A Geologia Do Baixo Mondego Nos Arredores De Coimbra: (Estado Actual Do Seu Conhecimento) Autor(Es): Carvalho, G
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
A Geologia do Baixo Mondego nos arredores de Coimbra: (estado actual do seu conhecimento) Autor(es): Carvalho, G. Soares de Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos Publicado por: Geológicos URL persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37974 Accessed : 1-Oct-2021 19:10:53 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. impactum.uc.pt digitalis.uc.pt PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Memórias e Notícias SUMÁRIO G. Soares de Carvalho —A geologia do baixo Mondego nos arredores de Coim bra. M. Montenegro de Andrade —-Um aspecto da semelhança entre as for mações ígneas de Angola e do Brasil. J. M. Cotelo Neiva Jazigo— de blenda de possível interesse económico. J. Custódio de Morais —Nível do mar no Quaternário. 1951 A Geologia do Baixo Mondego nos Arredores de Coimbra(1) (Estado actual do seu conhecimento) por G. Soares de Carvalho Primeiro Assistente da Universidade de Coimbra 1 — Na região de Coimbra o rio Mondego corre num vale com dois aspectos morfológicos diferentes. A jusante de Foz do Caneiro até à Portela do Mon dego o rio corre num vale com numerosos meandros encaixados através de aluviões distribuídos numa super fície pouco larga e em muitos pontos do seu percurso o rio morde as rochas do substratum xistoso quando os aluviões desaparecem. A jusante da Portela do Mondego o vale alarga, a planície aluvial através da qual o rio corre é muito larga e o rio descreve meandros divagantes. Estes aspectos individualizam a morfologia do vale do Baixo Mondego e podem ser explicados pela natureza litológica e estrutural dos depósitos sobre os quais se instalou o seu curso. (1) Estudo subsidiado pelo Fundo Sá Pinto para o levantamento da Carta Geológica de Coimbra e Arredores executado por J. Custó dio de Morais e G. Soares de Carvalho. 2 O primeiro tipo de vale foi aberto nas formações antemesozóicas, essencialmente constituídas por rochas cristalofílicas, xistos e grauvaques com injecções hidro- termais quartzosas, algumas mineralizadas. Estas formações foram intensamente deformadas por movimentos tectónicos, quer pelos movimentos variscos quer pelos movimentos alpídicos. A sua mineralização fez instalar no próprio vale do rio Mondego uma exploração mineira: a mina do Zorro, também conhecida por mina de Barbadalhos. Esta mina, há muito tempo abandonada, encontra-se situada na fre guesia de Santo António dos Olivais do concelho de Coimbra, na margem esquerda do rio, a sul da aldeia do Zorro, e no seu lugar ainda se encontram hoje as ruínas das instalações de preparação de minério. A lavra desta mina começou em 1888 e depois de várias interrupções cessou em 1908 (I). Na margem direita do rio e a oriente da ribeira da Misarela, mesmo em frente à mina de Barbadalhos, ainda se podem observar as galerias de outras antigas explora ções designadas pelos nomes de Cães do Sobreiro, Bar roca do Canavial e Covão. Nestas minas exploraram-se filões quartzosos, que atravessam os xistos luzentes, mineralizados por estibina, óxidos de antimónio (2) e galena (I). O segundo tipo de vale rompe depósitos mesozoicos e cenozoicos, constituídos principalmente por rochas sedimentares elásticas e rochas sedimentares carbona tadas, isto é, materiais que oposeram uma menor resis tência ao trabalho erosivo do rio do que os xistos do primeiro tipo de vale. 2 — Nos arredores do vale do Baixo Mondego, a jusante da Portela do Mondego, podem observar-se, quer seguindo as margens do vale quer estradas e caminhos, 3 variados tipos de depósitos sedimentares de géneses e cronologias diferentes. Estes depósitos fazem parte da Orla Meso-cenozóica Ocidental de Portugal. Sob o ponto de vista estratigráfico são formações dos sistemas Jurássico, Cretácico, alguns provàvelmente do Numulítico (Oligocénico), Neogénico, Pleistocénico, e depósitos recentes. Quanto à existência do sistema Triássico é posta em dúvida a sua ocorrência pelo menos nos arredores de Coimbra. Depósitos mesozoicos 3 — Nos depósitos mesozoicos do Baixo Mondego podem ser reconhecidos os seguintes complexos sedi mentares: A — Complexo mais antigo, a que se atribuiu durante muito tempo idade triássica, mas que provàvelmente ou é constituído por depósitos do Liássico inferior ou em parte por depósitos do Triássico superior. E um complexo em que predominam os depósitos elásticos associados a algumas camadas formadas por produtos precipitados de águas que os continham em solução ou suspensão. B — Complexo em que predominam rochas carbona tadas principalmente calcários, dolomias e margas. É um complexo tipicamente jurássico. C — Complexo em que aparecem camadas de depósi tos elásticos (argilas e arenitos) associadas a camadas de rochas carbonatadas, principalmente calcárias. É um complexo cretácico. 4 A — Complexo detrítico mais antigo 4 — Os depósitos.Directamente sobre os xistos luzentes antemesozóicos observam-se, em discordância de estratificação, depósitos detríticos essencialmente ver melhos, aqui e acolá com manchas claras que podem ser acinzentadas, amareladas, etc. As rochas destes depósitos são arenitos normais, arco- ses, arenitos arcósicos, argilitos e conglomerados arenosos. Na região de Coimbra o complexo essencialmente vermelho é cortado por várias estradas que assim per mitem observar as suas camadas desde as mais antigas até às mais modernas. A série de cortes da estrada Ceira-Pereiros permi tiu-me traçar um perfil geológico em que marquei as várias séries de camadas de fácies diferentes, que podem ser observadas no complexo vermelho da região (3). As camadas mergulham para ocidente sob ângulos que osci lam por volta de 12o. O complexo vermelho é constituído por várias zonas com características diferentes, que permitem atribuir-lhe géneses diferentes. A zona mais antiga é constituída por arenitos nor mais, arcoses e conglomerados arenosos, cujos detritos são mal calibrados e em que a estratificação é irregular. Nesta zona aparecem seixos polidos e estriados com as características de seixos que sofreram acção de desgaste por ventos. Depósitos desta zona podem ser observados em toda a faixa oriental da região, sobre a qual se erguem S. Paulo de Frades, S. Romão, Santo António dos Oli vais, Conraria, etc. Esta zona é sobreposta por um conjunto de camadas com estratificação bem acentuada e de pequena espessura, 5 constituídas por arenitos de matriz vermelha, alguns com abundância de palhetas de moscovite e outros com restos de vegetais carbonizados, assim como por areni tos calcário-dolomíticos, dolomias, calcários amarelados, argilitos e arenitos cupríferos em que se identifica a malaquite e a azurite. Estas camadas têm fornecido fósseis de vegetais, e podem ser observadas nos cortes da estrada Ceira-Perei- ros, a ocidente da Conraria, assim como entre a Portela do Mondego e o Alto de S. João cortadas pela estrada da Beira, etc. Na Portela do Mondego há camadas com glóbulos de azurite (na trincheira do caminho de ferro, em frente ao apiadeiro) e manchas de malaquite e azurite; outras camadas encerram numerosas concreções, algumas com forma muito arredondada. Estas concreções são consti tuídas por um arenito micáceo, cinzento escuro e com cimento argilo-calcário semelhante ao arenito da camada que as encerra, motivo porque podem ser consideradas epigenéticas (4). Outras camadas, como por exemplo, as que são corta das pela estrada S. Paulo de Frades-Eiras, mostram numerosos geodes cujas cavidades são forradas por cris tais de calcite. Nas camadas desta zona, que afloram na freguesia do Botão, concentrou-se grande quantidade de carbonatos de cobre (malaquite e azurite) que foram pesquizadas para avaliar o interesse económico das camadas cuprí- feras. Estes depósitos cupríferos, actualmente sem qualquer interesse económico, estão a descoberto no local desi gnado por mina de Eiras Vedras ou mina dos Guardões, a sudeste do Botão (5). Nalguns locais, como por exemplo nos cortes da estrada Ceira-Pereiros, o conjunto de camadas, a que 6 fiz referência, é sobreposto por um complexo detrítico grosseiro em que predominam arcoses e conglomera dos de matriz vermelha que contêm grandes blocos de quartzito, quartzo, xisto e granito. Muitos blocos de quartzo e quartzito estão eolizados, pois apresentam facetas, arestas e estrias que denunciam acção dos ven tos intensos durante a época em que a sua acumulação ocorreu. Este complexo parece faltar nalguns locais da região. Designei estas camadas em que predominam os depó sitos de matriz vermelha por Camadas da Conra-