Votorantim 90 Anos Uma História De Trabalho E Superação
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
votorantim90anos_FINAL.indd 1 4/3/08 4:36:07 PM votorantim90anos_FINAL.indd 2 4/3/08 4:36:07 PM Votorantim 90 Anos Uma história de trabalho e superação votorantim90anos_FINAL.indd 3 4/3/08 4:36:07 PM votorantim90anos_FINAL.indd 4 4/3/08 4:36:07 PM direção de pesquisa e texto Jorge Caldeira votorantim90anos_FINAL.indd 5 4/3/08 4:36:07 PM Sumário 1 O homem antes da empresa | pg. 9 2 Votorantim | pg. 23 O homem educado | pg. 41 3 4 A forja na luta | pg. 55 5 Crescendo na crise | pg. 71 O tamanho do Brasil | pg. 97 6 7 Administrando um complexo | pg. 111 A visão nacional | pg. 133 8 votorantim90anos_FINAL.indd 6 4/3/08 4:36:08 PM 9 A gestão coletiva | pg. 151 A consolidação no setor do cimento | pg. 173 10 A força da metalurgia | pg. 185 11 12A presença nacional | pg. 205 13A liderança na crise | pg. 219 14A consolidação de novos setores | pg. 243 Um papel global | pg. 259 15 Epílogo | pg. 277 16 votorantim90anos_FINAL.indd 7 4/3/08 4:36:09 PM votorantim90anos_FINAL.indd 8 4/3/08 4:36:09 PM O homem antes da empresa pequena aldeia de Baltar, no norte de Portugal, fica nas ime- A diações da cidade do Porto. Lá, no dia 29 de março de 1874, nasceu Antonio Pereira Ignacio, filho do sapateiro João Pereira Ignacio e Maria Coelho Pereira. A família, muito pobre, vivia com extrema dificuldade. Talvez por isso, durante os nove primeiros anos de vida do menino, as histórias sobre o Brasil – uma terra lon- gínqua onde o trabalho fazia brotar frutos abundantes, e imigrantes chegados com apenas a roupa do corpo conseguiam juntar gran- des fortunas – despertassem tanto o interesse de seu pai. Nessa mesma época, ao longo da primeira infância de Antonio Pereira Ignacio, a então província de São Paulo passava por um surto de crescimento que justificava aquelas notícias auspiciosas que chegavam tão longe. A construção de estradas de ferro estava criando as condições para que uma economia primordialmente agrária começasse a se tornar potência industrial. Nesse ambiente de mudanças, um consórcio de investidores fundara, em 1870, a Companhia Sorocabana, uma linha ferroviária entre a capital da província e a cidade de Sorocaba. Iniciadas as obras no dia 13 de junho de 1872, o primeiro trecho, com 120 quilômetros de extensão, votorantim90anos_FINAL.indd 9 4/3/08 4:36:09 PM seria inaugurado em 10 de julho de 1875. Poucos anos depois, um jornalista sorocabano resumiu o impacto da ferrovia: “Os produ- tos, quer animais, vegetais ou minerais, do imenso sertão, teriam de passar por um único escoadouro – Sorocaba, e em toda sua ex- tensão multiplicar-se-iam as fábricas, as pequenas indústrias”. Em 1884, o sapateiro João Pereira Ignacio e seu filho Antonio, então com dez anos, deixaram para trás Portugal e o resto da famí- lia, a fim de tentar reproduzir na vida real as histórias de prosperi- dade que tanto os fascinavam. E tinham como destino justamente a cidade de Sorocaba. Ali encontraram abrigo numa casa da rua do Hospital, onde residia um irmão de João, chamado José, com sua mulher, Lucrécia. Os parentes proporcionariam o apoio necessário para que os recém-chegados se estabelecessem. Pelo resto da vida, Antonio Pereira Ignacio se recordaria com especial carinho da tia Lucrécia, por ele chamada de “minha segunda mãe”. Todavia, ainda que fundamental, o apoio dos parentes era limitado por suas condições econômicas; por isso, desde a chegada, o menino teve de trabalhar para garantir o próprio sustento. Por alguns anos, pai e filho lutaram com grandes dificuldades. João exercia seu ofício na modesta sapataria do Chico das Violas, tendo o menino Antonio como ajudante. Sete dias por semana, pai e filho cortavam couros, colocavam saltos e meias-solas, refor- mando calçados de todos os tipos. Essa labuta incessante e mal- remunerada não tolheu, porém, os projetos do pequeno imigrante, cuja obstinação o homem feito rememoraria mais tarde: “Minha carreira foi feita com rude concepção, seguindo uma vocação que me segredava aos ouvidos: ‘Não podes vacilar’. Esta vocação era, de fato, o segredo primordial para o êxito que procurava obter na vida. No entanto há necessidade de uma for- mação técnica, sem o que o indivíduo que se lança pela audácia e 10 Votorantim 90 anos | Uma história de trabalho e superação votorantim90anos_FINAL.indd 10 4/3/08 4:36:10 PM o arrojo da iniciativa própria se arrisca ao fracasso, sem recurso e sem remédio. Eu tive a felicidade de ter um progenitor que com- preendeu isso e foi assim que, depois do labor cotidiano, freqüen- tei a escola noturna do professor João Ribeiro, na rua do Itararé. Abençoadas as horas que ali estive para aprender as primeiras le- tras de minha rude instrução”. Além do trabalho diurno e do estudo noturno, o jovem Antonio ainda fazia pequenos serviços, entre os quais divulgar a chegada dos circos à cidade, ocasião em que vestia uma “casaca de ferro” e distribuía panfletos com os programas dos espetáculos. Assim, ganhava uns trocados adicionais e tinha a possibilidade de assistir de graça aos espetáculos. Essa vida árdua tornou-se ainda mais difícil quando chegou a notícia de que a esposa do sapateiro, e mãe do menino Antonio, havia adoecido em Portugal. Esse infortúnio consumiria boa parte dos parcos recursos até então amealhados pelos dois. Por volta de 1888, souberam que o estado de Maria Coelho Pereira se agravara muito. O sapateiro João viajou a Portugal, deixando o filho de ca- torze anos em São Paulo. Agora que tinha algum estudo, o jovem podia aspirar a uma carreira no comércio. Sozinho na cidade gran- de, Antonio Pereira Ignacio seguiu sua vocação e não vacilou para se lançar na vida. Além de muito trabalhador, seu temperamento alegre e extrovertido o ajudava a fazer contatos e travar amizades. Depois de um estágio na cidade de São Paulo, arrumou um emprego no Rio de Janeiro, então capital do país, numa empresa impor- tadora de tecidos, de propriedade do comendador João Reinaldo Faria. Ali, ao longo de três anos, o esforçado jovem aprendeu os segredos do comércio de tecidos e conseguiu economizar 300 mil- réis, quantia que julgou suficiente para se arrojar em empreendi- mento próprio, tornando-se ele mesmo um comerciante. O homem antes da empresa 11 votorantim90anos_FINAL.indd 11 4/3/08 4:36:10 PM O capital restrito permitiu-lhe montar um modesto negócio. Em 1892, novamente reunido ao pai, estabeleceu-se em São Manuel, no interior de São Paulo. Enquanto João tocava a sapataria, o filho de dezoito anos seguia a exaustiva rotina ditada por sua vocação: durante o dia cuidava de seu pequeno armazém e, à noite, pros- seguia com os estudos, agora freqüentando as aulas particulares do professor Carlos Bohn. Nessa época, Antonio completou o currículo do ginasial. O negócio andava bem, mas não a ponto de satisfazer as inquietudes de seu proprietário. Por isso, somando os ganhos com a venda do armazém ao empréstimo de um conto de réis contraído junto a outro patrício, Antonio Pereira Ignacio pôde financiar tanto a mudança para Botucatu como uma nova etapa em sua trajetória empresarial. Em 1895, inaugurou a Casa Rodrigues & Pereira, um grande armazém de comestíveis, bebidas, ferragens, fazendas e armarinhos. Os “bons ares” de “Ibytu katu”, ou Botucatu, foram muito propícios aos negócios de Antonio Pereira Ignacio. Mas não só. Foi lá que ele conheceu Lucinda Rodrigues Viana, uma jovem que cuidava de seus quatro irmãos menores desde os treze anos de idade, quando morrera seu pai, o imigrante português Manoel Rodrigues. Travando amizade com a família desamparada, Antonio Pereira Ignacio tornou-se parte dela e seu arrimo: casou-se com Lucinda – então com quinze anos – no dia 15 de julho de 1899, em Sorocaba. Fiel a seu espírito empreendedor, o noivo inaugurou a vida de casado com outra mudança: vendeu o armazém e instalou-se na cidade de Itapetininga. Ali, enquanto nasciam os primeiros filhos (João Pereira Ignacio, em 1900, e Paulo Pereira Ignacio, em 1902), Antonio Pereira Ignacio ensaiava os movimentos que o levariam do comércio para a indústria, abrindo uma serraria e, logo em se- guida, agora na cidade de Boituva, montando uma indústria de descaroçamento de algodão. 12 Votorantim 90 anos | Uma história de trabalho e superação votorantim90anos_FINAL.indd 12 4/3/08 4:36:10 PM Tudo no empreendimento parecia indicar uma regressão para uma escala menor. Na época, Boituva não passava de um punhado de casas junto da estação ferroviária; a fábrica era quase uma oficina artesanal, para onde uns poucos lavradores mandavam suas safras; o negócio do algodão, embora promissor, não chegava a entusias- mar tanta gente como o café – pois, no fim das contas, quase todo o tecido consumido no Brasil vinha do exterior. Mesmo assim, o algodão atraiu Antonio Pereira Ignacio como nenhum outro ne- gócio anterior. Entre 1903 e 1904, ele abriu mais duas unidades de descaroçamento, uma na cidade de Tatuí e outra no recém-criado distrito de Conchas, à beira dos trilhos da Sorocabana. Nessa época, em Boituva, nasceu sua terceira filha, Helena Pe- reira Ignacio, no dia 11 de dezembro de 1904. A menina veio num momento em que o pai estava pronto para mais uma mudança, só que desta vez de outra natureza. Até então, ele aproveitara as opor- tunidades ditadas pelas circunstâncias. Agora, porém, ele próprio seria capaz de desenhar sua própria oportunidade, com base em um plano que, embora pressupondo a superação de várias etapas difíceis, poderia desembocar num grande progresso. Diante da perspectiva de outra revolução em sua vida, Antonio Pereira Ignacio viu-se obrigado a adiar o batizado da filha por quase um ano, até que se completasse uma etapa crucial desse projeto.