1. Contexto Prévio: Rondônia
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1 1. CONTEXTO PRÉVIO: RONDÔNIA O atual território de Rondônia, com uma superfície 1 de 237.576,17km², era conhecido desde o século XVII quando bandeirantes e aventureiros à procura de riquezas – drogas do sertão e minérios – passaram pela região. Entretanto, ficou abandonado por aproximadamente 03 séculos. Somente com a Segunda Guerra Mundial, a região passou a despertar maior interesse do governo brasileiro para o povoamento e o desenvolvimento de atividades econômicas. Assim, sua economia desde seus primórdios, enquanto unidade federada esteve sustentada em importantes ciclos econômicos, como o da borracha e o da mineração ainda em sua fase de território, em 1943 com o Território Federal do Guaporé e posterior denominação em 1956 para Território Federal de Rondônia. Porém, as condições de infraestruturas, técnicas, políticas, entre outras, não foram suficientes para promover o desenvolvimento almejado, caracterizando a região como isolada em relação ao restante do país. No final dos anos 1940 iniciou-se a construção da BR 29, posteriormente identificada como BR 364 ou Rodovia Marechal Rondon e atualmente denominada JK, ligando Cuiabá – Mato Grosso a Porto Velho - Rondônia. O trecho final foi concluído na década de 1960, permitindo a trafegabilidade regular em 1968, viabilizando a ocupação da região noroeste do país e a reconfiguração socioeconômica de Rondônia. Entretanto, a pavimentação foi concluída em 1984. A construção da BR 364 produziu uma nova dinâmica econômica, social, política e populacional em Rondônia, devido à estratégia geopolítica adotada pelos governos militares como o “integrar para não entregar” e “a ocupação dos vazios demográficos”, com o estabelecimento de metas operacionalizadas por programas regionais com o objetivo tácito de promover a integração nacional da Amazônia. Um dos primeiros programas de suporte a essa ação foi o Programa de Integração Nacional (PIN). A política adotada para Rondônia consistia na abertura de rodovias, incentivo à migração com distribuição de terras através da colonização dirigida e 1 IBGE – Resolução nº. 05 de 10/10/02. 2 dos assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, propiciando a expansão das fronteiras agrícolas, ao mesmo tempo em que se tentava minimizar as graves tensões sociais, especialmente por terras, verificadas nas demais regiões do país, conforme constata Almeida Silva (2007, p. 81): “tais tensões eram marcadas também pelo processo mecanização e modernização do campo, expulsão dos trabalhadores rurais e o engajamento político através das organizações que lutam por melhorias sociais”. Ao longo da BR 364 foram criadas algumas infraestruturas nas cidades que ora se iniciavam, sendo que essas funcionavam como ponto de apoio para vilarejos, posteriormente municípios, localizados no interior da floresta. Assim, a BR 364 funcionou como propulsora para a ocupação em outras porções territoriais mais distantes de seu eixo. Por esta rodovia chegaram centenas de migrantes na década de setenta, produzindo um crescimento populacional de 13% ao ano entre 1970/1978 e expandindo-se para 15% ao ano a partir da pavimentação da BR 364 entre 1980/1984, conforme as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Com isso, centenas de famílias foram assentadas pelo INCRA às margens da BR 364, apropriando-se das terras mais férteis, entretanto alguns problemas imediatamente surgiram, tais como: a reduzida fertilidade do solo e das dificuldades de sustentação econômica da agricultura aí praticada; a insistência governamental em continuar com a política de colonização; vulnerabilidade natural à erosão, lixiviação e precoce exaustão dos solos; falta de infraestrutura física e social; empobrecimento dos migrantes; incidência de doenças tropicais, principalmente malária; dificuldades de armazenamento e escoamento da produção na estação chuvosa; impactos ambientais; estabelecimento de fricção étnica entre os migrantes, populações indígenas e populações secularmente constituídas. Diante de tal contexto e visando dinamizar as ações de infraestrutura para a colonização, iniciou-se em 1981 o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil - POLONOROESTE, tendo como eixo central a pavimentação da BR-364 e o desenvolvimento agrícola. Este Programa financiado em parte pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento ou Banco Mundial 3 – BIRD, com contrapartida do Governo brasileiro, devido os impactos causados à região, foi duramente criticado, conforme constatam Leão, Azanha & Maretto (2004, p. 5): [...] as análises e Avaliações ‘Ex-Post’ demonstraram que, embora os estudos preliminares efetuados pelo Banco Mundial já apontassem os riscos na implantação e implementação do Programa e, tivessem sido inseridos componentes ambiental e indígena como forma de minimização desses impactos, o POLONOROESTE não teve capacidade de sustar a ocupação desordenada de Rondônia e de cumprir suas metas sociais e econômicas. Entre os fatores apontados, destacamos a expansão populacional maior do que o previsto e avaliado na época do planejamento do programa, o que gerou um significativo impacto no uso dos recursos naturais, contribuindo para o desmatamento, esgotamento do solo e outros problemas ambientais na região, bem como a invasão das áreas de proteção ambiental e terras indígenas.[...]. Além dos problemas apontados, estudos realizados pelo IBGE (1988) apontaram que: Juntamente com essa massa de migrantes, o asfaltamento da BR-364 trouxe também outros problemas: o recrudescimento da malária, 171mil casos oficiais sendo detectados em 1985; invasão de gafanhotos, oriundos do meio-norte de Mato Grosso, que estão se deslocando para Rondônia via clareira aberta na mata para o assentamento da estrada; além de grandes desmatamentos e de mudanças das atividades locais, provocando grandes desequilíbrios ambientais e sócio-econômicos. O aumento populacional e a dificuldade de implementação das ações do Programa propiciou que as cidades localizadas ao longo da BR 364 crescessem desordenadamente, acarretando inúmeros outros problemas, tais como: precariedade de abastecimento de água e esgoto, favelização através de ocupação descontrolada, contaminação dos mananciais e do solo, deficiência no sistema de saúde e de educação, entre outros. Concomitantemente, os projetos de assentamento dirigidos não tiveram os objetivos alcançados em sua plenitude, provocando o êxodo rural. Os recursos florestais madeireiros e não-madeireiros e minerais ficaram expostos a uma extração desordenada, fato que ocasionou generalizada degradação ambiental, atingindo inclusive as áreas de preservação e as áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas) produzindo sérios conflitos sociais . Como se constata o BIRD priorizou ações com efeitos imediatos como infraestrutura, e em contrapartida a proteção ambiental, a questão indígena e a 4 pesquisa científica foram colocadas como irrelevantes, conforme atestam Lago e Leão (1989 apud LEÃO, AZANHA & MARETTO, op.cit., p.7): O Banco Mundial condicionou seu empréstimo a um estudo detalhado das áreas e solos da região do Polonoroeste. Entretanto, o orçamento para o período 1981/85 - cerca de 1,55 bilhão – destinou 57% à infraestrutura de transporte; 23% para colonização de novas áreas; 13% para desenvolvimento rural; 3% para serviços de titulação de terras; 3% para a proteção do meio ambiente e questão indígena; 0,5% para pesquisa científica. Não foi tarefa difícil perceber que o elemento central do programa era reconstruir e pavimentar a rodovia 364. Concluída a pavimentação em 1984, essa importante via de acesso viabilizou o tráfego que interessava não só aos pequenos e médios produtores rurais, mas, sobretudo, ao grande latifundiário pecuarista; as grandes propriedades improdutivas e especulativas, que carrearam a mais valia gerada; à mineração empresarial; ao garimpo; ao escoamento de madeira; e ao promissor setor terciário das cidades e as suas margens. Desse modo, o POLONOROESTE, além de ser um programa oneroso economicamente, socialmente e ambientalmente, trouxe inúmeras conseqüências negativas ao ponto do próprio financiador, o Banco Mundial, reconhecer que os objetivos não foram alcançados e sua execução foi extemporânea. Na tentativa de corrigir as falhas a partir das inúmeras críticas apontadas, o próprio Banco Mundial financiou na década de 1990, o Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia – PLANAFLORO, através de empréstimos e com contrapartida financeira dos governos federal e estadual tendo como principal objetivo promover o desenvolvimento sustentável do estado e proteger as áreas destinadas para a preservação, terras indígenas e unidades de conservação. Semelhantemente ao POLONOROESTE, o PLANAFLORO não conseguiu atingir todas as metas definidas, estendendo-se além do prazo previsto para sua execução. Ressaltamos que um dos grandes avanços no PLANAFLORO foi a viabilização da Segunda aproximação do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia - ZSEE (Lei Complementar nº 233/2000, posteriormente alterada pelas LCs nº 308/2004 e 312/2005). Constitui-se em uma boa ferramenta para questões relacionadas à gestão e ordenamento territorial (Figura 1), embora não seja respeitado pelos atores sociais e políticos do estado, em virtude de interesses difusos. Em síntese dividiu-se o estado em 3 zonas, a Zona 1 é destinada ao uso agropecuário, agroflorestal e florestal, constatando-se nela elevado grau de 5 antropização e de ocupação humana; a Zona 2 é voltada à conservação dos recursos naturais,