UNIVERSIDADE FEDERAL DO DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais

JOSÉ AVELINO DA HORA NETO

DINÂMICA DE EXPANSÃO URBANA DE -MIRIM/RN: ASPECTOS LOCAIS E METROPOLITANOS?

Dissertação N.º 30/PPEUR.

NATAL – RN AGOSTO/2015

JOSÉ AVELINO DA HORA NETO

DINÂMICA DE EXPANSÃO URBANA DE CEARÁ-MIRIM/RN: ASPECTOS LOCAIS E METROPOLITANOS?

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do , como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Estudos Urbanos e Regionais.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Livramento Miranda Clementino

NATAL – RN AGOSTO/2015

Ficha catalográfica

Ata

À minha querida vovó Biu, Severina Galdino da Hora (in memorian), por ter me dedicado seu amor incondicional.

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos mais sinceros para todos que durante esse longo percurso não permitiram que estivesse sozinho nos momentos de desânimo e incertezas. A todos que mencionaram palavras de conforto, estenderam a mão, compartilharam risadas e respeitaram, vez por outra, meu silêncio. Obrigado aos meus pais, André e Josenilda, que não mediram esforços para que esse trabalho se realizasse, seja no incentivo por meio de palavras, na ajuda financeira, no ombro amigo, no colo confortante, na confiança empreendida nas minhas ações e principalmente na certeza de que somos verdadeiramente uma família unida, meus sinceros agradecimentos. Aos meus irmãos, André Luís e Andressa, que nos mais diversos momentos por meio de pequenos gestos, me agraciaram com suas companhias nesse longo processo de amadurecimento entre irmãos. Sou grato pelo respeito e admiração que me depositam, sendo recíprocos meus sentimentos por vocês. Agradeço a atenção e ternura da minha avó materna Maria Luísa (Vovó Mariquinha), que nos olhares experientes, me ensinou a confiar em Deus acreditando sempre no poder de suas realizações: obrigado. Aos tios e tias que se fizeram presentes nessa caminhada, entre eles agradeço, especialmente, à minha tia, madrinha e amiga Josivânia Marisa, pelo exemplo que se tornou em minha vida, pelos conselhos, pela ajuda na revisão do texto, pelo papel que conquistou na minha vida. Muito obrigado.

Pelo companheirismo, paciência e amor dedicados, a partir de meados dessa aventura acadêmica, agradeço a Rodrigo Oliveira.

É raro encontrar pessoas que acrescentam à palavra amizade o significado de doação. Desse modo, agradeço àqueles que desde a graduação em geografia acompanham minha vida; Lídia Gabriela, Deickson Lennon, Emanuell Cavalcanti, Nádia, Monick, Priscila e Eloísa.

Aos meus talentosos e afetuosos amigos que ajudaram na confecção da capa e revisão ortográfica, agradeço à Anaxágoras e Mônica Cavalcante.

Aos meus amigos do PPEUR pelos quais os desafios, as angústias e superações foram compartilhados de maneira intensa, agradeço profundamente à Jenair, Rafael João, André, Haline, Paula, Valéria, Gabi, Raquel, Wagner, Pedro, Lucas e Gilka.

Por fim, a todos os professores, funcionários e bolsistas do PPEUR, em especial à minha orientadora, professora Maria do Livramento, agradeço pela confiança construída ao longo dessa produção acadêmica, pelas conversas das quais surgiram os primeiros esboços para o presente estudo, pelos direcionamentos textuais e pela generosidade em me ceder espaço no grupo do Observatório das Metrópoles (Núcleo Natal) para a realização deste trabalho: meus sinceros agradecimentos.

“Vivo no quase, no nunca e no sempre. Quase, quase – e por um triz escapo.”

(A cidade sitiada – Clarice Lispector)

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo compreender a dinâmica de crescimento da cidade de Ceará-Mirim considerando os aspectos que definem sua atual expansão urbana, ou seja, seu crescimento. Escolheu-se utilizar como aporte metodológico o conceito de espaço como produto e produtor das relações sociais, sendo o mesmo constituído por objetos e ações que se relacionam num processo dialético ao longo do tempo. Como instrumento de pesquisa, realizou-se estudo bibliográfico que caracterizasse os aspectos históricos de uso e ocupação do solo da região a fim de evidenciar os agentes que explicam sua configuração urbana atual. Em seguida, realizou-se o levantamento de dados secundários para uma análise das atividades econômicas do município e seus respectivos impactos na estrutura social local. Entre esses aspectos, a economia açucareira, mesmo em decadência, aparece como definidora dos limites de crescimento urbano. Na escala regional, outros fatores são discutidos abordando a influência dos processos urbanos formadores da Região Metropolitana de Natal (RMNatal), na qual Ceará-Mirim aparece integrada no nível muito baixo segundo estudo do Observatório das Metrópoles (2012). Contudo, destacamos que nos últimos anos principalmente no vetor de crescimento da BR 406, instalaram-se equipamentos de abrangência metropolitana. Esses objetos estão associados a um discurso imobiliário em que a possível “metropolização” aparece como impulsionadora de investimentos na área de expansão da cidade. Palavras-chave: Espaço, Dinâmica urbana, Metropolização.

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ABSTRACT

This study aims to understand the growth dynamics of Ceará-Mirim city considering the aspects that define its current urban sprawl. We chose to use as methodological approach the concept of space as a product and producer of social relations and the same constitutes by objects and actions that relate in a dialectical process over time. As a research tool, it took place bibliographical study that features the historical aspects of use and occupation, in order to evidence the regional ground agents that explain its current urban setting. Then, it was collected a secondary data of economic analysis activities from municipality and their impact on local social structure. Between these aspects, the sugar economy, even in decline, had appeared as defining the boundaries of urban growth. At the regional scale, other factors were discussed in a way of urban influence processes forming the Greater Natal (RMNatal), and Ceará-Mirim appears integrating into this scale in a very low level according to Metropolis Observatory (2012). However, we have pointed out that in recent years, especially in growth vector of BR 406, settled metropolitan scope equipment. These objects have been associating in a real estate sector's reasoning while the possible "metropolization" have been promoting as investments in the city's expansion area.

Keywords: Space, Urban dynamics, Metropolis.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização de Ceará-Mirim 2015...... 20 Figura 2 – Macro zonas de Ceará-Mirim segundo o plano diretor...... 24 Figura 3 – Distribuição e características das propriedades agrícolas no médio vale do Ceará- Mirim...... 27 Figura 4 – Foto do engenho Carnaubal na década de 50 do século XX...... 28 Figura 5 – Réplica do cruzeiro erguido na fundação do povoado Boca da Mata...... 30 Figura 6 – Localização das demarcações do povoamento Boca da Mata...... 31 Figura 7 – Largo da Matriz destacando à esquerda a imponente casa do Dr. José Inácio. .. 35 Figura 8 – Prédio da Intendência municipal no início do século XX...... 36 Figura 9 – Mercado Municipal...... 37 Figura 10 – Distribuição dos núcleos de ocupação em Ceará-Mirim...... 39 Figura 11 – Vetores de crescimento urbano de Ceará-Mirim por décadas...... 40 Figura 12 – Macro zona Urbana de Ceará-Mirim...... 41 Figura 13 – Expansão urbana de Ceará- Mirim: Vetores de crescimento por décadas...... 42 Figura 14 – Abrangência de equipamentos de comércio...... 44 Figura 15 – Abrangência de escolas de ensino fundamental...... 44 Figura 16 – Abrangência de escolas de ensino Médio...... 45 Figura 17 – Abrangência de linhas de transporte ...... 45 Figura 18 – Abrangência de postos de saúde ...... 46 Figura 19 – Organograma: Hierarquia Dos Centros Urbanos...... 49 Figura 20 – Gráfico de Composição do PIB de Ceará-Mirim por Setores da Economia – 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais)...... 54 Figura 21 – Gráfico de Evolução Agropecuária, Industrial e de Serviços em Ceará-Mirim – 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais)...... 55 Figura 22 – Feira livre de Ceará-Mirim...... 56 Figura 23 – Prédio da Justiça Federal...... 57 Figura 24 – Prédio do Ministério Público Estadual...... 58 Figura 25 – Atual formação da Região Metropolitana de Natal ...... 70 Figura 26 – Eixos de Integração Metropolitana ...... 79 Figura 27 – Vista do embarque/desembarque de passageiros...... 81 Figura 28 – Lagoa de Extremoz...... 82 Figura 29 – Hotel às margens da lagoa de Extremoz...... 82

Figura 30 – Estação em construção entre Extremoz e o distrito de Massangana (Ceará- Mirim)...... 83 Figura 31 – Diferenças entre a locomotiva e o VLT...... 84 Figura 32 – Estação Ferroviária de Ceará-Mirim...... 85 Figura 33 – Saída do VLT Na plataforma Ribeira (Natal/RN) em direção à Ceará-Mirim...... 85 Figura 34 – Localização da BR 101 no RN...... 86 Figura 35 – Distrito Industrial de Extremoz às margens da BR 101...... 87 Figura 36 – Macrozoneamento Ceará-Mirim-RN ...... 89 Figura 37 – Placa sinalizadora das obras de acesso ao aeroporto internacional Aluízio Alves...... 90 Figura 38 – Loteamento Rota Norte. Massaranduba BR 406/Ceará-Mirim-RN ...... 91 Figura 39 – Mapa ilustrativo de anúncio do loteamento Rota Norte ...... 92 Figura 40 – Anúncio do loteamento Rota Norte ...... 92 Figura 41 – Equipamentos de Abrangência Metropolitana na BR 406/Ceará-Mirim-RN ...... 93 Figura 42 – Entrada do Aterro Sanitário Metropolitano, BR 406/Ceará-Mirim-RN...... 94 Figura 43 – Entrada do IFRN campus Ceará-Mirim, BR 406/Ceará-Mirim-RN...... 95 Figura 44 – Planta do loteamento “Maninho Barreto”, BR 406/Ceará-Mirim-RN...... 96 Figura 45 – Casas populares do complexo Barretão, BR 406/Ceará-Mirim-RN...... 97 Figura 46 – Vista do campo de treinamento e do estádio “Barretão” ao fundo, BR 406/Ceará- Mirim-RN...... 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Área Colhida / Quantidade Produzida (Cana-de-Açúcar) em Ceará-Mirim ...... 53 Tabela 2 – Evolução de Unidade de Empresas em Ceará-Mirim – 2007 2010 e 2013...... 55 Tabela 3 – Destaque dos 10 Municípios Potiguares com maior concentração de indústrias empregados no segmento formal – 2012 (em %)...... 59 Tabela 4 – Ceará-Mirim e Rio Grande do Norte: IDH (1991 2000 e 2010)...... 61 Tabela 5 – Nível de integração na dinâmica da aglomeração da Região Metropolitana de Natal ...... 72 Tabela 6 – Região Metropolitana de Natal: População, Área e Taxa de Crescimento populacional por Municípios...... 74 Tabela 7 – Produto Interno Bruto A Preços Correntes E Produto Interno Bruto Per Capita - Região Metropolitana De Natal – RN...... 75 Tabela 8 – Índices de Desenvolvimento Humano na Região Metropolitana de Natal - 2010 76 Tabela 9 – Taxa de Alfabetização da Região Metropolitana de Natal – RN ...... 77 Tabela 10 – Municípios da Região Metropolitana de Natal: crescimento da participação de entrada de pessoas por municípios segundo dimensões do movimento pendular...... 78

LISTA DE SIGLAS

CBTU Companhia Brasileira de Trens Urbanos

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MCMV Minha Casa Minha Vida

MST Movimento dos Sem Terra

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

PROALCOOL Programa Nacional do Álcool

PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo

REGIC Regiões de Influências das Cidades

RMNatal Região Metropolitana de Natal

VLT Veículo Leve Sobre Trilhos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 14

2 O ESPAÇO URBANO DE CEARÁ-MIRIM ...... 20

2.1 A construção histórica ...... 26 2.2 O espaço urbano atual: as novas áreas de expansão ...... 38 3 DINÂMICA NO CONTEXTO SOCIOECONOMICO: ASPECTOS LOCAIS48

3.1 O setor sucroalcooleiro e a agropecuária ...... 50 3.2 Comércio e serviços ...... 55 3.3 A pequena indústria ...... 58 3.4 Indicadores de qualidade de vida ...... 60 4 VETORES DE CRESCIMENTO URBANO: ASPECTOS METROPOLITANOS? ...... 62

4.1 A cidade como locus das desigualdades ...... 63 4.2 Metropolização à brasileira ...... 66 4.3 Um breve histórico da institucionalização da RMNatal ...... 69 4.4 Ceará-Mirim na RMNatal ...... 73 4.5 Os eixos viários de integração metropolitana ...... 78 4.6 O vetor de crescimento da BR 406: equipamentos e usos ...... 90 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 99

REFERÊNCIAS ...... 103

14

1 INTRODUÇÃO

As transformações socioespaciais provocadas pelo acelerado crescimento urbano brasileiro nas últimas décadas possibilitou uma configuração complexa nas atuais dinâmicas e atividades que compõem as cidades. Observa-se que o processo de industrialização e ampliação dos serviços da malha urbana foi consolidada pela implementação de equipamentos e infraestruturas que garantissem a expansão e fluidez do mercado. As cidades então se tornaram locus dessas transformações devido a concentração demográfica que catalisa e polariza os processos da ordem urbana.

No Brasil, a partir da década de 1960, percebe-se a intensidade do processo de urbanização por meio da concentração demográfica nas regiões industriais, diminuição da população rural devido ao êxodo, queda nas taxas de natalidade, entre outros. Esse período marca a expansão das corporações capitalistas que difundiu e introduziu novas relações envolvendo a industrialização e a consequente urbanização, afetando tanto a organização social quanto as formas espaciais criadas pelo homem.

Essa intensa urbanização se desenvolveu em meio a diversidades dos perfis citadinos. Santos (2013) descreve que alguns desses perfis são resultados da aceleração das macrocefalias metropolitanas, caracterizando um novo e complexo arcabouço de sistemas urbanos atualmente dinamizados por meio de múltiplos fluxos de informações e dos fluxos de matéria.

Em meio a isso, cidades de menor porte como centros de zona e centros locais (IBGE, 2007) desenvolveram-se integradas a um crescimento espraiado, na lógica centro-periferia, estruturando-se um espaço intra-urbano, pelo qual Vilaça (2001) fundamenta sua organização pelas condições de deslocamento do ser humano, “seja como portador da mercadoria força de trabalho; como no deslocamento casa/trabalho; deslocamento casa/compras; casa/lazer/ escola, etc.” (VILAÇA, 2001, p.20).

Considerando este nível de influência na hierarquia urbana, as cidades compõem redes cujos fluxos das atividades hegemônicas desenham um esqueleto de interações. Essa característica revela uma forma urbana marcada por usos e 15

funções diversas do espaço “à luz dos subprocessos econômicos, políticos e socioculturais” (SANTOS, 2012, p.11) nos diferentes momentos históricos.

Localizada na Nordestina, Ceará-Mirim é a expressão urbana da inter-relação entre o campo e a cidade desde o século XIX quando, no vale do rio que origina o nome da cidade, foi introduzida a cultura da cana-de-açúcar. Entretanto, o contexto de reestruturação produtiva da agroindústria canavieira, a cidade que até então tinha esta atividade como base da economia local, começou a sofrer transformações dessa ordem a partir da década de 1960.

Essa estrutura socioeconômica foi fundamental na atração de fluxos migratórios e de serviços que consolidaram a sede do município como importante centro regional, sendo classificado pelo REGIC (Regiões de Influências das Cidades), no fim da década de 1970, como centro de zona e posicionando-se entre as cinco maiores aglomerações urbanas do estado do Rio Grande do Norte naquele período (CLEMENTINO, 1995).

No entanto, com o desmonte da agroindústria canavieira nos últimos anos, observa-se uma gradativa mudança no papel da cidade de Ceará-Mirim como centro urbano regional. Essa mudança é confirmada por indicadores e índices que validam o surgimento de arranjos econômicos ligados ao setor de serviços, desencadeando uma nova dinâmica socioeconômica na cidade e, consequentemente, influenciando sua configuração urbana.

Essas mudanças são acompanhadas de uma perda de centralidade, no que se refere a influência da cidade na rede urbana regional, como comprovado pelo REGIC (IBGE, 2007) quando classifica Ceará-Mirim como centro local, hierarquicamente abaixo de centro de zona descrito nos estudos da década de 1970 (CLEMENTINO, 1995).

Além dos fatores locais de transformação econômica que provocaram uma mudança na hierarquia urbana, Ceará-Mirim vem gradualmente inserindo-se na dinâmica da Região Metropolitana de Natal (RMNatal).

As regiões metropolitanas são expressões contemporâneas do processo de urbanização, que se aproximam da definição de aglomerações urbanas por concentrar atividades, serviços e pessoas como sugere Ribeiro (2010, p. 3), 16

mancha contínua de ocupação, constituída por mais de uma unidade municipal, envolvendo intensos fluxos intermunicipais com comutação diária, complementaridade funcional, agregados por integração socioeconômica decorrente de especialização, complementação e/ou suplementação funcional.

A classificação dessas aglomerações é associada ao caráter metropolitano ou não metropolitano, cujo o grau de integração funcional dos municípios que fazem parte do aglomerado é utilizado como critério de avaliação dos processos de metropolização. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) diferencia as aglomerações urbanas das regiões metropolitanas a partir dos processos urbanos de metropolização:

O conceito aglomerações urbanas, que embora semelhante ao de região metropolitana, serve para designar outros espaços urbanos, situados em nível sub-metropolitano, que congregam mais de uma cidade, notadamente cidades que começariam a experimentar o processo de conurbação. (MATOS, 2000, p.2) A relação evolutiva do desenvolvimento das aglomerações urbanas em regiões metropolitanas revela uma análise da região como espaço de concentração das atividades urbanas estabelecidas no polo de importante ordem econômica, capaz de influenciar outras áreas que a circundam.

Segundo estudo do Observatório das Metrópoles (2012) a RMNatal está classificada como aglomeração urbana não metropolitana por apresentar em sua área de influência municípios com alto, médio, baixo e muito baixo grau de integração ao polo, com predominância dos dois últimos níveis. As variáveis que são utilizadas na definição dessa classificação estão relacionadas ao crescimento populacional; produção e distribuição da riqueza; ocupação do território; mobilidade populacional e grau de urbanização.

Ceará-Mirim é um dos municípios que se inserem na RMNatal desde sua institucionalização em 1997. Contudo, o município ainda apresenta nível muito baixo de integração metropolitana conforme as variáveis consideradas para a determinação desse nível. A natureza dessa configuração permite uma relação complexa dos fenômenos urbanos que implicam na dinâmica de crescimento da cidade, sendo necessária uma análise sócioespacial que compreenda não apenas a escala local, mas também macrolocal, ou regional.

Partindo dessa contextualização, objetiva-se com este estudo compreender a dinâmica de crescimento da cidade de Ceará-Mirim considerando os fatores que 17

definem sua atual expansão urbana. E, a partir dessa atividade, transcrever a caracterização dos objetos que contemplam os novos arranjos urbanos de Ceará- Mirim, revisar sua relação com os aspectos da dinâmica local e apontar sua inserção na RMNatal.

Para desenvolver este trabalho foi empregado como aporte metodológico o conceito de espaço como produto e produtor das relações sociais, sendo o mesmo transformado e transformador dos objetos e ações constituintes desse processo dialético ao longo do tempo. Nessa condição, será compreendido no conceito de espaço geográfico definido por Milton Santos como conjunto de fixos e fluxos que permitem modificações e novos significados a partir de ações (SANTOS, 2012).

Agregados a essa noção, os objetos constituintes do espaço “assumem novas funções adquirindo novos valores em períodos históricos da estrutura social” (CASTRO, 1992, p.13). Baseados nesse conceito, identificar a dinâmica entre os objetos e as ações do espaço urbano atual de Ceará-Mirim a partir das funções já exercidas como centro de importância regional, de forma a compreender as novas funções desses objetos frente aos processos de produção espacial.

Como ponto de partida duas perguntas são lançadas:

i. A estrutura histórica baseada na agroindústria canavieira ainda delimita e influencia a configuração urbana de Ceará-Mirim? ii. A metropolização de Natal interfere na definição dos novos arranjos urbanos? Para responder essas perguntas e atingir os objetivos destacados foram utilizados como procedimentos de pesquisa dados secundários, pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, visita in loco e confecção de mapas visando caracterizar a realidade do objeto de estudo discutido nos três capítulos em que se divide este trabalho.

O primeiro capítulo, intitulado “O espaço urbano de Ceará-Mirim”, é a compilação de dados que resultaram na descrição do município quanto a sua forma e características territoriais considerando o aporte teórico em Santos, 2012. A seguir, o primeiro subcapítulo, A construção histórica da cidade, é categorizado com o objetivo de debater a atual dinâmica urbana por meio do entendimento dos processos que definiram a atual conformação. O trabalho de levantamento histórico 18

foi realizado mediante pesquisa bibliográfica sobre o processo histórico de ocupação da cidade, estudo de documentos históricos e pesquisa em acervo fotográfico. No segundo subcapítulo; O espaço urbano atual: as novas áreas de expansão, é destacado a relação entre o uso e ocupação do solo e sua influência quanto à forma e configuração do espaço. Para isso, foram consideradas como referências analíticas o plano diretor da cidade e Siqueira Neto (2011) com estudos relacionados às novas áreas urbanizadas.

No segundo capítulo, a “Dinâmica no Contexto Socioeconômico: Aspectos Locais” são discutidos as atividades econômicas do município e seus respectivos impactos na estrutura social. Consideramos a análise de dados secundários atualizados de institutos de pesquisa como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Também foi organizada pesquisa in loco para apresentar um panorama dos aspectos discutidos nos respectivos subcapítulos; O setor sucroalcooleiro e a agropecuária; A pequena indústria; Indicadores de qualidade de vida.

No terceiro e último capítulo, que tem por título “Vetores de crescimento urbano: Aspectos metropolitanos?”, os aspectos relacionados à escala macrolocal da dinâmica urbana ceará-mirinense são destacadas. Inicialmente no primeiro subcapítulo, As cidades como locus das desigualdades, os fenômenos urbanos que consolidam a cidade capitalista como locus do desenvolvimento e da segregação são discutidos embasados no referencial teórico da área.

No segundo subcapítulo, Metropolização à brasileira, uma discussão sobre os fenômenos relacionados à metropolização é destacada como resultado dessa configuração urbana complexa, sugerindo que há um “problema metropolitano” (LEFEVRE, 2009) a partir de uma inadequação entre território funcional da metrópole e sua organização institucional.

No terceiro subcapítulo; Um breve histórico da institucionalização da RMNatal, é descrita a formalização da região metropolitana especificando os níveis de integração entre os municípios de acordo com metodologia adotada pelo Observatório das Metrópoles (2012). No quarto subcapítulo; Ceará-Mirim na RMNatal, os aspectos da cidade em âmbito macrolocal são analisados por meio da 19

comparação de dados secundários dos últimos levantamentos feitos pelo IBGE, PNUD e Observatório das Metrópoles.

No quinto subcapítulo, Os eixos viários de integração metropolitana, os fluxos relacionados a integração da cidade de Ceará-Mirim ao polo metropolitano são destacados considerando três vias de acesso: a ferrovia, a BR101 e a BR 406. A pesquisa in loco foi realizada nos três eixos de integração viária de Ceará-Mirim com a RMNatal a fim de identificar as funções atuais dessas vias e caracterizar os possíveis objetos artificiais metropolitanos materializados em território ceará- mirinense. Somente na BR 406 são identificados equipamentos de abrangência metropolitana nas áreas de expansão urbana da cidade, que logo foram mapeados e caracterizados no último subcapítulo; O vetor de crescimento da BR 406: Equipamentos e usos.

Nas Considerações Finais são relacionadas as transformações produtivas da cidade de Ceará-Mirim nas últimas décadas e sua inserção gradual no processo de metropolização de Natal como agentes que explicam os atuais vetores de expansão urbana da cidade. Além disso, uma reflexão sobre o objeto de estudo é apresentada a título de análise para composição de um quadro futuro.

20

2 O ESPAÇO URBANO DE CEARÁ-MIRIM

O município de Ceará-Mirim está localizado na faixa litorânea do Estado do Rio Grande do Norte, com área territorial de 724, 377 km² e a uma distância de 31 km da capital do estado, Natal.

Seus limites geográficos são os municípios de (ao Norte e a Leste), Taipu (a Oeste), Ielmo Marinho, São Gonçalo do Amarante (ao Sul) e Extremoz (ao Sul e a Leste).

Figura 1 – Localização de Ceará-Mirim 2015.

Fonte: Produzido por ALMAPAS, 2015.

Segundo dados do IBGE (2010) a população alcançava o número de 68.141 habitantes.

Ainda segundo o mesmo Censo, 52,1% da população residiam na zona urbana da sede municipal e 49,4%, na zona rural, esse dado revela a relevância da área rural na grande extensão territorial do município. 21

Desde 1997, o município pertence à Região Metropolitana de Natal (RMNatal). Apresenta a posição a mais distante do polo, mas corresponde a 27,2% da área total da RMN (IBGE, 2010).

O espaço urbano atual de Ceará-Mirim possui em sua gênese características que evidenciam o domínio de agentes políticos e econômicos que denotam uma riqueza de informações quanto ao seu uso e forma. A partir da noção de espaço como “conjunto indissociável de sistemas de objetos e ações” (SANTOS, 2012, p. 22) podemos reconhecer o espaço urbano da cidade por meio de categorias analíticas como a configuração territorial, rugosidades, função e forma.

Ao utilizar o espaço como recurso metodológico de análise, Santos (2013) afirma que ele é formado a partir de sistemas de objetos e sistemas de ações indissociáveis, solidários e também contraditórios. O primeiro elemento, os objetos, são hoje cada vez mais artificiais devido a técnica e as intencionalidades sociais que transformam, criam e substituem os objetos naturais em artificiais.

Essa lógica ressalta que esses objetos são criados e reproduzidos a partir de um dado momento histórico com as condições sociais e técnicas presentes. Sendo assim,

Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico. (SANTOS, 2012, p. 63) Portanto, os sistemas de objetos interagem com os sistemas de ações. Esse último é resultante de necessidades naturais e criadas que apontam uma função, “essas funções de uma forma ou de outra desembocam nos objetos” (SANTOS, 2012, p.82). Trata-se então da ação humana sobre os objetos, seu valor, sua função e seus significados fazendo com que,

De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma. (SANTOS, 2012, p.63) Como citado acima, o espaço é produzido a partir das relações entre os objetos criados e as intencionalidades das ações sobre eles. Essa dinâmica é estabelecida historicamente pela sociedade ali instalada, o que demonstra o surgimento de territorialidades que Sack (1986) define como expressões geográficas 22

de poder, sendo um meio pelo qual o espaço e a sociedade são inter-relacionados. Constata-se então que as características do espaço são construídas socialmente por intermédio de estruturas e processos que delimitarão sua forma e função.

Portanto, o espaço não é interpretado como algo que contenha uma natureza cristalizada, impregnado de uma natureza prévia. Seus significados derivam dos investimentos feitos sobre ele, por meio de técnicas onde não há espaços sem as práticas que lhe conferem sentido.

Em tempo, estudar o espaço da cidade é consequentemente pensar no urbano como a materialização da divisão espacial do trabalho e do processo de reprodução do capital, onde o mesmo se estabelece mediante a ação humana, modificando e o transformando no sistema de objetos e ações.

No caso de Ceará-Mirim, a origem do seu espaço urbano é relatada por Castro (1992) como “sítio primitivo” localizado às margens do rio de mesmo nome, onde a cidade fundamentou-se por uma dinâmica econômica proporcionada pelo comércio, que, por sua vez, era aquecido pelo vigor da atividade canavieira na região, implantada desde o século XIX.

A região do médio vale do rio Ceará-Mirim classificou-se como um objeto natural importante para a construção e desenvolvimento da atividade açucareira em meados do século XIX. Essa atividade econômica incentivou a criação de objetos artificiais que desencadearam no surgimento do núcleo urbano de Ceará-Mirim.

A consolidação da cidade no município marca o processo de expansão urbana que não foi restrito apenas a um conjunto denso e definido de edificações, mas para Rolnik (2012, p.12) “demonstra a predominância da cidade sobre o campo [...] Periferias, subúrbios, distritos industriais, estradas e vias expressas recobrem e absorvem zonas agrícolas num movimento incessante de urbanização”.

Segundo o Plano Diretor de Ceará-Mirim (CEARÁ-MIRIM, 2006) são consideradas urbanas aquelas áreas que atendem simultaneamente aos seguintes critérios:

I – Definição legal pelo Poder Público; 23

II – Existência de, no mínimo, quatro dentre os seguintes equipamentos de infraestrutura urbana:

a) malha viária com canalização de águas pluviais;

b) rede de abastecimento de água;

c) rede de esgoto;

d) distribuição de energia elétrica e iluminação pública;

e) recolhimento de resíduos sólidos urbanos;

f) tratamento de resíduos sólidos urbanos;

Desse modo, até a década de 1970, o espaço urbano do município de Ceará- Mirim que concentrava apenas o núcleo considerado sede do poder municipal, onde a atividade açucareira juntamente aos serviços proporcionaram a urbanização da local.

Contudo, uma dinâmica urbana independente daquela expressa na sede municipal surge na zona litorânea, ocasionando a segmentação do município em duas áreas urbanas, uma vez que ocorreram processos de urbanização diferenciados. A figura a seguir destaca em vermelho as zonas urbanas segundo o plano diretor da cidade;

24

Figura 2 – Macro zonas de Ceará-Mirim segundo o plano diretor.

Fonte: Cedido pelo IDEMA (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente)

A mancha urbana de ocupação nos distritos litorâneos de Ceará-Mirim aponta para um crescimento independente das dinâmicas de crescimento percebidas na sede.

Tal fato pode ser explicado como reflexo das dinâmicas metropolitanas ligadas à atividade turística, que enfatiza o sol e as praias dos municípios costeiros da Região Metropolitana de Natal, colocando o turismo como uma importante atividade econômica para o município atualmente.

A atividade turística é considerada eixo estratégico, sendo objeto de ações prioritárias do poder público municipal. No plano diretor de Ceará-Mirim (2006) é destacada a região dos distritos litorâneos como potencial zona de interesse turístico e lazer, “onde é possível o desenvolvimento de planos e programas de interesse turístico, bem como a uso econômico da área para dar suporte ao desenvolvimento da atividade” (CEARÁ-MIRIM, p.26, 2006). 25

Segundo Lopes (2008), a porção urbana que abrange grande parte da faixa litorânea do município, ou seja, os núcleos de praia Jacumã, Muriú e Porto Mirim, tem sido alvo de investimentos imobiliários de grande porte voltados para o turismo, como infraestruturas de condomínios e resorts.

Esse litoral tem sido, conforme Fonseca (2005), núcleo de segundas residências e local de veraneio o que constitui em uma das modalidades de turismo. Em Ceará-Mirim, a principal tendência do mercado são as praias de Jacumã e Muriú.

Nessa lógica, Clementino (2009) observa que essa configuração evidencia novas territorialidades, emergentes do crescimento populacional, incremento do setor de serviços e, principalmente, o turismo como alavancador de novos processos e espaços econômicos. A autora ainda complementa;

O turismo, cujo crescimento pelo litoral, via binômio sol e mar, evidenciam e ampliam a tendência do processo de conurbação entre polo e as localidades costeiras urbanizadas, propiciando o distanciamento das relações existentes entre tais localidades e a sede do seu próprio município. (CLEMENTINO, 2009, p.5) Diante disso, é evidente o surgimento de novos arranjos urbanos decorrentes não só da atividade turística, mas também da própria dinâmica de expansão urbana do município, sendo essa proporcionada por fatores que podem se relacionar pelas dinâmicas local e regional.

Como anteriormente fundamentado em Santos (2008) revisamos sobre o espaço enquanto um produto social, que está em permanente processo de transformação. Logo, para estudá-lo devemos considerar sua totalidade, uma vez que, os elementos que atuam dialeticamente na produção do espaço, não são compostos apenas de fatos passados, mas também de presente, resultando aí sua dinâmica.

Com vistas a observar os fatores que hoje definem os novos arranjos faz-se necessário, inicialmente, inventariar o espaço por sua configuração territorial desde a origem da cidade de Ceará-Mirim, sendo essa a proposta do próximo tópico.

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2.1 A construção histórica

A ocupação do território ceará-mirinense denota ter iniciado nas relações do intenso comércio ilegal do pau-brasil (abundante na região) entre franceses, holandeses e os índios Janduís que habitavam às margens do rio Ceará-Mirim no início do século XVI. O projeto colonizador português caminhava a passos lentos no início deste século, na província do Rio Grande, principalmente na várzea do rio Ceará-Mirim, cujo nome deriva do vocábulo indígena “Ce-ará-mirim”, que significa “canto do papagaio pequeno” (CASTRO, 1992, p.15).

As relações amistosas entre franceses, holandeses e indígenas agregada à uma resistência no processo de aculturação e desapropriação das terras provocou uma situação de risco quanto à perda do território por parte dos portugueses. Assim, a partir da vinda de expedições colonizadoras chefiadas por Manoel Mascarenhas Homem no fim do século XVI “com a ideia fixa de usar a força contra os índios” (SENNA, 1974, P. 361) o território foi pontualmente reconquistado em duras lutas entre portugueses e nativos.

Essas expedições deflagraram no massacre da população indígena que se opunha à ocupação portuguesa, população essa relatada por Senna (1974, p.355):

No início da ocupação portuguesa (1599-1600) a zona polarizada CEARÁ- MIRIM – GUAJIRU continha umas 16 aldeias mais ou menos afastadas, abrigando uma população nativa de 11.200 pessoas, na proporcionalidade de 700 por unidade geográfica. [...] Isto depois dos massacres, degolamentos, incêndios e emigrações para a região tapuia ou cariri. Essa era a situação do homem no começo do século XVI na zona apreciada. Logo após o estabelecimento dos portugueses (1597) foram implantadas por concessão do 2º Capitão–Mor Jerônimo de Albuquerque (Donatário1 da capitania do Rio Grande) 23 sesmarias2 na ribeira do Ceará-Mirim e arredores. Andrade (2004, p.56) descreve que dentre as inúmeras atribuições que competiam aos donatários estavam as de “doar terras em sesmarias a pessoas cristãs e a de escravizar os índios a fim de usá-los no trabalho”.

As sesmarias, estrutura fundiária característica do Brasil colonial, tinham por fundamento fixar o domínio territorial português na colônia por meio da doação de

1 Donatário: Indivíduo que recebeu uma doação de alguma sesmaria. Senhor de capitania hereditária 2 Sesmaria: Lote de terra concedida pelo Rei de a fim da apropriação e cultivo. 27

grandes latifúndios a pessoas de confiança da coroa. Essa estrutura concentradora e excludente seria base para as futuras atividades agrícolas implantadas na região do Ceará-Mirim. Segundo Cascudo (2002, p. 258)

[...] desde março de 1602 houve ocupação na várzea ou ao longo do Rio Seara, terras aproveitadas para lavoura e pequena criação de gado. Por todo século XVII incontável foi o número de sesmarias dividindo toda região com maior ou menor utilidade agrícola, notadamente de proprietários de Extremoz. O autor citado descreve que nos primeiros anos de ocupação, o vale do rio Ceará-Mirim3 teve como atividades econômicas dominantes a criação de gado e a agricultura de subsistência. Desse modo, podemos inferir que a ocupação inicial do território ceará-mirinense esteve sempre relacionada a atividades agropastoris devido às condições naturais favoráveis encontradas na região do médio vale do rio (Figura 3).

Figura 3 – Distribuição e características das propriedades agrícolas no médio vale do Ceará- Mirim.

Fonte: (ANDRADE, 1956, Apud CASTRO, 1992) editado pelo autor.

É somente no século XIX que o vale do rio Ceará-Mirim receberá o cultivo da cana-de-açúcar, cultura largamente introduzida desde o início da colonização

3 Vale do Rio Ceará-Mirim: A denominação vale do rio Ceará-Mirim é uma construção humana. O rio Ceará-Mirim nasce no município de Lages e tem sua foz no município de Extremoz, percorrendo 120 km. Mas a área em que foram instalados os engenhos de açúcar, localizada no seu baixo curso, ocupa apenas 25 quilômetros do seu curso e 2 quilômetros de largura. Será essa área de 50km² que receberá, na linguagem da região, a denominação “vale do Ceará- Mirim. 28

portuguesa. Destaca-se assim a implantação do primeiro engenho em 1840 por Antônio Bento Viana, o engenho Carnaubal (Figura 4).

Figura 4 – Foto do engenho Carnaubal na década de 50 do século XX.

Fonte: Acervo de Gibson Machado.

Nesse momento histórico, o espaço econômico do Rio Grande do Norte antes dedicado principalmente ao cultivo do algodão e à pecuária extensiva no interior da província sofrera modificações ocasionadas tanto por fatores naturais quanto econômicos.

Monteiro (2002, p.166) explica que “a seca ocorrida entre os anos de 1844 e 1846 dizimou o rebanho bovino, desarticulando esta atividade, diminuindo os lucros gerados pela exportação do algodão, levando os proprietários rurais a buscarem uma atividade mais sólida para investir”.

Motivados por esses fatores, os proprietários rurais voltaram os olhares para a Zona da Mata e passaram a investir no cultivo da cana-de-açúcar no médio vale do rio Ceará-Mirim. Essa atividade redimensionara a configuração desse território e acarretara o surgimento de uma sociedade baseada nas relações engenho/casa- grande, considerando o engenho como “unidade de produção mais importante, em torno do qual outros espaços se estruturavam, refletindo a configuração desse território” (GOMES, 1997, p. 25). 29

Foi nesse cenário de prosperidade econômica que o presidente da província, João Capistrano Bandeira de Mello, ressaltou na sua Fala à assembleia legislativa provincial em 13 de julho de 1874 (FALAS, 2001 p.44-45) a importância do vale do Ceará-Mirim em relação às outras áreas da província onde a cana era cultivada:

A terra, o primeiro elemento de produção, temol-a de sobejo, e da melhor qualidade. É sobretudo notável nesta província o rico Valle do Ceará Mirim, onde a canna, uma vez plantada, torna-se quase perpetua, mediante um pequeno trabalho, a sua grandeza e quantidade despertão com razão o enthusiasmo no viajante, extasiado ante a uberdade de um solo abençoado, e que compensa em demasia os serviços do agricultor laborioso. Logo, as terras férteis do vale utilizadas inicialmente para a prática da agricultura e pecuária foram ocupadas e direcionadas para o cultivo da cana-de- açúcar. Esse fato dinamizou as relações sociais e econômicas do território e provocou o surgimento de uma sociedade urbana, que no caso, desde os primórdios, esteve relacionada à atividade agrícola.

Como podemos observar no decorrer dessa descrição historiográfica sobre o município as relações econômicas, a produção do espaço está concentrada nas mãos de agentes dominantes, latifundiários, senhores, ou seja, dos grupos hegemônicos, que transformam e moldam os espaços de acordo com seus interesses e valores específicos. Esses agentes se relacionam a uma construção histórica comum da zona da mata nordestina onde as relações sócio-históricas estiveram circunscritas pelo sistema patriarcal, de estrutura colonial, com base no catolicismo.

Nesse contexto, Haesbaert (2006, p.121) sintetiza a ideia de território afirmando que o mesmo “é o produto da relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-econômico do espaço [...].” Assim, o estabelecimento e ascensão de uma classe social, cujo poder se estendia além dos engenhos e casa grande, possibilitara ritmo e dinamismo necessário para a construção do território urbano de Ceará-Mirim, inicialmente denominado como povoado, o Boca da Mata.

Como destacado, a partir da ocupação territorial advinda da introdução de economias agropastoris como forma de dominação do território e por último com a implantação da monocultura da cana-de-açúcar (em meados do século XIX) as complexidades das relações sociais permitiram o estabelecimento de um povoado 30

denominado Boca da Mata, onde existiam roçados de algodão, cereais e algumas matas, de onde se extraia madeira para construção (SENNA, 1974, p.454).

Castro (1992, p. 19) relata o surgimento desse povoado destacando que no século XIX “foi construída uma pequena casa comercial, erguido um cruzeiro, marcando o nascimento do povoado, e organizada uma feira”. Ainda sobre a origem desse povoado, Senna (1974, p. 454) corrobora dizendo que,

O povoamento originou-se no ponto de cruzamento das estradas que seguiam para o sertão, provenientes de Natal e Extremoz, e das que partiam do povoado de jacoca e praias do Norte, rumo aos engenhos, que já se haviam estabelecido, às margens do rio. Ao poente desse cruzamento Francisco de Bernardo de Gouveia construiu também, uma pequena casa comercial. Nesse ponto, foi organizada uma feira e erguido um cruzeiro, marco do nascente povoado. Um ponto relevante na descrição do autor é a incorporação de uma apropriação simbólica do território com erguimento de um cruzeiro (Figura 5), o que demonstra um significado maior, para Corrêa (1996) um significado de pertencimento – a terra pertence a alguém – não necessariamente como propriedade, mas com o caráter de apropriação.

Figura 5 – Réplica do cruzeiro erguido na fundação do povoado Boca da Mata.

Fonte: foto de autoria própria, 2012.

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Abaixo, na Figura 6 uma tabela de localização das demarcações iniciais do povoado é apresentada. Nela, são destacados quatro cruzeiros (ao Nascente, ao Poente, ao Sul e ao Norte) e seus respectivos pontos de referência.

Figura 6 – Localização das demarcações do povoamento Boca da Mata.

Fonte: SENNA, 1974, editada pelo autor.

É importante observar na figura acima que os pontos de cruzamento de estradas referem-se respectivamente, ao que hoje corresponde à Linha Férrea (Natal- Extremoz- Ceará-Mirim), às estradas litorâneas (Trairi – – Jacoca – Carnaubal – Quiri – Maxaranguape – Oceano) e aos cruzamentos centrais do povoado.

Essa descrição demonstra o grau de importância que os eixos de integração viária já exerciam mesmo antes do estabelecimento da cidade. Esses mesmos pontos de cruzamento atualmente são representados pela linha férrea que interligava Ceará-Mirim aos municípios do litoral sul e e a RN 160 que liga a cidade aos municípios de Maxaranguape e . Percebe-se então que Ceará-Mirim possuía uma ligação viária mais acentuada com o chamado Sertão do que com a Capital do Estado. Isso é consequência de uma maior relevância econômica que outros centros urbanos possuíam em relação à Natal. 32

Vale ressaltar que no período em questão (anterior a 1855) o povoado Boca da Mata era uma localidade pertencente à Freguesia de São Miguel do Guajiru4 com sede na Vila Nova de Extremoz do Norte5.

Portanto, a importância do erguimento dos cruzeiros (ver figura 6) como símbolo demarcatório nos remete a um período sublinhado pela presença da igreja como principal agente na gestão territorial. Teixeira (2009, p. 281) afirma que ainda no século XIX mesmo após a implantação das políticas pombalinas a igreja na província do Rio Grande Norte apresentava um papel fortemente administrativo já que,

A sede da paróquia se situava na aglomeração mais importante localizada em sua jurisdição territorial, fosse ela uma povoação, uma vila ou uma cidade. Numa época em que os cartórios inexistiam, era a paróquia que possuía, através de seus registros de batismos, de casamentos e de óbitos, informações fundamentais para a população local, inclusive de caráter etnográfico. (TEIXEIRA, 2009, p. 281) Destacamos assim que o início da organização da configuração territorial do espaço, nesse caso, passa pelo domínio do sagrado, precedendo a gestão laica do território, de forma que “a bênção de Deus acompanhava de muito perto as primeiras ações com vistas ao estabelecimento definitivo dos homens.” (TEIXEIRA, 2009, p. 167). É por meio dessa estrutura de dominação político-econômica associada à apropriação simbólica que se constituem os primórdios do núcleo urbano primitivo ceará-mirinense.

De acordo com Castro (1992) esse núcleo urbano primitivo está assentado em terrenos que anteriormente pertenciam aos engenhos Espinheiro, na porção oriental, e Diamante, no lado ocidental da cidade, o que evidencia a relação existente entre disponibilidade de terras dos engenhos e crescimento urbano.

4 Freguesia de São Miguel do Guajiru: A Aldeia de Guajiru, situada a margem esquerda da lagoa de mesmo nome, era um centro de resistência que contava com o auxílio de incursões francesas e holandesas, interessadas no comércio de pau-brasil. As constantes penetrações estrangeiras pelos vales e tabuleiros Potiguares e Janduís, assanhavam o gentio que o colonizador tinha em mira exterminar, coisa que só conseguiu pelo processo bárbaro da degradação e da intriga. O aldeamento, porém, não produziu os frutos ambicionados. Os índios trazidos pelos portugueses ali alojados não suportaram os limites de sua ação e começaram a conspirar. A Companhia de Jesus, então no Brasil, procurou parlamentar pacificamente com os elementos locais estabelecidos na Aldeia de Guajiru, resultando no estabelecimento da Freguesia de São Miguel do Guajiru.

5 Vila Nova de Extremoz do Norte: A Vila Nova de Extremoz do Norte, a primeira do Estado, foi fundada em 1758, por Bernardo Coelho Gama Casco. Fora sempre povoada, com terrenos e plantios desde o início do Séc. XVII. 33

Outro fator limitante para o crescimento urbano de tal povoado é o rio Ceará- Mirim, que se encontra ao norte do sítio primitivo. Todas as construções erguidas nesse sítio se estabeleceram na margem esquerda do rio, distanciando-se alguns metros dos terrenos alagadiços de várzea, possuindo uma altitude de treze metros em sua menor elevação.

Sucessivamente, foi no sítio primitivo que pequenos comerciantes estabeleceram suas moradias e seus respectivos comércios, de sorte que abasteciam os engenhos da região do vale e serviam como entreposto comercial para os viajantes que seguiam rumo a Extremoz e Natal. O dinamismo comercial atrelado ao enriquecimento dos donos de engenho desencadeou uma mudança profunda na organização territorial do antigo povoado como destaca Castro (1992, p.15): Em 1855 a sede do município de Vila Nova de Extremoz do Norte passa a ser a povoação de Boca da Mata, com o nome de Vila de Ceará Mirim. Essa transferência foi motivada pelas facilidades apresentadas por aquele local, em relação às atividades comerciais que se realizavam com os engenhos instalados no Vale do Ceará Mirim. Mais tarde, em 1858, Vila Nova de Extremoz do Norte se transformou no município de Ceará Mirim. No que concerne às mudanças no âmbito da gestão territorial, a lei provincial 321 de 18 de agosto de 1855, que marca a elevação do povoado à vila e consequentemente a transferência da sede do município de Vila Nova de Extremoz para a Vila de Ceará-Mirim, foi suspensa pela resolução 345 de 4 de setembro de 1856.

A suspensão da lei de elevação e transferência de sede foi condicionada à construção da cadeia e da intendência municipal (casa de câmara). Por isso, somente dois anos depois, em 30 de julho de 1858 a povoação de Boca da Mata foi finalmente elevada à categoria de vila, com o título de vila do Ceará-Mirim.

A partir de 1858, como descrito acima, o povoado de Boca da Mata toma foros de vila. O processo de transformação dos aldeamentos e povoados em vilas está intimamente ligado ao desenvolvimento urbano, ou pelo menos ao pensamento urbanístico “modernizador” do período em questão. Para Maia (2005) esse pensamento no século XIX é a anunciação de “uma vida nova, vida esta muitas vezes promulgada pelas ‘novas’ ideias que vão repensar o espaço, em especial o das cidades, que se tornam cada vez mais o locus da modernidade”. 34

Esse pensamento urbanístico, que teve início no Iluminismo do século XVIII, influenciou a política administrativa da coroa portuguesa desde a Era Pombal e se estendeu até o século XIX na forma de movimentos modernistas. Muito embora a vila de Ceará-Mirim seja estabelecida apenas na segunda metade do século XIX, já no Brasil império, ela demonstra um ato administrativo expressivo, marcante na reorganização do território da primitiva aglomeração urbana, de modo que,

[...] tal mudança revela igualmente interesses relacionados à organização do território, sendo, às vezes, motivada por contendas políticas no interior das próprias localidades. Em todo caso, o papel administrativo das aglomerações urbanas, que se afirma ao longo do tempo, se relaciona profundamente à questão do desenvolvimento dos municípios, forma de organização do território. (TEIXEIRA, 2009, p.446) Com isso, o autor revela o papel de ruptura que a vila representa quanto ao uso, forma e função dos antigos aldeamentos e povoados. Desse modo, é importante considerar que o título de vila transcende a questão econômica da localidade, pois a titulação também fazia parte de uma política deliberada da coroa portuguesa para a urbanização da colônia. Tal ideia política perpassa e chega ao Brasil Império. A expressão dessa ruptura se expressou na forma arquitetônica da vila, nos edifícios públicos, no traçado das ruas, nas praças e nas casas de particulares.

Ao que consta, a vila do Ceará-Mirim situava-se em “terreno geralmente desigual” próximo ao leito do rio, onde se estabeleceu o antigo povoado Boca da Mata (NOBRE, 1971, p.189). Ainda sobre sua forma, o autor comenta que “seria uma vila bem edificada e elegante, se os fundadores tivessem aproveitado o terreno elevado e plano, onde já existem alguns prédios”.

No próprio relato do autor existe uma perspectiva diferenciada quanto ao traçado urbano português6 tão difundido no Brasil colonial e que nesse momento histórico abre espaço para outras concepções urbanísticas, entretanto, todas

6 Urbanismo português: O urbanismo português possui características marcantes quanto à sua morfologia urbana, entre elas se destacam: a seleção de locais topograficamente dominantes como núcleos iniciais dos aglomerados urbanos; a íntima articulação dos traçados das cidades com as particularidades topográficas locais; a estruturação das cidades em núcleos distintos, com malhas urbanas diferenciadas, correspondendo cada uma delas a diferentes unidades de crescimento; a localização de edifícios singulares em sintonia com a topografia e o importante papel desses edifícios na estruturação dos traçados urbanos; a lenta estruturação formal das praças urbanas, associadas a diferentes núcleos geradores e a funções distintas. 35

europeias, que eram consideradas as mais desenvolvidas na época. Nessa discussão, Santos (1985, p.40) comenta que,

As propostas de desenvolvimento a partir do fim do século XIX apontam para uma trajetória retilínea, cheia de determinação e que passa pela cidade [...] sem se importar muito com os efeitos não desejados que causa. Não há novidade; é um tempo em que tradições antigas estão sendo superadas, enquanto são propostos novos modelos de articulação da sociedade.

Castro (1992, p.19) caracteriza as casas mais imponentes da vila destacando que são “geminadas dos dois lados, sem recuo lateral ou frontal, possui amplos aposentos e grandes quintais, e paredes, em geral, de tijolos duplos”.

Entre os prédios particulares construídos no período, destaca-se o do Dr. José Inácio Fernandes Barros, Juiz de Direito (lado esquerdo da Figura 7). Nobre (1971, p.190) no ano de 1877 relata a construção desse edifício, antecipando que “será por tal forma completo, que não deixará coisa alguma a desejar e nada a imaginar”.

Figura 7 – Largo da Matriz destacando à esquerda a imponente casa do Dr. José Inácio.

Fonte: Acervo de Gibson Machado.

Sobre a arquitetura dos prédios públicos da vila, o autor ainda acrescenta que além do paço municipal, onde se localizava a intendência do município (Figura 8), destacava-se o cemitério público, a pequena casa que serve para açougue, e um excelente prédio em que funcionam as escolas públicas da vila, fundado e oferecido ao governo pelo Coronel Manoel Varela do Nascimento, Barão do Ceará-Mirim.

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Figura 8 – Prédio da Intendência municipal no início do século XX.

Fonte: Acervo de Gibson Machado.

As ruas da vila, em descrição feita por Nobre (1971), eram, algumas delas, arborizadas e iluminadas por iniciativa particular. Isso demonstra o poderio econômico de alguns residentes desse centro urbano, poder que se expande ao âmbito simbólico e espacial, visto que começam a demarcar nos espaços da cidade valores que são específicos de uma classe.

Todos esses traços arquitetônicos revelam o dinamismo político-econômico no qual era organizada a vila de Ceará-Mirim, onde o crescimento urbano esteve vinculado a uma classe social enriquecida pela agroindústria açucareira do tipo plantation, escravocrata e detentora de capital suficiente para “edificar” uma cidade no médio vale do rio Ceará-Mirim. Contudo, Senna (1974, p.460) acrescenta que

[...] não se desenvolveram apenas os engenhos, com sua aristocracia escravocrata e canavieira, mas, sobretudo o comércio, momento em que o cel. Onofre José Soares construiu o Mercado Municipal, inaugurado a 27- 12-1881 e para onde foi transferida a feira, que até então era efetuada na Rua Grande, e em torno do qual cresceram pequenos estabelecimentos comerciais. [...] assim, também, uma sociedade de comerciantes enriquecidos, proprietários urbanos e rurais. O Mercado Municipal (Figura 9) agregara uma feira que logo fora destacada como uma das mais importantes da província.

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Figura 9 – Mercado Municipal.

Fonte: SENNA, 1939.

Dessa maneira, em 9 de julho de 1882 a vila de Ceará-Mirim fora elevada à categoria de cidade, por projeto apresentado a 25 de maio de 1882 pelos deputados Augusto Leopoldo Raposo da Câmara, Pedro Soares de Araújo, Antônio Carlos Fernandes Pimenta e Galdino Procópio Rêgo.

Ceará-Mirim, então, revelou-se como locus de um desenvolvimento urbano atrelado a uma economia rural, e, as quase três décadas (1855- 1882) foram determinantes para as formas pelas quais se estabeleceram os elementos urbanísticos, e, conjuntamente ao uso desses espaços que constituíram a cidade.

Todos esses objetos implantados e construídos no espaço sob determinado período e dentro de um processo de ações que modificam e redefinem suas funções são chamados de rugosidades do espaço. Santos (2012, p. 140) descreve que

Chamemos e acumulam em todos os lugares, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas substituem, paisagem de rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço construído. Em cada momento do processo social de reprodução do espaço são deixadas heranças visíveis por meio de suas formas ou arranjos. As rugosidades perceptíveis no espaço urbano atual da cidade de Ceará-Mirim representam produtos de divisões do trabalho, técnicas e tipos de capitais já passados, mas ainda cristalizados em suas formas. Afirmações que são importantes para destacarmos, visto que essas 38

formas carregam em si ideologias, valores e heranças que estão definindo e demarcando o espaço.

Para que possamos entender como a dinâmica urbana de Ceará-Mirim se configura na atualidade é necessária uma caracterização de sua forma perante as transformações de suas funções ao longo do tempo. No próximo subcapítulo serão destacadas as delimitações do espaço urbano ceará-mirinense juntamente com as demandas de suas novas áreas de expansão.

2.2 O espaço urbano atual: as novas áreas de expansão

No tópico anterior enfatizou-se a construção da configuração territorial da cidade de Ceará-Mirim considerando os objetos artificiais implantados desde o período de sua fundação. Hoje, partes desses objetos se configuram como rugosidades no espaço-tempo na cidade. Nesse contexto, apesar do declínio da produção canavieira no município a concentração fundiária ainda se apresenta como definidores no uso e ocupação do solo na região.

Os núcleos populacionais, além dos limites da sede municipal, se desenvolveram sob diversos processos e morfologias. Segundo Lopes (2008) algumas localidades foram ocupadas de maneira espontânea, outras apresentam traçado regular e outras, ainda, seguem o traçado de rodovias e da ferrovia (Figura 10). Muitos desses distritos resultam de ocupações aos redores de engenhos, enquanto outras se desenvolveram próximas a terras favoráveis ao cultivo de lavouras, algumas mantendo-se ainda hoje suas bases produtivas.

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Figura 10 – Distribuição dos núcleos de ocupação em Ceará-Mirim.

Fonte: IDEMA, 2006, editado por Lopes (2008).

A concentração fundiária, característica da economia açucareira implantada no vale do rio Ceará-mirim, implicou no limite da expansão urbana da sede do município no sentido norte, já que nessa região há terras pertencentes a Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim. Segundo Araújo e Clementino (2006), diante do estoque de terras desocupadas, Ceará-Mirim apresenta uma grande concentração fundiária, a maior da Região Metropolitana de Natal, além de ser o município que detém o maior número de assentamentos rurais da região. Diante disso, com o desmonte da agroindústria, os vetores de crescimento da mancha urbana do município mostram que nas últimas décadas os sentidos sul, leste e oeste de crescimento da sede municipal apresentam eclosão considerável, justamente nos setores não ocupados pela indústria canavieira, demonstrados na figura a seguir:

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Figura 11 – Vetores de crescimento urbano de Ceará-Mirim por décadas.

Fonte: ARAÚJO; CLEMENTINO, 2006, editada pelo autor.

A partir da figura acima é possível observar que os vetores de crescimento da sede municipal a partir da década de 1980 direcionam para o sentido sul, o que denota uma expansão ao longo da principal avenida da cidade, onde atualmente estão concentrados os principais estabelecimentos de comércio e de serviços, como resultado do desenvolvimento comercial (LOPES, 2008, p.34). Já na década de 1990 com a implantação de conjuntos e loteamentos habitacionais, os setores leste e oeste surgem com principais áreas de expansão.

Em 2001, a cidade continua crescendo nos sentidos leste e oeste, sendo que a mancha urbana já apresenta concentração considerável nas margens da BR-406. Em 2004, segue o ritmo de crescimento Leste-Oeste e agora com crescimento sul, no sentido da BR 406.

Para que possamos entender como se configura atualmente o crescimento urbano da sede municipal, consideramos o plano diretor de Ceará-Mirim (2006) como marco na definição das macrozonas do município. Segundo o mesmo, o 41

município se divide entre as macrozonas urbana, rural e de expansão urbana. Neste trabalho nos deteremos àquelas que compreendem a cidade, no caso, a macro zona urbana e a macro zona de expansão urbana.

A macro zona urbana é caracterizada pela

área do território municipal ocupada, decorrente do processo de urbanização, com características propícias a diversos usos, com infraestrutura básica já instalada e sistema viário definido, que permite a intensificação controlada do uso do solo. (CEARÁ MIRIM, 2006, p. 20). Essa área descrita corresponde a área da sede do município ocupada desde o século XIX até o início dos anos 2000. Essa região apresenta uma infraestrutura consolidada com equipamentos e serviços urbanos organizados em setores administrativos, subdivididos em sete bairros como mostra a Figura a seguir.

Figura 12 – Macro zona Urbana de Ceará-Mirim.

Fonte: CEARÁ-MIRIM, 2006.

Os bairros de Santa Águeda, Novos tempos, Centro, São Geraldo, Passa e Fica, Luís Lopes Varela e Planalto representam no plano diretor a delimitação da sede municipal de Ceará-Mirim. Todas as novas áreas urbanas são consideradas extensão dos bairros já estabelecidos, porém regulamentadas por outra macrozona segundo o plano diretor; a macro zona de expansão urbana. 42

A macro zona de expansão urbana é representada pelos novos arranjos urbanos da sede municipal, encontrados fora dos bairros delimitados pela macrozona urbana. A região de expansão é caracterizada como “não submetida a processo de urbanização”, com baixa densidade e com sistema viário projetado onde se permite a instalação de infraestrutura por programas e projetos voltados a essa finalidade.

Desde os anos 2000 loteamentos e projetos habitacionais estão se instalando nessa região, a maioria desses se encontra às margens da BR 406. O mapa a seguir destaca a região citada como área de expansão dos anos 2000 até os dias atuais.

Figura 13 – Expansão urbana de Ceará- Mirim: Vetores de crescimento por décadas.

Fonte: LOPES, 2008.

Como o crescimento urbano das novas áreas de expansão junto a sede municipal são consequência do avanço imobiliário, nem sempre o poder público acompanha a demanda que exige serviços básicos e equipamentos urbanos destinados a população residente nesses locais.

É imprescindível a noção de espaço e de seus elementos no planejamento urbano, principalmente no que diz respeito à oferta de equipamentos que favoreçam 43

um crescimento urbano com desenvolvimento local e qualidade de vida para a população. Em estudos recentes sobre a integração espacial das novas áreas aos serviços urbanos básicos constata-se a falta de abrangência dos principais equipamentos relacionados à saúde, educação, comércio e transporte.

O descompasso entre o planejamento urbano e o processo de urbanização também é visível nas áreas de crescimento e expansão em Ceará-Mirim. Ao elaborar estudos referentes a abrangência dos serviços urbanos na cidade Siqueira Neto (2011) considerou tamanho, capacidade do equipamento urbano, faixa etária do usuário e densidade populacional para gerar buffers a partir de ferramentas de Sistema de Informação Geográfica que mostrem a distância desses equipamentos urbanos em relação as novas áreas.

Considerando serviços básicos como comércio, escolas de ensino Fundamental e Médio postos de saúde e transporte, percebeu-se que apesar do surgimento de novos loteamentos e projetos de habitação, os serviços ainda se concentram na sede da cidade como observado nos produtos do estudo de Siqueira Neto (2011).

Os loteamentos analisados compreendem essa nova área de expansão urbana ceará-mirinense às margens da BR 406. Identificou-se até então oito empreendimentos relacionados ao programa habitacional Minha Casa Minha Vida do Governo Federal, são eles: Novo Horizonte, São José, Condomínio Residencial Adriano, Natureza 1, Natureza 2, Maninho Barreto, Aloysio Franco e Guararapes, destacados na figura a seguir:

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Figura 14 – Abrangência de equipamentos de comércio

Fonte: SIQUEIRA NETO, 2011.

Figura 15 – Abrangência de escolas de ensino fundamental.

Fonte: SIQUEIRA NETO, 2011. 45

Figura 16 – Abrangência de escolas de ensino Médio.

Fonte: SIQUEIRA NETO, 2011.

Figura 17 – Abrangência de linhas de transporte

Fonte SIQUEIRA NETO, 2011.

46

Figura 18 – Abrangência de postos de saúde

Fonte: SIQUEIRA NETO, 2011.

O estudo de Siqueira Neto (2011) mostra que o crescimento urbano ocasionado pela especulação imobiliária apresenta também contradições dialéticas de produção desigual em todas as suas esferas de reprodução do espaço. Foi considerado no estudo acima equipamentos de serviços urbanos básicos e seus respectivos raios de abrangência que são

referidos como buffer de abrangência, serve como um indicador, uma referência à distância máxima que o usuário deveria trilhar para obter determinado serviço urbano, levando em consideração um tempo de deslocamento satisfatório (SIQUEIRA NETO, 2011, p. 48).

Percebe-se então que principalmente os equipamentos relacionados à Saúde, comércio (supermercados e lojas especializadas) e transporte não abrangem de maneira satisfatória os novos loteamentos localizados na macrozona de expansão urbana da cidade. Considerou-se também nessa avaliação a inexistência de um de transporte público interbairros regulamentados na cidade, o que resulta na concentração de serviços nas áreas com infraestrutura consolidada.

Destaca-se então a importância do planejamento urbano como uma ferramenta para intervenção na localização de equipamentos de serviços urbanos, 47

visto que estes mantêm relação com aspectos físico-espaciais e sociais. Nesse ponto, a disponibilidades e acesso aos equipamentos urbanos torna-se essencial para a diminuição de fenômenos como a segregação residencial.

No que se refere a segregação residencial, segundo Sabatine (2006) o mercado imobiliário e as racionalidades que nele se produzem são o centro de gravidade principal da evolução da segregação residencial nas cidades e no nosso continente. Diante disso, Castells (1981, p. 203-204) afirma que a distribuição das residências no espaço “produz sua diferenciação espacial e há uma estratificação urbana correspondente a uma expressão espacial, ocorre a segregação urbana. ”

Essas novas áreas urbanas seguem o modelo centro-periferia de urbanização, característico dos países subdesenvolvidos, onde a concentração dos serviços urbanos é estruturada no centro da cidade, enquanto que a periferia se urbaniza desprovida de planejamento e subequipada.

Portanto, a forma e o uso do espaço se configuram como elementos fundamentais para o entendimento da dinâmica urbana. No próximo capítulo analisaremos os principais usos do espaço urbano ceará-mirinense e suas implicações sociais.

48

3 DINÂMICA NO CONTEXTO SOCIOECONOMICO: ASPECTOS LOCAIS

O espaço da cidade é concebido entre as relações políticas, econômicas, sociais e culturais. E nesse espaço percebemos a reprodução das relações de trabalho, de aplicação e utilização da técnica e do sistema de relações sociais, que por sua vez, requer uma infraestrutura necessária ao atendimento das demandas locais e de sua área de influência.

O IBGE a partir do estudo Regiões de Influencias das Cidades (IBGE, 2007) define a hierarquia dos centros urbanos e suas regiões de influência associadas aos aspectos de gestão e da dotação de equipamentos e serviços. De acordo com esse estudo, Ceará-Mirim é inserido na rede urbana brasileira como centro local apresentando-se como cidade que possui uma centralidade e atuação que não extrapolam os limites do seu município, servindo apenas aos seus habitantes.

Todavia, o papel desempenhado por Ceará-Mirim na rede urbana se transformou ao longo das décadas. Observa-se que em estudo do IBGE sobre Regiões de Influências das Cidades (CLEMENTINO, 1995), na década de 1970, a cidade estava classificada como centro de zona, cuja atuação também é restrita à sua área imediata, contudo, exercia funções de gestão elementares.

Isso demonstra uma perda de poder de influência na hierarquia urbana regional, já que a posição nessa rede identifica o grau de importância exercido pela cidade na tomada de decisões e comando em áreas de influência. A seguir o organograma (Figura 19) mostra a relação hierárquica entre as categorias da rede urbana.

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Figura 19 – Organograma: Hierarquia Dos Centros Urbanos.

Metrópole Capital Regional

Centro Sub- Regional

Centro de Zona

Centro Local

Fonte: elaborado pelo autor, por meio de dados do IBGE, 2007.

Tendo em vista a mudança de posição frente a rede urbana brasileira nas últimas décadas, para entender a dinâmica no contexto urbano de Ceará-Mirim é necessário observar os meios reprodutores do capital que definem força de trabalho local e suas consequências sociais.

Esses meios são representados principalmente pelos setores de serviços (sejam eles públicos ou privados), pelo comércio, indústria e agropecuária, enquanto os indicadores de qualidade de vida e desenvolvimento humano são considerados como análise da realidade social.

Para iniciar essa análise consideramos primeiramente os fatores que influenciaram na caracterização desse perfil atual em Ceará-Mirim, no caso, a crise do setor sucroalcooleiro, que de modo contundente influenciou na estrutura socioeconômica da cidade, fazendo com que ela assumisse novas funções frente ao desenvolvimento do capital.

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3.1 O setor sucroalcooleiro e a agropecuária

O setor sucroalcooleiro sempre se destacou na economia da região, no entanto, o mesmo enfrentou diversas crises ao longo do século XX e atualmente vive o desmonte de sua estrutura fomentada por fatores conjunturais que se agravam ao longo do tempo.

Como a cana-de-açúcar é uma cultura agrícola temporária, o impacto social da crise no setor aumenta, uma vez que, boa parte dos empregos também dependem dos períodos de safra. Para que possamos entender os impactos sociais e econômicos desse setor na cidade devemos compreender o declínio desde seus primeiros sinais ainda no século passado.

No início do século XX a baixa do preço do açúcar fez retrair a vida econômica da cidade de Ceará-Mirim, que depende do comércio açucareiro. Essa pequena retração caracterizou o início do declínio da produção dos engenhos fomentada ainda por questões que impediam o desenvolvimento desta atividade no Vale, entre elas, o regime de cheias do rio Ceará-Mirim.

Outro fator decisivo para o declínio dos engenhos foi a utilização de técnicas rudimentares no cultivo e na produção de açúcar nos engenhos. De acordo com Bertrand (2010, p.89):

A cultura do solo entre nós, infelizmente, ainda obedece a processos rudimentares obsoletos, que se remontam aos tempos primitivos. Com que tristeza, ouvimos nós, não há muito, dizer um especialista estrangeiro que os trabalhos da agricultura nesta terra eram ainda feitas como nos tempos do pai Adão! Nesse contexto, os grandes proprietários de engenho passaram a se apropriar de maiores parcelas de terra, em razão da crise do semiárido estimular a ocorrência do êxodo rural. Diante das dificuldades, os pequenos proprietários de terra iniciaram um processo migratório para o setor urbano, como resultado, muitos se transferiram para Natal, dedicando-se a diversas atividades como comenta Castro (1992, p. 30):

A maior parte dos senhores de engenho, que se mantiveram como tal, faleceu ou não encontrou em seus descendentes quem se motivasse para prosseguir na atividade, pois alguns desses também já se haviam estabelecido como profissionais liberais na capital do Estado.

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Segundo Morais (2005), não dispondo de recursos para modernizarem seus equipamentos, os senhores de engenho passaram a meros fornecedores de cana- de-açúcar e a agroindústria foi se consolidando no mercado local. A reestruturação produtiva possibilitou o advento dessas usinas, substituindo o engenho e projetando- as como principal unidade econômica da zona canavieira.

O sistema de produção das usinas é semelhante ao dos engenhos apenas no fato da usina reunir os setores agrícola e industrial numa só empresa, mantendo, assim, o controle do cultivo da cana e da produção e comercialização do açúcar. Essa fusão, segundo Castro (1992) viabilizou a consolidação do capital industrial e financeiro no campo.

A usina mudou as relações sociais e econômicas vigentes no período de apogeu dos engenhos, Melo (1975) explica que a realidade econômico-social representada pelas usinas, espelha uma nova maneira da relação capital-trabalho ou entre produtores e subordinados. O desaparecimento das áreas de aproximação entre esses (compadrio, o convívio entre os filhos dos senhores de engenho, catolicismo patriarcal) fizessem com que fossem acentuadas as distâncias e a estratificação social se tornasse mais rígida e opressiva. Nesse sentido, (MELO, 1975, p.48) complementa que:

Sem ligação com o campo, ao contrário do senhor de engenho, o usineiro é um homem da cidade, industrial como qualquer outro tipo de empreendedor, e capitão de indústria, que apenas vê a lavoura a produção de matéria- prima, indispensável as suas fábricas, a marca, com uma intensidade sem igual, a irrupção e a influência da cultura urbana sobre o campo, de que serve peça exploração, mas a que não se liga pela sua mentalidade e pelos seus hábitos de vida, muito mais urbanos do que rurais. A partir disso, é percebido que apesar da modernização representada pela indústria açucareira, admite-se a ela um poder mais acentuado que o dos engenhos, deixando pouco alterada a estrutura de dominação agrária regional, acentuando o caráter monocultor e exportador da economia.

Durante a década de 1970 a implementação do PROÁLCOOL (Programa Nacional do Álcool) incentivou e aumentou a produtividade da região canavieira trazendo consigo consequências sociais, econômicas, políticas e ecológicas. Esse cenário em termos nacionais corresponde ao período de centralização do poder estatal, consequência do golpe de 1964. Nesse momento, as políticas e o incentivo a industrialização são contundentes e extremamente ligadas ao discurso de 52

desenvolvimento regional, onde as medidas para a expansão industrial são favorecidas, sem, no entanto, observar o complexo conjunto das relações sociais que envolvem os espaços onde estão sendo constituídas.

É importante lembrar que muitos projetos de incentivo econômico implementados nesse período obedecem a uma lógica desenvolvimentista, assumindo uma influência do global (no caso a crise do petróleo na década de 1970 incentivou a produção de combustíveis alternativos no Brasil) sobre o local. E o processo de adequação das usinas instaladas no vale do Ceará-Mirim obteve como consequência um desenvolvimento limitado e de interesse do grupo econômico dominante.

Outra consequência desse processo foi a convergência para a zona urbana de Ceará-mirim de um intenso fluxo migratório decorrente tanto de problemas relacionados a seca no interior do estado quanto a atração exercida pelos empregos temporários da agroindústria canavieira, fazendo da cidade, um dos destinos preferidos pelos contingentes migratórios. “Ceará-mirim aparece, então, como um dos centros urbanos de maior população do Estado, juntamente com a capital, Mossoró Caicó e .” (CASTRO, 1992, p.15).

Os cortes de incentivos governamentais à produção da atividade, a queda no preço do açúcar, a concorrência com usinas do centro-sul com tecnologia de produção e distribuição avançada, a inadequação aos procedimentos legais quanto às relações de trabalho e questões ambientais fizeram com que, ao longo das décadas, o cultivo da cana de açúcar concentrado nas terras da Usina São Francisco/Ecoenergia entrasse em profunda crise.

Atualmente, a empresa enfrenta um embargo judicial onde segundo parecer da procuradoria da Fazenda Nacional a mesma deverá ser leiloada para que se paguem as dívidas com o fisco. A usina tinha capacidade para moer até 800 mil toneladas/ano e chegou a empregar mais de mil trabalhadores nos últimos anos. Hoje, o número de empregados não passa de 20.

Todo esse arcabouço de inadequações resultou na diminuição da participação da cana de açúcar na dinâmica econômica do município, gerando uma transformação na estrutura produtiva e forçando os trabalhadores empregados na usina a encontrarem outras formas de renda principalmente no setor de serviços. 53

A tabela abaixo mostra a área colhida e quantidade produzida de cana de açúcar nos últimos anos em Ceará-Mirim.

Tabela 1 – Área Colhida / Quantidade Produzida (Cana-de-Açúcar) em Ceará-Mirim

2007 2010 2013

Área Colhida (ha) 6.500 8.000 1.500

Quantidade Produzida (T) 455.000 480.000 67.000

Fonte: IBGE, 2015.

Constata-se então uma diminuição drástica logo após 2010, explicada pelo fato do fechamento da maior unidade produtora de álcool na região, a Usina São Francisco/Ecoenergia.

A estrutura fundiária concentradora e rígida, remanescente da aristocracia rural e logo depois empreendida pelos usineiros, ainda permanece expressa no uso e ocupação do solo da cidade. Como explicitado no subcapítulo sobre a construção histórica da cidade, o crescimento urbano de Ceará-mirim sempre esteve relacionado à disponibilidade de terras do latifúndio canavieiro, e, atualmente, não é diferente com a disponibilidade de terras da Usina São Francisco/Ecoenergia para leilão abre uma nova perspectiva de áreas de expansão urbana.

Ainda sobre o setor agropecuário representado primordialmente pelo cultivo de cana-de-açúcar e por produtos como coco da baía, mamão e banana, a sua composição desse setor no PIB (Produto Interno Bruto) municipal apresenta expressão, porém em menor proporção devido à crise instaurada nas últimas décadas. O gráfico a seguir mostra a composição do PIB municipal por setores econômicos nos últimos anos.

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Figura 20 – Gráfico de Composição do PIB de Ceará-Mirim por Setores da Economia – 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais). Composição do PIB de Ceará-Mirim por Setores da Economia 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais) 477.325 PIB a preços correntes 390.635 293.321

346.463 Valor adicionado bruto dos serviços a preços 284.002 correntes 209.724

48.775 Valor adicionado bruto da indústria a preços 39.820 correntes 28.181

33.729 Valor adicionado bruto da agropecuária a preços 32.500 correntes 31.379

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000

2012 2010 2008

Fonte: IBGE, em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de – SUFRAMA, 2015.

Como expresso no gráfico acima o setor agropecuário se estabilizou nos últimos anos no PIB municipal. Todavia, ele ainda representa uma parcela relevante na economia do município, afinal, seu território de grande extensão abriga na zona rural segundo o Censo 2010 do IBGE 49,04% da população, dos quais 35% vivem do cultivo da terra em forma de subsistência plantando macaxeira, milho, feijão e batata.

A fruticultura irrigada e a criação bovina também são atividades presentes no município, porém, com menor expressão, visto que a seca, que vem castigando todo o Nordeste brasileiro nos últimos anos, é uma das explicações para esse dado. No gráfico abaixo, a evolução da agropecuária juntamente com indústria e os serviços no PIB municipal contribui para a constatação de que o setor de serviços nos últimos anos vem apresentando uma crescente.

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Figura 21 – Gráfico de Evolução Agropecuária, Industrial e de Serviços em Ceará-Mirim – 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais). Evolução da Agropecuária, Indústria e Serviços em Ceará-Mirim – 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012 (em Mil Reais)

400.000

300.000

200.000

100.000

0 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Agropecuária Indústria Serviços

Fonte: IBGE, 2015.

3.2 Comércio e serviços

Ainda analisando a composição do PIB municipal, percebe-se um aumento significativo do setor de serviços nos últimos anos, considerando os empregos formais e informais perdidos após o fechamento da usina foram em parte absorvidos pelas atividades de comércio do mercado local. A pesquisa anual de cadastro de empresas feita pelo IBGE também demonstra esse crescimento pelo número de empresas instaladas nos últimos anos no município.

Tabela 2 – Evolução de Unidade de Empresas em Ceará-Mirim – 2007 2010 e 2013.

2007 2010 2013 Número de 589 665 786 unidades locais Fonte: IBGE, 2015.

O comércio na cidade é representado pelo segmento varejista diversificado e de demanda local com público consumidor advindo tanto da área urbana como dos distritos rurais. A informalidade desse comércio se faz presente por meio da tradicional feira montada aos sábados no largo do mercado público. 56

A feira de Ceará-Mirim já representou uma das maiores expressões de poder na lógica da sociedade canavieira, Castro (1992, p.68) afirma que sua dinâmica estava associada à disponibilidade de dinheiro dos trabalhadores das usinas locais.

fabricação e comércio em pequenas quantidades, pela utilização de capitais reduzidos e por um leque de situações de emprego – acordos pessoais entre patrão e empregado, trabalho autônomo, trabalho familiar, pequenas empresas. São atividades de pequena dimensão como o pequeno comércio varejista e inclusive ambulante, diversas formas de artesanato e de reparação e consertos, alguns transportes, prestação de serviços banais ou mesmo a agricultura intra-urbana presente em algumas cidades. Esse tipo de economia se expande à medida que aumentam as necessidades de consumo da parcela pobre da população que não tem acesso, integralmente, aos outros circuitos econômicos, como por exemplo, o circuito superior da economia “constituído pelos bancos, comércio e indústria de exportação, indústria urbana moderna, serviços modernos, atacadistas e transportadores” (SANTOS, 2013, p. 40).

Figura 22 – Feira livre de Ceará-Mirim.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

Quanto a organização do espaço em circuitos da economia, Santos (2008) considera dialética a relação desses, uma vez que os dois possuem a mesma origem e se retroalimentam, contudo, a articulação do circuito superior não se restringe a escala local, podendo ser feita fora da cidade; já a do circuito inferior é feita majoritariamente em nível local.

Um exemplo de conexão e articulação entre os circuitos da economia se dá a partir da relação existente entre feirantes e o comércio varejista local, onde parte 57

desses comerciantes, além do estabelecimento varejista, também possuem barracas na feira livre como forma de ampliar o público consumidor de seus produtos.

Em Ceará-mirim, como na maioria das cidades consideradas centros locais, o comercio varejista é concentrado nas regiões de melhor infraestrutura da cidade, apresentando um indicador de relação entre o poder público, prestação de serviços e os circuitos da economia (como foram visualizados nos mapas anteriormente).

De acordo com dados do IBGE (2010) os serviços variados possuem 25% do valor total do PIB de serviços. Geralmente são lojas especializadas em um determinado produto como: sapateiros e assistência técnica. O comércio compõe 22% do total seguido das escolas privadas com 20%, feirantes com 18% e os bancos com 15%.

Quanto a prestação de serviços públicos, instituições de âmbito estadual e federal fazem parte dos equipamentos instalados nos últimos anos na cidade e atraem pessoas de municípios vizinhos, como por exemplo, o Ministério Público Estadual, Previdência Social e Justiça Federal, representados nas figuras a seguir:

Figura 23 – Prédio da Justiça Federal.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

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Figura 24 – Prédio do Ministério Público Estadual.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

3.3 A pequena indústria

Ceará-Mirim segue um perfil que abrange boa parte das cidades do Rio Grande do Norte quando consideramos a falta de tradição industrial. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2012) 79,98% dos estabelecimentos industriais formalmente constituídos e 79,65% dos empregados no setor industrial estavam concentrados nos 10 municípios da Grande Natal e nas regiões de Mossoró e do Seridó.

A maior parte dessas indústrias estão concentradas nas atividades de estrutura produtiva voltada para recursos naturais. Natal ainda detém a maior concentração industrial com 42,98% estabelecimentos e 44,17% dos empregados no setor em todo estado. Ceará-Mirim aparece na 10ª colocação com 1,09% dos estabelecimentos e 0,99% dos empregados no setor no estado como mostra a tabela a seguir:

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Tabela 3 – Destaque dos 10 Municípios Potiguares com maior concentração de indústrias empregados no segmento formal – 2012 (em %).

Fonte: BRASIL, 2012.

A histórica estrutura produtiva de Ceará-Mirim baseada na agroindústria refletiu nas intervenções do poder público municipal, estadual e federal no incentivo ao desenvolvimento industrial na região. A diversificação dessa estrutura será possibilitada apenas nos últimos anos com a crise sucroalcooleira e o redirecionamento dessas políticas para atividades com baixa qualificação profissional e baixo impacto tecnológico.

Um exemplo disso são os incentivos do poder municipal por meio da oferta de cursos de corte e costura, qualificando profissionais para a abertura de pequenas fábricas. A maioria dessas pequenas empresas são formadas por associações de costureiras e familiares que produzem roupas customizadas, rendas e bordados destinados para o consumo local e para exportação.

Em geral, a maior parte dos produtos fabricados em Ceará-Mirim pertence aos segmentos tradicionais da indústria nordestina, fornecendo insumos de baixo valor agregado a serem transformados em outras regiões. Essa característica é visível na maior parte dos municípios potiguares com exceção somente uma minoria 60

destes municípios que possuem parques industriais e uma estrutura produtiva diversificada.

3.4 Indicadores de qualidade de vida

O conceito de qualidade de vida muitas vezes não se relaciona diretamente ao crescimento do PIB ou de outros índices econômicos. Sen (2000) explica que o desenvolvimento além de proporcionar aumentos na produção e renda terá também que remover os principais obstáculos a privação de liberdade principalmente a fome, o acesso a saúde, ao trabalho, ao saneamento básico, a oportunidade de vestir-se e morar em local adequado.

Ainda segundo Sen (2000) a incapacidade de proporcionar aos indivíduos condições mínimas para buscar no mercado produtos que satisfaçam suas necessidades é considerado uma privação de liberdade, o que sugere maiores investimentos sociais em prol de um desenvolvimento econômico que os associe. Essa abordagem identifica a liberdade como principal objeto do desenvolvimento e reside nas oportunidades sociais de educação, saúde e lazer que se complementam as participações econômicas e políticas na superação das privações.

Os indicadores sociais, como IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) calculado desde 1990 pela ONU (Organizações das Nações Unidas), permitem a comparação do nível de desenvolvimento de regiões a partir de uma classificação que compreende três níveis de desenvolvimento humano: Baixo IDH (até 0,5); Médio IDH (entre 0,5 e 0,8) e, Alto IDH (acima de 0,8). Entretanto, este indicador não retrata a realidade se não for efetivada uma análise crítica e comparativa de seus dados.

Algumas das variáveis utilizadas nesse índice sugerem aspectos de qualidade de vida da população local, no caso, longevidade, renda e educação. Consideramos essas variáveis para compreender a evolução da qualidade de vida em Ceará-Mirim entre 1991 e 2010 comparativamente ao estado do Rio Grande do Norte como mostra a tabela abaixo:

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Tabela 4 – Ceará-Mirim e Rio Grande do Norte: IDH (1991 2000 e 2010).

Ceará-Mirim Rio Grande do Norte VARIÁVEIS/ÍNDICE 1991 2000 2010 1991 2000 2010

Longevidade 0,586 0,672 0,774 0,591 0,700 0,792

Renda 0,468 0,523 0,599 0,579 0,636 0,678

Educação 0,168 0,308 0,505 0,642 0,779 0,597

IDH 0,355 0,477 0,616 0,428 0,552 0,684

Fonte: PNUD, Atlas do desenvolvimento humano no Brasil, 2013.

Em 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ceará-Mirim é de 0,616 o que situa esse município na faixa de Desenvolvimento Humano Médio (entre 0,600 e 0,699). Entre as variáveis que mais contribuem para esse resultado está a longevidade com 0,774, todavia, a educação é o componente que menos contribui no índice com 0,505 em 2010.

Observamos que ao longo das últimas décadas houve um crescimento acentuado nos componentes dos índices referentes a qualidade de vida na cidade, no entanto, comparativamente todos eles continuam abaixo da média em relação ao estado do Rio Grande do Norte. O fato dos indicadores ainda não corresponderem a um ideal de desenvolvimento e qualidade de vida, sugere a discussão sobre as perspectivas das liberdades usufruídas pela população de Ceará-Mirim.

Como discutido anteriormente, a qualidade de vida pode ser entendida como a expansão das liberdades. Tal abordagem permite-nos reconhecer que a população de Ceará-Mirim ainda sofre com restrições quanto a oportunidades sociais que permitam a plenitude do desenvolvimento humano.

No mesmo sentido analítico, para atingir os objetivos deste trabalho, procurou-se observar a situação de Ceará-mirim na escala regional por meio da sua inserção na Região Metropolitana de Natal. O próximo capítulo tratará da situação da cidade frente ao processo de metropolização dessa região e sua possível influencia no vetor de crescimento da BR 406. 62

4 VETORES DE CRESCIMENTO URBANO: ASPECTOS METROPOLITANOS?

A investigação sobre a dinâmica urbana de Ceará-Mirim e os fatores que influenciam a forma e função de sua expansão compreende não só uma análise local, mas também uma atenção para os processos e práticas referentes a articulação de diferentes escalas na construção desse objeto de estudo. Nesse sentido, consideramos, prioritariamente, a escala local e macrolocal7embasados na tipologia de Souza (2013) com o intuito de responder as questões problematizadas na pesquisa, já que as funções dos equipamentos urbanos destacados nas áreas de expansão extrapolam o limite municipal. A cidade de Ceará-Mirim está inserida em um sistema urbano costurado por fluxos que se consolidam por meio dos deslocamentos pendulares e também por fixos que se caracterizam pela integração de determinados serviços de interesse comum às cidades circunvizinhas. Esse aspecto é relacionado a própria conceituação de espaço geográfico, discutido no primeiro capítulo, quando transcrito Santos (2012) sobre os objetos artificiais permitem ações que modificam o próprio lugar, e a partir deles novos ou renovados fluxos recriam as condições ambientais e condições sociais, redefinindo cada lugar. O autor acrescenta que os fluxos “são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos (objetos), modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam” (SANTOS, 2012, p. 61-62). Destaca-se então a necessidade de uma percepção ampliada dos processos de urbanização, já que ficam evidenciados no espaço grande heterogeneidade e diversidade a partir dos objetos instalados e das ações que esses emanam e demandam. A partir de então, focamos este estudo na compreensão da influência dos processos relacionados à metropolização na expansão urbana da cidade de Ceará-Mirim. Para isso, o presente capítulo é estruturado de forma que entendamos primeiramente o conceito de cidade e aglomerado urbano juntamente com os

7 A escala macrolocal é caracterizada pela tipologia de Souza (2015) como aquela que compreende as regiões metropolitanas na escala da pesquisa sócio-espacial. Nesse estudo, o autor classifica os níveis escalares em níveis do corpo, nanoterritórios, local, microlocal, mesolocal, macrolocal, regional, nacional, internacional, grupos de países e global. 63

processos formativos do fenômeno de metropolização no Brasil para que, então, abordemos a cidade de Ceará-Mirim no contexto da Região Metropolitana de Natal (RMNatal).

4.1 A cidade como locus das desigualdades

A ideia de cidade liga-se, inicialmente, ao modo de vida que permeia essa estrutura urbana marcada pela luta de classes. Ela pode ser compreendida como fruto da intervenção humana no espaço, algo que está além de uma definição quantitativa, por considerar as relações de poder como modeladoras do seu uso e forma. Isso sugere afirmar que a cidade é produto e condição de reprodução de uma sociedade, a cidade pode, então, ser explicada como um ambiente que é um produto social. Por ser compreendida como produto histórico-social de caráter processual e ininterrupto a cidade torna-se palco das transformações sócio-político-econômicas. Assim, podemos definir e analisar em diferentes perspectivas seja em áreas como a Geografia, História, Arquitetura, ou Estudos Urbanos e Regionais, o que possibilita uma interdisciplinaridade na construção da natureza desse fenômeno urbano. Essa característica de múltiplas perspectivas sugere o estudo sobre a sociedade formadora do espaço urbano como elemento importante para o entendimento da cidade, já que para cada sociedade existe uma forma estrutural e funcional particular de organização. Haesbaert (2006) contribui nesse debate ao afirmar que no espaço geográfico se estabelece territórios dos quais são produto da relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou controle político-econômico do espaço. Conceber a cidade é ao mesmo tempo delimitar um espaço cujas atividades são definidas por uma sociedade singular que caracteriza esse território não só pelo controle politicamente estruturado, mas também por uma apropriação que engloba as dimensões simbólicas e identitárias dos grupos que a constituem. Com isso, as cidades se tornam reflexo concreto do trabalho humano, a materialização desse trabalho que, ao longo da história, foi efetivado e influenciado por diversos pensamentos como cita Oliveira (2002, p. 10). Ao longo da história do Ocidente, a vida urbana tem recebido uma avaliação diferenciada. Ora é espaço do progresso, ora é espaço da desordem. 64

Durante muito tempo se pensou a cidade como lugar de modernidade e progresso em oposição ao mundo rural, considerado os lócus da tradição e do atraso. A cidade passou a ser identificada como campo da racionalidade e do planejamento e, simultaneamente, como fonte de fragmentação e de aviltamento do indivíduo. Sendo construídas historicamente pelas sociedades ali instaladas, as cidades expressam por meio das dimensões política, econômica e cultural uma configuração capaz de criar uma pluralidade de modos de vida, possibilitando ao homem desenvolver suas relações, sua vida social e afetiva. Por esse motivo, Carlos (1997) define a cidade como lócus onde se expressam todas as nossas contradições sociais. É nesse ínterim que a cidade capitalista, mais precisamente no contexto da globalização, evidencia em sua configuração urbana marcas que a caracterizam como vitrine de um novo modelo de produtividade ao mesmo tempo em que podemos identificar o aumento progressivo das desigualdades socioespaciais. Esse processo de transformação do modelo produtivo desencadeado a partir da década de 1970 é possibilitado segundo Rochefort (2002, p.8),

Graças ao sucesso das novas técnicas de comunicação e de informação, a serviço de novas estruturas de produção posteriores à época fordista. Ela abala as concepções anteriores de redes urbanas hierarquizadas em zonas definidas pelo princípio de proximidade e impõe visão de um território mundial de redes organizadas a partir de polos e de fluxos. A análise destes polos da globalização permitiram identificar novas funções metropolitanas, novos processos de metropolização das grandes cidades que puderam ou souberam adquiri-las. Nessa perspectiva, a globalização evidenciou nas últimas décadas um protagonismo citadino tanto nas transformações urbanísticas, consequente, criação e ampliação de serviços, quanto na atração de investimentos internacionais na lógica do mercado global. A inserção da cidade no mercado global da economia trouxe transformações que não podem ser ignoradas e que formam territórios complexos e articulados com novas funções. Pode-se entender então, que as cidades são atores sociais complexos e de múltiplas dimensões (CASTELS; BORJA, 1996).

Ao mesmo tempo, como citado por Rochefort (2002) a inserção no mercado global desencadeia um processo desigual na organização comercial e na estrutura social urbana. Na América latina, os efeitos da reestruturação produtiva iniciada na década de 1990 refletiram de maneira profunda na economia e no papel do Estado. Para superar a crise e reestabelecer a rentabilidade e o dinamismo econômico das 65

economias capitalistas, medidas neoliberais de forte impacto no mercado de trabalho e consequente precarização e desregulamentação do mesmo foram adotadas em boa parte dos países latino-americanos a partir da década de 1980.

No Brasil, essa situação não foi diferente. Desde a década de 1930, quando o processo de industrialização concentrou e fixou uma massa de trabalhadores nos centros urbanos, passando pela década de 1990 onde a população urbana superou numericamente a população rural, as cidades brasileiras tornaram-se grandes polos de atração e densidade populacional. Os efeitos dessas mudanças estruturais desencadearam um processo de retração das forças do trabalho formal, aumentando assim o desemprego, as formas de trabalho informais e a periferização.

Diante desse histórico, as cidades dos países subdesenvolvidos de industrialização tardia tornaram-se incapazes de suprir a sociedade com formas de produção mais horizontais. O processo de urbanização associa-se a superexploração da força de trabalho e a precarização do mesmo, sendo crescente fenômenos como o da segregação sócio espacial da população citadina (OJIMA et al., 2015). Devemos destacar que a discussão sobre segregação apresenta nas Ciências Sociais uma vasta bibliografia por estabelecer diferentes campos de investigação, interligando “as dimensões econômicas, culturais e políticas com as dimensões espaciais da realidade social” (SABATINE, 2006, p.169).

A divisão social do espaço urbano é traduzida em numerosas áreas sociais, e discutida por Corrêa (2013) como reflexo, em meio à condição de existência e reprodução das classes sociais e suas frações. Cada área, portanto, é caracterizada por uma relativa homogeneidade interna e heterogeneidade entre elas. Indicadores como renda, ocupação, fecundidade, qualidade de habitação e status migratório, definem o conteúdo dessas.

Constituído como produto e meio social, a segregação é parte integrante dos processos e formas de reprodução social, pois “a relativa homogeneidade interna de cada área social cria condições de reprodução da existência social que ali se verifica” (VASCONCELOS, 2013, p. 9). Sendo assim, a segregação é um processo dialético, em que a segregação de uns provoca ao mesmo tempo e pelo mesmo processo, a segregação de outros. Nesse contexto, verificamos que as 66

desigualdades sociais refletem no espaço urbano e “as formas resultantes delas diferem em função de cada contexto” (VASCONCELOS, 2013, p.17).

As consequências da reestruturação produtiva, discutida anteriormente, podem ser compreendidas segundo Ribeiro (2010) a partir de três mecanismos relacionados. Primeiramente a difusão de ideias e programas liberais que gerou mudanças dos modelos e paradigmas regulatórios nos países; em segundo lugar a consequente privatização dos serviços urbanos que ocasiona o aumento das desigualdades no acesso a esses serviços; e em terceiro lugar, a especulação imobiliária que tem se tornado o principal mecanismo de distribuição da população na cidade.

Nessa discussão, que (CASTELS; BORJA, 1996) acrescenta que as limitações destes processos e os efeitos sociais das políticas de ajuste, acrescentadas às desigualdades e marginalidades herdadas, à debilidade da sustentação sociocultural das cidades e aos graves déficits de infraestrutura e serviços públicos, atrasaram a emergência da cidade da América Latina como protagonista.

Cabe destacar, que os efeitos mais perversos dessa realidade se expressaram nos países de desenvolvimento tardio, caso do Brasil, apresentando singularidades na sua estrutura urbana e social. Diante disso, Santos (2013) cita a cidade brasileira como espaço contraditório por excelência, ajustada às condições do mundo globalizado incluindo poucos e excluindo muitos num processo simultâneo.

Para que possamos entender melhor como ocorreu o processo formativo das regiões metropolitanas no Brasil será necessária uma breve explanação sobre o que é metropolização, seus processos característicos e suas consequências na estrutura social e urbana. Esse será o tema do próximo tópico.

4.2 Metropolização à brasileira

Como visto no subcapítulo anterior, a cidade tornou-se o lugar polarizador de capitais e de trabalho num processo de urbanização baseado no modelo 67

socioeconômico que materializa e acentua os papeis urbanos sobre o industrialismo, o que provoca segundo Sposito (2005) o desenvolvimento de novas formas de produção e consumo na cidade, provocando o aprofundamento das contradições nos espaços urbanos. Tal analise é corroborada por Santos (2013, p. 11) quando explana que

Ao longo do século, mas, sobretudo, nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com o da pobreza, cujo lócus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. No caso brasileiro, o intenso processo de urbanização dos últimos 50 anos trouxe implicações na forma, configurações e funções das cidades, observando-se em algumas delas uma expressiva concentração de população, serviços e também demandas. De fato, esses espaços exigem uma abordagem complexa sobre os processos derivados da urbanização, já que nesse largo período as cidades experimentaram transformações significativas no seu perfil socioeconômico, sócio espacial e sociocultural. Trata-se de observar a cidade a partir de uma escala ampliada da urbanização com componentes qualitativos mais complexos (SOARES, 2013).

Nesse contexto, a metropolização dos espaços apresenta-se como intensificadora dos aspectos que definem uma metrópole, tanto de forma concentrada quanto diluída no território da região metropolitana. Sendo assim,

Todo processo de metropolização é em si uma determinação histórica que submete a urbanização relacionada à cidade, pois é uma determinação atual e define os rumos da história urbana de determinado lugar’ (PESSOA, 2012, p.56). O processo de metropolização pode ser observado segundo Clementino e Souza (2015) a partir da inserção das cidades e das áreas metropolitanas como pontos estratégicos nos processos de reestruturação produtiva, onde a busca pela inserção das mesmas na economia globalizada promove mudanças nos padrões de mercado de trabalho, competitividade econômica na acentuação das desigualdades. Portanto, a metropolização imprime ao espaço características que até então eram exclusivas das regiões metropolitanas. Esses aspectos analíticos fazem com que não só as práticas sociais, mas, inclusive as identidades dos lugares fiquem sujeitas aos códigos metropolitanos o que segundo Lencione (2005, p.35) “são esses códigos os avatares dos novos valores e signos da sociedade contemporânea.”. 68

Nesse momento cabe ressaltar a importância da distinção entre metropolização, metrópole e região metropolitana. Podemos assim definir;

I. Metropolização: Processo relacionado a macro urbanização II. Metrópole: Forma sócio espacial resultante do processo de metropolização. III. Região Metropolitana: Definida por decisão institucional de âmbito federal ou estadual. No caso brasileiro hoje nos referimos muito mais a regiões metropolitanas do que a metrópoles. As regiões metropolitanas brasileiras estão na verdade relacionadas à "necessidade de ordenamento do território na escala regional e cuja cidade-polo não é necessariamente uma metrópole" (FIRKOWSKI, 2012).

O processo de metropolização atua nas características de transformações da natureza e de configuração espacial das cidades que se estabelecem a níveis distintos de integração nos territórios dessa dinâmica. Entre os processos a serem destacados como propulsores desse fenômeno urbano, a conurbação aparece como importantes definidores da dinâmica de expansão metropolitana.

O fenômeno de conurbação caracteriza-se pela fusão de áreas urbanas, quando uma cidade em crescimento absorve ou gera outros núcleos urbanos à sua volta (VILAÇA, 2001), ou seja, quando áreas urbanas de municípios limítrofes se fundem constituindo uma mancha urbana única e contínua. Apesar de ser característico das metrópoles, ele não está ligado necessariamente às áreas centrais do núcleo metropolitano. Essa particularidade faz com que se compreenda a cidade além dos limites municipais, onde serviços urbanos, fluxos de mercadorias e os movimentos pendulares de pessoas são compartilhados na aglomeração.

A partir de 1973, foi promulgada a lei definindo a criação das Regiões Metropolitanas, justamente para ordenar de maneira planejada o território urbano,

A despeito da previsão constitucional de 1967 e da Emenda nº 1 de 1969, as regiões metropolitanas foram criadas somente em 1973, circunstância que demonstra e sinaliza, a par da realidade socioeconômica, ter estado o legislador ordinário afastado da realidade dos Municípios. A Lei Complementar nº 14, de 8 de junho de 1973, criou as Regiões Metropolitanas de São Paulo, , , , , Belém e , ao passo que a Lei Complementar nº 20, de 1º de julho de 1974, criou a Região Metropolitana do , estabelecendo, para sua manutenção, um fundo contábil metropolitano, de cuja previsão e 69

constituição não cuidara a Lei Complementar nº 14/73. (TEIXEIRA, 2005, p.64.). Com a constituição de 1988 a ordenação do seu território, estando, entre estas atribuições, a definição das regiões metropolitanas passou a ser prerrogativa das unidades da federação. Conforme os termos da política urbana que a constituição de 1988 delegou aos governos de unidades de federação, ampliou-se o número de regiões metropolitanas no país, apresentando não apenas capitais estaduais como também espaços sub-regionais e aglomerações urbanas não metropolitanas que não atingem 100 mil habitantes.

Algumas regiões metropolitanas criadas após 1988 não atingem 1 milhão de habitantes e seus municípios centrais, muitas vezes, não possuem 400 mil habitantes. Nesse contexto, em 1997 a Região Metropolitana de Natal é instituída por meio da Lei Estadual Complementar nº 152, de 16 de janeiro. Logo em sua primeira formação, o município de Ceará-Mirim e mais 5 municípios; Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Extremoz são incluídos na mesma. No próximo subcapítulo trataremos melhor da institucionalização da RMNatal.

4.3 Um breve histórico da institucionalização da RMNatal

Ante o exposto no subcapítulo anterior, a Região Metropolitana de Natal foi instituída em 1997 por meio da Lei Complementar nº. 152, articulando apenas seis dos municípios que hoje fazem parte da RM - Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Ceará-Mirim e Extremoz. Segundo essa mesma lei complementar, os critérios utilizados para adesão de municípios na RMNatal se justifica pelo fato de demanda e serviços que exijam parcerias e soluções conjuntas que os mesmos venham a necessitar, sem deixar quais são e em que medida esses serviços podem caracterizar uma forma de integração metropolitana.

Diante da precária regulamentação de critérios, outros municípios foram adicionados a RMNatal ao longo dos anos. Por meio da criação da Lei Complementar nº. 221 de 2002 foram inclusos outros dois municípios: São José do Mipibu e Nísia Floresta. Em seguida, em 2009, os municípios de Monte Alegre e 70

Vera Cruz; em 2013 a Lei Complementar nº. 485, de 25 de fevereiro incluiu Maxaranguape. Hoje a RMNatal é formada por onze municípios: Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Ceará-Mirim, São José do Mipibu, Nísia Floresta, Monte Alegre, Vera Cruz e Maxaranguape.

Figura 25 – Atual formação da Região Metropolitana de Natal

Fonte: GOMES et al., 2015.

Com a entrada de Maxaranguape, em 2013, a RMN passa a ter 11 municípios, sendo a décima quinta maior aglomeração urbana do Brasil, com mais de 1.350.840 habitantes. Sua área territorial supera 2.819,11 quilômetros quadrados, o que corresponde a mais de 5,3% do território estadual.

Apesar da institucionalização, os municípios que compõem a RMN possuem processos diferentes quanto à metropolização e por isso apresentam níveis de integração distintos com o polo metropolitano. Todos os municípios que a compõem atualmente estão territorialmente muito próximos de Natal, favorecendo assim a grande mobilidade entre esses municípios.

Os processos de identificação da dinâmica metropolitana começaram a se explicitar ainda no início da década de 1990 com a conurbação e o transbordamento (periferização de um centro principal por sobre municípios vizinhos) populacional da capital do Estado em direção a alguns dos seus municípios limitantes como Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Além disso, outros municípios se 71

constituíram em cidades dormitórios e com significativa mobilidade pendular em direção a Natal, a exemplo de Macaíba e Extremoz.

Nessas relações entre polo e periferia metropolitana, a capital norte-rio- grandense exerce liderança devido a sua importância econômica e por concentrar a maioria dos serviços públicos, especialmente repartições do âmbito federal. Clementino e Souza (2009) sublinha que o fenômeno de metropolização avança com vigor nos demais municípios da RMN, configurando novos arranjos espaciais e redobrando a importância da capital no plano econômico e social do território potiguar.

Entende-se que a maneira pela qual os municípios se integram ao polo de uma região metropolitana se dá também, pela execução ou existência de serviços públicos e fluxo de pessoas que caracterizam movimentos pendulares. Essa característica é analisada segundo nível de integração da dinâmica do aglomerado urbano. Os níveis de integração foram elaborados e estabelecidos com metodologia desenvolvida pelo Observatório das Metrópoles (2012) utilizando indicadores que expressem os componentes da dinâmica metropolitana; taxa de crescimento populacional; densidade demográfica; contingente e proporção de pessoas que realizam movimento pendular; proporção de emprego não-agrícola; e grau de urbanização, de modo que os municípios podem ser classificados em: Muito baixo, Baixo, Médio, Alto, e Muito Alto nível de integração em relação ao polo.

De acordo com essa metodologia8, no Brasil existem unidades com maior participação de municípios com nível alto ou médio de integração, para os quais são possíveis atribuir um estágio de transição em direção a uma participação mais efetiva no processo de metropolização. Já as unidades que apresentam maior presença de municípios com nível de integração baixo ou muito baixo não podem ser identificadas como de natureza metropolitana, embora sejam consideradas regiões metropolitanas, em termos institucionais.

Assim, para compreender a espacialidade do fenômeno metropolitano da aglomeração urbana de Natal, como também para esboçar os limites reais da

8 Para consulta e esclarecimentos acerca da metodologia atribuída ao Observatório das Metrópoles: Relatório de pesquisa, Níveis de Integração dos Municípios Brasileiros em RMs, Rides e AUs à Dinâmica da Metropolização. Disponível em: http: //observatoriodasmetropoles.net/dowload/relatório_integração.pdf 72

aglomeração observamos a região institucionalizada segundo o nível de integração na dinâmica do aglomerado. A partir da tipologia construída pelo Observatório das Metrópoles (2012) os municípios da RMN foram classificados de acordo com sua integração à metropolização brasileira como demonstra a tabela a seguir.

Tabela 5 – Nível de integração na dinâmica da aglomeração da Região Metropolitana de Natal

MUNICÍPIO NÍVEL DE INTEGRAÇÃO Ceará- mirim Muito Baixo Extremoz Alto Macaíba Médio Monte Alegre Muito Baixo Natal Polo Nísia Floresta Baixo Parnamirim Alto São G. do Amarante Alto São José de Mipibu Muito Baixo Vera Cruz Muito Baixo Fonte: Observatório das Metrópoles, 2012, editada pelo autor.

Como observado na tabela, o espaço urbano da RMN contempla no nível de integração regional o aspecto extremado muito baixo, o que nos permite analisar os municípios de acordo com a tipologia do Observatório das Metrópoles (2012):

I. Alta Integração: São aqueles municípios que possuem interações fortes no espaço da aglomeração e apresentam ocupação contígua à Natal. Apresentam taxas de crescimento populacional elevadas desde a década de 1970; predominam consideravelmente as atividades urbanas; o volume de deslocamento de pessoas é superior a 25% da população do município. Enquadram-se nessa classificação os municípios de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e recentemente Extremoz. II. Média Integração: São municípios limítrofes ao Polo Natal que por apresentarem fluxos significativos na dinâmica de aglomeração configuram áreas de expansão da mancha contígua de ocupação. É o caso do município de Macaíba. 73

III. Baixa Integração: De maneira geral, são aqueles municípios que possuem um distanciamento físico em relação ao polo, no entanto, apresentam dinâmica que os caracterizam como áreas de expansão regional. Característica do município de Nísia Floresta. IV. Muito Baixa Integração: Integram esse grupo os municípios de São José de Mipibu, Monte Alegre, Vera Cruz e Ceará-Mirim, esses possuem ocupações não-agrícolas beirando os 70%. Contudo, o município de Ceará-mirim é o único entre os demais dessa classificação que a população ultrapassa 50 mil habitantes, além de apresentar um volume considerável de pessoas que realizam movimento pendular.

De acordo com essa tipologia, percebemos que o município de Ceará-Mirim se enquadra no nível muito baixo de integração metropolitana acompanhado de mais três municípios: Monte Alegre, São José de Mipibu e Vera Cruz. Apenas o município de Macaíba apresenta integração média ao Polo da RMNatal, enquanto Parnamirim e São Gonçalo do Amarante apresentam alta integração. Os aspectos que definem essa baixa integração do município de Ceará-mirim ao Polo Metropolitano serão abordados no próximo subcapítulo.

4.4 Ceará-Mirim na RMNatal

A discussão a seguir está pautada em alguns indicadores que revelam a inserção do município de Ceará-Mirim ao polo da RMNatal. Como dito anteriormente, a classificação muito baixa quanto ao nível de integração metropolitana revela que os processos de metropolização ainda não se expressam de maneira mais sólida na cidade objeto de estudo desse trabalho.

Todavia, esse aspecto de expansão da periferia metropolitana por meio dos eixos de integração viária, projetos imobiliários e da instalação de equipamentos de âmbitos regional já direcionam os vetores de crescimento da RMNatal será abordado posteriormente. Inicialmente, analisaremos os indicadores observando as taxas de crescimento populacional dos municípios que integram a RMNatal na tabela abaixo. 74

Tabela 6 – Região Metropolitana de Natal: População, Área e Taxa de Crescimento populacional por Municípios.

Municípios Área (Km²) População População Taxa Cresc. (2000) (2010) (2000-2010) Ceará Mirim 739,69 62424 68141 0,88 Extremoz 125,67 19572 24569 2,30 Macaíba 512,49 54883 69467 2,38 Maxaranguape 131,30 8001 10.441 0,27 Monte Alegre 199,52 18874 20685 0,92 Natal 170,30 712317 803739 1,21 Nísia Floresta 306,05 19040 23784 2,25 Parnamirim 120,20 124690 202456 4,97 São Gonçalo do 151,31 69435 87668 2,36 Amarante São José de 213,88 34912 39776 1,31 Mipibu Vera Cruz 100,0 8522 10719 2,32 RMN9 2.950,41 1124669 1351004 1,85 Fonte: Censo demográfico de 2010 – IBGE, editada pelo autor.

A taxa de crescimento populacional do município de Ceará-Mirim entre os anos 2000-2010 está entre as mais baixas da RMNatal, esse resultado é diretamente ligado a diminuição das taxas de fecundidade e de imigração (FREIRE et al., 2015). Esse dado impacta diretamente na taxa de urbanização do município que passou de 49,4% em 2000 para 52,1% em 2010 representando umas das menores taxas de urbanização da RMNatal.

Quanto a fecundidade, em 1991 o município de Ceará Mirim apresentava uma taxa total de 4,1 filhos por mulher e em 2010 atingiu 2,5 considerado limite para garantir a reposição populacional. Esse declínio na taxa de fecundidade é acompanhado por todos os municípios da RMNatal, no entanto, naqueles de menor integração ao polo, como é o caso de Ceará-Mirim, essa queda foi mais acentuada. Percebe-se então que ao longo das últimas décadas a estrutura populacional de Ceará-Mirim segue uma tendência de transformação comum aos demais municípios da RMNatal.

No que se refere ao PIB metropolitano, Ceará-Mirim assim como os demais

9 Maxaranguape foi incorporada a RMN em 2013, por se tratar de um período posterior aos censos analisados, os valores totais não consideram os dados do município. 75

municípios de baixa e muito baixa integração (com exceção de Extremoz) evidenciam a macrocefalia do polo Natal como demonstra a tabela abaixo.

Tabela 7 – Produto Interno Bruto A Preços Correntes E Produto Interno Bruto Per Capita - Região Metropolitana De Natal – RN.

Estado e municípios da 2010 (1) Per capita (R$) % em relação RMNatal 2010 (1) ao PIB total estadual (2010) Rio Grande do Norte 32 338 895 10 207,56 Ceará-Mirim 384 173 5 662,59 1,2 Extremoz 149 619 6 094,47 0,5 Macaíba 730 711 10 508,08 2,3 Monte Alegre 106 481 5 151,47 0,3 Natal 11 997 401 14 925,65 37,1 Nísia Floresta 134 949 5 665,84 0,4 Parnamirim 2 50 562 11 612,70 7,3 São Gonçalo do 953 855 10 876,34 2,9 Amarante São José de Mipibu 260 350 6 546,22 0,8 Vera Cruz 50 508 4 709,41 0,2 Fonte: Censo IBGE, 2010.

Ceará- Mirim aparece representado juntamente com Monte Alegre e Nísia Floresta com PIB per capita em média de R$ 5.500. Boa parte da composição do PIB ceará-mirinense, como visto no segundo capítulo, é composta pelo setor de serviços, com uma indústria de pouca relevância e o setor agrícola pautado nas culturas temporárias.

A representatividade dos municípios fronteiriços com Natal, no caso, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba (a exceção de Extremoz) comprova que o núcleo metropolitano se interliga territorialmente e expressa isso na riqueza produzida. Essa característica é explicada pela grande concentração populacional de Natal que acaba fazendo com que haja um transbordamento do seu núcleo urbano e com ele a difusão de objetos artificiais nos municípios mais próximos, como por exemplo, campi universitários, serviços de hotelaria, indústrias e aeroporto.

Na tabela abaixo estão expostos os dados referentes ao IDH dos municípios da RMNatal, esse índice revela a “compreensão do grau de desigualdades 76

existentes no espaço intrametropolitano” (GOMES et al., 2015, p.60).

Tabela 8 – Índices de Desenvolvimento Humano na Região Metropolitana de Natal - 2010

Municípios da Índice de Índice de Índice de Índice de RMNatal Desenvolviment Desenvol Desenvolvi Desenvol o Humano vimento mento vimento Municipal Humano Humano Humano Municipal Municipal – Municipal – Dimensão – Dimensão Longevida Dimensão Educação de Renda Ceará-Mirim 0,616 0,505 0,774 0,999 Extremoz 0,660 0,555 0,808 0,640 Macaíba 0,640 0,545 0,784 0,613 Monte Alegre 0,609 0,507 0,770 0,578 Natal 0,763 0,694 0,835 0,768 Nísia Floresta 0,622 0,518 0,773 0,601 Parnamirim 0,766 0,726 0,825 0,750 São Gonçalo do 0,661 0,564 0,829 0,619 Amarante São José de Mipibu 0,611 0,508 0,748 0,599 Vera Cruz 0,587 0,494 0,735 0,588 Fonte: PNUD – Atlas do Desenvolvimento Humano, 2013.

É interessante observarmos que a nível local o destaque feito no capítulo anterior, referente a evolução dos indicadores como educação, longevidade e renda no município de Ceará-Mirim nas últimas décadas, que demonstram ainda estar abaixo da média estadual e nacional. A mesma tendência é expressa a nível regional, Ceará-Mirim se encontra entre os municípios com os piores índices nos três âmbitos. Esses indicadores possuem um grande impacto na composição geral do IDH. Ainda analisando a situação de Ceará-mirim em relação ao desenvolvimento humano, a tabela abaixo mostra a taxa de alfabetização nos municípios da RMNatal.

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Tabela 9 – Taxa de Alfabetização da Região Metropolitana de Natal – RN

Municípios da RMNatal Taxa de alfabetização das pessoas de 10 anos ou mais de idade, por sexo (%) Total Homens Mulheres Ceará-Mirim 79,5 77,2 81,8 Extremoz 83,7 81,8 85,4 Macaíba 79,0 76,0 81,8 Monte Alegre 73,1 68,0 78,1 Natal 92,0 91,4 92,4 Nísia Floresta 79,3 76,5 82,3 Parnamirim 92,4 91,7 93,1 São Gonçalo do 86,1 84,4 87,7 Amarante São José de Mipibu 77,1 74,3 79,8 Vera Cruz 71,0 66,9 75,0 Fonte: Censo IBGE, 2010.

Mais uma vez, os municípios com menor grau de integração (com exceção de Macaíba para este indicador) abrigam as menores taxas de alfabetização na RMNatal e Ceará-Mirim se enquadra nesse grupo. A análise dos indicadores de natureza social do município realizada no capítulo anterior se comprova quando comparada em escala metropolitana, o que chama atenção para a falta de investimentos locais na elevação da qualidade de vida da população, ao passo que desperta preocupação quanto a implementação de políticas públicas municipais relacionadas ao desenvolvimento local.

Em relação aos movimentos pendulares, compreendemos que esses se referem aos deslocamentos diários para o trabalho e/ou estudo fora do limite municipal no qual se reside. Nesse sentido, Gomes et al., (2015, p. 74) acrescentam que,

os movimentos pendulares estão associados a mudanças socioeconômicas e são apontados como uma expressão da reestruturação do trabalho e do capital com implicações na estrutura urbana, na circulação de pessoas, as vias de acesso e aos transportes. Nesse aspecto, a RMNatal possui características que relacionam a intensidade dos fluxos de atração de pessoas aos objetos instalados e concentrados nos municípios mais próximos do seu polo. Ao mesmo tempo, é no polo Natal que se configura um crescimento na saída pendular para os demais municípios como mostra a tabela abaixo.

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Tabela 10 – Municípios da Região Metropolitana de Natal: crescimento da participação de entrada de pessoas por municípios segundo dimensões do movimento pendular.

Municípios Saída Pendular Entrada Pendular 2000 % 2010 % % Cresc. 2000 % 2010 % % Cresc. da da participação participação Natal 8.132 13.58 26.310 19.55 4.96 60.075 86.14 115.633 76.76 -10.89 Parnamirim 25.090 41.91 53.178 39.52 -5.69 3.936 5.64 11.930 7.92 40.32 Extremoz 2.254 3.76 4.375 3.25 -13.63 1.205 1.73 7.613 5.05 192.48 São 11.223 18.75 23.087 17.16 -8.47 1.163 1.67 3.826 2.54 52.3 Gonçalo do Amarante Macaíba 5.028 8.4 9.512 7.07 -15.82 1.133 1.62 4.611 3.06 88.41 Demais 8.141 13.60 18.087 13.44 -1.1 2.231 3.20 7.036 4.67 46.00 munícipios Total 59.868 134.549 69.743 150.649 RMNatal Fonte: Observatório das Metrópoles; Censo Demográfico – IBGE. Adaptado pelo autor, 2015.

Os dados referentes aos demais municípios separadamente não chegam a possuir relevância significativa no saldo pendular da região. Nesse grupo, Ceará- Mirim registrou um aumento dos movimentos de pendularidade. No ano 2000 cerca de 10,6% de sua população total realizava esse movimento, em 2010 houve um acréscimo de cerca de 20, 41%. A maioria desses deslocamentos acontecem por meio dos eixos viários que interligam a cidade de Ceará-Mirim ao polo metropolitano, sendo esses possuidores de características que explicam um crescente avanço dos fluxos metropolitanos para as áreas mais periféricas da região.

No subcapítulo que segue, chamaremos de eixos viários de integração metropolitana as vias de acesso do município de Ceará-Mirim ao polo da RMNatal e caracterizaremos essas vias a partir da relevância dos principais objetos artificiais instalados nas mesmas.

4.5 Os eixos viários de integração metropolitana

Consideramos três vias de acesso do município de Ceará-Mirim ao polo da RMNatal, compostas pela ferrovia, BR 101 e BR 406 como mostra o mapa a seguir.

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Figura 26 – Eixos de Integração Metropolitana

Fonte: Produzido por ALMAPAS, 2015

O mapa acima delimita a área de estudo dos três eixos metropolitanos. Nota- se que apenas a BR 406 e a ferrovia cruzam em áreas urbanas no município, mais precisamente na sede do mesmo, enquanto que a BR 101 margeia o litoral possibilitando o acesso para os distritos litorâneos. A atual fase de expansão urbana da cidade de Ceará-Mirim (visualizada no primeiro capítulo) margeia um desses eixos, a BR 406 que será abordada no último subcapítulo.

A priori, é necessária a compreensão da inserção desses eixos em uma rede de interações e movimentos que ultrapassam os limites administrativos municipais. A noção de rede passa pelo entendimento abstrato de que existe um conjunto estruturado de ligações (fluxos) interligado a nós (fixos) que compõe uma trama integrada (SOUZA, 2013). Ou seja, as redes são a materialização de um tecido de articulações com ligações que podem se referir a fluxos de vários tipos, seja de pessoas, informação, bens materiais, entre outros. 80

As rodovias e ferrovias são componentes de uma rede por fazerem parte de uma infraestrutura que permite o transporte de matéria, pessoas e informação, servindo como arcos de transmissão entre as cidades. Santos, 2012 p. 270 afirma que “a existência das redes é inseparável a questão do poder”, o que associa essa infraestrutura a agentes de comando político e econômico que controlam, regulam e distribuem a parcela técnica da produção sobre o território. O autor ainda acrescenta que

A parcela técnica da produção permite que as cidades locais ou regionais tenham certo comando sobre a porção do território que as rodeia, onde se realiza o trabalho a que presidem. [...] Já o controle distante, localmente realizado sobre a parcela política da produção, é feito por cidades mundiais e os seus relés nos territórios diversos. (SANTOS, 2012, p. 273) Procurou-se a partir de então, compreender a importância dos eixos viários metropolitanos na rede urbana que insere Ceará-Mirim à RMNatal. A pesquisa de campo estruturada nos conceitos de objetos naturais e objetos artificiais, elucidados nos capítulos anteriores, compondo e conferindo significado e dinamicidade ao espaço local e metropolitano.

Partindo de Natal, a ferrovia - Natal/Extremoz/Ceará-Mirim é composta pela linha Norte do sistema de Trens Urbanos da RMNatal, e a linha Sul que atende o município de Parnamirim. A linha férrea Norte foi inaugurada no município de Ceará- Mirim no início do século XX, mais precisamente em 1906. Essa obra teve como objetivo principal escoar a produção de cana-de-açúcar e viabilizar a ligação da cidade com a capital do estado, Natal, uma vez que Ceará-Mirim detinha 60% da produção de cana-de-açúcar do estado.

A partir da reestruturação econômica em meados do século XX e das sucessivas crises do setor sucroalcooleiro (discutidas em capítulos anteriores) a linha férrea deixou de ser priorizada em investimentos públicos num movimento de valorização das rodovias sobre o meio de transporte ferroviário. É nesse movimento que se torna perceptível a mudança de funcionalidade da ferrovia para a região. No contexto da RMNatal, a macrocefalia do polo Natal provocada pelos processos de metropolização ocasionou uma difusão de atividades entre os municípios vizinhos compreendida em distritos industriais, como é o caso de Extremoz.

A ferrovia norte, com ponto de partida em Natal, passa pela sede da cidade de Extremoz (Figura 27) e opera entre a área da lagoa e as áreas rurais do 81

município. No entanto, é o seu distrito industrial interligado a rede ferroviária que justifica o grau de movimentos pendulares elevado do município.

Figura 27 – Vista do embarque/desembarque de passageiros.

Fonte: Foto de autoria própria, 2014.

O transporte ferroviário também é a alternativa de locomoção de boa parte da mão de obra residente na Zona Norte de Natal e em Ceará-Mirim, atraída pelo baixo custo da passagem e a eficiência quanto aos horários de embarque e desembarque.

O uso e ocupação do solo às margens da ferrovia, entre os municípios de Natal, Extremoz e Ceará- Mirim, é percebido pela descontinuidade das construções. O distrito industrial juntamente com a lagoa de Extremoz são pontos em destaque pela dinâmica peculiar que os dois trechos proporcionam, destacando o primeiro como objeto artificial e o segundo como objeto natural frente às ações que constroem e reproduzem o ambiente propicio para investimentos. No entorno do distrito industrial há poucas moradias e as que ainda são encontradas possuem construção precária. Já no entorno da lagoa, casas, comércio e clubes de lazer interagem provocando uma mudança na paisagem. Esse cenário é composto de pequenas áreas de plantio familiar no entorno do reservatório natural.

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Figura 28 – Lagoa de Extremoz.

Fonte: Foto de autoria própria, 2014.

Figura 29 – Hotel às margens da lagoa de Extremoz.

Fonte: Foto de autoria própria, 2014.

O setor turístico e imobiliário são exemplos de investimentos relacionados à instalação de objetos artificiais sobre os objetos naturais. A ferrovia, no entanto, ainda não aparece como catalizador dos processos que a caracterize como potencializadora de investimentos na região. Sua localização periférica ao polo metropolitano, herdada de uma estrutura econômica pautada no setor agrícola, fez com que ao longo do tempo o seu papel frente aos serviços urbanos fosse definido como principal meio de ligação entre os distritos rurais com a sede e a cidade. 83

Um exemplo disso é o distrito rural de Massangana/Ceará-Mirim, localizado após o município de Extremoz na penúltima estação da rota norte. O pequeno núcleo urbano do distrito apresenta bem definido e delimitado por meio de serviços de comércio local, moradias e reminiscências das usinas de cana de açúcar que dominam a paisagem da região.

Figura 30 – Estação em construção entre Extremoz e o distrito de Massangana (Ceará- Mirim).

Fonte: Foto de autoria própria, 2014.

A linha férrea é o eixo de integração advindo da economia açucareira que ao passar das décadas modificou a sua função de transporte de mercadorias para o transporte exclusivo de passageiros. É importante ressaltar que as comunidades e distritos ao longo da ferrovia, principalmente aquelas localizadas dentro do município de Ceará-Mirim, surgiram dos antigos engenhos que se localizavam na região. Percebe-se nesses distritos que o deslocamento de sua população é possibilitado principalmente pela linha férrea que são interligadas ao polo Natal e a sede do município.

Uma nova perspectiva de mudança de funcionalidade da ferrovia está prestes a acontecer com os novos projetos pautados pela CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos). A partir do segundo semestre de 2014 a companhia recebeu as primeiras composições de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que já estão em operação nas linhas regulares. De acordo com a CBTU a próxima fase do projeto de 84

reestruturação da malha ferroviária na RMNatal, será a construção de 30 novas estações modais (com integração com a malha rodoviária) ao longo da região metropolitana de Natal. O órgão demonstra por meio da figura abaixo as vantagens do novo tipo de transporte.

Figura 31 – Diferenças entre a locomotiva e o VLT.

Fonte: CBTU, 2014.

O projeto de reestruturação está em andamento e atualmente metade das viagens diárias entre Ceará-Mirim e Natal são realizadas pelo VLT, as demais viagens continuam a serem realizadas pelas locomotivas tradicionais como ilustra as figuras a seguir.

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Figura 32 – Estação Ferroviária de Ceará-Mirim.

Fonte: Foto de autoria própria, 2014.

Figura 33 – Saída do VLT Na plataforma Ribeira (Natal/RN) em direção à Ceará-Mirim.

Fonte: Jornal de Hoje, 2014.

Seguindo o percurso de caracterização dos eixos viários metropolitanos e sua integração ao município de Ceará-Mirim, a rodovia BR101- Natal/Distritos litorâneos aparece como ponto chave na discussão sobre o turismo metropolitano. 86

A BR 101 tem seu ponto inicial na cidade de /RN e percorre os municípios potiguares de Rio do Fogo, Maxaranguape, Ceará Mirim, Extremoz, Natal, Parnamirim, Monte Alegre, Brejinho, , Nísia Floresta, Montanhas e Baía Formosa.

Essa rodovia é a porta de entrada das praias do litoral leste do estado, apontada como uma das principais rotas turísticas da região. A área de estudo se delimita a partir do entroncamento com os distritos litorâneos de Ceará-Mirim até o entroncamento com a BR 406. Abaixo, toda extensão da BR 101 em solo potiguar é destacada na Figura 34.

Figura 34 – Localização da BR 101 no RN.

Fonte: (DER - Departamento de Estradas de Rodagem) editada pelo autor.

No percurso norte da BR 101 em direção aos distritos litorâneos é perceptível o distrito industrial de Extremoz no entroncamento com a BR 406 como mostra a figura a seguir.

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Figura 35 – Distrito Industrial de Extremoz às margens da BR 101.

Fonte: Foto de autoria própria, 2015.

Essa rodovia está associada à configuração espacial dos distritos litorâneos de Ceará-Mirim, no caso, Muriú e Jacumã. Segundo Clementino; Almeida, 2015 o turismo aparece como fator de expansão da mancha urbana metropolitana margeando a , articulando zonas de predominância e reforçando a centralidade da capital reforçando uma “descontinuidade ocupação entre os municípios que integram a RMNatal” (CLEMENTINO; SOUZA, 2015, p.27).

A indução dessa expansão acontece pelos investimentos do PRODETUR (Programa de Desenvolvimento Turístico) por eixos lineares que margeiam a costa litorânea tanto ao norte, quanto ao sul. Quanto ao PRODETUR,

se constitui em um programa de crédito para o setor público, financiado a maior parte com recursos do BID, possuindo o Banco do Nordeste, como órgão executor. O programa atua em duas frentes: 1) criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da atividade turística, e 2) melhorar a qualidade de vida das populações residentes nas áreas em que o programa atua. (LIMA, 2013, p. 102) No plano Diretor de Ceará Mirim, a área que compreende a BR101 é classificada como Zona de Interesse Turística e de Lazer onde,

[...] é possível o desenvolvimento de planos e programas de interesse turístico, bem como a uso econômico da área para dar suporte ao desenvolvimento da atividade turística e de lazer da população e dos turistas visitantes. (CEARÁ-MIRIM, 2006, p.28) 88

Além disso, os distritos litorâneos também são considerados no plano diretor da cidade como zonas urbanas, como observado no primeiro capítulo. O histórico de ocupação dessa faixa está relacionado à dinâmica veranista de parcela da população ceará-mirinense, representada principalmente pela elite oriunda da economia canavieira. No entanto, essa modalidade de ocupação não é privilégio apenas de camadas de alta renda, sendo comum no período anterior aos investimentos turísticos, transações imobiliárias de baixo capital e posses de loteamentos por diversos estratos da camada social como descreve (2010, p. 293)

O processo de urbanização litorânea, comum na zona de praia nordestina entre 1970 e 1990, não está atrelado exclusivo a uma elitização excludente, embora a elite urbana do núcleo principal tenha a capacidade de conceder status a determinado vilarejo ou distrito atraindo outras camadas populares. Com a decadência da economia canavieira e a ascensão dos projetos de incentivo ao turismo a partir da década de 1980, novos usos foram possibilitados a esses espaços promovidos pela construção da BR 101 Relaciona-se esses novos usos a dinâmica imobiliária turística espraiada do polo Natal como aspecto relevante na expansão urbana desses distritos.

Esse aspecto evidencia a BR 101 Norte como principal eixo de infraestrutura na qual os fluxos criadores de objetos artificiais de interesse turístico se consolidam nos objetos naturais (que são as próprias praias e o complexo de dunas e lagoas) na lógica metropolitana. Santos (2012) corrobora dizendo que esses objetos são destinados a favorecer a fluidez e o valor das atividades que deles se utilizam, sendo a BR 101 Norte ao mesmo tempo “causa, condição e resultado” (SANTOS, 2012, p.274) da atividade turística no estado.

Desse modo, a própria rodovia serviu como vetor de interligação entre o polo Natal e as regiões litorâneas além do seu limite municipal, possibilitando a instalação de empreendimentos de interesse turístico e consolidando uma atividade econômica voltada a centralidade da capital do estado. Portanto, a BR 101 consolida-se em Ceará-Mirim como divisor de duas dinâmicas espaciais, sendo a sua margem leste compreendida pela predominância dos processos relacionados ao turismo, e a sua margem oeste compreendendo a macro zona da agricultura como mostra a figura a seguir. 89

Figura 36 – Macrozoneamento Ceará-Mirim-RN

Fonte: Ceará-Mirim, 2006, editada pelo autor.

Como observado na figura anterior, a BR 101 limita duas macrozonas do município de Ceará-Mirim, a porção Leste é aquela que se insere na faixa de Urbanização Litorânea da RMNatal e a porção Oeste representada pelas áreas destinadas à Agricultura Familiar. Na macrozona de Agricultura Familiar os conflitos de terra são frequentes, o histórico latifundiário e a disponibilidade de terras férteis próximas ao vale são condicionantes na busca pela realização da reforma agrária, sendo presente em boa parte desse espaço assentamentos e ocupações do Movimento dos sem Terras (MST).

O próximo subcapítulo o eixo da BR 406 será analisado. Esse eixo representa o principal vetor de crescimento urbano da sede municipal de Ceará-Mirim e aquele 90

que nas últimas décadas apresenta maior dinamicidade. Observaremos os principais equipamentos instalados no território municipal de Ceará-mirim e seus respectivos usos, além de compreender quais fatores o evidenciam como vetor de crescimento.

4.6 O vetor de crescimento da BR 406: equipamentos e usos

Como visto no capítulo sobre o espaço urbano atual de Ceará-Mirim, as novas áreas de expansão da cidade estão localizadas no vetor de crescimento sul, às margens da BR 406. Esse eixo de integração rodoviário é a principal via de saída e entrada da cidade tanto para os municípios ao Norte do estado, quanto ao Sul dele.

No contexto metropolitano, a BR 406 representa a consolidação do arco Norte de crescimento metropolitano, principalmente a partir da inauguração do Aeroporto Internacional Aluízio Alves localizado em São Gonçalo do Amarante e que possui nesse eixo viário o seu acesso Norte como mostra a figura a seguir.

Figura 37 – Placa sinalizadora das obras de acesso ao aeroporto internacional Aluízio Alves.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

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As obras associadas ao aeroporto na BR 406 prometem dar maior mobilidade e facilitar o acesso para quem utiliza o terminal e também proporcionará uma maior integração a partir do anel viário metropolitano (via metropolitana) entre os municípios de Ceará-Mirim, Extremoz e consequentemente à Zona Norte de Natal e aos distritos litorâneos.

As áreas urbanizadas próximas ao acesso do novo aeroporto visivelmente são recentes e associadas a uma dinâmica de expansão da mancha urbana da Região Norte da cidade de Natal. Esse fato é perceptível pelo número de loteamentos e conjuntos habitacionais que estão se instalando nas margens do eixo viário, primeiramente no município de São Gonçalo do Amarante e agora, mais recentemente chegando aos limites do município de Ceará Mirim.

Um exemplo dessa dinâmica é o loteamento Rota Norte localizado no distrito de Massaranduba/Ceará-Mirim. O distrito se distancia apenas 14km da sede do município e 23 km de Natal. O discurso construído para a venda das unidades habitacionais está pautado na ideia de proximidade com o polo metropolitano e dos seus objetos artificiais como mostram as figuras a seguir.

Figura 38 – Loteamento Rota Norte. Massaranduba BR 406/Ceará-Mirim-RN

Fonte: olx.com.br, 2015 92

Figura 39 – Mapa ilustrativo de anúncio do loteamento Rota Norte

Fonte: olx.com.br, 2015.

Figura 40 – Anúncio do loteamento Rota Norte

Fonte: olx.com.br, 2015.

Chama atenção nas figuras que anuncia o loteamento Rota Norte o discurso empregado como carro-chefe “O crescimento da zona Norte passa por aqui”, claramente ligando a expansão urbana no eixo viário da BR 406 ao avanço do polo 93

Natal e de seus serviços nos demais municípios da RM. Mesmo que efetivamente ainda não se tenha objetos suficientes instalados no município de Ceará-Mirim que caracterizem uma influência de âmbito metropolitano. A especulação imobiliária como agente produtora e transformadora do espaço já se apropriou do discurso de metropolização como algo benéfico e vantajoso.

Já no trecho próximo a zona urbana de Ceará-Mirim o entendimento da dinamicidade do eixo viário passa pela análise do próprio uso e ocupação do solo da sede municipal, onde a não disponibilidade de terras advindas dos engenhos delinearam uma expansão ao sul da cidade (destacado no capítulo 2) e nos últimos anos com a instalação de alguns objetos artificiais. Esses equipamentos foram identificados e destacados na figura a seguir.

Figura 41 – Equipamentos de Abrangência Metropolitana na BR 406/Ceará-Mirim-RN

Fonte: Produzido por ALMAPAS, 2015.

Os equipamentos identificados foram classificados como de abrangência metropolitana devido ao porte de cada empreendimento e ao caráter Regional/Nacional que a natureza do serviço compreende. Desse modo, o Aterro 94

Sanitário Metropolitano, o IFRN campus Ceará-Mirim e o Complexo esportivo habitacional Barretão são atualmente os objetos artificiais que permitem observar a expansão urbana da sede de Ceará-Mirim na escala macrolocal. O Aterro Sanitário Metropolitano foi inaugurado em 2004 numa área de 90 hectares (ver figura 42) com o objetivo de armazenar os resíduos sólidos descartados nos municípios da RMNatal. O aterro é operado pela empresa Braseco S/A. e por dia, aproximadamente 1.200 toneladas de resíduos são despejadas em seis células de captação de lixo. A cidade de Natal é a principal destinadora de resíduos no aterro sanitário metropolitano.

Figura 42 – Entrada do Aterro Sanitário Metropolitano, BR 406/Ceará-Mirim-RN.

Fonte: Tribuna do Norte, 2014.

O segundo objeto identificado como de abrangência metropolitana se encontra no trecho da BR 406 dentro da área de expansão urbana de Ceará-Mirim, trata-se do IFRN campus Ceará-Mirim como mostra a figura 43.

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Figura 43 – Entrada do IFRN campus Ceará-Mirim, BR 406/Ceará-Mirim-RN.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

A unidade do IFRN campus Ceará-Mirim foi inaugurada em outubro de 2013 com a finalidade de consolidar a interiorização da rede federal de ensino profissional. Os institutos federais abrangem uma intensa rede de interação entre ensino, pesquisa e extensão desde o nível médio até o superior. Essa característica revela novamente o sentido de redes de informação, sendo essa “global e local, uma e múltipla” (SANTOS, 2012, p, 279).

A ideia de promover o desenvolvimento local da cidade por meio da oferta de cursos que contribuam com os arranjos produtivos da região é a marca dessa instituição. Em Ceará-Mirim, a oferta de cursos da unidade quebra com o histórico agrícola monocultor e concentrador de renda, de forma que os cursos oferecidos são os de Programação de Jogos Digitais e Manutenção e Suporte em Informática.

O último objeto identificado às margens da BR 406 como de abrangência metropolitana nas áreas de expansão urbana da sede de Ceará-Mirim é o Complexo Esportivo Habitacional Barretão. Esse complexo diz respeito à construção do Estádio Manoel Barreto, já chamado de “Barretão” que em breve contará com mais de 6.000 casas populares, além de campos de treinamento e pista de automobilismo. 96

A identificação desse complexo como objeto de abrangência metropolitana se dá pelo caráter diversificado dos usos para uma área com mais de 250 hectares; habitação com a construção de casas financiadas pelo programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida); esporte a partir da criação do time de futebol “Globo” e planejamento de uma pista automobilística. Esses equipamentos estão inseridos num projeto empreendedor privado que integra investimentos na construção civil e no esporte por meio de uma infraestrutura que possibilite um novo arranjo econômico na região. A seguir, a planta e imagens do loteamento “Maninho Barreto”.

Figura 44 – Planta do loteamento “Maninho Barreto”, BR 406/Ceará-Mirim-RN.

Fonte: Cedido pela Prefeitura de Ceará-Mirim.

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Figura 45 – Casas populares do complexo Barretão, BR 406/Ceará-Mirim-RN.

Fonte: foto de autoria própria, 2015.

Parte desse complexo já está em funcionamento, tanto no que se refere a venda de casas populares quanto na utilização do estádio “Barretão” (capacidade para10 mil lugares), que já recebeu a final da copa Potiguar 2014. O local é sede do Globo Futebol Clube que aparece disputando a primeira divisão do campeonato estadual e a quarta divisão do campeonato brasileiro de futebol.

Figura 46 – Vista do campo de treinamento e do estádio “Barretão” ao fundo, BR 406/Ceará- Mirim-RN.

Fonte: foto de autoria própria, 2015. 98

Esse complexo potencializa a região de Ceará-Mirim a ser um distrito esportivo de visibilidade metropolitana, haja vista que este receberá jogos de equipes oriundas de diversos lugares do estado e do país, tornando-se esse complexo um local de atração de fluxos tanto de pessoas quanto de investimentos futuros.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intenso processo de urbanização empreendido no Brasil a partir da década de 1960 resultou numa organização urbana espacial complexa e articulada à expansão capitalista. Desde então, as cidades seja centro local ou metrópole exercem influência nas ações que definem investimentos públicos e privados de diferentes agentes socioeconômicos. Foi então que as cidades se estabeleceram como um espaço onde o uso e função dos objetos ali instalados permitem caracterizar o grau de influência que esse centro urbano possui em termos locais e regionais, definidas numa hierarquia urbana.

No caso de Ceará-Mirim, seu crescimento urbano sempre esteve relacionado ao zoneamento do solo atrelado às terras destinadas ao cultivo da cana-de-açúcar, atividade pela qual representou para a região do vale do Ceará-Mirim a consolidação de uma estrutura fundiária rígida, ruralista e com impactos sociais que permanecem evidenciados nos índices de desenvolvimento humano do município.

A agroindústria canavieira não permitiu que se desenvolvessem outros arranjos econômicos capazes de dinamizar e diversificar a economia do município. Diante do declínio dessa atividade na última década, as terras periféricas ao zoneamento urbano se evidenciam com uma tendência expansionista, articulada por fatores que permeiam a estagnação econômica local e o processo de metropolização da região norte de Natal.

Essas novas áreas de expansão logo foram adquiridas por particulares para investimentos imobiliários e de atividades ligadas ao comércio, o que desencadeou a valorização e uso diferente do solo urbano periférico. Neste, a importância do espaço construído representa uma força produtiva impulsionada por equipamentos urbanos instalados (Vias de transporte, escolas, prédios comerciais) que definem o vetor de crescimento sul da cidade às margens da BR 406, sentido contrário ao vale do rio Ceará-Mirim.

As tendências expansionistas no principal vetor de crescimento identificado às margens da BR 406 requerem atenção na atuação do poder público, principalmente nos investimentos em infraestrutura básica juntamente a instalação de 100

equipamentos que possibilitem uma maior ampliação de serviços. Todavia, nessas mesmas áreas, a instalação de equipamentos urbanos privados e públicos aponta para uma possível inserção da cidade de Ceará-Mirim na dinâmica metropolitana de Natal, notadamente no seu vetor norte.

Diante disso, algumas considerações são apontadas com este estudo:

I. Ceará-Mirim era classificada como Centro de Zona (CLEMENTINO, 1995) tendo por base econômica a indústria sucroalcooleira, no entanto, com a crise dessa economia nos últimos anos o IBGE (2007) já identifica Ceará-Mirim como Centro local.

II. Hoje, o PIB municipal é composto predominantemente por serviços.

III. Sua proximidade física com Natal (30 km) faz com que os fluxos pendulares com a capital tenham sido acionados já na década de 1970, principalmente após o investimento em infraestrutura rodoviária.

IV. A expansão do vetor norte de Natal via BR 406 tem influenciado diretamente a expansão urbana de Ceará-Mirim, que na ausência de arranjos produtivos locais que justifiquem dinâmica econômica própria (como no passado açucareiro) tornou cada vez mais a sede municipal menos resiliente ao transbordamento de Natal. Esse fato é intensificado pelo fortalecimento do eixo norte pelo turismo e pela dinâmica imobiliária ao longo da BR 406 principalmente após a instalação do Aeroporto Internacional Aluízio Alves em São Gonçalo do Amarante.

Essas características validam a importância do eixo viário da BR 406 como principal meio de fluidez para os fluxos da RMNatal, mas também aparece como um dos fatores de mudança na posição de Ceará-Mirim como centro urbano, fazendo com que os serviços de nível macrolocal sejam satisfeitos facilmente no polo Natal, enquanto que na cidade os serviços sejam direcionados à nível local.

Isso permite acreditar que mesmo possuindo um nível de integração baixa ao polo metropolitano, Ceará-Mirim por meio do eixo de viário da BR 406 já apresenta objetos instalados que juntamente ao discurso das propagandas imobiliárias 101

denotam uma influência do processo de metropolização de Natal, na forma e uso de suas áreas de expansão urbana.

Diante dos estudos e análises neste trabalho, considera-se importante uma maior atenção dos estudos urbanos aos atuais movimentos de expansão das pequenas e médias cidades, principalmente aquelas (na qual Ceará-Mirim se enquadra) em que o processo de metropolização da região polo atinge de forma periférica os demais centros, ocasionando mudanças na estrutura produtiva e consequentemente no planejamento urbano.

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