Setembro Nº123
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No 123 – ISSN 1808-1436 Londrina, 30 de setembro de 2017 ICTIOLOGIA EDITORIAL rezados associados, neste Boletim a colega ao desenho vetorial digital. No Peixe da Vez, é PSirlei Terezinha Bennemann nos conta um apresentada Bujurquina vittata (Heckel, 1840), com pouco da sua trajetória profissional como educadora informações relevantes apresentadas por Maria José e pesquisadora, em um relato estimulador de sua Alencar Vilela e colaboradores. Confiram também história acadêmica. Em Comunicações, a associada Novas Publicações na área, como o lançamento do Luisa Maria Sarmento-Soares e seus colaboradores livro “Ecologia de riachos de Montanha da Mata apresentam uma caracterização detalhada da Atlântica” e os principais eventos ictiológicos dos bacia do Rio Doce, recentemente impactada pelo próximos meses. rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, MG, em 5 de novembro de 2015. Em Técnicas, Boa leitura! o associado Oscar Akio Shibatta continua a nos presentear com mais uma técnica de ilustração Fernando Jerep científica de peixes, desta vez com uma introdução Secretário da SBI Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 123 2 DESTAQUES Retratos e reflexões de uma caminhada universitária Sirlei Terezinha Bennemann pós a aposentadoria, tive uma experiência no início de minha de carreira, os docentes e Acomo professora Sênior em Programa de Pós- também os alunos, precisavam desenvolver seus Graduação, que considero uma fase de transição talentos e estratégias para o término de suas da minha vida profissional de docente (ensino, formações e o desenvolvimento de seus projetos. pesquisa e extensão) na UEL para uma fase mais Era frequente presenciar professores e alunos amena. Com poucas atividades e tempo disponível sentados nos corredores, nos bancos do calçadão para refletir, pude ver o “filme” de toda minha e nas muitas belas áreas naturais distribuídas pelo vida, principalmente do período em que atuei como campus discutindo estratégias de como enfrentar professora e pesquisadora na Universidade Estadual as dificuldades ou lamentar-se dos imprevistos de Londrina (UEL). Nos minutos finais da banca de ocorridos. O diferencial daquele momento estava defesa de doutorado de minha última aluna, Débora F. nas escolhas: buscar soluções para as dificuldades, S. Bernardino, senti a necessidade de externar essas ou permanecer sem nada fazer, utilizando como memórias e fui encorajada pelas pessoas presentes a justificativa as dificuldades. colocar no papel as lembranças de uma vida repleta Lembro com muita euforia quando, na de aprendizados. Assim, comentarei sobre o que década de 1980, ingressei na universidade e tínhamos vivi e aprendi na UEL, lapidando a “matéria prima” liberdade para realizar atividades em ensino, – os estudantes, que são os principais motivadores pesquisa e extensão, a tríade das universidades. na forma que atuamos profissionalmente e também Todas estas atividades eram desenvolvidas com como indivíduos! a mesma “matéria-prima” – os estudantes. Em Hoje muito se fala em crise na educação e em diferentes períodos de minha vida de docente atuei todas as esferas ligadas ao modo que vivemos em nestas três atividades. No entanto, ao longo do nossa sociedade. O fato é que, em todas as épocas tempo, as relações com os alunos e as dificuldades existiram crises e dificuldades, no entanto, cada foram se modificando e fui me ajustando conforme época com suas particularidades. Na universidade, as demandas e de acordo com minhas convicções. Figura 1. Defesa de doutorado da última orientada, Débora F. S. Bernardino – UEL 16/08/2017 – Banca composta por: Dra. Sirlei T. Bennemann, Dra. Ana Paula V. Magnoni, Dr. Fernando F. Carvalho, Dra. Elaine A.L. Kashiwaqui e Dr. Carlos Eduardo Alvarenga Júlio. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 123 3 Além do mais, as exigências e burocracias da os alunos: “quem não tiver interesse em assistir as universidade eram muitas, e diferentes em cada uma aulas, pode sair depois do registro da presença”. No das atividades. Eis o relato em cada uma delas. entanto, alertava que o Curso tinha um regimento que A atividade de Ensino é a nossa principal deveríamos seguir e, se eles tivessem mais que 25% ocupação na Universidade, basicamente é para de faltas seriam reprovados na disciplina”! Houve esta função que somos contratados. As atividades casos de reprovação por faltas, mas estes alunos de ensino eram empolgantes e sentia isso por dois também reprovaram por não atingirem o conceito motivos: os alunos do curso de Ciências Biológicas mínimo e a média necessária para aprovação. O eram interessados e fascinados em aprender, professor ainda não estava obsoleto! O docente não especialmente sobre os animais, e eu ministrava tem o papel de simplesmente apresentar o conteúdo aulas de Zoologia. Ah! Como tenho saudades de duas pronto e resumido, mas sim o de motivador do décadas atrás, quando iniciei as aulas no curso. Não conhecimento, de interpretações e estimulador de havia tanta tecnologia e também o professor tinha conexões! A disciplina que ministrei sempre foi mais valor! As relações e conversas entre professores a mesma, mas fazia experiências com estratégias e alunos eram muito intensas, motivadoras, novas para motivar o interesse dos alunos. Ah, espontâneas e prazerosas. Nossa! Como eles como era realizador nos primeiros anos de minha gostavam quando tínhamos tempo para conversar atuação, quando nas aulas teóricas planejávamos o sobre suas buscas e sonhos com a Biologia. Os alunos que fazer nas aulas práticas. A sala de aulas práticas, ficavam em sala de aula porque sabiam que aquele com lotação de 20 alunos, possuía apenas seis assunto era importante para sua formação e que não microscópios. E era empolgante: os alunos iam se achariam de maneira fácil aquilo que estava sendo revezando para observar o material e, quando dava repassado pelo professor. Assistiam aula realmente! tempo, eles voltavam novamente a rever o material Isso foi mudando ao longo dos anos, pois ao invés até terminar o tempo da aula. Era preciso pedir que de prestar atenção no conteúdo que era exigência do saíssem da sala, pois outras turmas aguardavam para programa da disciplina, alguns alunos começavam entrar no laboratório. E quanta diferença, nos últimos a exibir suas facilidades de acesso às tecnologias, anos desta década, os alunos perguntavam: “é só isso buscando respostas fáceis, mas superficiais, em professora?” E logo se retiravam do laboratório. Não sites na rede mundial de computadores. Os alunos existia mais interesse em aprofundar, saber mais e perderam o interesse nas aulas e, principalmente, não conversar com o professor. Acredito que todo o buscavam mais o diálogo com o professor. Apesar sistema está inadequado, os tempos são outros, a das novidades da tecnologia que agora substituíram maneira de aprender é diferente, mas o sistema de as conversas, o modelo e as regras e regimentos ensino continua o mesmo! E haja estratégia para dos cursos permaneceram os mesmos! Recordo- motivar! Entretanto, ministrar aulas no Programa me que, nesses últimos anos de docência, diversas de Pós-Graduação, ainda há muita participação dos vezes durante as aulas que ministrava falava para alunos e, é realizador! (Figuras 2, 3 e 4). Figura 2. Expedição com alunos do Curso de Ciências Biológicas ingressantes na UEL – Uma visita ao biólogo Henrique Rocha, formado na mesma universidade e dono de um viveiro de mudas, em Londrina 2008. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, No 123 4 Figura 3. Aulas de Ecologia Trófica em riachos no Parque Figura 4. Última turma que ministrei aulas de Graduação no Ecológico da Klabin, Telêmaco Borba – Alunos do Curso de Curso de Ciências Biológicas da UEL. Celebração da formatura Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UEL, ano 2006. destes alunos e minha aposentadoria, em 2013! A atividade de Pesquisa parece ser a área muitas vezes não retornam à comunidade local e não mais atraente aos docentes, pois eles podem ser são aplicáveis/executáveis aonde deveriam. Não é considerados cientistas! É também o maior atrativo apenas nos periódicos internacionais que o acesso aos alunos de Ciências Biológicas, pois é o que mais é difícil, mas também nos nacionais que seguem as pontua os currículos para os concursos para empregos regras daqueles internacionais. Além disso, publicar depois de formados e, para os pesquisadores, é uma novela exaustiva! Quase sempre quem analisa para obter recursos para suas pesquisas e bolsas e avalia nossos papers é estrangeiro e por isso não de produções acadêmicas. Para isso, é necessário conhece tão bem a nossa realidade neotropical. entender e atender as normas dos periódicos, que Percebi que existe um padrão de respostas para conforme minhas convicções são incoerentes em a rejeição dos artigos, pois as justificativas se relação às necessidades da população local onde repetem: i. a tendência em analisar e questionar o atuamos. Pergunto: Para que serve um artigo muito que não foi realizado, sugerindo novas abordagens bem pontuado pela cienciometria? O acesso desses em detrimento do que é apresentado no artigo; resultados aos técnicos, alunos e profissionais que ii. a escrita, em inglês, precisa de revisão; iii. as atuam na comunidade local, muitas vezes, não é referências não são atualizadas (o que demonstra a fácil ou até mesmo de difícil entendimento. Assim, falta de conhecimento do referee sobre a inexistência os investimentos realizados em pesquisas por órgãos de publicações relacionadas ao assunto). Além disso, governamentais, em Programas de Pós-Graduações, tem a preferência