Arquitetura Nas Fazendas Do Sul De Minas
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Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro de Estado da Cultura João Luiz Silva Ferreira (Juca Ferreira) Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Coordenador Nacional do Programa Monumenta Luiz Fernando de Almeida Coordenador Nacional Adjunto do Programa Monumenta Robson Antônio de Almeida Coordenação editorial Sylvia Maria Braga Edição Caroline Soudant Copidesque Ana Lúcia Lucena Revisão e preparação Denise Costa Felipe / Maíra Mendes Galvão / Gilka Lemos Projeto Gráfico Edson Fogaça (direitos cedidos pela Unesco) Capa e diagramacão Cristiane Dias Fotos e desenhos Cícero Ferraz Cruz Capa Antiga sede da fazenda Santa Cruz, município de Carmo de Minas (acervo do autor) Planta e fachada da fazenda do Mato, município de Três Pontas (desenhos do autor) www.iphan.gov.br | www.monumenta.gov.br | www.cultura.gov.br Fazendas do sul de Minas Gerais Arquitetura rural nos séculos XVIII e XIX MONUMENTA | IPHAN C957f Cruz, Cícero Ferraz. Fazendas do Sul de Minas / Cícero Ferraz Cruz. – Brasília, DF: Iphan / Programa Monumenta, 2010. 354 p.: il. color.; 23 cm. ISBN: 978-85-7334-140-9 1. Fazendas. 2. Minas Gerais - História. I. Título. CDD 981.51 © Programa Monumenta/Iphan/Minc - junho/2010. 5 Sumário Apresentação 6 Prefácio 7 Introdução 1 1 Capítulo 1. Sertão e território 1 2 Capítulo 2. Arquitetura das fazendas: um panorama 3 8 Capítulo 3. Sítio, implantação e conjunto arquitetônico 5 2 Capítulo 4. Técnica construtiva 6 8 Capítulo 5. Programa de necessidades e esquemas de plantas 9 4 Capítulo 6. Intenção plástica e preceitos estéticos 1 0 8 Considerações finais 1 2 2 Anexo 1 - Inventário das fazendas 1 2 4 Grupo de Cruzília 1 3 3 Grupo de Carrancas 1 7 7 Grupo de Varginha 1 9 3 Grupo de Carmo de Minas 2 4 3 Grupo de Itajubá 2 6 7 Grupo de São Gonçalo do Sapucaí 3 0 5 Grupo de Machado 3 1 2 Grupo de Guaxupé 3 1 9 Grupo de Poços de Caldas 3 1 9 Anexo 2 - Fazendas de outras regiões de Minas 3 2 0 Notas 3 5 0 Bibliografia 3 5 3 6 Apresentação Fazendas do sul de Minas Gerais Acaso são estes os sítios formosos (...)? São estes; mas eu o mesmo não sou. Tomás Antônio Gonzaga Com o lançamento deste livro, o Programa Monumenta/Iphan vem enriquecer sua Coleção Arquitetura, uma entre as oito linhas editoriais em que se distribuem os 47 títulos que já publicou desde 2005. Essa série editorial propõe obras voltadas especialmente para análise, observação e inventário dos mais importantes conjuntos culturais brasileiros. O presente volume contempla o estudo das tipologias das sedes de fazendas encontradas na região sul de Minas Gerais, estado cujo acervo arquitetônico rico e diversificado era sempre eclipsado pela onipresença da arquitetura colonial do século XVIII. Nesse sentido, o professor Cícero Ferraz Cruz analisa a ocupação de nosso território desde a colonização, os modos de fixação do homem na terra e a implantação e evolução das diversas tipologias regionais. Para ilustrar o estudo e permitir a observação dos conjuntos arquitetônicos, o autor empreendeu o esforço de reunir um inventário, dividido por microrregiões, reunindo plantas em escala, centenas de fotos e a descrição minuciosa de mais de setenta sedes de fazendas sul-mineiras. O autor também cuidou de juntar uma coleção de tipologias usadas em fazendas de outros lugares, permitindo oportuna comparação. É, portanto, com prazer que publicamos mais este trabalho inédito, um instrumento que consolida e incentiva a preservação do nosso patrimônio cultural. Luiz Fernando de Almeida Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Coordenador Nacional do programa Monumenta Junho 2010 7 Prefácio Fazendas do sul de Minas Gerais O Brasil não passa de um arquipélago de ilhas culturais onde, ao longo do tempo, brancos, índios e africanos encontraram-se num até certo ponto aleatório processo de miscigenação, pois a mestiçagem resultante do contato entre colonos dominantes e dominados nunca foi regida por normas ou determinações imutáveis. Esse encontro entre etnias distintas naquele panorama insular foi um fato social dependente de algumas variáveis inseridas numa cronologia sem datas precisas na divisão do tempo; variáveis como as diferentes densidades demográficas envolvendo singulares proporções entre brancos e os demais comparsas, como o isolamento de territórios de difícil acesso ou como a economia agrária monocultora ou a extrativista. Enfim, pelo Brasil afora, em suas subdivisões ilhadas, encontramos ontem e ainda hoje as áreas da bacia Amazônica e do Grão-Pará com nítido viés indígena na cultura popular. Enquanto caminhamos para o leste até chegarmos ao Nordeste canavieiro, esse viés aos poucos esmaece para dar lugar ao predomínio do negro escravo na configuração do dia a dia do povo em geral. Da Bahia para baixo, em direção ao sul, deparamo-nos com a área territorial à volta do Rio de Janeiro, a segunda capital colonial, posição assumida em razão da proximidade das minas auríferas descobertas no século XVIII. Sua cultura popular foi modestamente marcada pela presença negra sediada nos canaviais da baixada sedimentar onde corre o rio Paraíba do Sul. Maior contingente negro, porém, ali surge com a chegada do envolvente café, época em que nossa ilha carioca, já com os cafezais de serra acima, é qualificada como a Capital do Império brasileiro. Navegando para o sul, deparamos com Parati, Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Santos. Essas localidades de pescadores, em nossa linguagem metafórica, no tempo de Colônia, nunca passaram de ilhotas desimportantes. Desde o sul de Santos, nos primórdios de nossa história pátria, encontramos um imenso litoral abandonado até o rio da Prata. Nele, a partir dos finais do século XVIII, observam-se progressos em alguns pontos de fixação de pescadores e abastecimento de víveres de barcos com destino às terras de Castela e às minas de Potosi. Embora portuguesa, a marinha é frequentadíssima por gente com destino a Buenos Aires ou vinda de lá para desafiar a posse lusitana. Daí, a causa maior do planejado povoamento com migrantes açorianos, que prepararam o terreno para a imigração alemã da segunda metade do século XIX. No sul, praticamente ilhas de população branca à beira-mar. 8 Houve, no entanto, uma ilha mameluca plasmada na solidão de serra acima: São Paulo. Nascida de um colégio jesuítico à beira do rio Tamanduateí, apropriou-se das terras da bacia do alto Tietê e do alto e médio Paraíba. Com o açúcar produzido com regularidade visando à exportação, a partir do último quartel do século XVIII, tem incremento a população escrava, mas a cultura caipira já estava perfeitamente definida, inclusive, com o dialeto próprio, tão bem estudado por Amadeu Amaral1. Daí a constatação do arguto contador de estórias, Cornélio Pires, a respeito do surgimento em São Paulo do caipira negro2. Nem a escravatura imensa trazida pelo café a partir da segunda metade do século XIX conseguiu romper com as tradições caboclas da vida cotidiana dos paulistas. A fenomenal imigração branca provocada pela rica produção cafeeira é que deu início à “europeização” dos paulistas. Na passagem do século, em 1900, mais de 50% da população eram imigrantes – só os italianos passavam de 40%. A ilha mameluca de Piratininga entrou cosmopolizada no século XX. Aliás, a partir dessa época, todo o arquipélago verde-amarelo, de um jeito ou outro, vê-se em contato com a Europa e todos procuram esquecer o mundo antigo, ainda presente entre as paredes das velhas casas, para encarar a modernidade. A última ilha a surgir na história de nossa cultura material foi Minas Gerais, ilha sui generis, antes de tudo, porque apareceu de repente. De uma hora para outra, milhares e milhares de portugueses ali arribaram ao mesmo tempo em que muitos outros milhares de negros escravos chegaram da costa africana, todos espantando para as suas plagas de origem os mamelucos descobridores de ouro dos aluviões. E surgiu uma nova sociedade compartimentada em brancos, mulatos e negros, em decorrência sobretudo de decisões governamentais e de breves papais e posturas religiosas que passaram a reger o exercício da fé no “continente” do ouro e do diamante. Fator primordial: a proibição das ordens religiosas no vasto território policiado com mão de ferro. Ali, somente padres seculares. Resultado: o surgimento das irmandades resguardando os interesses e a religiosidade dos três matizes básicos do novo grupo social segregado entre as dobras das montanhas vincadas por córregos, ribeirões e rios, não só piscosos, mas atulhados de pepitas e areia de ouro puro. Brancos, pardos e negros frente a frente; porém, os primeiros tinham a cultura dominante, que logo prevaleceu sobre a africana. Aquilo que ocorrera no litoral, o lento convívio entre todos se definindo à medida que a produção açucareira crescia, não ocorreu em Minas. No Nordeste, a cultura preponderante dos brancos não foi capaz de impedir que usos e costumes da África entrassem furtivamente dentro das casas senhoriais. Sinhozinhos e sinhazinhas, desde crianças, impregnavam-se através de suas mucamas e pajens de tolerâncias às africanidades, o que jamais aconteceu em Minas. O negro mineiro veio a se assemelhar bastante com o negro caipira paulista. O português recém-chegado nas terras incultas de Minas, mal devassadas pelos paulistas e praticamente sem construções de algum significado, logo tratou de implantar nos arraiais em formação toda a cultura material de sua terra, ou melhor, de sua sociedade, ou melhor ainda, de suas “ilhas 9 culturais”, que ele também as teve. Não nos esqueçamos da divisão do geógrafo Orlando