Universidade de S˜ao Paulo Instituto de Astronomia, Geof´ısica e Ciˆencias Atmosf´ericas Departamento de Astronomia

Gustavo Rocha da Silva

Campos Magn´eticos em Afterglows de Gamma-Ray Bursts

S˜ao Paulo 2009

Gustavo Rocha da Silva

Campos Magn´eticos em Afterglows de Gamma-Ray Bursts

Disserta¸c˜ao apresentada ao Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geof´ısica e Ciˆencias Atmosf´ericas da Universidade de S˜ao Paulo como parte dos requisitos para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em Ciˆencias.

Area´ de Concentra¸c˜ao: Astronomia Orientador(a): Prof. Dr. Reuven Opher

S˜ao Paulo 2009

Para o Papai, a Mam˜ae, Tati, Clara e Ro, que me ensinaram algo que os sentidos, ainda que ampliados, n˜ao podem capturar.

Agradecimentos

Certamente esta ´ea p´agina mais dif´ıcil desta disserta¸c˜ao e ao mesmo tempo a mais agrad´avel. Mais dif´ıcil porque as palavras de afeto devem fazer jus ao sentimento e a lembran¸ca, e mais agrad´avel pois essa ´ea sensa¸c˜ao de lembrar das pessoas aqui citadas. Por motivos hist´oricos, agrade¸co inicialmente `as pessoas que muito me influenciaram no interesse pela pesquisa, assim como na minha escolha pelo mestrado em astronomia: Professora Vera Jatenco-Pereira, Aline Vidotto e Diego Falceta-Gon¸calves. A convivˆencia com vocˆes foi sempre animadora e me incentivou a caminhar adiante. Agrade¸co ao meu orientador Reuven Opher, por me auxiliar a enxergar a simplici- dade nos trabalhos mais indecifr´aveis. A capacidade de s´ıntese e de argumenta¸c˜ao sempre foi motivo de inspira¸c˜ao e continuar´asendo uma meta a ser alcan¸cada profissionalmente. Agrade¸co tamb´em aos amigos do grupo Ana, Ulisses, Luiz Felippe (companheiro de via- gens) e Rafael. Aos professores do IAG, que auxiliaram direta ou indiretamente na minha forma¸c˜ao e pesquisa, desde a gradua¸c˜ao. Em particular ao Jorge Horvath que sempre se mostrou particularmente interessado no meu trabalho e acess´ıvel para a troca de id´eias. Espero que ele passe a torcer pela sele¸c˜ao brasileira em breve. Aos meus pais, cujas palavras de agradecimento s˜ao insuficientes para demonstrar senti- mento de tal natureza. Gra¸cas a eles cresci aprendendo a buscar e cultivar conhecimento e valores eternos. As` minhas muito amadas irm˜as Clara e Thais com quem tudo compartilho. A` Roberta, pelo quanto a sua compreens˜ao diminuiu o peso de me privar da convivˆencia durante a elabora¸c˜ao deste trabalho. Este trabalho ´eem muito dedicado a vocˆee ao quanto n´os crescemos juntos. Entre as minhas maiores conquistas nos ´ultimos dois anos, relaciono os meus amigos no IAG que propiciaram `aminha experiˆencia na p´os-gradua¸c˜ao uma oportunidade ´unica de convivˆencia, al´em de muita cafe´ına. Inicialmente colegas e agora amigos Thiago Triumpho (futuro milion´ario), Thiago Almeida, Bruno Dias, Vin´ıcius Busti, Tatiana Lagan´a, Oscar Cavichia (R´a), Fernanda e Tatiana (chuiquititas). Ao Marcus Vin´ıcius (TF) companheiro de todas as conversas. Com carinho tamb´em agrade¸co a oportunidade de dividir sala com duas pessoas e amigos fant´asticos que foram o Alessandro e o Mairan, que tornaram o meu ambiente de trabalho t˜ao agrad´avel quanto a minha pr´opria casa. Outro que n˜ao posso deixar de citar, ainda que n˜ao no IAG ´eo Max Ujevic, amizade ilustre que veio de brinde com o mestrado. Agrade¸co a Mirr Corporation Iluminatti Society, por preencher minha mente com ima- gina¸c˜ao, vocˆes certamente s˜ao os amigos mais presentes na minha vida. Aos meus amigos F´abio, Gustavo e Thiago (Kibe), com quem a convivˆencia durante anos permitiu que a minha mente vagasse por lugares que n˜ao teria acesso sozinha. Vocˆes certamente influen- ciaram as minhas escolhas mais acertadas, incluindo a astrof´ısica. Ao Marcos e Ulisses funcion´arios do IAG, de quem sempre pude contar com muita aten¸c˜ao e boa vontade. Ao` pessoal da secretaria, principalmente `aMarina minha amiga, que com certeza me ajudou sempre mais do que o necess´ario. Agradecimentos aos amigos que mesmo sem o nome aqui participam de diversos mo- mentos importantes na minha vida. Ao CNPQ pela bolsa concedida durante toda a realiza¸c˜ao da disserta¸c˜ao, assim como a CAPES/PROEX pelo aux´ılio na participa¸c˜ao de eventos cient´ıficos.

A Esta tese/disserta¸c˜ao foi escrita em LTEX com a classe IAGTESE, para teses e disserta¸c˜oes do IAG. “Para que a pesquisa continue florescendo no campo fragmentado e complexo do saber, escolho a palavra c´eu. C´eu convoca, um pouco em desordem, as almas viajantes e as tecnologias galopantes. Nos ´ultimos vinte anos aprendemos mais do c´eu do que em dois mil, e isso gra¸cas `auni˜ao da astronomia e da f´ısica. A astrof´ısica ´eo casamento da Terra e do c´eu no pensamento humano, da f´ısica, pr´atica de laborat´orio que consiste em extrair leis da mat´eria deste mundo, e da astronomia, que ´eum olhar dirigido para o inacess´ıvel. Sem a f´ısica, a astronomia n˜ao tem cabe¸ca, mas, sem a astronomia a f´ısica n˜ao tem asas.”

Michel Cass´e

“A verdade n˜ao faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que provavelmente pedi e finalmente tive, veio no entanto me deixar carente como uma crian¸ca que anda sozinha pela terra. T˜ao carente que s´oo amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular [...]”

Clarice Lispector

Resumo

O objetivo da pesquisa descrita ao longo desta disserta¸c˜ao de mestrado, foi investigar o fenˆomeno e os problemas em aberto na astrof´ısica de Gamma-Ray Bursts e em particular explicar o campo magn´etico nos afterglows. O modelo de bola de fogo prediz que o espectro n˜ao t´ermico do afterglow ´edevido a radia¸c˜ao s´ıncroton, a qual requer fortes campos magn´eticos ( 1G na regi˜ao do afterglow), ∼ e part´ıculas aceleradas relativisticamente. Em modelos alternativos o campo magn´etico ´e ainda mais importante. O principal problema no que se refere ao campo magn´etico em afterglows est´arelacionado com o fato de que a regi˜ao de emiss˜ao ´emuito mais distante da fonte progenitora. Isto implica que o campo magn´etico gerado na fonte n˜ao ´esuficiente para explicar as observa¸c˜oes, sugerindo que o campo deve ser gerado na regi˜ao do choque. No entanto, o campo magn´etico no meio interestelar ´e 1µ G, o que requer forte amplifica¸c˜ao ∼ na regi˜ao do choque. Simula¸c˜oes num´ericas sugerem que a instabilidade Weibel possa amplificar o campo magn´etico, por´em instabilidades do plasma podem apenas gerar campo na ordem do skin depth, enquanto as observa¸c˜oes sugerem que o campo deve persistir em uma distˆancia de 109 skin depths. No presente trabalho sugerimos que as flutua¸c˜oes naturais do plasma preditas pelo Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao (FDT), podem explicar o campo semente gerado na regi˜ao do choque. Calculamos analiticamente o campo magn´etico e mostramos que com parˆametros t´ıpicos podemos gerar campo de at´e10−2 G. O campo gerado pelas flutua¸c˜oes depende essencialmente da densidade e temperatura do plasma, podendo explicar o campo. Mecanismos adicionais s˜ao necess´arios para amplificar o campo magn´etico. N´os sugerimos que a turbulˆencia pode ser este mecanismo, mas uma abordagem mais realista exigiria c´alculos computacionais eficientes.

Abstract

The objective of the research, summarized in this master’s thesis, is to investigate the phenomena and unsolved problems of Gamma-Ray Bursts and, in particular, to explain the magnetic fields in the Gamma-Ray Burst afterglows. The fireball model predicts that the non-thermal spectrum of the afterglow is synchroton radiation, which requires strong magnetic fields ( 1 G in the afterglow region) and relativistically accelerated ∼ particles. In alternative models the magnetic field is even more important. The main problem concerning magnetic fields in afterglow is that the emission region is located at a distance that is too far from the source. This implies that the magnetic field generated at the source is not enough to explain the observations, suggesting that the field must be generated in the shock region. However the magnetic field in the interstellar medium is 1µ G, which requires that the field is strongly amplified in the shock region. Numerical ∼ simulations suggest that Weibel instability could amplify the magnetic field, but plasma instabilities can only generate fields on the order of plasma skin depth, while observations suggests that the field must persist in a distance over 109 skin depths. In the present work we suggest that the plasma fluctuations predicted by the Fluctuation-Dissipation Theorem (FDT) can explain the seed field generated at the shock. We perform analytical calculations of the magnetic field and we show that with typical parameters we can generate a magnetic field of 10−2 G. The field generated by the FDT depends essentially of the density and the temperature of the plasma medium and can explain the large structure field. However an additional mechanism in necessary to amplify the magnetic field. We argue that turbulence can be the mechanism, but a realistic approach will require efficient numerical simulations.

Lista de Figuras

1.1 Localiza¸c˜ao de todos os 2704 GRBs detectados pelo BATSE em coordenadas gal´acticas. O plano da gal´axia ´ea linha horizontal no meio dafigura. . . . 23 1.2 Distribui¸c˜ao de 140 bursts como fun¸c˜ao do pico de contagem. Uma lei de potˆencia do tipo -3/2 ´eesperada para uma distribui¸c˜ao homogˆenea das fontes. 24 1.3 Curvas de luz dos bursts detectados pelo BATSE, demonstrando a variabi- lidadeediversidade...... 25 1.4 Histograma mostrando a distribui¸c˜ao de bursts de acordo com o tempo

caracter´ıstico T90 para as observa¸c˜oes do BATSE...... 26

1.5 Raz˜ao de dureza em fun¸c˜ao de T90 para os GRBs do BATSE. Bursts curtos apresentam valores mais elevados da raz˜ao do que bursts longos...... 26 1.6 Exemplo de espectro ajustado com a fun¸c˜ao de Band. Aqui α = 0.967 − ± 0.022 e β = 2.427 0.07...... 27 − ± 1.7 Esquema de montagem do SWIFT e os principais instrumentos a bordo. . 30 1.8 Histograma mostrando a distribui¸c˜ao de bursts de acordo com o para as observa¸c˜oes antes e depois do SWIFT...... 31

2.1 Representa¸c˜ao da dinˆamica que ocorre na evolu¸c˜ao do material ejetado, com choquesinternoseexternos...... 42 2.2 O espectro s´ıncroton nos regimes de resfriamento r´apido e lento, conforme deduzidoporSarietal.(1996)...... 57 2.3 Curva de luz ignorando auto-absor¸c˜ao para um choque esf´erico e relativ´ıstico. A curva divide-se em quatros segmentos. As letras B,C,D e H, representam a rela¸c˜ao com a respectiva regi˜ao da figura anterior 2.2. O fluxo observado varia no tempo como indicado. Extra´ıdo de (Sari et al., 1996)...... 58 2.4 Curva de luz caracter´ıstica para modelos com intera¸c˜ao de ventos de estrelas massivas em v´arias frequˆencias. A frequˆencia diminui de A para E (cima para baixo). Curvas t´ıpicas no ´optico e em raios-x s˜ao respectivamente A e D. Extra´ıdo de (Chevalier e Li, 2000)...... 59 2.5 Diagrama esquematizando as quatro regi˜oes que se formam a partir do cho- que. O RS e o FS s˜ao gerados a partir da intera¸c˜ao da bola de fogo com o meio que circunda a fonte. O FS varre o meio externo, enquanto o RS atravessa o material ejetado. Extra´ıdo de Xu (2009)...... 60

3.1 Diagrama esquematizando as trˆes fases obedecidas pela maior parte dos afterglows em raios-x. Duas fases ´ıngremes separadas por uma fase de de- caimento suave. Extra´ıdo de Nousek et al. (2006) ...... 62 3.2 Diagrama esquematizando as cinco fases obedecidas pela maior parte dos afterglows em raios-x. Duas fases ´ıngremes separadas por uma fase de de- caimento suave como na figura anterior, por´em com a possibilidade de flares

(V) e uma terceira quebra em tb3 Extra´ıdo de Nousek et al. (2006) . . . . . 63 3.3 Curvas de luz observadas pelo SWIFT, com os respectivos ajustes evidenci- ando as diferentes fases de decaimento na emiss˜ao. Extra´ıdo de Panaitescu etal.(2006)...... 65 3.4 Curvas de luz obtidas para jatos com diferentes estruturas, dinˆamica e ˆangulo de vis˜ao. O painel ao alto ´ede um jato uniforme, feito a partir de simula¸c˜oes hidrodinˆamicas. Extra´ıdo de Eichler e Granot (2006). . . . . 71

4.1 O choque no afterglow (referencial do choque). Extra´ıdo de Waxman (2006). 74 4.2 Diagrama demonstrando a instabilidade. Uma flutua¸c˜ao magn´etica causa a deflex˜ao do movimento do el´etron ao longo do eixo x, resultando em densidades de corrente j de sinais opostos nas regi˜oes I e II o que acaba por amplificar a flutua¸c˜ao original. Extra´ıdo de Medvedev e Loeb (1999). . . . 79 4.3 Os el´etrons de altas energias (pontos vermelhos) s˜ao encontrados onde os filamentos de correntes de ´ıons s˜ao fortes (em azul). Extra´ıdo de Hededal etal.(2004)...... 81 4.4 Evolu¸c˜ao da raz˜ao entre press˜ao do g´as e press˜ao magn´etica. Simula¸c˜ao com 1024 c´elulas num´ericas. Inicialmente o campo precisa ser preenchido com um pequeno campo magn´etico. As imagens s˜ao tiradas em t=2 e t=12. Em t=12 o g´as se torna turbulento devido a instabilidade. Extra´ıdo de Zhang etal.(2009)...... 83 4.5 Raz˜ao entre a energia electromagn´etica e energia cin´etica para a energia total como fun¸c˜ao do tempo. As diferentes linhas est˜ao relacionadas com diferentes resolu¸c˜oes: 10243 (linha s´olida), 7683 (linha cortada) e 5123 (linha pontilhada). Simula-se com campo magn´etico inicial diferente (dois valores) para cada resolu¸c˜ao. Extra´ıdo de Zhang et al. (2009)...... 84 4.6 Exemplo de trajet´oria dos el´etrons seguida por flutua¸c˜oes, ou sobre a in- fluˆencia da instabilidade Weibel. Extra´ıdo de Hededal (2005)...... 84 4.7 Emiss˜ao a partir de v´arios pontos ao longo da trajet´oria da part´ıcula, (a)α ≫ ∆θ apenas parte da emiss˜ao ´eobservada. (b) α ∆θ a emiss˜ao de toda a ≪ trajet´oria ´eobservada. Extra´ıdo de Medvedev (2000)...... 85 4.8 Jitter e espectro s´ıncroton para um afterglow t´ıpico se propagando em um

53 meio uniforme. Os dados utilizados s˜ao E = 10 ergs, ǫe = 0.1, ǫB = 0.0001, −3 nMI = 1cm e o ´ındice de distribui¸c˜ao de energia dos el´etrons s = 2.5, computados a t = 0.1 , 1 e 10 dias. Extra´ıdo de Medvedev et al. (2007). . . 87 4.9 Curva polarim´etrica do GRB080213. Observa¸c˜oes s˜ao comparadas com di- versos modelos existentes na literatura (para mais detalhes veja Lazzati et al. (2003)). A regi˜ao cinza mostra onde deve ocorrer a quebra no ´optico. Extra´ıdodeCovino(2009)...... 90

4.10 Grau de polariza¸c˜ao linear em fun¸c˜ao do ˆangulo de vis˜ao do observador θv

e do ˆangulo θj de abertura do jato no modelo s´ıncroton com campo em 2 larga escala. As diferentes curvas mudam os valores do produto yj =(γθj) . Extra´ıdodeTomaetal.(2009)...... 92 4.11 O mesmo de 4.10, por´em com um campo em pequena escala orientado ale- atoriamente. Extra´ıdo de Toma et al. (2009)...... 93

6.1 Vis˜ao esquem´atica de uma bolha (fora de escala). A regi˜ao de free-streaming

(A), passa atrav´es do termination shock no raio Rw para entrar na regi˜ao quente formada pelo material do vento que passou pelo choque (B). A ele- vada press˜ao t´ermica na bolha quente cria uma casca (borda grossa) de raio

Rb que se expande em dire¸c˜ao ao meio. Extra´ıdo de van Marle et al. (2006). 104 Sum´ario

1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts ...... 19 1.1 Introdu¸c˜ao...... 19 1.1.1 BATSEeCGRO ...... 21 1.1.2 HETE-2eBeppo-Sax...... 28 1.1.3 SWIFT ...... 29 1.1.4 FERMI ...... 32 1.2 EstruturadaDisserta¸c˜ao ...... 33

2. GRBs e Bolas de Fogo ...... 35 2.1 ModelodeBoladeFogo ...... 35 2.1.1 ProblemadaCompacidade...... 36 2.2 Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo ...... 38 2.2.1 Radia¸c˜ao S´ıncroton ...... 42 2.3 EspalhamentoComptonIverso...... 48 2.4 HidrodinˆamicadeGRBs ...... 49 2.4.1 Casok=0 ...... 50 2.4.2 Casok=2 ...... 51 2.5 Evolu¸c˜aoHidrodinˆamicadoGRB ...... 52 2.6 DinˆamicadoAfterglow ...... 54

3. O Afterglow ...... 61 3.1 AfterglowsemRaios-X ...... 61 3.2 ProblemascomosModelos...... 69 4. Campos Magn´eticos em GRBs ...... 73 4.1 Acelera¸c˜ao de Part´ıculas ...... 73 4.2 Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts ...... 76 4.3 Radia¸c˜aoJitter ...... 82 4.4 Polariza¸c˜ao ...... 87

5. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao ...... 95 5.1 Introdu¸c˜ao...... 95 5.2 Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao ...... 97

6. Procedimento Anal´ıtico ...... 101 6.1 C´alculo Anal´ıtico do Campo Magn´etico em Afterglows de GRBs ...... 101

7. Conclus˜oes e Perspectivas ...... 107

Referˆencias ...... 111

Apˆendice 127

A. Livre Caminho M´edio para uma Blast Wave ...... 129

B. Dedu¸c˜ao do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao ...... 131 Cap´ıtulo 1

Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

1.1 Introdu¸c˜ao

O per´ıodo que compreende os anos de 1962 a 1973 pode ser considerado um marco para a astronomia e astrof´ısica. Nesse per´ıodo ocorreram descobertas not´aveis como quasares, estrelas de raio-x, radia¸c˜ao c´osmica de fundo, pulsares e gamma-ray bursts. Essas ob- serva¸c˜oes diversificaram a astrof´ısica e deram origem a uma s´erie de novos estudos e como consequˆencia novos modelos se dedicavam a explicar as diferentes observa¸c˜oes. A f´ısica co- nhecida permitiu que a maior parte dessas observa¸c˜oes fosse explicada pouco tempo ap´os as descobertas. Por outro lado, de toda a lista de descobertas recentes um t´opico ainda permanece envolto em maior mist´erio at´ehoje : os gamma-ray bursts (Katz, 2002). Gamma-ray bursts (GRBs daqui em diante) podem ser considerados uma das mais importantes descobertas da astrof´ısica nas ´ultimas d´ecadas. Al´em disso, s˜ao as explos˜oes mais energ´eticas observadas ap´os o Big Bang podendo durar da fra¸c˜ao de um segundo at´e dezenas de segundos. GRBs s˜ao pulsos curtos e intensos de raios-γ, as fluˆencias observadas costumam variar de 10−4 ergs/cm2 a 10−7 ergs/cm2, onde o limite superior acima de tudo est´arestrito `as caracter´ısticas dos detectores e n˜ao dos bursts em si. Isso corresponde a uma luminosidade isotr´opica da ordem de 1051 1052 ergs/s, tornando-os os objetos mais − luminosos no c´eu. O hist´orico da descoberta dos GRBs se remete ao per´ıodo de guerra fria, onde estava em vigˆencia desde 1963 o tratado para a n˜ao utiliza¸c˜ao ou testes de armas nucleares. O tratado pro´ıbia explos˜oes nucleares na atmosfera, sob a ´agua e no espa¸co. O sat´elite US Vela carregava detectores com o intuito de monitorar explos˜oes nucleares que pudessem vir a violar o tratado. O conjunto de sat´elites Vela (do verbo velar) orbitava em torno de 20 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

100000 km acima da superf´ıcie e carregava a bordo detectores de raios-γ, raios-X, assim como instrumentos capazes de detectar part´ıculas carregadas e neutrons. No dia 2 de julho de 1967, os sat´elites Vela registraram um novo fenˆomeno. Uma explos˜ao nuclear com elevada emiss˜ao em raios-γ que n˜ao pareciam provenientes da ex- plos˜ao de armas nucleares, uma vez que essas produzem um sinal bastante caracter´ıstico que consiste em um pico de emiss˜ao em gamma logo ap´os a explos˜ao (escala de tempo da ordem de milion´esimo de segundo) e depois um decr´escimo gradual. Essas explos˜oes tamb´em n˜ao estavam relacionadas com , ou com a atividade solar, sendo que a varia¸c˜ao desta ´ultima j´atinha sido monitorada anteriormente pelo sat´elite Vela. Apenas em 1973 um grupo de n˜ao astrˆonomos em Los Alamos publicou os seus resultados (Klebe- sadel et al., 1973). As primeiras publica¸c˜oes descreviam bursts que duravam de 0.1 a 30 segundos e que n˜ao aparentavam origem local. Esse fato pode ser conclu´ıdo uma vez que se conhece a diferen¸ca entre os tempos de detec¸c˜ao em diferentes detectores. Essa diferen¸ca permite estabelecer restri¸c˜oes sobre a localiza¸c˜ao da fonte, uma vez que os detectores est˜ao em diferentes distˆancias com rela¸c˜ao a fonte emissora. No caso de se conhecer a posi¸c˜ao relativa entre os detectores, pode-se obter um ˆangulo para a fonte relativo a linha que une os dois detectores. No caso do uso de trˆes detectores ou mais por exemplo, pode-se prever ao menos duas medidas independentes que permitem relacionar se a origem ´elocal ou cosmol´ogica. Com esse tipo de observa¸c˜ao, pode-se perceber que o surto observado n˜ao apontava na dire¸c˜ao de novas ou supernovas conhecidas e nem para o sol ou regi˜ao do sistema solar. A quest˜ao sobre se os GRBs tinham origem local ou cosmol´ogica foi sem sombra de d´uvida o tema que suscitou o maior debate na literatura do tema. At´eaproximadamente o in´ıcio dos anos 90 existia um consenso entre pesquisadores que GRBs eram gerados a partir de instabilidades magn´eticas em estrelas de neutrons gal´acticas, sendo que a evidˆencia mais forte para esse modelo era a detec¸c˜ao de duas linhas espectrais (20 e 40 keV) que poderiam ser relacionadas com a frequˆencia c´ıclotron de um objeto com campo magn´etico de pelo menos 1012 G, t´ıpico de uma estrela de neutrons (Narayan et al., 1992). Tsvi Piran em um dos seus artigos (Piran, 2009) conta que foi Bohdan Paczynski quem se manteve c´etico em rela¸c˜ao a hip´otese de origem gal´actica para GRBs. O principal argumento utilizado por ele era uma cr´ıtica `as observa¸c˜oes, no fato de que essas linhas n˜ao eram observadas Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 21 simultaneamente por dois detectores no mesmo burst. A palavra final desse debate s´oveio anos mais tarde com observa¸c˜oes no ´optico dos chamados afterglows, que permitiriam a determina¸c˜ao espectrosc´opica do redshift. O avan¸co na compreens˜ao dos GRBs evoluiu e continua a evoluir pautado no avan¸co das t´ecnicas de observa¸c˜ao em altas energias. As datas que correspondem aos lan¸camentos de grandes miss˜oes espaciais tamb´em servem de marco para a evolu¸c˜ao hist´orica na com- preens˜ao dos GRBs. Nas pr´oximas se¸c˜oes apresentaremos as miss˜oes mais importantes, assim como tamb´em discutiremos as principais implica¸c˜oes das observa¸c˜oes na evolu¸c˜ao dos modelos.

1.1.1 BATSE e CGRO

O divisor de ´agua na pesquisa relacionada a GRBs certamente foi o lan¸camento do Compton Gamma-ray Observatory (CGRO). O CGRO carregava a bordo um instrumento denominado Burst and Transient Source Experiment (BATSE), que consistia em um ar- ranjo de oito detectores de grande ´area (LADs), sens´ıveis principalmente na faixa de 50-300 keV , em conjunto com pequenos detectores menores para espectroscopia. Em combina¸c˜ao com o instrumento denominado Energetic Gamma-Ray Experiment Telescope (EGRET), observa¸c˜oes de GRBs puderam ser feitas na faixa de 15 keV a 30 GeV. O BATSE pode elevar a estat´ıstica de bursts detectados de algumas centenas para milhares (2704 bursts detectados), o que contribuiu para identificar o fenˆomeno com maior profundidade, assim como estudar a hip´otese de origem cosmol´ogica, tema este de maior controv´ersia `a´epoca. A busca de GRBs no BATSE foi realizada examinando emiss˜oes maiores que > 5.5σ acima da emiss˜ao de background em escalas de tempo de 64, 256 e 1024 ms (Dermer e Fryer, 2008) e triggers fracos de at´e0.5 f´otons cm−2s−1, o que corresponderia a uma sensibilidade no fluxo de energia de at´e10−7ergs/cm2s. Em alguns casos raros, na faixa de raios-x duros e raios-γ moles, o pico no fluxo pode alcan¸car centenas de f´otons por cm−2s−1. Podemos expressar a sensibilidade de um detector de alta energia em termos de um

fluxo de energia limite Φthr, e impor a condi¸c˜ao de que Φ > Φthr para a detec¸c˜ao. Para 2 fontes n˜ao colimadas de luminosidade L∗ e distˆancia d,Φ= L∗/4πd , de modo que a distˆancia para um determinado fluxo seja: 22 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

L d(Φ) = ∗ (1.1) r4πΦ Deste modo, temos uma rela¸c˜ao bem conhecida para o n´umero de fontes distribu´ıdas uniformemente com densidade n0 em um espa¸co Euclidiano:

d(Φ) N(>φ)= N(

Considerando um volume V qualquer e Vmax o volume para o qual uma fonte com fluxo Φ pode ser detectado, temos que:

1 N Φ V/V = ( i )−3/2 (1.3) h maxi N Φ i=1 thr X Um dos principais resultados do BATSE foi sobre a escala de distˆancia dos GRBs. Como dissemos anteriormente na era pr´e-BATSE a comunidade estava dividida entre modelos que defendiam a origem gal´actica dos bursts e modelos que previam origem cosmol´ogica. Essa discuss˜ao se tornou t˜ao acirrada que deu origem ao chamado Grande Debate , fazendo referˆencia ao debate entre Shapley e Curtis sobre o tamanho da gal´axia ocorrido em 1920 em Harvard. Em abril de 1995 um outro debate intitulado Escala de Distˆancias para Gamma-Ray Bursts ocorreu na mesma sala, onde os agora protagonistas Bohdan Paczynski e Donald Lamb defendiam respectivamente a origem cosmol´ogica e gal´actica para GRBs (Dermer e Fryer, 2008). Bohdan argumentava que depois do acr´escimo na amostra de bursts realizada pelo BATSE era poss´ıvel visualizar uma distribui¸c˜ao isotr´opica no c´eu com ausˆencia de momento de dipolo (o que corresponderia a nossa posi¸c˜ao com rela¸c˜ao ao centro da gal´axia) e ausˆencia de concentra¸c˜ao no plano da gal´axia, o que consistia em fortes evidˆencias a favor da origem cosmol´ogica. Al´em disso, os dados apontavam para uma ausˆencia de bursts fracos, distanciando-se dessa forma da lei que prevˆe(equa¸c˜ao 1.2) a rela¸c˜ao entre o n´umero de bursts e o fluxo de energia, indicando que ou a densidade de n´umero de bursts ´ediminu´ıda para largas distˆancias ou o espa¸co no qual est˜ao inseridos ´en˜ao-Euclidiano. Esse ´ultimo fato ´econsistente com a distribui¸c˜ao de objetos cosmol´ogicos (altos ) e inconsistente com a distribui¸c˜ao de objetos gal´acticos. As figuras 1.1 e 1.2 ilustram o comportamento que acabamos de descrever. Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 23

Figura 1.1: Localiza¸c˜ao de todos os 2704 GRBs detectados pelo BATSE em coordenadas gal´acticas. O plano da gal´axia ´ea linha horizontal no meio da figura.

O BATSE era suficientemente sens´ıvel para detectar bursts origin´arios de fora da gal´axia. No entanto o problema sobre a origem cosmol´ogica n˜ao estava completamente resolvido uma vez que o halo gal´actico poderia mascarar uma distribui¸c˜ao similar a que foi observada. A era BATSE ainda ´erespons´avel pela nomenclatura atual utilizada em GRBs que segue o seguinte modelo GRBAAMMDD, onde AA, MM e DD, significam respectivamente os dois ´ultimos d´ıgitos do ano, o mˆes e o dia de descoberta do burst. No caso de se descobrir mais de um evento no mesmo dia s˜ao acrescentadas as letras a,b,c e assim por diante, como no caso de GRB051221a, um dos GRBs detectados no dia 21 de dezembro de 2005. Outras observa¸c˜oes importantes tamb´em foram feitas com o BATSE, entre elas a da diversidade morfol´ogica das curvas de luz para os GRBs, variando desde curvas suaves, 24 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

Figura 1.2: Distribui¸c˜ao de 140 bursts como fun¸c˜ao do pico de contagem. Uma lei de potˆencia do tipo -3/2 ´eesperada para uma distribui¸c˜ao homogˆeneadas fontes.

com cresimento r´apido at´ecurvas com muitos picos e alta variabilidade, em um intervalo de milisegundos at´eminutos (figura 1.3). Um ponto interessante que repousa sobre as observa¸c˜oes realizadas nesta ´epoca ´eo da determina¸c˜ao do tempo de dura¸c˜ao dos bursts. Isso fez com que os GRBs passassem a ser classificados em dois grupos: longos e curtos (ou ainda moles e duros respectivamente). A distribui¸c˜ao de bursts pelo intervalo de tempo no qual eram contabilizados resultou em bimodalidade. O crit´erio oficialmente adotado para a classifica¸c˜ao ´eo chamado T90 (ou

T50) e que corresponde ao intervalo de tempo necess´ario para a contagem de 5% a 95% (ou

25% a 75%) dos f´otons em raios-γ na faixa de 50 keV - 300 keV . Bursts com T90 > 2s s˜ao denominados longos e com T90 < 2s s˜ao denominados curtos, sendo que os curtos representam aproximadamente 30% da amostra do BATSE (figura 1.4). A diferen¸ca entre as duas classes curtos e longos pode tamb´em ser visualizada no espec- tro. O BATSE mediu a fluˆencia de um burst em diferentes canais, cada um correspondendo a uma faixa de energia. A chamada raz˜ao de dureza, definida como a raz˜ao entre a fluˆencia Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 25

Figura 1.3: Curvas de luz dos bursts detectados pelo BATSE, demonstrando a variabilidade e diversidade.

no canal 3 (100 - 300 keV ) e o canal 2 (50 - 100 keV ), representou uma medida da du- reza espectral de um burst. Bursts curtos tendem a apresentar valores mais elevados da raz˜ao de dureza dos que os longos como pode ser visto na figura 1.5, o que evidenciou a possibilidade de que cada classe esteja associada a diferentes progenitores. Ainda no que se refere ao espectro, os estudos do BATSE demonstraram que a energia de pico das emiss˜oes se encontram tipicamente na faixa de 100 keV - MeV . Uma excelente 26 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

Figura 1.4: Histograma mostrando a distribui¸c˜ao de bursts de acordo com o tempo carac-

ter´ıstico T90 para as observa¸c˜oes do BATSE.

Figura 1.5: Raz˜ao de dureza em fun¸c˜ao de T90 para os GRBs do BATSE. Bursts curtos apresentam valores mais elevados da raz˜ao do que bursts longos. Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 27 fun¸c˜ao emp´ırica (equa¸c˜ao 1.4) que ajusta os espectros foi encontrada por Band (Band et al., 1993):

hν)α exp( −hν ) se hν H  − × − onde H (α β)E e α e β s˜ao ajustados a partir das observa¸c˜oes. N˜ao existe nenhum ≡ − 0  modelo particular que possa prever a forma espectral da fun¸c˜ao encontrada por Band, ainda assim ela provˆeum excelente ajuste a maior parte do espectro observado. Ela pode ser caracterizada por duas leis de potˆencia que se juntam suavemente em uma energia de quebra H. Para a maior parte das observa¸c˜oes os valores de α e β, νF ν2N(ν) tem seu ν ∝ pico em E = (α + 2)E = [(α + 2)/(α β)]H. A amostra do BATSE encontrou valores p 0 − t´ıpicos de α = 1, β = 2.25 e H = 256keV . Algumas vezes o espectro ´eajustado por − − uma simples lei de potˆencia do tipo:

N(E)dE E−αdE. (1.5) ∝ onde nesses casos o ´ındice da lei de potˆencia ´edenotado por α, e um valor t´ıpico ´e α ≈ 1.8 2. (Schaefer et al., 1998). − Podemos dizer que acima de tudo o espectro ´en˜ao-t´ermico, evidenciando que a fonte deve ser opticamente fina, e que o espectro se desvia do de um corpo negro tanto no limite de baixa quanto no de alta energia. No limite de altas energias isso leva a um problema peculiar que ´eo fato da radia¸c˜ao estar escapando da fonte sem produzir pares el´etron-p´ositron. No limite de baixas energias o espectro se comporta na maioria das vezes como uma lei de potˆencia o que ´ecompat´ıvel com o processo de emiss˜ao s´ıncroton, onde el´etrons relativ´ısticos espiralam em torno do campo magn´etico. Schaefer (Schaefer et al., 1998) mostrou que 90% dos bursts satisfazem este limite, no entanto existem bursts com emiss˜oes mais acentuadas em baixas energias o que n˜ao poderia ser explicado apenas com a radia¸c˜ao s´ıncroton. Ainda n˜ao ´eclaro como esse excesso pode ser produzido. Apesar dos grandes avan¸cos impulsionados pelo BATSE, ele deixou uma lacuna muito grande no sentido de observar a regi˜ao adjacente ao GRB em instantes logo ap´os o burst e em outros comprimentos de onda. Isso acarretou em uma grande carˆencia na detec¸c˜ao de bursts curtos uma vez que o tempo de processamento para a determina¸c˜ao da regi˜ao emis- sora ap´os o trigger era muito longo. A tentativa de aperfei¸coar ainda mais os instrumentos levou a uma nova gera¸c˜ao com melhorias consder´aveis e que revelou novos fenˆomenos. 28 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

Figura 1.6: Exemplo de espectro ajustado com a fun¸c˜ao de Band. Aqui α = 0.967 0.022 − ± e β = 2.427 0.07. − ±

1.1.2 HETE-2 e Beppo-Sax

Telesc´opios de raios-γ est˜ao em um universo bastante diferente dos telesc´opios ´opticos. Como os f´otons de raios-γ n˜ao podem ser refratados ou refletidos com espelhos e lentes, a resolu¸c˜ao angular ´ebastante prejudicada (ver Sch¨onfelder (2004) para uma revis˜ao dos m´etodos de detec¸c˜ao em γ). O BATSE por exemplo, ao detectar o burst n˜ao conseguia precisar a fonte com resolu¸c˜ao suficiente de modo a permitir r´apido apontamento para observa¸c˜oes em outras faixas do espectro com o uso de telesc´opios no solo, ou at´emesmo a determina¸c˜ao do redshift. Em 1997 uma nova era se iniciou no estudo de GRBs com o lan¸camento do sat´elite Beppo-Sax, convˆenio entre Alemanha e It´alia. E´ inquestion´avel que a maior contribui¸c˜ao do Beppo-Sax foi a primeira detec¸c˜ao de um afterglow associado ao GRB970228. Essa detec¸c˜ao s´ofoi poss´ıvel devido ao fato de que o Beppo-Sax carregava a bordo instrumentos que podiam monitorar as emiss˜oes de raios-γ, assim como intrumentos em raios-x, que inclu´ıam cˆameras de campo largo e campo estreito, com resolu¸c˜oes angulares de at´e1 arcmin (Boella et al., 1997). Deste modo, a observa¸c˜ao poderia ocorrer com uma cˆamera Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 29 de campo largo com precis˜ao de at´e5 arcmin, suficientemente precisa para reorientar o sat´elite, de modo a apontar a cˆamera de campo estreito para a fonte. Assim, em 28 de fevereiro de 1997 foi observado o primeiro afterglow em raios-x (Metzger et al., 1997). O processo de detec¸c˜ao e determina¸c˜ao de coordenadas para a reorienta¸c˜ao levava em torno de oito horas, mas era suficientemente preciso para permitir que telesc´opios terrestres apontassem para a fonte. O redshift pode ser determinado para o afterglow do GRB970228, encontrando-se o valor de z = 0.498. A determina¸c˜ao do redshift, foi o golpe de miseric´ordia nos modelos que previam GRBs como eventos gal´acticos. Muitas outras observa¸c˜oes de afterglows se seguiram, principalmente com o lan¸camento do High-Energy Transient Explorer (HETE-2) em 9 de outubro de 2000. O HETE-2 melhorou a qualidade das observa¸c˜oes de afterglows, mas acima de tudo permitiu identificar com detalhes uma nova classe de fontes denominadas X-Ray Flashes, similares aos GRBs, por´em mais fracos e j´adetectados previamente pelo Beppo-Sax. Um outra descoberta ainda pelo HETE-2 de importˆancia inquestion´avel foi a detec¸c˜ao de supernovas tipo Ic associadas com GRBs. O HETE-2 por´em n˜ao cumpriu uma importante miss˜ao de observar GRBs curtos e seus afterglows. Em 2005 ainda n˜ao havia nenhuma observa¸c˜ao de afterglows de GRBS curtos. Isto pode ser deduzido pelo fato que descrevemos anteriormente relacionado ao atraso entre o tempo de detec¸c˜ao e o tempo de apontamento. No caso do HETE-2 as observa¸c˜oes de raios-x foram muito ´uteis para vincular a posi¸c˜ao da fonte. Apesar disso, a primeira detec¸c˜ao de afterglow para um burst curto s´opode ser realizada pelo SWIFT.

1.1.3 SWIFT

O SWIFT foi o instrumento da NASA lan¸cado em 2004 exclusivamente dedicado ao estudo de GRBs. Nos sat´elites que descrevemos nas se¸c˜oes anteriores existia um intervalo de at´e8 horas entre a detec¸c˜ao do burst inicial e as observa¸c˜oes subsequentes. Isso implicava na perda de informa¸c˜oes importantes das primeiras fases do afterglow. O SWIFT foi projetado de modo a permitir o r´apido apontamento (do termo swiftly) ap´os o trigger. A figura 1.7 mostra um esquema b´asico da disposi¸c˜ao dos instrumentos a bordo do SWIFT (Gehrels, 2004): O SWIFT pode ser considerado um instrumento diferenciado em pelo menos quatro 30 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

Figura 1.7: Esquema de montagem do SWIFT e os principais instrumentos a bordo.

aspectos:

o Burst Alert Telescope (BAT) pode calcular a posi¸c˜ao da fonte em resolu¸c˜ao de at´e • 4 arcmin;

a espa¸conave pode fazer o apontamento em modo autˆonomo em 20 a 70 segundos • ap´os a detec¸c˜ao;

o X-Ray Telescope (XRT) determina a posi¸c˜ao com resolu¸c˜ao de at´e5 arcsec; • o instrumento UVOT pode imagear o campo e transmitir os mapas para o solo. • Esse tipo de estudo permite a melhor compreens˜ao poss´ıvel at´eo momento sobre as gal´axias hospedeiras e a sequˆencia de eventos que se seguem ao GRB.

Deste modo, o SWIFT tem permitido estudar as transi¸c˜oes entre as emiss˜oes iniciais ca´oticas e os primeiros momentos do afterglow. Essas observa¸c˜oes acarretaram na de- tec¸c˜ao de quebras no espectro de lei de potˆencia das emiss˜oes do afterglow. Discutiremos este fato em maior profundidade no cap´ıtulo sobre o afterglow, por´em ´eimportante des- Se¸c˜ao 1.1. Introdu¸c˜ao 31 tacar aqui que este fato foi uma das primeiras evidˆencias de que a eje¸c˜ao poderia estar colimada. Entre os feitos do SWIFT est˜ao a detec¸c˜ao de afterglows de bursts curtos, o que per- mitiu a detec¸c˜ao de redshifts e a confirma¸c˜ao da hip´otese de origem cosmol´ogica para os mesmos. Al´em disso, a observa¸c˜ao dos chamados red bumps e do brilho secund´ario tardio que costumam ser associados a supernovas foram detectados na maioria do bursts longos, e n˜ao detectados nos curtos o que fortalece a hip´otese da associa¸c˜ao com diferents proge- nitores: fus˜ao de objetos compactos para GRBs curtos e colapsos de estrelas massivas no caso de GRBs longos. Um dos pontos interessantes ´ea sua sensibilidade para energias menores (15 a 150 keV ), e bursts de maior dura¸c˜ao, quando comparado aos seus antecessores. Dessa forma, ele ´e mais sens´ıvel a redshifts mais elevados, o que possibilitou duas descobertas importantes, a do GRB050904 com redshift z = 6.295 e do GRB090423 com redshift z = 8.2. A figura 1.8 mostra a distribui¸c˜ao de bursts a partir do redshift comparando as observa¸c˜oes antes e depois do SWIFT. O SWIFT continua ativo e pode ainda trazer novos resultados no que se refere a pesquisas com GRBs.

Figura 1.8: Histograma mostrando a distribui¸c˜ao de bursts de acordo com o redshift para as observa¸c˜oes antes e depois do SWIFT. 32 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts

1.1.4 FERMI

Como demonstramos a partir das se¸c˜oes anteriores ´efato de que grandes avan¸cos na f´ısica de GRBs correspondem a uma mudan¸ca na instrumenta¸c˜ao. No dia 11 de junho de 2008 (durante o andamento desta disserta¸c˜ao) inicou-se uma nova fase na pesquisa de GRBs com o lan¸camento do Gamma-ray Large Area Space Telescope, mais tarde renomeado para Fermi. O FERMI foi projetado para estudar diversos processos astrof´ısicos na escala de raios-γ e n˜ao apenas GRBs, mas outras fontes tais como pulsares, o brilho difuso da via-l´actea na faixa dos 100 MeV-GeV, flares solares, blazares e at´emesmo processos relacionados com a aniquila¸c˜ao de mat´eria escura e raios-c´osmicos. Com o FERMI se juntam outros experimentos relacionados com a astrof´ısica de altas energias como o VERITAS, HESS, CANGAROO III, MAGIC-2 e HAWC. Existem mecanismos conhecidos que podem gerar f´otons com energias acima de 20GeV em GRBs, embora n˜ao tenha ocorrido nenhuma detec¸c˜ao at´eagora. Uma das possibili- dades que o FERMI abre ´ea de poder observar f´otons com energia de at´e300GeV .A ausˆencia de detec¸c˜ao at´eo lan¸camento do FERMI para f´otons de energias elevadas es- teve seriamente limitada pelos instrumentos e n˜ao pela existˆencia ou n˜ao da emiss˜ao. O EGRET (instrumento do CGRO) e o SWIFT n˜ao s˜ao sens´ıveis para energias maiores de 50GeV , e dessa forma incapazes de detectar emiss˜oes de energias muito altas em GRBs. O EGRET apesar de uma sensibilidade de 100 GeV, n˜ao conseguiu perceber o fluxo muito pequeno dessas emiss˜oes em distˆancias cosmol´ogicas. O FERMI com dois de seus instrumentos LAT (Large Area Telescope) e GBM (Gamma

1 Burst Monitor) possui um campo de vis˜ao (FOV) de 5 do c´eu, podendo fazer uma varredura completa do c´eu a cada 3 horas. A sua ´area efetiva de 9000cm−2 para f´otons em GeV combinado com seu FOV permitem que ele possa captar a mesma quantidade de f´otons de altas energias que o EGRET detectou em um ano em apenas 4 dias. O GBM apesar de compar´avel com o BATSE apresenta uma maior sensibilidade entre 1 - 30 MeV devido ao cintilador de bismuto-germanato, podendo detectar at´e200 GRBs por ano. As maiores possibilidades portanto, quanto a novos fenˆomenos relacionados ao FERMI e GRBs s˜ao as emiss˜oes altas energias. Existe um interesse especial nessas emiss˜oes, tanto no sentido de entender a sua origem atrav´es de mecanismos astrof´ısicos, quanto no seu Se¸c˜ao 1.2. Estrutura da Disserta¸c˜ao 33 uso para testes de teorias de gravita¸c˜ao quˆantica. Espera-se ainda que o Fermi permita estudar algumas fontes de raios-γ ainda n˜ao identificadas.

1.2 Estrutura da Disserta¸c˜ao

Esta disserta¸c˜ao est´aorganizada de modo a apresentar uma breve revis˜ao sobre os GRBs. Na Introdu¸c˜ao nos dedicamos a revisar o hist´orico das observa¸c˜oes e avan¸cos ocorridos essencialmente devido ao lan¸camento de novas miss˜oes. No cap´ıtulo 2 abordamos o modelo de bola de fogo. No cap´ıtulo 3 abordamos o afterglow, a fenomenologia envolvida e os modelos da literatura para a curva de luz. No cap´ıtulo 4 apresentamos os principais problemas envolvidos com o modelo padr˜ao do afterglow que essencialmente se reumem a acelera¸c˜ao de part´ıculas e intensidade do campo magn´etico nessa regi˜ao. No cap´ıtulo 5 apresentamos uma proposta inovadora para solu¸c˜ao do problema de campos magn´eticos atrav´es do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao. No cap´ıtulo 6 demonstramos o procedimento anal´aitico para chegar ao nosso resultado. O cap´ıtulo 7 se dedica a conclus˜oes e perspectivas futuras. No sentido de preservar o foco do cap´ıtulo em rela¸c˜ao a proposta principal, ao final dedicamos apˆendices com o objetivo de tornar mais claras algumas passagens e dedu¸c˜oes. Os apˆendices encontram-se referenciados ao longo do texto. 34 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao aos Gamma-Ray Bursts Cap´ıtulo 2

GRBs e Bolas de Fogo

2.1 Modelo de Bola de Fogo

O GRB em si, se origina a partir de uma explos˜ao, que como dissemos anteriormente parece associado a um efeito catastr´ofico de libera¸c˜ao de energia a partir de objetos massi- vos. No caso de bursts longos, o progenitor parece ser o colapso do core de estrelas massivas (Paczynski, 1998; MacFadyen e Woosley, 1999), enquanto que no caso de bursts curtos, as propostas na literatura (Paczynski, 1986; Eichler et al., 1989) s˜ao de que eles estejam associados a mergers de objetos compactos, o que apesar de ainda n˜ao completamente estabelecido vem ganhando algum suporte observacional (Berger et al., 2005; Fox et al., 2005). Independentemente do progenitor, a energia liberada no colapso gravitacional ou do merger involve a convers˜ao de algumas massas solares, em energia livre em uma escala de tempo de alguns milisegundos dentro de um volume de dezenas de kilˆometros c´ubicos. Essa energia inicial, ´eent˜ao aumentada na mesma ordem de grandeza em um volume ligeiramente maior, em uma escala de tempo de segundos a centenas de segundos, pelo efeito de acres¸c˜ao do g´as no objeto central (M´esz´aros, 2006). O principal resultado desse repentino processo de libera¸c˜ao de energia gravitacional (da ordem da massa de repouso do Sol) neste volume compacto, ´ea convers˜ao de uma fra¸c˜ao de energia em neutrinos inicialmente em equil´ıbrio t´ermico, e ondas gravitacionais, enquanto uma fra¸c˜ao significativamente menor (10−2 - 10−3) se propaga em uma bola de fogo rela- tiv´ıstica de elevada temperatura (kT MeV) consistindo em e±, raios-γ e b´arions. Esta ∼ bola de fogo, ´etransparente a ondas gravitacionais, e depois de muitas intera¸c˜oes tamb´em aos neutrinos. Essa ´ea origem no modelo de fireball da emiss˜ao r´apida (prompt emission) 36 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo em escala de alguns segundos, de uma quantidade de energia de aproximadamente 1053 ergs de neutrinos t´ermicos νeν¯e com energias t´ıpicas de 10-30 MeV, e de ondas gravitacionais na faixa de aproximadamente 102 103 Hz. Essas duas formas dominantes de energia n˜ao − s˜ao detect´aveis devido a limita¸c˜oes observacionais. Uma fra¸c˜ao menor da energia liberada da ordem de 1050 1052 ergs permanecem presas em uma bola de fogo de e±, raios-γ e − b´arions, que tamb´em cont´em uma quantidade compar´avel de energia magn´etica. Essa bola de fogo ´eo que d´aorigem ao espectro n˜ao-t´ermico de raios-γ. Deste modo esta ´ea explos˜ao electromagn´etica mais intensa no universo. Se compararmos GRBs a supernovas apesar da energia cin´etica e electromagn´etica serem compar´aveis em ambos os casos, as supernovas tem emiss˜ao predominantemente no ´optico durando at´emeses, enquanto que GRBs emitem predominantemente em raios-γ e em algumas fra¸c˜oes de segundos (M´esz´aros, 2006). O modelo de bola de fogo prevˆeque a radia¸c˜ao electromagn´etica observada ´eprove- niente de mergers e colapso gravitacional. A luminosidade inferida a partir das energias e escalas de tempo discutidas nas observa¸c˜oes ´emuitas ordens de magnitude maior que a luminosidade de Eddington:

4πGMmpc LE = (2.1) σT que especifica a luminosidade acima da qual a press˜ao radiativa excede a auto-gravidade, fazendo com que a bola de fogo se expanda. Na equa¸c˜ao 2.1 σT ´ea se¸c˜ao de choque de Thomson. Apesar disso, o que define realmente a velocidade de expans˜ao ´ea quantidade de b´arions presentes na bola de fogo, o que leva ao problema da compacidade.

2.1.1 Problema da Compacidade

O problema da compacidade se apresenta como um dos mais importantes na astrof´ısica de GRBs. O problema foi percebido desde muito cedo por Ruderman e Schmidt (Ruder- man, 1975; Schmidt, 1978). Ambos usaram esse problema no sentido de argumentar que GRBs n˜ao pudessem ter origem cosmol´ogica. Como hoje sabemos atrav´es de outros meios (como a determina¸c˜ao do redshift) que a origem cosmol´ogica ´erealmente um fato, podemos contornar esse problema atrav´es da teoria da relatividade restrita. Um dos modos mais simples de entender esse problema ´eatrav´es do c´alculo da opacidade m´edia no processo de produ¸c˜ao de pares a partir de raios-γ em uma bola de fogo. Se considerarmos um Se¸c˜ao 2.1. Modelo de Bola de Fogo 37 burst t´ıpico com fluˆencia observada F , emitindo isotropicamente a uma distˆancia D, essa fluˆencia corresponde a uma libera¸c˜ao total de energia dada por:

D 2 F E = 4πD2F = 1050ergs . (2.2) 3000 Mpc 10−7ergs/cm2     Um variabilidade temporal r´apida na escala de tempo de δT 10 ms implica que a fonte ≈ ´ecompacta com um tamanho R < cδT 3000 km. O espectro de GRBs tem uma grande i ≈ quantidade de f´otons de alta energia que poderiam interagir com f´otons menos energ´eticos dando origem ao processo de produ¸c˜ao de pares el´etron-p´ositron via γγ e+e−. Se → denotarmos por fp a fra¸c˜ao de f´otons que podem dar origem a esse processo satisfazendo a conserva¸c˜ao de energia, temos que a profundidade ´optica ´e dada por (Guilbert et al., 1983; Carrigan e Katz, 1992; Piran e Shemi, 1993):

2 fpσT FD τγγ = 2 2 , Ri mec ou F D 2 δT −2 τ = 1013f , (2.3) γγ p 10−7ergs/cm2 3000 Mpc 10 msec      Essa profundidade ´optica ´emuito grande, no entanto o espectro n˜ao-t´ermico indica com certeza que as fontes emissoras devem ser opticamente finas. Um c´alculo alternativo a este ´econsiderar a profundidade ´optica de um f´oton de energia mais elevada (GeV) interagindo com energia ainda mais baixa, mas as observa¸c˜oes dizem que f´otons na escala de GeV podem escapar livremente, ou em outras palavras, a profundidade ´optica precisa ser menor que a unidade (Fenimore et al. (1993)). O ponto interessante a ser notado ´eque o problema surge, devido ao fato de que a estimativa do tamanho da fonte emissora ´efeita a partir da escala de tempo na qual a variabilidade de tempo ´epercebida pelo observador. Isso pode sugerir que as contas precisem ser refeitas de modo a incorporar efeitos relativ´ısticos. O efeito relativ´ıstico pode ser incorporado assumindo uma fonte de radia¸c˜ao que se move em rela¸c˜ao ao observador em repouso com uma velocidade relativ´ıstica caracterizada por um fator de Lorentz γ = 1/ 1 v2/c2 1. F´otons com energia hν sofrem blueshift − ≫ obs de modo que a energia na fontep era hν /γ. Como a energia na fonte ´emenor, apenas ≈ obs uma pouca quantidade de f´otons possuem energia suficiente para produzir pares. Deste

−2α modo, a fra¸c˜ao fp de f´otons que poderia produzir pares ´emenor por um fator γ , onde α 38 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

´eo fator espectral de alta energia. Ao mesmo tempo, devemos considerar o efeito de que

2 o raio no qual a radia¸c˜ao ´eemitida, Re < γ cδT seja maior do que a estimativa original 2 Re < cδT por um fator de γ , de modo que obtemos:

2 fp σT FD τγγ = 2α 2 2 , γ Remec ou 1013 F D 2 δT −2 τ f , (2.4) γγ ≈ γ(4+2α) p 10−7ergs/cm2 3000 Mpc 10 msec      onde agora sim temos o regime relativ´ıstico inclu´ıdo. O problema da compacidade pode agora ser resolvido se a fonte se move relativistivamente na nossa dire¸c˜ao (observador na Terra) com um fator de Lorentz de:

γ > 1013/(4+2α) 102 (2.5) ≈ Uma discuss˜ao mais detalhada pode ser encontrada em (Fenimore et al., 1993; Woods e Loeb, 1995), fornecendo limites compar´aveis para γ. Um movimento relativ´ıstico como esse n˜ao ´eencontrado em nenhum outro evento astrof´ısico at´e agora. Jatos extragal´acticos tem fator de Lorentz 10, enquanto que jatos gal´acticos relativ´ısticos tem fator de Lorentz ∼ 2 ou menos. A id´eia de que o movimento relativ´ıstico poderia solucionar o problema da ∼ compacidade s´oocorreu na literatura a partir dos anos 80 com os trabalhos de (Goodman, 1986; Krolik e Pier, 1991).

2.2 Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo

A evolu¸c˜ao dinˆamica de uma bola de fogo pode ser compreendida de um ponto de vista bastante qualitativo e fenomenol´ogico. Como vimos na ´ultima se¸c˜ao, uma bola de fogo formada pela explos˜ao do core de uma estrela massiva, ou por efeitos de merger de objetos compactos tem energia suficiente para criar pares el´etron-p´ositron. O problema da com- pacidade estabelece v´ınculos na propriedade ´optica desta bola de fogo, estabelecendo que para reproduzirmos as condi¸c˜oes observadas, necessitamos de uma propaga¸c˜ao relativ´ıstica com elevado fator de Lorentz ( 100). ∼ Um fato importante de ser observado ´eo do papel da mat´eria bariˆonica que pode ser tanto injetada junto com a radia¸c˜ao original, como ser coletado a partir do material do Se¸c˜ao 2.2. Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo 39 meio que circunda a fonte. Inicialmente quando a temperatura ´eelevada, a opacidade ´e dominada devido a produ¸c˜ao de pares e+e−, por´em quando a temperatura cai abaixo do limiar de produ¸c˜ao estes se aniquilam. Quando a temperatura local fica abaixo de 20keV o n´umero de pares se torna suficientemente pequeno, e o plasma se torna opticamente fino fazendo com que a radia¸c˜ao se propague livremente ao infinito. A influˆencia dos b´arions pode ser percebida de duas formas. Os el´etrons associados com a mat´eria aumentam a opacidade, atrasando o escape da radia¸c˜ao. Como j´adissemos quando a temperatura ´eelevada a produ¸c˜ao de pares domina, por´em essa opacidade decai exponencialmente com o decr´escimo da temperatura e cai para a unidade em 20keV. Por outro lado, a opacidade da mat´eria decresce com R−2, onde R ´eo tamanho da bola de fogo. Essas opacidades competem de forma que a opacidade proveniente da contamina¸c˜ao bariˆonica limita o in´ıcio da emiss˜ao fazendo inclusive que ela aconte¸ca a temperaturas ainda mais baixas. O outro fato est´arelacionado com a id´eia de que os b´arions s˜ao acelerados com o material da bola de fogo e convertem parte da radia¸c˜ao em energia cin´etica, fazendo que a bola de fogo tenha duas fases distintas, uma dominada pela radia¸c˜ao e a outra dominada pela mat´eria. Uma vez que a energia inicial da bola de fogo seja convertida em energia cin´etica dos b´arions, podemos estimar que essa eje¸c˜ao de mat´eria bariˆonica seja adiab´atica. Isso nos permite calcular rela¸c˜oes de escala para o material ejetado. Se assumirmos mp = 1,c = e 1,p = 3 podemos escrever que (Xu, 2009):

∂ 1 ∂ (nγ)+ (r2nu) = 0 (2.6) ∂t r2 ∂r ∂ 1 ∂ (e3/4γ)+ (r2e3/4u) = 0 (2.7) ∂t r2 ∂r ∂ 4 1 ∂ 4 [(n + e)γu]+ [r2(n + e)u2] = 0 (2.8) ∂t 3 r2 ∂r 3 onde u = γ2 1 γ, e representa a energia interna. − ∼ Com asp equa¸c˜oes acima podemos derivar as rela¸c˜oes de escala entre r,γ,n,e. O processo para essa deriva¸c˜ao pode ser feito por exemplo, tomando a primeira equa¸c˜ao e multipli- cando ambos os lados por r2 e depois expandindo as derivadas: 40 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

∂ 1 ∂ (nγ)+ (r2nu) = 0 (2.9) ∂t r2 ∂r ∂ ∂ r2 (nγ)+ (r2nγ) = 0 ⇒ ∂t ∂r ∂γ ∂n ∂r2 ∂n ∂γ r2n + r2γ + nγ + r2γ + r2n = 0 ⇒ ∂t ∂t ∂r ∂r ∂r ∂γ ∂n ∂r2 ∂n ∂γ r2n dt + r2γ dt + nγ dr + r2γ dr + r2n dr = 0 ⇒ ∂t ∂t ∂r ∂r ∂r ∂γ ∂γ ∂n ∂n ∂r2 r2n( dt + dr)+ r2γ( dt + dr)+ nγ dr = 0 (2.10) ⇒ ∂t ∂r ∂t ∂r ∂r r2ndγ + r2γdn + nγdr2 = 0 ⇒ d(r2nγ) = 0 ⇒

onde usamos o fato de que dr = cdt = dt na dire¸c˜ao radial. Dessa forma temos que:

r2nγ = const. (2.11)

procedendo analogamente para as outras equa¸c˜oes podemos encontrar que:

r2e3/4γ = const. (2.12)

r2(n + 4e/3)γ2 = const. (2.13)

Com as trˆes equa¸c˜oes 2.11,2.13,2.13 podemos estudar caracter´ısticas das duas fases: (1) fase dominada pela radia¸c˜ao quando e n, ≫

γ r, n r−3,e r−4 (2.14) ∝ ∝ ∝ Durante essa fase a bola de fogo ´eacelerada, e o fator de Lorentz aumenta com o raio. Essa fase ´ea chamada fase de acelera¸c˜ao. (2) para a fase em que os b´arions dominam quando e n, ≪

γ const., n r−2,e r−8/3 (2.15) ∼ ∝ ∝ Durante essa fase o fator de Lorentz permanece constante. Esse per´ıodo ´edenominado algumas vezes como fase de deslizamento (coasting phase). Se¸c˜ao 2.2. Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo 41

Definidas essas rela¸c˜oes de escalas podemos entender quando se d˜ao os processos de emiss˜ao. A emiss˜ao r´apida (prompt emission) em raios-γ por exemplo deve ser prova- velmente originada na fase em que duas cascas (shells) colidem quando entram na fase de deslizamento. Duas cascas podem ser emitidas com velocidades distintas devido ao comportamento ca´otico da fonte e colidir. Como compara¸c˜ao a emiss˜ao do afterglow por exemplo, deve iniciar quando a energia cin´etica do material circundante ´ecompar´avel a da bola de fogo entrando na fase de deslizamento. Os choques que ocorrem entra as shells neste momento em que descrevemos s˜ao cha- mados choques internos, e a modelagem que envolve tamb´em o afterglow recebe o nome de modelo de choques internos-externos. Cabe-nos ainda neste momento comentar alguns problemas no que se refere ao modelo de choques internos. O primeiro e talvez mais im- portante ´eno que se refere a eficiˆencia do processo. A transforma¸c˜ao de energia do jato em radia¸c˜ao oferece uma eficiˆencia de apenas 1 - 10% na faixa de energia de 20keV - 1MeV (Kumar, 1999; Panaitescu et al., 1999), o que ´emuito pouco para reproduzir observa¸c˜oes. Kobayashi, Piran e Sari (1997), e Piran (2004) fazem uma estimativa da eficiˆencia baseada na colis˜ao de duas cascas de massas mr e msque se movem em velocidades relativ´ısticas: Γ & Γ 1, de modo que o fator de Lorentz resultante da colis˜ao considerada el´astica r s ≫ seja:

mrΓr + msΓs Γm . (2.16) ≃ smr/Γr + ms/Γs A energia interna, no referencial local e no referencial de um observador E , Eint int representam a energia da casca resultante E =Γ , que ´ea diferen¸ca entre as energias int mEint cin´eticas de antes e depois da colis˜ao. Desta forma, a eficiˆencia ǫ da convers˜ao de energia cin´etica em energia interna ´edada por:

(m + m )Γ ǫ = 1 r s m . (2.17) − (mrΓr + msΓs)

Como era de se esperar, para que a eficiˆencia seja alta precisamos de uma diferen¸ca consider´avel nas velocidades entre as cascas (Γ Γ ) e que as duas massas sejam com- r ≫ s par´aveis m m (Daigne e Mochkovitch, 1998; Kobayashi et al., 1997)). r ≈ s Outro problema que envolve eficiˆencia ´eque n˜ao necessariamente toda energia interna gerada ´eemitida. Mais detalhes deste problema podem ser encontrados em Kobayashi 42 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo e Sari (2001). A figura 2.1 mostra de forma esquem´atica a produ¸c˜ao dos raios-γ e dos choques internos. Um modelo alternativo ao de choques internos ´eo chamado Modelo de Turbulˆencia Relativ´ıstica que resolve o problema da eficiˆencia e preserva a variabilidade nas curvas de luz. Vale notar que a variabilidade ´eponto crucial da teoria de choques internos pois esta n˜ao faz nenhum tipo de hip´oteses sobre o modo de eje¸c˜ao de cascas pelo progenitor, assumindo apenas que a eje¸c˜ao das cascas tenha velocidades diferentes. Mais detalhes deste modelo pode ser encontrado em Lazar et al. (2009).

Figura 2.1: Representa¸c˜ao da dinˆamica que ocorre na evolu¸c˜ao do material ejetado, com choques internos e externos.

2.2.1 Radia¸c˜ao S´ıncroton

O tipo mais prov´avel de emiss˜ao em um GRB ´ea emiss˜ao s´ıncroton. Os parˆametros que determinam a radia¸c˜ao s´ıncroton s˜ao a intensidade do campo magn´etico, B, e a distribui¸c˜ao de energia dos el´etrons, que por sua vez ´ecaracterizada pelo fator de Lorentz m´ınimo, e Se¸c˜ao 2.2. Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo 43 o ´ındice da lei de potˆencia para a distribui¸c˜ao de el´etrons p. Esses parˆametros podem ser determinados a partir dos processos f´ısicos que acontecem no choque, por´em existe uma dificuldade muito grande de estimar a partir de primeiros princ´ıpios. Portanto, o procedimento padr˜ao para incorporar a ignorˆancia sobre o efeitos da microf´ısica do choque ´edefinir dois parˆametros adimensionais:

U B2 ǫ B = (2.18) B ≡ e 8πe U ǫ e (2.19) e ≡ e

O parˆametro ǫB mede a raz˜ao entre a densidade de energia do campo magn´etico em rela¸c˜ao a energia t´ermica total, enquanto ǫe mede a fra¸c˜ao de energia t´ermica associada ao movimento dos el´etrons. Depois de substituirmos as condi¸c˜oes do choque n´os obtemos que:

√ 1/2 1/2 1/2 B = 32πcǫB γshmp n1 . (2.20)

O valor de ǫB ´eestimado a partir das observa¸c˜oes e γsh ´eo fator de Lorentz da casca. Existem diferentes tentativas de determinar esse valor a partir de primeiros princ´ıpios. Este trabalho se soma a uma destas tentativas (como discutiremos nos pr´oximos cap´ıtulos). No geral, a maior parte dos trabalhos na literatura o mant´em como um parˆametro livre a ser ajustado a partir das observa¸c˜oes. A energia t´ıpica dos f´otons s´ıncroton assim como o tempo de resfriamento dependem do fator de Lorentz γe dos el´etrons relativ´ısticos e da intensidade do campo magn´etico:

~ qeB 2 (hνsyn)obs = γe Γ, (2.21) mec onde qe ´ea carga do el´etron. A potˆencia emitida, no referencial local, por um ´unico el´etron devido a radia¸c˜ao s´ıncroton ´e(Rybicki e Lightman, 1979):

4 P = σ cU γ2 , (2.22) syn 3 T B e onde U B2/8π ǫ e ´ea densidade de energia magn´etica e σ ´ea se¸c˜ao de choque B ≡ ≡ B T 44 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

2 Thompson. O tempo de resfriamento dos el´etrons no referencial do fluido ´e γemec /P .

Deste modo, o tempo de resfriamento para um observador tsyn ´edado por:

3mec tsyn(γe)= . (2.23) 4σT UBγeΓ

Se substituirmos o valor γe da equa¸c˜ao 2.21 na equa¸c˜ao 2.23, podemos obter a escala de tempo de resfriamento em fun¸c˜ao da energia observada do f´oton:

3 2πcmeqe −1/2 tsyn(ν)= 3 ν (2.24) σT r B Γ Como γe n˜ao aparece de modo expl´ıcito na equa¸c˜ao 2.24, isso implica que tsyn ´einde- pendente da distribui¸c˜ao de energia dos el´etrons com o choque. Esta equa¸c˜ao ainda mostra uma rela¸c˜ao de escala t (ν) ν−1/2. syn ∝ O tempo de resfriamento ´eimportante no sentido de contrapor um limite inferior na escala de tempo da variabilidade na curva de luz, uma vez que n˜ao podem ocorrer “spikes” que sejam mais curtos do que a escala de resfriamento. Observa¸c˜oes no geral mostram curvas que apresentam “spikes” assim´etricos na varia¸c˜ao de intensidade, onde um pico apresenta r´apido crescimento seguido de um decaimento devagar. Uma explica¸c˜ao plaus´ıvel desse fenˆomeno, ´ea de que o aquecimento dos el´etrons pelo choque ´er´apido e que o tempo de decaimento ´eexplicado pelo resfriamento. O problema deste tipo de explica¸c˜ao ´eque usando-se parˆametros t´ıpicos obtˆem-se que o tempo calculado ´emuito curto, al´em do que se o tempo de resfriamento ´elongo, isso implicaria em perdas adiab´aticas que resultariam em perda de eficiˆencia no processo. Assim pode-se dizer que a morfologia das curvas de luz podem ser explicadas apenas pela radia¸c˜ao s´ıncroton independente dos parˆametros do choque. Al´em do c´alculo das escalas de tempo e potˆencia da radia¸c˜ao emitida podemos calcular a distribui¸c˜ao dos el´etrons. A distribui¸c˜ao ´eimportante para que possamos obter o espectro integrado. Podemos iniciar considerando uma distribui¸c˜ao na forma de lei de potˆencia com

´ındice p e um fator de Lorentz m´ınimo dado por γe (Bhattacharya, 2001; Dai e Cheng, 2001). A distribui¸c˜ao de part´ıculas pelo choque ´edada por:

N(γ ) γ−p for γ >γ . (2.25) e ∼ e e e,min Se¸c˜ao 2.2. Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo 45

A condi¸c˜ao p> 2 ´enecess´aria no sentido de evitar a divergˆencia da energia para valores elevados de γe. O fator de Lorentz m´ınimo por sua vez, est´arelacionado a densidade de energia ee e com a densidade de n´umero dos el´etrons ne do seguinte modo:

p 2 e p 2 γ = − e = − γ . (2.26) e,min p 1 n m c2 p 1h ei − e e − Este fator de Lorentz m´ınimo desempenha um papel importante no sentido de caracteri- zar o fator de Lorentz t´ıpico dos el´etrons e a frequˆencia t´ıpica da emiss˜ao ν ν (γ ). m ≡ syn e,min Formula¸c˜oes alternativas a esta podem ser feitas, como no caso onde apenas uma fra¸c˜ao de el´etrons ξe, ´eacelerada a altas energias e o resto dos el´etrons permanecem frios (Bykov e Meszaros, 1996; Guetta et al., 2001). Neste caso o fator de Lorentz m´ınimo dado pela

−1 equa¸c˜ao 2.26 dever´aser ξe γe,min, e todas as equa¸c˜oes que dependem deste fator ser˜ao modificadas. Outra consequˆencia ´eque o mesmo fator ξe dever´amultiplicar o fluxo total emitido, uma vez que apenas alguns el´etrons est˜ao irradiando. Ainda no sentido de reproduzir o espectro, sabemos que um el´etron com uma energia inicial γ m c2 emite um espectro s´ıncroton do tipo F ν1/3 at´efrequˆencias da ordem de e e ν ∝ νsyn(γe) e acima disso decai exponencialmente. Esse efeito ´eindependente da distribui¸c˜ao de el´etrons. Para calcular o espectro devido a emiss˜ao de todos os el´etrons precisamos integrar sobre

γe . Sari, Piran e Narayan (1998), consideram uma distribui¸c˜ao em lei de potˆencia e um fator de Lorentz m´ınimo dado pela equa¸c˜ao 2.26. Os ´ındices desta lei de potˆencia ir˜ao depender da taxa de resfriamento. Os el´etrons mais energ´eticos resfriam mais rapidamente independentemente do comportamento dos el´etrons t´ıpicos. Esses el´etrons emitem quase toda a sua energia na frequˆencia s´ıncroton. O n´umero de el´etrons com fator de Lorentz γ ´e γ1−p com energia γ2−p. Na medida que esses el´etrons resfriam, eles depositam ∼ ∝ ∝ a maior parte da sua energia em uma faixa de frequˆencia ν (γ) γ2 e portanto, ∼ syn ∝ F γ−p ν−p/2. Assim a parte mais energ´etica do espectro satisfaz: ν ∝ ∝

F = N[γ(ν)]m c2γ(ν)dγ/dν ν−p/2. (2.27) ν e ∝ No regime de frequˆencias intermedi´arias o espectro difere entre o resfriamento longo e resfriamento r´apido . O crit´erio de diferencia¸c˜ao entre os dois tipos de resfriamento ´ea escala de tempo hidrodinˆamica, que ´eo tempo que os el´etrons levam para atingir γe,c. O 46 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

valor de γe,c pode ser obtido a partir de uma compara¸c˜ao de tsyn (ver equa¸c˜ao 2.23), com a escala de tempo hidrodinˆamica (no referencial de repouso do observador):

3mec γe,c = (2.28) 4σT UBγEthyd

dessa forma, o resfriamento r´apido ocorre se γe,c < γe,min. Se γe,c > γe,min apenas os el´etrons mais energ´eticos resfriam rapidamente e os demais vagarosamente. No caso do GRB em si, devemos necessariamente assumir que o regime seja de resfri- amento r´apido, uma vez que necessitamos de um processo eficiente, assim como tamb´em explicar a variabilidade que n˜ao seria poss´ıvel se o tempo de resfriamento for muito maior que o burst em si. Para facilitarmos a discuss˜ao ´econveniente escrever que:

ν ν (γ ) ; (2.29) m ≡ syn e,min ν ν (γ ) . c ≡ syn e,c

que s˜ao as frequˆencias dos el´etrons respectivamente com γe,min and with γe,c. Essa nota¸c˜ao permite escrever o espectro com mais facilidade.

No caso de resfriamento r´apido (γe,c < γe,min) temos que o fluxo obervado Fν ´edado por:

1/3 (ν/νc) Fν,max se ν<νc  −1/2 Fν (ν/νc) Fν,max se νc <ν<νm ∝   −1/2 −p/2 (νm/νc) (ν/νm) Fν,max se νm <ν  onde F ´eo pico do fluxo observado, e se localiza em ν F N P /4πD2 onde D ν,max c ν,max ≡ e ν,max ´ea distˆancia a fonte ignorando corre¸c˜oes cosmol´ogicas. A potˆencia emitida ´esimplesmente a fra¸c˜ao de energia com os el´etrons (ǫe) vezes a potˆencia gerada pelo choque dE/dt:

dE P = ǫ . (2.30) fast e dt

A energia de pico emitida que corresponde a νFν est´aem νm.

No caso de resfriamento longo (γe,c > γe,min) apenas os el´etrons mais energ´eticos (el´etrons acima de γ ) resfriam eficientemente. A maior parte dos el´etrons com γ γ e,c e ∼ e,min Se¸c˜ao 2.2. Dinˆamica Relativ´ıstica de uma Bola de Fogo 47 n˜ao resfriam. A integra¸c˜ao sobre a distribui¸c˜ao eletrˆonica d´anesse caso:

1/3 (ν/νm) Fν,max ν<νm  −(p−1)/2 Fν (ν/νm) Fν,max νm <ν<νc ∝   −(p−1)/2 −p/2 (νc/νm) (ν/νc) Fν,max νc <ν   O pico do fluxo est´aem νm enquanto que o pico da energia emitida est´aem νc. A potˆenica emitida passa agora a ser uma fun¸c˜ao determinada pela habilidade dos el´etrons em irradiar a sua energia:

Pslow = NePsyn(γe,min) (2.31) onde Ne ´eo n´umero de el´etrons na regi˜ao emissora e Psyn(γe,min), que pode ser calculada pela equa¸c˜ao 2.22.Esta dedu¸c˜ao que fizemos aqui pode ser encontrada em mais detalhes nos trabalhos (Piran, 1999, 2004). Um ponto que n˜ao pode deixar de ser observado ´eo de que em baixas frequˆencias o efeito de auto-absor¸c˜ao s´ıncroton aconte¸ca. Este efeito leva a um corte na inclina¸c˜ao do espectro em baixas energias. O problema de se estimar o efeito de auto-absor¸c˜ao ´eo de

′ que necessitamos da profundidade ´optica ao longo da linha de visada (αν′ ). Esse valor ´e dado por (Rybicki e Lightman, 1979):

∞ ′ (p + 2) ′ n(γe) α ′ = dγ P ′ (γ ) . (2.32) ν 8πm ν′2 e ν ,e e γ e Zγmin e ′ A frequˆencia de auto-absor¸c˜ao ν satisfaz:α ′ R/Γ = 1. O valor pode ser estimado com a ν0 um modelo sobre como γ e R variam com o tempo (Granot et al., 1999; Wijers e Galama, 1999). O espectro da frequˆencia de auto-absor¸c˜ao depende da distribui¸c˜ao eletrˆonica. Podem ser obtidos dois limites para o fluxo observado, ν5/2 e ν2 onde este ´ultimo ´eobtido se existe auto-absor¸c˜ao, mas ela ´edevida aos el´etrons de baixa energia, enquanto os el´etrons de energia mais elevada irradiam eficientemente.Este caso ´emais apropriado aos afterglows de GRBs (em resfriamento lento νc <νm):

F ν2[k T /(Γm c2)]R2, (2.33) ν ∝ B e p

2 onde R ´eo raio da casca radiativa e o fator kBTe/(Γmpc ) descreve o grau de equiparti¸c˜ao 2 dos el´etrons que se movem com fator de Lorentz Γ e que adquiriram energia mpc com o 48 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo choque. No caso de resfriamento r´apido o processo ´eligeiramente diferente e pode se obter F ν11/8 (ver Granot et al. (2000)). ν ∝ O processo de auto-absor¸c˜ao pode parecer irrelevante durante o burst, mas ´eimportante durante o afterglow e ´eobservada tipicamente em r´adio (Granot et al. (1999); Katz e Piran (1997); Wijers e Galama (1999). O espectro de auto-absor¸c˜ao com resfriamento r´apido pode surgir no in´ıcio da emiss˜ao em r´adio do afterglow embora ainda n˜ao tenha sido ainda observado. Um resumo do espectro previsto tanto por resfriamento r´apido como por resfriamento lento, levando em conta a auto-absor¸c˜ao pode ser visto nas figuras abaixo 2.2.

2.3 Espalhamento Compton Iverso

O espalhamento Compton inverso (IC) pode modificar a an´alise feita para a radia¸c˜ao s´ıncroton. Neste caso, como altas energias est˜ao envolvidas n´os assumimos que apenas um espalhamento IC acontece. Depois desse espalhamento a energia da part´ıcula ´et˜ao elevada que encontra-se acima da energia de Klein-Nishina (KN) 0.5MeV , de modo que ∼ os espalhamentos subsequentes s˜ao modificados uma vez que a se¸c˜ao de choque Compton diminui neste limite. Em GRBs mesmo o primeiro espalhamento no caso de choques externos pode se encontrar neste limite. Para determinar a relevˆancia da componente IC

2 no espectro, podemos definir o chamado parˆametro de Comptoniza¸c˜ao Y = γ τe onde τe ´ea profundidade ´optica do el´etron. Pode-se demostrar (Sari et al. (1996)) que no caso de resfriamento r´apido temos que:

Y = ǫ /U se U U (2.34) e B e ≪ B Y = U /U se U U , e B e ≫ B p onde Ue e UB s˜ao as densidades de energia dos el´etrons e do campo magn´etico respectiva- mente. Quando Y < 1, IC n˜ao ´eimportante e podemos desprezar o efeito. No caso de Y > 1 este efeito faz com que uma grande fra¸c˜ao das part´ıculas da radia¸c˜ao s´ıncroton de baixas energias sejam espalhadas por IC e emitam. A emiss˜ao ocorrer´anuma faixa de energia muito superior ao espectro observado, de forma que n˜ao o influencia dire- tamente. No entanto, a influˆencia indireta acontece de duas formas: encurtando o tempo Se¸c˜ao 2.3. Espalhamento Compton Iverso 49 de resfriamento ou influenciando a energ´etica, e por consequˆencia reduzindo a eficiˆencia da radia¸c˜ao observada. O encurtamento do tempo de resfriamento ocorre pelo fato de que os el´etrons agora passam a ser resfriados tanto pela radia¸c˜ao s´ıncroton como por IC. Um ponto interessantes intrinsicamente relacionado com o tema desta disserta¸c˜ao decorre do seguinte argumento: considere Y > 1 de modo que os f´otons observado emitam mais por IC do que por radia¸c˜ao s´ıncroton. A princ´ıpio poder´ıamos pensar que o campo magn´etico n˜ao precisa ser t˜ao elevado ( 1 G) para reproduzir as observa¸c˜oes, dado que a radia¸c˜ao s´ıncroton teria um ∼ efeito menor do que IC. Apesar de parecer uma solu¸c˜ao atrativa pode-se mostrar que n˜ao ´eo caso.

2 O espalhamento IC aumenta a energia do f´oton por um fator γe , de modo que f´otons t´ıpicos sejam observados a uma energia:

~q B γ 4 (hν ) = e γ4Γ = 12MevB (Γ ) e . (2.35) IC obs m c e 1G E100 (m /m ) e  p e  onde B = B/1Gauss e Γ γ . A express˜ao 2.35 depende de γ , e de B. Como 1G E100 ≡ E/100 e γe ´erelativamente pequeno tanto nos choques internos como externos, para reproduzir os dados precisar´ıamos de elvados valores de B. Valores elevados de B podem ser encontrados na regi˜ao de choques internos (milhares de Gauss ou ainda maior). El´etrons podem nesse caso resfriar tanto por IC como por s´ıncroton. IC ´emais eficiente, e o tempo de resfriamento ´eampliado por um fator Y :

3/4 1/4 3/4 1/4 6πc UB/Ue~ me qe tIC = 7/4 1/4 3/4 (2.36) Bp (hν) Γ σT As condi¸c˜oes necess´arias para produzir a emiss˜ao observada em IC provavelmente n˜ao s˜ao satisfeitas por choques internos ou externos. No entanto, ainda que este efeito n˜ao sirva para produzir f´otons em γ ele poderia ser um mecanismo oportuno para introduzir uma componente de energia ultra alta no espectro. Essa componente estaria possivelmente na escala de GeV- TeV, o que de fato j´afoi observado em alguns eventos na fase inicial do afterglow como nos GRB940217 (GeV) e GRB970417 (TeV). Esse efeito combinado da emiss˜ao s´ıncroton espalhada por IC ´echamado na literatura de Synchroton Self-Compton. 50 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

2.4 Hidrodinˆamica de GRBs

Dependendo do tipo de progenitor, um burst pode ocorrer em uma regi˜ao onde esteja cercado por um meio similar ao meio interestelar (com densidade m´edia de 1 part´ıcula cm−3) ou por um meio que contenha o material depositado pelo vento de uma estrela ao longo da sua vida. No sentido de diferenciarmos um meio do outro escrevemos de forma geral o perfil de densidade como sendo n(R) R−k, onde k = 0 reproduz as condi¸c˜oes do ∝ meio interestelar e k = 2 reproduz o perfil de densidade para o vento de uma estrela. Blandford & McKee (BM daqui em diante) resolveram em um cl´assico artigo (Blandford e McKee, 1976) a solu¸c˜ao para a evolu¸c˜ao hidrodinˆamica de uma onda de explos˜ao (blast wave). O modelo BM descrito trata tanto as interea¸c˜oes com o meio interestelar (MI) de densidade constante como tamb´em generaliza para uma solu¸c˜ao do tipo n(R) R−k onde ∝ R ´ea distˆancia at´eo centro da explos˜ao. A solu¸c˜ao de Blandford-Mckee descreve a energia da explos˜ao como sendo:

Ω E = (ρ Rk)R3−kΓ2c2 , (2.37) 3 k 0 0 − onde E ´ea energia da explos˜ao e Ω ´eo ˆangulo s´olido do afterglow. Para uma esfera completa Ω = 4π, mas se considerarmos a expans˜ao cˆonica com ˆangulo de abertura θ: Ω = 4π(1 cosθ) 2πθ2. − ≈ Nas se¸c˜oes a seguir, mostraremos as solu¸c˜oes para o fator de Lorentz e do raio em fun¸c˜ao do tempo para um observador em ambos os casos. Os valores obtidos para as equa¸c˜oes de R e Γ em fun¸c˜ao do tempo podem ser utilizados nas frequˆencias t´ıpicas e no fluxo m´aximo (ver equa¸c˜oes 2.30 e 2.31) de modo a obter a descri¸c˜ao para a curva de luz.

2.4.1 Caso k=0

Eventualmente a bola de fogo pode desacelerar devido a sua intera¸c˜ao com o MI. O choque produzido por essa intera¸c˜ao pode dar origem ao afterglow. No caso onde k = 0 as condi¸c˜oes do meio se assemelham ao MI, permitindo-nos obter:

17Et 1/4 17 1+ z −1/4 1/4 −1/4 1/4 R = [ ] = 5.8 10 ( ) E53 n0 t cm (2.38) 4πnmpc(1 + z) × 2 e 3 1/8 17E(1 + z) 1+ z 3/8 1/8 −1/8 −3/8 Γ = [ 5 3 ] = 10.6( ) E53 n0 t (2.39) 1024πnmpc t 2 Se¸c˜ao 2.4. Hidrodinˆamica de GRBs 51

Com as equa¸c˜oes 2.39 e 2.38 podemos determinar o espectro da radia¸c˜ao emitida via s´ıncroton e determinar toda a evolu¸c˜ao espectral neste caso. Assim, as frequˆencias carac- ter´ısticas na radia¸c˜ao s´ıncroton e o fluxo m´aximo espec´ıfico s˜ao dados por Wijers e Galama (1999):

ν = 0.85 1014 Hz(ǫ /0.1)−3/2E−1/2n−1t−1/2, c × B 52 1 d ν = 1.8 1012 Hz(ǫ /0.1)1/2(ǫ /0.1)2E1/2t−3/2, m × B e 52 d F = 0.35 105µJ(ǫ /0.1)1/2E n1/2D−2 . (2.40) ν,max × B 52 1 28 onde D ´ea distˆancia `afonte, n1 a densidade do meio circundante e td o tempo em dias. Esse modelo ´eo mais simples poss´ıvel. Outros efeitos podem ser incorporados como no caso do trabalho de Cohen & Piran (Cohen e Piran, 1999), onde pode ser obtida a descri¸c˜ao para o caso em que a energia ´econtinuamente injetada na fonte, mesmo durante a fase do afterglow. Este modelo j´apode ser testado atrav´es de m´etodos como diffractive scintilla- tion, interferometria de base muito longa e atrav´es de m´etodos indiretos com observa¸c˜oes do afterglow em r´adio (Waxman et al., 1998; Taylor et al., 2004; Frail et al., 2000). Os gr´aficos da figura 2.3 mostram as curvas de luz s´ıncroton obtidas por este modelo.

2.4.2 Caso k=2

O caso mais simple sempre pode ser generalizado. A generaliza¸c˜ao mais imediata neste caso, ´emodificar o fator k, sendo que para k = 2, podemos obter um modelo que descreve o vento de uma estrela ejetado previamente pelo progenitor do GRB. Esse tipo de solu¸c˜ao foi considerada j´ano trabalho de BM, sendo que a curva de luz para GRBs foi obtida pela primeira vez por Meszaros et al. (Meszaros et al., 1998; Dai e Cheng, 2001). No caso de k = 2 aplicado a equa¸c˜ao 2.61 pode-se obter que:

1+ z R = 3.5 1017( )−1/2E1/2A−1/2t1/2cm (2.41) × 2 53 ∗ d e 1+ z Γ = 10.5( )1/4E1/4A−1/4t1/4 (2.42) 2 53 ∗ d onde z ´eo redshift e A tem dimens˜ao de densidade. Se procedermos da mesma forma como no caso onde k = 0, isto ´e, combinando a 52 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo evolu¸c˜ao de Γ e R com as frequˆencias caracter´ısticas podemos obter que:

1+ z ν = 2.8 1012( )−2/3ǫ−3/2E1/2A−2t1/2Hz (2.43) c × 2 B 53 ∗ d 1+ z ν = 2.1 1014x ( )1/2ǫ1/2ǫ¯2E1/2A−2t−3/2Hz (2.44) m × p 2 B e 53 ∗ 5 1+ z 3/2 1/2 1/2 −2 F = 1.2 10 φ ( ) ǫ E A∗D µJy (2.45) ν,max × p 2 B 53 L ondeǫ ¯ = ǫ p−2 , x 0.3, e o coeficiente φ est´arelacionado ao ´ındice de energia p dos e e p−1 p ∼ p el´etrons. Deste modo, podemos tra¸car as curvas de luz esperadas para o perfil de vento. Os gr´aficos ilustrando essas curvas de luz est˜ao na figura 2.4.

2.5 Evolu¸c˜ao Hidrodinˆamica do GRB

O modelo de evolu¸c˜ao hidrodinˆamica considera um material ultrarelativ´ıstico (γ ≫ 1) sendo ejetado em dire¸c˜ao ao meio vizinho a fonte progenitora. O meio interestelar considerado pode ser tanto o meio t´ıpico com densidade m´edia n 1cm−3, como o material ∼ ejetado previamente pelo vento de uma estrela (ventos estelares). Quando este material colide com o meio ocorre a forma¸c˜ao de dois choques: (i)um choque que se propaga em dire¸c˜ao ao meio costumeiramente chamado na literatura de forward shock (FS daqui em diante), e outro na dire¸c˜ao da casca relativ´ıstica denominado reverse shock (RS daqui em diante). Uma descontinuidade de contato separa os dois meios entre o material “chocado” na casca e o material “chocado” no meio (ver figura 2.5). Quatro regi˜oes com caracter´ısticas distintas s˜ao formadas onde a regi˜ao 1 representa o meio vizinho a fonte em repouso, 2 o meio vizinho ”chocado”, 3 a parte ”chocada” da casca, e 4 a parte da casca que n˜ao sofreu o choque. As regi˜oes 2 e 3 s˜ao as regi˜oes que j´a passaram pelo RS. As condi¸c˜oes hidrodinˆamicas para este choque foram estudadas em profundidade (Sari et al. (1996); Sari e Piran (1995)) de modo a aplicar as solu¸c˜oes de Taub Taub (1948) que correspondem as equa¸c˜oes de Rankine-Hugoniot relativ´ısticas, relcionando as grandezas hidrodinˆamicas envolvidas no choque. Como estamos falando de quatro regi˜oes diferentes optamos por denotar as grandezas caracter´ısticas de cada uma pelo sub´ındice 1,2,3 e 4 de modo a identificar cada uma das regi˜oes na figura 2.5. Se¸c˜ao 2.5. Evolu¸c˜ao Hidrodinˆamica do GRB 53

Tomando como referencial a regi˜ao 1 que corresponde ao meio em repouso, podemos calcular grandezas como densidade de energia interna (e), fator de Lorentz (γ), densidade num´erica de part´ıculas (n) e press˜ao em cada uma das regi˜oes, como fun¸c˜oes que dependem apenas de n1,n4 e γ4. As equa¸c˜oes que governam o choque s˜ao:

e /n m c2 = γ 1 = γ (2.46) 2 2 p 2 − ∼ 2 e /n m c2 = γ 1 (2.47) 3 3 p 3 − n2/n1 = 4γ2 + 3 ∼= 4γ2 (2.48)

n3/n4 = 4γ3 + 3 (2.49) onde m ´ea massa do pr´oton. Na equa¸c˜ao 6.1 usamos a aproxima¸c˜ao de que γ 1 e p 4 ≫ portanto γ 1. A press˜ao pode ser calculada como p = ei . O fator de Lorentzγ ¯ da 2 ≫ i 3 3 regi˜ao 3 relativamente a regi˜ao 4 ´e:

γ¯ = γ γ (1 1 1/γ2 1 1/γ2) (2.50) 3 3 4 − − 3 − 4 q q Assumindo igualdade de press˜ao e velocidades ao longo das descontinuidade de contato, temos que γ = γ , e γ ,γ 1, de modo que possamos escrever que: 2 3 2 4 ≫

1 γ4 γ2 γ¯3 ( + ) (2.51) ∼ 2 γ2 γ4 Se definirmos ∆ a espessura da casca relativ´ıstica, teremos que o tempo que o RS leva para atravessar a casca ser´adado por (Sari e Piran, 1995):

∆ γ n t = 0 (1 4 4 ) (2.52) δ c(β β ) − γ n 4 − 3 3 3 Podemos ainda obter dois limites assint´oticos para 2.51:

γ1/2 γ¯3 = (2.53) √2f 1/4 γ1/2f 1/4 γ2 = γ3 = (2.54) √2 para o caso do RS ser ultrarelativ´ıstico, e :

4γ2 γ¯ 1 = (2.55) 3 − ∼ 7f 2γ2 γ2 = γ3 = γ(1 ) (2.56) − s 7f 54 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo onde γ γ no caso do RS ser Newtoniano. ≡ 4 Existem portanto, dois limites como solu¸c˜ao para as equa¸c˜oes acima, um limite ultra- relativ´ıstico e um limite Newtoniano para o RS. O crit´erio para diferenciar um regime do outro ´eo fator f = n /n . Se f γ2 o regime ´eNewtoniano e se f γ2 relativ´ıstico. 4 1 ≫ ≪ Cabe notar que o FS ´esempre relativ´ıstico. Um outro modo elegante para escrever a solu¸c˜ao e fazer a an´alise ´eescrevendo a solu¸c˜ao paraγ ¯3 em fun¸c˜ao do chamado comprimento de Sedov, utilizando nos estudos de superno- 2 vas. O comprimento de Sedov l pode ser definido como l =(E/n1mpc ). Basicamente ele define um raio caracter´ıstico, ao qual podemos associar um volume de uma esfera. Essa esfera cont´em mat´eria do meio (regi˜ao 1 neste caso), com energia E de repouso igual a energia liberada pela explos˜ao. Valores t´ıpicos para GRBs s˜ao l 1pc. A partir deste ∼ comprimento podemos escrever que: (Sari et al., 1996):

l ξ ( )1/2γ−4/3. (2.57) ≡ ∆ implicando que se ξ 1 o choque reverso ´erelativ´ıstico, e se ξ 1 o choque reverso ≫ ≪ ´eNewtoniano. Uma possibilidade analisada na literatura ´elevar em conta o efeito de espalhamento da casca. Isso implicaria em que a casca come¸caria com um valor de ξ > 1, ajustando a si mesma a ξ = 1, onde ter´ıamos um intervalo relativo aos dois limites, enquanto que em uma casca com ξ < 1 n˜ao haveria tempo suficiente para o espalhamento. Nesse tipo de an´alise ainda ´eposs´ıvel escrever todas as condi¸c˜oes para o FS e RS em termos de ξ.

2.6 Dinˆamica do Afterglow

A dura¸c˜ao da emiss˜ao r´apida em um GRB ´eem torno de alguns segundos a dezenas de segundos, no entanto afterglows podem ser observados numa escala de tempo de meses a anos. Uma quest˜ao bastante pertinente de ser tratada neste contexto, ´e o que caracteriza o in´ıcio da fase chamada de afterglow. A resposta a pergunta n˜ao ´etrivial. O modelo de bola de fogo (fireball model), prevˆeque existe uma sequˆencia de fases no processo de emiss˜ao para GRBs: fase de acelera¸c˜ao, a fase de deslizamento (coasting phase), a fase da emiss˜ao r´apida, e a fase em que as pequenas cascas se juntaram em uma grande bola de fogo. O Se¸c˜ao 2.6. Dinˆamica do Afterglow 55 efeito da intera¸c˜ao da bola de fogo resultante com o meio circundante resulta no afterglow, de forma que o crit´erio de in´ıcio do mesmo seja o raio em que a bola de fogo come¸ca a desacelerar, o chamado raio de desacelera¸c˜ao. Este fato que sugere que o afterglow deve originar a partir da desacelera¸c˜ao do material ejetado devido a choques com o meio externo o que deu origem ao chamado modelo de choques externos.

Podemos estimar o raio de desacelera¸c˜ao (Rdes) atrav´es de um racioc´ınio simplificado.

Consideramos que a massa do meio varrida Mi ´edada por: 4π M = m n r (2.58) i 3 p 1 3 onde n1 ´ea densidade de pr´otons na regi˜ao 1, onde supostamente todo o material do meio ´ehidrogˆenio. A onda de explos˜ao dever´adesacelerar quando a energia de repouso

2 do material varrido for compar´avel a energia da explos˜ao E0, ou seja Mi = Γ0Mic , onde 2 Γ0 = E0/M0c ´eo fator de Lorentz da casca ejetada, sendo que M0 ´ea massa da mat´eria bariˆonica misturada na explos˜ao inicial. Esse c´alculo foi feito pela primeira vez por (Rees e Meszaros, 1992). Sendo assim obtemos para o raio de desacelera¸c˜ao:

3E0 1/3 16 E52 1/3 Rd ( 2 2 ) 2.6 10 ( 2 ) cm (2.59) ≡ 4πΓ0mpc n1 ∼ × Γ300

52 onde E0 = E52/10 ergs ´eenergia envolvida na explos˜ao incluindo a energia da massa −3 de repouso, Γ300 = Γ0/300 e n1 ´edado em unidades de cm . O tempo de desacelera¸c˜ao conforme percebido pelo observador ´e:

Rd 9.6(1 + z) E52 1/3 td (1 + z) ( 8 ) s (2.60) ≡ Γ0c ∼ β0 Γ300n0 Os parˆametros de desacelera¸c˜ao definem o in´ıcio do GRB. No caso de afterglows de bursts longos, seu in´ıcio pode ocorrer ainda enquanto o burst esteja acontecendo, bastando apenas que o tempo de desacelera¸c˜ao seja menor que o tempo pelo qual o progenitor emite mat´eria. Blandford e McKee (1976) estudaram o comportamento de um material relativ´ıstico ejetado em um meio externo. A id´eia b´asica ´ea de que uma grande quantidade de energia em um volume muito pequeno causa uma explos˜ao e o material ejetado interage com o meio vizinho dando origem a choques. Depois de algum tempo caracter´ıstico o choque adquire um comportamento onde est´asuficientemente desconectado da explos˜ao, passando a depender apenas da energia total envolvida e do meio no qual est´ase propagando. 56 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

Essa fase ´ea fase em que dizemos que o comportamento do choque ´eauto similar, ou ´e descrito por uma solu¸c˜ao de similaridade. Essa solu¸c˜ao ´eo an´alogo relativ´ıstico da solu¸c˜ao newtoniana de Sedov-Taylor. A fase auto-similar faz com que a frente de choque se propague para fora atrav´es de uma lei de potˆencia com respeito tanto ao raio como ao tempo. Al´em disso, as caracter´ısticas do fluido na regi˜ao p´os-choque permanecem inalteradas com rela¸c˜ao a frente de choque. O trabalho original analisa a colis˜ao para um perfil do tipo n(R) R−k, onde k pode ser ∝ tanto zero, de modo a simular o meio interestelar, como k = 2 no sentido de reproduzir o perfil de densidade do material ejetado a partir do vento de uma estrela. Atrav´es da conserva¸c˜ao adiab´atica podemos escrever que a energia total envolvida no choque ´e: Ω E = (ρ Rk)R3−kΓ2c2 (2.61) 3 k 0 0 − onde Ω ´eo ˆangulo s´olido do afterglow. No pr´oximo cap´ıtulo nos dedicamos a analisar o afterglow em detalhes, especialmente o comportamento da curva de luz e a fenomenologia envolvida. Se¸c˜ao 2.6. Dinˆamica do Afterglow 57

a fast cooling −1/2 t

8 10 12 14 16 18 10 10 10 10 10 10

b ν1/3 −(p−1)/2 slow cooling ν t>t 4 0 10 F G ν2 2 J) 10 µ E ν−p/2

Flux ( 0 0 −3/2 −1/2 H 10 t t t

−2 10 ν ν ν a m c

8 10 12 14 16 18 10 10 10 10 10 10 ν (Hz)

Figura 2.2: O espectro s´ıncroton nos regimes de resfriamento r´apido e lento, conforme deduzido por Sari et al. (1996). 58 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

6 10 a high frequency ν>ν 5 0 10 1/6 −1/3 t [t ] t−1/4 [t−4/7] B C (2−3p)/4 4 t 10 J) (2−6p)/7

µ D [t ]

3

Flux ( 10 t(2−3p)/4

2 H 10 t t t c m 0 1 10 −2 0 2 10 10 10

6 10 b low frequency 5 ν<ν 10 0 1/2 t t3(1−p)/4 1/6 −1/3 4 t [t ] F 10 G J)

µ B t(2−3p)/4 3 Flux ( 10 H

2 10 t t t 0 m c 1 10 −2 0 2 10 10 10 t (days)

Figura 2.3: Curva de luz ignorando auto-absor¸c˜ao para um choque esf´erico e relativ´ıstico. A curva divide-se em quatros segmentos. As letras B,C,D e H, representam a rela¸c˜ao com a respectiva regi˜ao da figura anterior 2.2. O fluxo observado varia no tempo como indicado. Extra´ıdo de (Sari et al., 1996). Se¸c˜ao 2.6. Dinˆamica do Afterglow 59

3 A

0

-3

-6 3

B

0

-3

3 C

0

-3

0 D

-3

-6 0 E

-3

-6

-2 0 2

log (t) (days)

Figura 2.4: Curva de luz caracter´ıstica para modelos com intera¸c˜ao de ventos de estrelas massivas em v´arias frequˆencias. A frequˆencia diminui de A para E (cima para baixo). Curvas t´ıpicas no ´optico e em raios-x s˜ao respectivamente A e D. Extra´ıdo de (Chevalier e Li, 2000). 60 Cap´ıtulo 2. GRBs e Bolas de Fogo

Figura 2.5: Diagrama esquematizando as quatro regi˜oes que se formam a partir do choque. O RS e o FS s˜ao gerados a partir da intera¸c˜ao da bola de fogo com o meio que circunda a fonte. O FS varre o meio externo, enquanto o RS atravessa o material ejetado. Extra´ıdo de Xu (2009). Cap´ıtulo 3

O Afterglow

Neste cap´ıtulo nos dedicamos a uma breve revis˜ao sobre a estrutura do afterglow com base em observa¸c˜oes. A maior parte dos afterglows ´evista preferencialmente em raios-x. Este t´opico sofreu uma revolu¸c˜ao ap´os o lan¸camento do sat´elite SWIFT pela NASA, que permitiu a observa¸c˜ao do afterglows em pouco tempo ap´os o burst principal. Diversos modelos te´oricos tˆem sido propostos desde 2006 com o objetivo de explicar uma s´erie de novas caracter´ıstricas na curva de luz que puderam ser reveladas apenas pelo SWIFT.

3.1 Afterglows em Raios-X

O lan¸camento do SWIFT contribuiu de modo sem precedentes para uma compreens˜ao mais profunda da f´ısica de gamma-ray bursts, e acima de tudo do afterglow. A possibilidade de r´apido apontamento permitiu a observa¸c˜ao de afterglows em instantes de tempo mais pr´oximos aos burst. Esse fato acabou por acrescentar novas caracter´ısticas `as curvas de luz, e acima de tudo motivou a busca por uma morfologia universal. Anteriormente ao SWIFT, a emiss˜ao do afterglow em raios-x apresentava apenas um decaimento suave no fluxo, na forma de uma lei de potˆencia do tipo t−1. Em contraste, a curva de luz no ∼ ´optico apresentava um decaimento mais ´ıngreme na forma de t−2, que era atribu´ıda a ∼ jatos colimados com elevados fatores de Lorentz que se tornavam vis´ıveis na medida que o material desacelerava. Essencialmente a maior parte das observa¸c˜oes dos primeiros instantes do afterglow s˜ao realizadas em raios-X. O SWIFT carrega a bordo um instrumento denominado X-ray Teles- cope (XRT), que permitiu aumentar a amostra de curvas de luz observadas em uma janela de tempo n˜ao coberta previamente, isto ´e, de 102-104s ap´os o burst. Nousek, Kouveliotou, 62 Cap´ıtulo 3. O Afterglow

Grupe, Page, Granot, Ramirez-Ruiz, Patel, Burrows, Mangano e Barthelmy (2006) anali- saram uma amostra de 27 afterglows encontrando um certo tipo de comportamento padr˜ao para as curvas de luz em raios-x. Essencialmente esse padr˜ao consiste no decaimento do fluxo em trˆes leis de potˆencia consecutivas do tipo:

F ν−βt−α (3.1) nu ∝

A primeira ´euma queda ´ıngreme (α1), com uma mudan¸ca r´apida (quebra) para um decai- mento mais achatado (α2), e voltando a decair com α3. As quebras se d˜ao nos instantes tbreak,1 e tbreak,2 com pode ser visto na figura 3.1

−α1 t −α t 2 −α x t 3 Flu t t break,1 break,2 time

Figura 3.1: Diagrama esquematizando as trˆesfases obedecidas pela maior parte dos after- glows em raios-x. Duas fases ´ıngremes separadas por uma fase de decaimento suave. Extra´ıdo de Nousek et al. (2006)

Motivados pelo prop´osito de compreender mais profundamente os mecanismo de emiss˜ao respons´aveis por cada uma das leis de potˆencia observadas, Zhang et al. (2006), resumiram a curva de luz a cinco fases distintas, sendo que a algumas delas podem ou n˜ao ocorrer Se¸c˜ao 3.1. Afterglows em Raios-X 63 em uma amostra de afterglows. Essas fases s˜ao: (i) fase inicial de decaimento r´apido, (ii) fase de decaimento suave, (iii) fase de decaimento normal, (iv) fase tardia de decaimento r´apido, (v) flares de raios-x. O trabalho de Nousek anteriormente citado chega ao mesmo tipo de representa¸c˜ao, incluindo apenas as fases i, ii e iii. A figura 3.2 mostra o compor- tamento da curva de luz, assim como os ´ındices espectrais segundo o trabalho de Zhang et al. (2006). A seguir descreveremos cada uma das fases acima.

0 ~ -3

I V

II ~ -0.5 t :104-105 s b3 III ~ -1.2

t :102-103 s t :103-104 s ~ -2 b1 b2 IV

Figura 3.2: Diagrama esquematizando as cinco fases obedecidas pela maior parte dos after- glows em raios-x. Duas fases ´ıngremes separadas por uma fase de decaimento suave como

na figura anterior, por´emcom a possibilidade de flares (V) e uma terceira quebra em tb3 Extra´ıdo de Nousek et al. (2006)

Fase de Decaimento R´apido ou ´Ingreme (i): por considera¸c˜oes fenomenol´ogicas, podemos dizer que o afterglow inicia a partir do momento em que a bola de fogo come¸ca a desacelerar, devido a algum processo de colis˜ao com o meio que circunda o progenitor. Desta forma, a emiss˜ao inicial de raios-γ efetivamente ocorre em uma regi˜ao diferente do aferglow. Al´em disso, o fluxo em raios-γ ´emuito maior do que no afterglow. Dessa 64 Cap´ıtulo 3. O Afterglow forma, ´erazo´avel supor que ocorra um decaimento r´apido na transi¸c˜ao da emiss˜ao inicial de raios-γ, para a emiss˜ao do afterglow. Esse fato faz com que muitas vezes, a fase de decaimento r´apido seja chamada de cauda da emiss˜ao inicial. O estudo detalhado deste tipo de transi¸c˜ao ´eimportante, para poder concluir se a emiss˜ao inicial e o afterglow tem origem na mesma componente. A interpreta¸c˜ao dessa cauda pode ser entendida a partir do chamado efeito de curvatura (Fenimore et al., 1996; Kumar e Panaitescu, 2000). No caso de um jato cˆonico com um

ˆangulo de abertura θj, a emiss˜ao a partir de um mesmo raio Rcr, por´em visto a partir de latitude diferente θ (θ < θj) alcan¸caria o observador em tempos distintos. Ainda que a emiss˜ao seja abruptamente interrompida, devido ao efeito de propaga¸c˜ao o observador receberia os f´otons emitidos em um ˆangulo θ em um tempo dado por:

R θ2 t = (1+ z)( cr )( ) (3.2) c 2 de modo que a emiss˜ao da cauda dure:

2 2 R θ Rcrθ 1+ z t = (1+ z)( cr )( j ) 330s( j )( ) (3.3) tail c 2 ∼ 1013 2 onde o termo (1+z) ´enecess´ario no sentido de levar em conta o efeito de expans˜ao cos- mol´ogica. Se considerarmos um jato movendo-se com velocidade constante v e fator de ′ Lorentz Γ, teremos que a frequˆencia de emiss˜ao com´ovel (ν ) se transforma no referencial ′ do observador (ν) atrav´es de ν = Dν , onde D = [Γ(1 vcosθ/c)]−1 ´eo fator Doppler, o − qual ´e D 2Γ para θ 1/Γ, e D 2/Γθ2 para θ 1/γ. Uma vez que t θ2, pode-se ∼ ≪ ∼ ≫ ∝ obter que D t−1. Assim, o fluxo F est´arelacionado com o brilho superficial com´ovel: ∝ ν

′ 2 ′ −β 2 −β 2+β −β −2−β F L ′ D (ν ) D ν D ν t (3.4) ν ∝ ν ∝ ∝ ∝ onde β ´eo ´ındice espectral observado em torno da frequˆencia ν. Utilizando-se da conven¸c˜ao adotada em 3.1 obtemos o resultado bem conhecido para o efeito de curvatura (Kumar e Panaitescu, 2000), Fan e Wei (2005), Dyks et al. (2005), Dermer (2004), Panaitescu et al. (2006)): α =2+ β. (3.5)

Panaitescu et al. (2006) utilizou uma amostra de 28 GRBs no sentido de checar se a rela¸c˜ao 3.5 ocorre durante a fase de decaimento ´ıngreme. Os autores mostraram que em Se¸c˜ao 3.1. Afterglows em Raios-X 65 mais da metade dos bursts a rela¸c˜ao ´esatisfeita, enquanto que os demais podem decair ainda mais rapidamente ou de modo mais suave (pequenas varia¸c˜oes no ´ındice da lei de potˆencia da equa¸c˜ao 3.3). O mesmo tipo de conclus˜ao pode ser obtido nos trabalhos de Nousek et al. (2006) em uma amostra de 27 GRBs e O’Brien et al. (2006) em uma amostra de 40 GRBs. Os fatores que poderiam explicar os desvios com rela¸c˜ao a 3.5 foram discutidos por Zhang et al. (2006). Entre os fatores que podem ser relacionados, encontram-se a escolha do tempo de in´ıcio da emiss˜ao (t0), uma vez que este ´edefinido como o instante do disparo do detector. Desta forma, varia¸c˜oes na escolha deste instante afetariam a determina¸c˜ao da declividade da reta ajustada. Outro efeito que pode contribuir para as varia¸c˜oes observadas ´eo de superposi¸c˜ao. A transi¸c˜ao entre as fases (i) e (ii), sugere que a bola de fogo j´aesteja desacelerada (Tagliaferri et al., 2005), o que resultaria em um efeito cumulativo da fase (i) com a emiss˜ao em raios-x devido aos choques externos. Outro efeito que ainda pode ser considerado ´eo fato do ˆangulo s´olido da regi˜ao emissora ser compar´avel ou menor do que 1/Γ (Kumar e Piran, 2000; Yamazaki et al., 2004a). Finalmente, podemos considerar ainda as hip´oteses de estarmos observando ou um jato onde a linha de visada n˜ao esteja alinhada com o eixo, o que resultaria em uma declividade menor para a curva (Zhang e M´esz´aros, 2002; Rossi et al., 2002) ou que a emiss˜ao ainda continue ocorrer por mecanismos de dissipa¸c˜ao interna. Fase de Decaimento Suave (ii): Durante essa fase a curva de luz em raios-x ´eachatada, se aproximando de um patamar. Na maior parte dos casos, o valor de α2 ´emuito pequeno

(0.2 . α2 . 0.8), sem varia¸c˜ao do ´ındice espectral durante a transi¸c˜ao de (ii) para (iii). Na an´alise de 26 afterglows Panaitescu, M´esz´aros, Burrows, Nousek, Gehrels, O’Brien e Willingale (2006), demonstrou que todos os decaimentos em raios-x nesta fase, s˜ao muito lentos para os modelos de forward shock indicando a necessidade de um mecanismo extra no sentido de diminuir a rapidez da queda (Xu, 2009). Na fase de decaimento suave, o fluxo em raios-x aumenta com o tempo. Se chamarmos

ǫx(t) a eficiˆencia da emiss˜ao do afterglow em raios-x, EK,iso a energia cin´etica isotr´opica equivalente no afterglow medido em um tempo t, e LX,iso a luminosidade em raios-x em um instante t teremos que (Granot et al., 2006):

ǫX (t)= tLX,iso(t)/EK,iso(t) (3.6) 66 Cap´ıtulo 3. O Afterglow

3 10 102 050401 050802 050922C 1 10

101 101 Jy) 0 µ ( 10 1keV 100 −1 10 −1 10 (mJy) F −1

2eV 10 −2 F 10 10−3

050319 050607 050713A 0 101 101 10 Jy)

µ 0 0 −1

( 10 10 10 1keV

−1 −1 10 −2 10 10 (mJy) F

2eV −2 −2 10 −3 10 10 F

10−2 10−1 100 101 102 10−2 10−1 100 101 102 10−2 10−1 100 101 102 time (hours) time (hours) time (hours)

Figura 3.3: Curvas de luz observadas pelo SWIFT, com os respectivos ajustes evidenciando as diferentes fases de decaimento na emiss˜ao. Extra´ıdo de Panaitescu et al. (2006)

2 β−α−1 usando LX,iso(t) = 4πdL(1 + z) FX (t) a equa¸c˜ao pode ser reescrita como:

2 β−α−1 ǫX (t)EK,iso(t)/tFX (t) = 4πdL(1 + z) (3.7)

O lado direito da equa¸c˜ao ´econstante e a equa¸c˜ao pode ser escrita como:

ǫ (t)E (t) tF (t) (3.8) X K,iso ∝ X

Isso mostra que o produto ǫX (t)EK,iso(t) cresce com o tempo tFX (t). Com o decr´esimo esperado de ǫX (t) com t para p > 2 (como em Granot et al. (2006)), o acr´escimo de

ǫX (t)EK,iso(t) tem que ser atribu´ıdo a um acr´esimo em EK,iso(t) e a algum tipo de inje¸c˜ao de energia no forward shock (Panaitescu et al., 2006; Nousek et al., 2006; Zhang et al., 2006; Granot e Kumar, 2006). A inje¸c˜ao de energia no choque pode ser realizada em princ´ıpio a partir de 3 mecanismos (Zhang et al., 2006): (1) redu¸c˜ao progressiva da atividade no motor central, (2) inje¸c˜ao instantˆanea de energia ou (3) inje¸c˜ao tardia no forward shock. O caso (1) foi analisado por Zhang e M´esz´aros (2001) utilizando para a luminosidade

t −q uma fun¸c˜ao do tipo L(t) = L0( ) . A inje¸c˜ao de energia poderia ocorrer devido a tb Se¸c˜ao 3.1. Afterglows em Raios-X 67 um de milisegundo (Dai e Lu, 1998) ou a uma acres¸c˜ao cont´ınua em um buraco negro central. Zhang e M´esz´aros (2001) mostraram que para obter a inje¸c˜ao de energia necess´aria q deveria ser necessariamente < 1. O problema com esse cen´ario ´eo fato de que a luminosidade da fonte deve variar suavemente no tempo, em contraste com o processo err´atico observado em GRBs nessa fase que ´eextremamente ca´otico. Desta forma, esse processo requer duas componentes segundo os autores: uma bola de fogo que levaria a emiss˜ao inicial (prompt) e um fluxo de Poynting que levaria a uma varia¸c˜ao suave de inje¸c˜ao de energia. Dai e Lu (1998) mostraram que para um pulsar de milisegundo rec´em nascido q = 0, enquanto que MacFadyen, Woosley e Heger (2001) mostraram que no caso de um buraco negro que diminui a taxa de acres¸c˜ao ao longo do tempo q = 5/3. Independente do mecanismo escolhido, a fonte de energia dever´aestar presente at´e104s ap´os o burst, tempo esse no qual ocorre a transi¸c˜ao da fase de decaimento suave para a fase de decaimento regular. Este ´eum problema ainda em aberto na f´ısica de GRBs. Na segunda possibilidade a atividade do motor central pode ser breve (t˜ao curta quanto a emiss˜ao inicial), mas ao fim da emiss˜ao inicial a quantidade de material ejetado que dever´a se mover com fator de Lorentz maior que Γ ´edada por (Panaitescu et al., 1998; Rees e Meszaros, 1998; Sari e M´esz´aros, 2000):

M(> Γ) Γ−s (3.9) ∝ Neste cen´ario a atividade do motor central n˜ao necessita ter longa dura¸c˜ao, e o material pode ser ejetado rapidamente. Um quest˜ao interessante ´eque para cada valor de s en- contrado pode-se determinar um valor de q que reproduza as mesmas caracter´ısticas (ou vice-versa) tornando dif´ıcil a escolha entre os diferentes modelos (Zhang et al., 2006). A terceira possibilidade considerada n˜ao se relaciona diretamente ao motor central, mas sim ao atraso no mecanismo de transferˆencia de energia ao forward shock. Sobre essa perspectiva a fase de decaimento r´apido pode ser meramente o reflexo da transferˆencia de energia do material ejetado para o meio. Todas as trˆes possibilidades descritas, se concentram em analisar a inje¸c˜ao de energia passado algum momento com rela¸c˜ao ao burst ( 104s). Outras possibilidades ainda ∼ s˜ao discutidas por alguns autores. Entre essas possibilidades Eichler e Granot (2006), propuseram que os raios-γ e o afterglow n˜ao ocorrem devido a mesma componente da eje¸c˜ao. Em outras palavras as regi˜oes de emiss˜ao mais intensas no afterglow e de raios-γ n˜ao 68 Cap´ıtulo 3. O Afterglow coincidem. A emiss˜ao achatada do afterglow ´evista por um ˆangulo ligeiramente deslocado do ˆangulo que enxerga a emiss˜ao mais brilhante. Esse modelo ´echamado de Off-beam jet model. De fato, o achatamento da curva de luz a partir do ˆangulo de observa¸c˜ao pode ser reproduzido para o GRB050315 no trabalho de Eichler & Granot (ver figura 3.4), por´em Panaitescu (2007) estudou uma amostra de 32 GRBs e n˜ao pode confirmar a correla¸c˜ao esperada. Outra tentativa foi o chamado two-component jet model. Este modelo geom´etrico in- voca duas componentes de um jato, que produziria duas componentes para o afterglow. Uma componente canˆonica e colimada ultrarelativ´ıstica, explicaria a emiss˜ao em raios-γ, enquanto uma componente relativ´ıstica mais larga desaceleraria e ent˜ao passaria a ser vis´ıvel e contribuiria para o achatamento da curva de luz. Jin, Yan, Fan e Wei (2007) analisa esse modelo para o GRB051221a na tentativa de explicar a fase de decaimento suave. As possibilidades estudadas na literatura que ainda necessitam ser comentadas s˜ao as varia¸c˜oes dos parˆametros na microf´ısica do choque, e o espalhamento pela poeira. A primeira possibilidade apresenta um problema essencial que seria o de explicar o porque a varia¸c˜ao terminaria ap´os a fase de decaimento suave. Os dados pr´e-SWIFT, que n˜ao levavam em conta os momentos iniciais do afterglow, demonstravam que apesar de ser razo´avel a hip´otese de ǫB (fra¸c˜ao de energia magn´etica) se manter constante ao longo do choque, o c´alculo para diferentes bursts faziam esse parˆametro variar numa faixa de duas ordens de grandeza (Yost et al., 2003). Quanto a possibilidade de espalhamento pela poeira, Shao e Dai (2007) sugeriram que era uma hip´otese vi´avel para explicar o achatamento. O ´ındice espectral apesar de variar n˜ao seria compat´ıvel com as observa¸c˜oes que mostrariam um patamar com declividade muito pr´oxima a zero. Fase de Decaimento Normal e Fase de Decaimento ´Ingreme Tardio (iii) e (iv): Essas fases j´apodiam ser visualizadas nos dados pr´e-SWFIT, podendo at´emesmo ser considerado a curva padr˜ao `a´epoca. A fase (iii) apresenta uma declividade de ∼ 1.2, e responde positivamente ao modelo padr˜ao para o afterglow. A fase (iv) tem como declividade 2.0, mas ´eevidente em apenas uma fra¸c˜ao pequena de bursts. O instante que ∼ marca a descontinuidade entre as fases (iii) e (iv) ´echamado de quebra do jato (Rhoads, 1999). Se¸c˜ao 3.1. Afterglows em Raios-X 69

Assumir colima¸c˜ao do burst ´euma forma natural de enfrentar a necessidade de energias extremamente elevadas. A quebra no jato, est´arelacionada ao ˆangulo de abertura do jato

θj na base, e espera-se que aconte¸ca quando θj = 1/Γ, onde Γ ´eo fator de Lorentz da bola de fogo. Zeh, Klose e Kann (2006), em uma an´alise bastante completa de bursts pr´e-SWIFT mostraram que a quebra ocorre em t /(1 + z) = 0.3 0.2 dias, por´em sem b ± medidas em raios-X para determinar se a quebra ´eacrom´atica. A declividade p´os-quebra n˜ao apresenta comportamento universal, podendo variar em uma ampla faixa de valores. J´aa distribui¸c˜ao para o ˆangulo de meia abertura do jato tem pico entre 2o e 5o. Nos dados pr´e-Swift, as quebras nos jatos eram amplamente utilizados para estabelecer rela¸c˜oes emp´ıricas. A primeira dessas rela¸c˜oes Vedrenne (2009) foi descoberta por Frail (Frail et al., 2001), a qual permitiu definir uma escala de energia corrigida pelo ˆangulo de colima¸c˜ao, baseado no tempo de quebra tj e no redshift, de modo a mostrar que essa energia era aproximadamente constante. A partir deste fato Ghirlanda, Ghisellini, Lazzati e Firmani (2004), seguido de outros autores, Liang e Zhang (2005); Willingale et al. (2007), encontraram correla¸c˜oes not´aveis entre quantidades da emiss˜ao inicial em raios-γ e do afterglow. A rela¸c˜ao de Ghirlanda correlaciona a energia de pico do espectro do GRB Ep com a energia corrigida a partir do efeito de beaming Eγ, derivado a partir do valor de quebra na curva de luz no ´optico. Flares de Raios-X (v): Os flares apresentam uma r´apida ascen¸c˜ao e queda na curva de luz e geralmente o fluxo retoma o valor extrapolado a partir de antes deste ocorrer, podendo aparecer tanto em bursts curtos como longos. Muitos destes parecem superpostos na fase de decaimento suave. Depois da emiss˜ao inicial, que explicaria a emiss˜ao em raios-γ, a reativa¸c˜ao do motor central pode dar origem aos flares em raios-x. Lazzati e Perna (2007) mostraram que existem duas possibilidades distintas para a origem dos flares, a partir de fenˆomenos tardios no modelo de choques internos. A primeira considera o fato de que o motor central poder´a estar ativo por uma escala de tempo compar´avel com o tempo de ocorrˆencia dos flares. A segunda considera um motor central de curta existˆencia que produziria uma cauda de material mais lento, al´em da eje¸c˜ao relativ´ıstica. A conclus˜ao dos autores ´eque em uma larga fra¸c˜ao (ou mesmo todos) flares devem ocorrer devido a uma atividade continuada da fonte. 70 Cap´ıtulo 3. O Afterglow

Flares tamb´em foram estudados por Wu et al. (2006), no contexto de um motor central com dois per´ıodos de atividade, o que poderia levar a at´equatro tipos b´asicos de curva de luz. Outras possibilidades para a origem desses flares seriam ainda, o espalhamento dos f´otons pelos el´etrons envolvidos no forward shock, ou mudan¸cas siginificativas de ambiente.

3.2 Problemas com os Modelos

Woosley e Zhang (2007) na introdu¸c˜ao de seu artigo diz que se o BATSE foi a era de descoberta para GRBs, e o Beppo-Sax/Hete a era da cosmologia (no sentido da confirma¸c˜ao quanto a origem cosmol´ogica), ent˜ao o SWIFT ser´alembrado pela hist´oria como a era da diversidade. Como vimos na ´ultima se¸c˜ao as observa¸c˜oes do SWFIT acrescentaram muitas caracter´ısticas novas na forma da curva de luz dos afterglows de GRBs. Muitas dessas caracter´ısticas geraram uma grande proposta de modelos, que nem sempre foram bem sucedidos em explic´a-las. Entre estas caracter´ısticas est˜ao as quebras crom´aticas dos afterglows. Quebras crom´aticas ´eo nome dado ao fato de que a maior parte dos afterglows apresen- tam uma quebra na curva de luz, apresentando uma mudan¸ca no ´ındice da lei de potˆencia em raios-x, por´em o mesmo efeito n˜ao se repete no ´optico como pode ser visto na figura 3.3. Nesta figura a curva superior ´ea de raios-x e a de baixo a no ´optico. A curva de luz no ´optico apresenta uma ´unica lei de potˆencia, usualmente com um ´ındice de decaimento temporal intermedi´ario entre os valores obtidos em raios-x antes e depois da quebra. Essas quebras s˜ao razoavelmente comuns. A explica¸c˜ao para este fato traz profundas modifica¸c˜oes ao modelo padr˜ao de afterglows (Granot, 2008). Esta crise no modelo padr˜ao traz alternativas mais radicais, como a da hip´otese de que o afterglow seja dominado pela emiss˜ao de um choque reverso de longa dura¸c˜ao, ao inv´es do forward shock padr˜ao (Uhm e Beloborodov, 2007; Genet et al., 2007; Pihlstr¨om et al., 2007). Este tipo de modelo dribla a necessidade de parˆametros microf´ısicos em equiparti¸c˜ao, por´em com o vi´es de aumentar o fluxo de emiss˜ao no ´optico, e uma frequˆencia de auto- absor¸c˜ao que est´atipicamente acima da banda em r´adio (a qual ´edif´ıcil de reconciliar com as detec¸c˜oes em r´adio). Uma outra sugest˜ao ainda mais radical ´ea de que a fase de decaimento suave e dela em diante sejam dominadas por atividade prolongada do motor central, enquanto que a emiss˜ao no ´optico seja dominada pela emiss˜ao do forward shock. O Se¸c˜ao 3.2. Problemas com os Modelos 71 fato realmente estranho com essa proposta, ´ea de que tanto a emiss˜ao inicial em γ como a emiss˜ao tardia (decaimento suave em diante) tenham a mesma origem (ligada a atividade da fonte), mas variabilidade temporal e espectral completamente diferentes. Todas estas quest˜oes ainda carecem de um aprofundamento observacional e te´orico. 72 Cap´ıtulo 3. O Afterglow

1 t (days) 2 10 10 −4 θ θ 10 obs=0 ,0.5 0 Hydrodynamic simulation of an θ 0 θ initially uniform sharp edged jet −5 1.5 0 10 θ 2 0 (mJy)

ν −6 10 3θ

F 0

4θ 5θ 1 0 0 10 0 10 uniform jet with sharp edges −1 10 −2 10

(mJy) −3 10 ν −4

F 10 −5 10 1 10 2 2 0 ε Γ ∝ −θ /2θ 10 Gaussian jet: , 0−1 e 0 −1 10 −2 10

(mJy) −3 10 ν −4

F 10 −5 10 1 10 0 10 Gaussian ε + constant Γ −1 0 10 −2 10

(mJy) −3 10 ν −4

F 10 −5 10

−2 −1 0 1 2 10 10 10 10 10 t (days)

Figura 3.4: Curvas de luz obtidas para jatos com diferentes estruturas, dinˆamica e ˆangulo de vis˜ao. O painel ao alto ´ede um jato uniforme, feito a partir de simula¸c˜oes hidrodinˆamicas. Extra´ıdo de Eichler e Granot (2006). Cap´ıtulo 4

Campos Magn´eticos em GRBs

Como mostramos no cap´ıtulo anterior uma das pe¸cas chaves no modelo de afterglows ´ea radia¸c˜ao s´ıncroton. Para que essa radia¸c˜ao ocorra existem dois componentes fundamentais: campos magn´eticos e part´ıculas aceleradas relativisticamente. Nos primeiros momentos da explos˜ao, regi˜ao de choques internos, estas componentes s˜ao facilmente obtidas por´em, na regi˜ao do afterglow a microf´ısica exige elevados campos magn´eticos e r´apida acelera¸c˜ao. Ambos os processos, acelera¸c˜ao e campos magn´eticos elevados, s˜ao quest˜oes ainda em aberto na f´ısica de GRBs. Neste cap´ıtulo pretendemos apresentar um panorama geral do problema, apresentando uma breve revis˜ao das tentativas da literatura em lidar com estes problemas ainda em aberto.

4.1 Acelera¸c˜ao de Part´ıculas

Radia¸c˜ao s´ıncroton tem como uma das caracter´ısticas b´asicas, uma popula¸c˜ao de el´etrons n˜ao t´ermicos e altamente energ´eticos. No cap´ıtulo anterior demonstramos que se tivermos uma popula¸c˜ao de el´etrons com a energia distribu´ıda em lei de potˆencia se propagando em torno de um campo magn´etico, teremos radia¸c˜ao s´ıncroton com um espectro em lei de potˆencia de acordo com F ν−(p−1)/2 (Rybicki e Lightman, 1979). ν ∝ Em astrof´ısica ´ecostume simular a acelera¸c˜ao de part´ıculas atrav´es do processo conhe- cido como acelera¸c˜ao Fermi. Este mecanismo foi proposto pela primeira vez pelo f´ısico italiano Enrico Fermi em 1949 (Fermi, 1949) para explicar a acelera¸c˜ao de raios c´osmicos. Na acelera¸c˜ao de Fermi pode acontecer que uma regi˜ao de elevado campo magn´etico possa se mover na dire¸c˜ao de uma part´ıcula carregada fazendo com que ocorra a colis˜ao e por con- sequˆencia um ganho energ´etico da part´ıcula. Caso o campo esteja se afastando a part´ıcula 74 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs perde energia. Os modelos de afterglows prevˆeem que el´etrons ser˜ao acelerados atrav´es do processo Fermi de primeira ordem, uma vez que cruzam repetidamente a frente de choque. A frente de choque diferencia duas regi˜oes upstream e downstream (ver 4.1). Neste processo, uma fra¸c˜ao das part´ıculas que se aproximam de upstream s˜ao defletidas pelo campo magn´etico e aceleradas a energias superiores. Esse processo pode ocorrer algumas vezes at´eque as part´ıculas tenham energia suficiente para escapar. Segundo simula¸c˜oes recentes part´ıculas podem adquirir de 60 - 100% da sua energia inicial, com cerca de 50 - 60% das part´ıculas escapando para downstream a cada ciclo (Achterberg et al., 2001). Shock ! "p,thermal ~! p

~R#! downstream upstream

Figura 4.1: O choque no afterglow (referencial do choque). Extra´ıdo de Waxman (2006).

A acelera¸c˜ao de part´ıculas por mecanismo Fermi s´oe eficiente nos chamados plasma n˜ao colisionais. No apˆendice A mostramos que plasmas em GRBs s˜ao n˜ao colisionais. A teoria prevˆeainda que no caso de choques n˜ao relativ´ısticos a distribui¸c˜ao converge de fato para uma lei de potˆencia, sendo que essa ´euma das evidˆencias mais fortes para a sua aplica¸c˜ao em GRBs prevendo um ´ındice muito pr´oximo do observado p = 2.2 0.2. ± Hededal (2005) discorre sobre cinco problemas fundamentais relacionadas ao processo de acelera¸c˜ao Fermi em GRBs. Transcrevemos aqui os seus coment´arios: Problema 1 - O mecanismo de acelera¸c˜ao Fermi ainda n˜ao ´ecompreendido a partir de primeiros princ´ıpios. As bases do mecanismo de acelera¸c˜ao ainda s˜ao baseadas sobre a Se¸c˜ao 4.1. Acelera¸c˜ao de Part´ıculas 75 aproxima¸c˜ao para part´ıcula de teste. Assume-se que as part´ıculas sofrem espalhamento em ondas electromagn´eticas, mas o modelo n˜ao ´eauto-consistente no que se refere a gera¸c˜ao destas ondas. Tamb´em n˜ao leva em conta o efeito que o campo magn´etico teria com rela¸c˜ao a distribui¸c˜ao de part´ıculas em altas energias. Problema 2 - Em todas as deriva¸c˜oes do mecanismo de acelera¸c˜ao Fermi relativ´ıstica, o campo magn´etico em downstream necessita ser fortemente turbulento em escalas menores que o raio de giro (Ostrowski e Bednarz, 2002). Este fato, no entanto encontra-se em forte contradi¸c˜ao com o modelo de radia¸c˜ao s´ıncroton para o afterglow, onde espera-se que as part´ıculas de alta energia girem em ´orbitas circulares ao redor do campo magn´etico com varia¸c˜oes na escala, muito maiores que o raio de giro. Neste sentido, tanto a hip´otese de turbulˆencia forte em downstream, como a universalidade da distribui¸c˜ao em lei de potˆencias para particulas energ´eticas tenham que ser revistas (Niemiec e Ostrowski, 2004). Outra possibilidade ´eque o modelo possa ser refeito de modo a acomodar a chamada radia¸c˜ao jitter da qual falaremos mais adiante. Problema 3 - Acelera¸c˜ao Fermi relativ´ıstica requer um mecanismo de pr´e-acelera¸c˜ao que injete part´ıculas na regi˜ao do choque de forma a iniciar o processo. Os mecanismos de acelera¸c˜ao por sua vez, n˜ao s˜ao ainda bem conhecidos. O tamanho da fra¸c˜ao de el´etrons que s˜ao acelerados afeta consideravelmente a estimativa da energia envolvida em GRBs (Eichler e Waxman, 2005). Pode-se definir essa fra¸c˜ao como sendo f. Acima de tudo, de acordo com Baring e Braby (2004), bons ajustes levando em conta processos como s´ıncroton ou espalhamento IC, s´os˜ao obtidos quando a popula¸c˜ao de el´etrons tem uma forte componente n˜ao-t´ermica. Este fato, est´aem profundo desacordo com o processo Fermi onde el´etrons t´ermicos s˜ao injetados. A ausˆencia de comportamento t´ermico para os el´etrons levanta a quest˜ao de como a turbulˆencia electromagn´etica ´emantida na regi˜ao do choque. Problema 4 - Este problema est´aconectado ao problema 3. Na nebulosa do Caran- gueijo, que ´ea mais pr´oxima e mais bem estudada fonte moderadamente relativ´ıstica, a maior parte dos el´etrons irradiam abaixo da energia de inje¸c˜ao esperada, o que implica em f 1 (Eichler e Waxman, 2005). Os el´etrons de baixa energia possuem um espectro em ≪ distribui¸c˜ao de lei de potˆencia com 1.1

4.2 Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts

Outro ingrediente crucial para a acelera¸c˜ao s´ıncroton, al´em da acelera¸c˜ao de part´ıculas ´ea existˆencia de campo magn´etico. Como mostramos no cap´ıtulo anterior, a hip´otese b´asica ´ea de que a energia magn´etica e a energia dos el´etrons possam ser parametrizadas atrav´es de um parˆametro chamado parˆametro de equiparti¸c˜ao ǫB e ǫe respectivamente. No geral assume-se que esses parˆametros sejam mantidos constantes atrav´es do choque e at´emesmo durante o afterglow. Mostramos tamb´em, que os valores podem ser obtidos observacionalmente a partir de certos valores de frequˆencias de quebra no espectro que s˜ao dos valores mais baixos para os mais altos, os seguintes: frequˆencia s´ıncroton de auto- absor¸c˜ao, frequˆencia s´ıncroton t´ıpica do el´etron, e frequˆencia de auto-absor¸c˜ao (Sari et al., 1998; Piran, 1999). Valores t´ıpicos que podem ser obtidos observacionalmente para os parˆametros de equiparti¸c˜ao no afterglow ficam em torno de ǫ = 0.0001 0.1 (Waxman, B − 1997; Yost et al., 2003), o que corresponde a um campo magn´etico da ordem de 10−4T 1 ∼ G. Alternativas ao modelo da bola de fogo como o chamado modelo electromagn´etico (EMM), chegam a depender quase que inteiramente das caracter´ısticas do campo magn´etico (Lyutikov e Blandford, 2003). Neste caso, o motor central extrai energia atrav´es do meca- Se¸c˜ao 4.2. Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts 77 nismo de Blandford-Znajek (Blandford e Znajek, 1977) a partir de um buraco negro mag- netizado cercado por um disco de acres¸c˜ao (Lee et al., 2000; van Putten, 2001; Lyutikov e Blandford, 2003), ou por um pulsar altamente magnetizado rotacionando rapidamente (Usov, 1992; Thompson, 1994; Katz, 1997). A eje¸c˜ao neste caso ´e um fluxo de Poynting, sendo que a dissipa¸c˜ao ocorre por reconex˜ao magn´etica ou algum tipo de instabilidade (Piran, 2005). Ainda com rela¸c˜ao aos modelos que levam em conta a presen¸ca de b´arions na bola de fogo, o campo ainda acaba sendo importante no que se refere ao motor central da explos˜ao como no caso da reconex˜ao de um objeto compacto com campo de 1015G e circundado por um disco de acres¸c˜ao (Narayan et al., 1992). O principal problema com campos magn´eticos em GRBs acontece no afterglow. Os choques no afterglow s˜ao altamente desmagnetizados, sendo que a raz˜ao entre a densidade de energia magn´etica em upstream (UB,up) sobre o fluxo de energia cin´etica das part´ıculas nesta mesma regi˜ao ´emuito pequeno, U /nm c2 10−10 (Waxman, 2006), com campos B,up p ∼ magn´eticos B 3µG t´ıpicos do MI. Estes valores tornam razo´avel a hip´otese de admitir up ∼ que o campo magn´etico em upstream n˜ao influencia a estrutura do choque. Por outro lado, o campo obtido em dowstream pelas observa¸c˜oes ´epr´oximo da equiparti¸c˜ao, o que faz com que a raz˜ao entre a densidade de energia magn´etica em downstream pela densidade em upstream seja maior por um fator de 108. As hip´oteses mais imediatas a serem formuladas s˜ao a de que o campo pode ser am- plificado pela compress˜ao no choque, ou a de que ele seja arrastado a partir do objeto central. No primeiro caso, sabemos a partir das condi¸c˜oes de Taub (Taub, 1948), que s˜ao as condi¸c˜oes de Rankine-Hugoniot relativ´ısticas, que o m´aximo de amplifica¸c˜ao pelo choque

´edado por um fator de 4Γsh, o que ainda n˜ao ´eo suficiente para reproduzir observa¸c˜oes. Um campo magn´etico pode ter suas linhas de campo congeladas no plasma do progenitor, sendo que quando ocorre a eje¸c˜ao o campo ´earrastado em conjunto com o material ejetado contribuindo provavelmente para a emiss˜ao s´ıncroton inicial. Por outro lado, a componente toroidal de um campo decai com fator R−1 e desta forma um campo de 1014G em 106cm pode facilmente alcan¸car 106G em 1014cm. Para que possamos tornar o modelo de fluxo de Poynting consistente, precisamos ter pelo menos uma fonte com 1015G no motor central e 107G em 1014cm (Piran, 2005). Desta forma essas evidˆencias corroboram a id´eia de que o campo do afterglow seja gerado na regi˜ao do choque. 78 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

Muitos outros mecanismos foram propostos desde ent˜ao no sentido de explicar a origem destes campos, todos realizando simula¸c˜oes a partir de instabilidades em plasmas n˜ao colisionais. No Apˆendice A mostramos que de fato o plasma em GRBs ´e n˜ao colisional, onde por esse termo queremos nos referir a um plasma que ´egovernado por instabilidades ao inv´es de colis˜oes bin´arias entre part´ıculas. Choques n˜ao colisionais ocorrem n˜ao s´oem afterglows mas na maioria dos sistemas astrof´ısicos devido `as baixas densidades envolvidas. Quando duas popula¸c˜oes relativ´ısticas de plasma colidem, o comportamento das part´ıculas no espa¸co de fase ´eextremamente anisotr´opico. Esta anisotropia por´em, ´einst´avel a mui- tas instabilidades de plasma conhecidas, incluindo as chamadas instabilidade eletrost´atica Buneman e a instabilidade electromagn´etica Weibel (Hededal, 2005). No caso de cho- ques relativ´ısticos, a instabilidade Weibel prevalece, pois apresenta o maior crescimento (Califano et al., 2002; Hededal e Nishikawa, 2005). Weibel (Weibel, 1959) sugeriu que se adicionada alguma isotropia a um plasma origi- nalmente isotr´opico, processos de relaxa¸c˜ao levar˜ao ao cresimento de um campo magn´etico transversal `aperturba¸c˜ao, ainda que na ausˆencia de um campo electromagn´etico externo, no sentido de eliminar a anisotropia. No mesmo ano Fried (Fried, 1959), generalizou o trabalho tratando a anisotropia da fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao de part´ıculas (PDF) como uma configura¸c˜ao two-stream em um plasma frio. Para entender melhor este comportamento Medvedev e Loeb (1999) consideram por simplicidade a dinˆamica dos el´etrons. Desta maneira, podemos considerar que os pr´otons est˜ao todos em repouso e garantem a neu- tralidade global de carga. Neste racioc´ınio, os el´etrons se movem ao longo do eixo x (na figura 4.2), com velocidade v = v xˆ de modo que o fluxo nos dois sentidos seja o mesmo. ± x Em seguida, se adiciona uma flutua¸c˜ao magn´etica pequena, B = Bzcos(ky)ˆz. A for¸ca de Lorentz far´acom que as trajet´orias dos el´etrons sejam defletidas (linhas tracejadas na fi- gura). A tendˆencia ´ea concentra¸c˜ao de part´ıculas nas regi˜oes I e II (na figura 4.2), criando correntes de modo a amplificar o campo magn´etico inicial. A taxa de cresimento desta instabilidade ´edada por:

ω v F = p y (4.1) c Se¸c˜ao 4.2. Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts 79

onde ωp neste caso ´ea frequˆencia de plasma n˜ao relativ´ıstica dos el´etrons:

4πe2n ωp = (4.2) s me onde e e me denotam a carga e a massa do el´etron respectivamente.

z

- I -

j - x II - ve

B y

Figura 4.2: Diagrama demonstrando a instabilidade. Uma flutua¸c˜ao magn´etica causa a deflex˜ao do movimento do el´etron ao longo do eixo x, resultando em densidades de corrente j de sinais opostos nas regi˜oes I e II o que acaba por amplificar a flutua¸c˜ao original. Extra´ıdo de Medvedev e Loeb (1999).

A deflex˜ao pela for¸ca de Lorentz das ´orbitas das part´ıculas aumenta conforme aumenta a intensidade do campo. O campo magn´etico amplificado ´ealeat´orio no plano perpendicular ao movimento da part´ıcula, uma vez que ´egerado a partir de um campo semente aleat´orio. Enquanto o campo cresce em amplitude dizemos que ele se encontra na chamada fase linear. A fase n˜ao-linear relacionada com a satura¸c˜ao da instabilidade ocorre no momento em que o campo cresce at´eque a energia devido a anisotropia da PDF seja convertida em energia magn´etica. No trabalho de Medvedev & Loeb eles obtiveram que a satura¸c˜ao 80 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs ocorreria a ǫ 10−5 10−4 se apenas os el´etrons participam da instabilidade e ǫ 10−1 B ∼ − B ≤ se os ´ıons tamb´em est˜ao inclu´ıdos. As primeiras simula¸c˜oes num´ericas deste tipo de instabilidade se iniciaram com o tra- balho de Kazimura (Kazimura et al., 1998), aplicando a colis˜ao de ventos em pulsares bin´arios, a partir de uma simula¸c˜ao bidimensional. Pode-se encontrar que em torno de 5% da energia cin´etica das part´ıculas eram convertidas em campo magn´etico. Simula¸c˜oes tridimensionais foram feitas por Silva, Fonseca, Tonge, Dawson, Mori e Medvedev (2003), com colis˜oes de cascas de fator de Lorentz variando entre Γ = 1 10. Eles encontraram − que o campo alcan¸ca um m´aximo em ǫ 0.1 relaxando at´ealcan¸car ǫ = 10−4 10−2. B ∼ B − Nishikawa et al. (Nishikawa et al., 2003, 2005) realizaram simula¸c˜oes tridimensionais de plasmas de pares e plasmas el´etron-pr´oton em uma grande caixa computacional c´ubica de 66.7 skin-depths do el´etron (δ, que ´edefinido como = c/ωp). Eles puderam encontrar

ǫB = 0.02, al´em de confirmar a taxa de crescimento da instabilidade dada por 4.1. Um ponto importante deste trabalho foi a possibilidade de que a instabilidade esteja associada com a acelera¸c˜ao de el´etrons. O estudo por simula¸c˜oes num´ericas, demonstra que a amplifica¸c˜ao de campo magn´eticos pela instabilidade Weibel sempre passa por uma fase de crescimento exponencial, que con- corda com as estimativas anal´ıticas da fase linear. Ap´os isso a instabilidade entra no chamado regime n˜ao linear. Na transi¸c˜ao de um limite para o outro o campo magn´etico atinge o seu valor m´aximo (Yang et al., 1992). Wiersma e Achterberg (2004) mostraram analiticamente e atrav´es de simula¸c˜ao que o final da fase linear ocorre muito mais rapida- mente em um plasma com pr´otons do que em um plasma de el´etrons e p´ositrons. Essa ´epor exemplo a situa¸c˜ao que ocorre em GRBs quando um choque ultrarelativ´ıstico se propaga em um plasma de hidrogˆenio frio (vento ou MI). Neste caso, a intensidade encontrada para o campo amplificado por instabilidade Weibel ´emuito pequeno (pelo menos duas ordens de magnitude) quando comparado ao necess´ario para explicar a radia¸c˜ao s´ıncroton observada. E´ poss´ıvel ainda que ap´os terminar a fase linear e a instabilidade encontrar o seu regime de satura¸c˜ao, outro tipo de instabilidade ocorra. Frederiksen, Hededal, Haugbølle e Nordlund (2004) e Hededal, Haugbølle, Frederiksen e Nordlund (2004), investigaram a evolu¸c˜ao n˜ao-linear da instabilidade two-stream em plasmas de el´etrons e pr´otons. Frederiksen (2004) realizou simula¸c˜oes com fator de Lorentz Se¸c˜ao 4.2. Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts 81

Γ = 3, em uma caixa computacional de 40 40 160 skin depths do el´etron (ou 10 10 40 × × × × skin depths dos ´ıons). Resultados desta simula¸c˜ao demonstram que na fase n˜ao-linear a instabilidade gera filamentos de correntes de ´ıons de regi˜oes maiores que skin-depth (4.3) o que acarreta em campos magn´eticos da ordem de ǫ 0.05. B ∼ O resultado de Hededal et al.(2004) por sua vez, mostra que n˜ao s´o a instabilidade Weibel pode produzir campos magn´eticos fortes, mas existe uma correla¸c˜ao entre a ace- lera¸c˜ao de part´ıculas e a instabilidade. Eles encontraram que os el´etrons de alta energia est˜ao espacialmente conectados aos filamentos das correntes de ´ıons.

Figura 4.3: Os el´etrons de altas energias (pontos vermelhos) s˜ao encontrados onde os fila- mentos de correntes de ´ıons s˜ao fortes (em azul). Extra´ıdo de Hededal et al. (2004).

Instabilidade do tipo Weibel deve provavelmente estar presente na colis˜ao relativ´ıstica de dois fluxos. Gruzinov (2001) levantou um problema importante relacionado a insta- bilidade Weibel que ´eo tamanho da regi˜ao na qual ela sobreviveria. Na fase inicial da instabilidade temos duas escalas relevantes, sendo uma a escala de tempo que ´eo in-

−1 verso da frequˆencia de plasma ωp , e outra que ´ea escala de comprimento do skin depth,

δ = c/ωp. E´ natural esperar portanto, que a escala de coerˆencia para o campo gerado por instabilidade a partir do choque seja da ordem de δ. Desta forma, a quest˜ao que ∼ surge (Gruzinov e Waxman, 1999) ´eo que aconteceria em regi˜oes muito maiores do que δ em downstream, uma vez que as observa¸c˜oes parecem reproduzir o espectro s´ıncroton at´e essas distˆancias. Essa ´euma quest˜ao em aberto e a qual abordamos neste trabalho. As possibilidades de compatibilizar o problema descrito com a observa¸c˜ao da radia¸c˜ao 82 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs s´ıncroton em modelos de GRBs consistem portanto em duas, ou que tenhamos campos fortes em pequena escala em dowstream, ou que tenhamos campos fortes em grandes escalas em downstream. A primeira hip´otese acaba sendo invi´avel uma vez que o campo tende a desaparecer devido ao chamado amortecimento de Landau, nos deixando apenas com a ´ultima hip´otese: campos fortes com escala de coerˆencia de muitos skin-depths. Recentemente simula¸c˜oes num´ericas bidimensionais (Keshet et al., 2009) de choques n˜ao colisionais relativ´ısticos em escalas de tempo e caixa computacional muito grandes, relatam ter observado o cresimento de campos em larga escala e acelera¸c˜ao de part´ıculas. Essa simula¸c˜ao ´erealizada a partir de primeiros princ´ıpios utilizando part´ıculas e as equa¸c˜oes de Maxwell. Gruzinov (2008) argumenta por´em que campos magn´eticos em larga escala n˜ao podem ser gerados em 2D, mesmo em plasmas n˜ao colisionais, uma vez que n˜ao ´e poss´ıvel obter efeito d´ınamo em 2D conforme demonstrado pelo teorema anti-d´ınamo de Zeldovich. Isso faria com que simula¸c˜oes 3D descrevessem um ambiente pouco realista e de aplica¸c˜ao infrut´ıfera a GRBs. Cabe notar por´em que a princ´ıpio no afterglow ainda que considerados efeitos tridimen- sionais, para que exista turbulˆencia devem ser considerados ou efeitos de inomogeneidade na onda de explos˜ao ou ainda inomogeneidades no meio qual ela se propaga (Goodman e MacFadyen, 2008). Outra possibilidade recentemente explorada na literatura ´e a de que um campo magn´etico fraco, seja fortemente amplificado por um d´ınamo turbulento MHD (sigla para magnetohi- drodinˆamica) (Zhang et al., 2009; Kazantsev, 1968; Kulsrud e Anderson, 1992; Boldyrev e Cattaneo, 2004)). Neste contexto a turbulˆencia ´edevido ao desenvolvimento n˜ao-linear de uma instabilidade do tipo Kelvin-Helmholtz (Zhang et al., 2009) presente devido ao efeito de shear de velocidades. Shear ocorre naturalmente em eje¸c˜oes relativ´ısticas, devido `as ino- mogeneidades do meio que circundam a fonte, assim como pelas intermitˆencias da eje¸c˜ao. Colis˜oes em choques internos de GRBs ocorrem por exemplo a patir da colis˜ao entre cascas com diferentes tamanhos e quantidade de mat´eria, o que gera choques obl´ıquos e vortici- dade (Goodman e MacFadyen, 2008). Em jatos particularmente, o shear ´eintr´ınseco uma vez que temos o n´ucleo r´apido do jato se propagando envolto em um cocoon mais lento, de forma que jatos s˜ao sempre turbulentos devido a instabilidades do tipo Kelvin-Helmholtz. Zhang, MacFadyen e Wang (2009) realizaram simula¸c˜oes relativ´ısticas tridimensionais Se¸c˜ao 4.2. Campos Magn´eticos em Gamma-Ray Bursts 83 e de alta resolu¸c˜ao demonstrando a amplifica¸c˜ao de campos magn´eticos fracos atrav´es de instabilidade do tipo Kelvin-Helmholtz. A figura 4.4 mostra a evolu¸c˜ao da instabilidade e da turbulˆencia a partir de dois snapshots. Eles puderam obter ǫ = 5 10−3 para o B × parˆametro de equiparti¸c˜ao. A figura 4.4 mostra o crescimento do parˆametro ǫB devido a instabilidade Kelvin-Helmholtz at´ea satura¸c˜ao. A satura¸c˜ao de energia no espectro electromagn´etico ´euma assinatura t´ıpica da atua¸c˜ao de um d´ınamo de pequena escala.

5.0 log10 beta6.8 1.5 log10 beta 3.3

t = 2 t = 12

Figura 4.4: Evolu¸c˜ao da raz˜ao entre press˜ao do g´as e press˜ao magn´etica. Simula¸c˜ao com 1024 c´elulas num´ericas. Inicialmente o campo precisa ser preenchido com um pequeno campo magn´etico. As imagens s˜ao tiradas em t=2 e t=12. Em t=12 o g´as se torna turbulento devido a instabilidade. Extra´ıdo de Zhang et al. (2009).

Um problema relacionado a todas as simula¸c˜oes de instabilidades e choques em plasmas n˜ao colisionais em ambientes astrof´ısicos (AGNs e GRBs por exemplo) ´eo tamanho do dom´ınio computacional ou tamanho da caixa. Aqui relatamos uma s´erie de trabalhos que vem progressivamente ampliando os limites por´em em GRBs por exemplo desejamos conhecer o comportamento do campo em at´e109δ (Gruzinov, 2008). 84 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

-1 10

-2 10

-3 10

-4 10

-5 10

-6 10

-7 10 0 2 4 6 8 10 12 14 t

Figura 4.5: Raz˜ao entre a energia electromagn´etica e energia cin´etica para a energia total como fun¸c˜ao do tempo. As diferentes linhas est˜ao relacionadas com diferentes resolu¸c˜oes: 10243 (linha s´olida), 7683 (linha cortada) e 5123 (linha pontilhada). Simula-se com campo magn´etico inicial diferente (dois valores) para cada resolu¸c˜ao. Extra´ıdo de Zhang et al. (2009).

4.3 Radia¸c˜ao Jitter

Pela revis˜ao dos trabalhos da literatura que fizemos at´eagora podemos notar que todos tem como foco reproduzir o campo magn´etico em larga escala necess´ario para a radia¸c˜ao s´ıncroton no afterglow. Campos magn´eticos produzidos a partir de choques em GRB flutuam em pequena escala, da ordem do skin depth 10−2cm. Por´em o interessante ´enotar que o raio de Larmor dos el´etrons relativ´ısticos que emitem, ´emuito maior ( 106cm) o que faz com ∼ que as trajet´orias dos el´etrons n˜ao seja helicoidal, como se esperaria na radia¸c˜ao emitida por el´etrons em um campo homogˆeneo. Em outras palavras, ´eposs´ıvel que a teoria da radia¸c˜ao s´ıncroton derivada a partir de campos homogˆeneos, n˜ao se aplique ao espectro de afterglows. O primeiro trabalho a propor este tipo de reformula¸c˜ao foi Medvedev (2000) onde se propˆos o nome Jitter Radiation. O mecanismo de radia¸c˜ao Jitter cobre o regime onde o campo magn´etico ´einomogˆeneo em escalas menores que o raio de Larmor (4.6). Podemos considerar a princ´ıpio um el´etron relativ´ıstico de tal modo que devido ao efeito de beaming relativ´ıstico, tˆem a sua radia¸c˜ao concentrada em um cone com ˆangulo Se¸c˜ao 4.3. Radia¸c˜ao Jitter 85

Figura 4.6: Exemplo de trajet´oria dos el´etrons seguida por flutua¸c˜oes, ou sobre a influˆencia da instabilidade Weibel. Extra´ıdo de Hededal (2005).

de abertura dado por ∆Θ 1/γ, onde γ ´eo fator de Lorentz do el´etron ultrarelativ´ıstico. ∼ Em um campo magn´etico uniforme o el´etron ir´ase mover em uma trajet´oria na forma de h´elice, de tal forma que a radia¸c˜ao observada consiste em pulsos repetidos a cada per´ıodo c´ıclotron. O espectro consiste portanto, em um n´umero de harmˆonicos c´ıclotron, e tem

3 2 seu pico pr´oximo a frequˆencia s´ıncroton cr´ıtica ωc = 2 γ eB/mec, onde B = Bcosχ e χ ´eo chamado pitch angle (Medvedev, 2000). Se o campo magn´etico ´eorientado aleatoriamente, e o comprimento de coerˆencia ´e menor que o raio de Larmor, ent˜ao o el´etron sofrer´adeflex˜oes aleat´orias na medida que se move ao longo do campo. O espectro depender´aem ´ultima instˆancia do ˆangulo α no qual as part´ıculas s˜ao defletidas e ∆θ o ˆangulo de beaming. A rela¸c˜ao entre estes dois ˆangulos ´edada por: α eBλB 2 (4.3) ∆θ ∼ mec onde λB ´eo tamanho de coerˆencia do campo. E´ interessante notar que essa rela¸c˜ao depende essencialmente do comportamento do campo magn´etico. Desta forma, existem dois casos limites: α ∆θ e α ∆θ. A figura 4.7 ilustra os dois casos. O caso em que α ∆θ ´e ≫ ≪ ≪ chamado regime jitter. Vale notar que a radia¸c˜ao jitter pode resolver o problema que surge por exemplo pelo fato da instabilidade Weibel gerar campos apenas em pequenas escalas, uma vez que dife- rentemente da radia¸c˜ao s´ıncroton, jitter ´einfluenciada por pequenas flutua¸c˜oes do espectro magn´etico. 86 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

(a) α

∆θ∼1/γ

(b)

Figura 4.7: Emiss˜ao a partir de v´arios pontos ao longo da trajet´oria da part´ıcula, (a)α ∆θ ≫ apenas parte da emiss˜ao ´eobservada. (b) α ∆θ a emiss˜ao de toda a trajet´oria ´eobservada. ≪ Extra´ıdo de Medvedev (2000).

Em um trabalho posterior Medvedev, Lazzati, Morsony e Workman (2007) demonstrou o espectro obtido para a radia¸c˜ao jitter no caso de se considerar colis˜oes tanto com o MI como com o vento do objeto progenitor. Os segmentos em leis de potˆencia νa < νm e

νa >νm s˜ao respectivamente:

2 ν , se ν<νa;  α ν , se νa <ν<νm; (νa<νm)  Fν  (4.4) ∝  ν−(s−1)/2, se ν <ν<ν ;  m c −s/2 ν , se νc < ν.     2 ν , se ν<νm;  5/2 ν , se νm <ν<νa; (νa>νm)  Fν  (4.5) ∝  ν−(s−1)/2, se ν <ν<ν ;  a c ν−s/2, se ν < ν.  c   As frequˆencias podem ser calculadas de acordo com o perfil de densidade encontrado. Se¸c˜ao 4.4. Polariza¸c˜ao 87

No caso do perfil como o do MI obtemos que:

ν(α=0) 5.88 108 Hz (1 + z)−3/4E1/4ǫ−1/2δ n1/2 t−1/4, (4.6) a ≈ × 52 e MI,0 days ν(α=1) 9.56 104 Hz (1 + z)−2E0 ǫ−3δ2n t , a ≈ × 52 e MI,0 days ν(>νm) 3.13 1010 Hz (1 + z)−0.27E0.35ǫ0.46δ0.62n0.30 t−0.73, a ≈ × 52 e MI,0 days ν 4.02 1012 Hz (1 + z)1/2E1/2ǫ2t−3/2, m ≈ × 52 e days ν 8.54 1016 Hz (1 + z)−1/2E−1/2ǫ−3/2 n−1 t−1/2. (4.7) c ≈ × 52 B,−3 MI,0 days onde todas frequˆencias est˜ao calculadas no referencial do observador e δ 36ǫ . ≈ B As frequˆencias para um perfil tipo vento por outro lado, s˜ao dadas por:

ν(α=0) 2.79 109 Hz (1 + z)−1/4E0 ǫ−1/2δ A t−3/4, (4.8) a ≈ × 52 e ∗ days ν(α=1) 1.80 105 Hz (1 + z)−1E−3/2ǫ−3δ2A2t0 , a ≈ × 52 e ∗ days ν(>νm) 1.41 1011 Hz (1 + z)0.04E0.58ǫ0.46δ0.62A0.62t−1.04, a ≈ × 52 e ∗ days ν 2.40 1013 Hz (1 + z)1/2E3/2ǫ2t−3/2 m ≈ × 52 e days ν 5.66 1015 Hz (1 + z)−3/2E1/2ǫ3/2 A−2t1/2 . (4.9) c ≈ × 52 B,−3 ∗ days

Neste sentido mostramos aqui atrav´es dos trabalhos de Medvedev (2000,2007) que pode-se obter o espectro observado ainda que se modifique a escala de coerˆencia de um campo, tornando-o n˜ao uniforme. Uma proposta interessante de medida experimental para a fenomenologia descrita nessas duas ´ultimas se¸c˜oes (instabilidade Weibel + radia¸c˜ao jitter) ´eo da utiliza¸c˜ao de lasers de grande energia. Medvedev e Spitkovsky (2009) recentemente propuseram que experimentos terrestres com LASERS como o Omega EP, NIF, e Hercules poderiam ser usados como testes em laborat´orio para instabilidades e turbulˆencia no regime de elevada densidade de energia.

4.4 Polariza¸c˜ao

Apesar dos avan¸cos observacionais e progressos nas simula¸c˜oes num´ericas, a f´ısica en- volvida em choques relativ´ısticos ainda n˜ao ´eexplicada a partir de primeiros princ´ıpios. Grandes esfor¸cos vem sendo realizados, e ainda assim algumas quest˜oes talvez n˜ao possam ser resolvidas a partir de informa¸c˜oes espectrais e fotom´etricas. Por outro lado, informa¸c˜oes de polariza¸c˜ao poderiam resolver problemas chaves relacionados aos GRBs. 88 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

Figura 4.8: Jitter e espectro s´ıncroton para um afterglow t´ıpico se propagando em um meio 53 −3 uniforme. Os dados utilizados s˜ao E = 10 ergs, ǫe = 0.1, ǫB = 0.0001, nMI = 1cm e o ´ındice de distribui¸c˜ao de energia dos el´etrons s = 2.5, computados a t = 0.1 , 1 e 10 dias. Extra´ıdo de Medvedev et al. (2007).

Observa¸c˜oes polarim´etricas de GRBs podem ajudar a resolver acima de tudo trˆes quest˜oes fundamentais (Toma et al., 2009): composi¸c˜ao magn´etica dos jatos, mecanismos de emiss˜ao dos bursts e estrutura geom´etrica de GRBs. A especula¸c˜ao ´ebastante alta no sentido de se relacionar altos campos magn´eticos aos progenitores de GRBs. N˜ao ´eclaro ainda se a regi˜ao emissora do burst ´eenvolvida por um campo magn´etico que desempenhe um papel importante, assim como tamb´em n˜ao se sabe se o burst em si ´edevido aos processos de dissipa¸c˜ao do choque ou ao mecanismo de reconex˜ao magn´etica (Spruit, Daigne e Drenkhahn, Spruit et al.; Zhang et al., 2004). Quanto aos mecanismos de emiss˜ao do burst, o modelo mais aceito pela literatura as- sume que a radia¸c˜ao seja s´ıncrotˆonica por´em, como mostramos aqui n˜ao sabemos se essa radia¸c˜ao ´eproveniente da emiss˜ao a partir de campos uniformes carregados a partir do objeto central ou campos magn´eticos aleat´orios gerados exatamente na regi˜ao do choque originando por exemplo radia¸c˜ao jitter. Outras possibilidades ainda incluem outros pro- Se¸c˜ao 4.4. Polariza¸c˜ao 89 cessos como espalhamento Compton dos f´otons menos energ´eticos emiss˜ao s´ıncroton self- Compton, ou combina¸c˜ao de processos incluindo uma componente t´ermica da radia¸c˜ao. Aceita-se amplamente na literatura atualmente que as eje¸c˜oes em GRBs sejam coli- madas. A distribui¸c˜ao de ˆangulos de abertura dos jatos, a posi¸c˜ao deste com rela¸c˜ao ao observador e se existem estruturas em pequenas escalas associadas aos jatos s˜ao quest˜oes em aberto (Zhang et al., 2004; Yamazaki et al., 2004b; Toma et al., 2008). Historicamente todas as an´alises de polariza¸c˜ao tem sido realizadas com base no modelo de bola de fogo cosmol´ogica. Observa¸c˜oes polarim´etricas do afterglow permitem em muitos casos descartar modelos, que n˜ao podem ser exclu´ıdos apenas por uma an´alise espectral ou fotom´etrica (Covino et al., 2004). A maior confirma¸c˜ao observacional do modelo de bola de fogo (no que se refere a radia¸c˜ao s´ıncroton), ´eproveniente exatamente da observa¸c˜ao de polariza¸c˜ao no GRB990510. Embora outras explica¸c˜oes sejam poss´ıveis a polariza¸c˜ao detectada permitiu encontrar assinatura s´ıncroton com acelera¸c˜ao de part´ıculas 1.7 0.2%. ± A polariza¸c˜ao pode ser obtida integrando os parˆametros de Stokes da radia¸c˜ao emitida sobre a distribui¸c˜ao de el´etrons, o que fornece a polariza¸c˜ao local. Depois disso se integra sobre a regi˜ao emissora de modo a obter a polariza¸c˜ao global. No que se refere a GRBs tanto a regi˜ao emissora como o afterglow est˜ao se movendo com velocidades relativ´ısticas na dire¸c˜ao do observador e as tranforma¸c˜oes de Lorentz causam um grande efeito sobre a integra¸c˜ao com rela¸c˜ao a regi˜ao emissora, uma vez que ela muda a dire¸c˜ao de propaga¸c˜ao dos f´otons e por consequˆencia a dire¸c˜ao da polariza¸c˜ao local. No caso de uma fonte 100% polarizada a integra¸c˜ao sobre a fonte emissora pode reduzir a 70%. A emiss˜ao s´ıncroton ´epolarizada e o n´ıvel de polariza¸c˜ao depende do ´ındice espectral p (Rybicki e Lightman, 1979). Usando valores t´ıpicos 2

3% para menos de 1% foi detectado ap´os algumas horas at´euns dias depois do burst (4.9). O exemplo mais convincente por´em ´eassociado ao GRB030329, que devido a distˆancias relativamente curtas pode-se obter um bom conjunto de dados, mostrando que as varia¸c˜oes ocorrem na mesma escala de tempo de varia¸c˜ao do fluxo sugerindo uma liga¸c˜ao entre os dois fenˆomenos.

Figura 4.9: Curva polarim´etrica do GRB080213. Observa¸c˜oes s˜ao comparadas com diversos modelos existentes na literatura (para mais detalhes veja Lazzati et al. (2003)). A regi˜ao cinza mostra onde deve ocorrer a quebra no ´optico. Extra´ıdo de Covino (2009).

A geometria do jato parece ter uma rela¸c˜ao ´ıntima com a polariza¸c˜ao. Existem dife- rentes propostas de morfologias para os jatos em GRBs como comentamos anteriormente e cada uma delas prevˆediferentes padr˜oes de polariza¸c˜ao. Limites observacionais at´eagora Se¸c˜ao 4.4. Polariza¸c˜ao 91 n˜ao nos permitiram observar nenhum destes padr˜oes previstos teoricamente (Piran, 2005). A exce¸c˜ao fica por conta do GRB020813 que mostra que o modelo de campo magn´etico gerado no choque gerado por uma jato homogˆeneo est´aem ´obvio desacordo com as ob- serva¸c˜oes. Recentemente t´ecnicas observacionais mais sens´ıveis em raios-x e em polariza¸c˜ao de raios-γ tem sido desenvolvidas, existindo v´arios conceitos de emiss˜ao como o Polarimeters for Energetic Transients (POET), Polarimeter of Gamma-ray Observer (PoGO), POLAR, Advanced Compton Telescope (ACT), Gravity and Extreme Magnetism (GEMS), XPOL, e o Gamma-ray Burst Investigation via Polarimetry and Spectroscopy (GRIPS). (Hill et al., 2008; Bloser et al., 2006; Mizuno et al., 2005; Produit et al., 2005; Boggs, 2006; Jahoda et al., 2007; Costa et al., 2007; Greiner, 2008). Teoricamente pode-se demonstrar que existe uma degenerescˆencia para altos n´ıveis de polariza¸c˜ao linear entre diferentes modelos, como no caso que apresentamos para campos uniformes e de larga escala ou campos aleat´orios e de pequena escala. Toma et al. (2009) demonstra atrav´es de c´alculos detalhados que a polariza¸c˜ao pode conter informa¸c˜ao para diferenciar entre esses trˆes modelos. Na pr´atica pode-se calcular a polariza¸c˜ao linear da emiss˜ao de uma casca se movendo relativisticamente na dire¸c˜ao radial com um ˆangulo de abertura θj. A emissividade no ′I ′ ′ ′ ′ ′ referencial com´ovel ´edada por j ′ = A f(ν )δ(t t )δ(r r ) onde A ´ea constante ν 0 − 0 − 0 0 de normaliza¸c˜ao e tem unidades de erg cm−2 str−1 Hz−1 e depende essencialmente da dire¸c˜ao no referencial com´ovel. A fun¸c˜ao f(ν′) representa a forma espectral. Utilizando coordenadas esf´ericas (r,θ,φ) para o referencial do observador, onde θ = 0 ´ea linha de visada, obtemos para a fluˆencia espectral: 1+ z A f(ν′) I = dφ d(cos θ)r2 0 , (4.10) ν d2 0 γ2(1 β cos θ)2 L Z Z − onde z e dL s˜ao o redshift e a distˆancia de luminosidade da fonte respectivamente, e ν′ = (1+z)νγ(1 β cos θ). A integra¸c˜ao depende ainda do ˆangulo de vis˜ao θ , que ´eo ˆangulo − v formado entre o eixo do jato e a linha de visada. Os parˆametros de Stokes correspondentes

′Q ′I ′ ′ ′U (da emiss˜ao para um dado ponto da casca) s˜ao dados por jν′ = jν′ Π0 cos(2χ ) e jν′ = ′I ′ ′ ′ ′ jν′ Π0 sin(2χ ), onde Π0 e χ s˜ao exatamente o grau de polariza¸c˜ao e o ˆangulo de posi¸c˜ao da emiss˜ao local medido no referencial com´ovel, respectivamente. Os parˆametros de Stokes da emiss˜ao para toda a casca podem ser obtidos integrando a emiss˜ao local de modo similar 92 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

ao que fizemos para aintensidade Iν:

′ Qν 1+ z 2 A0f(ν ) cos(2χ) = 2 dφ d(cos θ)r0 2 2 Π0 . (4.11)  U  dL γ (1 β cos θ)  sin(2χ)   ν  Z Z −  

′ O grau de polariza¸c˜ao ´eum invariante de Lorentz de modo que Π0 = Π0. O ˆangulo de posi¸c˜ao χ ´ecalculado levando em conta a transforma¸c˜ao de Lorentz das ondas electro- magn´eticas. Assim, calculando I, Q, U = ν2 dν I , Q , U , obtemos que a polariza¸c˜ao { } ν1 { ν ν ν} linear m´edia no tempo, na faixa de frequˆenciaR [ν1,ν2] ´edada por:

Q2 + U 2 Π= . (4.12) p I ′ Vale notar que como A0, f(ν ), Π0, and χ s˜ao fun¸c˜oes diferentes de (θ,φ) para cada modelo, podemos calcular a polariza¸c˜ao linear para cada um deles a partir dos valores previstos para γ, θj, θv, e z (4.10 e 4.11). Pelos motivos argumentados aqui nos arriscamos a dizer, que num futuro pr´oximo as principais miss˜oes que trar˜ao resultados surpreendentes para a f´ısica de GRBs, ser˜ao as miss˜oes de polariza¸c˜ao. Atrav´es destes resultados ´eque poderemos arbitrar com maior autoridade entre diferentes modelos. Se¸c˜ao 4.4. Polariza¸c˜ao 93

1 yj=100 yj=10 yj=1 0.8 yj=0.1

0.6

(60-500keV) 0.4 Π

0.2

0 0 1 2 3 4 5 θ θ q= v/ j

Figura 4.10: Grau de polariza¸c˜ao linear em fun¸c˜ao do ˆangulo de vis˜ao do observador θv e do

ˆangulo θj de abertura do jato no modelo s´ıncroton com campo em larga escala. As diferentes 2 curvas mudam os valores do produto yj = (γθj ) . Extra´ıdo de Toma et al. (2009). 94 Cap´ıtulo 4. Campos Magn´eticos em GRBs

1 yj=100 yj=10 yj=1 0.8 yj=0.1

0.6

(60-500keV) 0.4 Π

0.2

0 0 1 2 3 4 5 θ θ q= v/ j

Figura 4.11: O mesmo de 4.10, por´emcom um campo em pequena escala orientado aleato- riamente. Extra´ıdo de Toma et al. (2009). Cap´ıtulo 5

Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

As quantidades f´ısicas que descrevem um sistema macrosc´opico em equil´ıbrio, podem sofrer pequenos desvios em rela¸c˜ao aos valores m´edios. Esses desvios s˜ao denominados flu- tua¸c˜oes. O plasma tanto em equil´ıbrio t´ermico como pr´oximo do equil´ıbrio, sofre flutua¸c˜oes. Os v´arios campos que comp˜oem o plasma (electromagn´etico, eletrost´atico, densidade, etc.) flutuam em torno dos valores m´edios, e a intensidade das flutua¸c˜oes dependem de duas caracter´ısticas: os mecanismos de dissipa¸c˜ao presentes e da temperatura T . A rela¸c˜ao en- tre essas quantidades podem ser encontradas atrav´es do teorema da flutua¸c˜ao-dissipa¸c˜ao. Este teorema ´ecapaz de relacionar a resposta de um dado sistema a uma perturba¸c˜ao externa `as pr´oprias flutua¸c˜oes naturais do sistema.

5.1 Introdu¸c˜ao

No sentido de se obter uma descri¸c˜ao mais precisa do conceito de flutua¸c˜oes ´enecess´ario introduzir uma fun¸c˜ao de correla¸c˜ao. A fun¸c˜ao de correla¸c˜ao ´edefinida como o valor m´edio do produto de uma ou mais quantidades f´ısicas que apresentam flutua¸c˜oes em diferentes pontos do espa¸co e em diferentes instantes. A m´edia ´ecalculada com respeito aos estados quˆanticos assim como em rela¸c˜ao a distribui¸c˜ao estat´ıstica das part´ıculas. Se considerarmos um meio espacialmente homogˆeneo para um sistema estacion´ario, as fun¸c˜oes de correla¸c˜ao depender˜ao apenas da distˆancia relativa entre as part´ıculas e do intervalo de tempo no qual tomamos essa distˆancia. No sentido de ilustrar com maior clareza este fato podemos escolher por exemplo uma quantidade vetorial j(r, t) que ´edistribu´ıda continuamente pelo espa¸co e de modo que a sua m´edia se anule j(r, t) = 0. Matematicamente podemos escrever a fun¸c˜ao de correla¸c˜ao h i 96 Cap´ıtulo 5. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao espa¸co-temporal como sendo:

j (r ,t )j (r ,t ) j j (5.1) h i 1 1 j 2 2 i≡h i jir,t onde r = r r e t = t t . Os colchetes representam a m´edia. Podemos dessa 2 − 1 2 − 1 hi maneira escrever a express˜ao no dom´ınio da frequˆencia atrav´es de uma transformada de Fourier:

j j = dt dre−ik·r+iωt j j (5.2) h i jik,ω) h i jir,t Z Z 1 j j = dω dkeik·r−iωt j j (5.3) h i ji(r,t) 2π4 h i ji(k,ω) Z Z onde j j ´ea distribui¸c˜ao espectral da fun¸c˜ao de correla¸c˜ao. A distribui¸c˜ao espectral h i jik,ω ´ea fun¸c˜ao que pode ser relacionada com a distribui¸c˜ao espectral das flutua¸c˜oes atrav´es da rela¸c˜ao:

′ ′ ′ ′ j†(ω, k)j (ω , k )=(2π4) j j δ(k k )δ(ω ω ), (5.4) h i j h i jik,ω − − de modo que o operador representa o conjugado hermitiano. † A m´edia de um produto de flutua¸c˜oes de qualquer quantidades em diferentes pontos no espa¸co, mas no mesmo instante de tempo ´echamada fun¸c˜ao de correla¸c˜ao espacial:

j (r ,t)j (r ,t) . (5.5) h i 1 j 2 ir Pode-se perceber que a componente de Fourier da fun¸c˜ao de correla¸c˜ao espacial ´ea integral sobre todas as frequˆencias da representa¸c˜ao espectral:

∞ 1 3 j j k = j j k d ω (5.6) h i ji 2π h i ji ,ω Z−∞ Podemos proceder da mesma forma, para obter a express˜ao:

1 3 j j = j j k d k (5.7) h i jiω 2π3 h i ji ,ω Z onde tomamos a integral considerando a m´edia de qualquer quantidade no mesmo ponto do espa¸co mas em diferentes instantes. Essa ´echamada fun¸c˜ao de autocorrela¸c˜ao. Se¸c˜ao 5.2. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao 97

5.2 Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

Como dissemos anteriormente, o teorema da flutua¸c˜ao-dissipa¸c˜ao (FDT) ´euma maneira de relacionar a resposta de um determinado sistema a uma perturba¸c˜ao externa, em fun¸c˜ao das pr´oprias flutua¸c˜oes do sistema em equil´ıbrio Kubo (1966). Quando em equil´ıbrio ou pr´oximo do equil´ıbrio o plasma tem flutua¸c˜oes t´ermicas, onde o n´ıvel destas flutua¸c˜oes est´a relacionado com as caracter´ısticas dissipativas do meio e a temperatura T (ver o Apˆendice B). ~ ∗ jijj k,ω = ~ω i[αij(ω, k) αij(ω, k)] (5.8) h i e kB T − onde αij ´edenominado tensor resposta, que define a rea¸c˜ao do sistema `as flutua¸c˜oes em torno do equil´ıbrio.

Em um plasma isotr´opico, a fun¸c˜ao resposta αij pode ser escrita como,

k k k k α (ω, k)= i j α (ω, k)+(δ i j )α (ω, k) (5.9) ij k2 l ij − k2 t

Os coeficientes transversais αt e longitudinais αl relacionam-se com as propriedades diel´etricas do plasma.

2 ω 2 ǫt(ω, k) 1 αt(ω, k)= (1 ζ ) − 2 (5.10) 4π − ǫt(ω, k) ζ 2 − ω ǫl(ω, k) 1 αl(ω, k)= − 4π ǫl(ω, k) onde ζ = kc/ω. Considerando isotropia, as flutua¸c˜oes longitudinais e transversais s˜ao independentes. As componentes das correntes nas duas dire¸c˜oes podem ser relacionadas ao campo el´etrico:

iω j (ω, k)= E (ω, k) (5.11) l 4π l iω 2 j (ω, k)= (1 ζ )Et(ω, k) (5.12) t 4π −

A distribui¸c˜ao espectral das flutua¸c˜oes de corrente pode ser obtida substituindo as equa¸c˜oes 5.10 na equa¸c˜ao 5.8:

~ 2 2 2 2 1 ω kikj Imǫl kikj k c 2 Imǫt jijj k,ω = ~ [ +(δij) (1 ) 2 2 ] (5.13) ω −1 2 2 2 2 k c h i 2π k T × k ǫl − k − ω ǫ 2 e B | | | t − ω | 98 Cap´ıtulo 5. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

Os dois termos dentro dos colchetes descrevem flutua¸c˜oes longitudinais e transversais res- pectivamente. Uma das aplica¸c˜oes promissoras deste teorema na cosmologia, foi a tentativa de expli- car a origem do campo magn´etico primordial a partir das flutua¸c˜oes do plasma primordial primeiramente por Tajima, Cable, Shibata e Kulsrud (1992) e mais recentemente em de Souza e Opher (2008). Nestes trabalhos podemos obter as descri¸c˜oes de como se modifica o espectro de flutua¸c˜oes quando na presen¸ca de um plasma. No presente trabalho n´os postu- lamos a hip´otese de que as flutu¸c˜oes podem explicar os campos magn´eticos em gamma-ray bursts que por sua vez originam a radia¸c˜ao s´ıncroton. A intensidade das flutua¸c˜oes elec- tromagn´eticas s˜ao dadas por Sitenko (Sitenko, 1968):

~ 1 i −1 −1∗ EiEj kω = ~ω Λij Λij (5.14) 8π h i 2 e T 1{ − } − onde:

k2c2 k k Λ (ω, k)= ( i j δ )+ ǫ (ω, k) (5.15) ij ω2 k2 − ij ij

onde ǫ ´eo tensor diel´etrico do plasma, os ´ındices 1,2,3 est˜ao relacionados respectiva- mente com as coordenadas x,y,z respectivamente, o sinal se refere ao complexo conjugado ∗ e Λ ´eo tensor resposta. Usando a lei de Faraday B = ck E e escolhendo k = ke ω × x podemos escrever as componentes perpendiculares das flutua¸c˜oes dos campos magn´eticos. Desta forma, para as flutua¸c˜oes magn´eticas n´os temos que:

2 ~ 2 2 B2 kω i c k −1 −1∗ h i = ~ω 2 (Λ33 Λ33 ) (5.16) 8π 2 e T 1 ω − 2 ~− 2 2 B3 kω i c k −1 −1∗ h i = ~ω 2 (Λ22 Λ22 ) (5.17) 8π 2 e T 1 ω − − Essas express˜oes nos permitem calcular portanto, o total das flutua¸c˜oes magn´eticas em fun¸c˜ao do tensor resposta:

2 ~ 2 2 B2 kω i c k −1 −1 −1∗ −1∗ h i = ~ω 2 (Λ22 Λ33 Λ22 Λ33 ) (5.18) 8π 2 e T 1 ω − − − − Se¸c˜ao 5.2. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao 99

No sentido de obter o tensor resposta, necessitamos de uma equa¸c˜ao de movimento para o plasma, onde utilizamos um modelo de multifluido:

dv m α = e E ηm v (5.19) α dt α − α α

onde α se refere a esp´ecie da part´ıcula e η a frequˆencia das colis˜oes entre as diferentes esp´ecies. Aplicando a transformada de Fourier na equa¸c˜ao do movimento podemos obter a express˜ao para o tensor diel´etrico:

2 ωpα ǫij(ω, k)= δij δij (5.20) − ω(ω + iηα) X onde ωpα ´ea frequˆencia de plasma de uma esp´ecie α. No caso de um plasma de eletron- p´ositron, tanto a frequˆencia de plasma como a frequˆencia de colis˜oes s˜ao iguais para ambas as esp´ecies. Portanto, obtemos para o tensor diel´etrico:

ω2 ǫ (ω, k)= δ p δ (5.21) ij ij − ω(ω + iη) ij

onde ωp ´ea frequˆencia de plasma. Este conjunto de equa¸c˜oes nos permite obter uma express˜ao para as flutua¸c˜oes magn´eticas como fun¸c˜ao da frequˆencia e do n´umero de onda k:

2 ~ 2 2 B k,ω 2 ω 2 k c h i = ~ω ηωp 2 2 4 4 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 (5.22)2 8π e T 1 (ω + η )k c + 2ω (ωp ω η )k c + [(ω ωp) + η ω ]ω − − − − Como demonstrado por Tajima (Tajima e Shibata, 2002) se n´os integrarmos a equa¸c˜ao anterior em ω n´os obtemos que:

2 2 2 2 B k B T 1 k c h i = dω h i = + 2 2 2 1 2 (5.23) 2 2 2 (ω +k c ) / 2 2 2 1/2 8π 8π 2 1+ k c /ωp e p 1(ω + k c ) Z − p onde o primeiro termo existe apenas quando na presen¸ca de uma plasma e o segundo corresponde a radia¸c˜ao de corpo negro modificado pelo plasma. Se tomarmos o limite onde η 0 e ω 0 , obtemos o espectro de frequˆencia correspondente as flutua¸c˜oes → → naturais do plasma: 100 Cap´ıtulo 5. Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

2 B ω=0 3 3 ωp 3 h i = 3 T ( ) (5.24) 8π 2π rπ c Analisando esta express˜ao, podemos perceber que este formalismo nos permite calcular as flutua¸c˜oes de campo magn´etico de um sistema com apenas os parˆametros densidade e temperatura. Cap´ıtulo 6

Procedimento Anal´ıtico

6.1 C´alculo Anal´ıtico do Campo Magn´etico em Afterglows de GRBs

Como demonstramos em cap´ıtulo anterior a intensidade do campo magn´etico em ups- tream ´emuito pequena quando comparada a downstream. Esse fato sugere fortemente que o campo magn´etico no afterglow, seja gerado a partir de efeitos locais. Na literatura h´adiversas sugest˜oes para a amplifica¸c˜ao de campos magn´eticos sementes, por´em todos os modelos s˜ao falhos no sentido de explicar tanto a origem do campo (todos assumem amplifica¸c˜ao a partir de flutua¸c˜oes infinitesimais), como tamb´em a escala de coerˆencia. O problema do tamanho de coerˆencia ´edevido ao fato de que os modelos que tentam repro- duzir o campo magn´etico no afterglow, o fazem a partir de instabilidades no plasma. Essas instabilidades apesar de certamente ocorrerem n˜ao sobrevivem em escalas de muitos skin depths. Flutua¸c˜oes do plasma s˜ao processos naturais que podem originar campos magn´eticos. Tajima, Cable, Shibata e Kulsrud (1992) mostraram que flutua¸c˜oes do plasma preditas pelo teorema da flutua¸c˜ao-dissipa¸c˜ao podem dar origem a campos magn´eticos cosmol´ogicos, a partir de flutua¸c˜oes no plasma primordial. Essencialmente como demonstramos essas flutua¸c˜oes dependem apenas da densidade e temperatura do plasma:

2 B ω=0 3 3 ωp 3 h i = 3 T ( ) 8π 2π rπ c Neste sentido, utilizamos os parˆametros extra´ıdos de Tajima, Cable, Shibata e Kulsrud (1992), demonstrando os valores obtidos para o campo em fun¸c˜ao de elevadas densidades e temperaturas. Em GRBs apesar das densidades n˜ao serem t˜ao elevadas quanto no universo 102 Cap´ıtulo 6. Procedimento Anal´ıtico primordial, temos temperaturas muito altas ( 10MeV ) respons´aveis por exemplo pela ∼ produ¸c˜ao de pares el´etron-p´ositron. Utilizando portanto, as condi¸c˜oes do choque no in´ıcio do afterglow com o toerema da flutua¸c˜ao-dissipa¸c˜ao (FDT), podemos calcular o campo magn´etico que tem origem espontˆanea no plasma. Neste sentido, reapresentamos algumas das equa¸c˜oes descritas em cap´ıtulos anteriores. O ponto de partida s˜ao as condi¸c˜oes do choque apresentadas por Sari, Narayan e Piran (1996):

e /n m c2 = γ 1 = γ (6.1) 2 2 p 2 − ∼ 2 e /n m c2 = γ 1 (6.2) 3 3 p 3 − n2/n1 = 4γ2 + 3 ∼= 4γ2 (6.3)

n3/n4 = 4γ3 + 3 (6.4) onde essas equa¸c˜oes nos permitem determinar a densidade nas regi˜oes de interesse (2) e (3). A igualdade de press˜ao e conserva¸c˜ao do momento sugere que:

1 γ4 γ2 γ¯3 ( + ) (6.5) ∼ 2 γ2 γ4

n4 de modo que a solu¸c˜ao para γ2 depende apenas de γ (= γ4). Definindo f (= n1 ) temos (Sari e Piran, 1995) dois limites poss´ıveis para o RS: newtoniano ou relativ´ıstico.No caso do RS relativ´ıstico temos que segundo Sari, Narayan e Piran (1996):

1/2 2 γ γ f γ¯3 = (6.6) ≫ ⇒ √2f 1/4 e no caso do RS n˜ao relativ´ıstico: 4γ2 γ2 f γ¯ = + 1 (6.7) ≪ ⇒ 3 7f o que implica que: 4γ2 γ2 = γ3 = γ(1 ) (6.8) − s14f Neste caso, investigamos o caso onde o reverse shock (RS) ´eNewtoniano γ 1 1. 3 − ∼ Isso nos permite escrever que:

n3 = 7n4 (6.9) Se¸c˜ao 6.1. C´alculo Anal´ıtico do Campo Magn´etico em Afterglows de GRBs 103

al´em de determinar uma express˜ao para n3:

2 2 e3 = 4γ n1mpc (6.10)

Como estamos interessados em determinar o campo magn´etico na regi˜ao 3, calculamos desta forma os parˆametros necess´arios para determinar o campo magn´etico. Uma outra maneira de escrever a equa¸c˜ao 6.1 ´e:

T n B2 = 1026 ( ) ( ) (6.11) FDT × MeV × 4 1031 ×

Podemos assumir que apenas uma fra¸c˜ao F da energia em e3 estar´aem equil´ıbrio t´ermico, de modo que teremos que a temperatura possa ser descrita por:

e T (eV )= F ( 3 ) (6.12) n3 de modo que: e3 4 2 n1 2 eV = γ ( )mpc ( ) (6.13) n3 7 n4 particula Dessa forma se substituirmos 6.13 e 6.9 em 6.11 obtemos que:

B2 = 0.94 10−17F n n1/2γ2 (6.14) FDT × 1 4

A equa¸c˜ao 6.14 mostra que a dependˆencia do campo magn´etico ´eapenas da densidade do material que circunda o progenitor (n1) e do material que ´eejetado (n4). O c´alculo de densidades das regi˜oes consideradas envolve hip´oteses a serem feitas. A hip´otese mais razo´avel ´ena escolha de n1. Como J´adissemos anteriormente ainda n˜ao ´eclaro qual o objeto progenitor de um GRB. Por outro lado, entre as hip´oteses mais discutidas na literatura est´ao modelo de colapsar para GRBs longos, que teriam origem no colapso de estrelas Wolf-Rayet (WR). A figura 6.1 mostra (van Marle et al., 2006) esquematicamente a morfologia de uma bolha esf´erica formada a partir do material ejetado pelo progenitor. Pr´oximo a estrela, temos a regi˜ao chamada de free-streaming onde o vento se propaga livremente. O material emitido atrav´es do vento tamb´em alcan¸ca a regi˜ao do termination shock, de modo que a energia cin´etica seja termalizada criando uma regi˜ao (B na figura 6.1) que consiste numa bolha quente de material chocado. A bolha ´edelimitada por uma casca que sofreu o choque com o meio externo. 104 Cap´ıtulo 6. Procedimento Anal´ıtico

Figura 6.1: Vis˜ao esquem´atica de uma bolha (fora de escala). A regi˜ao de free-streaming (A),

passa atrav´esdo termination shock no raio Rw para entrar na regi˜ao quente formada pelo material do vento que passou pelo choque (B). A elevada press˜ao t´ermica na bolha quente

cria uma casca (borda grossa) de raio Rb que se expande em dire¸c˜ao ao meio. Extra´ıdo de van Marle et al. (2006).

O meio pr´oximo a uma estrela WR tem um perfil de densidade determinado como qual o de um vento se propagando livremente:

M˙ n = 2 (6.15) 4πr Vvento onde M˙ ´ea taxa de perda de massa da estrela e V a velocidade do vento. Estimativas anal´ıticas e num´ericas sugerem que essa regi˜ao se extende no caso de uma Wolf-Rayet ao raio de alguns parsecs. Isso tamb´em pode ser confirmado a partir de observa¸c˜oes do material nebular de NGC6888 e RCW58, os quais tem raio observado da ordem de muitos parsecs (Gruendl et al., 2000). Apesar da existˆencia tamb´em de afterglows que se ajustariam a um perfil de densidade constante estes somam um total de 25% das observa¸c˜oes como pode ser visto em (Chevalier et al., 2004).

Neste sentido podemos determinar o valor de n1 atrav´es da equa¸c˜ao 6.15 utilizando parˆametros t´ıpicos de uma estrela WR. Esses parˆametros podem ser extra´ıdos de Crowther (2007). Se¸c˜ao 6.1. C´alculo Anal´ıtico do Campo Magn´etico em Afterglows de GRBs 105

−5.3 −4.7 Temos que M˙ = 10 10 M⊙/ano e V = 700 4100km/s. − − O c´alculo de n4 ´emais simples podendo ser estimado a partir da express˜ao que relaciona a massa da casca (Ms) emitida com a energia (E) do evento (Sari e Piran, 1995):

E M = (6.16) S γc2 que pode ser reescrita como: Ms n4 = 2 (6.17) mH 4πRs∆γ onde ∆ ´ea espessura da casca e γ o fator de Lorentz do material ejetado. Sari, Narayan e Piran (1996) fazem uma estimativa para o valor da espessura da casca obtendo ∆ = 3 1017cm se γ = 104 e ∆ = 1013cm se γ = 102. × Desta forma, se substituirmos os valores de 6.15 e 6.15 em 6.14, obtemos que o campo magn´etico na regi˜ao 3 ´eda ordem de B 10−2G. FDT ∼ 106 Cap´ıtulo 6. Procedimento Anal´ıtico Cap´ıtulo 7

Conclus˜oes e Perspectivas

Neste trabalho iniciamos com uma breve revis˜ao da evolu¸c˜ao hist´orica das observa¸c˜oes de GRBs. A evolu¸c˜ao recente, principalmente nas ´ultimas duas d´ecadas, da instrumenta¸c˜ao tem contribu´ıdo enormemente na descoberta de fenˆomenos ainda desconhecidos em GRBs. Em particular o lan¸camento do sat´elite SWFIT exclusivamente dedicado ao estudo de GRBs permitiu uma compreens˜ao mais profunda do afterglow, revelando diversos proble- mas com os modelos mais aceitos at´eent˜ao. As diversas caracter´ısticas da curva de luz ainda s˜ao problemas em aberto para uma abordagem te´orica. Apresentamos ainda caracter´ısticas comuns aos principais modelos que sobreviveram a evolu¸c˜ao das observa¸c˜oes, entre as quais destacamos e justificamos a radia¸c˜ao s´ıncroton como o mecanismo mais aceito no sentido de reproduzir a emiss˜ao. O modelo de bola de fogo, apesar de n˜ao partir de primeiros princ´ıpios, reproduz uma quantidade consider´avel de observa¸c˜oes. Cabe ressaltar por´em, que apesar da radia¸c˜ao s´ıncroton ser o paradigma atual, os principais ingredientes para que ela aconte¸ca ainda s˜ao desconhecidos: origem e permanˆencia do campo magn´etico ao longo do afterglow, e a acelera¸c˜ao de part´ıculas. Como solu¸c˜ao ao problema discutido nessa disserta¸c˜ao, propusemos que os campos magn´eticos no afterglow, que segundo as evidˆencias do modelo de bola de fogo, precisa ser gerado in situ, pode ter origem nas flutua¸c˜oes espontˆaneas que ocorrem no plasma. A pre- sen¸ca de plasma modifica as caracter´ısticas f´ısicas do meio, e por consequˆencia modificam os processos de emiss˜ao. Usamos as flutua¸c˜oes do plasma para o c´alculo do campo magn´etico, pois acreditamos que elas parecem driblar uma dificuldade natural dos campos magn´eticos gerados por instabilidades, que ´eo de sobreviver a distˆancias muito maiores que o chamado plasma skin- 108 Cap´ıtulo 7. Conclus˜oes e Perspectivas depth. As flutua¸c˜oes segundo o Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao podem ser calculadas levando em conta essencialmente a densidade e temperatura do meio. Como estamos em ambientes de energias elevadas, pudemos mostrar que esse efeito ´eimportante. De fato, nossos c´alculos demonstram que o campo magn´etico gerado pelas flutua¸c˜oes do plasma de acordo com o FDT s˜ao de = 10−2G. Apesar de menos intenso do que o requerido para reproduzir a emiss˜ao s´ıncrotˆonica (ou mesmo jitter) acreditamos que ela possa ser facilmente amplificado devido a turbulˆencia do meio. Efeitos turbulentos est˜ao certamente presentes, uma vez que em afterglows de GRBs, obrigatoriamente teremos colis˜ao de um material acelerado relativisticamente com o meio que circunda a fonte. De fato, de Souza e Opher (2008), calcularam numericamente o efeito da turbulˆencia na amplifica¸c˜ao de campos magn´eticos sementes gerados pelas flutua¸c˜oes do plasma primordial, mostrando que o mecanismo ´eeficiente. A descri¸c˜ao da turbulˆencia em GRBs apresenta complica¸c˜oes adicionais, uma vez que o plasma e o choque ´en˜ao colisional como demonstramos no apˆendice A. Vale notar ainda, que para extrair os valores de campo magn´etico a partir das ob- serva¸c˜oes, o modelo de bola de fogo utiliza hip´oteses pouco robustas, principalmente a de que o material ejetado n˜ao seja magnetizado, assume-se equiparti¸c˜ao e o parˆametro de equiparti¸c˜ao se mant´em constante ao longo do afterglow. Modelos alternativos, como o modelo electromagn´etico acrescentam ainda a dificuldade da necessidade de se conhecer o campo magn´etico do objeto progenitor. Um outro ponto interessante da nossa abordagem ´eque ela permite determinar a ori- gem espontˆanea do campo. Todos os mecanismos conhecidos e propostos na literatura, partem de flutua¸c˜oes infinitesimais, sobre as quais a instabilidade passa a atuar como um mecanismo de amplifica¸c˜ao. O c´alculo atrav´es do FDT, permite partir de um mecanismo natural de gera¸c˜ao de campo, que ´ebastante r´apido. O c´alculo anal´ıtico oferece a oportunidade de driblar as dificuldades de simula¸c˜oes do plasma em objetos muito extensos como AGNs e GRBs. As limita¸c˜oes computacionais atualmente n˜ao permitem estudar em detalhes a microf´ısica envolvida no processo. Diversas perspectivas se apresentam como desdobramentos deste trabalho. A mais ime- diata ´ea de descrever a turbulˆencia no choque n˜ao colisional do afterglow, e verificar a eficiˆencia na amplifica¸c˜ao do campo magn´etico, neste caso em pelo menos duas ordens de Cap´ıtulo 7. Conclus˜oes e Perspectivas 109 grandeza. Uma outra possibilidade, ´elevar em conta uma descri¸c˜ao mais precisa do perfil de densidades do meio que envolve o progenitor. Al´em disso, ´eimportante verificar mais profundamente outros tipos de instabilidades do plasma n˜ao colisional. Um trabalho im- portante ainda a ser feito ´eelaborar um mecanismo auto-consistente de campos magn´eticos e acelera¸c˜ao de part´ıculas. A acelera¸c˜ao fermi apesar de amplamente utilizada n˜ao ´eum mecanismo auto-consistente. Outros trabalhos relacionados aos GRB que se mostram importantes apesar de n˜ao terem sido contemplados com maior n´ıvel de detalhes, s˜ao o da origem das emiss˜oes em energias muito altas, e o de bursts em altos redshifts. O primeiro problema permite testes importantes das teorias de gravita¸c˜ao quˆantica, e o segundo revela informa¸c˜oes de um universo ainda pouco observado (z 10). Esses s˜ao os principais caminhos para relacionar ∼ a astrof´ısica com a cosmologia. 110 Cap´ıtulo 7. Conclus˜oes e Perspectivas Referˆencias Bibliogr´aficas

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Apˆendice A

Livre Caminho M´edio para uma Blast Wave

Nesta disserta¸c˜ao tratamos o plasma como um plasma n˜ao-colisional, ou seja conside- ramos que as colis˜oes entre as part´ıculas que formam o plasma n˜ao s˜ao relevantes. Neste primeiro apˆendice desejamos demonstrar esse fato com rigor matem´atico, o que pode ser feito calculando o livre caminho m´edio para as part´ıculas e comparando com as dimens˜oes do sistema considerado. Neste caso, consideramos as colis˜oes Coulombianas de um el´etron

relativ´ıstico com momento γmeve com ´ıons em um plasma de densidade n como feita em Hededal (2005). Em primeiro lugar examinamos as colis˜oes Coulombianas entre um el´etron e um ´ıon. Sem perda de generalidade, podemos assumir que os el´etrons viajam pelo plano yz ao longo do eixo z, e que um ´ıons est´aposicionado em (x, y, z) = (0, b, 0). O ´ıon ´ecercado por − um campo el´etrico. Devido ao efeito da contra¸c˜ao de Lorentz e argumentos de simetria podemos assumir que o el´etrons ser´aafetado apenas pela componente do campo que ´e

transversa a ve, principalmente Ey. No referencial do el´etron, esta componente ´edada por (Rybicki e Lightman, 1979):

1 qγb Ey = 3 (A.1) 4 2 2 2 2 2 πǫ0 (γ ve t + b ) Neste caso, t ´eo tempo, centrado de tal forma que o el´etron esteja em (0, 0, 0) em t = 0.

A for¸ca sentida pelo esl´etron ´e F = qEyˆey. A mudan¸ca no momento δp do el´etron pode ser escrita como: 1 q2γt δp = Fydt = qEydt = (A.2) 4πǫ0 b γ2v2t2 + b2 Z Z e O pulso de um ´ıon ´esentido pelo el´etron no curto intervalop de tempo T b . Inserindo ≃ γvv 130 Apˆendice A. Livre Caminho M´edio para uma Blast Wave este tempo em A.2 n´os encontramos que:

1 q2 δp = . (A.3) 4πǫ0 √2veb N´os estamos interessados em colis˜oes que alterem o momento dos el´etrons incidentes de modo significativo com δ γm v , e a partir disso determinar a distˆancia para essa p ≃ e e colis˜ao:

δ γm v p ≃ e e ⇒ 1 q2 bc (A.4) 2 ≃ 4πǫ0 √2γmeve Dessa forma, a se¸c˜ao de choque para a colis˜ao ´e:

4 2 q σc = πb = (A.5) c 2 2 2 4 16πǫ0√2γ meve

A frequˆencia de colis˜ao ´e νc = nσcve e a partir dessa express˜ao n´os encontramos que o livre caminho m´edio para as colis˜oes:

2 2 2 4 ve 1 16πǫ0√2γ meve λc = = 4 . (A.6) ≡ νc nσc nq

Cabe notar que o caminho livre m´edio pode ser ainda menor devido a acumula¸c˜ao de pequenos ˆangulos de deflex˜ao. Isso pode ser corrigido com a introdu¸c˜ao de um fator de corre¸c˜ao 1/lnΛ, o qual ´eda ordem de 0.1 (Spitzer, 1962). Para um el´etron em uma blast wave que se expande relativisticamente com fator de Lorentz γ Γ = 10, em dire¸c˜ao a um meio com densidade n 106m−3, temos como livre ≃ ≃ caminho m´edio valores maiores do que 1023m. Comparando esse n´umero com o tamanho t´ıpico de uma blast wave em GRB 1014m n´os conclu´ımos que ´erazo´avel desprezar os ≃ efeitos de colis˜ao e o choque pode ser tratado como um choque n˜ao colisional. Apˆendice B

Dedu¸c˜ao do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

Devemos agora demonstrar que a representa¸c˜ao espectral das fun¸c˜oes de correla¸c˜ao ´e determinada pelas propriedades dissipativas do meio. Para isto precisamos avaliar a m´edia † do produto ji (k,ω) e jj(k,ω). Se o sistema est´abem definido em um estado estacion´ario n, a m´edia quˆantica ´edefinida como o elemento da matriz diagonal do operador

† ′ † ′ [ji (k,ω)jj(k ,ω)]nm = ji (k,ω)nmjj(k ,ω)nm, (B.1) m X onde o somat´orio ´efeito sobre todos os estados quˆanticos do sistema. Os elementos da

matriz do operador jk,ω, entre os estados estacion´ario de energia Em e En tˆem a seguinte estrutura

(jkω)nm = 2π(jk)nmδ(ω + ωnm), (B.2)

onde ω = (E E ) ´ea freq¨uˆencia de transi¸c˜ao entre os estados n e m. Substituindo nm n − m † esta express˜ao e uma similar para (jkω)nm em (B.1), e efetuando uma m´edia obtemos

′ ′ ′ ′ j†(k,ω)j (k ,ω ) = 2π j†(k)j (k ) δ(ω ω ), (B.3) h i j i h i j iω − ′ ′ j†(k)j (k ) = 2π f(E )[j†(k)] [j (k )] δ(ω ω ), (B.4) h i j iω n i nm j mn − nm mn X

onde f(En) ´ea fun¸c˜ao de distribui¸c˜ao estat´ıstica para todos os diferentes estados quˆanticos do sistema. Se consideramos o sistema em equil´ıbrio, esta fun¸c˜ao ser´aa distribui¸c˜ao de Gibbs,

(F −En)/kB T f(En)= e . (B.5)

Sendo F a energia livre do sistema e T sua temperatura. Devemos conectar a fun¸c˜ao de correla¸c˜ao (B.3), com a energia absorvida pelo sistema devido a dissipa¸c˜ao. Para isto 132 Apˆendice B. Dedu¸c˜ao do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao devemos assumir a existˆencia de uma perturba¸c˜ao peri´odica, com energia V proporcional a j, atuando no sistema . Se consideramos j a densidade de corrente el´etrica , V assume a forma V = (A(r,t) j(r,t))d3r, (B.6) − · Z onde A ´eo potencial vetor da perturba¸c˜ao. Tomando a transformada espacial de Fourier de A e j, podemos escrever

1 V = Re (A (t) j†(t)), (B.7) −2 k · k Xk onde Ak por defini¸c˜ao ´euma fun¸c˜ao harmˆonica do tempo

−iωt Ak(t)= Akωe . (B.8)

Transi¸c˜oes entre diferentes estados do sistema s˜ao poss´ıveis devido `aa¸c˜ao da perturba¸c˜ao de V . Usando as equa¸c˜oes (B.2) e (B.7), podemos avaliar os elementos da matriz de perturba¸c˜ao correspondente `atransi¸c˜ao n m: →

† ∗ † V = π (Ak (j ) )δ(ω ω )+(A (j ) )δ(ω + ω ) . (B.9) nm − ω · k nm − nm kω · k nm nm Xk n o Como conseq¨uˆencia, a probabilidade de transi¸c˜ao de um sistema por unidade de tempo ´eigual a

π ′ ′ w = A (k,ω)A∗(k ,ω) j†(k) j (k ) δ(ω ω ) nm ~2 i j i nm j mn nm 2 ′ − k,kX,i,j n † ′ + ji (k)mnjj(k )nmδ(ω + ωnm) . (B.10) o Em cada transi¸c˜ao de n m o sistema absorve uma energia ~ω ; a fonte desta energia → mn ´ea perturba¸c˜ao externa. A energia absorvida pelo sistema por unidade de tempo pode ser escrita como

Qn = wnm~ωnm. (B.11) m X Podemos encontrar a energia m´edia absorvida pelo sistema realizando a m´edia de (B.11) sobre todos os estados n:

Q = f(En)wnm~ωnm. (B.12) m,n X Apˆendice B. Dedu¸c˜ao do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao 133

Substituindo a equa¸c˜ao (B.10) em (B.12) e usando o fato que em sistemas em equil´ıbrio f(En) ´edado pela fun¸c˜ao de Gibbs, podemos escrever

πω ′ ~ω/kB T ∗ Q = ~ e 1 Ai(k,ω)Aj (k ,ω) 2 − ′ k,kX,i,j   ′ e(F −En)/kB T j†(k) j (k ) δ(ω ω ). (B.13) × i nm j mn − nm m,n X Comparando a express˜ao anterior com a equa¸c˜ao (B.4), n´os achamos a seguinte rela¸c˜ao entre a energia m´edia absorvida pelo sistema por unidade de tempo e a fun¸c˜ao de correla¸c˜ao,

ω ′ ′ ~ω/kB T † Q = ~ e 1 Ai(k,ω)Aj(k ,ω) ji (k)jj(k ) ω. (B.14) 4 − ′ h i   k,kX,i,j Por outro lado, a energia absorvida Q pode ser conectada com parˆametros macrosc´opicos, caracter´ısticos das propriedades dissipativas do sistema. Quando n˜ao existe perturba¸c˜ao externa, temos j = 0. A a¸c˜ao da perturba¸c˜ao (B.6), gera uma m´edia n˜ao nula de j, o h i qual est´arelacionada com a magnitude do potencial perturbativo A,

ji = αˆijAj, (B.15) i X ondeα ˆij ´eum operador linear espa¸co-temporal. Podemos escrever a rela¸c˜ao em termos das suas componentes de Fourier

ji(k,ω)= αij(k,ω)Aj(k,ω), (B.16) j X onde αij(k,ω) ´eum tensor caracterizando as propriedades dissipativas do meio, denomi- nado tensor resposta do sistema. A mudan¸ca de energia interna de ser´aigual a m´edia da derivada temporal do hamiltoniano do sistema. Como no hamiltoniano, apenas a per- turba¸c˜ao V depende explicitamente do tempo, a mudan¸ca da energia interna do sistema pode ser escrita como ∂U = (A˙(r, t) j(r, t))d3r. (B.17) ∂t − · Z Para obter a energia m´edia por unidade de tempo da energia absorvida Q, podemos usar a Eq. (B.15), e efetuar uma m´edia da express˜ao anterior. Podemos escrever Q da forma

1 Q = iω (α∗ α )A (k,ω)A∗(k,ω). (B.18) 4 ij − ji i j Xk,i,j 134 Apˆendice B. Dedu¸c˜ao do Teorema da Flutua¸c˜ao-Dissipa¸c˜ao

Comparando esta equa¸c˜ao com a (B.14), n´os achamos que

3~ † ′ 8π ∗ ′ ji (k)jj(k ) ω = ~ i(αij αij)δ(k k ). (B.19) h i e ω/kB T 1 − − − Esta express˜ao nos d´auma conex˜ao entre a fun¸c˜ao de correla¸c˜ao das flutua¸c˜oes das quan- tidades f´ısicas do nosso sistema e de suas propriedades caracter´ısticas, representadas pelos coeficientes de αij. Usando as equa¸c˜oes (B.3) e (B.19), podemos escrever a seguinte ex- press˜ao para a densidade espectral das flutua¸c˜oes de corrente ~ ∗ jijj kω = ~ i[αij(ω, k) αij(ω, k)]. (B.20) h i e ω/kB T 1 − − Esta express˜ao ´edenominada rela¸c˜ao de flutua¸c˜ao dissipa¸c˜ao, e determina completamente as flutua¸c˜oes de um sistema em equil´ıbrio.