Riado the Walking Dead* Jorge Henrique Fugimoto**
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Os vivos, os mortos e os mortos-vivos: uma análise sociológica do se- riado The Walking Dead* Jorge Henrique Fugimoto** Abstract The Walking Dead es una serie de televisión producida en los Estados Unidos por Frank Darabont y Gale Anne Hurd y basado en la exitosa cómics del mismo nombre, desplegada por primera vez en 2010, por la red de televisión norteamericana AMC. Aprovechando el camino abierto por la revista y el programa, se han desarrollado varios nuevos productos. En resumen, el programa sigue el sheriff Rick Grimes (interpretado por Andrew Lincoln ), que después de despertar de un coma en un hospital vacío en la ciudad de Atlanta se ve obligado a luchar por su supervivencia en un “nuevo” mundo, habitado por “muertos vivientes”. La presencia del “zombie” tiene una larga historia en el cine, y su representación en la forma en que lo conocemos hoy se inicia en 1968 con la película The Night of the living dead (George A. Romero ). Muchas variaciones sobre el tema aparecieron com éxito en los cines, lo que llevó a algunos analistas a relacionar las tramas de las pe- lículas con ciertos acontecimientos vividos por la sociedad. Teniendo en cuenta estos antecedentes y con el fin de examinar más a fondo la relación entre el producto audiovisual y la sociología, este trabajo tiene como objetivo analizar internamente la primera temporada de la serie, tratando de establecer marcos de análisis y destacar elementos como la formación del carácter, narrativa, color, sonido, etc. La cuestión que moviliza esta investigación es analizar cómo estos elementos son articulados y qué aspectos sociales se movilizan para la construcción de una noción de la “civilización”, el fin de la “civilización “ o mismo “post- civilización”, ya que, según nuestra hipótesis preliminar, el producto cultural en la agenda podría apuntar a manifestaciones discretas - con juicios sobre las relaciones sociales - de ciertos deseos o temores de la sociedad en que fue creada y distribuida. * Trabalho encaminhado à Asociación Argentina de Estudios sobre Cine y Audiovisual, para apresentação no IV Congreso Interna- cional AsAECA, sob a orientação do Prof. Dr. Mauro Luiz Rovai e com financiamento pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoa- mento de Pessoal de Nível Superior. ** Formado em Ciências Sociais pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Mestrando do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. 1. Introdução A temática “zumbi” voltou a se popularizar nos últimos anos com o lançamento de diversos filmes, livros, jogos, incluindo uma grande passeata que vem ocorrendo em diversas cidades do mundo, a Zombie Walk1. Um sub-gênero dentro do cinema de terror, foi consagrado em 1968 por George A. Romero, com o filme A noite dos mortos-vivos, e teve maior atenção do grande público com a estréia do seriado televisivo norte americano The Walking Dead, em 2010 pela rede de televisão AMC, alcançando expressivos números de audiência. Na maior parte dos casos, o tema recorrente, seja em filmes, no seriado ou outras produções, principalmente 1 “A Zombie Walk é uma marcha pública de pessoas vestidas de zumbi que acontece em diversas cidades do mundo. O evento surgiu na Califórnia em 2001, e desde 2006 vem sendo feito anualmente em São Paulo, sempre no dia 2 de novembro (Dia de Finados).”. Fonte: http://zombiewalksp.com/sobre/ 540 nos últimos anos2, remetem ao fim do mundo, neste caso, mais conhecido por seus fãs como “apocalipse zum- bi”. Em grande parte dessa produção recente haveria um colapso da “civilização” causado por uma epidemia, que faz com que os seres humanos que morrem, retornem sob a forma de “morto-vivo”, sem consciência e com um único instinto, alimentar-se de carne humana em geral (ainda que em outras produções os “zumbis” alimentem-se de partes mais específicas do corpo, como o cérebro no filme de Dan O’Bannon em 1985, A volta dos mortos vivos), retransmitindo a doença. The Walking Dead não é exceção, há o fim das formas de governo, da organização política institucional, do Estado, etc., e os restantes dos vivos lutam para sobreviver. Sobretudo, o principal inimigo, e que orienta essa “nova” organização, é o “zumbi” ou “morto-vivo”, uma espécie de humano não-humano, e não mais os monstros, os alienígenas, comuns nos filmes de ficção cientí- fica, ou as personagens de “russos”, “árabes”, “orientais” e “latino-americanos” de modo geral, em filmes de temática relacionada à espionagem, ameaças terroristas, violência urbana, etc. Como se o problema da ordem civilizacional estivesse na própria existência humana, o ser humano por si só constituiria sua própria ameaça. A estrutura seriada de The Walking Dead, somada a uma narrativa afeita a este modelo, não apenas reforça tal abordagem temática de uma maneira diferente como, também, prolonga nesse espaço e tempo localizado no pós “fim do mundo”, por meio de capítulos, aspectos que podem chamar a atenção do pesquisador. No seriado é possível acompanhar a evolução das personagens, os dilemas que devem resolver e as decisões que precisam tomar. Apesar de haver traços morais e éticos, resquícios da “antiga” sociedade, os sobreviventes passam a lidar com esta nova sociabilidade e adequar-se a uma nova estrutura social, onde todas as instituições e leis foram “destruídas”. The Walking Dead contribui com situações que simulam a sobrevivência e a vida humana após o colapso da sociedade, o que permite ao pesquisador das Ciências Sociais perscrutar e discutir o modo como tais situações, que envolvem temas caros às Ciências Humanas e Sociais, são elaboradas na forma de um produto cultural de entretenimento. Várias questões sociais já foram identificadas em diversos filmes anteriores sobre a temática “zumbi”, como se neles estivesse presente a manifestação de problemas latentes vividos pelas sociedades nas quais foram produzidos. Contemporaneamente, no entanto, a forma seriada, trabalhando com o retorno (feed-back) dado pelos consumidores através dos diversos dispositivos tecnológicos virtuais (como a internet, o celular, etc.) e em conjunto com a exploração de diversos produtos (como comic book, episódios on-line, jogos), busca ficar mais próxima do que é esperado pelos espectadores (e aficionados). Sem perder de vista as produções antigas nas quais os produtos mais recentes foram inspirados. Este texto tem por objetivo explorar uma parte da pesquisa que integrará a dissertação de mestrado3, que ainda está em seu começo. O objetivo aqui proposto é discutir alguns aspectos do seriado, incluindo sua análise, por meio de uma discussão teórica e metodológica entre dois autores: Siegfried Kracauer e Pierre Sorlin. 2. O seriado Em 2010, o “morto-vivo” apareceu em formato seriado, pela rede de televisão norte americana AMC, com o título The Walking Dead4. Baseada no comic book5 homônimo de grande sucesso nos Estados Unidos, foi 2 Por exemplo, filmes como: 28 Days Later... (Danny Boyle, 2002), Dawn of the Dead (Zack Snyder, 2004), Zombieland (Ruben Fleischer, 2009), World War Z (Marc Forster, 2013), e muitos outros; Livros como: Apocalipse zumbi: Os primeiros anos de Alexandre Callari, O Guia de Sobrevivência a Zumbis de Max Brooks, a série de livros Apocalipse Z de Manuel Loureiro, entre outros. 3 A pesquisa está sendo financiada pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e orienta- da pelo Prof. Dr. Mauro Luiz Rovai. 4 Ver http://www.amctv.com/shows/the-walking-dead 5 História em quadrinho norte americana com lançamento periódico. The Walking Dead foi criada e escrita por Robert 541 produzida por Frank Darabont e Gale Anne Hurd. Em síntese, na primeira temporada o seriado acompanha a história do xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln), que após acordar do coma em um hospital vazio na cidade de Atlanta, se vê obrigado a lutar por sua sobrevivência em um “novo” mundo, habitado por “mortos-vivos”, ao mesmo tempo em que tenta reencontrar sua esposa, Lori Grimes (Sarah Wayne Callies), e seu filho, Carl Grimes (Chandler Riggs). Após encontrá-los, Rick passa a liderar um grupo de sobreviventes, precisando tomar diversas decisões. A série obteve um sucesso imediato, devido, em grande medida, ao sucesso construído e alcançado pelo comic book6, lançado em 2003. O episódio piloto7 teve recorde de audiência e foi visto por cerca de 5,3 milhões de espectadores nos Estados Unidos, o maior número obtido até então por um canal da televisão a cabo norte americana8. O sucesso da série televisiva alavancou as vendas do comic book e, em um efeito de retroalimen- tação entre os produtos, os fãs da revista prontamente experimentaram o seriado, enquanto os telespectadores procuraram conhecer a revista9. Aproveitando o caminho aberto pela revista e pelo seriado, novos produtos foram desenvolvidos. Até o momento foram lançados diversos jogos eletrônicos (para facebook, computador, celular e vídeo game), dois livros e duas temporadas de webisodes10. No Brasil, o primeiro volume da coletânea de revistas foi lançado em 2006 pela editora HQM, sendo relança- do em edições mensais no fim de 2012. O seriado foi exibido primeiramente pelo canal de televisão a cabo Fox em 2010 e teve sua melhor audiência com a exibição do primeiro episódio da segunda temporada, com cerca de 1,47 ponto11. A série teve sua estréia na rede aberta no início de 2013, na TV Bandeirantes, alcançando mais audiência que diversos programas ao vivo12 e liderando por algumas vezes a audiência semanal da emissora em São Paulo e no Rio de Janeiro13. Se considerarmos, conforme Arlindo Machado (1997), o vídeo (formato que é utilizado na televisão) como sendo um fenômeno de comunicação em que “uma mensagem é transmitida de uma comunidade de produto- Kirkman e desenhada por Tony Moore, que pouco tempo depois foi substituído por Charlie Adlard. Para isso, v. http://www.image- comics.com/series/349/The-Walking-Dead 6 O sucesso no EUA aconteceu de forma gradual ao longo dos lançamentos, em 2006 ficou evidente que ocomic book havia alcançado um número expressivo de vendas, quando a edição número 33 se esgotou em 24 horas.