes. reproduzir ielmente seu semblante através de horas De uma forma ou de outra, está claro que “não são os intérminas de serão – que desgastam e adoentam a julgamentos literários de Medeiros e Albuquerque que moça – acaba por percebê-la morta, tão logo acaba seu interessam à história da crítica, nem mesmo à história quadro. Trata-se, pois, de uma transplantação da vida da literatura brasileira: pode-se dizer que não deixou à arte, em que, para o benefício da segunda, a primeira nenhum de grande ou relativa importância, tendo deve sacriicar-se em um longo ritual. A comparação sido antes um noticiarista inteligente, culto e bem é fortuita, uma vez que assinala a ixação pela imagem informado (...)” (MARTINS, 1983, p. 469). Confundir feminina com base em um desejo incontido, de ordem seu papel de crítico com seu papel de romancista amorosa (entre um homem e uma mulher, aqui somente faria ofuscar a importância deste em prol equiparados ao segundo binômio, pai e ilha). daquele, além de mitigar as qualidades por vezes raras 10. Apesar da atmosfera decadentista comum a ambas as de sua obra romanesca, como no discutido Marta. obras, não há em Marta uma mesma absorção moral da protagonista pelo quadro (enquanto registro ácido de crítica ao dandismo, muito mais presente na vida Referências inglesa que na brasileira), nem a mesma ciência do ALBUQUERQUE, Medeiros e. Minha vida: da infância à Mal, executado egoisticamente por Dorian. mocidade. 3 ed. : Calvino Filho, 1933. 11. A truculência de Seixas Gomes é reiterada, para ______. Uma ordem bem obedecida. In: ______. Quando além de seu comportamento com Margarida, pelo eu era vivo...: memórias. 2 ed. Porto Alegre: Globo, ato de destruir as fotograias de Leopoldo do álbum 1945. p. 285-288. de visitas da família, em movimento inverso àquele ______. Marta. 4 ed. São Paulo: Com-Arte; Edusp, 2013. do pai verdadeiro de Marta. Esta, tal como Leopoldo, agarra-se às fotograias para salvá-las: “Seixas Gomes ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: adiantou-se para o álbum de retratos, procurou o de Aguilar, 1959. v. I. Leopoldo, tirou-o e ia rasgá-lo. Num gesto brusco, AZEVEDO, Aluísio. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Marta arrancou-lho das mãos. Essa audácia da ilha Aguilar, 2005. v. II. levou Seixas Gomes a um verdadeiro paroxismo. Avançou para Marta e tomou-lhe a fotograia com tanta BALZAC, Honoré. A Comédia Humana. Estudos de fúria que, empurrando a moça, ela foi cair à distância, costume, cenas da vida provinciana. Trad. Gomes da no chão. Seixas Gomes picou o retrato e atirou os Silveira. São Paulo: Editora Globo, 1950. v. V. pedaços ao tapete da sala. Depois, voltando-se para a BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 46 ilha ainda caída: - Daqui a quinze dias está casada!” ed. São Paulo: Cultrix, 2008. (ALBUQUERQUE, 2013, p. 146). Por meio deste episódio, nota-se a correspondência afetiva de Marta Ilha do Desterro v. 68, nº 3, p. 061-073, Florianópolis, set/dez 2015 73

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