ISSN 0104-9658

Cadernos de Antropologia e Imagem

22 Estratégias da pesquisa com imagem O periódico semestral Cadernos de Antropologia e Imagem é organizado pelo Núcleo de Antropologia e Imagem (NAI) e pelo Programa de Pós-Graduaç3o em Ciências Sociais (PPCIS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (U ERJ) . Sua proposta é atualizar as discussões em torno do uso da imagem nas ciências sociais, especialmente no 3mbito da antropologia.

Cadernos de Antropologia e Imagem Conselho Editorial IFOWERJ Ana Maria Galano (in memoriam), Carlos R. Brandão Rua S3o Francisco Xavier, 524, Sala 9002, Bloco A. (Universidade Estadual de Campinas), Clarice Ehlers CEP: 20550-013 Peixoto (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Maracan3 - Rio de Janeiro - RJ Cornélia Eckert (Universidade Federal do Rio Grande do

Tel. : (2 1) 25B7-7962 ramal 21 Sul), David MacDougall (Fieldwork Productions, Austr~lia), E-mails: [email protected] Dominique Gallois (Universidade de S3o Paulo), Eduardo [email protected] Coutinho (cineasta), Elizabeth Weatherford (National Homepage:vwvw2.uerj .brl-ppcislrevistas Museum of the American lndian, EUA), Etienne Samain (U niversidade Estadual de ampinas), Faye Ginsburg (New York University, EUA), Luis Rodolfo Vilhena (in Ed itora memoriam), Milton Guran (fotógrafo e antropólogo), Patricia Monte-Mór (UERJ) Miriam Moreira Leite (Universidade de S3o Paulo), Peter Loizos (London School of Economics and Politicai Comissão Editorial Sciences, Inglaterra), Regina Abreu (Uniria), Regina Célia Bela Feldman-Bianco (Unicamp) R. Novaes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Silvio Marc-Henri Piault (EHESS-CNRS) Da-Rin (cineasta). Sylvain Maresca (Université de Nantes, M~rcia da Silva Pereira Leite (UERJ) França). Myrian Sepúlveda dos Santos (UERJ) Patricia Birman (UERJ) Renato Athias (UFPE) Foto da capa Rosane Manh3es Prado (U ERJ) Abaixo a ditadura, de Evandro Teixeira Sylvia Caiuby Novaes (USP) Publicação semestral - 2006.1 Assistente editorial Solicita-se permuta I Exchange desi red Fabiene Gama

Estagiária Tiragem: Ana Isabel Alhadeff 1.000 exemplares

Colaboração Indexação: Daniel Rodrigues Fontes (Secretaria do NAI) lndice de Ciências Sociais do IUPERJ CLASE- Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades; Revisão LATINDEX- Sistema regional de información en llnea para revistas Eliane Mayworm cientificas de America Latina, el Caribe, Espai'ia e Portugal

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/SISBI/SERPROT

C122 Cadernos de Antropologia e Imagem I Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Núcleo de Antropologia e Imagem • N. 22 (2006)- Rio de Janeiro: Contra Capa I UERJ, NAI, 2006.

(o-publicada com Programa de Pós-Graduaç3o em Ciências Sociais da UERJ. Semestral. ISSN 0104-965B

1. Antropologia - Periódicos. I. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Núcleo de Antro­ pologia e Imagem 11. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Programa de Pós Graduaç3o em Ciências Sociais .

CDU 572(05) Entrevista com Evandro Teixeira

Patrícia Monte-Mór e Regina Abreu

Apresentação

A fotografia no Brasil tem uma longa história, que remonta às primeiras ima­ gens do Abade Compte, feitas com um daguerreótipo no centro da cidade do Rio de Janeiro e que está vinculada a um desenvolvimento inicial, incentivado pelo imperador Dom Pedro II, ainda no século XIX. Existem inúmeros acervos e coleções desse período, que hoje são objeto de estudos e pesquisas, focalizando renomados artistas. Mas é no século XX que o oficio de fotógrafo se estabelece de maneira profissional. E, no final do século, vivendo num mundo de imagens, experimentamos diversos avanços na tecnologia de sua captação, que revolucio­ nam esta arte e este oficio. Neste número de Cadernos de Antropologia e Imagem temos a oportunidade de acompanhar, numa entrevista, a trajetória de um fotógrafo que, iniciando sua carreira na década de 50, vindo da Bahia para o Rio de Janeiro, cumpre a tarefa de migrar para a "cidade grande" em busca de seu sonho, tornando-se famoso profissional da imagem. Um dos maiores nomes do fotojornalismo internacional, Evandro Teixeira. Realizamos esta entrevista em junho de 2004, mas só agora temos a oportu­ nidade de publicá-la em Cadernos de Antropologia e Imagem. Seu conteúdo continua atual e instigante. Conversar com Evandro e ouvir suas histórias nos oferece momentos de alegria e de aprendizado. Nesse colóquio, a partir de sua trajetória pessoal, podemos traçar momentos marcantes d

Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1): 187-213, 2006 187 uma lâmpada, uns fotogramas e um porta-fotos que projetava na parede... Depois eu tive um primo que foi avia­ dor na guerra de 45 e chegava na Bahia todo fantasiado e a gente achava muito bonito. E eu, especialmente, queria ser aviador militar, porque achava bonito aquelas histórias que ele contava da guerra... mas também tinha a história de O Cruzeiro. Em meu colégio havia um jornal que a gente participava e O Cruzeiro, eu não me lembro a data precisa agora, publicou uma repor­ tagem das "mães de todo mundo". Era um ensaio belíssimo, um ensaio que tinha o José Medeiros, o Luciano Carneiro. Foram os maiores nomes do fotojornalismo, o francês Jean Manzon, que foi o introdutor do fotojornalismo moderno no Brasil. Isso me mudou definitivamente, mudou minha cabeça para a fotografia.

Patrícia - Você estava na Bah ia ainda?

Evandro por Walter Lessa, 1959. Eu estava em Jequié quando aprendi fotografia. O Nestor Ribeiro, que era Regina - Talvez você pudesse começar um dos maiores fotógrafos, tinha um comentando o começo. Como você gabinete fotográfico. Naquela época escolheu essa profissão? se chamava gabinete fotográfico. Era aquela foto de arte, clássica, bonita, com Na realidade, eu, ainda lá na Bahia, tripé, uma câmera 18 x 24, chapa de sempre fui ligado à arte, na minha vidro, e eu fiz esse curso de fotografia infância. Fui ligado à escultura, queria com ele. Tinha o Walter Lessa também, ser escultor, já esculpia, trabalhava com que fazia fotografia documental, e ali madeira; eu construí uma caixa de ci­ eu comecei a montar laboratório e nema. Ia lá pra minha escola com uma estudei fotografia com o Zé Medeiros caixinha de cinema de madeira com por correspondência. Tinha um curso

188 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 incentivou a vir pro Rio de Janeiro. Eu fui estudar no Colégio da Bahia, em Salvador, e continuei praticando a fotografia. Fui estagiar no Diário de Notícias, que era cadeia Associados e o Mapin, como ele era conhecido, achava que eu tinha que vir para o Rio de Ja­ neiro. E eu pensava: - É loucura, quem sou eu pra vir pro Rio de Janeiro?

Patrícia - Isso era década de 50?

Década de 50. E o Mapin me incentiva­ va. Ele tinha um amigo no Rio de Janei­ ro, nos Diários Associados, que era diretor.

Salvador, 1960. Ele fez uma carta me apresentando. Eu tomei coragem, peguei um avião do Loyd Aéreo e levei a carta ao Diário da de fotografia em francês. Tudo isso Noite, que era na rua Sacadura Cabral. em Jequié. Eu queria ser aviador e Era O jornal e O Diário da Noite. O Cruzeiro mudou minhas idéias.

Regina - Naquela época não tinha Regina - Você nasceu em Jequié? profissionalização ...

Eu nasci em Irajuba, que é naquelas Naquela época você chamava o diretor redondezas. Depois fui transferido para de redação de um jornal de doutor. Era Ipiaú eJequié, onde fui estudar também uma distância incrível. Você não tinha e aí comprei laboratório; praticava a a liberdade que se tem hoje. E ele me fotografia, aprendi a fotografia com apresentou ao editor de fotografia, Walter Lessa e Nestor Ribeiro, que era que era um italiano, Ângelo Regato. irmão do Adamastor e os dois eram tios Eu fui fazer estágio no Diário da Noite. do . Aí eu me mudei, fui Aí ele me disse: - Olha, você vai ser o morar em Salvador pra estudar. Morava santo caSamenteiro. O Diário tinha uma com Manuel Pinto, que se tornou um página de casamento. Aí o diretor de compositor famoso na Bahia. Era um fotografia me chamou e me apresentou: dentista, era mais velho que eu, mas - Olha, tem um baiano aqui, um novo a gente morava junto. Ele é que me estagiário ... E os fotógrafos eram todos

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 189 velhos, uma equipe bem antiga, e ele Aí mandou me demitir. Mas o Ângelo me chamou: - Olha, ô baiano. Você mandou eu ir pra casa, que ele ia aman­ vai ser o santo casamenteiro! Eu queria sar a fera. Que durante uma semana dizer pra você que pode ser pobre, rico: eu ficasse em casa. Era carnaval. Era o não importa. Eu só não quero preto. tempo de amansar a fera. Eu voltei. Era E assim eu saí. Tinha uma lista com as o Baile do Municipal e ele disse:-Você igrejas e o carro com motorista. . E você não pode dar mancada. Era o Baile do saía procurando casamento nas igrejas Municipal. Naquela época, tínhamos do Rio de Janeiro inteiro. No primei­ de ir a rigor. Eu aluguei um smoking. ro dia eu fiquei ligando, só encontrei Ninguém ia ao Baile do Municipal sem casamento às cinco da tarde na igreja smoking. Era lindo aquele baile! O que da Gávea. Quando cheguei, havia um acontecia no Baile do Municipal tinha preto, um mulato de cabelo encaracola­ mais apreço que as escolas de samba. Ha­ do, casando com uma loura, parecendo via umas vedetes no carnaval - Evandro uma alemã. E aí? O que é que eu faço? de Castro Lima, Clovis Bornay... O ne­ No nervosismo: vou fazer a foto. Era gócio era tão importante que tinha uma uma câmera Rolleyflex, 6 x 6. Eu fiz a passarela, que saía do Teatro Municipal, foto do casal e voltei pro laboratório, no no segundo andar, daquelas janelas, e ía jornal. O laboratorista era um belíssimo pra rua, com uns dois metros pra fora. profissional. Era um português, o Vilar. Era para a turma do sereno. Eles apa­ Aí eu lhe disse: - Vilar, não encontrei, reciam ali e era a torcida do Maracanã, só encontrei um preto casando com como é hoje. Era o máximo. uma loura. Ele respondeu: - Não tem problema, vai ficar branco! O bom laboratorista tinha o papel Regina - O máximo! do photoshop hoje e o cara ficou branco realmente. Aí eu tinha que fazer a legen­ O carnaval era o Baile do Munici­ da: "Casou-se ontem na igreja tal o Sr. pal. Eu cheguei e fiquei emocionado, João Manuel com D. Maria Joana... " Fiz embasbacado. Aquela grandiosidade. naquela máquina grande Remington e O tempo todo fotografando. Uma hora pus com a fotografia 18 x 24 em preto da manhã o locutor chamava: - Vai e branco na mesa do diretor e fui pra começar o desfile! E era lá em cima na minha sala. O diretor da redação era passarela, e eu não conseguia chegar na um cara temido... Quando foi oito e passarela. .. Eu não conseguia chegar no pouco da noite, mais ou menos, ele primerio andar. No dia seguinte, apareci ligou pro chefe de fotografia... - Vem no jornal e disse: - Quebrei a cara! E o aqui na minha sala, Ângelo ... Eu não Ângelo, que simpatizou comigo, falou: falei que não queria preto? Quer me - Não fala nada com o diretor porque enganar! Olha o cabelo do cara!. eu vou pegar a foto de O Cruzeiro ...

190 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1 ), 2006 fiz uma viagem experimental a Brasília. Fizemos duas viagens de trem a Brasília a pedido de JK. Eu não lembro se foi 58 ou 59. O Diário da Noite era vesper­ tino, saia às duas da tarde. O Jornal era matutino. O Diário da Noite era um jornal belíssimo.

Patrícia - Mas tinha pouca fotografia?

Tinha fotografia. Mas quem valorizou a fotografia foi o Jornal do Brasil. Eu vou chegar lá. .. O jornalismo era uma coisa vibrante, uma coisa dinâmica. Eu fiquei no Diário da Noite fazendo várias coberturas até o final de 62. O Jornal do Brasil, paralelamente, tinha me convidado pra eu ir pra lá, mas eu Paula do Salgueiro. ainda não me achava preparado. Ti­ Carnaval na Presidente Vargas, anos 70. nha medo. Era uma equipe brilhante. A equipe do Jornal do Brasil era o jorna­ Amanhã é o desfile da escola de samba e lismo da época, moderno, os fotógrafos quem vai te dat a última chance sou eu, ganhavam mais que os repórteres. Era porque senão não dá. No dia seguinte, a elite da fotografia de um modo geral. fui pra Rio Branco, pra Cinelândia fazer Marina Colassanti, Nelson Pereira dos o desfile. Eu ganhei da equipe. Aí ele Santos ... ficou feliz da vida. - Olha, fulano, eu não te falei que o baiano tinha futuro?! Olha aí o trabalho dele! Aí ele acreditou. Regina - Carlos Drumond de Andrade ... E me deram o emprego e eu fiquei no Diário da Noite. Essa gente toda... Otto Lara Resende, todo mundo. E eu fiquei com medo de ir pro Jorn'al do Brasil. Mas eu saí do Patrícia - Antes de ir para o Jornal do Diário 'da Noite porque recebi convite do Brasil você foi para o Mundo Ilustrado? Mundo Ilustrado. Aí eu pensei: - Eu dou um aprendizado ali, a revista era dinâ­ Sim, fiquei uns dez anos nesses outros mica... Depois de O Cruzeiro, também periódicos. Eu fiquei no Diário da Noite, revolucionou, era belíssima.. .

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 191 Regina - Antigamente o jornal era Regina - Na Bahia você aprendeu uma texto, texto, texto ... fotografia mais técnica?

Tinha pouca fotografia. O Cruzeiro era Eu diria que era uma fotografia acadê­ o que era! Pra você ter uma idéia, os mica. O Walter Lessa foi quem me deu fotógrafos de O Cruzeiro eram as vedetes a dinâmica diferenciada, ele era mais da época! Tinham segurança! Nip.guém jornalista. Ele era de Jequié e já usava a falava com eles. Luciano Carneiro, Zé Rolleyflex. Urna fotografia mais moderna, Medeiros, Indalécio Wanderley, todos mais dinâmica. O tio do Glauber tinha eram cercados de segurança. A grande o gabinete fotográfico, aquela fotografia mídia era o jornal e a revista. O Cruzeiro artística, linda, iluminada, grande, com foi a maior revista da América Latina. tripé. A minha fotografia era urna foto­ O Cruzeiro, num concurso de Miss grafia amadora. O Manuel Pinto achava Universo, em Miami, mandou o filme que eu era um profssional, mas aqui no da eleição da miss de avião. Um avião Rio de Janeiro tive que começar tudo de fretado, só trazendo o filme, para fechar novo. Era diferente, o estilo era outro, era O Cruzeiro na segunda-feira... Olha que Leica, eu não tinha isso lá na Bahia. luxo, pra ver a loucura que era! No Mundo Ilustrado eu fiquei quase um ano tomando coragem e entrei no jornal do Regina- Mas quais foram os seus gran- Brasil no final de 62. des mestres no fotojornalismo?

Zé Medeiros, com quem tinha estudado Regina - Nessa época, quando você por correspondência, e quando eu che- chegou da Bahia, tinha uma concor- guei aqui, o conheci pessoalmente. Ele rência? Muita gente queria ser fotó- tinha um curso por correspondência na grafo? revista A Cigarra, que era de O Cruzeiro. Eu fiz esse curso na revista francesa e Evandro - No jornalismo hoje, como havia um americano, o Eugene Smith, toda profissão, o Rio de Janeiro ainda é que foi um dos maiores mestres da foto­ a escola, o sonho de qualquer repórter é grafia do mundo (morreu recentemente) trabalhar no Rio de Janeiro, mesmo ten­ e o Cartier-Bresson, queira ou não fo i do São Paulo, o sonho de todo mundo o pai de todo o mundo. Mas o Smith é vir pro Rio de Janeiro e trabalhar no é mais jornalistico, mais dinâmico. jornalismo. Naquela época muito mais O Cartier-Bresson é uma fotografia ainda. Você, na Bahia ou Pernambuco, o mais composta. Chegando no Rio de Rio de Janeiro era um sonho sonhado. Janeiro, eu fui pro Diário da Noite. Não O Rio de Janeiro foi a capital cultural tinha grandes nomes no Diário da Noite, do país! eram fotógrafos bons mas não eram

192 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1 ). 2006 as feras. No Jornal do Brasil, eu conheci coluna chamada "Onde o Rio é mats os grandes nomes da fotografia. Em carioca". Nós saímos pela cidade procu­ O Cruzeiro tinha o Indalécio Wanderley, o rando imagens belas. A gente construía Luciano Carneiro, o Zé Medeiros, o Luiz um Rio de Janeiro através de imagens. Carlos Barreto, o Henri Ballet, que eram Não tinha essa obrigação, que existe vedetes do jornalismo da época. Eram hoje, de fotografia e texto. Não havia considerados e eram realmente! Mas em isso. A gente saía às ruas procurando O jornal e no Diário da Noite não havia imagens belas e nós construíamos a ci­ grandes nomes. Respeitados eles eram lá dade, duas páginas gráficas do Caderno B, dentro, mas em relação aos profssionais página dupla, por meio daquilo a gente de O Cruzeiro, não tinha nada a ver. E o encontrava a cidade. Jornal do Brasil estava surgindo como a grande estrela na mudança de 59 para 60. Foi o grande nome que se tornou a Regina - Não entendi bem a compa­ escola do jornalismo. Alberto Ferreira e ra çã o ... vários outros que estavam tomando o lu­ gar de O Cruzeiro, que estava morrendo. É que hoje você tem que ter um perso­ Quando O Cruzeiro estava entrando em nagem. Hoje tudo é pautado, tem que desgraça, o jornal do Brasil cresceu. Odilo ter um personagem. Não adianta você Costa Filho, repórteres, Oldemário Tou­ encontrar uma bela imagem na cidade; guinhó, Marcos de Castro, Sérgio Cabral, às vezes você publica, mas tem que ter Armando Nogueira, Marina Colassanti, um tema. Naquela época, você construía Nelson Pereira dos Santos. E tinha o Al­ uma história através da imagem e hoje berto Dines, que foi um grande mestre, é ao contrário. Hoje é essa coisa do per­ era chefe de redação, e foi - é, um gênio. sonagem! Vamos fazer um personagem! O Jornal do Brasil se tornou a escola É coisa ridícula! É chamada boneco, na do jornalismo brasileiro. Tanto é que gíria. Boneco é aquela foto acadêmica, quando eu entrei no Jornal do Brasil eu aquela foto quadrada. Então é diferente. ganhava trinta e cinco mil e os repórteres O jornalismo hoje não é mais dinâmico. que escreviam ganhavam trinta mil. Por­ que o jornalismo fotográfico do Jornal do Brasil era a elite da época. Tinha um Regina - O jornalismo antes deixava grande nome. acontecer.. .

Você ia atrás, você construía os perso­ Regina - Isso antes da ditadura? nagens. Era o jornalismo investigativo, você ia ao morro, investigava. Passava Isso em 62. A ditadura foi em 64. O uma semana investigando uma matéria, Jornal do Brasil revolucionou. Tinha uma os personagens canecas no morro ...

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 1 9 3 Evandro e Pelé. Copa do Mundo. Chile, 1962.

Patrícia - Não só na fotografia, no jor- nalismo acabou, morreu! Aquela coisa nalismo de uma forma geral? da informação, não tem informação. Você não vai construir uma matéria. De uma forma geral. Tinha os grandes Hoje você pega o telefone: - O que nomes .. . que aconteceu aqui? Ah! A assessoria de imprensa vai distribuir. Ah, o e-mail está te mandando .. . A imagem, o texto, Regina - Era uma experimentação ... tudo hoje vem por e-mail... Eu vi o Luiz Carlos Barreto falando de Vidas Secas, da luz, que foi uma coisa que eles experimentaram ... - Vamos Patrícia - Passando rápido pelo tempo e estourar aqui e aí aquilo deu um efei­ chegando à época atual, acho interes­ to interessante, vamos deixar assim ... sante saber como é que, nesse contexto, Tinha um lado de experimentação e o que tudo vem rápido, tudo está dado, e Cinema Novo estava nascendo aí. .. a sua fotografia aparece de uma maneira muito forte. Está tudo dado mas tem Dava certo! Não é como hoje, o JOr- alguma coisa que se diferencia ...

194 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 Regina - Era como se você humani­ zasse mais ...

Você valorizava mais. Agora não tem mais espaço. O jornal não tem mais espaço. Agora é aquela bobageira toda, sem vida. .. Você vê: esses personagens fa­ mosos, o , tudo era construído. Favela da Maré, 1976. Cartola na Mangueira, aquelas coisas bonitas, aquele restaurante do Cartola, o Cartola passeando pela Mangueira com Dona Zica, hoje não tem mais isso, Em algum momento é verdade, mas você andar atrás do , você não tem mais esse tipo de cons- eu tinha umas imagens bonitas... do trução como eu expliquei antes, de sair Pixinguinha, hoje não existe mais isso. pela cidade buscando uma história e Não tem mais espaço pra você construir mostrar, através daquilo, seu dia-a-dia. essas histórias, histórias em imagens ... Construir a sua relação com a cidade, com a história, com a sua visão, com a imagem... Regina - Evandro, você estava falando que gostava de arte, de fazer escultu­ ras, que lhe motivava criar formas ... Patrícia - Nessa época, nesse começo Você acha que isso está na sua foto­ do JB, essa construção era totalmente grafia, essa coisa artística? livre? Você não tinha uma pauta? Hoje você vai cobrir política, por Eu acho que está, porque na minha exemplo ... terra - eu sou de uma cidade lá de Deus me acuda!, lá do interior - não Tinha, evidente que tinha, mas havia tinha nada, não tinha televisão. Hoje também a liberdade. Não acontecia por você tem tudo. Você fugia do carro. Eu acaso. Você tinha o cotidiano. O baile da me lembro quando chegou o carro na Mangueira, a morte de um político, mas minha cidade, a gente tinha medo, eu você tinha a liberdade de ir construindo fugia do carro. O primeiro Ford, fubica. a sua própria história. Na fotografia e Era ~~ coronel lá de Maracá. Eu tinha também no texto. Você ia ao morro, um medo de carro desgraçado! Não sei criava aqueles personagens: Cara de Cão, que diabo me levou a criar cinema, uma bandido não sei o quê. .. Você levava tem­ caixa de cinema, fazer escultura, eu lia po construindo aqueles personagens ou em revistas .. . Chegava lá revistas, não aquelas imagens. Isso hoje acabou ... tinha jornais, não tinha televisão ... Era o

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 1 9 5 Balé na favela . Rio, 1996.

rádio! Era a Rádio Mayrink Veiga, a Rádio Regina - Nesses quarenta anos, você Nacional, era isso a informação que a construiu essa possibilidade de se falar gente recebia naquela época. Você rece- na imprensa através da imagem ... bia revista uma vez por mês. O rádio é que era quem informava naquela época. Patrícia - E essa escolha de contar, seja O rádio, nada mais que o rádio. a história do futebol ou a história do Lula, na primeira capa do jornal, quem Regina - A gente vê nas suas fotos que é que faz? É o editor do jornal? elas são produzidas como um quadro, que elas tem um trabalho, um aperfei­ Veja bem, a gente faz uma edição da­ çoamento ... Se você vai fazer um livro, quilo que produziu. Das imagens que a você escolhe entre trezentas fotos aquela gente produziu. No meu caso específico: que você quer, então não é simplesmente hoje, por exemplo, eu fui ao Flamengo, o registro. O fotojornalismo passa, pelo vi a derrota do Flamengo ... Então a gen­ menos pra mim, o registro ... te edita aquele material que acha que é importante dentro daquela história ... Eu também busco essa coisa da com­ Mas hoje o papel do editor fotográfico posição da imagem. Tem que entender não existe mais. Tem o título, "editor de perspectiva. fotográfico", mas entre aspas. Na época

196 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 Sambódromo, 2002.

do bom editor de fotografia, o Alberto precisava fazer isso), ficava tão empol­ Ferreira, por exemplo - aquele fo i um gado que ía pro laboratório e ampliava grande editor de fotografia! - , a gente a foto. A gente naquela época ampliava. produzia uma matéria, ou no cama- Ele trazia a foto, ele fazia questão da val, ou no jogo de futebol, ele ia lá e foto que ele gostava, ampliava 30 x tinha o prazer de ir para o laboratório 40, a foto da primeira página e ponto e editar uma foto da primeira página. final, era ela. Ele ampliava uma foto 30 x 40 e dizia: - Tá aqui a foto da primeira página! Isso não existe mais hoje. Patrícia - Você acha que essa mudança tem a ver com a decadência do Jornal do Brasil ou ... ? Patrícia - Qual o período do "bom" editor de fotografia, no jornal? Não. Com a decadência do jornalismo de um modo geral. Hoje o papel do Até a década de 90, o Alberto Ferreira, editor fotográfico, com a entrada da o Orlando Brito, o Rogério [Reis] ain­ internet, do computador. .. com essa da fo i assim .. . Um exemplo, um jogo facilidade toda, hoje o que você faz é o de futebol: ele tinha o prazer (ele não seguinte: você edita o seu material e vai

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 197 pro computador. Eu, quando estou lá, detalhes que fazem a diferença para a eu ainda tenho um pouco de força pra pessoa que está lendo jornal, aquilo va i dar uma opinião: essa foto é a primeira tocar numa coisa ma is humana .. . página e eu acho essa etc., mas, de um modo geral, ninguém faz isso, não tem Na realidade ainda existe isso hoje, é força ... São os diagramadores os maio­ evidente, mas está um pouco diferen­ res mutiladores das nossas imagens. ciado. Nem todo mundo olha por esse O computador está ali cheio d~ imagens lado. Às vezes uma bela imagem não é da Reuters, as do Brasil é ~s nossas do importante pra eles porque tem uma Rio de Janeiro. Ele vai escolhendo a que ou tra coisa com interesse comercial, acha mais importante, o assunto do dia: hoje conta tudo isso ... O jornalismo, então ele tira aquela imagem que é mais de um modo geral, perdeu aquela im­ importante, mais significativa.. . portância. Tanto é que a gente não tem mais os grandes nomes do jornalismo atualmente. Regina - O diagramador faz isso?

O diagramador junto com o editor Patrícia - Eu vi você dando algumas de cada editaria. Aí vem o editor de aulas em que comparava a primeira primeira página e vão discutir o que página do JB com a primeira página entra na primeira página do jornal. Ele de O Globo, mostrando como é que apresenta aquela sequência de temas se distinguiam, em certos momentos, e às vezes tem uma foto mais bonita, e a fotografia entrava como um peso. mas o assunto é importante... Com essa Como é isso? facilidade da internet, não tem mais qualidade. O negócio é custo. Você tem Quantidade não é qualidade. Ainda ali tudo de graça no computador, texto pesa. O jornal do Brasil ainda pesa nessa e foto, tem dia que o computador não coisa de qualidade, de bom gosto. Hoje, agüenta receber imagem... abrindo O Globo, fi quei impressiona­ do porque quando abri a página de Regina - Mas, no caso das suas fotos, Esportes não tinha nada! Não tinha tem uma singularidade. Você pode ter nada n'O Global Eu achei que a gente milhares de fotos falando da mesma ia levar uma surra.. . coisa, porém o que diferencia uma foto que lhe diz alguma coisa, que toca - tem foto que você olha e toca Patrícia - Mas nessa história da quali­ fundo, por exemplo a foto do Papa dade eu acho que tem uma diferença com o dedo, você vê al í como se fosse desse bom gosto e desse padrão que a mão de Deus ... São esses pequenos você fala, mas tem um problema que

198 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1) . 2006 hoje aparece muito claro: a questão sempre faziam protestos ali em frente da compra das imagens. O Jornal do ao jornal, na Sete de Setembro, na Rio Brasil e O Globo às vezes apresentam Branco. As barricadas, as brigas com a a mesma foto, da mesma origem... PM, as trocas de bolas de gude, pedras, o diabo! Sempre foi ali, no jornal do Os jornais tinham sucursà'is no Brasil Brasil. Teve um dia, a sexta-feira negra, inteiro, de Brasília ao Amazonas, hoje que o jornal foi fechado a bala, a tiro tudo é agência, ninguém tem sucursal mesmo, e nós tivemos que arriar as em lugar nenhum. O que acontece: portas. Um almirante entrou pra fechar uma grande agência - Agência Estado ou o jornal e a rádio. Por outro lado, na Agência Folha - está em todos os lugares. questão da censura, a fotografia teve um O JB publica uma foto, O Globo publica, papel importante na época da ditadura. O Dia publica, todo mundo publica. O pessoal do texto não conseguia, era O computador te dá tudo de graça, a mutilado, os censores se instalavam na internet te leva a divulgação, o que inte­ redação dos jornais, especialmente na resa ao jornal hoje é custo. Antigamente redação do jornal do Brasil, para destruir era assim: o pau comia na Argentina, tudo. E o repórter sofria! Eles sabiam por exemplo, eu cansei de viajar com a ler, afinal de contas.. . Sabiam ler e liam roupa do corpo! No caso PC Farias foi e não gostavam daquilo que estava assim! Hoje, não se vai nem prá Niterói! escrito, e o jornal saía no dia seguin­ A Copa do Mundo, futebol. Os jornais te com frases engraçadas: "Hoje está mandavam pra todos os lugares. Atual­ neblinando ... " Como eles não sabiam mente as agências roubaram esse espaço. ler a fotografia, a gente burlava isso ... Tudo isso é igual. Essa facilidade é essa A gente fazia contato... Eu, inclusive, questão dos custos ... não gosto de ler contato. Eu não sei fazer leitura de contato. Eu gosto de olhar o negativo na mesa de luz. J Patrícia - Evandro, eu queria retomar A gente mostrava o contato para os aquele período 68/70, aquele período censores e eles não entendiam o que era mais da ditadura e o papel do JB , com aquilo. A gente contava uma história lá as suas fotos ... qualquer. No dia seguinte, quando era publicado, aí o pau comia. Por isso a O jornal do Brasil teve essa importância. fotografia teve um papel fundamental Foi um palco de protesto dos estudan­ no per'íodo de chumbo, porque a gente tes e intelectuais. As passeatas, tudo se conseguiu mostrar isso que o pessoal assistia ali em frente ao jornal. Mesmo de texto não conseguia. Acho que foi na época passada, do início do século, uma época gloriosa pra fotografia. Uma tudo acontecia em frente ao jornal do fotografia não precisa de texto. Ela fala Brasil. E, na ditadura, os estudantes por si, vale por mil palavras.

EVANDRO TEIXEI RA • Entrevista 199 Golpe Militar de 1964. Tomada do Forte de Copacabana .

Fogo na rural do exército. 1968.

200 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 Missa de Edson Luiz, Candelária, 1968.

Queda do estudante pela polícia na Cinelândia, 1968.

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 201 ~t::'f~P~ ~ ··', :>· :·· .. ·~ ·•. , .,,~~.:fii~{~~/~:J~;~:~t~;';" 1: .

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Passeata dos 100 mil, 1968 .

Patrícia - O Rogério Reis costuma .f~l ~.9B.NA~J.l0 D~fi~_! .... lohnson pede paz--- e Cào Ky falar que você, em geral, posiciona­ [~~~~~ se muito bem para tirar fotografias. ~~~~ Quando você sai pra fazer uma foto, ~~~~ você pensa antes ou é uma coisa do momento? Você fica pensando antes . como vai acontecer? ~-~-·~=~---- -·------~.• •·.;;?"~ ·.!!. -S1"~" "irt ·····1 ~~ ~­ •::.JA::t Cada momento é um momento, cada assunto é um assunto, cada tema é um tema. Depende do local, do assunto. Tem coisas que é do momento, é uma coisa repentina. Cada situação é uma situação.

Regina - Tem uma coisa que você cos­ Libélulas na baioneta. tuma dizer que é o censo de oportuni­ Foto de Evandro no Jornal do Brasil. dade que o fotógrafo deve ter...

202 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 Chico, Tom e Vinfcius. Churrascaria Carreta, Ipanema, 1979.

Veja essa matéria de ontem [futebol no o Alberto Ferreira demitiu ele lá na Eu­ Maracanã] - eu estava aqui, O Globo es­ ropa. Ele esqueceu que o jornal do Brasil tava ali, com seis pessoas. Eles estavam era no Rio de Janeiro, na Avenida Rio com gente cobrindo os 360 graus. Eu Branco. Ficou empolgado lá na Europa ficava atento e o gol aconteceu aqui. e esquecia que tinha que acompanhar A gente tem que estar sempre atento! uma seleção de futebol, que tinha que trabalhar 24 horas. Quando você viaja, você trabalha 24 horas. Você pode se­ Regina - Você tem paixão pelo seu guir o Presidente da República ou um trabalho ... jogo de futebol. Ele se esqueceu disso! Ele tinha uma carreira promissora, era Você tem que ter paixão por aquilo que jovem iniciante! Estava-se acreditando faz. Toda profissão tem que ter paixão, nele ... Aí não chegava material ... Foi lá seja a minha seja a de vocês. Nem todo pra f~er isso, não fez, demite! fotógrafo é "o" fotógrafo. Tem aqueles que são mais apaixonados, que dedicam sua vida por aquela causa, aquela profis­ Patrícia- Mas é interessante como você são. Eu me lembro que tinha um jovem consegue fazer, com a sua fotografia, fotógrafo, que entrou no jornal do Brasil um material rico, seja cobrindo, por empolgado e foi demitido lá na Europa, exemplo, o general Figueiredo em

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 203 900l '( L)ll 'OJtauer ap O!lJ 'wa6ew1 a et60JOdOJlUit ap souJape) 170Z

·vooz 'seuaw ap sepeJdW!IO Cleveland ou o Lula na Caravana da Cidadania. Coisas muito diferentes, mas que mantêm uma identidade do seu trabalho .. .

Você tem que gostar daquilo que faz, tem que dar importância ao seu tra­ balho. Seja a visita do Presidente da República na China, um jogo de futebol ou um buraco na rua do Livramento, você é que constroe o seu trabalho. Você sai pra fazer uma reportagem, tem que achar que aquilo é importante, tem que dar importância àquilo que você vai fazer, pois assim o trabalho cresce, você vai valorizar aquilo ... Quantas vezes eu brigo com o repórter... Tem que sair achando que o trabalho é importante. É importante tanto quanto a visita do Ayrton Senna. Papa... Desfile das Campeãs. Sambódromo. 1992.

' José Inácio Parente, Patrícia- José lnacio1 estava comentan­ psicanalista e fotógrafo, que nos do que o seu trabalho tinha dois lados: acompanhou na o lado de mostrar o herói, as persona­ entrevista, fazendo lidades, os grandes nomes e também o as fotografias de Evandro. povo. Aí eu falei que podia se chamar assim: "João Butão vira personagem e quer virar um velhinho qualquer do Evandro" ... Mestre Marçal. Sambódromo, 1984.

Regina - O herói e o anônimo. dade .daquela gente lá ... João de Régis! Patrícia - Seja o herói ou o anôni- A minha maior alegria é quando ía a 2 Personagem das mo, você tem essa mesma alegria de Canudos e encontrava João de Régis. fotografias de Evandro fazer! Eu me sentia um herói ao lado dele. realizadas em Canudos Ele pra mim é um herói. É uma gente presente no livro Canudos 100 anos, 2 Falar em João Butão , pra mim, é um importante, de uma sabedoria... me publicado por Textual, grande personagem! Eu sinto uma sau- dava alegria conversar com João Sutão ... RJ , 1997.

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 205 Lula, Caravana da Cidadania, Ceará, 1994.

Vigário Geral, Rio de Janeiro, 1993.

206 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 João de Régis, Canudos, 1994.

no dia em que ele tomava umas cacha­ Eu, no jornal do Brasil, tenho uma liber­ ' A Feira de São ças, eu não me esqueço, João Butão dade muito grande... Cristóvão é o novo campo de trabalho num porre... - Seu João, amanhã nós fotográfico de Evandro, vamos lhe buscar pra ir à Feira de Ca­ no desenvolvimento do nudos! (a Feira de Canudos é domingo). Regina - A fotografia é um lugar de projeto de um livro: A Feira de São Cristótão: Ele e a Dona Joana.... Um personagem fazer amigos, como em Canudos ... o nordeste no Rio de riquíssimo, de uma sabedoria!. .. Eu Aí você volta, vê como está! Fica Janeiro, uma parceria adorava conversar com aquela gente. uma grande família, leva um pre­ com Patricia Monte­ Mór, em processo. sentinho ... "Chiquita" é o nome de uma famosa Regina - É uma relação que você man­ Patrícia - Assim como na Feira de São feirante local, dona de restaurante que leva Cristóvão hoje, com a Chiquita ... 3 tém, com os personagens ... seu nome.

Eu adoro! Regin_a- É uma maneira muito singular, • Zé da Onça, por.que, em geral, no fotojornalismo, sanforneiro pernambucano que fez a foto e acabou ... participa da Feira de Regina - Você está tanto tempo no São Cristóvão e já Jornal do Brasil ... a trajetória das pes­ O Zé da Onça4 só me chama de Pai: viajou para a Sufça, com Evandro, a seu soas hoje não é tão fiel a uma casa, - Chegou meu Pai! Esse homem me convite, para tocar num a uma instituição ... levou pra Suiça!!! O outro velhinho, evento cultural local.

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 207 Um momento glorioso, mas triste: A queda do Allende (golpe militar no 5 5 Publ icou, em 2004, Chile). Cobrir a morte de Neruda , o Iivro Vou viver. Prêmio Nobel da literatura. Foi uma Tributo a Pablo tristeza vê-lo morto, mas foi uma glória Neruda em fotos de Evandro Teixeira . Ri o ver um herói como o Neruda. Eu era de Janeiro, Textual. o único jornalista que estava ali, na época em que o jornalismo tinha im­ portância, que o furo jornalístico tinha importância! Hoje não tem mais isso, do furo! Um Prêmio Nobel, você sozi­ nho e o cara morto! Foi um momento glorioso e muito importante na minha vida. Fui à casa dele no alto da colina. Outro momento dramático foi o Jim Jones na Guiana Inglesa, que foi uma desgraça terrível, aquela tristeza, aquela pobreza ... Você não tinha onde tomar banho, não tinha onde dormir. Era uma sujeira... Ficávamos numas beliches, co­ míamos banana e tomávamos coca-cola. Pra você ter uma idéia, o Lucas Mendes, que era o correspondente da Globo em Nova York, morava num carro ...

Feira de São Cristóvão: Regina - Acho que você me passa uma Azulão, Zé da Onça e Chiquita. coisa de ir ao encontro do mu ndo! Mesmo nas si tuações adversas, é naquilo que você está produzindo o seu t ra balho. Está me le mbrando aqui Euclides da Cunha, ir em direção Azulão, já me chamou pra ir comer ao mundo! Diferente de um escritor uma buxada. Ele mora lá na Rio- São mais intimista, como a Clarice Lispec­ Paulo, eu já fui lá. .. tor, quando o mundo é e la, co m as coisinhas del a, fechada num quart o, pensando nos seus personagens . Patrícia - Nas matérias todas que você Os personagens do Evand ro estão no já fez, o que te deu mais prazer? mundo, ele vai ao encont ro deles no

208 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 mundo ... Esse trabalho que o Evandro eu conheci o Pau d' Arco. E o pessoal faz tem a ver com a antropologia, de dizia: - Pau d' Arco lá na Igreja, ele se aprofundar... conhece tudo por lá! E nove horas da manhã e Pau d' Arco já num porre! Eu Patrícia - Eu estava pensando também dei a câmera pra ele fazer uma foto, a nessa direção em relação aos ensaios. câmera fazia assim!- Pau d'Arco?! Vai Nós estamos falando muito do jorna­ derrubar minha máquina! - Se eu to­ ' Evandro Teixeira: instantâneos lismo do dia-a-dia mas tem uma coisa mar outra pára de tremer! Aí eu paguei da realidade. que é sempre paralela ao trabalho: uma cachaça pra ele e realmente parou Documentário dirigido a escolha de um certo tema para ser de tremer... Conhecia tudo do Glauber por Paulo Fontenelle, 2005. aprofundado. Como foi com Canudos, Rocha, numa intimidade ... - Pois é, como foi com o sertão do Ceará ... em Os fuz.is 7 eu matei 18 cangaceiros ... 7 Os fuzis , filme de - Mas como, Pau d' Arco? - Piquei Rui Guerra, realizado no ano de 1969. Como faço com a Feira de São Cristó• o fuzil nos cara, pá, pá, pá!... Ele foi vão hoje ou com o Caminho das Águas, figurante de todos eles, de todos os no Rio Grande do Norte. Minha relação filmes do Glauber Rocha. com os meus presonagens é a mesma coisa, a gente tem muita amizade na feira, ao Zé da Onça, à Chiquita... Regina - Trabalhar com as pessoas da cidade já era novidade naquela épo­ ca!... Mas Evandro, porque você cita, 8 Patrícia - É um mergulho! A história é no final do seu site , um texto um 8 www.evandroteixeira construída a partir desses personagens, pouco pessimista? ... Você diz ser um net. não é um registro impessoal, dialoga profissional insatisfeito, "minhas fo­ muito com a antropologia. Ele está tografias são tristes, sou um fotógrafo sempre buscando de onde está falando, que anda devagar com sua máquina, a não é uma coisa que está ali, solta ... ênfase que coloquei no meu trabalhou cristalizando meu momento numa ima­ Eu tenho grandes amizades na feira gem não contribuiu para trazer alívio hoje: a Chiquita, o Zé da Onça, o Na­ às minhas aflições. O mais importante é tao, chegar lá é uma festa, uma alegria! o que deixei de fazer e o que deixarei Eu gosto muito de ficar amigo dessa de realizar vida afora ... ". gente. Agora mesmo, na filmagem do 6 meu documentário , tinha um perso­ Eu acho que tem tanta coisa que eu nagem muito engraçado: Pau d'Arco. deixei de fotografar, que eu gostaria Pau d' Arco é uma figura. É o eterno de construir, que eu não posso dizer figurante de Glauber Rocha. A maioria que estou satisfeito com aquilo que eu dos cenários de Glauber foi em Mila­ fiz. Pra mim, tenho muita coisa ainda gres, na Bahia. E a gente chegou lá e pra ver, pra fotografar, pra mostrar

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevista 209 pro mundo. E eu vou dizer que estou sempre tive essa vontade. Jamais recusei satisfeito? Não posso! Meu sonho é responder algumas coisas, uma pergun­ construir mais, é ver o mundo, é fo­ ta. Eu gosto de mostrar a realidade, de tografar o mundo. Às vezes as pessoas passar as coisas, todo mundo tem que me perguntam: - Se por acaso você ga­ aprender. Eu acho que as pessoas talvez nhasse na loteria? Você se aposentaria? gostem de mim por isso. E eu fico feliz - Nunca! Aí é que eu ía ser fotógrafo! por isso. É uma multidão! Às vezes Ía poder viajar, ver o Brasil, conhecer o ligam, eu estou muito cansado, mas mundo! O Brasil é um país tão rico, tão eu seguro a barra! Hoje mesmo foram rico de imagens, personagens, alegrias, não sei quantos ligando, querendo fazer tristezas .. . E a gente fica tolido. Agora, monografia... Tem dia que eu estou por exemplo, que vontade de ir pro aperreado. Vem amanhã! Todo dia é São João, no Maranhão! Maravilha! Tô uma dezena me procurando, querendo doido pra ir à procissão de Bom Jesus saber, acho que é gratificante ... da Lapa. Eu ia com o (Orlando] Brito, mas agora estou indo pras Olimpíadas e não vou poder ir, mas se Deus quiser, Regina - Você acha que essa profissão no ano que vem ... Bom Jesus da Lapa tem futuro, pra essa garotada? é uma das coisas mais lindas do mun­ do, é linda a procissão de Bom Jesus Nada tem futuro nesse país, mas eu da Lapa. É uma coisa que tem que se não desanimo ninguém... Não vou mostrar, tem que construir, tem que desanimar o cara que quer se tornar ver, tem que fotografar. Eu não estou profissional ... Eu vou dizer: a coisa tá satisfeito. Se eu achar que estou satis­ difícil, mas acho que vocês tem que feito, eu tô morto! Eu não posso me procurar superar esses problemas todos. dar por satisfeito .. . Você tem que acreditar no que estão fazendo ...

Regina - E como é a relação com a garotada, esses garotos que estão na Regina - Ao mesmo tempo estão se redação: como é que é? Eles te pergun- multiplicando os veículos ... tam coisas? Querem aprender? Patrícia - E eu fico vendo você mesmo É uma alegria. As pessoas me adoram, encantado com a fotografia digital. .. recebo muitos e-mails, perguntas, eu sin- Como é que você vê essa mudança? to que é uma coisa mesmo de carinho ... Eu sou um cara que jamais vou ensinar Ontem mesmo eu estava usando essa errado. Eu aprendi, alguém me ensinou. câmera maravilhosa! Tem mais é que Então eu não posso ensinar errado. Eu agradecer e elogiar a tecnologia. É claro

21 O Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22(1), 2006 Evandro na fábrica da Leica em Solms, Alemanha, 2006.

que eu continuo usando a minha velha Você levava meia hora pra transmitir acadêmica e antológica de negativo, ana­ uma foto. Que máquina era essa de lógica. Eu sei lá o futuro do negativo, transmitir foto? Carregava um peso mas eu adoro a minha Leica, preto e enorme, caixas de papel, revelava branco ... mas não sou contra. Eu acho filme, a máquina levava meia hora genial a digital ... E na impressão do jor­ pra transmitir uma foto. Eu andava nal ... e genial a facilidade que a digital lhe maluco atrás de uma máquina de oferece. A qualidade é superior. Aquilo trasmitir foto e consegui uma. É pra que você faz com uma digital numa mostrar nas aulas. É um caixote que luz, o negativo não faz. Você tem mais a gente levava nas viagens mais um qualidade na digital. É impressionante. baú, um laboratório, caixas de papel, E o resultado ... Essa coisa do tempo do produto químico, transformador. jornalismo atual, de estar ali e transmitir Até 92 ~u usei esse equipamento, na na hora. Era um sofrimento... Copa de 92, por exemplo. Telefoto, equipamento fotográfico. Hoje a gente transmite do meio do mar, do Patrícia- E aquele aparelho grande de Maracanã, você transmite do grama­ transmissão que você comprou para do. Você ampliava no banheiro do mostrar nas suas aulas? hotel, fazia uma sujeira danada com

EVANDRO TEIXEIRA • Entrevi sta 211 pelo avião pra ver no dia seguinte pela televisão. Hoje clica a televisão, pega o cartão, põe no laptop ...

Patrícia - Aí tem o problema de cons­ truir um outro jornalismo ...

É outra dinâmica.

Patrícia - Evandro, uma curiosidade: Canudos você fez todo em preto e branco. Isso foi uma opção sua? Você hoje faria de novo em preto e branco? Tem alguns temas que você faria em Evandro por José lnacio Parente, preto e branco? São Luiz do Paraitinga, São Paulo. 2006. Não tem sentido construir uma história fixador. Quantas vezes fui expluso de de Canudos a cores. Aquela imagem é hotel! E a demora com a tecnologia?! a imagem do passado preto e branco, Eu era um jumento de carga, carre­ a terra... O tema é muito forte pra você gando aquele trambolho todo. Tinha mostrar aquilo a cores. É muito forte dias que eu chorava.. . Eu me lembro aquela região .. . Canudos não existe, de Seul, Seul em 88, eu pegava meu aquela terra não existe! Eu estou doido amigo da TV Manchete, o câmera pra ir lá. Outro dia mesmo eu liguei da TV Manchete pra me ajudar! pra lá: - Dona Pepeda? Como é que E eu ficava de madruga, tuh, tuh, tuh, tá aí, tá chovendo? - Não ... quando é eu não agüentava de sono, cansado, que você vem aqui? - Tô pensando em e aquela porcaria acabava a imagem ir aí em outubro ... e eu estava cochilando, e ele dizia: - Evandro, acabou! Me cutucava. .. Aí ia outra foto. Era um sofrimento. Patrícia - Evandro, e sobre seu amigo Hoje em um segundo você manda Sebastião Salgado? Você já trabalhou uma foto . Botou ali ... Tinha que com ele? revelar o filme, copiar etc. etc. Na Copa do Mundo de 62, a gente Tião é um dos mais importantes profis­ ia pro aeroporto com o pessoal da TV sionais do mundo. Eu o admiro muito, Tupi e mandava o filme e o videotape eu acho que é um cara respeitável...

212 Cadernos de Antropologia e Imagem, Rio de Janeiro, 22( 1). 2006 Chico Buarque, e Evandro em Montpellier, França, por Roland Leboye, 2005.

Patrícia - Mas ele nunca chegou a por ele, mas nós trabalhamos juntos em trabalhar aqui no Brasil... cobertura política, quando ele trabalhava em agências. Eu o respeito muito e o Já! Fizemos coberturas aqui no Brasil, admiro muito. Como também admiro o eleições, trabalhamos juntos. Comícios, Martim Chambi. Pessoalmente, eu não uma porção de coisas. Hoje ele está conheci o Martim Chambi, ele morreu mais nesse lado documental, projetas em trinta e poucos, mas eu o considero individuais... um dos maiores fotógrafos do mundo e da América do Sul, especialmente. Ele era do Peru. Eu admiro o trabalho dele, que é Regina - Mas nunca trabalhou em inacreditável, incrível, maravilhoso! O cara imprensa... já pensava, na década de 20, [ele atuou de 20 a -30, morreu em 35] em galerias, Trabalhou, trabalhou não para o Brasil, museus, escolas de fotografia. Já tinha essa mas no Brasil, vindo ao Brasil pra fazer visão!' O trabalho dele era em lombo de cobertura, como fez dos sem-terra, da burro... inacreditável, eu sou apaixondo política, etc. etc. etc. Uma figura mara­ pelo trabalho dele. Se eu pudesse, tinha vilhosa. Profissional de qualidade. Hoje uma coleção de fotos dele. Em Cuzco. são só projetas dele, projetas criados Andava num burrico fotografando ...

EVAND RO TEIXEIRA • Entrevista 21 3