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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

CORREIÇÃO PARCIAL OU RECLAMAÇÃO CORREICIONAL (88) Nº 1000262-44.2019.5.00.0000 REQUERENTE: SUCOCÍTRICO CUTRALE LTDA Advogado: OSMAR MENDES PAIXÃO CÔRTES REQUERIDO: TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO

CGJT/LBC/rd/gs

D E C I S Ã O

Reautue-se o presente feito, a fim de fazer constar a 2ª SEÇÃO ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO como Requerido e o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO como Terceiro Interessado.

Preliminarmente, atenda-se ao requerimento formulado na petição inicial da presente Correição Parcial, no sentido da exclusividade das intimações em nome do advogado Dr. OSMAR MENDES PAIXÃO CÔRTES, OAB/DF N.º 15.553.

Trata-se de Correição Parcial, com pedido de liminar, proposta por SUCOCITRICO CUTRALE LTDA. em face de acórdão prolatado pela 2ª Seção Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, nos autos do Mandado de Segurança n.º 0008553-67.2018.5.15.0000, por meio do qual se negou provimento ao Agravo Interno interposto pela requerente, mantendo a decisão mediante a qual se indeferira o pedido de concessão de efeito suspensivo à liminar deferida na Ação Civil Pública 0010918-15.2018.5.15.0091.

Registra a Requerente, inicialmente, que, em dezembro de 2018, o Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva, no exercício da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, nos autos da CorPar nº 1000883-75.2018.5.00.0000, deferiu medida liminar para

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suspender os efeitos da tutela provisória de urgência deferida nos autos da ACP, até o julgamento do Agravo Interno no Mandado de Segurança nº 0008553-67.2018.5.15.000. Destaca a Requerente que permanecem "as mesmas condições já verificadas por esta Corregedoria-Geral para justificar a concessão da tutela de urgência".

Ressalta que não há, nas cidades em que se encontram localizadas as fazendas, o oferecimento de cursos por Serviços de Aprendizagem, escolas ou entidades substitutivas, o que afastaria sua obrigação de contratar aprendizes. Acrescenta que, nos termos do artigo 13 do Decreto n.º 5.598/2005, a ausência de cursos deve ser verificada pela inspeção do trabalho, o que não ocorreu no presente caso, sendo açodado o ajuizamento de ação judicial contra a empresa.

Relata que o Ministério Público do Trabalho informou existir na localidade entidade educacional habilitada para prestação de serviços de aprendizagem - Rede de Assistência Socioeducacional Cristã (RASC) -, com autorização expedida na data de 30/8/2018. Contudo, frisa que referida autorização foi concedida na véspera do ajuizamento da Ação Civil Pública, em 31/8/2018. Acrescenta que referida entidade educacional está situada na cidade de , e não nas localidades em que a Requerente desenvolve suas atividades - , e Borebi.

Sustenta, de outro lado, que a base de cálculo da cota de aprendizes fixada pelo juízo não levou em consideração as exceções contidas nos artigos 10 e 11 do Decreto nº 5.598/2005 e na Instrução Normativa nº 97/2012, que excluem as funções que exijam habilitação profissional de nível técnico ou superior, as funções de confiança, as preenchidas sob o regime de trabalho temporário, as atividades insalubres, as perigosas e as incompatíveis com a moral dos aprendizes.

Afirma que o Juízo de Primeiro grau incluiu, indevidamente, na base de cálculo da cota de aprendizes, entre outras, a atividade de coleta de laranja - que, além de sazonal, não exige curso de qualificação - tampouco proporciona aprendizagem aos

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adolescentes. Não se conforma, igualmente, com a inclusão na referida base de cálculo das funções de vigia e vigilante, motorista agrícola, pedreiro, controlador de praga e trabalhador volante.

Pondera que, embora forneça "treinamentos e os equipamentos de proteção individual específicos para o exercício das respectivas atividades, a fim de eliminar possíveis agentes insalubres, estas funções demandam muitas vezes contato com produtos químicos, ruídos, etc". Entende não ser suficiente que a função conste do CBO para que seja considerada na cota de aprendizes, devendo ser avaliado se a atividade descrita no caso concreto proporcionará, de fato, um aprendizado capaz de garantir aprimoramento profissional e intelectual, o que não ocorre no caso.

Aponta, outrossim, a incompetência absoluta da Vara do Trabalho de Bauru/SP para processar e julgar Ação Civil Pública, sob o argumento de que a pretensão deduzida pelo Ministério Público do Trabalho envolve estabelecimentos da Requerente localizados nas cidades de , Borebi, Pardinho, Bofete e Avaré, que não se encontram sob a jurisdição daquela Vara. Argumenta que, nos termos do artigo 2º da Lei nº 7.347/85, a competência territorial em ação civil pública possui natureza funcional e, por essa razão, não admite prorrogação. Acrescenta que, "além da questão da Incompetência Territorial, há também insuperável INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES", uma vez que o próprio TRT fez constar de sua decisão que "os aprendizes envolvidos na discussão são, NECESSARIAMENTE, MAIORES DE 18 ANOS".

Requer a concessão de medida liminar para que, "reconhecida a alta probabilidade do direito ora postulado, seja suspenso o efeito imediato da decisão exarada pelo MM. Juízo de Primeiro Grau nos autos da ACP nº 0010918-15.2018.5.15.0091, em substituição ao julgamento do Agravo pela S. SDI-2 do TRT-15, nos autos do Mandado de Segurança nº 0008553-67.2018.5.15.0000" e "em provimento definitivo, a cassação da decisão".

Ao exame.

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A decisão ora impugnada encontra-se fundamentada nos seguintes termos:

Incompetência do MM. Juízo de Bauru O agravante reedita a preliminar de incompetência e afirma que "nenhuma das propriedades da empresa mencionadas na Ação Civil Pública estão sob a jurisdição da Vara do Trabalho de Bauru, não podendo prevalecer a competência daquele Juízo. Conforme entendimento do Relator, seriam competentes para julgar o processo as Varas do Trabalho de Botucatu, Avaré ou Lençóis Paulista, mas jamais a Vara do Trabalho de Bauru (...) Portanto, a MM. Juízo agiu irregularmente ao deferir a liminar ao Ministério Público do Trabalho, quando sequer detinha competência para analisar a questão, fato levantado pela empresa em sua contestação, e reiterado em audiência, o que foi totalmente ignorado pela Julgadora, situação que espera, seja analisada com outros olhos por este Tribunal" (fls. 396). Em que pesem os relevantes argumentos da agravante, não se vislumbra a alegada incompetência do MM. Juízo da Vara do Trabalho de Bauru para apreciar a questão. Na realidade, o primeiro aspecto que salta aos olhos é que a apresentação da exceção de incompetência deveria ter ocorrido no prazo de cinco dias a contar da notificação nos autos da Ação Civil Pública, nos termos do artigo 800 da CLT, como determinado pela nova redação imposta pela Lei 13.467/2017. No caso, a não observância do referido prazo pela agravante fez precluir a oportunidade de alegação da exceção de incompetência. Mas, ainda que assim não fosse, fato é que o Juizado Especial da Infância e Adolescência de Bauru é competente para processar e julgar o presente caso. Na verdade, este C. TRT, por meio da Resolução Administrativa nº 14/2014, de 31 de outubro de 2014, criou os Juizados Especiais da Infância e Adolescência com competência para analisar processos que envolvam trabalhador com idade inferior a 18 anos, in verbis: Art. 1º Ficam criados 10 (dez) Juizados Especiais da Infância e Adolescência (JEIAs), sendo um na cidade de Fernandópolis, um na cidade de e um em cada sede de circunscrição do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Art. 2º Os Juizados Especiais da Infância e Adolescência poderão atuar tanto de forma fixa, quanto itinerante, e terão competência material para analisar, conciliar e julgar todos os processos que envolvam trabalhador com idade inferior a 18 (dezoito) anos, nela incluídos os pedidos de autorização para trabalho de crianças e adolescentes, as ações civis públicas e coletivas e as autorizações para fiscalização de trabalho infantil doméstico. Assim sendo, além das cidades de Fernandópolis e Franca, cada Município sede de circunscrição do TRT da 15ª Região foi equipado com um Juizado Especial da Infância e Adolescência, os chamados JEIA. Cumpre destacar que o Anexo I da Resolução Administrativa nº 03/20103, do TRT da 15ª Região, que estabelece a DIVISÃO DAS CIRCUNSCRIÇÕES E RESPECTIVAS UNIDADES JUDICIÁRIAS, indica, no capítulo VIII, como área de circunscrição de Bauru, além do município de Bauru como cidade que sedia a circunscrição, os seguintes municípios que têm Varas do Trabalho: Avaré, Botucatu, Garça, Itápolis, Jaú, Lençóis Paulista, Marília, , e Santa Cruz do Rio Pardo.

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Desse modo ,o Juizado da Infância e Juventude de Bauru, criado pela Portaria GP nº 61/2015, tem competência material para analisar, conciliar e julgar todos os processos que envolvam trabalhador com idade inferior a 18 (dezoito) anos, em relação a todos os Municípios abrangidos pela definida no capítulo VIII do Anexo I da Resolução CIRCUNSCRIÇÃO Administrativa 03/2010. São eles os município de Bauru, Avaré, Botucatu, Garça, Itápolis, Jaú, Lençóis Paulista, Marília, Ourinhos, Pederneiras e Santa Cruz do Rio Pardo. Dúvida não resta, pois, que todos os Municípios em que estão instaladas as unidades demandadas da impetrante (Avaré, Botucatu, Bofete, Borebi e Pardinho) integram a circunscrição do Juizado Especial da Infância e Adolescência de Bauru, uma vez que Bofete e Pardinho compõem a área de atribuição da Vara de Botucatu, e Borebi está abrangida pelas Varas do Trabalho de Lençóis Paulista. Desse modo, a partir da edição da Portaria GP nº 61/20154, em 31 de julho de 2015, que implantou o Juizado Especial da Infância e Adolescência de Bauru, todas as demandas que envolvam trabalhadores menores de 18 (dezoito) anos, dentro da sua circunscrição alargada, serão apreciadas, conciliadas e/ou julgadas pelo JEIA/BAURU, que tem como Juíza titular a Dra. Ana Claudia Pires de Lima, Magistrada que foi designada pelo mesmo diploma normativo. Rejeita-se, por tal razão, a alegação de incompetência do MM. Juízo de Bauru para apreciar e julgar a ação Civil Pública. Contratação de aprendizes Ao contrário das alegações da agravante, a Ação Civil Pública foi instruída com autuações do Ministério do Trabalho e Emprego, em março, maio e julho de 2018 (fls. 182/185 e, mais detalhadamente, fls. 67/117 dos autos principais), somadas ao inquérito civil nº 000407.2014.15.001/8 (fls. 79/80), que gozam de presunção relativa de validade, de tal modo que são aptas a legitimar a interposição da Ação Civil Pública que originou o presente mandado de segurança. Nas referidas autuações do MTE, constou que a empresa autuada, ora agravante, deixou "de empregar aprendizes em número equivalente a 5%, no mínimo, dos empregados existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional". Desde logo, necessário pontuar que não cabe discussão em mandado de segurança acerca da alegada nulidade dos autos de infração, que deve ser alegada em processo próprio. Até que seja declarada nula, a autuação está revestida de presunção de validade, como já mencionado. A despeito de alegar que "deixou claro que cumpriria o dispositivo legal se existisse um curso voltado às suas necessidades" e que "mantém em seus quadros 62 aprendizes, contratados em outros estabelecimentos onde existem entidades qualificadas em formação técnico profissional metódica", o fato é que no termo de audiência lavrado pela Procuradora do Trabalho, Dra. Guiomar Pessotto Guimarães, em 29/06/2017, e que deu ensejo à concessão da tutela, a representante da Sucocítrico Cutrale afirmou que "o seu quadro de pessoal, na atualidade, é composto de 66 empregados, . Naquela mesma ata de audiência a d. Procuradora nenhum na condição jurídica de aprendiz" fez constar que (fls. 180): "Diante da afirmação da representação da empresa de que no local não existe aprendizagem realizada pelo SENAR e/ou Sindicato Rural de Bofete, a Procuradora esclareceu que a contratação poderia ser feita por meio da cota social, mas mesmo assim a representação da empresa informou que não tem interesse de solucionar a questão de forma consensual" (grifo nosso)

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Ora, o art. 429 da CLT estabelece que: "Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional.(Redação dada pela Lei nº 10.097, de 19.12.2000). O Decreto nº 5.598 de 2005, por sua vez, que regulamentou a contratação de aprendizes, vigente à época das autuações, dispõe: Art. 8º Consideram-se entidades qualificadas em formação técnico- profissional metódica: I - os Serviços Nacionais de Aprendizagem, assim identificados: a) Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI; b) Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC; c) Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR; d) Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte - SENAT; e e) Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - SESCOOP; II - as escolas técnicas de educação, inclusive as agrotécnicas; e III - as entidades sem fins lucrativos, que tenham por objetivos a assistência ao adolescente e à educação profissional, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. § 1º As entidades mencionadas nos incisos deste artigo deverão contar com estrutura adequada ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, de forma a manter a qualidade do processo de ensino, bem como acompanhar e avaliar os resultados. § 2º O Ministério do Trabalho e Emprego editará, ouvido o Ministério da Educação, normas para avaliação da competência das entidades mencionadas no inciso III. Art. 9º Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. § 1º No cálculo da percentagem de que trata o caput deste artigo, as frações de unidade darão lugar à admissão de um aprendiz. § 2º Entende-se por estabelecimento todo complexo de bens organizado para o exercício de atividade econômica ou social do empregador, que se submeta ao regime da CLT. Art. 10. Para a definição das funções que demandem formação profissional, deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. § 1º Ficam excluídas da definição do caput deste artigo as funções que demandem, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança, nos termos do inciso II e do parágrafo único do art. 62 e do § 2o do art. 224 da CLT. § 2º Deverão ser incluídas na base de cálculo todas as funções que demandem formação profissional, independentemente de serem proibidas para menores de dezoito anos(destaquei).

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Referido decreto regulamentador da contratação de aprendizes estabelece, de forma inequívoca, que "para a definição das funções que demandem formação profissional deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)", excluídas, portanto, outras normas que tratam da matéria. Na verdade, a empresa agravante deve empregar e matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. É bem verdade há hipóteses de exclusão da obrigação em questão, diante da justificada e comprovada impossibilidade de, na localidade da empresa, inexistir instituição mantenedora de cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem, assim como ocorre com a norma do art. 93 da Lei 8.213/91 a respeito das vagas destinadas aos reabilitados e portadores de deficiência. Na realidade, a empregadora, para se eximir de cumprir a exigência legal, deve demonstrar, de maneira inequívoca, que buscou, embora sem êxito, preencher a cota prevista no artigo 429 da CLT de matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de aprendizes equivalente a, pelo menos, cinco por cento dos trabalhadores existentes em seu estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional. Cumpre destacar que são imprecisas as alegações de inexistência de cursos de aprendizagem pelo SENAR ou Sindicato Rural de Bofete. Na verdade, o SENAR, chamado a se manifestar sobre a existência de cursos voltados à qualificação de aprendizes na região de Bofete, em correspondência encaminhada ao órgão ministerial, depois de esclarecer que não mantinha unidade naquele município, consignou que desenvolve seus programas de acordo com as necessidades e demandas do setor produtivo, no entanto, nenhuma demanda teria chegado até à instituição, in verbis (fls. 77): "... possui em suas atribuições normativas a competência de atuação nos Cursos de Formação Profissional Rural e Promoção Social em todo o Estado de , todavia, não possui unidade própria no Município de Bofete/SP, atuando neste município em parceria com o Sindicato Rural Patronal Local. Por oportuno, esclarece que, o SEN AR-AR/SP desenvolve os seus Programas de Aprendizagem Rural mediante as necessidades do Setor Produtivo, no entanto, até o momento não recebeu demanda específica para um Programa de Aprendizagem voltado a citricultura, muito embora possui em sua grade de Ações pontuais de Formação Profissional Rural diversos cursos que atendam esse seguimento". (grifo nosso) Dúvida não resta de que a agravante, embora pudesse ter solicitado ao SENAR, há muito tempo, a criação de um curso de aprendizagem voltado ao seu núcleo de atuação (citricultura), permaneceu inerte. Cumpre destacar, no particular, que a implementação de um curso de aprendizagem nesses termos não importaria ônus financeiro à agravante, que já participa do Sistema S e contribui, de forma compulsória, para o financiamento dos cursos oferecidos pelos Serviços Nacionais de Aprendizagem. Nesse caso, a agravante arcaria apenas e tão somente com os custos trabalhistas e previdenciários dos contratos de aprendizagem. Não é demais lembrar que ainda que as instituições do "Sistema S" não ofereçam cursos, a lei não desobriga a empresa do cumprimento da sua cota de aprendizagem. Em tais casos, nos ermos do art. 430, I e II da CLT, há a determinação que a empresa contrate e matricule o adolescente ou jovem nos Programas de Aprendizagem oferecidos pelas Escolas Técnica de Educação ou naqueles oferecidos por Entidades sem Fins Lucrativos (ESFL), situações em que a empresa firmará contrato com a respectivo

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instituição qualificadora, responsabilizando-se por eventuais ônus financeiros decorrentes do curso oferecido, nos termos do art. 430, I e II da CLT. Não bastasse, há instituições qualificadoras com inúmeros cursos, em diversas áreas, para formação de aprendizes nos Municípios de Avaré e Botucatu, conforme documentos apresentados pela própria defesa. Porém, não existe nenhum aprendiz contratado nessas unidades, como reconheceu o representante da Cutrale, Luiz Renato Vieira de Miranda, por ocasião da sessão de audiência no inquérito civil nº 000407.2014.15.001/8-31, realizada em junho de 2017 (fls. 180). Além disso, conforme informado pelo Parquet na ação principal, foi cadastrado, recentemente, junto ao órgão competente, sem qualquer ingerência ou intervenção do Ministério Público do Trabalho, um curso voltado ao Programa de Aprendizagem em Serviço Rural, pela REDE DE ASSISTÊNCIA SOCIEDUCACIONAL CRISTÃ - RASC, que, contrariamente ao alegado pela agravante, possui polos de aprendizagem nos Municípios de Botucatu (que contempla os municípios de Botucatu, Bofete e Pardinho) e Taquarituba (que abrange Avaré). Quanto à base de cálculo da aprendizagem, não se revela razoável interpretação restritiva à norma, no sentido de se excluir da base de cálculo as atividades que exijam qualificação especial, uma vez que o escopo da norma é garantir a contratação de uma cota mínima legal de aprendiz. Assim, não há cogitar de restrição ao pessoal do setor administrativo da reclamada, podendo-se conceber a possibilidade de prestação de serviços em outros setores, quando encontrados profissionais qualificados para isto. Ademais, os dispositivos legais acima citados estabeleceram como ressalva acerca das funções existentes na empresa apenas aquelas que demandem para o seu exercício habilitação profissional de nível técnico ou superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança. Lado outro, deve-se ponderar que o contrato de aprendizagem é um contrato de trabalho especial, assegurado ao maior de 14 (anos) e menor de 24 (vinte e quatro) anos. Assim, não obstante a contratação de aprendizes deva atender, prioritariamente, aos adolescentes entre catorze e dezoito anos, o empregador deve-se ater-se à contratação de aprendiz maior de 18 anos e menor de 24 (vinte e quatro) anos, em face da exigência legal, o que se enquadra no disposto no art. 11, I e parágrafo único do Decreto 5.598/2005, in verbis: (grifos acrescidos): "A contratação de aprendizes deverá atender, prioritariamente, aos adolescentes entre quatorze e dezoito anos, exceto quando: I - as atividades práticas da aprendizagem ocorrerem no interior do estabelecimento, sujeitando os aprendizes à insalubridade ou à periculosidade, sem que se possa elidir o risco ou realizá-las integralmente em ambiente simulado; II - a lei exigir, para o desempenho das atividades práticas, licença ou autorização vedada para pessoa com idade inferior a dezoito anos; e III - a natureza das atividades práticas for incompatível com o desenvolvimento físico, psicológico e moral dos adolescentes aprendizes. Parágrafo único. A aprendizagem para as atividades relacionadas nos incisos deste artigo deverá ser ministrada para jovens de dezoito a vinte e quatro anos" (grifo nosso) Destaca-se, ainda, que o Decreto nº 9.579 de 22 de novembro de 2018

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apenas consolidou os atos normativos sobre a matéria, dispondo que: "Art. 51. Estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e matricular nos cursos oferecidos pelos serviços nacionais de aprendizagem o número de aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento cujas funções demandem formação profissional. ... Art. 52. Para a definição das funções que demandem formação profissional, deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho. § 1º Ficam excluídas da definição a que se refere o caput as funções que demandem, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de direção, de gerência ou de confiança, nos termos do disposto no inciso Ido caput e no parágrafo único do art. 62 e no § 2º do art. 224 da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1943. § 2º Deverão ser incluídas na base de cálculo todas as funções que demandem formação profissional, independentemente de serem proibidas para menores de dezoito anos. (...) Art. 55. Na hipótese de os serviços nacionais de aprendizagem não oferecerem cursos ou vagas suficientes para atender à demanda dos estabelecimentos, esta poderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica, observado o disposto no art. 50. Parágrafo único. A insuficiência de cursos ou vagas a que se refere o caput será verificada pela inspeção do trabalho" (grifos nossos) Neste sentido a fundamentação da r. decisão de fls. 370/377, proferida pelo MM. Juiz Relator Marcelo Garcia Nunes, in verbis: "devem ser incluídas na base de cálculo da cota de aprendizagem, inclusive os trabalhadores rurais da impetrante que ocupam a função de colhedor de laranja, porquanto definidos no CBO, como ocupação que demanda "formação profissional para efeitos do cálculo do número de aprendizes a serem contratados pelos estabelecimentos, nos termos do artigo 429 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT", pois "a Instrução Normativa SIT/MTE nº 26/2001, que excluía, em seu § 5º, art. 1º, do número de aprendizes a serem contratados, aqueles cujo objeto do contrato dependia da sazonalidade, encontra-se revogada, pela Instrução Normativa nº 75, de 8 de maio de 2009, que foi revogada pela IN 97/2012". Ainda quanto à alegação de que o menor aprendiz não pode ocupar funções que o coloquem em contato com agentes insalubres, perigosos ou mesmo realizem jornadas noturnas ou em situações prejudiciais para seu desenvolvimento físico moral e psicológico, necessário ressaltar que, em razão de tais situações, foi inserido pelo Decreto Presidencial nº 8.740/2016 o art. 23-A no Decreto que regulamenta a aprendizagem profissional, vigente à época da infração apurada, que estabelecia que: "Art. 23-A. O estabelecimento contratante cujas peculiaridades da atividade ou dos locais de trabalho constituam embaraço à realização das aulas práticas, além de poderem ministrá-las exclusivamente nas entidades qualificadas em formação técnico profissional, poderão requerer junto à respectiva unidade descentralizada do Ministério do Trabalho e Previdência Social a assinatura de termo de compromisso para o cumprimento da cota em entidade concedente da experiência prática do aprendiz" O cumprimento da "cota social" foi sumariamente negado pela empresa, por ocasião da audiência no Ministério Público do Trabalho (fls. 180).

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Assim, considerando-se os elementos existentes na ação principal, pode-se concluir que estão ausentes a fumaça do bom direito ou perigo da demora a amparar a pretensão da agravante, pois a concessão da tutela de urgência para o cumprimento da cota legal de aprendizes encontra fundamento nas disposições legais mencionadas na decisão recorrida, sendo que os elementos do processo evidenciavam a probabilidade do direito e o perigo de dano para a concessão da tutela de urgência. Ademais, como bem ressaltou o MM. Juiz Relator que apreciou a liminar do Mandado de Segurança, "para evitar as multas, basta a reclamada cumprir as obrigações de fazer dispostas no comando condenatório, as quais nada mais exigem que o simples e literal cumprimento da legislação trabalhista" Finalmente, e para que não se alegue omissão no julgado, registro que não houve pedido (na petição inicial do mandado de segurança) de revisão da multa aplicada pela dita autoridade coatora. Por tais motivos, a despeito dos respeitáveis argumentos da agravante, a r. decisão agravada deve ser mantida. DIANTE DO EXPOSTO, decido conhecer do AGRAVO INTERNO interposto por SUCOCÍTRICO CUTRALE LTDA e o DESPROVER, nos termos da fundamentação.

Consoante disposto no artigo 13, cabeça, do RICGJT, "a Correição Parcial é cabível para corrigir erros, abusos e atos contrários à boa ordem processual e que importem em atentado a fórmulas legais de processo, quando para o caso não haja recurso ou outro meio processual específico".

O parágrafo único do referido artigo 13 dispõe que "em situação extrema ou excepcional, poderá o Corregedor-Geral adotar as medidas necessárias a impedir lesão de difícil reparação, assegurando, dessa forma, eventual resultado útil do processo, até que ocorra o exame da matéria pelo órgão jurisdicional competente".

A presente Correição Parcial investe contra acórdão prolatado pelo TRT, por meio do qual se mantivera a decisão monocrática que indeferira o pedido de concessão de tutela provisória de urgência, deduzida em Mandado de Segurança, com o intuito de assegurar a suspensão dos efeitos da liminar deferida nos autos da Ação Civil Pública 0010918-15.2018.5.15.0091.

Conforme aduzido pela Requerente, o Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva, no exercício da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, deferiu medida liminar nos autos da CorPar n.º 1000883-75.2018.5.00.0000, para, em sede de cognição sumária, "deferir a liminar para suspender os efeitos da tutela provisória de urgência

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concedida nos autos da Ação Civil Pública n.º 00109018-15.2018.5.15.0091, até o julgamento do Agravo Regimental no Mandado de Segurança n.º 0008553-67.2018.5.15.0000" (grifo nosso).

Tem-se, nesse sentido, que a medida liminar deferida pelo Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva produziu efeitos até que fosse completado o iter procedimental, com o julgamento do agravo interno. Aperfeiçoada a prestação jurisdicional, com o exame do mérito do recurso pelo órgão jurisdicional competente, a atuação desta Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho fica limitada a situações excepcionais, sendo incabível a propositura de Correição Parcial como sucedâneo da medida própria destinado a impugnar a decisão proferida pelo órgão colegiado.

O exame da pretensão veiculada pela Requerente demonstra, de forma inequívoca, que a Correição Parcial foi manejada, no caso, com a finalidade de obter novo pronunciamento jurídico acerca da decisão proferida pelo TRT, ou seja, como sucedâneo da medida processual cabível na hipótese. Nesse sentido, caso fosse acolhido o pedido formulado na presente Correição Parcial (suspensão imediata dos efeitos "da decisão exarada pelo MM. Juízo de Primeiro Grau na ACP n.º 0010918-15.2018.5.15.0091"), esvaziar-se-ia, por completo, a pretensão veiculada no mandado de segurança, consistente na concessão de efeito suspensivo à liminar concedida na ACP.

Assim, tendo o Tribunal esgotado o exame do pedido de concessão da tutela provisória de urgência e não se constatando a prática manifesta de atos atentatórios à boa ordem processual, nem tampouco situação extrema ou excepcional que justifique a atuação administrativa desta Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho, conclui-se pela ausência dos pressupostos que justificam o cabimento da Correição Parcial.

Cumpre ressaltar, de outro lado, que o Tribunal Regional, a partir dos elementos de prova constantes dos autos dos do Mandado de Segurança, concluiu pela ausência dos pressupostos que autorizam a concessão da tutela de urgência. Destacou que "os elementos do processo [da ACP] evidenciavam a probabilidade do direito

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e o perigo de dano", a justificar o deferimento da liminar vergastada.

Resulta claro, que a decisão ora impugnada foi proferida nos limites da competência do Órgão colegiado e no regular exercício da função jurisdicional, não se vislumbrando, no caso, situação que possa configurar erro, abuso ou ato atentatório à boa ordem processual de que trata a cabeça do artigo 13 do RICGJT.

As questões deduzidas pela Requerente na presente Correição Parcial - inclusive a relativa à data em que a RASC (Rede de Assistência Socioeducacional Cristã) passou a oferecer curso de aprendizagem específico para o ramo de atividades da Requerente -, demandam solução de natureza jurisdicional, não cabendo ao Corregedor- Geral, no exercício de sua função administrativa, imiscuir-se em atividade que extrapola o âmbito de sua competência. Ressalte-se que a atividade hermenêutica do ordenamento jurídico exercida pelo Tribunal Regional encerra tão somente o desempenho da sua função jurisdicional, o que não implica o tumulto processual, de que trata o artigo 13, cabeça, do RICGJT, apto a ensejar a medida correicional.

Tampouco se vislumbra, no caso específico, a ocorrência de "situação extrema ou excepcional" de que trata o parágrafo único do artigo 13, do RICGJT, para efeito de adoção de "medidas necessárias a impedir lesão de difícil reparação", e assegurar "eventual resultado útil do processo", mesmo porque as questões trazidas pela Requerente, na presente Correição Parcial, foram decididas por meio de decisão monocrática que, por sua vez, foi confirmada por decisão colegiada, emanada do Tribunal competente.

Não resta caracterizada, ainda, na presente hipótese, a impossibilidade de reversão do provimento deferido na decisão impugnada, diante da possibilidade de se modificar a tutela provisória, nos termos do disposto no artigo 296 do CPC.

Portanto, sob qualquer prisma que se analise a questão, não se vislumbra a possibilidade de acolhimento da presente Correição Parcial, à luz das hipóteses previstas no artigo 13, cabeça e parágrafo único, do RICGJT.

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Assim, nos termos do artigo 20, III, do RICGJT, JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado na presente Correição Parcial.

Dê-se ciência do inteiro teor desta decisão ao Requerente, ao Presidente da 2ª Seção Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, e ao Terceiro Interessado.

Publique-se.

Transcorrido o prazo regimental, arquive-se.

Brasília, 11 de abril de 2019.

LELIO BENTES CORRÊA Ministro Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho

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