SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS Programa de Pós-Graduação em Geografia

UHALLAS CORDEIRO SILVA

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E MORFOLOGIA DA CIDADE DE RUBIATABA-GOIÁS

Goiânia, outubro de 2017.

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UHALLAS CORDEIRO SILVA

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E MORFOLOGIA DA CIDADE DE RUBIATABA-GOIÁS

Dissertação Apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás, como Requisito para a Obtenção do Título de Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus

Goiânia, outubro de 2017.

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.

Silva, Uhallas Cordeiro Organização espacial e morfologia da cidade de Rubiataba-Goiás [manuscrito] / Uhallas Cordeiro Silva. - 2017. 144, CXLIV f.: il.

Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa), Programa de Pós-Graduação em Geografia, Goiânia, 2017. Bibliografia. Anexos. Inclui mapas, fotografias, abreviaturas, gráfico, tabelas, lista de figuras, lista de tabelas.

1. Rubiataba. 2. Espaço urbano. 3. Formação socioespacial. 4. Organização espacial. I. Deus, João Batista de , orient. II. Título.

CDU 911

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UHALLAS CORDEIRO SILVA

ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E MORFOLOGIA DA CIDADE DE RUBIATABA- GOIÁS

Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia, aprovada em 20 de outubro de 2017, pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes Professores:

PROF. DR. JOÃO BATISTA DE DEUS Orientador e Presidente da banca Universidade Federal de Goiás – Campus Samambaia

PROF. DR. ALEX TRISTÃO DE SANTANA Membro externo Instituto Federal Goiano – Campus Trindade

PROF. DR. RONAN EUSTÁQUIO BORGES Membro interno Universidade Federal de Goiás – Campus Samambaia

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Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu pai Hamilton Cordeiro e minha mãe Irani M. S. Cordeiro, que me apoiaram em todos os momentos, ao meu irmão, a minha namorada Patrícia Paula, meus avós e todos os familiares e amigos. Dedico também este trabalho a todos Rubiatabenses, que merecem uma atenção especial neste trabalho, pois são eles os elementos mais importantes desta cidade, tornando-a um excelente local para consolidação da vida humana.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, que me deu forças permitindo que pudesse efetuar e concluir este trabalho. Sou grato pela vida e pelas pessoas que fazem parte dela, mas acima de tudo grato a Deus por me conceder tudo isso. Agradeço ao meu pai Hamilton Cordeiro e minha mãe Irani M. S. Cordeiro, juntamente com minha namorada Patrícia, que são pessoas que eu amo muito e que me apoiaram de todas as formas, sendo eles responsáveis pelo apoio necessário a essa conquista, devido sempre estarem presentes nos momentos mais difíceis, pois sem eles eu não conseguiria ter chegado até o presente momento. Quero agradecer em especial meu amigo Carlos Wanderley, pois dizem que “os verdadeiros amigos são aqueles que aparecem nas horas mais difíceis de nossas vidas. ” Agradeço pelas palavras de apoio, que foram importantes e me ajudaram organizar e desenvolver este trabalho, mas também conselhos que me ajudaram a ser uma pessoa cada vez melhor. Fica aqui o meu “muito obrigado”. Ao meu orientador Prof. Dr. João Batista de Deus, pela confiança e por me passar tranquilidade, permitindo que pudesse desenvolver minha proposta de projeto com segurança. Obrigado pelas orientações e diálogos, que foram de fundamental importância na concretização desta pesquisa e que tem me auxiliado em meu crescimento enquanto profissional. Agradeço ao professor Denis Castilho, por ser prestativo e atencioso, sempre se dispondo a me ajudar em todos os momentos em que me deparei com algumas dificuldades, me apresentando sugestões e sempre aberto a qualquer questionamento. Agradeço aos professores Adriano Rodrigues de Oliveira e Ronan Eustáquio Borges pelas importantíssimas considerações durante a Qualificação deste trabalho. Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a construção deste trabalho. Muito obrigado!

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“O começo e fim estão em todo lugar. Um é imediatamente o outro e, ao mesmo tempo, a sua negação. No ponto final (formal) de um trabalho está a chave para um novo processo de investigação científica. Não há conclusões terminadas, elaboradas, acabadas e, sim questionamentos, interrogações, para que se avance progressivamente na produção do conhecimento que não acaba nunca. ” (Lenyra Rique da Silva)

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RESUMO

Partindo do conceito de espaço urbano, compreende-se a articulação existente na organização espacial da cidade de Rubiataba, buscando analisar de que forma estabelecem as relações entre as suas partes, com a finalidade de sistematizar esse espaço. O principal objetivo será analisar a formação e configuração do espaço urbano da cidade de Rubiataba através da sua dinâmica socioespacial, a fim de compreender a lógica das relações existentes neste espaço urbano quanto às suas particularidades. Tendo como ponto de partida a ideia de articulação de partes dentro do espaço urbano, buscando compreender esse conjunto de relações, deverá se caracterizar cada parte (setor) da cidade analisando sua forma e funcionalidade, na qual essa análise resultará na compreensão da totalidade desse espaço urbano. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram baseados em revisão e leitura bibliográfica, sendo realizado, também, um levantamento de artigos, dissertações e teses sobre cidades médias e pequenas na proposta de averiguar as metodologias relacionadas ao tema. Foi realizado também um levantamento de dados oficiais referentes às instituições de serviços, à infraestrutura produtiva, à dinâmica demográfica e ao sistema financeiro de Rubiataba junto aos órgãos públicos desse município. Foram utilizados dados da Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento, e institutos como o IBGE, IPEA, IMB e Secretaria do Tesouro Nacional. Foram aplicados questionários em instituições de saúde, educação, em órgãos públicos e estabelecimentos do comércio varejista e realizadas entrevistas com autoridades locais, secretários, comerciantes, trabalhadores, funcionários e estudantes. Foram realizados questionários no comércio da cidade, casas agropecuárias, indústria no setor de estofados e também na indústria de produção de álcool e açúcar, denominada Cooper Rubi e Agro Rubi. O estudo aqui apresentado se encontra dividido em três capítulos delineando-se a partir do objeto de estudo. No primeiro capítulo foram analisados os processos de formação territorial de Rubiataba, sendo apontados os principais fatores de povoamento e de urbanização do território goiano, as influências do governo de Getúlio Vargas com a política de Marcha para o Oeste na formação do município de Rubiataba e os aspectos de povoamento nas origens do município. No segundo capítulo, pretende-se destacar aspectos gerais deste município, enfatizando os principais elementos territoriais de seu núcleo urbano, tais como órgãos públicos de saúde e educação, além do comércio varejista, buscando compreender a atual conjuntura socioespacial deste espaço urbano. Em seguida foi realizada uma discussão envolvendo o espaço rural e urbano na cidade de Rubiataba com intuito de consolidá-la como um espaço urbano, a partir de um embasamento teórico voltado ao entendimento desta cidade enquanto um espaço urbano socialmente produzido. No terceiro capítulo, foram abordados aspectos envolvendo a morfologia urbana da cidade e sua dinâmica socioeconômica, analisando suas funcionalidades dentro do espaço intraurbano, no qual através de uma minuciosa leitura e da própria pesquisa na cidade (entrevistas, observação, descrição e análise deste espaço urbano), foi possível estabelecer características de sua organização espacial, além de estabelecer o conjunto de influências estabelecidos por este município. E também, será dedicado em último momento, uma breve caracterização do espaço e do sujeito, enfatizando aspectos como o cotidiano, o lazer e a religiosidade, buscando compreender algumas particularidades.

Palavras-chave: Rubiataba; Espaço urbano; Formação socioespacial; Organização espacial.

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ABSTRACT

Starting from the concept of urban space, it is understood the articulation existing in the spatial organization of the city of Rubiataba, seeking to analyze how they establish the relations between their parts, with the purpose of systematizing this space. The main objective will be to analyze the formation and configuration of the urban space of the city of Rubiataba through its socio-spatial dynamics, in order to understand the logic of the existing relationships in this urban space as to its particularities. Having as a starting point the idea of articulating parts within the urban space, seeking to understand this set of relations, each part (sector) of the city should be characterized by analyzing its form and functionality, in which this analysis will result in the comprehension of the totality of this space urban. The methodological procedures of the research were based on review and bibliographical reading, and a survey of articles, dissertations and theses on medium and small cities was also carried out in the proposal to ascertain the methodologies related to the topic. A survey of official data concerning the service institutions, the productive infrastructure, the demographic dynamics and the financial system of Rubiataba was also carried out with the public agencies of this municipality. Data from the State Department of Planning and Development and institutes such as IBGE, IPEA, IMB and the National Treasury Secretariat were used. Questionnaires were applied to health institutions, education, public agencies and retail establishments, and interviews were conducted with local authorities, secretaries, traders, workers, employees and students. Questionnaires were carried out in the city's commerce, agricultural houses, industry in the upholstery sector and also in the alcohol and sugar production industry, called Cooper Rubi and Agro Rubi. The study presented here is divided into three chapters outlining the study object. In the first chapter the processes of territorial formation of Rubiataba were analyzed, being pointed the main factors of population and urbanization of the Goian territory, the influences of the Getúlio Vargas government with the policy of March to the West in the formation of the municipality of Rubiataba and the aspects of settlement in the origins of the municipality. In the second chapter, we intend to highlight general aspects of this municipality, emphasizing the main territorial elements of its urban nucleus, such as public health and education agencies, as well as the retail trade, seeking to understand the current socio-spatial conjuncture of this urban space. Next, a discussion was carried out involving the rural and urban space in the city of Rubiataba with the purpose of consolidating it as an urban space, based on a theoretical foundation aimed at understanding this city as a socially produced urban space. In the third chapter, aspects related to the urban morphology of the city and its socioeconomic dynamics were analyzed, analyzing its functionalities within the intraurban space, through a thorough reading and the own research in the city (interviews, observation, description and analysis of this urban space ), it was possible to establish characteristics of its spatial organization, in addition to establishing the set of influences established by this municipality. Also, a brief characterization of space and subject will be dedicated at the last moment, emphasizing aspects such as daily life, leisure and religiosity, seeking to understand some particularities.

Keywords: Rubiataba; Urban space; Socio-spatial formation; Spatial organization.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - (a) Carga de Algodão, 1960 (Grande produção da época). (b) Carga de Café, 1962 (Costume de ir à Igreja, em agradecimento pela colheita). (c) Caminhão do Jorge Sírio, carregado de café, 1965...... 45 Figura 2: Localização do Município de Rubiataba em Goiás e no Brasil...... 54 Figura 3: Localização do Município de Rubiataba-Go...... 55 Figura 4 - Rubiataba: gráfico climático...... 56 Figura 5 - Rio Novo...... 57 Figura 6 - a) horta comunitária; b) feira do agricultor...... 60 Figura 7 - a) carroça em área central da cidade; b) leiteiro com motocicleta...... 61 Figura 8: - Hospital Municipal Dr. Ubiratan Carneiro...... 67 Figura 9 - Alcance socioespacial dos serviços e infraestrutura do núcleo urbano de Rubiataba...... 75 Figura 10 - Mapa dos setores/bairros de Rubiataba-GO...... 88 Figura 11 – Crescimento do perímetro urbano de 1950 a 2016...... 89 Figura 12 - Setor Centro: a) Igreja Catedral; b) Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba (FACER); c) Supermercado popular; d) Banco do Brasil...... 90 Figura 13 - Zona Central (Avenida Aroeira e Avenida Jatobá)...... 92 Figura 14 - Zona Pericentral (Avenida Saranhão e Avenida Tarumã)...... 93 Figura 15 - Zona Periférica (setor Serrinha)...... 93 Figura 16 - Zona Periurbana...... 95 Figura 17 - Residências de famílias com melhor poder aquisitivo...... 98 Figura 18 - Lojas Centro...... 100 Figura 19 - Placa indicando Rubiataba como polo moveleiro no percurso da GO-434.... 103 Figura 20 – Indústria de móveis Estofados Solar...... 105 Figura 21 - Usina Sucroalcooleira de Rubiataba (Cooper-Rubi) ...... 107 Figura 22 - Plantações de cana-de-açúcar ao longo da rodovia GO-434 ...... 110 Figura 23 - Praça dos Trabalhadores...... 117 Figura 24: Praça das Palmeiras...... 118 Figura 25 - Igrejas católicas na cidade de Rubiataba-Go...... 122

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LISTA DE QUADROS E TABELAS Pg. Quadro 1 - Redes de ensino em Rubiataba, 2017...... 53 Tabela 1 – Educação: estatística municipal de Rubiataba (2000 a 2015)...... 70 Quadro 2 - Lista de igrejas registradas em Rubiataba...... 120

LISTA DE GRÁFICOS Pg. Gráfico 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), Rubiataba, Goiás e Brasil (1991, 2000 e 2010)...... 73 Gráfico 2 – Produto Interno Bruto do município de Rubiataba, 2014 (Valor Adicionado)...... 76 Gráfico 3 - Número de alunos por cidade na FACER...... 91 Gráfico 4 - Produção total de álcool na Cooper Rubi (Safras de 1986 a 2007)...... 109

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LISTA DE ABREVIATURAS

AABB – Associação Atlética Banco do Brasil AEE - Associação Educativa Evangélica CANG – Colônia Agrícola Nacional de Goiás CENTROLEITE - Cooperativa Central de Laticínios de Goiás CESUR - Centro de Ensino Superior de Rubiataba CIBRAZEM - Companhia Brasileira de Armazenamento COOPER AGRO – Cooperativa Regional Agroindustrial de Rubiataba CSA – Centro Social de Aprendizagem DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde EJA - educação de jovens e adultos FACER – Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IGC - Índice Geral de Cursos IFG – Instituto Federal Goiano IMB – Instituto Mauro Borges FJP - Fundação João Pinheiro MDF- Medium Density Fiberboard MDP- Medium Density Particleboard MEC - Ministério da Educação PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento SAMAR – Sociedade Assis do Menor Abandonado de Rubiataba SICOOB – Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil SINASC - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos SUS – Sistema Único de Saúde UNOPAR – Universidade Norte do Paraná

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Sumário

RESUMO ...... 10 ABSTRACT ...... 11 LISTA DE FIGURAS ...... 12 LISTA DE QUADROS E TABELAS ...... 13 LISTA DE GRÁFICOS ...... 13 LISTA DE ABREVIATURAS ...... 14 INTRODUÇÃO ...... 17

CAPÍTULO I – A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE RUBIATABA ...... 24 1.1 O ponto de partida: breves considerações sobre povoamento e urbanização do território goiano para uma análise de formação socioespacial...... 27 1.2 As influências do Governo de Getúlio Vargas com a política de Marcha para o Oeste na formação do município de Rubiataba ...... 35 1.3 Os aspectos de povoamento nas origens do município de Rubiataba ...... 43

CAPÍTULO II – O ESPAÇO URBANO DE RUBIATABA E SUA DINÂMICA SOCIOESPACIAL ATUAL ...... 52 2.1 A cidade de Rubiataba e os aspectos gerais desse município ...... 52 2.2 Rubiataba: rural ou urbano? ...... 57 2.3 Os serviços do núcleo urbano de Rubiataba: órgão públicos, saúde e educação...... 65 2.3.1 Os serviços de saúde ...... 66 2.3.2 Os serviços de Educação ...... 68 2.4 O sentido socioespacial dos serviços em Rubiataba...... 74

CAPÍTULO III – MORFOLOGIA URBANA, CENTRALIDADE E DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DE RUBIATABA ...... 79 3.1 Organização espacial e morfologia do espaço intraurbano de Rubiataba ...... 79 3.2 Centralidade, funcionalidade e dinâmica socioeconômica do município ...... 96 3.2.1 Comércio varejista e casas agropecuárias ...... 100 3.2.2 A indústria moveleira ...... 102 15

3.2.3 A indústria sucroalcooleira ...... 106 3.3 Particularidades do espaço e do sujeito em Rubiataba ...... 113

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 131 ANEXOS ...... 138

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo estudar o processo de formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba, que ao longo do tempo tem sido motivo de observação e interesse por parte de algumas empresas que se instalaram nesta cidade, sendo estas juntamente com outros fatores, os fatores responsáveis pela produção do espaço urbano nesta localidade. Mais especificamente, trata-se de uma questão sobre o espaço urbano, que em razão de sua complexidade, permeada pela caracterização social, possuem contradições que precisam ser analisadas para se entender como o mesmo funciona, levando em conta a sua materialização em nível de um sistema local e, por conseguinte, suas implicações na lógica do sistema global. Não obstante, não se deve esquecer do conjunto de ações que determinam esse processo de formação socioespacial, que neste caso busca distinguir o nível de ocorrência dos eventos tendo como plano de fundo os ditames da globalização e as implicações do capital. O foco principal é buscar caracterizar e compreender o espaço urbano em Rubiataba quanto a sua formação, organização e particularidade. O presente tema tem como recorte espacial a cidade de Rubiataba, no qual o recorte temporal envolve desde o surgimento do povoado na década de 1950, colocando alguns pontos importantes que ocorrem a partir dessa datação, visando analisar a dinâmica da cidade na contemporaneidade, buscando compreender como esse território foi sendo estruturado ao longo de sua formação. Pretende-se com esta pesquisa, então, aprofundar e buscar informações especificamente sobre o processo de ocupação e exploração do espaço viabilizando meios que favoreçam o fornecimento de informações que possam subsidiar a análise geográfica. A análise dos dados da pesquisa será feita numa perspectiva de reflexão crítica, que associado à fundamentação teórica, servirá de instrução para o desenvolvimento do trabalho de campo. Essa delimitação do tema surgiu em razão de alguns condicionantes importantes, tais como: fundamentação teórica, relevância do tema e sua aplicabilidade. Rubiataba, assim como outros municípios da região do Vale do São Patrício, teve um processo de formação a partir de um determinado tempo histórico, que teve início em 1930 com a política de Marcha para o Oeste, e se intensificou com a formação do município no início da década de 1950, desenvolvendo-se de maneira paralela aos munícipios de seu

17 entorno. A cada período histórico a partir do momento em que começou a se estabelecer o povoamento do município, este foi adquirindo características e influências advindas principalmente dos migrantes que ali foram se instalando. Um dos incentivos do governo para a formação do Município de Rubiataba fez parte da campanha de desenvolvimento, urbanização e exploração do território goiano, no caso, mais especificamente na região em que se localiza Rubiataba, que faz parte do Centro Goiano, pertencendo à microrregião de Ceres. A presente pesquisa baseia-se num primeiro momento, em informações empíricas, no que tange os estudos relativos às categorias de classificação em cidades pequenas e médias, e que estão ligadas à problemática das transformações sofridas no espaço por meio de influências que envolvam a dinâmica social e do capital. É importante destacar também, alguns fatores importantes que contribuem para a compreensão dessa problemática, tais como os fatores socioeconômicos, socioculturais e socioespaciais. A escolha dessa pesquisa se deve à necessidade de uma análise mais detalhada sobre os fenômenos e eventos no espaço urbano de Rubiataba, sendo preciso ir além da simples percepção da sua materialidade, buscando então compreender o conjunto de influências que está inserido neste processo, como por exemplo, a valorização daquele espaço, as relações sociais e diversos outros elementos, sempre ligados ao capitalismo. A primeira parte da análise é definir no contexto histórico o perfil da cidade, ou seja, descrevê-la ressaltando suas características, pois toda cidade tem uma especificidade de formação, na qual, sua configuração espacial atual é resultado de elementos associados à sua formação, sempre moldados às exigências da lógica atual, como afirma Castilho: “A configuração do sistema urbano de um território, como o goiano, segue uma lógica. Na contemporaneidade, o mercado tem sido fator determinante nesta configuração. E ainda relevante nesse processo, é a formação de cada localidade. ” (2007, p. 65). A formação socioespacial de Rubiataba revela como esse espaço constituiu-se ao longo do processo histórico, levando em consideração suas determinadas particularidades, sendo construído e reconstruído por uma determinada sociedade. Enfocar essa categoria é essencial principalmente na busca da interpretação e compreensão do espaço, revelando a forma como se configura a sua dinâmica socioespacial. As sociedades humanas encontram-se num processo de reconstrução do espaço herdado das gerações precedentes, que se realiza através das diversas instâncias da produção. Para Santos (1986), o espaço humano é aquele transformado pelo movimento de uma história

18 feita em diferentes níveis (internacional, nacional, local), descrevendo que a sociedade não seria reconhecida apenas como agente transformador, em seu diálogo com a natureza transformada, mas também como um de seus resultados. Para melhor compreensão dessa questão surge o conceito de formação socioespacial, que parece ser o mais adequado a uma tarefa dessa natureza. Santos (1986) aponta que as formações sociais nascem das desigualdades das forças produtivas e das transformações que ocorrem nas relações sociais, porém essas ações se concretizam espacialmente, por causa das formações sociais não se realizarem de nenhuma maneira fora do espaço. “A ciência geográfica assim revivificada seria a disciplina das formações sócio-econômico-espaciais, ou, para abreviar formações sócio-espaciais.” (SANTOS, 1986, p. 196). A cidade de Rubiataba é dotada de uma significação particular a cada momento histórico, que depende tanto das necessidades concretas de realização da formação social quanto das características locais, e o uso desse espaço num momento revela suas condições. “O movimento do espaço, isto é, sua evolução, é ao mesmo tempo um efeito e uma condição do movimento de uma sociedade global. ” (SANTOS, 1982, p. 16). Diante da impossibilidade de se criar novas formas ou a renovação das formas antigas, as determinações sociais se adaptam a essas restrições impostas pela lógica global vigente e que atendem aos interesses do capital. As formas atribuem à possibilidade de tornar-se um conteúdo abstrato em conteúdo real e concreto, no qual, a forma adquire uma função cedida pelo conteúdo, e as modificações da forma-conteúdo são determinadas pelo modo de produção, tal como ele se realiza na formação social. A análise do conceito de formação socioespacial encontra-se estruturada no estudo sobre a configuração do espaço urbano em Rubiataba, sendo possível dizer que a evolução da formação social desta cidade está condicionada pela organização do espaço, e de que temos as diferenciações dos lugares como sendo resultado do arranjo espacial dos modos de produções particulares. As principais contribuições desta pesquisa possuem relevâncias sociais como a de possibilitar uma melhor compreensão da dinâmica econômica e social da cidade de Rubiataba, permitindo assim contribuir para novas formas de pensar e repensar esse território, atribuindo subsídios que favoreçam o planejamento e infraestrutura urbana, podendo auxiliar na elaboração de políticas públicas que envolvam o município. E também possuem relevâncias científica e acadêmica, tendo em vista que essa pesquisa poderá servir como base acadêmica

19 em futuras pesquisas que envolvam a temática, no fornecimento de referenciais teórico- metodológicos que fomentem estudos sobre pequenas cidades, principalmente no que se refere ao contexto do território goiano, e principalmente porque essa pesquisa irá possibilitar a descoberta de novos conhecimentos no domínio científico. A ideia principal desta parte é evidenciar as respostas obtidas pela pesquisa e elencar novos questionamentos que ficam para futuras pesquisas. Também, desperta questões acerca do futuro das cidades pequenas, de modo geral, e das cidades na área de estudo. Não é objeto dessa pesquisa encerrar essa temática sobre a dinâmica do espaço urbano de Rubiataba, pretendendo-se além de levantar o seu perfil como início do processo de pesquisa, mostrando como a cidade se desenvolveu economicamente, quais as razões desse desenvolvimento e a quem serve. Para início do estudo envolvendo o espaço urbano de Rubiataba, no que se refere a sua dinâmica socioespacial, verifica-se a variabilidade de elementos que possam subsidiar a análise geográfica, sendo necessário ressaltar apenas três, que vão configurar a presente pesquisa sendo eles: as formas urbanas, os indivíduos que ali configuram suas relações sociais e as empresas que ali se instalaram e que determinam as forças produtivas da cidade. A partir da observação desses elementos surgem problematizações que nortearam esta pesquisa, tais como: O que fundamenta a dinâmica socioespacial de Rubiataba dentro do atual contexto do território goiano? Levando em consideração que o território está em movimento (Santos,1996) e buscando compreendê-lo a partir de seus elementos, surgem os seguintes questionamentos: quais são as principais forças produtivas atuantes em Rubiataba, e como as relações sociais influenciam as formas espaciais? De que maneira aparecem a renovação ou adaptação das formas urbanas que são reinseridas em Rubiataba através das lógicas sociais e econômicas vigentes? Qual o papel de Rubiataba na atual divisão territorial do trabalho e de que maneira a dinâmica cultural e a formação do sujeito ali se constituem? É imprescindível, antes de iniciar a pesquisa, fazer algumas reflexões sobre a questão da formação da cidade visando compreender suas particularidades dentro do processo histórico. Ao optar por este espaço urbano como unidade de análise, serão consultados alguns autores que abordam a questão da leitura socioespacial de pequenos municípios, além das contradições do espaço e suas transformações. Ao adentrar no desenvolvimento da temática percebe-se que é possível obter resultados. Tendo como ponto de partida a análise do conjunto de diferenciações da paisagem, tem-se como resultado características das desigualdades sociais refletidos nesta.

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Observando a morfologia da cidade é possível afirmar que um dos principais fatores que compõem a heterogeneidade do espaço urbano são as disparidades sociais geradas pela lógica da economia global atual, que tem como veículo atender as necessidades do capital, sendo necessário verificar de que maneira ela atua nesta localidade. O que se pode obter, então, é uma gama de elementos fundamentais na incorporação da estrutura deste espaço, o que explica de uma forma determinada a dinâmica socioespacial de Rubiataba atualmente. Na presente proposta de pesquisa, verificou-se, mesmo que empiricamente, a possibilidade de se obter resultados em face da presença dos indicativos apresentados no objeto de pesquisa. Sendo assim, a constatação dessas condições é que possibilitou a direção nesse rumo como proposta de oferecer academicamente os resultados indicados. Não, é então, pretensão solucionar todos os problemas desse trabalho, mas oferecer o que há de melhor nessa produção. A pergunta central que norteia o objetivo geral dessa pesquisa é a seguinte: o que fundamenta a dinâmica socioespacial de Rubiataba dentro do atual contexto do território goiano? Ou seja, de que maneira as variáveis externas existem em Rubiataba e de que modo esse núcleo urbano se dinamiza no contexto contemporâneo? Partindo destes questionamentos, o objetivo desta pesquisa é analisar a formação e configuração do espaço urbano da cidade de Rubiataba através da sua dinâmica socioespacial, com a finalidade de compreender a lógica das relações existentes neste espaço urbano quanto às suas particularidades. A presente pesquisa tem como foco: a análise do processo histórico da cidade; compreensão das formas e funções desse espaço urbano; e buscar definir a lógica de ações do sujeito social principalmente no que tange a produção daquele espaço em específico, sempre ressaltando as influências de fatores externos diretamente ligados ao processo de globalização. Há a intenção ainda de verificar a forma como as disparidades sociais influenciam na dinâmica do espaço e nas características da população, que muitas vezes, não tem condições de arcar com as despesas e assumem compromissos só para entrarem no padrão que o mercado impõe sobre essas pessoas. O estudo aqui apresentado se encontra dividido em três momentos delineando-se a partir do objeto de estudo. No primeiro capítulo, serão analisados os processos de formação socioespacial de Rubiataba, sendo apontados os principais fatores de povoamento e de

21 urbanização do território goiano, as influências do governo de Getúlio Vargas com a política de Marcha para o Oeste na formação do município de Rubiataba e os aspectos de povoamento nas origens do município. No segundo capítulo, pretende-se destacar aspectos gerais deste município, enfatizando os principais elementos territoriais de seu núcleo urbano, tais como órgãos públicos de saúde e educação, além do comércio varejista, buscando compreender a atual conjuntura socioespacial deste espaço urbano. Em seguida será realizada uma discussão envolvendo o espaço rural e urbano na cidade de Rubiataba com intuito de consolidá-la como um espaço urbano, a partir de um embasamento teórico voltado ao entendimento desta cidade enquanto um espaço urbano socialmente produzido. No terceiro capítulo, serão abordados aspectos envolvendo a morfologia urbana da cidade e sua dinâmica socioeconômica, analisando suas funcionalidades dentro do espaço intraurbano, no qual através de uma minuciosa leitura e da própria pesquisa na cidade (entrevistas, observação, descrição e análise deste espaço urbano), será possível estabelecer características dessa morfologia e a centralidade de Rubiataba, além de estabelecer o conjunto de influências estabelecidos por este munícipio. E também, será dedicado em último momento, uma breve caracterização do espaço e do sujeito, enfatizando aspectos como o cotidiano, o lazer e a religiosidade, visando compreender algumas particularidades. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram baseados em revisão e leitura bibliográfica, sendo realizado, também, um levantamento de artigos, dissertações e teses sobre cidades médias e pequenas na proposta de averiguar as metodologias relacionadas ao tema. Foi realizado também um levantamento de dados oficiais referentes às instituições de serviços, à infraestrutura produtiva, à dinâmica demográfica e ao sistema financeiro de Rubiataba junto aos órgãos públicos desse município. Foram utilizados dados da Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento, e institutos como o IBGE, IPEA, IMB e Secretaria do Tesouro Nacional. Foram aplicados questionários em instituições de saúde, educação, em órgãos públicos e estabelecimentos do comércio varejista e realizadas entrevistas com autoridades locais, secretários, comerciantes, trabalhadores, funcionários e estudantes. Foram realizados questionários no comércio da cidade, casas agropecuárias, indústria no setor de estofados e também na indústria de produção de álcool e açúcar, denominada Cooper Rubi e Agro Rubi. Além disso, foram extraídas informações de endereços eletrônicos; formulários e questionários para levantarem opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas e

22 situações vivenciadas. E também foram consultadas pesquisas documentais, e que envolvem: recenseamentos, arquivos e dados de registros, essenciais numa investigação histórica e na descrição e comparação de fatos sociais. E por fim, não excedendo muito à área a ser pesquisada, verificar os resultados desta forma de ocupação com pesquisa e coleta de dados junto à população local. E ainda, será trabalhada uma bibliografia básica levando em consideração os conceitos teóricos em torno do assunto.

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CAPÍTULO I – A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE RUBIATABA

A cidade de Rubiataba assim como as demais do Estado de Goiás, está inserida dentro de um conjunto de processos históricos que através das transformações efetivadas ao longo do tempo, remontam sua configuração espacial atual, sendo necessário verificar a procedência desses processos com a finalidade de sistematizar e compreender a complexidade do espaço urbano na sua lógica de organização espacial de procedência atual. O processo histórico é marcado por períodos de transição ocorrendo mudanças de tempos, resultando em momentos de ruptura da continuidade histórica, sendo a Globalização um momento de ruptura nos dias de hoje, responsável por reflexões teóricas que buscam compreendê-la. “Diferentes em suas análises, essas reflexões são unânimes ao apontar para o tempo como a categoria de análise fundamental para a compreensão do momento atual. ” (ABREU, 2011, p.20-21). Buscar remir o tempo histórico de Rubiataba analisando seu processo de formação socioespacial permitirá resgatar momentos urbanos e formas espaciais não mais existentes, podendo-se dizer então, que ao iniciar-se o estudo sobre uma cidade na sua configuração atual, torna-se necessário primeiramente resgatar sua história em particular.

[...] é indispensável que, além da História Urbana e da História da Cidade, fundamentais para que possamos contextualizar os processos sociais no tempo e no espaço, recuperemos também a história daquela determinada cidade, sendo esta mais do que a soma das duas primeiras. Ela é a síntese de como aquelas duas histórias se empiricizaram, como materialidade e como ação humana, não no espaço geográfico em geral, mas naquele lugar. (ABREU, 2011, 32).

A formação socioespacial de Rubiataba revela como esse espaço constituiu-se ao longo do processo histórico, levando em consideração suas determinadas particularidades, sendo construído e reconstruído por uma determinada sociedade. Enfocar essa categoria é essencial principalmente na busca da interpretação e compreensão sobre o viés de análise do espaço urbano de Rubiataba, revelando a forma como se configura a sua dinâmica socioespacial. Quando recorremos ao conceito de formação socioespacial, estamos referindo a produção do espaço pela sociedade, não reduzindo-se apenas à sua materialidade, inserindo

24 também um conjunto de interesses e ações que estão interligados à lógica de todo processo existente. De acordo com Souza (2013), existem diferenças na utilização dos conceitos socioespacial e sócio-espacial. O primeiro, sem o hífen, estaria ligado diretamente ao espaço no seu sentido material e que o evidencia como social, não fazendo referência direta com as relações sociais de produção deste espaço. O segundo, com o hífen, estaria ligado não somente à questão material do espaço, mas levaria em conta o conjunto de relações sociais existentes. “É necessário interessar-se pela sociedade concreta, em que as relações sociais e espaço são inseparáveis, mesmo que não se confundam. ” (SOUZA, 2013, p. 16). Neste caso, além da materialidade, outro fator importante a se considerar será o conjunto de interações no marco de uma espacialidade determinada. As sociedades humanas encontram-se num processo de reconstrução do espaço herdado das gerações precedentes, que se realiza através das diversas instâncias da produção. Para Santos (1986), o espaço humano seria aquele transformado pelo movimento de uma história feita em diferentes níveis (internacional, nacional, local), na qual a sociedade não seria reconhecida apenas como agente transformador, em seu diálogo com a natureza transformada, mas também com um de seus resultados. Para melhor compreensão dessa questão surge o conceito de formação socioespacial, que parece ser o mais adequado a uma tarefa dessa natureza. As formações sociais nascem das desigualdades das forças produtivas e das transformações que ocorrem nas relações sociais, porém essas ações se concretizam espacialmente, por causa das formações sociais não se realizarem de nenhuma maneira fora do espaço. “A ciência geográfica assim revivificada seria a disciplina das formações sócio- econômico-espaciais, ou, para abreviar formações sócio-espaciais.” (SANTOS, 1986, p. 196). Ao se falar em formação social, também se pode falar em formação socioeconômica, e temos as categorias modo de produção, formação social e espaço, como sendo interdependentes, nas quais, Santos ressalta:

Modo de produção, formação social, espaço – essas três categorias são interdependentes. Todos os processos que, juntos, formam o modo de produção (produção propriamente dita, circulação, distribuição, consumo) são histórica e espacialmente determinados num movimento de conjunto, e isto através de uma formação social. (SANTOS, 1982, p. 14).

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Segundo Santos (1986), é indispensável uma distinção entre modo de produção e formação social. O modo de produção é responsável pelo valor das formas, inclusive as formas geográficas, no que tange sua sucessão temporal. “A noção de formação social nos oferece a possibilidade de interpretar a acumulação e a superposição das formas, a paisagem geográfica inclusive. ” (SANTOS, 1986, p. 198). A cidade de Rubiataba é dotada de uma significação particular a cada momento histórico, que depende tanto das necessidades concretas de realização da formação social quanto das características locais, nas quais, o uso desse espaço num momento revela as condições do momento. “O movimento do espaço, isto é, sua evolução, é ao mesmo tempo um efeito e uma condição do movimento de uma sociedade global. ” (SANTOS, 1982, p. 16). Diante da impossibilidade de se criar novas formas ou a renovação das formas antigas, as determinações sociais se adaptam a essas restrições. As formas atribuem a possibilidade de tornar-se um conteúdo abstrato em conteúdo real e concreto, no qual, a forma adquire uma função cedida pelo conteúdo, em que as modificações da forma-conteúdo, são determinadas pelo modo de produção, tal como ele se realiza na formação social. Sobre essa questão das formas espaciais Santos acrescenta o seguinte:

Cada combinação de formas espaciais e de técnicas correspondentes constitui o atributo produtivo de um espaço, sua virtualidade e sua limitação. A função da forma espacial depende da redistribuição, a cada momento histórico, sobre o espaço total da totalidade das funções que uma formação social é chamada a realizar. Esta redistribuição-relocalização deve tanto às heranças, notadamente o espaço organizado, como ao atual, ao presente, representado pela ação do modo de produção ou de um dos seus momentos. (SANTOS, 1982, p. 16).

A análise do conceito de formação socioespacial encontra-se estruturada no estudo sobre a configuração do espaço urbano de Rubiataba, no qual podemos dizer que a evolução da formação social desta cidade está condicionada pela organização do espaço, e de que temos as diferenciações dos lugares como sendo resultado do arranjo espacial dos modos de produção particulares. O espaço é composto por um conjunto de temporalidades diferenciadas resultando de um conjunto de processos históricos que ocorreram e que ocorrem dentro de uma história concretizada. A essência do espaço é social, portanto, os processos sociais constituem-se de

26 um conjunto de forças que atuam ao longo do tempo, permeando a dinâmica e o conjunto de atividades que a população estabelece sobre o processo urbano. Através disso, percebe-se o quanto o espaço urbano é complexo variando em sua escala de análise. Buscando uma verificação histórica da cidade de Rubiataba, este capítulo destina-se a analisar seu processo de formação socioespacial ao longo do tempo, dividindo-o em três momentos a partir da delimitação do recorte temporal. No primeiro momento serão ressaltadas as principais características de povoamento e urbanização das cidades goianas que variaram ao longo do processo de territorialização deste Estado. No segundo momento serão analisadas as influências do governo de Getúlio Vargas com total destaque à sua política da Marcha para Oeste a partir da década de 1930, iniciando-se a partir deste período um importante processo de ocupação e expansão territorial não apenas no Estado de Goiás, mas também de todo território nacional. Por último neste capítulo, será ressaltado em particular o processo de formação da cidade de Rubiataba e seus principais fatores dentro da análise socioespacial.

1.1 O ponto de partida: breves considerações sobre povoamento e urbanização do território goiano para uma análise de formação socioespacial.

Estudar os aspectos de povoamento e urbanização de Rubiataba antes de qualquer coisa requer uma contextualização partindo de uma análise do seu processo histórico, principalmente no que se diz respeito a sua formação e consolidação territorial. Para isso não se pode negar as particularidades envolvendo a realização desse processo. Antes de adentrar nelas é preciso fazer uma contextualização de maneira geral, mas breve, da própria história de formação do território goiano. O território goiano hoje se constitui em seu âmbito regional sobre o que antes era predominantemente território indígena, povos esses que ali viviam (e muitos ainda continuam vivendo) antes do início do processo de colonização. Diversas dessas tribos e povos se estabeleciam e se deslocavam de forma regular por todo o território e muitos desses acabaram sendo exauridos devido às guerras e batalhas que ocorreram com a chegada de colonizadores e invasores. Dentre os vários povos, e muitos ainda prevalecem nos dias atuais, Gomes, Teixeira Neto e Barbosa afirmam:

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[...] podemos afirmar que o sul da antiga Capitania de Goiás era o espaço privilegiado dos Kaiapó e dos Goyá, o norte era domínio dos Apinagé, dos Xambioá, dos Xerente, dos Krahô, dos Akroá e dos Xekriabá. Os Karajá se estabeleceram no baixo do Rio Vermelho e nas margens do Araguaia, a aí vivem há mais de mil anos. (2004, p. 49).

Além desses citados pelo autor existem também vários outros. Na região em que se localiza o município de Rubiataba e também próxima ao município de Nova América, viveram os índios Tapuias, que ainda podem ser encontrados no município hoje concentrados numa reserva indígena situado próxima a esses municípios. Em 1998, essa reserva contava com uma estimativa de oitenta índios. Os índios dessa aldeia recebem assistência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), da prefeitura municipal de Rubiataba, principalmente nas áreas de educação e saúde, e também conta com a participação do departamento religioso da diocese de Rubiataba. Esses índios perderam boa parte de sua cultura, tradições e idioma, porém, mesmo com a influência e caracterização advindas de outras culturas responsáveis por essas mudanças na tribo ao longo do tempo marcado pelo processo de territorialização do estado de Goiás, é possível perceber ainda alguns valores sendo conservados. Devido às desigualdades de forças existentes, os indígenas não tiveram como impedir a instalação do território institucional da Capitania de Goiás. “Em 1744, Goiás se separou da Capitania de São Paulo, mas somente em 1748, pela Provisão Régia de 2 de agosto, é que foram precariamente estabelecidos seus limites” (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, 2 ed., p. 49). A partir desse período deu-se o início do processo de disputas e definições fronteiriças dos limites da Capitania de Goiás com outras Capitanias acarretando perdas territoriais para as mesmas, nas quais, conforme a apreciação de Gomes, Teixeira Neto e Barbosa, temos que:

As perdas territoriais da antiga Capitania de Goiás – para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estão sendo computados mais de 160 mil quilômetros quadrados, para Minas Gerais, foi o atual Triângulo Mineiro e mais “ajustes” menores – totalizam cerca de 250 mil quilômetros quadrados, sem contar com a criação do estado do Tocantins, conforme podemos constatar nos mapas sobre a evolução das fronteiras do Brasil e de Goiás–Tocantins. (2004, p. 52).

O fato de o território goiano se localizar numa posição central no território brasileiro facilita a relação e o contato com as outras regiões do Brasil, no qual, antes em decorrência do

28 poder centralizado no litoral, essa localização foi bastante prejudicial em função do isolamento da capitania. Porém essa localização hoje é muito benéfica devido à capacidade do território em receber excedentes populacionais advindos de outros estados brasileiros, no qual esse contato com outros territórios intensificou o fluxo migratório a partir dos anos de 1930- 1940. As bandeiras remontam processos históricos que marcaram a formação do Brasil e de Goiás, principalmente no que se refere às conquistas das dimensões territoriais. O bandeirismo interfere na caracterização da sociedade nacional durante o período colonial até o presente, transcendendo a sua realidade histórica. “[...] a mobilidade, por meio do espaço, fixou não só as bases territoriais, como também determinou o desenvolvimento histórico e a evolução social para além do tempo das bandeiras. ” (SOUZA, 1997, p. 41). Durante o período entre o século XVI e XVIII, através da ação bandeirante é que se data a conquista do território brasileiro.

O período que se estende do século XVI ao XVIII data a conquista do patrimônio geográfico brasileiro sob a ação das expedições bandeirantes, que, em suas diversas formas de organização, objetivos, seriam o movimento coletivo de expansão da sociedade colonial avançando além dos núcleos de povoamento situados na costa. (SOUZA, 1997, p. 41).

Desde o primeiro século de colonização do Brasil, diversas bandeiras percorreram parte do território atual goiano, que organizadas na Bahia, centro da colonização, eram de caráter oficial, na busca de riquezas minerais ou de empresas comerciais particulares, ligadas ao processo de captura dos índios. Há notícias de documentadas pelo menos 16 bandeiras em Goiás a partir do ano de 1630. Outra expedição desse período, além das bandeiras eram as “descidas”, concernentes aos jesuítas que vinham para Goiás do Pará, descendo através do Rio Tocantins, o que explica o nome dessa expedição, e que buscavam índios para as aldeias de aculturação indígena na Amazônia. Tanto os bandeirantes como os jesuítas, nesse período não vinham para fixar-se e estabelecer povoações, isso em razão de interesses aos quais o território goiano estava submetido no momento, faltando ainda algum fator que pudesse influenciar esse processo de fixação e de povoamento.

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Com o descobrimento de ouro em Minas Gerais em 1690 e em Mato Grosso em 1718, se estabeleceu aí o argumento para a busca de ouro em Goiás devido este se situar entre os dois Estados. Deu-se o início da expedição da bandeira liderada por Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como “Anhanguera”, sendo este considerado o primeiro a vir a Goiás com intenção de fixar-se no território, tendo como ponto de partida a descoberta de ouro no Rio Vermelho. “A primeira região ocupada foi a do rio Vermelho, onde se fundou o arraial de Sant’ Anna, que depois seria chamado Vila Boa, e, mais tarde, cidade de Goiás, sendo durante 200 anos a capital do território. ” (PALACÍN,1994, p. 11). As povoações eram instáveis, irregulares e sem planejamento, e a duração de uma garimpagem podia determinar a duração de um povoado. Durante o século XVIII, três zonas povoaram-se com maior densidade; a primeira situada no centro-sul do estado, a segunda situada no Tocantins próximo ao Maranhão e a terceira localizada entre o Tocantins e os chapadões dos limites com a Bahia. Além dessas zonas, ocorreram vários arraiais isolados no Estado.

O resto do território goiano, dois terços pelo menos do atual estado de Goiás, ficava ainda sem nenhuma povoação: o sul e o sudeste, todo o Araguaia e o norte, desde Porto Nacional, até o Estreito. A ocupação humana destas zonas processar-se-ia com a extensão da pecuária e da lavoura, durante os séculos XIX e XX. (PALACÍN, 1994, p.12-13).

Em relação ao processo de povoamento há evidências de que “o território de Goiás- Tocantins se povoou de populações de migrantes que, em ondas sucessivas, ocuparam e colonizaram seu espaço geográfico – o antigo e o atual” (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 59). Os principais migrantes vieram do Maranhão e Minas Gerais, correspondendo a mais da metade dos migrantes entre os anos de 1940 e 1960. A atividade agropastoril foi o fator mais importante desse processo de povoamento, e além desse, diversos outros fatores também contribuíram e foram preponderantes para tal configuração, dentre os quais os mais significativos, segundo Gomes, Neto e Barbosa foram:

a corrida do ouro, nos tempos coloniais – séculos XVII; a agropecuária tradicional a que nos referimos, que à mineração deu sustentação abastecendo as minas e a ela substituiu como principal atividade econômica, nos séculos XIX e XX; a colonização espontânea e oficial em zonas pioneiras tanto de Goiás quanto do Tocantins, nas primeiras décadas do 30

século XX; a garimpagem de pedras preciosas e de cristal de rocha, nos anos 1940 e 1950; os caminhos, os que abriram passagem no início da colonização – séculos XVIII e XIX, e os que, hoje, dão sustentação à articulação espacial do território; a expansão recente da fronteira agrícola baseada nas culturas da soja e da cana-de-açúcar e na pecuária melhorada em imensas propriedades rurais de alta tecnologia e modernização. (2004, p. 59).

Muitos foram os fatores que contribuíram para o povoamento do território goiano, que além dos já citados podem-se colocar diversos outros como: os postos aduaneiros e de fiscalização que se localizavam nas regiões fronteiriças; os postos de policiamento e vigia do território; pousos de tropas e boiadas; e aldeamentos. Além desses, outros comparecem de maneiras bem particulares e isoladas, tendo que se levar em consideração suas especificidades. O surgimento das cidades goianas, e sua consequente urbanização, devem-se aos mesmos fatores geográficos e históricos de povoamento. Dentre os principais fatores que tiveram papel importante nesse processo podem ser mencionados alguns deles e que foram de fundamental importância neste processo, tais como: a mineração, a atividade agropastoril, as estradas (antigas e atuais) e também as ferrovias. No período colonial, durante a corrida do ouro que vai de 1722 a 1822, ocorreram formações de diversos núcleos urbanos concentrados nos locais de garimpo, no qual o desenvolvimento desses aglomerados dependia da duração e fartura da garimpagem. Isso acarretou constantes povoamentos e despovoamentos em dependência do ouro. Esses aglomerados possuíam uma precária infraestrutura, na qual a maioria era desprovida de qualquer conforto, não possuindo qualidades no que se poderia chamar de “urbano”. Em decorrência disso muitos desses aglomerados não resistiram por muito tempo, e hoje já não existem mais, sendo poucos os arraiais que conseguiram esse feito. Em relação ao aparecimento das cidades no período colonial, a mineração foi um dos acontecimentos que teve maior influência neste processo, mesmo apesar dos problemas que ali existiram. O arranjo espacial urbano daquelas aglomerações, no que diz respeito a certa hierarquização, assemelha-se com muitas cidades atuais. Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004, p. 66), apontam que “Naquela época, a ocupação do espaço urbano obedecia à mesma lógica de segregação espacial presente nas cidades atuais. ” E dentro do perfil dessas cidades, no caso núcleos urbanos, eles traçam o seguinte:

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A fisionomia urbana das cidades nessas áreas era praticamente a mesma, principalmente em Goiás-Tocantins e em Mato Grosso: uma grande praça no centro, com uma igreja matriz ocupando lugar de destaque, para onde convergiam as ruas geralmente tortuosas decorrentes do relevo acidentado predominante nas regiões auríferas. (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA 2004, p. 66).

Além do ouro no período colonial, da garimpagem no século XX, surgiram muitas cidades em decorrência da busca das pedras preciosas e não-preciosas, que marcaram profundas mudanças sociais e no meio ambiente goiano-tocantinense1, como por exemplo as pedras do cristal de rocha e o diamante. Outro fator importante foi o da atividade agropastoril, que inicialmente tinha o objetivo de abastecer as minas de ouro, com mantimentos de primeira necessidade. Nesse tempo a criação de gado foi o principal elemento de mobilidade espacial do território goiano- tocantinense. As fazendas, que produziam o básico, foram o principal fator de povoamento que de maneira direta ou indireta, também influenciou a urbanização desse território. “Associado ao efeito transformador das estradas, a atividade agropastoril no território goiano- tocantinense é “mãe” direta de mais de dois terços das cidades e, indiretamente, de praticamente todas elas. ” (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p.69). E dentro da atividade agropastoril, são desencadeados diversos outros fatores como:

[...] a atividade agropastoril, como fator de urbanização, pode ser desdobrada em vários outros fatores particulares. Trata-se de fatores que podem ser citados como elementos motivadores para origem de inúmeras cidades em Goiás-Tocantins – fazendas, colonizações espontâneas e particulares, patrimônios da Igreja, frentes pioneiras e frentes de expansão da fronteira agrícola, modernização da agricultura, - entre outros – [...] (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 69).

As estradas tiveram um papel muito importante no processo de povoamento e urbanização do território goiano-tocantinense, caracterizado pela rapidez nas transformações

1 O uso deste termo, abordado por Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004), remete-se ao fato de que ao abordar o estudo sobre a formação do território goiano, intrinsecamente estará sendo abordada também a formação territorial de Tocantins e todos os processos incluídos nesta questão, pois até o ano de 1988, data da criação deste Estado, este por sua vez, era exclusivamente território goiano e qualquer questão referente ao Estado de Goiás antecedente a esta data incluiu ambos como apenas um Estado. 32 da fisionomia espacial dos dois estados, isso porque quando ela chega, causa grandes mudanças nos lugares. O homem com seus permanentes deslocamentos no espaço acaba deixando suas marcas por onde passa, e que para efetivar sua mobilidade acaba tendo como resultado o surgimento de estradas, construindo toda uma vida de relações desenvolvidas no espaço, favorecendo a evolução da sociedade. Devido um caráter flexível e articulado, as estradas interferem na vida das regiões determinando o distanciamento ou a aproximação entre os homens, sendo o principal elemento de sustentação econômica do espaço.

Porém, qualquer que seja a sua classificação, a estrada é o resultado da mobilidade dos homens em seus deslocamentos permanentes. Refletem toda uma vida de relações que no espaço se estabeleceu e se desenvolveu, e foi certamente essa vida de relações que, mais do que os processos de produção, dominou a evolução da sociedade. Em sentido amplo, a estrada é o primeiro e, talvez, principal elemento de sustentação econômica do espaço. De todas as vias de comunicação, ela não é apenas a mais antiga, mas também a mais flexível, leve e polivalente. Dá passagem a tudo e a todos, a pé ou em montaria. A estrada, contudo, não é apenas traçado e abertura, é também manutenção. Ela é um organismo vivo, por isso raramente vive isoladamente. Ao contrário, se articula, se comunica, como fios de uma mesma rede, como artérias de um mesmo corpo, com outras estradas. (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 74).

Foram os caminhos antigos que primeiramente deixaram suas marcas no chão, que no início não passavam pistas rudimentares, mas que serviriam como referência para a implantação das grandes rodovias nacionais que se tem hoje. As motivações que marcam o início do processo de surgimento das estradas através dos deslocamentos pelo espaço goiano, estão pautadas na busca pelo ouro e entre outras riquezas, enraizadas por um “espírito” de aventura, além da busca de índios para serem escravizados. “De simples trilhas, esses velhos caminhos evoluíram, mais tarde, para estradas de chão batido e, depois, para auto-estradas pavimentadas e ricamente ornadas com obras de engenharia. ” (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 74). As estradas, tanto as antigas como as atuais causaram grandes mudanças na paisagem geográfica goiano-tocantinense, principalmente no aspecto social e econômico, que como os caminhos coloniais, deram início às transformações espaciais, resultando nas grandes rodovias nacionais responsáveis pelo surgimento de muitas cidades.

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Primeiramente, foram os caminhos coloniais que deram início às transformações espaciais que não mais cessariam de acontecer. Muitos deles, em boa parte, se transformaram mais tarde em grandes rodovias nacionais: esse é o caso, por exemplo, das rodovias BR-040, BR-050, BR-070 e BR- 242. Depois, já no século XX, foram as chamadas rodovias de integração nacional e regional – BR-153, BR-020, BR-060, GO-118, GO-164, TO-220, TO-230, para citar apenas algumas delas – que vieram de vez provocar a mais espetacular revolução na vida econômica e social do território goiano- tocantinense que se tem notícia. (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 79).

De todas essas rodovias a mais influente delas, com destaque a partir da metade do século XX, foi a BR-153, sendo essa a que mais provocou mudanças no campo e na cidade, além de grandes impactos sociais. Em Goiás influenciou o nascimento de cidades como Rianápolis, Nova Glória e entre outras; já no Tocantins a grande maioria das cidades receberam influência dela, pois ela é a causa principal no que se refere ao crescimento urbano, desenvolvido da criação deste estado. As estradas como um elemento de progresso e desenvolvimento, refletem-se numa realidade contraditória, pois ao mesmo tempo em que busca atingir o progresso em áreas isoladas, acabam modificando a vida de relações de um lugar para outro, que junto a mobilidade dos indivíduos através delas, também estão inseridos neste contexto o deslocamento de hábitos e costumes, gerando atritos entre essas divergências existentes e específicas, variando de uma região para outra, sendo essas estradas permeadas de embates referentes a essas questões. A análise desses principais fatores é de grande importância no estudo sobre a formação do território goiano-tocantinense, e esse pode ser considerado um dos mais novos do país se for respaldado quanto à ocupação, povoamento e organização do espaço urbano. Os fatores que influenciaram o surgimento das cidades goianas variaram de acordo com cada região e a fixação das pessoas numa ou noutra região do estado tiveram motivações diversas. O nascimento e crescimento das cidades goianas tiveram um ritmo alternado, estando lento nos dois primeiros séculos de sua existência, acelerando o ritmo a partir da Revolução de 1930, intensificando-se ainda mais este crescimento com a construção de Brasília. Assim como as demais cidades do estado, Rubiataba também foi influenciada por alguns desses fatores, o que deixa claro a importância dessa questão, pois eles ajudam a compreender o processo de configuração do território goiano. A relevância do assunto fornecerá subsídios

34 para um melhor entendimento acerca da construção, formação e produção do espaço goiano e de Rubiataba.

1.2 As influências do Governo de Getúlio Vargas com a política de Marcha para o Oeste na formação do município de Rubiataba

Após delineado os principais fatores que corroboraram para a formação do território goiano, que é crucial ao estudo do processo de construção urbana do Estado, não podendo se desenvolver o estudo aqui proposto sem pelo menos destacá-los quanto às suas contribuições, será necessário agora analisar mais especificamente o processo de formação do município de Rubiataba, sendo este enfocado a partir de um recorte temporal, que permitirá direcionar e ter dimensões que marcam a gênese deste processo. O recorte temporal para esta análise remonta o período dos anos de 1930 a 1950, iniciado com a presidência de Getúlio Vargas. É nesse período que ocorrem preponderantes transformações na região do Vale do São Patrício2, concretizando-se o povoamento desta área e consequentemente o seu desenvolvimento. Então neste tópico serão destacadas as principais características e acontecimentos importantes desse período nesta região com total destaque à instalação da CANG (Colônia Agrícola Nacional de Goiás), sendo destacados no próximo tópico desta pesquisa os aspectos mais específicos e particulares da construção da cidade de Rubiataba. Em 1930 ocorreu uma Revolução que marcou o fim da República Velha, sendo os grandes estados e oligarquias que estabeleciam o domínio da federação, então Getúlio Vargas assumiu o governo, de maneira provisória. Nesse período surgiram várias divergências compostas pelas oligarquias tradicionais, pelos tenentes e pelos militares legalistas. Entre os anos de 1931 e 1932, Getúlio fez concessões aos tenentes, e no final de 1930 o prestígio de Vargas foi concedido aos militares, porém ele não conseguiu resolver os conflitos existentes entre as divergências. Um dos acontecimentos que marcaram o seu governo provisório foi a realização da Revolução Constitucionalista de 1932. No ano de 1933 realizaram-se as eleições para a Assembleia Constituinte, e com ela foi promulgada em 1934 uma nova Constituição, procurando defender a independência dos

2 Também conhecida como Microrregião de Ceres e está localizada na Mesorregião do Centro Goiano e Microrregião de Ceres, tendo este nome em decorrência do rio São Patrício, que é predominante nesta região. 35 três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), preservando o presidencialismo e o federalismo. Houve após essa revolução, o surgimento do Partido Comunista Brasileiro no início da década de 1920 e a formação da frente antintegralista3 resultando na Aliança Nacional Libertadora, preparando o país e dando pretexto para a implantação da ditadura. Através do pedido “estado de guerra”, Vargas fechou o Congresso e decretou a nova Constituição no ano de 1937, dando o início do Estado Novo, e o presidente passou a ser definido como autoridade suprema do Estado.

Vargas esteve na testa do governo central durante quase dezenove anos: os quinze anos da fase autoritária (presidente provisório, de 1930 a 1934); como presidente constitucional eleito pelo Congresso, de 1934 a 1937; e presidente-ditador, de 1937 a 1945; além de mais três anos e seis meses na fase democrática, eleito diretamente pelo voto popular. (CASTRO, 2004, p. 84).

É importante ressaltar esse governo de Getúlio Vargas, principalmente porque ele contribuiu e muito na produção do território brasileiro e do estado de Goiás, marcado pela criação de projetos, como por exemplo, o de industrialização, com o objetivo de impulsionar o crescimento do país, sendo esta, na visão do governo, a chave para o desenvolvimento rumo ao progresso. “A partir dos anos 30, mais claramente com o Estado Novo, o projeto de uma união civilizadora e nacionalizante para o Brasil aparece profusamente nomeado como Marcha para o Oeste.” (SOUZA, 1997, p. 109). Com o Plano de Desenvolvimento, foi promovido um sistema de expansão que consistia numa expansão rumo ao Oeste e à Amazônia, dando início a chamada “Marcha para o Oeste”, que teve grande contribuição para a intensificação do processo de povoamento e da urbanização no estado de Goiás, sendo esta, um projeto geopolítico que surgiu em decorrência da necessidade de se afirmar a soberania nacional.

A Marcha para o Oeste visava ocupar o Planalto Central e, a partir deste, desbravar a Amazônia, pois havia um grande vazio demográfico no território

3 Doutrina política contrária as ideias integralistas, por elas adotarem um pensamento tradicionalista defendendo que cada nação deveria ter um sistema político adequado a própria cultura, pensamento, história e religião, sendo contrárias ao modernismo filosófico e prático com tendência uniformizadora e massificadora. 36

brasileiro e era necessário ocupá-lo e integrá-lo. Esse projeto não estava desvinculado do econômico, pois seu objetivo era suprimir barreiras que isolavam as regiões, para que a economia pudesse fluir de uma forma homogênea, articulando, ao mesmo tempo, os meios de transportes, para que a produção econômica pudesse escoar. (CASTRO, 2004, p. 85).

A ocupação da região proposta na política da Marcha para o Oeste, no ano de 1941, foi marcada por antagonismos tanto pela sensação de incertezas relacionadas ao conflito nacional da Segunda Guerra Mundial, quanto por outro lado, pelo otimismo gerado pelo discurso dessa política aos grupos sociais migrantes, principalmente no que se diz respeito ao aparecimento de novas oportunidades de emprego e melhorias na qualidade de vida. A intensificação da ocupação dessa região deu-se a partir de 1942, em que a imigração estava relacionada aos discursos de “brasilidade”, e que foram característicos dos primeiros anos de ocupação desse espaço. Esses discursos inflamados de “brasilidade” estavam relacionados com a iniciativa política de ocupação de fronteira do Estado Nacional (1937- 1945), que utilizavam os recursos da imprensa e a propaganda, divulgando a política da Marcha para o Oeste, evidenciando o caráter nacional da colonização e construindo signos que representavam a nação em marcha, reforçando assim este sentimento de “brasilidade”. Como foi evidenciado, houve uma participação ativa dos governos estadual e federal quanto a produção do território goiano, criando condições para a expansão da fronteira agrícola e especialização da produção no campo, isso sem alterar a estrutura agrária tradicional. Dentre as ações mais expressivas para a apropriação e produção do território destaca-se, como ressalta Castro (2004, p. 85), a construção de Goiânia, a construção de uma rede rodoviária e prolongamento dos trilhos da estrada de ferro, a fundação da CANG (Colônia Agrícola Nacional de Goiás) e a criação da Fundação Brasil Central. Em 1943, durante o período da Segunda Guerra Mundial, em que ganhava destaque a conquista do espaço, despertando interesses no Presidente Vargas que passou a tomar iniciativas para ocupar essa região que concentrava grande riqueza natural. E para alcançar essa meta foi criada a Fundação Brasil Central (órgão subordinado ao Ministério do Interior), tendo como finalidade coordenar nas áreas desabitadas das regiões oeste e central do Brasil o processo de ocupação.

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Já as Colônias Agrícolas Nacionais foram criadas pelo Decreto de Lei nº 3.059/19414, preocupando-se com a instalação de núcleos de atividades agrícolas e núcleos urbanos, porém esse projeto era muito mais abrangente devido suas intencionalidades serem impulsionadas pelo Estado, que tinha postura centralizadora e nacionalista. A partir da ideia de povoar o interior de Goiás, o governo Federal tomou iniciativas e organizou um processo de criação da primeira Colônia Agrícola do país, localizada na região do Vale do São Patrício, constituindo hoje o município de Ceres, com intenção de ocupar os vazios do Estado, sendo distribuídas terras para pessoas que pudessem desenvolver essa região. “O governo estadual, na pessoa do interventor, Pedro Ludovico Teixeira, fez uma doação de terra nas matas do Vale do São Patrício, para a instalação da CANG.” (SILVA, 2002, p. 35). A institucionalização da Colônia Agrícola Nacional de Goiás foi realizada a partir da publicação do Decreto Lei Federal nº 6.882/1941, e essa foi a primeira de uma série de oito colônias nacionais, dando início à escolha das áreas a serem demarcadas e ocupadas, destinadas a receberem esse núcleo. Para coordenar os trabalhos de instalação da Colônia, foi nomeado por Getúlio Vargas, o engenheiro agrônomo Bernardo Sayão5, tomando como ponto de partida, a construção da estrada partindo de Anápolis até o local em que se estabeleceria a Colônia (denominada Transbrasiliana), aproveitando o trecho em uso entre Anápolis e Jaraguá, que através do andamento da obra foi escolhida a área de fixação da Colônia às margens do Rio das Almas. A escolha do local da Colônia gerou variações de aprovações. Alguns questionavam que a região iria prejudicar o desenvolvimento da cidade planejada devido o terreno acidentado, já outros diziam que as questões topográficas não prejudicariam em nada na instalação da cidade. Foi neste período em que surgiram rumores sobre a possibilidade da Colônia ser instalada no seu antigo povoamento (em que se localiza a cidade de Nova Glória hoje, sendo emancipada no dia 10 de Junho de 1983). Mas devido os recursos federais para a

4 Por meio do Decreto-Lei 3.059/1941 foram criadas as Colônias Agrícolas Nacionais e o Decreto Lei 6.882/1941 criava a Colônia Agrícola Nacional de Goiás, que foi mantida pelo governo federal até 1953, quando ocorreu a emancipação do município. 5 Teve como principal projeto o desenvolvimento da região central do Brasil, Fundou a "CANG" Colônia Agrícola Nacional de Goiás, que deu origem posteriormente ao Município de Ceres. Em 1954, foi eleito vice- governador de Goiás, e governou o estado interinamente por três meses entre o período de 31 de janeiro a 12 de março de 1955. Participou do processo de a construção do trecho norte da Transbrasiliana (a Belém-Brasília) durante o governo de Juscelino Kubitschek. 38 deconstrução da rodovia “estarem se esgotando” essa instalação não foi possível, reforçando a ideia de instalação diante do Rio das Almas6.

Feita a travessia do Rio das Almas, iniciou-se a construção de uma estrutura provisória para receber os colonos. A sede compreendia o centro administrativo, onde se localizava o escritório de cadastramento e distribuição dos colonos nos lotes rurais, a área comercial, igrejas, escola, hospital da Colônia, a garagem e oficina do maquinário e a área residencial. Também na sede foi edificada a casa do administrador Bernardo Sayão e também as residências de todos os técnicos contratados pelo Ministério da Agricultura, responsáveis pela parte administrativa. O projeto de construção da sede da Colônia previa, além do núcleo administrativo, um centro urbano, em que o colono pudesse ter acesso a diferentes tipos de serviços. (SILVA, 2009, p. 13).

Os primeiros anos de instalação foram marcados por muitas dificuldades, que segundo Silva (2009, p. 13), as principais dificuldades relatadas pelos pioneiros foram em conseguir mantimentos e assistência de serviços que ainda não haviam sido instalados, além da precariedade das moradias, isolamento de outros centros urbanos, estradas em períodos chuvosos por não serem pavimentadas, e também a travessia do rio pela ponte de tambor improvisada por Sayão. “A região encontrava-se numa região de mata virgem muito densa, e, além da precária infraestrutura, os primeiros colonos sofreram com as epidemias tropicais.” (SILVA, 2009, p. 13). Porém, nos anos seguintes ocorreu uma intensa migração para o local da Colônia, composta por camponeses advindos principalmente de Minas Gerais, São Paulo e Bahia. A partir daí foram estabelecidos critérios para a solicitação dos lotes, nos quais os colonos eram entrevistados e, se recebessem os lotes rurais, tinham que esperar até meses para estabelecerem o assentamento. Aqueles que não conseguiam autorização para a ocupação dos lotes acabavam retornando a sua região de origem, buscavam novas fronteiras rumo ao norte do Estado seguindo a rodovia, ou então, estabeleciam-se na margem oposta do Rio das Almas, o que deu origem ao povoado da “Barranca”, que viria a se tornar a cidade de .

6 Rio com nascente no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, no município de Pirenópolis-Goiás, seguindo seu curso no sentido sul-norte e compondo a bacia do Tocantins. Corta também as cidades de Jaraguá, Ceres, Rialma e Nova Glória. O rio é principal divisor do perímetro urbano entre as cidades de Ceres e Rialma.

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A formação da Colônia estava totalmente aplicada à conduta moral de valorização do trabalho, estabelecendo uma concepção de que aquele lugar era voltado exclusivamente para quem estivesse disposto a trabalhar, associando colono à ideia de trabalhador. Isso se deve à representação política do trabalho nessa época, ocorrendo uma busca pela “sacralização”, do papel do trabalhador pelo Estado Novo. Os pré-requisitos exigidos para a ocupação dos lotes estavam pautados nessa conduta moral de valorização do trabalho e que criava as condições para a elaboração dos critérios desta questão, como por exemplo, a preferência dada aos cidadãos brasileiros, pobres e com habilidades e capacidade de produção agrícola tendo certo compromisso de residir nos lotes. Já a não aplicação correta desse processo do “trabalho”, acarretado pela desvalorização dos lotes e pela falta de cultivo, ou então pela má conduta do morador, poderia resultar na perda dos lotes doados.

O processo de seleção estabelecia quais seriam os imigrantes “eleitos” para a Colônia, e que, estes “estabelecidos” deveriam se enquadrar nos pré- requisitos propostos pelo decreto nº 3.059/1941, que dispunha acerca das exigências para a ocupação. Pelo referido decreto, teriam preferência aos lotes os cidadãos brasileiros, comprovadamente pobres, com habilidades agrícolas, de prole numerosa, acima de 18 anos, não proprietários de rurais e com compromisso de residência dos lotes (Art. 11 e 20). O artigo 24 do referido decreto dispunha das possibilidades do colono perder os lotes doados. Isso poderia acontecer pela falta de cultivo, pela desvalorização dos lotes pelo mau uso da propriedade e ainda por má conduta do morador, perturbando a ordem na Colônia, [...] (SILVA, 2009, p. 14).

Quanto ao prolongamento urbano da Colônia, e ainda, recorrendo à Silva (2009, p. 19), além da seleção e conduta dos colonos, outros elementos importantes quanto às experiências urbanas, foi a racionalização da colonização, caracterizada pelas burocracias na ocupação e pelo planejamento urbano e rural. Com isso a sede urbana da Colônia foi projetada, impondo uma regra urbanística no espaço como uma coerção racional, tendo complemento a esse planejamento urbanístico, a instalação de instituições burocráticas, tais como indústrias, escolas, serviços de saúde, etc. Essas regras urbanísticas, segundo o artigo 5º do Decreto-Lei nº 3.059/1941, “[...] serviria de modelo civilizatório para outras cidades do interior do país.” (SILVA, 2009, p. 19). Mas enquanto os colonos eram amparados por benefícios, estes também estavam sendo regidos por normas de sociabilidade. “Portanto, essas racionalidades impostas pelas instituições, serviços e regras da burocracia tornaram o espaço social da Colônia como um 40 lugar constituído por esquemas sociais de residência, trânsito, produção e convivência.” (SILVA, 2009, p. 20). O planejamento foi mais do que uma forma de organização, pois interferia na forma como o indivíduo ali situado percebia este espaço e relacionava com ele. “O planejamento urbano em si não determina as experiências que marcam o desenvolvimento histórico de uma cidade.” (SILVA, 2009, p. 22). Ou seja, a formação de uma cidade é constituída a partir das experiências resultantes das relações expressas naquele espaço. Portanto pode-se dizer que as experiências urbanas da colônia agrícola contribuíram, para que os moradores estabelecessem um sentido na percepção daquele espaço urbano em construção, possibilitando compreender como esse planejamento interferiu na representação dos valores e das normatividades que eram estabelecidas.

As experiências urbanas da Colônia contribuíram para que seus moradores estabelecessem o sentido do “espaço visual da cidade”, não apenas porque tiveram que se submeter às regras urbanísticas pré-estabelecidas, mas também porque essa compreensão, ao longo do tempo, possibilitou a percepção e assimilação dos signos arquitetônicos, do planejamento na representação dos valores e das normatividades constituídas para o lugar. (SILVA, 2009, p. 22).

Segundo Silva (2002, p. 36), a CANG foi dividida em dois momentos: no primeiro, nos anos de 1941 a 1944, ela estava equipada com instalações necessárias para o seu desenvolvimento contando com apenas 10 famílias na região. E no segundo momento, de 1946 a 1950, marcado pela desorganização administrativa por parte de Sayão, no qual em 1950, com a acusação de desvio de verba da Colônia, ele foi afastado, sendo assumida a administração da CANG por Datis Oliva7. “Este procurou regularizar os lotes, demarcando os limites de cada um, distribuídos a cerca de 2.230 famílias, além das 1.313 que já tinham sido regularizadas por Sayão.” (SILVA, 2002, p. 37). No ano de 1955, ocorreu a extinção da CANG, restando apenas colonos e lotes no local.

A Colônia Agrícola Nacional de Goiás fracassou, em decorrência da pouca assistência do poder público. Os recursos técnicos e financeiros prometidos

7 Engenheiro agrônomo, assumiu como novo administrador da CANG em 1949, após o afastamento de Bernardo Sayão, sendo responsável pela emancipação da colônia. 41

pelos governos não vieram e foi o fim de um projeto. Com o passar dos anos, a Colônia foi engolida pelos latifúndios. (CASTRO, 2004, p. 87).

Como parte da Marcha para o Oeste a Colônia Agrícola Nacional de Goiás foi um dos grandes projetos desenvolvidos pelo governo brasileiro na ocupação da parte central do país. Essa passou por muitos problemas, porém, obtiveram resultados sociais positivos, pois, a divisão dos lotes e a participação das famílias na produção agrícola, favoreceram o crescimento da região. Esse crescimento foi de grande importância principalmente porque favoreceu a capacidade de abastecer várias cidades e povoados situados na região, no entorno da Colônia, possibilitando também, o surgimento e o desenvolvimento de povoados nas proximidades que viriam a se tornar cidades, como é o caso de (à 14 km de Ceres pela GO-460) e Rubiataba (distância de Ceres: à 47 km pelas GO-434 e BR-153, 30 km pela GO-478 e 43 km pelas GO-334 e GO-460). Com o fim do Governo Vargas, em 1945, o território goiano sofreu sensíveis modificações nas partes central e sul, e na parte norte tendo um crescimento populacional muito lento, continuou isolada. As grandes mudanças na produção do território de Goiás realmente vão ocorrer a partir da década de 1950, como destaca Castro:

A partir da década de 1950, o processo de integração do território brasileiro vai acelerar-se, com várias medidas tomadas pelo Estado e que são fundamentais para Goiás. Dentre elas podem-se citar a construção de Brasília e a implantação e aprimoramento da infra-estrutura dos meios de transportes, que foram imprescindíveis para a integração do território brasileiro e especialmente do território goiano. (CASTRO, 2004, p. 88).

É a partir de 1950, com as novas medidas adotadas pelo Estado, que ocorreram as condições para a consolidação da formação da cidade de Rubiataba que resultaram, via de regra, da apropriação do espaço em que se localiza atualmente, formando primeiramente um povoado a partir da década de 19308. A formação desse povoado ocorreu concomitantemente

8 Quando se investiga a formação histórico-territorial de Rubiataba depara-se com um imenso hiato. Essa localidade é citada esporádica e superficialmente nas abordagens em geral, sejam elas sociológicas, históricas e, no caso presente, geográficas. Em virtude de tal “lacuna documental”, intenta-se aqui incorporar relatos de moradores que, através de suas memórias mais ou menos esgarçadas pelo passar dos anos, relembram os principais incidentes envolvidos na formação histórica do município. Evidentemente que outras fontes serão utilizadas, sobretudo as escritas, na medida em que o acesso as mesmas sejam enfim logradas. 42

à Colônia Agrícola Nacional de Goiás, que devido à proximidade, tinham certa relação, o que explica a necessidade, como foi colocado até aqui, de contextualizar esse projeto da CANG, sendo a formação do povoado de Rubiataba, não totalmente dependente, porém inerente a ela, pois assim como a cidade de Ceres teve sua formação a partir da ideia da Colônia Agrícola Nacional de Goiás, Rubiataba teve sua formação a partir da ideia de Colônia Estadual de Goiás, com a finalidade de favorecer o abastecimento da zona rural da região na qual se localiza (no caso a área em que se constitui o município), além de favorecer também o acesso a áreas ainda desabitadas, tendo a cidade como referência estratégica para a consolidação do planejamento destinado ao desenvolvimento dessa região. Partindo dessa contextualização vamos analisar esses aspectos de povoamento nas origens do município.

1.3 Os aspectos de povoamento nas origens do município de Rubiataba

Como já foi colocado, foram vários os fatores de povoamento e que contribuíram para o processo de urbanização do território goiano-tocantinense, sendo ressaltados os principais deles. Dentre esses fatores, em particular, o fator que caracterizou o processo de povoamento e urbanização de Rubiataba, foram os de colonização oficial9, sendo esse um dos vários fatores desdobrados da atividade agropastoril. A colonização oficial não deu certo em todo território goiano sendo característico e de grande importância na formação de Ceres e Rialma, que surgiram da implantação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás nas margens do Rio das Almas, e de Rubiataba, que foi construída principalmente para dar apoio logístico a colonização no Vale do São Patrício, empreendida pelo governo do Estado, sendo estas no território goiano, que em Tocantins influenciou a formação da cidade de Combinado10. A colonização espontânea também é um fator importante para o povoamento e urbanização nos estados de Goiás e Tocantins, e que de acordo com Gomes, Teixeira Neto e

9 A colonização oficial caracteriza-se por uma ação exclusiva do Governo Federal, em que ele se utiliza de suas próprias terras ou as adquire para essa finalidade e, depois de um minucioso estudo, as redimensiona em parcelas, as entregam aos beneficiários que recruta e seleciona, e lhes presta assistência. 10 Município localizado no estado do Tocantins, há 483 km da capital Palmas - TO. Sua população estimada em 2016 era de 4 863 habitantes. Possui uma área de 209,572 km². O Combinado foi fundado em 1962, pelo Governador Mauro Borges. Foi denominado Combinado Agro Urbano de Arraias, por pertencer ao Município de Arraias. Mauro Borges trouxe várias famílias de diversos estados do Brasil. A 20 de outubro de 1962, foram distribuídos lotes agrícolas para as 1114 famílias, num total de 250 colonos que implantaram a 1ª Rurópolis, comportando 4 Rurópolis, todas combinando-se com o núcleo urbano central (acampamento), daí a denominação de Combinado. Em 30 de dezembro de 1987, foi desmembrado o Distrito de Combinado da cidade de Arraias, tornando-se um município independente. (IBGE, 2016). 43

Barbosa, esse foi o mais importante fator de povoamento e, sobretudo, de urbanização que os dois estados conheceram ao longo de sua história principalmente por ser responsável pelos imensos fluxos migratórios que ocuparam e colonizaram esse espaço geográfico.

Por seu lado, a colonização espontânea, que tem por característica principal os imensos fluxos migratórios em direção a Goiás-Tocantins desde meados do século XIX, intensificados até metade do século XX, foi o mais importante fator de povoamento e, sobretudo, de urbanização que os dois estados conheceram ao longo de sua história. Seu melhor exemplo é o que ocorreu na região pioneira do Mato Grosso de Goiás, entrada da qual foi construída a nova capital de Goiás – Goiânia – no início dos anos 1930. Como dizíamos, os fluxos migratórios penetravam no território goiano- tocantinense pelas portas do sul – abertas, sobretudo, para Minas Gerais – e do norte, voltadas principalmente para o Maranhão. (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 71).

Embora esse conceito seja enfatizado como o mais importante fator de povoamento e urbanização de Goiás-Tocantins, o uso do termo “espontânea”, não seria o mais apropriado para caracterizar o tipo de colonização que se desencadeou, até porque todo o processo de colonização que envolveu desenvolvimento territorial de Goiás-Tocantins, deve-se a uma ação política que levaram o processo de migração para essa área do território nacional, tais como ação de indústrias, fundação das colônias agrícolas, abertura de rodovias, ferrovias e dentre outros. O que fez com que essas pessoas migrassem foram os fatores estruturais (falta de emprego, perseguições políticas ou religiosas, pobreza, etc.), do que simplesmente um ato espontâneo de migrar. A partir da década de 1930, com a distribuição de terras no estado de Goiás pelo governo, iniciou-se o processo de migração de agricultores buscando novos meios de vida. Antes da formação do povoado nas localidades na qual posteriormente resultaria na cidade de Rubiataba-Go, formaram-se primeiro os povoados de Valdelândia (há 26,5 km pela GO-434) e Bragolândia (há a 11 km pela GO-478). O povoado de Bragolândia foi constituído por migrantes advindos do estado de Minas Gerais, tendo esse nome com referência à família “Braga” os primeiros a se situarem no local, no qual, logo após chegaram outras famílias também advindas de Minas Gerais. E foram várias as famílias que, na busca por lugares com maior facilidade no abastecimento de água e melhores condições para realização de suas atividades, chegaram às margens do Rio Novo e habitaram o local, sendo alguns destes migrantes advindos também dos povoados de Valdelândia e Bragolândia. Eles foram se situando naquela região e 44 constituindo um grande aglomerado de agricultores no entorno dessa área. A principal atividade exercida ali era a criação de gado e a agricultura de subsistência, sendo cultivados arroz, feijão seguido pelo cultivo do café, sendo este da família da rubiácea, e que motivou e deu origem ao nome da cidade, dando a etimologia Rubia= rubiácea e taba= aldeia, devido os aldeamentos indígenas que caracterizavam a região Centro-Oeste. Entre as décadas de 1950 e 1960 o município recém consolidado se destacava pela produção de arroz, feijão, milho e algodão, além do café. Em razão desse crescimento na produção agrícola, o Governo Federal atuou através da Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEM), que se implementava em áreas distintas e complementares no abastecimento e armazenagem da produção agrícola, respectivamente. Essa é encarregada de gerir as políticas agrícolas e de abastecimento, destinada a assegurar o atendimento das necessidades básicas da sociedade, preservando e estimulando os mecanismos de mercado. A produção era armazenada em lonas e em seguida os caminhões buscavam-nas, como pode ser constatado na figura 1.

Figura 1 - (a) Carga de Algodão, 1960 (Grande produção da época). (b) Carga de Café, 1962 (Costume de ir à Igreja, em agradecimento pela colheita). (c) Caminhão do Jorge Sírio, carregado de café, 1965.

Fonte: Prefeitura municipal de Rubiataba.

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Com a política de ocupação dos vazios no país, Goiás recebeu uma atenção toda especial de Getúlio Vargas com apoio do interventor Pedro Ludovico Teixeira, começando a aparecer indícios para uma produção do espaço na região do Vale do São Patrício e que viria dar início ao processo de formação de Rubiataba. Esse processo começou a se desenvolver durante o governo do estado de Coimbra Bueno (1947-1950), que influenciado por esse modelo regido pelo governo federal, fez com que ele decidisse implantar uma colônia agrícola estadual no Vale do São Patrício, isso porque o governador buscou iniciativas que pudessem favorecer a implantação da futura capital federal que viria a se localizar no Planalto Central, à noroeste do Estado, sendo esta transferida do Rio de Janeiro, que passaria de Distrito Federal para a condição de Estado. O governo investiu na criação de agrovilas com intenção de que essas pudessem abastecer a futura capital do país com produtos de vários gêneros. É nessa ideia de agrovilas que se insere a iniciativa de criação de Rubiataba pelo Governo de Coimbra Bueno, na qual, a fundação da cidade foi concedida em 1948, pelo então diretor da Divisão de Terras e Colonização da Secretaria da Agricultura do Governo de Goiás, Oscar Campos Júnior. Na região em que se localiza Rubiataba o governo tinha à disposição vastas extensões de terras devolutas, sendo intenção do governador fundar ali a primeira cidade rural de Goiás, que serviria como ponto estratégico de auxílio à chegada em outras regiões despovoadas, como consta na Súmula Municipal11:

É pensamento do Governo fundar naquela região uma cidade rural a que, pela existência do café nativo, desejamos denominar “RUBIATABA” – nome híbrido de “rubia”, rubiácea, e “taba”, aldeamento. Para tal fim consideramos côo reservada uma área de 7000 hectares na qual foi projetada a futura cidade rural, dentro da técnica moderna, circundada de pequenas áreas para chácaras destinadas ao abastecimento local de hortaliças, frutas, leite, ovos, distanciando do perímetro pequenas propriedades rurais. (SÚMULA MUNICIPAL, 1998, p. 21).

O início do processo de formação do povoado deu-se na região localizada à margem direita do Rio Novo, entre os córregos da Serra, Cipó e Barra Funda, sendo uma área

11 A Súmula Municipal é um documento elaborado pela Prefeitura Municipal de Rubiataba no ano de 1998, contento informações importantes (de maneira bem sintetizada) e que envolvem a história do município, além de seus aspectos gerais como cultura, população, economia e lazer. 46 praticamente plana e que já era composta por uma grande quantidade de agricultores que ocupavam o local. Com a intensificação do processo de ocupação, em razão dessas necessidades e percebendo a possibilidade de transformação do núcleo urbano em formação em um centro importante de atendimento a essas necessidades, alguns pequenos produtores reúnem-se na sede da gleba de Alvino Luiz da Silva em 1947, isso segundo a Súmula Municipal (1998, p. 22), tendo como motivo da reunião discutir a possibilidade de fundar um povoado na região do Rio Novo, estando presente mais de uma dezena de produtores rurais, e também sobre a demarcação dos lotes urbanos. A área escolhida foi a do posseiro João Tavares, que esteve presente na reunião. Ele havia acabado de desmatar essa área situada à margem direita do Rio Novo. A fundação teria grande importância principalmente porque viria a facilitar o abastecimento de famílias que se deslocavam a grandes distâncias apenas para comprarem artigos de necessidades simples, tais como açúcar, sal e entre outros. Após a demarcação e distribuição dos primeiros lotes, no ano de 1948, estava consolidado o surgimento do povoado, denominado de São José do Rio Novo, isso devido os moradores serem devotos de São José concernente às suas tradições religiosas. A partir daí o povoado começou a se desenvolver rapidamente, sendo instalado em poucos dias, os primeiros estabelecimentos comerciais como uma venda, uma farmácia e um açougue, dando início à construção de moradias e à construção da primeira estrada. Após um ano da consolidação do povoado começam a aparecer as iniciativas do governo, de criação de uma cidade no local, como é relatado na Súmula Municipal:

Cerca de um ano após, técnicos da divisão de terras e Colonização do governo de Goiás dirigem-se à região para escolher o local onde o estado faria a locação da “primeira cidade rural de Goiás”, (Coimbra Bueno, 1948/53). Os idealizadores do povoado de são José do Rio Novo tentaram transformar a localidade iniciada por eles na sede da futura cidade. No entanto, em face da topografia desfavorável, escolheu-se o local onde, hoje, se situa a cidade de Rubiataba. Estava, assim, lançada a semente da “cidade rural cujas ruas, avenidas e praças receberiam os nomes de árvores integrantes da flora brasileira, tornando-se a única do país a ostentar tal destaque”, numa feliz iniciativa do engenheiro, agrônomo Oscar Campos Júnior, entusiasta idealizador de Rubiataba. Essa característica permanece até hoje e constitui-se num símbolo de Rubiataba. (SÚMULA MUNICIPAL, 1998, p. 23).

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De acordo com o relatado no documento da Súmula Municipal, o crescimento e o desenvolvimento da região foram tão acelerados que no ano de 1951, o município contava com mais de 20 mil habitantes. Se compararmos a população do povoado nesse período com o período atual, que de acordo com o censo do IBGE de 2010, Rubiataba conta com 18.915 habitantes (com população estimada de 19.914 habitantes em 2016), percebe-se que houve um decréscimo da população. Um motivo que se encaixa neste decréscimo está relacionado ao fato de que nas primeiras décadas após a emancipação da cidade, passada a fase áurea do café e da colonização agrícola, novos loteamentos estavam sendo demarcados e distribuídos nas vastas terras do Norte do país, principalmente no estado do Pará, favorecendo a emigração de alguns habitantes de Rubiataba, sendo este processo mais intenso durante a década de 1980. As motivações dessa migração giravam entorno das expectativas de encontrarem melhores condições de vida, sendo muitos destes iludidos por visões oníricas que os levavam a pensar que as condições do Norte do país seriam mais favoráveis. A emancipação da cidade de Rubiataba sendo elevada à categoria de município foi criada pela Lei Estadual nº 807 de 12 de outubro de 1953, instalando-se no dia 1 de Janeiro de 1954, elevando Rubiataba de povoado para cidade, sem ter que passar pelo estágio de distrito, tendo como primeiro Prefeito, Vitor José de Araújo que foi nomeado pelo Governador Pedro Ludovico Teixeira no final do ano de 1953 (o primeiro prefeito eleito foi Oliveira Paulino da Silva). A zona urbana foi composta pela sede do município, a cidade de Rubiataba, ligada por estradas que davam acesso a sua zona rural, composta pelos povoados de Bragolândia, Cruzeirinho, Goiataba, Santa Luzia e o Distrito de Valdelândia criado e anexado ao município pela lei nº 44 de 12 de Dezembro de 1958. Outro distrito que compunha o município era o denominado Cruzelândia criado pela lei municipal nº 45 de 12 de Dezembro de 1958, sendo desmembrado de Rubiataba pela lei nº 10425 de 05 de Janeiro de 1988, elevando-se à categoria de município, denominando-se a cidade de Morro Agudo de Goiás.12 Após a emancipação da cidade de Rubiataba, erguem-se cerca de 100 habitações provisórias, sendo instaladas casas comerciais, além também, da instalação de serrarias, máquinas de beneficiar arroz, cerâmicas e a construção de uma escola pública. Em relação a esse desenvolvimento da cidade é importante ressaltar o que diz José Ribeiro Camelo, agente

12 Morro Agudo de Goiás é um município do Estado de Goiás, situado na região do vale de São Patrício. O nome da cidade é em homenagem ao grande morro que se encontra próximo à cidade. A distância aproximada do município até a capital Goiânia é de 201 km, tendo uma população estimada de 2360 habitantes em 2016. (IBGE, 2016). 48 de Estatística do IBGE de Rubiataba do ano de 1967, como está relatado na Súmula Municipal:

Ribeiro Camelo prossegue, “tal era Rubiataba no seu primeiro ano de vida. E o núcleo populacional ampliou-se extraordinariamente desde logo. Todas as terras da região de domínio do Estado, que as dividia em pequenos lotes rurais, eram vendidas em condições sobremodo favoráveis aos legítimos lavradores. O fluxo de gente, de todos os pontos do Brasil, à nova Canaã, dedicar-se aos labores da agricultura e contribuir, assim, para o crescimento de seu progresso e ali criasse um “distrito administrativo” e a respectiva “sub-prefeitura”, já reunia todos os elementos exigidos pela Constituição Estadual para a criação de um novo Município”. (SÚMULA MUNICIPAL,1998, p. 22).

A partir da consolidação do município, este além das melhorias dos investimentos do governo em infraestrutura urbana, obteve-se um crescimento resultante da intensificação do fluxo migratório para esta região, que dentre os principais imigrantes que passaram a compor a população rubiatabense foram os advindos dos estados de Minas Gerais (sendo desse a maioria), Bahia e Maranhão. Está também constatado na Súmula Municipal o que seriam os primeiros habitantes da cidade:

Os seus primeiros habitantes segundo as fontes de pesquisa-informativa foram José Custódio, Manoel Francisco do Nascimento, Ancieto Baiano, Gabriel Pereira do Nascimento, Juvêncio Mariano Rodriguez. Em 1949 foi feito o serviço de localização técnica da cidade pelo engenheiro João Edgar Sheler, tendo como auxiliar, para fins de fiscalização o Sr. Joaquim Elias Martins que no mesmo ano promoveu o início da abertura das ruas da futura e acolhedora cidade. (SÚMULA MUNICIPAL,1998, p. 24).

Para uma melhor compreensão, dando maior enfoque ao colocar essa questão da migração para essa cidade, é preciso levar em consideração a sua própria localização, que embora tenha sofrido processos particulares quanto a sua formação, acaba se inserindo na formação da micro e mesorregião, e cada uma das mesorregiões possui características específicas de formação que as diferenciam. O município está localizado na mesorregião do Centro Goiano, também chamada de Mato Grosso Goiano desde a chegada dos primeiros bandeirantes em Goiás, pertencendo à

49 microrregião de Ceres (além de Ceres, as outras microrregiões do Centro Goiano são as de Goiânia, Anápolis, Anicúns e Iporá). As características dessa região goiana são responsáveis e explicam o porquê da maior concentração do fluxo migratório e que consequentemente contribui para a compreensão da composição do município de Rubiataba.

O Mato Grosso Goiano como um todo é, sob todos os aspectos a região mais dinâmica, a mais rica, a mais urbanizada e povoada de todas as regiões do estado de Goiás. Ela esconde quase metade da população goiana e abriga cerca de um terço de todas as cidades do estado. Apesar de “velha”, porque conhecida e frequentada há muito tempo, esta região pioneira teve sua ocupação e seu povoamento acelerados somente a partir dos anos 1930. De lá para cá, Goiânia comandou todo o processo de organização do espaço que deu forma à sua fisionomia urbana econômica atual. (GOMES, TEIXEIRA NETO e BARBOSA, 2004, p. 125-127).

Nessa parte central do Estado se encontra uma placa de solos de boa fertilidade natural que existe em todo o estado de Goiás, constituindo um polo de atrações dessas populações de migrantes a partir de meados do século XIX. Já no século XX, ela acabou se tornando a mais importante região pioneira de toda a região Centro-Oeste do Brasil, principalmente a partir dos anos de 1930, sendo objeto de uma política de ocupação e organização do espaço destinado à expansão demográfica e econômica, além da expansão da fronteira agrícola, a tal “Marcha para o Oeste”, que teve como consequência a criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás e a criação de Goiânia. Malgrado o Mato Grosso Goiano ter sido bastante explorado pelos bandeirantes, pode-se dizer então, que ele começou a ser colonizado a partir de 1930, no qual Castro ressalta:

O projeto de colonização e a marcha para o interior provocaram mudanças na produção do território de Goiás, principalmente na área centro-sul (zona do Mato Grosso de Goiás), que teve seu contingente populacional aumentado, principalmente pelo surto migratório de outras regiões do país, com destaque para Minas Gerais. Tratava-se trabalhadores despossuídos e de grandes fazendeiros em busca de terras de cultura a preço acessível para exploração agropecuária. (CASTRO, 2004, p. 87).

A urbanização e o crescimento da cidade de Rubiataba a partir de sua emancipação se manifestaram concomitantemente a esse mesmo processo inserido no Estado como todo, 50 marcado pelo seu desenvolvimento ao longo dos anos que se prosseguem a partir da década de 1950. A partir de 1950, Goiânia se consolidou de vez como o mais importante centro urbano de Goiás e Tocantins, elevando a migração para essa região mudando totalmente a fisionomia urbana do território goiano-tocantinense. Em 1960, como constata Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004, p. 98-103), 102 novas cidades surgiram em Goiás e Tocantins com crescimento de 132% no período de 1950 a 1960, em que até 1970 cresce mais 23%, sendo esta década marcada pela modernização da agricultura e pelos grandes projetos de exploração de riquezas minerais. Em 1980, destaca-se o aumento da taxa de urbanização e o êxodo rural, com o crescimento de 50% da taxa de urbanização em comparação a 1970, e a partir de 1989, com a separação dos dois Estados, a dinâmica urbana adquire um ritmo ainda mais acelerado. O que é preciso ressaltar nestas consequentes eventualidades ocorridas, é que foram de fundamental importância na compreensão do processo de formação espacial do território goiano. Partindo dessas características de formação e consolidação desse território ao longo de todo esse processo histórico aqui mencionado, torna-se possível enfocar de maneira convincente a os aspectos de formação socioespacial da cidade de Rubiataba. Essa por sua vez, sofreu transformações ao longo destas últimas décadas aqui mencionadas, principalmente no que tange sua esfera socioeconômica, passando de uma cidade estritamente ligada à produção agrícola de café, arroz, feijão, algodão e milho, para uma cidade voltada para o comércio interno e a produção industrial no setor moveleiro e no setor industrial sucroalcooleiro.

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CAPÍTULO II – O ESPAÇO URBANO DE RUBIATABA E SUA DINÂMICA SOCIOESPACIAL ATUAL

Neste capítulo serão apresentados aspectos gerais deste município, enfatizando os principais elementos territoriais de seu núcleo urbano, tais como órgãos públicos de saúde e educação, além do comércio varejista, buscando compreender a atual conjuntura socioespacial deste espaço urbano. E também será realizada uma discussão envolvendo o hibridismo espaço rural e urbano na cidade de Rubiataba com intuito de consolidá-la como um espaço urbano, a partir de um embasamento teórico voltado ao entendimento desta cidade enquanto um espaço urbano socialmente produzido. As questões centrais neste capítulo são: Qual o sentindo socioespacial dos serviços do núcleo urbano deste município? Podemos definir Rubiataba enquanto espaço urbano ou rural?

2.1 A cidade de Rubiataba e os aspectos gerais desse município

Partindo de Goiânia, Anápolis e Rialma/Ceres pela BR-153, chegaremos ao Jardim Paulista, pequeno distrito pertencente ao município de Nova Glória, distrito esse que permeia o acesso à GO-434, que é a principal rodovia de acesso à cidade de Rubiataba (a distância entre Rubiataba e a BR-153 é de 29,9 Km). Saindo do intenso movimento de automóveis e caminhões da BR-153, esse fluxo de veículos se torna menos intenso ao longo da GO-434, que também favorece o acesso à cidade de Nova América permitindo através dela chegarmos à algumas cidades que ficam à Noroeste do estado de Goiás, como por exemplo, Mozarlândia, Mundo Novo, Aruanã e dentre outras. Ao longo da GO-434, rumo à Rubiataba, torna-se expressiva a quantidade de outdoor’s que vão ilustrando empresas que são influentes nessa região, além de placas indicando a chegada à cidade. É possível também se ver placas que destacam atividades econômicas importantes em Rubiataba, como a placas referindo a cidade como “polo moveleiro” do estado de Goiás, devido ser um setor que tem se destacado desde o início da década de 1990, com instalação de indústrias moveleiras e que mesmo com o fechamento de muitas delas no final dessa mesma década restando apenas uma delas, além de uma queda desse setor na localidade, essa atividade industrial ainda continua significativa, principalmente na geração de empregos na circulação de capital na cidade.

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Vale lembrar que a GO-434 margeia as cidades de Nova Glória e também Ipiranga de Goiás antes mesmo de chegar em Rubiataba. O que mais chama atenção ao longo desse trajeto são as extensas plantações de cana-de-açúcar que também margeiam essa rodovia e que se tornam mais intensas à medida que aproximamos de Rubiataba, principalmente porque a indústria canavieira é um setor de grande influência neste município e nos municípios vizinhos.

Quadro 1: Rubiataba - Malha viária e distância dos municípios vizinhos e principais centros

MUNICÍPIO SISTEMA VIÁRIO DISTÂNCIA* (Km) Goiânia GO-334, GO-154 e GO-070 204 Brasília GO-434, BR-153, GO-431, 325 BR-414 e BR-070 Anápolis GO-434 e BR-153 187 Ceres GO-334 e GO-154 44,6 Carmo do Rio Verde GO-334 28,7 Nova Glória GO-434 28,7 Ipiranga GO-434 16,1 Nova América GO-334 23 São Patrício GO-334 e GO-460 30,4 * Por rodovias pavimentadas Fonte: http://br.distanciacidades.com/

O município de Rubiataba situa-se na Região do Vale do São Patrício13, na Microrregião de Ceres, que pertence a Mesorregião do Centro Goiano (mapa da localização de Rubiataba nas figuras 2 e 3). O município é constituído quase por inteiro por terras planas, possuindo uma altitude que varia de 610 a 680 metros, e nas áreas serranas pode variar de 700 a 900 metros. Rubiataba possui uma área total de 748,273 km² e conta com uma população de 18.915 habitantes (IBGE, 2010) com estimativa de 19.914 habitantes para 2016. O município limita-se territorialmente ao norte: , Nova América; ao sul: São Patrício; a oeste: Morro Agudo de Goiás; a leste: Ceres e Ipiranga de Goiás.

13 Região que compreende a atual microrregião Ceres e mais 7 municípios: , Crixás, Heitoraí, , Jaraguá, Santa Terezinha de Goiás e Uirapuru (CASTILHO e CHAVEIRO, 2008).

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Figura 2: Localização do Município de Rubiataba em Goiás e no Brasil

Situam-se também dentro dessa área o distrito de Valdelândia e os povoados Bragolândia, Cruzeiro e Goiataba, todos pertencentes à administração na cidade de Rubiataba- GO. Esse distrito e os consecutivos povoados desenvolvem atividades agropecuárias, destacando principalmente a agricultura de subsistência. Neste caso, os habitantes dessas localidades limitam-se estritamente a essas atividades em particular, isso porque não contam com infraestruturas urbanas desenvolvidas como em lugares de maior densidade demográfica, no qual tanto o distrito como os povoados possuem um mercado escasso, contando com pequenas mercearias que atendem apenas às necessidades básicas. Porém, como ficam bem próximas da cidade de Rubiataba (em média 10km com rodovias não-pavimentadas), no caso de acesso à uma infraestrutura urbana e de consumo mais amplo, os moradores destas áreas e de diversas outras áreas rurais do munícipio, deslocam-se para a cidade em busca de suprirem as necessidades não encontradas neste distrito e nestes povoados. Dentre o que é buscado por essas populações na cidade, podem ser citados o acesso a supermercados, lojas (principalmente de roupas, calçados, móveis, entre outros) casas agropecuárias, bancos, escritórios de contabilidades, opções de lazer e também acesso à educação, pois as escolas rurais oferecem apenas os ensinos fundamentais 1 e 2 (com exceção

54 ao distrito que Valdelândia e o povoado de Bragolândia, que possui um colégio com ensino médio), sendo assim, o acesso ao ensino médio se torna exclusivo na cidade de Rubiataba. Evidencia-se uma considerável circulação de transportes escolares na cidade tanto na transição entre à cidade e a essas áreas mais distantes dentro do munícipio, quanto também a circulação de transportes dentro do próprio perímetro urbano.

Figura 3: Localização do Município de Rubiataba-Go

Dentre os aspectos físicos apontados pelo IBGE (2010), o município de Rubiataba possui uma área total de 748,264 km², sendo constituído quase inteiro por terras planas, possuindo uma altitude que varia de 610 a 680 metros de altitude, e nas áreas serranas podem variar de 700 a 900 metros. O sistema hidrográfico do município é composto por vários córregos, tendo o Rio Novo como o principal fornecedor do abastecimento de água na cidade. Devido à proximidade com a cidade de Rubiataba e pela facilidade de acesso desse rio pela população, se torna comum sua função como opção de lazer principalmente nos períodos do ano em que as temperaturas sobem, fazendo com que o rio acabe se tornando um refúgio do calor, que em geral, envolve o período do ano entre agosto e outubro.

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As temperaturas nesse período costumam atingir médias anuais próximas ou superiores aos 30º Celsius (figura 4), sendo este fator agregado à ausência de precipitações que enquadra nas características climáticas dessa região, marcada por duas estações bem definidas por um período de seca (de maio a outubro) e por um período chuvoso (de novembro a abril). Ressaltando que podem ocorrer algumas oscilações quanto à duração desses fenômenos durante o ano referente ao seu início ao seu término.

Figura 4 - Rubiataba: gráfico climático

O Rio Novo (figura 5) tem sua nascente localizada dentro do próprio município, próxima a Valdelândia tendo seu curso de oeste para leste e que durante seu trajeto recebe água de vários córregos que se situam na região desse município. Destaca-se neste caso o córrego do Horto que deságua no córrego da Serra e que acaba desaguando no Rio Novo. Esses córregos atravessam o perímetro urbano da cidade, e de certa forma implicam algumas consequências no que tange a questões ambientais referentes à preservação dos mesmos. Por estarem próximos a cidade, são alvos de consequente poluição gerada pelo acúmulo de lixo causado pela população local resultando numa degradação ambiental. Isso gera uma preocupação não apenas pelo fato de poluir aqueles córregos em específico, mas 56 principalmente pelo fato de que um deles desagua no Rio Novo (principal rio que abastece a cidade).

Figura 5 - Rio Novo

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

As consequências podem ser ainda maiores quando se acrescenta que o Rio Novo deságua no Rio São Patrício e que faz linha divisória com o município de Nova América e Itapaci, na região denominada Cravarí, limitando-se com os córregos Água Fria, Grande, Patrona e entre outros. As vegetações que compõem a região do município são típicas do próprio bioma Cerrado brasileiro, sendo a vegetação nativa constituída de árvores relativamente baixas e tortuosas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e gramíneas. Essa vegetação tem sido degradada na região, principalmente pelo extensivo plantio de cana-de-açúcar e também pela pecuária, causando mudanças na composição do solo, da vegetação e também na fauna nativa dessa localidade em específico.

2.2 Rubiataba: rural ou urbano?

O município de Rubiataba possui uma população que está muito próxima de alcançar os vinte mil habitantes e cidades com esse nível demográfico costumeiramente em estudos urbanos em Geografia no Brasil tem gerado discussões sobre suas características e busca de 57 classificações que possam confirmar ou não se cidades deste nível são realmente urbanas ou meramente cidades rurais. O questionamento inicial é: Podemos definir Rubiataba enquanto espaço urbano ou rural? Este questionamento repercute na polêmica discussão envolvendo as categorias campo, cidade, rural e urbano e tem sido discutida por diversos estudiosos de diversas áreas, principalmente nas Ciências Sociais e também por geógrafos e economistas. Discussões teóricas e metodológicas envolvendo essas categorias, sendo recorrentes desde o início do século XX, ganhando impulso principalmente pelo acelerado processo de industrialização e consequentemente o de urbanização. Retomar essas discussões não é o propósito desta pesquisa, porém serão retomados alguns pontos importantes sobre aspectos urbanos e rurais, apenas com finalidade de definição deste município. Com a modernização do campo iniciada na década de 1960, o rural e o urbano obtiveram considerações importantes no seio de relações, sejam envolvendo atividades econômicas como também na forma em que se davam as relações sociais. De acordo com Ferreira e Rosa (2013), na década de 1990 surgiram vários trabalhos questionando os referenciais estatísticos brasileiros e esses dados estariam distanciando da realidade. Neste, caso partiu-se o princípio de que o Brasil não seria tão urbano assim, isso porque toda sede municipal era considerada urbana independente de suas atividades ou características socioculturais. Existem casos de pequenos municípios que não tiveram experiência urbana de sua população, como aponta Wanderley (2001), e o mesmo autor apresenta como justificativa dessa ocorrência o modo de vida dessas populações, tais como a oferta de serviços públicos e atividades econômicas exercidas pela população, muito mais voltados aos aspectos rurais do que urbanos. O que é preciso entender é que com as novas formas de produção e trabalho no campo, houve uma nova ressignificação do meio rural comportando atividades como turismo, moradia entre outros, e com isso passou a desenvolver atividades que antes eram restritas apenas à centros urbanos. As tendências de pesquisadores brasileiros têm sido voltadas à trabalhos numa perspectiva de enfatizar o campo no Brasil como uma área dinâmica, com potenciais econômicos, não podendo mais ser considerado como um meio secundário em relação ao urbano.

Pensar no meio rural como um obstáculo ao desenvolvimento social seria ocultar a importância e potencial econômico nele existentes, já que este não 58

pode ser mais considerado um meio secundário no que se refere à preposição de políticas públicas, na medida em que teria capacidade de preencher funções necessárias ao desenvolvimento de suas populações e da sociedade como um todo. (FERREIRA e ROSA, 2013, p. 190).

Ferreira e Rosa (2013) afirmam que, levando em conta as disparidades locais e regionais do país, os espaços hoje comportam várias formas de existência, tendo como objeto das discussões o meio rural. Levando isto em consideração eles acrescentam que “[...] o campo é hoje espaço de riqueza e de pobreza, de luta pela terra e dos grandes latifúndios, do agrobusiness e da pequena produção, de produção e moradia, do trabalho e do lazer.” (FERREIRA e ROSA, 2013, p. 190). Porém, estes mesmos autores destacam que existem alguns estudos que não levam em consideração esse fato, ressaltando apenas o ponto de vista econômico, e que as transformações que vem ocorrendo no âmbito da relação cidade e campo estariam homogeneizando-os, não se falando mais em meio rural, mas sim em “novo rural” e em “rurbano”14. Há uma tendência em considerar um processo de homogeneização nas transformações que vem ocorrendo no campo e na cidade isso em função cada vez mais ligada à expansão do capitalismo no Brasil. O que vem ocorrendo no Brasil é uma produção do espaço cada vez mais urbanizada gerando uma integração dos “[...] espaços e populações, articulando ideologias, transformando os lugares, costumes, homogeneizando-os, o que seria resultado do próprio movimento do sistema econômico.” (FERREIRA e ROSA, 2013, p. 191). Levando em consideração o avanço desses processos, tem-se cada vez mais a valorização do rural pelo urbano e o avanço das cidades sobre o campo. O termo “novo rural” é apresentado por Graziano da Silva (2002), que em meados da década de 1980 se depara com uma nova configuração do meio rural brasileiro, e a utilização de aspas para assim designar o termo se deve ao fato de que muitas dessas atividades que se apresentam no “novo rural” serem seculares neste país, porém não tinha tal importância econômica como recentemente passou a ter.

14 O “novo rural” e o “rurbano” neste caso, seria o local do exercício de novas funções, marcado pela intensificação da técnica e modernização das atividades econômicas, estando presentes o crescimento do chamado agrobusiness e aumento das atividades não-agrícolas (moradia, lazer, prestação de serviços, etc.). Estes processos resultariam em uma nova configuração econômica e social, na qual as especificidades do campo e da cidade, bem como de suas populações diminuíram na mesma intensidade em que o campo se tornasse um local plurativo. (FERREIRA e ROSA, 2013, p. 190). 59

Mesmo com essa tendência de homogeneização da estrutura econômica e social advindas do sistema econômico vigente, e considerando cada vez mais o avanço do urbano sobre o rural, há uma permanência de traços em ambas categorias e que consolidam sua identidade, ou seja, independente do avanço ou ligação de uma com a outra, ambas continuarão mantendo características que lhe são próprias e é em função disto que surgem estudos que vão de “contramão” a essa ideia de homogeneização do meio rural e urbano, como é o caso de Queiroz (1978), que aponta o crescimento de uma heterogeneidade do espaço e das relações envolvendo o avanço da cidade sobre o meio rural desde o início do processo de industrialização. A permanência dessas características de ambas categorias pode ser percebida mais de perto no que envolve diretamente as relações sociais nelas estabelecidas, isso porque ocorrem nelas a permanência de valores, costumes e tradições e que as diferenciam. É possível perceber até aqui que a relação entre campo e cidade, rural e urbano, se desenvolvem de uma maneira complexa, gerando muitas reflexões. O que se tem é uma evolução do rural pelo urbano e cada vez mais uma determinação do urbano sobre rural, ou seja, vem ocorrendo uma continuidade dos espaços e das populações rurais e urbanas. Um exemplo da fluidez existente entre campo e cidade pode ser constatado em Rubiataba. É possível perceber a presença do rural no perímetro urbano desta cidade, sendo estes traços presentes em sua paisagem urbana quanto também no modo de vida de muitos moradores inseridos neste cenário.

Figura 6 - a) horta comunitária; b) feira do agricultor

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

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Exemplos disto podem ser dados com existência de hortas comunitárias na cidade, figura 6(a), nas quais os moradores desempenham papéis de agricultores, desenvolvendo um trabalho estritamente rural em pequenos espaços cedidos pela prefeitura para desempenharem estes trabalhos, há existência de chácaras próximas à cidade nas quais muitos moradores embora se situem na própria cidade se deslocam diariamente para realizarem atividades rurais, tais como a criação de animais como gado, galinha e porco (os mais comuns), além da agricultura que a produção das mesmas são destinadas como subsistência ou muitas vezes como fontes de rendas ao serem comercializados numa feira existente na cidade, figura 6(b), nos dias de quarta-feira e domingo, conhecida como feira do agricultor. Dentre os produtos comercializados nesta feira podemos citar alguns como o queijo, a farinha (de mandioca e de milho), as hortaliças em geral, como alface, tomate, couve, além de milho, mandioca, batata, frutas em geral (com destaque para bananas, abacaxis, melancias, laranjas, melões, abacates, mamões, etc.) e entre outros, nos quais todos são produzidos pelos moradores rurais do município ou por moradores da própria cidade que se deslocam para o campo com viés de desenvolverem estas atividades. A presença do rural no perímetro urbano desta cidade se torna presente ainda mais quando evidenciamos nas ruas o deslocamento de carroças utilizadas por alguns moradores, como pode ser constatado na figura 7(a), além da transição de tratores, que embora não seja constatada diariamente, torna-se comum depararmos com algum em plenas avenidas. Algo também marcante da presença do rural em hábitos da população é a compra do leite “in natura” comercializado e entregue na porta de casa, como está constatado na figura 7(b).

Figura 7 - a) carroça em área central da cidade; b) leiteiro com motocicleta

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016. 61

Ao observamos a figura 7(b), percebe-se que a entrega do mesmo está sendo realizada por uma motocicleta, porém isso nem sempre foi assim, pois esse trabalho é comumente realizado por carroças e a substituição das mesmas tem ocorrido recentemente (desde 2014), o que reflete um certo “hibridismo15” quanto às práticas estritamente ligadas ao urbano e ao rural. Embora estes traços do rural em pleno perímetro urbano da cidade seja constatado, como foi evidenciado, estas não são as atividades predominantes no modo de vida na maioria dessa população, isso porque a cidade conta com um comércio varejista variado, no qual a cidade possui uma infraestrutura suficiente a atender as necessidades básicas de consumo. E o próprio modo de vida da população está ligado a práticas mais voltadas a um modelo de vida urbano do que rural. Isso pode ser evidenciado quanto aos próprios costumes da população em geral, cada vez mais dependente de seus deslocamentos aos bancos da cidade, a busca por um consumo cada vez mais tendencioso, de compras ligadas à produtos globalizados, a busca por áreas da cidade com acesso à internet e entre outros. Além disto é cada vez mais intensa a circulação de carros e motocicletas, o que potencializa a capacidade de deslocamento e circulação neste espaço, indicando cada vez mais a necessidade dos mesmos, e que são características cada vez mais voltadas a um padrão de vida que denominamos como urbano. É preciso negar visões dicotômicas em ralação ao rural e o urbano, principalmente aquelas que tentam negar uma destas esferas, como é apontado por Ferreira e Rosa (2013), que também ressaltam a ideia de que não se pode negar a fluidez existente entre ambos. “Por outro lado, não se pode negar a relação da sociedade como o território, pois o espaço geográfico é ponto de partida e ao mesmo tempo produtos das relações sociais. ” (FERREIRA e ROSA, p. 202, 2013). No decorrer desta pesquisa serão apresentadas características e funcionalidades que afirmam Rubiataba como um espaço urbano de acordo com os conceitos aqui apresentados. Com relação aos estudos sobre cidades e a busca por definições sobre as áreas urbanas, há uma tendência em referi-las à grandes aglomerações ou de médio porte, o que indica uma preocupação de definição voltada diretamente ao número de habitantes. De acordo com Lopes (2009), “[...] os portes demográficos constituem o ponto de partida na demarcação de objetos e áreas de estudos urbanos, para os quais a importância de

15 O termo “hibridismo” é utilizado aqui como uma expressão que reflete uma continuidade espacial da expansão de elementos urbanos sobre elementos rurais. Nas áreas de Planejamento Urbano e na Geografia, há uma tendência na maioria dos autores em considerar essa expansão sem distinções entre ambos os espaços (rural e urbano). Isto pode ser verificado em Harvey (2005) e Léfèbvre (1976). 62 uma cidade se fundamenta no volume de sua população e nos tipos de relações sócio- espaciais [...] “ (LOPES, 2009, p. 12). A autora acrescenta que estes aspectos determinam a produção deste espaço, constituindo-o como um produto social em permanente processo de transformação. Embora muitos pesquisadores enfatizem as aglomerações de pessoas em determinados espaços, como um viés de análise e definição do que seja considerado urbano, percebe-se que não há um consenso quanto à qualificação dessas aglomerações. Para melhor exemplificar, não há noção consensual quanto às noções de grandezas dessas aglomerações, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte, ocorrendo critérios variados para tais classificações. Em razão de uma grande variação de critérios sobre o que seja realmente urbano, são consolidadas dificuldades e que não permitem uma definição que são utilizadas em sentido generalizado e que já foi abordado por Santos (1979 a, p.7). Considerando o valor numérico das aglomerações como um critério de definição de uma área urbana, podemos citar o apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e também do Estatuto das Cidades (BRASIL, 2001), que consideram como porte mínimo 20 mil habitantes, para assim classificar como urbano. Além destas entidades, autores como Nunes (1981), Andrade e Serra (1997), Martine (1993) e Veiga (2002), também apresentaram em seus trabalhos este mesmo valor como mínimo para se estabelecer uma área urbana. Porém há autores como Souza (2003) e Silva, Leão e Silva (1989), que estabelecem a quantidade de 5 mil habitantes como valor minimamente aceitável como urbano, principalmente porque apontam um constante percentual da população mundial vivendo em núcleos desse valor. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define a zona urbana como toda sede município (cidade) e de distrito (vila). Essa classificação de zona urbana, porém, não leva em consideração o tamanho da cidade nem mesmo a quantidade de habitantes. Em estudos sobre limiares demográficos na caracterização das cidades médias, Amorim Filho e Rigotti (2002) apresentam variações na classificação do que seja definido como uma cidade média na América do Sul. Eles verificam que a mesma quantidade de habitantes em duas cidades de países diferentes, podem ter classificações diferentes, sendo assim, uma pode ser considerada uma cidade de porte médio e a outra de porte pequeno, embora tenham a mesma quantidade de habitantes. Estes autores apontam que apenas o porte demográfico não é suficiente para classificar as cidades, sendo necessário levar em

63 consideração aspectos como a funcionalidade, localização demográfica e sua dinâmica na rede urbana, sendo estes mais importantes do que apenas o valor numérico das aglomerações. Diante das variações e dificuldades aqui apresentadas de alguns dos pesquisadores que abordaram essa temática de definição e delimitação do urbano, outra questão apresentada é a da diferenciação entre urbano e rural. Com a modernização da agricultura brasileira em meados do século XX, houve uma maior ligação e inter-relação envolvendo atividades do campo atividades urbanas. Sobre essa dificuldade de diferenciação entre rural e urbano, Lopes (2009) destaca:

No campo se vivia da agropecuária e nas cidades do emprego industrial ou do comércio. Mas a contínua evolução tecnológica fez o mundo muito mais complexo, tornando quase impossível saber onde uma cidade acaba e onde se inicia o campo, pois as cidades se expandem para além de seus limites, extravasam e levam para o campo atividades características urbanas. (LOPES, 2009, p. 17)

Como referência deste trabalho no que se refere ao conceito de urbano, para assim enquadrarmos Rubiataba nesta discussão, utilizaremos o que foi apresentado por Lopes (2009). Em seu trabalho ela buscou conceituar o urbano partindo de definições expostas por autores como Corrêa (1989), Silva e Silva (1991), isso porque estes autores têm procurado compreender o espaço enquanto instância socialmente produzida. Para que uma cidade seja entendida como espaço urbano e socialmente produzido, Lopes (2009) destaca:

Uma cidade – entendida como espaço urbano e socialmente produzido - deve conter certo número de habitantes, vivendo em um aglomerado com certa centralidade econômica, algumas características espaciais – refletidas na multiplicidade de uso do solo – e certa diversidade econômica articulada com a presença de classes sociais distintas, além de alguma proporção de residentes ocupados em atividades não-agrícolas. (LOPES, 2009, p.21).

Partindo deste conceito apresentado por Lopes (2009), podemos definir a cidade de Rubiataba como um espaço urbano. Isso porque ela apresenta todas as características apresentadas neste conceito. Ou seja, Rubiataba possui uma certa centralidade econômica, principalmente porque tem influência sobre os municípios de sua hinterlândia, tais como Ipiranga de Goiás, Nova Glória e Nova América, sendo essa relação estabelecida em função do comércio e das atividades industriais desenvolvidas. 64

É possível constatar em Rubiataba uma grande proporção de residentes ocupados em atividades não-agrícolas, principalmente aquelas ligadas à moradia, lazer, atividades industriais e prestação de serviços. É possível perceber também a existência de uma diversidade econômica articulada e que refletem em classes sociais distintas, sendo sua veracidade explanada na paisagem urbana da cidade e expressada em seus diferentes bairros, sendo possível constatar residências de alto padrão e também residências em condições precárias e que evidenciam essa diversidade de classes sociais nesta localidade. Observa-se também diferentes usos do solo e uma certa centralização de serviços, sejam eles comerciais, administrativos ou religiosos. Diferentemente das grandes cidades não é notável a presença de grandes edifícios, havendo uma tendência de imóveis comerciais e residenciais nas proximidades com o centro da cidade e que indicam os distintos estratos sociais. Diante da discussão apresentada, percebemos Rubiataba como um espaço urbano, sendo crucial a definição deste aspecto como ponto de partida para uma análise mais detalhada deste espaço. Apesar de uma área pequena em relação a outras cidades consideradas médias e grandes em diversas classificações, levando em consideração suas limitações no alcance dos serviços disponíveis, Rubiataba exerce funções a nível de sua escala que nos favorecem subsídios suficientes para apontar como um urbano possível.

2.3 Os serviços do núcleo urbano de Rubiataba: órgão públicos, saúde e educação.

A lógica de produção econômica estabelece influência direta na produção do espaço urbano, através de variadas atividades regidas por ações de agentes diversos, que estão sempre atuando e gerando mudanças e transformações no espaço. Dentre estas atividades estão aquelas relacionadas ao conjunto de relações estabelecidas por uma determinada sociedade, sejam elas atividades de consumo, trabalho, moradia, saúde, educação ou lazer. Temos a cidade como um resultado de expressão concretizada a partir do processo de produção do espaço urbano, que dentro de uma realidade socioeconômica de caracterização da cidade, pairamos sobre uma racionalidade capitalista responsável pelo resultado deste processo, (re) funcionalizando e consequentemente moldando suas formas, sendo mediadas por interesses do capital.

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Neste sentido, vale ressaltar o que foi destacado por Villaça (1998, p. 13) neste processo de produção do espaço urbano, apontando a escala intraurbana como relevante e grande importância no estudo da cidade. Ele apresenta que na busca de uma melhor compreensão da cidade, torna-se relevante enfocar elementos importantes nesta escala de análise. Estes elementos orientam e determinam a produção do espaço urbano, tais como o conjunto de equipamentos na área dos serviços e sua produção, circulação de mercadorias (objetos) e pessoas, além das características demográficas, sendo estes, cruciais na compreensão do modo de vida e da dinâmica e estrutura interna das cidades. A caracterização de uma cidade como Rubiataba nos leva à análise destes elementos como algo relevante e dinâmico, partindo da premissa de que eles não são estáticos e que incutem às cidades formas e funções diversas, e que mostram como está estabelecida a organização espacial em seu constante processo de produção e reprodução. O poder público, por sua vez, tem atuação neste processo de produção e reprodução, influenciando na economia das cidades, pois é ele o principal responsável em fornecer suportes à população residente tanto no perímetro urbano como também nas áreas rurais. Através do poder público se instauram políticas na esfera da administração pública, dos serviços sociais e também na saúde e educação. E isto pode ser percebido a partir das unidades escolares, instituições públicas e também estabelecimentos de saúde e que configuram a dinâmica socioespacial da cidade. O reflexo da implementação destes elementos pelo poder público resulta no aumento do número de vagas no serviço público e que contribui para a incrementação das atividades comerciais, que acaba por aumentar demanda de novos bens e serviços. Para melhor avaliarmos estes elementos do setor público em Rubiataba enquanto componentes da dinâmica socioespacial, apresentaremos algumas características dos serviços de saúde e educação, isso porque os reconhecemos como elementos determinantes na produção deste espaço urbano e que é essencial na compreensão do modo de vida e da dinâmica e estrutura interna desta cidade.

2.3.1 Os serviços de saúde

Os serviços de saúde em Rubiataba são compostos por apenas três hospitais localizados na sede do município além de dez postos de saúde distribuídos entre os bairros da 66 cidade, existindo também um posto de saúde localizado em cada distrito do município. Os três hospitais são: Hospital Municipal, Hospital Menino Jesus e Hospital São Vicente. Apenas o Hospital Municipal é público. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Rubiataba, no mês de julho de 2017, o quadro de funcionários e médicos que atendem aos hospitais e postos de saúde somam um total de 67.

Figura 8 - Hospital Municipal Dr. Ubiratan Carneiro

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

O Hospital Municipal (figura 8) foi o primeiro hospital da cidade, criado em 2007, e antes da fundação deste hospital, o atendimento à população era realizado por apenas um posto de saúde, pois o aumento do número de postos no município ocorreu a partir do ano de 2008. O Hospital busca atender a população do município em geral e é o principal hospital da cidade possuindo o maior fluxo de pessoas e atendimentos, com atendimento em todo município e com cobertura de atendimento em toda a zona rural. O quadro de médicos no Hospital Municipal chega a um total de 14 médicos, sendo estes, os mesmos médicos que atendem aos postos de saúde, sendo os plantões estabelecidos por uma escala de trabalho e que é alternada entre eles. O hospital conta com 28 leitos e com ralação à quantidade de pacientes atendidos, no mês de junho de 2017, foram atendidos 4.564 pacientes. O sistema de saúde em Rubiataba conta com serviços básicos, tais como clínica geral, e com capacidade para internações, dependendo do quadro de doenças ao quais se referem os pacientes. De acordo com o quadro de relação de empresas registradas no município de Rubiataba em 2016, fornecido pela prefeitura, são constatadas duas clínicas médicas e seis 67 clínicas gerais. O setor público atua principalmente com serviços primários através dos postos e centros de saúde. Buscando atender principalmente uma população de baixa renda, os serviços de saúde em Rubiataba contam com a distribuição de 10 postos de saúde (SUS-Sistema Único de Saúde), sendo apenas 1 com atendimento na zona rural. São distribuídos 1 médico para cada posto de saúde (um total de 10 médicos) e cada posto possui 2 leitos apenas para a observação de pacientes, não sendo realizadas internações. Em casos mais graves de internações, tratamentos ou emergências, o paciente é encaminhado à cidade de Ceres, que oferece serviços mais qualificados e compondo uma demanda de serviços especializados. Por causa da quantidade e qualidade da especialização dos serviços de saúde em Ceres ser expressiva em relação aos municípios mais próximos, há uma forte demanda de populações advindas destes municípios em busca destes serviços especializados. De acordo com Castilho (2009), os municípios de procedência das pessoas que procuram Ceres para o consumo de bens e serviços de saúde chegam à vinte e dois municípios com maior frequência, o que inclui Rubiataba, e quatorze municípios que buscam estes serviços, porém com menor frequência. Dentre algumas das atividades específicas que podem ser encontradas em Ceres, como aponta Castilho (2009), estão aquelas ligadas à hospitais, laboratórios de análises clínicas e também clínicas especializadas e diversas áreas, tais como psicologia, oftalmologia, odontologia, e dentre outras. Há uma tendência e busca com maior frequência destes serviços principalmente pelas classes média e alta da população que se situam em Rubiataba (assim como de outros municípios), tanto pela proximidade quanto pela qualidade dos serviços e que são oferecidos em sua maioria por serviços privados e que de certa forma favorecem uma parcela da população com maiores poderes aquisitivos.

2.3.2 Os serviços de Educação

Os serviços de educação no município de Rubiataba são compostos por 22 instituições de ensino, conforme trabalho de campo realizado em janeiro de 2017 (quadro 1), sendo distribuídas em 9 escolas/colégios estaduais, 10 escolas municipais, 1 centro de convivência

68 estadual, 1 instituição de ensino superior e 1 escola privada infantil, não havendo escolas ou colégios privados de níveis fundamentais e médio. Quadro 1 - Redes de ensino em Rubiataba, 2017 Município Nome da Escola/Colégio Local Rede Rubiataba Colégio Estadual Raimundo Santana Rubiataba Estadual Amaral Rubiataba Colégio Estadual Gilvan Sampaio Rubiataba Estadual Rubiataba Colégio Estadual Levindo Borba Rubiataba Estadual Rubiataba Colégio Estadual Pedro Alves De Rubiataba Estadual Moura Rubiataba Escola Estadual Oscar Campos Rubiataba Estadual Rubiataba Escola Estadual Jose Custodio Rubiataba Estadual Rubiataba Centro De Educação E Convivência Rubiataba Estadual Juvenil Bernardo Sayao Rubiataba Escola Estadual Indígena Cacique Jose Aldeia Estadual Borges Carretão Rubiataba Escola Estadual Antonio Braga Bragolândia Estadual Rubiataba Colégio Estadual Ângela Pimentel Valdelândia Estadual Rubiataba Escola Municipal Rivaldo Santana Rubiataba Municipal Sampaio Rubiataba Núcleo Municipal De Ensino Rubiataba Municipal Fundamental Monsenhor Lincoln Monteiro Barbosa Rubiataba Escola Municipal Maria Rosaria De Rubiataba Municipal Lima Rubiataba Escola Municipal Professora Zelma Rubiataba Municipal Queiroz De Lacerda Alencar Rubiataba Pré-Escola Pequeno Polegar Rubiataba Municipal Rubiataba Pré-Escola Branca De Neve Rubiataba Municipal Rubiataba Centro Educacional Criança Cidadã Rubiataba Municipal Rubiataba Pré-Escola Lar Feliz Valdelândia Municipal Rubiataba Escola Municipal Manoel Domingues Cruzeirinho Municipal Neto Rubiataba Escola Municipal Maria Aparecida Goiataba Municipal Cunha Rubiataba Escola Infantil Pedacinho Do Céu Rubiataba Privada

Rubiataba Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba Privada Rubiataba (FACER/Uni Evangélica) Fonte: Pesquisa de campo, 2017.

A única instituição de ensino superior em Rubiataba é a FACER (Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba), destacada na figura X, e que foi fundada no dia 9 de julho de 1997. A instituição conta com cursos de graduação, pós-graduações, cursos livres e também contava com cursos à distância em parceria com a UNOPAR (Universidade Norte do

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Paraná), na qual essa parceria se encerrou no final de 2016. Atualmente, os cursos de graduação oferecidos nesta instituição são o de Direito e Administração, oferecendo também, de acordo com a quantidade de alunos requerentes, os seguintes cursos de pós-graduação: Controladoria e Finanças, Direito Civil e Processo Civil, Direito Penal e Processo Penal, Direito e Processo Constitucional, Docência Universitária, Educação e Gestão Ambiental Educação Inclusiva, Educação Infantil, Gestão Empresarial e Psicopedagogia Clínica. Em abril de 2015, foi assinado um contrato de compra das Faculdades FACER pela Associação Educativa Evangélica (AEE), que eram mantidas pelo CESUR (Centro de Ensino Superior de Rubiataba), adquirindo a partir daí as unidades existentes em Rubiataba, Ceres, Jaraguá e Goianésia. Esta instituição de nível superior atende uma grande demanda de estudantes que compõem não somente a cidade de Rubiataba, mas também alunos de diversas outras cidades, principalmente aquelas ligadas à microrregião de Ceres, que de acordo com informações fornecidas pela instituição o número de estudantes matriculados em 2016 variou entre X municípios (ver a tabela X na página X). Em dezembro de 2016, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o Índice Geral de Cursos (IGC) de todas as instituições de ensino superior do país, sendo esse índice uma referência com a finalidade de medir a qualidade das faculdades e universidades no Brasil. A FACER obteve nota 4 numa escala que vai de 0 a 5, mesma nota obtida pela Universidade Federal de Goiás, o que demostra bons resultados e uma referência na qualidade de ensino nessa região considerando essa classificação.

Tabela 1 – Educação: estatística municipal de Rubiataba (2000 a 2015)

MUNICÍPIO 2000 2001 2005 2010 2015

Estabelecimentos de Ensino/total (número) 19 22 22 26 20

Salas de aula existentes /total (número) 105 119 126 195 168

Docentes/total (número) 229 239 257 236 202

Matrículas/total (alunos) 5727 5763 5447 4682 3895

Matriculas na creche/total (alunos) - 24 118 107 164

Matrículas na pré-escola/total (alunos) 162 208 358 395 502

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Matrículas no ensino fundamental /total (alunos) 3808 3817 3407 2816 2376

Matrículas no ensino médio /total (alunos) 1105 943 1023 1008 729 Matrículas na educação de jovens e adultos (EJA) /total (alunos) 293 473 498 249 124 Fonte: IMB (2015)

Observando a tabela 1, que compõe uma estatística municipal de Rubiataba referente à educação disponível pelo IMB, percebe-se que houve um aumento no número de instituições de ensino passando de um número de 19 em 2000 para 26 em 2010. Porém em 2015 este número cai para 20 instituições, e pudemos verificar que isto se deve a algumas escolas e colégios que fecharam, tais como a escola Atrium, Lar Feliz, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e Tapuios, além do Colégio FACER. O número de salas existentes e também de docentes, seguem a mesma oscilação do número de instituições, ou seja, partem de um considerável aumento no ano de 2000 até 2010, mas acabam sofrendo uma pequena queda no número entre 2010 e 2015 e se devem estritamente a diminuição do número de instituições que foram 6 neste período envolvendo 2010 e 2015. É preciso ressaltar também que o aumento do número de salas de aulas se deve à novas construções, que foram sendo realizadas, isso pode ser constato em algumas escolas, colégios e também na FACER, que ampliaram estes números, consolidando esta estatística. No que se refere ao número de matrículas, é perceptível uma queda gradativa entre 2000 e 2015. Em trabalho de campo nas instituições de ensino, foram apontadas como justificativa nessa queda alguns fatores como o fechamento de algumas instituições neste período, como já foi mencionado, busca por trabalho nos quais muitos deixam os estudos, sendo essa queda registrada até mesmo na Educação de Jovens e Adultos (EJA), que em geral concentra grande parte de estudantes que frequentam as aulas a noite e trabalham durante o dia. Um fator também que influencia na queda de matrículas, principalmente no ensino médio do município, deve-se a grande quantidade de alunos aprovados no Instituto Federal Goiano de Ceres, que é uma referência na qualidade de ensino médio na região, facilitado pela proximidade com Rubiataba, sendo disponíveis ônibus particulares, e que levam estes estudantes diariamente a essa instituição, além de outras instituições. O total de alunos matriculados no Instituto Federal Goiano de Ceres em 2017, foi de 666 matrículas no Ensino Médio, entre os alunos da 1ª, 2ª e 3ª Séries dos quais 70 são oriundos da cidade de Rubiataba.

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E com relação ao nível superior, o total de alunos matriculados no segundo semestre de 2017 nos cursos de graduação é de 629, sendo 41 destes naturais da cidade de Rubiataba. Ainda com referência ao quadro 2, observamos que o número de matrículas em creches e pré-escolas do município entre 2000 e 2015 obteve um considerável aumento. O número de matrículas na pré-escola passou de 162 para 502 (2000 até 2015), um aumento de 209,87%, e já nas creches passou de 24 para 164 matrículas (2001 até 2015), com aumento de 683,33%, ou seja, um aumento expressivo. O aumento e ampliação de creches e pré-escolas instaladas no município neste período é um fator importante, porém, um fator que reflete esse aumento são as ocupações de trabalho tanto por homens como mulheres, que tem buscado estas instituições como recurso para seus filhos enquanto trabalham. Mas outro fator que reflete no aumento de matrículas nestas instituições se deve ao crescimento da população e consequentemente um número maior de pessoas com faixa etária a estarem matriculadas nestas instituições. Porém, mesmo com o crescimento da população, a taxa de natalidade bruta do município16 vem diminuindo, e que de acordo com o DATASUS (2017), passou de uma média de 15,79 em 1994 para 9,12 em 2011. Em contrapartida houve uma queda na taxa de mortalidade infantil (mortalidade de crianças com menos de um ano de idade) que no município passou de 29,8 óbitos por mil nascidos vivos, em 2000, para 14,8 óbitos por mil nascidos vivos, em 2010. O IDHM brasileiro foi estabelecido em 2012 pelo PNUD Brasil, o Ipea e a Fundação João Pinheiro (FJP), que assumiram o desafio de adaptar a metodologia do IDH Global para calcular o IDH Municipal (IDHM) dos 5.565 municípios brasileiros, no qual esse cálculo foi realizado a partir das informações dos três últimos Censos Demográficos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. Para os cálculos do IDHM, são consideras as mesmas três dimensões do IDH Global, referentes à longevidade, educação e renda, adequando a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores levados em conta no IDHM são mais adequados para avaliar o desenvolvimento dos municípios e regiões metropolitanas brasileiras. (ATLAS BRASIL, 2013).

16 Este cálculo indica o número de nascidos vivos de residentes por mil habitantes em um ano.

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Gráfico 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal17 (IDHM), Rubiataba, Goiás e Brasil (1991, 2000 e 2010)

Fonte: IMB (2015)

No gráfico 1, temos uma comparação envolvendo uma média anual do IDHM Educação referente ao município de Rubiataba em contrapartida às médias desse índice em Goiás e no Brasil. Temos que em 1991 essa média em Rubiataba era inferior às médias estadual e nacional, porém em 2000 e 2010 as médias em Rubiataba foram superiores, o que indica um bom retrospecto referente ao estado e ao país, mas se enquadrando como IDHM médio (entre 0,600 e 0,699), como pode ser observado na média em 2010 que foi de 0,666.

17 De acordo com o IMB, estes dados são obtidos a partir da composição de dois subindicadores com pesos diferentes: escolaridade da população adulta e fluxo escolar da população jovem. A escolaridade da população adulta foi medida pelo percentual de pessoas com 18 anos ou mais de idade, com ensino fundamental completo e tem peso 1. O fluxo escolar dos jovens foi medido pela média aritmética do percentual de crianças entre cinco e seis anos frequentando a escola, do percentual de jovens entre 15 e 17 anos com ensino fundamental completo e do percentual de jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo e tem peso 2. A média geométrica desses dois componentes resulta no IDHM Educação. Classificação segundo IDH: Muito Alto (acima de 0,800); Alto (de 0,700 a 0,799); Médio (de 0,600 a 0,699) Baixo (de 0,500 a 0,599) Muito Baixo (de 0 a 0,500). 73

De acordo com o IPEA, cerca de 74% dos municípios brasileiros se encontram nas faixas de Médio e Alto Desenvolvimento. O restante, 25%, está entre aqueles que apresentaram Baixo ou Muito Baixo Desenvolvimento Humano. Os municípios com Alto Desenvolvimento Humano estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. As regiões Centro- Oeste e Norte apresentaram um maior número de municípios classificados com Médio Desenvolvimento Humano, e já a região Nordeste, concentrou o maior número de municípios no grupo de Baixo Desenvolvimento Humano. No ranking desenvolvido pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013) envolvendo os 5.565 municípios brasileiros, e que estabelece uma classificação desses municípios de acordo com os índices envolvendo o IDHM, temos que em 2010 no quesito educação, o município de Rubiataba ocupou a 768ª posição e dentre os 246 municípios goianos ocupou a 20ª posição. Esse conjunto de dados aqui mencionados são considerados em razão da capacidade de estabelecerem aspectos importantes na área da educação em Rubiataba, que é um fator a ser considerado em busca de compreensão da configuração socioespacial deste município, pois os dados apresentados e a busca de análise e correlação dos mesmos estabelecem fatores importantes na caracterização social e econômica do município, sendo a educação reflexo destes fatores, indicando o posicionamento do município dentro de um método comparativo em uma escala de análise, seja ela local, regional, nacional ou mundial, o que permite estabelecer um nível de desenvolvimento.

2.4 O sentido socioespacial dos serviços em Rubiataba

A distribuição dos serviços na dinâmica socioespacial está estritamente ligado a forma como se estabelecem o conjunto de relações socioeconômicas exercidas por uma determinada sociedade. Quando referimos aos serviços, estes podem estar ligados ao setor produtivo, como transações bancárias, seguros e comunicação, e podem estar ligados a distribuição de bens, como armazenagem, transportes e bens. Além disso, podem estar ligados a serviços sociais, como o de educação, saúde e lazer, e também serviços pessoais. No Brasil, o setor de serviços do comércio e a venda de produtos representam papel importante na economia brasileira, principalmente na geração de emprego e renda, ajudando na competividade do mercado interno e externo. O setor terciário, por exemplo, na economia brasileira, levando em consideração tudo o que o Brasil produz, corresponde a mais da metade 74 do Produto Interno Bruto (PIB), sendo responsável pela geração da maioria dos empregos formais. (PORTAL BRASIL, 2009). A infraestrutura decorrente do nível de especialização produtiva do município de Rubiataba demonstra como a dinâmica socioespacial está estruturada em seu núcleo urbano. Podemos perceber a existência de hospitais, colégios, faculdade, agências bancárias, além de um comércio varejista diversificado. Os serviços ligados à saúde, educação, comércio varejista, instituições e órgãos públicos, restringem-se aos municípios mais próximos.

Figura 9 - Alcance socioespacial dos serviços e da infraestrutura do núcleo urbano de Rubiataba

De acordo com pesquisa de campo, o comércio varejista conta com aproximadamente 175 estabelecimentos, e de acordo com questionários aplicados neste setor (lojas, supermercados e casas agropecuárias), percebemos que a procedência de consumidores que procuram Rubiataba em busca da infraestrutura ofertada corresponde aos municípios de sua hinterlândia, tais como Nova América, Ipiranga de Goiás, Nova Glória, Carmo do Rio Verde e Vila S ão Patrício. 75

Referindo-se ao setor público pudemos constatar outros que também expressam a (re) funcionalização deste espaço urbano, tais como a SANEAGO, DETRAN, escritório local do IPASGO e Delegacias da Polícia Militar e Civil. É possível perceber também algumas entidades classistas instaladas neste núcleo urbano e que apresentam atuações de grupos sociais na política local. Dentre elas podemos destacar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associação Atlética Banco do Brasil, Associação Comercial de Rubiataba (ACIR), APAE, Loja Maçônica Templários do Bem, Associação dos Pequenos Produtores e consumidores de Rubiataba, que ao todo chegam a 9 associações. As pessoas destes municípios que buscam usualmente Rubiataba, tendem a uma procura mais concentrada ao comércio varejista e também pela disponibilidade de vários órgãos públicos disponíveis e que somam ao fator “distância” como algo favorável a estes deslocamentos rumo a este núcleo urbano. No que se refere aos serviços de educação, Rubiataba tem ampliado sua abrangência na região, pois a procedência dos estudantes chegou a um total de 23 municípios. Porém, com relação de oferta de serviços de educação e saúde, a cidade de Ceres se apresenta como o destino principal de boa parte da população destes municípios próximos a Rubiataba (e que inclui a população de Rubiataba na busca por estes serviços), principalmente pelos serviços de saúde diversificado e especializado disponível, e que de acordo com Castilho (2009), exerce uma função muito clara no que se refere a prestação de serviços desse tipo. Essa predominância também prevalece em Rubiataba, tanto que, o valor do PIB quanto aos serviços, de acordo com o último registro pelo IBGE (2015), superou os valores referentes à indústria e à agropecuária. O PIB na área de serviços em Rubiataba (correspondente ao mês de agosto de 2014) foi de 124.642 reais, seguido pela indústria 86.606 reais e agropecuária 35.722 reais. A dinamização dos serviços fica evidente na arrecadação total do munícipio. De acordo com a última receita disponível pelo IBGE em agosto de 2015, a receita foi de 47.605 reais com despesas de 37.774 reais. É preciso entender que a própria dinâmica socioespacial está constituída pelos próprios sujeitos e depende da maneira como ocorre a gestão neste nú cleo urbano. “Ou seja, a dinâmica socioespacial de uma determinada localidade

76 depende da maneira como os atores sociais atuam nos lugares. ” (CASTILHO, 2009, p. 151).

Gráfico 2 – Produto Interno Bruto do município de Rubiataba, 2014 (Valor Adicionado)

Fonte: IBGE (2015).

As áreas restritas ao comércio e a disponibilidade de bens e serviços em Rubiataba se estabelece na parte central da cidade, sendo respectivamente representada principalmente pelas avenidas Aroeira e Jatobá, que se cruzam e definem a centralidade e o comércio presente na cidade, extrapolando os próprios limites político-administrativos devido influência sobre outros centros urbanos, através da comercialização de produtos e prestação de serviços. A centralidade dessas avenidas em Rubiataba e a maneira como ocorre a articulação de pessoas e mercadorias neste espaço intraurbano, nos ajudam a perceber a diferenciação socioespacial existente, pois na medida em que afastamos deste centro, temos expressada uma fragmentação e diferenciação deste espaço urbano expressado na paisagem, ocorrendo uma segregação quando ao aproximarmos dos setores mais periféricos. As desigualdades sociais também acabam sendo perceptíveis quando observamos as disponibilidades e os tipos de serviços oferecidos, pois ele s 77 propiciam a formação de elites urbanas, ou seja, desempenham papéis de definição de classes sociais em decorrência daqueles que apropriam destes recursos oferecidos, como por exemplo, os donos de estabelecimentos comerciais, sejam eles referentes às farmácias, lojas de roupas e eletrodomésticos, supermercados e escritórios de advocacia, funcionários de bancos e entre outros. A delimitação desta elite entra em contraste com uma população marginalizada e que se encontram mais afastas destas áreas centrais.

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CAPÍTULO III – MORFOLOGIA URBANA, CENTRALIDADE E DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DE RUBIATABA

Neste capítulo serão abordados aspectos envolvendo a morfologia urbana da cidade e sua dinâmica socioeconômica, analisando suas funcionalidades dentro do espaço intraurbano, no qual através de uma minuciosa leitura e da própria pesquisa na cidade (entrevistas, observação, descrição e análise deste espaço urbano), será possível estabelecer características dessa morfologia e a centralidade de Rubiataba, além de estabelecer o conjunto de influências estabelecidos por este munícipio. E também, será dedicado em último momento, uma breve caracterização do espaço e do sujeito, enfatizando aspectos como o cotidiano, o lazer e religiosidade, destinado a compreender algumas particularidades. Dentre o referencial teórico utilizado neste capítulo convém destacar Araújo (2011), Castilho (2009), Ferreira e Deus (2010), que foram de fundamental importância no processo de estruturação desta pesquisa, principalmente porque forneceram elementos importantes para a compreensão da dinâmica socioespacial de Rubiataba e região, e também por representarem o limitado número de trabalhos envolvendo a cidade de Rubiataba como objeto de estudo, ou incluindo-a dentro como elemento de análise. As principais questões que norteiam este capítulo são: de que maneira se configura a dinâmica socioeconômica de Rubiataba e como elas influenciam na estruturação desta morfologia urbana? O que fundamenta a dinâmica socioespacial de Rubiataba com relação a sua centralidade e organização espacial? Levando em consideração algumas particularidades deste espaço urbano, de que maneira a dinâmica cultural e a formação do sujeito ali se constituem?

3.1 Organização espacial e morfologia do espaço intraurbano de Rubiataba

Para compreender o processo de urbanização do espaço urbano e intraurbano de Rubiataba é preciso levar em consideração que o processo não é homogêneo. Ou seja, assim como destaca Corrêa (2007), que ressalta a fragmentação e articulação do espaço urbano, no qual o mesmo se apresenta como resultado de uma urbanização que envolve um contexto tanto no âmbito social, como no político e econômico.

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Os processos espaciais são os responsáveis, de maneira imediata, pela organização espacial complexa das cidades e metrópoles. Para Corrêa (1987) o objeto de estudo da Geografia é a sociedade, dizendo que o longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à forma como o homem transformou a natureza primitiva, na quais essas obras possuem suas marcas determinadas por uma determinada sociedade. “Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade, ou, simplesmente, o espaço geográfico”. (CORRÊA, 1987, p.52). Neste caso, para Corrêa (1987), a organização espacial é um conjunto de objetos criados pelo homem e que são expostos na superfície terrestre, sendo então expressão da produção material humana, devido seu trabalho social, no qual o meio de vida no presente representa a produção, sendo também condição para o futuro (reprodução). “A organização espacial é a própria sociedade espacializada”. (CORRÊA, 1987, p.53). Na busca de uma definição sobre o espaço, Santos (1994, p.111 e 112) diz que o espaço é formado por dois componentes que interagem continuamente, sendo eles: a configuração territorial e a dinâmica social ou o conjunto de relações, que em um dado momento, definem uma sociedade. Ele ressalta que o espaço total é constituído de subespaços, sendo o espaço urbano um destes e somente o único com capacidade de manter relações com os demais subespaços. Então, cabe ressaltar a definição de Santos sobre o espaço:

O espaço seria um conjunto de objetos e de relações que se realizam sobre estes objetos; não entre estes especificamente, mas para as quais eles servem de intermediários. O espaço é resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço, intermediados pelos objetos, naturais e artificiais. (SANTOS, 1994, p.71).

Portanto, o local em que moramos e estabelecemos nossas ações, apenas é possível e se concretizam através do espaço. Pode-se dizer que o estudo sobre a cidade de Rubiataba passa pelo espaço. Porém, cabe neste sentido a seguinte indagação: e o espaço urbano das cidades? Para Carlos (2005), a cidade tem a dimensão do humano que acaba sendo refletido e reproduzido através do movimento da vida e de um tempo específico, que resulta em um processo que constitui o humano. “Pensar a cidade significa refletir sobre o espaço humano.” 80

(CARLOS, 2005, p. 70). A autora propõe analisar o espaço enquanto condição, meio e produto da reprodução da sociedade. Com relação a isso Carlos coloca: Entender o espaço urbano do ponto de vista da reprodução da sociedade significa pensar o homem enquanto ser individual e social no cotidiano, no seu modo de vida, de agir de pensar. Significa pensar o processo de produção do humano num contexto mais amplo, aquele da produção da história de como os homens produziram e produzem as condições materiais de sua existência e do modo como concebem as possibilidades de mudanças. (CARLOS, 2005, p.70). Ao se pensar a cidade na perspectiva da Geografia, leva-se em consideração a sua dimensão espacial (enquanto realidade material), revelando o conjunto de relações sociais que lhe dão forma. A análise espacial, da cidade, revela a indissociabilidade entre espaço e sociedade, isso quanto ao processo de produção, de acordo com as formas como as relações sociais se materializam num território, “[...] o que significa dizer que, ao produzir sua vida, a sociedade produz/reproduz um espaço, enquanto prática sócio-espacial”. (CARLOS, 2004, p. 19). Para Spósito (1994), a cidade é aquela que permanece através de suas formas e contradições, e cada uma delas possuem suas particularidades: “[...] cada uma delas tem a sua história, contém sua própria identidade, marcada por diferenças e semelhanças em relação a outras cidades, existem as pessoas que lá moram; etc.” (SPÓSITO, 1994, p.13). Além disso, Spósito acrescenta:

As cidades possuem diferentes dimensões e paisagens. Elas são centros de decisões e possuem mercados (comércio, indústrias, trabalhadores, etc.) com dinâmica própria. Esses fatores fazem com que cada cidade tenha suas características de crescimento, que podem ser avaliadas de maneiras diferentes. (SPÓSITO, 1994, p.22).

A cidade existe historicamente devido o desenvolvimento da divisão do trabalho, sendo essas expressadas pelas diferentes profissões exercidas durante o processo de apropriação e transformação da natureza, que segundo Spósito (1994), essa divisão do trabalho ocorrerá em dois níveis: o da distribuição de tarefas entre os indivíduos (como já foi citado) e o da distribuição da produção.

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Na análise de Corrêa (1993) o espaço urbano (considerando sobre o viés capitalista), “[...] é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço”. (CORRÊA, 1993, p. 11). Essas ações se realizam através de agentes sociais concretos, ocorrendo de maneira completa que deriva da dinâmica de acumulação de capital, dos processos de mudanças de reprodução das relações de produção, segundo suas necessidades, além dos conflitos de classes emergentes dessas relações. Além disso, Corrêa (1993) acrescenta que a complexidade da ação dos agentes sociais acaba por incluir práticas, “[...] que levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano [...]” (CORRÊA, 1993, p. 11), configurando sua dinâmica. Então, para Corrêa, o espaço urbano constitui-se, em um primeiro momento de sua apreensão, no seguinte:

[...] no conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. Este complexo conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço fragmentado. (CORRÊA, 1993, p.7).

O espaço urbano é composto por diversos pontos interligados, podendo assim pensá-lo em uma ideia de conjunto. Nas configurações do espaço urbano temos manifestadas as diferenças sociais, ou as desigualdades sociais. Nos estudos de Corrêa (1997), mostra-se que o espaço urbano apresenta várias dimensões, no qual o autor apresenta seis momentos conforme avançamos nos estudos. No primeiro momento o espaço aparece como fragmentado, no segundo como articulado, no terceiro como reflexo da condição social. No quarto momento, aparece como um condicionante social, no quinto, como o lugar da reprodução de diferentes grupos sociais. No primeiro, o espaço urbano aparece como fragmentado. Este é responsável pelas diferentes paisagens caracterizado também pelos diferentes usos da terra, sendo originado um rico mosaico urbano constituído por diferentes núcleos: zona central, zona periférica do centro, áreas residenciais distintas (como por exemplo, as favelas e os condomínios), áreas de lazer, áreas industriais e subcentros terciários. O arranjo espacial da fragmentação sofre

82 variações, porém, ela é inevitável. Esta fragmentação está sempre sendo refeita, principalmente por derivar da acumulação, da mutabilidade de reprodução das relações sociais e dos conflitos de classes, sendo estes agentes modeladores do espaço urbano, sempre criando novos padrões de forma e conteúdo. Segundo Corrêa a fragmentação é decorrente da ação de diversos fatores, e ela:

[...] é decorrente da ação dos diversos agentes modeladores que reproduzem e consomem espaço urbano: proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, proprietários fundiários, promotores imobiliários, Estado e grupos sociais excluídos. A ação desses agentes, que obedece a uma lógica que é simultaneamente própria e geral, produz os diferentes fragmentos que compõem o mosaico urbano. (Corrêa, 1997, p.146).

No segundo momento o espaço urbano aparece como articulado. Com a articulação, temos que cada parte fragmentada da cidade, embora suas diferenciações, acabam mantendo relações entre si. O espaço urbano ganha unidade, originando assim um conjunto articulado, no qual o foco desta articulação é o centro da cidade que coordena a gestão das atividades. A articulação ocorre através do deslocamento de consumidores, jornada para o trabalho, interações interindustriais, enfim, entre outros aspectos, por uma enorme mobilidade espacial. Sobre a articulação Corrêa acrescenta:

A articulação manifesta-se empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas. Estão associados às operações de carga e descarga de mercadorias diversas, aos deslocamentos cotidianos entre áreas residenciais e os diversos locais de trabalho, aos deslocamentos para compra no centro da cidade ou nas lojas de bairro, às visitas aos parentes e amigos, e às idas ao cinema, culto religioso, praia e parque, entre ouros. (CORRÊA, 1997, p. 147).

No terceiro momento de apreensão do espaço urbano, aparece como um reflexo da sociedade. A sociedade é espacial devido o espaço estar no sujeito, não havendo separabilidade entre sociedade e espaço. O espaço da cidade capitalista encontra-se fortemente dividido, refletindo a complexa estrutura social de classes, próprias do capitalismo. É necessário lembrar também que o espaço urbano é reflexo de uma sequência de

83 formas espaciais, ou seja, ele é reflexo tanto de ações que se realizam no presente, como também é resultado de ações passadas que interferem nas formas do presente. No quarto momento da apreensão, o espaço urbano aparece como um condicionante social. Da mesma forma que a sociedade produz o espaço, este por sua vez acaba sendo um condicionante da vida social. Esse condicionamento se dá através das obras fixadas pelo homem, influenciam nas suas ações dentro deste espaço, que neste sentido pode-se dizer também, que o espaço aparece como campo simbólico, ou seja, essas formas e construções possuem significados que influenciam nas relações sociais, como por exemplo, praças, supermercados, fábricas, igrejas, entre outros, nos quais determinam ações diferenciadas de acordo com suas significações. Sobre esse condicionamento Corrêa ressalta o seguinte:

O condicionamento se dá através do papel que as obras fixadas pelo homem, as formas espaciais, desempenham na reprodução das condições de produção e das relações de produção. Assim, a existência de estabelecimentos industriais juntos uns dos outros, e realizando entre si vendas de matérias- primas industrialmente fabricadas, constitue-se, pelas vantagens de estarem juntos, em fator que viabiliza a continuidade da produção. O mesmo papel condicionante de reprodução das atividades terciárias se pode dizer do núcleo central da cidade e dos subcentros terciários. (CORRÊA, 1997, p.149).

No quinto momento, o espaço urbano aparece como o lugar em que os diferentes grupos sociais vivem e se reproduzem. Neste, está envolvido tanto o cotidiano, quanto também as crenças, mitos, utopias, valores e conflitos de classes, nas quais podem ser apreciados nas formas espaciais, como uma rua, favelas, lugares de lazer, lugares sagrados, monumentos, etc. As formas espaciais estabelecem relações com o homem, criando laços e desenvolvendo sentimentos, ou seja, o espaço urbano é vivenciado e valorizado de diferentes maneiras pelas pessoas, o espaço urbano é vivenciado e valorizado de diferentes maneiras pelas pessoas, o espaço urbano, como já foi colocado, torna-se um campo simbólico, que tem dimensões e significados segundo as diferenciações de classes, grupos etário, étnico, etc. No sexto momento da apreensão do espaço urbano, este se apresenta como campo de lutas. O espaço da cidade é cenário e objeto de lutas sociais, que visam o direito a cidade, e à cidadania plena. A fragmentação do espaço urbano desemboca conflitos sociais, tais como as greves operárias e os movimentos sociais urbanos, sendo este último, constituído como preferencial nos estudos sobre o espaço urbano enquanto campo de lutas. 84

Através dos estudos de Corrêa sobre o espaço urbano, podemos perceber o quanto a cidade apresenta várias facetas, podendo-se variar o foco de estudo, no qual, temos essas considerações teóricas como resultado da própria realidade e das práticas desenvolvidas pelos geógrafos. Essas considerações sobre o espaço urbano são necessárias e se encaixam dentro da análise na busca de compreender a dinâmica socioespacial da cidade Rubiataba, na qual as abordagens aqui apresentadas sobre essa conceituação fazem parte da verdadeira essência dessa e de outras cidades, sendo esta uma etapa do estudo fundamental para se conseguir chegar à um resultado realmente coerente, principalmente quando essas ideias são ligadas às práticas de campo. O espaço urbano de Rubiataba está organizado de maneira distinta e em áreas específicas, contendo contradições sociais e que são oriundas dos diferentes tipos de usos e funções da cidade ao longo de seu processo de formação histórica, sendo isto apresentado como um modelo de desenvolvimento socioeconômico. Para uma melhor compreensão da fragmentação deste espaço em áreas específicas, recorreremos ao pensamento de Correia (1989), que analisa o desenvolvimento e organização do espaço a partir das formas, funções e processos sociais. Partindo desta forma de análise, torna-se necessário deixar claro que não se pretende aqui estabelecer uma qualificação ou desqualificação de áreas e bairros desta cidade. O que se pretende é caracterizar a desproporção de infraestrutura urbana em determinadas áreas e bairros, estabelecendo assim, um contraste urbanístico da cidade evidenciando suas diferenças socioespaciais e econômicas. Ao observarmos a organização espacial de Rubiataba, principalmente no que tange o uso urbano do solo urbano, apresenta-se uma relação envolvendo centro e periferia, sendo elas um conjunto de aglomerações urbanas dualistas e que são resultadas da concentração de classes existentes neste espaço. Ou seja, há uma retenção maior de renda em determinados bairros e que também resultam em uma melhor infraestrutura, tendo em contrapartida disto, bairros ou áreas com menor infraestrutura, e estas diferenciações acabam configurando a desigualdade na morfologia urbana da cidade. É possível identificar em Rubiataba uma organização e divisão territorial e que configura sua morfologia a partir do comércio, serviços, áreas industriais e também áreas rurais. Temos então, uma divisão territorial, sendo feita a partir da distribuição das atividades neste espaço, gerando a diferenciação do espaço urbano.

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O centro desta cidade passa a ser referido como aquele responsável pela concentração das atividades, como o comércio, serviços, além da concentração dos negócios e da vida econômica da cidade. Por causa dessa maior concentração das atividades no centro urbano de Rubiataba, este por sua vez, acaba induzindo à uma maior concentração populacional nesta área, isto porque permite maior disponibilidade no fornecimento de serviços básicos, como supermercado e farmácias, sem falar da valorização imobiliária nesta área em detrimento de outras áreas na mesma cidade. Em busca de compreender os diferentes usos do espaço intraurbano, o que se tem são funções definidas em uma rede hierarquizada do tecido urbano de Rubiataba, no qual o centro detém a tecnologia e a infraestrutura além da presença financeira em uma maior proporção, desenvolvendo-se uma relação social de dominação social deste centro em relação às outras áreas da cidade. Essa preponderância de apenas um centro como referencial é característico de uma pequena cidade, sendo esta característica diferente das cidades médias, pois estas não dependem apenas de um centro em específico, pois acabam desenvolvendo subcentros com infraestruturas semelhantes desconcentrando um pouco as atividades, tendo assim, mais de uma área como referência. As cidades possuem espaços diferenciados que podem ser claramente percebidos em sua paisagem urbana como, por exemplo, uma área comercial e uma área residencial, em que ambas em geral se situam em partes diferenciadas composta por uma lógica específica que definem suas formas. O autor Amorim Filho (2007), em sua pesquisa sobre “a morfologia das cidades médias”, busca uma classificação dessa diferenciação das formas dentro da cidade revelando suas funções. Esse autor parte de uma classificação do perímetro urbano, para assim determinar as cidades de acordo com suas características podendo assim diferencia-las de acordo com suas formas e funções. Através desse método ele estabelece as configurações das cidades nas seguintes categorias: pequenas cidades, cidades médias, grandes cidades, regiões metropolitanas e megalópoles. Para estabelecer esta configuração ele estabelece uma caracterização a partir de um zoneamento morfológico e funcional dividido em zonas centrais, pericentrais, periféricas e periurbanas, com o qual ele estabelece uma classificação das cidades em uma das categorias mencionadas. De acordo com as características e funções defendidas por Amorim Filho (2007), não se encaixam com a realidade percebida em Rubiataba, isto porque sua configuração intraurbana apresenta um nível mais complexo quando comparado ao que ele determinou

86 como uma pequena cidade, e quando comparada a uma cidade média, Rubiataba apresenta um nível bem menos complexo. O que é preciso ressaltar é que não se pretende nesta pesquisa estabelecer um zoneamento como o estabelecido por Amorim Filho (2007) e sim apenas utilizar as terminologias: centro, pericentro, periferia e área periurbana. Ou seja, serão utilizadas estas terminologias a partir da organização espacial de Rubiataba com a finalidade de caracterizar sua morfologia urbana, buscando especializar a distribuição dos equipamentos neste espaço urbano podendo assim verificar as variações de infraestruturas em diferentes áreas. Os espaços intraurbanos, que podem ser identificados pelo pesquisador, em grande parte possuem características em que suas diferenciações não se individualizam com clareza, confundindo-se umas com as outras em vários momentos. Cada cidade possui uma morfologia própria, na qual suas características de diferenciações intraurbanas se encaixam na classificação, sendo possível a partir disto, classificar os diferentes bairros em Rubiataba, que podem ser analisados na figura 8. Em Rubiataba, cada bairro ou setores (figura 9), possuem características que podem ser percebidas se forem analisadas levando em consideração seus vários aspectos de delimitação, no qual, convenhamos aqui a destacar. O centro dessa cidade, acumula as funções essenciais, exprimindo sua centralidade, e capacidades de comando. As funções comerciais e de serviços são as que definem os papéis desses bairros centrais. Nessa parte da cidade há uma densidade de circulação de pedestres e veículos, com maiores intensidades, no qual este centro em geral é frequentado pela população que reside nos bairros centrais e de outros bairros da cidade, além daquela população advinda de outras áreas do município de Rubiataba e de outros municípios de acordo com a abrangência e influência desta cidade. Os centros reúnem grandes manifestações da vida de relações, as atividades comerciais e os serviços, quanto a sua morfologia os seus elementos de diferenciação são bem perceptíveis, como por exemplo, os imóveis mais elevados e os espaços livres reduzidos.

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Figura 10 - Mapa dos setores/bairros de Rubiataba-GO

Observando a planta da cidade na figura 10, podemos perceber que a estrutura das quadras e bairros seguem um plano quadriculado. A cidade teve seu crescimento partindo dos 88 setores situados ao norte da cidade, nos quais temos os setores serrinha e rubiatabinha como os primeiros a se consolidarem, seguindo seu crescimento em direção ao sul da cidade (figura 11), na qual temos os setores mais novos com destaque para loteamentos que concernem aos setores Bem-te-vi e residencial das palmeiras.

Figura 11 – Crescimento do perímetro urbano de 1950 a 2016

Dentre alguns dos elementos que caracterizam o centro e nos ajudam a perceber essas diferenciações na paisagem urbana desta cidade estão praças, igrejas, estabelecimentos comerciais, postos bancários, colégios, etc., como mostra a figura 12.

Figura 12 - Setor Centro: a) Igreja Catedral; b) Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba (FACER); c) Supermercado popular; d) Banco do Brasil. 89

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

A igreja Catedral, figura 12(a), encontra-se localizada na praça Jeribá, e se situa de maneira bem centralizada na cidade margeando a avenida aroeira, sendo esta Catedral de grande valor histórico e religioso, pois ela tem sua construção ligada ao início do processo de formação da cidade e que mesmo com as reformas que foram feitas até os dias atuais, preservam-se traços originais desde sua criação. A FACER, figura 12(b), também se localiza na parte central sendo a principal instituição de ensino superior da cidade. A localização dessa instituição no centro da cidade tem valorizado ainda mais as áreas de seu entorno, principalmente porque é possível perceber a propagação de estabelecimentos comerciais em decorrência do fluxo de pessoas que buscam esta instituição, sendo estas atividades concentradas no período noturno (período do dia em que ocorrem as aulas). Percebe-se uma maior concentração de bares e lanchonetes com tendência a um aumento no número destes tipos de estabelecimentos e verificam-se investimentos do tipo ao depararmos com construções de novos estabelecimentos.

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Gráfico 3: Número de alunos por cidade na FACER

A FACER (Faculdade de Ciências e Educação de Rubiataba) é a instituição de ensino que mais se destaca em Rubiataba em relação a influência local e regional, e de acordo com pesquisa de campo em outubro de 2016 sobre o número de estudantes matriculados no segundo semestre nesta instituição, tem influência sobre vinte e três cidades (Gráfico 3), somando um total de 702 estudantes, dos quais são provenientes de: , Auriverde, Campos Verdes, Carmo do Rio Verde, Ceres, Crixás, Guaraíta, Ipiranga de Goiás, Itaguaru, Itapaci, , Morro Agudo, Mozarlândia, Nova América, Nova Glória, Pilar de Goiás, , Rianápolis, Santa Terezinha de Goiás, São Luiz do Norte, São Patrício, Uruaçu e . Rubiataba conta com 15 supermercados de pequeno e médio porte, 5 supermercados de grande porte localizados em áreas centrais da cidade e 27 mercearias distribuídas em praticamente todos setores da cidade. O Supermercado Popular, figura 12(c), é o que possui maior área (2 mil m²) estando localizado no centro da cidade. É o principal supermercado no que se refere ao fluxo de consumidores, se comparado aos outros supermercados, e também com uma maior quantidade de trabalhadores empregados, sendo 60 trabalhadores em diversas atividades (isso de acordo com a pesquisa de campo realizada em julho de 2017). O supermercado foi estabelecido em Rubiataba no ano de 1993 com metade da área correspondente atualmente, e teve sua ampliação em 2007. Além da localização como um fator importante na atração de consumidores, isto se deve ao fato de possuir um maior espaço 91 interno e uma maior variedade de produtos, além de compor papelaria, açougue e também uma panificadora. A concentração destas atividades possibilita evitar deslocamentos dos consumidores para outros estabelecimentos em buscas destas atividades, podendo assim, ter a opção de consumo dessas variedades no mesmo estabelecimento. Os consumidores são provenientes de várias cidades da região, porém a maior quantidade dos consumidores que buscam frequentemente o estabelecimento são provenientes da própria cidade de Rubiataba, Ipiranga de Goiás e Nova América. As mercadorias são advindas principalmente das cidades de Anápolis (GO), Goiânia (GO), Uberlândia (MG) e São Paulo (SP). Já o Banco do Brasil, figura 12(d), juntamente com outros bancos concentram-se no centro da cidade. Este encontra-se localizado próximo ao cruzamento das duas principais avenidas e intensificando ainda mais o fluxo de pessoas nesta área da cidade. Além de uma agência do Banco Brasil encontra-se também agencias do Bradesco, Itaú, SICOOB e Caixa Econômica Federal. Esta última também se localiza na parte central da cidade, porém é a única delas que não margeia uma das duas principais avenidas da cidade, sendo recente a construção da agencia nesta cidade, que se encontra localizada no entorno da praça Jeribá (praça em que se localiza a igreja Catedral).

Figura 13 - Zona Central (Avenida Aroeira e Avenida Jatobá)

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

Como pode ser observado na figura 13, em Rubiataba destacam-se as avenidas Aroeira (a) e Jatobá (b), sendo elas o referencial do centro da cidade, concentrando nelas praticamente quase todo o comércio da cidade. O cruzamento dessas duas avenidas expressa uma centralidade que vai além do município, expandindo a outros municípios. 92

Em bairros pericentrais (figura 14), seus limites são traçados com difícil precisão, localizando-se no entorno dos bairros centrais. Ele se constitui como uma zona de transição, pois em muitos pontos mescla-se com a paisagem urbana da zona central, porém, em geral, conta com menor frequência de centros comerciais e a função residencial é a essencial. Alguns dos elementos que podem ser destacados nestes bairros são os barzinhos, pequenos mercados, concentração de residências, etc.

Figura 14 - Zona Pericentral (Avenida Saranhão e Avenida Tarumã)

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

Nas áreas periféricas da cidade (figura 15), são retirados alguns valores de centralidade, tais como os terrenos com menores valores. As áreas periféricas em Rubiataba encontram-se mais afastadas do centro, cuja função principal é a residencial, embora seja possível constatar funções comerciais e de serviços. O desenvolvimento dessas áreas periféricas está englobado no seio do crescimento e expansão urbana de Rubiataba (que se concretiza de maneira lenta).

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Figura 15 - Zona Periférica (setor Serrinha)

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

Algo importante ao se observar as áreas periféricas de Rubiataba, (em especial o setor Serrinha), reporta-se ao fato de se perceber uma infraestrutura e uma morfologia bem diferenciada e que entra em contraste com as demais áreas da cidade. Destaca-se ali, não em um âmbito geral, uma população “marginalizada” no sentido em que se refere à procedência da informação, na qual a paisagem urbana ali presente parece ser moldada por uma estagnação, dando-se a sensação de que o tempo ali expressado não se desenvolve, seja no sentido econômico ou no sentido social. Possivelmente as razões dessa contrastante divergência se devem a fatores tanto de influência externa definidas pelos ditames do sistema econômico capitalista mundial atual, que deixam “sequelas” nas cidades em diversos níveis de hierarquia urbana, como também influências locais (principalmente na esfera socioeconômica e política). Nas áreas periurbanas (figura 16), encontram-se paisagens caracterizadas pela justaposição de elementos da paisagem rural e elementos de urbanização. Em Rubiataba essas

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áreas se encontram nas proximidades com bairros periféricos e que em alguns pontos acabam sendo mesclados. Dentre os elementos que podem ser percebidos na paisagem urbana destas áreas em Rubiataba, estão os loteamentos, próximos das zonas de espaço para a expansão urbana, as hortas comunitárias, além de algumas chácaras, que dividem suas limítrofes com a extensão da malha urbana da cidade. O uso do termo periurbano é utilizado aqui para destacar os bairros da cidade em que se destacam atividades rurais em plena cidade, tais como a criação de animais e a plantação de árvores frutíferas e hortaliças no fundo dos quintais ou em terrenos baldios, além de hortas comunitárias.

Figura 16 - Zona Periurbana

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

Podemos observar na figura 16, que a referente casa se encontra em uma área isolada e distante de outras residências, muito semelhante a uma residência numa zona rural, porém ela está localizada dentro da área do perímetro urbano, no espaço de transição que liga os setores morada do ipê e vila santa fé ao setor central. As cidades se distribuem em diversos níveis hierárquicos (pequenas cidades, cidades pequenas, cidades médias, grandes cidades, metrópoles e megalópoles), que se refletem na organização dos respectivos espaços e que para cada um desses níveis há um zoneamento morfológico-funcional intraurbano correspondente. Essas classificações propostas por Amorim Filho (2007) tratam-se das dimensões formais do espaço, o que se remete pensar também a categoria paisagem, nas quais ambas as categorias precedem o território, sendo possível através delas, perceber as diferenciações existentes na morfologia urbana de

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Rubiataba. “Já o zoneamento morfológico é uma classificação a partir desta diferenciação, que, por sua vez, é fundamentada pelo território” (CASTILHO, 2007, p.62).

3.2 – Centralidade, funcionalidade e dinâmica socioeconômica do município

Geograficamente, a cidade de Rubiataba localiza-se a 15º 09’ 50” de latitude Sul, 49º 48’ 10” de longitude Oeste. A cidade situa-se há 220 km da capital Goiânia seguindo da GO- 434, BR-153 e GO-080. A posição de Rubiataba, que é determinada pela sua localização, descreve a função do município caracterizando sua configuração espacial, variando de acordo com os fluxos (estradas, rodovias). “Na contemporaneidade, o mercado tem sido fator determinante nesta configuração. E ainda, relevante nesse processo, é a formação espacial de cada localidade. ” (CASTILHO, 2007, p. 66). O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nas definições sobre o estudo das “Regiões de influência das cidades, 200718”, foram estabelecidas classificações da hierarquia dos centros urbanos e da configuração da rede urbana brasileira. As cidades foram divididas em cinco grandes níveis (metrópoles, capital regional, centro sub-regional, centro de zona e centro local) subdivididos em dois ou três subníveis. A cidade de Rubiataba está inserida no quarto nível, denominado Centro de zona, formado por 556 cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata, exercendo funções de gestão imediata. Dentro deste nível, Rubiataba se integra no subnível Centro de zona B, que compõe 364 cidades com medianas de 23 mil habitantes e 16 relacionamentos. A maior parte (235), não havia sido classificada como centro de gestão territorial, e outras 107 estavam no último nível daquela classificação. Esse enquadramento da cidade de Rubiataba como uma cidade Centro de zona B, deve- se a apresentação de características e funções mais complexas que aquelas apresentadas por cidades pequenas dentro da classificação apresentada por Amorim Filho (2005), porém também acaba tendo características e funções menos complexas do que aquelas classificadas como cidades médias.

18 Na classificação, privilegiou-se a função de gestão do território, avaliando níveis de centralidade do Poder Executivo e do Judiciário no nível federal, e de centralidade empresarial, bem como a presença de diferentes equipamentos e serviços. O levantamento das ligações entre as cidades permitiu delinear suas áreas de influência e esclarecer a articulação das redes no território. As áreas de influência dos centros foram delineadas a partir da intensidade das ligações entre as cidades, com base em dados secundários e dados obtidos por questionário específico da pesquisa (Anexo), que foram combinados para definir as regiões de influência dos centros urbanos, tendo sido identificadas 12 redes de primeiro nível (IBGE, 2008, p. 11). 96

Dialogando com Serra (1987), as formas urbanas e as atividades que foram concebidas na cidade se agrupam em determinadas funções. Elas se concebem como categorias, sendo essas, a produção, consumo, troca e gestão. Temos as fábricas e os centros comerciais, como adaptações do espaço destinadas à produção, gerando locais de consumo. Mais especificamente, às indústrias são destinadas funções de produção, nas quais as atividades comerciais são destinadas como funções de troca, no qual essa função engloba alguns dos aspectos marcantes constatados na forma urbana. “De fato, destinam-se a essa função todo o sistema viário, as redes de infraestrutura, os centros comerciais e bancários etc...” (SERRA, 1987, p. 105). “O estudo das formas é sem dúvida estudo do espaço urbano, mas não é específico do espaço urbano. Muito pelo contrário, as formas são atributo de todo espaço (árvores, cadeiras, canetas). ” (VILLAÇA, 2001, p. 24). Os fenômenos urbanos com suas peculiaridades históricas são aspectos sociais, nos quais, as pessoas com suas aglomerações constroem adaptações no espaço como instrumentos fixos destinados a atender suas necessidades através do trabalho de cooperações. As formas de Rubiataba são resultado de como os atores sociais ali presentes produzem e reproduzem este espaço. Ao se analisar as características do espaço urbano da cidade de Rubiataba, percebem-se grandes variedades de formas, que vão além da percepção, e para entendê-las é preciso compreender que elas representam e são resultados da funcionalidade à qual está situada a lógica de organização espacial. O Centro aparece como dinamizador da economia local, no qual os demais bairros da cidade são dependentes desses serviços centrais. Ele apresenta-se como área do poder municipal, concentrando também a dinâmica do comércio, sendo local de residências de famílias com melhor poder aquisitivo (figura 17) e famílias tradicionais19, além de ser também a área da cidade em que se concentra melhores opções de lazer.

19 Há maior concentração de famílias tradicionais e com maior poder aquisitivo no cerne da cidade, porém é preciso ressaltar que, esse fator não se limita apenas ao centro, ocorrendo certa variação dessas famílias em muitas outras áreas da cidade. 97

Figura 17 - Residências de famílias com melhor poder aquisitivo

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

A estrutura interna de uma cidade é composta por partes que possuem elementos constituintes e que se organizam de determinada forma, existindo uma inter-relação entre estes elementos. Analisar o espaço intraurbano mostra-se de que forma uma cidade encontra- se organizada, tendo como condição fundamental o deslocamento do ser humano, como apontado por Villaça:

O espaço intraurbano [...], é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamentos do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no deslocamento casa/trabalho –, seja enquanto consumidor – reprodução da força de trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc. (VILLAÇA, 2001, p. 20).

Cada espaço exerce uma função urbana, podendo-se dizer também que o espaço das cidades é marcado por antagonismos, como por exemplo, os espaços privado e público, o tradicional e o moderno, centro e periferia (cabe ressaltar que essas diferenciações estão expressas na forma urbana de Rubiataba, porém, não podemos se limitar à análise dualista, devido essa gerar contradições quanto ao resultado sobre o objeto de estudo investigado e que não condiz à realidade estabelecida). Em Rubiataba, com relação a essas diferentes funções, temos o centro se destacando com maior fluxo de produtos e serviços, tais como a concentração de atividades comerciais, áreas residenciais com formas marcadas de acordo com o conteúdo social inserido nelas, além das áreas destinadas ao lazer e entre outras características, sendo inseridos neste contexto, valores simbólicos e materiais. 98

A funcionalidade de Rubiataba não se limita apenas a esse município, no qual esse centro econômico da cidade acaba tendo influências econômicas sobre outros municípios, principalmente os mais próximos, que são formados por cidades locais. Em termos econômicos, Rubiataba exerce influências em cidades como Nova América, Ipiranga de Goiás e Nova Glória, oferecendo uma estrutura de serviços e produtos variados e diversificados, que devido à proximidade e o fácil acesso, essas pequenas cidades acabam utilizando essa infraestrutura, mesmo que não seja em todos os setores da economia local, o que amplia a escala de abrangência do mercado consumidor de Rubiataba. Nessa região, tanto Rubiataba como Ceres, aparecem como centro dessas cidades, fazendo com que essa proximidade impeça essas pequenas cidades de desenvolverem suas próprias infraestruturas de serviços e produtos diversificados, tornando-as marginalizadas por este tipo de economia. “A centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de importância a partir de suas funções centrais. ” (CORRÊA, 1989, p. 21). Com o capitalismo há uma acentuação das diferenças entre as cidades, podendo-se verificar uma maior inserção de umas com relação a outras, e esse sistema econômico apresenta-se espacialmente nessas cidades de maneira desigual, sendo a partir daí que se inclui a hierarquia urbana. Com relação à ideia de centralidade, Christaller apud Corrêa ressalta o seguinte:

[...] existem princípios gerais que regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: grandes, médias e pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semirreais, todos são considerados como localidades centrais. Todas são dotadas de funções centrais, isto é, atividades de distribuição de bens e serviços para uma população externa, residente na região complementar (hinterlândia, área de mercado, região de influência), em relação à qual a localidade central tem uma posição central. (CORRÊA, 1989, p. 21).

Buscando apoiar nessa afirmação de Corrêa (1989), com intuito de compreender como são dotadas as funções centrais no município de Rubiataba, tais como atividades de distribuição de bens e serviços que alcançam uma população externa de uma região complementar, foi realizada uma pesquisa de campo em outubro de 2016 e junho de 2017. Através dela foi possível notar quais são as áreas de maior influência de Rubiataba e de geração de empregos e estão interligados no espaço intraurbano da cidade. Dentre as atividades encontradas no munícipio, podemos mencionar como principais e fundamentais

99 aquelas relacionadas ao comércio varejista, indústria moveleira, casa agropecuária, usina sucroalcooleira e instituições de ensino.

3.2.1 Comércio varejista e casas agropecuárias

Em Rubiataba, com relação ao comércio varejista, pudemos perceber quantidades variadas e de diversos tipos lojas, nas quais podemos destacar os seguintes números: 15 lojas de materiais de construção, 6 lojas com vendas de aparelhos celulares, 2 lojas de artigos religiosos, 55 lojas relacionadas à venda de brinquedos, calçados, confecções e similares com depósito e 16 sem depósitos, 2 lojas de aparelhos elétricos, móveis e eletrodomésticos, 4 lojas com venda de pneus. Podemos citar como exemplo a loja Centro (figura 18) que é uma das lojas mais importantes e influentes da cidade de Rubiataba e pertence ao mesmo empresário da indústria de móveis Estafados Solar.

Figura 18 - Lojas Centro

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017. Esta loja tem como principais consumidores aqueles advindos das cidades de Ipiranga, Nova América, Nova Glória, São Patrício, Morro Agudo e Itapaci. Além de ser uma das lojas de referência de Rubiataba, também possui filiais nas cidades de Uruana, Itapuranga, Nerópolis, Santa Terezinha, Crixás e Jaraguá. A matéria prima para confecção dos móveis e os fornecedores dos produtos vem diretamente dos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná.

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As casas rurais (agropecuária) são outra parte do comércio a ser mencionada, pois há uma certa busca por produtos agropecuários e que atende uma parcela da população rural do próprio município e de municípios mais próximos (de acordo com o último censo demográfico sobre a população rural registrada no município IBGE (2010), o número era 2731 habitantes). A cidade conta com 8 lojas de produtos veterinários, 2 casas agropecuárias além de 7 armazéns com depósitos graneleiros. Os produtos mais buscados pelos consumidores são rações e medicamentos. Os principais consumidores são aqueles advindos das cidades de Nova Glória, Nova América, Ipiranga de Goiás, Carmo do Rio Verde e Itapaci. A atividade sucroalcooleira interfere na atividade agropecuária na região por se tratar de uma monocultura. Esse fato diminui a diversidade de atividades e dessa forma interfere no fluxo de compra de produtos agropecuários, sendo este um fator que leva à diminuição da atividade agropecuária na região. Em relação a estes estabelecimentos, podemos destacar a Cooper Agro (Cooperativa Agroindustrial de Rubiataba), que dinamiza o comércio de produtos agrícolas em Rubiataba e região. A empresa atua em Rubiataba desde 1971 e possui uma loja agropecuária em Rubiataba com uma filial em Itapaci, destinadas à venda dos produtos e possui também uma fábrica e um depósito em Rubiataba destinada à produção de rações. A empresa possui 62 trabalhadores empregados em diversas atividades e dentre os produtos comercializados estão aqueles relacionados a equipamentos de uso rural, além de rações, fertilizantes, implementos e insumos agrícolas, além de medicamentos veterinários. Os principais cooperados e consumidores são advindos de Rubiataba, Crixás, Itapaci, Ipiranga, Nova América, Morro Agudo, Carmo do Rio Verde, mas também há procura de cidades como Itapuranga, Ceres, Vila São Patrício e Nova Crixás, porém com uma procura menor. Uma das principais atividades da Cooper Agro é coleta do leite na zona rural do município, sendo responsável pela articulação e negociação do produto com produtor rural, sendo toda coleta repassado para laticínios em Goiânia, sendo essa cooperativa mediadora no processo de compra e venda do produto. A pecuária é também uma atividade predominante no município e de acordo com dados do IBGE (2015) a quantidade de rebanhos bovinos efetivos em 2015 chegou a 98.000 cabeças, com 17.000 vacas ordenhadas, sendo registrada uma produção de leite com 23.000 litros neste mesmo ano. A Cooper Agro ajuda no processo de fortalecimento dos pequenos e médios produtores, pois a articulação estabelecida no município favorece o atendimento de necessidades econômicas dos cooperados que acabam desenvolvendo essa atividade no

101 município e enriquecendo a economia local. A empresa é filiada da CENTROLEITE20, e isso tem favorecido aos produtores que passam a não depender de muitas indústrias que acabam impondo seus preços, ou seja, os laticínios do munícipio apenas efetivam o pagamento de seus fornecedores a partir do momento em que a Cooper Agro realiza o pagamento de todos associados.

3.2.2 A indústria moveleira

No que se refere ao setor industrial em Rubiataba, destacam-se aquelas relacionadas à produção de móveis e estofados, confecções e indústria sucroalcooleira de produção de álcool e açúcar. De acordo com pesquisa de campo em junho de 2017, que enquadram indústrias de pequeno, médio e grande porte, tivemos registrados na coletoria municipal, um total de 87 estabelecimentos industriais de qualquer natureza que inclui vários tipos como móveis e estofados, confecções de roupas, usina sucroalcooleira, tapeçarias, fabricação de gesso e mangueiras, persianas, produção de queijo, matadouros, rações para animais, máquinas de beneficiar arroz e fabricação de vassouras. Um setor industrial que tem chamado atenção em Rubiataba é o de móveis e estofados. A atividade moveleira neste município emergiu com muita força principalmente no início da década de 1990, e que em recorrência disto, levou a cidade a ser conhecida na região como “polo moveleiro do Vale do São Patrício”. Esta atividade inseriu a região como uma das áreas de maior concentração deste tipo de atividade no estado de Goiás. É possível essa valorização como polo moveleiro principalmente ao se aproximar da cidade pelas principais rodovias de acesso, com placas indicando essa referência (figura 19).

20 É a Cooperativa Central de Laticínios de Goiás, uma empresa de serviços de intermediação comercial na venda do leite in natura, e que representa no âmbito nacional 16 cooperativas afiliadas ativas, com mais de 3.500 produtores, canalizando a produção leiteira e colocando no mercado consumidor o leite e seus derivados. 102

Figura 19 - Placa indicando Rubiataba como polo moveleiro no percurso da GO-434

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

“Os principais polos moveleiros do estado de Goiás estão localizados nos municípios de Goiânia, em que estão localizadas 34% das indústrias, Aparecida de Goiânia que concentra 13%, Anápolis que possui 8% e Rubiataba com 5% das indústrias do Estado. ” (TAQUARY, 2010, p. 79). De acordo com Moraes, Reis e Ferreira (2015), foram estimadas uma quantidade de 3.144 empresas fabricantes de móveis em Goiás em 2015, com ocorrência em 69,5% dos 246 municípios goianos. Neste caso, 87,2% total destas empresas correspondem às micros e pequenas dispersas por todo o estado. Com relação ao número de empresas fabricantes de móveis por porte no estado de Goiás em 2015, Rubiataba conta com 90 empresas de micro e pequeno porte com apenas uma de médio porte (referente aos Estafados Solar), tendo 26 empresas não classificadas, gerando um total de 117 empresas moveleiras em Rubiataba. (MORAES, REIS e FERREIRA, 2015, p. 31). É difícil estabelecer um panorama dessa atividade moveleira no município de Rubiataba devido à falta de referências, dados e informações concisas. Porém, fica claro que a atividade ainda representa papel importante nesse município tanto na fixação de capital na cidade como na geração de empregos. Na empresa Móveis Lugui, localizada em Rubiataba, voltada para a fabricação de móveis em geral, trabalha indiretamente com 12 marcenarias, tendo como principais compradores aqueles advindos de: Brasília, Pará e Goiás (Goiânia); são 26 pessoas empregadas na atividade e a média salarial é de um salário e meio. Aponta como um dos 103 fatores importantes para a diminuição da indústria de móveis os reflexos da má administração, que depois desse setor ter o seu auge no início da década de 1990, acabou despencando no final dessa década. O local em que se encontra o parque de exposições agropecuárias da cidade foi inicialmente destinado a ser um polo industrial moveleiro, que não seguiu em frente devido à queda neste setor. No Estofados Solar (principal indústria moveleira de Rubiataba), voltado apenas para a fabricação de estofados. Os principais destinos das mercadorias são: Goiás (quase todo território), Pará, Tocantins, Bahia, Mato Grosso, Brasília, Maranhão. Tem como principais compradores dentro do município: Lojas Centro, Móveis São Vicente e Eletromóveis. Já as principais empresas de outras localidades que compram as mercadorias se destacam: a Novo Lar (Tocantins), Armazém Matheus (Maranhão) e Estar Móveis (Brasília). As pessoas empregadas na atividade compõem trabalhadores: 180 diretos e mais de 40 representantes (indiretos), chegando à aproximadamente 1.000 clientes (lojistas) em dez estados. A média salarial dos trabalhadores empregados na atividade variam entre um a três salários mínimos. Trabalham com pequenos clientes, pois privam mais pela qualidade e dessa forma os pequenos clientes se interessam mais e pagam mais; 90 % do transporte são próprios, 10 % é terceirizado. A empresa se estabeleceu e desenvolveu em Rubiataba a partir de 1987 e esteve presente durante o período de grande desenvolvimento da atividade moveleira no município. A empresa não sofreu com a decadência desse setor industrial no final da década de 1990 pois acompanhou as exigências do mercado, mas apontam que houve sim um retrocesso de maneira geral de outras empresas do mesmo setor nesse período. Apontam como justificativa de decadência dessa atividade: empolgação e falta de organização. A empresa encontra-se localizada na avenida dos Eucaliptos, no setor serrinha como pode ser observado na figura 20. Mesmo por se tratar de indústrias de pequeno e médio portes, o alcance espacial da atividade moveleira é de nível nacional. Todo processo de fabricação dos móveis está concentrado na cidade de Rubiataba (sede do estabelecimento) e apenas o comércio local não consegue estabelecer um consumo suficiente para suprir um nível de produção desse porte, o que justifica a comercialização dos produtos para outras localidades. A média de peças produzidas pela empresa chega a 7.000 mensais, um número relevante e superior a possibilidade de consumo apenas local.

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Figura 20 – Indústria de móveis Estofados Solar

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

Embora a atividade moveleira continue sendo uma atividade que se destaque no município, é preciso ressaltar que essa atividade sofreu uma decadência no final da década de 1990. Isto foi constatado na pesquisa de campo, a partir do questionário apresentado na principal empresa de móveis da cidade aqui mencionada, e os mesmos presenciaram o processo desde o crescimento da atividade no município. Buscando justificativas que pudessem explicar essa decadência, foram apontadas por um dos representantes da empresa Estofados Solar, como principais causas: a falta de investimentos na modernização dos equipamentos, em que os pequenos empresários não conseguiram competir com os grandes empresários que puderam investir nessas mudanças e evoluções do setor; e a falta de organização e cooperação dos envolvidos na atividade. Com a modernização no setor moveleiro no final da década de 1990 e novas exigências impostas pelo mercado consumidor gerando novas tendências de mercado, muitas empresas não se especializaram e não aderiram à essas mudanças, o que diminuiu a procura pelos produtos, desacelerando o crescimento da atividade no município. Um exemplo dessas mudanças relacionadas às novas tendências do mercado consumidor, são aquelas relacionadas ao crescimento da produção e comercialização de móveis planejados. Este tipo de móveis, embora não tenham a mesma resistência e durabilidade daqueles de maneira artesanal, apresentando características específicas que têm atraído os consumidores, tais como a

105 facilidade no processo de montagem, custos bem inferiores aos móveis tradicionais, além de possuírem melhores acabamentos. Os materiais utilizados na fabricação dos móveis planejados passaram a substituir a tradicional madeira maciça por outras matérias como: o MDP (a sigla vem do inglês Medium Density Particleboard, e que significa partículas de média densidade), feito a partir de partículas de madeira; o MDF (a sigla vem do inglês Medium Density Fiberboard, que significa fibra de madeira de média densidade), feito de fibras de madeira; e os aglomerados, feitos de resíduos de madeiras, sendo este o material menos resistente. De acordo com Taquary (2010), a indústria moveleira no estado de Goiás aponta alguns pontos fracos, mas que acrescenta terem sido buscadas melhorias para permitir um melhor desenvolvimento da atividade no estado. Dentre os principais pontos fracos estão “[...] a informalidade, a falta de pesquisa em inovação, a falta de mão-de-obra especializada, os desperdícios, falta de lugar para destinação dos resíduos e a dependência de alguns insumos que provém de outros estados. ” (TAQUARY, 2010, p. 64). O que podemos obter como resultado do que foi apresentado sobre a indústria moveleira e a sua participação na dinâmica socioespacial no município, são suas influências na oferta de emprego, sendo a segunda maior indústria no município, ficando atrás apenas da indústria sucroalcooleira nesse quesito, contribuindo para a fixação de capital local, afinal, toda oferta de mão-de-obra é proveniente da cidade. E pelo fato de a indústria moveleira ser reconhecida na região por sua qualidade de produção, a cidade torna-se um atrativo para consumidores de outras cidades, principalmente porque os produtos acabam por ter preços mais acessíveis, podendo ser adquiridos diretamente das lojas representantes da própria indústria, o que evita elevar os custos dos móveis por não se tratar de um processo de revenda.

3.2.3 A indústria sucroalcooleira

A Cooper Rubi (usina sucroalcooleira de Rubiataba), que pode ser constatada na figura 21, é a indústria que tem a maior influência em Rubiataba principalmente na geração de empregos, articulando a economia local e a dinâmica socioespacial. Ela influencia na articulação e nas relações sociais exercidas nesta cidade, determinando certa particularidade no espaço e no sujeito, tais como, a estipulação do horário de trabalho em atrito com o tempo

106 voltado para o lazer, o poder aquisitivo restrito à capacidade de compra limitada ao valor salarial, sendo isto refletido no espaço urbano da cidade, entre outros.

Figura 21 - Usina Sucroalcooleira de Rubiataba (Cooper-Rubi)

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

A atividade sucroalcooleira em Rubiataba iniciou seu processo de produção a partir de 1986, com a implantação da cooperativa agroindustrial Cooper Rubi e que estimulada pelo Programa Nacional do Álcool (Proálcool)21. Esta atividade sucroalcooleira passou por algumas instabilidades durante seu processo de desenvolvimento, principalmente relacionadas às crises que afetaram o projeto do Proálcool. A intensificação da atividade no município teve início na década de 2000, principalmente em recorrência do grupo Japungu22 que adquiriram 80% das ações da Cooper Rubi. O crescimento da produção e consequentemente desenvolvimento dessa atividade passou a ser expressivo em Rubiataba e região, tornando-se uma das principais atividades. Porém, esse crescimento gerou mudanças na área produtiva ligada às atividades do campo e que são relacionadas a outros tipos de produção. Para melhor exemplificar, vale ressaltar a análise feita por Araújo (2011), afirmando que a produção de alimentos no município foi

21 Este, foi um programa muito bem-sucedido, criado em 1975 com o objetivo de diminuir a dependência do uso de derivados do petróleo, estimulando a produção do álcool, destinando às necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos. Sendo a produção canavieira, considerada uma produção de pouco custo no Brasil, tornou-se o etanol uma boa alternativa de lucros no mercado externo. (LIMA e BARROS, 2016, p. 5). 22 Este grupo tem origem no estado da Paraíba sendo composta por quatro usinas: JAPUNGU (Santa Rita, PA), AGROVAL (Santa Rita, PA), COOPER RUBI (Rubiataba, GO), CRV INDUSTRIAL (Carmo do Rio Verde, GO). 107 comprometida pela chamada “inversão da produção”, que se refere à inversão da predominância de uma cultura de produção por outra, em decorrência de interesses particulares. De acordo com Araújo (2011), essa inversão de produção no município de Rubiataba ocorreu justamente durante o período de crescimento da atividade sucroalcooleira. Para relatar isto, ele analisou essa questão através de dados do IBGE, realizando um comparativo do nível de crescimento das áreas plantadas com as principais culturas, entre o período de 1990 e 2010. Foi constatado que, até a década de 1990, o milho era a principal cultura produzida no município, representando 45,99% de toda produção, sendo seguida pelo arroz 12,53% e logo após a cana-de-açúcar com 11,4%. Ao analisar esses números no ano de 2010, foi constatada a inversão de produção, pois o milho e o arroz juntos passaram a representar apenas 9,63% da área plantada enquanto a produção de cana-de-açúcar passou a representar 90,24%. Essa usina sucroalcooleira (localizada em: 15º 10’ 30” S e 49º 45’ 25” O) tem como principal destino da produção: consumo interno, o principal destino é o Nordeste (Paraíba). Com intuito de visar uma melhor organização da empresa principalmente na parte administrativa, a mesma passou a se dividir em duas organizações: Cooper Rubi e Agro Rubi. A localização desta usina se encontra ao lado da GO-434 há 5 km da cidade de Rubiataba. De acordo com Ferreira e Deus (2010), apontam que este respectivo entroncamento com a rodovia, “...funciona como a principal forma não só de escoamento e circulação de produção e mercadorias, mas também de informação e pessoas (instituições, investimentos, etc.), de outros Estados do Brasil para a microrregião, e vice-versa. ” FERREIRA e DEUS, 2010, p. 44). As pessoas empregadas na atividade estão distribuídas no seguinte: Cooper Rubi: indústria, 306 trabalhadores; 688 no transporte (safra) e 569 no transporte entressafra; 989 no corte de cana na safra e 770 entre safra (novembro/abril). Agro Rubi: são empregadas 1.687 na safra, 1.399 na entressafra. A mão-de-obra é advinda e composta principalmente de: Rubiataba, Ipiranga, Nova Glória e Itapaci. A média salarial: corte 1.150,00 reais/ transporte 1.400,00 a 1.500,00 reais. O corte já é mecanizado, ocorrendo uma expansão da usina para a fabricação de açúcar. A usina está ligada às usinas na Paraíba (desde 1986), começou com o álcool, saindo pronto para o consumo. A usina é autossuficiente produzindo e gerando a própria eletricidade. Com relação ao potencial de produção de álcool pela Cooper Rubi vale enfatizar o gráfico seguinte.

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Gráfico 4 - Produção total de álcool na Cooper Rubi (Safras de 1986 a 2007)

Fonte: Ferreira e Deus (2010, p. 86)/ Adaptado por: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

Como podemos observar, a produção de álcool obteve um crescimento em grande parte nos períodos de safras entre o ano de 1986 a 2007, com destaque desse aumento a partir do ano de 2000. Este empreendimento apresentou a segunda maior produção de álcool na microrregião de Ceres na safra de 2006/07, com 74.752 litros, como enfatizaram Ferreira e Deus (2010). A indústria tem buscado um modo de produção com ênfase na redução de custos, podendo citar como exemplo, a queima de bagaço de cana para a produção da própria energia, reaproveitamento da água e a inserção de corte mecanizado. A influência da atividade canavieira no município de Rubiataba e nos municípios vizinhos é algo bem visível, com a predominância da atividade. A percepção dessa influência pode ser observada na própria paisagem rural e nas proximidades com a paisagem urbana dos municípios, como observado na figura seguinte. Saindo da BR-153, entrando na GO-434 (que é a principal rodovia de acesso entre Rubiataba e a BR-153), percebemos que prevalece na paisagem vastas plantações de cana-de- açúcar, nas quais, passam a se intensificar cada vez mais após a proximidade com o município de Nova Glória. Mas percebe-se que as plantações se expressam na paisagem com maior intensidade a partir do município de Ipiranga de Goiás (localizado há 16,2 km de Rubiataba), nas quais essas plantações, marcadas pelo odor exalado das vinhaças, acompanham e passam a margear todo o trajeto da GO-434 até a chegada no município de Rubiataba, e que não

109 param por aí, pois as plantações de cana continuam margeando esta rodovia até o município de Nova América como pode ser constatado na figura 22.

Figura 22 - Plantações de cana-de-açúcar ao longo da rodovia GO-434

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017.

Os arrendamentos de terras extrapolam também outros municípios mais próximos e que também podem ser percebidos na paisagem ao longo do percurso de acesso a esses munícipios, como por exemplo Rialma, Ceres, Santa Isabel, São Patrício e Carmo do Rio Verde, sendo esta última cidade mencionada, sediada por outra indústria sucroalcooleira e que também pertence ao grupo Japungu. Ainda buscando ressaltar a relação e influências dessa atividade industrial no município de Rubiataba, vale mencionar que “...existe uma super-dependência da cidade com a indústria do etanol que emprega boa parte da população e que, de uma forma ou de outra, participa da circulação interna de capital por meio de salários pagos. ” (ARAÚJO, 2011, p. 32). Com isso, percebe-se que essa indústria tem participação direta no processo de divisão territorial do trabalho no município, sendo parte da população beneficiada na participação deste processo de produção, através da oferta de empregos e das remunerações recebidas pelo trabalho. Porém, quem mais se beneficia com essa atividade é a própria indústria, que amplia cada vez mais sua produção, obtendo um crescimento econômico usufruindo das potencialidades das plantações na região e também da oferta de mão-de-obra que mantém todo o sistema na ativa.

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A indústria sucroalcooleira com sua intensiva produção agroindustrial na microrregião de Ceres tem exigido readaptações dos espaços urbanos próximos a esses espaços agrícolas, procurando atender as demandas. Isso foi enfatizado por Elias (2012) ao apontar que a difusão do agronegócio determina a expansão quantitativa e qualitativa tanto do comércio, como dos serviços, ocorrendo uma reorganização da produção material e consequente ampliação. Neste sentido, esses espaços urbanos, em decorrência das atividades agroindustriais passam a “... fornecerem parte dos aportes técnicos, financeiros, jurídicos, de mão-de-obra e de todos os demais produtos e serviços necessários à sua realização. ” (ELIAS, 2012, p. 7). O que Elias (2012) ressalta é que os espaços urbanos se tornam parte fundamental nas relações envolvendo o agronegócio, havendo uma reprodução do capital, que por sua vez se materializa nestes espaços urbanos, sejam eles no âmbito demográfico, econômico ou espacial. Ocorre uma tendência de especialização dos produtos e serviços neste espaço urbano em virtude dessas atividades agroindustriais. No que concerne a cidade de Rubiataba é possível perceber a ocorrência desse processo, pois são encontradas casas de comércio voltadas à implementos agrícolas, ligadas à atividade canavieira e também atividades administrativas ligadas à empresa. Outra atividade especializada e que está estritamente ligada em assistência de máquinas agrícolas e de serviços automotivos, seja na parte elétrica ou mecânica, sendo comum o serviço terceirizado nessa área. Nesse campo a especialização não apenas afeta a demanda de serviços no espaço urbano como também afeta no processo de capacitação profissional, sendo possível constatar a disponibilidade de cursos técnicos voltados para a atividade agroindustrial. O que temos em Rubiataba é um espaço urbano reformulado de acordo com as necessidades de produção advindas dessa atividade agroindustrial estabelecida no município, e muitas dessas atividades especializadas passam a se intensificar a partir da década de 1980, com a implantação da indústria na zona rural do município. Com relação à imposição estabelecida pela atividade agroindustrial no espaço urbano, vale ressaltar o que acrescenta Elias (2012):

A expansão das redes agroindustriais não apenas repercutiu na estrutura técnica das suas respectividades econômicas como causou profundos reflexos nas relações de trabalhos, transformando o conjunto de normas e padrões que as regulam. Como resultado, há uma nova divisão social e territorial do trabalho, com consequência na estrutura demográfica e do emprego, que também ajudam a melhor compreender o acelerado processo de urbanização, o qual se realiza sobre novas bases, e gera novas práticas socioespaciais. (ELIAS, 2012, p. 9).

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O que é possível perceber é que o território brasileiro vendo sendo reelaborado dentro dessa dinâmica de redes agroindustriais, aumentando a complexidade dos espaços agrários e urbanos, no qual, essa discussão repercute em Rubiataba, pois, percebe uma nítida dependência de parte da economia urbana dessa cidade advinda do desenvolvimento desta atividade agroindustrial. Neste sentido vale também mencionar o conceito desenvolvido por Elias (2012), chamado por ela de cidade do agronegócio. Nesta conceituação há uma hegemonia das funções de atendimento sobre as demandas do agronegócio globalizado, sobre as demais funções, havendo uma dependência no que se refere à produção agrícola ou na transformação industrial. Essa definição apresentada por Elias (2012) é de extrema importância nos estudos de embates de classificação das cidades que estão sofrendo interferências diretas nessa rede de produção envolvendo o agronegócio no país. No caso de Rubiataba pudemos constatar que a atividade agroindustrial exercida pela atividade canavieira tem influência na restruturação do deste espaço urbano. Porém, não cabe aqui definir Rubiataba como uma cidade do agronegócio, mesmo que a atividade agroindustrial tenha grande influência na dinâmica do capital local, percebemos que a própria estrutura econômica do município não é totalmente dependente dessa atividade, até porque o comércio local tem certa autonomia, apesar de sofrer influências do setor industrial canavieiro, além disso, a cidade também conta com a atividade industrial moveleira. Estes aspectos contradizem um pouco das características que se enquadram na definição desse conceito apresentado por Elias (2012), afirmando que para se enquadrar como uma cidade do agronegócio “... o que a caracterizaria e a distinguiria de outro espaço urbano, seria justamente uma hegemonia das funções inerentes às redes agroindustriais sobre as demais funções urbanas. ” (ELIAS, 2012, p. 10). É preciso destacar que, embora a atividade sucroalcooleira desempenhe um papel importante no crescimento econômico local, sua participação na circulação interna de capital está restrita apenas no que se refere aos salários pagos aos trabalhadores. De acordo com Araújo (2011), boa parte dos lucros são drenados para o outro município a que pertence a sede principal da indústria, localizada no município de Santa Rita, no estado da Paraíba. Nessa busca de uma compreensão de como a atividade sucroalcooleira tem participação na dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba, podemos obter como resultados, a partir do que foi aqui apresentado, a imposição direta desta indústria na configuração socioeconômica do município, pois ela está ligada ao centro da força de trabalho

112 e até do potencial de produção agrícola, interferindo assim no potencial de circulação de capital. Dessa maneira, ela influencia no comercio local da cidade, ou seja, a capacidade de consumo de boa parte da população é limitada pelo valor salarial estipulado pela indústria aos seus trabalhadores, sendo esse um fator a ser considerado, pois influencia na capacidade de crescimento ou não do comércio local e se estabelece principalmente de acordo com essa capacidade de consumo da população local, sendo esta, o sustentáculo principal do comércio na cidade. A cidade de Rubiataba, como foi possível perceber, possui formas que revelam uma funcionalidade e que está restritamente ligada à sua dinâmica socioespacial. Apontados alguns desses fatores locais, é possível compreender algumas particularidades que caracterizam este espaço urbano, constatando sua morfologia e sua dinâmica, levando em consideração que essa dinâmica embora tenha sua singularidade em determinados pontos, encontra-se imbricada num processo bem maior do que seu limite territorial. Ela se encontra inserida dentro da dinâmica do sistema econômico global, sendo essa cidade uma sociedade global, repercutindo na escala de análise.

3.3 – Particularidades do espaço e do sujeito em Rubiataba

A cidade de Rubiataba se apresenta como um conjunto de lugares apropriados e produzidos por grupos sociais com diferentes usos e funções, variando em tempos e ritmos diferentes. Temos esse conjunto de lugares como produto social, compondo determinada espacialidade, que resulta da forma como este espaço foi apropriado pelas práticas sociais, devido necessidades individuais e coletivas. Em Rubiataba cruzam-se tempos diferenciados, como por exemplo, o trabalho e o lazer, sendo o espaço dessa cidade, contentor e palco das práticas sociais, ocorrendo várias espacialidades que atribuem novos significados às novas formas urbanas em contraposição com as formas antigas. Isso pode ser presenciado e percebido na própria paisagem urbana, sendo possível notar impressos tempos passados, ou seja, memória de outros tempos e de outras espacialidades. Analisar algumas particularidades do espaço e do sujeito em Rubiataba revelam as formas como esses indivíduos traçam suas relações neste espaço e como este espaço interfere nessa vida de relações. Para isso é necessário focalizar ações que são essencialmente

113 caracterizadas nesta cidade em particular, como por exemplo, as práticas cotidianas e de lazer, que configuram a intensidade dessas relações sociais expressadas em Rubiataba permitindo compreender até que ponto esse espaço específico acaba guiando e limitando esse conjunto de ações, podendo-se assim, estabelecer a unicidade local. A dinâmica territorial de Rubiataba encontra-se sistematizada através das lógicas que acabam influenciando a configuração deste espaço, sendo estas trazidas em decorrência do processo de globalização. Além de influências vindas de fora, Rubiataba também é regida por lógicas locais, que se integram ao processo de modernização, caracterizando sua particularidade. Com relação aos costumes é possível perceber algumas práticas que acabam mantendo resistência ao longo do tempo, como a venda de leite feito através de carroças utilizando-a como veículo, a criação de animais, rituais religiosos, como, por exemplo, procissões em datas especiais, etc. No sistema comercial da cidade ainda é possível encontrar comércios que não aderiram às facilidades da tecnologia, tais como a utilização de computadores, prevalecendo a utilização de blocos, fichas e entre outros. Práticas como estas resultam da proximidade entre sujeitos sociais, causando certa estabilidade dentro do conjunto de relações estabelecidas entre eles, facilitando o controle social. Pode-se dizer então, que a própria dinâmica espacial de Rubiataba se encontra imbricada dentro de um processo envolvendo uma correlação e embate entre formas tradicionais e modernas, que interferem neste espaço de uma maneira geral, porém não conseguem destruir determinadas tradições, devido essas se encontrarem estruturadas no próprio sujeito que muitas vezes não abrem mão dessas práticas. Existe um conflito de gerações em Rubiataba, composto pelos sujeitos tradicionais, que se recusam a aderir aos meios modernos, e pelos sujeitos que aderem à modernidade, como por exemplo, a utilização da internet. A internet juntamente com a televisão impõe na sociedade uma “cultura de massa23” que entra em conflito com as formas tradicionais. A “cultura de massa” se estabelece através das facilidades como as informações midiáticas chegam a Rubiataba com a utilização destes meios modernos. A partir daí é possível observar a imposição de valores advindos dessas formas modernas, tais como os estilos musicais, a incorporação de identidades estabelecidas através de programas de televisão e novelas, que

23 O conceito de “cultura de massa” foi largamente discutido pelos teóricos da chamada Escola de Frankfurt. Tanto Benjamim, quanto Adorno e, especialmente, Marcuse construíram interessantes tópicos acerca deste termo e tornaram a discussão sobre cultura ainda mais intrincada, uma vez que acrescentaram à mesma uma “terceira dimensão”. 114 interferem no modo de ser e vestir, além também de influências da internet, como a utilização de sites de relacionamento, redes sociais, blogs, entre outros. Os sujeitos que aderem a essa cultura, acabam incorporando uma realidade diferenciada do seu espaço de vivência, causando em si próprio uma desvalorização com este local. Além disso, os próprios sujeitos que não aderiram a essas formas modernas buscando manter sempre suas tradições, acabam sofrendo perturbações principalmente no que se diz a respeito da conservação de suas identidades, que acabam perdendo a hegemonia para estes valores externos. E podemos perceber isto a partir do questionário24 aplicado a pessoas que moram em Rubiataba, com intuito de apresentar uma base do nível de satisfação tendo em vista suas relações com este espaço. Obtivemos um nível maior de satisfação com aqueles acima de 40 anos, que de certa forma conservam em sua maioria estilos de vidas mais tradicionais que modernos. Das 20 pessoas que responderam ao questionário, todas responderam estarem satisfeitos em morar na cidade. Já com as 20 pessoas abaixo de 25 anos, que corresponde a uma faixa etária mais sujeita às influências contemporâneas e modernas, e que responderam ao questionário, 6 responderam estar insatisfeitas, o que confirma o já discutido aqui a respeito da influência da modernidade e da cultura de massa, embora a maioria com 14, encontram-se satisfeitas. No trabalho de campo realizado em outubro e novembro de 2016, todos que responderam aos questionários com idade acima de 40 anos afirmaram estar satisfeitos em Rubiataba apontando dentre as vantagens: tranquilidade, segurança, harmonia entre vizinhos, amizades, etc. Dentre as desvantagens de se morar em Rubiataba foram citadas: a falta de emprego, poluição causada pelas cinzas da queima da cana, questões políticas, distância da Capital, drogas, prostituição, etc. Dos entrevistados abaixo de 25 anos de idade, 70% encontram-se satisfeitos de morar em Rubiataba e apenas 30% não se encontram satisfeitos. Dentre as vantagens de se morar em Rubiataba foram citadas: tranquilidade, harmonia, amizades, oferta de moradia, paz, segurança, etc. Dentre as desvantagens de se morar em Rubiataba foram citadas: fraca

24 A determinação da faixa etária na aplicação do questionário entre as faixas etárias abaixo de 25 anos e acima de 40 anos de idade, deve-se ao embasamento do comparativo entre as gerações discutidos por Pena e Martins (2015), que são classificações que demostram níveis de influências diferenciadas de absorção da cultura de massa em decorrência do aparato tecnológico. As gerações encontradas com idades iguais ou inferiores a 25 anos, neste sentido, possuem características com maiores familiaridades tecnológicas, mais abertos às inovações e que veem o mundo virtual como extensão do mundo real (levando em consideração que isto não se aplica de maneira generalizada, levando em consideração a realidade socioeconômica do indivíduo e determinará um maior ou menor acesso a esses recursos tecnológicos). Já as gerações que se inserem numa faixa etária acima dos 40 anos apresentam uma geração com características que demonstram facilidades em lhe dar com as novas tecnologias, porém de uma maneira menos intensa se comparada às gerações mais jovens e também outra geração com dificuldades em lhe dar com essas tecnologias em geral. (PENA e MARTINS, 2015, p. 4). 115 infraestrutura, poucas opções de lazer, falta de emprego, drogas, poucas empresas instaladas na região, violência, etc. Essas lógicas contemporâneas interferem nas particularidades de relação entre o sujeito Rubiatabense e o espaço vivido. Porém, quando se fala em sujeito social, essa noção acaba sendo tomada como se fosse consensual, ou seja, como se todos já entendessem seu significado sem mesmo discuti-lo, sendo este conceito muitas vezes tomado como sinônimo de indivíduo ou ator social. Não cabe aqui iniciar uma discussão que recupere a construção desse conceito, mas é preciso ressaltá-lo principalmente para se procurar entender e analisar o próprio sujeito em Rubiataba. Para isso Dayrell buscou definir sujeito social a partir da conceituação de Charlot (2000, p. 33-51), ressaltando o seguinte:

[...] o sujeito é um ser humano aberto a um mundo que possui uma historicidade; é portador de desejos, e é movido por eles, além de estar em relação com outros seres humanos, eles também sujeitos. Ao mesmo tempo, o sujeito é um ser social, com uma determinada origem familiar, que ocupa um determinado lugar social e se encontra inserido em relações sociais. Finalmente, o sujeito é um ser singular, que tem uma história, que interpreta o mundo e dá-lhe sentido, assim como dá sentido à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros, à sua própria história e à sua singularidade. Para o autor, o sujeito é ativo, age no e sobre o mundo, e nessa ação se produz e, ao mesmo tempo, é produzido no conjunto das relações sociais no qual se insere. (DAYRELL, 2003, p. 42-43).

O sujeito neste sentido é aquele que age sobre o mundo, e que no conjunto das ações ao qual está inserido, acaba produzindo e sendo produzido nesse conjunto de ações, sendo o ser aquele “[...] que é igual a todos como espécie, igual a alguns como parte de um determinado grupo social e diferente de todos como um ser singular." (DAYRELL, 2003, p. 43). O ser irá constituir-se como sujeito a partir do momento em que ele se constitui como ser humano e o desenvolvimento de suas potencialidades irá depender da qualidade das relações sociais no meio ao qual está inserido. No processo de construção dos sujeitos estão incluídos diversos fatores que irão determiná-lo como tal, sendo estes os fatores histórico, econômico, biológico, social e cultural, que vão determinar um conjunto de relações da forma como um ser se relaciona com o outro no meio social ao qual está inserido. O cotidiano em Rubiataba tem ritmos variados durante o dia e durante a semana. Em horários diurnos principalmente no início e no meio de semana, o ritmo configura-se de 116 maneira mais acelerada no que tange a circulação de pessoas e de mercadorias (capital), e nos finais de semanas, com a maioria dos comércios varejistas e atacadistas fechados, esse ritmo diminui. Durante a noite no decorrer da semana (quando a maioria dos sujeitos desta cidade não estão em horário de trabalho) as atividades se resumem em assistir televisão, ir à praça, ao colégio, barzinhos, etc. Já as noites nos finais de semana são bem mais agitadas principalmente nos dias de sexta-feira, sábado e domingo. No que se refere às práticas de atividades de lazer em Rubiataba, cabe também mencionar e destacar as práticas esportivas (com destaque para o futsal) nas quadras de esportes, principalmente à noite, que se concentram durante a semana e com mais frequência nos finais de semana. Para isso, vale ressaltar que a cidade conta, no total, com 20 quadras esportivas, nas quais sete são públicas sem nenhuma taxa cobrada para utilização (destas sete, apenas duas não são cobertas), estando distribuídas em sete setores diferentes. As outras treze quadras compõem às escolas, colégios, órgãos públicos e privados, tais como: Ginásio de Esporte (que possui uma taxa cobrada ao usuário para sua utilização), Colégio Estadual Raimundo Santana Amaral, Escola Estadual Oscar Campos, Escola Municipal Rivaldo Santana Sampaio, Colégio Estadual Gilvan Sampaio, Colégio Estadual Pedro Alves de Moura, Colégio Estadual Levindo Borba, Colégio Sistema (privado/desativado), FACER, CSA, SAMAR, AABB e Clube recreativo. Para melhor enfocar esta questão do lazer nas quadras esportivas em Rubiataba, podemos destacar a Praça dos Trabalhadores (figura 23), comportando uma quadra de esporte, um parque e barras para exercícios, possuindo também um excelente espaço para práticas de caminhada, e estas opções fazem da praça um lugar de concentração de muitos sujeitos sociais e que em geral se tornou um importante local de lazer na cidade.

Figura 23 - Praça dos Trabalhadores

Fotos: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2017. 117

Ainda com enfoque nos espaços de lazer, nos dias de sexta-feira há a realização da chamada feira da lua que corresponde a um conjunto de barracas que em geral são instaladas e estabelecidas na praça da feira coberta, localizada no centro da cidade, com a finalidade de estabelecer um espaço de lazer e comércio, servindo de renda para muitas famílias proprietárias das barraquinhas, que funcionam como verdadeiros “restaurantes ao ar livre”. Dentre o que é vendido e consumido e possuem uma maior procura de consumo, podem ser citados: caldo de galinha e de feijão, galinhada, churrascos, pratos com porções de arroz e feijão tropeiro, refrigerantes, dentre outros. Durante essa feira é possível perceber uma maior quantidade de jovens que utilizam esse momento como forma de lazer e de encontrar os amigos, além disso, no centro ao qual ocorre a feira e que também fica próximo à praça das palmeiras, há uma concentração de pit- dogs, barzinhos e sorveterias, polarizando a circulação de pessoas neste local da cidade A feira da lua adquire uma importância muito significativa para o sujeito rubiatabense no que se refere ao lazer, principalmente para as gerações mais jovens, pois Rubiataba com seu caráter e aspecto de cidade interiorana não responde a grandes e variadas opções de lazer no decorrer da semana, o que gera uma enorme expectativa quando se chega o dia de sexta- feira, isso para quem busca sair de casa e fazer algo diferente da rotina cotidiana.

Figura 24: Praça das Palmeiras

Fonte: SILVA, Uhallas Cordeiro, 2016.

Nos dias de sábado não há eventos em particular como na sexta-feira, porém ainda ocorre uma grande concentração de pessoas nos pit-dogs, barzinhos, sorveterias ou praças. Há concentração de pessoas na Praça das Palmeiras nos dias de sábado e domingo durante a

118 noite, como podemos destacar na figura 24, sendo esta uma praça que também faz parte do centro da cidade e que possui um palco e grande espaço para realização de eventos consolidados em sua própria estrutura. Este espaço favorece mais uma opção de lazer em determinados períodos do ano, no qual, se realizam eventos neste local, embora não chegue a atingir uma participação tão abrangente desses que procuram o que fazer nos horários vagos dos finais de semana. Outro aspecto importante na configuração das particularidades do sujeito social em Rubiataba são aqueles referentes às tradições religiosas e que possuem fortes influências sobre o sujeito rubiatabense, seja na geração mais antiga ou mais nova, destacando nesta cidade o apego à religião cristã (católica e protestante), que conduzem a práticas cotidianas e absorção de valores que influenciam em novos modos de ser e pensar. Nos finais de semana (principalmente aos domingos) grande parte dos indivíduos da cidade destinam-se às práticas religiosas, quando vão à igreja. A cidade de Rubiataba, embora afetada por aspectos referentes aos processos contemporâneos de modernização, de certa forma não se insere de maneira tão intensa sobre essa ótica de influências econômicas e sociais externas, se comparada com as grandes cidades e metrópoles do país, isso porque o seu perfil é de cidade local embora seja uma cidade centro de zona B. Isto, de certa forma, acaba causando certa indignação a alguns indivíduos que estão neste determinado espaço e que aderem a essas lógicas midiáticas e informacionais, que acabam iludindo esses sujeitos sociais, que não encontram essas formas expressadas concretamente no espaço urbano desta cidade, estreitando os laços com ele, perdendo as condições de manter neste espaço com relação ao seu nível de satisfação. Ao analisar essas características do espaço e do sujeito rubiatabense que se encontram imbricadas dentro da dinâmica socioespacial desta cidade, pode-se dizer que ela é compreendida por um conjunto de contradições marcado pelos embates de tempos característicos do espaço ao qual compõe a cidade, no qual “o espaço é um guardião de tempos, por isso é histórico. ” (CASTILHO, 2007, p. 19). Além disso, esse embate de tempos também se encontra inserido no próprio sujeito rubiatabense em razão do fato de se pensar espaço e sujeito em conjunto. O que se conclui até aqui, com referência a algumas destas particularidades mencionadas, é que Rubiataba embora seja composta por muitos traços tradicionais expressos no sujeito e no espaço em atrito com a imposição do moderno, encontra-se inserida dentro de uma lógica contemporânea dominante determinada por um tempo diferenciado.

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Na cidade de Rubiataba, cruzam-se tempos diferentes (o mesmo vale para diferentes cidades desta mesma região), além do tempo do trabalho temos o tempo do lazer. Nesse sentido as festas aparecem como forma de desempenhar, de certo, uma função de lazer, dando opções de atividades e entretenimento e tendo um papel importante nas formas como se realizam as práticas sociais. As festas dinamizam ações, no tempo e no espaço, voltadas para o lazer, como por exemplo, o surgimento de expectativas geradas pelos indivíduos em virtude de uma futura festa em um dado momento, que possivelmente ocorrerá nos finais de semana e em determinado lugar da cidade. Dentre as festas na cidade, destacam-se aquelas em datas e momentos comemorativos, tais como as festas de réveillon, carnaval, aniversário da cidade, festa de exposição agropecuária, além de algumas outras mais especificas que ocorrem aleatoriamente ao longo do ano, sendo necessário destacar as festas de cunho religioso que, de acordo com datas determinadas, e que são frequentes em Rubiataba. Além das festas um fator determinante das ações dos indivíduos no espaço urbano de Rubiataba são as influências dos aspectos religiosos, que também reconfiguram as práticas sociais na cidade e são responsáveis, em boa parte, pela preservação e realização de diversas tradições. Elas também refletem uma forma de dominação do território responsável por uma certa articulação de poder. O número de igrejas registradas em 2017 na cidade de Rubiataba soma um total de 24, que podem ser verificadas no quadro 2, nas quais 22 são evangélicas e 2 são católicas:

Quadro 2 - Lista de igrejas registradas em Rubiataba Número de registro Nome das Igrejas municipal 11142 IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS-MINIST. SETA 11144 IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS (M. MADUREIRA) 11145 IGREJA EVANGÉLICA PETENCOSTAL O BRASIL PARA CRISTO RUBIATABA 11154 IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA 11156 IGREJA PETENCOSTAL DEUS É AMOR 11157 IGREJA EVANGÉLICA PRESBITERIANA DO BRASIL 11163 IGREJA EVANGÉLICA PRESBITERIANA RENOVADA DE RUBIATABA 11166 IGREJA SÃO SEBASTIÃO 14986 IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS (M. ACREÚNA) 15144 PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CERES 16998 IGREJA EVANGÉLICA DE CRISTO DE RUBIATABA 17046 PRIMEIRA IGREJA BATISTA INDEPENDENTE DE RUBIATABA 18593 IGREJA DA PAZ – MINISTÉRIO LUZ PARA OS POVO 18599 IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR DE RUBIATABA 18708 IGREJA PETENCOSTAL ASSEMBLEIA DE DEUS MIN. MAN. DE G. ANÁPOLIS 120

18762 IGREJA PENTENCOSTAL DEUS É SANTO 18961 IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS 19421 IGREJA EVANGÉLICA ALIANÇA DO SENHOR 21922 IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS MIN. VOZ CRISTÃ 22627 IGREJA APOSTÓLICA MANANCIAL DA FAMÍLIA 23095 IGREJA APOSTÓLICA FONTE DA VIDA 23940 IGREJA CRISTÃ PAZ E VIDA 25016 UNIÃO CENTRO OESTE BRAS. DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA 26467 SEGUNDA IGREJA PRESBITERIANA DE RUBIATABA Fonte: Coletoria Municipal (prefeitura municipal de Rubiataba), 2017.

Embora não conte registros no documento da pesquisa coletado na prefeitura, existem também em Rubiataba o Centro Espírita Renúncia e o Salão do Reino de Testemunhas de Jeová, que juntamente a estas outras entidades religiosas chegam a um total de 26 igrejas em Rubiataba. Com relação ao número de igrejas evangélicas de Rubiataba em 2017, se comparada ao início do ano de 2000, praticamente teve um aumento dobrado em relação a quantidade apresentada e isso é reflexo do crescimento recorrente da religião evangélica no país, e que no caso de Rubiataba, não foi diferente. De acordo com IBGE (2010), o número dos que se declararam evangélicos aumentou 61,45% entre o ano de 2000 e 2010, e neste mesmo período houve uma queda de 1,3% do total de católicos. O número de evangélicos vem crescendo no Brasil, passando de 6,6% da população em 1980, para 22,2% em 2010, de acordo com o IBGE. Buscando compreender a recorrência desse aumento, vale mencionar o que se apresenta no Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil (JACOB, WANIEZ e BRUSTLEIN, 2003), ressaltando que o aumento progressivo da religião evangélica no Brasil está ligado ao crescimento das cidades, concentrando-se historicamente com maior intensidade nas fronteiras agrícolas e nas periferias metropolitanas e aponta como exemplo e efeito disto, o recorrente processo de favelização25. Nas décadas finais do século XX o país passou a mudar o perfil da população de rural para urbana, aumentando a concentração de pessoas em cidades e consecutivamente originando favelas. E foi justamente nestes locais em que o Estado e a igreja católica passaram a diminuir suas imposições, por exemplo, é que permitiu maior atuação da religião evangélica. Em Rubiataba de acordo com último senso do IBGE em 2010 sobre religião, a população do município se encontrou dividida pela seguinte quantidade de pessoas por

25 A favelização corresponde aqui a um fenômeno urbano resultante do crescimento do número de favelas em uma determinada cidade ou local. 121 religião: 13.084 católicas apostólicas romanas, 4.835 evangélicas, 617 sem religião, 210 espíritas, 76 testemunhas de Jeová e 36 ateus. No caso de Rubiataba com relação às práticas religiosas, destaca-se a influência da Igreja católica, e que caracteriza aspectos sociais e culturais específicos nesta cidade, devido esta ter um papel muito importante nas práticas sociais do sujeito rubiatabense, principalmente na dominação e articulação deste espaço. A maior parte da população de Rubiataba compõe a religião católica, e que pode ser observado pela grande manifestação da população com relação à participação de eventos proporcionados por esta religião na cidade e isso também determina certa particularidade e que entra em contraste, se for analisada com outras cidades em que o catolicismo não tenha essa predominância. A cidade é sede da diocese e comporta seis igrejas católicas (sendo estas, localizadas nos setores Aeroporto, Centro, Bela Vista, Vila santa fé, Vila operária e Rubiatabinha), no qual a que está localizada no centro da cidade é a sede da catedral. São duas as igrejas sedes principais, resultando em duas paróquias: a igreja localizada no setor Bela Vista que pertence a paróquia de Jesus Bom Pastor e a igreja do setor Aeroporto que pertence à paróquia Nossa Senhora da Glória, que tem como sede a Catedral.

Figura 25 - Igrejas católicas na cidade de Rubiataba-Go

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Um fator que demonstra como a Igreja católica estabelece influências sobre o espaço da cidade de Rubiataba, articulando e estabelecendo estratégias de manter o seu domínio religioso sobre esse território, pode ser observado na figura 25. Percebemos como as igrejas estão exatamente distribuídas em diferentes pontos da cidade, o que esconde uma lógica por trás disto, que é aquela da articulação e dominação territorial do aspecto religioso. Ou seja, ao se construir uma igreja em cada ponto da cidade ela está diretamente reafirmando seu poder sobre aquele espaço, pois se ela não fizesse isso, outras igrejas poderiam se estabelecer no local criando um domínio sobre esta área na qual não se encontra presente a igreja Católica. A localização da igreja é um fator importante, principalmente porque muitas vezes o fato de uma igreja estar muito longe para o deslocamento do indivíduo faz com que ele busque uma igreja que esteja mais próxima, o que explica o fato das igrejas Católicas localizarem em diversos pontos da cidade mantendo sua soberania neste espaço. Ao analisarmos a influência do catolicismo em Rubiataba, como exemplo de articulação e domínio territorial no espaço, podemos perceber o quanto é complexo a análise do espaço urbano e temos esse como um mero “tabuleiro de xadrez”, no qual quem domina são aqueles que possuem as melhores estratégias, lembrando que essas eventualidades não surgiram do nada e sim acompanharam um longo processo de consolidação dessas estratégias que foram construídas ao longo do tempo em Rubiataba. Estas estratégias estão imbricadas em diversos setores da economia, e da mesma forma como a igreja, em específico, busca consolidar-se espacialmente, empresas utilizam estratégias semelhantes em diversos níveis de atuação em diversos tipos de cidades, com intuito de consolidar sua influência territorialmente, sendo essa logística necessária dentro de um sistema econômico, político e social como o capitalismo. Em relação à rede de administração e de serviços religiosos da igreja quanto à sua estrutura espacial os geógrafos Sopher e Sack (apud ROSENDAHL, 1995, p. 57), determinam que há dois tipos principais de controle territorial exercido pela igreja: referente aos lugares sagrados, tais como a estrutura concreta e edifícios da igreja e ou outro com referência a estrutura administrativa. O que se tem são hierarquias territoriais, mas estas são divididas e subdivididas em paróquias, dioceses e arquidioceses. A distribuição espacial dessas hierarquias encontra-se chefiado por algum funcionário como por exemplo, os sacerdotes com jurisdição sobre a paróquia, bispos nas dioceses, arcebispos nas arquidioceses e o Papa no topo da hierarquia sobre jurisdição de todas essas subdivisões.

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Podemos perceber as igrejas católicas localizadas em vários pontos da cidade de Rubiataba sendo reflexo dessa hierarquia mencionada, e que embora pudemos perceber 6 edificações, apenas duas são consideradas centrais, pois a cidade é sede de duas paróquias sendo as outras 4 igrejas pertencentes a administração exercida por essas duas paróquias. Buscar compreender a história da territorialidade dentro da igreja não é muito simples, sendo essa afirmação mencionada por Rosendahl (1995), isso porque a igreja católica tem um sistema de articulação territorial, que no sentido hierárquico e burocrático seja a mais antiga e duradoura das organizações religiosas, sendo assim, não convém abordar estas questões no presente trabalho. O objetivo principal é buscar estabelecer algumas características específicas do espaço e do sujeito na cidade de Rubiataba, sendo perceptíveis as influências da religião nas práticas sociais cotidianas, sendo necessário mencionar este elemento como parte desta busca de análise e compreensão socioespacial desse espaço urbano em particular. De acordo com Rosendahl (2005), a história tem demonstrado que a vida humana em comunidade e o imaginário religioso constroem novos significados e que afetam diretamente as práticas sociais coletivas. Os lugares e objetos no espaço urbano acabam, por sua vez, adquirindo simbolizações, signos e mitos impregnadas ao caráter cultural de uma determinada sociedade. Podemos perceber a imbricação desses valores de cunho religioso em Rubiataba quando nos deparamos com as festividades religiosas, havendo uma participação considerável da população, tanto que em diversos desses períodos as principais avenidas (avenida aroeira e jatobá) acabam sendo interditadas para a ocorrência desses eventos, em razão do espaço interno das igrejas católicas não comportarem toda a população. E também é possível perceber no seguimento de rituais religiosos, como por exemplo no período da quaresma26, sendo essa uma prática religiosa que tem influência não somente religiosa e cultural como também na dinâmica socioeconômica. É possível perceber que durante essa prática religiosa, ocorre uma redução na circulação de pessoas em bares, restaurantes e também no consumo de certos produtos, como a redução no consumo de carne bovina e suína e também no consumo de bebidas alcoólicas, e que são inapropriados durante esse ritual religioso, embora seja levado em consideração que nem toda população segue e participa assiduamente desse processo.

26 É a designação do período de quarenta dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que é comemorada no domingo e praticada desde o século IV na história dessa religião. A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, anterior ao Domingo de Páscoa. Disponível em: (https://www.significados.com.br/quaresma/). Acesso em: 26 de julho de 2017. 124

O estudo sobre as influências da igreja nas práticas sociais e consequente ação no espaço passa pelo território e se manifesta da maneira como está organizada. Com isso Rosendahl (2005) aponta ser importante compreender o fenômeno religioso enquanto uma estratégia de poder e manutenção no território independente de tamanho da área ou do seu caráter quantitativo exercido pelo seu dominador. Para compreender como isto se estabelece em determinado espaço é preciso “interpretar a poderosa estratégia geográfica de controle de pessoas e coisas sobre territórios que a religião se estrutura enquanto instituição, criando territórios seus. ” (ROSENDAHL, 2005, p. 12934). É preciso deixar claro que as discussões apresentadas aqui foram necessárias para se traçar um perfil social e cultural que é particular desse espaço urbano em específico, isso porque a discussão teve embasamento sobre os elementos que se apresentam de maneira expressiva neste espaço e que de certa forma influenciam diretamente numa caracterização em particular do sujeito e do espaço aqui em estudo. Não se pretende iniciar uma discussão tão abrangente dessas temáticas aqui apresentadas (o que não desconsidera sua importância), e sim apresentar apenas elementos em específico e permitam traçar um perfil socioespacial deste espaço apontando estes elementos culturais como parte deste processo, levando em consideração que eles não podem ser desconsiderados ao tratar de particularidades do sujeito e do espaço.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender as dinâmicas socioespaciais numa cidade com características como a de Rubiataba é de fundamental importância na elaboração de políticas que favoreçam a compreensão da realidade a qual se encontra. Buscar analisar os agentes atuantes neste espaço urbano ajudam a compreender tanto o processo de mobilidade populacional como o de trocas comerciais, assim como atuação do Estado no território. O desenvolvimento de Rubiataba foi centrado na ideia de colônia agrícola e numa análise histórica, buscando uma forma explicativa da realidade, temos influência de inúmeros atuantes que condicionam novos processos socioespaciais. O município de Rubiataba, assim como vários outros municípios que também se desenvolveram ao longo da CANG, apresenta- se como um local inicial de destinação da produção agropecuária estabelecendo no campo um conjunto de relações socioespaciais e que acompanhou o desenvolvimento dessa região. A atividade agrícola perde impulso no início da década 1970, influenciada principalmente pelo processo de modernização agrícola, havendo uma intensificação do êxodo-rural no município, ocorrendo uma inversão da população urbana sobre a rural. Esse processo se intensifica ainda mais na década de 1980 com a implantação da usina sucroalcooleira no município em 1986 e também com o crescimento do setor industrial moveleiro no final desta mesma década, e que levou consequentemente a gerou um crescimento do comércio varejista local. O que buscamos em nossa análise é compreender como estas atividades continuam reestruturando este espaço urbano a partir do viés de análise da formação e dinâmica socioespacial deste município tendo como objetivo estabelecer sua configuração atual a partir desse conjunto de relações envolvendo estas atividades, e que de certa forma, reverbera sua realidade regional. É preciso compreender que este espaço não está apenas materializado de uma maneira pronta e acabada, e apenas vendida como uma mera mercadoria, pois somos agentes construtores deste espaço. A transformação é algo implícita no espaço e que se encontra sempre em movimento, e por trás de suas aparências, escondem-se um conjunto de contradições socioespaciais. O processo econômico envolvendo Rubiataba tende a diversificar-se, e a atuação do poder administrativo favorece a estruturação do espaço de forma homogênea, hierarquizada e funcional, e que pudemos perceber ao apresentar aspectos da morfologia urbana desta cidade. Acordando com Lefèbvre (2007), a busca pela “homogeneização” deste espaço procede do poder político, escondendo um conjunto de interesses que moldam este espaço, havendo uma 126 imposição do consumo, gerando também sua degradação de uso e que também se reflete através de segregações socioespaciais. Com relação a formação socioespacial da cidade de Rubiataba, ocorreram transformações ao longo de seu desenvolvimento, principalmente no que tange sua esfera socioeconômica, passando de uma cidade estritamente ligada à produção agrícola de café, arroz, feijão, algodão e milho (entre as décadas de 1950 e 1970), para uma cidade voltada para o comércio interno e a produção industrial no setor moveleiro e no setor industrial sucroalcooleiro (características estas desenvolvidas principalmente a partir da década de 1980 e que configuram a dinâmica socioespacial atual). Ao observarmos a organização espacial de Rubiataba, principalmente no que tange o uso urbano do solo urbano, apresenta-se uma relação envolvendo centro e periferia, sendo elas um conjunto de aglomerações urbanas dualistas e que são resultadas da concentração de classes existentes neste espaço. Ou seja, há uma retenção maior de renda em determinados bairros e que também resultam em uma melhor infraestrutura, tendo em contrapartida disto, bairros ou áreas com menor infraestrutura, e estas diferenciações acabam configurando a desigualdade na morfologia urbana da cidade. Com relação às atividades e os aspectos socioeconômicos do município, é possível identificar em Rubiataba uma organização e divisão territorial e que configura sua morfologia a partir do comércio, serviços, áreas industriais e também áreas rurais. Temos então, uma divisão territorial, sendo feita a partir da distribuição das atividades neste espaço, gerando a diferenciação do espaço urbano. Nessa busca de uma compreensão de como a atividade sucroalcooleira tem participação na dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba, podemos obter como resultados, a partir do que foi aqui apresentado, a imposição direta desta indústria na configuração socioeconômica do município, pois ela está ligada ao centro da força de trabalho e até do potencial de produção agrícola, interferindo assim no potencial de circulação de capital. Dessa maneira, ela influencia no comércio local da cidade, ou seja, a capacidade de consumo de boa parte da população é limitada pelo valor salarial estipulado pela indústria aos seus trabalhadores, sendo esse um fator a ser considerado, pois influencia na capacidade de crescimento ou não do comércio local e se estabelece principalmente de acordo com essa capacidade de consumo da população local, sendo esta, o sustentáculo principal do comércio na cidade.

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O que podemos obter como resultado do que foi apresentado sobre a indústria moveleira e a sua participação na dinâmica socioespacial no município, são suas influências na oferta de emprego, sendo a segunda maior indústria no município, ficando atrás apenas da indústria sucroalcooleira nesse quesito, contribuindo para a fixação de capital local, afinal, toda oferta de mão-de-obra é proveniente da cidade. E pelo fato de a indústria moveleira ser reconhecida na região por sua qualidade de produção, a cidade torna-se um atrativo para consumidores de outras cidades, principalmente porque os produtos acabam por ter preços mais acessíveis, podendo ser adquiridos diretamente das lojas representantes da própria indústria, o que evita elevar os custos dos móveis por não se tratar de um processo revenda. Cooper Agro (Cooperativa Agroindustrial de Rubiataba), dinamiza o comércio de produtos agrícolas em Rubiataba e região. A atividade sucroalcooleira interfere na atividade agropecuária na região por se tratar de uma monocultura. Esse fato diminui a diversidade de atividades e dessa forma interfere no fluxo de compra de produtos agropecuários, sendo este um fator que leva à diminuição da atividade agropecuária na região. A Cooper Agro ajuda no processo de fortalecimento dos pequenos e médios produtores, pois a articulação estabelecida no município favorece o atendimento de necessidades econômicas dos cooperados que acabam desenvolvendo essa atividade no município e enriquecendo a economia local. Portanto, temos as atividades moveleiras e o comércio varejista no que se refere a oferta de bens serviços como aquelas com maior influência na divisão social do valor excedente e na geração de empregos. Enquanto a instituição de nível superior e indústria sucroalcooleira se apresentaram como atividades, a partir das características mencionadas no decorrer dessa pesquisa, de maior concentração de capital no município. Sobre a Centralidade e a funcionalidade da cidade, temos que as áreas de maior influência de Rubiataba e de geração de empregos estão interligadas no espaço intraurbano da cidade. Dentre as atividades encontradas no munícipio, podemos mencionar como principais e fundamentais aquelas relacionadas ao comércio varejista, indústria moveleira, casa agropecuária, usina sucroalcooleira e instituições de ensino. Em Rubiataba, com relação a essas diferentes funções, temos o centro se destacando com maior fluxo de produtos e serviços, tais como a concentração de atividades comerciais, áreas residenciais com formas marcadas de acordo com o conteúdo social inserido nelas, além das áreas destinadas ao lazer e entre outras características, sendo inseridos neste contexto, valores simbólicos e materiais.

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Em Rubiataba destacam-se as avenidas Aroeira (figura 9a) e Jatobá (figura 9b), sendo elas o referencial do centro da cidade, concentrando nelas praticamente quase todo o comércio da cidade. O cruzamento dessas duas avenidas expressa uma centralidade que vai além do município, expandindo a outros municípios. O Centro aparece como dinamizador da economia local, no qual os demais bairros da cidade são dependentes desses serviços centrais. Ele apresenta-se como área do poder municipal, concentrando também a dinâmica do comércio, sendo local de residências de famílias com melhor poder aquisitivo (figura 15) e famílias tradicionais, além de ser também a área da cidade na qual se concentram melhores opções de lazer. A funcionalidade de Rubiataba não se limita apenas a esse município, no qual esse centro econômico da cidade acaba tendo influências econômicas sobre outros municípios, principalmente os mais próximos, que são formados por cidades locais. Em termos econômicos, Rubiataba exerce influências em cidades como Nova América, Ipiranga de Goiás e Nova Glória, oferecendo uma estrutura de serviços e produtos variados e diversificados, que devido à proximidade e o fácil acesso, essas pequenas cidades acabam utilizando essa infraestrutura, mesmo que não seja em todos os setores da economia local, o que amplia a escala de abrangência do mercado consumidor de Rubiataba. Nessa região, tanto Rubiataba como Ceres, aparecem como centro dessas cidades, fazendo com que essa proximidade impeça essas pequenas cidades de desenvolverem suas próprias infraestruturas de serviços e produtos diversificados, tornando-as marginalizadas por este tipo de economia. Neste sentido, podemos afirmar que a centralidade de Rubiataba se estabelece a partir das cidades locais e que pertencem a sua hinterlândia. Enquanto uma cidade no campo, foi possível constatar em Rubiataba uma grande proporção de residentes ocupados em atividades não-agrícolas, principalmente aquelas ligadas à moradia, ao lazer, às atividades industriais e à prestação de serviços. É possível perceber também a existência de uma diversidade econômica articulada e que refletem em classes sociais distintas, sendo sua veracidade explanada na paisagem urbana da cidade e expressada em seus diferentes bairros, sendo possível constatar residências de alto padrão e também residências em condições precárias e que evidenciam essa diversidade de classes sociais nesta localidade. Observa-se também diferentes usos do solo e uma certa centralização de serviços, sejam eles comerciais, administrativos ou religiosos. Diferentemente das grandes cidades não é notável a presença de grandes edifícios, havendo uma tendência de imóveis comerciais e

129 residenciais nas proximidades com o centro da cidade e que indicam os distintos estratos sociais. Diante da discussão apresentada, percebemos Rubiataba como um espaço urbano, sendo crucial a definição deste aspecto como ponto de partida para uma análise mais detalhada deste espaço. Apesar de uma área pequena em relação a outras cidades consideradas médias e grandes em diversas classificações, levando em consideração suas limitações no alcance dos serviços disponíveis, Rubiataba exerce funções a nível de sua escala que nos favorecem subsídios suficientes para apontar como um urbano possível.

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ANEXOS

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ANEXO 01 – QUESTIONÁRIO – PREFEITURA DE RUBIATABA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba – Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus

Instituição:______Contato:______Informante:______Cargo:______Data: ____/____ / 2016.

Informações solicitadas: 1 - Quais os principais setores que contribuem para a arrecadação de Rubiataba? ______2 – As elites locais de Rubiataba, os prefeitos, etc., têm privilegiado quais setores da economia para o desenvolvimento de Rubiataba? ______3 – Atualmente, existem projetos que visam melhorar a arrecadação no município? Cite-os. ______4 - Como é a relação de Rubiataba com Ceres, e com os municípios vizinhos? ______5 - A Economia de Rubiataba, hoje, gira em torno de que? Quais são as principais instituições, estabelecimentos, empresas, etc., deste município? ______

______Assinatura do participante

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ANEXO 02 – MODELO DE QUESTIONÁRIO – INSTITUIÇÕES DE ENSINO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba - Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus

Nome da Instituição: ______Contato: ______Município: ______Informante: ______Cargo: ______

1 – Indique os municípios de procedência dos estudantes que usualmente procuram esta sede municipal para utilizar os serviços desta instituição: Nº Município Quantidade de alunos matriculados em 2016 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Data: ____/____ / 2016.

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ANEXO 04 - MODELO DE QUESTIONÁRIO – COMÉRCIO VAREJISTA/CASA AGROPECUÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba - Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus

Nome do Estabelecimento: ______Contato: ______Município: ______Informante: ______Cargo: ______

1 – Indique os municípios de procedência das pessoas que usualmente procuram esta sede municipal para comprar os produtos deste estabelecimento: Nº Município Frequência* 01 P ( ) R ( ) M ( ) 02 P ( ) R ( ) M ( ) 03 P ( ) R ( ) M ( ) 04 P ( ) R ( ) M ( ) 05 P ( ) R ( ) M ( ) 06 P ( ) R ( ) M ( ) 07 P ( ) R ( ) M ( ) 08 P ( ) R ( ) M ( ) 09 P ( ) R ( ) M ( ) 10 P ( ) R ( ) M ( ) * P- pouca procura R- regular procura M- muita procura

COMÉRCIO VAREJISTA/CASA AGROPECUÁRIA

ROTEIRO DE ENTREVISTA Referente a:  Surgimento da empresa;  Como a empresa funciona, tais como: quantidade de funcionários Com que tipo de produtos a empresa trabalha e quais deles são os mais procurados  Objetivos principais da empresa;  Importância desta empresa para o munícipio;

Data: ____/____ / 2016.

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ANEXO 04 - QUESTIONÁRIO – INDÚSTRIA MOVELEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba - Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus

Nome do Estabelecimento: ______Contato: ______Município: ______Informante: ______Cargo: ______

1- Quando surgiu essa indústria em Rubiataba?

2- Quem são os principais compradores das mercadorias produzidas?

3- Qual o principal destino das mercadorias?

4- Quantas pessoas são empregadas na atividade?

5- Qual a média salarial alcançada?

6- O que você aponta como fatores importantes e responsáveis pela diminuição da indústria de móveis em Rubiataba?

7- Por que Rubiataba é considerada um polo moveleiro?

8- Como você vê o setor moveleiro na cidade de Rubiataba hoje?

Sobre a Loja Centro 1- Quando chegou em Rubiataba? 2- Quando ela passou a pertencer ao mesmo dono? 3- Existem filiais desta loja em outras cidades? Quais?

Data: ____/____ / 2016.

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ANEXO 05 - QUESTIONÁRIO – USINA SUCROALCOOLEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba - Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus Nome da indústria: ______Contato: ______Município: ______Informante: ______Cargo: ______

1- Quando essa indústria chegou em Rubiataba?

2- Esta usina está ligada à qual grupo de usinas?

2- Qual o principal destino das mercadorias?

3- Quantas pessoas são empregadas na atividade?

4- Qual a média salarial alcançada?

5- A mão-de-obra é composta por indivíduos de quais cidades?

6- Quais são os impactos diretos e indiretos da expansão da cana-de-açúcar na região?

7- A plantação de cana tem prejudicado outras culturas agrícolas no município?

Data: ____/____ / 2016.

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ANEXO 06– ROTEIRO DE ENTREVISTA – POPULAÇÃO EM GERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE ESTUDOS SÓCIO-AMBIENTAIS PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NÍVEL: MESTRADO

Pesquisa: Formação territorial e dinâmica socioespacial da cidade de Rubiataba - Goiás Mestrando: Uhallas Cordeiro Silva Orientador: Prof. Dr. João Batista de Deus Participante Nº: ______Data: ____/____/______Idade: ______Sexo: M ( ) F ( ) Município: ______

1- Enquanto morador de Rubiataba, você se encontra satisfeito nesta cidade? ( ) Sim ( ) Não. Justifique sua resposta. ______

2- Na sua opinião, quais são as vantagens e desvantagens de se morar em Rubiataba? ______

3- Do que você mais gosta e do que você menos gosta em Rubiataba? ______

4- Se você pudesse mudar alguma coisa em Rubiataba o que você mudaria? ______

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