REI KUBOYAMA Universidade Estadual de ; [email protected] DAVID WALLACE DOS SANTOS OLIVEIRA Universidade Estadual de Londrina; [email protected] GILNEI MACHADO Universidade Estadual de Londrina; [email protected]

ANÁLISE DE POTENCIAIS ATRATIVOS ECOTURÍTICOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IVAÍ - PR

INTRODUÇÃO

O ser humano, ao longo de sua história sobre a terra, ao buscar melhorias para as suas condições de vida foi cada vez mais se afastando da natureza e sobrepondo-se a ela. Em sua busca ele percorreu um longo caminho até a alcançar o atual estágio de evolução tecnológica que trouxe, para ele, reflexos extremamente positivos, porém para a natureza estes reflexos não foram tão bons quanto se podia imaginar que seria.

A evolução tecnológica, a produção de alimentos industrializados, a confecção de roupas e outros itens necessários à cômoda vida urbana auxiliaram no desligamento total da maioria dos homens da natureza, deixando em alguns deles a visão bucólica da natureza vivida nas suas infâncias e em lugares longínquos.

A saudade ou a necessidade fez com que os homens urbanos, desde os primórdios da criação das cidades, buscassem realizar o famoso “retorno à natureza” através de idas frequentes ao campo, às matas, aos rios, às montanhas etc, o que deu origem à concepção de tour . Ida à algum lugar para conhece-lo.

Disso temos que o turismo é uma prática antiga da humanidade, pontuada de iniciativas e feitos que dão conta do interesse humano pela natureza no sentido para desfrutar pessoalmente de benefícios físicos, culturais, psicológicos e espirituais

(PIRES, 2002). O turismo é fenômeno de viagem que impacta o social e econômico de uma região, que tem como componente fundamental a dimensão espacial.

A ideia de turismo é interpretada pelo turista como uma possibilidade de deslocamento, saindo do espaço vivido do indivíduo à procura de outro espaço, o espaço desconhecido (DA SILVEIRA, 2005).

Há várias segmentações do turismo, a fim de organizar para planejamento, mercado e gestão, tais como turismo social, ecoturismo, turismo cultural, turismo de estudos e intercâmbio, turismo de esportes, turismo de pesca, turismo náutico, turismo de aventura, turismo de sol e praia, turismo de negócios e eventos, turismo rural e por fim o turismo de saúde. De uma forma sustentável e por uma visão ambientalista, se caracteriza o ecoturismo, foco de nosso artigo.

Para o Ministério do Turismo (Marco Conceitual), a definição de ecoturismo seria:

[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações. No estado do Paraná encontramos uma área que merece destaque em virtude dos atrativos naturais ou ecoturísticos que a mesma apresenta. Essa área é a bacia hidrográfica do Rio Ivaí (Figura 01) a qual se estende por uma área aproximada de 36.000 km 2 abrangendo partes do Segundo Planalto e do Terceiro Planalto Paranaense, enquadrando no todo ou em partes, territórios de 102 municípios que se encontram ao longo dos seus 685 km de curso.

OBJETIVOS

Essa pesquisa/artigo tem por objetivo principal, realizar o levantamento, caracterização das potencialidades ecoturísticas da bacia hidrográfica do Rio Ivaí, localizada no estado do Paraná.

O mesmo se justifica pelo fato de, até o momento, não existirem pesquisas com a referida temática na área de estudo. Além do fato de, os inúmeros municípios da área apresentar deficientes informações turísticas, o que é extremamente negativo, economicamente falando, uma vez que, o turismo contribui para a valorização do espaço, para atração de visitantes que buscam lazer e, principalmente, para a atração dos recursos trazidos pelos turistas.

Figura 01: Localização da Área de Pesquisa, Bacia Hidrográfica do Rio Ivaí. Fonte: BALDO (2006, p. 13).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa/artigo que ora se apresenta foi embasada nos seguintes procedimentos metodológicos:

1) Levantamento das informações (eco) turísticas nos portais de cada uma das prefeituras dos 102 municípios da bacia do Rio Ivaí;

2) Levantamento de informações nas secretarias de turismo dos municípios em questão, no IAP e em portais turísticos do Estado do Paraná;

3) Organização de tabela contendo os atrativos turísticos de cada um dos municípios da bacia;

4) Classificação do atrativo ecoturísticos encontrado em: cachoeiras, parques, trilhas, pontos de observação, cavernas, turismo de aventura, pesca, mirantes e lagos;

5) Quantificação dos atrativos de cada município;

6) Plotagem das informações levantadas em mapa, confeccionado com base em imagens de satélite LandSat–5 e Cartas Topográficas na escala 1:50.000, trabalhado no SIG SPRING;

RESULTADOS PRELIMINARES

Tendo por base o objetivo principal dessa pesquisa, realizou-se um levantamento dos principais atrativos ecoturísticos da bacia hidrográfica do Rio Ivaí. Esse levantamento foi realizado via web, em sites especializados na temática abordada, em blogs particulares de aventureiros e principalmente nos portais das prefeituras dos 102 municípios que possuem área na bacia, alem disso, foi realizada pesquisa em dissertações, teses e artigos científicos publicados em revistas. Através da pesquisa realizada foi possível perceber que apenas 40% dos 102 municípios da bacia do Rio Ivaí apresentam informações ecoturísticas. Em

contrapartida, 60% dos municípios não possuem informação alguma sobre turismo em sua área.

A partir dos dados levantados procedemos a caracterização e classificação dos atrativos existentes. Para isso organizamos os dados em tabelas e posteriormente criamos um gráfico que expressa, de forma simples e agregada, os dados obtidos. Após a organização da tabela, nos utilizamos de técnicas quantitativas que permitiram chegar ao total geral de atrativos e ao total por classe. Para a delimitação dessas classes nos utilizamos de técnicas qualitativas as quais permitiram a classificação dos atrativos. Para essa classificação nos utilizamos das seguintes classes, as quais se encontram descritas em seqüência:

1) Cachoeiras; 2) Parques; 3) Trilhas; 4) Pontos de observação; 5) Caverna; 6) Turismo de aventura; 7) Pontos de pesca; 8) Mirantes; 9) Lagos.

Para fins de análise e debate neste artigo, entendemos como cachoeira toda e qualquer ruptura de declive de leitos dos cursos d’água por algum fenômeno tectônico ou erosão, que causa a queda da água. Em nossa pesquisa conseguimos identificar um total de 50 cachoeiras espalhadas pelos municípios da bacia do Rio Ivaí. Algumas dessas cachoeiras são grandes e bem conhecidas, outras apresentam menores dimensões e pouco se ouve falar a respeito delas.

As que se pode dar maior destaque são: Salto do Bulha (Amaporã), Salto do Ariranha (Ariranha do Ivaí), Salto São Pedro (Faxinal), Cachoeira Água Enxofrada (Guaramiranga), Salto São Francisco (), Cachoeira do Rochedo (Jandaia do Sul), Cachoeira Sete Quedas (Marilândia do Sul), Cachoeira Véu da Noiva (Ortigueira), Saltos São João e Sebastião (Prudentópolis), Cachoeira Santo Antônio () e a Cachoeira Rio dos Índios (São Tomé). Os parques ou bosques são lugares abertos, com forte presença de vegetação e maior ausência possível de edificações, destinados para uso recreativo e interativo pelos habitantes. No levantamento realizado foram identificados 17 parques e/ou bosques distribuídos pela bacia, merecendo destaque o Parque Estadual de Amaporã (Amaporã), Parque das Aves (), Parque Ecológico da Raposa (Apucarana), Estação Ecológica Mina D’água (Apucarana), Parque Ecológico Santo Expedito (Apucarana), Parque Estadual Lago Azul (Campo Mourão), Reserva Florestal de Figueira (Engenheiro Beltrão), Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo (Fênix), Parque Municipal São Francisco da Esperança (Guarapuava), Mata Suíça (), Bosque das Grevílias (Maringá), Horto Florestal Dr. Luiz Teixeira Mendes (Maringá), Parque Alfredo Nyffeler (Maringá), Parque do Ingá (Maringá), Estância Figueiredo (Querência do Norte), ARIE de Santo Domingos (Roncador), Reserva do Caraguatatiba (São Manoel do Paraná), Bosque Municipal André Ricardo da Silva (Terra Boa), Bosque Uirapuru () e o Bosque Xetá (Umuarama). Trilhas são caminhos demarcados pelo homem com um trajeto a ser percorrido, geralmente se referem a caminhos dentro de uma mata, parques ou em outro ambiente natural. As trilhas têm o objetivo de trazer uma nova experiência ao turista, para que esse se insira ou vivencie o espaço turístico e tenha sensações visíveis, auditivas, olfativas e táteis. Das 19 trilhas identificadas destacamos a de Amaporã, de Apucarana, de Campo Mourão, de Faxinal, de , de Maringá, de Mauá da Serra, de Paiçandu, de Prudentópolis, de Querência do Norte e de São Manoel do Paraná.

Ponto de observação é um local que pode ser elevado, mas que obrigatoriamente apresenta visão abrangente que dá a possibilidade do turista analisar alguns elementos da paisagem ecoturística, únicos daquele ponto, como a flora nativa, fauna, formação geológica rara e etc. Merecem destaque, em nossa área de estudo, os pontos de observação nos municípios de Amaporã, Apucarana, , Campo Mourão, , , Engenheiro Beltrão, Faxinal, Fênix, Guarapuava, Icaraíma, Ivaiporã, Kaloré, Lidianápolis, Lunardelli, Maringá, Mauá da Serra, Ortigueira, Paiçandu, Prudentópolis, Querência do Norte, Rosário do Ivaí, São João do Ivaí, São Manoel do Paraná e São Pedro do Ivaí. As cavernas, aqui consideradas, são cavidades rochosas naturais com dimensões que permitam o acesso para o homem, surgem em terrenos com rochas ígneas, sedimentares, metamórficas, em geleiras e até recifes. A pesquisa permitiu identificar, na área de estudo, a existência de cavernas localizadas nos municípios de Kaloré, Mauá da Serra e (várias em) Ortigueira, grande parte delas em formação arenítica. Turismo de Aventura compreende os movimentos turísticos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recreativo e não-competitivo, como exemplo arborismo, bungee jump, asa delta, mergulho, rafting, escaladas, canoagem, tirolesa, etc. Esses tipos de práticas podem ser realizadas em Borrazópolis, Cândido Abreu (asa delta), Cruzeiro do Oeste (arborismo e tirolesa), Faxinal (descida de rapel), Maringá (arborismo e tirolesa), Mauá da Serra (tirolesa), Ortigueira (escaladas) e Prudentópolis (rapel, canoagem, escaladas tirolesa). Pontos para a pesca (não predatória) têm apenas o intuito da prática da pesca para lazer e consumo próprio, ou seja, em uma escala não industrial ou comercial. Pode ser realizado em lagos tanto naturais quanto artificiais (pesgue-pagues) ou em rios. Encontramos pontos para a pesca em Apucarana, Cianorte, Floresta, Icaraíma, Maringá, Paiçandu e . Mirantes são locais elevados de onde se descortina um panorama, para apreciação da vista natural. Na pesquisa foram identificados mirantes nos municípios de

Apucarana, Cândido Abreu, Corumbataí do Sul, Jandaia do Sul, Maringá, Ortigueira e Prudentópolis. Por fim, os lagos são acumulações permanentes de águas em uma grande extensão numa depressão de terreno fechado. São ótimos para a apreciação da vista também. Encontramos lagos (naturais ou artificiais) em Apucarana, Maringá, Mauá da Serra, Ortigueira, Paiçandu, Rio Bom e Umuarama, grande parte destes formados em função do barramento das águas dos rios para abastecimento, geração de energia ou paisagismo. Buscando a quantificação dos atrativos turísticos encontrados na área da bacia do Rio Ivaí, construímos o gráfico expresso na Figura 02, onde estão expressas em números as classes acima descritas, ou melhor, a quantidade de atrativos existentes por classe. A partir dos resultados expressos na Figura 02 pode-se perceber que grande parte dos atrativos identificados na bacia do Rio Ivaí pertencem a classe das cachoeiras perfazendo um total de 50 cachoeiras ou 33,11% do total dos atrativos identificados. Em segundo lugar vem os pontos de observação com um total de 28 pontos ou 18,54 % do total de atrativos. Em terceiro lugar em número estão as trilhas com 12,58%, e em quarto lugar os parques e bosques com 11,25% do total de atrativos. A explicação para isso está no fato que é comum a criação de bosques e parques e mesmo de lagos nas áreas urbanizadas destinados ao embelezamento da paisagem. Empatados com 4,63% do total estão as áreas de pesca, lagos e mirantes. Os atrativos que menos aparecem na área são as cavernas que ocupam apenas 2,64% do total de atrativos encontrados.

Figura 02: Quantificação dos atrativos ecoturísticos da Bacia do Rio Ivaí - PR

Fonte : KUBOYAMA (2014).

CONCLUSÃO

Para concluir este artigo, algumas reflexões devem ser realizadas:

- O turismo na bacia do Rio Ivaí mostra certo desequilíbrio, com alguns municípios apresentando mais informações que outros; - Em termos de atrativos, mais da metade da região possui algum ponto turístico ou passível de ser usado pelo turismo; - Destacamos a necessidade de apoio das instituições de ensino e pesquisa do estado do Paraná e mesmo das secretarias de governo aos municípios que não possuem cadastro de seus potenciais turísticos para que os mesmos o façam buscando assim os recursos que advenha desse turismo;

- Os dados aqui apresentados representam a realidade de cada município da bacia, mas podem não corresponder a “real” realidade, ou seja, os municípios podem ter um determinado atrativo, mas o mesmo pode não estar cadastrado e o que se perde com a falta de informações disponibilizadas é preocupante. - Tendo isso por base, é que nossa pesquisa tem por objetivo, em seu prosseguimento, realizar uma pesquisa mais detalhada dos potenciais atrativos ecoturísticos da bacia do Rio Ivaí. O que será feito por meio de imagens de satélite, cartas topográficas e busca mais detalhadas de teses, dissertações e artigos científicos. - Com essas informações em mãos, pretende-se chegar ao objetivo geral da pesquisa que é o de mapear os atrativos turísticos existentes na área da bacia do Rio Ivaí.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALDO, Maria. C. Variabilidade Pluviométrica e a Dinâmica atmosférica na bacia hidrográfica do rio Ivaí - PR (Tese de Doutorado), Pós Graduação em Geografia, Presidente Prudente: UNESP, 2006.

CALVENTE, Maria del Carmen Matilde Huertas; GALVÃO FILHO, Carlos Eduardo Pontes; MARTINS, Érica Mantovani. Turismo, redes, regiões e produção geográfica sobre o território brasileiro. Geografia , Londrina, v. 17, n.1, p. 155, jan/jun. 2008. DA COSTA, Nadja Maria Castilho; DA COSTA, Vivian Castilho; NEIMAN, Zysman. Pelas trilhas do ecoturismo . São Carlos: RiMa, 2008. DA SILVEIRA, Marcos Aurélio Tarlombani. Percepção geográfica, turismo e valorização do espaço . In: Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção e Cognição do Meio Ambiente, 2005, Londrina.Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2005. Pag. 1-10. EMBRATUR; IBAMA. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasília: Governo Federal, 1994. LELI, Isabel Terezinha; STEVAUX, José Cândido; DA NÓBREGA, Maria Tereza. Dinâmica espacial da hidrologia da bacia do Rio Ivaí . Bol. Geogr., Maringá, v. 28, n. 2, p. 41-47, 2010. PARANÁ, Governo do Estado. Bacias hidrográficas do Paraná . : SEMA, 2010.

PIRES, Paulo do Santos. Dimensões do ecoturismo . São Paulo: Editora SENAC, 2002. TURISMO, Ministério do. Marcos Conceituais . Disponível em http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downl oads_publicacoes/Marcos_Conceituais.pdf . Acesso em: 15 de maio de 2014.