PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração

Viviane Tompe Souza Mayrink

VIGIAR E ORAR: a Gestão de Pessoas Presas na APAC à luz da Genealogia de Foucault

Belo Horizonte 2018

Viviane Tompe Souza Mayrink

VIGIAR E ORAR: a Gestão de Pessoas Presas na APAC à luz da Genealogia de Foucault

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade de Minas Gerais – PUC Minas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Administração.

Orientador: Professor Doutor Roberto Patrus

Área de concentração: Gestão de Pessoas

Belo Horizonte 2018

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Mayrink, Viviane Tompe Souza M474v Vigiar e orar: a gestão de pessoas presas na APAC à luz da genealogia de Foucault / Viviane Tompe Souza Mayrink. Belo Horizonte, 2018. 296 f. : il.

Orientador: Roberto Patrus Mundim Pena Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração

1. Prisão - Aspectos sociais. 2. Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (MG). 3. Genealogia. 4. Foucault, Michel, 1926-1984 - Crítica e interpretação. 5. Punição. I. Pena, Roberto Patrus Mundim. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 343.26

Ficha catalográfica elaborada por Rosane Alves Martins da Silva – CRB 6/2971

Viviane Tompe Souza Mayrink

VIGIAR E ORAR: a Gestão de Pessoas Presas na APAC à luz da Genealogia de Foucault

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade de Minas Gerais – PUC Minas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Administração.

______Prof. Dr. Roberto Patrus – PUC Minas (Orientador)

______Prof. Dr. Antônio Moreira de Carvalho Neto – PUC Minas (Banca Examinadora)

______Prof. Dr. Alexandre de Pádua Carrieri – UFMG (Banca Examinadora)

______Prof. Dr. Rafael Alcadipani da Silveira – FGV EAESP (Banca Examinadora)

______Prof. Dr. Rafael Diogo Pereira – UFMG (Banca Examinadora)

Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2018.

Este trabalho é dedicado à criança que habita em mim.

AGRADECIMENTOS

Aos obstáculos, percalços e a toda sorte de desafios pessoais e profissionais enfrentados ao longo dos anos de Doutorado, especialmente em 2016 e 2017, pois me fizeram mais forte do que nunca fui. À minha família, em especial à minha mãe – grande guerreira sábia – e à minha filha Anna Vitória. Aos amigos que em muitos momentos seguraram minhas mãos nesta caminhada. Meu sincero reconhecimento ao meu orientador, Professor Patrus, que soube me incentivar, me motivar e me criticar. Obrigada por todas as oportunidades e por suas brilhantes intervenções, perguntas e questionamentos. Ao Professor Dr. Iván Darío Toro Jaramillo e à equipe de pesquisadores da Universidad de Medellín, pelo carinho e atenção que me foram dispensados durante minha permanência na Colômbia. Aos professores do PPGA – PUC Minas, pelos ensinamentos. Aos dirigentes e funcionários da unidade APAC – Sete Lagoas, por viabilizarem a pesquisa de campo. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), pelo apoio financeiro ao longo do curso de Doutorado. Por fim, de maneira especial aos protagonistas deste trabalho: todos os internos recuperandos da APAC - Sete Lagoas que, de forma sincera e cristalina, colaboraram com sua fala para a consolidação da pesquisa.

“Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca.”

Bíblia Sagrada, Mt. 26,41

RESUMO

Neste trabalho, busquei analisar como se dão as práticas de Gestão de Pessoas Presas no sistema APAC, cujo índice de reincidência é identificado como o mais baixo do Brasil. Para tanto, realizei uma análise genealógica, a partir do modelo epistemológico proposto por Michel Foucault. Utilizei as observações efetuadas na unidade APAC de Sete Lagoas - Minas Gerais, além das entrevistas realizadas com os recuperandos que lá cumprem pena de prisão, para identificar possíveis fatores de diferenciação presentes na metodologia APAC que pudessem distanciá-la das características essenciais de uma prisão, conforme delineados por Michel Foucault em Vigiar e Punir. Nesse sentido, procurei identificar as principais características da Gestão de Pessoas Presas na APAC. Abordei o panoptismo, a vigilância, a disciplina e o poder pastoral, à luz da metodologia APAC para a Gestão de Pessoas Presas. Pude verificar que a vigilância e a disciplina, assim como o panoptismo, estão presentes na Gestão de Pessoas Presas na APAC, porém com outros contornos. Mediante a atuação do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS), da religião, da regulação exaustiva do tempo, das atividades, dos modos de vida e dos hábitos, concluí que as relações de poder acabaram por criar uma nova subjetividade: o Homem APAC. Na realidade consubstanciada na metodologia APAC, identifiquei uma forma diferenciada de vigilância: o “pan-otismo”. Nesta mesma realidade, verifiquei a presença do poder pastoral atuando continuamente para a manutenção da disciplina e para a facilitação da fala e da escuta, que acabam por fazer com que a vigilância opere também pela confissão sincera da não observância de regras internas. Em suma, a partir dos conceitos de relações de poder, poder pastoral, disciplina, vigilância e sujeito, identifiquei o modelo APAC como efeito criativo do poder, que gerou uma neo-prisão.

Palavras-chave: Neo-prisão. APAC. Gestão de Pessoas Presas. Genealogia. Foucault.

ABSTRACT

In this academic work, I have tried to analyze how the practices of Management of Imprisoned People in the APAC system where recurrence rate is the lowest one in Brazil. Thus, I performed a genealogical analysis based on the epistemological model proposed by Michel Foucault. I used the observations made at the APAC unit of Sete Lagoas- Minas Gerais, as well as the interviews with the inmates who save time there. The main objective was to identify possible differentiation factors present in the APAC methodology that could distract it from the essential characteristics of a prison, as outlined by Michel Foucault in Discipline and punish. In this sense, I sought to identify the main characteristics of the Management of in APAC. I mentioned panoptism, vigilance, discipline and pastoral power, in the light of the APAC methodology for the Management of Prisoners. I was able to verify that surveillance and discipline, as well as panoptism, are present in the Management of Prisoners in APAC, but with other characteristics. Through the work of the Council of Sincerity and Solidarity (CSS), religious practice, the exhaustive regulation of time, activities, ways of living and habits, I concluded that power relations had created a new subjectivity: the Man of APAC. In fact, based on the APAC´s methodology, I identified a different form of surveillance: the “pan-otismo”. In this same reality, I have identified the presence of the pastoral power that was continually working for the maintenance of discipline and for the facilitation of speech and listening, which end up causing vigilance to also operate through the sincere confession of non-observance of internal rules. In summary, from the concepts of relations of power, pastoral power, discipline, vigilance and subject, I recognized the APAC model as the creative effect of power, which generated a new kind of .

Key words: Neoimprisonment. APAC. Management of Prisoners. Genealogy. Foucault.

RESUMEN

En este trabajo, traté de analizar cómo resultan las prácticas de Gestión de Personas Presas en el sistema APAC, cuyo índice de reincidencia es identificado como el más bajo en Brasil. Para ello, realizé un análisis genealógico, a partir del modelo epistemológico propuesto por Michel Foucault. Fueron utilizadas las observaciones hechas en la Unidad APAC de la ciudad de Sete Lagoas, además de las entrevistas hechas con las personas que cumplen pena de prisión para identificar posibles factores de diferenciación presentes en la metodología APAC que pudieran distanciarla de las características comunes de una prisión, conforme presentado por Michel Foucault en Vigilar y castigar. En este sentido, busqué identificar las principales características de la Gestión de Personas Presas en la APAC. Abordé el panoptismo, la vigilancia, la disciplina y el poder pastoral, a la luz de la metodología APAC para la gestión de las personas presas. Pude verificar que la vigilancia y la disciplina, así como el panoptismo están presentes en la Gestión de Personas Presas en la APAC, pero con otros rasgos. Por medio de la actuación del Consejo de Sinceridad y Solidaridad (CSS), de la religión, del regulaje exhaustivo del tiempo, de las actividades, de los modos de vida y de los hábitos, llegué a la conclusión de que las relaciones de poder llevaron a la creación de una nueva subjetividad: el Hombre APAC. En la realidad establecida por la metodología APAC, identifiqué una forma distinta de vigilancia: el "pan-otismo". En esta misma realidad, comprobé la presencia del poder pastoral actuando continuamente para el mantenimiento de la disciplina y para la facilitación del habla y de la escucha, que terminan por hacer con que la vigilancia opere también por la confesión sincera de la no observancia de reglas internas. En suma, a partir de los conceptos de relaciones de poder, poder pastoral, disciplina, vigilancia y sujeto, identifiqué el modelo APAC como efecto creativo del poder, que generó una neo-prisión.

Palabras clave: Neo-prisión. APAC. Gestión de Personas Presas. Genealogía. Foucault.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Emblema da APAC ...... 29

FIGURA 2: Planta da estrutura do Panóptico encontrada nos escritos de Bentham ...... 64

FIGURA 3: Entrada da unidade. Destaque para a campainha e para a fragilidade da fechadura...... 88

FIGURA 4: Vista geral da entrada da unidade. Na porta azul, um acesso de visão para verificar a aparência do visitante...... 88

FIGURA 5: Jardim da fachada, cuidado pelos próprios internos. Destaque para a organização e para as placas de boas vindas...... 89

FIGURA 6: Vista de aproximação da unidade. Destaque para a ausência de câmeras de vigilância, concertinas e cercas elétricas. Na guarita não há vigilância...... 89

FIGURA 7: Visão de aproximação da unidade...... 90

FIGURA 8: Stultifera navis: a nova roupagem da nau dos loucos ...... 139

SUMÁRIO

1 OBJETIVOS DESTA TESE ...... 23

2 JUSTIFICATIVAS INICIAIS ...... 25 2.1 Para além das formas jurídicas ...... 25 2.2 A experiência da APAC ...... 26 2.3 O diálogo entre Administração e Direito: uma incursão necessária ...... 30

3 A DISCREPÂNCIA ENTRE O DISCURSO CIENTÍFICO DE LEGITIMAÇÃO DA PRISÃO E O RESULTADO DA APLICAÇÃO DAS REGRAS DE EXECUÇÃO PENAL ...... 33 3.1 Razão de punir: as funções dadas pelo discurso do Direito à prisão ...... 33 3.2 Por uma sociedade sem prisões: considerando a alternativa ...... 38 3.3 A distância entre o ideal ressocializador e o resultado ressocializante ...... 42 3.4 A APAC e o desafio para a Administração: uma contribuição para a Gestão de Pessoas ...... 45 3.5 A produção científica em matéria de gestão prisional ...... 47 3.6 Gestão de Pessoas e Gestão dos Corpos: Michel Foucault ...... 50

4 AS PRINCIPAIS CONSTRUÇÕES TEÓRICAS DE MICHEL FOUCAULT NA PERSPECTIVA DESTE TRABALHO ...... 53 4.1 Genealogia ...... 53 4.2 Conhecimento e Poder: “Disciplina” que gera “disciplina” ...... 56 4.3 O Sujeito e o Poder – criando o “colaborador” e o “recuperando” ...... 58 4.4 A disciplina ...... 62 4.5 Governamentalidade e Poder Pastoral ...... 65 4.6 Vigiar e punir ...... 69

5 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...... 71 5.1 As particularidades da epistemologia foucaultiana ...... 71 5.2 A primeira fase epistemológica: análise arqueológica ...... 71 5.3 A segunda fase epistemológica: a análise genealógica ...... 76 5.4 Passos analíticos essenciais ...... 78 5.5 A pesquisa de campo ...... 79 5.6 A unidade prisional escolhida ...... 84

6 O PODER QUE CRIA REALIDADES E SUBJETIVIDADES: DE PRESO A RECUPERANDO, DE PRISÃO À “MÃE APAC” ...... 91 6.1 O desejo de compor os quadros da APAC e a forma de admissão ...... 92 6.2 Do ritual de passagem: de criminoso para Homem APAC ...... 99

7 AS TÉCNICAS DA DISCIPLINA ...... 105 7.1 A distribuição ...... 105 7.2 O controle do tempo, da rotina e da linguagem: o condicionamento do Homem APAC ...... 106 7.3 A vigilância: CSS, o panóptico da APAC ...... 115 7.4 A confissão: o “pan-oto” ...... 128 7.5 O poder pastoral: o papel da religião ...... 133

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 139

REFERÊNCIAS ...... 147

APÊNDICE A – Quadro 1 ...... 183 APÊNDICE B – Gráfico ...... 191 APÊNDICE C – Quadro 2 ...... 193 APÊNDICE D – Quadro 3 ...... 195 APÊNDICE E - Quadro 4 ...... 197 APÊNDICE F – Diagrama ...... 199

ANEXO A – Regulamento ...... 201 ANEXO B – Resumo do Regulamento ...... 294

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1 OBJETIVOS DESTA TESE

Esta tese busca investigar as práticas de Gestão de Pessoas Presas no Método APAC, na perspectiva da genealogia foucaultiana, a fim de compreender a relação entre a gestão dos indivíduos presos e o baixo índice de reincidência. A pergunta de pesquisa é: como ocorrem as práticas de Gestão de Pessoas Presas no Método APAC, à luz da genealogia de Foucault? O trabalho tem como objetivos:

a) Analisar como ocorrem as práticas de Gestão de Pessoas na APAC, seus efeitos sobre os indivíduos e seus corpos; b) Investigar a formação do sujeito recuperando como resultado das práticas de Gestão de Pessoas Presas no Método APAC e analisar suas características; c) Investigar a relação entre as práticas de Gestão de Pessoas Presas no Método APAC e o índice de reincidência informado para a população carcerária submetida à prisão nas APACs.

A reflexão que é desenvolvida aqui busca centralizar as análises na maneira como pessoas presas são gerenciadas, especificamente no contexto de uma metodologia nova que é consubstanciada pelo método APAC.

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2 JUSTIFICATIVAS INICIAIS

2.1 Para além das formas jurídicas

Motivos para que esta proposta de pesquisa tenha surgido e sido apresentada são suficientes para oferecer e fazer abundar a verve e a energia necessárias ao desenvolvimento de uma tese de Doutorado. Durante a graduação em Direito, revelaram-se a vocação acadêmica e o interesse pelas causas sociais que envolvem a defesa e a promoção dos Direitos Humanos. Imediatamente após a colação de grau, no ano 2000, foi fundada a organização eleita por mim como espaço de realização profissional e idealizada para prestar assistência jurídica, psicoterápica e de serviço social à população economicamente hipossuficiente, inclusive a pessoas presas que necessitavam de assistência jurídica em matéria de execução penal. Após 15 anos de funcionamento, a instituição, que desde 2000 tem sido ininterruptamente um espaço de realização de pessoas e de aprimoramento profissional por intermédio da presidência que com muita honra ocupo, cresceu e se consolidou. Desenvolveu e desenvolve ao longo de sua existência diversos projetos sociais e participa diretamente da construção e da execução de diversas políticas públicas, tais como: a) Política de Prevenção à Criminalidade do Estado de Minas Gerais (composto pelo Programa Fica Vivo!, Programa Mediação de Conflitos, Programa de Assistência ao Preso Egresso do Sistema Prisional e Centro de Apoio ao Cumprimento de Penas Alternativas); b) Programa Se Liga! (para reinserção social do adolescente egresso do sistema socioeducativo; c) PPCAAM (Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte; d) PROVITA (Programa de Proteção à Vítima e Testemunha Ameaçada de Morte); e) Programa de Semiliberdade (gestão de três unidades de cumprimento de medida de semiliberdade por adolescentes em conflito com a lei). A experiência como advogada criminalista na defesa de pessoas encarceradas desde muito cedo se mostrou marcante, no sentido de fazer emergir a grande discrepância entre o que havia sido aprendido nos bancos da graduação em Direito e a realidade verificada na prisão. Frequentei várias prisões em Minas Gerais e percebi que a dignidade humana há muito havia abandonado a massa de encarcerados, submetidos à superlotação de celas, péssimas condições de higiene, alimentação e qualidade de vida em geral. Na maior parte do tempo, essas pessoas permaneciam ociosas, sujas, enjauladas e fomentando planos para engenhosas empreitadas criminosas. Havia uma cultura e um vocabulário comum entre os encarcerados, independentemente do estabelecimento prisional em que se encontrassem. Nesses ambientes, 26

repletos de vigilância ostensiva, vi clientes perderem a vida em motins, presenciei fugas, recebi ofertas indecorosas por parte de colaboradores. Assisti de perto situações de reincidências crônicas e também testemunhei casos de arrependimento e regeneração genuínos por parte de pessoas que desejavam a todo custo retomar a vida em liberdade. Enquanto aguardava adentrar o presídio, tive contato e ouvi as conversas das mulheres – mães e esposas – que se submetiam a revistas vexatórias para visitar seus entes que estavam presos. Vi de perto a precária estrutura física das unidades prisionais, o conteúdo das marmitas servidas aos presos e a truculência com que eram tratados os meus clientes, contra os quais muitas vezes os agentes carcerários a até mesmo magistrados me advertiram – seria “perigoso” para mim que as algemas deles fossem retiradas para que eu pudesse atendê-los. Meu ingresso no Programa de Pós-Graduação Stricto sensu (Mestrado) em Direito Penal, da Universidade Federal de Minas Gerais, selou minha aproximação com questões ligadas à criminalidade e à violência. Tornou-se definitivamente perceptível a fragilidade do Direito para responder a muitas demandas sociais, entre as quais as que são impostas pela prisão. A partir desta convicção, firmei o entendimento de que seria necessário refletir a partir de outros campos do saber acerca da experiência da execução penal. Para além de simplesmente criticar o sistema prisional, seria necessário abordar a realidade na tentativa de apontar possíveis soluções para a questão carcerária. Concomitantemente ao estudo reflexivo durante o Mestrado, conheci a realidade das APAC´s, sempre mencionadas como exemplo virtuoso de execução penal ressocializadora e humanizada.

2.2 A experiência da APAC

O “Método APAC” é uma experiência de execução penal intrigante, implantada e em funcionamento, com traços de diferenciação bastante marcados em relação ao sistema tradicional de execução penal. Possui índice de reincidência que varia entre 8% e 15%, contra o índice geral de reincidência, cujo patamar mínimo é de cerca de 30%1.

1 Disponível em: . Acesso em: 13 fev. 2016. Em recente declaração, o presidente da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC) confirmou que os índices de reincidência nas APAC´s pode chegar a 2% a depender da unidade, em contraponto aos 30% de reincidência do sistema tradicional de execução penal. Posteriormente falarei sobre o índice geral. Disponível em:

Conforme Commodaro et al. (2012), a proposta ou Método APAC nasceu em 1972, em São José dos Campos (SP), por força de atuação de movimentos religiosos. Vinte anos após o registro legal da primeira APAC, foi fundada, em São José dos Campos, a Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC). A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – este é o significado da sigla APAC – desde seu surgimento possui a finalidade de desenvolver com os condenados um trabalho humanizado de reintegração social. Com a natureza jurídica de associação privada, a APAC atua na qualidade de Órgão Auxiliar da Justiça e da Segurança, constituindo-se uma alternativa à execução penal realizada conforme o padrão definido na LEP (Lei de Execução Penal), que aqui denominaremos padrão tradicional (Commodaro et al., 2012). Com o transcurso do tempo, a experiência das APACs foi se expandindo pelo país e mais intensamente por Minas Gerais, que foi terreno fértil ao seu desenvolvimento, chegando a alcançar destaque internacional.2 Países como Estados Unidos, Alemanha, Itália, Polônia, Nova Zelândia, Austrália, Colômbia, Portugal, México, Noruega, entre outros, já adotaram o modelo carcerário que, criado em São Paulo e expandido em Minas Gerais, hoje também presente no Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Paraná e Espírito Santo, humaniza as prisões, oferece oportunidades de reinserção social e tem se mostrado, pelo menos no Brasil, eficaz na redução da reincidência criminal. A gestão das APACs tem como ponto basilar a participação dos diversos atores do setor público, privado e da sociedade civil por meio de parcerias na execução da sanção penal. Permite a construção de uma colaboração entre o primeiro, segundo e terceiro setores em relação ao respeito recíproco de funções, contribuindo para a promoção dos direitos humanos dos condenados. O trabalho da APAC acontece a partir da aplicação de doze elementos ou princípios fundamentais, a saber:3

1. Participação da comunidade: é da comunidade externa a tarefa aplicar o Método nas prisões e difundir o projeto na localidade para romper o preconceito; 2. O recuperando ajudando o recuperando: assinalando-se que recuperando é a terminologia que o Método usa para denominar o preso, na APAC prevalece o sentimento de ajuda mútua e colaboração;

2 Disponível em: . Acesso em: 08 jan. 2016. 3 Disponível em: . Acesso em: 14 jan. 2016. 28

3. O Trabalho: é parte do contexto, mas não deve ser o elemento fundamental; 4. A religião e a importância de se fazer a experiência de aproximação com Deus: o Método APAC proclama a necessidade imperiosa de o preso fazer a experiência com Deus, independentemente de sua religião ou crença; 5. Assistência Jurídica: o Método APAC recomenda uma atuação especial nesse aspecto; 6. Assistência à saúde: prestação de assistência médica, odontológica e outras de modo humano e eficiente; 7. Valorização humana: consiste em colocar em primeiro lugar o ser humano, reformulando a autoimagem do preso, que deve ser chamado pelo nome, respeitando-se sua história; 8. A Família: é preciso trabalhar para que a pena atinja tão somente a pessoa do condenado, fazendo o possível para que não atinja a sua família e para que os elos entre o preso e seus familiares sejam preservados; 9. O Voluntário: o trabalho da APAC é fundamentado na gratuidade e no voluntariado. Há, inclusive, um curso de formação do voluntário, durante o qual este irá conhecer a metodologia e desenvolver suas aptidões; 9.1 Casais padrinhos: para o Método, a grande maioria dos presos tem uma imagem negativa do pai, da mãe ou de ambos, ou daqueles que os substituíram em seu papel de amor. Aos casais padrinhos cabe a tarefa de ajudar a refazer aquelas imagens negativas; 10. CRS - Centro de Reintegração Social: oferece ao preso a oportunidade de cumprir a pena próximo ao seu núcleo afetivo – família, amigos e parentes. Facilita a formação de mão- de-obra especializada, favorecendo a reintegração social, respeitando a Lei e os direitos dos condenados; 11. Mérito: será sempre pelo mérito que ao preso serão dadas oportunidades de vivência diferentes fora e dentro da unidade prisional; 12. Jornada de Libertação com Cristo: são três dias de reflexão e interiorização que se faz com os presos. Tais princípios, bem como as finalidades a que se propõe o Método, são traduzidos por um emblema adotado em todas as unidades:

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Figura 1: Emblema da APAC

Fonte:< http://www.apaccascavel.com.br/o-que-e-o-metodo-apac/>. Acesso em: 23 nov. 2017.

O emblema traz o ser humano a ser recuperado ao fundo, como elemento central da metodologia. Ainda traduz o escopo de socorrer a vítima, fazer justiça e proteger a sociedade. Para alcançar as finalidades, são apostados à logomarca 12 segmentos, que vão juntos compor o triângulo de atuação da metodologia. Dentro de tais princípios ou elementos fundamentais, destaco a participação da comunidade onde está inserido o estabelecimento, bem como a responsabilização das pessoas submetidas à pena privativa de liberdade para consigo mesmas e com os demais, aspectos que são considerados essenciais para que a sanção penal aplicada alcance seus objetivos. (Commodaro et al., 2012). Muitas são as particularidades que diferenciam a experiência da APAC da realidade presente no sistema prisional tradicional. Neste sentido, sublinho a participação do voluntariado, a questão da religião, a gestão intersetorial, entre outros aspectos. Quanto aos mecanismos formais que viabilizam a participação dos presos, chamados no dia a dia das APACs de “recuperandos”, cito o Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS), órgão colegiado representativo dos condenados que colabora com todas as atividades desenvolvidas e decisões dentro do estabelecimento. No sistema prisional dito “tradicional”, formado por presídios de segurança máxima (regime fechado), colônias agrícolas e industriais (regime semiaberto de cumprimento de pena) e casas de albergado (regime aberto), não se vislumbra a existência de tais mecanismos. Posso mesmo afirmar que, em termos de participação do preso nos processos democráticos em geral, a legislação chega a tentar impedir ou desestimular o envolvimento do condenado nos processos democráticos diretos e/ou indiretos. Confirma a constatação o fato de que a Lei de Execução Penal brasileira (Lei n. 7210-94) não prevê mecanismos que impliquem os detentos na gestão 30

nem do estabelecimento nem do seu dia a dia, e muito menos dispositivos que insiram os sentenciados nos processos de tomada de decisão na rotina da prisão. De toda forma, é inegável que no contexto da gestão do estabelecimento APAC os próprios presos adquirem protagonismo em relação à sua própria pessoa e à própria rotina e vivência no estabelecimento prisional. O Método APAC, com sua taxa de reincidência reduzida em relação ao sistema tradicional, com suas rotinas bastante diferenciadas que atribuem certo protagonismo ao preso, permite-me, em termos empíricos, realizar uma reflexão acadêmica rica e sugestiva. Nas unidades APAC é encontrada uma reduzida ostensividade da segurança e do uso de força física, além do baixo índice de reincidência entre seus internos, conforme afirmei acima. Esse aparente paradoxo – vigilância física baixa e alta efetividade do Método – por si só já oferece uma oportunidade de explorar o modelo APAC como Método de execução penal que contraria as práticas adotadas nos sistemas prisionais em geral – alta vigilância ostensiva e baixa efetividade, considerando o índice de reincidência. Dessa forma, debruçar-me numa reflexão sobre o sistema APAC, numa perspectiva crítica, a partir do ponto de vista da Administração de Empresas, me pareceu um excelente objeto de estudo que justificasse a dedicação ao Doutorado. Foi uma forma produtiva de me libertar de análises limitadas a fontes normativas e repetição de doutrinas, próprias do Direito, cujo potencial de mudança da realidade é bastante reduzido.

2.3 O diálogo entre Administração e Direito: uma incursão necessária

Como dito, o Método APAC chamou minha atenção pelo fato de apresentar índices de reincidência reduzidos, acompanhados de nível de constrição física e vigilância dos presos nas unidades muito menor do que aquele percebido em prisões tradicionais. Ao mencionar os índices de reincidência, o Direito e a Política Criminal elegem um critério para aferir a efetividade que a execução penal apresenta. Isto porque a prisão é justificada pelo Direito a partir de sua suposta função ressocializante que, em tese, atuaria com efetividade de intervenção a ponto de evitar que o indivíduo volte a uma vida de . O discurso científico, que no âmbito do Direito justifica e legitima o Estado a intervir de forma tão drástica sobre o corpo do indivíduo, é o discurso da ressocialização e da não reincidência. A análise das teorias científicas que justificam a pena e a confrontação desta base teórica com os resultados alcançados na gestão de estabelecimentos prisionais demonstram um paradoxo. Entre o ideal ressocializador, fundamentado no discurso científico da Criminologia 31

Positivista e do Direito e os índices de reincidência apresentados, há um espaço lacunoso e ideal às investigações científicas. Conforme dados disponibilizados pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (2014), o Brasil conta com uma população carcerária composta de 607.731 pessoas, sendo 358.561 condenadas definitivamente à pena privativa de liberdade e 249.170 submetidas à prisão provisória. Trata-se da quarta maior população carcerária do planeta, superada em números absolutos por Estados Unidos da América, China e Rússia4. De acordo com as informações do Institute for Criminal Policy Research5 (2016), o Brasil possui a taxa de 313 pessoas presas por 100.000 habitantes, o que significa que é o 31º no ranking de 222 países. Quanto ao déficit de vagas, o Brasil possui uma taxa de ocupação de 163,9. Abaixo, trazemos a evolução numérica da população carcerária brasileira entre 2000 e 2016:

Total de Número de encarcerados/100 mil Ano encarcerados habitantes 2000 232,755 133 2002 239,345 133 2004 336,358 182 2006 401,236 212 2008 451,429 234 2010 496,251 253 2012 548,003 275 2014 622,202 307 2016 644,575 313 Fonte: . Acesso em: 23 de nov. 2017.

Em dezesseis anos, o crescimento do número de encarcerados/100 mil habitantes foi de 235,34%. O estado de Minas Gerais conta com a segunda maior população carcerária do Brasil, conforme dados do Departamento de Monitoramento de Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça (2014).

4 Dados disponibilizados pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça, 2014. 5 Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2017. Há uma ferramenta que permite ao internauta buscar informações gerais sobre números absolutos e relativos, quanto à população prisional em todo o mundo. 32

Conforme dados mais recentes do Conselho Nacional de Justiça6 (2015), o estado de Minas Gerais possui uma população carcerária de 64.082 pessoas, distribuídas em 291 estabelecimentos prisionais que possuem capacidade para abrigar apenas 38.162 seres humanos. Dos 291 estabelecimentos mineiros, 124 se encontram em situação péssima, 27 em situação ruim, 89 em situação regular, 47 em boa situação e apenas quatro em situação excelente, conforme dados das inspeções nos estabelecimentos penais efetuadas pelo Conselho Nacional de Justiça, constantes dos relatórios do Departamento de Monitoramento de Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do Conselho Nacional de Justiça (2014). A execução da pena privativa de liberdade é, portanto, tema que desafia a atenção no Brasil e no mundo, considerando o contingente de seres humanos submetidos ao cotidiano do cárcere. Além da questão da superpopulação dos estabelecimentos, que muito dificulta o trabalho e o custeio do sistema como um todo, há a questão da eficácia da pena privativa de liberdade. É de grande importância trazer tais questões para o campo da Administração. Em primeiro lugar, há uma questão social emergente que merece a reflexão dos mais diferentes campos científicos. Tal aspecto restou demonstrado pelos números apresentados, relativos à população prisional. Em segundo lugar, obviamente que se a lei é igual para todos os presos e estabelecimentos prisionais – sejam eles unidades APAC ou não – há algo na gestão das APAC´s que faz com que seus resultados sejam diferentes. O diferente não está no Direito, está na Administração. É necessário perceber como o Método se desenvolve, como a gestão penitenciária acontece para que os resultados sejam alcançados de forma tão inusitada para os padrões de um estabelecimento concebido para prender o corpo do indivíduo. Para que a reflexão sobre o Método APAC, em termos de sua gestão diferenciada, seja possível, há um diálogo importante a realizar. É necessário compreender sob qual perspectiva estou dizendo da realidade “bem sucedida” do Método APAC.

6 Disponíveis em: . Acesso em: 02 jan. 2016. O último dado oficial sobre o sistema carcerário disponível data de 2014. 33

3 A DISCREPÂNCIA ENTRE O DISCURSO CIENTÍFICO DE LEGITIMAÇÃO DA PRISÃO E O RESULTADO DA APLICAÇÃO DAS REGRAS DE EXECUÇÃO PENAL

3.1 Razão de punir: as funções dadas pelo discurso do Direito à prisão

Pretendendo tratar de uma realidade que é tida como um oásis de execução penal – a APAC, com baixa reincidência, baixa vigilância – é importante elucidar quais são as justificativas dadas pelo Direito e pela Criminologia como fundamento e razão de existência da pena privativa de liberdade. O discurso da Ciência do Direito Penal afirma que a prisão se justifica pela necessidade social de lidar com o crime. Numa observação histórico-arqueológica do Direito Penal, da prisão e do Estado, observa-se a alternância de correntes do pensamento científico entre tendências retributivas e orientações preventivas, com inclinação para a prevenção e para o afastamento do indivíduo do caminho ligado à criminalidade. Entre as teorias que explicam o sentido, a função e as finalidades da pena, são as três mais importantes: as teorias absolutas, as teorias relativas e as teorias unificadoras ou ecléticas. Para as teorias absolutas a pena é a retribuição pelo mal causado. São defensores desse posicionamento os juristas Nelson Hungria, Francesco Carrara e Giuseppe Maggiore, assim como os filósofos Kant (2003) e Hegel (1997), estes últimos sendo considerados os responsáveis pela sustentação teórica do entendimento. Kant (2003) afirma de forma muito clara que a pena “jamais pode ser infligida meramente como um meio de promover algum outro bem a favor do próprio criminoso ou da sociedade civil. Esta precisa ser-lhe sempre imposta apenas porque ele cometeu um crime.” (Kant, 2003, p.174). Hegel, por sua vez, assinala: “Neste domínio do direito imediato, a abolição do crime começa por ser a vingança que será justa no seu conteúdo se constituir uma compensação.” (Hegel, 1997, p.92). Já as teorias relativas atribuem à sanção penal dois efeitos. O primeiro efeito se trata do caráter preventivo geral, punindo-se assim o criminoso para que ele sirva de exemplo aos demais membros da coletividade. O segundo efeito se trata do caráter preventivo especial, devendo-se, assim, punir o criminoso para que ele se recupere e não mais cometa delitos. Como teóricos que representam o posicionamento de prevenção geral temos Bentham (1789), Cesare Beccaria (1764), Filangieri (1827), Schopenhauer (1819) e Feuerbach (1797). Como representantes da teoria da prevenção especial temos o jurista Von Listz (2005) e os criminólogos Cesare Lombroso (1894), Garoffalo (1893) e Enrico Ferri (1884). 34

Em seu famoso Dos Delitos e Das Penas, Beccaria manifesta o posicionamento claro da prevenção geral: o fim das penas não é atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer o delito já cometido. É concebível que um corpo político que, bem longe de agir por paixões, é o tranqüilo moderador das paixões particulares, possa albergar essa inútil crueldade, instrumento do furor e do fanatismo, ou dos fracos tiranos? Poderiam talvez os gritos de um infeliz trazer de volta, do tempo, que não retorna, as ações já consumadas? O fim da pena, pois, é apenas o de impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e demover os outros de agir desse modo. É, pois, necessário selecionar quais penas e quais os modos de aplicá-las, de tal modo que, conservadas as proporções, causem impressão mais eficaz e mais duradoura no espírito dos homens, e a menos tormentosa no corpo do réu. (BECCARIA, 1999, p. 52).

Von Listz (2005, p. 67) defende claramente a correção do criminoso, ou seu tratamento: As minhas propostas não têm o objetivo de abolir a metade da pena nem de eliminar a determinação judicial da pena. Em duas expressões, seja-me permitido resumir o que, de todo modo e imediatamente, deve-se perseguir: “Inoculização” dos incorrigíveis, correção dos corrigíveis. No mais, o resto virá por acréscimo.

Por fim, encontramos uma posição mista, que defende que a pena deve desempenhar tanto a função de retribuir o mal causado pelo criminoso quanto de prevenir novos delitos, tanto na perspectiva da coletividade (prevenção geral) quanto na perspectiva do criminoso (prevenção especial). A esse respeito, cito a construção doutrinária nitidamente mista de Adolf Merkel: “toda retribuição carrega uma tendência preventiva. Assim, a vingança se propõe, sem dúvida, a impedir tanto a persistência como a repetição de certas sensações desagradáveis”. (Merkel, 2004, p. 194)7. A uma concepção de Estado corresponde, da mesma forma, uma concepção de finalidade da pena. Nesse sentido, basta observar a utilização que o Estado faz do Direito Penal, para facilitar e regulamentar a convivência dos homens em sociedade. Apesar de existirem outras formas de controle social – algumas mais sutis que o Direito Penal – o discurso científico do Direito se fundamenta na circunstância que o Estado utiliza a pena para proteger de eventuais lesões determinados bens jurídicos, assim considerados em uma organização social e econômica específica. Do mesmo modo como se transforma a proposta de Estado, o Direito Penal também se transforma, não só no plano geral, como também em cada um dos seus conceitos fundamentais. No concernente às teorias absolutas ou retributivas, em sua origem, na Idade Média, a ideia que então se tinha era a de que a pena era um castigo através do qual se expiava o delito,

7 “toda retribución anida una tendencia preventiva. Así, la venganza se propone, sin duda, impedir, tanto la persistencia como la reproducción de determinadas sensaciones desagradables.” MERKEL, Adolf, Derecho Penal: Parte General. Tradução de Pedro Dorado Montero. Montevideo Buenos Aires: BdeF, 2004, p.194. 35

o “pecado” cometido. No contexto do Absolutismo, ofender a ordem jurídica era ofender a ordem divina, ofender o soberano era ofender a Deus, e a pena era a penitência pela ofensa a Deus. Com o desenvolvimento do Mercantilismo, e mais tarde já no contexto do Estado liberal ou burguês, que tem como fundo a teoria do contrato social, a pena já não poderia continuar mantendo seu fundamento baseado na já dissolvida identidade entre Deus e soberano, religião e Estado. O Estado, tendo como objetivo político o consenso coletivo e como fundamento a teoria do contrato social, reduz sua atividade em matéria jurídico-penal à obrigação de evitar a luta entre os indivíduos e mantê-los agrupados. Segundo Zaffaroni (1991), dois dos mais expressivos defensores das teorias absolutas são Kant, sobretudo em Metafísica dos Costumes, escrito em 1797, e Hegel, em Princípios da Filosofia do Direito, escrito em 1820. Desta feita, as teorias absolutas enxergam a pena como um fim em si mesma, de forma a apenas retribuir o mal causado pelo criminoso que pecou (contexto do Estado feudal) ou rompeu o contrato social (contexto do Estado liberal). Com o aprimoramento do Estado liberal e burguês, as teorias preventivas adquiriram relevância, não obstante o caráter utilitarista que encerram. Substitui-se o poder físico, poder sobre o corpo, pelo poder sobre a alma. (Bitencourt, 2001). Inseridas no ideário prevencionista, estão as concepções da finalidade da pena como prevenção especial e como prevenção geral. Com fundamento na teoria da finalidade da pena como prevenção geral, a sanção penal se destinaria a intimidar a coletividade, reforçando a certeza da punição e coibindo futuras iniciativas criminosas. A prevenção geral é alvo de duras críticas, especialmente porque o ordenamento jurídico deve considerar o indivíduo não como objeto à disposição da coação estatal, nem como material humano utilizável, mas como portador de um valor como pessoa, a quem o Estado deve proteger. (Roxin, 1986). Por sua vez, com a finalidade da prevenção especial, a pena procuraria evitar a prática do delito, mas ao contrário da prevenção geral, dirige-se exclusivamente ao condenado em particular, objetivando que este não volte mais a infringir a lei. Uma das conclusões a que se pode chegar, considerando-se a finalidade da prevenção especial, é de que os fins seriam anulados ou ineficazes diante do apenado que, apesar de ter cometido o crime, não necessite de intimidação, reeducação ou inocuização, em razão de não haver a menor probabilidade de que voltasse a infringir, raciocínio que levaria à defesa da impunidade desse indivíduo. (Roxin, 2000). Além disso, a aceitação da imposição de pena com a finalidade exclusiva de evitar que um único indivíduo cometa novos delitos inaugurou a possibilidade de imposição de penas que se antecipem ao cometimento de novas condutas, partindo de uma concepção de periculosidade 36

e de tratamento prévio. Se o indivíduo detiver um perfil considerado “perigoso” justificar-se-ia a imposição de pena antes mesmo que ele praticasse um crime. (Roxin, 2000). As teorias mistas ou unificadoras, por sua vez, tentam agrupar, num conceito único, os fins da pena apontados pelas teorias absolutas e relativas (prevencionistas). Defendem a viabilidade de uma teoria que abranja a pluralidade funcional da pena, sendo que as teses unificadoras estabelecem marcante diferença entre fundamento e fim da pena. Em relação ao fundamento, sustentam que ele deve ser o fato praticado, afastando a teoria da prevenção geral, que prega que o fundamento da pena é a intimidação geral, bem como afastam a fundamentação preventivo-especial da pena, que considera um critério ofensivo à dignidade do homem ao reduzi-lo à categoria de doente biológico ou social. Estas teorias atribuem ao Direito Penal uma função de proteção à sociedade. A retribuição, para essas teses, desempenha papel limitador, seja através da culpabilidade ou da proporcionalidade. As principais críticas baseiam-se no fato de que a justaposição de teorias, para sanar defeitos de cada uma delas, tende a fracassar. (Roxin, 2000). A simples adição de duas teorias aparentemente incompatíveis destrói a lógica de cada tese, além do que a pena passa a ter inúmeros empregos, dada a multiplicidade de suas finalidades. A pena, por decorrência, pode ter seu âmbito de aplicação indevidamente aumentado. Diante das circunstâncias de declínio da teoria unificadora, a doutrina jurídica dedicou- se ao estudo da nova tese que abordasse os fins da pena, chegando à elaboração que atualmente é considerada a mais completa: a teoria da prevenção geral positiva. A teoria apresenta duas subdivisões: prevenção geral positiva fundamentadora e prevenção geral positiva controladora ou limitadora. O filósofo do Direito Günther Jakobs (2003) é um dos expoentes da teoria da prevenção geral positiva fundamentadora. Partindo do conceito de Direito expressado pelo sociólogo alemão Niklas Luhmann (1981), Jakobs (2003) entende que as normas jurídicas buscam estabilizar e institucionalizar as experiências sociais servindo para orientar a conduta dos indivíduos, que as devem observar em suas relações sociais. Quando ocorre uma infração, convém deixar claro que a ordem jurídica continua vigendo, apesar da infração. Nessa direção, a pena serve para destacar ao infrator que, apesar de sua infração, a norma se mantém. Enquanto o delito é negativo, uma vez que infringe a norma, a pena é positiva, visto que reforça a vigência da norma, ao negar sua infração. (Bitencourt, 2001; Jakobs, 2003). Para a teoria da prevenção geral positiva fundamentadora (Roxin, 1986), a função da pena é reforçar a existência e os limites do poder estatal. Possui feição nitidamente repressora e não possui nenhuma fidelidade aos direitos fundamentais, especialmente se considerarmos o 37

arcabouço de direitos dos apenados, dos quais se pode retirar tudo quanto possa servir para reforçar os valores sociais lesados pelo crime e ignorados pelo criminoso. Por sua vez, para a teoria da prevenção geral positiva limitadora, a pena possui sentido limitador do poder punitivo do Estado. A teoria considera o Direito Penal como um meio a mais de controle social. Para esta teoria, a pena funciona como limite ao exercício do poder do Estado. Ao contrário do que seria possível no Absolutismo, em que o monarca impunha a modalidade e a intensidade da pena conforme sua vontade soberana, a pena moderna, como modo de sancionar formalmente, submete-se a pressupostos e limitações. Por intermédio da pena estatal não só se realiza o combate ao crime, como também se garante a juridicidade, a formalização do modo social de sancionar o delito. Para a teoria, a onipotência jurídico-penal do Estado deve contar com freios e limites que resguardem os invioláveis direitos fundamentais dos cidadãos. A pena, sob esse prisma, teria reconhecida como finalidade a prevenção geral e especial, devendo respeitar os limites colocados pelo próprio Direito para que a força estatal não seja exercida de forma arbitrária e ilimitada. Apesar de existirem outras formas de controle social – algumas mais sutis que o próprio Direito Penal, como punições civis e tributárias – o poder estatal utiliza a pena para pretensamente proteger de eventuais lesões (os crimes) determinados bens jurídicos (direitos lesados pelo crime). De forma geral, prevalecem as teorias preventivas, que adquirem mais relevância ao longo do tempo. No contexto político e social de tantas regulações jurídicas nacionais e internacionais, que visam garantir direitos à pessoa humana, que teve retirada pelo poder estatal a sua liberdade de locomoção através da imposição da pena privativa de liberdade. Devo, entretanto, assinalar o caráter utilitarista que encerram as teorias preventivas. Esse caráter utilitarista reside na circunstância de que a proliferação das ideias de prevenção deveu-se a vários fatores, ligados à crise do Estado liberal. O binômio pena e Estado viu-se afetado pelo desenvolvimento industrial e científico, pelo crescimento demográfico, pela migração massiva do campo às grandes cidades e, inclusive, pelo fracasso das revoluções de 1848, denominadas em seu conjunto de “Primavera dos Povos” (revoltas na França, na Itália, Áustria, Hungria e até mesmo no Brasil, com a Revolução Praieira), dando lugar ao estabelecimento da produção capitalista. (Baratta, 2002). Uma obsessão defensivista emerge: em primeiro lugar, a sociedade. O criminoso deve ser extirpado, ainda que se tente sua recuperação, mas sem se esquecer de que, se fracassar, terá que ser definitivamente excluído do corpo social, recorrendo, se for o caso, à pena de morte ou à prisão perpétua. (Baratta, 2002). Para o discurso científico do Direito, a prisão não só representa a luta contra o delito, como significa uma metodologia de intervenção sobre a pessoa do criminoso, de forma que ele 38

passe, no mínimo, a respeitar o mesmo código de valores esposado pela legislação que foi desrespeitada pela conduta criminosa. Esta metodologia de atuação estatal sobre a pessoa do criminoso, representada pela prisão, deve então atingir a finalidade de prevenção de novos delitos, o que, em última análise, significa obter a mudança de conduta por parte do indivíduo que foi submetido à prisão, para que não volte a cometer crimes. Conforme assinalado por Foucault (1974/2013), o discurso de encarceramento e humanização das penas tomou o lugar dos espetáculos de vingança e expiação porque a prisão surgiu como uma alternativa interessante. Com ela, o criminoso é fisicamente retirado do seio social e, agregando-se as noções de ressocialização, reabilitação ou reinserção social, a pena privativa de liberdade se apresenta como um poderoso mecanismo de controle do indivíduo.

3.2 Por uma sociedade sem prisões: considerando a alternativa

Embora tenha apresentado as teorias que justificam a existência das prisões, há também aquelas que fundamentam sua extinção. É uma alternativa que merece ser considerada do ponto de vista de uma tese. O presente trabalho parte do pressuposto de que a prisão existe. Contudo, devo trazer à discussão o posicionamento dos que defendem uma sociedade sem prisões. Para eles, a APAC não seria uma alternativa bem-sucedida, seria apenas mais um modelo reinventado de aprisionamento. Há, sem dúvida, manifestações de teóricos que concordam quanto à incapacidade da prisão no que se refere à ressocialização do condenado. Os ataques mais severos advêm dos que compõem a Criminologia Crítica, já que a ressocialização violaria o livre-arbítrio e a autonomia do sujeito: tratar ou corrigir o indivíduo anularia a sua personalidade, suas ideologias e suas escalas de valores para adequá-lo aos valores sociais tidos como legítimos. (Baratta, 2002; ZaffaronI, 1991; Hulsman, 1993). A Criminologia Crítica é alinhada à Sociologia do Conflito e se forma na escola de Criminologia de Berkeley, ainda nos anos 1960 e 1970, como reação às escolas positivas, voltadas à etiologia e à psicologia do crime e do criminoso. (De Molina, 1997). Para a Sociologia do Conflito, a ordem social da moderna sociedade industrializada tem por base a discórdia. O conflito reflete a própria estrutura e dinâmica social, sendo funcional quando contribui para uma alteração positiva da sociedade. O Direito representa os valores e interesses das classes e setores dominantes. Em 1973, Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young publicam em Londres A nova criminologia utilizando a expressão “criminologia crítica”. Reúne-se em Florença o grupo europeu para o Estudo do Desvio e do Controle Social, que se 39

opõe à criminologia oficial. Na América Latina, associam-se os pesquisadores Eugênio Raul Zaffaroni (Em Busca das Penas Perdidas, 1991), Lola Anyar de Castro (Criminologia da Reação Social, 1983), Rosa del Olmo (A América Latina e sua Criminologia, 2004), Juarez Cirino dos Santos (As Raízes do Crime, 1984) e Nilo Batista (Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, 1990) – os dois últimos brasileiros – os quais, entre outros, optaram por uma criminologia radical. Taylor, Walton e Young (The New , 1973) são os primeiros teóricos a negar as tentativas de explicação causal do crime e do criminoso e a propor uma reflexão acerca do sistema penal o qual, para a Criminologia Crítica, é operado seletivamente a fim de fazer operar todo o sistema social conforme determinadas finalidades. (De Molina, 1997). Assim, na visão da Criminologia Crítica (Baratta, 2002), ressocialização e tratamento denotam uma postura passiva do detento e ativa das instituições: são heranças anacrônicas da velha criminologia positivista que tinha o condenado como um indivíduo anormal e inferior que precisava ser (re)adaptado à sociedade, considerando acriticamente esta como “boa” e aquele como “mau”. (Baratta, 2002, p. 3). No livro A Criminologia Radical (2008), Juarez Cirino dos Santos aponta duas principais tendências na Criminologia Crítica. A primeira, de cunho revolucionário, não se conforma com o estado atual da sociedade e é denominada de “idealismo de esquerda”; a segunda, denominada de “reformista”, acredita na dissolução do capitalismo como ordem natural das coisas e na mudança por intermédio do Estado. A Criminologia Radical critica o modo de produção capitalista, baseado na mais-valia, por ser uma forma de exploração da mão de obra e provocar injustiças sociais, desigualdades ocasionadoras dos altos índices de criminalidade. Não se propõe a analisar o crime em si como resultado de causas específicas, pois este seria o papel até então desempenhado pela Escola Positivista. Atrelado à concepção crítica criminológica, a partir dos anos 1970 desenvolve-se o denominado Abolicionismo, cujos principais representantes são: Louk Hulsman (Penas Perdidas – O Sistema Penal em Questão, 1982), Thomas Mathiesen (The Politics of Abolition: Essays in Political Action Theory, 1974) e Nils Christie (Limits to pain, 1981). O Abolicionismo toma força singular a partir do IX Congresso Mundial de Criminologia, realizado em Viena em 1983, que foi antecedido pelas reuniões da ICOPA – Conferência Abolicionista Internacional. (Santos, 2008). As teses abolicionistas propõem o fim da pena, em decorrência do entendimento que a Criminologia Crítica tem da lógica de funcionamento da pena. 40

Assim, o abolicionismo penal é um movimento de política criminal que defende o fim da sociedade baseada no castigo e a possibilidade de um justo sistema de solução de conflitos alheio à justiça criminal. Propõe a substituição da pena de prisão por intervenções comunitárias e institucionais de caráter alternativo, baseadas em diálogos e conciliações. Cabe destacar a metáfora de De Folter a este respeito: “Podemos dizer que o abolicionismo é a bandeira sob a qual navegam barcos de distintos tamanhos transportando distintas quantidades de explosivos. Em relação à maneira em que deverão explodir não há uma única ideia”. (De Folter, 1989, p. 58). Por conseguinte, Hulsman & Celis (1993) consideraram o sistema penal como um problema em si mesmo, tornando-se preferível a sua total abolição como sistema repressivo. O autor posiciona-se a favor da substituição direta do sistema penal por instâncias intermediárias ou individualizadas de solução de conflitos que atendam às necessidades reais das pessoas envolvidas. Thomas Mathiesen (1974), por sua vez, pode ser considerado o estrategista do abolicionismo, impressão deixada na sua obra de 1974. Ele vincula a existência do sistema penal à estrutura produtiva capitalista e parece buscar não apenas a abolição do sistema penal, mas também a abolição de todas as estruturas repressivas da sociedade. Nils Christie (1981) é considerado um abolicionista minimalista. Para ele, em certas hipóteses, é necessária a intervenção da força do Estado, mas elas devem ser restringidas ao máximo, uma vez que as prisões possuem inúmeras desvantagens. Por fim, acrescento que os abolicionistas, em razão da compatibilidade de ideias, consideram Michel Foucault um abolicionista, pois este defendeu a consideração do sujeito cognoscente como um produto do poder. (De Folter, 1989). Com efeito, o abolicionismo se sintetiza em três matrizes ideológicas: a anarquista, a marxista e a liberal/cristã. (Shecaira, 2004). De acordo com a visão anarquista, as principais preocupações dizem respeito à perda da liberdade e autonomia do indivíduo por obra do Estado. Para esta linha de pensamento, a sociedade pode ser mais fraterna e solidária, permitindo-se a desnecessidade do sistema punitivo. O viés marxista do abolicionismo entende o sistema penal como instrumento repressor e como modo de ocultar os conflitos sociais. A matriz liberal/cristã trata do conceito de solidariedade orgânica: “em oposição ao sistema anômico, construído pelas sociedades repressivas, seria criado um sistema eunômico, em que os homens se ocupariam de seus próprios conflitos”. (Shecaira, 2004, p. 347). 41

Os abolicionistas elencam inúmeras razões para abolir o sistema penal. Destaco aqui, especialmente, aquela que sublinha que o sistema penal é uma máquina construída para produzir dor inutilmente. A execução da pena produz sofrimento, dor moral e física, tanto para o condenado quanto para sua família. (Shecaira, 2004). Obviamente, há inúmeras críticas dos mais conservadores às ideias abolicionistas, consideradas radicais e utópicas ao defenderem o fim do sistema penal e penitenciário. As posturas conservadoras, típicas da Criminologia Positivista – focadas na etiologia do crime – apenas propõem reformas estruturais que venham a possibilitar a regeneração do preso e sua adaptação ao meio social após o cumprimento da pena, mas sempre galgados na imposição de disciplina e no governo do outro. Luigi Ferrajoli (2006), teórico italiano que defende a existência e a permanência do Direito Penal e do cárcere (Política Criminal Minimalista ou Política Criminal Garantista), mas sempre com intervenção mínima e atuando somente em casos de extrema necessidade, diante da inoperância de todos os outros tipos de sanções jurídicas, por exemplo, considera o abolicionismo uma “utopia regressiva”, com base na ilusão de uma “sociedade boa” ou de um “estado bom”. Torna-se imperioso transcrever uma das críticas expendidas por Ferrajoli (2006), ao movimento abolicionista:

Moralismo utopista e nostalgia regressiva por modelos arcaicos e “tradicionais” de comunidades sem direito, constituem, por derradeiro, também os traços característicos do atual abolicionismo penal, pouco original em relação à tradição anárquica e holística. Abolicionistas como Louk Hulsman, Henry Bianchi e Nils Christie repropõem as mesmas teses do abolicionismo anárquico do século XIX, oscilando – na configuração das alternativas ao direito penal, que, por si só constitui uma técnica de regulamentação e de delimitação da violência punitiva – entre improváveis projetos de microcosmos sociais fundados na solidariedade e na irmandade, vagos objetivos de “reapropriação social” dos conflitos entre ofensores e vítimas e Métodos primitivos de composição patrimonial das ofensas, com a agravante, se comparado ao abolicionismo clássico, de possuir uma maior incoerência entre pars destruens e pars construens do projeto sustentado e de uma maior e imperdoável desatenção às tristes experiências, inclusive contemporâneas, de crise e desatualização do Direito Penal. (Ferrajoli, 2006, p. 234)

Não obstante todas as críticas dispensadas ao abolicionismo, relevante é a sua reflexão. Destaco, inclusive, que o movimento abolicionista e a teoria minimalista ou garantista não possuem ideias tão contraditórias e excludentes entre si. Ao contrário, alguns pensamentos minimalistas e abolicionistas podem ser aplicados para conter a violência estatal e proteger os direitos humanos. 42

Os modelos minimalistas são vistos ora como um fim – minimalismo-fim – a ser atingido (Ferrajoli, 2006) ou são colocados como meio – minimalismo-meio. (Baratta, 2002; Zaffaroni, 1991). O minimalismo-meio parte da aceitação da deslegitimação do sistema penal, concebida como uma crise estrutural irreversível. Assume postulados abolicionistas porque não vislumbra possibilidade de relegitimação do sistema penal, a médio ou longo prazo, o que é possível na visão de Ferrajoli (2006), que defende o minimalismo como um fim. Na verdade, trata-se o minimalismo-meio de estratégias de curto e médio prazo de transição para o abolicionismo. De toda sorte, as correntes criminológicas radicais, embora críticas e abolicionistas, muitas vezes vislumbram uma fase minimalista do sistema penal como transição até a possibilidade de sua abolição. Nessa perspectiva, ao conceito de ressocialização e tratamento, defendido pelas correntes criminológicas da criminologia do consenso, opõe-se o conceito de reintegração social, que propõe, segundo Alessandro Baratta (2002), a “abertura de um processo de comunicação e interação entre a prisão e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos se reconheçam na sociedade e esta, por sua vez, se reconheça na prisão”. (Baratta, 2002, p. 3). Baratta (2002), que vê no minimalismo um meio estratégico para se alcançar o abolicionismo, ainda afirma que “a melhor prisão é, sem dúvida, a que não existe” (Baratta, 2002, p. 2) e que “existem algumas piores do que outras” (Baratta, 2002, p. 2). O autor acrescenta, ainda, que, embora limitada em si mesma no que concerne ao seu propósito, a prisão deve ser o menos prejudicial e mais humana possível, pois para o autor, “não se pode conseguir a reintegração social do sentenciado através do cumprimento da pena, entretanto se deve buscá- la apesar dela; ou seja, tornando menos precárias as condições de vida no cárcere, condições essas que dificultam o alcance dessa reintegração”. (Baratta, 2002, p. 2). O Método APAC, portanto, representa um modelo minimalista, embora não esteja atrelado, em termos de concepção, à possibilidade de extinção do cárcere.

3.3 A distância entre o ideal ressocializador e o resultado ressocializante

Considerando que o discurso científico conservador e legitimador da prisão é o discurso da ressocialização, ou ainda o da reintegração social, compartilhando ambas as concepções das posições teórico-científicas prevencionistas, preciso ressaltar que a prisão não tem realizado a reintegração social a que se propõe, nos moldes em que é executada. Por outro lado, o Método APAC se diferencia tanto em termos de como atua – baixa vigilância e constrição física – quanto do resultado alcançado – baixo índice de reincidência. 43

Não há pesquisas que permitam medir a reinserção social. Trata-se de um conceito bastante fluido e abstrato. Atualmente, a única forma de aferir o impacto de uma intervenção voltada à reinserção social é observar se o indivíduo voltou ou não à prática criminosa. Assim, a medida utilizada, na prática, para avaliar a ressocialização é o índice de reincidência. Em termos conceituais, Julião (2009), baseado nas construções de Pinatel (1984), sugere diferenciar quatro tipos de reincidência: a) reincidência genérica, que se configura quando o mesmo indivíduo pratica em oportunidades diferentes mais de um ato criminal, independentemente de condenação, ou mesmo autuação, em ambos os casos; b) reincidência legal, cujo conceito deriva da legislação e se conforma com a condenação judicial por novo crime até cinco anos após a extinção da pena anterior; c) reincidência penitenciária, que é a situação em que um indivíduo que já foi submetido à prisão pela condenação (egresso) retorna ao sistema penitenciário para o cumprimento de outra pena de prisão, por fato diferente; e d) reincidência criminal, quando há mais de uma condenação, independentemente do prazo legal de cinco anos. Obviamente, e conforme ressalta Julião (2009), a mensuração da reincidência ganha diferentes contornos metodológicos, dependendo do tipo de conceito que se assume. Para este trabalho, assumo o conceito usado no Relatório de Pesquisa de Reincidência Criminal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2015) cujos dados considero mais atualizados, além do fato de que eles se baseiam no conceito de reincidência legal. Embora reconheça que, em um primeiro olhar, o conceito reincidência penitenciária seja o mais adequado para uma pesquisa que se volta a reflexões específicas sobre a gestão do sistema carcerário, preocupam-me todas as incertezas que sua utilização possa gerar para a pesquisa, por exemplo, a circunstância de que o índice de reincidência carcerária não considera como reincidentes os condenados pela segunda vez a outras penas diversas da prisão, ou mesmo quando consideramos que o réu primário ainda não possa ter reincidido porque não voltou à vida social, entre outras ponderações, todas assinaladas por Pinatel (1984). Não obstante, posso ainda citar alguns trabalhos nacionais que buscaram identificar índices de reincidência penitenciária tais como as pesquisas de Adorno e Bordini (1989), que chegaram a um índice de 46,03%, e Lemgruber (1999), que apontou um índice de reincidência penitenciária de 30,7%.8

8 O Relatório de Pesquisa de Reincidência Criminal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2015) aponta, ainda, que o índice de 70% de reincidência criminal no Brasil, divulgado pelo Ministro Cesar Peruso, então presidente Conselho Nacional de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, em 2011, tratar-se-ia de um índice derivado de um conceito muito amplo. O mesmo relatório menciona o índice de 70% apurado pela CPI do Sistema 44

De toda sorte, tomo, por fim, os dados constantes do Relatório de Pesquisa de Reincidência Criminal do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2015), hoje considerado documento oficial e produzido sob o patrocínio e apoio do Conselho Nacional de Justiça, para destacar que o Brasil chegou a um patamar médio de 24,4% de reincidência criminal. Tal índice foi derivado de uma média ponderada realizada em alguns estados específicos (Alagoas, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro), observando-se uma amostra de 817 condenados, o que, quando se considera o total da população prisional brasileira, inviabiliza a possibilidade de generalização do índice encontrado na pesquisa, que não se utilizou de uma amostra probabilística. Por outro lado, o Estudio Comparativo de Población Carcelaria, apresentado pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento Humano – PNUD (2013), apontou o índice de reincidência para o Brasil de 47,4 % entre homens e 30,1 % entre as mulheres. A existência de reincidência significativa no sistema carcerário que propõe a reintegração social já indica que a execução penal não atende os fins propostos a ela de maneira satisfatória. Os que voltam a praticar crimes certamente não foram socialmente reintegrados porque demonstram com isso não comungar dos valores sociais vigentes, considerando o conceito de reintegração social já mencionado por Alessandro Baratta e anteriormente exposto. (Baratta, 2002). Desta forma, concluo que há uma larga discrepância entre o discurso científico tradicional do Direito Penal, que fundamenta a pena na reintegração social do indivíduo, e a maneira como a execução da sanção penal efetivamente opera. Basta imaginar que com os índices apresentados – tanto pelo IPEA quanto pelo PNUD – há uma população que segue sendo institucionalizada e reinstitucionalizada ao longo de sua existência, ao sair do sistema carcerário e logo depois regressar ao mesmo sistema. A prisão é imposta ao corpo do ser humano com um propósito anunciado e assumido pela legislação nacional e internacional. Só se admite a prisão de um ser humano a partir de situações reguladas, justificadas e previstas na legislação, com base em parâmetros definidos. O arcabouço jurídico é bastante amplo e se distribui entre tratados e convenções internacionais, Constituições dos diferentes países – no caso brasileiro, a Constituição de 1988 – e legislações internas – que, no caso brasileiro, é a Lei n. 7210/84, denominada Lei de Execução Penal, a qual doravante chamaremos de LEP.

Carcerário, finalizada em 2008, mas considera que as informações derivaram de dados disponibilizados pelos próprios presídios, sem a adoção de bases científicas seguras.

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A LEP reproduz nas normas internas brasileiras os parâmetros delineados pela Constituição de 1988 e pelas convenções internacionais que tratam do assunto, quais sejam a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque. Tais parâmetros estão ligados aos princípios da humanidade das penas, à vedação das sanções de escravidão, banimento, trabalhos forçados, de morte, além de obrigar que a execução da prisão se atenha apenas ao cerceamento da liberdade de locomoção da pessoa, mantendo-se íntegros todos os direitos inerentes à sua dignidade. Considerando-se o índice de reincidência atual e toda a problematização política, social, jurídica e criminológica delineada, sem dúvida, concluo que a pena de prisão, na forma tradicional como é executada, não alcança a reintegração social, que é o “grande baluarte” usado para justificar a existência da prisão, ao menos em tese. Assim, seguir aplicando a pena privativa de liberdade na forma tradicional, diante dos índices de reincidência alarmantes e do crescimento estarrecedor da população carcerária, sem buscar soluções e alternativas, beira a perversão. Nesse contexto, o estudo da APAC ganha relevância ainda maior, principalmente pelo fato de que seu melhor resultado, no que se refere à taxa de reincidência e a uma forma mais humanizada de cárcere, deve-se a um Método de gestão, ou seja, à Administração, e não ao Direito.

3.4 A APAC e o desafio para a Administração: uma contribuição para a Gestão de Pessoas

A legislação penal é a mesma para todo o território nacional. Responder por qual razão no Método APAC o índice de reincidência é menor exige que a discussão saia do campo de uma ciência normativa, voltada ao estudo da legislação e de sua interpretação. Proponho aqui uma abordagem analítico-descritiva, focalizada em refletir sobre como as relações entre o indivíduo preso e a organização prisional se configuram no Método APAC. Busco o “como” se desenvolve esta intervenção estatal diferenciada que alcança índices de reincidência menores e que ao mesmo tempo parte de bases mais humanizadas. Por isso, a pesquisa se localiza na seara da Administração, que certamente é o campo de conhecimento que me permite analisar como ocorre o direcionamento de pessoas presas no Método APAC para que a prisão alcance a meta de redução de reincidência. Para tratar da gestão de pessoas encarceradas como objeto de estudo no âmbito de uma tese de Doutorado em Administração é necessário abarcar a experiência da Gestão de Pessoas 46

nesses estabelecimentos prisionais que surgem apenas no século XX como forma de organização que se apresenta como inovadora em suas práticas de gerenciamento (APACs). Considero que a diferença nos índices de reincidência entre os estabelecimentos prisionais que aplicam o Método APAC e os demais está não na regulamentação da execução penal, mas na sua prática cotidiana dentro das unidades, na forma como ela é implementada enquanto procedimento concatenado de atos, com distribuição de tarefas e organização de funções, visando alcançar um objetivo final. Quando quis tratar do tema da prisãoa partir do campo discursivo da Administração, foi também uma escolha pessoal buscar refletir no campo da gestão de pessoas, porque já ao primeiro contato com a organização, percebi claramente que havia uma maneira diferente no âmbito da APAC de lidar com os seres humanos que ali estavam em cumprimento de pena. Enquanto que no estabelecimento prisional “tradicional” não há nenhum tipo de protagonismo do preso, mais próximo de um insumo em todo processo do que propriamente de um sujeito, na APAC há um real e efetivo papel ativo atribuído ao recluso. Na gestão das APAC’s o preso desempenha papel preponderante em todo o processo – para além de aceitar passivamente a disciplina de seu corpo, com o qual o Estado que executa a pena é extremamente preocupado nos estabelecimentos “tradicionais”. Nas APAC’s, o preso é gerenciado, é motivado. Há meritocracia, comprometimento com a “casa”, trabalho em equipe, e digo isso não apenas em relação aos colaboradores que lá desenvolvem atividades com vínculo empregatício, mas também em relação ao colaborador voluntário. Sem dúvida alguma, as práticas de gestão de pessoas na organização APAC se desenvolvem tendo em vista a gestão da pessoa do preso, que no contexto discursivo da APAC recebe o nome de “recuperando”. A forma como é efetuada a gestão desse indivíduo, que está preso, mas que detém a chave do seu próprio cárcere e raramente pensa em fugir, que se mantém calmo e pacífico num ambiente sem uso de armas, algemas, sprays de pimenta ou qualquer outro tipo de artefato e ainda colabora para um ambiente que não demanda qualquer tipo de vigilância externa humana e ostensiva (agentes carcerários, policiais ou similares) é, no mínimo, intrigante do ponto de vista da Gestão de Pessoas. Se no ambiente carcerário da APAC a disciplina da Gestão das Pessoas que ali se encontra é elevada a uma categoria diferente, refletir sobre a APAC vai mesmo além de tentar vislumbrar a “fórmula” para a redução de índices de reincidência, mas buscar identificar o que acontece na Gestão de Pessoas no que tange à organização, especialmente considerando que acontece sem a vigilância, a disciplina e a contenção num ambiente em que sempre foram 47

consideradas absolutamente necessárias, haja vista a supressão da liberdade de locomoção do preso.

3.5 A produção científica em matéria de gestão prisional

Se o trabalho se propõe a refletir sobre a gestão no ambiente prisional, é natural que eu buscasse identificar o que tem sido produzido quando o objeto de estudo são as organizações carcerárias. Não desejava realizar um levantamento bibliográfico que tratasse de temas já tão explorados e limitados a denunciar a situação atual da execução penal e da prisão no Brasil – falta de estrutura material das prisões, impunidade crescente, necessidade de mudanças na legislação, ausência de oportunidades econômicas aos indivíduos após cumprirem sua pena etc. Certamente concordo com alguns desses aspectos, mas este não é o foco da presente reflexão. Os levantamentos foram efetuados nas bases de dados EBSCO, Web of Science e Escopus/Elsevier, e Portal de Periódicos CAPES, utilizando como critérios de busca os termos prison e management, conjuntamente. Foram encontradas, no total, 1393 produções, desde 2010, entre artigos, publicações em anais de congressos, conferências e livros, sendo apenas cinco na base EBSCO, 312 na base Web of Science, 204 na base de dados Escopus/Elsevier, 832 no Portal de Periódicos CAPES (neste caso apenas usando o vocábulo prison) e 40 no Portal Spell, neste último sem limitação quanto ao critério temporal. Muitos dos artigos encontrados se repetem, obviamente, por isso o contingente de 1393 produções não é real, haja vista a coincidência de publicações entre as diferentes bases, o que reduz significativamente o número de trabalhos.9

9 No grupo de artigos encontrados, verifiquei uma multiplicidade de temas, apresentados a seguir de forma meramente exemplificativa, a fim de elucidar as diferentes nuances da produção acadêmica encontrada: a) história de estabelecimentos prisionais (BRETSCHNEIDER, 2011; BONDON-BRUZEL, 2013; Chantraine, 2010; Newman, 2013; Schulman, 2014; O’Neil, 2012; Chwang, 2011); b) superpopulação carcerária e abordagem geral de desafios da execução penal (Adorno, 1991; Sequeira, 2006; Wacquant, 2008; Dias, 2011; Fu et al., 2011; Cho, 2012; Cooke & Johnstone, 2012; Wacquant, 2012; Spencer, 2012; Stuart & Milloy, 2011; Whitty, 2011; Cabral & Saussier., 2013; Sinhoretto, Silvestre e Lins de Melo, 2013; Cliquennois & Champetier, 2013; Lee, 2013; Chies, 2013; Gendreau, Listwan, Kuhns & Exum., 2014); c) estudos na área da saúde aplicados ao ambiente e à população penitenciários (Kamath et al., 2013; Osuna, Lopez-Martinez & Vasquez, 2014; Usher, Stewart & Wilton, 2011; Gazdag, Horvath, Szabo & Ungvari, 2010; Valera, Cook, Darout & Dumont, 2014; De La Fuente el al., 2009; Guin, 2009; Bodon-Bruzel, 2010; Emeraud, 2010; Chakrapani, Kamei & Kipgen, 2013; Hurd, Valerio, Garcia & Scotti, 2010; Munns, Samora & Granger, 2013; Booker et al., 2013; Fu et al., 2013; Meyer et al., 2014; Lasnier et al., 2011; Menezes et al., 2013; Drennnan, Goodman, Norton & Wells,2010; Imperial, 2010; Donahue, 2014; Redmond, et al.,2014; Unver , Yuce, Bayram & Bilgel, 2013; Englebert, 2013; Dell’isola et al.;, 2013; Binghan, 2012; Wolff, Fabrikant & Schumann, 2012; Miller, Tillyer & Miller, 2012; Jarde & Gignon, 2012; Motshabi, Pengpid & Peltzer, 2011; Dolan & Larney, 2010; Van Den Bergh & Gatherer, 2010; Arcuri, 2010; Awofeso, 2010; Moraes, 2006); d) análises e modelos de gestão (Rogge, Simper, Verschelde & Hall; Osterne & Miranda, 2014; Swal, 2013; Marcoux, Simeone, Colavita & Larrat, 2012; Hancock & Raeside, 2010; Bravo-Yanez & Jimenez- 48

Primeiramente, percebi que os textos de produção nacional possuem um foco maior nas questões gerais ligadas ao abandono político e social da questão penitenciária (Tavares & Menandro, 2008; Almeida & Paes-Machado, 2013; Chies, 2013). Merece destaque uma produção clássica de Sérgio Adorno (1991) que, além de inovar metodologicamente, ao partir da escuta do preso e da análise das histórias de vida – ao contrário das metodologias tradicionalmente concentradas na análise de documentos – traduz uma preocupação com o estudo da reincidência. Em termos metodológicos, destaco também a produção de Natália Padovani (2013), que se utiliza da análise de cartas de autoria de presas brasileiras na Espanha e presas espanholas no Brasil, também para analisar o sistema a partir das histórias de vida. Conforme destaca Luiz Antônio Chies (2013), a partir da publicação do clássico da literatura criminológica brasileira A questão carcerária, de autoria de Augusto Thompson (1976), o tema foi redimensionado num olhar mais crítico do ponto de vista criminológico. A produção bibliográfica internacional, além de ser composta de inúmeras publicações envolvendo pesquisas na área de saúde e aplicadas à população carcerária, apresenta também, de forma marcante, trabalhos voltados à saúde mental dos presos, alguns deles traçando associações entre doenças mentais e criminosos: o crime relacionado à doença, o criminoso, ao

Figueroa, 2012; De Marcos, 2012; Arriagada, 2013; Hillairet & Pontier, 2012; English & Baxter, 2010; Lambert et al., 2012; Harding, 2012; Jing, 2010; Cook & Lane, 2014;; Kim & Price, 2014; Sallee & Chantraine, 2014; Tomazevic, Seljak & Aristovnik, 2014; Mediouni, Steffen & Becour, 2013; Morin, 2013; Park, 2013; Barcinski, Altenbernd & Campani, 2014), Inclusive Com Análises Econômicas (Zhang, Roberts & McCollister, 2009; Mehta, Chan & Cohen, 2014; Hicks, 2012; Cashmore, Indig, Hampton, Hegney &Jalaludin, 2012; Doyle & Logan, 2012; Choi, 2012; Huh, 2012; Park, 2011; Yoon, 2010) e Arquitetura Do Estabelecimento Prisional (Song, 2014); e) gerenciamento da pena para prisioneiros idosos e envelhecimento da população carcerária (Sumner, 2010; Gervais et al., 2010; Hayes, Burns, Turnbull & Shaw, 2012; Hayes, Burns, Turnbull & Shaw, 2013; Ahalt et al., 2013; Walsh, Forsyth, Senior, O’Hara & Shaw, 2014 );f) gestão do atendimento de saúde no estabelecimento carcerário (Reeves et al., 2014; Pearce, 2012; Garcia Guerrero, 2011; Zulaika et al., 2012; Del Busto De Prado & Jativa Quiroga, 2011; Mills, 2014; Le Bianic, 2011; Mejia-Ortega, Hernandez-Pacheco & Nieto-Lopez, 2011; May, Joseph, Pape & Binswranger, 2010; McDonald, Stevens & Strauss, 2013; Mcinerney et al., 2013); g) exploração de aspectos que possam contribuir para aumentar ou para reduzir o risco de condutas criminosas, do ponto de vista dos fatores individuais (Wilson, Prescott & Burns, 2014; Wright, Van Vorrhis, Salisbury & Bauman, 2012; LeBel, 2012; Howard & Dixon, 2012; Stromwall & Willem, 2011; Fitzpatrick & Myrstol , 2011; Griffin & Hepburn, 2014; Gonçalves, Gonçalves, Martins & Dirkwager, 2014; Piccolino & Solberg, 2014; Gordon, Donnelly & Williams, 2014; Ball et al, 2013; Gannon et al., 2013; Makarios & Latessa, 2013; McDougall, Pearson, Willoughby & Bowles, 2013; Hollins, 2010; Roh, 2010; Sequeira, 2009); h) trabalhos que associam doenças psiquiátricas à pratica de comportamentos criminosos (Chen, Chen & Hung, 2014; Goldstein et al., 2009; Hean, Heaslip, Warr, Bell & Staddon, 2010; Ghanizadeh, Mohaammadi, Akhondzadeh & Sanaei-Zadeh, 2011; Senior et al., 2013; Booth & Gulati, 2014) e outros que tratam do tratamento de saúde mental especificamente para a população carcerária (Arroyo-Cobo, 2011; Nakatani, 2011; Mcintosh, Todd, Swanson & Youngquist, 2010; Kavanagh et al., 2010; Lennox et al., 2012; Ostermann, 2014; Rezansoff et al, 2013; Andreu Rodriguez, Grana Gomez & Pena Fernandez, 2013; Beach et al, 2013; Derkzen, Booth, Taylor & McConnell, 2013); i) artigos envolvendo a temática de prevenção de crimes e execução penal para criminosos sexuais (Lacombe, 2013; Lussier, Deslauriers-Varin & Ratel, 2010; Chen, Chen & Hung, 2014; Bates, William e Wilson, 2014; Russel, Seymour & Lambie, 2013; Yesberg & Polaschek, 2014; Glaser et al., 2011; Ware, Frost & Hoy, 2010; Lamade, Gabriel & Prentky, 2011; Wilson et al., 2013; Han, Lu & Li, 2013; Haninyoung, 2011; Jesus, 2006).

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doente. (Goldstein et al., 2009; Hean et al., 2010; Ghanizadeh et al., 2011; Senior et al., 2013; Booth, 2014). Os textos que tratam da gestão carcerária, e até mesmo da gestão da saúde na prisão, tomam por base a visão dos funcionários dessas unidades ou tratam de questões ligadas aos modelos de gestão mais eficientes, como, por exemplo, os de orientação gerencialista que abordam a privatização dos presídios. (Kim & Price, 2014; English, 2013). Por outro lado, percebi, embora em uma menor quantidade, publicações que tratam de diferentes técnicas que colocam o foco de sua pesquisa no sujeito preso, historicamente tratado como objeto. Há experiências narradas em estudos do levantamento bibliográfico que exemplificam medidas e iniciativas que colaboram para a reintegração social, porém a partir da promoção do empoderamento do indivíduo submetido à prisão. Para que eu pudesse me certificar da existência de publicações científicas sobre a APAC, foram consultadas as bases já utilizadas, desta vez com os critérios de busca utilizando os termos prison e management, tendo sido identificado um único documento, de caráter meramente descritivo do Método APAC. (Vargas, 2009). Tal documento foi selecionado pela ferramenta em razão de possuir no título a expressão “gestão carcerária”, porque entende que o Método APAC seja um Método alternativo de gestão da prisão.10 Ainda acrescento que as publicações encontradas e que versavam sobre a Administração e o cárcere podem ser divididas em dois grupos principais: a) as que tratam da Gestão de Pessoas na prisão, mas na perspectiva dos colaboradores que laboram no ambiente prisional. O foco nesta caso eram pessoas envolvidas no cuidado com os presos, nos processos de segurança e

10 Na mesma pesquisa bibliográfica logrei identificar publicações que servem ao objetivo específico da pesquisa de compreender a relação teórica entre as práticas de reintegração social utilizadas na execução penal. A partir da leitura dos resumos e palavras-chave de cada um dos artigos, selecionei o total de 67 trabalhos, que na minha visão tratam da prisão sob a ótica do sujeito preso e de sua autodeterminação no ambiente prisional: a) Subjetividade e diversidade: Appelbaum et al., 2011; Barker, Kolves & De Leo, 2014; Black et al., 2011; De Viggiani, 2012; LeBel, 2012; Moran, Pallot & Piacentini, 2014; Pemberton, 2014; Wright, Van Voorhis, Salibury & Bauman, 2012; Padovani, 2013; Adorno, 1991; b) Estudo de programas específicas desenvolvidas na prisão: Awofeso & Naoum, 2002; Blanc, Lauwers, Telmon & Rougei, 2001; Bowe, 2011; Burdon, De Lore & Prendergast, 2011; Breiner, Tuomisto, Bouyea, Gussak & Aufderheide, 2012; Cunningham & Sorensen, 2006; Fricke, 2013; Harkins et al., 2011; Henley, Caufield, Wilson & Wilkinson, 2012; Huh,2011; Jacob & Stover, 2000; Jurgens, 2004; Ward & Bailet, 2013; Winterdyk & Rudell, 2010; Soares, Félix-Silva & Figueró eti ali, 2014; c) Participação, comunicação e disciplina: Ahonen & Tienari, 2009; Awofeso, 2004; Cerrato, 2014; Fortune & Whyte, 2011; Gendreau, Listwan, Kuhns & Exum, 2014; Hangcock & Raeside, 2010; Kim &, Price, 2014; Leclercq- Vandelannoitte, 2013; Martel, Brassard & Jaccoud, 2011; Nielsen, 2011; Pallot, 2005; Rhodes, 2001; Wacquant, 2010; Schlosser, 2013; Ugelvik, 2011; Welch, 2011; Welch, 2010; Welch, 2009; Barcinski, Altenbernd & Campani, 2014; d) Redução de Reincidência: Chintakrindi et al, 2013; Duwe, 2012; Hancock & Raeside, 2009; Harding, Wyse, Dobson & Morenoff eti ali, 2014; Lennox et al., 2012; Liu & Chui, 2013; Mariño, 2002; Marquart & Sorensen, 1988; Matthews, 2011; Mcrae, 2013; Peersen, Sigurdsson, Gudjosson & Gretarssoni, 2004; Reidy, Cunningham & Sorensen, 2001;e) Cuidado de si: Cobb & Farrants, 2014; Crane, Knights & Starkey, 2008; Deslandes, 2012; El-Khoury, 2012; Hassan, Weston, Senior & Shaw, 2012; Morris, Longmire, Buffington-Vollum & Vollum, 2010; Smith, 2004; Walsh, Freshwater & Fisher., 2013. 50

demais processos administrativos típicos de uma prisão; e b) as que consideram a pessoa do preso na perspectiva de apenas um insumo ou um elemento da gestão da prisão. Nesta perspectiva, vários artigos tratam do preso como um elemento avariado por doenças, abordam tratamentos de saúde e algumas vezes o situam como população de experimentos da área de saúde. Em nenhuma das produções bibliográficas identifiquei a preocupação em analisar as maneiras pelas quais estas pessoas são envolvidas no dia a dia da gestão da organização “prisão”. Desta forma, percebi que havia uma lacuna em termos de reflexão sobre a Gestão de Pessoas presas na organização prisional e este é um importante aspecto de originalidade deste trabalho.

3.6 Gestão de Pessoas e Gestão dos Corpos: Michel Foucault

Quando pensamos sobre construções críticas à prisão, extrapolando as taxonomias positivistas que dividem os diferentes campos do saber, foi imperioso escolher refletir sobre o assunto por intermédio do trabalho de Michel Foucault. A obra Vigiar e Punir, cuja primeira edição data de 1975, traduz importantes reflexões do autor francês acerca do tema prisão. Em outros momentos, tais como em Ditos e Escritos VIII – Segurança, Penalidade e Prisão (2012), bem como nas conferências IV e V da obra A verdade e as formas jurídicas (2002), o autor também se expressa de forma bastante contundente acerca de seu posicionamento sobre o tema. Primeiramente, é preciso dizer que Foucault se envolveu diretamente na militância política em face da situação das prisões francesas, ao compor e dirigir o denominado Groupe d’information sur les (GIP), fundado nos anos 1970. O trabalho do GIP era, além dar voz e fala aos detentos, tradicionalmente excluídos de qualquer levantamento ou coleta de informações acerca das prisões francesas da época, propiciar a circulação de informações verdadeiras e claras sobre as atrocidades do sistema penal. Uma das funções do GIP, portanto, era demonstrar que uma teoria sobre as prisões poderia partir dos presos, ao invés de constituir exclusividade de um grupo de cientistas, autores do discurso científico do cárcere. (Veyne, 2008). Posteriormente, após a autodissolução do GIP, em 1972, Michel Foucault, juntamente com Serge Livrozet11, fundou o Comité d'action des prisonniers (CAP). O grupo era uma

11 Serge Livrozet (1972) era um escritor francês que foi repetidamente condenado por assalto e, após deixar definitivamente a prisão em 1972, escreveu seu primeiro livro Da prisão à Revolta (De la prison à la revolte). 51

associação formada por presos e ex-detentos que defendia a abolição da prisão e se mostrava com militância forte. Além de ter produzido mais de 67 edições do Jornal do Prisioneiro, o grupo foi responsável por conquistas como a liberação de acesso gratuito para os detentos a rádio e imprensa e a liberdade de correspondência como garantia ao executado. O grupo também defendia a liberdade de associação para os presos, direito que até os dias atuais lhes é negado, inclusive no Brasil. Após a morte de Foucault, em 1984, o grupo se dissolveu. Portanto, além de teorizar sobre a prisão, Foucault (2012) ostensivamente se colocou contra ela, ressaltando, inclusive, a questão da alta reincidência: “O aspecto mais contraditório do sistema penal é a coexistência das prisões – cuja ineficácia está mais do que provada, pois, pelo menos na França, sabe-se que há mais de 150 anos que todos os que saem da prisão recomeçam fatalmente a cometer delitos.” (Foucault, 2012, p. 20). A frase de Foucault, proferida em 1974 numa entrevista compilada e publicada no Jornal do Brasil, também em 1974, na edição de 12 de novembro, parece ter saído da edição desta semana. Foucault (2012) aponta o aspecto contraditório da permanência das prisões no seio da sociedade das prisões, contradição que ele mesmo faz questão de desfazer, da maneira irônica e ácida que lhe é tão peculiar, quando, na entrevista ao Le Monde, afirma: “Há dois séculos se diz: ‘A prisão fracassa, já que ela fabrica delinquentes’. Eu diria, de preferência: ‘Ela é bem- sucedida, pois é isso que lhe pedem’.” (Foucault, 2012, p. 33). Foucault (2012) desnuda o discurso científico reformista de legitimação da prisão e aponta para a circunstância de que, ao acabar com os rituais de suplício público e promover a humanização das penas, o sistema político e social, apoiado pelo discurso científico do Direito, promove uma sofisticação do sistema punitivo que, ao lado da Psicologia e da Psiquiatria, conforme se expressa o próprio Foucault (2012), é o “álibi atrás do qual, no fundo, se manterá o mesmo sistema”. (Foucault, 2012, p. 34). A referida sofisticação do sistema punitivo decorre do uso de ferramentas de imposição de disciplina e de dominação, traduzidas na utilização de uma tecnologia de poder apurada e que incide sobre os corpos a fim de criar um microambiente delinquente, isolado do resto da sociedade, em que a única alternativa é se tornar, de fato, delinquente. Esse microambiente é habitado por pessoas desprezadas, temidas, alijadas de voz e atuação política. Porém, após a morte precoce de Foucault em 1984, surge na realidade social uma possibilidade muito nova, consubstanciada na organização APAC, que aponta para novos

Conhecido por sua militância contra a pena de morte, abolição das prisões de segurança máxima e outras temáticas relativas à prisão. Disponível em: . Acesso em: 20 fev. 2016. 52

caminhos e experiências. Foucault não pôde visitar ou conhecer tal organização, pelo menos fisicamente, mas a análise empreendida neste trabalho certamente passará por sua obra.

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4 AS PRINCIPAIS CONSTRUÇÕES TEÓRICAS DE MICHEL FOUCAULT NA PERSPECTIVA DESTE TRABALHO

Neste capítulo, tratarei daquelas que reputo serem as principais construções teóricas de Michel Foucault no que tange às reflexões que possam efetivamente contribuir para o trabalho. Genealogia, conhecimento, poder, sujeito, disciplina, vigilância, poder pastoral e governamentalidade são os temas que nortearão a construção deste capítulo. Logo após, delinearei os objetivos da pesquisa.

4.1 Genealogia

No começo dos anos 1970, Foucault passa a usar o termo Genealogia, que aborda o processo por meio do qual se pode reencontrar e elucidar a descontinuidade, a singularidade, as rupturas e os acasos, cobertos pela visão tradicional da História que busca o ponto de origem para então formular um pensamento sobre o acontecimento na sua singularidade. A Genealogia, portanto, requer a atenção aos detalhes, renunciando à busca da origem12. (Foucault, 2013b). Foucault (2014) acusa a existência de saberes dominados, que são conteúdos históricos sepultados e disfarçados em coerências funcionais; ou saberes considerados de segunda categoria, desqualificados ou abaixo do nível de cientificidade requerido. A Genealogia é um empreendimento para libertar da sujeição os saberes históricos, tornando-os capazes de resistir à coerção do discurso unitário, formal, científico. Ela deduz da contingência que nos fez o que somos a possibilidade de não mais ser13.

12 Do original: “Faire la généalogie des valeurs, de la morale, de l'ascétisme, de la connaissance ne sera donc jamais partir à la quête de leur «origine», en négligeant comme inaccessibles tous les épisodes de l'histoire ; ce sera au contraire s'attarder aux méticulosités et aux hasards des commencements ; prêter une attention scrupuleuse à leur dérisoire méchanceté ; s'attendre à les voir surgir, masques enfin baissés, avec le visage de l'autre ; ne pas avoir de pudeur à aller les chercher là où ils sont - en «fouillant les bas-fonds :» ; leur laisser le temps de remonter du labyrinthe où nulle vérité ne les a jamais tenus sous sa garde. Le généalogiste a besoin de l'histoire pour conjurer la chimère de l'origine, un peu comme le bon philosophe a besoin du médecin pour conjurer l'ombre de l'âme. Il faut savoir reconnaître les événements de l'histoire, ses secousses, ses surprises, les chancelantes victoires, les défaites mal digérées, qui rendent compte des commencements, des atavismes et des hérédités ; comme il faut savoir diagnostiquer les maladies du corps, les états de faiblesse et d'énergie, ses fêlures et ses résistances pour juger de ce qu'est un discours philosophique. L'histoire, avec ses intensités, ses défaillances, ses fureurs secrètes, ses grandes agitations fiévreuses comme ses syncopes, c'est le corps même du devenir. Il faut être métaphysicien pour lui chercher une âme dans l'idéalité lointaine de l'origine”. (Nietzche, la généalogie, l’historie, Hommage à Jean Jyppolite, Paris, P.U.F., coll. “Épiméthée, 1971, pp. 145-172. Disponível em: . Acesso em: 16 abr. 2016. 13 Do original: “La généalogie, ce serait donc, par rapport au projet d'une inscription des savoirs dans la hiérarchie du pouvoir propre à la science, une sorte d'entreprise pour désassujettir les savoirs historiques et les rendre libres, c'est-à-dire capables d'opposition et de lutte contre la coercition d'un discours théorique unitaire, formel et scientifique” Em Dits Ecrits tome III texte n. 193. O texto deriva de curso proferido em 7 de janeiro de 1976. Disponível em . Acesso em : 12 mar. 2017 54

A questão de todas as genealogias para Foucault é sempre o poder.14 E para Foucault, o poder não se reduz às relações econômicas – o que seria uma visão materialista de poder – mas é acima de tudo uma relação de força15. Conforme assinala Foucault (2014), o discurso contemporâneo entende predominantemente que o poder é repressivo. Porém, Foucault identifica um segundo sentido para poder, uma segunda possibilidade: para ele o poder, mais do que repressão, é dominação, como uma guerra prolongada por outros meios, mais sutis e suaves. Outrossim, registra Foucault (2004) que nas relações humanas há todo um conjunto de relações de poder que podem ser exercidas entre indivíduos, no seio de uma família, assim como em uma relação pedagógica, no corpo político. A relação de poder pode alcançar estados de dominação nos quais em vez de serem móveis e permitirem aos diferentes parceiros modificá-los, alcança-se um estado de cristalização. Quando um indivíduo ou um grupo social chega a bloquear um campo de relações de poder, a torná-las imóveis e fixas e a impedir qualquer reversibilidade do movimento – por instrumentos que tanto podem ser econômicos quanto políticos ou militares – estamos diante de um estado de dominação. Para Foucault (1979), toda relação humana é uma relação de poder, o que não significa que deva ser um estado de dominação, podendo ocorrer possibilidades de resistência. Para este trabalho, escolhi o uso da Genealogia de Foucault, por algumas razões que passo a expor. No intuito de validar esta escolha, efetuei o levantamento das principais fontes bibliográficas da área de Administração que se utilizam dos conceitos construídos e desenvolvidos pelo filósofo francês. Utilizei as bases de pesquisa Elsevier (Scopus), ISI (Web of Science) e EBSCO, e empreendi buscas a partir das palavras-chave “Foucault” e “Business”; “Foucault” e “Administration”; “Foucault” e “management”, tendo sido encontrados 1431 artigos, desde a

14 Do original: “L'enjeu de toutes ces généalogies, vous le connaissez, ai-je besoin de le préciser, est : qu'est-ce que ce pouvoir dont l'irruption, la force, le tranchant, l'absurdité sont concrètement apparus au cours de ces quarante dernières années, à la fois sur la ligne d'effondrement du nazisme et sur la ligne de recul du stalinisme ? Qu'est-ce que le pouvoir ?” Em Dits Ecrits tome III texte n. 193. O texto deriva de curso proferido em 7 de janeiro de 1976. Disponível em : . Acesso em : 22 fev. 2016. 15 Do original: “Pour faire une analyse non économique du pouvoir, de quoi, actuellement, dispose-t-on ? Je crois qu'on peut dire qu'on dispose vraiment de très peu de chose. On dispose d'abord de cette affirmation que le pouvoir ne se donne pas, ni ne s'échange, ni ne se reprend, mais qu'il s'exerce et qu'il n'existe qu'en acte. On dispose également de cette autre affirmation que le pouvoir n'est pas premièrement maintien et reconduction des relations économiques ; mais, en lui-même, primairement, un rapport de forces.” Em Dits Ecrits tome III texte n. 193. O texto deriva de curso proferido em 7 de janeiro de 1976. Disponível em : . Acesso em : 23 fev. 2016. 55

criação das respectivas bases, ou seja, em alguns casos desde a década de 1980. Dos 1431 artigos, que se situam nas diferentes áreas de conhecimento, 432 especificamente se localizam no âmbito da Administração, considerando-se os objetos de estudo tratados. Dos 432 artigos que tratam de objetos de estudo tradicionalmente localizados na área da Administração, 105 deles tratam de temáticas relacionadas à Gestão de Pessoas, a partir de uma leitura foucaultiana. A partir da leitura dos resumos de todos os artigos encontrados, decidi categorizá-los a partir da observação de quais eram os trabalhos que consideravam as temáticas na perspectiva do conceito de relações de poder. Os trabalhos que desenvolvem temas a partir dos conceitos de relações de poder tratam de temas como dominação, governamentalidade e processos de subjetivação. A listagem completa dos artigos se encontra no Apêndice A desta tese. No Apêndice B, também apresentamos a distribuição dos artigos ao longo dos anos. Há uma maior concentração de publicações a partir de 2005, o que demonstra que os estudos baseados em Foucault se desenvolveram mais recentemente. Quanto à autoria dos artigos, não posso afirmar que haja um autor que tenha se destacado por uma grande produção envolvendo as construções de Foucault, aplicando-as aos temas de Gestão de Pessoas. Identifiquei alguns autores como os que se destacam em número de artigos publicados. O número máximo de artigos publicados por autor é três. Nesse sentido, citem-se os teóricos Peter Kelly (2008), que se dedica na RMIT University, Austrália, ao estudo de Foucault e à interface com temas como educação, trabalho, juventude, entre outros; Aurelie Leclercq-Vandelannoite (2013), professora associada na IESEG School of Management, em Lille e Paris, França, que se dedica à pesquisa das organizações na perspectiva das pessoas, organizações e sistemas de informação. Dos 105 artigos coletados, 74 (70,5%) se desenvolvem em torno das temáticas ligadas às relações de poder, numa aproximação declarada com a fase genealógica, o que corrobora a afirmação de que as temáticas das relações de poder são muito mais abordadas pelos trabalhos. Os 10 artigos mais citados por outros textos acadêmicos constam no Apêndice C. No Apêndice D, constam os periódicos brasileiros citados nas bases, a partir dos parâmetros de levantamento escolhidos para este trabalho. Registro que, no Brasil, Paulo Roberto Motta (1981) realizou um trabalho de análise do poder disciplinar nas organizações que certamente foi e é memorável por seu pioneirismo. Recentemente, Motta & Silveira (2003) e Silveira (2005) realizaram um inventário sobre a utilização das obras de Foucault no âmbito da análise organizacional, que são aqui mencionados 56

por sua importância na produção científica nacional, mas que especificamente para o tema tratado não figura entre os trabalhos mencionados. Quanto à produção essencialmente brasileira, presente nas bases de dados Portal CAPES e Scielo, destaco as seguintes, obtidas pelo uso do critério de pesquisa “Foucault” e “Management”, e “Foucault” e “Organization” (podem ser consultados no Apêndice E da tese). A produção brasileira, por sua vez, situa-se essencialmente na área de Teoria das Organizações, o que demonstra a importância da investigação de Foucault para toda a Ciência da Administração e não somente para a seara de Gestão de Pessoas. Se comparada a outros campos de saber – como Ciências da Educação e Ciências da Saúde – a Administração ainda utiliza de forma tímida os conceitos de Foucault, e esta foi uma percepção pessoal, obtida ao longo das buscas que efetuei.

4.2 Conhecimento e Poder: “Disciplina” que gera “disciplina”

A Gestão de Pessoas nas organizações pode ser vista como um mecanismo que, atrelado aos demais aspectos tradicionais de gestão (marketing, finanças, estratégia, entre outros), colabora para que os objetivos organizacionais sejam alcançados. A Gestão de Pessoas contribui para que a organização possa ser ordenada e integrada. O elemento “colaborador” é selecionado, treinado, desenvolvido e avaliado ao longo de sua história dentro de uma organização. Tudo isso acontece com a aplicação de técnicas e a definição de normas que irão disciplinar o contrato de trabalho. A Gestão de Pessoas, portanto, é uma maneira de disciplinar o elemento humano no contexto das organizações. (Townley, 1983). No âmbito de suas abordagens sobre as relações entre “saber” e “poder”, realizadas a partir da década de 1970 especialmente, Foucault relaciona a Disciplina – conjunto de conhecimentos compartimentados e sistematizados considerado cientificamente válido – com a criação de disciplina – função que este corpo de saber exerce enquanto discurso capaz de ditar ordem e efeito de verdade (disciplina). Assim, a “disciplina é um princípio de controle da produção do discurso. Ela lhe fixa os limites pelo jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das regras”.16 (Foucault, 1999a, p.36). Enquanto Disciplina, sistematizada e ordenada, a Gestão de Pessoas reverbera seu

16 Do original: “La discipline est un principe de contrôle de la production du discours. Elle lui fixe des limites par le jeu d'une identité qui a la forme d'une réactualisation permanente des règles.” Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2016. 57

discurso de saber para se traduzir em práticas organizacionais que irão disciplinar o recurso humano de forma a melhor atingir os objetivos organizacionais. Não quero com isso afirmar que as práticas da gestão de pessoas sejam, de forma geral, execráveis ou condenáveis, por si mesmas. Com isso, quero somente destacar o ponto fundamental para que se possa compreender a relação entre a teoria foucaultiana e o pensamento científico em geral, inclusive para a Administração. De forma mais clara, afirmo que o discurso geralmente se organiza de uma certa maneira para atingir determinadas finalidades. A tal respeito, retomo duas importantes passagens de Foucault. Na primeira, ele analisa a pintura Las Meninas, de Velásquez, no primeiro capítulo de As palavras e as coisas, escrito em 1966. (Foucault, 1999b, p. 2-22). Nesta abordagem, Foucault mostra como a linguagem de uma pintura demonstra as relações sociais e políticas da época, a maneira como cada personagem lá colocado representa a disciplina social vigente e desejada para aqueles anos. A segunda passagem se encontra no prefácio de As palavras e as coisas (1999b) e faz menção a um texto do escritor Jorge Luis Borges, em que o literato descreveu uma certa enciclopédia chinesa que dividia os animais em

a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo, l) et cetera, m) que acabam de quebrar a bilha, n) que de longe parecem moscas. (Foucault, 1999b, Prefácio, p. IX).

Foucault, a partir de uma descrição biológica tão inusitada, reflete que toda classificação, taxonomia ou sistematização de conhecimento consubstancia

os códigos fundamentais de uma cultura — aqueles que regem sua linguagem, seus esquemas perceptivos, suas trocas, suas técnicas, seus valores, a hierarquia de suas práticas — fixam, logo de entrada, para cada homem, as ordens empíricas com as quais terá de lidar e nas quais se há de encontrar. (Foucault, 1999b, Prefácio, p. XVI).

Portanto, a indissociabilidade entre poder e conhecimento se traduz para este trabalho da seguinte forma: as técnicas de gerir pessoas que derivam do conhecimento decorrente da Disciplina Gestão de Pessoas são manifestações de poder. Conhecimento e poder estão integrados um ao outro. Não é possível exercitar o poder sem conhecimento e, de outro lado, é impossível para o conhecimento não produzir poder. (Foucault; Power/ Knowledge, 1980, p. 52). 58

Esta indissociabilidade acarreta duas importantes conclusões: 1) os mecanismos de poder são concomitantemente usados para formar e acumular conhecimento; 2) o poder possui capacidade de criar objetos de estudo. Assim, o poder não é negativo, ele é criativo. Afirma Foucault (2013) que

temos que deixar de descrever sempre os efeitos do poder em termos negativos: ele “exclui”, “reprime”, “recalca”, “censura”, “abstrai”, “mascara”, “esconde”. Na verdade, o poder produz; ele produz realidade; produz campos de objetos e rituais de verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nesta produção. (Foucault, 2013, p. 185).

Importante acrescentar que para Foucault o poder não é algo que possa ser adquirido, medido, dividido ou algo que possa ser tocado, algo tangível. O poder, na análise foucaultiana, é relacional e só se torna aparente quando é exercitado. Por isso, ele não aparece associado a uma instituição específica (família, Estado, empresa etc.), mas surge no contexto de práticas, técnicas e procedimentos. (Foucault, 1999c, p. 94). As práticas adotadas na gestão de pessoas refletem, a partir do conhecimento gerado pelo campo de saber, regramentos, procedimentos, símbolos, que são reflexo da relação de poder existente entre a organização e seus colaboradores. A Disciplina Gestão de Pessoas atende à necessidade de uma melhor definição do conteúdo do contrato de trabalho e da necessidade de sistematizar e de colocar teoricamente as práticas que eram ou ainda são tradicionalmente vistas como desarticuladas, ou que foram ou possam ser úteis e produtivas. (Townley, 1993). Portanto, a relação de trabalho surge no contexto discursivo da transação – o trabalhador entrega seu tempo e a empresa entrega o salário, porém existe uma margem de indefinição entre o que é acordado e o que é executado, em termos de alcançar resultados. Não basta que o indivíduo somente preste as horas de trabalho acordadas, é preciso que haja o resultado almejado pela organização. E, nesse sentido, o simples contrato assinado não garante resultados. No caso da relação de trabalho, a possibilidade de entregar o resultado desejado pela organização dependerá da relação de poder e do conhecimento que a organização detém sobre este trabalhador, para que sejam introduzidas as práticas de poder adequadas aos objetivos almejados.

4.3 O Sujeito e o Poder – criando o “colaborador” e o “recuperando”

Tomando o aspecto criativo do poder, afirmo que ele é capaz de criar subjetividades. Dito isso, a Gestão de Pessoas toma resultados que a organização quer alcançar e trabalha a 59

formação de um sujeito adequado a estes resultados. Em outras palavras: o colaborador, ou o empregado de uma determinada organização, não é simplesmente um elemento historicamente “posto”. Ele é um elemento constituído a partir da correlação entre poder e conhecimento. (Foucault, 1980, p. 98)17 Foucault afirmou que sua obra não é uma reflexão sobre o poder, mas uma reflexão sobre o sujeito.18 Para Foucault, o sujeito19 e sua subjetividade decorrem de um processo histórico de subjetivação. O sujeito, para Foucault, não é um sujeito neutro: ele é um sujeito historicizado, e todas as suas falas devem considerar o contexto de quem fala e de onde fala.20 Para Foucault, o sujeito é historicamente constituído e pode, numa época, tornar-se objeto de conhecimento científico e, em outro momento, tornar-se vivo, falante e trabalhador. O sujeito, portanto, é resultado de uma conjunção de relações de poder. Nesse sentido, quando Foucault (2000) postula a “morte do homem” quer dizer que é possível construirmos novas formas de subjetividade, novas formas de existência. (Foucault, 2000, p. 472) Quanto ao que Foucault entende como sujeito, afirma que existem dois significados para a palavra “sujeito”:

17 Este trecho citado é parte de um dos capítulos denominado “Two Lectures”, no livro Power/Knowlegde, que consiste numa coletânea de entrevistas editada por Colin Gordon, em 1980. Quanto a este capítulo em específico, o autor ressalta que não há texto original em francês e que a tradução em inglês foi extraída do italiano Microfisica del Potere, editada em Turim, em 1977, e que possui a versão em português Microfísica do Poder, editado no Brasil pela primeira vez em 1979. Na versão italiana, constam duas aulas de Foucault, proferidas em janeiro de 1976, que coincidem com a tradução em inglês. O prefácio do livro italiano explica que os tradutores estiveram presentes nas aulas, mas foi publicado a versão delas em italiano, diretamente. (Microfisica del Potere, 1977, p. 164-193). 18 Do original: “Je voudrais dire d'abord quel a été le but de mon travail ces vingt dernières années. Il n'a pas été d'analyser les phénomènes de pouvoir ni de jeter les bases d'une telle analyse. J'ai cherché plutôt à produire une histoire des différents modes de subjectivation de l'être humain dans notre culture ; j'ai traité, dans cette optique, des trois modes d'objectivation qui transforment les êtres humains en sujets. Il y a d'abord les différents modes d'investigation qui cherchent à accéder au statut de science ; je pense par exemple à l'objectivation du sujet parlant en grammaire générale, en philologie et en linguistique. Ou bien, toujours dans ce premier mode, à l'objectivation du sujet productif, du sujet qui travaille, en économie et dans l'analyse des richesses. Ou encore, pour prendre un troisième exemple, à l'objectivation du seul fait d'être en vie en histoire naturelle ou en biologie.Dans la deuxième partie de mon travail, j'ai étudié l'objectivation du sujet dans ce que j'appellerai les «pratiques divisantes». Le sujet est soit divisé à l'intérieur de lui-même, soit divisé des autres. Ce processus fait de lui un objet. Le partage entre le fou et l'homme sain d'esprit, le malade et l'individu en bonne santé, le criminel et le «gentil garçon» illustre cette tendance.Enfin, j'ai cherché à étudier - c'est là mon travail en cours - la manière dont un être humain se transforme en sujet ; j'ai orienté mes recherches vers la sexualité, par exemple la manière dont l'homme a appris à se reconnaître comme sujet d'une «sexualité. Ce n'est donc pas le pouvoir, mais le sujet, qui constitue le thème général de mes recherches..” (Foucault, “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrtis, tome IV, texte n. 306. Disponível em : . Acesso em: 16 set. 2016. 19 No original: “Il y a deux sens au mot «sujet» : sujet soumis à l'autre par le contrôle et la dépendance, et sujet attaché à sa propre identité par la conscience ou la connaissance de soi. Dans les deux cas, ce mot suggère une forme de pouvoir qui subjugue et assujettit”. Foucault, “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrtis, tome IV, texte n. 306. Disponível em: . Acesso em: 18 set. 2016. 20 Cf. Foucault, 2008a. Se não existe sujeito neutro não existe autor neutro. Por isso, os trabalhos que utilizam Foucault como referencial teórico são redigidos em primeira pessoa do singular, de forma a evitar que haja a impressão da existência de um pesquisador neutro e impessoalizado. Este trabalho é redigido em primeira pessoa do singular por esta razão. Cf. Pereira, 2014; Mascarenhas, 2011. 60

sujeitos submetidos a outro por meio de controle e dependência, e sujeito ligado à sua própria identidade pela consciência ou autoconhecimento. Em ambos os casos, a palavra sugere uma forma de poder que subjuga e submete. (Foucault, 2000, p. 235). Na visão do autor, o termo subjetivação designa um processo pelo qual se obtém a constituição de um sujeito ou de uma subjetividade. Os processos de subjetivação correspondem a modos de objetivação – que transformam os seres humanos em sujeitos – e de outro lado, correspondem a modos de subjetivação que consistem na maneira pela qual a relação consigo mesmo, por meio de certo número de técnicas, permite ao indivíduo constituir-se como sujeito de sua própria existência.21 Ou seja, na objetivação é o indivíduo que está sujeito ao outro, na subjetivação ele é sujeito de si mesmo. A ambos os modos chamo aqui de modos de subjetivação. Foucault interliga os modos de subjetivação ao conceito de poder quando, ao definir o exercício do poder, afirma que ele é, na verdade, um modo de ação sobre as ações dos outros, caracterizado pelo “governo” dos homens uns com os outros. Nesse aspecto, inclui em seu raciocínio que só é possível identificar poder na liberdade. O poder é exercido apenas entre e sobre “sujeitos livres”, na medida em que esses sujeitos possuem a oportunidade de adotar diversas reações ou comportamentos. Assim, conforme afirma o filósofo, nas situações em que não se pode identificar possibilidades diferentes de reações e comportamentos, não há relação de poder, mas um estado de dominação. Desse modo, a liberdade é condição de existência do poder. 22 E isso não

21 Do original: “C'est une forme de pouvoir qui transforme les individus en sujets. Il y a deux sens au mot «sujet» : sujet soumis à l'autre par le contrôle et la dépendance, et sujet attaché à sa propre identité par la conscience ou la connaissance de soi. Dans les deux cas, ce mot suggère une forme de pouvoir qui subjugue et assujettit.” (Foucault, “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrtis, tome IV, texte n. 306. Disponível em : . Acesso em : 18 jun. 2016. 22 Do original: “Quand on définit l'exercice du pouvoir comme un mode d'action sur les actions des autres, quand on les caractérise par le «gouvernement» des hommes les uns par les autres - au sens le plus étendu de ce mot -, on y inclut un élément important : celui de la liberté. Le pouvoir ne s'exerce que sur des «sujets libres», et en tant qu'ils sont «libres» - entendons par là des sujets individuels ou collectifs qui ont devant eux un champ de possibilité où plusieurs conduites, plusieurs réactions et divers modes de comportement peuvent prendre place. Là où les déterminations sont saturées, il n'y a pas de relation de pouvoir : l'esclavage n'est pas un rapport de pouvoir lorsque l'homme est aux fers (il s'agit alors d'un rapport physique de contrainte), mais justement lorsqu'il peut se déplacer et à la limite s'échapper. Il n'y a donc pas un face-à-face de pouvoir et de liberté, avec entre eux un rapport d'exclusion (partout où le pouvoir s'exerce, la liberté disparaît) ; mais un jeu beaucoup plus complexe: dans ce jeu la liberté va bien apparaître comme condition d'existence du pouvoir (à la fois son préalable, puisqu'il faut qu'il y ait de la liberté pour que le pouvoir s'exerce, et aussi son support permanent puisque, si elle se dérobait entièrement au pouvoir qui s'exerce sur elle, celui-ci disparaîtrait du fait même et devrait se trouver un substitut dans la coercition pure et simple de la violence) ; mais elle apparaît aussi comme ce qui ne pourra que s'opposer à un exercice du pouvoir qui tend en fin de compte à la déterminer entièrement.” Foucault, Michel. “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrtis, tome IV, texte n. 306. Disponível em : . Acesso em : 24 jul. 2016 61

significa que o poder seja da ordem do consentimento.23 Desta forma, a Gestão de Pessoas, de forma geral, contribui para a construção do “sujeito colaborador” a partir da introjeção de discursos que possuem efeito de verdade e que se prestam ao alcance de determinados objetivos. Por exemplo, os códigos de ética das organizações moldam os comportamentos dos seus colaboradores, de forma a criar um modo de agir, hábitos, procedimentos, todos eles voltados ao que a organização entende como adequado aos resultados a que se propõe. Nessa perspectiva, a Gestão de Pessoas numa organização prisional é apta a criar uma subjetividade a partir das relações de poder que se configuram internamente a estes estabelecimentos. O processo de subjetivação numa prisão tradicional é diferente do processo de subjetivação numa unidade da APAC. A forma de gerir pessoas define o sujeito “colaborador” para as empresas e o “sujeito recuperando” para a unidade prisional. Para identificar os modos de objetivação e de subjetivação, a análise deve ser genealógica. Nesse contexto, ao invés da análise histórica ser feita a partir de sujeitos constituintes, é a trama histórica que deve dar conta da constituição do sujeito. Não é o sujeito que constitui a história, é a história que constitui o sujeito. A genealogia revela a maneira como o poder constitui o sujeito. (Foucault, 2014). A ciência, para Foucault, como um modo de criar/moldar sujeitos, é um campo privilegiado de construção da verdade. Para o filósofo, cada sociedade possui seu próprio regime de verdade. Nesse sentido, a verdade é investida de valores em uma dada sociedade que a controla, seleciona, organiza e sanciona. Ressalto aqui as palavras do próprio Foucault (1976, p. 31):

A verdade é deste mundo; ela é produzida através de múltiplas restrições. E ela tem efeitos interligados ao poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, suas "políticas gerais" de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela aceita e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e organismos que distinguem as verdadeiras ou falsas declarações, como se pune o outro; técnicas e procedimentos que são avaliados para se obter a verdade; o status daqueles que têm a responsabilidade de dizer o que funciona como verdadeiro. (Foucault, 1976, p. 31, tradução nossa) 24.

23 Do original: “Cela veut dire aussi que le pouvoir n'est pas de l'ordre du consentement ; il n'est pas en lui-même renonciation à une liberté, transfert de droit, pouvoir de tous et de chacun délégué à quelques-uns (ce qui n'empêche pas que le consentement puisse être une condition pour que la relation de pouvoir existe et se maintienne) ; la relation de pouvoir peut être l'effet d'un consentement antérieur ou permanent ; elle n'est pas dans sa nature propre la manifestation d'un consensus.” Foucault, “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrtis, tome IV, texte n. 306. Disponível em : . Acesso em : 28 jul. 2016. 24 Do original francês: “L'important, je crois, c'est que la vérité n'est pas hors pouvoir ni sans pouvoir (elle n'est pas, malgré un mythe dont il faudrait reprendre l'histoire et les fonctions, la récompense des esprits libres, l'enfant des longues solitudes, le privilège de ceux qui ont su s'affranchir). La vérité est de ce monde; elle y est produite grâce à de multiples contraintes. Et elle y détient des effets réglés de pouvoir. Chaque société a son régime de vérité, sa «politique générale» de la vérité: c'est-à-dire les types de discours qu'elle accueille et fait fonctionner 62

Os jogos de verdade, a que Foucault se refere, não são a descoberta do que é verdadeiro, mas sim a descoberta das regras que fazem com o que aquilo que um sujeito diz a respeito de um certo objeto se torna verdadeiro, naquele momento. Assim, a ciência para Foucault é um dos mecanismos mais eficazes para a produção de uma verdade, por meio do discurso científico. Conforme ele mesmo explica (Foucault, 2008a, p.203),

[Os elementos do saber] são a base a partir da qual se constroem proposições coerentes (ou não), se desenvolvem descrições mais ou menos exatas, se efetuam verificações, se desdobram teorias, formam o antecedente do que se revelará e funcionará como um conhecimento ou uma ilusão, uma verdade admitida ou um erro denunciado, uma aquisição definitiva ou um obstáculo superado […] Um saber é aquilo que podemos falar em uma prática discursiva25 que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão adquirir ou não um status científico.

A ciência, portanto, proporciona por meio da construção do discurso científico o efeito de verdade que vai realizar e permitir a intensificação de processos de subjetivação do sujeito.

4.4 A disciplina

Foucault também se refere a uma mecânica do poder, que define como se pode ter poder sobre o corpo do outro, não simplesmente para que o outro faça o que se pretende, mas para que opere segundo a rapidez e a eficácia almejada. “A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis”. (Foucault, 2013, p. 133). Quanto aos modos de subjetivação ligados à disciplina26, Foucault aponta alguns modos

comme vrais; les mécanismes et les instances qui permettent de distinguer les énoncés vrais ou faux, la manière dont on sanctionne es uns et les autres ; les techniques et les procédures qui sont valorisées pour l'obtention de la vérité ; le statut de ceux qui ont la charge de dire ce qui fonctionne comme vrai.” La fonction politique de l'intellectuel», politique-Hebdo, 29 novembre - 5 décembre 1976, pp. 31-33. Agencement d'extraits de l' «Entretien avec Michel Foucault» qui paraîtra en Italie en 1977. Voir infra no 192. Dits Ecrits Tome III n°184. Disponível em: . Acesso em: 14 ago. 2016. 25 Prática discursiva, para Foucault, é “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. (Foucault, 2008, p. 133) No original francês: “C’est un esemple de règles anonymes, historiques, toujours déterminées dans le temps et l’espace qui ont défini a une époque donée, et pour um aire sociale, économique, géographique ou linguistique donée, le conditions d’exercice de la fonction énonciative”. (Foucault, 1969, p.153-154). 26Do original: “ Il y a d'abord les différents modes d'investigation qui cherchent à accéder au statut de science ; je pense par exemple à l'objectivation du sujet parlant en grammaire générale, en philologie et en linguistique. Ou bien, toujours dans ce premier mode, à l'objectivation du sujet productif, du sujet qui travaille, en économie et dans l'analyse des richesses. Ou encore, pour prendre un troisième exemple, à l'objectivation du seul fait d'être en vie en histoire naturelle ou en biologie. Dans la deuxième partie de mon travail, j'ai étudié l'objectivation du sujet dans ce que j'appellerai les «pratiques divisantes». Le sujet est soit divisé à l'intérieur de lui-même, soit divisé des autres. Ce processus fait de lui un objet. Le partage entre le fou et l'homme sain d'esprit, le malade et l'individu en bonne santé, le criminel et le «gentil garçon» illustre cette tendance. Enfin, j'ai cherché à étudier - c'est là mon travail en cours - la manière dont un être humain se transforme en sujet ; j'ai orienté mes recherches vers la sexualité, par 63

ou técnicas principais, a saber: 1) os diversos modos de investigação que alcançam o estatuto de ciência; 2) as práticas divisoras, que classificam o sujeito e fazem dele um objeto; 3) a maneira como o sujeito se forma e se relaciona consigo mesmo. Foucault enumera também algumas técnicas de disciplina que facilitam o gerenciamento de pessoas. (Foucault, 2013). A primeira técnica se refere à distribuição dos indivíduos no espaço, mediante: a) enclausuramento em relação ao ambiente externo, com a formação de grupos de trabalhadores, podendo, inclusive, utilizar atributos biológicos (trabalho de homem e trabalho de mulher); b) quadriculamento, que consiste na divisão do próprio espaço interno, gerando uma classificação interna entre os indivíduos, por exemplo, separando as áreas de trabalho mais operacional da parte mais estratégica, por departamentos ou funções. Esta técnica permite apreciar o comportamento de cada um, sancioná-lo, medir qualidades ou méritos; c) distribuição por classificação, que consiste em qualificar e distribuir conforme mérito e medida, como, por exemplo, escolha de determinados lugares para que se desempenhe o trabalho considerando uma boa performance. O ranking, além de distribuir as pessoas, também as disciplina, porque indica o que é bom e o que ruim em termos de boa classificação. A segunda técnica diz respeito ao controle da atividade desenvolvida pelo indivíduo e vai incidir sobre a regulação do tempo, das atividades e dos aspectos físicos em geral. Neste caso, há a prescrição de práticas que são consideradas mais corretas e adequadas de se fazer as coisas. Na gestão de pessoas, tais práticas se manifestam na contagem de tempo da jornada (ou até na falta de contagem, como nos casos de home office), no treinamento quanto à forma correta ou saudável de se portar, de se vestir e de se relacionar enquanto colaborador de determinada organização. Quanto à regulação das atividades, há a construção de cargos com tarefas e habilidades pré-definidas para cada um deles. Além disso, Foucault vai trazer como forma essencial de atuação da disciplina a vigilância (Foucault, 2013). O trabalho, a atuação e o comportamento deve ser perceptível e passível de observação. Nesse ponto, Foucault vai tratar da vigilância como técnica de subjetivação e denominá-la de panoptismo, designando o Panóptico de Bentham a figura arquitetural desta técnica disciplinar. (Foucault, 2013). Abaixo, segue a figura arquitetônica do Panóptico, conforme delineada por Bentham quando tentou apresentar um sistema penitenciário que considerou ideal.

exemple la manière dont l'homme a appris à se reconnaître comme sujet d'une «sexualité». Michel Foucault, “Le sujet et le pouvoir”, in Dits et écrits tome IV texte 306. 64

Figura 2: Planta da estrutura do Panóptico encontrada nos escritos de Bentham

Fonte: Disponível em: . Acesso em: 29 nov. 2017

O modelo de Bentham propõe uma galeria ou um círculo no centro da unidade prisional, dividido em celas. Cada uma das celas apresenta uma entrada de ar e uma porta de grades. A porta é voltada para o pátio interno e para a torre de vigilância, que fica no centro. Os encarcerados se mantêm isolados uns dos outros e sob vigilância de um agente penitenciário que se localiza na torre e não pode ser visto. Observar sem ser observado, este é o panoptismo. Quando se tornam as atividades mais visíveis, automaticamente o sujeito passa a conhecer a maneira como deve realizar as tarefas. Os indivíduos vão automaticamente incorporando o padrão de funcionamento, a forma “correta” de atuar e, com isso, se molda uma subjetividade. Para que tudo funcione, o indivíduo deve ser conhecido e, quanto mais se conhece, melhor se controla. (Foucault, 2013). Mais do que um modelo de prédio, o panoptismo é “o princípio geral de uma ‘anatomia política’ cujo objeto e fim não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina” (Foucault, 2013, p.197). O papel da vigilância, em suma, é de aumentar a utilidade possível dos indivíduos, coordenar essas atividades, fazer crescer as aptidões e os rendimentos, moralizar condutas, desinstitucionalizar os mecanismos disciplinares – que passam a sair de ambientes nitidamente enclausurados (hospícios, prisões, quartéis) para focos de controle espalhados pelo corpo social (família, grupos religiosos e filantrópicos etc.). Além disso, a vigilância efetuada com observação gera acúmulo de conhecimento sobre o indivíduo e seus comportamentos e, como já disse, quanto mais se conhece, melhor se controla. (Foucault, 1979). 65

4.5 Governamentalidade e Poder Pastoral

Em curso ministrado no Collège de France, em 1978, Foucault (2014) faz uma reflexão sobre o poder racionalizado, exercido pelo Estado, a partir do final do século XVI e início do século XVII, justamente na ruptura com a forma de governo da Idade Média e transposição para a forma de governar racional do Estado. Foucault analisa o surgimento do problema da população (formação de altos contingentes populacionais urbanos) e da segurança que o Estado deveria proporcionar a essa massa. Tais dificuldades ou desafios novos, colocados aos chefes de Estado, conduziram, por sua vez, à questão do governo. (Foucault, 2014). Se durante a Idade Média eram sistematizados conselhos ao príncipe – como se comportar, como ser respeitado, como conduzir e controlar seus súditos – a partir do século XVI até o final do século XVIII Foucault observa que se multiplicam os tratados cujo tema central é a arte de governar, que Foucault localiza entre o estágio de aconselhamento do soberano – próprio da Idade Média – e a ciência política. (Foucault, 1977/2008). Para manter-se no poder, mais do que garantir a integridade de seu território e a obediência dos súditos, o soberano deveria se articular de forma a melhor gerir ou conduzir pessoas que não mais estavam acopladas aos esquemas de troca ligadas à terra e à sua produção, mas que agora mantinham relações econômicas baseadas em força de trabalho e remuneração. Questiona Foucault:

Como se governar, como ser governado, como governar os outros, por quem devemos aceitar ser governados, como fazer para ser o melhor governador possível? Parece-me que todos esses problemas são em sua intensidade e em sua multiplicidade também, característicos do século XVI, e isso no ponto de cruzamento, para dizer as coisas muito esquematicamente, de dois movimentos, de dois processos: o processo evidentemente, que, desfazendo as estruturas feudais, está criando, instaurando os grandes Estados territoriais, administrativos, coloniais, e um outro movimento totalmente diferente, que aliás não deixa de ter interferências no primeiro, mas é complexo – está fora de cogitação ao analisar tudo isso aqui –, e que, com a Reforma, depois a Contra Reforma, põe em questão a maneira como se quer ser espiritualmente dirigido, na terra, rumo à salvação da pessoa. (Foucault, 1977/2008, p.118-119).

Foucault (2008) assinala que, se em O Príncipe de Maquiavel (1532), a preocupação é a manutenção do vínculo entre o soberano, seus súditos e seu território, na literatura que Foucault (2008) denomina de literatura anti-Maquiavel há uma sensível alteração. A preocupação é definir como governar, mas tratando de uma arte de governar muito diferente daquela de outrora. Nesta literatura, as práticas de governo são práticas variadas e muito diferentes das práticas de governo tratadas por Maquiavel: o pai de família governa sua família, o superior do convento governa seu convento, o pastor governa seu rebanho. Assim, a arte de 66

governar que passa a ser discutida é, então, diversa do governo político da população e do território e se desloca de instituições estatais bem delineadas, como até então, para outros organismos que compõem todo o corpo social. (Foucault, 1977/2008). Foucault (1977/2008) identifica uma continuidade entre as diferentes artes de governar, “no sentido de que quem quiser ser capaz de governar o Estado primeiro precisa saber governar a si mesmo: depois, num outro nível, governar sua família, seu bem, seu domínio; por fim, chegará a governar o Estado”. (Foucault, 1977/2008, p.125). Acrescenta Foucault (2008, p.126): “Inversamente, vocês têm uma continuidade descendente, no sentido de que, quando um Estado é bem governado, os pais de família sabem bem governar sua família, suas riquezas, seus bens, sua propriedade, e os indivíduos, também, se dirigem como convém”. Foucault (1977/2008) assinala que esta discussão sobre a arte de governar ficou durante algum tempo restrita ao interior da monarquia administrativa, até o século XVIII, a partir da explosão demográfica, a abundância monetária e o aumento da produção agrícola, quando emerge o problema da população. A família surge, então, como instrumento da arte de governar: no interior da população, quando se deseja um determinado comportamento desta população – padrão sexual, demografia, consumo, entre outros aspectos – basta acionar a arte de governar a família. Foucault (1977/2008), após tecer essas relações entre população e a arte de governar, introduz o conceito de governamentalidade27, que para ele possui três acepções. Na primeira acepção, governamentalidade é o conjunto de instituições, táticas, procedimentos, análises, cálculos e reflexões que permitem o exercício do poder que tem por alvo a população. Na segunda acepção, governamentalidade é uma linha de força nitidamente ocidental que gera poder sobre os outros – soberania e disciplina – e que conduziu ao surgimento de aparelhos de governo e de saberes. Na terceira acepção, governamentalidade é o

27 Do original: “Par ce mot de «gouvernementalité», je veux dire trois choses. Par gouvernementalité, j'entends l'ensemble constitué par les institutions, les procédures, analyses et réflexions, les calculs et les tactiques qui permettent d'exercer cette forme bien spécifique, bien que complexe, de pouvoir, qui a pour cible principale la population, pour forme majeure de savoir, l'économie politique, pour instrument technique essentielles dispositifs de sécurité. Deuxièmement, par «gouvernementalité», j'entends la tendance, la ligne de force qui, dans tout l'Occident, n'a pas cessé de conduire, et depuis fort longtemps, vers la prééminence de ce type de pouvoir qu'on peut appeler le «gouvernement» sur tous les autres : souveraineté, discipline ; ce qui a amené, d'une part, le développement de toute une série d'appareils spécifiques de gouvernement et, d'autre part, le développement de toute une série de savoirs. Enfin, par gouvernementalité, je crois qu'il faudrait entendre le processus ou, plutôt, le résultat du processus par lequel l'État de justice du Moyen Âge, devenu aux XVe et XVIe siècles État administratif, s'est trouvé petit à petit «gouvernementalisé».» La gouvernementalité» ; cours du Collège de France, année 1977- 1978 : «Sécurité, territoire et population», 4e leçon, 1er février 1978), Aut-Aut, nos 167-168, septembre-décembre 1978, p. 12-29. Dits Ecrits Tome III texte n°239.

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resultado do processo pelo qual o Estado da Idade Média se tornou o Estado administrativo e governamentalizado. (Foucault, 1977/2008). Nesse âmbito, a Administração, a ciência e as práticas da execução penal a que se submetem os indivíduos presos são expressões da governamentalidade. Importante frisar que, ao invés de se reduzir a gerir as pessoas de forma individualizante – como se percebe nitidamente no exercício do poder disciplinar –, a governamentalidade também atua no sentido globalizante. Diante da constatação de que a população, considerada em sua totalidade, agia e reagia conforme determinadas condições – moralidade, natalidade, envelhecimento – e fazendo-se uso da estatística, o controle deveria considerar os fenômenos populacionais, inclusive os naturais ou biológicos, de forma a se alcançar determinados objetivos. (Foucault, 1979). No contexto em que trata a governamentalidade, Foucault (2009) localiza como técnica inerente à governamentalidade o poder pastoral. O poder pastoral é um poder individualizante e globalizante, já que o bom pastor é aquele que cuida de cada indivíduo isoladamente ao mesmo tempo em que deve assegurar a salvação de todas as “ovelhas” do rebanho. Para Foucault, (2008), o significado do poder pastoral para a sociedade ocidental inclui a obrigação de procurar a salvação de cada indivíduo. A salvação, para a ovelha, depende da aceitação da autoridade do pastor. Como pressuposto disso há a noção de que todas as atividades que são realizadas pela “ovelha” devem ser conhecidas por seu pastor, já que ele tem o poder de dizer “sim” ou “não”. Cabe ao “pastor” vigiar e exercer um controle contínuo para garantir a salvação de sua “ovelha”, e para isso pode exigir das demais obediência absoluta. (Foucault, 2010). O pastor deve impor sobre as pessoas a sua vontade, sem estar restrito a regras gerais ou leis específicas. (Foucault, 2008). Portanto, o poder pastoral é definido por um “bem-fazer” com o intuito de conduzir todo o grupo, cuidando e preocupando-se com a condução de cada uma de suas almas. Assim, o poder pastoral exige a gestão detalhista de vidas, para conduzir e guiar os homens, atingindo-os tanto coletiva quanto individualmente. (Foucault, 2008). Sob a égide do cristianismo feudal, o poder pastoral é exercitado pela imposição do dogma cristão de busca de salvação em outra vida. A salvação na outra vida, por sua vez, depende de que nesta vida a “ovelha” siga as regras do “bem fazer”, assim como definidas pelo “pastor”. Porém, sob a égide da racionalidade do Estado, o poder pastoral assumiu novas configurações. (Foucault, 2009). O pastorado não mais guiaria o povo para a salvação das pessoas no outro mundo, mas asseguraria a salvação neste mundo, entendendo-se como salvação o acesso à saúde, ao bem-estar, à segurança, à proteção contra acidentes, tudo isso em termos materiais e cotidianos. 68

O poder pastoral, nesse contexto, passou a ser exercido pelo aparelho do Estado, por intermédio de seus organismos e instituições, como a polícia, o exército, a vigilância sanitária e até mesmo organizações filantrópicas e pela família. Finalmente, a multiplicação dos objetivos e agentes da governamentalidade enfocava o desenvolvimento de um saber sobre o homem em torno de dois polos: um globalizador e quantitativo, que dizia respeito à população, e outro analítico, que dizia respeito ao indivíduo. (Foucault, 1980). Assim, o poder pastoral, que durante séculos esteve associado à Igreja, ampliou-se para todo o corpo social, nele encontrando apoio, ao mesmo tempo em que desenvolveu uma multiplicidade de instituições que exerciam o poder por meio de táticas individualizantes, as quais até hoje ainda caracterizam uma série de poderes da família, da medicina, da psiquiatria, dos empregadores e da educação. (Alcadipani, 2008, p. 101).

Quando Foucault elenca o que entende como prática de pastorado, ele aborda a prática da confissão, que ele mesmo define como uma espécie de sinceridade a ser exigida do indivíduo para consigo mesmo e com o outro, de forma a criar uma nova dimensão de subjetividade voltada a atingir certo padrão considerado adequado. Foucault entende como confissão todos os procedimentos pelos quais se incita o sujeito a produzir sobre si mesmo um discurso de verdade que é capaz de surtir efeitos sobre o sujeito e seu próprio comportamento. (Foucault, 1979). Uma importante observação que faço neste momento é que a governamentalidade, com suas práticas, não substitui e nem representa um avanço ou uma “melhoria” em relação às práticas inerentes ao poder disciplinar. Trata-se de uma diversificação de tecnologia de poder, que atua de forma globalizante para alcançar determinadas finalidades. Foucault, após analisar o poder e a disciplina, no decorrer de sua construção teórica, aborda o conceito de governo e de governamentalidade, problematizados a partir da insuficiência de instrumentos teóricos capazes de explicar o poder, o que já caracteriza a obra de Foucault em uma fase posterior. A governamentalidade ressalta, especialmente, a possibilidade de dominação do outro desenvolvida pelo próprio governo que quer governar o outro. O conceito de governamentalidade surge da junção das palavras governar (gouverner) e modos de pensamentos (mentalidade). Partindo de uma abordagem da filosofia socrática, passando por Platão e Aristóteles, bem como por Sêneca, Foucault propõe, aborda e desenvolve o conceito de governo de si, de governo dos outros, e as relações entre o governo de si e o governo do outro. É em outro clássico – A Hermenêutica do Sujeito (1982/2006), que consiste na transcrição de suas aulas no Collège de France – que o filósofo aborda a questão do cuidado 69

de si como forma de resistência às manobras de imposição do outro nas relações de poder. (Foucault, 1982/2006).

4.6 Vigiar e punir

Importante para o trabalho, considerando que analisa uma organização prisional, é mencionar a obra Vigiar e Punir (1974/2013). Nela, Foucault desenvolve na parte III do livro uma genealogia da sociedade disciplinar. Ressalto que, muito mais do que um clássico sobre a prisão, a obra é um clássico sobre as relações de poder disciplinar e sobre a disciplina, na conformação da sociedade ocidental moderna. Assinala Foucault que a Antiguidade foi marcada pela punição-espetáculo, tão bem delineada por grandes anfiteatros em que a morte se mostrava como o maior exemplo de punição, colocada diante dos olhos vorazes da plebe como forma de definir e impor certos padrões de conduta. O filósofo entende que a Idade Moderna marca seu início a partir da ampliação do que denomina disciplina para além daquelas instituições onde sempre esteve confinada. (Foucault, 1974/2013). Assim é que a disciplina – antes reduzida aos conventos, aos colégios internos, aos hospitais, às organizações militares – se amplia para outros espaços e passa a atuar de forma sutil e silenciosa, impondo padrões de conduta e exercícios. O poder disciplinar para Foucault (1974/2013) atua no sentido de adestrar, de normatizar, de tornar os homens mais úteis do ponto de vista político e econômico. Foucault (1974/2013) afirma que a disciplina é uma forma de coerção ininterrupta, que vela mais sobre os processos de atividade do que sobre os resultados e se exerce de acordo com uma codificação que impõe fórmulas de atividades que consideram o tempo, espaço e o movimento, impondo uma sujeição pautada na docilidade e na utilidade. Característica essencial da passagem da Antiguidade para a Modernidade, o poder disciplinar mostra-se uma maneira requintada de sujeição, e forma uma individualidade obediente, cega, adaptada à forma de sanção normalizadora – sanção que visa teoricamente corrigir e impor mais disciplina. Nesse sentido, Foucault (1974/2013) chama a atenção do papel do exame – como mecanismo de acesso a outras hierarquias, como técnica de imposição de mais disciplina – e para o papel dos órgãos fiscais da disciplina, que simulam o funcionamento análogo ao da justiça estatal propriamente dita. (Foucault, 1974/2013). Com o exame ocorre a verificação, por parte daquele que dita a disciplina, se o indivíduo incorporou todo o conteúdo estabelecido como essencial. Diante da certificação de qualificação, é concedida ao indivíduo a possibilidade de galgar posições sociais mais elevadas. Isso é o que 70

ocorre nas organizações militares em que, para alcançar uma patente, o indivíduo deve lograr atender a requisitos pré-estabelecidos e ligados à disciplina. Quanto aos órgãos fiscais de disciplina, temos as comissões de ética das profissões liberais em geral – Comissões de Ética e Disciplina de Conselhos Profissionais – e as Comissões Processantes instaladas para apurar faltas disciplinares de funcionários públicos e até mesmo nas organizações empresariais em que assim estabeleça o código de ética adotado. Vale salientar que Foucault não acreditava que o poder era ruim ou que fosse possível uma sociedade sem relações de poder. À evidência, Foucault (1984/2004) realiza em sua obra uma importante distinção entre relações de poder e relações de dominação. As primeiras se configuram diante da situação em que um indivíduo, ou grupo social, ou instituição, procura dirigir o comportamento do outro. São sempre flexíveis, reversíveis e móveis e estão presentes em todas as partes, ou seja, as relações de poder pressupõem formas de resistência e pressupõem certa liberdade das partes envolvidas, para que possam de alguma forma resistir e mudar a configuração dessas relações. (Foucault, 1984/2004). As relações de dominação, por sua vez, configuram-se sempre que um dos polos envolvidos nas relações de poder não possui liberdade para implementar práticas de resistência, já que em inúmeros casos as relações de poder estão tão desequilibradas e o espectro de liberdade e escolha é tão reduzido que a relação de poder se torna imóvel, bloqueada ou cristalizada, sem permitir resistência. (Foucault, 1984/2004).

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5 ASPECTOS METODOLÓGICOS

5.1 As particularidades da epistemologia foucaultiana

Visando manter a coerência epistemológica e, nesse contexto, utilizar a analítica construída pelo próprio Michel Foucault, proponho aqui o desafio de aplicar a abordagem empregada pelo autor. Porém, antes de qualquer tentativa de esboçar um caminho metodológico definido, com fases e etapas, é importante ressaltar que:

Dificilmente se poderia falar de um único procedimento de pesquisa que tenha sido repetido por Foucault. Seu legado epistemológico é de outra natureza. Desdobra-se em três dimensões: a do dever para com a verdade, acima e além dos compromissos com Métodos e filiações ideológicas; a do esforço analítico exaustivo, sem pressupostos e sem fronteiras; e a da busca de um olhar novo sobre os temas e as teorias. (Thirty-Cherques, 2010, p.216).

Em linhas gerais, do ponto de vista epistemológico, percebo duas fases da epistemologia de Foucault, sendo sempre necessária advertência de que as possibilidades decorrentes da riqueza e da inovação de suas construções são tantas que sintetizá-las é uma pretensão que seria de minha parte bastante equivocada. Embora possamos apontar duas fases epistemológicas, é necessária a advertência que elas se interpenetram, não significando que a segunda seja uma evolução da primeira ou que tenha com ela rompido. Pelo contrário, a segunda fase se utiliza de conceitos firmados na primeira, apenas para que a obra do filósofo pudesse rumar para uma forma diferente de pesquisar – para fazer uma genealogia do presente. (Foucault, 1979). Em razão do inconformismo de Foucault em relação ao marxismo, à fenomenologia e ao estruturalismo, o filósofo foi impelido a criar procedimentos e a denominar categorias, a partir das descobertas epistemológicas que fez. (Thirty-Cherques, 2010). Trato aqui e nesta ordem da Arqueologia e da Genealogia enquanto abordagens epistemológicas utilizadas por Foucault para chegar às suas construções.

5.2 A primeira fase epistemológica: análise arqueológica

A primeira fase epistemológica da produção intelectual de Foucault é a que se denomina Arqueologia. Desenvolvendo-se entre 1961 e 1969, iniciou-se com a História da Loucura na Idade Clássica e encontra maior elucidação em A Arqueologia do Saber. Nesta fase, o filósofo busca explorar como os sistemas de pensamento e conhecimento são construídos, 72

especialmente no concernente à maneira como o ser humano se torna sujeito de conhecimento, demonstrando a inexistência de conhecimento neutro. Por arqueologia Foucault entende “o desvelamento da circunstância histórica que faz necessária certa forma de pensamento”. (Thirty-Cherques, 2010, p. 221). Na análise arqueológica, Foucault não procura reconstituir o que pôde ser pensado no momento em que o homem profere o discurso, não repete o que já foi dito nem se preocupa em “recolher esse núcleo fugidio onde autor e obra trocam de identidade”. (Foucault, 2008a, p. 158). Fazer arqueologia não é fazer História, considerando a definição tradicional de História. Mas Foucault propõe a reconstrução do campo histórico a partir de diferentes vieses (filosófico, econômico, social) para entender as condições que permitem a emergência ou predominância de um discurso. Foucault (1999b) designa o discurso como um conjunto de enunciados que podem pertencer a campos diferentes, mas que vão operar conforme regras comuns. Tais regras não são linguísticas e esses enunciados não são apenas frases ou orações. As regras que regulam o emergir de discursos derivam de descontinuidades e rupturas historicamente determinadas. Assim, a cada período corresponde uma ordem do discurso, que determina o funcionamento do real pela produção de determinados saberes, estratégias e práticas. O discurso não é um conjunto de signos (elementos que traduzem um significante), mas um conjunto de práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Se os discursos são compostos de signos, eles fazem mais do que designar coisas (1999). Assim, a questão é esse algo que existe além da palavra. Vale realizar a transcrição de um dos trechos seminais da obra Arqueologia do Saber (2008a), em que o autor se refere à formação e à função dos discursos:

Renunciaremos, pois, a ver no discurso um fenômeno de expressão - a tradução verbal de uma síntese realizada em algum outro lugar; nele buscaremos antes um campo de regularidade para diversas posições de subjetividade. O discurso, assim concebido, não é a manifestação, majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa, que conhece, e que o diz: é, ao contrário, um conjunto em que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si mesmo. É um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos.28 (Foucault, 2008a, p. 61)29.

28 Na terceira fase de sua produção intelectual – não de sua epistemologia – especialmente presente nos volumes 2 e 3 de História da Sexualidade, ambos de 1984, o autor desenvolve suas reflexões acerca das tecnologias da subjetividade e nela não há nenhum aspecto epistemológico diferente daqueles delineados nas duas primeiras. 29 No original: “On renoncera donc à voir dans le discours um phénomène déxpression – la traduction verbale d’une synthèse opéree par ailleurs; on y cherchera plutôt un champ de régularité pour diverses positions de subjetctivité. Le discours, ainsi conçu, n’est pas la manifestation, majestueusement déroulée, d’un subjet qui pense, qui connait, et qui le dit: c’este au contraire un esemble oú peuvent se determiner la dipersion du sujet et sa descontonuité avec lui-même. Il est un espace d’extériorité où se déploi un réseu d’emplacements distincts”. (Foucault, 1969, p.74). 73

E mais:

Discursos, como a economia, a medicina, a gramática, a ciência dos seres vivos, dão lugar a certas organizações de conceitos, a certos reagrupamentos de objetos, a certos tipos de enunciação, que formam, segundo seu grau de coerência, de rigor e de estabilidade, temas ou teorias em detrimento ou em coexistência com outro. (Foucault, 2008a, p. 76).

Dessa forma, os processos econômicos, políticos e sociais, as instituições e os comportamentos não são internos ao objeto do discurso, no sentido de que não o constituem, apenas permitem que este objeto apareça. (Foucault, 2008a). Para Foucault, o objeto do discurso se desloca no feixe de relações formado pela trama entre os diferentes saberes. Em História da Loucura na Idade Clássica, Foucault demonstra que o objeto “loucura” transita em diferentes feixes de conhecimento (Sociologia, Ciência Política, Direito) até se mostrar (ou ser mostrado) como um objeto do discurso da Medicina. O “louco” e a “loucura” nem sempre foram “o doente” e “a doença”, mas assim se tornaram a partir de condições específicas que são denominadas por Foucault de condições de emergência. Como o discurso é conceituado, portanto, como um feixe de enunciados, cumpre elucidar este elemento, que também é central em nossa análise. No capítulo 3 da obra Arqueologia do Saber (2008a), Foucault se ocupa em discutir o que seja o enunciado, conforme a analítica arqueológica. O autor afirma que o enunciado não deve ser confundido com uma frase, com uma proposição, com um ato ilocutório ou nem mesmo com os objetos materiais que possam comunicar signos. Assim se pronuncia Foucault (2008a, p. 97-98): (...) o enunciado não é uma unidade do mesmo gênero da frase, proposição ou ato de linguagem; não se apoia nos mesmos critérios; mas não é tampouco uma unidade como um objeto material poderia ser, tendo seus limites e sua independência. Em seu modo de ser singular (nem inteiramente linguístico, nem exclusivamente material), ele é indispensável para que se possa dizer se há ou não frase, proposição, ato de linguagem; e para que se possa dizer se a frase está correta (ou aceitável, ou interpretável), se a proposição é legítima e bem constituída, se o ato está de acordo com os requisitos e se foi inteiramente realizado. Não é preciso procurar no enunciado uma unidade longa ou breve, forte ou debilmente estruturada, mas tomada como as outras em um nexo lógico, gramatical ou locutório (...).

Desse modo, o enunciado é algo que está entre o acontecimento histórico e a estruturação linguística deste acontecimento. Todo enunciado possui uma superfície de emergência que designa os locais de onde surgem os discursos, como, por exemplo, a família, o órgão público, a igreja etc. Por definição, o enunciado

(...) é uma função de existência que pertence, exclusivamente, aos signos, e a partir da qual se pode decidir, em seguida, pela análise ou pela intuição, se eles “fazem sentido” ou não, segundo que regra se sucedem ou se justapõem, de que são signos, e que 74

espécie de ato se encontra realizado por sua formulação (oral ou escrita) (...) ele não é em si mesmo uma unidade, mas sim uma função que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço. (FOUCAULT, 2008a, p. 97-98).30

Os enunciados cruzam o campo linguístico, extrapolam a língua e ganham força de verdade. Com isso, o enunciado pode atravessar vários campos de conhecimento. Eles se apresentam dispersos no tempo e formam um conjunto quando se referem a um único e mesmo objeto. Pela analítica arqueológica, há que se caracterizar e individualizar a coexistência entre enunciados dispersos e heterogêneos, e os possíveis deslocamentos discursivos – deslocamento de um enunciado a outro. Um enunciado, conforme a analítica arqueológica, nunca é encontrado isoladamente. Há uma rede de saberes, e o enunciado cruza vários feixes de saberes ao mesmo tempo, sendo que um enunciado sempre está ligado a outro. (Foucault, 2008a). A analítica arqueológica, na identificação de discursos, trabalha com sujeitos historicizados, já que Foucault não elabora suas construções a partir da noção de um sujeito transcendental. Tais sujeitos são abordados na analítica arqueológica levando-se em consideração o contexto que envolve quem fala, ou seja, a posição de quem enuncia. (Foucault, 2008a) Como Foucault (2008a) defende que o papel da reconstrução histórica, dentro da analítica arqueológica, deve ser identificar as rupturas – ao invés de trabalhar com a necessidade de identificação de pontos de origem – o trabalho desenvolvido em tais bases deve se concentrar em determinados momentos ou recortes, a fim de descrever as razões pelas quais determinados objetos e as explicações científicas em torno dele aparecem e se relacionam entre si. Nesse contexto, Foucault vai se utilizar do conceito de acontecimento, que são cristalizações de determinações históricas complexas, o que Foucault (2008a) explicita ao se referir aos acontecimentos discursivos:

Antes de se ocupar, com toda certeza, de uma ciência, ou de romances, ou de discursos políticos, ou da obra de um autor, ou mesmo de um livro, o material que temos a tratar, em sua neutralidade inicial, é uma população de acontecimentos no espaço do discurso em geral. Aparece, assim, o projeto de uma descrição dos acontecimentos discursivos como horizonte para a busca das unidades que aí se formam. (Foucault, 2008a, p. 30).

30 Do original: “l’enoncé, n’est pas une unité du même genre que la frase, la propositionm ou l’acte de langage; il ne relève dons pas des mêmes critères; mais ce n’est pas non plus une unité comme pourrait l’être um objet matériel ayant ses limites et son indèpendance. Il est, dans son mode d’être singulier (ni tout à fait linguistique, ni exclusivement materiel), indispensable pour qu’on puisse dire s’il y a ou non phrase, proposition, act de langage; et pour qu’on puisse dire si la phrase est correcte (ou acceptable, ou interpretable), si la proposition est légitime et bien formée, si l’acte est conforme aux requisits et s’il a été bel et bien effectué. (..) ‘est qu’il n’est point en lui- même une unite, mais une function qui croise un domaine de structures et d’unités possibles et qui les fait apparaitre, avec des contenus concrets, dans le tempos et l’espace”. (Foucault, 1969, p. 114-115). 75

Um acontecimento, mais do que um fato em si, favorece a emergência de enunciados e de conjunto de enunciados. Além disso, o processo arqueológico em si consiste na análise de documentos. O documento31 é algo produzido para registrar um fato, mas sempre na perspectiva de alguém. Nessa direção, o conceito de documento para Foucault se aproxima do conceito de monumento, já que o monumento é sempre produzido para registrar algum fato, mas sempre na perspectiva de alguém, num determinado contexto – o que confirma a afirmação de que Foucault trabalha com a noção de sujeito historicizado e de posição enunciativa. Não são apenas textos a serem interpretados, mas documentos a serem analisados. A arqueologia se volta à descrição intrínseca do monumento. (Foucault, 2008a). O arquivo32 não é um acúmulo de textos resultante da soma dos documentos conservados por uma cultura numa determinada época. Para Foucault, o arquivo é “o sistema geral da formação e da transformação dos enunciados”. (Foucault, 2008a p. 148). É o conjunto de regras que, numa dada época e para uma determinada sociedade, define os limites e as formas dos discursos. (Foucault, 2008a). Uma ferramenta analítica de suma importância no Método arqueológico é o conceito de dispositivo: o dispositivo é um conjunto heterogêneo formado por discursos, instituições,

31 Eis a definição de documento na publicação original: “En fait ce sont les mêmes problems qui se sont posés ici et là, mais qui ont provoqué en surface des effets inverses. Ces problèmes, on peut les résumer d'un mot : la mise en question du document. Pas de malentendu: il est bien évident que depuis qu'une discipline comme l'histoire existe, on s'est servi de documents, on les a interrogés, on s'est interrogé sur eux; on leur a demandé non seulement ce qu'ils voulaient dire, mais s'ils disaient bien la vérité, et à quel titre ils pouvaient le prétendre, s'ils étaient sin- cères ou falsificateurs, bien informés ou ignorants, authentiques ou altérés. Mais chacune de ces questions et toute cette grande inquiétude critique pointaient L'archéologie du sallotr vers une même fin : reconstituer, à partir de ce que disentces documents et parfois à demi-mot le assé dont ils émanent et qui s'est évanoui maintenant loin derrière eux;le document était toujours traité comme le langage d'une voix maintenant réduite au silence, sa trace fragile,mais par chance déchiffrable. Or, par une mutation qui ne date pas d'aujourd'hui, mais qui n'est pas sans doute encore achevée, l'histoire a changé sa position à l'égard du document: elle t'e donne pour tâche première, non point de l'interpréter, non point de déterminer s'il dit vrai et quelle est sa valeur expressive, mais de le travailler de l'intérieur et de l'élaborer: elle l'organise, le découpe, le distribue, l'ordonne, le répartit en niveaux, établit des séries, distingue ce qui est pertinent de ce qui ne l'est pas, repère des éléments, définit des unités, décrit des rela- tions. Le ocument n'est donc plus pour l'histoire cette matière inerte à travers laquelle elle essaie de reconstituer ceque les hommes ont fait ou dit ce qui est , d passe et ont seul le sillage demeure : elle cherche à définir dans le tissu documentaire lui-même des unités des ensembles, des séries, des rapports. Il faut détache; l'histoire d~ l'image où elle s'est longtemps complupar quOi elle trouvait sa justification anthropolo-gique : celle d'une mémoire millénaire et collective qui s'aidait de documents matériels pour retrouver la fraîcheur de ses souvenirs; elle est le travail et la mise en œuvre d'une matérialité documentaire (livres textes récits, registres, actes, édifices, institutions règlements' hmques, objets, coutumes, etc.) qui présente tou-Jours et partout, dans toute société, des formes soit spontanées soit organisées de rémanences. Le document n'est pas l'heureux instrument d'une histoire q.ui serait en elle-même et de plein droit mémoire· l'histoire, c'est une certaine manière pour une sociétê de donner statut et élaboration à une masse documentair dont elle ne se sépare pas”. (Foucault, 1969, p. 13). 32 No original, “c’est le système général de la formation et de la transformation des énonces”. (Foucault, 1969, p. 171). 76

arranjos arquitetônicos, decisões normativas, leis, enunciados científicos, proposições filosóficas, proposições morais. Foucault atribui três significados diferentes ao termo “dispositivo”, a saber: 1) discursos, instituições, arranjos arquitetônicos, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas; 2) a rede de relações que pode ser estabelecida entre estes elementos tem sempre uma função estratégica concreta e se insere sempre numa relação de poder; 3) espécie cuja função é dizer o que uma dada sociedade num dado momento decide a respeito do que é aceito como um enunciado científico ou não científico.33

5.3 A segunda fase epistemológica: a análise genealógica

Na segunda fase epistemológica, denominada de genealógica, Foucault, sem se despojar de tudo quanto elucidou nas construções arqueológicas – especialmente acerca das categorias de dispositivo, discurso e arquivo, já acima tratados –, aborda as questões relativas ao poder. O filósofo busca especialmente demonstrar como os mecanismos de poder afetam as práticas da vida humana, apontando seu aspecto relacional que se revela de forma aparente quando é exercitado. São livros que melhor exemplificam esta fase: A ordem do discurso (1971), Nietzsche, a genealogia, a história (1971), além dos clássicos Vigiar e Punir (1975) e o primeiro volume da História da Sexualidade – A Vontade de Saber (1976). Enquanto as reflexões arqueológicas pretendem trazer a descrição dos regimes de saber em um determinado campo e num determinado período histórico, a genealogia busca, por meio

33 No original, o conceito de dispositivo de Foucault: “Ce que j'essaie de repérer sous ce nom, c'est, premièrement, un ensemble résolument hétérogène, comportant des discours, des institutions, des aménagements architecturaux, des décisions réglementaires, des lois, des mesures administratives, des énoncés scientifiques, des propositions philosophiques, morales, philanthropiques, bref : du dit, aussi bien que du non-dit, voilà les éléments du dispositif. Le dispositif lui-même, c'est le réseau qu'on peut établir entre ces éléments.Deuxièmement, ce que je voudrais repérer dans le dispositif, c'est justement la nature du lien qui peut exister entre ces éléments hétérogènes. Ainsi, tel discours peut apparaître tantôt comme programme d'une institution, tantôt au contraire comme un élément qui permet de justifier et de masquer une pratique qui, elle, reste muette, ou fonctionner comme réinterprétation seconde de cette pratique, lui donner accès à un champ nouveau de rationalité. Bref, entre ces éléments, discursifs ou non, il y a comme un jeu, des changements de position, des modifications de fonctions, qui peuvent, eux aussi, être très différents.Troisièmement, par dispositif, j'entends une sorte - disons - de formation, qui, à un moment historique donné, a eu pour fonction majeure de répondre à une urgence. Le dispositif a donc une fonction stratégique dominante. Cela a pu être, par exemple, la résorption d'une masse de population flottante qu'une société à économie de type essentiellement mercantiliste trouvait encombrante : il y a eu là un impératif stratégique, jouant comme matrice d'un dispositif, qui est devenu peu à peu le dispositif de contrôle-assujettissement de la folie, de la maladie mentale, de la névrose.” Entrevista com D. Colas, A. Grosrichard, G. Le Gaufey, J. Livi, G. Miller, J. Miller, J.-A. Miller, C, Millot, G. Wajeman), Ornicar, Bulletin Périodique du champ freudien, no 10, juillet 1977, pp. 62-93, Dits Ecrits tome III texte n° 206. Disponível em : . Acesso em : 14 ago. 2016 77

da utilização da noção de “relações de poder”, explicar o que a arqueologia apenas descreve. A genealogia tem o objetivo de explicar “quem”, “o que” e “por qual razão” decidiu-se uma coisa e não outra. Assim, “a genealogia apoia-se na arqueologia e a completa”. (Thirty-Cherques, 2010, p. 235). A partir da década de 1970, Foucault se utiliza da genealogia34 e busca traçar a relação entre o discurso e as condições econômicas, políticas, sociais, históricas e culturais para que este discurso em análise surja e se forme. A partir da constatação de Nietzsche de que, a depender da época e das circunstâncias, as palavras, os desejos e as ideias mudam de lógica, sentido e direção, Foucault passa a analisar os cenários e os pontos de ruptura. (Foucault, 1979, p. 12). Foucault afirma que os poderes não estão localizados num ponto específico do tecido social, mas que existem poderes locais e moleculares que se entrelaçam e que se manifestam por práticas e relações de poder, daí porque o poder não é uma coisa, mas uma relação (conceito relacional de poder). Relacionando poder e saber, o francês defende que o poder dita o que é “verdade”. Enfim assinala que o poder distribuído de forma microfísica produz o que chamamos de real ou verdadeiro. (Foucault, 1979, p.167). A análise genealógica, assim como a arqueológica, recusa o recuo no tempo para buscar a origem e almeja elucidar as descontinuidades. (Foucault, 1979). Assim, na genealogia o “itinerário metodológico de Foucault permanece o mesmo: não é buscando o subjacente, a estrutura, a consciência, o espírito, que se encontra a visão profunda das coisas”. (Thirty- Cherques, 2010, p. 237). Difere da arqueologia dada o interesse que a genealogia mantém com o presente, com a atualidade das microrrelações. Pela análise genealógica, podemos escrever a história das interpretações, no sentido de desvelar o pensamento como produto de interpretações impostas pela cultura, de forma a analisar a dispersão, a se desenvolver a partir da diversidade e das rupturas. (Ewald, 2004)35. Se na arqueologia percebemos a análise dos discursos, da forma como emergem e desaparecem nas práticas discursivas e não discursivas, na genealogia há a centralidade das

34 No item 3.1 já iniciei a abordagem deste conceito trabalhado por Foucault, sendo necessário trazer o tema à discussão, uma vez que no presente tópico trabalho especificamente a abordagem epistemológica da tese. 35 Conforme Ewald, 2004, p. 21: Généalogie. Dès la publication de Les Mots et les Choses (1966), Foucault qualifie son projet d'une archéologie des sciences humaines davantage comme une « généalogie nietzschéenne » que comme une recherche structuraliste. La généalogie, c'est une enquête historique qui s'oppose au « déploiement métahistorique des significations idéales et des indéfinies téléologies », qui s'oppose à l'unicité du récit historique et à la recherche de l'origine. Elle travaille à partir de la diversité et de la dispersion, du hasard des commencements et des accidents : en aucun cas elle ne prétend remonter le temps pour rétablir la continuité de l'histoire, mais elle cherche au contraire à restituer les événements dans leur singularité. 78

microrrelações de poder que estão presentes na análise, cabendo ao analista identificar as condições presentes e se interrogar como este presente chegou a ser presente. (Thirty-Cherques, 2010). Em suma: na análise arqueológica fazemos uma ontologia de nós mesmos em relação à verdade que nos constitui como sujeitos de conhecimento; na análise genealógica fazemos uma ontologia histórica de nós mesmos nas relações de poder que nos constituem como sujeitos atuando presentemente sobre os demais. (Morey, 2008). Portanto, as inovações quando da aplicação da genealogia, em face da arqueologia, residem: a) na ênfase dada ao não discursivo e ao presente; b) na análise de como se formam domínios de saber a partir de práticas disciplinares e; c) na preocupação com a questão do poder e na relação entre o poder e o saber. Neste último aspecto, analisa-se como o saber trata de um elemento estratégico para o poder – e como ambos se relacionam com a disciplina do corpo, gestos, atitudes, hábitos e comportamentos. Por isso, a genealogia é aplicada a investigações históricas bem definidas e as análises específicas devidamente particularizadas, voltadas ao presente e das relações que se travam de forma minuciosa na “dissecação teórica das relações de poder no nível micro”. (Thirty-Cherques, 2010, p.27). Pretendo neste trabalho realizar uma análise das relações presentes no ambiente da unidade prisional que aplica o Método APAC. Ademais, analiso as relações de poder em seus detalhamentos, não em seus aspectos macrofísicos. Para tanto, considerei o cotidiano narrado pelos internos da unidade, bem como as condições presentes no dia a dia dos internos e as práticas presentes nas relações travadas no âmago da unidade. Por isso, a opção metodológica do trabalho é pela análise genealógica.

5.4 Passos analíticos essenciais

Em linhas gerais, o processo de investigação foucaultiano não possui uma sequência rígida, mas abarca passos analíticos essenciais, os quais passo a tratar aqui. No entanto, de antemão ressalto que cada estudo genealógico é realizado a partir de uma construção artesanal, específica para cada pesquisa. (Thirty-Cherques, 2010). Assim, posso cingir como passos essenciais da análise efetuada na pesquisa apresentada: a) Eliminar da análise o lado oculto e as intenções contidas no discurso. Não se trata do que é sentido, mas o que é enunciado pelos sujeitos; b) Identificar práticas discursivas e não discursivas (materiais) nas relações de poder identificadas; 79

c) Identificar contextos situacionais presentes; d) Analisar de forma a criar um quadro de explicação na perspectiva da construção da história das interpretações; e) Abandonar a necessidade de buscar o ponto de origem; f) Indagar-se permanentemente sobre como as condições presentes chegaram a ser; g) Identificar as rupturas e as relações presentes entre saber, poder e disciplina.

A presente tese pretende explorar as relações de poder que se concretizam num ambiente carcerário, no viés de uma analítica genealógica. O foco da pesquisa é a análise das relações de poder materializadas em práticas discursivas e não discursivas, bem como de seus efeitos diretos na gestão de pessoas e na gestão dos corpos, sempre na perspectiva do encarcerado. Cabe enfatizar que esta pesquisa não possui foco na emergência do discurso de verdade nos diferentes campos de saber que perpassam a questão das APAC´s, mas procura identificar as práticas discursivas e não discursivas presentes no ambiente e nas relações travadas, bem como na forma como essas relações traduzem relações de poder e criam discursos de saber, os quais, por sua vez, alimentam e são alimentados pela disciplina. Vale lembrar, também, que a analítica genealógica foi a abordagem desenvolvida por Foucault em Vigiar e Punir (1976), sua obra sabedoramente dedicada à análise das relações de poder na prisão. Trata-se de uma genealogia do aprisionamento, que destaca o caráter punitivo e funcional da privação de liberdade como reprimenda criminal, além de abordar as técnicas disciplinares, o poder sobre o corpo, a vigilância e o sistema binário punição/recompensa como forma de moldar comportamentos, sendo que esta perspectiva é estendida às organizações formais (hospitais, quartéis, escolas, etc.).

5.5 A pesquisa de campo

O dispositivo do trabalho consiste nas práticas discursivas e não discursivas que foram encontradas no campo empírico, tais como o modo de funcionamento da APAC, seu regulamento interno, sua estrutura arquitetônica, as atividades englobadas em sua rotina, os hábitos e comportamentos incrustados à conduta cotidiana dos encarcerados. Assim, toda a analítica das relações de poder que se materializam nas práticas presentes no espaço da prisão foi extraída da observação da vida, da rotina, além da fala dos entrevistados, que são recuperandos na unidade ou o foram em algum momento e lá se encontram hoje na 80

condição de colaboradores (este é o caso de apenas um entrevistado, que é hoje encarregado da segurança da unidade). Conforme trata o próprio Foucault (2008a), quando aborda a formação das modalidades enunciativas, as entrevistas e a observação, no mínimo, devem se preocupar com os seguintes aspectos:

a) Quem fala, no conjunto de todos os sujeitos falantes? Quem aceita como verdadeira a enunciação escolhida? Qual é o status do indivíduo que profere o discurso? b) Quais são os lugares institucionais de onde o discurso é obtido (onde o discurso encontra origem e aplicação)? c) Quais são as práticas discursivas presentes? Quais as práticas não discursivas presentes? d) Qual o efeito das relações de poder nos hábitos, nos comportamentos, nos corpos e na formação do sujeito encarcerado?

A partir dos aspectos anteriormente enumerados, a análise procedeu-se da seguinte forma: primeiramente, houve um período de aproximação com o ambiente. Aproveitando-me da oportunidade criada pela docência, consegui desenvolver visitas técnicas que me proporcionaram contato com a unidade, mesmo antes de formular o pedido de autorização para as entrevistas. Durante esse período, estive na unidade em momentos diferentes, em dias da semana variados, e pude conversar com os recuperandos fora do estigma de quem ali estava para pesquisar. Desse modo, pude me fazer presente como alguém que ali se encontrava para conhecer o ambiente como uma cidadã que se interessa pelo assunto e quer ajudar. Estar nesse momento longe de gravadores, sem dúvida, fez com que eu pudesse me aproximar mais das pessoas, já que, naturalmente, há uma tendência a desconfiar de uma pessoa que porta um gravador nas mãos num ambiente carcerário que é objeto do imaginário da sociedade que não conhece a prisão. Após esse período de aproximação, oportunizado pelas visitas e por outras idas à unidade, diante da necessidade de conhecer com quem eu deveria falar para obter a autorização para as entrevistas, ou mesmo para tentar conversar pessoalmente com o presidente da APAC, fui finalmente recebida para uma entrevista com ele. De imediato, ele me perguntou quem eu gostaria de entrevistar e se surpreendeu quando eu afirmei que gostaria de entrevistar apenas os recuperandos. Ele, então, me pediu uma lista 81

das perguntas que eu pretendia fazer aos encarcerados e eu respondi a ele que eu tinha apenas uma lista mínima de perguntas, mas que elas poderiam variar muito, considerando que cada entrevistado poderia trazer elementos dos quais eu não estivesse previamente ciente a ponto de ter uma pergunta. Com uma certa desconfiança, ele me advertiu de que só poderia me autorizar as entrevistas se elas fossem realizadas na presença de um funcionário da unidade. Nesse ponto, eu disse a ele que não tinha medo dos presos, que, como advogada, já tinha ficado sozinha com presos, porém ele me respondeu taxativamente: “aqui não tem anjo, professora, aqui tem gente que já cometeu fatos muito sérios e se algo acontecer com a senhora aqui imagina o que a sociedade vai falar”. Eu disse a ele que concordava com a regra e com as limitações de proibição de fotografias e de identificação completa dos recuperandos nas entrevistas. Fui, então, finalmente, autorizada a iniciar os trabalhos. A regra do funcionário sempre presente nunca valeu, talvez pelo fato de que eu já havia, naquele momento, conquistado a confiança e a simpatia deles, para o bem da pesquisa e para que os encarcerados falassem livremente, sem nenhum tipo de possibilidade de receio que poderia ocorrer se estivessem na presença do funcionário. Nesse sentido, a confiança conquistada deveu-se a uma lógica de aproximação sempre pautada na estrita obediência às regras da unidade, ao trato educado e ao fato de eu lecionar numa instituição de ensino superior da cidade há mais de 14 anos. Certamente este último fator trouxe uma familiaridade maior que não seria fácil de se aferir numa cidade em que eu não pudesse ser reconhecida pelos atores do sistema penal. As entrevistas transcorreram a partir da seguinte sistemática, que se manteve ao longo de todas elas:

1) Momento da chegada à unidade: chegando à unidade, em diferentes dias e horários, eu me identificava na portaria e assinava o livro de entrada. Não podia entrar com qualquer aparelho que não fosse o gravador, papel, caneta, uma garrafa de água mineral e algo para comer. A roupa que eu usava era de grande importância, pois deveria mostrar o mínimo possível de pele, não podia ser justa, transparente ou decotada, o que me fez adotar uma espécie de “uniforme” para a realização das entrevistas: uma camisa larga, com uma calça de moletom, que sempre trazia comigo no carro e que foi usada, inclusive, em dias escaldantes. Ironicamente, as relações de poder e a disciplina da unidade geraram práticas não discursivas em meu próprio comportamento e isso, por si só, já era uma lição. Eu adentrava a unidade e já procurava um colaborador, que me 82

encaminhava até o regime fechado, passando por cinco portas até estar devidamente instalada, sendo que nas duas últimas havia grades e cadeados enormes. 2) Momento do encaminhamento: o entrevistado era encaminhado pelo diretor de segurança, que sempre escolhia aleatoriamente um recuperando que estivesse transitando no espaço em que eu estivesse instalada no dia (os espaços de realização das entrevistas variavam, o que era muito positivo, pois me dava a chance de me aprofundar ainda mais na observação das mínimas nuances dos ambientes). 3) Momento de apresentação: neste momento, o encarcerado entrava, eu o cumprimentava, dizia meu nome, que eu era professora e que estava escrevendo um trabalho sobre as APAC´s. Eu esclarecia que gravava as entrevistas para não esquecer, porque iria conversar com muita gente, mas que só eu tinha acesso às gravações e que elas não iriam chegar às mãos de quem quer que fossem. 4) Introdução da entrevista: feitas as apresentações, eu adentrava as perguntas, pedindo o mínimo de informações (idade, a escolaridade que tinha o entrevistado antes de entrar no sistema prisional, se tinha filhos, qual era sua cidade de procedência, se era praticante de alguma religião antes de ingressar na APAC, se já tinha passado por outras prisões, há quanto tempo estava na unidade, quanto tempo faltava para sair definitivamente e eventualmente descontraía o entrevistado com algum comentário sobre filhos, com curiosidade sobre a idade dos mesmos ou ainda dizendo algo sobre a cidade de procedência, a fim de fazer com que houvesse a confiança do entrevistado em falar). Essas informações eram muito importantes, pois com elas eu já me situava em relação a importantes questões para a identificação do lugar do sujeito falante. 5) Corpo da entrevista: para o corpo da entrevista, foram identificadas questões consideradas centrais, a saber:

a) Como foi o encarcerado admitido na APAC? b) Por qual motivo o entrevistado quis vir para a APAC (se é que quis vir)? c) Como, na opinião do entrevistado, as regras são garantidas na APAC se não há algemas, seguranças, gás de pimenta ou cachorros? d) Se existia algum espaço para o entrevistado desabafar; e) Se alguma prática confessada num desabafo já havia ocasionado punição; f) Se havia grupos na unidade (“panelinhas” ou “bolinhos”); g) Como o entrevistado via a APAC diante de outras unidades prisionais e se havia palavras e hábitos que só existiam na APAC; 83

h) Se havia alguma diferença entre ser preso e ser recuperando; i) O que mais havia mudado no entrevistado, sem contar os aspectos morais; j) Se o entrevistado tinha religião na APAC e como funcionava a prática religiosa; k) Se o entrevistado achava que era possível haver uma instituição como a APAC sem a religião; l) Se havia regras negociáveis na APAC e como os recuperandos faziam quando desejavam alterar alguma coisa; m) Se o entrevistado já tinha tido vontade de fugir; n) Se o entrevistado tinha medo ou se conhecia casos de pessoas que tinham medo do momento de ter que sair da prisão ou que não queriam mais ir embora; o) O que faria o entrevistado caso ele presenciasse alguém fora da unidade difamar a APAC e se ele faria uma tatuagem com o emblema da APAC; p) Se o entrevistado mudaria algo na APAC; q) Se havia ou houve algo no sistema tradicional que pudesse ser aproveitado na APAC; r) O que o entrevistado pensava sobre o quadro de mérito e qual a razão do quadro ficar exposto no refeitório.

Ressalto, mais uma vez, que se tratava de um roteiro aberto e, sempre que o entrevistado permitia ou que algum aspecto da sua fala explicitava a presença de uma prática não discursiva de poder, outras indagações e questionamentos surgiam. 6) Fase de conclusão: perguntava se havia algo que eu não tivesse perguntado e que o entrevistado considerava importante dizer. Após alguma observação, eu agradecia a ajuda e me despedia. De forma geral, as perguntas formuladas visavam construir as respostas que eu necessitava obter para alcançar os objetivos específicos da pesquisa. Nessa perspectiva, as perguntas exploravam as nuances do poder disciplinar, nos aspectos ligados à disciplina (perguntas c, f e l), abordavam o poder pastoral (perguntas d, e, j e k), os processos de subjetivação (perguntas h, i, m, n, o, p, q e r) e o efeito do Método sobre os corpos (pergunta g). Foram entrevistados ao longo de três meses (janeiro, fevereiro e março de 2017) um total de 22 pessoas. O espaço temporal entre as entrevistas era necessário, haja vista que todas eram extremamente desgastantes do ponto de vista mental, porque demandavam uma atenção e uma concentração em alto grau, a fim de que nenhum detalhe fosse perdido. Muitas reflexões 84

foram efetuadas por mim entre as entrevistas, muitas delas externadas em áudios a fim de que não se perdessem. Todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. Elas compõem um acervo de aproximadamente 40 horas de gravação. As entrevistas foram interrompidas quando já não mais apresentavam informações novas.

5.6 A unidade prisional escolhida

A unidade de Sete Lagoas, denominada Unidade Dr. Afrânio de Castro – em homenagem a um dos precursores do Método APAC no país – tem uma localização relativamente privilegiada na cidade, uma vez que fica a menos de cinco minutos de carro em relação ao centro da cidade. Apesar da pavimentação ruim da via e da ausência de placas que identifiquem sua localização, bem como de placas de identificação na própria unidade, percebe- se pelos muros altos – sim, a unidade possui muros altos – que se trata de uma unidade de segurança. Na parte frontal do prédio há um portão característico de unidade prisional, largo, alto, hermeticamente fechado e na lateral há um pequeno jardim em que se veem frases de solidariedade em pequenas placas que enfeitam as flores. O visitante sempre é atendido por um interno e por um funcionário, as regras de segurança são mínimas, se comparadas às regras de segurança com as quais me deparei nas unidades prisionais convencionais. O visitante deve se identificar num livro, onde consta nome, função (advogado, voluntário, integrante da diretoria etc.) e horário de entrada e saída, devendo neste momento haver a apresentação de documento de identificação. Não é permitida a entrada com celulares, máquinas fotográficas, tablets, chaves, óculos escuros, bonés de grifes e às mulheres é dada a recomendação de que devem se vestir com o máximo possível de discrição. Na entrada, há escaninhos, a maioria deles bem danificados pelo uso e já ocupados com pertences de alguns internos, de funcionários e até mesmo com material de limpeza. Em todas as vezes em que lá estive – foram 21 visitas ao todo – deixei meus pertences nestes escaninhos sem chave e quando retornei eles lá continuavam, intocados – o que inclui falar em possibilidade de acesso, pelos internos, ao celular e à chave do meu carro. Ultrapassada esta entrada, por uma porta comum tem-se a visão do que vou chamar aqui de um pátio principal, em que, ao se atravessar pode-se chegar à administração, ao acesso direto aos alojamentos dos regimes aberto e semiaberto, às áreas em que os internos destes dois regimes trabalham e fazem suas refeições. Há uma área de criação de animais, como peixe, 85

porco, galinhas – que são consumidos pelos internos – uma cozinha, área para manobra de veículo e uma capela. Há também uma área utilizada para a produção de blocos de cimento. A capela – que mais se aproxima de um oratório, onde foram colocadas uma imagem católica, uma Bíblia e flores – é frequentada por aqueles que assim o quiserem. Esse pátio principal também dá acesso a uma pequena sala de música, bastante improvisada. Dentro dela localiza-se a entrada para as dependências do regime fechado. Para efetivamente adentrar a área do regime fechado, eu sempre passava por duas grandes grades muito bem trancadas. Nessa área de acesso restrito, estão dispostas as celas dos internos, que ficam distribuídas em torno de um pátio, usado pelos presos para a laborterapia (atividades manuais de artesanato) e também para a prática de esportes. Há uma sala utilizada para atendimento de um padre, que é também utilizada para a realização de outros tipos de atendimento individual – diante da falta de espaço específico para esta atividade – e para reuniões do CSS (Conselho de Sinceridade e Solidariedade). O refeitório é grande e nele há uma televisão, usada nos momentos considerados adequados pela diretoria da unidade (após o jantar), além de mesas, cadeiras, caixas de som e mensagens religiosas. Pude identificar mensagens espíritas e mensagens católicas. No refeitório, há uma porta de acesso a uma espécie de mercearia, onde são comercializados doces, materiais de higiene, alguns salgadinhos e material de artesanato. Cada interno pode usar, no máximo, 20 reais por semana com essas compras. Também a partir do refeitório há acesso para as salas de aula. Nelas, há inúmeros livros didáticos e literários, assim como outros de temas religiosos. Em cima da mesa do professor, há um Minutos de Sabedoria, livro de bolso com mensagens de apoio e autoajuda. Na unidade, há a oferta de Ensino Fundamental e Médio. A comida me pareceu bastante apetitosa, houve uma oportunidade em que fui até convidada a almoçar com os internos. Ainda no refeitório há um quadro de comportamento afixado; neste local é onde são realizadas as visitas e a maior parte das atividades coletivas – orações, cultos, refeições, visitas, apresentações musicais. No quadro de comportamento, exposto a todos, há a seguinte frase: “Premiação e Valorização Humana”. Nesse quadro não há diferenciações de comportamentos positivos e adequados, mas diferenciações de comportamentos negativos e indesejados, que acarretam a colocação de esferas coloridas (amarelas, vermelhas e pretas, partindo da menos grave para a mais grave), sendo que a cor preta pode implicar a exclusão da unidade). O quadro fica visível para todos os internos e também para os familiares no dia da visita. Nele, há um 86

espaço para a menção ao recuperando modelo do mês. Na unidade, esta prática foi deixada, mas estava em vias de retomada quando eu estava lá realizando a pesquisa de campo. De forma geral, a estrutura da unidade é bastante precária e precisa de reformas e troca de mobiliário. A parte administrativa é composta por um anexo, com uma sala de atendimento e um banheiro, e outra sala, que é compartilhada entre a assistência jurídica e a presidência da unidade. Há uma sala (que está mofada e necessita de reparos) usada para receber visitantes para conversas mais institucionais e reuniões de diretoria, composta por uma mesa de reunião, ventilador e um sofá. Nas paredes, há a presença de muitas mensagens de autoajuda, frases de efeito no mesmo sentido, jargões da APAC, quadros religiosos, pinturas dos próprios internos. Em regra, há muitas grades externas e poucas janelas. As cores, que são padrão para pintura de paredes em todas as unidades da APAC, são o branco e o azul celeste, por isso a unidade, internamente, remete a um local de orações e, ao mesmo tempo, a um local de cura. O ambiente é organizado e muito limpo, mesmo não havendo a utilização de creolina, que confere o odor característico de estabelecimentos prisionais (considerando a minha experiência em visitar estes estabelecimentos). Sobre a aparência geral dos internos, todos usam crachás com nome destacado, sobrenome em letras menores e logomarca da APAC. Não usam uniformes, mas muitos possuem camisas com a logomarca da APAC e com o slogan tradicional. Além disso, todos assinam um termo de anuência em que autorizam a realização de exame antidoping a qualquer momento e sem necessidade de aviso prévio ou de justificativa, além de assinarem um termo de cessão de uso de imagem e de voz. À época da realização das entrevistas, havia 93 pessoas encarceradas, sendo 64 no regime fechado e 29 no regime semiaberto. A unidade foi fundada em 2001, portanto neste ano completa 16 anos de existência. A diretoria, recentemente eleita (2016), é composta por 01 (um) presidente, 01 (um) vice-presidente, 03 (três) diretores e um conselho deliberativo, no qual tem voz, além da diretoria, 01 (um) secretário e 01 (um) fiscal financeiro, totalizando 07 (sete) pessoas, todas com funções exercidas a título voluntário, o que, a meu ver, é bastante despropositado, haja vista o volume de trabalho pelo qual responde especialmente o presidente da unidade. Os membros da diretoria são eleitos pelos voluntários que prestam serviços na unidade, pessoas da comunidade em geral que desenvolvem atividades de oficinas, abordagens individuais, missões religiosas etc. 87

A equipe de colaboradores é mínima, composta apenas por 10 (dez) pessoas ao todo, para atividades que se desenvolvem durante o dia e durante a noite, aqui se entendendo como colaboradores os que possuem vínculo celetista com a organização. A unidade conta com 01 (um) encarregado administrativo, 01 (um) encarregado de segurança, 01 (um) encarregado de tesouraria, 02 (dois) plantonistas diurnos, 02 (dois) plantonistas noturnos, 02 (dois) condutores de segurança e 01 (um) assessor jurídico. Os mantimentos para alimentação dos presos são fornecidos pelo Estado e a comida é preparada pelos próprios encarcerados. A limpeza da unidade também é efetuada por eles, assim como toda a atividade de segurança, apenas supervisionada pelo encarregado de segurança – um ex-recuperando da unidade que cumpriu uma pena por crime de homicídio, conforme ele mesmo relatou em sua entrevista. A área total da unidade é de, aproximadamente, 9.000 metros quadrados, perfazendo em torno de 142 por 62 metros. As regras gerais da unidade, com os horários para a prática das atividades, são repassadas aos recuperandos quando chegam à unidade. Trata-se de uma rotina rígida e muito sistematizada. Quanto ao regime de punições – a infração às regras enseja as famosas esferas coloridas, que podem significar a transferência definitiva do recuperando para outra unidade – ele consta de um Regulamento Disciplinar que fica na posse do encarregado de segurança e dos membros do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS), órgão colegiado que identifica as infrações e as encaminha ao encarregado de segurança. A este regulamento, em princípio, não tive acesso formal, embora eu tenha insistido para que me fosse disponibilizada uma cópia e tenha mesmo chegado a manuseá-lo num momento de distração de um dos membros do CSS. Posteriormente, todo o conteúdo do regulamento me foi disponibilizado em versão física, constando sua digitalização no Apêndice F desta tese. A seguir, algumas fotos externas da unidade:

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Figura 3: Entrada da unidade. Destaque para a campainha e para a fragilidade da fechadura.

Fonte: Fotografia da autora.

Figura 4: Vista geral da entrada da unidade. Na porta azul, um acesso de visão para verificar a aparência do visitante.

Fonte: Fotografia da autora.

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Figura 5: Jardim da fachada, cuidado pelos próprios internos. Destaque para a organização e para as placas de boas vindas.

Fonte: Fotografia da autora.

Figura 6: Vista de aproximação da unidade. Destaque para a ausência de câmeras de vigilância, concertinas e cercas elétricas. Na guarita não há vigilância.

Fonte: Fotografia da autora.

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Figura 7: Visão de aproximação da unidade.

Fonte: Fotografia da autora.

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6 O PODER QUE CRIA REALIDADES E SUBJETIVIDADES: DE PRESO A RECUPERANDO, DE PRISÃO À “MÃE APAC”

“A APAC, isso aqui é uma mãe.” Entrevistado A., áudio 1136 “Nó, a APAC pra mim é... Acho que assim não existe palavra pra expressar o que eu sinto pela APAC.” Entrevistado W., áudio 437 “Porque lá na cadeia comum a gente é tratado como lixo.” Entrevistado M., áudio 438

O poder não possui apenas efeitos nefastos e indesejáveis. Nas sociedades modernas que Foucault localiza a partir do século XIX, as relações disciplinares são positivas, uma vez que o poder é “produtor de individualidade”. (Foucault, 1996, p. 19). Assim, do mesmo modo que, antes da criação do hospício, o louco era apenas o subconjunto de uma população mais vasta para, após sua criação, tornar-se o estigmatizado doente mental, da mesma maneira ocorre na realidade da APAC. O indivíduo que antes era o preso, o condenado, quando se amolda às relações disciplinares conformadas no ambiente da unidade, torna-se o recuperando. Dessa forma, é importante deixar claro que o indivíduo não é destruído pelo poder, é fabricado por ele. (Foucault, 1979). O Método APAC, devidamente sistematizado com seus princípios basilares, constitui um saber – um saber que se volta ao delineamento de uma metodologia que intervém por meio de relações de poder travadas com o grupo de internos da unidade e com a individualidade do novo sujeito que é fabricado: o recuperando. Assim, o poder quando exercido gera subjetividades, independentemente de análises valorativas que se façam em relação à situação criada.

36 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 37 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 38 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 92

Se Foucault efetuou a análise do ambiente carcerário em Vigiar e Punir, ainda em 1974, por certo que o fez de forma a não poder considerar o desenrolar das relações de poder num ambiente prisional que se consolidou a partir da década de 1990 do século XX. É inegável, a partir das observações de campo, que o poder inventou a APAC e o indivíduo “recuperando”. Com isso quero dizer que a relação de poder fez com que a maneira de administrar pessoas presas, moradoras do ambiente penitenciário, fosse reinventada para atender à necessidade social de legitimar e manter a pena privativa de liberdade como alternativa viável – ou menos inviável – como medida sancionadora às pessoas condenadas pela prática de crimes. O primeiro de todos os efeitos criativos que posso citar é a criação da subjetividade do recuperando. A pesquisa de campo revelou a existência de uma diferença bem marcada entre “ser preso” e “ser recuperando”. A identidade de um “recuperando”, a partir das entrevistas realizadas com eles mesmos, pode ser resumida a algumas características que, de forma geral, fazem com que adquiram uma subjetividade muito específica. No ambiente prisional da APAC, embora presentes os requisitos que confirmam a relação de disciplina, como demonstrarei ao longo deste capítulo, há algumas variáveis – verdadeiras reconfigurações – que permitem o surgimento de uma subjetividade nova que chamo aqui de “homem APAC”. De forma geral, o “homem APAC” se considera mais respeitado pela administração prisional. É como se fossem presos de “uma categoria elevada”, uma “casta”, quando se comparam aos presos em geral, recordando períodos vividos no cárcere tradicional. Nesse sentido, M. (áudio 8) foi extremamente claro ao afirmar: “Hoje nós somos presos, eles nem falam preso, eles falam recuperando... É diferenciado. Aqui é um regime diferenciado”.39 Passo, assim, a enumerar as principais tecnologias empregadas para a formação dessa nova subjetividade.

6.1 O desejo de compor os quadros da APAC e a forma de admissão

Com a pena privativa de liberdade assumindo o papel principal no rol das reprimendas criminais, até como forma de evolução do Direito Penal, como já ressaltei anteriormente, o castigo se torna “uma economia dos direitos suspensos”. (Foucault, 2013, p. 16).

39 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 93

Enquanto ligada à imposição da vontade estatal ao corpo do condenado, retirando-lhe o direito de se locomover livremente, de fazer escolhas sobre seu próprio tempo, obviamente que a prisão não é algo desejado, ansiado, ao menos de forma consciente e expressa, por qualquer indivíduo que goze de liberdade de locomoção. Neste ponto, o Método APAC inova de forma bastante inteligente. Ao invés de surgir na realidade do sujeito como uma alternativa diretamente imposta pela sentença judicial, a organização surge como uma possibilidade de melhoria, como uma dádiva ou privilégio, o que, sem dúvida, altera os resultados encontrados. O modo como a oportunidade de estar na APAC surge para o condenado é crucial para que toda a metodologia passe a se desenvolver. A APAC se mostra como uma alternativa boa, como um ambiente diferente dos demais. A APAC consegue construir esta imagem a partir de duas situações muito bem comunicadas ao seu mercado: 1) só é possível ingressar na APAC após uma experiência na prisão tradicional; 2) o número de vagas disponíveis na APAC é muito pequeno se considerarmos a população carcerária em geral. Na cidade de Sete Lagoas, comarca em que a pesquisa de campo foi realizada, a APAC oferece 93 vagas, com ocupação por 100 internos. Na cidade, há um presídio tradicional, onde há a disponibilidade de 298 vagas, mas há 649 internos.40 Assim, a APAC representa menos de 8% das vagas disponíveis no sistema carcerário de Sete Lagoas e esta é uma realidade que se repete ao longo do país em escalas em que a APAC tem uma representatividade ainda menor. As APACs em Minas Gerais, conforme dados do relatório do Conselho Nacional do Ministério Público, publicado em março de 2017, possuem capacidade total para 2.547 vagas, com ocupação de 2.171 internos. O sistema prisional tradicional mineiro – excluídas as APACs – possui capacidade total de 29.360, ocupadas por 47.952 condenados. Nessa perspectiva, no contexto do estado de Minas Gerais, as APACs representam apenas pouco mais de 4% da ocupação total. Observo, ainda, que enquanto há um déficit de vagas no sistema tradicional, há um superávit de vagas nas APACs mineiras.41 Voltando à realidade de Sete Lagoas, a superlotação da unidade prisional tradicional (298 vagas para 649 internos) torna a APAC uma proposta ainda mais atraente.

40 Fonte: Conselho Nacional do Ministério Público. Capacidade e ocupação das unidades prisionais brasileiras. Relatório capacidade e ocupação extraídas do último formulário anual cadastrado no SIP-MP – Anual março de 2017. Disponível em: . Acesso em: 25 jun. 2017. 41 Fonte: Relatório do Conselho Nacional do Ministério Público, 2016. 94

Os números e a sistemática de acesso, que exige uma permanência mínima no sistema prisional tradicional e depois a autorização judicial para a transferência, explicam o motivo pelo qual os internos da APAC Sete Lagoas se consideram escolhidos. Em geral, os entrevistados insistiram muito para serem admitidos na APAC. Todos eles passaram pelo sistema carcerário tradicional e foram transferidos para a APAC por força de uma decisão judicial inspirada na insistência de cartas, na interferência das mães e familiares perante o juiz, ou mesmo do diretor da unidade prisional originária que viu o indivíduo como um ser humano “passível de recuperação”. Nas entrevistas, quando perguntados sobre o que alegavam em seus pedidos, são frases recorrentes que “queria ter uma mudança de vida”, “queria ter uma vida nova”, “porque na realidade eu não sou do crime”. (Entrevistado M., áudio 8)42. De forma bem clara, o mesmo entrevistado afirma: “eu quis vim pra cá por dois motivos. Porque aqui, pelas informações que eu tive na época, que aqui é pra quem quer uma mudança de vida e quer ser tratado como um ser humano”. (Entrevistado M., áudio 8)43. Por sua vez, o entrevistado B. confirma:

eu queria vim pra cá porque nos presídio lá eu escutava muitas pessoas falando né, da APAC, né? Então muitas pessoas que já tinha pagado aqui na APAC, que tinham pagado pena aqui. Que tinha saído e tinha sido preso de novo. Falava né que os sistema da APAC é um sistema muito bom. Diferenciado. (...) aqui na APAC você é tratado como homem, sua família não tem que ficar abaixando em espelho pra ir te visitar. (Entrevistado B., áudio 8)44.

Da mesma forma, o entrevistado W. (áudio 4)45 diz: “eu conversei com o juiz e pedi para ele uma oportunidade.” A diferença, portanto, entre o ingresso do preso na APAC e no sistema tradicional já se inicia no processo de admissão na unidade. Estar na APAC é uma realidade bastante desejada por aquele que vai se tornar um recuperando, muitos deles inspirados na narrativa e na promessa de que no ambiente da APAC receberão mais respeito, não só para si como para seus familiares. De fato, entendo que as péssimas condições do sistema carcerário tradicional fariam com que a relação de poder criasse uma nova realidade carcerária que passasse a ser desejada.

42 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 43 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 44 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 45 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 95

Não posso deixar de demonstrar que também não são raras as declarações dos que viram na APAC uma possibilidade concreta de fuga, haja vista a ausência de segurança ostensiva no ambiente. (Entrevistado M., áudio 8)46 esclarece que “a maioria de todos que vem é no sentido de querer ir embora, de fugir”. Não posso dizer desta maioria, mas o desejo da fuga – anterior à entrada na unidade ou superveniente na fase de adaptação – foi narrado em algumas situações. Porém, em meio às declarações sussurradas do desejo furtivo da fuga emitidas com algum temor, surgiu sempre a observação de que, ao chegarem à unidade, perceberam que o melhor seria estar ali e não fugir, uma vez que, foragido e recapturado, não mais poderia regressar à APAC, sendo obrigado a suportar o que para os entrevistados se traduz em martírio: as lembranças de algemas, cães, cacetes, spray de pimenta, os gritos e as truculências, sempre presentes no ambiente prisional tradicional. Alguns declararam que, ao chegar à unidade, notaram a falta de aparato de segurança ostensiva, “no primeiro instante eu pensei: ah, realmente dá pra fugir”. (Entrevistado L., áudio 8)47. Mas logo perceberam que a unidade é “um centro de recuperação (...) pra recuperar o bandido né num ser humano, numa pessoa de bem”. (Entrevistado L., áudio 8)48. Percebi claramente que a APAC é muito ansiada não somente em razão da vantagem em si de estar ali, isoladamente considerada. A APAC também é desejada em virtude da aversão ao estabelecimento prisional tradicional. As relações humanas travadas entre a organização e os internos, no âmbito da APAC, demonstram a existência de uma cultura de rompimento com a disciplina ostensiva do corpo e com a intimidação exercida de forma aflitiva. As comparações entre as condições presentes no sistema tradicional e a forma de tratamento da APAC pululam já no início da fala dos entrevistados. Sobre o ambiente da APAC, afirmam que “não tem arma, não tem escracho com a gente, a família da gente não é escrachada. Aqui a gente sempre é tratado com o maior carinho pelos voluntários, pelos funcionários”. (Entrevistado M., áudio 8)49. “A APAC, isso aqui é uma mãe”, afirma o entrevistado A., (áudio 11)50.

46 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 47 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 48 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 49 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 50 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 96

Por outro lado, sobre o ambiente da prisão tradicional, declaram que “lá tem muita privação, a família da gente também (...) ninguém quer voltar pro presídio (...) porque se ela [a pessoa] voltar lá ela vai sofrer mais. Lá tem mais punição, sabe que lá a família vai sofrer”. (Entrevistado J., áudio 8)51. Ou ainda: “No sistema comum a gente é oprimido, né? É tratado como um cachorro mesmo”. (Entrevistado B., áudio 8)52. Como já ressaltei, em todos os casos, os entrevistados necessariamente passaram pelo sistema prisional tradicional e, somente após essa experiência, foram admitidos na APAC. Como exceção, identifiquei apenas um caso de alocação direta de um condenado à prisão numa vaga da APAC, sobre o qual falarei logo adiante. Creio que a obrigatoriedade de passar pelo sistema prisional tradicional desempenha o papel de valorizar a forma de vida que é proporcionada pela APAC e a vaga em si, bem como permitir que a possibilidade de adaptação do indivíduo a regras possa ser aferida pelas instâncias decisórias. Conquistar a vaga é realmente a coroação de muito esforço não apenas em termos de ter um bom comportamento na unidade prisional tradicional, mas também no que no que tange a chamar a atenção do magistrado responsável pelo processo de execução penal do preso. Nesse contexto, afirmam claramente que se esforçaram: “mandei um ofício pro juiz né? (...) eu escrevi lá pedindo oportunidade”. (Entrevistado G., áudio 3)53. “Eu mesmo que escrevi. Conversei com o diretor da unidade algumas vezes também”. (Entrevistado J., áudio 3)54. “Eu fiquei uns quatro meses fazendo pedido pra vim pra cá.(...) eu fiz uns dez pedidos”. (Entrevistado M., áudio 4)55. “Minha mãe mora em Belo Horizonte e vinha duas vezes por semana, ia lá no Fórum, conversava com o juiz, cobrava, pedia, ia sempre assim.” (Entrevistado A., áudio 11)56. “Eu conversei com o Juiz e pedi para ele uma oportunidade”. (Entrevistado W., áudio 4)57.

51 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 52 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 53 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 54 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 55 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 56 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 57 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 97

Quanto ao único entrevistado que jamais tinha passado por estabelecimentos prisionais tradicionais (entrevistado V., áudio 11), o interno afirmou que estava numa APAC de outra localidade, recentemente transferido para a unidade de Sete Lagoas. Ele relatou que tinha conseguido a vaga por intermédio de um juiz que é primo de seu cunhado. Tratava-se de um interno que já sabia que a APAC tinha condições mais dignas de cumprimento de pena. Foi também o único entrevistado que declara ter sido condenado sem ter cometido crime algum – afirmativa muito comum no sistema tradicional, o que pude constatar nos vários anos de advocacia exercida. No que concerne à decisão judicial que ordena a transferência, não consegui encontrar uma lógica objetiva – em termos empíricos, não digo aqui de normas jurídicas – que aponte para critérios que possam ser elencados de forma mais exata para a concessão da vaga. De forma geral, a regra para conseguir a vaga é insistir e conquistar a atenção do magistrado, do promotor de justiça, do diretor da unidade prisional tradicional e demonstrar, através de seu comportamento, que está realmente apto a aderir às regras da unidade. A subjetividade do juiz da vara de execuções criminais, ao recrutar quem vai ou não para a APAC, em muito se assemelha à subjetividade empregada nos processos seletivos típicos das organizações em geral. Por mais que as organizações tentem fixar e enunciar critérios de seleção, há um espectro de subjetividade do avaliador que não alcança uma definição exata do ponto de critérios objetivos para a escolha final. Lado outro, o candidato à vaga também tende a dizer o que o avaliador ou o entrevistador responsável pela seleção deseja ouvir. Assim como as empresas, na APAC o candidato tende a ocultar sua atração pelo ambiente em razão da possibilidade de fuga, e centraliza seus argumentos no aspecto da motivação para mudar de vida. Os candidatos adotam o discurso voltado a valores menos imediatistas, como também ocorre nos processos seletivos para vagas de emprego. Embora haja a intenção inicial de fuga, o candidato admitido na APAC acaba por desistir de seu intento, e neste sentido, posso traçar claramente uma analogia com a capacidade que certas organizações privadas possuem para reter talentos, fixando o colaborador que inicialmente desejava apenas uma colocação temporária. Não obstante a falta de clareza, um dos entrevistados (entrevistado G2, áudio 3)58 explicou: “tem uma lista, tem uma listagem. Aí ela [esposa] foi no fórum e lá tem alguns pré-

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requisitos pro seu nome entrar na lista. Aí eu já era condenado, já tinha uma sentença condenatória, já tinha mais de um ano que eu tava no sistema [tradicional] e eu não tinha falta grave.” Quando ocorre a admissão, o registro material dos dados relativos ao acompanhamento da execução penal do indivíduo condenado é transferido à APAC. Em Vigiar e Punir (1974), Foucault demonstra a passagem da hegemonia das penas de suplícios públicos permeadas pelas execuções capitais públicas e torturas para a obtenção da verdade para a predominância da pena privativa de liberdade. Como exercício de poder, as penas capitais, executadas diante dos olhos da sociedade, traziam como consequência: a) reativar o poder do soberano, que tinha o poder de decisão de vida e de morte, tornando sensível ao povo “a presença encolerizada do soberano” (Foucault, 1996, p. 49); b) a possibilidade de transformação do criminoso em um herói, exposto à crueldade do poder soberano. A publicidade da execução se transformava num verdadeiro show para o povo, e ao mesmo tempo num ato em que o condenado tinha a possibilidade de se expressar livremente a ponto de declarar inocência, denunciar o excesso, os maus tratos e as condições desiguais presentes na sociedade. O espetáculo de crueldade gerava certa solidariedade com o condenado e sentimento de revanche contra o poder. (Foucault, 1996). O medo político gerado pela adoção das penas cruéis e capitais abriu uma crise e “propôs para resolvê-la a lei fundamental de que o castigo deve ter a ‘humanidade’ como medida”. (Foucault, 1996, p. 72). Assim, esclarece Foucault (1996, p.78), “o verdadeiro objetivo da reforma, e isso desde suas formulações mais gerais, não é tanto fundar um novo direito de punir a partir de princípios mais equitativos, mas estabelecer uma nova economia do poder de castigar, assegurar uma melhor distribuição dele (...)”. A valorização da gestão que a APAC faz de seus internos, como contraponto à gestão implementada nas unidades prisionais na atualidade, responde ao custo político de manutenção de cárceres tradicionais cada vez mais degradantes, repletos de violações a direitos e com estrutura de manutenção muito cara do ponto de vista econômico. Conforme os dados do Conselho Nacional de Justiça, que datam de abril de 2017, em Minas Gerais, por exemplo, o preso custa, em média, R$ 2,7 mil por mês pelo sistema tradicional dos presídios do Estado e R$ 1 mil pelo Método de ressocialização APAC59.

59 Fonte disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2017. 99

Portanto, a metodologia APAC, na forma como se apresenta, responde ao clamor de setores da sociedade que defendem a abolição de presídios e das penas de prisão, mas sempre mantendo em seu núcleo central a forma de sanção penal ligada à privação de liberdade, e de uma maneira muito menos custosa do ponto de vista econômico. Em suma, a admissão na unidade APAC é um ato voluntário, não imposto. Mais do que voluntário, é quase um bem a ser adquirido, rarefeito no mercado. Essa propaganda que se multiplica entre os internos faz com que a metodologia, extremamente barata em função dos custos do sistema tradicional, ainda seja vista como humanizada e respeitosa. Mutatis mutandis, constatei que estava diante da mesma situação ocorrida com a pretensa humanização que fez com que a pena privativa de liberdade substituísse gradativamente a aplicação de penas cruéis, degradantes e de morte.

6.2 Do ritual de passagem: de criminoso para Homem APAC

A pena privativa de liberdade é imposta, mas a escolha pela APAC é do indivíduo. Este sujeito estará então ingressando numa organização que criará, por meio das relações de poder, uma nova subjetividade, como já disse. O lema da APAC, em sua filosofia, afirma: “Matar o criminoso e salvar o homem”. Em A Ordem do Discurso (1999a), Foucault assinala que o ritual é um importante procedimento que define todo o conjunto de signos que deve acompanhar ou fazer circular o discurso. Em outras palavras, a adoção de um procedimento especial, como um ritual, é uma forma de controlar os discursos. Trata-se de um procedimento interno que funciona, sem dúvida, para classificar, ordenar e distribuir. Só está qualificado a proferir o discurso aquele que cumprir o procedimento especial: o ritual. Na APAC, esse procedimento especial consiste em um ato de admissão, quase solene, que visa confirmar a oposição entre o sistema tradicional de execução penal e a gestão dos internos nas APACs. Trata-se de um verdadeiro rito de passagem. Alguns descrevem com lágrimas nos olhos a recordação do dia em que chegaram à unidade. De olhar cabisbaixo, proibidos nos ambientes prisionais de que provieram de encarar os agentes de segurança, são recebidos com falas e tratamentos motivacionais que os incitam a olhar de cabeça erguida e a deixar lá fora o criminoso. 100

Recordando o grande dia do ingresso na unidade, o entrevistado G2 (áudio 3)60 o descreve da seguinte forma:

eu cheguei lá fora, lá na portaria, aí eu já troquei de roupa. Eu tirei a roupa da SUAPI vermelha, aí vesti a roupa da APAC e entrei. Quando eu tava entrando aqui no refeitório, aí tava todo mundo aqui em cima. Eu até assustei, aí tinha um rapaz aqui na minha frente, tava dando uma palestra de empreendedorismo. Aí na hora que eu sentei ele falou assim: se você quer, você pode. A única pessoa que pode matar os seus sonhos é você mesmo. (...) Um dia que eu não vou esquecer mais nunca na minha vida.

Já o entrevistado J. (áudio 3)61, narra da seguinte maneira:

Foi uma emoção muito grande, né? Tipo assim... de ver como eu fui recebido. Como é a diferença do sistema de lá [prisão tradicional] que eu fui recebido da outra vez, da primeira vez que eu fui preso lá. Fiquei meio apreensivo, sem saber das regras, tava até vamos se dizer assim, meio alienado de lá ainda, ficava só com a cabeça baixa... Vendo assim que minha dignidade tava no zero e vendo que ela tava sendo recomeçada pela forma que eu tava sendo recebido. Porque aqui eu tava sendo tratado como um ser humano. Não como um bicho que eu era tratado lá.

O entrevistado M. (áudio 4)62 se recorda do tratamento diferente que recebeu logo ao chegar à APAC: “lá [no presídio] a gente não pode levantar a cabeça. Aí o moço foi e falou comigo: ‘pode levantar a cabeça, aqui não é presídio não.’ Aí eu me senti totalmente diferente”. Da mesma maneira, o entrevistado G. (áudio 3)63 relatou como ocorreu sua chegada à unidade: fui bem recebido. Já trocamos as roupas da SUAP, porque a gente chega todo algemado né? Algemados os pés, os braços. Aquelas roupas da SUAP lá. Aí quando a gente chegou aqui já foram tirando as algemas, deu a gente roupa pra gente vestir. A gente ainda tava com aquele trem né? (...) Aí na hora que eles viu que a gente tava com a cabeça baixa e as mão pra trás, aí na hora que eles viu a gente assim, eles falaram: “não, que isso, vocês podem ficar à vontade.” Esses dia que eu fui na secretaria e até li um cartaz que tava falando: “aqui entra o homem, o delito fica lá fora”, eles querem, tá sabendo, o que eu posso tá fazendo daqui pra frente.

O discurso de resgatar a humanidade do preso que chega, antes considerado um “cachorro”, um “animal” a ser adestrado a partir da linguagem da violência, já se mostra presente e bastante impactante no momento da admissão. E esse resgate de dignidade, permitido pela metodologia, sendo esta colocada como o oposto do que os entrevistados vinham sofrendo

60 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 61 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 62 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 63 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 101

no sistema tradicional, tem consequências bastante impactantes a meu ver. Durante as entrevistas, percebi que, para muitos internos, deixar o ambiente penitenciário da unidade APAC se traduz em um grande desafio e sofrimento. É como se o indivíduo e sua essência se confundissem com a essência da organização. Conforme declarou o entrevistado J. (áudio 10)64, “chegou minha progressão para eu ir embora mesmo de fato. Aí eu ganhei a liberdade e tal... querendo sair, mas com medo do que me esperava lá fora, né? Eu não queria voltar nem pro bairro onde eu morava...” Esse mesmo entrevistado relatou a existência de um interno que estava em vias de ser libertado pelo cumprimento da pena: “tem um hoje que não quer ir embora.(...) Ele falou que se chegar o alvará [de soltura], se chegar o alvará dele aí ele não quer sair. E se o promotor [de justiça] chegar aqui, ele disse que quer conversar com o promotor, que ele não quer ir embora”. (Entrevistado J., áudio 10)65. Na mesma direção, esclarece M. (áudio 8) a razão pela qual muitos não desejam ir embora da unidade: “eles tratam a gente tanto como se a gente fosse um filho da família, não discrimina a gente em nada. Aqui não tem problema de jogar na cara nem nada, aqui todo mundo é igual”. (Entrevistado M., áudio 8)66. O entrevistado J. (áudio 8) relata uma situação específica de um recuperando que não queria deixar a unidade: “já aconteceu aqui, como um menino, ele chamava A., ele não tinha família, não tinha ninguém, ele permaneceu aqui muito tempo, mais do que devia, mais do que o juiz deixou”. (Entrevistado M., áudio 8)67. Por todos os relatos aqui colocados, podemos perceber que, ao adentrarem as dependências da APAC, os internos consideraram-se finalmente respeitados e “tratados como gente”. Sendo assim, o ritual de passagem funciona com um choque de dignidade (mínima) e provoca a reação imediata daquele que passa agora a lidar com outras formas de disciplina e vigilância. Sobre os procedimentos iniciais de admissão na unidade, afirmaram que há uma entrevista com o coordenador da segurança da unidade e a leitura do regulamento, sendo que os candidatos à admissão são indagados se aceitam ou não permanecer na unidade, mediante as

64 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 65 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 66 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 67 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 106

condições e regras expostas. Aceitas as condições, um termo é assinado pelo “ex-preso”, agora “recuperando” ou “homem APAC em construção”.

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7 AS TÉCNICAS DA DISCIPLINA

“Muda o brilho no olhar, entende? É... a feição do cara muda. A fisionomia eu nem falo, porque eles comem igual um lobo, né?” Entrevistado J., áudio 1068

Conforme Foucault (1996, p. 133), a modalidade de ação no cárcere ou em outra instituição disciplinar implica

numa coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre o resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os movimentos. Esses Métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade.

Para Foucault, este é o conceito de disciplina. A função é “fabricar corpos submissos e exercitados, corpos dóceis”. (FOUCAULT, 1996, p. 133). Ainda acrescenta o filósofo:

a minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçante das inspeções, o controle das mínimas parcelas da vida e do corpo, darão em breve, no quadro da escola, do quartel, do hospital ou da oficina um conteúdo laicizado, uma racionalidade econômica ou técnica a esse cálculo místico do ínfimo e do infinito. (FOUCAULT, 1996, p. 136).

O objetivo da disciplina, portanto, é diretamente controlar o corpo, conduzir os indivíduos dizendo o que fazer, como fazer e quando fazer. Foucault (1996) enumera algumas técnicas de poder utilizadas no gerenciamento de pessoas em massa. Trata-se do “como” as organizações, de forma geral, implementam a disciplina. Passo, então, a analisar de forma mais específica a atuação da disciplina, em suas diferentes formas, para a formação das relações de poder presentes na APAC.

7.1 A distribuição

A primeira das técnicas de disciplina trabalhadas por Foucault em Vigiar e Punir (1976) é denominada “distribuição” e atua mediante:

68 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 106

a) enclausuramento, que ocorre no ambiente externo, propiciando a formação de grupos de trabalhadores, com segregação, inclusive utilizando-se para isso de atributos biológicos. (Ex. trabalho de homem e trabalho de mulher); b) separação, que consiste na divisão do próprio espaço interno, gerando uma classificação; c) ranking, que opera mediante taxonomia e medida. Tais técnicas permitem que os indivíduos sejam observados, medidos e quantificados, podendo acontecer mediante classificação e tabulação. O ranking, além de distribuir as pessoas, também disciplina, porque indica o que é bom e o que é ruim em termos de boa classificação. Desde a sua concepção, a APAC divide a massa carcerária entre presos e recuperandos. Internamente, os recuperandos estão distribuídos conforme regimes de cumprimento de pena e há, ainda, conforme terei a oportunidade de demonstrar, a criação de um grupo de elite entre os próprios internos (Conselho de Sinceridade e de Solidariedade). Há também o ranking mediante a adoção do quadro de Valorização e Premiação Humana, no qual se concretiza o sistema de avaliação nominal de todos os internos. Por meio de esferas coloridas, os internos recebem uma pontuação, exposta permanentemente no refeitório da unidade. Sobre o uso do ranking, já me referi a ele anteriormente. A meritocracia no ambiente se reflete na doação de um quadro no melhor estilo kanban, criado pela Toyota, com vistas a atingir melhoria de um alto nível de qualidade e produção. O objetivo do quadro de mérito na APAC é o mesmo do quadro kanban: comparar, criar ranking, controlar e elevar a produção que, no caso da gestão prisional, é manter a ordem e a disciplina do cárcere. Assim, a disciplina por distribuição está muito viva e presente no ambiente.

7.2 O controle do tempo, da rotina e da linguagem: o condicionamento do Homem APAC

A segunda técnica utilizada para disciplinar, também declinada por Foucault (1996), é a regulação do tempo, das atividades e dos aspectos físicos: regulação do corpo, do tempo e das atividades. Neste caso, há a prescrição de práticas que são consideradas mais corretas e de formas adequadas de se fazer as coisas. Quanto ao tempo, há o controle rígido de horários. Em relação ao corpo, há a prescrição da forma correta de se portar, de falar, de agir, higiene pessoal etc. No que tange à regulação das atividades, ela impõe a construção de cargos com tarefas e habilidades definidas para cada cargo e também o treinamento para desenvolver tais tarefas da 107

forma considerada a mais correta. Todo o tempo do recuperando é controlado rigidamente, assim como todas as suas ações e condutas em termos de o que e como fazer. A ordem e a disciplina do comportamento se traduzem, em primeiro lugar, na observância do Regulamento Disciplinar como um todo. Esse regulamento (Anexo A) possui 104 páginas, com descrições minuciosas de horários e de proibições. As disposições definem os horários de higiene pessoal, de trabalho e das refeições, bem como a forma de realização do trabalho, a autorização para exames de alcoolemia e detecção de substâncias entorpecentes, a forma de tratamento para com visitas e voluntários, entre outros inúmeros aspectos. Quanto à regulação do tempo, todos esses aspectos transparecem na APAC tanto pelas regras do regimento quanto pela prática diária detectada nas entrevistas. A divisão de funções, inclusive as que se referem ao papel do Conselho de Sinceridade e Solidariedade, do qual falarei especificamente, fica evidente. Nesse ponto, há a capitalização do tempo – atividades organizadas e descritas no tempo para alcançar determinados resultados – para todas as ações determinadas aos recuperandos. A rotina da unidade contempla as atividades de trabalho, ligadas ao funcionamento da unidade, à laborterapia (trabalhos manuais, nos quais se engajam os internos do regime fechado), às orações e cultos, às oficinas de capacitação para o trabalho, às palestras motivacionais, à escolarização formal e aos atendimentos individuais – jurídicos e psicológicos. Há voluntários que se engajam nas atividades da unidade, sendo que a atividade de lazer pode consistir em assistir filmes, ouvir rádio, praticar esportes coletivos, sendo vedada a prática de jogos de cartas assim e ouvir determinados estilos musicais, como melhor explicitarei adiante. A visita da família e a visita íntima são realizadas no domingo, sendo que esta última exige a comprovação da estabilidade do vínculo conjugal. Em uma das minhas permanências na unidade, pude verificar o horário de almoço, antes, durante e depois de realizado. Além da impressionante organização para se sentarem e se servirem, da oração, do rígido cumprimento de horário, chama a atenção como os Homens APAC são hábeis para organizar o refeitório e limpar toda e qualquer sujeira do ambiente. Num lapso de menos de 15 (quinze) minutos depois de encerrado o almoço, todos já haviam se levantado, os pratos e talheres já haviam sido recolhidos e não havia qualquer sinal de que ali no refeitório mais de 40 (quarenta) homens almoçavam há menos de trinta minutos. O aparelho de TV – sempre coletivo, localizado no refeitório – é ligado no horário do almoço e no horário do jantar, neste caso permanecendo ligado até às 22 horas. As ligações para a família são liberadas três vezes por semana. A alvorada ocorre às 6 horas da manhã, 108

enquanto que a lei de silêncio deve ocorrer às 22 horas, ou ao final da “novela da Globo” e aos domingos “após o Fantástico”, conforme o próprio regulamento menciona expressamente. A maioria relata nas entrevistas que aderir aos horários rigidamente controlados, com momentos específicos para todas as atividades, foi o mais difícil em termos de adaptação. A dificuldade não era frequentar a laborterapia – artesanato, marcenaria – mas seguir os horários de recolhimento e de despertar, bem como as regras de autocuidado e de cuidado com o ambiente da unidade, especialmente com seus próprios pertences e cela. Para se ter uma ideia da dificuldade inicial dos recuperandos em seguir as regras da rotina, eis a contribuição de um dos entrevistados: “quando eu cheguei aqui parecia que no presídio eu me sentia mais à vontade (...) quando eu cheguei aqui o ritmo era completamente diferente né, apesar de ser bem melhor e tal... o ritmo aqui é completamente diferente (...) não tinha regras (...) lá não tinha um procedimento”. (Entrevistado E., áudio 11)69. Chamou minha atenção a fala do recuperando R. (áudio 15), um homem de 30 anos. Ao longo da entrevista, disse com toda ênfase:

A rotina da casa acaba com a gente, é todo dia a mesma coisa. Dou graças a Deus de tá aqui com a senhora, a senhora é única coisa diferente que tá acontecendo. A rotina mata. Até a grama da rua fica mais verde depois que a gente passa fazendo a mesma coisa todo dia. Eu vejo pela beirada da porta e acho ela linda. (Entrevistado R., áudio 15)70.

Nesta entrevista, R. disse que naquele dia estava especialmente triste. Tinha sonhado que estava livre, caminhando, e de repente acordou, abriu os olhos e viu na sua frente o mesmo armário da sua cela. Sobre a regulação do tempo, para além dos horários e da rotina, o regulamento da APAC é riquíssimo em regras de comportamento – como se portar, o que falar, como viver ali. São inúmeras as proibições que gradativamente vão ocasionando a formação do Homem APAC. Sobre tais regras de comportamento, elas são vistas por alguns internos como absolutamente necessárias para que haja uma boa convivência no ambiente e para que a vida “no mundo” seja retomada com sucesso. Os recuperandos, nas entrevistas, corroboram essa minha afirmação. W. (áudio 4)71 explicou:

69 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 70 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 71 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017.

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eu chegava na minha casa e jogava roupa no chão (...) se eu comesse na sala, eu largava o prato no chão (...) e aqui eu faço tudo que eu não fiz na rua (...) porque o lugar que nós mora hoje é um lugar cheio de regra. Nós tamo aqui porque a gente infringiu uma regra, mas as regra aqui são mínimas. Porque na rua muitas vezes a gente não dava valor nas regras e nas coisas, tinha alguém que fazia pra gente e aqui a gente é obrigado a fazer porque a gente assinou um termo. (...) a gente tem que fazer tudo que a gente não fez na vida.

Da mesma forma, o entrevistado M. (áudio 8)72, acrescentou: “a gente lá fora tem norma e mérito igual tem aqui na APAC... Só que a gente... Na rua, a gente não cumpria... Igual quando eu cheguei aqui na APAC eu fui ver que a gente lá fora não segue nem uma terça parte perto do que a gente segue aqui.” Todo o tempo do recuperando é meticulosamente controlado, assim como a forma como ele deve fazer as coisas, inclusive se portar, falar, se dirigir ao outro, entre outros aspectos acima elencados. As regras são repassadas de forma geral aos internos quando ocorre sua admissão, mas, na verdade, elas se tornam conhecidas no dia a dia, diante das situações que se configuram. O poder neste aspecto se manifesta de forma bastante ostensiva, tanto que, ao ingressar na unidade, a adesão aos rituais de ritmos, tempos e modus operandi pode se tornar uma tortura para o recuperando. Com o tempo, o treino repetitivo de afazeres sem cessar acaba se tornando uma verdadeira técnica de condicionamento para que, conforme os próprios encarcerados afirmam exaustivamente, quando retornarem à “vida no mundo” estejam devidamente preparados. Nas entrevistas, confrontei os Homens APAC com a seguinte indagação: “por que aqui seguir regras traduz amor e lá fora traduzia controle, opressão, tanto que você está aqui porque desobedeceu uma regra?” Um deles respondeu da seguinte forma, que cito aqui porque as demais respostas demonstram este mesmo sentimento: “quando o recuperando ele chega e me abraça. Ele me dá os parabéns, ele fala comigo um bom dia. (...) Então, assim, o cara aqui consegue chegar perto de você e te abraçar. Então assim, várias fala a gente consegue compreender o amor”. (Entrevistado W., áudio 4)73. O ambiente de acolhida criado na APAC legitima as regras impostas. Para os recuperandos, quando a “casa” – assim chamam a APAC por várias vezes – os ensina uma regra, desejam que no mundo lá fora possam ser bens sucedidos e se adaptar à vida social.

72 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 73 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 110

Para o Homem APAC, a regra é sinônimo de cuidado, consigo e com o outro. Esse aspecto que liga disciplina à ideia de cuidado possui relação direta com o denominado poder pastoral, categoria teórica cunhada por Foucault (2008), conforme já mencionei anteriormente. Numa linguagem alegórica, posso dizer que o “bom pastor” pastoreia conduzindo seu rebanho porque ama sua ovelha, porque cuida dela e não deseja que ela seja devorada pelo predador. Ainda quanto à regulação do tempo, no aspecto corpo, que, para Foucault (1996), engloba hábitos, formas de se portar, cuidados pessoais, tenho muito a dizer. Este é um aspecto muito forte encontrado, talvez em razão de ser o mais visível em termos de exteriorização. Os homens APAC não usam uniformes típicos da administração prisional – os tradicionais uniformes vermelhos onde se lê em letras garrafais a sigla “SUAP”, que significa “Superintendência de Administração Prisional”, ou atualmente “Secretaria de Administração Prisional”. O estigma do uniforme vermelho a que todos os entrevistados foram submetidos quando estiveram no sistema carcerário dito tradicional é tamanho que alguns entrevistados afirmaram que após ingressarem na APAC nunca mais usaram a cor vermelha em suas roupas:

Quando eu cheguei na APAC minha mãe mandou as roupas pra mim e ela mandou duas camisa vermelha. Aí eu falei com ela: “eu fiquei um ano e tanto usando roupa vermeia, a senhora trouxe logo vermeia?” Porque assim, a gente fica até com um certo preconceito, todo mundo de vermeio. A única cor que você via é vermeio. Aí traumatiza a gente. (Entrevistado W. áudio 4)74.

Sobre o respeito à individualidade em termos de vestimenta, o mesmo entrevistado afirmou: “Tem a camisa da APAC. Tem a camisa da APAC e a calça que eles dão. Mas na maioria das vezes as pessoas trabalham de roupa normal, mesmo.” (Entrevistado W, áudio 4)75. A unidade impõe o uso de trajes ditos decentes (Regra 6 do Resumo do Regulamento)76. Trajes decentes se traduzem em evitar camisetas que mostrem o peito, bermudas caídas, roupas rasgadas propositadamente. É proibido o uso de bonés e brincos (Regra 28 do Resumo do Regulamento)77. Outros hábitos de vida se alteram radicalmente. O Homem APAC deve abandonar todo e qualquer apelido ou alcunha. Importante ressaltar que, enquanto estão vivendo na criminalidade da rua, esses homens possuem “nomes de batismo”, “alcunhas” ligadas à vida nas comunidades pobres de que a maioria veio ou mesmo às práticas criminosas com que

74 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 75 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 76 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 77 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 111

especificamente se envolveram. Portanto, dentro da unidade se chamam pelo nome próprio, além de portarem crachás onde se lê o nome e o sobrenome. Perguntados acerca da possibilidade de responderem quando chamados por apelido, em uma situação de saída da unidade, todos são unânimes em dizer que, educadamente, esclarecerão ao interlocutor que se utilizou da alcunha para se dirigir a eles pelo nome, já que não mais respondem por apelidos. O entrevistado A. (áudio 11)78 relatou ter recebido sanção disciplinar em razão de chamar outros internos por apelido: “eu chamava umas pessoas por apelido, esquece, aí chama por apelido”. A justificativa dada por um dos entrevistados (G., áudio 3) se harmoniza com a necessidade de reforçar uma subjetividade descolada da prática criminosa que levou o indivíduo à prisão. Explica:

porque aqui a gente [o recuperando] tem que assumir sua identidade, a identidade que a gente foi registrado e largar a identidade do crime. Lá fora até os policiais sabiam o meu apelido, mas não sabiam quem eu era (...) podiam até chegar pra mim e perguntar como que chegava até mim (...) sem eles saber que era eu (...). (Entrevistado G., áudio 3)79.

Perguntado sobre sua reação em face de quem o chamasse pelo apelido fora da APAC respondeu: “eu vou falar ‘não me chama mais disso não, meu nome é G.”. (Entrevistado G., áudio 3)80. O Homem APAC não escuta mais funk e nem outras músicas cujas letras remetam ao universo da criminalidade. Escutar funk ou músicas “do crime” é expressamente proibido na unidade e pode acarretar punição para aquele que não obedece a esta regra. O Homem APAC também não pode assistir a filmes violentos ou que remetam ao universo da criminalidade. Da mesma forma, os internos não devem prosseguir assistindo a um telejornal que dê destaque ao que esteja ocorrendo em outras unidades prisionais, como fugas e rebeliões. O canal de emissora de televisão escolhido para exibir programas no horário predeterminado é a Rede Globo, já que, conforme esclarecem, é o canal mais unânime entre os recuperandos. Só existe um aparelho televisor no refeitório. O rádio é o aparelho de

78 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 79 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 80 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 112

comunicação com o exterior mais usado pelos recuperandos. Televisores individuais são proibidos. Nesse sentido, afirmam categoricamente: mas aqui a gente é mais privado das coisas, lá a gente fica mais informado das coisas, notícias. Igual lá [presídio tradicional] na cela tem televisão, você assiste umas reportagens. Aqui é só a Globo, você não pode assistir igual tem a Record, Balanço geral, esses trem. (...) igual de crime. Igual estou conversando com a senhora aqui, estou conversando normal... mas se for pra eu começar a falar tipo ah, na minha rua mataram, ou tá fazendo não sei o que... se eles vê eu conversando, aí não pode. (Entrevistado G., áudio 3)81.

O linguajar do Homem APAC precisa mudar para que ele permaneça na unidade. Nesse ponto, é importante dizer que num ambiente prisional tradicional todo e qualquer objeto recebe um codinome no dialeto da cadeia. O uso de gírias próprias do ambiente é tamanho que um dos entrevistados afirmou que não se lembrava, quando ingressou na APAC, de como se designavam em português palavras simples como “chinelo”, “colher”, “prato” etc. As gírias são absolutamente proibidas e a maioria dos entrevistados, quando perguntados acerca do que mais se alterou nele quando do ingresso na unidade, afirma que, sem dúvida, foi o linguajar. O entrevistado M. (áudio 4)82 afirmou: “na cadeia mesmo é várias gírias que tem. Lá chinelo é táxi, cama é jega, café é moca. Lá cortador de unha é unhex ou quebra gelo. Aqui eu já mudei, já voltei pra chinelo, café, e tal”. Mas M. (áudio 4) seguiu a entrevista, ainda com referência ao uso das gírias próprias do ambiente prisional comum: “aqui eles não reclamam da gente falar isso não. A gente mesmo é que vai mudando”. (Entrevistado M., áudio 4)83. De fato, o Regulamento não se refere expressamente ao uso de gírias, mas menciona na regra 27 do R esumo do Regulamento que o recuperando deve “evitar todas as formas de utilização de palavras de baixo calão”84. O uso de palavrões é proibido. O recuperando G. (áudio 3)85 afirmou: “eu mexo no artesanato. Aí já aconteceu da cegueta passar no meu dedo. Aí eu xinguei. Aí pode tá passando alguém e tá me levando sabe? Eu nem xinguei ninguém, eu me xinguei, na hora você machuca e nem vê”. O ato de simplesmente soltar palavrões já conduz à punição disciplinar.

81 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 82 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 83 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 84 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 85 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 113

W. (áudio 4)86 assinalou: “eu fui parando de falar gíria... parei de falar gíria, parei de falar de crime. Eu parei de fazer muita coisa”. Não só o vocabulário, mas a forma de se dirigir aos outros sofre alterações, no sentido de que adotam uma fala calma e não agressiva, aliás, o Regulamento menciona expressamente princípios de urbanidade: “ser sincero e honesto” (Regra 21)87; “ser obediente e humilde em tudo” (Regra 17)88; “devotar respeito incondicional aos voluntários que prestam serviço na APAC” (Regra 12)89. O texto integral do regulamento denota a preocupação com a forma de expressão e de comunicação dos recuperandos. O entrevistado M. (áudio 4)90 afirmou: “mudou o jeito que eu falo com algumas pessoas”. E concluiu: “o que mudou mais em mim foi aprender a respeitar o irmão, aprender a não levar só pro lado da ignorância. Mesmo quando você estiver com raiva, respirar fundo e aprender a segurar. Lá no sistema [presídio comum] era diferente, já partia pro lado da ignorância”. O entrevistado J. (áudio 10)91 assinalou que, com o Método APAC, “o cara fica pacífico. Se o cara for agressivo aqui, ele vai perder a vaga dele, isso aí é ignorância ao extremo, entendeu? (...) Quando ele vai preso ele leva o filho, leva a esposa, ele leva todo mundo, entendeu?” Assim, a maneira de se relacionar com os demais internos muda radicalmente, quando os entrevistados comparam a APAC ao estabelecimento prisional comum: “lá é cada um por si (...) mas tem mais liberdade de tá conversando, aqui tem várias coisas que você não pode estar conversando, que é chamado atenção.” (Entrevistado G., áudio 3)92. Alegam que conversam muito entre si, que “fala sobre o passado, não do crime.” (Entrevistado M., áudio 4)93. Os cuidados com a higiene pessoal e com a organização dos próprios pertences também são objeto de meticuloso acompanhamento. Barbas feitas, cabelos aparados, cuidado com odores corporais, há uma celeuma de recomendações que fazem com que o Homem APAC em

86 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 87 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 88 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 89 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 90 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 91 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 92 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 93 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 114

nada se aproxime do preso tradicional, cercado pelo cheiro de creolina ou de muito suor acumulado, dada a precariedade do banho a que têm acesso no sistema prisional tradicional. A Regra 5 do Resumo do Regulamento94 estabelece que é dever do recuperando “manter com rigor os preceitos de higiene pessoal, inclusive barbas e cabelos cortados”. A Regra 8 do Resumo do Regulamento95 impõe a obrigação do recuperando de “cooperar com a limpeza geral do recinto destinado ao regime fechado, principalmente dos dormitórios, refeitórios, galerias e local de trabalho”. Um efeito sobre os corpos que está ligado à excessiva identificação entre a organização e a pessoa do recuperando e me causou bastante espanto é que alguns dos entrevistados admitiram a possibilidade de colocarem em seus próprios corpos uma tatuagem com a logomarca da APAC. Os que não admitiram a possibilidade disseram que nunca haviam pensado no assunto, mas sem transparecer qualquer expressão próxima ao que significa o absurdo da proposta de postar de forma indelével sobre a pele de um ser humano a marca de uma empresa em que trabalhe ou em que tenha trabalhado, de forma gratuita e independente de qualquer promessa em termos de vantagens financeiras ou morais. Quanto às práticas sexuais, a concessão existe apenas para os casados ou com união estável. São proibidos materiais de natureza pornográfica (Regra 9 do Resumo do Regulamento)96 e são vedadas expressões físicas de afetividade exageradas entre parceiros visitantes, como, por exemplo, beijos prolongados (Regra 26 do Resumo do Regulamento)97. Nenhum dos entrevistados revelou a presença de práticas sexuais homoafetivas na unidade. Desta maneira, regulando o tempo e o modo de fazer, a APAC dita a regra, a forma de vida e maneira de atuar. Se, de início, encontra resistências, aos poucos, os encarcerados vão se tornando pessoas dóceis, submissas aos regramentos, mas não sem antes passarem por um processo de subjetivação bastante agressivo e que acaba por funcionar de forma bastante efetiva, como pude perceber. Os discursos, com efeito de verdade, de que “é bom ser disciplinado”, “é bom ser organizado”, “é bom ser limpo”, “é feio usar apelido”, “é ruim ouvir funk”, vão se tornando aspectos inquestionáveis, que acabam por atuar de forma a produzir uma nova subjetividade e uma nova roupagem de organização prisional.

94 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 95 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 96 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 97 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC).

115

7.3 A vigilância: CSS, o panóptico da APAC

“Essa é a proposta da APAC. Todo mundo vê todo mundo.” W., áudio 498

A terceira técnica de poder enumerada por Foucault (1996) é a criação do sujeito. Os indivíduos, quando trabalham ou desenvolvem as atividades, devem estar visíveis, devem ser observados. Esta observação inclui inspecionar a qualidade do trabalho, comparar os diferentes trabalhadores e classificá-los. Quando as atividades se tornam mais visíveis para os outros, automaticamente o sujeito passa a conhecer a maneira como deve realizar as tarefas. Os indivíduos vão automaticamente incorporando o padrão de funcionamento, a forma “correta” de atuar e, com isso, se molda uma subjetividade. Para que tudo funcione, o indivíduo deve ser conhecido, porque quanto mais se conhece, melhor se controla. Neste ponto, Foucault (1996) enumera três maneiras de fazer com que se conheça mais acerca do indivíduo: a) torná-lo objeto de estudo; b) avaliá-lo, para que o próprio indivíduo se coloque como objeto de exame (testes, exames de personalidade, etc); c) incentivar a prática da confissão, numa espécie de sinceridade consigo mesmo e com o outro, de forma a criar uma nova dimensão de subjetividade voltada a atingir certo padrão considerado adequado. Para que seja possível a construção do sujeito, a técnica exige a vigilância de todos por todo o tempo, assim como a inspeção, a fim de que haja a verificação do cumprimento das regras ligadas à distribuição e à regulação do tempo. Afinal, “o exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar; um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam os efeitos do poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam.” (Foucault, 1996, p.165). Impressionante para mim foi notar que todo o aparato – material e humano – de vigilância ostensiva presente numa unidade prisional comum é dispensado na APAC. Essa metodologia, além de inovar em termos de gestão de pessoas, acarreta a redução de custos de forma drástica. O “olho perfeito a que nada escapa e centro em direção ao qual todos os olhares convergem” (Foucault, p. 167) é o Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS). O CSS faz as vezes do panóptico arquitetônico construído com paredes de vidro para tudo ver.

98 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 116

O CSS é o Panóptico da APAC. Ao tratar do Panóptico em Vigiar e Punir (1996), Foucault não o reduz a uma estrutura arquitetônica engendrada para otimizar a vigilância. O filósofo defende que o panoptismo é “um princípio geral de uma anatomia política cujo objeto e fim não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina.” (Foucault, 1996, p. 197). O panoptismo, ou seja, a vigilância que garante a disciplina, tem o papel concomitante de evidenciar a má conduta e a boa ação. Para haver disciplina, aplicando-se o Panóptico enquanto princípio, é preciso estar “incessantemente sob o olhar de um inspetor; isto na verdade significa perder a capacidade de fazer o mal ou quase perder o pensamento de fazê-lo (...) tudo pode ser resumido assim: não poder e não querer”. (Foucault, 1996, p. 217). A unidade garante vigilância e inspeção, engendrando um sistema bastante efetivo. Há um coordenador ou encarregado de segurança que permanece em contato direto com os recuperandos. Trata-se de alguém que não é recuperando, mas, no caso da unidade Sete Lagoas, trata-se de um ex-recuperando, o que torna ainda mais persuasiva sua atuação. O coordenador de segurança está em contato direto com os demais membros do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS). Há um CSS para cada regime de cumprimento de pena. O CSS é composto exclusivamente por recuperandos, convidados pelo coordenador de segurança para desempenhar a função. Pelo desempenho da função, o membro do CSS recebe o benefício da remissão da pena, em que 3 (três) dias de trabalho reduzem 01 (um) dia de sanção penal, assim como ocorre com o trabalho e com o estudo. O CSS tem como papel regimental auxiliar na administração da unidade. Há um anexo do regulamento da APAC que consiste no regimento do CSS. Conforme o art. 2º do regimento interno do CSS, ele desempenha as seguintes funções:

I. Orientar os recuperandos sobre a organização, distribuição das tarefas, disciplina e segurança de um modo geral, dando-lhes conhecimento do teor do regimento interno, do provimento, das portarias e demais ordens; II. Fiscalizar o funcionamento da Secretaria Administrativa Interna, sugerindo os recuperandos que nela devem trabalhar, dando-lhes atribuições; III. Sugerir à Direção da APAC punições, advertências, elogios, etc.; IV. Estimular a participação dos recuperandos em todos os atos promovidos pela APAC; V. Fiscalizar o atendimento médico-odontológico, psicológico e outros, que visem ao bem-estar dos recuperandos; VI. Fiscalizar o funcionamento da farmácia, concernente à distribuição de medicamentos com prescrição médica, atentando para que o fichário do setor esteja sempre atualizado; VII. Fazer cumprir todos os regulamentos, instruções, portarias e ordens internas emanadas pela Justiça e pela Direção da APAC; VIII. Apresentar, diariamente, ao Inspetor de Segurança, em impresso próprio, o pedido das refeições para os recuperandos doentes e aqueles recolhidos nas celas por motivo de castigo, organização, distribuição das tarefas, disciplina e segurança; IX. Nomear e reunir-se, ao menos semanalmente, com os representantes de cada cela, em separado, e com toda a população prisional para anunciar programas, discutir e procurar soluções adequadas para os problemas dos recuperandos, do C.R.S. e de interesse comum; X. Supervisionar a conduta nas celas; XI. Indicar nomes de recuperandos de ótima conduta, para atuarem como responsáveis pela galeria e fiscalizar os serviços dos 117

mesmos, atentando para que cumpram suas responsabilidades a contento, não permitindo que os recuperandos transitem pelos corredores sem camisa, trajando short e bermuda, antes das 17h; XII. Nos casos de advertências, correção com pontos amarelos, suspensão de lazer e de outras regalias, proceder como dispõe o Regulamento Disciplinar; XIII. Uma vez por mês, preparar reunião festiva, para premiar os vencedores da redação mensal, o(a) amigo(a) do mês, voluntário(a) do mês, o recuperando modelo do mês, a cela vencedora por melhor disciplina e organização, e demais homenagens que forem decididas; XIV. Fiscalizar o funcionamento da cantina e da copa, sugerindo os recuperandos que nela deverão trabalhar, dando-lhes atribuições; XV. Fiscalizar o funcionamento das portarias, sugerindo nomes de recuperandos de ótima conduta ao Encarregado de Segurança, para serem designados para a função de auxiliares de plantão; XVI. Fiscalizar a manutenção material, elétrica e hidráulica do recinto do Regime Fechado, bem como sua limpeza e organização; XVII. Fazer observar os horários de trabalho, escola, aulas de valorização humana, evangelização, esporte, etc.99

São 17 incisos e em ao menos 10 deles, o papel do CSS é “fiscalizar”, “supervisionar”, “fazer cumprir”, ou seja, inspecionar. Ciente da existência de quebra de regras, o CSS atua aconselhando e encaminhando o relato de quebra de conduta ao coordenador de segurança (chamado de encarregado de segurança no regimento interno). A partir daí, há a deliberação pela punição. Importante assinalar que nas entrevistas, os internos me comunicaram que a composição do CSS é feita por iniciativa do coordenador da segurança e demais membros da administração, embora pelo regimento a circunstância da participação dos demais membros da administração não esteja evidente. As entrevistas mostraram que se um recuperando possui espírito de liderança em face dos demais e este recuperando observa as regras internas da unidade, este indivíduo é convidado a compor o CSS. Caso este indivíduo venha a cometer falta grave na perspectiva do regulamento interno, ele é substituído por outro. Interessante ainda notar que a presença do CSS e a forma como é articulada a vigilância fazem com que o custo financeiro de manutenção da unidade seja reduzido drasticamente. Nesse sentido, Foucault tratou do panoptismo – não nas APAC´s, obviamente – mas posso enxergar a aplicação das suas palavras à realidade verificada na pesquisa de campo:

Já o olhar vai exigir muito pouca despesa. Sem necessitar de armas, violências físicas, coações materiais. Apenas um olhar. Um olhar que vigia e que cada um, sentindo-o pesar sobre si, acabará por interiorizar, a ponto de observar a si mesmo; sendo assim, cada um exercerá esta vigilância sobre e contra si mesmo. Fórmula maravilhosa: um poder contínuo e de custo afinal de contas irrisório. (Foucault, 1979, p. 219).

Ainda que os internos sejam agrupados em razão do regime de cumprimento de pena (ala do regime fechado, ala do regime semiaberto e a do regime aberto), quando se observa a

99 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.69-70).

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forma como estão distribuídos no espaço, percebe-se claramente que não estão contidos em grades. Ficam livres pelas áreas destinadas aos internos do seu grupo, não havendo guardas, armas, cães, armas não letais, algemas ou qualquer outro aparato de contenção. Nesse âmbito, as declarações dos entrevistados, quando confrontadas com o questionamento acerca do que mantém o cumprimento de regras e a disciplina – observância de regulamentos, ausência de confrontos e de fugas – foram, no mínimo, intrigantes. Declarando que não existe o emprego de coação física ou de aparatos de segurança, afirmam que as regras são obedecidas porque o

recuperando está preso pela consciência. (...) ele [o recuperando] fica privado de liberdade na APAC porque algo dentro dele fala que ele é bom, muitos recuperandos da APAC hoje ninguém nunca acreditou neles. (...) A proposta da APAC não é ficar apontando os erros do passado, é acreditar no que nós podemos ser no futuro (...). (Entrevistado W., áudio 4)100.

De forma muito didática, M. (áudio 4) explicou-me que a ordem é mantida pelo amor porque “se você amar outras pessoas você não vai estar ajudando ela a errar. Se você não amar, você não vai tá nem ligando para outra pessoa. Mas se gerar o amor você vai se preocupar, você vai se importar em ajudar”. (Entrevistado M., áudio 4)101. Daí pude compreender que a vigilância entre os recuperandos é justificada com base no amor que um deve ter pelo outro, assim como as regras de comportamento são colocadas como um ato de amor da administração prisional que deseja que o homem APAC se torne apto a voltar à vida no “mundo” – para usar uma expressão escolhida pelos entrevistados para designar a vida fora da unidade. O recuperando A. (áudio 11) afirmou categoricamente que na APAC não são necessárias algemas ou armas porque “primeiro, isso aqui é uma casa de Deus. Aqui é um ajudando o outro. Aqui não tem necessidade de algema. Aqui somos os próprios nós recuperandos que olha os outros. Olha a segurança da casa e ajuda o outro a caminhar, entendeu”? (Entrevistado A., áudio 11)102. No mesmo sentido, o entrevistado G2 (áudio 3)103 afirmou que é o amor “de Deus, da APAC, dos recuperandos, meu, da família, de você com você mesmo, dos seus irmãos

100 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 101 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 102 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 103 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 119

recuperandos com você, de você com Deus” que faz com que os indivíduos sejam solidários uns com os outros e busquem se auxiliar na observação das regras, porque a regra se destina a permitir que a vida fora do cárcere possa ser refeita a partir de outras bases – consideradas corretas e lícitas. Se a regra permite uma vida melhor, a regra é boa, e fazer com que o outro observe a regra é uma demonstração de amor e preocupação. Conforme afirmou o entrevistado J. (áudio 3)104,

na quadra aqui a gente tinha uma frase que logo que eu cheguei eu li ela. (...) o sentido dela é que não é através da repressão que você vai conseguir mudar o homem. Ele muda quando passa a se sentir bem. Lá [presídio tradicional] já tem a repressão no modo deles tratar a gente. Aí a gente acaba saindo das regras. E tem que usar a força. E violência gera violência e amor gera amor. Aqui a disciplina é a consciência da gente.

O recuperando, quando chega à unidade, tem o período de tolerância ou adaptação às regras até que se iniciem as punições como consequência da não observância da disciplina. Após este período, cuja temporalidade não é expressamente determinada, não há mais compreensão com as faltas cometidas. O sistema disciplinar na APAC, assim, está fundamentado de forma bastante clara no perfeito funcionamento do CSS. W. (áudio 4)105 afirmou que “O CSS tá aí pra auxiliar na disciplina. E o coordenador de segurança. Então, é... constantemente nós tamo reunindo. Constantemente nós somos chamado pra conversar”. Na concepção dos entrevistados, é inerente ao órgão a função de correção de descumprimento, de vigilância permanente:

se ele [recuperando] vê o cara errando ele vai chegar e vai falar: “olha, você não pode fazer isso, isso é errado, isso aí traz problema pra você’. Aí se o cara não ouvir aí traz pro conselho, aí o conselho vai ouvir, vai olhar, avaliar, se a conduta foi certa ou não e vai vim com uma prerrogativa. (Entrevistado W., áudio 4)106.

Esta prerrogativa é de levar ao conhecimento do coordenador de segurança para a aplicação de eventual sanção disciplinar. Nesse sentido, devo ressaltar que a aplicação da sanção disciplinar é de competência da administração prisional, mas o relato da ocorrência parte do CSS.

104 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 105 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 106 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 120

De forma geral, a postura dos recuperandos é tentar ajudar o outro e não imediatamente comunicar ao CSS: “se precisar levar eu levo, mas eu prefiro ajudar. Se eu vejo uma toalha ali eu tiro, eu gosto de ajudar de todas as formas, entendeu”? (Entrevistado A., áudio 11)107. Como parte da rotina, não posso deixar de citar o trabalho. O trabalho é considerado, assim como a religião, um dos pilares de atuação do Método e é de caráter obrigatório (Art. 66 do Regulamento Disciplinar)108, assim como também detém esta obrigatoriedade para todo e qualquer preso no Brasil, conforme a Lei de Execução Penal (LEP). O trabalho detém objetivo disciplinar, mais do que a finalidade de geração de renda, porque a ocupação do horário ocioso é peça fundamental para a atuação da APAC. Em termos de gerar proveito econômico, é proibida a realização de negócios ou trocas entre recuperandos, conforme o Regulamento Disciplinar (Art. 70, inciso XVII)109. Sobre o trabalho nas instituições disciplinares, Foucault (1979), afirma que ele possui caráter, sobretudo, disciplinar. Atribuindo três funções ao trabalho, o filósofo assinala sobre o trabalho nas prisões da seguinte forma:

A função tripla do trabalho está sempre presente: função produtiva, função simbólica e função de adestramento, ou função disciplinar. A função produtiva é sensivelmente igual a zero nas categorias de que me ocupo, enquanto que as funções simbólica e disciplinar são muito importantes. Mas o mais frequente é que os três componentes coabitem. (Foucault, 1979, p. 233).

De fato, os componentes coabitam na unidade, com predominância para o aspecto disciplinar. De forma geral, os internos se dedicam a atividades de manutenção da própria unidade (limpeza, reformas, panificação, alimentação). No regime fechado, fazem laborterapia – trabalhos artesanais, atividades de profissionalização. No regime semiaberto, assim como no regime aberto, já podem realizar trabalho externo, conforme expressamente mencionado em Regulamento Disciplinar (Art. 65).110 As opções laborativas internas da unidade são bastante restritas – até pela falta de apoio da classe empresária local para criar oportunidades, como pequenas fábricas ou pontos de produção na organização. Há uma pequena produção de tijolos e uma unidade produtiva para uma empresa de tecelagem da região.

107 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 108 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.37). 109 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.39). 110 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.37). 121

O trabalho externo existe e é possível especialmente para os internos que estão no regime aberto, mas são bastante restritas as oportunidades ofertadas pela iniciativa privada local, considerando o preconceito social instalado. O entrevistado J. (áudio 10)111 afirmou:

se você for analisar a rotina de um recuperando daqui (...) você vai ver que a rotina dele aqui é como se fosse a rotina de um trabalhador lá fora. É crachá, é acordar cedo. É começar a trabalhar, é parar de trabalhar, almoçar e voltar a trabalhar. E encerrar o expediente. Aí depois do expediente de serviço tem o lazer. Se o cara quiser descansar, se quiser jogar uma bola, correr na quadra. Mas aqui a APAC ela prepara o cara lá pra fora.

Assim, mais do que o desenvolvimento de uma forma de realizar algo em contrapartida pelo recebimento de uma remuneração, o trabalho significa ocupar o tempo e compor a rotina do dia a dia do recuperando, de forma que todo o horário em que não esteja dormindo seja ocupado por atividades repetidas, de maneira que ele incorpore regras e padrões de conduta. Sobre o uso dos crachás, sua função é, além de identificar o recuperando, evitar a utilização de apelidos – situação que é considerada uma falta e que acarreta punição, conforme já expliquei. De forma geral, o desenvolvimento das funções de cada um é visto como uma atividade integrada, “trabalho de equipe, a base de um todo. Você não pode olhar só pra você, você tem que olhar para um todo. Vamos dizer assim: você está fazendo pela empresa, não por você”. (Entrevistado J., áudio 3) 112. Como fator de importância crucial para a manutenção da disciplina situamos o exame, tratado por Foucault em Vigiar e Punir (1996), como uma importante técnica. Sobre o exame, o francês afirma que ele é “um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir”. (Foucault, 1996, p.177). A finalidade do exame é classificar e punir. Na unidade, o exame está presente na vistoria, na supervisão de tudo e de todos efetuada pelos membros do CSS. Além disso, o corpo do recuperando também é examinado. O regulamento interno autoriza a realização de exames periódicos que averiguem se o recuperando tem feito uso de substâncias entorpecentes, já que os entrevistados afirmam que assinam uma autorização para a realização do exame logo na admissão no estabelecimento. No

111 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 112 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 122

Regulamento, há o termo de adesão ao pacto pela abstenção ao uso de drogas, seguido por uma autorização para utilização de bafômetro e realização de exames toxicológicos113. Correlata à vigilância, há a necessidade de aplicação de sanção em face de descumprimento de regras. A sanção

funciona como uma micropenalidade do tempo (atrasos, ausências, interrupções das tarefas), da atividade (desatenção, negligência, falta de zelo), da maneira de ser (grosseria, desobediência), dos discursos (tagarelice, insolência), do corpo (atitudes “incorretas”, gestos não conformes, sujeira), da sexualidade (imodéstia, indecência). Ao mesmo tempo é utilizada, a título de punição, toda uma série de processos sutis, que vão do castigo físico leve a privações ligeiras e pequenas humilhações. Trata-se ao mesmo tempo de tornar penalizáveis as frações mais tênues de conduta, e de dar uma função punitiva aos elementos aparentemente indiferentes do aparelho disciplinar: levando ao extremo, que tudo possa servir para punir a mínima coisa; que cada indivíduo se encontre preso numa universalidade punível-punidora. (Foucault, 1996, p. 172).

Tal sanção normalizadora premia e pune, concomitantemente. Nesse sentido, o quadro de Premiação e de Valorização Humana traduz a avaliação das condutas. A aplicação das sanções e a eleição do recuperando modelo, mensalmente, estão disciplinados no regimento da unidade. A cada infração, o recuperando recebe uma esfera pela falta (vermelha, amarela ou preta). E as punições e premiações se desenvolvem conforme o padrão de distribuição presente no regulamento. Para evitar uma menção exaustiva a condutas infracionais conforme o regimento, exponho aqui quais são os tipos de conduta consideradas faltas leves (Art. 23 do Regulamento Disciplinar)114, para que se possa ter uma ideia do caráter minucioso do controle:

I. Descumprir os horários do Estabelecimento; II. Retardar o cumprimento de ordem; III. Utilizar-se de objeto pertencente a outro recuperando sem o seu consentimento; IV. Simular doença ou estado de precariedade física para eximir-se de trabalho e/ou estudo, ou para outro fim, perturbando a administração; V. Estender, lavar ou secar roupas em local não permitido; VI. Tomar refeição fora do local e dos horários estabelecidos, salvo autorização escrita de quem de direito; VII. Abordar autoridades ou pessoas estranhas no estabelecimento, especialmente visitantes, sem a devida autorização; VIII. Atuar de maneira inconveniente, por ação ou omissão frente às autoridades e voluntários; IX. Desatenção nos exercícios, nas atividades escolares ou em outra atividade interna; X. Transitar pelo estabelecimento, ou por suas dependências, em desobediência às normas estabelecidas; XI. Comunicação não autorizada com visitantes e com os recuperandos que estiverem em regime de isolamento celular; XII. Entrega não autorizada de quaisquer objetos aos visitantes e/ou recuperandos, quando não configurar-se falta média ou grave;

113 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.38). 114 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.13). 123

XIII. Utilizar material, equipamento de trabalho, ferramentas ou utensílios do estabelecimento, sem autorização ou sem conhecimento do encarregado, a pretexto de reparos ou limpeza; XIV. Entrar em cela alheia ou permitir a entrada de recuperandos na sua cela, podendo esse procedimento configurar-se falta média ou grave; XV. Improvisar varais e cortinas na cela, comprometendo a vigilância; XVI. Posse de papéis, documentos, objetos ou valores não cedidos ou autorizados pela Direção do estabelecimento, podendo classificar-se como falta média ou grave; XVII. Não estar devidamente trajado, ou seja, usando bermudas, bonés, camisetas regata e etc. nas reuniões, nos atos socializadores e na presença de visitantes e voluntários; XVIII. Uso de Material de serviço para finalidade diversa da que foi prevista, podendo configurar-se em falta média ou grave; XIX. Remessa de correspondência sem o registro regular pelo setor competente; XX. Desobedecer sinal convencional de recolhimento; XXI. Não usar crachás; XXII. Fumar em local proibido, quando houver regulamentação própria.

As sanções aplicáveis uma falta leve (Art. 15 do Regimento)115 variam de advertência (verbal), repreensão (escrita e inscrita no prontuário do recuperando) e suspensão ou restrição de regalias. Fica a cargo do encarregado de segurança definir a punição, observados alguns requisitos, como tempo de adaptação, confissão espontânea da falta, entre outros aspectos. As faltas leves são controladas em uma ficha de preenchimento diário. O entrevistado M. (áudio 4), que não era membro do CSS, relatou, em caráter excepcional: eu não levo pro CSS não, eu só falo para ele não dar mole de novo, não. Se ele falar que está esquecendo alguma coisa e que não lembra de jeito nenhum eu vou lá e vou lembrar ele, tentar ajudar. (...) no dormitório que eu tô hoje todo mundo faz isso. Um tanto é responsável por acordar todo mundo e o resto por não deixar nada na cama. (Entrevistado M., áudio 4)116.

O mesmo entrevistado (M., áudio 4) afirmou que já havia recebido a punição disciplinar e, por isso, tinha ido para uma espécie de solitária, sendo que tal fato teria ocorrido quando ele já estava na APAC há mais de 2 (dois) anos, ou seja, com tempo suficiente de adaptação. No caso, permaneceu 9 (nove) dias em isolamento total, “sozinho, sem nada mesmo, sem ventilador. Só um colchão e uma Bíblia. Aí que eu fui ver... Aí eu voltei pra palavra de Deus.” (Entrevistado M., áudio 4)117. Além da ostensiva presença do elemento religioso, a intensidade da punição salta aos olhos. Isso porque M. (áudio 4) alterou a voz com “um irmão”. Esclareceu que não xingou nenhum palavrão, e quando perguntado por mim se chegou à agressão física, devolveu-me a

115 Vide Anexo A (Regulamento Disciplinar APAC, p.11-12). 116 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 117 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 124

seguinte pergunta: “você é doida?” O comportamento relatado por M. (áudio 4) demonstra a vigilância ostensiva de um recuperando pelo outro, bem como a efetividade de tal vigilância, na medida em que se organizam de forma a evitar qualquer lapso de memória em face das regras de conduta minuciosas do ambiente. A infalibilidade do CSS é atestada por G. (áudio 3)118: “se ele [recuperando] quebrou uma regra com certeza assim... vai chegar no conhecimento de alguém do CSS.” Como faltas citadas pelos internos, pelas quais já receberam punição, estão condutas relativamente de pouca ofensividade, mas que não são toleradas, ainda que pareçam insignificantes. W. (aúdio 4) relatou ter esquecido um pedaço de fumo de rolo em cima da cama e por esta falta ter sido privado de lazer após o trabalho durante 10 (dez) dias. O papel da delação ao CSS é fundamental na rotina da unidade. Muito interessante a narrativa de L. (áudio 9)119:

todo dia de manhã desce alguém do CSS pra fazer uma vistoria, pra ver se tá tudo organizado. Aí eu deixei um papel de doce em cima da cama, comi um doce de leite e deixei o papel em cima da cama. Esqueci. Aí tá. Aí eles achou, foi e viu. Aí eu tinha combinado com o menino lá pra falar que ele que pôs o papel de doce lá, que ele comeu o doce. Eu falei: “é só você falar que foi você, dá menos pobrema pro cê do que pra mim”. Aí ele combinou e falou: “certinho, eu vou chegar lá e falar que eu pus o doce aí, o papel e tudo”. Na hora que me chamaram, eu cheguei lá e falei o combinado. Mas o outro foi e jogou na minha cara na frente de todo mundo. Eu não esperava ele fazer isso.

Um outro caso citado de punição por falta leve, pelo entrevistado E. (aúdio 11)120, merece menção: “atrasei o horário, esqueci roupa pendurada no varal”. Esse mesmo recuperando, quando perguntado sobre a necessidade de relatar ao CSS a falta de outro recuperando afirmou que “aqui é verdade sobre verdade.” (Entrevistado E., aúdio 11)121. Assim, pude concluir que o trabalho do CSS é meticuloso e atento, o que viabiliza um acompanhamento bastante efetivo das condutas. Em termos de sanção premial, o conceito de mérito está incrustado na fala dos entrevistados, que afirmam que a única coisa que os torna mais merecedores – uns em relação aos outros – é o mérito: “aqui a única diferença que existe é o mérito, aqui dentro da APAC se

118 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 119 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 120 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 121 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 125

você tem mérito você consegue alcançar seus objetivos.” (Entrevistado W., aúdio 4)122. Perguntado sobre quem decide sobre qual recuperando tem ou não mérito, respondeu W. (áudio 4) que é a diretoria e as pessoas que convivem dentro da unidade, ou até mesmo o CSS. Para concretizar e externar concretamente a sanção normalizadora, há um quadro de comportamento afixado no refeitório. Nele, constam os nomes dos recuperandos e a sinalização das faltas que possam ter cometido. O entrevistado E. (áudio 11), afirmou que o quadro é visível a todos a fim de que “a pessoa fique mais atenta, né? Pro recuperando ficar mais atento, mais ligado né? Pra não vacilar... Fica exposto. Toda visita que chega e olha pra lá...Já chega e ‘ah, deixa eu ver se você tá lá. Minhas irmãs mesmo, nunca chegou a pedir pra olhar lá não...”. (Entrevistado E. (áudio 11)123. Outro recuperando assinalou: “aqui a gente é privado de muita coisa, aqui tem um quadro de disciplina e se você vacilar, aqui (...) igual você toma um ponto amarelo, aí você fica privado de uma ligação, desses trem...”. (Entrevistado G., áudio 3)124. O recuperando G2 (áudio 3) informa que a função do quadro

não é de opressão mas (...) de você não esconder o que passa com você aqui dentro da sua família e de outras pessoas. (...) A minha esposa quando ela vem ela senta nessa mesa. E toda vez que ela senta ela olha pra mim e olha pro quadro. Porque aí se eu tenho algum ponto negativo aí já não fica boa comigo.(...) eu quando vejo que algum recuperando não está bem no quadro eu procuro me aproximar dele, pra ver a melhor forma.(...) e tem as brincadeiras nossas... esse é picuinha demais, esse só dá problema (...) tem as brincadeiras que a gente faz entre nós mesmos (...) para descontrair. (Entrevistado G2, áudio 3)125.

Assim, o quadro é o termômetro de comportamento do Homem APAC para a família e para toda a coletividade de recuperandos, já que, conforme afirmou J. (áudio 3)126: “a APAC trabalha muito com a verdade” e expor a verdadeira conduta de cada um dos recuperandos aos demais e aos visitantes faz parte do sistema de vigilância da organização. Destacou B. (áudio 8)127, sobre a reação da família diante do quadro de mérito: “a minha irmã quando vê puxa a oreia mesmo (...) quando ela chega e vê aquela bolinha, ela já chega e

122 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 123 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 124 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 125 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 126 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 127 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 126

fica querendo saber o que que pegou e tal. Igual eu tomei uma bolinha aí esses dias por causa do tal do funk, entendeu?” M. (áudio 8)128, perguntado sobre o papel desempenhado pelo quadro de mérito, afirmou que o papel dado à análise de mérito é muito importante, “de uma maneira que é boa. Porque aquilo ali, dependendo do ponto negativo (...) vai mexer com um direito, vai mexer com uma data especial pra gente e aí não tem como voltar atrás e a gente perde... Vai mexendo com a gente e aí a gente vai aprendendo...”. Em suma, o sistema de vigilância da APAC funciona com efetividade e não demanda o estampido de tiros, uso de spray de pimenta, gritos, câmeras, algemas ou qualquer outro aparato que não sejam os olhos e ouvidos dos membros do CSS e a colaboração dos recuperandos que aderem à prática da confissão e à disseminação do poder pastoral, ponto que passo a abordar com maiores detalhes no próximo capítulo. Também busquei identificar a possibilidade de mobilização interna dos recuperandos para buscar a alteração do sistema rígido de regras. Mensalmente, é realizada uma assembleia de recuperandos, um momento para que todos falem. Segundo W. (áudio 4), presidente do CSS, nas assembleias

a intenção não é tá prejudicando os outros, a intenção é de fazer enxergar, dever que a gente [CSS] também é falho. Até porque nós somos porta voz do povo. A gente tem acesso lá na frente. É a gente que conversa com a diretoria. (...) Então, assim, a partir do momento que a gente tá lá na frente e tá errando eles também tem o direito de falar. (Entrevistado W., áudio 4)129.

Embora a conotação da assembleia seja a de uma oportunidade de propor mudanças e de participar da formação das regras, a afirmação geral é de que as normas não são negociáveis, não cabendo exceções, uma vez que “quando a APAC faz pra um ela faz pra um todo”. (Entrevistado W., áudio 4)130. Perguntei a M., áudio 4, o que aconteceria se em um dia específico ele estivesse com muito calor – como fazia no dia da entrevista – e ele estivesse sem sono e não quisesse dormir, embora fosse o horário de se recolher. Ele respondeu: “deita lá uai, isso não tem como conversar com a diretoria”. (Entrevistado M., áudio 4)131.

128 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 129 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 130 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 131 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 127

Há possibilidade de se negociarem determinadas regalias que decorram de proibições temporárias, como, por exemplo, assistir a um filme que termine após as 23 horas, no sábado à noite. (Entrevistado M., áudio 4). Sobre a sistemática de funcionamento das assembleias, a diretoria toma nota de tudo quanto é discutido e das propostas levadas pelos recuperandos para a realização de melhorias. Podem propor projetos e ações, desde que não se altere a disposição das regras. A decisão é da diretoria, que o faz sem dialogar com os recuperandos. (Entrevistado G2, áudio 3). Mesmo perguntados se mudariam alguma coisa, todos afirmam que não mudariam nada, até mesmo porque estão cientes das dificuldades de sustentabilidade financeira da unidade. Outros, em uma postura de autorresponsabilização, afirmam: “acho que o que tem que mudar é nós mesmos. A casa não tem que mudar não. O que ela oferece pra nós é só do bom e do melhor. Muitas das vezes mesmo é a gente que não aceita as coisa.” (Entrevistado M., áudio 4)132. Um dos entrevistados, recentemente admitido na APAC, afirmou que, se pudesse mudar algo, permitiria o acesso dos recuperandos “a um programa, ou a uma música que passa na rádio”. (Entrevistado G., áudio 3)133. De forma geral, identifiquei uma certa resignação em relação às regras e à disciplina já consolidadas na unidade, consideradas expressão de amor ao próximo pelo Homem APAC. Perguntados sobre a existência de grupos paralelos – algo similar às facções nos presídios comuns – os internos afirmaram que não há grupos paralelos, mas apenas grupos de pessoas que exercem funções diferentes. O entrevistado E. (áudio 10) disse que é indesejada a formação de grupos: “bolinho também gera muito, como eu posso dizer (...) pilha demais, né? Um fala uma coisa, outro fala outra. E acaba um induzindo o outro a fazer coisas que não deve e tal... Pode ser que seja por isso que o bolinho seja evitado.” (Entrevistado E., áudio 10)134. O entrevistado G2 (áudio 3) esclareceu que o agrupamento de mais de 3 (três) pessoas juntas é considerado “bolinho”. E que “tem que quebrar, não pode.(...) porque às vezes você tá conversando e passa alguém e escuta um pedaço de algum assunto e pega aquele pedaço e leva

132 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 133 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 134 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 128

com uma interpretação conturbada dos fatos. E pode trazer um problema maior e vai virando uma bola de neve”. (Entrevistado G2, áudio 3)135. Não deixa de ser uma forma bastante eficaz de desarticulação de resistências ao exercício do poder promover a desarticulação de pequenos grupos que poderiam, certamente, fomentar algum tipo de movimento por mudanças. Pude ainda perceber que, se há uma nuance do Método APAC absolutamente inovadora, é o aspecto da vigilância. Não se trata somente de uma vigilância física, material, como a que se encontra presente nas organizações prisionais tradicionais (câmeras, guardas, armas, grades). Trata-se de um “panóptico de consciência”, que se apossa do pensar e não só do agir externo, guardado e engendrado pelo CSS. Conhecer o indivíduo na APAC é um dos fatores dos quais dependem a vigilância e a viabilização da disciplina. Só se controla o que se conhece.

7.4 A confissão: o “pan-oto”

“– Se você pudesse dizer sobre as principais regras da APAC em duas frases, duas palavras, quais você me falaria? – Orar e vigiar.” Entrevista de M., áudio 4136

A confissão é uma técnica utilizada nas relações de poder, a fim de que a disciplina e a vigilância possam operar. Na medida em que o sujeito confessa – seus hábitos, suas preferências – ele se dá a conhecer e a partir daí passa a operar o binômio saber/poder, no sentido de que o conhecimento passa a produzir o discurso com o efeito de verdade. Foucault, abordando o conceito de confissão em História da Sexualidade I (1999c) e posteriormente mencionando sua atuação para a disciplina em Vigiar e Punir (1996), afirma na entrevista Sexo Rei (1979, p. 264) que “por confissão entendo todos estes procedimentos pelos quais se incita o sujeito a produzir sobre sua sexualidade um discurso de verdade que é capaz de ter efeito sobre o próprio sujeito”.

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No contexto da abordagem efetuada em História da Sexualidade I (1999c), Foucault demonstra que a fala dos sujeitos sobre a sexualidade permitiu a construção de diversos discursos, inclusive científicos, voltados a disciplinar e vigiar a prática sexual humana, criando padrões de normalidade e de desvio. Discorrendo sobre o papel da confissão no poder exercido sobre a sexualidade, Foucault afirma que: Mais do que as velhas interdições, esta forma de poder exige para se exercerem presenças constantes, atentas e, também, curiosas; ela implica em proximidades; procede mediante exames e observações insistentes; requer um intercâmbio de discursos através de perguntas que extorquem confissões e de confidências que superam a inquisição. Ela implica uma aproximação física e um jogo de sensações intensas (...). (Foucault, 1999c, p. 44).

Dessa forma, se o poder exercido sobre a loucura produziu a verdade científica da Psiquiatria, se o poder exercido sobre a sexualidade produziu a verdade sobre a sexualidade e suas interdições, o conhecimento a que se tem acesso diante das práticas confessionais ocorridas no cárcere produz a verdade sobre o prisioneiro. Nesse contexto, as confissões sobre transgressões produzem verdades científicas, até mesmo a verdade científica deste trabalho, que não está imune de se apropriar das confissões trazidas nas entrevistas, sistematizar um discurso e dar a ele o efeito de verdade – algo que não desejo aqui. Necessária esta inferência, uma vez que a presente análise é absolutamente efetuada sob a minha perspectiva. Mas a verdade que me interessa aqui é o discurso de que o recuperando erra, confessa e somente assim – com sinceridade e honestidade – é possível a ele fazer uma verdadeira reforma íntima, em termos de comportamento. Eis o papel fundamental do CSS na prática da confissão: salvá-lo do crime. Tive ciência do afastamento do antigo presidente do CSS, quando realizei a entrevista com W. (áudio 4) e indaguei a ele a razão de tal afastamento. Ele respondeu que “esse recuperando ele é uma ótima pessoa, é alguém que ajudava muito na casa, mas assim, ele não tinha experiência, ele nunca tinha feito parte do CSS.” (Entrevistado W., áudio 4)137. E nada mais acrescentou, deixando deliberadamente de fornecer mais informações. O entrevistado W. (áudio 4), na época das entrevistas, era o presidente do CSS do regime fechado da unidade. Relatou que “a partir do momento em que o recuperando chega na APAC

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ele é observado” (Entrevistado W., áudio 4)138 e, a partir das demonstrações de adesão à metodologia e da predisposição de sensibilizar os demais recuperandos, conquista a confiança das pessoas e se torna um possível membro do CSS, faltando apenas o convite formal. Sobre o processo de atuação do CSS, W. (áudio 4)139, esclareceu:

primeiro a gente vai pra perto dessas pessoas e começa a mostrar pra elas a realidade da vida, porque o objetivo principal da APAC primeiro é fazer a gente perceber que a gente errou, a gente tá aqui cumprindo por um erro que a gente cometeu, mas com dignidade, tendo nossa família respeitada. (...) começa a conversar com o recuperando e começa a mostrar para ele que ninguém é inimigo de ninguém, que a gente pode ajudar com uma palavra amiga, com um sentido.

Destarte, a atuação de um membro do CSS passa em primeiro lugar por demonstrar disciplina e depois por ser capaz de uma aproximação com o outro recuperando no sentido de aconselhar e escutar. Em sua atuação, o CSS se utiliza não só dos olhos, mas também de seus ouvidos bem atentos. Nesse sentido, ele se responsabiliza pelo panóptico e pelo “pan-oto” A escuta dos recuperandos pelos membros do CSS acontece ao longo do dia ou numa sala que é destinada à realização das reuniões do conselho. Nessa escuta, é comum que o recuperando revele – como prática de sinceridade – o cometimento de alguma conduta que deixou de observar as regras disciplinares. De acordo com o entrevistado W. (áudio 4)140:

na hora do desabafo é muito... às vezes a pessoa fala o que num vai falar. A pessoa se sente no direito. Mas o bom é que assim, qualquer diálogo aqui na APAC tem o entendimento de que Deus toma conta de tudo. Então, assim, a gente tem que conversar, conversar, conversar, conversar... e nunca parar de conversar. (...) No sistema comum muitas vezes a pessoa era oprimida, ela ficava nos canto, ficava calada. Não podia falar. Se tivesse 2,3,4,5 pessoas conversando e o cara tivesse oiando ele já era espancado, abusado. Os caras já chegavam falando “o que que você tá conversando aí”. Aqui não, aqui todo mundo pode falar, todo mundo tem o direito de falar.

Perguntados se na prática deste diálogo, diante da revelação da falta disciplinar, ainda assim há a aplicação de sanção disciplinar por parte da administração da unidade, são unânimes em responder que a situação acontece frequentemente. A colaboração com a diretoria da unidade é evidente na fala dos entrevistados. W. (áudio 4), membro do CSS do regime fechado,

138 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 139 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 140 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017.

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afirmou que “o CSS é uma ponte entre o fechado e a diretoria. Então, tudo tem que passar pra gente.” (Entrevistado W., áudio 4)141. O papel fundamental da confissão complementando a vigilância, desempenhado pelo princípio de agir com verdade e sinceridade, fica ainda mais evidente na fala de M. (áudio 8)142: se uma pessoa desabafar comigo uma coisa que é grave, e que ele vai prejudicar a casa , e pode atrapaiar a casa, atrapaiar todos nós (...) infelizmente eu não posso ficar poupando... se for uma coisa mais simples eu levo pro CSS, se for uma coisa grave eu levo pro gerente disciplinar. A vantagem do CSS é só mesmo manter a casa de pé.

A confissão, portanto, desafiará a punição. A confissão é uma técnica bastante atuante e estimulada, a fim de viabilizar a concretização da disciplina. De forma geral, os entrevistados não desejariam que o CSS fosse composto por representantes da administração prisional. Preferem que a composição continue como de exclusividade de internos, porque este aspecto demonstra que os recuperandos são capazes de fazer a autogestão da disciplina. Segundo M., (áudio 4)143, este aspecto é favorável até mesmo para “quando sair lá fora, ele [recuperando] poder tipo conseguir um emprego. Mostra que tomou conta de uma turma pior, que não é de serviço”. Esta afirmação demonstra que, embora se considerem pessoas presas, os internos da APAC estão em melhores condições, pois desejam realmente adotar uma mudança de conduta, mesmo se considerando membros “de uma turma pior”. Perguntei a alguns entrevistados se não havia certa antipatia dos recuperandos em relação aos membros do CSS. O entrevistado A. (áudio 11)144 respondeu: “com certeza, fica bem mal visto. Muitos aproveitam. Acham que é do CSS e acha que tem poder. Que é mais que os outros, entendeu?” No mesmo sentido, L. (áudio 9)145 afirma o seguinte sobre os membros do CSS:

Se acha que tem o poder. Se acha mais que os demais. É uma responsabilidade que tem a mais, mas continua do mesmo jeito. (...) Por ficar mandando, faz isso, faz aquilo... aí vai se achando... às vezes o jeito de falar também, mandando, né, esquece de falar por favor,. (a...) aí já é complicado, tem hora que isso irrita demais.

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Importante ressaltar que este é um entrevistado que já foi membro do CSS e já estava na unidade há mais de dois anos. W. (áudio 9)146 enfatiza: “ah, no começo eu não tinha muita aceitação com esse negócio não. Porque tem uns tipo assim, eles estão naquele lugar ali, mas eles acaba abusando um pouquinho, sabe? Quando eles tão no conselho são uma pessoa, quando eles sai eles são outra.” A sinceridade (primeiro S da sigla CSS) é a prática confessional estimulada pelo Método APAC, para que, a partir da confissão da infração, a punição correlata possa ser viabilizada, nos casos em que se considera necessário. Ocorre também o reforço do discurso de que se deve ser honesto e sincero sempre, ainda que esta honestidade diga respeito a roupas penduradas num varal ou a uma embalagem de bala esquecida sobre uma cama. A sinceridade apregoada, acompanhada do reconhecimento da culpa e da punição, conforma um sistema muito equilibrado de funcionamento de disciplina. A prática da confissão, bastante corrente no interior da APAC, é viabilizada pela religião. Tudo isso muito tem de íntimo com o poder pastoral. Não há como dissociar, na minha análise, esses elementos. A disciplina é viabilizada pela confissão; a disposição para confessar advém de uma cultura cristã de verdade e honestidade, reforçadas pelas práticas religiosas do Homem APAC e tais práticas religiosas, por sua vez, estão relacionadas ao poder pastoral. Neste trabalho, posso considerar o poder pastoral, também, como uma técnica utilizada nas relações de poder dentro da APAC. Ainda devo ressaltar um importante aspecto psicológico: o CSS pune, regula e limita, apoiado na religião e nas regras da unidade. Ele é o “pai”, o superego da unidade. Lado outro, a APAC enquanto organização ou instituição, é sempre tratada e mencionada como “mãe”. Para não violar a mãe, o preso, alçado à condição de “reeducando” se apresenta como alguém a ser disciplinado, educado, socializado e interditado pelo “pai”, cujo papel é desempenhado pelo CSS, a partir da utilização da técnica do poder pastoral. A mãe APAC acolhe, chama pelo nome, trata como gente, conforme o próprio preso assim o declara. O pai CSS limita, regula e interdita.

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7.5 O poder pastoral: o papel da religião

“O pastor guia para a salvação, prescreve a Lei, ensina a verdade.” Michel Foucault

Se o poder pastoral é inicialmente verificado dentro de instituições eclesiásticas, para depois se expandir para outras organizações, o importante é verificar que ele é exercido independentemente da religião. Quando se expande para outras instâncias do Estado Moderno, sua finalidade é levar a população à sua salvação neste mundo – e não no outro. Assim, o papel do Estado Moderno é permitir que esta população, ameaçada por doença, pela miséria, entre outras mazelas decorrentes de urbanização e industrialização, esteja segura. Em tal situação, a figura do pastor poderia ser exercida por um aparelho estatal, ou sociedades filantrópicas, enfim, por alguma estrutura funcionalmente adequada à condução de bem-estar. Toda a metodologia APAC se apresenta como a chave para a salvação futura – neste mundo. Seguir as regras dentro da unidade e adaptar-se a elas é uma receita de sucesso na “vida no mundo”. O poder pastoral, na obra foucaultiana, surge no contexto da análise do autor acerca das sociedades regulamentadoras e não das sociedades disciplinares. Porém, devo advertir que o recorte efetuado por Foucault entre sociedades disciplinares e sociedades regulamentadoras não as coloca de forma contraposta. A sociedade disciplinar se utiliza da disciplina nas relações de poder numa abordagem microfísica e individualizada. A sociedade regulamentadora trabalha fenômenos populacionais que surgem no contexto do Estado Moderno (ex. controle de natalidade, profilaxia de epidemias), numa perspectiva mais previdente, mas nem por isso mais distante da perspectiva genealógica. No contexto da sociedade regulamentadora há a preocupação com a condução da política, da legislação e de outros campos discursivos para que sejam consolidadas determinadas verdades e determinados comportamentos, de forma mais globalizante. A fim de evitar objeções de ordem teórica, importante dizer que

Um ponto que nos parece fundamental na diferenciação é a complementaridade entre as disciplinas e as artes de governar. É possível dizer que tanto as disciplinas quanto as artes de governar normalizam. Porém, exercem essa normalização de forma diferente. A normalização disciplinar funciona por meio da imposição, sobre quem ela atua, de um modelo ótimo definido a priori. Procura fazer pessoas, gestos, ações, atos e atitudes funcionarem de acordo com esse modelo. Ela faz isso porque analisa, decompõe os indivíduos, os lugares, o tempo. Depois, classifica os termos decompostos, estabelece ordenações entre eles, fixa procedimentos de correção e controle e, com isso, procura estabelecer uma separação entre o normal e o anormal. Em contrapartida, a normalização governamental age de forma diferente. Os 134

dispositivos de segurança não definem um padrão normal a priori para separar os normais dos anormais e agir sobre os últimos. O que eles fazem é identificar diferentes tipos de normalidade. Procuram encontrar as diferentes curvas, no que pretendem analisar, em populações específicas. Depois disso, agem para combater as curvas mais distantes daquilo que foi definido como a curva mais comum. (Alcadipani, 2008, p.105-106).

Dessa forma, tanto as práticas disciplinares quanto as práticas regulamentadoras – inerentes à governamentalidade, ou à arte de governar, com suas tendências individualizantes e globalizantes, concomitantemente – são utilizadas pela Gestão de Pessoas e certamente podem se fazer presentes nas organizações. E não seria diferente na APAC. Há uma identificação da organização apaqueana com o pastor que cuida das ovelhas – o recuperando. Para isso, diz do que é certo, o que é desejável e assim aplica disciplina. Trata- se de um poder pastoral exercido numa perspectiva ainda não laicizada, mas que nem por isso deixa de ser uma tecnologia de poder pastoral. Assim, “o que nos interessa reter das análises de Foucault acerca do poder pastoral é, acima de tudo, o aspecto da ‘condução’ dos homens, ou da ‘condução da conduta’ dos homens, que segundo o autor integra este tipo de poder.” (Fonseca, 2002, p. 220). O mesmo autor explica que “o poder pastoral se ocupa das almas dos indivíduos, mas o faz na medida em que a condução das almas implica formas de condução permanentes sobre as condutas cotidianas e a gestão de suas vidas.” (Fonseca, 2002, p. 220). Expressar uma religião, além de ser um aspecto obrigatório para o recuperando, é algo que se torna inerente à sua nova prática de vida. Desse modo, afirmam: “é porque a APAC funciona assim... A APAC é Jesus, Jesus até para cegos, surdos e mudos não falta compreensão. (...) A base de tudo é Deus.” (Entrevistado M., áudio 4)147. O entrevistado E. (áudio 11)148, por sua vez, acrescentou: “eu acho que a religião é o fundamento de tudo, né? Porque só o nome recuperando, já diz tudo né? Pra você recuperar tem que ter Deus. É só Deus mesmo pra te guiar, te dar sabedoria, entendimento.” Foucault afirma em Segurança, Território e População (2008) que o pastorado, numa definição abstrata e teórica, está relacionado a três coisas:

O pastorado está relacionado com a salvação, pois tem por objetivo essencial, fundamental conduzir os indivíduos ou, em todo caso, permitir que os indivíduos avancem e progridam no caminho da salvação. Verdade para os indivíduos, verdade também para a comunidade. Portanto, ele guia os indivíduos e a comunidade pela vereda da salvação. Em segundo lugar, o pastorado está relacionado com a lei, já que,

147 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 148 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 135

precisamente para que os indivíduos e as comunidades possam alcançar sua salvação deve zelar por que eles se submetam efetivamente ao que é a ordem, mandamento, vontade de Deus. Enfim, em terceiro lugar o pastorado está relacionado com a verdade, já que Cristianismo, como em todas as religiões de escritura, só se pode alcançar a salvação e submeter-se à lei com a condição de aceitar, de crer, de professar certa verdade. Relação com a salvação, relação com a lei, relação com a verdade. O pastor guia para a salvação, prescreve a Lei, ensina a verdade. (Foucault, 2008, p. 221).

A religião sensibiliza o Homem APAC para que ele siga o pastor – papel que pode ser desempenhado pelo CSS e pela própria organização. Ela dita a Lei e a disciplina é colocada como chave para a obtenção da salvação futura – nesta ou na outra vida. Sobre a obrigatoriedade de expressar uma religião, esclarecem que, quando chegam à unidade, são advertidos de que há a necessidade de escolher uma para que se engajem nas práticas coletivas: “a gente é obrigado a ir no louvor, a cantar.” (Entrevistado W., áudio 4)149. Esta também é uma regra regulamentar: frequentar os cultos religiosos, memorizar os hinos religiosos (Regras 18 e 29 da síntese do Regulamento)150. No caso da unidade de Sete Lagoas, há, à disposição do interno, três opções religiosas: católica, evangélica e espírita kardecista. O entrevistado J., (áudio 10)151 disse:

eu sou de família católica. Aí eles [administração da APAC] falaram: “já que você é católico, o seu [culto, missa] é sexta-feira, todo dia você tem que vim”. (...) se tem uma coisa que pode acontecer é o cara não ter religião. Mas mesmo assim ele vai ter que escolher uma. A gente tem essas aqui, você escolhe uma dessas, aqui você vai ter que frequentar. (...) a gente acorda seis horas da manhã. Então, vinte pra sete já estão aqui chamando pro primeiro ato socializador do dia. É composto por chamada, a conferência, louvor e oração. (...) Aí depois começa o café da manhã. Aí na hora do almoço também tem oração. Na hora do jantar, tem oração do jantar. Fora os cultos religiosos.

Por se tratar de um entrevistado que já faz um curso superior (7º período de Direito), indaguei a ele sobre a questão da legalidade da imposição de culto, uma vez que a Constituição brasileira é laica. Ele afirmou, referindo-se à disputa entre cultos e não à laicidade do sistema legal que “já teve algumas brigas de APAC´s, de diretores. Porque um segue uma corrente e outro segue outra. E eles querem implantar na cabeça dos recuperandos”. (Entrevistado J., áudio 10)152 . Trata-se de um entrevistado com vivência de 11 (onze) anos de APAC. E chamou minha

149 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 150 Vide Anexo B (Resumo do Regulamento Disciplinar APAC). 151 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 152 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 136

atenção a expressão “implantar na cabeça dos recuperandos”. Esta constatação só reafirmou para mim a importância do aspecto religioso na disciplina da consciência dos recuperandos. Da mesma forma, M. (áudio 8)153 faz uma afirmação de extrema importância quando se trata de constatar a relevância da religião para fins de disciplina da consciência: “toda religião tem uma doutrina... E aquela doutrina é pra que? É pra gente poder livrar das tentação, não fazer coisa errada... Fortalecer mais.” Os internos afirmam que é impossível imaginar o sucesso do Método sem a religião. O entrevistado J. (áudio 10), quando perguntado por mim se ele achava possível a implantação do Método sem a religião afirmou se tratar de algo impossível, concordou no sentido de que a religião atua de forma muito importante para o sucesso da intervenção apaqueana. De forma geral, não praticavam ativamente nenhum culto religioso e se viram diante da necessidade de aderir a algum culto. Na escolha, normalmente optam pela religião que praticavam quando eram crianças, pois relatam que na adolescência abandonaram a igreja ou se envolveram em práticas religiosas que aparecem nos discursos como indesejadas ou diabólicas (religiões de origem africana). Perguntados sobre a autenticidade da fé professada pelos colegas, já que integrar uma religião é uma condição para continuar na unidade, afirmaram que quando chegam à APAC “chegam sem religião, sem nada (...) e no começo tem um pouco de resistência;” (Entrevistado W., áudio 4)154. Ou ainda que “o melhor lugar que eu fui encontrar Deus foi dentro da cadeia, sabe? (...) Eu ia na igreja com meu pai, mas eu não sabia quem era Deus. Aí no presídio que eu fui saber quem é deus, quem é Jesus e tudo. Aqui na APAC também, aqui fala muito de Deus.” (Entrevistado M., áudio 4)155. E ainda:

A gente alimentando a luz que tá dentro da gente, falando de Deus e esses trem, a gente vai quebrando aquele ódio que tem dentro da gente. Aqui reúne um grupo, né? No início eu pensava, que povo bobo, não tem nada pra fazer em casa não? Mas depois eu fui me abrindo. (...) Eu queria deixar Deus entrar mesmo. (...) Eu ia de boa mesmo, eu ia buscar Deus mesmo. Via que mudava muita coisa dentro de mim. (...) Aqueles pensamentos de vingança, de sair lá fora, fazer e acontecer, eu fui esquecendo, sabe? (Entrevistado M., áudio 4)156.

153 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 154 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 155 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 156 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 137

Na unidade, as orações coletivas acontecem, portanto, três vezes por dia: às 06h40, às 12h, no horário de almoço, e antes do jantar. Todos os dias à noite há um culto previsto na rotina da unidade, variando apenas a modalidade religiosa. A prática religiosa se confunde com a rotina e com a disciplina e nesse ponto é interessante notar a afirmação do recuperando J.(áudio 3)157, quando opina sobre a necessidade da prática religiosa coletiva: “já acho que tem que ter um negócio meio obrigatório. Uma doutrina. Uma disciplina.” O entrevistado B. (áudio 8)158, perguntado se achava possível existir uma APAC em bom funcionamento, sem religião, foi categórico: “sem religião, não. (...) Porque aqui é muito fácil fugir, entendeu? É só Deus que segura”. Deus “segura”. Até mesmo o verbo escolhido pelo entrevistado já diz do papel que a religião desempenha na metodologia: Deus contém, Deus controla, Deus vigia. Os discursos são permeados de expressões religiosas. Os entrevistados falam em “tentação”, em “projeto do mal” ao se referir ao “bolinho”, como disse o entrevistado B., (áudio 8). L. (áudio 9)159 confirmou: “aqui todo dia tem que rezar, de manhã, de tarde e de noite. Tem os cultos. Então, pra mim, o que segura aqui é isso. As oração, os louvor”. Sem dúvida, a ausência de vigilância ostensiva e de equipamentos de segurança está relacionada à prática religiosa e à disciplina viabilizada pelo CSS, que vigia e ouve as confissões dos internos. A filosofia de sinceridade e de “recuperando que ajuda recuperando” deflagra um sistema de vigilância muito sofisticado e efetivo, conforme pude descrever. Seguir regras, ser sincero com o outro, cordado e obediente são objetivos do Homem APAC, que enxerga na obediência às regras a promessa do futuro próspero na vida futura (a vida no “mundo” após a expiação da falta) entra em total consonância com o que Foucault nomeia poder pastoral. Confirmando a atuação do poder pastoral também relacionado à prática religiosa, os entrevistados respondem que o que garante a disciplina e a segurança é “o amor, o amor de Deus”. Este poder pastoral irá se concretizar pela intervenção da prática religiosa e pela atuação dos membros do CSS – verdadeiros pastores do rebanho, que ditam a lei e ensinam a verdade.

157 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 158 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 159 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017. 138

O arrependimento é muito presente entre os recuperandos, não só quanto ao crime cometido, mas também em relação a eventuais faltas graves cometidas. G. (áudio 3)160 afirmou: aqui dentro a oportunidade é muito boa. No caso se você saber que fez alguma coisa errada e quiser voltar atrás, se você reconhecer o seu erro, igual assim, se eu errei e mostrar que estou arrependido, eu assumir, eles até tiram o ponto negativo. Mas se as testemunhas falarem que eu errei e eu não assumir... é até pior.

Nesse sentido, o papel da religião adquire uma feição absolutamente determinante.

160 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na APAC - Sete Lagoas, nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2017.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 8: Stultifera navis: a nova roupagem da nau dos loucos

Foto: Hieronymus Bosch, A Nave dos Loucos (1490-1500).

A tela “Nau dos Loucos”, de autoria do artista holandês Hyeronimus Bosch, pintada entre 1490-1500 e que faz uma dura crítica à sociedade europeia da época, é mencionada por Foucault no primeiro capítulo da História da Loucura na Idade Clássica. A Nau, que existiu historicamente, passava pelo rio Reno recolhendo os loucos, os inadaptados, os bêbados e os antissociais a fim de retirá-los de circulação e conduzi-los a uma viagem náutica. A sociedade, que se incomodava com eles, se via livre do incômodo, ao mesmo tempo em que, aos recolhidos, dava-se a oportunidade para que vivessem ou morressem. Assim como toda prisão, a APAC é uma versão sofisticada da Nau dos Loucos. Num lampejo de inocência, quando pela primeira vez conheci a APAC, quis eu acreditar que o modelo prisional apaqueano significasse efetivamente uma resposta nova à necessidade social de reabilitar o indivíduo que pratica crime e é descoberto, processado e punido. Eu acreditei, em princípio, que a APAC fosse uma forma de efetivamente convencer as pessoas encarceradas a agir conforme um padrão de conduta considerado socialmente adequado, de uma maneira democrática e dialógica. Prisões sempre existiram na história da humanidade, seja como maneira transitória para aguardar a pena de morte, seja no formato que se conhece hoje. Quando a prisão era utilizada apenas para que o prisioneiro aguardasse o dia de ser levado ao cadafalso, o poder político 140

representado pelo soberano e legitimado por uma celeuma de relações sociais declarava expressamente que não pretendia nem tinha a menor intenção de recuperar ou reinserir na sociedade o condenado delinquente. Não havia a preponderância do discurso de que os indivíduos eram recuperáveis. Pelo contrário, de certo modo havia a despreocupação com a questão de tolerar conviver com o diferente, com aquele que não incorporou as regras vigentes. Cito aqui as quatro formas de tática punitivas mencionadas por Foucault (1997, p. 27):

1. Exilar, expulsar, interditar lugares, confiscar bens; 2. Converter o delito em compensação financeira; 3. Apoderar-se do corpo e nele inscrever as marcas do poder por suplício, amputação etc. 4. Enclausurar.

Nesse contexto, discurso da humanização do sistema penal, a partir do século XVIII, que inaugura para a civilização ocidental a fase em que o enclausuramento se mostra predominante, traz consigo uma grande hipocrisia. Ao argumento de que é necessário recuperar, reinserir ou ressocializar – seja lá qual for a palavra escolhida – ele aprisiona e retira da vida social. O sistema de execução penal, por intermédio do Direito Penal e da Gestão dos Presos aplicada às prisões atuais, aparta, segrega, prejudica e lesiona os mínimos direitos que o ser humano possui e conserva, para além da liberdade de locomoção. Um indivíduo levado à prisão nos dias atuais perde muito mais do que o direito de ir e vir. O preso é objeto da execução penal, ele não é sujeito desta gestão. Limita-se a acatar o que lhe é imposto em face de um sistema de vigilância baseado na constrição física. Foi dessa prisão que Foucault se ocupou em Vigiar e Punir (1996). Nesta prisão do panóptico, do olho que tudo vê, da utilização de esquadrinhamento, de hierarquia e de toda a ordem de técnicas de distribuição de tempo e de espaço, o indivíduo é adestrado. Tem seu corpo docilizado e aprende mediante a utilização da disciplina a agir de tal modo que se torne uma massa corpórea de manejo relativamente fácil. O desejo do poder é que este corpo seja manejável da forma mais pacífica possível. Sem resistência, sem motim, sem reações violentas. Porém, após anos de uma gestão da execução penal descomprometida com resultados efetivos – redução da reincidência mediante a efetiva reinserção social – o mesmo sistema de execução penal que a legitimou a atuar de forma tão perversa, reclama uma reação. Para que este mesmo sistema se mantenha em funcionamento, reduzindo os dissabores em ter de lidar com ex-encarcerados que ao saírem da prisão retomam automaticamente para uma vida de 141

crimes, é necessário reagir. É necessário que o efeito criativo do poder se manifeste e se reinvente. Nesse sentido, tenho que a APAC é o efeito criativo do poder atuando sobre a prisão. Da mesma maneira em que outrora houve a necessidade de que a pena privativa de liberdade surgisse para dar cabo aos sangrentos massacres de execução pública de penas de morte, surge o Método APAC. No entanto, ao contrário do nascimento da prisão, que extinguiu a execução pública de penas de morte, a APAC não extingue o sistema penitenciário tradicional. Aliás, a APAC precisa dele para ser objeto de desejo do preso, para que haja o ritual de passagem do inferno para a “mãe” e, consequentemente, o batismo de um homem recuperando e a “morte” do criminoso. A partir do uso estratégico das próprias condições miseráveis do sistema prisional tradicional, a APAC brilha. Afirmo que o primeiro diferencial competitivo da APAC em relação ao sistema tradicional de encarceramento é o próprio sistema. Não fosse ele tão violento, tão lesivo, certamente as condições da APAC não seriam vistas como tão benéficas. Na APAC “entra o homem” e o “criminoso fica lá fora”, este é seu primeiro grande lema. A máxima apaqueana revela a dicotomia entre o homem e o criminoso, como se as duas coisas não pudessem coexistir no mesmo ser vivo. O Homem é bem-vindo na APAC, o criminoso não – este é selvagem, inadaptado, desnecessário. Este não merece estar na APAC. Para os presos, estar na APAC é um privilégio, especialmente porque para estar lá eles já conheceram o inferno de uma prisão tradicional. Portanto, a APAC é um pedaço de paraíso depois que passam pelas agruras de um presídio. Ela é a “Mãe APAC”. O Homem é bem-vindo na APAC, é ele quem entra, porém, quem sai de lá não é simplesmente um Homem, é um Homem APAC. Este Homem APAC é devidamente moldado por uma metodologia que, como as prisões descritas por Foucault, também parte de disciplina e vigilância. Mas a forma de construção da vigilância e da disciplina no ambiente apaqueano traz muitas inovações e sofisticações. As novidades proporcionam a oportunidade para que se proceda uma análise foucaultiana da prisão APAC, a neo-prisão. A análise é foucaultiana no sentido que me vali dos conceitos propostos por Foucault para analisar, interpretar e compreender a APAC. Entretanto, ouso dizer que a APAC se configura como uma “neo-prisão”. “Neo” aqui tem três sentidos. Em primeiro lugar, Foucault não conheceu enquanto sujeito autor a realidade APAC. Ele teve contato com prisões em que o vigia era alguém que não era preso. Uma prisão em que eram necessárias restrição física à mobilidade, algemas, segurança, estrutura física panóptica com visibilidade axial absoluta e incomunicabilidade lateral controlada. A prisão que analiso aqui é uma prisão que não mantém qualquer ligação com a estrutura arquitetônica de um átrio com vigilância ostensiva 142

centralizada, com corredores sobrepostos de forma que o vigia do andar superior possa enxergar o andar posterior. A prisão APAC não usa algemas, cães, concertinas nos muros. Trata-se, portanto, de uma prisão nova. O segundo sentido da neo-prisão diz respeito à sofisticação das técnicas de poder utilizadas. Na prisão APAC “o recuperando cuida do recuperando”, num sentido muito sofisticado. Quando digo do cuidado de um recuperando pelo outro, destaco o zelo que todo recuperando tem pelo estrito e exato cumprimento de todas as regras e procedimentos internos que se ocupam de treinar, moldar e controlar o dia a dia do recuperando. O discurso de que “as regras devem ser seguidas porque as regras são boas” possui um efeito de verdade. Para o recuperando, a adesão ao modo de agir definido no regulamento é uma promessa de sucesso quando retomar a “vida no mundo”. Enquanto cumprem a pena, é como se esses Homens APAC não vivessem no mundo, é como se estivessem numa espécie de útero institucionalizado que os está formando e moldando. A “Mãe APAC”, nesse caso, não se utiliza de força. Ela se utiliza do discurso do cuidado, do amor. Todos aceitam que as regras são para “o bem” do recuperando, portanto, a disciplina aqui é travestida de amor e cuidado. Esta é a cultura da organização APAC que, por meio de suas práticas disciplinares, permite a criação de uma individualidade dócil e útil. Aos poucos, o Homem que se torna Homem APAC vai deixando para trás as alcunhas que recebeu ao longo da “ex-vida”, vai mudando a maneira de falar, passa a escutar outras canções e a evitar certos assuntos, de forma a se tornar uma pessoa muito diferente da que era. Há um controle exaustivo de atividades e do tempo, sem desperdícios e com ocupações totalmente calculadas. Nesse processo, outros dois aspectos desempenham um papel extremamente importante para consolidar a prisão que não usa força nem armas. O primeiro aspecto é o CSS. Ironicamente, destaco aqui o que disse o próprio Foucault durante entrevista intitulada “O Olho do Poder”, quando foi perguntado por Michelle Perrot sobre a possibilidade de que um dia os próprios prisioneiros viessem a fazer a vigilância nas prisões:

Michelle Perrot: E em relação aos prisioneiros, apoderar-se da torre central não tem sentido? Michel Foucault: Sim. Contanto que este não seja o objetivo final da operação. Os prisioneiros fazendo funcionar o dispositivo panóptico e ocupando a torre – você acredita então que será muito melhor assim que com os vigias? (Foucault, 1979, p.227).

O CSS atua de forma a substituir os artefatos de vigilância presentes nos ambientes carcerários tradicionais. Os membros do CSS, em cada um dos regimes, se disseminam entre 143

os demais recuperandos. A pretexto de cuidar e zelar, eles fiscalizam o cumprimento de regras e propõem a aplicação de sanções ou punições pelo encarregado de segurança. Ver de perto o sistema de vigilância do CSS é, no mínimo, interessante. Basta imaginar que são mais de 90 homens com todo tipo de condenação, inclusive por delitos violentos, sem que no ambiente haja sequer uma arma. No ambiente há apenas os membros do CSS, no total de no máximo 8 homens, para vigiar o cumprimento de todas as normas – que vão desde arrumar a cama, não ouvir funk, passando por regras de não agressão ao “irmão”. Transitando entre os três regimes, há o encarregado de segurança pessoal, para quem os membros do CSS repassam as informações para que possa este encarregado definir a punição a ser aplicada. Além desta vigilância panóptica, que por si só já difere da tratada por Foucault em Vigiar e Punir (1996), o CSS exerce a função “pan-oto”. Os membros do CSS ouvem as confissões, os desabafos, as angústias de todos os demais recuperandos. Conforme foi evidenciado pelas entrevistas realizadas, os membros do CSS não hesitam em levar ao conhecimento do encarregado de segurança fatos dos quais adquirem conhecimento mediante a prática da confissão. É pela palavra que o CSS passa a conhecer melhor cada um dos recuperandos e, a partir daí, a melhor controlá-los. Este sistema de pan-oto não se restringe aos membros do CSS. As entrevistas mostraram casos em que o recuperando que não é membro do CSS toma conhecimento, por meio de conversas e desabafos, de quebra de regras por parte de outro recuperando e depois leva ao conhecimento do CSS para a punição e o restabelecimento da ordem. Há, portanto, canais de escuta que, de forma muito sutil, permitem a manutenção das regras e creio que seja engendrado com esta finalidade. A gestão dos presos na APAC depende do funcionamento do sistema de regras e de punições, inclusive com a exposição do comportamento do preso aos seus familiares. O quadro de mérito, exposto, inclusive para as visitas, com as esferas coloridas que mostram se houve ou não mau comportamento, é mais um elemento para que a autoridade do CSS se consolide. O Homem APAC recebe a visita da família e este núcleo familiar cobra sua regeneração. O segundo aspecto que considero que seja muito importante para o funcionamento do Método é a religião. O Estado brasileiro é laico e a execução penal é uma atividade típica da Administração Pública, porém na APAC exige-se a prática religiosa por parte do recuperando. Consequentemente, mais do que uma busca interior, a prática religiosa acaba se confundindo com a rotina do preso e com as demais regras da unidade. Estar presente no ritual religioso, aderir às orações e às práticas traduz a adesão do preso às regras da unidade. Com o tempo, a prática religiosa vai fazendo com que os impulsos ligados à carne e à matéria deem lugar a uma 144

fala calma, repleta de mensagens de paz, de pedidos de perdão, de reconhecimento de “erros” e vontade de “acertos”. Obviamente, o discurso religioso introjeta no Homem APAC a vontade de mudança de vida. Para isso, ele deve reconhecer que era uma “ovelha desgarrada”, de modo que deverá ser pastoreado por pessoas que, como bons pastores, conhecem cada ovelha do rebanho e ama cada uma como única. Mais uma vez, o discurso do amor e do cuidado cria o canal de comunicação entre o CSS – o bom pastor – e as ovelhas – os recuperandos. Nesse sentido, a religião representa mais do que uma prática mística, ela cria o contexto necessário para a atuação do CSS, para a adesão às regras e ao novo modo de vida do Homem APAC. Assim, a prática religiosa colabora para permitir a atuação mais facilitada do poder pastoral. O poder pastoral assegura a salvação do recuperando na vida futura, ao sair do cárcere – a “vida no mundo”. Cuidando de cada indivíduo em particular, o poder pastoral, sempre pronto a se sacrificar em benefício do rebanho e de cada ovelha, é exercido explorando as almas das pessoas, conhecendo seus detalhes mais íntimos e, com isso, dirigindo a consciência. (Foucault, 2009, p. 237). Vigiando e orando, a APAC não recupera o Homem e afasta o Criminoso. Ela cria o Homem APAC. O Método APAC cria uma nova realidade, um novo sujeito, absolutamente docilizado, num ambiente prisional sem violência física, mas com atuação de técnicas de poder bastante fortes. Do ponto de vista prático, a APAC representa uma grande evolução em termos de respeito à saúde e à integridade física das pessoas presas. Porém, isso não quer dizer que ela respeite o modo de vida e a condição de existência de cada pessoa. Ela é uma instituição totalizante, no sentido de que se utiliza de vigilância e disciplina, porém de uma forma nova e sofisticada. O Método APAC se apodera do corpo e da alma. Lá, as pessoas estão presas pelas grades da consciência. Há uma atuação forte sobre a mentalidade do indivíduo para que ele mude suas práticas de vida, sem considerar o passado desta pessoa, suas preferências individuais e outras especificidades que fazem do Homem um ser único e um fim em si mesmo. Desta forma, se na prisão tradicional há a preocupação com o domínio do corpo e com a aplicação de técnicas disciplinares, na APAC a aplicação de técnicas disciplinares visa atuar sobre o corpo e a alma, enfim, sobre o modo de vida. Por fim, a análise da APAC na rede de governamentalidade em que está inserida dá o terceiro sentido da neo-prisão. Como um dos equipamentos do sistema penal, a APAC é uma alternativa barata, haja vista o custo per capita que apresenta; tenho que reconhecer, também, 145

que, de maneira global, representa uma resposta efetiva ao problema da reincidência. Os fatores “custo” e “resultado” são muito importantes quando se trata de analisar as razões pelas quais a iniciativa vem ganhando notoriedade em campos discursivos variados. Criada em São Paulo, a APAC se disseminou em Minas Gerais durante os governos neoliberais de Aécio Neves e Antonio Anastasia, cujas políticas públicas preconizavam a economia dos recursos públicos, com redução de custos das atividades desenvolvidas pelo Estado e a medição de resultados, marca divulgada no mote “choque de gestão”. De toda forma, o Método tem se mostrado socialmente viável e com resultados louváveis. Porém, trata-se de uma neo-prisão. Suas práticas – que alcançaram um nível de sofisticação não presenciado, por força do efeito criativo do poder – permitem dizer que as bases da prisão não são diferentes. É necessário advertir que não estou aqui fazendo a demonização da APAC ou tecendo críticas a seus adeptos ou fundadores. Minha intenção foi abordar a nova modalidade de aprisionamento (APAC) a partir de uma leitura foucaultiana sobre as formas de se gerirem pessoas presas. Uma importante precaução metodológica é não tomar o poder como algo que possa ser dividido entre os que o possuem e os que não o detém. O poder deve ser tomado como algo que circula e que se exerce em rede e que nunca está localizado de forma estática em um único ponto. Nas malhas do poder, os indivíduos circulam e estão ora em posição de exercê-lo ora em posição de sofrer sua atuação, são centros de transmissão e não alvos inertes. (Foucault, 1979). Considero, ainda, que a importância e originalidade deste trabalho não reside em simplesmente analisar a APAC, aplicando a genealogia de Foucault. Esta é uma tese em Administração, e como tal deve contribuir para esta ciência. Neste sentido, a originalidade deste trabalho está em se debruçar sobre a análise da Gestão de Pessoas Presas. Isto significa abordar o sujeito preso como detentor de comportamento humano que age e reage com as técnicas gerenciais – e muitas vezes apesar delas – e que contribui para formação de uma cultura organizacional e para que a organização alcance os resultados a que se propõe. Como já mencionei anteriormente, não há na literatura consultada nenhuma produção científica que se preocupe com a Gestão Carcerária do ponto de vista da Gestão de Pessoas Presas. Estes seres humanos nas diferentes abordagens são alocados como insumos no conjunto dos processos gerenciais que formam a execução da pena. Esta tese ainda permite refletir no sentido de que quando se altera a maneira de fazer a Gestão de Pessoas Presas, a organização prisional alcança resultados diferentes, mediante 146

custos diferentes. É de extrema importância que haja a mudança de perspectiva da visão que se desenvolveu acerca de pessoas presas: elas não são insumos, elas são sujeitos que desafiam Gestão de Pessoas. Por fim, penso que a análise aqui efetuada vá se curvar ao rumo já apontado por Foucault (2012, p. 38):

Que o adversário se apoie em alguma espécie de dominação que você tem sobre ele para tentar derrubá-la e transformá-la em uma dominação que ele teria sobre você constitui, inclusive, a melhor valorização do que está em jogo e resume toda a estratégia das lutas: à maneira do judô, a melhor réplica de uma manobra adversária é nunca recuar, mas retomá-la por sua conta, reutilizá-la para sua própria vantagem como ponto de apoio para a fase seguinte.

Sempre haverá a fase seguinte. Onde há uma relação de poder, sempre haverá a possibilidade de resistência e a possibilidade de modificar a relação de dominação.

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APÊNDICE A – Quadro 1 Artigos encontrados nas bases pesquisadas que usam Foucault como marco teórico. Título do Artigo Autores Ano Categorias de análise encontradas “Disciplining the shopfloor: A comparison of the disciplinary effects of managerial psychology and financial Disciplina; Governamentalidade. accounting” Knights, D., Collinson, D. 1987 “Foucault, Power/Knowledge, And Its Relevance for Human Relações de Poder e Conhecimento. Resource Management” Townley, Barbara. 1993 “The views and values of community nurses and their managers: research in progress--one person's pain, another Relações de Poder e Conhecimento. person's vision.” Traynor, M. 1994 “A literary approach to managerial discourse after the NHS Relações de poder; Genealogia. reforms” Traynor, M. 1996 “The medical model to the management model: power issues Relações de poder. for nursing” Tilah, M. 1996 “A discursive exploration of nursing work in the hospital Governamentalidade. emergency setting” Heslop, L. 1998 “A political technology of the body: How labour is organized Relações de poder; Disciplina. into a productive force” Marsden, R. 1998 “Educational Administration as a Disciplinary Practice: Appropriating Foucault's View of Power, Discourse, and Anderson, G. L., Grinberg, Relações de poder; Disciplina. Method” J. 1998 “Stories of development and exploitation: Militant voices in Governamentalidade. an enterprise culture” Fournier, V. 1998 “Ethics, morality and the subject: The contribution of Zygmunt Bauman and Michel Foucault to 'postmodern' Ética e cuidado de si. business ethics” Kelemen, M., Peltonen, T. 2001 “Managing home nursing care: Visibility, accountability and Tecnologia de Poder; governamentalidade. exclusion” Purkis, M. E. 2001 “Kaizen, ethics, and care of the operations: Management Cuidado de si. after empowerment” Styhre, A. 2001 “Towards a discursive approach to organisational knowledge Poder e saber. formation” Yakhlef, A. 2002 184

“Foucault could have been an operating room nurse” Riley, R; Manias, E. 2002 Tecnologia de Poder; Poder e subjetividade. “Foucault, Foucauldianism and human resource Relações de poder e cuidado de si. management” Barratt, E. 2002 “Au fondement d'une réforme du marché du travail : Les marchés transitionnels du travail et la gestion contemporaine Cuidado de si de la rareté” Gazier, B. 2003 “Discourse on e-mail in use” Edenius M. 2003 Relações de poder. Vandekerckhove, W; Relações de poder. “Downward workplace mobbing: A sign of the times?” Commers, MSR 2003 “Foucault, HRM and the ethos of the critical management Cuidado de si e ética. scholar” Barratt, E. 2003 “Managing doctors and saving a hospital: Irony, rhetoric and Governamentalidade. actor networks” Dent, M. 2003 “Psychological technologies at work: A history of employee Cuidado de si. development in Denmark” Triantafillou, P. 2003 “Refashioning a passionate manager: Gender at work” Hatcher, C. 2003 Processos de subjetivação. “Teachers in the schoolhouse panopticon - Complicity and Relações de poder. resistance” Bushnell, M. 2003 “The elevation of work: Pastoral power and the new age Relações de poder e governamentalidade. work ethic” Bell, E; Taylor, S. 2003 Garrety, K; Badham, R; “The use of personality typing in organizational change: Morrigan, V; Rifkin, W; Processos de subjetivação . Discourse, emotions and the reflexive subject” Zanko, M. 2003 “Taking care of business: self-help and sleep medicine in Cuidado de si. american corporate culture” Brown, M. 2004 “Individual identity and organisational control: Governamentalidade e cuidado de si. Empowerment and modernisation in a Primary Care Trust” McDonald, R. 2004 Peter, E; Lunardi, VL; Cuidado de si e ética. “Nursing resistance as ethical action: literature review” Macfarlane, A. 2004 “Trabalhadores da saúde mental: cuidados de si e formas de subjetivação. Personnel de la santé mentale: le soin de soi- Bernardes, Anita Guazzelli; Processos de subjetivação e cuidado de si. même et formes de sujectivisation. Mental health workers: Guareschi, Neuza Maria de self-care and forms of subjectivity” Fátima. 2004 “Fabricating Foucault: Rationalising the Management of Governamentalidade. Individuals” Mapes-Martins, Brad. 2004 185

“Exhausting management work: Conflicting identities” Mischenko J. 2005 Governamentalidade. “Producing the governable employee: The strategic Governamentalidade. deployment of workplace empowerment” Mir, A.; Mir, R. 2005 “The professionalization of stress management: Health and Governamentalidade. well-being as a professional duty of care?” Kelly P.; Colquhoun, D. 2005 “Doing what comes naturally? Why we need a practical Cuidado de si e governamentalidade. ethics of teamwork” Sewell, G. 2005 “Lip service to multiculturalism - Docile bodies of the Relações de poder. modern organization” Hoobler, J. M. 2005 “Nice work? Rethinking managerial control in an era of Relações de poder. knowledge work” Sewell, G. 2005 “Organizational entrepreneurship - With de Certeau on Governamentalidade. creating heterotopias (or spaces for play)” Hjorth, D. 2005 “Fabricating Foucault: Rationalising the Management of Governamentalidade. Individuals.” Tamboukou, Maria. 2005 “From drill sergeants to maternal negotiators: Mass- Governamentalidade. mediated business strategies in the 1980s” Cady, K. A. 2006 “In the mirror of the market: The disciplinary effects of Roberts, J; Sanderson, P; Relações de poder. company/fund manager meetings” Barker, R; Hendry, J. 2006 “Organizational discourse and subjectivity: Subjectification Processos de subjetivação. during processes of recruitment” Bergstrom, A; Knights, D. 2006 “Rules, safety and the narrativisation of identity: a hospital McDonald, R; Waring, J; Processos de subjetivação. operating theatre case study” Harrison, S. 2006 Bicknell, Martin; Relações de poder e cuidado de si. “The art of stress” Liefooghe, Andreas. 2006 Ibarra-Colado, E; Clegg, S; Ética e cuidado de si. “The ethics of managerial subjectivity” Rhodes, C; Kornberger, M. 2006 “The global fight against corruption: A foucaultian, virtues- Everett, J; Neu, D; Cuidado de si ética. ethics framing” Rahaman, A. S. 2006 “Using Foucault to analyse ethics in the practice of problem Cuidado de si e ética. structuring methods” Cordoba, J-R. 2006 Hutchinson, Marie; Vickers, “Workplace bullying in nursing: towards a more critical Margaret; Jackson, Debra; Relações de poder. organisational perspective” Wilkes, Lesley. 2006 “Insourcing the management of knowledge and occupational Nerland M., Jensen K. 2007 Relações de poder. 186

control: An analysis of computer engineers in Norway” Nursing home residents in emergency departments: A McCloskey R., Van Den Relações de poder Foucauldian analysis Hoonaard D. 2007 “'I don't know what I'm doing, how about you?': Discourse and identity in practitioners dealing with the survivors of Munro, Iain; Randall, Processos de subjetivação. childhood sexual abuse” Julian. 2007 “Managing the employee's soul: Foucault applied to modern Governamentalidade. management Technologies” Villadsen, Kaspar. 2007 “New work ethics?: The corporate athlete's Back End Index Kelly, Peter; Allender, Cuidado de si e ética. and organizational performance” Steven; Colquhoun, Derek. 2007 “The power behind empowerment for staff nurses: using Cuidado de si. Foucault's concepts.” Udod, S.A. 2008 “Governing nursing through reflection: a discourse analysis Cuidado de si e ética. of reflective practices” Fejes, Andreas. 2008 “Managing nurses through disciplinary power: a St-Pierre, Isabelle; Holmes, Governamentalidade. Foucauldian analysis of workplace violence” Dave. 2008 Holmes, Dave; Murray, “Nursing Best Practice Guidelines: reflecting on the obscene Stuart J.; Perron, Amelie; Relações de poder. rise of the void” McCabe, Janet. 2008 “PLAYER WELFARE AND PRIVACY IN THE SPORTS ENTERTAINMENT INDUSTRY Player Development Cuidado de si. Managers and Risk Management in Australian Football Kelly, Peter; Hickey, League Clubs” Christopher. 2008 McKenna, Steve; Singh, “The drunkard's search: Looking for 'HRM' in all the wrong Parbudyal; Richardson, Cuidado de si. places” Jules. 2008 “Behavioral aspects in the use of erp systems: Study of a Governamentalidade. global organization” Decoster S.A., Zwicker R. 2009 “An investigation of the interplay of power and knowledge during the implementation of change in the banking sector of Sabeeh S.A., Hislop D., Relações de poder. a Asian developing country” Coombs C. 2009 Gordon, Ray; Clegg, “Embedded Ethics: Discourse and Power in the New South Stewart; Kornberger, Relações de poder. Wales Police Service” Martin. 2009 “Make your presence known! Post-bureaucracy, HRM and Maravellas, Christian. 2009 Processos de subjetivação. 187

the fear of being unseen” Bergstrom, Ola; “Organizing disciplinary power in a knowledge Hasselbladh, Hans; Governamentalidade. organization” Karreman, Dan. 2009 Machado, Leila Domingues; “Por uma clínica da expansão da vida. For a clinic to expand Lavrador, Maria Cristina Governamentalidade. life. Por una clínica de expansión de la vida” Campello. 2009 “If human errors are assumed as crimes in a safety culture: A Governamentalidade. lifeworld analysis of a rail crash Chikudate, Nobuyuki; 2009 Discipline through documentation: A form of Governamentalidade. governmentality for school principals” Niesche, R. 2010 “Emotional intelligence: Elias, Foucault, and the reflexive Cuidado de si. emotional self” Hughes J. 2010 “Influences on self-evaluation during a clinical skills Yeo J., Steven A., Pearson Cuidado de si. programme for nurses” P., Price C. 2010 “Managing breast feeding and work: A Foucauldian Cuidado de si. secondary analysis” Payne D.; Nicholls, D. A. 2010 “Public discourses on sexuality and narratives of sexual Relações de poder. violence of domestic servants in Greece (1880-1950)” Hantzaroula, P. 2010 “Putting Foucault to work on the environment: Exploring Relações de poder. proenvironmental behaviour change as a form of discipline” Hargreaves T. 2010 “A discursive formation that undermined integration at a Arqueologia e genealogia. historically advantaged school in South Africa” Naidoo, Devika. 2010 “Dressage, control, and enterprise systems: the case of Berente, Nicholas; Gal, Uri; Governamentalidade. NASA's Full Cost initiative” Yoo, Youngjin. 2010 “The Undecided Space of Ethics in Organizational Cuidado de si e ética. Surveillance” Iedema, Rick; Rhodes, Carl. 2010 “Trabalho, gestão e subjetividade: dilemas de chefias Intermediárias em contexto hospitalar. Work, management Governamentalidade. and subjectivity: dilemmas to the hospital intermediate Weber, Lílian; Grisci, managements” Carmem Ligia Iochins. 2010 “Between a rock and a hard place: Career guidance practitioner resistance and the construction of professional Processos de subjetivação. identity” Douglas, F. 2011 “E-learning as competitive strategy: Critically reconstructing Chan, A.; Garrick, J. 2011 Processos de subjetivação. 188

the organizational knowledge in workplace learning” “Knowledge ontology in labor outsourcing environments” Londono, O. A. 2011 Relações de poder. “Performance or enactment? The role of the higher level teaching assistant in a remodelled school workforce in Governamentalidade. England” Graves, S. 2011 McKenna, Steve; “Alternative paradigms and the study and practice of Richardson, Julia; Manroop, Governamentalidade. performance management and evaluation” Laxmikant. 2011 “Career Development and Knowledge Appropriation: A Kamoche, Ken; Pang, Mary; Relações de poder e genealogia. Genealogical Critique” Wong, Amy L. Y. 2011 “Knowledge sharing in a dispersed network of HR practice: Relações de poder. Zooming in on power/knowledge struggles” Heizmann, Helena. 2011 “Pharmaceutical Industry discursives and the marketization Governamentalidade. of nursing work: a case example” Springer, Rusla Anne. 2011 “Rethinking cynicism: Parrhesiastic practices in Karfakis, Nikos; Cuidado de si e governamentalidade. contemporary workplaces” Kokkinidis, George. 2011 “The production of educational space: Heterotopia and the Beyes, Timon; Michels, Governamentalidade. business university” Christoph. 2011 “Trainees corporate programs and the government of souls” Governamentalidade. [Programas trainees corporativos e o governo das almas] Da Cruz, J. A.; Saraiva, K. 2012 “Web 2.0 technologies of the self” Bakardjieva, M.; Gaden, G. 2012 Cuidado de si. “Working to think otherwise: Tracing ethos in information Cuidado de si. professionals' reflections on learning and practice” Wise, S. 2012 “Ethics and HRM: Theoretical and Conceptual Analysis An De Gama, Nadia; McKenna, Alternative Approach to Ethical HRM Through the Steve; Peticca-Harris, Cuidado de si e ética. Discourse and Lived Experiences of HR Professionals” Amanda. 2012 “Knowledge appropriation and HRM: the MNC experience Kamoche, Ken; Newenham- Governamentalidade. in Tanzania” Kahindi, Aloysius 2012 “From influence to power: Elements for a foucauldian view of leadership” [De la influencia al poder: Elementos para una Saavedra, Mayorga J.J.; Governamentalidade; cuidado de si. mirada foucaultiana al Liderazgo] Sanabria, M.; Smida, A. 2013 “Micropolicies of day-to-day practices: Conducting ethnography in a circus organization” [Micropolíticas das De Oliveira, J. S.; Cavedon, Governamentalidade e cuidado de si. práticas cotidianas: Etnografando uma organização circense] N. R. 2013 “Outplacement of workers aged 45 and over in Belgium a Moulaert, T. 2013 Governamentalidade. 189

failed attempt at remote government of the final years of careers?” [L'outplacement des 45 ans et plus en Belgique: Une tentative avortée de gouvernement à distance des fins de carrière ?] “Professional caregivers' work with the dying in nursing homes - a Foucault-inspired analysis of discourses in the last Relações de poder. decade in a Danish context” Nielsen, K. T.; Glasdam, S. 2013 “Contradiction as a medium and outcome of organizational Leclercq-Vandelannoitte, Relações de poder e Cuidado de si change: a Foucauldian reading” Aurelie. 2013 “Governing the workplace or the worker? Evolving dilemmas in chemical professionals' discourse on Governamentalidade. occupational health and safety” Rasmussen, Joel. 2013 Juritzen, Truls I.; “Subject to empowerment: the constitution of power in an Engebretsen, Eivind; Cuidado de si. educational program for health professionals” Heggen, Kristin. 2013 Ward, S.C.; Bagley, C.; Lumby, J.; Woods, P.; Cuidado de si. “School leadership for equity: lessons from the literature” Hamilton, T.; Roberts, A. 2014 Santos, E. M. M.; De “The health of pyrotechnic workers: A case study” [A saúde Araujo, J. N. G.; Neto, J. L. Governamentalidade. dos trabalhadores pirotécnicos: Um estudo de caso] F. 2014 “Welfare-to-Work Reform, Power and Inequality: From Governamentalidade. Governance to Governmentalities” Whitworth, A.; Carter, E. 2014 “Leadership development in the English National Health Hewison, Alistair; Morrell, Governamentalidade. Service: A counter narrative to inform policy” Kevin. 2014 “Managerial Control and Organizational Order: A Discussion Based on the Analyses of Michel Foucault and Governamentalidade. Zygmunt Bauman” Ozcan, Kerim. 2014 Leclercq-Vandelannoitte, “Mobile information systems and organisational control: Aurelie; Isaac, Henri; Relações de poder. beyond the panopticon metaphor?” Kalika, Michel. 2014 “The governing of the self/the self-governing self: Multi- Cuidado de si. rater/source feedback and practices 1940-2011” Slater, Rory; Coyle, Adrian. 2014 “Weaving a web of control The Promise of Opportunity and Governamentalidade. work-life balance in multinational accounting firms” Ladva, Puja; Andrew, Jane. 2014

191

APÊNDICE B – Gráfico

Distribuição decenal dos artigos científicos em Administração, encontrados nas bases pesquisadas que usam Foucault como marco teórico.

Figura 1. Distribuição dos artigos (1976-2014)

2020

2010

2000

1990 Anos 1980

1970

1960

1950

1 7

67 97 13 19 25 31 37 43 49 55 61 73 79 85 91

103 109 115 121 127 Número de artigos

Fonte: dados da revisão de literatura efetuada pela autora

193

APÊNDICE C – Quadro 2

Autores cujos trabalhos foram os mais citados, considerando os que se utilizam do trabalho de Michel Foucault como referencial teórico.

Autor Ano Revista Número de Fator de citações impacto da revista Accounting, Organizations and Knights, D.; Collinson, D. 1987 Society 69 3,834 Hutchinson, Marie; Vickers, Margaret; Jackson, Debra; Wilkes, Lesley. 2006 Nursing Inquiry 53 5,89 Fournier, V. 1998 Organization 50 2,67 Educational Administration Anderson, G. L., Grinberg, J. 1998 Quarterly 39 0,723 McDonald, R; Waring, J; Sociology of Health & Harrison, S. 2006 Illness 35 3,89 Accounting Roberts, J; Sanderson, P; Barker, Organizations And R; Hendry, J. 2006 Society 34 3,78 Bell, E; Taylor, S. 2003 Organization 32 2,67 Peter, E; Lunardi, V. L; Journal of Advanced Macfarlane, A. 2004 Nursing 29 2,64 Journal of Management Barratt, E. 2003 Studies 28 2,33 Gender Work and Hatcher, C. 2003 Organization 27 2.25

Observação:

As revistas com maior fator de impacto não são as que contêm os artigos com maior número de citações. Há revistas cujo fator de impacto é bastante reduzido e que contêm artigos citados em outros trabalhos.

195

APÊNDICE D – Quadro 3

Artigos publicados em periódicos brasileiros nas bases de dados internacionais, na área da Administração, que utilizam os trabalhos de Michel Foucault como referencial teórico.

Título Autor Revista Ano Fator de impacto “Disciplinary power of nursing in the Revista Brasileira 1999 0,25 hospital setting: an approximation to de Enfermagem Foucault's thought” Borenstein, M. S “A constructionist approach for the Da Silva, A. R. BAR - Brazilian 2012 0,17 study of strategy as social practice” L.; Carrieri, A. Administration P.; De Souza, E. Review M. “Trainees corporate programs and the Cadernos de 2012 0,31 government of souls” [Programas Pesquisa trainees corporativos e o governo das Da Cruz, J.A.; almas] Saraiva, K.

“Micropolicies of day-to-day practices: RAE Revista de 2013 0,21 Conducting ethnography in a circus Administracao de organization” [Micropolíticas das De Oliveira, J. Empresas práticas cotidianas: Etnografando uma S.; Cavedon N. organização circense] R.

“The health of pyrotechnic workers: A 0,413 case study” [A saúde dos trabalhadores Santos E. M. M.; pirotécnicos: Um estudo de caso] De Araujo, J. N. G.; Neto, J. L. F. Saúde e Sociedade 2014 “Trabalho, gestão e subjetividade: 0,20 dilemas de chefias Intermediárias em contexto hospitalar” Work, management and subjectivity: Weber, Lílian; dilemmas to the hospital intermediate Grisci, Carmem managements Ligia Iochins. Cadernos EBAPE 2010 “Managing the employee's soul: 0,20 Foucault applied to modern management technologies” Villadsen, Kaspar Cadernos EBAPE 2007

197

APÊNDICE E - Quadro 4

Artigos de autores brasileiros publicados em periódicos nacionais.

Autor Ano Título Periódico Comportamento “Dinâmica do Poder nas Organizacional e 200 Organizações: a contribuição da Gestão, v. 14, p. 97- Alcadipani, R. 8 Governamentalidade” 144. Brazilian Carrieri, A. P.; Diniz, A. P.; “Gender and Work: Representations Administration Review Souza, E. M.; Menezes, R. S. 201 of Femininitiesand Masculinitiesin the (BAR), v. 10, p. 281- S. 3 view of Women Brazilian Executives” 303 Revista de “Trabalho, violência e sexualidade: Administração Carrieri, A. P.; Souza E.M.,; 201 estudo de lésbicas, travestis e Contemporânea, v. 18, Aguar, A. R. C. 4 transexuais” p. 78-95. “Em defesa de uma Crítica Organizacional Pós-Estruturalista: Cavalcanti, M. F. R.; 201 recuperando o Pragmatismo Revista ANGRAD, v. Alcadipani, R. 1 Foucaultiano-Deleuziano” 12, p. 577-603 Educação: Teoria e De Souza, Silvana 201 “Democratic management and Prática, v. 21 (38), Aparecida. 1 architecture school” pp.168-185 Revista de “Sexuality at work: study on Administração Pùblica Garcia Agnaldo; De Souza, 201 discrimination against gay men in the - RAP, vol. 44 (6),. P. Eloisio Mulin. 0 baking setor” 1353 (25) Organizações e Lopes, F. T.; Carrieri, A. P.; 201 “Relações entre poder e subjetividade Sociedade (O& S), v. Saraiva, L. A. 3 numa organização familiar” 20, p. 225-238 Revista Eletrônica de bibliotecologia, “A gestão da informação na aanálise archivologia y Maravilhas Lopes, Sérgio 201 de Foucault sobre as relações de museologia, issue 51, Paulo. 3 poder-saber” pp. 70-77 RAE: Revista de “Micropolíticas das Práticas Administração de Oliveira, Josiane de; 201 Cotidianas: etnografando uma Empresas, vol 53 (2), Cavedon, Neusa Rolita. 3 organização circense” p. 156-168 “Poder, a Analítica Foucaultiana e Possíveis (Des)Caminhos: uma Pereira, R. D.; Oliveira, J. 201 reflexão sobre as relações de poder em Gestão. Org, v. 10, p. L.; Carrieri, A.P. 2 organizações familiares” 623-652 “Totalitarism and Shared Values, a Management by the Discourses? The Podium: Sport, Leisure 201 Internacional Plympic Academy as a and Tourism Review, Ricaud, Camille. 2 Totalitarian Experience” vol. 1 (2) p. 106-122 198

Santos, Emm; De Araújo, J. 201 “The health of pyrotechnic workers: a Saúde e Sociedade, vol N. G; Neto, J. L. F 4 case study” 23 (3), p. 953-965 “Empreendedorismo e gestão dos Silva, Roberto Rafael Dias 201 talentos na constituição dos Linhas Críticas, vol. 17 Da. 2 universitários contemporâneos” (34), p. 545-560 Souza, E. M.; Domingues, “Análise Genealógica: o estudo do Revista Aulas L.; Bianco, M. F.; Souza, 200 poder nas empresas sob uma visão (UNICAMP), v. 3, p. R.C. 7 foucaultiana” 1-15 “O Homem e o Pós-Estruturalismo Organizações e Souza, E.M.; Machado, L. 200 Foucaultiano: Implicações nos Sociedade (O& S), v. D.; Bianco, M.F.; 8 Estudos Organizacionais” 15, p. 71-86 “O pós-estruturalismo e os estudos Revista de críticos de gestão: da busca pela Administração Souza, E.M.; Petinelli- 201 emancipação à constituição do Contemporânea, v. 17, Souza, S.,Silva, A. R. L. 3 sujeito” p. 198-217 “Usos e significados do conhecimento histórico em estudos organizacionais: Souza, Eloisio Moulin; 201 uma (re) leitura do taylorismo sob Cadernos EBAPE, vol. Costa, Alessanda Mello da. 3 perspectiva do poder disciplinar” 11 (1), p. 1-15 Psicologia & Souza, Ricardo Abbussafy 201 “Garbage, human conductand Sociedade, v.26, p. 47- de. 4 management of the unbearable” 57 Walter, Bruno Eduardo Procopiuk; Winkler, Carolina Andrea Gómez; 201 “O ideário taylorista, a gestão da Cadernos EBAPE. BR, Crubellate, João Marcelo. 3 subjetividade e o poder pastoral” v. 11 (1), pp. 16-29 “Trabalho, gestão e subjetividade: Weber, Lílian; Grisci, 201 dilemas de chefias intermediárias em Cadernos EBAPE, vol. Carmen Ligia Iochins. 0 contexto hospitalar” 8(1), pp. 53-70

199

APÊNDICE F – Diagrama

201

ANEXO A – Regulamento

203

INDICE SISTEMÁTICO

PÁG. CONSIDERAÇÕES INICIAIS04 CAPÍTULO I DA ASSISTÊNCIA AO RECUPERANDO...... 05

CAPÍTULO II DOS DIREITOS, OBRIGAÇÕES E DEVERES DOS RECUPERANDOS...... 07

CAPÍTULO III DAS FALTAS E DAS SANÇÕES DISCIPLINARES...... 11

CAPÍTULO IV DO ELOGIO E DO RECUPERANDO MODELO...... 22

CAPÍTULO V DO C.S.S. – CONSELHO DE SINCERIDADE E SOLIDARIEDADE...... 23

CAPÍTULO VI DA ASSISTÊNCIA AOS ALCOÓLATRAS E TOXICÔMANOS...... 23

CAPÍTULO VII DAS CANTINAS, PRESTAÇÕES DE CONTA E CONTRIBUIÇÕES...... 24

CAPÍTULO VIII DOS JOGOS, APOSTAS E NEGÓCIOS...... 26

CAPÍTULO IX DO USO DA TELEVISÃO...... 26

CAPÍTULO X DO USO DO TELEFONE...... 27

CAPÍTULO XI DOS DOENTES E DA ASSISTÊNCIA MÉDICA...... 29

CAPÍTULO XII DOS PORTEIROS E AUXILIARES DE PLANTÃO...... 29

CAPÍTULO XIII DA HIGIENE PESSOAL E FAXINA...... 32

CAPÍTULO XIV DA SECAGEM DE ROUPAS E DAS PLANTAS...... 33

CAPÍTULO XV DAS CELAS E DORMITÓRIOS...... 34

CAPÍTULO XVI DAS SOLICITAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RECUPERANDOS...... 36

CAPÍTULO XVII DO TRABALHO DO RECUPERANDO...... 37

204

CAPÍTULO XVIII REGIME FECHADO...... 38

CAPÍTULO XIX REGIME SEMIABERTO...... 49

CAPÍTULO XX REGIME ABERTO E SEMIABERTO AUTORIZADOS AO TRABALHO EXTERNO...... 55

CAPÍTULO XXI DAS VISITAS DOS FAMILIARES DOS RECUPERANDOS...... 60

CAPÍTULO XXII DAS DISPOSIÇÕES FINAIS...... 66

ANEXOS REGULAMENTO DO CSS - REGIME FECHADO...... 68 REGIMENTO INTERNO DA COOPERATIVA DO REGIME FECHADO...... 80 REGIMENTO INTERNO DA COOPERATIVA DO REGIME SEMIABERTO...... 87 REGULAMETO DO QUADRO DE AVALIAÇÃO DISCIPLINAR...... 94

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. O Regulamento disciplinar das APACs é o resultado de mais de 40 anos de experiência administrando Centros de Reintegração Social sem polícia e encontra-se de conformidade com o disposto na Lei de Execução Penal – Lei 7.210/84, na Constituição Federal, Regras Mínimas da ONU para tratamento do preso e demais Leis e Regulamentos afins e específicos.

2. O presente Regulamento aplicado em Centros de Reintegração Social - APAC, onde se mantém os regimes fechado, semiaberto, semiaberto autorizado ao trabalho externo e aberto, deverá ser ajustado à realidade de cada APAC levando-se em consideração, para estes possíveis ajustes, tão somente, a estrutura física de cada instituição;

3. As normas comuns a todas as APACs não poderão ser alteradas, a não ser que haja expressa autorização da FBAC - Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados;

4. As regalias contidas no presente regulamento (ex.: uso de TV, DVD, telefone, etc.) deverão ser comedidas e concedidas aos recuperandos de forma gradativa, considerando-se sempre o mérito pessoal e coletivo dos recuperandos, jamais olvidando que os recuperandos das APACs são condenados da justiça e que os Centros de Reintegração Social são unidades prisionais;

5. Encontra-se em anexo à este Regulamento Disciplinar, o Regulamento do C.S.S., o Regimento Interno da Cooperativa do Regime Fechado, o Regimento Interno da Cooperativa do Regime Semiaberto e o Regulamento do Quadro de Avaliação Disciplinar.

REGULAMENTA E DISCIPLINA AS OBRIGAÇÕES E DEVERES AOS RECUPERANDOS DOS REGIMES FECHADO, SEMIABERTO, SEMIABERTO AUTORIZADO AO TRABALHO EXTERNO E ABERTO

O Presidente da Associação de Proteção e Assistência

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aos Condenados - APAC, considerando a consequente necessidade de aprimorar a disciplina, obrigações e deveres dos recuperandos e da correta aplicação do Método APAC RESOLVE baixar o seguinte Regulamento Disciplinar:

CAPÍTULO I DA ASSISTÊNCIA AO RECUPERANDO

Art. 1º A assistência dispensada ao recuperando pela APAC, tem por objetivo prepará-lo para retornar ao convívio social.

Parágrafo único. A assistência será: 1. material 3. jurídica 5. social 2. à saúde 4. educacional 6. espiritual

Art. 2º A assistência material consistirá no fornecimento de alimentação suficiente e balanceada, vestuário e outros.

Parágrafo único. A Entidade disporá de instalações e serviços que visem atender às necessidades pessoais dos recuperandos.

Art. 3º A assistência à saúde será de caráter preventivo e curativo, compreendendo o atendimento médico, farmacêutico, odontológico e psicológico, dentro do Estabelecimento ou Instituição da comunidade, quando o caso indicar sua necessidade.

Art. 4º A assistência jurídica na fase da execução penal será prestada por voluntários, estagiários e advogados constituídos, se assim desejar o recuperando, visando garantir a defesa do direito em relação ao processo de execução das penas.

Art. 5º A assistência educacional gratuita compreenderá obrigatoriamente a instrução escolar até o Ensino Médio e, se possível, outros níveis de ensino, para formação profissional e cultural do recuperando.

Parágrafo Único. Não se exclui a extensão do ensino para outros cursos, às expensas do interessado.

Art. 6º O ensino de que trata o artigo anterior, atrelado ao sistema escolar da Unidade Federativa, dar-se-á em horário adequado ao regime 207

laborativo da APAC.

Parágrafo Único. Somente serão dispensados do ensino fundamental e médio, os recuperandos que preencham os seguintes requisitos: 1. Apresentação do Certificado de conclusão de escolaridade; ou 2. Incapacitação devidamente comprovada e atestada por responsável.

Art. 7º As atividades educacionais podem ser objetos de convênio com entidades públicas ou particulares que instalem escolas no Estabelecimento Prisional e ofereçam cursos especializados.

Art. 8º O ensino profissional poderá ser ministrado em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Art. 9º Dotar-se-á o Estabelecimento de uma biblioteca para uso geral dos recuperandos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos, conforme disposto no Art. 21 da Lei 7.210, de 11 de julho de 1984.

Art. 10. A assistência social tem por finalidade o amparo ao recuperando, visando prepará-lo para o retorno à sociedade.

Parágrafo Único. A assistência de que trata este artigo, estender-se-á às famílias dos recuperandos e das vítimas.

Art. 11. Será prestada ao recuperando assistência espiritual, com liberdade de culto, permitindo-se a posse de livros de instrução religiosa, na forma regulamentar da APAC.

CAPÍTULO II DOS DIREITOS, OBRIGAÇÕES E DEVERES DOS RECUPERANDOS. Seção I DOS DIREITOS DOS RECUPERANDOS

Art. 12. São direitos comuns aos recuperandos, além dos já previstos pelo Código Penal Brasileiro, Lei de Execução Penal; e demais Leis e Regulamentos afins e específicos, e de acordo com as normas institucionais vigentes, a saber:

I. Atendimento pelo Diretor do Estabelecimento e ou demais Diretorias de serviços;

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II. Assistência espiritual, de acordo com seu credo, nos dias e horários determinados pela APAC.

III. Tratamento médico-hospitalar, psiquiátrico, psicológico e odontológico gratuito, com os recursos humanos e materiais do Estabelecimento, Estado e Município obedecendo-se os seguintes princípios: a) Poderão obter assistência médica da rede Municipal, Estadual e Federal, quando esgotados ou inexistentes os recursos institucionais, de acordo com a disponibilidade dessas redes, devidamente recomendadas pelo serviço de saúde da APAC; b) Assistência médica de outras Instituições, além das mencionadas, quando firmados convênios ou contratos com as mesmas, através da APAC; c) Quando da assistência odontológica, psicológica, oftalmológica ou outras, em que haja necessidade de prótese, confecção de óculos ou similares, as mesmas poderão ser executadas através de recursos próprios do interessado, esgotados ou inexistentes os recursos institucionais; e, d) Aos recuperandos é facultado contratar, através de familiares ou dependentes, médicos, dentistas, psicólogos de confiança pessoal, ou serviços, a fim de acompanhar o tratamento, segundo seus recursos, observadas as normas institucionais vigentes;

IV. Freqüência às atividades desportivas, de lazer e culturais condicionadas à programação da APAC, dentro das condições de segurança e disciplina, obedecendo-se as seguintes normas: a) A prática de esportes e lazer deverá ter programação específica, sem prejuízo das atividades laborativas da Entidade; b) Leitura de todos os órgãos da imprensa, tais como jornais, revistas e demais periódicos, editados no país, em língua portuguesa, desde que não contenham incitamento à violência, à subversão da ordem ou preconceito de religião, raça ou classe social e não comprometam a moral e os bons costumes;

V. Solicitar, por escrito, ao Encarregado de Segurança da APAC, a mudança de cela, que poderá ser ou não autorizada após avaliação dos motivos;

209

VI. Comunicação através de correspondência escrita com seus familiares e outras pessoas, pelas via regulamentares;

VII. Receber visitas de parentes nos dias e horários regulamentados;

VIII. Chamamento nominal;

IX. Assistência jurídica gratuita em matéria de Execução Penal, podendo também ser assistido por advogado particular, observadas as normas vigentes no Estado;

X. Reabilitação de boa conduta prisional das faltas disciplinares;

XI. Proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

XII. Direito de defesa nos procedimentos administrativos de apuração de falta disciplinar.

Seção II DAS OBRIGAÇÕES E DEVERES

Art. 13. Além dos expressamente consignados no Código Penal Brasileiro e na Lei de Execuções Penais, são obrigações e deveres comuns do recuperando:

I. Somente dirigir-se ao atendimento com a Diretoria da Entidade e com o pessoal técnico após ser autorizado ou requisitado, devendo as solicitações serem feitas por escrito, em impresso próprio;

II. Submeter-se à revista pessoal e permitir a de seus pertences, no momento em que for solicitado;

III. Zelar e responder, em caso de danos, pelo patrimônio da Entidade (móveis, instalações elétricas, hidráulicas e utensílios);

IV. Dar ciência e orientar seus familiares e visitantes sobre o Regulamento Disciplinar;

V. Dirigir-se aos locais que lhe forem determinados, seja de lazer, atos socializadores, visitas, trabalho, etc., retirando-se somente quando autorizado e permanecer em silêncio quando solicitado;

210

VI. É proibido: desviar, para uso próprio ou de terceiros, materiais dos diversos setores da Entidade; e: a) Transacionar objetos de uso pessoal, de terceiros ou do patrimônio da APAC; b) Confecção e posse indevida de instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; c) Apostas de jogos de qualquer natureza; d) Entrar e permanecer em local destinado a outrem, sem a devida autorização da Administração; e) Impedir ou burlar a vigilância, sob qualquer pretexto, onde quer que se encontre; f) Participar de manifestações e/ou tumulto coletivo que ameace a segurança e a disciplina; g) Responder, em nome do outro, a chamada do Inspetor de Segurança quando da contagem para conferência da população prisional; h) Assobios, cantos, sons ou ruídos que poderão causar transtornos aos demais companheiros, bem como prejudicar a vigilância e a disciplina; i) Enviar e receber correspondência, utilizando-se para isto de meios inadequados; j) Concorrer para uso ou fabricação de bebida alcoólica ou de substância que determine dependência física ou psíquica; k) Fazer varais para pendurar roupas na cela, uso de "come- quieto", etc. l) Deixar de obedecer às normas contidas na forma de compromisso assinados quando da transferência ou progressão aos Regime Fechado, Semiaberto, Semiaberto Autorizado ao Trabalho Externo e Aberto, bem como as Portarias, ordens internas, regimentos, estatutos sociais e no presente regulamento disciplinar da Entidade. m) Não executar as tarefas que lhe forem atribuídas, com zelo e senso de responsabilidade;

VII. Desempenhar a contento, as funções inerentes ao Conselho de Sinceridade e Solidariedade (C.S.S.) representação, vice- representação e secretaria da cela, de auxiliar do Inspetor de Segurança, faxina, serviços burocráticos e de cantina, encarregado de galeria, segurança e desempenho de serviços artísticos e outras funções confiadas, acatando e acompanhando com humildade e interesse, tudo o que é proporcionado pela entidade, relacionada à recuperação do condenado; 211

VIII. Manter a cama limpa e arrumada;

IX. Não colocar cartazes de qualquer espécie na cela, ou fazer inscrição nas paredes;

X. Concorrer para a entrada e/ou a posse de publicações pornográficas;

XI. Não receber encomendas de espécie alguma antes de serem vistoriadas pelo Inspetor de Segurança e/ou auxiliar de plantão;

XII. Usar crachá de identificação pessoal;

XIII. Manter com rigor os preceitos de higiene pessoal, inclusive, barba e cabelos cortados;

XIV. Manter bom relacionamento e respeito com os visitantes, quer sejam parentes ou não, sendo cortês e educado, bem como os diretores em geral, membros do C.S.S., representantes, vice- representantes, secretários de cela, voluntários e autoridades; XV. Não receber e/ou fazer uso de drogas, celulares ou qualquer outro material que possa colocar em risco a segurança física dos recuperandos e dos voluntários;

XVI. Cumprir rigorosamente os horários previamente determinados, com relação às refeições, alvorada e atos socializadores;

XVII. Cooperar na orientação dos recuperandos recém-chegados acerca das normas da Entidade, a fim de ajudá-los a superar as dificuldades iniciais, incentivando- os a cumprir com interesse e aproveitamento, todas as atribuições inerentes ao regime de cumprimento de pena, às normas constantes deste regimento;

XVIII. Chegar nos horários designados para todos os atos programados pela entidade, não sendo permitido o abandono do local, exceto por motivo de força maior;

XIX. Evitar “Palavrões”, discussões e agressões quer física ou com palavras;

XX. Só será permitido o afastamento das atividades programadas, através de exames e atestado médico ou por comunicação escrita em impresso próprio, pelo interessado. O repouso,

212

nesse caso, prolongar-se-á até alta médica ficando, nesse período, na cela;

XXI. Participar com interesse e respeito de todos os atos socializadores promovidos pela Entidade;

XXII. Frequentar, obrigatoriamente, as aulas de ensino fundamental e médio, quando necessário.

CAPÍTULO III DAS FALTAS E DAS SANÇÕES DISCIPLINARES Seção I DAS FALTAS DISCIPLINARES

Art. 14. As faltas disciplinares, segundo sua natureza, classificam-se em:

a) Leves; b) Médias; c) Graves § 1º Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à da falta consumada, quando houver dolo.

§ 2º O recuperando que concorrer para o cometimento da falta disciplinar incidirá nas mesmas sanções cominadas ao infrator.

Art. 15. Os atos de indisciplina serão passíveis das seguintes penalidades:

I. Advertência;

II. Repreensão;

III. Suspensão ou restrição de regalias;

IV. Suspensão ou restrição de direitos;

V. Isolamento na própria cela ou em local adequado;

VI. Transferência para o sistema comum (Penitenciária).

Art. 16. Às faltas graves caberão as sanções previstas nos incisos V e VI do artigo anterior.

§ 1º A suspensão ou restrição de direitos e isolamento celular não poderão exceder a 30 (trinta) dias.

213

§ 2º O isolamento celular superior a 10 (dez) dias será sempre comunicado ao Juiz das Execuções.

Art. 17. Às faltas leves caberão as sanções previstas nos incisos I, II e III do artigo 15 deste Regulamento.

Parágrafo único: As faltas leves serão controladas através de um quadro de avaliação disciplinar diário (em anexo).

Art. 18. Às faltas médias caberão as sanções previstas nos incisos III, IV e V do artigo 15 deste Regulamento.

Parágrafo Único. A suspensão ou restrição de regalias poderá ser aplicada isolada ou cumulativamente, na prática de faltas de quaisquer natureza.

Art. 19. A advertência será verbal e anotada em ficha própria para efeito de apreciação em caso de reincidência.

Art. 20. A repreensão será escrita relatando o fato que a deu causa, e consignada na pasta Prontuário do recuperando, com o histórico das restrições que vierem a ser impostas.

Art. 21. As sanções dos incisos I, II, lll e IV do artigo 15, serão aplicados pelo Encarregado de Segurança da APAC; e as do inciso V e VI pelo Conselho Disciplinar.

Parágrafo único. O isolamento de cela somente será apreciado pelo Conselho Disciplinar quando superior a 10 (dez) dias.

Art. 22. O Conselho Disciplinar será constituído por: I. Encarregado de Segurança;

II. Encarregado(a) Administrativo(a);

III. Inspetor de Segurança (02);

IV. Encarregado(a) de Execução Penal.

§ 1º Em situações excepcionais, o Conselho Disciplinar poderá ter outra composição, à critério do Presidente da entidade.

Seção II

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DAS FALTAS DISCIPLINARES EM ESPÉCIE

Art. 23. Consideram-se faltas disciplinares de natureza LEVE:

I. Descumprir os horários do Estabelecimento;

II. Retardar o cumprimento de ordem;

III. Utilizar-se de objeto pertencente a outro recuperando sem o seu consentimento;

IV. Simular doença ou estado de precariedade física para eximir- se de trabalho e/ou estudo, ou para outro fim, perturbando a administração;

V. Estender, lavar ou secar roupas em local não permitido;

VI. Tomar refeição fora do local e dos horários estabelecidos, salvo autorização escrita de quem de direito;

VII. Abordar autoridades ou pessoas estranhas no estabelecimento, especialmente visitantes, sem a devida autorização;

VIII. Atuar de maneira inconveniente, por ação ou omissão frente às autoridades e voluntários;

IX. Desatenção nos exercícios, nas atividades escolares ou em outra atividade interna;

X. Transitar pelo estabelecimento, ou por suas dependências, em desobediência às normas estabelecidas;

XI. Comunicação não autorizada com visitantes e com os recuperandos que estiverem em regime de isolamento celular;

XII. Entrega não autorizada de quaisquer objetos aos visitantes e/ou recuperandos, quando não configurar-se falta média ou grave;

XIII. Utilizar material, equipamento de trabalho, ferramentas ou utensílios do estabelecimento, sem autorização ou sem conhecimento do encarregado, a pretexto de reparos ou limpeza;

215

XIV. Entrar em cela alheia ou permitir a entrada de recuperandos na sua cela, podendo esse procedimento configurar-se falta média ou grave;

XV. Improvisar varais e cortinas na cela, comprometendo a vigilância;

XVI. Posse de papéis, documentos, objetos ou valores não cedidos ou autorizados pela Direção do estabelecimento, podendo classificar-se como falta média ou grave;

XVII. Não estar devidamente trajado, ou seja, usando bermudas, bonés, camisetas regata e etc. nas reuniões, nos atos socializadores e na presença de visitantes e voluntários;

XVIII. Uso de Material de serviço para finalidade diversa da que foi prevista, podendo configurar-se em falta média ou grave;

XIX. Remessa de correspondência sem o registro regular pelo setor competente;

XX. Desobedecer sinal convencional de recolhimento;

XXI. Não usar crachás;

XXII. Fumar em local proibido, quando houver regulamentação própria;

Art. 24. Consideram-se faltas disciplinares de natureza MÉDIA:

I. Desobedecer às prescrições médicas, recusando o tratamento necessário ou utilizando medicamentos não prescritos ou autorizados pelo médico competente.

II. Abster-se de tratar com urbanidade e respeito os demais recuperandos;

III. Praticar ou contribuir para a prática de jogos proibidos, agravando-se a falta quando o ato envolver exploração de outros recuperandos;

IV. Faltar à verdade com o fim de obter vantagens ou eximir-se de responsabilidade;

V. Explorar recuperandos sob qualquer pretexto ou forma;

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VI. Realizar faxinas e/ou lavar roupas de outros recuperandos, sem autorização do Encarregado de Segurança, configurando assim atos de comércio entre ambos;

VII. Recusar-se a assistir as aulas ou de fazer os deveres escolares sem razão justificada; VIII. Portar objetos cuja posse é proibida;

IX. Desviar ou ocultar objetos cuja guarda lhe tenha sido confiada por Voluntários, membros do setor Administrativo ou Diretores;

X. Imputar a alguém, falsamente, fato definido como falta disciplinar;

XI. Induzir ou instigar alguém a praticar falta disciplinar, mesmo que não venha a ser cometida;

XII. Divulgar notícia que possa perturbar a ordem ou disciplina;

XIII. Comunicar com recuperandos de qualquer um dos regimes de cumprimento de pena;

XIV. Impedir a vigilância de qualquer dependência do estabelecimento, através de atos constrangedores ou de ameaças;

XV. Fazer greve de fome ou praticar autolesão, com o propósito de obter vantagens;

XVI. Concorrer de qualquer modo para o ingresso de visitantes no estabelecimento, com o fim de subverter a ordem e a disciplina;

XVII. Provocar assuada, insultos ou perturbações do ambiente com ruídos, vozerios ou vaias;

XVIII. Conturbar a jornada de trabalho ou a realização de tarefas;

XIX. Perturbar o repouso noturno, a recreação ou todos os demais atos do Método APAC;

XX. Abster-se de apresentar comportamento disciplinado e de cumprir fielmente a sentença condenatória que lhe foi imposta; 217

XXI. Realizar atos de comércio de qualquer natureza com companheiros ou voluntários;

XXII. Comportar-se de forma inamistosa durante prática desportiva; XXIII. Negar-se a cumprir sanção disciplinar imposta;

XXIV. Abster-se da higiene pessoal, asseio da cela e demais dependências da APAC;

XXV. Deixar de preservar ou conservar os objetos de uso pessoal;

XXVI. Possuir ou utilizar "máquinas" de tatuagem;

XXVII. Agredir com palavras recuperandos, voluntários, funcionários ou visitantes;

XXVIII. Ocorrendo agravante ou atenuante na consumação da falta média, a mesma poderá ser reclassificada como grave ou leve.

Art. 25. Consideram-se faltas disciplinares de natureza GRAVE:

I. Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem e disciplina;

II. Evadir, fugir ou abandonar o cumprimento do regime;

III. Agredir fisicamente, recuperandos, funcionários, voluntários, familiares ou visitantes;

IV. No caso do item anterior, a tentativa será punida com o mesmo rigor;

V. Usar indevidamente as ligações telefônicas, quando autorizadas pela Administração da APAC e/ou fornecer dados falsos quando do cadastro;

VI. Caluniar, injuriar ou difamar funcionários, recuperandos, voluntários ou visitantes;

VII. Fabricar, guardar, portar ou fornecer material destinado a fuga; e/ou para atentar contra a integridade física de outrem;

VIII. Possuir indevidamente qualquer instrumento capaz de ofender

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a integridade física de outrem; IX. Fazer uso das celas de convivência dos presos, ou outros espaços coletivos, para visita íntima familiar;

X. Provocar, intencionalmente, acidentes de trabalho;

XI. Desobedecer ordens de serviços e/ou desrespeitar a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

XII. Ser omisso aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina;

XIII. Possuir documento público ou particular, falso ou falsificado;

XIV. Possuir substância corrosiva, inflamável ou venenosa;

XV. Praticar fato previsto como crime doloso,

XVI. Praticar fato previsto como crime culposo ou como Contravenção Penal;

XVII. Praticar, induzir ou instigar alguém à prática de ato libidinoso ou conjunção carnal com pessoas do mesmo ou de outro sexo;

XVIII. Introduzir e/ou manter, em qualquer dos Regimes de cumprimento de pena na APAC, a posse de celulares, notebook, modem, pen drive, MP4, MP5 e similares bem como, quaisquer adaptadores e/ou cabos que possibilitem o acesso à esses equipamentos dentro do Centro de Reintegração Social da APAC;

XIX. Introduzir e/ou fazer uso de drogas de qualquer espécie, inclusive bebidas alcoólicas em qualquer regime de cumprimento de pena;

XX. Descumprir as normas presentes no Termo de Audiência Admonitória para Trabalho Externo, permissão de saída esporádica e/ou para conseguir trabalho, as normas presentes nos Termos de Saída Temporária em Família, cursos profissionalizantes, cursos de ensino médio e superior e outras atividades que concorram para o retorno ao convívio social;

Parágrafo único. 219

As faltas graves acima catalogadas serão passíveis de transferência para o sistema comum.

Seção III DAS ATENUANTES E AGRAVANTES

Art. 26. Poderão ser consideradas como atenuantes, nas aplicações das penalidades:

I. A primariedade do infrator;

II. As circunstâncias em que ocorreram os fatos;

III. Tempo de adaptação ao Método APAC

IV. Confissão espontânea.

Art. 27. Serão levados em consideração, como agravantes, na aplicação das sanções:

I. A reincidência em falta disciplinar;

II. Natureza e circunstância da falta, tais como: a) Praticar ato que exponha a risco a si ou a outrem, bem como a segurança do Estabelecimento; b) Concurso de outros; c) Antecedente de Conduta Prisional.

III. Resistir, com uso de violência, quando da determinação do isolamento preventivo;

IV. Resistir, com uso de violência, quando impedido de tentativa de fuga;

V. Ter participado de Cursos do Método APAC, Jornada de Libertação com Cristo e outros;

VI. Ter cometido a infração através do abuso da confiança;

VII. Ter agido em conluio com servidores;

VIII. Praticar a falta durante o prazo de reabilitação de conduta por falta anterior.

§ 1º Sempre que a falta cometida constitua crime ou contravenção, será comunicada à Autoridade Policial.

220

§ 2º Observando-se atenuante nas faltas catalogadas como GRAVES, poderá ocorrer a desclassificação para médias ou leves;

§ 3º A evasão será comunicada às autoridades da Justiça e Segurança Pública, com relatório circunstanciado e, declarações, se necessário, para instrução da competente ação penal;

§ 4º A prisão em flagrante será instruída com relatório circunstanciado e, a pessoa infratora entregue à autoridade policial para as providências cabíveis.

Art. 28. O recuperando que cometer infração disciplinar, que possa ser atribuída a distúrbios psíquicos, ainda que momentâneos, comprovados mediante parecer médico, não sofrerá sanção disciplinar, sendo-lhe oferecida assistência adequada.

Art. 29. Caso infrinja, mediante uso de violência, as normas vigentes nos Fóruns, Hospitais ou qualquer outro local externo ao Centro de Reintegração Social da APAC, o recuperando estará sujeito aos dispositivos contidos neste Regulamento.

Seção IV DA REABILITAÇÃO DA CONDUTA

Art. 30. Os prazos para reabilitação de conduta serão contados da data da falta e da seguinte forma:

I. Em 01 (um) mês para faltas LEVES;

II. Em 03 (três) meses para faltas MÉDIAS;

III. Em 06 (seis) meses para faltas GRAVES;

Seção V DAS PROVIDÊNCIAS NA APLICAÇÃO DA SANÇÃO DISCIPLINAR

Art. 31. Antes de se consumar qualquer advertência, correção ou punição, o recuperando terá direito de ampla defesa.

Parágrafo único. O infrator terá direito a palavra e poderá indicar até 03 (três) testemunhas.

Art. 32. Os recuperandos terão pasta própria no C.S.S., onde a segunda 221 via dos documentos que compõem o seu histórico disciplinar serão arquivados. A primeira via original será incontinenti remetida à Secretaria Administrativa no caso das faltas médias e graves.

Art. 33. Os relatórios serão digitados, testemunhados e, anexados aos comunicados prontuários e, depois, arquivados na pasta prontuário, na Secretária Administrativa, após tomadas as providências de praxe ;

Art. 34. Caberá ao C.S.S. (Conselho de Sinceridade e Solidariedade), tão somente, a apuração das faltas disciplinares leves e, suas consequentes sanções disciplinares cabíveis.

Art. 35. Quanto às falta catalogadas como médias e graves, estas serão INCONTINENTI comunicadas ao Encarregado de Segurança, para a tomada de medidas que preservem a ordem e a disciplina, independentemente de outras providências.

Art. 36. O C.S.S., ou o Inspetor de Segurança que presenciar ou tomar conhecimento de qualquer infração disciplinar, lavrará o competente comunicado prontuário, encaminhando-o ao Encarregado de Segurança da APAC, lembrando que: a) É da competência do C.S.S., a proposta de penalidade consistente em Advertência Verbal, Repreensão e aplicação de pontos amarelos. b) O recuperando será comunicado da sanção imposta no prazo máximo de dez (10 ) dias, contados da falta disciplinar. c) O comunicado Prontuário da sanção será anexado à pasta prontuário, para ser apreciado no caso de reincidência. d) A advertência verbal poderá ser feita individualmente ou em grupo, primeiramente pelo Inspetor de Segurança, ou se for o caso, pelo Encarregado de Segurança da APAC.

Seção VI DAS FALTAS GRAVES

Art. 37. O C.S.S., ou o Inspetor de Segurança que presenciar ou tomar conhecimento da infração cometida lavrará o competente comunicado prontuário, e encaminha-lo-á ao Encarregado de Segurança da APAC para o processamento, devendo ser tomadas as seguintes providências:

I. Isolamento do infrator em local adequado, pelo prazo máximo de dez (10) dias, para a apuração de responsabilidade,

222

operando-se a detração do tempo de castigo, quando comprovada culpa, que será decretada pelo Conselho Disciplinar da APAC;

II. O Encarregado de Segurança ou quem a Diretoria Administrativa indicar, providenciará a oitiva do recuperando, suas razões de defesa e colherá outras provas que se fizerem necessárias, encaminhando-as para inclusão e julgamento na pauta do Conselho Disciplinar;

III. Depois de o Conselho Disciplinar definir e aplicar as penalidades, os autos serão encaminhados à Diretoria Administrativa do estabelecimento para as providências cabíveis;

IV. As faltas graves devidamente apuradas, e a sanção disciplinar a ser aplicada, serão comunicadas ao Juiz das Execuções Criminais, para conhecimento e referendo;

V. Nos casos de ocorrência de incêndio ou depredação do Patrimônio ou de terceiros, o recuperando ficará sujeito ao ressarcimento dos danos, além das sanções previstas neste Regulamento e na Legislação pertinente.

Seção VII DOS RECURSOS E DA CLASSIFICAÇÃO DE CONDUTA

Art. 38. Ao recuperando é assegurado o direito de recorrer ao Presidente da APAC da sanção disciplinar que lhe foi aplicada.

Parágrafo único. O recurso será examinado pela Diretoria Executiva em última instância.

Art. 39. A conduta disciplinar classificar-se-á em: a) ÓTIMA: quando o recuperando não tenha cometido falta disciplinar, de qualquer natureza, durante o cumprimento da pena; b) BOA: quando o recuperando, embora tenha cometido falta disciplinar, de qualquer natureza, teve sua conduta reabilitada; c) REGULAR: Quando o recuperando tenha cometido falta disciplinar de qualquer natureza, sem completar o período de reabilitação;

Parágrafo único. Todos os recuperandos com prazo de permanência na 223

APAC inferior a 60 (sessenta) dias, para efeito de classificação de conduta, serão considerados, "Sem Tempo Hábil", sendo fornecida classificação do Estabelecimento prisional de procedência, se houver.

CAPÍTULO IV DO ELOGIO E DO RECUPERANDO MODELO

Seção I DO ELOGIO

Art. 40. Na avaliação mensal da conduta do recuperando, será levado em conta o desempenho das atividades que lhe foram atribuídas, a pontuação disciplinar mensal (vide Regulamento do Quadro de Avaliação Disciplinar em anexo) e seu interesse em ajudar e orientar o companheiro de prisão, com base no princípio de que “não basta deixar de fazer o mal, é preciso fazer o bem”.

Seção II DO RECUPERANDO MODELO

Art. 41. Mensalmente, o Conselho Disciplinar escolherá o recuperando modelo do mês, ao qual será entregue a medalha alusiva, certificado e comunicado prontuário que será enviado ao Juiz de Direito da Execução Penal.

Parágrafo Único. A entrega da medalha e certificado dar-se-á em solenidade da qual deverão participar os recuperandos e voluntários.

CAPÍTULO V DO C.S.S. – CONSELHO DE SINCERIDADE E SOLIDARIEDADE.

Art. 42. Haverá nos 03 (três) regimes (Fechado, Semiaberto e Aberto) um Conselho de Sinceridade e Solidariedade – C.S.S., formado exclusivamente por recuperandos, cuja composição e atribuição serão regidas por Portaria própria expedida pela Presidência da APAC (Regulamento do C.S.S. em anexo).

Parágrafo Único. Cada conselho será composto de recuperandos do regime a que pertencem.

CAPÍTULO VI DA ASSISTÊNCIA AOS ALCOÓLATRAS E TOXICÔMANOS

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Art. 43. Todos os recuperandos recém-chegados que se encontram no período de adaptação (mínimo de 03 meses) e os dependentes do álcool e drogas deverão freqüentar as reuniões patrocinadas pelos voluntários dos Alcoólicos Anônimos (A.A.) e Narcóticos Anônimos (N.A.) e outras terapias que objetivem o tratamento da dependência química.

Parágrafo único. Estas reuniões serão realizadas no mínimo uma vez por semana. O não comparecimento será registrado como desinteresse pela emenda, podendo acarretar a transferência para o sistema comum.

CAPÍTULO VII DAS CANTINAS, PRESTAÇÕES DE CONTA E CONTRIBUIÇÕES

Seção I DAS CANTINAS

Art. 44. A arrecadação das cantinas, uma no regime fechado e outra no regime semiaberto, cuja administração será realizada por dois recuperandos, sendo um encarregado e outro auxiliar, ambos do respectivo regime, indicado pelo C.S.S. e referendado pela Administração da APAC, deduzidas todas as despesas, será revertida, em benefício dos recuperandos, na melhoria dos diversos serviços prestados.

Parágrafo único. Caberá ao C.S.S. dando conhecimento também à Direção da APAC, supervisionar e fiscalizar os serviços dos auxiliares encarregados do funcionamento da cantina, bem como: I. Fazer cumprir o horário de funcionamento da cantina, que será estipulado pela direção da APAC, não permitindo que a mesma funcione fora do horário definido; II. Fiscalizar os preços dos produtos vendidos na cantina, evitando que os mesmos não sejam comercializados por um valor superior aos da praça; III. Fiscalizar, rigorosamente, todos os produtos vendidos, evitando assim a venda de qualquer produto contendo álcool ou qualquer outro tipo de substância que cause dependência física ou psíquica e prejuízo à disciplina e ordem da casa; IV. Observar a manutenção de rigoroso controle de estoque; V. Averiguar se os produtos estão sendo vendidos somente à vista; VI. Acompanhar a entrega, ao tesoureiro da APAC, de toda a arrecadação da cantina, mediante recibo que ficará arquivado no setor de controle da cantina; 225

VII. Fiscalizar para que, semanalmente, no primeiro dia da semana seguinte, seja apresentada completa relação do estoque, das vendas e do lucro apurado; VIII. Fiscalizar para que não seja permitida a permanência de qualquer outro recuperando no interior da cantina; IX. Elaborar junto com o recuperando, encarregado da cantina, lista de compras de produtos que deverá ser encaminhada à tesouraria da APAC, setor encarregado de assim efetuar todas as compras para as cantinas dos Regimes Fechado e Semiaberto; X. Recolher a chave da cantina e assim entregá-la ao Inspetor de Segurança todos os dias, à noite; XI. Fiscalizar para que a chave do caixa fique, exclusivamente, em poder do encarregado da cantina, que por ela responderá; XII. Acompanhar, rigorosamente, os princípios de higiene no local, bem como dos objetos de uso; XIII. Atender à Direção da APAC, sempre que esta julgar necessário, no tocante a realização de fiscalização extra no setor; XIV. Responsabilizar-se para que os recuperandos que trabalham na cantina, interrompam suas atividades sempre que forem convocados para participar dos atos socializadores promovidos pela entidade; XV. Fiscalizar o uso de apenas uma pequena faca para cortar carnes e legumes, dentro da cantina, devendo no final do expediente a mesma ser entregue ao Inspetor de Segurança para ser guardada em local apropriado.

Art. 45. Os Conselhos de Sinceridade e Solidariedade de cada regime, juntamente com os recuperandos responsáveis pelas respectivas cantinas, prestarão, mensalmente, contas da movimentação financeira do setor (Receitas e Despesas), submetendo-as à apreciação e aprovação de seus membros e, em seguida, submeterá a referendo da Diretoria Financeira da APAC para apreciação e aprovação.

Seção II DAS COOPERATIVAS

Art. 46. Haverá no regime Fechado e Semiaberto uma cooperativa disciplinada por portaria própria e que tem por finalidade, a promoção da fraternidade, solidariedade e a ajuda mútua entre os recuperandos que cumprem pena, não priorizando fins lucrativos e, devendo ainda os lucros obtidos serem revertidos em benefício dos próprios recuperandos

226

cooperados. Parágrafo único. Todas as normas regulamentadoras de funcionamento das Cooperativas encontram-se dispostas nos Regimentos Internos das Cooperativas dos Regimes Fechado e Semiaberto. (em anexo)

CAPÍTULO VIII DOS JOGOS, APOSTAS E NEGÓCIOS

Art. 47. É permitido nas celas, jogos de dominó, dama e xadrez, isto nos horários de folga e aos sábados após às 12h, domingos e feriados o dia todo, exceto nos momentos em que houver programação no C.R.S.

Art. 48. Os jogos permitidos não autorizam qualquer tipo de aposta.

Art. 49. Entre recuperandos, não serão admitidos negócios de qualquer espécie, mesmo a título de permuta sem que haja expressa autorização da Direção.

CAPÍTULO IX DO USO DA TELEVISÃO

Art. 50. Haverá apenas um aparelho de TV em cada regime, que poderão ser utilizados segundo os critérios abaixo:

I. O aparelho de TV poderá ser ligado, diariamente, das 12h às 13h e às 20h para ser assistido o noticiário;

II. Os filmes, novelas e demais programações após as 18h, somente serão permitidos com autorização por escrito do Encarregado de Segurança da APAC;

III. A escolha da programação ficará a cargo do C.S.S., sempre que possível com o consenso dos demais recuperandos.

IV. Aos sábados, domingos e feriados, após as 13h o único aparelho de TV, destinado para fins de lazer, poderá ser ligado, bem como o uso de DVD para a exibição de no máximo 02 (dois) filmes, previamente selecionados por uma comissão de censura constituída por funcionários, voluntários e recuperandos.

CAPÍTULO X DO USO DO TELEFONE

227

Art. 51. O uso do telefone para os recuperandos poderá dar-se da seguinte forma:

I. O recuperando, ao dar entrada no C.R.S. firmará o seguinte Termo de Compromisso de Uso de Telefone:

TERMO DE COMPROMISSO DE USO DO TELEFONE

Eu, , consciente de que a Lei 12.012, de 06 de agosto de 2009, proíbe a comunicação telefônica dos sentenciados com o meio externo e de que não obstante a vigência desta Lei, na APAC posso ser beneficiado com a permissão de realizar ligações telefônicas conforme Art. 51 do Regulamento Disciplinar, aceito a condição de que somente poderei efetuar ou receber ligações para os telefones cadastrados em meu nome, constantes em minha pasta prontuário, autorizando ainda, o registro e a escuta telefônica através de aparelho controlado pela secretaria da APAC.

Estou ciente também de que terei que contribuir com uma taxa a ser estipulada e repassada para a Administração da APAC para cada ligação realizada e de que não poderei, em hipótese nenhuma, transferir o direito de minha ligação para outro recuperando podendo, caso isto ocorra, incorrer em Falta Grave, conforme Art. 25 do Regulamento Disciplinar da APAC, além de incidir na suspensão telefônica de todos os recuperandos.

Itaúna-MG, de de .

Assinatura do Recuperando

II. O recuperando, recém-chegado, fornecerá no máximo 03 (três) números de telefones de familiares para a administração da APAC, que realizará sindicância para comprovar a veracidade dos dados fornecidos;

III. As ligações autorizadas serão realizadas no horário de 09:00 hs às 16:00 hs, às segundas, quartas e sextas–feiras para o regime fechado e às terças e quintas- feiras para o regime semiaberto, sempre segundo a disponibilidade do telefone, uma vez que serão

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sempre priorizadas as ligações do setor administrativo. Quando os dias da semana, acima mencionados, coincidirem com os feriados, não serão autorizados ligações telefônicas.

IV. Os pedidos serão feitos por escrito, com preenchimento completo da ficha própria e entregues ao Inspetor de Segurança do dia até às 09h, sob pena de perder a ligação do dia;

V. O pedido, por escrito, será autorizado mediante o pagamento da taxa estipulada pelo setor financeiro da APAC. Em hipótese alguma, poderão ser feitas ligações para pagamentos posteriores;

VI. As ligações somente serão feitas a cobrar. Casos especiais serão estudados pela Diretoria Administrativa da APAC;

VII. Será permitida somente 01(uma) ligação por dia, para cada recuperando;

VIII. O tempo de cada ligação será limitado em, no máximo, 07 (sete) minutos;

IX. Aqueles que excederem este tempo, poderão ter suas ligações cortadas e suspensas as futuras por tempo indeterminado;

X. Caberá à Diretoria Administrativa da APAC, designar responsável, previamente preparado para proceder à fiscalização das ligações e monitorar as gravações telefônicas;

XI. A autorização não beneficiará quem estiver sofrendo restrições por indisciplina;

CAPÍTULO XI DOS DOENTES E ASSISTÊNCIA MÉDICA

Art. 52. Todos os dias de manhã, um membro do C.S.S. fará vistoria das celas, e quando se deparar com algum recuperando enfermo, ou que alegar estar doente, preencherá ficha própria, que será entregue ao encarregado do setor de saúde para as providências de praxe.

§ 1º Imediatamente será providenciado atendimento ambulatorial e o doente observará repouso durante 24 horas, ou até que obtenha alta médica.

§ 2º Em caso de atendimento urgente de saúde, o Inspetor de Segurança deverá comunicar o fato ao Encarregado de Segurança da APAC, e 229

solicitar a escolta quando a situação o exigir.

CAPÍTULO XII DOS PORTEIROS E AUXILIARES DE PLANTÃO

Seção I DOS PORTEIROS

Art. 53. Serão indicados tantos porteiros, quantas forem as portarias, cabendo-lhes as seguintes atribuições: a) Receber e vistoriar, na presença do Inspetor de Segurança, todos os pertences que entrarem e saírem dos respectivos regimes; b) Não deixar entrar ou sair qualquer correspondência sem as cautelas de costume; c) Trajar-se decentemente e ser cortês com os visitantes; d) Acompanhar as revistas de recuperandos que entram e saem dos respectivos regimes, para atendimento médico, audiência, etc.

§ 1º Quando no Centro de Reintegração Social houver espaço destinado ao cumprimento de pena no Regime Fechado, a portaria de acesso deste regime ao regime semiaberto, por tratar-se de setor de relevante importância no Método APAC, em hipótese alguma deve ser usada para outros fins, que não seja de sua alçada, ou seja: I. Nesta portaria, diariamente, trabalharão três recuperandos do regime fechado de ótimo comportamento e poderão ser indicados pelo C. S. S., referendado pelo

Encarregado de Segurança da APAC, os quais trabalharão na função de auxiliares de plantão;

II. No período diurno, o horário dos auxiliares de plantão será das 07h às 13h e das 13h às 19h, e no período noturno, das 19h às 07h, não podendo em hipótese alguma, abandonar o local sem expressa ordem do Inspetor de Segurança;

III. Os auxiliares de plantão estão subordinados diretamente ao Inspetor de Segurança do dia, nada fazendo com ou sem sua permissão, dando-lhes ciência de todas as ocorrências do setor, sendo ainda de sua responsabilidade: a) não abrir mais de uma grade ao mesmo tempo, devendo uma permanecer fechada, enquanto a outra estiver aberta; b) manter sempre as chaves em seu poder; c) não permitir a entrada de pessoas estranhas no recinto sem

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autorização do Inspetor de Segurança; d) não permitir a saída de nenhum recuperando do regime fechado para o recinto do regime semiaberto sem expressa ordem do Encarregado de Segurança da APAC; e) impedir a entrada, no recinto da portaria, de recuperandos do regime semiaberto, exceto se autorizados pelo Encarregado de Segurança da APAC; f) não permitir qualquer contato de recuperandos do regime fechado com recuperandos do regime semiaberto e vice-versa, por ser expressamente proibido; g) receber encomendas somente acompanhadas do recibo próprio, com o visto do porteiro da portaria principal do C.R.S. da APAC e da pessoa que entregou; h) passar revista completa, na presença do Inspetor de Segurança e Presidente do C. S. S., a todos os recuperandos do Regime Fechado que, autorizados, deixarem o C.R.S., bem como o retorno, retirando documentos, dinheiro, não permitindo a entrada de “drogas” de qualquer espécie, bem como revistar os recuperandos que chegarem de outros presídios e recolhimentos disciplinares. Em todos os casos, os documentos pessoais devem ser retidos na portaria e entregues na secretaria administrativa para serem guardados no setor competente; i) fiscalizar a limpeza do local, cuja manutenção diária deverá ser efetuada no período matutino pelo próprio Porteiro, e manter a organização do setor em perfeita ordem; j) durante a semana, quando da visita de delegações e de autoridades, chamar sempre o Presidente do C.S.S. ou o recuperando que for determinado pelo Encarregado de Segurança da APAC, para explicar o quadro estatístico; k) providenciar para que os vasilhames usados nas refeições sejam transportados pelo Inspetor de Segurança ao Regime Semiaberto; l) colocar no corredor de acesso ao Regime Semiaberto, todos os dias às 08h e 17h as lixeiras com o lixo do Regime Fechado, para serem transportadas pelo Inspetor de Segurança, atentando sempre para seu controle; m) não permitir a entrada de nenhum recuperando na portaria de acesso do Regime Fechado ao Regime Semiaberto, exceto o Presidente do C. S. S.; n) entregar as chaves das demais dependências do Regime Fechado e da portaria, ao Inspetor de Segurança, às 22h.

§ 2º Caberá aos porteiros que trabalham na portaria principal da APAC (Portão de acesso ao C.R.S. as seguintes atribuições: I. entregar de pronto toda correspondência que esteja saindo ou chegando do C.R.S. da APAC ao Inspetor de Segurança, para as providências de praxe. Não entregar bilhetes aos recuperandos ou familiares sem o visto do Inspetor de Segurança; 231

II. receber, com recibo próprio, e revistar todas as encomendas entregues pelos familiares, durante um dos dias da semana, destinadas aos recuperandos do regime fechado, revistando-as na presença do Inspetor de Segurança;

III. receber as encomendas até as 19h;

IV. não permitir a entrada de refeições trazidas por familiares, exceto em dias e horários autorizados;

V. não dar aos recuperandos dos Regime Fechado e/ou Semiaberto recados, nem informações sobre a presença de familiares que estiverem na portaria principal, sem expressa ordem do Inspetor de Segurança;

VI. fiscalizar a limpeza do local, cuja manutenção diária deverá ser efetuada no período matutino pelo próprio Porteiro, e manter a organização do setor em perfeita ordem;

VII. providenciar a entrega de crachá aos visitantes durante os dias da semana;

VIII. quando da entrega de encomendas na portaria, registrar em livro próprio, todos os dados do entregador (nome, placa e cor do veículo, horário da entrega, etc.);

IX. entregar as chaves das demais dependências do Regime Fechado e da portaria, ao Inspetor de Segurança, às 18h.

Seção II DOS AUXILIARES DE PLANTÃO

Art. 54. Serão três os auxiliares de plantão, designados pelo Encarregado de Segurança da APAC, sendo 01 (um) do regime fechado e 02 (dois) do regime semiaberto, trabalhando estes em dias alternados.

Art. 55. Os auxiliares de plantão, irão colaborar com o Inspetor de Segurança em todas as atividades que se fizerem necessárias.

Art. 56. Os auxiliares de plantão, serão os responsáveis pela segurança, cuja função será exercida das 18h às 06h da manhã do dia seguinte. O silêncio, com encerramento de todas as atividades, será observado a partir das 22h. CAPÍTULO XIII DA HIGIENE PESSOAL E FAXINA

Seção I DA HIGIENE PESSOAL

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Art. 57. O horário destinado à higiene pessoal incluído banho, será o seguinte:

I. Diariamente, de segunda à sexta-feira, das 06h às 07h, das 12h às 13h e das 17h às 21h.

II. Aos sábados, domingos e feriados, será livre o horário de banho, exceto se houver programação na casa.

III. O banho diário é obrigatório, devendo ainda, o recuperando, apresentar-se sempre barbeado e com os cabelos cortados, ficando expressamente proibido o corte de cabelo com máquina zero.

Seção II DA FAXINA EM GERAL

Art. 58. A faxina da casa será efetuada por recuperandos escalados pelo C.S.S

Parágrafo Único. O horário de faxina iniciar-se-á às 08h, prolongando-se até às 17h.

Seção III DA FAXINA DA CELA E DORMITÓRIO

Art. 59. A faxina das celas e dormitórios será diária e compreenderá:

I. As celas do regime fechado e dormitório do semiaberto e aberto, serão mantidos em impecáveis condições de higiene, com as camas arrumadas, observando com rigor o asseio pessoal dos recuperandos.

II. A faxina das celas e dormitórios dos regimes Fechado e Semiaberto encerrar-se-á às 09h, impreterivelmente. A seguir, o responsável pela faxina do dia irá para o seu setor de trabalho. III. Cada recuperando deverá colaborar na faxina da cela e dormitórios, somente, ausentando-se desta tarefa quando manifestar-se comprovadamente doente;

IV. Aos sábados, deverão ser lavadas e trocadas as toalhas de banho e roupas de cama (lençóis, fronhas, etc.);

V. Os materiais de limpeza (desinfetante, vassoura, sabão, etc.), quando não puderem ser fornecidos pela Administração da APAC, 233

poderão ser adquiridos pela Cooperativa do Regime ou pelos recuperandos.

Parágrafo Único. No regime aberto e semiaberto autorizado ao trabalho externo, a faxina será realizada à noite e novamente pela manhã, terminando às 06h, antecedendo a saída para o trabalho.

CAPÍTULO XIV DA SECAGEM DAS ROUPAS E DAS PLANTAS

Art. 60. No pátio de cada regime haverá tantos varais quantos forem necessários para atender às celas e dormitórios, compreendendo:

I. As roupas serão estendidas, no varal de cada cela, das 08h às 17h e;

II. No mesmo período destinado à secagem e recolha das roupas, o recuperando encarregado do setor, uma vez por semana, colocará e recolherá do pátio, os vasos de flores contendo as plantas.

CAPÍTULO XV DAS CELAS E DORMITÓRIOS

Art. 61. Os alojamentos do regime Fechado serão denominados celas, do regime Semiaberto e Aberto, dormitórios.

Parágrafo Único. Caberá ao C.S.S. de cada regime, a designação das celas e dormitórios a serem ocupadas pelos recuperandos mantendo obediência às seguintes normas:

I. Não é permitido mudar de cama, cela ou dormitório sem ordem expressa do Encarregado de Segurança da Entidade.

II. O representante da cela ou dormitório será indicado pelo Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS) e referendado pelo Encarregado de Segurança da APAC.

III. As celas e dormitórios manter-se-ão trancados, podendo permanecer em seu interior, somente os recuperandos que estiverem comprovadamente doentes ou de castigo;

Art. 62. Cabe ao representante:

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I. Manter a disciplina geral da cela ou dormitório;

II. Reunir os recuperandos sob a sua responsabilidade, ao menos uma vez por semana, consultando anseios e reivindicações, apresentando relatórios ao Conselho de Sinceridade e Solidariedade para opinar e, este, após, se necessário, remeterá ao Encarregado de Segurança da APAC.

III. Manter o horário de silêncio (22:00) e da alvorada (06:00);

IV. Explicar aos recuperandos novos, sempre que houver necessidade, o regulamento da APAC;

V. Escalar o faxina do dia;

VI. Fiscalizar a limpeza e organização;

VII. Manter rigor quanto à higiene pessoal, especialmente, banho, barba feita, cabelos cortados, roupas limpas, etc.;

VIII. Fiscalizar o uso do armário e mantê-lo em absoluta ordem, não permitir varais, "come quietos" ou secagem de roupa nos alojamentos;

IX. Não acender incensos ou similares;

X. Não permitir jogos com apostas e negócios entre recuperandos; XI. Manter as instalações elétricas e hidráulicas em ordem,

XII. Não permitir ferramentas de trabalho nos alojamentos;

XIII. Não permitir medicamentos de qualquer espécie; e/ou desodorantes e perfumes;

XIV. Inadmissível, constituindo-se falta grave, a prática de ato libidinoso ou conjunção carnal com pessoas do mesmo ou de outro sexo;

XV. Inadmissível, constituindo-se falta grave, o uso de bebidas alcoólicas ou drogas de qualquer espécie;

XVI. Inadmissível, constituindo-se falta grave, a posse e/ou uso de celulares, notebook, modem, pen drive, MP4, MP5 e similares 235

bem como, quaisquer adaptadores e/ou cabos que possibilitem o acesso à esses equipamentos;

XVII. Não permitir a entrada de revistas e publicações pornográficas, conversas imorais, sobre crimes e violência;

XVIII.Não permitir a permanência de objetos sobre as camas;

XIX. Visar os pedidos de compras, censurando o que julgar inconveniente e prejudicial à APAC;

XX. Ser exemplar em sua conduta, participando de todos os atos programados pela APAC e concitar os demais companheiros a agir do mesmo modo.

Seção I DA PREMIAÇÃO DA CELA MAIS ORGANIZADA

Art. 63. Mensalmente, todos os membros do C.S.S. de cada regime, escolherão a melhor cela ou dormitório, entre aquelas que reunir melhores condições, a saber:

I. Quanto à higiene;

II. Quanto à arrumação das camas;

III. Quanto à ordem nos armários; IV. Quanto à higiene das instalações sanitárias e;

V. Quanto à disciplina.

Parágrafo Único. Os integrantes da cela premiada serão homenageados na mesma oportunidade em que serão entregues as medalhas e um kit limpeza.

CAPÍTULO XVI DAS SOLICITAÇÕES DE TRANSFERÊNCIA DE RECUPERANDOS

Art. 64. Quando o recuperando requerer a sua transferência para outra unidade Prisional, o Presidente da APAC deverá instruir expediente motivado ao Juiz das Execuções Criminais, constando desse:

I. Petição assinada pelo requerente ou termo de declaração

236

contendo os motivos da pretensão; e,

II. Relatório do Conselho Disciplinar sobre a conveniência da transferência. Parágrafo Único. Uma vez realizada a transferência para outra unidade prisional, o recuperando não mais poderá requerer a sua transferência para a APAC.

CAPÍTULO XVII DO TRABALHO DO RECUPERANDO

Art. 65. O Estabelecimento Penal manterá o trabalho do recuperando como fator social e condição de dignidade humana com finalidade educativa, profissionalizante, produtiva, socializadora e, mais: I. O trabalho no regime fechado tem a finalidade primordial de recuperação com ênfase no setor de laborterapia (artesanal) e, no semi-aberto, a finalidade será a profissionalização (oficinas profissionalizantes) e, no aberto, a inserção social (trabalho externo), sempre que possível, com registro e carteira profissional.

II. Aplicam-se à organizarão e aos métodos de trabalho as prescrições relativas à segurança e a higiene.

Art. 66. O trabalho por sua finalidade psicossocial, será obrigatório a todos os integrantes da população prisional, procurando-se atender às aptidões e a capacidade do recuperando.

Parágrafo Único. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em consideração a habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do recuperando, e: I. Os maiores de 60 (sessenta) anos terão atribuições adequadas à sua idade e;

II. Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades compatíveis.

Art. 67. A jornada de trabalho não será inferior a 06 (seis) horas, nem superior a 08 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados.

Parágrafo Único. Será atribuído horário especial de trabalho aos recuperandos designados para os serviços de administração e oficinas, como parte do Método Socializador. Art. 68. A designação ou transferência de trabalho será procedida pelo 237

C.S.S., ouvindo o Encarregado de Segurança da APAC

Art. 69. Conforme o disposto no Artigo 126 da Lei de Execução Penal, o recuperando poderá remir parte do tempo de condenação, à razão de um dia de pena por três de trabalho.

Parágrafo Único. O controle de remição de pena, será realizado por recuperandos especialmente designados para este fim, sob a fiscalização do Departamento Jurídico da APAC.

CAPÍTULO XVIII REGIME FECHADO

Seção I DO TERMO DE COMPROMISSO E ADESÃO

Art. 70. Os recuperandos do regime fechado, tão logo derem entrada no presente regime, deverão tomar conhecimento e assinar o presente termo de compromisso e termo de adesão – Pacto contra drogas e escolta em solenidade própria, e:

I - Termo de Compromisso do teor seguinte:

I. Frequentar as aulas de alfabetização, ensino fundamental e ensino médio, caso haja necessidade;

II. Somente assistir televisão na sala especialmente destinada para esse fim, no horário determinado e quando a Diretoria da APAC permitir. Não será permitido, em hipótese alguma, aparelho de TV na cela;

III. Respeitar a escolta;

IV. Aceitar, prestar obediência e respeitar o Inspetor de Segurança e seus auxiliares;

V. Manter com rigor, os preceitos de higiene pessoal, inclusive, barba e cabelos cortados;

VI. Trajar-se decentemente;

VII. Usar obrigatoriamente crachá;

VIII. Cooperar com a limpeza geral do recinto, principalmente das celas;

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IX. Não colocar cartazes de qualquer espécie na cela e nem permitir a entrada no recinto, de revistas ou publicações pornográficas;

X. Respeitar o horário de silêncio e alvorada;

XI. Não usar, sob nenhum pretexto, drogas que causem dependência física ou psíquica;

XII. Economizar ao máximo o consumo de água, energia elétrica e evitar o desperdício de alimentos;

XIII. Devotar respeito incondicional aos educadores sociais que prestam serviços à APAC;

XIV. Participar de todos os cursos e atos socializadores propostos pela Entidade com interesse e aproveitamento;

XV. Desempenhar com zelo as tarefas que lhe forem atribuídas; XVI. Respeitar os familiares, nada lhes exigindo, que represente sacrifícios fora de suas reais condições financeiras;

XVII. Não realizar nenhum tipo de negócios com recuperandos, funcionários ou voluntários;

XVIII. Não utilizar as celas de convivência ou outros espaços para realização de visita íntima familiar;

XIX. Ser obediente e humilde;

XX. Participar dos atos religiosos com respeito.

XXI. Ler, nos momentos de folga, bons livros;

XXII. Trabalhar na sala de laborterapia, quando não estiver estudando;

XXIII. Ser sincero e honesto;

XXIV. Respeitar e acatar as determinações dos membros do C.S.S. e representantes de cela;

XXV. Prestar fiel observância a todas as normas disciplinares que regem a convivência no Regime Fechado; 239

XXVI. Não manter a posse e/ou uso de celulares, notebook, modem, pen drive, MP4, MP5 e similares bem como, quaisquer adaptadores e/ou cabos que possibilitem o acesso à esses equipamentos;

II - Termo de Adesão

Eu, , consciente de que não estou autorizado a usar quaisquer drogas que causem dependência física ou psíquica no centro de Reintegração Social da APAC e, após tomar conhecimento da existência de um PACTO entre os recuperandos dos regimes Fechado, Semiaberto e Aberto, que diz que falar a verdade não será considerado como “caguetagem” na APAC, e que a falta será punida com rigor pela Direção, firmo o presente TERMO DE ADESÃO comprometendo-me, assim, a não usar drogas e a lutar por todos os meios possíveis para que outros recuperandos não usem, além de vigiar diariamente para que não entre drogas na APAC. Autorizo ainda, a realização periódica do uso do bafômetro e de exames toxicológicos, em caso de suspeita, em qualquer momento, durante o cumprimento de minha pena na APAC.

, de de

Assinatura do recuperando

III - Dos Procedimentos para o uso do Bafômetro e Exames Toxicológicos

I. O uso do bafômetro e exames toxicológicos serão realizados, semanalmente, por amostragem, em todos os regimes de cumprimento da pena e, eventualmente quando houver suspeitas;

II. Os exames toxicológicos e uso do bafômetro deverão ser realizados com máximo rigor, sempre na presença de no mínimo 02 (duas) pessoas, de modo a evitar contaminação da amostragem, troca de exames, de modo a não gerar quaisquer dúvidas quanto ao resultado. Sendo necessário os recuperandos submetidos aos exames deverão aguardar o resultado final "recolhidos em suas celas", afim de evitar fugas e/ou abandonos.

III. Após a coleta dos exames, as amostras deverão ficar guardadas em local próprio, com segurança, até o momento

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de serem encaminhadas para o laboratório, afim de evitar possíveis trocas de exames e adulteração das identificações, etc.

IV. É aconselhável que os exames sejam realizados após 30 dias contados a partir da data da entrada do recuperando na APAC.

Observação: No caso dos recuperandos do Regime Aberto e/ou Semiaberto autorizados ao trabalho externo, a equipe deverá avaliar se o recuperando submetido ao exame aguardará ou não, recolhido em sua cela, visto que se houver demora do resultado os mesmos poderão perder o trabalho.

Seção II DA LABORTERAPIA

Art. 71. Todo recuperando, quando do início do cumprimento da pena no regime fechado, deverá obrigatoriamente iniciar trabalhando no setor de laborterapia, e ali permanecer por um período mínimo de 90 (Noventa) dias..

Art. 72. A laborterapia funcionará diariamente, exceto domingos e feriados, seguindo os seguintes critérios:

I. Os encarregados da laborterapia designados pelo Presidente do C.S.S. - Conselho de Sinceridade e Solidariedade responderão pela disciplina,

ordem da sala e pela recolha de todo material que possa implicar na segurança da casa, evitando a sua saída do local do trabalho.

II. As peças artesanais serão expostas em local próprio com etiqueta contendo preço e nome do autor.

III. Será designado pelo C.S.S., um recuperando responsável pela venda das peças;

IV. Às 07h30m, o encarregado de laborterapia, receberá do Inspetor de Segurança a chave do setor, ficando de posse da mesma, durante todo o período em que a laborterapia estiver funcionando; 241

V. Após o término das atividades, que não poderá ultrapassar às 17h, a chave do setor será entregue ao Inspetor de Segurança;

VI. Aos sábados, para fins de remição de pena, o horário de funcionamento do setor será de 08h às 11h30m e de 13h às 15h30m;

VII. Durante os horários de almoço, jantar e atividades socializadoras, o setor de laborterapia deverá permanecer fechado, e as chaves de posse do encarregado;

VIII. Diariamente, após as atividades, o setor deverá ser limpo, e aos sábados à tarde, será realizada uma faxina geral, inclusive lavando o local;

IX. Quanto à distribuição dos armários, de acordo com o tamanho dos mesmos, será realizado como se segue:

X. 01 armário será destinado para as ferramentas da APAC, utilizadas para a confecção dos trabalhos laborterápicos;

XI. 01 armário para as ferramentas do setor de manutenção e materiais destinados à limpeza da casa;

XII. Os demais armários serão destinados para os recuperandos que trabalham no setor e serão numerados a começar de 01 em diante. XIII. Cada armário terá um cadeado, sendo que a chave ficará de posse do Inspetor de Segurança, e a cópia em um quadro de chaves presente no setor de laborterapia;

XIV. Os recuperandos responsáveis pelos armários deverão manter nas portas dos mesmos, a relação de ferramentas presentes em seu poder;

XV. As chaves dos armários deverão ser entregues ao encarregado da laborterapia, a fim de que as mesmas sejam colocadas no quadro de chaves;

XVI. Fica terminantemente proibido manter ferramentas dentro das celas, inclusive tesouras, agulhas, estiletes ou em

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qualquer outro setor que não seja a laborterapia;

XVII. Para que o recuperando receba uma ferramenta nova, é necessário que devolva a usada;

XVIII. É terminantemente proibida a realização de qualquer trabalho artesanal dentro das celas; XIX. Todas as ferramentas inclusive as de uso pessoal, deverão ter o nome de seus proprietários;

XX. Todas as ferramentas inclusive as de uso pessoal, após a jornada de trabalho, deverão ser entregues para o encarregado de laborterapia, que irá conferir uma por uma, a partir de uma relação previamente preparada e afixada na porta interna do armário;

XXI. A desobediência a quaisquer normas acima mencionadas, constituirá em falta grave, passível de transferência do recuperando para o regime fechado pleno.

Seção III DO REFEITÓRIO

Art. 73. Haverá um refeitório em cada regime de cumprimento de pena, para servir as refeições, inclusive, desjejum e café da tarde.

Art. 74. Às 07h30m, o encarregado do refeitório, receberá do Inspetor de Segurança a chave do setor, ficando de posse da mesma durante todo o período em que o refeitório estiver funcionando;

§ 1º Somente os recuperandos que estiverem comprovadamente doentes, poderão fazer as refeições nas celas.

§ 2º No Regime Fechado, o refeitório poderá ser utilizado como laborterapia e/ou sala de TV, fora dos horários de refeições.

Seção IV DO AMBULATÓRIO, ATENDIMENTO MÉDICO, ODONTOLÓGICO E PSICOLÓGICO.

Art. 75. O setor de Ambulatório Médico e Gabinete odontológico, funcionará em uma sala específica, no interior do C.R.S., e seu responsável será indicado pelo C. S. S., cujo nome o Encarregado de 243

Segurança da APAC referendará.

§ 1º O recuperando nomeado para coordenar esse órgão de saúde, responderá pela guarda dos medicamentos, instrumental odontológico e demais atribuições do setor: I. Cada recuperando terá ficha própria, com fotografia, devendo constar todo atendimento médico e odontológico;

II. Os armários de medicamentos e instrumentos odontológicos devem ser mantidos em perfeita ordem. O encarregado do setor trancará os armários e ficará de posse das chaves, cabendo-lhe ainda fiscalizar e distribuir os psicotrópicos receitados pelo médico;

III. Todos os dias pela manhã, ou nos horários necessários, o encarregado deve distribuir os medicamentos aos pacientes, atentando para que todo medicamento seja ingerido em sua presença;

IV. Deve registrar em ficha própria todo atendimento médico- odontológico, interno ou externo;

V. Antecipadamente, deve providenciar o preenchimento dos pedidos de consulta médica e odontológica em impresso próprio, colhendo assinatura do interessado. Tão logo seja atendido, após as anotações de praxe, encaminhará os impressos vistados pelo médico à secretaria administrativa da APAC, para providências;

VI. Os encaminhamentos para consultas com especialistas fora do presídio, solicitados pelo médico, enfermeiros ou dentistas da APAC, devem ser entregues de pronto à administração, para as providências necessárias;

VII. Não é permitida a entrega aos recuperandos de quaisquer medicamentos sem prescrição médica;

VIII. O encarregado do setor não deve permitir a nenhum recuperando guardar ou manter em seu poder qualquer medicamento dentro da cela;

IX. Toda vez que algum familiar trouxer algum tipo de medicamento para recuperandos do regime fechado, o encarregado do setor deve retirar o medicamento junto ao

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enfermeiro ou encarregado do setor de saúde da APAC;

X. O encarregado deve, de pronto comunicar ao presidente do C. S. S. o uso de qualquer tipo de psicotrópico, para que sejam tomadas as providências de costume; XI. Fica vetada a permanência de recuperandos no setor de saúde, exceto para os fins necessários de atendimento médico, odontológico, psicológico e outros que se façam necessários;

XII. O horário de funcionamento do ambulatório médico e gabinete odontológico ficará a critério da Diretoria da entidade, salvo quando o médico ou dentista estiver atendendo o recuperando;

XIII. Quanto ao atendimento médico ou odontológico no período noturno, o presidente do C.S.S. nomeará um de seus membros para permanecer de plantão, durante o período que perdurar o atendimento;

XIV. No final do expediente, o encarregado do setor, após trancar todas as portas e grades de acesso ao setor, deverá entregar as chaves ao Inspetor de Segurança, permanecendo em seu poder tão somente a chave dos armários de medicamentos e instrumental odontológico;

XV. O encarregado do setor deve manter atualizado o fichário do órgão, bem como a higiene do local;

XVI. Sempre que houver atividade socializadora, o responsável do setor participará do ato.

Seção V DA ESCOLARIDADE

Art. 76. Todos os recuperandos que, comprovadamente, não concluíram o ensino fundamental e o Ensino Médio, serão obrigados a frequentar os cursos ministrados no C.R.S., a saber:

I. Inicialmente, o responsável pelo setor de ensino, fará um teste de avaliação do grau de escolaridade do recuperando e,

II. Diariamente, no horário das aulas, todos os recuperandos frequentadores dos cursos, deverão apresentar-se com 5 245

(cinco) minutos de antecedência. O não comparecimento será considerado falta disciplinar, ficando o mesmo sujeito à sanções; III. Frequentar as aulas será considerado mérito para efeito de benefícios penitenciários.

Seção VI DO PÁTIO DE SOL

Art. 77. O Pátio para fins de banho de sol e lazer, funcionará da seguinte maneira:

I. O pátio de sol estará aberto de Segunda à Sexta feira, das 08h às 09h e das 12h às 13h para banho de sol, e das 17h às 19h, para fins de lazer e esporte:

II. Aos sábados o pátio estará aberto das 12h às 13h e das 15h30m às 19h, para fins de lazer, e aos domingos estará aberto das 08h às 11h e das 12h às 18h, para fins de lazer e visitas de familiares;

III. Eventualmente, quando um ou outro recuperando, necessitar utilizar o pátio de sol para serviços específicos (lavagem de roupas e tênis, cadeiras, mesas, etc.), ou envernizar peças artesanais poderão fazê-lo fora dos horários acima estabelecidos, desde que o C.S.S. estabeleça criterioso controle na utilização do pátio, não permitindo que o mesmo seja utilizado por mais de dois recuperandos a uma só vez;

IV. Durante o período em que estiver funcionando o pátio de sol, caberá ao C.S.S. fazer cumprir a disciplina e não permitir que haja irregularidades; e,

V. Durante o período em que o pátio de sol não estiver funcionando, a chave do mesmo ficará sob a responsabilidade do Inspetor de Segurança.

Seção VII DO ESPORTE E LAZER

Art. 78. No pátio, nos horários destinados ao lazer, poderá ser praticado

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futebol de salão, peteca, vôlei, etc., devendo os seus participantes terem conduta compatível, evitando confusões, tumultos, discussões, etc.

Art. 79. O uso de aparelhos para a prática de exercícios físicos, desde que não sejam improvisados, somente serão permitidos se houver profissional responsável para o acompanhamento. Após a prática dos exercícios, os aparelhos deverão ser conferidos e guardados em local de segurança.

Art. 80. A inobservância do disposto nos artigos 80 e 81 poderá acarretar na suspensão temporária ou definitiva destas práticas, para o infrator ou para os integrantes do grupo.

Seção VIII DAS ESCOLTAS

Art. 81. As escoltas do regime fechado serão realizadas de conformidade com a Portaria específica do Juiz das Execuções:

TERMO DE ESCOLTA DO REGIME FECHADO

Eu, consciente de que na APAC não existem escoltas realizadas por policiais civis ou militares, aceito a condição de ser escoltado por funcionários ou voluntários auxiliados por recuperandos do regime Semiaberto, aceitando ainda a condição de ser algemado por exigência da portaria 01/04 do Poder Judiciário. Assumo a responsabilidade de respeitar o regulamento da escolta, voluntários, funcionários e recuperandos do regime semiaberto responsáveis pela escolta, comprometendo-me ainda a não empreender em nenhuma hipótese planos de fuga que possam vir a suspender as escoltas de todos os recuperandos da APAC. de de

Assinatura do recuperando

Seção IX DA COMPOSIÇÃO DO MÊS

Art. 82. Mensalmente, será anunciado aos recuperandos do regime 247 fechado durante as aulas de valorização humana, um tema para composição, que será realizado no prazo máximo de 02 (duas) horas, devendo o texto ter no mínimo dez linhas completas e:

I. As composições serão remetidas à comissão de julgamento, formada pelos voluntários que atuam no setor de valorização humana, que escolherá a melhor do mês;

II. O vencedor da composição receberá uma medalha alusiva ao feito na mesma solenidade de premiação do recuperando modelo e amigo do mês e terá o feito consignado em sua pasta prontuário.

Seção X DA HOMENAGEM ESPECIAL

Art. 83. O C.S.S., do regime Fechado, mensalmente, elegerá o amigo do mês entre as pessoas que colaboram com a APAC, e a voluntária e o voluntário que mais se destacaram no trabalho de assistência aos recuperandos.

CAPÍTULO XIX REGIME SEMIABERTO

Seção I DO TERMO DE COMPROMISSO

Art. 84. Os recuperandos do regime semiaberto, tão logo derem entrada no presente regime, deverão tomar conhecimento e assinar o presente termo de compromisso em solenidade própria do seguinte teor:

I. Cumprir fiel e rigorosamente as normas disciplinares impostas pela autoridade judicial e pela Entidade;

II. Ser humilde, obediente e paciente com todos ;

III. Usar sempre sinceridade e respeito com as autoridades, diretores, funcionários, equipe de apoio, padrinhos e demais recuperandos;

IV. Assumir a condição de recuperando-aluno, aceitando a condenação, cujo término se dará com a expedição do alvará de soltura; V. Respeitar a entidade e seus diretores, evitando fazer críticas levianas e destrutivas, repelindo também sugestões

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absurdas, maldosas e medíocres que comprometam a APAC;

VI. Evitar todo tipo de negócio com os demais recuperandos, funcionários e voluntários;

VII. Ser compreensivo e amável com a família, demonstrando com seus atos e comportamento que realmente iniciou uma nova vida no caminho do bem;

VIII. Respeitar e valorizar os benefícios da entidade (principalmente visitas à família), fazendo de tudo para preservá-los;

IX. Evitar, quando das saídas autorizadas, a companhia de mulheres de vida fácil ou de conduta suspeita;

X. Não ingerir bebida alcoólica e/ou não usar substâncias entorpecentes;

XI. Não frequentar, quando das saídas autorizadas, bares, lanchonetes, prostíbulos ou locais suspeitos e de má reputação, nem casas de jogos;

XII. Não se ausentar da Comarca, quando das saídas autorizadas, sem ordem expressa da Justiça;

XIII. Quando autorizado a sair para visitas às famílias, cumprir fielmente os horários estabelecidos pelo Juiz da Vara das Execuções;

XIV. Quando das saídas, ser respeitoso, cortês e educado caso seja abordado por policiais e, após a “revista” solicitar a elaboração do boletim de ocorrência;

XV. Para a proteção de todos e da APAC, levar ao conhecimento da Diretoria do C.S.S. as irregularidades e infrações cometidas por recuperandos, tanto fora quanto dentro da entidade;

XVI. Respeitar o horário de silêncio após as 22h;

XVII. Aproveitar as oportunidades que receber, procurando crescer no conceito da entidade e adquirir méritos; 249

XVIII. Saber reconhecer e dar valor aos verdadeiros amigos, que querem realmente seu bem e sua felicidade;

XIX. Não confundir amizade com liberdade;

XX. Executar com capricho e amor as tarefas que lhe forem confiadas;

XXI. Ajudar a manter as dependências da APAC permanentemente limpas;

XXII. Quando terminar seu serviço e não tiver o que fazer, ajudar o companheiro que estiver atarefado;

XXIII. Cuidar da higiene e do asseio pessoal, tais como: banho diário, cabelos cortados e penteados, barba feita, cama arrumada, roupas limpas e passadas;

XXIV. Em hipótese alguma usar “come-quieto “ e varais de roupas nas celas, bem como não queimar incensos ou similares;

XXV. Não colocar objetos de uso pessoal (copos, escovas de dentes etc.) sobre as camas;

XXVI. Ser amigo dos companheiros que cumprem pena, usando de honestidade e franqueza, dando sempre bons conselhos, evitando que eles cometam erros e se prejudiquem;

XXVII. Não ser “leva-e-traz” nem trazer “recadinhos”;

XXVIII. Ser homem com H maiúsculo, assumindo os erros cometidos e aceitando com humildade o castigo ou punição que receber;

XXIX. Trajar-se decentemente nas dependências do CRS da APAC;

XXX. Usar crachá de identificação; XXXI. Quando desempenhar a função de auxiliar de plantão, porteiro ou escolta, fazê-lo com responsabilidade, zelo e sinceridade;

XXXII. Ser respeitoso com todos, evitando o uso de gírias e conversas sobre crime e vida passada no erro;

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XXXIII. Quando participar de escoltas, ser fidelíssimo ao regulamento próprio de escolta;

XXXIV. Não usar, sob nenhum pretexto, drogas que causem dependência física ou psíquica;

XXXV. Não entrar nas dependências do regime fechado ou aberto, sem que esteja devidamente autorizado;

XXXVI. Acatar as ordens emanadas da diretoria, dos funcionários e de seus auxiliares, incumbidos de fazer com que ela seja executada;

XXXVII. Não transferir problemas pessoais e particulares para os demais companheiros, principalmente quando estiver mal- humorado; XXXVIII. Quando estiver precisando de ajuda, procurar o voluntário, padrinho, Inspetor de Segurança ou membros do C.S.S. para conversar e tentar encontrar uma solução viável para o problema;

XXXIX. Participar ativamente, com interesse e amor, das orações, reuniões, cultos, palestras, reflexões e encontros promovidos pela entidade;

XL. Não manter em sua posse e/ou fazer uso de celulares, notebook, modem, pen drive, MP4, MP5 e similares bem como, quaisquer adaptadores e/ou cabos que possibilitem o acesso à esses equipamentos;

XLI. Economizar ao máximo o consumo de água, energia elétrica e evitar o desperdício de alimentos;

XLII. Assumir a condição de condenado da Justiça, com o propósito de mudar de vida, cumprindo com responsabilidade as normas da APAC, bem como defender a reputação e o nome da Entidade;

XLIII. Não mentir em hipótese alguma, e não distorcer os fatos que presenciar ou deles tomar conhecimento.

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Seção II DAS OFICINAS PROFISSIONALIZANTES

Art. 85. As oficinas profissionalizantes terão funcionamento de conformidade com os seguintes critérios:

I. Os recuperandos designados para trabalhar nas oficinas profissionalizantes, serão escolhidos de acordo com a capacitação e mediante os acordos estabelecidos entre as parcerias:

II. A escolha dos recuperandos nas oficinas, bem como o controle de disciplina e segurança serão atributos da administração da APAC, após ouvir o C.S.S..

III. Havendo mais recuperandos que vagas disponíveis nas oficinas, dar-se-á prioridade aos recuperandos casados, e que tenham mais tempo de pena a cumprir no C.R.S. e que não recebem outros benefícios (auxílio reclusão, aposentadorias, etc.);

IV. Antes de serem designados para as oficinas, os recuperandos iniciarão trabalhando nos setores de faxina, jardim, portarias, manutenção, construção, etc., de modo a aferir o grau de interesse e responsabilidade;

V. Os recuperandos encarregados destes setores não ficam desobrigados de participar dos atos socializadores promovidos pela Entidade.

VI. O horário de funcionamento das oficinas de 2ª a 6ª feira, será das 08h às 17h, e aos sábados das 08h às 11h, podendo ser alterado mediante solicitação de produção, desde que autorizado pela Diretoria;

VII. O fato de trabalharem nas oficinas, não obsta que os recuperandos, em situação de necessidade, colaborem em outros setores de trabalho;

VIII. As oficinas profissionalizantes destinam-se prioritariamente à formação profissional dos recuperandos em vista da socialização;

IX. Em cada um dos setores haverá um recuperando encarregado e

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um auxiliar;

X. Os recuperandos não poderão transferir-se de uma oficina para outra, sem a prévia autorização do Encarregado de Segurança;

XI. Cada setor profissionalizante poderá ter um uniforme próprio, a ser usado pelos recuperandos durante as atividades laborais.

Seção III COZINHA

Art. 86. Haverá uma única cozinha, de preferência localizada no regime Semiaberto para atender os demais regimes e a administração, cujo funcionamento será de acordo com os seguintes critérios:

I. Serão quatro os recuperandos designados para trabalharem no setor de cozinha, sendo 02 (dois) na condição de cozinheiros e 02 (dois) auxiliares:

II. Os recuperandos, exercerão suas atividades em sistema de revezamento, no horário das 06h às 19h; III. Nos dias em que não estiverem trabalhando na cozinha, sendo necessário, os recuperandos, poderão ser solicitados para prestar ajuda a outros setores da administração.

IV. Para a escolha dos cozinheiros e auxiliares de cozinha, levar- se-á em conta a aptidão e capacidade, bem como o fato de terem demonstrado em outros setores grau de interesse e responsabilidade;

Seção IV PADARIA

Art. 87. Haverá uma padaria para atender os três regimes e a administração e, eventualmente, poderá produzir para vendas externas.

I. Haverá um monitor designado pela administração para controle de produção, ensino, e supervisão deste setor;

II. Serão dois recuperandos designados para trabalhar na 253

padaria na condição de auxiliares;

III. Os recuperandos, exercerão suas atividades em sistema de cooperação, no horário das 05h às 16h;

IV. Nos dias em que não estiverem trabalhando na padaria, sendo necessário, os recuperandos, poderão ser solicitados para prestar ajuda a outros setores da administração;

V. Para a escolha dos padeiros e auxiliares da padaria, levar-se- á em conta a aptidão e capacidade, bem como o fato de terem demonstrado em outros setores grau de interesse e responsabilidade;

Seção V DAS ESCOLTAS

Art. 88. As escoltas do regime Semiaberto serão realizadas de conformidade com a Portaria específica do Juiz das Execuções.

CAPÍTULO XX REGIME SEMIABERTO AUTORIZADO A TRABALHO EXTERNO E ABERTO

Seção I DO TERMO DE COMPROMISSO

Art. 89. Os recuperandos do regime Aberto e Semiaberto autorizados a trabalho externo, tão logo derem entrada no presente regime, deverão tomar conhecimento e assinar o presente termo de compromisso em solenidade própria do seguinte teor: I. Cumprir fiel e rigorosamente as normas disciplinares impostas pela autoridade judicial e pela entidade na condição de condenado da justiça;

II. Ao sair para o trabalho externo, cumprir fielmente os termos estabelecidos no Termo de Audiência Admonitória, quais sejam: a) Comprovar até o dia 05 de cada mês, ter tido frequência integral no trabalho; b) Ser liberado e retornar pontualmente nos horários e dias da semana definidos no termo de audiência admonitória, ficando recolhido a noite, aos domingos, feriados e dias santificados; c) Não delinquir, não frequentar lugares criminógenos, bares, lanchonetes, prostíbulos, casas de jogos, etc., não

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fazer uso de bebidas alcoólicas, não portar armas, não portar e nem fazer uso de substâncias entorpecentes, e não se ausentar, em hipótese alguma, do local de trabalho e da comarca; d) Não mudar de trabalho antes que a nova proposta de emprego tenha sido aprovada através de sindicância realizada pela APAC e expedido o novo Termo de Audiência Admonitória; e) Perdendo o emprego, permanecer na APAC, até a obtenção de nova proposta de trabalho externo; f) Em caso de acidente de trabalho ou doença, mesmo que tenha atestado médico, permanecer na APAC, exceto com autorização expedida pelo poder judiciário para permanecer em sua residência; g) Não faltar ao trabalho quando estiver de saída autorizada em família, a não ser que devidamente autorizado pela Empresa; h) Se eventualmente for liberado mais cedo do trabalho, dirigir-se à APAC.

III. Registrar-se quando das entradas e saídas do C.R.S., através de ponto eletrônico, ou outros;

IV. Não adentrar portando celulares, notebook, modem, pen drive, MP4, MP5 e similares bem como, quaisquer adaptadores e/ou cabos que possibilitem o acesso à esses equipamentos; V. Não adentrar no C.R.S. portando objetos considerados suspeitos ou que não tenham Nota Fiscal (bicicleta, rádio, etc.);

VI. Participar ativamente, com interesse e amor, das orações, reuniões, cultos, palestras, alcoólicos anônimos, reflexões e encontros promovidos pela entidade;

VII. Não entrar nas dependências do regime semiaberto, nem comunicar-se com recuperandos deste regime, sem que esteja devidamente autorizado;

VIII. Ajudar a manter as dependências permanentemente limpas, cumprindo fielmente a escala de faxina, e, contribuir com o caixa mensal próprio do regime para a compra dos materiais de limpeza, nos valores estabelecidos pelo C.S.S.; 255

IX. Cuidar da higiene e do asseio pessoal, tais como: banho diário, cabelos cortados e penteados, barba feita, cama arrumada, roupas limpas e passadas;

X. Em hipótese alguma usar “come-quieto“ e varais de roupas nos dormitórios , bem como não queimar incensos ou similares;

XI. Não colocar objetos de uso pessoal (copos, escovas dente, toalhas, etc.) sobre as camas;

XII. Evitar todo tipo de negócio com os demais recuperandos, funcionários e voluntários;

XIII. Lavar e trocar, semanalmente, as toalhas de banho e roupas de cama;

XIV. Respeitar o horário de silêncio após as 22h;

XV. Concitar os familiares a participarem dos cursos de formação e valorização humana, para os mesmos, realizados bimestralmente na APAC;

XVI. Ser humilde, obediente e paciente com todos;

XVII. Usar sempre sinceridade e respeito com as autoridades, diretores, Funcionários, equipe de apoio, padrinhos e demais recuperandos;

XVIII. Assumir a condição de recuperando-aluno, aceitando a condenação, cujo término se dará com a expedição do alvará de soltura;

XIX. Respeitar a entidade e seus diretores, evitando fazer críticas levianas e destrutivas, repelindo também sugestões absurdas, maldosas e medíocres que comprometam a APAC;

XX. Quando das saídas para trabalho externo, não manter reuniões ou conversas desnecessárias com policiais ou seguranças, exceto quando autorizado;

XXI. Procurar sempre fazer amizade com pessoas de bem, evitando a companhia de pessoas de má reputação e

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comprometidas com a lei ;

XXII. Ser compreensivo e amável com a família, demonstrando com atitudes que realmente iniciou uma nova vida no caminho do bem;

XXIII. Respeitar os educadores sociais e visitar os padrinhos quando possível;

XXIV. Respeitar e valorizar os benefícios da entidade (visitas à família, autorização para trabalho externo, etc.), fazendo de tudo para preservá-los;

XXV. Aproveitar as oportunidades que receber, procurando crescer no conceito da entidade e adquirir méritos;

XXVI. Saber reconhecer e dar valor aos verdadeiros amigos, que querem realmente seu bem e sua felicidade;

XXVII. Não confundir amizade com liberdade;

XXVIII. Executar com capricho e amor as tarefas que lhe forem confiadas ;

XXIX. Ser amigo dos companheiros que cumprem pena, usando de honestidade e franqueza, dando sempre bons conselhos, evitando que eles cometam erros e se prejudiquem; XXX. Não ser “leva-e-traz” nem trazer “recadinhos “;

XXXI. Ser homem com H maiúsculo, assumindo os erros cometidos e aceitando com humildade o castigo ou punição que receber;

XXXII. Trajar-se decentemente nas dependências do CRS da APAC, e, ao sair e retornar para o mesmo;

XXXIII. Para proteção de todos e da APAC, levar ao conhecimento do Encarregado de Segurança as irregularidades e infrações cometidas por recuperandos, tanto fora quando dentro da entidade;

XXXIV. Portar sempre cópia do Termo de Audiência Admonitória do Trabalho Externo;

XXXV. Ser respeitoso com todos, evitando o uso de gírias e 257

conversas sobre crime e vida passada no erro;

XXXVI. Acatar as ordens emanadas da diretoria, dos Funcionários e de seus auxiliares, incumbidos de fazer com que ela seja executada;

XXXVII. Não transferir seus problemas pessoais e particulares para os demais companheiros, principalmente quando estiver mal- humorado;

XXXVIII. Quando estiver precisando de ajuda, procurar o voluntário, padrinho, Inspetor de Segurança ou membros do C.S.S. para conversar e tentar encontrar uma solução viável para o problema;

XXXIX. Economizar ao máximo o consumo de água, energia elétrica e evitar o desperdício de alimentação;

XL. Não mentir, em hipótese alguma, e não distorcer os fatos que presenciar ou deles tomar conhecimento;

XLI. Quando das saídas para o trabalho externo, ser respeitoso, cortês e educado caso seja abordado por policiais e, após a “revista” solicitar a elaboração do boletim de ocorrência; XLII. Os recuperandos que utilizam veículos (motos e carros) para se deslocarem para o trabalho deverão entregar cópias da documentação do veículo e carteira de habilitação para a secretaria administrativa da APAC, para fins de controle;

XLIII. Os recuperandos dos regimes acima mencionados, que são portadores de celulares, deverão comunicar à Direção da APAC, o modelo do aparelho celular utilizado, bem como a marca, o número e o serial, para controle da Instituição. A não comunicação destes dados será considerada falta grave.

Seção II DO REGISTRO DE PONTO

Art. 90. Haverá um registro de ponto (eletrônico ou outro) para os recuperandos do regime aberto, e para os recuperandos do regime semiaberto autorizados ao trabalho externo:

I. Em hipótese alguma, o registro de ponto poderá ser adulterado pelo

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recuperando;

II. Caberá ao Inspetor de Segurança do dia, a fiscalização e registro dos horários de saída e chegada;

III. O recuperando que se apresentar ao C.R.S. após o horário previsto, deverá registrar-se, devendo o Inspetor de Segurança anotar a justificativa do atraso em livro próprio e;

IV. É terminantemente proibido, um recuperando registrar o ponto para outro recuperando, constituindo esse ato, falta grave.

Parágrafo Único. Sempre que possível a APAC deverá instalar o Ponto Eletrônico.

Seção III DAS ESCOLTAS

Art. 91. Os recuperandos do regime Aberto e Semiaberto autorizados a trabalho externo, durante a sua permanência na APAC (das 19:00 às 06:00 e finais de semana) estão autorizados a saírem sob escolta de funcionários ou voluntários da APAC sem o uso de algemas, desde que comprovadamente necessário, devendo ser mantido o controle de todas elas e, imediatamente, comunicado o Juiz das Execuções sobre qualquer anormalidade.

Seção IV DAS SAÍDAS EXTERNAS PARA CELEBRAÇÃO DOMINICAL E REUNIÕES DO A. A.

Art. 92. Os recuperandos do regime aberto e semiaberto autorizados a trabalho externo, poderão participar da Celebração dominical, segundo o credo de cada um, na comunidade, aos domingos; e aos sábados nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos, desde que autorizados pelo Poder Judiciário e acompanhados por voluntários da APAC.

Parágrafo Único. Haverá um livro próprio para controle dos horários de saídas e retornos.

CAPÍTULO XXI DAS VISITAS DOS FAMILIARES DOS RECUPERANDOS 259

Art. 93. São requisitos necessários para ingresso dos visitantes:

I. Credenciamento nos termos desta portaria, dos parentes dos recuperandos, para as visitas aos domingos, no horário das 09h às 11h (Regime Semiaberto) e das 13h às 17h (Regime Fechado).

II. Fora destes horários não serão permitidas visitas, exceto em casos excepcionais, sempre com autorização do Encarregado de Segurança.

Art. 94. Das pessoas autorizadas a ingressar no C.R.S. da APAC, observarão:

I. Quando do ingresso no Regime Fechado da APAC, os recuperandos, apresentarão a lista de pessoas que ele gostaria que o visitassem.

§ 1º Às visitas, somente serão admitidos os seguintes familiares:

I. Genitores/Progenitores;

II. Esposa;

III. Companheira;

IV. Filhos;

V. Irmãos

§ 2º Para autorização das Visitas, previstas no parágrafo anterior, quando do credenciamento, deverá ser comprovado o grau de parentesco. Em sendo necessário, deverá ser realizada pesquisa social, inclusive, junto à família do recuperando, para comprovar a veracidade das informações.

§ 3º Os casos não previstos no parágrafo primeiro, somente poderão ser autorizados, pela entidade, após realização de pesquisa social, entrevista com a direção da APAC e apresentação de documentação comprobatória.

§ 4º Os parentes menores de idade, somente terão acesso ao local de visitas, quando acompanhados de maiores de idade, devidamente credenciados.

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§ 5º Para os parentes menores do sexo feminino (irmãs, filhas ou enteadas) será firmado um termo de compromisso pelos pais, que diz que em caso da menor iniciar relacionamento afetivo com algum recuperando, a mesma terá as visitas suspensas.

Art. 95. Do critério para credenciamento dos visitantes, tais como:

I. Companheiras, noivas e namoradas, deve ser examinado, caso por caso, levando-se em conta:

a) Tempo de relacionamento;

b) Filhos advindos da união;

c) Interesse pelos trabalhos socializadores da APAC;

d) Condições e interesse de normalizar a vida conjugal;

e) Conduta social;

f) Antecedentes, especialmente quanto ao uso de drogas § 1º As companheiras, noivas e namoradas de recuperandos, se menores, somente terão acesso ao local de visitas, quando autorizadas judicialmente e acompanhadas de parentes maiores de idade e,

§ 2º Cada recuperando terá uma pasta própria, onde constarão documentos e demais informações das pessoas credenciadas a visitá-lo:

§ 3º Nenhum visitante familiar poderá adentrar às dependências do C.R.S. sem o devido credenciamento.

Art. 96. A APAC exigirá para o credenciamento:

I. Preenchimento de uma ficha própria;

II. Duas (02) fotografias 3x4;

III. O uso do Crachá durante a visita;

IV. Certidão de casamento, de nascimento ou identidade, ou outro documento necessário, conforme o caso exigir;

V. Nome e endereço completo de três pessoas conhecidas, que não sejam parentes e; 261

VI. Taxa do material (Xerox) e confecção da credencial.

§ 1º O interessado no credenciamento sujeitar-se-á à realização de pesquisas para confrontar as informações prestadas; e,

§ 2º Todo visitante será obrigado a fixar no peito, de modo visível, a credencial, quando estiver no interior do C.R.S.

§ 3º A APAC não se responsabiliza por pertences pessoais, inclusive celulares, deixados na portaria durante as visitas de parentes nos domingos.

Art. 97. As encomendas destinadas aos recuperandos, ficarão no setor de encomendas para revistas, e serão encaminhadas aos interessados, após as revistas. As bolsas contendo objetos pessoais ficarão no guarda volumes, na portaria principal, devendo ser retiradas após a visita. Art. 98. Todos os visitantes de recuperandos, bem como seus pertences deverão se submeter à revista pessoal, inclusive com o uso de detector de metais.

Art. 99. A Visita Íntima Familiar obedecerá ao seguinte critério:

I. A APAC credenciará nos termos desta Portaria os parentes (esposas e companheiras) dos recuperandos, para as visitas íntimas familiares.

II. As visitas íntimas familiares poderão realizar-se quinzenalmente, das 18h às 07h do dia seguinte.

III. Aos domingos, o casal escalado para a visita íntima, poderá dirigir-se para as suítes, imediatamente após o término da visita dos familiares;

IV. Caberá aos Conselhos de Sinceridade e Solidariedade dos Regimes fechado e semiaberto, a elaboração de uma escala de rodízio dos dias da semana, a ser apreciado e aprovado pela Administração.

V. As visitas (esposas e companheiras), após as “revistas” de praxe, antes do ingresso aos regimes fechado e semiaberto, dirigir-se-ão diretamente para o setor onde se realizarão as visitas íntimas, oportunidade em que aguardarão o

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recuperando (esposo ou amásio), na sala de espera do referido setor. VI. As encomendas destinadas aos recuperandos deverão ser vistoriadas e posteriormente encaminhadas aos interessados.

VII. As bolsas, com pertences pessoais, depois de vistoriadas poderão ser levadas pelas visitas.

VIII. Às visitas íntimas familiares, somente serão admitidas as seguintes pessoas:

a. Esposas: comprovadas através de certidão de casamento e;

b. Companheiras: com o tempo mínimo de 06 (seis meses), comprovado através de formulário próprio, pesquisa social e reconhecimento da união estável em cartório.

§ 1º Em se tratando de menores de idade, somente serão autorizadas às visitas íntimas, se casados; ou sendo companheiros de união estável com a apresentação de autorização judicial e dos pais: § 2º Em caso de separação, o recuperando somente terá direito às visitas íntimas com outra companheira após o período de seis meses, contados a partir da primeira visita da nova companheira.

§ 3º O recuperando que iniciar um relacionamento afetivo durante o cumprimento de sua pena na APAC, somente terá direito às visitas íntimas após o período mencionado no Art. 99, inciso VIII, alínea b.

Art. 100. São pressupostos para a realização das visitas íntimas:

I. A apresentação dos documentos mencionados no Art. 96;

II. Entrevista com a comissão designada pela Direção da APAC, especialmente designados para este fim;

III. Uso de crachá especial;

IV. Visitas permanentes das esposas e companheiras, aos domingos (horário normal das visitas);

V. Participação efetiva das esposas e companheiras nos atos socializadores propostos pela Entidade (Jornadas, cursos, etc.); 263

VI. Mérito apresentado pelo recuperando;

VII. Atestado de Saúde;

VIII. Período mínimo de 02 (dois) meses de estágio (tempo de adaptação) para os recuperandos casados e 03 (três) meses para os recuperandos com união estável, contado a partir da data de entrada no regime fechado. No caso de união estável, se o recuperando apresentar mérito, o tempo estabelecido poderá ser reduzido para 02 (dois) meses;

IX. Os recuperandos dos regimes semiaberto e aberto que cometerem falta considerada grave durante o cumprimento de sua pena, uma vez recolhidos no regime fechado, ainda que aguardando a resolução do incidente de execução, terão sua visita íntima suspensa durante 03 (três) meses. Se o recuperando apresentar mérito, o prazo poderá ser reduzido para 02 (dois) meses; X. O tempo relacionado no art. 100, inciso VIII, também é válido para os recuperandos que derem reentrada na APAC (provenientes do sistema comum), ainda que fizessem uso da suíte quando de sua permanência na Entidade.

§ 1º As roupas de cama e toalhas deverão ser trazidas pelas visitantes (esposas e companheiras) e levadas consigo após o término da visita íntima.

§ 2º Não será permitido o uso de aparelho de TV e DVD nas suítes.

§ 3º A limpeza do setor designado para as visitantes (esposas e companheiras) será realizada logo após o término da visita íntima.

§ 4º Após a saída da esposa ou da companheira, o recuperando deverá ser revistado pelo Inspetor de Segurança, na presença de membros do C.S.S., antes de deixar o setor de suíte e, a suíte deverá ser vistoriada logo em seguida.

Art. 101. A revista pessoal.

I. As voluntárias deverão efetuar “revistas” nos pertences a serem entregues aos recuperandos, em todos os visitantes, inclusive crianças, devendo especialmente atentar para

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celulares, fundo falso de eventuais pacotes ou vasilhames plásticos. Não obstante as “revistas”, nenhum pertence deverá ser danificado.

II. Procedida a “revista”, o visitante deverá ser acompanhado até o respectivo regime pelo responsável pelas “revistas” ou pelo seu auxiliar.

III. Após a “revista”, o visitante deverá entrar imediatamente no C.R.S., não sendo permitido, em hipótese alguma, entrar em sanitários ou sair para a rua e retornar, ficando sujeito a nova “revista”, se tal vir a ocorrer.

Art. 102. Se entre os pertences do visitante, for encontrado drogas, que produzam dependência física ou psíquica será, incontinenti, lavrado o flagrante e o infrator encaminhado à autoridade competente, para fins de direito.

Art. 103. O horário de visitas e utilização de sanitários, estará sujeito: I. Durante o horário de visitas aos domingos, serão escalados recuperandos previamente preparados para este fim, de modo a colaborar para o bom desenvolvimento dos trabalhos;

II. Previamente, serão designados os banheiros a serem utilizados pelos Homens e Mulheres;

III. Após as visitas, os sanitários serão revistados rigorosamente.

IV. Durante o horário de visitas, todas as celas, copa, sala de aula, auditório, capela, secretaria, etc.; deverão permanecer trancadas e, após a conferência dos cadeados, as chaves recolhidas e entregues ao Inspetor de Segurança.

Art. 104. A dispensa da revista pessoal e regalias:

I. A dispensa das revistas poderá se dar como prêmio, havendo, porém a necessidade da conquista dessa regalia, pelo mérito do recuperando e da pessoa visitante, a saber:

a) Presença aos atos socializadores da APAC e; b) Evidente interesse pela Entidade.

Parágrafo Único. A revista será indispensável, por um período não 265 inferior a 90 (noventa) dias exceto os casos especiais decididos pela Presidência.

CAPÍTULO XXII DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 105. Os casos omissos serão resolvidos pelo Presidente da APAC, ouvidas as áreas responsáveis, se necessário.

Art. 106. Visando orientar o comportamento e disciplina, o recuperando receberá as informações contidas neste Regulamento, no que se refere aos seus direitos, deveres, recompensas, normas disciplinares e sanções.

ANEXOS

ANEXO A

Regulamento do CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade - Regime Fechado

Regulamento do CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade - Regime Fechado

Dispõe sobre a organização e as atribuições do CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade do Regime Fechado.

O presidente da APAC, tendo em vista a necessidade de constante aperfeiçoamento do Método APAC, para o melhor funcionamento da administração do C.R.S. - Centro de Reintegração Social, resolve baixar a seguinte portaria:

CAPÍTULO I DA FINALIDADE DO C.S.S.

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Art. 1º O CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade tem a finalidade de auxiliar a administração da APAC, atuando, tão somente, no Regime Fechado.

Parágrafo único. O presente regulamento deverá ser utilizado nos Regimes Semiaberto e Aberto, quando houver funcionamento regular dos respectivos regimes, no Centro de Reintegração Social, observando sua perfeita adequação para a realidade de cada regime.

CAPÍTULO II DAS ATRIBUIÇÕES COLETIVAS DO C. S. S.

Art. 2º Compete ao CSS, coletivamente:

I. Orientar os recuperandos sobre a organização, distribuição das tarefas, disciplina e segurança de um modo geral, dando-lhes conhecimento do teor do regimento interno, do provimento, das portarias e demais ordens; II. Fiscalizar o funcionamento da Secretaria Administrativa Interna, sugerindo os recuperandos que nela devem trabalhar, dando-lhes atribuições; III. Sugerir à Direção da APAC punições, advertências, elogios, etc.;

IV. Estimular a participação dos recuperandos em todos os atos promovidos pela APAC; V. Fiscalizar o atendimento médico-odontológico, psicológico e outros, que visem ao bem-estar dos recuperandos; VI. Fiscalizar o funcionamento da farmácia, concernente à distribuição de medicamentos com prescrição médica, atentando para que o fichário do setor esteja sempre atualizado; VII. Fazer cumprir todos os regulamentos, instruções, portarias e ordens internas emanadas pela Justiça e pela Direção da APAC; VIII. Apresentar, diariamente, ao Inspetor de Segurança, em impresso próprio, o pedido das refeições para os recuperandos doentes e aqueles recolhidos nas celas por motivo de castigo, organização, distribuição das tarefas, disciplina e segurança; IX. Nomear e reunir-se, ao menos semanalmente, com os representantes de cada cela, em separado, e com toda a população prisional para anunciar programas, discutir e procurar soluções adequadas para os problemas dos recuperandos, do 267

C.R.S. e de interesse comum; X. Supervisionar a conduta nas celas; XI. Indicar nomes de recuperandos de ótima conduta, para atuarem como responsáveis pela galeria e fiscalizar os serviços dos mesmos, atentando para que cumpram suas responsabilidades a contento, não permitindo que os recuperandos transitem pelos corredores sem camisa, trajando short e bermuda, antes das 17h; XII. Nos casos de advertências, correção com pontos amarelos, suspensão de lazer e de outras regalias, proceder como dispõe o Regulamento Disciplinar; XIII. Uma vez por mês, preparar reunião festiva, para premiar os vencedores da redação mensal, o(a) amigo(a) do mês, voluntário(a) do mês, o recuperando- modelo do mês, a cela vencedora por melhor disciplina e organização, e demais homenagens que forem decididas; XIV. Fiscalizar o funcionamento da cantina e da copa, sugerindo os recuperandos que nela deverão trabalhar, dando-lhes atribuições; XV. Fiscalizar o funcionamento das portarias, sugerindo nomes de recuperandos de ótima conduta ao Encarregado de Segurança, para serem designados para a função de auxiliares de plantão; XVI. Fiscalizar a manutenção material, elétrica e hidráulica do recinto do Regime Fechado, bem como sua limpeza e organização;

XVII. Fazer observar os horários de trabalho, escola, aulas de valorização humana, evangelização, esporte, etc.; CAPÍTULO III DA FORMA DE COMPOR O C.S.S.

Art. 3º O Presidente do C. S. S. é de livre escolha do Encarregado de Segurança da APAC; seu mandato é por tempo indeterminado, podendo ser substituído a qualquer momento, desde que o interesse da entidade assim o exija.

Parágrafo único. Destituído o Presidente, os demais membros do Conselho permanecerão em seus cargos até a nomeação e posse do novo Conselho.

Art. 4º O Presidente do C. S. S. escolherá seus companheiros e, a equipe poderá ser dissolvida no todo ou parcialmente, desde que prevaleça sempre o interesse superior da APAC.

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CAPÍTULO IV DOS MEMBROS DO C.S.S.

Art. 5º O C.S.S. será dirigido por:

1) Presidente; 2) Vice-presidente; 3) Secretário Geral; 4) Tesoureiro; 5) Diretor Artístico; 6) Encarregado de Saúde; 7) Encarregado da Laborterapia; 8) Encarregado de Remição; 9) Encarregado de Manutenção. Parágrafo único. As nomeações dos membros do Conselho serão todas referendadas pelo Encarregado de Segurança da APAC.

CAPÍTULO V DAS ATRIBUIÇÕES INDIVIDUAIS DOS MEMBROS DO C.S.S.

Art. 6º A cada membro do C. S. S. cabem as

seguintes atribuições: 1º - Presidente:

I. Ser o elo de ligação entre os recuperandos e a Direção da APAC e vice-versa; II. Supervisionar o fiel cumprimento de portarias, ordens internas, etc.; III. Supervisionar a execução dos trabalhos designados para os recuperandos de modo geral, principalmente seguranças, responsáveis pelas portarias, secretaria, etc.; IV. Supervisionar a participação dos recuperandos em todos os atos promovidos pela APAC; V. Presidir as reuniões dos membros do C. S. S. e da representação de cela; VI. Manter a direção da APAC informada sobre qualquer ocorrência que venha desabonar a disciplina do estabelecimento; VII. Presidir, uma vez por semana, a assembleia geral com os recuperandos, sem a presença de membros da direção da APAC, permitindo que todos tenham direito de reivindicar, reclamar ou elogiar o que julgarem necessário, bem como com os membros do C. S. S. que, por sua vez, apresentarão as falhas da semana, 269

que deverão ser elaboradas com o objetivo de melhorar, em todos os sentidos, o desenvolvimento da disciplina do regime fechado; VIII. Recepcionar visitantes no recinto do regime fechado, tais como: grupos da comunidade e outros, devendo acompanhá-los, ou indicando outro recuperando que o possa fazer, dando-lhes ciência do funcionamento de todos os setores e das funções dos recuperandos e especialmente da disciplina; IX. Acompanhar a Direção da APAC, sempre que houver necessidade, durante "revistas" de praxe nas dependências do C.R.S.; X. Entrevistar-se com todos os recuperandos recém-chegados ao regime fechado, dando-lhes ciência das normas da APAC; XI. Atender aos recuperandos que o procurarem para expor seus problemas e tentar ajudá-los na medida do possível; XII. Supervisionar os serviços dos seguranças da noite, atentando para que o horário de silêncio seja rigorosamente cumprido e para que todos os

recuperandos, exceto os seguranças, não fiquem transitando nos corredores após as 18h; XIII. Não permitir que os recuperandos transitem nos corredores sem camisa e trajando short e bermudas antes das 17h e, após esse horário, caso haja a presença de mulheres no interior do regime fechado; XIV. Atentar para os programas de TV, bem como para o horário das programações; XV. Redigir pedido de autorização para programas extras de TV, com um dia de antecedência. Nos finais de semana, a autorização deve ser providenciada na sexta-feira; XVI. Não permitir que os recuperandos coloquem os pés nos bancos nem façam algazarra durante os programas de TV. XVII. Supervisionar e controlar, juntamente com o Tesoureiro as atividades da Cooperativa do Regime;

2º - Vice-presidente:

I. Substituir o Presidente quando necessário; II. Auxiliar o Presidente na supervisão de todos os serviços realizados pelos recuperandos, tais como: segurança, manutenção, limpeza, disciplina, almoxarifado, controle de

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frequência escolar, revistar os recuperandos que saem e retornam ao C.R.S.; III. Fiscalizar semanalmente, em conjunto com o responsável pela copa, os pratos, copos e talheres, comunicando de imediato qualquer ocorrência ou incidente; IV. Fiscalizar semanalmente, junto com o Encarregado de Manutenção, as ferramentas utilizadas no setor de laborterapia.

3º - Secretário Geral:

I. Organizar o trabalho do C. S. S. no que concerne à elaboração de atas de todas as reuniões, relatórios, etc.; II. Manter atualizados diariamente os quadros demonstrativos e estatístico e a escala geral de serviços; III. Manter atualizada a relação de padrinhos e afilhados, com cópias afixadas no mural da Galeria;

IV. Manter relação atualizada de todos os aniversariantes, com cópias afixadas no mural da Galeria; manter sempre em dia todo o arquivo de escrita do Conselho; V. Manter em dia os impressos de uso diário fornecendo-os, na medida das necessidades, para os setores; VI. Fiscalizar o desempenho dos secretários de celas, verificando se eles estão efetuando todas as anotações sobre a disciplina; VII. Encaminhar pedidos de TV, escoltas, telefones, requerimentos de recuperandos e outros aos setores competentes e nos horários pré-estabelecidos pela direção da APAC; VIII. O Secretário Geral será auxiliado por um recuperando (1º secretário), assim designado por ele.

4º - Tesoureiro:

I. Administrar a venda de todos os trabalhos artesanais, designando um recuperando para auxiliá-lo na venda dos produtos; II. Administrar as finanças do C. S. S. e providenciar para que as contribuições sejam feitas por parte dos recuperandos (vide Regimento Interno da Cooperativa do Regime Fechado); III. Atentar para o funcionamento e controle rigoroso da Cooperativa com fiel observância do Regimento Interno que 271

rege o funcionamento da Cooperativa; IV. Arquivar as notas fiscais de compra de material, em pasta própria do C.S.S., com o visto do Presidente do C.S.S.; V. Manter o caixa sempre atualizado e sem rasuras, para prestação de contas e vistoria por parte da direção da APAC; VI. Fornecer recibos de todas as contribuições recebidas; VII. Sempre que o C. S. S. receber algum tipo de doação em dinheiro, notificar e especificar o valor da doação, bem como o nome do doador; VIII. Todo dia 1º do mês deve elaborar balancete das receitas e despesas do mês findo, em três vias, com o visto do tesoureiro da APAC; IX. Fixar uma cópia do balancete no mural da Galeria para conhecimento dos recuperandos, colocando outra cópia nos arquivos da tesouraria do C.S.S.

5º - Diretor artístico: I. Escrever na lousa, diariamente, as intenções, os aniversariantes e a reflexão do dia; II. Homenagear os aniversariantes do dia no Primeiro Ato Socializador do dia; III. Manter atualizada a relação dos aniversariantes, participantes do (A. A.), Psicólogos, alunos dos cursos profissionalizantes, catecismo, coral, etc.; IV. Convocar os recuperandos para os respectivos atos, sempre dez minutos antes de cada evento; V. Promover o ensaio do coral, lembrando-lhes sempre que os cânticos da APAC têm prioridades; VI. Organizar em conjunto com os demais membros do CSS todas as festividades promovidas no regime fechado tais como Gincanas Esportivas, Educativas, etc.; VII. Ornamentar, em conjunto com os demais membros do CSS, a casa para festividades da época; VIII. Cuidar da manutenção e conservação dos instrumentos musicais; IX. Cuidar da conservação dos livros de cânticos e material para o primeiro ato socializador do dia; X. Realizar conferência nominal dos recuperandos presentes ao primeiro ato socializador do dia.

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6º - Encarregado de Saúde:

I. Responder pela guarda dos medicamentos, instrumental odontológico e demais atribuições do setor II. Manter ficha individual dos recuperandos, com fotografia, devendo constar todo atendimento médico e odontológico; III. Manter os armários de medicamentos e instrumentos odontológicos fechados, e em perfeita ordem, bem como a classificação destes, ficando de posse das chaves dos armários, cabendo-lhe ainda fiscalizar e distribuir os psicotrópicos receitados pelo médico; IV. distribuir os medicamentos aos pacientes, nos horários prescritos, atentando para que todo medicamento seja ingerido em sua presença; V. Providenciar previamente, o preenchimento dos pedidos de consulta médica e odontológica em impresso próprio, colhendo assinatura do interessado e encaminhar, após as anotações de praxe, os impressos vistados pelo médico à Secretaria Administrativa da APAC, para providências de costume; VI. Entregar de pronto à Secretaria Administrativa da APAC, para as providências necessárias, os encaminhamentos para consultas com especialistas fora do presídio, solicitados pelo médico, enfermeiros ou dentistas da APAC; VII. Não entregar aos recuperandos quaisquer medicamentos sem prescrição médica; VIII. Não permitir a nenhum recuperando, guardar ou manter quaisquer medicamentos, em seu poder, dentro da cela; IX. Coletar junto ao encarregado de saúde da APAC, os medicamentos que porventura sejam entregues pelos familiares dos recuperandos; X. Comunicar ao presidente do C. S. S. o uso de qualquer tipo de psicotrópico, por parte dos recuperandos, para que sejam tomadas as providências de costume; XI. Proibir a permanência de recuperandos no setor de saúde, exceto para os fins necessários de atendimento médico, odontológico, psicológico e outros que se façam necessários; XII. Estabelecer, de comum acordo com a diretoria da APAC e, sempre de conformidade com as prescrições médicas, o horário 273

de funcionamento do ambulatório médico e gabinete odontológico; XIII. Entregar ao Inspetor de Segurança, as chaves de acesso ao setor de saúde, ficando de posse tão somente das chaves da caixa de primeiros socorros e analgésicos. 7º - Encarregado de Laborterapia: I. Designar um auxiliar para colaborar com todas as tarefas do setor; II. Supervisionar todos os trabalhos laborterápicos realizados pelos recuperandos; III. Atentar para que os recuperandos permaneçam em suas respectivas mesas e setores designados; IV. Fazer cumprir as normas que regem a disciplina da sala de laborterapia, não permitindo que os recuperandos subam nas mesas sem necessidade, nem que saiam do recinto sem autorização; evitar que tenham discussões desnecessárias e conversas de “cadeia velha”, ouçam rádio em volume alto, fiquem ociosos,

leiam revistas, livros e jornais em horário de trabalho, ponham os pés nos bancos, risquem as mesas, etc.; V. Verificar diariamente os mapas de comparecimento dos recuperandos escalados; VI. Fazer relatórios de todas as ocorrências, encaminhando-as de pronto ao Presidente do C. S. S., para as devidas providências; VII. No final do período, após os recuperandos deixarem o recinto, verificar se todos deixaram o local; VIII. Atentar para que todos os objetos confeccionados pelos recuperandos sejam expostos no setor de exposição; IX. Verificar se cada objeto à venda está com etiqueta, constando valor e nome do recuperando proprietário; X. Não permitir que sejam guardados nas celas, objetos confeccionados na laborterapia; devendo estes, permanecerem no setor próprio para exposição; XI. Em dias de visitas dos familiares, permitir que os objetos artesanais à venda sejam expostos em uma mesa no pátio, para serem comercializados pelo Tesoureiro e/ou seu auxiliar. XII. Proibir a exposição e venda de qualquer objeto fora dos locais designados para esse fim, ou que o faça qualquer recuperando que não esteja autorizado;

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XIII. Atentar para que os objetos expostos à venda sejam de boa qualidade e tenham preços adequados; XIV. Cuidar para que, uma vez por semana, seja efetuada a limpeza geral do recinto, lavando-se toda a área; XV. Distribuir e conferir todas as ferramentas usadas pelos recuperandos no horário do trabalho laborterápico; XVI. Manter atualizada a relação das ferramentas e de seus respectivos proprietários; XVII. Entregar as ferramentas na medida da necessidade; XVIII. Nos horários de palestra e refeições, cuidar para que as ferramentas permaneçam nos respectivos armários de cada recuperando, na sala de laborterapia; XIX. Não permitir que sejam introduzidas nas celas quaisquer ferramentas; XX. No final do expediente, conferir as ferramentas e guardá-las em local apropriado.

8º - Encarregado de Remição:

I. Cabe ao encarregado do setor responder pela ordem, fidelidade e guarda de documentos, podendo indicar seus auxiliares; II. Manter controle diário do trabalho, designando um recuperando, para coletas de assinaturas dos demais recuperandos prestadores de serviços e do encarregado desse setor, quatro vezes durante o dia; III. Manter pasta própria para cada recuperando, numerada, cujo número será do conhecimento do interessado e constará no crachá; IV. Manter o controle da remição, que será digitado em impresso oficial, contendo as assinaturas dos recuperandos, do responsável pelo setor e encarregado de Execução Penal; V. Após a transcrição do controle arquivar na pasta de remição; VI. Manter o horário de funcionamento do setor de remição, das 08h às 17h, podendo prolongar-se quando devidamente autorizado pela direção da APAC; VII. Elaborar Quadro mensal de remição e encaminhar ao encarregado de Execução de Pena. 9º - Encarregado de manutenção:

I. Efetuar consertos nas cadeiras, cinzeiros, armários, mesas, 275

pintura das celas, corredores, auditório, sala de aula e demais setores, quando necessário; II. Verificar toda a limpeza do C.R.S.; III. Realizar limpezas das caixas de esgoto; IV. Manter em ordem torneiras, chuveiros, lavatórios, tanques, encanamentos e demais serviços hidráulicos; V. Fazer reparos nas instalações elétricas, bem como nos aparelhos eletrodomésticos e trocar as lâmpadas; VI. Fazer manutenção na rede de esgotos interna e de águas pluviais; VII. Fazer reparo da área interna (Regime Fechado) do C.R.S.; VIII. Fiscalizar para que todos os setores sejam, rigorosamente, limpos uma vez por semana;

Art. 7º Encontram-se no Regulamento Disciplinar da APAC o Regulamento do Quadro de Avaliação Disciplinar, o Regimento Interno das Cooperativas do Regime Fechado e Semiaberto, Regulamento de Cela, Termos de Compromisso e etc.

Art. 8º Os casos omissos serão resolvidos pela Direção da APAC.

Esta portaria entrará em vigor nesta data.

Dê-se ciência aos recuperandos do Regime Fechado, ao Encarregado de Segurança, aos Inspetor de Seguranças e à toda Diretoria da APAC.

ANEXO B

REGIMENTO INTERNO DA COOPERATIVA DO REGIME FECHADO DAS APACs CAPÍTULO I DA FINALIDADE Art. 1º Este Regimento Interno estabelece processos e procedimentos necessários ao funcionamento e administração da COOPERATIVA DO REGIME FECHADO, dispostas no Art. 48 do Regulamento Disciplinar da APAC e regula-se pelas disposições legais e decisões tomadas pela diretoria da APAC e/ou pelo Conselho de Sinceridade e Solidariedade do Regime Fechado.

Art. 2º Entende-se por Cooperativa do Regime Fechado, a associação dos recuperandos do referido regime, tendo por finalidade, a promoção

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da fraternidade, solidariedade e a ajuda mútua entre os recuperandos que cumprem pena.

Parágrafo Único. A cooperativa não terá fins lucrativos, devendo os lucros serem revertidos em benefício dos próprios recuperandos cooperados.

Art. 3º A Administração da Cooperativa supracitada no Artigo 1º será exercida pelo CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade do Regime Fechado.

Art. 4º O CSS administrador da Cooperativa deverá controlar a situação de cada recuperando sócio-cooperado, bem como dar ciência aos mesmos de toda a situação financeira/funcional da Cooperativa através de Comunicados Internos.

§ 1º. Os Comunicados descritos no caput deste artigo são de uso exclusivo da COOPERATIVA, sendo vedada sua divulgação externa, exceto se autorizado pelo Direção da APAC, de comum acordo com o CSS;

§ 2º. Qualquer sócio-cooperado pode ter acesso a este Regimento Interno, bem como a qualquer Resolução, Norma e Instrução e seu correspondente registro de análise ou discussão.

Art. 5º Tendo por premissa que os objetivos da Laborterapia no Regime Fechado são, em primeiro lugar a Cura interior e a descoberta de valores; em segundo lugar a Ocupação do tempo ocioso e remição e, por último a obtenção de lucros para colaborar com despesas pessoais e da família, o recuperando deverá contribuir com 10% (dez

por cento) do valor de todos as peças artesanais vendidas dentro da APAC, ainda que para sua confecção tenham sido utilizados tão somente insumos próprios.

§ 1º. Quanto às peças artesanais vendidas pela família, fora da APAC, e que para a realização das mesmas não tenha sido utilizado insumos fornecidos pela APAC e/ou pela Cooperativa, caberá ao recuperando detentor da peça decidir se irá colaborar com os 10% ou não.

§ 2º. Todo recuperando sócio-cooperado investirá 10% (dez por cento) de todo o dinheiro arrecadado por ele através de seus trabalhos artesanais remunerados realizados dentro do Regime Fechado, no Centro de Reintegração Social da APAC, devendo permanecer de posse dos 90% 277

(noventa por cento) restantes.

§ 3º. Em caso de necessidade, a Direção da APAC, após ouvir a População Prisional do regime, poderá reter parte do dinheiro arrecadado com a venda dos artesanatos e outros possíveis rendimentos para fins de custeio de despesas não cobertas pelo convênio firmado entre a APAC e a Secretaria de Defesa Social - MG, levando em consideração que os limites percentuais estabelecidos não deverão ser fatores de desestímulo da prática laboral entre os recuperandos.

Art. 6º Os valores arrecadados pela Cooperativa serão utilizados para:

a) Compra de ferramentas e/ou manutenção das mesmas a serem utilizadas nos setores de trabalho da entidade; b) Empréstimo aos recuperandos cooperados, para fins de aquisição de materiais de trabalho, além de serviços odontológico, oftalmológico e medicamentos que não possam ser prestados pela entidade; c) Compra de gás de cozinha (para utilização na copa do regime fechado), materiais de limpeza, manutenção e outros bens que possam vir a beneficiar os sócio-cooperados; d) Promoção de festas (Dia das Crianças, das Mães, dos Pais, Natal, etc.) e celebrações de batizados, crismas, casamentos, etc.).

§ 1º. O empréstimo citado na alínea b deste artigo será realizado através do pagamento da aquisição e/ou serviços com a apresentação do competente comprovante de despesa.

CAPÍTULO II

DO CSS ADMINISTRADOR DA COOPERATIVA E DOS SÓCIO- COOPERADOS

Art. 7º Todos os recuperandos do Regime Fechado, automaticamente, quando do início do cumprimento de suas penas no Centro de Reintegração Social da APAC serão considerados sócio-cooperados, estando imediatamente em vigor seus direitos e deveres como sócio- cooperados.

Art. 8º Caberá ao CSS do Regime Fechado, administrador de sua Cooperativa, após dar conhecimento a respeito da Cooperativa à cada recuperando sócio-cooperado o seguinte:

a) Administrar a exposição e a venda dos artesanatos confeccionados pelos recuperandos sócio-cooperados; b) Pagar, dar quitação em recibos de vendas e/ou empréstimos realizados junto aos recuperandos sócio-cooperados;

278

c) Apresentar relatórios, balancetes e balanços financeiros da movimentação da cooperativa aos sócio-cooperados.

Art. 9º Todos os membros integrantes da cooperativa cultivarão, entre si e com os demais recuperandos, funcionários e voluntários, os seguintes valores:

I. criatividade no desenvolvimento da inteligência individual e coletiva; II. responsabilidade; III. honestidade; IV. cumprimento dos compromissos com pontualidade e qualidade; V. transparência nos procedimentos; VI. zelo pelo bem-estar de todos os que operam com a cooperativa. VII. zelo com todas as ferramentas de trabalho, garantindo total segurança do regime.

Art. 10. É vedado ao sócio-cooperado de qualquer regime:

I. utilizar-se do nome da COOPERATIVA e/ou da APAC para mercantilizar em benefício próprio ou de terceiros;

II. levar qualquer cliente a se desinteressar pelos serviços do colega sócio- cooperado; III. falar em nome da COOPERATIVA, ou ainda, interferir junto aos clientes, com a finalidade de obter indicações em negócios vigentes ou futuros; IV. denegrir a imagem da COOPERATIVA ou de quaisquer de seus membros; V. Mudar de Regime, em caso de Progressão, sem que tenha quitado possíveis pendências financeiras junto à Cooperativa, ficando passivo à bloqueio de créditos internos no CRS e/ou a descontos efetuados em remunerações futuras pagas por atividades desenvolvidas dentro do CRS - Centro de Reintegração Social.

CAPÍTULO III

DAS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS DO CSS JUNTO À COOPERATIVA 279

Art. 11. Compete ao Presidente do CSS do Regime Fechado junto à sua Cooperativa:

I. representar a COOPERATIVA do seu respectivo regime, ativa ou passivamente, perante a Administração da APAC, dos seus poderes legais instituídos; II. Assinar junto com o Tesoureiro do CSS, documentos a serem apresentados à Direção da APAC e à todos os recuperandos, relatórios da Gestão, Balancetes, Balanços Gerais, Demonstrativo das Sobras apuradas ou das Perdas verificadas no exercício e o Parecer do Conselho; III. convocar e presidir as Assembleias Gerais Ordinárias e Extraordinárias e as reuniões de apuração de contas da Cooperativa; IV. supervisionar as atividades da COOPERATIVA; V. verificar constantemente o saldo do caixa; VI. elaborar juntamente com os demais membros do CSS, o plano anual de atividades da cooperativa;

VII. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 12. Compete ao Vice-Presidente do CSS do Regime Fechado junto à sua Cooperativa:

I. inteirar-se permanentemente pelo trabalho do Presidente, substituindo quando necessário; II. auxiliar o Presidente no desempenho de suas funções; III. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente junto à Cooperativa; IV. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; V. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 13. Compete ao Secretário do CSS do Regime Fechado junto à sua

280

Cooperativa:

I. secretariar e lavrar as atas das reuniões do CSS, responsabilizando-se pelos livros, documentos e arquivos referentes à COOPERATIVA; II. auxiliar o Presidente no desempenho de suas funções; III. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente do CSS junto à Cooperativa; IV. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; V. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 14. Compete ao Tesoureiro do CSS do Regime Fechado junto à sua Cooperativa:

I. Assinar junto com o Presidente do CSS, documentos a serem apresentados à Direção da APAC e à todos os recuperandos, relatórios da Gestão, Balancetes, Balanços Gerais, Demonstrativo das Sobras apuradas ou das Perdas verificadas no exercício e o Parecer do Conselho;

II. suprir a COOPERATIVA de material e equipamento; III. Realizar cotações e apresentá-las ao CSS, quando da necessidade da compra e/ou contratação de algum serviço; IV. gerenciar os Fundos, responsabilizando-se por sua correta aplicação; V. preenchimento, guarda e conservação dos Livros Financeiros da COOPERATIVA; VI. contabilizar e controlar as operações econômico - financeiras; VII. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente do CSS junto à Cooperativa; VIII. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; IX. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC. 281

Art. 15. É de inteira responsabilidade dos membros do CSS responsáveis pela Cooperativa, a administração financeira da mesma, devendo mensalmente apresentar à toda população prisional bem como, à Administração da APAC, "Prestação de Contas" do referido período.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 16. Nos casos em que a Direção da APAC, reter parte do dinheiro arrecadado conforme parágrafo único do Art. 5º deste Regimento, deverá prestar contas mensalmente à todos os recuperandos, através de Demonstrativos de Receita/Despesa afixados em quadros de avisos.

Art. 17. A Direção da APAC, juntamente com o CSS, poderá definir, "ad referendum" de qualquer Assembleia, qualquer norma não prevista neste Regimento Interno, desde que não conflite com a Lei 7.210/84, o Regulamento Disciplinar da APAC e Portarias afins.

ANEXO C

REGIMENTO INTERNO DA COOPERATIVA DO REGIME SEMIABERTO DAS APACs

CAPÍTULO I DA FINALIDADE Art. 1º Este Regimento Interno estabelece processos e procedimentos necessários ao funcionamento e administração da COOPERATIVA DO REGIME SEMIABERTO, dispostas no Art. 48 do Regulamento Disciplinar da APAC e regula-se pelas disposições legais e decisões tomadas pela diretoria da APAC e/ou pelo Conselho de Sinceridade e Solidariedade do Regime Semiaberto.

Art. 2º Entende-se por Cooperativa do Regime Semiaberto, a associação dos recuperandos do referido regime, tendo por finalidade, a promoção da fraternidade, solidariedade e a ajuda mútua entre os recuperandos que cumprem pena.

Parágrafo Único. A cooperativa não terá fins lucrativos, devendo os lucros serem revertidos em benefício dos próprios recuperandos cooperados.

282

Art. 3º A Administração da Cooperativa supracitada no Artigo 1º será exercida pelo CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade do Regime Semiaberto.

Art. 4º O CSS administrador da Cooperativa deverá controlar a situação de cada recuperando sócio-cooperado, bem como dar ciência aos mesmos de toda a situação financeira/funcional da Cooperativa através de Comunicados Internos.

§ 1º Os Comunicados descritos no caput deste artigo são de uso exclusivo da COOPERATIVA, sendo vedada sua divulgação externa, exceto se autorizado pelo Direção da APAC, de comum acordo com o CSS; § 2º Qualquer sócio-cooperado pode ter acesso a este Regimento Interno, bem como a qualquer Resolução, Norma e Instrução e seu correspondente registro de análise ou discussão.

Art. 5º Todo recuperando sócio-cooperado investirá 5% (cinco por cento) de todo o dinheiro arrecadado por ele através de seus trabalhos remunerados realizados em Oficinas localizadas dentro do Regime Semiaberto, no Centro de Reintegração Social da APAC. Parágrafo único. Caberá á Direção da APAC, de comum acordo com a população prisional, definir os valores e a forma de remuneração aos recuperandos que trabalham nas diversas oficinas profissionalizantes (padaria, serralheria, marcenaria, fábrica de blocos, linhas de produção, pocilga, etc.).

Art. 6º Os valores arrecadados pela Cooperativa serão utilizados para:

a) Pagamento de ajuda de custos aos recuperandos que não atuam nas oficinas profissionalizantes (ex.: Portarias, escolta, etc.), por no mínimo 30 (trinta) dias; b) Empréstimo aos recuperandos sócio-cooperados, para fins de pagamento de serviços odontológico, oftalmológico e medicamentos que não possam ser prestados pela entidade; c) Compra de materiais diversos, autorizados pela Direção da APAC, de uso coletivo do Regime Semiaberto; d) Promoção de festas (Dia das Crianças, das Mães, dos Pais, Natal, etc.) e celebrações de batizados, crismas, casamentos, etc.

Parágrafo único. As funções que poderão ser remuneradas com os recursos da cooperativa (5%) deverão ser definidas pela Direção da 283

APAC.

CAPÍTULO II

DO CSS ADMINISTRADOR DA COOPERATIVA E DOS SÓCIO- COOPERADOS

Art. 7º Todos os recuperandos do Regime Semiaberto, automaticamente, quando do início do cumprimento de suas penas no Centro de Reintegração Social da APAC serão considerados sócio- cooperados, estando imediatamente em vigor seus direitos e deveres como sócio-cooperados.

Art. 8º Caberá ao CSS do Regime Semiaberto, administrador de sua Cooperativa, após dar conhecimento a respeito da Cooperativa à cada recuperando sócio- cooperado o seguinte:

a) Arrecadar junto ao Setor Financeiro da APAC, bem como administrar todo o valor descontado dos recuperandos sócio- cooperados (5% dos rendimentos), em virtude de suas atividades desenvolvidas nas Oficinas Profissionalizantes; b) Repassar até 02 (dois) dias após a arrecadação constante na alínea "a", Ajuda de Custos aos recuperandos que atuam nos setores não remunerados, por no mínimo 30 (trinta) dias; c) Pagar, dar quitação em recibos de empréstimos realizados junto aos recuperandos sócio-cooperados; d) Apresentar relatórios, balancetes e balanços financeiros da movimentação da cooperativa aos sócio-cooperados.

Art. 9º Todas as despesas oriundas da compra e/ou serviços executados no Regime Semiaberto, deverão, antes de serem efetivadas, levadas ao conhecimento dos recuperandos sócio-cooperados para apreciação dos mesmos.

Art. 10. Todos os membros integrantes da cooperativa cultivarão, entre si e com os demais recuperandos, funcionários e voluntários, os seguintes valores:

I. criatividade no desenvolvimento da inteligência individual e coletiva,; II. responsabilidade; III. honestidade; IV. cumprimento dos compromissos com pontualidade e qualidade; V. transparência nos procedimentos; VI. zelo pelo bem-estar de todos os que operam com a cooperativa.

284

Art. 11. É vedado ao sócio-cooperado:

I. utilizar-se do nome da COOPERATIVA e/ou da APAC para mercantilizar em benefício próprio ou de terceiros; II. levar qualquer cliente a se desinteressar pelos serviços do colega sócio- cooperado; III. falar em nome da COOPERATIVA, ou ainda, interferir junto aos clientes, com a finalidade de obter indicações em negócios vigentes ou futuros; IV. denegrir a imagem da COOPERATIVA ou de quaisquer de seus membros; V. Mudar de Regime, em caso de Progressão, sem que tenha quitado possíveis pendências financeiras junto à Cooperativa, ficando passivo à bloqueio de créditos internos no CRS e/ou a descontos efetuados em remunerações futuras pagas por atividades desenvolvidas dentro do CRS - Centro de Reintegração Social.

CAPÍTULO III

DAS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS DO CSS JUNTO À COOPERATIVA

Art. 12. Compete ao Presidente do CSS do Regime Semiaberto junto à sua Cooperativa:

I. representar a COOPERATIVA do seu respectivo regime, ativa ou passivamente, perante a Administração da APAC, dos seus poderes legais instituídos; II. Assinar junto com o Tesoureiro do CSS, documentos a serem apresentados à Direção da APAC e à todos os recuperandos, relatórios da Gestão, Balancetes, Balanços Gerais, Demonstrativo das Sobras apuradas ou das Perdas verificadas no exercício e o Parecer do Conselho; III. Convocar e presidir as Assembleias Gerais Ordinárias e Extraordinárias e as reuniões de apuração de contas da Cooperativa; IV. Supervisionar as atividades da COOPERATIVA; V. Verificar constantemente o saldo do caixa; VI. Elaborar juntamente com os demais membros do CSS, o plano anual de atividades da cooperativa; VII. Zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

285

Art. 13. Compete ao Vice-Presidente dos CSS do Regime Semiaberto junto à sua Cooperativa:

I. inteirar-se permanentemente pelo trabalho do Presidente, substituindo quando necessário; II. auxiliar o Presidente no desempenho de suas funções; III. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente junto à Cooperativa; IV. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; V. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 14. Compete ao Secretário do CSS do Regime Semiaberto junto à sua Cooperativa:

I. secretariar e lavrar as atas das reuniões do CSS, responsabilizando-se pelos livros, documentos e arquivos referentes à COOPERATIVA; II. auxiliar o Presidente no desempenho de suas funções; III. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente do CSS junto à Cooperativa; IV. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; V. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 15. Compete ao Tesoureiro do CSS do Regimes Semiaberto junto à sua Cooperativa:

I. Assinar junto com o Presidente do CSS, documentos a serem apresentados à Direção da APAC e à todos os recuperandos, relatórios da Gestão, Balancetes, Balanços Gerais, Demonstrativo das Sobras apuradas ou das Perdas verificadas no exercício e o Parecer do Conselho; II. suprir a COOPERATIVA de material e equipamento; III. Realizar cotações e apresentá-las ao CSS, quando da necessidade da compra e/ou contratação de algum serviço; IV. gerenciar os Fundos, responsabilizando-se por sua correta aplicação; V. preenchimento, guarda e conservação dos Livros Financeiros da COOPERATIVA; VI. contabilizar e controlar as operações econômico - financeiras;

286

VII. desempenhar as atribuições específicas que lhe forem determinadas pelo Presidente do CSS junto à Cooperativa; VIII. comparecer às reuniões do CSS, discutindo e votando as matérias da Cooperativa a serem apreciadas; IX. zelar pelo fiel cumprimento do disposto neste Regimento Interno c/c o Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 16. É de inteira responsabilidade dos membros do CSS responsáveis pela Cooperativa, a administração financeira da mesma, devendo mensalmente apresentar à toda população prisional bem como, à Administração da APAC, "Prestação de Contas" do referido período.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 17. A Direção da APAC, juntamente com o CSS, poderá definir, "ad referendum" de qualquer Assembleia, qualquer norma não prevista neste Regimento Interno, desde que não conflite com a Lei 7.210/84, o Regulamento Disciplinar da APAC e Portarias afins.

ANEXO D

REGULAMENTO DO QUADRO DE AVALIAÇÃO DISCIPLINAR

O Diretor Executivo da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados - FBAC, tendo em vista a expansão das APACs no estado de Minas Gerais e em todo o Brasil e ainda, a consequente necessidade da correta aplicação do Método APAC, RESOLVE estipular Normas de Trabalho a serem seguidas pelas APACs no tocante ao perfeito funcionamento do "Quadro de Avaliação Disciplinar":

I - DO MODELO DO QUADRO DE AVALIAÇÃO DISCIPLINAR E SEUS OBJETIVOS

Art. 1º O Quadro de Avaliação Disciplinar terá o formato, conforme modelo abaixo, visando registrar e tornar público o acompanhamento diário da disciplina nos Regimes Fechado e semiaberto:

Parágrafo único. O número de celas constante no Quadro de Avaliação Disciplinar será condizente com a realidade dos Regimes Fechado e 287

Semiaberto, de cada APAC.

Art. 2º O objetivo do Quadro de Avaliação Disciplinar é registrar as faltas, de natureza leve, cometidas pelos recuperandos, através de pontos coloridos, dando-lhes oportunidade de reverem seus conceitos de comportamento e, principalmente, servir de incentivo para uma correta mudança de vida, podendo ainda, nesse processo de recuperação, ter o acompanhamento da direção da APAC, voluntários e, principalmente, da própria família dos recuperandos.

Art. 3º No processo de Avaliação Disciplinar será observado não só a avaliação individual, mas, também uma avaliação coletiva, através de celas organizadas, limpas e harmoniosas, cuja coordenação deste trabalho interno nas celas será realizada por um recuperando (Representante de Cela), escolhido pelo CSS e referendado pelo Encarregado de Segurança, conforme Art. 63, parágrafo único, inciso II do Regulamento Disciplinar da APAC.

Parágrafo único. Designar-se-á "celas" aos alojamentos do regime Fechado e "dormitórios" aos alojamentos do regime Semiaberto.

Art. 4º No final de cada mês, o CSS irá fazer um diagnóstico, através dos pontos individuais de cada recuperando e dos relatórios de conferência de cela, objetivando identificar o "Recuperando modelo do mês, a cela mais organizada, a cela menos organizada, bem como apurar o número de dias com total disciplina", possibilitando uma melhor avaliação do mérito coletivo do respectivo regime.

II - DA PONTUAÇÃO DISCIPLINAR E SUA FORMA DE APURAÇÃO

Art. 5º A apuração dos pontos negativos coletivos referente às celas será realizada, diariamente, com as conferências das mesmas feitas por um membro do CSS, acompanhado, sempre que possível, pelo Inspetor de Segurança.

Art. 6º A conferência das celas será realizada duas vezes ao dia, sendo a primeira conferência no Regime Fechado às 09:00h e a segunda às 13:30h e, no Regime Semiaberto, a primeira às 08:00h e a segunda às 13:00h, onde serão avaliadas as seguintes condições abaixo, pré-estabelecidas no Art. 65, do Regulamento Disciplinar da APAC:

288

a) Quanto à higiene; b) Quanto à arrumação das camas; c) Quanto à ordem nos armários; d) Quanto à higiene das instalações sanitárias e, e) Quanto à disciplina.

Art. 7º No final de cada mês será apurado o número de ocorrências em cada cela e, a cela com menor número de ocorrências será considerada a "Cela Mais Organizada", já a cela com maior número de ocorrências será considerada a "Cela Menos Organizada".

Art. 8º Os integrantes da "Cela Mais Organizada" serão homenageados, conforme o Art. 65, parágrafo único do Regulamento Disciplinar da APAC e, ainda receberão um troféu que ficará sob a responsabilidade dos mesmos, no interior da cela, durante todo o mês subsequente, até que se faça nova apuração mensal, de acordo com o Art. 6º deste Regulamento.

Parágrafo único. Os integrantes da cela poderão ainda receber da Administração da APAC um kit de limpeza ou outros brindes a título de incentivo.

Art. 9º Os integrantes da "Cela Menos Organizada" também serão lembrados e, ainda receberão um troféu simbólico, em formato de "porquinho" que ficará sob a responsabilidade dos mesmos, no interior da cela, durante todo o mês subsequente, até que se faça nova apuração mensal, de acordo com o supracitado Art. 6º.

Parágrafo único. O referido troféu tem como objetivo lembrar aos integrantes da "Cela Menos Organizada" que os mesmos deverão evidenciar esforços no sentido de não serem os guardiões do troféu no mês subsequente, bem como incentivar um esforço coletivo de todas as celas, no sentido de lutar pelo verdadeiro troféu, constante no Art. 8º deste Regulamento.

Art. 10. Na apuração dos pontos mensais individuais de cada recuperando, deverá ser levado em conta o "trabalho social" desempenhado pelo recuperando em prol da entidade, através de atividades como portaria, galeria, limpeza, CSS, etc., o que garantirá ao mesmo Pontos de Elogios extras, conforme "Demonstrativo de pontuação individual para mérito de recuperando 289

modelo" - tabela em anexo.

§ 1º. Somente os recuperandos que desempenharem atividades sociais para a entidade, poderão alcançar a pontuação máxima exigida no mês para efeito de escolha do Recuperando modelo.

§ 2º. Todo recuperando deverá também demonstrar bom aproveitamento de desempenho diário quanto à arrumação de camas e pertences, pontualidade, participação nas atividades socializadoras e de evangelização, respeito às autoridades, relacionamento com os colegas, zelo pela instituição, uso do crachá, higiene pessoal e utilização dos ensinamentos da APAC, garantindo assim, ao mesmo, a não incidência de qualquer pontuação negativa, possibilitando ainda, estar integrando o rol de recuperandos que almejam o titulo de Recuperando Modelo do mês em questão.

§ 3º. Os meses que contêm 31 dias, terão sua pontuação máxima em 38 (trinta e oito) pontos e os meses que contêm 30 dias, terão sua pontuação máxima em 37 (trinta e sete) pontos (tabela em anexo).

Art. 11. A apuração dos pontos negativos individuais de cada recuperando será realizada com base nas faltas por eles cometidas, principalmente as de natureza leve, todas elencadas no Regulamento Disciplinar da APAC e apontadas no Quadro de Avaliação Disciplinar, através do Conselho de Sinceridade e Solidariedade.

Art. 12. A pontuação negativa terá como base as seguintes cores, com seus respectivos valores:  Ponto Amarelo 01 ponto negativo;  Ponto Vermelho 05 pontos negativos;  Ponto Azul 10 pontos negativos.

Art. 13. Em cada pontuação negativa, de cor amarela, recebida pelo recuperando, será aplicada, automaticamente, sobre o mesmo, as seguintes sanções disciplinares:  01 Ponto Amarelo Permanecer na cela durante o horário de lazer (esportes, TV e etc.), devendo participar de todas as atividades de laborterapia e valorização humana, desenvolvidas no decorrer de

290

todo o dia;

 02 Pontos Amarelos Permanecer na cela durante o horário de lazer (esportes, TV e etc.), por um período de uma semana, devendo participar de todas as atividades de laborterapia e valorização humana, desenvolvidas no decorrer de todo o dia;  03 Pontos Amarelos Permanecer na cela durante o horário de lazer (esportes, TV e etc.), por um período de uma semana e ainda, perder o direito à ligação familiar durante uma semana, devendo participar de todas as atividades de laborterapia e valorização humana, desenvolvidas no decorrer de todo o dia;

§ 1º. O recuperando que for pontuado negativamente, em até 03 (três) vezes, com ponto amarelo, terá sua Sanção Disciplinar pré-estabelecida no caput deste artigo e aplicada, automaticamente, pelo Conselho de Sinceridade e Solidariedade.

§ 2º. Caso a APAC não disponha de ligação familiar para os recuperandos, o mesmo permanecerá na cela, durante o horário de lazer (esportes, TV e etc.) por um período de 02 (duas) semanas.

§ 3º. O recuperando que acumular 04 pontos negativos de cor amarela terá os referidos pontos amarelos convertidos em 01 ponto de cor vermelha, equivalente a 05 (cinco) pontos negativos, devendo sofrer as sanções disciplinares pré-estabelecidas no caput deste artigo, podendo ainda ser considerado, pela direção da APAC, como "Falta Média" e também, passível de outras sanções disciplinares constantes no Art. 15 c/c Art. 16, do Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 14. Caso o recuperando, que já esteja com 01 ponto vermelho, venha a cometer outra falta disciplinar, este ponto será convertido em 01 ponto de cor azul, equivalente a 10 (dez) pontos negativos, podendo o recuperando infrator sofrer sanção disciplinar de "Transferência para o Regime Fechado Pleno (Penitenciária)", visto que o mesmo não apresenta vontade de mudança de vida, estando no momento com grave inadaptação ao método APAC.

Art. 15. Aos recuperandos passíveis de pontuação negativa deverá ser considerado, em primeiro momento, se o CSS assim o entender, as penalidades 291

primárias de "Advertência Verbal e Advertência Escrita", constantes no Art. 15, inciso I do Regulamento Disciplinar da APAC.

Art. 16. Considerar-se-á, também, para todos os recuperandos, antes da aplicação de qualquer sanção disciplinar, seu direito de defesa, levando em consideração as atenuantes dispostas no Art. 27 do Regulamento Disciplinar da APAC e as agravantes, dispostas no Art. 28 do mesmo Regulamento Disciplinar.

III - DA ATUALIZAÇÃO DOS DADOS E DA PREMIAÇÃO E VALORIZAÇÃO HUMANA

Art. 17. Os dados do Quadro de Avaliação Disciplinar deverão ser atualizados, diariamente e, quantas vezes for necessário, mantendo sempre correto: a) o nome dos recuperandos integrantes de cada cela ou dormitório; b) os possíveis pontos negativos a eles atribuídos; c) o total de recuperandos existentes no respectivo Regime; d) o nome do recuperando modelo do mês de referência que alcançou a pontuação máxima; e) a identificação da cela mais organizada; f) a identificação da cela menos organizada; g) o nome do amigo do mês; h) o nome do voluntário do mês; i) o nome do recuperando que foi contemplado com a melhor composição do mês de referência; j) o número de dias com total disciplina do último período; k) o número de dias com total disciplina referente ao dia atual; l) a data diária do período.

Art. 18. Caso haja mais de um recuperando com a pontuação máxima, a direção da APAC estabelecerá um processo seletivo, ouvindo a opinião do Conselho Disciplinar. Art. 19. A escolha do amigo do mês será feita pelos recuperandos do respectivo Regime, através do CSS, podendo ser uma pessoa que, mesmo não sendo voluntária da APAC, tenha realizado um trabalho relevante em prol da entidade.

Art. 20. A escolha do Voluntário do mês será feita pelos recuperandos do respectivo Regime, através do CSS, podendo ser aquele voluntário que tenha

292

se destacado através de seu trabalho gratuito, em prol de todos os recuperandos.

Art. 21. A escolha da composição do mês será feita por uma comissão previamente composta pela Administração da APAC que, através de Aulas de Valorização Humana, busque despertar nos recuperandos, o gosto pela leitura e redação, fazendo com que os mesmos redijam sobre um determinado tema, anteriormente abordado durante Aula de Valorização Humana.

Art. 22. As premiações referentes ao recuperando modelo, amigo do mês, voluntário do mês, composição do mês, cela ou dormitório mais organizado, entre outros serão realizadas em Ato Socializador Mensal, composto de celebração eucarística ou ecumênica, com a participação de todos os funcionários, voluntários e autoridades envolvidas, seguida de cerimônia de premiação, dirigida pelo próprio Conselho de Sinceridade e Solidariedade do respectivo Regime.

Art. 23. A pontuação negativa apresentada no Quadro de Avaliação Disciplinar, para os recuperandos que cometerem faltas disciplinares, deverá ficar visível somente no mês corrente em questão, devendo portanto, ser retirada quando do início do mês subsequente, não sendo cumulativo os pontos negativos do mês anterior com os pontos do mês atual.

Art. 24. O referido Quadro de Avaliação Disciplinar deverá ser colocado em local visível à todas as pessoas que circulem pelo respectivo Regime, contendo um vidro transparente com tranca, possibilitando visualizar seus dados, sem correr o risco de qualquer alteração indevida nas informações do mesmo.

Art. 25. A responsabilidade da perfeita atualização dos dados no Quadro de Avaliação Disciplinar sempre será do CSS - Conselho de Sinceridade e Solidariedade, na pessoa do recuperando que ocupa o cargo de "Diretor Artístico" e, na sua ausência, pelo Presidente do CSS evitando que assim, um grande número de recuperandos tenham acesso aos dados, o que aumentaria a probabilidade de erros. Art. 26. Os casos omissos serão resolvidos pela Direção da APAC, ouvidas todas as áreas ligadas à disciplina da entidade, tais como o Encarregado de Segurança, os Inspetor de Seguranças, o Conselho Disciplinar e o próprio Conselho de Sinceridade e Solidariedade - CSS. 293

MODELO DE DEMONSTRATIVO DE PONTUAÇÃO INDIVIDUAL

295

ANEXO B – Resumo do Regulamento

296