EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

PREVENÇÃO: MINISTRO , RELATOR DO HABEAS CORPUS Nº 143.333/PR

TICIANO FIGUEIREDO, PEDRO IVO VELLOSO, FRANCISCO AGOSTI e MARCELO NEVES, brasileiros, advogados, inscritos, respectivamente, na OAB/DF sob os nos 23.870, 23.944, OAB/SP sob o nº 399.990 e OAB/RJ sob o nº 204.886, todos com escritório profissional no SHIS QL 24, Conjunto 07, Casa 02, Brasília/DF, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 5º, LXVIII da Constituição Federal e 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordemEm: 11/03/2021 de - 18:47:24

H A B E A S C O R P U S com pedido de liminar Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936 em favor de EDUARDO COSENTINO DA CUNHA, brasileiro, casado, economista, portador do RG nº 15.303 CRE/RJ, inscrito no CPF/ME sob o nº 504.479.717-00, domiciliado na Avenida Heitor Doyle Maia, 98, Barra da Tijuca, /RJ, que está a sofrer constrangimento ilegal por acórdão prolatado pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça nos autos do Agravo em Recurso Especial nº 1.193.220, pelos motivos fáticos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

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EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,

COLENDA TURMA,

EMINENTES MINISTROS,

HABEAS CORPUS

I – DOS FATOS

Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de Eduardo Cosentino da Cunha, arguindo-se a suspeição do então Magistrado Sérgio Fernando Moro, ex-titular da 13ª Vara Federal de , em razão do conluio firmado com Procuradores da República, à época integrantes da Força-Tarefa da Lava-Jato, com os quais mantinha estreita relação de aconselhamento, demonstrando sua pré-disposição para condenar o paciente – o que, de fato, veio a ocorrer.

Nos autos originários, processo nº 5051606- 23.2016.4.04.7000, o paciente foi denunciado pelos membros mancomunados do Ministério Público Federal, como incurso dos crimes de corrupção passiva, no contexto de aquisição de direitos de exploração de petróleo em Benin, na África, pela Petrobrás, e de lavagem de dinheiro e evasão de dividas, pela manutenção de valores em conta bancária da Suíça. Esse mesmo processo hojeEm: impõe 11/03/2021 a Eduardo - 18:47:24 Cunha condenação de 14 (quatorze) anos e 6 (seis) meses de reclusão, bem como 4 (quatro) anos e 5 (cinco) meses de prisão preventiva – medida essa ainda vigente, mas recentemente substituída pela restrição domiciliar. Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936 A hipótese ora arguida, na verdade, transcende o mero aconselhamento: tratava-se de verdadeira orquestra acusatória liderada pelo Magistrado, como descreveu o eminente Ministro , em seu voto, n. Ag. Rg. na Rcl. 43.007, na medida em que a autoridade judicial participava ativamente da definição das ações a serem tomadas pelo Ministério Público, ora antecipando sua concordância, inclusive fornecendo informações, ora determinado a melhor estratégia a ser adotada – tudo isso em canal extraoficial, em tempo real, à revelia da defesa.

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Confira-se trecho do voto do d. Ministro Gilmar Mendes a respeito do dito conluio:

De uma análise perfunctória de certa de 4,6% (quatro virgula seis por cento) do material composto pelos diálogos havidos no aplicativo Telegram, porém, já é possível depreender o funcionamento de um conluio institucionalizado e perene composto pelo ex-Juiz Sérgio Moro, pelos ex- membros da Força-Tarefa da Operação Lava-Jato e pela Polícia Federal em Curitiba. Tal conluio era articulado com o objetivo permitir a troca de informações fora dos veículos oficiais e o alinhamento do jogo processual para além dos limites legais do processo penal brasileiro. Dentre os diversos trechos que apontam para o funcionamento desse núbio espúrio entre órgão de acusação e magistrado, sobrelevam-se diálogos que demonstram que a acusação adotava estratégias subreptícias que prejudicavam a defesa do reclamante nos inquéritos e ações penais, ora com a aquiescência do juiz, ora sob no cumprimento de expressas ordens do magistrado. (...)

A prática de se antecipar o conteúdo de manifestações técnicas ao Juiz da Lava-Jato fora dos autos fazia parte da rotina do conluio. O magistrado – que ocupava a verdadeira posição de revisor técnico das peças do MPF – parecia chancelar as peças mesmo quando o processo já havia saído da sua jurisdição. (...)

Mais um ponto, Ministros, desculpem cansá-los, mas é uma questão realmente relevante, relevante para essa análise, porque certamente teremos muitos desdobramentos, mas é precisoEm: colocar 11/03/2021 isso com - muita18:47:24 clareza, porque de novo digo: ou nós estamos diante de uma obra ficcional fantástica, que merece o nobel de literatura, ou nós estamos diante de um caso extravagante que esse colunista do New York Times Impressotem por: razão 073.733.574-23 em dizer: é oHC maior 198936 escândalo judicial da humanidade. É disso que estamos falando.

A parceria entre o Juiz e os membros do Ministério Público viabilizou que até mesmo a utilização de recursos materiais para a investigação contra o reclamante fosse racionalizada de forma conjunta.

A atuação proativa do magistrado fazia com que os inquéritos, ações penais e negociações de acordos de

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colaboração premiada perante a 13ª Vara Federal de Curitiba seguissem um rito e procedimento próprio, fazendo letra morta da legislação penal brasileira. A posição do juiz, referenciado nas mensagens como “o Russo” era a de um verdadeiro legislador positivo que criava as suas próprias regras e fases processuais.

As idiossincrasias da atuação do magistrado não passavam desapercebidas nem mesmo pelos membros da chamada “Equipe Moro”, como se autointitulavam os Procuradores da Força-Tarefa da Operação Lava-Jato nas conversas obtidas. (...)

Portanto eles estavam fazendo um Código de Processo Penal. Que não era de Curitiba, era da Rússia! É de corar frade de pedra! A não ser que se prove que esses fatos não existiram. (...) A orquestra acusatória liderada pelo Magistrado era reforçada pela manutenção de um canal direto entre os membros da Força-Tarefa e representantes da Polícia Federal. A fim de facilitar a troca de informações por meio de contatos, os Procuradores estabeleceram um grupo de Telegram com os membros da Polícia Federal encarregados da condução da investigação contra o reclamante. (...)

O grupo era utilizado para combinar a conclusão de fases do procedimento inquisitorial e para o compartilhamento, em tempo real, de informações colhidas pela autoridade policial. O vínculo estreito entre os procuradores e os agentes da PF permitiu que a Lava-Jato instalasse um verdadeiro sistema soviético de monitoramento das estratégias utilizadas pela defesa do reclamante. Eu quero que alguém diga, Em: 11/03/2021 - 18:47:24 honestamente, que isto encontra abrigo, Ministra Cármen, na Constituição.

ImpressoComo sabido, por: 073.733.574-23 o eminente Ministro HC 198936 relator da Rcl. 43.007, , autorizou ao respectivo reclamante o acesso às mensagens trocadas pelo Magistrado e os Procuradores da República, apuradas na cognominada Operação Spoofing. O d. Relator ainda levantou o sigilo dos autos no dia 01/02/2021, proporcionando acesso público à parte das conversas.

Com o acesso, os impetrantes puderam observar uma série de implicações ao paciente, havendo inclusive menções diretas ao seu

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br nome e ao de seus familiares. Diversas são as citações a fatos pertinentes à ação penal originária, nas quais se pode observar que o conluio entre o Magistrado e Procuradores operou diretamente no processo do paciente, sendo tramadas estratégias com o fim de obter a sua condenação.

O teor das conversas, desnudando a espúria relação entre Procuradores e Magistrado, já seria suficiente para demonstrar que o processamento e o julgamento da ação penal na origem não respeitaram o devido processo legal, na medida em que NUNCA houve um juiz imparcial.

O constrangimento ilegal, porém, é ainda mais grave, porquanto se observam menções específicas ao paciente, em assuntos como a sua prisão e as ações penais que responde, cujo teor evidencia uma constate intervenção do Magistrado na estratégia a ser adotada pelo Ministério Público, ditando aos Procuradores o que fazer, como fazer e quando fazer, em nítida pré-disposição para a condenação, o que revela ser o então Juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba o verdadeiro líder da Força-Tarefa da Lava-Jato.

Tais mensagens só vieram a confirmar o que a defesa de Eduardo Cunha, desde a primeira oportunidade, vinha afirmando: o então Juiz Sérgio Fernando Moro sempre se mostrou parcial em relação ao paciente – fato que pôde ser observado em diversos momento ao longo do processo, inclusive antes da revelação das espúrias conversas.

Apenas a título de exemplo, a defesa arguiu, na origem, uma série de acontecimentos que – já àquela época – demonstraram a parcialidade do Magistrado eEm: sua 11/03/2021 inclinação à- 18:47:24condenação: (i) decretação de sua prisão preventiva pouquíssimos dias após o recebimento dos autos do Supremo Tribunal Federal; (ii) o indeferimento de provas vitais ao processo, como a oitiva de pessoas no exterior e perguntas ao então Exmo. Presidente da República; (iii)Impresso os argumentos por: 073.733.574-23 da decisão HC que 198936 indeferiu pedido de liberdade provisória, respondendo crítica feito pelo paciente em entrevista, nítido combate pessoal; (iv) a publicação de artigo na revista Veja sobre “As Prisões da Lava-Jato”, respondendo, referindo ao paciente como “preso ilustre” ; (v) a transferência seletiva de Eduardo para o Complexo Médico Penal de Curitiba; (vi) juntada de sentenças proferidas em outras ações penais, como se isso provasse culpabilidade; (vii) dentre outras questões.

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Todo esse conjunto de fatores levaram à conclusão insofismável – já àquela época, ou seja, muito antes da revelação das mensagens – de que o Sr. Sérgio Fernando Moro, enquanto julgador da ação penal de Eduardo Cunha, rompera com o dever de imparcialidade, transformando o processo em mero jogo de cena, cuja conclusão condenatória já estava pré-estabelecida.

As mensagens trocadas entre Juiz e Acusadores somente confirmam o que a defesa vinha arguindo há muito tempo.

Há mensagens comprovando que o Magistrado e os Procuradores já tratavam sobre Eduardo Cunha e sua esposa/família meses antes do declínio de competência da ação penal do Supremo Tribunal Federal ao Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, demonstrando que a decretação da prisão já estava, há muito, acertada com o Ministério Público. Já sabendo de uma denúncia ainda sequer oferecida, indaga o Juiz, 5 (cinco) meses antes de determinar a prisão do paciente: “Aquela denúncia da família cunha vem está semana?”

Há também – muitas – conversas em que o Magistrado determina quais provas devem os Procuradores utilizar, inclusive dizendo que a apreensão de celular do paciente “não seria uma boa”, o que comprova que o Julgador sempre maximizou as possibilidades probatórias da acusação e minimizou os meios de prova da defesa, por meio de vários indeferimentos.

Além disso, os ataques pessoais do Magistrado contra o paciente, seja em decisõesEm: judiciais, 11/03/2021 seja - 18:47:24 em veículos da mídia, já demonstravam o afã condenatório do Julgador. Com a revelação das mensagens, a perseguição contumaz do Juiz se escancarou, chegando ao ponto de os Procuradores, em uma delas, afirmar que “o Russo [Moro] sairá fim do ano mesmo,Impresso contando por: 073.733.574-23que tenhamos processado HC 198936 o 9 e o Cunha”. Ou seja, tudo aquilo dito pela defesa se confirmou!

Digno de destaque também a transferência do paciente para o Complexo Médico Penal, a qual, pelo teor das mensagens, foi precedida de uma “preocupação” por parte dos Procuradores: “Caro, 1. Quanto ao Eduardo Cunha, estamos preocupados”. Tal mensagem foi enviada por Procurador ao Magistrado 1 (um) dia após o pedido de transferência da Polícia Federal.

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O intuito do Ministério Público e da Polícia Federal com a transferência sempre foi o de forçar colaboração premiada do paciente, tratativas que, segundo as mensagens, viriam a ocorrer algum tempo depois. Não à toa, também se denota das mensagens que o próprio Magistrado desaconselhando a colaboração: “Rumores de delação do Cunha... Espero que não procedam. (...) Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe”. Vê-se aí uma nefasta intervenção judicial em procedimento que sequer tem a participação da autoridade judicial.

Sem entrar no mérito da ocorrência ou não das tratativas, se o Magistrado assim intervém em hipotético acordo de colaboração, do qual – em tese – sequer faz parte, que dirá nos autos da ação penal, cujo julgamento está em suas mãos. O paciente já inicia o processo sem chance de acordo, nem absolvição, não importa o que faça!

Por essa razão, inclusive, que o legislador fez por bem proibir a participação do Juiz nas negociações realizadas para formalização do acordo de colaboração §6º do art. 4º da Lei nº 12850/13: “O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.”

Enfim, tudo isso para dizer que o surgimento das mensagens, a despeito de escancarar a relação promíscua estabelecida entre o Magistrado e os Procuradores, revelando pormenores avassaladores, confirma cada um dos fatos anteriormenteEm: 11/03/2021 arguidos - 18:47:24 pela defesa.

Em suas respectivas análises, porém, o TRF/4ª Região e o Superior Tribunal de Justiça optaram por não realizar um exame da matéria, impondoImpresso barreiras por: processuais 073.733.574-23 para o conhecimento HC 198936 da questão, ora por uma suposta intempestividade das arguições – o que não parece correto, dado que a suspeição decorria de um conjunto de fatores –, ora pela incidência da súmula 7 do STJ, impedindo a apreciação dos fatos.

Feitos esses esclarecimentos iniciais, passa-se a demonstrar, um por um, os fatos que indicam o afastamento do dever de imparcialidade do Magistrado e o desrespeito à paridade de armas no processo penal.

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II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) Das mensagens apresentadas no bojo da Operação Spoofing

Inicialmente, como já dito, as mensagens que se tornaram públicas a partir da Reclamação nº 43.007 descortinaram a relação espúria mantida entre o Magistrado e os Procuradores da Força-Tarefa da Lava Jato, confirmando todo o cenário arbitrário que a defesa há muito vinha afirmam.

Relembre-se que o declínio de competência do Supremo Tribunal Federal ao Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba ocorreu em outubro de 2016, momento em que o Magistrado recebeu os autos e acatou pedido de prisão preventiva formulado pelo Ministério Público.

As mensagens, porém, revelam que, ao menos desde fevereiro de 2016, Procuradores e o Magistrado já mantinham estreita relação oficiosa, na qual havia troca intensa de informações privilegiadas, bem como o aconselhamento – senão a determinação – por parte do Juiz, em relação ao que deveria ser feito pelo Ministério Público, sempre com o intuito de maximizar o poder acusatório em desfavor de determinados investigados, como é o caso do paciente.

Aliás, a ciência prévia do Magistrado de informações investigativas sempre foi uma tônica ao longo dos processos da Operação Lava Jato. A dinâmica processual, com o Sr. Sérgio Moro à frente dos casos, era totalmente deturpada, dando ensejo a um “Código de Processo Penal Russo”, em referência à alcunhaEm: 11/03/2021que lhe era atrib- 18:47:24uída pelos Procuradores.

Muito antes de os atos serem praticados pelo Ministério Público, como um peticionamento ou oferecimento de denúncia, a ação já havia sido debatidaImpresso entre por: o Procurador 073.733.574-23 Deltan HC Dallagnol 198936 e o Juiz Sérgio Moro, oportunidades em que o Magistrado normalmente conduzia a estratégia acusatória, orientando o membro do Parquet – afinal, seria ele próprio a apreciar e deferir o pedido.

A proatividade do Magistrado em alinhar com o referido Procurador as ações do Ministério Público, em canal extraoficial, ressoam ao longo das 44 (quarenta e quatro) páginas de conversas entre as autoridades. O Juiz se mantém à disposição para consultas dos

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Procuradores, antecipando seu posicionamento acerca das matérias que lhe eram submetidas, proporcionando assim a coordenação de ações, de modo que as pretensões acusatórias nunca se viam frustradas.

E não só! Durante tais consultas, o Magistrado indicava o que deveria ser feito, por vezes cobrando ações do Ministério Público, criticando-as, modulando-as ou, até mesmo, planejando-as. Abaixo, alguns poucos exemplos de diálogos entre o Procurador e o Juiz Sérgio Moro, nos quais fica muito evidente a relação de aconselhamento e favorecimento à acusação:

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Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

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Em: 11/03/2021 - 18:47:24

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Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

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Ora, será que, ao longo de toda a Operação Lava Jato, algum advogado teve a possibilidade de indagar ao Magistrado sobre seu posicionamento antes do peticionar nos autos, para fins de definir a estratégia processual a ser adotada? E receber conselhos sobre o que fazer e como fazer daquele que decidirá sobre seu pedido? E a indagação do Juiz ao Procurador sobre se “há algum problema para vcs”, alguma defesa técnica recebeu? Certamente não, sobretudo em razão da ilegalidade que constitui tal relação entre Julgador e Parte processual.

É um achincalhe do processo penal democrático saber que o Magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba adotava, como razão de decidir, não a boa aplicação do direito, mas a concordância ou não dos Procuradores, em nome da manutenção do apoio à “Operação Lava Jato” – ou, pode-se assim dizer, à “Equipe Moro”, como se autointitulavam os Procuradores.

Pior ainda quando a consulta é inversa, formulada pelos Procuradores ao Juiz, como meio de definir estrategicamente a ação a ser adotada pelo Ministério Público, a depender da posição – e da orientação – apresentada pelo Magistrado.

Trata-se de um canhestro processo penal, cujas regras eram ditadas arbitrariamente por Procuradores e Magistrado, em prol de interesses acusatórios escusos.

A situação prova-se mais aviltante quando se verifica que o Magistrado faz expressa “opinião” e que o comentário estava sendo feito de forma “reservada obviamenteEm: 11/03/2021”. Impossível - 18:47:24 afirmar, destarte, que na relação entre o procurador e Sérgio Moro não haveria a intenção de prejudicar os réus.

ImpressoAbre-se por: parêntese 073.733.574-23. Essa indaga HC 198936ção – se há “Algum problema” para os Procuradores – se refere exatamente aos “depoimentos de FB”, em nítida alusão à delação de Fernando Baiano, cujo conteúdo amparou a sentença no processo nº 5053013-30.2017.4.04.7000. Trata-se do processo nº 5053013-30.2017.4.04.7000, relativo à acusação de participação do paciente em atos de corrupção e lavagem envolvendo a aquisição pela Petrobrás de Navios-Sonda, cuja prova utilizada pelo Ministério Público se refere às delações de Fernando “Baiano” e Júlio Camargo. Nessa ação penal, o referido Magistrado também proferiu uma série de atos judiciais e presidiu

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br todos os atos da instrução criminal. Hoje, após a prolação da sentença, Eduardo Cunha se encontra condenado a mais 15 (quinze) anos de 11 (onze) meses de reclusão. Fecha-se o parêntese.

Assim, o teor das mensagens reforça o cenário de violação não só à imparcialidade do Juiz, mas também à paridade de armas – tudo isso já mais do que comprovado pelos diálogos que sequer têm relação, ao menos em princípio, com o caso do paciente.

Ao se observarem as conversas entre Procurador e Magistrado pertinentes à ação penal de origem, exsurge um quadro de ilegalidade nefasta, indicando que o processo ao qual responde o paciente não passou de um jogo de cartas marcadas para pôr em prática as convicções íntimas do grupo acusatório, liderado pelo Juiz, a partir das quais Eduardo Cunha deveria ser condenado, antes mesmo de iniciar a jornada processual em primeira instância.

Vê-se, então, que as conversas, em diversos trechos, tratam de fatos que têm pertinência direta com a ação penal de origem. Apenas para relembrar os fatos, a investigação contra Eduardo Cunha, no processo relativo à aquisição de direito de exploração de petróleo em Benin pela Petrobrás, se inicia com cooperação jurídica internacional, por meio da qual uma série de documentos levantados pelas autoridades suíças foram transferidos ao Brasil.

Em 2019, os contatos mantidos entre Procuradores e autoridades suíças foram noticiados, revelando a manutenção de conversas informais para obtenção de informaçõesEm: 11/03/2021 e provas - 18:47:24 ilegais. Confira-se notícia da época:

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

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O procurador-geral da Suíça, Michael Lauber, está sendo acusado de ter mantido encontros informais com autoridades brasileiras envolvidas na "lava jato". As reuniões não são proibidas, mas precisariam ser documentadas.

A informação foi divulgada em veículos de imprensa da Suíça e no blog do Jamil Chade, no UOL. De acordo com a reportagem, o advogado suíço Rolf Schuler, que atua na defesa de um dos investigados, fez a denúncia ao jornal NZZ.

Ao veículo, Schuler afirmou que autoridades brasileiras viajaram para a Suíça para reuniões não registradas com o escritório de Lauber. O mesmo teria acontecido no Brasil e, segundo o advogado, o foco era compartilhar informações para começar a tocar inquéritos de lavagem de dinheiro. (...) Força-tarefa conjunta: Antes disso, as suspeitas de encontros informais com integrantes da "lava jato" foram um dos fatores que antecederam a demissão do procurador suíço Stefan Lenz.

Responsável até 2016 pelas investigações da "lava jato" na Suíça, Lenz tentava fechar um acordo de cooperação bilateral entre os países. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em dezembro de 2017, o ex-procurador disse que o excesso de forças políticas nos países atrapalhou a força-tarefa conjunta.

O Procurador suíço Stefan Lenz é amplamente mencionado em conversas entre os membros do Ministério Público, confirmando a utilização dos canais extraoficiais de comunicações, à revelia dos procedimentos legais impostos pela legislação brasileira. Seguem algumas passagens: Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Abaixo alguns exemplos do canal extraoficial mantido pelos Procuradores da Lava Jato com autoridades suíças, obtendo informações – de forma ilegal – que viriam a ser utilizadas em processos judiciais, como a ação penal na origem.Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

Deltan Dallagnol

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Deltan Dallagnol x Sérgio Bruno

20 APR 16

Deltan Dallagnol

22 OCT 16

Percebe-Em:se, agora,11/03/2021 que o- 18:47:24Magistrado que conduziu a ação penal contra Eduardo Cunha além de ter amplo conhecimento da relação extraoficial mantida por Procuradores brasileiros e suíços, também se valiaImpresso das respectivas por: 073.733.574-23 informações HC, inclusive 198936 solicitando-as os membros do Ministério Público:

Na passagem abaixo, vê-se que os Procuradores da Força-Tarefa vinham mantendo contato extraoficiais com autoridades suíças, conforme amplamente noticiado na mídia, para obtenção de informações de maneira oficiosa. Além disso, traz um exemplo – dentro tantos – em que o Procurador se oferece a encaminhar minutas de petições antes do protocolo ao Magistrado, funcionando este também como revisor das peças jurídicas.

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Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

17 MAR 16

Aqui, fica muito evidente que o Magistrado tem ciência de que os Procuradores mantêm canais oficiosos de comunicação com autoridades suíçasEm: sobre 11/03/2021 investigações - 18:47:24 do interesse da Força-Tarefa da Lava-Jato.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

Como se vê, o Juiz Sérgio Moro demonstra claramente seu conhecimento acerca dos processos oficiosos de cooperação

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br internacional, à revelia do regramento normativo específico ao procedimento, por meio do qual obtinha informações, repassadas pelos Procuradores, acerca de investigações no exterior.

Essa promiscuidade entre Força-Tarefa da Lava Jato e Procuradores suíços conferia aos membros do Ministério Público informações – ilegais – em tempo real, as quais eram repassadas ao Magistrado, também ilegalmente; tudo isso para desenharem, sob a batuta o Sr. Sérgio Moro, a melhor estratégia para maximizar as ações acusatórias.

Nesse ponto, é importante lembrar que, desde muito antes de o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba ter jurisdição para julgar o paciente, o Magistrado já se articulava com o Procurador, em canais extraoficiais, para somar forças à persecução penal em desfavor da família de Eduardo Cunha, mostrando-se impetuoso na sua perseguição. Confira-se:

Na conversa abaixo, o Magistrado demonstra já saber que o Ministério Público irá oferecer denúncia contra familiares de Eduardo Cunha Além de evidenciar o canal extraoficial mantido pelas autoridades, também revela que o Juiz tinha acesso a informações privilegiadas.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

23 MAY 16

Em: 11/03/2021 - 18:47:24 Na passagem abaixo, vê-se o canal oficioso mantido pelas autoridades, revelando que os movimentos processuais eram coordenados.

Deltan Dallagnol x SérgioImpresso Moro por: 073.733.574-23 HC 198936

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O ímpeto acusatório do Magistrado, com o declínio da competência do Supremo Tribunal Federal para o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, em outubro de 2016, se confirmou, intensificando a promíscua relação com os membros do Ministério Público. Mais e mais conselhos e determinações foram emanadas pelo Sr. Sérgio Moro para direcionar o comportamento do Parquet.

O diálogo a seguir se deu entre o então Magistrado Sérgio Moro e o Procurador Deltan Dallagnol, cujo assunto era a realização ou não da apreensão dos celulares do paciente, no dia anterior à prisão de Eduardo Cunha, já deferida pelo Sr. Sérgio Moro. Confira-se a transcrição da conversa:

Aqui, tem-se certamente uma das principais conversas, em que Magistrado e Procurador conversam um dia antes do cumprimento da prisão preventiva do paciente – medida vigente até hoje, mais de 4 (quatro) anos depois. O Juiz Sérgio Moro convence o Procurador Deltan Dallagnol de que o celular do paciente não deve ser apreendido, motivado pela possibilidade de remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal, bem como em razão de possíveis provas favoráveis ao paciente.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

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As mensagens indicam que o Sr. Sérgio Moro instruiu o Procurador da República Deltan Dallagnol e os seus subordinados para que não fosse feita a apreensão do celular do paciente, em verdadeira postura de inquisidor, porquanto existiria o risco de deslocamento de competência para o STF ou mesmo de localização de provas desfavoráveis à acusação.1

Agindo como parte interessada – algo abjeto no Estado Democrático de Direito –, o Juiz claramente desenhou a estratégia persecutória, uma gestão de riscos: era melhor não apreender o celular, para não correr o risco de perder a competência. Pior, seu posicionamento conduziu a atuação do Ministério Público, que de fato procedeu conforme as instruções do Magistrado.

A quebra do sistema acusatório também ficou evidente, uma vez que, ao instruir o ministério Público, maximizando a persecução penal, o Juiz passou a figurar como acusador-julgador – na contramão do sistema acusatório, decorrente da Constituição Federal de 1988, hoje normatizado no Código de Processo Penal pela Lei nº 13.964/2019.

Ressalte-se, uma vez mais: não se trata de um pedido formalizado pelo Ministério Público e que foi indeferido pelo Magistrado nos autos do processo, mas sim de mensagens informais trocadas pelo aplicativo Telegram que demonstram o aconselhamento do Juiz aos Procuradores, apontando como deveria ser conduzida a investigação preliminar.

Ainda mais grave, note-se que as mensagens foram trocadas em 18/10/2016, umEm: dia 11/03/2021antes da prisão - 18:47:24 preventiva do paciente, em 19/10/2016 – o que confirma a absoluta veracidade ideológica das conversas.

ImpressoSeguindo por: na 073.733.574-23 narrativa desse HC cenário 198936 dantesco de tortura ao devido processo legal e ao sistema acusatório, quando já na presidência do feito, o Magistrado e o Procurador verdadeiramente admitiam estar em agindo em abuso de autoridade:

1 Disponível em https://www.conjur.com.br/2019-ago-12/moro-orientou-procuradores-nao-apreender- celulares-cunha.

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Nesta passagem, vê-se que as próprias reconhecem que praticavam crimes de abuso de autoridade.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

30 NOV 16

Confirmando essa hipótese, já no final de 2016, quando Eduardo Cunha já se encontrava preso por 2 (dois) meses, o Ministério Público, em conjunto com a autoridade policial, requereu a sua transferência de unidade, movendo-o da carceragem da Polícia Federal para o Complexo Médico Penal. Um dia após a representação da Polícia Federal, o Procurador demonstrou preocupação com o paciente:

Aqui, o Procurador se mostra preocupado com relação a “Eduardo Cunha”, um dia após o pedido de transferência do paciente para o Complexo Médico Penal de Curitiba, formulado pela Polícia Federal.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

Além da tratativa em canal oficioso, a passagem acima Em: 11/03/2021 - 18:47:24 demonstra também que o Procurador concede ao Magistrado a possibilidade de ter acesso a minutas de petição antes de sua conclusão, “Se ajudar para Vc adiantar a análise”, demonstrando ser essa prática corriqueira entre as autoridades. ComoImpresso bem ressaltou por: 073.733.574-23 o eminente Ministro HC 198936 Gilmar Mendes, no Ag. Rcl. 43.007, o Sr. Sérgio Moro ocupava a verdadeira posição de revisor técnico das peças do MPF.

E, nessa toada, o processo seguia: atos judiciais suspeitos eram praticados pelo Magistrado, como decisões em velocidade incomum, o teor dos argumentos e de entrevistas concedidas pelo Magistrado, sempre a demonstrar o intuito de prejudicar o paciente. Essa

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br sequência de atos do Sr. Sérgio Moro levou a defesa a concluir pela sua suspeição, ainda durante a fase de instrução probatória.

Por trás do que à época de evidenciava, encontra-se essa trama de promiscuidade entre Julgador e Acusador, mostrando que a parcialidade do Juiz atingia níveis ainda mais graves.

Talvez o exemplo mais alarmante disso seja a conversa entre o Juiz Sérgio Moro e o Procurador Deltan Dallagnol, em 5 de julho de 2017, no qual o Magistrado afirma categoricamente ser contra eventual delação do paciente, requerendo que o Procurador responsável o mantivesse informado. Veja-se, in verbis2:

O diálogo abaixo é talvez o mais abjeto de todos aqueles até então revelados, em relação a Eduardo Cunha. O Magistrado toma a inciativa de se dirigir ao Procurador, para então se manifestar contrariamente a possível acordo de colaboração premiada do paciente. O Juiz tolhe Eduardo Cunha de firmar acordo, também negando-lhe o direito a um julgamento justo, isento. A verdade é que o Sr. Sérgio Moro nunca abriu mão de ver o paciente preso. Esse sempre foi um objetivo inegociável para então Magistrado.

Deltan Dallagnol x Sérgio Moro

5 JUL 17

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

O papel do juiz, como é amplamente conhecido, é apenas de, ao receber a proposta de acordo, analisar os aspectos formais e homologá- la ou não. A Impresso conversa por: acima 073.733.574-23 divulgada HC evidencia 198936 um nítido e desproporcional desequilíbrio na balança da justiça. Além disso, ficou clara uma predisposição negativa de caráter pessoal em relação ao ora paciente. Por essa razão, inclusive, que o legislador fez por bem em vedar a participação do Juiz nas negociações realizadas para formalização do acordo de colaboração (§6º do art. 4º da Lei nº 12850/13).

2 Disponível na fl. 39 do arquivo intitulado “peca_179_Rcl_43007”

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O que salta aos olhos nas mensagens trocadas é que o Magistrado influencia em um procedimento que, pela legislação, não pode figurar como parte e que sequer deveria ter conhecimento da existência – se é que existiu –, manifestando-se desfavoravelmente ao seu prosseguimento para influenciar nas ações dos Procuradores. Como visto, a ascendência do Juiz sobre os membros do Ministério Público era tamanha que até mesmo em acordos de colaboração premiada era o Magistrado quem autorizada para quem as tratativas prosseguiriam.

Ora, qual a isenção de um Magistrado para julgar o processo do paciente, quando, ao longo da instrução, já se manifestou contrariamente a uma hipotética tentativa de acordo de colaboração premiada? Por mais contundentes que fossem as provas produzidas pela defesa, e mais lacunosa fosse a tese acusatória, qual a chance tinha Eduardo Cunha de não ser condenado por um Juiz que nunca abriu mão de vê-lo condenado e preso?

Chama a atenção que o Sr. Sérgio Moro sequer indaga o Procurador acerca do teor do acordo, o que, dada a contumácia de suas transgressões, seria algo esperável. Mas não! Com relação a Eduardo Cunha, sua condenação a altas penas de prisão era algo inegociável! O devido processo legal, nesse ínterim, aproximava-se de uma trama teatral, um mero formalismo necessário para se alcançar o objetivo principal.

Para além dos diálogos apontados, as mensagens obtidas por meio da Operação Spoofing demonstram uma reiterada conduta parcial do Magistrado, confirmando aquilo que a defesa, incansavelmente, buscou expor durante todo o processo.Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Os trechos acima expostos não deixam dúvidas da relação promíscua entre os representantes da acusação e o então Juiz Federal e, mais do que isso, revelamImpresso uma por:relação 073.733.574-23 de ascendência HC 198936do Magistrado sobre os Procuradores, em franca violação ao art. 254, IV do Código de Processo Penal.

Mas não só as conversas mantidas entre o Juiz Sérgio Moro e o Procurador Deltan Dallagnol evidenciam o conluio entre Julgador Acusador, mas também aquelas matidas entre os próprios Procuradores, nas quais as mesmas práticas espúrias são confirmadas.

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Prova disso é o seguinte diálogo que se deu, em 20/03/2016, no grupo intitulado FT MPF Curitiba 3, na qual o procurador Deltan Dallagnol afirma que o Magistrado concederia cautelar sempre, porque “Moro dá”. Confira-se:

Ora, na interlocução colacionada acima, vê-se que, ainda que outra Procuradora afirme que seria incabível cautelar no caso em análise, Deltan Dallagnol – logo o Procurador que mais mantém contado com o Magistrado – mostra segurança de que seria sempre cabível e que o ex-juiz Sérgio Moro concederia o pedido feito pelo órgão acusatório.

Essa confiança, sublinha-se, também estava ligada aos processos relativos ao paciente, tendo Deltan Dallagnol, inclusive, ressaltado que o importante seria, antes da saída do então juiz Sérgio Moro, apelidado pelos procuradores da Força Tarefa como “Russo”, processar Eduardo Cunha. Confira-se o seguinte trecho de conversa de 10 de agosto de 2016:

No diálogo abaixo, os Procuradores revelam o Magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba sempre impôs como prioridade processar Eduardo Cunha. Ressalte-se que, a essa época, os autos sequer haviam sido declinados do Supremo Tribunal Federal à primeira instância.

Diogo Castor x Deltan Dallagnol x Jerusa Viecili

10 AUG 16

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

Vê-se, assim, que, cerca de 2 (dois) meses antes de o Magistrado ter jurisdição sobre a ação penal de origem, já havia firmado sua íntima convicção pela culpabilidade de Eduardo Cunha, até mesmo condicionando sua saída da 13ª Vara Federal de Curitiba ao processamento do paciente perante aquele Juízo.

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Excelência, a sanha acusatória do Juiz Sérgio Moro contra Eduardo Cunha era tamanha que o Magistrado, titular do Juízo no qual eram processados os casos de maior repercussão do país, cargo bastante cobiçado na magistratura federal, somente cogitou deixar o posto acaso o paciente já houvesse sido processado perante sua jurisdição – análise essa realizada em momento muito antes o Magistrado ter contato com os autos do processo.

Ainda sobre as mensagens trocadas entre os próprios Procuradores, convém registrar um diálogo, veiculado no site Intercept Brasil3, em 29/08/2019, não juntado à Reclamação, mas sendo ele público, no qual o Juiz Sérgio Moro teria informado ao Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima sobre uma possível “articulação no STF para soltura de Cunha”. 4

Taticamente, de posse dessa informação, os acusadores orquestraram um “vazamento seletivo” de informações, numa clara manobra que partiu do próprio Juiz então responsável pelo julgamento do processo do peticionário, conforme se infere do próprio teor das mensagens:

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

Conforme se verifica, a mencionada conversa ocorreu na noite de 12 de dezembro de 2016. E eis que, no dia seguinte, o saudoso Min. retirou de pauta a Reclamação n. 25.509, com pedido de

3Disponível em: https://theintercept.com/2019/08/29/lava-jato-vazamentos-imprensa 4Disponível em: https://theintercept.com/2019/06/09/chat-moro-deltan-telegram-lava-jato/e https://theintercept.com/2019/06/16/vaza-jato-corrupcao-sergio-moro-politica-dallagnol/

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Aliás, sobre o tema, é importante notar que no mesmo dia 13/12/2016, o Ministro Gilmar Mendes manifestou seu inconformismo5 com os vazamentos que estavam ocorrendo, o que é um indicativo do contexto à época, e endossa a premissa das mensagens trocadas pelo Telegram.

Além de confirmar a cumplicidade havida entre o titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e a Força-Tarefa da Lava Jato, os diálogos entre Procuradores revelam que os respectivos membros não detinham a isenção necessária para exercer o papel de acusador público.

As autoridades articulam-se contra o paciente, fazem ilações sobre Ministros do Supremo Tribunal Federal, reconhecem a inidoneidade dos acordos deEm: colaboração 11/03/2021 - por 18:47:24 eles firmados, fogem das jurisdições superiores, sempre contando com o êxito perante a 13ª Vara Federal de Curitiba e o TRF/4ª Região, dentre outras arbitrariedades que, por economia, deixamImpresso de ser por: aqui 073.733.574-23 colacionadas, HC mas198936 estão contidas no documento em anexo.

Alguns exemplos:

5 Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-dez-13/gilmar-mendes-nao-descarta-possibilidade- anular-delacao-vazadas

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Aqui, vê-se conversa entre Procuradores, articulando estratégias processuais para prejudicar Eduardo Cunha e sua esposa, em clara perseguição.

Deltan Dallagnol x Athayde Ribeiro Costa x Andrey Mendonça

Nessa passagem, vê-se como os Procuradores da Lava Jato acreditam que as decisões do Supremo Tribunal Federal são tomadas, como se os Ministros da Suprema Corte atuassem mediante os mesmos acordos espúrios firmados pelos ditos membros do Ministério Público.

Deltan Dallagnol x Paulo Galvão

Aqui, fica bastante nítido que os Procuradores têm ciência das ações espúrias, como extorsão para preservar seu silêncio, praticadas por colaboradores que firmaram acordo de colaboração premiada no contexto da Operação Lava Jato, o queEm: coloca 11/03/2021 em xeque a- própria18:47:24 idoneidade das informações por eles prestadas. Digno de registro que Júlio Camargo e Leo Pinheiro são dois dos principais delatores que imputam crimes contra Eduardo Cunha.

Deltan Dallagnol x RobersonImpresso Pozzobon por: 073.733.574-23 HC 198936 2 MAR 16

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Como se vê, as mentiras contadas por colaboradores são conhecidas dos membros da Força Tarefa.

Diogo Castor x Laura Tessler x Deltan Dallagnol

Nessa passagem, mais uma vez, os Procuradores demonstram a falta de confiabilidade nas informações do delator Júlio Camargo.

Roberson Pozzobon

2 MAR 16

Aqui, pode-se verificar que o Magistrado, chamado pelos Procuradores de “Russo”, vem cobrando o ajuizamento de ação de improbidade administrativa contra Eduardo Cunha, em nítida articulação para maximizar a acusação, segundo interesses escusos do grupo acusatório.

Deltan Dallagnol x Orlando Martello x Laura Tessler x Antônio Carlos Welter x Júlio Noronha

19 MAR 16 Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

(…)

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No trecho abaixo, fica bastante claro que o Supremo Tribunal Federal funcionava – e ainda funciona – como uma pedra no sapato de Procuradores mal intencionados, que visam descumprir as regras do processo penal democrático. Os membros do MPF dizem “não confiar no STF”, preferindo agir perante o Juiz Sérgio Moro e o TRF, pois já contam com o êxito nas referias instâncias.

Deltan Dallagnol x Diogo Castor

20 MAR 16

Nota-se, aqui, que os próprios Procuradores reconhecem que Eduardo Cunha não está sendo julgado por corrupção. No entanto, continuam postulando por sua condenação em razão desse crime, evidenciando o afã condenatório em sempre impor-lhe mais e mais pena.

Deltan Dallagnol x Roberson Pozzobon

09 JUN 16

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936 Com efeito, as mensagens acima evidenciam ainda mais a nítida parcialidade do então Magistrado e endossam a premissa de que atos do processo que levaram a condenação do paciente foram conduzidos por um Juiz evidentemente parcial, que buscava incriminar Eduardo Cunha a qualquer custo.

O Juiz se valeu de mais diversas iniciativas para impulsionar as ações acusatórias, moldando-as ao seu feitio, afinal, seria ele

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br próprio a analisar os pedidos do Ministério Público, de sorte a tornar o processo de origem um mero obstáculo formal para se apostar na condenação do paciente.

Trata-se do maior escândalo do Judiciário brasileiro! Um escárnio sem precedentes! Todos os avanços civilizatórios incorporados ao direito processual penal foram simplesmente escanteados por uma inquisição instalada em Curitiba, da qual o Magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba se portava como líder, conduzindo as ações acusatórias e condenatórias. Padece, portanto, o Estado Democrático de Direito ao se deparar com tamanha arbitrariedade.

Em síntese, com as devidas venias, trata-se de um processo totalmente corrompido em termos de forma processual, devendo ser anulados todos os atos praticados pelo desvirtuado Magistrado Sr. Sérgio Fernando Moro, nos autos da ação penal nº 5051606-23.2016.4.04.7000.

b) Das demais condutas do juiz que revelam a suspeição

Essas acima, portanto, foram as mensagens que vieram a público recentemente, descortinando a relação espúria mantida entre o Sr. Sérgio Moro, Magistrado sentenciante do processo originário, e membros do Ministério Público que atuaram no feito.

À época da instrução processual, porém, a suspeição do referido Magistrado era aferida por meio de elementos não tão escancarados, mas que já indicavam – de formaEm: 11/03/2021 muito clara - –18:47:24 uma ruptura com o dever de imparcialidade.

A partir dos elementos concretos à disposição da defesa, muito se arguiu, Impresso ao longo por: da 073.733.574-23 jornada processual, HC 198936 acerca da suspeição do Magistrado, de modo que não se pode dizer que a matéria não tenha sido enfrentada pelas instâncias anteriores. Houve ampla discussão! E ainda há, pois a defesa sempre reitera tais argumentos nas peças processuais.

Uma série de condutas praticadas pelo referido Magistrado em momento anterior à revelação das mensagens, demonstram, a não mais poder, que o processo se encontra, desde há muito, eivado de patente nulidade.

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Nesse contexto, deve-se salientar a indevida decretação da prisão preventiva do paciente a qual, frise-se, ocorreu menos de uma semana após o recebimento dos autos da ação penal pelo Juízo do então magistrado. Referido ato foi fundamentado em circunstâncias e imputações que não guardam qualquer relação com a ação penal que estava sob a jurisdição daquele Juízo. Confira-se os trechos exemplificativos da referida decisão que fazem expressa menção a outros procedimentos:

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936 Deve-se ressaltar que, ao longo da decisão, não houve uma simples menção a outros procedimentos que estão sob outra jurisdição, mas sim uma análise aprofundada, com conhecimento específico, dos fatos que são apurados em juízos diversos, atribuindo, a bem da verdade, a caracterização dos requisitos da prisão cautelar a esses feitos variados. O Magistrado fundamentou sua decisão apenas em fatos externos ao âmbito de sua competência.

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De igual modo, por se tratar de um caso evidentemente complexo, a movimentação demasiadamente célere do feito, qual seja, pedido de prisão formulado em apenas 2 (dias) e o deferimento pelo juízo no exíguo prazo de 4 (quatro) dias, também transparece o prejulgamento da causa, a ausência de imparcialidade e o ávido desejo de impor medida cautelar extrema ao paciente.

Hoje se percebe que a dinâmica da decretação da prisão preventiva do paciente perante o Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba era fruto de uma relação espúria e antidemorcática, na qual Procuradores e Juiz coordenaram suas ações, desde muito antes ao recebimento dos autos do Supremo Tribunal Federal, para impor a medida a Eduardo Cunha.

Reforça-se a extrema rapidez dos feitos, considerando que, em um anterior pedido de prisão preventiva formulado pela Procuradoria-Geral da República perante o Supremo Tribunal Federal, o mesmo permaneceu aproximadamente 3 (três) meses concluso para análise do saudoso Ministro Teori Zavascki, sem que fosse deferido o pleito cautelar.

Nesse sentido, cumpre rememorar que as mensagens expostas por esta defesa explicitam que o ex-magistrado recebia informações do processo por meio do procurador Deltan Dallagnol, antes que elas fossem devidamente juntadas ao processo.

Bem se vê, portanto, que a prisão cautelar do paciente, além de ser embasada em argumentos ilegítimos e fatos que não estavam sob a jurisdição deste juízo, foiEm: o11/03/2021 primeiro - passo18:47:24 das demonstrações de parcialidade do Magistrado, que também objetivava ganhar popularidade com a decretação da prisão do paciente.

ImpressoNa linha por: do 073.733.574-23 ato anterior, o HC então 198936 juiz encontrou outro modo de demonstrar evidente parcialidade contra a pessoa do paciente, tolhendo seu direito à prova de modo nitidamente pessoal.

É que em dois feitos absolutamente conexos e que apuram os mesmos fatos, enquanto Magistrado, ao tempo em que deferiu a oitiva de 7(sete) testemunhas por carta rogatória6 para a defesa da esposa do

6 http://jornalggn.com.br/noticia/moro-rejeita-2-testemunhas-de-lula-no-exterior-mas-aceita-7-de-claudia- cruz;

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Portanto, sem adentrar em discussão fático-probatória sobre o objeto da ação penal no bojo da qual foi arguida a suspeição do Magistrado, cumpre registrar como suas razões para o indeferimento da prova supramencionada evidenciam sua parcialidade com relação ao paciente:

(i) o Magistrado utiliza a prisão preventiva, por ele próprio decretada, para indeferir provas como a oitiva de pessoas residentes no exterior;

(ii) o Magistrado considerou irrelevante a oitiva de pessoas que produziriam provas acerca do funcionamento dos trusts – fato central no processo de origem, na medida em que a acusação imputa a Eduardo Cunha a manutenção de recursos no exterior, em conta em nome dessa figura jurídica.

Deveras, só é possível raciocinar em sentido diverso a partir do momento em que o ex-Juiz estabelece um antecipado juízo de culpa, que é exatamente o que aconteceu, já desde muito antes à apreciação de resposta à acusação.

Na linha dos atos demonstrativos de sua manifesta parcialidade, o Magistrado interferiu, outra vez, no direito à prova da defesa, ao indeferir perguntas formuladas para o Presidente da República . Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Assim, além de indeferir o pedido, o Magistrado valorou indevidamente todos os quesitos formulados, presumindo estar o paciente em tentativa de atosImpresso intimidatórios, por: 073.733.574-23 sem que houvesse HC 198936 qualquer indicativo para tal conclusão. Confira-se: “Evidentemente, tais quesitos, entre outros, foram indeferidos por este Juízo na decisão de 28/11/2016 (evento 138), já que não se pode permitir que o processo judicial seja utilizado para essa finalidade, ou seja, para que parte transmita ameaças, recados ou chantagens a autoridades ou a testemunhas de fora do processo.”

Ora, somente um magistrado evidentemente parcial e com preconceituosa – para não dizer deletéria – imagem do paciente poderia

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br deduzir que perguntas como a supramencionada configuram “ameaças, recados ou chantagens”. A referida assertiva se afigura, de fato, como uma indevida tentativa de criminalizar o próprio direito de defesa e na exteriorização de diversas acusações contra o paciente em relação à suposta prática de atos tendentes à obstrução da justiça.

Deveras, quando para a manutenção de uma prisão cautelar e para o indeferimento de provas se faz necessária a emissão de juízo de valor tão grave, que consiste em verdadeira estigmatização do acusado, já não tem mais nenhuma eficácia dissuasória o princípio constitucional da presunção de não culpabilidade.

Resta claro, portanto, que, mais uma vez, o Juiz demonstrou sua parcialidade nos autos, ferindo até mesmo o direito de defesa e, por consequência, o de produção de provas, os quais são indispensáveis no devido processo legal. Com a superveniência das mensagens, as raízes desse comportamento então puderam ser verificadas, na medida em que o Magistrado se empenhava em robustecer a prova acusatória, dizendo quais elementos deveriam ser utilizados pelo Ministério Público.

A suspeição do Magistrado torna-se ainda mais evidente quando este, buscando o clamor público – com base em fatores externos ao processo – decidiu mencionar, no corpo do decisum que manteve a prisão preventiva do paciente, aspectos notoriamente extrajurídicos. Confira-se:

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

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Preambularmente, importante pontuar que não houve uma simples citação ao artigo produzido pelo paciente, mas sim uma confissão da parcialidade e da suspeição do então Magistrado por meio da frase “não tem este julgador qualquer questão pessoal contra o acusado Eduardo Cosentino da Cunha”.

Ora, a personificação do debate exsurge, dentre tantos outros motivos, quando o próprio Juiz abre, em seu favor, franco contraditório em decisão judicial, para rebater manifestações do paciente, portando-se como parte ex adversa de Eduardo Cunha.

Por óbvio, o Magistrado não pode punir um preso provisório por expressar legitimamente sua opinião em um meio de comunicação. Aliás, o Sr. Sérgio Moro não se pôs a rebater todas as declarações que eram dadas à imprensa por réus na 13ª Vara Federal, mas o fez apenas em alguns casos que entendera ser necessário “impugnar”, “contraditar”, “contrarrazoar”, “responder” o réu, como ocorreu com o paciente.

Seu comportamento como parte é tão profundo que ressoa até os dias atuais, tendo-se como exemplo a recente pretensão aduzida perante o Supremo Tribunal Federal, na Rcl. 45.729, para revogar a autorização de acesso das mensagens da Operação Spoofing. Não à toa, a eminente Ministro consignou que “o Reclamante não detém legitimidade ad causam para ajuizar a presente demanda, uma vez que não figura, no processo de origem, como parte ou assistente, únicos legitimados a propor reclamação por usurpação de competência”. Em: 11/03/2021 - 18:47:24 Afinal, qual o interesse do Magistrado em obstar tal acesso? O sentido da pretensão advém de sua postura como parte combatente – que não é própria da magistratura – contra o paciente e outros que figuram nas mensagens. Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

Enfim, o Juiz não viu o menor empecilho em expressar- se nos autos sobre fatores externos (v.g., artigos de jornais) ao processo, em nome de um combate ao paciente, à revelia de qualquer fundamento jurídico. E o pior, fundamentou suas decisões com bases nesses fatos alheios ao processo. Evidentemente sua intenção era prestar satisfações à opinião pública, projetando sua imagem como o grande guardião da República, líder da “Equipe Moro”.

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Nesse contexto, impossível evadir-se à conclusão de que tal proceder do Magistrado somente corrobora a demonstração de sua parcialidade, em total afronta aos ditames constitucionais e infraconstitucionais pertinentes ao tema.

Mas, há mais! O Magistrado decidiu publicar artigo na “Revista VEJA”, justificando as até então 79 (setenta e nove) prisões preventivas que decretara na condição de Juiz – e não na condição de articulista, no qual entendeu por bem expor o paciente perante a opinião pública, na medida que ao referir-se a alguns “presos ilustres”, fez expressa menção a “um ex-presidente da Câmara dos Deputados”7.

E, em uma contínua demonstração de que buscava, no clamor público, fundamento para sua atuação, o ex-Juiz Federal participa ativamente de página social da rede Facebook, criada por sua esposa, comentando sobre os processos que estão sob sua jurisdição.

É exatamente isso que se colhe do excerto degravado de vídeo publicado pelo magistrado8: “(...) e ajudou em um momento muito tenso, que nós realizássemos essa travessia, sabendo que nós contávamos aí com o apoio da grande maioria, talvez a totalidade da população para esses trabalhos que vêm sendo realizados na assim chamada ‘Operação Lava Jato’”.

Tal proceder, com efeito, busca constranger as autoridades que pretendam, de fato, exercer o necessário papel contramajoritário reservado às instituições republicanas, sobretudo pela eleição do denominado “combateEm: 11/03/2021 à corrupção” - 18:47:24 como o objetivo último de nosso Estado Democrático de Direito – o que não pode ser extraído de nossa Constituição da República.

ImpressoNessa por: senda, 073.733.574-23 tal manifestação HC 198936 nas redes sociais inevitavelmente conduz à conclusão de que o Magistrado não possuía a indispensável imparcialidade para a condução da ação penal de origem.

7 Nesse sentido, veja-se: http://www.oantagonista.com/posts/moro-a-questao-real-e-que-se-trata-de- presos-ilustres; 8 Tal vídeo foi amplamento divulgado, também, pelos noticiários da internet (ex.: http://www.oantagonista.com/posts/moro-agradece-apoio-dos-brasileiros; http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/em-video-moro-agradece-apoio-a-lava-jato/;).

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Em suma, o Magistrado – mediante sua conveniência acusatória – ora utiliza da veículos de imprensa e rede social para fazer manifestações que tangenciam processos sob a sua jurisdição, ora usa de decisões judiciais para argumentar sobre fatos estranhos aos autos, por vezes oriundos de publicações em veículos da mídia.

Comportamento de tal natureza restou sobejamente comprovado pelas mensagens obtidas na Operação Spoofing, nas quais se poder observar uma constante gestão de vazamentos e utilizações de informações perante veículos de imprensa para produzir efeitos positivos ao viés punitivo e “combatente do crime”.

Outro fato que demonstra a inequívoca parcialidade do Magistrado diz respeito à transferência do paciente da sede da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba para o Complexo Médico Penal, situado na região de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba/PR.

Naquela ocasião, houve uma ostensiva diferença no tratamento dado àqueles que se encontravam na mesma situação do ora paciente.

Com efeito, a um só tempo, a autoridade policial competente solicitou a transferência de três presos provisórios: José Aldemário Pinheiro Filho, João Cláudio Genu e Eduardo Cosentino da Cunha: curiosamente, só a deste último foi deferida pelo Magistrado, inobstante ser, à época dos fatos, o preso provisório mais recentemente recolhido ao cárcere e, para perplexidade geral, o único dos três custodiados que não havia sofrido responsabilizaçãoEm: 11/03/2021 penal, - 18:47:24 ou, melhor dizendo, juízo de culpa definitivo, tendo sobre si – é necessário frisar – toda a extensão do manto da determinação constitucional da não-culpabilidade.

ImpressoPercebe por:-se, 073.733.574-23 sem esforço, que HC é198936 dado tratamento mais gravoso ao ora paciente quando comparado àqueles que já haviam sofrido processo de imputação de responsabilidade. Isso, na mesma medida que evidencia desproporcionalidade, ressalta a ausência de imparcialidade.

Com a sobrevinda das conversas entre o Juiz Sérgio Moro e o Procurador Deltan Dallagnol, percebeu-se que tal movimentação foi discutida entre as autoridades, momento em que o

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br membro do Ministério Público demonstrou preocupação, o que confirma ser toda a ação orquestrada para fins escusos.

A paixão do Magistrado pela causa e seu interesse na condenação do ora paciente a qualquer custo, evidencia-se ainda mais quando aquele optou, livremente, por juntar nos autos da ação penal anteriores sentenças condenatórias que já proferiu no âmbito da cognominada “Operação Lava jato”.

Tal ato, praticado sem explicação alguma, justamente na fase que precede à prolação da decisão final da ação penal e antes mesmo da apresentação de alegações finais, demonstra o manifesto interesse do então Magistrado na condenação do ora paciente. A juntada ex officio feita pelo Juiz não apresentou, ainda que superficialmente, a pertinência temática das sentenças condenatórias com os fatos apurados na presente ação penal.

Nesse contexto, resta indene de dúvidas que o Magistrado, ao promover a juntada de tais peças, intentou demonstrar que, em casos com adequação típica semelhante no bojo da cognominada “Operação Lava Jato”, condenou os réus, adiantando, desde já, qual seria o critério seguido na dosimetria da pena.

Em suma, chegou-se ao absurdo de o Magistrado antecipar seu juízo condenatório e, inclusive, a dosimetria da pena nos casos com a mesma tipificação legal, antes mesmo das alegações finais de ambas as partes, em manifesta demonstração de parcialidade e interesse no deslinde da causa. Com efeito,Em: a 11/03/2021prática desse - 18:47:24 ato judicial demonstrou, pela enésima vez, o prejulgamento da causa e, por consequência, a parcialidade do Juiz.

ImpressoNesse contexto, por: 073.733.574-23 o ex-Juiz Federal HC 198936 demonstrou a perda de imparcialidade durante todo o processo, promovendo sucessivos e crescentes atos – judiciais ou extrajudiciais – que apontavam a impossibilidade de ele proceder ao julgamento da causa de forma isenta.

Em síntese, a defesa há muito vem arguindo uma série de fatos concretos que já indicavam, muito claramente, a suspeição do Magistrado, matéria que foi submetida via exceção de suspeição e respectivos recursos até o Superior Tribunal de Justiça, quase sempre

SHIS QL 24 Conjunto 07 Casa 02 – Lago Sul CEP 71665-075 Brasília-DF | Fone (61) 3323-7933 www.figueiredoevelloso.com.br enfrentando óbice para seu conhecimento por razões que não se justificam, como a aplicação da súmula 7 do STJ – ora, como analisar suspeição sem conhecer dos fatos que a ensejam?

Com revelação das mensagens levantadas na Operação Spoofing, cada um dos fatos arguidos pela defesa ao longo do processo foi sobejamente corroborado, de modo a revelar que o comportamento desvirtuado do Magistrado se devia ao conluio firmado com membros do Ministério Público para maximizar as ações acusatórias em prejuízo de terminados réus, nos quais se incluem o paciente.

Como se vê, o caso em tela foi, desde sua origem, conduzido por juiz manifestamente parcial, em especial diante da externalização de uma pré-disposição para condenar.

Nesse sentido, a defesa demonstrou inúmeras as peculiaridades direcionadas tão somente à pessoa do paciente que demonstram a imparcialidade do Juiz sentenciante, afastando, assim, a outrora veiculada de que os casos que envolvem a Operação Lava-Jato prescindem de fundamentação adequada ao caso em concreto.

III – DO PEDIDO LIMINAR

É cediço que a concessão de liminar em sede de habeas corpus é medida excepcional, de caráter urgente, desde que a impetração demonstre de forma relevanteEm: 11/03/2021 e indiscutível - 18:47:24 a necessidade do seu deferimento. Ou seja. A concessão é cabível quando se verifica, de plano, a presença dos requisitos fumus boni iuris e periculum in mora.

ImpressoEm relação por: à073.733.574-23 presença do fumus HC 198936 boni iuris, tal requisito ficou exaustivamente demonstrado ao longo deste habeas corpus a partir das mensagens levantadas na Operação Spoofing, confirmando tudo aquilo que a já vinha há muito arguindo. Não só os fundamentos suscitados perante as instâncias a quo foram sobejamente confirmados, mas o quadro de arbitrariedade atroz se agravou ainda mais, desnudando a relação promíscua mantida entre Magistrado e Procuradores.

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Quanto ao periculum in mora, alguns esclarecimentos se mostram necessários.

Como se observa, o Juiz Sérgio Moro foi responsável pela condução da investigação, recebeu a denúncia em desfavor do paciente, decretou a sua prisão preventiva (vigente até hoje), presidiu todos os atos da instrução processual e prolatou a sentença condenatória contra Eduardo Cunha, a qual lhe impõe hoje 14 (quatorze) anos e 6 (seis) meses de prisão – tudo isso nos autos do processo nº 5051606-23.2016.4.04.7000, no qual se lhe imputa participação em crimes de corrupção passiva, no contexto de aquisição de direitos de exploração de petróleo em Benin, na África, pela Petrobrás, e de lavagem de dinheiro e evasão de dividas, pela suposta manutenção de valores em conta bancária da Suíça.

O referido processo se encontra hoje perante o Superior Tribunal de Justiça aguardando julgamento do recurso especial n º 1.924.539 admitido pelo TRF/4ª Região, cujo julgamento, antes da análise do Supremo Tribunal Federal quanto à suspeição do Magistrado, poderia levar grande prejuízos ao paciente, bem como provocar uma preocupante instabilidade processual.

Além disso, convém mencionar que o paciente ainda se encontra preso preventivamente – mas em caráter domiciliar – pelos mesmos fundamentos dispostos pelo Juiz Sérgio Moro, em cautelar vinculada ao processo nº 5051606-23.2016.4.04.7000, decisão que naturalmente está eivada de nulidade. Tal condição de Eduardo Cunha denota uma urgência no reconhecimento da plausibilidade do direito aqui arguido. Em: 11/03/2021 - 18:47:24 Assim, pede-se, em caráter liminar, a suspensão da tramitação do recurso especial n º 1.924.539, dada a plausibilidade do mérito desse writ, evitando-se o prejuízo de haver o julgamento do mérito antes da apreciaçãoImpresso da suspeição por: 073.733.574-23 do Magistrado HC 198936 pela Suprema Corte, estendendo-se, ainda, tal suspensão à ação penal n.º 5053013- 30.2017.4.04.7000 (ação penal das sondas), a qual também foi conduzida pelo mesmo Magistrado suspeito9.

9 Nessa ação penal, o referido Magistrado também proferiu uma série de atos judiciais e presidiu todos os atos da instrução criminal. Hoje, após a prolação da sentença, Eduardo Cunha se encontra condenado a mais 15 (quinze) anos de 11 (onze) meses de reclusão. A necessidade de extensão dos efeitos da liminar a essa outra ação penal decorre não só do nítido conluio estabelecido entre Procuradores e Magistrado, que acomete de suspeição a atuação do Juiz em todos os processos relativos ao paciente, mas também de alguns trechos de mensagens da Operação Spoofing. Uma

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IV - DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer-se a concessão da ordem para que seja declarada a suspeição do d. Magistrado Sérgio Fernando Moro, então titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, Juiz instrutor e sentenciante da ação penal nº 5051606-23.2016.4.04.7000 (atualmente recurso especial n º 1.924.539 no STJ), por evidente perda do dever de imparcialidade em prejuízo do paciente, anulando-se todos os atos praticados por Sua Excelência – decisórios e instrutórios – no referido feito e respectiva investigação, estendendo-se os efeitos da concessão de ordem ao processo nº 5053013-30.2017.4.04.7000.

Confiante no senso de justiça que norteia as decisões deste colendo Supremo Tribunal Federal, pede e espera deferimento.

Brasília, 9 de março de 2021.

Ticiano Figueiredo Pedro Ivo Velloso OAB/DF 23.870 OAB/DF 23.944

Francisco Agosti Marcelo Neves OAB/SP 399.990 OAB/RJ 204.886

Em: 11/03/2021 - 18:47:24

Impresso por: 073.733.574-23 HC 198936

das principais mensagens, devidamente citada acima, que demonstram a suspeição do Magistrado – quando indaga se há “Algum problema” para os Procuradores – se refere exatamente aos “depoimentos de FB”, em nítida alusão à delação de Fernando Baiano, cujo conteúdo amparou a sentença no processo nº 5053013- 30.2017.4.04.7000 (Sondas) https://oglobo.globo.com/brasil/apontado-como-operador-do-pmdb- fernando-baiano-fecha-acordo-de-delacao-pode-entregar-esquema-de-pasadena-17450711.

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