XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

TRATAMENTO DE ESGOTOS, AINDA UM DESAFIO: O CASO DE ITABIRITO-MG

Heloísa Cristina França Cavallieri Pedrosa(1) Bióloga pela Universidade Federal de (UFOP). Especialização em Meio Ambiente e Saneamento Ambiental Aplicado pela Universidade FUMEC. Mestre em Engenharia Ambiental/Saneamento pela UFOP. Analista de Biologia do Serviço Autônomo de Saneamento Básico de Itabirito.

Wagner José Silva Melillo Engenheiro Civil pela Universidade FUMEC. Diretor Presidente do Serviço Autônomo de Saneamento Básico de Itabirito, 21 anos de experiência em saneamento.

Endereço(1): Rua Rio Branco, 99 – Centro - Itabirito - MG - CEP: 35.450-000 - Brasil - Tel: +55 (31) 3562-4101 - e-mail: [email protected].

RESUMO

O Serviço Autônomo de Saneamento Básico (SAAE) de Itabirito após 35 anos de operação de sistemas de tratamento de água e coleta de esgotos iniciou a operação da estação de tratamento de esgotos (ETE) após busca de recursos para a elaboração dos projetos e para a execução das obras civis. Melhorias em estruturas físicas e adequações em sistemas foram necessários para que a operação pudesse ser iniciada, como troca de borracha de vedação no sistema de gases, revestimento dos reatores, assim como a elaboração do manual de operação, plano de monitoramento e a adoção de práticas para evidenciar a execução das atividades de operação e manunteção das estações elevatórias de esgoto bruto e da ETE. Os desafios enfrentados pelo SAAE de Itabirito no início da operação do sistema de tratamento de efluentes devem ser dicutidos, asism como as oportunidades que surgiram com tais desafios, considerando sempre os aspectos técnicos, instituicioanis, ambientais e econômicos, percebendo com isso que muitas oportunidades de implantação de sistemas acabam por ter seus efeitos positivos maximizados diante dos desafios a serem enfrentados.

Palavras-chave: Tratamento de Esgotos; Operação de ETE; Esgoto Sanitário.

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INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

O Serviço Autônomo de Saneamento Básico de Itabirito - MG (SAAE) foi criado no ano de 1979. É uma Autarquia Municipal de pequeno porte – 18.107 economias de água e 14.561 economias de esgoto – que atende a Sede Urbana, mais 06 comunidades rurais do Município de itabirito – MG, que dista 50 km de , capital de . No escopo de suas atribuições está a coleta, tratamento e a destinação final adequada de esgotos domésticos. Neste contexto, para atender a legislação pertinente, é uma obrigação do SAAE, o compromisso ambiental da preservação dos recursos hídricos quando se trata do descarte de efluentes, que devem estar adequados à classe em que está enquadrado o corpo receptor, como determina a Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências, e suas alterações. Em data anterior à referida Resolução CONAMA (357/2005), em meados da década que se iniciou em 1990, os dirigentes do SAAE à época começaram a se preocupar com o desafio de tratar os esgotos domésticos da Sede Urbana. Assim, em 1996 foi concluído o primeiro plano diretor de esgotamento sanitário, realizado por acadêmicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com os técnicos do Município. Aproximadamente uma década após a conclusão do referido plano diretor, em 2007 a autarquia, com recursos do Governo Federal, alocados por intermédio da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF) iniciou a instalação da primeira Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) na sede urbana de Itabirito (ver esquema de tratamento projetado conforme figura 1), bem como dos coletores-troncos e emissários necessários para transportar os esgotos até a ETE. Esta estação foi dimensionada com a capacidade inicial prevista para tratar 100 L.s-1, para ser expandida até 200 L.s-1, utilizando a técnica de reatores anaeróbios seguidos por filtros biológicos como definido pelos técnicos da UFMG desde 1996. As obras para a conclusão da ETE se estenderam até o ano de 2010. Entretanto, por problemas burocráticos e danos no emissário, somente em meados de 2013 iniciaram os testes e crescimento das colônias microbiológicas.

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Figura 1 - Sistema Projetado de Tratamento de Esgoto

Em fevereiro de 2014, a ETE começou a ser operada após a concessão da Autorização Provisória de Operação (APO), emitida pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental Central Metropolitana - SUPRAM CM. A ETE está situada em local afastado do maior adensamento populacional da Sede Urbana. No entanto, o sistema de tratamento preliminar, assim como as quatro estações elevatórias de esgoto bruto, encontra-se em local próximo à comunidade, com escola e estabelecimentos comerciais. Neste contexto, novos desafios estão postos. Como operar e manter adequadamente a ETE? Estes são desafios com um amplo leque de diversificação para o SAAE. É a primeira vez em 35 anos que os esgotos domésticos são tratados no Município. Descrever esta experiência, com certeza, servirá de base para outros serviços de saneamento. O Sistema Nacional de Informação em Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, afirma que para o ano de 2013 o índice médio de tratamento de esgoto no País chega a 39,0% para a estimativa dos esgotos gerados e 69,4% para os esgotos que são coletados (SNIS, 2013). Ou seja, muitos serviços encontram-se atualmente ou vão se encontrar na mesma situação. Assim, o presente texto tem como objetivo apresentar e propor uma discussão sobre os desafios e oportunidades do início da operação da ETE de Itabirito.

METODOLOGIA

Este é um estudo de caso que descreve a implantação da operação da estação de tratamento de esgotos sanitários (ETE) que propõe tratar, em um futuro próximo, a totalidade dos esgotos gerados na Sede Urbana de Itabirito - MG. É um estudo descritivo. Para elaborá-lo, inicialmente, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os conceitos abrangidos. Foi escolhido para a pesquisa de revisão bibliográfica o sitio “SciELO - Scientific Electronic Library Online SciELO -

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Scientific Electronic Library Online”. Considerando que o mesmo é um projeto consolidado de publicação eletrônica e de consulta gratuita. Além de fazer parte da parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Para o período da pesquisa de revisão bibliográfica tomou-se o cuidado de priorizar as citações em artigos/textos com menos de 15 anos de publicação. Os dados técnicos foram extraídos dos projetos básico e executivo de domínio do SAAE.

RESULTADOS

O atual sistema de tratamento de esgotos do SAAE de Itabirito possui cinco estações elevatórias de esgoto bruto localizadas em pontos estratégicos da cidade, sendo que na última delas está instalado o sistema de tratamento preliminar, composto por grade e desarenadores. Na ETE estão instaladas as duas peneiras estáticas; o tratamento primário composto por quatro reatores anaeróbios de manta de lodo e fluxo ascendente, tipo UASB; o tratamento secundário composto por dois filtros biológicos aeróbios percoladores e dois decantadores. Além disso, existe quatorze leitos de secagem de lodo biológico, sistema de recirculação de efluente tratado e de lodo biológico, além do sistema de queima de gases. O efluente tratado é lançado no Rio Itabirito e os resíduos sólidos gerados em todas as etapas do tratamento são destinados no aterro sanitário da prefeitura de Itabirito, após o deságue nos leitos de secagem da ETE. A imagem 1 ilustra a estrutura atual instalada e em operação da ETE.

Imagem 1 – Estação de Tratamento de Esgotos

O processo de tratamento realizado pelo SAAE está esquematizado na figura 2, na qual pode ser observada, também, as etapas geradoras de produtos.

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Figura 2 - Sistema de Tratamento de Esgotos

Em sistemas de tratamento de esgotos há geração de gases devido ao metabolismo microbiano de degradação de compostos químicos. Para aprimorar a acumulação de gases no sistema de coleta dos reatores tipo UASB, visando a queima destes compostos, as borrachas de vedação das tampas dos reatores foram trocadas por outras novas, de material esponjoso, e colocados parafusos em inox para fixação das mesmas, evitando também a corrosão desse material. Na estação elevatória de esgoto bruto, que possui também o sistema de tratamento preliminar, foi observada a geração de gases mal cheirosos, o que incomodou a localidade próxima e despertou a atenção dos servidores da ETE para a realização de medidas que pudessem contribuir para a diminuição da liberação de gases no local. A instalação de sete exaustores foi realizada para que os gases sejam exauridos do sistema tão logo sejam formados. Além disso, houve a introdução de carvão vegetal no sistema de exaustão, que atua como adsorvente para a retirada dos gases mal cheirosos. Os UASB foram revestidos internamente com vibra de vidro, como medida preventiva a danos às paredes dessas estruturas, além da instalação de réguas dentadas de fibra de vidro com a finalidade de nivelar o vertedouro de saída do efluente tratado nestes reatores. A partida da ETE, em 2014, ocorreu com os efluentes domésticos coletados pelo SAAE, sendo que não houve a inoculação de lodo ou qualquer outa amostra de material proveniente de outra ETE para alimentação microbiológica do sistema. Após o preenchimento de dois reatores, um filtro biológico começou a receber efluente, podendo desenvolver e crescer o biofilme necessário para o tratamento secundário, assim como os decantadores também começaram a receber efluente. O início da operação ocorreu com a

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utilização de metade da estrutura instalada, uma vez que o volume de esgotos ligado aos interceptores ainda era relativamente pequeno para a vazão prevista em projeto, cerca de 10L/s. O monitoramento da geração de lodo dos reatores foi efetivo e essencial, a fim de observar a real ação dos microrganismos na ETE por intermédio do volume de lodo digerido. Os descartes de lodo dos reatores e decantadores ocorrem nos leitos de secagem após análise da sedimentação, sendo essencial o conhecimento dos operadores e do técnico responsáveis pelo sistema. Um grande desafio do início da operação foi a execução da limpeza dos leitos de secagem, sendo esta realizada manualmente pelos operadores do sistema, com raspagem da torta orgânica após deságue e transporte até o caminhão que realiza a disposição este material no aterro sanitário municipal. Além da limpeza, os operadores realizam a manutenção dos leitos de secagem com substituição dos tijolos e preenchimento com areia das fissuras de infiltração. O lodo digerido dos reatores possui potencial econômico para utilização em enriquecimento de nutrientes em determinadas atividades, sendo uma opção de investimento em projetos pelo SAAE, assim como proporcionar a redução da disposição de material no aterro sanitário de Itabirito, o que ocorre na ordem de 20 ton/mês. Não só a limpeza dos leitos de secagem é realizada manualmente, como també a limpeza das elevatórias de esgoto bruto, incluindo cestos e poços de sucção, e do sistema preliminar, como a grade e as caixas de areia. Essas atividades tornaram-se desafio para os servidores devido à particularidade dos serviços a serem executados pela primeira vez na autarquia. O acompanhamento do setor de segurança do trabalho para instrução e fornecimento dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) que eram compatíveis às atividades foi essencial para o sucesso do serviço. As imagens de 2 a 9 retraram as atividades de limpeza das estruras do sistema de tratamento, sendo: 2 limpeza do leito de secagem com retirada do material desaguado; 3 limpeza da penieira estática com respagem dos sólidos finos; 4 limpeza da grade do sistema preliminar para retirada se sólidos grosseiros; 5 e 6 limpeza da caixa de sedimentação de areia do sistema preliminar; 7, 8 e 9 retirada de areia do sistema de tratamento preliminar para o transporte até os leitos de secagem da ETE.

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8 9 Imagens 2 a 9 – Limpeza das unidades de Tratamento de Esgotos

Atualmente as limpezas das estruturas são realizadas conforme frequência descrita do Manual de Operação, assim como a cada dois dias a equipe de manutenção realiza inspeção nos quadros de comando e bombas para avaliar qualquer problema que possa ocasionar a paralização do sistema de bombeamento. O monitoramento do sistema, tanto na operação quanto na manutenção, foi desenvolvido por intermédio da elaboração de planilhas de acordo com o Manual de Operação e Manutenção revisado pelo SAAE para operação da ETE. Todos os dados gerados são sistematicamente anotados e sustentam o acervo da estação, com histórico e evidências das atividades. O laboratório da ETE foi montado com equipamentos robustos que permitam o monitoramento contínuo de acordo com o plano de monitoramento interno e com a Nota Técnica N°002/2005 da Divisão de Monitoramento e Geoprocessamento (DIMOG) e Divisão de Saneamento (DISAN) da Federação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), incluindo as diversas análises físicas, químicas e biológicas dos efluentes bruto e tratado e também do corpo receptor a montante e a jusante. Os técnicos da operação foram treinados para executarem todas as análises do monitoramento. Atualmente a caracterização das amostras de efluente bruto e tratado e do rio Itabirito a montande e a jusante são realizadas mensalmente por laboratório externo certificado e creditado e é possível inferir que o sistema de tratamento operado pelo SAAE é bastante eficaz e eficiente, com remoção média de carga orgânica da ordem de 89%, como apresentado na tabela 1.

Tabela 1 – Dados médios obtidos pelo sistema de monitoramento da operação da ETE

PARÂMETRO UNIDADE RESULTADO Vazão de Entrada L.s-1 90 Eficiência Biológica média em DQO % 88,9 Eficiência Biológica média em DBO % 89 pH bruto N/A 7,3

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pH ltratado N/A 7,17 Temperatura tratado °C 25 OD de lançamento mg.L-1 5,6 Lodo seco Kg.mês-1 20.110 3 -1 Deságüe de lodo em excesso m .mês 173

Na imagem 10 é possível observar a diferença de coloração do efluente tratado e do material bruto, registrada após 8 meses do início da operação, em outubro de 2014.

Imagem 10 – Caracterização do efluente bruto à esquerda e do efluente tratado à direita.

A qualidade do efluente tratado é monitorada diariamente pelos operadores que trabalham em turnos de 12 horas para que a operação do sistema não seja paralisada em qualquer período do dia ou da semana. É possível observar a qualidade do efluente tratado lançado no Rio Itabirito através da imagem 11, registrada em março de 2015, após a incidência de chuvas no município de Itabirito com consequente aumento do volume do corpo hídrico receptor do esgoto e também alteração dos parâmetros de cor e turbidez dessas águas correntes.

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Imagem 11: Lançamento de efluente tratado no Rio Itabirito.

Desde o início das atividades, o setor de operações de esgoto da autarquia realizou as ligações domiciliares aos interceptores para que a maior parte dos esgotos coletados fosse direcionada à ETE. Atualmente o sistema de interceptação coleta cerca de 60% do efluente doméstico gerado na sede de Itabirito, com vazões médias de entrada na ETE de 60L.s-1, além de a ETE receber efluentes sanitários de empresas que realizam limpeza de fossas sépticas e de banheiros químicos, o que corresponde a vazões médias de 30L.s-1. Assim, com esta vazão afluente da ETE, todas as unidades instaladas encontram-se em operação, com a menor capacidade ociosa disponível. Novas ligações de esgoto estão sendo realizadas pelo SAAE, assim como a autarquia busca parcerias com empresas da cidade para a reconstituição de alguns interceptores que apresentam danos e interrupção da captação de esgotos em pontos estratégicos da cidade. A previsão é que até final de 2015 todas as reconstituições tenham sido realizadas, assim como grande parte das ligações, podendo o sistema receber todo o efluente doméstico gerado em Itabirito, com vazão máxima estimada em até 100L.s-1. E para isso, o recebimento de efluentes externos será diminuído até a interrupção deste serviço quando a capacidade instalada da ETE não for adequada para tal serviço. O SAAE possui sistema de automação instalado em suas unidades e, não diferente, nas estações elevatórias de esgoto também. Da sede do SAAE é possível observar se as bombas estão atuando corretamente no sistema automático ou se estão paradas, extravasando esgoto para o rio mais próximo. Na imagem 12 é possível observar os pontos de automação das elevatórias e da ETE também, com indicação do nível de acumulação de esgoto.

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Imagem 12 – Quadro de Automação do Sistema de Tratamento de Esgotos

A visitação por estudantes e professores tornaram-se constantes na ETE. Universitários de engenharia, arquitetura e biologia e seus orientadores buscam o SAAE para a exemplificação de aulas teóricas, assim como para parceria no desenvolvimento de projetos de graduação e pós graduação. Outros professores de ensino médio e básico também utilizam a ETE para agregarem conhecimento às crianças e jovens, sempre relacionado à preservação do meio ambiente.

DISCUSSÃO

Em estações de tratamento de efluentes há geração de gases, inclusive em sistemas anaeróbios, como os reatores tipo UASB existente na ETE de Itabirito. A queima desses gases é fundamental para diminuir a poluição atmosférica, como medida de controle ambiental. As alterações das borrachas de vedação das tampas dos UASBs realizadas quando do início da operação do sistema de tratamento, ainda não foram suficientes para que estes gases sejam totalmente confinados, capturados, medidos e queimados pelo sistema de queima de gases instalado na ETE. Para isso, o SAAE busca parceria com profissionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atuam especificamente na área de acumulação e queima de gases em sistemas anaeróbios de tratamento de esgotos. Sistemas anaeróbios de tratamento de efluentes liberam diversos compostos como produtos do metabolismo microbiano, sendo os compostos de enxofre os produtos responsáveis pelos maus odores e causadores de corrosão. (CASTRO et. al., 2010). Além disso, a acumulação desses compostos é prejudicial à saúde e provocam desconforto para a população.

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Os exaustores instalados no sistema preliminar foram eficientes na retirada dos gases tão logo eles são formados. As sete unidades são mantidas ligadas 24 horas e substituídas tão logo apresentem qualquer problema de funcionamento. Comcomitante, a introdução do carvão vegetal no sistema de exaustão auxiliou na redução do gases mal cheirosos que são lançadas pelos exaustores, uma vez que essas partículas são adsorvidas no carvão e, portanto, não são lançadas para o exterior da área de recebimento de efluentes. (JORDÃO et. al., 2006) Estas modificações realizadas no sistema de exaustão da unidade preliminar de tratamento de esgostos contribuíram para a redução do número de reclamações que o SAAE vinha recebendo da população do entorno, assim como maior interesse dessas pessoas em conhecer o sistema e o que é realizado para melhoria das estruturas. Não satisfeito ainda com o resultado, o SAAE adiquiriu recentemente equipamentos de borrifação, os quais serão instalados na saída do sistema de exaustão de gases para borrifarem líquidos com odores agradáveis aos gases que forem exauridos do interior da estrutura. O início da operação do sistema se deu com pequeno volume, mas a autarquia trabalha desde então para que este seja aumentado até que todo o efluente gerado na sede do município possa ser direcioando ao sistema de tratamento. Essa particularidade pode ser considerada interessante para o sistema, uma vez que não foram introduzidos microrganismos de outras fontes no sistema do SAAE. O maior tempo de detenção dos efluentes nos reatores contribuíram para que o desenvolvimento microbiano ocorresse satisfatoriamente em cerca de três meses de operação. O aumento da vazão afluente à ETE, posteriormente a este crescimento, contribuiu para o incremento de matéria orgânica do sistema de contínuo crescimento destes decompositores. A geração de lodo nos reatores é acompanhada dia a dia pelos operadores e técnico da ETE, realizando os descartes nos leitos sempre que necessário para que os UASBs não fiquem saturados, comprometendo o sistema de tratamento. O deságue deste lodo digerido ocorre em até 15 dias e a torta orgânica raspada pelos operadores é, atualmente descatartada no aterro sanitário de Itabirito. No entanto, este lodo digerido dos reatores possui potencial econômico para utilização em enriquecimento de nutrientes em determinadas atividades agrícolas, sendo uma opção de investimento em projeto pelo SAAE, assim como poder proporcionar a redução da disposição de material no aterro sanitário de Itabirito, o que está na ordem de 20 ton/mês. A disposição final de lodos de sistemas de tratamento de efluentes em aterros sanitários é uma alternativa correta, mas desperta a atenção devido ao potencial que este produto possui de enriquecer sistemas agrícolas de produção. A reutilização do lodo de ETE para atividades agrícolas é viável quando se tem o conhecimento deste produto, como a indicação da composição química, principalmente metais pesados, e quando se considera o impacto que pode ocorrer sobre qulidade de águas, fauna e flora, além da

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saúde humana. Além disso, o custo do produto final deve ser levado em conta quando da escolha do método de processamento do lodo de esgoto a ser empregado no sistema de tratamento. (CANZIANI et. al., 1999) A limpeza manual de todo o sistema de tratamento de efluentes foi inicialmente um desafio para a equipe de manutenção do sistema, uma vez que pela primeira vez em mais de três décadas essas atividades com tantas particularidades seriam realizadas no SAAE. O quesito segurança foi um deles, precisando de atenção regularmente do técnico de segurança do trabalho, assim como a aquisição de Equipamentos e Proteção Individual (EPI) especificos que nunca havia sido adquiridos pela aqutarquia. Assim como a instrução deste profissional para toda a equipe enfatizando os riscos e a melhor forma de realizar cada atividade. A aquisição do Manual de Operação da ETE foi importante para a alinhamento das atividades que deveriam ser praticadas rotineiramente em cada estrutura do sistema, buscando a operação constante e adequada. As atualizações realizadas até o momento neste manual somente foram possíveis devido à dedicação dos servidores a ETE, os quais observam oportunidades de mudanças e melhorias no sistema e nas estruturas à medida que conhecem melhor a cada dia a importância do tratamento de esgotos e a participação de cada um nos serviços. As evidências de todas as atividades de operação e de manutenção da ETE estão planilhadas e arquivadas no local, conforme deve acontecer em todo Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Ainda como um sonho, mas não tão distante, a elaboração de um SGA adequado e exclusivo para a ETE é observado como uma oportunidade de projeto para melhoramento do sistema de tratamento de efluentes do SAAE. A montagem do laboratório da ETE foi realizado e algumas análises estão sendo realizadas internamente pela equipe da operação do sistema. Para a execução de todas as análises que constam no plano de monitoramento da ETE, o responsável técnico está em contato com outras autarquias para visitação e troca de informações, assim como em contato com pesquisadores e técnicos de laboratórios que possam contribuir para a elaboração dos manuais de análises que possam contemplar todas as exigências da Norma Técnica pertinente. É importante para o SAAE monitorar o lançamento de todos os efluentes lançados em sua rede, devendo para isso ter capacidade de avaliar o tipo dos esgotos que possa ser lançançado nas redes de coletoras. Assim, para que este controle seja efetivo, é essencial que o laboratório interno possa coletear e avaliar as características de cada um desses efluentes, sendo esta um meta de curto prazo a ser implantada na ETE. Mesmo quando da realização de todas as análises pelo laboratório interno, a ETE continuará com a contratação de análises por laboratório externo, para dar maior credibilidade à comprovação da eficiência do sistema e às suas análises. Desde o início da operação da ETE o setor de esgotos trabalha para a realização de novas ligações aos interceptores. As redes de interceptação danificadas em data passada estão sendo

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reconstruídas parte pela autarquia e parte através de parcerias com empresas que atuam no município. Isto para buscar o aumento da vazão de coleta e tratamento de efluentes domésticos da sede da cidade, uma vez que a capacidade instalada da ETE é de tratar 100 L.s-1. O recebimento de efluentes externos, provenientes de limpeza de banheiros químicos e fossas sépticas, apesar de gerar recursos para o SAAE, não é foco de projeto para a ampliação deste serviço, estando focados em tratar esgotos coletados pela rede doméstica ou coletados pelo serviço de limpeza de fossas apenas pelo veículo da autarquia. A automação de sistemas de saneamento busca a eficiência com comandos on line e em tempo remoto. As elevatórioas de esgoto bruto possuem este sistema instalado inicialmente com transmissão de dados de níveis de acumulação de esgoto e atuação o sistema de bombeamento. Através da tela de automação é possível observar se cada elevatória está com o bombeamento em operação, se está sem energia elétrica ou se está extravasando efluente para o córrego mais próximo. Em caso de qualquer ocorrência, a equipe de manutenção da ETE é acionada para ir ao local, assim como a empresa prestadora do serviço de automação. Este seviço está em teste e logo os comandos de ligar e desligar as bombas será realizado através da tela de automação, o que facilitará ainda mais as atividades de rotina da operação a ETE. Sabe-se que, geralmente, não existe apenas uma variável responsável pela qualidade e variabilidade dos efluentes, que dependem de alterações na carga orgânica afluente, das condições ambientais dos reatores, da natureza do esgoto bruto, da presença de substâncias tóxicas, da variabilidade inerente aos processos de tratamento biológico e de falhas mecânicas e humanas no sistema. Todos esses fatores podem levar a problemas e instabilidade nos processos, ocasionando efeitos adversos na qualidade do efluente final. (OLIVEIRA et. al., 2007) Itabirito é o primeiro município do alto da bacia do Rio das Velhas que possui uma ETE para tratar efluentes da sede urbana, contribuindo para a melhoria da qualidade das águas que são utilizadas para abastecimento da região metropolitana de Belo Horizonte. Isto, associado à importância ambiental de se tratar esgostos faz da ETE do SAAE receber visitação por estudantes e professores de diversos níveis, além de fomentar o uso das estruturas para o desenvolvimento de pesquisas e projetos. Contudo, novos desafios aparecem a cada dia, asism como novos projetos.

CONCLUSÃO

Há quase 20 anos o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabirito - MG (SAAE) vem tentando tratar os esgotos sanitários gerados no Município. Para tanto, realizou seu primeiro plano diretor de esgotamento sanitário em 1996. Posteriormente, em 2007, conseguiu financiamento do Governo Federal para concluir a implantação do seu sistema de coleta e para construir a estação

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de tratamento de esgoto (ETE). Por problemas técnicos e operacionais, esta ETE, que ficou pronta em 2010, somente começou a operar em 2014. Esta cronologia, por si só, demonstra a dificuldade que o SAAE encontrou em iniciar o processo de tratamento de esgoto. Agora novos desafios aparecem com o início de operação da ETE. Nos primeiros seis meses de funcionamento inúmeras adversidades se fizeram presente no cotidiano desta operação. Ajustes técnicos construtivos foram necessários para adaptar a ETE às características dos esgotos e do tratamento assim como os técnicos tiveram que ser treinados para executarem o monitoramento e operação do sistema. Hoje, o desafio do monitoramento do sistema é maior, buscando a permanência de parâmetros adequados ao lançamento, assim como suportar as variações de qualidade dos efluentes líquidos. Para tanto, com certeza estes desafios do SAAE é uma bela experiência para ser mostrada para outros municípios brasileiros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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