NAYRA DE MORAES GONÇALVES

PCH Atibaia: O contexto de reativação e a ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia/SP

84/2015

CAMPINAS 2015

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Dedico este trabalho a meus pais – Silvio Augusto Gonçalves e Marilene Pedrozo de Moraes –, essenciais para o cumprimento desta etapa, aos quais agradeço pelo apoio e incentivo. Ao Breno, pelo suporte e auxílio prestado em diversos momentos na realização deste trabalho. Minhas realizações e conquistas dedico e agradeço a vocês.

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Agradecimentos

Agradeço a todos que, generosamente, contribuíram para a realização desta dissertação. Primeiramente, gostaria de agradecer à minha orientadora, Prof.ª Dra. Sônia Regina da Cal Seixas, pela orientação, atenção e dedicação, por compartilhar seus conhecimentos comigo e me guiar durante a realização deste trabalho. Agradeço também a todos da Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP, principalmente aos professores do Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, pela atenção, dedicação e empenho, principalmente ao Prof. Dr. Arnaldo Cesar da Silva Walter, Prof. Dr. Ennio Peres da Silva e Prof.ª Dra. Carla Kazue Nakao Cavaliero pela disponibilidade e acessibilidade, por poder compartilhar seu tempo e conhecimento, cujas contribuições e orientações foram essenciais para esta dissertação. Em especial ao Prof. Dr. João Luiz de Moraes Hoeffel, quem considero um mestre, sendo muito importante em diversas conquistas, agradeço pelo incentivo, pela paciência, pelo exemplo, por partilhar sua vida e sua história, e parabenizo pela pessoa e pelo profissional que é. Agradeço à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – pela bolsa de estudos que me foi concedida; ao Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos pelo apoio financeiro fornecido para a participação em congressos e eventos; ao CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – e ao grupo de pesquisa Laboratório de Estudos Qualidade de Vida, Ambiente e Subjetividade, pelo incentivo e apoio, pelas discussões, sugestões e críticas, essenciais para a elaboração desta dissertação, e ao Projeto FAPESP (processo n. 2013/17173-5) pelo suporte recebido para a realização dos trabalhos de campo e elaboração de mapas e figuras. A todos os profissionais que contribuíram para este trabalho, agradeço pelo material disponibilizado, a todos os entrevistados – técnicos, especialistas e população de Atibaia –, pela receptividade e colaboração, por partilhar sua percepção e disponibilizar seu tempo. A todos, os mais sinceros agradecimentos.

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Que na vida cotidiana suscitemos esperança no coração das pessoas com quem lidamos, tendo por lema proceder com amor e gentileza (...)

Meishu Sama

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Resumo

O atual modelo de produção e consumo nos coloca perante uma crescente necessidade de produção de energia, sobretudo energia elétrica, e uma das principais fontes utilizadas no Brasil é a hidroeletricidade. Por outro lado, este modelo de desenvolvimento, baseado na industrialização e urbanização, gera pressão constante sobre os recursos naturais, com destaque para os recursos hídricos, o que, aliado com um planejamento urbano pouco efetivo, contribui para ocasionar impactos diversos, como enchentes e inundações. Dessa forma, esta dissertação visa a analisar o contexto em que ocorreu a tentativa de reativação da Pequena Central Hidrelétrica Atibaia, bem como as enchentes e inundações no município de Atibaia/SP. A metodologia utilizada na dissertação envolve a realização de revisão bibliográfica e a coleta de dados secundários junto a diversos órgãos governamentais e não governamentais atuantes na região; análise de relatórios; pesquisa de campo, que pode ser agrupada em três categorias: pesquisa empírica, entrevistas semiestruturadas com técnicos e especialistas envolvidos com a ocorrência de enchentes e inundações no município e aplicação de questionários à população; e, por fim, análise energética da PCH Atibaia. Com esses dados pode-se verificar que a ocorrência de enchentes e inundações deve ser atribuída a diversos fatores combinados entre si, e não a fatos isolados. Entre eles destaca-se o aumento do volume de precipitação em curto período de tempo nos meses de dezembro de 2009, janeiro de 2010 e 2011; aumento do grau de urbanização do município e, consequentemente, das áreas impermeáveis e da canalização dos recursos hídricos; ocupação de áreas de várzea e APP, entre outros. Verifica-se que o conflito sobre a reativação da PCH Atibaia teve origem em questões e interesses políticos e, pelo impacto e importância do tema e a diversidade de atores sociais envolvidos, ganhou grande destaque. Contudo, a maior parte da população – tanto afetada como não afetada – não possui muito conhecimento sobre o assunto, tendo sua opinião formada por questões que “ouviram falar”. Apesar disso, a maioria acredita que a reativação da PCH não tenha relação com a ocorrência dos eventos de enchente e inundações no município.

Palavras-chave: Pequena Central Hidrelétrica Atibaia; Energia; Enchentes; Inundações; Atibaia.

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Abstract

The current model of production and consumption place us towards a growing need for energy production, especially electricity, and one of the main sources used in is hydroelectricity. On the other hand, this model of development based on industrialization and urbanization, creates constant pressure on natural resources, especially water resources, which, combined with ineffective urban planning, contributes to cause different impacts such as floods and flooding. Thus, this work aims to analyze the context in which the attempt to reactivate the SHP Atibaia occurred, as well as its relation with floods and flooding in the municipality of Atibaia/SP. The methodology used in the dissertation involves literature reviews and the collection of secondary data from various governmental and non-governmental agencies active in the studied region; analysis of reports; field researches, which can be grouped into three categories: empirical research, semi-structured interviews with experts and specialists involved in the occurrence of floods and flooding in Atibaia and questionnaires applied with the local population; and finally, energy analysis of the SHP Atibaia. With this data it could be verified that the occurrence of floods and flooding should be attributed to several factors combined, and not isolated facts. Among them stands out the increase in the volume of rainfall in a short period of time in the months of December 2009, January 2010 and 2011; increase in the city's urbanization level and hence an increase in impervious areas and in the channeling of water resources; occupation of lowland areas and areas of permanent preservation (APP), among others. It appears that the conflict over the reactivation of SHP Atibaia originated both on issues and political interests, and due to the impact and importance of the topic, and the diversity of actors involved, the floods events gained extreme prominence. However, the majority of the population - both affected and unaffected - does not have much knowledge about it, and they have their opinion formed by issues that "were heard". Nevertheless, most believe that the reactivation of the SHP has no relation to the occurrence of floods and flooding events in the municipality of Atibaia.

Key Words: SHP Atibaia; Energy; Floods; Flooding; Atibaia.

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Lista de Ilustrações

Figura 1 – Custos de produção de energia elétrica no Brasil 11 Figura 2 – Empreendimentos em operação em novembro de 2008 18 Figura 3 – Diferença de escoamento antes e depois da urbanização 28 Figura 4 – Resposta da geometria do escoamento 29 Figura 5 – Participação da quantidade de desastres registrados por subgrupo e por continente em 2012 38 Figura 6 – Fluxograma de representação das estratégias metodológicas utilizadas 41 Figura 7 – Localização do município de Atibaia 46 Figura 8 – Densidade Demográfica 2013 48 Figura 9 – Evolução da ocupação do território no município de Atibaia 49 Figura 10 – Comparação Populacional entre o município de Atibaia, o estado de e o Brasil 49 Figura 11 – Comparação da densidade demográfica entre o município de Atibaia, o estado de São Paulo e o Brasil 50 Figura 12 – Comparação da taxa de urbanização entre o município de Atibaia, o estado de São Paulo e o Brasil 50 Figura 13 – Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) 5 51 Figura 14 – Localização da bacia hidrográfica dos Rios , e Jundiaí 52 Figura 15 – Localização da bacia hidrográfica do Rio Atibaia 52 Figura 16 – Localização da APA do Sistema Cantareira 54 Figura 17 – Localização do Sistema Cantareira 55 Figura 18 – Localização da PCH Atibaia no município de Atibaia 58 Figura 19 – Vista externa da casa de força da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 59 Figura 20 – Barragem da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 59 Figura 21 – Comportas de fundo da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 60 Figura 22 – Reservatório da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 60 Figura 23 – Adutora esquerda da PCH Atibaia 60 Figura 24 – Adutora direita da PCH Atibaia 60

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Figura 25 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações em 2002 65 Figura 26 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 67 Figura 27 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 70 Figura 28 – Jardim Kanimar, janeiro de 2010 73 Figura 29 – Centro, janeiro de 2011 73 Figura 30 – Vazão média anual da PCH Atibaia 75 Figura 31 – Índice Pluviométrico médio anual para o município de Atibaia 76 Figura 32 – Vazão média anual estimada 77 Figura 33 – Razão entre vazão média anual estimada e vazão média anual real 77 Figura 34 – Comparação entre vazão média anual real e vazão média anual estimada da 78 PCH Atibaia Figura 35 – Ribeirão do – CTB, dezembro de 2014 108 Figura 36 – Ribeirão do Itapetininga – CTB, dezembro de 2014 108

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Classificação das centrais elétricas quanto à potência e quanto à queda de projeto 15 Tabela 2 – Evolução populacional e grau de urbanização no município de Atibaia 48 Tabela 3 – Número de afetados por período 64 Tabela 4 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações em 2002 66 Tabela 5 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações em 2002 66 Tabela 6 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia 68 Tabela 7 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia 69 Tabela 8 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia 71 Tabela 9 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia 72 Tabela 10 – Tabela comparativa entre vazão real mensal, vazão estimada mensal e índice pluviométrico mensal no período de 2002 a 2011 79 Tabela 11 – Dados para o cálculo comparativo do perfil energético da PCH Atibaia entre os anos de 1962 e 2011 81 Tabela 12 – Sexo dos especialistas e técnicos entrevistados 84 Tabela 13 – Grau de instrução dos especialistas e técnicos entrevistados 84 Tabela 14 – Idade dos especialistas e técnicos entrevistados 84 Tabela 15 – Registro de casos de enchentes e inundações no município 85 Tabela 16 – Fatores que influenciaram a ocorrência de enchentes e inundações no município 85 Tabela 17 – Agentes envolvidos na ocorrência de enchentes e inundações no município 86 Tabela 18 – Influência da PCH Atibaia na ocorrência de enchentes e inundações no município 86 Tabela 19 – Reativação da PCH Atibaia 87 Tabela 20 – Ocorrência de enchentes com níveis de precipitação normais 88

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Tabela 21 – Responsabilidade pela ocorrência das enchentes e inundações no município 89 Tabela 22 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município identificadas por especialistas e técnicos 90 Tabela 23 – Bairro de residência dos entrevistados da população afetada 91 Tabela 24 – Sexo dos entrevistados da população afetada 92 Tabela 25 – Idade dos entrevistados da população afetada 92 Tabela 26 – Nível de escolaridade dos entrevistados da população afetada 93 Tabela 27 – Ocupação dos entrevistados da população afetada 93 Tabela 28 – Renda dos entrevistados da população afetada 94 Tabela 29 – Período em que foi afetado por enchentes e inundações no município 94 Tabela 30 – Causas das enchentes e inundações identificadas pela população afetada 95 Tabela 31 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população afetada 96 Tabela 32 – Bairro de residência dos entrevistados da população não afetada 97 Tabela 33 – Sexo dos entrevistados da população não afetada 98 Tabela 34 – Idade dos entrevistados da população não afetada 98 Tabela 35 – Nível de escolaridade dos entrevistados da população não afetada 99 Tabela 36 – Ocupação dos entrevistados da população não afetada 99 Tabela 37 – Renda dos entrevistados da população não afetada 100 Tabela 38 – Período de ocorrência das enchentes e inundações no município 100 Tabela 39 – Causas das enchentes e inundações identificadas pela população não afetada 101 Tabela 40 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população não afetada 102

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Lista de Quadros

Quadro 1 – Classificação de Perigo 22 Quadro 2 – Classificação dos desastres em relação à intensidade 32

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Lista de Abreviaturas e Siglas

A – Área ANA – Agência Nacional de Águas ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica APA – Área de Preservação Ambiental APP – Área de Preservação Permanente AVADAN – Avaliação de Danos BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CCC – Conta de Consumo de Combustível CEDEC – Coordenadoria Estadual de Defesa Civil CIIAGRO – Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas CODEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente CGH – Central Geradora Hidrelétrica COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica EAS – Estudo Ambiental Simplificado ECP – Estado de Calamidade Pública EIA – Estudo de Impacto Ambiental EM-DAT – Emergency Events Database EPE – Empresa de Pesquisa Energética H – Altura Iev – Índice de Evaporação Médio Mensal Iin – Índice de Infiltração Médio Mensal Ipl – Índice Pluviométrico Médio Mensal IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas PIB – Produto Interno Bruto PCH – Pequena Central Hidrelétrica PIR – Planejamento Integrado de Recursos

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PPA – Power Purchase Agreement PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica RIMA – Relatório de Impacto Ambiental RMSP – Região Metropolitana de São Paulo Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SE – Situação de Emergência SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SEDEC – Secretaria Nacional de Defesa Civil SIGRH – Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo SINDEC – Sistema Nacional de Defesa Civil SSRH – Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo UGRHI – Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos UHE – Usina Hidroelétrica Vesc – Água de Escoamento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1 1.1 Objetivos 4 1.1.1 Geral 4 1.1.2 Específicos 4 1.2 Justificativa 4 1.3 Estrutura da Dissertação 6

2 ENERGIA, AMBIENTE E SOCIEDADE 8 2.1 A hidroeletricidade no Brasil 10 2.2 As Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs 14 2.3 Riscos e vulnerabilidades socioambientais 19 2.4 Enchentes e inundações 24 2.4.1 Panorama global de enchentes e inundações 36 2.4.2 Panorama brasileiro de enchentes e inundações 40

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 41 3.1 Etapa 1: Obtenção de dados secundários 41 3.2 Etapa 2: Pesquisa de campo 42 3.3 Etapa 3: Análise Energética da PCH Atibaia 43

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA E DETALHAMENTO DO OBJETO DE ESTUDO 46 4.1 O Município de Atibaia 46 4.1.1 Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Atibaia 55 4.2 PCH Atibaia 57 4.3 Agentes sociais envolvidos com as enchentes e inundações no município de Atibaia 61

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 62

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5.1 Enchentes e inundações no município de Atibaia 62 5.2 Caracterização e análise energética da PCH Atibaia 75 5.3 Fatores relacionados à ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia 82 5.3.1 Análise dos relatórios 82 5.3.2 Entrevistas com especialistas e técnicos 83 5.3.3 Pesquisa com a população afetada 90 5.3.4 Pesquisa com a população não afetada 96 5.3.5 Conclusões 102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS TRABALHOS 110

REFERÊNCIAS 122

APÊNDICES 109

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1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos têm alterado significativamente o modo e a dinâmica de vida da sociedade. Ao mesmo tempo em que facilitam a vida das pessoas em alguns aspectos como o acesso a serviços e bens de consumo, proporcionando mais conforto e saúde, promovem mudanças de hábitos sociais e culturais da população. Essas mudanças vêm impulsionando a urbanização das cidades, o crescimento demográfico e a necessidade de mais insumos e energia, devido ao aumento da produção e, consequentemente, ao aumento da produção de resíduos, que, em conjunto com outros fatores, exercem pressão sobre a qualidade e disponibilidade dos recursos naturais (HOGAN; MARANDOLA, 2006) e podem gerar exclusão social e aumentar a exposição da população a diversos riscos e vulnerabilidades.

O consumo e, consequentemente, a necessidade de produção de energia, crescem cada vez mais, principalmente impulsionados pela expansão econômica e maior facilidade de acesso a bens e serviços, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Nesse sentido, Baumol (1989, p. 212) salienta que:

A Revolução Industrial trouxe consigo crescente demanda de energia e matérias- primas que o mundo nunca tinha visto (...). Foi estimado, por exemplo, que nas duas primeiras décadas do século XX a humanidade consumiu mais energia do que havia feito em todos os séculos anteriores de sua existência.

Contudo, a atual crise de abastecimento de água na região Sudeste também afeta a produção de energia elétrica – uma seca histórica que comprometeu o nível dos reservatórios de água das grandes hidrelétricas – pondo em pauta o debate sobre a questão da segurança e sustentabilidade energética, bem como o atual planejamento energético brasileiro.

Outra questão importante a destacar é a pressão constante e progressiva sobre os recursos hídricos, já que as cidades se expandiram sem respeitar as características naturais e o percurso dos rios, havendo implantação de vias e construção de edificações em suas margens.

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Posteriormente, para “sanar” o problema das inundações que naturalmente ocorriam, optou-se por canalizá-los (AMARAL; RIBEIRO, 2012; TOMINAGA, 2012).

A urbanização altera não apenas a paisagem, como também a dinâmica hidrológica da bacia hidrográfica, modificando, inclusive, cursos hídricos. Verifica-se o aumento das vazões máximas devido à elevação da capacidade de escoamento através de dutos e canais; impermeabilização das superfícies à medida que a cidade se urbaniza; aumento de produção de resíduos sólidos e sedimentos (o último devido à desproteção das superfícies) (TUCCI, 2008), que, em conjunto e associados a outros fatores, podem ocasionar enchentes e inundações.

Verifica-se que a ocorrência de enchentes e inundações é cada vez mais frequente, gerando áreas de risco e vulnerabilidades socioambientais variadas. Segundo dados da Emergency Events Database – EM-DAT, um banco de dados internacional sobre desastres, no ano de 2013 foram cadastrados mundialmente 98 eventos relacionados a enchentes e inundações (considerando que muitos países não mantêm um banco de dados atualizado sobre esses eventos, o número real deve ser superior ao registrado oficialmente). Esses eventos causaram 8.355 mortes em todos os continentes, sendo a Ásia o mais afetado (EM-DAT, 2014).

O Brasil figura entre os países mais atingidos por inundações e enchentes mundialmente, tendo registrado 118 eventos desse tipo no período de 1900 a 2013, com 7.668 mortes e mais de 19 milhões de pessoas afetadas (entre desabrigados e desalojados) (EM-DAT, 2014).

Considerando a ocorrência de enchentes e inundações, principalmente em áreas urbanas ou urbanizadas, o relatório do IPCC (2014) destaca os problemas da Região Metropolitana de São Paulo, ressaltando as frequentes inundações que podem aumentar a vulnerabilidade de áreas densamente povoadas. O relatório também considera as inundações como um dos principais riscos globais relacionados às mudanças climáticas para as áreas urbanas.

O município de Atibaia, localizado no interior do Estado de São Paulo, a 65 km da capital, registrou casos de enchentes e inundações nos anos de 2002, 2009, 2010 e 2011, que causaram

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danos a 6.835 pessoas em 28 bairros do município (CEDEC, 2002; SEDEC, 2010; SEDEC, 2011).

O município de estudo é considerado uma Estância Turística e vem passando por diversas transformações socioambientais nas últimas décadas. A atividade turística tem impulsionado a criação de diversos empreendimentos e a oferta de serviços, mas também vem contribuindo para a crescente especulação imobiliária, já que o município apresenta diversas casas de segunda residência e é, muitas vezes, utilizado como cidade-dormitório para pessoas que trabalham na Região Metropolitana de São Paulo.

Além disso, a ocorrência de enchentes no período de 2009 a 2011 coincidiu com a realização de obras para a reativação de uma Pequena Central Hidrelétrica1 – PCH –, a PCH Atibaia, fazendo com que parte da população associasse esses eventos à referida obra, e resultando no cancelamento das obras e, consequentemente, da reativação esta PCH.

A reativação da PCH seria importante para complementar a produção de energia elétrica, que possui uma demanda cada vez maior. No Brasil, em alguns momentos, verificou-se déficit energético, já que a quantidade de energia produzida não atendia à demanda ou ainda, devido à lei de oferta e procura, ocorre o aumento da tarifa energética.

Além disso, seria importante resgatar um empreendimento que já possuía uma estrutura aproveitável do ponto de vista energético, e, por estar abandonado, ocasionava problemas à gestão municipal tais como vandalismo, prática de atos impróprios e violentos no local, bem como degradação da área.

Diante desse contexto, as indagações que permeiam esta dissertação são: quais foram os principais fatores que contribuíram para a ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia? Houve, efetivamente, influência das obras para a reativação da PCH Atibaia na

1 Empreendimentos cujo aproveitamento hidrelétrico seja de potência entre 1,1 MW e 30 MW e reservatório com área igual ou inferior a 3 km2. 3

ocorrência desses eventos? Quais medidas foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência desses eventos, bem como a magnitude de seus impactos?

1.1 Objetivos

1.1.1 Geral

Analisar os contextos em que ocorreram a tentativa de reativação da Pequena Central Hidrelétrica Atibaia e as enchentes e inundações no município de Atibaia/SP, visando a identificar se houve relação entre os eventos.

1.1.2 Específicos

Apresenta-se como objetivos específicos:

- Realizar uma breve caracterização socioambiental do município de Atibaia;

- Descrever a ocorrência de enchentes e inundações no município, no período de 2000 a 2011, analisando seus efeitos socioambientais e as medidas tomadas para minimizá-los;

- Identificar os agentes sociais envolvidos com as enchentes e inundações no município de Atibaia e analisar a sua visão acerca do assunto.

1.2 Justificativa

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O tema energético é multidisciplinar, por envolver questões técnicas, econômicas, politicais, ambientais e sociais. Assim, o contexto em que se desenvolveram os fatos que impulsionaram a realização deste trabalho apresenta dois pontos primordiais: a tentativa de reativação da PCH Atibaia e a ocorrência de enchentes e inundações nesse município.

Existe uma divergência de opiniões sobre a reativação da PCH Atibaia, localizada em um bairro rural do município, já que um grupo representado principalmente pela Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes atribui a ocorrência dessas enchentes às obras para a reativação da referida PCH.

Segundo a visão defendida pela Comissão, a barragem da PCH estaria causando o estrangulamento da vazão do rio e, em tese, seria responsável pelas enchentes na região urbana de Atibaia. Esta convicção de que a PCH é a grande responsável pelas enchentes foi corroborada em função do relatório apresentado por um engenheiro contratado pela Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes em Atibaia para avaliar a situação (CESAR NETO, 2011).

Já segundo dados de um estudo preliminar apresentado pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – SSRH – em conjunto com o Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE –, existe um pequeno remanso que pode ser sentido em função da barragem da PCH Atibaia, mas sem capacidade de provocar eventos da magnitude registrada no Rio Atibaia (ATIBAIA, 2012).

Para fomentar ainda mais esse conflito, o Ministério Público ingressou com uma ação civil pública para responsabilizar judicialmente o prefeito e o ex-prefeito de Atibaia por irregularidades na formalização e manutenção da concessão para exploração da PCH, já que, de acordo com a ação, falhas na operação da usina juntamente com outros fatores de responsabilidade do poder público, como o assoreamento do Rio Atibaia e a ocupação irregular de áreas de várzea e de proteção permanente, contribuíram para a ocorrência das enchentes (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2012).

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As enchentes e inundações ocasionaram diversos impactos e prejuízos ao município, além de terem afetado centenas de famílias, que, por sua vez, tiveram muitos danos financeiros, materiais e emocionais.

Contudo, a reativação da PCH Atibaia seria um importante passo ao município, devido à possibilidade de produzir energia elétrica, que é um bem social coletivo, e aproveitar uma estrutura e área que se encontravam subutilizadas, danificadas e vandalizadas.

1.3 Estrutura da Dissertação

Esta dissertação foi estruturada em seis capítulos, que apresentam suas subdivisões. O primeiro capítulo, já apresentado previamente, apresenta uma breve introdução sobre o tema de pesquisa, os objetivos que se pretende alcançar com a realização deste trabalho, bem como a justificativa e representatividade desta análise.

O segundo capítulo engloba a fundamentação teórica e conceitual que permeou esta pesquisa, através da realização de revisão bibliográfica de temas como energia, PCH, riscos, vulnerabilidades, enchentes e inundações.

O terceiro capítulo descreve as metodologias utilizadas nesta pesquisa, bem como as etapas adotadas, para que fosse possível atender aos objetivos propostos nesta dissertação e obter os resultados finais.

No quarto capítulo são realizados a caracterização da área e o detalhamento do objeto de estudo, com a apresentação do município de Atibaia e da PCH, bem como dos atores sociais envolvidos com os temas que permeiam esta dissertação.

O capítulo cinco apresenta os resultados e discussões oriundos da análise da ocorrência dos eventos e impactos de enchentes e inundações no município, da caracterização energética da PCH 6

Atibaia, bem como das análises dos relatórios, das entrevistas e pesquisas realizadas neste trabalho, além de relacionar os resultados da análise energética com os resultados sociais.

Por fim, no capítulo seis, estão dispostas as considerações finais e recomendações para a realização de futuros trabalhos.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA: ENERGIA, AMBIENTE E SOCIEDADE

A energia é uma necessidade básica e essencial à sociedade e pode propiciar benefícios nas áreas de saúde, educação, segurança, sendo um importante fator para a redução da pobreza. De acordo com informações do Greenpeace (2007), a Meta de Desenvolvimento do Milênio de diminuir a pobreza global pela metade até 2015 (ou seja, o número de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia) não será atingida sem que haja energia para aumentar a produção, renda, movimentar a economia e melhorar a qualidade de vida da população.

O consumo de energia foi lento até o século XVIII, quando, com a Revolução Industrial, houve um processo acelerado de inovações tecnológicas, aumentando o padrão do consumo de energia. Além disso, a partir do século XX houve uma expansão do uso dos combustíveis fósseis, sob outras fontes de energia.

Contudo, ainda verifica-se a existência de um déficit energético global, visto que, segundo dados do Greenpeace (2007) e Sawin (2004), cerca de um terço da população mundial ainda não possui acesso à eletricidade ou modernos serviços de energia, e outro terço dispõe apenas de acesso limitado. Esse déficit ocorre não apenas em razão de deficiências quanto ao suprimento da demanda de energia, como também devido à desigualdade relacionada ao consumo mundial, já que um cidadão americano comum chega a consumir cerca de 5 vezes mais energia quando comparado ao cidadão global, 10 vezes mais que o chinês e quase 20 vezes acima do consumido por um cidadão indiano (SAWIN, 2004). Apesar de a China e a Índia abrigarem mais de um terço da população mundial, representam juntas apenas 13% do consumo global de energia (SAWIN, 2004).

Tendências apresentadas por Geller (2003) indicam que, de acordo com o cenário business- as-usual, o uso de energia crescerá cerca de 2% ao ano nas próximas décadas, podendo dobrar os níveis registrados em 1990 até 2025, triplicar até 2050, crescendo mais ainda na segunda metade do século XXI. Os países em desenvolvimento, como China, Brasil e Índia, terão que aumentar sua capacidade energética para suprir a demanda resultante da expansão econômica 8

(GREENPEACE, 2007), já que a classe de consumidores na maioria dos países em desenvolvimento representa menos da metade da população (GARDNER; ASSADOURIAN; SARIN, 2004).

Dados apresentados por Gardner, Assadourian e Sarin (2004) indicam que, com base apenas em projeções populacionais, a classe de consumidores globais2 está projetada, de forma conservadora, para atingir pelo menos 2 bilhões de pessoas até 2015. A China possui um potencial de expansão de mercado de 81%, equivalente a mais de 1 bilhão de novos potenciais consumidores, com números bastante semelhantes em escala para a Índia, enquanto no Brasil a classe de consumidores globais é de 57,8 milhões de pessoas, que representam 33% da população brasileira (segundo dados de 2002) (MELLO; HOGAN, 2007).

Essa expansão do mercado, com crescente aquisição de aparelhos eletrodomésticos e automóveis, gerará uma pressão ainda maior sobre os serviços energéticos, sobretudo sobre a demanda de energia elétrica.

O consumo de energia reflete a atividade produtiva (indústria, comércio e serviços) de uma localidade, bem como a sua capacidade de consumo. Em sociedades mais desenvolvidas não há muito espaço para crescimento da demanda por energia, enquanto que nos países em desenvolvimento existe uma grande parcela da sociedade excluída do mercado de consumo, o que representa uma demanda reprimida por eletrodomésticos, automóveis, eletroeletrônicos etc. (ANEEL, 2008).

Dentre as formas de energia disponíveis, a energia elétrica é a que mais se expande devido às suas características e aptidão para fornecer os principais serviços de energia desejados na sociedade atual (REIS; SILVEIRA, 2012).

2 Pessoas com renda superior a US$ 7.000 anuais em termos de paridade de poder aquisitivo (uma medida de renda ajustada ao poder aquisitivo em moeda local), aproximadamente o nível oficial da linha da pobreza da Europa Ocidental. A própria classe de consumidor global varia muito em termos de riqueza, mas seus membros dispõem de televisão, telefones e internet. Essa classe de consumidor soma cerca de 1,7 bilhão de pessoas (GARDNER; ASSADOURIAN; SARIN, 2004). 9

2.1 A hidroeletricidade no Brasil

No Brasil, a maior parte da produção de energia elétrica é proveniente da hidroeletricidade, com aproveitamento do potencial hidráulico de cerca de 30%, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2013). As primeiras usinas foram instaladas entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, principalmente para atender sistemas isolados, sendo constituídas por pequenos empresários ou pelas prefeituras municipais.

Dentre os países com maior potencial teórico do mundo, o Brasil se destaca em 3º lugar, com 3.040 TWh/ano, além de ocupar a mesma posição no ranking dos países com maior potencial hidrelétrico tecnicamente aproveitável (1.488 TWh/ano) (EPE, 2013).

A produção da energia hidrelétrica ocorre a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um curso d‟água, através da utilização da vazão do rio, da quantidade de água disponível em determinado período de tempo e seus desníveis, sejam eles naturalmente formados, como as quedas d‟água, sejam eles criados pela construção de barragens (TOLMASQUIM, 2005).

A energia hidráulica é proveniente da irradiação solar e da energia potencial gravitacional. O sol e a força da gravidade condicionam a evaporação, a condensação e a precipitação da água sobre a superfície da Terra. A gravidade ainda faz a água fluir pelo leito do rio, e esse movimento possui energia cinética, que pode ser convertida em energia mecânica, e esta, por sua vez, em energia elétrica, nas centrais hidrelétricas (TOLMASQUIM, 2005).

O aproveitamento do potencial hídrico para a produção de energia elétrica apresenta custo de produção relativamente menor em comparação com outras fontes (como os derivados de combustíveis fósseis e algumas fontes alternativas de energia, como o óleo diesel, o óleo combustível e a energia eólica), conforme apresentado na Figura 1. É considerada também uma energia limpa, visto que não provoca emissões de poluentes atmosféricos, libera pouca

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quantidade de gases causadores de efeito estufa na produção de energia, além de ser uma das fontes de energia limpa que podem ser comercialmente produzidas em larga escala.

(*) Gás natural liquefeito (**) Bagaço de cana Figura 1 - Custos de produção de energia elétrica no Brasil Fonte: Aneel (2008, p. 30)

A energia hidrelétrica é a segunda fonte de geração de energia elétrica mais importante no planeta, responsável por cerca de 20% de toda a eletricidade gerada no mundo, e é utilizada em mais de 150 países. Nos últimos anos, representantes de mais de 170 países chegaram a um consenso de que, como energia renovável, seu desenvolvimento deve ser apoiado internacionalmente, o que foi declarado inicialmente em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, e, novamente, em 2003, no Terceiro Fórum Mundial da Água em Kyoto (YUKSEL, 2010). Em comparação com outras fontes de energia, as vantagens que a energia hidrelétrica possui são (HUANG; YAN, 2009; YUKSEL, 2010):

 A fonte de energia utilizada, ou seja, a água, não se esgota durante a produção de eletricidade. As instalações hidrelétricas aproveitam a energia potencial da água para gerar eletricidade.

 Não produz poluentes atmosféricos.

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 A energia hidrelétrica é a forma mais eficiente para gerar eletricidade, pois as turbinas hidráulicas podem converter até 90% da energia disponível em eletricidade.

 Oferece flexibilidade operacional, já que pode responder às flutuações de demanda por eletricidade.

 Promove a segurança energética e a estabilidade dos preços, já que a água é um recurso doméstico e, ao contrário do combustível ou de gás natural, não está sujeito às flutuações do mercado.

Contudo, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2008, p. 52):

O principal argumento contrário à construção das hidrelétricas é o impacto provocado sobre o modo de vida da população, flora e fauna locais, pela formação de grandes lagos ou reservatórios, aumento do nível dos rios ou alterações em seu curso após o represamento.

Os impactos resultantes da construção e implantação de usinas hidrelétricas estão relacionados ao tamanho, volume, tempo de retenção do reservatório, localização geográfica e características e condições hídricas.

A classificação de uma usina depende de sua potência instalada, conforme critérios estabelecidos pela Aneel, que elenca Centrais Geradoras Hidrelétricas (empreendimentos com potência instalada de até 1 MW), Pequenas Centrais Hidrelétricas (que devem possuir aproveitamento hidrelétrico com potência entre 1,1 e 30 MW e reservatório com área igual ou inferior a 3 km2) e Usina Hidrelétrica de Energia (com mais de 30 MW instalados) (ANEEL, 2008).

Considerando diversas hidrelétricas brasileiras, Ross (1999) e Silva (2014) elencam os impactos gerados nas várias fases de implementação de uma barragem, a saber: construção da barragem, enchimento e operação do reservatório e finalização da construção.

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Na fase de construção da barragem, por exemplo, há uma série de impactos diretos no meio físico e biótico, como o desmatamento para a instalação de canteiro de obras, alojamento e até mesmo vias de acesso, podendo haver também atividades de caça e pesca, que contribuem para a dispersão e o desaparecimento da fauna. A construção da barragem afeta ainda aspectos do relevo e da hidrografia do rio, como a intercepção da rede de drenagem, além de acarretar a alteração das bacias de captação e movimentação de grandes massas de terra na formação do reservatório.

Ainda na fase de construção da barragem, há os impactos socioeconômicos, como crescimento demográfico nos municípios do entorno, que intensificam a demanda por infraestrutura, serviços e emprego, podendo resultar em aumento da criminalidade.

Já no processo de enchimento e operação do reservatório, os impactos no meio físico e biótico atingem a flora, a fauna, o relevo, a hidrografia e o solo, já que ocorre desmatamento da área a ser inundada, o que afugenta a fauna e inviabiliza o desenvolvimento de atividades agropecuárias. O relevo sofre alteração pelos processos erosivos, que podem desencadear assoreamento e favorecer a proliferação de insetos.

Sobre a emissão de metano e gás carbônico, ocorre de maneira lenta, por difusão, ao longo dos cursos dos rios, abaixo das barragens, e é proporcional à área alagada. Contudo, comparativamente, as hidrelétricas emitem menos poluentes que outras fontes que utilizam combustíveis de origem fóssil.

Na fase de enchimento e operação do reservatório, ocorrem ainda impactos socioeconômicos diretos, como a necessidade de remoção das populações ribeirinhas, podendo interferir em bens de valores afetivos, culturais e religiosos dessas populações, além de afetar suas práticas agrícolas. Também há dificuldades de circulação e comunicação entre comunidades do entorno.

Por fim, na fase de término da construção, há um “esvaziamento demográfico”, gerando liberação de mão de obra e a desaceleração da economia local, o que pode acarretar em desemprego e desequilíbrio social. 13

Entretanto, além dos impactos negativos, há alguns impactos positivos oriundos das usinas hidrelétricas, tais como a regularização de enchentes e estiagens, a navegabilidade dos rios e a criação de empregos (SILVA, 2014).

Existem metodologias para a análise de benefícios e impactos provenientes da instalação de uma hidroelétrica, sendo algumas obrigatórias, como os Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), e outras facultativas, como o Planejamento Integrado de Recursos (PIR) ou a Metodologia para Avaliação da Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da UHE (SILVA, 2014).

Um dos principais impactos produzidos pelas hidroelétricas, sem dúvida, é a área a ser alagada pelo reservatório. Contudo, os impactos podem ser minimizados através da implementação de medidas compensatórias à população local, além de que não se pode esquecer o ganho social que se tem com a produção de energia elétrica, que beneficia inúmeras comunidades.

2.2 As Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs

Segundo Tolmasquim (2005), o surgimento das PCHs deveu-se à necessidade de fornecimento de energia para serviços públicos de iluminação e para atividades econômicas ligadas à mineração, fábricas de tecidos, serrarias e beneficiamento de produtos agrícolas. Nesse período, a grande maioria das unidades era de pequena potência, pois os custos elevados inviabilizavam a instalação de grandes usinas geradoras (TOLMASQUIM, 2005; SILVA, 2014).

As PCHs podem ser classificadas quanto à capacidade de regularização, ao sistema de adução e à potência instalada e queda de projeto, da seguinte forma (TOLMASQUIM, 2005):

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 Capacidade de regularização: a fio d‟água; de acumulação, com regularização diária do reservatório; de acumulação, com regularização mensal do reservatório; reversíveis.

 Quanto ao sistema de adução: adução de baixa pressão com escoamento livre em canal / alta pressão em conduto forçado; adução em baixa pressão por meio de tubulação / alta pressão em conduto forçado.

 Quanto à queda de projeto: classificadas em micro, mini e pequenas, de acordo com a Tabela 1:

Tabela 1 – Classificação das centrais elétricas quanto à potência e quanto à queda de projeto

CLASSIFICA POTÊNCI QUEDA DE PROJETO - Hd (m) ÇÃO A – P DAS (kW) BAIXA MÉDIA ALTA CENTRAIS

PEQUENAS 1.000 < P < Hd < 25 25 < Hd Hd > 130 30.000 < 130 Fonte: Elaboração própria a partir de Eletrobrás (2000).

Os impactos ambientais decorrentes de uma PCH são, sem dúvida, de magnitude muito inferior aos ocasionados por uma grande usina hidrelétrica. Ao contrário das usinas hidrelétricas de grande porte, as PCHs não utilizam reservatórios para o armazenamento de grandes volumes de água.

Uma PCH constitui-se, basicamente, por: barragem, reservatório, sistemas de captação e adução de água, casa de força e sistema de restituição de água ao leito natural do rio. Seu funcionamento é semelhante ao de uma usina hidrelétrica de grande porte, considerando as devidas proporções, necessitando de recursos hídricos disponíveis e desníveis de relevo que gerem movimentação nas águas (CERPCH, 2014).

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No caso das PCHs, a barragem tem a função de desviar parte da vazão do rio para as estruturas de adução. Já os sistemas de captação e adução levam a água à casa de máquinas (ou casa de força).

Assim, a água captada no reservatório formado pela barragem é direcionada para a casa de força através de túneis e/ou condutos metálicos, passando pela turbina hidráulica, e, posteriormente, através do canal de fuga é restituída ao leito natural do rio.

A central opera de acordo com o volume de água disponível no rio, podendo haver redução da potência de geração se houver redução do volume de água do rio. Entretanto, quando o volume de água é maior do que o necessário para a geração de energia na potência de geração máxima, esse volume excedente passa por cima da barragem através dos vertedouros, seguindo o leito natural do rio sem passar pelas máquinas (CERPCH, 2014).

Nas PCHs, assim como nas demais usinas hidrelétricas, a energia cinética é transformada em energia mecânica ao passar pelas turbinas, e posteriormente, em energia elétrica através de geradores (ANEEL, 2008).

A barragem de uma PCH geralmente possui uma ou mais comportas de fundo, que são utilizadas para (ANEEL, 2008):

 Permitir a saída de um percentual da vazão total do rio denominada vazão sanitária ou vazão residual (sendo uma exigência ambiental, a vazão sanitária é necessária para manter o curso original do rio e o ecossistema local).

 Permitir a passagem de água excedente durante as cheias, diminuindo a espessura da lâmina de água sobre os vertedouros (evitando, assim, o alagamento indesejável de outras estruturas da barragem).

 Permitir a descarga de areia do reservatório, amenizando os problemas de assoreamento.

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As PCHs que operam a fio d‟água (permitem a passagem contínua da água com capacidade nominal mais estável) aproveitam a vazão natural dos rios sem a necessidade de estocar água, requerendo uma pequena área inundável. Quando próximas aos consumidores, reduzem a necessidade de transmissão de energia por longas linhas, com a consequente diminuição de perdas no sistema, com custos de geração e implantação mais competitivos (ANEEL, 2008). Contudo, as PCHs apresentam potência instalada limitada, com capacidade de abastecimento de pequenos centros consumidores e custo por kW médio de energia elétrica maior do que o de uma usina de grande porte (ANEEL, 2008).

Mudanças institucionais e regulamentares, como remoção de barreiras à entrada de novos investidores na indústria de energia elétrica, têm estimulado novos empreendimentos de aproveitamento hidrelétrico de pequeno porte e menor impacto ambiental, como as PCHs (quando comparada a uma usina hidrelétrica de grande porte). A ANEEL criou condições de incentivo aos empreendedores, das quais se destacam (ANEEL, 2002, p. 42):

 Desconto igual ou superior a 50% nos encargos de uso dos sistemas de transmissão e distribuição interligado (Res. ANEEL n.º 281, de 1º de outubro de 1999).

 Autorização não onerosa para explorar o potencial hidráulico (Lei n.º 9.074, de 7 de julho de 1995, e Lei n.º 9.427, de 26 de dezembro de 1996).

 Isenção relativa à compensação financeira pela utilização de recursos hídricos (Lei n.º 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e Lei n.º 9.427, de 26 de dezembro de 1996).

 Livre comercialização de energia para consumidores de carga igual ou superior a 500 kW (Lei n.º 9.648, de 27 de maio de 1998).

 Participação no rateio da Conta de Consumo de Combustível – CCC, quando substituir geração térmica a óleo Diesel nos sistemas isolados (Res. N.º 245, de 11 de agosto de 1999).

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 Comercialização da energia gerada pelas PCHs com concessionárias de serviço público, tendo como limite tarifário o valor normativo estabelecido pela Resolução n.º 22, de 1º de fevereiro de 2001.

Outros incentivos às PCHs são (TOLMASQUIM, 2005):

 Acordo de compra de energia – PPA: através de um acordo de compra de energia ( Power Purchase Agreement – PPA), as PCHs vendem os valores de energia assegurada diretamente às concessionárias de serviço público ou aos consumidores finais.

 PROINFA: O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, instituído pela Lei n.º 10.438, de 26 de abril de 2002, em que a ELETROBRÁS garante a compra de energia gerada em instalações conectadas ao Sistema Elétrico Interligado Nacional, que utilizem fontes eólicas, biomassa ou que se caracterizem como PCHs.

 Financiamento de projetos pelo BNDES: Oferece apoio a projetos de expansão e modernização nos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia, inclusive a geração a partir de fontes renováveis, assim como o apoio a projetos de eficiência energética.

A figura 2 demonstra que em novembro de 2008 havia em operação 320 PCHs, com cerca de 2,4 mil MW de potência instalada, além de outros tipos de empreendimentos, bem como sua potência correspondente.

Figura 2 – Empreendimentos em operação em novembro de 2008 Fonte: Aneel (2008, p. 54). 18

Apesar dos incentivos apresentados, um dos principais desafios que envolvem a implantação de PCHs é o aumento de entraves jurídicos que protelam o processo de licenciamento ambiental desses empreendimentos (ANEEL, 2008), embora a legislação brasileira exija a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental – EIA – apenas para empreendimentos com potência acima de 10 MW, o que exclui uma parcela das PCHs e das CGHs. Além disso, as PCHs que possuem potência instalada de até 10 MW precisam apenas de um Estudo Ambiental Simplificado – EAS –, que corresponde a estudos mais simplificados e menos burocráticos comparados ao EIA.

Os principais benefícios relacionados às PCHs são os impactos ambientais de menor magnitude, principalmente se comparados às usinas hidrelétricas de energia, e apesar de sua capacidade de abastecimento englobar apenas centros consumidores próximos ao empreendimento, para o sistema como um todo, esses benefícios são de grande importância.

2.3 Riscos e vulnerabilidades socioambientais

A partir do século XX, a humanidade acelerou os processos de mudanças demográficas, expansão urbana e aumento da demanda por recursos, tais como energia e água. Essas alterações resultam em riscos significativos que podem intensificar as vulnerabilidades já existentes (SETO; SATTERTHWAITE, 2010).

A discussão sobre os riscos socioambientais torna-se mais intensa devido à ocorrência cada vez mais frequente de eventos e de catástrofes que envolvem situações variadas e diversas. Vive- se em plena sociedade de risco, pois o acelerado processo de modernização tem gerado riscos potenciais em um ritmo cada vez mais intenso (BECK, 1992; MATTEN, 2004).

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Os riscos surgiram como uma das principais externalidades do sistema capitalista, já que, conforme apontado por Beck (1992), a produção social de riqueza é sistematicamente acompanhada da produção social de riscos.

Segundo o autor, os problemas e conflitos relativos à distribuição em uma sociedade de escassez se sobrepõem aos problemas que surgem da produção, definição e distribuição de riscos técnico-científicos, uma vez que as posições sociais e os conflitos em uma sociedade de distribuição de riqueza estão relacionados também com a distribuição de risco.

Ademais, os avanços tecnológicos, tão presentes e importantes na atualidade, geram riscos relacionados à inovação, além dos riscos já existentes inerentes a cada atividade. Beck (2005) complementa que inerente à sociedade de risco é a transformação de riscos técnicos em riscos econômicos, riscos de mercado, riscos para a saúde, riscos políticos e assim em diante. Os passaram a ser apropriados para a reprodução do capital, com o surgimento das indústrias de seguro e a produção de objetos para a prevenção do risco (BECK, 1992).

Na sociedade de risco, mudanças ocasionadas por avanços técnico-econômicos e pela influência antrópica podem representar riscos locais e globais, em que decisões do dia a dia podem gerar resultados globais, e questões globais exercem influência sobre a vida individual (GIDDENS, 1997).

Diversas áreas do conhecimento têm o risco como objeto de estudo devido aos variados enfoques que se pode atribuir a esse conceito, uma vez que os riscos envolvem fatores ambientais, econômicos, sociais, políticos, tecnológicos, mercadológicos, entre outros, havendo a necessidade de se considerar essa complexidade nas pesquisas sobre esse tema.

Para Dagnino e Júnior (2007, p. 57), o conceito de risco está relacionado a uma definição ampla, já que o risco pode se apresentar em situações ou áreas em que há a "probabilidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, acaso ou azar de ocorrer algum tipo de ameaça, perigo, problema, impacto ou desastre”.

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Já o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –PNUD define risco como:

(...) a probabilidade de consequências perigosas ou perdas esperadas (de vida, pessoas feridas, meios de vida, atividades econômicas interrompidas ou danos ambientais) decorrentes de interações entre desastres naturais ou antrópicos e condições vulneráveis. Risco é convencionalmente expressado pela equação Risco = Desastre + Vulnerabilidade (ONU, 2004, p.136, tradução própria).

Porto (2007) considera que a concretização do risco depende basicamente de três aspectos principais: a magnitude do perigo ou da ameaça, a probabilidade de ocorrência e sua extensão e a vulnerabilidade das populações e territórios afetados.

O termo “perigo” relaciona-se a uma ou mais condições físicas ou químicas com potencial para causar danos, enquanto o “risco” é uma medida de prejuízos econômicos, à vida e de impactos ambientais, havendo uma combinação entre frequência da ocorrência de um evento indesejado e a magnitude de suas consequências (SERPA, 2002).

Os perigos ambientais envolvem quase todos os fenômenos da Terra e podem ser classificados de acordo com sua origem, considerados naturais ou tecnológicos. Os perigos naturais, por sua vez, podem ser divididos em hidrometeorológicos, geológicos e biológicos, conforme demonstra o Quadro 1 – Classificação de Perigo.

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Quadro 1 – Classificação de Perigo

Perigo (Hazard) Um evento, fenômeno ou atividade humana potencialmente danoso, o qual pode causar perda de vidas ou ferimentos a pessoas, danos a propriedades, rupturas socioeconômicas ou degradação ambiental. Perigos Naturais (Natural Hazards) Processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e que podem constituir-se em um evento danoso. Os perigos naturais podem ser classificados quanto à origem em: geológico, hidrometeorológico e biológico. Origem Exemplos de fenômenos Perigos geológicos  Terremotos, tsunamis. Processos ou fenômenos  Atividade e emissões vulcânicas. naturais que podem ser de origem endógena ou exógena.  Movimentos de massa, escorregamentos, queda de blocos rochosos, liquefação.  Colapso superficial, atividade de falha geológica. Perigos hidrometeorológicos  Inundações/enchentes, corridas de lama/detritos. Processos ou fenômenos  Ciclones tropicais, tempestades marinhas, naturais de natureza atmosférica, ventanias, chuvas de tempestades, nevasca, relâmpagos. hidrológica ou oceanográfica.  Secas, desertificação, fogo, temperaturas extremas, tempestades de areia.  Permafrost, avalanches de neve. Perigo biológico  Eclosão de doenças epidêmicas, contágios de Processo de origem biológica plantas ou de animais e de infestações extensivas. ou aqueles transmitidos por vetores biológicos, incluindo exposição aos micro-organismos patogênicos, tóxicos e substâncias bioativas. Perigo Tecnológico (Technological Hazards) Perigo associado com acidentes tecnológicos ou industriais, rompimento de infraestrutura ou atividades humanas que podem causar perda de vidas ou ferimentos à pessoa, danos a propriedades, rupturas socioeconômicas ou degradação ambiental. Exemplos: poluição industrial, radioatividade, resíduo tóxico, queda de barragens, acidentes industriais, etc. Fonte: Tominaga, Santoro e Amaral (2012, p. 150).

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Verifica-se, portanto, que os riscos podem relacionar-se a mudanças climáticas, intervenções do ser humano no ambiente e à consequente degradação ambiental global, bem como com situações envolvendo relações pessoais, familiares e sexualidade (GIDDENS, 2000).

Essa situação contribui para provocar o estresse e as tensões da população, contudo, é importante destacar que os diferentes grupos sociais estarão submetidos aos riscos de forma diferenciada, principalmente aos relacionados às mudanças ambientais, a depender de suas condições de moradia, de acesso ao saneamento básico e ao tratamento médico, bem como de sua realidade socioambiental, que determinará o grau de vulnerabilidade ao qual estarão expostos.

Uma questão extremamente importante é a estreita relação entre risco e vulnerabilidade, já que o grau de fragilidade de determinado elemento (por exemplo, região, população, recurso natural) atua como determinante das consequências socioambientais de um dado risco e, por conseguinte, a avaliação dos riscos existentes é essencial para a identificação dos fatores de pressão que atuam sobre esse determinado elemento (PEREIRA; SOUZA, 2006).

Quando há uma perturbação, o meio pode “responder” de diferentes formas dependendo das características e condições locais naturais e humanas, ou seja, uma condição intrínseca que resulta em determinados efeitos adversos. Essa condição denomina-se vulnerabilidade (SANTOS, 2007).

O grau de vulnerabilidade aumenta de acordo com o nível de exposição ao risco, fazendo com que a análise do primeiro determine as respostas e estratégias perante o segundo. Além disso, a vulnerabilidade é resultado de complexas interações entre sistemas ambientais, sociais e econômicos, assim como os riscos (REBOTIER, 2012; KRISHNAMURTHY; LEWIS; CHOULARTON, 2014).

O risco é, por conseguinte, relacionado com a probabilidade de ocorrência e a exposição a uma situação de tensão (BAAN; KLIJN, 2004), enquanto a vulnerabilidade está relacionada com o grau de sensibilidade em relação à exposição a essa situação de estresse.

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Para Alwang et al. (2001), vulnerabilidade é a relação entre pobreza, risco e capacidade de gerenciamento de riscos, individuais, sociais e/ou institucionais.

Adger (2006) considera que vulnerabilidade é o estado de suscetibilidade a danos causados por exposição a tensões associadas a mudanças ambientais e sociais e ausência de capacidade de adaptação.

O grau de vulnerabilidade está diretamente relacionado com a capacidade ou incapacidade do grupo humano em se adaptar à mudança, determinando a intensidade que os possíveis danos possam produzir, o que faz com que esse conceito (vulnerabilidade) possua um caráter social. Na maioria das vezes, os contextos vulneráveis concentram-se principalmente em áreas de maior pobreza, com ausência de recursos e serviços que possam diminuir a fragilidade socioambiental diante de eventos de crise (PORTO, 2007).

Os riscos e vulnerabilidades possuem um viés socioambiental, já que abrangem várias dimensões, a partir das quais se torna possível identificar a vulnerabilidade de indivíduos, famílias ou comunidades, destacando-se elementos relacionados às características desses indivíduos ou famílias e elementos relativos ao meio social no qual estão inseridos (CUNHA et al., 2004).

2.4 Enchentes e inundações

Os eventos extremos, tais como enchentes e inundações urbanas, possuem alto impacto social, uma vez que geram prejuízos econômicos, culturais, perdas humanas e agravos à saúde. Suas causas estão intimamente relacionadas ao processo de urbanização, que gera a impermeabilização do solo e o aumento do escoamento superficial da água. Além disso, a retificação, o aterramento e o assoreamento de rios também contribuem para a incidência desses eventos, que são considerados o tipo de desastre mais comum no Brasil (ASMUS; SEIXAS, 2012). 24

Apesar de as exposições ao risco de enchentes e inundações possuírem um longo histórico, a concepção desses eventos como risco é relativamente recente, já que anteriormente eram vistos como eventos naturais, conforme apontado por Khatibi (2011).

É importante destacar que, de forma geral, há diversos conceitos na literatura referentes aos termos enchente e/ou inundação.

Segundo o Ministério das Cidades e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (2007) –, inundação é o transbordamento de um curso d‟água, que atinge a planície de inundação ou a área de várzea. Enchentes ou cheias são elevações do nível d‟água no canal de drenagem devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal. O alagamento é o acumulo momentâneo de água em determinado local por deficiência do sistema de drenagem. Já a enxurrada é o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou não estar associado a áreas de domínios de processos fluviais.

Para Tucci (2008), existem dois tipos de enchentes que ocorrem em áreas urbanas:

 Enchentes devido à urbanização: resultado da ocupação do solo de forma a aumentar as áreas impermeáveis e com rede de condutos de escoamento.

 Enchentes em áreas ribeirinhas: enchentes naturais que, devido à ocupação irregular de alguns pontos da cidade, atingem a população que ocupa o leito maior do rio.

As enchentes devido à urbanização podem ser agravadas pela obstrução do escoamento através de aterros e pontes, assoreamento dos rios e drenagens mal implantadas; já as inundações em áreas ribeirinhas fazem parte de uma dinâmica natural do rio, que tem uma cheia maior, em média, a cada dois anos (TUCCI, 2008).

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Desta forma, as inundações ribeirinhas são processos naturais que ocorrem periodicamente nos cursos d‟água, resultantes do aumento da vazão dos rios devido a chuvas de magnitude elevada, durante os períodos chuvosos. Contudo, as inundações ribeirinhas podem ser ampliadas ou ter maiores efeitos em função de ações antrópicas.

Para Ostrowsky e Zmitrowicz (1991), as enchentes são fenômenos que ocorrem quando parte da precipitação sobre a bacia hidrográfica que não se infiltrou no solo é retida por um elemento interceptador e escoa superficialmente até alcançar um curso d‟água. Por consequência, a vazão desse curso d‟água aumenta progressivamente até atingir um valor máximo, para então decrescer de modo mais lento.

Onwuemele (2012) complementa que enchente é o transbordamento de uma grande quantidade de água sobre um espaço de terra não usualmente submerso que excede a capacidade local de drenagem, ocorrendo em função da combinação de eventos extremos hidrológicos e meteorológicos, mas que pode ser influenciada por fatores antrópicos. As enchentes causam enxurrada súbita e intensa em pequenas escalas de espaço e tempo, com períodos muito curtos entre a tempestade e a consequente inundação do rio, representando uma ameaça extrema à vida, à propriedade e à infraestrutura, devido ao rápido aumento dos níveis de água, altas velocidades e transporte de sedimentos e detritos.

Além disso, conforme salientam Vargas, Werneck e Ferreira (2008), a política de controle da drenagem empregada atualmente, que corresponde àquela que escoa o mais rapidamente possível a precipitação, baseia-se na canalização do escoamento, possuindo custo mais alto e causando maiores inundações, pois a canalização aumenta os picos para a jusante.

Enchentes e inundações são temas que têm sido amplamente estudados e discutidos e, apesar de serem problemas antigos para diversas regiões, sobretudo as metropolitanas, observa- se, atualmente, que a incidência desses eventos está mais frequente, conforme será discutido no decorrer deste trabalho. A possível relação da ocorrência de enchentes e inundações com o aumento da precipitação devido às variabilidades naturais do clima ou mudanças climáticas

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causadas pelo efeito estufa tem gerado uma maior atenção e importância atribuídas a esses temas (JOTHITYANGKOON et al., 2013).

No Brasil, entre os municípios que apresentam problemas de inundação e enchentes, 25% atribuem o fato à degradação de áreas protegidas e ocupação irregular, e 30% ao desmatamento, havendo uma estreita relação entre o aumento da degradação ambiental, a intensidade dos desastres e o aumento do grau de vulnerabilidade (SANTOS, 2007).

As enchentes em áreas urbanas podem ser atribuídas a diversos fatores, dentre os quais se destacam: chuvas intensas de largo período de retorno; transbordamentos de cursos d‟água provocados por mudanças no equilíbrio do ciclo hidrológico em regiões a montante das áreas urbanas; o excessivo parcelamento do solo e a consequente impermeabilização das superfícies; a ocupação de Áreas de Preservação Permanente – APPs3 –, tais como várzeas, áreas de inundação frequente e zonas alagadiças; a obstrução de canalizações por detritos e por sedimentos; obras de drenagem inadequadas, ou ainda devido à própria urbanização, tendo em vista que provoca aumento das vazões devido à canalização e à impermeabilização e que, em relação à drenagem urbana, o escoamento em áreas urbanizadas pode se tornar um grande indutor de inundação e erosão se relacionado a áreas declivosas com ocupação humana (VARGAS; WERNECK; FERREIRA, 2008).

O solo, que juntamente com a vegetação deve facilitar o escoamento da água pela sua sucção, tem sua capacidade de infiltração prejudicada e até mesmo impossibilitada em áreas impermeabilizadas, o que favorece o escoamento superficial, interferindo na trajetória das águas, modificando o comportamento da área superficial e reduzindo a porcentagem de água infiltrada (AMARAL; RIBEIRO, 2012; TAVARES; SILVA, 2008; PINHEIRO, 2007; THOMAZIELLO; 2007).

3 As APPs correspondem às margens de rios, cursos d‟água, lagos, lagoas e reservatórios, topos de morros e encostas com declividade elevada, cobertas ou não por vegetação nativa, que possuem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e de proteger o solo. As APPs são áreas mais sensíveis e sofrem riscos de erosão do solo, enchentes e deslizamentos (BRASIL, 2012).

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Para Tucci (2008), o desenvolvimento urbano brasileiro vem produzindo um aumento significativo na frequência das inundações, na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade das águas, além de ocasionar inúmeros fatores que podem influenciar nos regimes de precipitações e acarretar o consequente aumento das enchentes, tais como:

 O aumento da temperatura devido ao uso do asfalto e do concreto, que, por serem escuros, absorvem mais energia da radiação solar, aumentando a temperatura e produzindo “ilhas de calor”, podendo causar um maior volume de chuvas em menor espaço de tempo.

 O aumento de sedimentos e material sólido gerado por construções, limpeza de terrenos, além da deposição de lixo nas ruas, causando o assoreamento dos rios e reduzindo a capacidade de escoamento dos condutos, dos rios e dos córregos.

A Figura 3 e a Figura 4 demonstram os efeitos da urbanização no ambiente:

Figura 3 – Diferença de escoamento antes e depois da urbanização Fonte: Tucci (2006, p. 402)

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Figura 4 – Resposta da geometria do escoamento Fonte: Tucci (2006, p. 402)

Verifica-se, com base nas figuras, que a urbanização dificulta o escoamento da água, gerando um pico de vazão maior e mais rápido, aumentando o limite da área de inundação, e com um volume que pode ocasionar uma grande enchente.

A possibilidade de ocorrência de enchentes deriva de condicionantes naturais e antrópicos. Dentre os condicionantes naturais, destacam-se: formas de relevo, características da rede de drenagem da bacia hidrográfica, variação dos índices pluviométricos em termos de intensidade, quantidade, distribuição e frequência, características do solo e teor de umidade, presença ou ausência de cobertura vegetal. Já dentre as causas antrópicas, destacam-se: ocupação urbana das planícies e dos fundos de vales planos e estreitos, remoção da cobertura vegetal natural, impermeabilização excessiva, estrangulamento do leito dos rios/córregos (por meio de aterros para a construção de infraestrutura urbana), redução do espaço de vazão do leito menor por intenso processo de assoreamento, obstrução do fluxo da vazão pelo acúmulo de lixo, galerias de águas pluviais entupidas, construções impróprias de pontes e construção de barragens, entre outros (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012; TUCCI, 2008).

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Para se obter uma análise e compreensão mais completa e aprofundada sobre os riscos de enchentes, é necessário integrar sistemas humanos e naturais, considerando a inter-relação entre as atividades humanas e os fenômenos naturais (CREUTIN et al., 2013), pois, conforme já evidenciado, as enchentes podem ser ocasionadas por fatores naturais relacionados com condicionantes antrópicos, através da interação entre os sistemas socioambientais.

As bacias hidrográficas que tendem a aumentar sua resiliência, ou seja, reduzir sua vulnerabilidade a enchentes possuem características como (MCNALLY, MAGEE, WOLF; 2009):

 Acordos entre instituições e histórico de projetos colaborativos na bacia hidrográfica.  Relações políticas em geral positivas.  Níveis relativamente elevados de desenvolvimento econômico.

Em contraste, entre os fatores que sugerem que uma bacia hidrográfica pode apresentar tendência a vulnerabilidade a enchentes estão (MCNALLY, MAGEE, WOLF; 2009):

 Mudanças ambientais bruscas.

 Rápido crescimento populacional ou crescimento econômico assimétrico.

 Grandes projetos de desenvolvimento com custos e benefícios unilaterais.

 Ausência de capacidade institucional.

 Relações hostis entre grupos dentro da bacia hidrográfica.

De acordo com a magnitude dos danos causados, as enchentes podem ser consideradas desastres, que são graves perturbações do funcionamento de uma comunidade ou sociedade, envolvendo perdas humanas, materiais, ecossistêmicas e/ou ambientais de grande extensão, desde

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que registrem a ocorrência de pelo menos um dos critérios: 100 ou mais óbitos; 100 ou mais pessoas afetadas; declaração de estado de emergência; pedido de auxílio internacional (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).

O desastre é o resultado de eventos adversos extremos ou intensos sobre um sistema social, natural ou provocado pelo homem, causando danos que excedem a capacidade daquele sistema de responder a esses eventos.

Os desastres podem ser classificados quanto a sua origem e quanto a sua intensidade. A classificação de origem divide-os em desastres naturais – causados por fenômenos e desequilíbrios da natureza independentemente da ação humana – e desastres antropogênicos – resultantes de ações ou omissões humanas, relacionados com as atividades do ser humano como agente ou autor (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012).

A classificação da intensidade é de suma importância para planejar as respostas e medidas de recuperação da área atingida. Os desastres são divididos em níveis, de acordo com a intensidade e situação, conforme demonstrado no Quadro 2:

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Quadro 2 - Classificação dos desastres em relação à intensidade

Nível Intensidade Situação I Desastres de pequeno porte, também Facilmente superável com os chamados de acidentes, onde os impactos recursos do município. causados são pouco importantes e os prejuízos pouco virtuosos (prejuízo menor que 5% PIB municipal). II De média intensidade, onde os impactos Superável pelo município, são de alguma importância e os prejuízos são desde que envolva uma mobilização significativos, embora não sejam vultuosos e administração especial. (prejuízos entre 5% e 10% PIB municipal). III De grande intensidade, com danos A situação de normalidade importantes e prejuízos vultuosos (prejuízos pode ser restabelecida com recursos entre 10% e 30% PIB municipal). locais, desde que complementados com recursos estaduais e federais. (Situação de Emergência – SE). IV De muito grande intensidade, com impactos Não é superável pelo município, muito significativos e prejuízos muito sem que receba ajuda externa. vultuosos (prejuízos maiores que 30% PIB Eventualmente necessita de ajuda municipal). internacional (Estado de Calamidade Pública – ECP). Fonte: Tominaga, Santoro e Amaral (2012, p. 15).

Para alguns autores como Ribeiro (2008), as áreas de maior vulnerabilidade frente a esses eventos de pluviosidade são também as mais vulneráveis em termos socioeconômicos, que abrigam uma população de baixa renda ou sem renda, o que os impossibilita de residir em locais mais adequados, ou seja, menos vulneráveis. Contudo, essa realidade não está presente em todas as situações (FREITAS; CUNHA, 2013), visto que muitas áreas vulneráveis a enchentes não abrigam população de baixa renda e tampouco correspondem a ocupações irregulares, mas sim a bairros e loteamentos regularizados, nos quais residem populações de renda média e alta, em que, 32

conforme salienta Santos (2007), o desrespeito à legislação, a especulação imobiliária, o uso inadequado do solo e o desmatamento potencializam os processos de risco, como ocorre no município de Atibaia, área de estudo do presente trabalho, que será apresentado em seguida.

Dentre as formas de controle de enchentes, destacam-se dois tipos de medidas: estruturais e não estruturais. As medidas estruturais correspondem a obras de engenharia que visam ao controle de inundações, tais como obras hidráulicas, barragens, diques de canalização, dutos, entre outros. Elas podem ser divididas em medidas estruturais extensivas e medidas estruturais intensivas.

As medidas extensivas alteram as bacias hidrográficas como um todo, modificando as relações entre a precipitação e a vazão. Já as medidas intensivas atuam no rio e podem ocorrer de três formas (TUCCI, 2008):

1) acelerar o processo de escoamento e aumentar a capacidade de descarga dos rios, através da construção de diques e polders;

2) retardar o processo de escoamento, através de reservatórios e bacias de amortecimento;

3) desviar o processo de escoamento, através de obras como canais e desvios.

As medidas não estruturais são caracterizadas por ações preventivas que não modificam o rio, tais como: zoneamento de áreas de inundação, sistema de alerta conectado à Defesa Civil, entre outras.

As medidas estruturais possuem um custo mais elevado quando comparadas às medidas não estruturais, contudo, conforme salienta Tucci (2006), não existe um modelo ideal, e ambas podem ser utilizadas para minimizar os riscos de enchentes.

Salienta-se, porém, como componente das medidas não estruturais, a atuação da Defesa Civil, órgão governamental responsável pelo atendimento das vítimas de enchentes e que deve 33

empreender ações de socorro, assistência e recuperação, visando a restabelecer a normalidade social.

A Defesa Civil atua sob a forma de sistema, denominado de Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC. Quem coordena o SINDEC é a Secretaria Nacional de Defesa Civil – SEDEC –, no âmbito do Ministério da Integração Nacional, responsável por coordenar as ações de Defesa Civil em todo o território nacional. De todos os órgãos de Defesa Civil, o mais importante é a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil – COMDEC –, pois os desastres ocorrem em esfera municipal.

Segundo o Artigo 2º, do Decreto n.º 7.257 (BRASIL, 2010, p.1), as ações previstas no caso de desastres são:

(...) V - ações de socorro: são ações imediatas de resposta aos desastres com o objetivo de socorrer a população atingida, incluindo a busca e salvamento, os primeiros-socorros, o atendimento pré-hospitalar e o atendimento médico e cirúrgico de urgência, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional; VI - ações de assistência às vítimas: ações imediatas destinadas a garantir condições de incolumidade e cidadania aos atingidos, incluindo o fornecimento de água potável, a provisão e meios de preparação de alimentos, o suprimento de material de abrigamento, de vestuário, de limpeza e de higiene pessoal, a instalação de lavanderias, banheiros, o apoio logístico às equipes empenhadas no desenvolvimento dessas ações, a atenção integral à saúde, ao manejo de mortos, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional; VII - ações de restabelecimento de serviços essenciais: ações de caráter emergencial destinadas ao restabelecimento das condições de segurança e habitabilidade da área atingida pelo desastre, incluindo a desmontagem de edificações e de obras-de-arte com estruturas comprometidas, o suprimento e distribuição de energia elétrica, água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem das águas pluviais, transporte coletivo, trafegabilidade, comunicações, abastecimento de água potável e desobstrução e remoção de escombros, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional; VIII - ações de reconstrução: ações de caráter definitivo destinadas a restabelecer o cenário destruído pelo desastre, como a reconstrução ou recuperação de unidades habitacionais, infraestrutura pública, sistema de abastecimento de água, açudes, pequenas barragens, estradas vicinais, prédios públicos e comunitários, cursos d'água, contenção de encostas, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional; e IX - ações de prevenção: ações destinadas a reduzir a ocorrência e a intensidade de desastres, por meio da identificação, mapeamento e monitoramento de riscos, ameaças e vulnerabilidades locais, incluindo a capacitação da sociedade em 34

atividades de defesa civil, entre outras estabelecidas pelo Ministério da Integração Nacional.

Embora de suma importância, a atuação da Defesa Civil se dá em situações emergenciais, havendo uma grande dificuldade em se trabalhar com medidas preventivas, seja por falta de preparo e recursos do poder público, como pela não participação, contribuição e conscientização por parte da população.

Na tentativa de minimizar a ocorrência de enchentes causadas pela urbanização, Tucci e Genz (1995) criaram o Plano de Controle de Enchentes, que tem como premissas:

 A bacia hidrográfica como sistema.

 Medidas de controle junto à bacia.

 Meios de implantação do controle (Plano Diretor Urbano, legislação municipal/estadual de drenagem).

 Horizonte de expansão (o Plano Diretor deve conter o planejamento das áreas a serem desenvolvidas e a atual situação das áreas loteadas).

 Critério fundamental de não ampliar a cheia (impedir que cada usuário urbano amplie a cheia natural, como quando se realizam pequenos aterros, construção de pontes, rodovias e impermeabilização de lotes).

 Controle permanente (estar sempre atento às violações, à legislação e à ocupação urbana).

 Educação (dos profissionais, da população e dos gestores públicos, para a tomada consciente e eficiente de decisões).

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Verifica-se, de forma geral, falta de planejamento para combater o problema das enchentes, utilizando-se, em casos de sua ocorrência, de medidas emergenciais, estruturais e pontuais, como, por exemplo, o amplo uso de canalizações, que não conseguem solucionar o problema, apenas transferindo-o para outro ponto.

2.4.1 Panorama global de enchentes e inundações

Enchentes e inundações são temas que têm sido amplamente estudados e discutidos, e observa-se que a incidência desses eventos tem sido mais frequente e em maiores proporções. A sua ocorrência é cada vez mais comum em áreas urbanizadas, criando uma infinidade de perigos e vulnerabilidades socioambientais em muitas partes do mundo, como demonstrado no estudo de Galloway (2008), que apresenta os impactos da grande enchente no Rio Mississippi, ocorrida em 1993, e do furacão Katrina, em 2005, ambos nos Estados Unidos, nos quais milhares de pessoas perderam a vida e os danos foram estimados em mais de 120 bilhões (em dólares americanos).

Segundo dados do Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT, 2014), na lista dos 10 maiores desastres globais ocorridos em 2012, considerando o número de mortes, as inundações figuram no 2º lugar, com 480 mortes no Paquistão; no 3º lugar, com 363 mortes na Nigéria; no 7º lugar, com 172 mortes na Rússia; e no 9º lugar, com 151 mortes na China.

Ao considerar os 10 maiores desastres globais ocorridos em 2012 em relação ao número de vítimas, as inundações são listadas 6 vezes, ocupando as 3 primeiras posições (com 17,4 milhões de vítimas no mês de junho na China, 13,1 milhões no mês de abril na China e 7 milhões na Nigéria), além das 6ª, 7ª e 8ª posições (em Bangladesh, com 5,1 milhões de vítimas, no Paquistão, com 5 milhões de vítimas, e nas Filipinas, com 4,5 milhões de vítimas).

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Os desastres hidrológicos4 (inundações e movimentos de massa úmida5) tiveram a maior participação na ocorrência de desastres naturais em 2012 (49,4%), causando 64,7 milhões de vítimas (51,9% das vítimas de desastres totais), e foram responsáveis por 42,2% do número total relatado de pessoas mortas e 16,3% dos prejuízos totais.

Os prejuízos econômicos causados por desastres hidrológicos em 2012 (25,6 bilhões de dólares americanos de 2012) foram um pouco menores que os valores da média anual da década (que compreende o período entre 2001 e 2010, e seria de 26,4 milhões de dólares americanos de 2012). Os maiores prejuízos ocasionados por inundações em 2012 foram registrados na região de Pequim, na China, que corresponderam a cerca de 8 bilhões de dólares americanos, mas ainda foram muito menores do que os prejuízos do desastre hidrológico mais caro já registrado, da grande enchente que atingiu a Tailândia em 2011, com uma estimativa de danos de 40 bilhões de dólares americanos (EM-DAT, 2014).

No continente americano, em 2012, foram registrados 89 desastres naturais, com destaque para os desastres hidrológicos, que corresponderam a 19,1%, e os desastres meteorológicos6, que corresponderam a 43,8% do total.

A Figura 5 apresenta a quantidade de desastres registrados por subgrupo, por continente, no ano de 2012.

4 Desastres hidrológicos: eventos causados por desvios no ciclo normal de água e/ou excesso nos corpos de água (EM-DAT, 2014). 5 Eventos causados pelo deslocamento ou movimentação que envolva água, tais como enxurradas e deslizamento de terra (EM-DAT, 2014). 6 Desastres meteorológicos: eventos causados por processos atmosféricos de curta duração (no espectro de minutos a dias) (EM-DAT, 2014). 37

Figura 5 - Participação da quantidade de desastres registrados por subgrupo e por continente em 2012 Fonte: EM-DAT (2014)

Fazendo uma comparação com o ano de 2010, o Paquistão sofreu muito com o impacto dos desastres hidrológicos, uma vez que foi atingido por enchentes e inundações em julho e agosto que resultaram em 20,4 milhões de vítimas. A Tailândia também foi afetada por inundações, resultando em 9 milhões de vítimas. Em 2010, na lista dos 10 maiores desastres globais, considerando o número de mortes, as inundações figuram nos 4º e 6º lugares (no Paquistão, com 1.985 mortes, e na China, com 1.691 mortes), além de movimentos de massa úmida nos 5º e 10º lugares (na China, com 1.765 mortes, e em Uganda, com 388 mortes) (EM-DAT, 2014).

Considerando o número de vítimas, as inundações ocupam as 3 primeiras posições (China, com 134 milhões de vítimas, Paquistão, com 20,4 milhões, e Tailândia, com 9 milhões de vítimas), seguidas pelo 5º lugar, China, com 6 milhões de vítimas, 7º lugar, Índia, com 3,3 milhões de vítimas, e 10º lugar, Colômbia, com 2,2 milhões de vítimas (EM-DAT, 2014).

Ao considerar os 10 maiores desastres globais ocorridos em 2010 em relação aos prejuízos econômicos, as inundações são listadas 4 vezes, ocupando as 2ª, 3ª, 7ª e 9ª posições, com

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destaque para os prejuízos de 18 bilhões de dólares americanos (de 2010) na China e de 9,5 bilhões de dólares americanos (de 2010) no Paquistão (EM-DAT, 2014).

Ainda de acordo com o EM-DAT (2014), os desastres hidrológicos foram os desastres mais importantes em 2010, representando 56,1% do total de ocorrências de desastres para o referido ano. Os desastres meteorológicos foram o segundo mais ocorrido, mostrando uma proporção de 1 para 2,5 (entre os desastres meteorológicos e os desastres hidrológicos, respectivamente) ao comparar-se com a ocorrência de desastres hidrológicos.

Os desastres hidrológicos causaram 87% do número global de vítimas relatadas em 2010, e mais de um terço dos danos foram ocasionados por esses tipos de desastres (37,9%). O número de vítimas causadas por desastres hidrológicos em 2010 foi o maior em uma década, totalizando 216 desastres hidrológicos (85,2% de inundações e 14,8% de movimentos de massas úmidas) causando 189 milhões de vítimas. O único registro que supera esse número é o de 1998, quando inundações na China afetaram mais de 239 milhões de pessoas (EM-DAT, 2014).

De acordo com o banco de dados do EM-DAT (2014), a ocorrência de desastres hidrológicos aumentou 20% em relação a 2009 e manteve-se acima da média anual para o período de 2000-2009 (que é de 192 desastres). O número de vítimas relatadas em 2010 quase triplicou em relação a 2009 e quase dobrou em comparação com a média anual da década (período de 2000 a 2009).

Os danos causados por desastres hidrológicos em 2010 (46,9 bilhões de dólares americanos) também foram os maiores desde 1998 (60 bilhões de dólares americanos, principalmente devido a inundações na China), e quase 2,5 vezes maiores do que a média anual de 19,1 bilhões de dólares americanos para o período de 2000 a 2009. O número de vítimas de desastres hidrológicos também foi maior em 2010 em comparação à média anual da última década. Esses desastres foram responsáveis por 34,6% das vítimas de catástrofes no continente americano (EM-DAT, 2014).

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2.4.2 Panorama brasileiro de enchentes e inundações

No Brasil, a ocorrência de eventos de enchentes e inundações também vem crescendo. Segundos dados do EM-DAT (2014), em um levantamento sobre os desastres naturais no país para o período de 1995 a 2004, foram registradas 229 mortes, todas relacionadas a desastres de inundação e movimentos de massas úmidas, sendo que, para o período de 2005 a 20147, esse valor subiu para 1.252 mortes (todas relacionadas a inundações).

Considerando o número de pessoas afetadas por eventos de inundações e movimentos de massas úmidas, o período entre 1995 e 2004 registrou 800.980 pessoas, enquanto o período entre 2005 e 2014 ultrapassou os 5 milhões de pessoas8.

Deste modo, enquanto a população brasileira cresceu 1,5% no período de 1995 a 2004, e os afetados por esses eventos diminuíram 7,7% no mesmo período, de 2004 a 2014 a população brasileira aumentou 1,2%, e os afetados pelos referidos eventos cresceram 942,9%.

Os prejuízos econômicos também vêm aumentando progressivamente: o período entre 1995 e 2004 registrou um prejuízo de cerca de 500 mil dólares americanos, enquanto o período entre 2005 e 2014 registrou um prejuízo em torno de 3 milhões de dólares americanos.

7 Dados contabilizados até o mês de março de 2014. 8 Os dados demonstram que, enquanto a população brasileira cresceu 11,6% no período de 2004 a 2014, a ocorrência desses eventos cresceu 524,2%, e que em 2004 a população afetada foi de 0,4%, e em 2014 de 2,5% (segundo dados do IBGE, em 2004 a população brasileira era de 181.581.024 pessoas, e até agosto de 2014, a população brasileira somava 202.768.562 pessoas). 40

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Considerando o objetivo geral desta dissertação, ou seja, analisar o contexto em que ocorreu a tentativa de reativação da PCH Atibaia, bem como as enchentes e inundações no município de Atibaia, e identificar se houve relação entre os mesmos, foram selecionados os métodos que permitissem alcançar os resultados almejados, métodos estes que são descritos neste item.

Assim, para a compreensão das estratégias metodológicas utilizadas, apresenta-se a Figura 6

Figura 6 – Fluxograma de representação das estratégias metodológicas utilizadas Fonte: Elaboração própria

3.1 Etapa 1: Obtenção de dados secundários

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Com o intuito de elaborar um embasamento teórico para esta dissertação realizou-se revisão bibliográfica referente aos temas energia, PCH, riscos, vulnerabilidade, enchentes e inundação, além de coleta de dados secundários junto a diversos órgãos governamentais (Prefeitura Municipal, Secretaria de Meio Ambiente, Defesa Civil, entre outros) e não governamentais (Associações representativas da Sociedade Civil, Universidades e Centro de Pesquisas) atuantes na região, buscando realizar uma caraterização da área de estudo, identificar as áreas atingidas, bem como a existência de conflitos e/ou organizações sociais contrárias à reativação da PCH Atibaia.

Desta forma, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil - CEDEC e da Secretaria de Defesa Civil - SEDEC foram analisadas as Avaliações de Danos – AVADAN –, referentes aos eventos de enchentes ocorridos nos anos de 2002, 2009/2010 e 2010/2011, que descrevem a ocorrência desses eventos, suas características e os diversos danos (humanos, materiais, ambientais, econômicos e sociais) que os envolvem, bem como apresentam uma avaliação conclusiva sobre a intensidade dos desastres.

Analisaram-se também os relatórios que foram elaborados para avaliar os impactos das enchentes no município (GIANSANTE, 2011; CESAR NETO, 2011; SSRH; DAEE, 2012).

3.2 Etapa 2: Pesquisa de campo

Para uma melhor análise e conhecimento dos temas de estudo, foram realizadas pesquisas de campo que podem ser agrupadas em três categorias: pesquisa empírica, entrevistas com especialistas e técnicos envolvidos com as enchentes e inundações no município e aplicação de questionários à população local.

A pesquisa empírica ocorreu ao longo do desenvolvimento do projeto, com visitas para a observação e exploração da área de estudo. 42

Foram entrevistados 10 técnicos e especialistas que estiveram envolvidos com a ocorrência de enchentes e inundações em Atibaia, no período de julho a setembro de 2014. Através da realização de entrevistas semiestruturadas (RICHARDSON, 2008), objetivou-se aprofundar a análise de alguns elementos importantes, tais como a possível influência da PCH Atibaia na ocorrência desses eventos e as ações realizadas para sua minimização, bem como avaliar as informações fornecidas por esses entrevistados em relação aos dados apresentados pelos relatórios analisados.

Posteriormente, foram aplicados questionários à população local, totalizando 80 pessoas abordadas (40 pertencentes ao grupo de população afetada e 40 ao grupo de não afetada), para verificar o seu conhecimento e a sua postura perante os temas tratados e compará-los com os dados obtidos através da análise dos relatórios e das entrevistas.

3.3 Etapa 3: Análise e discussão:

Na etapa 3 realizou-se uma análise energética da PCH Atibaia a fim de verificar sua capacidade de produção de energia e os possíveis impactos decorrentes da mesma. Para tanto, foram calculados os valores das vazões médias anuais reais, as vazões médias anuais estimadas (caso o reservatório da PCH não existisse), além do índice pluviométrico médio anual.

Para verificar os valores das vazões médias anuais da PCH Atibaia, foram realizados cálculos baseados nos dados de vazões médias mensais do posto fluviométrico n.º 62670000 da Agência Nacional de Águas – ANA para o período de 50 anos, de 1961 a 2011 (com exceção dos anos 1961, 1991 e 1992, pois não há dados disponíveis). A área da bacia da PCH Atibaia é de 1.321,8 km², portanto as vazões médias do posto fluviométrico foram transladadas para a PCH usando-se o fator multiplicativo, calculado dividindo-se a área da bacia da PCH pela área da bacia do posto fluviométrico n.º 62670000 (1.321,8/1.143 = 1,15643044). Optou-se por utilizar

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esse posto fluviométrico e essa metodologia, pois foram os mesmos utilizados nos estudos para a reativação do empreendimento.

Os valores dos índices pluviométricos foram calculados com base nos dados disponibilizados pelo Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – SIGRH – (no período de 1961 a 2000) e pelo Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas – CIIAGRO – (no período de 2001 a 2011).

Para uma melhor análise, calculou-se também o valor das vazões médias anuais estimadas, caso o reservatório da PCH Atibaia não existisse. Para esse cálculo, utilizou-se a Equação 1 (SILVA, 2014)

Vesc. = A.(Ipl-Iev-Iin) (Equação 1)

sendo:

Vesc. = vazão de água de escoamento; A = área = 1.143 km²; Ipl = índice pluviométrico médio mensal; Iev = índice de evaporação médio mensal; Iin = índice de infiltração médio mensal.

Considerando que os índices de evaporação e de infiltração variam de acordo com os índices pluviométricos, tomou-se como base que o valor do índice de evaporação é equivalente a metade do índice pluviométrico, e que o valor do índice de infiltração equivale a um quarto do índice pluviométrico. Assim sendo, pode-se afirmar que as diferenças entre os índices pluviométricos, de evaporação e de infiltração correspondem a um quarto do valor do índice pluviométrico (SILVA, 2014). Com os valores dos índices médios mensais (pluviométrico, de evaporação e de infiltração) foi possível estimar os valores das vazões caso o reservatório da PCH Atibaia não existisse. Posteriormente, foi calculado o valor médio anual dessas vazões.

Uma questão importante que também deve ser considerada, seja na implantação ou na reativação de uma PCH, relaciona-se à manutenção da quantidade de energia elétrica produzida, 44

bem como da receita gerada, que são diretamente proporcionais à vazão aproveitada. Desta forma, apresenta-se um cálculo comparativo entre os anos de 1962 e 2011. Para o cálculo de potência, utilizou-se a Equação 2 (SILVA, 2014)

Pe = 9,76.(.  .H) (Equação 2)

sendo:

(rendimento total = 78% (rendimento da turbina: 82%; rendimento do gerador: 95%). H = 9 metros;  1962 = 23,46 m3/s;  2011 = 15,20 m3/s 

Salienta-se que os valores apresentados de rendimentos da turbina, do gerador, e a altura do reservatório foram fornecidos pelos responsáveis pelo empreendimento. Já os valores de vazão foram calculados neste estudo.

Em seguida foi realizada a tabulação dos dados coletados nos questionários e nas entrevistas, assim como a posterior análise.

Finalmente foi realizada uma compilação final e análise crítica do conteúdo levantado, que englobou dados de pesquisa documental, pesquisa de campo e análise energética da PCH Atibaia, bem como dos resultados obtidos, o que possibilitou relacionar os resultados da análise energética aos resultados sociais, que serão apresentados no decorrer deste trabalho. .

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4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA E DETALHAMENTO DO OBJETO DE ESTUDO

4.1 O Município de Atibaia

O município de Atibaia localiza-se no interior do Estado de São Paulo, a 65 km da capital, possui área total de 478 km2 e população de 126.603 habitantes (população registrada no ano de 2010) (ATIBAIA, 2006; IBGE, 2010), conforme pode ser verificado na Figura 7. O município faz parte da Região Bragantina, destacando-se por suas belezas naturais e cênicas, fazendo com que seja considerado uma Estância Climática e Turística9.

Figura 7 - Localização do município de Atibaia Fonte: Seixas et al. (2015)

9 O título de Estância é concedido pelo Governo do Estado de São Paulo a municípios que apresentem características específicas, como determinadas condições climáticas (no caso de Estância Climática) e atrativos, infraestrutura e serviços turísticos (no caso de Estância Turística). 46

Atibaia está situada em proximidade a grandes centros urbanos, tais como , São José dos Campos e São Paulo, o que contribuiu para a ocorrência de diversas transformações socioambientais nas últimas décadas. A atividade turística tem impulsionado a criação de empreendimentos e a oferta de serviços, mas também tem contribuído para a crescente especulação imobiliária, já que o município apresenta diversas casas de segunda residência e é, muitas vezes, utilizado como cidade-dormitório para pessoas que trabalham na Região Metropolitana de São Paulo.

O município está localizado entre os eixos rodoviários da Rodovia Fernão Dias (que liga São Paulo ao sul de e a ) e (que liga o interior do Estado de São Paulo e Campinas à Rodovia Presidente Dutra e ao porto de São Sebastião), representando, segundo o plano diretor da cidade, um interessante ponto logístico (ATIBAIA, 2006). No entanto, verifica-se um processo de ocupação desordenada, favorecido pelos eixos rodoviários, e, conforme demostrado por Hoeffel et al. (2009, p.8), “ocorre atualmente [...] com uma dinâmica bastante acelerada, uma intensa especulação imobiliária que tem incrementado seu potencial turístico”, já que os ambientes naturais e histórico-culturais representam um atrativo adicional para a captação de empreendimentos no setor de serviços, gerando fluxos turísticos, residenciais e de lazer (ATIBAIA, 2006).

Assim, a facilidade de acesso proporcionada pelas Rodovias D. Pedro I e Fernão Dias impulsiona os impactos relacionados à urbanização e ao crescimento demográfico do município.

Com relação à evolução urbana, podem-se ressaltar dois pontos centrais no município: a fragmentação da malha urbana e a sua divisão em dois lados com evidentes diferenças sociais. No lado oeste da Rodovia Fernão Dias localizam-se algumas ocupações irregulares e bairros considerados “populares”, que apresentam, em geral, algum problema de infraestrutura. A leste encontram-se o centro histórico, comercial e financeiro da cidade e áreas residenciais de padrões variados, entre médio e alto padrão (ATIBAIA, 2006).

Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – SEADE (SEADE, 2014a), a densidade demográfica registrada no município no ano de 2013 foi de 272,94 47

habitantes/km2, valor superior ao da Região de Governo de Bragança Paulista10 (RG), bem como do próprio Estado de São Paulo, conforme demonstra a Figura8.

Figura 8 - Densidade demográfica 2013 Fonte: SEADE (2014a)

Informações do SEADE (2014b) também demonstram a evolução populacional no município, no qual houve, conforme mostra a Tabela 2, maior crescimento entre as décadas de 1980 e 1990 e de 1990 a 2000, apresentando nos anos seguintes um crescimento, mas com uma taxa menor. Verifica-se uma grande expansão urbana a partir de 1980, contudo, enquanto na década de 1950 a ferrovia foi uma indutora de loteamentos isolados, a partir de 1990 as rodovias (Fernão Dias e Dom Pedro I) assumiram esse papel (ATIBAIA, 2006). A Figura 9 ilustra essa transformação.

Tabela 2: Evolução populacional e grau de urbanização no município de Atibaia

Ano 1960 1970 1980 1991 2000 2010

População (mil habitantes) 23.380 36.838 57.820 86.336 111.300 126.603 2 Densidade (habitantes/km ) 48,85 76,98 120,83 180,42 232,59 264,85 Taxa de Urbanização 38% 55% 84% 86% 87% 91% Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE (2010)

10 As Regiões de Governo foram estabelecidas para centralizar as atividades das secretarias estaduais e correspondem a um grupo de municípios limítrofes com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. A Região de Governo de Bragança Paulista engloba os municípios de Águas de , Amparo, Atibaia, Bom Jesus dos Perdões, Bragança Paulista, Joanópolis, Lindóia, , Nazaré Paulista, , Pinhalzinho, Piracaia, , Socorro, Tuiuti e Vargem. 48

Figura 9 - Evolução da ocupação do território no município de Atibaia Fonte: Seixas et al. (2015)

As figuras a seguir mostram uma comparação entre o município de Atibaia, o Estado de São Paulo e o Brasil em relação à população, densidade demográfica e taxa de urbanização.

Figura 10 - Comparação Populacional entre o município de Atibaia, o Estado de São Paulo e o Brasil. Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE (2010)

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Figura 11 - Comparação da densidade demográfica entre o município de Atibaia, o Estado de São Paulo e o Brasil Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE (2010)

Figura 12 - Comparação da taxa de urbanização entre o município de Atibaia, o Estado de São Paulo e o Brasil Fonte: Elaboração própria a partir de IBGE (2010)

Analisando as figuras, em termos de população houve um crescimento gradativo para o município de Atibaia, assim como ocorreu com o Estado de São Paulo e com o Brasil, enquanto a densidade demográfica de Atibaia aumentou consideravelmente, ultrapassando o Estado de São Paulo e o Brasil a partir da década de 1970. Com relação à taxa de urbanização, no município de Atibaia houve um aumento considerável, principalmente a partir de 1970, aproximando-se muito da taxa de urbanização do Estado de São Paulo e do país.

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Segundo o Plano Diretor do município (ATIBAIA, 2006), a redução da atividade agrícola pode ser atribuída, entre outros fatores, à falta de incentivos para que as novas gerações de empreendedores agropecuários se fixem na zona rural, principalmente devido à baixa rentabilidade de sua produção, o que também pode ser observado como um fenômeno nacional.

Com relação aos recursos hídricos, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA, 2008), sua gestão no Estado de São Paulo foi instituída através do Plano Estadual de Recursos Hídricos, que dividiu o estado em 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHI – e que visa ao planejamento e à gestão integrada, a fim de minimizar conflitos e garantir a qualidade das águas. Atibaia está inserida na UGRHI 5 (Figuras 13 e 14), que corresponde à bacia hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, especificamente na bacia hidrográfica do Rio Atibaia (Figura 15).

Figura 13 - Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) 5. Fonte: Comitê PCJ (2010)

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Figura 14 - Localização da bacia hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Fonte: Seixas et al. (2015)

Figura 15 - Localização da bacia hidrográfica do Rio Atibaia. Fonte: Seixas et al. (2015)

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A bacia do Rio Atibaia abriga um dos principais polos industriais do país, que apresenta densa malha urbana e uma importante área agrícola, sendo responsável pelo abastecimento de água de 90% da população do município de Atibaia e 95% da população de Campinas (COMITÊS PCJ, 2010).

O Rio Atibaia é formado pelos Rios Atibainha e Cachoeira, que se encontram no bairro do Guaxinduva, entre os municípios de Atibaia e Bom Jesus dos Perdões, e cujas nascentes estão localizadas basicamente nos municípios de Joanópolis, Piracaia e Nazaré Paulista. É o principal rio que compõe a bacia do Rio Piracicaba, responsável pelo abastecimento de água de 60 cidades da região, onde vivem cerca de 4,5 milhões de pessoas. Apesar de sua importância estratégica para a região, o Rio Atibaia sofre com a poluição: cerca de 90% do esgoto doméstico urbano e 20% do esgoto industrial gerados na região são lançados sem tratamento, além de resíduos sólidos que podem ser visualizados ao longo de vários pontos do percurso do rio (COMITÊS PCJ, 2010).

É importante destacar também que o centro urbano do município de Atibaia possui 70% de suas vias pavimentadas com asfalto ou paralelepípedos (GIANSANTE, 2012).

O município de Atibaia está inserido também na Área de Proteção Ambiental do Sistema Cantareira – APA do Sistema Cantareira –, instituída em 1998 através da Lei Estadual n° 10.111, de dezembro de 1998, abrangendo os municípios de Mairiporã, Atibaia, Nazaré Paulista, Piracaia, Joanópolis, Vargem e Bragança Paulista, com o objetivo de proteger e melhorar a qualidade dos recursos hídricos da região, particularmente das bacias de drenagem que formam o Sistema Cantareira, principal produtor de água para abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo – RMSP (SÃO PAULO, 1998; WHATELY; CUNHA, 2007).

O Sistema Cantareira, que é considerado um dos maiores sistemas produtores de água do mundo, produz 33 mil litros de água por segundo e abastece 8,8 milhões de pessoas, o que corresponde a 46% da população da RMSP. Ele abrange doze municípios (Bragança Paulista, , , Joanópolis, Mairiporã, Nazaré Paulista, Piracaia e Vargem, no Estado de São Paulo, e os municípios de Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim, no Estado de 53

Minas Gerais). As águas produzidas pelo sistema são provenientes, em sua grande maioria, da bacia do Rio Piracicaba e transpostas para a região da bacia do Alto Tietê, onde se localiza a Grande São Paulo. Dessa forma, o sistema altera o regime hidrológico dos cursos d‟água a jusante, garantindo uma vazão mínima, e por ter uma capacidade, mesmo que limitada, de amortecimento de cheia (GIANSANTE, 2012).

O Sistema Cantareira é composto por cinco reservatórios: Jaguari-Jacareí (interligados), que abrangem os municípios de Bragança Paulista, Vargem, Joanópolis e Piracaia; Cachoeira, localizado no município de Piracaia; Atibainha, localizado no município de Nazaré Paulista; e Juquery, ou Paiva Castro, localizado no município de Mairiporã (WHATELY; CUNHA, 2007).

As localizações da APA do Sistema Cantareira e do Sistema Cantareira em si podem ser observada na Figura 16 e na Figura 17.

Figura 16 – Localização da APA do Sistema Cantareira Fonte: Sistema Ambiental Paulista (2014).

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Figura 17 – Localização do Sistema Cantareira Fonte: SABESP (2014)

4.1.1 Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Atibaia

A Lei Municipal n.º 3.705 instituiu a Área de Proteção Ambiental – APA – Várzea do Atibaia, ou APA Várzeas do Atibaia, que tem como objetivo preservar a biota típica da área das várzeas, a manter as condições para as cheias do Rio Atibaia, e consequente capacidade de abastecimento da população e melhorar a qualidade ambiental do município (ATIBAIA, 2008).

Segundo o parágrafo único da lei, considera-se área de várzea toda área constituída de solos originários de decomposição de materiais transportados por cursos d'água ou trazidos das encostas pelo efeito erosivo das chuvas, geralmente plana, situada às margens dos córregos e dos

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rios, exposta à umidade e a processos químicos de redução, em consequência da elevação do lençol freático, estando sujeita ou não a inundações periódicas (ATIBAIA, 2008).

O artigo 3º determina que a Administração Municipal deve “prevenir o uso inadequado dos terrenos situados nas áreas de várzea do Rio Atibaia e de seus afluentes, seja para fins urbanos, seja para fins rurais incompatíveis” (ATIBAIA, 2008, p. 1).

O artigo 4º delimita as áreas da APA Várzeas do Atibaia (ATIBAIA, 2008, p. 2 e 3):

I- desde o limite municipal leste até o lago da Represa da Usina, em ambas as margens do Rio Atibaia, pela linha contínua de cota 747,50 metros do nível do mar, nos locais em que essa linha diste mais de 200,00 metros contados a partir do eixo do rio, e pela faixa de 200m contados a partir do eixo do rio nos locais em que a referida linha de cota se situe a menor distância; II- no entorno do lago da represa da Usina, pela linha contínua de cota 747,50 metros do nível do mar, nos locais em que essa linha diste mais 200,00 metros contados a partir das margens do lago, e pela faixa de 200m contados a partir das margens dos lagos, nos locais em que a referida linha de cota se situe a menor distância; III- a jusante do lago da Represa da Usina, em ambas as margens do Rio Atibaia, por uma faixa de 100 metros contados a partir do eixo do Rio, exceto nos terrenos já ocupados na data de publicação desta Lei, onde prevalecerão como limite de APA as faixas correspondentes às Áreas de Preservação Permanentes – APP – estabelecidas na Resolução CONAMA nº. 303, de 20 de março de 2002; IV- em ambas as margens dos afluentes do Rio Atibaia, pela linha contínua de cota 747,50 metros do nível do mar. §1º Para todos os efeitos, integram ainda a APA Várzeas do Atibaia o Rio Atibaia, seus afluentes e o lago da Represa da Usina.

A lei também determina que a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente da Estância de Atibaia é a responsável pela administração da APA Várzeas do Atibaia e que, até que seja concluído o Plano de Manejo da APA pelo Poder Executivo municipal e pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente – CODEMA –, fica estabelecido o seguinte zoneamento (ATIBAIA, 2008):

I Áreas de Proteção Integral (API), todos os terrenos inseridos no território municipal que se situam:

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a) entre as margens do Rio Atibaia e a linha de cota 742,50 metros do nível do mar, bem como entre essa linha e a faixa de 200,00 metros contados a partir do eixo do rio nos locais em que a linha de cota se situe a menor distância;

b) no entorno do lago da Represa da Usina, pela linha contínua de cota de 742,50 metros do nível do mar, nos locais em que essa linha diste mais de 200,00 metros, contados a partir das margens do lago e pela faixa de 200,00 m (duzentos metros) contados a partir das margens do lago, nos locais em que a referida linha de cota se situe a menor distância;

c) entre as margens dos afluentes do Rio Atibaia e a linha de cota 742,50 metros do nível do mar.

II Áreas de Transição (ATR), que são todos os terrenos situados entre os limites externos das API e a linha demarcatória da APA.

Destaca-se ainda que, de acordo com o artigo 9°, “ficam proibidos a implantação de empreendimentos e o exercício de atividades causadoras de degradação da qualidade ambiental das áreas integrantes da APA Várzeas do Atibaia” (ATIBAIA, 2008, p. 5).

É importante mencionar que esta APA está sendo revista e delimitada, com o intuito de que a mesma possa exercer a função para a qual foi criada, ou seja, proteger e melhorar as condições dos recursos hídricos municipais.

4.2 PCH Atibaia

A Pequena Central Hidrelétrica Atibaia localiza-se na zona rural do município de Atibaia, conforme mostra a Figura 18, e está inserida na bacia hidrográfica do Rio Atibaia.

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Figura 18 - Localização da PCH Atibaia no município de Atibaia. Fonte: Seixas et al. (2015)

A PCH, assim como a sua barragem, foi construída em 1921 para produzir energia elétrica e suprir uma usina de tecelagem, entrando em operação em 1924.

Em 1953, o empreendimento encontrava-se sob propriedade da Câmara Municipal de Vereadores, que concedeu o direito de operação à Rede Bragantina, que, por sua vez, realizou uma repotencialização na PCH. Essa situação permaneceu durante o período de 1953 a 1994, contudo, houve diversos momentos nos quais a operação da PCH Atibaia foi suspensa devido a divergências entre as partes, e em 1994 foi oficialmente desativada.

Em 2008, já sob propriedade da Prefeitura Municipal, a PCH foi objeto de uma licitação para reativar a sua operação, licitação esta vencida pelo Condomínio Empresarial Atibaia, que iniciou as atividades para a reativação.

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A região que circunda a represa hidroelétrica do Bairro da Usina foi declarada Área de Proteção Ambiental Bairro da Usina, em setembro de 1986, com o intuito de evitar ou impedir o exercício de atividades causadoras de degradação ambiental (SÃO PAULO, 1986). Essa área abriga também o Centro de Lazer Municipal Alberto Gavazzi.

A sua estrutura conta com barragem, reservatório, sistemas de captação e adução de água, com dois canais de adução, casa de força e três comportas de fundo localizadas a montante da barragem (uma comporta de fundo foi desativada em 1994 por problemas estruturais, de forma que apenas duas estão em operação). As Figuras 19, 20, 21, 22, 23 e 24 mostram parte da estrutura da PCH Atibaia.

Figura 19 – Vista externa da casa de força Figura 20 – Barragem da PCH Atibaia, da PCH Atibaia, em Atibaia, SP em Atibaia, SP Fonte: Gonçalves (2014) Fonte: Gonçalves (2014)

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Figura 21 – Comportas de fundo da PCH Figura 22 – Reservatório da PCH Atibaia, Atibaia, em Atibaia, SP em Atibaia, SP Fonte: Gonçalves (2014) Fonte: Gonçalves (2014)

Figura 23 – Adutora esquerda da PCH Atibaia Figura 24 – Adutora direita da PCH Atibaia Fonte: Gonçalves (2014) Fonte: Gonçalves (2014)

Conforme apresentado por Tolmasquim et al. (2005), a energia hidrelétrica é gerada a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um curso d‟água, aliando a utilização da vazão do rio e a quantidade de água disponível em um determinado período de tempo com os seus desníveis, sejam os naturalmente formados, como as quedas d‟água, sejam os criados com a construção de barragens. Uma usina hidrelétrica é composta, basicamente, de casa de força, sistemas, comportas e barragem.

A barragem, além de interromper o curso normal do rio, possui o objetivo de formar uma queda d‟água, quando não existe um desnível concentrado, acumulando água em forma de 60

reservatório que pode ser usada na geração de energia. Já o vertedouro permite o extravasamento do excesso de afluência que não pode ou não interessa ser armazenada no reservatório ou gerar energia. A casa de força, também conhecida como casa de máquinas, abriga as turbinas e os geradores, que são responsáveis pelos processos de transformação da energia. Apesar de haver diversos tipos de casa de força, no Brasil a mais comum é a do tipo abrigada, em que todo o conjunto turbina-gerador e os equipamentos são instalados dentro de uma estrutura (TOLMASQUIM et al., 2005). Da mesma forma, existem vários tipos de turbinas hidráulicas, adequadas à queda e à vazão disponíveis, sendo que as turbinas utilizadas na PCH Atibaia são do tipo Kaplan.

As PCHs possuem como características: operação a fio d‟água ou com pequena regularização diária; possuem pequenas barragens ou vertedouros de até 10 m de altura; trabalham com vazões turbináveis de até 20 m/s (SILVA, 2014).

É importante destacar que os maiores impactos oriundos das hidroelétricas, sejam de grande ou pequeno porte, relacionam-se principalmente à construção da barragem, e não com o processo de geração de energia.

4.3 Agentes sociais envolvidos com as enchentes e inundações no município de Atibaia

Elencam-se como os principais agentes sociais envolvidos na ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia:

 População local: cujas ações impactam na ocorrência das enchentes e inundações.

 Prefeitura do Município de Atibaia: responsável pelo planejamento urbano do município, pela aplicação e fiscalização quanto ao cumprimento das legislações, principalmente com relação à ocupação de áreas irregulares, além da ocupação regular de áreas indevidas (principalmente APPs), pelo zoneamento de áreas urbanas e rurais e por proporcionar condições de segurança,

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saúde e saneamento aos seus habitantes. É a atual proprietária da PCH Atibaia e concedeu os direitos de administração e exploração para o Condomínio Empresarial Atibaia.

 Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE –: órgão gestor dos recursos hídricos do Estado de São Paulo. A principal função do DAEE é estabelecer a política de utilização dos recursos hídricos, tendo em vista o desenvolvimento integral das bacias hidrográficas. Entre outras atividades, elabora estudos e projetos relativos ao aproveitamento integral dos recursos hídricos, autoriza a implantação de empreendimentos que demandem o uso de recursos hídricos, cadastra os usuários e outorga o direito de uso dos recursos hídricos. O DAEE foi o responsável pela outorga que concede os direitos ao Brazilian Business Park para utilização dos recursos hídricos do reservatório da PCH Atibaia.

 Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp: atua no fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos e possui a outorga para administrar o Sistema Cantareira. Apesar de o município de Atibaia não estar inserido no Sistema Cantareira, as suas vazões são liberadas nos Rios Atibainha e Cachoeira, que, por sua vez, formam o Rio Atibaia.

 Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC) de Atibaia: responsável pelo gerenciamento do Sistema Municipal de Defesa Civil, que além da própria coordenadoria, integra entidades da administração pública municipal, privadas e da comunidade, com o objetivo de planejar e promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo homem, atuando na iminência e em situações de desastres, na prevenção e na minimização de danos, bem como no socorro e na assistência às populações atingidas pelos desastres. Também cabe à Defesa Civil a operação do Centro de Gerenciamento de Desastres.

 Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes de Atibaia: os moradores dos bairros atingidos pelas enchentes de Atibaia se organizaram em forma de uma comissão para se ajudarem mutuamente, entender e questionar sobre a ocorrência das enchentes e inundações e solicitar o ressarcimento de seus prejuízos. A Comissão não foi criada formalmente,

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e apesar de ainda haver algumas reuniões entre os moradores, ao longo do tempo o movimento perdeu um pouco de sua força.

 Condomínio Empresarial Atibaia: responsável pelas obras para a reativação da PCH Atibaia, já que recebeu o direito, através de um processo licitatório, de administrar a referida PCH.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Enchentes e inundações no município de Atibaia

As enchentes são consequências de diversos efeitos gerados pelo uso inadequado e ocupação desordenada do solo, tais como seu parcelamento e impermeabilização, ocupação das APPs, aumento do escoamento das áreas urbanizadas, associados ao aumento significativo de chuvas nos últimos anos, conforme evidenciado por Vargas, Werneck e Ferreira (2008) e Tucci (2008), e já mencionado neste trabalho. No município de Atibaia, registrou-se a ocorrência de enchentes no período de 2002, 2009, 2010 e 2011 que causaram danos a 6.835 pessoas, entre desalojados, desabrigados, deslocados e afetados, distribuídos conforme a Tabela 3.

Tabela 3 – Número de afetados por período

Ano 2002 2009–2010 2010–2011 Número de afetados 802 2.668 3.365 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados

Em 2002, chuvas intensas e concentradas provocaram a elevação das águas do leito do Ribeirão da Folha Larga, atingindo residências na área de alagamento do referido Ribeirão (CEDEC, 2002).

Segundo dados disponibilizados pela Prefeitura Municipal, as chuvas que ocorreram na bacia do Rio Atibaia, no município de Atibaia, no período de 10 de novembro e 31 de dezembro de 2009, com um volume total acumulado de 601,9 mm (sendo 252,4 mm a média para o período), ocasionaram a cheia e o extravasamento das águas do Rio Atibaia, o que foi agravado por precipitação ocorrida a montante nas bacias hidrográficas dos Rios Cachoeira e Atibainha, formadores do Rio Atibaia. O volume total acumulado na bacia do Rio Cachoeira, no mês de dezembro (entre os dias 01 e 31), foi de 376 mm (sendo a média acumulada para o referido mês

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de 214 mm), na bacia do Rio Atibainha em Bom Jesus dos Perdões foi de 353 mm (sendo 196 mm a média acumulada para o mês nesse município) e na bacia do Rio Atibainha em Nazaré Paulista foi de 327 mm (sendo 196 mm a média acumulada para o mês de dezembro no município). Esses fatos ainda teriam sido potencializados pela abertura das comportas dos reservatórios do Sistema Cantareira (SEDEC, 2010).

Já no começo de 2011, o Rio Atibaia transbordou e chegou a ficar com 3,76 m acima da medida normal, que é de aproximadamente 2,5 m. Foi registrado acúmulo de chuvas de 99 mm em 24 horas. No início de 2010, a cidade já havia sofrido com o transbordamento do mesmo rio que, na época, chegou a subir 5 metros (SEDEC, 2010; SEDEC, 2011).

Um resumo com os danos gerados e a avaliação conclusiva sobre a intensidade do desastre11 em 2002 é apresentado a seguir (Figura 25, Tabela 4 e Tabela 5).

Figura 25 - Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações em 2002 Fonte: Seixas et al. (2015)

11 Destaca-se que esta avaliação é feita pela Defesa Civil, que determina quais são os critérios agravantes, bem como utiliza uma metodologia própria para classificar os impactos. 65

Tabela 4 - Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações em 2002

Área Zona Caetetuba, Parque São Pedro, Vila Thais, Vila Junqueira, Jardim afetada: Urbana: Flamboyant, Jardim Maracanã. Danos Infraestrutura pública – R$ 22.000,00 Materiais Edificações Total R$ 22.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir de CEDEC (2002)

Tabela 5 - Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações em 2002

1 2 4 3 (Pouco (Médio ou (Muito (Importante) Intensidade Importante) Significativo) Importante) dos Danos Humanos - - - - Materiais X Ambientais - - - - Econômicos X Prejuízos Sociais X Importância dos desastres X secundários12 Despreparo da Defesa Civil X Critérios local Agravantes Grau de vulnerabilidade X do cenário Grau de vulnerabilidade X da comunidade Fonte: Elaboração própria a partir de CEDEC (2002)

Dessa forma, verifica-se que os impactos oriundos dessa ocorrência foram pequenos, causando prejuízos materiais em edificações relacionadas à infraestrutura pública, afetando seis bairros do município. Contudo, destaca-se que apesar do baixo nível de intensidade, o grau de

12 Desastres originados pela ocorrência dos eventos (no caso, as inundações e enchentes), de forma secundária e indireta. 66

vulnerabilidade da comunidade foi considerado importante, e o grau de vulnerabilidade do cenário, muito importante.

Já os danos ocasionados pelas enchentes e inundações e a avaliação conclusiva sobre a intensidade das enchentes no período de 2009 a 2010 são apresentados a seguir (Figura 26, Tabela 6 e Tabela 7).

Figura 26 - Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 Fonte: Seixas et al. (2015)

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Tabela 6 - Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia

Jardim Parque Real Atibaia, Jardim Sueli, Caetetuba, Vila São José, Recreio Estoril, CTB, Vila Mira, Parque das Nações, Ponte, Parque dos Coqueiros, III Centenário, Ressaca, Jardim Kanimar, Guaxinduva, Jardim Paraíso do Tanque, Portão, Zona Estância Lince, Vila Thais, Centro, Jardim Imperial, Jardim Área Urbana: Brasil, Jardim Roseli, Tanque, Ribeirão dos Porcos, Rosário, afetada: Jardim Flamboyant, Parque Arco Íris, Ponte Alta, Mato Dentro, Usina, Pedreira, Maracanã.

Pinheirinho, Boa Vista, Rio Abaixo, Cachoeira, Rio Acima, Zona Rural: Lagoa, Sul Brasil, São Roque, Laranjal. Residenciais Populares – R$ 1.182.000,00 Residenciais Outras – R$ 13.593.000,00 Públicas de Ensino – R$ 50.000,00 Obras de Arte – R$ 3.000.000,00 Danos Estradas – R$ 9.102.000,00 Materiais Outras (estufas) – R$ 80.000,00 Edificações Particulares de Saúde – R$ 30.000,00 Rurais – R$ 35.000,00 Industriais – R$ 200.000,00 Comerciais – R$ 1.000.000,00 Esgotos Sanitários – R$ 500.000,00 Outros/Lama – R$ 500.000,00 Danos Erosão do solo – R$ 250.000,00 Ambientais Deslizamento de terras – R$ 750.000,00 Contaminação do solo – R$ 250.000,00 Grãos/Cereais/Leguminosas – R$ 10.000,00 Agricultura Fruticultura – R$ 4.200.000,00

Prejuízos Outras/Floricultura – R$ 275.000,00 Econômicos Extração Mineral – R$ 1.200.000,00 Indústria Transformação – R$ 800.000,00 Serviços Comércio – R$ 500.000,00 Transporte Vias – R$ 4.247.000,00 Prejuízos Esgoto Rede Coletora – R$ 20.000,00 Sociais Lixo Coleta – R$ 6.000,00 Total R$ 41.780.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir de SEDEC (2010)

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Tabela 7 - Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia

Pouco Médio ou Muito Importante Importante Significativo Importante Intensidade Humanos X dos Danos Materiais X Ambientais X Econômicos X Prejuízos Sociais X Importância dos desastres X secundários Despreparo da X Defesa Civil local Critérios Grau de Agravantes vulnerabilidade do X cenário Grau de vulnerabilidade da X comunidade Fonte: Elaboração própria a partir de SEDEC (2010)

No período de 2009 a 2010, os impactos foram considerados de intensidade média, com padrão evolutivo do desastre súbito e com tendência para agravamento. Os maiores danos registrados foram materiais e ambientais, destacando-se que o despreparo da Defesa Civil local, os graus de vulnerabilidade do cenário e da comunidade foram considerados muito importantes. É interessante destacar que apesar do valor correspondente aos prejuízos econômicos corresponder a 16,7% do valor total, os mesmos foram classificados como pouco importantes.

Já no período de 28 de dezembro de 2010 a 11 de janeiro de 2011, ocorreram fortes chuvas, registrando-se um volume total acumulado de 649,2 mm, destacando-se o dia 11 de janeiro de 2010, com chuvas que atingiram 160 mm em apenas 7 horas, o que correspondeu a metade do total estimado para o mês de janeiro, e que não havia sido previsto por qualquer instituição meteorológica. A maior concentração e intensidade de chuvas teria ocorrido sobre a Serra do Itapetinga e uma enorme quantidade de água chegou ao vale praticamente ao mesmo tempo, atingindo bairros jamais afetados em enchentes anteriores (SEDEC, 2011).

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Essa situação reflete dados internacionais que demonstram que os desastres hidrológicos foram os mais relatados globalmente, tanto em 2010 quanto em 2012. Em 2010 eles representaram 56,1% do total de ocorrências dos desastres, enquanto em 2012 eles representaram 49,4% (OFDA/CRED, 2010; 2012).

Em 2012 o Brasil ocupou o 10º lugar entre os países do mundo que tiveram os maiores danos relacionados a desastres climatológicos e hidrológicos, com prejuízos de U$ 1,6 bilhão (OFDA/CRED, 2012).

O resumo com os danos e com a avaliação conclusiva sobre a intensidade das enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 também é apresentado na figura e nas tabelas a seguir (Figura 27, Tabela 8 e Tabela 9).

Figura 27 - Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 Fonte: Seixas et al. (2015)

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Tabela 8 - Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia

Jardim Sueli, Caetetuba, Vila São José, Recreio Estoril I e II, CTB, Vila Mira, Parque das Nações, Bairro da Ponte, III Centenário, Ressaca, Jardim Kanimar, Guaxinduva, Jardim Paraíso do Tanque, Portão, Estância Lince, Vila Thais, Centro, Jardim Imperial, Jardim Brasil, Jardim Roseli, Tanque, Ribeirão dos Porcos, Rosário, Jardim Flamboyant, Parque Arco Íris, Ponte Alta, Mato Dentro, Usina, Pedreira, Zona Maracanã, Alvinópolis II, Alto do Alvinópolis, Residencial Urbana: Área afetada: Água Verde, Vila Pizzeli, Chácara do Arthur, Parque Fernão Dias, Estância Santa Maria do Portão, Jardim Paulista, Vila Gardênia, Atibaia Belvedere, Cidade Satélite, Jardim do Trevo, Retiro Recanto Tranquilo (Palavra da Vida), Atibaia Jardim, Refúgio, Itapetinga, Chácara Parque São Pedro, Alvinópolis, Jardim Pacaembu, Jardim Maristela, Parque Residencial Itaguaçu, Vila Nova Aclimação, Marmeleiro. Zona Pinheirinho, Boa Vista. Rural: Residenciais Populares – R$3.045.000,00 Residenciais Outras – R$ 7.710.000,00 Públicas de Saúde – R$ 300.000,00 Públicas de Ensino – R$ 200.000,00 Obras de Arte – R$ 19.000.000,00 Danos Materiais Estradas – R$ 5.000.000,00 Edificações Pavimentação de Vias Urbanas – R$ 10.000.000,00 Comunitárias – R$ 500.000,00 Particulares de Ensino – R$ 30.000,00 Rurais – R$ 50.000,00 Industriais – R$ 30.000,00 Comerciais – R$ 120.000,00 Esgotos Sanitários – R$ 700.000,00 Outros/Lama – R$ 700.000,00 Danos Erosão do solo – R$ 1.000.000,00 Ambientais Deslizamento de terras – R$ 12.000.000,00 Contaminação do solo – R$ 100.000,00 Desmatamento – R$ 100.000,00 Fruticultura – R$ 100.000,00 Agricultura Prejuízos Horticultura – R$ 100.000,00

Econômicos Outras/Floricultura – R$ 300.000,00 Serviços Comércio – R$ 600.000,00 Abastecimento Rede de distribuição – R$ 100.000,00 Prejuízos d’Água Estação de tratamento (ETA) – R$ 200.000,00 Sociais Energia Elétrica Rede de distribuição – R$ 100.000,00 Transporte Vias – R$ 7.000.000,00

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Esgoto Rede coletora – R$ 300.000,00 Lixo Coleta – R$ 150.000,00 Total R$ 69.535.000,00 Fonte: Elaboração própria a partir de SEDEC (2011)

Tabela 9 - Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia

Pouco Médio ou Muito Importante Importante Significativo Importante Intensidade Humanos X dos Danos Materiais X Ambientais X Econômicos X Prejuízos Sociais X Importância dos X desastres secundários Despreparo da Defesa X Civil local Grau de vulnerabilidade do X cenário Grau de Critérios vulnerabilidade da X Agravantes comunidade Fonte: Elaboração própria a partir de SEDEC (2011)

No período de 2010 a 2011, os prejuízos ocasionados pelas enchentes somaram R$ 69.535.000,00, ou seja, R$ 27.755.000,00 a mais do que os prejuízos calculados no período anterior, também entre danos materiais em edificações, ambientais, prejuízos econômicos e sociais, com o aumento dos danos registrados para cada categoria, conforme demostrado na Tabela 8.

O padrão evolutivo do desastre foi considerado súbito e imprevisível, com tendência para agravamento e nível de intensidade grande. Os prejuízos econômicos e sociais, considerados pouco importantes no período anterior, evoluíram para médios ou significativos. Ressalta-se que o despreparo da Defesa Civil local e os graus de vulnerabilidade do cenário e da comunidade continuaram avaliados como muito importantes. As Figuras 28 e 29 ilustram a ocorrência destes eventos no município em 2010 e em 2011.

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Figura 28 - Jardim Kanimar, Janeiro de 2010 Fonte: SSRH; DAEE (2011)

Figura 29 - Centro, Janeiro de 2011 Fonte: SSRH; DAEE (2011)

Inicialmente, as ações para a minimização desses impactos se mostraram assistencialistas e emergenciais, e, posteriormente, iniciou-se a realização de diversos estudos que visam identificar as causas da ocorrência dessas enchentes, bem como medidas para evitá-las. Existem trabalhos emergenciais de desassoreamento do rio utilizando dragas em quatro trechos, contudo, embora essa ação traga benefícios em curto prazo, ações localizadas, nesse caso, não resolverão o problema, apenas minimizarão o risco e a vulnerabilidade das populações por curto período de tempo.

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Para Hardoy e Pandiella (2009), na prática, os governos tendem a concentrar suas ações em respostas a emergência e recuperação, enquanto a adoção de estratégias de prevenção a desastres de forma integrada ficam em segundo plano.

Intensificando os problemas oriundos desses eventos, existe uma divergência de opiniões que envolve a reativação da PCH Atibaia, localizada em um bairro rural do município. Alguns moradores defendem que a barragem da PCH estaria causando o estrangulamento da vazão do rio e, em tese, seria responsável pelas enchentes na região urbana de Atibaia. Esta visão de que a PCH Atibaia é a grande responsável pelas enchentes foi corroborada em função do relatório apresentado por um engenheiro contratado pela Comissão dos Moradores Atingidos pelas Enchentes em Atibaia para avaliar a situação (CESAR NETO, 2011).

Já segundo dados de um estudo preliminar apresentado pelo DAEE, a PCH não tem relação com as enchentes. Existe um pequeno remanso que pode ser sentido em função da barragem, mas sem capacidade de provocar eventos da magnitude registrada no Rio Atibaia (SSRH; DAEE, 2012).

Para fomentar ainda mais esse conflito, o Ministério Público ingressou com uma ação civil pública para responsabilizar judicialmente o prefeito e o ex-prefeito de Atibaia por irregularidades na formalização e manutenção da concessão para exploração da PCH, já que, de acordo com a ação, falhas na operação da usina juntamente com outros fatores de responsabilidade do poder público, como o assoreamento do Rio Atibaia e a ocupação irregular de áreas de várzea e de proteção permanente, contribuíram para a ocorrência das enchentes (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2012). Observa-se, assim, a divergência de opiniões relacionadas à ocorrência das enchentes e à reativação da PCH Atibaia, principalmente envolvendo a Comissão dos Moradores Atingidos pelas Enchentes em Atibaia, o Poder Público e os empresários responsáveis pela reativação da PCH Atibaia.

Com relação à infraestrutura, devido ao fato de a microdrenagem municipal não ser cadastrada, não é possível averiguar se a estrutura existente atende a função de coletar e afastar águas pluviais, apesar de haver deficiências devido a empoçamentos de água e enxurradas. 74

Destaca-se que bairros como Parque das Nações e Jardim Brasil sofrem com inundações, pois se situam em áreas de várzeas, sendo naturalmente suscetíveis a esses eventos (GIANSANTE, 2012).

5.2 Caracterização e análise energética da PCH Atibaia

A seguir apresentam-se os resultados referentes à caracterização e análise energética da PCH Atibaia.

Os valores relativos à vazão média anual da PCH Atibaia estão apresentados na Figura 29 e foram calculados através dos dados de vazões médias mensais do posto fluviométrico nº 62670000 da ANA para o período de 50 anos. A área da bacia da PCH Atibaia é de 1.321,8 Km2, portanto as vazões médias do posto fluviométrico foram transladadas para a PCH usando-se o fator multiplicativo, calculado dividindo-se a área da bacia da PCH pela área da bacia do posto fluviométrico (1.321,8/1.143 = 1,15643044).

Figura 30 - Vazão média anual da PCH Atibaia Fonte: Elaboração própria

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Os dados mostram que, inicialmente, as vazões médias anuais da PCH Atibaia eram, de forma geral, superiores aos valores tendenciais, e que, posteriormente, passaram a ser inferiores aos valores tendenciais, com exceção ao período entre 2009 e 2011 (período de ocorrência das enchentes no município). Como as vazões são influenciadas, entre outros fatores, pelos valores dos índices pluviométricos, apresentou-se os índices pluviométricos médios anuais e sua análise tendencial na Figura 31.

Figura 31 - Índice Pluviométrico médio anual para o município de Atibaia Fonte: Elaboração própria

Verificou-se que, apesar de ter havido períodos de variabilidade, com aumento dos valores de índice pluviométrico médio anual no período de 1982 a 1998 e, posteriormente, uma queda no período de 1999 a 2008, de forma geral, os índices pluviométricos seguiram uma tendência estável.

Calcularam-se também os valores das vazões médias anuais estimadas (caso o reservatório da PCH Atibaia não existisse), apresentados na Figura 32.

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Figura 32 - Vazão média anual estimada Fonte: Elaboração própria

Os resultados obtidos seguem a mesma tendência dos valores dos índices pluviométricos médios anuais (mesmo porque as vazões estimadas foram calculadas com base nesses valores), contudo, apresentam valores superiores às vazões médias anuais com a PCH Atibaia. Desta forma, a partir dos dados apresentados nas Figuras 30 e 32, foram calculadas as razões entre as vazões médias anuais estimadas e as vazões médias anuais reais, apresentadas na Figura 33.

Figura 33 - Razão entre vazão média anual estimada e vazão média anual real Fonte: Elaboração própria

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Verificou-se que, de forma geral, inicialmente os valores das razões entre as vazões médias anuais estimadas e as vazões médias anuais reais seguiam a tendência esperada, próximos da unidade, com pequenas variações, mas passaram a aumentar no decorrer dos anos. Isso pode ter sido causado por um aumento das vazões médias anuais estimadas e/ou por uma redução das vazões médias anuais reais.

Além disso, para uma melhor visualização da comparação entre as vazões médias anuais reais e as vazões médias anuais estimadas da PCH Atibaia elaborou-se a Figura 34.

Figura 34 – Comparação entre vazão média anual real e vazão média anual estimada da PCH Atibaia Fonte: Elaboração própria

Verifica-se que, apresar de ambas apresentarem um traçado similar, os valores de vazão média anual estimada são superiores aos valores de vazão média anual real, e que, enquanto a primeira apresenta uma tendência permanente, a última apresenta um cenário decrescente, devido às diversas transformações municipais que geram maior pressão sobre os recursos hídricos .

Para uma comparação mais detalhada, apresenta-se a Tabela 10.

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Tabela 10 - Tabela comparativa entre vazão real mensal, vazão estimada mensal e índice pluviométrico mensal no período de 2002 a 2011

ANO MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 2002 Vazão e 84,78 65,15 37,49 4,14 21,6 0,14 2,31 11,92 17,57 15,63 38,32 44,78 Vazão r 14,99 14,08 8,99 5,89 5,26 4,27 5,31 4,90 5,12 5,33 6,14 6,63 Ipl. 296,70 228,00 131,20 14,50 75,60 0,50 8,10 41,70 61,50 54,70 134,10 156,70 2003 Vazão e 91,93 29,92 29,63 7,83 14,43 5,66 4,94 3,57 7,97 39,12 22,2 60,32 Vazão r 16,87 9,20 6,24 4,58 5,06 5,15 5,66 5,33 5,48 6,58 6,08 7,58 Ipl. 321,70 104,70 103,70 27,40 50,50 19,80 17,30 12,50 27,90 136,90 77,70 211,10 2004 Vazão e 44,01 55,21 15,20 37,58 32,12 27,17 21,66 0,66 7,32 46,09 51,98 41,35 Vazão r 6,73 10,61 6,71 8,61 8,23 9,14 6,61 4,80 5,85 8,10 7,59 8,54 Ipl. 154,00 193,20 53,20 131,50 112,40 95,10 75,80 2,30 25,60 161,30 181,90 144,70 2005 Vazão e - 27,06 71,98 8,12 38,12 9,66 7,8 3,11 23,32 46,61 43,69 44,21 Vazão r 13,02 8,01 14,79 6,39 9,55 6,53 6,69 6,31 7,95 8,87 8,59 8,41 Ipl. - 94,70 251,90 28,40 133,40 33,80 27,30 10,90 81,60 163,10 152,90 154,70 2006 Vazão e 83,50 58,49 58,15 8,66 6,49 6,43 19,23 3,14 23,8 17,92 40,09 62,26 Vazão r 25,69 26,68 24,58 8,10 4,14 5,03 6,15 5,84 9,75 7,85 10,14 13,37 Ipl. 292,20 204,70 203,50 30,30 22,70 22,50 67,30 11,00 83,30 62,70 140,30 217,90 2007 Vazão e 88,1 8,52 26,75 20,63 16,52 9,57 55,35 0 3,09 17,26 58,61 45,92 Vazão r 26,76 10,81 7,22 6,92 5,84 4,71 10,45 4,28 6,07 8,93 11,95 8,86 Ipl. 308,30 29,80 93,60 72,20 57,80 33,50 193,70 0,00 10,80 60,40 205,10 160,70 2008 Vazão e 58,86 42,41 43,61 44,66 14,97 14,29 0,06 19,2 11,49 31,15 33,83 43,89 Vazão r 11,50 12,80 16,99 15,38 12,63 9,07 6,23 9,95 0 10,16 9,85 11,3 Ipl. 206,00 148,40 152,60 156,30 52,40 50,00 0,20 67,20 40,20 109,00 118,40 153,60 2009 Vazão e 55,84 52,64 31,52 16,80 20,95 18,6 34,49 12,54 33,43 33,46 65,04 113,73 Vazão r 16,06 24,94 16,00 9,15 10,13 0 0 0 13,36 14,71 19,03 41,63 Ipl. 195,40 184,20 110,30 58,80 73,30 65,10 120,70 43,90 117,00 117,10 227,60 398,00 2010 Vazão e 119,33 23,46 46,98 16,06 5,34 4,54 33,89 0,09 21,23 20,03 31,43 50,75 Vazão r 58,33 44,03 34,02 18,95 3,34 8,54 9,85 6,60 9,86 11,33 13,13 16,38 Ipl. 417,60 82,10 164,40 56,20 18,70 15,90 118,60 0,30 74,30 70,10 110,00 177,60 2011 Vazão e 135,65 37,00 56,46 34,66 8,72 16,72 1,31 10,03 5,60 36,55 47,75 35,09 Vazão r 44,51 17,65 20,69 15,49 10,38 10,11 8,38 9,14 8,88 11,65 14,27 11,31 Ipl. 474,70 129,50 197,60 121,30 30,50 58,50 4,60 35,10 19,60 127,90 167,10 122,80 Vazão e = vazão estimada (m3/s) Vazão r = vazão real (m3/s) Ipl = Índice pluviométrico (mm) Fonte: Elaboração própria

Analisando a tabela, verifica-se que, embora exista uma diferença entre os valores de vazão média mensal estimada e vazão média mensal real, há uma tendência de variação de vazão (tanto real como estimada) em relação à variação de precipitação, embora essa variação não ocorra de

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forma regular e uniforme e se altere em relação a cada mês ou ano. Observando os períodos nos quais se registrou a ocorrência de enchentes, verifica-se que houve um aumento de precipitação, principalmente a partir de setembro de 2009, registrando-se 398 mm em dezembro de 2009, ou seja, 180,1 mm a mais do que o maior valor registrado nos últimos dez anos para o referido mês, que foi de 217,9 mm no ano de 2006. Em janeiro de 2010, o valor de precipitação chegou a 417,6 mm, valor superado apenas em janeiro de 2011 (que registrou 474,7 mm), considerando-se os últimos dez anos.

Os maiores valores de vazão correspondem justamente aos meses de dezembro de 2009, com 41,63 m3/s e 113,73 m3/s; janeiro de 2010, com 58,33 m3/s e 119,33 m3/s; e janeiro de 2011, com 44,51 m3/s e 135,65 m3/s, sendo esses os valores de vazões reais e vazões estimadas, respectivamente. Esses valores correspondem aos meses nos quais houve uma maior precipitação, bem como ao período de ocorrência de enchentes no município de Atibaia.

Diante desses dados, verifica-se uma possível relação entre o aumento de precipitação no município de Atibaia e o aumento de vazão real e de vazão estimada.

A variação da vazão real da PCH Atibaia está mais relacionada aos usos múltiplos dos recursos hídricos, destacando-se a criação do Sistema Cantareira a partir de 1975. Também influenciou o crescimento populacional, que gera um aumento na demanda por recursos hídricos, além da crescente taxa de urbanização dos municípios que compõem a bacia hidrográfica do Rio Atibaia.

No caso da PCH Atibaia, verifica-se uma redução dos valores de vazão, o que, consequentemente, ocasiona uma redução da quantidade de energia elétrica, conforme pode ser observado na Tabela 11.

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Tabela 11 - Dados para o cálculo comparativo do perfil energético da PCH Atibaia entre os anos de 1962 e 2011

Dados: 1962 2011 P 1.607,36 kW – 1,6 MW 1.041,43 kW – 1,0 MW Fator de capacidade 58% 932,26 kW – 0,932 MW 604,02 kW – 0,604 MW Energia aproveitável (kWh\mês) 671.227 kWh/mês 434.894 kWh/mês Energia aproveitável (MWh\ano) 8.054 MWh/ano 5.218 MWh/ano Fonte: Elaboração própria

De acordo com os dados obtidos, de 1962 para 2011 verifica-se uma queda na produção de energia elétrica de 2.836 MWh/ano, ou seja, uma queda de 35,2%. Considerando que a vazão máxima da PCH Atibaia é de 21m3/s, pode-se afirmar que a potência da PCH seria de 1,43 MW.

Neste sentido, destaca-se a necessidade de considerações socioambientais na análise de viabilidade dos empreendimentos, incluindo-se as possíveis alterações desses fatores ao longo do tempo. No caso abordado, estimou-se a redução dos valores de vazão por determinado período de tempo devido a alterações em relação aos usos do solo e dos recursos hídricos, bem como mudanças no padrão, costumes e demandas sociais.

Os dados demonstram que alterações na dinâmica socioambiental local podem resultar em queda de vazões, gerando uma redução da quantidade de energia elétrica produzida e, consequentemente, dos valores das receitas geradas, o que influencia o retorno financeiro do empreendimento. No município de Atibaia, como mencionado, dentre os fatores que podem estar exercendo influência na queda das vazões da PCH Atibaia, destacam-se a implantação do Sistema Cantareira, o crescimento populacional, que causa um aumento da demanda por recursos hídricos, bem como o aumento da taxa de urbanização. Contudo, outros fatores também podem ser responsáveis por essa redução. Considerando a dinâmica das bacias hidrográficas, uma alteração em outro município ou até mesmo em outra bacia hidrográfica pode influenciar a vazão de um rio ou de um reservatório a jusante, o que gera a necessidade de realização de estudos regionais para a implantação de empreendimentos desse tipo, mesmo que de pequeno porte.

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5.3 Fatores relacionados à ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia

5.3.1 Análise dos relatórios

A primeira etapa para a identificação dos fatores relacionados à ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia correspondeu à pesquisa documental referente aos relatórios publicados sobre esse tema.

O primeiro relatório, publicado em 2011 e contratado pela Prefeitura Municipal, afirmou que a PCH não exerceu influência na ocorrência das enchentes e inundações, contudo não apresentou detalhes dos cálculos utilizados para se chegar a essa conclusão (GIANSANTE, 2011).

O segundo relatório técnico, elaborado em 2011 e contratado pela Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes, apresenta diversas críticas ao relatório publicado anteriormente e constata a influência da PCH Atibaia na ocorrência desses eventos, apesar de não apresentar os cálculos precisos utilizados nessa constatação (CESAR NETO, 2011).

Finalmente, o terceiro relatório técnico (SSRH; DAEE, 2012), elaborado em 2012 e contratado pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, apresenta diversos cálculos utilizados para identificar uma série de fatores que contribuíram para a ocorrência das enchentes e inundações no município, entre os quais a ocupação da área de várzea do Rio Atibaia, constatando um aumento de quase 100% na área urbana do município; eventos significativos de chuva na bacia, em conjunto com descarregamentos dos reservatórios do Sistema Cantareira. O relatório afirma que a influência da PCH Atibaia nos trechos a montante do reservatório ocorre até a Ponte da Rodovia Fernão Dias, e que, a montante da referida ponte, essa influência é desprezível.

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O relatório cita que os fatores que contribuíram para a ocorrência desses eventos no município (citados no parágrafo anterior) podem ser agravados pela influência da PCH Atibaia no trecho a jusante da ponte da Rodovia Fernão Dias até o reservatório.

Como medidas para a mitigação das enchentes no município de Atibaia, o relatório sugere, entre outras coisas, a elaboração da mancha de inundação municipal; a identificação dos pontos e trechos críticos (ambos já realizados); a elaboração do Plano de Gerenciamento de Riscos, estabelecendo as condições hidráulicas e hidrológicas críticas, indicando sinalização adequada das áreas de risco e inundação, instalação de postos pluviométricos e fluviométricos e alerta de controle integrado entre a Prefeitura, o DAEE e a Sabesp; o congelamento imediato da ocupação urbana da área de várzea do Rio Atibaia; a adequação da calha do Rio Atibaia, desapropriação de terrenos e edificações; a realização de obras de proteção das margens e dos pôlders; a criação do Parque Linear Várzeas do Atibaia.

5.3.2 Entrevistas com especialistas e técnicos

Para um aprofundamento dos elementos e temas levantados pelos relatórios, optou-se por realizar entrevistas com 10 técnicos e especialistas envolvidos com a ocorrência de enchentes e inundações em Atibaia, tais como funcionários da Prefeitura do Município, da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil, arquitetos e advogados. Inicialmente, pretendeu-se traçar um perfil geral dos entrevistados, através da identificação do sexo, idade e grau de instrução (Tabelas 12, 13 e 14), sendo que 83,33% dos técnicos entrevistados pertencem ao sexo masculino, possuem elevada escolaridade – 50% apresentam Ensino Superior Completo – e, com relação à idade, 50% possuem de 51 a 60 anos.

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Tabela 12 - Sexo dos especialistas e técnicos entrevistados

Sexo Frequência (%) Masculino 83,33 Feminino 16,66 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 13 - Grau de instrução dos especialistas e técnicos entrevistados

Grau de Instrução Frequência (%) Superior Completo 50 Superior Incompleto 33,33 Pós-graduação 16,66 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 14 - Idade dos especialistas e técnicos entrevistados

Idade Frequência (%) De 51 a 60 anos 50 De 31 a 40 anos 33,33 De 41 a 50 anos 16,67 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Quando questionados sobre os registros dos casos de enchentes e inundações no município, todos os técnicos e especialistas identificaram os eventos ocorridos entre os anos de 2009–2010 e 2010–2011, além de outros registros apontados, ocorridos em outros períodos, de forma mais localizada e pontual, com impactos mínimos e locais.

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Tabela 15 - Registro de casos de enchentes e inundações no município

Registro de casos de enchentes e inundações Frequência (%) 2009–2010 100 2010–2011 100 Outros casos 83,33 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Em seguida, os técnicos e especialistas foram questionados sobre os fatores que influenciaram a ocorrência desses eventos no município, e os fatores mais citados foram o aumento do volume de precipitação e a falta de limpeza e manutenção da calha do rio, por 83,33% dos entrevistados. É importante destacar que 16,66% mencionaram a reativação da PCH Atibaia como fator que teria influenciado a ocorrência desses eventos.

Tabela 16 - Fatores que influenciaram a ocorrência de enchentes e inundações no município

Fatores Frequência (%) Aumento do volume de precipitação 83,33 Falta de limpeza e manutenção da calha do rio 83,33 Ocupação de áreas de várzea 66,66 Descarregamento de maior volume de água pelo Sistema 50 Cantareira Reativação da PCH Atibaia 16,66 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Sobre os agentes envolvidos na ocorrência de enchentes e inundações no município, todos os entrevistados citaram a Prefeitura Municipal; 83,33% citaram a Sabesp; 50% o DAEE e a população local, demonstrando que a maioria dos técnicos e especialistas identificam maior envolvimento do poder público em detrimento da população local. Além disso, apenas 16,66% dos entrevistados citaram o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil municipal, apesar de seu grande envolvimento e importância na ocorrência desses eventos, principalmente após o desastre.

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Tabela 17 - Agentes envolvidos na ocorrência de enchentes e inundações no município

Agentes envolvidos Frequência (%) Prefeitura 100 Sabesp 83,33 DAEE 50 População local 50 Câmara Municipal 16,66 Condomínio Empresarial Atibaia 16,66 Corpo de Bombeiros 16,66 Defesa Civil municipal 16,66 Governo Estadual 16,66 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Sobre a influência da PCH Atibaia na ocorrência de enchentes e inundações no município, 66,66% dos entrevistados acreditam que ela não exerce essa influência, enquanto 16,66% afirmaram que sim, e 16,66% não souberam responder. Isso poderia indicar pouco conhecimento sobre o assunto, ou seja, a influência da PCH na ocorrência dos eventos, ou até mesmo a isenção de opinião sobre esse tema.

Tabela 18 - Influência da PCH Atibaia na ocorrência de enchentes e inundações no município

Influência da PCH Atibaia Frequência (%) Não 66,66 Sim 16,66 Não soube responder 16,66 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

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Com relação à reativação da PCH Atibaia, houve diversidade nas respostas obtidas. 50% dos entrevistados acreditam que não deve ocorrer, e entre os motivos indicados estão: a falta de viabilidade econômica, a possibilidade de ocasionar enchentes e por não trazer nenhum benefício à população. Já entre os entrevistados que afirmaram que sim, a reativação da PCH deve ocorrer (33,33%), os motivos citados foram: utilizar uma estrutura que já está disponível, e pela importância de se poder gerar energia e contribuir para a produção nacional.

Tabela 19 - Reativação da PCH Atibaia

Reativação da PCH Atibaia Frequência (%) Não 50 Sim 33,33 Não soube responder 16,66 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Através das visitas de campo, foi possível observar que o aumento do volume de precipitação não era visto, sobretudo pela população afetada, como um fator determinante para a ocorrência de enchentes e inundações em Atibaia. Por isso, decidiu-se questionar os técnicos sobre isso, ou seja, se esses eventos ocorreriam mesmo que os níveis de precipitação estivessem normais. Pode-se constatar que 66,66% afirmaram que não, enquanto 33,33% acreditam que sim, embora todos afirmem que poderia haver enchentes e inundações pontuais, e de menor magnitude, principalmente em locais que apresentem problemas de escoamento ou em áreas de várzea, por exemplo, utilizando como justificativa o carregamento de resíduos pelos cursos d‟água e a ocorrência de chuvas em um período contínuo.

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Tabela 20 - Ocorrência de enchentes com níveis de precipitação normais

Ocorrência de enchentes com níveis de precipitação Frequência (%) normais Não 66,66 Sim 33,33 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Os entrevistados foram questionados sobre quem poderia ser responsabilizado pela ocorrência das enchentes e inundações em Atibaia e a maioria (66,66%) mencionou a Prefeitura Municipal e a Sabesp, seguidas do DAEE, mencionado por 50% dos entrevistados, e o Governo Estadual, apontado por 33,33% dos entrevistados.

Sobre essa questão, é interessante destacar a visão de alguns entrevistados, que mencionaram a importante questão da responsabilidade compartilhada que envolve os recursos naturais, afirmando que não se pode responsabilizar um agente, órgão, departamento ou setor, já que a população também possui responsabilidade perante os mesmos. Outra parcela de entrevistados (33,33%) considera que ninguém pode ser responsabilizado, já que esses eventos envolvem uma série de fatores.

Esses dados demonstram a diversidade de fatores que envolvem a ocorrência de enchentes e inundações, sendo extremamente difícil indicar um ou mais responsáveis, já que esses eventos são desencadeados pelo efeito cumulativo de todos esses fatores, não sendo possível indicar o grau de contribuição de cada um. Outra questão é que cada região, bairro e até mesmo residência pode ser influenciado por um grupo de fatores específicos e diferentes, tornando cada situação ainda mais pontual e particular.

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Tabela 21 - Responsabilidade pela ocorrência das enchentes e inundações no município

Responsabilidade pela ocorrência das enchentes e Frequência (%) inundações Sabesp 66,66 Prefeitura 66,66 DAEE 50 Governo Estadual 33,33 Ninguém 33,33 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Por fim, os entrevistados foram indagados sobre as medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes no município, e 66,66% dos técnicos e especialistas apontaram a limpeza e o desassoreamento de córregos e afluentes do Rio Atibaia, e 50% a elaboração de planos de contingência e de combate às enchentes. A adequação dos sistemas de drenagem de loteamentos específicos, tais como Jardim Brasil, Atibaia Jardim e Jardim Kanimar, a realocação de famílias residentes em áreas de risco e a reestruturação física, financeira e material da Defesa Civil municipal foram mencionados por 16,66% dos entrevistados. É importante destacar que, para outros 16,66% dos entrevistados, não foi realizado nada de concreto. Salienta-se que os entrevistados afirmaram que algumas medidas dependem de autorização e liberação de verba por parte do Governo Estadual.

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Tabela 22 - Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município identificadas por especialistas e técnicos

Medidas para minimizar a ocorrência e os impactos das Frequência (%) enchentes e inundações Limpeza e desassoreamento dos córregos e afluentes 66,66 Elaboração de planos de contingência e de combate às 50 enchentes Adequação dos sistemas de drenagem de loteamentos 16,66 específicos Realocação de famílias residentes em áreas de risco 16,66 Reestruturação da Defesa Civil Municipal 16,66 Nada 16,66 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

5.3.3 Pesquisa com a população afetada

Foram entrevistados 40 membros da população afetada pelas enchentes e inundações, em sua maioria no período de 2009 a 2010, residentes em 28 bairros do município de Atibaia (conforme demonstrado na Tabela 23).

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Tabela 23 - Bairro de residência dos entrevistados da população afetada

Bairro Frequência (%) Alvinópolis 10 Centro 10 Ressaca 7,5 Estância Lynce 5 Bairro da Ponte 5 5 Guaxinduva 5 Boa Vista 2,5 Cachoeira 2,5 Caetetuba 2,5 Caioçara 2,5 Itapetinga 2,5 Lagoa 2,5 Laranjal 2,5 Maracanã 2,5 Marmeleiro 2,5 Mato Dentro 2,5 Pinheirinho 2,5 Piqueri 2,5 Ponte Alta 2,5 Portão 2,5 Ribeirão dos Porcos 2,5 Rio Abaixo 2,5 Rio Acima 2,5 Rosário 2,5 São Roque 2,5 Tanque 2,5 Usina 2,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

A partir das entrevistas, traçou-se um perfil dos entrevistados, através da identificação do sexo, bairro de residência, idade, escolaridade, grau de instrução e tipo de ocupação e renda, seguido por questões relacionadas à ocorrência das enchentes e inundações.

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A maioria dos entrevistados pertence ao sexo feminino, está dividida entre as faixas etárias de 31 a 50 anos e figura entre funcionários de empresa privada, autônomos e profissionais liberais. Possui escolaridade mediana, assim como a renda, conforme pode ser observado nas tabelas a seguir.

Tabela 24 - Sexo dos entrevistados da população afetada

Sexo Frequência (%) Feminino 60 Masculino 40 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 25 - Idade dos entrevistados da população afetada

Idade Frequência (%) De 31 a 40 anos 25 De 51 a 60 anos 25 De 41 a 50 anos 22,5 Acima de 70 anos 12,5 De 61 a 70 anos 7,5 Menos de 20 anos 5 De 21 a 30 anos 2,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

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Tabela 26 - Nível de escolaridade dos entrevistados da população afetada

Nível de escolaridade Frequência (%) Ensino Médio Completo 42,5 Ensino Superior Completo 12,5 Ensino Superior Incompleto 10 Ensino Fundamental Incompleto 10 Ensino Médio Incompleto 7,5 Ensino Fundamental Completo 7,5 Pós-graduação 5 Não possui instrução formal 5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 27 - Ocupação dos entrevistados da população afetada

Tipo de ocupação Frequência (%) Funcionário de empresa privada 25 Autônomo/Profissional liberal 20 Aposentado 17,5 Dona de casa 17,5 Funcionário de empresa pública 12,5 Empresário 5 Estudante 2,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

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Tabela 28 - Renda dos entrevistados da população afetada

Renda Frequência (%) 4 a 6 salários mínimos 50 1 a 3 salários mínimos 37,5 7 a 9 salários mínimos 12,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 29 - Período em que foi afetado por enchentes e inundações no município

Período de ocorrência Frequência (%) 2009–2010 45 2010–2011 27,5 2009–2010 e 2010–2011 27,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Quando questionados sobre as causas das enchentes e inundações no município, a maioria dos entrevistados (60%) indicou o excesso de chuvas. Os entrevistados que mencionaram o reservatório da PCH Atibaia (ou seja, 12,5%) referiram-se ao fato de as comportas estarem fechadas, o que impediria que a vazão da água fluísse normalmente, aumentando o nível do reservatório e fazendo com que transbordasse. É importante destacar que 7,5% dos entrevistados citaram a má administração municipal de forma geral, mas não souberam indicar especificamente o que isso significa. Foram citados também problemas de infraestrutura, tais como problemas nas tubulações e de escoamento e, apesar de estarem interligados, os itens assoreamento dos rios, acúmulo de lixo e extração da mata ciliar foram citados individualmente, indicando que alguns membros da população não percebem a relações existente entre esses elementos. Foi mencionada ainda a construção de um muro às margens do rio por uma moradora local, além de mitos que acabam caindo na crença de algumas pessoas, tais como um lago que teria “estourado”, bem como a barragem do Sistema Cantareira, que não teria aguentado a força da água e cedido.

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Tabela 30 - Causas das enchentes e inundações identificadas pela população afetada

Causa das enchentes e inundações Frequência (%) Excesso de chuvas 60 Ocupação de áreas de várzea 25 Descarregamento de maior volume de água pelo 20 Sistema Cantareira Acúmulo de lixo nos rios 15 Reservatório da PCH Atibaia 12,5 Má administração municipal 7,5 Problemas de infraestrutura 7,5 Assoreamento do rio 5 Extração da mata ciliar 5 Construção de um muro às margens do rio 2,5 Má gestão dos reservatórios na região (Sistema 2,5 Cantareira e da PCH Atibaia) Não soube responder 2,5 Um lago a montante do bairro “estourou” 2,5 A barragem do Sistema Cantareira não aguentou a 2,5 força da água e cedeu Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Quando questionados sobre as medidas tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações, a maioria dos entrevistados (37,5%) indicou a limpeza dos rios e córregos. Houve algumas respostas interessantes, tais como “a mulher que construiu o muro foi processada”, e “desativação da PCH Atibaia”, que indicam que alguns membros da população afetada entrevistada não reconhecem medidas efetivas para minimizar a ocorrência desses eventos.

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Tabela 31 - Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população afetada.

Medidas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações Frequência (%) 37,5 Limpeza dos rios e córregos 30 Nenhuma 17,5 Não soube responder 5 Aumento da calha do rio 5 Desapropriação de algumas áreas de risco A mulher que construiu o muro foi processada 2,5 Construção de casas populares 2,5 Desativação da PCH 2,5 Desocupação da Vila São José e realocação das pessoas nos prédios 2,5 Elaboração de plano de contingência e combate às enchentes 2,5 Troca da tubulação das ruas 2,5 Visita da Defesa Civil na época do evento 2,5 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

5.3.4 Pesquisa com a população não afetada

Assim como com a população afetada, foram entrevistados 40 membros da população não afetada pelas enchentes e inundações, a fim de comparar a percepção dos dois grupos. Os entrevistados da população não afetada residem em 28 bairros do município (conforme demonstrado na tabela 32).

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Tabela 32 - Bairro de residência dos entrevistados da população não afetada

Bairro Frequência (%) Alvinópolis 7,5 Caetetuba 7,5 Bairro da Ponte 5 Brotas 5 Centro 5 Estância Lynce 5 Mato Dentro 5 Pinheirinho 5 Piqueri 5 Ponte Alta 5 Ressaca 2,5 Boa Vista 2,5 Cachoeira 2,5 Caioçara 2,5 Guaxinduva 2,5 Itapetinga 2,5 Lagoa 2,5 Laranjal 2,5 Maracanã 2,5 Marmeleiro 2,5 Portão 2,5 Ribeirão dos Porcos 2,5 Rio Abaixo 2,5 Rio Acima 2,5 Rosário 2,5 São Roque 2,5 Tanque 2,5 Usina 2,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

O perfil dos entrevistados da população não afetada é caracterizado por uma maioria de 55% pertencentes ao sexo feminino, na faixa etária de 31 a 40 anos, composta por funcionários de empresa privada, autônomos e profissionais liberais. Possui escolaridade mediana e renda

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inferior à da população afetada (60% ganham de 1 a 3 salários mínimos), conforme pode ser observado nas tabelas a seguir.

Tabela 33 - Sexo dos entrevistados da população não afetada

Sexo Frequência (%) Feminino 55 Masculino 45 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 34 - Idade dos entrevistados da população não afetada

Idade Frequência (%) De 31 a 40 anos 25 De 21 a 30 anos 20 De 41 a 50 anos 17,5 De 51 a 60 anos 15 Acima de 70 anos 10 De 61 a 70 anos 7,5 Menos de 20 anos 5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

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Tabela 35 - Nível de escolaridade dos entrevistados da população não afetada

Nível de escolaridade Frequência (%) Ensino Médio Completo 32,5 Ensino Fundamental Completo 20 Pós-graduação 15 Ensino Médio Incompleto 10 Ensino Superior Completo 7,5 Não possui instrução formal 7,5 Ensino Fundamental Incompleto 5 Ensino Superior Incompleto 2,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 36 - Ocupação dos entrevistados da população não afetada

Tipo de ocupação Frequência (%) Funcionário de empresa privada 35 Autônomo/Profissional liberal 25 Aposentado 12,5 Dona de casa 12,5 Desempregado 5 Estudante 5 Funcionário de empresa pública 5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

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Tabela 37 - Renda dos entrevistados da população não afetada

Renda Frequência (%) 1 a 3 salários mínimos 60 4 a 6 salários mínimos 32,5 7 a 9 salários mínimos 7,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 38 - Período de ocorrência das enchentes e inundações no município

Período de ocorrência Frequência (%) 2009–2010 52,5 2009–2010 e 2010–2011 30 2010–2011 17,5 Total 100 Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Acerca das causas das enchentes e inundações, os entrevistados da população não afetada indicaram, em sua maioria, acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e rios (37,5%), e excesso de chuvas (32,5%). Somente 2,5% dos entrevistados mencionaram a PCH Atibaia, indicando que seu reservatório haveria transbordado. Assim como ocorreu com a população afetada, 7,5% da população não afetada também indicou a má administração municipal, contudo sem especificar de que forma isso afetaria a ocorrência dos eventos. É importante destacar que alguns entrevistados indicaram acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios, falta de manutenção da mata ciliar, problemas de infraestrutura, entupimento de bueiros, falta de capacidade de escoamento das águas e assoreamento dos rios, contudo sem relacioná-los. Ainda foram citados aspectos importantes, como o fato de a área corresponder à várzea do rio e ter sido brejo antes da urbanização e loteamento.

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Tabela 39 - Causas das enchentes e inundações identificadas pela população não afetada

Causa das enchentes e inundações Frequência (%) Acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios 37,5 Excesso de chuvas 32,5 Falta de manutenção da mata ciliar 10 Problemas de infraestrutura 10 Descarregamento de maior volume de água pelo 7,5 Sistema Cantareira A barragem do Sistema Cantareira rompeu 7,5 Entupimento de bueiros 7,5 Má administração municipal 7,5 A área corresponde à várzea do rio 5 Falta de capacidade de escoamento das águas 5 Um lago “estourou” a montante do bairro 5 2,5 A área era um brejo 2,5 Assoreamento do rio 2,5 O reservatório da PCH Atibaia transbordou 2,5 Não soube responder Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

As medidas indicadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações envolvem a limpeza dos rios e córregos (30%), e grande parte dos entrevistados não soube responder ou alegou que não foi tomada nenhuma medida. Pequena parte da população não afetada soube indicar medidas tomadas para minimizar a ocorrência desses eventos, o que indica que as pessoas (tanto afetados como não afetados) não estão muito envolvidas com essa questão.

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Tabela 40 - Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população não afetada

Medidas para minimizar a ocorrência e os impactos das Frequência (%) enchentes e inundações 30 Limpeza dos rios e córregos 27,5 Não soube responder 22,5 Nenhuma 7,5 Desapropriação de algumas áreas de risco 5 Abertura das comportas do reservatório da PCH Atibaia Desassoreamento dos rios 5 2,5 Conscientização da população 2,5 Melhorias na infraestrutura Realocação da população residente em áreas de ocupação 2,5 irregular 2,5 Visita da Defesa Civil na época dos eventos Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

5.3.5 Conclusões:

Considerando a explanação realizada no presente trabalho, apresentam-se as principais conclusões desta dissertação.

Inicialmente, as tabelas 41, 42 e 43 apresentam um resumo dos resultados das entrevistas realizadas com os especialistas e técnicos, bem como dos questionários aplicados com a população afetada e não afetada pelas enchentes e inundações em Atibaia.

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Tabela 41: Resumo dos resultados das entrevistas com especialistas e técnicos

Elemento Resultado Frequência Sexo Masculino 83,33% Escolaridade Ensino Superior Completo 50% Idade 51 a 60 anos 50% Período de ocorrência 2009 – 2010; 2010 – 2011 100% Fatores influenciadores 1 – Aumento do volume de precipitação; I – 83,33% II – Falta de limpeza e manutenção da calha do rio; II – 83,33% III – Ocupação das áreas de várzea. III – 66,66% Influência da PCH Não 66,66% Atibaia Medidas tomadas I – Limpeza e desassoreamento dos córregos e I – 66,66% afluentes; II – Elaboração do plano de contingência e de II – 50% combate às enchentes. Fonte: Elaboração própria

Tabela 42: Resumo dos resultados dos questionários com a população afetada

Elemento Resultado Frequência Sexo Feminino 60% Escolaridade Ensino Médio Completo 42,5% Idade I – 31 a 40 anos 25% cada II – 51 a 60 anos Ocupação Funcionário empresa privada 25% Renda De 04 a 06 salários mínimos 50% Período de ocorrência 2009 – 2010 45% Fatores influenciadores I – Excesso de chuvas; I – 60% II – Ocupação das áreas de várzea; II – 25% III – Reservatório da PCH Atibaia. III – 12,5% Medidas tomadas I– Limpeza dos rios e córregos; I – 37,5% II – Nenhuma. II – 30% Fonte: Elaboração própria

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Tabela 43: Resumo dos resultados dos questionários com a população não afetada

Elemento Resultado Frequência Sexo Feminino 55% Escolaridade Ensino Médio Completo 32,5% Idade 31 a 40 anos 25% Ocupação Funcionário empresa privada 35% Renda De 01 a 03 salários mínimos 60% Período de ocorrência 2009-2010 52,5% Fatores I – Acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios I – 37,5% influenciadores II – Excesso de chuvas; II – 32,5% III – O reservatório da PCH Atibaia transbordou. III – 12,5% Medidas tomadas I – Limpeza dos rios e córregos; I – 30% II – Não soube responder II – 27,5% III – Nenhuma. III – 22,5% Fonte: Elaboração própria

Assim, ressaltando a análise energética realizada, verificou-se uma redução nas vazões médias anuais reais da PCH Atibaia, resultante da dinâmica socioambiental existente na região, destacando-se, conforme já evidenciado, a criação do Sistema Cantareira a partir de 1975, o crescimento populacional, que aumenta a demanda por recursos hídricos, bem como a crescente taxa de urbanização do município.

Contudo, analisando o índice pluviométrico mensal e comparando-o às vazões médias mensais, observou-se uma elevação registrada nos meses de dezembro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011, em comparação aos mesmos meses em anos anteriores. Conforme mencionado anteriormente, com relação ao índice pluviométrico em dezembro de 2009 registrou-se 398 mm, 417,6 mm em janeiro de 2010 e 474,7 mm em janeiro de 2011. È importante mencionar que as vazões médias dos meses destacados também apresentaram elevação, ocasionadas pelo aumento do volume de precipitação, e que este período coincide com o de ocorrência de enchentes e inundações no município.

Com relação à influência da PCH Atibaia na ocorrência destes eventos, dois dos três relatórios analisados concluem que não há relação; a maioria dos técnicos e especialistas

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entrevistados, assim como a população afetada e não afetada também acredita não haver esta influência.

Portanto, analisando as informações levantadas, pode-se afirmar que a ocorrência de enchentes deve ser atribuída a diversos fatores combinados entre si, e não a fatos isolados. Além disso, é importante destacar que a barragem da PCH Atibaia é que poderia exercer influência sobre a ocorrência de enchentes e inundações (o que não ocorre), independentemente de a PCH estar em operação para produzir energia. Para o município de Atibaia, os fatores que podem ter contribuído para a ocorrência de enchentes são:

 Aumento do volume de precipitação em dezembro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011, que influenciou, por sua vez, o aumento do volume de vazão da PCH Atibaia (período em que coincide com os registros de ocorrências de enchentes e inundações no município), conforme informações apresentadas na Tabela 10.

 Aumento do grau de urbanização do município.

 Aumento das áreas impermeáveis e da canalização dos recursos hídricos.

 Ocupação de áreas de várzea e APPs.

 Ocupação irregular.

 A construção das barragens do Sistema Cantareira, que diminuiu o fluxo de água vertido para o Rio Atibaia, possibilitando a ocupação de áreas que anteriormente eram alagáveis.

 Manejo do Sistema Cantareira, pois a vazão liberada pelos reservatórios influencia a vazão do Rio Atibaia.

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 Falha na gestão das informações e dos dados dos sistemas meteorológicos utilizados pelo Sistema Cantareira e pela Prefeitura Municipal.

É possível verificar que o crescimento urbano desordenado em Atibaia tem pressionado principalmente as áreas de várzea (fato já evidenciado pelos autores TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012; TUCCI, 2008, apresentado na fundamentação teórica), o que tem gerado impactos socioambientais que aumentam o grau de vulnerabilidade da população residente no município, vulnerabilidade esta confirmada pelo aumento do número de famílias afetadas pelas enchentes. Entretanto, salienta-se que a maioria das áreas atingidas pelas enchentes está em situação regular, aprovada pela Prefeitura e por demais órgãos governamentais competentes.

Se, por um lado, houve um aumento significativo das chuvas em um curto período de tempo, que pode estar relacionado, segundo vários pesquisadores (IPCC, 2014), ao aquecimento global, tal fato tem sido agravado pela grande quantidade de lixo jogada indiscriminadamente nas ruas, o que acaba entupindo as “bocas de lobo”, que dariam vazão à água; e pela ocupação de APPs.

Jothityangkoon et al. (2013) salientam que uma questão que vem sendo cada vez mais discutida é se a barragem de uma hidrelétrica permanece segura considerando todas as alterações socioambientais que ocorrem naquela localidade no decorrer dos anos, indagando se as capacidades dos vertedouros das barragens são suficientes para o volume e a frequência das inundações atuais e futuras. O trabalho desses autores demonstra que o clima e as mudanças de uso do solo podem causar significativas alterações na magnitude de enchentes e inundações extremas.

Assim, crises ou catástrofes devem ser gerenciadas pelos serviços de socorro de acordo com a urgência, no contexto de planos definidos anteriormente, enquanto o risco exige ser integrado às escolhas de gestão e às políticas de organização dos territórios.

Desta forma, torna-se cada vez mais evidente a necessidade da utilização do planejamento ambiental para minimizar os impactos causados pela expansão urbana desordenada e de 106

programas de gestão que considerem as características atuais, compreendendo e inserindo os conceitos de vulnerabilidade e risco ambiental. Dentre as estratégias metodológicas para gerenciamento de riscos, destacam-se a identificação e análise de riscos; a adoção de medidas de prevenção de acidentes e redução de riscos; o planejamento para situações de contingência e de emergência, informação pública, capacitação e mobilização social para autodefesa.

Em um estudo recente, Sayers et al. (2014) desenvolveram dez "regras de ouro" para a gestão estratégica das inundações, que envolvem responsabilidades pela governança e ação, para promover a participação das partes interessadas no processo de tomada de decisão e para refletir o contexto local e integrar-se com outros processos de planejamento. O estudo apresenta os desafios de lidar com os riscos de inundação e a gestão da água em ambientes complexos e em grande escala, afirmando que os conceitos comumente aceitos de gestão de riscos devem ser revistos, e que as oportunidades para as práticas de gestão compartilhada de inundações devem ser fomentadas.

Contudo, observa-se a falta de planejamento do setor público com relação à gestão dos recursos hídricos e dos efeitos das enchentes e inundações no município de Atibaia. O período atual (ano de 2015), em que o principal problema enfrentado é a escassez de água, apesar de a prioridade ser a provisão do recurso hídrico, seria um momento propício para a execução de medidas necessárias à prevenção de ocorrência de enchentes e inundações, tais como recuperação e reflorestamento de mata ciliar e recuperação e manutenção da calha do rio, o que não vem ocorrendo, conforme pode ser observado nas Figuras 35 e 36, que mostram as condições do Ribeirão do Itapetininga, localizado no bairro do CTB:

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Figura 35 - Ribeirão do Itapetininga - CTB, dezembro de 2014 Fonte: Gonçalves (2014)

Figura 36 - Ribeirão do Itapetininga - CTB, dezembro de 2014 Fonte: Gonçalves (2014)

Nesse sentido, uma opção interessante seria a utilização de parte dos royalties oriundos da produção de energia pela PCH Atibaia (caso fosse reativada) para a manutenção de um fundo de reserva para custear ações relacionadas à prevenção de novos eventos, bem como prejuízos dos impactos das enchentes e inundações em Atibaia.

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Outra ação, apontada pelo Relatório Final para o Plano Municipal de Drenagem de Águas Pluviais de Atibaia (GIANSANTE, 2012), seria a formação de um Departamento de Drenagem Urbana, ou um setor específico para a gestão integrada do sistema, que deveria atuar em conjunto com um Sistema de Informações Geográficas, através de um banco de dados georreferenciados. Outra sugestão, apresentada no mesmo relatório, seria a criação de um parque linear ao longo do Rio Atibaia, além de um sistema de alerta de inundações em conjunto com a defesa civil (GIANSANTE, 2012).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS TRABALHOS

Considerando o objetivo deste trabalho, ou seja, analisar o contexto em que ocorreram a tentativa de reativação da Pequena Central Hidrelétrica Atibaia e as enchentes e inundações no município de Atibaia, pode-se afirmar que o aumento do volume de precipitação em um curto período de tempo, que, por sua vez, influenciou o aumento do volume de vazão dos córregos, ribeirões e do próprio Rio Atibaia, foi determinante para a ocorrência desses eventos, ocasionando muitos impactos socioambientais, muitas vezes impulsionados por um processo de urbanização intenso, que vem sendo realizado sem o devido planejamento territorial.

Além disso, as ocupações de APPs também foram fatores importantes, o que faz com que seja necessário avaliá-las considerando diversos aspectos que envolvem uma legislação urbanística adequada; e que se estabeleçam critérios claros para a gestão territorial, bem como uma fiscalização atuante para que tais ocupações efetivamente não ocorram. Entretanto, observa- se a aprovação indevida de loteamentos, motivada por interesses diversos e muitas vezes legitimada pelo Poder Público.

Essas áreas do município de Atibaia, quando regularizadas e aprovadas pelas Leis de Uso e Ocupação do Solo, apresentam infraestrutura que privilegia sua ocupação por segmentos sociais mais favorecidos, o que produz impactos tão danosos quanto as ocupações irregulares de baixo padrão, pois são edificações consolidadas que inviabilizam uma futura remoção. Ademais, a remoção de ocupações irregulares em áreas de risco e vulnerabilidade deveria considerar as características, fragilidades e restrições impostas pela legislação ambiental nas áreas ocupadas, mas, muitas vezes, essas questões são ignoradas devido a interesses imobiliários que envolvem diversos atores sociais.

É importante que o município monitore essas áreas de forma a não permitir a sua ocupação, para manter a capacidade de permeabilidade e retenção de sedimentos do solo, além de estabelecer um mapeamento de áreas de risco que possibilite uma gestão adequada de ações para a prevenção de desastres. 110

Contudo, observa-se que, de forma geral, as ações municipais para prevenção contra enchentes não foram tão adequadas e efetivas quanto deveriam, apresentando uma atuação de forma pontual e posterior à ocorrência de cada evento, ou seja, as ações para prevenção foram pouco eficazes. Além disso, as medidas de prevenção e controle de enchentes, de forma geral, correspondem a alterações, melhorias e obras estruturais e técnicas, não havendo um envolvimento da sociedade ou sequer das comunidades afetadas.

Sobre a reativação da PCH Atibaia, nota-se que, apesar do grande conflito gerado em torno do tema, a maior parte da população – tanto afetada como não afetada – não possui muito conhecimento sobre o assunto, tendo sua opinião formada por questões que “ouviram falar”. Apesar disso, a maioria acredita que a reativação da PCH não tenha relação com a ocorrência dos eventos de enchentes e inundações, conforme demonstrado neste trabalho, bem como nos diversos estudos analisados.

O conflito sobre a reativação da PCH Atibaia teve origem em questões e interesses políticos, e, pelo impacto e importância do tema e a diversidade de atores sociais envolvidos, ganhou grande destaque. Isso pode ser confirmado devido ao fato de que, principalmente no momento atual, quando se verifica um cenário de crise hídrica, pouco se tem discutido e atuado em relação à prevenção de eventos de enchentes e inundações, bem como à própria reativação da PCH Atibaia.

Com relação às ações civis relacionadas ao tema e à intenção de se apontar um responsável pela ocorrência desses eventos, e, sobretudo, um responsável pelos danos e prejuízos por eles gerados (principalmente à população local), conforme já apontado neste trabalho, trata-se de uma questão complexa, pois envolve diversos fatores relacionados e de difícil mensuração. As ações serão legalmente julgadas pelos juízes responsáveis de acordo com seu entendimento, mediante a apresentação de provas, o que não está nos objetivos desta dissertação. Vale ressaltar que o Condomínio Empresarial Atibaia solicitou uma produção antecipada de provas, e, segundo o laudo emitido, as enchentes não tiveram relação com a operação e constituição da PCH Atibaia.

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É importante destacar que o envolvimento das comunidades é essencial para se criar planos e programas que sejam eficazes e efetivos em curto e longo prazos, e que tenham continuidade, para que, mesmo que o município ou a localidade seja afetada novamente pelas enchentes, a população possa estar melhor preparada para enfrentá-las, reduzindo os prejuízos e danos. A dificuldade de se criar e implementar programas de prevenção e controle de enchentes está no fato de que esses fenômenos nem sempre podem ser previstos, pois dependem e são influenciados por uma série de fatores, tais como níveis de precipitação e a concentração de grandes volumes de precipitação em pequenos intervalos de tempo, grau de urbanização, condições de permeabilidade do solo, quantidade de resíduos nas vias públicas e nos rios, entre outros fatores já discutidos anteriormente.

Assim, a formação de equipes interdisciplinares que possam discutir e analisar os problemas das enchentes em um contexto amplo e integrado e a realização de estudos que possibilitem um aprimoramento do conhecimento, das técnicas e dos procedimentos tornam-se essenciais para a elaboração de planos, programas e medidas de prevenção, combate e controle de enchentes no município de Atibaia.

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APÊNDICE A – Roteiro de entrevistas sobre a ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia realizadas com técnicos e especialistas

Data da entrevista:

Nome do entrevistado:

Idade:

Grau de instrução:

1. Há registros de casos de enchentes e inundações no município? Em caso positivo, qual (is)?

2. Na sua opinião, quais os fatores que influenciaram a ocorrência de enchentes e inundações no município?

3. Quem são os agentes (institucionais ou não) envolvidos na ocorrência das enchentes e inundações?

4. Na sua opinião, a PCH Atibaia teve influência na ocorrência das enchentes e inundações? Em caso positivo, em qual proporção?

5. Você acha que a PCH Atibaia deveria ser reativada? Por quê?

6. Você acredita que as enchentes e inundações ocorreriam mesmo que os níveis de precipitação estivessem normais?

7. Na sua visão, quem pode ser responsabilizado pela ocorrência das enchentes e inundações?

8. Quais medidas foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município?

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APÊNDICE B - Questionário aplicado à população afetada por enchentes e inundações no município de Atibaia 1. 1. Data da entrevista:

2. 2. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

3 Bairro/loteamento de residência: ______

3. 4. Idade: ( ) Menos de 20 anos ( ) 51 – 60 anos ( ) 21 – 30 anos ( ) 61 – 70 anos ( ) 31 – 40 anos ( ) Mais de 70 anos ( ) 41 a 50 anos

4. 5. Nível de escolaridade: ( ) Não possui instrução formal ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino Superior Completo ( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Pós-graduação

5. 6. Ocupação ( ) Autônomo/Profissional liberal ______( ) Funcionário de empresa privada ( ) Estudante ( ) Funcionário de empresa pública ( ) Desempregado ( ) Empresário ( ) Dona de casa ( )Aposentado

6. 7. Renda: ( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 7 a 9 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos ( ) Acima de 9 salários mínimos

7. 8. Afetado por enchentes e inundações ( ) Não ( ) Sim.

8. 9. Período de ocorrência: ( ) 2009 – 2010 ( ) 2010 – 2011 ( ) Outros: ______

9. 10. O que você acha que causou as enchentes e inundações? Por quê? ______10. 11. Quais medidas foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações?

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