MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE GOIÁS 3ª PROCURADORIA DE CONTAS GABINETE DO PROCURADOR REGIS GONÇALVES LEITE

EXCELENTISSÍMO SENHOR CONSELHEIRO DIRETOR DA 5ª REGIÃO DANIEL GOULART

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás, no exercício das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 94, I, da Lei Orgânica do TCMGO, Lei Estadual nº 15.958/07, e pelo art. 115, inciso I, do Regimento Interno do TCMGO, Resolução Administrativa n° 73/09, vem à presença de Vossa Excelência oferecer REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR, nos termos do art. 208, II, do RITCMGO, pelas razões de fato e de direito que expõe a seguir.

I – LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TCMGO

O inciso I do art. 94 da Lei Orgânica do TCMGO n° 15.958/07, dispõe sobre a atribuição dos Procuradores de Contas na promoção da defesa da ordem jurídica, requerendo, perante o Tribunal de Contas dos Municípios, as medidas de interesse da Justiça, da Administração e do Erário. Ao dispor sobre a legitimidade para representação perante o Tribunal, o RITCMGO, em seu artigo 208, inciso I, estabelece que:

Art. 208. Têm legitimidade para representar ao Tribunal de Contas dos Municípios: (...) II – Membros do Ministério Público de Contas junto a este Tribunal;

Portanto, é inequívoca a aptidão do autor para provocar o Tribunal a quem a CF atribuiu a missão de zelar pela ordem jurídica no âmbito dos Tribunais de Contas, bem como o artigo 94 da Lei Orgânica do TCMGO e o artigo 115 do RITCMGO.

II- COMPETÊNCIA DO TCMGO

A Lei Orgânica do TCMGO nº 15.958/07, em seu art. 1º, inciso II, prevê que compete a esta Corte de Contas “exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das prefeituras e câmaras municipais demais entidades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal”.

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Além disso, a Lei Orgânica do TCMGO autoriza expressamente a iniciativa desta Corte para realizar fiscalizações e auditorias, nos seguintes termos:

Art. 1º Ao Tribunal de Contas dos Municípios, órgão de controle externo, compete, nos termos da Constituição Estadual e na forma estabelecida nesta Lei: (...) II - exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das prefeituras e câmaras municipais e demais entidades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal; (...) Art. 19. O Tribunal exercerá a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial das unidades dos Poderes Municipais e das entidades da administração indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Municipal, na forma estabelecida no Regimento Interno, para verificar a legalidade, a legitimidade e a economicidade de atos, contratos, convênios, termos de parceria e outros ajustes, das aplicações das subvenções e renúncias de receitas, com vistas a assegurar a eficácia do controle que lhe compete e a instruir o julgamento de contas de gestão.

Verifica-se, então, a competência do TCMGO para propor a presente representação a respeito da não divulgação tempestiva nos sites oficiais municipais do das informações acerca do número de vacinas aplicadas e do contingente de vacinados, face à política de imunização referente à Covid-19, contrariando o disposto no art. 6º, §2º da Lei nº 13.979/2020.

III – DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

No exercício de suas atividades rotineiras de guarda da lei e fiscal de sua execução, mediante consulta ao site das Prefeituras dos Municípios da 5ª Região, este Ministério Público de Contas verificou a omissão na divulgação de informações concernentes à atual pandemia de Coronavirus e, em especial, do número de vacinas aplicadas, conforme planilha elaborada no final deste Expediente. Constatou-se, ainda, a publicação incompleta de Painéis de Visualização – Vacinômetro -, eis que, na sua grande totalidade, não indicam a quantidade de pessoas já vacinadas, com a respectiva relação nominal, a data de sua publicação, quais doses foram aplicadas, 1ª e/ou a 2ª dose, indicação do grupo prioritário, inviabilizando, desta forma, aferir se os dados estão sendo devidamente atualizados. Oportuno mencionar, que nos termos do disposto no artigo 5º, da Resolução nº. 001/2021-CIB, de 12 de janeiro/2021, c/c a Recomendação Conjunta nº. 01, de 26 de janeiro de 2021, desta Corte, deverá haver seguimento criterioso e obrigatório dos

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[...] os novos processos tecnológicos oportunizaram um aumento gradativo e impressionante da informatização e compartilhamento de informações dos órgãos estatais, que passaram, em grande medida, a ser divulgados na Internet, não só como meio de concretização das determinações constitucionais de publicidade, informação e transparência, mas também como propulsão de maior eficiência administrativa no atendimento aos cidadãos e de diminuição dos custos na prestação de serviços. A criação dos Portais de Transparência dos diversos entes estatais, nos diferentes níveis de governo, tem proporcionado a experimentação social da relação cidadão-Estado e o exercício do controle social dos gastos públicos em novas perspectivas2.

A divulgação de informações importa sobremaneira na conscientização da população sobre o avanço da doença e na tomada de decisões dos gestores frente à pandemia. A não disponibilização dos dados contraria o disposto no art. 6º, §2º da Lei

1 Dados extraídos da plataforma “COVID Goiás”, https://covidgoias.ufg.br/#/map. 2 Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 13. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018. Pág 1393.

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32. Assegurar o direito de acesso à informação pública durante a emergência gerada pela COVID-19 e não estabelecer limitações gerais baseadas em razões de segurança ou ordem pública. Os órgãos que garantem este direito e os sujeitos obrigados devem atribuir prioridade às solicitações de acesso à informação relacionadas com a emergência de saúde pública, bem como informar proativamente, em Plenário Virtual - minuta de voto - 13/11/2020 00:006 formatos abertos e de maneira acessível, a todos os grupos em situação de vulnerabilidade, de forma desagregada, sobre os impactos da pandemia e os gastos de emergência, desagregados de acordo com as melhores práticas internacionais. Nos casos de adiamento dos prazos de solicitações de informação em assuntos não vinculados à pandemia, os estados deverão justificar a decisão, estabelecer um prazo para cumprir a obrigação e admitir a apelação dessas resoluções. […] 34. Observar um especial cuidado nos pronunciamentos e declarações dos funcionários públicos com altas responsabilidades a respeito da evolução da pandemia. Nas atuais circunstâncias as autoridades estatais têm o dever de informar à população; ao pronunciar-se a respeito, devem atuar com diligência e contar de forma razoável com base científica. Também devem recordar que estão expostos a um maior escrutínio e à crítica pública, mesmo em períodos especiais. Os governos e as empresas de Internet devem atender e combater de forma transparente a desinformação que circula a respeito da pandemia. (grifo nosso).

A omissão dos Municípios incorre em desrespeito notório à garantia do acesso à informação, direito fundamental assegurado pela constituição, bem como ao que determina a Lei de Acesso à Informação, Lei n. 12.527/2011, que determina a publicidade como regra e o sigilo como exceção, não o contrário, de modo que a inclusão de campo destinado à divulgação do Painel de Visualização - Vacinômetro e outras informações, de maneira tempestiva, ampla e clara, é medida urgente a ser adotada pelo Poder Executivo dos Municípios indicados.

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V- DA MEDIDA CAUTELAR

A concessão de medida cautelar pelo TCMGO é disciplinada pelo art. 56 da LOTCM, in verbis:

Art. 56. O Tribunal Pleno ou o relator, em caso de urgência, de fundado receio de grave lesão ao erário ou a direito alheio, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida ou cautelar, com ou sem prévia oitiva da parte, determinando, entre outras providências, a suspensão do ato do procedimento impugnado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da questão suscitada.

Ao não promoverem a divulgação diária dos acerca do avanço da vacinação, tanto para municiar os órgãos de controle acerca das medidas sanitárias necessárias, quanto para que a sociedade possa se precaver, os Municípios incorrem em desrespeito ao princípio da publicidade, ao direito fundamental de acesso à informação, bem como ao art. 6º, §2º da Lei nº 13.979/2020, à Resolução nº 01 da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, à Recomendação Conjunta nº. 01, de 26 de janeiro de 2021, desta Corte, e à Lei de Acesso a Informação, o que contribui para o agravamento da situação de calamidade no Estado de Goiás, sendo justificada a adoção de medida cautelar para imediato saneamento das irregularidades.

VI- DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DA REPRESENTAÇÃO

Estão satisfeitos os requisitos de seletividade em razão de risco, materialidade e relevância previstos pela RA nº 76/2019, a saber:

Art. 2º Na interpretação desta Resolução consideram-se os seguintes conceitos: I – Risco: fatos praticados no âmbito da administração pública municipal, jurisdicionada a este Tribunal, que possam configurar afronta à legalidade, legitimidade e economicidade; II – Materialidade: refere-se ao montante de recursos orçamentários ou financeiros envolvidos no fato denunciado ou representado; III – Relevância: importância do fato na gestão governamental, ainda que não seja econômica ou materialmente significativa;

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VII – DA PLANILHA DOS MUNICÍPIOS

5ª REGIÃO

VACINAS RELAÇÃO MUNICÍPIO 1ª DOSE 2ª DOSE APLICADAS VACINADOS ACREÚNA NÃO CONSTA NÃO NÃO CONSTA NÃO NÃO CONSTA NÃO APORÉ NÃO CONSTA NÃO AVELINÓPOLIS NÃO CONSTA NÃO SIM SIM SIM SIM CAÇÚ NÃO CONSTA NÃO CAIAPÔNIA NÃO CONSTA NÃO CASTELÂNDIA NÃO CONSTA NÃO NÃO CONSTA NÃO CHAPADÃO DO CÉU NÃO CONSTA NÃO DOVERLÂNDIA SIM 123 0 SIM EDÉIA NÃO CONSTA NÃO GOUVELÂNDIA SIM 205 90 SIM INACIOLÂNDIA NÃO CONSTA NÃO 696 570 126 NÃO ITAJÁ NÃO CONSTA NÃO ITARUMÃ NÃO CONSTA NÃO 220 NÃO JATAÍ 6141 4960 1181 NÃO LAGOA SANTA NÃO CONSTA NÃO MAURILÂNDIA NÃO CONSTA NÃO SEM QUANTIDADE SIM MONTIVIDIU 390 310 80 SIM NAZÁRIO NÃO CONSTA NÃO PALMEIRAS DE GOIÁS SEM QUANTIDADE SIM PALMINÓPOLIS SEM QUANTIDADE SIM NÃO CONSTA NÃO PARAÚNA NÃO CONSTA NÃO PEROLÂNDIA NÃO CONSTA NÃO PORTELÂNDIA 144 SIM SIM SIM QUIRINÓPOLIS 2043 SIM RIO VERDE 13134 NÃO SÃO SIMÃO NÃO CONSTA NÃO SÃO JOÃO DA PARAÚNA 130 SIM SIM SIM SERRANÓPOLIS NÃO CONSTA NÃO STA HELENA DE GOIÁS 640 SIM SIM STA RITA DO ARAGUAIA 227 SIM SIM STO ANTÔNIO DA BARRA NÃO CONSTA NÃO TURVÂNIA SEM QUANTIDADE SIM SIM SIM TURVELÂNDIA NÃO CONSTA NÃO VARJÃO SEM QUANTIDADE SIM SIM SIM

DADOS EXTRAÍDOS DOS SITES DAS PREFEITURAS EM 14 DE MARÇO DE 2021

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Depreende-se da tabela supra que apenas os municípios de Cachoeira Alta, Gouvelândia, Montividiu, Portelândia e São João da Paraúna apresentaram informações completas acerca dos quantitativos da vacinação e do contingente de vacinados. Ante o exposto, requer este Ministério Público de Contas, seja deferida medida cautelar, determinando aos Municípios da 5ª região que (exceto nos municípios de Cachoeira Alta, Gouvelândia, Montividiu, Portelândia e São João da Paraúna) publiquem, tempestivamente, em seus sites, os Painéis de Visualização – Vacinômetros -, contendo a quantidade de pessoas já vacinadas, a data de sua publicação, a relação nominal dos vacinados (exceto aqueles descritos no artigo 1º, inciso IV, da Resolução Conjunta nº 1/2021-TCM), a indicação dos grupos prioritários, especificando quais receberam as 1ª e 2ª doses. Pugna, ademais, seja estipulado prazo para que os Municípios apresentem documentação comprobatória da divulgação tempestiva do avanço da vacinação face à pandemia (COVID-19), no site da Prefeitura, com os números atualizados de ocorrências, viabilizando a fiscalização por parte desta Corte. (CAUT).

Ministério Público, em Goiânia, aos 15 dias do mês de março de 2021.

Regis Gonçalves Leite Procurador de Contas

Anapaula

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