Artigo Original

Conversações sobre a peste branca: formação em controle de tuberculose de profissionais da Estratégia de Saúde da Família no Estado do Conversation about white plague: formation in tuberculosis´s control of professionals of the Health Family Strategy in Rio de Janeiro’s State

Rodrigo Siqueira-Batista1, Ana Gessy Militão Guedes2, Eduardo Guimarães-Pereira3, Felipe Ramos-Oliveira4, Andréia Patrícia Gomes5, Anielle de-Pina-Costa6, Adriana Rocha-Mello7, Rodrigo Roger Vitorino8, Rodrigo Madalon-Fraga9, Marneili Martins10, Eliane Dale Sucupira11, Luiz Felipe da Silva Pinto12, Lísia Maria Raymundo de Freitas13

Resumo Objetivou-se avaliar nível de conhecimento e o efeito de ações educativas entre profissionais sobre a tuberculose (TB). Foi realizado curso de formação em controle de TB para médicos e enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família (ESF) — abordando-se os conteúdos de maior importância para o controle da TB — com duração de oito horas. Os profissionais foram avaliados com um pré-teste (PT) e um pós-teste (Pós-T) enfocando conceitos gerais sobre a TB, ambos com cinco questões objetivas, de igual conteúdo. Ao final da atividade foi aplicado um questionário para avaliação da atividade educa- tiva. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do UNIFESO (protocolo 038/06). 210 profissionais participaram

Trabalho realizado no Centro Universitário Serra dos Órgãos, Terezópolis (RJ) e na Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (RJ) – Brasil. 1 Professor Adjunto do Departamento de Medicina e Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa (UFV) - Viçosa (MG), Brasil; Professor Visitante do Curso de Graduação em Medicina do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) - Terezópolis (RJ), Brasil. 2 Ex-médica Pneumologista da Assessoria de Pneumologia Sanitária da Superintendência de Vigilância da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 3 Médico Residente do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 4 Médico Residente do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil. 5 Professor Adjunto do Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV – Viçosa (MG), Brasil. 6 Professor Assistente do Curso de Graduação em Medicina do UNIFESO – Terezópolis (RJ), Brasil. 7 Diplomada em Enfermagem pelo UNIFESO – Terezópolis (RJ), Brasil. 8 Graduando em Medicina pelo UNIFESO – Terezópolis (RJ), Brasil. 9 Diplomado em Medicina pelo UNIFESO – Terezópolis (RJ), Brasil. 10 Enfermeira da Assessoria de Pneumologia Sanitária da Superintendência de Vigilância da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 11 Médica da Assessoria de Pneumologia Sanitária da Superintendência de Vigilância da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 12 Professor Adjunto do Bacharelado em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) – Porto Alegre (RS), Brasil. 13 Coordenadora da Assessoria de Pneumologia Sanitária da Superintendência de Vigilância da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Rodrigo Siqueira-Batista – Universidade Federal de Viçosa – Avenida P. H. Rolfs s/n, Campus Universitário – CEP 36571-000 – Viçosa (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Fonte de financiamento: nenhuma. Conflito de interesse: nada a declarar.

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do processo de educação em TB, em quatro momentos diferentes, realizados nos municípios de , Arraial do Cabo, e . Houve ganho cognitivo nas quatro oficinas de formação, com aumento de todas as médias e intervalos de confiança entre o PT e o Pós-T (p<0,01). Os resultados obtidos com o processo educativo apontam para um grau razoável de apreensão cognitiva dos conceitos abordados, o que poderá ter impacto nas ações de controle da TB desempenhada por tais profissionais. Palavras-chave: educação; tuberculose; saúde da família.

Abstract The objective was to estimate the level of knowledge and the effect of educative actions about tuberculosis (TB) between the professionals. Eight-hour training courses in TB were given, emphasizing general and control aspects of the disease, to physi- cians and nurses working at primary health care. The course consisted of theoretical classes as well as discussion of cases. Pre- and post-tests on TB were given. The study was approved by the Ethics Committee from UNIFESO (protocol number 038/06). A total of 210 physicians and nurses took part in the activities, in four different moments, in cities of Angra dos Reis, Arraial do Cabo, Vassouras and Volta Redonda. All of them were pre- and post-tested. It showed enhance in cognition in all the cities, with increase in mean results between pre- and post-tests, fact confirmed by T-test on compared samples (p<0.01). Results obtained with the course on TB point to a reasonable degree of cognitive enhancement, what may result in impact on health actions and TB control from the part of the trained professionals. Keywords: education; tuberculosis; family health.

INTRODUÇÃO O profissional de saúde representa um dos sustentáculos A tuberculose (TB) — moléstia infecciosa, contagiosa, do controle da TB, na medida em que são de sua responsa- de evolução crônica, causada pelo microrganismo Myco- bilidade a suspeição clínica — pautada, especialmente, na bacterium tuberculosis — é considerada, na atualidade, uma busca de sintomáticos respiratórios — e a confirmação por emergência sanitária global. Estima-se que cerca de um terço meio do exame de escarro — baciloscopia e cultura —, além da população mundial esteja infectada por este agente etio- da solicitação da prova tuberculínica e dos métodos de ima- lógico e que ocorram, a cada ano, de oito a doze milhões de gem. Quanto à instituição de uma terapia eficaz, é importante novos casos de tuberculose ativa1-3. Tal condição mórbida é conhecer aspectos epidemiológicos como a ocorrência de ainda responsável por dois a três milhões de óbitos anual- bacilos com múltipla resistência aos fármacos, Multidrug mente, destacando-se como uma das três principais causas Resistant TB (MDR-TB) e Extreme Drug Resistance TB (XDR- de morte por enfermidades infecciosas em adultos4,5. Neste TB), a associação TB-HIV, além de aspectos biopsicossociais contexto, com prevalência estimada de 14,4 milhões de ca- do indivíduo acometido, minimizando a morbimortalidade sos, ocorreram 9,2 milhões de novos casos e 1,7 milhão de dessa enfermidade13-15. Vale ressaltar, ainda, que o profissional mortes em 2006, dos quais 700.000 casos e 200.000 mortes de saúde, exposto a insalubridade, deve ser corresponsável por em indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência sua própria proteção no manejo diário dos bacilíferos6,9,16. humana (HIV)6. Com base nessas considerações, diferentes esforços têm A situação no Brasil se inscreve no panorama mundial sido envidados, no sentido de se alcançar a redução da inci- brevemente apresentado, caracterizando-se a doença como dência e da mortalidade por TB. Dentre as ações dirigidas para um grave problema de saúde pública, estimando-se a ocor- esse fim está a qualificação de recursos humanos — profissio- rência de 85.000 novos casos e de 5.000 a 6.000 óbitos, anu- nais de saúde — tornando-os mais aptos para (1) a busca de almente7-10. Nesse trágico quadro nacional, o estado do Rio sintomáticos respiratórios, (2) a investigação diagnóstica, (3) de Janeiro (RJ) se destaca por apresentar a mais elevada taxa a condução da terapêutica e (4) a implementação de métodos de incidência do país (98,8/100.000 habitantes), assim como atinentes à profilaxia e ao controle. Nesse sentido, o Programa a maior taxa de mortalidade (6,25/100.000 habitantes)11, fato de Controle de Tuberculose (PCT) da Secretaria de Estado e esse explicado por uma miríade de determinantes históricos, de Defesa Civil do RJ (SESDEC-RJ) tem desenvolvido ações políticos e sociais relativos à unidade federativa. educativas para os profissionais em todo o Estado do Rio de Aliado a isso, estudos evidenciam o descompasso existen- Janeiro. te entre a vital importância da Estratégia Saúde da Família O objetivo do presente artigo é apresentar a avaliação do (ESF) para a implementação das ações de controle de TB e nível de conhecimento — especialmente nos aspectos rela- as dificuldades relativas aos recursos humanos do Sistema cionados à história natural, ao diagnóstico, ao tratamento, à Único de Saúde (SUS), o que contribui para tornar o controle prevenção e à biossegurança — e o efeito de ações educativas dessa moléstia um real desafio de planejamento político e de — sob os mesmos aspectos — entre profissionais que traba- educação dos profissionais de saúde12. lham na ESF dos municípios do Rio de Janeiro.

Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (3): 312-7 313 Rodrigo Siqueira-Batista, Ana Gessy Militão Guedes, Eduardo Guimarães-Pereira, Felipe Ramos-Oliveira, Andréia Patrícia Gomes, Anielle de-Pina-Costa, Adriana Rocha-Mello, Rodrigo Roger Vitorino, Rodrigo Madalon-Fraga, Marneili Martins, Eliane Dale Sucupira, Luiz Felipe da Silva Pinto, Lísia Maria Raymundo de Freitas

MÉTODOS regular, ruim – e à didática – excelente, muito bom, bom, A presente investigação — descritiva e prospectiva — é regular, ruim – da oficina de formação. parte das ações de educação desenvolvidas no âmbito do PCT da Assessoria de Pneumologia Sanitária (APS), Supe- Os dados coletados dos questionários foram quantificados rintendência de Vigilância da Saúde, SESDEC-RJ. Foram no banco de dados no programa EpiInfo 2000 (Centers for realizadas dez oficinas de formação dirigidas aos médicos e Disease Control and Prevention, CDC, Atlanta, USA), no qual aos enfermeiros da ESF — oriundos de diferentes municípios se realizaram as análises bivariadas das variáveis dicotômicas do Estado do Rio de Janeiro —, ao longo de 2006 (de março e contínuas, além de testes de significância estatística para a dezembro), enfocando diferentes aspectos da TB. Deste to- comparação das observações pareadas (antes versus depois tal, em quatro capacitações — sediadas em Angra dos Reis, da oficina de formação = pré-teste e pós-teste). O trabalho Arraial do Cabo, Vassouras e Volta Redonda, envolvendo 36 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro municípios — foram avaliadas questões relativas à TB (pré- Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) – protocolo nú- e pós-teste). mero 038/06 – em consonância com o disposto na Resolução A oficina de formação — realizada, sempre, por dois do- 196/96 – e com as resoluções posteriores – do Conselho Na- centes (técnicos do PCT-RJ) — foi estruturada para ter uma cional de Saúde. duração média de oito horas, abordando-se os conteúdos de maior importância para o controle da TB. Na parte da manhã, priorizava-se o emprego da aula expositiva, abrindo-se, sem- RESULTADOS pre, espaço para o debate, com a plateia, dos diferentes assun- Participaram da atividade 210 profissionais, incluindo tos abordados. No período da tarde, o trabalho desenvolveu-se médicos e enfermeiros. Todos responderam às questões do em torno da discussão e resolução de uma situação-problema, pré- e pós-teste sobre TB. Na Tabela 1 são apresentados os a qual era debatida livremente em pequenos grupos (com até resultados obtidos, referentes a quatro municípios sede das oito integrantes), com disponibilização de material didático — oficinas de formação. Manual Técnico para o controle da tuberculose: cadernos de Na Tabela 2 pode ser observada a nota média, por municí- atenção básica7 — e auxílio dos técnicos do PCT; o resultado pio, referentes aos pré- e pós-teste do conhecimento geral sobre das discussões era, então, apresentado em plenária, momento tuberculose. Evidencia-se no pré-teste a nota média±desvio no qual se estimulava amplo debate entre todos os presentes. padrão de 3,53±2,17; e no pós-teste 6,78±2,25, caracterizando Antes do início das atividades didáticas e após o término um crescimento cognitivo de 92,0%. Importante ressaltar que das mesmas foram aplicados testes (pré-teste e pós-teste) os quatro municípios tiveram aumento cognitivo após a ação versando sobre os mesmos tópicos e com grau de dificuldade educativa, com aumento de todas as médias, confirmados com praticamente idêntico, enfocando conceitos gerais sobre TB. teste t para amostras pareadas (todos os valores de p<0,01). Os Os participantes também recebiam um questionário de ava- profissionais que participaram do processo educativo no mu- liação, com perguntas sobre a estrutura, a didática e o impacto nicípio de Angra dos Reis obtiveram a maior média e o maior das ações de formação. O pré-teste, o pós-teste e a avaliação crescimento cognitivo (140,0%). Os municípios de Arraial do da atividade não continham campo para inclusão do nome do Cabo, Vassouras e Volta Redonda alcançaram os respectivos respondente, sendo, pois, anônimos. patamares de crescimento 58,0%, 90,0% e 86,0%. Para apreciação dos dados da presente investigação, fo- ram incluídos profissionais — médicos e enfermeiros — que participaram das oficinas de formação em TB organizada Tabela 1. Distribuição dos questionários de pré- e pós-testes pelo PCT-RJ, e excluídos aqueles que não concordaram em aplicados, segundo municípios selecionados do Estado do Rio de preencher os questionários acima arrolados e aqueles que Janeiro, março a dezembro de 2006 Frequência absoluta Frequência relativa pertenciam a outras classes profissionais. As variáveis empre- Municípios gadas foram: (n) (%) Angra dos Reis 35 16,65 (1) nota do pré-teste sobre TB, zero a dez; Arraial do Cabo 68 32,4 (2) acerto de cada questão do pré-teste sobre TB, certa ou Vassouras 38 18,1 errada; Volta Redonda 69 32,85 (3) nota do pós-teste sobre TB – zero a dez; Total 210 100 (4) avaliação quanto à estrutura – excelente, muito bom, bom, Fonte: Oficina de Formação em Tuberculose. Assessoria de Pneumologia Sanitária, Superintendência de Vigilância de Saúde, Secretaria de Estado de regular, ruim – ao conteúdo – excelente, muito bom, bom, Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro.

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Tabela 2. Distribuição das notas obtidas no pré- e pós-teste sobre é de grande importância para os profissionais que cuidam dos tuberculose: estimativas pontuais – municípios selecionados – Estado do Rio de Janeiro, 2006 pacientes vitimados pela enfermidade — conforme vem sen- 3,17-19 Pré-teste Pós-teste do demonstrado em diferentes estudos —, ressaltando-se Municípios valor p (*) a participação, decisiva, de médicos e enfermeiros da ESF nas Média DP Média DP ações de controle da enfermidade. De fato, de acordo com o Angra dos Reis 3,2 2,01 7,71 2,48 <0,01 Ministério da Saúde, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Arraial do Cabo 3,91 1,99 6,2 2,07 <0,01 SUS — entre as quais aquelas da ESF — de todos os municí- Vassouras 3,31 2,29 6,31 2,69 <0,01 pios do país devem7: Volta Redonda 3,71 2,4 6,92 1,76 <0,01 • identificar entre as pessoas maiores de 15 anos que procuram Total 3,53 2,17 6,78 2,25 <0,01 o serviço, sintomáticos respiratórios (pessoas com tosse e Fonte: Oficina de Formação em Tuberculose. Assessoria de Pneumologia Sanitária, Superintendência de Vigilância de Saúde, Secretaria de Estado de expectoração por três semanas ou mais), fazer o diagnóstico Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro. (*) valor p do teste t para de tuberculose, iniciar o tratamento, acompanhar os casos observações pareadas. DP: desvio padrão. em tratamento, dar alta aos pacientes; • identificar entre as crianças que procuram o serviço de saúde, aquelas portadoras de pneumopatias e outras ma- Média: Pré e Pós teste nifestações clínicas sugestivas de tuberculose, descritas mais adiante, e encaminhá-las a uma unidade de referência para 7 investigação e confirmação do diagnóstico; 6 • acompanhar e tratar os casos confirmados nas UBS; 5 • aplicar a vacina bacilo de Calmette-Guérin (BCG); 4 • coletar material para a pesquisa direta de bacilos álcool 3 ácido resistentes (BAAR) no escarro. Caso a UBS não pos- 2 sua laboratório, identificar um laboratório de referência e 1 estabelecer um fluxo de envio do material; 0 • realizar a prova tuberculínica quando necessário; Pré Pós • realizar exame anti-HIV quando indicado; Pré Pós • dispor de estoque de medicamentos específicos para os doen- Fonte: Banco de dados gerado a partir da Oficina de Formação em tes inscritos no programa de tuberculose; Tuberculose. Assessoria de Pneumologia Sanitária, Superintendência de Vigilância da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil • fazer tratamento supervisionado na unidade de saúde ou do Estado do Rio de Janeiro. no domicílio quando indicado; Gráfico 1. Distribuição das médias de acertos nos pré- e pós-teste • manter o Livro de Controle de Tratamento dos Casos de sobre tuberculose – municípios selecionados, Estado do Rio de Tuberculose com informações atualizadas acerca do seu Janeiro – 2006 acompanhamento, baciloscopias e critério de alta. Essas informações devem ser enviadas mensalmente ao primeiro No Gráfico 1 destaca-se a média dos acertos das questões nível informatizado do Sistema de Informação de Agravos dos pré- e pós-teste sobre TB, reiterando-se o grande impacto de Notificação (SINAN), seja o distrito sanitário, nos mu- da oficina de formação. O Gráfico 2 ilustra o crescimento nicípios maiores, ou para a Vigilância Epidemiológica da cognitivo em todos os municípios. Secretaria Municipal de Saúde. Estar atento que a médio A avaliação quanto à estrutura, ao conteúdo e à didática prazo, uma nova ficha do SINAN deverá estar disponível com as categorias excelente, muito bom, bom, regular e ruim incorporando essas informações; foi descrita no Gráfico 3. Mais de 90% dos compartes conclu- • informar a Secretaria Municipal de Saúde acerca dos casos íram como sendo excelente, muito bom ou bom os caracteres atendidos e situação de encerramento (resultado do trata- em questão. mento) desses casos; • realizar trimestralmente estudo de coorte dos casos acompa- nhados para a análise do resultado do tratamento; DISCUSSÃO • fazer uma programação anual para o Programa de Controle O adequado conhecimento acerca da TB — especialmente da Tuberculose, juntamente com a Vigilância Epidemiológi- os conceitos relacionados à fisiopatologia, à clínica, ao diag- ca do município, estabelecendo metas a serem atingidas; nóstico, ao tratamento, à terapêutica e à profilaxia/controle — • fazer visita domiciliar quando necessário;

Cad. Saúde Colet., 2011, Rio de Janeiro, 19 (3): 312-7 315 Rodrigo Siqueira-Batista, Ana Gessy Militão Guedes, Eduardo Guimarães-Pereira, Felipe Ramos-Oliveira, Andréia Patrícia Gomes, Anielle de-Pina-Costa, Adriana Rocha-Mello, Rodrigo Roger Vitorino, Rodrigo Madalon-Fraga, Marneili Martins, Eliane Dale Sucupira, Luiz Felipe da Silva Pinto, Lísia Maria Raymundo de Freitas

• treinar os recursos humanos da unidade básica de saúde; Média Pré e Pós teste: • realizar ações educativas junto à clientela da unidade de Município saúde, bem como na comunidade; 8 • divulgar os serviços prestados tanto no âmbito do serviço de 6 saúde como na própria comunidade. 4 2 Nestes termos, uma reduzida apropriação prévia de conte- 0 údos, em se tratando de assuntos essenciais no que diz respei- Pré Pós Pré Pós to ao processo de adoecimento, pode acarretar dificuldades à Pré Pós Pré Pós eficácia das medidas de controle, com destaque para o rastreio AR AC dos sintomáticos respiratórios, o diagnóstico precoce, o trata- V VR mento eficaz, a profilaxia e a biossegurança7,20-24. Desde essa perspectiva, os dados da literatura acerca dos conhecimentos AR Pré AC Pré V Pré VR Pré AR Pós AC Pós V Pós VR Pós dos profissionais que trabalham em TB reiteram a importância da realização de programas que visem melhorar a atuação dos Fonte: Banco de dados gerado a partir da Oficina de Formação em profissionais — permitindo o emprego de métodos diagnós- Tuberculose. Assessoria de Pneumologia Sanitária, Superintendência de Vigilância da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil ticos eficazes e condutas terapêuticas e profiláticas adequadas do Estado do Rio de Janeiro. ao objetivo de reduzir a morbimortalidade da enfermidade Legenda: AR, Angra dos Reis; AC, Arraial do Cabo; V, Vassouras; VR, Volta Redonda. —, motivação, afinal, das capacitações oferecidas pela APS da Gráfico 2. Distribuição das notas obtidas nos pré- e pós-teste sobre SES-RJ. tuberculose, segundo municípios selecionados – Estado do Rio de Os dados ora publicados expõem lacunas relativas ao Janeiro, 2006 conhecimento dos profissionais de saúde atuantes em ESF, visto que da totalidade dos participantes deste estudo a média de acertos prévios à oficina de formação corresponderam à 35,0% (Gráfico 1 e Tabela 2)19,25. A constatação de uma evo- lução cognitiva global acena para o positivo impacto de ações Q3 educativas semelhantes à apresentada. O crescimento cogni- tivo, em todos os municípios, permite considerar, em última Q2 análise, a adequação e versatilidade da estrutura apresentada pelo projeto de formação, adaptando-se as nuances sociocul- turais particulares de cada grupo de municípios envolvidos. Q1 Desse modo, supõe-se que medidas deste tipo podem concor- rer para o aprimoramento das ações dirigidas aos cuidados 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% dos enfermos. Excelente Muito bom Bom Regular Ruim 1 Aliado a isso, a avaliação realizada pelos profissionais de saúde do processo de formação, mostra a real aceitabilida- Fonte: Banco de dados gerado a partir Oficina de Formação em Tuberculose. Assessoria de Pneumologia Sanitária, Superintendência de de projetos como este, sendo elucidada pelo Gráfico 3, de Vigilância da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde e Defesa com grau excelente, muito bom ou bom para os três que- Civil do Estado do Rio de Janeiro. sitos apreciados (estrutura, conteúdo, didática) em mais Gráfico 3. Distribuição da avaliação da Oficina de Formação realizada: estrutura (Q1), conteúdo (Q2), didática (Q3) – municípios de 90,0% dos partícipes. O grau de satisfação evidenciado selecionados, Estado do Rio de Janeiro, 2006 permite extrapolar, ainda, que atividades assim desenha- das emergem como recurso essencial à imperiosa neces- sidade sentida pelos profissionais de saúde de atualização aprendizagem exterior ao serviço — devem ser apontadas constante e aprimoramento técnico. como inequívocos limitantes para uma apreciação mais fi- 1 As características do processo educativo em foco — curto dedigna dos efeitos no incremento cognitivo da população intervalo de tempo (oito horas no geral, representando investigada. Sem embargo, novas propostas centradas nas intervalo ainda menor para a abordagem de temas relacio- metodologias ativas de ensino-aprendizagem vêm sendo nas ao conhecimento sobre TB), metodologia expositiva pensadas, trazendo salutares perspectivas para o futuro. predominante (aulas teóricas em boa parte da atividade) e

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Com base nos resultados obtidos, é possível confirmar a exis- processo de melhoria dos cuidados à saúde realizados na ESF, res- tência de crescimento cognitivo dos profissionais de nível superior saltando a necessidade de envolvimento das esferas de governo no da ESF — médicos e enfermeiros — após a realização das oficinas nível municipal, estadual e federal, as quais devem somar forças de formação. Esta pode ser considerada uma ferramenta ímpar no para minimizar os malefícios provocados pela peste branca.

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