Edição nº 10 • JUNHO/2019

Editorial

Professora Maria Izabel Azevedo Noronha Presidenta da APEOESP Homofobia agora tem ualquer discriminação é imoral e “Q lutar contra ela é um dever.” A frase que o Patrono da Educação eternizou, em “Pedagogia da Autonomia”, sintetiza a luta histórica da APEOESP na solução:preservação da integridade é física crime e moral Bolsonaro, que no passado já se autodeclarou defesa da comunidade LGBT e é mais atual “A das pessoas não deve esperar”. “Quem é um “homofóbico orgulhoso”, criticou o STF, com do que nunca, em 2019, quando políticos atacado e discriminado tem pressa”. Com estas uma série de explicações equivocadas, que vão da de extrema-direita passaram a incentivar constatações óbvias, a maioria do Supremo luta de classes ao mercado de trabalho, mas sem a violência, através de leis, discursos e Tribunal Federal decidiu, no dia 13 de junho, mencionar o direito à vida da população LGBT. uma total indiferença aos ataques contra que atos de homofobia e transfobia serão A criminalização da homofobia pelo Supre- os grupos mais vulneráveis, como também considerados crime no Brasil e terão o mesmo mo é uma resposta à omissão do Parlamento, são os negros, as mulheres e os indígenas. tratamento que o racismo, com penas de até que evitou legislar sobre o tema durante 30 Mas o STF deu uma resposta no dia 13 cinco anos de prisão, até que o Congresso decida anos. Os projetos de lei que tratavam da ques- de junho, aprovando a criminalização da sobre o assunto. tão foram bloqueados pela bancada religiosa e homofobia. E há tambem outros motivos No dia seguinte à decisão da Suprema Corte, outros setores conservadores. para celebrar. O Boletim LGBT chega a sua 10ª edição, como uma publicação pioneira em abordar o tema, de forma transversal, para professores e estudantes. O Sindicato Site da APEOESP traz pesquisas também estará na Avenida Paulista nos protestos e comemorações referentes aos 50 anos da Revolta de Stonewall, que serão acadêmicas sobre o tema tema da 23ª Parada do Orgulho LGBT. seção Teses e Dissertações do site da APEO- A violência e a indiferença com os A ESP destaca dois trabalhos relevantes para crimes contra os homossexuais, que o debate de questões de gênero e sexualidade provocaram a Revolta de 1969 em Nova na Educação. A historiadora Mariana Carvalho York, tornaram-se tristemente banais 50 Teixeira entrevistou associados/as ao Sindicato anos depois, no Brasil. O crescimento da para sua pesquisa de mestrado, em andamento intolerância contra a diversidade sexual na Faculdade de Educação da USP. é alarmante; do bullying na sala de aula, Uma das questões do trabalho, dedicado ao às ofensas parlamentares até ataques e tema “Identidades docentes e homossexualida- des”, é o Coletivo LGBT Prof. Fernando Schueller, agressões nas ruas. criado pela APEOESP em 2010, durante o I Encontro Nesta 10ª edição do seu Boletim, a LGBT realizado para debater temas como a garantia APEOESP aborda estas questões, mas tam- professores destas séries na abordagem da te- UniCarioca (RJ) pretende escrever um livro, em de direitos sexuais e a luta contra a homofobia. mática nas escolas das redes públicas estadual parceria com a CNTE. bém tem o orgulho de trazer boas notícias O Sindicato sempre defendeu a abordagem e municipal. A partir dos resultados do levanta- Acesse Teses e Dissertações: http://www.apeo- como os projetos de lei que encaminhei, já interdisciplinar de temas relacionados à saúde, mento, o pesquisador do Centro Universitário esp.org.br/teses-e-dissertacoes/ nos primeiros meses de mandato na Assem- sexualidade e combate a toda e qualquer forma bleia Legislativa, para garantir o respeito à de preconceito e violência. 50 anos de Stonewall Pabllo e Luiz, na luta Devassos no Paraíso cidadania da população trans. Outra resenha da seção enfoca a pesquisa página 2 Outra pauta muito educativa pode ser “Educação e Sexualidade nas Escolas de Ensino contra homofobia página 4 página 3 observada em várias letras e clipes de nossa Fundamental I”. Em parceria com a CNTE, o pes- ÍNDICE: No lugar de Saúde e e MPB que também se coloca na luta contra a quisador Marcos Ribeiro abriu uma consulta virtual Educação, apologia PLs: Cidadania e inclusão Daniela Mercury homofobia e é destaque nesta publicação, sobre a questão com professores do 1º ao 5º ano. à morte página 4 página 4 dedicada à diversidade. Boa leitura! O levantamento vai mapear conteúdos, página 3 metodologias e entraves enfrentados pelos 22 Edição nº 10 • Junho/2019 50 anos de Stonewall Nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT No mesmo ano em que o Brasil assiste a uma legitimação do discurso homofóbico, através de declarações presidenciais e até censura, o mundo celebra os 50 anos da Revolta de Stonewall. O Boletim LGBT da APEOESP publica aqui, como sugestão de aula, o Manifesto preparado pelos organizadores da 23ª Parada do Orgulho LGBT, para contar a história de Stonewall e fazer uma retrospectiva do movimento, no Brasil e no mundo: o longo da história, a humanidade apren- Parada de São Paulo é inspirada na coragem da- Adeu que as conquistas e os progressos são quelas pessoas que se revoltaram contra a ordem acompanhados por derrotas e retrocessos. Foi ideológica, econômica, política e legal imposta assim que movimentos por liberdade nasceram, por uma sociedade e um Estado de uma época. guerras surgiram e direitos foram estabelecidos. Reprodução Google Como repetia a travesti negra Marsha P. Johnson, Neste ano, comemoramos os 50 anos da Revolta considerada a pessoa que arremessou a primeira de Stonewall, um exemplo de que vitórias po- pedra contra a fachada do Stonewall, dando início dem surgir a partir do sofrimento e da repressão. à revolta, “não há orgulho para alguns, sem Na madrugada de 28 de junho de 1969, um a libertação de todos nós” (no pride for some grupo de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e of us without the liberation for all of us). transexuais (LGBT) frequentadoras de um bar, o Orgulho é, portanto, algo que devemos Stonewall Inn, em Nova York, nos Estados exercitar para que todas e todos sejam livres Unidos, resolveram, após uma batida policial, do preconceito, da perseguição e das restrições dar um basta às agressões, preconceitos, hu- impostas. Por isso, é preciso ter orgulho da nossa milhações e perseguições que sofriam. Foram história de luta e conquistas. Ainda há muitos três dias de resistência e enfrentamento com a avanços por quais lutar, mas é necessário come- polícia. Naquela época, ter relações sexuais com morarmos nossas vitórias. A disponibilização do pessoas do mesmo sexo era ilegal em todos os tratamento de HIV/Aids no SUS, em 1996 e am- estados americanos. pliado em 2013, é uma delas; assim como foram A Google lançou um ‘doodle’ em celebração à Revolução de Stonewall, que permite que os internautas A revolta tornou-se o marco de uma série naveguem em uma onda colorida e cheia de histórias sobre o movimento. a união estável homoafetiva, em 2011; a decisão de protestos e reivindicações por direitos LGBT, do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor do ca- que se espalharam pelo país e influenciaram em 1980, em São Paulo, apelidada de “Operação tantos outros exemplos, é porque outras pes- samento civil homoafetivo, em 2013; a adoção de outros movimentos LGBT pelo mundo. Um ano Sapatão”, comandada pelo delegado José Wil- soas abriram caminhos. Mesmo não levantando criança por casal do mesmo sexo, em 2015; o uso depois, em 28 de junho de 1970, em Nova York, son Richetti, considerado o terror das travestis. a bandeira da causa LGBT+, elas endereçaram do nome social na educação básica reconhecida foi realizada a primeira Parada do Orgulho, Richetti deflagrou, em maio de 1980, a “Ope- às massas questões consideradas tabus. Assim pelo Ministério da Educação, em 2017; a resolu- em celebração à Revolta de Stonewall. Cerca de ração Limpeza”, com o propósito de prender foi com a modelo Roberta Close, mulher ção que definiu o uso do nome social de travestis 10 mil pessoas participaram daquela marcha. homossexuais, travestis e prostitutas no centro intersexo, considerada ícone de feminilidade e transexuais nos registros escolares; a decisão No ano seguinte, Londres também faria sua da capital paulista. Mais de 1.500 pessoas foram dos anos 1980, que posou nua na revista Play- do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garantindo primeira Parada, seguida por outras cidades pelo detidas. Naquele mesmo ano, cerca de mil gays, boy em 1984. o direito à inclusão do nome social no cadastro mundo, sucessivamente, até os dias de hoje. lésbicas, travestis e prostitutas saíram da frente Aquele era um período conturbado. No ano de eleitores; a retificação de nome e gênero Aqui no Brasil, parte desses 50 anos de do Teatro Municipal de São Paulo e marcharam anterior, em 19 de agosto de 1983, as lésbicas na certidão de nascimento no cartório, sem a história pode ser contada pelas páginas do pelas ruas do centro contra a violência policial, que frequentavam o Ferro’s Bar, um bar já necessidade de advogado nem apresentação de Lampião da Esquina, o primeiro jornal sob a palavra de ordem: “abaixo a repressão, extinto no centro de São Paulo, lançaram um qualquer laudo ou aval de juízes ou promotores homossexual do país, que circulou entre mais amor e mais tesão”. manifesto pelos direitos das lésbicas, conhecido de justiça. Essas últimas, todas em 2018. 1978 e 1981. A publicação marca o início do Outros pedaços dessa narrativa histórica como o Levante do Ferro’s Bar. Dias antes, o Para reforçar o nosso compromisso com movimento brasileiro que, poucos meses depois estão nas letras de canções que desafiaram a dono do lugar havia chamado a polícia e proi- a luta por mais respeito, aceitação, tolerância de lançado, funda o grupo Somos – Grupo de censura e cantaram o amor entre iguais, como bido as mulheres de vender ali uma publicação e direitos, a Associação da Parada do Orgulho Afirmação Homossexual. O periódico discutia, fez o cantor Odair José, em 1978, com a música chamada “ChanacomChana”, considerada um LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP) resgata nossa de forma bem humorada, temas relacionados “Forma de Sentir”. Essa memória também está atentado aos bons costumes. história e convida todas as pessoas e movimen- à homossexualidade masculina, mas também espalhada nas trajetórias de artistas LGBT que Uma década que havia começado com o en- tos que compartilham dos mesmos valores para política, feminismo, questões raciais e outras contrariaram os padrões de comportamento de tusiasmo e a efervescência de uma geração ávida celebrar a 23ª Parada do Orgulho LGBT de São minorias, indo na contramão da esquerda de uma sociedade, ainda mais conservadora que a pelos seus direitos, terminava estigmatizada pelo Paulo, no dia 23 de junho de 2019, com ritmo de então, que enxergava a causa homossexual atual, como faziam o cantor aumento do número de casos de Aids e o cres- alegria, desconstrução e muita lacração, o tema como algo menor, sem importância. com seu figurino andrógino e trejeitos fe- cimento do preconceito contra homossexuais. É “50 anos de Stonewall: nossas conquistas, nosso O jornal denunciava abusos cometidos pela mininos, e a cantora Angela RoRo com suas somente na segunda metade dos anos 1990 que orgulho de ser LGBT+”. Esse tema reforça ditadura militar contra LGBT, como o caso do letras e falas polêmicas, muito antes de existir o o movimento LGBT brasileiro começa a tomar a ideia de que pessoas LGBT+ possuem jornalista Celso Curi, autor da primeira coluna youtube, as redes sociais e seus influenciadores. corpo. A própria Parada do Orgulho LGBT de representação social, política, cultural gay do jornalismo brasileiro, intitulada“Coluna Se hoje temos artistas que ganham seu espa- São Paulo surge apenas em 1997, levando e jamais se renderão ao autoritarismo, do Meio”, que circulou no jornal carioca ço sem renegar publicamente suas identidades cerca de 2 mil pessoas pela Avenida Paulista, após ao conservadorismo, nem às ameaças de Última Hora entre 1976 e 1978. Curi foi de gênero e orientações sexuais, cantando o seu um ensaio um ano antes, durante uma pequena retrocessos de conquistas, arduamente processado e demitido acusado de “ofender a empoderamento e orgulho de serem quem são, manifestação na Praça Roosevelt, no centro. Em alcançadas nesses 40 anos de história do moral e os bons costumes”. Outros destaques do como Pabllo Vittar, Gloria Groove, Jhonny 1996, o realizava a sua primeira movimento LGBT no Brasil e 50 anos pelo mun- Lampião foram as prisões arbitrárias de lésbicas Hooker, Liniker, Linn da Quebrada, entre caminhada. Assim como as demais marchas, a do. Sim, isso é um grande motivo de orgulho! Edição nº 10 • Junho/2019 3 Boletim Especial Março • 2010 3

Vamos ocupar No lugar de Saúde e Educação, as ruas! A APEOESP es- tará na Avenida apologia à morte Paulista, no dia 23 de junho, na 23ª egurança, saúde e educação são áreas sen- dato, conquistado nas urnas, já nas primeiras saúde pública já sofre os efeitos da Emenda Ssíveis para a população brasileira, há muito semanas do governo Bolsonaro. Constitucional 95, que estabeleceu congela- Parada do Orgulho tempo. Mas agora o País assiste a um fato iné- Depois de sucessivas ameaças de morte, o mento de verbas do setor. LGBT, que em 2019 dito que é a destruição de avanços duramente deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ) deixou Para a Associação Brasileira Interdisciplinar celebra os 50 anos conquistados em áreas essenciais. o Brasil, onde já vivia sob escolta policial desde de Aids, a Abia, os equívocos cometidos vão de Stonewall. A Revolta, que co- O recém-divulgado Atlas da Violência 2019 o assassinato da vereadora Marielle Franco, em desde a mudança do nome do departamento meçou na noite de 28 de junho de revela a dimensão do equívoco que foi a assinatu- março de 2018. O parlamentar disse que desde até a mistura de patologias e segmentos popu- 1969, deu origem ao Dia Interna- que Jair Bolsonaro foi eleito, o nível de violência ra de decreto que flexibiliza o porte de armas no lacionais diretamente afetados. cional do Orgulho LGBT. Conheça contra ele e as minorias aumentou. dia 15 de janeiro. O Brasil já contabiliza o dobro de “É flagrante que essa alteração no nome do esta história na sugestão de aula, homicídios registrados no Iraque e outros países Departamento tem como objetivo ocultar o HIV/ da página 3. afetados por guerras civis e a população LGBT, ao HIV/Aids AIDS, terminologia que desde os anos 1980 é lado de negros e mulheres, têm mais chances A ‘política de morte’ adotada pelo governo sinônimo de participação cidadã, de luta contra As medidas adotadas pelo governo eleito de entrar nesta alarmante estatística. Em 2017, atingiu o Departamento de IST, Aids e Hepatites as desigualdades e proteção de direitos humanos”, revelam que as fake news foram um crime preme- último ano apurado pelo estudo, o Brasil registrou Virais, vinculado ao Ministério da Saúde. Tam- denunciou a Abia em nota, que faz referência à luta ditado, não apenas para estigmatizar a questão inacreditáveis 65.602 homicídios. bém atrávés de um decreto, assinado em 17 de diária de pessoas que convivem com o vírus, como LGBT, mas também para golpear a Educação. “Se a gente somar as ações e as atitudes maio de 2019, Jair Bolsonaro excluiu a palavra a população LGBT, negros, mulheres, trans, jovens Já no dia 02 de janeiro, o governo anunciou e usuários de álcool e outras drogas. governamentais do começo do ano para cá, eu Aids do Departamento e agregou patologias, o fechamento da Secretaria de Educação Con- percebo que há uma política de ódio. Criou-se como verminoses, a infecções virais e bacteria- tinuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão um ódio na população, um ódio ao LGBT, um nas, como HIV e outras doenças sexualmente Fake news (SECADI), que teve atuação relevante nas ges- ódio à esquerda. Além disso, o porte de armas transmissíveis. Os problemas crônicos da Educação brasi- tões de Lula e Dilma Rousseff. A Secretaria asse- só faz aumentar a resolução dos conflitos por O Departamento afetado pelo desmonte leira também foram agravados pelo governo gurava o atendimento de questões relacionadas meio da violência”, analisa o sociólogo da Unesp, presidencial começou a ser criado, em 1986, para de extrema-direita, que elegeu os professores à garantia do direito à educação, entre elas, o Angelo Del Vecchio. conter o avanço da doença. Desde 1996, dispo- como alvos do seu retrocesso. A campanha de enfrentamento do racismo, da LGBTfobia e a nibiliza tratamento gratuito, através do Sistema Jair Bolsonaro à Presidência da República foi construção de políticas voltadas para comuni- Jean Wyllys Único de Saúde, para pessoas vivendo com HIV. marcada por fake news envolvendo a Educação, dades quilombolas, indígenas e do campo, além O ódio ao qual o sociólogo se refere levou o A compra de medicamentos retrovirais, como os inexistentes ‘kit gay’ e mamadeira daquelas voltadas para pessoas encarceradas e primeiro parlamentar assumidamente homosse- utilizados no tratamento de portadores do vírus, fálica, supostamente distribuída para crianças para adolescentes e jovens em cumprimento de xual a exilar-se do País e desistir do novo man- é uma das áreas impactadas pela mudança. A em creches paulistas. medidas socioeducativas. Pabllo e Luiz na luta contra a homofobia Dica cultural: “São milhares de adolescentes que assim como eu sofreram este tipo de agressão. Está na hora de transformar o preconceito em respeito. De aceitar as pessoas como elas são e querem ser. De olhar na cara da homofobia e dizer: Eu sou assim, e daí?” - Pabllo Vittar, no clipe “Indestrutível” a abertura do cli- que as retratadas no clipe. O garoto trans é Teixeira, localizada no bairro de Abernéssia, em Premiados, os filmes que contam a vida Npe Indestrutível, vítima de homofobia nas escolas de Campos de Campos de Jordão. de Freddie Mercury e Elton John não revelam de Pabllo Vittar, que já Jordão, desde os 6 anos de idade. Vítima de tanto preconceito apenas por apenas as trajetórias de dois ícones do show superou 19 milhões de “Entendemos que ele era menino, e não ser mãe de um trans, Silvana defende ‘um business, mas também vidas que foram salvas do desprezo e da indiferença, pelo talento e visualizações no You- menina como parecia inicialmente, aos 4 anos outro olhar’. Assim como Luiz M., Pabllo vive obstinação. de idade”, conta a mãe, a corretora de imóveis Tube, uma informação constantemente sob ataques. Em agosto de “Bohemian Rhapsody” conta os percalços assustadora: 73% dos Silvana da Rosa Ribeiro, que já precisou recorrer 2017, a drag queen mais famosa do Brasil teve que o menino tímido, bissexual e filho de jovens LGBTQ+ no Brasil a boletins de ocorrências e ações judiciais para seu canal no YouTube invadido por hackers. indianos enfrentou até tornar-se o vocalista são vítimas de bullying garantir o direito do filho à Educação. Premonitoriamente, um dos seus clipes foi do Queen. Já “Rocketman”, cinebiografia e violência nas escolas. retirado do ar e substituído por uma foto do do cantor britânico Elton John, é também A famosa drag queen Incompreensão até então inexpressivo deputado federal Jair a história de um homem que sempre lutou esteve nesta estatística, Desde que foi matriculado na escola, aos Bolsonaro. pela diversidade sexual e contra a homofobia. mas tornou-se uma exceção: aos 25 anos, o menino 6 anos, Luiz já enfrentou incompreensão e Agora, pronta para desfilar nas principais A dor e o sofrimento foram constantes que apanhou, sem que ninguém o defendesse, logo agressões de pais dos seus colegas, professores Paradas Gays dos Estados Unidos e Canadá, a para os dois astros. Elton John, por exemplo, no primeiro dia da 5ª série, é um fenômeno pop e e diretores de escola. drag assume o ato político. “O meu protesto só conseguiu livrar-se das drogas, nos anos tornou-se porta voz dos jovens trans e homosse- “O preconceito das pessoas é muito maior é estar no palco sendo drag, resistindo, sendo 1990, quando a Aids atingiu o amigo Freddie xuais em geral, discriminados e agredidos por sua do que a capacidade de entendimento. Uma afeminada no País que mais mata LGBTs no Mercury, em comovente episódio retratado na cinebiografia do líder do Queen. Mas, condição. Mas, o sucesso não brindou a artista, que mundo”, disse à BBC em resposta à declaração diretora chegou a me dizer que, se meu filho “Bohemian” e “Rocketman” são filmes de é alvo de haters e ameaças de morte. quisesse mudar o jeito, até poderia continuar na de Bolsonaro, que afirmou, no último mês de redenção, onde as músicas, a dança, as luzes Pabllo hoje fala em nome de pessoas muito escola”, lamenta Silvana que, abismada, procu- abril, que “quem quiser vir ‘no Brasil’ fazer sexo e os figurinos espetaculares ensinam que as jovens como Luiz M., que tem apenas 14 anos, rou a Promotoria para garantir que Luiz termine com mulher, fique à vontade. Agora, não pode pessoas podem sim, ser felizes. mas já enfrentou situações mais chocantes do a 8ª série, na Escola Municipal Educador Anisio ficar conhecido como paraíso do mundo gay”. 44 Edição nº 10 • Junho/2019 Na Assembleia, projetos de lei Dirigentes responsáveis Maria Izabel Azevedo Noronha Presidenta da APEOESP para garantir cidadania e inclusão Fábio Santos de Moraes e gênero na certidão de sem cirurgia. No entanto, na prática ainda há o Vice-Presidente nascimento de pessoas obstáculo do pagamento de taxas. Roberto Guido transexuais, travestis e “A adoção do nome social como expressão Secretário de Comunicações intersexo, prevista no PL de identidade e de dignidade humana é um Stenio Matheus de M. Lima Secretário de Comunicações Adjunto 743, é importante, prin- direito constitucional, reconhecido pelo STF Rita de Cássia Cardoso cipalmente, para inserção em mais de uma oportunidade”, justificou a Secretária de Políticas Sociais no mercado de trabalho e parlamentar na apresentação do projeto à As- Richard Araújo também na vida escolar e sembleia Legislativa de São Paulo. Secretário Adjunto de Políticas Sociais acadêmica. A deputada apresentou ainda um projeto de Conselho Editorial São frequentes os re- lei que prevê que os valores obtidos com as mul- Maria Izabel Azevedo Noronha Fábio Santos de Moraes latos de constrangimentos tas previstas na Lei 10.948/2001 sejam aplicados Roberto Guido enfrentados por pessoas em políticas públicas destinadas ao combate da Stenio Matheus de M. Lima Leandro Alves Oliveira trans em relação aos no- discriminação, em razão de orientação sexual. Silvio de Souza mes que constam nos A lei do então deputado Renato Simões (PT/ Rita de Cássia Cardoso Richard Araújo registros civis. Trata-se de SP) foi um marco no combate à homofobia. Em Flaudio Azevedo Limas uma população vulnerá- 2001, não havia sequer o Conselho Estadual dos Miguel Noel Meirelles vel, que não tem direito Direitos da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Francisco de Assis Ferreira Paula Cristina Oliveira Penha sequer a ser chamada Travestis e Transexuais. rojeto de lei da Deputada Professora Bebel pelo próprio nome em situações banais, como Por isso, o PL 475/2019, da Deputada Professo- Texto e Edição: Ana Maria Lopes – Mtb 23.362 (PT/SP), publicado no Diário Oficial de 06 consultas médicas e atendimento cadastral. ra Bebel, propõe que o Conselho, criado em 2010, P Produção: de junho, atende uma reivindicação antiga da Em maio de 2017, o Supremo Tribunal de delibere sobre as áreas que deverão receber o Secretaria de Comunicações da APEOESP comunidade LGBT: a gratuidade na mudança Justiça decidiu pelo direito do transexual de dinheiro arrecadado com multas decorrentes da Tiragem: 15 mil exemplares de nome nos cartórios. A retificação de nome alterar o nome em seu registro civil, mesmo prática de homofobia. Arte e cultura são antídotos para crise Em resposta aos tempos obscuros, a arte e a cultura são referência e inspiração para a resistência. O Boletim da APEOESP destaca algumas dicas imperdíveis neste Mês do Orgulho LGBT.

Música Multimídia Exposição Livro Publicidade

Dedicado a debater a diversida- Inspirado na obra do pre - - miado escritor João Silvério Em abril, Bolsonaro mandou de sexual, o podcast ‘Todas as Le Trevisan, o Museu da Diversida- retirar do ar a campanha publi- tras’ estreou no dia 10 de junho com citária de um banco, com atores um episódio sobre as pessoas trans. Lançado no último mês de de Sexual acaba de inaugurar a exposição “Devassos no Paraíso: que representavam a diversidade A publicação multimídia lançada fevereiro, o clipe “Proibido o racial e sexual do Brasil. A resposta pela Folha de S. Paulo é quinzenal Carnaval” reúne Daniela Mercury o Brasil mostra sua cara”. Atra- “Hasteemos a bandeira vés de charges e ilustrações veio no mês seguinte: a caminho- e aborda temas ligados ao uni- e Caetano Veloso, em uma crítica colorida - Diversidade sexual e neira trans Afrodite Almeida Araú- verso LGBTQI+, com o objetivo de a uma das polêmicas criadas pela de e Paulo Von Poser, de gênero no Brasil”, da Editora - o Museu, localizado no Metrô jo é a estrela de uma campanha apresentar as principais questões e ministra da Mulher, Família e Di Expressão Popular, reúne 19 pró-diversidade de uma rede de demandas destas letras da sigla que reitos Humanos, Damares Alves, República, retrata a trajetória artigos sobre liberdade sexu- - da construção das sexualida distribuidores de combustíveis. A identifica lésbicas, gays, bissexuais, sobre o mais ultrapassado este - al, patriarcado e questões de des e expressões de gênero paranaense Afrodite tem 70 anos, travestis, transexuais, transgêneros, reótipo de gênero: “menino veste gênero. O livro foi escrito por foi militar, pastor e tem uma filha queers, intersexo e outros mais. Co- azul e menina veste rosa”. No no Brasil, com destaque para pesquisadores e ativistas dos algumas figuras icônicas como e uma neta. ordenado pelo premiado jornalista clipe, dedicado ao ex-deputado movimentos sociais e LGBT. Renan Sukevicius, ‘Todas as Letras’ Jean Wyllys, Caetano aparece , Madame Satã e Daniela Mercury. está disponível no site da Folha e em iluminado de rosa, enquanto tons todas as plataformas que utilizam azulados iluminam Daniela. podcast, como Spotify.