Esta publicação recebeu o patrocínio da Prefeitura Municipal de Brusque através da Fundação Cultural de Brusque com recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura Rosemari Glatz

2018 Brusque - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

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Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio ou forma, sem a prévia autorização da autora. Citações

com a Dezembrodevida identificação de 2018, Editora da fonte da são Unifebe permitidas.

Apresentação: Ricardo José Engel Capa: Egon Henrique Kohler Formonte Projeto Gráfico e Arte Final: Celso Deucher Foto da autora: Bruna Burigo Acervo: Sociedade Amigos de Brusque e de Apoio ao Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim– SAB/Casa de Brusque Fotografias: Daiane Benso Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Rosemari Glatz Gravuras: Francine Cavalheiro Carbonera Poema: Sarah Beatriz Frainer Prefácio: Edineia Pereira da Silva Betta Revisão: Francisco Daniel Imhof Tradução para o alemão: Emília Rosenbrock

Impresso no Brasil / Printed in Primeira edição - dezembro de 2018 Tiragem: 1.000 exemplares.

Glatz, Rosemari Brusque – os 60 e o 160 : elementos da nossa história / Rosemari Glatz. – Brusque : Ed. UNIFEBE, 2018. 280 p. : il. color. ; 21 cm.

ISBN 978-85-98713-18-2

1. Brusque - História. 2. Santa Catarina – História. 3. Brasil – História. I. Título.

CDD 981.64

Ficha catalográfica elaborada por Bibliotecária - CRB 14/727

Esta publicação recebeu o patrocínio da Prefeitura Municipal de Brusque através da Fundação Cultural de Brusque com recursos do Fundo Municipal de Apoio à Cultura Para minha Família, Pilares da minha existência Com amor e admiração.

E também para você...

Quem passou pela vida em branca nuvem

Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: E em plácido repouso adormeceu, Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu, Foi espectro de homem, e não homem, Só passou pela vida, não viveu.

Autor: Francisco Otaviano Entrada principal da casa do Cônsul Carlos Renaux. Foto: Rosemari Glatz Prefácio Indo e vindo ao encontro...

Na obra é possível verificar uma reunião de escritores, historiadores, músicos e poetas que tiveram Brusque como tema de seus escritos, permitindo um grande encontro.

Essa foi a sensação que tive anos da história de Brusque. nesta parte, com dados e ex- após a leitura da obra. Imagens, ilustrações e fatos plicações minuciosas sobre Alguém que passou muito inéditos inserem o leitor em economia, instituições, festas tempo indo ao encontro de outros tempos, permitindo documentos, histórias e me- uma viagem pela Brusque de textos em alemão. Pois é justo mórias e que conseguiu es- outrora. Que aliás era bem que,e tradições. quem veio Ah! Ede com diferentes breves trategicamente compilar pre- lugares, e até de além-mar, ciosidades em curtos textos. imigrantes, os pioneiros des- envie notícias desta terra hos- maior! A cidade antes dos dizer, quase impossível para iniciais, as relações políticas, muitosExercício historiadores, difícil! Arriscaria e que a bravadores, as dificuldades umapitaleira Brusque que hoje com é tãomúltiplas nossa! autora fez com muito cuidado socioculturais são evidencia- identidadesO sentimento e em que constante fica é de e maestria. dosgeográficas, pela autora. econômicas Uma grande e construção, que se orgulha - inserção pela Brusque dos da sua organização atual, mas car uma reunião de escrito- primeiros tempos. que conserva sobretudo suas res,Na historiadores, obra é possível músicos verifi e A segunda parte preen- origens. poetas que tiveram Brusque che uma grande lacuna, que Após a leitura, certamente como tema de seus escritos, as praças, as ruas, os sobre- permitindo um grande en- obra que nos apresentasse a nomes das pessoas, a dinâmi- contro. Histórias, sentimen- cidadehá muito hoje, esperávamos! já que a chegada Uma ca da cidade ganhará outras tos, memórias e, principal- da tecnologia somada à cor- nuances. mente, valores identitários... reria do dia a dia não mais Outra Brusque vai (re) Em cada capítulo senti tudo nos permite conhecer e con- templá-la como de fato ela Na primeira parte, cuida- merece. Como é a Brusque nascer pelos seus olhos! dosamenteisso vindo ao fundamentada meu encontro! em atual? Em que contexto foi Aproveite e boa leitura! documentos, é possível aden- sendo organizada? Perguntas Edinéia Pereira trar nos primeiros sessenta como esta são respondidas da Silva Betta Foto: Rosemari Glatz Sumário Parte 1: Os 60 O movimento colonizador para o Sul do Brasil...... 17 Quem já estava ocupando as terras...... 19 A chegada dos primeiros imigrantes...... 23 No Porto de Itajaí: o Ancoradouro das Cabeçudas...... 25 O deslocamento até Brusque...... 27 O barracão dos imigrantes...... 29 A moradia e a alimentação nos primeiros tempos...... 31 A relação da Colônia Itajahy-Brusque com o rio...... 33 Religião nos primeiros anos da Colônia...... 43 Escolas nos primeiros anos da Colônia...... 57 A Stadtplatz e o polo gerador do plano urbano...... 63 Xokleng, os indígenas em Brusque...... 65 A imigração alemã...... 75 A imigração polonesa...... 85 A imigração italiana...... 95 Participação de Brusque na Guerra do Paraguai...... 107 A Colônia Príncipe Dom Pedro...... 111 A emancipação da Colônia...... 115 A evolução territorial e os desmembramentos...... 119 A evolução econômica da Colônia...... 131 A indústria têxtil em Brusque...... 143 A Guarda Nacional e os Coronéis de Brusque...... 153 Francisco Carlos de Araújo Brusque...... 155 Barão Maximilian von Schneeburg...... 157 A Família de Pedro José Werner...... 161 João Bauer e a primeira usina de energia elétrica na região...... 163 Coronel Guilherme Krieger...... 167 A Família Renaux e a indústria têxtil...... 173 A Família von Buettner e a indústria têxtil em Brusque...... 181 A Família Schlösser e a indústria têxtil em Brusque...... 187 Folclore e tradições...... 191 Palacete Renaux...... 197

Parte 2: O 160 Pórtico de Entrada na Rodovia Antônio Heil...... 202 Pórtico de Entrada na Rodovia Ivo Silveira...... 203 Ponte Estaiada Irineu Bornhausen...... 204 Fórum Dr. Pedro Alexandrino Pereira de Mello...... 205 Câmara de Vereadores de Brusque...... 206 Prefeitura Municipal de Brusque...... 207 Observatório Astronômico de Brusque...... 208 RPPN Chácara Edith...... 209 Fundação Ecológica e Zoobotânica de Brusque...... 210 Parque Leopoldo Moritz – Caixa D’água...... 211 Terminal Rodoviário Alvim Battistotti...... 212 Terminal Rodoviário Urbano Balthazar Bohn...... 213 Arena Multiuso Antônio Neco Heil...... 214 Pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof...... 215

Instituto Aldo Krieger – IAK...... 218 ComplexoMuseu Histórico de Azambuja...... 219 e Geográfico do Vale do Itajaí-Mirim/Casa de Brusque...... 216 Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio...... 221 Museu Arquidiocesano Dom Joaquim...... 222 Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux...... 223 Gruta de Nossa Senhora de Azambuja...... 224 Seminário de Azambuja...... 225 Morro do Rosário Azambuja...... 226 Villa Quisisana...... 227 Igreja Matriz São Luis Gonzaga...... 228 Igreja Evangélica Luterana Paróquia Bom Pastor...... 230 Cemitério da Comunidade Evangélica Luterana...... 232 Antiga Maternidade Evangélica...... 233 Tiro de Guerra de Brusque...... 234 Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque...... 235 Casarão Dom Joaquim...... 236 Clube Esportivo Paysandú...... 237 Complexo Histórico Indústrias Renaux...... 238 Villa Ida e seus mistérios...... 240 Villa Renaux: Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux...... 242 Parque Internacional das Esculturas em Mármore Ilse Teske...... 244 Praça do Sesquicentenário...... 246 Praça Vicente Só...... 247 Praça da Cidadania...... 248 Praça Barão de Schneeburg...... 249 Praça Gilberto Colzani...... 250 Praça Imigrantes de Karlsdorf...... 251 Praça dos Estudantes...... 252 Festa Nacional do Marreco...... 253 Festa Nacional do Jeep...... 254 Festa Nacional da Cuca: O doce sabor da tradição alemã...... 255 Formação Administrativa de Brusque...... 256

Distâncias e principais vias de acesso...... 259 Dados demográficos...... 258econômicos...... 260 O Brasão e a Bandeira de Brusque...... 265 Hino do Centenário de Brusque...... 267 Hino de Santa Catarina...... 268 Hino Nacional Brasileiro...... 270 Agradecimentos...... 274 Sobre a obra e a autora...... 277 Os 60 e o 160...... 278 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

13 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Mapa de Brusque retratando os empreendimentos Renaux. Autor: Eugen Rombach. Acervo: SAB

14 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

15 Propaganda para atrair imigrantes alemães para o Sul do Brasil Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O movimento colonizador para o Sul do Brasil

A ideia de colonizar o ter- a venda de terras governa- se grupo de imigrantes até o ritório catarinense se formou mentais a preços moderados na Administração da Capi- século XIX, a ocupação do ter- tania de Santa Catarina, em de incentivar imigração. O finalritório da catarinense primeira metade com imi do- 1793, quando o governador governopara os colonizadorestratou de direcionar a fim grantes foi pouco expressiva. João Alberto de Miranda Ri- os imigrantes para o Sul do A situação mudou a partir de beiro propôs a instalação de Brasil, onde havia extenso 1850 e o acréscimo na vinda duas povoações nas margens de europeus para o Brasil, de do Caminho das Tropas de de escravos era pequeno e o modo especial para o Sul do São José a Lages. A mesma climavazio demográfico,era mais favorável o número aos país, bem como para outros ideia foi mantida e defendi- europeus. O modelo adota- países livres da América, ex- da em proposições escritas, do foi a fundação de colônias pressava os desajustamentos mais tarde, por Paulo José em regiões não ocupadas por sociais na Europa do século Miguel de Brito e por João grandes proprietários, onde XIX. Antônio Rodrigues de Carva- agricultores livres foram ins- lho. Embora essas propostas talados em pequenas pro- de povoação representassem priedades. Impulsos para uma área de apoio socioeco- Foi neste contexto que a emigração nômico para a região e uma da Europa para base para qualquer operação imigrantes para o nosso esta- militar, só vão ter seguimento do.ocorreu O ingresso o grande de imigrantes afluxo de o Brasil mais tarde (PIAZZA, 1994). europeus, não portugueses, Após a independência do em Santa Catarina se dá com As guerras, as lutas políti- Brasil, em 1822, o país passou a chegada das primeiras levas cas, o excessivo crescimento a olhar a questão da imigração de imigrantes alemães que populacional, os altos impos- sob uma nova perspectiva e a tos e as terras concentradas ideia da imigração europeia 1828 em Desterro (atual Flo- nas mãos de poucos deixa- foi se fortalecendo. Durante rianópolis],aconteceu no com final a chegada do ano de vam os camponeses em situ- algum tempo, o foco foi recru- um grupo de imigrantes que, - tar soldados e marinheiros em 1829, foram assentados ropa, o que veio a favorecer ação econômica difícil na Eu mercenários com o objetivo na Colônia São Pedro de Al- o desenvolvimento de novas de formar o exército e a ma- cântara, a primeira colônia colônias no estado de Santa rinha brasileiros. A partir de alemã do estado de Santa Ca- Catarina. Somando-se aos fa- 1830, a política imigratória tarina. tores sociais, havia também a brasileira passou a promover A partir da chegada des- intensa atuação dos agentes 17 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz de emigração e companhias de navegação que publicavam Quando o processo de ocupação das terras por imigran- anúncios no jornal. O pesqui- tes europeus teve início, a Província de Santa Catarina se sador Lothar Wieser (2014) resumia à cidade de Desterro e três vilas: Laguna, Lages e informa que agentes regio- São Francisco e predominava a população de origem lu- nais de grandes companhias sitana. A vinda dos primeiros alemães trouxe uma contri- de navegação tinham formado buição de sangue novo para a província barriga-verde. uma grande rede de subagen- tes, que captavam emigrantes Era reiterada a informação vários países europeus ao e os destinavam para a cha- de que era possível adquirir longo da sua história e que se mada “América”. Recrutavam- terras a preços módicos e que se emigrantes com brochuras, fome ninguém passava. Gra- ser colonizada por imigran- fixaram por aqui. Começou a notícias e cartas para que se ças à fertilidade espantosa da tes alemães, aos quais se so- estabelecessem em partes terra e ao clima favorável, a desconhecidas do mundo, nas fartura e a prosperidade eram recebeu um grande grupo de maram poloneses e, por fim, quais supostamente um ver- uma realidade para quem não italianos, os quais foram sen- dadeiro Eldorado estava à sua tivesse preguiça de trabalhar. do instalados em regiões pró- espera. A emigração tinha se Mesmo quem tivesse dinhei- ximas, de acordo com a sua tornado um negócio lucrativo ro era atraído para as novas região de origem. - colônias, pois o investimento sionais, para intermediários poderia trazer bom retorno epara agentes, muitas correioscategorias e profistrens, hoteleiros e fornecedores, de tempo. financeiro em curto espaço armadores e funcionários de Como resultado de uma REFERÊNCIAS navios. soma de fatores, a imigração Além da situação de misé- de europeus em Santa Cata- PIAZZA, Walter Fernando. ria decorrente do empobre- rina se torna uma realidade, A Colonização de Santa Cata- cimento massivo e da intensa principalmente na segun- rina. 3ª edição. Florianópolis: atuação dos agentes de emi- da metade do século XIX. O Editora Lunardelli, 1994. gração, também era relati- maior volume imigratório WIESER, Lothar. “Das hie- vamente comum as pessoas de alemães em solo “barri- sige Land gleicht einem Para- receberem cartas de familia- ga-verde” aconteceu entre res ou amigos que já haviam os anos de 1840 e 1870; dos dies”: Die Auswanderung von emigrado para as Américas, poloneses começou em 1869 Baden nach Brasilien im 19. funcionando como incentivo Jahrhundert (“Esta terra é um e provocando a emigração em de 1890, e os imigrantes ita- paraíso”: A emigração baden- e se intensificou nos anos cadeia. Nestas cartas, além de lianos chegaram em grande se ao Brasil no século XIX). dar notícias, se retratava um quantidade entre os anos de Volume 1. Badisch-Südbrasi- pouco da situação dos emi- 1875 e 1880. Brusque é um lianische Gesellschft (BSG): - exemplo clássico de colônia Karlsdorf-Neuthard: Verlag cilidades nas novas colônias. que recebeu imigrantes de Regionalkultur, 2014. grados e das dificuldades e fa 18 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Quem já estava ocupando as terras Quando falamos de Brus- - planos de colonização. Após que, 1860 é referenciado ram-se vários moradores ter trazido para as bandas de como o ano de início da colo- quepúblicas. se dedicaram Nesta região à pequena fixa Itajaí muitas famílias de agri- nização, pois, em 4 de agosto agricultura e ao corte de ár- cultores de outros pontos da daquele ano chegou à Colônia vores para a serração. O sis- Província e, até mesmo colo- Itajahy-Brusque o primeiro tema sesmarial perdurou no nos alemães - dos chegados grupo de imigrantes alemães Brasil até 1822 e depois da em 1828 na Colônia São Pe- destinados à colonização do independência, Agostinho dro de Alcântara -, conseguiu território, conduzidos pelo Alves Ramos, um comercian- que fossem criadas, pela Lei Barão Maximilian von Sch- te antes estabelecido em São nº 11 de 1835, duas colônias: neeburg. No entanto, quando Pedro do e uma em Belchior, e outra às os primeiros imigrantes che- posteriormente em Desterro margens do rio Itajaí-Mirim, garam o território já estava (atual Florianópolis), resol- às cabeceiras do Ribeirão ocupado, e dentre os que aqui Conceição. estavam vamos encontrar o nas imediações do rio Itaja- A tentativa de 1835 não pioneiro Peter Joseph Werner, í-Açu,veu transferir-se uma casa de e negócios edificou, logrou êxito como um núcleo seu sogro e cunhados. Tam- que acabou por inaugurar colonial, e somente anos mais bém Franz Sallenthien, Paul uma era decisiva para o de- tarde foi que o Presidente da Kellner e Reinhold Gaertner senvolvimento da coloniza- eram proprietários de terras, ção de toda a Bacia do Itajaí. O local que acolheu bem como o mais conhecido Ele veio acompanhado da o primeiro grupo de pioneiro, o lendário Vicente esposa e de um sacerdote e Só. Mas, para compreender logo foram construídas uma essa história é preciso “voltar capelinha e a casa de negó- em frente da Sociedade imigrantes alemães fica um pouco no tempo” e, ao fa- cios. Ao seu entorno foi se Recreativa Bandeirante, - formando a freguesia “S. S. e em 2018 é conhecido ção de Brusque, na verdade, Sacramento do Itajahy”, que como Praça Vicente Só. sezê-lo, mistura verifica-se com a queprópria a funda fun- mais tarde viria a se tornar a A praça foi reinaugurada dação de Itajaí. Vila de Itajahy. Homem bas- em 4 de abril de 2011 De acordo com José Ferrei- tante instruído, prestativo e e recebeu obras que ra da Silva (1972), em 1819 industrioso, Alves Ramos tor- retratam o encontro de já havia nas margens do rio nou-se, em pouco tempo, che- imigrantes alemães com Itajaí-Mirim duas sesmarias fe político e conselheiro dos os indígenas e que foram onde o governo da Capita- moradores. Eleito deputado esculpidas em 2002 pelo nia mantinha um estabeleci- provincial em várias legisla- artista David Rodrigues, turas, valeu-se do prestígio do de Curitiba (PR). madeira para as construções mandato em proveito de seus mento oficial que preparava 19 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Pedro Werner e a esposa Catarina Palm, com os filhos Maria, Nicolau e Pedro. Acervo: SAB

Província de Santa Catarina Itajahy o primeiro grupo de no lugar denominado Vicen- determinou nova colonização imigrantes alemães dirigidos te Só. Ali encontraram uma para a região. Mas, entre 1835 pelo Barão Maximiliano von casa, um engenho de serra e e 1860, alguns colonizadores Schneeburg, acompanhados um de farinha de mandioca adquiriram terras às margens de Francisco Carlos de Araújo pertencentes a Pedro Werner, do Itajaí-Mirim e ali se insta- Brusque, Presidente da Pro- e foi ele que alojou o grupo de laram, de forma que já exis- víncia de Santa Catarina entre imigrantes em sua casa e en- tiam na região três engenhos 21/10/1859 e 17/04/1861, genhos, pois nada estava pre- de serra, pertencendo um ao e em sua homenagem a cida- parado para receber os colo- industrial Werner; outro, ao de recebeu seu nome. Inicial- nizadores. comerciante Sallenthien, e o mente, se instalaram no pon- Peter Joseph Werner, ou terceiro era de Kellner. Assim to demarcado pelo Delegado Pedro José Werner (em portu- como os colonos recém-che- de Terras Públicas da Provín- guês), pertencia a uma famí- gados, todos eram alemães. cia de Santa Catarina, Major lia que fez parte do grupo de Em 1860 chegou à Colônia João de Souza Melo e Alvim, imigrantes alemães que em 20 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

1828 aportou em Desterro Franz Sallenthien, ou Fran- e, a partir de 1829, estabele- cisco Sallenthien (em portu- ceu a primeira colmeia alemã guês), era vizinho de Pedro em Santa Catarina. Situada José Werner e comerciante na no Vale do Maruim, região de natureza exuberante próximo rios Itajaí-Mirim e Itajaí-Açú a Florianópolis, São Pedro de (Itajaí).Barra do Segundo Rio, confluência José Ferreira dos Alcântara se mantém pacata da Silva (1950), Sallenthien como nos primeiros tempos. era de Brunswick, terra natal Ainda se fala alemão em mui- do Dr. Blumenau e tinha 24 tas casas, preenchidas com anos quando chegou a Blu- móveis herdados dos ante- menau. Poucos anos após a passados. Da colônia funda- sua chegada, mudou-se para da em 1º de março de 1829, o local Barra do Rio, próxi- muitos imigrantes saíram mo a Itajaí, onde estabeleceu Esposa e filhas de Franz Sallenthien para implantar núcleos em um pequeno negócio. Ali o Dr. Acervo: SAB outras regiões catarinenses. Blumenau comprara terrenos Espalharam pelo estado o es- de Agostinho Alves Ramos os seus negócios comerciais. pírito empreendedor e a per- Sallentien auxiliava os patrí- sistência exigidos aos que se para hospedagem dos imi- cios recém-chegados, acon- propõem a desbravar um ter- grantese fizera que, construir desembarcados barracões selhando-os e instruindo-os. ritório desconhecido. Dentre dos veleiros transatlânticos, Construiu, depois, um enge- eles, vamos encontrar Wer- aguardavam transporte para nho de serrar madeiras, rio ner, que, na década de 1850, a sua Colônia, rio acima. Ao Itajaí-Mirim acima, nos terre- transmigrou para a região de mesmo tempo, eles já faziam nos que mais tarde passaram a integrar a Colônia Itajahy já em 15 de fevereiro de 1855, -Brusque. Foi um dos primei- começouItajaí onde a fixou movimentar residência em e, ros moradores e colonizado- Brusque os seus engenhos. res de Brusque. Membros da família da espo- Ayres Gevaerd (1980) es- sa de Peter Joseph Werner, a creveu que Sallenthien tinha família Palm, também haviam recursos materiais e era dota- se instalado na região de do de cultura geral. Foi dono Brusque. de engenho e grande proprie- Os outros três alemães que tário de terras no local da fu- já possuíam terras na Colô- tura sede de Brusque, no lu- nia Itajahy-Brusque em 1860, gar conhecido como “Vicente Sallenthien, Kellner e Gaert- Só”. A área era de 750 braças ner, compunham o grupo dos de frente para o rio Itajaí-Mi- 17 imigrantes pioneiros que, rim, e 3.000 braças de fundo, a 2 de setembro de 1850, fun- e foram vendidas por Sallen- daram a Colônia Blumenau. thien para Pedro José Werner. Franz Sallenthien. Acervo: SAB 21 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Era amigo de Paul Kellner. do Dr. Hermann Blumenau, tarde foi com a família mo- Paul Kellner, ou Paulo Kell- era proprietário de imóvel na rar em Coloninha, Itajaí, onde ner (em português), também região de Brusque. Conforme terminou os seus dias. Ayres foi um dos precursores do Silva (1950), assim como Sal- Gevaerd (1980) complemen- vale do Itajaí-Mirim. Era pro- lenthien e Kellner, Gaertner ta as crônicas a respeito de prietário de engenho de ser- igualmente era de Brunswi- Vicente Só informando que, rar madeiras instalado em ck, terra natal de seu tio, e como ninguém pode viver em Pedras Grandes quando o pri- tinha 26 anos quando che- sonho eterno só contemplan- meiro grupo organizado de gou. Era Cônsul do Ducado de do as belezas naturais, pos- colonizadores alemães che- Brunswick, um ducado torna- sivelmente também ele teria gou à Colônia Itajahy-Brus- do independente em 1815 no sido um garimpeiro de ouro que. Congresso de Viena, cuja ca- na região da Colônia Itajahy De acordo com José Fer- pital era a cidade de Brunswi- -Brusque. reira da Silva (1950) Kellner ck. Coube a Gaertner a tarefa também era de Brunswick, so- de guiar os primeiros colo- brinho do Dr. Hermann Bruno nos, desde a Alemanha até a REFERÊNCIAS Otto Blumenau, fundador da barra da Velha, em Blumenau. cidade de Blumenau, e tinha Por vários anos se manteve GEVAERD, Ayres. Notícias 23 anos quando chegou em ao lado do tio, auxiliando-o de Vicente Só. Ano 4. Nº 14. Blumenau. Pouco tempo de- nos seus trabalhos, comparti- Abril, maio, junho 1980. pois de sua chegada, mudou- lhando dos seus insucessos e SILVA, José Ferreira da. se para o local Barra do Rio, dos seus aborrecimentos. Es- História de Blumenau. Cen- próximo a Itajaí, onde mon- tabeleceu-se, mais tarde, na tenário de Blumenau. 1850- tou um engenho de serra. povoação de Itajaí, de onde 1950. Blumenau. Edição da Seu estabelecimento foi regressou a Alemanha, onde Comissão dos Festejos: 1950. atacado pelos índios, em desviveu. 1855, justamente quando se Outro nome mencionado SILVA, José Ferreira da. construíam os fundamentos pelos historiadores é o de Vi- História de Blumenau. Floria- desse engenho. Kellner foi cente Ferreira de Mello, mais nópolis: Editora EDEME - Em- gravemente ferido por uma conhecido por Vicente Só. preendimentos Educacionais Consta que quando o primei- Ltda., 1972. que lhe dispensou o sábio ro grupo de imigrantes ale- Blumenau em Cadernos. Fritzflecha. Müller Os cuidados e a sua natureza médicos mães chegou a Brusque, ele já O que havia no território de robusta e sólida, auxiliaram- estava estabelecido no morro Brusque, Nova Trento e Blu- no a refazer-se. Viveu longo - menau. Blumenau em Cader- tempo e desviveu no Rio de cada a Igreja Católica São Luis nos. Tomo II. Outubro 1959. onde agora se encontra edifi Janeiro, para onde se mudara Gonzaga, no Centro de Brus- Nº 10. Disponível em:< http:// nos derradeiros anos de sua que. Ele não possuía terras hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/ vida. na Colônia, e contam as crô- blumenau%20em%20cader- Do mesmo modo, Reinhold nicas que, andando a caçar, nos/1959/BLU1959010_out. Gaertner, ou Reinoldo Gaert- achou o lugar muito bonito pdf> Acesso em 14 de setem- ner (em português), sobrinho e se instalou na região. Mais bro de 2018. 22 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A chegada dos primeiros imigrantes

A primeira leva organiza- lônia, em 1860. Ao grupo pio- da de colonizadores alemães O primeiro grupo orga- neiro logo se somaram novas chegou à Colônia Itajahy nizado de colonizadores levas de imigrantes de diver- (atual Brusque), no dia 4 de chegou a Brusque no dia sas regiões da Alemanha. A agosto de 1860. O grupo era 4 de agosto de 1860. Era segunda turma de imigrantes composto por 54 pessoas, composto por Augusto chegou poucos dias depois, veio sob o comando do Barão Höffelmann, João em 19 de agosto, e era com- Maximilian von Schneeburg, Wilhelm, Frederico posta, em sua maioria, por la- primeiro diretor da Colônia, Guilherme Neuhaus, João vradores de Baden e do Reno. e chegou acompanhado pelo José Scharfenberg, Mais tarde, juntaram-se a eles Presidente da Província de Frederico Orthmann, outros colonizadores prove- Santa Catarina, Dr. Francisco João Germano Boiting, nientes, sobretudo, das pro- de Araújo Brusque. Era a se- Jacó Morsch, João víncias prussianas da Pome- gunda vez que se tentava a Ostendarp, Daniel Walther rânia e Schleswig-Holstein. colonização do Itajaí-Mirim. e Luis Richter. Eles foram Nos primeiros dias, o Di- A primeira tentativa de colo- conduzidos pelo Barão retor da Colônia, Barão von nização, em 1836, pela execu- Maximilian von Schneeburg, e as famílias de ção da Lei Provincial nº 11, de Schneeburg, primeiro imigrantes se abrigaram no 05/05/1835 no lugar deno- diretor da Colônia, e rancho e no engenho de Pe- minado Taboleiro, não tinha chegaram acompanhados dro José Werner, pois, exceto dado resultado. por suas famílias. pela designação do local, ne- De acordo com Cabral nhuma providência havia sido (1958), o grupo levou seis onde os imigrantes deveriam tomada pelo Poder Público dias para subir o rio, desde a seguir em para o local para instalar os colonos. Tudo sua barra (Itajaí) até o ponto destinado ao estabelecimento estava por fazer. Em seguida, do seu desembarque em “Vi- da colônia. os colonizadores construíram cente Só”. Estes imigrantes ha- Quando chegaram, os colo- um tosco rancho com troncos viam saído de Desterro, a bor- nizadores encontraram a área de palmito e cobertura de pa- do da “Belmonte”, canhoneira ocupada. Além dos nativos, a lha, onde durante nove meses da marinha de Guerra do Bra- Colônia Itajahy-Brusque já - sil, que fundeou na Barra do estava sendo explorada por mente até que pudessem ocu- Rio, onde estava situado um outros imigrantes que haviam ficaram alojados precaria armazém próprio para pouso se instalado na região antes que lhes foram designados. provisório dos colonos e de - Mesmopar definitivamente então, não consegui os lotes-

da constituição oficial da co 23 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz ram dedicar-se integralmente aos trabalhos agrícolas, pois (...). Aqui vivemos no meio da natureza e tu, meu avô, certa- nos primeiros anos tiveram mente gostaria de viver aqui. O nosso lar, na casa onde moramos que se dedicar à construção é coberta de folhas de palmiteiras, sem janelas e sem assoalho, e a de estradas. uns trinta passos da mesma está a mata virgem entre as mais belas flores e em volta das mesmas vê-se o beija-flor voando. O chão está iniciais, Max Tavares D’Ama- coberto de baraços, nos quais muitas vezes corre-se o perigo de cair. ral Apesar(1950) dasescreveu dificuldades que o Do topo das árvores, os baraços enviam seus cipós até o chão, sendo progresso da Colônia Itajahy que alguns deles são finos e outros chegam a ter a grossura de um -Brusque foi surpreendente. braço. Deste cipó fazemos cordas que são mais fortes do que sisal. Em 1861, a população já era Com estes cipós amarramos as paredes das casas. de 657 colonos. Em 1863, Que passarinhos de cores e formas inimagináveis! Tangerinas, atingia 938 habitantes, dos pêssegos, mamões e outras frutas para nos deleitarmos no verão.... quais 659 católicos e 279 Naturalmente para os que gostam de folguedos, estes faltam. Mas protestantes. A população era também os temos aqui. Eu danço ao som de um violino e de um har- quase toda teuta (alemã), vin- mônio, enquanto na Alemanha se ouvem orquestras e coros. Cada do das mais variadas zonas terra com seus costumes. Nossos trajes são muito simples: os ho- da Alemanha. Só mais tarde mens usam camisa azul e a calça é segurada por um cinto no qual passaram a chegar outros po- penduram um facão de dois palmos. Nós mulheres, vestimos saia e vos, como os poloneses, em blusa e em geral andamos descalças ou calçamos tamancos, e na- 1869, e os italianos, a partir turalmente somos alegres. Nos dias de festa vestimos nossas roupas de 1875. trazidas da Alemanha, com as quais também vamos à igreja. Os fragmentos da carta Em nosso pasto temos duas vacas, dois terneiros, e meu cavalo que a alemã Rosa- Alazão que vale uma fortuna para mim, pois me leva nos domin- lie (Roese) Auguste Sametzki gos à igreja que fica há uma hora de distância (...). Os bugres, aqui escreveu a seus avós que resi- ninguém precisa temer, pois um tiro de espingarda os assusta logo. diam na Alemanha, em agosto Porém, o que falta aqui é mão de obra qualificada ou pessoas que de 1860, exatamente no mês trabalhem. (…). A comida é em geral feijão preto, farinha e carne e ano em que teve início a co- seca. Nós já procuramos modificá-la. Fabricamos açúcar e cachaça lonização de Brusque, falam (...). O nosso pão é de milho e é muito gostoso. Ah! Se vocês pudessem sobre a região do Vale. viver aqui conosco para ver e provar do mesmo (...). O texto foi publicado na Re- vista Blumenau em Cadernos, REFERÊNCIAS Tomo XXVI, 1985 e retrata, Álbum do 1° Centenário de CABRAL, Oswaldo R. Brus- em pinceladas, alguns aspec- Brusque – Edição da Socieda- que: Subsídios para a história tos da nossa região à época da de Amigos de Brusque. 1960. de uma colônia nos tempos colonização de Brusque: D’AMARAL, Max Tavares. do Império. Brusque: Edi- Contribuição à História da ção da Sociedade Amigos de Colonização Alemã no Vale Brusque comemorativa do 1º do Itajaí. São Paulo: Instituto Centenário da Fundação da Hans Staden, 1950. Colônia, 1958. 24 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Transferência dos imigrantes dos veleiros para pequenas embarcações No Porto de Itajaí: o Ancoradouro das Cabeçudas No tempo em que teve iní- baldeados para pequenas gem, os imigrantes descansa- cio a Colônia Itajahy-Brusque, embarcações e transportados vam alguns dias no barracão o Porto de Itajaí ainda não até os barracões dos imigran- dos imigrantes da Barra do existia, os navios aportavam tes. Construídos na foz do rio Rio antes de seguir viagem no Ancoradouro das Cabeçu- Itajaí-Mirim, conhecido até para a Colônia. Nos primei- das, local onde ancoravam as hoje como Barra do Rio, esses ros tempos, o rio é que era a embarcações que transpor- barracões tinham capacida- estrada mais segura e fácil, tavam imigrantes e as cargas de para abrigar de 160 a 200 e barcas, lanchões e canoas para as colônias dos “Vales pessoas. eram utilizados para a viagem do Itajaí”. De lá, os passagei- que demorava de três a cinco ros e cargas precisavam ser exaustos pelos meses de via- dias entre Itajaí a Brusque. Ao chegar em terra firme, 25 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A pesquisadora Thayse Fa- gundes (2014), em sua Dis- sertação de Mestrado escreve sobre a “Enseada de Cabe- - radouro utilizado pelos imi- grantes:çudas”, onde ficava o Anco

“Desde antes da funda- ção do Município de Itajaí em 1860, a Enseada de Cabeçudas já era conhecida dos navega- dores que desejavam entrar no rio Itajaí ou aportar na cidade. Era comum que em dias com o mar bravio e cheias as embar- cações ancorassem em Cabe- çudas (JORNAL O DIA, 1911). Em 1862 uma embarcação trazendo colonos que desem- barcariam em Itajahy foi for- çada pelo mau tempo a per- Mapa do litoral catarinense manecer ancorada por três dias naquela enseada (O MER- que em 1904, ao transportar REFERÊNCIA CANTIL, 1862). material metálico para a pon- O senhor José Rolino Alves te sobre o rio Itajaí-Mirim, nas FAGUNDES. Thayse. Ense- Serpa, naquela ocasião, res- proximidades da sede da Vila ada de Cabeçudas: a forma- ponsável pelos colonos, arcou de Brusque, teve que aguar- ção sócio espacial do Balne- ário. Dissertação submetida com mais de 200 mil réis para dar um vapor menor que faria ao Programa de Pós-Gradua- a condução pelo rio (VAPOR, a alimentação do grupo (O ção em Urbanismo, História MERCANTIL, 1862). 1904). e Arquitetura da Cidade da O requerimento para res- Linhares contou que alguns Universidade Federal de San- sarcir sua despesa que fez ao navios aguardavam no mar ta Catarina para a obtenção sr. Dr. Brusque, principal res- por horas e até por dias a au- do Grau de Mestre em Urba- ponsável pela viagem, não foi torização para entrada no rio, nismo, História e Arquitetu- ra da Cidade. Florianópolis atendido de imediato. Não se esta resposta era dada por um - posto de sinalização que fica- sabe exatamente como a com- le:///C:/Users/Rose/Down- pra de mantimentos era reali- va na Atalaia, estendendo uma loads/327815%20(1).pdf2014. Disponível em: < fi>. zada nestas condições. bandeira vermelha” (LINHA- Acesso em 28 de agosto de O vapor alemão “Numidia” RES, 1997, p.10). 2018. 26 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Imigrantes viajando da Europa para o Sul do Brasil O deslocamento até Brusque A viagem da Europa para o muitas vezes exaustos pelos Rio acima, a viagem durava Brasil levava entre dois e três meses de viagem, os imigran- de três a cinco dias entre Ita- meses de navio. tes descansaram alguns dias jaí a Brusque. Aqui chegando, Chegando em Santa Catari- no barracão antes de seguir os colonizadores eram insta- na, o Porto de Itajaí ainda não viagem para a Colônia. lados no Barracão dos Imi- existia e as embarcações que Da barra do Porto de Itajaí, grantes, destinado ao abri- transportavam imigrantes onde os imigrantes aporta- go provisório de imigrantes, e as cargas para as colônias vam, até Brusque, o transpor- aportavam no Ancoradouro te dos colonizadores e seus do atual Clube de Caça e Tiro das Cabeçudas. pertences era feito pelo rio Araújoque ficava Brusque. nas proximidades Em seguida, os passageiros Itajaí-Mirim. Era a opção mais Durante muitos anos, o rio e as cargas eram transporta- segura e fácil para chegar à Itajaí-Mirim foi a principal dos por pequenas embarca- Colônia. via de transporte, não só para ções até os barracões dos imi- O percurso era feito usan- o deslocamento de pessoas, grantes, na Barra do Rio. do botes, lanchões e canoas mas também para o transpor- impulsionadas por remo. te de mercadorias.

Ao chegar em terra firme, 27 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Partes do texto “Diário de Viagem do Imigrante Paul Schwarzer”, que retrata uma experiência comum daque- les que aqui chegaram nos primeiros anos da colônia. A Família Schwarzer chegou na Colônia Brusque por volta do ano de 1864. A Vila Itajaí é bem situada numa planície de vale na foz do Itajaí. A margem esquerda é muito baixa e coberta por mata de palmeiras. A vila fica na margem esquerda, entre laranjais, e diante dela, alguns navios. Velejamos com nos- sa fragata um pedaço rio acima, até uma casa de recep- ção destinada aos colonos. Desembarcamos com nossos pertences e fomos até a casa de recepção. Achava-se ali, naquela ocasião, o Diretor da Colônia Brusque, Barão von Schneeburg, hospedado no hotel que ficava perto da casa de recepção. Na manhã seguinte após a nossa chegada, ele nos fez uma visita e se mostrou extremamente aten- cioso conosco. Era um homem idoso, bigode e cavanhaque Canoas utilizadas para transporte de pessoas no rio Itajaí-Mirim, enquanto brancos. Era do Tirol e foi oficial austríaco. Encontrava- não havia estradas. Acervo: SAB se já há muitos anos nesta terra. Depois de uma semana, chegou um bote da colônia para transportar nossas coisas. Minha mãe e irmãs foram acomodadas no bote, enquanto meu pai e eu seguimos a pé até uma pequena hospedaria que fica perto do rio REFERÊNCIAS Itajaí-Mirim, afluente do grande Itajaí, onde esperamos o bote, que ancorou na manhã seguinte. O Barão von Sch- Blumenau em Cadernos. neeburg, chegou em seguida, em sua canoa. Ele pagou a Diário de Viagem do Imigran- todos um bom jantar. Na outra manhã, o diretor chamou te Paul Schwarzer. Arquivo uma canoa com dois homens (um branco e um mulato), Histórico José Ferreira da Sil- que iriam levar minha mãe, minhas irmãs e a mim até a va, tomo XXV, nº 9, 1987. colônia (...). Viajamos, rio acima, com a canoa para a Co- CABRAL, Oswaldo R. Brus- lônia Itajahy-Brusque. A maior parte da viagem era feita que: Subsídios para a história entre mata virgem, que me pareceu bem perto da mar- de uma colônia nos tempos gem do rio, num aspecto completamente novo. Do solo até acima nos altos das árvores enrolavam-se trepadei- do Império. Brusque: Edi- ras num emaranhado tão denso que formava verdadeiras ção da Sociedade Amigos de cortinas, que impediam a vista para o interior da mata, às Brusque comemorativa do 1º vezes formando caramanchões naturais enfeitados com Centenário da Fundação da belas flores. De vez em quando, víamos belas plantações Colônia, 1958. de cana, milho, etc. Também passávamos por serrarias. D’AMARAL, Max Tavares. Quando chegou a noite, e sendo muito tarde para conti- Contribuição à História da nuar a viagem, nossos guias entraram em um ribeirão e Colonização Alemã no Vale amarraram a canoa. Na manhã seguinte seguimos via- do Itajaí. São Paulo: Instituto gem pelo rio (...). Hans Staden, 1950. 28 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Barracão de recepção dos imigrantes na Barra do Itajahy. Acervo: Rosemari Glatz O barracão dos imigrantes

Nas colônias instaladas Os primeiros imigrantes vidência havia sido tomada no estado de Santa Catarina que chegaram em 4 de agos- pelo Poder Público para ins- a partir da segunda metade to de 1860 para colonizar a talar os colonos. Então, por do século XIX, os imigrantes Colônia Itajahy-Brusque não um período de tempo o Dire- que chegavam para colonizar conseguiram se abrigar no tor da Colônia, Barão von Sch- o território eram acolhidos “Barracão dos Imigrantes”, neeburg, e os imigrantes se nas chamadas “Casas de Imi- pois ele ainda não havia sido ajeitaram no rancho e no en- gração”. Os imigrantes que construído e nenhuma pro- genho de Pedro José Werner. aportavam no Ancoradouro Os dias seguintes à chegada das Cabeçudas, em Itajaí, ini- foram destinados à derru- cialmente eram acolhidos na A distância entre bada da mata e à construção o barracão da Colônia de um rancho de palha, que na Barra do Rio. Ao chegar Itajahy-Brusque e o serviria como “Barracão dos casa de recepção, que ficava- barracão da Colônia guir viagem para a Colônia, os Príncipe Dom Pedro era - colonizadoresem terra firme, descansavam antes de se de cerca de 4 km, distân- vamenteImigrantes”, os lotesonde queficaram lhes atéfo- alguns dias no barracão dos cia entre o início da Rua que puderam ocupar definiti imigrantes. O percurso até a do Cedro, no bairro Dom instalados precariamente du- colônia onde seriam instala- Joaquim, até o Clube de ranteram designados. longos nove E meses. ali ficaram dos era feito pelo rio, usando Caça e Tiro Araújo O primeiro barracão da botes, lanchões e canoas im- Brusque, Centro. Colônia Itajahy-Brusque, ou pulsionadas por remo. “Casa da Imigração” foi cons- 29 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Chegada dos imigrantes pelo rio Itajaí-Mirim. Acervo: SAB truído em 1860, na região les construindo as primeiras zaga Steiner, Travessa Lagoa casas provisórias, para que Dourada, nas proximidades de Caça e Tiro Araújo Brus- as famílias dos imigrantes se do bairro Dom Joaquim, Brus- ondeque, rua está Hercílio edificado Luz, também o Clube instalassem provisoriamente que. conhecida como “Rua das Os primeiros lotes coloniais Carreiras” no bairro Centro, foram demarcados a partir bem próximo do rio Itajaí-Mi- dos rios e ribeirões, abran- rim. Era o espaço destinado à gendo, em média, 25 a 30 hec- REFERÊNCIAS recepção e hospedagem dos tares cada lote. CABRAL, Oswaldo R. Brus- colonizadores. Poucos anos depois, em que: Subsídios para a história Durante o tempo de prepa- 1867, foi construído mais um de uma colônia nos tempos ração do espaço que receberia barracão, este para acolher do Império. Brusque: Edi- a família, mulheres e crianças os imigrantes destinados à ção da Sociedade Amigos de - Colônia Príncipe Dom Pedro. Brusque comemorativa do 1º cão dos Imigrantes. O traba- Ali, em março daquele mes- Centenário da Fundação da lhoficavam de ocupação instaladas das no Barraterras mo ano, aconteceu o primeiro Colônia, 1958. era feito em mutirão, também acampamento dos coloniza- NIEBUHR, Marlus. Orga- chamado de “pixurum”, com dores no barracão provisório nizador. Brusque 150 Anos: grupos de homens abrindo as de Águas Claras, erguido no Tecendo uma História de Co- terreno onde, em 2018, fun- ragem. Fundação Cultural de nativa, derrubando as árvo- ciona a Escola de Educação Brusque, 2012. res,picadas, delimitando os claros os na lotes floresta e ne- Fundamental Padre Luiz Gon- 30 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A moradia e a alimentação nos primeiros tempos

Quando os primeiros co- lonizadores chegaram à Co- lônia Itajahy-Brusque, não havia sido providenciado su- - do com Buggenhagen (1941) aindaficiente estava alimentação. vívido na De memó acor- ria dos velhos o que os pais lhes contaram sobre as crises provocadas entre eles pela fome e penúria, e como, sen- tados à margem do rio, eles tinham chorado sua desven- tura. Durante muito tempo, uma opção fácil de alimenta- ção foi o palmito. Se os tron- cos e as folhas serviam para a construção das moradias primitivas dos colonizado- res, o miolo do palmito juçara servia para o preparo de ali- mentos com carnes de aves. A captura de pequenos animais e as formas de caçada de aves foram desenvolvidas, e assim os colonizadores passaram a fazer caçadas para abaste- cer a dispensa. Era comum encontrar porcos-do-mato, jaguatiricas, antas e capiva- Moradia primitiva dos colonizadores assim que ras, algumas das quais eram chegavam ao seu lote. Acervo: Rosemari Glatz abatidas para servir de comi- secar. No mais, além das fru- era basicamente o que a roça da. As carnes eram salgadas tas nativas encontradas em produzia, com pouquíssimas e depois dependuradas para abundância, o que se comia exceções. E a carne é o que 31 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz mais fazia falta nos primeiros Moradia tempos. A criação de porcos e gado vacum iniciou-se só al- Nos primórdios da colônia, guns anos depois da fundação as moradias eram simples da colônia. barracos, feitos com troncos A farinha de mandioca fer- de palmito juçara, cobertos vida em água era o alimento de folhas de palmeiras trança- por excelência; comiam esse das, e chão batido. Em alguns pirão com toucinho em que casos, as frestas das paredes se notavam os indícios da eram fechadas com barro. Fo- longa viagem. Pão só havia quando chegava a lancha de muita fé em Deus e união é Itajaí. Mas a quantidade não queram temposas famílias difíceis, conseguiram e só com dava até a próxima chegada suportar aqueles primeiros da lancha; acontecia, então, tempos e prosperar em terras que se ralava o milho para brasileiras. servir de prato no domingo. Construção de tijolos tipo enxaimel Conforme a economia foi Era frequente a falta de sal; se desenvolvendo, por toda a raspava-se, então, a crosta de Com o passar do tempo, parte foram surgindo novas sal do toucinho amarelo de a situação econômica dos casas, mais sólidas, que iam Minas Gerais, para temperar imigrantes foi melhorando. Os barracos provisórios substituindo as pobres cons- o produto do mato. Só com o foram sendo substituídos por truções de pau a pique. E, à passar do tempo é que a situ- casas de madeira e, medida que foram surgindo ação da alimentação foi me- em alguns casos, por casas feitas com tijolos. as olarias que produziam os lhorando. tijolos, começaram a apare- cer as casas com armação de madeira e enchimento de ti- jolo, no estilo enxaimel, inau- gurando um novo tempo, de mais conforto e segurança.

REFERÊNCIA

BUGGENHAGEN, E.A. von. História Econômica no Muni- cípio de Brusque e a obra do Cônsul Carlos Renaux. [SI]. Brusque, 1941. Não publica- Casa de imigrantes nos primórdios da Colônia. Acervo: Rosemari Glatz do. 32 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A relação da Colônia Itajahy-Brusque com o rio

Brusque foi fundada em 1860, mas os terrenos que hoje integram o município começaram a ser conhecidos século XVIII. É conhecido que eme palmilhados 1799 foram lá feitas pelos conces fins do- sões de sesmarias ao coman- dante da fortaleza dos Rato- nes, de uma légua em quadro das terras que hoje fazem parte do município e possi- velmente alcançavam o seu atual perímetro urbano. Mais tarde, após a fundação de Ita- jaí, viu-se gente requerendo terras, lançando culturas nas Balsa para travessia central do Itajaí-Mirim em 1895. Acervo: SAB margens do Itajaí-Mirim, até grande altura de sua foz e de Patrianova (1989) informa que os rios sempre foram topônimos da maior importância, tanto por parte dos Agostinho Alves Ramos, pio- índios, que os utilizavam a partir da foz, como por qualquer neiroseus afluentes do aproveitamento mais próximos. de outra espécie de marinheiro. Para ele, os diversos usuários toda a fértil região, pôs o seu se preocupavam em nomear os rios adequadamente. Ao prestígio de deputado à As- discorrer sobre a origem do nome Itajaí, Patrianova informa que “Itajaí” recebeu alguns nomes, inclusive de ordenanças, de negociante muitas corruptelas, como: - rio das Voltas, rio Tajahug, rio ativosembleia e culto, provincial, à tarefa de de oficial im- Taiahug, rio Tacahug, rio Tacuay, rio Tayahug, rio Tayaby, pulsionar, pelo Mirim acima, rio Tajahug, rio Taiaiye, rio Tajay, rio Tujuy, rio Tamarandi, a onda civilizadora que leva- enseada Tajay, rio Tajahi, rio Tahahy, rio Thajahi, rio ra até as alturas de Belchior e Gaspar. Várias tentativas, Itajahy, e, finalmente, rio Itajaí, rio Itajaí-Açu (açu = grande mais ou menos bem-sucedi- informando que o nome do rio Itajaí passou a denominar porte),a cidade, rio e Itajaí-Mirim no passado também(mirim = já pequeno). emprestou O autoro nome conclui para terras tão bem situadas, dis- Brusque, então denominada “Colônia Itajahy-Brusque”. das, se fizeram para colonizar 33 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Desde logo o brusquense aprendeu a conviver com as enchentes. Acervo: SAB pondo de grandes planícies permitisse começar as plan- ele que o Alferes João da Sil- e aguadas em abundância. tações e a construção de ca- va Mafra, afazendado na fre- Antônio Menezes Vasconce- sas para os colonos. guesia e, na sua falta, o Alfe- los de Drummond, que esta- Passados alguns anos, nova res João da Cunha de Souza, va em Santa Catarina como iniciativa. Boiteux (1958) eram as pessoas do seu co- contratador dos reais cortes conta que, a 27/02/1836, o nhecimento mais aptas para de madeira, solicitou o apoio Secretário do governo, Major a referida exploração. Mas, governamental para a funda- somente no governo de Fran- ção de uma colônia nas terras ao Major Agostinho Alves Ra- cisco Carlos de Araújo Brus- de Itajaí. Pelo Aviso Real de mosJosé dapara Silva que, Mafra, com a oficiava brevi- que, que administrou Santa 05/01/1820, o Rei D. João VI dade possível, informasse se Catarina de 21 de outubro de autorizou que Drummond es- conhecia pessoa capaz de en- 1859 até 17 de abril de 1861, tabelecesse uma colônia em carregar-se da exploração do foi que se concretizaram os duas sesmarias reais junto do Itajaí-Mirim; quais os meios projetos que desde muito vi- rio Itajaí-Mirim, na região da necessários a empregar em nham sendo elaborados para agora Itaipava. Com a ajuda homens, transporte, ferra- se fundar, ali, um núcleo po- de soldados dispensados de mentas, munições e despesa pulacional que marcasse o um batalhão da sede da ca- provável, o tempo necessário início do aproveitamento real pitania, Drummond iniciou à exploração, etc. e efetivo de todo o vale do Ita- a derrubada das matas que A 15/03/1836, respondia jaí-Mirim. 34 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O aviso imperial de 18 de depois, Schneeburg escreve Logo nos primeiros anos junho de 1860 determinou que: “o desembaraçamento da Colônia, duas terríveis a fundação da Colônia Ita- do rio da Guabiruba foi feito enchentes, de fevereiro de jaí, demarcando-se uma área em tempo de chuvas; ago- 1861 e de agosto de 1862, de quatro léguas em quadro, ra, porém, com águas baixas, prejudicaram muito o desmembradas da jurisdição que são as mais frequentes, é desenvolvimento da nascente da Freguesia do SS. Sacra- preciso limpá-lo novamente, colônia. Com essas enchentes, mento do Itajaí. Dando cum- em certos lugares tirar árvo- alagaram grande parte das primento a esse Aviso, Araú- res e mesmo cortar algumas terras lavradas, destruindo as jo Brusque providenciou o das muitas serpentinas, que plantações e causando a morte necessário para a fundação, tornam a sua navegação com de vários homens. Mas os tendo nomeado o Barão Maxi- - imigrantes tinham noção da milian von Schneeburg como cil, mesmo perigosa”. E assim, importância que tinha diretor da Colônia, e este, com canoas menores, muito difí- o rio Itajaí-Mirim para o uma leva de 54 colonos, par- belecida a relação da Colônia desenvolvimento da colônia, tiu da Vila de Itajaí, a 31 de ju- Itajahy-Brusquedesde o princípio, com fica o rio. esta indispensável para a navegação, lho para, depois de cinco ator- principalmente para o comércio mentados dias de viagem, de de madeira, pois que nas Onde nasce o rio canoa, passando toda a sorte margens do mesmo rio, de trabalhos e privações, che- Itajaí-Mirim já no início da Colônia gar ao local em que Brusque Itajahy-Brusque, estavam se eleva altaneira. O rio Itajaí-Mirim nasce no mais de uma dezena de E ninguém melhor do que município de Vidal Ramos. A serrarias, tocadas o abnegado primeiro diretor cidade já pertenceu ao terri- hidraulicamente, serrando da Colônia Itajahy-Brusque tório de Brusque e, em 1919 grande quantidade de cedro, para nos contar como foi essa foi criado, por lei estadual, o canela, peroba e óleo. Era aventura. No primeiro relató- Distrito Adolfo Konder. Nesta consenso que, embora não fosse rio enviado à presidência da época, a região onde hoje está tarefa fácil, o melhoramento província, von Schneeburg situada a sede de Vidal Ramos informa: “Tenho a honra de começou a ser denominada do rio de árvores e raízes levar ao conhecimento de de Alto Itajaí-Mirim ou Rio da da viapoderia fluvial, facilitar com a olimpeza seu V. Excelências que, em 4 de Brusque. trânsito e, ao mesmo tempo, agosto corrente, quinto dia de Anos depois, a 3/12/1957, diminuir a violência das viagem pelo rio Itajaí-Mirim na mesma área que corres- acima, cheguei com a primei- pondia ao antigo distrito, foi da colônia que, em 3 anos ra turma de colonos com bom criada a cidade de Vidal Ra- inundações,de existência, o grande sofreu flageloduas tempo e com muito zelo, con- mos que, na ocasião, engloba- calamitosas cheias. duzidos pelo contraente Pe- va o Distrito de Itaquá, hoje (Brusque Centenária. dro Werner (vulgo Pedro Mi- município de Presidente Ne- Agosto, 1960). údo) ao lugar Vicente Só. Dias reu. Atualmente, a nascente 35 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

do rio Itajaí-Mirim é conside- o rio Tijucas-Grande ao orien- gam, tornando-se para seus rada um atrativo turístico de te, e segue o rumo de nordes- moradores, mais cômoda a Vidal Ramos. te por uma extensão de cerca viagem por terra quando têm Ao discorrer sobre o rio de 20 léguas com suas muitas de subir contra a violência de Itajaí-Mirim e seus primei- e amiudadas voltas até de- sua correnteza. Devido a isso, ros desbravadores, Boiteux sembocar na margem direita com certeza, deu-se início em (1961) informa que o Itajaí- do rio Itajaí-Açu 2.850 braças 1855 a um caminho para co- Mirim tem origem na Serra acima da sede da vila. Da na- municação dos seus morado- que se prolonga entre o braço vegação até 10 léguas, porém res com o arraial da freguesia. do sul do Itajaí ao ocidente, e tem muitas voltas que fati- O governo imperial, tendo em vista o estabelecimento de uma colônia de alemães às margens do Itajaí-Mirim foi encarregado da escolha e lo-

Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: cação da mesma, o dinâmico catarinense, militar e enge- nheiro João de Souza Mello e Alvim, então delegado das obras públicas da província. Isto aconteceu em 1859. O sí- tio apontado como mais aco- modado foi um longo estirão à margem esquerda do rio, fronteiro a uma propriedade onde vivia Vivente Só. Ali tam- bém já se encontrava outro alemão, Pedro José Werner, apelidado Pedro Miúdo, com casa de moradia e engenho. - gação sobre o famoso rio Ita- jaí-Mirim,E, para finalizarBoiteux atranscre investi- ve um texto do General José Vieira da Rosa, conhecedor - ca” do nosso Estado, que, em 1909,inigualável nos deixou da “face esclarecido geográfi

de Santa Catarina”. Segundo em sua preciosa “Coreografia Uma das muitas nascentes do rio Itajaí-Mirim. Acervo: Rosemari Glatz Rosa (1909): “O Itajahy-Mi- 36 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história rim, que no seu segundo ter- impedem que se possa notar esquerda deste e, à montante ço banha a vila de Brusque, que o curso deste rio siga um da barra deste, cerca de seis tem um curso de cento e rumo mais igual na direção de quilômetros”. trinta quilômetros. Vai bus- sudoeste para nordeste for- car sua nascente na Serra do mando com o Itajaí-Açu um Plano Mar, não muito longe das ca- ângulo muito agudo. Em seu beceiras do Braço-do-Norte curso a caminho do litoral, construtivo e corre sempre no vale for- recebe pela margem direita demarcado ao mado pelas serras do Itajaí e longo do rio Tijucas. Correndo em terreno e, pela esquerda, um maior muito acidentado, não ad- númerodoze destacados deles. Não afluentes;alcança o Sob as ordens do Barão von mira que apresente tão nu- oceano, lançando suas águas Schneeburg, vários agrimen- merosas voltas, mas que não no Itajaí-Açu, pela margem sores tinham a incumbência

Primeiro mapa conhecido da Colônia Itajahy-Brusque. Acervo: SAB 37 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Lanchas Peruas, usadas para transporte de mercadorias e de pessoas. Acervo: Rosemari Glatz de executar a medição dos lo- com tão impetuosa corrente, Os lotes eram demarcados tes. Na exploração da colônia, que impossibilitava toda na- preferencialmente ao longo tal como foi posteriormente vegação contra ela. dos rios (IPHAN, 2018). A de- levada a efeito, prevaleceu o Do ponto de vista urbanís- marcação dos lotes foi o ele- plano construtivo de demar- mento básico da urbanização. car, ao longo do rio, uma sé- os núcleos das colônias de Quase sempre, iniciou-se ale- rie de lotes, fazendo frente imigrantestico, é possível que afirmarse transfor que- atoriamente a partir do local estreita com o rio e estenden- maram em muitas das atuais onde o ingresso de imigran- do-se, no fundo, até a altura cidades de Santa Catarina tes e mercadorias fosse faci- dos morros. A partir do rio apresentam traçados diferen- litado por rios navegáveis ou abriram-se, vales adentro, tes dos partidos luso-brasi- caminhos preestabelecidos. largos travessões, em cujos leiros até então existentes no Abaixo dos contrafortes da lados se delimitaram os lotes, estado. As cidades da região Serra do Mar, onde os rios são de forma idêntica. No início, o de imigração, nascidas de em- abundantes, prevaleceu o es- rio Itajaí-Mirim, em sua maior preendimentos rurais, têm tabelecimento de colônias às extensão, era atravancado por seus traçados urbanos de- margens dos cursos d’água, - correntes da interação entre utilizados como vias prefe- zes; ora seco, de modo a per- a geometria da demarcação renciais de acesso e comu- mitirinfinidade apenas de a árvoresnavegação e raíde dos lotes rurais e a organici- nicação, partindo do litoral. pequenas canoas, ora cheio e dade dos acidentes naturais. Assim ocorreu, por exemplo, 38 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história nos atuais centros urbanos de viabilizavam o comércio e que emoldura a igreja, como Gaspar, Blumenau, Pomerode, abasteciam de gentes e de as cidades de Florianópolis e Jaraguá do Sul e Joinville, São gêneros os nascentes em- Lages; outro, mais raro, adap- João Batista, Nova Trento e preendimentos migratórios. ta-se ao relevo, partindo do Brusque. A partir dos contra- Peluso, citado pelo IPHAN centro comercial, como, por fortes da Serra do Mar, em di- (2018), na publicação sobre exemplo, Joinville, Blumenau reção ao interior, os caminhos o patrimônio cultural do imi- e Brusque. Vemos aqueles nú- prevaleceram como vias pre- grante, explica que o traçado cleos urbanos como cidades ferenciais de penetração. urbano derivado desse con- portuguesas, e estes, como Em Blumenau, Joinville e texto foi distinguido dos con- cidades alemãs, atribuindo Brusque, os rios eram as vias gêneres luso-brasileiros. Se- seus planos, respectivamente, naturais de acesso à região, gundo Peluso, estudando-se às culturas lusa e germânica. inteiramente coberta por as cidades do estado de Santa matas fechadas. As cidades Catarina, fundadas até mea- Brusque nasceram a partir dos por- dos do século XIX, nota-se a persistência de dois tipos de como cidade de permitirem o acesso tanto ao plano urbano: um, o mais di- porto fluvial interiortos fluviais, das colônias, escolhidos quan por- fundido, tem como elemento to aos portos marítimos, que predominante a praça central Brusque é um bom exem-

Balsa para travessia do rio Itajaí-Mirim, nas imediações da atual ponte Estaiada. Acervo: SAB 39 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz plo de cidade cujo início do dos para escoar as mercado- Descrição do processo de urbanização se rias e também para o trans- dá a partir do principal rio porte de pessoas. O porto que rio Itajaí-Mirim e pode ser assim descrito: dispunha de um trapiche de em 1860 quando, em 1860, chegaram pedras, mastro de madeira e os primeiros imigrantes, esses O texto: Características usaram o meio de transporte da ponte Irineu Bornhausen interessantes do rio Itajaí- (atualguincho, ponte ficava nasestaiada). cabeceiras Ali A colônia teve início no lugar aportavam os barcos, as ca- século passado, reproduzido conhecidomais fácil nacomo época, “Vicente o fluvial. Só”, noas, e lanchas que visavam abaixomirim ee seusoriginalmente afluentes pu no- e através do caminho aberto o abastecimento da popula- blicado na revista Blumenau ao longo do rio começaram a em Cadernos em fevereiro aparecer os primeiros sinais Itajahy-Brusque, ou a saída de 1992, apresenta caracte- de comércio. Brusque inicia- dosção queprodutos se fixava para na o Colônia porto rísticas interessantes do rio va-se, então, como cidade de marítimo, na atual cidade de Itajaí. As lanchas-perua eram no século XIX, com base no Implantado o núcleo, seu utilizadas para transporte de levantamentoItajaí-Mirim e realizado seus afluentes pelo portodesenvolvimento fluvial. era baliza- cereais, como farinha de man- engenheiro Charles Philippe do, como nas demais colônias dioca, milho, açúcar grosso, Garçon Rivière. pipas de cachaça e, pelo rio eixo comercial, a partir do Itajaí-Mirim, o percurso entre contrato com o governo im- qualalemãs, se subordinavam pela fixação deoutras um Brusque e Itajaí levava de sete perialO engenheiro em 16/06/1859 firmou e, du um- funções, como a religiosa, a a oito horas, para ida, e um rante o 2º semestre de 1859 recreativa e a institucional. dia, para a volta. e começo do 1º semestre de Nas colônias onde italianos 1860 levantou a planta do rio e poloneses predominaram - como, por exemplo, Botuverá tes. Acervo:SAB e Nova Trento, a igreja desta- Itajaí-MirimO resultado e de doseus trabalho afluen cou-se como elemento agluti- foi encaminhado pelo Eng. nador principal, estruturador Rivière ao Ministro da Agri- do plano urbano adotado e cultura em 06/06/1860, e ponto de partida de seu de- encontra-se aqui reproduzido senvolvimento. por apresentar uma descri- ção bastante interessante do o mais fácil na época, nos pri- rio baseado em levantamento meirosSendo decêndios o transporte da Colônia fluvial realizado ainda antes da ins- Itajahy-Brusque, vários brus- - quenses possuíam lanchas jaí-Brusque, em 4 de agosto -perua que faziam o percurso detalação 1860. oficial da Colônia Ita de Brusque a Itajaí. Eram usa- “O rio Itajaí-Mirim, afluente 40 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história do rio Itajaí-Açu, tem um cur- e espaçados uns dos outros, e sendo a mais dificultosa a pas- so de 47.710 braças desde sua da Sepultura até a barra o Ita- sar, a da Figueira. O leito do barra até o seu primeiro salto. jaí-Mirim atravessa uma bela rio é de areia até a serraria de Esta extraordinária extensão é várzea. Os principais afluen- Pedro Fritz; desta serraria até devido às suas numerosíssimas tes deste rio são: o ribeirão da o salto, de rochas e seixos. As curvas, pois que, em linha reta, Guabiruba e do Cunhandaba. suas margens até o Cunhan- não tem mais de 70.500 bra- O primeiro tem suas cachoei- daba são baixas, formadas ças. Corre de sul, sudoeste oes- ras na paralela à dita meri- de areia misturada com pou- te, a norte, nordeste leste. Sua diana, depois de ter sido deso- ca argila; deste ribeirão para largura média é de 180 pal- bstruída dos numerosos paus cima, a argila vai pouco a pou- mos. A velocidade da corrente caídos que a atravessam. O se- co predominando e os barran- é muito variável; em certos lu- gundo é navegável igualmente cos vão ficando mais altos. Os gares é de 0,95 palmos em um com canoas até 3.000 braças. terrenos nas várzeas são fer- segundo de tempo; em alguns Além destes dois ribeirões, o tilíssimos; porém, quase que de 2 palmos e em outros de 6 Itajaí-mirim recebe muitos não são aproveitáveis por mo- palmos. O volume de água que córregos e ribeirões pequenos tivo das frequentes inundações passa em 1 segundo foi calcu- que não dão navegação, mas no tempo das chuvas. Em par- lado na barra, em seis marés, e que podem ser aproveitados te, poder-se-ia fazer desapare- achou-se ser de 5.641 palmos para motores e alguns já o são. cer este grave inconveniente acima do nível do mar. O rio, As embarcações que não cortando algumas das muitas neste lugar, tem 18 braças de demandam mais de 12 a 15 agudíssimas curvas que exis- largura. As águas correm com palmos d’água, podem subir tem, obra fácil e pouco dispen- violência sobre e entre roche- o rio até o lugar denominado diosa, pois que será suficiente dos; é mais uma cachoeira do Marechal Custódio, onde en- abrir valas de 5 a 6 palmos de que um salto. contra-se a primeira itaipava largura com outro tanto de al- Do salto até pouco mais ou (uma pequena queda d’água, tura, deixando ao mesmo rio menos l.400 braças para bai- corredeira) formada por uma o trabalho de as aprofundar xo, o Itajaí-Mirim segue entre grande rocha granítica. Deste e alargar. Existem curvas de morros pedregosos que che- ponto para cima, a influência 600 braças que, para serem gam até nas margens. Atraves- das marés ainda se faz sentir cortadas, exigirão somente a sa depois uma grande várzea até pouca distância. De Mare- abertura de uma vala de 40 que para o norte se estende até chal Custódio até o engenho braças de comprimento. Tor- o território medido. Daí um de Pedro José Werner, o Itajaí- no a repetir que são algumas pouco acima do engenho do Mirim dá franca navegação das maiores curvas que seria Paulo [Kellner], o terreno pelo a canoas; porém, deste enge- necessário fazer desaparecer, rio torna-se de novo monta- nho para cima, aparecem as pois que, a querer cortá-las nhoso até a serraria de Pedro itaipavas que obrigam, quase todas, a correnteza do rio au- José Werner. Deste ponto até sempre, a arrastar as canoas, mentaria consideravelmente o lugar denominado Sepultu- puxando-as sobre as pedras. e a sua profundidade poderia ra, os morros são mais baixos São dezoito estas itaipavas, diminuir a ponto de prejudicar 41 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz a navegação. Contam-se neste rio: 12 en- REFERÊNCIAS É preciso dia e meio de via- genhos de serrar; 7 engenhos gem em canoa para descer da de fazer farinha; 2 de fubá; 1 BLUMENAU EM CADER- Guabiruba à Freguesia e dois de socar arroz e uma olaria. NOS. Brusque Centenária. dias e meio até três dias para A sua exportação anual é de Blumenau em Cadernos, percorrer a mesma distân- 18.000 dúzias de tábuas; 8.000 Tomo III – Nº 8. Agosto de cia, subindo o rio. Entretanto, alqueires de farinha; 400 al- 1960. construindo-se na margem di- queires de arroz e alguns mi- BOITEUX, Lucas A. Itajaí: reita uma estrada que talvez lhares de tijolos, perfazendo de Fazenda à Cidade. Blume- não venha a ter mais de cinco tudo o valor de perto de 200 nau em Cadernos. Tomo I, nº léguas de desenvolvimento, contos de réis, dos quais 150 7. Maio de 1958. tornar-se-ia fácil e rápida a provém das madeiras. O gado BOITEUX, Lucas A.O Itajaí- comunicação entre a Fregue- vacum empregado nestes di- Mirim: Seus primeiros des- sia do Itajaí e a Guabiruba; as versos engenhos, orça em 900 bravadores. Blumenau em Ca- terras medidas no território cabeças. A população do rio dernos. Tomo IV, nº 1. Janeiro acharão compradores que até Itajaí-Mirim pode ser avaliada de 1961. hoje se apresentaram em pe- em 2.000 almas, das quais 480 IPHAN. O patrimônio cul- queno número por motivo da empregadas nos engenhos de tural do imigrante. Roteiros dificuldade dos transportes. serrar. Nacionais de Imigração – San- É também muito provável Ainda há muitas madei- ta Catarina O modelo de ocu- que os proprietários das ter- ras de lei, porém já é preciso pação do território. Disponí- ras situadas nas margens do ir procurá-las bastante longe vel em:< http://portal.iphan. Itajaí, que todos sentem a falta das margens do rio. As princi- gov.br/uploads/publicacao/ de uma estrada, coadjuvassem pais madeiras são: cedro, ca- PubDivImi_RoteirosNacio- o Governo na construção da nela, peroba, óleo, etc. Um pou- naisImigracao_SantaCatari- tão útil obra. Calculo a superfí- co abaixo do Salto, numa das na_v2_m.pdf>. Acesso em 13 cie dos terrenos possuídos nas curvas do rio, existem ainda setembro 2018. duas margens do Itajaí-Mirim vestígios de uma antiga lavra PATRIANOVA, Hermes Jus- em 40.000.000 de braças qua- de ouro. Perto do mesmo sal- tino. O Rio Itajaí é o Rio do dradas. À vista de tão grande to, em diversos poços acha-se Jaó de Pedra - Não é o Rio de extensão de terras ocupadas ouro em pó em pequena quan- nenhuma aroídea. Blumenau poder-se-ia supor que a lavou- tidade. Em todas as Itaipavas em Cadernos. Tomo XXX, nº ra existe em grande escala. há muito quartzo opaco. 10. Outubro de 1989. Infelizmente assim não acon- Rio de Janeiro, em 5 de ju- RIVIÈRI. Charles Philippe tece, sendo isto devido princi- nho de 1860. - C. RIVIERY”. Garçon. Características inte- palmente ao diminuto número ressantes do rio Itajaí-mirim de proprietários de extensos OBS: A medida citada em terrenos e ao grande impulso braça corresponde a 2,20 me- passado. Blumenau em Ca- que tem tomado a extração tros. A medida relativa ao pal- dernos.e seus Tomo afluentes XXXV, no nº século2. Fe- das madeiras. mo é de 22 centímetros. vereiro de 1992. 42 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Vista de Brusque. À esquerda a igreja católica e à direita a luterana. No alto do morro, entre as duas igrejas, a escola evangélica alemã, hoje Colégio Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB Religião nos primeiros anos da Colônia

A religião, a educação, a taque pela sua importância das escolas. Mas esse mode- disciplina e o trabalho sem- no saudável desenvolvimento lo não foi adotado na Colônia pre foram considerados fun- das comunidades. Em algu- Itajahy-Brusque, uma colônia damentais para o imigrante mas colônias, a exemplo da governamental, onde os lotes europeu e, assim como na Colônia Blumenau, uma colô- foram demarcados, os imi- colônia Itajahy-Brusque, as nia privada, o triângulo social grantes assentados, mas sem religiões, principalmente a “igreja, cemitério e escola” qualquer reserva para a igre- católica e luterana, foram mo- desde o princípio da coloni- las propulsoras que atuaram zação contou com a demar- era a católica e, em que pese como alavancas nas novas co- cação e reserva de lotes para oja. luteranismo A religião oficial ser permitido, do Brasil lônias instaladas em solo bar- instalação e funcionamento a grande maioria vivia o cato- riga-verde e mereceram des- das igrejas, dos cemitérios e licismo. 43 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Catolicismo em Brusque

No início, a vida de igreja acontecia no círculo familiar e, segundo o Pe. Eder Clau- dio Celva (2013), a referência religiosa material era funda- mental para a vida dos imi- grantes inseridos num con- texto exclusivamente agrário, com uma visão sacral de ver as coisas e o mundo. Embora a construção de igrejas fosse de responsabilidade do Go- verno Imperial, em algumas comunidades, como a de Gua- biruba, onde predominava a religião católica, não se co- A primeira capela católica de Brusque em gravura de Francine gitou esperar por auxílio pú- Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz blico e, logo após a chegada o primeiro sino de Brusque, as pesquisas de Roque Luiz dos imigrantes, um oratório em 1864, são da localidade de Dirschnabel (2018), a primei- Guabiruba. Na Stadtplatz não ra capela foi construída no 1860, ano do assentamento havia capela, o que obrigava centro de Guabiruba, nas ter- dasfoi edificado primeiras ainda famílias em fins ale de- o padre a celebrar no bar- ras de Franz Jakob Klein. De- mãs. Guabiruba guarda muito racão dos imigrantes. Ao se nominada Mariahilfskapel- pioneirismo. Pe. Eder Celva referir ao assunto, Oswaldo le (Capela Nossa Senhora do conta que em abril de 1861, Perpétuo Socorro), foi cons- o primeiro templo católico da truída de espiques (caules) uma capela apta para o culto ColôniaCabral (1958)Itajahy-Brusque confirma foi que o de palmito. O piso da capela litúrgico,os colonos sendo já têm que, finalizada quan- da então Guabiruba do Norte. era de chão batido e a cober- do o padre Gattone, Vigário Ainda em meio à mata, os co- tura de palha. de Gaspar, visitou Brusque Existem referências de que pela primeira vez em junho cruzeiro, que logo se trans- já no ano de 1862 existia uma daquele ano, celebrou na ca- formoulonizadores em ermidafixaram (pequenaum tosco capela na Guabiruba do Nor- pela de Nossa Senhora do igreja em lugar ermo), encos- te Alta (atual bairro Aymoré), Perpétuo Socorro. A primeira - denominada Capela de San- igreja de Brusque, a primeira cia do rio Pomerânia com o to Afonso. Em julho de 1862 escola paroquial, em 1862; e riota acima, Guabiruba. próximo De acordoà confluên com ocorreu a bênção desta cape- 44 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

na Capela de Santo Afonso foi desativado por volta de 1867 (CELVA, 2013). Ayres Gevaerd publicou sobre a religião católica em Brusque em 1973, trazendo um registro das principais ocorrências no campo espiri- tual desde os primeiros dias da Colônia até a data da Lei que a elevou à condição de Freguesia de São Luiz Gonza- ga, o qual transcrevemos, em partes: A primeira capela da

em Guabiruba, às expensas danascente própria colônia comunidade, foi edificada logo no início de 1861, e dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e por isso é consi- derada a primeira padroeira da Colônia Itajahy-Brusque. Um ano antes, em outubro de 1860, o diretor, Barão Maxi- milian von Schneeburg, em seu segundo relatório, enca- Padre Alberto Francisco Maximiliano Gattone em gravura de recia a necessidade de um Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz sacerdote para «confessar, la pelo padre Gattone, ocasião ruba do Norte Alta, o colono casar e enterrar». No dia 9 de em que também foi realiza- José Scharf esfacelou uma das da a primeira comunhão das mãos. Sua espingarda, que primeira visita de um padre, junho de 1861 verificou-se a crianças. Anexo à capelinha preparara para saudar o pa- Alberto Gattone, à Colônia, na se encontrava o cemitério, dre, disparou acidentalmente. ambos alocados em terreno Scharf precisou ir a Itajaí, em documento de 20 de agosto qual ficou por sete dias. No doado por João Scharf. No canoa, para medicar-se. Com de 1862, Schneeburg infor- início de 1863, quando da vi- o passar dos anos, a vida de ma que celebrou, mediante sita do padre Gattone, entre fé e comunidade passou a ser contrato assinado, vários ca- as manifestações de regozijo centralizada na Capela Nossa samentos que seriam abenço- - Senhora do Perpétuo Socor- ados na próxima visita do pa- tes na linha colonial de Guabi- ro, no centro. O culto litúrgico dre ou do pastor evangélico. da parte de seus fiéis residen 45 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

O relatório correspondente a 1862 registra a existência na Colônia de quatro capelas, três delas já abençoados por Gattone. Em 1864 o número de ca- pelas subira a cinco. A 21 de maio desse ano [1864] os colonos Pedro José Werner e Pedro J. Heil pediram à ad- ministração da Colônia per- missão para construir, com recursos próprios e de outros - caminhando o pedido ao pre- sidentefiéis, uma da igrejaProvíncia, na sede. Schnee En- burg sugere a construção, por rua principal, em uma “colina aindarazões com que mato”.explica, Entretanto, no fim da segundo outro documento de 21 de maio, e como resultado da reunião dos colonos cita- dos e outros, foi resolvida a construção no lugar demar- cado pelo então presidente Pedro Leitão da Cunha, “por suas próprias mãos para a fu- tura igreja do governo”. Essa igreja, se é que se pode dar essa denominação, tinha 42 palmos de frente por 72 de Primeiro sino da colônia, instalado em Guabiruba em 1864. Acervo: SAB fundos, construída com es- teios, “palmos de plumo, en- Luis Gonzaga. Gevaerd (1973) do lado de fora. Gattone rezou ripada e barreada”, foi solene continua informando: Disse o a missa e abençoou o sino, fa- e festivamente abençoada nos barão em documento que a moso hoje, denominado “Ana dias 17 e 18 de novembro de missa foi celebrada pelo pa- Suzana”, atualmente guarda- 1866 sob a invocação de Nos- dre Alberto Gattone estando do no Museu Arquidiocesano sa Senhora das Dores, sendo presentes para cima de 300 Dom Joaquim, em Azambuja. a semente da atual matriz São Pe. Celva (2013) complemen-

46 pessoas, além das que ficaram Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história ta informando que o primeiro Apóstolo (Gaspar) e Brusque. de 1874, a população católica sino da Colônia Itajahy-Brus- Um documento de 6 de janei- da Colônia assistiu ao início que havia vindo dois anos an- ro de 1871, de nº 4, anota que da construção da nova igreja, tes, em 1864, e instalado na um abastado doutor do Tirol desta vez com planta da edi- colônia alemã de Guabiruba, remeteu para a Igreja Cató- - possivelmente na Capela de lica da Colônia, paramentos, da e aprovada. Os luteranos Santo Afonso, Guabiruba do atendendo pedido feito pelo jáficação haviam previamente inaugurado estuda a sua Norte Alta (atual bairro Ay- padre Gattone, a caritativos primeira casa de oração em moré). De grande valor his- europeus. A 1º de agosto de 1872. A igreja católica só foi tórico, desde 1978 este sino 1872 Paes Leme, diretor da abençoada em 1877. está na Capela Nossa Senhora No trabalho intitulado “As Aparecida, no bairro Guabiru- seus superiores, o esforço de Primeiras Paróquias de Ita- ba do Sul. seusColônia, colonos, justifica católicos junto e aoslu- jaí, Gaspar, Brusque e Blume- A 16 de abril de 1867 foi - nau”, o Pe. Antônio Francis- criada, por Portaria Imperial, co Bohn apresenta uma rica a Capelania, e nomeado o pa- templos.teranos, noA sentido31 de julho de edifi de contribuição em relação às dre Alberto Gattone primei- 1873carem veio definitivamente, o desmembramen seus- quatro paróquias mais anti- to pelo qual tanto trabalha- gas do Vale: a paróquia San- Tranquilizou-se a Comunida- ram Schneeburg e Paes Leme, tíssimo Sacramento (Itajaí), ro Cura com residência fixa. a Lei nº 693, assinada por fundada em 12/08/1833; igreja, simples, modesta «de Pedro Afonso Ferreira, Presi- São Pedro Apóstolo (Gaspar), palmosde católica. de plumo, Afinal, enripada tinha sua e dente da Província de Santa fundada em 25/04/1861; barreada, com pequena torre Catarina, etc. São Luis (Brusque), fundada e um sino de quase sete ar- Artigo 1° - Os Distritos das em 31/07/1873, e a paró- robas, etc., e o seu Cura, para Colônias Itajaí e Dom Pedro quia de São Paulo Apósto- “confessar, casar e enterrar” - lo (Blumenau), fundada em na pitoresca expressão do guesia do Santíssimo Sacra- 31/07/1873. Ele informa barão». E o “Ana Suzana” ia si- mentoficam desmembrados do Itajaí, para daforma Fre- que, ao longo dos anos, mui- nalizando e regulamentando rem nova Freguesia, com a tas novas paróquias foram a vida eclesial e social da Co- denominação de São Luiz, a sendo desmembradas destas lônia. Pe. Eder Celva (2018) qual é criada precedendo li- primeiras. O Pe. Bohn (1989) complementa dizendo que os cença do Ordinário, na forma conta que, quando chegou sinos cumpriam uma impor- da Constituição do Bispado. a Gaspar e, com a criação da tante missão eclesial, huma- Artigo 2º - Os Limites da Freguesia (o termo paróquia na, psicológica, sentimental e nova Freguesia são os mes- é mais recente, anteriormente comunitária. mos dos atuais Distritos colo- o termo Freguesia era o mais Conforme Gevaerd (1973), niais. usado), Pe. Gattone começa a antes padre Gattone atendia Artigo 3º - Revogam-se as fazer anotações sacramentais simultaneamente a Colônia disposições em contrário. da região onde atuava, in- dos Belgas (Ilhota), São Pedro Finalmente, a 21 de junho cluindo Brusque e Blumenau. 47 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Antiga igreja Matriz São Luiz Gonzaga. Acervo: SAB

No passado, os livros pró- Eder Celva (2018) comple- O Pe. Alberto Gattone foi o prios de registro eram so- menta informando que no primeiro vigário e chegou a mente os originais, por isso Gaspar no ano de 1861 para alguns se encontram bastante a Diocese de Curitiba, à qual atender religiosamente a po- - Brusquefim do Padroado,passou a pertencer. foi criada po e, devido à qualidade da Foi a partir desse tempo que inaugurar, em 1867, a nova tintadanificados utilizada, pela muitos ação do foram tem os párocos passaram a fazer capelapulação de do São lugar Pedro e fica Apósto lá até- restaurados para que não se o livro próprio do Tombo das lo, quando então se transfe- perca esta fonte preciosa de paróquias; o da Paróquia de re para Brusque. Com a che- dados. Todos os antigos livros São Luis data de 1892. Padre gada do Pe. Alberto Gattone de batizados, casamentos e Eder conclui esclarecendo em Gaspar, Brusque começa óbitos estão arquivados no que, desde que a Diocese de a ser atendida também por Arcebispado, principalmente Florianópolis foi criada, em este sacerdote, duas vezes os do século XIX. Os demais 1908, e até hoje, os municí- por ano. Pe. Bohn conta que, se encontram nos arquivos pios de Itajaí e Brusque per- na Colônia Itajahy-Brusque das respectivas paróquias. O tencem a ela. Gaspar, por sua as funções religiosas eram Brasil viveu sob o regime do vez, quando da criação da realizadas num dos ranchos padroado até a Proclamação Diocese de Blumenau, no ano de imigração. No entanto, a da República, que tornou o de 2000, passou a pertencer a insistência popular era muito esta Igreja Particular. grande para que se construís-

48país oficialmente laico. Pe. Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Santuário de Azambuja, tendo ao fundo o Morro do Rosário. Acervo: SAB se uma igreja. Pela demora do Ganarini, Pe. João Fritzen, e religiosa em Brusque, o Com- Governo, os senhores Pedro o sempre lembrado Pe. Antô- plexo de Azambuja merece Werner e Pedro Jacob Heil, em nio Eising, todos diocesanos. destaque especial. Pe. Celva 24/05/1864 tomaram a ini- A partir de 1904, começa o (2017) diz que em 1876 já se ciativa da construção, sendo atendimento pastoral dos pa- pensava em construir ali uma que dois anos depois foi inau- dres da Congregação do Sa- igreja. No centro natural da gurada a igreja na sede da co- grado Coração de Jesus. Ain- linha, uma bela fonte parecia lônia e também a eles coube a da conforme o Pe. Bohn, até indicar o local da igreja, mas iniciativa de conseguir o sino. o ano de 1989 as seguintes no princípio a fonte de água Pe. Gattone trabalhou 20 anos paróquias haviam sido des- foi apenas coberta e virou um em Brusque, de 1861 a 1881, membradas da paróquia São tendo se dedicado com amor Luis Gonzaga: Botuverá, cria- que a comunidade se uniu e, ao magistério e ao ministé- da em 31/07/1912; Vidal Ra- emoratório. 26 de maio No final de 1885 de 1884 foi ce é- rio pastoral. Com sua saúde mos, em 1951; Guabiruba em lebrada a primeira missa na debilitada seguiu para o Rio 19/03/1963; Dom Joaquim, capela. Em 1892, uma nova de Janeiro em 1882, onde fa- em 16/11/1969 e Santa Tere- igreja foi erguida, exatamen- leceu a 28/01/1901. Outros zinha em 13/01/1974, estas sacerdotes tiveram impor- duas últimas no município de interna do atual santuário. Pe. tância no prosseguimento Brusque. Celvate no lugar(2018) onde conclui fica a inforparte- dos trabalhos: Pe. Arcângelo No que se refere à questão mando que desde 1905 o tem- 49 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz plo de Azambuja é Santuário tais para a sociedade. Ou- Luteranos Episcopal, ou seja, goza de tras obras foram surgindo... direitos e deveres próprios. Atualmente, o Complexo de em Brusque Em 2009 o Santuário tam- Azambuja ainda abriga o San- bém foi erigido como paró- tuário de Azambuja, a Gruta, Com a chegada do primei- quia. Ao longo da sua história, o Morro do Rosário, o Museu ro grupo de imigrantes que Azambuja teve – e ainda tem Arquidiocesano, o Hospital - jahy-Brusque também chega- – obras de importância: Santa e o Seminário, formando um deu início oficial à Colônia Ita Casa de Misericórdia, Escola conjunto de instituições im- ram os primeiros imigrantes Paroquial, Asilo, Hospício, Se- portantes. Devido ao seu im- alemães que professavam a minário Episcopal e Primeiro portante complexo histórico, religião luterana. Assim, com Hospital de Brusque. Azam- social, religioso e cultural, o base nas informações dispo- buja começa a ser um local Vale de Azambuja é local de níveis no site da Igreja Evan- importante para toda região, peregrinações de turistas e pelas suas instituições, vi- devotos de todo o Brasil. de Brusque (2018), é possível informargélica de que Confissão a história Luterana da Co- munidade Evangélica Lute- Durante os seus primeiros 15 anos, a população rana iniciou com a chegada, da colônia Itajahy-Brusque era quase toda em Brusque, dos imigrantes teuta (alemã), mas de forma diversa do que pioneiros em 4 de agosto de aconteceu com a Colônia Blumenau, onde as l860. Dentre eles, estavam as primeiras levas de imigrantes alemães foram famílias luteranas de Augusto exclusivamente de evangélicos luteranos. Se Hoefelmann, Frederico Gui- em Blumenau os primeiros católicos começaram lherme Neuhaus, Frederico a chegar de 1854 em diante, e sempre em Orthmann, Daniel Walther e número diminuto em proporção ao de Luiz Richter, todos casados protestantes, Brusque recebeu mais imigrantes - da religião católica. O relatório da diretoria da tes, ainda que não o tenham e com filhos. Esses imigran Colônia de 1863 assinala uma população percebido, foram os respon- dividida em 204 casais, dos quais 139 casais eram sáveis por plantar a semente católicos (68%), 53 eram luteranos (26%) e os evangélica em Brusque, que demais eram mistos (6%). O relatório de 1866 - aponta uma população com 931 nizadores foram acolhidos no cresceu e floresceu. Os colo católicos (70%) e 402 luteranos (30%), galpão de Pedro José Werner indicando a predominância quantitativa da e, meses depois, foram esta- religião católica sobre a luterana. Essa belecidos à margem esquerda predominância se acentuou ainda mais a partir do rio Itajaí-Mirim, na loca- de 1875, com a chegada dos imigrantes lidade de Bateas. À medida italianos, dentre os quais não havia luteranos. que chegavam mais coloni- zadores, novos luteranos se 50 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Pastor Sandreczki e esposa Elisabeth Groben em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz somavam aos que já estavam em seus relatos, encontramos l863, juntamente com o batis- estabelecidos na Colônia. Os o registro de que a primeira mo da criança Heinrich Frie- imigrantes luteranos haviam Ordem da Comunidade Evan- - trazido consigo a Bíblia, o gélica de Brusque foi aprova- tor Hesse. Sobre o primeiro Hinário e o Catecismo Menor, da no dia l7 de abril de l863, cultodrich daKuhl, Igreja oficiado Evangélica pelo pas de e em Bateas a comunidade com a presença do pastor Brusque existem registros de - Hesse, de Blumenau, sendo que tenha sido em 17 de abril terana se reunia em uma pe- assim considerada como sen- de 1863, mesma data em que evangélicaquena casa primitiva de confissão coberta lu foi aprovada a primeira Or- por folhas de palmitos, pare- da Comunidade Evangélica dem da Comunidade Evangé- des de barro, sem assoalho e dedo Brusque.a data oficial Mas, da antes fundação disso, lica de Brusque. sem janelas, sendo o serviço no dia 1º de janeiro de l861 Nos primeiros tempos da religioso praticado pelos pró- foi realizado, em caráter de Colônia Itajahy-Brusque, a prios colonos. Os cultos eram emergência pelo estado da comunidade luterana se reu- celebrados quando das visi- criança, o primeiro batismo nia para os cultos dominicais tas do Pastor Hesse. de Heinrich Paul Gustav Phi- no barracão dos imigrantes, Pelas informações deixa- lip Ludwig Sabel, o qual foi um rancho feito de palmitos, das pelo pastor Sandreczki sem assoalho e sem janelas. O

ratificado no dia 2l de abril de 51 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

ali cheguei de surpresa, sem cantos nem toques de sinos de recepção pública e, no dia 25/02/1865, me apresentei ao diretor da Colônia, o Barão Maximilian von Schneeburg”. O pastor recém-chegado deu início às atividades que o es- peravam. Citaremos alguns fatos interessantes de como prosseguiu sua jornada aqui em Brusque. O primeiro se-

Igreja Evangélica (Evangelische Kirsche), no tempo do pastor Sandreczki. pultamento foi já no dia 23 Era igreja e ao mesmo tempo escola. Acervo: SAB de março de 1865, do jovem primeiro barracão da Colônia dade passou a ter um pastor Gustavo Neuhaus. O primei- Itajahy-Brusque, ou “Casa da residente. Seu pai era de des- Imigração” foi construído em cendência polaca, nascera na preparado a receber a Con- ro grupo de confirmandos foi 1860, na região onde está edi- Baviera e desde muito jovem, Sandreczki teve contato com se deu no dia 9 de julho de firmação do Batismo, o que Araújo Brusque, rua Hercílio l865 com os seguintes jovens: Luz,ficado também o Clube conhecida de Caça e como Tiro Johann Anton Heinrich San- Friedrich Johann Mohr, Elisa- “Rua das Carreiras” no bair- dreczkios ofícios foi religiosos. ordenado O pastor beth Krumenauer, Carolina ro Centro, bem próximo do no dia 2l de fevereiro l864, Werner, Hans Todt, Augusto rio Itajaí-Mirim. Era o espaço em Würtemberg e designado L. Werner, Loise Feige, Ger- destinado à recepção e hos- pela missão da Basileia para pedagem dos colonizadores. ser pregador dos colonizado- Korb, Charlote Jungblut e Ana trudes Kannengiesser, Sofia Depois, os cultos dominicais res alemães no Brasil, especi- Wagner. O primeiro matri- passaram a ser realizados em mônio realizado pelo pastor um galpão. Colônia Itajahy-Brusque. No Sandreczki foi de Johann W. Até início de l865, os imi- diaficamente 9 de outubro para ser de pastor 1868, na o Wandrey e Maria Charlota grantes luteranos de Brus- pastor Sandreczki se casou, Johanna Joenk, em 1º de no- que foram periodicamente no Rio de Janeiro, com Elisa- vembro de 1865. No dia 25 de servidos pelo pastor Oswald beth Groben, que acompa- novembro de 1865, a comuni- Hesse, primeiro pároco de nhou seu esposo na vida pas- dade reuniu-se com o pastor Blumenau. Depois de muitos toral em Brusque. Sandreczki e aprovou uma pedidos, para alívio e ale- O pastor Sandreczki fez nova Ordem da Comunidade as seguintes anotações so- para que em todos os domin- de 1865 chegou Johann An- bre a sua chegada a Brusque: gos fossem realizados Cultos. tongria Heinrich dos fiéis, Sandreczki, em fevereiro o “Depois de quatro dias ca- Ainda conforme o histó- primeiro pastor, e a comuni- valgando uma mula, sozinho, rico disponível no portal da 52 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Luterana no alto da colina. Acervo: SAB

- de estava sem casa de oração. Alemanha e rei da Prússia, são Luterana de Brusque, em O Governo ajudou com uma que ainda hoje decora a casa Igreja1866 o Evangélicapastor Sandreczki de Confis re- pequena verba para a cons- de oração. A obra original se quereu um lote de terras do trução da primeira capela encontra na Catedral de An- Governo Imperial para cons- que, somada aos recursos da tuérpia, na Bélgica. A nova ca- truir o templo e a casa paro- própria comunidade, possibi- pela foi inaugurada em 1872 quial na Stadtplatz. O pastor litou a construção da igreja, e, já naquele ano, no dia 14 de Sandreczki agora já conhecia que não era suntuosa, mas julho, a diretoria da Comuni- os membros da Comunidade digna. O principal ornamento dade resolveu que os cultos Luterana, formada por 220 do altar dessa igreja era uma dominicais seriam realizados famílias e acreditava ser pos- cópia do quadro “A descida na igreja da sede da Colônia. sível iniciar a construção da da Cruz”, do famoso artista própria capela. Ao dar início alemão Peter Paul Rubens, otimização pela centralização à construção da nova capela, doado pela Rainha da Prússia, doA medidatrabalho se e justificavaa partir de pela en- em 1869, o rancho onde se sua majestade Vitória Ade- tão a realização de cultos em realizavam os cultos já havia laide Maria Luísa, esposa de outros lugares só seria auto- desmoronado e a comunida- Frederico III, imperador da rizada em casos de extrema 53 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz necessidade. va em uma sala anexa à casa sua estada, as atividades fo- Em 1870 o pastor San- do pastor Sandreczki. Apenas ram intensas. Neste período dreczki tomou algumas me- um ano depois, em 1873, a foi construída e inaugurada a didas bastante fortes que não Escola já era frequentada por bela Igreja no topo da colina, agradaram a Comunidade, 53 crianças. O primeiro pré- centro da cidade, a qual co- a saber, a decisão de que só dio da escola foi concluído em nhecemos hoje. crianças com 14 anos com- 1878 e o pastor Sandreczki Em 1º/03/l896 o pastor pletos e que soubessem ler e foi professor até 1880. Até o Lange substituiu o pastor - ano de 1882 o Governo paga- Czecus, que foi transferido madas. Mais tarde, essa medi- va o ordenado do pastor. Mas para Blumenau. A partir de daescrever se revelou poderiam uma verdadeiraser confir as famílias eram responsáveis 1903 o coral da Comunidade bênção para a Comunidade. pelas demais despesas da Co- reuniu-se para seus ensaios e Em 1871, foi construída a munidade e da Escola. para cantar louvores ao Cria- primeira casa paroquial, sen- dor nos cultos festivos. No dia do de propriedade do pas- o pastor Johann Anton Hein- 11/06/1905 a Comunidade tor Sandreczki e mais tarde richNo Sandreczki final de agosto deixou de 1880,a co- - transferida para a Comunida- munidade de Brusque para nidade Evangélica da Prús- de. As primeiras casas pasto- assumir a comunidade de siaEvangélica e, em 11/11/1907, foi filiada à Comuforam rais eram também o espaço Blumenau, mas continuou aprovados novos estatutos. para a escola ou a doutrina. a dar assistência à Brusque Outro marco importante foi A sala da casa pastoral torna- até agosto de l889, quando a a fundação da Associação de va-se um recanto de ensino visitou pela última vez, trans- Damas de Caridade, hoje co- e doutrinação, preparando ferindo-se, então, para os Es- nhecida como Ordem Auxilia- para a vida de fé e para a ma- tados Unidos. dora de Senhoras Evangélicas nutenção das tradições. Com a transferência do Damas de Caridade (OASE A religiosidade, a educação Pastor Sandreczki a comuni- – CARIDADE), em novembro e a disciplina sempre foram de 1907. Em julho de 1909 o consideradas fundamentais pastor Lange, por motivos de para os alemães luteranos, e semdade evangélicapastor residente. de confissão Du- saúde, deixou a Comunidade. o relatório pastoral expressa ranteluterana 10 anos de Brusquea comunidade ficou A partir de 1º/01/1910, a preocupação de a Comuni- evangélica luterana fora aten- o pastor Gerold Hobus assu- dade ter uma Escola Evan- dida pelo pastor Sandreczki me, era o quarto pastor da - que vinha mensalmente de Comunidade Evangélica Lu- Blumenau a Brusque. Depois terana de Brusque. Em 1911 semgélica, o aprendizadopois os filhos da dos escrita imi a Comunidade adquiriu um egrantes leitura. não Graças poderiam ao esforço ficar comunidade recebeu o seu 2º relógio, da Alemanha, que foi conjunto dos membros da Pastorde longa residente, espera, finalmenteP. Julius von a instalado na torre da igreja igreja, em 20/04/1872 foi Czecus, no dia 25/05/l890, no mesmo ano. Este relógio fundada a Escola Evangélica que permaneceu em Brusque continua dando testemunho que, inicialmente, funciona- até fevereiro de l896. Durante à população de Brusque, pela 54 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Evangélica Luterana, paróquia Bom Pastor. Brusque. Acervo: Rosemari Glatz

Em 3/05/l894 foi lan- das laterais e do altar, e en- também foi renovada toda çada a pedra fundamental quanto a igreja era restau- a cobertura da igreja. da igreja, construída du- rada e ampliada, os cultos A igreja recebeu mais rante a estada do pastor dominicais eram realizados uma reforma, do piso Czecus. Sua inauguração na Casa da Comunidade. ao telhado, de 1978 a se deu no dia 6/01/l895 e, Durante os anos de 1959 28/10/1979. mais tarde, para a alegria e 1960 foi efetuada uma Considerado o segun- da Comunidade, foi inau- campanha para a compra do prédio mais antigo de gurado o primeiro sino da de um novo órgão, encabe- Brusque, em 2014 o tem- igreja. çada pelo então maestro plo da Igreja Evangélica No dia 12/08/1928 foi Aldo Krieger. comemorado o 65º ani- Este órgão ainda conti- Brusque (IECLB) passou versário da Comunidade, nua embelezando as horas porde Confissão uma restauração Luterana para de com a vinda do segundo de culto de louvor a Deus. que a história da comuni- sino. A igreja foi renovada Sua inauguração foi no dia dade, e também de Brus- em 1942, com ampliação 9/08/1960. No mesmo ano que, possa ser preservada.

55 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz sua robustez e pontualidade dos primeiros sínodos, que REFERÊNCIAS até hoje. se uniram numa federação O pastor Hobus desenvol- sinodal em 1949, que no ano BOHN, Pe. Antônio Fran- veu suas atividades em Brus- de 1968 se transformou na cisco. As Primeiras Paróquias que até março de 1914. A hoje conhecida IECLB (Igreja de Itajaí, Gaspar, Brusque e Comunidade então se dirigiu - Blumenau. Blumenau em Ca- ao Conselho Mor em Berlim rana no Brasil), a comunidade dernos, Tomo XXX. Nº 11 e Evangélica de Confissão Lute (Alemanha), pedindo um su- evangélica luterana de Brus- 12. Novembro e dezembro de cessor para o pastor Hobus 1989. e este chegou no mesmo ano, Igreja na Alemanha, e passa a CELVA, Pe. Eder Cláudio. que deixa de ser uma filial da na pessoa do P. Eberhardt ser uma das milhares de co- História da Igreja Católica em Neumann, que permaneceu munidades que integram a Guabiruba: Cinquentenário em Brusque até 1920. IECLB atualmente. da Paróquia, 2013. Com a transferência do Ao longo de quase 160 CELVA, Pe. Eder Cláudio. pastor Eberhardt Neumann - Informações fornecidas a Ro- para Blumenau, foi eleito o cativamente, de sorte que ao semari Glatz, por e-mail, em anos, Brusque cresceu signifi longo destes últimos 60 anos, outubro de 2018. foi instalado em culto festivo com o crescimento da popula- CELVA, Pe. Eder Cláudio. pastor Albert Bornfleth, que no dia 15 de agosto de 1920. ção nos diversos bairros e na Seminário de Azambuja – 90 Em 12 de junho de l921 foi região, a Igreja Evangélica de anos. Notícias de Vicente Só. lançada a pedra fundamental Sociedade Amigos de Brus- da casa pastoral. Seria de dois também expandiu, e surgiram que. 2017. Confissão Luterana no Brasil pavimentos, a ser construí- mais cinco comunidades nos DIRSCHNABEL, Roque da no mesmo lugar daquela bairros brusquenses: Dom Jo- Luis. Entrevista concedida a construída em 1871. Nada aquim, Santa Luzia, Paquetá, Rosemari Glatz, por e-mail, consta sobre sua inaugura- Bateas e Santa Terezinha. Nos em 9 de julho de 2018. De ção, mas serviu aos pastores municípios vizinhos foram acordo com as pesquisas rea- até l956. fundadas quatro comunida- lizadas por Dirschnabel. Desde a sua fundação em des: Em Guabiruba: Holstein, GEVAERD, Ayres. Primeiro 1863 até o período sucessivo Lorena e um Ponto de Pre- Centenário da Freguesia de à 2ª Guerra Mundial, a comu- gação no Sternthal. Em Nova São Luiz Gonzaga. Blumenau nidade evangélica luterana Trento: Claraíba. em Cadernos. Tomo XIV, julho Recentemente foi iniciada de 1973, Nº 7. Igreja Evangélica de Berlin – uma nova comunidade evan- LUTERANOS. Igreja Evan- Alemanha.de Brusque era uma filial da Somente com a união das na cidade de São João Batista, de Brusque. Disponível em: gélica de confissão luterana centenas de comunidades sob a responsabilidade da pa- http://www.ieclbrus.com.gélica de Confissão Luterana evangélicas luteranas espa- róquia luterana brusquense: br/historia.html> Acesso em lhadas no Brasil, especialmen- Unidos em Cristo (Paquetá). 23/09/2018. te no Sul, com o surgimento 56 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Primeira escola pública feminina estabelecida na sede da Colônia. Acervo: SAB Escolas nos primeiros anos da Colônia

Quando os primeiros imi- território. Os camponeses ale- cação nas colônias (IPHAN, grantes alemães chegaram mães emigrados para o Brasil 2018). E assim, independen- na Colônia Brusque tiveram eram, na sua maioria, alfabe- temente de ser na área agrí- que enfrentar trabalho árduo tizados, pois, desde o início cola ou na Stadtplatz, desde e penoso. Um grande número do século XIX, a escolarização os primeiros tempos uma das de imigrantes não era agricul- infantil era obrigatória nos preocupações básicas dos Estados alemães. Foi comum imigrantes foi a questão da urbanas, mas todos eram a organização de sociedades educação das crianças, pois a igualmentetor pois exerciam denominados profissões “co- escolares, as “Schulvereine”, família, a escola e a igreja se lonizadores ou colonos”, pois com o objetivo de suprir as complementam e constituem vieram para “colonizar” um - os principais pilares da socie-

deficiências relativas à edu 57 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz dade. da língua-mãe e à manuten- Como raramente o Governo ção da identidade alemã. se preocupava com a questão Sobre a questão do ensino da educação – tão importante na Colônia Itajahy-Brusque, para os imigrantes germâni- Ayres Gevaerd (1961) infor- cos, que já tinham aprendido ma que era grande a preocu- em sua terra de origem sobre pação do Barão von Schne- a força da educação e da disci- eburg, com a extraordinária plina para o desenvolvimento visão de que era dotado. Já de uma sociedade, a iniciativa em 24 de outubro de 1860 para ministrar aulas foi assu- dirigia-se ao presidente da mida pelos próprios coloniza- Província requerendo, com dores. De acordo com IPHAN urgência, a implantação de (2018), muitas escolas comu- escolas na nascente colônia. nais foram erguidas por mu- Atendendo aos contínuos pe- tirão pelos próprios colonos. didos do Diretor, em 30 de Assim surgiram inúmeros julho de 1861 foi instalada a conjuntos de “casa e escola” primeira escola pública da co- do professor. Dezenas dessas lônia, dirigida pela professora construções pontilhavam a Professora de Brusque, Augusta Sofia von Knorring. paisagem rural. As escolas co- mas ela atendia apenas crian- Acervo: SAB munitárias eram elemento in- çasAugusta do sexo Sofia feminino. von Knorring, Ainda segundo Gevaerd, no Relató- a professora de morar fora, das colônias e representavam rio de 1º de janeiro de 1862, em um rancho particular que adispensável principal instituição na configuração da co- o diretor interino da Colônia, alugou. Em julho de 1862, o munidade, destinada à manu- João André Cogoy Junior, re- Governo ordenava providên- tenção e estímulo ao uso do clamou a criação de uma es- cias para a construção da casa idioma. Eram caracteristica- cola para o sexo masculino, para a escola pública, possibi- - pois a feminina já fora cria- litando também moradia ane- tral era o colono-professor da. É justo, salientou aquele xa para a professora. Em de- que,mente muitas locais vezes, e sua concentrafigura cen- diretor interino, dar-se aos zembro daquele mesmo ano o va também as tarefas religio- professores casa para a esco- sas e recreativas. Muitas ve- “tijolos, barreada e rebocada”, zes o professor era o chefe de para morada, pois a existente deedifício acordo estava com pronto, o Relatório era de alguma família da localidade, apenasla, com serve cômodos para suficientes nela fun- de 1863. Essa casa achava- e por isso sobrepunha sua ati- cionar a escola por ser so- se localizada na Stadtplatz. vidade de ensino à atividade mente uma adaptação provi- No Álbum do Centenário de agrícola. Além disso, as aulas sória de uma quarta parte de Brusque (1960) encontramos ministradas em alemão eram um dos ranchos de recepção, diversas informações sobre a uma garantia à sobrevivência sem outra capacidade, tendo questão educacional à Colô- 58 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Deutsche Evangelische, atual Colégio Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB nia Itajahy-Brusque. Piazza tempo em que os imigrantes começou a funcionar ainda comenta, no referido livro, chegaram, o Padre Alberto em 1862, nas imediações da que em 1864 foi autorizada a Francisco Maximiliano Gatto- primeira capela – Mariahil- criação de uma escola de ins- ne apostolava em Blumenau fskapelle, e com isso vem a trução primária pública para e Gaspar quando foi chamado ser, de fato, a primeira escola o sexo masculino na Colônia pelo Barão Maximilian von não pública da Colônia Itajahy Itajahy-Brusque, com salário Schneeburg, Diretor da Colô- -Brusque. A escola tinha como do professor pago pelo gover- nia, para atender ao crescente professor o sacristão Frederi- no. Mas essa escola, instala- número de famílias católicas co Nützel que, antes de atuar da no centro da Colônia, não da Colônia Itajahy-Brusque. como professor, já ministrava atendia as comunidades do Face a ausência de professo- a catequese e escolarizava as interior da Colônia e também - crianças e os jovens, sob a co- nessas comunidades a ques- ne estimulou alguns colonos ordenação do Pe. Gattone. tão da educação das crianças parares qualificados, que ensinassem o Pe. as Gatto pri- Outro tipo de organização era uma das preocupações meiras letras em suas comu- escolar surgiu juntamente básicas dos imigrantes. nidades e, assim, alguns colo- com as escolas rurais teu- Um relato importante nes- nizadores mais esclarecidos to-brasileiras e, em muitos te sentido é o de Dirschna- assumiram a nobre função casos, as substituiu. São as bel (2018). Ele informa que, de ensinar. A primeira esco- “Schule und Kirche”, assim segundo suas pesquisas, no la paroquial de Guabiruba chamadas a igreja e escola, 59 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Grupo Escolar Feliciano Pires. Alunos do primeiro ano masculino em 1920, junto com a professora Reinalda Moritz. Acervo: SAB um modelo alemão onde es- escolas vinculadas às igrejas (quando não era um religio- cola e igreja existem em per- e pagas por particulares. Se- so). Além disso, ao contrário feita simbiose. Elas estiveram gundo IPHAN (2018), são as do que acontecia na zona ru- estreitamente unidas no sis- escolas comunais ligadas às ral, nessas escolas era ensina- tema colonial, uma vez que comunidades religiosas cató- do o idioma português como o governo deixou a educação lica e luterana, e desenvolve- uma das disciplinas do currí- por conta e risco da iniciativa ram-se independentemente culo e segunda língua dos alu- particular. dos governos, tanto do Brasil nos. O ensino geral, contudo, Na escola da “Stadtplatz”, quanto da Alemanha. Pasto- era ministrado em alemão. havia professores pagos pelo res, padres e freiras foram os A pesquisadora Emilia Ro- Governo, mas em número in- principais responsáveis pela senbrock (2018, no prelo) sua estruturação, mas tais es- apresenta importante contri- a população em idade esco- colas predominavam nos nú- buição sobre a educação pri- lar.suficiente Assim, paraà medida atender que toda se cleos urbanos, na Stadtplatz. mária pública e particular nas regulamentou a presença Nas escolas ligadas às igrejas, escolas nos primeiros anos das igrejas católica e lute- o professor era uma pessoa da Colônia Itajahy-Brusque. rana, com vigário e pastor O estudo, desenvolvido a par- residentes, apareceram as tir do autor Cabral (1958) e qualificada para a função e 60 vivia apenas da sua profissão Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história de outras obras literárias, é protelada. Evangélica Alemã (Deutsche apresentado de forma linear - 1863: em 7 de julho, o Ba- Evangelische Schule, atual Co- no artigo “A Roca do Idioma rão insiste na criação de mais légio Cônsul Carlos Renaux]. Alemão nos Teares do Berço escolas para a Colônia visto a As primeiras aulas foram mi- da Fiação Catarinense”, partes necessidade da implantação nistradas pelo Pastor Johann do qual reproduzimos abaixo, em localidades mais distantes A. Heinrich Sandreczki que de forma resumida. da Sede da Colônia. Sugere a permanece à frente da escola - 1860: demandas do dire- fundação de uma escola para até 1879 quando é transferi- tor da Colônia Itajahy-Brus- atender 47 meninos no Vale do para Blumenau. Em 1873 que, Barão Maximilian von do Braço do Norte do Guabi- a escola alemã particular era Schneeburg, junto ao presi- ruba, hoje Centro, e também frequentada por 53 crianças. dente da Província de Santa para atender com escolas a - 1875: moradores das lo- Catarina para a implantação - calidades de Limoeiro e dos de escolas. teas. Cunha solicitam escolas para - 1861: em 30 de julho, é localidade- 1864: defoi Peterstraβe-Ba autorizada em suas crianças. O Limoeiro re- instalada a primeira escola 22 de abril, a criação da pri- ceberia sua primeira escola e pública da colônia, dirigida meira escola primária pública a localidade dos Cunha já con- para meninos na sede, sendo tava com uma escolinha. von Knorring. A escola públi- professor Maximilian von Bo- - 1876: Frederico Dressel e capela feminina professora estava Augusta estabeleci Sofia- rowsky. Virgínio Fantini continuavam da na sede da Colônia. - 1867: um relatório da Co- com as suas escolinhas na - 1862: o Barão de Schne- lônia informa que a frequên- zona colonial de Tijucas. As eburg reitera seu pedido ao cia escolar havia aumentado e estatísticas do ano de 1876 Governo Provincial para a que três escolas particulares apresentam os seguintes nú- criação de uma escola do sexo funcionavam nos distritos da meros: duas escolas públicas, masculino na Colônia. Colônia. Acrescente-se a este uma para cada sexo e 10 esco- - 1863: em seu relatório de número a escola pública femi- las particulares. 1º de janeiro, correspondente nina e a masculina; - 1878/1879: em 1879 o ao ano de 1862, o Barão von - 1868: em 1º de fevereiro, Governo continuava a sub- Schneeburg volta a insistir na começou a funcionar na loca- vencionar os professores com necessidade de uma escola lidade de Guabiruba do Norte um auxílio mínimo para que para o sexo masculino. Em ou- Alta, hoje Aymoré, uma escola mantivessem suas escolinhas tro documento, Schneeburg particular. primárias nas linhas colo- pede autorização para que os - 1869: haviam sido cons- niais. Houve exoneração de sete meninos da Sede da Co- truídas cinco casas escolares professores por falta de alu- lônia frequentem as aulas na na Colônia. Na Limeira havia nos e fechamento de escolas. escola para o sexo feminino já 30 crianças em idade escolar - 1880: criada em Guabiru- em funcionamento, uma vez e os moradores solicitavam ba do Norte a primeira escola que a criação da escola para uma escola. particular alemã. o sexo masculino havia sido - 1872: Fundação da Escola - 1885: primeira escola no 61 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

REFERÊNCIAS

DIRSCHNABEL, Roque Luiz. Entrevista concedida a Rosemari Glatz, por e-mail, em 9 de julho de 2018. De acordo com as pesquisas rea- lizadas por Dirschnabel. GEVAERD, Ayres. Primór- dios do Ensino Primário em Brusque: Centenário da Pri- meira Escola Pública. Blume- nau em Cadernos. Arquivo Histórico José Ferreira da Sil- va, Tomo IV, nº 7. Blumenau: Alunos das escolas de Brusque em desfile cívico. Acervo: SAB julho de 1961. bairro Alsácia. As aulas acon- - 1903: é fundado o Grupo IPHAN. O patrimônio cul- teciam duas vezes por sema- Escolar Santo Antônio (como tural do imigrante. Roteiros na e em língua alemã. Escola Paroquial, hoje Colégio Nacionais de Imigração – San- - 1886: criada a Escola Iso- São Luís) mantido pela Con- ta Catarina. Disponível em:< lada Desdobrada de Guabiru- gregação das Irmãs da Divina http://portal.iphan.gov.br/ ba do Sul. Providência. O número inicial uploads/publicacao/PubDi- - 1887: Fundada uma es- de matrículas foi de 14 alu- vImi_RoteirosNacionaisImi- cola particular na localidade nos. gracao_SantaCatarina_v2_m. de Águas Claras, na qual resi- - 1917: criadas as Escolas pdf>. Acesso em 13 setembro diam imigrantes alemães, ita- Reunidas de Brusque, que 2018. lianos e ingleses. eram constituídas por uma PIAZZA, Walter F. Álbum - 1898: o Decreto nº 179, escola do sexo masculino, do Centenário de Brusque. de 15 de dezembro, suspen- uma do feminino e uma mis- Edição Sociedade Amigos de deu, a contar de 1º de janeiro ta. Em 1919, passou a funcio- Brusque, 1960. de 1899, as subvenções que nar como Grupo Escolar Feli- ROSENBROCK, Emilia. A recebiam diversas institui- ciano Nunes Pires conforme Roca do Idioma Alemão nos ções escolares em Brusque: Decreto nº 1.200, art. 1º de Teares do Berço da Fiação Escola Evangélica Alemã, Es- 11/02/1919. Catarinense: Considerações cola Guabiruba do Sul, Escola - 1916: o município con- acerca do ensino da língua de Guabiruba do Norte e a Es- tava com 2 escolas estaduais, alemã em Brusque/SC. Notí- cola dirigida pelo Padre Antô- 17 municipais, 2 particulares. cias de Vicente Só – Brusque e nio Eising. - 1920: De uma população Região nº 66. Edição Socieda- - 1890: é criada a primeira de 13.203 habitantes, 4.548 de Amigos de Brusque. Brus- escola na vila de Botuverá. pessoas sabiam ler e escrever. que, 2018. No prelo. 62 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Ao centro, o palacete da família Renaux. Ao fundo, a colina Evangélica e a igreja Luterana. Acervo: SAB A Stadtplatz e o polo gerador do plano urbano

Nos primórdios da Colô- mais importantes; era onde - nia Itajay-Brusque, a sede da os imigrantes recém-chega- vos a limites de propriedade, colônia, ou vila, era um novo resoluçãoconcessão dede conflitosserviços relatiaces- núcleo formado por imigran- posse dos seus lotes e davam sórios vinculados à abertura tes alemães que se estabele- informaçõesdos ficavam da aguardando Alemanha. a de picadas e estradas, tudo ceram como colonizadores Era chamada de Stadtplatz. era resolvido na Stadtplatz em áreas pioneiras que, dia A vila era ao mesmo tem- pelo Diretor e seus auxilia- após dia, foram construindo po aldeia e cidade. Era a sede res. A partir da Stadtplatz, uma sociedade inteiramente da administração da colônia temos o polo gerador do pla- diversa da nacional. Na sede e, por isso mesmo, ponto de no urbano. Ao mesmo tempo da colônia estavam as ven- passagem obrigatória para que ocorria a povoação, eram das, as capelas católica e lute- todos os imigrantes que pre- abertos as picadas e os cami- rana, o cemitério, as escolas, tendessem se estabelecer na nhos, construídas pontes e a sociedade dos atiradores, a área. Quaisquer assuntos re- os ancoradouros para balsas, administração da colônia e o lacionados à posse das terras, botes e barcos. Esta atividade ancoradouro. atribuição de lotes, pagamen- era uma das mais importantes Era para ela que conver- to de dívidas contraídas pe- para o desenvolvimento eco- giam os caminhos coloniais los colonos com o governo, nômico e de suma importân- 63 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

cia para o progresso cultural - na nascente colônia. E, para - como a região de Botuverá, ficavam longe da Stadtplatz, manter as tradições trazidas Stadtplatzca centro (de urbano.Stadt = cida Guabiruba e Dom Joaquim, pelos imigrantes, uma impor- logo nos primeiros anos da de,A vida e Platz social, = lugar), econômica signifi e tante instituição do tempo de Colônia apresentaram um religiosa dos colonos colônia eram as festas: havia núcleo comercial ativo, muito estava estreitamente a festa anual de cada igreja, e antes que outras áreas mais vinculada a ela, especial- a grande festa do município, próximas, como a região do mente a vida econômica. chamada de Schützenverein, Maluche. Com o crescimen- Durante muitos anos, Brus- prestigiada por todas as famí- to, esses pequenos núcleos lias. que foi uma pequena vila, urbanos e suas comunidades Por ter sido colonizada por formada principalmente foram se transformando nos imigrantes alemães, a Colônia por imigrantes europeus bairros que temos hoje, e al- Itajay-Brusque obedeceu ao que acreditaram no va- guns se tornaram cidades in- modelo usual das cidades que lor e nas riquezas deste dependentes, como Botuverá, foram traçadas por alemães. vale, e apresentava certas Guabiruba e Nova Trento. As O estudioso Peluso Júnior características e serviços primeiras picadas e cami- (1991) esclarece que o mo- públicos que faziam dela nhos abertos transformaram- delo alemão adotado em cida- uma cidade em miniatura se em ruas e são, hoje, im- des catarinenses costumava – uma “Stadtplatz”. E, por portantes vias arteriais da eleger a rua comercial como isso mesmo, era um ponto cidade, principais eixos de polo gerador do plano urba- de atração para os colonos penetração para os bairros, no. O ponto de partida para com suas atividades redu- como, por exemplo, as ruas a demarcação dos lotes eram zidas à proporção de um São Pedro, 1º de Maio, Sete as picadas traçadas ao longo pequeno lote colonial. de Setembro, Hercílio Luz, do do curso dos rios e ribeirões. Cedro, entre outras. Brusque, assim como outras cidades catarinenses, cresceu linearmente “entre o rio e a montanha” ao longo da sua REFERÊNCIAS rua comercial, a atual aveni- da Cônsul Carlos Renaux, e de PELUSO JUNIOR, Victor outras estradas e caminhos Antônio. Estudos de Geogra- que penetravam em direção urbanização, locais em que se ao fundo dos vales e monta- destacavam as vendas, centro Editora da UFSC. Florianópo- da vida econômica do lugar. nhas. Ao se planejar a cidade, lis,fia Urbana1991. de Santa Catarina. Brusque se formou de no cruzamento das picadas, SEYFERTH. Giralda. A co- modo descentralizado, com ou em pontos estratégicos lonização alemã no vale do das linhas coloniais, foram re- pequenas comunidades sur- gindo em diversos pontos da Itajaí-Mirim. Um estudo de servados lotes para a implan- desenvolvimento econômi- tação de escolas e igrejas, for- região. Isto permitiu que, de- co. Editora Movimento. Porto mando pequenos núcleos de vido ao sistema das linhas co- loniais, mesmo as áreas que Alegre. 1974. 64 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Xokleng, os indígenas em Brusque

Na tradicional história do ligeira, que conhece todos Vale do Itajaí-Mirim e de ou- os caminhos. Pela literatura tras regiões dos vales do Ita- antropológica, os Xokleng/ jaí, os colonizadores são vis- Laklãnõ eram os índios que tos pelo senso comum e pela habitavam a Colônia Itajahy literatura local como heróis, -Brusque. Regionalmente, são que enfrentaram diversas di- mais conhecidos como índios “Bugres” e “Botocudos”. A de- nominação “Botocudos” está contrasteficuldades, com uma os dessas nativos seria que a associada ao uso de um enfei- sedifícil sentiam vivência ameaçados da colônia pela em te labial pelos homens, deno- grande exploração dos mes- minado tembetá, ou “Bugres”, mos, causando enfrentamen- designação que também foi tos entre ambos, muitas ve- dada pelos brancos, mas zes violentos com resultados com sentido pejorativo. Wiik fatais. Mas, toda história tem (1999, citado por Garrote, dois lados, a versão do ven- 2012) explica que a denomi- cedor e a versão do vencido. nação Xokleng foi inventada Sem entrar na questão de juí- pelos brancos, sendo também zo de valor, pois não cabe aqui conhecidos como “Bugres”, julgar quem foram os “moci- “Botocudos”, “Aweikoma”, nhos” e os “vilões”, mas ape- “Xokleng”, “Xokrén”, “Kaigang nas apresentar fragmentos de Santa Catarina” e “Aweiko- da história de um determi- ma-Kaingang”. nado ponto, pois todo ponto Os índios Xokleng/Laklãnõ de vista é vista de um ponto, eram eram um povo migran- este capítulo apresenta infor- te entre o litoral e o planalto. mações que nos permitem co- - nhecer um pouco mais sobre briam as encostas das mon- os índios Xokleng/Laklãnõ, tanhas,Habitavam os vales florestas litorâneos que co e moradores que os coloniza- as bordas do planalto no Sul dores europeus encontraram do Brasil, vivendo da caça e ao chegar às novas terras. Mãe e filha Xokleng que habitavam da coleta. A Floresta Atlânti- a região. Acervo: SAB ca e os bosques de pinheiros

Laklãnõ significa gente 65 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(araucária) forneciam tudo formados por contingentes rem da caça e da coleta, que o que necessitavam para so- de 50 a 300 indivíduos, apa- variava em seu território con- breviver. Caçavam diferentes rentados entre si. Em cada forme a sazonalidade com- tipos de animais e aves, co- grupo, as famílias eram cons- preendida para cada região: letavam mel, frutos e raízes tituídas com base na monoga- litoral, região dos vales e pla- silvestres. E tinham o pinhão mia, poliginia, poliandria e no nalto. A partir do crescimento como um dos principais re- chamado “casamento conjun- dos núcleos coloniais como o cursos alimentares. O territó- to”. Usavam pinturas corpo- de Brusque e Blumenau, os rio que ocupavam não tinha rais que estavam associadas índios foram coagidos e pas- a grupos de nomes e a cinco saram a ocupar áreas que an- rotas de perambulação eram clãs, e a função dessas pintu- tes eles não ocupavam. Essas frequentadascontornos bem de definidos. acordo com As ras era “afastar os Kupleng” - áreas eram afastadas dos no- o seu potencial em suprir, isto é, o espírito dos mortos. através da caça e da coleta, as O território dos Xokleng/ escondidas na proteção na- necessidades alimentares do Laklãnõ passou a ser ocupa- turalvos colonizadores de serras e vales,da floresta, onde grupo. Mantinham uma dis- do por povos não índios na ainda havia meios de sobrevi- puta secular com o Guarani primeira metade do século vência através da caça e cole- e o Kaingang, disputando o XIX, através de política de ta. Assim, a região da Serra do controle desse território e re- ocupação de terras nos cam- Itajaí, que antes era um local cursos. Ainda de acordo com pos de Lages em Santa Cata- de caça e coleta do indígena, Garrote, antes do contato com rina, e regiões de Guarapuava passou a ser o novo habitat o branco, o território tradi- no Paraná. Garrote (2012) dos colonizadores europeus. cional dos Xokleng se esten- conta que uma carta Régia de O contato com o índio passou dia do planalto até o litoral, Dom João VI declarou guerra a ocorrer com maior frequên- aproximadamente de Porto aos bárbaros índios “Bugres” cia após a instalação de famí- Alegre até os campos de Curi- e “Botocudos” dessas locali- lias de imigrantes nas terras tiba e Guarapuava no Paraná, dades citadas. Aos poucos o onde os Xokleng já estavam e incluía quase todo o centro povo indígena foi perdendo refugiados. O fato de não te- -leste de Santa Catarina. Os seu território com as frentes rem alternativas de guarda- planaltos eram de predomi- colonizadoras, que pelo ex- rem seus espaços de onde nância da araucária, fonte de tremo sul no Rio Grande do provinha a sobrevivência, alimento durante os meses de Sul avançavam para o Norte, e provocou confrontos com os inverno para o Xokleng/Lak- pelo Paraná, avançando para colonos, e da mesma forma os lãnõ, e de intrigas e disputas o Sul. Assim o índio passou a colonos com os índios. Com com os Kaingang e Guarani - isso, cada vez mais os índios pelo pinhão e pela fauna. Em cil acesso, e menos ocupadas, passaram a ser encurralados relação à organização social, adentrandose refugiar emas serrasterras dade Mata difí e perseguidos. Foram criadas Santos (1965) escreve que Atlântica de Santa Catarina. expedições de bugreiros para os Xokleng/Laklãnõ estavam Os Xokleng tinham um terri- caçar os índios, ato estimu- divididos em grupos locais tório extenso por necessita- lado, aprovado e encoberta- 66 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

do pelas autoridades locais, Em uma carta enviada por Julius ao seu irmão Hermann império e república. Garrote Blumenau, é relatado um ataque de “bugres” a uma resi- (2012) informa que na litera- dência localizada próxima à serraria Sallentien e Gartner, tura da história local, vários instalado em Pedras Grandes (Ribeirão do Cedro). O autor autores produzem uma histo- da carta relata que os colonos não levavam a sério os pe- quenos ataques dos nativos que são chamados de “bugres”, um discurso, que demons- [...] “Antes aqui riam todos acerca dos bugres, como aqui são riografia onde está presente chamados, porque raramente apareciam, e quando isto acon- mentalidade do período da tecia, era para roubar, não para matar” (BLUMENAU, 1855, colonização,trava o que se de configurava que o índio na p.1). É notável que alguns colonos não temiam os nativos, era um entrave ao processo entretanto, um acontecimento singular mudou as concep- de colonização, um inimigo ções de suas seguranças pessoais. No dia 9 de novembro de a ser vencido, assim como a 1855, oito ou nove nativos realizaram uma emboscada na serraria de Sallentien e Gartner, que resultou na morte de - dois operários e um ferido, esse último era Paul Kellner, um dios,floresta. em Estesua grande discurso maioria, gerou dos 17 primeiros colonos de Blumenau e um dos precur- ditosconflitos violentos físicos e contradizimadores. os ín sores do vale do Itajaí-Mirim. Eles estavam escavando um O Prof. Silvio C. dos Santos canal para escoar água da serraria quando foram atacados (1965), ao escrever o relatório apresentado ao Departamen- Fritz Müller e a sua natureza robusta e sólida, auxiliaram- to de História da Faculdade nocom a flechas.refazer-se. Os cuidados No livro médicosde Edith queKormann lhe dispensou (1994), Blumeo sábio- nau: arte, cultura e as histórias de sua gente (1850 – 1985) da Universidade de Santa Ca- é citado o acontecido entre os nativos e colonos. Segundo tarina,de Filosofia, informa Ciências que ea Letras tribo a autora, Paul Kellner, sobrinho de Hermann Blumenau, e Xokleng/Laklãnõ que atual- um dos primeiros imigrantes da região, não se limitou a um mente se encontra aldeada simples lote colonial, adquirindo uma área maior na mar- no P. I. “Duque de Caxias”, no gem do rio Itajaí-Mirim entre Itajaí e Brusque. município de Ibirama/SC era considerada barreira cons- tante para aqueles que dese- javam incursionar pelos vales litorâneos ou pelo planalto. Sua mobilidade espacial, alia- da ao fato de estar formada por diversos grupos locais, possibilitava o domínio das

entre o litoral e a encosta do planalto.florestas queEssa cobriam é a orientação a faixa que obtemos quando consul- 67 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Os Xokleng/Laklãnõ foram sendo envolvidos por frentes pioneiras que, originárias da Europa e incentivadas pelo Governo local, estavam decididas a ocupar definitivamente suas terras. Acervo: SAB tamos os diversos autores que o próprio Governo Provincial expansão dos primeiros nú- se preocuparam com a his- iniciam campanhas no senti- cleos coloniais, os Xokleng/ tória do estado catarinense. do de “afugentar os bugres, Laklãnõ foram sendo envolvi- Entretanto, os Xokleng/Lak- sem lhes fazer mal”. dos por frentes pioneiras que, lãnõ somente “entram para As “tropas de pedestres” originárias da Europa e incen- a história” em 1852, quando e as “patrulhas de bugreiros” tivadas pelo Governo local, atacam a casa do Dr. Blume- passaram a acudir onde os estavam decididas a ocupar nau, na colônia por ele criada, Xokleng/Laklãnõ apareciam, e tem Fritz Müller como ex- e em pouco tempo iniciava-se E o esforço foi de tal ordem positor dessa façanha. Dessa o extermínio dessa popula- quedefinitivamente o Governo suascatarinense terras. data, numerosos relatos pas- ção. A cada ataque da tribo, sam a registrar as “tropelias” que dia a dia via seus territó- de “bugreiros”, e mesmo os praticadas pelos membros da rios ocupados, passou a ser jornaisfinanciou da diversas época chegaram incursões tribo contra os contingentes respondido com os ataques ao máximo de anunciar, com - inesperados e não menos antecipação, incursões puni- xar-se nos vales do Itajaí. As sanguinários dos “bugreiros”. tivas que se faziam contra os companhiasmigratórios quecolonizadoras estavam a fie Com o desenvolvimento e a silvícolas. 68 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Durante os primeiros decêndios da colonização de Santa Catarina pelos europeus, a his- tória registra várias situações de confronto entre os primitivos moradores dos sertões ba- nhados pelos vários Itajaís, causando grandes prejuízos e ceifando a vida de muitos índios e também de colonizadores. Brusque não escapou a essa sorte. E há, a esse respeito, farta documentação nos arquivos da Sociedade Amigos de Brusque.

da Colônia Itajahy-Brusque, datados de 1863, dirigidos ao Presidente da Província, Pedro Transcreveremos aqui dois ofícios do Barão Maximilian de Schneeburg, primeiro Diretor datado de 5/09/1863, e diz: Leitão“Tendo-se da Cunha, mostrado e publicados de novo por os índiosJosé Ferreira (bugres) da no Silva Ribeirão em 1970. do Cedro, O inicial lugar desses denominado ofícios é Pedra Grande, no Itajaí-Mirim, contíguo à Colônia, no mesmo lugar onde em março do corren- te ano já pereceram três vítimas, levo ao conhecimento de V. Excelência, a reaparição desses gentios e rogo a V. Excelência de mandar-me uma força de soldados com sua necessária mu- nição que, batendo as matas seguindo as extensas e largas picadas dos bugres, os afugentem e expilam dos seus estabelecimentos, estacionando nos lugares mais expostos aos ataques re- pentinos dos bugres, protegendo e defendendo assim as vidas e propriedades das família, o que os colonos, por si e sem disciplina regular, moradores em dispersos e distantes lotes, além de grandes despesas, debalde tentariam alcançar”. “Na noite seguinte à partida de V. Excelência desta Co- lônia, reapareceram os bugres noturnamente, fazendo bulha no mato, batendo nas árvores e imitandoO outro gritos ofício de é galinhas, de 10/12/1863: no mesmo lugar em que V. Excelência foi reconhecer uma pessoa nos lotes de João Jorge Schmitt e Carlos Mathus. Os animais e cães refugiaram-se, uivando, para as casas dos ditos colonos e, assim, toda a gente está com medo e alarmada. Ontem, no dia 9 do corrente mês, pela tarde, apareceu junto à casa de Gustavo Rose, um porco do mato a toda brida e, pouco depois, a mulher do mesmo colono, viu as costas nuas, de cor castanho, de alguém que abaixo engatinhou ao longo da cerca de sua roça para o rio Guabiruba, desa- parecendo no mato. Envio gente armada para bater de frente e dos fundos destas situações os matos e para perseguir os rastos, caso os encontrassem. Eu mesmo vou com um partido, e o escriturário com outro. E quanto tenho com pressa de levar ao conhecimento de V. Excelência para que determine as providências como bem julgar”.

69 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Garrote (2012) escreve que ria e cultura dos povos indíge- na região de Lageado Alto, em O índio era visto, percebido, nas pelo processo civilizador, Botuverá, localidade coloni- eolhares, os contatos sem contatosexistentes físicos. eram uma vez que eram os gover- zada predominantemente por de paz, sem uso da violência. nos e as agências de coloni- imigrantes italianos, em en- O caso de Botuverá demons- zação que contratavam esses trevista realizada por Garrote tra uma outra percepção so- assassinos para exterminar com Jacó Venzon, este comen- bre o índio, remetendo a um os índios. O índio foi enten- tou que “até depois da Segun- certo respeito à sua presença dido como um empecilho ao da Guerra Mundial, quando no local. Já em outras regiões processo de colonização, os voltou à localidade dos Lajea- próximas, algumas narrati- imigrantes chegavam na re- dos, era frequente presenciar vas demonstram que índios, gião e vinham com um en- índios”. Segundo suas me- ao entrarem em contato com tendimento preconceituoso mórias, quando criança ele o não índio, agiram com vio- com o índio. No processo de teve um rápido contato com lência. Por parte de colonos, colonização, os atos de con- os Xokleng/Laklãnõ: “Era ín- e dos caçadores de bugres es- tatos violentos entre as etnias dio por que ele estava nu, se tão presentes principalmente via que estava nu, era índio contatos violentos. A partir povo indígena Xokleng/Lak- naquela época, eles não me dessas ações violentas dos lãnõcausaram do que mais o malefíciosindígena ao - nativos e dos colonos, enten- povo colonizador europeu, pai sempre dizia: vocês não de-se que partiram da defesa conclui Garrote. fazemfizeram nada, nada que por eles que não o pafa- do território, dos espaços, no zem nada. O papai nasceu na caso do índio, de passagem Itália, mas ele veio morar aqui ou de caça, até mesmo de e dizia para a gente quando recursos, coleta de vegetais, éramos pequenos: Pelo amor frutos e sementes, e por mui- - tas vezes terem esses espaços tar, não mexe com eles. Eles destruídos pelas técnicas de deassoviavam Deus! Gente, de noite,deixa umele esna ocupação, uso do solo e caça banda de lá, outros na banda dos europeus. Na visão do co- de cá”, contou Jacó Venzon. lono, o índio estaria em sua Garrote acrescenta que, de propriedade, espaço onde acordo com as entrevistas precisava ocupar, cultivar, ou que fez com os moradores da região, é possível concluir que como madeira. Já os contatos inicialmente houve contatos impostosbuscar recursos pelos caçadores da floresta, de de paz, e anos depois conta- bugres, chamava atenção dos tos mais violentos. Os relatos próprios sujeitos da história dos antigos moradores des- pela violência atribuída aos crevem um contato com o ín- índios. O que demonstra toda Índio Xokleng que habitava dio, mas apenas com troca de falta de respeito com a histó- a região. Acervo: SAB 70 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Famílias indígenas em casa de madeira coberta com telhas também de madeira. Acervo: SAB Os indígenas da ao mar, deitando culturas e nos nas praias, junto às quais entregando-se à pesca, os ín- os brancos tinham as casas e Bacia do Itajaí dios foram-se internando nas as suas culturas. matas, fugindo à companhia Em 1820, quando Saint’Hi- José Ferreira da Silva do branco usurpador, votan- laire passou por Itapocu e (1959), ao discorrer sobre do-lhe ódio e jurando vingan- Barra Velha, encontrou o os indígenas da Bacia do Ita- ça pelas violências com que povo alvoroçado e certamen- jaí, informa que os primeiros eram tratados. Mesmo depois te armando batidas pelas ma- civilizados que aportaram à de muitos anos de posse efe- tas próximas, em perseguição costa catarinense, aqui en- tiva de toda a faixa litorânea, de índios que haviam matado contraram os índios e que as desde S. Francisco às terras dois moradores das redonde- poucas praias que se podem de Laguna, para falar apenas zas. Silva conta que, por esse contar como integrantes da no território catarinense, tempo, e mesmo antes, nos Bacia do Itajaí, em sua peque- quando já então fora aberta a começos do século XIX, os na orla marítima, certamen- estrada de ligação entre a Vila “bugres” eram uma constan- te também eram povoadas de Nossa Senhora da Graça e te ameaça às tentativas que desse gentio. Empurrados a de Santo Antônio dos Anjos, faziam os civilizados para se pelos civilizados que iam vinham os índios do interior apossarem e cultivarem os ocupando as terras próximas atacar, matar e roubar colo- férteis terrenos banhados 71 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fragmentos de carta onde menciona que Paul Kellner foi atingido por uma flecha de índios em 1855. pelo rio Itajaí-Mirim. Vários seguir os selvagens que ou- em Belchior, parece que se foram os assaltos ao estabele- sassem molestar os colonos, preocuparam mais em tor- cimento de colonos nas zonas veio a criação da Companhia nar-se, eles próprios, colonos, de Camboriú e da margem de Pedestres de Itajaí, entre- donos de casas e plantações, do Itajaí-Mirim. E quando, na gue ao comando de Henri- do que permanecer em guar- primeira metade do século que Etur, militar que prestou da, observando o movimento XIX, Agostinho Alves Ramos incontestáveis e assinalados dos selvícolas, para que os se estabeleceu na foz do Ita- serviços na fundação e desen- colonos, que Alves Ramos ia jaí-Açu, construindo capela volvimento das colônias de mandando de toda parte da e agrupando moradores em Pocinho e Belchior, que a Lei província, se sentissem se- povoado de que se originou nº 11, de 1835, inspirada e re- guros nos lotes que lhes des- a cidade de Itajaí, e, dando digida por Alves Ramos, man- expansão aos seus planos de dara estabelecer naqueles ri- Etur adquiriu lotes na sede da exploração e aproveitamento, beirões e no Itajaí-Mirim. colônia,tinavam. onde Nisso construiu fizeram casas bem. em grande escala, dos vales Os velhos documentos dos de morada, e mandou fazer começos de Porto Belo, cuja roças em terras próximas. do Itajaí, vieram também as câmara estendia sua jurisdi- Imitaram-no os “pedestres”. primeirasubérrimos providências dos confluentes dos ção por toda a Bacia do Itajaí, Se assim ganhava o progresso poderes públicos, tendentes estão cheios de referências a da Colônia, aumentava a ame- a acabar com o enorme entra- ataques de indígenas aos que aça que o indígena represen- ve que o índio representava à ousavam abrir roças e plantar tava para outras zonas que colonização, Depois dos pou- ranchos nas matas mais ou iam sendo colonizadas, como, - menos afastadas das praias. por exemplo, a novel Colônia tres estabelecidos em alguns Silva (1959) escreve que lhe Itajahy-Brusque, que iniciara pontosco eficientes da estrada postos dode pedeslitoral, faltam elementos para acom- às margens rio Itajaí-Mirim. - panhar as atividades dos pe- Nem todos os coloniza- nalidades, a enfrentar e per- destres de Etur. Estabelecidos dores europeus eram favo- destinados, entre outras fi 72 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história ráveis à violência contra os tinho nos pousos atacados nome a lugares e acidentes ge- selvagens. Dr. Blumenau, por de surpresa e trazidos à civi- exemplo, condenava, em car- lização. Os homens, ou eram subsistência criou atividades tas e relatórios, as “batidas” mortos, ou encontravam sal- eográficos. processos Numa para economia a obtenção de sangrentas de que quase sem- vação na fuga desordenada de alimentos e provisão de pre resultavam no massacre para as profundezas da mata. recursos que lhe garantisse de infelizes índios, principal- E assim, aos poucos, vemos o a sobrevivência. Em proces- mente de mulheres e crian- desaparecimento quase total so exaustivo de experiências, ças, menos capacitadas para dos índios nas áreas de colo- soube transformar em boas escapar à perseguição através nização europeia. as más qualidades de certas plantas (como, por exemplo, Infelizmente, era o método Contribuição do a mandioca, tornando-a in- emdo emaranhadovoga a que os das escrúpulos florestas. dispensável à sua alimenta- Índio ao Folclore ção); revelou as propriedades também que se acomodar. Brasileiro terapêuticas de muitos vege- Surgiramdo filósofo os alemãopiquetes tiveram volan- tais; descobriu a borracha, tes de batedores, de “bugrei- Maria de Lourdes Borges indicou técnicas artesanais, ros”, como eram conhecidos. Ribeiro (1979), ao escrever patenteou expressões artís- Depois da extinção, em 1879, sobre a Contribuição do Ín- ticas e introduziu muito do da Companhia de batedores dio ao Folclore Brasileiro, diz seu cotidiano, como o hábito de mato, também na Bacia que o Folclore - sabedoria do de fumar o tabaco, o costume do Itajaí houve necessidade povo - é uma resultante da di- de dormir em rede, o mutirão de lançar-se mão desses pi- nâmica cultural no encontro (prática social destinada à es- quetes, dentre os quais sa- das etnias e é inconfundível trutura da comunidade). lientou-se o que deixou fama - Em ligeiro sumário, Ribei- em toda a região, pela valen- tribuição indígena. Era o ín- ro (1979) relaciona itens que tia, coragem e tática de seu dioe significativo o dono da o terra, valor quandoda con representam alguns dos pon- comandante, Martinho Mar- do descobrimento. A teoria tos que remetem à contribui- cellino, mais conhecido por mais generalizada aponta o ção indígena ao folclore brasi- “Martinho Bugreiro”. Suas norte da Ásia como seu pon- leiro: “batidas” eram faladas, ecoa- to de origem e o estreito de Alimentação - mandioca vam no próprio seio do gover- Bering como a porta de sua (carimã, tapioca); milho (can- no central pela audácia com entrada no continente ame- jica, pamonha, curau); insetos que se revestiam. Embora ricano. Acredita-se em mais (dentre os quais a tanajura ponto controvertido, parece de 10.000 anos sua vinda ao ou içá); quelônios, mariscos, que eram feitas com requin- Brasil. Neste longo período, crustáceos, peixes, aves, ca- tes de crueldade, levantando conviveu, conheceu, explorou ças, palmito, mel, castanhas, protestos violentos. Muitas e se utilizou dos produtos do pimentas, guaraná, amen- mulheres e crianças índias meio, descobrindo as rique- doim, frutas nativas e seus foram apreendidas por Mar- sucos, moqueca, processo de

zas da fauna e da flora, dando 73 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz moquear, etc. ras de pele de animais, casca REFERÊNCIAS Instrumentos Musicais - processos de tinturaria com BLUMENAU, Julius. Carta, de árvore, sementes e fibras; racás, chocalhos, guizos, zu- corantes vegetais; armadilhas 7 de dezembro de 1855, Colô- - vários tipos de flautas, ma nidores, trocano, tambores, e processos de caça e pesca, nia Blumenau para Hermann, buzinas, trombetas, bastões tipiti, aproveitamento de pe- Alemanha. 2 folhas. Ataque de de ritmo, etc. les e couros, etc.; o emprego índios. da borracha para diversos GARROTE, Martin Stabel. astros sobre os viventes e os vegetais,Religião espíritos - influência benfazejos dos Mitologia - caapora, anhan- Colonos e Índios no Sul de e maus, gênios das águas, po- gá,fins, saci, etc. jurupari, cobra-gran- Blumenau/SC:Os Conflitos ÉtnicosMemórias. entre IX deres ligados à natureza e aos de, iara, rei-da-mata, boitatá, ANPED SUL: Seminário de fenômenos meteorológicos, curupira, etc. pesquisa em educação da re- pajelança, etc. Transporte - vários tipos gião sul, 2012. Armas de Guerra - tacape, de canoa e a rede; KORMANN, Edith. Blume- - Danças - guerreiras, imi- nau: arte, cultura e as his- - tativas, representativas da tórias de sua gente (1850 – chaespadas era embebida de pau, arcoem curare, e fle vida tribal, toré (nome tira- 1985). Florianópolis: Paralelo substânciacha, borduna- preparada A ponta de com fle do da trombeta que lhe fazia 27, 1994. várias espécies vegetais, com o acompanhamento musical, RIBEIRO. Maria de Lourdes efeito paralisante ou mortal, ainda em vigor no Nordeste) Borges. Contribuição do Índio sobre o homem e o animal. E e outras inspiradoras das que ao Folclore Brasileiro. Bole- hoje é usado na anestesia. são encontradas em vários tim da Comissão Catarinense de Folclore. Nº 32. Ano 1979. Artes Plásticas e Artesa- estados brasileiros: tapuia- SANTOS. Silvio C. dos. Os natos - cerâmica (marajoara, das, caiapós, caboclinhos, etc. Xokleng, Hoje. Blumenau em tapajônica, santarena); uten- O cururu e o cateretê são for- Cadernos. Tomo VII. Nº 2. sílios e objetos domésticos de mas com raízes indígenas e 1965. foram largamente utilizadas SILVA. José Ferreira da. - na catequese, pelos jesuítas. Indígenas da Bacia do Ita- taria;cerâmica, tecelagem fibras de e algodão madeira; e Medicina - a teológica, trançados de fios e fibras; ces jaí. Blumenau em Cadernos. exercida através do pajé, e a Tomo II. Nº4. Abril de 1959. natural, com o emprego de de fibras em tear rudimentar; SILVA. José Ferreira da. pentes de osso e de chifre; elementos vegetais e animais. Sallentien, um dos pionei- rede de algodão e de fibras; plumária (leques, mantos e Habitação - feitura de ca- ros. Blumenau em Cadernos. adornos: pulseiras, testeiras, sas com armação de cipós, Tomo XI. Nº 5. Maio de 1970. braçadeiras, perneiras, co- ripas ou troncos, entretecida SILVA. José Ferreira da. lares, tangas, cocares, etc.); com folhas de palmeira, uti- Um pouco mais sobre os bu- enfeites com penas, conchas, lizadas na cobertura, junta- gres. Blumenau em Cadernos. sementes, dentes e unhas de mente com o sapé. Tomo XI. Nº 5. Maio de 1970. -

74animais, fibras. etc.; másca Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A imigração alemã

O Brasil foi descoberto pela frota comandada por Pe- dro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, mas só depois de muitos anos é que Portugal se dá conta das inúmeras ri- quezas brasileiras e dá início ao seu capitalismo comercial, advindo também a ideia de dividir o Brasil em capitanias. O governo usou como modelo a experiência do Ar- quipélago de Açores e da Madeira. De acordo com Pia- zza (1994), se acreditava que, criando-se o sistema de capi- tanias hereditárias, era pos- sível defender mais correta- mente o Brasil das incursões dos que pretendiam comer- ciar com o pau-brasil. Tem início o sistemático povoamento do solo e desen- volve-se, a partir daí, a econo- mia açucareira, de alto valor comercial, com a Europa. As cartas de doação foram assi- nadas em 1º de setembro de 1534. Itamaracá e outro qui- nhão menor ao Sul couberam a Pero Lopes de Souza e, pelas cartas de doação assinadas em 6 de outubro de 1534, São Vicente e um segundo qui- nhão mais ao Norte couberam para Martin Afonso de Souza. Família Klein, imigrantes alemães. Acervo: Rosemari Glatz 75 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A Pero Lopes de Souza, coube criação de colônias no inte- respectivamente. Naquele a Capitania de Santo Amaro e rior do país, com indigentes tempo, a Província de Santa Terras de Sant’Ana, que se di- e criminosos. Venceu o pleito Catarina se resumia à cidade vidia em duas partes: uma no de Coutinho, pois outros le- de Desterro e três vilas: La- rio de São Vicente até a barra gisladores acreditaram que a guna, Lages e São Francisco, e do rio Juqueriquerê, e outra venda de terras governamen- predominava a população de da barra do Paranaguá até as tais, a preços moderados, fa- origem lusitana. Com a che- imediações de Laguna. Esta ria o Brasil mais atraente aos gada dos primeiros alemães segunda porção correspon- imigrantes. Podia ser a solu- tem-se, a partir de 1828, uma dia, portanto, ao litoral cata- ção do problema de incentivo contribuição de sangue novo rinense. E assim teve início o à imigração e assim, a partir para a província barriga-ver- povoamento do Brasil Meri- de 1830, a política imigrató- de. dional e, particularmente, o ria passou a estimular a vinda - litoral de Santa Catarina. Mas de agricultores e artesãos, e tade do século XIX, a ocupa- o povoamento da área não li- o governo tratou de direcio- çãoAté do oterritório final da primeira da Província me torânea do nosso estado vai nar os imigrantes para o Sul de Santa Catarina com imi- acontecer apenas no século do Brasil, onde havia extenso grantes alemães foi pouco ex- XIX, após a proclamação da pressiva. A situação mudou a independência do Brasil, em de escravos era pequeno, e o partir de 1850 e o acréscimo 1822. climavazio demográfico,era mais favorável o número aos na vinda de alemães para o A imigração alemã foi fruto imigrantes europeus. Brasil, de modo especial para de uma decisão política e, du- O modelo adotado foi a o Sul do país, bem como para rante alguns anos após a in- fundação de colônias em outros países livres da Amé- dependência do Brasil, o foco regiões não ocupadas por rica, expressava os desajusta- foi recrutar soldados e mari- grandes proprietários, onde mentos sociais na Alemanha nheiros mercenários, com o agricultores livres foram ins- do século XIX. As guerras, as objetivo de formar o exército talados em pequenas pro- lutas políticas, o excessivo e a marinha brasileiros. Após priedades. Foi neste contexto crescimento populacional, a abdicação de D. Pedro I em os altos impostos e as terras 1831, e com o início do Perí- de imigrantes para Santa Ca- concentradas nas mãos de odo Regencial, o país passa a tarina.que ocorreu O ingresso o grande organizado afluxo poucos, deixavam os campo- olhar a questão da imigração de imigrantes europeus, não neses em situação econômica sob uma nova perspectiva. portugueses, para Santa Cata- Neste sentido, Piazza (1994) rina se dá com a chegada das o desenvolvimento de novas informa que, em 1832, José primeiras levas de imigrantes colôniasdifícil, o alemãsque veio em a solofavorecer cata- Lino Coutinho já pleiteava a alemães, em 1828, quando, rinense. promoção da imigração, en- nos dias 7 e 12 de novembro, Dentre os imigrantes ale- quanto em 1835 Joaquim aportaram em Desterro (atu- mães que ajudaram a povoar Vieira da Silva e Souza, de al Florianópolis), os veleiros e a desenvolver a Colônia Ita- forma aberrante, propunha a Luiza e Marquês de Viana, jahy-Brusque, existem muitos 76 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história que vieram de Baden, que até de grandes companhias de na- zes se resumia na concessão vegação tinham formado uma de abrigo e alimentação ao era um Estado independente grande rede de subagentes trabalhador. naa Unificação União Alemã. Alemã, Lothar em 1871, Wie- que captavam emigrantes em Não bastasse a situação de ser (2014), pesquisador da toda a Alemanha, destinando miséria decorrente do empo- imigração badense no século -os para a chamada “América”. brecimento massivo e a in- XIX, informa que os badenses Recrutavam-se emigrantes tensa atuação dos agentes de emigravam para fugir da fome com brochuras, notícias e car- emigração, era relativamente decorrente do empobreci- tas para que pessoas se esta- comum as pessoas recebe- mento massivo em Baden. belecessem em partes desco- rem cartas de familiares ou Segundo o autor, a emigra- nhecidas do mundo, nas quais amigos que já haviam emigra- ção em massa do século XIX supostamente um verdadeiro do para as Américas. Nessas pode ser explicada prepon- Eldorado estava à espera do cartas, além de dar notícias, derantemente por condições emigrante. A emigração tinha se retratava um pouco da si- econômicas e, em muitos se tornado um negócio lucra- tuação dos emigrados e das - tivo para muitas categorias nanceiramente para se livrar - novas colônias. Era reiterada decasos, aldeões o Estado pobres. os apoiouEmbora fi a diários e agentes, correios e adificuldades informação e de facilidades que no Brasil nas emigração fosse de interes- trens,profissionais, hoteleiros para e fornecedo interme- era possível adquirir terras a se do Estado, pois os pobres res, armadores e funcionários preços módicos e que fome eram uma carga para o poder de navios. ninguém passava. público, o processo não era Enquanto em Baden a emi- Graças à fertilidade espan- muito simples. gração era estimulada, essa tosa da terra e ao clima favo- Para que a emigração fosse mesma situação nem sempre rável, a fartura e a prosperida- autorizada, a pessoa precisa- era realidade em outras regi- de eram uma realidade para va comprovar que não tinha ões, pois apesar do empobre- quem não tivesse preguiça nenhuma dívida, seja com o cimento, a população baden- de trabalhar. E mesmo quem poder público, seja com a ini- se muitas vezes tinha o seu tivesse dinheiro era atraído ciativa privada. Uma vez cer- próprio pedaço de terra e um para as novas colônias, pois o - pouco de patrimônio que era investimento poderia trazer das, era emitida a autorização - detificada emigração a inexistência e, em seguida, de dívi o ção. curto espaço de tempo. Assim, passaporte. vendidoDe forma para diversafins de seemigra veri- comobons retornos resultado financeiros de uma soma em Somando-se aos fatores - sociais, havia também a in- giões da Alemanha, onde as a emigração de alemães para tensa atuação dos agentes de terrasficava empertenciam algumas outrasa latifun re- Santade fatores Catarina, temos, sendo finalmente, que o emigração e companhias de diários que não tinham inte- maior volume emigratório navegação que publicavam resse na emigração porque para o solo ‘barriga-verde” anúncios no jornal. Wieser in- assim perderiam sua força de aconteceu entre os anos de forma que agentes regionais trabalho, cuja paga muitas ve- 1840 e 1870. 77 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

A colonização tara, conseguiu que fossem ral pouco povoado. criadas, pela Lei nº 11/1835, Narram as crônicas que os de Brusque duas colônias: uma em Bel- alemães levaram cinco dias por alemães chior e outra às margens do para subir o rio de Itajaí até Itajaí-Mirim, às cabeceiras do o ponto de desembarque em Em 1819 já havia, nas mar- Ribeirão Conceição, no lugar “Vicente Só”. Estes imigrantes gens do Itajaí-Mirim, duas chamado Taboleiro. A tentati- haviam saído de Desterro, a sesmarias onde o Governo va de 1835 não logrou êxito, bordo da “Belmonte”, canho- da Capitania mantinha um e somente vinte e cinco anos neira da Marinha de Guerra depois é que foi determinada do Brasil, que fundeou na preparava madeira para as nova colonização para a re- Barra do Rio, onde havia um construçõesestabelecimento públicas. oficial Nesta que gião. armazém próprio para pouso - A colonização de Brusque provisório dos colonos e de radores que se dedicaram à teve início, de forma orga- onde os imigrantes deveriam pequenaregião fixaram-se agricultura vários e ao cor mo- nizada, em 1860, quando o seguir em canoas para o local te de árvores para a serração. Governo Imperial ordenou a destinado ao estabelecimento José Ferreira da Silva (1972), colonização do Itajaí-Mirim da colônia (CABRAL, 1958). E ao escrever sobre a história ao Presidente da Província de assim fundou-se a Colônia Ita- de Blumenau, conta que pou- Santa Catarina, Dr. Francisco jahy-Brusque, aos 4 de agosto co depois da independência de Araújo Brusque. Toda a re- de 1860. Seu organizador e do Brasil, em 1822, Agostinho gião designada pelo governo primeiro diretor foi o Barão Alves Ramos, um comercian- ainda se achava coberta de Maximilian von Schneeburg, te antes estabelecido em São densa mata virgem e pouco Pedro do Rio Grande do Sul e povoada. Já existiam na re- exército austríaco, que apor- depois em Desterro, resolveu gião três engenhos de serra, touantigo no oficiallocal indicado da cavalaria com 54do transferir-se e montou uma pertencendo um, a Pedro José colonizadores alemães. casa de negócios que acabou Werner; outro, ao comercian- Pedro Werner, que con- por inaugurar uma era decisi- te Sallentien; e o terceiro era cedeu o primeiro abrigo aos va para o desenvolvimento de de Paulo Kellner. Também colonizadores quando eles toda a Bacia do Itajaí. Eleito Reinhold Gaertner, sobrinho chegaram, não podia abrigar deputado provincial, valeu-se do Dr. Blumenau, era pro- tanta gente em sua casa por do prestígio do mandato em prietário de imóvel na região muito tempo. Foi preciso que proveito de seus planos de de Brusque. Eram todos ale- os colonos passassem, por al- colonização. Após ter trazido mães, e podem ser considera- gum tempo, as noites ao ar li- para as bandas de Itajaí mui- dos os verdadeiros iniciado- vre na margem do rio, até que tas famílias de agricultores de res da colonização alemã em pudessem ocupar os ranchos outros pontos da Província e, Brusque, pois foram eles que toscamente acabados. Não se até mesmo colonos alemães estabeleceram o primeiro - - dos chegados em 1828 na contato entre a zona deserta temente para a alimentação, e colônia São Pedro de Alcân- da Brusque de então, e o lito- ohavia descontentamento providenciado suficien chegou 78 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Família Krieger no início da colonização em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz a tal ponto que os homens de aliviar-lhes a vida, quan- midez dos recém-chegados acabaram ameaçando um dos diante das ocorrências mais engenheiros com suas espin- naquele tempo. Buggenhagen inocentes e mesmo diante de gardas, ao que este seguiu (1941)tia que nãoescreveu era insignificante que, segun- pretos ou de índios pacatos. para Itajaí, trazendo na volta do o que contavam as teste- Mas, não eram somente os víveres e vinho para acalmar munhas presenciais daqueles perigos imaginários. Brusque os ânimos. Agravava essa si- primeiros tempos, muitos de- era um lugar saudável; o tifo, tuação a falta de trabalho, les teriam abandonado ime- a malária e outras moléstias pois ainda não estavam par- diatamente o lugar se hou- demoraram a aparecer, mas celadas as terras, tendo os ho- vesse uma possibilidade. A a tradição também fala dos mens que esperar nove meses situação dos colonos não era colonos que sucumbiram ao até poderem tomar posse de nada satisfatória. peso do trabalho no clima seus lotes. Veio completar- A maioria dos imigrantes subtropical. Um perigo cons- lhes os sofrimentos, prove- alemães eram lavradores, tante eram os animais selva- nientes de uma organização gente simples. Embaraçava gens, sobretudo as onças e as defeituosa, a perplexidade -os a natureza que desconhe- cobras que, de vez em quan- diante dos problemas que ciam, e a vida que tanto se dis- do, ocasionaram a morte de lhes reservava a mata virgem. tanciava da que lhes pintara o um homem ou de uma cabeça Logo na chegada, a Diretoria agente que os convidou para de gado. Outra preocupação subvencionou os imigrantes emigrarem. Por muito tem- eram os bugres que, nos pri- com um auxílio de 30 a 60 po se contou, em Brusque, meiros tempos, ainda eram histórias que ilustravam a ti- em quantidade considerável mil réis por família, com o fim 79 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Casa enxaimel em ruinas. Acervo: Rosemari Glatz no Vale do Itajaí. Além desses grantes a chegar ano após Até 1874, a população era riscos, havia outras contrarie- bastante homogênea, cons- dades. O que se comia não era números absolutos o total de tituindo-se predominante- senão o que a roça produzia e imigrantesano, mas é difícilalemães indicar que comen- mente de camponeses oriun- os colonos não podiam dedi- traram na Colônia durante o dos de Schleswig-Holstein car todo o seu tempo à lavou- século XIX. Os imigrantes que e do Grão-Ducado de Baden ra, pois as subvenções con- chegaram nos primeiros anos - quase metade dos imigran- cedidas pelo governo tinham estão relacionados nos rela- tes alemães que coloniza- que ser amortizadas por ser- tórios do Barão Maximilian ram as cidades de Brusque e viços a serem prestados em von Schneeburg, com indica- Guabiruba era originária do caminhos a serem abertos e ção do local de procedência e Grão-Ducado de Baden, hoje pontes a serem construídas. Baden-Württemberg, sudo- Nenhum obstáculo, porém, A partir de 1863, as listas es- este da Alemanha. A partir de foi capaz de impedir o adian- profissãotão incompletas, do chefe e apósda família. 1870 1875, as condições de com- tamento da colônia. E, apesar as informações são dadas em posição da população altera- de tudo, em pouco tempo a números globais. Nos primei- ram-se por completo. Navios Colônia Itajahy-Brusque saiu ros 14 anos da Colônia en- e navios de imigrantes, em da precária situação inicial. traram principalmente imi- quase totalidade italianos do O povoamento da Colônia grantes alemães, com poucas Norte, eram desembarcados aconteceu gradativamente, exceções, como os poloneses em Itajaí ou Desterro, e enca- com pequenas levas de imi- que aqui chegaram em 1869. minhados à Colônia Brusque. 80 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A população duplicou em um nização de algumas áreas da Pomeranos, atual rua 1º de ano e, em 1877, o número de Alemanha. A primeira provi- Maio); Peterstrasse (atual rua imigrantes italianos entrados dência do Barão Maximilian São Pedro, parte em Brusque, já era 300% maior que o de von Schneeburg, diretor da parte em Guabiruba); dentre alemães introduzidos em 15 Colônia, foi escolher o local outras. anos de imigração. para estabelecer a sede admi- Como as casas se distribuí- nistrativa, a “Stadtplatz”, de am ao longo de uma linha co- O modelo de onde sairia a principal picada lonial transformada em estra- que acompanhava o curso do da, o povoado tomava forma povoamento da rio, o eixo do sistema colonial Colônia Itajahy a partir do qual o agrimensor estreitos, paralelos uns aos física alongada. Os lotes eram -Brusque marcava os lotes. outros, de ambos os lados das Acompanhando os princi- picadas, dos rios ou dos ri- beirões e cada família recebia O povoamento do vale do picadas secundárias. Como os um lote de aproximadamente Itajaí-Mirim apresentou ca- terrenospais afluentes, eram montanhosos abriam-se as 25 hectares. racterísticas peculiares a al- e cobertos de vegetação, essa Esse modelo de proprieda- gumas áreas de colonização era considerada a forma mais des em lotes alongados é que alemã em Santa Catarina e no racional de penetração. As li- faz o sistema de povoamento Rio Grande do Sul. Com pou- nhas coloniais abertas pelos da Colônia Itajahy-Brusque cas exceções, os colonos ale- colonos serviram como vias se assemelhar a um modelo mães povoaram os vales dos de comunicação. de colonização existente em rios, com terras cobertas pela Nos cruzamentos das li- partes da Alemanha, onde nhas coloniais, apareciam predominou a “Waldhufen- isolados durante as primeiras floresta atlântica, e aí ficaram pequenos povoados reunin- - décadas da colonização. do residências, uma cape- resta ou, ainda, ao de uma Nos primeiros 15 anos, la, casa de comércio, alguns “Strassendorf”dorf” - aldeia na- aldeia orla da longa flo a única via de comunicação engenhos e artesãos. Vários e estreita, características de para a Vila de Itajaí era o rio, desses povoados podem ser algumas áreas da Alemanha. navegável por pequenas em- assinalados na área colonial, Esse modelo de povoamento barcações. A primeira estra- todos com as mesmas carac- disperso, associado a peque- da, margeando o rio Itajaí-Mi- terísticas: Guabiruba Baixa, nos povoados espalhados na rim, foi inaugurada em 1874, Guabiruba Sul e Guabiruba área colonial, é que torna as pouco antes da chegada das do Norte (atual bairro Ay- regiões de colonização alemã grandes levas de imigrantes moré), Hochebene (atual completamente diferentes italianos. Outra característica Planície Alta); Holstein e Al- das áreas do Estado de Santa peculiar a esse povoamento sácia, todos em Guabiruba. Catarina ocupadas por luso é a forma que tomou a dis- Grosser Fluss (atual bairro -brasileiros e caracterizadas tribuição das terras entre os Rio Branco); Cedro; Lageado; por latifúndios pastoris (SEY- colonos, semelhante à colo- Pommerstrasse (estrada dos FERTH, 1974). 81 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

O despreparo ville. Nos relatórios do Barão Com um facão cortavam-se os von Schneeburg, encontra- arbustos menores; a seguir, para o que mos referências quanto às com uma foice abatiam-se as iriam encontrar sementes fornecidas aos co- árvores menores e depois, lonos (com informações de usando machado ou serra, se Os colonos chegavam to- como plantá-las), bem como derrubavam as grandes árvo- talmente despreparados para a cultivos experimentais com res. Os ramos eram deixados explorar um lote de terras plantas europeias e seu pos- no solo para secar durante terior fracasso. Os vendeiros seis a oito semanas, enquanto numa ampla área despovoa- também tinham interesse em a madeira melhor era retira- da.coberto Esse despreparo de floresta edizia isolado res- ensinar aos colonos quanto da e usada na construção de peito a tudo: nada sabiam das ao tipo de plantio e as plantas ranchos, cercas e como com- técnicas agrícolas adequadas, melhor adaptadas na área. E, bustível. Após a secagem dos do equipamento necessário já desde a década de 1860, ramos, estes eram queimados ao desmatamento e ao plan- circulavam no Vale do Ita- e a cinza utilizada como adu- tio, dos tipos de roupas ade- jaí-Mirim jornais semanais bo. A terra era então plantada quados à região ou mesmo em língua alemã que traziam com milho, mandioca e feijão da existência de animais do- algumas informações sobre nos primeiros anos, acres- mésticos. Há relatos de imi- agricultura. É pouco prová- centando-se depois outras grantes que traziam grossos vel que tenham aprendido a plantas, tendo por objetivo o cobertores de penas de gan- plantar suas roças com bra- mercado. O colono, ao tomar so e roupas de lã demasiado sileiros, pois os poucos agre- posse do seu lote, construía grossas – que tornavam a ba- gados de Werner e Sallentien uma casa rústica, com madei- gagem muito volumosa. Gas- (que já estavam na Colônia ra obtida na propriedade. A tavam seu dinheiro no país Itajahy-Brusque em 1860) casa e outras dependências, de origem com itens pouco trabalhavam a exploração da como os ranchos para guar- úteis aqui e chegavam à área madeira e a zona litorânea de dar mercadorias e abrigar de colonização sem nada para Santa Catarina fora coloniza- uns poucos animais domés- começar a exploração do lote. da com açorianos, cuja ativi- ticos, se situavam próximo à Na Administração da Colônia dade principal era a pesca. picada. No seu lote alongado é que recebiam um machado, A exploração do lote co- e acidentado, o colono só dis- enxada e um facão ou uma foi- lonial se caracterizou pela punha de 1/3, e às vezes até ce para iniciar os trabalhos. policultura e pelo uso de téc- menos, de terras de várzea Giralda Seyferth (1974) nicas agrícolas peculiares ao própria para a lavoura. conta que as três principais sistema de coivara. O preparo fontes de informação dos co- da primeira plantação tinha A indústria lonos foram os administrado- início com a derrubada da res da colônia, os vendeiros - O trabalho nos engenhos e os jornais de língua alemã chlag”, que ocorria nos meses de açúcar e cachaça, a produ- editados em Blumenau e Join- defloresta, maio, chamada junho e denovembro. “Walds 82 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ção de fubá e farinha de man- Logo nos primeiros anos, o aumento anual da dioca nas atafonas, a manufa- tura de charutos, a produção Itajahy-Brusque já contava com 650 pessoas, em de vinhos, banha, derivados 1865,população com 1.227, foi notável. em 1870, Ao com final 1.728 de 1860, e, em a 1874,Colônia com do leite, e de um doce de fru- 2.891 habitantes. Até aquele ano, a população tas, pastoso, chamado “muss” era constituída basicamente de alemães, e de alguns constituíam as principais ati- poloneses. A partir de 1875, com a chegada dos imi- vidades que rotulamos como grantes italianos, a população passou para 4.568 “indústria doméstica”. habitantes e, durante o ano de 1876, a população Os colonos denomina- aumentou em cerca de 4.000 pessoas. Em 1877, a vam essa atividade como Colônia Itajahy-Brusque já contava com uma “Landwirtschaftlicheindus- população de 11.089 habitantes. trie” - indústria derivada da lavoura – que designa a ati- cessário para contratá-lo. As apenas ligadas ao comércio vidade realizada nos enge- atafonas e engenhos de fubá da madeira. As olarias aten- nhos e atafonas. Nem todas e farinha de mandioca eram diam às necessidades locais as propriedades possuíam em maior número, mas ainda produzindo telhas e tijolos. A engenhos e atafonas, mas a assim, uma grande parte das produção de cerveja era mui- subsistência das famílias de- propriedades não os possuía, pendia da transformação do e tinham de recorrer a seus para o consumo local e depen- milho e da mandioca em fari- vizinhos mais afortunados ou diato pequena,de matéria-prima insuficiente impor até- nha, e da cana-de-açúcar em aos vendeiros para transfor- rapadura, açúcar e cachaça. mar o milho em fubá e o ai- século XIX, havia apenas duas Os engenhos eram movidos pim em farinha de mandioca. cervejarias,tada da Europa. que Até mais o final tarde do por força hidráulica, através Além das chamadas in- desapareceram. O número do aproveitamento de peque- dústrias domésticas, também de pessoas que se ocupavam nos cursos d’água represados havia as “indústrias técnicas”, desse trabalho e não se de- e de uma roda d’água. As ata- que os colonizadores rotula- dicavam ao trabalho agrícola fonas eram movidas por força vam de “Technischeindustrie”, era pequeno. Ou seja, durante animal, com burros, bois ou que eram as outras ocupações os primeiros anos da Colônia cavalos. Embora o colono, em que nada tinham a ver com a Itajahy-Brusque a agricultura geral, tivesse condições de produção agrícola ou pecuá- era o recurso principal e es- construir sua própria casa e ria: o trabalho nas serrarias, sencial dos colonos alemães. os ranchos da propriedade, a cervejarias e olarias. Seyferth A produção da propriedade construção dos engenhos era (1974) escreveu que as in- fornecia os meios básicos de feita por um especialista, o dústrias técnicas não faziam consumo dando à família uma carpinteiro, um dos serviços parte da atividade doméstica relativa independência e, ao mais bem remunerados da dos colonos, principalmente grupo, uma relativa estabili- colônia, e nem todos os co- as serrarias, que pertenciam dade. Em crise, estariam ap- lonos tinham o dinheiro ne- a comerciantes ou pessoas tos para manter sua existên- 83 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

REFERÊNCIAS

BUGGENHAGEN, E. A. von. História Econômica no Muni- cípio de Brusque e a obra do Cônsul Carlos Renaux. [SI]. Brusque, 1941. Não publica- do. CABRAL, Oswaldo R. Brus- que: Subsídios para a história de uma colônia nos tempos Primeira Fábrica Renaux, na avenida 1º de Maio. Acervo: SAB do Império. Edição da Socie- dade Amigos de Brusque co- cia a partir do aumento dos era indispensável a existência memorativa do 1º Centená- seus esforços e diminuição do de capital e de braços. rio da Fundação da Colônia. Os vendeiros tinham fei- seu próprio consumo se ne- Brusque, 1958. cessário, algo extremamen- to bons negócios, chegando PIAZZA, Walter Fernando. te importante em virtude do a fazer algumas economias. A Colonização de Santa Cata- isolamento a que estava sub- A população da colônia tinha rina. 3ª edição. Florianópolis: metido o colono. aumentado bastante. Nem to- Editora Lunardelli, 1994. Tanto a indústria domésti- dos os imigrados que haviam SEYFERD, Giralda. A co- ca quanto a indústria técnica, inicialmente se dedicado à lonização alemã no vale do funcionavam sem grande ca- lavoura desejavam continu- Itajaí-Mirim. Um estudo de pital, simplesmente porque ar nessa ocupação. Se lhes desenvolvimento econômi- a matéria-prima abundava oferecia uma oportunidade, co. Editora Movimento. Porto muitos estavam prontos a Alegre. 1974. Paravam quando começava abandonar o trabalho na roça. SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. Floria- ae faltar exigia a um matéria-prima beneficiamento. que Havia, pois, o que era impres- nópolis: Editora EDEME - Em- provinha da roça. Nos pri- cindível. preendimentos Educacionais meiros 40 anos da Colônia A partir de então, vai ter Ltda., 1972. início a indústria têxtil que Itajahy-Brusque ainda não WIESER, Lotar. “Das hiesi- havia indústrias propriamen- marca a economia de Brusque ge Land gleicht einem Para- te ditas, cujas produções em até a atualidade, e a primeira dies”: Die Auswanderung von larga escala independessem iniciativa no segmento têxtil Baden nach Brasilien em 19. das quantidades limitadas de coube à família Bauer, segui- Jahrhundert (“Esta terra é um matérias-primas. Mas no úl- do dos Renaux, Buettner e, paraíso”: A emigração baden- timo decênio do século XIX a - se ao Brasil no século XIX). economia de Brusque já havia ser. Novamente, foram os imi- Volume 1. Badisch-Südbrasi- atingido um grau de adianta- grantesfinalmente, de daorigem família alemã Schlös os lianische Gesellschft (BSG): mento que permitia a criação responsáveis pelo impulso Karlsdorf-Neuthard: Editora de uma indústria. Para tanto, econômico dado à região. Verlag Regionalkultur, 2014. 84 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A imigração polonesa

No processo de ocupação do território catarinense por imigrantes europeus, ocorri- do a partir da independência do Brasil em 1822, o país aco- lheu vários imigrantes polo- neses ao longo dos anos. Mas o início da imigração polonesa organizada no Bra- sil começou por Brusque em agosto de 1869, quando um grupo de 16 famílias vindo da aldeia de Siolkowice, próximo à Opole, região que se encon- trava sob o domínio prussia- no, desembarcou no porto de Itajaí. Este grupo foi instalado na Colônia Príncipe D. Pedro, concedendo a Brusque o títu- lo de “Berço da Imigração Po- lonesa no Brasil”. Mas o que foi que motivou os poloneses a deixar o Con- tinente Europeu em busca da terra prometida? Essa res- posta só pode ser obtida co- Oração a Nossa Senhora nhecendo alguns fatos impor- de Czestochowa, tantes da história da Polônia que acabaram impulsionando Rainha da Polônia o movimento emigratório e contribuindo para a vinda do Virgem Santíssima Mãe de Deus, amada e venerada em primeiro grupo de imigrantes Vosso Glorioso Templo de Jasna Gora, onde através dos poloneses que se instalou em Brusque. vinde em nosso auxílio, salvai-nos, nós Vos suplicamos, comoséculos livrastes foste a dedispensadora tantos perigos de graçasos nossos a Vosso antepassados, povo fiel, oh bendita Rainha da Polônia.

85 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fragmentos vez mais divergências entre rânia. Em 1793 aconteceu a poloneses e lituanos e aca- “segunda partilha da Polô- da história bou perdendo poder depois nia”. A Rússia dominou todo o da Polônia de decisões equivocadas da resto da Ucrânia, enquanto a Prússia absorveu a Posnânia. Segundo pesquisadores, o e perda de território para os - Estado polonês foi estabele- impériosnobreza, vizinhos. conflitos Aos armados pou- ciuszko”, uniu todas as clas- cido no ano de 966, quando cos, essa comunidade deixou Emses 1794,sociais o “Levantepolonesas de numa Koś Mieszko I, governante de en- de existir, e o território da insurreição contra o Império tão, se converteu ao cristia- Polônia foi sendo partilhado Russo, porém, suas tropas nismo, mas o Reino da Polô- entre os impérios Prussiano, nia somente foi fundado em Austro-Húngaro e Russo. do mesmo ano. E, a história 1025. Em 1385, por meio do Minikovsky (2009) infor- foram suplantadas ao final casamento do Grão-Duque ma que, na divisão do terri- 1795 ocorre a “terceira par- - tório, o Império da Prússia, tilha”,registra e a que, Polônia finalmente, desaparece em tuânia, com a Rainha Jadwiga, que já detinha parte de Bran- do mapa político da Europa Jagiełło,do Reino do da Principado Polônia, os da dois Li - por longos 123 anos. países se uniram. Em 1569, longamento do território de Sob o domínio dos impé- foi estabelecida uma associa- denburg, ficou com o pro rios da Rússia, Prússia e Aus- ção política com o Grão-Du- lado polonês, e anexou a seu tro-Húngaro, no século XIX cado da Lituânia ao assinar a territórioBrandenburg mais que cinco ficava provín do- a Polônia sofria todo tipo de União de Lublin, formando a cias polonesas. Em 1618 o Comunidade Polaco-Lituana, Império Prussiano anexou ao falta de independência e ex- a República das Duas Nações, seu território a Prússia Orien- ploraçãodificuldades por provenientesparte dos opres da- também conhecida como Pri- tal e, em 1648, anexou a Po- sores. Sem as reformas ne- meira República da Polônia, merânia. Em 1742, anexou cessárias na área rural, com que existiu até 1795. a Silésia. Em 1772, anexou a grandes latifúndios e excesso O território prosperou - de mão de obra, começaram militar e economicamente e te, em 1795, a Prússia anexou a surgir graves problemas - Poznam.Prússia Ocidental e, finalmen sociais. Os movimentos em do como o “Século de Ouro” A síntese das Partilhas da prol da independência, que dao séculoPolônia. XVI De ficou acordo conheci com Polônia é apresentada pela levaram ao sangrento e mal- Piekas (2018), ao longo dos professora Piekas (2018), in- sucedido “Levante de Janei- anos, a szlachta (nobreza) formando que em 1772 acon- ro” nos anos de 1863-1864, polonesa, por meio de seu teceu a “primeira partilha da provocaram mais represálias parlamento, o Sejm, começou Polônia”. A Áustria tomou a a legislar em favor dos pró- Galícia, a Rússia conquistou poloneses procurassem fugir prios interesses e retirar o a maior parte da Bielorrússia doe fizerampaís. Piekas com (2018) que muitos infor- poder do rei. A República das e a Prússia obteve o controle ma que o “Levante de Janeiro” Duas Nações foi tendo cada do Sul do Báltico e da Pome- foi a mais longa insurreição 86 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história polonesa contra a ocupação e Austro-Húngaro estavam um padre polonês trabalhan- russa. Combatentes italianos, profundamente comprometi- do na cidade vizinha, Gaspar, húngaros e franceses se alia- o Padre Antônio Zielinski, ram aos revoltosos poloneses - que em 1867 havia substitu- e até mesmo religiosos entra- périosdos com haviam a guerra. perdido Ao final vastas dos ído o Padre Alberto Francisco ram para a resistência, mas extensõesconflitos, em de 1918,seus territórios esses im Maximiliano Gattone quan- dois anos depois o levante su- ou deixado completamente do este foi transferido para cumbiu e foi seguido de seve- de existir. As Legiões Polo- Brusque. O Pe. Zielinski con- ras represálias. Centenas de nesas, comandadas por Jósef cebia ideias de colonizador e revoltosos foram executados - pretendia trazer para o Brasil e milhares se viram condena- - famílias de patrícios seus que dos e enviados para a Sibéria, rantiramPiłsudski, a aliadas independência a ações dida viviam em situação pouco in- na Rússia, para trabalhar em Polôniaplomáticas, em 11 finalmente de novembro ga vejável, sob as bandeiras da regime de escravidão. Após o de 1918. Rússia, da Prússia e do Im- Levante, os impostos aumen- Ao mesmo tempo em que pério Austro-Húngaro, impé- taram, propriedades foram se desenrolava a crise econô- rios entre os quais havia sido - mica generalizada na Europa, repartida a Polônia. Também nastérios foram fechados. o Brasil procurava meios e por aquele tempo, chegou à confiscadas,A região conventosocupada e pelamo pessoas para colonizar suas Colônia Blumenau o polonês Prússia também foi atingida enormes áreas de terra e de- - por forte repressão. A língua senvolver no seu território porski, que mais tarde se tor- polonesa foi proibida nas es- uma agricultura variada e nariaSebastião o pioneiro Edmundo da coloniza Woś-Sa- colas e na administração pú- relativamente moderna. Os ção polaca no Paraná. blica. O serviço militar tinha imigrantes poloneses, em sua Saporski estabeleceu re- que ser cumprido nas forças grande maioria agricultores, lações de amizade com o Pe. armadas dos países ocupan- trabalhadores honestos e Zielinski e convenceu o ami- tes. A miséria, a fome, a falta perseverantes, encaixavam- go a tentar junto à corte uma de quaisquer esperanças de se muito bem nas necessida- concessão para a colonização mudança na vida dos mais des do país. de terrenos brasileiros por pobres também era um fator imigrantes poloneses. Decidi- importante na procura de ram requerer ao Ministro da uma nova “terra prometida”. O papel de Agricultura uma área de ter- Saporski na ras que se obrigariam a po- crise econômica generaliza- colônia polaca voar com colonos poloneses, da E,na ao Europa final doe agravada século XIX, pela a muitos dos quais já estavam Guerra da Crimeia forçou os em Brusque esperando no Rio de Janeiro. ocupantes a liberar a emi- - gração de poloneses. Com o Na época em que chega- va, foi-lhes perguntado onde início da 1ª Guerra Mundial, ram os primeiros imigrantes desejariamRecebendo respostareceber asafirmati terras os impérios Alemão, Russo poloneses em Brusque, havia que pretendiam colonizar. 87 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Pensavam em Santa Catari- na, mas quase todo o vasto território da Bacia do Itajaí já fora destinado à colônia do Dr. Blumenau, e a maior par- te das terras litorâneas havia - ciais ou concedidas a parti- sidoculares. atribuída Pensaram, às colônias então, ofino Carbonera Cavalheiro Francine Gravura: Paraná. Estando em Curitiba desde 1870, Saporski persis- tia no seu intento e teve con- tato com o Padre Agostinho Lima, vigário da cidade, que levou suas intenções a Erme- lino de Leão, Vice-Presidente do Estado. As demandas de Saporski tiveram êxito, pois o próprio Presidente da Pro- víncia do Paraná, Venâncio de Lisboa, mostrou interesse na proposta (Piekas, 2018). Tendo obtido áreas de ter- ras nos arredores de Curiti- - ba, planejava encaminhar os porski) nasceu no dia 19 de janeiro de 1844 em Stare poloneses de Brusque para Sebastião Edmundo Woś-Saporski (ou Edmund Woś-Sa lá. Mas não era tarefa fácil a comuna rural de Popielów, localizada na província transferência de imigrantes deSiołkowice, Opole, pertence a mais àantiga região das conhecida 12 aldeias como que Alta formam Silésia, a de uma para outra colônia e no sudoeste da Polônia. Saporski era um jovem de 20 e só o próprio imperador podia poucos anos que, em sua terra natal sufocada por autorizá-la. Saporski não de- estrangeiros, não vislumbrava qualquer perspectiva e decidiu tentar a vida em outras paragens. Deixou a surgidas e foi, pessoalmente, Polônia e, em junho de 1867, alcançou terras brasileiras. àsistiu Corte diante advogar das dificuldadesa causa dos Saporski viajou a bordo do veleiro “Emma”, que atracou seus patrícios de Brusque. no porto de Paranaguá, no litoral do Estado do Paraná. Inicialmente, nada conseguiu. Mas ele não desceu ali e seguiu viagem no navio, que Então regressou ao Paraná, rumava para o Uruguai. Em Montevidéu ele conheceu um alemão que estava vindo para o Brasil e o convidou para onde fundou um colégio, na voltar. Saporski foi para a Colônia Blumenau, onde por atual Rua 15 de novembro, alguns meses atuou como professor (Piekas, 2018). em Curitiba. 88 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Primeiros Um pouco sobre o veleiro Victoria poloneses em Brusque O grupo dos primeiros imigrantes poloneses que che- garam a Brusque no mês de agosto de 1869 viajou a bor- Enquanto Saporski se em- do do navio Victoria - um veleiro do tipo barca, que tinha penhava em conseguir obter como destino e Blumenau. Foi conduzido do governo imperial terras pelo Capitão Redlich e trazia, a bordo, 173 pessoas, sendo para instalar os imigrantes 97 homens e 76 mulheres. poloneses, em agosto de Conforme noticiado pelo Kolonie Zeitung (14/8/1869), 1869 o navio Victoria atracou no Porto de Itajaí, trazendo o foram recepcionados no dia 12 de agosto. Destes, 33 são primeiro grupo de imigrantes provenientes60 imigrantes da ficaram Prússia, na 9 Colônia da Saxônia, Dona 2 Francisca,de Anhalt ondee 16 poloneses composto por 16 são provenientes da Boêmia. Segundo a idade: 36 pessoas famílias originárias da Alta acima e 24 abaixo de 10 anos. Segundo a religião, 44 são Silésia. Não tendo outra alter- protestantes e 16 católicos. Os demais seguiram viagem nativa naquele momento, as para o Porto de Itajaí, com destino a Blumenau e Brusque. autoridades do Departamen- to de Imigração encaminha- Dados técnicos sobre aquela viagem do Veleiro Victó- ram o grupo para a Colônia ria: Imperial Príncipe Dom Pedro, Embarque dos passageiros em Hamburgo: dia 10 de vizinha da Colônia Itajahy junho de 1869. -Brusque. Nessa colônia havia Partida de Hamburgo no dia 11 de junho de 1869. muitos lotes de terra dispo- Foi para o mar em 13 de junho. níveis, pois o grupo de ingle- Chegada no Porto Dona Francisca no dia 11 de agosto ses e irlandeses reemigrados de 1869. dos Estados Unidos que havia Tempo de viagem até o Porto de Dona Francisca (São sido assentado naquela área Francisco do Sul): 58 dias. não era muito afeito ao tra- balho no campo e, depois de causar muitos problemas à administração da Colônia, ha- via ido embora, liberando as terras. Pouco depois da che- gada dos imigrantes polone- ses, 6 de dezembro de 1869, a Colônia Príncipe Dom Pedro foi extinta e o seu território e os seus negócios foram então incorporados à Diretoria da Colônia Itajahy-Brusque. 89 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Conforme o original da notícias de que muitos tam- Brusque em 1869. A emigra- lista de passageiros do Vic- bém emigraram ilegalmen- ção da região de Schalkowitz tória emitida em Hamburgo, te. (SIOLKOWICE, 2018). No recebeu impulso no século a maioria das famílias decla- tempo em que os primeiros XIX, principalmente devido rou ser originária da aldeia imigrantes poloneses chega- ao desenvolvimento de meios de (as famílias ram a Brusque, a sua região de comunicação, da ação Wosch, Purkott, Kania, Pro- de origem estava sob o do- dos agentes de emigração e dlo, SiołkowiceSzjnowski, Gbur, Pollack mínio da Prússia (Alemanha) dos “incentivos estatais” dos e Pampuch), a mesma aldeia e somente após a Segunda países que queriam atrair de onde emigrou Saporski Guerra Mundial é que aquele imigrantes. A magia da ter- em 1867. Uma família se de- território voltou a pertencer ra prometida gratuita atraiu clarou originária de Poppelau à Polônia. Os nomes das al- milhares de pessoas e tam- (Kania), e duas famílias de deias, antes em alemão, fo- bém os poloneses emigraram Chrosczütz (Stempka e Otto), ram alterados para a variante (SIOLKOWICE, 2018), inclusi- todas elas localizadas na pro- polonesa: Schalkowitz pas- víncia de Opole, Alta Silésia, sou a ser denominada Stare no sudoeste da Polônia. Deste Siolkowice. Poppelau, atual- emve Edmund 1867 e consta Woś-Saporski que, depois que primeiro grupo, apenas uma mente é chamada de Popie- dele,emigrou cerca de de Stare 200 Siołkowicepessoas o - a família Weber-, se decla- lów, e Chrosczütz hoje é de- seguiram. Emigraram de lá rou originária da aldeia de com famílias inteiras, todas Neuhamer. Os habitantes daquela re- para o Brasil. Tal informação Nas últimas décadas do giãosignada estão de envolvidos Chróścice. na agri- é consistente com o ideal co- século XIX, a tendência de cultura há muitos anos, e o lonizador de Saporskie de emigração assumiu uma di- trabalho agrícola era a princi- sua pretensão de trazer para mensão massiva na região pal ocupação da maior parte o Brasil famílias de patrícios de Opole, e embora as auto- da população até meados do seus que viviam em situação ridades tentassem contê-la, século XX. As terras eram mui- pouco invejável no seu torrão inúmeras famílias decidiram to férteis sobre a larga bacia natal. emigrar, inclusive para o Bra- do rio Odra, que atravessa a sil. Muitos formalizaram o planície da Silésia, e inúmeras A transmigração pedido de liberação da cida- vezes o rio Odra causou gran- des estragos em suas enchen- de Brusque o pedido com a intenção de tes. A atividade econômica para Curitiba deixardania prussiana,a Prússia e justificando de se esta- predominante era a atividade belecer no Brasil e, depois de agrícola. Trabalhava-se como Além do grupo de 16 fa- alguns dias, recebiam o cha- assalariado para os grandes mílias que aportou em Itajaí mado “Entlassungsschein”, fazendeiros locais, ou então a bordo do navio Victoria, como pequeno artesão. Assim ainda em agosto de 1869 para a emigração para a Amé- era também com aqueles que chegaram mais algumas fa- que significa “passe livre” rica desejada. No entanto, há emigraram da Polônia para mílias polonesas à Colônia. 90 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

pela correspondência emi- tidaTal assertivaem 31/08/1869 é confirmada pelo Barão Maxmillian von Sch- neeburg, Diretor da Colônia Itajahy-Brusque e dirigida ao Vice-Presidente da Província de Santa Catarina, Coronel Joaquim Xavier Neves. No do- cumento, o Diretor submete orçamento à Tesouraria da Província “para as despesas Ovos de Páscoa ornamentados com figuras, a fazer com 94 colonos no- cores e símbolos poloneses tradicionais vos, de nação polacos, aqui ao qual os patrícios estavam mais tarde, deslanchou no chegados no corrente mês habituados, e muitas mon- processo imigratório polaco. de agosto”. Mas a maioria dos tanhas cobertas com mata Ao se manifestar sobre o poloneses não se adaptou por densa. Certamente, era uma assunto, o pesquisador José aqui, seja por questões rela- região bem diferente daquela Ferreira da Silva (1998) es- - com a qual os imigrantes po- creveu que, entre o exercício tes, seja em função do clima loneses estavam acostuma- quentecionadas da à região,topografia ou em dos fun lo- dos nas planícies da Silésia. trazer os poloneses de Brus- do magistério e a ideia fixa de ção da tensa relação com os Somado a isso, também havia que para o Paraná, Saporski alemães que já estavam insta- a pressão exercida por outras continuou as negociações lados em Brusque, e eles logo junto ao governo daquela Pro- passaram a demonstrar seu na Polônia eles já estavam víncia para obter a concessão correntes migratórias, afinal, descontentamento. sob o jugo dos prussianos, é de área para a colonização Em queixas junto à direção possível que não quisessem e também para concretizar da Colônia, manifestavam seu continuar sob a administra- a transferência dos colonos. desejo de mudar para outro ção dos alemães também Depois de superar entraves ponto do país, o que veio a se aqui no Brasil, e Brusque era - concretizar rapidamente sob uma colônia alemã. Saporski ski conseguiu a tão almeja- de toda sorte, afinal Sapor o comando de Saporski, que envidou muitos esforços para da transferência. O governo já estava no Paraná. Sapor- concretizar o seu ideal colo- ski era agrimensor, e conhe- nizador e transladar seus pa- cobrir as despesas de trans- trícios para o Paraná e assim, porteparanaense dos poloneses se prontificou de Itajaí a da região onde os imigran- em setembro de 1871, esses para Curitiba. Mas foi então tescia ashaviam condições sido geográficasassentados colonos foram transferidos que as coisas começaram a se na Colônia Imperial Príncipe para Curitiba, onde os polo- complicar. Os carroções que Dom Pedro: havia pouca ter- neses de Brusque deram iní- transportaram os poloneses ra de vargem apta ao plantio cio à imigração polonesa que, de Antonina até Curitiba dei- 91 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz xaram os imigrantes à porta do Colégio de Saporski, ale- gando que o seu compromis- so era levar os colonos até ali. Nem um metro adiante. Sa- porski conseguiu alojá-los em casas particulares e em algu- mas chácaras nas proximida- des. Mas os colonos vinham sem vintém, desprovidos de tudo. Como manter-lhes a subsistência? O governo da Província tirava o corpo fora e ia retardando de dia para dia, a localização dos pobres po- loneses que não tinham outro recurso que se amontoar às portas do Colégio de Sapor- ski ou vadiarem pelas ruas da capital. A Câmara Municipal da cidade tomou sua defesa e resolveu intervir. Curitiba Desenho para tear criado por um tecelão de Lodz para produção tinha um vasto patrimônio na indústria têxtil em Brusque. Acervo: Rosemari Glatz em terras ao redor da cidade. de Curitiba com esses e mais após a proclamação da Repú- Improdutivo, esse patrimônio tarde com milhares de outros blica do Brasil em 1889, é que até então inaproveitado seria colonizadores que pelos anos Brusque vai receber novas le- mais para atrasar o desenvol- seguintes foram chegando, vas de imigrantes poloneses. vimento urbano do que para abrindo uma era de extra- A leva migratória que corres- o seu progresso. Resolveu, ordinário desenvolvimento ponde ao período entre 1890 por isso, a edilidade curitiba- para todo o estado do Paraná. - na localizar os poloneses de lônia como “febre imigratória e 1891 ficou conhecida na Po Brusque em Pilarzinho, onde Novo brasileira”. Por aquele tem- Saporski participou da divi- po, caiu o preço dos cereais, são e demarcação dos lotes movimento agricultores se endividaram e e da sua distribuição. As pri- imigratório muitos venderam as suas ter- meiras cartas de foro foram para Brusque ras. O agravamento dos pro- passadas pela Câmara em 28 blemas sociais e econômicos de novembro daquele mes- na região, combinado com a mo ano de 1871. Iniciou-se, propaganda de imigração do do século XIX, especialmente assim, a colonização do rocio Anos mais tarde, já no final governo brasileiro, dissemi- 92 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história nada principalmente pelas “Neste lugar foi a sede da Co- agências de navegação que lônia Príncipe Dom Pedro. descrevia o país como uma Instalada em 1867, foi extin- terra de oportunidades, im- ta e incorporada à Colônia pulsionou a imigração maciça Itajahy (Brusque), em 1869. de poloneses para o Brasil. SAB”. Alguns anos depois, a Brusque também recebeu co- placa do marco – que se cons- lonizadores poloneses que se titui num símbolo importante dedicavam à agricultura, mas para a história da imigração recebeu um tipo especial de polonesa e integrante do pa- trimônio histórico do muni- da indústria têxtil. cípio -, foi encontrada aban- imigrantes:A maioria osdesses profissionais imigran- donada próximo ao leito do tes vinha de importantes cen- rio Itajaí-Mirim, e recolhida à tros têxteis da Polônia, como sede da Casa de Brusque. Lodz, e foram eles os respon- Um novo marco foi regis- sáveis pela pioneira atividade trado 18 anos depois, em da indústria têxtil em Brus- 31/07/1976, quando outra - Eles tinham formação técnica, res “Homenagem ao Imigran- que no final do século XIX.- teplaca Polonês foi fixada pela sua com contribui os dize- til, e contribuíram, de forma ção ao progresso de Brusque”. decisiva,conheciam para bem que o oficio Brusque têx Na gestão do prefeito Hilário recebesse, anos mais tarde, Marco dos 130 anos de imigração Zen, possivelmente em 1999, polonesa em Brusque. Acervo: SAB o título de “Berço da Fiação foi descerrado um novo mo- Catarinense”. Desta vez, os considerada o “Berço da Imi- numento, uma pedra de gra- imigrantes poloneses vieram gração Polonesa no Brasil”, nito, que continha três placas. - não foge à regra e, ao longo Uma delas, era a mesma de tória. da história mais recente, tem 1976. Outra, marcava os 130 para ficar e para mudar a his criado alguns marcos para anos de imigração polonesa Marcos em registrar os fatos relaciona- e continha, dentre outros di- dos a essa história. Segundo zeres, a expressão “Obrigado, homenagem Goulart (1984), como parte Polônia”, e, desta vez, o monu- aos poloneses das solenidades alusivas ao mento foi instalado nas pro- 98º aniversário da fundação ximidades da antiga Câmara Na história dos povos, fa- de Brusque, em 02/08/1958 de Vereadores (atual Praça da tos importantes costumam a Sociedade Amigos de Brus- Cidadania, bairro Centro). De ser registrados em marcos que – SAB instalou um mar- todos estes monumentos, só que se incorporam ao pa- co de granito com placa de restaram algumas fotos dis- trimônio coletivo. Brusque, bronze, contendo a inscrição: poníveis na Casa de Brusque/ 93 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

de Thomaz Sieniovski e de Mariaveleiro Kovalska. Victoria, filho legítimo

REFERÊNCIAS

DEUCHER. Celso. Brusque Polonesa. S&T Editores, 2008. GOULART, Maria do Carmo Ramos Krieger. A imigração polonesa nas colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro: uma contribuição ao estudo da imigração polonesa no Brasil meridional. Fundação Casa Dr. Blumenau, 1984. MINICOVSKY, Cléverson Israel. O Imigrante de Polo- nês. Editora: Biblioteca24ho- ras; 2009. PIEKAS, Mari Ines. Notícia fornecida na palestra Sebas-

- Pai da Imigração Polonesa tião Edmundo Woś-Saporski O Pinhão: Monumento aos poloneses de Brusque e região. Acervo: SAB no Brasil. VII Seminário Te- mático do Programa História SAB. tabeleceu, em 2009, o dia 25 e Memória Regional 150 Anos Houve, ainda, a instalação de agosto como o “Dia Muni- de Imigração Polonesa no de outro monumento, inti- cipal da Imigração Polonesa Brasil. Centro Universitário tulado “pinhão” (semente da para Brusque e no Brasil”. de Brusque – Unifebe. Brus- árvore araucária), no qual Segundo Deucher (2009), que, 24 de agosto de 2018. estava incrustada uma placa a data foi escolhida porque, SILVA, José Ferreira da. em homenagem aos primei- em 25 de agosto de 1869, Blumenau em Cadernos, ros imigrantes poloneses. poucos dias após a chegada Tomo XXXIX, 1998. Esse monumento ainda existe dos imigrantes poloneses, e está implantando na Praça foi batizado em Brusque o Disponível em: <: http://sta- da Cidadania. Uma iniciativa menino Estevão Sieniovski, resiolkowice.pl/historia/>.Siołkowice, a História de. bem-sucedida e que merece nascido em “o mar” no dia 3 Acesso em 25 de agosto de ser reconhecida é a lei que es- de julho de 1869, a bordo do 2018. 94 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Matriz de Botuverá. Acervo: Rosemari Glatz A imigração italiana Nos primeiros anos de feita somente pelo elemento parados com a extensão dos existência da Colônia Itajahy alemão e polonês. Os italia- pequenos núcleos de povoa- -Brusque, a região foi ocupa- nos deram grande parcela de mento europeus, os resulta- da com imigrantes alemães contribuição à formação da dos não eram animadores. A que foram sendo instalados nova Colônia, e a chegada de- na região central (Stadtplatz), les tem estreita relação com o era de 1820 e, com o térmi- na Rua São Pedro, e em Guabi- Contrato Caetano Pinto. nopolítica da Guerra oficial do de Paraguai colonização em ruba. Em 1869, chegaram os A colonização do interior 1870, as atenções do Gover- poloneses que foram instala- do Brasil era uma ideia anti- no se voltaram novamente dos na Colônia Príncipe Dom ga, mas aplicá-la nem sempre para a questão da imigração, Pedro. Mas a história da co- foi fácil. As dimensões do Im- numa tentativa de dinamizar lonização de Brusque não foi pério eram grandes e, com- a política imigratória e po- 95 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

de terrenos documentados, De acordo com o Contrato, os imigratório havia diminuído, bem como pela fertilidade da lotes já deveriam estar de- ovoar Governo o interior. Imperial Como otratou fluxo terra, a Colônia Blumenau e marcados quando da chegada a Colônia Itajahy-Brusque e dos imigrantes, mas a realida- que emperravam a emigração Príncipe Dom Pedro, passa- de foi bastante diferente. parade levantar o Brasil. asE passou dificuldades a to- ram a receber grande contin- Na Colônia Itajahy-Brus- mar as providências cabíveis gente de imigrantes italianos que, o número de funcioná- para incrementar novas cor- a partir de 1875, quase todos rios para a demarcação dos rentes migratórias, medidas italianos, lombardos ou tiro- que despertassem a atenção leses. atender ao número de imi- do homem do campo euro- granteslotes era insuficienterecém-chegados. para peu para uma melhoria da O Contrato Em 1876, ano de entrada de sua situação econômica nas grandes contingentes de imi- terras do interior brasileiro. Caetano Pinto grantes italianos, lombardos Com esse objetivo, foi elabo- e tiroleses, o engenheiro Pe- rado um contrato, conhecido Roselys Izabel Correa dos como Contrato Caetano Pinto, Santos (1981) informa que, comissão responsável pela - quando se lê as principais demarcaçãodro Luis Toulois dos chefiava lotes na uma Co- rio do Brasil e o Comendador cláusulas do Contrato Cae- lônia. Composta por Toulois e Joaquimque foi firmado Caetano entre Pinto o Júnior,Impé tano Pinto, não se tem ideia pelos agrimensores Cristiano registrado como o Decreto nº dos grandes problemas que Boaventura da Cunha Pinto, 5.663, de 17/06/1874. as mesmas acarretariam, tan- Germano Thieme e Sarmat du As cláusulas do Contrato to para os imigrantes quanto Lauraux Bousquet, o trabalho Caetano Pinto estimulavam a de medição era demorado, e a imigração europeia, pois eram estavam associadas ao gran- situação se agravava pelo alto para o Brasil. As dificuldades atrativas para as populações de número de imigrantes que índice de pluviosidade da re- que na sua pátria sofriam deveriam ser introduzidos: gião, tornando a tarefa ainda com os problemas decorren- 100 mil imigrantes dentro do - tes de uma situação econô- - des de demarcação dos lotes mica desfavorável, agravada ção das cláusulas do Contrato emmais tempo dura. hábil Mas asnão dificulda impedi- prazo de dez anos! A aplica pela exiguidade do espaço exigia infraestrutura para a ram que grandes levas de imi- grantes continuassem a che- maioria dos casos, o lote não objetivos fossem alcançados. gar e, para a administração sua aplicação, a fim de que os pertenciafísico dos àquele lotes. Naque Itália, cultiva na- No entanto, o pequeno espaço colonial, a acomodação dos va a terra que, além de tirar de tempo entre a assinatura imigrantes se transformou o sustento para a sua família, do contrato (17/06/1874) e a num grande problema. ainda pagava aluguel pelo seu chegada das primeiras gran- Por não ser possível locali- uso. Aliciados por agenciado- des levas de imigrantes já no zar os colonizadores nos seus res e atraídos pela possibili- início de 1875, prejudicou respectivos lotes logo que dade de serem proprietários bastante a sua aplicabilidade. chegavam, eles foram sendo 96 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

acomodados nos barracões de recepção. Eram constru- ções precárias, sem o mínimo de conforto, como a maioria das habitações da época: de pau a pique, barreada, cober- ta de folhas de palmito tran- çadas. Essas acomodações destinavam-se a abrigar os colonos pelo prazo máximo de oito dias, período em que, conforme cláusula do Con- trato Caetano Pinto, o Gover- no concederia hospedagem e alimentação aos imigrantes. Tudo já deveria estar pronto para recebê-los, mas não foi assim. A partir de 1876, os bar- Mapa dos lotes coloniais em Porto Franco (Botuverá). Acervo: SAB racões de recepção estavam apinhados, e a Colônia não Eram novos tempos. Tempos de caos para a jovem tinha mais condições de rece- Colônia. Em relatório datado de 10/01/1877, o ber novas levas, mas os imi- engenheiro Pedro Luis Toulois, encarregado da distribui- ção dos lotes na Colônia, relatou ao Presidente da Provín- grantes continuavam a che- cia de Santa Catarina que em 1875, a população da Colô- gar. Com relação ao assunto, nia Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro era de 4.568 o Dr. Alfredo D’Escragnolle pessoas, e os lotes eram 724. Durante o ano de 1876, a Taunay, Presidente da Provín- população aumentou em cerca de 4.000 pessoas, e foram - preparados 1.123 novos lotes. Em um ano, a população cio datado de 1876 e dirigido da Colônia quase duplicou. Durante os primeiros 15 anos, aocia deMinistro Santa Catarina,da Agricultura, em ofí entre 1860 e 1875, foram distribuídos 724 lotes, e só em Comércio e Obras Públicas, 1876 foram preparados quase o dobro. Segundo o relató- assim se manifestou: “Esta rio da Administração, a situação estatística das Colônias Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro a população em situação (...) é agravada de 1876 era de 8.110 habitantes, sendo 4.862 homens e modo evidente pela chegada 3.248 mulheres. Quanto à nacionalidade da população: contínua de novos imigrantes. alemães: 2.620. austríacos (assim denominados os Acumula-se gente nos bar- imigrantes vindos do norte da Itália, Tirol): 2.214. italia- nos: 2.018. brasileiros: 996 pessoas. ingleses: 36. espa- seis ou mais meses a receber nhóis: 25. portugueses: 18. belgas: 7. Outras subsídiosracões de do recepção, cofre público lá ficam e Nacionalidades: 154 habitantes (GEVAERD,1976). à espera de lotes medidos, 97 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz onde serão localizados”. E a trabalho. A ocupação de jor- todas as Colônias. Na de Blu- população da Colônia Itajahy naleiro não poderia exceder menau, por exemplo, o colono -Brusque, que em 1875 era só recebia as ajudas que lhe de 4.568 habitantes, subiu a em tese, o colono já teria con- eram devidas quando ele já 8.110 pessoas até dezembro diçõesseis meses, de tirar findos o seu ossustento quais, estava na propriedade do lote de 1876. e o da família da sua própria No início de 1877, os barra- lavoura. na Colônia Itajahy-Brusque e cões estavam completamente Príncipeno qual deveriaDom Pedro, se fixar, as quan mas- abarrotados, pois, só em ja- O poder de tias já lhe eram entregues neiro e fevereiro daquele ano, quando ele ainda esperava 952 imigrantes haviam se atração da nos barracões pela demarca- juntando à população que em Colônia ção dos seus lotes. dezembro de 1876 já somava As razões de maior impor- 8.110 almas na Colônia Ita- A situação não era a mes- tância para o poder de atra- jahy-Brusque e Príncipe Dom ma em todas as Colônias da ção da Colônia Itajahy-Brus- Pedro. A administração tinha Província de Santa Catarina. que e Príncipe Dom Pedro são Santos (1981) conta que, em analisadas pelo Presidente da tão grande número de imi- muitas delas, como no caso da Província de Santa Catarina, grantes,dificuldades e a situação para localizarse agra- Colônia Blumenau, existiam Dr. Alfredo D’Escragnolle Tau- vava devido às cláusulas do lotes medidos e prontos para nay, em seu relatório encami- Contrato Caetano Pinto, que serem ocupados, mas a gran- nhado ao Ministro da Agri- davam ao colonizador o direi- de maioria dos imigrantes ita- cultura em outubro de 1876. to de escolher o seu lote. Ele lianos preferiria a Colônia Ita- Segundo Taunay, eram razões poderia rejeitá-lo, implicando jahy-Brusque e Príncipe Dom de maior importância o fato Pedro. do elemento germânico, em para o Governo, pois o fato de A causa novamente estava geral exclusivista, repelir a onuma imigrante situação não bastante aceitar odifícil lote nas cláusulas do Contrato Ca- fusão com outras raças, e em fazia com que o trabalho de etano Pinto, pois já na Europa Blumenau ele existir vivo com agrimensura se perdesse - em o imigrante escolhia o lugar todos os seus defeitos e virtu- parte – e, por outro lado, en- - des; e, pelas cartas que eram quanto não estivesse devida- sil e nada havia a fazer, a não encaminhadas pelos imigran- mente estabelecido, cabia aos seronde atender queria as fixar-se prerrogativas no Bra tes que já estavam instalados Cofres Públicos o seu susten- dos imigrantes. Dentre outros em Brusque, dirigidas aos to. Mesmo vivendo em condi- fatores, a preferência dada seus patrícios na Europa, in- ções precárias nos barracões, à Colônia Brusque dava-se dicando-lhes as regalias espe- alguns preferiam a ocupa- pela forma como eram feitas ciais de que gozavam os colo- ção de “jornaleiros”, quando as distribuições das ajudas nos logo à chegada. o imigrante trabalhava na de custo para a compra de Chega o colono e é levado conservação das estradas da sementes e ferramentas. Não para o barracão de recepção Colônia e recebia por dia de havia uma norma comum a da Barra do Itajahy-Mirim 98 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Choupana dos colonos tiroleses em 1875. Acervo: SAB resistência até que todos si- seu contrato, ainda pode ou à espera de uma condução, gam para o centro onde eles não aceitar, conforme for do quere do Açu,para ondea Colônia fica dois Itajahy- dias têm suas casas de negócios. seu agrado. E enquanto está Dom Pedro, quer para a de Uma vez em Itajahy, o colono no barracão, o Estado lhe dá Blumenau. Consultados sobre recebe de uma só vez todo o 2$000 (dois mil Réis) diários o destino que desejam, gritam dinheiro para o seu estabe- para que ele vá trabalhar em todos, em uma só voz: Itajahy, lecimento, fartura de casa, (das matas), se- “abanar os braços”. Para Tau- ser enganados na direção a mentes e transporte, de modo nay,estradas, representava ficando ao famíliasistema a tomardesconfiados e levados de para que possamBlume- que, se tiver três pessoas da mais irregular e antieconô- nau. Aí aparecem agentes de família, recebe de pronto e de mico que se podia imaginar. negociantes estabelecidos em uma só vez 148$000, ainda E dizia mais: “esse sistema é Itajahy, e notadamente um - certo Pietro Beltramini, ho- ses dentro de um barracão de existentes na administração mem audaz e possuidor de recepçãoque vá ficar à espera oito ou para mais que me se dafilho Colônia das péssimas Itajahy-Brusque tradições e alguns bens, que aconselha localize num lote que ele, pelo Príncipe Dom Pedro (...)¨. 99 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Ainda conforme Santos A realidade tiva de se tornar proprietário (1981), Taunay emitia sua de terras, e também devido à opinião quanto à razão da que os italianos propaganda corrente na Itália preferência dada pelos imi- encontraram grantes italianos à Colônia fértil. Eles tinham vontade de Brusque: “O que se faz de Em 1875, ano da che- vencer,afirmar mas que a o realidade solo aqui que era afogadilho em Itajahy, faz-se gada dos primeiros italianos, encontraram foi dura: as ter- sucessivamente (aos poucos) Luis Paes Leme era o Diretor ras eram montanhosas, o iso- em Blumenau. Assim, na Co- da Colônia Itajahy-Brusque lamento era quase total, alia- lônia Blumenau o colono só e Príncipe Dom Pedro, e se do ao desconhecimento do obtém o dinheiro para fazer viu obrigado a dar acolhi- espaço que os cercava. A con- a casa quando entra na posse da aos imigrantes italianos sequência foi o desencanto, o do seu lote, para derrubar (a após receber o telegrama de arrependimento, o desespero mata) quando já tem casa, e 10/02/1875, em que o Mi- e a vontade de voltar. Houve para sementes quando já tem nistro da Agricultura, José revoltas e motins em vários área para plantar”. E termina a Fernandes da Costa Perei- pontos da Colônia e muitos sua análise: “Uma vez de pos- ra Júnior, informava que em a deixaram, voltaram para a se da soma que naturalmente breve chegariam à Colônia Itália ou foram em direção à lhes é fabulosa, aqueles pro- 200 imigrantes Lombardos, e América Platina (Argentina, letários da Europa começam que a Colônia deveria se pre- Paraguai e Uruguai). os gastos em botequins e ca- parar para bem recebê-los. Os lotes junto à sede da sas de cerveja, de modo que Paes Leme não teve dúvidas, Colônia já estavam ocupados uma dessas, do cidadão Thies, e de pronto orçou as despe- pelos alemães, cuja chegada vendeu em cinco dias 16.000 sas, distribuindo os devidos garrafas de cerveja. Some-se valores entre mantimentos Das terras destinadas à colo- a esta porção o que foi con- durante o transporte, manti- nização,oficial se restoudeu a partir a periferia de 1860. e, sumido em outros negócios mentos para dez dias, auxílio, principalmente, os terrenos e, especialmente ao tal Pietro casas provisórias, sementes, da extinta Colônia Prínci- Beltramini, e terá V. Ex.ª. uma ferramentas, etc. Os primei- pe Dom Pedro, quase todos quantidade enorme de litros ros 108 colonos chegaram em montanhosos, com pequenas de cerveja pagos pelo Gover- 4/07/1875. A partir de então, várzeas, onde a agricultura de no do Brasil aos seus imigran- a região da Colônia Príncipe tes como saudação de Dom Pedro, que depois de áreas às quais se adaptaram chegada”. A Cervejaria de extinta, em 6/12/1869, havia melhorporte se aqueles tornou que dificultada, já eram Friedrich Wilhelm Thies es- sido anexada à Diretoria da lavradores em seu país de ori- tava localizada na Stadtplatz Colônia Itajahy, passou a ser gem. Inicialmente, os imigran- da Colônia Itajahy-Brusque, colonizada com imigrantes tes italianos receberam lotes próximo da esquina da atual italianos. nas localidades de Poço Fun- rua Rui Barbosa com a Hercí- Estes imigrantes vieram do e Águas Claras. A seguir, lio Luz. para o Brasil com a perspec- foram distribuídos os terre- 100 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história nos que margeiam o Ribei- rão Alferes, já no vale do Rio Tijucas, onde, em 1875, havia sido criado o núcleo de Nova Trento, ligado administrativa- mente à Colônia Brusque. A partir de 1876, os imigrantes que chegavam eram levados para ocupar os terrenos mon- tanhosos que faziam parte da extinta Colônia Príncipe Dom Pedro, no médio vale do Itajaí-Mirim. Foi criado o núcleo de Porto Franco, dis- tando 30 km da sede colonial, Vinhedo em Nova Trento. Acervo: Rosemari Glatz com colonos, em sua maioria, O número de imigrantes que deu entrada na Colônia de origem italiana. Assim, as Itajahy-Brusque e Príncipe Dom Pedro, por força do maiores áreas de concentra- Contrato Caetano Pinto, não é conhecido com exatidão, ção de elementos italianos fo- mas é sabido que entre os anos de 1875 e 1877 ram as localidades de Cedro; entraram 5.616 imigrantes. Quanto à procedência, Águas Negras, Porto Franco e a maioria dos imigrantes veio do norte italiano: Vêneto, Ribeirão do Ouro (ambos em Piemonte, Lombardia e Trentinos, que eram chamados Botuverá); Alferes (hoje Nova de tiroleses porque possuíam passaporte austríaco. Alguns imigrantes eram bilíngues, falavam o Trento) e um pequeno grupo austríaco e o italiano, outros, somente o italiano. foi instalado na localidade de Lageado Alto (Guabiruba). da revista Blumenau em Ca- sociedade, aonde muito mal Sobre os primeiros anos dernos em 1959. Vejamos as se poderia matar a fome. Um após a chegada dos imigran- impressões do Padre Gana- vigário católico e um pastor tes italianos, D. Arcângelo rini: Quando os imigrantes protestante exercitavam, ha- Ganarini escreveu, em 1880, italianos chegaram à Colônia via já algum tempo, a cura das um interessante texto intitu- Itajahy-Brusque e Príncipe almas dos seus correligioná- lado “Notícias de Brusque e Dom Pedro, a própria sede da rios, que, a não ser pequenos Nova Trento, isto é, das Co- Colônia contava uma dezena atritos, viveram sempre em lônias Itajaí e Príncipe Dom de ranchos de madeira ou de boa paz. Em 1875, os nossos Pedro na Província de Santa barro, cobertos de folhas. As Trentinos e Lombardos, fu- Catarina Império do Brasil”, melhores construções eram gindo, como estes diziam, às traduzido do italiano para a Capela católica, a Casa de misérias da pátria, começa- o português por Lucas Ale- orações protestante e a Casa ram a encaminhar-se para o xandre Boiteux, e publicado da direção. Existia uma úni- Brasil, cheios de douradas es- ao longo de várias edições ca bodega, mantida por uma peranças, e Brusque recebeu 101 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz o seu contingente. os terrenos medidos, com ma coisa para vender. Os primeiros chegados suas casas provisórias e um Brusque tornara-se o cen- eram umas vinte famílias de tro da vida, uma torre de Ba- Valsugana e de Monza, que com suas estradas para loca- bel, onde os menos providos não querendo adaptar-se às lizá-los,trecho de nada floresta existia. derrubado Houve sentiam-se alegres em gastar terras que lhes haviam sido necessidade de improvisar-se o dinheiro que hoje choram. designadas na colônia Prín- grandes barracões com capa- Alfaiates, sapateiros, operá- cipe D. Pedro, foram localiza- cidade para 50 a 60 famílias rios, carpinteiros, barbeiros, das em melhor situação en- e neles abrigá-las provisoria- pintores, e talvez também tre Brusque e Alferes (Nova mente, enquanto um monte algum poeta, todos se apli- Trento). Coisa curiosa era de pseudoengenheiros me- cavam à mesma arte de nada observar-se como os de Mon- tia-se nos matos em todas as fazer, enquanto os cidadãos za, não entendendo o modo direções, medindo terrenos laboriosos, face àquela cres- de falar dos de Valsugana, para toda aquela gente. Como cente ociosidade e àquela os tomavam por alemães, ao houvesse interesse que o ser- felicidade tão dissipadora e passo que os de Valsugana viço se prolongasse bastante, pensavam o mesmo em rela- não havia grande pressa, nem suspiravam pelo momento de ção aos de Monza. Também se olhava se os terrenos eram poderperigosa entrar para em os suas seus terras. filhos, em Brusque não havia meios próprios à cultura, e por isso Desse tempo data o engran- de se entenderem, pois ainda muitos colonos descontentes decimento de Brusque, agora não tinham nenhuma práti- tiveram, com grande despesa, (1880) uma povoação à es- ca da língua portuguesa. Por de mudar de sítio ou desgos- querda do rio, constituída de felicidade, um dos chegados tosos retornar à pátria ou ir casa de estilo tudesco (ger- conhecia o alemão, e este teve para a Argentina. Entremen- mânico), mais asseadas, co- de servir de intérprete, e to- tes, todas aquelas famílias bertas de telhas, com alguns dos passaram a recorrer a ele encontravam-se como que graciosos palacetes de dois ao pretenderem fazer qual- acampadas, ociosas, em torno andares. quer compra ou tratar dos de Brusque, excetuando-se Surgiram bodegas e casas seus negócios com a Direto- as ocasiões em que a admi- comerciais e, quase por en- ria. No ano seguinte, graças às nistração lhes proporcionava canto, construiu-se uma as- boas informações prestadas alguns dias de trabalho na saz cara, ampla e bela igreja, pelos primeiros aqui estabe- abertura de estradas. Eram, benzida a 21/06/1879 e de- lecidos, foi um contínuo che- aproximadamente, cem con- dicada a São Luis Gonzaga. gar de gente do Trentino, da tos mensais que o Governo Existem duas escolas públi- Lombardia e do Vêneto e em despendeu durante quase cas católicas e uma particular menos de três anos a popula- dois anos com a sua manuten- do pastor evangélico, agência ção chegou a onze mil pesso- ção. Quase todo esse dinheiro do correio, tiro ao alvo, um as. era derramado em Brusque e pequeno teatro, três fábricas À chegada de tantas famí- nas tascas (tavernas) de anti- de cerveja, padarias, açougue, lias, em vez de encontrarem gos colonos, que tinham algu- alfaiataria e todos os demais 102 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história artesãos necessários à vida social. Uma cômoda estrada carroçável à margem direita do rio Itajaí-Mirim, de 38 qui- lômetros, a põe em comuni- cação com o porto de Itajaí, e outra de 28 quilômetros, pas- sando pelo Morro da Onça, a põe em comunicação com Nova Trento. Sobre o rio, fa- zendo vez de ponte, duas bal- sas transportam carros, ani- mais e pessoas; e, em outros pontos existem canoas para Casa de italianos em Guabiruba. Acervo: Rosemari Glatz dar passagem às pessoas de bom ponto pela facilidade de uma margem à outra. As áreas onde comunicações com Brusque, Padre Ganarini (1880) os imigrantes distante cerca de dez quilô- prossegue, dizendo que as metros, e com o povoado de melhores terras em torno de italianos foram Gaspar, no Itajaí-Açu, onde há Brusque estão ocupadas por instalados a comodidade do vapor que colonos tudescos (alemães), faz o serviço três vezes por enquanto os italianos, situa- As duas colônias, Itajahy semana entre Itajaí e Blume- dos mais distantes no fundo -Brusque e Príncipe Dom nau. dos vales, nem sempre pu- Pedro, se desdobram em O distrito de Porto Fran- deram alcançar terras boas quatro distritos, em cada um co, atual Botuverá, situado e planas. Havia montes es- dos quais há um engenheiro, na parte superior do Itajaí- cabrosos, próprios somente designado pelo diretor, que Mirim é habitado por imi- para a plantação da mandio- distribui os trabalhos, faz os grantes naturais de Cremo- ca. E, particularmente os lom- pagamentos e mantêm a boa na e de Mântua, com poucas bardos, habituados à planura ordem. O distrito de Cedro famílias de Trento. Ali existe de sua pátria, com aquela an- Grande é o mais próximo de uma capela, um cemitério e tipatia que manifestavam à Brusque, e por isso é o mais os colonos, satisfeitos com a mandioca, vendo que o terre- bem-dotado de estradas, mas fertilidade de suas terras, la- no não se prestava ao milho e ao mesmo tempo o mais mes- mentam encontrarem-se tão a outros produtos a que esta- quinho em terrenos, estando afastados de um sacerdote e vam acostumados, tornaram- os melhores ocupados pelos desejam ter um colado jun- se indiferentes às suas terras colonos alemães e brasileiros. to deles. É o distrito que tem e mudaram de sítio assim que O distrito de Gaspar, com al- maior falta de estradas, nem o Governo lhes suspendeu a gumas exceções, possui terras há esperança de tão cedo en- devida subvenção. excelentes, e está situado em 103 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz trarem carros em Porto Fran- co. Nos anos passados todo o Ayres Gevaerd (1970) escreveu sobre a origem do nome transporte era feito por água - ta do início da década de 1840, quando toda a região que ou em lombos de muares; de Ribeirão do Ouro ao afluente do rio Itajaí-Mirim: por vol pelo que se pagava um terço hoje constitui o município de Brusque era um sertão bravio, a mais pelos gêneros do que habitado por bugres, apareceram aqui três irmãos vindos em outra qualquer parte, e dos Estados Unidos da América. Chamavam-se eles Rober- quem tinha milho ou outra to, Augusto e Leweson Leslie, e andavam à procura de mi- coisa devia dá-los aos animais nas. Depois de terem cruzado todo o nosso sertão, perma- por ser o preço do transpor- neceram durante alguns meses às margens de um córrego, te muito alto. Agora se está encontrado ouro, tendo extraído e levado consigo uma boa trabalhando com satisfação, afluente do pequeno Itajaí, e onde, segundo diziam, haviam e espera-se em poucos meses quantidade desse metal. A notícia do fato espalhou-se e, ter 22 quilômetros de estra- quando, anos depois, moradores foram se estabelecer perto do ribeirão, junto ao qual os três irmãos americanos haviam do ano poder-se-á alcançar a minerado, e batizaram o riacho com o nome de Ribeirão do sededa carroçável, do distrito. e Falava-seantes do fimem Ouro, em virtude daquela tradição. Dos três mineiros, dois uma mina de ouro e outra de voltaram logo depois para os Estados Unidos e o terceiro carvão de pedra, tentando-se - tavam o Sr. Leweson Leslie, um abastado agricultor, falecido fazer escavações, mas mesmo ficou por aqui. Era o velho Lessa, conforme todos aqui tra que elas existissem, seriam com avançada idade, em Ilhota, no ano de1909. Deste modo precisos outros meios de que - não poderiam dispor os co- nomese fica de sabendo Ribeirão por do que Ouro. o pequeno curso de águas que con lonos. O sítio é muito rico de flui no Itajaí-Mirim, próximo às nascentes deste recebeu o madeiras de construção, e é de esperar que a serraria re- centemente montada possa realizar bons negócios. Exis- tem moinhos, piladores de ar- roz, alguns engenhos de açú- car e cachaça, e preparam-se outros para a fabricação de farinha de mandioca. Nova Trento, sede do quar- to distrito da Colônia Itajahy Terra preparada para o plantio no interior da Colônia -Brusque e Príncipe Dom Pe- dro, foi assim denominado Até 1876, o sítio onde hoje existente havia muitos anos. por serem seus habitantes se levanta Nova Trento cha- Uma colônia de famílias ge- e os das linhas adjacentes, mava-se do Alferes e também novesas, procedentes da Eu- na maior parte, do Trentino. Serras, devido a uma serra aí ropa há cerca de 40 anos se 104 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história estabelecera ao longo do rio montes cujos cimos mais ele- Tijucas, a qual com o andar vados podem alcançar sete- do tempo passara para as centos metros acima do nível margens do Braço e alcançou do mar. O ponto tomado para a passagem da estrada cha- referia à primeira colônia de ma-se Morro da Onça, entre italianospor fim o Alferes.no Brasil, Ganarini a Colô se- cujas quebradas se penetra nia Nova Itália, localizada no em uma garganta principal vale do Rio Tijucas-Grande, atual município de São João se poderia chamar a Suíça Batista, fundada em 1836 dessasflanqueada colônias. por outras,Em vários que por 132 imigrantes italianos lugares do distrito de Nova que aportaram no porto do Trento os colonos ergueram Desterro (hoje Florianópolis) ermidas, para que o padre a em março de 1836. Ganarini elas concorresse algumas ve- (1880) continua: os nossos colonos estabelecidos naque- santa missa, confessar a po- les pontos encontraram ainda pulação,zes no ano doutrinar a fim de as rezar crian a- bananeiras e laranjeiras atu- ças e realizar alguns dias de - festa de acordo com o tempo veio. A razão daqueles geno- disponível. Ganarini dizia que vesesfadas naabandonarem floresta que o sobre local não basta um diretor e uma da Colônia Nova Itália, com dezena de engenheiros para exceção de poucas famílias, fazerem prosperar uma co- foram as frequentes correrias lônia, faz-se preciso o padre, dos selvícolas chamados “bu- natural propugnador da mo- gres”, que assaltavam as ca- ral e da justiça do qual uma sas para roubar, matando as única palavra basta para con- pessoas. Foram enviados sol- solar muito mais do que os dados para protegê-los; mas, favores do governo. Com um mal estes se retiravam, os bu- engenheiro de menos e um gres voltavam de novo, encar- sacerdote a mais, o governo niçados contra os detestados ganharia bastante, e teria a brancos, considerados inva- sores das suas terras; diante muitos milhões gastos para disso acharam mais pruden- colonizarsatisfação o de país. ver frutificar os te retirarem-se para São João Aos poucos, os imigrantes Batista. Roda d´água, parte dos engenhos italianos foram se adaptan- Entre Nova Trento e Brus- construídos pelos italianos. do ao meio, tirando a subsis- que existe uma cadeia de Acervo: Rosemari Glatz tência através da agricultura. 105 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Entre os principais produtos, cola, estabelecida em 1879, é REFERÊNCIAS frequentada por bom núme- batata, o aipim, e a cana-de ro de meninos. Eis aqui, pois, GANARINI, D. Arcângelo. figuravam o milho, o feijão, a -açúcar. O excedente de pro- o que é a povoação de Nova Notícias de Brusque e Nova dução era trocado nas “ven- Trento; uma pequena povo- Trento, isto é, das Colônias das” por gêneros de maior ação com cerca de quarenta Itajaí e Príncipe Dom Pedro necessidade, como querose- casas no máximo; pobre, se na Província de Santa Cata- ne, trigo, açúcar, sal e equipa- se quiser, mas com um belo e rina Império do Brasil. Tren- mentos agrícolas. querido nome, e com funda- to Estbl. Tip. G. B. Monauni, Encontrando-se em Nova das esperanças de próspero Editora. 1880 Traduzidas do Trento um bom número de futuro, conclui Ganarini. Italiano por Lucas Alexandre colonos, logo apareceram ca- Boiteux. Blumenau em Cader- sas comerciais, as chamadas Tempos nos. Tomo II. Várias edições “vendas” com gêneros de pri- depois do ano de 1959. meira necessidade. Depois GEVAERD, Ayres. Blu- alguns artesãos ali estabele- menau em Cadernos. Meu O ideal de melhoria eco- - Caderno de Recordações. nômica e social dos imigran- do, de alfaiate, de marceneiro. Tomo XI, nº 4, abril de 1870. ceram suas oficinas de calça tes italianos que, a partir de Durante a abertura da estra- Disponível em:< http://he- 1875, cruzaram o oceano e da carroçável para Brusque, meroteca.ciasc.sc.gov.br/ vieram buscá-lo nos aper- puseram-se em comunica- blumenau%20em%20cader- tados vales do Itajaí-Mirim ção com São João Batista por nos/1970/BLU1970004.pdf> demorou para se concreti- meio do rio, de onde se tra- Acesso em 13 de setembro de zar, mas aconteceu. Passados ziam açúcar, café, cachaça, 2018. mais de 140 anos e várias ge- animais para o corte, feijões GEVAERD, Ayres. Aconte- rações depois, os milhares de que os genoveses e brasilei- ceu em há 100 anos Brusque descendentes dos quase seis ros ali estabelecidos vendiam 1876. Tomo XVII, nº 10, outu- mil imigrantes italianos que mais barato do que os encon- bro de 1876. Disponível em:< se estabeleceram no territó- trados em Brusque. http://hemeroteca.ciasc. rio da Colônia Itajahy-Brus- Também os negociantes sc.gov.br/blumenau%20 que e Príncipe Dom Pedro, em%20cadernos/1976/ território este que deu ori- boas casas e bastante cômo- BLU1976010.pdf> Acesso em e os artífices construíram gem aos municípios de Botu- das, dispostas regularmen- 13 de setembro de 2018. verá, Nova Trento, Presidente te no povoado e com hortas SANTOS, Roselys Izabel Nereu e Vidal Ramos, podem nos fundos. Duas fábricas de Correa dos. Colonização Ita- lembrar a história dos seus cerveja já estão funcionando, liana no Vale do Itajaí-Mirim, antepassados com deferência uma alemã e outra de quatro Florianópolis. 1981. irmãos naturais de Rovere, que sabem manter-se unidos em suas veias o sangue de um e orgulho pois, afinal, corre e trabalhar de acordo. A es- povo vencedor. 106 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casa comercial de Wilhelm Thies no centro de Brusque. Acervo: SAB Participação de Brusque na Guerra do Paraguai No dia 14 de outubro de tários, graças às atividades pois o diretor recebera, nos 1865, um sábado, partiram empreendidas pelo diretor primeiros dias de outubro, da Colônia Itajahy-Brusque da colônia, Barão Maximilian - rumo à Capital da Província, von Schnneburg, junto aos víncia autorizando-o abrir o os 25 voluntários que aten- colonizadores alemães que voluntariado.ofício do presidente Houve uma da Pro sé- deram à convocação da Lei detinham as condições neces- rie de pequenos incidentes nº 3.371 de 7 de janeiro de sárias e qualidades exigidas relacionados à convocação. 1865, do Governo Imperial. para defender sua nova Pá- Schneeburg, entretanto, con- Contando apenas cinco anos, tria. tornou diplomaticamente a Brusque já ofereceu esse O alistamento foi rápido, situação, mantendo a digni- apreciável número de volun- aproximadamente 15 dias, dade de seu cargo e da missão 107 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz orientadora do alistamento. mais tarde rumo a Desterro. sete que com ele seguiram no Eugênio Rieger, Guido de Se- Schnneburg acompanhou os dia 8 de fevereiro de 1866. ckendorf e Alexandre Rufe- seus voluntários até Desterro, São eles: Bernardo Josiger; ner, médico na Colônia, foram Detlef Sacht; Antônio Boos; os primeiros que se apresen- de Seckendorf, que naquele Henrique Sacht; Germano taram, tendo Schneeburg, em momentoconfiando-os já ocupava então ao Guidoposto Boos; Henrique Dorenkot carta ao Presidente da Pro- de tenente. e Antônio Straub. Segundo víncia, recomendando-os ao Os nomes dos voluntários Wiederspahn (1962), o esfor- - da Colônia Brusque constam ço militar do Império do Bra- to, não seguiu, retirando mais da relação que inclui também - oficialato.tarde sua inscrição. Rufener, entretan os voluntários das Colônias nental sul-americano havido Realizaram-se algumas Dona Francisca, Blumenau, atésil neste nossos maior dias, conflito correspon conti- reuniões preparatórias e de Teresópolis e São Pedro de deu a 139.000 homens mobi- esclarecimento, especialmen- Alcântara, e foi assinada por lizados para a guerra e envia- Victor de Gilsa – capitão, Gui- dos ao Paraguai, sobre cerca que teriam os conscritos e do Seckendorf – tenente, e de um total de 9.000.000 de suaste com famílias. relação O aos governo benefícios con- Emílio Odebrecht – tenente. habitantes, isto é, cerca de cedia abono de 300$000 a São eles: Roberto Schmidt; 1,5%, dos quais faleceram em cada voluntário engajado e Ricardo Vollrath; Frederico campanha, aproximadamente o Barão entendeu-se com o Moritz; Germano Klekenkam- 24.000 homens, inclusive os Presidente da Província pe- per; Valentin Schaefer; Si- desaparecidos, ou 17% do to- dindo para que cada um re- mão Habitzreuter; Eduardo tal em campanha. cebesse, antes da partida, a Becker; Eduardo Bachmann; Quando foram recolhidos metade daquela importância. José Schoren; Guilherme José os documentos que se en- Outras quotas seriam conce- Olhafen; João Schwanberger; contravam no Departamento didas mensalmente, destina- Antônio Dinkelberg; Emilio de Terras e Colonização, em das às famílias e descontadas Puhlmann; Vicente J. Barth; Florianópolis, Ayres Gevaerd de seus soldos. Cada volun- João José Hermes; José Schlin- acreditou que Raymundo Ro- tário, ao partir, recebeu uma dwein; Augusto Jansen; João drigues, de cor preta, fosse ajuda de 15$000. Ultimadas Zabel; Cosmo Vogel; Fran- o brasileiro cujo nome não as providências em reunião cisco A. Day; Guilherme Oes- se achava registrado na lista realizada numa taberna da trenger; Guido de Seckendorf assinada por Victor de Gilsa, “Stadtplatz” (centro da co- – Tenente e Augusto Peters Emílio Odebrecht e Guido de lônia), seguiram os volun- – cabo, e um brasileiro cujo Seckendorf. Gevaerd adquiriu tários. O percurso, em uma nome não consta da relação. de Raymundo Rodrigues uma lancha e duas canoas, deu-se Mais tarde, Eugênio Rieger, espada de cavalariano que normalmente até a Barra do um dos primeiros que havia doou ao Museu de Azambuja. Rio, de onde os voluntários se apresentado ao Barão, re- No entanto, anos mais tarde marcharam até a sede da Vila cebeu autorização para unir Gevaerd se deparou com um de Itajahy, embarcando dias novos voluntários e arrumou exemplar do jornal “Brusque 108 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Voluntário da Guerra do Paraguai em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz109 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

-Presidente do Paraguai, Ge- Em 2012, Brusque rendeu homenagem aos colonizadores neral Francisco Solano López. alemães que, em 1865, atenderam voluntariamente Pouco se sabe sobre o re- a convocação do Governo Imperial e foram lutar pelo gresso dos sobreviventes da- Brasil na Guerra do Paraguai. Em sua honra, a Lei quele contingente de alemães Ordinária nº 3.518/2012 denominou, no bairro que atenderam à convocação Tomás Coelho, a rua Voluntários da Pátria. e lutaram como “Voluntários da Pátria”. Muitos regressa- ram doentes e alquebrados pelos males que lhes abala- ram a saúde para sempre, e no coração, traziam a dor pe- los companheiros caídos na Guerra do Paraguai. A todos esses bravos guerreiros, a co- munidade da Colônia Itajahy -Brusque tributou as honras merecidas, mas o Governo bem cedo os esqueceu. Aos Zeitung”, de 1912, informan- Foram os seguintes: Antônio poucos, os “Voluntários da do que naquele ano (1912) Dinkelberg, Germano Kleke- Pátria” foram desaparecendo viviam em Brusque, Francisco nkamper, Guilherme Ostrin- e a história apenas guardou A. Day e José Galiza, veteranos ger, Guilherme José Olhafen os seus nomes. da Guerra do Paraguai. Então e Valentin Schaefer. Eles fa- ele consultou pessoas idosas, leceram durante a Guerra do contemporâneas dos dois ve- Paraguai, quer em consequ- REFERÊNCIAS - ência de doença adquirida em ram a nota do jornal, inclusive campanha, quer em conse- GEVAERD, Ayres. Os Volun- lhos soldados, que confirma que José Galiza era brasileiro. quência direta das operações tários da Pátria de Brusque E assim, ainda perdura a dúvi- militares em torno do Passo na Guerra do Paraguai. Blu- da quanto à identidade do vo- menau em Cadernos. Arquivo luntário brasileiro cujo nome rios Paraná e Paraguai, ligan- Histórico José Ferreira da Sil- não consta da relação. da Pátria, na confluência dos va, Tomo VII, nº 7. Blumenau: Alguns dos voluntários à história, irmanados aos de- 1965. que deixaram a Colônia Ita- maisdo-se, que assim, lá tombaramdefinitivamente para WIEDERSPAHN, Henrique Oscar. Blumenau na História jahy-Brusque entre 14 de que a dignidade do Império e Militar Brasileira. Blumenau outubro de 1865 e 8 de fe- a tranquilidade do nosso Con- em Cadernos. Arquivo His- vereiro de 1866 deram à tinente não mais sofressem tórico José Ferreira da Sil- tais agressões, como aquela nova pátria o máximo que va, Tomo V, nº 6. Blumenau: um homem pode dar, a vida: iniciada então pelo Ditador 1962. 110 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A Colônia Príncipe Dom Pedro

Nos primeiros anos da colonização de Brusque, em 1860, os imigrantes alemães foram sendo instalados na margem esquerda do Itajaí- Mirim. No correr dos anos, juntaram-se a eles colonos de outras nacionalidades. Os resultados obtidos com a co- lonização de Brusque eram bem animadores e o governo resolveu fazer um segundo ensaio nas terras situadas mais ao interior, ao curso su- perior do mesmo rio. A explo- havia motivos para tentá-la e faziaração parte seria do mais programa difícil, masgo- vernamental. A Colônia Príncipe Dom Mapa da Colônia Príncipe Dom Pedro com demarcação de lotes. Acervo: SAB Pedro foi uma colônia impe- ampliar a Colônia, adquiriu a cão dos Imigrantes (instalado rial formada com imigrantes gleba de Sallenthien e outras próximo ao Clube de Caça e de língua inglesa reemigrados próximas, instalando ali os Tiro) em Brusque. Antes, um dos Estados Unidos. Segundo imigrantes aliciados na Amé- o historiador José Ferreira da rica do Norte. 1867, expedido pelo Presi- Silva (1998), a Colônia Prín- denteofício da de Província 9 de fevereiro de Santa de cipe Dom Pedro foi implanta- Catarina, solicitava ao Barão da em terras que o Governo O transporte de Maximilian von Schneeburg, adquirira de Francisco Sal- Itajaí e a chegada Diretor da Colônia Itajahy lenthien, um dos integrantes em Brusque do grupo dos 17 imigrantes “as duas canoas da Diretoria fundadores de Blumenau. -Brusque, que fizesse descer O Diretor Dr. Barzillar e todas as lanchas de particu- Sallenthien, já em 1852, ha- Cottle foi o primeiro diretor lares que V. S.ª puder alugar via se transferido para as da Colônia Príncipe Dom Pe- para este feito (...) para con- margens do rio Itajaí-Mirim, dro e fretou várias embarca- duzir colonos agora mesmo para adiante do Ribeirão das ções a remo e transportou os chegados”. E lhe aconselhava Águas Claras, onde montou imigrantes rio acima da barra o Presidente da Província que uma serraria. Precisando o do Porto de Itajaí até o Barra- estivesse “pronto para rece- governo de mais terras para ber até 190 colonos no Barra- 111 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz cão dessa Colônia, destinado A data da sa Lagoa Dourada, nas proxi- a semelhante mister”. midades do bairro Dom Joa- O grupo de imigrantes in- fundação quim, Brusque. gleses com os quais o Governo Imperial deu início à colônia Em 19 de janeiro de 1866, agrícola Príncipe Dom Pedro - O porquê chegou ao Brasil a bordo do cialmente, a Colônia Príncipe do nome o Decreto Imperial criou, ofi Vapor Tartar. A intenção do Dom Pedro. Mas, de acordo Governo Imperial era trazer com Aloisius C. Lauth (2014), O nome da nova colônia foi correntes migratórias de mão os administradores usaram uma homenagem ao Príncipe de obra livre e, acima de tudo, diferentes datas para marcar - de mentalidade liberal e pro- o início da colônia. Para uns, sa Leopoldina e do Duque de gressista, semelhante à mi- seria o dia 19 de janeiro de Saxe,Dom Pedro,nascido filho em da1866. Prince Se- gração aos Estados Unidos. 1867, quando o Decreto nº gundo Lauth (2014), a deno- Foram três dias navegando 3.784 aprovou o Regulamen- minação Príncipe Dom Pedro rio acima até alcançar a Co- to para as Colônias do Estado. deve-se a um brinde do libe- lônia Itajahy-Brusque, onde Para outros, seria o dia 15 de ral Tavares Bastos no salão o núcleo colonial – até então fevereiro de 1867, quando da nobre do Império, quando constituído de alemães - se chegada da primeira leva de este homenageou a política viu surpreendido com a pre- norte-americanos (aliciados nacionalista da Guerra do Pa- sença dos colonizadores ree- pela Companhia de Navega- raguai. O Imperador estaria migrados dos Estados Unidos. ção “United States and Brazil ocupando os territórios devo- Ainda que a contragosto, Steamship”) ao Barracão dos lutos com uma nova colônia, o Barão Von Schneeburg teve Imigrantes em Brusque. Para bem próximo das regiões de que acatar a instalação da co- outros, seria o dia 1º de março onde partiram centenas de lônia vizinha. E quando, sob o de 1867, quando da emissão soldados alemães, inclusive comando do Diretor Dr. Cott- dos primeiros atos adminis- os 25 voluntários da Colônia le, chegaram os imigrantes Itajahy-Brusque que atende- destinados à nova colônia, o intenção do Governo Imperial ram à convocação do Governo trativos que confirmariam a Barão colocou à disposição de fundar a Colônia. De acor- Imperial e, em 1865, partiram dos chegados os animais de do com Lauth, a data mais rumo à Capital da Província condução de carga pertencen- adequada para ser o marco da para defender sua nova Pátria tes à Diretoria. Emprestou, fundação da Colônia Príncipe na Guerra do Paraguai. também, as 12 espingardas e Dom Pedro seria o dia 10 de a competente munição para março de 1867, pois foi nesse A demarcação espantar eventuais correrias dia que se realizou o primeiro de bugres. E orientou o novo acampamento dos imigrantes dos lotes Diretor Dr. Cottle sobre a pre- norte-americanos no barra- venção de moléstias do clima, cão provisório de Águas Cla- A distância entre o barra- oferecendo medicamentos da ras, erguido no terreno onde cão dos imigrantes da colô- botica (farmácia rural de ma- em 2018 funciona a Escola de nia Príncipe Dom Pedro e o nipulação caseira) da colônia. Educação Fundamental Padre barracão da Colônia Itajahy Luiz Gonzaga Steiner, Traves- -Brusque era de cerca de 4 112 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história km (distância entre o início hectares cada. dentro da área pertencente a da rua do Cedro, no bairro Formaram-se os primeiros Dom Joaquim, até o Clube de grupos de serviço assalaria- primeiro território da Colô- Caça e Tiro Araújo Brusque, do, pagos por jornada diá- niaSallenthien, Itajahy e que o segundo, fica entre que o Centro. ria. Outro grupo ocupou-se também lhe estava destinado, A jornada de exploração e da abertura de picada para a mas que foi designado para Encruzilhada de Águas Cla- a nova colônia”. Ou seja, as da colônia começaram logo ras e para o lugar chamado melhores áreas estavam loca- apóso levantamento a chegada dos topográfico ingleses Rodger’s Road, na região de lizadas justamente nas terras reemigrados dos Estados Cedro Grande. Uma picada se- particulares de Paul Kellner e Unidos ao barracão dos imi- ria aberta da sede da Colônia de Franz Sallenthien que, na- grantes. Uma parte abriu uma Príncipe Dom Pedro na dire- quele momento, as usavam clareira na mata. Reconhe- ção das terras de Paul Kellner para exploração de madeira cida a região, e com as infor- e Pedro José Werner, antigos e cujas terras estavam encra- mações prestadas pelo Barão moradores, proprietários de vadas no seio do território in- von Schneeburg, Diretor da terras em Pedras Grandes. corporado à Colônia Príncipe Colônia Itajahy-Brusque, ao Dom Pedro. (LAUTH, 2014). Dr. Cottle, Diretor da Colô- A frustração nia Príncipe Dom Pedro, este iniciais, um bom trecho de do Diretor em caminhosVencidas foi asaberto dificuldades para o partir de um porto aberto na relação ao trânsito de veículos de tração, fozdefiniu do Ribeirãoas trilhas Águas de acesso Claras a e outros apenas para pessoas e outro em Pedras Grandes, território e animais de carga. Um ca- até onde os barcos a remo po- minho de carroças ligava as Já nos primórdios da de- deriam navegar. Também foi colônias Itajahy-Brusque e marcação, em 1867, a Dire- preciso abrir uma picada do Príncipe Dom Pedro. Tendo toria da colônia se dirigiu à porto do ribeirão ao barracão em vista a grande utilidade Presidência da Província, re- coletivo, distante aproxima- clamando que “o terreno que proveniente da ligação direta damente 1,2 km. foi destinado para esta colô- com a capital, que viria a faci- O território da colônia nia, segundo a descrição feita litar o intercâmbio comercial, Príncipe Dom Pedro era cor- pelo engenheiro que a demar- o Presidente da Província de tado pelo Ribeirão Águas Cla- cou, devia conter boas terras Santa Catarina, Dr. Adolfo de ras, Limeira, Limoeiro, Cedro para a cultura; as explorações, Barros Cavalcanti de Albu- Grande, Cedro Pequeno, Al- porém, ultimamente feitas, querque Lacerda, autorizou, feres e Creeker. Acima da foz por ocasião da divisão dos lo- em 1867, a abertura de uma do Ribeirão Águas Claras, a picada até o núcleo de Tiju- área era menos acidentada e informação, encontrando-se cas. O trabalho de abertura não estava sujeita a tantas en- emtes, quase não confirmaram toda parte aquelaestrei- era realizado pelos imigran- chentes do rio. Os primeiros tos e montanhas escarpadas, tes e pago com recursos pú- lotes coloniais foram demar- que não se prestam à cultu- blicos. cados a partir dos ribeirões, ra, principalmente pelo ara- A Colônia Príncipe Dom abrangendo, em média, 30 do; as melhores terras estão Pedro foi instalada à margem 113 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz direita do rio Itajaí-Mirim, di- Má gestão pública também de ser extinta quando chegou, visando com a Colônia Itajahy. em agosto de 1869, o primei- Inicialmente, as terras foram da colonização, aos poucos a ro grupo de famílias de imi- utilizadas para instalação de áreafoi verificada. foi sendo Com abandonada. o fracasso grantes poloneses, rendendo elementos ingleses e irlande- Apesar de ser área monta- a Brusque o título de “Berço ses reemigrados dos Estados nhosa e pouco propícia ao da Imigração Polonesa no Unidos, que permaneceram plantio da lavoura com arado, Brasil”. Foram instalados na por pouco tempo. Segundo o território era de grande ri- linha “Sixteen Lots”, na Co- José Ferreira da Silva (1972), lônia Príncipe Dom Pedro e essa Colônia não prosperou - substituíram, em parte, os ir- já que, logo de início, foi mal desqueza em florestal termos e de havia áreas muitos pro- landeses. Em 1875, teve início administrada pelo seu diretor píciascursos àd’água. agricultura Suas dificuldaeram se- a colonização com imigrantes que foi demitido e processado melhantes a outras regiões do italianos. por desvio de dinheiro e ou- estado de Santa Catarina. O Anos mais tarde, partes do tras irregularidades. A dura- que faltou foi administração território da extinta Colônia ção da Colônia foi efêmera e, e vontade de trabalhar. Con- Príncipe Dom Pedro deram em 1869, foi anexada à Colô- forme dizia Ayres Gevaerd, origem aos municípios de nia Itajahy. Depois suas terras as administrações da Colônia Nova Trento, Vidal Ramos, foram utilizadas para instala- Príncipe Dom Pedro foram Presidente Nereu e Botuverá. ção de colonos poloneses e, incapazes de promover o seu Uma parte do território conti- mais tarde, por italianos. êxito, apesar de bem-inten- nuou pertencendo a Brusque. cionadas. Segundo Jacintho Antônio O fracasso da de Mattos (1917) “aos pou- REFERÊNCIAS colonização cos, esses colonos (ingleses e irlandeses reemigrados dos LAUTH, Aloisius C. Colo- A Colônia Príncipe Dom Estados Unidos) foram deser- nos Ingleses em Águas Claras. Pedro custava a se desenvol- dando dos seus lotes, até que 2014. ver. Os imigrantes ingleses e no aviso de 6 de dezembro de MATTOS, Jacintho Antônio irlandeses, que haviam sido 1869, do Ministério da Agri- de. Colonização do Estado de assentados no território, cultura, a Diretoria da Colônia Santa Catarina: dados históri- eram avessos ao trabalho na foi anexada à Diretoria da Co- cos e estatísticos, 1917. terra e logo se tornaram pen- lônia Itajahy”. A partir de en- SILVA, José Ferreira da. sionistas do governo. Depen- História de Blumenau. Floria- diam do trabalho na abertura passou a ser dirigida à Dire- nópolis: Editora EDEME - Em- de estradas, que era pago por toriatão, a da correspondência Colônia Itajahy-Brus oficial- preendimentos Educacionais diária. Nem sempre havia di- que e Príncipe Dom Pedro. Ltda., 1972. nheiro do governo para con- As dimensões coloniais tam- SILVA, José Ferreira da. Blu- tratação dos serviços e logo bém aumentaram, passando menau em Cadernos.1998. passaram à ociosidade. Sur- a somar aproximadamente Brusque Memórias. Dispo- giram inúmeros desacertos e 70.000 hectares. nível em:. Acesso tes. anarquia e já estava em vias em 16 de agosto de 2018. 114 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Centro de Brusque no início do século XX. Acervo: SAB A emancipação da Colônia

Em 1860, teve início a co- considerada colônia uma nias anexadas da freguesia do zona que estava sendo povo- Santíssimo Sacramento (Ita- da Colônia Itajahy-Brusque. ada por lavradores. No ano de jaí), formando-se a Freguesia Porlonização aquele oficial tempo, do territórioBrusque 1881 a Colônia Itajahy-Brus- (paróquia), que normalmen- consistia numa parcela de que alcançara um grau de te é o primeiro passo para a “território” organizado, sob desenvolvimento que levou emancipação política e ad- o comando de uma diretoria, o governo a dar-lhe o caráter ministrativa, e foi escolhido para onde se encaminhavam de município. Essa elevação, como orago São Luis Gonzaga. colonizadores alemães, in- porém, não se processou tão A data de 23/03/1881 cumbidos de explorá-lo. A inesperadamente; tivera seus marca a criação do municí- princípio, dera-se a essa zona preliminares. Pela Lei Provin- pio de Brusque quando, por a denominação “colônia” con- cial n° 693, em 31 de julho de força da Lei Provincial nº ceito que nem compreende 1873, o então presidente da 920/1881, a Freguesia foi ele- qualidades administrativas, Província, Pedro Afonso Fer- vada à categoria de Vila e mu- segundo a Lei brasileira. Era reira, desmembrava as colô- nicípio, igualmente denomi- 115 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz nado de São Luiz Gonzaga. Foi Assembleia Provincial, a ad- foi eleito o comerciante Ger- a emancipação político-admi- ministração da Câmara Mu- mano Willerding como o pri- nistrativa de Brusque. Kons nicipal obedeceria às normas meiro presidente da Câmara (2018) informa que a Vila constantes das posturas do do novel município. Os ad- abrangia os territórios dos município de Itajaí. Segundo ministradores do Município atuais municípios de Brus- Gevaerd e Gevaerd (1960), o de São Luiz Gonzaga durante que, Guabiruba, Botuverá, primeiro administrador do o período monárquico foram Vidal Ramos, Presidente Ne- Município de São Luiz Gon- Germano Willerding, Pedro reu, Nova Trento e inclusive zaga foi Jacinto Adolfo A. Pan- Jacob Heil, Guilherme Krieger, uma porção de São João Ba- toja, o nono e último admi- Germano Augusto Thieme e tista (localidade de Crecker), nistrador efetivo da Colônia Guilherme Krieger. pois a lei de criação da Vila Itajahy-Brusque, e o primei- Em 15 de novembro de ro administrador do muni- 1889 é proclamada a Re- os mesmos da Freguesia de cípio criado em 23 de março pública Brasileira, instau- Sãofixava Luis os Gonzaga.limites como Itajaí, sendo Blu- de 1881, conforme pode ser rando a forma republicana menau, Lages e Tijucas eram atestado por vários documen- presidencialista de governo os municípios limítrofes. E, tos assinados por ele. no Brasil, encerrando a mo- ao contrário de um gran- No período monárquico, narquia constitucional par- de número de municípios, a os municípios eram adminis- lamentarista do Império e, data magna comemorada em trados pelas câmaras muni- por conseguinte, destituindo Brusque não é a efeméride de cipais, e os presidentes das e deportando o então chefe sua emancipação político-ad- câmaras correspondiam aos de estado, Imperador Dom ministrativa, mas sim o dia 4 superintendentes, o equiva- Pedro II. A proclamação ocor- de agosto de 1860, data que lente ao cargo de prefeito de reu na Praça da Aclamação, marca a chegada dos imigran- hoje. E para instalar e admi- atual Praça da República, tes alemães liderados pelo nistrar o novo município, em na cidade do Rio de Janeiro, primeiro diretor da Colônia 5/05/1883 foram eleitos os então capital do Império do Itajahy-Brusque, Barão von vereadores. Assim, mesmo Brasil. Em 24/02/1891, o Schneeburg. criado em 1881, o municí- Congresso Nacional Consti- De acordo com a Lei pro- pio foi instalado apenas em tuinte decretou e promulgou vincial nº 920/1881, tão logo 8/07/1883, com a solenida- a Constituição da República os moradores tivessem pre- de de tomada de posse dos dos Estados Unidos do Bra- primeiros vereadores e con- sil. E, pouco tempo depois, a Câmara Municipal passaria sequente instalação do mu- em 11/06/1891, foi promul- aparado atuar, aseriam edificação instalados em que o nicípio de Brusque. Com iní- gada a primeira Constituição novo município e a Villa de cio às 10 horas, a solenidade Estadual de Santa Catarina. São Luiz Gonzaga. Enquanto foi presidida pelo presidente Durante as primeiras déca- não se aprovasse o próprio da Câmara Municipal de Ita- das do regime republicano, os Código de Posturas e este jaí, advogado Luiz Fortunato municípios eram administra- não fosse referendado pela Mendes. Após o juramento, dos pelos superintendentes 116 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

A Certidão de Nascimento do Município

Em 23 de março de 1881, a freguesia de São Luiz Gonzaga das colônias Itajahy e Príncipe D. Pedro foi elevada à categoria de Município, conforme a Lei nº 920, de 23 de março de 1881: “O Dr. João Rodrigues Chaves, Juiz de Direito e Presidente da Província de Santa Cathari- na. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte: Art. 1º - Fica elevada à categoria de município a freguesia de São Luiz Gonzaga das colô- nias Itajahy e Príncipe Dom Pedro, com a mesma denominação.

Villa, e com a denominação de Villa de São Luiz. § 2°.1º -Os A limitessede do do dito novo município município será serão a da os referida mesmos freguesia, da freguesia que defica São também Luiz. elevada à Art. 2º - Logo que os moradores tenham preparado casa em que deva funcionar a Câma- ra Municipal, serão instalados o novo Município e a dita Villa, devendo a Câmara reger-se pelo Código de Posturas do município de Itajahy, até que organize o código pelo qual deva reger-se, depois de aprovado pela Assembleia Legislativa Provincial. Art. 3° - O novo município fará parte da comarca de Itajahy.

do público, do judicial e notas, escrivão do cível e comercial, do júri e execuções criminais, capelasArt. 4° e resíduos,- Ficam criados de órfãos no edito ausentes. município os seguintes ofícios reunidos em um tabelião Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O se- cretário desta província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no palácio da Presidência da Província de Santa Catharina, aos vinte e três dias do mês de março de mil oitocentos e oitenta e um, sexagésimo da independência e do Império. Palácio da Presidência da Província de Santa Catharina, 23 de março de 1881.

João Rodrigues Chaves

117 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz municipais, o equivalente ao Diretoria da Colônia Itajahy agosto de 1860. atual cargo de prefeito muni- -Brusque e, a partir de então, - Em 23/09/1916, o gover- cipal. Com a instituição do re- a correspondência oficial pas- nador Felipe Schmidt sancio- gime republicano, o Governo sou a ser dirigida à Diretoria nou a lei nº 1.123, elevando a do Estado de Santa Catarina da Colônia Itajahy-Brusque e Vila de Brusque à categoria de extinguiu as Câmaras Muni- Príncipe Dom Pedro. cidade, marcando o dia dos 30 cipais constituídas e criou os - Em 31 de julho de 1873, anos de falecimento do Conse- Conselhos de Intendência em pela Lei Provincial n° 693, o lheiro Imperial Araújo Brus- que os conselheiros votavam então Presidente da Provín- que. na presidência do Conselho. cia, Pedro Afonso Ferreira, Com a promulgação da desmembrou a Colônia Ita- nova Constituição Estadual, jahy-Brusque, que era anexa REFERÊNCIAS de 26 de julho de 1928, ocor- da freguesia do Santíssimo Sa- reram alterações administra- cramento (Itajaí), formando a BUGGENHAGEN, E. A. von. tivas nas áreas municipais. O Freguesia (paróquia) de São História Econômica no Muni- superintendente municipal Luis Gonzaga. Era o primeiro cípio de Brusque e a obra do passou a denominar-se pre- passo para a emancipação po- Cônsul Carlos Renaux. [SI]. feito, o Conselho Municipal lítica e administrativa. Brusque, 1941. Não publica- foi denominado de Câmara - Em 23/03/1881 ocorre do. Municipal e os conselheiros a emancipação político-ad- SANTA CATARINA. Coleção vereadores. ministrativa de Brusque. Por das leis da Província de Santa Ao longo da nossa histó- força da Lei provincial nº Catharina do ano de 1881. Rio 920/1881, a freguesia de São ria, muitos cidadãos ilustres, de Janeiro. Luiz Gonzaga das colônias habitantes de Brusque, foram KONS. Paulo Vendelino. Itajahy e Príncipe D. Pedro foi vereadores e prefeitos e aju- Emancipação política admi- elevada à categoria de Vila e daram a construir a cidade nistrativa: Brusque completa município, igualmente deno- que temos hoje. 137 anos hoje. Olhar do Vale. minado de São Luiz Gonzaga. - Em 4/08/1860, chega à 23 de março de 2018. Dis- - Em 17/01/1890, através Colônia Itajahy-Brusque o pri- ponível em:< http://olhar- do decreto nº 77, outorgado meiro grupo organizado de dovale.com.br/novo/geral/ pelo governador Lauro Seve- colonizadores de origem ale- emancipacao-politica-admi- riano Müller, o nome de vila e mã, acompanhados do Diretor nistrativa-brusque-completa- município de São Luiz Gonza- da Colônia Itajahy-Brusque, o 137-anos-hoje/>. Acesso em ga foi substituído oficialmente Barão Maximilian von Schnee- 19/09/2018. pelo de Brusque, em homena- burg, dando início à nova Co- GEVAERD, Cyro. GEVAERD, gem póstuma ao Conselheiro lônia. Evilásio Guilherme. Os Ad- Imperial Dr. Francisco Carlos - Em 6/12/1869, pelo aviso ministradores de Brusque. de Araújo Brusque, presidente do Ministério da Agricultura, Álbum do 1° Centenário de da Província de Santa Catari- a Diretoria da Colônia Prínci- Brusque – Edição da Socieda- na quando da fundação da Co- pe Dom Pedro foi anexada à de Amigos de Brusque. 1960. lônia Itajahy-Brusque, em 4 de 118 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Centro de Brusque no início do século XX. Acervo: SAB A evolução territorial e os desmembramentos

Quando em meados do cabrosas dos cursos médio e rapidamente a prosperidade, século XIX, se iniciara a colo- superior do rio Itajaí-Mirim, - nização de Blumenau no Ita- onde não havia a lavoura, sen- ciais, em uma zona bastante jaí-Açu, o governo se propôs do o resto montanhoso. abandonadapor meio de de medidas uma artifiparte - Escolhera-se como pri- pouco explorada do Brasil. lente nas terras do Itajaí-Mi- meiro núcleo de exploração, A região do atual municí- rim.criar Nas finalmente margens um do equiva curso a zona do atual município de pio, então ainda inexplorada, inferior desse rio estendiam- Brusque, cuja colonização foi era de importância puramen- se largas faixas de terrenos iniciada de acordo com um planos e alagadiços que ofe- decreto de Dom Pedro II, da- dentro do vasto plano de po- reciam vantajosas condições tado em 18/06/1860. O mo- voamentote geográfica, concebido pois constituía, pelo go- para a lavoura e a criação do tivo político a que se deve a verno, a primeira estação do gado nas sesmarias. O Gover- fundação de Brusque foi, no vale do Itajaí-Mirim. Quando no Imperial entendia que era conjunto histórico mais largo, - preciso povoar as terras es- o propósito de desenvolver nia Itajahy-Brusque começou, a colonização oficial da Colô 119 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz em 1860, a Colônia consistia cia, Pedro Afonso Ferreira, Apenas uma pequena parte numa parcela de “território” desmembrou a Colônia Ita- do território continuou per- organizado, sob o comando jahy-Brusque, que até então tencendo a Brusque. de uma diretoria, para onde era anexa da freguesia do se encaminhavam coloniza- Santíssimo Sacramento (Ita- Nova Trento dores alemães incumbidos de jaí), formando a Freguesia explorar o território (BUGGE- (paróquia) de São Luis Gonza- - NHAGEN, 1941) ga. Em 1881 ocorre a emanci- lonial, Nova Trento, que na lei Em 6 de dezembro de pação político-administrativa de Apóscriação o fim do do município período code 1869, o território da colônia de Brusque. Por força da Lei São Luiz Gonzaga (Brusque) Príncipe Dom Pedro, insta- Provincial nº 920/1881, de integrava seu território, pas- lada à margem direita do rio 23/03/1881, a freguesia de sou a fazer parte do municí- Itajaí-Mirim, e cortada pelo São Luiz Gonzaga das colô- pio de Tijucas. A comunidade Ribeirão Águas Claras, Limei- nias Itajahy e Príncipe D. Pe- neotrentina foi emancipada ra, Limoeiro, Cedro Grande, dro foi elevada à categoria de política e administrativamen- Cedro Pequeno, Alferes e Cre- Vila e município, igualmen- te em 8 de agosto de 1892. cker, foi anexada à Diretoria te denominado de São Luiz Conforme informações dispo- - da Colônia Itajahy”. A partir Gonzaga. Só mais tarde, esse tura de Nova Trento (2018), a de então, a correspondência nome de município e vila foi histórianíveis no dosite município oficial da Prefeiinicia muito tempo antes da chega- à Diretoria da Colônia Ita- de Brusque, em homenagem oficial passou a ser dirigida substituído oficialmente pelo da dos primeiros imigrantes jahy-Brusque e Príncipe Dom a Araújo Brusque, antigo pre- trentino-italianos, provenien- Pedro e as dimensões colo- sidente da Província de Santa tes da região norte da Itália, niais também aumentaram, Catarina. Ao longo da sua his- a partir de 1875. No período passando a somar aproxima- tória, alguns distritos foram de 1834 e 1838, esta região do damente 70.000 hectares. incorporados à Vila e muni- Vale do Rio Tijucas havia sido Muitos anos depois, partes cípio de São Luiz Gonzaga e ocupada por norte-america- do território da extinta Colô- nos, com a intenção de explo- nia Príncipe Dom Pedro de- e umas poucas deslocações rar a madeira abundante do ram origem aos municípios dashouve divisas, algumas obedecendo, modificações lo- local. Uma serraria foi mon- de Nova Trento, Vidal Ramos, gicamente, ao ponto de vista tada próximo ao atual centro Presidente Nereu e Botuverá. que faz o traçado das divisas da cidade, aproveitando-se a correnteza do Ribeirão Al- Uma parte do território conti- depender das condições na- feres, Braço do Rio Tijucas- nuou pertencendo a Brusque. turais de paisagem. Do terri- Guabiruba pertencia apenas tório que compunha Brusque negociante estabelecido em ao território da Colônia Ita- em 1892, tiveram origem os NossaGrande. SenhoraChristóvão do Bonsfield, Dester- jahy-Brusque. municípios de Nova Trento ro, foi o grande propulsor do Em 31 de julho de 1873, (1892), Vidal Ramos (1957), negócio. Porém, anos depois, pela Lei Provincial n° 693, o Presidente Nereu (1961), Bo- - então presidente da Provín- tuverá e Guabiruba (1962). tradas, o território foi aban- devido às dificuldades encon 120 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

mais que desconheciam e os índios (os bugres), os primei- ros habitantes desta localida- de. Em 1876, famílias inteiras estavam estabelecidas nas colônias Itajaí e Príncipe Dom Pedro. A imigração intensi-

inclusive com a vinda de ale- mães,ficou-se poloneses nos anos e outros seguintes, po- vos europeus. Estima-se que, até 1880, cerca de 11 mil pes- soas tenham sido instaladas na colônia. Em 18 de março de 1881, o Decreto nº 8.455 emancipou as colônias da região, inclusi- ve aquela a que Nova Trento pertencia. Em 02/01/1884 foi criado o Distrito Policial Igreja Matriz de Nova Trento de Nova Trento, tendo como donado e suas propriedades plantando tudo dá”, rios e ria- primeiro subdelegado de po- passaram posteriormente a chos em abundância, moradia lícia, Hipólito Boiteux. Em Pedro Kohn, que, na forma- e trabalho remunerado. 04/04/1884, o Dr. Francisco ção da colônia Nova Trento, Do porto de Itajaí, os imi- Luiz da Gama Rosa, presi- foram vendidas ao Governo grantes foram deslocados dente da Província de Santa Provincial. Anos mais tarde, para regiões de mata virgem, Catarina, sancionou a Lei nº a partir de 1875, começam a sem boas condições de comu- 1.074, criando a freguesia e o chegar os primeiros grupos nicação. O grupo dos primei- Distrito de Paz de Nova Tren- de imigrantes trentino-ita- ros imigrantes, cerca de 20 to. Em 08/08/1892, através lianos. Eles deixaram para famílias originárias da Valsu- da Lei Provincial promulgada trás um período de crise, gana, no Alto Vale do Brenta, pelo presidente da província, fome, miséria e desesperan- no Trentino e de Monza, se tenente Joaquim Machado, ça, na qual a Europa passava. estabeleceram a 16 quilôme- Nova Trento tornou-se muni- O momento coincidiu com a tros da atual Nova Trento. cípio. Em 21 de dezembro de vontade governamental bra- Abriu-se uma picada na linha 1892, foi criado o Conselho sileira de povoar as terras Pomerânia (por Brusque), até Municipal para dirigir o mu- localizadas ao sul. Aliciados a linha Tirol, e nos lotes mar- nicípio até as suas primeiras pelas companhias de imigra- ginais as famílias foram se es- eleições, que ocorreram so- ção, os imigrantes aportaram tabelecendo. Ao invés de ter- mente em 1894 com o voto no Brasil com a promessa de renos limpos, encontraram indireto, elegendo Henrique encontrar uma terra “onde se mata fechada, insetos, ani- Boiteux, primeiro prefeito. 121 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Imóvel da família Stoltenberg em Vidal Ramos. A construção teve início em 1928. Acervo: SAB

Em 1919, August Stol- - uma lata de café e fósforos e tenberg chegou a Vidal Ramos terraram ali mesmo e sobre a seus vizinhos os procuraram sepulturalonge de casa, do amado os filhos pai oplan en- para negociar. E assim surgiu Karl. A família havia emigra- taram um pinheiro, hoje uma a Casa Comercial Stoltenberg docom de seus Kiel, doisna Alemanha. filhos, Erich e frondosa árvore. Irmãos, implantada no en- Em 1920, fazia-se a pri- Em 1924 os irmãos Stol- troncamento das estradas meira ligação Vidal Ramos tenberg abriram no local um de Botuverá, Vidal Ramos e -Brusque, uma picada aberta comércio. Iniciaram com um Brusque, que ocupa uma área por Martins e Jacinto Bugrei- pequeno rancho coberto de onde está o comércio enxai- folhas que mais tarde se cha- mel e uma grande construção desbravar a mata da nascente mou “Stoltenbergs Caethebla- em madeira que era uma pou- colônia,ro. Estando em 1923,o pai Auguste os filhos Stol a- etterrach”. sada para viajantes. tenberg faleceu subitamente. Sua primeira viagem a A construção da Casa Stol- Como estavam no meio Brusque, trazendo merca- tenberg, localizada na praça da mata, não havendo ainda doria num cavalo, levou dois Stoltenberg, teve início no um cemitério, e sendo muito dias. Ao voltar, trouxeram ano de 1928, sendo concluí- 122 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história da em 1929. Naquela época o gs Caetheblaetterrach” já projeto foi criado pelos pro- era uma casa ampla e bem Na tarde do dia 12 de ou- prietários e pelo engenheiro sortida, tendo como meio de tubro de 2010, num trágico Hans Prütter, agrimensor que transporte uma tropa de 20 incêndio, a casa foi pratica- morava com eles enquanto mulas de cargueiro. mente destruída. trabalhava para a Companhia Naquele tempo, para ir Os proprietários do imó- Colonizadora Constâncio de Brusque até Vidal Ramos, vel, que ainda pertence à Krummel. atravessava-se um sertão a Família Stoltenberg, acredi- Toda a madeira utiliza- partir do Ribeirão do Ouro tam que o sinistro incêndio da na obra foi derrubada, (Botuverá), onde se “pousa- foi causado por um curto- serrada e aplainada à mão va” na casa do Sr. Ângelo Bar- circuito no sistema elétrico - incluindo-se as janelas e ni, um italiano simpático e da construção, que infeliz- portas. Para a confecção dos hospitaleiro. mente provocou a perda to- tijolos foi construída uma pe- Depois de um dia de via- tal dos arquivos da empre- quena olaria no local. Toda a gem pelo sertão no lombo da sa, assim como uma parte estrutura da casa não possuía mula que muitas vezes enter- da história de Vidal Ramos cimento, apenas argila, areia rava até a barriga, nos caldei- e região. e cal. A cobertura do casa- rões de lama, abria-se o mato Mesmo com a destrui- rão inicialmente foi feita com e encontrava-se um lugar ção quase total do histó- tabuinhas rachadas à mão, aberto, onde existiam estra- rico imóvel, tombada pelo sendo que os vidros, pregos das carroçáveis, escola, igreja, Iphan - Instituto do Patri- e ferragens foram buscados além de casas de colonos. mônio Histórico e Artístico em lombo de mula na cidade O primeiro professor da Nacional em dezembro de de Brusque, através de uma Colônia foi o Sr. Rudolf Fink. O 2008, a família decidiu re- picada. primeiro intendente de Vidal construir as ruínas do anti- Participaram da constru- Ramos se chamava Augusto go casarão. ção os pedreiros Hugo Ko- Klapoth, e o primeiro prefeito Em 2018, totalmente re- chanscki e Josef Wessel, além nomeado foi Jorge Paulo Krie- construída, a estimada Casa dos carpinteiros Heinrich ger. Stoltenberg continua sendo Böing e Wendelino Böing. Após 80 anos de existên- um importante marco da Com a construção da casa, cia desta casa, no local ainda história de Vidal Ramos, tiveram início as atividades funcionava um bar e o escri- comerciais da família, com o tório da empresa Irmãos Stol- Erich e Karl plantaram em e a araucária que os filhos funcionamento de uma casa tenberg. 1923 para guardar a sepul- de comércio, açougue e ser- (GEBLER, Geraldo. Dados tura do pai, o pioneiro Au- raria, o que contribuiu muito Históricos de Vidal Ramos. gust Stoltenberg, continua para o crescimento da econo- Notícias de Vicente Só. Socie- frondosa, simbolizando a mia de Vidal Ramos por mui- dade Amigos de Brusque. Ano força do imigrante contra a tas décadas. III. Nº 11. Julho, agosto e se- adversidade. Em 1932, a “Stoltenber- tembro de 1979). 123 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Vidal Ramos na mesma área em que mais sede da fazenda de “Boa Es- tarde seria criado o municí- perança”. Segundo informações dis- pio de Vidal Ramos. Nesse No artigo intitulado Um mesmo ano, o padre Augusto Pouco de História do Municí- Prefeitura de Vidal Ramos Schwierling, acompanhado pio de Vidal Ramos publicado (2018),poníveis a nohistória site oficialdo muni da- de Nicolau Petry e Henrique na revista Blumenau em Ca- cípio tem início por volta de Blomer, saíram de Capivari, dernos (1995) vamos encon- 1916, quando João Filomeno região sul do Estado, passan- trar mais algumas informa- do pelas vilas de Angelina, ções sobre Vidal Ramos. de caçadores, saiu de Bom Garcia e Boiteuxburgo, atra- Vejamos o que nos traz a Retiroda Rosa, em chefiando direção aos um sertões grupo vessando o rio Alferes à pro- publicação: encravado entre do hoje município de Vidal cura da parte mais alta da a Serra do Itajaí e a Serra do Ramos, e marcaram sua pre- cabeceira do rio Itajaí-Mirim, Tijucas, o município de Vidal sença na região, e por isso os sendo que o primeiro colono Ramos localiza-se na parte primitivos moradores da ci- - alta da Bacia do rio Itajaí-Mi- dade, que conhecem a histó- minado “Molungú”, e o segun- rim, ocupando uma área de fixou morada no lugar deno ria local, os consideram como - aproximadamente 314 km2, os desbravadores de Vidal Ra- jaí-Mirim e Santa Cruz. interligando-se por vias de do na confluência dos rios Ita mos. Foi nesta época que foi acesso aos municípios de Itu- No ano seguinte chega dado o nome dessa localidade poranga, Presidente Nereu, outro grupo de caçadores, de Alto Itajaí-Mirim ou Rio da Brusque e Leoberto Leal. Por desta vez vindos de Ribeirão Brusque, onde hoje está situ- ada a sede de Vidal Ramos. região os primeiros coloni- do Ouro (atual Botuverá). E, volta de 1910, fixaram-se na ainda em 1917, Walter Rho- Nos anos seguintes, outras zadores imigrados, principal- de, comandando um grupo de famílias começaram a chegar mente, do Vale do Rio Capiva- homens, veio de Bom Retiro e à região, à procura de terras ri. começou a proceder ao mape- férteis, tendo uma delas – a de Pedro Weber – se estabeleci- inicial do núcleo, a eles vie- amento e medição das terras Bem-sucedida a fixação que formam a parte mais alta ram juntar-se famílias oriun- da cabeceira do rio Itajaí-Mi- Luiza com o Itajaí-Mirim e as das de outras regiões do Es- do na confluência do rio Santa rim. famílias Boeing e Vanderlinde tado. Entre os primeiros que Toda aquela área de terras, - na época, era propriedade do dades provindas da Região de - Capivari.fixaram-se naquelas proximi quistarenfrentaram novas os terras, desafios desta de- Dr. Possidônio, do comenda- desbravar as florestas e con dor Guimarães e de Dª Corá- Em 1923, o Dr. Constâncio caram-se, entre outras, as lia Luz. Em 1919 foi criado, Krümmel adquiriu imensa famílias Weber, Petry, Boing por lei estadual, o distrito de gleba de terras no local em e Stoltenberg. A história re- Adolfo Konder que perten- que está hoje instalado o mu- gistra o nome de Rodolpho cia ao município de Brusque, - Pink, imigrante alemão, como zar a região, denominando a primeiro professor local, en- nicípio, com o fim de coloni 124 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história quanto que a mais remota Presidente assistência religiosa à comu- nidade era feita pelo Pe. Au- Nereu gusto Schwirlling. Território inicialmente co- De acordo com as infor- nhecido sob o nome de Santa mações disponíveis no site Luiza, foi com essa mesma - dente Nereu (2018), a histó- denominação elevado à cate- oficial da Prefeitura de Presi goria de distrito do município ria do município tem início na de Brusque, pela Lei Muni- segunda metade da década de cipal nº. 4, de 15/07/1928. 1920. Logo em seguida, pela Lei Mu- Os primeiros moradores nicipal nº. 8, de 21/11/1928, eram caçadores, oriundos de o distrito mudou sua deno- São Pedro de Alcântara, pri- minação para Adolfo Konder. meira colônia de imigração Somente após a Revolução de alemã em Santa Catarina. 1930, por força do Decreto Es- Nesta mesma época, José da tadual nº. 16, de 29/11/1930, Costa Miranda demarcou a é que o distrito passou a de- colônia agrícola de Edelber- to Brasilides de Oliveira e, Vidal Ramos, cujo nome per- em 1928, Antônio Fernando duranominar-se, até os tempos definitivamente, atuais. A criação do Município primeiroJönk fixou-se morador. na região, Na década sendo se deu pela Lei Estadual nº considerado oficialmente o 272, de 03/12/1956, e o novo de 1930, mais de 10 famílias território passava a consti- de imigrantes italianos e ale- tuir-se pelo próprio distrito mães formavam a comunida- e abrangia o distrito de Ita- de, que pertencia à época a quá (atualmente incorporado Brusque. ao município de Presidente Em Presidente Nereu ain- Nereu) e parte do distrito de da é possível encontrar mar- cas de seus colonizadores é datada de 17/02/1957, e o nos hábitos e costumes da atoBotuverá. contou A com instalação a presença oficial de população. E, para preservar Jorge Lacerda, então governa- e resgatar sua história, a ci- dor do Estado. Por nomeação, dade tem o Centro Histórico Jorge Paulo Krieger assumia Expedicionário Dionísio João as funções de primeiro chefe Comandolli. do Poder Executivo de Vidal A colônia teve diversos no- mes: Vila D’Alva, Gaspar, Brus- Ramos. Igreja Matriz de Presidente Nereu 125 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz que Nova, Santa Rita, Boa tirem em busca de novas es- mente 1940, caracterizou-se Esperança e Naufrágio, este peranças em novas terras. A pela agricultura de subsistên- último para lembrar o naufrá- viagem, dura e demorada, era cia, exploração de madeira e gio de um barco com imigran- feita por pequenos navios a ouro de lavagem. tes que afundou no rio Ita- vela ou vapor, sem conforto, A segunda fase durou até jaí-Mirim em que felizmente sem segurança. Chegava-se aproximadamente 1970, e se todos se salvaram. Mais tarde a levar meses para chegar ao caracterizou pela agricultura foi criado o distrito de Nilo Brasil. Doenças aconteciam e comercial do fumo, sendo que Peçanha, pertencente a Vidal se a morte “batesse à porta” o algumas estufas ainda podem Ramos. mar se tornava o túmulo. ser avistadas pelo interior da Mas logo o nome mudou Durante a longa viagem, cidade, lembrando tempos de novamente, dessa vez para amizades se estabeleciam, trabalho duro na colônia, em Itaquá, que em tupi-guarani amores aconteciam e a can- que a família toda se reunia toria era comum como tribu- para colher as folhas de fumo, Quando o município foi cria- to à pátria que os imigrantes fazer “as bonecas”, dependurá significa “local pedregoso”.- deixavam para trás. Chegando -las para secar com auxílio de mente recebeu o nome atual, ao Brasil, após o desembar- calor e livre da umidade tão numado, em homenagem 30/12/1961, a Nereu final que, dirigiam-se às colônias característica na região, para, Ramos, o único presidente da de destino. Em Brusque eram - República nascido em Santa alojados em Barracões de ção, normalmente para a em- Catarina. Imigrantes na localidade co- presafinalmente, Souza venderCruz. a produ nhecida como Águas Claras. A terceira fase, bem re- Botuverá Depois de autorizados, os cente, caracterizou-se pelo pioneiros subiam o rio Ita- fortalecimento do segmento Conforme informações dis- jaí-Mirim com canoas e bal- industrial, especialmente o - setor têxtil e de mineração. nas terras que denominaram Com a chegada das primei- feitura de Botuverá (2018), a sas improvisadas, se fixaram históriaponíveis dono municípiosite oficial daguarda Pre “Porto Franco” e logo deram ras 33 famílias, em 1876, fun- relação com o continente eu- início ao desbravamento das dou-se o povoado, denomina- ropeu. As guerras, as crises matas, construíram seus no- do pelos próprios imigrantes sociais e econômicas, provo- vos lares e deram início nos de “Porto Franco”, subordina- caram a emigração de italia- trabalhos da agricultura, que do a Brusque. nos, principalmente da região se tornou o marco econômico O território pertenceu à norte, para o Brasil. da população botuveraense antiga Colônia Itajahy-Brus- A miséria, o desempre- até a atualidade. que e Príncipe Dom Pedro. go, a propaganda enganosa Ao longo de sua história, Para Botuverá emigraram das agências de emigração, Botuverá viveu momentos principalmente lombardos motivaram muitos italianos econômicos distintos: a pri- de Bergamo, Mântua e Tren- a deixarem sua pátria e par- meira fase, que data de sua tinos. fundação até aproximada- Não há fontes seguras dos 126 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história nomes dos primeiros imi- grantes, mas, de acordo com informações dos mais anti- gos, descendentes diretos dos imigrantes, foi possível con- - ros vieram as famílias Bósio, Bonomini,firmar que Pedrini, entre os Molinari, pionei Tirloni, Aloni, Gianesini, Be- tinelli, Raimondi, Rampelotti, Dognini, Morelli, Tomio, Ma- estri e Comandolli, num total de 33 famílias. Cada família procurou um local para se estabelecer, de- limitou e formou ali sua pro- priedade. Outras levas de imigrantes vieram. Ocupa- Antigos fornos de cal em Botuverá. Acervo: Rosemari Glatz ram outras localidades como Águas Negras, Ribeirão do Porto Franco, recém-instala- de nº 238, criando os muni- Ouro e Lageado. do, recebeu a 24 de julho, a cípios de Botuverá e Guabiru- Em 14/02/1925, o supe- visita do Cônsul da Itália Cav. ba, desmembrados do territó- rintendente municipal de Caetano Vechietti. rio do município de Brusque. Brusque, João Schaefer, san- Em 1945, Porto Franco foi Em 07/05/1962, através da cionou a Lei n. 26 que criou elevado à categoria de Dis- Lei nº 821, a Assembleia Le- o Distrito de Paz de Porto trito, e como primeiro Inten- gislativa do Estado de Santa Franco com limites entre o dente Distrital foi nomeado o Catarina homologou a criação ribeirão das Águas Negras e a Sr. Adão Bonomini, que per- dos municípios de Botuverá e cabeceira do rio Itajaí-Mirim. maneceu no cargo até 1952. Guabiruba. Foi primeiro juiz o Sr. João Quem assumiu como novo In- Em 09/06/1962, foi insta- Merico e suplentes os Srs. tendente foi o Sr. Augusto Ân- Francisco A. Werner, José Fa- gelo Maestri, que governou a de Botuverá, sendo consi- chini e Pedro Colzani; escri- intendência até maio de 1962. lado oficialmente o Município vão o Sr. Humberto Mazzolli Botuverá foi desmembra- emancipação política e admi- e subdelegado o Sr. Adamo da de Brusque em 1962. Em nistrativa.derada como Nesta data data oficial assumiu de Bonomini. 28/04/1962, a Câmara Muni- provisoriamente como prefei- A sede foi elevada à cate- cipal de Brusque, sob a presi- to o Sr. Zeno Belli, até ser elei- goria de Vila pela Lei Estadual dência do Sr. João Batista Mar- to um prefeito efetivo, o que nº 86 de 31/03/1938. Ainda tins, sancionou a Resolução aconteceu em 03/10/1962. em 1925, o Distrito de Paz de 127 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Guabiruba era feito em mutirão, também melhorando. Os barracos pro- chamada de “pixurum”, com visórios foram sendo substi- Segundo os relatórios do grupos de homens abrindo as tuídos por casas de madeira Barão Maximilian von Sch- e, em alguns casos, por casas neeburg, primeiro diretor nativa, derrubando as árvo- feitas com tijolos. Foram tem- picadas, os claros na floresta da Colônia Itajahy-Brusque, res, delimitando os lotes e ne- les construindo as primeiras em Deus e união é que as fa- a primeira leva de coloniza- pos difíceis, e só com muita fé dores chegou à Colônia no casas provisórias. Eram bar- mílias conseguiram suportar dia 4 de agosto de 1860 e foi racos de chão batido que ser- aqueles primeiros tempos e instalada na sede de Brusque. viriam como moradia nos pri- prosperar em terras brasilei- A partir da segunda leva, em mórdios da colônia, feitos de ras. 19 de agosto daquele mesmo troncos de palmito. Em alguns Quanto à origem do nome ano, os imigrantes já passa- casos, as frestas das paredes da cidade, é de conhecimento ram a ser instalados em dire- eram fechadas com barro. público que o nome Guabiru- ção ao rio Guabiruba, e foi ali As folhas de palmeiras ba foi utilizado, pela primei- que iniciou a história de Gua- eram trançadas para cober- ra vez, pelo Barão Maxmilian biruba. tura do barraco e o miolo do von Schneeburg. A viagem da Alemanha palmito servia para o preparo Outras referências ao para o Brasil levava em tor- de alimentos com carnes de nome Guabiruba, também no de três meses. Da barra caça. E assim, de forma comu- escrito como “Gabiroba” ou do Porto de Itajaí, onde os nitária, os espaços eram pre- “Guabiroba”, são encontradas imigrantes aportavam, até o parados para que as famílias já nos primeiros mapas da Barracão dos Imigrantes na dos imigrantes se instalassem Colônia Itajahy-Brusque. Colônia Itajahy-Brusque, o provisoriamente. Apesar de existirem mais transporte dos colonizado- Durante o tempo de pre- versões para a origem do res e seus pertences era feito paração do espaço que rece- nome, assumimos a versão por embarcações a remo que, beria a família, mulheres e de que a origem do nome rio acima, durava entre três e Guabiruba é uma corruptela cinco dias. Assim também foi no Barracão dos Imigrantes. do nome da árvore frutífera crianças ficavam instaladas com os colonizadores de Gua- Na mata virgem, os coloni- guabiroba, palavra de origem biruba que, quando chegaram zadores, em famílias, planta- ram e viveram em plena na- de casca amarga. à colônia, foram instalados no Guarani que significa árvore Barracão do Imigrantes, que tureza, isolados de tudo e de Planta nativa, a guabiro- todos. ba cresce naturalmente tan- atual Clube de Caça e Tiro de A religiosidade foi funda- to em áreas planas como em Brusque.ficava nas proximidades do mental para manter a união e encostas de morros, aprecia Quando eles chegavam, a força do povo em inúmeros as proximidades de cursos de tudo estava por fazer. O tra- momentos de provação e, com água e cresce em abundância balho de ocupação das terras o passar do tempo, a situação na região. O seu tronco pode econômica dos imigrantes foi chegar a 15 metros de altura, 128 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casa enxaimel em Guabiruba. Acervo: Rosemari Glatz e suas frutas são consumíveis. do palmito, é possível que imigrantes se dedicaram à la- A cidade de Guabiruba é re- também tenham servido de voura e à extração de madei- pleta de nascentes e cursos alimento para as famílias dos ra, construindo ranchos para de água, e os pés de guabiro- colonizadores logo após a sua seu abrigo. Muitos trouxeram ba são facilmente encontra- chegada. E assim a árvore em- dos, tanto nos vales como nas prestou seu nome à cidade, esforço, empreendedorismo e encostas dos morros e mon- que, entre a população local, é coragemsua profissão moldaram de origem. uma cida Seu- tanhas da cidade. chamada carinhosamente de de próspera. “Guaba”. Depois dos primeiros em- entre agosto e novembro, por De acordo com as infor- preendedores, comércios e umA curto sua período floração de acontecetempo, e mações disponíveis no site indústrias têxteis, foi aberto a maturação dos frutos tam- - o caminho para a moderniza- bém é rápida, ocorre entre biruba (2018), os primeiros ção, com o início das fábricas imigrantesoficial da Prefeitura alemães, a demaioria Gua de malhas, confecções, tin- Os frutos - doces, amarelos originária de Baden, chegou a turarias e metalurgias, que e15 em e forma 20 dias de após baga a- amadu florada.- partir de agosto de 1860. se deu a partir da década de receram logo após a chegada Posteriormente chegaram 1970. dos primeiros imigrantes ale- os italianos, os poloneses e O desenvolvimento propi- mães e, assim como o miolo os austríacos. Inicialmente os ciou a vinda de novas famí- 129 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

lias, culturas e tradições, que REFERÊNCIAS escolheram o município para construírem seu lar. BOTUVERÁ. História do A cidade está distribuída Município. Disponível em:< em uma área de 195 km² e http://www.botuvera.sc.gov. situa-se no Vale do Itajaí-Mi- br/historia-do-municipio/ >. Acesso em 24 setembro 2018. a uma altitude de 21 metros BUGGENHAGEN, E. A. von. rim. A sede do município fica acima do nível do mar e a ci- História Econômica do Muni- dade limita-se ao norte, com cípio de Brusque e a obra do Gaspar e Blumenau; ao sul e Cônsul Carlos Renaux. [SI]. a oeste com Botuverá e a leste Brusque, 1941. Não publicado. com Brusque. GUABIRUBA. Histórico. Dis- Guabiruba foi desmem- ponível em:< https://www. brada de Brusque em 1962. guabiruba.sc.gov.br/cms/pagi- A criação do município ocor- na/ver/codMapaItem/15252 reu a partir da Resolução nº >. Acesso em 24 setembro 238, de 28/04/1962, aprova- 2018. da pela Câmara Municipal de PRESIDENTE NEREU. Histó- Brusque, com o voto minerva ria da Cidade. Disponível em:< do seu presidente, João Ba- https://www.presidentenereu. tista Martins. Encaminhada sc.gov.br/cms/pagina/ver/ para Assembleia Legislativa codMapaItem/61431>. Acesso pelo deputado estadual Raul em 24 setembro 2018. Schaefer, os termos da reso- VIDAL RAMOS. História. Disponível em:< https://www. Assembleia Legislativa, me- prefeituravidalramos.com.br/ lução foram ratificados pela diante a promulgação da Lei cms/pagina/ver/codMapaI- n° 821, de 7/05/1962. tem/20729>. Acesso em 24 se- Em 10/06/1962 foi rea- tembro 2018. lizada, em sessão solene, a NOVA TRENTO. Histó- - ria. Disponível em:< https:// cípio de Guabiruba, sendo www.novatrento.sc.gov.br/ instalação oficial do Muni - cms/pagina/ver/codMapaI- cial de emancipação política tem/37323>. Acesso em 24 se- considerada como data ofi e administrativa. Nesta data tembro 2018. Henrique Dirschnabel tomou Um Pouco de História do posse como prefeito, tendo Município de Vidal Ramos. Igreja Nossa Senhora da permanecido no cargo até Imaculada Conceição, Blumenau em Cadernos, Tomo Lageado Alto, Guabiruba. 30/01/1963. XXXVI. Nº 4. Abril de 1995. 130 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Vista do centro de Brusque nas primeiras décadas do século XX. Acervo: SAB A evolução econômica da Colônia O comércio subsistência nas proprieda- recreativa e a educacional. des dos agricultores, como Inicialmente, as vendas se Na área colonial, o comér- sal, ferramentas, tecidos e ar- instalavam junto à adminis- cio constituiu-se em mono- mas. Nos primeiros anos da tração da colônia e ao porto pólio de um pequeno grupo Colônia Brusque, o sistema de de pessoas estabelecidas na vendas estava ligado ao tipo trapiche de pedras, mastro fluvial, que dispunha de um sede da vila, a “Stadtplatz”: de povoamento da área co- eram os vendeiros, isto é, os lonial. Implantado o núcleo, nas cabeceiras da ponte Iri- de madeira e guincho, e ficava proprietários de casas co- seu desenvolvimento era ba- neu Bornhausen (atual ponte merciais, das “vendas”, onde lizado, como nas demais co- estaiada). Ali aportavam os os colonos vendiam ou troca- barcos, as canoas, e lanchas vam sua mercadoria por pro- um eixo comercial, a partir do que visavam o abastecimento lônias alemãs, pela fixação de dutos da cidade que não eram qual se subordinavam outras produzidos pela economia de funções, como a religiosa, a Colônia Itajahy-Brusque, ou da população que se fixava na 131 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz a saída dos produtos para o gos de estimação que facili- absolutos dos meios econô- porto marítimo, em Itajaí. tam e embelezam a luta pela micos com que imprimiam Os colonos se dirigiam à existência. O colono, superes- um cunho pessoal à vida em vila para participar das festas timando o que encontra na - e atividades religiosas, para venda, é incapaz de atribuir- nhecendo as necessidades tratar de problemas legais, lhe justo valor em compara- desua sua zona freguesia, de influência. o vendeiro Co dentre outros. Mas, principal- ção ao de seus produtos na- procurava satisfazê-las, indo mente, para trocar ou vender turais. É a psicologia da terra buscar as mercadorias nos a produção excedente das bravia que decide; apaga-se a mais distantes centros pro- suas colônias, pois era na Sta- noção do preço. O colono en- dutores e colocando nestes o dtplatz que estavam a princi- trega ao vendeiro boa parte que sobejava na colônia. Essa da abundância de produtos tarefa de intermediário, que à Era lá que se realizavam as agrícolas; o vendeiro dá-lhe primeira vista parece tão fá- maiorespais vendas, transações as “Kaufläden”. comer- em paga um pouco do pouco cil, exige um perfeito conheci- ciais. A fertilidade da roça e a que tem na venda. Parafra- mento das praxes comerciais viva atividade da venda carac- seando, com algum exagero, e mesmo um talento especial, terizaram o sistema inicial, de o rifão, pode-se dizer que o tanto que só pouquíssimos onde nasceu o progresso da colono “compra a ferradura, colonos conseguiram fazer os nova comunidade colonial. pagando com o cavalo”. primeiros ensaios neste ramo A lavoura e a venda, é preci- Os vendeiros eram conhe- de atividade. so que se combinem em uma cedores do ramo a que se No terceiro ano após a fun- unidade orgânica. dedicavam, e muitos deles dação, já se contavam quatro - casas comerciais na Colônia mata virgem é, apesar de dão e da estima dos colonos. Itajahy-Brusque. Duas per- A figura do vendeiro na- Alémse fizeram disso, dignoseram eles da os grati re- tenciam a imigrantes alemães peranças do colono, e, indubi- presentantes do capital, o que haviam entrado na área tavelmente,tudo, a personificação o facheiro das da esci- que vale dizer que gozavam como colonos: a Hospedaria vilização. Para Buggenhagen de uma posição privilegiada e Negócio de Philippe Krieger (1941), é ele quem fazia che- entre aqueles que, dispondo e a Loja de P. Heil. Uma ter- gar ao alcance do colono os apenas de valores materiais, ceira venda, que não funcio- produtos da indústria moder- não tinham noção exata do nou muito tempo, pertencia na: a pá, a enxada, o machado, capital. Eram os vendeiros a um brasileiro: J.P. Libera- os pregos, a corda, a louça, a quem orientava as atividades to, de Itajaí. Giralda Seyferth carne-seca, o bacalhau, o sal, agrícolas isoladas no sentido (1974) informa que, confor- o toucinho, a farinha, a azei- de adaptá-las às necessida- me relatório do ano de 1862 tona, o queijo, o fumo, os pro- des da economia geral. Eram do Barão Maximilian von Sch- dutos químicos, o chumbo, a eles quem encomendava as neeburg, a última das quatro pólvora, etc. Esses artigos, no culturas mais vantajosas e, mato virgem, não são simples estabelecendo os preços dos mercadorias; são antes arti- produtos, se faziam senhores tambémcasas comerciais não durou era amuito filial da firma La Roche & Cia. que 132 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O colono produzia para o consumo da sua família e também para a venda e, por isto, es- tava sujeito ao controle exercido através dos vendeiros. O agricultor cultivava basicamente milho, aipim, feijão, arroz, cana-de-açúcar, fumo e batata, deixava na venda o excedente da produção agrícola e levava sal, toucinho, ferramentas, óleo, tecidos e armas. Era de menor importância a cultura de verduras e frutas, embora a boa horta completasse o bem-estar do colono. As hortaliças preferidas eram: o repolho, a couve, a alface, o chuchu, pepinos, cenou-

frutas mais cultivadas eram: a banana, a laranja, o abacaxi, a tangerina, o pêssego, o limão, a ras, o nabo, a couve-flor, a raiz-forte, diversas espécies de feijão, a couve-roxa e tomates. As menor importância eram as de amendoim e de diversas espécies de ervilhas. As pastagens quegoiaba, ocupavam o caqui, apenasa carambola, pequena a jabuticaba, parte do orespectivo morango, alote melancia, estavam o figo cobertas e outras. de Culturasgramíneas. de Preferia-se o capim gordura para terrenos secos, o capim branco para os pastos planos, e di- versas espécies de grama para as pastagens situadas em terras montanhosas. Para preparar as terras de plantio, usava-se, em geral, o arado, embora seu emprego encontrasse grandes - dor) e da grade. Onde o terreno não podia ser lavrado com o arado e, sobretudo, nas partes montanhosas,dificuldades nos trabalhava-se declives. Em com combinação a enxada. com À variedade o arado fazia-sede culturas uso dacorrespondia carpideira (capinauma va- riedade de criações, como a de gado cavalar, gado vacum e de aves. A criação de ovelhas era incomum. O colono também produzia vinhos de uva e laranja. Abundavam peixes no rio e ribeirões, os quais supriam as famílias com carnes, ao lado da produção de aves domésticas e suínos, o que fazia que os colonos negociassem com os vendeiros apenas aqueles itens que não conseguiam produzir. Mas se a policultura garantia em boa parte a independência do colono, a área limitada de seu lote não deixava de obrigá-lo a produzir para o mercado, e a venda era o local onde as transações comerciais se realizavam: as trocas aconteciam entre uma pessoa que detinha nas mãos os mecanismos que regulam as transações, o vendeiro, e os proprietários dos lotes coloniais, o agricultor.

Horta de família de imigrante no interior da Colônia. Acervo: Rosemari Glatz

133 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz tempo. Alguns anos depois, as Deus e o mundo, o vendeiro para levar seus produtos até vendas mais importantes da impunha-lhes o seu modo de as vendas. O pombeiro quase vila achavam-se nas mãos de pensar, juntamente com os sempre era um colono que, imigrantes alemães. De acor- seus preços. Foi assim duran- em determinados dias do do com Buggenhagen (1941), te anos e anos. mês, recolhia com sua carro- um dos primeiros vendeiros Também existiam os pe- ça as mercadorias que os seus de Brusque chamava-se Mota. quenos vendeiros do interior vizinhos podiam dispor para Era um homem de boa índole, da colônia, conhecidos entre venda. Essas mercadorias pouco ativo, porém, no ter- os imigrantes como “Hinter- eram trocadas ou vendidas reno comercial. Os vendei- land”. Eram vendas peque- na “Stadtplatz” aos vendei- ros propriamente ditos, isto nas, de importância secun- ros, ou de casa em casa para é, aqueles que consideravam dária, que se localizavam nos os fregueses e, assim como os seu dever explorar todas as entroncamentos de picadas possibilidades que se lhes e tinham características de - ofereciam, aproveitando-as entreposto de trocas, pois cavadonos com das os“Kaufläden” possíveis oulucros das plena e conscientemente, es- na prática estes vendeiros dessas“Hinterland”, transações. o “pombeiro” fi ses surgiram mais tarde e jus- - que também eram colonos A jovem Colônia Itajahy tamente quando a capacida- e tinham como atividade su- de produtora da colônia era plementar, na sua residência, desde os seus primeiros dias, questão resolvida. Sobressa- uma pequena venda - eram porque-Brusque os começou dois fatores a florescer do pro- em entre todas as vendas as intermediários dos vendei- gresso – lavoura e venda - se de Krieger, Bauer, Buettner e ros da “Stadtplatz”. Nela se reuniram em perfeita harmo- Willerding; esta última, que encontravam alguns produ- nia, criando, assim, a base se- tos de primeira necessidade, gura do bem-estar comunal. às mãos de Carlos Renaux em como alimentos e pequenas A participação dos vendeiros 1886.era apenas uma filial, passou ferramentas. O nível de tran- era muito importante na eco- Era considerável o movi- sação comercial nessas ven- nomia da novel Colônia Ita- mento de mercadorias entre das era muito baixo, e os esto- jahy-Brusque. Eles exporta- a colônia e a venda. Dia após ques bastante reduzidos. vam madeira serrada, açúcar, dia as carroças puxadas por Seyferth (1974) menciona farinha de mandioca, fumo cavalos passavam rangendo ainda que havia um terceiro em folha e charutos. A aguar- ou levando as mercadorias da elemento: o intermediário, dente, o arroz, a manteiga e venda, um verdadeiro entre- chamado “pombeiro”, que fa- a banha também integravam posto dos produtos da lavou- zia circular mercadorias en- o rol das exportações. Eram ra e das mercadorias. As ven- tre os colonos e os vendeiros. importados ferragens, panos, das eram, ao mesmo tempo, Muitos colonos, instalados vidros, louças, cimento, sal e uma espécie de bolsa. Toman- em linhas coloniais distan- outros utensílios de uso do- do café e comendo doces, os tes da vila, como Sternthal, méstico e de recreio. A econo- colonos trocavam suas ideias, Holstein e Hochebene (Gua- mia encontrava-se alicerçada e na conversa comum sobre nos engenhos de açúcar, de fa-

134 biruba), tinham dificuldades Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história rinha de mandioca e de serrar vavelmente ao todo), uma fá- a pique, cobertas de folhas de madeira. Além das destilarias brica de vinagre, dois hotéis, sapé; casas mais sólidas de de aguardente, das atafonas, quatro casas de negócio, além uma vez ou outra armação das fábricas de charutos, das - de madeira e enchimento de olarias e das fábricas de cer- vial, contando com 15 canoas tijolo. veja. E, assim, as transações ede cinco um serviçolanchas de para viação passa flu- Conseguira a colônia refa- comerciais na colônia desde gens e transportes no Itajaí- zer-se, em pouco tempo, das a sua fundação até a primei- Mirim. misérias dos primeiros anos. ra década do século XX foram Com os novos imigrantes Os resultados obtidos com a controladas pelos principais chegando, no decorrer dos colonização de Brusque eram comerciantes de Brusque, e, anos, havia pessoas que, em bem animadores. A dualida- entre os vendeiros de desta- vez de se dedicarem à lavou- de: colônia e venda, por pro- blemática que fosse durante início do século XX, vamos en- que haviam aprendido. Em os decênios passados, não contrarque no os final Bauer, do século os Buettner, XIX e 1863ra, preferiram havia em exercer Brusque: o ofício três deixou, com todas suas im- os Krieger e os Renaux, den- ferreiros, dois marceneiros, perfeições, de produzir óti- tre outros. dois padeiros, três moleiros, mos resultados. Foi ela que dois construtores de carros, criou primeiro a abastança na A indústria dois serradores, dois charu- colônia que assentou as bases teiros, dois pedreiros, um jar- para o desenvolvimento da Buggenhagen (1941) con- dineiro e um carniceiro. É de indústria. ta que, a par dos bons resul- ver que já se notava alguma Foi só nos dois últimos tados da lavoura, foi se desen- atividade industrial que com- decênios do século XIX, que volvendo a respetiva pequena pensava os esforços dos que a a economia de Brusque atin- indústria, embora em escala exerciam. giu um grau de adiantamen- modesta. Assim, existiam já Assinala-se, até, para o to que permitia a criação de em 1862 três engenhos para ano de 1863, uma exporta- uma indústria. Era indispen- ção de 812 arrobas de fumo sável para tanto a existência quatro engenhos de açúcar e e 48.000 charutos. As recei- de capital e de braços. O que osbeneficiamento de farinha, estes de últimos milho, tas provenientes das vendas era preciso havia-o, na Brus- movidos à força de bois. Ha- começaram a cobrir a custo que de então, em modesta via também alguns engenhos das mercadorias que vinham escala. Os vendeiros tinham de fora: gêneros alimentícios, feito bons negócios, chegando Abriram-se, ainda, outras em- ferragens, tecidos, louças, etc. a fazer algumas economias. presaspara beneficiamento para acorrer às de neces arroz.- Ao que se deduz das estatís- A população da colônia tinha sidades gerais de população. ticas, a economia foi se de- aumentado o bastante. Nem Existiam, já então, quatro cer- senvolvendo gradativamente; todos os imigrados que se vejarias, com uma produção por toda parte foram surgin- haviam inicialmente dedica- anual de 4.000 garrafas (pro- do novas casas, substituindo do à lavoura desejam conti- as pobres construções de pau nuar nessa ocupação. Se lhes 135 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

João Bauer: figura típica da época de transição de predomínio da venda para o da indústria Com os lucros tirados da colônia, os ven- buas que excediam o consumo local eram ata- deiros conseguiram as somas necessárias das e amarradas em forma de jangada, sendo para iniciar as indústrias. Dotados de ativida- conduzidas pelo rio Itajaí-Mirim abaixo, até de comercial, conceberam novos projetos que a cidade de Itajaí, onde eram embarcadas iam além dos moldes da venda. Começando para Santos ou Rio de Janeiro. O comércio de madeiras ocupava um lugar especial na vida dos produtos agrários, passaram para outras econômica, visto que o exercício do mesmo maiorespelas pequenas que aniquilaram indústrias porde beneficiamentocompleto a in- pressupõe uma extraordinária mobilidade e - capacidade de adaptação. te típico dessa época de transição é o Sr. João O comerciante de madeiras encontra-se Bauer,fluência que da deucolônia provas e da de venda. extraordinária O representan ativi- - dade em vários ensaios. são, diante de problemas tão complicados No começo da colonização, trabalhou, ini- comofrequentemente, raras vezes no aparecem exercício em de suaoutros profis ra- cialmente, a 14 vinténs por dia, na constru- mos comerciais. Para vencer os obstáculos ção de estradas. Tendo feito suas economias, do transporte desde o ponto de origem até o abriu uma venda que ele dirigia, valentemen- mercado, é indispensável que o comerciante te secundado por sua mulher. João Bauer era saiba encontrar continuamente novas solu- vendeiro, mas toda a sua dedicação pertencia - ao comércio de madeiras. No último decênio gindo. Parece-nos bem provável fosse essa ca- do século XIX, começou a desenvolver esse pacidadeções para deas adaptaçãonovas dificuldades multiforme que que vêm levou sur ramo em uma escala bastante vasta em re- João Bauer a conceber muitos projetos que se lação às condições do núcleo. Por toda parte afastavam bastante de seu raio de ação. ainda havia ricas existências de madeiras em Bauer participou na navegação, manten- rolos e das mais variadas qualidades, sobre- do com vários sócios um serviço de lanchas tudo madeiras de lei. Havia abundância de no rio Itajaí-Mirim, onde ele dominava os canela, peroba, de cedro e imbuia; menores transportes. Quando lhe surgiram, em Itajaí, quantidades de cambará e óleo, e, raramente, pinho, cujo hábitat propriamente dito é o pla- o Rio de Janeiro, adquiriu, em Hamburgo, da nalto de Santa Catarina. dificuldades no transporte de madeiras para Bauer explorou as existências que, de outra de 600 toneladas, que então, fazia o transpor- forma, seriam destruídas inutilmente na quei- tefirma de madeiras Augusto depara Freitas, o Rio deum Janeiro, vapor cargueiro trazendo de lá mercadorias para a colônia. Mais tarde, umas vinte serras alternativas, usando o siste- o vapor foi substituído por um veleiro de igual ma Tissotdas roças. para Mandou, o desdobro para de esse toras, fim, na instalar forma tonelagem. Outro grande projeto que chegou de madeira serrada, e concedendo os respec- a realizar-se, foi o da montagem de uma usi- tivos créditos aos colonos interessados. As tá- na elétrica, plano este que prova, pela execu- 136 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

ção, quão profunda era a compreensão de Sr. econômicas de Brusque e dos municípios Bauer diante das necessidades que vinham se vizinhos. Algumas de suas concepções fo- impondo, cabendo-lhe o mérito de iniciador ram produtivas, sendo realizadas por outros; umas poucas ele mesmo pôde executar com de Brusque, que lhe devem também, e em boa parte,da eletrificação abastecimento das fábricas de água e encanada. da iluminação de transição de predomínio da venda para o Esses empreendimentos desenvolveram- dasucesso. indústria. João NãoBauer conseguiu é a figura criar típica uma da indúsépoca- se satisfatoriamente; em vários outros João tria, mas foi inalcançável em suas tentativas Bauer foi menos feliz. Em 1900, fundou, em de encontrar novas soluções para o problema Itajaí, uma cervejaria que fabricava cerveja industrial. de alta fermentação. O produto, porém, não A tarefa de realizar a transição coube a correspondeu às expectativas, e a fábrica teve Carlos Renaux, que, em 1890, era proprietá- de fechar. As jazidas de mármore em Cambo- rio de uma venda que ocupava o quarto lu- riú, que hoje estão sendo exploradas, foram gar na sede do município. E essa evolução do descobertas por João Bauer, faltando-lhe, en- município para uma forma mais aperfeiçoada tretanto, o capital para realizar os planos res- de sua existência – convêm sublinhar o fato petivos. Foi ele também o autor intelectual da – não seria possível, se o sistema da colônia fabricação de féculas no município de Brus- e da venda não tivesse assentado as bases que. E em 1913 encomendara, na Alemanha, (BUGGENHAGEN, 1941). E não seria exagero o maquinário necessário para a fabricação. A Guerra Mundial impediu a execução do pro- características de um empreendedor de su- jeto. A vida de João Bauer caracteriza-se pela cesso:afirmar iniciativa, que João capacidadeBauer reunia de asplanejamen principais- atividade interrupta. Viajando muito, adqui- rira profundo conhecimento das condições resiliência. to, autoconfiança, liderança, perseverança e Usina de energia elétri- ca instalada por João Bauer (de terno preto) em Guabiruba impulsi- nou a indústria têxtil de Brusque. Acervo: SAB

137 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz oferecia uma oportunidade, A indústria imagens congeladas pelos re- muitos estavam prontos a abandonar o trabalho na roça. da moda conhecer um pouco da moda Havia, pois, o que era impres- detratos cada fotográficos período e éfoi possível a par- cindível para dar início a uma A evolução econômica de nova etapa econômica. Brus- Brusque não passou só pela brusquenses que Betta fez um que, tendo começado como atividade agrícola, pela rela- comparativotir de fotografias com daso vestuário famílias colônia estatal, teve maiores ção entre os colonos e os ven- em voga ilustrado em revistas - deiros e pela indústria têxtil, e a moda que esteve presente volver economicamente do também existem outros ele- na Colônia Itajahy-Brusque já quedificuldades a vizinha paraBlumenau, se desen uma - nos primeiros tempos. E cons- sentes. Um deles é a chamada colônia particular. Mas os da- mentos que se fizeram pre tatou que não apenas as mu- dos indicam que, tanto aqui “Indústria da Moda”. A histo- lheres e as crianças, mas tam- quanto lá, os comerciantes de riadora Edineia Pereira da Sil- bém os homens em Brusque maior porte eram imigrantes va Betta (2013), ao escrever tinham cuidado com o visual. alemães, principalmente os sobre a história da moda, diz Estavam sempre alinhados luteranos, e foram eles que que entre revistas e retratos, e sérios já que, no período, assentaram as bases para o a moda permeava Brusque a atenção se voltava para as desenvolvimento da indústria no século XIX. Segundo ela, mulheres. A moda para os ho- têxtil. o constante contato com a mens estava atrelada ao com- E, dada a relevância histó- Europa colocou a cidade em portamento. O século XIX foi rica da indústria têxtil para a situação privilegiada. Diver- o período de ascensão para a economia de Brusque, o tema sos produtos tinham que ser burguesia, que se destacava, é abordado em capítulo pró- importados. Entre eles, as fa- uma vez que mais e mais pes- prio. Brusque vivia um mo- zendas, como eram chamados soas se dedicavam ao comér- mento de superação de uma os tecidos e os aviamentos, cio e às fábricas. atividade econômica exclusi- que vinham acompanhados Entre os colonos e diversas vamente rural. de cartões postais, revistas de - - moda e cartas. O que permitia ros os mais bem-sucedidos de estudioso João José Leal que os modelos confecciona- naprofissões, Colônia, foram eram os grandes vendei (2012),Como “aos bem poucos, afirmou as o mãosgran dos na Colônia se aproximas- responsáveis pela economia calejadas dos colonos aban- sem daqueles que, no perí- e pela transição da Brusque donaram o machado, a en- odo, estavam fazendo moda agrícola para a Brusque in- xada, a pá, a foice, para lidar na Europa. A moda é efême- com espulas e lançadeiras e ra. Nasce, vive rapidamente, XIX, quando começamos a ter produzir o tecido, novo sím- dá frutos de beleza e morre. asdustrial. indústrias No finaltêxteis, do as século ven- bolo da riqueza desta comu- das que mais se destacavam diversos elementos presentes nidade, emergindo no contex- Betta conseguiu identificar eram os Krieger, os Buettner, to catarinense como o

138da fiação>”. Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

realidade entre os comer- os empreendimentos Renaux ciantes mais abastados e suas e visitar a família, contratava famílias. Essas eram oportu- nidades para, além de visitar Gustavo Krieger para confec- parentes, também participar cionaros serviços seus elegantes profissionais ternos. de de feiras, exposições e tratar Na Exposição Nacional, re- de negócios. E, na volta, tra- alizada no Rio de Janeiro em zer novas ideias para desen- 1908, Brusque foi destaque volver a indústria e o comér- com seus tecidos de algodão, cio brusquenses. meias, rendas e bordados e No que se refere à indús- outros produtos, conquis- tria do vestuário em Brusque, tando três grandes prêmios, destaca-se o pioneirismo da 13 medalhas de ouro, 14 de Alfaiataria Krieger, fundada prata e 14 de bronze (Kons, em 1898, que iniciou sob a 2018). Já em meados do sé- denominação de Alfaiataria culo XX, outro elemento de Elegante e, com o passar do destaque eram as máquinas tempo, se tornou uma co- de costura, verdadeiro obje- nhecida confecção. O empre- to de desejo das mulheres. endimento foi uma iniciativa Betta (2013) escreve que a de Gustavo Krieger que, de- moda brusquense estava em comum acordo com a moda em Florianópolis, começa a apresentada no país. Além de pois de aprender a profissão importantes revistas, a cida- abrindo o seu próprio negó- de promovia cursos de moda ciotrabalhar em Brusque. como Na profissional, alfaiataria às mulheres, como os cursos eram desenvolvidos ternos de corte e costura, que ofere- sob medida e Gustavo Krie- ciam as ferramentas necessá- ger se tornou conhecido pela rias para a confecção do pró- perfeição na confecção de prio vestuário. Ao longo da ternos. Ele se inspirava em história, dos corredores das fábricas, os tecidos foram às da qualidade dos seus servi- passarelas da moda. Depois çosfigurinos era tamanha europeus que e aCarlos fama vieram as feiras exclusivas Renaux, mesmo no tempo em para o setor têxtil e a Festa que era Cônsul do Brasil em do Tecido, que também mo- Baden-Baden, em que tinha à bilizavam a cidade com des- disposição o serviço de alfaia- tes europeus, quando vinha desenvolvimentista deu-se files de moda. Novo impulso Desfile de moda em Brusque. Acervo: SAB a Brusque para acompanhar a partir de 1980, através da 139 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz implantação da indústria de rado em 1º/08/1971, pelo recebendo melhorias, via- malhas, quando inúmeras presidente da Fiesc, Carlos bilizando cada vez mais o empresas do ramo de confec- Cid Renaux. transporte rodoviário, que ções se instalaram em Brus- na década de 1930 já contava que, provocando verdadeira Desenvolvimento com linhas regulares de cami- revolução econômica, à medi- nhões e ônibus. da que dezenas de operários econômico e meios Entre os meios de trans- têxteis passaram à condição de transporte porte do incipiente núcleo de empresários, descentrali- urbano, continua Engel, o zando a renda. Nos primeiros anos, o predomínio era das carroças Kons (2018) conta que, transporte na nascente Co- e dos carros de mola, pela via após a Primeira Guerra Mun- lônia Itajahy-Brusque se dá terrestre, e das lanchas, atra- dial, dois fatores conjunturais pelos rios e ribeirões. O co- vés do rio. Os raros automó- favoreceram o processo in- mércio, representado pelas veis pertenciam aos membros dustrial de Brusque: a ques- vendas, se instalava junto à da elite econômica. No tempo administração da colônia e ao da Brusque agrícola, os meios a liberação da demanda, no de transporte se resumiam às mercadotão da inflação mundial, brasileira de produ e- Ali aportavam os barcos, as carroças e aos carros de mola, tos que haviam sofrido retra- canoasporto fluvial. e lanchas que visavam pela via terrestre, e às lan- ção no consumo, motivada o abastecimento da popula- chas, através do rio. pela abrangência da guerra. À medida que, impulsio- E assim, em 27/04/1925, foi Itajahy-Brusque, ou a saída nada pelas características da fundada a empresa Indústrias dosção queprodutos se fixava para na Colôniao por- mentalidade do colonizador Renaux S.A. (na atualidade to marítimo, em Itajaí, bem alemão luterano “protestan- RenauxView), numa iniciativa como o transporte de pes- te, espírito empresarial, co- de Otto Renaux, Otto Nietsch soas. Aos poucos vão sendo nhecimento técnico, pionei- abertas picadas e construídas rismo. (...), cuja mentalidade da década de 1960, a empresa as estradas, e o transporte já se relaciona com a entrada foie outros uma das sócios principais e, até oforne final- começa a ser feito também no capitalismo industrial na cedoras nacionais de tecidos com carroças e aranhas (uma Alemanha” (SOUTO, 2000, ci- para estofamentos, cortinas, espécie de carroça, com ape- tado por Engel, 2010, p. 82), a toalhas de mesa e outras nas duas rodas, puxada por cidade deixa de ser agrícola e aplicações domésticas. Outra um cavalo), mas o transporte passa para a fase industrial, e iniciativa que teve grande im- pelo rio, embora com menor então vamos presenciar tam- portância na transformação intensidade, continua sendo bém a evolução no sistema da indústria têxtil de Brusque usado até 1922. de transporte. E os teares que e região foi o Centro de Trei- O ilustre pesquisador Ri- ergueram e sustentaram o namento Têxtil de Brusque, cardo José Engel (2010) in- desenvolvimento de Brusque, com o Laboratório de Fiação forma que, aos poucos, as - estradas de rodagem iam desenvolvimento econômico também vão se refletir no 140e Tecelagem – Lafite, inaugu Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

150 empregados. Buettner: 60 empregados. Tietzmann: 30 empregados. E o relatório de gestão referente ao exer- cício de 1919 dá conta que a população era de 10.800 ha- bitantes e a viação era assim distribuída: Veículos: 3 auto- móveis; Carroças: 357 par- ticulares, puxadas por 2 ou 4 animais, 44 comerciais, 13 carretões, 14 carros de mola de aluguel, 29 carros de mola particulares, 7 bicicletas, 2 aranhas e 4 lanchas peruas. Nas primeiras décadas do século XX da história do povo brusquense, a bicicleta cons- tituía um artigo de luxo, con- siderando que para adquirir As primeiras bicicletas de Brusque eram um luxo uma, era necessário ter um caro, sinônimo de status. Acervo: SAB bom dinheiro. Todas eram das famílias. aluguel, um automóvel parti- importadas, principalmente A partir de 1910, Brusque cular (pertencente a Augusto da Alemanha. Por essa razão, começa a receber bicicletas, - as primeiras bicicletas a des- originárias da Alemanha e da deiro João Bauer, casado com Bauer, filho do grande ven pertenciam às famílias de me- face da origem dos imigrantes Carlos Renaux), um carro de lhorfilar renda pelas ou ruas posse, de tendo Brusque lu- colonizadoresItália, o que seda justifica nossa emre- aluguela filha do(Guilherme grande industrialNiebuhr: gar de destaque uma vez que gião. E a chegada das primei- linha Brusque-Florianópolis), sinalizam a condição de abas- ras bicicletas guarda estreita e oito exemplares de bicicleta. tança na vida social. Pedalar relação com o processo de À medida que a indústria era sinônimo de status privi- desenvolvimento da cidade. ia impactando no desenvol- legiado, um luxo caro, mate- No início, ter uma bici- vimento econômico de Brus- rializando um privilégio para cleta era o equivalente a ter que, também iam melhorando o cidadão brusquense. um carro de luxo e, em 1915, as condições de transporte. E, à medida que a cidade Brusque tinha cerca de dez Engel (2010) escreve que, crescia, tanto em termos de bicicletas. Em 1917 podiam em 1919, o número de ope- desenvolvimento econômico ser contados 18 carros de rários das principais fábri- quanto populacional, o núme- mola particulares e seis de cas era o seguinte: Renaux: ro de bicicletas apresentava 141 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz maior expressão, mas ainda davia, nas décadas seguintes, REFERÊNCIAS estava longe de ser o princi- pal meio de transporte da ci- finaliza Engel. BETTA, Edineia Pereira da dade. Mas logo se tornou um O início Silva (organizadora). Frag- destacado meio de transpor- da indústria mentos da História da Moda e te, utilizado, inclusive, pelos do Têxtil em Brusque. Edito- proprietários das indústrias metalúrgica ra Município Dia a Dia, 2013. têxteis, um deles é o indus- BUGGENHAGEN, E. A. von. Concomitante ao desenvol- História Econômica no Muni- velho de Carlos Renaux), que vimento econômico impulsio- cípio de Brusque e a obra do trial Otto Renaux (filho mais saía de casa para trabalhar, no nado pelo segmento têxtil, a Cônsul Carlos Renaux. [SI]. centro de Brusque, às 4h30 ampliação do panorama in- Brusque, 1941. Não publica- dustrial de Brusque se dá a da manhã e ia de bicicleta até do. partir dos anos 60, com a in- a fábrica, na rua Pomerânia ENGEL. Ricardo José. Pe- serção do setor metalúrgico (atual rua 1º de maio). dalando pelo tempo: história na economia local. A partir da Segunda Guer- da bicicleta em Brusque. Ita- De acordo com o historia- ra Mundial, no aspecto eco- jaí: S&T Editores. 2010. dor Kons (2018), graças à ex- nômico Brusque passa a ser KONS, Paulo Vendelino. periência adquirida no ramo marcada efetivamente pela Síntese história econômica predominância das ativida- têxtil em função da proibição à importação de maquinário de Brusque. Disponível em:< des industriais sobre as ati- https://rc.am.br/homes/ vidades agrícolas. As indús- durante a guerra, fazendo com que se desenvolvessem page_noticia/id_45839/>. trias se expandem, o número soluções locais para o conser- Acesso em 9 setembro 2018. de empregos aumenta, e o to das peças faltantes, e até LEAL, João José. Inaugura- povo precisava de um meio mesmo a criar maquinários, ção da Primeira Ponte sobre de transporte barato, resis- inaugurando um novo e prós- o Rio Itajaí-Mirim: Crônica tente e econômico para se pero ramo dentro da indús- sobre um Fato que Marcou deslocar até o trabalho. A bi- tria brusquense. Instalam-se a Vida Econômica, Política e cicleta desponta como uma em nossa cidade as metalúr- Social de Brusque. Notícias solução possível. Aumentou o gicas Siemsen, Brusque, Ir- de Vicente Só. Ano 12, nº 59. consumo de bicicletas. Se an- mãos Fischer, e outras. A Ir- 2012. tes somente as famílias ricas mãos Zen, fundada em São SEYFERTH, Giralda. A co- tinham acesso às bicicletas, Paulo em 1960, transferiu-se lonização alemã no vale do agora também as classes as- para Brusque em meados da Itajaí-Mirim. Um estudo de salariadas haviam adquirido década de 1970. O ramo me- desenvolvimento econômi- poder de compra e andar de talúrgico atua na área auto- co. Editora Movimento. Porto bicicleta passa a ser um tra- mobilística, eletrodoméstica, Alegre. 1974. ço permanente da mobilida- construção civil, máquinas de de brusquense nos anos de processamento gerais, fundi- 1950-1960, esvaindo-se, to- ção e serralheria. 142 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Carlos Renaux com a esposa Selma Wagner e os filhos do casal. Acervo: Rosemari Glatz A indústria têxtil em Brusque Brusque é conhecida como Brusque umas serrarias ins- provinha da roça. Não eram “Berço da Fiação Catarinen- taladas por comerciantes de indústrias propriamente di- Itajaí, e após 1860 surgiram tas, cujas produções em lar- Renaux foi a primeira insta- vários empreendimentos que ga escala independessem ladase”, poisem Santa a fiação Catarina. de Carlos Tam- - das quantidades limitadas de bém foi em Brusque que teve mento e conservação de pro- matérias-primas, de cada vez início um dos maiores polos dutos,se ocupavam de preferência, com o beneficia agrí- disponíveis na mesma praça, têxteis do estado e do Brasil, colas. Mas todos eles tinham por tê-las garantidas em ou- nascido a partir do último o caráter de improvisações. tras partes. A primeira inicia- decêndio do século XIX. Ante- Funcionavam sem grande ca- tiva no segmento têxtil coube riormente já houvera empre- pital, simplesmente porque à família Bauer, seguido dos endimentos tendentes para o a matéria-prima abundava - ramo industrial. Mesmo antes te, da família Schlösser, res- do início da colonização já ha- Paravam quando começava ponsáveisRenaux, Buettner pelo novo e, finalmen impulso viam funcionado na zona de ae faltar exigia a um matéria-prima beneficiamento. que econômico dado à região. 143 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Só nos dois últimos decê- to oposicionista contra as Em agosto de 1869 nios do século XIX, ou seja, minorias alemãs. O pan-esla- algumas famílias polo- uns 20 a 30 anos depois da vismo, que foi um movimen- nesas já haviam se esta- fundação da colônia, é que a to político e sociocultural do belecido em Brusque, o economia de Brusque havia século XIX, estava em alta que, anos depois, rendeu atingido um grau de adianta- naquele tempo; o que era de à cidade o título de “Berço mento que permitia a criação origem alemã era olhado de da Imigração Polonesa no de uma indústria. Era indis- esguelha, no império dos cza- Brasil”. Mas os que efetiva- pensável para tanto a exis- res. As autoridades russas, mente contribuíram para tência de capital e de braços. por si impotentes contra a mi- a transição da Brusque O que era preciso havia-o, na noria alemã que era laboriosa agrícola para a Brusque Brusque de então, em modes- e industrialmente ativa, con- industrial foram os que ta escala. Os vendeiros tinham ceberam o plano de contra- vieram entre 1889 e feito bons negócios, chegando por-lhes os judeus, processo 1896, entre eles os a fazer algumas economias. que surtiu o efeito desejado. “Tecelões de Lodz”. A população da colônia tinha Com as manobras da praxe aumentado o bastante. Nem comercial, recomendada por Brusque, orientada, até então, todos os imigrados que se ha- Aschkenasim, a situação dos para o trabalho na lavoura. viam inicialmente dedicado alemães da região de Lodz - à lavoura, desejavam conti- foi piorando de maneira tal, mente provenientes da Polô- nuar nessa ocupação. Se lhes levando-as a emigrar a partir nia,Esses que imigrantes, era então geografica província oferecia uma oportunidade, de 1880. da Rússia, eram, na verdade, muitos estavam prontos a Buggenhagen (1941) con- tecelões da Silésia e da Saxô- abandonar o trabalho na roça. ta que em 1889 tinham emi- nia, ali radicados desde o sé- Havia, pois, o que era impres- grado, para o Brasil, vários culo XVIII, atraídos pelo go- cindível. tecelões da região de Lodz, verno russo para iniciar, na na Polônia. A pequena turma região, a atividade têxtil. Em daqueles imigrantes de Lodz Os tecelões decorrência disso, em Lodz, que aportou a Brusque estava Ozorkow, Zgierz e adjacên- de Lodz resolvida a exercer, também cias, a indústria têxtil do algo- dão desenvolveu-se acentu- O início da atividade fabril não eram adeptos do trabalho adamente. Com a adaptação em Brusque deve-se a um naaqui, roça. o ofício Dentre de tecelão,eles, vamos pois dos teares manuais para en- pequeno grupo de pessoas encontrar os Haacke, Hartke, grenagens mecânicas, depois vindas da região de Lodz. Os Kreibich, Petermann, Wilke, de 1853, os tecidos de Lodz “tecelões de Lodz”, como são Yescke e Yankowsky, mes- entraram sempre mais em rememorados localmente os tres na arte da tecelagem. Os concorrência com a produção artesãos poloneses, foram os Schlösser chegam mais tarde, de Moscou, o que motivou, a responsáveis pelo treinamen- em 1896 e já vêm contratados partir de 1875, um movimen- to inicial da mão de obra em para trabalhar na Fábrica Re- 144 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história naux. Eram todos “auslands- 1890: Bauer tas, foi Carlos Renaux, emi- deuctche”, assim chamados os grado da Alemanha em 1882 imigrantes alemães que esta- A primeira tentativa de e que, depois de uma rápida vam estabelecidos em territó- produção de tecidos no muni- passagem por Blumenau, em rio polonês. cípio se desenvolveu com aju- 1884 viera estabelecer-se em O fato, porém, de ter surgi- da dos imigrantes poloneses, Brusque. O jovem negociante do uma indústria, e, sobretu- os conhecidos “tecelões de adotou e fez adotar no comér- do, uma indústria têxtil, deve- Lodz”. Foi uma iniciativa do cio das vendas da pequena se a um acaso. imigrante alemão João Bauer, praça, princípios até então A historiadora Maria Luiza nascido na Baviera que havia desconhecidos. Ele acabou Renaux (2010) escreveu que se estabelecido com a família com o sistema de troca entre inicialmente o trabalho dos na região de Guabiruba, que colonos e vendeiros, único tecelões poloneses em Brus- pertencia à Colônia Brusque. então em uso, adotando para que era doméstico. Em teares Após a morte do pai, João grande parte de suas transa- simples de madeira construí- Bauer se mudou para Brus- ções a base da moeda corren- dos por eles próprios, teciam que e montou uma pequena te. A venda de Carlos Renaux - loja. Comerciante e industrial foi aumentando cada vez ciantes e, depois, revendiam bem-sucedido, era dono de fios fornecidos pelos comer o pano pronto. Yankowsky, muitos empreendimentos, e de sorte que, em menos de mais a afluência da freguesia, Kreibich e Petermann se es- foi pessoa atuante na comuni- dez anos, conseguira os meios tabeleceram em terras no in- dade e na política. Em 1890, que o habilitariam a estudar a terior de Brusque, acima do Bauer fez a primeira experi- realização de uma proposta, centro de Guabiruba, no lugar como a que lhe haviam sub- chamado Sibéria. tecelagem em Brusque, mas metido os “tecelões de Lodz”. Tietzmann esteve primei- oência empreendimento de indústria de têxtil fiação não e Se a venda por si não dispu- ro em Blumenau, como tece- teve sequência. nha de bastante capital, em compensação seu proprietá- veio para Brusque, produziu rio gozava do crédito pessoal tecidoslão da firmapara Hering.Carlos Renaux Depois 1892: Renaux que tinha de negociantes ri- em sua própria casa, até que, cos, e assim, em 1892, Carlos De acordo com Buggenha- - para abrir uma fábrica de ar- gen (1941), é provável que os ma individual, uma pequena tigosmais tarde,de malha este noo financiasse centro da imigrantes alemães da região fábricaRenaux de instalou, tecidos. sob Eram sua seus fir cidade. de Lodz tenham exposto a sócios Paul Hoepcke, irmão Os demais poloneses, que- uma ou outra pessoa do lugar de Karl Hoepcke, do fundador rendo transformar o caráter o seu projeto de fundar uma artesanal e doméstico de seu fábrica de tecidos, mas quem e August Klapoth. Um e outro trabalho, procuraram Carlos lhes compreendeu o alcance retiraram-se,da conhecida firmamais comercial,tarde, da Renaux para que este consti- do plano e estava disposto a ir empresa. Na estrada dos Po- tuísse uma fábrica de tecidos. ao encontro de suas propos- meranos, Renaux adquiriu 145 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fábrica Renaux na avenida 1º de Maio no início do seculo XX . Acervo: Rosemari Glatz um terreno, o mesmo onde campo, ao ar livre, expostos hoje ainda se encontra a an- às inclemências da chuva e do da Europa. A importação re- tiga fábrica. Não demorou a sol. Mal estavam montadas as presentavanuais. Os fios já vinham por si um tingidos ônus compra de 30 teares usados máquinas, quando surgiram bastante gravoso para o custo e antiquados, na Inglaterra, dos produtos. metrópole da indústria têxtil, maior evidência. Não eram No princípio, a fábrica pro- os quais foram embarcados somenteas dificuldades os problemas do início, pura com- duzia somente artigos sim- num vapor para serem trans- mente técnicos que criavam ples, de acordo com as insta- portados para o Brasil. lações imperfeitas. Eram os A princípio, tudo parecia operários práticos, na colônia. chamados “suíços” que com- falhar. A chegada das máqui- Osdificuldades. tecelões de Havia Lodz faltativeram de preendiam o algodão xadrez nas a Itajaí coincidiu com a que fazer um esforço espe- vermelho e branco e os risca- revolta contra Floriano Pei- cial para encaminhar para o dos para camisas e calças para trabalho na tecelagem os ho- homens, destinados ao con- a vida econômica e os servi- mens acostumados aos traba- sumo das colônias. Essa espé- çosxoto, de ficando transportes paralisada do país.toda lhos da lavoura. O maquinário cie de fabricados também era, Os teares que, justamente se era incompleto, certos pro- talvez, a única que poderia achavam no caminho de Ita- cessos maquinais tinham que ser vendida, na praça, com al- - ser substituídos de maneira guma probabilidade de êxito. gum tempo abandonados no primitiva, por operações ma- Os colonos não podiam deixar jaí para Brusque, ficaram al 146 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história de comprá-la, e, em compara- Não fosse a extraordinária ção à concorrência estrangei- Emilie Abel Haacke, co- tenacidade de seu fundador, nhecida em Brusque como ra, o artigo fabricado na praça ela teria fechado as portas, “Mutter Haacke” compu- levava vantagem tanto pelo logo no princípio, diante da nha o grupo de imigrantes gosto do comprador, como aqui chamados de “tecelões força das circunstâncias ani- pela utilidade prática do te- de Lodz”. Foi um elemen- quiladoras. Renaux resistiu cido, particularidades estas to muito importante nos até o extremo sem esmorecer, que os fabricantes do lugar primórdios da industriali- conseguindo, dessa forma, conheciam melhor do que os zação na região porque ela, acomodar, paulatinamente, do estrangeiro. Como, porém, além de contribuir com seu tudo às circunstâncias e ad- os produtos têxteis produzi- próprio trabalho, ensinava quirir a prática de que carecia às novatas o mecanismo da dos em Brusque não podiam no início. A fábrica, tal como fiação. Devido à sua impor- concorrer com os preços bai- se apresentava em 1900, não tância dentro da indústria, xos do artigo estrangeiro, Re- ela tinha o privilégio de era uma empresa robusta; re- naux muitas vezes precisou amamentar seus filhos nas sistira, apenas, às perigosas mandar vender seus tecidos dependências do emprego, moléstias da primeira idade e nas próprias zonas rurais por coisa incomum naquele prometia, para o futuro, algu- empregados que iam com tempo (RENAUX, 1995). ma esperança de melhoras. suas carroças de lote em lote, O ano de 1900 marca uma oferecendo-os a preços com- de capital. A soma empatada nova etapa no desenvolvimen- pensadores aos colonos que na montagem da fábrica foi - desconheciam os preços do muito além do orçamento, de tos, a situação começou a me- mercado. sorte que parecia impossível lhorar,to da firma. embora Sob perdurassemvários aspec cobrir regularmente as des- ainda por muito tempo certas venda, frequentemente a fá- pesas de movimento. A venda Devido às dificuldades de- Renaux não produzia os lu- primeiramente, a tarefa de zes, durante semanas. Essa cros necessários para suprir a assegurar,dificuldades. com Coube o acréscimo a Renaux, circunstânciabrica ficava parada, se fazia e àssentir ve de seu capital, as bases de sua desagradavelmente na ques- e para mantê-la em movimen- empresa. Convencera-se ele tão da conservação de uma to,escassez era preciso financeira recorrer da fábrica a em- que, numa praça como a de turma de operários experi- préstimos temporários, feitos Brusque, não poderia vingar mentados. Ainda segundo Bu- por amigos, e aos créditos a fábrica de tecelagem sem ggenhagen (1941), o fato de concedidos pelos fornecedo- achar-se a colônia em pleno a nova fábrica tinha um quê A.possuir O. de Freitas, a sua própria de Hamburgo, fiação. condições de vencer os em- deres grotesco de fios. De no 1892 meio até dos 1900, con- aPor montagem essa razão de propôs uma àfábrica firma baraçosflorescimento, criados foi pela o que falta criou dos tratempos em que se debatia, - salários. O maior empecilho tanto que não se poderia ima- - do desenvolvimento da em- ginar sua existência, senão didode fiação. de algumas Aprovado máquinas esse pla de presa era, no entanto, a falta longe dos grandes centros. no, a firma Freitas fez um pe

fiação com um total de 1.000147 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

pletando-se dessa maneira, Durante a Guerra Mundial ele de Oldham, Inglaterra. Em organicamente a instalação. O comprou parte do algodão ne- fusos1900, àmontada firma Platt a fábrica, Bros & não Co, tingimento processava-se de cessário na América do Norte. tardaram a surgir as mesmas uma forma primitiva. Tingia- Além dos embaraços criados pela nova matéria-prima, já - em cordões e as opções de por si desagradáveis, sentia- posdificuldades da fábrica que de tecidos. se haviam coresse em eram cubas poucas. os fios Entretan torcidos- se sobretudo a já crônica fal- verificadoA experimentação nos primeiros indis tem- to, é de constatar que, até a ta de capital para a cobertura pensável das máquinas, fun- época após a Guerra Mundial, das despesas de movimento cionando ainda sem o ma- os êxitos da fábrica não foram e para a aquisição de um ma- terial de fabricação, levou muito satisfatórios, devido às quinário têxtil moderno. Na pouco tempo, mas depois foi circunstâncias contrárias já expansão do mercado tudo preciso iniciar a produção de citadas. dependia da qualidade dos - produtos. Os da fábrica Re- tinham visto uma máquina de culdade, a de conseguir o al- naux não podiam rivalizar fios com homens que nunca godãoNascera, apropriado. porém, Buggenha nova difi- com a mercadoria estrangeira manejado. Além disso, havia gen conta que antes de 1914 em padrões e apresentação. asfiação questões e menos climáticas, ainda haviam ora ainda não se produzia algo- Distinguiam-se, porém, entre muito úmido, ora muito seco. dão no estado de São Paulo, os produtos nacionais, pelos A preparação inicial do algo- sendo plantado, apenas no preços módicos e a qualidade norte do Brasil. Esta tinha as superior, e, sobretudo, pela ser feita à mão, por falta das - máquinasdão para aapropriadas. fiação tinha O queal- as, de sorte que se fazia mis- cores vermelha e preta criou godão era pesado em peque- terfibras uma bastante segunda heterogênepreparação aboa fama coloração dos tecidos fixa queRenaux. nas nas balanças. Só aos poucos, - A freguesia do artigo compu- tudo foi se acomodando e os to prejudicada a capacidade nha-se, até então, principal- operários foram se habituan- produtorana fiação. Ficou,da fábrica. assim, Acres mui- mente de caboclos e colonos do ao manejo das máquinas. cia que o algodão era forne- que trabalhavam no campo. cido em estado sujo e cober- Buggenhagen (1941) in- foi a primeira instalada em to de areia, resultando numa forma que um quadro com- SantaA fábrica Catarina. de fiação Prestara-se de Renaux percentagem relativamente parativo demonstra que en- um serviço extraordinário alta de resíduos. O comércio tre os anos de 1900 até 1918, com essa instalação, pois de- de tipos de algodão ainda se ra-se, assim, uma base segu- achava nos começos, e, na lucros nas indústrias Renaux; - emboraefetivamente, não tenham se verificaram sido ex- - ça. Renaux comprava a ma- cessivos. A Guerra Mundial portadosra à fiação a preço que pôde, muito desde mais téria-prima,prática, não mereciade preferência, confian também não pôde dar impul- elevados.então, dispensar Alguns anos os fios depois, im - so especial à novel indústria, laender que tinha seus agen- porque o poder aquisitivo uma seção de tinturaria, com- tespor intermédiocompradores da firmano Norte. Uss da população rural se acha- anexou-se à fiação Renaux 148 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história va bastante reduzido. Mas, mais velho do casal, Edgar, e De acordo com Renaux mesmo assim, a Renaux con- guarda relação com a produ- (2010), graças ao empenho seguiu liquidar, em 1917, os ção artesanal de aventais por pela qualidade, a partir de Albertine, toalhas de mesa, 1906 novas oportunidades O. de Freitas, de Hamburgo, colchas e cortinas bordadas foram surgindo para a Buett- quegrandes continuavam créditos daconsumin firma A.- com máquinas à manivela por ner, que teve seus artigos es- do os lucros da empresa, pre- peciais, as cortinas bordadas, judicando o seu progresso. A origem da empresa encomendadas para as re- Deve-se esse resultado, antes BuettnerIdalina, esposa guarda do filho relação Edgar. partições públicas do Rio de de tudo, à tenacidade e perse- com a produção artesanal de Janeiro (Palácio Monroe, Rio verança de Renaux, seguido aventais e toalhas bordadas. Negro, do Catete, Biblioteca pela boa qualidade dos seus Albertine foi quem iniciou a Nacional). Depois no merca- produtos e, fator não menos primeira confecção em Brus- do local, que se estendeu pelo importante: a feliz escolha que: talhava pessoalmente estado. O primeiro absorve- dos seus colaboradores. aventais que mandava costu- dor dos tecidos bordados foi rar por mulheres costureiras o Rio de Janeiro e, no Nordes- 1898: Buettner da vila. te, a Bahia. Quando Eduard, seu espo- Seu mercado era constitu- A segunda manufatura têx- so, desviveu, Albertine pre- ído principalmente por pes- til de Brusque foi uma empre- cisou tomar as rédeas dos soas abastadas, mas também negócios da família. Com seu pela classe média, atendendo Buettner e Cia.”, que durante - ao costume de presentear as sa de bordados finos, a “E. v. dou a E.v.Buettner e Cia., com - algum tempo manteve em pa- filho mais velho, Edgar, fun ralelo aos negócios têxteis o a importação de armações das para o enxoval. Certo tipo para sombrinhas – proteção defilhas mercadoria com guarnições era também borda coloniais. Em 1873 Eduard imprescindível das peles cla- despachado para a Alema- vonbeneficiamento Buettner havia de se produtos mudado ras das mulheres europeias nha, constando como atraen- para Brusque com a família, em nosso país tropical - as tes os motivos brasileiros nos onde foi proprietário de uma quais então eram forradas padrões. Com a expansão do loja de fazendas, secos e mo- mercado, o estabelecimento – e bordadas com as máqui- fabril consolidou-se, deixan- lhados e armarinhos, além de com filó – também importado torrefação e moagem de café nas à manivela, trazidas por do de depender dos altos cré- e serrarias. A “E. v. Buettner - ditos particulares. Em 1912 a e Cia.”, precursora da Buett- manha, e instaladas em 1900. - Aseu empresa filho mais começou velho pequena, da Ale tico itajaiense Lauro Müller, ner S/A Indústria e Comércio, firma, sob influência do polí surgiu em 1898, fundada por com duas máquinas a pedal então Ministro das Relações Albertine Burow, esposa do nas quais se confeccionava Exteriores, obteve o primeiro vendeiro Eduard von Buett- sombrinhas, aventais, corti- crédito bancário. Os borda- nas, mosquiteiros e pano de dos da fábrica Buettner foram bordar. várias vezes premiados em ner, em sociedade com o filho 149 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Fábrica da Buettner, localizada onde hoje está a Praça Sesquicentenário. Acervo: Rosemari Glatz exposições no Brasil e no ex- quais foram instaladas e de- 1911: Schlösser terior. A guerra traria mudan- ram início à produção de te- ças na organização interna da A terceira grande empresa - têxtil a iniciar operações em cidos mais sofisticados, como sou para o ramo da tecelagem, mosquiteiros. O ano de 1922 Brusque e se consolidar no firma que, lentamente, pas étamines, rendados e filó para sem, contudo, abandonar os é considerado o ano da gran- mercado, pertencente à pri- bordados. Dois teares foram meira fase da industrialização adquiridos para a fabricação transforma em sociedade de do Vale do Itajaí-Mirim, foi a de ofensiva têxtil e a firma se de tecidos e a atividade têx- capital e indústria com a ra- Gustav Schlösser & Filhos, til teve início em 1915 com zão social de “E.v. Buettner & fundada em 1911 por Gus- a instalação de uma pequena Cia.”. tav Schlösser, um tecelão de tecelagem, branqueamento e - nha de produção tornou-se e Adolph. A diversificação da sua li - uma constante e a empresa Lodz,Gustav e seus Schlösser, dois filhos, o Hugofun- tinturaria do fio, objetivando tentes, como falta de mão de tomou grande impulso. Mo- dador, chegou a Brusque em suprir as dificuldades exis obra especializada e alto cus- dernizando ainda mais suas 1896, contratado como técni- to do material importado. instalações e ampliando con- co têxtil na Fábrica de Tecidos Após o término da Primei- tinuamente os seus negócios, Carlos Renaux. Antes de emi- ra Guerra Mundial, Edgar Von a empresa teve grande ascen- grar para o Brasil, em 1890, Buettner viajou à Alemanha são e se transformou numa Schlösser estudou no grupo e adquiriu novas máquinas das três principais indústrias especial da tecelagem da Es- para tecelagem de algodão, as têxteis de Brusque. cola Estadual da Indústria na 150 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Monarquia Austro-Húngara ser haviam trabalhado como Adolph voltaram a trabalhar em Bielsko (Bielitz) – escola tecelões na fábrica de Re- juntos em Brusque, desta técnica têxtil, no Sul da Po- naux. Em 1908, Hugo e Adol- vez por conta própria, uma lônia, que então estava sob ph estiveram entre fevereiro pequena tecelagem com a o domínio da Áustria, onde e agosto no Rio de Janeiro denominação de “Gustavo se formou técnico no ano de trabalhando no mesmo ramo Schlösser & Filhos”. O capital 1891. Por intermédio de um inicial era de seis contos. A agente que contratava pesso- Prinz & Cia. Decididos a vol- tecelagem iniciou com dois as especializadas como técni- tarpara para uma Brusque, firma deainda nome em teares manuais, um deles cos e tecelões, Gustav Schlös- 1908 Hugo Schlösser come- provavelmente aquele utili- ser decidiu emigrar para o çou a tecer em casa, em tear zado por Hugo na fabricação Brasil para o desenvolvimen- manual adquirido do tecelão doméstica, e o outro, um tear to da indústria têxtil do vale Tietzmann, que o trouxera de jacquard, adquirido com o do Itajaí-Mirim. E assim, no Lodz; Adolph foi trabalhar na crédito concedido por Carlos - Empresa Industrial Garcia, Renaux, que se encarregou, - em Blumenau. Durante cerca também, do fornecimento de lhosfinal doembarcaram ano de 1895, no Schlös porto de 15 anos, Gustav Schlösser, - deser, Hamburgo, a esposa e na os Alemanha, quatro fi o pai, trabalhou como técnico duto em sua “venda”. com destino a Brusque. têxtil na Fábrica Renaux. fio Os e daartigos distribuição produzidos do propor Segundo Renaux (2010), Schlösser, no início, eram to- assim como o pai Gustav, os Schlösser, em 1911, Gustav alhas de mesa e rosto com - Com a fundação da firma filhos Hugo e Adolph Schlös Schlösser e os filhos Hugo e flores na bainha, de jacquard,

Fábrica da Schlösser na avenida Getúlio Vargas. Acervo: Rosemari Glatz 151 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz com base no mostruário da uma fase de crescimento. As três grandes fábricas tecedura trazido por Gustav Depois de 1918 a indús- têxteis de Brusque chega- Schlösser. A produção mensal tria têxtil do Brasil entrou em ram a ser centenárias, mas no início da fundação da em- sua fase decisiva. O governo não existem mais em 2018. presa – 1911, era de 400 me- começou a gravar os tecidos A crise que levou ao fecha- tros de tecido por mês. estrangeiros, em escala as- mento das empresas co- Além do negócio de Car- cendente, com direitos de meçou com a abertura co- los Renaux, a historiadora importação, o que veio pro- mercial no Brasil, nos anos Renaux (2010) informa que porcionar ótimas condições de 1990. As indústrias não Bauer e Buettner aparecem de desenvolvimento à indús- conseguiram competir como compradores. Pano tria nacional. Era natural que com as importações. Com de seda, com matéria-prima essa medida viesse favorecer produção verticalizada, fornecida pelos italianos de as empresas que já se haviam faltou capital de giro para Nova Trento, também era fa- adaptado e, efetivamente, es- manter o negócio. O mo- bricado e esse material era tavam em condições de sa- delo dessas empresas con- utilizado para a confecção de tisfazerem a parte que lhes centrava na fábrica todo lenços especiais para as ita- cabia no grande consumo do o processo produtivo, da lianas irem ao cemitério. Nos país. É o que se deu em rela- compra do algodão à en- anos seguintes, Renaux con- ção às indústrias têxteis de trega da toalha ou tecido. tinuou a ser o fornecedor de Brusque. Isso faz com que o prazo entre o investimento nos insumos e a receita com o REFERÊNCIAS pelafios empresa para a firma Carl Hoepcke. Schlösser. A EmpresaEsses fios Industrial eram importados Garcia, de BUGGENHAGEN, E. A. von. prejudicando a situação Blumenau, também era forne- História Econômica no Muni- doproduto caixa. fiqueOutro mais golpe longo, foi a cípio de Brusque e a obra do crise do algodão, em 2011, De 1913 em diante, as Cônsul Carlos Renaux. [SI]. que fez o preço da commo- vendascedora deforam fios. efetuadas para Brusque, 1941. Não publica- dity triplicar em um ano. as companhias de Hoepcke, do. Na época, as empresas en- Wendhausen e outras de Flo- RENAUX, Maria Luiza. O traram em recuperação e rianópolis e também para Outro Lado da História: o não conseguiram sair da Blumenau e Joinville, vindo, a papel da mulher no Vale do situação. seguir, Jaraguá do Sul, Curiti- Itajaí 1850-1950. Blumenau. ba e . Em 1914, antes Editora da Furb, 1995. do início da Primeira Guerra RENAUX, Maria Luiza. Co- Mundial e quando em Brus- lonização e Indústria no Vale que já havia energia elétrica – do Itajaí: O Modelo Catari- fornecida pela hidrelétrica de nense de desenvolvimento. João Bauer, a fábrica Schlös- 2ª ed. Florianópolis: Instituto ser se expandiu, inaugurando Carl Hoepcke, 2010. 152 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Os coronéis de Brusque. Acervo: SAB A Guarda Nacional e os Coronéis de Brusque

Em 1831, D. Pedro I abdi- do país para os próprios cida- los presidentes de províncias. cou ao poder, porém, como dãos. Assim, a Guarda Nacio- O brasileiro com idade entre nal foi criada com o propósito 18 e 60 anos, saudável e com o Brasil foi governado por um de defender a constituição, renda mínima para ser elei- sistemaseu filho regencial. tinha apenas Depois 5 anos de a integridade, a liberdade e tor, era obrigado a se alistar três meses de uma Regência a independência do Império para a Guarda Nacional. Provisória, em junho de 1831 Brasileiro. Os únicos que não estavam teve início “Regência Trina A Guarda Nacional tam- incluídos nesta lista eram as Permanente”. bém simbolizava a ordem autoridades administrativas, Uma das primeiras me- elitista da sociedade, pois os judiciárias, policiais, mili- didas do novo governo foi a cargos assumidos na insti- tares e religiosas. As tropas criação, no dia 18/08/1831, tuição estavam diretamente não eram remuneradas, no da Guarda Nacional, com base associados à renda e à cor entanto tinham as obriga- na experiência da França, que da pele, sendo as patentes ções de prestar serviço até os havia transferido a segurança mais elevadas nomeadas pe- 60 anos, de providenciar seu 153 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(DOU) no dia 1º/01/1898. O DIARIO OFICIAL historiador Paulo V. Kons, que ESTADOS UNIDOS DO BRASIL conseguiu localizar a publi- REPÚBLICA FEDERAL cação do Decreto, destaca a ORDEM E PROGRESSO importância do achado pois, segundo ele, os nossos coro- ANO XXXVII – 10º DA REPÚBLICA – Nº 1 CAPITAL FEDERAL néis foram nomeados por um SÁBADO 1º DE JANEIRO DE 1898 governo civil e constitucional. - ATOS DO PODER EXECUTIVO da Nacional aconteceu no Por decretos de 29 de dezembro último, foram diaO primeiro2/12/1832, desfile celebrando da Guar nomeados para a Guarda Nacional o aniversário de Pedro II que completava sete anos de ida- ESTADO DE SANTA CATARINA de. Após a Proclamação da Comarca de Brusque República, em 1892, a Guarda Coronel comandante: Guilherme Krieger Nacional foi integrada ao Mi- Capitães-assistentes: Oscar Renaux e Manoel dos Santos Bittencourt nistério da Justiça e Negócios Capitães-ajudantes de ordens: Germano Krieger e Antônio Werner Exteriores e, em 1918, passou a ser subordinada ao Minis- 7º Regimento de Cavalaria tério da Guerra, quando foi Tenente-coronel, comandante: Carlos Renaux tacitamente absorvida pelo Exército. Capitão-ajudante: João Francisco da Rocha Major-fiscal: Carlos Gevaerd A última atuação da Guar- Tenente-secretário: Victor Gevaerd da Nacional foi sua participa- Tenente-quartel-mestre: Arthur Germer da Independência do Brasil, 8º Regimento de Cavalaria emção 7 do de desfilesetembro do de Centenário 1922. Tenente-coronel, comandante: Nicolau Lauritzen

Capitão-ajudante: Tenrini Aquillino Major-fiscal: João Luiz Gonzaga Tenente-secretário: Augusto Maluche Filho REFERÊNCIA Tenente-quartel-mestre: Emilio Raguse KONS, Paulo V. A Guarda Nacional em Brusque. Dispo- uniforme, fazer a manutenção meada pelo Decreto Presiden- nível em . A Guarda Nacional para a Barros, e publicado na página Acesso em 11 de setembro de Comarca de Brusque foi no- 2018.

154 3 do Diário Oficial da União Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Francisco Carlos de Araújo Brusque

Francisco Carlos de Araújo Brusque foi nomeado Presi- dente da Província de Santa Catarina, em 06.09.1859, por ato do Imperador, vindo a substituir João José Coutinho. Naquele tempo, Araújo Brus- que era deputado da Assem- bleia Geral Legislativa pela Província do Rio Grande do Sul. Acompanhado da família, chegou a 20 de outubro de 1859, a bordo do vapor “Prin- cesa de Joinville”. Desembar- caram no trapiche da Alfân- dega de Desterro, de onde seguiram para o Palácio. To- mou posse da administração catarinense no início da tarde do dia 21, com as formalida- des de costume. Os festejos de recepção envolvendo as forças políticas duraram até meia-noite. A árvore genealógica de Araújo Brusque revela ascen- Francisco Carlos de Araújo Brusque, enquanto Presidente da Província avô, Nicolau Bruscchi, era de Santa Catarina, acompanhou pessoalmente os primeiros imigrantes dência de alta fidalguia. Seu à Colônia Itajahy, fundada em 4 de agosto de 1860. Em sua homenagem a um nobre de Florença (re- cidade recebeu seu nome. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera. gião da Toscana, Itália) que Acervo: Rosemari Glatz se instalou em Portugal por volta de 1762. Conquistou a Uma curiosidade: a família utilizou o sobrenome - Bruscchi até 1846, quando passou a assinar ado Mordomo-Mor do Paço. a forma abrasileirada do nome: Brusque. confiança do rei e foi nome 155 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Nicolau se casou em Lisboa acompanhado da família, dei- com Ana Joaquina Vieira de Liberal. Católico praticante, xou Santa Catarina. Foi Minis- Aguiar e Almada, que perten- casou-setal, onde com se filiou Cecília ao PartidoAmália tro da Marinha e interino da cia à alta nobreza lusitana. O de Azevedo, com quem teve 7 Guerra. Retirou-se da política nome de Nicolau Bruscchi foi em 1875, passando a exercer - Arthur; Raphael; Emma; Ho- a advocacia. Possuía os títulos guia portuguesa, com direito filhos:ráclito; Francisco Cecília eCarlos; Francisca. José; - deinscrito transmitir nos registros a todos da os fidal seus De estatura pequena, magro, to de Cristo e a Grã-Cruz do descendentes os privilégios olhos pretos e vivos, seus ca- Leãode Oficialato Neerlandês. da Rosa, o Hábi decorrentes. belos escuros ao tempo de es- Brusque faleceu repenti- Em 1808, a transferência tudante se tornaram brancos namente, na cidade gaúcha da Família Real portuguesa já aos 40 anos. de Pelotas (RS), em 23 de para o Brasil fez com que a Foi eleito deputado à As- setembro de 1886. Em 1998, família Bruscchi se separasse. sembleia Provincial em 1849, com honras de Chefe de Esta- Nicolau, o pai, permaneceu 1854 e 1856. Fez as campa- do, seus restos mortais foram em Portugal, com a esposa nhas do Sul e obteve a meda- transladados de Pelotas para lha de mérito militar de ouro, Brusque por ocasião dos fes- Amália, administrando os com honras de coronel. Como tejos dos 138 anos da cidade. e os filhos José Luís e Maria- deputado à Assembleia Geral, Seus restos mortais foram de- lhos, João e Vicente, militares, positados, sob os acordes do acompanharambens da Família aReal. Real Dois Famí fi- 1856 a 1859 e pela Provín- pistão de Pedrinho Knihs, no lia no seu êxodo para o Brasil. ciafigurou do Amazonas, pela sua Província de 1863 de a monumento construído junto Vicente foi incorporado ao 1866. De 1873 a 1875 vol- à Sociedade Amigos de Brus- Exército do Vice-Reinado e, tou ao Parlamento ainda pela que e de Apoio ao Museu His- em janeiro de 1818, foi pro- Província do Amazonas. tórico do Vale do Itajaí-Mirim movido a Tenente-Coronel de Ocupou a Presidência da – SAB/CASA DE BRUSQUE, Milícias. Na Capitania de São Província de Santa Catari- com a lápide original, esculpi- Pedro do Rio Grande, Vicente na durante um curto espa- da em mármore de Carrara há - ço de tempo, 21.10.1859 mais de um século. a 17.04.1861, mas na sua Comendadorse casou com José Delfina Antônio Carlo de gestão, além da Colônia Ita- Araújota de Araújo Ribeiro, Ribeiro, de nobre filha asdo- jahy-Brusque, também foram cendência lusitana. instaladas as Colônias de Te- REFERÊNCIA Francisco Carlos de Araú- resópolis e Angelina, todas em 1860. Atendendo aos ape- Álbum do 1° Centenário de los do Imperador, em 20 de Brusque – Edição da Socieda- jo Bruscchi, filho de Vicente Alegre no dia 24.05.1822. Di- março de 1861 Araújo Brus- de Amigos de Brusque. 1960. e Delfina, nasceu em Porto plomou-se na Faculdade de que concordou em assumir a KONS, Paulo Vendelino. A Direito de São Paulo em 1845 Presidência da Província do vinda do Conselheiro que deu e depois voltou à terra na- Grão-Pará e em 22.04.1861 e o nome a Brusque. 2018. 156 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Barão Maximilian von Schneeburg

Maximilian von Schnee- burg (Maximiliano von Sch- neeburg, em português), ca- tólico, foi o primeiro diretor da Colônia Itajaí-Brusque, ad- ministrando-a honradamen- te e com especial dedicação desde a sua fundação, em 4 de agosto de 1860, até o seu afastamento da função por motivos de saúde, em abril de 1867. Organização e discipli- na são palavras que descre- vem adequadamente as suas características enquanto ad- ministrador. Schneeburg pertencia a uma antiga família nobre ger- mânica, detentores do títu- lo nobiliárquico de Freiherr, cuja posição na nobreza lati- na equivale-se à do barão. O

Barão, pertenceu à nobreza duranteFreiherr, o com Sacro significado Império Ro de- mano. Na Áustria e na Ale- manha este título existia até 1919 e, com a abolição da no- breza, são legalmente elimi- nados do nome. O pesquisador Dirschnabel (2018) nos brinda com infor- O Barão Maximilian von Schneeburg foi o primeiro diretor da Colônia Ita- mações relevantes sobre a jahy-Brusque. Minucioso na documentação, era um governante preocupado família Schneeburg. Baseado e sempre voltado à responsabilidade que o cargo exigia. Em 15 de outubro no livro escrito em 1845 por de 1865, acompanhou até a vila de Itajahy, os 25 “Voluntários da Pátria” que partiram da colônia para lutar pela sua nova Pátria – Brasil - na Guerra do Beda Weber, ele informa que Paraguai. Gravura: Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz 157 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz documentalmente os primei- de Ludwig, Hanns, era casado os anos de 1632 a 1646, Clau- ros Schneeberger aparece- com Helena von Kripp e com dia von Medizis, juntamente ram em 1370 no Tirol Austrí- com um conselho, assumiu os aco. O primeiro chamava-se a administração da casa de assuntos do governo, repre- Peter Schneeberger de Zim- penhoresela teve onzede Ferdinand filhos durante I, em mers, para diferenciá-lo dos de idade, Franz Karl, que só Schneeberger de Trins que velho Rupert seria o mais podesentando assumir o seu o poder filho ao menor atin- se estabeleceram no Castelo importante.Hall, dos quais Rupert o filho von maisSch- gir a maioridade, em 1646. de Schneeberg, pois, apesar neeberger durante o reinado Em 1664, Johann Wolfgang de pairar uma certa confusão do Arquiduque Ferdinand II, von Schneeburg, já com a ida- sobre os antepassados de Ma- fez por merecer o direito de de bastante avançada, rece- ximilian von Schneeburg em construir uma residência no beu o título de Barão, pelos Mills, no Hall, eles não tinham Tirol. Assim, em 1587, ele - nada em comum com os Sch- construiu o Castelo de Sch- dade prestados ao Imperador neeburgers mais jovens. neeburg em Mils, e recebeu duranterelevantes a Guerra serviços dos de Trinta fideli o sobrenome de Schneeburg. Anos no Tirol (1618-1664). A partir de então as famílias 1771: As últimas gerações Cronologia que originalmente se titula- da família Schneeberger de vam Schneeberger passaram Trins que se estabeleceram 1524: A família Schneeber- a ser chamadas de “barões de no Castelo de Schneeberg, ger atuou como administra- Schneeburg”. Em decorrên- praticamente desaparece- dora da casa de penhores em cia da união matrimonial da ram em 1771, quando Karl Hall, servindo ao Imperador nobreza, os von Schneeburg Joseph Schneeberg, o último Karl V (1500-1558), uma das tiveram a junção da residên- Schneeberg, faleceu de tédio personalidades dominantes cia de Rubein, em Obermais, e paixão, em seu Castelo Lich- mais importantes da história resultando numa brilhante tenthurn de Hötting, e deixou europeia. Herdeiro das três descendência, os quais eram o Castelo que pertencia aos principais casas dinásticas titulados de “barões von Sch- Schneeburgers mais jovens europeias, durante o império neeburg de Saltaus, no Plat- para Johann Maximilian von de Karl V, a Europa se tornou ten e Rubein”. Schneeburg, trineto de Wolf- o centro de um império mun- 1664: Johann Wolfgang gang. Johann Maximilian von dial. E foi por aquele tempo - Schneeburg era tio de Maxi- que, em 1524, Ludwig Sch- dwig, neto de Rupert e bis- milian von Schneeburg, o pri- neeberger, casado com Anna netovon Schneeburg,de Hanns Schneeberger filho de Lu meiro diretor da Colônia Ita- havia se tornado mordomo jaí-Brusque. de Meran e sobrinho de Peter do Arquiduque Leopold V., von Lingen, filho de Sigmund Schneeberger, foi elevado ao marido de Claudia von Me- posto de “Cavaleiro” como um dizis. Leopold V e Claudia se Sobre o Barão soldado corajoso e em reco- casaram em 1626 e tiveram nhecimento pelos serviços de Maximilian von Schnee- - depois de apenas seis anos burg nasceu em 28/10/1799, rador. decinco casamento filhos. Leopold e então, morreu entre no Castelo de Schneeburg, fidelidade prestados ao Impe em Mils, Tirol, Arquiduca-

1581587: O filho mais velho Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história do da Áustria, Sacro Impé- certa abundância através da O Barão passou gran- rio Romano-Germânico. Era exuberância da terra, a assis- de parte da sua vida no tência espiritual por intermé- Brasil. Foram cerca de 40 Schneeburg, casado com Bár- anos dedicados ao gover- dio de igrejas e sacerdotes das filho do Joseph Johann von bara Limbeck von Lilienau, e no imperial, e os frutos de - sobrinho de Johann Maximi- seus feitos aqui permane- confissões católica e evangéli lian, que herdara o Castelo de ceram. Em 26/01/1867, o cultural, embora rude ainda, ca e, finalmente, a assistência Schneeberg. Seu pai, Joseph, Governo por iniciativa de através de escolas. Gevaerd morreu em combate na bata- Sua Majestade Imperial ainda acrescenta que, antes lha de Taufers, em 1799, sem Dom Pedro II, lhe conferiu de vir para Brusque, von Sch- - o título de Cavaleiro da neeburg residiu por muitos ximilian que teria sido criado Ordem da Rosa. anos em Petrópolis, foi pro- sobconviver tutela com militar. o seu filhoBárbara, Ma fessor do famoso Colégio Ca- tar do serviço militar, sendo- sua mãe, se casou novamente lógeras e Capitão do Exército lhe concedido dispensa em com outro barão, Schmidl-Se- Imperial do Brasil. 1828. Perdeu a patente mili- eberg. Sobre a infância e ju- A Schneeburg cabe o méri- tar e, nessa situação, aceitou ventude de Maximilian nada to de ter organizado uma nova o convite da Princesa Leopol- Comunidade no seio da mata dina, da Áustria, e do impera- emigrou para o Brasil ainda virgem, imprimindo-lhe edu- dor D. Pedro II, para integrar jovemse sabe. depois Ele não de tevese afastar filhos, do e cação cívica, moral, espiritual a cavalaria da Escola Militar serviço militar. e cultural, aliada ao espírito em Petrópolis, no Rio de Ja- Ainda conforme Dirschna- de ordem e trabalho peculia- neiro. Atuou como professor bel (2018) baseado no livro res às etnias que então coloni- do Colégio Militar Calógeras escrito por Weber (1845), aos zavam o vale do Itajaí. Cabe a - 16 anos Maximilian ingressou ele um preito de homenagem balhou na Sociedade Agrícola na Academia de Engenharia e justiça por sua extraordiná- dee, finalmente,Petrópolis. emDepois 1856, disso, tra de Viena, na Áustria. Após a ria obra, especialmente, com aceitou o convite para insta- conclusão da instrução, ele lar a colônia alemã no Vale do foi nomeado Cadete do Cor- religiosas, católica e evangéli- Itajaí-Mirim em 1860. po de Engenheiros Militares. ca,relação em Brusque, às duas durante Confissões todo O brusquense Ayres Ge- Em 1821, foi promovido a o período de sua administra- vaerd, em diversos escritos Subtenente no Corpo de En- ção. Consolidando a Colônia, publicados na revista Blume- genharia e transferido para Schneeburg não descurou nau em Cadernos conseguiu Venedig, como 1º Tenente, em proporcionar à sua gente, descrever com perfeição a e, logo depois, para Josefs- indistintamente, assistência trajetória do Barão Maximi- tadt, na Boêmia, onde afas- lian de Schneeburg enquanto tou-se dos serviços por cau- em seus documentos, quando este foi o diretor da Colônia sas psicológicas. Ao retornar semoral referia e espiritual. à Igreja protestante, Verifica-se Itajahy-Brusque. Segundo foi transferido para Arad, na - Gevaerd, o Barão von Schnee- Hungria, onde sofreu nova zade que o ligava ao pastor burg dedicou muito carinho à crise mental. Maximilian von Henriquea confiança, Sandrescky. dedicação eTanto ami sua Colônia, procurando dar- Schneeburg resolveu se afas-

que, por várias vezes, confiou lhe o sustento físico e com 159 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz ao pastor a direção da Colônia lônia em abril de 1867, com o -Húngaro, e hoje pertencente quando, por força do cargo, “coração na mão”, para nunca à República Tcheca. O Barão viajava a Itajaí ou Desterro. mais voltar. Quase cego, por- Maximilian von Schneeburg Apesar de pedir com insistên- tador de afecção ocular, o foi sepultado no cemitério pa- cia, ele rogar, de implorar até, primeiro diretor da Colônia roquial em Franzensbad, no empregando uma linguagem Itajahy-Brusque foi conduzi- dia 18 de setembro de 1869, simples e franca que lhe era do de canoa pelo colonizador e o padre St. Johan Wenig, de característica, o nosso pri- Johann Kormann, imigrante Cheb, realizou a cerimônia fú- meiro diretor não chegou a alemão instalado em Guabiru- nebre. ver a Casa de Orações na sede ba, sacristão e acompanhante da Colônia pela qual tanto se do padre Alberto Gattone, até empenhou. a vila de Itajahy. Kormann le- REFERÊNCIAS Mosimann (2010) conta vou von Schneeburg ao velei- que não se sabe se o Barão ro que o conduziu até o Rio Blumenau em Cadernos. costumava frequentar as ta- de Janeiro, e foi seu último Diário de Viagem do Imigran- vernas, provavelmente não, amparo em terras catarinen- te Paul Schwarzer. Arquivo e que o círculo de amizades ses. Depois de algum tempo, Histórico José Ferreira da Sil- do diretor naqueles primór- sem encontrar os recursos va, tomo XXV, nº 9, 1987. dios da colônia parecia res- médicos para o alívio de sua DIRSCHNABEL, Roque Luiz. Entrevista concedi- tringir-se aos raros homens doença, e pouco antes da sua da à autora, por e-mail, em diplomados da aldeia. Mas, morte, Schneeburg voltou 9/09/2018, a partir de tra- segundo os próprios escritos para sua pátria de origem. Vi- dução livre do alemão gótico do Barão Maximilian von Sch- veu seus últimos dias junto à para o português, de partes neeburg, no início da noite sua meia-irmã, residindo em do livro de Beda Weber, “Me- ele costumava sair um pouco, Franzensbad nº 15, onde des- ran und Seine Umgebungen, vela de sebo na mão para ilu- viveu no dia 16 de setembro oder das Burggrafenamt von minar o caminho, visitando de 1869, aos 70 anos. Naque- Tirol: Für Einheimische und o agrimensor Germano Thie- la época, Franzensbad, Cheb Fremde”. Arquivo Nacional da me, que morava bem próximo (Eger), pertencia ao Reino Áustria, 1845. da casa da Diretoria, ou o Sr. da Boêmia, Império Austro GEVAERD, Ayres. Blume- Ewert Knorring, marido de nau em Cadernos. Arquivo Augusta von Knorring, pri- Em 1964, o Barão foi Histórico José Ferreira da meira professora pública da homenageado quando a Silva. Blumenau. Diversas pu- Colônia. Morando na própria praça central de Brusque blicações escritas a partir dos casa da Diretoria, na Stad- passou a ser denominada documentos da então Colônia tplatz, o Barão costumava ir Barão von Schneeburg. Itajahy-Brusque, disponíveis jantar na casa particular do Em 2017, ele também na Casa de Brusque. Dr. Eberhard, onde pagava foi homenageado como MOSIMANN, João Carlos. As famílias de Brusque, Gua- pensão de alimentação. Patrono da Academia de Seriamente doente, o Ba- biruba e Botuverá – Nos me- Letras do Brasil de Santa andros do Itajaí-Mirim. Flo- rão Maximilian von Schnee- Catarina, Seccional de burg deixou sua querida Co- rianópolis: Edição do autor. Guabiruba. 2010. 160 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Pedro Werner e a esposa Catharina Palm em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz A família de Pedro José Werner Peter Joseph Werner, ou “Marquês de Viana” e seguiu imigrantes alemães que ha- Pedro José Werner (em por- viagem do Rio de Janeiro para viam chegado a São Pedro de tuguês) nasceu em Bremen, Alcântara junto com a família Alemanha, em 20.01.1822 e brasileiro: Desterro (hoje Flo- Werner. Após o casamento, o faleceu em 10.01.1882 em rianópolis).o seu destino Aportaram final em no solo dia jovem casal se mudou para o 12 de novembro de 1828 e fo- território onde, poucos anos velho do casal Johann Peter ram instalados na Colônia São depois, seria instalada a Colô- WernerBrusque. e Anna Era Werner, o filho e, maiscom Pedro de Alcântara, a primei- nia Itajahy-Brusque. De acor- seus pais e irmãos, emigrou ra colônia alemã no estado de do com Tomio (2018), a famí- para o Brasil ainda criança. Da Santa Catarina. lia Palm também se instalou Alemanha até o Rio de Janei- Ainda em São Pedro de Al- na região e há registros de ro, viajaram a bordo do navio cântara, em 29/12/1854, Pe- que, em 1846, Mathias Palm e Johanna Jakobs. Compondo ter Joseph Werner se casou seu irmão Peter Palm reque- um grupo de 359 pessoas, em com Catharina Palm, já nasci- reram meia légua em quadro 28 de outubro de 1828 a fa- no rio Itajaí-Mirim, nas pro- mília embarcou no bergatim Mathias Palm e Maria Philippi, ximidades da atual cidade de da na mesma colônia, filha de 161 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Brusque. Visionário e em- Em 2018, poucos descen- Pedro José Werner, ape- preendedor, Pedro José Wer- dentes de Pedro e Catharina lidado de Pedro Miúdo, ner construiu engenhos de Werner residem em Brusque, oriundo da colônia de farinha, serraria, olaria, além São Pedro de Alcântara, de trabalhar como balseiro e foram ser fazendeiros em latifundiário, proprietário garimpeiro. Foi proprietário Lages.porque Catharina, todos os seusjá viúva, filhos de engenho de farinha de grandes áreas de terras e serraria, acolheu em requeridas junto ao Departa- Lages e lá está sepultada. Dos seu galpão os primeiros mento de Terras Públicas da descendentesacompanhou seus do casal,filhos paraape- imigrantes quando da sua Província, e de outras que ele nas o seu neto Antônio Ma- chegada a Brusque em comprou de seu vizinho Fran- 1860, e foi um dos funda- cisco Sallenthien. Mas Pedro Maluche, é que voltou para dores do Clube de Caça e não foi o único pioneiro da Brusque.luche, filho Também de Maria AntônioWerner Tiro Araújo Brusque, em área que viria a ser Brusque, Maluche fez história, princi- 1866 (GEVAERD, 1977). pois vários outros possuíam palmente no que se refere ao Brusque. terras nas proximidades, in- Clube Esportivo Paysandú. Pedro e Catharina Wer- clusive o seu sogro Mathias Palm e cunhados. Mas o ver- primogênita, Maria Werner, dadeiro pioneiro, apesar de nasceuner tiveram aos quatro17/10/1855 filhos. Ae não possuir terras, foi Vicente é considerada, por alguns, Ferreira de Mello, conhecido REFERÊNCIAS como a primeira pessoa que por Vicente Só, que morou nasceu em território brus- no local em que Pedro José http://www.familiaimhof. quense. Maria se casou com Werner construiu suas ben- com.br/ath_peter_joseph_ werner_e_familia.htm. Aces- João Augusto Maluche, um feitorias. Foi com aquele se- so em 16 de agosto de 2018. alemão descendente de espa- nhor de cor parda que Pedro GEVAERD, Ayres. Política aprendeu a dominar melhor o nhol, músico e fundador da e Políticos de Antanho. Notí- primeira orquestra da Colô- português e a habilidade para cias de Vicente Só, I, n. 2, abr nia Itajahy-Brusque. Mathias a vida na selva, assim como li- -mai-jun, Sociedade Amigos nasceu em 1856. Em 1859 dar com os índios. de Brusque, 1977. - De acordo com a Paróquia PARÓQUIA SÃO LUIS GON- lau, que se casou com Mada- São Luis Gonzaga (2018), ZAGA. Disponível em: http:// lenanasceu Imhof o terceiro e, em 1862 filho, nasceu Nico Pedro José Werner é refe- www.paroquiasaoluisgonza- renciado como um dos co- ga.com/historia/. Acesso em 19 de agosto de 2018. José, que se casou com Elisa- lonizadores que, junto com TOMIO, Telmo. Disponí- o último filho do casal, Pedro Pedro Jacob Heil, solicitou à beth Westarb. vel em: Acesso em 19 de agos- tório onde mais tarde seria construir uma igreja na sede. to de 2018. sos próprios e de outros fiéis, 162 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

João Bauer e a esposa Maria Olinger em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz João Bauer e a primeira usina de energia elétrica na região João Bauer nasceu em 13 café de casca de batata-do- to teve baixa lucratividade. de novembro de 1849, na Ba- ce torrada. Mas o jovem João Após a morte do pai, o espíri- viera. Emigrou para o Brasil Bauer queria mais e tinha to empreendedor e corajoso aos 11 anos acompanhando muita força de vontade, então de João Bauer o trouxe para seu pai, o viúvo Balthasar mudou-se para Itajaí onde o povoado de Brusque, onde trabalhou por um tempo iniciou suas atividades em- região de Guabiruba, que na- como auxiliar de padeiro. presariais com uma pequena queleBauer. tempo A família pertencia se fixou à Colô na- Com a ajuda do pai, jun- venda. nia Itajahy-Brusque. taram algumas economias e Graças ao trabalho incan- Enfrentaram a selva agres- conseguiram comprar uma sável, espírito perspicaz, e te, vivendo inicialmente de propriedade em Guabiruba sempre com a ajuda de sua palmitos, frutas silvestres, e instalaram um engenho de amada esposa, Maria, com o alguma caça e fazendo o seu serra, mas o empreendimen- passar dos anos ele se tornou 163 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

o maior líder do comércio os produtos agrícolas em tro- Em 3/11/1871, João Bauer nessa zona e o mais forte co- ca de mercadorias. Diversos se casou com Maria Olin- merciante daquela época. foram os empreendimentos ger, natural de Luxembur- João Bauer era jovial, sem- de João Bauer, que iam des- go. Tiveram os filhos João, pre bem-disposto e pronto de estabelecimentos comer- Leopoldo, Matilde, Jacob, a servir a qualquer hora do ciais até os veleiros “Tigre” e Augusto (que se casou com dia ou da noite, em feriados e “Brusque” e o primeiro navio Sophia Renaux, filha do mesmo aos domingos, quan- a vapor da região, o “Rudi”, Cônsul Carlos Renaux) e do os colonos do interior, um misto de passageiros e Maria Rosa. Sua primei- após a missa lhe traziam os cargas. ra residência na sede de seus produtos agrícolas, em Construiu a primeira rede Brusque foi uma casinha troca de mercadorias de seu de abastecimento d’água em modesta, de tijolos, per- comércio. Itajaí e foi proprietário de to da ponte Vidal Ramos Desde madrugada, até al- uma cervejaria e de um im- (atual ponte estaiada). Já tas horas da noite, a sua casa portante armazém de despa- na idade adulta, depois de abrigava hóspedes, gratuita- chos, principalmente de ma- experiente comerciante, mente, dando-lhes café e co- deira. João Bauer ainda aprendeu mida, servindo o pirão com Contando com a ajuda do a ler e escrever e não deixa- carne-seca e o viradinho de tecelão polonês Yankowsky va de cultivar a música. Na feijão com ovos e linguiça, para trabalhar manualmente área pública, foi presidente um hábito alimentar da famí- teares circulares de madeira, do Diretório do Partido lia Bauer. As turmas se suce- juntamente com outro ma- Republicano e o segundo diam ininterruptamente, e a quinário para malharia e tri- administrador de Brusque, família Bauer tanto abrigava cotagem, em 1890, Bauer fez entre novembro de 1897 os colonos e caboclos do inte- a primeira experiência de in- e março de 1898, função rior, como os nobres da Igreja na qual foi precedido por Católica, governadores e ho- em Brusque, mas o empreen- Adriano Schaefer e suce- mens públicos. dimentodústria de têxtil fiação não e tevetecelagem sequ- dido por Nicolau Gracher. ência. João Bauer desviveu a 30 Negócios Em Brusque, foi introdu- de abril de 1931, com 81 tor do primeiro automóvel e anos, e foi sepultado no Graças ao espírito jovial e instalou uma pequena rede Cemitério Católico de Brus- sua disposição para servir, a d’água particular. Dedicou-se, que, na fé que professava e sua pequena loja prosperava. ainda, à extração de mármore a cujas instituições apoia- O comércio passou a servir a em Camboriú e ao comércio va. O ritual das exéquias qualquer hora do dia ou da em Trombudo Central, onde foi realizado por seu neto, noite, abrindo aos feriados teve casa comercial e mon- o Monsenhor Harry Bauer, e até mesmo aos domingos, tou uma importante serraria. filho de Leopoldo Bauer e quando os colonos do inte- Bauer ainda instalou a pri- Evelina Guerreiro. rior, após a missa, lhe traziam meira fábrica de tecidos de 164 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Na época áurea da sua por João Belli, Osvaldo Gleich ração. (Livro de Contratos da grande expressão co- e Guilherme Diegoli, objeti- Superintendência de Brusque mercial, social e política, vando aproveitar o salto de - Arquivo da SAB). a família de João Bauer Planície Alta que conduziria Em dezembro de 1912, com oferecia bons banquetes. suas águas ao grupo de turbi- as obras em pleno andamen- Naquelas oportunidades, nas e geradores instalado nas to, João Bauer realizou um pi- os nomes e as assinaturas imediações. quenique nas imediações da em autógrafos dos ilustres Aprovado o estudo foi Represa no qual participaram convivas eram marcados montada a Usina com dois mais de 250 convidados e a na ampla e alva toalha de conjuntos de turbinas e ge- Banda Musical «Concórdia». mesa. Depois, essas assina- radores com 135 KWA cada Dava João Bauer um teste- turas eram pacientemente um, totalizando 270 KWA. Se- munho público de sua grande revestidas de fios bordados, obra, em ambiente agradável quilômetros com capacidade e festivo. Nos primeiros me- sem que escapasse qual- guiu-se a linha de fios com 14 quer detalhe. para transportar 5.000 volts ses de 1913 com os postes já até a estação distribuidora instalados nas citadas ruas, seda natural com teares de construída no início da rua a título experimental, foram ferro, e uma fábrica de gelo, das Carreiras. Na Villa os pos- possuindo também engenhos tes de ferro foram levantados consumidores: o famoso cine- de serrar madeira, de arroz e nas ruas Barão de Ivinheima mabeneficiados do Willy Strecker, os primeiros o salão de farinha. Como comercian- (Carlos Renaux), Carreiras, e o hotel do Schönen Wilhelm te, possuía armazém e loja de Conselheiro Willerding (Ruy sede do Clube 4, o salão dos fazendas e armarinhos. Barbosa), Lauro Müller (par- Atiradores, algumas casas e a cial), Barão do Rio Branco iluminação pública, parcial. A primeira (parcial) e 15 de novembro. Finalmente, no dia 13 de Antes do Conselho Muni- novembro de 1913 foi inau- usina de energia cipal conceder-lhe privilégio elétrica na região para instalar eletricidade na hidroelétrica de João Bauer. Vila (8 de junho de 1912 - Re- Exatamentegurada oficialmente às 18h30, a Usinao su- De acordo com Ayres Ge- solução nº 39), João Bauer ti- perintendente Guilherme vaerd (1973), em 1911 João nha iniciado a montagem. Krieger procedeu a ligação, Bauer iniciou estudos para No dia 10 de agosto se- iluminando um belo lustro instalar energia elétrica em instalado na Superintendên- condições de movimentar as assinando o documento Gui- cia. guinte foi firmado o contrato indústrias e o comércio, pro- lherme Krieger, Superinten- Na oportunidade discursa- porcionar iluminação pública dente, e João Bauer, servindo ram as seguintes personali- e particular na então Vila de de testemunhas Otávio de Oli- dades: Dr. Bento Portela, juiz Brusque. Para tanto contra- veira e Godofredo Mosimann. de direito; Vicente Schaefer, tou os serviços de um enge- O contrato, com 26 cláusulas, em nome do Superintenden- nheiro, Max Selinke, auxiliado estabeleceu 30 anos de du- te; professor Trajano Marga- 165 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

rida; padre Henrique Müller, tada no ato pelo Sr. Cel. José A grande contribuição vigário, e o engenheiro Max Ramão Junqueira e Cel. Pe- de João Bauer para o pro- Solinke. As bandas “Concór- dro Christiano Feddersen e gresso econômico de San- dia” e “Liberdade” abrilhan- a Superintendência Munici- ta Catarina foi aproveitar taram a solenidade. Nesse pal de Brusque representada o salto d’água da Planície mesmo dia, 13 de novembro, pelo substituto em exercício Alta, em sua fazenda na João Bauer festejava mais um Carlos Gracher, entre outras Guabiruba do Sul, para aniversário de seu nascimen- cláusulas, obrigava a primei- instalar a primeira usina to. Apesar de sua avançada ra parte a respeitar o contrato hidrelétrica e introduzir a idade, João Bauer cuidou de celebrado com João Bauer e a energia elétrica na região. sua usina, durante nove anos. Superintendência em 10 de A inauguração aconteceu No início da década de 1920 agosto de 1912 com relação no dia do aniversário de a usina não tinha mais condi- ao fornecimento de energia João Bauer, 13 de novem- elétrica a Brusque. Testemu- bro de 1913 quando, às cidade e suas indústrias. nharam o ato, João de Freitas 18h30, o superintendente çõesAlguns suficientes contratempos para suprir apa a- e Adolfo Ulrich e como secre- Guilherme Krieger acio- receram com as condições da tário Francisco Adolfo Otto nou a chave. Ao som de represa e do canal condutor (GEVAERD, 1973). bandas musicais, autorida- de água, assim como aspectos técnicos na rede. pelas ruas de Brusque, Teve dissabores sérios in- desagora e populares iluminadas. desfilaram Com clusive uma ação penal que disponibilidade de ener- lhe moveu uma empresa que gia elétrica, a atividade se sentiu prejudicada com a industrial recebeu grande falta temporária de energia. impulso e a demanda por Não contando com pessoa ou energia elétrica em Brus- pessoas que se interessassem que foi aumentando. Logo REFERÊNCIAS na continuidade de suas or- a usina já não tinha mais ganizações e principalmente GEVAERD, Ayres. Blume- capacidade para atender de sua usina, João Bauer re- nau em Cadernos. Arquivo a demanda, e no ano de solveu negociá-la. Antes havia Histórico José Ferreira da Sil- 1922 Bauer transferiu a reduzido as atividades indus- va, Tomo XIV, nº 9. Blumenau: usina para a Empresa For- triais e comerciais. setembro de 1973. ça e Luz Santa Catarina. A transação consumou-se O Estado. Florianópolis, 13 No local onde funcionou a no dia 12 de agosto de 1922 de novembro de 1949. Dis- usina ainda permanecem com a Empresa Força e Luz ponível em: . Acesso em 3 setembro no tempo. entre a Empresa represen- 2018. 166 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Guilherme Krieger e esposa Carolina Jungblut em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz Coronel Guilherme Krieger

Guilherme Krieger emi- naux. Nesse tempo, Guilher- Johann, Jakob e Johann Phi- grou de Oldenburg para me Krieger possuía grande e lipp deixaram seu torrão na- Brusque com 14 anos, em movimentada casa comercial, tal, em Oldenburg rumo ao 1861 e tornou-se comercian- exportava produtos agríco- Brasil. Jorge Paulo Krieger te. Na virada do século XIX, las para os mais importantes (2018), bisneto do Coronel era um dos mais prósperos centros comerciais do país e Guilherme Krieger, conta que empreendedores da região. importava, em regular escala, a família Krieger viajou a bor- Foi nomeado Coronel co- as mais variadas mercadorias do do navio Maria Thereza, e mandante da Guarda Nacio- da Alemanha. que saíram do porto alemão nal de Brusque e, no período A história da família Krie- em 20/12/1860. A viagem compreendido entre 1890 a ger na Colônia Itajahy-Brus- foi longa e demorada, e, em 1915, um quarto de século, que começou em 1861, 1861 foram enviados para a disputou a liderança política quando Wilhelm (Guilher- recém-criada Colônia Itajahy de Brusque com Carlos Re- me) Krieger e os irmãos Karl -Brusque. Conforme Krieger 167 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

(2018), Wilhelm, Karl Johann, (1850-1892), casado em pri- (1860) e Wilhelm Karl (1865). Jakob, e Johann Philipp eram meiras núpcias com Auguste - - Carl Krieger e Anna Elisabe- no, nascido em 17/03/1793, gundas núpcias com Henriet- thaO Cullmann terceiro filhoera doWilhelm casal emfilhos Hettstein,de Carl Krieger, principado lutera F.L. Kuchenbäcker e em se Krieger, que nasceu em Al- (Fürstentum) de Birkenfeld, (1851); Emilie (1853-1933), genrodt no dia 15/01/1824. Grão-Ducado (Großherzo- casadate E. Kuchenbäcker; com Wilhelm Caroline Müller; Por ocasião da chegada à gtum) de Oldenburg, hoje Catherine (1854-1855); Carl Colônia Itajahy-Brusque, comarca (Kreis) de Birken- (1855); Laura (1857-1908), Wilhelm declarou ser pa- felf, Renânia Palatinado, Ale- casada com August Albert deiro e faleceu em Brusque manha. Em 28 de agosto de Wilhelm Ristow; Charlotte em 11/10/1875. Era casado 1816, Carl Krieger se casou (1859) e Rudolf (1863 - an- desde 31/03/1846 com Ca- com Anna Elisabetha Cull- tes de 1865). Segundo Mosi- tharina Reichardt, nascida em mann, e faleceu em Algenrodt mann (2010), o grande maes- 1826, e falecida em Brusque no dia 18/08/1839. Sabe-se tro Aldo Krieger, nascido em no dia 12/06/1897. Filhos que Carl e Anna Elisabetha ti- Brusque em 1903 e fundador de Wilhelm e Catharina: Wi- - do Conservatório de Músi- lhelm (1847-1932), conheci- ca de Brusque, descendia de do como “Coronel Guilherme emigraramveram quatro para filhos o Brasil. que, jun Gustav Phillip Krieger, segun- Krieger”, casado com Carolina to Ocom mais suas velho esposas dos e quatrofilhos, Jungblut, e sobre o qual vol- irmãos Krieger, Johann Karl, Jakob Krieger (em por- taremos a tratar mais adian- (em português: João Carlos tuguês:do filho deJacó Jakob Krieger), Karl Krieger. nas- te; Caroline (1848-1851); Krieger), nasceu em Hetten- ceu em Algenrodt no dia Gustav (1850-1851), Gustav rodt no dia 04/06/1819. Por 01/08/1821. Não há dados (1851) casado com J. F. Alber- ocasião da chegada declarou de quando e onde faleceu. Por tina Kreidlow; Helene (1854- ser tintureiro. Faleceu em ocasião da chegada declarou 1866); Wilhelmine (1855); Brusque em 20/09/1881. Era ser lapidário e recebeu terras Ferdinand (1858-1858); casado desde 02/04/1845 em Weiherstrasse (atual bair- Eduard (1859), casado com com Marie Caroline Krum- ro Aymoré), Guabiruba. Em Bertha Friedericke Maria Zir- menauer, que nasceu em Het- 20/12/1842, se casou com cke; Ferdinand (1862-1866); tenrodt no dia 13/11/1820, Louise Schmidt, nascida em Johan Karl Frederick (1865) e faleceu em Brusque em 02/11/1822 em Algenrodt. e Maria (1868), casada com 07/01/1897. Filhos de Car- Filhos de Jacob e Louise: Lui- Leonardo Monegaglia. los e Marie Caroline: Juliane se (1844-1928), casada com O mais novo dos quatro (1844-1930), casada com Johan Ludwig Meyer; Ludwig irmãos se chamava Johann José Galm; Karl (1845-1846); (1845), casado com Friederi- Philipp Krieger (em portu- Wilhelm Philipp (1846- cke Müller; Jakob (1847), ca- guês: Felipe Krieger), nas- 1889), casado com Gertru- sado com Luise Conrad; Lina cido em Algenrodt no dia des Kannengiesser; Caroli- (1851); Otto (1854-1856); 23/07/1832, e falecido em ne (1848-1850); Jakob Karl Karoline (1857-1865); Otto Brusque em 23/11/l891. Por 168 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Casarão Krieger, depois vendido para a família Renaux. Atual avenida Cônsul Carlos Renaux. Acervo: SAB ocasião da chegada declarou setembro de 1863, trazendo nen Wilhelm”, casado com ser boticário e lavrador. Era - Ida Scheurich, e que prosse- casado desde 24/08/1854 gundo Krieger (2018) Johann guiu com os negócios de ho- com Maria Catharine Sch- econsigo Maria a Catharine filha Charlotte. tiveram Se telaria do pai; Rudolf (1871), midt, nascida em Elchweiler casado com Therese Piets- em 26/02/1837, e falecida (1856); Charlotte (1857- ch; Hermann (1875-1913), em Brusque em 19/09/1891. 1903),os seguintes casada filhos:em primeiras Philipp casado com Bárbara; Emil Mosimann (2010) conta que núpcias com Hermann Wil- (1877-1877); Maria Luiza Felipe era conhecido primei- lerding e em segundas núp- (1878-1878); Anna Gertrud - cias com Otto Moldenhauser; (1880-1880) e Johann Adrian ro), depois foi dono do hotel Philipp (1859-1863); Heinri- Franz Ernest (1882, morreu ramente“Zum Deutscher como Bäker Kaiser”, (padei o ch Philipp (1864-1905), casa- antes de 1891). primeiro hotel de Brusque, do com Emilie Maas; Gottlieb A família Krieger profes- e que sua esposa, Maria Ca- August (1866-1896), casado sava a religião luterana e fez tharine, chegou à Colônia com Elisabeth Jönk; Wilhelm parte das famílias que ajuda- Itajahy-Brusque somente em Ludwig (1868-1914), “Schö- ram a estabelecer a Igreja Lu- 169 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz terana em Brusque. Conforme - Nacional, por força do Decre- informações do site da Igreja cessário deslocar-se até Blu- to Presidencial, assinado pelo - emenau, serem onde confirmados, o Pastor eraOswal ne- Presidente da República Pru- terana de Brusque (2018), do Hesse estava instalado. dente José de Morais e Barros aEvangélica história deda ConfissãoComunidade Lu em 29/12/1897, e publicado Evangélica de Brusque ini- Coronel ciou com a chegada dos imi- da União (DOU) de sábado, grantes pioneiros em 04/08/ Guilherme 01/01/1898.na página 3 do Naquele Diário Oficialtem- l860. Com eles, chegaram as Krieger po, a Guarda Nacional sim- famílias luteranas de Augusto bolizava a ordem elitista da Hoefelmann, Frederico Gui- Wilhelm Krieger (em por- sociedade, pois os cargos as- lherme Neuhaus, Frederico tuguês: Guilherme Krieger) sumidos na instituição esta- Orthmann, Daniel Walther e nasceu em Ida, Algenrodt, vam diretamente associados Luiz Richter, todos casados - à renda e à cor da pele, sen- - lho de Wilhelm Krieger e de do as patentes mais elevadas tes, ainda que não o tenham CatharinaOldenburg, Reichardt em 1847. e Era emi fi- nomeadas pelos presidentes percebido,e com filhos. foram Esses os imigranrespon- grou para Brusque em 1861, de províncias. As tropas não sáveis por plantar a semente quando contava com 14 anos, eram remuneradas, tinham a evangélica em Brusque, que acompanhando os pais, tios obrigação de prestar serviço - e primos. Guilherme Krieger até os 60 anos, de providen- nizadores foram acolhidos no casou-se, em Brusque, no dia ciar seu uniforme, fazer a ma- galpãocresceu de e Pedro floresceu. José OsWerner colo 11/05/1869, com Carolina nutenção das armas e equi- e, meses depois, foram esta- Jungblut, também de Algen- pamentos que utilizavam, e belecidos à margem esquerda rodt, Oldenburg. Guilherme pagar contribuições em di- do rio Itajaí-Mirim, na locali- Krieger foi membro da pri- nheiro. O Coronel Krieger era dade de Bateas. À medida que meira Câmara Municipal de o mais abastado comerciante chegavam novos coloniza- Brusque (1883) e durante de Brusque daquela época e dores, os novos luteranos se cerca de um quarto de século assim também ocupou o mais somavam aos que já estavam esteve envolvido com os des- elevado cargo da Guarda Na- estabelecidos na Colônia e, tinos de Brusque, chegando a cional da Comarca de Brus- em 1861, as famílias Krieger exercer a presidência do Con- que. Chegou a exercer a presi- se uniram às famílias já exis- selho Municipal de Brusque, dência do Conselho Municipal tentes. Os imigrantes lutera- acumulando as funções de de Brusque, acumulando as nos haviam trazido consigo a chefe do executivo por dois funções de chefe do executivo Bíblia, Hinário e o Catecismo quatriênios. Desviveu aos 85 por dois quatriênios. Menor, e em Bateas foi cons- anos, em 05/05/1932. Augusta Carolina Ida (mais truída a primeira casa de ora- Nomeado Coronel coman- ção, sendo o serviço religioso dante da Guarda Nacional de Guilherme Krieger e Carolina conhecida como Ida), filha de praticado pelos próprios co- Brusque, Guilherme Krieger Jungblut, nasceu em Brusque lonos, mas para batizar, casar, passou a integrar a Guarda no dia 06/06/1886, casou-se 170 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Otto e, depois de ampliações, funcionou ali a Loja Renaux e hoje funciona a Casas Bahia. O outro casarão – também conhecido como “Casarão Amarelo” ou “Casarão Dom Joaquim” e que pertenceu ao Coronel Guilherme Krieger, no bairro Dom Joaquim, ain- da existe. Não há data pre- cisa, mas estima-se que este casarão, construído por Hort

e 1880 e hoje é um dos mais antigosDavi, foi edificadoprédios construídos entre 1875 - va uma grande venda, ainda hojeno município. em atividade. No térreo No andar fica superior, funcionava a resi- dência dos proprietários. O casarão já teve diversos do- nos e moradores ilustres, en- tre eles Guilherme Krieger e seu genro, Otto Renaux. Guilherme Krieger foi um grande comerciante e, na vi- rada do século XIX, era um Coronel Guilherme Krieger. Acervo: Rosemari Glatz dos quatro mais prósperos com Otto Reginald Renaux e em Brusque na atualidade, se empreendedores de Brusque. misturou. Um deles é o casa- A localização do Casarão Dom - rão onde em 2018 funciona Joaquim era estratégica para teve dois filhos. O casamento lho do cônsul Carlos Renaux, e uma loja de departamentos. os negócios do Coronel Krie- de Otto Renaux, filho mais ve Ida Krieger, em abril de 1910, A construção, do início do ger, que possuía uma fazenda foi considerada uma união século XX, inicialmente per- em Endoenças, acima de Dom inusitada, pois os pais dos tenceu à família Krieger. Com Joaquim, antigo Cedro, e em noivos, Carlos Renaux e Gui- o casamento de Otto e Ida, - lherme Krieger, eram rivais as famílias se aproximaram de loja, instalada no pulmão políticos. Com o casamento, e os negócios se misturaram. econômicoDom Joaquim de ficavauma região sua gran rica a história de dois dos poucos O local chegou a ser moradia pela produção de madeira casarões que ainda existem de Paulo Renaux, irmão de serrada, farinha de mandioca 171 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

“Casarão Amarelo” ou “Casarão Dom Joaquim” pertenceu ao Coronel Guilherme Krieger. Acervo: Rosemari Glatz e açúcar. Em 1915, Otto Re- ziam o transporte da madei- REFERÊNCIAS naux foi residir no pavimento ra, desde Vidal Ramos, pelo superior do imponente ca- rio Itajaí-Mirim. A madeira BUGGENHAGEN, E. A. von. sarão Dom Joaquim com sua História Econômica no Muni- cípio de Brusque e a obra do Waldemar e Roland, e assu- pontoficava estratégico“estacionada” para na que curva os Cônsul Carlos Renaux. [SI]. miuesposa a direção Ida e osdos dois negócios filhos, balseirosdo rio, e o eCasarão colonos ficava frequen num- Brusque, 1941. Não publica- do sogro no Cedro, pois havia tassem a venda do Coronel do. se desentendido com seu pai, onde eram comercializados KRIEGER FILHO, Jorge Carlos Renaux, em função da sal, açúcar grosso, milho, fa- Paulo. Entrevista concedi- condução dos negócios da fa- rinha de mandioca, café, bata- da à autora, por e-mail, em mília. ta, banha, etc. Para escoar as 20/08/2018. - Arrendatário de terras mercadorias, Guilherme Krie- são Luterana de Brusque. Dis- em toda a região, Guilherme ger tinha lanchas-perua que ponívelIgreja Evangélicaem: http://www.ie de Confis- Krieger explorava a plantação iam até a barra do Cedro para clbrus.com.br/historia.html> de cana-de-açúcar e criação carregar os produtos agríco- Acesso em 20/09/2018. de gado e também a extração las da região, e transportados MOSIMANN, João Carlos. pelo rio até a Stadtplatz che- As famílias de Brusque, Gua- XIX e primeiros decêndios do gando a ir, inclusive, até Itajaí biruba e Botuverá – Nos me- de madeira. No final do século século XX, existia uma grande onde ele mantinha uma em- andros do Itajaí-Mirim. Flo- demanda de balseiros que fa- presa de exportação. rianópolis. 2010. 172 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Carlos Renaux e a esposa Selma Wagner em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz A Família Renaux e a indústria têxtil Uma das mais importan- religião protestante, nasceu e se instalou em Blumenau, tes famílias ligadas à história em Loerrach, Grão-Ducado onde, em fevereiro de 1884, econômica de Brusque é a de Baden, Alemanha, no dia se casou com Selma Wagner, Família Renaux, cuja história 11/03/1862. Frequentou a - começa em 1882 com a che- escola Pedagógico Graodu- ro alemão Peter Wagner. gada, ao Brasil, de Carlos Re- cal e o Ginásio de Loerrach, filhaQuando do bem-sucedido chegou no pioneiBrasil, naux, um homem visionário, o equivalente ao atual ensino Carlos Renaux foi acolhido negociador, empreendedor e médio. Entre 1879 e agosto pelos comerciantes de Blume- político, e que com a família, de 1882 empregou-se como nau que lhe deram trabalho prestou grande contribuição aprendiz no Banco Hipotecá- como caixeiro em uma casa para a transição da Brusque rio de Loerrach – “Kreishypo- comercial, na época conhe- colonial para a Brusque in- thekenBank”. Em setembro de cida como “venda”, onde co- dustrial. 1882, emigrou para o Brasil nheceu a esposa. Após curta Carlos Renaux, em alemão: com carta de recomendação permanência em Blumenau, Karl Christian Renaux, de escrita pelo gerente do banco, graças à sua rara inteligência 173 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

adquiriu essa empresa sen- do, para isso, fundamental a herança recebida por sua mu- lher, Selma Wagner. Era uma venda pequena, mas o jovem negociante adotou no comér- cio os princípios que até en- tão eram desconhecidos por aqui: acabou com o sistema de troca entre colonos e ven- deiros e adotou a base da mo- eda corrente para grande par- te das transações. Renaux começou a par- ticipar nos acontecimentos políticos e duas vezes tomou parte em atos de suma im- portância política: na redação da Constituição do Estado de Santa Catarina, em 1891, e nas lutas da revolta contra Floriano Peixoto, em 1893. Bem relacionado e envolvi- do na política, tinha grande amizade com a família Mül- ler, mais precisamente com Lauro Müller, de Itajaí. Com ele havia lutado em prol da fundação do Partido Republi- cano que elegeu Lauro Müller primeiro governador republi- o seu palacete no centro de Brusque, símbolo cano catarinense e, ele pró- Node final prosperidade do século XIX,e poder a família - no localRenaux onde fez em construir 2018 prio, Carlos Renaux, deputa- existe a Praça Barão de Schneeburg. do constituinte da Primeira Assembleia Constituinte de Santa Catarina em 1889. Em e capacidade organizadora, ding em Brusque, atuante no 1890, Carlos Renaux foi no- em 1884 Carlos Renaux as- comércio de exportação de meado pelo governo estadu- sumiu o cargo de gerente da produtos coloniais em Itajaí. al para presidir o Conselho - Um ano depois, em 1885, ele Municipal. Foi escolhido para filial174 de Asseburg & Willer Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Deputados da primeira Assembleia Constituinte de Santa Catarina em 1891. Acervo: SAB o cargo de superintendente va (1972), neste período, Re- a Guarda Nacional, por força (prefeito) em várias gestões. naux foi preso e submetido a do Decreto Presidencial, as- Carlos Renaux foi um dos Conselho de Guerra que ter- sinado pelo Presidente da Re- chefes republicanos locais da minou por condená-lo à mor- pública Prudente José de Mo- Revolução Federalista que te por fuzilamento. Contudo, rais e Barros em 29/12/1897, teve início em 02/02/1893 graças à enérgica interferên- e publicado na página 3 do Di- e terminou em 23/08/1895, cia de seu ferrenho adversá- quando a guerra civil espa- rio político - Elesbão Pinto da sábado, 01/01/1898. Carlos lhou-se pelos estados do Rio Luz, a sentença foi anulada, e Renauxário Oficial foi da nomeado União (DOU) tenen de- Grande do Sul, Santa Catarina assim Renaux não se somou à te-coronel comandante do 7º e Paraná, que durou 31 meses estatística dos mortos daque- Regimento de Cavalaria, e seu e foi marcada por atrocida- la revolução. irmão, Oscar Renaux, foi no- des contra civis e militares. Em 1898, Carlos Renaux e meado capitão assistente do Segundo José Ferreira da Sil- seu irmão passaram a integrar Coronel comandante Guilher- 175 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz me Krieger. Naquele tempo, a ros teares da fábrica pioneira que rendeu a Brusque o títu- Guarda Nacional simbolizava em Brusque foram acionados lo de “Berço da Fiação Catari- a ordem elitista da sociedade, com os tecelões de origem ale- nense”. pois os cargos assumidos na mã, vindos de Lodz, que pen- instituição estavam direta- saram em estabelecer uma Família Renaux: mente associados à renda e à pequena indústria de tecela- cor da pele, sendo as patentes gem em Brusque. Necessita- esposas e filhos mais elevadas nomeadas pe- vam, todavia, de uma pessoa de Carlos Renaux los presidentes de províncias. que desfrutasse de conceito As tropas não eram remune- na comunidade e que fosse Era 19/02/1884 e fazia radas, tinham as obrigações homem de capacidade dinâ- pouco mais de um ano que de prestar serviço até os 60 mica, capaz de tomar sobre Carlos Renaux havia chegado anos, de providenciar seu si a responsabilidade do em- ao Brasil quando do se uniu uniforme, fazer a manutenção preendimento. Renaux con- em matrimônio, na Igreja das armas e equipamentos quistara reputação de traba- Luterana em Blumenau, com que utilizavam, e pagar con- a bela Selma Wagner. Antes tribuições em dinheiro. - disso, tinham anunciado pu- tão,lhador ele eficientenão conhecia e honesto o ramo e blicamente o seu noivado, aceitou o desafio, mas, até en Berço da Fiação de negócio a que iria, depois, em agosto de 1883. Selma dedicar toda a sua existência. Catarinense Para ampliar a empresa e Friedericke Metzner e nas- adquirir máquinas, Renaux ceuera filhaem deBlumenau Peter Wagner no dia e Após atuar alguns anos tomou dinheiro emprestado 08/12/1865. Foi criada entre como comerciante em Brus- os colonos pioneiros do Vale que, Renaux conseguiu reu- e com esse aporte de recur- do Itajaí, e foi aprendiz de nir economias e, da associa- sosde umaas indústrias firma de se Hamburgo desenvol- professora. Selma trouxe para ção com colonos agrícolas veram e marcaram um novo o casamento um “Mitgift” – da região, e com dinheiro de episódio na vida da cidade. um dote de 10 contos de réis, alguns sócios, montou, em Brusque não poderia mais considerado uma quantia 1892, a primeira empresa manter-se como célula exclu- têxtil da família Renaux. Era sivamente agrícola, e estaria tempo e sólidas raízes na re- 11/03/1892 e Carlos Renaux condenada à decadência se gião.bastante significativa naquele estava completando 30 anos não fosse sua transformação No tronco familiar de Sel- de idade. em parque industrial, e o pri- ma Wagner, vamos encontrar Nesse dia, Carlos Renaux meiro passo desta transição os Baumgarten, Moellmann, iniciou a primeira fábrica de coube ao visionário empreen- Hoepcke, Altenburg, Brü- tecidos em sociedade com dedor Renaux. ckheimer, Hering, etc., que, Paulo Hoepcke e Augusto Em 1900, Carlos Renaux casados com membros da Klapoth, que mais tarde se re- família Wagner, renderam a - algodão de Santa Catarina, Carlos Renaux boas relações instalou a primeira fiação de 176tirariam da firma. Os primei Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história empresariais e políticas. Após família passou a residir num Carolina, e oito homens. o casamento, Selma e Carlos palacete construído no cen- se estabeleceram em Brus- tro, de três andares, pintado o continuador da obra do que. de rosa, terraços de ferro e O filho Otto Renaux foi- A historiadora Maria Lui- um circundado por lhelm Max Renaux nasceu em za Renaux (1995) escreveu esculturas representando as 04/09/1884pai. Sobre os e filhos:faleceu (1)poucos Wi que, para a jovem esposa, os dias após. (2) Sophia, nasceu primeiros anos em Brusque Foi a primeira casa em no dia 23/09/1885 e casou- foram iguais aos de tantas Brusqueprofissões. servida por encana- outras mulheres casadas que mento, luz elétrica e depen- João Bauer, grande empreen- dividiam sua atividade entre dências sanitárias com água dedorse com de August Brusque Bauer, e teve filho seis de o negócio familiar e o domicí- corrente. Não era mais uma lio. No início, o casal morava residência comum. Seguindo Gustav Büeckmann e teve numa casa no centro, junto ao o modelo burguês da época, filhos. (3) Maria casou-se com pequeno comércio que ele ad- pelo qual os mais bem-suce- Renaux casou-se com Augus- ministrava. didos buscavam possuir bens tadois Carolina filhos. (4)Ida OttoKrieger, Reginald mais Depois que Carlos Renaux imóveis em primeiro lugar – o fundou a fábrica de tecidos, o palacete era o signo indispen- Coronel Guilherme Krieger e local de trabalho passou a ser sável de distinção entre os conhecida como Ida, filha do separado da casa de moradia. burgueses – quando apare- Oscar nasceu em 10/03/1889 A casa e a venda permanece- cer era mais importante do etambém faleceu no teve dia dois 23/07 filhos do mes (5).- ram no centro e a fábrica foi que ser. O palacete devia ser mo ano. (6) Carlos Júlio Re- instalada a 3 km além, na Es- o símbolo do status alcança- naux nasceu em 16/08/1891 trada dos Pomeranos, atual do pelos Renaux. Crianças, e não teve descendentes. (7) rua 1º de Maio. Guiada pelos hóspedes, negócios, tudo se Carlos Renaux Júnior nasceu princípios simples de quem misturava naquela atmosfera. em 16/07/1893 e faleceu em lida com a terra, Selma encon- Ali eram recebidas pessoas 09/1917, sem descendência. trou no casamento com “um importantes, desde empresá- (8) Paulo Guilherme Renaux moço da cidade”, ávido de nasceu em 1894, casou-se E Selma, além de auxiliar nos com Alvina Haendchen e des- empreendimentos,rios até políticos influentes.devia ga- viveu em 1947, deixando cin- viajavarefinamento muito, e e de então progresso, Selma rantir a infraestrutura de hos- eramomentos vista controlando difíceis. O maridoas ins- pitalidade em casa. Dentro talações da fábrica. No retor- desse ambiente confortável Guilhermeco filhos. (9) (Willy) Luís nasceu Renaux em no das viagens, Carlos Renaux e luxuoso, “trabalho e muito nasceu1895 e em teve 1896 dois e teve filhos. quatro (10) trazia em sua bagagem as in- trabalho” é o que Selma tinha - - pela frente todos os dias. ma Carolina Renaux nasceu peia, às quais ela tinha de su- Selma e Carlos tiveram emfilhos. 1898, E, finalmente, casou-se (11)com SelAl- jeitar-se.fluências da burguesia euro - bert Wilhelm Gommersbach lheres: Sophia, Maria, e Selma onze filhos, sendo três mu No final do século XIX, a e teve dois filhos. 177 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Selma Wagner Renaux era com “bons olhos”. Por volta de balsamado, transportado a uma mulher inteligente, forte, 1918, para curar a doença da bordo do iate “Angela” até saudável. Como mãe, costu- esposa, o casal se mudou para Itajaí, e está sepultado no a Holanda. Hanna desviveu Mausoléu da Villa Renaux, em era amorosa e em tudo irra- com apenas 35 anos de idade, Brusque. diavamava calor. brincar Por com sua osamabili filhos,- no dia 31/12/1919, em Ar- No total, o Cônsul Carlos dade, temperamento alegre e nhem, na Holanda. Renaux teve três esposas, grande bondade para com os Passados sete meses da necessitados, ela soube con- morte da segunda esposa, primeira, Selma Wagner. quistar as simpatias de toda Carlos Renaux contraiu novas mas filhos teve apenas com a a gente com que vivia. Sel- núpcias com sua governan- Cônsul Honorário ma desviveu às 18h45 do dia ta, a holandesa Maria Lui- 29/09/1912, com 47 anos de za Auguste Lienhaerts - co- em Baden-Baden idade, em sua residência em nhecida pelos brusquenses Brusque, em consequência de como “Goucki”. Ela nasceu Em 1922, Renaux transfe- leucemia. Em seu túmulo, en- riu residência com a esposa contramos a epígrafe que re- Franz Leopold Lienhaerts e para Baden-Baden pois, no sume sua vida: “Se a vida foi deno diaJoanna 26/12/1884, Maria Hubertina filha de tempo do Epitácio Pessoa, o bela, foi trabalho e preocupa- Roosenboom. O casamento governo brasileiro o nome- ção”. (Salmo 90, versículo 10) ocorreu no dia 10/08/1920 ara Cônsul Honorário (sem Poucos meses após en- na terra natal da noiva, em ser funcionário de carreira viuvar, Renaux se casou com Merkelbeek, Limburg, Holan- e sem remuneração) para o a atriz europeia Johanna Ma- da. Goucki era considerada Consulado em Baden-Baden, uma mulher inteligente, dis- para cuidar da transferência Mathias Alois Josef Müllern ciplinada e falava várias lín- de imigrantes alemães para o vonria von Schönenbeck Schönenbeck, e de filha Joanna de guas. Brasil logo após o término da Mathilde Müllern von Schö- Em 1922 o casal se mudou I Guerra Mundial. nenbeck, conhecida pelos para Baden-Baden pois, no Durante os anos em que es- brusquenses como “Hanna”. tempo do Epitácio Pessoa, o teve morando na Europa, Car- O casamento civil foi reali- governo brasileiro o nome- los Renaux manteve-se ativo zado na residência do noivo ara Cônsul Honorário (sem nas atividades empresariais no dia 20/06/1913 pelo Juiz ser funcionário de carreira no Brasil, delas se retirando de Paz Mathias Moritz, tendo e sem remuneração) para o como testemunhas: Vicente e Consulado em Baden-Baden. Do período em que foi Côn- definitivamente só em 1937. João Schaefer. Ela tinha 29 e Goucki desviveu aos 54 anos sul em Baden-Baden, exis- ele tinha 51 anos. Consta que de idade, no dia 27/06/1939, te carta que ele escreveu de Hanna era uma artista vie- em São Paulo - onde estava Brusque para a esposa Gou- nense, elegante, muito bonita internada para tratamento de - e que se expressava bem, e saúde. quanto ele, o Cônsul, viera ao cki que ficara na Europa en que o casamento não foi visto O corpo de Goucki foi em- Brasil inspecionar a expansão 178 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

pelo Cônsul em homenagem à terceira esposa, envolvendo o projeto, a construção, o mobi- liário, os jardins e o lago, bem como o mausoléu, foi concluí- da por volta de 1935.

Fundação Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux

O Cônsul também deixou feitos na área social e cultural

região,e, para financiarem 1936 projetosa família queRe- nauxtrouxessem criou a benefícios Fundação paraCultu a- - los Renaux, conhecida entre nósral e como Beneficente “Cultural”. Cônsul Car Dessa fundação veio o di- nheiro para que Rudolfo Stut-

acabou sendo produzida a primeirazer montasse geladeira a oficina brasileira onde – a geladeira Consul. Também foi por meio da “Cultural” que Cônsul Carlos Renaux em 1942. Acervo: Rosemari Glatz - da Fábrica Renaux, então diri- naux mandou projetar, pelo sas outras instituições, como foram beneficiadas diver engenheiro alemão Eugen igrejas, escolas e hospitais. Otto: “todas as construções Rombach, sua residência em Em discurso proferido pelo foramgida por feitas seu filhode acordo mais velho, com Brusque. Estava se prepa- Cônsul por ocasião da inaugu- - ração do Hospital de Azambu- grandiosas”. tivamente para o Brasil. A ja, a 11/03/1936, ele assim se meu planoA partir de 1929 do einício ficaram da construçãorando para completa retornar da defini “Villa expressou: década de 1930, Carlos Re- Goucki”, como foi chamada “De modo algum quero eu 179 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

28/01/1945, aos 82 anos de como concebida pelo arquite- idade. to Eugen Rombach, deixando Deser agradecidoigual maneira, pelo não que querofiz ou Para o seu sepultamento, como legado o projeto do Mu- serdei emlouvado benefício por atitudes desta obra. de uma longa carreata composta seu Cônsul Carlos Renaux. benemerência de igual ca- por membros da comunida- ráter. Se a conquista de bens de, empregados, familiares, e materiais realmente traz al- grandes nomes da economia gumas facilidades na vida e o e da política de Santa Catari- REFERÊNCIAS sucesso empreendedor des- na e de outros estados vieram perta o reconhecimento so- para o último adeus. Estima- BUGGENHAGEN, E.A. von. cial, por outro lado exige do se que cerca de 10.000 pes- História Econômica no Muni- cidadão muito mais respon- soas compareceram ao seu cípio de Brusque e a obra do sabilidade e compromisso funeral. Cônsul Carlos Renaux. [SI]. frente a sua comunidade. Eu Após a morte do Cônsul, Brusque, 1941. Não publica- conheço muito bem tais obri- seus descendentes costuma- do. gações pois, de início modes- vam se reunir na Villa Renaux Blumenau em Cadernos. A to, minha vida foi de trabalho duas vezes ao ano, para ren- Família Renaux. Tomo III, nº der homenagem aos antepas- 8, agosto de 1860. de privações. É dentro desse sados: no dia 11/03, aniver- http://hemeroteca.ciasc. duro e repleta de sacrifícios e mesmo espírito pois, e movi- sário natalício de Carlos, e em sc.gov.br/blumenau%20 do pelo mesmo sentimento 8/12, aniversário natalício em%20cadernos/1960/ de gratidão, que minha oferta da sua esposa Selma Wagner, BLU1960008_ago.pdf. Acesso se destina à terra a qual, há em 3 de setembro de 2018. mais de meio século, deu-me Carlos Renaux. KONS, Paulo V. A Guarda mãe de todos os 11 filhos de generosa acolhida e que um Durante muitos anos, Sel- Nacional de Brusque. Dis- dia me abrigará em sono eter- ponível em: . Acesso em 10 se- E, no início dos anos 1990, tembro 2018. da vida a bisneta do Cônsul, a histo- RENAUX, Maria Luiza. O riadora Maria Luiza Renaux – outro lado da história: o pa- Depois de enviuvar pela - pel da mulher no Vale do Ita- terceira vez, em 1939, o Côn- sidência na Villa Renaux, em jaí, 1995. sul Carlos Renaux morou conhecida como Bia, fixou re SILVA, José Ferreira da. sozinho em sua residência, no dia 05/01/2017, e durante História de Blumenau. Flo- onde desviveu, de morte na- ânimo definitivo. Bia desviveu os cerca de 25 anos em que rianópolis: Editora EDEME - tural, em decorrência de aci- morou no imóvel, se dedicou Empreendimentos Educacio- dose colapso cardíaca, no dia a preservar a propriedade tal nais Ltda., 1972. 180 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Eduard von Buettner e esposa Albertine Burow em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz A Família von Buettner e a indústria têxtil em Brusque A segunda manufatura têx- a família, onde foi proprietá- sócia comanditária, e guarda til de Brusque foi uma empre- rio de uma loja de fazendas, relação com a produção arte- secos e molhados e armari- sanal de aventais por Alberti- Buettner & Cia., que durante nhos, além de diversos ou- ne, toalhas de mesa, colchas algumsa de bordadostempo manteve, finos, a E.em v. tros empreendimentos. A “E. e cortinas bordadas com má- paralelo aos negócios têxteis, v. Buettner e Cia.”, precurso- quinas à manivela por Idalina, uma loja de secos e molhados ra da Buettner S/A Indústria - e Comércio, foi fundada pelo Edgar Ricardo von Buett- esposa do filho Edgar. e oEm beneficiamento 1873 Eduard de produ von von Buettner, tendo sua mãe von Buettner, apresenta im- Buettnertos agrícolas havia e florestais. se mudado de Albertine,seu filho primogênitoesposa do vendeiro Edgar portantener (2018), contribuição filho de para Edgar a Blumenau para Brusque com Eduard von Buettner, como história da família Buettner a 181 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz partir de documentos obtidos gust Ignaz Conde Lodzia-Po- 28/09/1844, também em em fontes primárias, como ninski (Lodz-Prússia Oriental Sambor, e sua irmã mais certidões e registros nos li- - 1750 – Siebeneichen–Silésia velha, Constance Condes- vros de igreja e outras insti- - 1826), que teve o seu título sa Poninska (nascida em tuições, como juntas comer- de nobreza reconhecido pela 17/02/1789 na Silésia, Prús- Silésia, casado em segun- sia e falecida em 10/08/1878 Edgar Ricardo tem se dedica- das núpcias, com Friederi- em Blumenau). Constance dociais ao e estudoassociações da história de ofícios. da - Condessa Poninska acom- família, desde 1997, quando dessa zu Dohna-Schlodien panharia sua irmã Marie Po- visitou na Europa os lugares (13/06/1765cke Otilie Burggräfin em Klein-Kot e Con- ninska e sobrinhos e Eduard relacionados à história da sua zenau – 16/12/1832 em Sie- von Buettner na sua viagem família: Bunzlau e Kotzenau beneichen). de emigração para o Brasil, na Polônia, Berlim, Potsdam, Ainda conforme Edgar em agosto de 1858, no verão Leipzig, Dresden, Plauen e (2018), com a morte de Edu- europeu. Edgar ainda destaca Hamburgo na Alemanha. ard Friedrich Buettner, em que já em julho de 1850, o ir- De acordo com Ed- 24/06/1850, a viúva Marie mão Christoph havia emitido gar (2018), Eduard Frie- Poninska decidiu mudar-se o passaporte de Marie para drich Büttner nasceu em de Sambor (hoje Sambir, Po- que ela pudesse viajar com lônia) para Potsdam, sede do ourives e conselheiro munici- Reino da Prússia, onde residia para o Rio de Janeiro, mas a pal16/10/1807 da cidade de como Jauer, filho na Silé do- o seu irmão, Christoph Hein- viagemos seus só dois se concretizou filhos menores oito sia, Prússia, Friedrich Daniel rich Ludwig Conde Poninski anos mais tarde. - (nascido em 24/02/1802 A família embarcou no na. Faleceu em 24/06/1850 em Kreibau e falecido em porto de Hamburgo rumo ao naBüttner, cidade de de confissão Sambor, luteraReino 05/03/1876, em Breslau, Si- Rio de Janeiro, de onde seguiu da Galícia e Lodoméria, que lésia, hoje Wroclaw, Polônia), para Santa Catarina, onde ini- pertencia ao Império Austro o fundador do ramo evangé- cialmente se dirigiram para a -Húngaro, deixando enluta- lico (luterano) da família e Colônia Dona Francisca. De- da a esposa Condessa Marie membro do Conselho Supe- pois de algum tempo, muda- Poninska Büttner, nascida rior de Administração do Rei- ram-se para Desterro (atual no Castelo de Siebeneichen no da Prússia, com o título de Florianópolis), capital da pro- (Sete Tílias), na Silésia em Oberregierungsrath. víncia. A jovem von Buettner, 10/11/1811 e falecida em Com Marie Poninska mu- inteligente e ativa, assentiu 06/07/1864, na Colônia São daram-se também os seus em ser professora e foi nome- Pedro de Alcântara, municí- ada, pela resolução provincial pio de São José, Santa Catari- Appolonia (chamada Lon- de 23 de março de 1861, inte- na. ny),dois nascida filhos, Christinaem Sambor, Ottilie Im- rinamente, para a cadeira de pério Austro-Húngaro, em primeiras letras na Colônia 17/09/1841 e Friedrich São Pedro de Alcântara, re- e quatroMarie foimulheres) a filha de caçula Au- Eduard Adolph, nascido em gião metropolitana de Des- de 11 filhos (sete homens 182 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história terro, hoje Florianópolis. Após prestar os exames exigidos pela lei, foi efetiva- da no cargo. Acostumadas ao conforto e à riqueza, não se conformavam com a pre- cariedade dos cômodos que passaram a habitar, nos fun- dos da casa da escola. Esta era de madeira, mas os demais compartimentos da moradia eram de palmitos barreados. Tantas contrariedades, tantos desgostos sucessivos, que- braram o ânimo da Condessa Maria Poninska von Buett- ner. Após curta enfermidade, com apenas 45 anos de idade, morreu em São Pedro de Al- cântara, em 1864. Em 1865, a jovem, mas de- cidida, Appolonia von Buett- ner, que havia sido contratada por Francisco Carlos de Araú- Residência e Casa de Negócios dos von Buettner jo Brusque, Presidente da no centro de Brusque. Acervo: Helga Kamp Província de Santa Catarina, passou a viver com maior Guilherme Scheeffer. Este aceitou o convite do Dr. Her- conforto, tomando parte ativa era viúvo de dona Clara Frie- mann Blumenau, a assumir nos meios sociais, ainda mui- como diretora, a primeira es- to restritos, mas nem por isso primeiros imigrantes funda- cola pública do sexo feminino menos alegres e divertidos. A doresdenreich, de Blumenau. filha de um Scheeffer dos 17 em Blumenau, tornando-se casa da escola fora construída residira em Campinas, São assim, a primeira professo- na Rua do Imperador, a então Paulo, onde perdera a espo- ra pública daquela Colônia. Kaiserstrasse, hoje Alameda sa, numa epidemia de varío- A transferência se deu por Rio Branco. Era uma casa de meio da resolução provincial enxaimel, com parte destina- de 30/08/1865. Appolonia da a sala de aulas e a outra à dela, Willy) tendo e ficado Appolonia com quatronão ti- estava então com 24 anos a residência da diretora e sua filhos. Guilherme (chamado serem completados, em 17 de família. e benquista pelos alunos, foi, setembro daquele ano. Já na casa dos trinta anos, porveram diversas filhos. Muitovezes, estimada home- Em Blumenau, a família von Buettner casou-se com nageada por eles. Em 1894, 183 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz após 33 (trinta e três) anos de 19/05/1878 onde também magistério, requereu aposen- Como era bem letrada, faleceu, em 15/12/1977. Da tadoria. Pouco tempo depois, Albertinea profissão recebeu de serralheiro. o convite união de Eduard com Alber- falecia o marido e ela então de ser a leitora para a ido- - transferiu sua residência sa Constance, Condessa Po- gar, Alice Maria Constância para Brusque, indo morar em ninska, na época já quase (Mimi),tine nasceram Oswald seis Clarence, filhos: EdAr- companhia da família de seu cega. A condessa residia em thur Waldemar, Erna e Irm- único irmão Eduard. Chris- Blumenau, em companhia de gard Wally. tina Ottilie Appolonia von seus sobrinhos Apollonia e Após a fundação da loja de Buettner faleceu aos 88 anos Eduard von Buettner, ambos secos e molhados, a chama- de idade, em Brusque, no dia da “venda Buettner”, Eduard 23/02/1929. Os seus restos Maria Poninska von Buettner, decidiu ir além da atividade mortais encontram-se no ja- falecidafilhos de em sua 1864 irmã na Condessa Colônia comercial, que aprendera em zigo da família von Buettner, São Pedro de Alcântara em Blumenau nos anos de 1864 a no cemitério luterano em Santa Catarina. 1872. Brusque. A atividade empresarial de De acordo com Helga Erbe Os negócios Eduard incluiu também uma Kamp (2018), Eduard von torrefação de café; uma casa Buettner estabeleceu em A história da família Buett- de farinha; um alambique Blumenau uma atividade co- ner em Brusque começa para produzir álcool e uma ou mercial com Luiz Sachtleben, quando, em 1873, Friedrich mais serrarias. Em Brusque, abrindo eles, em sociedade, Eduard Adolf von Buettner, Eduard desenvolveu uma sé- uma casa de secos e molha- mudou-se de Blumenau para rie de atividades empresa- dos. O jovem e bem-apes- Brusque. No mesmo ano, a riais. Em sociedade com João soado Eduard, nascido em sua futura esposa, Albertine Bauer, adquiriu um veleiro, Sambor em 28/09/1844, e Burow, também se mudou para o transporte dos seus falecido em Brusque/SC em para Brusque, levando consi- produtos para Santos e Rio de 29/10/1902, acabou se apai- go o seu primogênito Edgar, Janeiro. xonando pela culta e recatada Este, com toda a carga, aca- Albertine Burow e com ela se em São Pedro de Alcântara, bou naufragando em um tem- casou. Albertine nasceu em nofilho dia de 2 Eduard, de junho que daquele nascera poral. Ele também construiu a 28/06/1851, em Klein Sats- mesmo ano (1873). pe na Pomerânia, hoje Zaspy Loja Buettner, na rua Barão Eduard e Albertine viriam mansão, que ficava ao lado da a se casar apenas cinco anos de Ivinheima, hoje av. Cônsul de uma família de professo- Carlos Renaux, em frente à Małe, na Polônia, e era filha mais tarde, quando celebra- res. Sua irmã, casada com o ram o batismo da primeira rua Alberto Torres, que faz o serralheiro Krause, a convi- - acesso pelo lado leste à Igreja dou para acompanhá-la ao ce Maria, chamada Mimi, que Luterana. Esse imponente ca- Brasil, onde sonhavam encon- nascerafilha do casal,em Brusque, Konstance no Alidia sarão, no estilo de um palazzo trar melhores condições para italiano, acolhia muitos hós- 184 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história pedes e nela celebravam-se muito distante de Bunzlau. com a agregação dos segmen- muitos saraus musicais. Ape- Edgar partiu de Hamburgo no - sar de esforços para conservá dia 12/05/1899, em viagem tamparia e tinturaria. -la, a mansão dos von Buett- de regresso ao Brasil, Rio de tosA de esposa fiação, Albertine,tecelagem aléme es ner acabou sendo demolida Janeiro, trazendo na baga- de excelente e enérgica mãe, em 1987. gem duas máquinas de bor- As lojas de secos e molha- dar à manivela, adquiridas das fundadoras do “Frauen- dos em Brusque, chamadas na Bohemia, hoje República verein”,dona de casaGrupo e anfitriã, de Senhoras foi uma de ‘vendas’, funcionavam tam- Tcheca. Auxiliadoras da Comunidade - Em 1900, Edgar e sua mãe Luterana de Brusque. Como ceiras, já que na época não Albertine, na qualidade de só- mulher, vivia nos bastidores, haviabém como bancos instituições em Brusque. finan A cia comanditária, fundam a na função da esposa a dar venda aceitava depósitos de empresa E.v.Buettner & Cia., - poupança e concedia créditos precursora da Buettner S/A vidades mais públicas de seu para os colonos. Essa ativida- Indústria e Comércio. Vale maridoum eficiente que, além suporte de seus às em ati- de era administrada pela sua destacar aqui, mesmo após preendimentos comerciais, esposa Albertine, que tam- a expansão da sua empresa, tornou-se um dos fundadores bém iniciou, junto com a sua da Escola Evangélica Alemã, - As cortinas de filó da que viria a ser o atual colégio dução de aventais e de panos empresa E.v. Buettner & Cônsul Carlos Renaux. Eduard parafilha maissombrinhas, velha Mimi, incluindo, a pro Cia. alcançaram tal fama, também participou da funda- provavelmente, a produção que o Palácio do Governo, ção do “Turnverein”, o Clu- de mosquiteiros. no Rio de Janeiro, foi com be de Ginástica de Brusque, Buettner (2018) conta elas guarnecido. Este ramo a atual Sociedade Esportiva que, seguindo a orientação da industrial, que foi a primei- Bandeirante, tendo sido o seu sua mãe, o primogênito Edgar ra e, durante muito tempo, Presidente. Eduard faleceu viajou em 1896 para a cidade a única fábrica de borda- em 29/10/1902, o que forçou de Bunzlau, na Silésia, Ale- dos e rendas no Brasil, aos Albertine e o seu primogênito manha (hoje Polônia), onde poucos se transformou Edgar a assumirem as rédeas vivia a sua tia Selma Buett- numa grande indústria de da família e dos negócios. ner Neumann, que o acolheu cortinas, se especializando Albertine Burow von também na produção de Buettner foi quem iniciou a de bordar com máquinas de tecidos em geral, mosqui- primeira confecção em Brus- bordare onde à foi manivela aprender e a oconfec ofício- teiros de filó, guarnições de que: talhava pessoalmente ção de sombrinhas. A cidade mesa estampadas, e tecidos aventais que mandava costu- de Plauen, um dos três polos de revestimento de móveis rar por mulheres costureiras da indústria de bordados e estofados. Enquanto isso, a da vila. Com as duas máqui- rendas na Europa (os outros jovem indústria continuava nas de bordado à manivela, dois são Sankt Gallen, na Suí- em franco processo de cres- trazidas pelo seu primogênito cimento e expansão. Edgar da Europa e instaladas

ça e Lyon, na França) fica não 185 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

e falecida em 14/01/1935 em A matriarca da família Na área do Baú, a famí- Brusque). Segundo Buettner von Buettner em Brusque, lia von Buettner adquiriu (2018), através da sua pri- Albertine Burow von Buett- grandes áreas, sobretudo meira esposa, sua irmã caçu- ner, faleceu aos 73 anos, em para a extração de madei- la, Irmgardt Wally (nascida 12/03/1924. ra. Esta área, no ano 1960 em 20/03/1893 em Brusque foi doada por seus her- e falecida em 09/07/1981 em deiros ao Parque Natural Brusque) trava conhecimento Municipal Morro do Baú, com o técnico têxtil alemão em Ilhota, cujos iniciadores Heinrich (Heinz) Richard foram o botânico Padre Bruno Erbe (nascido em REFERÊNCIAS Raulino Reitz, o botânico e 09/06/1892 em Thüringen, e ecologista Roberto Miguel falecido em 23/07/1952, em Blumenau em Cadernos. Klein, de Itajaí, e o farma- Brusque), com quem se casa Apolônia von Buettner. Tomo cêutico Dr. Guilherme Gem- no dia 10/11/1920. Heinz III, nº 11, novembro de 1960. balla de Rio do Sul, casado Erbe é quem se encarrega de Disponível em:< http://he- com Wera von Buettner. O agregar o segmento de tecela- meroteca.ciasc.sc.gov.br/ Parque Morro do Baú foi gem à indústria Buettner, vis- blumenau%20em%20cader- um dos pontos de amos- to que os bordados e as ren- nos/1960/BLU1960011_nov. tragem do Museu Botânico das estavam sendo oneradas pdf > Acesso em 10 de setem- Fritz Müller, de grande com impostos de 50% a 60%, bro de 2018. relevância histórica para a tornando praticamente inviá- Blumenau em Cadernos. Ciência brasileira. vel a sua comercialização. Os von Buettner. Tomo III, Também é Heinz Erbe nº 8, agosto de 1960. Dis- em 1900 sobre a estrebaria quem assume a expansão da ponível em: . Acesso em 3 de setem- nhasfiló importado, também queimportadas, cobriam - bro de 2018. uma proteção imprescindível quiteto alemão radicado em BUETTNER, Edgar Ricardo das peles claras das mulheres Blumenau,ficou a cargo Simão do renomado Gramlich. ar von. Dados do arquivo pes- europeias em nosso país tro- Também a instalação de uma soal. Fornecido a Rosemari pical. tinturaria e instalações para Glatz, por e-mail, no dia 14 de Em 20 de dezembro de o alvejamento de tecidos no outubro de 2018. 1920, Edgar von Buettner bairro Bateas foram conclu- KAMP, Marga Helga Erbe. contrai núpcias, em Porto ídas em 1923, tendo como Dados do arquivo pessoal. Alegre, com a gaúcha Idalina símbolo deste esforço de in- Fornecido a Rosemari Glatz, Diemer Weiss (nascida em dustrialização, uma enorme por e-mail, no dia 1º de março 20/02/1888 em chaminé feita de tijolos. de 2018. 186 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Gustav Schlösser e esposa Nathalie Starnell em gravura de Francine Cavalheiro Carbonera. Acervo: Rosemari Glatz A Família Schlösser e a indústria têxtil em Brusque A história da família menores, Hugo, Adolph, Carl lecidos em território polonês. Schlösser no Brasil começa e Robert. em 1896, quando chegava a veio da Polônia, que, naquela Brusque o imigrante Gustav época,Geograficamente, era província a da família Rús- Schlösser (em português: Da Polônia sia. Eles faziam parte de um Gustavo Schlösser), um tece- para Brusque grupo de tecelões da Silésia lão de Lodz, Polônia, contra- que haviam sido atraídos pelo tado como técnico têxtil na A família de Gustav Schlös- governo russo para iniciar Fábrica de Tecidos Carlos Re- ser fazia parte dos chamados a atividade têxtil em Lodz, naux. “auslandsdeuctche”, assim Ozorków, Zgierz e adjacên- Acompanhavam-no sua es- nominadoos os imigrantes cias, e estavam lá radicados alemães que estavam estabe- posa Natália e quatro filhos desde o final do século XVIII.187 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Um pouco sobre a gene- sa região. O enorme desen- tos anos de permanência em alogia histórica da família volvimento da indústria têxtil Ozorków, a família Schlösser Schlösser, com base nas con- facilitou a abertura do mer- se mudou para a cidade de tribuições de Marcus Schlös- cado russo para tecidos, um ser (2018): mercado ainda inexistente no A Família Schlösser é ori- eZgierz, distante que apenas geograficamente 10 km de ginária de Rothenburg, na Si- século, essa região tornou-se Lodz.fica muito Zgierz perto era deconsiderado Ozorków, lésia. Eles eram silesianos de grandeimpério dosnúcleo Czares. da Noindústria fim do um importante centro têxtil, origem alemã, possivelmente têxtil da Polônia, sendo consi- com tradição histórica des- imigrantes de outros estados derada a mais importante da de o ano de 1404, e possuía da Alemanha. Dedicavam-se Europa. grande tradição na fabricação ao ramo têxtil como fabrican- Gottfried Schlösser, moti- de tecidos. Em função da fa- tes de tecidos de lã. vado pelo enorme desenvolvi- bricação de tecidos de linha 1789: Nasceu o avô de mento do ramo têxtil na Polô- mais nobre, Zgierz apresen- Gustav Schlösser, Gottfried nia, emigrou de Rothenburg, tou ótimo desenvolvimento Silésia, para a Polônia, e se econômico, compatível, inclu- Gottfried e Anna Schlösser. radicou em Ozorków, primei- sive, com o desenvolvimento GottfriedSchlösser, nasceu filho dena cidade Christian de ra cidade fabricante de teci- de Lodz. Rothenburg, quando a Silésia dos do Reino. Naquela época, 1860: Nasceu Gustav pertencia ao Reino da Prússia cada mestre era considerado (Rothenburg in Schlesien). “fabricante de tecidos”, ocu- de Karl Wilhelm Schlösser. Naquela época, os silesia- pando-se da produção até a ParaSchlösser, se ter emideia Zgierz, da força filho do nos eram considerados pio- têxtil na economia da região neiros têxteis de alto gabari- onde Gustav nasceu, em 1860 to, que procuravam expandir vendaEm do1820, tecido. época O fioem de que lã Zgierz contava com 12.000 suas experiências como mão Gottfriedera fiado manualmente.Schlösser emigrou, habitantes e, destes, 1/3 a cidade de Ozorków conta- eram alemães, havia 116 fa- oferecia boas perspectivas de va com 403 teares manuais, bricantes de tecidos de lã e 32 sobrevivênciade obra qualificada. e futuro A Polônia desen- produzindo 4.000 peças de de tecidos de algodão. volvimento da indústria têx- tecido. 1829: Nasceu o pai de Gus- e algodão, e várias tinturarias. tav Schlösser, Karl Wilhelm NestaExistiam época cinco foram fiações instaladas de lã fortetil, atraindo tendência profissionais para a imigra do- as primeiras tecelagens com ção,ramo apoiada têxtil. Verificou-se pelo próprio uma go- Schlösser. Nesse mesmo ano teares mecânicos importa- verno da Prússia. deSchlösser, 1829, o filho Czar de da Gottfried Rússia, dos da Inglaterra e Bélgica, O deslocamento de peque- Alexandre I, visitou Orzokow, provocando uma revolução nos fabricantes e tecelões de considerada a primeira cida- na indústria têxtil. Zgierz é lã centralizou-se na região de de têxtil na Polônia. vizinha de Lodz e, no ano de Ozorków-Zgierz-Lodz, e em Vislumbrando melhores 1888, as fábricas Scheibler, de outras pequenas cidades des- oportunidades, após mui- Lodz, um gigante no contexto 188 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história mundial das indústrias têx- Gustav Schlösser e Natha- no dia 13/01/1896, e a Brus- teis, possuíam 230.953 fusos, lie Starnell Schlösser saíram que no dia 02/02/1896. Após 10.954 retorcedeiras e 3.664 de Lodz, na Polônia, no dia a chegada a Brusque, mora- 08/12/1895 e, em Hambur- ram no bairro Águas Claras. 1885: Gustav Schlösser se go, Alemanha, embarcaram Gustav trabalhou como mes- casateares com na fiaçãoNathalie, de algodão.da família no navio “Paraguassu” no dia tre de tecelagem na Fábrica Starnell. Nathalie nasceu em 19/12/1895. de Tecidos Carlos Renaux. 1862, em Unikaw, Polônia, Chegaram ao Rio de Janeiro De 1898 a 1902 a família e foi batizada em Wielum - Polônia. Seu pai era moleiro, Gustav Schlösser trabalhou cerca de 15 anos como mes- mas faleceu cedo. tre na fábrica de Carlos Renaux. Em 1911, formou sua Em 1890, seguindo a tradi- própria empresa em sociedade com seus dois ção da família, Gustav Schlös- ser começa a se aperfeiçoar Destinada originalmente a artigos populares, a na área têxtil. Ingressou no tecelagemfilhos, Hugo iniciou e Adolph, com dois a “G. teares Schlösser manuais & Filhos” e crédito grupo especial da tecelagem concedido por Renaux. Considerada a terceira grande da Escola Estadual da Indús- empresa têxtil a iniciar operações em Brusque, em 1924, tria na Monarquia Austro foi instalada a tinturaria própria. Com seu crescimento, -Húngara em Bielsko (Bielitz) a Schlösser passou a fabricar toalhas de copa, mesa, – escola técnica têxtil, no Sul rosto e banho, além de tecidos em brim. No ano de da Polônia, que então estava sob o domínio da Áustria. Em passando a ser denominada “Companhia Industrial 1891, ele se formou técnico 1933, a firma é transformada em Sociedade Anônima, têxtil, e então retornou para Zgierz. Schlösser” até o final da sua existência. 1895: Gustav e Nathalie Schlösser decidem emigrar para o Brasil. Eles já tinham deles nasceram em Zgierz e o últimoquatro nasceu filhos, dosem Lodz. quais Gus três- tav tomou conhecimento das oportunidades de trabalho por intermédio de um agen- te que contratava gente es- pecializada, como técnicos e tecelões, para atuar no desen- volvimento da indústria têxtil do vale do Itajaí-Mirim e do Escritório da Companhia Industrial Schlösser Itajaí-Açu. na avenida Getúlio Vargas, centro. Acervo: SAB 189 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz morou na localidade do Cedro cação de teares de madeira, tear jacquard, adquirido com (hoje bairro Dom Joaquim), alguns dos quais funcionaram o crédito concedido por Car- onde Gustav Schlösser foi los Renaux, que se encarre- professor na Escola Evangéli- - gou, também, do fornecimen- ca Luterana do Cedro. Depois ceisaté o na final nova do séculoindústria, XX. prin- se mudaram para o centro de cipalmenteEm muitas no ocasiõessetor técnico, difí produto em sua “venda”. Brusque. Nathalie e Gustav era Gustav Schlösser que to de fio e da distribuição do conseguia contornar e re- & Filhos foi a terceira grande sendo que três deles, Hugo solver as situações. Gustav empresa A firma têxtil Gustav a iniciar Schlösser opera- AdolphSchlösser e tiveramCarl, nasceram sete filhos, em trabalhou na Fábrica Renaux ções em Brusque. No ano de durante cerca de 15 anos e 1933, a empresa é transfor- em Lodz, e os outros três, Ri- durante toda a sua vida exer- mada em Sociedade Anôni- chard,Zgierz. OlgaO filho Anna Robert e Otto, nasceu nas- cendo atividades na indústria ma, passando a ser denomi- ceram em Brusque. têxtil. Entusiasta do esporte nada “Companhia Industrial De acordo com Renaux amador, da arte e da cultura, - Gustav Schlösser desviveu em existência. lhos Hugo e Adolph Schlösser Brusque no dia 15/02/1935. Schlösser” até o final da sua também(2010), além trabalharam de Gustav, comoos fi tecelões na fábrica de Carlos Gustav Renaux por algum tempo, mas, entre fevereiro e agosto Schlösser & Filhos de 1908, Hugo e Adolph esti- REFERÊNCIAS veram trabalhando no mesmo - ramo no Rio de Janeiro, para lhos Hugo e Adolph fundaram GEVAERD, Ayres. Os Te- Em 1911, Gustav e os fi uma pequena tecelagem, a celões de LODZ na História Cia. empresa “Gustav Schlösser & de Brusque. Blumenau em umaDecidiram firma de nomevoltar Prinz para & Filhos”, cuja razão social mais Cadernos. Arquivo Histórico Brusque, e ainda em 1908 tarde passou para Cia. Indus- José Ferreira da Silva, tomo V, Hugo começou a tecer em trial Schlösser. nº 3, março 1962. casa, em tear manual adquiri- RENAUX, Maria Luiza. Co- do do tecelão Tietzmann, que lonização e Indústria no Vale Com a fundação da firma, o trouxera de Lodz; Adolph foi Adolph voltaram a trabalhar do Itajaí: O Modelo Catari- Gustav e os filhos Hugo e trabalhar na Empresa Indus- juntos em Brusque, desta vez nense de desenvolvimento. trial Garcia, em Blumenau. por conta própria. O capital 2ª ed. Florianópolis: Instituto Enquanto isso, Gustav inicial da empresa era de seis Carl Hoepcke, 2010. Schlösser, o pai, trabalhava contos e a tecelagem iniciou SCHLÖSSER, Marcus. Do- como técnico têxtil na Re- com dois teares manuais, um cumentos sobre a origem da naux. Dotado de extraordi- deles provavelmente aquele família fornecidos por Mar- nários conhecimentos de sua utilizado por Hugo na fabrica- cus Schlösser à autora em arte, Gustav orientava a fabri- ção doméstica, e o outro, um 20/08/2018. 190 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Festa dos Atiradores, a mais querida manifestação popular de todos os tempos. Era realizada anualmente no Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque. Acervo: SAB Folclore e tradições Desde os primeiros anos nova colônia. Um dos exem- Schützenverein: de fundação, a então Colônia plos foi a fundação da primei- Itajahy-Brusque já evidencia- ra sociedade de atiradores a Sociedade de va, através das lideranças da (Schützenverein), e a vida Caça e Tiro comunidade, o desejo de di- social que nos primórdios da fundir sua cultura sob vários colônia se baseava nos encon- Uma instituição que sem- aspectos. Dotados de espíri- tros familiares, religiosos e de pre foi muito importante en- to comunitário admirável, as lazer, com o passar do tem- tre a população de origem características culturais dos po foi estabelecendo outros alemã era a “Schützenverein”, primeiros imigrantes do sé- a Sociedade de Caça e Tiro, que existiu em áreas de colo- culo XIX foram sendo trans- como as festas de igreja e da nização alemã no sul do Bra- mitidas através das gerações comunidade,elementos de as identificação, sociedades sil. que se sucederam, que soube- esportivas, as comemorações A força da cultura aliada à ram se unir e estabelecer os de Páscoa e do Natal e os pi- representatividade dos líde- queniques. elementos de identificação da 191 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz res pioneiros deu vida e vi- festa tradicional que acontece Em Brusque, a “Schützenfest” gor à Sociedade, permitindo a anualmente na região noroes- acabou evoluindo para a Fe- estabilidade necessária para te da Alemanha, bem como na narreco. se transformar no centro de Baviera. No Brasil, a “Schüt- lazer e distração comunitá- zenfest”, era realizada pelas ria, seja pela prática do tiro, sociedades de atiradores, e Festas de Igreja da dança, do canto, da músi- servia tanto para manter as Desde os primórdios da ca, do teatro, do consumo de tradições quanto para reunir fundação de Brusque, nas fes- cervejas e outras atividades a maior parte dos coloniza- tas religiosas os participantes recreativas originárias da ve- dores de origem alemã numa - lha Alemanha. Ainda no ano grande festa. Em Brusque de fundação, a diretoria pro- também foi assim. dianão festivo,ficavam serestritos estimulava ao gru a videnciou a aquisição de ter- Ao tratar sobre o assunto, participaçãopo da religião fraternal beneficiada. de Noto- reno e construção de ranchos Seyferth (1974) escreveu que dos os membros da comuni- para stand e guarda de mate- o formato da Schützenverein dade e, assim, os resultados rial de tiro. Na segunda-feira foi transplantado da Alema- de Páscoa do ano seguinte, nha para o Sul do Brasil tal Para atrair o maior núme- realizou-se a primeira “Schüt- como funcionava lá no sécu- rofinanceiros de participantes, eram maiores. a compra zenfest”, com vasta programa- lo XIX, e, assim, além da festa dos gêneros alimentícios, gu- ção e a primeira disputa para anual de cada igreja, o maior loseimas, utensílios e tudo o o “rei do alvo”. Nascia assim evento da colônia era a festa mais indispensável para a fes- a festa dos atiradores, como do município “Schützenfest”, ta, era feita nas diversas casas a mais querida manifestação a festa do rei do alvo, da qual comerciais da região próxi- popular brusquense de todos a família toda participava, ma, anulando, a priori, os res- os tempos. Hoje a “Schützen- mesmo porque muitas vezes sentimentos. Algumas vezes, verein” se chama Clube de a parentela só se reunia nes- mesmo a festa sendo da igreja Caça e Tiro Araújo Brusque tas ocasiões, o que denota a - e se orgulha de ser um dos importância desses eventos. clubes mais antigos do Bra- católica, o grupo financeira sil (CAÇA E TIRO BRUSQUE, 2018). Uma importante institui- ção do tempo de colônia para manter as tradições trazidas pelos imigrantes eram as festas. Havia a festa anual de cada igreja e a grande festa do município, a “Schützenfest”. Ia toda a família, porque era a festa dos alemães. A “Schützenfest” (em por- tuguês: Festa do Tiro), é uma Festa de igreja em Azambuja. Acervo: SAB 192 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Sociedade Ginástica, atual Sociedade Esportiva Bandeirante. Acervo: SAB mente poderoso era o lutera- - liar ao povo e à Pátria, e como no e no costume local nunca sociação de ginastas, a atual algo pertencente apenas às se menosprezava a contribui- Sociedadeque, traduzindo, Esportiva significa Bandei as- pessoas de alma livre (JAHN, rante. 1967). negociantes se sentiam mais A “Turnverein”, ou as- No dia 16/06/1900, a es- compromissadosção financeira. Tambéma compa os- sociação de ginastas, tinha trela do esporte na cidade de recer no evento quando ven- como símbolo os quatro F Brusque passou a brilhar com diam para a festa, indistinta- da ginástica criada por Frie- mais força, quando foi criada mente do lado religioso. drich Ludwig Jahn. Nos esta- a “Turnverein Brusque”. Essa Esse tipo de festa, organi- belecimentos de ginástica, os fortaleza do esporte nasceu, zado com zelo e esforço para bons costumes deveriam ser cresceu, desenvolveu-se, pro- envolver e comprometer toda ainda mais cultivados do que jetou-se e atingiu sua maio- a sociedade, muitas vezes ex- em qualquer outro lugar. As ridade como fruto do labor plica como cada comunidade de seus atletas, dirigentes e conseguiu ter a sua escola, a conforme Jahn, o maior nor- funcionários, conquistando sua igreja e o seu cemitério, o regrasteador moraisda vida configurariam,de um ginasta, mares nunca navegados pelo triângulo social característico e deste princípio surge o lema do povoado na área cultural “frisch, frei, fröhlich, fromm catarinense”. da sociedade teuto-brasileira, esporteA Sociedade do “berço Esportiva da fiação Ban- e também em Brusque. Os denominados “4F” de Jahn deirante (2018) surgiu com a indicam― ist des que Turners “a riqueza Reichtum”. do gi- denominação inicial “Turnve- nasta é ser vivo, livre, alegre rein Brusque”, nome dado por Turnverein e devoto”. Jahn entendia que, seus 14 idealizadores e que, Brusque enquanto houver a necessi- traduzida para o português dade de uma vida corporal, - De grande valor pedagó- haverá a necessidade de tra- tas. Por esse motivo, o Clube gico, uma das atividades que balhar este corpo, dando-lhe tambémsignifica associaçãoera conhecido de ginas por tiveram notável desenvolvi- habilidade, resistência, per- Sociedade Ginástica, hoje po- mento na organização diver- sistência, coragem, atributos tência esportiva fulgurante. sional nas regiões de ocupa- sem os quais ele facilmente Cada mudança de nome, de ção teuta foram as sociedades mergulharia nas sombras da Turnverein para Bandeiran- de ginástica. Aqui também futilidade e do egoísmo. te, determinou a conclusão de foi assim e, desde o início do O Turnen destaca-se, as- um estágio e início de outro, século XX, um dos pontos al- sim, como um dos aspectos em busca do progresso, po- tos da sociedade brusquen- mais essenciais da instrução rém, a ideia original jamais foi se chamava-se “Turnverein” do indivíduo, como algo fami- podada ou desprezada. 193 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Tradições e recheadas com amendoim Tradições confeitado. da Páscoa Costumamos ouvir que se Natalinas trata de uma tradição alemã, Na Alemanha, assim como mas essa é uma tradição que No livro Folclore de Brus- na região de Brusque des- não existe na Alemanha. As que (1960), vamos encontrar de o início da colonização, amêndoas açucaradas consti- uma literatura interessante a Páscoa é um grande even- tuem uma tradição de Páscoa sobre São Nicolau, Pelznickel to. As casquinhas de ovos são portuguesa e, como no Bra- e Christkind. Ao escrever so- usadas para decorar as tra- sil não havia amêndoas, seus bre as festividades natalinas, dicionais árvores de páscoa: descendentes as substituíram Piazza dizia que em Brusque a “Osterbaum”, ou árvore de por amendoins. Assim, reche- e Guabiruba, além do São Ni- Páscoa. Na Europa, é costu- colau, era comum certos tipos ar as cascas de ovos decora- me colocar a decoração cedo, populares trajarem-se com das com amendoins confeita- logo após o Carnaval, quando trapos e, conduzindo pesadas dos é apenas um sincretismo os galhos ainda estão quase correntes, representavam o cultural entre as tradições secos, apenas com os broti- Pelznickel, para atemorizar portuguesas e alemãs no Bra- a garotada, o que, de certo sil, e faz parte de uma cultura com o passar dos dias, levan- modo, consistia num prepa- mais recente. donhos a primavera verdes, que para florescemos lares e ro psicológico para o Natal, Mas um costume que exis- preparando o clima de reno- como que avisando: os bons te na Alemanha e em outras vação da Páscoa. serão premiados e os maus regiões da Europa, como a Muitas pessoas também esquecidos. montam a “Osterbaum” no Polônia, por exemplo, e que Para aguardar a passagem jardim, decorando, com as ainda se preserva por aqui, é de São Nicolau no período na- casquinhas coloridas, alguma a tradição de enfeitar as ces- talino na região de Brusque e árvore ainda seca por conta tinhas e também de cozinhar Guabiruba, algumas famílias ovos com anilina, beterraba costumavam colocar pratos árvore de Páscoa traz em seu ou marcela para colori-lo na- na janela, ou nas mesas, para contextodo fim do um inverno conceito europeu. ligado Aà turalmente. que fossem enchidos com religião, pois a cruz de Jesus No domingo de Páscoa, os guloseimas. Às vezes o São Cristo também é feita de uma ovos cozidos e coloridos são Nicolau passava e, do centro árvore. colocados em “ninhos” escon- da rua, ia atirando, pelas ja- Na tradição cristã, Cristo didos na mata, ou em cestas nelas e portas abertas, nozes, se fez a árvore da vida, e a de ovos e chocolates, para que amêndoas açucaradas, balas, Páscoa simboliza a vitória da a criançada possa ir procurar doces secos, etc. vida sobre a morte. quando acordar. Ainda de acordo com Piaz- Outro elemento comum Até os adultos entram na za, a imagem de São Nicolau, na Páscoa, tanto em Brusque brincadeira. Na tradição cris- comumente venerada na Eu- como nas outras cidades de tã, o ovo é o símbolo de vida ropa Central e Nórdica, é de colonização alemã na região que surge, uma vida nova que um bispo, com mitra na ca- do Vale Europeu são as cas- se inicia, onde o ovo simboli- beça e báculo na mão. Entre- quinhas de ovos decoradas za a ressurreição. tanto, na região de Brusque, 194 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Noel e Christkind, contando- lhes as virtudes e diabruras de cada um dos petizes da casa e discutindo se mere- ciam ou não os presentes de- sejados. Quando o ‘suspense’ estava no auge, havia o gesto de magnanimidade da Chris- tkind, mandando o Papai Noel distribuir os brinquedos e gu- loseimas. A abertura do saco de presentes era um estouro de alegria. Feita a distribui- ção, a família homenageava a dupla benfazeja, dando-lhes doces e bebidas” (PIAZZA, 1960). Dentro das tradições nata- linas da nossa região, vamos encontrar lugar de destaque para as canções folclóricas,

Pelznickel em Guabiruba em 1954. Acervo: Sociedade do Pelznickel fornecem informações sobre oreflexo que as de pessoas um tempo pensavam e que e a legenda popular regional sentiam. o representa acompanhado, “Ruprecht”. Baron (2017), na sua obra no dia da distribuição dos de Em uma Brusque fotografia e Guabiruba do criado Melodien von Guabiruba, presentes, de um criado cha- o “Papai Noel” era comumen- compartilhou os resultados mado “Ruprecht”, que aqui o te acompanhado pela Chris- de uma importante pesqui- povo apelidou de “Pelznickel”, tkind -, uma criança vestida sa sobre as canções trazidas a quem compete amedrontar com ampla camisola branca, pelos imigrantes alemães e as crianças e, às malcompor- representando o Cristo crian- que são cantadas na região tadas, ameaçar de castigo, ça, com um véu no rosto para na atualidade. A canção “Stil- caso não se emendem até o Natal. sinetinha na mão, para anun- encontramos nas páginas 79 Dentre os relatos atribuí- ciarevitar sua a aproximação. identificação A e famí uma- ele 80Nacht! do livroHeilige de Nacht!Baron, ”, comque dos ao Ruprecht, consta que lia, ouvindo a sinetinha tocar, letra e melodia iguais às que foi dele que saiu a imagem do acendia as velas da árvore de ainda hoje se cantam na Ale- Papai Noel que conhecemos Natal – o pinheirinho – e apa- manha, curiosamente é a can- na atualidade, numa adapta- gava as demais luzes da casa e ção a que Piazza se referiu ao ção do personagem desenha- cantava “Stille Nacht” (canção escrever sobre os natais pas- do pelo alemão Thomas Nast “Noite Feliz’). Em seguida, a sados de Brusque e Guabiru- família recebia a dupla: Papai ba. no final do século XIX, a partir 195 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Piqueniques que uniam REFERÊNCIAS famílias e gerações BANDEIRANTE. Como e quem originou a Sociedade Em desuso atualmente, o piquenique reunia muitas famí- Esportiva Bandeirante. So- lias aos domingos e dias de feriados e era uma das formas ciedade Esportiva Bandeiran- encontradas pela população para desfrutar de uma tarde te. Disponível em:< http:// de lazer em Brusque e região. Os piqueniques costumavam www.sebandeirante.com. acontecer durante os meses mais agradáveis do ano, como - na primavera, em espaços próximos da natureza, como ria >. Acesso em: 22 setembro br/o_clube/?id=OA==&histo montanhas e bosques, assim como também, nas regiões de 2018. BARON. Sidinei Ernane. cachoeiras no interior da cidade e nas prainhas formadas Melodien von Guabiruba. Tra- pelo Itajaí-Mirim. dução de Úrsula Rombach; O deslocamento muitas vezes se dava com bicicletas ou ilustrações Cláudia Rieg Ba- mesmo a pé, dependendo da distância. A refeição tinha ron e Maria Rejane dos Santos como base as comidas de fácil preparo e transporte, como Gomes. Navegantes: Editora sanduíches, frutas, ovos cozidos e bolachas, além de bebi- Papaterra, 2017. das. CAÇA E TIRO BRUSQUE. Tradicionalmente, os alimentos eram transportados até História do Clube. Clube de o local do piquenique dentro de uma cesta e, para servir, Caça e Tiro Araújo Brusque. eram dispostos em uma toalha apropriada, geralmente Disponível em:< http://www. com motivos de estampa xadrez, sobre o solo, em torno dos cacaetirobrusque.com.br/ quais as famílias e amigos se acomodavam. Realizados ao ar historia.php >. Acesso em: 22 livre, sem restrições de horários, refeições feitas em meio à setembro 2018. natureza, muitas vezes os piqueniques envolviam também JAHN, Friedrich Ludwig.; atividades recreacionais. Eram momentos muito especiais, EISELEN, E. (1816) Die Deutsche Turnkunst zur Ein- de relaxamento e de integração entre amigos, famílias e ge- richtung der Turnplatze. Stut- rações. tgart: Verlagsdruckerei Con- radi & Co, 1967. PIAZZA, Walter F. Folclore de Brusque: Estudo de uma comunidade. Edição da So- ciedade Amigos de Brusque. Brusque, 1960. SEYFERTH, Giralda. A co- lonização alemã no vale do Itajaí-Mirim. Um estudo de desenvolvimento econômi- co. Editora Movimento. Porto Alegre. 1974. 196 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Palacete Renaux cassem violino, violoncelo, piano e outros instrumen- ponto mais nobre do coração de Brusque, no cruza- tos. As leituras eram feitas em torno da grande mesa mentoEdificado das ruas no Montefinal do Castelo século eXIX Barão e implantado de Ivinheima no de jantar. (atual Cônsul Carlos Renaux), o palacete foi constru- O palacete foi construído com modelo de arquite- ído para servir de residência da família de Carlos Re- tura Historicista, com elementos neoclássicos. A casa naux e Selma Wagner Renaux. Símbolo arquitetônico do industrial foi centro de inúmeros encontros e reuni- de Brusque e dotado de características peculiares, o ões. Lá eram recebidas pessoas importantes, não só as palacete era pintado de rosa, como outras constru- - ções nacionais de destaque na época. O terraço era de - paradiretamente os empreendimentos ligadas à atividade nascentes. fabril, Carlos mas figuras Renaux pú se res circundava a casa. blicas influentes, cujo beneplácito se fazia necessário ferro,No ealto um do gramado palacete entrecortado residencial de por três flores andares, e árvo as portas aos seus empreendimentos no Estado. Como estátuas, em tamanho real, representavam o Comér- deputado,tornara político assinou para a primeira poder afirmar constituição seus valores republicana e abrir - do Estado de Santa Catarina em 1889, e foi também um sões. A casa foi a primeira e, durante algum tempo, dos superintendentes (prefeitos) municipais de Brus- acio, única a Indústria, de Brusque as Artes, servida a Lavoura, por encanamento e outras profis e luz que. O Palacete Renaux foi demolido em 1949 e estava elétrica. Dependências sanitárias com água corren- situado onde hoje é a praça Barão de Schneeburg. Na te também foram uma inovação do palacete Renaux, - concluído em 1900. Essa novidade havia surgido nas dera as particularidades históricas como etapas ou fa- compreensãoses do desenvolvimento da filosofia da do humanidade Historicismo, e permeouque consi o descarga nos sanitários foi inventada na Inglaterra emresidências 1885. Na finas sala, daos lustres Europa iluminavam nessa mesma o espaço época: e a demolido, certamente o palacete seria considerado madeira do assoalho era talhada como raios de sol e modelo construtivo da edificação, se não tivesse sido havia grandes espelhos nas paredes da sala. Um gran- - colonialum dos patrimôniospara a Brusque históricos industrial. mais significativos da região, pois foi o marco físico da transição da Brusque de salão de música era utilizado para que os filhos to

197 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Mapa área de influência das etnias no Vale do Itajaí-Mirim de autoria do Cartógrafo, C. Medeiros, do Departamento Estadual de Geografia e Cartografia.

REFERÊNCIA

PIAZZA, Walter F. Fol- clore de Brusque: Estudo de uma comunidade. Edi- ção da Sociedade Amigos de Brusque. Brusque, 1960. 198 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

199 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz PorquePorque éé conhecendoconhecendo oo passadopassado queque podemospodemos enxergarenxergar oo futuro...futuro...

Mapa de Brusque retratando os empreendimentos Renaux. Autor Eugen Rombach. Acervo: SAB

200 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

201 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Pórtico de Entrada na Rodovia Antônio Heil Das an der Antônio Heil Landstraβe (SC-486) zwischen Brusque und Itajaí gelegene Kunstwerk symbolisiert die starke Wirtschaft und die solide Gesellschaft der Stadt Brusque. Zwei Türme aus Marmor und Granit, ein großes rotes Betonband, das für die Freiheit, die Verwandlung und das Wachstum der Stadt stehen. Es versinnbildlicht das Baumwollgarn, das zu edlem Stoff wird und die Stadt große wirtschaftliche Fortschritte brachte.

O pórtico que marca a entrada tico apresenta duas torres de mação e crescimento da cidade, de Brusque pela Rodovia Antô- mármore e granito, que emer- nio Heil representa a solidez da gem do piso da praça de maneira se transforma em tecido, e gerou economia e da sociedade brus- sólida, forte e imponente, repre- grandeassim como desenvolvimento o fio de algodão para que a quense, onde a forma orgânica sentando a solidez da sociedade cidade. Fazendo parte do cená- brusquense e da sua indústria rio da praça, um espaço cria uma história através das mais nobres têxtil. A segunda estrutura é uma atmosfera de contemplação do linhasdos fios que de caracterizam algodão marca o teci sua- - marco – uma praça seca contor- do multiétnico que é Brusque. O to, que emerge do piso com um nada por um paisagismo colori- projeto foi arquitetado por meio desenhogrande fita retilíneo, vermelha de deforma concre ho- do que garante a permeabilida- de um concurso público nacio- rizontal, passando por entre as nal e as obras foram viabilizadas duas torres, quando dá início a O pórtico marca a divisa de por meio de uma parceria entre algumas ondulações, simulan- Brusquede, tanto comfísica o quantomunicípio visual. de Ita - a iniciativa privada e a Adminis- jaí. tração Pública Municipal. - Localização: Rodovia Antônio A primeira estrutura do pór- presentado uma fitaa liberdade, em movimento, a transfor ao- Heil. Brusque. vento. Essa fita de concreto re 202 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Pórtico de Entrada na Rodovia Ivo Silveira Der Portikus an der Ivo Silveira Landstraβe (SC-108) zwischen Brusque und Gaspar stellt künstlerisch einen groβen Webstuhl dar. Er verweist auf die traditionelle Arbeit am Webstuhl und auf die wirtschaftliche Basis der Stadt Brusque, die bundesweit als „Stadt der Tücher“ bekannt ist.

O pórtico que marca a en- povo, lembrando a grande trada de Brusque pela Rodo- - importância das pessoas que via Ivo Silveira simboliza um teturaque fios remete de aço ao mote são tecidosde “Ci- a construíram. As ondulações grande tear e foi arquitetado dadepara formardos Tecidos”. uma fita, Apresenta a arqui - por meio de um concurso pú- uma releitura da tecelagem - blico nacional. As obras foram artesanal de forma bastante cidoda longa em movimento, fita vermelha ao de vento, con viabilizadas por meio de uma singela, reportando-se à cul- ecreto representa simulam auma liberdade, fita de te a parceria entre a iniciativa pri- tura e à economia do Municí- transformação e crescimento vada e a Administração Pú- pio. da cidade. blica Municipal, com diferen- Sua estética é de grande O pórtico marca a divisa de tes empresas patrocinando o Brusque com o município de projeto. solidez e segurança, retrata Gaspar. Feito de blocos de mármo- asignificado. base para Aa pedra,construção que dáda re que se transformam em cidade. O tecido simboliza o Localização: Rodovia Ivo muro, ao mesmo tempo em trabalho e a inspiração do seu Silveira. Brusque. 203 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Ponte Estaiada Irineu Bornhausen

In den Jahren 2002-2004 wurde über den Fluss Itajaí-Mirim die Brücke „Irineu Bornhausen“ gebaut. Sie gilt als eines der Wahrzeichen der Stadt Brusque.

A Ponte Irineu Bornhau- de comprimento, e 36 metros Federal do Paraná – UFPR, sen, mais conhecida como de altura. O pilar central tem que atribuía parte da respon- “Ponte Estaiada”, foi constru- formato em A, de onde saem sabilidade das enchentes à ída entre os anos de 2002 e quatro grupos de dois estais antiga ponte existente, que 2004, e inaugurada em 20 de cada, num total de 512 cabos, havia sido construída na dé- abril de 2004. que correspondem a 4,6 mil cada de 1980 e possuía ape- A ponte se destaca pela toneladas de força. nas 20 metros de vão, causan- materialidade, o concreto O projeto arquitetônico é do um estrangulamento do branco, sendo considerada de autoria de Mário de Miran- canal do rio e a retenção de a primeira ponte estaiada da, inspirado em uma ponte resíduos sólidos nos pilares construída com este material que leva ao aeroporto de Mal- da ponte. no Brasil. pensa, na Itália, e o projeto - A escolha do material se estrutural foi assinado por tante patrimônio arquitetô- deu pelo aspecto estético Osvaldemar Marchetti. A op- nicoA edificaçãode Brusque, é ume um impor dos do mesmo, que permite um ção da técnica construtiva de principais cartões postais da concreto aparente com uma estaiamento se deu por um cidade. característica diferente da aspecto técnico evidenciado Localização: Avenida Lau- convencional. Tem 90 metros num estudo da Universidade ro Muller. Centro. Brusque. 204 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Fórum Dr. Pedro Alexandrino Pereira de Mello

Das heutige vom Amtsgericht genutzte Gebäude wurde im Jahr 1992 gebaut. Es befindet sich auf dem Verwaltungsgelände neben dem Rathaus und dem Gemeinderatsgebäude.

A Comarca de Brusque foi Considerado um impor- instalada em março de 1892 em 28 de fevereiro de 1992. tante atrativo turístico de e o primeiro juiz foi o Dr. An- A edificaçãoconstrução foi é inaugurada belíssima, Brusque, ao lado da Câmara tônio Wanderley Navarro e busca lembrar as antigas de Vereadores e da Prefeitura, Pereira Lins. O Fórum da Co- construções que utilizavam o o falso enxaimel que permeia marca de Brusque é denomi- a construção contribui para nado Dr. Pedro Alexandrino pelos alemães e, com isso, re- dar um ar europeu à cidade. Pereira de Mello, que exerceu sistema de edificação usado- o cargo de Juiz de Direito na zer à memória a história da Localização: Rua Eduardo Comarca entre 25/07/1898 e colonizaçãoafirmar uma de identidade Brusque ee traho- Von Buettner, Centro. Brus- 13/03/1902. menagear a imigração alemã. que. 205 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Câmara de Vereadores de Brusque

Die Gemeinderatssitzungen finden wöchentlich in dem 2008 erbauten Gebäude neben dem Rathaus statt. Im Jahr 1883 wurde der erste Ortsgemeinderat gewählt und erster Gemeinderatsvorsitzender war Hermann Willerding.

A história da Câmara de o primeiro presidente da Câ- exercendo apenas o Poder Le- Vereadores remonta ao Bra- mara. gislativo, sendo responsável sil Império. No período mo- No período monárquico, nárquico, os municípios eram os municípios eram adminis- do Poder Executivo Munici- administrados pelas câmaras trados pelas câmaras muni- pal.por fiscalizar e julgar os atos municipais, e os presidentes cipais. Em 15 de novembro Também conhecida como das câmaras correspondiam de 1889 foi proclamada a Re- “Casa do Povo”, a Câmara de aos superintendentes, o equi- pública e instaurada a forma Vereadores de Brusque pas- valente ao cargo de prefeito republicana presidencialista sou a funcionar em sua pri- hoje. de governo no Brasil, encer- meira sede própria apenas E para instalar e adminis- rando a monarquia consti- em 4 de abril de 2008. Está trar o novo município, em 5 tucional parlamentarista do localizada ao lado da Prefei- de maio de 1883 foram elei- Império. tura Municipal e do Fórum da tos os primeiros vereadores. A Câmara Municipal de Comarca de Brusque. A solenidade de tomada de Brusque atuou até 13 de ja- posse foi realizada em 8 de ju- neiro de 1890, e somente no Localização: Praça das lho de 1883, e o comerciante dia 20 de dezembro de 1947 Bandeiras, nº 65. Centro. Germano Willerding foi eleito voltou a funcionar, porém Brusque. 206 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Prefeitura Municipal de Brusque Das heutige Gebäude des Rathauses wurde im Mai 1992 eingeweiht. Die Konstruktion ist schön und erinnert uns an die alten deutschen Fachwerkhäuser. Damit ehrt die Stadt die Geschichte der deutschen Einwanderung nach Brusque. O prédio da Prefeitura de Um dos principais pontos aparência das antigas casas, Brusque foi inaugurado no turísticos da cidade, o estilo mas não utiliza a técnica. dia 29 de maio de 1992, com de construção buscou recriar projeto do engenheiro civil a aparência germanizada dos um dos principais atrativos Rubens Aviz. A construção é primórdios da cidade. A fa- turísticosA edificação de Brusque. é considerada - chada, que imita a técnica mar uma identidade e trazer de enxaimel, é conhecida en- Localização: Praça das àbelíssima, memória ea história procura da reafir colo- tre os arquitetos como “falso Bandeiras, nº 77, em frente nização de Brusque e home- enxaimel”, ou como neoen- à Praça do Sesquicentenário. nagear a imigração alemã. xaimel, pois apenas simula a Centro. Brusque. 207 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Observatório Astronômico de Brusque

Die Sternwarte liegt im Kloster Heiliges Herz Jesu und wurde 1979 eröffnet.

O Observatório Astronômi- Em 1987 foi criado o Gru- O Observatório é bastante co de Brusque foi inaugurado po de Estudos Astronômicos procurado por escolas, e fun- em 3 de novembro de 1979, Antares, ligado ao Observató- ciona como um complemento no Convento Sagrado Coração rio. do conteúdo visto em sala de de Jesus, numa iniciativa dos Com o crescente interesse aula. padres Pedro Canísio Rauber dos estudantes e da própria O Observatório Astronô- e Tadeu Cristovam Mikowski. comunidade em torno das ati- mico é aberto ao público todo Inicialmente foi denominado vidades do Observatório, em segundo e terceiro sábados Observatório Kappa Scorpii, 19 de março de 1988, e com de cada mês, das 20h às 24h, em alusão a uma das estrelas o apoio do então Pe. Tadeu se houver condição atmosfé- representadas na constelação Cristovam Mikowski, foi fun- rica favorável, com entrada do Escorpião. É considerado dado o Clube de Astronomia gratuita. uma referência nacional na de Brusque - CAB, numa jun- área de pesquisa e divulga- ção do Observatório Kappa Localização: Avenida das ção da astronomia e ciências Scorpii e do Grupo de Estudos Comunidades, nº 111 – Cen- Astronômicos Antares. tro. Brusque.

208afins. Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

RPPN Chácara Edith „Chácara Edith“ ist ein privates Naturschutzgebiet und hat eine Gesamtfläche von 509,32 Hektar. Ungefähr 95% dieses Gebietes ist vom Atlantischen Regenwald bedeckt.

A Chácara Edith é uma Re- Fundação de Amparo à Tec- da Biosfera da Mata Atlânti- serva Particular do Patrimô- nologia e ao Meio Ambiente ca conferido pela Unesco. Lá nio Natural – RPPN. Tem uma (FATMA) de Santa Catarina podemos encontrar córregos área de 415,79 hectares, inse- premiou o esforço da família que nascem dentro da pro- rida dentro de uma área total em defesa do meio ambiente, priedade e diferentes espé- de 509,32 ha de propriedade. conferindo a Willy Hoffmann cies nativas, algumas delas Aproximadamente 95% des- o Troféu Fritz Muller. No início raras como lontra, gato-mara- sa área é de Mata Atlântica. de 2001, o prefeito da época cajá, bugio, tamanduá-mirim, A RPPN Chácara Edith é baixou um decreto para desa- tatu-de-rabo-mole, gralha fruto do histórico trabalho de propriar toda a área para fa- -azul, garça-moura, etc. preservação da natureza feito zer ruas e loteamentos. Para Mediante agendamento desde 1930 pelo jovem Willy manter o local preservado, a prévio, a Reserva recebe es- Hoffmann, que convenceu seu família decidiu transformar a colas, universidades e pesqui- pai, proprietário das terras, a propriedade em uma Reserva sadores para observação da abandonar a exploração de Particular do Patrimônio Na- - madeira e permitir a regene- tural. ração da mata nos locais de- Desde 2006, a RPPN Chá- faunaLocalização: e da flora, Rua e para Carlos pes vastados. cara Edith possui o título de Cerviquisas nº científicas. 300. Centro II -Brus- Em 5 de junho de 1982, a Posto Avançado de Reserva que. 209 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Fundação Ecológica e Zoobotânica de Brusque

Brusque hat seit 1992 einen Tiergarten. Er umfasst eine Fläche von rund um 120.000m². Der 3.200 Meter lange gepflasterte Weg zwischen Natur und Gehege bietet eine schöne Möglichkeit zum Spaziergehen und zur Entspannung. A Fundação Ecológica e compreende um complexo de Mais que opção de turismo, Zoobotânica de Brusque, co- 120.000 metros quadrados. o Parque Zoobotânico traba- nhecida como Parque Eco- Em meio à mata nativa, estão lha para conservar espécies. lógico e Zoobotânico Padre inseridos recintos de exposi- O lugar é centro de pesquisas Raulino Reitz em homenagem ção de fauna, exibindo desde ao grande naturalista catari- répteis, aves e mamíferos na- silvestres vítimas de agressão nense, foi inaugurada no dia turais desta região, até espé- ecientíficas até mesmo e animais acolhe livres animais se 19 de setembro de 1992. Lo- cies exóticas. abrigam e se reproduzem no calizado em uma região estra- Por meio do programa de lugar. Uma trilha pavimen- tégica da cidade, o Zoobotâni- educação ambiental, o Zoobo- tada de 3.200 metros, toda à co está inserido em uma área tânico atende cerca de 40.000 - alunos anualmente, gerando dos animais que conferem gião, que forma um corredor educação ecológica e visando umasombra, beleza fica ímparentre osao recintos lugar e ecológicode vegetação que específica liga a cidade, da redo o despertar da consciência é uma boa opção de passeio. bairro Guarani, até o municí- para o papel do indivíduo no Localização: Rua Manoel pio de Guabiruba. contexto ambiental que lhe Tavares, s/nº. Centro - Brus- O Zoobotânico de Brusque envolve. que. 210 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Parque Leopoldo Moritz – Caixa D’água

Der Park hat 22.000m² und ist ein beliebtes Ausflugsziel für die städtische Bevölkerung und für Touristen. O Parque Leopoldo Mo- que garantem boa sombra, da cidade. ritz, popularmente conhecido orquidário, bromeliário, ro- O Parque é um importante como parque da Caixa D’água, das d’água, lago com peixes, atrativo turístico da cidade e está localizado na região cen- ponte pênsil, parque infantil, recebe moradores, visitantes tral da cidade, e desde 1960 é quiosques e sanitários. Uma e grupos escolares para ati- um local de encontro e lazer das atrações é o Avião North vidades ao ar livre e piqueni- dos moradores de Brusque. American T-6D, instalado na ques. Com área de 22 mil m², o entrada do Parque e que já foi Localização: Rua Dr. Peni- Parque é cercado por árvores um importante cartão postal do. Centro. Brusque. 211 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Terminal Rodoviário Alvim Battistotti

Der Busfernbahnhof wurde im Jahr 1990 gebaut und nach dem ehemaligen Besitzer des „Expresso Brusquense“, Alvim Battistotti, benannt.

O prédio do terminal ro- elementos historicistas. Sua escada e do mezanino do se- doviário foi inaugurado em estrutura é linear e marcada gundo pavimento – esses em 5 de agosto de 1990, e deno- por dois pórticos na fachada especial possuem travamento minado Terminal Rodoviário principal. Possui detalhes que em X, o que remete ao enxai- Alvim Battistotti, em home- se referem à cultura germâni- mel. nagem ao proprietário do Ex- ca. presso Brusquense, que fazia É revestido em partes por um atrativo turístico de Brus- transporte entre cidades. pedras, e a cor verde-clara é que.A edificação é considerada O projeto do terminal é do a utilizada em sua pintura. As Localização: Rua Manfredo arquiteto Rubens Aviz e assu- esquadrias são marrons, as- Hoffmann, 92. Centro. Brus- me caráter pós-moderno com sim como o guarda-corpo da que. 212 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Terminal Rodoviário Urbano Balthazar Bohn

Der Busbahnhof bekam seinen Namen zu Ehren von Balthazar Bohn. Bohn besaβ in den 40er und 50er Jahren ein Busunternehmen, das die Fabrikarbeiter zu ihren Arbeitsstätten fuhr.

O prédio do terminal ur- que, com seu “circular”, fazia um L, e a entrada é bem mar- bano de transporte coletivo o transporte de operários das cada pelo volume central. As foi inaugurado no dia 30 de fábricas durante as décadas telhas são do tipo germânica, abril de 2005 e originalmente e a estrutura do telhado é fei- denominado como Terminal foi projetada no estilo cons- ta por treliças. O local é reves- Urbano Francisco Roberto trutivode 1940 pós-moderno. e 1950. A edificação O Ter- tido por tijolinhos e suas es- Dal´Igna. Pela lei nº 2.874, minal Urbano Balthazar Bohn quadrias são de cor marrom. de 28 de setembro de 2005, veio para substituir o antigo passou a ser denominado terminal urbano da cidade, um atrativo turístico de Brus- Terminal Rodoviário Urbano um simples galpão, e sua ar- que.A edificação é considerada Balthazar Bohn, em homena- Localização: Rua Prefeito gem ao pioneiro do transpor- cultura alemã do município. Germano Schaefer, 73. Cen- te coletivo urbano de Brusque quiteturaSua forma buscou assemelha-se refletir a tro. Brusque. 213 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Arena Multiuso Antônio Neco Heil

Die Sporthalle hat eine Gesamtfläche von 14.000 m² und bietet insgesamt 12.000 Zuschauerplätze. In der Arena finden Konzerte, Shows und Sportveranstaltungen statt. A Arena Multiuso Antônio capacidade para 4.250 pesso- cidade para campeonatos es- Neco Heil foi inaugurada no as sentadas e 12 mil pessoas taduais e regionais. dia 16 de agosto de 2005 e re- em shows, quadras especiais O espaço, que já recebeu cebeu esse nome em memó- para futsal e handebol, vôlei jogos da Superliga de Vôlei, ria ao ex-prefeito de Brusque e basquete. Possui estaciona- jogos de futsal do Brasil, e jo- Antônio Heil. mento para 7 mil veículos e gos de basquete e handebol, A fachada da construção foi projetada com condições garante à comunidade brus- é conhecida entre os arqui- de receber todos os tipos de quense um espaço próprio, tetos como “falso enxaimel”, eventos esportivos, inclusive com infraestrutura adequada, pois busca lembrar as antigas apresentações musicais. para a prática de esportes e construções que utilizavam o A Arena já foi palco de realização de campeonatos - grandes eventos esportivos, de várias modalidades. gado pelos alemães e, com como campeonatos nacionais sistema de edificação empre- de vôlei e futsal, além de se- um importante atrativo turís- de e trazer à memória a his- diar jogos em nível nacional ticoA deedificação Brusque. é considerada tóriaisso, reafirmarda colonização uma identidade Brus- e internacional de campeo- que. natos mundiais de basquete, Localização: Rua Deputado O espaço conta com uma vôlei, futsal e handebol. Tam- Gentil Battisti Archer. Centro área total de 14.000 m², com bém é o principal espaço da 2. Brusque. 214 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Pavilhão de Eventos Maria Celina Vidotto Imhof

Die Festhalle in Brusque ist eine 1991 erbaute repräsentative Mehrzweckhalle mit über 12.000 m². Heutezutage findet jährlich in der Halle das Volksfest „Fenarreco“ statt. Die Mehrzweckhalle wurde zu Ehren von Maria Celina Vidotto Imhof, ehemalige Lehrerin und jahrelang Mitgestalterin des Festes, benannt.

O Pavilhão foi inaugurado vilhão possui uma área su- em 1991 e sua construção foi Pavilhão de Eventos Maria perior a 12 mil metros qua- impulsionada pelo sucesso da Celinaedificação Vidotto foi Imhof, denominada em ho- drados de construção, amplo principal festa de Brusque, a menagem à professora que espaço para estacionamento, Fenarreco - Festa Nacional do fez parte do grupo que criou e hoje é o principal local para Marreco, realizada pela pri- a Fenarreco e trabalhou nas eventos da cidade. O prédio meira vez em 1986, no Clube primeiras edições da festa, passou por ampla reforma em de Caça e Tiro Araújo Brus- ajudando na decoração, na 2018. que. Após três edições, o es- contagem dos tickets e na co- zinha. um dos principais atrativos edição já foi realizada, embai- Com estrutura que busca turísticosA edificação de Brusque. é considerada xopaço de ficou lonas, pequeno no espaço e a quarta onde lembrar as antigas constru- viria a ser construído o pavi- ções que utilizavam o siste- Localização: Rua Deputado - Gentil Battisti Archer, ao lado cial da Fenarreco. alemães, e fachada que imita da Rodovia Antônio Heil. Cen- lhão,Em que setembro se tornou de a sede1992 ofi a ama técnica de edificação de enxaimel, usado opelos pa- tro 2. Brusque. 215 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Foto: Rosemari Glatz

216 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Museu Histórico e Geográfico do Vale do Itajaí-Mirim/Casa de Brusque

Der Freundeskreis der Stadt Brusque ist der Träger des im Jahr 1953 gegründeten Historischen Museums „ Tal“. Das Museum beherbergt eine Sammlung zahlreicher historischer Dokumente, Zeitungen und Gegenstände aus der Zeit der Kolonisierung Brusques.

A Sociedade Amigos de diante agendamento. Brusque, que mantém o Mu- Em 1994, o Rotary Clube Brusque é uma remontagem seu Histórico do Vale do homenageou Ayres Gevaerd no Asistema edificação construtivo da Casa en de- Itajaí-Mirim– SAB/Casa de com um busto de bronze, xaimel, sendo a única neste Brusque, foi fundada em 4 de que se encontra implantando estilo no centro da cidade, e agosto de 1953 por Ayres Ge- em frente à Casa de Brusque, representa uma das heranças vaerd. A maior parte dos ar- onde também encontramos da imigração alemã. A cons- tefatos foi adquirida nos anos a estátua feita em comemo- trução que abriga o Museu de 1960 e 1970 e o acervo ração ao 50º aniversário da está aberto à visitação públi- Fundação da Colônia, apeli- Localização: Avenida Otto ca desde 1970. dada de Joana. Inicialmente, Renaux,fica nos fundos285. Centro. do terreno. A partir de 1973, o espa- a estátua havia sido implan- ço passou a ser denominado tada em frente ao Palacete da Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim. No Museu está atual Praça Barão de Schnee- guardada grande parte do burg.Família Renaux, onde fica a Glatz Rosemari Foto: - Desde 1998, o Museu abri- ga os restos mortais de Fran- daacervo história documental, do Vale fotográfido Itajaí- cisco Carlos de Araújo Brus- Mirim,co, bibliográfico peças que e retratamde objetos o que, Presidente da Província cotidiano dos moradores des- de Santa Catarina quando da de a colonização de Brusque fundação de Brusque, em 4 de e região, bem como edições agosto de 1860. Seus restos muito antigas de jornais que mortais foram transladados já circularam no município. com honras de Chefe de Es- Os acervos estão disponíveis tado de Pelotas para Brusque para consultas e pesquisas, e por ocasião dos festejos dos o Museu promove ações edu- 138 anos da cidade, e descan- cativas para escolas públicas sam sob a lápide original, es- e privadas e desenvolve visi- culpida em mármore de Car- tas guiadas para grupos me- rara há mais de um século. 217 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Instituto Aldo Krieger - IAK Die gemeinnützige Aldo-Krieger-Stiftung wurde am 05. Juli 2002 gegründet. Die Stiftung fördert und pflegt das Andenken an den Dirigenten Aldo Krieger und verwaltet den Nachlass seiner Werke. O Instituto foi criado no o Hino de Brusque. posições originais, instru- dia 5 de julho de 2002. É Desde sua inauguração, mentos, fotos, documentos, uma entidade privada, sem o Instituto Aldo Krieger tem prêmios e tudo que lembra servido como palco das mais o ilustre maestro e abre para a história da vida e obra des- diversas ações em prol da visitações. finsse grande lucrativos, músico, que promove preserva cultura e, ao mesmo tempo, Implantada na área cen- e apoia atividades de manu- mantém viva a história do - tenção, conservação e divul- músico brusquense, reco- da um importante patrimônio gação do acervo e obra do nhecido e aclamado no país e históricotral, a edificação de Brusque, é considera pois na considerado um dos maiores casa viveu o maestro Aldo conhecido por Aldinho. expoentes musicais da cidade Krieger. maestro,Uma deque suas na cidade obras ficoué o e também é referência histó- Hino do Centenário de Brus- rica para o município. Localização: Rua Paes Le- que que acabou se tornando O espaço conta com com- mes, nº 63. Centro - Brusque. 218 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Acervo: Museu de Azambuja ??????? Acervo:

Complexo de Azambuja

Der Gebäudekomplex von Azambuja beherbergt eine Reihe historischer Gebäude, unter anderem die Azambuja Kirche, die Grotte, den Rosenkranzweg, das Erzdiözesanmuseum, das Krankenhaus und das Priesterseminar. Das Azambuja-Tal ist auch Wallfahrstort und empfängt jährlich tausende Pilger.

Conhecido também como rio, o Museu Arquidiocesa- portante complexo histórico, “Vale do Azambuja, Vale dos no, o Hospital e o Seminário, social, religioso e cultural, o Milagres ou Vale de Graças”, o formando um conjunto de Vale de Azambuja é local de Complexo de Azambuja abri- construções históricas mui- peregrinações de turistas e ga o Santuário de Azambuja, to importantes para Brusque devotos de inúmeros lugares a Gruta, o Morro do Rosá- e região. Devido ao seu im- do Brasil. 219 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

220 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio

Im Herzen des Azambuja-Tals gelegen, ist die Kirche ein wichtiger Wallfahrtsort in der Region und wegen seiner Architektur und Repräsentation des katholischen Glaubens ein wichtiger Teil der Identität der Stadt Brusque.

Desde 1876, sobre a fonte em 8/12/1939. A decisão comprimento, 16 metros de que corre no interior da Gru- partiu dos padres, o respon- largura e 20 metros de altura. ta de Nossa Senhora de Azam- sável foi o reitor, Padre Ber- O altar-mor em mármore, buja havia um Capitelo; ali nardo Peters. dois altares – Sagrado Cora- está o alicerce que embasou O projeto é do arquiteto ção de Jesus e Imaculada Con- o santuário atual. A primeira alemão Simão Gramlich, e Hel- ceição e duas capelas laterais muth Kress foi o responsável - São Judas e Santo Antônio, Em 1892, é construída pelo alicerce. José Bolognini quatro confessionários, um umacapela nova foi edificada capela e em este 1884. ano foi um dos responsáveis pelas púlpito, 72 bancos de madei- também marca o paroquiato paredes, e Vicente Schöning, ra, são outros diferenciais. do padre Eising. A partir da pela carpintaria. Várias colu- O interior da igreja é ador- última década do século XIX, nas internas, com arcos entre nado por belíssimas pinturas Azambuja começa a ser uma elas, remetem à Arquitetura no teto e um riquíssimo tra- referência e centro de pere- Romântica. balho de marcenaria. grinações. No exterior da igreja per- O altar em mármore, as O Santuário de Nossa cebem-se as estruturas de- imagens dos santos e vitrais Senhora de Caravaggio de nominadas de ambulatórios, coloridos nos mais diversos Azambuja foi elevado à digni- que auxiliam na sustentação formatos trazem iluminação dade de Santuário Episcopal das abóbodas e arcos, e de- e representações de cenas bí- em 1º/09/1905, sendo o pri- marcam um local de circula- blicas. meiro Santuário Episcopal de ção, um movimento que revi- Instalada em pleno cora- Santa Catarina. ve características do gótico e ção do Vale do Azambuja, a É considerado um pon- barroco. igreja é um importante local to de parada obrigatório de de peregrinação e parte im- turistas de todo o Brasil que duas torres frontais de 40 portante da identidade de pagam promessas e fazem metrosA edificação de altura que conta marcam com Brusque, por sua arquitetura pedidos a Nossa Senhora, ou a face frontal da igreja. e a representação da fé cató- param apenas para conhecer Outra característica é a lica. o local. estrutura marcada pelas três A pedra fundamental do naves, sendo a principal com Localização: Rua Azambu- atual Santuário foi lançada dimensões de 45 metros de ja, nº 1076. Bairro Azambuja.

221 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Museu Arquidiocesano Dom Joaquim

Das „Dom Joaquim” Museum beinhaltet eine Sammlung von etwa 4.000 Objekten. Die Sammlung lässt sich in drei unterschiedliche Bereiche teilen: Naturgeschichte, sakrale Kunst und Geschichte der Einwanderung in Brusque und Santa Catarina.

O Museu de Azambuja con- a mais que, ao contar a his- maiores e mais completo mu- ta com um amplo espaço e as tória dos que habitaram a re- seu de Arte Sacra popular do peças estão divididas entre gião e exibir artefatos usados Brasil. os três andares do prédio. O no passado, contribuía para a Instalado em pleno cora- primeiro andar é destinado formação integral dos futuros ção do Vale do Azambuja, o à história natural. O segundo padres. Ao longo dos tempos Museu Arquidiocesano Dom andar abriga os artefatos da os padres foram enriquecen- Joaquim é um local de grande arte sacra. E o terceiro conta do o acervo, com coleções va- valor histórico e cultural. O com peças históricas da colo- riadas. Na década de 1950 o prédio é um dos mais histó- nização da região de Brusque. Pe. Raulino Reitz enriqueceu - O espaço do museu foi cria- o acervo ao acrescenter inú- que, pois serviu como primei- do em 1933, com o propósito meras peças de artes sacras. roricos hospital e significativos da cidade. de Brus inicial de contribuir na for- Hoje o museu possui apro- mação cultural e histórica dos ximadamente 4 mil peças, Localização: Rua Azambu- seminaristas. Era um espaço sendo considerado um dos ja, nº 960. Bairro Azambuja. 222 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux

Die im Azambuja-Tal gelegene Krankenhausanlage umfasste früher ein Altenheim, ein Kinderhaus und ein Irrenhaus. Im Laufe seiner Geschichte wurde das Gebäude mehrmals umgebaut und erweitert, um den Anforderungen neuer medizinischer Geräte und Verfahren gerecht zu werden. Das Erzdiosänkrankenhaus wurde am 11. März 1936 eröffnet. Das heutige Gebäude umfasst eine Fläche von 10.800 m² und ist in drei Stockwerke aufgeteilt. Der ehrwürdige Unternehmer und Konsul Carlos Renaux spendete eine bedeutende Summe für den Bau des Krankenhauses.

Em 1901 foi fundada, em ta Casa também abrigava um 11/03/1936. Com a nova edi- Azambuja, a Santa Casa de asilo, um orfanato, escola pa- - Misericórdia para acolher roquial, escola catequética, e - pessoas doentes e toda sorte ala de psiquiatria. vamente.ficação, o hospital e o seminá de desvalidos. Mas os atendi- Em 1910, a seção hospi- rioAo foram longo separados da sua história, definiti mentos passaram a ser mais talar da Santa Casa ganhou frequentes a partir de 1902 alterações e ampliações. Ins- quando as Irmãs da Divina de uma construção própria, taladoa edificação em pleno sofreu coração diversas do Providência, recém-chega- eautonomia hoje o antigo com prédio a finalização abriga Vale do Azambuja, o HACCR é das da Alemanha, assumi- o Museu Arquidiocesano. O um local de grande valor his- ram os cuidados do hospital. atual prédio do Hospital foi tórico e social para a comuni- A casa foi inaugurada em erguido na administração de dade regional. 29/06/1902. Ainda não havia Dom Jaime de Barros Câmara. médicos, e os atendimentos A construção, de 10.800 Localização: Rua Azambu- eram realizados pelas religio- m², teve início em 1933. O ja, nº 1089. Bairro Azambuja. sas. Além do hospital, a San- Brusque.

edifício foi inaugurado em 223 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Gruta de Nossa Senhora de Azambuja Neben der Kirche befindet sich auch die Grotte Unserer Lieben Frau von Lourdes. Aus der Grotte entspringt eine Quelle, die schon 1876 von den italienischen Einwanderern sehr geschätzt wurde.

No início, a fonte de Azam- A padroeira do Seminário de- para beber da água e levar buja indicou o núcleo da lo- terminaria a escolha do título para casa, acendem velas calidade, o ponto da coesão mariano da gruta: Nossa Se- para pagar suas promessas, e comunitária. Ainda em 1876, nhora de Lourdes. logo após a chegada dos imi- Sobre a gruta há uma ca- água natural corre sem cessar grantes italianos, a fonte foi pela, em que encontramos o nooferecem interior flores. da gruta. Uma Instalada fonte de coberta e virou oratório. A quadro de Nossa Senhora de em pleno coração do Vale do Gruta, na forma em que se Caravaggio. A Gruta sempre Azambuja, a Gruta de Nossa encontra hoje, foi construída foi muito frequentada pelos Senhora é um local de grande entre 1927 e 1928. moradores de Brusque e pe- valor histórico e religioso. A obra foi liderada pelo Pa- los visitantes em geral. Mui- Localização: Rua Azambu- dre Jaime de Barros Câmara. tos devotos entram no local ja, nº 960. Bairro Azambuja. 224 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Seminário de Azambuja Das Priesterseminar im Azambuja-Tal ist ein Ort von großer Bedeutung für die Erzdiözese Floria- nópolis. Hier werden die zukünftigen Seelsorger ausgebildet und gehen von hier aus zu Missionen.

O Seminário Menor Metro- cesano, o seminário passou a 200 alunos, foi inaugurada politano Nossa Senhora de ocupar todo o prédio onde já em 7/09/1964. O seminário Lourdes, também conhecido se encontrava instalado. abriga duas etapas formati- como Seminário de Azam- Em 15/08/1957 foi lan- vas na atualidade: Seminário buja, foi criado por Dom Joa- çada a pedra fundamental Menor e Seminário Maior na quim Domingues de Oliveira do novo prédio. A ideia, a etapa discipular. em 11/02/1927. Visando ao responsabilidade pela capta- Instalado em pleno cora- aprofundamento da vocação ção de recursos, e a alma da ção do Vale do Azambuja, o cristã e o discernimento da construção do Seminário foi Seminário é um local de gran- vocação presbiteral pela for- do padre alemão Guilherme de valor educacional, forma- mação integral em todas as di- Kleine. O projeto foi assinado tivo, onde a Arquidiocese de mensões humanas, foi trans- pelo engenheiro Antônio Ávi- Florianópolis tem o seu cora- ferido de Florianópolis para la Filho e a execução coube a ção, pois dali sairão os sacer- Brusque no dia 21/04/1927. João Martin Backes. Em agos- dotes para todas as missões No início o Seminário ocu- to de 1960, com metade da desenvolvidas por padres na pou o sótão do prédio do hos- obra concluída, os seminaris- Arquidiocese. pital. A partir de 11/03/1936, tas passaram a ocupar parte com a inauguração do prédio Localização: Rua Azambu- próprio do Hospital Arquidio- com capacidade para abrigar ja, nº 1076. Bairro Azambuja. do novo prédio. A edificação, 225 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Morro do Rosário Azambuja Der Rosenkranzweg neben der Kirche stellt die fünfzehn Mysterien des Rosenkranzes dar. Mit Kerzen und Rosenkranz in der Hand steigen Gläubige die Berge hinauf und bitten Gott um Schutz für Familie und Haus. Ao lado do Santuário de proclamação do dogma da Ascensão, a Vinda do Espírito Azambuja, na encosta do mor- Imaculada Conceição, o con- Santo, a Assunção de Nossa ro encontramos um caminho junto do Morro do Rosário es- Senhora, e a Coroação de Ma- que reproduz os 15 mistérios tava completo. ria. do rosário. Em cada um deles Os Mistérios do Rosário No Morro do Rosário ainda encontramos uma estátua ou estão assim organizados: faltam os Mistérios Lumino- grupos de estátuas feitas de Mistérios Gozosos: Anun- sos, instituídos pelo Papa São cimento, em tamanho natural. ciação, Visita à Santa Isabel, João Paulo II em 2002. A construção começou em Nascimento de Jesus em Be- Em 1990 as imagens fo- 1949 e foi concluída em 1954. lém, Apresentação de Jesus ram substituídas. O Monumento que apre- no Templo, Perda e Encontro Em 2006, as imagens fo- senta o último dos Mistérios de Jesus no Templo. Mistérios ram repintadas e o monu- Gloriosos, a Coroação da Vir- Dolorosos: Agonia de Jesus no mento do 15º mistério - Co- gem Maria pela Santíssima - roação de Nossa Senhora, foi Trindade, implantado no alto roação de Espinhos, Carrega- restaurado. da colina, foi inaugurado na mentoHorto, Prisãoda Cruz e flagelação,pelo Calvário, Co Localização: R. Padre Antô- noite de 14/08/1950. - nio Eising, 182. Bairro Azam- Em 1954, centenário da rios Gloriosos: Ressurreição, buja. Crucificação e Morte. Misté 226 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Villa Quisisana

Die Villa Quisiana wurde 1932-1934 vom deutschen Architekt Simon Gramlich für die Familie von Buettner erbaut. Flankiert von großen und imposanten Toren, die die Villa schützen, behält die zweistöckige Residenz noch ihre ursprüngliche Struktur. Sie hat eine große historische Bedeutung, sowohl wegen ihrer Architektur, als auch wegen der Möbel und vor allem wegen der Uhren, die fast in allen Zimmern des Hauses zu sehen sind. Das Bauwerk zählt zu den wichtigsten architektonischen Denkmälern der Stadt Brusque.

Construído entre 1932 e Ladeada por grandes cer- relógios que existem pratica- 1934, o palacete foi projetado cas e imponentes portões que mente em todos os cômodos. pelo arquiteto alemão Simão protegem a mansão, a resi- O casarão foi centro de Gramlich para servir de re- dência de dois pavimentos inúmeros encontros e reuni- sidência da família de Edgar mantém a estrutura original, ões da sociedade brusquense, Von Buettner. Dotada de ca- apesar de algumas pequenas e é de propriedade dos des- racterísticas peculiares e im- reformas no sistema elétrico cendentes de Iris Renate Von plantada em pleno coração de e energético, e possui gran- Brusque, a casa foi inspirada de relevância histórica, tanto é considerada um dos patri- em uma residência na Grécia. pela sua arquitetura, quanto môniosBuettner históricos Pastor. A edificaçãode Brus- O imóvel foi batizado Villa pelo mobiliário, quanto pela que. riqueza estética dos objetos Localização: Rua Rodri- da Felicidade. antigos, principalmente os gues Alves, 270. Centro Quisisana, que significa Vila 227 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

228 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Igreja Matriz São Luis Gonzaga

Der Bau der neuen katholischen Kirche wurde Anfang der 70er Jahren fertig gestellt. Sie umfasst eine Fläche von 1.375m² und wurde nach Plänen des Deutschen Gottfried Böhm gebaut.

A pedra fundamental foi - lançada em 4/04/1955, com tura características góticas grande festa popular, mas so- etos românicas, da edificação, tira partido que mis da mente em 1962 é que as ce- lebrações das Santas Missas monumentalidade da mesma. começaram a ser realizadas topografiaA torre doslocal quatro e evidencia sinos se a na nova Matriz. A obra foi conecta ao volume principal concluída no início da década que é um prisma retangular. de 1970, com a construção da A nave central tem 13 me- de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto: Torre sobre a escadaria. tros de largura, sendo cober- Com 1.375,05 m2 de área ta pela abóboda maior que construída e capacidade para atinge 26,4 metros de altura. abrigar duas mil pessoas, o A abóboda avança para além projeto do arquiteto alemão da igreja, conectando-se com Gottfried Böhm se destaca a torre dos sinos, somando da Reforma Litúrgica. pelo arrojo da planta simples 82,3 metros de comprimento. A iluminação acontece por e pela reinterpretação dos No interior da igreja há janelas pivotantes laterais, elementos da liturgia católi- - por vitrais frontais e traseiros ca. beltos, e a sobriedade de ele- onde encontramos símbolos A volumetria clara e bem mentosduas fileiras interiores de pilares atende es a do cristianismo, e também marcada são um dos atribu- características do Movimento pelas aberturas superiores. As 25 mil pedras utilizadas na construção são diferentes entre si. O altar é uma peça de arte em meio à igreja. Escul- pidas em granito, as doze co- lunas existentes representam os doze apóstolos.

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto: um dos principais patrimô- niosA edificaçãoe atrativos é turísticosconsiderada de Brusque. Localização: Rua Padre Gattone, 75. Centro. 229 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Igreja Evangélica Luterana Paróquia Bom Pastor

In der evangelischen Kirche kann man eine Kopie des Bildes „Kreuzabnahme Jesu“ des Deutschen Malers Peter Paul Rubens bewundern. Es war ein Geschenk von Victoria Adelaide, Königin von Preuβen, an die evangelische Gemeinde der Kolonie Brusque. Die Kirchenorgel ist mit 1200 Pfeifen ausgestattet. Die evangelisch-lutherische Kirche im Zentrum der Stadt zählt zu den ältesten Gebäuden Brusques.

Localizada na Colina Evan- inaugurada em 6/01/1895. gélica, sua posição privile- Em 1942 foi renovada, com giada fortalece o conceito de ampliação das laterais e do al- ser um dos mais importantes tar. O projeto de ampliação foi elementos de identidade de assinado pelo alemão Simão Brusque, pois a sua história é Gramlich. também a história da cidade. Um dos detalhes que mais Uma cópia do quadro “A des- chama a atenção do projeto é

cida da Cruz”, do famoso artis- a acústica do espaço, que abri- de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto: ta alemão Peter Paul Rubens, doado pela Rainha da Prússia, inaugurado em 9/08/1960, decora a casa de oração e foi o anoga um em órgão que também de 1.200 foi flautas, reno- principal ornamento do altar vada toda a cobertura. da antiga igreja, inaugurada A igreja recebeu mais uma em 1872. reforma, do piso ao telha- Em 3/05/1894 foi lançada do, em 1978-79 e, no ano de a pedra fundamental da atual 2014, foi realizado o restauro do telhado, das paredes e do ligação com a cultura trazida com dois sinos, um instalado forro. emedificação. 1895, e outroA igreja, em que 1928, conta foi O estilo da arquitetura tem há evidências dos estilos ne- oclássico,pelos alemães. românico Na edificação e neogó- tico. Os vitrais próximos ao altar, bem assim como a ro- sácea, são características en- contradas em igrejas góticas que utilizam a luz para confe- rir espiritualidade.

Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto: um dos principais patrimô- niosA históricosedificação deé considerada Brusque. Localização: Avenida Mon- te Castelo, 25. Centro. 230 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

231 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Cemitério da Comunidade Evangélica Luterana

Ein Besuch des Evangelischen Friedhofes lohnt sich. Einer der ältesten noch erhaltenen Grabsteine stammt aus dem Jahr 1908. Mehrere Grabschriften sind in deutscher Sprache verfasst.

Um cemitério é um registro da história e escritos em alemão. cultura de uma cidade, trarÉ o diversos mais antigo epitáfios cemi- e quando o primeiro tério do centro da cidade Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: grupo organizado de que ainda está preserva- imigrantes alemães che- do, e nele estão sepul- gou a Brusque, com eles tados vários imigrantes vieram os luteranos, co- pioneiros da indústria nhecidos como protes- têxtil de Brusque, desde tantes. Naquela época, a o tecelão, até o indus- - trial. do era a católica e, por Com relevância histó- umareligião questão oficial docultural, Esta rico-social, uma visita ao os protestantes não po- cemitério proporciona diam ser sepultados no um turismo educativo mesmo cemitério onde que contempla cultura, estavam os católicos. Daí memória, identidade e a necessidade de os lute- arte, entre outros tantos ranos terem o seu pró- - prio campo santo. cial. A arquitetura do Ce- significadosPelos valores da vidamemo so- mitério Luterano é com- riais materiais e ima- posta por túmulos de pe- teriais que encerra, de queno porte, com pouca - estatuária, e raros orna- tórica, social, ideológi- mentos, com destaque ca,ampla religiosa significação e política, his para os símbolos deco- este cemitério pode ser rativos e esculturas. Há considerado um dos pa- valorização da inscrição trimônios históricos de Brusque, inclusive com de uma frase em relevo potencial turístico. node epitáfiostúmulo. Nas - a lápides escrita Localização: Rua Al- anteriores à década de berto Torres, 140. Cen- 1940, é possível encon- tro.

232 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Antiga Maternidade Evangélica

Die Bauarbeiten an der alten evangelischen Entbindungsklinik begannen 1937 mit finanzieller Unterstützung des würdigen Konsuls Carlos Renaux. Am 20. März 1938 wurde feierlich die alte evangelische Entbindungsklinik eröffnete. Im Jahr 1963 wurde der Neubau der evangelischen Entbindungsklinik und des Krankenhauses eingeweiht. Die ersten Krankenschwestern hieβen Margarethe Spieweg aus Deutschland und Frau Martha Meinhoefer. Dr Carlos Moritz war einer der ersten Ärzte im evangelischen Krankenhaus. Da- mals wurden die Geburten von Hebammen begleitet und der Arzt wurde nur bei Komplikationen gerufen. Ein großer Teil der Bevölkerung von Brusque erblickte das Licht der Welt in dieser Entbindungsklinik. Das alte Gebäude der Entbindungsklinik beherbergte ab 1963 andere Einrichtungen. Zwischen 1965 und 1976 diente das große Haus als „Bom Pastor“ Kindergarten und auch als Herberge für Schüler. Danach wurde es an INAMPS (Bundesinstitut für soziale Sicherheit und medizinische Hilfe) vermietet. Schließlich diente es bis 2013 als Stadtbibliothek.

Inaugurada em 20/3/1938, As primeiras “Schwester” entre elas, o Jardim de Infância a antiga maternidade serviu à (enfermeiras) foram a alemã Bom Pastor, um albergue para comunidade regional até 1963. Margarethe Spieweg, e a Frau estudantes, o INAMPS e por A Comunidade Evangélica Martha Meinhoefer. - doou o terreno à Associação Um dos primeiros médicos cipal Ary Cabral até 2013. das Damas de Caridade para foi o Dr. Carlos Moritz. Os par- fim,Arquitetonicamente, a Biblioteca Pública aMuni edi- a instalação da Maternidade tos eram realizados por partei- e em 5/01/1937 teve início a ras e o médico só era chamado entre os conceitos Art Deco e construção. Em homenagem em casos complicados. Grande ficação é erudita e permeia ao seu idealizador, a instituição parcela da população de Brus- é considerada um dos patrimô- recebeu o nome de Associação que nasceu nesta maternidade. niosProtomodernista. históricos de Brusque. A edificação Hospitalar e Maternidade Côn- A partir de 1963 o casarão Localização: Rua Pastor sul Carlos Renaux. abrigou diversas entidades, Sandrescky. Centro 233 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Tiro de Guerra de Brusque

In Brasilien besteht für Männer ab dem 18. Lebensjahr Wehrpflicht. Der Grundwehrdienst dauert in der Regel zwölf Monate. In Brusque werden hauptsächlich Schützen ausgebildet.

O Tiro de Guerra de prefeitura. realizada no dia 4/09/1940. Brusque foi fundado em A sede atual foi construída Em 1945, o Tiro de Guer- 8/12/1916. Denominado TG ra de Brusque passou a se 317, inicialmente ocupou a diversas empresas e pessoas. chamar TG 170. Em maio de Sociedade de Caça e Tiro, o em 1941, e foi financiada por 1979, recebeu a denominação “Schützenverein Brusque”. de TG 05-005, que permanece deA edificação Getúlio Vargas, segue o a Art linha Déco. da até hoje. de Guerra foi realizado em arquitetura oficial do Estado- 15/07/1917.O primeiro Suasdesfile atividades do Tiro cias protomodernas. Ao longo Guerra é o primeiro imóvel foram suspensas por apro- Observa-se também influên registradoA edificação no Livro do de Tiro Tom de- ximadamente uma década algumas reformas, mas diver- bos de Brusque como Patri- após a assinatura do armis- sasdo tempocaracterísticas a edificação ainda sofreu per- mônio Histórico material da tício da I Guerra Mundial em manecem desde a construção, cidade. A solenidade de tom- 11/11/1918. Em 1928 foi como a frase “Tudo pela gran- bamento da construção como reativado por organização da deza do Brasil” sugerida pelo patrimônio histórico ocorreu própria comunidade brus- tesoureiro do Conselho De- em 12/12/2012. quense, passando a ocupar liberativo, Erico Krieger, em Localização: Rua Felipe uma das dependências da assembleia geral ordinária Schmidt, nº 455. São Luiz. 234 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque

Gegründet im Jahr 1866 ist der Schützenverein „Caça e Tiro Araújo Brusque“ der älteste noch bestehende Schützenverein Brasiliens. Der Verein liegt an der berühmten Hercílio Luz Straβe in Brusque. Früher diente die Straβe als „Pferderennbahn“.

- ao Presidente da Província famosas “carreiras”- corridas talada numa das ruas mais de Santa Catarina que criou de carroça e cavalos e, por tradicionaisPor ser uma da edificaçãocidade, a inshis- a Colônia Itajahy-Brusque em isso, no linguajar popular a tória deste clube se funde com 1860. A rua onde está implan- via é conhecida por “rua das a própria história de Brusque. tado o Clube invoca várias his- carreiras”. Inicialmente conhecido tórias da cidade, tais como: é O espaço do clube foi pal- como “Schützenverein”, o o local onde foi erguida a pri- co da primeira Fenarreco, que clube tinha como principal meira “cadeia pública”; foi a mais tarde veio a ocupar es- objetivo preservar a cultura rua de excelentes ferreiros, da paço privilegiado no calendá- alemã e para isso anualmente cervejaria do Lauritzen, do ar- rio turístico da cidade. realizava a tradicional “Schüt- mazém de secos e molhados Fundado em 14/07/1866, zenfest”, a Festa dos Atirado- e padaria do velho Ristow, a é o mais antigo clube de caça res. Por força da campanha rua da primeira queijaria, dos e tiro em atividade no país. A de nacionalização, em 1941 carpinteiros, de pintores, e de o “Schützenverein Brusque” um famoso fabricante de car- patrimônio histórico de Brus- passou a ser denominado de roças. A rua também era um que.edificação é um importante Clube de Caça e Tiro Araújo Localização: Rua Hercílio Brusque, numa homenagem semana, pois lá aconteciam as Luz – 180. Centro. espaço de lazer nos finais de 235 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Casarão de Dom Joaquim

Das zwischen 1875 und 1880 erbaute Haus ist Zeuge vergangener Zeiten. Sein Standort war strategisch im wirtschaftlichen Knotenpunkt der damaligen Kolonie Brusque gelegen. Regionale Erzeugnisse wie Schnittholz, Maniokmehl und Zucker fanden seinen Weg zu den Groβmärkten durch Cedro/Dom Joaquim. Estima-se que o Casarão pavimento superior e assu- 1896, foi fundada a primei- Dom Joaquim foi construído miu a direção dos negócios do ra igreja adventista em solo por Davi Hort entre 1875 e sogro. O casarão teve outros brasileiro, em Braunschweig, 1880. Dividido em dois pa- moradores e até um pequeno Gaspar Alto, região que na- vimentos e implantado no hotel para carroceiros e via- quele tempo pertencia a pulmão econômico de uma jantes. Apesar do desgaste do Brusque. Por ser considerado região rica pela produção de - o “ninho” da Igreja Adventista madeira serrada, farinha de do Brasil, a União Sul Brasilei- mandioca e açúcar, a localiza- tempo,O fato a estruturamais importante da edifica da ra da Igreja Adventista do Sé- ção do casarão era estratégica suação sehistória mantém é sua firme. ligação com timo Dia requereu ao Conse- para negócios. a Igreja Adventista. Consta lho Municipal do Patrimônio O Coronel Guilherme Krie- que no Casarão, entre os anos Histórico o tombamento do ger, que possuía uma fazenda de 1879 e 1880 foi aberto o - acima de Dom Joaquim, com- primeiro pacote de literatura derada um importante patri- prou o casarão. Entre 1915 e adventista no Brasil, o peri- môniocasarão. histórico A edificação de Brusque. é consi 1917, Otto Renaux, genro do ódico Stimme der Warheit. Localização: Rua do Cedro. Coronel Krieger, foi residir no A crença se espalhou e, em Dom Joaquim. 236 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Clube Esportivo Paysandú Am 30. Dezember 1918 kam es zur Gründung des Fuβballvereins „Paysandu”. Im Jahr 1924 wurde das eigene Spielfeld offiziell eröffnet. Die Vereinsfarben sind grün und weiβ.

Fundado em 30/12/1918, Em 4/09/1927 a bandeira Bem no alto de sua facha- nos primeiros tempos as reu- - da, em alto relevo, lê-se Clube niões aconteciam nas resi- rido” foi desfraldada pela Esportivo Paysandú e mais dências dos membros da di- primeiraoficial do vez, Clube evidenciando “Mais Que abaixo, Arthur Appel, nome retoria, nas casas de sócios ou as cores verde e branco ado- que foi conferido à sede social ainda em salões particulares. tadas pelo Paysandú logo em 2005. O estádio, com capa- Em 1920, o Clube adquiriu depois da fundação. No dia cidade para aproximadamen- personalidade jurídica. 22/10/2005, o Clube reinau- te 3.000 espectadores, com- Em 15/06/1924, o Paysan- gurou sua belíssima sede so- pleta o conjunto patrimonial dú comemorou a inauguração cial. Novas reformas foram re- que em 2018 completou seu do estádio próprio, que foi ba- alizadas nos anos seguintes. O centenário. O clube disputou tizado de “Praça de Desportos Paysandú dispõe de uma área o Campeonato Catarinense de Coronel Carlos Renaux”, mais superior a 16 mil m² e, pas- tarde denominado de Estádio sadas quase sete décadas da Cônsul Carlos Renaux. Essa sua inauguração, a sede social umfutebol importante profissional patrimônio até 1987. praça de esportes, que incluía permanece no mesmo ende- históricoA edificação de Brusque. é considerada também um Pavilhão do Clu- reço. Um prédio imponente e Localização: Rua Pedro be, marcou o começo das suas branco, com colunas frontais Werner, nº 129. Jardim Malu- atividades. e detalhes em verde. che. 237 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Complexo Histórico Indústrias Renaux

Die Gebäude, aus dem sich das heutige„ Renaux Industriegelände“ zusammensetzt, stammen aus den dreiβigern Jahren. Der Baustil ist vielseitig, aber es herrscht der Art Deco-Stil vor. Eines der herausragenden Merkmale des Gebäudes ist die korallen-orangene Farbe.

Uma das mais importantes e o conhecimento dos tecelões dentre outros feitos, concedeu famílias ligadas à história eco- de Lodz. Iniciou as atividades a Brusque o título de Berço da nômica de Brusque é a Família fabris ao lado da sua casa de Fiação Catarinense. Renaux, cuja história começa comércio, na principal rua da A importância arquitetôni- em 1882 com a chegada, ao cidade, atual avenida Cônsul Brasil, de Carlos Renaux, um Carlos Renaux. Passado algum Industrial Renaux se evidencia homem visionário, negociador, tempo, Renaux adquiriu um pelaca dos adoção edifícios de formas do Complexo e orna- empreendedor e político, e que terreno na “Estrada dos Po- tos típicos da arquitetura do art com a família, prestou grande meranos”, hoje avenida 1º de déco, tais como marquises, pa- contribuição para a transição Maio, no mesmo local onde redes com quinas arredonda- da Brusque colonial para a ainda hoje se encontram as das e platibandas com formas Brusque industrial. escalonadas. A elas se acresce a Em 1892, Carlos Renaux de Tecidos Carlos Renaux S.A. predominância das linhas ver- instalou uma pequena fábrica Aliedificações a família dapassou antiga a levantar Fábrica ticais da arquitetura, a dispo- de tecidos com a mão de obra um verdadeiro império que, sição das colunas e janelas de 238 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

- rais adotado não ousou pela A torre da chaminé de 48 tas de forma rítmica e interca- leveza das estruturas moder- metros de altura marca o local, ladasabertura nas dafachadas, edificação, assim dispos como nas, ainda de uso restrito na com sua estrutura alta e impo- os elementos decorativos com época, mas se sujeitou ao estilo nente revestida de tijolos. releituras dos temas historicis- massudo e bem composto dos Os galpões possuem gran- tas, como os capitéis das colu- estilos historicistas que se ade- des vãos, e o piso ao seu redor quaram melhor à tecnologia a é feito em pedra paralelepípe- que apesar de trazer um novo disposição naquele tempo. Os do em todo o complexo. desenhonas do edifício decorativo, mais retoma recuado, as materiais revelam algo bas- O telhado shed, que permite características da arquitetura tante subjetivo: por se tratar a entrada de luz natural no in- clássica greco-romana. de construção maciça, que se terior dos galpões, faz a plásti- - compreende na opção por tijo- ca do complexo das indústrias - los e concreto, representa o as- Renaux se apresentar contem- nadaParte pelo significativa arquiteto dosalemão pro pecto de não transitoriedade, porâneo. Eugenjetos das Rombach, edificações que chegou foi assi a da solidez necessária a quem Apesar de todo o apogeu Brusque no início da década de econômico vivido ao longo de 1930, a convite do Cônsul Car- Uma das características mais de 120 anos de existên- - aqui veio para ficar. cia, a Fábrica de Tecidos Carlos ções da fábrica, Rombach tam- tom laranja coral distintivo da Renaux teve sua falência decre- bémlos Renaux. projetou Além a residência de edifica do empresa,marcantes que das cria edificações a legibilida é o- tada em 2013. Cônsul, hoje conhecida como de de ser propriedade dos Re- Em 2017, os bens da gigan- Villa Renaux, e a antiga Mater- naux. te Renaux foram arrematados nidade Evangélica, inaugurada em leilão e em 2018 passam em 1938. por ampla reforma para se A construção da Fábrica de tornarem o Centro Industrial Tecidos Carlos Renaux data Renaux, mantendo algumas ca- do início na década de 1930 e, racterísticas originais das edi- Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: apesar de os galpões não terem sido construídos todos de uma - naux.ficações, assim como o laranja uma identidade arquitetônica coral, a cor oficial da marca Re bastantevez, as homogênea. edificações possuem históricas do Complexo Indus- Os dois prédios que con- trialDeterminadas Renaux, incluindo edificações a torre da chaminé, são reconheci- industrial para a avenida 1º de das pelo seu importante valor Maiofiguram se aenquadram frente do no conjunto estilo histórico da sociedade brus- arquitetônico art déco, recor- quense. Buscando proteger o rente e vanguardista na arqui- patrimônio cultural de modo tetura industrial do período a preservar a memória local, de construção dos mesmos, o pedido de tombamento de principalmente no Brasil. São verdadeiros ícones históricos, junto aos órgãos competentes arquitetônicos e industriais da desdealgumas 2013. edificações tramita sua época. Localização: Avenida Pri- O sistema construtivo em meiro de Maio, nº 1286. Pri- alvenaria e paredes estrutu- meiro de Maio. 239 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Acervo: SAB Acervo:

Villa Ida e seus mistérios

Als Bühne eines groβen Skandals der Familie Renaux, ist die Villa Ida heute eines der schönsten noch erhaltenen alten Häuser der Stadt. Entre os belos casarões sar de suas conformações tí- destinado à área íntima da fa- de Brusque vamos encontrar picas de chalé europeu, a edi- mília, contando com duas suí- a Villa Ida, construída entre tes, um quarto, uma sala de ao expressar formas curvas leitura com varanda e o aces- início de 1920 para abrigar a eficação orgânicas, inova essaspredominantes definições so ao sótão. Na suíte do casal, famíliao final de da Otto década Renaux. de 1910 Como e no telhado, no torreão, e nos uma grande banheira, pias e de costume, o casarão foi ba- volumes da fachada, similares espelhos individuais indicam tizado com o nome da esposa, ao estilo conhecido por art- que ali era um ambiente de Augusta Carolina Ida Krieger, nouveau. luxo. mais conhecida como Ida. Na- O casarão conta com dois Ladrilho hidráulico foi uti- quela época, o diretor precisa- pavimentos principais, mais lizado no piso da cozinha, no va estar próximo da empresa o porão e o sótão. No térreo, jardim de inverno e nas áreas para qualquer eventualidade, além do hall de entrada, en- molhadas, sendo que a maio- e por isso a mansão foi cons- contramos as áreas sociais e ria dos cômodos recebeu as- truída no terreno da fábrica. de serviço: um jardim inter- soalho de madeira. O revesti- - no, salas de estar, jantar e lei- mento externo é texturizado, tilo alheio ao entorno, exibin- tura, cozinha e despensa, um e as paredes são de estuque do Atraços edificação peculiares apresenta e raros es lavabo e um banheiro. - uma estrutura em madeira no contexto brasileiro. Ape- O primeiro pavimento era preenchida e revestida com 240 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

argamassa de areia, cal e ges- num desvão com maior apro- A partir da década de so. Os belos jardins da man- veitamento. 1960, e até o encerramento são eram uma atração à parte A mansão serviu como re- das atividades da empresa, e compunham a estrutura da sidência da família de Otto em 2013, a bela e imponente casa. A cor original do casa- Renaux até 1947, quando ele construção serviu como am- rão era vermelho orgânico bulatório da Fábrica de Teci- escuro, e as esquadrias eram diretoria da empresa, passan- dos Carlos Renaux. claras. doficou a compor doente apenas e se afastou o conse da- Passado um século desde Uma característica impor- lho da fábrica. a sua construção, ainda hoje - - a mansão, que já foi um dos do escalonado, constituído derada um dos casarões mais maiores símbolos de poder portante ‘degraus’, da edificação em uma é oespécie telha emblemáticosA edificação de que Brusque, é consi de Brusque, pode ser admira- de divisão em níveis, com a pois com a saída de Otto a da a partir da avenida Primei- presença de mansardas, que mansão passou a ser a resi- ro de Maio. consistem no vão entre a casa dência do sobrinho Ivo José e o telhado, o sótão, que, pro- Renaux, principal persona- um importante patrimônio vido de janelas, se transfor- gem do mistério que cerca históricoA edificação de Brusque é considerada e desde mando em um último andar a Villa Ida. Nesta casa Ivo foi 2013 o pedido de tombamen- habitável, pois as águas do encontrado morto com um to tramita junto aos órgãos telhado são divididas em dois tiro na cabeça em um dos competentes. caimentos, sendo o inferior quartos escuros e sombrios Localização: Avenida 1º de quase vertical e o superior do 2° andar, na manhã de Maio, nº 1286. Primeiro de quase horizontal, resultando 30/07/1949. Maio. 241 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Villa Renaux: Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux

Eine der auffälligsten Bauten der Stadt Brusque ist die Villa Goucki. Sie wurde zwischen 1932-1935 nach Plänen des deutschen Ingenieurs Eugen Rombach gebaut. Die Villa war Wohn- und Repräsentationshaus des Konsuls Carlos Renaux in Brusque.

Denominada originalmen- a construção foi iniciada em cipal, destinada à família, e te de Villa Goucki em home- uma menor, utilizada pelos nagem à terceira esposa, a No jardim aos fundos da mansão foi construída para mansão,1932 e finalizada encontramos em 1935. um pe - se interligam por uma espécie ser a residência do Cônsul queno Mausoléu onde estão deserviçais. ‘passarela’ As duas que ligaedificações o andar Carlos Renaux no seu regres- abrigados os restos mortais so de Baden, Alemanha e re- da terceira esposa do Cônsul, A arquitetura da Villa é art presenta um marco para a a Consulesa Maria Luiza Au- déco,superior com das linhas duas retas edificações. e sim- história da região de Brusque guste Lienhaerts Renaux, a ples, seguindo o movimento e de Santa Catarina. Goucki. artístico e arquitetônico. Projetada pelo arquite- A residência principal tem to alemão Eugen Rombach, duas casas separadas, a prin- 3 pavimentos. No subsolo A edificação consiste em 242 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história encontramos o espaço de la- Depois de um tempo fecha- Villa Renaux, tem recebido zer voltado para o jardim e o da, a Villa Renaux foi habitada muitas visitas públicas, prin- espaço reservado às máqui- cipalmente de estudantes e nas pois a residência desde do Cônsul. Nas últimas déca- pesquisadores. As atividades a sua construção já possuía das,por Selma,quem residiu a filha na mais Casa nova foi educacionais têm sido coor- sistemas de aquecimento e de a bisneta do Cônsul, a histo- denadas pela Unifebe. ar-condicionado central, con- riadora Maria Luiza (Bia) Re- Como está ligada à indus- siderado o primeiro do esta- naux. trialização catarinense, em do de Santa Catarina. Os sis- Bia manteve o uso residen- setembro de 2018 a Funda- temas funcionam por dutos, ção Catarinense de Cultura sendo o aquecimento feito os espaços tal como foram fez publicar a portaria de por fornalha. A refrigeração concebidoscial da edificação pelo e preservouarquiteto promoção de tombamento está embutida nas luminárias alemão Eugen Rombach, fa- da Villa Renaux, que será o de cada cômodo, sendo que zendo da casa um verdadeiro primeiro imóvel em Brusque tanto o aquecimento quanto a espaço de memória. A aten- declarado como patrimônio refrigeração atingem todos os ção e esforço de Bia pela pre- histórico pela Fundação Cata- cômodos da casa. servação da ambientação da rinense de Cultura. A casa passou apenas por época chegou aos mínimos Localização: Avenida Pri- duas reformas, uma por volta detalhes, com resgate de mo- meiro de Maio, nº 1000. Pri- da década de 1990 e outra no biliário e peças originais, tais meiro de Maio. ano de 2015 e se encontra em como louças e objetos de de- ótimo estado de conservação. coração. Uma revitalização também Após a morte de Bia Re- se fez necessária em alguns naux, em janeiro de 2017, o cômodos quando, em 2013, a possuidor do imóvel assinou casa foi invadida por vânda- um Termo de Cooperação los. para Cessão de Direitos de Ao longo da sua história, a Uso de Imóvel e Acervo Docu- casa abrigou três gerações de mental com o Centro Univer- moradores. O Cônsul e a Con- sitário de Brusque – Unifebe. sulesa Renaux, para quem foi A partir de então a Unifebe construída a casa e que nela passou a ter acesso ao acervo permaneceram até sua morte. Após a morte do Cônsul, digital armazenado na Villa em 28 de janeiro de 1945, Renaux,documental com histórico o objetivo físico de e seus descendentes costuma- contribuir para a sistemati- vam se reunir na Villa Renaux zação, preservação e sociali- duas vezes ao ano, para ren- zação da memória, documen- der homenagem aos antepas- tação visual da história e do sados: no dia 11 de março, patrimônio cultural da cidade aniversário natalício de Car- de Brusque e região. los Renaux, e em 8 de dezem- Desde 2017, o Espaço de bro, aniversário natalício da Memória Cônsul Carlos Re- Mausoléu onde está sepultada sua esposa Selma Wagner. naux, implantado dentro da a consulesa Goucki. Foto: Rosemari Glatz 243 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Parque Internacional das Esculturas em Mármore Ilse Teske Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: Der internationale Marmorskulpturenpark wurde am 24. April 2014 eingeweiht. Der Park ist mit über 40 Skulpturen auf einer Ausstellungsfläche von 23.000 m² die größte Sammlung von Marmorskulpturen in Lateinamerika. Die Anlage versammelt einen Teil der Werke, die von renommierten Künstlern auf dem internationalen Skulpturen-Symposium zwischen 2001 und 2007 in Brusque geschaffen wurden. Unter den Exponaten befindet sich ein Werk der anerkannten japanischen Bildhauerin Tomie Ohtake, sowie eines der letzten Werkes des verstorbenen Gio Pomodoro (Italien). Der Skulpturenpark vereint Kunstwerke, wie eine Skulptur des Künstlers Amílcar de Castro (Brasilien) und das vom Architekten Oscar Niemeyer entworfene Werk „Tortura Nunca Mais“ (Foltern nie wieder), das auf die Zeit der brasilianischen Diktatur anspielt. Besucher können auch Werke wie „Halia“ von Francisco Brennand und „Fille de La Pluie“ (Tochter des Regens) von Juarez Machado betrachten, deren Thema auf einer raffinierten, sinnlichen und poetischen weiblichen Figur basiert. Der Skulpturenpark Ilse Teske befindet sich an der Valentim Maurici Straβe und ist ganzjährig zugänglich. QR-Codes an den jewelligen Exponaten begleiten den Ausstellungsbesuch mit Textbeiträgen.

244 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Inaugurado em 24 de abril Pomodoro. em mármore da América Lati- de 2014, o Parque está im- O Parque congrega obras na e, tal qual um “espelho uni- plantado em uma área de 23 como a única feita em már- versal”, o parque oferece ima- mil m² onde estão expostas, more pelo artista Amílcar de gens da consciência coletiva ao ar livre e em meio à natu- Castro, e a peça Tortura Nun- que estimulam o observador reza, 40 esculturas em már- ca Mais, desenhada pelo ar- a reconstruir e reencontrar o more. quiteto Oscar Niemeyer, e que seu lugar no universo. O local reúne parte do faz alusão ao período da dita- Implantado às margens da acervo deixado por artis- dura vivida no Brasil. Rodovia Antonio Heil, o Par- tas renomados das edições Os visitantes também po- que está aberto para visitação do Simpósio Internacional de dem encontrar obras de Jua- todos os dias, e as informa- Esculturas de Brusque, que rez Machado, com a escultura ções referentes às escultu- ocorreram de 2001 a 2007, Fille de La Pluie (A Filha da ras podem ser acessadas por como a obra da artista japo- Chuva) cuja temática está ba- meio de QR Code. nesa Tomie Ohtake, reconhe- O parque é um dos prin- cida internacionalmente, e cipais atrativos turísticos da raridades, como uma das últi- seadaO local numa é figuraconsiderado feminina o cidade. mas peças produzidas por Gio maiorsofisticada, acervo sensual de esculturase poética. Localização: Rua Valentim Maurici, 61. Centro II - Brus- que.

245 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Praça do Sesquicentenário

Der “Praça do Sesquicentenário“ wurde 2010 zum 150-jährigen Bestehen der Stadt Brusque eingeweiht. Der neue Platz ist ein Begegnungsort vieler Familien mit Kindern und ein wunderbarer gemütlicher Platz zum Verweilen.

A Praça foi criada em ho- o mapa de Brusque. inaugurado o Ponto de Leitu- menagem aos 150 anos de A praça também recebeu ra da Praça Sesquicentenário Brusque e inaugurada em duas esculturas, a estátua de e, em 9/08/2013, foi inau- 21/08/2010. No mesmo dia Brusque, e o Monumento à gurado um novo módulo da foi inaugurado o monumento Bíblia. A praça igualmente praça, que recebeu mais duas intitulado “A Conquista dos recebeu árvores que foram quadras, uma poliesportiva e 150 anos”, um conjunto de transplantadas de um antigo uma de tênis, a pista de espor- - palacete que foi demolido na tes radicais e mais vagas para creto e metal. As três torres avenida Otto Renaux. estacionamento. Um dos mais representamfiguras geométricas os três empoderes con O local possui uma aca- novos cartões postais da cida- do município, com uma linha demia para todas as idades, de, a Praça do Sesquicentená- em ascensão. Os bonecos sim- pista de patinação, parque de rio é palco de vários eventos bolizam o povo, e as engre- diversão infantil, internet ao e atrações e possui a primeira nagens a indústria, principal ar livre, jardim e chafariz. A pista de patinação do Estado responsável pelo desenvolvi- água para jardinagem, e que instalada a céu aberto. mento econômico da cidade. também é usada no chafariz, Localização: Rua Eduardo - é captada das águas da chuva. von Buettner, em frente à Pre- no das engrenagens formam Em outubro de 2011, foi feitura. Centro. Os perfis encontrados em tor 246 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Praça Vicente Só

Der Vicente Só Platz liegt heute dort, wo im Jahr 1860 die ersten deutschen Einwandererfamilien in der Mühle von Pedro Werner provisorisch einquartiert wurden. Die dort stehende Skulptur weist auf die Begegnung zwischen den Einwanderern und den Ureinwohnern auf. Inserida na programação ção também se procedeu à ce- do Centenário de Brusque, e - rimônia das homenagens ao as esculturas representando que, em 4/08/1960 foi inau- fundador da cidade, Dr. Fran- a chegada e o encontro dos guradaoficial do a CentenárioPraça Vicente de Brus Só, cisco Carlos de Araújo Brus- imigrantes alemães com os assim denominada em home- que, ao 1º diretor da Colônia indígenas, são os principais nagem a Vicente Ferreira de Barão Maximiliano de Schne- atrativos da Praça. Melo, um dos primeiros mo- eburg, e aos primeiros coloni- A Praça Vicente Só está im- radores da região. zadores, com a inauguração plantada no local onde Pedro A cerimônia teve início às do Obelisco e respectivas pla- Werner acolheu, em sua casa 8 horas, com o hasteamento cas de bronze. O discurso foi e engenho, o primeiro grupo da Bandeira Nacional no pa- proferido por um membro da organizado de colonizadores Subcomissão do Monumento alemães em 4/08/1860. Em- Hino Nacional e do Hino do ao Imigrante. bora pequena, proporciona Centenário,lanque oficial, executado execução pela do Em 4/04/2011, a praça momentos especiais para os Banda da Polícia Militar do foi reinaugurada e recebeu apreciadores da história e da Estado, seguido de discurso 11 esculturas esculpidas em arte. do Prefeito Municipal. 2002 pelo artista plástico Localização: Rua Getúlio Durante o ato de inaugura- David Rodrigues. O obelisco Vargas. Centro. Brusque. 247 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Praça da Cidadania

Der Platz ist nach dem ehemaligen Bürgermeister Paulo Lourenço Bianchini benannt. Die Einweihung fand im August 2013 statt. Das Gelände beherbergt die Stadtbibliothek und die Kulturstiftung der Stadt Brusque.

Inaugurada em 17 de agos- mento do Samae, Sine, Pro- nitários e um espaço destina- to de 2013, a Praça da Cida- con, Conselho Tutelar, Centro do aos artesãos brusquenses. dania foi implantada com o de Referência Especializada Além dos serviços públi- objetivo de facilitar a vida dos em Assistência Social, Centro cos, na Praça estão implan- moradores ao reunir os prin- de Convivência Social, Centro tadas algumas obras de arte cipais serviços públicos no de Serviços em Saúde, Centro que integram o Roteiro das mesmo espaço. de Especialidades Odontoló- Esculturas, e o monumen- A praça foi batizada de Pre- gicas, Centro de Referência de to intitulado “pinhão”, uma feito Paulo Lourenço Bianchi- Especialidades (Policlínica), e homenagem aos imigrantes ni, em homenagem ao político as farmácias Básica e de Me- poloneses que aqui aporta- brusquense, e a sua inaugura- dicamentos Controlados. ram em 1869 e concederam a ção fez parte dos eventos em No local também funciona Brusque o título de Berço da comemoração aos 153 anos a Fundação Cultural de Brus- Imigração Polonesa no Brasil. de Brusque. que, e a Biblioteca Pública A praça possui um comple- Municipal Ary Cabral, e conta Localização: Rua Prefeito xo de serviços públicos que com um palco para apresen- Germano Schaefer, nº 110. abriga os postos de atendi- tações artísticas e shows, sa- Centro. Brusque 248 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Praça Barão de Schneeburg

1951 wurde der Platz unter seinem ursprünglichen Namen „Salgado Filho“ eingeweiht. Eine Statue zu Ehren des Konsuls Carlos Renaux wurde im selben Jahr der Öffenlichkeit übergeben. Nach dem Abriss des Palastes der Familie Renaux im Jahr 1949, wurde er in einen öffentlichen Platz ungewandelt und wurde im Laufe der Zeit Zeuge verschiedener Feiern, Demonstrationen und politischer Proteste. Im Dezember 1964 wurde der Platz auf Vorschlag von Ayres Gevaerd in Freiherr von Schneeburg-Platz unbenannt.

Implantada no coração da memorações, manifestações e palavras que descrevem ade- cidade, a praça foi inaugurada protestos políticos. quadamente as suas caracte- em 1º/05/1951 e original- A partir de dezembro de rísticas enquanto administra- mente foi denominada Praça 1964, a partir de uma suges- dor. Salgado Filho. Na mesma oca- tão de Ayres Gevaerd, a pra- Em pleno coração da cida- sião também foi inaugurada ça passou a ser denominada de, próximo a vários pontos a Estátua em homenagem ao Praça Barão von Schneeburg. turísticos e estabelecimentos Cônsul Carlos Renaux, uma O Barão foi o primeiro dire- comerciais, a Praça Barão von obra produzida por Agosti- tor da Colônia Itajaí-Brusque, Schneeburg tem enorme va- nho Malinverni Filho. administrando-a honrada- lor social, político e estético, O espaço foi transformado mente e com especial dedica- ponto ideal para acolhimento em praça após a infeliz demo- ção desde a sua fundação, em tanto dos brusquenses quan- lição do palacete da família 4/08/1860, até o seu afasta- to dos turistas. Renaux, em 1949, e já passou mento da função por motivos Localização: Entre a Aveni- por inúmeras transforma- de saúde, em abril de 1867. da Monte Castelo e a Avenida ções, presenciou diversas co- Organização e disciplina são Cônsul Carlos Renaux. Centro. 249 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Praça Gilberto Colzani

Mit der Namensgebung dieses Platzes ehrt der Stadt die italienische Einwanderung und seine Nachkommen. Auf dem Platz steht auch die Gedenktafel aus Bronze, die zur 125-Jahr-Feier der italienischen Einwanderung errichtet wurde.

A praça foi denominada simbolizando a memória dos - Gilberto Colzani em 1994 e imigrantes italianos. tem oferecer um espetáculo inaugurada em 19/12/1996. Para os italianos, as praças deiluminação luzes e cores artificial à noite. permi Implantada em frente ao Ter- não são apenas um espaço de A praça também conta com minal Urbano de Brusque, e entretenimento e lazer, pois - ao lado da cabeceira da Ponte contam a história do povo. cultura denominada “Famí- Arthur Schlösser. São centros vivos, de discus- liaum delago Bugre”, artificial que e comrepresen a es- É uma das poucas praças sões, um lugar para encontros ta o imigrante e o habitante da cidade com sobrenome ita- entre a vida pública e priva- nativo de nossa região que, liano, apesar de o número de da, e um convite à meditação em alguns casos, formaram imigrantes italianos ter sido sobre os monumentos, fatos famílias. A escultura é uma muito superior ao de outras históricos e hábitos dos cida- obra do artista brasileiro José etnias que colonizaram Brus- dãos. Ubaldo da Silva e foi esculpi- que. Em 22/09/2000, o Cir- Em 6/08/2010, o chafariz da em 2001, no Simpósio In- colo Italiano di Brusque fez da Praça Gilberto Colzani foi ternacional de Esculturas do instalar a placa comemorati- reinaugurado. Trata-se de um Brasil. va aos 125 anos de imigração atrativo inédito onde as cas- Localização: Rua Germano italiana no Brasil na praça, catas d’água e chafarizes com Schaefer, nº 209. Centro. 250 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Praça Imigrantes de Karlsdorf

Der Platz wurde nach den ersten deutschen Einwanderern aus Karlsdorf in Baden-Württemberg, Deutschland, benannt. Die ersten badischen Familien kamen am 19. August 1860 in Brusque an. Die Mehrheit der Einwanderer hat sich in Richtung des Guabiruba-Flusses niedergelassen. Seit 2009 ist die Gemeinde Karlsdorf-Neuthard Partnerstadt der benachbarten Stadt Guabiruba.

Criada pela Lei Municipal chaft - BSG, atendendo a uma nageando os imigrantes, doa- nº 1.400, de 30/03/1988, resolução da Câmara de Ve- da pela BSG e pela Associação readores de Karlsdorf-Neu- Catarinense de Intercâmbio e Ponte Estaiada. Durante os thard, trouxe a Brusque uma Cultura – ACIC. primeirosa Praça fica anos na cabeceirade coloniza da- muda de carvalho alemão. A ção da cidade, a região serviu árvore tinha 1 metro de al- O carvalho plantado em - tura e foi plantada na praça 1988 foi atingido por pragas, que. Ali aportavam os barcos, para simbolizar a origem dos sofreu os efeitos do clima, e ascomo canoas porto e fluvialas lanchas de Brus que imigrantes. O carvalho teve começou a morrer. Mas, assim visavam ao abastecimento da um bom crescimento inicial e como os imigrantes alemães população, e a saída dos pro- chegou a atingir cerca de 10 tinham esperança numa nova dutos para o porto marítimo metros de altura. vida, também o carvalho ale- de Itajaí. A Praça foi revitalizada em mão brotou outra vez. Agora A praça recebeu este 2009. Para celebrar os 150 são dois novos ramos que, nome em homenagem aos anos da imigração alemã, em lado a lado, crescem frondo- imigrantes alemães originá- novembro de 2010 foi im- sos e saudáveis. Tal como o rios de Karlsdorf, que che- plantado na praça um belo monumento implantado na garam a Brusque a partir de monumento composto por mesma praça, os dois ramos 19/08/1860. duas colunas entrelaçadas podem simbolizar a velha e Quando a praça foi inau- nova Pátria dos imigrantes de gurada, Egon Klefenz, à época Baden e o Brasil, e represen- Karlsdorf. prefeito de Karlsdorf-Neu- tandopor uma a velha fita, e simbolizando nova Pátria thard e presidente da Badis- dos imigrantes. Também foi do Largo 4 de Agosto com a ch-Südbrasilianische Gesells- descerrada uma placa home- RuaLocalização: Hercílio Luz. Centro. confluência 251 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Praça dos Estudantes Auf dem Studentenplatz der Universität Unifebe wurde 2017, im Rahmen eines Klimaschutzprojekts mit dem Landkreis Karlsruhe, ein intelligentes Straβenbeleuchtungssystem installiert. Diese intelligenten Straßenbeleuchtungsanlagen sind mit einer Ladestation, Notruffunktion, Umwelt- und Verkehrssensorik ausgestattet. Es handelt sich dabei um eine von der EnBW entwickelte modulare Infrastrukturlösung namens „SM!GHT“. „SMIGHT“ ist eine Unternehmung der EnBW Energie Baden-Württemberg AG und hat ihren Sitz in Karlsruhe.

A praça privada de uso pú- conta com o apoio da Unifebe arte que convida a legibilidade blico, que pertence ao Cen- - da peça para além das aparên- tro Universitário de Brusque nada carinhosamente de “Pra- cias das coisas, onde impera - Unifebe, recebeu uma nova çapara do fins Estudante”, científicos. pois Denomi não é um tipo de essência espiritual, urbanidade e uso a partir da uma força ou um ser imanente, inauguração de uma das três uma escultura que integra o cuja manifestação nas formas unidades da estação inteligen- Patrimôniouma praça Histórico oficial, conta do Muni com- vivas é só parcial e convida a te Smight instaladas em conti- cípio. A escultura “Sem Nome” eterna e incessante busca pelo nente americano. de Fridel Steiner, traz uma pirâ- conhecimento, tão próprio do Inaugurada em 17 de no- mide que emoldura oito rostos ambiente universitário. vembro de 2017, a estação com olhos fechados e um nono Caminhos pavimentados, inteligente Smight é um dos rosto com olhos abertos e, num bancos coloridos e canteiros frutos do projeto “50 Parcerias deles, um coração, remetendo - - ao olhar da Mãe Terra que, com bientação do local. do entre Brusque e o Distrito olhar vigilante acolhe, protege, floridosLocalização: complementam Unifebe. Bairroa am deMunicipais Karlsruhe, pelo Alemanha, Clima” firmae que orienta e ensina. É uma obra de Santa Terezinha. 252 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Diplomata FM Foto:

Festa Nacional do Marreco Das Entenfest ist eine der größten Veranstaltungen in der Region des Itajaí-Tals und findet seit 1986 jährlich im Oktober statt. Überregionale Bekannheit erlangte das Fest als gastronomisches Ereignis und als ein Fest für die ganze Familie.

Chamada carinhosamen- sua identidade étnica. Muito Depois de três edições no Clu- te de Fenarreco, é realizada famoso nas regiões do Vale do be, a Fenarreco foi realizada anualmente no mês de outu- Itajaí, o marreco recheado é pela primeira vez no atual en- bro e é o principal símbolo da servido acompanhado de re- dereço, mas sem o pavilhão. vida social de Brusque. Seus polho roxo ou chucrute, bata- Duas grandes coberturas de atrativos são os pratos à base tas e purê de maçã. lonas foram utilizadas para de marreco, além do chope, Quando foi realizada a os bailes e a feira industrial e apresentações de grupos fol- 1ª edição da Fenarreco, em outras menores abrigavam os clóricos e bandas alemãs. 1986, a cidade possuía pouco serviços de restaurante e be- A ideia da Fenarreco sur- mais de 50 mil habitantes e bidas. Somente em 1991, com giu em 1985, após a cidade quase nenhuma tradição tu- a conclusão da construção, a ter sofrido o efeito devasta- rística. Em Brusque não exis- festa pôde ser realizada em dor das duas grandes cheias tiam locais para a realização dependências mais confortá- de 1983 e 1984, mas sua pri- de eventos, e as primeiras edi- - meira edição aconteceu só em ções da festa foram realizadas ber um grande público. 1986. Inspirada na criação da nas dependências do Clube de veisA eFenarreco suficientes é organizada para rece Oktoberfest, de Blumenau, a Caça e Tiro Araújo Brusque. O pela Secretaria de Turismo e festa simboliza a superação, crescimento da festa foi in- acontece anualmente no mês e representa um esforço para tenso e rápido, e o Clube não de outubro. É considerada a - comportava mais a expectati- maior festa de Brusque, e uma de do povo brusquense. va de um público maior. Então das maiores festas de outubro manterO marreco e redefinir recheado a identida – ou a Prefeitura, em parceria com de Santa Catarina. “gefüllte Ente”, como é conhe- a iniciativa privada, construiu Local: Pavilhão de Eventos cido na Alemanha, é elemento o Pavilhão de Eventos que Maria Celina Vidotto Imhof. fundamental da festa e serviu atualmente constitui o princi- Rua Deputado Gentil Battisti pal local de eventos da cidade. Archer. Centro 2. para que Brusque reafirmasse 253 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

Festa Nacional do Jeep

Was 1993 als Zusammenkunft von ein paar Dutzend Off-Road-Enthusiasten startete, ist heute zu einem Spektakel geworden, das weltweit seinesgleichen sucht. Fenajeep ist das gröβte Off-Road Festival Brasiliens.

Com o objetivo de possibi- equipamentos off-road e pos- a emoção de um esporte que litar a confraternização entre sibilitava às empresas mos- agrega lindas paisagens e o as famílias jipeiras e os di- trarem seus produtos e ser- espírito aventureiro. É na Fe- versos Jeep Clubes do Brasil, viços. O evento foi crescendo najeep que, ano após ano, se em 1993 nascia, do coração e conquistando cada vez mais conhece o campeão dos cam- do Jeep Clube de Brusque, a adeptos e visitantes. Adquiriu peões do esporte. Fenajeep. Quando a festa foi renome internacional quando A Festa Nacional do Jeep criada, em Santa Catarina já a questão é off-road. é organizada pelo Jeep Clube existia um Racing com 10 eta- A movimentação atrelada de Brusque e acontece anual- pas, mas cada uma era realiza- à Fenajeep passou a incenti- mente no feriado de Corpus da em um município diferen- var o turismo. O espetáculo Christi. É considerada a maior te. A proposta dos criadores proporcionado pelas compe- festa off-road da América La- da Fenajeep era concentrar tições, as novidades e as atra- tina, e uma das maiores festas exposições, provas e compe- ções do salão off-road reú- de Brusque. tições em um único evento, nem tanto o público ligado ao Local: Pavilhão de Eventos de abrangência nacional, ao Jeep e amantes do 4x4, quan- Maria Celina Vidotto Imhof. mesmo tempo em que divul- to aqueles que simplesmente Rua Deputado Gentil Battisti gava lançamentos de novos buscam descontração, lazer e Archer. Centro 2. 254 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

Festival Nacional da Cuca: O doce sabor da tradição alemã Das Kuchenfest findet jährlich statt und gilt als eine touristische und kulinarische Attraktion der Stadt.

O Festival nasceu com o na sua bagagem, traziam amendoim, goiaba e goia- objetivo de resgatar e valo- os tradicionais livros de re- bada, e incrementadas com rizar a cultura alemã no mu- ceitas de família e, dentre as cobertura de nata. As cober- nicípio. Foi realizado pela receitas preferidas, vamos turas de farofa, maça e quei- primeira vez em 2014, numa encontrar as de “Kuchen”, as jinho se conservaram entre promoção do Núcleo de Pa- nossas famosas cucas. os imigrantes e seus descen- Alguns ingredientes pró- dentes e até hoje a nossa cuca Associação Empresarial de prios da receita original ale- tem “cheiro de casa, cheiro de Brusquenificadoras – ACIBr, e Confeitarias em parceria da mã, como cerejas, maçãs e família, e cheiro de amor”. com a Prefeitura de Brusque e ameixas, raramente eram en- O Festival é realizado anu- Secretaria de Turismo. Desde contrados, então as receitas almente no mês de julho, sua primeira edição, o con- acabaram sendo regionali- sendo considerado um im- curso “Cuca Nota 10 do Bra- zadas, com a substituição ou portante atrativo turístico de sil” acontece durante o festi- inclusão de ingredientes bem Brusque. val e atrai grande público de brasileiros. Local do Evento: Pavilhão diversas regiões do país. As coberturas começaram de Eventos Maria Celina Vi- O doce sabor da tradição a receber frutas tropicais, dotto Imhof. Rua Deputado alemã guarda relação com a como abacaxi, banana, coco, Gentil Battisti Archer. Centro chegada dos imigrantes que, uva e uva-passa, castanha, 2. 255 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Formação Administrativa de Brusque

Data de fundação: 04/08/1860. Prefeito [2018]: Jonas Oscar Paegle. Vice-prefeito [2018]: José Ari Vequi. Nº de vereadores[2018]: 15. Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

256 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Formação instalado o novo município e tro distritos: Brusque, Nilo Villa de São Luiz Gonzaga. Peçanha, Porto Franco e Vidal histórica 1890: Pelo Decreto Esta- Ramos. dual n.º 77, a vila de São Luiz 1943: Pelo Decreto 1873: A Colônia Itajahy Gonzaga passou a denominar- -lei Estadual n.º 941, de -Brusque é transformada em se Brusque em 17/01/1890. 31/12/1943, o distrito de Distrito subordinado a Itajaí. 1911: A vila Brusque é Porto Franco passou a deno- Pela Lei Provincial n.º 693, constituída como distrito-se- minar-se Botuverá e o distri- de 31/07/1873, o presiden- de em divisão administrativa. to de Nilo Peçanha, a denomi- te da Província, Pedro Afonso 1916: Brusque é elevada à nar-se Itaquá. Ferreira, desmembrou as co- categoria de cidade e sede do 1955: Em divisão territo- lônias anexadas da freguesia município pela Lei Estadual rial datada de 01/07/1955, do Santíssimo Sacramento n.º 1.123, de 23/09/1916. o município é constituído de (Itajaí), formando-se a Fre- 1925: Pela Lei Municipal quatro distritos: Brusque, Bo- guesia (paróquia), subordina- n.º 26, de 08/02/1925, é cria- tuverá, Itaquá, e Vidal Ramos. da à Igreja Católica, primeiro do o distrito de Porto Franco, 1956: Pela Lei Estadual n.º passo para a emancipação e anexado ao município de 272, de 03/12/1956, são des- política e administrativa da Brusque. membrados do município de localidade. Seguindo o cos- 1928: Pela Lei Municipal Brusque os distritos de Vidal tume católico, a freguesia foi n.º 4, de 15/07/1928, é cria- Ramos e Itaquá, para formar dedicada ao patrono São Luis do o distrito de Santa Luzia, o novo município de Vidal Ra- Gonzaga, passando a denomi- desmembrado do distrito de mos. nar-se Freguesia de São Luiz Porto Franco, e anexado ao 1962: a partir da Resolu- Gonzaga. município de Brusque. ção nº 238, de 28/04/1962, 1881: O Distrito (Fregue- 1928: Pela Lei Municipal aprovada pela Câmara Muni- sia) foi desmembrado de Ita- n.º 8, de 21/11/1928, o dis- jaí e elevado à categoria de trito de Santa Luzia passou a pela Assembleia Legislativa vila pela Lei Provincial n.º denominar-se Adolfo Konder. pelacipal Leide BrusqueEstadual en.º ratificada 821, de 920, de 23/03/1881, sob a 1930: Por Decreto Esta- 07/05/1962, Botuverá e Gua- denominação de Vila de São dual n.º 16, de 29/11/1930, biruba são desmembrados do Luiz Gonzaga, marcando a o distrito de Adolfo Konder município de Brusque, e ele- sua emancipação político-ad- ministrativa. A lei de criação passou a denominar-se Vidal vados à categoria de municí- Ramos. pio. mesmos da Freguesia de São 1933: Em divisão admi- Luizfixava Gonzaga, como limites abrangendo da vila os nistrativa referente ao ano de 1933, o município é constitu- REFERÊNCIA: territórios dos atuais municí- IBGE. Instituto Brasilei- pios de Brusque, Guabiruba, ído de três distritos: Brusque, Botuverá, Vidal Ramos, Pre- Porto Franco e Vidal Ramos. Panorama Brusque. Disponí- sidente Nereu, Nova Trento e 1936-1937: Em divi- velro deem:. Acesso em 12 ou- 1883: Em 08/07/1883 é município aparece com qua- tubro 2018. 257 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Dados demográficos Brusque está localizada no tiva de vida de 75 anos. 283.223 km².

Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: Médio Vale do Itajaí, estado Apresenta um clima quen- de Santa Catarina. - [2010]: 372,51 hab./km² É circundada por Gaspar, tiva pluviosidade distribuída IDHMDensidade Índice de demográfica desenvol- Itajaí, Nova Trento, Canelinha, aote e longo temperado, do ano. com significa vimento humano municipal Botuverá, Guabiruba, Cambo- A temperatura média é de [2010]: 0,795 riú e Itajaí. 20 °C, e a sensação de calor Escolarização 6 a 14 anos Considerada uma cidade - [2010]: 98 % média, é a 12ª maior cidade do da presença do ar mais Gentilício: brusquense em população de Santa Cata- úmido.pode ser intensificada quan rina. A cidade é banhada pelo REFERÊNCIA Brusque é considerada a rio Itajaí-Mirim. cidade mais segura para se vi- População estimada IBGE. Instituto Brasilei- ver entre as cidades com mais [2018]: 131.703 pessoas de 100 mil habitantes, com População no último cen- Estatísticas. Disponível em:< 4,8 homicídios para cada 100 so [2010]: 105.503 pessoas, https://www.ibge.gov.br/ro de Geografia e Estatística. mil habitantes. sendo 50,3% do sexo femini- estatisticas-novoportal/por- A população é composta no e 49,7% do sexo masculi- cidade-estado-estatisticas. principalmente por descen- no, apresentando equilíbrio. - dentes de alemães, poloneses População urbana: 97% ques >. Acesso em 13 outubro e italianos, com uma expecta- Possui uma área de 2018.html?c=4202909&t=desta

258 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Foto: Jornal O Município Foto:

Distâncias e principais vias de acesso

259 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Daiane Benso Foto:

260 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Dados econômicos

Reconhecida pela sua característica empreendedora, Brusque é destaque nacional no quesito desenvolvimento econômico. Conhecida como “Berço da Fiação Catarinense” e “Cidade dos Tecidos”, du- rante muitos anos a base econômica foi o têxtil. Impulsionado pelo segmento têxtil, a partir de 1960, o panorama industrial da cidade foi sendo ampliado com a in- serção da indústria metalmecânica.

Economia

A indústria é a base da economia lo- cal, especialmente o setor têxtil e o me- talmecânico, mas o comércio de vestu- ário, cama, mesa e banho, e o turismo também se destacam na geração de ren- da da cidade.

Indústria [2015]: Colocação no ranking entre as 295 ci- dades catarinenses: 7º Colocação entre as 5.570 cidades bra- sileiras: 134º

Serviços [2015]: Colocação no ranking entre as 295 ci- dades catarinenses: 12º Colocação entre as 5.570 cidades bra- sileiras: 200º

261 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Produto Interno Bruto (PIB)

O PIB representa a soma de todos os bens e ser-

PIB per capita de Brusque, que é calculado pela relaçãoviços finais do PIB produzidos municipal no pelo município. número Emde habitan 2015, o- tes, era de R$ 41.003,42. Foto: Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira Camargo Carretero Rodrigo Foto:

PIB Per capita Brusque [2015]: R$ 41.003,42 Colocação no ranking entre as 15 cidades da microrregião[2015]: 4º Colocação no ranking entre as 295 cidades ca- tarinenses[2015]: 37º Colocação entre as 5.570 cidades brasileiras [2015]: 417º

Trabalho e Rendimento

Quando o assunto é o total de pessoas emprega- das, os dados do IBGE apontam que em 2016 ha- via 55.355 pessoas formalmente empregadas em Brusque, distribuídas principalmente entre os se- tores têxtil, metalmecânico e de serviços. Salário médio mensal dos trabalhadores for- mais: 2,4 salários mínimos Pessoal ocupado: 55.355 População ocupada: 44% Domicílios com rendimentos mensais de até meio salário-mínimo por pessoa: 19,8%. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) [2010]: 0,795

REFERÊNCIA

- tatística. Panorama Brusque. Disponível em:.262 Acesso em 12 outubro 2018. Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

263 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

264 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

O Brasão e a Bandeira de Brusque

Criado por Lei Municipal dos colonos alemães e 1881, em 22 de dezembro de 1956, criação do município de Brus- REFERÊNCIA pelo prefeito Carlos Moritz, o que. Brasão de Brusque foi confec- - BLUMENAU EM CADER- cionado pelo tenente-coronel cípio é composta pela repro- Henrique Wiederspehn. duçãoA bandeira do Brasão oficial de doBrusque, muni NOS. O Brasão de Brusque. O escudo apresenta um es- estampado sobre um fundo Blumenau em Cadernos. cudo português redondo, em de cor branca. Tomo I, nº 7. Maio de 1958. - tas encontradas por nossos primeirosverde, recordando povoadores as floresa par- tir de 1860. Aguado de prata em bar- ra ondulada, representando o rio Itajaí-Mirim, com uma roda dentada à direita do on- dulado, em homenagem às in- dústrias e todas as demais ati- vidades produtivas e sociais, e uma machadinha à esquerda, lembrando o trabalho pionei- ro dos primeiros povoadores e desbravadores, além dos co- lonizadores germânicos e po- loneses, ambos de ouro. No centro da roda dentada, uma cruz dourada simboliza a fé cristã dos pioneiros e dos atuais habitantes. Timbre, a coroa mural de ouro da sede do município, simbolizando - va. Dístico, em letras de prata sobrenossa listel filiação de étnicavermelho, primiti cor que representa o amor e o entusiasmo dos brusquenses por sua terra natal, os dizeres Brusque, entre os milésimos 1860, ano em que Francis- co Carlos de Araújo Brusque permitiu o estabelecimento 265 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

266 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Hino do Centenário Foi aqui, neste vale tranquilo de Brusque Entre os montes e o rio escondido. Brusque é das mais belas e próspe- Que, há cem anos atrás, um pugilo ras cidades da Bacia do Itajaí. Prepa- De imigrantes surgiu destemido rando-se para festejar o centenário da Dos heróis palmilhando o roteiro, sua fundação, em 4/08/1960, as indús- Sobre o solo, que audaz desbravou. trias, o comércio e o povo se uniram em Esse grupo invulgar, pioneiro, torno de suas autoridades constituídas A semente de Brusque plantou. para dar às projetadas comemorações o máximo de imponência. A Sociedade Amigos de Brusque – Casa de Brusque, ESTRIBILHO: que congregava em seus quadros, des- Salve Brusque imortal, no recesso de a sua fundação, as mais altas expres- Dos teus vales, ressoa nos ares sões culturais, econômicas e adminis- O cantar triunfal do progresso trativas da região, procurou de todas as Pela voz singular dos teares. formas revestir os festejos programa- Salve Brusque imortal. dos não apenas do possível brilhantis- Sobre as áreas fecundas da terra. de maneira a apresentar Brusque ao Brasil,mo, mas em também toda a doesplendente maior significado, realida- Que ao vigor do trabalho se rendem, de de uma comuna que, pelo trabalho Pela várzea do rio, pela serra, e a indústria de seus homens, concorre Pouco a pouco as lavouras se estendem. - E do chão brota a casa modesta, Construída de palha e de lenho, comUma elevado das coeficienteiniciativas paraconcretizadas a grande za física e moral do país. foi o Hino do Centenário, letra do poe- E enche os ares o canto do engenho. ta itajaiense Eduardo Tavares, e música Conquistada vai sendo a floresta, do brilhante maestro Aldo Krieger, en- tão diretor do Conservatório Brasileiro Do trabalho sem par do imigrante, de Música. Também é da autoria desses Com bravura e ardor soberanos, dois artistas o Hino do Centenário de Surge Brusque viril e gigante, Blumenau. Já passados que foram cem anos. Pela beleza dos versos e pela har- Terra minha. Só tens ocupado monia e técnica da partitura, o Hino do Posição de relevo, altaneira, Centenário de Brusque é um trabalho E teu nome, entre mil, é citado digno de orgulho. Como exemplo à nação brasileira. Krieger musicou: É esta a magnífica letra que Aldo 267 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Hino de Santa Catarina Adotado pela Lei 144, de 6/09/1895, no Governo de Hercílio Pedro da Luz, o hino de Santa Catarina foi composto pelo poeta Horário Nunes de Pinto, nascido no Rio de Janeiro, e pelo músico José Brazilício de Souza, pernambucano. A libertação dos escravos foi o tema chave que permeou a composição do hino.

268 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Letra: Horácio Nunes Música: José Brazilício de Souza

Num canto sublime de glórias e luz AsSagremos festas que num os hino livres de frementes estrelas e deflores ardores Celebram nas terras gigantes da cruz Quebram-se férreas cadeias Rojam algemas no chão Do povo nas epopeias Fulge a luz da redenção

No céu peregrino da Pátria gigante Que é berço de glórias e berço de heróis Levanta-se em ondas de luz deslumbrante O Sol, Liberdade cercada de sóis Pela força do Direito Pela força da Razão Cai por terra o preconceito Levanta-se uma Nação

Não mais diferenças de sangues e raças Não mais regalias sem termos fatais A força está toda do povo nas massas Irmão somos todos e todos iguais

Da Liberdade adorada No deslumbrante clarão Banha o povo a fronte ousada E avigora o coração

O povo que é grande, mas não vingativo Que nunca a justiça e o Direito calcou

Com flores e festas deu vida ao cativo Quebrou-seCom festas e algema flores o do trono escravo esmagou E nesta grande Nação É cada homem um bravo Cada bravo um cidadão 269 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Hino Nacional Brasileiro O Hino Nacional tem uma por ocasião da coroação de acompanhar a melodia com- melodia inconfundível, bas- Dom Pedro II. No Império, o posta quase um século antes tam dois acordes para que Hino Nacional só podia ser pelo maestro Francisco Ma- se reconheça de imediato. A cantado nos teatros, por artis- noel da Silva. melodia vem do Império e a tas que dominassem a técnica marcha que ouvimos hoje é de alongar os sons vocálicos a mesma que Dom Pedro II e acomodar uma sílaba em REFERÊNCIA mais de uma nota, e só canto- e foi concebida por volta de res líricos conseguiam entoar PLANALTO. Hino Nacional 1830,ouvia naspelo cerimônias maestro Francis oficiais- a música. Brasileiro: letra. Disponível co Manoel da Silva. Os versos Com o golpe que derru- em:http://www2.planalto. atuais, por sua vez, são a ter- bou o Império, em 1889, o gov.br/conheca-a-presiden- ceira versão. novo governo se empenhou cia/acervo/simbolos-nacio- Ao longo do Brasil monár- em sepultar os legados mo- nais/hinos/hino-nacional quico, o Hino Nacional teve nárquicos e substituí-los por -brasileiro-1. Acesso em 28 duas letras diferentes, am- símbolos nacionais republi- setembro 2018 bas acompanhando a mesma canos. Durante as três pri- SENADO FEDERAL. Sena- melodia triunfal que é tocada meiras décadas da República, do Notícias. Antes da versão hoje em dia. A primeira letra o Hino Nacional não era can- atual, letra do Hino Nacional do Hino Nacional tratava da tado, apenas ouvido. Somente bajulava Pedro II. Disponível abdicação de Dom Pedro I, em 6 de setembro de 1922 o em:. Acesso em segunda letra veio em 1841, critos em 1909, e que devem 28 setembro 2018 270 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

I II Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Deitado eternamente em berço esplêndido, De um povo heroico o brado retumbante, Ao som do mar e à luz do céu profundo, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante. Fulguras, ó Brasil, florão da América, Se o penhor dessa igualdade DoIluminado que a terra ao sol mais do garridanovo mundo! Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, “Nossos bosques têm mais vida”, “NossaTeus risonhos, vida” no lindos teu seio campos “mais têm amores”. mais flores;

Desafia o nosso peito a própria Ómorte! pátria amada Ó pátria amada, Idolatrada, Idolatrada,

Brasil, um sonho intenso, um raio vívidoSalve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símboloSalve! Salve! De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do cruzeiro resplandece. - Paz no futuro e glória no passado. E diga o verde-louro dessa flâmula Gigante pela própria natureza, Mas, se ergues da justiça a clava forte, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Nem teme, quem te adora, a própria morte. Verás que um filho teu não foge à luta, Terra adorada, Terra adorada Entre outras mil, Entre outras mil, És tu, Brasil, És tu, Brasil,

PátriaÓ pátria amada, amada! Ó pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Dos filhos deste solo és mãe gentil, Brasil! Brasil!

271 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto:

272 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

273 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz

Agradecimentos Foram muitas as mãos que foram colocadas “na massa”. Juntas, essas “várias mãos” possibilitaram dar forma à obra que agora se apresenta à comunidade. A elas cabe agradecer.

Agradeço:

A Deus.

Aos meus pais, aos meus avós e à minha madrinha Anna (todos em memória), pela vida e estímulo ao estudo e à leitura, pois sem essa base as palavras não sairiam da minha cabeça para se transformar em livro.

Ao meu sogro Geraldo Renato Meyer, o “Alter Meyer” (em memória), e à minha sogra Elfrida Falk Meyer (Dª Elfi), pela confiança e orgulho.

AosÀs minhas amigos irmãs e companheiros Edda, Isolde de e caminhadaZusana, e demais na vida familiares. acadêmica, Vocês de modo são mais especial do que especiais! à Edineia Pereira da Silva Betta e ao Ricardo José Engel, pelo estímulo e orientações.

Aos jovens Egon Henrique Kohler Formonte; Rodrigo Carretero Camargo de Oliveira, e contribuir de forma muito especial para que este livro se transformasse não apenas em maisSarah um Beatriz livro Frainer.de história, Vocês mas foram numa corajosos, obra de arteencararam colorida, o desafiodescolada, e conseguiram artística e cultural.

Ao Tchê (Celso Deucher), pela paciente diagramação que permitiu esta obra transmitir ao leitor o que o meu coração queria comunicar.

Ao Francisco Daniel Imhof, o famoso “Chico”, por sua dedicação na revisão dos textos.

Gratidão especial à mestra Emília Rosenbrock que, com sabedoria e conhecimento da língua e cultura alemãs, conseguiu traduzir para o alemão a essência dos textos sobre O 160.

Ao Roque Luis Dirschnabel, pelas inestimáveis contribuições para escrever sea biografia dedicou docom Barão tanto Maximilian amor à Colônia von Schneeburg. que fundou. Sem seu empenho e espírito público, não teria sido possível enriquecer a biografia deste homem que Ao pastor Claudio Siegfried Scheffer e ao padre Eder Claudio Celva, por suas contribuições nos textos referentes à religião.

À Francine Cavalheiro Carbonera que, com sua veia artística, foi capaz de dar um rosto ao rosto que não conhecíamos, o Barão Maximilian von Schneeburg, 274 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história e também pelas demais gravuras.

ÀÀs Luciana jovens BrunaTomasi, Burigo por sua e Daiane ajuda nasBenso, pesquisas pelas fotografias. na Casa de Brusque.

A Herbert Pastor, Edgar Ricardo von Buettner e Marga Helga Erbe Kamp, pelas contribuições referentes à família von Buettner. Agradecimentos especiais

à Helga pelas informações primárias e fotografias. referentes à família Krieger. Ao Jorge Paulo Krieger Filho, pelas contribuições primárias e fotografias À Astrid Renaux, a Gerd Albert Walter Gommersbach e a Vitor Renaux Hering, pelas contribuições atinentes à família Renaux. Agradecimentos especiais a Vitor pois, ao permitir o acesso ao acervo do Espaço de Memória Cônsul Carlos Renaux para pesquisas, abriu as portas do passado e o franqueou ao presente e ao futuro.

Ao Marcus Schlösser, pelas contribuições com informações primárias e fotografias referentes à família Schlösser. comAo saudoso informações pastor inestimáveis Lindolfo Weingärtner sobre as histórias (em memória) reais da e “Brusquesua querida Imortal”. esposa Erna Joenk Weingärtner, por abrirem sua casa e seus corações contribuindo A todos os que cooperaram com esta obra, ainda que não nominados expressamente.

Aos pesquisadores e escritores que me antecederam e, mesmo sem saber, contribuíram com subsídios para a escrita desta obra. Sem eles, este livro não existiria.

Cabe também agradecer às seguintes instituições:

Centro Universitário de Brusque – UNIFEBE. Fundação Cultural de Brusque, Conselho Municipal de Cultura e Prefeitura Municipal de Brusque. Sociedade do Pelznickel. Sociedade Amigos de Brusque e de Apoio ao Museu Histórico do Vale do Itajaí-Mirim – SAB/Casa de Brusque.

Agradecimentos especiais: e Sarah e à minha neta Helena Gabriela. EstouAo meu mais esposo agradecida Carlos, aosdo que meus sou filhos capaz Ariel, de dizer. Luan, Anna Luiza, Marcele A compreensão e o estímulo de vocês foram indispensáveis para que o sonho se transformasse em realidade.

Amo muito todos vocês! 275 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Foto: Bruna Burigo Foto:

276 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Sobre a obra e a autora - zam a memória e a História, as coisas de nossa terra e de nossa gente. Trata-seEsta é uma de obraum livro diferenciada. atrativo, descomplicado,Que belo presente ricamente recebe oilustrado leitor! Ouro e colorido, puro aos que que conduz valori o leitor a uma instigante viagem de reconhecimento das identidades de Brusque, a partir de re- presentações culturais que retratam a memória da coletividade regional. Um fantástico passeio pela nossa história, pela nossa cultura e pelas nossas marcas. Tema para quem sabe pesquisar e escrever, com qualidade e seriedade. Vale, pois, dizer um pouco sobre a autora.

Rosemari Glatz é escritora, pesquisadora, funcionária pública federal aposentada e profes- sora universitária. Nascida em Taió, Santa Catarina, é brusquense de coração. Sua formação acadêmica é na área de Administração, mas há alguns anos descobriu sua grande paixão pela história e desde então vem se dedicando à pesquisa e à escrita, principalmente aos temas re- lacionados à imigração alemã, polonesa e italiana para os Vales do Itajaí e Itajaí-Mirim e para a área do turismo regional. A autora possui várias publicações em livros, jornais e revistas, onde destacamos: 1. Organizadora do livro História, Cultura e Gostosura: Receitas Culinárias de Família como Expressão de Patrimônio Cultural Regional, lançado na modalidade e-Book pela Editora da Uni- febe em 2018. 2. Coautora do livro: Famílias de Origem Alemã no Estado de Santa Catarina, lançado em maio de 2017. 3. Publica uma coluna semanal no jornal O Município, de Brusque, desde 2015. 4. Publica no Anuário Notícias de Vicente Só, desde 2017. 5. Publica na Revista da ACIBr, desde 2018. 6. Participou dos Concursos e teve seus textos publicados nos livros: Histórias de Trabalho da Receita Federal do Brasil nas edições dos anos de 2014, 2015 e 2016. - rosa, com o tema: Contribuinte do Futuro… a menina-moça que virou servidora. • 2014 (5ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa, onde obteve menção hon Criação da DRF Blumenau e Agências de Brusque, Rio do Sul e Timbó. • 2015 (6ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa com o tema: Histórico da armadura: o servidor público como cobrador de impostos. • 2016 (7ª edição), na modalidade depoimento Verídico em Prosa com o tema: O capuz e a Leitor, viaje tranquilo e saboreie cada uma das páginas deste maravilhoso livro “BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história”. Depois da última página, venha me falar do seu encantamento.

Ricardo José Engel Professor277 BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história Rosemari Glatz Os 60 e o 160 Há mais de 160 anos,

Foto: Rosemari Glatz Rosemari Foto: Adentraram nesta mata virgem Os primeiros rostos mais pálidos. Encontraram a terra selvagem E um povo diferente e enraizado.

Depois vieram mais, subindo pelo rio. Eram cinquenta e quatro, e o Barão De Schneeburg era seu visionário: Nas margens do pequeno Mirim, ia nascendo um clarão.

Desbravaram o terreno sem limites E ali encontraram o povo Xokleng. Os primeiros contatos foram interessantes, Reduzidos como um grão de pólen.

278 Rosemari Glatz BRUSQUE - Os 60 e o 160: Elementos da nossa história

Com o passar dos anos, foram chegando: Mais alemães, italianos, poloneses. Foram povoando E tornando a terra deles.

O rio se tornou uma estrada conceituada, Por onde iam e vinham os colonizadores. E a terra passou a ser cultivada, Trouxe ouro, comércio e agricultores.

Emancipou-se a colônia E a vila ganhou um nome: Brusque, Em homenagem à fonia Do presidente da província, Araújo Bruscchi.

Desde os seus primeiros dias. A vendanova colônia prosperou floresceu e cresceu E empresários acumularam economias.

Em 1890, As iniciativas têxteis se espalham E o novo símbolo de riqueza emana.

Aquele que Brusque respeita e ama. O berço da fiação, com carinho chamam Os povoadores que ocuparam Valorizaram sempre a educação

Honrando sua religião. E, entre dificuldades, se sustentaram Brusque aos poucos foi ganhando uma identidade, De povo trabalhador e empreendedor. Homens e mulheres em reciprocidade Criaram as bases de um contexto engrandecedor.

Hoje, aos 160, Brusque é uma cidade próspera, Com sua diversidade e história. Tem atrações para o turista E monumentos de memória.

A metalurgia se uniu à tecelagem, Tornando Brusque grande em seu princípio. Tem um povo de coragem E é ilustre município.

Autoria: Sarah Beatriz Frainer 279 O que você deixa para trás não é o que é gravado em monumentos de pedra, mas o que é tecido nas vidas de outros.

Péricles, político grego, século V a.C.