A CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS E JOÃO DO RIO: DIFERENÇAS E

SIMILARIDADES NO TRATAMENTO DO E DO PENSAMENTO DO

FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

by

THOMAS MOSTARDEIRO MÜHLE

(Under the Direction of Dr. Robert Moser)

ABSTRACT

The ‘’crônica,’’ a literary genre that derivates from journalism, is a hybrid of news and literature that was developed intensively in in the XIX century. This literary genre provides a rich resource for the study of habits and philosophy of past times. Machado de Assis and João do Rio are prominent examples of chroniclers from their respective times, revealing many aspects of the city of Rio de Janeiro from the late XIX century and early XX century, that include discussions of religion and landscapes. Though they belong to distinct periods, Machado de Assis pertaining to an earlier one, the Brazilian Realist period and João do Rio a later Pre- modernist period, their works ultimately complement each other and form a high degree of continuity.

INDEX WORDS: Literatura Brasileira, Crônica, João do Rio, Machado de Assis, Pré- modernismo, Realismo, Rio de Janeiro, Religião, Tecnologia, Linguagem

A CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS E JOÃO DO RIO: DIFERENÇAS E

SIMILARIDADES NO TRATAMENTO DO RIO DE JANEIRO E DO PENSAMENTO DO

FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

by

THOMAS MOSTARDEIRO MÜHLE

B.A., Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brazil, 2003

A Thesis Submitted to the Graduate Faculty of The University of Georgia in Partial Fulfillment

of the Requirements for the Degree

MASTER OF ARTS

ATHENS, GEORGIA

2007

© 2007

Thomas Mostardeiro Mühle

All Rights Reserved

A CRÔNICA DE MACHADO DE ASSIS E JOÃO DO RIO: DIFERENÇAS E

SIMILARIDADES NO TRATAMENTO DO RIO DE JANEIRO E DO PENSAMENTO DO

FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

by

THOMAS MOSTARDEIRO MÜHLE

Major Professor: Dr. Robert H. Moser

Committee: Dr. Susan Canty Quinlan Dr. Nicolás Lucero

Electronic Version Approved:

Maureen Grasso Dean of the Graduate School The University of Georgia May 2007

DEDICATION

Para meu pai, mãe, irmãos, sobrinho, amancebados, e quaisquer outras pessoas que se envolveram no processo de confecção desta tese, direta ou indiretamente.

iv

ACKNOWLEDGEMENTS

Agradeço aos Drs. Susan Quinlan e Robert Moser pelo imenso impacto em minha vida acadêmica, assim como a todos que de qualquer forma se envolveram direta ou indiretamente no desenvolvimento deste trabalho.

v

TABLE OF CONTENTS

Page

ACKNOWLEDGEMENTS...... v

CAPÍTULO

1 Introdução ...... 1

2 Os Autores e Seus Respectivos Momentos...... 9

3 As Crônicas...... 15

A Linguagem...... 15

A Cidade do Rio de Janeiro: a Rua do Ouvidor...... 17

A Religião...... 20

A Tecnologia e Seus Impactos na Sociedade...... 25

4 Conclusão...... 29

REFERÊNCIAS...... 32

vi

CAPÍTULO 1

Introdução

Uma das mais constantes características humanas é a classificação, quando este busca

colocar todos os elementos de todos os grupos em diferentes categorias. Raças, gêneros e

nacionalidades são só alguns exemplos de sistemas de classificação relativamente complexos que

foram desenvolvidos pelo homem ao longo de sua história recente. Então, o tratamento recebido

pela literatura não se difere em nada tendo em vista este elemento, sendo os textos inseridos em diferentes classificações, os conhecidos gêneros literários. Entre eles existem o gênero dramático, que envolve o teatro, o gênero lírico, que envolve a poesia, o romance, etc. Textos de diferentes características são postos sob diferentes rótulos.

Dentre este universo existe um gênero que pode ser considerado como a “ovelha negra”

da família literária: a crônica. Este problema de inserção da crônica no rol dos gêneros literários

vem do fato do conceito de literatura por si configurar uma forma artística. A crônica é um

produto do jornal, e assim alguns podem vir a dizer que esta é privada de características que a tornariam algo até mesmo similar a uma manifestação artística, uma vez que o texto jornalístico

não o é. Luiz Carlos Santos Simon em seu O cotidiano encadernado: A crônica no livro (2004)

ressalta que:

Não que professores de literatura, jornalistas, críticos literários e teóricos julguem de

antemão que o fato de serem as crônicas publicadas antes em jornais deverá

necessariamente privá-las de um estatuto artístico, mas esta peculiaridade no trajeto da

1 crônica parece requerer dos estudiosos a lembrança inevitável deste vínculo que a situa

num espaço intermediário, de caracterização intermediária. (1)

Assim, o fato da crônica ser primeiramente publicada em jornal somado ao de que o texto

jornalístico não é considerado obra literária (por não envolver o “estatuto artístico” apontado por

Simon) coloca a posição da crônica dentro da classificação de “gênero literário” em dúvida.

Apesar disto, adotarei a posição de incluí-la dentro deste grupo, mas com a restrição feita por

Antônio Cândido, dizendo que esta é de fato “um gênero menor” por não ter tanta relevância artística quanto outras manifestações literárias (“A vida ao rés do chão” 13).

Retomando a afirmação de Simon aqui citada, podemos ver claramente que existe uma

relação entre a crônica e o jornal, não só em suas características mútuas, mas também na relação

de dependência que a publicação periódica exerce sobre a crônica: este gênero literário menor

nunca existira sem o seu veículo (tal qual o romance brasileiro, que em suas primeiras estas era

publicado em jornais, capítulo por capítulo, o folhetim, mas este veio a desvencilhar-se dos

diários). Claro que existem muitas publicações de crônicas em livros também, mas estas,

necessariamente, passam antes pelas páginas dos jornais. Quanto a essa relação de dependência,

John Gledson, na introdução da coleção de crônicas de Machado de Assis intitulada Bons dias

anota:

De um ponto de vista mais puramente literário (ou de história literária), temos que

reconhecer que as crônicas não são puro jornalismo ou reportagem: são, como

frequentemente se tem dito, um misto híbrido de jornalismo e literatura, e, por essa razão,

foram e são confiadas a pessoas cujos interesses fundamentais eram literários – Alencar,

Bilac, Drummond, para mencionar apenas três casos brasileiros.(12)

2 Por serem confiadas aos nomes de peso da literatura brasileira, aqui apresentarei uma comparação entre o trabalho de dois escritores, um deles Machado de Assis, considerado um dos melhores da língua portuguesa até hoje, e João do Rio, um dos grandes narradores e personagens da belle époque carioca. Desenvolverei esta problemática mais adiante nesta introdução.

Sendo assim, como ao jornal, podemos dizer que o fator efemeridade também é pertinente à crônica. Etimologicamente, temos do grego a palavra “Khronos,” que significa

“tempo,” reforçando a idéia desta efemeridade da crônica, ligando-a a um momento, formando uma das principais características do gênero: interessa e trata de um assunto relevante ao período em que é produzido. Por isso os textos incluídos nesta classificação servem como uma ferramenta importante para o estudo de sociedades de tempos passados, por retratarem seus hábitos, realidade e muitas vezes também terem conteúdo político, o que pode nos ajudar a compreender o que se passava naquele local em termos de ideologias. Apesar disto, Gledson ressalta que a importância do gênero vai além do que normalmente se credita a ele, pois:

A existência de tais gêneros, sem sombra de dúvida literários, mas marginalmente

respeitáveis (e muito fluidos), permitiu aos escritores experimentarem, talvez sem

consciência do que estavam fazendo – já foi sugerido mais de uma vez que o ‘’milagre’’

das Memórias póstumas de Brás Cubas (1880) deve tanto a estas obras quanto a Sterne, a

Stendhal, ou a Maistre. (Bons Dias 12)

Portanto, a crônica não só é um gênero literário, como também é fundamental para o desenvolvimento do escritor em sua técnica.

A popularidade do gênero aqui discutido vem do fato de que o jornal, seu veículo principal, tem massiva distribuição na maioria dos níveis da sociedade, principalmente se comparando com a divulgação/distribuição de livros. Sendo as crônicas o tipo de texto literário

3 contido no jornal, estas obras necessariamente se inserem em um gênero destinado à leitura pelas

massas, o que invariavelmente lhes confere uma linguagem mais coloquial. Afinal, os textos

devem ser compreensíveis a todos, havendo grande variação no nível social e escolar de seus

receptores. Portanto, a crônica se aproxima em muito da oralidade, sendo mais coloquial que a

maioria das manifestações literárias, como se verifica neste trecho de “O segundo ,”

crônica de João do Rio, quando nos conta sobre um artigo seu que fora publicado no jornal A

cidade do Rio:

À noite eu vi o artigo idiota e cheio de gralhas. Ia pela Rua do Ouvidor, quase chorando

da minha mediocridade, e de repente parei aflito, sem poder falar. Patrocínio saía do

Pascoal com Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Menezes, outros. Teriam visto

meu artigo? Que haveriam dito, a Patrocínio, sempre tanto pela opinião deles? (Uma

antologia 115)

Aqui temos a impressão de que o autor nos fala direta e objetivamente, usando uma linguagem

mais informal e fazendo referências a pessoas que habitavam o cenário intelectual daquela época

(portanto confirmando o seu caráter de relevância a certo período).

Outra característica da crônica a ser ressaltada é a sua brevidade, pois esta tem como objetivo inserir-se na rápida leitura do jornal, assim como no muitas vezes breve espaço que lhe

é reservado. Esta característica, somada às outras aqui citadas (sua linguagem menos densa e ligação com fatos do cotidiano do leitor) conferem ao gênero um suposto aspecto de leveza.

No Brasil, a crônica vem sendo praticada desde o período do romantismo. Apesar disto, é

fato curioso o de não apontarem as cartas escritas pelos exploradores do Brasil colonial, assim como a de Pero Vaz de Caminha, como sendo uma forma de crônica. É fato que estas não eram veiculadas em jornais, mas continham muitas características similares às do gênero aqui

4 analisado, pois, como pode ser facilmente observado, tratavam de uma descrição da nova

sociedade encontrada pelos navegadores lusos, sendo assim, criando a relevância ao homem de

seu tempo e local (no caso Portugal), ligando-as inevitavelmente a estes. Podemos especular que

a crônica popular foi iniciada no Brasil quando houve a implantação da imprensa, fato que teve

como seu motivo a transferência da família real à colônia portuguesa nas Américas na primeira

década do século XIX. Desde então, muitos dos mais importantes escritores brasileiros se

dedicaram parcialmente ao gênero, entre eles o maior autor do Romantismo, José de Alencar.

Atualmente a crônica ocupa boa parte dos jornais, tendo grandes e populares cronistas como Luís

Fernando Veríssimo e Martha Medeiros, entre outros.

Nos primórdios, a crônica era escrita em forma de folhetim, assim como definido por

João Roberto Faria, no prefácio de Crônicas escolhidas - José de Alencar (1995):

Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem

hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da

primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os

principais fatos da semana, fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos

ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único

folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do

espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na bolsa e a descrição de

um baile no cassino. (11)

Aqui podemos notar a semelhança entre a crônica e o romance, uma vez que ambos eram

veiculados neste mesmo folhetim. Uma das diferenças que podem ser apontadas entre estes 2

gêneros é a de que a crônica tinha um fim, já o romance alongava-se por muitas edições do jornal.

5 Com o avanço do tempo e também da literatura em si, estas características da crônica

mudaram um pouco e o gênero perdeu um pouco de sua extensão. Assim como o pensamento do

homem avança, a literatura acompanha. Por conseqüência, a crônica sofreu mudanças em sua

forma e conteúdo, portanto evoluindo, adaptando-se à realidade de seu momento.

A transferência da família real portuguesa ao Brasil gerou muitos benefícios à colônia,

como a abertura dos portos, a fundação do Banco do Brasil, a criação dos tribunais das Finanças

e da Justiça, a permissão para a instalação de indústrias, a inauguração da Biblioteca Nacional e a

já citada implantação da imprensa. O efeito destas mudanças foi a emergência do Rio de Janeiro

como centro cultural e político no Brasil colonial.

Seguindo a época do Romantismo, esta tendo José de Alencar como seu maior cronista (e

romancista), veio o Realismo/Naturalismo que tem como expressão máxima o escritor Machado

de Assis, até hoje considerado um dos maiores, se não o maior escritor do Brasil. Machado de

Assis também se dedicou ao gênero da crônica, contribuindo com muitos jornais. Em suas

crônicas, assim como em seus romances, temos um retrato fiel da sociedade do Rio de Janeiro da

época.

Após o Realismo/Naturalismo brasileiro veio o Pré-modernismo. Este não configura um

momento literário por si, mas apenas uma ponte entre o que o antecede e o que o sucede, o

Modernismo, iniciado pela Semana de 22. No período Pré-modernista a cidade do Rio de Janeiro

continua sendo o grande centro político-cultural brasileiro, tendo então o cronista João do Rio como grande personagem e narrador desta história. Cabe a este cronista, de certa forma, a continuação do trabalho iniciado por Machado de Assis, uma vez que a matéria-prima usada por ambos é a mesma: a cidade do Rio de Janeiro.

6 O objetivo deste trabalho é, então, apontar esta continuidade ocorrida no gênero da crônica nos poucos anos que separam estes dois autores (Machado de Assis e João do Rio).

Neste período ocorreram algumas mudanças, o que se reflete no modo em que os autores tratam de assuntos como a religião, a situação política do país e a cidade do Rio de Janeiro em si, sendo esta o motivo para a escolha dos autores aqui analisados. Apesar de pertencerem a 2 momentos distintos, existe um claro aspecto de continuidade na documentação dos hábitos da sociedade carioca quando analisamos as obras destes escritores lado a lado.

Muito existe escrito sobre a obra de Machado de Assis, mas suas crônicas não são muito divulgadas, pois, como já comentado anteriormente, este é um gênero efêmero, conseqüentemente, quando posto ao lado de suas obras classificadas como romances, tornam-se relativamentei irrelevantes aos olhos do leitor comum (apesar de terem um papel fundamental no desenvolvimento da obra Machadiana). Já João do Rio, um escritor muito menos popular e com sua obra consistindo basicamente de crônicas, veio a cair no ostracismo para o grande público da atualidade.

Para apontar possíveis semelhanças ou diferenças porei a obra dos dois autores lado a lado, levando em conta a maneira com que certos assuntos são abordados por ambos, relevando suas semelhanças e diferenças e a influência do pensamento vigente em cada época. Aqui analisarei crônicas de três coletâneas de Machado de Assis: Bons Dias, textos inicialmente publicados em coluna de mesmo título iniciada em 1883 e posteriormente reunidas em volume editado por Gledson, Machado de Assis – Crônicas, editada por Eugênio Gomes; e A Semana, grupo de textos publicados em coluna homônima que começou a ser publicada em 1892. Já da obra de João do Rio, examinei várias coletâneas compostas pelo autor ainda em vida, assim como A alma encantadora das ruas, de 1908, As religiões do Rio, de 1904 e Vida vertiginosa de

7 1911. Antes de discutir a literatura, é pertinente que tenhamos uma introdução aos autores e seus momentos.

8

CAPÍTULO 2

Os Autores e Seus Respectivos Momentos

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 na cidade do Rio de

Janeiro e faleceu no ano de 1908 na mesma cidade após compor muitos dos grandes clássicos da literatura brasileira. Entre as suas obras primas estão os romances Memórias póstumas de Brás

Cubas, com o seu famosíssimo defunto autor, que narra sua própria história diretamente do mundo dos mortos, e , com a não menos famosa traição da personagem feminina

Capitu, sobre a qual o leitor não tem certeza se acontece, gerando, até hoje, debates sobre o assunto. Sendo de origem humilde e mulato, Machado de Assis não teve acesso à melhor educação, apenas à escola primária. Iniciou sua carreira precocemente trabalhando para a tipografia nacional, de onde foi crescendo e começando gradativamente a dar sua contribuição a jornais com crônicas e poesias. Ao longo de sua vida teve seus textos publicados no Correio mercantil, Diário do Rio de Janeiro, e outros jornais. Entre um dos feitos de sua carreira intelectual está a participação na fundação da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupava a cadeira de número 23.

A obra Machadiana é dividida em duas fases: a primeira Romântica e a segunda Realista.

É dentro da fase realista onde se inserem os romances mais importantes produzidos por este autor, sendo Memórias Póstumas de Brás Cubas apontado como o grande precursor desta escola literária. A produção de Machado de Assis aconteceu no século XIX, começando em 1855,

9 quando teve um de seus poemas publicados em uma revista da então capital brasileira, o Rio de

Janeiro. Assim vemos que a ligação com publicações periódicas sempre aconteceu.

Diferentemente de sua obra no gênero do romance, as crônicas de Machado são divididas em quatro fases, estas enumeradas por Eugênio Gomes, na introdução de Machado de Assis –

Crônicas como sendo as seguintesii:

I. 1861 – 1867: “Comentários da Semana” (Gil e M.A.); “Crônicas” (Machado de Assis);

“Correspondência da Imprensa Acadêmica” (Sileno); “Ao Acaso” (M.A.); e “Cartas

Fluminenses” (Job). II. 1876-1878: “Histórias de Quinze Dias” e “Histórias de Trinta

Dias” (Manassés); “Notas Semanais” (Eleazar). III. 1883 – 1889: “Balas de Estalo”

(Lélio); “A B” (João das Regras); “Gazeta de Holanda”, em versos (Malvolio) e “Bons

Dias” (Boas Noites). IV. 1892 – 1900: “A Semana”, sem assinatura. (9)

Gomes anota que esta divisão da obra de crônica de Machado de Assis se dá por uma “tonalidade psicológica” assim como pelo estilo, sendo as pertencentes às fases iniciais reflexos das mesmas influências da poesia, mais “afáveis,” e as das fases finais mais “petulantes e zombeteiras,” fornecendo o material para análise aqui intentada.

Assim, podemos dizer que a obra de crônica Machadiana, cronologicamente, abrange o período do realismo, sucessor do Romantismo na linha do tempo das escolas literárias brasileiras, e termina antes do início do Pré-modernismo, movimento que tem seu início apontado ao ano de 1902, com a publicação de Os Sertões de . Outro fato a ser ressaltado é a gama de pseudônimosiii utilizados por Machado de Assis durante sua carreira, tendo poucas colunas assinadas com seu nome real.

Com o avanço da tecnologia e ascensão da burguesia ao poder, o homem do Realismo adota uma postura diferente de seus antecessores em relação ao mundo, fazendo o habitual

10 movimento pendular (quebrado pelo Modernismo) da ideologia da literatura brasileira. Então, se

o Romantista tinha uma visão espiritualista e idealista, o Realista tinha uma visão cientificista e

materialista, o que se liga ao positivismo, ao viver prático, filosofia em voga neste momento. O

Realista muitas vezes demonstra pessimismo diante da humanidade.

Outros fatos importantes deste período foram a abolição da escravatura com a lei áurea

em 1888, a conseqüente chegada de imigrantes europeus para repor a mão de obra escrava que

fora libertada, a implantação do telégrafo, e certa expansão populacional brasileira, quando zonas

antes não habitadas foram ocupadas, fato que se tornou possível através do êxito da lavoura

cafeeira. Outro fato relevante do período, este não só relacionado com o estilo da época, mas

com o gênero da crônica também, foi o aperfeiçoamento da imprensa que havia surgido durante

o romantismo. Assim, conseqüentemente surgiram os primeiros jornais de publicação freqüente,

explicando então o motivo da prática mais assídua da crônica neste período.

A literatura é, nas suas manifestações diversas, um reflexo do pensamento de uma época.

O período Realista não é exceção. O Realismo adere às filosofias que eram correntes em seus

anos, tal qual o já citado positivismo. Com o nome auto-explicativo, esta escola literária visava

retratar a realidade objetivamente, com isso fazia clara oposição ao Romantismo e toda a sua

subjetividade e idealização. Quanto à linguagem, naturalmente o Realista (seguindo a sua tendência à objetividade) é mais direta que o seu antecessor (uma vez que apresentava a realidade de forma mais direta). Podemos então concluir que a atmosfera em que Machado de

Assis desenvolveu sua obra era muito propícia ao desenvolvimento da crônica, uma vez que o momento tinha como objetivo, de certa forma, retratar a sociedade do tempo em que é escrita, não se preocupando com outras épocas.

11 A cidade do Rio de Janeiro mostrada nas crônicas de Machado de Assis está, portanto,

em desenvolvimento, sendo uma grande metrópole e centro cultural, fator este que facilita (e

impulsiona) a comparação que viso aqui fazer, sendo esta com o autor João do Rio, pseudônimo

de João Paulo Alberto Coelho Barreto.

João Paulo Barreto nasceu na cidade do Rio de Janeiro, assim como Machado de Assis,

no ano de 1881. Começou sua carreira jornalística aos dezessete anos, mas foi no ano de 1900,

que ganhou fama, ao escrever as reportagens que primeiramente saíram na Gazeta de Notícias, e

posteriormente foram englobadas no volume As Religiões do Rio, obra em que o autor traça um

perfil da religiosidade na então capital brasileira, mostrando a faceta do sincretismo religioso que

imperava (e até hoje impera) no país. Após muitas outras publicações, em 1910, entrou para a

Academia Brasileira de Letras. Veio a falecer em 1921, na mesma cidade em que nascera.

Apesar de ter produzido obras em gêneros literários variados como peças de teatro e romances, é

na crônica que se encontra a parte mais importante da obra de João do Rio, sendo ele um

narrador da época em que se insere, a conhecida como belle époque carioca, as primeiras

décadas do século XX.

Quanto a seu estilo, é frequentemente dito que é difícil identificar a fronteira entre

jornalismo e literatura. Luís Martins em João do Rio: A Vida, O Homem, A Obra, texto que abre uma antologia de crônicas e ensaios do autor, descreve a escritura de João do Rio dizendo que:

Seu estilo reflete a écriture artiste, no excesso de brilho, na perpétua cintilação de

lantejoulas verbais, em certas tiradas de gosto duvidoso, a que não foram imunes outras

brilhantes figuras do período, como Euclides da Cunha, e Raul Pompéia.

Por influência de Oscar Wilde, de quem foi um dos primeiros leitores e vulgarizadores no

12 Brasil, cultivava o paradoxo – e por influência de Eça de Queiroz, a ironia e a sátira, com

tonalidade de humour. (13)

João do Rio se insere no momento pré-modernista da literatura brasileira. Este período não chega a configurar uma escola literária em si, servindo como uma espécie de ponte entre a escola

Realista e o Modernismo, iniciado em 1922 com a semana de arte moderna. O acontecimento que marcou o início do pré-modernismo, como já apontado aqui anteriormente, foi a publicação de Os Sertões de Euclides da Cunha, em 1902. Sergius Gonzaga, em seu site destinado à

literatura brasileira, define este momento dizendo que:

Por causa do ecletismo da época - em que várias correntes e estilos se chocam e

confundem, e vários autores apresentam uma mescla de academicismo e inovação -

torna-se quase impossível rotular o período, enfeixá-lo dentro de um conceito abrangente

e único. A necessidade pedagógica de uma designação para estas duas décadas que

antecedem a Semana, levou o crítico Alceu de Amoroso Lima - já nos anos de 1950 - à

criação do termo pré-modernismo. Trata-se de um conceito que não abarca a

complexidade estética e ideológica das obras produzidas então. Contudo, exigências

didáticas e ausência de outra classificação satisfatória terminaram cristalizando a

proposta daquele historiador literário. E assim, pré-modernismo passou a indicar todos os

textos neo-realistas, as interpretações do Brasil e a poesia anunciadora da rebelião

vanguardista.

Enfim, é apenas um istmo entre o realismo e o modernismo, quando encontramos resíduos de um

e o prenúncio do outro.

Tomando parte nas duas primeiras décadas do século XX, este momento foi um de

intensas mudanças no Brasil, com avanço tecnológico e social. Agora a cidade do Rio de Janeiro,

13 a então capital, torna-se um grande pólo nacional. Nicolau Sevcenko, em “A capital irradiante: técnica, ritmos e ritos do Rio”, publicado no volume História da vida privada no Brasil vol. 3 descreve esta época dizendo que:

No Brasil, no período estudado, esse papel de metrópole-modelo recai sem dúvida sobre

o Rio de Janeiro, sede do governo, centro cultural, maior porto, maior cidade e cartão de

visita do país, atraindo tanto estrangeiros quanto nacionais. O desenvolvimento dos novos

meios de comunicação, telegrafia sem-fio, telefone, os meios de transporte movidos a

derivados de petróleo, a aviação, a imprensa ilustrada, a indústria fonográfica, o rádio e o

cinema intensificarão esse papel da capital da república, tornando-a eixo de irradiação e

caixa de ressonância das grandes transformações em marcha pelo mundo, assim como no

palco de sua visibilidade e atuação em território brasileiro. O Rio passa a ditar não só as

novas modas e comportamentos, mas acima de tudo os sistemas de valores, o modo de

vida, a sensibilidade, o estado de espírito e as disposições pulsionais que articulam a

modernidade como uma experiência existencial e íntima. (522)

É sob este espírito descrito por Sevcenko que João do Rio vai desenvolver seu trabalho de cronista, assim como, em parte, Machado de Assis. Assim, agora cabe a análise de tópicos relacionados à crônica de ambos os autores.

14

CAPÍTULO 3

As Crônicas

Apresentados os autores e seus respectivos momentos, é necessário agora abordar suas crônicas, para então apontar as diferenças e similaridades nelas contidas. Aqui vou optar por dividir a análise em diferentes tópicos, iniciando pela linguagem, seguindo com a forma que os autores retratam a cidade do Rio de Janeiro de sua época, mais especificamente a Rua do

Ouvidor, local na cidade que era muito movimentado devido à sua importância como centro cultural, assim como de negócios, a forma com que se referem à religião, uma das grandes peculiaridades da sociedade brasileira; e, finalmente, à tecnologia que tanto avançava naqueles tempos, consequentemente os marcando.

A Linguagem

A linguagem utilizada por Machado de Assis e João do Rio em suas crônicas possui muitas similaridades, aproximando-se até da observável nas crônicas da atualidade: como apontado anteriormente, neste gênero temos uma proximidade maior da escrita com a oralidade, sendo assim, a linguagem se apresenta de forma mais informal, podendo retomar o exemplo citado na primeira parte deste trabalho como ilustrativo da linguagem de João do Rio e, consequentemente, a típica encontrada no gênero.

15 Algo que podemos observar, porém, é que em Machado de Assis existe muita diferença

na forma em que são escritas as crônicas e os romances, sendo os textos pertencentes ao gênero

aqui em questão muito mais objetivos e “secos,” enquanto seus romances apresentam um

vocabulário mais sofisticado, consequentemente gerando um texto de certa forma mais

trabalhado. Tal decréscimo de formalidade não é observável (ou então claro) em João do Rio.

Seus romances são dotados de uma objetividade razoavelmente similar à de suas crônicas, como

observável em A correspondência de uma estação de cura, publicado em 1918. Uma das

possíveis razões para tal fato pode ser os espíritos das épocas dos autores, sendo João do Rio

inserido em uma sociedade mais “rápida” que a de Machado de Assis, devido a seus avanços

tecnológicos que acabaram por gerar um ritmo mais acelerado no cotidiano, avanços como os

citados por Sevcenko (o telefone, o carro, entre outros.). Não convém agora discorrer sobre este tópico, pois o abordarei mais adiante neste trabalho.

Outro aspecto relevante a ser comentado com relação à linguagem é o constante uso de

estrangeirismos por Machado de Assis, inclusive através de citações, como na crônica publicada em 19 de junho de 1882 e recolhida na antologia de Eugênio Gomes. Aqui o autor faz menção a uma canção popular citando “Si cette historie vous embête/Nous allons la recommencer”(20). O uso da língua francesa é mais freqüente que o do inglês, que existe também e muitas vezes se resume a uma simples palavra, como na crônica publicada em 26 de julho de 1896 e presente na mesma antologia, quando a autor diz “O ideal da praxe é a cabeleira do speaker” (89). Isto é explicável pelo ambiente sócio-político da época, quando a França ainda possuía um papel central como potência econômica e pólo cultural e a influência dos países falantes da língua inglesa era crescente.

16 O que se observa neste aspecto em relação a João do Rio é algo oposto a Machado de

Assis, pois os estrangeirismos da língua inglesa são muito mais freqüentes no pré-modernista

(apesar de, como em Machado, estes consistirem muitas vezes em só uma palavra ou expressão), como pode ser ilustrado pela crônica intitulada “O que ensinam os dias,” que abre a coleção Os dias passam, quando o autor se utiliza duas vezes do idioma inglês (“denomina o ‘spleen’ da luz” (11) e “querendo impor o ’self-controle’ e o livre arbítrio” (16)) e apenas uma vez do idioma franco (“dias ‘jeunes-filles’ em que sujeitos” (15)). Além do uso de expressões estrangeiras por ambos os autores, é também observável a presença de citações do latim, provável resultado de sua erudição. Apesar disto, estas são consideravelmente menos freqüentes que as outras aqui mencionadas.

Certo que muito disso pode ser fruto do estilo do autor, refletindo suas preferências na

hora de escrever, mas com certeza existe presente aqui o papel do momento sócio-político

mundial, como já referido: existiu o deslocamento de eixo do mundo, quando a França

abandonou a posição de ‘’centro do mundo.’’ Com o final da primeira guerra mundial aconteceu

a ascensão dos Estados Unidos como grande potência mundial e a imposição do “American way

of life,” fato que invariavelmente teve impacto na obra do autor mais recente que se encontra

aqui analisado.

A Cidade do Rio de Janeiro: a Rua do Ouvidor

Um fator que contribui com a comparação aqui intentada é o fato dos dois autores em

questão serem narradores dos acontecimentos da cidade do Rio de Janeiro de seu tempo,

mostrando a seus leitores as paisagens, as cores e os personagens da cidade em seus respectivos

17 momentos. Esta análise torna-se ainda mais simples quando se tratando de João do Rio, pois é

possível encontrar no volume intitulado A alma encantadora das ruas, de 1908, que faz uma espécie de retrato da capital da época.

Uma referência freqüente por parte de Machado de Assis em suas crônicas é a Rua do

Ouvidor, situada no centro do Rio de Janeiro. Alguns exemplos podem ser encontrados no

volume Bons Dias, que reúne crônicas escritas pelo autor na coluna de mesmo título que se inicia

em 1888. Assim, na crônica do dia 27 de abril de 1888 há a primeira menção a esta rua quando

Machado diz ‘‘...a minha rua habitual é a do Ouvidor, onde a gente é tanta e tais as palestras, que não há tempo nem espaço...’’ (49) já passando a idéia de ser uma rua muito movimentada, frenética, um dos eixos da cidade do Rio de Janeiro. Esta idéia do movimento intenso nesta rua é reforçado na crônica de 13 de janeiro de 1889, quando Machado faz menção ao caso de duas meninas que morreram envenenadas no Rio de Janeiro, devido à imperícia do farmacêutico que expediu a receita de seu remédio. Machado menciona que usaria seus conhecimentos de hipnose

(assunto tratado nesta crônica em forma de piada, com o autor dizendo “Eu, se fosse gatuno, recolhia-me à casa, abria mão de vício tão hediondo, e ia estudar hipnotismo”) e exporia o vidro do remédio, com a receita, na Rua do Ouvidor, “a dois tostões por pessoa”(148-149).

Em outra referência a esta rua, na crônica do dia 21 de janeiro de 1889, Machado reforça

a importância desta rua ao dizer que “Naturalmente, cansadas as pernas, meto-me no primeiro

bonde, que pode trazer-me à casa ou à Rua do Ouvidor, que é onde todos moramos” (151). O

fato de esta ser a rua “onde todos moramos” aponta a sua importância, como se dizendo que

todos tem algum tipo de ligação com este logradouro. Assim, todas as referências ressaltam o

movimento e relevância da rua como um centro cultural e comercial. Em A semana encontra-se

uma forte referência à importância da Rua do Ouvidor, na crônica publicada no dia 22 de janeiro

18 de 1893, quando Machado discute o fato de que a cidade do Rio de Janeiro era a capital tanto da república quanto da província, comparando com a Buenos Aires, que aparentemente também ocupava a posição de capital da província e da federação, dizendo que “Trata-se de mudar a capital do Rio de Janeiro para outra cidade que não fique sendo um prolongamento da Rua do

Ouvidor” (42). Assim, mais uma vez a importância da Rua do Ouvidor fica óbvia, afinal, como apontado por Machado, a cidade do Rio de Janeiro é um prolongamento do logradouro aqui em questão.

João do Rio faz menção à mesma rua logo no texto que abre a coleção de crônicas intitulada “A alma encantadora das Ruas” dizendo que:

É a fanfarrona em pessoa, exagerando, mentindo, tomando parte em tudo, mas

desertando, correndo os taipais das monstras à mais leve sombra de perigo. Esse beco

inferno de pose, de vaidade, de inveja, tem a especialidade da bravata. E, fatalmente

oposicionista, criou o boato, o ‘diz-se...’ aterrador e o ‘fecha-fecha’ prudente. Começou

por chamar-se Desvio do Mar. Por ela continua a passar para todos os desvios muita

gente boa. No tempo em que os seus melhores prédios se alugavam modestamente por

dez mil-réis, era a rua do Gadelha. Podia ser ainda a rua dos Gadelhas, atendendo ao

número prodigioso de poetas e nefelibatas que a infestam de cabelos e de versos. Um dia

resolveu chamar-se do Ouvidor sem que o Senado da Câmara fosse ouvido. Chamou-se,

como calunia e elogia, como insulta e aplaude, porque era preciso denominar o lugar em

que todos falam de lugar do que ouve; e parece que cada nome usado foi como a

antecipação moral de um dos aspectos atuais dessa irresponsável artéria da futilidade.

(24)

19 Aqui vemos que João do Rio representa as mesmas características que Machado, porém ressalta outro lado: o das facetas da rua. Neste mesmo volume a rua é mencionada diversas vezes, sempre tendo o seu movimento intenso ressaltado, como na crônica intitulada “As mariposas de luxo,” quando diz “É a hora indecisa em que o dia parece acabar e o movimento febril da Rua do

Ouvidor relaxa-se.’’A Rua do Ouvidor aparece em muitas outras ocasiões na obra de João do

Rio, sendo freqüente palco para suas histórias.

Assim, ao tratar da mesma rua, ambos os autores fazem referência ao movimento intenso e à importância da rua, que aparentemente não foi muito alterada nos anos em que os separam.

Talvez por tomar mais tempo em sua descrição e por publicar crônica com a intenção de descrever a alma das ruas do Rio de Janeiro, João do Rio acaba por atribuir uma personalidade à rua, tornando sua abordagem muito mais rica, quando em Machado temos apenas algumas referências espalhadas em suas páginas.

A Religião

A religião é um dos aspectos peculiares da sociedade brasileira, quando esta aceita perfeitamente o sincretismo, permitindo práticas variadas por uma mesma pessoa, podendo até misturar, por exemplo, o catolicismo e o espiritismo sem maiores conflitos, e muitas diferentes manifestações religiosas convivem em harmonia, desde as religiões de descendência africana até o catolicismo e outras manifestações mais comuns por todo o mundo. Esta análise, assim como a da cidade do Rio de Janeiro, é fácil quando se tratando de João do Rio, pois existe a coleção de crônicas intitulada As religiões do Rio, em que para produzi-las, o autor visitou diferentes lugares onde várias religiões eram (e talvez até hoje ainda sejam) praticadas na cidade, entrevistando

20 pessoas e documentando tudo, criando uma espécie de mapa religioso da então capital e maior pólo cultural do Brasil.

Ao tratar deste assunto, porém, Machado de Assis algumas vezes se mostra irônico,

fazendo brincadeiras com o assunto, existindo na maioria das vezes um tom sarcástico. Um

exemplo de como Machado vem a tratar tal assunto se encontra em seu famoso romance

Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o defunto autor faz um balanço de sua vida, falando

diretamente do mundo dos mortos com muita ironia e sarcasmo. Em suas crônicas temos como

exemplo a publicada na data de 19 de junho de 1892 em A semana, quando Machado faz alusão

à história bíblica de Adão e Eva em um tom chistoso, discorrendo sobre a origem do bocejo de

forma machista, dizendo “Quem inventou o bocejo, excluindo naturalmente o Criador, que, em

verdade, não há de ter visto sem algum tédio as impaciências de Eva?’’ (18). Em outra crônica,

esta do dia 4 de setembro de 1892, Machado de Assis faz referência ao “evangelho do diabo”,

ainda elogiando tal texto, dizendo que “Nem sempre respondo por papéis velhos; mas aqui está

um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo texto que é substancial” (24). Daí, o autor segue

a citar o conteúdo do texto, que nada mais é que (como caracterizado na crônica) ‘‘um sermão da

montanha, à maneira de S. Mateus’’(24). Mais adiante na mesma crônica faz uma discreta

menção a espíritos à Brás Cubas dizendo que “Já agora parece que estou em dia de fantasmas.

Mal pingava o ponto final do outro parágrafo, quando me apareceu um senhor, que me disse ser

defunto e haver se chamado Barão Louis” (28). Já na crônica do dia 24 de janeiro de 1897,

Machado faz uma menção a várias figuras do clero, impulsionado pela morte de um cardeal.

Assim, uma crônica que poderia ter imensa significação religiosa, torna-se um comentário sobre

a vida de religiosos da época, contendo pouca ou nenhuma espiritualidade ou religiosidade.

21 Portanto, analisando o tópico “religião” nas crônicas de Machado de Assis, vemos que este tópico não é tratado com fascínio ou qualquer forma de devoção, sendo muitas vezes referida com certo sarcasmo, sem a preocupação de fazer qualquer idealização. Com isto,

Machado faz uma crítica até certo ponto sutil a forma com que a religião era tratada no fim do século XIX.

A crônica sobre religião de João do Rio encontra-se reunida sob o título As religiões do

Rio. Estes textos (por vezes referidos como as primeiras crônicas reportagens, o que representa um dos grandes feitos de João do Rio quanto ao gênero) foram inicialmente publicados no jornal

Gazeta de notícias. Sobre o processo utilizado pelo autor para compor a obra, Luís Martins cita

Brito Broca na edição desta obra publicada em 1976 dizendo que “Era [informa Brito Broca] um processo desconhecido de buscar e apresentar a informação, um modo ignorado de impressionar e esclarecer o público”(9). Assim, aqui encontramos o início de uma nova visão da crônica, quando o cronista também desenvolvia uma pesquisa de campo. Este fato consequentemente atribui ao trabalho de João do Rio sobre este tópico um aspecto mais parcial e jornalístico quando levamos em conta a opinião do autor, uma vez que seu objetivo é a exposição dos fatos.

Logo na introdução de João do Rio para este apanhado de crônicas já é ressaltada a diversidade de credo do país dizendo que:

Ao ler os grandes diários, imagina a gente que está num país essencialmente católico,

onde alguns matemáticos são positivistas. Entretanto, a cidade pulula de religiões. Basta

parar em qualquer esquina, interrogar. A diversidade dos cultos espantar-vos-á. São

swendeborgeanos, pagãos literários, fisólatras, defensores de dogmas exóticos, autores de

reformas da Vida, reveladores do Futuro, amantes do Diabo, bebedores de sangue,

22 descendentes da rainha de Sabá, judeus, cismáticos, espíritas, babalaôs de lagos, mulheres

que respeitam o oceano, todos os cultos, todas as crenças, todas as forças do Susto. (17)

E mais adiante, quando se tratando dos evangélicos da época, justifica toda esta lista dizendo que

“O Brasil sempre foi um centro de reunião de colônias diversas praticando as suas crenças com a mais inteira liberdade” (80).

Nas crônicas da obra aqui em questão, como já dito anteriormente, João do Rio muitas vezes se abstém de dar opinião. Parte disso é devido ao modo com que este optou em organizá- las: são como diálogos com um representante do credo sendo investigado, como por exemplo, o negro Antônio, com o qual conversa quando investigando sobre os feiticeiros, e o Rev. Marques, dos evangélicos. Estes diálogos são cortados somente por algumas observações sobre trivialidades, como os lugares pelos quais passavam durante a entrevista ou qualquer informação que possa complementar o diálogo que acontece, assim como suas impressões sobre os entrevistados. Um exemplo disto é quando João do Rio vai à casa de Álvaro Reis, um dos líderes da Igreja Presbiteriana, e este havia saído, assim, o autor se junta a um grupo de devotos que ali se encontrava para buscar mais informação sobre tal culto. Após perguntar sobre a existência de jornais os homens lhe mostram a biblioteca do dono da casa, ao qual, entre falas no diálogo, João do Rio comenta sobre sua impressão do lugar escrevendo que “Entramos na biblioteca de Álvaro

Reis, uma sala confortável, forrada de altas estantes de canela. Por toda a parte, em ordem, livros, papéis, brochuras, cartas, fotografias” (A igreja presbiteriana 89). Comentários como este cortam os diálogos no de As religiões do Rio, sendo uma das únicas formas para João do Rio expressar suas impressões. Poucas vezes manifesta qualquer opinião.

Apesar disto, existem algumas situações quando o autor decide não se omitir, como quando falando sobre os satanistas, mais especificamente sobre um homem chamado Saião:

23 Saião é um doente. Atordoa-o a loucura sensual. Faceirando entre os molhos de ervas,

cuja propriedade quase sempre desconhece, o ambíguo homem discorre, com gestos

megalômanos, das mortes e das curas que tem feito, dos seus amores e do assédio das

mulheres em torno da sua graça. A conversa de Saião é um coleio de lesmas com urtigas.

Quando fala cuspinhando, os olhitos atacados de satiriasis, tem a gente vontade de

espancá-lo. (“Os Satanistas” 113)

Aqui fica clara a desaprovação de João do Rio quanto à pessoa em questão, uma vez que sente até vontade de agredi-lo, considerando-o desagradável. Este comentário que se insere no início da crônica que trata dos Satanistas é um dos raros exemplos claros da opinião do escritor sobre uma religião.

Assim, temos duas posições diferentes ao tratar do mesmo assunto: a de Machado de

Assis, mais crítica e sarcástica, chegando até a utilizar a religião para pilhéria, e a de João do

Rio, mais documental e respeitosa. O tratamento que o autor pré-modernista deu a este assunto é o marco de um novo tipo de crônica no Brasil, sendo este um dos aspectos mais relevantes de sua obra, assim como parte importantíssima de seu legado ao jornalismo brasileiro atual.

Também podemos ressaltar o fato de João do Rio dar a seus leitores uma visão mais global das religiões no Rio de Janeiro, enquanto Machado de Assis concentra suas reflexões (ou críticas) no catolicismo ou espiritismo. Através dos trabalhos de ambos os escritores a visão de

Machado sobre o tópico torna-se mais clara do que a de João do Rio.

24 A Tecnologia e Seus Impactos na Sociedade

A tecnologia tem um papel fundamental na sociedade atual, e, como já mencionado, não

era diferente durante as épocas tratadas aqui. O fim do século XIX e o início do século XX foram

marcados por algumas das maiores e mais importantes invenções para o homem atual, como o

carro, o rádio e o zepelim, uma gigantesca máquina voadora. Sobre a forma com que os autores aqui em questão trataram este tópico, Nicolau Sevcenko, anota que:

Machado e João do Rio são vias privilegiadas para captar a força e as ressonâncias do

impacto tecnológico. Cada um atua como um sensor de registro diferente mas que se

completam às maravilhas. Machado, mais velho, cuja sensibilidade se formou no cenário

das instituições imperiais, assinala o ímpeto e a velocidade das mudanças, a surpresa dos

seus contemporâneos e as resistências erguidas como meios de defesa contra o fluxo que

a tudo parecia levar de roldão. João do Rio, mais jovem, cujas possibilidades de carreira

se abriram com o advento da República, assinala a ampla difusão, os efeitos de

mitificação e os modos de celebração entusiasmados dessas mudanças vertiginosas. (523-

24)

Completam-se, pois como apontado a seguir, ambos acusam a tecnologia de ter o mesmo

impacto sobre a vida do homem da época: a diminuição do tempo, gerada pela facilidade que tais

evoluções possibilitam, como o transporte e a difusão de notícias.

Apesar disto, em Machado de Assis o fascínio pela evolução tecnológica não é tão grande

quanto em João do Rio. Na crônica do dia 25 de março de 1894, publicada em A semana,

Machado faz algumas divagações sobre a forma com que a sociedade se desenvolvia em torno

dos avanços. O principal aspecto ressaltado é o tempo e a sua relativa diminuição. Disse o autor:

25 Mas então que é o tempo? É a brisa fresca e preguiçosa de outros anos, ou este tufão

impetuoso que parece apostar com a eletricidade? Não há dúvida que os relógios, depois

da morte de López, andam muito mais depressa. Antigamente tinham o andar próprio de

uma quadra em que as notícias de Ouro Preto gastavam cinco dias para chegar ao Rio de

Janeiro (90).

O que segue nesta crônica é uma comparação do tempo de Machado de Assis com o de

quem ele se refere como seu sucessor de 1920, dizendo que “As semanas santas de outro tempo eram, antes de tudo, muito mais compridas” (91). Outra frase que pode ajudar a revelar a negatividade na visão do autor sobre o futuro é “Tenho mais critério que meu sucessor de 1920”

(91). Através destas declarações, o autor demonstra nostalgia pelos tempos passados, afinal a atualidade é comparada com o “tufão impetuoso”, ressaltando que tudo está se tornando mais rápido em sua atualidade. Machado se mostra desiludido quanto ao avanço tecnológico que faz com que o tempo se vá muito mais rápido.

Oposto a Machado de Assis, João do Rio demonstra fascínio quanto ao avanço tecnológico, este ficando mais aparente em suas crônicas do que nas de seu colega do século

XIX, fato espelhado especialmente em dois textos publicados inicialmente em Vida vertiginosa e

depois republicados em Uma antologia: “A era do automóvel” e “O dia de um homem em

1920”. No primeiro, o autor abre a discussão apontando o impacto da chegada do automóvel no

Brasil dizendo “E, SUBITAMENTE, é a era do automóvel. O monstro transformador irrompeu,

bufando, por entre os descombros da cidade velha, e como nas mágicas e na natureza, aspérrima

educadora, tudo transformou com aparências novas e novas aspirações” (47) e segue dizendo que

o carro teve impacto também no tempo, pois foram criadas muitas abreviações junto com o

mesmo, pois “Um artigo de 200 linhas escreve-se em 20 quase, estenografado. Assim como

26 encurta o tempo e distâncias no espaço, o automóvel encurta o tempo e papel na escrita” (49).

Então vemos que João do Rio considerava que o impacto do automóvel na sociedade não se

restringia ao transporte, mas também agia sobre a língua, gerando abreviações. Curioso aqui é o

fato de que a crônica, como já apontado, também se tornou mais breve com o tempo. Este pode ser mais um dos reflexos desta vida mais rápida que o automóvel acabou por impor tanto ao homem da época de João do Rio quanto ao de hoje.

Mais curioso, porém, é o modo com que João do Rio vê o homem de 1920 no segundo

texto mencionado acima. Diz o subtítulo desta crônica que sua produção aconteceu no ano de

1910, ou seja, apenas dez anos antes da previsão futurística do autor. Com este aumento na velocidade do cotidiano causado pelo carro, pelo telefone, e todos os avanços tecnológicos, esta crônica descreve um estilo de vida frenético, quando o homem vai dormir às três horas da manhã e se acorda às seis da manhã com a sensação de já estar atrasado. Aqui também podemos encontrar uma crítica ao capitalismo, quando é descrito o trabalho deste homem do futuro, apresentado com o nome “Homem Superior:”

[...] é presidente de 50 companhias, diretor de três estabelecimentos de negociações

lícitas, intendente-geral da Compra de Propinas, chefe do célebre jornal Eletro Rápido,

com uma edição diária de seis milhões de telenógrafos a domicílio, fora os 40 mil

fonógrafos informadores das praças e a rede gigantesca que ligas as principais capitais do

mundo em agências colossais. Não se conversa. O sistema de palavras é por abreviatura

(Uma antologia 71).

O texto segue e o homem almoça suas pílulas, recebe a notícia da morte de sua filha, e nada

parece capaz de mudar seu rumo ou o abalar: conseqüência da velocidade da vida.

27 Assim, ambos os autores aqui analisados relacionam a diminuição do tempo à tecnologia.

Machado de Assis apresenta uma visão um tanto quanto pessimista e melancólica quanto a este assunto, com traços de nostalgia. Já João do Rio se mostra mais entusiasmado e receptivo às mudanças ocorrendo ao seu redor. Fato curioso aqui é o de os dois autores de referirem ao homem do ano de 1920 como sendo um ser do futuro, Machado apontando a enorme diminuição que este vai ter em seu tempo e João do Rio mostrando sua previsão de como será o cotidiano deste homem, sem ter tempo para pensar, digerir e até mesmo compreender os fatos mais importantes que acontecem em sua vida, se importando basicamente com o trabalho e ganhar dinheiro.

Assim, a afirmação de Sevcenko citada aqui se prova verdadeira: Machado e João do Rio se complementam assustadoramente em suas visões do mundo, com o mais recente dando um ponto de vista mais moderno que o de seu antecessor, mas ressaltando os mesmo aspectos quanto ao futuro: a relativa diminuição do tempo. Também vemos que ambos os escritores apontam em suas crônicas o lado negativo do progresso tecnológico, com Machado de Assis dizendo que é superior que o seu sucessor do ano de 1920, e João do Rio mostrando certa desumanização nos relacionamentos humanos, através do episodio em que a filha do Homem Moderno falece.

28

CAPÍTULO 4

Conclusão

A crônica, “a ovelha negra” dos gêneros literários, é caracterizada por ser um texto de

linguagem mais acessível quando comparada com outros gêneros literários, como o romance e a

poesia. O seu vínculo com o jornal pode colocar sua posição dentro da classificação ‘’gênero

literário’’ em jogo, quando alguns podem argumentar que não se trata de uma manifestação

artística, e sim uma espécie de jornalismo. Apesar disso, críticos como Antônio Candido defendem a classificação da crônica como tal assinalando apenas a peculiaridade de se tratar de um gênero menor.

Machado de Assis e João do Rio, através de suas crônicas, mostram um retrato da cidade

do Rio de Janeiro em sua evolução no fim do século XIX e início do século XX. O fato dos dois

autores escreverem em diferentes tempos e, consequentemente, usando visões filosóficas um

pouco diferentes, não deve nem pode ser ignorado, uma vez que se entendemos a época em que

seus textos foram produzidos entenderemos melhor o que eles nos trazem. Este fator, porém, não

é central, pois as individualidades de cada escritor devem ser levadas em consideração.

Machado de Assis, seguindo a tendência da crônica, se utiliza de uma linguagem menos

erudita ao produzi-las, sendo esta povoada por estrangeirismos e citações da língua francesa,

assim como da língua inglesa, mas em menor escala. Isto acontece devido à grande influência

cultural francesa no período em que escreveu.

29 Influenciado por todo o cientificismo de sua época, Machado mostra ao leitor uma visão muitas vezes amarga da realidade, sendo este um de seus traços mais marcantes. Assim, ao tratar da religião, por exemplo, o faz de forma até certo ponto lúdica, mencionando histórias bíblicas como a de Adão e Eva para ilustrar suas crônicas e histórias, como no texto aqui citado, quando divaga sobre o possível surgimento do bocejo.

No tratar da paisagem, aqui abordado na figura da Rua do Ouvidor, Machado é mais objetivo. A pouca preocupação com tal característica pode também vir do fato do escritor pertencer à escola literária do Realismo, uma vez que esta se preocupa muito mais com os conflitos internos dos personagens do que com o que há em sua volta.

João do Rio, como Machado de Assis, também apresenta esta linguagem mais acessível.

Apesar disto, uma grande diferença é a quantidade de palavras e expressões da língua inglesa utilizada pelo autor. Entre Machado e João do Rio é notado um declínio na quantidade de expressões do francês e um aumento nas do inglês, fato que reflete de certa forma as mudanças que ocorriam no mundo, com o declínio da França como pólo cultural e a ascensão dos Estados

Unidos.

O autor também introduziu uma forma nova à crônica, sendo esta a crônica reportagem, tendo como seu primeiro expoente os textos contidos na coleção As religiões do Rio, obra na qual o autor, através de investigação, expôs ao público fatos sobre muitas religiões que deveriam ser ignoradas pela grande massa. O processo da produção desta crônica reportagem, porém, não deixa tanto espaço para o autor colocar suas opiniões, assim aqui é visível mais uma diferença entre Machado e João do Rio: enquanto o primeiro se mostra de certa forma ácido quanto ao assunto, o segundo se põe de forma mais reservada, com objetividade jornalística, várias vezes se restringindo à expor fatos e fazer observações muito gerais sobre o que vê.

30 Curiosa é também a referência de João do Rio à paisagem, aqui (como a de Machado)

espelhada na frenética Rua do Ouvidor. Assim como Machado de Assis, ressalta a grande

movimentação desta rua no centro da cidade do Rio de Janeiro, mas de uma forma mais artística,

a atribuindo personalidade própria, como se fosse algo vivo. Por este processo, consegue passar

aos leitores uma idéia muito mais clara do que Machado, que, como já citado, se preocupava mais com os conflitos internos, seguindo a tendência de sua época. Na obra de Machado não existem muitas descrições desta rua, apenas caracterizações, sempre ressaltando quão grande é seu movimento e importância.

Quanto ao avanço tecnológico e seus efeitos na sociedade de suas épocas, ambos os

autores tem mais ou menos a mesma observação: a de apontar a diminuição do tempo que a

evolução vem gerando, encurtando distâncias e tornando a vida mais rápida. Apesar de

apontarem o mesmo efeito, os autores apresentam posições diversas quanto ao assunto, quando

João do Rio se mostra mais receptivo e otimista (ou menos pessimista), e Machado de Assis

manifesta pessimismo e nostalgia dos tempos quando a vida não tinha este ritmo tão acelerado

que julgava ter no fim do século XIX. O fato de ambos os autores citarem o homem do ano de

1920 pode sugerir que João do Rio se refere à obra de Machado de Assis.

Através dos trabalhos destes dois escritores o leitor ou pesquisador consegue ter uma

imagem nítida da cidade do Rio de Janeiro do fim do século XIX e início do século XX,

envolvendo um espaço de aproximadamente meio século.

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REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA

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Simon, Luiz C. S. “O cotidiano encadernado: A crônica no livro.” Livro e história editorial 11

Nov. 2004. 8 Mar. 2007

Notas i Ressalto aqui a palavra “relativamente”, simplesmente pelo fato de seus romances terem importância inestimável para a literatura brasileira; de forma alguma desmereço a importância de suas crônicas. ii Os pseudônimos utilizados por Machado de Assis estão listados entre parênteses na citação de Eugênio Gomes sobre as fazes de suas crônicas.

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