A PRODUÇÃO DE BIODIESEL EM NOVA -MG

Silviane Gasparino Costa Universidade Estadual de -UNIMONTES [email protected]

Ana Ivânia Alves Fonseca Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES [email protected]

Vivian Mendes Hermano Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES [email protected]

Resumo

A produção de energia é um tema polêmico e atualmente passa por um intenso processo de transformação, com uma tendência pela busca de fontes menos degradantes. Nesse sentido o Brasil, que possui uma matriz diversificada, vem implementando uma série de investimentos que tem como foco a ampliação da capacidade energética por meio de alternativas sustentáveis, nesse contexto surgiu o programa Biodiesel. Esse trabalho tem como objetivo principal analisar a produção de agro diesel no Município de Nova Porteirinha pela agricultora familiar, município que está situado na meso região do Norte de . As metodologias utilizadas foram a pesquisa bibliográfica sobre o tema, realização de trabalho de campo e análise de dados primários e secundários.

Palavras-Chave: Biodiesel. Agricultura Familiar. Nova Porteirinha-MG.

Introdução A produção da agroenergia se insere em uma escala global, condicionada pela economia internacional, é uma das tendências mais atuais nessa modalidade produtiva. A nova condição cria um movimento dialético entre o local e o global, já que cada região possui condições naturais e sociais distintas. Este texto propõe uma análise das condições desse tipo de produção pela agricultura familiar na região de Nova Porteirinha, município inserido na região do Norte de Minas Gerias. Esta pesquisa é fruto de um projeto realizado pelo laboratório NEPGER (Núcleo de estudos em Geografia Rural) da UNIMONTES (Universidade Estadual de Montes Claros). Seu principal objetivo é estabelecer uma análise da produção da bioenergia, pelo cultivo de mamona (Ricinus communis), e a dinâmica da produção local regional, verificando como essa modalidade se interage com a agricultura familiar do Norte de minas.

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O trabalho está dividido em três partes, na primeira procurou-se caracterizar a produção de energia no Brasil, país que possui qualidades que o diferenciam e o torna estratégico para a produção de energia; na segunda analisa-se a situação do Norte de Minas e, na terceira parte há um esboço e análise da região de Nova Porteirinha, município que apresentou dinamicidade até certo ponto, para a produção de mamona pelo agricultor familiar, visando, sobretudo, abastecer a indústria de produção de biodiesel regional.

Contextualização da produção de energia no Brasil O Brasil é considerando país estratégico, tanto em nível de consumo, quanto de produção de energia. Seguindo a tendência internacional dos Estados-nações em processo de desenvolvimento, nosso país seguramente possui um cenário desafiador para os próximos anos. Produzir de forma suficiente para garantir as atividades industriais, o consumo urbano, o agronegócio em uma perspectiva de mudança e diversificação das fontes de energia. O uso de energia no Brasil começou a apresentar incrementos elevados a partir do término da II Guerra Mundial, impulsionado pelo expressivo crescimento demográfico, por uma urbanização acelerada, pelo processo de industrialização e pela construção de uma infraestrutura de transporte rodoviário de característica energo-intensiva. Por outro lado, em função das condições socioeconômicas desse período o consumo per capita de energia sempre foi muito baixo. O crescimento da renda nacional e sua redistribuição fez com que esse consumo aumentasse o cenário traçado para 2030 estimando um consumo de energia primária de cerca de 560 milhões de tep. para uma população de mais de 238 milhões de habitantes. Nessas condições, a demanda per capita aumentaria de 1.190 para 2.345 tep/103 hab. entre 2005 e 2030. (TOLMASQUIM, 2007, p. 40). A afirmação destaca a necessidade eminente que o país possui para produzir energia, e em função de suas características naturais aliadas a uma política pioneira de investimento em fontes alternativas, busca sua diversificação da matriz energética. A imensa extensão territorial, associada às excelentes condições edafo-climáticas, é considerado excelente para a exploração da biomassa para energia. Ou seja, o Brasil, além de ser um grande produtor de energia, devido sua condições naturais e tecnológicas, busca diversificar sua matriz investindo em programas alternativos. Atualmente, a energia verde ou agro energia é celebrada como solução para o futuro do nosso planeta. De fato, o aquecimento global e o dramático aumento de CO2 na

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atmosfera criaram a conscientização de que precisávamos repensar a utilização da energia fóssil, questionada tanto por não ser renovável quanto por poluir. A busca por alternativas está aberta, mas ela está longe de ser inocente. Na verdade, numerosos interesses se misturam ao desejo de produzir um modelo chamado “durável”, que não comprometa o futuro das novas gerações. O interesse pela agroenergia se inscreve no interior de um longo processo de exploração da natureza, pois a produção de energia é uma necessidade humana histórica. E possui externalidades: fatores que não entram no cálculo econômico, como a montante, custos ecológicos e sociais da produção e do transporte e, a jusante, a distribuição desigual do produto. (HOULAR, 2010 p.16).

A energia está na raiz do modelo de desenvolvimento capitalista, as formas existentes de produção de energia se acusam contrárias tanto ao modelo econômico quanto à sociedade, assim urge buscar novas fontes. Essa demanda reforça o desenvolvimento da agro energia como substituta das energias fósseis. O Brasil na qualidade de “paraíso” agrícola da biomassa, foi um dos pioneiros na produção da agro energia. Implementou o Programa Nacional do Álcool - PNA para abastecer com o etanol, de forma extensiva, veículos movidos à gasolina. A motivação original do direcionamento do álcool para fins carburantes no Brasil foi a crise no mercado internacional do açúcar, que coincidentemente aconteceu quando o cenário era da escassez de petróleo, e já se sabia, de experiências antigas da qualidade do etanol como combustíveis de motores de ignição. Seguia a tendência pela busca das fontes consideradas sustentáveis. Masieiro e Lopes (2008 p.60) afirmam que esse programa “consistia em desenvolver o uso do etanol ou do etil álcool, como combustível”. Podia ser utilizado para substituir o methyl tert-butyl ether (MTBE) da gasolina ou utilizado na forma pura como combustível de veículos automotores. Segundo os autores, de 1975 a 2000, foram produzidos aproximadamente 5,6 milhões de automóveis com motores a álcool. Além dos automóveis a álcool em menos de um quarto de século o governo aprovou a mistura de etanol na gasolina de 1,1% a 25% em cada litro de combustível. No entanto, o Proálcool não foi a única tentativa brasileira de desenvolver combustíveis renováveis, em 1975 o governo criou, mas não implementou o Pro óleo – Plano de Produção de Óleos Vegetais para fins energéticos, transformando-o em programa em 1983, quando dá início ao Programa Nacional de Óleos Vegetais para Produção de Energia, também chamado de pro óleo.

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O foco deste programa foi o desenvolvimento e a produção de biodiesel a partir de algodão, babaçu, resíduos, palma, canola, girassol, nabo forrageiro, mamona, soja e gordura animal para misturá-lo ao diesel (MASIERO e LOPES, 2008). Os esforços foram descontinuados em 1985 devido à redução dos preços do petróleo e retomados em 2003, com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). De acordo com a publicação do Ministério de Minas e Energia pelo site http://www.mme.gov.br/programas/biodiesel/menu/programa/objetivos_diretrizes.html este programa tem como principais diretrizes: a garantia de preços competitivos, qualidade e suprimento; e a produção do biodiesel a partir de diferentes fontes de oleaginosas em regiões diversas. O principal marco regulatório foi o estabelecimento da obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor em qualquer parte do território nacional. Esse percentual obrigatório será de 5% oito anos após a publicação da referida lei, havendo um percentual obrigatório intermediário de 2% três anos após a publicação da mesma. Assim, o biodiesel inseriu-se na matriz energética brasileira a partir da criação de seu marco regulatório via lei 11.097/2005, publicada no Diário Oficial da União em 13/01/2005. Desde então, possui uma das matrizes energéticas mais diversificadas do mundo, com grande potencial para expansão das diversas modalidades (petrolífera - hidroelétrica - produção de etanol e mais recentemente a nuclear). Nesse contexto desenvolveu-se o Programa Nacional de produção de Agro combustível em diversas regiões do Centro-Oeste, Nordeste e em áreas como o Norte de Minas. Segundo o Ministério das Minas e Energia a produção de biodiesel no Brasil receberá incentivos através do programa PROBIODIESEL (Programa Nacional de produção do biodiesel), lançado em outubro de 2002, com o objetivo de viabilizar a produção de misturas de 5% de éster (B5) até 2005, passando para 10% de éster (B10), até 2010 e com 20% de éster (B20) até 2020. Esse programa está em fase avançada no território nacional e passou também a influenciar a dinâmica sócio espacial da região do Norte de Minas. No Brasil, o biodiesel é extraído do pinhão-manso, mamona, girassol, soja e muitos tipos de grãos, e também de óleo de cozinha usado. Basicamente, é um composto de carbono neutro, que leva cerca de 80% a 90% de óleo vegetal, 10% a 20% de álcool e 0,35% a 1,50% de catalisador, é biodegradável, sua produção é estimulada a partir de

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condições individuais de cada região. A seguir discute-se a produção de mamona (Rino cultura), pela agricultura familiar no Norte de Minas.

A Rinocultura no Norte de Minas e a agricultura familiar No Norte de Minas, mais recentemente, após a intensa implantação das florestas homogêneas de eucalipto, insere-se no processo de produção global de energia de dois modos, fundamentalmente: através da hidroeletricidade, com a implantação da usina hidrelétrica de Irapé, em agosto de 2006, que resulta em impactos agudos, porém localizados e a produção de agro energia, por meio da produção de etanol e biodiesel, pela usina Sada Bioenergia, com operação iniciada para a produção de etanol, em 2001no município de Jaíba, e, finalmente, a produção de biodiesel, exclusivamente, pela usina Darcy Ribeiro em Montes Claros, da Petrobras Biocombustível (MARTINS et. al. , 2008). A produção do agrodiesel segue uma tendência específica para o Norte de Minas, em função de suas características sócio ambientais, estando orientada sob os parâmetros definidos para o Nordeste. De acordo com Parente (2003, p. 44) tendo como objetivo a produção de óleo, “a Rino cultura (produção de mamona) parece constituir o verdadeiro caminho e vocação para o semiárido”, pelas razões que se seguem: a) a mamoneira se adapta muito bem com o clima e as condições de solos do semiárido; b) estudos realizados pelo CNPA – Centro Nacional de Pesquisa do Algodão, da EMBRAPA (Empresa brasileira de pesquisa agropecuária), em Campina Grande, está disponibilizando cultivares de alta produtividade (até 2.500kg de semente por hectare); c) a lavoura da mamona se presta para a agricultura familiar, podendo apresentar economicidade elevada; d) a torta resultante da extração do óleo de mamona se apresenta como adubo de excelência, encontrando aplicações ideais na fruticultura, horticultura e floricultura, atividades importantes e crescentes nos perímetros irrigados nordestinos; e) a lavoura de um hectare de mamona, pode absorver até 8 toneladas de gás carbono da atmosfera, contribuindo de forma relevante para o combate do efeito estufa. Os fatores indicam diversos pontos favoráveis na produção de mamona em clima semiárido, uma argumentação muito presente nos estudos agronômicos do tema. A pesquisa revelou que o histórico de cultivo de oleaginosas no semiárido não é recente. Queiros (2009) ressalta que a grande importância da cultura da mamona na economia do

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Nordeste brasileiro, está em sua capacidade de gerar renda para os agricultores familiares dessa extensa área. Mesmo em condições de atraso tecnológico a mamona é cultivada, constituindo-se em fator de sobrevivência e fixação para a população rural. Apesar de sua grande adaptabilidade climática, um dos principais problemas dessa cultura é o baixo preço do produto no mercado (este resultado é esperado em virtude de que o maior gargalo apresentado na agricultura, em geral, tem sido a questão de mercado). Como resposta a esse fator de impedimento, o poder público em especial, propõe a solução industrial como fortalecimento da cadeia de forma a garantir a compra da produção regional. Nesse contexto, a usina de biodiesel Darcy Ribeiro, inaugurada pela PETROBRAS (Petróleo Brasileiro S/A) em Montes Claros - MG, estimada em cerca de R$100 milhões de reais, faz parte do programa de expansão da produção de bioenergia na região, em especial o cultivo da mamona. Não pode ser considerada pioneira, pois a produção da mamona já passou por vários ciclos, mas pode ser vista como um símbolo de renovação. O projeto da PETROBRAS propunha a estruturação de uma cadeia produtiva regional, por meio de financiamentos aos produtores (em especial o pequeno) e do processamento, e, portanto, absorção da mercadoria pela usina. Esse processo está em andamento pelo menos há três anos e apresenta uma configuração de transição. Referindo-se as novas condições produtivas da Rino cultura no Norte de Minas, toma-se como base de avaliação que uma cadeia produtiva dessa magnitude deva possuir as seguintes etapas: produção de mamona no campo, esmagamento da mamona para transformação em óleo, produção de biodiesel a partir do óleo vegetal e mercado consumidor. Levando em consideração os fatores regionais analisados, a seguir apresenta-se um esquema síntese da cadeia produtiva do biodiesel básica e a cadeia na região do Norte de Minas. O quadro demonstra que na região do Norte de Minas a cadeia produtiva do biodiesel está incompleta, em fase de implantação, não existe unidade de esmagamento da mamona, fato que dificulta a recepção da produção na indústria Darcy Ribeiro em Montes Claros, promovendo uma descontinuidade da estrutura. A iniciativa mais difundida, para o estabelecimento dessa cadeia é a ampliação e a consolidação de um plano de produção de mamona pela agricultura familiar em alguns municípios da região. Segundo pesquisa de campo, a produção da mamona nunca esteve a cargo da PETROBRAS diretamente, a principal forma de atuação é por meio de convênios com

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diversas entidades como os sindicatos, as ONGs (Organizações não governamentais), e pela EMATER (Empresa brasileira de assistência técnica e extensão rural). Segundo relatório da EMATER 2011 a safra de 2009/2010 entre o cultivo de mamona com casca e o girassol somaram-se 29.527,27 Kg, atualmente, mais de 80% são assistidos pela empresa. Em entrevista realizada no dia 23/05/2011 em Montes Claros- MG, o coordenador de cultura e biodiesel Reinaldo Nunes de Oliveira, ressaltou a viabilidade do cultivo da mamona para o Norte de Minas. Segundo o técnico, o programa biodiesel iniciado em 2007/2008 com a mamona e amendoim, na safra de 2008/2009 mamona e girassol, e em 2009/2010 e 2010/2011 apenas mamona. A área total cultivada está em torno de 28.000 Km², e nos projetos de irrigação a participação é menor que 30%, pois, essa áreas são destinadas a produção de alimentos e a mamona é adaptada ao regime de sequeiro. O coordenador da EMATER considera esta atividade uma ótima opção ao pequeno agricultor, se este trabalhar dentro das normas técnicas de produção. Os dados, cedidos pela EMATER 2011, demonstrados no quadro abaixo, indicam que foram cultivados em 57 municípios, os que mais produziram (total das duas safras) foram Matias Cardoso, Manga, São Francisco, Janaúba e Mato Verde; os que menos produziram foram Buritizeiro, Ibiai e Várzea da Palma. A produção de Buritizeiro (o que menos produziu) representa 0,07 % do município de maior destaque Matias Cardoso. Há grande irregularidade de produção entre os municípios. PRODUÇÃO/MUNICÍPIO SAFRA 2008/09 E 2009/10 SAFRA 1009/2010 Município de origem Mamona (kg) Mamona(kg) Girassol(kg) Girassol(kg) 1 Matias Cardoso 343.415 710.034 322 0 2 São Francisco 302.639 153190 21.608 4100 3 Jaíba 139.921 126054 8.747 4656 4 Janaúba 120.916 147418 2.369 0 5 Jequitaí 103.095 11280 - 1291 6 Manga 45.188 183983 7.548 0 7 Montalvânia 38.998 111125 - 0 8 Porteirinha 36.774 110028 1.475 0 9 São João da Ponte 33.046 26088 8 0 10 Verdelândia 30.787 17272 1.776 375 11 Coração de Jesus 30.692 53963 - 0 12 Nova Porteirinha 20.531 23514 5.843 0 13 Mato Verde 25.613 128547 759 0 14 Varzelândia 25.485 39593 152 0 15 Chapada Gaúcha 3.916 0 19.829 103450 16 Luislândia 22.503 11603 11 0 17 São João do Pacuí 22.206 0 - 0 18 Pai Pedro 21.828 0 - 0 19 São João das Missões 19.431 65972 502 0

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20 Catuti 18.214 21880 817 4135 21 Ubaí 18.463 50439 - 0 22 Buenópolis 16.316 0 - 0 23 Brasília de Minas 15.873 35269 426 0 24 Icaraí de Minas 15.639 2556 - 0 25 Francisco Dumont 15.169 0 - 0 26 Salinas 14.422 0 722 0 27 Engenheiro Navarro 12.392 0 2.712 0 28 Claro dos Poções 13.919 10085 421 0 29 Januária 11.293 23105 284 0 30 Gameleira - 51103 - 0 31 São João da Lagoa 12.618 8765 - 0 32 Capitão Enéas 9.167 . 2.878 0 34 Lagoa dos Patos 10.799 33064 - 0 35 Ibiaí 10.743 0 - 0 36 Olhos D'agua 9.726 0 825 0 37 Joaquim Felício 9.932 0 - 0 38 Espinosa 907 53433 - 0 39 Lassance 8.299 0 - 0 40 Mirabela 804 0 86 0 41 Serranópolis de Minas 7.714 8856 - 0 42 Várzea da Palma 5.621 4350 - 0 43 5.011 12156 - 0 44 Itacarambí 4.689 11626 - 0 45 Juvenilia - 13124 - 0 46 São João do Paraíso 4.247 9699 - 0 47 Grão Mogol 3.324 5557 783 0 48 Rio Pardo de Minas 3.983 21700 - 0 49 Montes Claros 3.801 10037 - 0 50 Montezuma 3.566 4675 - 0 51 Francisco Sá 2.582 8410 825 0 52 São Romão 3.025 7817 - 0 53 Urucuia 2.995 11596 - 0 54 Pintópolis 2.572 5157 - 0 55 Bocaiúva 1.505 6261 81 0 56 Ibiracatu 77 9061 - 0 57 Buritizeiro 124 491 - 0 Sudeste Minas 1008200 TOTAL / GRÃO 1.666.515 2359936 81.809 1126207 PRODUÇÃO TOTAL ATÉ 30/09 MAMONA 2439715 GIRASSOL 1126207 TOTAL / GRÃO 3565922 RECURSOS GERADOS 2496145,4 Quadro - Dados da produção de mamona e girassol no Norte de Minas, segundo dados fornecidos pela EMATER, 2011. Organização: HERMANO, 2012. A produção total foi estimada em 2439715 (Kg) distribuídos de forma extremamente irregular, principalmente, quando se observa o dinamismo da produção de uma safra 2008/2009 para outra 2009/2010 em torno de 21% dos municípios não participaram da segunda safra e apenas duas cidades (Juvelina e Gameleira), foram incluídas apenas na segunda safra. Por outro lado, entre os municípios que mais produziram, ocorreu uma

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expansão da safra de até mais de 100% como no caso de Matias Cardoso. O girassol, na segunda safra praticamente deixou de ser cultivado, porém, a cidade de Chapada Gaúcha apresentou crescimento marcante de uma safra para outra, indicando provavelmente uma tendência produtiva.

Em especifico, a produção do município de Nova Porteirinha em relação a mamona, apresentou crescimento de safra em torno de 11,5% no período analisado; já a produção de girassol, assim como em outras cidades registrou o cultivo apenas no primeiro ano do projeto. A seção que segue busca analisar de forma detalhada os impactos desse programa na localidade em análise.

O biodiesel em Nova Porteirinha-MG O recente município de Nova Porteirinha é fruto da dinamização do projeto de irrigação do Gorutuba, viabilizado pela construção da barragem Bico da Pedra em 1979. Faz parte da microrregião de Janaúba e da mesorregião do norte de Minas, ocupando uma área de 122,71 Km2, à margem direita do rio, apresentando certo dinamismo nas três últimas décadas. A seguir um mapa com sua localização.

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Mapa: Localização de Nova Porteirinha - MG

Organização: COSTA, 2012.

A cidade se localiza na meso região do Norte de Minas, e na micro região de Janaúba, ganhou destaque pelo seu rápido processo de crescimento e estruturação. Esse desenvolvimento levou o distrito de São José, pertencente à cidade de Porteirinha, à emancipação política em 1995, batizado de Nova Porteirinha, com o intuito de administrar essas novas áreas irrigáveis que foram disponibilizadas pelo governo. Esse interesse político foi fortalecido pelo fato de que essas áreas passaram a produzir em grande escala, dinamizando a economia local (HERMANO, 2006). Segundo esta autora, a transformação no sistema produtivo que passou a ser mais dinâmico e polarizado, levou a uma modificação estrutural urbana. Esse fato ocorre devido ao loteamento das áreas do projeto, que teve como objetivo operacionalizar as atividades comerciais e promover a reestruturação latifundiária do local. Na tabela abaixo podemos observar tal fato: Tabela 1: Composição da população do município de Nova Porteirinha 1991-2001 ANO POP. RURAL POP. URBANA POP. TOTAL 1991* 3.087 3.027 6.114 1996 3.506 3.277 6.783 2000 3.204 4.174 7.378 2001 ------7.588 2010 7.398 4.069 3.329 Fontes: Dados do IBGE. *Os dados deste ano são referentes ao distrito de Nova Porteirinha.

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A tabela demonstra que o local não passa por uma explosão demográfica, com taxa média baixa de crescimento de 2,21%, bem abaixo da sua área conurbada. Outro fato marcante é que, apesar da população urbana ser um pouco maior que a rural, esta última praticamente se manteve estável, fato que o diferencia da tendência nacional à inversão populacional. Em Nova Porteirinha, cerca de 40% da população é rural, sem levar em consideração o fato de que, em 6 das 11 colonizações, as pessoas que desenvolvem atividades no campo declararem residência na cidade. Isso significa que, a maior parte da população está direta ou indiretamente envolvida com as atividades do campo, ratificando sua estruturação socioeconômica com caráter agrário, fato que pode ser demonstrado na tabela do PIB municipal. Tabela 2: Produto interno bruto dividido por setor de Nova Porteirinha SETOR PARTICIPAÇÃO (MIL REAIS) AGROPECUÁRIA 29.903 SERVIÇOS 29.432 INDÚSTRIA 4.092 IMPOSTOS 1.436 TOTAL 64.863 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2010. Organização: Costa, 2012.

Os dados indicam que na cidade analisada, temos a preponderância das atividades do setor primário, ratificadas pelas atividades do projeto. Essa situação é distinta da região norte mineira, que tem suas atividades voltadas, principalmente, para o setor secundário, 43,5% e terciário, 44,4%, traço tipicamente mineiro, de acordo com estudos de COSTA (2006), sendo a agricultura irrigada sua atividade principal. É importante ressaltar que o setor de serviços, apesar de ser expressivo, está totalmente voltado para a produção rural. Com predominância das atividades rurais em especial a fruticultura irrigada nessa localidade, também foi implementado o projeto biodiesel, porém, nas áreas de sequeiro. Este local apesar de abrigar extensas área com infraestrutura irrigacional, ainda estão presentes aqueles produtores que cultivam no sequeiro. De acordo com técnico da EMATER Alex Sandro Franco de Almeida, entrevistado no dia 28/02/2012, em relação ao histórico do cultivo dessa cultura na região, tem-se a seguinte contextualização: “Bem antigamente, aqui é tradição do pessoal usar, que antes eles contam para mim que a época de plantio da mamona era época de muita alegria para as crianças, porque eles tinham dinheiro para comprar: sapato, roupinha, então assim, o pessoal

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pegava a mamona aí a mamona caia, os meninos saiam catando no chão, ia lá no boteco e tinha o dono do armazém que trocava a mamona a troco de alimentos, e aí comprava também, então, naquela época as crianças tinham dinheiro para comprar bala, comprar isso, comprar roupinha, então nisso tudo bem, então, aqui tem histórico na região. Depois passou, aí veio a época dum, dum empresário, esqueci o nome dele, um deputado lá de Montes Claros, que montou uma indústria de comprar mamona, e ele comprou muito na região só que ele comprou, do mesmo jeito não pagou, outras vezes ele ficou de pegar e não pegou e o pessoal ficou com os armazéns cheios de mamona, então assim passou este tempo, aí quando nós voltamos em 2008 para falar de mamona, as vezes a prefeitura nem nos recebia. Não, se você quiser falar de outra coisa a gente fala, se for para falar de mamona cê pode voltar! Então nós tivemos uma resistência enorme em voltar a trabalhar com este produto porque teve esse histórico negativo” Segundo o relato acima, a mamona já foi cultivada na região em outros momentos, fazendo parte inclusive, da tradição do cultivo em área de restrição hídrica, todavia, em função das outras iniciativas (pública ou privada) o pequeno produtor apresentou resistência ao programa atual, já que as experiências anteriores foram negativas. Destaca-se que apesar da má expectativa, muitos produtores decidiram cultivar novamente. A seguir apresentam-se os resultados da pesquisa de campo com quatro produtores de sequeiro de Nova Porteirinha – MG, de um universo total de doze áreas de cultivo de mamona. Destaca-se que se buscou distribuir as amostras de forma homogenia no espaço representado pelo grupo que participa do programa.

Tabela 3 – Dados da pesquisa colhidos junto aos produtores em Nova Porteirinha – MG, referentes ao cultivo da mamona A B C D Produtor Rural Área Cultivada 1/2 hectare 1 hectare 1 hectare 1,5 hectares Rentabilidade R$1.200,00 R$700,00 R$300,00 R$600,00 (kg) Pontos Positivos Não utiliza Fácil cultivo Resistente Resistente veneno Pontos Negativos Falta de Semente não Preço Falta de continuidade disponível mínimo assistência Organização: COSTA, 2012.

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Os dados coletados apresentam certa divergência. O produtor A que cultivou meio hectare, obteve um rendimento declarado de 1.200 reais, o produtor D que cultivou um hectare e meio teve rendimento de 600 reais, nota-se também essa diferente proporção (área/rentabilidade) nos produtores B e C. Podem-se inferir algumas causas hipotéticas dessa situação; em primeiro lugar a recorrente tradição de certos produtores em diminuir a renda obtida com a atividade rural, e em segundo, pelo fato de ser um programa público, que envolve uma série de procedimentos burocráticos para o acesso aos pagamentos, assim, os produtores podem ser prejudicados por algum procedimento falho ou inadequado. Como ponto positivo o quesito mais citado foi o fato do manejo dessa cultura ser resistente e de fácil trato culturais, uma situação estratégica considerando a situação de restrição hídrica a que os produtores de sequeiro do semiárido estão submetidos. Os pontos negativos se referem especificamente as características do programa, como fornecimento de semente, preço e assistência. Analisados em conjuntos (pontos positivos e negativos) indicam uma boa aceitação pela cultura e certa restrição à forma de condução do programa biodiesel na área de estudo.

Considerações finais A nova realidade gerou consequências na divisão social e territorial do trabalho no campo, significando novas possibilidades de incorporação da pequena produção agrícola, de revitalização de espaços, especialmente em áreas de cerrado e caatinga, implicando a criação de infraestruturas e de novas possibilidades produtivas. O cultivo da mamona historicamente presente na cultura agrária do semiárido passa por um processo de revitalização, porém, com uma estrutura totalmente diferenciada dos períodos anteriores. Assim, na região de Nova Porteirinha, os resultados indicam que a área cultivada aumentou e que se levarmos em consideração a tipologia dos tratos culturais e rentabilidade adquirida, a mamona, de forma subsidiada, é uma excelente alternativa produtiva para agricultura familiar, principalmente, se levado em consideração às diversas dificuldades que esse setor vem sofrendo em outros tipos de cultivo. Notou-se também, que a condução do programa biodiesel pode ser aperfeiçoada, a fim de atender as reais necessidades da agricultura familiar de sequeiro.

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