03 A narrativa decolonial no desfile “ da escola de no carnaval de 2019

Tiago Herculano da Silva UDESC

10.37885/201101968 RESUMO

A narrativa carnavalesca muda conforme a realidade histórica de sua época e de acordo com a maneira como o carnaval dialoga com suas comunidades. É possível perceber diferentes formas narrativas nos enredos dos desfiles das escolas de samba, contudo, desde 2018 vem prevalecendo uma narrativa com ênfase decolonial. Essa narrativa busca questionar o sistema social vigente e a forma como as minorias são vistas por aqueles que estão no poder. No carnaval de 2019 da Estação Primeira de Mangueira, o enredo História para ninar gente grande, de Leandro Vieira, olha para as páginas ausentes na história brasileira apontando o negro, índio e pobre como os verdadeiros heróis e protagonistas dos fatos históricos do país. O enredo escrito em uma narrativa decolonial proporciona visibilidade às minorias sociais que foram subjugadas ao longo da história do Brasil. Essa visibilidade termina por incomodar aqueles que detêm o poder no sistema, assim, eles tentam descredenciar tanto o carnaval como o discurso artístico apresentado pelas comunidades quanto à legitimidade da narrativa apresentada pela agremiação. O presente artigo aborda a narrativa encontrada nesse desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, relacionando-o com outras formas de discursos encontradas no carnaval carioca, e como seu discurso sobrevive chegando às salas de aulas de todo país, mudando a forma de ensinar os fatos históricos de nosso Brasil.

Palavras-chave: Narrativa Decolonial, Mangueira, Carnaval. Infância com Artes e Artes na Infância: Implicação das artes no processo de crescimento e desenvolvimento da criança

INTRODUÇÃO

Esse artigo é um recorte de minha pesquisa em andamento no programa de doutorado em teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) que busca compreen- der o corpo do folião nos desfiles da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, nos anos 2019 e 2020, enquanto lugar de representatividade da comunidade carente do morro da Mangueira. Para este artigo, proponho uma análise da narrativa do desfile de 2019 da agremiação cujo enredo intitulado História para ninar gente grande, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, olha para as páginas ausentes da história brasileira estabelecendo uma narrativa em que o negro, índio e pobre são percebidos como os protagonistas da história do Brasil. Com base nesse desfile, pretendemos levantar questionamentos sobre a narrativa colonial e a decolonial com base nos cortejos carnavalescos do carnaval carioca. Abordando temáticas de enredos históricos nos desfiles das escolas de samba, também apontamos para a narrativa dos fatos históricos do país ao longo do tempo nos livros de história nacional em diálogo com as narrativas artísticas encontradas no carnaval. Alguns enredos dos desfiles visam narrativas que começam a propor um novo olhar para a história de nosso país de forma diferenciadas das encontradas nos livros educacionais.

Narrativa colonial

A história brasileira foi escrita pelo olhar do homem branco colonizador, assim, o seu ponto de vista foi usado para descrever fatos históricos do Brasil e a narrativa dessa escrita colocou esse personagem como aquele que venceu na história, como o herói nacional. Neves (2019, p. 88) aborda o fato da educação no Brasil ter uma perspectiva colonial: “O grande dilema da educação brasileira é que ela está atrelada a um modelo educacional colonial e que seria necessário romper com esse sistema servil para que houvesse avanço na área”. Antes de abordarmos o rompimento desse sistema servil pelas agremiações carnavalescas, é válido salientar que nos livros didáticos de história usados em sala de aula nas instituições de ensino, sejam particulares ou públicas, é possível encontrar ainda a narrativa histórica em que Pedro Alves Cabral descobriu o Brasil, por exemplo. O termo descobrir é usado para realçar que o colonizador pode reivindicar o direito de posse das terras encontradas nas expedições de colonização da colônia portuguesa. Como uma terra sem dono que é descoberta pelos colonizadores e porque o termo sem dono im- plicava, necessariamente, que não havia civilização nessas terras, eles podiam tomar posse daquilo que foi descoberto. Nessa narrativa, os nativos encontrados na terra descoberta são colocados como selvagens e vistos como indivíduos sem direito àquele local. O estudo dos

42 Infância com Artes e Artes na Infância: Implicação das artes no processo de crescimento e desenvolvimento da criança fatos históricos do Brasil, por esses livros, começa a partir desse descobrimento ignorando a história e a cultura desses povos nativos que habitavam essas terras muito antes de Cabral. Toda essa educação do ponto de vista eurocêntrico na história da formação do povo brasileiro, acarreta na desvalorização de nossa cultura afro descendente, assim como de nossa cultura indígena. Lima (2020, p. 115) nos lembra que “em todos momentos históri- cos e territórios colonizados, as mesmas metrópoles europeias construíram a face racista do capitalismo, em que o rosto branco da morte produziu milhões de cadáveres negros e indígenas”. As narrativas do ponto de vista do homem branco estão presentes nessa pers- pectiva que coloca como subalterno todas as formas culturais e grupos sociais opostas ao homem branco heteronormativo cis gênero, ou seja, o índio, o negro, a mulher, os LGBTs, entre outros. Dessa forma, a luta social desses grupos minoritários busca a valorização que lhes foi negada ao longo da história para que possíveis novas mudanças sociais aconteçam. Lutas contra o preconceito racial, de gênero, classe social, sexualidade são maneiras de lutar contra a narrativa colonial que coloca o homem branco cis gênero e heteronormativo como o centro do poder social.

Narrativa artística decolonial

A arte é um meio pelo qual podemos proporcionar reflexões e indagações frente às narrativas coloniais do sistema social vigente. O carnaval das escolas de samba é uma forma artística que parte de uma pesquisa de enredo – texto narrativo e justificado do tema proposto para o desfile – para atravessar as esferas plásticas – fantasia e alegoria – e mu- sicais – samba-enredo, canto e dança. O enredo é a base textual que fornece norteamento para todo o processo criativo e para tudo aquilo que a escola quer transmitir enquanto men- sagem. Para Ana Luísa Azêdo (2019, p. 17):

Quando se fala no desenvolvimento de enredos históricos no Carnaval, fala-se do estabelecimento de uma narrativa que oferece uma representação esté- tica e audiovisual de um período ou acontecimento. O carnavalesco assume então o papel do historiador ao mediar a relação daquela sociedade com o seu passado.

Muitos enredos históricos vieram de livros de história nacional escritos com uma nar- rativa colonial. Muitas vezes o carnavalesco não questiona os fatos históricos em sua pro- posta de enredo; apenas os organiza em uma narrativa. É interessante perceber que alguns enredos de narrativas coloniais que alguns desfiles ficaramdatados no tempo em que foram realizados, ou seja, a narração dos fatos históricos sem questionamentos não se torna inte- ressante na atualidade, dessa forma, essas mesmas narrativas não seriam bem apreciadas na atualidade como foram em seu tempo. Essa não apreciação acontece devido aos desfiles

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de escolas de samba na atualidade conversarem mais com a sociedade por um prisma não hegemônico, valorizando a forma de pensar e de questionar o mundo à sua volta. Assim, podemos apontar para o desfile da Grêmio Recreativo Escola de Samba (GRES) Imperatriz Leopoldinense no carnaval de 2000 como um enredo/desfile datado. No ano 2000 o Brasil realizava uma comemoração dos seus 500 anos de sua história e os desfiles das escolas de samba abraçaram essa comemoração como temática de seus enredos. A im- peratriz Leopoldinense desfilou com o enredo intitulado Quem descobriu o Brasil, foi seu Cabral, no dia 22 de abril, dois meses depois do carnaval1 sobre o descobrimento do nosso país. A narrativa desse enredo foi com base nos livros de história da época que visam a visão colonial da chegada do Cabral, assim, não houve um questionamento perante o fato histórico. A escola se consagrou campeã daquele ano e o desfile ainda é percebido como um grande desfile da agremiação. Se olharmos para a época do desfile a narrativa comunga com a comemoração e as festividades dos 500 anos do Brasil. É um enredo cuja a narrativa era condizente ao período histórico do ano 2000. Contudo, se esse mesmo desfile fosse feito hoje com essa mesma narrativa a escola não teria o mesmo apreço que teve na época e, possivelmente, não seria campeã.

Imagem do desfile da Imperatriz Leopoldinense no carnaval do ano 20002.

1 DESFILE COMPLETO IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 2000: Globo. 23 dez. 2016. 1 vídeo (1h 31min 31seg), son., color. Publicado pelo canal Thiago Tapajós. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020. 2 Fotografia de Wigder Frota. Disponível em: . Acesso em: 04 nov 2020.

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Destaco três pontos de desconstrução da narrativa hegemônica nos enredos das es- colas de samba, a primeira ruptura começa com o fato das agremiações perceberem com mais relevância a sua conexão com a sociedade. Os carnavalescos começam a olhar para as suas comunidades buscando aproximá-las da agremiação e percebem, nesse processo de aproximação, questões pertencentes aos seus grupos sociais. Dessa forma, as narrativas dos enredos passam a ser com base nos interesses das comunidades e o ponto de vista do componente da escola. O componente e o público começam a se identificar e apreciar mais os enredos que tenham um cunho crítico e social, pois esses dão voz aos questionamentos e necessidades de nossa atualidade. Lima (2020, p. 92) ao estudar os desfiles no carnaval de 2018 e 2019 pelo olhar de protestos carnavalescos aponta que: “os desfiles desses enredos levaram ao sambódromo, cada um à sua maneira, o debate político pós-golpe de Estado que em 2016 derrubou a presidenta eleita do Brasil, Dilma Vana Rousseff”. Os carnavalescos olham para os acontecimentos do país e levantam seus questionamentos sobre o mesmo para seus desfiles, assim, os enredos começam a apresentar uma narrativa artística questionadora/decolonial. A agremiação GRES Paraíso do Tuiuti desfilou em 2018 com o enredoMeu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão? 3 Sobre os 130 anos da Lei Áurea. O título do enredo é um questionamento referente ao sistema social da atualidade que ainda escraviza aqueles que estão à margem da sociedade. “A dramaturgia desse desfile, seu enredo, narra a história da escravidão dos negros africanos (e seus descendentes), trazidos para a Colônia de Portugal hoje denominada Brasil num processo violento da diáspora africana” (LIMA, 2020, p. 104). Essa escravidão construiu um país preconceituoso com o negro que foi liberto da senzala pela Lei Áurea, mas ficou preso na miséria da . O enredo propõe uma reflexão apon- tando que a escravidão do negro ainda prevalece no sistema social da atualidade, assim, olhando para o último setor do desfile intitulado deCativeiro social a agremiação “denuncia que, embora a escravidão tenha deixado de existir legalmente em 1888, quando a Princesa Isabel assinou a chamada Lei áurea, ela segue presente nas periferias e na precarização do trabalho hoje, no Brasil” (LIMA, 2020, p. 105). O trabalho artístico da agremiação ajuda a traduzir em imagens, alegorias e fantasias a questionamento proposto pelo enredo e apontar os culpados dessa escravidão atual. A úl- tima alegoria do desfile intitulada de Neo-Tumbeiro, em referência aos navios que traziam os escravos da África, os Tumbeiros, tinha mãos gigantes de políticos que controlavam a população brasileira como marionetes. As composições da alegoria que representavam a população brasileira estavam vestidas com trajes de jogador de futebol da seleção brasileira e vinham batendo panelas, em referência ao movimento do panelaço. No alto da alegoria

3 PARAÍSO DO TUIUTI 2018: Desfile Completo. 12 fev. 2018. 1 vídeo (1h 00min 16seg), son., color. Publicado pelo canal Douglas Sanches. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020.

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como destaque principal a imagem do controlador dessas mãos: a representação do presi- dente Michel Temer como o Vampiro Neoliberalista.

Imagem do destaque Léo Morais representando o presidente Michel Temer como o Vampiro Neoliberalista 4.

O discurso decolonial da Paraíso do Tuiuti não abordou a escravidão pelo olhar do branco colonizador que muitas vezes romantiza a chibata com intuito de amenizar a dor e o sofrimento dos povos escravizados, mas apontou as consequências da escravidão como fator que formou e alimenta o racismo estrutural, o desemprego dos grupos sociais periféricos e a marginalização de indivíduos pertencentes a essa esfera social na atualidade. Provocar a reflexão atualizando o discurso contra o preconceito e a importância da luta contra o racismo foi a forma de narrativa não hegemônica usada pela escola.

A escola de samba é um totem de cultura brasileira fortificado na capacidade de resistência dos mais pobres, na voz dos excluídos e na ancestralidade do sentimento comunitário. E, em meio a uma atualidade de exclusão social, desigualdade de oportunidades, intolerância as diferenças e ataque aos direi- tos básicos dos cidadãos, as escolas se tornaram uma espécie de quilombo contemporâneo onde suas comunidades encontram representatividade (VAS- CONCELOS, 2018, p. 181)

Em comunhão com esse olhar para a comunidade na escolha da temática do enredo, o segundo fator que contribui para a ruptura da narrativa colonial nos enredos das escolas de samba é a pesquisa do carnavalesco com base em obras que questionam os fatos históricos

4 Fotografia de Marcos Serra Lima para o site G1. Disponível em: .Acesso em: 04 nov 2020.

46 Infância com Artes e Artes na Infância: Implicação das artes no processo de crescimento e desenvolvimento da criança e comungam com uma narrativa decolonial. Como supracitado a referência de pesquisa do desfile da Imperatriz Leopoldinense no carnaval de 2000 foi com base nos tradicionais livros de história do Brasil. No desfile da Paraíso do Tuiuti podemos realçar a referência do livro de Jessé Souza (2017), A elite do atraso: da escravidão à lava-jato, como base da construção narrativa do texto do enredo. Dessa forma, percebemos que no desfile da Paraíso do Tuiuti houve um questionamento dos fatos históricos. A pesquisa é relevante porque contribui para o embasamento do discurso dos enre- dos. O enredo é uma obra lida e questionada pelos meios midiáticos e por diversos profis- sionais da impressa carnavalesca, além dos jurados, assim, embasar a narrativa contribui para o melhor entendimento da proposta da escola. No caso do uso da obra do sociólogo Jessé Souza – para o autor a raiz da desigualdade brasileira está na escravidão. A herança escravocrata legitima o poder e os interesses econômicos da elite fortalecendo o racismo estrutural que coloca o negro e pobre como aqueles que não são sujeitos, aqueles sem im- portância – ela é usada para refletir perante a sociedade escravocrata e as consequências de seu sistema na atualidade. Por esse meio, as agremiações embasam e traçam ideias que indagam o sistema social e a forma como as minorias são percebidas na atualidade. A referência da obra de Jessé Souza aparece novamente como norteador de outro enredo no carnaval, o enredo da GRES Estação Primeira de Mangueira de 2019, cujo o título do enredo é História para ninar gente grande5 de autoria do carnavalesco Leandro Vieira. “O enredo é uma narrativa baseada nas ´páginas ausentes` da História do Brasil. Se a his- tória oficial é uma sucessão de versões dos fatos, o enredo proposto é uma ‘outra versão’” (LIESA, 2019, p. 34). Essa outra versão aponta para o negro, índio e pobre como protago- nistas e heróis da história do nacional. Como já abordado, a história brasileira está escrita pelo olhar do branco colonizador e os heróis que estão nos retratos dos livros de história e nas ilustrações dos museus são esses representantes de uma sociedade patriarcal e branca. A Mangueira retirou-os do retrato e colocou personalidades que representam a luta dos grupos minoritários dando voz às histórias dos negros, do índio e do pobre nos fatos históricos do país e na formação da identidade do brasileiro. A narrativa proposta pelo enredo questiona a versão de descobrimento do Brasil, por exemplo, afirmando que Cabral invadiu as terras e escravizou os nativos tomando posse do local. “CABRAL, o “ladrão”, que “roubou” o Brasil lá pelas bandas de mil e quinhentos” (VIEIRA, 2019, p. 314). O enredo denuncia que já existia história no país antes da chegada dos portugueses e que o índio foi escravizado e morto, sua cultura e hábitos subjugados, e o herói nacional que ganhou os retratos dos museus sob o sangue retinto foi Cabral.

5 MANGUEIRA 2019: Desfile Completo. 05 mar. 2019. 1 vídeo (57min 36seg), son., color. Publicado pelo canal Music World. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020.

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Comemoramos 500 anos de Brasil sem refazermos as contas que apontam para os mais de 11.000 anos de ocupação amazônica, para os mais de 8.000 anos da cerâmica mais antiga do continente, ou ainda, sem olhar para a civi- lização marajoara datada do início da era Cristã. Somos brasileiros há cerca de 12.000 anos, mas insistimos em ter pouco mais de 500, crendo que o índio, derrotado em suas guerras, é o sinônimo de um país atrasado, refletindo o descaso com que é tratada a história e as questões indígenas do Brasil (VIEI- RA, 2019, p. 313).

Durante o processo criativo do desfile uma sinopse do enredo é entregue para a ala de compositores da escola e eles6 compõem o samba-enredo – música que será cantada durante todo o cortejo carnavalesco. Em 2019, eles nos presentearam com um dos sam- bas-enredo mais bonito da agremiação:

Brasil, meu nego Deixa eu te contar A história que a história não conta O avesso do mesmo lugar Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo a Mangueira chegou Com versos que o livro apagou Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento Tem sangue retinto pisado Atrás do herói emoldurado Mulheres, tamoios, mulatos Eu quero um país que não está no retrato (LIESA, 2019, p. 34).

Esse trecho do samba-enredo da agremiação relata a forma como o olhar do coloni- zador subjugou o nativo indígena e como anos de sua cultura foram apagadas dos livros de história nacional para colocar no retrato nacional o herói branco. O negro também está presente no enredo. A Mangueira aponta que a liberdade não veio do céu, como presente divino, e nem das mãos da Princesa Isabel que assinou a Lei Áurea. A liberdade veio da luta de vários indivíduos e de quilombos que pressionaram o sistema político na época forçando o fim da escravidão. Indivíduos como Chico da Matilde:

A construção de uma narrativa histórica elitista e eurocêntrica jamais con- cederia a líderes populares negros uma participação definitiva na abolição oficial. Bem mais “exemplar” a princesa conceder a liberdade do que incluir nos livros escolares o nome de uma “realeza” na qual ZUMBI, DANDARA e LUIZA MAHIN assumissem seu real papel na história da liberdade no Brasil. [...] O fato é que a atuação de gente comum, ou mesmo a incansável luta negra organizada em quilombos, em fugas, no esforço pessoal ou coletivo na compra de alforrias e em revoltas ou conspirações, já enfraqueciam o sistema escravocrata àquela altura. Entretanto, ensinar na escola o nome de “CHICO DA MATILDE”, jangadeiro, mulato pobre do Ceará (líder da greve que colocou fim ao embarque de escravos no estado nordestino, levando-o à abolição da

6 Compositores Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino.

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escravatura quatro anos antes da princesa ganhar sua “fama” abolicionista) não serviria à manutenção da premissa de que as conquistas sociais resul- tam de concessões vindas “do alto” e não das lutas. A história de CHICO DA MATILDE era inspiradora demais para o povo. Não à toa, seu nome não está nos livros. (VIEIRA, 2019, 314-315).

Segundo Ana Luísa Azêdo (2019, p. 30) a representação do negro no carnaval teve o sofrimento e a dor como pano de fundo “Ao negro foi reservado na narrativa histórica o local de dor e sacrifício, em paralelo aos heróis oficiais, que eram retratados sob o discurso da glória e do triunfo”. O enredo da Mangueira ao abordar as lutas e personagens negros que foram apagados das narrativas dos livros de história termina por romper com essa visão de dor e sacrifício que foi imposta às narrativas negras. Os personagens negros, suas lutas e sua representatividade foram colocadas também em trechos do samba-enredo da escola:

Brasil, o teu nome é Dandara Tua cara é de cariri Não veio do céu Nem das mãos de Isabel A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho Quem foi de aço nos anos de chumbo Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês

Mangueira, tira a poeira dos porões Ô, abre alas pros teus heróis de barracões Dos Brasis que se faz um país de Lecis, Jamelões (São verde-e-rosas as multidões) (LIESA, 2019, p. 34).

Essas histórias de lutas e do protagonismo do negro e indígena não estão nos livros de história mais antigos. Muitos dos personagens pesquisados no enredo foram tirados de uma pesquisa feita pelo carnavalesco com base em teses e dissertações nacionais. Conhecimento que precisa sair da esfera universitária e adentar a esfera das escolas. Neves (2019) aborda em seu artigo intitulado Os -enredo da Mangueira e da 2019 como recurso pedagógico nas aulas de sociologia do ensino médio que podemos levar para a sala de aula o samba-enredo das agremiações carnavalescas e gerar debates com os discentes sobre as narrativas abordadas perante o tema. “Com o objetivo de contribuir na reflexão sobre o processo de produção do conhecimento, numa tentativa de mostrar que há diferentes perspectivas/discursos/abordagens sobre uma mesma realidade social” (NEVES, 2019, p. 81). É válido salientar que outros professores espalhados pelo território nacional também utilizaram o samba-enredo da Mangueira 2019 como recurso pedagógico7.

7 TESI, Romulo. Professores levam samba da Mangueira para sala de aula e relatam experiência. Uol Setor 1. Reportagem, , 20 mar. 2919. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020.

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Nesse ponto é relevante abordar a narrativa do enredo da em seu carnaval de 2019, também no grupo especial do carnaval carioca. Pois, como apontado por Neves (2019, p. 88) “a História do Brasil (no que diz respeito ao período colonial, que inclui a abolição da escravatura), foi contada sob dois pontos de vista bastante diferentes [...] a Mangueira contou a história do ponto de vista dos dominados e a Vila Isabel do ponto de vista dos dominadores”. No mesmo ano, na mesma noite de desfile, o carnaval carioca teve a oportunidade de vivenciar duas narrativas diferentes sobre os mesmos fatos históricos. A GRES Unidos de Vila Isabel apresentou o enredo intitulado de Em nome do pai, do filho e dos santos, a Vila canta a cidade de Pedro8 que teve como temática a cidade de Petrópolis, conhecida como cidade imperial e lar da corte portuguesa, pelo qual, exaltou a Princesa Isabel como grande heroína do abolicionismo brasileiro. As narrativas opostas geraram atritos entre os fãs de cada agremiação e de dirigen- tes das mesmas. Havia quem dissesse que a narrativa da Vila Isabel estava certa, pois tinha como base a referência nos livros de história nacional, enquanto outros apontavam que a narrativa da agremiação não é mais pertinente na época atual e o seu enredo é datado para a atualidade, ou seja, ele não se encaixaria no pensamento social e artístico de hoje. A Mangueira se consagrou campeã conquistando seu vigésimo título no carnaval carioca e a Vila Isabel ficou com a terceira colocação. Contudo, essa visão em que o pobre é o protagonista incomodou bastante pessoas da alta sociedade brasileira, incluindo políticos e religiosos. Na plataforma de streaming e compartilhamento de vídeo youtube – atualmente um lugar usado por muitas pessoas para exporem suas opiniões e discutirem sobre acontecimentos da atualidade – percebemos uma enxurrada de críticas ao carnaval da Mangueira 20199. Críticas ao seu samba-enredo; a narrativa do enredo; a plástica usada pelo carnavalesco. As justificativas vão desde dizer que a Mangueira transformou Marielle Franco em uma heroína nacional, até à acusação da escola por esta ter transformado personagens históricos como Pedro Alves Cabral, Princesa Isabel, os bandeirantes e os jesuítas em vilões, assassinos e ladrões do país10. Para Roberto DaMatta (1997) a burguesia social tolera o fato do pobre no carnaval representar os burgueses, se passar por integrantes da alta sociedade, mas quando essa teatralização carnavalesca expressa uma crítica ou um discurso de luta social em que o pobre questiona aqueles que estão no poder, existe uma pretensão desses indivíduos burgueses em provocar rejeição à festa, ao samba e, consequentemente, uma tentativa de desmora- lizar o desfile e tudo aquilo que é usado como discurso carnavalesco. Entender o discurso

8 UNIDOS DE VILA ISABEL 2019. 08 mar. 2019. 1 vídeo (1h 14min 28seg), son., color. Publicado pelo canal Daniel Marques. Disponí- vel em: < https://www.youtube.com/watch?v=HUyZOdm7JXA>. Acesso em: 08 jul. 2020. 9 CARLOS BOLSONARO DETONA A MANGUEIRA APÓS CARNAVAL. 07 mar. 2019. 1 vídeo (01min 02seg), son., color. Publicado pelo canal Ploc Social. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020. 10 CARNAVALESCO DA MANGUEIRA, MANDA RESPOSTA PARA BOLSONARO! 06 mar. 2019. 1 vídeo (02min 30seg), son., color. Publicado pelo canal Siga Peter no Blog. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2020.

50 Infância com Artes e Artes na Infância: Implicação das artes no processo de crescimento e desenvolvimento da criança de rejeição aos desfiles de escola de samba é lutar pelo entendimento da festividade como um elemento importante na cultura e na identidade do brasileiro. O último ponto que ressalvo como ruptura da narrativa colonial é o trabalho plástico criado pelos carnavalescos. Muitas ideias artísticas perante a narrativa são concretizadas nesse processo criativo e é essa plástica visual, alegorias e fantasias, que vai atingir em maior escala o entendimento do espectador perante o desfile. Alguns temas nos desfiles das escolas de samba, como o índio e o negro, por exemplo, já foram bastante explorados ao longo dos anos, criando no imaginário da festa uma forma de retratá-los. A ruptura visual acontece quando o carnavalesco decide retratar algum tema que já foi visto nos cortejos carnavalescos de forma artisticamente diferente ou de forma questionadora, aquilo que os livros de história afirmam como verdade absoluta, por exemplo. Em relação ao índio Ana Luísa Azêdo (2019, p. 22) afirma que “A representação carnavalesca dos índios esteve sempre muito ligada a uma idealização inspirada no Romantismo literário. Obras como Iracema e O Guarani, de José de Alencar, são referências diretas do índio que muitas vezes passou pela Sapucaí”. Esse ideal romântico influenciou diretamente a forma como o índio é representado nos desfiles, nessa representação suas lutas são ignoradas, o extermínio do nativo é apagado e sua cultura é colocada como irrelevante.

Imagem do carro abre-alas da Mangueira 201911.

11 Imagem disponível em: . Acesso em: 04 nov 2020.

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No carro abre-alas da Escola da Mangueira, o carnavalesco Leandro Vieira expressa um Brasil indígena muito antes da chegada dos portugueses em tons predominantemente verdes. No alto da alegoria a imagem de um indígena em harmonia com a fauna e a flo- ra. A cerâmica dos povos indígenas é usada como imagem de valor por aquilo que é feito e produzido pelo índio, assim como as pinturas rupestres em grutas rochosas. Enquanto na segunda alegoria provoca um contraste em tons fortes de vermelho sangue. O colonizador já havia chegado e o nativo foi morto e escravizado. As esculturas de índios com faixas na boca significando que os nativos e sua cultura foram silenciados pelo colonizador. Haviam cruzes em todo o carro e nelas escritas o nome das minorias que foram mortas por esses colonizadores, como Tupinambás e Tamoios. A fauna e a flora são vermelhas e no alto da alegoria a imagem do Monumento às Bandeiras, nele a pichação da palavra assassinos em tons de sangue.

Imagem do segundo carro da Mangueira 201912.

A representação com base nos livros didáticos de história coloca os bandeirantes como sendo bravos desbravadores. “Você aprendeu que os ‘BANDEIRANTES’ – assassinos e sa- queadores – eram os bravos desbravadores que expandiram as fronteiras do território nacio- nal” (VIEIRA, 2019, p. 314). E o índio subjugado na visão do imaginário europeu “tanto como um habitante do paraíso como um selvagem antropófago” (AZÊDO, 2019, p. 23). A plástica da escola tenta provocar reflexão ao apresentar que os bandeirantes foram saqueadores e dizimaram diversos povos indígenas ao longo do desbravamento do Brasil. Na descri- ção da alegoria o carnavalesco aponta que a história dos bandeirantes, representada pelo Monumento na alegoria, foram “construídas a partir da eleição de ‘pontos de vista’ no qual

12 Fotografia tirada pelo autor do texto do vídeo: [4K] MANGUEIRA – Desfile Completo Carnaval 2019. 10 mar. 2019. 1 vídeo (43min 06seg), son., color. Publicado pelo canal Carnaval do Mundo. Disponível em: . Acesso em: 04 nov 2020.

52 Infância com Artes e Artes na Infância: Implicação das artes no processo de crescimento e desenvolvimento da criança os vencedores são enaltecidos em detrimento dos vencidos, independente dos meios utili- zados para a justificativa de seus fins” (VIEIRA, 2019, p.326). O Monumento às Bandeiras localizado na região do Ibirapuera na cidade de São Paulo se tornou um símbolo da cidade e da bravura dos bandeirantes que desbravaram o centro do país. Este monumento já foi alvo de pichações e protestos de diversos grupos. Em 2013, o monumento teve a base pichada com a inscrição “bandeirantes assassinos” enquanto as esculturas tiveram os rostos sujos com tinta vermelha. O protesto, segundo o site Folha de São Paulo, do portal Uol, informou que foi um grupo de manifestantes, entre eles índios, que protestavam contra a PEC 12513. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) visa a trans- ferência do controle de demarcações de terras indígenas para o congresso, possibilitando a revisão de terras já demarcadas, ou seja, retirar das tribos indígenas aposse perante suas terras e expulsá-los das mesmas.

Imagens do Monumento às Bandeiras pichados em 201314.

13 Para maisinformações:. Acesso em: 04 nov 2020. 14 Ambas imagens desta página estão disponiveis no site da Uol: . Acesso em: 04 nov 2020.

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O carnavalesco ao colocar a imagem do Monumento às Bandeiras na segunda alegoria e ao pichá-lo novamente com a inscrição “assassinos” e com tinha vermelha, simbolizando o sangue dos povos indígenas dizimados pelos bandeirantes, traz à tona toda a discursão referentes aos protestos e atualiza a discursão dos protestos no quadro atual sociopolítico do país. A escola não reforça a narrativa colonial perante os bandeirantes e sim tenta pro- vocar questionamento sobre essa narrativa apontando outra em que o indígena ainda está sendo visto como indivíduo sem seus direitos e sem respeito pelo sistema político vigente. O último carro trouxe a proposta de reescrita da história do Brasil incluindo seus livros didáticos escolares, agora sobre uma narrativa decolonial, pelo qual, as histórias dos heróis nacionais fossem escritas pelo olhar do negro, índio e pobre. Os personagens históricos como Pedro Alves Cabral, Princesa Isabel e outros são representados por destaques que vêm sambando em cima de corpos mortos simbolizando que suas histórias foram escritas com sangue de povos oprimidos. Atrás dos destaques o livro de história reescrito e, dessa vez, eles não foram os vencedores. Contudo nenhuma imagem foi mais impactante do que a ala São verde e rosa as multi- dões que trazia várias bandeiras com a imagem de negros que venceram na vida e lutaram por um mundo melhor, como Jamelão; ; Marielle Franco, entre outros. Percebemos a ala como um olhar de esperança do indivíduo subjugado pelo sistema social, ainda que este continue inserido na miséria da favela, reconheceu-se nessas figuras negras que lu- taram e venceram na vida, entendendo que ele também pode melhorar sua situação social obtendo dignidade.

A Mangueira toma partido de suas simbólicas cores para vestir de verde e rosa e fazer delas a representação vitoriosa das multidões de “favelados”, homens e mulheres pobres, moradores de comunidades espalhadas pelo Brasil. Em meio à ala tremulam as bandeiras que estampam o rosto de personalidades oriundas de brasileiras, símbolos de lutas individuais que resultam numa representatividade significativa para um país onde as oportunidades para os “herdeiros” de índios e negros ainda seguem sendo uma das mais evidentes marcas de nossa desigualdade (VIEIRA, 2019, p. 375).

No final do desfile a bandeira do Brasil foi pintada de verde e rosa, cores da agremiação, e no lugar de ordem e progresso a frase era índios, negros e pobres. A Mangueira devolvia simbolicamente o Brasil aos índios, negros e pobres e a dignidade de fazerem parte da histó- ria do país. Nos últimos carnavais a Mangueira vem se posicionando como uma agremiação que olha para a sua comunidade, para o seu país, e por meio de narrativas decoloniais em seus enredos busca levantar discussões pertinentes ao modo como o sistema social vigente percebe aqueles que estão à margem da sociedade.

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Imagem do final do desfile com a bandeira do Brasil nas cores da escola e, na frente, a ala com a bandeira de Marielle Franco e Jamelão15.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda existe muito a ser feito em relação às narrativas coloniais que estão presente nos cortejos carnavalescos das escolas de samba, mas acreditamos que algumas agremiações estão fazendo a sua parte. A Mangueira incomodou bastante com a sua narrativa decolonial, principalmente aqueles que não queriam que a história colonial fosse questionada. Aqueles que detêm o poder vão propagar uma rejeição e tentando deslegitimar o discurso do enredo da agremiação. Eles tentam difamar e distorcer a proposta da escola para conquistar a opinião pública e, com isso, tentam interferir no desfile. Contudo, acreditamos que a arte pode dar voz a esses povos silenciados pelo sistema político e social do nosso país, proporcionando um lugar de quebra desse silêncio, um lugar em que os povos podem ter protagonismo e voz. Em suma, percebemos que os três fatores – o olhar que dialoga com as necessidades da comunidade; a pesquisa de referências com obras que questionam o sistema social na construção do discurso dos enredos e a plástica artística de forma reflexiva – podem contri- buir para a ruptura com as narrativas coloniais ainda existentes nos desfiles das escolas de samba. Essa pesquisa ainda vai caminhar por mais tempo tentando sempre perceber como a narrativa não hegemônica está presente no carnaval, até lá, como diz o samba-enredo da Mangueira, é “na luta é que a gente se encontra”.

15 Imagem disponível no site: . Acesso em: 04 nov 2020.

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REFERÊNCIAS

1. AZÊDO, Ana Luísa C. da C. Dois meses depois do carnaval: narrativas históricas na folia carioca. (2019). 2019. 60f. Dissertação (Mestre em Empreendedorismo e Estudos da Cultura) – Instituto Universitário de Lisboa, Portugal.

2. DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

3. LIESA. Roteiro dos desfiles. Rio de Janeiro: Graffinn Editora, 2019.

4. LIMA, Fátima Costa de. Imagens políticas no carnaval das escolas de samba: protestos políti- cos na pista do sambódromo carioca em 2018 e 2019. In: Seminário de Pesquisa em Artes Cênicas, IX., 2020, Florianópolis. Anais do XI Seminário de Pesquisa em Artes Cênicas; pro- dução de conhecimento e relações de poder: e a arte com isso?, abr. 2019. p. 87-124.

5. NEVES, Ana Beatriz M. [et al.]. Os sambas-enredo da Mangueira e da Vila Isabel 2019 como recurso pedagógico nas aulas de sociologia do ensino médio. In: Revista Perspectiva So- ciológica, n. 23, 1° sem. 2019, p. 80-91.

6. SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.

7. VASCONCELOS, Jack. Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?. In: LIESA. Livro Abre-Alas 2018: domingo. Rio de Janeiro: 2018. p. 175-223. Disponível em: . Acesso em: 26 ago. 2019.

8. VIEIRA, Leandro. História para ninar gente grande. In: LIESA. Livro Abre-alas 2019: segun- da-feira. Rio de Janeiro: 2019. p. 307-389. Disponível em: . Acesso em: 05 set. 2019.

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