Universidade Do Sul De Santa Catarina, 2007
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Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 AMA - ARQUEOLOGIA NA MATA ATLÂNTICA1 Deisi Scunderlick Eloy de Farias2 Marcia Fernandes Rosa Neu3 Alexandro Demathé4 Geovan Martins Guimarães5 Tiago Atorre6 RESUMO Este artigo visa a apresentar sucintamente as atividades de pesquisas arqueológicas desenvolvidas no projeto AMA – Arqueologia na Mata Atlântica. Esse projeto, em desenvolvimento desde 2005, busca identificar, na região da encosta sul de Santa Catarina, evidências de ocupações de grupos pré-coloniais. A pesquisa, desenvolvida até o momento, demonstra que o local esteve constantemente ocupado, em diversos períodos da pré-história, por diferentes grupos humanos, portadores de culturas e tecnologias distintas. Palavras-chave: Arqueologia. Mata Atlântica. Diversidade cultural na pré-história. ABSTRACT This article presents, in a brief way, the activities of archaeological research project developed in AMA - Archaeology in the Mata Atlântica. This project is in development since 2005 and seeks to identify, in the region of the southern slope of Santa Catarina, evidences of occupations groups pre-colonial. The research conducted to date, demonstration that this place was constantly occupied in different periods of Prehistory by different human groups, people with different cultures and technologies. Keywords: Archaeology. Mata Atlântica. Cultural diversity in Prehistory. 1 Projeto com financiamento do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico desde 2005. 2 Arqueóloga pesquisadora e coordenadora do GRUPEP-Arqueologia/UNISUL. 3 Geógrafa pesquisadora do GRUPEP-Arqueologia/UNISUL. 4 Arqueólogo pesquisador do GRUPEP-Arqueologia/UNISUL. 5 Arqueólogo pesquisador do GRUPEP-Arqueologia/UNISUL. 6 Mestrando do MAE-USP. 185 Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 1. Introdução O projeto AMA tem como objetivo central evidenciar os elementos regionais e locais que permitam demostrar que a região da Encosta Sul de Santa Catarina foi uma área ocupada de forma permanente e constante por diferentes grupos humanos, culturamente diversos em diferentes momentos no período pré-colonial. Esse ambiente foi escolhido não apenas por suas características geográficas, mas também pela quantidade de vestígios arqueológicos, identificados e associados a padrões culturais, que não apenas os descritos pela literatura arqueológica como pertencentes à Tradição Umbu. Durante os seis anos de projeto foram realizadas prospecções arqueológicas, escavação em vários sítios, com aprofundamento no SC-RF-11 onde também foram realizadas atividades de geofísica, produção de uma cronologia regional, análises laboratoriais e atividades educativas. Nesse artigo, faremos um breve relato de algumas dessas ações. 2. Breve retrospectiva do projeto A área de pesquisa engloba os 17 municípios da AMUREL (Associação dos Municípios de Laguna), localizados na encosta sul do Estado de Santa Catarina, tendo como centro os municípios de Rio Fortuna e Grão Pará, na bacia do Rio Braço do Norte (figura 1). Esse projeto possui um duplo enfoque, que converge, simultaneamente, na escala regional e local. No enfoque regional buscaremos inferir, em detalhe, a evolução dos processos naturais e sua correlação com o estudo da ocupação humana, possibilitando desenvolver perspectivas arqueológicas de territorialidade, economia e sociabilidade em grande escala. No enfoque local, o projeto busca compreender, sobretudo, as formas culturais de apropriação deste território e de construção social da paisagem, o que envolve uma atenção especial e detalhada na investigação da natureza dos processos formativos associados aos sítios líticos a céu-aberto, buscando compreender as evidências relacionadas aos espaços domésticos, ou associadas à vida cotidiana. A idéia é investigar a funcionalidade e a distribuição dos diferentes componentes arqueológicos que configuram o sistema de ocupação da encosta. Buscamos com isso, a análise intra- 186 Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 sítio, mais focada e minuciosa, cuja intenção é avaliar os processos formativos desses sítios a céu-aberto que possuem características específicas e pouco pesquisadas. Figura 1: Mapa da AMUREL com as áreas pesquisadas. Essa pesquisa, iniciada em 2004 com apoio da FAPESC, e posteriormente, em 2006 e 2009 com apoio do CNPq, gerou informações importantes onde foi possível integrar vários métodos de investigação arqueológica ao estudo destes pouco conhecidos vestígios arqueológicos de sociedades pré-históricas adaptadas aos ambientes de floresta, uma abordagem que expandimos consideravelmente, em seis anos de pesquisa, com escavações sistemáticas, mapeamento de novos sítios, análise de 187 Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 material lítico e datações. Na primeira fase do projeto, desenvolvida em 2005 e 2006, encontramos vários sítios líticos ligados à Tradição Umbu e aos grupos ceramistas do litoral e planalto. No entanto, naquele momento não foi possível esclarecer aspectos cronológicos e culturais, já que não escavamos nenhum sítio mapeado. Na segunda fase, continuamos mapeando novos sítios arqueológicos, localizados em Rio Fortuna, Grão Pará, Laguna, Armazém, Jaguaruna, Tubarão e demais municípios da AMUREL e aprofundamos a pesquisa com a escavação de sítios localizados em compartimentos diferenciados dessa região. As intervenções nos propiciaram resgatar vestígios que foram datados, processados e analisados em laboratório. Com as pesquisas de Farias7, Dias8 e Perin9 foi possível inferir que os grupos humanos, adaptados a esse ambiente, criaram processos de aproveitamento e otimização do espaço, refletidos nas evidências da cultura material identificada nos espaços intra- sítios, demonstrando relações estabelecidas entre eles. Essas, por sua vez, apresentaram a acumulação do conhecimento gerado durante anos de convívio, criando uma espécie de “saber ecológico”10. A pesquisa propõe uma metodologia sistêmica e interdisciplinar, envolvendo um sistema geo-referenciado de informações (GIS), com o objetivo de elaborar modelos integrados de transformações ambientais e culturais, e também micro-evolução humana, da sociedade caçadora-coletora11. Os modelos propostos inferem tanto fatores naturais, como a expansão da Mata Atlântica12, como fatores históricos, que indicam a longa ocupação e adaptação das sociedades caçadoras-coletoras, seguidas das sociedades ceramistas, a estes cenários das Serras do Leste Catarinense, que envolvem, entre outras situações, a organização social, o padrão de assentamento, a tecnologia e a base 7 FARIAS, Deisi Scunderlick Eloy de, Distribuição e Padrão de Assentamento – propostas para os sítios da Tradição Umbu na Encosta de Santa Catarina, 2005. 8 DIAS, S., SIG e Arqueologia na Mata Atlântica - Padrão de Assentamento e Aproveitamento do Ambiente pelos Grupos Pré-Históricos na Micro-Bacia do Caruru - Tubarão – SC, 2007. 9 PERIN. E.B., Padrão de Assentamento dos Sítios Líticos do Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão - Municípos de Grão Pará e Rio Fortuna – SC, 2007. 10 BATES, Daniel G.; LEES, Susan H., Case studies in Human Ecology, 1996. 11 KNEIP, Andreas, O povo da lagoa: uso do SIG para modelamento e simulação na área arqueológica do Camacho, 2004; DIAS, S., op. cit., 2007; FARIAS, D. S. E., AMA - Arqueologia na Mata Atlântica – Padrão de assentamento e aproveitamento do ambiente pelos grupos pré-históricos na região da AMUREL, 2009. 12 BEHLING, Hermann, Late Quaternary vegetational and climatic changes in Brazil, 1998; ARAUJO, Astolfo G. M. et al., Eventos de Seca no Holoceno e suas implicações no povoamento pré-histórico do Brasil Central, 2003. 188 Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 alimentar. Além disso, a pesquisa busca identificar a expansão demográfica desses grupos e o possível contato com a chegada dos ceramistas Jê ao Planalto Meridional, estimado entre mil anos atrás aproximadamente13. O foco principal desta pesquisa continua sendo o sítio lítico a céu-aberto SC-RF-11, no município de Rio Fortuna, cujo estágio avançado de informações produzidas possibilita um salto qualitativo no conhecimento dos sítios a céu-aberto do interior. Figura 2: Implantação do Sítio SC-RF-11 em meio aos "mares de morros" da Encosta Catarinense. 3. Procedimentos metodológicos Para a identificação de novos sítios na região da AMUREL utilizamos a metodologia de full-coverage-survey, ou varredura completa. Baseada em Fish e Kowalewsky14, essa metodologia tem como denominador comum o exame sistemático de blocos contíguos de terra em níveis uniformes de intensidade. A intensidade ou o detalhe e a escala de observação espacial, é considerada como variável independente para os autores. Varredura completa implica uma área de pesquisa, englobando sítios múltiplos e suas imediações. Portanto, a dimensão da área torna-se um elemento central. Tal forma de trabalho não substitui a amostragem, apresentando-se como uma alternativa eficiente 13 FARIAS, Deisi Scunderlick Eloy de, op. cit., 2005. 14 FISH, Suzanne K.; KOWALEWSKI, Stephen A., The Archaeology of regions: a case for full-coverage- survey, 1990. 189 Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. ISSN 2178-0811 e econômica