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HIGHWAY 61 REVISITED

Lançamento EUA: 30 de agosto de 1965 Columbia CL 2389/CS 9189 (mono/estéreo) Lançamento RU: Setembro de 1965 CBS BGP/SBGP 62572 (mono/estéreo) Lançamento em CD: Columbia 460953-2 CD remasterizado/Lançamento Versão em mono relançada em vinil de 180g em em SACD: 512351-6 maio de 2001 como Columbia/Sundazed LP 5071 Tempo de duração: 51:34 (SACD) Produtor: , e Tom Wilson em “Like A

LADO UM: ; Tombstone LADO DOIS: ; ; It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train ; Just Like Tom Thumb’s To Cry; ; . Blues; .

Bob Dylan: vocal, violão, guitarra, gaita, piano, : guitarra, : baixo, : bateria, : órgão, piano, : órgão, : bateria, Charlie McCoy: violão e vibrafone, Frank Owen: piano e maracas, Ron Savakus: baixo

Dylan não entrou em sintonia com ou com o restante dos John Mayall and The Bluesbreakers durante uma sessão malograda realizada em Londres em maio de 1965, durante a qual Bobby Neuwirth queixou-se: “Você está tocando blues demais, cara. Ele precisa de um som mais country”. Dylan contratou Michael Bloomfield da Butterfield Blues Band para tocar a guitarra solo. Bloomfield lembraria que “Bob me pegou na rodoviária e me levou para a casa onde morava. Ele estava tocando em tons estranhos, apenas com as teclas pretas do piano. Então fomos para Nova York gravar o disco”. Nesse meio-tempo, Al Kooper também deu as caras na lendária primeira sessão, em 15 de junho de 1965, mas acabou se esgueirando para o órgão. Kooper descreveu seu estilo ao teclado nessa época como “a busca de um caminho em meio às mudanças, como um menino tateando no escuro em busca do interruptor”. Mas Dylan ouviu algo de que gostou, pediu a Wilson que aumentasse o volume do órgão e encontrou a alquimia musical que buscava. No dia seguinte eles trabalharam em diversas tomadas da mesma canção. A segunda versão completa foi lançada às pressas em compacto no dia 20 de julho. Bloomfield relembraria,

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injustamente, que Tom Wilson era “um não produtor. Ele não sabia o que estava acontecendo, cara. Fizemos 20 tomadas de cada música, e aquilo acabou ficando ridículo, já que eram canções longas”. Quando Dylan voltou ao Studio A no dia seguinte ao cataclismo de Newport em 29 de julho, e para duas sessões no início de agosto, Bob Johnston substituiu Wilson na cabine de controle. As sessões fluíram livremente. O álbum e dois compactos foram gravados sem tropeços. Apenas “Desolation Row” estava um pouco solta até que Jonhston sugeriu a participação do músico de estúdio Charlie McCoy, de Nashville, para tocar uma segunda guitarra. A capa traz outra fotografia icônica de Daniel Kramer. Dylan veste uma camiseta da Triumph que comprara em Londres, com em segundo plano, com a virilha na altura dos seus olhos. O que não remete a um disco de música folk. O texto enigmático de Dylan na contracapa sobre um trem lento a caminho foi editado na versão britânica, o “man form the newspaper” [“homem do jornal”] foi transformado em “hilltop man” [“homem do cume”] e por aí vai. O CD remasterizado traz o texto original do lançamento americano, um belo exemplo da técnica do cut-up. As versões lançadas dos dois lados do Atlântico trazem fotos diferentes de Dylan na contracapa: na versão americana ele está sentado ao piano; na britânica, tocando guitarra. Um repórter perguntou a Dylan, que acabara de se descrever como um trapezista, se sua nova música tinha um som circense equivalente. “Isso não é música circense, isso é religioso. É muito real, está por toda parte.” Mas, o que quer que fosse, ele rejeitava o termo folk-rock. “Eu a chamo de som matemático, meio indiano. Não sei explicar.” E quanto ao novo álbum: “Não serei capaz de gravar um disco melhor do que aquele. Highway 61 é simplesmente bom demais. Há muita coisa ali que eu ouviria”. Há diferenças evidentes nas versões em estéreo e mono do álbum. O original americano em estéreo trazia uma versão alternativa de “From A Buick Six” e é hoje muito procurada por colecionadores. Esta faixa também foi incluída por um bom tempo na versão japonesa. A mixagem original de Bob Johnston direciona a bateria para o canal direito. A versão em estéreo trazia faixas consideravelmente mais longas (a não ser por “Desolation Row”), já que o fade out da mixagem em mono entrava mais cedo. Apesar disso, tinha velocidade de reprodução 1 por cento mais lenta e som com menos brilho. A remasterização lançada em CD é consideravelmente mais encorpada do que as primeiras transferências digitais, e corrigiu a velocidade de reprodução. A Record Collector destacou que “o som áspero de folha metálica dos CDs originais ficou mais rico e encorpado, infinitamente mais fiel. Ouça ‘Like A Rolling Stone’ com os olhos fechados. É possível visualizar a banda espalhada pelo estúdio com a voz de Dylan perfeitamente posicionada em primeiro plano”.

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LADO UM Like A Rolling Stone (Dylan) 6:11 Uma cena central de Don’t Look Back retrata Dylan admirando candidamente as guitarras da vitrine de uma loja em Londres. Tendo supostamente decidido plugar sua carreira musical, ele escreveu “apenas uma base no papel... dirigida a algum ponto que era honesto” e a transformou, com algum tipo de alquimia, em seu primeiro número 1 nos EUA, apesar de algumas das primeiras cópias promocionais trazerem uma versão cortada pela metade antes da intervenção de Dylan. “Eu e minha esposa vivíamos numa cabana em Woodstock, que alugamos da mãe de Peter Yarrow. Escrevi a canção lá. Tínhamos chegado de Nova York e passaríamos uns três dias por lá resolvendo uns lances. Ela simplesmente veio, sabe, ela começou com o de ‘La Bamba’ ”. Que por sua vez é baseada em uma música de salão tradicional mexicana. A primeira tomada teve andamento de valsa e é a mais tênue das sombras deste grandioso conto de fadas moderno, um “era uma vez” endereçado talvez à pobre garota rica ou a Bob Neuwirth, ou ao próprio Dylan, mas que foi capturada pelos corações e espíritos livres de uma nova geração.

Tombstone Blues (Dylan) 5:58 A versão original era chamada “Jet Pilot”, ressuscitada em Biograph. Uma versão com os Chambers Brothers nos vocais de fundo foi produzida na última hora. Dylan observou nas notas de Biograph: “Eu tocava num bar que era frequentado por policiais, principalmente depois do trabalho. Eles sempre falavam coisas como ‘eu não sei quem o matou ou por quê, mas com certeza acho ótimo que tenha sido riscado do mapa’. Acho que escrevi isso naquele lugar ou depois, lembrando daquelas conversas”. Dylan soa tão indiferente quanto os policiais nesta canção dura, com energia que remete ao punk. Tombstone era parte do mito do Velho Oeste, um lugar fora do alcance da lei.

It Takes A Lot To Laugh, It Takes A Train To Cry (Dylan) 4:09 Originalmente intitulado “Phantom Engineer”, este blues conduzido pelo piano toma emprestado, como muitas velhas canções country, o verso sobre a lua brilhando por entre as árvores de “Poor Me”, gravada em 1934 por .

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From A Buick 6 (Dylan) 3:19 Um carro clássico americano ganhou uma canção à altura. A música vem de “” de , gravada em 1930 e regravada por Elvis durante sua breve , estada na Sun Records. De certa forma, esta é uma canção de amor.

Ballad Of A Thin Man (Dylan) 5:58 s Dylan disse a Nora Ephron que Mr. Jones “é uma pessoa real. Você o conhece, mas não por esse nome”. E disse a outro repórter em Austin: “Ela fala de um sujeito que parou em um posto de caminhoneiros certa feita”. Dylan ri nervosamente no início da gravação, mas a música é puro ataque verbal ao personagem. Depois de concluída a tomada, o baterista Bobby Gregg se voltou para ele e disse “Esta é uma canção sórdida, Bob”. O piano é puro Ray Charles. lembra que se defrontar com Dylan nessa época era como entrar numa debulhadora. Musicalmente magistral, impulsionada por um órgão e um piano, com um solo brevíssimo de Bloomfield no final.

LADO DOIS Queen Jane Approximately (Dylan) 5:31 Sempre solícito, Dylan disse a Nora Ephron que “Queen Jane é um homem”. É uma boa explicação, assim como a suspeita óbvia, . Dylan soa quase compassivo, para variar, apesar de sua voz ganhar um tom áspero no final e de a gaita crocitar como um corvo.

Highway 61 Revisited (Dylan) 3:31 A rodovia que corre no Norte gelado em direção ao Sul, terra do blues, e questões raciais são apenas dois temas abordados por meio do sarcasmo – alimentado por um piano elétrico, uma e um arremedo de sirene de polícia.

Just Like Tom Thumb’s Blues (Dylan) 5:31 Tom Thumb era um anão. A música é ambientada em algum lugar na estrada. Dylan a apresentou da seguinte forma em Melbourne, em 1966 – um show célebre pela atmosfera chapada: “[Esta é uma canção] sobre um pintor da Cidade do México... seu nome é Tom Thumb e hoje ele tem 125 anos, mas continua firme e forte. Todos gostam muito dele por lá,

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ele tem muitos amigos e esta canção fala da época em que ele atravessava sua fase azul [trocadilho com blue no sentido de ‘triste’, ‘deprimido’]”. Como de costume, uma narrativa etérea em que pessoas estranhas fazem coisas imperscrutáveis é cantada por um Dylan impassível.

Desolation Row (Dylan) 11:21 Bob disse a que compôs esta música no banco de trás de um táxi em Nova York – uma atualização de “A terra desolada”, de T. S. Eliot. O poeta , bem inferior, não sabia que opinião ter quanto às suas “palavras misteriosas, provavelmente reunidas sem grande reflexão”. Mas no Isle of Wight Festival de 1970, uma cidade de fantasia improvisada, riponga, recebeu o mesmo nome com orgulho. E o clone do Dylan fase 1966 John Cooper a transferiu para Manchester, onde recebeu o nome “Beasley Street”. Mas, quando indagado na célebre coletiva de imprensa de 1965 em San Francisco se era primeiro poeta ou cantor – ele consegue ser ambos de forma extraordinária aqui –, Dylan respondeu: “Ah, eu penso em mim mesmo como um homem que canta e dança”.

SOBRAS DE ESTÚDIO 15 de junho de 1965: “Sitting On A Barbed Wire Fence”, “Phantom Engineer”, “Sitting On A Barbed Wire Fence”, “Like A Rolling Stone” 16 de junho de 1965: “Like A Rolling Stone”, CO 86449 29 de julho de 1965: “”, “Desolation Row” 30 de julho de 1965: “From A Buick 6”, “Can You Please Crawl Out Your Window”

“Positively 4th Street”, lançada em Biograph. “Sitting On A Barbed Wire Fence”, “Phantom Engineer” e tomada alternativa de “Like A Rolling Stone”, lançadas em The Bootleg Series.

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