Ferreira Pinto Brandão, De Paços De
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
www.soveral.info Ferreira Pinto Brandão de Paços de Ferreira, Cête e Mouriz - uma família de militares e padres Manuel Abranches de Soveral No séc. XVIII já abundam os Ferreira em Stª Eulália de Paços1, nome usado por pessoas com estatutos muito diversos, umas com origem externa à freguesia, mas muitas descendentes, tanto quanto se pode apurar, de indivíduos da freguesia, mas que não aparecem com este nome. Não podendo descartar a possibilidade de, pelo menos em alguns casos, o nome Ferreira ter sido adoptado, sem qualquer ligação à linhagem medieval dos Ferreira, que trato no meu “Ensaio sobre a origem dos Ferreira”, também não podemos excluir a hipótese de existir, na maioria dos casos, uma ligação à linhagem, sobretudo por via feminina. Os Ferreira Pinto Brandão, até os inícios do séc. XIX, altura em que desaparecem da freguesia, são inegavelmente uma das principais famílias locais, onde tinham casa no lugar das Quintãs, a qual, pelo menos desde o séc. XVIII, se passou a chamar quinta da Torre e desde então tem capela própria. Inicialmente Ferreira, por casamento passaram a Ferreira Pinto e depois a Pinto Brandão, Brandão Pinto ou só Brandão, nome este que ganhou grande predominância na sua descendência e que resultou do casamento em 1634 do Capitão Pedro Ferreira Pinto com Francisca Brandão, rica herdeira, descendente dos Brandão Sanches da cidade do Porto. O mais antigo desta família que se documenta a usar o nome foi o Capitão Baltazar Ferreira, morador na dita casa das Quintãs ou da Torre, nascido em 1588 e falecido em 1665, pai, avô, bisavô e trisavô de capitães, sucessores nessa casa, o último dos quais, o Capitão Bernardo Pinto Brandão, deixou um filho homónimo, Doutor Bernardo Pinto Brandão, abade de Vila Chã do Marão (Amarante), e uma filha sucessora D. Ana Maria Brandão, nascida em 1715 e falecida em 1779 na casa das Quintãs, que então já consta como quinta da Torre, sendo sepultada na sua capela. Esta casou com Francisco Félix Henriques da Veiga Leal, capitão de Infantaria, comandante da fortaleza de Póvoa de Varzim (13.5.1738), familiar do Santo Ofício, etc., também aí falecido. Aquele Capitão Baltazar Ferreira, o primeiro a documentar-se com este nome, era filho de um Baltazar Fernandes, das Quintãs, e de sua mulher Catarina António. Verifica-se, também, que a maioria dos Ferreira que na freguesia surgem nos finais do séc. XVI e inícios do seguinte são 1 Então Stª Ovaia de Paços, freguesia do concelho de Aguar de Sousa. Hoje Stª Eulália de Paços de Ferreira, freguesia cabeça do concelho de Paços de Ferreira, criado por decreto de 6.11.1836. 2 Manuel Abranches de Soveral filhos de pais ou mães que usaram o patronímico Fernandes ou Gonçalves. O que me levou, numa tentativa de unificar esses Ferreira de Stª Eulália de Paços, a propor que sejam todos filhos da mais antiga Ferreira que se documenta nos paroquiais, Catarina Ferreira, aí madrinha em 1569, sendo esta a desconhecida mulher de um Gonçalo Fernandes das Quintãs que viveu nessa cronologia. Infelizmente, há hiatos nos paroquiais de Stª Eulália de Paços. Se os baptismos começam em 1567, com falhas, os casamentos e óbitos, também com falhas, só começam em 1574 e 1583. Não sendo mau, podia ser melhor, sobretudo se os padres da freguesia fossem menos toscos e soubessem fazer os assentos devidamente.2 Parecendo certo que a freguesia tinha então reduzida população, a avaliar pelas datas dos primeiros oito assentos de casamento: 1586, 1590, 1591, 1593, 1596 (dois), 1597 (infelizmente incompleto), e 1599. E destes oito, cinco são de propostos descendentes de Gonçalo Fernandes das Quintãs e Catarina Ferreira. Há dois assentos de baptismo de filhos de Gonçalo Fernandes das Quintãs. O mais antigo, de 18.8.1571, deixa em branco o nome da criança, dita filha de Gonçalo Fernandes das Quintãs e sua mulher (não nomeada). O outro é de 6.6.1574, de João, filho de Gonçalo Fernandes das Quintãs e sua mulher (não nomeada). Diz que o padrinho foi João, filho de Martinho Fernandes, e ama a mulher de Gonçalo Fernandes. Ama parece estar por madrinha, bem assim como a pessoa que levou a criança a baptizar. Como nesta época se dava o baptismo poucos dias depois da criança nascer, a mãe nunca comparecia à cerimónia, sendo portanto natural que o baptizado fosse levado pela avó. Este João, baptizado em 1574, parece ser o João Ferreira que casou a 1.2.1598, ib, num assento que ficou incompleto, dizendo apenas: “O Primrº dia do mes de fevrº do anno de mil e quinhentos he noventa he sete digo noventa he oito digº Alvrz Cura desta igrª recebij por palavras de presente a João frª”. Mais nada! Apenas um espaço em branco antes do assento seguinte, certamente para mais tarde completar o assento, o que nunca chegou a ser feito. Contudo deve ser o João Ferreira que viveu casado em Casal de Rei (Paços) com Maria Francisco, onde esta faleceu a 12.7.1636, dizendo o óbito que deixou testamento vocal, no qual o marido ficou por herdeiro e testamenteiro, referindo que ele “desse o casal e dotasse as suas fªs como lhe milhor parecese”. Este casal seria o Casal de Rei, herança dela. Tendo João Ferreira e sua mulher Maria Francisco pelo menos quatro filhas, a primeira das quais baptizada a 3.4.1601. A 9.1.1603 foi baptizada uma filha de Marta, solteira, escrevendo o padre que a criança “dizem filha de André Frª solteiro de Piquafrio”. E a 14.1.1604 foi baptizada Maria, filha de Clemência, solteira de Stª Eulália, “e se diz de Andre Frª, fº de Demão Frz de Picafrio desta fregª”. Trata-se portanto da Maria Ferreira, filha de Clemência, mulher solteira, que casou a 21.11.1650, ib, tinha portanto 46 anos3, com um Manuel Afonso, tendo ela falecido viúva a 18.12.1676, sendo então 2 O desleixo, a quase iliteracia (até na correcta utilização da pena), a porcaria e mesmo um ressabiamento latente contra a nobreza que alguns párocos revelam, tornam os livros paroquiais uma fonte de crédito duvidoso, sobretudo perante outra documentação que os contrarie, e são seguramente uma fonte muito lacunosa. Por isso devem ser estudos à lupa, de fio a pavio. São inúmeras as reprimendas que os visitadores fazem aos párocos, sem que na maioria dos casos tenham algum efeito. A situação ainda se mantinha no séc. XIX, nomeadamente quando uma provisão pastoral de D. José Joaquim de Azevedo e Moura, arcebispo de Braga, Primaz das Espanhas, do Conselho de Sua Majestade e seu ministro e secretário de Estado honorário, comendador da Ordem de Cristo, grã-cruz de Santiago de Espada e Par do Reino, impressa a 14.10.1861, além de outras advertências sobre maus comportamentos dos padres, diz especificamente sobre os livros de assentos paroquiais: “Cumpre que ponham o maior cuidado na redacção dos assentos de matrimonios, baptismos e obitos, observando escrupulosamente o Real Decreto de 19 de Agosto de 1859, ligando-se as formulas que para cada um dos assentos lhes enviamos com o Decreto e Nossas Instrucções, sendo certo que no registo parochial do ano de 1860 se encontram faltas notaveis de muitos Parochos, que esperamos deappareçam dos assentos do anno corrente. Sabemos por experiencia propria que em muitos dos livros do registo Parochial já findos, e conservados em poder e guarda dos Parochos, e sob sua responsabilidade, e nos que contem assentos até ao fim de 1859 se acham mutilações, emendas e rasuras que, embaraçam e desviam sucessões legítimas, sacrificam fortunas, tolhem direitos, e dão origem a litígios calamitosos, que avexão as familias, sofismão as leis, e desvirtuão a fidelidade parochial : chamamos sobre este importantissimo objecto a atenção e consciencia dos Rdºs Parochos, para que tenham sob sua imediata guarda todos os livros do registo Prochial, não os confiando de pessoa alguma, nem mesmo das suas familias, não só para conscientemente satisfazerem ás leis de fieis depositairos, mas ainda para não incorrerem nas pennas que as leis inflingem aos parochos em cuja guarda existem os livros em que se entende encontrem aquelllas falsificações, e que alguns já tem sofrido por emendarem nomes masculinos para femininos, com o fim de subtrahirem aquelles ao recrutamento para o exercito, e ainda não vão muito longe algumas d’estas falsificações”. 3 Ainda assim teve uma filha, Catarina, solteira em 1676, que ficou sua herdeira. Ferreira Pinto Brandão 3 moradora em Stª Eulália. André Ferreira ainda teve outra filha natural em Helena Gonçalves, das Quintãs, chamada Leonor Ferreira, que casou a 8.5.1634, ib, com um Pedro André, sem geração, pois Leonor Ferreira, viúva das Quintãs, faleceu a 6.1.1669, ib, com testamento, deixando os bens de sua casa a sua sobrinha Ângela, também das Quintãs, e o dinheiro e o mais que se lhe devia para gastar em bens da sua alma. Podendo daqui concluir-se que André Ferreira ainda teve mais uma filha natural chamada Maria Ferreira, certamente irmã inteira desta Leonor, pois a 20.4.1670, ib, faleceu Maria Ferreira, mulher solteira moradora nas Quintãs, deixando herdeira sua filha Ângela, também solteira. É assim possível identificar André Ferreira como o André, baptizado a 4.3.1570, ib, filho de Damião Fernandes e sua mulher Maria Álvares, moradores em Picafrio, casal este que teve vários filhos, nascidos entre 1570 e 1582, nomeadamente uma Guiomar Fernandes, de Picafrio, que casou a 24.3.1599, ib, com um Gonçalo Gonçalves e faleceu a 19.1.1666, ib, deixando herdeiro seu filho Manuel Ferreira. Damião Fernandes faleceu a 9.2.1619, ib. Para ter um filho em 1570 não terá nascido depois de 1548, parecendo ser o filho mais velho de Gonçalo Fernandes das Quintãs e sua proposta mulher Catarina Ferreira.